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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em Curitiba (1860-1908)
CURITIBA 2011
MILENA WOITOVICZ CARDOSO
JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em Curitiba (1860-1908)
Monografia apresentada ao curso de Licenciatura e Bacharelado em História do setor de Ciências Humanas Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em História.
Orientadora: Prof.ª Drª. Roseli Boschilia.
CURITIBA 2011
MILENA WOITOVICZ CARDOSO
JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em Curitiba (1860-1908)
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado e Bacharel em História pelo Departamento de História do Setor de Ciências Humanas,
Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, pela Banca Examinadora formada pelos professores:
Profª Orientadora:____________________________________________
Roseli Boschilia ____________________________ ____________________________ Profª Joseli Mendonça Profª Ana Paula Vosne Martins
CURITIBA, 27 de junho de 2011.
A minha família que sempre me apoiou, incentivou e ajudou nessa pesquisa. A todos que me auxiliaram nessa empreitada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha orientadora Professora Doutora Roseli Boschilia por ter me
auxiliado nessa jornada e ao CNPq por ter concedido Bolsa de Iniciação Científica
pelo projeto “Imigração, Cultura e identidade: portugueses em Curitiba (final do
século XIX e início do XX)”.
A Manoela Woitovicz Cardoso, Celina Fiamoncini, Giseli Cristina dos Passos,
Aleyse Trindade, Paulo Romanowski e a todos que colaboraram na pesquisa na
busca de fontes, informações e ao me incentivar.
A Victor Eduardo Pauliv, que leu, corrigiu, sugeriu e contribuiu para que o
trabalho tivesse o texto que agora se apresenta.
A minha família, por me acompanhar nos momentos difíceis e por seu apoio
incondicional.
RESUMO Essa pesquisa enfoca a trajetória do imigrante português José Fernandes Loureiro,
que se radicou em Curitiba na segunda metade do século XIX. Ele foi comerciante,
constituiu laços familiares e estabeleceu relações sociais, econômicas e culturais
nessa cidade. Com isso tudo, para a realização desse estudo foi feita a
contextualização da imigração portuguesa no Brasil e no Paraná. Posteriormente,
tratou-se do referencial teórico, enfocando a História Cultural com base nas
discussões realizadas por Peter Burke e Ronaldo Vainfas, para então mencionar a
micro-história considerando os estudos de Giovani Levi, Jacques Revel e Ronaldo
Vainfas. Em virtude do trabalho se centrar em uma trajetória de vida, foi mostrado
argumentações sobre o uso da biografia nos estudos de História realizadas por
Pierre Bourdieu, Giovanni Levi, Sabina Loriga, François Dosse e Vavy Pacheco
Borges. Então, analisaram-se as três esferas (econômica, familiar, sociocultural) nas
quais José Fernandes Loureiro se inseriu, ou seja, a análise das fontes (o periódico
“O Commercio”, o testamento de José Fernandes Loureiro, e entre outros
documentos) e suas evidências sob a luz das discussões antes apresentadas.
Palavras-chave: imigração portuguesa; micro-história; História do Paraná.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7
1 PANORAMA DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO SÉCULO XIX ............................ 13 1.1 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL ............................................................... 13 1.2 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO PARANÁ ............................................................. 20 2 A BIOGRAFIA NA HISTÓRIA .................................................................................... 24 2.1 A HISTÓRIA CULTURAL ......................................................................................... 24 2.2 A MICRO-HISTÓRIA ................................................................................................ 29 2.3 O USO DA BIOGRAFIA NA HISTÓRIA.................................................................... 32 3 JOSÉ FERNANDES LOUREIRO ................................................................................ 38 3.1 VIDA EMPRESARIAL............................................................................................... 39 3.2 VIDA PRIVADA ........................................................................................................ 42 3.3 VIDA PÚBLICA ......................................................................................................... 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 50 FONTES ......................................................................................................................... 53 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 56 ANEXOS ........................................................................................................................ 61
7
INTRODUÇÃO
O presente estudo enfoca a trajetória do imigrante português José Fernandes
Loureiro, que se radicou em Curitiba na segunda metade do século XIX. José
Fernandes Loureiro era conhecido como José Nabo, foi comerciante, constituiu
família e estabeleceu relações sociais, econômicas e culturais na capital
paranaense.
Disso surge uma importante questão: por que enfocar esse imigrante em
especial? Ocorre que José Fernandes Loureiro, como muitos outros imigrantes
portugueses, vindos da região Norte, saiu de seu país em busca de um futuro
melhor. A partida dos portugueses dessa região, segundo Eulália Maria Lahmeyer
Lobo, foi causada pela multiplicação das pequenas áreas de região agrícola que
tiveram sua superfície reduzida em cada unidade.1 Ou seja, havia muitos
camponeses e poucos locais agriculturáveis. No mesmo sentido, Herbet S. Klein
relata que os emigrantes saíam de distritos superpopulosos.2
Grande parte dos imigrantes portugueses pretendia conquistar prosperidade,
para comprar uma propriedade em seu país de origem e, assim, voltar a esse. Tal
propósito nem sempre era alcançado, mas influenciava os lusitanos fixados no Brasil
a enviar poupanças às famílias, como menciona Miriam Halpern Pereira.3 Isso
porque vinham sozinhos, deixando seus familiares em Portugal.
Assim, esses imigrantes visavam se fixar no meio urbano atuando
principalmente no comércio, bem como, trabalhando como puxadores de carrinhos
de transportes, nos bondes (como motorneiros, condutores, cobradores e fiscais),
nas ferrovias, nas companhias de navegação, nas lavanderias e na costura, como
afirma Lobo.4 A autora ainda ressalta a ocupação ocupada por portugueses: caixeiro
e caixeiro viajante, que dormiam na casa comercial.
Ao conseguir certa estabilidade no Brasil, os portugueses procuravam se
1 LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Imigração portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.
(Estudos Históricos; 43). p. 18. 2 KLEIN, Herbet S. A integração social e económica dos imigrantes portugueses no Brasil nos finais
do século XIX e no século XX, Análise Social, Lisboa, v. xxviii (121), p. 237-238, 2. sem.1993. Disponível em: <http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223290545Z8cUY2rh7Lu99TE5.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2010. 3 PEREIRA, Miriam Halpern. A política portuguesa de emigração (1850-1930). Revisão técnica de
Maria Helena Ribeiro da Cunha. Bauru (SP); Portugal: Edusc; Instituto Camões, 2002. (Coleção História). p. 19. 4 LOBO, op. cit., p. 33; 39.
8
casar, preferindo que a escolhida tivesse alguma ascendência lusitana, pois eram
poucas as mulheres portuguesas que imigravam, impossibilitando o estabelecimento
de laços exclusivos entre portugueses.5 E também procuravam se associar, pois
consideravam que quem não tivesse vida associativa significava que a pessoa não
teria ascendido na vida.6
Tendo isso em vista, procurou-se delinear o percurso de José Fernandes
Loureiro em Curitiba baseada na seguinte problemática: Quais os mecanismos que
esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade?
O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos da primeira
década do século XX7, em especial o jornal “O Commercio”. Desse, foram
levantados 290 números referentes aos anos 1900 e 1908-1909. A maior parte dos
exemplares pesquisados é do ano de 1900 (perfazendo num total de 240 números).
Os números referentes ao ano de 1900 (março a dezembro) 8 foram consultados por
meio do acervo de microfilmes disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná, na sua
Divisão Paranaense. Pelos números pesquisados nota-se que a periodização do
jornal é de segunda a sábado.
Ressalta-se que a partir dos números 142 ao 240 foram consultados os
exemplares do jornal presentes no acervo da biblioteca do Círculo de Estudos
Bandeirantes (C.E.B), instituição ligada à Pontifícia Universidade Católica do
Paraná.9 Tais exemplares em geral, apresentam bom estado de conservação.
Encontram-se encadernados em capa dura e organizados seguindo a ordem
cronológica.
A respeito dos exemplares dos anos 1908-1909, foram consultados os
microfilmes disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná, locados na divisão
5 SILVA, Maria Betriz Nizza da. Introdução. In:_____. Documentos para a história da imigração
portuguesa no Brasil: 1850-1938. Rio de Janeiro: Federação das Associações Portuguesas e Luso-brasileiras; Editorial Nórdica, 1992. p. XXIV; FLORENTINO, Manolo; MACHADO, Cacilda. Ensaio sobre a imigração portuguesa e os padrões de miscigenação no Brasil (séculos XIX e XX). Portuguese Studies Review, Trent (Canadá), 2002, v. 10, n. 1, p. 80. Disponível em: <http://www.trentu.ca/admin/publications/psr/sample/1012.pdf>. Acesso em 16 dez. 2010. 6 LOBO, 2001, p. 98.
7 Os jornais da segunda metade do século XIX foram analisados no seguinte trabalho: FIAMONCINI,
Celina. Imigração, cultura e identidade: portugueses e o comércio em Curitiba no final do século XIX. 81f. Monografia (Curso de Licenciatura e Bacharelado em História)- setor de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008. 8 O jornal começou suas atividades em 24 de fevereiro de 1900. A partir de 1 de março de 1900 ele
passou a ser diário, não circulando aos domingos. Algumas vezes não é possível visualizar a integralidade do jornal por estarem faltando colunas e/ou a encadernação do periódico, base da microfilmagem, não permitir vislumbrar as informações das colunas que ficaram no meio da encadernação conforme dado presente no próprio microfilme 9 O acervo não contém os exemplares referentes aos números 213, 233, 235, 237.
9
supramencionada. A maioria dos microfilmes apresentava estado ruim de leitura dos
exemplares encontrados, contendo rasuras e cortes.10 Todos os números
disponíveis foram fotografados para que fosse possível a análise e categorização
dos dados obtidos.11 Com as evidências trazidas por essa fonte, constatou-se o
predomínio dos anúncios da loja de propriedade de José Fernandes Loureiro. Nota-
se a influência desse imigrante na sociedade local.
Em seguida, buscaram-se documentos na Junta Comercial do Paraná relativos
ao estabelecimento mercantil de Loureiro. Nada significativo foi encontrado, então se
consultou o acervo do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro12 através de seu site,
sendo localizado o contrato social da sociedade Fernandes, Loureiro e Cia dos anos
1886 e 1890. Cada um contém cerca de 8 páginas em bom estado de conservação
e estão encardenados em um livro de brochura de capa dura. Trata-se de
documentos manuscritos com indicações de trâmites institucionais, que foram
fotografados e transcritos.
Para saber a amplitude de sua atuação comercial, foram consultados os livros
contábeis da sociedade Fernandes, Loureiro e Cia13, disponíveis no acervo da
biblioteca do C.E.B.14 Os livros não estão catalogados e não apresentam ordenação
cronológica entre eles. Totalizam em torno de 271 livros de diferentes formatos,
sendo que dentre eles se encontram livros diários, balanços, bloco de recibos, bloco
de emissão de faturas, bloco de remessa de mercadorias, livros que contém os
nomes dos clientes e seus respectivos pedidos, livros nos quais era anotada a
correspondência remetida pelo responsável do Armazém localizado em Antonina,
que pertencia à sociedade.15 Pelo que foi consultado, o acervo de livros contábeis
compreende o período de 1870 a 1909. Foram selecionados para o presente estudo
10
Apesar de não conter abaixo do seu título a referência de ser propriedade da Associação Commercial do Paraná, considera-se que esse jornal é o projeto contínuo do anterior. Isso porque, no último número de 1900, menciona-se a suspensão da publicação do jornal até a nova diretoria, ao reorganizar o serviço tipográfico, decida pelo seu reaparecimento. 11
As fotografias realizadas enfocam as notícias relevantes ou que implicitamente fossem relacionados a imigrantes portugueses. 12
ARQUIVO NACIONAL. Atendimento a Distância. Disponível em: <http://www.arquivonacional. gov.br/ cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=519&sid=8>. Acesso em: 10 mar. 2011. 13
Essa sociedade era formada por José Fernandes Loureiro, Manoel de Ascenção Fernandes e Alfredo Fernandes Loureiro. Todos eram portugueses, conforme se identificou na tabela organizada por Giseli Cristina dos Passos com as informações do “Livro de matrícula de sócios da Sociedade Portuguesa Beneficente 1º de Dezembro”. 14
Provavelmente doação de um de seus fundadores (José Loureiro de Ascensão Fernandes) neto de José Nabo. 15
Nesse último caso encontram-se os nomes dos navios, dos produtos importados, dos produtos estocados.
10
os 7 livros de balanço encontrados, nos quais são listados os produtos presentes no
estoque, sua quantidade, seu valor unitário e total, além da lista de devedores.
Esses últimos livros foram fotografados e correspondem aos anos 1879, 1884, 1889,
1891, 1899, 1900 e 1903. A maioria deles possui bom estado de conservação,
sendo que poucos possuem páginas manchadas, ilegíveis ou rasuradas.
Percebeu-se que essas fontes apresentavam o perfil dos clientes, mas pouco
indicavam sobre a vida privada, familiar do proprietário. Assim, com base nas
informações no artigo de autoria de Rosy de Sá Cardoso16 procuraram-se dados
sobre os vínculos familiares de José Fernandes Loureiro no assento de seu
casamento, no livro Genealogia Paranaense, na carta escrita por um de seus netos
em resposta a uma reportagem publicada no Jornal O Dia e no seu testamento.
O assento do casamento de José Fernandes Loureiro foi consultado no livro
número 9 de assentamentos de casamentos, dos registros da Catedral Basílica de
Curitiba. Esse livro possui capa dura e indicação na capa dos anos que são
registrados em seu interior. O respectivo termo foi fotografado e transcrito em
documento em formato “Word”.
Ao se consultar o livro Genealogia Paranaense17, em especial o volume 5,
encontrou-se a referência a José Fernandes Loureiro e a sua família. Tal pesquisa
foi facilitada por se dispor do “Índices Genealógicos Brasileiros: Genealogia
Paranaense, de Negrão” 18. Os exemplares consultados fazem parte do acervo da
biblioteca do C.E.B. e apresentam bom estado de conservação. As passagens
consideradas relevantes foram fotografadas para análise.
A referida carta é um documento manuscrito por José Loureiro de Ascensão
Fernandes, que atualmente pertence ao acervo do Museu de Arqueologia e
Etnologia da Universidade Federal do Paraná (MAE-UFPR). Esse documento
apresenta bom estado de conservação.
O testamento foi encontrado no processo de inventário de Loureiro, sendo
parte do acervo do Arquivo Público do Paraná. O processo foi fotografado e
transcrito, sendo importante ressaltar que esse se iniciou com a juntada do
testamento feito à mão por José Fernandes Loureiro. O testamento pode ser lido em
16
CARDOSO, Rosy de Sá. A Rua José Loureiro e o ilustre José Nabo: português movimentava capital paranaense no final do século 19. Gazeta do Povo, Curitiba, 2 jan. 2005. Caderno G, memória. 17
NEGRÃO, Francisco. Genealogia paranaense. v. 5. Curitiba: Impressora Paranaense, 1946. 18
MOYA, Salvador de. Índices Genealógicos Brasileiros: Genealogia Paranaense, de Negrão. Suplemento da revista Genealógica Latina. São Paulo: [s.n.], 1961.
11
quase sua integralidade, sendo prejudicada a leitura do texto próximo às margens
direita e inferior, devido ao estado de conservação do documento. O que era legível
foi transcrito para um documento em formato “Word”. Essa fonte apresenta os bens
acumulados por esse imigrante, havendo significativa doação a Santa Casa de
Misericórdia de Curitiba.
Para encontrar a existência de vínculos anteriores entre José Nabo e a Santa
Casa de Misericórdia, consultou-se os relatórios da Santa Casa de Misericórdia de
Curitiba e o livro Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Os relatórios
da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba foram consultados a partir do volume
encadernado disponível no acervo da Biblioteca do C.E.B., sendo cronologicamente
ordenado e nem todos os anos são contemplados. Esses se encontram com páginas
envelhecidas pela ação do tempo, entretanto isso não prejudica a leitura. O livro
Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba19 foi consultado na mesma
biblioteca e apresenta bom estado de conservação, tendo folhas amareladas pela
ação do tempo. As passagens que possuíam alguma referência ao personagem
estudado foram fotografadas.
A respeito das relações de sociabilidade de José Fernandes Loureiro junto à
sociedade curitibana, utilizaram-se os documentos na Sociedade Portuguesa
Beneficente Primeiro de Dezembro, informação sobre as lojas de maçonaria em
Curitiba e o livro Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz
dos Pinhais da Vila de Curitiba. Os documentos da Sociedade Portuguesa
Beneficente 1º de Dezembro foram consultados principalmente o livro de sócios, a
partir da tabela organizada por Giseli Cristina dos Passos.20 As informações sobre
as lojas maçônicas foram obtidas na internet, sendo disponibilizadas listas dos
participantes das lojas e dos fundadores dessas que foram copiadas em arquivo
formato “Word”.21 Ainda, deve-se discorrer sobre o livro “Curiosidades Históricas da
Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba”, de autoria de
19
NEGRÂO, Francisco. Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (1842-1932). Curitiba: Empresa Gráfica Paranaense, 1933. 20
PASSOS, Giseli Cristina dos. A presença dos imigrantes portugueses no Paraná na segunda metade do século XIX. 63 f. Monografia (Curso de Licenciatura e Bacharelado em História) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. 21
MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Loja Apostolo da Caridade nº 0.344. Disponível em: <http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/MMP_ImagensAbertura/Loja_antigas_no_PR/Loja_0344/Historico_Loja_0344.htm>. Acesso em: 18 maio 2010.
12
Nely Lidia Valente Almeida.22 Esse foi consultado na biblioteca do C.E.B. Trata-se de
um livro encadernado em capa-dura, com paginação irregular e dividido em duas
partes. Na primeira é transcrito e analisado o livro de Compromisso da Irmandade,
datado de 1741; enquanto na segunda é transcrito o livro que reúne os nomes dos
associados (denominados irmãos), data de associação, valor pago e, em caso de
ser mulher, a indicação do nome de seu marido. O livro encontra-se em bom estado
de conservação e as passagens relevantes para o presente trabalho foram
fotografadas.
Por intermédio das informações colhidas nas fontes, perceberam-se as três
inserções (econômica, familiar e sociocultural) que os imigrantes portugueses
estabeleciam na sociedade receptora. No caso desse trabalho, pode-se resumir
assim: José Fernandes Loureiro atuou no comércio; casou-se com uma
descendente de portugueses, neta de um importante capitalista da erva-mate;
estabeleceu vínculos sociais e culturais na cidade de Curitiba, como muitos outros
imigrantes lusitanos.
Com isso tudo, para a realização desse estudo foi feita a contextualização da
imigração portuguesa no Brasil e no Paraná que está apresentada no primeiro
capítulo.
O segundo capítulo tratou do referencial teórico, enfocando a História Cultural
com base nas discussões realizadas por Peter Burke e Ronaldo Vainfas, para então
mencionar a micro-história considerando os estudos de Giovani Levi, Jacques Revel
e Ronaldo Vainfas. Em virtude do trabalho se centrar em uma trajetória de vida,
foram mostradas argumentações sobre o uso da biografia nos estudos de História
realizadas por Pierre Bourdieu, Giovanni Levi, Sabina Loriga, François Dosse e Vavy
Pacheco Borges.
O terceiro capítulo discorre sobre as três esferas (econômica, familiar,
sociocultural) nas quais José Fernandes Loureiro se inseriu. Ou seja, a análise das
fontes e suas evidências sob a luz das discussões apresentadas nos capítulos
antecedentes.
E por fim, foram expostas as considerações finais.
22
ALMEIDA, Nely Lidia Valente. Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba. [Curitiba]: [s.n.], 1975.
13
1 PANORAMA DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO SÉCULO XIX
Nesse capítulo será realizado o diálogo com os autores cuja produção
historiográfica apresenta importantes características da imigração portuguesa
durante o século XIX. Assim, no primeiro momento se discutirá a imigração
portuguesa no Brasil em que são significativos os estudos realizados por autores
portugueses e brasileiros como Miriam Halpern Pereira, Eulália Maria Lahmeyer
Lobo, Amado Luiz Cervo, Maria Beatriz Nizza da Silva, Lená Medeiros Menezes,
Roseli Boschilia, Ana Silvia Volpi Scott, Herbet S. Klein, Ismênia Martins, Manolo
Florentino, Cacilda Machado e entre outros. Para então, na sequência traçar um
panorama da imigração portuguesa no Paraná com principal ênfase a historiadores
locais, sem desconsiderar os trabalhos que tratam de aspectos relevantes sobre o
tema no território paranaense.
1.1 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL
Para se iniciar sobre o assunto, observa-se que houve um longo período de
ausência de estudos sobre o papel da emigração portuguesa na formação do Brasil
independente, devido associar a presença portuguesa à época colonial, como
menciona Miriam Halpern Pereira.23
No mesmo sentido, Eulália Maria Lahmeyer Lobo destaca que a produção
historiográfica se concentra na época dos descobrimentos até a independência do
Brasil, período em que o português desempenhava papel hegemônico nesse país e
provia os quadros intelectuais, administrativos, religiosos e militares, praticamente
monopolizando a propriedade da terra, controlando o comércio e o artesanato.24
Mas a imigração lusitana em terras brasileiras não deve ser ignorada, pois,
segundo Maria Beatriz Nizza da Silva, no Brasil existe uma “tradição” cultural
portuguesa ligada aos séculos de presença portuguesa, primeiro como
23
PEREIRA, 2002, p. 7. 24
LOBO, 2001, p. 11.
14
colonizadores, depois como assimilados (e por isso tolerados) e finalmente como
imigrantes.25
O que motiva esses sujeitos a sair de seu país natal? O que eles pretendiam
alcançar no local em que se fixavam? Qual o perfil desses imigrantes? A essas
questões que se pretende abordar no presente tópico.
A emigração em Portugal é fenômeno social muito antigo que adquiriu novas
características no decorrer do século XIX, tendo sido responsável por equilibrar a
oferta de mão de obra camponesa não absorvida pelo crescimento industrial
nacional. Nesse período havia também a necessidade de força de trabalho devido
ao fim da mão de obra escrava. Tais fatores favoreceram que muitos portugueses se
dirigissem ao Brasil, sendo que nessa ocasião se tornaram uma importante fonte de
trabalhadores e não mais como funcionários dos quadros administrativos e
econômicos da Metrópole como ocorria no período colonial.
Importante dizer que a não absorção desses camponeses ocorria devido à
superpopulação nas regiões não urbanas, ao progresso tecnológico, à escassez de
terras e ainda por causa das crises de carestia e fome.
No Brasil, essa movimentação dos portugueses para o país estava inserida
no contexto da política imigratória brasileira que visava estimular a imigração livre.
Segundo Amado Luiz Cervo, essa era considerada, pelo Parlamento e pelo
Governo, como a opção para o suprimento de mão de obra a cargo do tráfico de
escravos.26
Mas o estímulo à imigração lusitana para o Brasil não teve tratamento legal ou
diretriz política especial, tanto que, até uma década após a Independência Brasileira
não havia um posicionamento oficial nos diversos órgãos dos governos dos dois
países.
Pereira afirma que os imigrantes portugueses dos séculos XIX preferiam os
países americanos, principalmente o Brasil, ao continente africano. A preferência
pela antiga colônia portuguesa era favorecida pela difusão da imagem do Brasil
como uma terra de fortuna fácil, uma vez que muitos emigrantes lusitanos
25
SILVA, 1992, p. XVI. 26
CERVO, Amado Luiz. A Imigração portuguesa para o Brasil entre 1825-1889. In: ______; CALVET DE MAGALHÃES, José; ALVES, Dário Moreira de Castro (orgs. e apresentação). Depois das caravelas: as relações entre Portugal e Brasil (1808-2000). Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. p. 135-136.
15
objetivavam apenas enriquecer e retornar ao país natal.27 Embora a preferência dos
emigrantes fosse vir para o Brasil, o governo português preferia enviar seus
excedentes populacionais para as colônias africanas visando construir um “outro
Brasil” colonial, ou seja, conseguir afluência de riquezas a essa Metrópole.
Dessa maneira não havia por parte do governo português nenhuma restrição
à emigração, tanto que esse fenômeno era previsto na legislação do país. Entretanto
leis feitas em 1855 e 1863 estabeleceram requisitos para a concessão do
passaporte de saída28, sendo possível perceber a intenção de regular a emigração
de Portugal.
A atitude do governo português reflete a conjuntura de que muitos de seus
nacionais emigravam visando o Brasil como destino, algo que não atendia seus
interesses, contavam com o apoio da antiga colônia. Era importante para Portugal
promover as colônias africanas a ser um novo “Brasil colonial”, manter as divisas
provenientes do território brasileiro e conciliar isso tudo com as necessidades de
mão de obra da burguesia agrária e industrial local, que se interessava na existência
de certo excedente de mão de obra para seus custos continuarem baixos.
Realmente o Brasil dava suporte ao recebimento de imigrantes objetivando
assim a ocupação demográfica e econômica dos espaços considerados vazios no
seu território. Entretanto, a vinda de portugueses não era bem vista, pois Portugal
era um dos países mais atrasados da Europa, esses imigrantes chegavam sem
capital e apenas se dedicavam aos negócios, e após juntarem dinheiro, retornavam
ao seu país.
Esse comportamento de acumular capital para retornar é decorrente do
imaginário dos portugueses de que a emigração era temporária e possibilitaria
acumular riqueza que permitisse a alteração do estatuto social que possuía em
Portugal. Pois, conforme relata Pereira, a sociedade portuguesa era hierarquizada e
com pequena mobilidade social sendo que a expatriação se apresentava como
instrumento de promoção social.29
Isso permite vislumbrar a mitologia da fortuna e retorno que a maioria dos
portugueses que saiam desejava alcançar. Eles partiam para enriquecer e, caso o
27
PEREIRA, 2002, p.11-12. 28
LEITE, Joaquim da Costa. O Brasil e a emigração portuguesa, 1855-1914. In: FAUSTO, Boris (org.). Fazer a América: A Imigração em Massa para a América Latina. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1999. p. 179 29
PEREIRA, op. cit., p. 45.
16
imigrante fracassasse, isso era o resultado de sua incapacidade e não da mudança
do estatuto do português no Brasil. Já que o português era mais uma força de
trabalho e não ocupava os cargos de administração que antes lhes eram conferidos
durante o Brasil Colônia.
Com essa perspectiva se associava o retorno com a melhoria de vida. Ocorre
que, como Pereira assevera, a realidade histórica mostra a existência de dois tipos
de retorno a Portugal: o retorno resultante de ascensão econômica e o retorno do
emigrante que não fez fortuna.30
Essa realidade mostra que nem sempre o mito do retorno correspondia ao
regresso da população emigrante. Entretanto, essa ideia era um dos fatores que
justificava o envio de poupanças as famílias, sendo necessário a sua desintegração
geográfica para ocorrer o fluxo de remessas. Essas remessas equilibravam a
balança de pagamentos do Estado e ocultava a subordinação externa desse
fazendo com que a emigração fosse um fenômeno persistente. 31
Para alcançar esses objetivos, onde os imigrantes portugueses procuravam
se fixar no país de destino?
No Brasil, devido ao acesso à propriedade, os imigrantes portugueses livres32
optavam pelos empregos urbanos, trabalhando principalmente no comércio e nos
transportes. Os lusitanos também trabalhavam como pedreiros, carpinteiros,
mineiros e artesãos. Normalmente, os que se instalavam no meio urbano
conseguiam uma melhora da sua situação econômica, não significando que fizesse
fortuna.
Segundo Joaquim da Costa Leite, um português no Rio de Janeiro poderia
triplicar o salário que recebia pelo mesmo trabalho que desempenhava em sua terra.
Descontadas as despesas para sua subsistência, esse imigrante facilmente poderia
poupar o valor equivalente ao salário que conseguia em Portugal.33 Obviamente
esse valor não alcançaria a altas quantias de imediato.
Essa preferência dos imigrantes portugueses pelo comércio é evidenciada por
muitos autores. Lená Medeiros Menezes relata que
30
PEREIRA, 2002, p. 50-51. 31
Ibid., p. 18-19; 55; 111. 32
Havia também os imigrantes engajados, que saíam de Portugal com contrato de trabalho e/ou destino definido. 33
LEITE, 1999, p. 187.
17
Falar da imigração portuguesa significa mergulhar em um espaço privilegiado: o do comércio, destino mistificado para todos aqueles que acalentavam sonhos de promoção social no além-mar. Nesse espaço significava, ainda, privilegiar dois atores principais do drama cotidiano: negociante e o caixeiro, figuras emblemáticas que se fizeram presentes no espaço urbano ao longo de todo o processo de urbanização. À medida que expandiu a malha urbana, o comércio português a varejo acompanhou esse crescimento tornando o português da esquina referência obrigatória.
34
Como apresentado, os portugueses tinham papel de destaque no comércio,
sobretudo desenvolvendo a atividade de caixeiro e caixeiro viajante. Tanto que uma
parcela de imigrantes lusos na cidade de São Paulo exercia essa função como
menciona Sênia Bastos.35 Fato também percebido por Silva, ao analisar as
profissões dos sócios da Sociedade Portuguesa de Beneficência em São Paulo, na
qual 29,2% eram caixeiros, e da Caixa de Socorros Dom Pedro V no Rio de Janeiro,
que, em 1867, 25% dos associados eram caixeiros.36 Em virtude desse destaque,
Lobo relata que as melhorias nas condições de trabalho conseguidas pelas
organizações de caixeiros e empregados no comércio no Rio de Janeiro e Salvador
nas duas primeiras décadas do século XX refletiram nacionalmente por causa da
influência portuguesa no comércio se estender aos vendedores ambulantes que a
maior parte era lusitana.37
Ainda, Roseli Boschilia afirma que os portugueses chegavam ao Brasil de
modo espontâneo e preferiam o espaço urbano para se fixarem, atuando no
comércio e serviços.38 Sendo que a atuação no comércio ocorria em vários ramos de
atividades com predominância para “fazendas e roupas feitas”, “comissões e
descontos” e “secos e molhados” como apontaram os estudos realizados por Lená
34
MENEZES, Lená Medeiros Jovens portugueses: histórias de sucesso, histórias de trabalho, histórias de fracasso. In: GOMES, Ângela de C. (org.) Histórias de imigrantes e de imigração no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2000. p 164 apud MATOS, Maria Izilda Santos de. Entre o lar e o balcão: mulheres imigrantes (São Paulo/Brasil 1890-1950) In: Congresso Internacional A vez e a voz das mulheres Imigrantes portuguesas, 2., 2005, Berkeley. [Livro de resumos]. [Berkeley]: s.n., 2005, p. 37. 35
BASTOS, Sênia. Negociantes e caixeiros na cidade de São Paulo em meados do século 19. In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais). p. 136. 36
SILVA, Maria Betriz Nizza da. Atividades várias. In: SILVA, 1992, p. 48. 37
LOBO, 2001, p. 40. 38
BOSCHILIA, Roseli. A sociedade portuguesa em Curitiba: um projeto identitário (1878-1900). In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.345.
18
Medeiros de Menezes e Paula Leitão Cypriano que analisaram os registros do
Tribunal de Comércio da Capital do Império referentes ao período de 1851 a 1870.39
Segundo as autoras, “fazendas e roupas feitas” se refere a fazendas, roupas
feitas e a produção de fios, seda ou lã. Enquanto o “comissões e descontos” é
relacionado com atividades de transações financeiras como câmbio e seguros. A
última categoria trata de venda de gêneros alimentícios sólidos e líquidos,
normalmente ocorrida nos estabelecimentos conhecidos como armazéns.40
Destaque-se que o imigrante José Fernandes Loureiro atuava no ramo
“fazendas e roupas feitas”, vendia gêneros alimentícios, além de realizar certas
operações financeiras como empréstimo.
Além de traçar o perfil das ocupações mais frequentes entre os imigrantes, as
análises a respeito da imigração portuguesa destacam as áreas de origem desse
contingente. Segundo Eulália Maria Lahmeyer Lobo, a maioria dos imigrantes
lusitanos era originária das regiões do norte de Portugal, pois nessas as explorações
agrícolas se multiplicaram em números e reduziram-se em superfície de unidade.41
Em consonância a isso, Robertha Pedroso Triches observou que os
imigrantes portugueses “vinham principalmente das regiões interioranas e pobres do
norte de Portugal, com destaque para Minho, Douro, Beira Alta e Trás os Montes
{...}”.42
Acompanhando essa constatação, Herbet S. Klein relata que:
A maioria dos emigrantes portugueses eram provenientes dos distritos mais densamente povoados do continente. Assim, dos 1 306 501 portugueses que emigraram entre 1855 e 1914, 78% eram originários do continente. Deste total, 82% foram para o Brasil, 2% para a Argentina e 15%para os Estados Unidos. Se o Brasil era o principal destino dos emigrantes do continente, para as populações das ilhas a principal zona de emigração eram os Estados Unidos.
43
39
MENEZES, Lená Medeiros de; CYPRIANO, Paula Leitão. Imigração e negócios: comerciantes portugueses segundo os registros do Tribunal do Comércio da Capital do Império (1851-1870). In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.109. 40
Ibid., p. 109-110. 41
LOBO, 2001, p. 18. 42
TRICHES, Robertha Pedroso. Identidades Contrastivas: a Inserção do Português na Primeira República. História, imagem e narrativas, [Rio de Janeiro], n. 5, ano 3, p. 4, set. 2007. Disponível em: <http://www.historiaimagem.com.br>. Acesso em: 23 dez. 2010. 43
KLEIN, 1993, p. 237-238.
19
No que tange ao perfil desses imigrantes, cumpre ressaltar que eles eram, em
sua maioria, jovens, do sexo masculino que vinham para o Brasil solteiros ou
desacompanhados, conforme analisou, Ismênia Martins.44 Não desviando desse
perfil, Joaquim da Costa Leite divide esses imigrantes em três grupos: jovens
alfabetizados que desejavam um ofício e que tinham a emigração como carreira (o
grupo mais importante e persistente); homens adultos, normalmente casados, que
buscavam complemento de renda à família e regressavam a Portugal; e grupos
familiares que fugiam de crises e da pobreza local.45
Cabe considerar que até o final do século XIX era necessários recursos
consideráveis para que um sujeito emigrasse de Portugal para o Brasil conforme
menciona Ana Silvia Volpi Scott. Segundo essa historiadora, o perfil do emigrante
português que chegou a terras brasileiras ao longo dos anos oitocentos seria de um
jovem do sexo masculino, alfabetizado, oriundo de uma família que dispunha de
capital para as despesas de viagem e instalação no novo local e provavelmente teria
como destino a cidade do Rio de Janeiro.46 Pode-se dizer que esse imigrante seria
pertencente ao primeiro grupo da classificação elaborada por Leite, pois em ambos
há a relação de conhecimento escolar com a juventude dos sujeitos.
No final do século XIX e no início do século XX houve intenso fluxo de
imigrantes português com direção ao Brasil e nota-se que o perfil acima mencionado
se modifica. Nesse período houve eventualmente imigrantes portugueses que foram
beneficiados com subsídios uma vez que os proprietários necessitaram de mão de
obra para a lavoura de café. Assim, segundo Scott, os lusitanos que aqui chegavam
eram menos preparados, jovens que viajavam sozinhos, provenientes de camadas
sociais mais baixas.47 Aqui possivelmente se trata de portugueses pertencentes ao
grupo dos homens casados que buscavam aumentar a renda familiar.
Devido a esse panorama de presença de lusitanos predominantemente do
sexo masculino, Manolo Florentino e Cacilda Machado comentam que o imigrante
português procurava se casar com mulheres portuguesas; caso não lhes tivesse
disponível, escolhiam brasileiras brancas com origem lusa mais recente; e em último
44
MARTINS, Ismênia de Lima. Registro de imigrantes: estratégia de pesquisa. In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.19. 45
LEITE, 1999, p.193-195. 46
SCOTT, Ana Silvia Volpi. As duas faces da imigração portuguesa para o Brasil. Paper apresentado ao Congresso de Historia Económica, Zaragoza, 2001. p. 24-25. Disponível em: <http:// www.unizar.es/eueez/cahe/volpiscott.pdf>. Acesso em 14 nov. 2010. 47
Ibid., p. 25.
20
caso escolhiam a mulheres brancas dessa terra com alguma ascendência
portuguesa.48
Portanto, pode-se dizer que o que motivava os imigrantes portugueses a se
fixar no Brasil era a busca de oportunidades de se alcançar riquezas para então
retornar a sua terra tendo uma ascensão social; esses, em geral, eram jovens do
sexo masculino que partiam da região Norte de Portugal e que procuravam os
centros urbanos para conseguirem seus objetivos.
Assim, cabe delinear a imigração portuguesa no Paraná, assunto do próximo
item.
1.2 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO PARANÁ
A presença de imigrantes portugueses em Curitiba não pode ser ignorada.
Isso porque, segundo Carlos de Almeida Prado Bacellar, no início do século XIX,
Curitiba representava a segunda maior colônia, em números absolutos, de
portugueses na então Província de São Paulo.49 A escolha da vila não era aleatória,
pois esses imigrantes preferiam vilas portuárias ou relacionadas a grandes rotas
comerciais, como era o caso de Curitiba.
Isso é exemplificado com o encaminhamento de colonos açorianos, em 1816,
para povoar o antigo pouso e registro fiscal do caminho das tropas, área que
constitui o atual território dos municípios de Rio Negro e Mafra.50 Esses colonos
foram instalados nessa região com o intuito de tornar seguro o caminho para os
tropeiros, evitando os ataques dos índios bravios das cercanias e os dos
bandoleiros.51
Com a Independência do Brasil se acentua a preocupação dos governantes a
respeito da necessidade de se ocupar o solo para garantir a soberania nacional e a
48
FLORENTINO; MACHADO, 2002, p. 80. 49
BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os reinóis na população paulista às vésperas da Independência. In: Anais do XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP, Caxambu, 2000, v.1. Disponível em: <http://www.abep.org.br/>. Acesso em: 8 ago. 2010. p.6. 50
BALHANA, Altiva Pilatti. Imigração e colonização. In: ______; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Graphipar, 1969. v.I. p. 157. 51
WESTPHALEN, Cecília Maria; BALHANA, Altiva Pilatti. Portugueses no Paraná. In: LEITE, Renato Lopes. Cultura e poder: Portugal-Brasil no século XX. Curitiba: Juruá, 2003. p. 28.
21
valorização econômica. Assim, a política imigratória passou a estimular a entrada de
novos contingentes populacionais, como mencionado no tópico anterior.
Até 1834 esse programa de colonização era de responsabilidade do Governo
Imperial, que nessa data delegou aos governos provinciais a promoção e estímulo
para estabelecimento de colônias. Essa concessão só surtiu efeito no Paraná após a
emancipação dessa província, em 1853.52
A partir de 1840, o objetivo principal da imigração no Brasil se orientou para o
fornecimento de mão de obra para agricultura, em especial o cultivo do café e não
mais exclusivamente para a ocupação de territórios. Situação diferente dessa ocorria
na área da província do Paraná na qual a política de imigração se destinava a atrair
pequenos proprietários produtores da lavoura de subsistência para se criar uma
agricultura de abastecimento, devido à inexistência de grandes propriedades rurais
que necessitassem de mão de obra assalariada em larga escala. 53
Para tanto, na década de 1870, as colônias agrícolas foram implantadas nas
proximidades dos centros urbanos com o objetivo de posicioná-las junto aos
mercados consumidores. Como é o caso da região entorno de Curitiba.
As colônias paranaenses tinham como principal componente étnico o eslavo,
em especial, poloneses e ucranianos54, havendo também a presença italiana, alemã
e holandesa.55 Esse afluxo de imigrantes alterou a composição da população
paranaense algo que não permite omitir a participação dos lusos na formação e
composição dessa população regional.56
Como se observa, não há indicação da presença portuguesa nessa política de
colonização empreendida no Paraná. Isso porque o fluxo migratório deles ocorreu
independentemente das subvenções que explicam a migração de outros europeus
para o Brasil.57
Segundo Klein, os portugueses se dirigiam para o sua ex-colônia pelo fato de
falarem a mesma língua, pelos laços históricos entre os países, pelos salários mais
elevados, pelas melhores oportunidades econômicas e por a comunidade comercial
52
BALHANA, 1969, p. 158. 53
Ibid., p. 159-162. 54
Ibid., p. 183. 55
NADALIN, Sérgio Odilon. Por uma ética do trabalho. colonização, imperialismo e liberalismo. a proposta de uma imigração de colonos brancos,”morigerados e laboriosos”. In:______. Paraná: ocupação do território, população e migrações. Curitiba: SEED, 2001. (Coleção História do Paraná; textos introdutórios). p. 79. 56
WESTPHALEN; BALHANA, 2003, p.31. 57
KLEIN, 1993, p. 242.
22
brasileira conter como elemento a participação portuguesa. Devido à comunicação
estreita e aos contatos de longa data esses imigrantes conseguiam se integrar na
economia brasileira sem dificuldade.58
Os imigrantes portugueses encontravam essa situação em Curitiba, pois a
origem das famílias paranaenses do século XIX, segundo Cecília Maria Westphalen
e Altiva Pilatti Balhana, era predominantemente portuguesa, descendentes de
imigrantes avulsos oriundos de Portugal e de suas ilhas atlânticas.59
As referidas autoras mencionam as evidências trazidas pela “Genealogia
Paranaense”, organizada por Francisco Negrão, a saber: a maioria dos capitalistas
paranaenses, no final do século XIX até os anos iniciais do século XX, eram
portugueses;ou filhos/netos de portugueses; e se casaram com integrantes de
famílias tradicionais do Paraná.60
A partir desses dados, pode-se afirmar que os portugueses, estabelecidos
especialmente em Curitiba, eram bastante visíveis na economia e na sociedade
paranaense, impossibilitando ignorar ou minimizar sua presença.
Em consonância a isso, Roseli Boschilia afirma que, no Paraná, os
portugueses e seus descendentes ocupavam lugar importante no comércio e na
indústria .61
É notável, como já se mencionou, a atuação do imigrante português no
mercado urbano brasileiro. E a respeito do mercado curitibano, é importante
ressaltar que mais da metade dos estabelecimentos comerciais, anunciados entre
1854 e 1889 no jornal Dezenove de Dezembro, pertenciam a luso-brasileiros,
conforme relatam Westphalen e Balhana.62
Com base nos dados dos censos de 1872, de 1900 e de 1920, essas
historiadoras, afirmam que a emigração portuguesa no Paraná foi majoritariamente
masculina.
Esse desequilíbrio demográfico se reflete na maneira do imigrante formar sua
família, pois como já comentado no item anterior, segundo Florentino e Machado,
58
KLEIN, 1993, p. 242. 59
WESTPHALEN; BALHANA, 2003, p. 30. 60
Ibid., p. 34. 61
BOSCHILIA, 2008, p. 346. 62
WESTPHALEN; BALHANA, op. cit., p. 33.
23
esse imigrante procurava uma esposa que tivesse alguma ascendência
portuguesa.63
Segundo Bacellar, no começo do século XIX, os portugueses visavam fazer
alianças com a sociedade local através do casamento. Grande parte desses
matrimônios se realizara com famílias da elite local e em inúmeras vezes ocorriam
casamentos múltiplos de vários irmãos.64
Com isso tudo, se retoma a trajetória de José Fernandes Loureiro. Nota-se
que ele se estabeleceu em Curitiba (um centro urbano), desenvolvia atividades
ligadas ao comércio e se casou com uma representante da elite local.
Mas esse trabalho não visa observar apenas as questões acima, e sim cruzar
dados e informações que possibilitem saber: quem era esse imigrante, o que teria
motivado sua saída da terra natal e, por fim, o que ele ambicionava ao se dirigir a
capital paranaense.
A problematização dessas questões exigiu uma reflexão de cunho teorico-
metodológico que possibilitasse acompanhar a trajetória desse imigrante.
Para tanto, foi necessário o diálogo com autores que refletem sobre a história
cultural e a micro-história, temas que serão discutidas no próximo capítulo.
63
FLORENTINO; MACHADO, 2002, p. 80. 64
BACELLAR, 2000, p.22.
24
2 A BIOGRAFIA NA HISTÓRIA
É legítimo um trabalho histórico que se baseie em um estudo biográfico? A
trajetória de um grupo social pode ser entendida a partir da análise biográfica de um
de seus membros?
Essas questões representam o desafio que se pretende enfrentar no presente
trabalho. Isso porque a proposta é qualificar o perfil e entender os mecanismos de
inserção dos imigrantes portugueses que se radicaram em Curitiba na segunda
metade do século XIX, tendo como base o estudo da trajetória de José Fernandes
Loureiro, um desses imigrantes portugueses.
Assim, para a realização dessa análise foi necessário mergulhar no campo da
história cultural, procurando dialogar com autores cujas reflexões pudessem indicar
caminhos para a problematização do uso da biografia e da micro-história, corrente
historiográfica na qual essa questão se insere.
2.1 A HISTÓRIA CULTURAL
Um dos impasses com o qual o historiador se depara ao optar pela história
cultural é o caráter difuso desse campo, pois segundo Peter Burke não existe
consenso a respeito dos objetivos e métodos desse tipo de história.65 Para esse
historiador, a história cultural pode ser dividida em quatro fases: “clássica”; “história
social da arte”, iniciada na década de 1930; a descoberta da história da cultura
popular, ocorrida na década de 1960; e “nova história cultural”.66
Ressalta-se que a história cultural surgiu como uma alternativa à história
tradicional que tinha como objeto a política. Essa característica pode ser
vislumbrada na fase “clássica”, como se verá a seguir.
Nessa fase, entre os anos 1800 e 1950, ocorre o enfoque na cultura como
aparece nas obras “A cultura do Renascimento na Itália” (1890), do historiador Jacob
65
BURKE, Peter. História cultural: passado, presente e futuro. In:______. O Mundo como teatro: estudos de antropologia histórica. Lisboa: DIFEL, 1992. p. 15. 66
BURKE, Peter. A Grande tradição. In:_____. O que é história cultural? Tradução de Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 15-16.
25
Burckhardt, e “Outono da Idade Média” (1919), do historiador Johan Huizinga.
Assim, é válido ressaltar alguns pontos do pensamento desses intelectuais.
Jacob Burckhardt considerava a história como um campo em que interagiam
três forças: Estado, Religião e Cultura.67 Para ele, a cultura era o elemento dinâmico
da História.68 Explica-se:
a Cultura “corresponde às necessidades materiais e espirituais do homem no sentido mais estrito do termo necessidade”, constituindo o “cerne de tudo aquilo que se gerou espontaneamente em benefício da excelência material e como expressão da vida intelectual e moral do homem: ela inclui, portanto, todas as congregações, artes, técnicas, expressões literárias e ciências”.
69
Enquanto que Estado e Religião são “a expressão de necessidades políticas
e metafísicas”.70 Nota-se que a cultura é algo natural e espontâneo, fruto da ação
humana. Sendo que o historiador deve observar as três forças mencionadas, pois
cada uma delas interage com as outras, sendo preponderante o papel da Cultura por
representar a potência de movimento e exercer um papel crítico perante as outras
forças.71
Para Johan Huizinga, os problemas da cultura eram pensados como
indissoluvelmente ligados aos problemas da política. 72 Tanto que o desenvolvimento
da civilização, por ele chamado de desenvolvimento da cultura, “implicava o
equilíbrio entre as dimensões materiais, morais e intelectuais da vida social”.73
Cabe dizer que a história cultural, para Huizinga, teria como objetivo a
“descrição de padrões de cultura ou, por outras palavras ainda, pensamentos,
sentimentos e a sua expressão ou constituição em obras de arte e de literatura”.74
67
BURKE, Peter. O Antigo Regime na historiografia e seus críticos. In:______. A escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da historiografia. Tradução de Nilo Odalia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. p. 18-19. 68
CHAVES, Ernani. Cultura e política: o jovem Nietzsche e Jakob Burckhardt. Cadernos Nietzsche, São Paulo, n. 9, 2000. p.47. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_09_02.pdf >. Acesso em: 15 dez. 2010. 69
BURCKHARDT, Jacob. Weltgeschichtlichen Betrachtungen. Detmold-Hiddesen: Maximilian-Verlag, 1947. p.31 apud CHAVES, 2000, p. 47. 70
BURCKHARDT, 1947, p.31 apud CHAVES, 2000, p. 47. 71
LÖWITH, Karl. Burckhardt und Nietzsche In: Sämtliche Schriften, Band 7, Suttgart, J. B. Metzlerschen Verlagsbuch-handlung, 1984, p. 363 apud CHAVES, 2000, p. 48. 72
PAULA, João Antonio de. Lembrar Huizinga: 1872-1945, Nova Economia, Belo Horizonte, n. 15, jan.-abr.2005, p.143. Disponível em: <www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/v15n1/150106.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2010. 73
Ibid., p. 146. 74
BURKE, 1992, p. 15.
26
Ou seja, para esse autor, o historiador cultural deveria tentar revelar o espírito de
uma época.
Huizinga e Burckhardt, apesar de não terem posições idênticas75, tendiam a
tratar uma “época” como algo sólido e homogêneo, desconsiderando a mudança
dentro do período que estudaram, a variação regional e os contrastes entre as
culturas de diferentes grupos sociais. Nas duas obras mencionadas, está implícita a
ideia de que o historiador faz o “retrato de uma época”.76 Destaca-se que nesse
período, “os historiadores culturais concentravam-se na história dos clássicos, “um
cânone” de obras-primas da arte, literatura, filosofia, ciência e assim por diante.”77
Uma grande modificação na história cultural ocorreu nos anos 20 e 30 do
século XX, momento em que se discutiu sobre as formas de fazer ou de falar sobre
a história cultural, surgindo alternativas a esse tipo de história como os seguintes
cinco modelos citados por Burke78: o marxista79; o francês da história das
mentalidades80; o americano da história das ideias81; a abordagem de Warburg em
termos de tradição82; e a abordagem de Norbert Elias sobre o processo civilizador83.
Esses modelos têm em comum abordar a história por meio de novas
75
Os temas, figuras, sentimentos e estilos que se detiveram eram diferentes. (BURKE, 1992, p. 16) 76
BURKE, 2005, p. 16. 77
Ibid., loc. cit. 78
Ibid., p. 17. 79
Segundo Eric Hobsbawm, a maior contribuição de Marx para a História foi a sua tentativa de formulação de uma abordagem metodológica da história como um todo e considerando e explicando o processo da evolução humana (através dos modelos de produção). (HOBSBAWM, Eric. Marx e a história. In:______. Sobre história: ensaios. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 179; 181.) 80
Esse modelo surgiu dentro do movimento Escola dos Annales. Tal modelo tem como fundamento o conceito de mentalidade que, segundo Jacques Le Goff, é algo que muda mais lentamente. Isso restringe a atuação da história das mentalidades, pois não permite explicar momentos de mudanças rápidas já que, como afirma Le Goff, “a mentalidade não é reflexo”. (LE GOFF, Jacques. As mentalidades: uma história ambígua. In: ______; NORA, Pierre (direção). História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. p. 70; 72; 78). 81
A história das ideias é definida por Robert Darnton como “o estudo do pensamento sistemático, geralmente em tratados filosóficos”. (DARNTON, Robert. História intelectual e cultural. In: ______. O beijo de Lamourette: Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 219). De forma geral pode-se dizer que a História das Ideias enfoca a linguagem como objeto de estudo. 82
Aby Warburg foi um historiador cultural interdisciplinar que tinha como foco de estudos a sobrevivência e a transformação da tradição clássica. (WARBURG, Aby. Imagens da região dos índios Pueblo da América do Norte. Concinnitas, Rio de Janeiro, ano 6, v. 1, n. 8, p. 9, jul. 2005. Disponível em: <http://www.concinnitas.uerj.br/resumos8/warburg.htm>. Acesso em: 15 dez. 2010.) 83
Elias procurou compreender como e por que a sociedade ocidental passou do padrão de civilidade para o de civilização.
(ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1994. v.1. p. 77.) Segundo Landini, ele demonstrou que as mudanças nos costumes não são aleatórias e representam a relação da dinâmica psicológica com a dinâmica social, bem como a relação entre essa e a estrutura da personalidade.(LANDINI, Tatiana Savoia. A sociologia processual de Norbert Elias. IX Simpósio Internacional Processo Civilizador: tecnologia e civilização.Ponta Grossa. p. 2. Disponível em: <http://www.fef.unicamp.br/sipc/anais9/artigos/ mesa_debates/art27.pdf>. Acesso em 14 dez. 2010.)
27
concepções, em geral enfocando os sujeitos que não eram estudados pela história
política e social, como o povo. Considerando também outros tipos de fontes
diferentes das usadas até então.
Na década de 1960 e 1970, surgiram novas formas de se fazer história
cultural que pretendiam preencher as lacunas na abordagem clássica e/ou na
marxista, isso devido ao diálogo com outras ciências da área de humanas.84
Essas novas formas da história cultural são chamadas de “Nova História
Cultural”. Dentre essas, há uma abordagem que utiliza a cultura popular e se insere
numa proposta mais ampla de escrever a história vista de baixo pela perspectiva do
povo. O último conceito é de difícil definição fato que, segundo Burke, nessa
abordagem há espaço para o método quantitativo, o uso de processos de Inquisição
como fonte e a tendência mais atual de se direcionar o estudo à prática cultural, às
atitudes cotidianas e ligadas à cultura material. O enfoque nas práticas culturais fez
com que os trabalhos de História utilizassem o modelo usado na antropologia,
havendo um interesse pelo simbolismo inscrito na vida cotidiana. Ainda, por
influência dos estudos de Michel Foucault, essa corrente historiográfica pode
enfocar a política, já que essa está presente em todas as relações humanas.85
A Nova História Cultural, segundo Ronaldo Vainfas, possui quatro
características: rejeição ao conceito de mentalidades (por ser vago, ambíguo e
impreciso quanto às relações entre o mental e o social); afeição pelo informal, pelo
popular; resgate do papel das classes sociais, da estratificação, do conflito social;
ser uma história plural, que apresenta caminhos alternativos para a pesquisa
histórica. 86
Como se pode notar, existem múltiplas correntes que podem se filiar dentro
da história cultural. Tanto que Vainfas menciona três: a história cultural praticada por
Carlo Ginzburg; a de Roger Chartier; e a produzida por Edward Thompson.87
Assim, é necessário apresentar as formas de cada autor acima citado, a
começar pelo historiador italiano. A história cultural feita por Ginzburg é relacionada
com as suas noções de cultura popular e de circularidade cultural. Assim, com base
84
BURKE, 1992, p. 18. 85
Ibid., 18-23. 86
VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. 13. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier; Campus, 1997. p.148-149; VAINFAS, Ronaldo. O Berço da micro-história. In: ______. Os protagonistas anônimos da história: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p.56-57. 87
VAINFAS, 1997, p. 150-151.
28
na discussão de Vainfas, cabe mencionar o que é cultura popular para esse autor: é
aquela que se opõe à cultura letrada ou oficial das classes dominantes, mas que
mantém relações com ela. Tais relações não são de imposição da última sobre a
popular, sendo que a cultura dominante é filtrada pelas classes subalternas
conforme seus valores e condições de vida.88
Essa visão dicotômica entre a cultura popular e a erudita não é admitida por
Chartier. O modelo de Chartier, segundo Vainfas, adota uma noção mais ampla de
cultura, explica-se: esse historiador francês propõe um conceito de cultura enquanto
prática. A partir disso sugere duas categorias a ser utilizadas: representação e
apropriação.89 Por isso, faz-se necessário mencionar alguns aspectos desses
conceitos. A representação, para Chartier, é um conceito superior ao de
mentalidade, pois permite articular a delimitação e classificação das inúmeras
configurações intelectuais com as práticas e com as formas institucionalizadas e
objetivadas. Enquanto que o conceito de apropriação tem como objetivo uma história
social das interpretações, que se encaminham para as determinações fundamentais.
Essas são, concomitantemente, sociais, institucionais e culturais.90 Importante notar
que o conceito de representação de Chartier faz com que o social só tenha sentido
nas práticas culturais e que as classes e os grupos só podem ser identificados por
seus símbolos, como relembra Vainfas.91
Diferente dessas duas formas de história cultural é o modelo utilizado por
Thompson. Para esse historiador britânico, como relata Vainfas, a cultura popular
valoriza a resistência social e a luta de classes sendo essas relacionadas com as
tradições, os ritos e o cotidiano das classes populares num momento histórico de
transformação. Tal significado de história cultural é intimamente relacionado com a
temática da obra desse historiador inglês, que é voltada para a formação da classe
operária inglesa em meio ao processo de industrialização. 92
Assim, com esses três autores bem como com o panorama de suas ideias
reforça-se a pluralidade presente na história cultural mais recente. Ainda, devem-se
acrescentar menções sobre a decorrência da história cultural surgida na década de
1980: a micro-história que será trabalhada no item abaixo.
88
VAINFAS, 1997, p. 150; 152. 89
Ibid., p. 153. 90
CHARTIER, Roger. Introdução. In:______. A história cultural. Lisboa: Difel, 1990. p. 26 apud VAINFAS, op. cit., p. 154-155. 91
VAINFAS, op. cit., p. 154-155. 92
VAINFAS, 2002, p. 155; 157.
29
2.2 A MICRO-HISTÓRIA
É preciso levar em conta que a micro-história surgiu na década de 1980 como
uma iniciativa editorial da Einaudi através da coleção “Microstorie”. Como relata
Vainfas essa iniciativa assumiu a legitimidade do “fatiamento” da História e se
preocupou com uma problematização do objeto de investigação, principalmente
quanto às hierarquias e conflitos sociais.93
A micro-história já foi considerada uma abordagem, um gênero, um modelo,
uma prática historiográfica, projeto editorial e método de trabalho histórico. Por isso
tudo, a seguir serão feitas algumas considerações sobre esse conceito.
Considerando a micro-história como uma prática, Giovanni Levi alude que
A micro-história é essencialmente uma prática historiográfica em que suas referências teóricas são variadas e, em certo sentido, ecléticas. O método está de fato relacionado em primeiro lugar, e antes de mais nada, aos procedimentos reais detalhados que constituem o trabalho do historiador, e assim, a micro-história não pode ser definida em relações às microdimensões de seu objeto de estudo. {...} Na verdade, muitos historiadores que aderem à micro-história têm-se envolvido em contínuos intercâmbios com as ciências sociais e estabelecido teorias historiográficas sem, contudo, sentir qualquer necessidade de se referirem a qualquer sistema coerente de conceitos ou princípios próprios.
94
Relevante observar que, segundo Vainfas, a micro-história surgiu da “crítica
aos excessos de irracionalismo ou psicologismo, à negligência no tocante às
hierarquias e conflitos sociais e à redução do trabalho historiográfico à simples
descrição textual de fatos registrados na documentação”.95 Ou seja, uma crítica à
História das Mentalidades, a não consciência dos questionamentos da presença do
poder/político nas diversas relações humanas e à maneira positivista de produção
histórica.
Segundo Julio Aróstegui, “a micro-história propõe uma nova inteligibilidade
para a ação humana e uma nova explicação de generalidades partindo da análise
93
VAINFAS, 2002, p. 70; 74-75. 94
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.). A Escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora da UNESP, 1992. p. 133. 95
VAINFAS, op. cit., p. 69.
30
micro de experiências pessoais e singulares.” 96 Explica-se, levando em conta as
reflexões desse autor: a proposta da micro-história é estudar fenômenos sócio-
antropológicos em sua vertente histórica numa escala de observação do sistema
muito reduzida, isso para poder analisar certos processos mais gerais e tipificá-los. E
mais, é uma história que se baseia na recuperação do sujeito, da experiência e sua
conversão no eixo do discurso.
Em consonância a isso, Jacques Revel menciona que “a abordagem micro-
histórica se propõe a enriquecer a análise social tornando suas variáveis mais
numerosas, mais complexas e também mais móveis”.97 Algo que não é possível pelo
uso de outras formas de análise, como por exemplo a da história das mentalidades e
a história política tradicional.
Ainda considerando a micro-história como abordagem, Francisco Bethencourt
e Diogo R. Curto mencionam que essa é uma
abordagem que privilegia os fenômenos marginais, as zonas de clivagem, as estruturas arcaicas, os conflitos entre as configurações socioculturais – uma abordagem que procede a partir da microanálise de casos bem delimitados mas cujo estudo intensivo revela problemas de ordem mais geral, que põem em causa idéias feitas sobre determinadas épocas.
98
Com isso vislumbra-se que o estudo a partir da microanálise pretende revelar
indícios presentes além do objeto enfocado. Isto é: o estudo microscópico é uma
maneira de se alcançar novas interpretações de um campo mais amplo.
Em conformidade com as ideias mencionadas pelos autores já referidos,
Carlo Ginzburg considera que trabalhar numa escala reduzida permite a
reconstituição do vivido impensável através de outras abordagens. Isso porque a
micro-história pretende questionar as estruturas invisíveis, para outras abordagens,
nas quais o vivido se articula.99
96
ARÓSTEGUI, Julio. A crise da historiografia e as perspectivas: os grandes paradigmas. In:______. A Pesquisa histórica: teoria e método. Tradução de Andréa Doré; revisão técnica de José Jobson de Andrade Arruda. Bauru. SP: Edusc, 2006. p. 211. 97
REVEL, Jacques. Microanálise e a construção do social. In: ______. (Org.) Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 23. 98
BETHENCOURT, Francisco; CURTO, Diogo Ramada. Nota de apresentação. In: GINZBURG, Carlo; CASTELNUOVO, Enrico; PONI, Carlo (org.). A micro-história e outros ensaios. Tradução de António Narino. Lisboa: DIFEL, 1989. (Memória e sociedade). p. X. 99
GINZBURG, Carlo. O nome e o como: troca desigual e mercado historiográfico. In: GINZBURG; CASTELNUOVO; PONI, 1989, p. 177-178.
31
Após essa exposição e por considerações emanadas dessa cabe mencionar
algumas características do gênero micro-história: apego à narrativa; cuidado com as
fontes; e abundância dessas. A respeito disso, Vainfas ressalta que os estudos
desse gênero são ancorados em uma pesquisa exaustiva de fontes, muito vezes
variadas, o que se alia a exposição narrativa e descritiva dos casos.100
O uso da narrativa pela micro-história é a causa de algumas críticas. Pois,
esse apego à narrativa, muitas vezes, evita a demonstração empírica e esmiuçada
das evidências, sendo que os críticos consideram que a micro-história inventa fatos.
A redução da escala de observação, segundo Levi, permite a revelação dos
aspectos antes ocultos.101 De maneira similar, Revel afirma que a escolha do
individual deve tornar possível uma abordagem diferente da história social, por
acompanhar a trajetória de um destino particular (de um homem ou de um grupo de
homens) e, juntamente com isso, a multiplicidade dos espaços e dos tempos, as
relações nas quais esse particular se inscreve.102
Assim, no presente estudo, segue-se essa proposta. Parte-se do pressuposto
que a trajetória de vida de José Fernandes Loureiro é semelhante à da maioria dos
imigrantes lusitanos, como já mencionado no capítulo anterior, a partir da qual se
pretende abordar a imigração portuguesa no Paraná, pelo intermédio da análise do
papel do sujeito português na sociedade curitibana. Com isso, denota-se que uma
trajetória, algo bem delimitado e restrito, traz evidências de um campo maior, no
caso a imigração portuguesa no Paraná.
Feitas essas reflexões, é primordial relatar os temas trabalhados pela micro-
história. Segundo Vainfas, a micro-história pode ter como foco temas ou
personagens desconhecidos, bem como temas e personagens célebres. Mas,
preferencialmente, os temas mais aptos a essa abordagem são os relacionados às
comunidades específicas, às situações limites e às biografias.103
O enfoque numa trajetória de vida de um sujeito em particular é uma forma de
estudo com escala de observação reduzida. Portanto, deve-se avaliar se o uso de
uma biografia em um estudo de História é possível e como se deve proceder diante
desse objeto. Tais discussões serão abordadas no tópico seguinte.
100
VAINFAS, 2002, p. 99; 100; 102. 101
LEVI, 1992, p. 139. 102
REVEL, 1998, p. 21. 103
VAINFAS, op. cit., p. 135-136.
32
2.3 O USO DA BIOGRAFIA NA HISTÓRIA
Agora se retoma as seguintes questões: Quem era José Fernandes Loureiro?
Quais as relações sociais, políticas e culturais que ele estabeleceu no Brasil?
Tais perguntas são essenciais para o desenvolvimento desse trabalho. Por
conseguinte, verifica-se que o estudo do percurso de vida de José Fernandes
Loureiro está assentado nas discussões do uso da biografia em estudos da área de
História. Deve-se levar em conta a observação de François Dosse, para quem
“escrever a vida é um horizonte inacessível, que no entanto sempre estimula o
desejo de narrar e compreender”.104
Desse modo, é importante apresentar as considerações sobre o uso da
biografia feitas por Pierre Bourdieu, Giovanni Levi, Sabina Loriga, François Dosse e
Vavy Pacheco Borges. E ainda, as aproximações das ideias desses autores.
Pierre Bourdieu, em seu artigo “A ilusão biográfica”, critica o uso da biografia
nos estudo de História. Notadamente essa crítica se baseia no uso da biografia
tradicional como relembra Vainfas.105
Além disso, a crítica de Bourdieu reside no pressuposto de que vida é uma
história. Para o autor, a vida seria o conjunto de acontecimentos da existência
individual que seria considerada como história e o seu relato. Mais uma vez,
percebe-se que esse historiador discute o uso da biografia organizada por meio de
uma ordem cronológica que representaria relações inteligíveis. Tal concepção de
escrita da vida desconsidera que a realidade é descontínua, composta por
elementos únicos justapostos sem lógica, como ressalta Bourdieu. Assim, para
Bourdieu, esse relato de vida tradicional se aproximaria da descrição da pessoa,
considerando que esse personagem tivesse uma identidade social constante e
durável.106 Com base nisso, segundo Vainfas, o gênero biográfico seria então um
absurdo científico, já que tende a diluir contextos, superfície social e a pluralidade de
campos em que os sujeitos se inserem.107
104
DOSSE, François. O Desafio Biográfico: escrever uma vida. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. São Paulo: Edusp, 2009. p. 11 105
VAINFAS, 2002, p. 139. 106
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (Orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 183; 184; 187. 107
VAINFAS, op. cit., p. 139.
33
Ocorre que as críticas centradas na consideração de uniformidade da
identidade não são cabíveis nos estudos de micro-história. Isso porque a análise
presente nessa abordagem, como afirma Levi, “rejeita simplificações, hipóteses
dualistas, polarizações, tipologias rígidas e a busca de características típicas”.108
Diametralmente oposta à maneira de pensar o uso da biografia pela História
de Bourdieu, Giovanni Levi, como já indicado acima, propõe uma valorização do
estudo biográfico. Visto que a biografia permite
{...} uma descrição das normas e de seu funcionamento efetivo, sendo este considerado não mais o resultado exclusivo de um desacordo entre regras e práticas, mas também de incoerências estruturais e inevitáveis entre as próprias normas, incoerências que autorizam a multiplicação e a diversificação das práticas.
109
Dando sequência a essa proposta, Levi formula uma tipologia das
abordagens de uso da biografia pelos historiadores, que seriam expressas em
quatro tipos de biografias: prosografia e biografia modal; biografia e contexto;
biografia e casos extremos; e biografia e hermenêutica.110
Neste momento, cabe diferenciar cada tipo de biografia. O que Levi define
como prosografia e biografia modal é a biografia que merece ser estudada porque
ilustra comportamentos mais frequentes. Assim, os dados biográficos só são
considerados relevantes quando têm alcance geral, ou seja, representam um grupo.
Então nesse tipo o biografado reúne todas as características de um grupo. 111
No que se refere à biografia e contexto, o historiador italiano afirma que nessa
modalidade o contexto é visto como pano de fundo imóvel e a trajetória individual
não age sobre ele, nem o modifica. Entretanto “a biografia conserva sua
especificidade” 112, sendo que o contexto histórico e social, segundo Vainfas, permite
compreender o que parece inexplicável e desconcertante ou tende a normalizar
comportamentos.113 Essa abordagem é criticada por Levi, pois as trajetórias
individuais não interferem no contexto em que estão inseridas e ainda é utilizado
108
LEVI, 1992, p. 160. 109
LEVI, Giovanni. Usos da biografia. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral.Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 180. 110
Ibid., p.167-182. 111
Ibid., p. 174; 175. 112
LEVI, 1996, p. 175; 176. 113
VAINFAS, 2002, p.141.
34
para preencher lacunas documentais por intermédio de comparações com outras
trajetórias que apresentem alguma analogia com a do personagem estudado.114
A terceira tipologia mencionada por Levi é a biografia e casos extremos.
Nessa a biografia é usada para esclarecer o contexto, que segundo o autor, é
abordado por suas margens. Esse é retratado como rígido e parece não ter relação
com o personagem, que age com liberdade e praticamente descolado da sociedade
normal.115 O grande perigo dessa abordagem, para Vainfas, é fazer do caso extremo
um exemplo de determinado grupo.116
O último tipo indicado por Levi diz respeito à biografia e hermenêutica.
Segundo o historiador, o material biográfico é discursivo e não consegue traduzir o
real e todos os significados nele presentes. Sendo indispensável a interpretação,
que torna a trajetória do sujeito algo significativo. Por essa abordagem indica-se a
impossibilidade de escrever uma biografia, porém possibilita que o material
biográfico seja abordado de maneira crítica, proporcionando a reflexão dos
historiadores a respeito do uso das formas narrativas e a busca de outras técnicas
de comunicação.117
Pelo exposto, nota-se que Levi considera que a biografia é ideal para se
verificar o espaço da liberdade de que dispõem os agentes e para se observar o
funcionamento concreto dos sistemas normativos, que nunca são isentos de
contradições. Isso porque nenhum sistema normativo é capaz de eliminar qualquer
margem de escolha consciente, de manipulação ou de interpretação de regras, de
negociação.118
Além de Levi, Sabina Loriga119 também discute o uso da biografia nos
trabalhos de História. Em seu artigo, ela traça um panorama de como a biografia que
foi, por muito tempo, utilizada com função ilustrativa ou sugestiva. A autora estrutura
sua reflexão a partir de três projetos biográficos de Thomas Carlyle, Jacob
Burckhardt, Hippolyte Taine, que são analisados para discutir as diferentes formas
de utilização da biografia. 120
114
LEVI, 1996, p. 176. 115
Ibid., p. 176-178. 116
VAINFAS, 2002, p. 141. 117
LEVI, op. cit., p. 178. 118
Ibid., 179-180. 119
LORIGA, Sabina. A biografia como problema. In: REVEL, Jacques. (Org.) Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 225-249. 120
Ibid., p. 233-244.
35
Nas obras de Thomas Carlyle, Loriga identificou o herói, o sujeito que fazia
história, isto é, que tinha capacidades criadoras e com potencial de ação. Nessas
obras o culto aos heróis se fundamentava na renúncia do individualismo e visava à
universalidade. Assim, o herói era despersonalizado e desencarnado mantendo a
tradição de que a biografia pretende alcançar a totalidade e pressupõe a existência
de unidade da civilização. O projeto de Jacob Burckhardt trabalha o homem
patológico que é mortal, sofredor e admite sai dependência em relação aos
acontecimentos gerais. Com esse pressuposto, Burckhardt pretendia estender sua
análise para além dos acontecimentos com o intuito de encontrar os desejos e
imaginação dos homens envolvidos nos fatos consumados, bem como buscar as
eternizações, isto é, aquilo que os homens, como sujeitos e como povos, tinham
pensado, desejado e sofrido. Diferentemente dos anteriores, Hippolyte Taine
considera que o indivíduo possui múltiplas faces. A proposta desse pensador era
explorar o comportamento individual para explicar os fatos sociais, havendo um
diálogo entre Psicologia e a História. Com isso, a análise dos fenômenos sociais
deveria seguir pela divisão desses em milhares existências individuais que seriam
recompostas em conjuntos mais amplos. 121
Após isso Loriga relata que o enfoque mais recente dos estudos históricos é o
homem comum, que não precisa ser um caso típico, pois é relevante a verdade. E,
principalmente, tem que se levar em consideração a proposta da biografia coral,
segundo a qual o sujeito não tem a pretensão de revelar a essência da humanidade,
mas deve permanecer particular e fragmentado.122 Essa proposta a autora
apresenta como mais adequada ao atual estágio dos estudos de História, ou seja,
não é determinista e proporciona compreender partes do passado e não reconstituí-
lo.
De maneira semelhante aos outros autores citados, François Dosse também
realiza uma tipologia, distinguindo três modalidades de abordagem biográfica: a
idade heroica, a idade modal, e a idade hermenêutica. Ressalta-se que entre essas
não existe uma evolução cronológica e elas podem se combinar e surgir num
mesmo período.
Na idade heroica, a biografia foi usada como discurso de virtudes, sendo um
modelo modal para educar, transmitir valores às novas gerações. Assim as
121
LORIGA, 1998, p. 233; 237; 239; 240; 243. 122
Ibid., p. 244; 248; 249.
36
biografias inseridas nessa idade seguem a tradição da Antiguidade em torno dos
valores heroicos e, com a cristianização, os valores religiosos. Dosse também
menciona que a valorização do herói apresenta o conflito entre o particular e o
universal, pois o herói é um sujeito que apresenta sinais do geral. Cumpre observar
que a figura do herói é criada conforme uma época, sendo atribuída a essa figura os
valores do período, tudo com o objetivo de se cristalizar uma simbolização
coletiva.123
Para Dosse, a biografia modal trata o individual, singular é o caminho para o
geral.124 Nota-se que a discussão do francês é influenciada pelas tipologias
prosografia e biografia modal; biografia e contexto de Levi, tanto que menciona a
crítica de Levi sobre a característica do contexto na primeira tipologia e sobre o uso
desse para suprir lacunas documentais.
Por fim, a idade hermenêutica, que é um reflexo do tipo biografia e
hermenêutica de Levi. Isso porque, segundo Dosse, essa modalidade valoriza o
singular e as pluralidades das identidades tornando fundamental o uso da
interpretação.
Ainda, cabe mencionar a discussão de Vavy Pacheco Borges. Para ela a
biografia deve considerar as potencialidades e possibilidades das decisões e dos
fatos vividos.125 Desse modo, nota-se que Borges segue a visão crítica de Bourdieu
sobre o uso da biografia, que para ele não deve ser o retrato linear do percurso de
uma vida.126 Essa linearidade significaria realizar uma história coerente e totalizante,
sem considerar a trajetória como várias posições ocupadas pelo mesmo agente num
espaço sujeito a transformações.
Todos os autores anteriormente mencionados contribuem para a análise que
se pretende realizar. O presente trabalho utiliza a biografia que enfoca o homem
comum, privilegia-se o contexto sem que esse determine a análise, dando grande
espaço para a atividade interpretativa. Nesse trabalho não se enfoca um sujeito que
representa um caso extremo, pois José Fernandes Loureiro era apenas um dos
123
DOSSE, 2009, p. 123; 151-152. 124
Ibid., p. 195. 125
BORGES, Vavy Pacheco. Gabrielle Brune-Sieler, uma vida (1874-1940): os desafios da biografia. Disponível em: <http://sitemason.vanderbilt.edu/files/.../Borges%20Vavy%20Pacheco.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2010. p.5. 126
O que para Pierre Bourdieu é denominada como ilusão biográfica. (BOURDIEU, 1998, p. 183-191).
37
vários imigrantes portugueses fixados em Curitiba que alcançou fortuna e que
conseguiu retornar à sua terra natal.127
Ainda, não se considera José Fernandes Loureiro como herói, já que será
mantida sua individualidade e seu potencial de ação, isto é, seus atos não revelam
um espírito de uma coletividade, mas sim as possibilidades, as complexidades
inerentes ao contexto que ele viveu e às suas escolhas. Isso porque se reconhece
que a trajetória de José Fernandes Loureiro representa uma parcela dos imigrantes
portugueses em Curitiba, e não a maior parte do grupo. Ressalta-se que mesmo
com essa consideração, José Fernandes Loureiro alcançou os objetivos descritos na
historiografia de qualquer imigrante lusitano, tornando relevante a análise presente
nesse estudo. Também não seria o homem patológico por se considerar esse
personagem como um sujeito multifacetado e não haver uma uniformidade de
desejos e sofrimentos numa coletividade. Bem como o enfoque na psicologia não é
o objetivo da análise desse estudo.
Assim percebe-se que nenhum dos modelos de estudos feitos no século XIX
citados por Loriga é utilizado nesse estudo. Então se propõe usar a ideia de
biografia coral levantada por essa autora. Isso aliado com as tipologias: biografia e
hermenêutica; biografia e contexto de Levi, tendo ressalvas quanto ao uso do
contexto nas lacunas apresentadas nas fontes.
Biografia. Esse é um conceito chave para esse estudo. Para tanto, se utiliza o
material documental em torno da figura de José Fernandes Loureiro, seguindo a
metodologia enunciada por Levi, a saber, a redução da escala da observação, a
análise microscópica e o estudo intensivo do material documental.128
Pode-se afirmar que o estudo aqui proposto pretende revelar fatores
previamente não observados como ocorre com os demais estudos que se inserem
no ramo da micro-história. Abordar a imigração portuguesa a partir de um sujeito
pode mostrar as relações sociais, econômicas e culturais que o imigrante lusitano
realizava, no caso na sociedade curitibana como se perceberá no próximo capítulo.
127
A respeito de conquista fortuna, podem-se citar os seguintes comerciantes de origem portuguesa que possuíam suas lojas comerciais na Rua XV de Novembro no final do século XIX: Manoel dos Santos Correia (proprietário da “Casa do Sol”); Manoel Martins de Abreu (proprietário da “Casa Abreu e Cia”); Antonio Manoel da Silva (proprietário de “Ao Pharol do Sul”); Theolindo de Andrade (proprietário de “Ao figurino”); A. Carneiro e Cia (proprietário da “Casa Queiroz”); Manoel da Cunha (proprietário da “Cunha das Roupas Feitas”). 128
LEVI, 1992, p. 136.
38
3 JOSÉ FERNANDES LOUREIRO
Nesse capítulo será apresentada a trajetória de José Fernandes Loureiro com
base nas fontes especificadas anteriormente e no diálogo com a historiografia. Isso
tendo como base três dimensões: vida empresarial, vida privada e vida pública.
Com isso, cabe apresentar alguns apontamentos sobre a vida de José
Fernandes Loureiro. Ele nasceu em Portugal, na freguesia de Bodiosa,
provavelmente no ano de 1839 e com 20 anos de idade veio para o Brasil “para
iniciar sua brilhante carreira commercial”129.
A respeito da sua atividade comercial, assim que se estabeleceu em Curitiba,
por volta de 1860, ele instalou sua casa de comércio conhecida como “Casa de José
Nabo”, que posteriormente se tornou “José Fernandes e Cia”.
Em 1863, ele se casou com uma neta de importante industrial da erva-mate
de origem portuguesa. Esse fato já indica que José Fernandes Loureiro estava bem
relacionado na sociedade local. Ocorre que há outros indicativos disso, como sua
inserção sociocultural em sua participação na Sociedade Portuguesa Beneficente 1º
de Dezembro (SPBPD), Clube Curitibano, na Irmandade de Nossa Senhora da Luz
dos Pinhais da Vila de Curitiba, na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de
Curitiba, nas lojas maçônicas Apostolo da Caridade e Fraternidade Paranaense.
Relevante mencionar que há fortes indícios de relação de amizade entre José
Fernandes Loureiro e Ildefonso Pereira Correia, conhecido como Barão do Serro
Azul.
Assim, nos seguintes subtópicos se deterá sobre essas dimensões e a sobre
os pontos mais significativos, para esse estudo, da vida desse imigrante português
em Curitiba.
129
FERNANDES, José Loureiro. [Carta ao redator do Jornal Dia]. [Curitiba]: [s. n.], [ca.1932].p.1.
39
3.1 VIDA EMPRESARIAL
No decorrer do século XIX, a economia provincial foi dominada pela
exportação de erva-mate e o comércio de tropas muares. Sendo que na economia
da erva-mate empregou-se boa parte da população do litoral, do planalto curitibano
e dos Campos Gerais.130
Segundo Ruy Wachowicz, a partir da segunda década do século mencionado
ampliou-se a produção de erva-mate que passou a ser beneficiada no planalto de
Curitiba, não mais no litoral como antes. Então a cidade começou a se desenvolver
tendo como principal centro urbano o Pátio da Matriz, sendo que surgiram novas e
importantes vias urbanas, com destaque para a Rua do Jogo da Bola (atual Dr.
Muricy), a dos Lisboa (Riachuelo) e a das Flores (XV de Novembro).131
Entretanto, a rua das Flores era “uma rua estreita, mal-iluminada, com
dezenas de construções baixas e acanhadas”132 e, em 1853, três construções se
destacavam: o sobrado da Presidência da Província, o da Casa do Sol e o do José
Nabo.133
Importante notar que até 1860 apenas três quadras compunham a Rua das
Flores, iniciando-se na hoje denominada Alameda Dr. Muricy até a atual Rua Barão
do Rio Branco, sendo entre a primeira e a rua Monsenhor Celso ficava o núcleo da
via.
Em 1880, José Fernandes Loureiro tinha um sobrado com duas frentes: uma
para a Rua XV de Novembro e outra para a Praça do Mercado (atual Praça
Generoso Marques). Loureiro morava com sua família na parte alta e no térreo para
a Rua XV ficava sua casa comercial.134 Em anexo a reprodução da planta da Rua
130
MACHADO, Brasil Pinheiro. Economia provincial. In: BALHANA, Altiva Pilatti; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Graphipar, 1969. v.I. p. 130-131. 131
WACHOWICZ, Ruy. História das histórias da Rua XV. Nicolau, Curitiba, set.-out. 1994, v. 8, n. 55. Memória, p. 8. 132
BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. Aspectos da rua das flores no século XIX. In: ______. A Rua 15 e o comércio no início do século. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 23, n. 113, jul. 1996. p. 3. 133
CORREIA, Leôncio. História da cidade: a rua quinze. O Estado do Paraná, [Curitiba], 20 fev. 1966. (Recorte disponível no Arquivo da Biblioteca Pública do Paraná, em sua Divisão Paranaense na pasta “Ruas XV de Novembro e das Flores”). 134
CARNEIRO, David. A atual Rua XV de Novembro ao tempo da vinda de D. Pedro II. Gazeta do Povo, [Curitiba], 23 set. 1979. p. 10.
40
XV de Novembro em 1900, com a indicação da localização do mencionado imóvel
presente no Boletim da Casa Romário Martins sobre essa rua. (ANEXO A)
Com base no contrato social da empresa José Fernandes Loureiro e Cia de
1886, a loja comprava e vendia “fazendas, molhados, ferragens, armarinhos, ou
qualquer outras mercadorias e generos do paiz ou estrangeiro”135
Nesse contrato pode-se verificar com quem ele se associou: Manoel de
Ascenção Fernandes e Alfredo Fernandes de Oliveira, ambos portugueses. Ainda,
consta nesse documento que a gerência da firma cabia a José Fernandes Loureiro
sendo que ele também contribuiu com mais da metade do capital social da empresa.
Pela análise dos balanços da loja da Rua XV136, pode-se notar que há uma
diversidade de produtos como 416 tipos de tecidos/fazendas, 75 de chapéus, 378
itens de ferragens e drogas, 34 de calçados.137 Esses tinham preços variados
conforme a qualidade, origem e quantidade.
A divisão dos produtos por artigos nos livros de balanço138 apresentam
grande variedade, sendo que no de 1879 há as categorias: tecidos, roupas feitas,
calçados, chapéus, miudezas, utensílios, ferragens e drogas, molhados, louças,
selim, couros e gêneros com porcentagem, sendo que no total foram listados 1559
itens. Enquanto que o de 1903 apresenta como categorias: chapéus; chapéus de
sol; miudezas; gêneros com porcentagem a preços líquidos; ferragens, molhados,
drogas e perfumarias; fazendas sujeitas a porcentagem; fazendas importadas;
fazendas a preço líquido, totalizando 1262 artigos.
Na maioria dos livros contábeis (exceto os dos anos 1900 e 1903) está
registrada a lista de devedores cujos nomes indicam que a clientela não era
composta apenas de portugueses, mas também imigrantes ou descendentes de
outras etnias, como se pode notar em umas das páginas do livro de balanço 1879,
em que estão inscritos como devedores Germano Müller e Fernando
Wolff.139(ANEXO B) A lista de 1879 consta 372 nomes, na de 1884 tinha 383, em
135
JUNTA COMERCIAL do Rio de Janeiro. Contracto n. 1, 19 jan. 1886. 136
A sociedade também tinha uma loja no Largo do Mercado, armazém em Antonina e outro armazém em Ponta Grossa. 137
FERNANDES, LOUREIRO E CIA. 1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880. [Curitiba]: [s. n.], 1880. 138
Referentes aos anos de 1879, 1884, 1889, 1891, 1899, 1900, 1903 e com enfoque na sede da loja na Rua XV de Novembro (alguns livros possuem informações sobre a casa comercial do Largo do Mercado, o Armazém de Antonina e o de Ponta Grossa). 139
No final de cada livro balanço, há uma relação dos devedores com nome desses, valor devido. Alguns nomes possuem numeração própria, sendo que não se encontrou o critério para isso.
41
1889 há 335 devedores, na de 1891 tem 272 devedores e na de 1899 estão 138
clientes discriminados
Notadamente a loja prosperou visto que o capital social descrito no contrato
de 1886 era de oitenta contos de réis e, no contrato de 1890, passou a ser cento e
sessenta e dois contos de réis já integralizados na sociedade. (vide ANEXO C).
Outra evidência é a quantidade de anúncios presentes nos jornais da época. No
jornal enfocado (O Commercio), excluindo os três primeiros números, todos os
exemplares de 1900 traziam anúncios da “Casa do José Nabo” e/ou “Fernandes,
Loureiro e Cia” de variados tamanhos (ANEXO D) com menções explícitas a loja ou
apenas dos produtos comercializados. Os produtos anunciados eram todos
remédios com destaque para a “Emulsão Abreu Sobrinho” e “Elixir Sucupira de
Queiroz”.
A atividade comercial de José Fernandes Loureiro não se restringia a sua loja,
pois ele também assumiu, em 1890, cargo de direção da Companhia Impressora
Paranaense. Provavelmente essa sua vinculação a essa tipografia se deve a sua
relação com Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul que estava no
Conselho Fiscal dessa sociedade por ações.140 Tanto que ambos estavam
envolvidos na “Junta/Comissões do Comércio”141 durante a Revolução Federalista
de 1894.142
Essa Junta fazia os empréstimos de guerra que, segundo Elson Oliveira
Souza,
{...} tinham como finalidade evitar que Curitiba fosse invadida durante a revolução federalista que assolou o Paraná. Afinal, como era de praxe dos maragatos, após conquistarem a cidade eram promovidos saques a casas comerciais, furtos e roubos. Com esses atos os maragatos conseguiam mais recursos para investirem na guerra. A intenção dos empréstimos de guerra era arrecadar dinheiro junto aos empresários locais pagar os maragatos para que esses não saqueassem a cidade, protegendo a população curitibana.
143
140
DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO DO PARANÁ. Dezenove de dezembro - Impressora Paranaense. In:_____. Curitiba: Chain, Banco do Estado do Paraná, 1991. p. 125. 141
Pode se encontrar as duas denominações sobre a junta nomeada por negociantes e proprietários que visavam preservar os interesses da comunidade curitibana diante da resistência à invasão dos Maragatos. 142
FERNANDES, José Loureiro. A “Comissão do Comércio de Curitiba” na Revolução de1894. In: Congresso da História da Revolução de 1894, 1., Curitiba. Anais do Primeiro Congresso da História da Revolução de 1894, Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 1944. p. 279. 143
SOUZA, Elson Oliveira. José Loureiro de Ascenção Fernandes. Disponível em: <http://www.ic news.com.br/2008.09.17/colunistas/dom-moacyr-jose-vitti-css/jose-loureiro-de-ascencao-fernandes/>. Acesso em: 19 dez. 2010.
42
Ainda em relação aos laços com o Barão, vale a pena mencionar que ambos
foram fundadores da Associação Comercial do Paraná. Enquanto que José
Fernandes Loureiro assumiu o cargo de vice-presidente, Correia presidiu a primeira
diretoria.144
Em 1906, José Fernandes Loureiro estava na direção do Banco Commercial
do Paraná, sociedade anônima bancária por ações constituída em 14 de abril do
mesmo ano, que tinha 110 sócios, entre eles: Manoel de Macedo, Augusto Hauer,
Manoel Alves Magalhães, Manoel Martins de Abreu, João Egas Garrido, Pretextato
Penaforte Taborda Ribas, Guilherme Schack, Antonio Augusto de Carvalho Chaves,
Guilherme Xavier de Miranda, Alfredo Tramujas, Augusto Loureiro, Pedro Luiz de
Souza Rocha, Agostinho Ermelino de Leão Júnior, André de Barros e Wenceslau
Glasser. 145
Por isso conclui-se que esse indivíduo conseguiu prosperar seguindo a
mitologia da fortuna exposta por Pereira146, se fixou em meio urbano se dedicando
ao comércio como muitos imigrantes portugueses conforme mencionam Lobo147,
Bastos148, Silva149 e Boschilia150. Sendo que ele comercializava todos os ramos
identificados por Menezes e Cipriano151, ou seja, tecidos e roupas, gêneros
alimentícios secos e molhados, bem como, realizava operações financeiras (a
empresa possuía contatos com bancos do Rio de Janeiro e da Europa).
Visto isso, cabe apontar os indícios da vida privada do imigrante lusitano José
Fernandes Loureiro.
3.2 VIDA PRIVADA
José Fernandes Loureiro provavelmente emigrou jovem de seu país como
muitos de seus patrícios. Ele era proveniente da freguesia de Bodiosa, parte do atual
144
ASSOCIAÇÃO Comercial do Paraná. Dicionário Histórico-Biográfico do Paraná. Curitiba: Chain, Banco do Estado do Paraná, 1991. p. 30. 145
BRASIL. Sociedades Anonymas: Banco Comercial do Paraná. In:_____. Diário Official, Rio de Janeiro, 24 abr. 1906. p. 2140. 146
PEREIRA, 2002, p.45-54. 147
LOBO, 2001, p. 31-54 148
BASTOS, 2008, p. 136. 149
SILVA, 1992, p. 48. 150
BOSCHILIA, 2008, p.345. 151
MENEZES; CYPRIANO, 2008, p.109.
43
concelho e distrito de Viseu. Essa freguesia faz parte da região Norte de Portugal,
sendo esse imigrante um dos muitos que seguem o perfil descrito por Lobo152 e
Triches153.
Como mencionado no tópico anterior, José Fernandes Loureiro se
estabeleceu em Curitiba por volta de 1853. Somente em 1863, ele se casou com
Amélia Joaquina de Campos que era filha de Iphigenia Maria de Bittencourt e do
Tenente Aurelio Joaquim Ribeiro de Campos. Iphigenia era filha de um importante
industrial da erva-mate que exerceu vários cargos de eleição popular e
administrativos e de Anna Mauricia (que era filha de português com uma curitibana).
Enquanto que Aurelio era português natural de Serzedelo e, ainda, filho de
portugueses.154
O significativo lapso temporal entre a fixação desse sujeito na capital
paranaense e o seu casamento pode indicar a tendência dos imigrantes em procurar
se estabelecer no seu trabalho, conseguir alguma renda para seu sustento para
depois estabelecer vínculos familiares na cidade de destino. De certa forma, o
casamento que, muitas vezes, era realizado com mulher nascida no Brasil,
representaria um obstáculo para o ideal de retorno a Portugal. Isso porque a
presença de familiares em território brasileiro favoreceria a permanência dos
imigrantes em geral.
O casamento com Amélia Joaquina gerou quatro filhas: Julia, Julieta,
Josephina e Juvelina. Sendo que Julieta casou-se com o português Manoel de
Ascenção Fernandes (que era sócio de seu pai na sociedade Fernandes, Loureiro e
Cia.), Julia casada com José Carvalho de Oliveira (filho de português que fora sócio-
fundador da Sociedade Portuguesa Beneficente 1º de Dezembro, fazendeiro de café
no norte do Paraná), Josephina casada com Adelio Paulino de Siqueira (natural da
Lapa) e Juvelina casada com Augusto Loureiro (luso-brasileiro que era seu
primo).155
Percebe-se que no âmbito privado os imigrantes portugueses davam
preferência às relações com portugueses e com luso-brasileiros, fato esse
explicitado nos casamentos realizados por José Fernandes Loureiro e suas filhas.
152
LOBO, 2001, p. 18. 153
TRICHES, 2007, p. 4. 154
NEGRÃO, Francisco. Título Corrêa Bittencourt. In:______. Genealogia paranaense. v. 5. Curitiba: Impressora Paranaense, 1946. p. 14-15; 19; 23. 155
Ibid, p. 23-24; CARNEIRO, 1979, p. 10; PASSOS, 2009 (tabela do Livro de matrícula de sócios da Sociedade Portuguesa Beneficente 1º de Dezembro).
44
Após enviuvar, esse lusitano contraiu matrimônio com sua cunhada Messias
Aurelia de Campos em abril de 1885.156
Importante frisar que os casamentos de José Fernandes Loureiro seguem o
exposto por Bacellar, ou seja,
{...} os portugueses se distribuíam pelas diversas vilas e, sendo solteiros, tratavam de buscar o casamento, instrumento para a formação de alianças com a sociedade local. {...} Muitos desses casamentos se realizaram com famílias da elite local e mesmo os reinóis mais humildes parecem ter conseguido, comumente, alianças matrimoniais favoráveis. Diversas destas alianças matrimoniais eram, por vezes, complexas, com ocorrência de casamentos múltiplos de vários irmãos.
157
A questão de retorno a Portugal está igualmente presente na trajetória desse
sujeito, pois em 25 de junho de 1900 ele comunicou o retorno de viagem a Portugal
após muitos meses.158 Cabe destacar que ele estava nesse país mais uma vez
quando faleceu em 1908.159
Pelo seu testamento160 pode-se inferir que ele prosperou como se percebe
pela seguinte lista que enumera os seus bens:
- três casas na rua Quinze de Novembro;
- casa na rua Sete de Setembro;
- casa de sobrado na Praça Municipal;
- casa na rua Marechal Floriano Peixoto esquina da rua Sete de Setembro (avaliada
em quarenta contos de réis);
- terreno com casa de madeira próximo ao prado de corridas;
- vinte apólices de um conto de réis cada;
- dezoito apólices Federais de um conto de réis cada;
- dezessete contos de réis (aos herdeiros, netos não contemplados no testamento;
sendo dois contos de réis destinados a Santa Casa e um conto de réis aos pobres);
156
NEGRÃO, 1946, p. 25; LOUREIRO, José Fernandes. Testamento. In: ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Auto de testamento em que é José Fernandes Loureiro Fallicido (autos n. 752/1908). Curitiba: [s.n.], 1908. p. 2. 157
BACELLAR, 2000, p. 22. 158
J. FERNANDES Loureiro. O Commercio, Curitiba, ano 1, n. 97, p. 1, 26 jun. 1900. 159
FALLECIMENTO. Diário da Tarde, Curitiba, ano XI, p. 1, 30 jun. 1908; J. FERNANDES Loureiro. A República, Curitiba, ano XXIII, n. 157, p. 1, 7 jul. 1908. 160
LOUREIRO, José Fernandes. Testamento. In: ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Auto de testamento em que é José Fernandes Loureiro Fallicido (autos n. 752/1908). Curitiba: [s.n.], 1908.
45
-por fim, dinheiro em conta corrente na sociedade comercial Fernandes, Loureiro e
Companhia do qual os herdeiros poderiam retirar três contos de réis mensais, salvo
outro valor acordado.
Frisa-se que a maioria dos bens fora destinada aos netos, sendo que
enquanto menores os bens seriam de usufruto de seus pais (filhas e genros de
Loureiro). Apenas a casa, avaliada em quarenta contos de réis, seria de usufruto de
Messias Aurelia de Campos que poderia vender os móveis, utensílios, carro, cavalos
e objetos que não necessitasse, sendo o valor depositado na Caixa Econômica ou
no cofre de órfãos em nome dos netos dele que ela quisesse contemplar.
As rendas provenientes dos imóveis e das apólices legados por José
Fernandes Loureiro teriam 3/4, livres de impostos e custos de seguro, destinados a
sua esposa Messias. Isso demonstra a preocupação desse imigrante com a mulher
na ocasião da morte dele, pois eles não tiveram filhos, caso não fosse agraciada
com as disposições do testamento, provavelmente teria seu estilo de vida afetado
tendo que esperar a ajuda da família para seu sustento. A esposa também foi
nomeada como testamenteira, sendo em sua ausência substituída pelo genro mais
velho em idade.
O testamento apresenta o desejo expresso de José Fernandes Loureiro de
construir um mausoléu no cemitério de Curitiba (atual Cemitério Municipal São
Francisco) destinado aos restos mortais de sua falecida esposa e de seus netos.
Para esse local também foram transferidos seus restos mortais em 1911. (ANEXO
E)
Por fim, cumpre ressaltar que às doações a Santa Casa de Misericórdia de
Curitiba e aos pobres denota a tradição dos portugueses, comentada por Lobo, de
fazer legados a Santa Casa em seus testamentos.161 Importante notar que a Câmara
Municipal e as irmandades de caridade e confrarias laicas, sendo a mais importante
a Santa Casa, segundo Charles R. Boxer, eram pilares da sociedade colonial
portuguesa162 que serão discutidas a seguir.
161
LOBO, 2001, p. 103. 162
BOXER, Charles R. Conselhos municipais e irmãos de caridade. In:_____. O Império marítimo português: 1415-1825. Tradução de Olga de Barros Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 286.
46
3.3 VIDA PÚBLICA
A importância da Câmara Municipal e da Santa Casa era significativa tanto
em Portugal quanto em suas colônias (como foi o caso do Brasil). Segundo Boxer,
os membros da Câmara e da Misericórdia eram de extratos sociais idênticos e
constituíam elites coloniais.163 Sendo esse quadro sintetizado pelo seguinte
provérbio alentejano: “Quem não está na Câmara está na Misericórdia”.164
Situação que José Fernandes Loureiro vivenciou, pois em 1890 ele foi
vereador em Curitiba165, ocupou a função de provedor da Santa Casa de
Misericórdia de 1887 a 1889 e atuou como tesoureiro dessa instituição.166
O provedor da Misericórdia devia ser “um fidalgo de autoridade, prudência,
virtude, reputação e idade {...} um senhor com muito tempo livre”167 disso nota-se
que quem ocupava essa função deveria ter estabilidade financeira para não utilizar
os bens da Santa Casa em seu proveito próprio. Importante notar que o cargo
conferia elevado status social ao seu ocupante168 e que a caridade prestada por
essa irmandade se estendia amplamente aos pobres e necessitados, diferente das
outras irmandades que restringiam suas atividades caritativas aos seus membros e
familiares.169
Um exemplo disso é a Irmandade da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da
vila de Curitiba, da qual José Fernandes Loureiro também fazia parte (ANEXO F).170
Essa irmandade arrecadava fundos que foram destinados a construção da capela
mor e a outras obras na Igreja.
Segundo Lobo, o imigrante português considerava que quem não tinha vida
associativa era porque não havia conseguido ascender na vida.171 Essa autora
afirma que os imigrantes lusitanos tinham grande sentido de cooperação e
solidariedade e o espírito humanitário difundido pela religião católica também
163
BOXER, 2002, p. 286. 164
Ibid., p. 299. 165
Rua José Loureiro. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 nov. 2007. Classificados, Ruas de Curitiba, p. 3 166
GARCIA, Antônio. Família Loureiro Fernandes. In:______. Dr. Loureiro Fernandes: médico e cientista; antropologia e etnologia. Curitiba: Vozes, 2000. p.197; CARDOSO, 2005. 167
BOXER, op. cit., p. 302. 168
Ibid., loc. cit. 169
Ibid., p. 305. 170
[Irmão 628] In: ALMEIDA, 1975. 171
LOBO, 2001, p. 98
47
incentivava a ideia de misericórdia que aparecia em algumas dessas organizações
mesmo de cunho profano.172
Era esse o ideal da Sociedade Portuguesa Beneficente Primeiro de Dezembro
(SPBPD). Explica-se: a finalidade da Sociedade era exercer a caridade ou proteger
os portugueses, auxiliando-os na enfermidade, na prisão, faze-lhes o funeral,
emprestando dinheiro para transporte para outra localidade. 173
Segundo Boschilia, o grupo responsável pela criação da SPBPD era
constituído por portugueses que se estabeleceram há algum tempo no Paraná e que
possuíam fortes vínculos com o setor comercial.174 Esse era o caso de José
Fernandes Loureiro, que foi um dos fundadores e presidente em 1878 e 1898 dessa
sociedade.
Para Vitor Manoel Marques da Fonseca, as associações baseadas em
nacionalidade, ao mesmo tempo em que unem conterrâneos em torno de interesses
comuns, são locais de exclusão, pois não podem participar pessoas de outras
nacionalidades.175
Os fundadores da SPBPD estavam preocupados em criar mecanismos para
propiciar a coesão do grupo, integrando os associados num circuito de
relacionamentos. Sendo que a rede verticalizada de solidariedade praticada nessa
sociedade, objetivava apoiar os imigrantes necessitados, sendo que também
construía um quadro de referências simbólicas que socorria os desvalidos e
fortalecia o prestígio social daqueles que praticavam a filantropia, conforme afirma
Boschilia.176
O prestígio social era uma característica das pessoas que integravam a
maçonaria. Ocorre que José Fernandes Loureiro, como um dos homens importantes
de sua época, também participou da maçonaria através das Lojas Apostolo da
Caridade e da Fraternidade Paranaense. Sendo que de ambas ele foi um dos
172
LOBO, 2001, p. 105. 173
SOCIEDADE Portugueza Beneficente Primeiro de Dezembro. Artigo 2º. In:______. Estatutos da Sociedade Portugueza Beneficente Primeiro de Dezembro. Curitiba: [s. n.], 1878. Arquivo Público do Paraná. 174
BOSCHILIA, 2008, p.346. 175
FONSECA, Vitor Manoel Marques da. Imigração: identidade e integração, 1903-1916. In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.362. 176
BOSCHILIA, op. cit., p. 347; 355.
48
membros fundadores.177 A Apostolo da Caridade é a terceira loja mais antiga do
Paraná.178
Como já mencionado nos tópicos anteriores, José Fernandes Loureiro
possuía estreitos laços com o Barão do Serro Azul179. Sendo esse fator significante
para a criação do Clube Curitibano em 1882. Esse local, segundo Marcelo Pastre, foi
fruto do desejo das elites locais em se opor aos numerosos clubes criados pelos
estrangeiros, criando uma entidade que agregasse pessoas de origem nacional e
também as disputas dos grupos carnavalescos. Ainda, almejavam a necessidade de
associar-se, para se encontrarem em convívio amistoso e útil, com o objetivo
recreativo e cultural.180
José Fernandes Loureiro era um membro da elite comercial e seus interesses
nesse campo eram semelhantes aos dos demais comerciantes da cidade.181 Isso, e
sua relação com o Barão, corroboram para sua atuação na fundação da Associação
Comercial como mencionado anteriormente.
A vida pública desse imigrante teve inserções no campo político (José
Fernandes Loureiro foi Camarista e Presidente da Câmara da Capital182); social
(maçonaria, Associação Comercial, Irmandades) e cultural (SPBPD e Clube
Curitibano). Tudo isso para alcançar prestígio na sociedade em que ele se fixou.
De fato, o prestígio ele alcançou, pois na ocasião de seu falecimento, vários
jornais da época fizeram referência a esse acontecimento que ocorreu em Vizeu
(Portugal) no dia 30 de junho de 1908.183
Em 1911, seus restos mortais foram transladados para capela mortuária da
Família Loureiro, no Cemitério Municipal São Francisco de Paula.184 Nesse mesmo
177
MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Loja Apostolo da Caridade nº 0.344. Disponível em: <http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/MMP_ImagensAbertura/Loja_antigas_no_PR/Loja_0344/Historico_Loja_0344.htm>. Acesso em: 18 maio 2010; MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Loja Fraternidade Paranaense nº 0.555. Disponível em: <http://www.museuma conicoparanaense.com/MMPRaiz/LojaPRate1973/0555_Fundadores.htm>. Acesso em: 18 maio 2010 178
MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Histórico: ARLS - Apóstolo da Caridade - nº 344. Disponível em: <http://www.apostolodacaridade.com.br/historico.php>. Acesso em: 18 maio 2010. 179
CARDOSO, 2005. 180
PASTRE , Marcelo. O Clube Curitibano: representações do “plus” de educação. In: Simpósio Internacional Processo Civilizador, 10., 2007, Campinas. Anais... Londrina: UEL, [2007], p. 3. Disponível em: <ttp://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais10/ Artigos_PDF/Marcelo_Pastre.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011. 181
Isso pode ser evidenciado no requerimento a Diretoria de Obras Públicas a respeito do calçamento e iluminação da Rua Riachuelo. Esse pedido foi formulado por proprietários da Rua Riachuelo. (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. [Requerimento de obras]. Curitiba, 1890. 7 folhas.) 182
NEGRÃO, 1946, p. 23. 183
FALLECIMENTO. Diário da Tarde, Curitiba, ano XI, p. 1, 30 jun. 1908; J. FERNANDES Loureiro. A República, Curitiba, ano XXIII, n. 157, p. 1, 7 jul. 1908.
49
ano, a lei municipal nº 281 determinou que certo logradouro público fosse
denominado Rua José Loureiro. A denominação da rua juntamente com a inserção
de seus descendentes no panorama econômico-social paranaense (como, por
exemplo, o caso de José Loureiro de Ascensão Fernandes, que foi médico,
professor, cientista antropólogo) fizeram com que o prestígio, alcançado pelo
imigrante português estudado, tivesse vestígios presentes no cotidiano de hoje.
184
CARDOSO, 2005.
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jornais, livros contábeis, livros de sociedades, testamento, livros. Uma
diversidade de tipos de fontes foi utilizada nesse trabalho. Tudo para compreender a
trajetória do imigrante português José Fernandes Loureiro.
Para isso, foi indispensável discorrer sobre a História Cultural que permite se
trabalhar com essa diversidade de materiais. Nesse trabalho, ainda, se considera a
cultura como um fator importante para o estudo desse lusitano, pois ele, como
muitos outros imigrantes portugueses, seguia a mitologia da fortuna e do retorno o
que pode ter influenciado as ações por ele empreendidas.
Obviamente não se considerou a época que ele viveu como algo sólido e
homogêneo, como Huizinga e Burckhardt tratavam em seus estudos, e sim como um
momento que apresentava potencialidades e possibilidades das decisões e dos
fatos vividos, seguindo a ideia de uso da biografia proposto por Vavy Pacheco
Borges.185
Tanto que a biografia de José Fernandes Loureiro aqui comentada, não foi
um relato linear do percurso de sua existência. Sendo notado tal modo na divisão do
terceiro capítulo, que apresentou as dimensões que o sujeito estudado se envolveu
de acordo com os vestígios apresentados pelas fontes.
De modo preponderante se usou a proposta da biografia e hermenêutica,
apresentado por Giovani Levi186, pois sem a interpretação dos momentos vividos
pelo comerciante português aliada às discussões apresentadas na historiografia
sobre a imigração portuguesa, a sua trajetória não traria outras visões do passado.
Ao enfocar um sujeito comum, que não representa a universalidade dos
imigrantes lusitanos, procurou-se trabalhar de modo que as interpretações aqui
realizadas não determinassem esse imigrante português (muitos aspectos de sua
vida não se pode conhecer com exatidão) bem como não se pretendeu reconstituir o
passado tal como ele ocorreu. O que foi reflexo do conhecimento das reflexões
apresentadas por Sabina Loriga, para quem o biografado deve permanecer
particular e fragmentado.187
185
BORGES, p.5. 186
LEVI, 1996, p. 178. 187
LORIGA, 1998, p. 244; 248; 249.
51
Sem dúvida, as diferentes concepções sobre a história cultural tiveram
influência no resultado do trabalho, por ser uma história plural que apresenta vários
caminhos. Por exemplo: os livros contábeis podem ser utilizados sob outros
enfoques, como a econômica e o prisma da história da alimentação.
A vida de José Fernandes Loureiro pode ser analisada através dos conceitos
de representação e apropriação de Roger Chartier.188 E principalmente sob o
enfoque da micro-história já que a escala de observação centrada em um sujeito é
um fator característico de uma análise muito reduzida e enriquece a análise sobre o
passado.
Tudo isso, para responder a problemática proposta, ou seja, Quais os
mecanismos que esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade?
A questão da prosperidade está relacionada com a mitologia da fortuna e do
retorno que era o ideal de boa parte dos lusitanos que emigrava, como já
mencionado nesse trabalho.189
Por intermédio das informações colhidas nas fontes, foi possível perceber as
três inserções (econômica, familiar e sociocultural) que os imigrantes portugueses
estabeleciam na sociedade receptora. No caso desse trabalho, José Fernandes
Loureiro, para alcançar a fortuna, atuou como comerciante (vida empresarial);
casou-se com mulheres de família tradicional do Paraná, que também eram
descendentes de portugueses, e fez com que suas filhas casassem com membros
da elite e/ou com pessoas com ascendência lusitana (vida privada); e procurou
prestígio social ao pertencer à Câmara Municipal, à Santa Casa, à Irmandade da
Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da vila de Curitiba, à Sociedade Portuguesa
Beneficente Primeiro de Dezembro (SPBPD), às Lojas maçônicas Apóstolo da
Caridade e a Fraternidade Paranaense, ao Clube Curitibano e à Associação
Comercial (vida pública).
Pode-se notar que para alcançar o ideal acima comentado, José Fernandes
Loureiro exerceu atividades em várias dimensões, sendo que no início enfocou a
atividade comercial para conseguir estabilidade econômica e se destacar na
sociedade receptora.
188
CHARTIER, Roger. Introdução. In:______. A história cultural. Lisboa: Difel, 1990. p. 26 apud VAINFAS, 1997, p. 154-155. 189
PEREIRA, 2002, p.45-54.
52
Posteriormente, ao se casar, procurou estabelecer vínculos com uma família
tradicional paranaense provavelmente visando aumentar seu prestígio perante à
população de Curitiba. Possivelmente, para manter essa posição, após enviuvar,
conservou laços com a família de sua esposa falecida, ao se casar com a cunhada.
Ainda, deve ter escolhido os maridos das filhas que teve no seu primeiro casamento,
pois se pode afirmar que três dos quatro genros pertenciam a um estrato social
privilegiado.
Ainda, para reforçar sua posição, José Fernandes Loureiro exerceu caridade
através da sua participação na Santa Casa, na Irmandade da Nossa Senhora da Luz
dos Pinhais e na Sociedade Portuguesa Beneficente Primeiro de Dezembro
(SPBPD) e com doações a essas entidades.
Possivelmente com intuito de estreitar as relações com a elite da sociedade
receptora, esse imigrante português participou de lojas maçônicas, do Clube
Curitibano e da Associação Comercial do Paraná.
Com base em todos os indícios encontrados, é possível considerar que esse
sujeito traduz o perfil dos imigrantes portugueses e é representativo de uma parcela
desses que igualmente alcançou prestígio e fortuna. Sendo um exemplo que, ao
voltar a sua terra natal, pode ter contribuído para a permanência dessa mitologia.
Por fim, conclui-se que José Fernandes Loureiro utilizou como mecanismos
para alcançar a prosperidade: a sua atuação como comerciante; a escolha de suas
esposas que eram de origem portuguesa e integravam a elite curitibana da época; o
estreitamento das relações com outros membros dessa elite por intermédio de
associações, irmandades e clubes.
53
FONTES ALMEIDA, Nely Lidia Valente. Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba. [Curitiba]: [s.n.], 1975.
BRASIL. Sociedades Anonymas: Banco Comercial do Paraná. In:_____. Diário Official, Rio de Janeiro, 24 abr. 1906. p. 2137-2140.
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CARNEIRO, David. A atual Rua XV de Novembro ao tempo da vinda de D. Pedro II. Gazeta do Povo, [Curitiba], 23 set. 1979. p. 10.
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61
ANEXOS ANEXO A – PLANTAS DA RUA XV DE NOVEMBRO COM A LOCALIZAÇÃO DA LOJA DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO ......................................................... 62 ANEXO B – LISTA DE DEVEDORES DO LIVRO “1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880”. .................................................................................................. 65 ANEXO C - CONTRATO SOCIAL DE 1886 E DE 1890 ....................................... 68 ANEXO D – ANÚNCIOS NO JORNAL “O COMMERCIO” ................................... 71 ANEXO E – TÚMULO DA FAMÍLIA J. F. LOUREIRO .......................................... 74 ANEXO F – INSCRIÇÃO DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO E DE SUA ESPOSA NA IRMANDADE DA NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS DA VILA DE CURITIBA............................................................................................................. 77
62
ANEXO A – PLANTAS DA RUA XV DE NOVEMBRO COM A LOCALIZAÇÃO DA
LOJA DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO
63
Fonte: BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. A Rua 15 e o comércio no início do século. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 23, n. 113, jul. 1996. p. 100.
Casa de José
Fernandes Loureiro
64
Fonte: BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. A Rua 15 e o comércio no início do século. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 23, n. 113, jul. 1996. p. 102.
Casa de José
Fernandes Loureiro
65
ANEXO B – LISTA DE DEVEDORES DO LIVRO “1879 Balanço principiado a 2 de
janeiro de 1880”
66
Fonte: FERNANDES, LOUREIRO E CIA. 1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880. [Curitiba]: [s. n.], 1880.
67
Fonte: FERNANDES, LOUREIRO E CIA. 1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880. [Curitiba]: [s. n.], 1880.
68
ANEXO C - CONTRATO SOCIAL DE 1886 E DE 1890
69
Fonte: JUNTA COMERCIAL do Rio de Janeiro. Art. 3º In:______. Contracto n. 1, 19 jan. 1886.
70
Fonte: JUNTA COMERCIAL do Rio de Janeiro. Art. 3º In:______. Contracto, 30 jul.1890.
71
ANEXO D – ANÚNCIOS NO JORNAL “O COMMERCIO”
72
Fonte: O Commercio, Curitiba, 1 set. 1900, n. 142, p.3
Fonte: O Commercio, Curitiba, 3 set. 1900, n. 143, p.2.
73
Fonte: O Commercio, Curitiba, 3 set. 1900, n. 143, p.4
74
ANEXO E – TÚMULO DA FAMÍLIA J. F. LOUREIRO
75
76
77
ANEXO F – INSCRIÇÃO DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO E DE SUA ESPOSA NA IRMANDADE DA NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS DA VILA DE
CURITIBA
78
Fonte: ALMEIDA, Nely Lidia Valente. Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba. [Curitiba]: [s.n.], 1975.