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Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Código de Verificação: Órgão 2ª Turma Criminal Processo N. Apelação Criminal 20080110089514APR Apelante(s) JOSE LAMARTINE MENDES DE MELO Apelado(s) MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS Relator Desembargador JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA Revisora Desembargadora LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS Acórdão Nº 510.757 E M E N T A PENAL. VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS. RECURSO DA DEFESA. PRELIMINAR DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 184, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. REJEIÇÃO. PLEITO ABSOLUTÓRIO. PROVAS SUFICIENTES. ERRO DE TIPO. INOCORRÊNCIA. REDUÇÃO DA MULTA PECUNIÁRIA. CONTINUIDADE DELITIVA. NÃO INCIDÊNCIA DA REGRA DESCRITA NO ART. 72 DO CP. PROVIMENTO PARCIAL. 1. Deve ser rejeitada a preliminar de inconstitucionalidade do artigo 184, § 1º, do Código Penal, ao argumento de que referido tipo penal é vago, impreciso e obscuro, pois, apesar desta conduta ser considerada uma norma penal em branco, sua complementação é dada na legislação civil, mais precisamente a Lei nº 9.610/98. 2. A apreensão de grande quantidade de cópias de obras intelectuais, reproduzidas parcial ou integralmente na copiadora do apelante, com o intuito de lucro, e sem autorização legal por parte dos autores e/ou editoras, corroborado pelas provas produzidas na instrução criminal, são suficientes para a manutenção da condenação do apelante. 3. Inocorrente a caracterização do erro de tipo, quando o próprio réu afirma em juízo ter conhecimento de que a reprodução de livros e apostilas para concurso, em seu estabelecimento comercial, era conduta ilícita. 4. Não há concurso de crimes a atrair a incidência da regra insculpida no art. 72 do Código Penal, mas um só delito em continuação, que obedece ao disposto no art. 71 do Código Penal, inclusive quanto ao sistema da exasperação, aplicável também à pena de multa. 5. Preliminar rejeitada, dado parcial provimento ao recurso.

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Page 1: JOSE LAMARTINE MENDES DE MELO MINISTÉRIO … · BELINATI - Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ROBERVAL CASEMIRO ... do representante da VESTCON EDITORA e da pessoa

Poder Judiciário da União

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Código de Verificação:

Órgão 2ª Turma Criminal Processo N. Apelação Criminal 20080110089514APR Apelante(s) JOSE LAMARTINE MENDES DE MELO Apelado(s) MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E

TERRITÓRIOS Relator Desembargador JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA Revisora Desembargadora LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS Acórdão Nº 510.757

E M E N T A PENAL. VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS. RECURSO DA DEFESA. PRELIMINAR DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 184, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. REJEIÇÃO. PLEITO ABSOLUTÓRIO. PROVAS SUFICIENTES. ERRO DE TIPO. INOCORRÊNCIA. REDUÇÃO DA MULTA PECUNIÁRIA. CONTINUIDADE DELITIVA. NÃO INCIDÊNCIA DA REGRA DESCRITA NO ART. 72 DO CP. PROVIMENTO PARCIAL. 1. Deve ser rejeitada a preliminar de inconstitucionalidade do artigo 184, § 1º, do Código Penal, ao argumento de que referido tipo penal é vago, impreciso e obscuro, pois, apesar desta conduta ser considerada uma norma penal em branco, sua complementação é dada na legislação civil, mais precisamente a Lei nº 9.610/98. 2. A apreensão de grande quantidade de cópias de obras intelectuais, reproduzidas parcial ou integralmente na copiadora do apelante, com o intuito de lucro, e sem autorização legal por parte dos autores e/ou editoras, corroborado pelas provas produzidas na instrução criminal, são suficientes para a manutenção da condenação do apelante. 3. Inocorrente a caracterização do erro de tipo, quando o próprio réu afirma em juízo ter conhecimento de que a reprodução de livros e apostilas para concurso, em seu estabelecimento comercial, era conduta ilícita. 4. Não há concurso de crimes a atrair a incidência da regra insculpida no art. 72 do Código Penal, mas um só delito em continuação, que obedece ao disposto no art. 71 do Código Penal, inclusive quanto ao sistema da exasperação, aplicável também à pena de multa. 5. Preliminar rejeitada, dado parcial provimento ao recurso.

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APELAÇÃO CRIMINAL 2008 01 1 008951-4 APR

Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 2

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA - Relator, LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS - Revisor, ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, em proferir a seguinte decisão: REJEITAR A PRELIMINAR. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 2 de junho de 2011

Certificado nº: 1B 54 36 22 00 05 00 00 0F 69

07/06/2011 - 17:13 Desembargador JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA

Relator

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APELAÇÃO CRIMINAL 2008 01 1 008951-4 APR

Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 3

R E L A T Ó R I O Cuida-se de apelação criminal em que se requer a reforma da

sentença proferida pelo MM. Juiz em Substituição da Sétima Vara Criminal de Brasília/DF (fls. 164/173), a qual condenou o apelante à pena de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, em regime inicial aberto, e multa pecuniária estabelecida em 1.220 (mil duzentos e vinte) dias-multa, calculados à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, por infringência ao artigo 184, § 1º, do Código Penal, na forma do artigo 71 (continuidade delitiva), todos do Código Penal. A pena privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direitos, sendo uma delas de prestação de serviços à comunidade, nos termos e moldes a serem estabelecidos pelo Juízo das Execuções.

Narra a denúncia (fls. 02/03): “Até o dia 25 de janeiro de 2008, por volta das 14:30min, na

COPIADORA LAMAR, localizada no Edifício Unique, no comércio local da Quadra 304 do Setor Sudoeste, Brasília-DF, o denunciando, proprietário dessa empresa, com vontade livre e consciente, determinou, por 137 (cento e trinta e sete) vezes, a reprodução, total ou parcial, com intuito de lucro direto, de obras intelectuais – apostilas e livros -, sem expressa autorização dos autores ou de quem os representasse (Auto de Apresentação e Apreensão de fls. 21/28).

Consta dos autos que, no dia 22 de janeiro de 2008, um Agente de Polícia da Delegacia de Falsificações e Defraudações do DF recebeu telefonemas do representante da VESTCON EDITORA e da pessoa de Vicente Paulo, autor de diversos livros, que lhe informaram que uma copiadora situada no Setor Sudoeste estava violando direitos autorais.

Diante disso, no dia 25 de janeiro deste ano, a mencionada Delegacia realizou uma operação nas dependências da COPIADORA LAMAR, tendo havido a apreensão de cópias de obras intelectuais, bem como a prisão em flagrante do denunciando (...).”

Recurso apresentado por JOSÉ LAMARTINE MENDES DE MELO às fls. 197212, onde requer:

a) Preliminarmente, a declaração de inconstitucionalidade do artigo 184, § 1º, do Código Penal, ao argumento de que referido tipo penal é ‘vago, impreciso e obscuro”, ofendendo, portanto, os princípios da legalidade e taxatividade;

b) A absolvição com fundamento no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, eis que o apelante não possuía conhecimento de que a conduta praticada era um ilícito penal, ocorrendo, dessa forma, erro de tipo;

c) A absolvição, ao argumento de que as provas utilizadas na condenação do réu foram frágeis.

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APELAÇÃO CRIMINAL 2008 01 1 008951-4 APR

Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 4

O representante do Ministério Público oficiante em primeira instância apresentou a manifestação de fl. 215, onde reservou-se o direito de não apresentar as contrarrazões recursais.

Parecer da Douta Procuradora às fls. 217/220, pelo conhecimento e improvimento do recurso.

É o relatório.

V O T O S

O Senhor Desembargador JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA - Relator

Conheço do recurso, eis que tempestível e cabível. Conforme relatado, JOSÉ LAMARTINE MENDES DE MELO foi

denunciado por ter determinado, livre e conscientemente, a reprodução parcial e integral de obras intelectuais – apostilas e livros -, sem a autorização dos autores ou de quem os representasse, e com intuito de lucro direto ou indireto, por 137 (cento e trinta e sete) vezes.

PRELIMINAR Preliminarmente, a defesa pede a declaração de

inconstitucionalidade do artigo 184, § 1º, do Código Penal, ao argumento de que referido tipo penal não definiu o que seriam os direitos autorais, violando os princípios da taxatividade e da legalidade.

No entanto, sem razão, senão vejamos. O dispositivo legal mencionado pela Defesa diz: ” Violação de direito autoral Art. 184 – Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º - Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com

intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Apesar das alegações da defesa, tenho que a preliminar deve ser

rejeitada. Embora o crime de violação ao direito autoral seja considerado uma

norma penal em branco, não há qualquer obscuridade, imprecisão ou vagueza no

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 5

referido tipo legal, pois sua complementação é dada na legislação civil, mais precisamente na Lei nº 9.610/98. Contrariamente ao alegado pela defesa, não há qualquer ofensa ao princípio da taxatividade, pois o crime descrito no artigo 184 do Código Penal tem como fim precípuo a proteção da propriedade intelectual, a qual é violada sem a permissão do autor ou criador.

Nesse sentido, destaco o escólio do doutrinador Cezar Roberto Bitencourt1, ao definir o que são os direitos autorais: ”Direito autoral consiste nos benefícios, vantagens, prerrogativas e direitos patrimoniais, morais e econômicos provenientes de criações artísticas, científicas, literárias e profissionais de seu criador, inventor, ou autor.”

Após definir o que são os direitos autorais, o mesmo autor discorre acerca da adequação típica do crime de violação aos direitos autorais: “A violação dos direitos de autor pode concretizar-se de formas variadas, tais como a reprodução gráfica da obra original, ou comercialização de obras originais, sem autorização do autor ou seu representante legal. A ação delituosa consiste em violar direito de autor ou os que lhe são conexos.”

Nesse ínterim, cabe destacar que embora a defesa tenha questionado que não há definição acerca do significado da expressão “crimes conexos”, mencionados no caput do artigo 184 do Código Penal, não há qualquer dúvida acerca de sua abrangência, pois segundo o autor Cezar Roberto Bitencourt, em obra já citada, “Direitos conexos aos do autor são os relativos à interpretação e à execução da obra por seu criador, considerando-se como tais a gravação, reprodução, transmissão, retransmissão, representação ou qualquer outra modalidade de comunicação ao público”.

No presente caso, destaque-se ainda que o tipo penal descrito no artigo 184, § 1º, do Código Penal, a meu ver, não possui qualquer imprecisão ou obscuridade, pois expressamente pune o agente que viola direito autoral mediante a reprodução parcial ou total da obra, no presente caso intelectual, com intuito de lucro direto ou indireto, sem autorização expressa do autor.

Assim, não verificando qualquer inconstitucionalidade no artigo 184, § 1º, do Código Penal, rejeito a preliminar suscitada pela defesa.

MÉRITO No mérito, a defesa requer a absolvição do apelante, alegando que

as provas utilizadas em sua condenação são frágeis e, alternativamente, sustentando a tese de que houve a ocorrência de “erro de tipo”, pois o agente não tinha conhecimento de que praticava conduta em desacordo com a legislação penal.

A materialidade do delito restou demonstrada por meio do auto de prisão em flagrante (fls. 05/16); auto de apresentação e apreensão ( fls. 24/31); comunicação de ocorrência policial (fls. 35/38); termo de restituição (fls. 42/44); documentos em apenso, os quais demonstraram a reprodução das obras vendidas na copiadora; bem como pelos depoimentos testemunhais prestados perante a autoridade policial e sob o crivo do contraditório.

1 In Código Penal Comentado, São Paulo: Editora Saraiva, 5ª edição, 2009.

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 6

A princípio, destaco que embora o apelante tenha sido denunciado pela prática do crime descrito no artigo 184, § 1º, do Código Penal, por 137 (cento e trinta e sete) vezes, tenho com razão o MM. Juiz ao concluir pela incidência do crime por 122 (cento e vinte e duas) vezes, eis que, nos termos do auto de apresentação e apreensão de fls. 24/31, foram excluídas as obras onde não constava o autor e/ou a editora que publicou a obra intelectual, quais sejam, as de números 21, 22, 41, 42, 43, 52 e 58.

Quanto à autoria, embora o apelante tenha confessado parcialmente a prática da conduta narrada na denúncia, os depoimentos testemunhais foram no sentido de que o estabelecimento comercial do apelante reproduzia cópias de obras de autores nacionais e as revendia em seu comércio – Copiadora Lamar -, localizada na Quadra 304, Setor Sudoeste.

Em juízo, o apelante confessou em juízo parcialmente a prática da conduta narrada nos autos, afirmando ter realizado cópias de obras e apostilas, principalmente de cursos preparatórios para concursos. Alegou, no entanto, que vendia tais obras a pedido de alunos destes cursos.

Veja-se seu depoimento: "Que os fatos narrados na denúncia são parcialmente verdadeiros;

que o interrogando é proprietário da copiadora LAMAR; que esclarece que é o responsável e o gerente do estabelecimento, porém não consta como sócio, mas sim sua a sua esposa; que a esposa do interrogando não trabalha na copiadora e não exerce a função de gerencia; que na época dos fatos alunos de cursos para concursos, criaram grupos e levaram materiais para que fossem copiados no estabelecimento do interrogando; que tais alunos levaram livros e cópias de livros para serem copiados; que tais alunos deixaram os referidos livros e cópias no estabelecimento do interrogando; que o material permaneceu no local disponível para que qualquer integrante daquele grupo de alunos fizessem cópias; que entre os livros havia cópias de obras da vítima VICENTE PAULO, bem como outras obras da editora VESTCON; que o interrogando tinha ciência de que a impressão de cópias daqueles livros se tratava de atividade ilícita, mas ressalta que outras copiadoras também fazem cópias de livros; que entre seus clientes havia alunos do VESTCON, OBSCURSO e do PONTO DOS CONCURSOS; que copiadoras que atuam dentro de cursinhos também fazem cópias de livros; que o interrogando cobrava sete centavos por cópia e acredita que "foi denunciado" em razão do preço que cobrava, haja vista que era menor do que o preço cobrado pelas copiadoras que atuam dentro dos cursinhos; que os alunos também deixaram cópias de livros gravadas em CD ROM para serem impressas; que o interrogando não produziu nenhuma copia ou cd para deixar a venda disponível no local; que conhece as testemunhas arroladas na denúncia, nada tendo a alegar contra as mesmas; que esclarece que ANDRE, NILVANA, SIMEI e CRISTIANO eram funcionários da copiadora na época dos fatos; que não conhece as provas constantes nos autos." (...) Que os alunos a que se referiu levaram uma lista dos materiais que ficaram disponíveis; que como se tratava de uma listra grande, o interrogando fez cópia reduzida da lista e por isso chamaram-na 'cardápio’." (José Lamartine Mendes Melo, fls. 142/143).

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 7

Apesar das alegações, tenho que as provas testemunhais foram em sentido contrário.

Por oportuno, o apelante foi flagrado em face de denúncias por parte de autores e/ou editores das obras intelectuais copiadas, dentre os quais destaco o autor VICENTE PAULO DAS GRAÇAS PEREIRA, o qual afirmou perante a autoridade policial, em síntese, que é professor de cursos preparatórios para concursos públicos e possui várias obras publicadas, e soube, por intermédio de alunos, que as mesmas estavam sendo reproduzidas em uma copiadora paralela no Setor Sudoeste. Ao saber de tais fatos, dirigiu-se à Copiadora Lamar, localizada na comercial da Quadra 304, do Sudoeste, onde um funcionário lhe forneceu um ‘cardápio’ contendo todas as obras que a copiadora xerocopiava (fls. 11/12).

Referida dinâmica foi corroborada pelo Policial Civil Marco Antônio Schiochet, condutor do flagrante, o qual relatou perante o juízo as diligências realizadas e as circunstâncias das diligências que culminaram com a prisão em flagrante do réu. Confira-se:

"Que salvo engano foi o chefe da seção que recebeu os telefonemas denunciando as reproduções; que diante da notícia foi ao local cerca de quatro vezes, as três primeiras para verificação das denúncias; que lembra-se que na primeira vez que foi ao local viu livros e matrizes, geralmente cópias, já prontas; que também viu um "cardápio" com vários nomes de livros e apostilas e seus autores; que o "cardápio" tinha de quinze a vinte páginas, possuía formato menor e espiral; que viu vários funcionários trabalhando; que não identificou o material que estava sendo copiado nesta primeira visita; que neste dia também não chegou a perguntar ou pedir a cópia de qualquer livro ou apostila em especial; (...); que neste dia também viu uma pessoa olhando o "cardápio"; que quando da apreensão foi ao local com outros dois agentes; que verificou que havia funcionários trabalhando; que viu uma moça pedir o "cardápio"; que então e identificou como policial e apreendeu o "cardápio"; que entrou no estabelecimento com a permissão do réu e apreendeu vários originais e cópias de livros e apostilas, a maioria jurídicos; que se recorda de apostilas da Editora Vestcon e de livros e apostilas dos autores: Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino e Rogério Greco; que foram apreendidas várias cópias integrais das obras, algumas já encadernadas, mas a maioria ainda não; que algumas cópias eram coloridas; que em algumas cópias prontas constavam nomes de clientes e preços; que o preço era indicado apenas pelo número, sem cifrão; que não se recorda se os preços das cópias constavam do "cardápio"; que não se recorda do valor da cópia simples; que não sabe precisar se o valor da cópia integral ultrapassava o valor da soma das cópias unitárias; que foram apreendidas várias matrizes, em geral cópias de livros e apostilas das quais eram feitas novas cópias; que também foram apreendidos arquivos digitalizados de livros completos; que tais arquivos, além de DVDs, pen drives e CPU's foram encaminhados à perícia; (...) que pelo que se recorda este autor também tinha constatado previamente na copiadora a existência de cópias de livros seus; que o "cardápio" ou "catálogo" podia ser manuseado por todos os funcionários da loja e ficava sob o balcão; que todos os funcionários tinham acesso ao catálogo; que viu no mínimo duas pessoas consultando o "catálogo", uma na primeira vez que verificou o local e outra na data da apreensão; que pelo que recorda não chegou a pedir para olhar o "cardápio" da

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 8

primeira vez que foi à copiadora; (...) que o depoente consultou e viu o catálogo no dia da apreensão; que não chegou a perguntar para essas duas pessoas se o catálogo referia-se a material exposto à venda; que acredita que o material era reproduzido por encomenda e não ficava exposto à venda já pronto; que acredita que as pessoas chegavam na copiadora, consultavam o catálogo, pediam o livro/apostila e o réu tinha a matriz necessária para fazer a cópia; que acredita que o dono e também outras pessoas podiam levar as matrizes para serem copiadas; que já houve outras denúncias sobre fatos análogos na DP; que não lembra se houve denúncias de outros estabelecimentos no Sudoeste." (Policial Civil Marco Antônio Schiochet, fls. 116/117).

Oportunamente, ressalto que os próprios funcionários do local confirmaram a reprodução de livros e apostilas de concurso, principalmente na área jurídica, os quais, segundo os mesmos, eram feitas a pedido de alunos que se dirigiam ao local. Nesse sentido, confira-se o depoimento de Simar Arnaldo de Souza:

“Que é funcionário da copiadora há seis anos, que trabalha das 08 às 18 horas; que tira cópias e também atende o balcão, que já fez cópias de livros e apostilas parcial e também totalmente, que em geral as cópias de livros eram parciais; que uma lista com cerca de cinquenta páginas e um CD foi deixada na copiadora por um grupo de seis a dez pessoas; que a lista estava na copiadora há trinta ou quarenta dias antes de ser apreendida; que pessoas ligavam à copiadora e perguntavam pela lista deixada por ‘biscoito’; que essas pessoas geralmente não se identificavam e pediam para que fosse tirada a cópia de determinada obra ou apostila da lista; que os funcionários procuravam as obras da lista no CD deixado pelo grupo; (...) Que a copiadora é pouco maior que esta sala de audiências; que já viu ser feita a já fez cópia de apostilas da VESTCON, embora não saiba especificar sobre qual concurso ou curso se referiam; que eram os clientes que chegavam com as apostilas e livros e pediam para tirar cópias; que a cópia simples custava 0,7 centavos; que o preço das obras era a soma das páginas xerocadas, ou seja, cem páginas custava sete reais; que os livros originais apreendidos eram todos de clientes; que a maioria destes livros não tinha os nomes dos proprietários no interior; que nenhum livro era do dono da copiadora; que ficou sabendo que era crime copiar livros e apostilas após os fatos; que sabia que em alguns livros e apostilas contava ser crime a proibição da reprodução total ou parcial sem autorização (...)”. (Simei Arnaldo de Souza, fls. 118/119).

Conforme se infere dos depoimentos testemunhais, dúvidas não há de que livros e apostilas eram deixados no estabelecimento comercial Lamar copiadora com o intuito de serem reproduzidos total ou parcialmente, sem autorização legal dos respectivos autores ou editoras, com o fim de gerar lucro para o réu.

Nesse ponto, saliento que embora o apelante e os funcionários da Copiadora tenham afirmado que só reproduziam as obras a pedido de alunos de cursos preparatórios, tal fato, como bem fundamentado pelo MM. Juiz, não é capaz de descaracterizar a prática da conduta pelo réu, eis que o “o tipo penal prevê que a conduta se resume à reprodução, total ou parcial, de obra intelectual, com o intuito

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 9

de lucro, sem autorização expressa do autor, independentemente se tal reprodução foi realizada espontaneamente ou solicitada por terceiro.”(fl. 170).

Por fim, ressalto que embora a empresa Copiadora Lamar esteja registrada no nome da esposa do apelante, igualmente não há duvida acerca da prática do crime pelo réu, pois conforme afirmado pelo próprio, ele é o proprietário da empresa, responsável por sua gerência e a pessoa que determinava e permitia a reprodução parcial ou integral das obras intelectuais descritas no auto de apresentação e apreensão de fls. 24/31.

A defesa requer, ainda, a absolvição do apelante ao argumento de que no presente caso houve “erro de tipo”, pois o agente não teria qualquer conhecimento de que a reprodução de obra intelectual, sem autorização, constituía-se em conduta em desacordo com a legislação penal.

Segundo a doutrina, erro de tipo é “o erro que incide sobre elementos objetivos do tipo penal, abrangendo qualificadoras, causas de aumento e agravantes.” (In Manual de Direito Penal, ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2ª edição).

No presente caso, conquanto a defesa alegue que o apelante não tinha conhecimento de que a reprodução de obra literária para os fins de comercialização, sem autorização do autor, é conduta ilícita, tenho que os autos oferecem elementos em sentido contrário.

Com efeito, é pouco crível que o apelante, pessoa com desenvoltura na prática comercial, não tivesse conhecimento de que reproduzir obras literárias, sem conhecimento do autor ou editora, e com intuito de lucro seja conduta ilícita. Tanto assim, que perante o crivo do contraditório afirmou que “outras copiadoras também fazem cópias de livros”.

Lado outro, não subsiste o pedido formulado pela defesa, pois conforme visto, o próprio apelante afirmou, na instrução judicial, ter pleno conhecimento de que “a impressão de cópias daqueles livros se tratava de atividade ilícita” (fl. 142/143).

Tal fato, inclusive, é corroborado pelas demais provas judicializadas dos autos, destacando-se, ainda, que é pouco provável que o apelante não soubesse que praticava conduta ilícita, em face de sua experiência profissional e até mesmo pela prova material da conduta, onde pode se observar no anexo dos autos várias capas das obras reproduzidas na empresa do apelante.

Dessa forma, tenho como inviável o pleito absolutório, devendo a condenação de JOSÉ LAMARTINE MENDES DE MELO ser mantida, nos termos do artigo 184, § 1º, c/c art. 71 (por 122 vezes), todos do Código Penal.

DOSIMETRIA DA PENA Quanto à dosimetria da pena, embora não tenha havido recurso por

parte da Defesa, tenho que a sentença merece reparo quanto à pena de multa pecuniária, em razão do efeito devolutivo da apelação criminal.

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 10

Inicialmente, registro que tenho como irreparável o quantum da pena privativa de liberdade estabelecido pelo MM. Juiz, pois atento às diretrizes dos artigos 59 e 68 do Código Penal, estabeleceu a pena privativa de liberdade, na primeira e segunda fases, no mínimo legal, ou seja, em 02 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, calculados à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos.

Na terceira fase, reconhecido a prática do crime em continuidade delitiva, por 122 (cento e vinte e duas vezes), a pena foi majorada em 2/3 (dois terços), sendo estabelecida definitivamente em 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão.

Em relação à multa pecuniária, com fundamento no artigo 72 do Código Penal, a pena foi estabelecida definitivamente em 1.220 (hum mil duzentos e vinte) dias-multa, calculados à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, relativo a cada uma das 122 (cento e vinte e duas) condutas praticadas.

Todavia, na esteira de posicionamento desta Corte e do Superior Tribunal de Justiça, tenho que o artigo 72 do CP incide apenas nas hipóteses de concurso formal e de concurso material, procedendo-se ao somatório das penas pecuniárias aplicadas.

No caso de crime continuado, o legislador criou uma ficção jurídica que torna um crime único os delitos da mesma espécie cometidos sob as mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução.

Dessa forma, não há concurso de crimes a atrair a incidência da regra estipulada no art. 72 do Código Penal, mas um só delito em continuação, que obedece ao disposto no art. 71 do Código Penal, inclusive em relação ao sistema da exasperação.

Nesse sentido, veja-se o que tem decidido nossos Tribunais: “(...) 3. Quanto ao recurso defensivo, impende salientar que,

reconhecida a hipótese de crime continuado, não incide a regra do art. 72 do Código Penal para a fixação da pena de multa, devendo ser aplicado os critérios do art. 71 desse Codex (...) (REsp 858.741/PR. Relatora Ministra Laurita Vaz, 5ª Turma – STJ, DJe 13.09.2010).

“(...) Consoante remansosa jurisprudência desta corte, as penas de multa são calculadas consoante o disposto no artigo 72 do CPB, que prevê a aplicação distinta e integral da pena pecuniária no concurso de crimes, somente nos casos de concurso material e formal, afastada a incidência do referido artigo na hipótese de crime continuado (...)” (HC 120.522/MG, REl. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª Turma, DJe 09.03.2009).

(...) 5. Quanto à pena pecuniária, em se tratando de crime continuado, inaplicável a regra contida no artigo 72, do Código Penal. (...)” (APR 2008031034034-3, Relator Alfeu Machado, 2ª Turma Criminal, julgaod em 19.08.2010, DJ 01º.09.2010, p. 179).

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APELAÇÃO CRIMINAL 2008 01 1 008951-4 APR

Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 11

Feitas estas considerações, e entendendo que a pena pecuniária deve guardar proporção e razoabilidade com a sanção corporal, reduzo-a para 16 (dezesseis) dias-multa, calculados à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, valor equivalente à pena pecuniária de um dos crimes (10 dias-multa), exasperada em 2/3 (dois terços), fração utilizada para elevar a pena, pela continuidade delitiva.

Fica mantido o regime inicial aberto, com fundamento no artigo 33, § 2º, alínea ‘c’, do Código Penal, bem como a substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, nos moldes estabelecidos na sentença recorrida.

Ante o exposto, rejeito a preliminar e dou parcial provimento ao recurso de JOSÉ LAMARTINE MENDES DE MELO, para reduzir a multa pecuniária de 1.220 (hum mil duzentos e vinte) dias-multa, calculados à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, para 16 (dezesseis) dias-multa, calculados à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, mantendo-se a sentença em seus demais termos.

É como voto. O Senhor Desembargador LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS - Revisor

Conheço do recurso. Analiso a preliminar de inconstitucionalidade. Não há a alegada inconstitucionalidade. Dou as razões para assim entender. A norma que define a violação de direito autoral é certa, clara e

precisa. Veja-se a sua: “Art. 184. Violar direitos do autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3(três) meses a 1(um) ano, ou multa. § 1.º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com

intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso ou de que os represente;

Pena – reclusão, de 2(dois) a 4(quatro) anos, e multa.” A norma penal é complementada pela norma civil que esclarece que

para a reprodução de obra, depende-se de autorização prévia e expressa do autor, não deixando qualquer dúvida ao interprete.

Esta a redação da Lei nº 9.609/98:

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APELAÇÃO CRIMINAL 2008 01 1 008951-4 APR

Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 12

“Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:

I – a reprodução parcial ou integral;” O direito do autor é ainda, expressamente previsto na Constituição

Federal em seu art. 5º, inciso XXVII, que diz: “– aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, de suas

obras, transmissíveis aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar” Não há que se falar em ofensa ao princípio da taxatividade quando o

tipo penal descrito no art. 184 do Código Penal dirige-se à proteção da propriedade intelectual violada, por ter sido reproduzida sem a prévia e expressa autorização dos autores.

O apelante alega falta de definições para as expressões: direito do autor; os que lhe são conexos; o que seria violação ao direito do autor.

Mais uma vez sem razão o apelante, uma vez que a definição da doutrina responde ao seu questionamento de forma clara.

Sobre o tema ensina Cezar Roberto Bitencourt: “Direito autoral consiste nos benefícios, vantagens, prerrogativas e

direitos patrimoniais, morais e econômicos provenientes de criações artísticas, científicas e profissionais de seu criador, inventor ou autor.”

“A violação dos direitos de autor pode concretizar-se de formas variadas, tais como a reprodução gráfica da obra original, ou comercialização de obras originais, sem autorização do autor ou seu representante legal. A ação delituosa consiste em violar direito de autor ou os que lhe são conexos.”

“Direitos conexos aos do autor são os relativos à interpretação e à execução da obra por seu criador, considerando-se com tais a gravação, reprodução, transmissão, retransmissão, representação ou qualquer outra modalidade de comunicação ao público.” (Bitencourt, Cezar Roberto, In Código Penal Comentado, São Paulo; Editora Saraiva, 5ª edição, 2009, p. 748)

Diante do exposto, não sendo o tipo penal vago, obscuro ou impreciso, não há que se falar inconstitucionalidade.

Neste sentido vem decidindo, esta Casa: “APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL.

FORMA QUALIFICADA INSERTA NO ARTIGO 184, § 2º, DO CÓDIGO PENAL. PATRULHAMENTO DE ROTINA QUE APREENDE DIVERSAS MÍDIAS REPRODUZIDAS COM VIOLAÇÃO A DIREITO AUTORAL. EXPOSIÇÃO À VENDA. RECURSO DA DEFESA. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. REJEIÇÃO. MÉRITO. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. CONJUNTO PROBATÓRIO. COMPROVAÇÃO DA AUTORIA E MATERIALIDADE DO DELITO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. NÃO ACOLHIMENTO. CRIME FORMAL. PREJUÍZO INSÍTO À CONDUTA DE VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA. INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA ADEQUAÇÃO SOCIAL E DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. RECURSO

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 13

CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Se a peça acusatória contém a descrição pormenorizada da situação fática, com todas as circunstâncias que o envolveram e com a identificação do ora recorrente como o autor do fato criminoso descrito na exordial, consistente em expor à venda cópia de obra intelectual reproduzida com violação de direito autoral, além de relatar as circunstâncias do delito, especificando a quantidade de DVD's e MP3 falsificados apreendidos, não há falar-se em inépcia da denúncia, pois devidamente preenchidos os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, possibilitando o exercício da ampla defesa. 2. O artigo 184, § 2º, do Código Penal, trata de uma das formas qualificadas do crime de violação de direito autoral, por meio do qual se pune o agente que, com o intuito de lucro direto ou indireto, pratica a conduta de distribuir, vender, expor à venda, alugar, introduzir no país, adquirir, ocultar ou ter em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito do artista intérprete ou executante, ou do direito do produtor de fonograma. 3. No caso dos autos, é imperiosa a manutenção do decreto condenatório, porquanto o acervo probatório, consistente na confissão extrajudicial e judicial do réu, nos depoimentos em juízo dos agentes de polícia responsáveis pelo flagrante, aliado ao laudo pericial, demonstra que o réu, detendo o pleno conhecimento da ilicitude de sua conduta, expôs à venda material com violação a direito autoral, com o intuito de lucro, amoldando-se sua conduta à figura típica do artigo 184, § 2º, do Código Penal. 4. O crime de violação de direito autoral é crime formal, que prescinde de comprovação do efetivo prejuízo à vítima. De qualquer modo, é indene de dúvidas que a violação de direito autoral e a comercialização de produtos falsificados, além de causar prejuízo ao detentor do direito autoral violado, também produz enormes prejuízos à Fazenda Pública, diante da fraude no recolhimento de tributos, à indústria fonográfica e aos comerciantes regularmente estabelecidos, não prosperando, pois, o pleito absolutório por ausência de comprovação de prejuízo. 5. A conduta praticada pelo apelante não permite a aplicação do princípio da adequação social. Com efeito, não obstante ser público e notório que em grandes e pequenas cidades há o comércio de mídias contrafeitas por pessoas de baixa renda com dificuldade na manutenção básica de seus familiares, certo é que, em razão do desvalor da ação e do desvalor do resultado, a conduta merece censura jurídica, devendo incidir os rigores da lei penal. 6. O conteúdo do injusto de violação de direito autoral não é irrisório, a ponto de incidir o princípio da insignificância, pois violar direitos do autor (crime que gera prejuízos ao fisco, aos autores, aos produtores, às gravadoras e à sociedade em geral) não é figura penal irrelevante. Ademais, não se mostra irrisória a mercadoria apreendida, composta por 258 (duzentos e cinquenta e oito) filmes em suporte de DVD's e 255 (duzentos e cinquenta e cinco) MP3 de diversos títulos falsificados. 7. Recurso conhecido, preliminar rejeitada, e, no mérito, não provido para manter a condenação do réu nas sanções do artigo 184, § 2º, do Código Penal, à pena de 02 (dois) anos de reclusão, em regime aberto, e 10 (dez) dias-multa, no valor unitário mínimo, substituída por uma restritiva de direitos a ser fixada pelo Juízo da Vara das Execuções Penais.

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 14

(20080111593330APR, Relator ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, 2ª Turma Criminal, julgado em 16/12/2010, DJ 10/01/2011 p. 213)”

No mesmo sentido já se manifestou o STJ: “HABEAS CORPUS. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. PENA

APLICADA: 2 ANOS DE RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL ABERTO, SUBSTITUÍDA POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ALTO GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA DO PREJUÍZO SOFRIDO PELAS VÍTIMAS DO DELITO, TITULARES DO DIREITO VIOLADO. DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM DENEGADA.

1. A ausência de comprovação do prejuízo patrimonial suportado com a violação da propriedade imaterial impede o reconhecimento do princípio da insignificância, que, no caso, não pode ser verificado apenas pelo suposto "lucro" que a paciente auferiria com a venda dos DVD's falsificados.

2, Ademais, a aplicação do referido princípio não está vinculada apenas ao valor econômico dos bens apreendidos, mas deve ser aferida, também, pelo grau de reprovabilidade da conduta, que, nesses casos, é alto, tendo em vista as consequências nefastas para as artes, a cultura e a economia do País, conforme amplamente divulgados pelos mais diversos meios de comunicação. (HC 113.702/RJ, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe 03.08.2009).

3. Parecer do MPF pela denegação da ordem. 4. Ordem denegada.” Passo ao exame do mérito. Não procede a alegação do apelante de atipicidade da conduta

por erro de tipo. O erro de tipo incide sobre os pressupostos de fato de uma causa de

justificação ou sobre dados secundários da norma penal incriminadora, ou seja, é aquele que incide sobre as elementares ou sobre as circunstâncias da figura típica da norma penal incriminadora.

Este o ensinamento de Damásio Evangelista de Jesus sobre o tema: “É o que faz o sujeito supor a ausência de elemento ou circunstância

da figura típica incriminadora ou a presença de requisitos da norma permissiva.”2[JESUS, Damásio E. Direito Penal – Parte Geral. 25ª ed. P. 309, v.1 – Editora Saraiva, São Paulo - 20024]

No caso em análise, trata-se de comerciante que exerce suas atividades na Capital Federal e tem acesso a informação suficiente para conhecer do ilícito praticado. Tanto é assim, que o próprio apelante declarou em juízo ser conhecedor do ilícito que praticava ao reproduzir as obras, sem a prévia e expressa autorização dos autores.

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Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 15

Em juízo, assim declarou: “(...) que o interrogando tinha ciência de que a impressão de cópias

daqueles livros se tratava de atividade ilícita, mas ressalta que outras copiadoras também fazem cópias de livros; que entre seus clientes havia alunos do VESTCON, OBCURSO e do PONTO DOS CONCURSOS; que copiadoras que atuam dentro de cursinhos também fazem cópias de livros; (...)”

Não prospera também a alegação de insuficiência de prova para condenação.

A materialidade e autoria restaram comprovadas pelos autos de prisão em flagrante (fls.05/06), de apresentação e apreensão (fls.24/31), ocorrência policial (fls.35/38) e pela prova oral colhida na instrução processual.

O apelante confessou parcialmente o delito ao declarar em juízo que fazia as cópias e vendia aos alunos dos cursos preparatórios par concursos.

Veja-se as suas declarações: “Que os fatos narrados na denúncia são parcialmente verdadeiros;

que o interrogando é proprietário da copiadora LAMAR; que esclarece que é o responsável e o gerente do estabelecimento, porém não consta como sócio, mas sim sua a sua esposa; que a esposa do interrogando não trabalha na copiadora e não exerce a função de gerencia; que na época dos fatos alunos de cursos para concursos, criaram grupos e levaram materiais para que fossem copiados no estabelecimento do interrogando; que tais alunos levaram livros e cópias de livros para serem copiados; que tais alunos deixaram os referidos livros e cópias no estabelecimento do interrogando; que o material permaneceu no local disponível para que qualquer integrante daquele grupo de alunos fizessem cópias; que entre os livros havia cópias de obras da vítima VICENTE PAULO, bem como outras obras da editora VESTCON; que o interrogando tinha ciência de que a impressão de cópias daqueles livros se tratava de atividade ilícita, mas ressalta que outras copiadoras também fazem cópias de livros; que entre seus clientes havia alunos do VESTCON, OBSCURSO e do PONTO DOS CONCURSOS; que copiadoras que atuam dentro de cursinhos também fazem cópias de livros; que o interrogando cobrava sete centavos por cópia e acredita que "foi denunciado" em razão do preço que cobrava, haja vista que era menor do que o preço cobrado pelas copiadoras que atuam dentro dos cursinhos; que os alunos também deixaram cópias de livros gravadas em CD ROM para serem impressas; que o interrogando não produziu nenhuma copia ou cd para deixar a venda disponível no local; que conhece as testemunhas arroladas na denúncia, nada tendo a alegar contra as mesmas; que esclarece que ANDRE, NILVANA, SIMEI e CRISTIANO eram funcionários da copiadora na época dos fatos; que não conhece as provas constantes nos autos." Que consultado, o acusado disse não ter mais nada a alegar em sua defesa. Após proceder ao interrogatório do acusado, cumprindo as disposições contidas no artigo 188 do CPP, o MM Juiz indagou das partes se restou algum fato acerca do qual pretendem esclarecimento. Às perguntas do MP, respondeu: "Que os alunos a que se referiu levaram uma lista dos materiais que ficaram disponíveis; que como se tratava de uma listra grande, o interrogando fez cópia reduzida da lista e por isso chamaram-na 'cardápio'." Às

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perguntas da defesa, respondeu: "Que o interrogando apenas fazia aas copias solicitadas pelos alunos e não colocou à venda cópias dos livros.”

A testemunha Marco Antônio Schiochet, policial civil que efetuou o flagrante, às fls.116/117 assim declarou:

“Que salvo engano foi o chefe da seção que recebeu os telefonemas denunciando as reproduções; que diante da notícia foi ao local cerca de quatro vezes, as três primeiras para verificação das denúncias; que lembra-se que na primeira vez que foi ao local viu livros e matrizes, geralmente cópias, já prontas; que também viu um "cardápio" com vários nomes de livros e apostilas e seus autores; que o "cardápio" tinha de quinze a vinte páginas, possuía formato menor e espiral; que viu vários funcionários trabalhando; que não identificou o material que estava sendo copiado nesta primeira visita; que neste dia também não chegou a perguntar ou pedir a cópia de qualquer livro ou apostila em especial; que se recorda da testemunha CRITIANO e de outra funcionária, morena, que não é testemunha; que, todavia, outros funcionários também estavam no local; que neste dia também viu uma pessoa olhando o "cardápio"; que na data da apreensão foi ao local com outros dois agentes; que verificou que havia funcionários trabalhando; que viu uma moça pedir o "cardápio"; que então e identificou como policial e apreendeu o "cardápio"; que entrou no estabelecimento com a permissão do réu e apreendeu vários originais e cópias de livros e apostilas, a maioria jurídicos; que se recorda de apostilas da Editora Vestcon e de livros e apostilas dos autores: Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino e Rogério Greco; que foram apreendidas várias cópias integrais das obras, algumas já encadernadas, mas a maioria ainda não; que algumas cópias eram coloridas; que em algumas cópias prontas constavam nomes de clientes e preços; que o preço era indicado apenas pelo número, sem cifrão; que não se recorda se os preços das cópias constavam do "cardápio"; que não se recorda do valor da cópia simples; que não sabe precisar se o valor da cópia integral ultrapassava o valor da soma das cópias unitárias; que foram apreendidas várias matrizes, em geral cópias de livros e apostilas das quais eram feitas novas cópias; que também foram apreendidos arquivos digitalizados de livros completos; que tais arquivos, além de DVDs, pen drives e CPU's foram encaminhados à perícia; que os arquivos digitalizados eram sobre vários temas e obras; que não se recorda de nenhuma reação ou comentário do réu quando da apreensão; que um dos autores chegou a ir à DP; que pelo que se recorda este autor também tinha constatado previamente na copiadora a existência de cópias de livros seus; que o "cardápio" ou "catálogo" podia ser manuseado por todos os funcionários da loja e ficava sob o balcão; que todos os funcionários tinham acesso ao catálogo; que viu no mínimo duas pessoas consultando o "catálogo", uma na primeira vez que verificou o local e outra na data da apreensão; que pelo que recorda não chegou a pedir para olhar o "cardápio" da primeira vez que foi à copiadora." Às perguntas da defesa do acusado, respondeu: "Que não sabe se o material copiado era deixado por alunos de cursos preparatórios de vestibulares e concursos; que não sabe informar se todo material apreendido foi devolvido aos proprietários; que se recorda que alguns livros, inclusive infantis, foram devolvidos aos proprietários; que o catálogo apreendido não era uma relação do material deixado para ser copiado, ou seja, não era a relação do serviço que estava por fazer da copiadora; que afirma isso porque o catálogo não

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era escrito á mão, mas todo digitado, e também porque viu duas pessoas consultando-o como à procura de alguma obra; que o depoente consultou e viu o catálogo no dia da apreensão; que não chegou a perguntar para essas duas pessoas se o catálogo referia-se a material exposto à venda; que acredita que o material era reproduzido por encomenda e não ficava exposto à venda já pronto; que acredita que as pessoas chegavam na copiadora, consultavam o catálogo, pediam o livro/apostila e o réu tinha a matriz necessária para fazer a cópia; que acredita que o dono e também outras pessoas podiam levar as matrizes para serem copiadas; que já houve outras denúncias sobre fatos análogos na DP; que não lembra se houve denúncias de outros estabelecimentos no Sudoeste.”

No mesmo sentido foram as declarações da testemunha Simei Arnaldo de Souza, funcionário da copiadora do apelante:

Eis suas declarações em juízo (fls.118/119): "Que é funcionário da copiadora há seis anos; que trabalha das 08

às 18 horas; que tira cópias e também atende o balcão; que já fez cópias de livros e apostilas parcial e também totalmente; que em geral as cópias de livros eram parciais; que uma lista com cerca de cinqüenta páginas e um CD foi deixada na copiadora por um grupo de seis a dez pessoas; que a lista estava na copiadora há trinta ou quarenta dias antes de ser apreendida; que pessoas ligavam à copiadora e perguntavam pela lista deixada por "biscoito"; que essas pessoas geralmente não se identificavam e pediam para que fosse tirada a cópia de determinada obra ou apostila da lista; que os funcionários procuravam as obras da lista no CD deixado pelo grupo; que nunca ofereceu a lista para outros clientes; que em sua presença a lista nunca foi oferecida por outros funcionários a outros clientes; que a copiadora é pouco maior que esta sala de audiências; que já viu ser feita e já fez cópia de apostilas da VESTCON, embora não saiba especificar sobre qual concurso ou curso se referiam; que eram os clientes que chegavam com as apostilas e livros e pediam para tirar cópias; que a cópia simples custava 0,7 centavos; que o preço das obras copiadas era a soma das páginas xerocadas, ou seja, cem páginas custava sete reais; que os livros originais apreendidos eram todos de clientes; que a maioria destes livros não tinha os nomes dos proprietários no interior; que nenhum livro era do dono da copiadora; que ficou sabendo que era crime copiar livros e apostilas após os fatos; que sabia que em alguns livros e apostilas contava ser crime a proibição da reprodução total ou parcial sem autorização; que nos livros e apostilas em que não constava a advertência não sabia se era crime." Às perguntas da defesa do acusado, respondeu: "Que não havia material exposto à venda e já pronto na copiadora; que as cópias somente eram feitas a pedido; que sabe que outras copiadoras fazem cópias de livros e apostila sem autorização; que não sabe se essas copiadoras já foram investigadas." As perguntas da MMª, respondeu: "Que geralmente eram "biscoito" que buscava as copias relativas à lista; que já viu uma outra moça buscar tais cópias."

A testemunha Nilvana Santos Romão, também funcionária da Copiadora Lamar, confirmou em Juízo (fls.120) que havia no estabelecimento uma lista de "obras que os clientes queriam copia", e que tal lista foi produzida por alunos de cursinhos.

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A vítima Vicente Paulo das Graças Pereira foi ouvida na fase inquisitorial (fls.11/12) e declarou:

“(...) que possui vários livros publicados, voltados para a área de concursos públicos, sendo que alguns alunos amigos procuraram o declarante , noticiando que havia uma copiadora no Setor Sudoeste, que estaria funcionando como uma suposta editora gráfica paralela, sem que disponibilizam aos interessados, a aquisição de cópias integrais de obras do declarante, além de outras; (...); que o declarante na data de 10 de janeiro do corrente ano, foi até o local e comprovou o fato, constando que tal Copiadora, de nome LAMAR, (...); Que quando lá chegou, naquela ocasião, constatou o declarante que havia um catálogo informativo, o qual lhe foi fornecido por um funcionário daquele estabelecimento, com inúmeras obras que a Copiadora possuía para xerocopiar; Que o declarante constatou que haviam[sic] outras três pessoas, ‘clientes’, os quais estavam fazendo pedidos de cópias de obras, não se recordando quais, acertando os preços com os funcionários, não se recordando o valor, havendo um rapaz, também, que estava encadernando diversas obras; Que uma funcionária disse ao declarante que se a obras não estivesse no catálogo, poderia o declarante fazer ‘um pedido”, que a Copiadora conseguiria a cópia das obras; Que neste ato, reconhece a lista apreendida pelos policiais deste Especializada, como sendo a mesma que lhe foi fornecida para consulta e escolha de cópias das obras, (...)”

A intuito de lucro restou comprovado, na medida que o apelante vendia as reproduções de livros e apostilas a terceiros, conforme amplamente demonstrado nos autos.

A continuidade delitiva, de igual sorte, está configurada, uma vez que consta dos autos a apreensão de 122(cento e vinte e duas) reproduções, não autorizadas de obras, ou seja, mediante mais de uma ação, dentro das mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução, o apelante praticou vários crimes da mesma espécie.

Assim, o que se tem é que o apelante, agindo de forma livre e consciente, infringiu a norma do artigo 184, §1º c/c o art. 71 (122 vezes), ambos do Código Penal, devendo a condenação ser mantida.

A dosimetria merece reparo. Em que pese não ter havido recurso da defesa quanto a fixação da

pena, em face do efeito devolutivo da apelação criminal, redimensiono a pena de multa.

Na primeira fase a pena foi aplicada no mínimo legal, qual seja 02(dois) anos de reclusão e 10(dez) dias-multa, não havendo o que se alterar.

Na segunda fase não foi considerada qualquer agravante, mantendo-se a pena-base, portando não há o que ser revisto.

Na terceira fase, em face do reconhecimento da prática de 122(cento e vinte e dois) delitos em continuidade delitiva, a pena foi majorada em 2/3(dois terços), fixando-se definitivamente a pena em 03(três) anos e 04(quatro)

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APELAÇÃO CRIMINAL 2008 01 1 008951-4 APR

Código de Verificação: F35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1XF35Z.2011.IGI0.7ZFH.XMH6.9E1X GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA 19

meses de reclusão e, com fulcro no art. 72 do CP, 1220 (mil duzentos e vinte) dias-multa.

Verifica-se que a sentença reconheceu a ocorrência de crime em continuidade delitiva. Assim, não incide a regra do art. 72 do CP, que disciplina a aplicação da pena pecuniária para o concurso de crimes.

Assim está redigida a norma: “Art. 72. No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas

distinta e integralmente.” A norma penal deve ser aplicada de forma restritiva, não se

admitindo aplicação ao crime continuado de norma que trata de multas para o concurso de crimes, devendo incidir na espécie a regra do art. 71 do CP, que trata do crime continuado, pois que este é considerado crime único que tem a pena majorada em face de sua continuidade.

Assim, mantenho a pena corporal aplicada em 03(três) anos e 04(quatro) meses de reclusão e redimensiono a pena de multa, utilizando a fração de 2/3(dois terços), mesma usada para exasperar da pena privativa de liberdade, fixo a pena de multa em 16(dezesseis) dias-multa.

Por estes motivos, VOTO no sentido REJEITAR a preliminar de inconstitucionalidade e DAR PARCIAL provimento ao recurso, para reduzir a pena pecuniária para 16(dezesseis) dias-multa, mantendo-se a sentença em seus demais termos.

Este o meu voto.

O Senhor Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - Vogal

Com o Relator.

D E C I S Ã O

REJEITAR A PRELIMINAR. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME.