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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE QUÍMICA DE SÃO CARLOS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: QUÍMICA ORGÂNICA E BIOLÓGICA JOSÉ CARLOS QUILLES JUNIOR Planejamento Molecular, Atividade Tripanossomicida e Anticancerígena de Inibidores Covalentes Reversíveis de Cisteíno Proteases TESE DE DOUTORADO SÃO CARLOS, 20 DE MARÇO DE 2019.

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE QUÍMICA DE SÃO CARLOS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: QUÍMICA ORGÂNICA E BIOLÓGICA

JOSÉ CARLOS QUILLES JUNIOR

Planejamento Molecular, Atividade Tripanossomicida e Anticancerígena de

Inibidores Covalentes Reversíveis de Cisteíno Proteases

TESE DE DOUTORADO

SÃO CARLOS, 20 DE MARÇO DE 2019.

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JOSÉ CARLOS QUILLES JUNIOR

Planejamento Molecular, Atividade Tripanossomicida e Anticancerígena de

Inibidores Covalentes Reversíveis de Cisteíno Proteases

Tese apresentada ao Instituto de Química de São Carlos da

Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Doutor em Ciências.

Área de concentração: Química Orgânica e Biológica

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Montanari

SÃO CARLOS, 20 DE MARÇO DE 2019.

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Aos meus pais, que mesmo com a simplicidade e

dificuldade em entender a grandeza do título,

nunca mediram esforços para que eu chegasse até

aqui!

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a DEUS, por ser meu refúgio nos momentos de incerteza e por

me ensinar a aprender intensamente com cada dificuldade, me dando forças para sempre

seguir em frente.

À minha família, meus pais Roseli e José Carlos e meu irmão Matheus. Só nós sabemos

das dificuldades que vocês já passaram para eu chegar onde estou hoje. Cada conquista da

minha vida é dedicada a vocês, que nunca deixaram de me apoiar durante essa longa

caminhada em busca do meu maior sonho. Obrigado por, acima de tudo, me ensinarem os

valores humanos sobre respeito e dignidade, me incentivando sempre a buscar um futuro

melhor, não importando quantos quilômetros poderiam existir entre nós. Que um dia eu seja

capaz de retribuir tudo o que vocês fizeram e significam pra mim, pois eu sei que mesmo com

a distância, eu sempre tenho pra onde voltar.

Ao Prof. Carlos Alberto Montanari, por me aceitar no grupo NEQUIMED e ter

depositado confiança no meu trabalho. Com certeza, a experiência de trabalhar com um dos

mais renomados pesquisadores em química medicinal no Brasil foi essencial para meu

amadurecimento profissional.

Ao Prof. Andrei Leitão, por todas as lições científicas e pessoais compartilhadas. Cheguei

ao grupo sem nunca ter visto uma célula no microscópio, vindo de uma área completamente

diferente durante o mestrado e esforços nunca foram medidos da sua parte, para que eu

pudesse evoluir sempre. Sou extremamente grato pela confiança depositada em mim, tendo

você como exemplo de pesquisador.

Ao meu casal favorito, meus amigos de laboratório, de festas, de tusca e meus afilhados

de casamento, Murillo e Camila. Crescemos e vivemos muito juntos e esses momentos foram

e serão únicos em nossas vidas! Tenho certeza que seguiremos juntos, onde quer que o

futuro nos leve, pois a distância não é nada perto da amizade que construímos.

Ao meu amigo nerd leitor de quadrinhos de super-heróis preferido, Pedro Jataí (quantas

vezes não zoei esse sobrenome, hein?!). Saiba que aprendi muito com você, a cada conversa

e a cada risada em cada almoço. Preciso dizer que admiro de mais seu jeito de ser e de ver a

vida, e que a cada desabafo que fazia com você, sentia o calor do abraço de um amigo,

mesmo que longe. É nóis que voa Pedroka, e ainda vamos voar longe!

À minha amiga de labuta diária, Daiane Tezuka, por, além me ensinar toda a base sobre

os ensaios biológicos, se tornou uma amiga pra vida. Que possamos seguir a vida

compartilhando nossas dificuldades e alegrias, mesmo que em caminhos diferentes. Conte

sempre comigo Dai!

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Aos demais membros e ex-membros do NEQUIMED: Fabiana Rosini, Elisa Castañeda,

Lucas Trevelin, Fernanda Ribeiro, Daniela de Vita, Samelyn Martins, Monique Souza, Talita

Avarenga, Lorenzo Cianni e Thiago Kelvin. Agradeço também a Dra. Carla Duque e ao Prof.

Sérgio de Albuquerque da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto pelo

suporte com os estudos de infecção e invasão.

Ao desafio pessoal e profissional de viver um ano no exterior. Com certeza, foram

vividos momentos únicos que contribuíram imensamente para meu desenvolvimento como

pesquisador e pessoa. Durante minha estadia em Nottingham, UK, conheci pessoas

maravilhosas que, com certeza, levarei para sempre: Raphael Morales, Andrea Sabatini,

Juliana Akinaga, Viviane Mignone, Júlia Monteiro e Ana Luíza. Agradeço também à Profª Maria

Augusta Arruda, por todo apoio durante a realização do estágio no exterior, principalmente

com todas as burocracias.

À Profª Tracey Bradshaw, por toda orientação, aprendizado e amizade durante minha

estadia na Faculdade de Farmácia da Universidade de Nottingham. Com certeza, um exemplo

de ser humano, gentileza, profissionalismo e sempre disposta em me ajudar em todos os

momentos, profissionais ou pessoais. Aprendi muito com você, e que um dia possamos ter a

oportunidade de trabalhar juntos novamente. Aos amigos do Lab C62 do Centre for

Biomolecular Sciences: Kaouthar Bouzinad, Alastair Breen, Haneen Abuzaid, Mohammed e

Roukee. Ao meu best British friend Gareth Daniel por ser tão solícito em me ajudar em todos

os momentos e por me apresentar bons restaurantes em Nottingham, pelas caronas e por me

convencer de que comida vegetariana não é tão ruim assim, mesmo eu preferindo carne.

Ao Luan Leite, um ursinho que apareceu na minha vida quando eu menos esperava e

mudou tudo pra melhor. Obrigado por me apoiar, por estar ao meu lado e por ser tão

especial. Compartilhar momentos e a vida com você tem sido incrível, e espero que tenhamos

a oportunidade de seguir o futuro juntos.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio

financeiro durante os 36 meses de execução do projeto no Brasil (2014/07292-0).

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte

financeiro durante os 12 meses de estágio no exterior dentro do projeto Drug Discovery em

parceria com a School of Pharmacy – University of Nottingham.

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“Um dançarino é louco aos olhos dos que não

conseguem ouvir sua música”

The Alienist – Caleb Carr

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RESUMO

A atividade de cisteíno proteases (CP) tem sido relacionada a diferentes doenças, como

no caso da leishmaniose, doença de Chagas e alguns tipos de câncer. Devido a similaridade

entre as CP presentes em altos níveis nessas células, foi investigada aqui a importância dessas

enzimas para o estabelecimento e desenvolvimento dessas doenças a partir da atividade

biológica in vitro de novas dipeptidil nitrilas inibidoras reversíveis de CP. De maneira geral, as

substâncias apresentaram atividade inibitória de CP nos distintos ensaios, com máximo de

inibição de 42 % para CP expressas por Leishmania spp. e 76 % em relação a atividade de CP

expressas por células de câncer de pâncreas. A atividade citostática foi observada para todos

os tipos celulares após a inibição da atividade de CP. Quando testados em Leishmania spp. o

crescimento celular foi suprimido em pelo menos 67 %, com máximo de inibição de 95% para

o Neq0551 a 10 µM. Em células de câncer de pâncreas, alterações no ciclo celular e supressão

dos processos de migração e formação de colônias foram os resultados mais evidentes, com

redução da formação de colônias das células MiaPaca-2 em 50 % pelo Neq0554 a 10 µM. Já

em relação aos protozoários da cepa Y de Trypanosoma cruzi, os inibidores testados

apresentaram interessante seletividade contra os parasitos em relação à célula hospedeira

LLC-MK2, além de promoverem a supressão de 80% do processo de invasão celular in vitro

quando a célula hospedeira foi previamente tratada com 10 µM do inibidor Neq0662 por 2 h

antes do processo de infecção. Por fim, a encapsulação do Neq0554 em apoferritina

promoveu um incremento na atividade antineoplásica para células de câncer de pâncreas

(IC50 = 79 µM), com aumento da seletividade em relação às células de fibroblasto. De maneira

geral, os resultados corroboram a hipótese da inibição de CP nos sistemas celulares é

eficiente para promover efeitos citostáticos. Além disso, a atividade de CP nas células de

protozoários e câncer de pâncreas apresentou perfil semelhante de ação, nos quais os

inibidores não promoveram a morte em nível significativo das células, mas ressaltaram os

efeitos citostáticos em relação ao crescimento celular.

Palavras chaves: CP, leishmaniose, doença de Chagas, câncer de pâncreas, química

medicinal.

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ABSTRACT

Cysteine proteases (CP) activity has been related to different pathologies, such as

leishmaniasis, Chagas disease and some types of cancer. Due to the homology between

cysteine proteases expressed by these cellular systems, it was investigated here the

importance of these enzymes for the development and establishment of these diseases based

on the in vitro biological activity of novel reversible cysteine protease inhibitors. In general,

inhibitors had a significant inhibitory activity of cysteine proteases in all assays, with a

maximum inhibition of 42 % for Neq0554 concerning the CP activity expressed by Leishmania

spp. and 76 % to CP activity expressed by pancreatic cancer cells. Different profiles of

biological activity were observed between the cellular systems, but all substances had

significant CP activity suppression, in cytostatic levels after the inhibition of CPA. When the

inhibitors were tested against Leishmania spp., the cell growth was suppressed by at least 67

%, with maximum inhibition of 95% for Neq0551 at 10 μM. Similarly in pancreatic cancer cells,

changes in the cell cycle profile were the most evident results, as well as the suppression of

migration and colony formation ability, with 50 % retention of the colony development of

MiaPaCa-2 cells by Neq0554 at 10 μM. In contrast, to protozoa from Trypanosoma cruzi Y

strain, the inhibitors tested showed an interesting selectivity against the parasites concerning

the host cell LLC-MK2, also promoting the in vitro cell invasion suppression in about 80%

when the host cell was pre-treated with Neq0662 10 μM for 2 h. Finally, the encapsulation of

Neq0554 promoted an increase in its anticancer activity against pancreatic cancer cells, with

IC50 of 79 μM alongside > 200 μM to fibroblast cells, besides increasing its selectivity. In

general, the results corroborate the hypothesis that the inhibition of cysteine proteases in the

cellular systems is efficient to promote cytostatic effects, being an interesting tool to be used

as control and development suppression of some pathologies. Also, CP activity in protozoa

cells and pancreatic cancer showed a similar profile of action, in which cysteine protease

inhibitors did not promote death at a significant level for the cells, but emphasized cytostatic

effects about cell growth.

Key words: cysteine proteases, leishmaniosis, Chagas disease, pancreatic cancer,

medicinal chemistry.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Interação do sítio catalítico das proteases com o substrato durante a hidrólise da

ligação peptídica. ........................................................................................................................... 23

Figura 2. Mecanismo catalítico de CP na hidrólise de ligações peptídicas. ................................ 24

Figura 3. Representação esquemática do sítio ativo e de interação das CP com o substrato. . 25

Figura 4. Mecaniso geral de ativação de proteases. Proteases geralmente são expressas como

um zimogênio inativo e são ativadas por diversos mecanismos, incluindo modificações pós-

translacionais (MPT), ligação de um cofator, mudanças de pH e remoção do prédomínio. .... 26

Figura 5. Mecanismo geral de inibição covalente de cisteíno proteases por dipeptidil

nitrilas.........................................................................................................................................28

Figura 6. Arcabouço químico das dipeptidil nitrilas estudadas como inibidores covalentes

reversíveis de cisteíno proteases. ................................................................................................. 29

Figura 7. Status de endemicidade mundial da leishmaniose visceral. ........................................ 31

Figura 8. Ciclo de vida dos protozoários do gênero Leishmania spp. ......................................... 33

Figura 9. Atividade leishmanicida dos inibidores reversíveis de CP. A viabilidade celular foi

verificada pelo método colorimétrico MTT após 72 h de incubação com os inibidores a 100

µM. ................................................................................................................................................. 40

Figura 10. Cronograma de incubação e execução dos experimentos (A). Durante 96 h o

crescimento da forma promastigota dos protozoários L. amazonensis e L. infantum foi

investigado na presença dos inibidores a 10 µM (B). Após 96 h, os parasitos L. infantum

(barras azuis escuras) e L. amazonensis (barras azuis claras) foram centrifugados e incubados

em meio de cultura sem os inibidores por 48 h (C). Os experimentos foram realizados em

triplicada e a análise estatística pelo teste de Dunnett foi realizada comparando as amostras

com o controle negativo de cada espécie considerando valores de P < 0.05. .......................... 43

Figura 11. Análise do perfil ciclo celular por citometria de fluxo (A) e histograma (B) de

promastigotas de L. infantum incubadas por 72 h com 10 µM dos diferentes inibidores. Como

controle positivo foi utilizado o inibidor irreversível de CP E-64. Resultados obtidos a partir de

experimento em triplicata, com desvio padrão menor do que 8% para todas as análises. ...... 45

Figura 12. Padronização da relação entre o número de protozoários e a unidade de

fluorescência relativa (UFR) da forma promastigota dos protozoários L. infantum e L.

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amazonensis incubados com o substrato fluorogênico Z-FR-MCA a 10 e 20 µM por 3 h (A). Em

seguida, a viabilidade celular e atividade proteolítica da forma promastigota do protozoário L.

amazonensis foi avaliada após incubação por 24 h com diferentes concentrações do inibidor

covalente irreversível E-64 (B). Para confirmar a seletividade do substrato referente à

atividade de CP, a inibição da atividade proteolítica de promastigotas de L. amazonensis foi

realizada utilizando inibidores seletivos para cada classe enzimática: (MMTS) cisteíno, (PMSF)

serino e (EDTA) metalo proteases na concentração de 250 µM. Como controle foi utilizado o

coquetel de inibição de protease comercial (C). O teste de Tukey de comparação de médias

foi realizado com valores de p < 0,05. .......................................................................................... 47

Figura 13. Atividade proteolítica do extrato enzimático obtido a partir da lise celular de

promastigotas de L. amazonensis e L. infantum incubados com os inibidores de CP. Análise

estatística foi realizada comparando a média de cada tratamento com o controle para cada

espécie de Leishmania, considerando p < 0,05. MMTS foi utilizado como controle positivo de

inibição da atividade proteolítica total. ........................................................................................ 51

Figura 14. Ciclo de vida do protozoário Trypanosoma cruzi. ...................................................... 55

Figura 15. Mecanismo de ação proposto para os fármacos Benzonidazol e Nifurtimox para o

tratamento da doença de Chagas................................................................................................. 56

Figura 16. Viabilidade celular da célula hospedeira LLC-MK2 e da forma tripomastigota de T.

cruzi cepla Y incubada por 24 h com os inibidores a 10 µM (A). O teste t não pareado foi

realizado para verificar a diferença significativa entre a seletividade para hospedar e as células

parasitos com valores de P <0,05. Também foram realizadas comparações múltiplas pelo

teste de Dunnet entre a atividade biológica de dos inibidores de CP e o fármaco de referência

benzonidazol contra tripomastigotas da cepa Y de Trypanosoma cruzi, com base em valores

de P <0,05

(B)...............................................................................................................................................66

Figura 17: Supressão da infecção in vitro pela cepa tripomastigota de T. cruzi em células

LLCMK-2 é promovida pelos inibidores da cruzipaína sob tratamento diferenciado: célula

hospedeira previamente tratada com os inibidores por 2 h (barras azuis); tripomastigota pré-

tratado por 2 h com os inibidores (barras verdes) e infecção parasitária na presença de IPC

(barras púrpuras) (A). Estrutura química dos inibidores de cruzipaína mais potentes para o

ensaio de invasão (B). .................................................................................................................... 71

Figura 18. Processo geral de formação de metástase por células cancerosas. ......................... 74

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Figura 19. Os inibidores de CP não apresentam atividade citotóxica para a linhagem

metastática de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 e em fibroblastos Balb/C 3T3 clone A-31. ...... 82

Figura 20. Atividade relativa do extrato celular a partir da conversão do substrato seletivo

para CP (Z-FR-MCA) utilizando inibidores específicos para cada classe enzimática: (PMSF)

serino, (MMTS) cisteíno e (EDTA) metalo proteases na concentração de 250 µM (A).

Estruturas químicas dos inibidores padrões utilizados no ensaio de padronização (B) e do

substrato Z-FR-MCA (C). ................................................................................................................ 83

Figura 21. Número de colônias (A), área total (B) e diâmetro (C) das colônias formadas pelas

células MiaPaCa-2 após 72 h de incubação com os inibidores. As imagens dos dois melhores

inibidores são mostradas na figura (D). O ensaio de migração celular foi realizado a partir da

contagem do número de células capazes de migrarem fisicamente pelo inserto, comparado

com o controle sem tratamento (E). Análise estatística foi baseada no teste de comparações

múltiplas com o controle, considerando p < 0,05. ...................................................................... 87

Figura 22. Análise do ciclo celular por citometria de fluxo das células de câncer de pâncreas

MiaPaCa-2 incubadas com inibidores a 10 µM por 24 h. Os resultados foram obtidos a partir

de experimento em duplicata e análise de significância foi realizada com p < 0,05 em relação

ao controle. .................................................................................................................................... 89

Figura 23. Análise do crescimento celular dos esferoides de células MiaPaCa-2 incubadas com

Neq0551 e Neq0554 a 100 µM. A imagem dos esferoides ao final do experimento é

apresentada para cada condição experimental. O ensaio foi realizado em quadruplicado com

desvio padrão apresentado. Experimento realizado pelo Mestre Murillo Dorilleo Leite

Bernardi. ......................................................................................................................................... 90

Figura 24. Análise da terapia combinada dos ICP a 10 µM e gencitabina a 200 nM em

diferentes condições. (A) Tratamento para células de câncer de pâncreas da linhagem

MiaPaCa-2 com os inibidores de CP combinados com gencitabina por 24, 48 e 72 h. (B)

Células pré-tratadas com os inibidores 24 h antes do tratamento com gencitabina por 48 h.

(C) Índice de combinação das razões entre os inibidores e gencitabina por 72 h. Análise de

significância foi realizada, considerando p > 0,05. ...................................................................... 93

Figura 25. Diferentes nanopartículas utilizadas como carreador de fármacos e seus

respectivos tamanhos. .................................................................................................................. 98

Figura 26. Estrutura da ferritina humana. .................................................................................... 99

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Figura 27. Encapsulação das substâncias em AFt por difusão (A). Eletroforese não

desnaturante da AFt e das nanoformulações (B). Análise da integridade da estrutura da

molécula de AFt por DLS (C). Liberação in vitro das substâncias encapsuladas em ambiente

ácido (pH 5.5) e fisiológico (pH 7.4) a 37°C (D). ......................................................................... 106

Figura 28. Análise da expressão do receptor de transferrina (TfR1) pelas linhagens MRC-5,

MiaPaCa-2 e HCT-116 (A). Como controle da concentração proteica, a expressão da proteína

GAPDH foi analisada em condições normais de cultivo celular. Concentração resposta do

Neq0554 livre (curvas vermelhas) e da nanoformulação Neq0554-AFt (curvas azuis) testados

nas linhagens de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 (B), HCT-116 (C) e fibroblasto humano MRC-5

(D). ................................................................................................................................................ 109

Figura 29. Histograma do perfil do ciclo celular analisado por citometria de fluxo das células

de HCT-116 incubadas com o Neq0554 e Neq0554-AFt por 48 h a 10 e 100 µM (A) e

representação gráfica dos resultados para as linhagens HCT-116 e MiaPaCa-2 (B). .............. 110

Figura 30. Número de colônias das linhagens HCT-116 e MiaPaCa-2 (A) obtidas após 24 h de

incubação com o Neq0554 livre e encapsulado a 100 µM (B). ................................................. 112

Figura 31. Inibição da atividade de catepsina L em linhagens de HCT-116 (A) MiaPaCa-2 (B)

incubadas por 12 h com diferentes concentrações de Neq0554 (linhas azuis) e a

nanoformulação Neq0554-AFf (linhas verdes). Inibição da atividade de catepsina L na

concentração de 50 µM para o Neq0554 livre e encapsulado incubados por 12 h com HCT-116

(C) e MiaPaCa-2 (D). As imagens foram obtidas por microscopia confocal, analisando a

intensidade da conversão por célula do substrato fluorescente Magic-Red, marcada com

DAPI. Como controle, foram utilizadas as células sem tratamento, somente com meio de

cultura (linhas vermelhas). O uso da apoferritina sem inibidores não interferiu na atividade

enzimática e foi aplicado como controle do carreador (dados não apresentados). ............... 114

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Espécies do gênero Leishmania spp. responsáveis por diferentes formas clínicas de

Leishmaniose. ................................................................................................................................ 32

Tabela 2. Estrutura química dos inibidores estudados e radicais substituintes em cada posição.

Inibição do crescimento (IC) e da atividade proteolítica (IAP) do extrato enzimático obtido a

partir da lise de promastigotas de L. amazonensis e L. infantum incubados com diferentes

compostos a 100 µM. .................................................................................................................... 49

Tabela 3. Inibição relativa (%) da atividade proteolítica (IAP) baseado na hidrólise do substrato

fluorescente seletivo para CP Z-FR-MCA utilizando a morfologia amastigota (intacta), e lisados

celulares de epimastigota e tripomastigota de Trypanosoma cruzi. .......................................... 63

Tabela 4. Índice citotóxico contra a célula hospedeira isolada (EC50 para LLC-MK2) e as cepas

intracelulares Tulahuen e Y de T. cruzi (IC50). O índice de seletividade (IS) é mostrado como a

relação EC50 / IC50. ......................................................................................................................... 68

Tabela 5. Inibição da atividade proteolítica (ICP) do extrato enzimático obtido a partir da lise

celular e estrutura química dos inibidores. Os resultados foram obtidos a partir de

experimentos com N = 4 e DP > 10%. .......................................................................................... 85

Tabela 6. Parâmetros de encapsulação dos inibidores de CP no interior das moléculas de

apoferritina, rendimento de encapsulação (RE) e caracterização do potencial zeta (E0) dos

sistemas encapsulados. Os ensaios foram realizados em triplicata, com erro < 0,5 para os

ensaios de potencial zeta, considerando E0 = -8,60 para apoferritina sem inibidor. .............. 104

Tabela 7. Atividade biológica antes e após encapsulação em AFt dos inibidores de CP em

relação ao crescimento celular das linhagens de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 e colo retal

HCT-116. Fibroblasto humano MRC-5 foram utilizados como controle de citotoxicidade e

seletividade. Os valores de IC50 (µM) foram obtidos a partir da incubação das substâncias por

72 h e determinado pelo ensaio colorimétrico MTT. ................................................................ 108

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

AFt – apoferritina

AP – aspartato proteases

CP – cisteíno protease

CPA – cisteíno protease do tipo A

CPB – cisteíno protease do tipo B

CPC – cisteíno protease do tipo C

CTSB – catepsina B

CTSL – catepsina L

DMSO – dimetil sulfóxido

EC50 – atividade citotóxica

EDL – espalhamento dinâmico de luz

FBS – Soro fetal bovino

IAP – inibição da atividade proteolítica

IC50 – inibição do crescimento em 50%

INCA – Instituto Nacional do Câncer

IS – índice de seletividade

L. – Leishmania

MP – metalo protease

MTT – brometo de 3- (4,5-dimetiltiazol-2-il) -2,5-ipheniltetrazólio)

Neq – abreviação do código NEQUIMED para as substâncias estudadas

PBS – Tampão fosfato salino

PMS – metossulfato de fenazina

SP – serino protease

T. cruzi – Trypanosoma cruzi

TP – treonino proteases

Z-FR-MCA – carbobenzoxicarbonil-Phe-Arg-7-amido-4-metilcoumarina

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - Introdução e Revisão Bibliográfica .................................................... 19

1.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 20

1.2. OBJETIVO GERAL ............................................................................................................. 21

1.3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA GERAL ...................................................................................... 21

1.3.1. A Química Medicinal e o descobrimento de fármacos .............................................. 21

1.3.2. Cisteíno Proteases (CP) ................................................................................................ 22

1.3.3. Cisteíno proteases como alvo terapêutico ................................................................. 25

1.3.4. Inibidores de cisteíno proteases .................................................................................. 27

CAPÍTULO 2 - Inibição da atividade de CP e efeitos biológicos em

protozoários do gênero Leishmania. ............................................................................ 30

2.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 31

2.1.1. Leishmaniose no contexto global ................................................................................ 31

2.1.2. Ciclo de vida e tratamento .......................................................................................... 32

2.1.3. CP do tipo B – CPB ....................................................................................................... 34

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................. 35

2.3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 36

2.3.1. Protozoários ................................................................................................................. 36

2.3.2. Atividade leishmanicida ............................................................................................... 36

2.3.2.1. Método colorimétrico – MTT ................................................................................... 36

2.3.2.2. Densidade celular por citometria de fluxo ............................................................... 37

2.3.3. Ciclo celular .................................................................................................................. 37

2.3.4. Atividade proteolítica de Leishmania spp. ................................................................. 37

2.3.4.1. Atividade proteolítica em promastigotas ................................................................ 37

2.3.4.2. Atividade proteolítica em lisados celulares ............................................................. 38

2.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 39

2.4.1. Efeito citotóxico contra a forma promastigota .......................................................... 39

2.4.2. Efeito citostático : inibição do crescimento parasitário e ciclo celular ..................... 40

2.4.3. Avaliação da inibição da atividade proteolítica nas células parasitárias ................. 45

2.5.CONCLUSÕES PARCIAIS .................................................................................................... 51

CAPÍTULO 3 - Importância da atividade de cisteíno proteases durante a

infecção in vitro de protozoários Trypanosoma cruzi. ............................................ 53

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16

3.1.REVISÃO BIBLIOGRAFICA .................................................................................................. 54

3.1.1.A Doença de Chagas e alternativas terapêuticas........................................................ 54

3.1.2. Cruzipaína como alvo terapêutico. ............................................................................. 56

3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................... 57

3.3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 58

3.3.1. Trypanosoma cruzi ...................................................................................................... 58

3.3.2. Células LLC-MK2 ........................................................................................................... 58

3.3.3. Atividade tripanossomicida ......................................................................................... 58

3.3.3.1. Método colorimétrico – MTT ................................................................................... 58

3.3.3.2. Densidade celular por citometria de fluxo ............................................................... 59

3.3.4. Atividade proteolítica .................................................................................................. 59

3.3.4.1. Atividade em amastigota extracelular .................................................................... 59

3.3.5. Avaliação da atividade tripanossomicida em amastigota intracelular ..................... 60

3.3.5.1. Cepa Tulahuen .......................................................................................................... 60

3.3.5.2. Cepa Y ........................................................................................................................ 60

3.3.6. Ensaios de invasão e índice de internalização ............................................................ 61

3.4.RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................. 61

3.4.1. Avaliação da inibição da atividade proteolítica ......................................................... 61

3.4.2. Avaliação da seletividade dos inibidores .................................................................... 64

3.4.3. Inibição do crescimento de amastigotas intracelulares ............................................ 66

3.4.4. Avaliação da supressão da invasão in vitro dos protozoários pelos inibidores ........ 69

3.5. CONCLUSÕES PARCIAIS ................................................................................................... 72

CAPÍTULO 4 Atividade Antineoplásica de inibidores de cisteíno proteaseas na

linhagem celular de câncer de pâncreas MiaPaCa-2. ............................................. 73

4.1. REVISÃO BIBLIOGRAFICA ................................................................................................. 74

4.1.1. Câncer e Metástase ..................................................................................................... 74

4.1.2. Câncer de Pâncreas e Catepsina L .............................................................................. 75

4.1.3. Terapia combinada como alternativa terapêutica .................................................... 76

4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................. 77

4.3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 78

4.3.1. Cultura Celular ............................................................................................................. 78

4.3.2. Viabilidade Celular ....................................................................................................... 78

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17

4.3.3. Inibição da atividade de cisteíno protease ................................................................. 78

4.3.4. Crescimento celular ..................................................................................................... 79

4.3.5. Análise do ciclo celular ................................................................................................ 79

4.3.6. Ensaios citostáticos: migração celular e formação de colônias ................................ 79

4.3.7. Ensaios de terapia combinada com gencitabina ....................................................... 80

4.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 81

4.4.1. Atividade anticangerígena de inibidores de CP .......................................................... 81

4.4.2. Inibição da atividade intracelular de CP expressas por MiaPaCa-2 .......................... 82

4.4.3. Estudo citostático: ensaio clonogênico e migração celular ....................................... 85

4.4.4. Análise do ciclo celular ................................................................................................ 88

4.4.5. Avaliação em modelo 3D de cultura celular ............................................................... 89

4.4.6. Terapia combinada com gencitabina ......................................................................... 91

4.5. CONCLUSÕES PARCIAIS ................................................................................................... 94

CAPÍTULO 5 - Encapsulação de substâncias bioativas com potencial

anticancerígeno em apoferritina para o tratamento de câncer. .......................... 95

5.1. REVISÃO BIBLIOGRAFICA ................................................................................................. 96

5.1.1. Importância da catepsina L para o câncer colo retal de pâncreas ........................... 96

5.1.2. Sistema de entrega de fármacos (SEF) ....................................................................... 97

5.1.3. Apoferritina como carreador molecular ..................................................................... 98

5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................ 100

5.3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 100

5.3.1. Encapsulação das substâncias .................................................................................. 100

5.3.2. Caracterização das nanoformulações (inibidores encapsulados) ........................... 101

5.3.3. Determinação da taxa de liberação in vitro das substâncias encapsuladas .......... 101

5.3.4. Avaliação da atividade biológica das substâncias encapsuladas ............................ 102

5.3.5. Análise da expressão do TfR-1 por Western blot (WB) ............................................ 102

5.3.6. Quantificação da atividade in vitro de catepsina L .................................................. 102

5.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 103

5.4.1. Encapsulação e caracterização das nanoformulações. ........................................... 103

5.4.2. Avaliação da atividade antineoplásica das substâncias encapsuladas .................. 106

5.4.3. Análise da supressão do crescimento celular ........................................................... 109

5.4.4. Inibição in vitro da catepsina L em células cancerosas ............................................ 112

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18

5.5. CONCLUSÕES PARCIAIS ................................................................................................. 115

CAPÍTULO 6 - Conclusão Geral .................................................................................... 117

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 118

ANEXO I ................................................................................................................................... 135

ANEXO II .................................................................................................................................. 144

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19

CAPÍTULO 1

Introdução e

Revisão Bibliográfica

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20

1.1. INTRODUÇÃO

A necessidade de descoberta e desenvolvimento de novas substâncias bioativas com

potencial para conter a progressão e resistência de doenças aos tratamentos existentes

justifica a busca por novas alternativas terapêuticas. Atualmente, a Doença de Chagas e a

Leishmaniose são duas principais parasitoses presentes no Brasil, infectando cerca de um

milhão de pessoas anualmente. Apesar de muito tempo relatadas, poucos são os tratamentos

existentes e nenhum deles apresenta eficácia para todas as fases das doenças. Estudos vêm

sendo desenvolvidos com o foco no controle e cura das parasitoses, sendo que CP são alvos

promissores para o desenvolvimento de novos candidatos a fármacos devido às suas funções

essenciais durante processo de infecção e o ciclo de vida dos protozoários. Deste modo,

dipeptidil nitrilas inibidoras covalentes reversíveis de CP têm sido estudadas no grupo de

pesquisa NEQUIMED.

Essas enzimas são análogas àquelas expressas por diversos organismos, dentre elas as

cisteíno catepsinas humanas, que têm sido reportadas como importantes em alguns tipos de

câncer, como no câncer de pâncreas. Esse tipo de neoplasia apresenta grande potencial

metastático, além de difícil diagnóstico no início do desenvolvimento tumoral, evidenciando o

alto índice de mortalidade entre os pacientes. Além dessas características patológicas,

limitações em relação às terapias existentes também tornam necessária a busca por

tratamentos mais eficazes e seletivos.

Entretanto, uma das maiores barreiras durante o processo de descoberta de um

fármaco é a baixa seletividade, o que pode resultar em severos efeitos colaterais. Sistemas

baseados no processo de encapsulação e entrega de fármacos têm sido amplamente

explorados para contornar esse problema, aumentando a eficiência e seletividade de

substâncias bioativas no tratamento de diversas doenças, como o câncer. Baseado nessas

informações, a busca por novas substâncias com potencial biológico e nanoformulações que

podem aumentar a potência ou seletividade de inibidores de CP foram explorados nesse

trabalho.

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21

1.2. OBJETIVO GERAL

O trabalho foi baseado na hipótese de que a inibição de cisteíno proteases presentes

em diferentes tipos celulares pode ser caracterizada como alternativa para o tratamento de

doenças parasitárias e neoplasia. Novas dipeptidil nitrilas, planejadas e sintetizadas pelo

grupo NEQUIMED, foram aplicadas como inibidores covalentes reversíveis de cisteíno

proteases com o intuito de avaliar a atividade biológica frente aos distintos tipos celulares,

bem como a avaliação da supressão da atividade das cisteíno proteases expressas por essas

células.

1.3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA GERAL

1.3.1. A Química Medicinal e o descobrimento de fármacos

As modificações químicas de pequenas moléculas e sua avaliação em sistemas

biológicos deram início ao nascimento da química medicinal no século 19. Além disso,

estudos de receptores biológicos e especificidade de enzimas também fazem parte do marco

da multidisciplinariedade que a deu origem [1]. Como ideia principal, a química medicinal

abrange a concepção da criação e modificação de substâncias que podem apresentar efeito

biológico no tratamento, prevenção ou cura de doenças [2]. Desde então, a pesquisa e

desenvolvimento de novos fármacos contam com o importante papel da química medicinal

nesse processo, que utiliza técnicas e conhecimento de diferentes áreas tendo como raízes a

química e a biologia [1].

O desenvolvimento e descoberta de um novo fármaco se iniciam a partir da

necessidade de substâncias bioativas adequadas para tratar ou conter determinada doença,

seja nova ou já existente, mas ainda com tratamentos ineficazes [3]. Nesse sentido, a química

medicinal agrega diversas áreas do conhecimento para a descoberta e desenvolvimento de

novas substâncias. Além disto, a incorporação de novas tecnologias para a otimização de

propriedades físico-químicas problemáticas em novas substâncias bioativas levou a

introdução de novos tipos de formulações (especialmente advindas da nanotecnologia) de

carreamento de fármacos.

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22

O processo de identificação e validação de um alvo molecular é uma etapa que precede

a descoberta e desenvolvimento de um fármaco [4]. Um alvo é tido como uma

macromolécula que possui um sítio de interação com a substância bioativa, no qual essa

interação promove efeitos terapêuticos para a doença [5]. Assim, a estrutura e propriedades

da macromolécula alvo devem ser conhecidas a fim de obter um reconhecimento específico

entre a substância e o alvo molecular [5, 6].

Algumas classes de macromoléculas são identificadas por meio da formação de

interações com substâncias químicas, dentre elas proteínas, polissacarídeos, ácidos nucleicos

e lipídeos, dentre os quais as proteínas são os principais alvos na busca por substâncias com

potencial biológico [8]. Porém, devido ao papel de muitas proteínas na regulação de

sinalizações celulares, além da identificação de semelhança entre proteínas de diferentes

tecidos e organismos, torna-se ainda mais importante a seletividade da substância candidata

a fármaco em relação ao seu alvo macromolecular.

1.3.2. Cisteíno Proteases (CP)

Proteínas estão entre os polímeros biológicos mais estáveis estruturalmente, podendo

resistir a altas temperaturas ou severas condições de pH, porém, estas podem ser degradadas

por proteases específicas. A descoberta da tripsina por Corvisart em 1856 foi um dos marcos

no estudo de proteólise e, desde então, proteases têm sido estudadas e relacionadas a

diversos processos biológicos [9]. Devido à sua evolução, as proteases têm se adaptado a

diferentes condições nos diversos organismos que estão presentes, como variações de pH,

ambiente redutor entre outros [10]. A atividade proteolítica pode ser regulada de diversas

maneiras, como a compartimentalização na célula ou expressão seletiva em determinados

tecidos, controle do pH ou ativação por reguladores, dependendo do tipo de protease e da

via celular que a mesma participa [11].

Peptidase é a classificação dada pela União Internacional de Bioquímica e Biologia

Molecular (IUBMB) para todas as enzimas proteolíticas [12] que têm como função básica a

hidrólise de ligações peptídicas entre aminoácidos em peptídeos ou proteínas [13]. Os

principais critérios de classificação bioquímica das peptidases são baseados no tipo de reação

catalisada, na composição do sítio catalítico e na relação estrutural evolutiva [14]. A grande

família de proteases é classificada de acordo com o sítio de clivagem da ligação peptídica na

estrutura do substrato. Quando a clivagem ocorre no interior da estrutura peptídica, a

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23

protease é denominada endopeptidase, enquanto que se a quebra da ligação peptídica

ocorre nas extremidades, denomina-se exopeptidases [15].

Em relação ao mecanismo catalítico, as proteases são divididas como aspartato

proteases (AP), serino proteases (SP), treonino proteases (TP), metalo proteases (MP) e CP

(CP) [16]. Do ponto de vista catalítico, as proteases formam ligação covalente com o substrato

durante a hidrólise da ligação peptídica em alguns casos (Figura 1). MP e AP não participam

covalentemente da catálise, mas promovem a hidrólise da ligação peptídica a partir do

mecanismo ácido-base. Em contraste, as SP, TP e CP participam ativamente da reação

catalítica, no qual os resíduos dos amino ácidos que são responsáveis por efetuar o ataque

nucleofílico dão origem a sua classificação [9]. Todas as proteases, assim como as enzimas de

maneira geral, promovem a redução da energia necessária para alcançar o estado de

transição, aumentando a velocidade da reação. Esse estado de transição leva a um

intermediário tetraédrico, que é um precursor da clivagem da ligação peptídica em todas as

proteases.

Figura 1. Interação do sítio catalítico das proteases com o substrato durante a hidrólise

da ligação peptídica.

FONTE: adaptado de DRAG & SALVESEN, 2010 [9].

O mecanismo de catálise geral de CP se inicia a partir da formação do par iônio entre os

resíduos de histidina e a cisteíno, formando a díade catalítica como os grupos tiolato e

imidazol (Figura 2). O tiolato atua como nucleófilo, efetuando o ataque nucleofílico ao

carbono deficiente em elétrons presente no substrato, formando o primeiro intermediário

tetraédrico. Essa espécie é caracterizada pela ligação covalente com o resíduo de cisteíno

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24

presente no sítio ativo da enzima, responsável por estabilizar o estado de transição. A partir

do rearranjo de elétrons e posterior quebra de ligação, a porção amino da cadeia peptídica é

liberada e um segundo intermediário acil é formado. Na próxima etapa, a água atua como

nucleófilo, atacando o carbono da ligação tiol, liberando a porção ácida do peptídeo e

regenerando a enzima [17].

Figura 2. Mecanismo catalítico de CP na hidrólise de ligações peptídicas.

FONTE: adaptado de FRICKER, et al., 2010 [17].

Além do sítio de interação responsável pela atividade catalítica das CP, outros

importantes pontos de estudos na pesquisa de inibidores dessas enzimas estão relacionados

com sua estrutura (Figura 3). A interação entre o substrato e a estrutura enzimática ocorre

por bolsões de aminoácidos, chamados de subsítios. Os subsítios voltados para a parte N-

terminal do substrato são nomeados S1-Sn, bem como os respectivos sítios de interação

presentes no peptídeo (P1-Pn). Para a parte C-terminal do substrato, as regiões de interação

da enzima são chamadas S1’-Sn’, e o mesmo segue para os grupos de interações presentes no

substrato (P1’-Pn’) [18]. Dessa maneira, enquanto o sítio catalítico é responsável por

promover a atividade enzimática, os subsítios têm importante papel durante o

reconhecimento e seletividade do substrato.

Enzima Livre Intermediário Tetraédrico

Acil-enzima

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25

Figura 3. Representação esquemática do sítio ativo e de interação das CP com o

substrato.

FONTE: adaptado de TURK, 2006 [10].

1.3.3. Cisteíno proteases como alvo terapêutico

A atividade proteolítica é uma característica essencial durante muitos processos

celulares, como desenvolvimento e diferenciação celular e resposta imune. Entretanto, a

irreversibilidade da reação exige que a atividade proteolítica seja rigorosamente controlada

[18]. Grande parte das proteases é expressa como zimogênio, uma estrutura inativa devido à

presença de um pró-domínio responsável pela inativação proteica. Já as proteases que não

são expressas com pró-domínios inibitórios requerem cofatores ou modificações traducionais

para sua atividade. A remoção do pró-domínio pode ocorrer pela ação de outra protease ou

autocatálise. Uma vez ativa, a enzima pode ser limitada por fatores endógenos ou sofrer a

degradação proteica pelo proteasoma (Figura 4) [19]. Além dos processos de regulação, a

atividade proteolítica também é dependente de vários fatores, como o tipo celular em que é

expressa e o compartilhamento na célula [10].

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26

Figura 4. Exemplo de mecanismo de ativação de proteases. Proteases geralmente são

expressas como um zimogênio inativo e são ativadas por diversos mecanismos, incluindo

modificações pós-translacionais (MPT), ligação de um cofator, mudanças de pH e remoção do

prédomínio.

FONTE: adaptado de SANMAN & BOGYO, 2014 [19].

Além disso, as proteases também participam de importantes vias para o

desenvolvimento celular, no qual o equilíbrio entre suas funções deve ser considerado

durante a pesquisa por moléculas bioativas com capacidade inibitória de proteases. Devido a

sua importância e regulação controlada, inibidores com atividade biológica devem ser

cuidadosamente planejados.

Proteases têm sido validadas como alvos terapêuticos para diferentes doenças [17]. A

peptdisase NS3/NS2B é uma SP responsável por clivar proteínas do sistema hospedeiro

contribuindo para a maior virulência da dengue [20]. Durante a replicação e invasão viral, essa

protease é responsável pela degradação proteica citoplasmática na célula hospedeira,

incluindo a ação de enzimas como a helicase, atuando alteração da ativação do sistema

imunológico [21]. De maneira similar, o complexo NS3/NS2B também apresenta importante

papel no desenvolvimento da hepatite C, sendo considerado um alvo relevante para o

desenvolvimento de fármacos para o tratamento da doença [22]. Ainda sobre proteases

como alvo terapêutico em doenças virais, a HIV-1 protease tem sido essencial para maturação

viral [23]. Outra SP, a NARC-1 é considerada como alvo validado para a degradação e redução

dos níveis plasmáticos de colesterol no tratamento da aterosclerose [15, 16].

Com 25% de identidade com cisteíno catepsinas, as AP BACE1 e BACE2 são outro

exemplo de importantes proteínas no desenvolvimento da diabetes mellitus, sendo validadas

Inibidor de protease

Zimogênio inativo

Remoção do pré-dominio Degradação

Inibição

Protease ativa

Fatores externos

MPT

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27

como alvos para seu tratamento desde 2011 [24]. Além do distúrbio metabólico, a BACE1

também tem sido correlacionada com a acumulação de amiloides em células neurais, uma

característica da doença de Alzheimer e devido a isso, inibidores de BACE1 tem sido

desenvolvidos como alternativa terapêutica para a neuropatologia [25], porém ainda sem

nenhum sucesso clínico evidenciado.

CP também têm sido relatadas como importantes enzimas durante processos críticos

como invasão e evasão do sistema imune em diversas parasitoses [26]. Doença de Chagas e

Leishmaniose são duas importantes parasitoses que apresentam algumas características em

comum, como a importância de uma cisteíno protease fundamental para os processos de

infecção e sobrevivência do parasito no hospedeiro vertebrado [27–30]. Além disso, cisteíno

catepsinas são CP lisossomais com funções essenciais no desenvolvimento de tumores e

super expressas em alguns casos, como no câncer de pâncreas [31–33]. Além de CP, outras

proteases também são consideradas alvos para o tratamento de infecções, o que justifica o

fato de quase 40% dos fármacos disponíveis atualmente serem inibidores proteolíticos [23].

1.3.4. Inibidores de cisteíno proteases

Pequenas moléculas baseadas no mecanismo da atividade enzimática têm sido

estudadas recentemente como uma forma de modular a atividade enzimática em diferentes

tipos celulares [34]. Inibidores covalentes são compostos químicos com características de se

ligarem a um alvo macromolecular por meio de uma ligação covalente e suprimir sua função

biológica. Esse conceito na descoberta de fármacos adota uma concepção distinta em relação

ao mecanismo de ação de outros tipos de inibidores, que somente utilizam interações

intermoleculares fracas [35]. Inibidores enzimáticos covalentes irreversíveis reagem com a

enzima alvo, inativando-a permanentemente, sendo necessário que a célula expresse o alvo

novamente para reverter a ação do fármaco. Devido à ligação covalente estável, que é

irreversível, efeitos colaterais severos podem ser observados pela promiscuidade do inibidor

frente a outras moléculas presentes no meio. Esse fenômeno é conhecido como efeito “off-

target”. Outro ponto importante a ser considerado é a maior dificuldade na análise de

metabólitos destes inibidores covalentes irreversíveis, uma vez que pode haver ligação com

as enzimas ou até pequenas moléculas [36].

De forma oposta aos inibidores irreversíveis, os inibidores reversíveis que formam

interações moleculares com a macromolécula estão em equilíbrio com esta proteína alvo.

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Entretanto, este tipo de inibidor nem sempre é atrativo para ser desenvolvido em enzimas

onde o sítio de interação está muito exposto e que depende de um grande número de

interações para que o reconhecimento molecular seja considerável, como é o caso das

cisteíno proteases.

Uma alternativa factível engloba o estudo de inibidores covalente reversíveis, onde a

ligação covalente é realizada entre o átomo reativo do aminoácido situado no sítio catalítico e

um grupo reativo da substância bioativa (comumente denominado “warhead”).

Diferentemente dos covalentes irreversíveis, esta ligação química é lábil e pode ser rompida,

com o retorno do sistema ao estado inicial. Desta forma, espera-se que este tipo de inibidor

tenha uma maior afinidade ao alvo macromolecular (quando comparado com inibidores que

somente realizam interações intermoleculares), mas com menor probabilidade de efeitos

adversos (em comparação com os inibidores covalentes irreversíveis).

Em um sistema celular, várias moléculas interagem entre si de maneira eficiente e

seletiva, processo essencial para todos os aspectos biológicos. Nos estudos de descoberta de

fármacos também ocorre dessa maneira, buscando inibidores seletivos para proteínas

essenciais ao desenvolvimento de diferentes doenças [37]. O processo de inibição de uma

proteína alvo por um inibidor covalente reversível baseia-se em duas principais etapas: (i) por

meio de interações reversíveis, o inibidor se associa com a proteína alvo, de maneira que

essas interações levam ao posicionamento adequado do grupo reativo da molécula; (ii) o

grupo reativo eletrofílico é facilmente atraído por uma região nucleofílica presente na

enzima, que no caso de cisteíno proteases é o tiolato, onde ocorrerá a formação da ligação

covalente e, consequentemente, do complexo enzima–inibidor com a supressão da atividade

catalítica [35] (Figura 5). Atualmente, há fármacos aprovados com mecanismo de ação

baseados na modificação reversível e irreversível de proteínas, para o tratamento de

hipertensão, HIV e alguns tipos de câncer [9].

Figura 5. Mecanismo geral de inibição covalente de cisteíno proteases por dipeptidil nitrilas.

FONTE: adaptado de TURK, et al., 2012 [38].

-

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29

Neste trabalho, os inibidores estudados foram dipeptidil nitrilas baseados no esqueleto

químico apresentado na Figura 6, com distintos grupos substituindo as posições envolvidas na

interação com o sítio ativo da enzima (ANEXO 1). As substâncias foram planejadas e

sintetizadas por outros membros do grupo NEQUIMED, com algumas rotas sintéticas já

publicadas [38, 39]. O planejamento foi realizado a partir do conhecimento da estrutura do

alvo (denominado “Target-based drug design”) com a introdução de substituintes no

arcabouço apresentado na Figura 5 para aumentar a afinidade com os distintos subsítios da

cisteíno protease de interesse. Além disso, os compostos apresentaram elevada inibição da

atividade das cisteíno proteases aqui estudadas (na ordem de nanomolar), de acordo com os

dados da tese de doutorado do Dr. Jean Francisco Rosa Ribeiro (2018). Nos próximos

capítulos serão apresentados o planejamento dos experimentos bem como o resultado

obtido a partir da avaliação da atividade biológica das substâncias estudadas frente a

diferentes sistemas celulares.

Figura 6. Arcabouço químico das dipeptidil nitrilas estudadas como inibidores covalentes reversíveis de cisteíno proteases.

Fonte: Autoria própria.

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30

CAPÍTULO 2

Inibição da atividade de CP e efeitos biológicos em

protozoários do gênero Leishmania.

As atividades descritas nesse capítulo foram submetidas para publicação na revista “Experimental Parasitology”

como: J. C. Quilles Junior, F. L. Ribeiro, C. A. Laughton, C. A. Montanari, A. Leitão.

Dipeptidyl nitrile derivatives have cytostatic effects against Leishmania spp. promastigotes.

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31

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1.1. Leishmaniose no contexto global

Leishmaniose é uma doença parasitária causada por cerca de vinte espécies do

protozoário do gênero Leishmania (L.) com incidência em mais de 90 países e a terceira

doença infecciosa com maior índice de morte entre as doenças parasitárias no mundo [41]. A

leishmaniose é caracterizada como uma doença endêmica em áreas de alta pobreza, segundo

a Organização Mundial da Saúde, com influência de fatores ambientais, sociais e

climatológicos. Em dados mais recentes (Figura 7), a OMS relatou que cerca de 75% dos casos

de leishmaniose cutânea mundial se concentram em 10 países, dos quais 3 deles estão

presentes na América do Sul (Brasil, Colômbia e Peru), enquanto que 90% dos casos

registrados da forma visceral são relatados no Brasil, Etiópia, Índia, Bangladesh, Sudão e

Sudão do Sul [OMS, 2017].

Figura 7. Status de endemicidade mundial da leishmaniose visceral.

Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS), 2018.

A forma natural de transmissão da doença se dá a partir da picada da fêmea de um

inseto vetor do gênero Phlebotomus, que libera os protozoários durante a sucção sanguínea

do hospedeiro vertebrado [42]. A parasitose apresenta três formas clínicas de manifestações

em seu organismo hospedeiro, podendo ser visceral, cutânea e mucocutânea [43]. Diferentes

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32

espécies de Leishmania são responsáveis por promoverem as distintas formas clínicas da

doença (Tabela 1) e essas espécies são endêmicas em diferentes regiões. A forma cutânea de

manifestação da parasitose é a mais comum entre as formas clínicas e se caracteriza pela

formação de lesões dérmicas no local da picada do inseto vetor. O período de incubação pode

variar entre alguns dias a meses, com aumento da lesão gradualmente, permanecendo

avermelhada e sensível. A leishmaniose mucocutênea promove grave deformação nas

cavidades naso-orais e faríngeas com intenso desconforto no local da lesão. Além da lesão

inicial, outras lesões podem ocorrer anos após a infecção, comprometendo as regiões da boca

e nariz, prolongando sofrimento ao longo da vida. Por fim, a forma visceral da doença é

caracterizada como a mais grave e, se não diagnosticada e tratada em tempo hábil, pode ser

fatal para o hospedeiro. A infecção promove uma série de sintomas caracterizados por febre

prolongada, aumento do volume de alguns órgãos, como baço e fígado, perda de peso,

diminuição dos componentes sanguíneos e consequente anemia. A forma clínica clássica leva

à morte do indivíduo, devido ao enfraquecimento do sistema imunológico do paciente

causado pela severa infecção do parasito [44].

Tabela 1. Espécies do gênero Leishmania spp. responsáveis por diferentes formas

clínicas de Leishmaniose.

Forma clínica Espécies do gênero Leishmania spp.

Leishmaniose cutânea

L. major, L. tropica e L. aethiopica, L. mexicana, L.

amazonensis, L. braziliensis, L. panamanesis e L.

guyanensis

Leishmaniose mucocutênea L. braziliensis e ocasionalmente por L. panamensis ou

L. guyanensis.

Leishmaniose visceral L. donovani e L. infantum, L. infantum

FONTE: VAN ASSCHE et al., 2011 [45]

2.1.2. Ciclo de vida e tratamento

Os protozoários do gênero Leishmania spp. são adaptados a diferentes ambientes no

hospedeiro vertebrado e no inseto vetor, com distintos estados morfológicos (Figura 8). A

partir da picada do inseto vetor contaminado, a forma flagelada infectante do protozoário

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33

entra em contato com a corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado, promovendo

predominantemente a infecção de macrófagos [46]. Após invasão, dentro dos vacúolos

parasitóforos os protozoários se diferenciam para amastigota, forma aflagelada e não móvel,

iniciando o processo de replicação celular. Com o processo de replicação celular contínuo, a

célula hospedeira sofre a lise devido à alta densidade parasitária no seu interior, liberando os

parasitos que invadem outras células do sistema imune. Ao final, os protozoários invadem

preferencialmente os tecidos que contêm grande quantidade de macrófagos, como baço,

fígado e medula óssea [44].

Figura 8. Ciclo de vida dos protozoários do gênero Leishmania spp.

FONTE: adaptado de KAYE, et al., 2011[45].

O tratamento da parasitose é dependente tanto do sistema hospedeiro quanto do

protozoário, com alguns tratamentos sendo eficientes somente para determinadas espécies

de leishmania e de algumas regiões geográficas. Além da baixa efetividade de cura, alguns

problemas como toxicidade e efeitos colaterais, alto custo e longa duração do tratamento são

as principais limitações dos fármacos atuais [47]. Dentre os tratamentos existentes, os

antimoniais pentavalentes geralmente são os fármacos de primeira escolha para o

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34

tratamento da parasitose, atuando como pró-fármacos. Ao serem metabolizados, são

reduzidos para a forma mais tóxica do antimônio, no qual hipóteses sugerem que seu

mecanismo de ação pode ocorrer a partir da interação com diferentes biomoléculas [48].

Entretanto, problemas de citotoxicidade e aumento da resistência dos protozoários têm sido

um dos limitantes do uso desses fármacos [49]. A miltefosina e anfotericina B, ambas

desenvolvidas para diferentes fins terapêuticos (anticancerígena e antifúngica,

respectivamente) também são alternativas para o tratamento da doença. O mecanismo de

ação da anfotericina B ocorre pela interação seletiva com o ergosterol, lipídeo constituinte da

membrana celular do protozoário [50]. Essa interação leva à formação de poros e alteração

da permeabilidade celular, promovendo a perda de íons intracelulares e, consequentemente,

levando à morte celular [11, 12]. Esses dois fármacos apresentaram total eliminação dos

protozoários da forma visceral da doença, porém não são tratamentos ideais [41]. Além de

efeitos colaterais, esses fármacos também apresentam diferentes níveis de eficácia

dependendo da espécie do protozoário, e são administrados de forma parental, o que leva a

muitos pacientes abandonarem o tratamento, facilitando o surgimento de cepas mais

resistentes aos tratamentos atuais [51]. Assim, não há um tratamento eficaz contra a

parasitose, tornando-se necessário o desenvolvimento de tratamentos seguros, eficientes,

acessíveis e de curta duração [52].

2.1.3. CP do tipo B – CPB

Em busca de novos e eficientes alvos terapêuticos para o desenvolvimento de fármacos

para o tratamento da Leishmaniose, as proteases têm ganhando destaque devido a suas

diversas funções em ambas as morfologias e etapas do ciclo de vida do parasito [53]. Essas

proteínas com função catalítica são conhecidas por promoverem a hidrólise de ligações

peptídicas de diferentes moléculas de peptídeos, dependendo da estrutura enzimática [14].

Dentre as proteases identificadas nas espécies de Leishmania spp. destacam-se as CP, metalo

proteases e serino proteases, sendo essenciais para o desenvolvimento do parasito [54]. As

principais funções destas proteínas para o parasito são o desenvolvimento do ciclo celular,

invasão celular, degradação de proteínas e evasão do sistema imune [55].

As CP (CPA, CPB e CPC) presentes nos protozoários do gênero Leishmania spp. têm sido

investigadas e relatadas como essenciais para diferentes funções celulares, com destaque

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35

para a CPB [27]. A cisteíno protease do tipo B (CPB) apresenta várias isoformas codificadas

por genes similares em diferentes espécies de Leishmania spp. A atividade da CPB é essencial

para promover diversas modificações imunológicas em hospedeiros vertebrados infectados

por diferentes espécies do parasito [53]. Após a infecção, a formação do vacúolo parasitóforo

é uma característica do sistema imune hospedeiro, no qual essas espécies exógenas são

degradadas por essas organelas. A atividade de CPB é relacionada à modificação da formação

do vacúolo in vitro em células de mamíferos infectadas por protozoários de L. mexicana [54].

Da mesma forma, a supressão da expressão de CPB está diretamente relacionada com a

virulência e sucesso da proliferação parasitária intracelular, evidenciando a importância dessa

enzima durante o processo de infecção e evasão do sistema imune da L. mexicana [24, 49].

A CPB pode apresentar distintas funções dependendo da espécie de Leishmania spp.

Em protozoários de L. amazonensis, sua atividade foi caracterizada essencial para a

degradação de moléculas específicas dos vacúolos parasitóforos, diminuindo o índice de

morte parasitária intracelular [57]. Além do papel no sistema imunológico, a proliferação

celular de promastigotas também pode ser suprimida pela deleção do gene que codifica a

CPB em L. mexicana [56]. Baseado nessa diversidade de funções biológicas, a CPB é

considerada um alvo promissor para novos fármacos no controle da parasitose.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar o potencial leishmanicida de 28 novos inibidores covalentes reversíveis de

cisteíno proteases;

Quantificar a atividade de CPB expressa pela forma promastigota dos protozoários L.

amazonensis e L. infantum;

Quantificar a inibição da atividade de CPB in vitro por inibidores de CP;

Avaliar os efeitos citostáticos dos inibidores de CP em promastigotas.

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36

2.3. MATERIAIS E MÉTODOS

2.3.1. Protozoários

Todos os protozoários estudados no trabalho foram gentilmente cedidos pelo Prof.

Sérgio de Albuquerque da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-

USP). A forma promastigota das espécies de Leishmania amazonensis (L. amazonensis) e

Leishmania infantum (L. infantum) óxido resiste foi cultivada em frascos de cultura T25

(Corning) a 25°C em meio 199 suplementado com 0,22% de bicarbonato de sódio (NaHCO3).

Os parasitos foram coletados para ensaios durante sua fase log de crescimento, em média no

terceiro ou quarto dia de cultura.

2.3.2. Atividade leishmanicida

A partir de uma solução estoque dos compostos a 50 mM em DMSO, diferentes

concentrações foram sempre mantendo a diluição final de 0,5% (v/v) de DMSO. Para os

parasitos (forma promastigota) foi preparada uma solução da substância diluída em meio de

cultura em uma concentração dez vezes maior do que a desejada. Assim, 10 µL dessa solução

concentrada foi dez vezes diluída diretamente no poço, contendo 90 µL de parasitos à

concentração de 1·107 cel·mL-1 e incubada por 72 h. A viabilidade foi determinada a partir do

método colorimétrico com MTT ou por citometria de fluxo, como descrito a seguir.

2.3.2.1. Método colorimétrico – MTT

A viabilidade celular da forma promastigota dos protozoários foi avaliada utilizando o

ensaio colorimétrico com MTT na presença de PMS. Para o ensaio, 10 µL de uma solução de 5

mg de MTT diluído em 1 mL de tampão fosfato salino (PBS) juntamente com 0,22 mg

metossulfato de fenazina (PMS) foi incubada com os protozoários por 4 h. Após esse período,

70 µL de uma solução 10% (m/v) SDS e 0,01% (v/v) HCl foram adicionados às amostras

juntamente com 30 µL de DMSO por 90 minutos para solubilização dos cristais de formazan

formados pela reação. A viabilidade foi determinada a partir da absorbância medida pelo

espectrofotômetro a λ = 570 nm. Como controle negativo, foi utilizado meio de cultura com

DMSO na mesma condição das substâncias testadas e a anfotericina a 100 nM foi utilizada

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37

como controle positivo de morte celular. Como branco, foi utilizado todo o sistema (meio

com substâncias) seguido da adição do reagente MTT na ausência dos parasitos.

2.3.2.2. Densidade celular por citometria de fluxo

A citometria de fluxo foi utilizada para determinação da densidade celular para o

acompanhamento do crescimento in vitro da forma promastigota dos protozoários na

presença de diferentes inibidores de CP. As células parasitárias foram diluídas em PBS (cinco

ou dez vezes) e a concentração celular foi realizada a partir da distribuição das populações

celulares em relação ao tamanho de partícula, separando células inteiras de fragmentos

celulares usando o módulo InCyte no programa guavaSoft2.7 no citômetro de fluxo guava

8HT (MerckMillipore®).

2.3.3. Ciclo celular

O ensaio de ciclo celular foi realizado utilizando o kit da marca MerckMillipore® Guava –

Cell Cycle Reagent no citômetro de fluxo. As células de promastigota das espécies de

Leishmania spp. foram distribuídas na concentração de 107 cel·mL-1 em placas de 96 poços e

incubadas com diferentes compostos por 24 h a 25 °C. Após a incubação, as células foram

centrifugadas a 280 G e lavadas duas vezes com PBS contendo 20% FBS; ao pellet foi

adicionado etanol 70% e incubado overnight a 4 °C. No dia seguinte, as células foram

novamente centrifugadas, lavadas uma vez com PBS contendo 20% PBS, com adição de 200

µL do reagente Cell Cycle e incubação por 30 minutos na ausência de luz. A partir da

coloração do conteúdo genético, as células foram classificadas por populações características

de diferentes fases do ciclo celular.

2.3.4. Atividade proteolítica de Leishmania spp.

2.3.4.1. Atividade proteolítica em promastigotas

A atividade total de peptidase intracelular foi realizada utilizando 10 µM do substrato

fluorogênico Z-FR-MCA (Sigma-Aldrich®). Inicialmente, diferentes concentrações dos

protozoários e substratos foram avaliadas para padronização e viabilização do ensaio. Para os

ensaios com os inibidores, após o período de tratamento com as substâncias, os parasitos em

uma concentração inicial de 107 células·mL-1 foram transferidos para uma placa escura de 96

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poços e incubados por 3 h com o substrato. Após a incubação, foi realizada a medida de

fluorescência no fluorímetro Biotek Synergy HT (λexc= 360/40 nm e λemis= 460/40 nm)

baseada na conversão do substrato. Poços contendo somente parasito em meio com DMS

nas mesmas condições das substâncias foi considerado como controle positivo de atividade

proteolítica, enquanto meio de cultura com a substância sem os parasitos foi utilizado como

branco da conversão do substrato. Diferentes inibidores seletivos para cada classe de

peptidases foram utilizados, como inibidores de CP (CP) – MMTS, serino proteases (SP) –

PMSF e metalo proteases (MP) – EDTA. Um coquetel de inibição de proteases Sigma-Aldrich®

também foi utilizado na concentração de 250 µM nas mesmas condições do ensaio.

2.3.4.2. Atividade proteolítica em lisados celulares

A atividade proteolítica total nas células das espécies de Leishmania spp. foi avaliada a

fim de determinar, de maneira mais direta, o processo de inibição do alvo macromolecular

pelos compostos. Os ensaios foram baseados na literatura com algumas modificações [58]. As

células foram cultivadas como descrito anteriormente, ajustadas na concentração desejada e

ressuspensas em tampão fosfato de sódio 1 M gelado e lisadas usando ultrassom em banho

de gelo durante 5 minutos, com pulsos 10% de amplitude a cada 30 segundos. Após a lise, a

mistura foi centrifugada por 5 min a 220 G para separar o extrato proteico de restos celulares

provenientes da lise celular. O sobrenadante foi coletado e concentrado 15 vezes por

centrifugação a 4 °C e 3400 G utilizando filtro de 10 kDa da MerckMillipore. Em seguida, a

concentração proteica total foi determinada pelo método de Bradford [59], no qual o extrato

enzimático foi diluído para a concentração desejada em tampão de ensaio acetado de sódio 1

M pH 5,5 e a atividade enzimática foi aferida a partir da cinética por 5 minutos utilizando o

substrato fluorescente Z-FR-MCA seletivo para CP. Para isso, 142 µL da amostra do

sobrenadante foi adicionado em placa preta de 96 poços juntamente com 8 µL dos inibidores

a diferentes concentrações e incubados por 10 minutos. Após incubação, 50 µL do substrato

diluído no mesmo tampão de ensaio foram adicionados atingindo a concentração final de 30

µM. A partir da inclinação da reta, os valores de Vmax foram coletados pela medida de

fluorescência no fluorímetro Biotek Synergy HT (λexc= 360/40 nm e λemis= 460/40 nm) e o

percentual de inibição foi calculado relativamente comparando as velocidades máximas das

amostras tratadas com inibidores com as amostras sem tratamento. Como controle positivo

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39

de atividade, foi utilizado somente o extrato enzimático incubado pelo mesmo tempo na

ausência de inibidores e o mesmo sistema, considerando somente o tampão sem o extrato foi

utilizado como branco. Como controle positivo de inibição enzimática, foi utilizado o coquetel

de inibidores de peptidases foi utilizado (SigmaFast – código S8820, Sigma-Aldrich®). O

mesmo procedimento foi adotado para os demais tipos celulares estudados no trabalho.

2.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.4.1. Efeito citotóxico contra a forma promastigota

A forma promastigota das espécies de Leishmania spp. está presente em ambos os

hospedeiros e é fundamental para o processo de infecção celular. Assim, é interessante a

avaliação leishmanicida de candidatos a fármacos que possam vir a inibir o processo de

invasão celular ou até mesmo, levar à morte parasitária da forma infectiva do protozoário.

Atualmente, a única forma de quimioterapia disponível para tratamento da doença apresenta

efeitos tóxicos severos, além de alto preço e longo período de tratamento, o que justifica a

busca por novos agentes com potencial leishmanicida [60].

Ao todo, 28 substâncias planejadas em nosso grupo de pesquisa com características

de inibidores covalentes reversíveis de CP planejadas a partir de modificações em posições

específicas da estrutura do protótipo foram inicialmente avaliados quanto ao seu potencial

leishmanicida (Anexo I). Os inibidores foram ensaiados contra a forma promastigota das

espécies de L. amazonensis e L. infantum e baseado na viabilidade celular, mas nenhum dos

compostos foi efetivo em promover a morte parasitária in vitro, mesmo a 100 µM (Figura 9),

uma vez que o valor de corte para a viabilidade é de 50%. Ensaios bioquímicos preliminares

realizados por outros membros do grupo têm mostrado que todas as substâncias são

potentes inibidores de CPB, na ordem de nanomolar (dados pertencentes à tese de

doutorado do aluno Jean Francisco Rosa Ribeiro). Porém, devido à complexidade da célula em

relação à enzima recombinante isolada, torna-se bem complexo analisar os fatores que

podem levar um potente inibidor enzimático a ter baixa potência (ou até ser inativo) no

ensaio celular. Diversas possibilidades podem ser levantadas, como baixa permeabilidade das

substâncias pela membrana celular e possível metabolização dos inibidores antes da

interação com a enzima alvo. Outra possível hipótese seria que a interação efetiva entre

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40

inibidor e enzima pudesse ocorrer, porém a inibição do alvo poderia não ser efetiva ou

suficiente para promover a morte celular. Dessa maneira, outros ensaios foram realizados,

pensando em possíveis efeitos citostáticos, descritos na próxima sessão.

Figura 9. Atividade leishmanicida dos inibidores reversíveis de CP. A viabilidade

celular foi verificada pelo método colorimétrico MTT após 72 h de incubação com os

inibidores a 100 µM.

In ib id o r e s (1 0 0 u M / 7 2 h )

Via

bil

ida

de

ce

lula

r (%

)

Ne q 4 0 0

Ne q 0 4 1 3

Ne q 0 4 1 5

Ne q 0 5 0 0

Ne q 0 5 3 3

Ne q 0 5 3 6

Ne q 0 5 4 4

Ne q 0 5 4 8

Ne q 0 5 7 6

Ne q 0 5 7 7

Ne q 0 4 0 9

Ne q 0 4 1 4

Ne q 0 5 1 3

Ne q 0 5 4 6

Ne q 0 5 4 9

Ne q 0 5 5 0

Ne q 0 5 5 1

Ne q 0 5 5 2

Ne q 0 5 5 4

Ne q 0 5 6 5

Ne q 0 5 6 9

Ne q 0 5 7 0

Ne q 0 5 7 1

Ne q 0 5 7 2

Ne q 5 7 3

Ne q 0 5 7 5

Ne q 0 5 7 8

Ne q 5 8 7

An fo

ter i

c ina -B

10 0 n M

0

2 5

5 0

7 5

1 0 0

1 2 5

L . a m a z o n e n s is L . c h a g a s i

FONTE: Autoria própria.

2.4.2. Efeito citostático : inibição do crescimento parasitário e ciclo celular

A atividade proteolítica é um processo bioquímico crucial para o desenvolvimento

dos sistemas eucariotos, apresentando funções no processo de regulação. Moléculas com

atividade biológica para tratamento da doença, tanto para promover a morte celular ou inibir

o crescimento e/ou a infecção do hospedeiro pelo parasito pode ser uma alternativa

terapêutica eficaz. Alguns dos inibidores de CP que não apresentaram atividade citotóxica em

relação à morte celular dos protozoários foram ensaiados para avaliação de efeitos

citostáticos (Figura 10A). Os parasitos na forma promastigota de ambas as espécies foram

incubados com os inibidors, seguido da determinação da concentração celular realizada por

citometria de fluxo após diferentes tempos de incubação, por no máximo de 96h, como

apresentado na Figura 10B. Todos os compostos apresentam atividade inibitória do

crescimento dos protozoários dentro do período estudado, em especial Neq0551 e Neq0569.

De maneira geral, os protozoários responsáveis pela forma cutânea da doença (L.

amazonensis) foram mais sensíveis a ação dos inibidores em relação à forma visceral (L.

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41

infantum). A relação estrutura química-atividade biológica (SAR) será discutida

posteriormente.

A inibição do crescimento dos protozoários do gênero Leishmania spp. é um notável

estudo apresentado por alguns autores na literatura [51-54]. Tais experimentos in vitro

permitem a pré-avaliação de substâncias quanto ao potencial inibitório de um dos principais

fatores da doença, que é o alto índice de replicação dos protozoários. Utilizando inibidores da

enzima nucleosídeo hidrolase, responsável pela hidrólise de polímeros de nucleotídeos tendo

como produtos ácidos nucleicos isolados, Freitas e colaboradores [62] demonstraram a ação

inibitória do crescimento celular de promastigotas in vitro das duas espécies de Leishmania

spp. estudadas nesse trabalho. Devido ao elevado metabolismo desses protozoários, é

essencial uma fonte rápida e farta de ácidos nucleicos para a replicação do material genético,

no qual a inibição da fonte desses nucleotídeos comprometeu todo o ciclo desse protozoário.

Entretanto, até o momento não foram encontrados relatos que descrevam o efeito

citostático em relação ao crescimento celular exercidos por inibidores de CP nesses sistemas.

Porém, a função essencial para o desenvolvimento celular e infecção parasitária foi relatada

por Saraiva e colegas [56] usando promastigotas de Leishmania mexicana que não expressam

a sua principal cisteíno protease. O parasito deficiente em CPB foi capaz de infectar poucas

células hospedeiras in vitro, além do comprometimento da replicação da forma amastigota

intracelularmente. Dessa maneira, os resultados apresentam indícios de que os compostos

estão atuando efetivamente na inibição da proteína alvo em questão, afetando

consideravelmente a proliferação celular de ambas as espécies estudadas.

Após 96h de incubação com os compostos, os parasitos foram centrifugados e

adicionados em meio de cultura sem os inibidores, a fim de avaliar a capacidade dos

protozoários de recuperarem seu metabolismo e retomarem seu crescimento normal após a

ação dos inibidores de CP. A partir desse estudo também é possível verificar a reversibilidade

da ação das substâncias testadas nos protozoários. Os resultados são apresentados como

porcentagem de crescimento em relação à concentração inicial, após 48h (Figura 10C). Os

inibidores testados apresentaram resultados distintos para as duas espécies de Leishmania

spp. em estudo, sendo a L. amazonensis a forma com o crescimento mais suscetível após

incubação com as substâncias. Notável é o efeito dos inibidores Neq0551 e Neq0569, os mais

efetivos para as duas espécies, com crescimento máximo de aproximadamente 50% em

relação à concentração inicial após 48 h da retirada das substâncias, enquanto os parasitos

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42

controles quintuplicaram sua concentração inicial dentro do mesmo período. Os resultados

indicam a ação dos inibidores de CP, no qual a provável inibição dessas enzimas apresenta-se

como um drástico efeito no parasito, limitando seu crescimento após a ação dessas

substâncias. Vale ressaltar que há uma seletividade entre as substâncias testadas para as duas

espécies de Leishmania spp., que ainda deverá ser estudada mais profundamente para

compreender este fenômeno, especialmente pelo fato do ensaio citostático ter levado a uma

resposta oposta ao estudo de replicação após a retirada das substâncias.

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43

Figura 10. Cronograma de incubação e execução dos experimentos (A). Durante 96 h

o crescimento da forma promastigota dos protozoários L. amazonensis e L. infantum foi

investigado na presença dos inibidores a 10 µM (B). Após 96 h, os parasitos L. infantum

(barras azuis escuras) e L. amazonensis (barras azuis claras) foram centrifugados e incubados

em meio de cultura sem os inibidores por 48 h (C). Os experimentos foram realizados em

triplicada e a análise estatística pelo teste de Dunnett foi realizada comparando as amostras

com o controle negativo de cada espécie considerando valores de P < 0.05.

FONTE: Autoria própria.

A análise do ciclo celular por citometria de fluxo baseia-se na quantificação do

material genético marcado por um marcador químico fluorescente. Em uma célula

eucariótica, a quantidade de DNA está correlacionada com intensidade de fluorescência

emitida pelo marcador interagindo com o núcleo, enquanto que a perda ou espalhamento da

Compostos (10 uM)

Co

nce

ntr

açã

o (

cel/

mL)

0 48 960

2.0105

4.0105

6.0105

Neq0544

Neq0413

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq0569

Neq0573

Controle

L. amazonensis

C o m p o s t o s (1 0 u M )

Via

bil

ida

de

ce

lula

r (

%)

0 4 8 7 2 9 6

0

2 .01 0 5

4 .01 0 5

6 .01 0 5

N e q 0 5 4 4

N e q 0 4 1 3

N e q 0 5 5 1

N e q 0 5 5 4

N e q 0 5 6 8

N e q 0 5 6 9

N e q 0 5 7 3

C o n t r o le

L . c h a g a s i

Inibidores

Cre

scim

en

to C

elu

lar

(%)

Neq04

13

Neq05

44

Neq05

51

Neq05

54

Neq05

68

Neq05

69

Neq05

73

Contro

l0

100

200

300

400

500

600

******

***

** **

******

***

**

*

*

*

**

0 h 96 h 144 h

Início Fim da incubação Fim

Incubação com os inibidores Avaliação do crescimento na ausência

dos inibidores

(A)

(B) (C)

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44

fluorescência ocorre em células apoptóticas devido à fragmentação do DNA [64]. A retenção

ou não de alguma fase do ciclo celular nos dá a ideia da importância do alvo e a ação da

substância para uma determinada fase do ciclo. Devido ao fato da forma promastigota de L.

amazonensis ser mais sensível ao tratamento com os compostos, foi inicialmente realizado a

incubação nas mesmas condições dos ensaios citostáticos, com a análise do ciclo celular

realizada por citometria de fluxo após 72 h. Nenhuma alteração significativa foi observada no

perfil do ciclo celular destes protozoários, em relação ao controle, o que demonstra que as

substâncias atuam de maneira ciclo inespecífica (dados não apresentados). Entretanto, para

as promastigotas de L. infantum foi observado um perfil diferente na presença dos inibidores

(Figura 11). A substância Neq0544 foi a que mais se destacou na alteração do perfil do ciclo

celular, atuando principalmente na retenção do ciclo provavelmente ao final da fase S,

quando ocorre o processo de síntese de DNA. Estes resultados não apresentam correlação

com os dados de atividade citostática para a maior parte das substâncias, exceto talvez pela

Neq0544 e o conhecido inibidor de CP E64, usado como controle.

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45

Figura 11. Análise do perfil ciclo celular por citometria de fluxo (A) e histograma (B)

de promastigotas de L. infantum incubadas por 72 h com 10 µM dos diferentes inibidores.

Como controle positivo foi utilizado o inibidor irreversível de CP E-64. Fases do ciclo celular

representadas em azul (G1), azul claro (S) e branco (G2/M). Resultados obtidos a partir de

experimento em triplicata, com desvio padrão menor do que 8% para todas as análises.

In ib id o r e s ( 1 0 M | 7 2 h )

Cic

lo C

elu

lar (

%)

Neq0544

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq0569

Neq0573

MM

TS

E-6

4

Contr

ole

0

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

* **

* *

(A )

FONTE: Autoria própria.

2.3.3. Avaliação da inibição da atividade proteolítica nas células parasitárias

Proteases extracelulares são importantes no desenvolvimento de várias doenças e

classificadas de acordo com seu mecanismo de ação [65]. CP do tipo B (CPB) são vitais para

diversos processos em protozoários do gênero Leishmania spp., como no processo de

autofagia e diferenciação celular [27]. Devido à ausência de atividade citotóxica dos

compostos testados contra os protozoários e a fim de avaliar a capacidade dos inibidores de

Neq0554 (B)

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46

CP de induzirem a inibição do alvo, foi realizado o ensaio para quantificação da atividade de

peptidase total nas células de promastigotas de L. amazonensis utilizando o substrato Z-FR-

MCA, seletivo para CP [32]. Inicialmente, foi realizada a padronização da concentração de

substrato e tempo de incubação com as células (dados não apresentados) bem como uma

curva de calibração, para determinação das melhores condições de ensaio, como

apresentado para L. infantum e L. amazonensis na Figura 12A. É possível observar que uma

correlação linear entre a concentração de protozoário e a atividade proteolítica para L.

infantum utilizando 10 µM do substrato Z-FR-MCA, porém o mesmo não foi obtido para L.

amazonensis. Isso provavelmente se deve a maior taxa de metabolização ou ativação de CP

para essa espécie, uma vez que a linearidade foi atingida com o aumento na concentração do

substrato para 20 µM. Após a padronização, a atividade de CP foi comparada com o ensaio

colorimétrico de viabilidade celular, na presença do inibidor irreversível de CP E-64 (Figura

12B). Mesmo em altas concentrações do inibidor, a atividade proteolítica foi inibida em torno

de 30%, o que não foi suficiente para promover alteração na viabilidade celular. Diferentes

resultados foram observados por Caroselli e colaboradores [58], no qual a diminuição na

viabilidade celular correlacionada à atividade proteolítica de promastigotas de L. amazonensis

na presença de E-64. Entretanto, os resultados obtidos levantam a hipótese de que a inibição

de CP em Leishmania spp. pode não ser uma alternativa efetiva para a progressão da morte

celular, mas pode atuar de outras maneiras, como apresentado anteriormente, afetando a

proliferação celular.

As promastigotas de L. amazonensis foram lisadas por irradiação de ultrassom e,

utilizando inibidores específicos para cada classe de protease, foi realizado um ensaio de

quantificação da atividade proteolítica obtida do extrato enzimático bruto proveniente da lise

celular em diferentes condições. Nesse ensaio, inibidores de CP (CP) – MMTS, serino

proteases (SP) – PMSF e metalo proteases (MP) – EDTA foram utilizados. A partir dos

resultados, obtivemos um estudo indireto do perfil de cada uma dessas proteases pelo

substrato em estudo, como apresentado na Figura 12C. É notável a predominância da

detecção de atividade de CP em relação às demais proteases utilizando um substrato seletivo

e não específico para essa classe de enzima. Assim, podemos inferir que utilizando o método

de detecção de atividade proteolítica com o substrato em questão temos resultados com alta

seletividade para CP, como a CPB em estudo.

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47

Figura 12. Padronização da relação entre o número de protozoários e a unidade de

fluorescência relativa (UFR) da forma promastigota dos protozoários L. infantum e L.

amazonensis incubados com o substrato fluorogênico Z-FR-MCA a 10 e 20 µM por 3 h (A). Em

seguida, a viabilidade celular e atividade proteolítica da forma promastigota do protozoário L.

amazonensis foi avaliada após incubação por 24 h com diferentes concentrações do inibidor

covalente irreversível E-64 (B). Para confirmar a seletividade do substrato referente à

atividade de CP, a inibição da atividade proteolítica de promastigotas de L. amazonensis foi

realizada utilizando inibidores seletivos para cada classe enzimática: (MMTS) cisteíno, (PMSF)

serino e (EDTA) metalo proteases na concentração de 250 µM. Como controle foi utilizado o

coquetel de inibição de protease comercial (C). O teste de Tukey de comparação de médias

foi realizado com valores de p < 0,05.

FONTE: Autoria própria.

c e l m L- 1

x 1 05

UF

R (

%)

0 2 5 5 0 7 5 1 0 0 1 2 5 1 5 0

0

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

y = 0 ,5 9 5 · x + 8 ,8 6 1

R ² = 0 ,9 9 1

S y ·x = 3 ,6 1

L . c h a g a s i

Z -F R -M C A 1 0 M

E -6 4 ( M )

Un

ida

de

s R

ela

tiv

as

(%

)

0 , 5 1 1 0 2 5 5 0 1 0 0

0

2 5

5 0

7 5

1 0 0

1 2 5

A t iv id a d e P r o t e o l í t ic a V ia b i l id a d e C e lu la r

In ib id o r e s ( 2 5 0 M )

Ativ

ida

de

Re

lativ

a(%

)

C o n t r o l e E D T A P M S F M M T S C o q u e t e l

0

2 5

5 0

7 5

1 0 0

1 2 5**

*

(A)

(B) (C)

0 25 50 75 100 125 150

0

25

50

75

100

celmL-1 x 105

L. amazonensisZ-FR-MCA 10M

0 25 50 75 100 125 150

0

25

50

75

100

celmL-1 x 105

L. amazonensisZ-FR-MCA 20M

y=0,653x + 5,090

R2 = 0,994

Syx = 2,98

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48

Em seguida, a capacidade dos inibidores em afetar o crescimento celular foi estudada

quanto à inibição da atividade de CP dentro da célula dos protozoários. Esses inibidores já

foram relatados pelo nosso grupo como inibidores de CP em ensaios bioquímicos e com

potencial tripanossomicida em ensaios celulares [40]. A ideia então foi avaliar o potencial

desses inibidores diretamente nas células vivas do alvo celular, considerando um sistema mais

complexo do que o reproduzido no ensaio bioquímico, além de todos os possíveis obstáculos

encontrados no ambiente celular, como permeabilização, solubilização e metabolização. Os

resultados da inibição do crescimento após 48 h em meio sem os inibidores são oriundos da

Figura 10C e reapresentados na Tabela 2 em termos numéricos. As substâncias foram

eficazes para inibir o crescimento celular, fornecendo efeito tardio (ou residual), uma vez que

a atividade foi observada, mesmo após 48 h de remoção do composto. No geral, as

promastigotas intactas de L. amazonensis foram mais sensíveis ao conjunto de compostos do

que L. infantum (Tabela 2). É conhecido de que o parasito responsável pela forma visceral da

doença (L. infantum) é mais resistente a diferentes tipos de tratamento. Este é o mesmo

perfil observado em relação aos ensaios citostáticos realizados, nos quais L. infantum foi mais

resistente a todos os inibidores que L. amazonensis, como comprovado pela análise

estatística (Figura 10C).

Entretanto, avaliando a inibição da atividade proteolítica, protozoários de L.

amazonensis, que apresentaram elevada taxa de conversão do substrato durante a

padronização do ensaio (Figura 12A), não tiveram inibição significativa da sua atividade

proteolítica (Tabela 2). Por outro lado, todos os inibidores promoveram a diminuição da

atividade proteolítica dentro das células dos protozoários de L. infantum em torno de 30%. De

certa forma, esse resultado levanta a hipótese de que a resposta tardia ou residual da ação

dos inibidores é dependente do processo celular específico para cada espécie de leishmania,

mas ainda não se sabe como ele poderia estar relacionado ao metabolismo e sobrevivência

do parasito.

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49

Tabela 2. Estrutura química dos inibidores estudados e radicais substituintes em cada

posição. Inibição da proliferação celular (IPC) e da atividade proteolítica (IAP) do extrato

enzimático obtido a partir da lise de promastigotas de L. amazonensis e L. infantum incubados

com diferentes compostos a 100 µM.

Inibidor Substituintes L. amazonensis L. infantum

R1 R2 R3 IPC (%)¹ IPA (%)² IC (%)¹ IPA (%)²

Neq0413 CH2

CH3 81,1

--- NA

---

Neq0544 CH2

OC(CH3)3 90,2 NA 67,7 35,1 (± 12,8)

Neq0551 CH2

Ph 94,8 NA 95,8 27,2 (± 6,5)

Neq0554 CH2

84,1 NA 63,8 18,8 (± 7,3)

Neq0568 CH2 CH2CH(CH3)2

82,5 NA 72,3 28,1 (± 6,4)

Neq0569

CH2CH(CH3)2

99,3 NA 87,9 24,9 (± 10,6)

Neq0573

CH2C(CH3)3 Ph 90,8 NA NA NA

¹ Protozoários foram tratados com os inibidores a 10 µM por 96 h e então foram incubados

em meio fresco sem inibidores por 48 h, como previamente discutido na seção 5.3.2. A

porcentagem de crescimento foi realizada considerando a concentração parasitária para cada

condição como 100%. O desvio padrão e a análise estatística são apresentados na Figura 10C.

² Inibição relativa da atividade de CP dentro das células parasitárias intactas após o fim do

experimento.

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50

Até o momento, não é possível descartar a hipótese de que o papel das CP para L.

amazonensis possa ser muito mais importante do que para L. infantum, devido ao alto índice

de metabolização do substrato. Com base nessa ideia, a atividade de CP foi quantificada a

partir do extrato proteico obtido da lise celular de promastigotas, para avaliar a capacidade

de inibição da enzima alvo expressa pelos protozoários, além de checar a inibição proteolítica

sem a interferência da membrana celular para cada uma das espécies estudadas, o que

poderia afetar a concentração intracelular das substâncias devido a possíveis limitações na

permeabilidade pela membrana (Figura 13). No geral, significativa inibição da atividade de CP

foi observada para ambas as espécies baseado na análise estatística, porém, todas as

substâncias apresentaram maior taxa de inibição da atividade de CP para L. infantum em

comparação com L. amazonensis. A partir disso, uma alternativa poderia ser mais exploradas

para ter uma análise aprofundada deste fenômeno, L. amazonensis pode expressar níveis

mais elevados de CP ativas do que L. infantum. A hipótese em questão é que, embora a

inibição da atividade proteolítica de L. amazonensis seja menor do que L. infantum para todos

os inibidores testados, a atividade citostática observada para essas moléculas é maior para L.

amazonensis (Tabela 2). Esse resultado não pode ser explicado baseado no modo de ação

hipotético dos inibidores relacionado à inibição das CP CPA, CPB e CPC. A maior parte dos

trabalhos publicados sobre a atividade de CPB é focada no entendimento da virulência do

parasito baseado na interação patógeno-hospedeiro [53] ou na citotoxicidade usando

diferentes inibidores da protease [40, 59], sem análises adicionais sobre a ação de inibidores

na morfologia promastigota. Alguns exemplos abrangem o estudo do inibidor covalente

irreversível ZLIII43A e derivados contra L. major [67] e K777 em promastigotas de L. major e L.

tropica [68]. Estes compostos apresentaram atividade citostática até 72 h em concentrações

na ordem de micromolar (5-100 µM), levando à morte celular parasitária na concentração

mais elevada. Entretanto, baseado nos dados da literatura, não é possível assegurar que as

maiores concentrações dos inibidores estudados foram responsáveis pela total inibição da

atividade da cisteíno protease nos parasitos, promovendo a morte celular. Porém, os estudos

realizados aqui mostram que, apesar da inativação da atividade proteolítica por CP, a maior

parte das promastigotas de ambas as espécies de Leishmania ainda permaneceram vivas.

Esses resultados sugerem que a inibição de CP por inibidores covalentes reversíveis podem

atuar de maneira citostática, suprimindo a proliferação celular sem efeitos tóxicos

significativos.

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51

Figura 13. Atividade proteolítica do extrato enzimático obtido a partir da lise celular

de promastigotas de L. amazonensis e L. infantum incubados com os inibidores de CP. Análise

estatística foi realizada comparando a média de cada tratamento com o controle para cada

espécie de Leishmania, considerando p < 0,05. MMTS foi utilizado como controle positivo de

inibição da atividade proteolítica total.

Inibidores (100 M / 72h)

Ati

vid

ade

pro

teo

lític

a (

%)

Neq0544

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq0569

Neq0573

MM

TS

Controle

0

25

50

75

100

*

* * **

*

*

**

**

*

L. amazonensis

L. infantum

FONTE: Autoria própria.

2.5. CONCLUSÕES PARCIAIS

Os inibidores de CP estudados aqui foram responsáveis por promover efeitos

citostáticos em duas espécies de Leishmania spp., sem efeito tóxico significativo. Até onde

sabemos, este é o primeiro relato que mostra este perfil de inibidores covalentes reversíveis

de CP nestes parasitos. Apesar da elevada taxa de conversão do substrato Z-FR-MCA seletivo

para CP por promastigotas de L. amazonensis, ainda não é possível indicar se esse resultado é

devido aos diferentes níveis de expressão de CP ou mesmo à presença dessas proteases com

maior eficiência catalítica. Indiretamente, resultado semelhante foi obtido em relação à

porcentagem de atividade proteolítica nas células dos protozoários, no qual os inibidores

foram inativos contra L. amazonensis, porém com atividade de algumas substâncias em L.

infantum. Além disso, a inibição do crescimento de promastigotas não está relacionada à

inibição da atividade proteolítica, o que sugere que essas moléculas possam estar atuando

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52

por meio de um mecanismo de ação diferente. Este resultado mostra um perfil biológico

diferente do esperado e abre uma nova perspectiva para o endereçamento do(s) alvo(s)

macromolecular(es) para estas substâncias.

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53

CAPÍTULO 3

Importância da atividade de cisteíno proteases durante a infecção in vitro de protozoários

Trypanosoma cruzi.

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54

3.1. REVISÃO BIBLIOGRAFICA

3.1.1. A Doença de Chagas e alternativas terapêuticas.

Classificada como doença tropical negligenciada, a doença de Chagas foi primeiramente

descrita em 1909 pelo médico e sanistarista brasileiro Carlos Chagas. Causada pela infecção

do protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida pelos insetos da família Triatomíneo, a

parasitose é endêmica principalmente em regiões subdesenvolvidas, como África e América

Latina com surgimento de aproximadamente 8 milhões de novos casos anualmente [69]. O

protozoário causador da doença apresenta complexo ciclo de vida, adaptando-se às

diferentes condições entre o hospedeiro vertebrado e o inseto vetor [70]. O ciclo de vida se

inicia a partir da picada seguida da liberação dos protozoários nas fezes do inseto vetor

infectado, que entra em contato com a corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado e

invade suas células. No interior celular, o parasito se diferencia para sua forma replicativa,

(amastigota) e após sucessivos ciclos de replicação no citoplasma da célula hospedeira, os

protozoários se diferenciam novamente para a forma tripomastigota [71]. A partir da

concentração parasitária no interior celular, a célula hospedeira se rompe, liberando a forma

infectante para a corrente sanguínea e promovendo a infecção de novas células e/ou ser

ingerida por um inseto vetor não contaminado [72]. Após ingestão pelo inseto não

contaminado, a forma tripomastigota se diferencia para a epimastigota para iniciar sua

replicação no sistema digestivo do inseto, que se diferenciam novamente para

tripomastigota, se concentram no reto do inseto e são liberados nas fezes do inseto [73]

(Figura 14).

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55

Figura 14. Ciclo de vida do protozoário Trypanosoma cruzi.

FONTE: adaptado de ALVAREZ, et al., 2012 [71].

Para o tratamento atual da doença de Chagas, somente o fármaco benzonidazol é

recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) [75]. Nifurtimox foi banido do Brazil

há mais de 20 anos devido aos efeitos colaterais. Entretanto, a principal desvantagem é

ineficiência no tratamento para pacientes portadores da doença na fase crônica e a

resistência adquirida pelos protozoários [76]. Além disso, o tratamento com ambos os

fármacos requer longos períodos de administração, o que aumenta a probabilidade de efeitos

colaterais [77]. O mecanismo de ação dos fármacos ainda não é bem conhecido, mas

evidências sugerem que ocorra através da formação de radicais livres [78], como apresentado

na Figura 15. A partir da ação de nitrorredutases específicas, o grupo nitro (NO2) dessas

substâncias é reduzido ao grupo amino (NH2). O benzonidazol atua pela formação de radicais

livres e formação de metabólitos eletrofílicos quando o grupo nitro é reduzido, ao contrário

do Nifurtimox, que leva a geração espécies reativas de oxigênio [74]. Dessa maneira, é

suposto que esses fármacos atuem a partir de complexos mecanismos de interação com

proteínas, lipídeos e DNA. Os metabólitos eletrofílicos podem atuar também em outros

sistemas, como na célula hospedeira, o que leva aos efeitos colaterais indesejáveis [78].

Tripomastigota

Corrente Sanguínea Amastigota

Tripomastigota Epimastigota

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56

Figura 15. Mecanismo de ação proposto para os fármacos Benzonidazol e Nifurtimox

para o tratamento da doença de Chagas.

FONTE: adaptado de DIAS, et al., 2009 [78].

3.1.2. Cruzipaína como alvo terapêutico.

Devido à dificuldade no tratamento da doença de Chagas, há uma necessidade

importante de novos fármacos eficientes e seguros como alterativa terapêutica. Atualmente,

alguns autores têm relatado diferentes enzimas como alvo válido para tratamento da doença

de Chagas, como a cisteíno protease cruzipaína [79–81] e a proteína de transporte de

elétrons citocromo b [82]. Além disso, há muitas vias metabólicas e macromoléculas

específicas desse organismo, uma vez que a seletividade é um importante ponto a ser

considerado, pois os protozoários também são eucariotos, assim como seu hospedeiro

vertebrado. Entretanto, devido à dificuldade na especificidade de novos compostos por alvos

do protozoário, possíveis efeitos de antagonistas devem ser cuidadosamente observados [76].

Diversas proteases desempenham funções essenciais para a patogenicidade da doença

de Chagas e têm se tornado interessantes alvos para estudos na descoberta de novos

candidatos a fármacos. A partir do sequenciamento genômico de Trypanosoma cruzi, foram

identificadas diversas CP, além várias outras proteases [70]. Dentre as CP, a cruzipaína é

expressa por diversos genes presentes no protozoário e tem apresentado altos níveis de

antígenos em pacientes portadores da fase crônica da doença [83]. Considerada como alvo

validado para tratamento da doença [84], a cruzipaína é a principal cisteíno protease do

protozoário, que desempenha papel fundamental na nutrição parasitária, além da sua

importância no processo de invasão da célula hospedeira, evasão do sistema imune e

diferenciação celular [76]. A enzima é encontrada em todas as fases do ciclo de vida do

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57

protozoário, apresentando diferentes funções e localizações em cada uma das suas

morfologias [85]. Em epimastigota, a cruzipaína concentra-se principalmente nos

reservossomos, organela protista semelhante ao lisossomo. Ela é preferencialmente

secretada em tripomastigota, responsável pela infecção da célula hospedeira e é

predominantemente encontrada na membrana celular em amastigotas [71]. Devido a função

essencial da cruzipaína para a viabilidade e virulência do protozoário, inibidores desta enzima

têm sido considerados promissores para o desenvolvimento de novas terapias para a doença

[86], com alguns relados de possíveis candidatos para o tratamento da doença de Chagas.

Protozoários de T. cruzi deficientes para a cruzipaína ainda foram capazes de promover a

infecção in vitro, porém não sobreviveram a defesa da célula hospedeira [80]. Considerando a

inibição por substâncias químicas, o processo de invasão e crescimento intracelular do

protozoário T. cruzi foram inibidos, comprovando a importante função dessa proteína para a

estabilização e progressão da doença [87]. Inibidores covalentes reversíveis também têm sido

relatados como potentes substâncias na inibição da atividade de cruzipaína, bem como

relevantes efeitos biológicos em diferentes morfologias do protozoário [86]. Além das

características citadas, a cruzipaína também apresenta alta similaridade com algumas

catepsinas de humanos, como a catepsina L. Essa semelhança ocorre principalmente devido à

massa molecular, condições de reação e seletividade no sítio ativo [71], além da topologia.

Dessa maneira, buscamos também entender os efeitos biológicos obtidos a partir da inibição

da CP em células de mamífero nos próximos capítulos.

3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar o potencial tripanossomicida dos inibidores de cisteíno proteases;

Determinar a inibição da atividade de CP expressas pelos protozoários da cepa Y de

Trypanosoma cruzi;

Avaliar o efeito biológico dos inibidores durante o processo in vitro de invasão celular.

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58

3.2. MATERIAIS E MÉTODOS

3.3.1. Trypanosoma cruzi

A forma epimastigota dos protozoários da cepa Y de T. cruzi foi cultivada por no máximo

sete dias à 25 °C em tubo de centrífuga de 50 mL com meio LIT pH 7,2 ± 0,2 suplementado

com: 10 % FBS inativado, 0,5 % penicilina/estreptomicina, 0,2 % glicose 0,01 % imina bovina,

0,4 % cloreto de sódio (NaCl), 0,04 % cloreto de potássio (KCl), 0,8 % de difosfato de sódio

(Na2HPO4), 0,5 % de triptose, 0,5 % de infuso de fígado, 0,1 % de imina. Após cada período de

cultura foi realizado uma nova passagem para manutenção dos parasitos.

3.3.2. Células LLC-MK2

A células epiteliais de rim de macaco LLC-MK2 foram mantidas em frascos de cultura

T75 a 37 oC em 5% CO2 em meio comercial RPMI-1640 (Cultilab) pH 7,2 ± 0,2 modificado com

0,22 % de bicarbonato de sódio (Na2CO3), 0,2 % glutamina. A manutenção celular foi realizada

a cada 72 h.

3.3.3. Atividade tripanossomicida

A partir de uma solução estoque a 50 mM em DMSO dos compostos testados frente aos

protozoários de T. cruzi, diferentes concentrações foram preparadas na concentração final

limite do solvente de 0,5%. Para as células parasitárias (forma tripomastigota) foi preparada

uma solução da substância diluída em meio de cultura em uma concentração dez vezes maior

do que a desejada. Assim, 10 µL dessa solução concentrada foi dez vezes diluída diretamente

no poço, contendo 90 µL de parasitos à concentração de 1·107 cel·mL-1 e incubada por 24 h. A

viabilidade foi determinada a partir do método colorimétrico com MTT ou por citometria de

fluxo, como descrito a seguir.

3.3.3.1. Método colorimétrico – MTT

A viabilidade celular da forma promastigota dos protozoários foi avaliada utilizando o

ensaio colorimétrico com MTT na presença de PMS. Para o ensaio, 10 µL de uma solução de 5

mg de MTT diluído em 1 mL de PBS juntamente com 0,22 mg PMS foi incubada com os

protozoários por 4 h. Após esse período, 70 µL de uma solução 10% SDS e 0,01% HCl foram

adicionados às amostras juntamente com 30 µL de DMSO por 90 minutos para solubilização

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59

dos cristais de formazan formados pela reação. A viabilidade foi determinada a partir da

absorbância medida pelo espectrofotômetro a λ = 570 nm.

3.3.3.2. Densidade celular por citometria de fluxo

A citometria de fluxo foi utilizada para determinação da densidade celular para o

acompanhamento do crescimento in vitro da forma promastigota dos protozoários na

presença de diferentes inibidores de CP. As células parasitárias foram diluídas em PBS (cinco

ou dez vezes) e a concentração celular foi realizada a partir da distribuição das populações

celulares em relação ao tamanho de partícula, separando células inteiras de fragmentos

celulares usando o módulo InCyte no programa guavaSoft2.7 no citômetro de fluxo.

3.3.4. Atividade proteolítica

3.3.4.1. Atividade proteolítica no lisado celular

Após 5 dias a infecção em frascos infectados, a forma tripomastigota foi liberada para o

meio extracelular devido à alta densidade parasitária citoplasmática. Esses protozoários na

forma infectante foram então ajustados para a concentração de a 1·10-6 cel·mL-1,

centrifugados a 500 G, e ressuspensos em 10 mL de tampão fosfato de sódio frio (10 mM, pH

8,0). Os parasitos foram lisados e a atividade proteolítica foi determinada como previamente

descrito em 3.2.4.2.

3.3.4.2. Atividade em amastigota extracelular

Após dez dias da infecção celular no frasco de cultura, a alta densidade do parasito

intracelular promove a lise da célula hospedeira e é possível encontrar formas amastigotas

extracelulares. A atividade proteolítica no interior da amastigota extracelular intacta foi

analisada utilizando o substrato fluorogênico seletivo Z-FR-MCA. Após a incubação do

parasito por diferentes períodos com inibidores, todas as amostras foram transferidas para

uma placa preta de 96 poços e 10 µM da solução de substrato foram adicionados a cada

poço, seguido de 15 min de incubação. As imagens foram obtidas usando microscopia

fluorescente pelo sistema de imagem EVOS FL da Thermo Fisher Scientific. A análise foi

qualitativa e comparada com a análise quantitativa realizada com o extrato extracelular.

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60

3.3.5. Avaliação da atividade tripanossomicida em amastigota intracelular

3.3.5.1. Cepa Tulahuen

Os ensaios com a cepa Tulahuen foram realizados no laboratório de parasitologia do

Prof. Sérgio de Albuquerque da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto com o

auxílio da Dra. Carla Lopez. Para o ensaio, foi utilizado o protozoário geneticamente

modificado para expressão de β-galactosidase, no qual as células hospedeiras da linhagem

LLC-MK2 foram plaqueadas em placas de 96 poços na concentração de 5·104 células·mL-1. A

forma infectante tripomastigotas da cepa Tulahuen LacZ foi adicionada na concentração de

5·105 parasitos·mL-1 e incubada por 48 h a 37 °C e atmosfera de 5 % de CO2. Após o período

de incubação, as tripomastigotas presentes no sobrenadante foram retiradas com sucessivas

lavagens com PBS, permanecendo apenas as formas amastigotas intracelulares. Os inibidores

a serem testados foram adicionados às células em diferentes concentrações seguido por

incubação de 72 h. Ao final deste período o substrato CPRG (chlorophenol red β-D-

galactopyranoside, 400 μM em 0,3 % Triton X-100, pH 7,4) foi adicionado e incubado por 4 h

a 37°C. Após incubação, as placas foram analisadas em espectrofotômetroemà 570 nm,

utilizando como controle positivo o Benzonidazol nas mesmas concentrações das substâncias

e como controle negativo o DMSO, solvente utilizado para solubilização das mesmas.

3.3.5.2. Cepa Y

Os ensaios foram realizados em placas de 96 poços, com incubação das células

imortalizadas de camundongo Mus musculus da linhagem C2C12 na concentração de 5·104

células·mL-1. As formas tripomastigotas da cepa Y foram adicionadas na concentração de

2,5·105 parasitos·mL-1 e incubadas overnight a 37 °C com 5 % de CO2. Após esse período, as

formas tripomastigotas presentes no sobrenadante foram retiradas com sucessivas lavagens

com PBS, permanecendo apenas as formas amastigotas intracelulares. As substâncias a serem

testadas foram adicionadas em diferentes concentrações e incubadas por 72 h. Ao final deste

período, as placas foram sucessivamente lavadas com PBS, fixadas com 4 % de formaldeído,

coradas com DAPI e analisadas no HTS (High Content Screening). Foram utilizados como

controle positivo o Benzonidazol nas mesmas concentrações das substâncias e como controle

negativo o DMSO, solvente utilizado para solubilização das mesmas.

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61

3.3.6. Ensaios de invasão e índice de internalização

A fim de determinar o potencial inibitório de invasão parasitária in vitro a partir dos

inibidores de CP, a infecção parasitária foi avaliada usando três condições: (i) a forma

tripomastigotas e os compostos (1 e 10 µM) foram incubados com as células hospedeiras por

18 h; (ii) tripomastigotas foram previamente incubadas com os compostos nas mesmas

concentrações durante 2 h, centrifugadas a 465 G para substituir o meio e remover os

compostos, seguido da infecção celular; (iii) as células aderentes de mamífero utilizadas como

hospedeiras (LLC-MK2) foram previamente incubadas com os compostos utilizando as

mesmas condições durante 2 h, lavadas duas vezes com PBS e depois a infecção foi realizada

com tripomastigotas. Para todos os experimentos, foi utilizada uma proporção de células

hospedeiras 1: 5 parasitos, bem como a incubação do sistema a 37 °C, 5 % de CO2 com 90 %

de umidade. No final da infecção, as células hospedeiras foram lavadas três vezes com PBS,

fixadas com formaldeído a 5 % e coradas com DAPI. Imagens foram obtidas com microscopia

de epifluorescência e o índice de invasão foi determinado considerando a condição não

tratada como 100 %.

3.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.4.1. Avaliação da inibição da atividade proteolítica

Todos os compostos foram caracterizados como inibidores potentes da cisteíno

protease [39], [40]. Em particular, são potentes inibidores da cruzaína, uma forma

recombinante de cruzipaína [39]. Aqui, uma comparação entre a inibição da atividade da

cisteíno protease em lisados e parasitos intactos foi investigada para caracterizar a

seletividade e potência de nossos compostos usando diferentes condições e fontes proteicas.

A expressão da cruzipaína é conhecida por ocorrer em todos os estágios do ciclo de vida do

parasito e sua atividade é essencial para vários processos celulares [88]. Em geral, a maioria

dos compostos foi capaz de inibir a atividade proteolítica na faixa de 40-50% nos lisados

celulares para ambos ou pelo menos uma das morfologias do parasito (Tabela 3). A diferença

entre a atividade inibitória de proteases de lisados epimastigotas e tripomastigotas pode ser

devida ao complexo de isoformas de cruzipaína e outras CP expressas e seus níveis nesses

respectivos estágios do ciclo de vida [71]. No entanto, a seletividade entre as proteases de

diferentes morfologias dos protozoários foi diferente entre os inibidores, com maior

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62

preferência para as proteases do extrato enzimático obtido a partir da lise celular de

tripomastigotas. Sabe-se também que há um nível mais elevado de cruzipaína extracelular nas

formas tripomastigotas [71]. Pode ser a razão da maior preferência ou inibição facilitada da

atividade proteolítica nesse extrato intracelular, uma vez que a cruzipaína é encontrada

preferencialmente no ambiente extracelular nessa morfologia.

Uma ação proteolítica inibitória dependente do tempo foi observada para derivados de

dipeptidil nitrila em formas amastigotas extracelulares analisadas por microscopia de

fluorescência, sem efeito tóxico para os parasitos (Tabela 3). Todos os inibidores foram

eficientes em promover a diminuição da fluorescência referente à conversão do substrato

seletivo Z-FR-MCA em 6 h, principalmente Neq0662 e Neq0663, enquanto E-64 foi menos

eficaz nas mesmas condições. No entanto, após um período prolongado de incubação, os

inibidores reversíveis tiveram sua potência diminuída, apresentando maior fluorescência.

Devido à atividade dependente do tempo, as imagens fluorescentes também foram

interessantes para confirmar o mecanismo de ação proposto para os inibidores de CP, mesmo

que de maneira indireta. Como inibidores reversíveis covalentes competitivos, essas

substâncias podem se ligar ao alvo enzimático presente no parasito, bloqueando sua

interação com o substrato e promovendo a diminuição da fluorescência. Após um longo

período de incubação, a interação entre a enzima e o inibidor é perdida e a enzima se torna

livre novamente para ligar e clivar a molécula do substrato, promovendo um incremento na

fluorescência. Comparando com os inibidores irreversíveis, E-64 e MMTS, promoveu-se o

efeito oposto, no qual a inibição da atividade proteolítica total foi alcançada após 18 h de

incubação. A irreversibilidade de E-64 e MMTS já é bem descrita [89] e esta evidência reforça

o perfil de reversibilidade das dipeptidil nitrilas descritas neste ensaio. Em relação ao perfil

toxicológico, os inibidores reversíveis compõem uma abordagem interessante, devido à

menor probabilidade de apresentarem efeitos colaterais promovidos por efeitos prolongados

fora do alvo, por exemplo, ao atingir e inativar enzimas não-alvo (off target effect) [9].

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63

Tabela 3. Inibição relativa (%) da atividade proteolítica (IAP) baseado na hidrólise do

substrato fluorescente seletivo para CP Z-FR-MCA utilizando a morfologia amastigota

(intacta), e lisados celulares de epimastigota e tripomastigota de Trypanosoma cruzi.

Substância IAP – amastigota ¹ IAP – lisado ² (%)

6h 18h Ep. Trip.

Neq0396

15,8 41,9

Neq0583

49,1 16,1

Neq0594

16,8 22,0

Neq0662

* 42,7

Neq0663

* 42,7

Neq0666

ND ND

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64

E64

99,2 99,9

MMTS

88,2 53,5

Controle

0,0 0,0

¹ Amastigotas extracelulares foram coletadas da cultura infectada in vitro após a lise

e liberação natural das células e incubada com os inibidores a 10 µM. Após esse período, os

protozoários foram incubados com uma solução do substrato fluorescente seletivo para CP e

as imagens de microscopia de fluorescência foram obtidas. Experimentos obtidos com o

auxílio da doutoranda Daiane Y. Tezuka. ²Os parasitos foram lisados e a atividade proteolítica

foi quantificada, como descrito em 3.2.4.2.

ND: não detectado / * não testado.

3.4.2. Avaliação da seletividade dos inibidores

A afinidade de um inibidor ao seu alvo é considerada constante em termos práticos de

farmacologia com sua interação bioquímica estimada [82]. Além disso, a seletividade é um

ponto importante na descoberta e otimização de um novo fármaco, buscando substâncias

mais seletivas e com menos efeitos colaterais [90]. Consideramos aqui uma triagem baseada

na viabilidade celular contra as células alvo e hospedeira para estabelecer uma ideia sobre a

seletividade de nossos inibidores a 10 µM. Na mesma condição, todos os inibidores

mostraram seletividade significativa para a morfologia tripomastigota, exceto o composto

Neq663 com um perfil tóxico semelhante a os tipos celulares (Figura 16A). Com o objetivo de

alcançar uma faixa de segurança na administração de medicamentos, a atividade biológica e a

possível reatividade cruzada de novos fármacos devem ser compreendidas [9]. No entanto,

mesmo para aqueles inibidores de cruzaína altamente potentes, é bastante difícil

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65

correlacionar a inibição da cisteíno protease à morte celular [39]. Em um sistema biológico,

muitas barreiras devem ser superadas após a administração do fármaco para atingir o alvo

macromolecular, e vários trabalhos têm mostrado a importância destes [89, 90]. Os inibidores

também apresentaram atividade tripanossomicida em baixa concentração, na qual o

Neq0583 foi estatisticamente mais potente que o benzonidazol (Figura 16B). Além disso,

Neq0594 e Neq0662 foram tão citotóxicos quanto o fármaco de referência benzonidazol

contra o parasito. Mesmo com um mecanismo de ação diferente do benzonidazol, os

inibidores de CP foram capazes de promover a morte celular da forma infecciosa do parasito.

Assim, os próximos ensaios foram baseados em hipóteses sobre o seu efeito durante a

invasão e proliferação celular no perfil biológico complementar para o composto.

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66

Figura 16. Viabilidade celular da célula hospedeira LLC-MK2 e tripomastigota de T. cruzi

cepa Y incubada por 24 h com os inibidores a 10 µM (A). O teste t não pareado foi realizado

para verificar a diferença significativa entre a seletividade para hospedar e as células parasitos

com valores de P <0,05. Também foram realizadas comparações múltiplas pelo teste de

Dunnet entre a atividade biológica de dos inibidores de CP e o fármaco de referência

benzonidazol contra tripomastigotas da cepa Y de Trypanosoma cruzi, com base em valores

de P <0,05 (B).

FONTE: Autoria própria.

3.4.3. Inibição do crescimento de amastigotas intracelulares

Diferentes cepas são responsáveis por características bioquímicas e moleculares das

linhagens de Trypanosoma cruzi [92]. Devido a essa diversidade genética, a atividade biológica

deve ser verificada em diferentes cepas do protozoário [93]. Aqui, ensaios de concentração-

resposta foram realizados avaliando os inibidores de CP mais potentes nos ensaios anteriores

A)

Diferença entre as médias

-60 -40 -20 0 20 40

Benzonidazol - Neq0396

Benzonidazol - Neq0583

Benzonidazol - Neq0594

Benzonidazol - Neq0662

Benzonidazol - Neq0663

Benzonidazol - Neq0666

Benzonidazol - E-64

Inibidores (10 M | 24h)

Via

bil

ida

de

ce

lula

r (%

)

Neq

0396

Neq

0583

Neq

0594

Neq

0662

Neq

0663

Neq

0666

Benzo

nida

zol

E-64

0

25

50

75

100

125 LLC-MK2

Tripomastigota

* **

*

** ***

B)

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67

(Neq0662, Neq0663 e Neq0666) utilizando células de LLC-MK2 infectadas com diferentes

cepas de T. cruzi (Tulahuen e Y) e o índice de seletividade foi calculado para cada um deles.

Em geral, a cepa de Tulahuen é mais sensível aos compostos conforme o esperado (Tabela 4).

Analisando o índice de seletividade (IS) entre cada cepa de T. cruzi comparada com a célula

hospedeira, a melhor substância foi a Neq0662, mostrando IS maior que 200 e 25 vezes para

as amastigotas de Tulahuen e Y, respectivamente. Este parâmetro reflete na janela de

segurança para tratar a doença sem efeito tóxico para as células hospedeiras, com base na

concentração citotóxica para as células hospedeiras (IC50) e a concentração efetiva contra as

células alvo (EC50). Nenhuma análise mecanística foi feita aqui, mas as análises comparativas

de IS descritas na Tabela 4 podem representar uma dependência das diferentes taxas de

crescimento desses parasitos dentro das células hospedeiras [94], bem como os possíveis

mecanismos de sobrevivência intracelular desenvolvidos e a relevância de atividade

cruzipaína para cada cepa. No entanto, o Neq0662 apresentou IS duas vezes maior para a

cepa mais resistente do T. cruzi do que o fármaco antichagásico disponível no Brasil, o

benzonidazol. É importante ressaltar que a discussão farmacológica sobre o mecanismo de

ação do benzonidazol e do Neq0662 é limitada, uma vez que seus mecanismos de ação são

bastante distintos. A ação do benzonidazol é em parte dependente da formação de radicais

livres induzida pelo estresse oxidativo intracelular [78] com efetividade durante a infecção

aguda, mas ação limitada na fase crônica [95]. Este fato reforça a restrita eficácia da atual

opção de tratamento da Doença de Chagas e a importância de novos fármacos para o

tratamento desta parasitose. Em contraste, os inibidores da cruzaína atuam por inibição do

alvo covalentemente, promovendo a limitação de alguns processos celulares essenciais para a

sobrevivência e estabelecimento de infecção parasitária [84, 95, 96]. Assim, o mecanismo de

ação de nossos inibidores pode ser uma alternativa para atuar no alvo dentro da célula do

parasito, bem como promover o decaimento do número de parasitos intracelulares para

ambas as cepas de protozoários. Além disso, investigamos a eficácia de nossos inibidores de

cruzaína a nível bioquímico em suprimir a infecção in vitro, como discutida no próximo tópico.

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68

Tabela 4. Índice citotóxico contra a célula hospedeira isolada (EC50 para LLC-MK2) e as

cepas intracelulares Tulahuen e Y de T. cruzi (IC50). O índice de seletividade (IS) é mostrado

como a relação EC50 / IC50.

Inibidor

LLC-MK2 Cepa Tulahuen Cepa Y

EC50 (µM) IC50 (µM) IS IC50 (µM) IS

Neq0662 146,7 (± 7,55) 0,72 (± 0,03) 203 5,86 (± 0.16) 25,0

Neq0663 107,3 (± 6,12) 7,68 (± 0,69) 13,9 106,7 (± 0.54) 1,00

Neq0666 69,45 (± 4,78) 43,42 (± 3,96) 1,59 6,73 (± 0.28) 10,3

Benzonidazol 61,6 (± 6.12) 3,23 (± ) 4,29 19,1 5,37 (± 0.38) 11,5

Algumas características estruturais foram determinantes para a atividade biológica

apresentada na Tabela 4. Uma atividade completamente diferente foi observada para os

diastereômeros Neq0662 e Neq0663 (Figura 17). A inversão da estereoquímica para o grupo

CF3 que fica no início do sítio P3 foi crucial para a atividade, alterando a potência em cerca de

18 vezes em relação às amastigotas da cepa Y. Essa diferença é provavelmente devida a

características estruturais, uma vez que a estereoquímica do substituinte CF3 parece ser um

fator essencial para o reconhecimento e a estabilização do inibidor no sítio da enzima. Essas

diferentes posições de grupo são essenciais para o planejamento de inibidores covalentes de

CP, uma vez que essas posições no sítio ativo da enzima são responsáveis pela sua

seletividade [10]. É observado também que para Neq0662 e Neq0663 a alteração da

esteroquímica do grupo trifluorocarbonil em P2 de R (Neq0662) para S (Neq0663) promoveu

uma redução na potência para ambas as cepas: Tulahuen (10x) e Y (18x). Para o Neq0666,

uma mudança radical dos grupos químicos substituindo todas as posições (P1, P2 e P3) levou

a uma mudança completa na potência e na seletividade, com maior preferência para a cepa Y.

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69

3.4.4. Avaliação da supressão da invasão in vitro dos protozoários pelos inibidores

A cruzipaína tem sido evidenciada como uma enzima crucial para invasão da célula

hospedeira por parasitos de T. cruzi, mesmo no hospedeiro invertebrado [85, 97]. Para

investigar melhor o efeito biológico de nossos inibidores durante a infecção in vitro de células

de mamíferos por protozoários de T. cruzi, diferentes esquemas de tratamento com os

melhores inibidores de CP foram realizados para caracterizar sua atividade durante este

processo. Parasitos deficientes em cruzipaína não apresentam invasão ou desenvolvimento

intracelular, além de não modificarem a resposta imune da célula hospedeira em ensaios in

vitro, comprovando a importância dessa enzima para o desenvolvimento do ciclo de vida do

parasito [80]. Aqui, observamos uma supressão da invasão parasitária durante o modelo de

infecção in vitro de cerca de 60% para as substâncias Neq0662 e Neq0666, enquanto 80% foi

atingido para Neq0663 quando as células hospedeiras foram tratadas com 10 µM do inibidor

(Figura 17). Em geral, a inibição da invasão foi dependente da concentração do inibidor para

todos os tratamentos, com melhor supressão da invasão quando utilizada a maior

concentração da substância. Os resultados mostram claramente a atividade de Neq0662,

Neq0663 e Neq0666, responsáveis por mais de 50% da inibição da invasão tripomastigota,

mesmo quando usadas para tratar as células hospedeiras anteriormente. Com base nisso,

propomos que os inibidores possam se acumular rapidamente dentro da célula hospedeira,

promovendo a inibição da invasão. Essa característica físico-química tem sido reportada aos

sais de bistiazólio aplicados contra Plasmodium falciparum, nos quais também foram capazes

de se acumular dentro da célula hospedeira, promovendo sua atividade antimalárica [99].

Uma vez incubada com os inibidores de cisteíno protease, a infecção parasitária da célula

hospedeira também foi significativamente suprimida, o que reforça a hipótese do papel

crucial das CP durante a invasão da célula hospedeira e a sobrevivência do parasito. De

acordo com a literatura, a inibição da cisteíno protease cruzipaína afeta o desenvolvimento

do parasito intracelular em macrófagos, com redução da taxa de parasitemia semelhante ao

benzonidazol em camundongos infectados [100]. Além disso, estudos in vivo também

mostram a diminuição do dano cardíaco pela ação de um inibidor irreversível da cisteíno

protease [97]. No geral, nossos inibidores não foram citotóxicos para as células hospedeiras,

no qual evidencia o efeito antiparasitário seletivo em direção ao T. cruzi (Figura 16A). A

seletividade de um fármaco tem sido um dos pontos mais difíceis quando as CP são utilizadas

como alvo terapêutico, devido à alta similaridade dessa classe de proteínas, mesmo de

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70

diferentes tipos celulares [36]. Nossos compostos atendem a este requisito importante de

acordo com estudos realizados com diferentes classes de proteases (Figura 12). Entretanto,

estudos futuros podem ser realizados para determinar o perfil de atividade in vivo destas

sustâncias, uma vez que se mostraram candidatas promissoras para o desenvolvimento de

novos fármacos.

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71

Figura 17: Supressão da infecção in vitro pela cepa tripomastigota de T. cruzi em células

LLCMK-2 é promovida pelos inibidores da cruzipaína sob tratamento diferenciado: célula

hospedeira previamente tratada com os inibidores por 2 h (barras azuis); tripomastigota pré-

tratado por 2 h com os inibidores (barras verdes) e infecção parasitária na presença de IPC

(barras púrpuras) (A). Estrutura química dos inibidores de cruzipaína mais potentes para o

ensaio de invasão (B).

FONTE: Autoria própria.

A) Neq0662

Neq0663

Neq0666

B)

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72

CONCLUSÕES PARCIAIS

A atividade de CP no interior das amastigotas foi consideravelmente inibida de maneira

reversível pelas nossas substâncias, com maior potência contra o extrato enzimático obtido a

partir da lise de tripomastigotas. Além disso, essa preferência pelas CP do parasito levou à

supressão da invasão parasitária por nossos inibidores em todos os tratamentos, mostrando a

importância dessa classe de enzimas para a infecção e estabelecimento da doença. Por fim, o

Neq0662 foi mais eficiente na diminuição do número de parasitos intracelulares com maior IS

do que o fármaco comercial benzonidazol. Mais do que uma alternativa para controlar a taxa

de proliferação de protozoários dentro das células hospedeiras, os inibidores da cruzaína

também se mostraram promissores para aplicação no controle da infecção parasitária em

estudos in vitro, com promissor resultado em relação à parada do ciclo de vida do parasito.

De maneira geral, a atividade de CP foi considerada relevante em todas as morfologias do

parasito, além de sua importância durante o processo de infeção celular, comprovando sua

funcionalidade como alvo terapêutico no desenvolvimento de fármacos para o tratamento da

doença de Chagas.

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73

CAPÍTULO 4

Atividade Antineoplásica de inibidores de cisteíno proteaseas na linhagem celular de câncer de pâncreas

MiaPaCa-2.

As atividades descritas nesse capítulo estão publicadas em:

J. C. Quilles Junior, M. D. Bernardi, P. H. J. Batista, S. C. M. Silva, C. M. R. Rocha, C. A. Montanari, A. Leitão.

Biological Activity and Physicochemical Properties of Dipeptidyl Nitrile Derivatives against Pancreatic Ductal

Adenocarcinoma Cells (2018). Anti-Cancer Agents in Medicinal Chemistry.

DOI: 10.2174/1871520618666181029141649

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74

4.1. REVISÃO BIBLIOGRAFICA

4.1.1. Câncer e Metástase

O acúmulo de alterações genéticas ocasionadas por fatores intra ou extracelulares é

fundamental para a anormalidade celular induzindo o crescimento e divisão celular de

maneira descontrolada. Sem responder adequadamente aos sinais de controle do

comportamento normal celular, tais características evidenciam o perfil de células cancerosas,

implicando na perda generalizada de suas funções e a acumulação dessas células levando a

formação do tumor primário no tecido originário [101].

Após sucessivas etapas de divisão celular com o acúmulo de aberrações genéticas, as

alterações nas características da célula podem promover a capacidade invasiva, originando o

processo de metástase [101]. A formação do tumor em outro tecido diferente do originário é

apresentada na Figura 18. Complexos eventos celulares são requeridos para o processo

metastático, tais como: (a) invasão através da degradação da matriz extracelular; (b) alcance

dos vasos sanguíneos; (c) permanência e transporte na corrente sanguínea; (d) instalação em

tecidos distantes do originário; (e) sobrevivência nesse novo ambiente e (f) reinício da

proliferação e sobrevivência celular no local metastático, processo conhecido como cascata

de invasão-metástase [102].

Figura 18. Processo geral de formação de metástase por células cancerosas.

FONTE: adaptado de VALASTYAN, et al., 2011 [102].

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75

4.1.2. Câncer de Pâncreas e Catepsina L

O pâncreas é uma glândula localizada na parte abdominal e apresenta função endócrina

e exócrina compondo o sistema digestivo. A combinação das funções dos compartimentos

exócrino e endócrino é essencial para metabolismo sistêmico de nutrientes, auxiliando o

processo de digestão e a subsequente regulação da homeostase da glicose sanguínea. A

maior parte do pâncreas é formada por células com função exócrina, constituindo até 90% do

tecido, enquanto o compartimento endócrino compreende cerca de 1-2% do pâncreas [98,

99].

O câncer de pâncreas é extremamente agressivo, com característica invasiva e

migratória que contribui para a progressão do processo metastático [31]. Dentre os cinco

tipos de cânceres mais fatais, o câncer de pâncreas apresenta baixa expectativa de

sobrevivência após sua descoberta, em torno de 5-6% [105]. No Brasil, 4% de todas as mortes

causadas por câncer são decorrentes ao câncer de pâncreas, segundo o Instituto Nacional do

Câncer (INCA). Com difícil diagnóstico e poucas alterativas terapêuticas, a única chance de

cura é a ressecção cirúrgica, porém, 75% dos pacientes cirúrgicos ainda apresentam a doença

na forma metastática [106]. Após a cirurgia, radioterapia e quimioterapia são as opções para

a progressão do tratamento. A gencitabina é um dos quimioterápicos mais utilizados,

apresentando maior percentual no aumento da sobrevida dos pacientes cirúrgicos [107].

Entretanto, o sucesso da quimioterapia com gencitabina tem apresentado limitações devido à

rápida resistência adquirida pelo tumor, o que leva a propor novos estudos para

desenvolvimento de terapias [105], também baseadas em diferentes alvos.

As cisteíno catepsinas estão presentes em células de mamíferos e com importantes

funções para o desenvolvimento e progressão do tumor, como o processo de angiogênese,

apoptose e metástase [108], [109]. O termo catepsina refere-se às aspartato, serino e cisteíno

proteases (B, C, H, F, K, L, O, S, V) intracelulares que atuam na degradação proteica nos

lisossomos e no processamento de proteínas em outras organelas [109]. Entretanto,

evidências de que são importantes no processo de degradação da matriz proteica e na

mobilidade celular também comprovam sua capacidade de serem ativas em ambiente

extracelular [110], o que sugere que seu substrato e função variam de acordo com sua

localização [16].

A expressão de CP tem sido observada em diferentes tipos de tumores, como ovário,

mama, próstata, pulmão, pâncreas e gástrico, além de seu nível de expressão estar

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76

relacionado ao grau de estágio da doença [111]. Dentre as CP conhecidas, as catepsinas B e L

(CTSB e CTSL) são consideradas biomarcadores em células cancerosas, com diferentes níveis

de expressão, no qual se apresentam em maiores quantidades nos tumores metastáticos [36].

Além disso, elas não só se apresentam essenciais para os processos de invasão e migração

celular, mas também desempenham importante papel na auto proteólise e ativação dos

fatores de crescimento e citosinas [33].

A relevância da CTSL no processo metastático tem indicado que tal comportamento

celular é auxiliado pela atividade de desta enzima, levando ao processo de invasão e migração

celular [112]. Devido a isso, a inibição de CTSL em células cancerosas com característica

invasiva é considerada como uma alternativa terapêutica o tratamento e controle de

tumores. Uma das etapas essenciais durante a cascata metastática é a degradação da matriz

extracelular [102], processo bem característico de células com potencial migratório. A partir

da ação de um inibidor competitivo de CTSL, o KD-1, a degradação de colágeno por essa

cisteíno protease foi inibida, bem como a atividade da enzima em células de câncer

metastático de mama [113]. Outra característica de células tumorais é o crescimento

descontrolado dessas células e a sua aglomeração no tecido originário, formando o tumor

primário. Estudos genéticos evidenciaram a participação essencial de CTSL durante o

desenvolvimento da doença e, mesmo com a inatividade da inibição enzimática para o início

da progressão do tumor, efeito antitumoral foi observado nas etapas posteriores de evolução

da doença [114]. O ciclo celular é também um processo essencial para a proliferação celular

e sua regulação pode ser afetada pela atividade de CTSL, devido à participação da forma

truncada da enzina na degradação de importantes fatores nucleares de transcrição [115].

Esses exemplos evidenciam a importância da CTSL para processos celulares voltados para a

progressão e estabelecimento do câncer, e em geral, torna a CTSL um alvo promissor na

busca por novas alternativas terapêuticas.

4.1.3. Terapia combinada como alternativa terapêutica

O uso de combinações de fármacos com mecanismos de ação diferentes com o intuito

de atingir diferentes populações celulares é conhecido como terapia combinada e visa obter

respostas mais eficazes do que as observadas pela monoterapia. O sinergismo do efeito

terapêutico com a redução da dose e toxicidade, estão dentre os efeitos almejados pela

terapia combinada, além de retardar o processo de resistência a fármacos adquiridos pelas

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77

células [116]. Dessa maneira, as adaptações das células cancerosas podem ser suprimidas

pela administração de fármacos quimioterápicos com diferentes mecanismos de ação,

reduzindo o surgimento de novas células tumorais. Os fármacos anticancerígenos baseados

em mecanismos similares podem atuar de forma sinérgica, promovendo maior seletividade

ao alvo e melhor eficiência terapêutica [117]. Esse método alternativo de terapia tem sido

utilizado em algumas doenças, como câncer, hipertensão e AIDS. Baseado nisso, indústrias

farmacêuticas têm dedicado atenção na descoberta de novas entidades moleculares,

reformulando substâncias existentes em combinação com novos produtos [118].

Além da aplicação da terapia combinada como agente antineoplásico, seu uso no

tratamento de parasitoses como a doença de Chagas também tem sido evidenciado [63].

Inibidores de CP têm se mostrado ativos, mesmo em protozoários resistentes aos fármacos

nifurtimox e benzonidazol. Além disso, sua aplicação em combinação com benzonidazol

alcançou efeito aditivo de morte parasitária [83]. Nesse trabalho, buscamos aplicar a

combinação de nossos inibidores com o fármaco de referência utilizado no tratamento do

câncer de pâncreas para avaliar os benefícios terapêuticos da combinação dessas substâncias.

4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar o efeito de novos inibidores de cisteíno proteases em células de câncer

metastático de pâncreas (MiaPaCa-2);

Determinar o potencial citostático dos melhores inibidores em modelos 2D e 3D de

MiaPaCa-2 por ensaios de migração, formação de colônias e análise do ciclo celular;

Avaliar a combinação dos melhores inibidores de CP com o fármaco de referência no

tratamento do câncer de pâncreas (gencitabina);

Quantificar a inibição da atividade proteolítica de CP expressas pela linhagem

MiaPaCa-2 obtidas a partir da lise celular.

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78

4.3. MATERIAIS E MÉTODOS

4.3.1. Cultura Celular

As células de fibroblastos imortalizadas 3T3 clone A-31 oriundas de camundongos

foram cultivadas em meio DMEM com vermelho fenol (pH 7,2 ± 0,2) suplementado com: 0,15

% bicarbonato de sódio (NaHCO3), 0,35 % glicose (C6H12O6), 10 % FBS inativado e 0,5 %

penicilina/estreptomicina (v/v). As células foram mantidas em garrafas de cultura T75 a 37 °C

em 5 % CO2 durante 3 dias ou até atingirem a confluência de 70 %. Para as células de câncer

de pâncreas MiaPaca-2 o mesmo procedimento foi realizado, com a adição de 2,5 % de soro

de cavalo.

4.3.2. Viabilidade Celular

A viabilidade celular foi avaliada utilizando o ensaio colorimétrico com MTT diluído em 1

mL de meio de cultura na concentração final de 5 mg·mL-1. Após incubação com os inibidores,

o meio de cultura foi trocado por 100 µL de meio contendo MTT e incubados por 3 h. Após

esse período, o meio de cultura foi aspirado e 100 µL de DMSO foram adicionados às células

para solubilização dos cristais de formazan com leitura da absorbância a λ = 570 nm após 30

minutos.

4.3.3. Inibição da atividade de cisteíno protease

A atividade proteolítica total no lisado celular foi avaliada como descrito no item 2.2.4.2

com algumas adaptações para as células de mamífero. As células foram cultivadas como

descrito anteriormente, ajustadas na concentração de 106 cel·mL-1 e ressuspendidas em

tampão fosfato gelado 1 M pH 8,0 e lisadas e concentradas, com descrito anteriormente no

item indicado. A concentração proteica total foi determinada pelo método de Bradford,

seguido da incubação por 15 minutos com os inibidores estudados e os inibidores padrões de

serino (fluoreto de fenilmetanosulfonil – PMSF), cisteíno (metanietiossulfonato de metila –

MMTS) e metalo proteases (ácido etilenodiamino tetra-acético – EDTA) para análise da

atividade enzimática. Um coquetel comercial de inibição de proteases (Sigma-Aldrich®)

também foi utilizado para estudar a seletividade dos inibidores. A partir da cinética

enzimática utilizando o substrato fluorescente Z-FR-MCA seletivo para CP, a inibição

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79

enzimática foi aferida e calculada relativamente comparando as velocidades máximas das

amostras tratadas com inibidores com as amostras sem tratamento (controle).

4.3.4. Crescimento celular

A proliferação de células MiaPaca-2 no modelo 2D foi determinada por citometria de

fluxo. A concentração inicial de células (104 cel·mL-1) foi semeada em placas de 96 poços

juntamente com inibidores de 10 µM. A cada 24 h, as células foram quantificadas com o

programa ViaCount Assay. Células sem tratamento compuseram o controle negativo para

determinar a taxa de propagação celular. Para cultura 3D, as células MiaPaca-2 foram

cultivadas como descrito anteriormente até alta confluência (80%). Em seguida, as células

foram tripsinizadas e ressuspensas em meio completo em concentrações celulares

apropriadas (500 células por poço) para formar esferoides tumorais multicelulares (ETMC)

pela ação da gravidade usando o Placa Perfecta 3D drop®. Após três dias, os esferoides foram

transferidos para uma placa de 96 poços revestida com ágar, na qual foram mantidos em

cultura durante o período do ensaio. Para este ensaio, Neq0554 e Neq0551 foram escolhidos

devido ao seu resultado citostático em culturas 2D. Os esferoides foram cultivados durante 9

dias com troca do meio de cultura cada 3 dias por meio fresco ou compostos a 10 e 100. As

imagens também foram tiradas a cada 3 dias, com medidas do diâmetro esferóide e do

volume determinado a assumir uma forma esférica no ImageJ software.

4.3.5. Análise do ciclo celular

As células MiaPaca-2 foram tratadas com 10 µM de cada inibidor e incubadas durante

24 h. Após o período de incubação, as células foram ressuspendidas com solução de

tripsina/EDTA 10 %, centrifugadas a 500 G e incubadas overnight com etanol 70 % a 4 °C.

Após incubação, o etanol foi removido por centrifugação e 100 µL do reagente de ciclo celular

Guava (Merck-Millipore®) foram adicionados ao pellet celular em banho de gelo e incubados

por 30 minutos antes da leitura. A análise foi realizada utilizando o módulo de ciclo celular do

Citômetro de Fluxo EasyCyte 8HT da Guava (Merck Millipore®).

4.3.6. Ensaios citostáticos: migração celular e formação de colônias

O potencial migratório das células MiaPaCa-2 foi determinado utilizando insertos para

placas de 24 poços (BD Biosciences®). As células foram diluídas para a concentração de 2·105

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80

cel·mL-1 em meio DMEM isento de soro e semeadas na parte superior do inserto, com

imersão do mesmo em meio DMEM contendo 10 % de soro. Este sistema foi incubado a 37

°C, 5 % de CO2 durante 24 h. As células foram então fixadas com metanol durante 5 minutos e

coradas com solução de Giemsa® a 10 %. O controle negativo incluiu poços sem soro,

utilizado como agente quimiotático. Experimentos foram realizados em duplicata, com

imagens obtidas usando microscopia ótica para contar o número de células que migraram

para o lado inferior da membrana onde o soro estava disponível.

A análise da proliferação celular por formação de colônias foi realizada utilizando uma

placa de 6 poços com 3·102 cel·poço-1 no volume final de 1 mL. Após a adesão celular (18 h),

os inibidores foram incubados a 10 µM por 72 h de incubação a 37 °C e 5 % de CO2. Após

incubação, o meio foi substituído por 4 mL de meio sem inibidores e incubado por mais 7 dias

nas mesmas condições. Ao final, as células foram fixadas com metanol por 5 minutos e

coradas com solução de Giemsa® a 10 %. Os experimentos foram realizados em duplicata e

analisados por microscopia óptica. Imagens dos poços foram processadas usando o software

ImageJ para obter o conjunto de parâmetros: diâmetro, área total e número de colônias.

4.3.7. Ensaios de terapia combinada com gencitabina

As células MiaPaCa-2 foram semeadas em placas de 96 poços. Após adesão, meio de

cultura contendo inibidores a 10 µM, DMSO a 0,5 % (v/v) (controle negativo) ou gencitabina

(controle positivo) foram adicionados. Os ensaios de terapia combinada foram realizados em

duas formas distintas: (i) as células foram incubadas com inibidores a 10 µM durante 24 h

com posterior troca por meio contendo gencitabina a 200 nM (correspondendo ao valor de

IC50) seguida por 48 h de incubação; (ii) as células foram expostas à solução de meio contendo

10 µM de inibidores e 200 nM de gencitabina durante 72 h. A viabilidade celular foi

determinada pelo método MTT. Os experimentos foram realizados em triplicata e os

resultados foram comparados com o tratamento de referência (gencitabina) para determinar

a eficiência dos diferentes métodos de combinação das substâncias .

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81

4.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4.1. Atividade antineoplásica de inibidores de CP

A inibição de CP em células cancerosas pode levar a resultados significantes do ponto

de vista farmacológico, como futuros candidatos a fármacos para tratamento de carcinomas,

uma vez que essas enzimas são consideradas essenciais em diversos processos de regulação

celular em diferentes células tumorais [31]. Os inibidores de CP foram avaliados quanto ao

seu potencial anticancerígeno para a linhagem metastática de câncer de pâncreas MiaPaCa-2

e células de fibroblasto foram utilizadas como controle de células não tumorais para avaliação

citotóxica e seletividade. Após 72 h de incubação, o potencial anticancerígeno observado para

os inibidores não foi relevante do ponto de vista de morte celular (Figura 19). Porém, de

acordo com os resultados obtidos, poucas foram as substâncias que se aproximaram de um

efeito tóxico para morte de 50% da população tumoral, mesmo na alta concentração

ensaiada de 100 µM para os inibidores. Há uma relação entre a expressão e atividade de CP e

o desenvolvimento do câncer de pâncreas, no qual a remoção dos seus genes levou à

diminuição no potencial inflamatório do tumor, o que indica a relação direta de CP com a via

de morte celular programada [119]. Utilizando células geneticamente mutadas, Gocheva e

colaboradores [108] conseguiriam mapear as principais funções de algumas CP com alto

índice de expressão em modelos in vivo de câncer de pâncreas. Dentre os resultados, os

autores mostraram a importância das catepsinas L e B na proliferação e desenvolvimento do

tumor, com retardamento na proliferação celular das populações modificadas. A CTSL

também tem sido relacionada ao processo de invasão e migração de células tumorais, com

altos índices de expressão em diversos tipos de câncer, como cérebro, mama, próstata e

pâncreas [120]. Devido a isso, possíveis efeitos citostáticos dos nossos inibidores foram

avaliados para identificar os danos gerados por essas substâncias durante o ciclo celular e

proliferação nas células cancerosas em questão nesse trabalho.

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82

Figura 19. Os inibidores de CP não apresentam atividade citotóxica para a linhagem

metastática de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 e em fibroblastos Balb/C 3T3 clone A-31.

In ib id o r e s ( 1 0 0 M / 7 2 h )

Via

bil

ida

de

ce

lula

r (%

)

Ne q 0 4 0 0

Ne q 0 4 0 9

Ne q 0 4 1 0

Ne q 0 4 1 3

Ne q 0 4 1 4

Ne q 0 4 1 5

Ne q 0 4 1 9

Ne q 0 5 3 5

Ne q 0 5 0 0

Ne q 0 5 3 3

Ne q 0 5 3 6

Ne q 0 5 3 7

Ne q 0 5 4 4

Ne q 0 5 4 6

Ne q 0 5 4 8

Ne q 0 5 4 9

Ne q 0 5 5 0

Ne q 0 5 5 1

Ne q 0 5 5 2

Ne q 0 5 5 4

Ne q 0 5 6 8

Ne q 0 5 6 9

Ne q 0 5 7 0

Ne q 0 5 7 1

Ne q 0 5 7 2

Ne q 0 5 7 3

Ne q 0 5 7 4

Ne q 0 5 7 5

Ne q 0 5 7 6

Ne q 0 5 7 7

Ne q 0 5 7 8

0

2 5

5 0

7 5

1 0 0

3 T 3 - A 3 1 M IA -P a C a 2

FONTE: Autoria própria.

4.4.2. Inibição da atividade intracelular de CP expressas por MiaPaCa-2

As CP são super expressas em diversos tipos de tumores, principalmente em células com

potencial metastático. A inibição dessas enzimas tem sido investigada frente ao processo de

evolução do tumor envolvendo a invasão e migração celular (49,50). Células com potencial

metastático ativam sua cascata de invasão-metástase a partir de proteases, entre elas as

metalo proteases, também responsáveis pela degradação da matriz extracelular (11). Aqui,

utilizando inibidores covalentes específicos de cisteíno (MMTS), serino (PMSF) e metalo

proteases (EDTA) foi realizado o processo de análise da atividade proteolítica obtida a partir

da lise das células de câncer de pâncreas, utilizando o substrato seletivo para CP, Z-FR-MCA

(Figura 20). É observada a seletividade do substrato em relação às CP, nas quais se

apresentam totalmente inativas quando utilizado o inibidor MMTS, diferentemente de

quando inibidores de serino e metalo proteases foram utilizados, o que confirma a

seletividade frente a CP. Como observação adicional, o extrato obtido a partir da lise das

células de MiaPaCa-2 apresentou atividade significativa de metalo proteases, uma

característica de células com potencial metastático que ativam sua cascata de invasão-

metástase a partir de proteases, entre elas as metalo proteases, responsáveis pela

degradação da matriz extracelular [16].

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83

Figura 20. Atividade relativa do extrato celular a partir da conversão do substrato

seletivo para CP (Z-FR-MCA) utilizando inibidores específicos para cada classe enzimática:

(PMSF) serino, (MMTS) cisteíno e (EDTA) metalo proteases na concentração de 250 µM (A).

Estruturas químicas dos inibidores padrões utilizados no ensaio de padronização (B) e do

substrato Z-FR-MCA (C).

FONTE: Autoria própria.

Após a determinação da inibição da atividade das proteases utilizando os inibidores padrões e

confirmação da seletividade do substrato, os inibidores de CP foram testados. Baseado em

estudos bioquímicos de outros membros do grupo, somente alguns dos melhores inibidores

de CP foram selecionados, uma vez que nenhuma substância apresentou atividade

antineoplásica relevante. Na concentração testada, todos os compostos foram ativos na

inibição da conversão do substrato fluorogênico, com inibição acima de 60%, com destaque

para as substâncias Neq0551 e Neq0573 (Tabela 5). A inserção do anel ciclopropila na posição

P1 e a alteração do grupo fenol por um substituinte alifático volumoso não influenciaram a

potência de inibição da cisteíno protease. A substituição do anel ciclopropila próximo ao

grupo “wearhead” nitrila já é descrita como uma alternativa estérica para evitar o ataque

nucleofílico promíscuo na porção nitrila, além da melhoria associada à meia-vida da

substância (reduzindo a toxicidade e aumentando a seletividade) [121]. A propriedade

farmacológica foi confirmada comparando o Neq0568 e Neq0569, onde a presença do anel

ciclopropila em P1 foi suficiente para melhr a inibição da conversão do substrato seletivo para

(A)

Inibidores (250 M)

Ati

vid

ade

Rel

ativ

a(%

)

Controle PMSF EDTA MMTS Coquetel

0

25

50

75

100

(B)

PMSF EDTA MMTS

(C)

Z-FR-MCA

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84

CP. Curiosamente, a substituição em para- no anel fenólico melhorou a potência do Neq0551

em relação à posição meta- da cloro fenila em Neq0413.

Analisando o perfil inibitório das substâncias, podemos inferir que os compostos são

ativos e possuem interação e atividade inibitória para as CP expressas intracelularmente pelas

células MiaPaCa-2. A inibição de CP leva a concepção de experimentos fenotípicos para

entender a resposta celular alcançada para o mecanismo de ação proposto por inibição

reversível. De maneira indireta, é obtida uma ideia da possível ação biológica das substâncias

na célula, baseado no potencial de inibição da atividade proteolítica. As substâncias levam à

inibição da catepsina L purificada no ensaio bioquímico (dados apresentados na tese de

doutorado de Jean Francisco Rosa Ribeiro), além da inibição da atividade de CP expressas

intracelularmente pelas células. Isso mostra a capacidade inibitória das substâncias testadas,

porém não é suficiente para promover efeitos tóxicos suficientes e levar à morte celular.

Sendo assim, ensaios complementares foram realizados para caracterizar o potencial

citostático das substâncias.

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85

Tabela 5. Inibição da atividade proteolítica (ICP) do extrato enzimático obtido a partir da

lise celular e estrutura química dos inibidores. Os resultados foram obtidos a partir de

experimentos com N = 4 e DP > 10%.

Inibidor

Estrutura

R1 R2 R3 IAP (%)

Neq0413 CH2

CH3 66,9

Neq0551 CH2

Ph 90,12

Neq0554 CH2

76,8

Neq0568

CH2 CH2CH(CH3)2

65,5

Neq0569

CH2CH(CH3)2

70,9

Neq0573

CH2C(CH3)3 Ph 88,5

4.4.3. Estudo citostático: ensaio clonogênico e migração celular

Estudos de atividade citostática são essenciais para o controle da progressão de

determinada doença, principalmente doenças com elevado índice de mortalidade e

agressividade, como o câncer de pâncreas. A capacidade de uma única célula de se multiplicar

em uma colônia é essencial para a sobrevivência celular e depende da formação do clone

celular e do processo de replicação [122]. Esse processo é fundamental no desenvolvimento

do câncer, já que uma etapa crucial para o estabelecimento do processo metastático é a

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86

replicação celular no tecido diferente do originário [102]. Aqui, o ensaio de replicação celular

baseado na formação de colônias foi realizado a partir da incubação com os inibidores de CP

com as células por 72 h e posterior contagem do número de colônias formadas, quantificando

o diâmetro, a área total e o número de colônias (Figura 21 A, B e C, respectivamente).

Inibidores de quinases foram capazes de diminuir a formação de colônias de células colo

retais, com um papel essencial durante o ciclo celular [123]. Resultados semelhantes foram

obtidos avaliando o potencial clonogênico das células MiaPaCa-2 na presença dos nossos

inibidores, reduzindo a replicação e a formação de colônias em mais de 50%. Os inibidores

Neq0554 e Neq0573 foram capazes de suprimir a formação de colônias sem efeitos tóxicos

nas condições testadas, baseados em estudos de viabilidade celular utilizando as mesmas

condições (dados não mostrados). Assim, podemos afirmar que qualquer alteração do

número ou diâmetro das colônias pode ser avaliada como atividade citostática que não foi

promovida pela morte celular ou outros efeitos citotóxicos. Entretanto, o número de colônias,

quando analisado isoladamente, não é uma indicação válida de atividade citostática. Porém, a

avaliação conjunta desse parâmetro com a área total das colônias, que é baseada na taxa de

proliferação celular, pode evidenciar o efeito citostático da substância. Baseado nisso, todos

os inibidores foram úteis para promover a diminuição da área total das colônias, exceto o

Neq0551. Esse resultado é corroborado pela análise do diâmetro das colônias, que é

proporcional ao número de células que as constituem.

Outra avaliação baseada na ação citostática dos inibidores foi realizada, baseada na

migração celular, curso essencial para processos patológicos com diferentes complexidades

[105]. Para a progressão do câncer, a invasão e a migração celular são cruciais para a

instalação do tumor em uma localização secundária, promovido por vários passos capazes de

promoverem a o processo metastático [124]. Modelos baseados em “Transwell” são usados

para simular as barreiras físicas presentes no microambiente tumoral e a capacidade da célula

de superá-las [125]. Os inibidores estudados foram eficazes em suprimir a migração celular

após 24 h de incubação (Figura 21-E). Em geral, enzimas proteolíticas são responsáveis pelo

controle de determinados processos celulares naturais e essenciais durante a vida celular,

como replicação, invasão, migração e morte celular. Algumas catepsinas, como L, B e X,

desempenham importante papel durante o processo de migração de diferentes sistemas

celulares [16]. A inibição da CP é uma alternativa terapêutica para controlar o tamanho do

tumor por meio da atividade citostática e inibir a migração. Ambos os efeitos são essenciais

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87

para manter o tumor localizado, o que poderia ser benéfico para a quimioterapia primária,

com aplicação local e, consequentemente, menos efeitos colaterais. A catepsina L

extracelular é conhecida por ser responsável pela diminuição da interação célula-célula e

inicialização da metástase, e esse processo pode ser diminuído quando sua inibição é

eficiente [112]. A inibição de CP utilizando substâncias comercialmente disponíveis foi capaz

de diminuir a invasão e migração celular [32]. Aqui, todos os inibidores estudados

apresentaram atividade inibitória de CP, além de retardar a progressão tumoral, com

promissora atividade antineoplásica. Além disso, 90% das mortes por câncer humano é

causado pelo tipo metastático [126] e aqui foi possível validar a importância do papel de CP

durante a proliferação de migração celular a partir da atividade dos inibidores de CP,

indicando tal processo como uma abordagem relevante no controle da progressão do câncer

de pâncreas.

Figura 21. Número de colônias (A), área total (B) e diâmetro (C) das colônias formadas

pelas células MiaPaCa-2 após 72 h de incubação com os inibidores. As imagens dos dois

melhores inibidores são mostradas na figura (D). O ensaio de migração celular foi realizado a

partir da contagem do número de células capazes de migrarem fisicamente pelo inserto,

comparado com o controle sem tratamento (E). Análise estatística foi baseada no teste de

comparações múltiplas com o controle, considerando p < 0,05.

FONTE: Autoria própria.

Inibidores (10 M)

me

ro d

e C

olô

nia

s

Controle

Neq0551

Neq05

54

Neq0568

Neq0569

Neq0573

Neq0587

E-64

0

20

40

60

80

100

*

(A)

*

Inibidores (10 M)

Áre

a t

ota

l (m

m²)

Controle

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq05

69

Neq0573

Neq0587

E-64

0

50000

100000

150000

200000

250000(B)

*

*

*

*

* *

Inibidores (10 M)

Diâ

me

tro

(m

m)

Controle

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq0569

Neq0573

Neq0587

E-64

0

500

1000

1500

2000(C)

*

*

* *

(D) Neq055

4

Control

e

Neq057

3

Inibidores (10 M | 24h)

me

ro d

e c

élu

las

Neq0413

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq0569

Neq0573

Controle

0

250

500

750

1000(E)

****

*** ***

****

*******

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88

4.4.4. Análise do ciclo celular

Uma das principais características das células tumorais é o crescimento celular

descontrolado, desencadeado devido à perda do controle apropriado do ciclo celular [127]. A

regulação do ciclo celular pode ser fortemente afetada pela inibição de catepsina L [34, 79,

92], retardando o crescimento e desenvolvimento celular. Dessa maneira, a interferência de

alguma das fases do ciclo de maneira específica pode afetar a proliferação celular. O estudo

do ciclo das células da linhagem MiaPaCa-2 foi realizado com análise da significância dos

resultados para comprovação estatística da ação das substâncias na concentração não tóxica

de 10 µM por 24 h (Figura 22). De maneira geral, todos os compostos promoveram a

alteração significativa na fase S1, com destaque para Neq0413, Neq0551 e Neq0554. A

diminuição em uma das fases do ciclo ocorre, geralmente, devido à retenção do ciclo celular

na fase seguinte. Dentre os compostos citados, é possível observar a retenção na fase S e

G2/M, em que ocorrem a síntese de DNA e divisão celular, respectivamente. Além da

catepsina extracelular L, uma isoforma nuclear truncada tem sido associada à degradação dos

fatores de transcrição, promovendo a replicação do DNA e a cascata metastática nas células

tumorais [111]. A retenção na fase S pode ser uma indicação da inibição da catepsina L

nuclear, alterando a progressão do ciclo celular. No entanto, outras proteases de cisteíno

desempenham papeis importantes na proliferação celular em distintos compartimentos

celulares. A cisteíno catepsina B foi encontrada no citoplasma das células replicantes,

reforçando sua importância para a progressão do ciclo celular [128]. As substâncias E64 e

E64d utilizadas como controle apresentaram pouca interferência no ciclo celular, mesmo já

sendo conhecidas na literatura como inibidores de CP. Esses resultados comprovam a ação

citostática na diminuição do crescimento celular na presença das substâncias, como

demonstrado no item 4.4.3. Isso sugere que inibidores de CP podem promover relevantes

efeitos citostáticos em células de câncer pancreático, mostrando que os inibidores são ativos

contra o alvo macromolecular proposto.

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89

Figura 22. Análise do ciclo celular por citometria de fluxo das células de câncer de

pâncreas MiaPaCa-2 incubadas com inibidores a 10 µM por 24 h. Os resultados foram obtidos

a partir de experimento em duplicata e análise de significância foi realizada com p < 0,05 em

relação ao controle.

S u b s t â n c ia s ( 1 0 M | 2 4 h )

Cic

lo C

elu

lar

(%)

Ne q 0 4 1 3

Ne q 0 5 5 1

Ne q 0 5 5 4

Ne q 0 5 6 8

Ne q 0 5 6 9

Ne q 0 5 7 3

Ne q 0 5 8 7

E -64

E 6 4 d C-

0

2 5

5 0

7 5

1 0 0

G 1

S

G 2 / M

* * * * * * * * * * * *

* * * *

* * * *

* * * *

* *

*

* * * * * * * *

* * * ** * * *

* * *

* * * * * * * ** *

*

* ** ** * * * * * * *

FONTE: Autoria própria.

4.4.5. Avaliação em modelo 3D de cultura celular

Agregados sólidos de células tumorais têm sido utilizados em modelos in vitro para

fornecer estudos mecanísticos de vários aspectos celulares, como crescimento e proliferação

celular, migração e remodelação de matriz [125]. Aqui, escolhemos Neq0551 e Neq0554

como melhores inibidores para avaliar seu efeito no crescimento de esferoides utilizando

células MiaPaCa-2 durante 9 dias. O microambiente 3D prevê resultados distintos da cultura

em monocamada, apresentado resultados mais aplicáveis aos modelos pré-clínicos em

relação à atividade antineoplásica e sensibilidade à ação da substância [111]. Os inibidores

testados seguiram uma tendência semelhante no crescimento de volume até o sexto dia, com

crescimento mais lento a partir do sétimo dia para os esferoides tratados com Neq0554 a 100

µM (Figura 23). No tratamento dos esferoides a concentração mais baixa dos inibidores não

afetou a supressão do seu crescimento (dados não mostrados). A técnica de microscopia tem

sido um dos métodos diretos mais usados para medir a viabilidade celular em sistemas 3D,

considerando o tamanho do agregado celular [129]. Após 9 dias de crescimento, o grupo

controle (esferoides não tratados) e o grupo tratado com Neq0554 a 100 µM apresentaram

um volume médio de 2,6 e 1,6 mm3, respectivamente. Isso ilustra uma ação tempo

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90

dependente das substâncias em relação à supressão do crescimento celular para MiaPaCa-2.

Dessa maneira, ao final do experimento, inibição de mais de 1,5 vezes foi observada,

provavelmente, devido à inibição de cisteíno protease. A catepsina B tem sido relatada como

eficiente para promover a supressão da capacidade de invasão em células de glioma in vitro

[130], e quando sua expressão é inibida, o comportamento invasivo de modelos 3D com

células de glioblastoma também diminui [131]. Além da importância das cisteíno proteases no

desenvolvimento do tumor, os processos de invasão e migração celular são dependentes de

metalo proteases ancoradas na membrana [132]. Todos estes resultados exemplificam a

importância destas proteínas durante muitos processos celulares em modelos 3D, apoiando

que a inibição de CP leva à supressão do crescimento celular.

Figura 23. Análise do crescimento celular dos esferoides de células MiaPaCa-2

incubadas com Neq0551 e Neq0554 a 100 µM. A imagem dos esferoides ao final do

experimento é apresentada para cada condição experimental. O ensaio foi realizado em

quadruplicado com desvio padrão apresentado. Experimento realizado pelo Mestre Murillo

Dorilleo Leite Bernardi.

FONTE: Autoria própria.

Tempo de incubação (dias)

Vo

lum

e (

mm

3)

0 3 6 9

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5Neq0551Controle Neq0554

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91

4.4.6. Terapia combinada com gencitabina

A combinação de fármacos é um processo que pode promover o aumento da

potência das substâncias e, consequentemente, diminuir possíveis efeitos tóxicos. Em relação

ao câncer de pâncreas, devido ao seu diagnóstico tardio, tratamentos mais eficazes têm sido

alcançados a partir da quimioterapia combinada [133]. Outra relevante informação é a

inibição de catepsinas em células cancerosas, em especial a isoforma L, que tem sido eficiente

para aumentar a ação terapêutica de vários quimioterápicos, reduzindo as concentrações

efetivas em que os efeitos adversos são inevitáveis [120]. Aqui, diferentes estudos foram

realizados para determinação do efeito agonista na terapia combinada dos inibidores de CP

com o fármaco de referência gencitabina. Para isso, todos os ensaios foram realizados

utilizando os inibidores na concentração não tóxica e citostática (10 µM), como já

determinado nas seções anteriores, combinados com o valor de IC50 para gencitabina (200

nm). Primeiramente, os inibidores de CP foram incubados em conjunto com a gencitabina e a

resposta biológica foi monitorada a cada 24 h (Figura 24-A). É notável a potencialização da

ação do fármaco após o período de 72 h para todas as sustâncias, em especial para o

Neq0554. Adicionalmente, uma relação tempo dependente para a terapia combinada foi

observada para ambos os inibidores, apresentando efeito agonista somente após 72 h de

incubação com a gencitabina.

Em uma segunda avaliação, as células foram previamente tratadas com os inibidores

na concentração citostática por 24 h e, posteriormente, foi realizada a substituição por meio

de cultura contendo ICP e gencitabina nas concentrações mencionadas, incubados por mais

48 h. O inibidor Neq0554 também foi o mais efetivo na potencialização da atividade biológica

de gencitabina quando aplicado previamente por 24 h antes do tratamento com o fármaco

por 48 h (Figura 24-B). Como apresentado anteriormente, o pré-tratamento com inibidores

de CP durante 24 h mostrou-se efetivo na inibição da migração e crescimento celular, o que

evidencia que esse seria o tempo para a ação das substâncias em promoverem efeitos

citostáticos suficientes para potencializar o fármaco gencitabina. A inibição de CP em células

cancerosas tem se demonstrado importante não só para efeitos causados pelo mecanismo de

ação, mas também por diminuir a possibilidade de resistência celular quando combinada com

substâncias já conhecidas [111]. Dessa forma, a partir da análise do índice de combinação

entre as substâncias, podemos observar que a atividade biológica da gencitabina combinada

com algumas das nossas substâncias foi mantida em relação à monoterapia com o fármaco a

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92

200 nM (Figura 24-C). Combinando os inibidores com gencitabina na proporção 2:3,

respectivamente, o fármaco apresentou mesma potência do que seu uso separadamente,

sem alterações significativas na atividade. Porém, esses resultados mostram a efetividade da

terapia combinada baseada no uso dos inibidores de CP com o fármaco referência, no qual os

ICP e gencitabina foram aplicados a 4 µM e 120 nM, respectivamente. Esse resultado

evidencia o efeito positivo na diminuição da resistência ao fármaco, já que a combinação

proporcionou a mesma atividade, utilizando 60 % da quantidade necessária para promover o

mesmo efeito, quando comparado com a substância de referência testada separadamente.

De maneira geral, quando aplicadas separadamente, todas as substâncias foram inativas em

relação à citotoxicidade, apresentando somente efeitos citostáticos. Porém seu uso em

combinação com a gencitabina mostra efeito agonista, principalmente para o Neq0554,

mesmo em proporções menores do que as utilizadas nos ensaios citostáticos. Esse resultado

já era esperado, uma vez que esse inibidor apresentou a melhor atividade citostática no

ensaio clonogênico e na supressão do crescimento celular (previamente apresentados). Esses

dados reforçam o perfil antineoplásico do Neq0554, além de evidenciarem que os objetivos

propostos pela combinação de substâncias como alternativa terapêutica foram alcançados.

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93

Figura 24. Análise da terapia combinada dos ICP a 10 µM e gencitabina a 200 nM em

diferentes condições. (A) Tratamento para células de câncer de pâncreas da linhagem

MiaPaCa-2 com os inibidores de CP combinados com gencitabina por 24, 48 e 72 h. (B)

Células pré-tratadas com os inibidores 24 h antes do tratamento com gencitabina por 48 h.

(C) Índice de combinação das razões entre os inibidores e gencitabina por 72 h. Análise de

significância foi realizada, considerando p > 0,05.

FONTE: Autoria própria.

Inibidores (24h)

Via

bili

dad

e ce

lula

r (%

)

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq0569

Neq0587

Neq0573E64

E64d

Gencitabin

a

0

25

50

75

100

24h 48h 72h

**

(A)

* * **

*

Inibidores 10 M (24h) + Gencitabina (48h)

Via

bili

dad

e ce

lula

r (%

)

Gencitabin

a

Neq0551

Neq0554

Neq0568

Neq0569

Neq0573

Neq0587E64

E64d

0

20

40

60

80

****** *** *** ****

(B)

Proporção inibidores 10 M : Gencibatina 200 nM

Via

bili

dad

e ce

lula

r (%

)

05:00

04:01

03:02

02:03

01:04

00:05

0

25

50

75

100

125 Neq0554 Neq0568 Neq0573 Neq0587

*

(C)

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94

4.5. CONCLUSÕES PARCIAIS

Os inibidores de CP estudados aqui foram efetivos na promoção de efeito citostáticos

quando aplicados na linhagem de câncer de pâncreas MiaPaCa-2. Sem efeitos tóxicos, as

substâncias foram eficazes em suprimir a formação clonogênica e a migração celular,

processos essenciais para o desenvolvimento metastático. Além disso, os inibidores

promoveram a inibição da atividade de CP expressas pelas células, com inibição de 76% para

o Neq0554, melhor substância da série. A inibição de CP também se mostrou eficiente no

retardo do ciclo celular com retenção das células na fase S, uma vez que a atividade de

catepsinas nucleares é essencial para a degradação de alguns fatores de transcrição efetivos

no crescimento celular. Por fim, a combinação dos inibidores com o fármaco de referência foi

relevante na potencialização da atividade do fármaco gencitabina, além de minimizar o

processo de resistência adquirida ao fármaco pelas células após tratamentos em longo prazo.

Dessa maneira, a inibição das catepsinas foi essencial para diversos processos celulares na

linhagem MiaPaCa-2 e sua inibição covalente reversível tem apresentado resultados

promissores no tratamento e controle da progressão tumoral.

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95

CAPÍTULO 5

Encapsulação de substâncias bioativas com potencial anticancerígeno em apoferritina para o tratamento de

câncer.

As atividades descritas nesse capítulo foram realizadas durante o período no exterior na Escola de Farmácia da

Universidade de Nottingham, Inglaterra, sob a supervisão da Prof. Dr. Tracey Bradshaw.

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96

5.1. REVISÃO BIBLIOGRAFICA

5.1.1. Importância da catepsina L para o câncer colo retal de pâncreas

As proteases desempenham um papel importante em um grande número de processos

essenciais para a sobrevivência e desenvolvimento celular [9], agindo durante a proliferação

celular, migração, adesão, senescência, autofagia, apoptose e evasão do sistema imune [134].

A catepsina L, uma cisteíno protease lisossomal [15], tem sido associada como um indicador

para o câncer de pâncreas [31], sendo superexpressa por células desse tipo de carcinoma

[135]. Devido à natureza agressiva da progressão do tumor pancreático, mais de 80% dos

pacientes com câncer de pâncreas apresentam doença metastática [136]. A ressecção

cirúrgica continua sendo a intervenção terapêutica mais eficaz, porém com baixa eficácia na

sobrevivência dos pacientes [137]. Segundo a American Cancer Society, para todos os estágios

do câncer de pâncreas combinados, a taxa de sobrevida em cinco anos é de 7%. O câncer colo

retal é também uma doença agressiva e resistente aos processos quimioterápicos [138]. Com

alta incidência metastática (> 50% dos pacientes) e mau prognóstico, as terapias para câncer

colo retal têm sucesso limitado [139]. A sobrevivência em cinco anos após diagnóstico

precoce é de aproximadamente 60%, mas os diagnósticos para esse tipo de câncer em

estágio IV acompanham uma taxa de vida de 5 anos para menos de 8% nos casos

diagnosticados. A desregulação celular da expressão de catepsina L é uma das características

comuns desses tipos de carcinomas, além de seus níveis extracelulares elevados [16, 140].

Alguns estudos bem sucedidos foram alcançados pela inibição da catepsina L nesses sistemas

celulares, validando sua importância na tumorigênese e como alvo terapêutico. Durante os

estágios iniciais do desenvolvimento do câncer de pâncreas em um modelo de camundongo,

foi identificado elevada atividade de catepsina L com redução do tamanho do tumor após a

deleção do gene responsável pela sua expressão [114]. A inibição da catepsina L por

inibidores covalentes promove a supressão da proliferação de células cancerosas pancreáticas

[135]. Além disso, a proliferação de células do câncer de colo retal também foi reduzida pelos

inibidores da catepsina L, após a perturbação do ciclo celular [140]. No entanto, a catepsina L

possui funções importantes nas células normais. Sua total inibição, como todos os agentes

quimioterápicos, tem o potencial de causar efeitos adversos, limitando a eficácia terapêutica.

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97

5.1.2. Sistema de entrega de fármacos (SEF)

As quimioterapias existentes para o tratamento de diferentes tipos de câncer têm

apresentado limitações, como a distribuição do fármaco de maneira inespecífica entre os

diferentes tecidos, a baixa biodisponibilidade ocasionada pela rápida absorção sanguínea e

longos períodos de tratamento. Além disso, propriedades físico-químicas como solubilidade e

estabilidade também reduzem a eficácia dessas substâncias [141]. Dessa maneira, diferentes

moléculas têm sido investigadas como transportadores de substâncias bioativas com a

finalidade de diminuir os efeitos colaterais e aumentar a potência e eficácia do tratamento.

Almejando alcançar a aplicação de sistemas de liberação de fármacos de maneira seletiva a

fim de diminuir efeitos colaterais e aumentar a potência das substâncias bioativas, vários são

os enfoques desenvolvidos nas últimas décadas. Para se enquadrar no perfil ideal, um bom

sistema de liberação de fármacos deve ser qualificado com propriedades adequadas, do

ponto de vista:

Farmacêutico (considerando a capacidade de armazenar diferentes tipos de

substâncias bioativas eficazmente, além de apresentar perfis de libração de fármacos

adaptados ao tratamento de diversas doenças);

Segurança terapêutica (biocompatibilidade e propriedades físico-químicas como

absorção, degradação e eliminação);

Seletividade (identificação e interação específica à célula alvo, aumentando a

possibilidade de diminuição dos efeitos colaterais) [142].

Durante um sistema de entrega de fármaco, a substância bioativa é transportada

diretamente para o local de ação, diminuindo interações indesejáveis com outras células ou

moléculas, aumentando sua acumulação e, consequentemente, diminuindo as doses

necessárias para o tratamento. Diferentes nanopartículas têm sido utilizadas como

carreadores de substâncias bioativas durante o processo de entrega de fármacos (Figura 25).

Com diferentes tamanhos, a escolha da nanopartículas também pode variar de acordo com a

finalidade terapêutica, tipo de tratamento e moléculas a serem encapsuladas em seu interior

[143]. As nanopartículas têm chamado atenção como carreadores de fármacos por

apresentarem relevantes propriedades do ponto de vista biotecnológico e farmacológico,

como a redução da toxicidade do fármaco, prevenção da degradação ou sequestro da

substância, aumento do tempo de disponibilidade e circulação e bom direcionamento para a

célula alvo [144].

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98

Figura 25. Diferentes nanopartículas utilizadas como carreador de fármacos e seus

respectivos tamanhos.

FONTE: Adaptado de Wilczewska, et al., 2012 [143].

De maneira geral, do ponto de vista farmacocinético, as principais propriedades de

carreadores de fármacos incluem o tamanho da partícula, no qual carreadores menores

facilitam a uniformidade no processo de dosagem do fármaco; sua carga superficial,

geometria e sua suscetibilidade a modificações estruturais, fator decisivo para o sucesso da

entrega de fármacos, possibilitando sua funcionalização com grupos específicos de maneira

uniforme e precisa [144]. Estruturas polipeptídicas caracterizadas pela capacidade de

modificação estrutural de acordo com as condições ambientais, como pH, têm sido

amplamente estudadas para aplicação no processo de entrega de fármacos [145].

5.1.3. Apoferritina como carreador molecular

Conhecida como uma das primeiras proteínas identificadas, a ferritina é a proteína

responsável pelo armazenamento de ferro em todos os organismos, com exceção de

leveduras e diatomáceas centrais [146]. A forma isenta de ferro, a apoferritina (AFt), é uma

estrutura proteica endógena biocompatível e biodegradável identificada como um carreador

ideal de entrega de fármacos. Cada estrutura de AFt é composta por 24 subunidades

polipeptídicas montadas em uma estrutura proteica esférica de tamanho uniforme (Figura 26)

que são facilmente moduladas a partir de variações entre condições ácidas e alcalinas,

permitindo a liberação controlada de substâncias [147]. Possuindo canais de 0,3 - 0,4 nm com

diâmetro interno de 8 nm [148], uma das principais propriedades estruturais é sua grande

cavidade interior, projetada para armazenar até 4000 átomos de ferro que transitam por

meio de seis canais hidrofílicos responsáveis pelo transporte de prótons. Em procariotos e

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99

eucariotos, a estrutura da ferritina é altamente conservada, mesmo com baixa identidade na

sequência dos aminoácidos, cerca de 15% [149].

Figura 26. Estrutura da ferritina humana.

FONTE: PDB: 2FHA

Diferentes substâncias bioativas têm sido aplicadas no sistema de entrega de fármacos

baseado na sua encapsulação no interior da proteína apoferritina. Como exemplos, a

citotoxicidade de complexos de rutênio foi significativamente diminuída após encapsulação

no interior de moléculas de apoferritina, além do aumento das suas propriedades

antineoplásicas quando testados in vitro contra células de câncer de mama MCF-7 [145].

Além da capacidade de encapsulação, moléculas de apoferritina podem sofrer modificações

estruturais, como a inserção de anticorpos na sua superfície, o que promoveu o aumento da

potência do fármaco doxorrubicina no tratamento in vitro de câncer de próstata [150]. As

propriedades da apoferritina, além do interesse farmacológico, também chamam a atenção

de outras áreas com diferentes aplicações. A encapsulação de moléculas no interior da

estrutura da apoferritina tem sido aproveitada com sucesso na área biotecnológica, com a

encapsulação de enzimas para aplicação em diversos processos industriais [151]. Na indústria

alimentícia, antioxidantes possuem limitações devido à instabilidade de algumas propriedades

físico-químicas. Entretanto, a encapsulação de proantocianidinas promoveu a retenção de

mais de 50% da sua atividade antioxidante, quando comparada com a partícula livre [152].

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100

A AFt é internalizada nas células por endocitose mediada pelo receptor de transferrina

1 (TfR1) que é altamente expresso nas membranas celulares em muitos tipos de câncer [153].

Dessa maneira, a AFt aplicada como um carreador de entrega de substâncias bioativas pode

promover o aumento da liberação do fármaco no tecido canceroso, através da maior

permeabilidade e retenção associada ao microambiente tumoral [154], aumentando as

concentrações do fármaco intracelular dentro de um tumor e melhndo a eficácia terapêutica

com diminuição dos efeitos colaterais [155]. Uma vez no citoplasma, AFt (ou ferritina) é

direcionada para os lisossomos, onde, devido às condições ácidas, a proteína é desmontada,

liberando seu conteúdo interno [149]. Como já conhecida, a catepsina L é preferencialmente

encontrada nos lisossomos [26], e, portanto, é interessante o processo de encapsulação de

inibidores da CP no interior de moléculas de AFt, no qual a expectativa é a inibição mais

eficiente do alvo molecular.

5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Encapsular alguns dos melhores inibidores de CP no interior de moléculas de AFt;

Caracterizar as nanopartículas após encapsulação;

Determinar o potencial antineoplásico das substâncias encapsuladas contra células de

câncer de pâncreas (MiaPaCa-2) e câncer colo retal (HCT-116);

Avaliar a atividade biológica e alterações na proliferação e ciclo celular;

Quantificar a inibição in vitro de catepsina L em células de câncer de pâncreas e colo

retal por microscopia confocal.

5.3. MATERIAIS E MÉTODOS

5.3.1. Encapsulação das substâncias

A apoferritina comercial obtida a partir do baço de cavalo foi diluída em tampão de

acetato de sódio 100 mM, pH 5,5 na concentração final de 6·10-9 M e mantida a 4 °C sob

agitação (150 rpm). A cada 45 minutos, os inibidores dissolvidos em DMSO na concentração

final de 50 mM foram adicionados à solução de AFt para atingirem a razão final de 1:500

(AFt:inibidores). Após sucessivos ciclos, as moléculas de inibidores não encapsuladas foram

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101

removidas da solução por centrifugação (2400 G por 4 minutos) utilizando membranas

Amicon 30 kDa a 4 °C. A concentração do inibidor encapsulado em AFt após a etapa de

purificação foi determinada por UV-Vis a 248 nm utilizando um espectrofotômetro Thermo

Fisher Scientific NanoDrop 2000. Para a quantificação, a lei de Lambert-Beer foi usada

baseada na equação da reta obtida a partir da curva de calibração previamente construída

com diferentes concentrações dos inibidores diluídos no mesmo solvente utilizado durante a

encapsulação. A concentração total de proteína foi determinada usando o ensaio de Bradford

[59]. O rendimento de encapsulação foi baseado na quantidade de substância disponibilizada

durante o processo de encapsulação e a quantidade no interior da AFt após o processo de

purificação. O carregamento proteico foi determinado a partir da razão entre o número de

mols de inibidores encapsulados pelo número de mols de AFt após a encapsulação e

purificação. Todas as substâncias encapsuladas foram aliquotadas e armazenadas a 4 °C em

tampão acetato de sódio 100 mM pH 5,5.

5.3.2. Caracterização das nanoformulações (inibidores encapsulados)

A estabilidade do sistema encapsulado foi examinada durante 6 semanas por

espectroscopia UV-Vis a partir do armazenamento das nanoformulações a 4 e 37 °C. As

propriedades físicas da AFt foram caracterizadas por espalhamento dinâmico de luz (EDL) e

análise de potencial zeta. Estes resultados seguiram as mesmas condições de ensaios, usando

1 mL de 0,2 mg·mL-1 de agente encapsulado em AFt. Eletroforese não desnaturante foi

conduzida para confirmar a estrutura da proteína AFt após o encapsulamento: 15 µL de

solução de AFt (~ 0,2 mg·mL-1) e 5 µL de marcador de peso molecular foram separados em gel

de poliacrilamida 15% a 4 °C usando tampões catódicos e anódicos. As proteínas foram

coradas após a imersão de géis em Coomassie azul brilhante e o gel foi fotografado com

câmera digital.

5.3.3. Determinação da taxa de liberação in vitro das substâncias encapsuladas

A liberação in vitro dos inibidores encapsulados no interior das moléculas de

apoferritina foi analisada sob condições de pH ácido (acetato de sódio 100 mM pH 5,5) e

neutro (tampão Hepes 100 mM pH 7,4) a partir da diálise por 24 h a 37 °C usando uma

membrana de diálise de 8 kDa de corte. Em diferentes períodos, a liberação do fármaco foi

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102

determinada por UV-Vis, considerando a concentração inicial da substância encapsulada

como 100%.

5.3.4. Avaliação da atividade biológica das substâncias encapsuladas

A atividade biológica das substâncias foi realizada a partir dos ensaios celulares já

citados nos capítulos anteriores, como MTT (4.3.2) para determinação do potencial

antitumoral, ensaio clonogênico (4.3.6) para avaliação da supressão do crescimento celular e

ciclo celular (4.3.5) por citometria de fluxo. Como controle, foi utilizada a linhagem de

fibroblasto humano MRC-5.

5.3.5. Análise da expressão do TfR-1 por Western blot (WB)

A análise da expressão do receptor de transferrina pelas células estudadas foi feita pela

técnica de Western blot. As células foram cultivadas em frascos de 75 cm² a 37 °C sob

atmosfera de 5% de CO2 até 70% de confluência (cerca de 72 h). Posteriormente, as células

foram separadas por tripsina e lisadas em tampão de lise (100 mL NP40, NaCl 1 M, Tris HCl 1

M a pH 8,0) suplementado com um coquetel comercial de inibição de proteases (Roche,

Sigma-Aldrich®). As proteínas celulares (50 μg) foram separadas por SDS-PAGE e

eletrotransferidas para membranas de PVDF bloqueadas em solução tampão salino Tris (TBS)

contendo 5% de leite à temperatura ambiente. Todos os anticorpos primários (GAPDH e TfR-

1) foram incubados overnight a 4 °C. Em seguida, as membranas foram lavadas com TBS a

temperatura ambiente e incubadas com um anticorpo secundário por 1 h. A detecção foi

realizada com o reagente Super Signal Chemiluminescent, de acordo com o protocolo do

fabricante (Tanon, China). Imagens foram obtidas por 12 minutos em scanner da C-DiGit®

com a membrana em contato com a solução de substrato.

5.3.6. Quantificação da atividade in vitro de catepsina L

Inicialmente, 104 células foram semeadas em placas pretas de 96 poços com fundo

transparente e submetidas ao tratamento de 100 µM de compostos não encapsulados e

encapsulados por um período máximo de 24 h. Para determinação da atividade de catepsina

L, as células foram lavadas com PBS após o período de tratamento e incubadas durante 1 h

com substrato de Magi Red (Sigma-Aldrich) diluído 300 vezes e o fluoróforo Hoechst foi

utilizado para identificação do núcleo celular. As imagens obtidas a partir da análise temporal

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103

foram realizadas com um microscópio confocal Ultra Nikon equipado com uma objetiva de

40x com excitação a 510-560 nm, e a luz emitida foi quantificada através de um filtro de

passagem ruim a 570-620 nm. Células não tratadas e células tratadas com Aft foram usadas

como controle negativo para cada condição.

5.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4.1. Encapsulação e caracterização das nanoformulações.

Os inibidores covalentes reversíveis de CP foram encapsulados em AFt por difusão

passiva através dos seis canais hidrofóbicos em solução pH 5,5 (Figura 27A). Todos os

compostos foram previamente dissolvidos em DMSO e, a cada 45 minutos, diluídos

separadamente em tampão acetato de sódio pH 5,5 com AFt a uma proporção final de 1:500

(AFt:substância). O sucesso do processo de encapsulação de qualquer substância depende

fortemente das propriedades físico-químicas e estruturais do fármaco [148]. As propriedades

hidrofóbicas dos inibidores facilitaram a difusão pelos canais da AFt, permitindo o

carregamento maior do que 10 % para todos os compostos. O número médio de moléculas

encapsuladas de Neq0554 e Neq0551 foi 105 e 117, respectivamente, representando

eficiências de encapsulação maior do que 50 % para ambos os inibidores. Para o Neq0568, o

rendimento de encapsulação foi de 71 % com número médio de moléculas encapsuladas de

226 (

Tabela 6). Diferenças nos grupos químicos e estereoquímica das moléculas dos

inibidores podem acarretar em diferentes rendimentos de encapsulação, uma vez que o

aprisionamento das moléculas no interior da estrutura da AFt depende diretamente da

difusão da substância pelos canais presentes na estrutura proteica. Dessa maneira, a

presença do átomo de flúor na substância Neq0554 parece ser um fator limitante na difusão

da molécula pelos canais hidrofóbicos da AFt. Assim, maior número de moléculas foi

observado para o Neq0568, que não apresenta o átomo de flúor na sua estrutura, com quase

o dobro do número de moléculas em relação do Neq0551, que também não apresenta flúor

na sua estrutura. Dessa maneira, as propriedades estruturais das substâncias a serem

encapsuladas influenciam fortemente no processo de encapsulação, que parece ser

favorecido pelo uso de substâncias com grupos químicos menos volumosos e com

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104

propriedades hidrofóbicas mais evidentes. Dessa maneira, isso provavelmente justifica o alto

número de moléculas de Neq0659 encapsuladas no interior da estrutura de AFt, devido sua

forte característica apolar e poucos grupos carregados, o que facilita sua difusão por meio dos

canais hidrofóbicos presentes na AFt.

Tabela 6. Parâmetros de encapsulação dos inibidores de CP no interior das moléculas de

apoferritina, rendimento de encapsulação (RE) e caracterização do potencial zeta (E0) dos

sistemas encapsulados. Os ensaios foram realizados em triplicata, com erro < 0,5 para os

ensaios de potencial zeta, considerando E0 = -8,60 para apoferritina sem inibidor.

Inibidor Fórmula

Molecular

Peso

molecular

(g·mol-1)

moléculas

Neq/AFt

RE (%) Carregamento

(%)

E0

(mV)

Neq0551 C18H17N3O3 323,35 117 ± 3 55,2 ± 4,6 14,5 ± 4,4 -8,47

Neq0554 C17H16F3N5O2 379,34 105 ± 2 50,9 ± 10,9 10,1 ± 1,2 -8,61

Neq0568 C17H27N5O2 333,44 226 ± 12 71,2 ± 9.9 14,3 ± 6,8 -8,94

Neq0659 C29H30F3N3O 493,57 253 ± 10 85,0 ± 4,8 14,3 ± 8,6 -8,35

Após a encapsulação, a integridade estrutural da AFt foi caracterizada por eletroforese

não desnaturante em gel de poliacrilamida e espalhamento dinâmico de luz (DLS) como

apresentado nas Figura 27B e C, respectivamente. As análises de DLS demonstraram que a

distribuição de tamanho médio das estruturas de AFt após o encapsulamento dos inibidores

não diferiram significativamente, com valores médios de 17,8 nm (± 4,1) para AFt e 14,8 nm(±

3,4) para as nanoformulações, confirmando que a distribuição média do tamanho da AFt é

mantida antes e após a encapsulação [156]. Além disso, a carga total da proteína

determinada pela análise do potencial zeta antes e após o encapsulamento deixou evidente

que não houve consideráveis alterações na carga superficial da AFt após o aprisionamento

das substâncias no interior da proteína (Tabela 6). A carga eletrostática de um nanocarreador

pode alterar as propriedades farmacológicas do sistema, influenciando na distribuição e a

absorção celular [157]. Dessa maneira, é de extrema importância, no caso da AFt que já é um

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105

carreador biocompatível, de que suas propriedades eletrostáticas sejam mantidas. Em adição,

a partir da eletroforese não desnaturante, é evidente que a encapsulação via difusão permitiu

a retenção da integridade estrutural da AFt, sem nenhuma alteração na migração da proteína

determinada para AFt pré e pós-encapsulação (~ 720.000 Da - Figura 27B). Isto contrasta

fortemente com o encapsulamento de inibidores por indução de pH que envolve o

desmembramento das subunidades de AFt a pH ácido e sua remontagem a pH fisiológico

(resultados não mostrados).

De acordo os experimentos de liberação in vitro das substâncias encapsuladas, o

possível relaxamento e alargamento dos poros e eventual desmontagem sob condições ácidas

(pH 5,5) pode ter sido um fator determinante para a liberação das substâncias (Figura 27D).

Nessas condições, foi observada uma liberação mais rápida e extensa de todos os compostos.

Um sistema de liberação de fármacos ideal é considerado por atingir a concentração

plasmática necessária para a manutenção de uma liberação de fármaco ideal no tecido alvo

[158]. Dessa maneira, podemos verificar a maior estabilidade no carreamento das substâncias

em condições fisiológicas do que em condições ácidas. Por exemplo, uma comparação após

12 h evidencia esse fato, já que 75% do Neq0554 foi liberado do interior da AFt em

comparação a ~32% da mesma substância em fisiológico (pH 7,4), condição na qual a

manutenção da estrutura da AFt é favorecida. Além disso, a liberação inicial de "explosão" foi

mais evidente com mais de 50 % de compostos liberados nas primeiras 6 h em pH 5,5. Dessa

maneira, o sistema de entrega de substâncias baseado na encapsulação em apoferritina se

mostrou eficiente em condições ácidas, semelhante ao interior dos lisossomos onde se

encontra o alvo molecular as substâncias testadas.

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106

Figura 27. Encapsulação das substâncias em AFt por difusão (A). Eletroforese não

desnaturante da AFt e das nanoformulações (B). Análise da integridade da estrutura da

molécula de AFt por DLS (C). Liberação in vitro das substâncias encapsuladas em ambiente

ácido (pH 5.5) e fisiológico (pH 7.4) a 37°C (D).

FONTE: Autoria própria.

5.4.2. Avaliação da atividade antineoplásica das substâncias encapsuladas

Os inibidores de CP testados apresentaram modesta atividade inibidora do crescimento

contra células cancerosas HCT-116 e MiaPaCa-2, com valores de IC50 para Neq0554 e

Neq0568 < 400 µM, por exemplo. A seletividade dos compostos livres para as células

cancerosas em relação aos fibroblastos MRC-5 não foi relevante em termos dos índices de

Neq0554 AFt

pH 5.5

4°C

Neq0554-AFt

(A)

MW

AFt

55

1-A

Ft

55

4-A

Ft

56

8-A

Ft

65

9-A

Ft

20 kDa

66 kDa 146 kDa

1048 kDa

720 kDa

480 kDa

(B) (C)

(D) pH 5.5

Tempo (h)

Lib

era

ção

in v

itro

(%

)

0 6 12 18 24

0

25

50

75

100

pH 7.4

Tempo (h)

Lib

era

ção

in v

itro

(%

)

0 6 12 18 24

0

25

50

75

100Neq0551-AFt

Neq0554-AFt

Neq0568-AFt

Neq0659-AFt

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107

seletividade, no qual os melhores índices encontrados foram para Neq0554 e Neq0568, cerca

de 1,75 e ~2 para IC50 MRC-5 / GI50 MiaPaCa-2 e HCT-116, respectivamente. Como alternativa

para contornar os problemas de baixa potência e seletividade de uma substância, o processo

de encapsulação de moléculas bioativas é empregado devido sua capacidade em aumentar o

potencial e atividade das condições terapêuticas, diminuindo efeitos tóxicos [142]. Após o

aprisionamento no interior da AFt, maior atividade inibitória do crescimento celular (IC50) foi

observada para todos os compostos encapsulados, em comparação com os compostos livres

(Tabela 7). Como exemplo, após 72h de incubação com os inibidores encapsulados, a inibição

do crescimento celular de ambas as linhagens cancerosas foi mais evidente, alcançando um

aumento na potência de 2,5 vezes para o Neq0554-AFt com o valor de IC50 < 80 µM e a

redução de 3 vezes em relação ao Neq0568-AFt. O aumento da potência de sustâncias com

potencial anticancerígeno após encapsulação em apoferritina tem sido amplamente relatado

na literatura [140, 142, 148], o que evidencia a eficiência do processo de entrega de fármacos

baseado na encapsulação em apoferritina. Assim, nossos resultados corroboram que o

processo de encapsulação dos inibidores de CP auxilia na atividade das substâncias, bem

como corroboram a ideia de que a estrutura de apoferritina permite a liberação controlada

da substância na célula alvo. Uma vez encapsulado, a seletividade dos inibidores tornou-se

mais evidente para as células cancerosas, com valores de IC50 > 200 µM consistentemente

encontrados após o tratamento de fibroblastos MRC-5 com os inibidores encapsulados em

AFt, com exceção do Neq0659, que teve sua atividade suprimida para todas as linhagens

celulares. Uma hipótese que poderia corroborar esse comportamento seria o ancoramento

do inibidor na superfície da proteína, devido ao seu caráter hidrofóbico. A presença de

moléculas do inibidor na superfície proteica pode modular a seletividade da nanoformulação,

dificultando o reconhecimento do receptor pela proteína AFt. Entretanto, maiores

investigações devem ser realizadas para confirmação dessa hipótese, bem como a

encapsulação dos análogos do Neq0659 que apresentam propriedades físico-químicas e

estruturais semelhantes.

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108

Tabela 7. Atividade biológica antes e após encapsulação em AFt dos inibidores de CP em

relação ao crescimento celular das linhagens de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 e colo retal

HCT-116. Fibroblasto humano MRC-5 foram utilizados como controle de citotoxicidade e

seletividade. Os valores de IC50 (µM) foram obtidos a partir da incubação das substâncias por

72 h e determinado pelo ensaio colorimétrico MTT.

Substâncias Média dos valores de IC50 ± SD (µM)

HCT-116 MiaPaCa-2 MRC-5

Neq0551 > 500 ± 5,1 > 500 ± 8,6 > 500 ± 6.7

Neq0551-AFt > 200 ± 4,2 162,2 ± 5,7 > 200 ± 9.4

Neq0554 358,6 ± 7,7 230,7 ± 9,1 404.0 ± 9.7

Neq0554-AFt 131,0 ± 5,2 79,5 ± 10,7 > 200 ± 6.1

Neq0568 231,1 ± 7,8 393,0 ± 8,1 > 500 ± 5.6

Neq0568-AFt 168,1 ± 6,5 125,1 ± 9,8 > 200 ± 5.6

Neq0659 63,5 ± 9,0 41,4 ± 8,3 31,2 ± 8,4

Neq0659-AFt 167,7 ± 8,1 119,8 ± 8,8 > 200 ± 9,2

Entretanto, o perfil de potência dos demais inibidores após a encapsulação foi

positivamente observado, com destaque para o Neq0554. O transporte da AFt extracelular

para o ambiente intracelular se dá por meio de endocitose mediada por receptores de

transferrina (TfR1) presentes na membrana celular de alguns tipos de câncer [144]. A

expressão do receptor foi detectada somente para células cancerosas, com maior evidência

para a linhagem de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 (Figura 28A). Dessa maneira, é possível

correlacionar a maior potência das substâncias após a encapsulação em AFt à expressão do

TfR1 pelas células HCT-116 e MiaPaCa-2. Essa hipótese é corroborada pelos gráficos de

concentração resposta do inibidor mais potente na supressão do crescimento celular após a

encapsulação, o Neq0554 (Figura 28B-D). As curvas claramente mostram o perfil mas tóxico

da substância após encapsulação no interior das moléculas de AFt para as células cancerosas,

em comparação com as células de fibroblastos, que não apresentam níveis consideráveis de

receptor expresso. Dessa maneira, o processo de encapsulação das substâncias em AFt é

eficiente não só para aumentar a potência da substância, mas principalmente para aumentar

a faixa de segurança de aplicação dos compostos, diminuindo os efeitos tóxicos.

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109

Figura 28. Análise da expressão do receptor de transferrina (TfR1) pelas linhagens MRC-

5, MiaPaCa-2 e HCT-116 (A). Como controle da concentração proteica, a expressão da

proteína GAPDH foi analisada em condições normais de cultivo celular. Concentração

resposta do Neq0554 livre (curvas vermelhas) e da nanoformulação Neq0554-AFt (curvas

azuis) testados nas linhagens de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 (B), HCT-116 (C) e fibroblasto

humano MRC-5 (D).

FONTE: Autoria própria.

5.4.3. Análise da supressão do crescimento celular

Para compreender melhor a natureza da inibição do crescimento de células de câncer

causada pela encapsulação das substâncias, a análise do ciclo celular por citometria de fluxo

foi empregada avaliando a ação da melhor nanoformulação, Neq0554-AFt e seu análogo livre,

nas mesmas condições de tempo e concentração. Após 48 h de tratamento, as células

MiaPaCa-2 e HCT-116 foram suavemente permeabilizadas e o DNA celular foi corado com

iodeto de propídio (PI). Alterações significativas foram encontradas somente para a linhagem

MR

C-5

Mia

PaC

a-2

HC

T -

11

6

TfR1

37 kDa

100 kDa

(A)

Concentração (log)

Via

bili

dad

e C

elu

lar

-6.0 -5.5 -5.0 -4.5 -4.0 -3.5 -3.0

0

25

50

75

100(B)

Concentração (log)

Via

bil

ida

de

ce

lula

r (%

)

-6.0 -5.5 -5.0 -4.5 -4.0 -3.5 -3.0

0

25

50

75

100(C)

GAPDH

Concentração (log)

Via

bil

ida

de

ce

lula

r (%

)

-6.0 -5.5 -5.0 -4.5 -4.0 -3.5 -3.0

0

25

50

75

100(D)

(B)

(C) (D)

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110

HCT-116, com o aparecimento de população celular na fase sub G1 (Figura 29). Alterações

mais evidentes foram observadas para ambas as concentrações testadas utilizando o

Neq0544 encapsulado em AFt. Esse é mais um indicativo da entrega mais seletiva e eficiente

da substância, quando encapsulada no interior da proteína e avaliadas contra células com

potencial em expressão do receptor de transferrina. A retenção ou aparecimento da fase sub

G1 após o tratamento com substâncias bioativas é o indicativo de morte celular, caracterizada

por apoptose [160]. Dessa maneira, podemos inferir indiretamente o mecanismo de morte

celular causada pelo Neq0554 encapsulado no interior das moléculas de AFt. O processo de

morte celular por apoptose se inicia com o encolhimento celular [161] e é considerado como

o processo ideal de morte, sem etapas inflamatórias, como no caso da necrose [162]. Assim,

nossos inibidores apresentam potencial apoptótico, principalmente após a encapsulação em

AFt, com interessante perfil anticancerígeno para as linhagens MiaPaCa-2 e HCT-116.

Figura 29. Histograma do perfil do ciclo celular analisado por citometria de fluxo das

células de HCT-116 incubadas com o Neq0554 e Neq0554-AFt por 24 h a 10 e 100 µM (A) e

representação gráfica dos resultados para as linhagens HCT-116 e MiaPaCa-2 (B).

FONTE: Autoria própria.

Livre Encapsulado Livre Encapsulado Controle (A)

(B)

10 µM 100 µM

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111

O ensaio clonogênico também foi realizado para examinar se as células poderiam

sobreviver à breve exposição ao Neq0554 e Neq0554-AFt e reter sua capacidade proliferativa.

Para isso, as células foram previamente incubadas com o inibidor na concentração de 100 µM

por 24 h e após esse período, o meio de cultura foi trocado por meio sem nenhuma

substância e incubado por mais 7 dias a 37 °C. Após esse período, pode ser claramente

observado que a sobrevivência clonogênica de células HCT-116 foi suavemente inibida, cerca

de 22 e 28 % para o Neq0554 e Neq0554-AFt, respectivamente (Figura 30A). No entanto, a

capacidade de formação de colônia para as células MiaPaCa-2 foi dramaticamente suprimida

pelo Neq0554 encapsulado e livre, com inibição cerca de 60 %. Entretanto, para HCT-116,

pode-se observar que o Neq0554- AFt inibiu a formação de colônias em maior extensão do

que o inibidor não encapsulado, possivelmente uma consequência da captação celular

aumentada após o processo de encapsulação. No entanto, a formação de colônias das células

MiaPaCa-2 foi evidentemente suprimida durante a ação da substância, porém com uma

resposta citostática menor após a remoção da substância para as células HCT-116, que foram

capazes de retomar sua proliferação, como apresentado nas imagens (Figura 30B). Assim,

uma exposição mais longa ou contínua para essa linhagem seria necessária para tentar

suprimir a total formação clonogênica, diferentemente da aplicação em células MiaPaCa-2, no

qual apresentou maior grau de supressão do crescimento celular.

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112

Figura 30. Número de colônias das linhagens HCT-116 e MiaPaCa-2 (A) obtidas após 24

h de incubação com o Neq0554 livre e encapsulado a 100 µM (B).

FONTE: Autoria própria.

5.4.4. Inibição in vitro da catepsina L em células cancerosas

A inibição da atividade de catepsina L foi analisada em ensaios in vitro utilizando as

linhagens celulares MiaPaCa-2 e HCT-116. Inicialmente, diferentes concentrações do inibidor

Neq0554 encapsulado e livre foram testadas com as células por 6, 12 e 24 h. Baixa inibição foi

observada no tempo de 6 h, no qual 12 e 24 h apresentaram resultados semelhantes (dados

não apresentados). Dessa maneira, discutimos aqui a incubação das células cancerosas com

Neq0554 e Neq0554-AFt por 12 h. Para as células de HCT-116, o Neq0554 livre não

apresentou potencial de inibição da atividade de catepsina L, já que a atividade após a

incubação com o inibidor foi maior do que o controle (Figura 31A). Resultado oposto foi

observado para a linhagem celular MiaPaCa-2, sendo que em ambas as condições o inibidor

Neq0554 foi capaz de promover a inibição enzimática em todas as concentrações testadas,

com destaque para a substância encapsulada em AFt (Figura 31B). Inibidores de proteases

têm apresentado atividade in vitro e in vivo, promovendo efeitos benéficos para o tratamento

de tumores [110]. Da mesma maneira, nossos inibidores apresentam interessante atividade

antineoplásica, principalmente após o processo de encapsulação em AFt. A atividade de

cisteíno catepsinas é maior em células cancerosas e está associada a fatores invasivos de

(B) (A) MiaPaCa-2 HCT-116

Controle

Neq0554

Neq0554-AFt

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113

carcinomas [135]. Assim, mais do que a morte das células cancerosas, a inibição de catepsina

L pode ser uma alternativa para supressão e controle do desenvolvimento do tumor. Esse

processo pode ser intensificado com a encapsulação dos inibidores em AFt, que direciona as

substâncias diretamente ao lisossomos, compartimento celular onde há a predominação

dessas enzimas [38]. Tal sistema de entrega de fármacos mostrou agir de maneira eficiente e

rápida, com significante inibição após 12 h de incubação. Entretanto, a inibição da atividade

de catepsina L não apresentou perfil dose dependente, com pouca variação em

concentrações acima de 50 µM. Essa variação pode ser devido ao limite máximo de inibição,

que depende do equilíbrio entre a ligação e a dissociação do inibidor da enzima, já que

trabalhamos com inibidores reversíveis. Entretanto, os resultados são promissores para o

controle do câncer, como já citado, uma vez que a inibição eficiente de catepsina L intensifica

a supressão do crescimento celular para as linhagens de câncer aqui estudadas.

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114

Figura 31. Inibição da atividade de catepsina L em linhagens de HCT-116 (A) MiaPaCa-2

(B) incubadas por 12 h com diferentes concentrações de Neq0554 (linhas azuis) e a

nanoformulação Neq0554-AFf (linhas verdes). Inibição da atividade de catepsina L na

concentração de 50 µM para o Neq0554 livre e encapsulado incubados por 12 h com HCT-116

(C) e MiaPaCa-2 (D). As imagens foram obtidas por microscopia confocal, analisando a

intensidade da conversão por célula do substrato fluorescente Magic-Red, marcada com

DAPI. Como controle, foram utilizadas as células sem tratamento, somente com meio de

cultura (linhas vermelhas). O uso da apoferritina sem inibidores não interferiu na atividade

enzimática e foi aplicado como controle do carreador (dados não apresentados).

Controle

Neq0554

Neq0554-AFt

DAPI MAGIC-RED MERGE (C)

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FONTE: Autoria própria.

5.5. CONCLUSÕES PARCIAIS

A atividade de catepsina L é evidentemente maior em algumas linhagens de células

tumorais, como no caso das células de câncer de pâncreas MiaPaCa-2 e de colo retal HCT-

116. A elevada expressão dessa enzima reforça sua importância em muitos processos

celulares essenciais para o desenvolvimento tumoral, como migração e invasão. Após

identificar efeitos citostáticos a partir da inibição de catepsina L em MiaPaCa-2, os melhores

inibidores foram submetidos à encapsulação por difusão no interior de moléculas de

apoferritina. Essa proteína, responsável por transporte de íons de ferro apresentou aumento

na potência após a encapsulação dos inibidores, com destaque para o Neq0554, capaz de

promover alterações no ciclo celular das células de HCT-116 bem como supressão do número

de colônias para as células de MiaPaCa-2. Isso ocorre devido a elevada expressão do receptor

TfR1, responsável pelo transporte da apoferritina para o interior celular. Maior efeito

Controle

Neq0554

Neq0554-AFt

DAPI MAGIC-RED MERGE (D)

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biológico foi observado contra ambas as linhagens de células tumorais, com significante

diminuição do potencial citotóxico em relação às células de fibroblasto MRC-5. Além disso, a

inibição da catepsina L in vitro foi mais evidente após a encapsulação das substâncias em APf,

uma vez que o sistema de entrega de substâncias baseado essa proteína promove a liberação

do inibidor preferencialmente nos lisossomos, onde se encontra a maior parte da enzima alvo

catepsina L. Assim, mais do que o aumento na potência dos inibidores, a encapsulação das

substâncias em AFt é extremamente eficiente em relação à supressão da atividade

enzimática, podendo atuar como inibidor do crescimento e desenvolvimento das células

cancerosas.

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117

CAPÍTULO 6

Conclusão Geral

A elevada expressão de CP caracteriza sua importância durante o estabelecimento e

desenvolvimento de algumas doenças, como a leishmaniose e doença de Chagas. Além disso,

alguns tipos de células tumorais apresentam elevada expressão da cisteíno catepsina L, que

apresenta considerável similaridade com a CPB e a cruzipaína, enzimas em altos níveis nos

protozoários do gênero T. cruzi e Leishmania spp, respectivamente. Assim, as três doenças

apresentam alvos válidos em comum, no qual interessantes resultados podem ser observados

após a inibição dessas enzimas em cada um dos tipos celulares. De maneira geral, efeitos

citostáticos, como supressão do crescimento e perturbação do ciclo celular foram observados

em relação à inibição de CP, sugerindo sua função citostática em ambas as células estudadas.

Em relação às células tumorais, após a encapsulação dos inibidores no interior das moléculas

de AFt, maior atividade antineoplásica é observada devido ao seletivo sistema de entrega de

fármacos relacionado ao transporte da AFt para o interior celular, processo possível somente

para linhagens celulares que apresentam a expressão do receptor TRf1, como no caso das

células de câncer de pâncreas e colo retal. Assim, inibidores de CP podem promover

supressão e controle do desenvolvimento da doença e serem combinados com outros

fármacos para efetivamente promoverem a morte das células alvo, atuando de maneira

eficaz no tratamento dessas doenças.

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ANEXO I

Estruturas químicas dos inibidores covalentes reversíveis de cisteíno proteases estudadas no

trabalho.

Neq0396

Neq0400

Neq0409

Neq0413

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Neq0414

Neq0415

Neq0419

Neq0500

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Neq0533

Neq0536

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Neq0552

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Neq0569

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Neq0587

Neq0594

Neq0662

Neq0663

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ANEXO II

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