jose guilherme merquior - liberalismo - antigo e ocr

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' 'Esse //vro de José Gui//>erme Aíere/uioré'umaf?ese/a/ia incisiva e estimulante sobre a b/stór/a e evo/ução da teoria /ibera/ desde o sécu/o XVIIao /empo presente. Com/;wa uma enorme riqueza c/e Informações surpreeui/en/emen/e condensada -- com penetrante apresentação a/os temas centra/s a/o ribera/ismo. Aíerece, assim, os mais a/tos e/ogios. ERNEST GEI.LNER Professor Cambridge University ' 'Um /ivro importante sobre um movimento fundamenta/ dapo//tica moderna... Escrito com erudição, ironia e paixão. PIERRH MANENT Collège de France, Paris ' 'Merquiorforça-nos a lembrar que o riberarismo tem sic/o um movimento internaciona/ Esse /ivro éum 'tour de force', o produto de uma mente poderosa e e/egante inteiramente à vontade em meio a um extraordinário número de cu/turas. JOHN A. I-IALL Professor de Sociologia I larvard University EDITORA NOVA FRONTEIRA SEMPRE UM BOM LIVRO 320,51 M5671 CMS 1 O "-4 O CT n> B o I > r-t I—- crq o o X o o- n> l-t o

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' 'Esse //vro de Jos Gui//>erme Aere/uior'umaf?ese/a/ia incisiva e estimulante sobre a b/str/a e evo/uo da teoria /ibera/ desde o scu/o XVIIao /empo presente. Com/;wa uma enorme riqueza c/e Informaes surpreeui/en/emen/e condensada -- com penetrante apresentao a/os temas centra/s a/o ribera/ismo. Aerece, assim, os mais a/tos e/ogios.ERNEST GEI.LNER Professor Cambridge University

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EDITORA NOVA FRONTEIRA SEMPRE UM BOM LIVRO

320,51 M5671 CMS

Sumrio

Prefcio - Roberto Campos

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1 Definies e pontos de partidaLiberalismo Liberdade e autonomia Trs escolas de pensamento O indivduo e o Kslado

1515 21 27 '52

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/\.v razes c/o liberalismo Primeiras fontes modernas O legado do Uuminismo

:ir. ;(.r> 49

3

Liberalismo clssico, 1780-1860Locke: dircilos, consenlimenlos o confiana De Locke a Madison: humanismo cvico e republicanismo moderno Whigs e radicais: o nascimento da idia liberal democrtica ... Os primeiros liberais franceses: de Constant a Guizot O liberalismo analisa a democracia: Tocqueville O santo libertrio: John Stuart Mill Em direo ao liberalismo social: Mazzini e Herzen Os discursos do liberalismo clssico

05(>0

69 76 82 87 95 101 105

4

Liheraliwios conservadores Conservadorismo liberal e liberalismo conservador Liberais conservadores evolucionistas: Bagchot c Spencer O liberalismo construtor de naes: Sarmicnlo c Albcrdi O segundo liberalismo francs: de Rmusat a Renan Semiliberalismo: do llechtsstaat alemo a Max Weber Croce c Ortega Concluso

109 109 115 I 19 126 \?>2 139 148

Prefcio

Merquior, o liberista

5

Dos novos liberalismos aos neoliberalismosAs reivindicaes do liberalismo social De Kelsen a Keyncs: liberalismo de esquerda no entre guerras Karl Poppcr e uns poucos moralistas liberais do aps-guerra .. Neoliberalismo como neoliberismo: de Mises a llayck, e a teoria da escolha pblica Liberalismo sociolgico: Arou e DahrcndorC Os ncocontratualistas: Rawls, No/.ick e Bobbio Concluso

151151 165 178 188 196 205 2 IH 22 I A p a r t i d a de J o s G u i l h e r m e Merquior, aos -19 anos, no apogeu da p i o d u l i v i d a d e , p;u'e< r uni eiuel dcfipri drio, Meiti Ia/. de.'isari < i sas. Fabrica gnios e depois q u e b r a o m o l d e . As vezes d vonlado de a gente, c o m o no p o e m a de Murilo Mendes, intimar o C r i a d o r a n o repetir a piada da Criao... Legou-nos u m a rica obra, q u e vai da crtica literria filosofia, sociologia e cincia poltica. Escrevendo em ingls e francs, c o m llttncia igual exibida em sua lngua nativa, M e r q u i o r tem hoje c o m o socilogo uma projeo internacional s o m e n t e comparvel alcanada em sua poca p o r Gilberto Frcyre, em seus pioneiros e s t u d o s sociolgicos. S (pie mais diversificada, pois q u e a b r a n g e i m p o r t a n t e s excurses na filosofia e na cincia poltica. OMttgnum opus de M e r q u i o r sem dvida 0 libmismo - anlifti ti nitiilmio, cMciilu q u a n d o ainda e m b a i x a d o r no Mnii o, uuni c u r t o p e r o d o d e q u a t r o meses, S o m e n t e u m a prodigiosa erudio a c u m u l a d a lhe permitiria d e s e n h a r em to p o u c o t e m p o esse cafedralesco mural q u e descreve a longa e /.igue/agueanle peregrinao 7 "Este um livro liberal sobre o liberalismo, escrito p o r algum q u e acredita q u e o liberalismo, se e n t e n d i d o a p r o p r i a d a m e n t e , resiste a q u a l q u e r vililicao." Merquior, na introduo ao I.iheralism - Old and New

Concluso Cronologia:

22M 227 246 2 9,L

Notas e referncias biblio-r ficas ; Leitura complementar ndice |

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O liberalismo - antigo e moderno

Prefcio - Merquior, o liberisla

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humana em busca da sociedade j aberta. Talvez Merquior pressentisse que o rondavam as Parcas p que se impunha um esforo de coroamento de obra. Faltava-nos, em relao ao liberalismo, aquilo que Toynbee chamava de viso "panormica ao invs de microscpica". Essa lacuna foi preenchida pelo sobrevo intelectual de Merquior, que cobre liada menos que trs sculos. Seu livro ser uma indispensvel referncia, pois que analisa as diferentes vertentes do liberalismo com sobras de erudio e imensa capacidade de avaliao. Mais do que uma simples histria das idias, um ensaio de crtica filosfica. A publicao da verso brasileira do I.iberalism - O/d and Nexo no poderia vir num momento!mais oportuno. que o mundo assiste agora vitria do liberalismo em suas duas faces a democracia poltica e a economia de mercado no apenas como doutrina intelectual, cuja evoluo Merquior traa com maestria, mas como praxe poltica. No Annus Mirabilis de 1989 pode-se dizer que, ao ruir o muro de Berlim, terminou a guerra fria entre o capitalismo e o comunismo. Este deixou de ser um paradigma. E para alguns um pesadelo, para outros uma nostalgia, para ningum um modelo. O Annus Mirabilis de 1989 ser visto, em perspectiva, como um dos grandes divisores de gua da histria, comparvel talvez ao de 1776, quando comeou a desenhar-se a grande passagem do mercantilismo para o capitalismo liberal e a democracia constitucional. Este sculo, que alhures chamei de "sculo esquisito", assistiu ao fenecimento e ressurreio do liberalismo. O liberalismo econmico pregado em 1776 por Adam Smith somente viria a tornar-se a doutrina vitoriosa em meados do sculo XIX. ( lonti iliuiti para o fortalecimento da democracia poltica e para a prosperidade da belle poque. Os desafios socialistas eram doutrinrios antes que prticas de governo. A revoluo Sovitica de 1917 iniciava a "era coletivista"

de esquerda, enquanto o nazi-facismo viria a representar um "coletivismo" de direita. A grande depresso dos anos 30 enfraqueceu o capitalismo liberal e surgiu o keynesianismo como doutrina salvadora. Este se baseava entretanto numa sobreeslimao da capacidade dos governos de gestionar a economia atravs de uma "sintonia fina" das variveis macroeconmicas. O neoliberalismo econmico s ressurgiria comopraxis poltica na dcada dos 80. Se o perodo entre 1920 c 1980 foi a "era coletivista", como a chamou Paul Johnson, entramos nesta ltima dcada na idade liberal. Ou, como Merquior faz notar pitorescamente, "nos ltimos anos da dcada de l)'l(), os socialismos fizeram o papel de juizes; nos ltimos anos da dcada de 1980, eles prprios esto sendo julgados". Em formoso estudo recente, o grande patrono da economia liberal, Milton Friedman, interpreta a onda de liberalismo econmico que sopra no mundo como a "terceira mar", desde o Annris Mirabilis de 1776. Nesse, trs coisas aconteceram simultaneamente:, sem que os coetneos percebessem suas conseqncias majestiicas o nascimento do liberalismo econmico, o deslanche da Revoluo Industrial e a criao de um modelo de democracia poltica pela Revoluo Americana. Quem vivesse no ano 1776 no saberia que um livro A riqueza das naes e um curto documento poltico a Declarao de Filadlfia dos rebeldes norte-americanos mudariam a face do mundo. Essa foi a primeira mar. Viria depois a "mar coletivista", que invadiu a maior parte deste sculo. Friedman d a essa mar, que expandiu o intervencionismo do Ivslado e apequenou as liberdades do indivduo, o nome de marfabiana. E que ele atribuiu o fermento intelectual do coletivismo fundao da Sociedade Fabiana pelos socialistas ingleses, em 1883. Estes pregavam a "marcha gradual para o socialismo". Tal imputao arbitrria, pois talvez se

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Prefcio - Merquior, o liberista

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possa dizer que o grande desafio ao liberalismo proveio do Manifesto comunista de Marx e Engels, de 1848. A "terceira mar", que est despontando na atual dcada com a ressurgncia do liberalismo econmico, teria comeado com outro livro O caminho da servido de Mayek, publicado em 1944. Friedman aponta caractersticas interessantes nessas mars da histria. A "primeira" que elas comeam como um fenmeno puramente intelectual; um desafio hertico s doutrinas correntes. Anos ou dcadas se passam antes de se transformarem cm ao poltica. Adam Smith achava que, ao pregar o livre comrcio, estava pregando uma utopia. Entretanto, 70 anos depois, com a abrogao da Lei do Milho na Inglaterra, liberava-se o comrcio de gros c. 8() anos depois, a Inglaterra e a frana assinavam o tratado (lobden de livre comrcio. A fermentao coletivista, que no continente europeu comeou com Marx e na Inglaterra com os (abianos, comearia a invadir o mundo com o colapso Ia velha ordem na Segunda (hiena Mundial e com o advento da Revoluo Russa, quase 70 anos depois do Manifesto comunista. O golpe quase mortal no liberalismo seria a Cirande Depresso dos anos 30. Foi a falncia da empresa privada que anemi/.ou o liberalismo, da mesma forma que nesta dcada a falncia do Estado comeou a matar o coletivismo. As teorias de Ilayek tiveram que hibernar 40 anos. Durante esse perodo, alm do marxismo, vicejou o keynesianismo, que sobreestimava a capacidade dos governos de manipular instrumentos fiscais para estabilizar a economia e evitar o desemprego. A "outra" caracterstica interessante, segundo Friedman, que as novas mars se formam quando as antigas atingem seu apogeu. O marxismo e o fabianismo nasceram quando o liberalismo dera ao mundo quase um sculo de prosperidade econmica e propiciava crescente liberdade poltica. A mar ncolibcral comeou, paradoxalmente, no auge do intervencionismo governamental,durante a Segunda (hiena Mundial. Entretanto, s nesta dcada

dos 80 aps fracassadas duas experincias coletivistas, o nazismo e o comunismo, e uma experincia dirigista o keynesianismo que o neoliberalismo chegou ao poder poltico. A eleio de Madame Thatchcr na Inglaterra e do presidente Reagan nos Estados Unidos marcou o divisor de guas. A terceira caracterstica que os perodos de liberalismo econmico induzem um certo grau de liberdade poltica, enquanto o coletivismo econmico habitualmente associado ao despotismo poltico, como aconteceu com Mitler e Stalin. Ser a presente ascenso ncolibcral apenas um relluxo da mar ou estaremos lace a um fenmeno histrico novo, o casamento da democracia poltica com a economia de mercado? Francis Fukuyama, funcionrio do Departamento de Estado, num artigo intitulado "O lim da histria", que provocou grande controvrsia, pretende que a histria do pensamento sobre os princpios fundamentais que governam a organizao poltica e social estaria terminada ai ravs da vitoria do lihci alisiuo poll i o < < marcaria no s o lim da Guerra Fria mas a prevalncia de um formato poltico-social com caractersticas de "sustentabilidade" e "universabilidade". Fukuyama d mais nfase ao liberalismo poltico. Mas o fenmeno mais abrangente, pois que se tornou tambm vitoriosa a economia de mercado sobre os regimes dirigistas. E precisamente a conjugao do liberalismo poltico com o liberalismo econmico, que se pode chamar de "capitalismo democrtico". Antes de se candidatar condio de ideologia universal, o liberalismo poltico-econmico teve, entretanto, de enfrentar perigosos desafios neste sculo. Um srio desafio "interno" foi a grande depresso dos anos 30, que criou dvidas sobre a economia de mercado e encorajou experimentos dirigistas. Muitos falaram ento no "fim do capitalismo". Mas houve dois desafios "externos" o nazismo, principalmente no plano poltico, e o comunismo, principalmente no plano econmico.

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Prefcio - Merquior, o liberista

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Conjurados esses desafios, com o sepultamento do nazismo e a agonia do comunismo, no h ideologias alternativas que possam competir com o liberalismo democrtico na ambio de se universalizar como forma definitiva de governo. Esse, o fato novo na histria da humanidade. Restam poucas dvidas de que esse formato poltico-social se consolide neste fim de milnio. At mesmo por excluso. Falharam as ideologias alternativas. O socialismo "real" exibiu dois ingredientes funestos a mquina do terror e a ineficincia econmica. Os experimentos ideolgicos do Terceiro Mundo, como o fundamentalismo islmico, s trouxeram violncia e pobreza. O populismo nacionalide, to encontradio na Amrica Latina |e frica, trouxe um rosrio de fracassos. Finalmente, o nacionalis/ .

As reas de tranqilidade sistmica seriam basicamente a NortcAmrica, a Australsia, o Japo e a Europa Ocidental. surpreendente neste fim de sculo o ressurgimento do liberalismo econmico como idia-fora. Ele desbancou o keynesianismo, o estatismo assistencial, o planejamento dirigista e, finalmente, a social-democracia, pois que as economias europias modernas se conformam cada vez mais aos princpios da economia de mercado, substituindo a igualdade pela eficincia. Exceto no Brasil, onde as idias chegam com atraso, como se fossem queijos que necessitem envelhecimento, a social-democracia no percebida como o ltimo reduto do dirigismo e sim como o primeiro captulo do liberalismo. So variados os rtulos dos governos europeus conservadores, liberais, social-democralas, democratas-cristos, centro-direila e socialistas. Mas a integrao prevista para 1992 traz embutida uma harmonizao de polticas base de dois princpios da moderna economia de mercado; o "globalismo", pois as fbricas se tornam globais, c os mercados financeiros, integrados; e o "clientelismo", pois que o soberano ser o consumidor e no o planejador. O socialista francs Michel Rocard, ex-Primeiro Ministro, se diz um "socialista de livre mercado". Felipe Gonzales, o socialista espanhol, fala num socialismo supply side, de ntida preocupao produtivista, antes que distributivista. H menos nfase sobre a independncia e mais sobre a "interdependncia". O fim da histria como ideologia, observa Fukuyama, no significaria o fim dos conflitos. Apenas estes dificilmente seriam conflitos globais. Sero o produto de nacionalismos locais, de tenses religiosas como o fundamentalismo islmico, da frustrada busca terceiro-mundista de uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo. Somente ser capaz de prover tranqilidade sistmica o formato de governo que apresente duas caractersticas: sustentabilidade e universabilidade. Em outras palavras, preciso uma ideologia no excludente baseada em mtodos consensuais e susceptvel de universalizao como paradigma.

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mo nao tem, por sua prpria natureza, caractersticas universanzaveis. Pode-se alis falar numa "crise do nacionalismo" pois este (Im de sculo nos apresenta contrastes esquisitos. Enfraquece-se de um lado, o nacionalismo do estado-nao. O que se fortalece o "nacionalismo das etnias", buscando afirmao de identidade, presejrvao da lngua nativa e autonomia administrativa, sem infirmar, entretanto o desejo de integrao em blocos econmicos maiores.! Cada vez mais se reconhece o "paradoxo de Daniel Bell": "o estadonao grande demais para os pequenos problemas e pequeno; demais para os grandes problemas". Dentro dessa cosmoviso pode-se considerar os pases como divididos em dois grandes grypos: os que atingiram o estgio elej "tranqilidade sistmica", nos1 quais no esto em jogo as opes institucionais bsicas; os conflitos remanescentes se referem a pra-j gramas partidrios, personalidades e prioridades na alocao de recursos. Dentro dos limites da condio humana, ter-se-ia atingij do, aps uma busca secular, uma forma de governo que permite conciliar o trplice objetivo da liberdade poltica, eficincia econj mica e razovel satisfao social (no sentido de que nenhum sistema alternativo oferece melhores perspectivas de bem-estar social).

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O liberalismo - antigo e. moderno

Prefcio - Men/uior, o liheristu

A maior parte do mundo, entretanto, se acha cm estado de intranqilidade sistmica, com vrios processos e em vrios graus de transio. o mie ocorre no inundo socialista e na iandl1

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maioria dos pases que se convencionou chamar de "terceiramundo". As duas grandes potncias socialistas, a Unio Sovitic ( li a China, esto cada qual sua: maneira buscando um formato po as tico e social cslvcl. A China comeou pela reforma econmica m sofre de paralisia poltica. A Uijio Sovitica fez a suaglasnosl poltica mas fracassou em sua pereslrika econmica, pois a economia d mercado ainda uma viso longnqua. Os pases ps-comunistas da FAiropa Oriental esto tentando uma transio simultnea do autoritarismo poltico para a democracia representativa, e da economia de comando para a economia de mercado. A franja asitica experimenta tambm um processo de transio: Coria do Sulj e Taiwan so economias de mercado em fase de democratizao poltica. Tailndia, Malsia e Indonsia combinam resqucios autoritrios na poltica, com ensaios de economia fie mercado. A ndia uma grande e robusta democracia poltica, mas, dominada por uma burocracia socializante, est longe de se parecer com uma economia de mercado. Na Amrica Latina, praticamente inexiste o capitalismo democrtico. verdade que houve um rcflorescimento da democracia. As ditaduras esto fora de moda, s restando Cuba, como caso teratolgico. No sul do continente, o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Peru fizeram sua transio democrtica. Mas nenhum desses pases aceita a disciplina da economia de mercado. Todos insistem em controles burocrticos, mantm inchadas mquinas estatais e se protegem atravs de reservas de mercado. Essas so caractersticas das sociedades "mercantilistas". Alis, apenas trs pases Chile, Bolvia e Mxico aderiram explicitamente ao iderio da economia de mercado e, se completada sem transtorno sua liberalizao poltica, sero os primeiros exemplos de capitalismo democrtico na Amrica Latina.

A vitria atual do liberalismo sobre ideologias alternativas c a culminao de um longo e complexo histrico que Mcrquior nos desvenda, em seu grande mural, com fina percepo das nuances de pensamento. Sem deixar, alis, de nos adverlir de que o renascimento de mais liberdade econmica a tendncia liberisla no significa um golpe de morte para os impulsos igualitrios. A sociedade, diz ele, permanece caracterizada por uma "dialtica contnua, embora cambiante, entre o crescimento da liberdade e o mpeto em direo a uma maior igualdade". Diferentemente das utopias radicais, que simplificam barbaramente a realidade, o liberalismo comporta uma larga variedade de valores e crenas. Isso deriva da diferena percebida nos obstculos liberdade e no prprio conceito de liberdade, a comear pela clssica distino de Isaiah Berlin entre a liberdade negativa (ausncia de coero) e a liberdade positiva (presena de opes). Como nota Merquior, h estgios histricos na busca da liberdade. A primeira a liberdade contra a opresso, lula imemorial. A segunda a liberdade de participao poltica, inveno da democracia ateniense. A terceira a liberdade de conscincia, penosamente alcanada na Europa em resultado da Reforma e das guerras de religio. A quarta, mais moderna, a liberdade de autorealizao, possibilitada pela diviso do trabalho e o surgimento da sociedade de consumo. So luminosas as pginas de Mcrquior sobre o "liberalismo clssico", com seu trplice componente: a teoria dos direitos humanos, o constitucionalismo e a economia liberal. Muito mais que uma frmula poltica, o liberalismo uma convico, que encontrou sua expresso prtica mais concreta com a formao da democracia americana, cujos patriarcas combinaram, na formao da repblica, as lies de Loke sobre os direitos humanos, de Montesquieu sobre a diviso de poderes e de Rousseau sobre o contrato democrtico. Uma curiosa observao de Merquior a diferena vocacional entro os tericos do liberalismo. Os liberais ingleses eram

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Prefcio - Merquior, o liberista

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principalmente economistas e filsofos morais (Adam Smith e Stuart Mill), os liberais franceses, principalmente historiadores (Guizot e Tocqueville) e os liberais alemes, principalmente juristas. Na teoria inglesa, liberdade significaria independncia; na francesa, autogoverno; na alem, auto-realizao. Com extraordinria erudio, Merquior disseca as diversas linguagens liberais: a dos direitos humanos, a do humanismo cvico, a dos estgios histricos, a do militarismo e a da sociologia histrica. So originais suas observaes sobre o surgimento, no sculo que medeia entre \H'M) e \'.YM), do "conservadorismo liberal", que era liei ao individualismo e liberdade de conscincia, mas se contagiou de pessimismo quanto democracia de massas. No delicado balano entre as duas vertentes do liberalismo o libertarianismo e o democratismo os conservadores liberais, como Spenecr e Uourke, privilegiaram a primeira. Entre os modernos, Max Weber na Alemanha, benedelto Croce na Itlia e Ortega y Gasset na Espanha, ao enfatizarem a importncia do "carisma" c das "elites culturais" para viabilizar a democracia, incorreriam naquilo que Merquior chama de "curiosa alergia que sente o intelectual moderno diante da sociedade moderna". Coisa paralela ocorreria recentemente no seio do marxismo, como o assinalou Jos Guilherme em sua importante obra sobre o Marxismo ocidental. Desapontados com a inflexo totalitria do socialismo sovitico, os marxistas ocidentais na Alemanha e Frana abandonaram sua crtica obsessiva ao formato democrtico das economias liberais, para se concentrarem na crtica cultural ao produtivismo e tecnicismo da sociedade burguesa. E mordente, e correto, o veredicto de Perry Anderson: o Marxismo Ocidental, adota o "mtodo como impotncia, a arte como consolao e o

do pluralismo (Isaiah Berlin), o neo-evolucionismo (Hayek) e a sociologia histrica (Aron). O mais fascinante dos captulos do magnum opus de Merquior, em parte por se tratar de terreno menos palmilhado, em parte porque conheci pessoalmente alguns dos atores, o intitulado "Dos novos liberalismos aos neoliberalismos". Merquior examina eruditamente uma das antigas tenses dialticas do liberalismo: a tenso entre o crescimento da liberdade e o impulso da igualdade. Nada melhor para se entender a diferena entre o "novo liberalismo" e o "neolibcralismo" do que contrastar lorde Kcyncs com Hayek. Sobre ambos Merquior redigiu brilhantes vinhetas, generosas demais TIO tocante a Kcyncs, e generosas de menos no tocante a Hayek. Como e sabido, Keyncs favorecia intervenes governamentais para correo do mercado, enquanto Hayek descrevia esse comportamento como presunoso "eonstrulivismo". Para este fim, a funo do governo apenas "prover uma estrutura para o mercado e lor necer os servios que este no pode prover". Em nossas ltimas conversas senti que Jos Guilherme se tornava cada vez mais "liberista". Neste credo, comungvamos. O "liberista" aquele que acredita que, se no houver liberdade econmica, as outras liberdades a civil e a poltica desaparecem. Na Amrica Latina, a concentrao de poder econmico um exerccio liberticida. Nosso diagnstico sobre a molstia brasileira era convergente. Ao Brasil de hoje no falta liberdade. Falta liberismo. Dois dos mestres Ralf Dahrendorf e Raymond Aron cujo pensamento Merquior desfibrila com brilho, num captulo chamado "o liberalismo sociolgico", foram nossos amigos comuns. Dahrendorf era no fim dos anos 70 o presidente da London School ofEconomics, onde Merquior estudava para doutorado cm sociologia. "No sei porque", dizia-me Dahrendorf, "pois tem mais a ensinar do que a aprender". Dahrendorf gostava de debater com Merquior suas teses

pessimismo como quiescneia".

j

So luminosas as consideraes de Merquior sobre os principais idiomas do liberalismo no aps-guerra: a crtica do historieismo, (Popper), o protesto antitotalitrio (Orwell e Camus), a t.ip

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O liberalismo - antigo e moderno

Prefcio - Merquior, o liberista

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prediletas sobre o conflito social m o d e r n o : a disputa e n t r e os q u e advogam m a i o r "liberdade de escolha" e os q u e q u e r e m um maior "elenco de direitos". O u , c o m o n o t a Merquior, a oposio bsica e n t r e provisiom (provises) e cnlillements (intitulamentos). Trata-se, no p r i m e i r o caso, de alternativas de oferta de bens, um conceito incrementai. No s e g u n d o , do direito de acesso aos bens, um conceito distributivo. N u m a anttese feliz. M e r q u i o r fez nolar q u e a Revoluo Industrial foi unia revoluo de "provises", e n q u a n t o a Revoluo francesa lo tuna revoluo de "inlltilamenlos", Mais p e r t o de ns a dcada dos 70 teria sido uni p e r o d o em q u e prevaleceram as preocupaes com os "intitulamentos", e n q u a n t o a dcada (IOM HO arwiliii a unia m u d a n a do polticas, it;t quais passarai i a acentuai: a p r o d u o mais q u e a distribuio, ou seja, as provises antes q u e os "intitulamentos". A nova Constituio brasileira, de 1988, exemplifica alis m u i t o b e m esse conflito. As liberdades econmicas so restringidas. As garantias sociais ampliadas. S q u e se t o r n a m inviveis. C o m Aron, e u m e encontrava f r e q e n t e m e n t e n u m g r u p o d e debates presidido p o r H e n r y Kissinger. E s e m p r e A r o n me perguntava pelo seu discpulo dileto, "o j o v e m q u e tinha lido tudo'j. Mas o impressionante em J o s G u i l h e r m e no era a absoro de leituras. Era o metabolismo chjis idias. N o se resignava ele a ser um "espectador engajado" coujio, com exagerada modstia, se descrevia seu nieslre francs. Era um ativista. l'or isso passou da "coi

e n c r u s t a d o s na "mdia" e b r a n d i n d o eficazmente d u a s a r m a s : a adulao e a intimidao. C o o p t a m idiotas, chamando-os de "progressistas", e i n t i m i d a m patriotas, chamando-os de "entreguistas". M e r q u i o r s se desiludiu q u a n d o descobriu q u e na e s q u e r d a brasileira ainda h gente q u e n o se d c o n t a de q u e caiu o m u r o de Berlim... M e r q u i o r n o passou da polmica de idias ao ativismo poltico, circunscrito q u e eslava p o r suas funes diplomticas. C o m o

se enquadraria e|c cm nosso confuso panorama poltico? Cedam e n t e e n t r e os "liberais clssicos", ou "libertrios", se usarmos a classificao de David Nolan, ou seja, aqueles que: desejam preservar a l i b e r d a d e q u e r contra o a u t o r i t a r i s m o poltico, q u e r conira o intervencionismo e c o n m i c o . O liberal clssico, ou o "liberista", t e r m o q u e M e r q u i o r gostava de usar reportando-se controvrcia nos a n o s 20, na Itlia, e n t r e Einaudi e Croce, em q u e o p r i m e i r o defendia a incompatibilidade e n t r e liberdade poltica e intervencionismo e c o n m i c o , e n q u a n t o a o s e g u n d o n o r e p u g n a v a essa coexistncia. O liberal difere do "conservador", pois este a d m i t e restries l i b e r d a d e poltica em n o m e do Iradicionalismo, do organicismo e do ceticismo poltico. Os tradicionalistas acreditam q u e a sabedoria poltica de natureza histrica e coletiva e reside nas instituies q u e passam o teste do t e m p o . Os organicistas acreditam q u e a sociedade mais do q u e a soma dos seus m e m b r o s e h in iivilm vali H iiiiilh, hiip, i li ii a, > i li > ni IIvli lui i. ! os inlli H i s ilu ceticismo poltico desconfiam do p e n s a m e n t o e teoria aplicados vida pblica, especialmente q u a n d o direcionados para ambiciosas inovaes. O anlpoda do liberal clssico n a t u r a l m e n t e o "socialista", q u e acredita q u e cabe sociedade redistribuir o p r o d u t o do trabalho dos indivduos e admite coero poltica para garantir utopias igualitrias. Seria ilusrio p e n s a r q u e na classe poltica brasileira existam posies dessa nitidez. A tribo mais n u m e r o s a daqueles q u e Nolan

vieo liberal" "pregao liberal",Empenhou-se nos ltimos t e m p o s na dupla tarefa a ilumin; ao do liberalismo, pela busca le suas razes lilosolicas, e a desinis

e likao do socialismo, pela dei iiiticia do Mu fracasso histrico, Issoo levou vrias vezes a esgrimas{intelectuais c o m as esquerdas brasileiras, exerccio em q u e sua avassalante s u p e r i o r i d a d e provocava nos c o n t e n d o r e s a mais dolorfica das feridas a ferida do orgulho. N o fcil discutir com nossos p a t r u l h a d o r e s de esquerda, viciadosna "seduo do mito e na tirania do dogma", confortavelmentje

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O liberalismo - antigo e moderno

chamaria de "liberais de esquerda". Estes acreditam na liberdade poltica, mas admitem iulctvc|nes econmicas secundo divrrsh^ vertentes: a vertente assistencialista, que acredita no governo benfeitor; a Vertente nacionalista; a vertente protecionista; e inalmentej a vertente corporal htisia, subdividida por sua vez em trs grupos: ^>s corporativistas empresariais, os sindicais e os burocrticos. Esses diversos matizes colorem a fauna abundante dos falsos liberais. A morte de Merquior, depois de meses em que corajosamente comeu o po da tristeza e bebeu as guas da aflio, abre um enorme vazio cultural em nossa paisagem, onde os arbustos so muito mais numerosos do que as rvores. Agora, na tristeza desse vazio, s nos resta parafrasear Manuel Bandeira. "Cavalinhos andando. Cavales comendo. O Brasil politicando." Jos Guilherme morrendo. E tanta gente ficando. Roberto Campos Rio de Janeiro, maio de 1991

1 Definies e pontos de partida

LiberalismoNietzsche disse que apenas seres a-histricos permitem uma definio no verdadeiro sentido da palavra. Assim, o liberalismo, um fenmeno histrico com muitos aspectos, dificilmente pode ser definido. Tendo ele prprio moldado grande parte do nosso mundo moderno, o liberalismo reflete a diversidade da histria moderna, a mais antiga e a recente. O alcance de idias liberais compreende pensadores to diversos em formao e motivao quanto Tocqucville e Mill, Dewey c Keynes, c, cm nossos dias, Hayek e Rawls, para no falar em seus "antepassados de eleio", tais como Locke, Montesquieu e Adam Smith. 1 muito mais fcil e muito mais sensato descrever a liberalismo do que tentar defini-lo de maneira curta. Para sugerir uma teoria do liberalismo, antigo e moderno, deve-se proceder a uma descrio comparativa de suas manifestaes histricas. Em seu influente ensaio de 1929 A rebelio tlm massas, o filsofo espanhol Ortcga y Gasset proclamou o liberalismo "a forma suprema de generosidade: o direito assegurado pela maioria s minorias e, portanto, o apelo mais nobre que j ressoou no planeta... A determinao ile conviver com o Inimigo e ainda, o15

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que mais, com um inimigo fraco". A declarao de Ortega proporciona um prembulo conveniente para a nossa abordagem histrica porque combina com felicidade os significados moral e poltico da palavra liberal. Embora denote obviamente poltica liberal as regras liberais de jogo entre maioria e minoria , o dito de Ortega tambm ut.ili/a o primeiro significado corrente: do adjetivo liberal em qualquer dicionrio moderno. Assim, reza o Webster: liberal (1) originariamente apropriado para um homem livre: hoje em dia, apenas em "artes liberais", "educao liberal"; ('.!) mo aliei Ia. y/neroM). A declararo ilc Orlega resliltii t> sentido moral da palavra a seu sentido poltico bastante apropriadamente, j que "liberal" como rtulo poltico nasceu nas Cortes espanholas de 1810, num parlamento que se revolta contra o absolutismo. 'Em sua idade de ouro, o sculo XIX, o movimento liberal atuava em dois nveis, o nvel de pensamento e o nvel de sociedade. Consistia num corpo de doutrinas e num grupo de princpios que sustentam o funcionamento de vrias instituies, algumas antigas (como parlamentos) e outras novas (como liberdade de imprensa). Por consenso histrico, o liberalismo (a coisa seno o nome) surgiu na Inglaterra na luta poltica que culminou na Revoluo Gloriosa de 1688 contra Jaime II. Os objetivos dos vencedores da Revoluo Gloriosa eram tolerncia religiosa e governo constitucional. Ambos tornaram-se pilares do sistema liberal, espalhando-se com o tempo pelo Ocidente. . No sculo que medeia entre a Revoluo Gloriosa e a grande Revoluo Francesa de 1789-1799, o liberalismo ou melhor, protoliberalismo era constantemente associado com o "sistema ingls" ou seja, uma forma de governo fundada em poder monrquico limitado e num bom grau de liberdade civil e religiosa. Na Inglaterra, embora o acesso ao poder fosse controlado por uma oligarquia, fora refreado o poder arbitrrio, e havia mais liberdade

compreenderam que, na Inglaterra, a aliana entre a lei e a liberdade promovia uma sociedade mais sadia e prspera do que quaisquer das monarquias continentais ou das virtuosas, marciais, mas pobres repblicas da antigidade remota. Os pensadores do assim chamado Iluminismo escocs David Hume, Adam Smith e Adam Ferguson divisaram as vantagens do governo submetido lei e da liberdade de opinio oriundos das atividades espontneas de uma sociedade civil dividida em classes, mas ainda assim imvel. A comparao com a Gr-Bretanha convenceu muitos protoliberais de que o governo deveria procurar apenas aluar minimamente, zelando pela paz e segurana. Forque nasceu como um protesto contra os abusos do poder estatal, o liberalismo procurou instituir tanto uma limitao da autoridade quanto uma diviso da autoridade. Um grande anliliberal moderno, o jurista e terico poltico alemo Carl Schmitt, resumiu isso muito bem em sua Conslitulional Theory de 1928, onde escreveu que a constituio liberal revela dois princpios mais importantes: o princpio distributivo significa que a esfera de liberdade individual em princpio ilimitada, enquanto a capacidade que assiste ao governo de intervir nessa esfera em princpio limitada. Em outras palavras, tudo o que no for proibido pela lei permitido; dessa forma o nus da justificao cabe interveno estatal e no ao individual. Quanto ao princpio de organizao da constituio liberal, Schmitt escreveu que seu objetivo consiste em fazer vingar o princpio distributivo. Tal princpio estabelece uma diviso de poder (ou poderes), uma demarcao da autoridade estatal em esfera de competncia classicamertte associada com os ramos legislativo, executivo e judicirio para refrear o poder mediante o jogo de "pesos e contrapesos". Divide-se a autoridade de maneira a manter limitado o poder. Depois da Revoluo Francesa e do seu interldio de ditadura

geral do que ei qualquer outra parte da Kuropa. Vi.silaul.es cistrangeiros inteligentes, como Montesquieu, que ali esteve em 1730,

jacobina, o pensamento liberal (j agora chamado por tal nome)enfrentou novas ameaas liberdade. O liberalismo burgus lutara

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contra o privilgio aristocrtico, mas no estava preparado para aceitar uma ampla franquia e suas conseqncias democrticas. Portanto, a ordem liberal civil acolheu aquilo que Benjamin Constant, o maior dos tericos liberais do incio do sculo XIX, apelidou "le juste milieu": um centro poltico, a meio caminho entre o velho absolutismo e a nova democracia. O liberalismo tornou-se a doutrina da monarquia limitada e de um governo popular igualmente limitado, j que o sufrgio e a representao eram restritos a cidados prsperos. Esse ordenamento burgus, no entanto, no passou de uma forma histrica transiente, que foi logo substituda pelo sufrgio universal masculino. O advento da democracia no Ocidente industrial a partir da dcada de 1,870 significou a preservao definitiva das conquistas liberais: libbrdade religiosa, direitos humanos, ordem legal, governo representativo responsvel, e a legitimao da mobilidade social. Assim, a sociedade vitoriana tardia, os Estados

liberais. Ao endossar a democracia representativa e o pluralismo poltico, tanto os conservadores quanto os socialistas, quaisquer que fossem seus objetivos, cederam de forma patente a princpios liberais. No sculo XX, o progresso geral do liberalismo democrtico tem sido menos constante do que foi no sculo passado. A violenta turbulncia poltica causada pela "guerra civil europia" de 19141945 provocou o colapso de democracias mais recentes, tais como a Itlia e a Alemanha. Posteriormente, os dilemas da modernizao na Amrica Latina e em outros lugares ocasionaram mais de um eclipse da democracia, a partir de meados da dcada de 1960 at meados dos anos 80. No obstante, a democracia liberal permaneceu a ordem civil "normal" das sociedades industriais, como se v na reconstruo aps-guerra da Alemanha, Itlia e Japo, assim como na fase final da poltica de modernizao dos Estados reeeminduslrializados. Em 1989, o mundo testemunhou o colapso do socialismo estatal, o grande rival da democracia liberal. Isso ocorreu depois de um doloroso processo de reforma e de crise de identidade. No Ocidente, em contraste, ouve-se muitas vezes falar numa crise cultural, mas praticamente ningum props com seriedade uma mudana completa de instituies. Por mais de um sculo, a democracia tem sido o critrio da legitimidade no mundo moderno. Agora, pensa-se que o pluralismo social e poltico das democracias liberais algo mais especfico: o nico princpio verdadeiramente legtimo de governo em sociedades modernas. O liberal italiano Luigi Einaudi costumava caracterizar a sociedade liberal por dois aspectos: o governo da lei e a anarquia dos espritos. O liberalismo pressupe uma grande variedade de valores e crenas, contrariando o pacto moral alegado por conservadores ou prescrito pela maioria das utopias radicais. Montcsquieu, em Do esprito das leis (1748), insinuou que a Inglaterra moderna era animada por uma batalha conflituosa de "todas as paixes irifrenes". -

IUnidos do aps-gucrra, c a Terceira 'Repblica francesa inauguraram amplas e duradouras experincias em democracia liberal, uma mistura poltica-histrica. A Sua, a Holanda e os pases escandinavos seguiram pelo mesmo caminho, muitas vezes antes, j A Itlia unificada voltou-se para a poltica liberal; a Espanha coriseguiu estabilizar um governoI liberal, e as grandes monarquias centro-europias, ustria e Alemanha, desviaram-se da autocracia para constituies semiliberais. Nem todas as conquistas democrticas resultaram de foras explicitamente liberais. Os tories ingleses durante o governo de Disracli, o reacionrio Bismarck; e o autocrtico Napoleo III ou introduziram ou ajudaram a introduzir o sufrgio masculino quase universal, freqentemente contra a vontade das elites liberais. De forma alguma o Estado democrtico liberal foi apenas obra dos liberais. Mas isso prova apenas que a lgica da liberdade algumas vezes ultrapassa os interesses e preconceitos dos partidos liberais,. como se a histria fizesse vingar o liberalismo mesmo contra os

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O liberalismo clssico, tal como o de Adam Smith, achou que a i .I! competio levaria a um mundo quase newtoniano de equilbrio social. Liberais ulteriores, como Max Weber, resolveram salientar a irredutibilidadc dos conflitos! de valores, ao invs da consecuo; nrif>;>i

Em 1859, afirmou que "o indivduo to pouco absorvido pelo conjunto como o ser humano pelo cidado"."" Mohl no estava inteiramente satisfeito com o individualismo de Kant, porque,iem sua opinio, o grande filsofo diminura a dimenso poltica dos direitos individuais. j \ O liberalismo do conceito de Rechtsstaat foi criticado por Friedrich Julius Stahl (1802-4-18G1), terico conservador que ensinava em Berlim. Tambm Stahl favorecia o governo constitucional, mas asseverou que, por meio da lei, competia ao Estado io direito de determinar e garantir o escopo e os limites da ao governamental, assim como os da esfera da liberdade de seus cidados nessa ordem. Isso s podia significar uni ataque no Rechtsstaat liberal, um ataque cujo significado poltico tornou-se demasiado claro quando Stahl, em sua anti-hegeliana Filosofia do direito, de 1846, deu-se ao trabalho de dissociar o "Estado de direito" do "Estado popular de Rousseau e Robespierre", uma "aberraacj>" em que o povo pensa que seus padres no so "limitados por qualquer barreira legal". O objetivo dos liberais alemes sulistas Karl von Rotteck (1775 1840) e Karl Welcker (1790-1869) consistia em fortalecer o escopo da liberdade poltica no interior do "Estado de direito". Seu Dicionrio poltico (1834-1848), conjuntamente editado, tornou-se o mais prestigioso corpo do liberalismo alemo. Rotteck e Welcker eram liberais constitucionalistas e ambos perderam suas ctedras em Heidelberg porque exigiram governo representativo moderno. O conservadorismo alemo autoritrio era to forte que, o mais das vezes, os liberais sulistas, que sustentavam opinies antiprussianas, como as de Mohl, tinham de lutar contra medidas reacionrias em vez de propor reformas liberais abrangentes. Com a ascenso do Segundo Reich, dominado pelos prussianos, o liberalismo alemo passou a ser distinguido com dificuldade do conservadorismo liberal ou no to liberal. Aquele que mais desafiava Stahl, Rudolfvon Gneist (1816-1895), reitor da Facuklai

de de Direito de Berlim, um exemplo. Em seu tratado clssico, Der Rechtsstaat (1872), ele censurou o sistema parlamentar francs por implicar um triunfo da poltica em detrimento da conscincia legal. A Frana, afirmou Gneist, submetera o executivo assemblia nacional, e o submetido, por sua vez, tratava despolicamente a cidadania; assim, de forma paradoxal, o povo soberano vivia sob um governo arbitrrio."'1 Gneist lutou em duas frentes: sua direita, contra o conservadorismo de Stahl, e, sua esquerda, contra o liberalismo ocidental. Exaltou as reformas de Bismarck como uma terceira via entre os privilgios feudais dosJunkers e o governo local eletivo segundo o modelo ocidental. A defesa feita por Gneist do sistema germnico, desprovido de poder parlamentar mas com tribunais executivos, foi retomada por um erudito mais jovem, Heinrich von Treitschke (1834-1896). Treitschke definiu liberdade como autonomia no interior do Estado, no exterior a ele, descartando enfaticamente o conceito de vigia noturno. Em todo o seu desenvolvimento havia uma baixa conspcua: a autonomia dos direitos individuais. A mais forte escola legal na segunda metade do sculo XIX, a positivista legal, ergueu-se em pleno declnio do conceito de cidado. Figura dirigente do positivismo legal guilhermino, Paul Laband, de Estrasburgo (1838-1918),. simplesmente negou a existncia de direitos pblicos subjetivos a noo mesma que motivara a criao do princpio do Rechtsstaat. O maior nome na teoria guilhermina do Estado, Georg Jellinek (1852-1911), de Heidelberg, fez distino entre duas espcies de direitos pessoais. H direitos que tm a natureza de um licere (do latim para "ser lcito") e h direitos que eqivalem a um posse ("ser capaz de, ter o poder"). Os primeiros so direitos privados, enquanto os ltimos so direitos pblicos inerentes ao status do indivduo. Diferentemente de licere, que permanece inteiramente ao arbtrio da pessoa, os direitos posse so ao mesmo tempo direitos e deveres e a afirmao de tais direitos no implica um reconhecimento, moda do direito natural, da individualidade absoluta.

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O liberalismo - antigo e moderno

Liberalismos conservadores

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Nesse p o n t o , o fantasma de Hegel prevaleceu o b v i a m e n t e s o b r e a s o m b r a de Kant e Locke. O liberalismo j u r d i c o alemo, impregn a d o de m u i t a reticncia diante do individualismo, revelou-se no m x i m o u m semiliberalismo. Na poca ps-bismarckiana (1890-1918), u m a nova gerao de liberais e n t r o u a questionar o statu quo poltico. Em t e r m o s de influncia m u n d i a l p s t u m a , n e n h u m deles ultrapassou o socilogo ( d i p l o m a d o c o m o historiador j u r d i c o ) Max W e b e r (1864-1920), q u e se t o r n o u a estrela mais brilhante no f i r m a m e n t o acadmico de H e i d e l b e r g depois da virada do sculo. Um dos primeiros golpes de W e b e r na luta poltica foi um estudo da inpcia e c o n m i c a c poltica da classe osjunkers, a leste do Elba. Sua crtica da men1 a!idade "feudal" Jiuiher c do slatus nlignpiicn ronl inlui uma opo tanto para o capitalismo q u a n t o para o liberalismo. De m o d o mais amplo, Webertlcsaliou a csliittura auloiiti ia do Reicli gulhei mino a partir de unia posio nacional-libcral avanada. N u m a aula m a g n a p r o n u n c i a d a em Ereiburg em 1895, ele c e n s u r o u todas as classes sociais p o r sua i m a t u r i d a d e poltica, no q u e diz respeito a p r o m o v e r os interesses da A l e m a n h a c o m o u m a potncia. N u m a srie de artigos q u e escreveu na p o c a da g u e r r a , Parlamento e /'(ineriio (1917), advogou MIM regime parlamentar c o m o um meio de selecionar a verdadeira liderana, e sugeriu q u e o g o v e r n o autocrtico de Bismarck e sua estrutura institucional haviam privado a Alemanha de uma boa educao poltica. Diferentemente de Tocqueville e Mill, W e b e r foi m u i t o um "liberal do poder", sust e n t a n d o o u s a d a m e n t e o governo, o d o m n i o da elite, e a hegem o n i a nacional. E m b o r a W e b e r no ignorasse- o fato de que m e s m o os lderes mais criativos necessitam de apoio social e tm de trabalhai' n u m contexto de classes, um e l e m e n t o nietzschiano em seu p e n s a m e n t o fez c o m q u e ele encarasse a liderana c o m o um a r r i m o p a r a hierarquizar m o d o s de vida. Para ele, c o m o p a r a Nietzsche, a criao de valores implicava hierarquia e d o m i n a o . Sua viso histrica

era u m a f o r m a b r a n d a do Kulturpessimmus. A m o d e r n i d a d e era o r e i n o da racionalizao o c r e s c i m e n t o c o n t n u o , difundido de racionalidade i n s t r u m e n t a l (a a d a p t a o ideal "dos fins aos meios" e m ao social), e m contraste com c o m p o r t a m e n t o g o v e r n a d o p o r valores absolutos, tradio, ou s e n t i m e n t o . Aos olhos de W e b e r , a m o d e r n i d a d e t a m b m significava um crescimento de racionalidade formal, um n m e r o crescente de n o r m a s cuja aplicao exige percias especficas. Essa espcie de percia em n o r m a s era, tanto q u a n t o a eficincia, a alma do vasto processo social de hurocralizao. W e b e r alimentava graves desconfianas q u a n t o m a r c h a da racionalizao p o r q u e ela p o d e r i a firmar um d o m n i o dos meios sobre os fins, e n q u a n t o a burocracia poderia I ranar a sociedade m o d e r n a n u m a "gaiola de feiro" de* sei vidao. Contra essa perspectiva gelada, Weber discerniu dois antdotos; vocao (um talento) e carisma. Robert Edcn, n u m e x a m e m u i t o lcido do p e n s a m e n t o poltico de Weber, acredita q u e sua nfase n o "talento" era u m a resposta a o individualismo d e m o n a c o d e Nietzsche. 2 '' O conceito de vocao era, claro, u m a velha idia luterana, mas W e b e r conferiu-lhe novo e n c a n t o usando-a p a r a esboar u m a dialtica e n t r e a individualidade e a ascenso do profissionalismo em nosso [empo. Isso l a m b e m o habilitou a reconstituir o ethos asctico da idade herica da burguesia, to b e m retratado em sua o b r a mais conhecida, A tica protestante e o espirito do capitalismo (190 / l). Em seus escritos polticos tardios, " t a l e n t o " e carisma so misturados, c o m o na clara advertncia de "Poltica c o m o vocao", publicado em 1919: "h apenas a opo: democracia com liderana (/''ii/irenlemohralie) com a 'mquina' (partidria), ou democracia sem liderana ou seja, o d o m n i o dos 'polticos profissionais' sem u m a vocao, sem as qualidades carismticas internas que s o m e n t e elas constituem um lder." A nica m a n e i r a de evitar "o d o m n i o burocrtico descontrolado" era u m a poltica do carisma, mais b e m exemplificada p o r lderes c o m o Gladstone e Lloyd George. Weber

/ >S - tmiiff) e muderno

pus /!( Iil.vnilisnws a>.s troiheratismos

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:;.ilo e erro, para quem o objetivo era mais o aperfeioamento In que a perfeio, e um crtico e l o q e n t e , e m b o r a algumas vezes fcil, do afastamento da filosofia com relao ao m u n d o ativo. "fransbnrtou o n a m o r o ocasional do liberalismo clssico (como o de Mill) com princpios socialistas n u m a simpatia mais forte. Seus livros, n o t a d a m e n l e Democracy and Edriration (1916) e Fnrtlom and Cailurc (1939), ajudaram esquerdistas c o m o Sidney Mook a se livrarem do d o g m a marxista sem a b a n d o n a r inclinaes socialistas. A teoria do impulso em Hiunan Sature and Condticl (1922), um t r a t a d o sobre psicologia social, foi o a u g e do p r a g m a t i s m o de Vwcy. Para Devvey, a verdade a eficcia. T o d a realidade relativa ao homem, e todos os fins humanos so inianent.es, com n e n h u m fim alm e n e n h u m absoluto. Dewev esboou o seu pragmatismo c o m o um "instrumentalismo" para dar nfase a que o comportam e n t o e o c o n h e c i m e n t o no passam de instrumentos de adaptao experincia, e de transformao dela. Ler Hegel ensinou-lhe um sentido de inter-relao e t a m b m u m a viso altamente dinmica da realidade. Dewey partiu para desafiar a "tradio clssica" /'Cti.j)i/. Q u e n t i n Skinner, Tlie Foundations of Modern Political Tliough, vol. 2, The Age of Reformaiiou ( C a m b r i d g e : C a m b r i d g e University Press, I97H), cap. 5, e s p e c i a l m e n t e p. 143. 7. Paul li. Sigmtnid, Natural l.riui in Tulilinil Thoiiglil. ( ( l a m b i i t l g c ,

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'.'!!) O liberalismo - antigo e moderno

12. John Dunn, Loche (Oxford: Oxford Universky Press, 1984), cap. 2. 13. Noiberto Hohbio, "11 nuulello giusnaturalislico", in N. Bobhio e M. Bovcro, Sociel estalo nella filosofia poltica moderna (Milo: II Saggialore, 1979), p. 88; ed. btas.: "O inodelojusiialuralsta", n Sociedade e Estado na filosofia poltica moderna, trad. Carlos Nelson Coutinho (So Paulo: EditoniBrasilieii.se, 1987). 14. Kenneth Wheare, Modem Constitutions (Oxford: Oxford Universky Press, 1966). 15. C. H. Mcllwain, Conslitutionalism Ancient and Modem (Nova York: Cornell University Press, 1940). 16. J. N. Figgis, Studies of Political Thought from Gerson to Grotius (Cambridge: Cambridge Universily Press, 1907); Hrian Tirrucv. Ilciigiou. I.nw and iheGroiotli nfConsliliilional Thought, I f>t) lt>^t)(( lamhridge: (lambi iil|_.c Universily Press, 1982), p. 40. 17. Paul Ha/.ard, Europcan Thought. in the Fightccnth Ccntury (1946; reimpresso, Londres: 1 Iollis & Cartes, 1954); O pensamento europeu no sculo XVII (de Monlesquieu a Lessing), trad. Carlos Grifo Babo (Lisboa: Presena, 1974). 18. Peter Gay, The Enlightenment: An lnte.rprela.tion (Nova York: Knopf, 1966). 19. Immanucl Kant, "What is Enlightenment?", in I-Ians Reiss, ed., Kanl's Political Wrings (1784; reimpresso, Cambridge: Cambridge University Press, 1970). 20. Para o conceito de civilizao cortes, ver Norbert Elias, The Court Society (1969; reimpresso, Oxford: Blackwell, 1983), ed. port.: A sociedade da corte, trad. Ana Maria Alves (Lisboa: Estampa, Imprensa Universitria, 1987); Giulio Cario Argan, The Europe of the Capitais 1600-1700 (Genebra: Skira, 1964). 21. Gianfranco Poggi, The De-oelopme.nl of the Modem State: A Sociological Inlroduction (Londres: Mutchinson, 1978), p. 73; ed. bras.: A evoluo do Estado moderno: uma introduo sociolgica, trad. lvaro Cabral (Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981). 22. A. Goodwin, uma vista de olhos introdutria a The New Cambridge Modem History, vol. 8, 1763-93 (Cambridge: Cambridge Universif.y Press, 1971). |'

Leonard Krieger, An Essay rm the Thtfory of Enlightene Despotism (Chicago: The University oi Chicago Prew>, 1975), \>. V6. Manricc Cranston, Philosophers and Pamphleteers: Political Theory nfthe Enlightenment (Oxford: Oxford Universily Press, 1986), introduo. Cf. apndice a Gibbon, publicado em 1781, ao captulo 38 de seu Decline and Fali ofthe Roman Empire. Gibbon acrescentou que, mesmo se (contra todas as probabilidades) a sociedade mercantilista da Europa casse em mos de novos brbaros, restaria a Amrica, que j estava cheia de instituies europias. Albert O. Hirschman, The Passions and the Interests: Political Arguments for Capitalism before Its Triumph (Princeton: Princeton University Press, 1977), pp. 100 I 13: cd. bras.: As paixes e os interesses: argumentos polticas a favor do capitalismo antes de seu triunfo, Irad. Lcia Campei Io (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979). D. D. Raphael, Adam Smith (Oxford: Oxford University Press, 1985), p. 71. Para um excelente exame das opinies de Smith sobre a sociedade mercantilista como "desigual e no-virtuosa mas no injusta", ver o captulo introdutrio em Istvan Muni e Michael Ignatieff, Wealth and Virtue: The Shaping of Political Economy in the Scotth Enlightenment (Cambridge: Cambridge University Press, 1983). Kenneth Minogue, The Liberal Mind (Londres: Methuen, 1963), pp. 61-68. Michael Oakeshott, Rationaliim in Politics and Other Essays (Londres: Methuen, 1962). Ghita lonescu, Politics and the Pursuit of Happiness: An Inquiry into the Involvement ofHuman Beings in the Politics of Industrial Society (Londres: Longman, 1984), cap. 4. Nancy Rosenblum, Another Liheralistn: Romanticism and the Reconstruction of Liberal Thought (Harvard University Press, 1988). Colin Campbell, The Romantic Ethics and the Spirit of Modem Consumerism (Oxford: Blackwell, 1987), pp. 203-205. Boyd Hilton, The Age ofAtonement: The Influence of Evangelicanism on Social andEconomic Thought, 1785-1865 (Oxford: Clarendon, 1988).

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Notas e referncias bibliogrficas

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Captulo 31. Pierre Manent, Histoire intellectuelle du libralisme (Paris: Calmann-Lvy, 1987), pp. 55-56; ed. bras.: Histria intelectual do liberalismo (Rio de Janeiro: Editora Imago, 1990). 2. Segundo J. G. A. Pocock ("Conservative Enlightenment and Democratic Revolutions: The American and French Cases in British; Perspective", in Government and Opposition 24 [inverno de 1989], p. 83), o nominalista Hobbes ops-se filosofia grega e escolstica porque, encorajando a crena na realidade das essncias, eles alimentavami afirmaes cssencialistas contra a autoridade do soberano. Ainda assim, na poca de Occam, o nominalismo fora usado para solapar a causa do absolulismo papal. 3. Bobbio, Da Hobbes a Marx (ver nola f>, cap, 1), pp, 88-90, 4. I Iarold Laski, Polilical Thought in England: From Loclte to Bentham (Nova York: Holt, 1920); Louis Hart, The Liberal Tradition in America: An Interpretation. of American Polilical Thought since lhe Revolution (Nova York: Harcourt, Brace, 1955). 5. J. G. A. Pocock, The Machiavelllan Moment: Florentine Polilical Thought and. lhe Atlantic Republican Tradition (Princelon: Princcloii Univcrsity Press, 1975). 6. Keith Thomas sobre Pocock, Neiu York Review ofBooks (27 de fevereiro de 1986). 7. Isaac Kramnik, "Republican Revisionism Revisited", in American Ifistorical Review 87 (1982). 8. J. G. A. Pocock, Virlue, Commerce andHistory: Essays on Political Thought and flistorw Cbiefly in lhe F,igbt\rlb. Cenhny (Cambridge: Cambridge Universily Press, 1985).

12. Ross Harrison, Bentham (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1983), cap. 8. 13. Shirley Robin Letwin, The Pursuit ofCertainty (Hume, Bentham, Mill e Beatrice Webb) (Cambridge: Cambridge University Press, 1965). 14. Ele Halvy, The Growth of Phosophical Radicalism, 1901-1904 (Nova York: Macmillan, 1928). 15. Arthur J. Taylor, Laissez-faire and State Interuention in Nineteenth Cenlury Britain (Londres: The Economic History Society, 1972), p. 36. 16. Eric Hobsbawn, Industry andEmpire (Londres: Wcidcnfcld & Nicolson, 1968), cap. 12; ed. bras.: Da revoluo industrial inglesa ao imperialismo, trad, Donaldson M. Garschagcn, sei. e coord. Fernando Lopes de Almeida e Francisco Rego Chaves Fernandes (Rio de Janeiro: ForenseUiiivciKltilriii. 11)70), 17. Quanto ao pensamento poltico de Hcgcl, ver Joachim Ritter, Ilegel and lhe French Revolution, trad. de R. Winfield (1957; reimpresso, Boston: MIT, 1982); Manfred Riedel, Between Tradition and Revolution: The llegelian 'Transformation of Polilical Philosophy (1969; reimpresso, Cambridge: Cambridge Universily Press, 1984); Gcorge Armstrong Kelly, idealista, Politi.es and. flistory: Sources of llegelian Thought (Cambridge: Cambridge University Press, 1969); duas seletas editadas por Z. A. Pelczynski, Hege.Vs Political Philosophy: Problems and Perspectives (1971) e The State and Civil Society: Studies in Hege.Vs Political Philosophy (1984), ambos publicados pela Cambridge University Press; Norberto Bobbio, Sludi hegeliani (Turim: Einaudi, 1981); Michelangelo Bovcro, Hegel e ilproblema, poltico moderno (Milo: Angcli, 1985). 18. Quanto a Sieys, ver Bronislaw Baczko, "Le contrat social des Franais: Sieys et Rousseau", in K. M. Baker, ed., The French Revolulion. and, the Cmition oj'Modem Political Ciil/ioe.voi, I (Nova York: 1'eigaiiion, 1087), pp. 493-513. 19. A esse respeito, ver Adolfo Oinoctco, Studi suWel delia Restaurazione (Turim: Einaudi, 1970), pp. 3, 2, e especialmente p. 230. 20. Sobre Constant, ver a introduo por Mareei Gauchet sua edio dos escritos escolhidos de Benjamin Constant, De Ia liberte chez les modernes (Paris: Livre de Poche, 1980); S. Holmes, Benjamin Constant

9. Pocock, "Conservative EiiIigliU:nnicnt",(vcr nota 2 acima).10. David F. Epstein, The Political Theory of "The Federalist" (Chicago: The Univcrsity of Chicago Press, 1984), pp. 5, 6, 79 e 92. 11. Thomas L. Pangle, The Spirit of Modem Republicanism (Chicago: The Univcrsity of Chicago Press, 1988).

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Notas e referncias bibliogrficas

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and the Making of Modem Liberalism (ver nota 14, cap. 1); e Paul Bastid, Benjamin Constant et sa doctrine (Paris: A. Colin, 1966). 21. Sobre Guizot, ver Pierre Rosanvallon, Le Moment Guizot (Paris: Gallimard, 1985). 22. James T. Schleifer, The Making of Tocqueville's "Democracy in America" (Chapei Hill: University of North Carolina Press, 1980), cap. 18; mas ver Koenraad Swart, "Individualism in the Mid-Nineteenth Century", Journal ofthe History ofldeas (janeiro/maro de 1962), pp. 77-90. 23. Jean-Claude Lamberti, Tocqueville and the Two Democracies, trad. A. Goldhammer (1983; reimpresso, Harvard University Press, 1989). 24. Montesquieu, Do esprito das leis (ver nota 2, cap. 1), livro 5, cap. 7. 25. Ver Constant, "De 1'esprit de conqute et de 1'usurpation dans leurs rapports avec Ia civilization europenne", in Gauchet, De Ia liberte chez les modernes (ver nota 20, cap. 3). 26. John Plumenalz, "Liberalism", in Philip Wiener, ed., Dictionary ofthe History ofldeas (Nova York: Scribner's, 1973), vol. 3, p. 50. 27. Constant, "De Ia perfectibilit de 1'espce humaine", in Gauchet, De Ia liberte chez les modernes (ver nota 20, cap. 3), pp. 580-595. 28. Hugh Brogan, Tocqueville (Londres: Fontana, 1973), p. 75. 29. Schleifer, The Making of Tocqueville's "Democracy in America" (ver nota 22 acima), cap. 18. 30. Ettore Cnomo, Profilo dei liberalismo curopeo (Npoles: Edizioni Scientifiche Italiane, 1981). 31. R.J. HdAlidTiy,John Stuart Milt (Londres: Allen & Unwin, 1976), cap. 1. 32. Como explicado por Denrtis F. Thompson, John Stuart MUI and Representative Government. (Princeton: Princeton University Press, 1976), p. 195. 33. William Thomas, MUI (Oxford: Oxford University Press, 1985), p. 111. 34. J. W. Burrow, Whigx and Liberais: Ctmtiniiity and CJiangc in Englhh. Political Thoughi'(Oxford: Clarentlon, 1988), p. 106. 35. Alan Ryan,/. S. MUI (Londres: Rouedge & Kegan Paul, 1974), cap. 5.

36. John Gray, MUI on Liberty: A Defence (Londres: Rouedge & Kegan Paul, 1983), p. 45. 37. Maurice Cowling, MUI and Liberalism (Cambridge: Cambridge University Press, 1963); Gertrude Himmelfarb, On Liberty and Liberalism: The Case ofjohn Stuart MUI (Nova York: 1974). Ver J. B. Schneewind, ed., MUI - A Collection of Criticai Essays (Nova York: Macmillan, 1968), para o exame, por R. J. Halliday, da crtica de Cowling, pp. 354-378; ver C. L. Ten, MUI on Liberty (Oxford: Clarendon, 1980), pp. 145-166, para um exame tanto de Cowling como de Himmelfarb. On Liberty o assunto da seleta editada por A. Phillips Griffiths (Cambridge: Cambridge University Press, 1983). 38. C. L. Ten, MUI on Liberty (ver nota 37 acima), p. 173. 39. Larry Siedentop, "Two Liberal Traditions", in A. Ryan, ed., The Idea of Freedom (ver nota 7, cap. 1), pp. 153-174. 40. Guido de Ruggicro, History of European Liberalism, trad. R. G. Collingwood (1925; Oxford: Oxford University Press, 1927), vol. 1, cap. 4, seo 2. . 41. Martin Malia, Alexander Herzen and the Birth of Revolutionary Socialism, 1812-1815 (Oxford: Oxford University Press, 1961). 42. W. B. Yeats, "The Seven Sages", in The Winding Stair and Other Poems (1933), in The Collected Poems ofW. B. Yeats (Londres: Macmillan, 1977).

Captulo 41. DonaldSouthgate, ThePassingofthe Whigs, 1832-1886(Londres: 1962), citado em Burrow, Whigs and Liberais (ver nota 34, cap. 3), p. 12. 2. Anthony Quinton, The Politics of Imperfection: The Religious and Secular Traditions of Conservative Thought in Englandfrom Hooker to Oakeshott (Londres: Faber, 1978), pp. 56, 60. 3. J. W. Burrow, A Liberal Descent: Victorian Historians and the English Past (Cambridge: Cambridge University Press, 1981), p. 28. 4. Burrow, Whigs and Liberais (ver nola 34, cap. 3), p. 132. 5. Sobre James Stephcn, ver James Colaiaco, James Fitzjames Stephen and the Cris of Victorian Thought (Londres: Macmillan, 1983).

7. 23. R o b e r t Skidelsky c h a m a a a t e n o p a r a esse f u n d o de viso do m u n d o no p r i m e i r o fascculo de sua biografia, John Maynard Keynes, IlopesBetrayed 1883-1920 ( L o n d r e s : Macmillan, 1983).

Commitment in the Tioenlieth Century (Nova York: Basic Books, 1988), cap. 7. Ver, p o r e x e m p l o , o s ensaios v e r g o n h o s a m e n t e mal e d i t a d o s p o r C h r i s t o p h e r N o r r i s , c o m o Inside lhe Myth - Orwell: Views on Ortuellfrom the I.efl ( L o n d r e s : Lawreiice Se Wisbarl, 19H-1), P;ua uma m e l h o r anlise, ver B e r n a r d Crick, George Orwell: A Life ( L o n d r e s : S e c k e r & W a r b u r g , 1981); feffrey Meyers, ed., George. Ortuell: The Criticai fleritage ( L o n d r e s : R o u t l e d g e , 1975); Alex Zwcrdling, Orwell and lhe Le.fi (New H a v e n : Yalc University Press, 1974); G e o r g e W o o d c o c k , The Crystal Spiril: A Study of George Orwell (Nova York: Schoken, 1984); c S i m o n Leys, Orwell ou 1'horreur de Ia politique (Paris: H e r m a n n , 1984). Q u a n t o a C a m u s , ver Philip 'l')ux\y,Albert Camas /J(7-/9toii: Inili.m.i t Inivrisily Press, 1988), cap. 1. 36. Cf. Richard Rosecrance, The Re of lhe Trading State: Commerce and Conquest in lhe. Modem World (Nova York: Basic Books, 1986). '57. V. A. Hayek, The Constilulion of Liberty (Londres: Routledge, 1960), p. 59; ed. bras.: Os fundamentos da liberdade, trad. Anna Maria Capovilla ejos talo Stelle, superv. e introd. Henry Maksoud (Braslia: Ed. Universidade de Braslia; So Paulo: Viso, 1983). 38. Ver Michael Oakeshotl, Ratiimalvtm in Politics and Olher Essays (ver nota 29, cap. 2). 39. F.A. Hayek, Law, Legislation and Liberty, vol. 3, The Political Order of a Free People (Chicago: The University of Chicago Press, 1973-1979), p. 174. 40. "The Three Sources of Human Values" (Londres: London School of Economics, 1978). 41. Hayek, The Constitution of Liberty (ver nota 37 acima), p. 398. 42. Samuel Brittan, The Role and Limite of Government Essays in Political Economy (Londres: Temple Smith, 1983), cap. 3. 43. Para uma crtica sbria nessa linha, ver Dallas L. Clouatre, "Making Sense of Hayek" (uma resenha tio livro de Gray), Criticai Review 1 (inverno de 1987), pp. 73-89. 44. F. A. Hayek, Studies in Philosophy, Politics and Economics (Londres: Routledge, 1967), p. 165. 45. Sobre essa linha de crtica, ver Anthony de Crespigny, "F. A. Hayek: Liberdade para o progresso", in Filosofia poltica contempornea (ver nota 27, cap. 5). 46. James Buchanan, Liberty, Market and State - Political Economy in the 1980s (Nova York: New York University Press, 1985), pp. 19 e 123-139.

47. Henri Lepage, Tomonow, Capitalism: The Economia; ofEconomic Freedom (La Salle: Open Courl, 1982); Guy Sorman, La nouvelle ricbesse des nations (Paris: Fayard, 1987); Peter Berger, The Capitalist Rniolution (Nova York: HINC Nookt, 1980); c Mttrray N. Rotltbmd,Man, Kcavomy and State (McnU> Park, Califrnia: Institui c for Human Studies, 1970), i- Hthiis nj' l.ibeity (Allunlli 1 liglilmids, N.|,; I Iitm.iiilics Pie.iH, l'.)H''). 48. Robert Nisbet, 77ie Sociological Tradition (Nova York: Basic Books, 1966). 49. Alvin Gouldner, The Corning ofCrisis of Western Sociology (Nova York: Avon Books, 1970). 50. A questo sobre a autonomia da poltica est bem salientada em Ghita Ionescu, "Um clssico moderno", in Filosofia poltica contempornea (ver nota 27, cap. 5). 51. Robert Colquhoun, Raymond Aron, vol. 2, The Sociologist in Society, 1955-83 (Londres e Beverly Hills: Sage, 1986), pp. 85-86. 52. Quanto a Aron, ver especialmente Gaston Fessard, La philosophie historique de Raymond Aron (Paris: Julliard, 1980); e Robert Colquhoun, Raymond Aron, vol. 1, The Philosopher in Hislory, 1905-55, e vol. 2, The Sociologist in Society, 1955-83 (Londres e Beverly Hills: Sage, 1986). Obras chaves de Aron a respeito do nosso curto exame so The Opium ofthe Intellectuah (Nova York: Doubleday, 1957); Eighteen Lectures on Industrial Society (1967) e Democracy and Totalilarianism (1968), ambos de Londres: Weidenfeld e Nicolson; An Essay on Freedom (Nova York: World, 1970), ed. port.: Ensaio sobre as liberdades (Lisboa: Aster, 1965); e Estudos polticos, trad. Srgio Bath, pref. Jos Guilherme Merquior, apres. Rolf Kuntz (Braslia: Ed. Universidade de Brasfllia, 1985). 53. Coligido de Ralf Dahrendorf, Essays in the Theory of Society (Stanford University Press, 1968); ed. bras.: Ensaios da teoria da sociedade (Rio de Janeiro: Zahar, 1974). 54. Para um excelente resumo das opinies de Dahrendorf sobre conflito social, ver John A, Ilall, Diagnoses ofonr Time: Six Views of Our Social Condition (Londres: Heinemann, 1981), cap. 5. 55. Ralf Dahrendorf, "Tertium Non Datur: A Commcnt on the Andrevv Shonfield Lectures", in Government and Opposion 24 (primavera de 1989), pp. 133, 135.

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Notas e referncias bibliogrficas

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56. Ibid., p. 172. 57. Ibid., p. 18. 58. Cf. Brian Barry, The Liberal Theory of Justice: A Criticai Examination of the Principal Doctrines in "A Theory of Justice" liyjohn Rawls (Oxford: Oxford University Press, 1973). 59. Quanto acusao de consumismo, ver C. B. Macpherson, Democralic Theory: lissays in Retrieval (Oxford: Oxford Univcrsily Press, 19715), cap. 4, p. 3. 60. Ronald Dworkin, TakingRights Seriously (Londres: Duckworth), cap. 6. 61. Daniel Bell, The Cultural Contradiclion ofCapitalism (Nova York: Basic Books), cap. 6 in fine. 62. Cl.John Rawls, "Kantian Constr uctivism in Moral Theory"', Journal' of Pliilosophy 77 (1980); e "The Mas k: Ubeilies and Tlieir Priorily", in S. M. McMurrin, ed., The TannerL, dures on Nnmnn Values (Univcrsily of Utah Press, 1982), vol. 3. 63. Robert Nozick, Anarchy, State and Utopia (Nova York: Basic Books 1974), p. 160; ed. bras.: Anarquia, Estado e utopia (Rio dejaneiro: Zahar, 1991). 64. Quanto a tpicas crticas liberais, ver a resenha de Brian Barry em Political Theory 3 (agosto de 1975). Para uma seleta crtica, ver Jeffrcy Paul, ed., Reading Nozick: Essays o