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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM GESTÃO DA INFORMAÇÃO
O PROCESSO DE MEDIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS COMPETÊNCIAS
ATITUDINAIS REQUERIDAS DO GESTOR DA INFORMAÇÃO
JOSÉ RENATO DA SILVA ARAÚJO
RECIFE 2014
JOSÉ RENATO DA SILVA ARAÚJO
O PROCESSO DE MEDIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS COMPETÊNCIAS
ATITUDINAIS REQUERIDAS DO GESTOR DA INFORMAÇÃO
Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Gestão da informação como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Gestão da informação.
Orientadora: Profª. Drª. Nadi Helena Presser
RECIFE 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM GESTÃO DA INFORMAÇÃO
O PROCESSO DE MEDIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS COMPETÊNCIAS
ATITUDINAIS REQUERIDAS DO GESTOR DA INFORMAÇÃO
Monografia submetida ao corpo docente do curso de Gestão da informação, da Universidade Federal de Pernambuco, em 07 de fevereiro de 2014. Banca Examinadora: Nadi Helena Presser, doutora em Engenharia de Produção (UFSC) e Professora do Departamento de Ciência da Informação (UFPE). _____________________________________ Celly de Brito Lima, mestre em Ciência da Informação (UFPB) e Professora do Departamento de Ciência da Informação (UFPE). _____________________________________ Silvio Luiz de Paula, mestre em Administração (UFPE) e Professor do Departamento de Ciência da informação (UFPE). _____________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, José e Ivone, e aos meus familiares que sempre me
apoiaram na minha vida profissional e me permitiram chegar onde estou.
Aos meus professores que me proporcionaram uma profunda mudança
sociocultural e me permitiram enxergar mais longe e a buscar a mais nobre de todas
as riquezas, o conhecimento. De maneira especial, agradeço à minha orientadora
Nadi Helena Presser, da qual tenho orgulho de ser aluno.
Não posso esquecer-me dos meus amigos que me ajudaram durante essa
caminhada, são muitos, e a todos que guardo no coração, mas de maneira especial
aos cinco amigos que sempre estiveram mais presentes na minha vida acadêmica:
Marcela Lino, com a qual passei muitas noites acordado pesquisando e fazendo os
trabalhos acadêmicos; Mitsuo Fukahori e Bruno Machado, dois amigos que me
divertiram muito e sempre estão ao meu lado; Vaneide Terezinha, uma amiga e
mãe, com a qual aprendi muito; e minha irmãzinha do curso Gabriela Poggi, com a
qual compartilhei conversas filosóficas enquanto seguia para o centro do Recife
comer um super cachorro quente.
Agradeço à minha namorada, Amanda Ferreira, por estar comigo em todos os
sentidos, me ajudando e incentivando, torcendo e me apoiando nessa jornada,
mesmo que algumas vezes ficássemos sem nos encontrar.
Agradeço às pessoas que de forma direta, ou indiretamente, contribuíram
para o meu crescimento e conquista, incentivando-me a enfrentar todos os desafios
e a seguir em frente.
E, por fim, de maneira mais que especial, agradeço a Deus, por Ele ter me
dado todas as pessoas que passaram e que ficaram em minha vida.
“O conhecimento nos permite enxergar o mundo de
maneira plena e nos dá certeza que cada vez
conhecemos menos as coisas.”
José Renato da Araújo
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi refletir e indagar sobre o processo de mediação do Gestor da Informação na perspectiva de identificar as competências atitudinais em mediação que devem ser empreendidas por esses profissionais da informação. Do ponto de vista de sua natureza, desenvolveu-se uma pesquisa aplicada de abordagem qualitativa. O estudo apontou algumas categorias de competências atitudinais — pessoais, de relacionamento, empreendedoras e sociais — as quais precisam ser mobilizadas em um processo de mediação de informação. Entretanto, o maior desafio para as profissões de informação, enquanto mediadores, é a necessidade de desenvolver uma profunda habilidade de trabalhar com outras pessoas.
Palavras-chave: Gestão da informação. Mediação da informação. Competências
atitudinais.
ABSTRACT
The objective of this research was to reflect and inquire about the mediation process of the information manager in prospect to identify the attitudinal competencies in mediation to be undertaken by these information professionals. From the point of view of its nature, it was developed an applied research with qualitative approach. The study identified some categories of attitudinal competencies — personal, relational, entrepreneurial and social — which, it is suggested to be mobilized in an information mediation process. However, the biggest challenge for the information professionals is the need to develop a greater ability to work with others.
Keywords: Information management. Information mediation. Attitudinal competencies
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................................... 10
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 12
1.2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................... 12
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 12
1.3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 12
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................ 13
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................... 14
2.1 NATUREZA DA PESQUISA .................................................................................... 14
2.2 COLETA DE DADOS ............................................................................................... 14
2.3 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 15
3 REFERÊNCIAL TEÓRICO ............................................................................. 16
3.1 DEFININDO MEDIAÇÃO ......................................................................................... 16
3.1.1 MEDIAÇÃO IMPLÍCITA E EXPLÍCITA ...................................................................... 19
3.1.2 INTERFERÊNCIA NA MEDIAÇÃO ........................................................................... 20
3.2 PAPEL DO MEDIADOR DE INFORMAÇÃO ............................................................ 20
3.3 A COMUNICAÇÃO NA MEDIAÇÃO ........................................................................ 24
3.4 COMPETÊNCIAS DO MEDIADOR .......................................................................... 26
3.4.1 AS COMPETÊNCIAS DO GESTOR DA INFORMAÇÃO PREVISTAS NO PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DA UFPE ..................................................................... 28
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA .................. 32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 37
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39
9
1 INTRODUÇÃO
Mediação é definida como uma instância articuladora, na comunicação e na
vida social, entre a dimensão individual da pessoa e sua singularidade e a dimensão
coletiva da sociabilidade e da relação social (LAMIZET; SILEM, 1977). A mediação é
determinante, sobretudo quando nos propomos analisar as condições e as
perspectivas de acesso e de uso, ou seja, como os serviços interagem com os
usuários e como estes se comportam, de acordo com suas necessidades, situações
e contextos, face à informação disponível.
Em uma perspectiva histórica, os mediadores (arquivistas, bibliotecários e
documentalistas) modelaram decisivamente o processo de mediação das
respectivas estruturas no espaço social, reproduzindo dentro delas e projetando
através delas o paradigma custodial, patrimonialista e historicista, que se começou a
afirmar na área profissional da informação desde meados do século XIX. Essa
postura, segundo Ribeiro (2010), assumiu uma roupagem mais tecnicista por alturas
da viragem do século, favorecendo, ao longo do século XX, o surgimento de uma
mediação menos passiva e mais direcionada para os interesses dos usuários.
De fato, a atitude passiva e reativa dos mediadores aos serviços de apoio ao
acesso e uso da informação por parte dos usuários começa a mudar
substancialmente coincidindo com o impacto transformador que a introdução das
tecnologias automatizadas e a explosão da informação tiveram nos serviços.
Por outro lado, com o advento dos recursos da informática e das Tecnologias
da Informação e Comunicação (TICs), os processos de gestão, produtos e serviços
de informação foram ganhando espaço e, aos poucos, eficiência, adaptabilidade e
versatilidade. Neste mandato, novos trabalhadores do conhecimento, denominados
Gestores da Informação, se apresentam junto aos Bibliotecários como mais um dos
novos operadores sociais empreendendo ações de mediação entre humanos e os
aparatos tecnológicos.
Assim sendo, em relação ao fazer do profissional da informação – ou
especificamente ao Gestor da Informação – mediação diz respeito a toda ação de
interferência (ALMEIDA JÚNIOR, 2009) desde a identificação das necessidades de
informação (incluindo o estudo do contexto) até o uso. Tal mediação passa a se
10
constituir não como coadjuvante no âmbito da atividade do gestor, mas interferindo
em seu próprio objeto de ação.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
A formação do Bibliotecário e do Gestor da Informação se ancora nos
fundamentos teórico metodológicos da Ciência da Informação (CI), o que pressupõe
um núcleo de conhecimentos e métodos de investigação comuns na temática da
mediação. A comunidade acadêmica da CI reconhece o compromisso social deste
campo científico e o contexto social das pessoas que produzem, buscam e usam a
informação na perspectiva de esta ser propulsora do conhecimento humano.
Entretanto, o Gestor da Informação se diferencia do Bibliotecário no sentido de sua
atuação centrada nas organizações de variadas naturezas.
Com base nas considerações expostas surgiu o seguinte problema que
evoluiu e se desenvolveu ao longo deste estudo:
Quais as competências que o Gestor da Informação deve desenvolver para
realizar seu trabalho de mediador de informação, na perspectiva da apropriação do
conhecimento e contribuir com a atividade econômica e com o princípio
emancipatório dos usuários de informação?
O problema de pesquisa suscitou o papel da mediação no processo instituinte
de ações emancipatórias no contexto das organizações, mesmo sem a pretensão de
esgotar o debate neste estudo.
Fazendo referência ao processo de mediação na perspectiva da apropriação
do conhecimento emancipatório, está se associando o conceito de emancipação
com a supressão dos obstáculos ao desenvolvimento das possibilidades humanas
(BOTTOMORO, 1997). E na visão de Freire (1989), a emancipação consiste num
fazer histórico permeado por desafios e possibilidades e se efetivará na vivência da
condição humana de ser protagonista de sua história.
Para os propósitos da abordagem deste estudo, o domínio emancipatório
significa exercer a auto emancipação. Portanto, tomar a mediação a serviço do
processo de emancipação humana passa a ser ação do próprio usuário de
informação, com o apoio do Gestor da Informação.
O desenvolvimento da competência, por outro lado, está imbricado no
desenvolvimento de recursos que possam ser mobilizados, em um dado contexto.
11
Para o educador Perrenoud (2001), um dos primeiros pesquisadores da área
da educação a estudar o tema, competência é a faculdade de mobilizar um conjunto
de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar
com pertinência e eficácia uma série de situações. O termo se consolidou e,
segundo o dicionário de verbetes em educação de Menezes e Santos (2002),
competência é o conjunto de conhecimentos (saberes), habilidades (saber fazer) e
atitudes (saber ser). O conhecimento está relacionado àquilo que se sabe, as
habilidades, àquilo que se sabe fazer e as atitudes, àquilo que se quer fazer. Dito de
outra forma, o conhecimento refere-se ao saber que a pessoa acumulou ao longo de
sua vida; as habilidades dizem respeito à capacidade da pessoa de utilizar seus
conhecimentos na ação, e as mesmas, conforme Gagné e colaboradores (1988)
destacam, podem ser classificadas como intelectuais (quando abrangerem
essencialmente processos mentais) e/ou como motoras (quando exigirem
essencialmente uma coordenação neuromuscular ou uma habilidade manipulativa);
a atitude, por sua vez, refere-se aos aspectos sociais e afetivos relacionados ao
trabalho (DURAND, 2000), à predisposição da pessoa que determina a sua conduta
em relação aos outros, ao trabalho ou a determinadas situações pessoais e
profissionais.
Neste estudo, competência é a capacidade de o mediador mobilizar saberes
para agir em diferentes situações da prática profissional. Foram investigadas as
competências atitudinais que precisam ser mobilizados pelo Gestor da Informação
no processo de mediação e, a escolha se sustenta devido sua grande importância
na esfera de atuação desse profissional, pois incluem atitudes pessoais necessárias
para interagir com as pessoas na perspectiva da construção do conhecimento
emancipatório das mesmas, enquanto usam informações.
As competências atitudinais dizem respeito ao desenvolvimento das
potencialidades individuais do mediador de informação, de conviver, de se
comunicar, de apreender a realidade, de ser responsável e, principalmente, de ser
criativo, por meio do autoconhecimento, da autocrítica e da capacidade de interação
com outras pessoas. Inclui o desenvolvimento da consciência social, pois envolve o
estudo sobre a teia de relações ecológicas, sociais, políticas, profissionais,
mercadológicas, afetivas e de comunicação que demonstram a profunda
interdependência entre as pessoas e entre elas e o seu ambiente.
12
Com base no exposto, os seguintes objetivos orientaram o esclarecimento e a
elucidação do problema desta pesquisa:
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Refletir e indagar sobre o processo de mediação do Gestor da Informação na
perspectiva de identificar as competências atitudinais requeridas e que devem ser
desenvolvidas por esses profissionais.
1.2.2 Objetivos Específicos
Identificar as possíveis ações de mediação que poderão ser desenvolvidas
pelo Gestor da Informação nas organizações.
Examinar, a partir das ações, as competências atitudinais mais
apropriadas e requisitadas desse profissional enquanto mediador.
1.3 JUSTIFICATIVA
No campo acadêmico este estudo contribui com novas reflexões no âmbito da
formação do Gestor da Informação e dos demais profissionais da informação
formados na área da CI, posto que em ambos, o núcleo de conhecimentos e
métodos de investigação são comuns na temática da mediação. Ademais, são
poucas as análises desenvolvidas especificamente para debater a mediação no
campo das organizações, restringindo o tema ao processo nas bibliotecas ou na
mediação por meio da leitura.
O Curso de Graduação em Gestão da Informação, em funcionamento desde o
ano letivo de 2009, exigiu, desde seu lançamento, um esforço contínuo de reflexões
de caráter pedagógico, visando atender às exigências impostas pelo mercado no
que diz respeito ao perfil profissional do egresso. Assim, em uma dimensão mais
pragmática, este estudo contribui na formação dos acadêmicos do Curso de
Graduação em Gestão da Informação e de outros cursos afins na formação do perfil
13
profissional interdisciplinar desses profissionais, com ênfase na sua formação em
mediação.
A pretexto do exposto acima, este estudo contribui para refletir sobre as
mudanças que estão tomando lugar na base de competências da profissão, mas
também dá atenção ao que ocorre no mercado de trabalho.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho foi estruturado iniciando pela Introdução, na qual se apresenta o
problema, os objetivos e a justificativa do estudo. Em seguida, descrevem-se os
procedimentos metodológicos que orientaram a coleta de dados e análise dos
resultados. Depois, a revisão da literatura trata de temas relacionados à mediação,
com ênfase nas competências do mediador. Posteriormente, a discussão e análise
dos resultados e, para finalizar as conclusões extraídas a partir de uma síntese geral
da pesquisa.
14
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo descreve-se a natureza da pesquisa na sua forma de
abordagem e explicita-se o procedimento de coleta, análise e interpretação dos
dados.
2.1 NATUREZA DA PESQUISA
Segundo Gil (1989), a pesquisa social pode decorrer do desejo de conhecer
pela simples satisfação de conhecer - pesquisa pura, ou do desejo de conhecer para
agir - pesquisa aplicada. No entanto, ambas são indispensáveis para o progresso
das ciências: enquanto uma busca a atualização de conhecimentos, a outra
pretende, além disso, transformar em ação concreta os resultados de seu trabalho.
Do ponto de vista de sua natureza, optou-se pela pesquisa aplicada, uma vez
que objetiva gerar conhecimento e contribuir para a formação dos acadêmicos do
curso de graduação em gestão da informação e de outros cursos afins.
2.2 COLETA DE DADOS
Visando identificar as competências atitudinais necessárias aos Gestores de
Informação na sua atuação de mediadores de informação, foi realizada uma revisão
da literatura sobre o tema mediação desenvolvida no âmbito da CI, sustentada pelo
exame das competências requeridas do profissional no Projeto Pedagógico do
Curso de Graduação em Gestão da Informação (versão revisada em 2012-2014) da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Essas reflexões e análises orientaram e fundamentaram a formulação das
habilidades requeridas desse profissional e das ações de mediação exigidas. Assim,
após elaborar uma síntese das habilidades postuladas para a execução do seu
trabalho, destas foram extraídas as ações de mediação requisitadas para executar
as tarefas elencadas, conforme pode ser visualizado no quadro 1. A seleção das
ações de mediação requeridas foi realizada mediante resposta para questões tais
como: que ações de mediação permitiriam “Identificar necessidades, antecipar
demandas, disponibilizar e interpretar informações aos usuários”? E com base nas
15
respostas de cada uma das habilidades requeridas do Gestor da Informação, as
ações de mediação foram sendo formuladas.
Por último, essas informações forneceram subsídios para a definição das
competências atitudinais que precisam ser mobilizados pelo Gestor da Informação
no processo de mediação. A seleção das categorias e das atitudes também se
sustentou das leituras e análises realizadas no desenvolviemnto deste estudo.
2.3 ANÁLISE DOS DADOS
A forma de abordagem da análise foi qualitativa (MARTINS; THEÓPHILO,
2009), para descobrir e entender a complexidade do processo de mediação e, partir
disso, extrair as competências atitudinais requeridas do profissional.
Para a formulação das competências atitudinais, buscou-se o sentido mais
amplo da essência do processo de mediação, fazendo um diálogo com as teorias
previamente apresentadas e com as competências do Gestor da Informação
elencadas no Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Gestão da Informação
da UFPE.
16
3 REFERÊNCIAL TEÓRICO
Neste capítulo descreve-se sobre as temáticas que fundamentaram este
estudo.
3.1 DEFININDO MEDIAÇÃO
Alguns autores da literatura apontam para a chamada “explosão da
informação” que ocorre dentro da “Era informacional”. Esta era informacional teria
iniciado no fim do século passado, por volta da década de 1980. No entanto,
Wurman (2005, p. 19) diz que a “grande era da informação é na verdade, a da
explosão de não-informação”. A não informação apresentada por Wurman (2005) é
aquela que falta um significado, pois há um excesso de informações vazias e que
não agregam conhecimento.
Le Coadic (2004) apresenta a CI como ponto de partida para a compreensão
de um problema social concreto, o da informação, e voltada para o ser social que
procura por ela. Segundo ele, o fim profícuo da ciência da informação é refletir,
compreender e organizar o fluxo da informação, com ênfase no conhecimento
explícito, científico ou não. Assim, a CI é um processo social, no qual suas funções
vão desde a produção e disseminação da informação, até seu uso social pelas
pessoas. Isso significa que o estudo do fenômeno informação está ligado
diretamente às pessoas e não deve ser considerado isolado delas (LE COADIC,
2004).
Segundo Le Coadic (2004, p. 5), a informação é “[...] um significado
transmitido a um ser consciente por meio de mensagem inscrita em um suporte
espacial-temporal”. Seguindo na mesma perspectiva, (Silva e Ribeiro apud
RIBEIRO, 2010, p. 64) apresentam a informação como:
Conjunto estruturado de representações mentais codificadas (símbolos significantes) socialmente contextualizadas e passíveis de serem registradas num suporte material (papel, filme, banda magnética, disco compacto, etc.) e, portanto, comunicadas de forma assíncrona e multidirecionada.
Portanto, a mediação informacional, a priori, é um esforço tanto do próprio
usuário que busca a informação para atingir seus objetivos como do profissional da
17
informação do qual será responsável pela organização, armazenamento e
recuperação das informações que será utilizada pelo usuário.
Definir a mediação da informação em seu contexto epistemológico nos remete
à Almeida Júnior (2009, p. 92):
[...] ação de servir de intermediário ou o que serve de intermediário.
Cristaliza-se aqui a concepção de que essa ação não é o
estabelecimento de uma simples relação entre dois termos de
mesmo nível, mas que em si ela é produtora de um algo a mais.
Segundo ele a mediação da informação não é algo fixo em sua estrutura, mas
dinâmico quanto a sua concepção e aplicação, pois sugere uma dinâmica entre o
usuário, o meio onde a informação está ou se apresenta e o profissional da
informação. Mas, o mediador pode ser o próprio usuário a partir do momento em que
ele define qual a informação será necessária para suprir sua lacuna de informação.
O próprio usuário alteraria seu estado anômalo de conhecimento1 depois que decidir
qual a informação é a mais importante. “Imaginar a mediação da informação como
algo estático é inapropriado, porque tanto mediador quanto usuário podem interferir
no caminho e no resultado proveniente da busca da informação” (NEVES, 2011, p
416).
Esse algo a mais, apresentado por Almeida Júnior (2009) é o conhecimento
que, no processo de mediação da informação, ocorre por meio da interação entre os
sujeitos e a informação (NEVES, 2011).
Ribeiro (2010, p 66) destaca o surgimento da mediação da informação no
contexto social a partir da necessidade de compreensão da linguagem e do sistema
representativo da informação:
A mediação surge, portanto, através da emergência de uma linguagem, de um sistema de representações comum a toda a sociedade, a toda a cultura, e, ao mesmo tempo, a emergência deste sistema de representação constrói um sistema social, coletivo, de pensamento, de relações de vida – uma sociabilidade, entendida como o conjunto de condutas, de representações e de práticas pelas quais é reconhecida numa pessoa a sua pertença a uma sociedade ou que são comuns a todos os que pertencem a uma mesma comunidade.
1 O estado anômalo do conhecimento se refere, na perspectiva de Belkin (1980), as lacunas de conhecimento. Só a partir do uso da informação, havendo uma contextualização, este estado anômalo é alterado, criando um novo estado de conhecimento, ou seja, as lacunas são preenchidas com as informações que faltavam.
18
A língua e os símbolos fundam as mediações, porque asseguram, no decurso
do uso que é feito pelas pessoas, a apropriação específica dos códigos coletivos,
uma vez que são códigos socialmente determinados, têm regras e estruturas
coletivas, que cada pessoa usa para se exprimir a título individual (RIBEIRO, 2010).
Temos, assim, na codificação linguística e simbólica um primeiro e elementar tipo de
mediação.
Entretanto, segundo Ribeiro (2010), a prática dos profissionais de informação,
iniciada pelos bibliotecários, arquivistas e documentalistas, englobou sempre a
função de disponibilizar a documentação a quem dela precisa – que foi evoluindo até
hoje na Era da Informação em que estamos. Assim, a atividade daqueles
profissionais incluiu e continua a incluir como componente essencial à função de
mediadores de informação.
Os serviços de informação especializados situavam-se entre a informação e
os usuários que dela precisavam (a usavam) e funcionavam como intermediários,
asmaioria das vezes como descodificadores de linguagens herméticas, incluindo
vocabulários controlados, classificações, que o usuário não domina e não consegue
manipular com sucesso.
Na análise de Ribeiro (2010), foi esse papel de mediação que deu, durante
muito tempo, ao profissional da informação um estatuto de técnico especializado e
erudito que o transformava num elemento indispensável no acesso à informação.
Configurava-se, assim, o paradigma custodial, patrimonialista e tecnicista na ação
de mediação.
Assim, na ação de mediação, a ideia da preservação e da guarda da memória
teve sempre uma prevalência muito grande, predominando uma concepção de
mediação passiva e até contrária ao usuário, porquanto a prioridade estava na
guarda do patrimônio cultural incorporado e acumulado e não no acesso ou no uso
da informação.
Ademais, Ribeiro (2010) acentua um poder muito peculiar que se aliava a
esse papel de mediação. Um domínio sobre a informação que lhe permitia fornecer
ou negar o acesso, facilitar ou dificultar a vida dos usuários, desvendar ou ocultar
informação crítica, enfim, disponibilizar em nome do direito à informação ou guardar
a sete chaves em nome da privacidade dos cidadãos ou dos interesses do Estado.
19
3.1.1 Mediação implícita e explícita
Para Almeida Júnior (2009), é inconcebível a ideia de trabalhos não voltados
para o atendimento de necessidades informacionais. Tais trabalhos seriam vazios e
desprovidos de objetivos. Esse, entre outros fatores, tornou possível (e quase
inevitável) a distinção da mediação entre implícita e explícita.
A mediação implícita ocorre nos espaços dos equipamentos informacionais e
é realizado por aparatos tecnológicos (ALMEIDA, 2010) em que as ações são
desenvolvidas sem a presença física e imediata dos usuários. Nesses espaços
estão a seleção, o armazenamento e o processamento da informação.
Por outro lado, na mediação explícita, se observa a ocorrência nos espaços
em que a presença do usuário é indispensável, sendo, portanto, uma situação sine
qua non (ALMEIDA JÚNIOR, 2009). Neste segundo caso a mediação é realizada por
profissionais da informação, bibliotecários, arquivistas e também o Gestor
Informacional.
Ainda no que tange a mediação explícita, é importante ressaltar outros
aspectos observados por Almeida Júnior (2009):
A mediação explícita-explícita - compreende as ações desenvolvidas de
maneira consciente e tendo como base os conhecimentos que dominamos
e o exteriorizamos com razoável controle;
A mediação explícita-implícita - abarca as ações que deixam transparecer
um conhecimento inconsciente, não passível de controle e que se imbrica
com os conhecimentos conscientes.
Nas considerações de Almeida Júnior (2009), toda ação se constitui da junção
desses conhecimentos amalgamando a mediação da informação com ações
controláveis e não controláveis. A mediação explícita e implícita e o processo
consciente e inconsciente impedem o controle do mediador, criando condições para
que a interferência possa se tornar, mesmo que contrariando intenções, em
manipulação.
Assim, a ideia de neutralidade, tanto do mediador como do processo de
mediação, torna-se claramente inapropriada, acentua Almeida Júnior (2009). O
momento da interação profissional da informação com o usuário não é algo
estanque e fracionado no tempo, mas envolve os atores como um todo, os
conhecimentos conscientes e inconscientes, e o contexto.
20
A mediação da informação e o profissional da informação estão envoltos em
significados e ideologias e em nenhuma hipótese se apresentam desnudos de
interesses e influências, sejam econômicas, políticas, culturais, etc. A concretização
da mediação resulta da relação dos envolvidos com o seu mundo.
3.1.2 Interferência na Mediação
Na mediação da informação se verifica que há a interferência e não seria
coerente a afirmação de que ela não exista. É notado em que na mediação, embora
haja um pensamento de imparcialidade e neutralidade do profissional, essa posição
não se revela verdadeira, pois a literatura aponta para a ausência desses dois
conceitos. “A imparcialidade e a neutralidade, embora procuradas, não se
concretizam, pois o profissional da informação atua como matéria-prima que, por si,
não é neutra” (ALMEIDA JÚNIOR, 2009, p. 93).
A Interferência é constante e indissociada do fazer do profissional da
informação. Um dos modos de interferência se dá a partir do momento em que o
profissional da informação, arbitrariamente, oculta ou revela informações diante de
uma falsa privacidade ou direito à informação. Ribeiro (2010) aponta que muitos
profissionais, “perversamente”, podem se aliar a um poder muito peculiar que lhe
permite fornecer ou negar a informação, facilitando ou dificultando o acesso aos
usuários que dela necessitam.
A interferência não deve ser negada, mas, sim, explicitada, afirmada, tornada
consciente para que, criticamente, o profissional possa lidar com ela de maneira a
amenizar e minimizar possíveis problemas que dela decorram.
As ações do profissional da informação não são imparciais, entretanto, há
uma tênue diferença entre manipulação e interferência. A consciência de sua
existência, bem como da realidade da interferência, permite não a eliminação total
da manipulação, mas a diminuição de seus riscos e de suas consequências.
3.2 PAPEL DO MEDIADOR DE INFORMAÇÃO
O profissional da informação, enquanto mediador, deve trabalhar nos fluxos
formais da informação, como apresentado por Ribeiro (2010), incluindo as
linguagens herméticas. Seguindo o glossário geral de Ciência da Informação, gestão
21
da informação é um processo cíclico de trabalho com a informação, e que engloba,
além da identificação de necessidades de informação, a aquisição, a organização e
armazenamento, o desenvolvimento de produtos e serviços, a distribuição e o uso
da informação.
Considerando esse fluxo informacional, a esfera de atuação do profissional da
informação é abrangente e, como observou Neves (2011), é ampla, “[...] podendo ser
uma interferência que estimula um salto por meio de instrumentos símbolos, mas
também com apoios de outros sujeitos” (NEVES, 2011, p. 414).
Para Neves (2011) o salto significa uma mudança que pode ocorrer de duas
formas: a primeira através de uma ruptura e a segunda através de um acúmulo de
conhecimentos. Ambas rompem com a continuidade, são uma mudança de um
estado para outro. E neste contexto, a função do processo de mediação é de buscar
a construção do conhecimento que surge através da interação entre os sujeitos e a
informação, tendo em vista as suas possibilidades cognitivas. “Todos (mediadores e
usuários), ao interagir com a informação, são sujeitos do conhecimento interpostos
pelos conteúdos, suportes, meios e ambientes” (NEVES, 2011, p. 414). Assim, a
informação altera um conhecimento preexistente, interferindo na construção desse
novo conhecimento.
Entretanto, a complexidade da mudança cognitiva não é mensurável, então
essa equação não deve ser entendida através da lógica matemática, mas como uma
representação do comportamento cognitivo do ser humano com a informação. Belkin
(1980) observou que o indivíduo não é vazio à espera de conhecimento, advindo da
apropriação da informação, mas sim a pessoa possui “[...] um conhecimento prévio e
o constrói na relação com os outros e com o mundo.”
Mesmo contribuindo significativamente para o estudo da comunicação e da
construção do conhecimento no processo de mediação, alguns autores criticam o
enfoque cognitivo por privilegiar o usuário individual em detrimento do contexto
social mais amplo.
Capurro (2003) defende que o conhecimento é adquirido pelo processo de
comunicação e que a informação é uma dimensão existencial do nosso estado de
convivência com os outros no mundo. A Comunicação, no sentido de compartilhar, é
um traço específico de estar no mundo. Aqui reside o fundamento existencial da
Ciência da Informação, pois a informação, no sentido existencial hermenêutico,
significa compartilhar um mundo comum.
22
Na abordagem sociocognitiva, as necessidades de informação individuais são
socialmente condicionadas e influenciadas pelo contexto onde o indivíduo está
inserido. O usuário de informações é um ator social e o conhecimento é
inerentemente social e, portanto, as necessidades de informação são condicionadas
socialmente (TALJA, 1997).
Nesse sentido, a comunicação, por si só, não é suficiente para a evolução do
conhecimento, pois necessita também de uma informação que vá ao encontro do
indivíduo. Tal fato está relacionado à necessidade informacional, cuja relevância
depende de três aspectos do indivíduo (usuário): problemas a serem resolvidos, a
sua natureza de conhecimento atual e suas qualificações (HJØRLAND, 2002).
O ponto de vista sociocognitivo enfatiza a internalização de signos produzidos
culturalmente, realça como símbolos e processos cognitivos são mediados
culturalmente, historicamente, e como significados são socialmente construídos
(HJØRLAND, 2004).
O pressuposto de Talja (1997) é que os potenciais e os limites para a
produção do conhecimento são definidos pelos discursos, os quais fornecem
diferentes perspectivas e posições de assuntos para a construção e sistematização
do conhecimento. Apoiada em Foucault (1972) e Hall (1992), Talja (1997) explica
que um discurso é uma forma de representar e tornar possível construir um tópico
de certa maneira, ao mesmo tempo em que limita outras maneiras pelas quais um
tópico poderia ser construído. Assim, discursos consistem em determinados tipos de
conceituações que permitem à realidade ser conhecida a partir de certo ângulo.
E neste novo cenário um novo processo de mediação vai se acedendo, no
qual o mediador assume novos e sofisticados papéis. As transformações ocorridas
no século XX, no campo da Tecnologia da Informação (TI) modificaram
profundamente a maneira de como nós nos relacionamos com a informação. A
expansão da globalização da economia, a explosão da comunicação e a matriz
tecnológica foram fatores que ajudaram a promover as transformações no campo da
TI e consequentemente na maneira de como utilizamos a informação (FELIX, 2003).
Podemos facilmente apontar para vários aparatos tecnológicos que dispõe
informações em tempo real, da qual não se faz necessário citar exemplos, visto que
alguns levamos no próprio bolso.
A rede internet com a sua infraestrutura telemática e a tecnologia digital na
base da produção, do armazenamento, da recuperação e da disseminação de doses
23
incomensuráveis de informação, constituindo o ciberespaço (Pierre Lévy), o espaço
de fluxos (Manuel Castells) ou a infosfera (Luciano Floridi), está instaurando o
reordenamento possível para os serviços de informação e para os comportamentos
de mediadores (Gestores de Informação etc.) e de usuários (em especial, os info-
incluídos e os born digital) (RIBEIRO, 2010). A infoesfera faz referência a um
complexo ambiente informacional constituído por todas as entidades informacionais,
suas propriedades, interações, processos e demais relações.
Articular a informação digital com a informação que continua a ser impressa
em papel, com a música editada em CD, os filmes em DVD, as fotografias feitas e
memorizadas em máquinas digitais, enfim, um conjunto de novos e velhos suportes
de informação, que se vão acumulando nas bibliotecas públicas e especializadas,
em arquivos da administração pública e das organizações mais diversas e que é, ou
deve ser, mediada para a partilha geral e ilimitada.
Almeida (2010) ajuda a compreensão das interações entre humanos e os
aparatos tecnológicos. Há para ele, três conceitos que participam dentro do universo
da comunicação, dentro do contexto das tecnologias: leitor, espectador e navegador.
Se observarmos mais profundamente, percebemos que estas três formas de
participação surgem dentro de um contexto temporal e que nem um substitui o outro,
ao contrário, se complementam.
A mudança cultural na forma do ato de ler, por exemplo, pode ser demarcada
perpassando do período das grandes bibliotecas com seus leitores silenciosos;
passando pelos leitores “moventes, fragmentados” filhos da modernidade e do
mundo contemporâneo e por fim; os leitores “imersivos, virtuais” leitores da era dos
gadgets, “leitor que não vira mais as páginas de um livro disponível numa biblioteca”
(ALMEIDA, 2010, p. 117). São leitores ágeis, que buscam constantemente por
novidades e conectividade, destaca esse autor.
Segundo Ribeiro (2010), os serviços de informação têm vindo a multiplicar-se
e a diversificar-se na Internet, configurando-se a coexistência de mediações
diferentes, embora complementares:
I. A mediação assumida pelo especialista da informação, atuando como
interagente nos sites ou em organizações, localizadas no “espaço de
fluxos” ou na “infoesfera”, que se caracteriza por uma interferência
direta na escolha dos conteúdos, na elaboração dos metadados, na
identificação das necessidades de informação.
24
II. A mediação do profissional de informática ou do designer de sistemas
interativos e colaborativos, que exige uma crescente inclusão digital ou
competência informacional do usuário, deixando-o livre para decidir
quanto à escolha, inserção e indexação dos conteúdos.
O conceito de serviço online, que surge bastante difuso e complexo, o que
significa que em rede digital surgem, desenvolvem-se e desaparecem,
continuamente múltiplos e variados recursos de informação, muitos deles
concebidos e animados por pessoas ou grupos, onde não vemos o profissional da
informação como categoria profissional (por exemplo, graduado em GI), mas
pessoas de perfis diversos, praticando mediação da informação.
Embora não disputem a função mediadora de especialista da informação,
estas pessoas coexistem com ele e atuam com elevado grau de criatividade, sendo
mediadores e, ao mesmo tempo, usuários de informação.
3.3 A COMUNICAÇÃO NA MEDIAÇÃO
A comunicação desenvolve um papel fundamental para informação, a função
social, unindo os indivíduos e o conhecimento (GUEDES; BAPTISTA, 2013). Le
Coadic (2004) insere a informação dentro de um círculo contínuo de “construção,
comunicação e uso”.
Na visão de Le Coadic (2004), ilustrada na Figura 1, comunicação consiste
em assegurar o intercâmbio de informações. É o processo intermediário que permite
a troca de informações entre as pessoas. A construção do conhecimento vai
depender do compartilhamento e da interpretação dessas informações.
Figura 1 — Ciclo da informação.
Fonte: Adaptado de Le Coadic (2004).
25
Um elemento muito importante ao se considerar a comunicação é o ruído -
falha no reconhecimento e entendimento da mensagem. Portanto, se houver alguma
falha no entendimento ou no uso das TICs, tal ferramenta se torna um ruído na
comunicação.
A comunicação, portanto, é o fio condutor da informação. Ocorre de maneira
indivíduo-indivíduo, indivíduo-meio (qualquer fonte de informação), indivíduo-
mediador-meio. Comunicação consiste em assegurar o intercâmbio de informações.
Comunicação é, portanto, o processo intermediário que permite a troca de
informações entre as pessoas (LE COADIC. 2004).
Guedes e Baptista (2013) conceituam a comunicação como uma troca de
informações que se concretizam no desenvolvimento do conhecimento, quando a
informação altera o estado cognitivo do usuário. “A mediação e a comunicação da
informação se tornam essenciais para que o ciclo informacional se concretize, pois é
o que une a informação e o indivíduo” (GUEDES; BAPTISTA, 2013, p. 235). Essa
comunicação é feita através de vários meios de representação da informação (livros,
páginas da internet, relatórios, banco de dados, artigos científicos, etc.).
A comunicação tomou novos rumos saindo de uma posição vertical, de cima
para baixo, dentro de uma hierarquia, para a posição horizontal, entre todos os
indivíduos, massificando-se através dos grandes meios de comunicação. Mas, “a
comunicação, por si só, não é suficiente para a evolução do conhecimento, pois
necessita também de uma informação que vá ao encontro do indivíduo” (GUEDES;
BAPTISTA, 2013, p. 243). Mas não só isso, há a capacidade de cognição do
indivíduo, no que se destaca na sua capacidade de entendimento para uma
compreensão mais coerente, além de fatores externos ao usuário, como a falta ou
dificuldade de acesso à informação. A mediação se faz necessário para que haja
uma análise mais aprofundada da informação que o usuário necessita e que se crie
uma ponte entre um e outro.
Dentro do conceito de comunicação, observa-se que há a alguns pontos a
serem considerados. Esses pontos são: as interações entre os seres humanos e os
aparatos tecnológicos, a comunicação interpessoal e, por fim, equipes
multidisciplinares.
26
3.4 COMPETÊNCIAS DO MEDIADOR
Segundo McGee e Prusak (1994) a informação recebe ênfases diferentes em
cada segmento econômico e as diferentes tarefas dentro do processo assumem
diferentes níveis de importância e valor dentro das organizações. Portanto, uma das
competências do mediador de informação é saber o que fazer com a informação
(NEVES, 2011). Para o mediador é importante conhecer todos os vieses do seu
trabalho e, principalmente, a necessidade do seu mediado (usuário).
Tomando a mediação como um processo de aprendizagem, Neves (2011) faz
referência à Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), termo cunhado pelo
educador Vygotsky. Para Vygotsky (1991), a figura de um mediador humano é
essencial nos processos que envolvem aprendizado. A Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP) define a distância entre o nível de desenvolvimento real,
determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através de resolução de um problema sob a
orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro
(VYGOTSKY,1991). Quer dizer, é a série de informações que a pessoa tem
potencialidade de aprender, mas ainda não completou o processo, mas são
potencialmente atingíveis.
Segundo Neves (2011), a zona de desenvolvimento real representa a
atividade que se é capaz de fazer sozinho e a zona de desenvolvimento próximo
(ZDP) refere-se àquilo que se faz com apoio de outras pessoas mais velhas, mais
experientes e/ou mais interessadas no resultado da ação. Assim, a zona proximal
fornece os indícios do potencial, permitindo que os processos educativos atuem no
processo de mediação. A mediação da informação potencializa a ZDP.
O processo de mediação da informação busca a construção do conhecimento
que se dá por meio de um movimento complexo, em que as pessoas interagem com
a informação para, de acordo o meio social e as suas possibilidades cognitivas, se
apropriarem dos conteúdos acessados. A mediação da informação é etapa
importante nesse processo. Portanto, nas considerações de Neves (2011), um
programa de inclusão digital pautada somente em disponibilização de infraestrutura,
sem considerar aportes do aprendizado, pode constituir um equívoco na perspectiva
de amenizar o gap entre incluídos e excluídos no novo contexto social. Por tudo
isso, a mediação humana é essencial para o processo de inclusão sociodigital,
27
sobretudo, sua capacidade de desenvolver atividades, compreendendo que a
produção e recuperação de conteúdos na internet estão ligadas aos processos de
desenvolvimento e aprendizagem.
A mediação humana está envolta ao universo da gestão de recursos que
envolvem o físico, o digital, o humano e o social, conforme atribuído por Warschauer
(2006) apud Neves (2011):
os recursos físicos são formados por computadores e internet;
os recursos digitais são linguagem e conteúdo, colocando em evidência
toda sorte de produção, acesso e apropriação da informação;
os recursos humanos são os letramentos e a educação, em que é possível
perceber característica e tecer aproximações com a mediação para
potencializar a apropriação da informação;
os recursos sociais englobam a participação das instituições e da
comunidade no projeto de inclusão sociodigital.
Com base nisso, Neves (2011) aponta algumas competências em informação,
que o mediador da informação deve apresentar. Embora essas competências sejam
para a inclusão digital de novos usuários, pode-se considerar que elas exemplificam
bem as competências do mediador da informação nas demais esferas de atuação.
Saber identificar e determinar a origem e a necessidade informacional de
seus usuários por meio do diálogo investigativo;
Conhecer o contexto (mundo/ambiente) da informação, identificando
potenciais fontes, além de colaborar com seus usuários, visando definir
critérios de escolha entre as informações mais relevantes para sua
demanda ou tomada de decisão;
Estar familiarizado com as TICs e as mídias, que não somente a Internet,
fornecendo e indicando a busca em outras tecnologias ou com outros
profissionais;
Avaliar a informação recuperada;
Estimular seus mediados (usuários) a usarem as ferramentas de
comunicação e informação com propósitos de criação de vínculos sociais,
conferindo-lhes que fazem parte de um grupo maior que se estende às
ferramentas de relacionamento (Facebook, Twitter, Orkut, MSN, etc.);
28
Estimular os usuários a produzirem conteúdo na internet, a exemplo de
blogs. Pode sinalizar ambientes informacionais digitais que podem servir
como fontes de informação, considerando questões de usabilidade e de
confiabilidade da informação;
Solicitar atividades de formação para apoiar sua qualificação, mas que
também “sejam aprendizes independentes” (DUDZIAK, 2003, p.29 apud
NEVES, 2011), procurando a resolução de seus problemas com a própria
internet, nas suas redes interpessoais, etc.;
Considerar que suas ações como mediadores podem corroborar com a
inteligência e os aspectos políticos, ambientais e sociais, implicando o
desenvolvimento tecnológico, crítico e participativo dos usuários;
Questionar a internet para ele próprio e perante seus usuários.
Manusear adequadamente os recursos físicos (computadores e
conectividade) ou as TICs;
Conhecer fontes de informação eletrônicas, para efetivar as demandas
requeridas no recurso digital (linguagem e conteúdo);
Conhecer o básico sobre os programas do computador e das línguas
predominantes na internet;
Possuir habilidades como educação e simpatia para lidar com seu público;
Saber lidar com o recurso social (interagir com a comunidade e
instituições), demonstrando habilidade e capacitação para interagir com
determinados segmentos da sociedade e ter eficiência para cumprir os
procedimentos estabelecidos pelo programa ou instituições envolvidas que
algumas vezes são de caráter religioso.
3.4.1 As competências do Gestor da Informação previstas no Projeto Pedagógico
do Curso da UFPE
Do debate que tem alimentado a discussão das competências dos novos
profissionais da informação (TARAPANOFF, 1996; MENOU, 1996; TEIXEIRA FILHO,
1998; MARCHIORI, 1999; ARARIPE, 1999; BRITO e PLONSKI apud FERREIRA,
2003; JAMBEIRO e PEREIRA DA SILVA, 2004), resulta uma linha perfilada com as
diversas tendências em Ciência da Informação, colocando a função primordial do
Gestor da Informação como a de gerenciar fluxos e sistemas de informação na
29
perspectiva do apoio ao processo decisório e da criação do conhecimento humano e
social (FALLIS, 2006; LE COADIC, 2004; CHOO, 2003; MEADOW e YUAN, 1997).
Por ser uma atividade profissional recém consolidada, as atribuições do
Gestor de Informação ainda não foram devidamente qualificadas na Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Na
categoria vigente, a ocupação Gestor de Informação ainda aparece associada à
família funcional do Bibliotecário (código 2612-05) que, entre outras definições,
regula com Cientista de informação, Gerente de informação2. Até o presente
momento, não se registra publicação de Diretriz Curricular específica, emitida pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE), definindo as fronteiras deste novo curso.
Assim, trabalhando em ambientes tradicionais ou virtuais, individualmente ou
em equipes multidisciplinares, conforme prevê o PPC do curso do Departamento da
Ciência da Informação (DCI), esse profissional atuará nos processos de
dinamização dos recursos de informação, diagnosticando, propondo soluções e
implementando ações para os diversos usos do conhecimento.
Tomando a informação como seu objeto de gestão, ao final do curso, o
discente deverá estar apto a:
Refletir e agir eticamente tendo por base os fundamentos teóricos
metodológicos da gestão da informação, aplicando técnicas de
planejamento, coordenação, controle e avaliação de processos, projetos e
sistemas de informação, com visão holística do ambiente informacional,
contribuindo com espírito colaborativo e senso de responsabilidade para a
construção da informação e do conhecimento dos usuários e o seu
eficiente gerenciamento em qualquer contexto.
2 CBO - Descrição sumária: Disponibilizam informação em qualquer suporte; gerenciam unidades como bibliotecas, centros de documentação, centros de informação e correlatos, além de redes e sistemas de informação. Tratam tecnicamente e desenvolvem recursos informacionais; disseminam informação com o objetivo de facilitar o acesso e geração do conhecimento; desenvolvem estudos e pesquisas; realizam difusão cultural; desenvolvem ações educativas. Podem prestar serviços de assessoria e consultoria. ht tp:/ /www.mtecbo.gov.br /busca/espec ia l is tas.asp?codigo=2612 Ver sobre o assunto: FARIA, Suel i ; FULGÊNCIO DE OLIVEIRA, Vanda; FORNER, L i l iane; D'ASTUTO, Flor iana. Competênc ias do prof iss ional da informação: uma ref lexão a part ir da Class if icação. Ciência da Informação, Brasí l ia, DF, 34.2, 14 03 2006. Disponível em: <ht tp:/ /www. ib ict .br /c ionl ine/v iewart ic le.php?id=715>. Acesso em: 12 11 2013.
30
Avaliar, planejar ou aplicar instrumentos, técnicas e políticas voltados à
produção, uso, disseminação e preservação da informação, bem como
estar hábil a identificar, coletar, analisar, condensar conteúdos e
reconhecer aspectos legais nos âmbitos informacionais aos quais estejam
circunscritos.
Compreender a base conceitual metodológica e aplicar métodos e
instrumentos de pesquisa em CI.
Desenvolver uma visão geral atualizada das inovações tecnológicas
destinadas à criação, disseminação, recuperação e gestão de informações
e conteúdos, coordenar a aplicação das tecnologias da informação e
comunicação em instituições e organizações públicas e privadas visando a
uma melhor eficiência e eficácia na busca, visualização e uso da
informação, bem como identificar necessidades, planejar e modelar
sistemas de informação e banco de dados, ponderando questões relativas
à funcionalidade, segurança, interoperabilidade, acessibilidade e
usabilidade.
Compreender a base teórica e aplicar a base metodológica de
organização e representação da informação em todos os suportes.
A formação do Gestor da Informação supõe o desenvolvimento de
determinadas conhecimentos, habilidades e atitudes no domínio dos conteúdos das
áreas temáticas que formam o currículo.
Assim, ao final do curso espera-se que o Gestor de Informação tenha
desenvolvido habilidades para:
Aplicar métodos e técnicas de estudo do contexto e do usuário nos
processos de produção, comunicação e uso de informação;
Identificar necessidades, antecipar demandas, disponibilizar e interpretar
informações aos usuários;
Identificar e explorar fontes de informação e avaliar sua qualidade;
Mapear, analisar e melhorar o fluxo informacional das organizações;
Formular e monitorar indicadores de avaliação dos serviços, processos e
sistemas de informação;
Elaborar projetos de sistemas de informação;
Apoiar o processo decisório com base em informações;
31
Aplicar técnicas e ferramentas da qualidade nos processos informacionais;
Aplicar técnicas de organização e representação da informação em todos
os suportes e ambientes informacionais;
Aplicar métodos e instrumentos de pesquisa em CI;
Coordenar e participar de equipes multidisciplinares de trabalho;
Usar sistemas informatizados de gestão da informação;
Planejar e modelar sistemas de informação e banco de dados,
ponderando questões relativas à funcionalidade, segurança,
interoperabilidade, acessibilidade e usabilidade.
Quanto às atitudes, ao final do curso espera-se que o Gestor de Informação
tenha desenvolvido competências relacionadas à:
Visão holística e prospectiva do ambiente informacional e do contexto do
usuário;
Liderança e espírito colaborativo;
Responsabilidade com a construção do conhecimento dos usuários;
Senso ético profissional;
Espírito crítico e reflexivo;
Postura científica;
Responsabilidade socioambiental e respeito à diversidade;
Criatividade, versatilidade e capacidade de adaptação a ambientes
dinâmicos;
Pontualidade na realização das tarefas;
Aptidão para manter-se atualizado e em constante busca de
aperfeiçoamento profissional.
Os conhecimentos não foram aqui elencados, pois estão traduzidos nos
componentes curriculares do curso.
32
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
Na perspectiva de ampliar as competências contidas no PPC de Gestão da
Informação do DCI e fornecer um conjunto de competências que auxiliassem na
elaboração de programas e projetos para a área da mediação, apresenta-se, como
se segue, os resultados da pesquisa com suas análises.
Consolidada a posição das novas tecnologias de informação nas diversas
ações sociais, culturais, econômicas e políticas, começaram a serem delineados os
perfis dos novos profissionais de informação. Embora haja versões diferenciadas
desses perfis, depreende-se, por meio deste estudo, que a maioria se dirige para
algumas atitudes mais ou menos consensuais, conforme se salienta na Figura 2,
quando se trata de intensificar as ações de mediação e reconhecer a mediação com
o sentido do trabalho do profissional de informação.
Quadro 1 — Habilidades do Gestor da Informação e ações de mediação requeridas.
Habilidades requeridas Ações de mediação requeridas
Identificar necessidades, antecipar
demandas, disponibilizar e
interpretar informações aos
usuários;
Aplicar métodos e técnicas de
estudo do contexto e do usuário nos
processos de produção,
comunicação e uso de informação;
Identificar e explorar fontes de
informação e avaliar sua qualidade;
Mapear, analisar e melhorar o fluxo
informacional das organizações;
Formular e monitorar indicadores de
avaliação dos serviços, processos e
sistemas de informação;
Elaborar projetos de sistemas de
informação;
Apoiar o processo decisório com
Indagar e entrevistar pessoas;
Ouvir solicitações, reclamações e
sugestões;
Compreender e traduzir as
necessidades informacionais das
pessoas;
Responder às demandas por
informação
Oferecer pronto serviço mesmo não
solicitado;
Fornecer respostas às demandas de
informação;
Orientar, capacitar e monitorar
usuários de informação no processo
de busca, organização e uso de
informação;
Falar em público;
Coordenar e participar de equipes
33
base em informações;
Aplicar técnicas e ferramentas da
qualidade nos processos
informacionais;
Aplicar técnicas de organização e
representação da informação em
todos os suportes e ambientes
informacionais;
Aplicar métodos e instrumentos de
pesquisa em CI;
Usar sistemas informatizados de
gestão da informação;
Planejar e modelar sistemas de
informação e banco de dados,
ponderando questões relativas à
funcionalidade, segurança,
interoperabilidade, acessibilidade e
usabilidade;
Manusear adequadamente os
recursos físicos (computadores e
conectividade) ou as TICs;
Conhecer e manusear fontes de
informação eletrônicas, para efetivar
as demandas requeridas no recurso
digital (linguagem e conteúdo).
multidisciplinares de trabalho;
Comunicar-se com todos os setores
da organização e transitar entre
todos os níveis hierárquicos;
Justificar decisões com base em
informações;
Contribuir com a construção do
conhecimento humano ou
organizacional;
Operar sistemas informacionais;
Elaborar relatórios;
Apontar e sugerir os usos que
poderão ser dados à informação aos
gestores e demais funcionários da
organização.
Fonte: Elaboração própria, com base no PPC do curso em Gestão da informação e na
revisão da literatura (2014).
O Quadro 1, especificamente no campo Habilidades requeridas, reflete o alto
nível das habilidades técnicas exigidas para o uso e gerenciamento do moderno e
sofisticado aparato tecnológico que constitui a infraestrutura de comunicação e
informação das organizações. Essa imposição determina o domínio de habilidades
de mediação entre humanos e tecnologia, conforme aborda Almeida (2010),
mostrando as convergências e diferenças em relação a outras formas de pensar a
conexão tecnologia-cultura.
34
Da mesma forma, as demais literaturas que fundamentaram este estudo
reivindicam um perfil de quase entusiasta em computação para dar conta dessas
atividades, altamente valorizadas economicamente e socialmente, indicando a
especificação de atitudes pessoais, principalmente em relação à predisposição
para aprender e se atualizar. Destaca-se, também, a comunicação falada, escrita ou
gráfica de forma organizada.
Todavia, ao lado das habilidades práticas explicitadas no quadro 1, há
também um crescente reconhecimento de que, para o desempenho de um papel
efetivo nas organizações, o profissional da informação necessitará de atitudes
adequadas de mediação, boas habilidades interpessoais, habilidades de liderança,
entre outras qualidades pessoais.
Figura 2 — Competências atitudinais do Gestor da Informação.
Fonte: Elaborado pelo autor (2014).
Há de se reconhecer também, a necessidade de incorporar um espectro mais
amplo de conhecimento e habilidades no domínio do negócio da organização na
qual atua e diz respeito mais direto ao fortalecimento das atitudes sociais do
35
profissional. Segundo Saracevic e Kantor (1997), o valor da informação deve ser
discutido em relação ao contexto, representado pela intencionalidade em relação a
alguma razão, tarefa, ou problema em questão. Em outras palavras, não é possível
considerar “a mensagem isolada” sem levar em conta a motivação ou
intencionalidade do usuário. “Por isso o valor da informação está relacionado ao
contexto social ou horizonte mais amplo, como cultura, trabalho ou problema em
questão, os quais fornecem as razões para a busca e uso de informação”
(PRESSER; AZEVEDO; MELO, 2013, p.6).
Ademais, desenvolve-se uma visão do ambiente organizacional como um
todo para entender a tramitação de certo fluxo de trabalho e apreender a sequência
de atividades inter-relacionadas ou interativas desenvolvidas dentro de um processo
de trabalho. Estabelecer o fluxo do trabalho, desde a solicitação de informação
inicial, até a entrega do produto final, permitindo uma noção da sequência de
atividades envolvidas, contribui sobremaneira para o processo de gestão da
informação. Gerenciar um processo é monitorar continuamente seu desempenho,
identificando e analisando seus resultados. Saracevic e Kantor (1997) argumentam
que um serviço de informação tem valor contributivo se ele fornece tal informação,
em particular, se a informação fornecida serve para alguma aplicação ou decisão.
Na sua função direta ou indireta de contribuir com a construção do
conhecimento humano ou organizacional, destaca-se, nesta análise, as
considerações de Araújo (1986, p. 12). Segundo ela há de se considerar que
vivemos em um país "pobre em informação" exigindo do profissional de informação
uma mudança de perspectiva que privilegie a dinâmica em oposição à passividade:
[...] não se pode mais esperar pelo usuário da informação, mas deve-se partir ao seu encontro, deve-se conhecê-lo e conhecendo-o delinear o perfil de suas necessidades de informação. Mais além, deve-se procurar identificar as necessidades decorrentes de seu estágio de desenvolvimento no trabalho, para oferecer-lhe as alternativas de informação que tornem possível "queimar" etapas no processo de produção/geração do conhecimento científico e tecnológico.
Embora a autora esteja se referindo ao valor econômico da informação, essa
premissa também é válida em se tratando do seu valor social. Por tudo isso, todas
as competências atitudinais são justificáveis, entretanto, considerando as
observações de Araújo (1986), competências atitudinais empreendedoras são
destacáveis no perfil do profissional da informação. Isso significa buscar conhecer,
36
por antecipação, características dos potenciais usuários de informação, para obter
conteúdo segundo suas preferências e características informacionais.
As atitudes de relacionamento pertencem a uma categoria muito valiosa e
bem requisitada de competências de mediação no meio corporativo pelas grandes
empresas, destacando-se a capacidade de trabalhar com outras pessoas, escutar os
outros, entre outras. As competências atitudinais de relacionamento perpassam
toda a esfera de atuação do profissional da informação. Tome-se como exemplo, a
capacidade de pegar uma informação complexa e saber explicá-la de forma que
qualquer pessoa possa entendê-la. Não importa o quão competente o profissional da
informação seja em determinada tarefa ou área de conhecimento, sempre vai existir
algo que ele não sabe como fazer, mas que outra pessoa sabe. Assim, a habilidade
de trabalhar com outras pessoas é o maior desafio para as profissionais de
informação.
37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo se constitui em uma reflexão e indagação sobre o processo de
mediação do Gestor da Informação e em uma perspectiva prática, identificou as
ações de mediação que devem ser empreendidas por esses profissionais da
informação, bem como as competências atitudinais requeridas, na perspectiva da
apropriação do conhecimento contribuir com a atividade econômica e com o
princípio emancipatório das pessoas.
O processo de mediação em si, não tem início, meio ou fim claramente
definidos. Diz respeito a um conjunto de atividades em que o profissional de
informação não necessariamente procede através de uma série de passos
sistemáticos, mas persegue e conduz a busca à medida que as necessidades
surgem e à medida que se configuram mudanças na sua base de conhecimento dos
usuários de informação. O processo de mediação pode requerer novas
competências do Gestor da Informação, pois pode variar de acordo com o
conhecimento prévio do usuário, seus problemas, seu estado cognitivo, a
disponibilidade de um ambiente informacional adequado e o contexto social.
Considere-se, ainda, que as informações recuperadas podem ou não vir a ser
utilizadas.
Seguramente, uma sessão única de mediação não resolve uma tarefa ou um
problema, pois não fornece aos usuários insight suficiente para alterar suas
estruturas cognitivas quanto à situação problemática. O processo de mediação não
é estático, configura-se e se consolida em um processo dinâmico que se modifica
para incorporar novos conhecimentos, habilidades e atitudes do mediador à medida
que media.
Mesmo que este estudo focou nas atitudes do mediador, as habilidades,
relacionadas ao saber fazer, por exemplo, são inseparáveis da ação, mas exigem
domínio de conhecimentos e emprego de atitudes adequadas à realização da
mediação. Dito de outro modo, os conhecimentos, as habilidades e as atitudes do
mediador são desenvolvidos a partir de determinadas tarefas que, combinadas
formam o processo de mediação de informação.
Sugerem-se outros estudos na esfera de atuação da mediação, entre eles a
continuidade na formação de competências do mediador, a ética e a mediação, entre
38
outros que envolvam recolha de dados junto às organizações de médio a grande
porte, na perspectiva de divulgar e impulsionar o Gestor da Informação dentro das
organizações.
39
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JÚNIOR, O. F. Mediação da Informação e múltiplas linguagens. Pesquisa
Brasileira em Ciência da Informação, Brasília, v. 2, n. 1, p.89-103, dez. 2009.
Disponível em:
<http://www.brapci.ufpr.br/documento.php?dd0=0000007770&dd1=36548>. Acesso
em: 19 nov. 2013.
ALMEIDA, M. Mediações tecnosociais e mundaças culturais na Sociedade da
Informação. Em Questão, Porto Alegre, v. 16, n. 1, p.113-130, jan. 2010. Disponível
em: <http://www.brapci.ufpr.br/documento.php?dd0=0000008952&dd1=a3812>.
Acesso em: 22 out. 2013.
ARARIPE, F. M. A. Bibliotecário - profissional da informação (re)desenhando o perfil
a partir da realidade brasileira: proposta para os países do mercosul. In: Tercer
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