jornalismo regional e optativo na rede globo

156
ESPAÇO LIVROS EDITORA Vitória - ES 2007 1ª Edição CARLOS TOURINHO PROGRAMA PAINEL DE DOMINGO JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO

Upload: carlos-alberto-moreira-tourinho

Post on 06-Jun-2015

3.805 views

Category:

Education


10 download

TRANSCRIPT

Page 1: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

ESPAÇO LIVROS EDITORA

Vitória - ES2007

1ª Edição

CARLOS TOURINHO

PROGRAMA PAINEL DE DOMINGO

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO

Page 2: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

Copyright © 2007, EspaçoLivros Editora

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Produção: Márcia Selvátice Tourinho

Revisão: José Maria Trazzi

Revisão Bibliográfica: Cláudia Barros

Capa e Editoração: BIOS

Impressão e Acabamento: GSA Gráfica e Editora

T727j

Tourinho, Carlos Alberto Moreira

Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo-programa Painel de Domingo/Carlos Alberto Moreira Tourinho.Vitória: EspaçoLivros, 2007.

156 p.ISBN 978-85-61314-00-2

1.Jornalismo. 2.Jornalismo Optativo - Rede Globo. I.Título.CDD 070

PATROCÍNIO APOIO CULTURAL

APOIO INSTITUCIONAL

Page 3: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

Aos milhares de telespectadores que

se tornaram assíduos do Painel de Domingo, que

participaram dos debates com opiniões inteligentes,

provocativas e exigentes. Que nos forçaram a

melhorar como jornalistas e nos aperfeiçoar como

profissionais de televisão. Que nos ajudaram a

compreender com muita humildade o tamanho da

missão e a responsabilidade que temos diante do que

mostramos. A estes telespectadores que ainda hoje

perguntam “se o Painel vai voltar” dedico este livro.

Page 4: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo
Page 5: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

Agradecimentos Um livro nasce de uma

idéia. Esta é a melhor e a mais agradável etapa

de quem se propõe a este saboroso desafio. Mas

para chegar lá é preciso cumprir tarefas que vão

da pesquisa à distribuição, passando por criação,

redação, orçamentos, revisão, edição e impressão.

É fácil concluir, portanto, que um livro não é uma

coisa que se faça sozinho. Neste caminho buscamos

parcerias e, em alguns casos, encontramos mais

do que isso. Para minha alegria e satisfação tenho

encontrado amigos. Parceiros que ajudam a cumprir

as fases da produção, a viabilizar os custos e, acima

de tudo, companheiros que transmitem entusiasmo,

apresentam idéias e fazem a gente acreditar que valeu

a pena ter aquela idéia lá do início.

Page 6: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

Meu especial agradecimento aos que, acreditando

neste trabalho, adquiriram exemplares

antecipadamente patrocinando sua publicação

ou apoiando a divulgação: Verinha Caser, Antonio

Carlos Barbieri, Lucas Izoton, Hélio Schneider, João

Felício Scárdua, Francisca Pereira da Silva, José Luiz

Dantas, Lino Resende, Heriberto Simões Filho, Luiz

Wagner Chieppe, Aridelmo Teixeira, Priscila Schirmer

Ribeiro, José Luiz Campos, Bianca Calheiros, Carlos

Lindenberg Neto. Pela leitura crítica e comentários

neste livro: Marien Calixte e Professor Valério Brittos. A

todos muito obrigado pela atenção.

O livro está aqui. E cada um de vocês deixou sua

marca. Para todo o sempre!

Page 7: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

PrefácioSe existe o fato, existe o interessado; se existe o interessado, existe a notícia; se existe a notícia, existe o jornalista.

Esta obra do jornalista Carlos Tourinho inaugura um importante espaço para conhecimento e discussão do jornalismo. O autor toma como via de sua preocupação com o jornalismo regional (aqui da terra..., como diz o capixaba de Vitória) o programa criado por ele mesmo, “Painel de Domingo”, da TV Gazeta, já altamente referendado por conta do seu ineditismo.

O envolvimento da notícia e seu público, as formas de produção, a identificação do fazer jornalístico com o telespectador, o exercício na relação dos interesses da empresa, tornam Tourinho verdadeiro porta-voz da sociedade. O grande sucesso do jornalismo pode ser constatado no crescimento dos cursos de comunicação, nas pesquisas privilegiando as áreas de política e economia e a ampliação das redes nacionais de TV. De um lado o público quer saber como se faz; do outro está o jornalista responsável pela notícia e tudo que está envolvido na sua divulgação. O autor elabora e exalta neste trabalho o conhecimento íntimo do convívio empresa/público e jornalismo. A sua experiência na produção e apresentação do “Painel de Domingo”,

Page 8: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

na TV Gazeta, revelou sua sensibilidade e inteligência, tornando o programa um veículo inovador, colaborando para a valorização de temas regionais, onde o telespectador se sentiu representado. Vale lembrar o grande interesse do público em participar das votações elaboradas pelo programa e a grande popularidade que adquiriu nos quase sete anos de sua existência.

Tourinho contribui aqui com ferramentas decisórias para aprofundar a parceria consumidor (público) e jornalista, uma fonte de pesquisa e conhecimento para o papel social e democrático que a imprensa desempenha.

Marien CalixteJornalista e escritorDa Academia Espírito-santense de Letras

Page 9: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

Introdução .........................................................................................11

CAPÍTULO 1A hora do local

1.1 Programação regional: como definir? ........................................15

1.2 Rede Globo e TV Gazeta: a relação do fato nacional com o local ........................................26 1.2.1 TV Globo ...........................................................................26 1.2.2 TV Gazeta .........................................................................31

1.3 Programação regional obrigatória da TV Gazeta: BDES, ESTV 1ª, Globo Esporte, ESTV 2ª, Jornal do Campo e Gazeta Notícias ............................................34

CAPÍTULO 2

Horários optativos: quem vai querer?

2.1 Definição .....................................................................................39

2.2 A experiência regional fora do Espírito Santo: EPTV e RBS ........42

2.3 Os programas optativos da TV Gazeta (ES) ................................45 2.3.1 ES Comunidades ..............................................................46 2.3.2 Estação Esporte ...............................................................46 2.3.3 Em Movimento ..................................................................47 2.3.4 Conexão Geral ..................................................................48

CAPÍTULO 3

O Painel de Domingo

3.1 Propostas ....................................................................................55 3.1.1 Cobertura das notícias do domingo .................................55 3.1.2 Interatividade: o telespectador responde .........................56 3.1.3 Programa ao vivo: todo mundo acordado ........................69 3.1.4 Linguagem, cenário e apresentação: invasão de dormitórios .....................................................72

Page 10: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

3.2 Segunda fase ..............................................................................75 3.2.1 Novidades editoriais: mudar antes de ser mudado ..........75 3.2.2 Reportagens especiais: sem gancho ...............................76

3.3 Séries especiais ..........................................................................84 3.3.1 Novos tempos em debate (2003) .....................................85 3.3.2 Novos tempos em debate, um ano depois (2004) ............87 3.3.3 ES terra de valor (2003) ....................................................87 3.3.4 ES terra de valor (2004) ....................................................87 3.3.5 ES solidário (2003) ...........................................................88 3.3.6 ES solidário, o empreendedorismo sustentável (2004) ....88 3.3.7 A Gazeta, 75 anos: uma história bem contada (2003) ......89 3.3.8 ES, muito prazer! (2005) ...................................................89

3.4 Premiações e homenagens ........................................................91

3.5 O Painel avaliado .........................................................................95

3.6 Resultado comercial .................................................................102

3.7 Missão cumprida .......................................................................104 3.7.1 Depoimentos da equipe ..................................................107 3.7.2 Contando os domingos ..................................................109 3.7.3 Por que acabou? .............................................................110 3.7.4 Ficha técnica do Painel de Domingo ..............................110

4 Considerações Finais .............................................................113

Referências .....................................................................................121

Anexos ........................................................................................125

Page 11: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 11 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

IntroduçãoNeste livro analiso a programação regional de televisão, quantitativa e qualitativamente e conceituo a chamada programação “optativa da Rede Globo de Televisão”, na qual estão inseridos vários programas regionais das emissoras afiliadas, entre elas, a TV Gazeta, de Vitória, Espírito Santo. Dentro desta faixa de programação destaco o programa Painel de Domingo, desta emissora, que ficou no ar entre os anos de 1999 e 2005, com larga repercussão regional.

O objetivo é demonstrar como estes horários têm sido aproveitados, os critérios adotados para esta programação e o resultado da experiência local, sobretudo com o jornalismo. Será focado o caso do programa Painel de Domingo, criado dentro de um horário até então não ocupado pela produção regional e destinado à exibição de filmes. Ao aproveitar a “faixa”, a emissora local procurou criar um novo hábito entre os telespectadores e fornecer novas opções de entretenimento e informação. A TV Gazeta conseguiu conquistar números expressivos no Ibope, mas não encontrou uma fórmula permanente de retorno comercial. Durante seis anos e quatro meses no ar, com 294 edições, pode-se dizer, baseado nas pesquisas de audiência, que o “optativo” Painel de Domingo se firmou entre os telespectadores e ganhou destaque no telejornalismo regional. Foi retirado da grade de programação para ser substituído por outra produção, também regional, que pudesse oferecer maior retorno

Page 12: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 12 ]

C a r l o s To u r i n h o

comercial. Para isso, a “faixa” de horário deixou o Departamento de Telejornalismo e foi integrado ao Departamento de Produção Comercial.

O método usado neste trabalho foi o de pesquisa, observação e entrevistas com especialistas na área. Serviu-se dos indicativos dos institutos de pesquisa Ibope e Futura, de correspondências de telespectadores, do memorial do programa Painel de Domingo e de entrevistas com seus jornalistas, gerente de programação e diretores da emissora afiliada e da Rede Globo de Televisão, além de consulta a bibliografia específica.

A opção por centralizar o estudo neste programa deu-se pelas inovações que o Painel de Domingo trouxe ao telejornalismo regional. O programa em questão foi criado, dirigido e editado por mim, autor deste trabalho, o que permitiu a utilização de 100% do memorial do programa, o que nem sempre é possível para um pesquisador externo. Minha experiência anterior como repórter responsável pelas matérias nacionais da Rede Globo, no Espírito Santo, função que compreende a diferenciação do fato local do nacional, também constituiu um facilitador importante para o conhecimento da natureza da notícia local, assunto que será abordado em outro capítulo deste trabalho.

Escreve-se muito sobre a televisão. Quem está “sobre” paira acima e, portanto, escreve mal ou pretensiosamente. Quem escreve “da” televisão, porém, aborda o fenômeno por dentro, com o conhecimento das limitações inerentes a todo o fazer. ¹

Para compensar o fato de o pesquisador estar diretamente envolvido com o objeto da pesquisa foi adotada a estratégia de se servir do maior número possível de informações registradas por terceiros, como telespectadores, pesquisas dos institutos de opinião, noticiário da imprensa sobre as ações e resultados do programa e entrevistas atuais já com o Painel de Domingo fora do ar.

¹ Arthur da Távola, jornalista, em comentário no Livro Jornal Nacional, 15 anos de história, escrito pelo jornalista Cláudio Mello e Souza, em 1984.

Page 13: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 13 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Este livro é fruto de uma pós-graduação que me proporcionou o título de Especialista em Estudos Avançados de Comunicação e faz parte de um plano ousado, um projeto maior de investigação dentro deste campo do conhecimento humano. Também é um ato de amor, uma homenagem a um programa de Televisão que, além de ter me proporcionado uma grande realização profissional, deixou uma legião de órfãos (pelo menos é o que me dizem) espalhados por este Estado. Refiro-me ao Painel de Domingo, programa que ocupa boa parte destas páginas, incluindo fotos e mensagens de telespectadores.Um documento sobre parte da memória da televisão produzida no Espírito Santo. O trabalho é dividido em: introdução, três capítulos e as considerações finais, conforme o modelo:

1) Capítulo 1: definição do que vem a ser uma “programação regional”; breve histórico das TVs Globo e Gazeta; apresentação das ações da Rede Globo direcionadas ao jornalismo regional de suas emissoras afiliadas e exemplificação de programas regionais.

2) Capítulo 2: apresentação do conceito de “horário regional optativo”; definição das regras para o uso desta alternativa de produção regional e nomeação dos programas da TV Gazeta que se inserem nesta condição.

3) Capítulo 3: o caso Painel de Domingo. Seu histórico, seus objetivos iniciais, as mudanças de rumo e as inovações; a questão comercial; as séries especiais e suas premiações; o reconhecimento formal; as avaliações quantitativa e qualitativa dos institutos de pesquisas. Este capítulo irá apresentar, nos anexos, uma coletânea de peças publicitárias do programa, além de uma amostra das correspondências de seus telespectadores.

Considerações finais: uma avaliação crítica do futuro da TV regional diante de desafios como a TV digital, novos paradigmas na relação das emissoras afiliadas com as redes nacionais, possibilidade da entrada do capital estrangeiro nas empresas nacionais de Comunicação. A

Page 14: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 14 ]

C a r l o s To u r i n h o

necessidade ou não da regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal de 1988. Importância do Painel de Domingo para a televisão produzida no Espírito Santo com conseqüências para a qualidade de vida de sua população. As contribuições para a evolução do telejornalismo regional e para a perpetuação dos valores locais.

Page 15: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 15 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

| CAPÍTULO 1 |

A hora do local

1.1 Programação Regional: como definir?

Não existe na legislação brasileira de radiodifusão, nenhuma definição do que vem a ser uma programação de televisão regional. Para a pesquisadora em Comunicação e Socióloga da Universidade Federal de Santa Catarina, Dulce Márcia Cruz, uma das dificuldades seria a “definição em termos de alcance das ondas de TV, do que é uma ‘região’, tarefa um tanto complicada visto que a possibilidade de se expandir o sinal por microondas ou satélites vincula o conceito às limitações tecnológicas e econômicas”. As interpretações do que isso venha a ser vão desde os critérios geográficos aos de autoria da produção. Há programas feitos numa região que têm como proposta algo totalmente alheio à cultura, à história e aos interesses locais. Por exemplo, um programa local destinado a divulgar o turismo internacional. Seria uma programação regional? A legislação pertinente ao tema é vaga e confusa. Há um emaranhado de leis, contratos de concessão e regulamentos que ora estabelecem, ora não, um percentual fixo para o que deveria ser a programação regional. O que se pode dizer é que, com a permanente revolução tecnológica dos tempos atuais, as

Page 16: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 16 ]

C a r l o s To u r i n h o

fronteiras estão sendo superadas e as interferências e trocas culturais, econômicas e políticas se dão em escala global.

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 221 diz que um dos princípios a ser atendido para a produção e programação das emissoras de rádio e televisão é “a regionalização da produção cultural, artística e jornalística”, e que isso deve se dar “conforme percentuais estabelecidos em lei”. Até hoje esta lei não foi feita. Há um projeto de autoria da ex-deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ) tramitando pelas gavetas da Câmara e do Senado desde 1991. O projeto prevê a obrigação às emissoras de televisão de veicular, no horário de 5h a 0h, programas culturais, artísticos e jornalísticos totalmente produzidos e emitidos nos estados brasileiros onde estão localizadas; um total de 22 a 32 horas semanal, dependendo da população local, sendo que pelo menos 40% dessas horas devem ser obrigatoriamente cumpridas com a veiculação de produção independente. O projeto não é consensual entre os estudiosos, profissionais e empresários da área. Também em trâmite na Câmara dos Deputados, e já aprovado pelo Senado, está o Projeto de Lei 7075, de 2002, de autoria do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que sugere alterações à lei que introduziu o Código Brasileiro de Telecomunicações. Tal projeto dispõe que 30% da programação das emissoras de rádio e televisão, no horário compreendido entre 6h e 18h para o rádio e entre 18h e 22h para a televisão, serão destinados à veiculação da cultura local e regional. As duas iniciativas parlamentares são “incongruentes em termos de porcentagens e horários”, na opinião dos pesquisadores do IETV Instituto de Estudos de Televisão, Newton Cannito e Flavio Botelho.²

A mesma falta de regulamentação deixa vagos outros incisos do artigo 221 da Constituição. O que estabelece, por exemplo, que a preferência

² IETV - Instituto de Estudos de Televisão. O Instituto de Estudos de Televisão (www.ietv.org.br) é uma organização sem fins lucrativos dedicada ao estudo e aprimoramento da produção e da cultura televisiva. Entre seus objetivos está o de promover mostras, publicar livros, realizar seminários e debates sobre a arte, a ética, a técnica e a economia da TV.

Page 17: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 17 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

(grifo nosso) é para “finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”. O uso da palavra “preferência” desobriga.

Constituição da República Federativa do Brasil – 1988.

Capítulo V – Da Comunicação Social.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:

I. preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II. promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;

III. regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;

IV. respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Sobre o proposto no artigo 221, inciso I, pode-se dizer que a aspiração por um jornalismo cada vez mais regional é não apenas constitucional, ideológica ou de grupos isolados, mas também do empresariado que tem visão de futuro do próprio negócio. Isso porque o regional – ou seja, o que está em nossa “esquina” – é o que pode diferenciar o conteúdo produzido pelas empresas locais de todas as suas concorrentes nacionais e transnacionais, visto que, com a internet, o global e o local cada vez mais se confundem no mesmo espaço. Afinal, a nossa “esquina” é única: a de fora é diferente. Essa análise, feita por mim em artigo³ de 1996 foi citada pela Mestra em Ciências da Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, Carla Pollake da Silva, no trabalho “Programação Regional de Televisão” apresentado no XXV Congresso Brasileiro de Ciências da

³ Coleção Escritos de Vitória – Jornalismo Regional: mudanças à vista. Artigo apresentado no III Congresso Internacional de Jornalismo de Língua Portuguesa (Lisboa, Portugal, 1997).

Page 18: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 18 ]

C a r l o s To u r i n h o

Comunicação (Salvador/BA, setembro/2002) organizado pela Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação) e também pela jornalista Marcelle de Almeida Carvalho, em seu trabalho de conclusão do curso de graduação em Comunicação Social, pela Faesa (ES), “A evolução do telejornalismo no Espírito Santo”.

À luz das dúvidas presentes no estudo de 1996 aponto, ainda à época, um caminho para o redescobrimento do jornalismo regional. Quando uma televisão do Espírito Santo gera uma matéria para veiculação em Rede Nacional, não se tem essa notícia metamorfoseada em fato nacional. É o regional que está lá, com todas as suas imagens e sons. Um fato regional com interesse nacional.

Desde 1963, há na legislação algumas “tentativas” de se estabelecer um limite máximo para a quantidade de publicidade e uma garantia de tempo mínimo destinado ao noticiário. Também se vê, a preocupação com a questão da moral e dos bons costumes. O Decreto nº 52.795 de 31 de outubro de 1963, da Presidência da República estabelece no Título VIII – Das Irradiações –, Capítulo II – Da Programação- as seguintes normas:

Art. 67. As concessionárias e permissionárias de serviços de radiodifusão, observado o caráter educacional desse serviço, deverão na organização dos seus programas atender entre outras às seguintes exigências:

1. Manter um elevado sentido moral e cívico, não permitindo a irradiação de espetáculos, trechos musicais cantados, quadros, anedotas ou palavras contrárias à moral familiar e aos bons costumes;

2. Limitar a um máximo de 25% (vinte e cinco por cento), pelo horário da sua programação diária, o tempo destinado à publicidade comercial;

3. Destinar um mínimo de 5% (cinco por cento) do horário da sua programação diária para transmissão de serviço noticioso.

Page 19: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 19 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Os mesmos e outros itens aparecem neste mesmo decreto, no artigo 28, em nova redação dada pelo Decreto 88067 de 26/1/1983. Nesta redação já aparecem as preocupações com a programação educativa. A questão da “preservação da moral” permanece.

As concessionárias e permissionárias de serviços de radiodifusão, além de outros que o Governo julgue convenientes aos interesses nacionais, estão sujeitas aos seguintes preceitos e obrigações: 12 - na organização da programação:

a) manter um elevado sentido moral e cívico, não permitindo a irradiação de espetáculos, trechos musicais cantados, quadros, anedotas ou palavras contrárias à moral familiar e aos bons costumes;

b) não transmitir programas que atentem contra o sentimento público, expondo pessoas a situações que, de alguma forma, redundem, em constrangimento, ainda que seu objetivo seja jornalístico;

c) destinar um mínimo de 5% (cinco por cento) do horário da sua programação diária para transmissão de serviço noticioso.

d) limitar a um máximo de 25% (vinte e cinco por cento), pelo horário da sua programação diária, o tempo destinado à publicidade comercial;

e) reservar 5 (cinco) horas semanais para a transmissão de programas educacionais;

A confusa legislação deixa claro, no entanto, o desejo de que o jornalístico e o “local” estejam garantidos nas grades de programação. Ainda no Decreto presidencial de 31 de outubro de 1963, no Capítulo II que trata das “formalidades a serem preenchidas pelos pretendentes à execução dos serviços de radiodifusão” (leia-se: dos interessados

Page 20: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 20 ]

C a r l o s To u r i n h o

em adquirir uma concessão pública para exploração de um canal de TV ou freqüência de rádio), está estabelecido em seu artigo 16, parágrafo 1º, um sistema de pontuação para a definição do vencedor na concorrência pública. Entre outros critérios que não interessam a este trabalho, constam:

a) até quinze pontos para o tempo destinado a programas jornalísticos, educativos e informativos.

b) até quinze pontos para o tempo destino a serviço noticioso.

c) máximo de trinta pontos para o tempo destinado a programas culturais, artísticos e jornalísticos a serem produzidos e gerados na própria localidade ou no município à qual pertence a localidade objeto da outorga (grifo nosso).

(...)

Em 24 de dezembro de 1996, o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso retoma as concessões e, através do Decreto 2.108, assinado pelo ministro das Comunicações, Sergio Motta, altera alguns dispositivos do regulamento dos serviços de radiodifusão, estabelecidos no citado decreto de 1963. As modificações são relativas aos critérios para as concessões, mas são mantidas as regras anteriores para a classificação das propostas, garantindo os mesmos pontos para os estabelecidos percentuais mínimos de programas jornalísticos, noticiosos e de produção local.

De qualquer forma, fica claro que o critério de pontuação por produção local é atributo de concorrência para a disputa das concessões. Não se trata, portanto, de um dispositivo único para todas as emissoras de televisão. Ou seja, se no contrato de concessão constar determinado percentual de programação local, contratado por ocasião da disputa, esse percentual passa a ser o exigido para aquela emissora. Quem já opera a sua concessão prossegue sem percentuais pré-estabelecidos.

Page 21: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 21 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Daí a tentativa – até hoje – de se aprovar no Congresso uma lei que regulamente a ação de todas as emissoras, estabelecendo critérios gerais para a reserva de espaço destino às produções locais e regionais.

Alguns contratos de concessão no Governo Fernando Henrique Cardoso foram estabelecidos com percentuais que, à luz das regras até então conhecidas, são considerados elevados, para a programação regional obrigatória. Entre eles estão as emissoras TV Vanguarda, em Taubaté (São Paulo), e a TV Gazeta Noroeste, com sede em Colatina, norte do Espírito Santo. A TV Gazeta Noroeste é a mais nova integrante da Rede Gazeta de Comunicações e também é afiliada da Rede Globo. No Contrato de Concessão da emissora, consta na Cláusula 4: “A TV Gazeta Noroeste tem o compromisso de exibir 180 minutos diários de programas culturais, artísticos e jornalísticos, produzidos e gerados na própria localidade de execução do serviço ou município ao qual pertence a localidade de outorga”.

Para atender à exigência, a TV começa a produzir blocos locais no ESTV 1ª e 2ª e o Gazeta Notícias, além de programar um novo telejornal, chamado ESTV 3ª edição, a ser veiculado de madrugada, após o Intercine, com reprises das notícias veiculadas ao longo do dia pelas emissoras co-irmãs de todo o Estado, como a TV Gazeta (Vitória), TV Gazeta Norte (Linhares) e TV Gazeta Sul (Cachoeiro de Itapemirim). A emissora acata a imposição legal, mas seu quadro de funcionários4 e estrutura tecnológica não dispõe das condições necessárias para a produção de todos os 180 minutos diários de programação inédita. Mesmo com a criação do novo programa e a participação nos demais telejornais, a emissora TV Gazeta Noroeste não conseguirá atingir os 180 minutos diários de programação local. A exigência da Cláusula 4, estabelecendo o critério de produção (grifo nosso) e geração na própria

4 A TV Gazeta Noroeste funciona, na prática, como uma sucursal da TV Gazeta Norte, com a qual divide seu quadro de funcionários, seu editor-chefe de jornalismo e o diretor comercial.

Page 22: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 22 ]

C a r l o s To u r i n h o

localidade também não será totalmente cumprida, visto que boa parte do conteúdo regional nasce nas emissoras co-irmãs, localizadas em outras cidades do Espírito Santo. Ressalta-se que o ESTV 3ª edição terá 100 minutos, em sete blocos, exibidos de madrugada com a maior parte do conteúdo não inédito.

Este ponto mostra como não é simples estabelecer percentuais elevados em lei, sem que haja uma discussão mais aprofundada sobre a melhor forma de se conciliar quantidade com qualidade e capacidade produtiva.

O diretor-geral da Rede Gazeta de Comunicações, Carlos Lindenberg Neto, ressalta o impacto econômico que a ampliação da produção local traz para as empresas: “A questão é a viabilidade econômica. Fazer programação de qualidade é um negócio caro. Fazer jornalismo de qualidade é caro. A gente sabe disso porque a gente faz aqui. Muitas TVs educativas por aí dizem que fazem programação local. Mas vai ver a programação local delas: algumas têm esquema político com governo, com prefeituras etc. A televisão para ter programação de qualidade tem que ser viável comercialmente”. Ele explica a questão do custo dentro dos critérios de uma economia de escala: “Você imagina se a Globo fosse produzir uma novela para exibir somente numa praça. Não ia dar certo. Essa é a idéia de se produzir em Rede: você faz uma programação e todos ajudam a pagá-la. No nosso caso, por exemplo, quando a gente faz um programa como o Painel de Domingo, que tínhamos, ou como o Conexão, ou o Esporte, aquilo não vai passar só em Vitória, vai passar no interior também. Tem que ter pelo menos alguma escala. Nós nunca teríamos condições de produzir uma novela, uma minissérie. O modelo do nosso negócio é usar a publicidade para pagar o custo. E neste caso não pagaria, por mais caro que você cobrasse do patrocínio, não teria orçamento suficiente”.

O diretor-executivo de Mídias Eletrônicas da Rede Gazeta, Carlos Magalhães, aponta para o momento em que as emissoras terão mais espaço para suas produções locais e, ao mesmo tempo, o desafio de

Page 23: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 23 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

enfrentar a questão comercial: “Esse projeto de lei mais cedo ou mais tarde vai ser aprovado, e então teremos resolvida essa questão de mais espaço para a programação local. Contudo, há de se registrar que isto será terrível para a maioria das emissoras do País, que não dispõem de condições adequadas para produção de conteúdo, funcionando na verdade como meras retransmissoras”. Atualmente, nasce na própria Rede Globo a orientação para que as afiliadas busquem uma postura mais “comunitária”, identificando-se com as necessidades de suas regiões. Para acelerar este processo, na década de 80, a Rede criou a Central Globo de Afiliadas e Expansão, para dar suporte ao desenvolvimento das afiliadas em todo o País. Em janeiro de 1983, Armando Nogueira dividiu o jornalismo da Rede Globo em dois setores: o Comunitário e o de Rede, cada um com um diretor encarregado de planejar o desenvolvimento destas áreas. Data desta época a criação do Globo Cidade e dos atuais telejornais locais, os chamados praças TV, que em cada Estado leva denominação própria, como o ESTV, no Espírito Santo, o SPTV, em São Paulo, o RJ TV, no Rio, etc. Nesta mesma época, a Central de Afiliadas, criou o Prodetaf (Projeto de Desenvolvimento do Telejornalismo das Afiliadas). Dentro deste projeto, profissionais de primeira linha da emissora iam pessoalmente às praças implementar mudanças nos telejornais locais. A idéia era minimizar distorções entre o telejornalismo praticado nas diferentes regiões do País, contribuindo para a criação de um padrão de qualidade no telejornalismo de todas as emissoras da Rede Globo. Até mesmo a fala de repórteres e apresentadores dos diversos Estados, era uniformizada, reduzindo, assim, os sotaques regionais. Este trabalho, desenvolvido pela fonoaudióloga Glória Beuttenmuller, foi alvo de polêmicas, por ter estabelecido o padrão “Rio de Janeiro” para todo o País.

Dentro do esforço da Globo em fortalecer o jornalismo regional, um destaque foi o SPTV 1ª edição, que inaugurou um avançado projeto de jornalismo comunitário, em que autoridades públicas eram sabatinadas, ao vivo, por moradores e líderes comunitários. Dentro deste modelo, o jornal passou a focalizar com mais freqüência os problemas dos bairros,

Page 24: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 24 ]

C a r l o s To u r i n h o

a oferta de empregos, ações de cidadania e defesa do consumidor. O projeto-piloto fez sucesso e permitiu à Globo ganhar vários prêmios de jornalismo naquele ano. O modelo foi ampliado para as demais emissoras da Rede no País. Com o tempo, por força da concorrência e das disputas por audiência, sobretudo em São Paulo, o modelo foi um pouco alterado, inclusive em relação ao tempo de duração do jornal que foi reduzido. Mas, ainda que um pouco diferente do projeto inicial, a filosofia de se fazer um jornalismo “comunitário” permanece.

Para Lindenberg Neto, a decisão da Rede Globo em apostar no jornalismo comunitário foi acertada: “É uma questão prioritária e a Globo teve sensibilidade para isso. De dez anos para cá a quantidade de conteúdo local produzido é muito maior”. Mas volta a alertar para a necessidade de uma legislação coerente com os interesses do País e para a necessidade das emissoras: “A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) trabalha muito no sentido de equalizar os interesses do Governo com o das emissoras e ela será consultada no caso de uma lei para aumentar a programação local. É preciso entender que mesmo uma emissora local bem-sucedida como a nossa, afiliada da Globo, tem dificuldade para viabilizar uma programação local de qualidade. Digo de qualidade, porque, para fazer de qualquer maneira, a gente abre uma câmera dentro da rádio CBN transmite e diz que isso é programação local. Uma afiliada da Globo vai botar isso no ar? Não vai. Também é importante levar em conta o horário que a emissora vai ter para viabilizar comercialmente uma produção. Se a lei mandar aumentar e a Globo nos der, por exemplo, quarta-feira da três às quatro da manhã, o que eu vou fazer com esse horário? Se uma emissora como a nossa que tem um grande faturamento já tem essa dificuldade, imagina uma emissora pequena do interior?”. A preocupação pode ter fundamento. Já há relatos (gerentes de programação dizem que ouviram falar, mas não citam nomes e nem a Rede em que isso estaria acontecendo) de que pequenas emissoras, fruto de concessão recente pelo Brasil afora, estariam “atendendo” às novas exigências legais, usando

Page 25: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 25 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

o subterfúgio de gravar horas ininterruptas de imagens em festas, sem qualquer interesse, o que – naturalmente – acaba por fugir ao objetivo da legislação.

A discussão sobre a viabilidade financeira de uma possível ampliação do horário destinado às produções locais ocorre paralelamente ao debate sobre a valorização do local na cultura popular. Duílio Fabbri Júnior sintetiza em “A Tensão entre o Global e o Local”, estudo feito a partir de observações na Rede EPTV, afiliada da Globo:

“(...) a valorização do local na sociedade contemporânea é processada pelo conjunto da sociedade e surge no auge do processo de globalização (...) esta mudança demonstrou justamente que as pessoas também se interessam pelo que está mais próximo ou pelo que mais diretamente afeta as suas vidas, e não apenas pelos grandes temas da política, da economia e assim por diante. (...) era necessário voltar a programação para o cotidiano local-regional, pois os telespectadores que habitavam cidades do interior dos Estados, sentiam-se ‘alienados’ da sua realidade (...) aos assistir somente a noticiários de fatos ocorridos na capital, nas cidades mais importantes do País (...)” (2006, páginas 27 e 28).

A maior parte das emissoras ligadas à Rede Globo de Televisão tem o mesmo espaço para a programação regional obrigatória, com algumas variações regionais (leia o capítulo sobre a produção regional da RBS). Na TV Gazeta, há um total de uma hora e quarenta minutos de produção local por dia, 6,9% da programação. Ao longo da semana, somando-se os horários obrigatórios e os optativos (que a TV Gazeta ocupa na totalidade), chega-se a doze horas e trinta e sete minutos de conteúdo regional, 7,5% do total da programação semanal. Na TV Gazeta, de Vitória, a programação local – entre jornalísticos e não jornalísticos – é composta pelos programas: Bom Dia ES, ESTV 1ª edição, Globo Esporte (bloco local), Gazeta Notícias 1 e 2, ESTV 2ª edição, Jornal do Campo, Estação Esporte, ES Comunidades, Em Movimento, Conexão Geral.

Page 26: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 26 ]

C a r l o s To u r i n h o

PRODUTOFREQÜÊNCIA

SEMANALDURAÇÃO

DIÁRIAPARTICIPAÇÃO

DIÁRIADURAÇÃO SEMANAL

PARTICIPAÇÃO SEMANAL

BOM DIA ES 5 00h40min 03h20min

GAZETA NOTÍCIAS 1 5 00h03min 00h15min

GAZETA NOTÍCIAS 2 6 00h02min 00h12min

ESTV 1ª edição 6 00h35min 03h30min

GLOBO ESPORTE LOC 6 00h05min 00h30min

ESTV 2ª edição 6 00h15min 01h30min

ES COMUNIDADES 1 00h25min 00h25min

ESTAÇÃO ESPORTE 1 00h25min 00h25minEVENTO DO ESTAÇÃO ESPORTE

1 00h50min 00h50min

EM MOVIMENTO 1 00h40min 00h40min

JORNAL DO CAMPO 1 00h20min 00h20min

CONEXÃO GERAL 1 00h40min 00h40min

TOTAL 3401h40min 6,9 % 12h37min 7,5 %

(só programas diários) (diários e semanais)

Fonte: Central Gazeta de Produções – TV Gazeta.

1.2 Rede Globo e TV Gazeta: a relação do fato nacional com o local

1.2.1 TV Globo

A televisão chegou ao Brasil em 18 de setembro de 1950, através da PRF-3, TV Tupi, canal 3 de São Paulo, pertencente aos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Já a história da Rede Globo, criada por Roberto Marinho, começa quinze anos depois, em 26 de abril de 1965. Nesta data nasceu no Rio de Janeiro a TV Globo, canal 4, ZYD-81. “A televisão era em preto-e-branco e o cenário político, também (...)”, registra o arquivo da emissora, em referência ao período da ditadura militar vigente na época.

Page 27: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 27 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

No Brasil, até o dia primeiro de setembro de 1969, quando o Jornal Nacional estreou, os telejornais eram basicamente locais5 e feitos apenas em algumas cidades brasileiras. Boa parte dos brasileiros assistia às notícias dos grandes centros através de repetidoras locais ou, simplesmente, não assistia. Era mais fácil assistir as notícias do exterior, que chegavam por satélites internacionais, do que as notícias do Brasil. Este momento é bem lembrado no livro que, em 1984, contou a história dos 15 anos do Jornal Nacional: “A criação de uma rede nacional de televisão tornou-se possível após a introdução dos equipamentos de videoteipe, no Brasil, em 1965, e especialmente depois que, no dia 26 de março de 1969, a Embratel inaugurou o seu primeiro tronco, o tronco sul, interligando as cidades de Curitiba e de Porto Alegre. Com base nessas duas conquistas importantes, a TV Globo, do Rio, foi ampliando o seu alcance, melhorando sempre o sinal de vídeo e começando a organizar uma programação voltada para todo o mercado de televisão no país”. O que hoje chamamos de “Rede” Globo foi surgindo, aos poucos, nas cidades que passaram a sediar as emissoras: São Paulo (ex-TV Paulista. 1966); Belo Horizonte (1968); Brasília (1971) e Recife (1972), além do Rio de Janeiro. Além destas geradoras, vieram as emissoras afiliadas. Quando a Rede Globo completou 15 anos de idade, em 1980, já havia 36 afiliadas espalhadas pelo País, entre elas a TV Gazeta, em Vitória. “Ninguém podia imaginar, em 1965, que algum dia o canal 4, do Rio de Janeiro, viesse a se expandir, com uma programação distribuída por todo o País, em tempo real. Isto é, que a imagem enviada por satélite doméstico chegasse ao mesmo tempo ao Pará, ao Mato Grosso e ao extremo do Rio Grande do Sul (...) A TV Globo era uma coisa isolada aqui no Rio de Janeiro (...)”6

5 O primeiro telejornal da TV Globo estreou junto com a emissora, no dia 26 de abril de 1965, com o nome de Tele Globo, apresentado por Hilton Gomes e Aluízio Pimentel. A equipe de jornalismo era dirigida por Mauro Salles, antecessor de Armando Nogueira. O Tele Globo tinha alcance regional. Entre os fatos que o telejornal cobriu estavam o lançamento da Apolo 9 e a chegada do homem à lua. Entre o fim do Tele Globo e o início do Jornal Nacional, ainda foram exibidos na TV Globo o Ultranotícias e o Jornal da Globo. In Jornal Nacional: a notícia faz história / Memória Globo.

6 Herbert Fiúza, in Jornal Nacional, 15 anos de história-Rede Globo. 1984

Page 28: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 28 ]

C a r l o s To u r i n h o

Sérgio Caparelli, em “A Televisão e o Capitalismo no Brasil”, comenta as dificuldades do período pré-satélites:

“No início dos anos 60, as estações fora do eixo Rio-São Paulo apresentavam telejornais com até dois dias de atraso pela dificuldade de transporte de tapes ou se contentavam com telejornalismos isolados do país e do mundo. O suporte de telecomunicações, montado pela Embratel, foi a ponte para um telejornal que levasse em conta o veículo, apresentando-se instantaneamente nos mais diversos pontos do país”. (1982, p 122).

Hoje, a Rede Globo utiliza uma grande quantidade de transmissões via satélite que garante qualidade e continuidade na distribuição digital da programação a todo o Brasil, composta por uma rede nacional e nove sub-redes regionais. Além disso, conta com dois canais de satélite disponíveis 24 horas por dia para atender as necessidades das equipes de jornalismo de São Paulo, Brasília, Nova Iorque e de suas unidades móveis e portáteis de transmissão. São 121 emissoras, entre próprias e afiliadas, que garantem a presença da Globo em 99,84% dos 5.043 municípios brasileiros, de acordo com o site oficial da emissora. A Rede transmite programas 24 horas por dia, sendo a maior parte da programação criada e realizada nos seus próprios estúdios no Rio de Janeiro e em São Paulo. São cinco horas diárias de telejornalismo ao vivo, em nove telejornais, cinco deles de Rede. As emissoras afiliadas colaboram com cerca de 1.400 a 1.500 matérias por mês.7

Portanto, antes de se pensar em “regionalização da notícia” a meta era a sua “nacionalização”, a chamada integração nacional: “Vamos lançar um telejornal para que 56 milhões de brasileiros tenham mais coisas em comum, além de um simples idioma. A partir do dia 1º de setembro (1969) a Edição Nacional do Telejornal da Rede Globo irá ao ar de segunda a sábado, às 19h40min, simultaneamente nos

7 www.redeglobo.com http://redeglobo3.globo.com/institucional/

Page 29: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 29 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Guanabara, Minas Gerais e Distrito Federal. A Rede Globo inicia sua arrancada para unir o país pela TV”. Estas foram as chamadas para o lançamento do primeiro telejornal em “rede” do País, o Jornal Nacional. E então, faltando poucos minutos para as oito da noite, o apresentador Hilton Gomes anuncia: “O Jornal Nacional da Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagem e som de todo o Brasil”. Cid Moreira, ao lado de Hilton Gomes, na bancada, completa: “Dentro de instantes, para vocês, a grande escalada nacional de notícias”. Neste histórico dia, entre notícias de política, internacional, economia e esportes, o JN divulgou a previsão do tempo para Rio de Janeiro, Niterói e Espírito Santo8. Ao final da edição, no script do primeiro telejornal em rede exibido no País, o diretor de telejornalismo da Globo, Armando Nogueira, escreveu à mão para o diretor de imagens: “... e o boeing decolou”.

O Jornal Nacional, com sua busca pela nacionalização do noticiário, passa a ser um marco no estudo dos complexos critérios para diferenciar o fato local do nacional, como destacam Ricardo Miranda e Carlos Alberto Pereira, em “O Nacional e o Popular na cultura brasileira de Televisão”.

“(...) o Jornal Nacional é trabalhado de forma a atingir o Brasil inteiro, e em horário nobre – sendo, neste sentido, realmente nacional. Vai ao ar em cadeia para todas as emissoras e repetidoras da TV Globo e tem suas matérias pensadas de modo que tenha, de fato, um interesse nacional. Obedece a um critério de elaboração preestabelecido que faz com que se possa ‘eleger’ se a notícia é local, regional ou se sua dimensão é de âmbito mais extenso, isto é, brasileiro e, portanto, nacional.” (1983, páginas 122 e 123).

Como visto, a televisão foi local num momento em que ainda era quase amadora e pouca representativa para o conjunto da

8 Souto Maior, Marcel, 1966-Almanaque TV Globo/Marcel Souto Maior; pesquisa Memória Globo.

Page 30: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 30 ]

C a r l o s To u r i n h o

população brasileira, já que poucas cidades possuíam emissoras. Passada essa fase inicial, logo se buscou a já falada “integração nacional”. Mas, como separar uma coisa de outra, como definir o que seria local, regional do fato nacional? Essa questão foi uma grande dor de cabeça para aqueles que, como o ex-diretor da Central Globo de Jornalismo, Armando Nogueira, questionava junto aos demais responsáveis pelo Jornal Nacional: “Muito bem, começou o Jornal Nacional, agora estamos em Rede, o Brasil inteiro está nos vendo. O que levar, porém, a esse Brasil inteiro?”.

A preocupação passava a ser com a dimensão nacional da notícia. Como determinar o que seria um fato nacional? O jornalista Nilson Viana, que nesta época (1969) era recém-chegado à TV Globo, após longa experiência no jornalismo impresso, lançava novas dúvidas: “Você tem de atender os interesses do homem urbano e do homem rural. Você tem o nordeste, mas também tem o sul do país; tem o litoral e o sertão. Como é que se ajeita tudo isso para despertar o interesse de toda essa gente?” Com o tempo o processo de seleção foi se tornando mais claro. A partir do momento em que o telejornalismo foi ganhando mais espaço na programação com os telejornais locais, foi ficando mais fácil destinar o fato estritamente local ao jornal local de uma pequena afiliada, o fato regional ao jornal da cabeça da afiliada no Estado e a notícia nacional, aos telejornais de Rede, dentro dos critérios de abrangência, universalidade e importância. Mas, ainda hoje, ninguém se arriscaria a dizer que a dúvida sobre a dimensão nacional da notícia é algo que tenha sido resolvido e ficado para o passado. Sempre há uma matéria que divide opiniões, que fica no limiar entre o regional e o nacional. E aí, cabe ao editor-chefe do jornal tomar a decisão. Muitas vezes, apesar da falta de unanimidade sobre a dimensão da notícia, ela ganha um lugar no script dos jornais de Rede graças ao poder de uma imagem, ao caráter inusitado ou à força de um flagrante.

A maior parte das emissoras afiliadas da Rede Globo possui um núcleo de Rede, composto por produtor, editor e repórter (em

Page 31: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 31 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

alguns casos acumulando estas funções). São estes profissionais que mantém contato direto e diário com os jornais de Rede (Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal Nacional, Jornal da Globo, Fantástico, Globo Repórter) para receber demandas ou “vender”9 notícias. Os mais experientes sabem que a capacidade de “vender” uma matéria pode representar a sua veiculação nacional, a simples recusa ou uma interminável espera nas “gavetas” dos telejornais da Rede. Para o repórter de “Rede” da TV Gazeta, André Junqueira, escapar da “gaveta” ou, pior, do “não” dos telejornais da Rede é um grande desafio. Segundo ele, o repórter, o produtor e o editor precisam ter uma noção muito clara do perfil de cada telejornal, da linha editorial de cada um e “até conhecer o humor do editor-chefe do telejornal procurado”. Para Junqueira, o núcleo da Rede tem que ter um olhar diferente dos jornalistas locais diante da notícia que acontece no Estado. “Repetimos diariamente: o que podemos oferecer hoje para a Rede?”. A resposta, na opinião do repórter, está na observação do assunto. “A notícia pode até ser comum para a cidade onde vivemos, mas, observado por um ângulo diferente, pode sim, ganhar espaço e interessar a qualquer cidade do País”. “É o que chamamos de olhar estrangeiro. Ou seja, o repórter deve se colocar na posição de quem vê o Estado de fora, filtrando o que é absolutamente do interesse regional, para selecionar a notícia que, naturalmente, poderá ser reconhecida e chamar a atenção de qualquer brasileiro em qualquer parte do País”. De fato, um desafio diário.

1.2.2 TV Gazeta

A TV Gazeta, afiliada da Rede Globo, foi inaugurada em 11 de setembro de 1976 e faz parte da Rede Gazeta de Comunicações, o maior complexo de comunicação do Espírito Santo. Foi a 18ª das atuais 121 emissoras que fazem parte da Rede Globo de Televisão. A Rede Gazeta é formada por 16 negócios, todos na área de Comunicação:

9 vender notícias no jargão jornalístico, significa “oferecer” as reportagens.

Page 32: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 32 ]

C a r l o s To u r i n h o

• TV Gazeta (sede em Vitória, capital do ES). • TV Gazeta Sul (sede em Cachoeiro de Itapemirim) • TV Gazeta Norte (sede em Linhares) • TV Gazeta Noroeste (sede em Colatina) • GTV (canal local a cabo – NET) • Rádio Gazeta AM • Rádio CBN (FM, Sistema Globo de Rádio) • Rádio Antena 1 FM • Rádio Litoral FM • Jornal A Gazeta. • Jornal Notícia Agora • Jornal Oportunidades, Cursos & Concursos • Portal de Notícias Gazeta On-line (Globo on-line, internet). • Portal vrum.com.br (especializado em automóveis) • Portal lugarcerto.com.br (especializado em imóveis). • Premium (marketing promocional).

O primeiro veículo do grupo foi o Jornal A Gazeta, fundado em 11 de setembro de 1928, por Thiers Vellozo e comprado em 1949 pelo então governador do Espírito Santo, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, empresário e político já falecido, que ocupou por duas vezes o cargo de governador e por outras duas o de senador pelo Espírito Santo. Vale lembrar que o Jornal A Gazeta teve funções bem diferentes das atuais, no início de sua história. O empresário Thiers Vellozo o fundou com o objetivo de ser um veículo de propaganda de um loteamento. O loteamento não teria seguido adiante, mas o jornal ganhou vida própria. Virou ferramenta política da UDN (União Democrática Nacional) e era utilizado para criticar o PSD (Partido Social Democrata), ambos partidos extintos após o golpe militar de 1964. Quando a família Lindenberg o adquiriu, o fez também por motivos políticos, já que Carlos Monteiro Lindenberg, fazia parte do PSD.

A TV Gazeta foi criada como estratégia empresarial, visto que em várias partes do País os grandes grupos de jornais já vinham se expandindo para a mídia eletrônica. Em função das atividades políticos

Page 33: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 33 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

de Lindenberg, coube a seu filho, Carlos Lindenberg Filho, também conhecido como Cariê Lindenberg, e a seu tio Eugênio Queiroz, a responsabilidade de administrar os negócios da família. “Tio Eugênio e eu encarávamos a importância da TV Gazeta, não como mais um negócio, rentável ou não. O que buscávamos era uma sinergia com o jornal”, revela o atual proprietário e secretário executivo do Conselho da Rede Gazeta Cariê Lindenberg, em seu livro “Eu e a Sorte”. Foi dele a iniciativa de buscar uma concessão de televisão e, em especial, numa estratégia visionária, garantir o sinal da TV Globo: “Eu acreditava, e as pessoas me confirmavam, que mais importante do que conseguir um canal de televisão era se afiliar a uma rede cuja programação estimulasse audiência competitiva. Por isso, empenhava-me mais em contratar uma boa programação do que em obter o canal, sem o qual, é claro, não poderíamos ir ao ar (...). Para nós não interessava nos filiarmos a nenhuma emissora que não fosse a Rede Globo. O contrato com eles era mais importante que a própria concessão. Se outro grupo conseguisse esse contrato, poderia ser estabelecida uma concorrência difícil de ser derrubada depois”.

Ainda em seu livro “Eu e a Sorte”, Cariê Lindenberg narra com detalhes toda a peregrinação que fez para conseguir o contrato com a TV Globo em 1974: os contatos com o diretor geral da Globo, Walter Clark, a associação com a regional RBS e até a educada, porém constrangedora, conversa com o empresário Roberto Marinho, em uma das primeiras tentativas para garantir o sinal da Globo:

- Que prazo o senhor tem do governo para instalar sua emissora?, perguntara Marinho.

“Meio constrangido, informei que ainda não tínhamos o sinal (...) e me conscientizei que estava ali indevidamente, andando com o carro à frente dos bois”.

- Ah, então vocês ainda não têm o canal?

- Não, Dr. Roberto (...).

Page 34: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 34 ]

C a r l o s To u r i n h o

Este é um dos trechos de uma agradável e valiosa leitura de todo o processo e o jogo de influências que antecederam a disputa – e conseqüente conquista – do sinal da Globo e da concessão de televisão no Estado. Na ocasião, a emissora carioca já despontava como uma televisão de sucesso. No Espírito Santo, até então, o sinal da Globo chegava através da repetidora TV Clube Intermunicipal, uma antena instalada num morro próximo à Capital, que não tinha qualquer contrato comercial com a emissora do Rio de Janeiro e era muito bem aceita pelo telespectador local, apesar dos problemas de qualidade, ordem legal e falta de programação local.

Atualmente, a TV Gazeta, juntamente com as TVs Gazeta Norte, Gazeta Noroeste e Gazeta Sul cobrem com seu sinal todos os 78 municípios do Espírito Santo. A emissora tem audiência média de 34 pontos e 64 de share no mercado capixaba, sendo que no horário noturno esta média sobe para 52 de audiência e 76 de share. É líder de audiência em todos os horários.10

1.3 Programação regional obrigatória da TV Gazeta

Como já foi dito, a decisão de se criar a TV Gazeta fora tomada de forma estratégica, em benefício do Jornal A Gazeta. Em meio à disputa por uma concessão de um canal e por um contrato com a TV Globo, pouco tempo “sobrava” para se preocupar com a questão do conteúdo local desta televisão.

“Optamos pela Globo, que com apenas nove anos crescia velozmente, atraindo cada vez mais, e a qualquer preço, os melhores talentos disponíveis no mercado (...). Fazer toda a programação local seria loucura (...)”, conta Cariê Lindenberg. “Naquela época, a TV Globo só entrava no ar pelas 13 horas e também encerrava cedo, com um filme

10 Ibope Outubro de 2006.

Page 35: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 35 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

logo depois da meia-noite, optativo para as afiliadas. Se quiséssemos, poderíamos operar da madrugada até as 13 horas. Mas não era o caso. Plínio (Marchini, ex-diretor da TV Gazeta) se contentou com apenas uma hora, das 12 às 13 para levar ao ar o “Primeira Página” (...), convicto de poder fazer aquela coisa enorme diariamente (...). Só então nos demos conta do contraste negativo que o nível do nosso telejornalismo incipiente poderia ter em comparação com o da Globo, e começamos a ficar preocupados com isso”. Chegava-se à conclusão que o jornalismo local representaria a emissora, aliás, seria a única representação que a emissora colocaria no ar, visto que o restante (com exceção das propagandas locais), vinha da TV Globo. Portanto, havia de se dar maior importância a esta produção regional. O anunciado “Primeira Página” nem chegou a ir ao ar. Verificou-se que a maior parte das emissoras afiliadas não produzia mais do que dez ou quinze minutos de jornalismo local. Ou seja, neste momento, era preciso produzir menos, mas com qualidade.

No final da década de 1970, a TV Gazeta fazia o bloco local do Jornal Nacional – o Plantão Gazeta – com um resumo do dia em três minutos, o Jornal das Dez, que antecedia ao Jornal Amanhã (depois renomeado como Jornal da Globo) e o local Jornal do Campo (1979). No início da década de 1980, o jornalismo local passou a produzir o primeiro bloco dos telejornais Hoje, do recém-criado Jornal da Globo, e do Jornal Nacional. Em 1983, logo após a estréia do Bom Dia Brasil, foi criado o Bom Dia Espírito Santo. Percebendo a necessidade de se estabelecer uma identidade própria para as notícias regionais, os blocos locais dos telejornais nacionais ganharam independência e foram substituídos por programas independentes, como o Espírito Santo Notícias 1ª edição, o Espírito Santo Notícias 2ª edição, e o Espírito Santo Notícias 3ª edição¹¹, nos lugares dos blocos locais do Hoje, Nacional e Jornal da Globo, respectivamente.

¹¹ O “ESN 3ª edição” saiu da grade de programação em 1992.

Page 36: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 36 ]

C a r l o s To u r i n h o

A exceção a essa mudança de nomes foi com o Globo Esporte local, que permanece até hoje como parte do tele-esportivo nacional. Também data desta época a criação do programa Gazeta Comunidades, semanal que abriu um novo espaço para os problemas dos bairros¹². Do final da década de 1970 até o início dos anos 2000, a TV Gazeta também produziu e transmitiu a Santa Missa em seu Lar. Na década de 1990, novas mudanças de nomes nos telejornais locais com as estréias do Espírito Santo TV, 1ª e 2ª edições (substituindo o ES Notícias) e com os lançamentos do Jogo Aberto (1992) e do Painel de Domingo (1999). Nos anos 2000 surgiram: Em Movimento (2001), Estação Esporte (2004), ES Comunidades (2004), Conexão Geral (2005).

Em 2007, a TV Gazeta tem no ar cinco programas diários e um semanal cujas produções são obrigatórias pelo contrato com a TV Globo: Bom Dia Espírito Santo, ESTV 1ª, Globo Esporte local, ESTV 2ª, Jornal do Campo e Gazeta Notícias.

• Bom Dia ES. De segunda-feira a sexta, às 06h30min.

• ESTV 1ª (Primeira Edição). De segunda-feira a sábado, às 11h55min.

• Globo Esporte (bloco local). De segunda-feira a sábado, às 12h35min.

• ESTV 2ª (Segunda Edição). De segunda-feira a sábado, às 18h55min.

• Jornal do Campo. Domingo, às 07h00min.

Observação: o Jornal do Campo ocupa horário obrigatório, mas sua temática varia em algumas emissoras de outros estados, tendo

¹² Na década de 80 os veículos de comunicação da Rede Gazeta (TV, rádio e jornal), criaram o projeto “Gazeta nos Bairros”, com uma cobertura semanal de um determinado bairro com todos os veículos atuando na comunidade ao mesmo tempo. O projeto fez muito sucesso durante vários anos.

Page 37: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 37 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

parte delas optado por fazer um programa de comunidade no horário. Vale destacar que o Jornal do Campo, criado em 1979 pelo editor Ronald Mansur, foi um dos pioneiros do país na cobertura da temática agrícola. Serviu de modelo para o Globo Rural.

• Gazeta Notícias 1 e 2 (Plantão de Notícias). De segunda-feira a sexta (GN 1 - obrigatório) e segunda-feira a sábado (GN 2 – não obrigatório).

No final de 2007, a Rede Globo apresentou a todas as emissoras próprias e afiliadas um novo espaço na faixa das oito horas da manhã. A faixa oferecida tem um tempo de 3 minutos diários de programação local e deve ser dedicada especialmente à prestação de serviço e informações sobre o trânsito. O horário já vinha sendo usado em caráter experimental pela TV Globo Rio com o programa “Radar” (vai do final do Sítio do Pica-pau Amarelo ao início do Mais Você), com bom retorno de audiência. A ocupação, inicialmente apresentada como optativa, tornou-se obrigatória visto que o satélite estará em fade no horário. Isto é, sem opção de programação em Rede. O coordenador geral das emissoras afiliadas, Marco Antonio Rodrigues, comenta – “Dá um noticiário muito bom, ágil...” – e orienta as emissoras do interior que não tiverem condição de assumir tal produção a retransmitirem o que for produzido pela emissora “cabeça de Rede” no Estado.

Page 38: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo
Page 39: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 39 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

| CAPÍTULO 2 |

Horários optativos: quem vai querer?

2.1 Definição

As principais redes¹³ nacionais de televisão, no Brasil, possuem horários optativos de programação que são disponibilizados às emissoras afiliadas. O objetivo desta “liberação” de horários é, principalmente, editorial e comercial e, apenas em alguns casos, vinculada às exigências legais de um conteúdo mínimo de programação local.

¹³ Redes. “A princípio, não há “Redes” de televisão no Brasil. O que há são concessões de emissoras e retransmissoras de forma individual por todo o País. Este conceito de “Rede” surgiu no final da década de 60, quando algumas emissoras do Rio e de São Paulo pegaram carona no sistema criado pela Embratel para oferecer parcerias com as dezenas de emissoras locais já existentes. Estas, por sua vez, viram que era mais barato fazer um contrato com a Globo ou com a Tupi do que continuar a produzir localmente, principalmente programas de entretenimento, educativos e culturais. Só mantiveram os telejornais porque era barato e tratava de temas locais. Ao longo dos anos 70, a Globo se aproveitou disso e criou contratos “cedendo” as tais janelas. Foi a época em que surgiram as afiliadas, o que dá a falsa impressão de que há uma matriz e diversas filiais. O caso é que, quando uma pessoa/empresa tem aprovada uma concessão, é para gerar, se quiser, 24 horas de programação própria. Só que os tais contratos – que existiam também com a Tupi e depois de sua falência com a Record/TV S (SBT), Manchete e Bandeirantes; e depois com a Record (já da Igreja Universal), a Rede Vida, a Rede TV!, a CNT/Gazeta (...) eram muito cômodos para os pequenos concessionários, que acabaram virando “escritórios comerciais” das grandes emissoras (...)”, segundo o Prof. Dr. Edgard Rebouças, da Universidade Federal de Pernambuco (entrevista. junho de 2007).

Page 40: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 40 ]

C a r l o s To u r i n h o

Segundo o coordenador das Emissoras Afiliadas da Rede Globo de Televisão, Marco Antonio Rodrigues, em entrevista em junho de 2007, “a programação regional optativa é o espaço que a Rede Globo abre na sua programação de Rede para as emissoras afiliadas ocuparem com suas produções regionais. O critério para que se autorize a utilização desse espaço está exatamente na exploração do conteúdo regional. Programas que valorizem a cultura local, os valores regionais, a discussão dos problemas e das soluções dos assuntos de interesse das comunidades locais”. Estes horários têm ainda outras vantagens na visão da emissora afiliada. Para o gerente de Produção e Programação da TV Gazeta, Ricardo Alonso “estes horários têm sido utilizados basicamente com três objetivos: o estreitamento institucional da emissora local com seu público, a proposta de se produzir maior volume de informação regional e o interesse comercial de se gerar novos produtos que proporcionem outras receitas publicitárias”.

A ocupação destes horários também depende da estrutura da emissora local. As produções em televisão custam muito dinheiro (cenário, equipamento, carro, jornalista, produtor, câmera e auxiliar, diretor de TV, tudo isso, e mais um pouco, geralmente no plural) e os horários optativos disponibilizados pela Rede nem sempre estão nas melhores “posições” da grade de programação, o que muitas vezes não atrai o anunciante. Hoje, os horários optativos são basicamente os mesmos em todas as afiliadas do País. Há algumas poucas variações. A Rede Globo não costuma negociar isso.

Esta situação é confirmada pelo diretor executivo da emissora, Carlos Magalhães: “A Gazeta há muito tempo negocia com a Globo mais espaço na grade optativa. Ocorre que este é um assunto de alta complexidade, envolvendo a Rede Globo como um todo, e soluções regionalizadas têm sido evitadas pela natural dificuldade do gerenciamento de exceções”. A emissora afiliada pode decidir livremente por utilizar ou não o espaço oferecido. Mas, este aproveitamento é considerado estratégico. Para o

Page 41: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 41 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

diretor de jornalismo da TV Gazeta, Abdo Chequer, “o preenchimento do horário optativo com programação local é um resgate ao atendimento de um conceito sabidamente importante hoje para empresários e estudiosos da comunicação: o conceito do “Glocal”, ou seja, colocar o seu cliente-telespectador sintonizado com o mundo (o Globo Terrestre), mas frisando fortemente suas relações de ação e dependência com a comunidade em que vive”. Já Carlos Magalhães destaca a hierarquia de valor da programação, na visão do telespectador: “Ele prioriza o conteúdo regional (o bairro, depois a cidade, depois o estado), em seguida o conteúdo nacional (aquilo que acontece no Brasil) e por último o mundo. Portanto, os horários optativos são muito importantes na construção da relação com o telespectador, possibilitando que a emissora se torne a sua grande parceira, interagindo com ele a partir de sua própria realidade. A programação optativa cria a pessoalidade, e oferece ao telespectador experiências de relacionamento que comumente se traduzem em expressões como ‘a minha televisão’, ‘a TV da minha casa’, etc”.

Numa perspectiva empresarial, o diretor-geral da Rede Gazeta, Carlos Lindenberg Neto, reforça a importância dos horários optativos: “A nossa orientação é sempre por ocupar todos os horários optativos que existem para serem ocupados. Nos tempos atuais, a TV aberta não tem mais o ‘monopólio’ da atenção do telespectador, ou seja, ele tem acesso a TV a cabo com ‘quinhentos canais’ e a nossa marca fica cada vez mais diluída na cabeça dele. A forma que temos de firmar a nossa identidade local – que é um dos ativos mais importantes que a TV Gazeta tem, que a Rede tem – é ocupar o horário optativo e fazer um programa de qualidade”. A identificação local também tem importância estratégica no relacionamento comercial da afiliada com a emissora mãe, no caso a Rede Globo. É Lindenberg Neto quem esclarece: “A gente precisa ser parceiro agregador de valor para a Globo. No momento em que não apresentarmos diferença para com os nossos concorrentes, a gente fica numa situação difícil até de renegociar contrato. Nossos ativos – o que temos para apostar – são

Page 42: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 42 ]

C a r l o s To u r i n h o

a reputação, a seriedade comercial e jornalística, a audiência nos programas locais e a nossa marca na cabeça do telespectador...”

Por outro lado, caso a emissora não queira ou não tenha capacidade operacional de se utilizar do horário optativo, pode se valer da programação “normal” que está sempre sendo transmitida na Rede. Esta programação já está “paga”, dentro dos critérios estabelecidos em contrato, “usando-a ou não”, esclarece o gerente de Programação, Ricardo Alonso. Ressalta-se que, por outro lado, a produção local “optativa” é permitida apenas nos horários e espaços previamente disponibilizados e autorizados. A Rede Globo de Televisão não aceita, portanto, a decisão unilateral de suas afiliadas em produzir programação local em espaço não disponibilizado como “optativo”. E mesmo para estes é preciso a autorização da Rede. As solicitações são enviadas à CGAL - Central Globo de Afiliadas e Licenciamento, que é quem faz todo o processo de aprovação de programas. A avaliação final é feita por um comitê que envolve as áreas de produção, telejornalismo, comercial, marketing e programação.

2.2 A experiência regional fora do Espírito Santo: EPTV E RBS

Apesar da rigidez na grade de programação, algumas emissoras afiliadas da Rede Globo de Televisão têm maior flexibilidade em relação às janelas ou horários optativos, que lhes permite produzir um número maior de horas de conteúdo regional. Esta situação varia em função de vários fatores. Para esta análise tomamos como exemplos comparativos duas emissoras afiliadas, de grande estrutura e prestígio junto à Rede Globo. A Rede Brasil Sul - RBS, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de propriedade da família Sirotsky, e as Emissoras Pioneiras de Televisão – EPTV, da família Coutinho Nogueira, no interior de São Paulo (Campinhas, Ribeirão Preto, São Carlos) e sul de Minas (Varginha).

Page 43: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 43 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

A EPTV já ocupou por dezenas de vezes espaços na programação da Rede Globo, no horário do Globo Repórter, com produções regionais. Produz também regionalmente o programa Terra da Gente, que é gerado para 55 países, através do canal Superstation, da Globo Internacional, e para dezenas de afiliadas da Globo no Brasil. A própria TV Gazeta já “comprou” este programa antes de estrear o regional “Em Movimento”. A disposição do grupo em “regionalizar” a programação da TV Globo ficou clara já por ocasião da criação da EPTV em Campinas, como deixa claro seu site institucional14: “A proposta era aliar, desde o início, a liderança da programação Globo à força das emissoras regionais. Criou-se, na identificação com as comunidades cobertas, um serviço de jornalismo dinâmico. Além do sinal com qualidade irradiado às cidades, buscou-se apoiar as diversas atividades regionais e disponibilizar uma programação local, ao lado da fornecida pela Rede Globo, criando oportunidades de crescimento aos anunciantes locais. Tornou-se evidente, com o decorrer do tempo, a noção de que a TV regional era uma realidade e, até mesmo, uma necessidade mercadológica. A partir daí, foram realizados novos investimentos para ampliar a área de cobertura das emissoras, através de postos retransmissores, bem como da inauguração de duas outras emissoras: TV Sul de Minas, em Varginha (1988), e EPTV Central, em São Carlos (1989). (...)”. O gerente de programação da EPTV, Ernesto Calixto, esclarece que a EPTV tem em sua grade, neste ano de 2007, os optativos EPTV Comunidade (aos sábados pela manhã), Caminhos da Roça (manhãs de sábado) e Terra da Gente (sábado à tarde), além de todos os jornais obrigatórios de rede (Bom Dia, Praças TV/Jornal Regional, Globo Esporte, Plantão de Notícias). Destaca-se que a emissora não ocupa o horário das 23h50min de domingo. Recentemente, a Rede Globo deixou de classificar esta faixa como optativa, só permitindo a permanência daquelas afiliadas que já ocupavam o horário anteriormente.

14 site EPTV www.eptv.com.br em julho de 2007.

Page 44: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 44 ]

C a r l o s To u r i n h o

A RBS é o maior grupo de Comunicação do sul do País e a maior rede regional de televisão da América Latina. Tem seis jornais, vinte e seis emissoras de rádio, um portal de internet, duas emissoras locais de televisão, uma gravadora, dezoito emissoras de TV afiliadas da Rede Globo, e a Rede Gaúcha Sat de rádio, com cento e vinte e três emissoras afiliadas, em dez estados brasileiros, como lista o site institucional do Grupo RBS15. Considerando-se apenas a televisão, a RBS é a emissora brasileira que mais produz conteúdos regionais. Esta produção local já chegou a ocupar 15% do total da programação da Rede Globo em sua região. Isso ocorreu no início da década de 1990, antes da Globo reformular toda a programação e ditar novas normas às suas afiliadas.

O coordenador de programação da RBS de Porto Alegre, Roberto Simões, explica que em meados da década de 90 a emissora refez a sua grade reduzindo o tempo de vários programas como o Jornal do Almoço/Praça TV 1ª, que passou de uma hora e meia para quarenta minutos de duração; o Bom Dia Rio Grande, que ocupava uma hora da programação e foi para quarenta minutos; o RBS Notícias/Praça TV 2ª, que passou de trinta para quinze minutos e ainda eliminou o Jornal da RBS, que ia ao ar de madrugada. Em 2007, de acordo com a planilha da emissora, o conteúdo regional (sem propagandas) ocupa o percentual de 10,79% no total da grade da Rede Globo. As planilhas feitas nas emissoras variam com freqüência, em função dos tempos liberados pela Rede (que sofrem oscilações) e até dos critérios dos seus coordenadores e gerentes de programação. Programas de 00h40min muitas vezes aparecem com 00h35min. Isso é comum e pode gerar diferença na hora de calcular o percentual ocupado na grade de programação por uma ou outra emissora. Para efeito didático neste estudo, calculou-se o percentual de programação regional da RBS com os mesmos critérios usados no cálculo da participação regional da TV Gazeta. Nesta situação, em vez dos 10,79% apresentados pela

15 site RBS TV www.clickrbs.com.br em julho de 2007.

Page 45: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 45 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

emissora do sul chega-se a um percentual menor, 8,2% de produção semanal regional. No cálculo da TV Gazeta o percentual semanal é de 7,5%, como foi demonstrado anteriormente.

A RBS tem treze programas próprios. Fica claro que nem todos estes programas são realizados em horários extras. Em alguns casos, a emissora divide a mesma janela para dois ou até três programas. É o caso do sábado pela manhã em que no horário do TV Globinho (programa em rede não obrigatório) são exibidos os programas Vida e Saúde (qualidade de vida), Anonymus Gourmet (culinária) e RBS Esporte. Ainda no sábado são exibidos o Patrola (revista jovem), o Globo Esporte local, Especiais de Sábado (curta metragem e dramaturgia local exibido em parte do horário destinado ao Jornal do Almoço), Jornal do Almoço e o RBS Notícias, à noite. No domingo, são dois programas pela manhã: Campo e Lavoura (rural) e Galpão Crioulo (cultura regional), com meia hora cada um. À noite, a emissora tem mais dois regionais: Teledomingo (revista) e Lance Final (esportivo). Durante a semana, todos os horários locais são obrigatórios (Bom Dia Rio Grande, Praça TV/Jornal do Almoço, Globo Esporte local e Praça TV/RBS Notícias). A RBS está negociando com a Globo a produção regional de todo o Globo Esporte, que deixaria de ter a obrigatoriedade dos blocos nacionais. A emissora não produz o Plantão de Notícias local e nem ocupa a faixa do programa Estrelas, comandado pela apresentadora Angélica (programa até então não obrigatório, às 13h50min de sábado). Segundo Simões, a Globo já sinaliza que o horário deixará de ser optativo, por isso, a RBS optou por não criar nenhum programa local neste horário.

2.3 Os programas optativos da TV Gazeta (ES)

A TV Gazeta ocupa a totalidade da grade de programação optativa disponibilizada atualmente pela Rede Globo, com o acréscimo da faixa das 23h50min de domingo que não é mais oferecida como optativa. A emissora produz e apresenta os programas: ES Comunidades, Estação

Page 46: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 46 ]

C a r l o s To u r i n h o

Esporte, Em Movimento, Conexão Geral e o Gazeta Notícias (manhã). Outros “optativos” foram produzidos no passado, entre os quais, o Jogo Aberto, que em sua fase inicial era apresentado pelo radialista e crítico musical Edu Henning e pela jornalista Cristina Dockhorn, o Gazeta Comunidades, que teve como apresentadoras as jornalistas Rose Duarte e Sandra Freitas, e o Painel de Domingo, ancorado pelos editores Carlos Tourinho e Daniela Abreu.

2.3.1 ES Comunidades

No ar desde 2004, surgindo como uma nova versão do extinto Gazeta Comunidades, que havia deixado a programação no final da década de 1990, quando este programa e o Jogo Aberto foram incorporados ao ESTV 1ª edição. Trata-se de um programa destinado a enfocar a vida nas comunidades dos bairros, com maior tempo e aprofundamento do que é possível fazer nos telejornais diários. Aborda questões cotidianas como habitação, saneamento, segurança, saúde, educação e cultura. Problemas e soluções. O programa procura mostrar aspectos positivos da vida comunitária, muitas vezes esquecidos diante dos problemas do dia-a-dia. É exibido aos sábados, às 7h55min.

2.3.2 Estação Esporte

O Estação Esporte nasceu duas vezes. Explica-se: foi criado inicialmente, em 2001, para o canal a cabo da Rede Gazeta, o GTV, num formato de entrevistas e debates. Em 2004, na mesma mudança de programação que permitiu o surgimento do ES Comunidades, foi transferido para o canal aberto, já com outra proposta, mais ousada, com investimentos em cenários, reportagens e edição, além da cobertura de grandes eventos esportivos ao vivo. Segundo seu apresentador, Jorge Buery, “a proposta do programa é focalizar, de maneira abrangente, todo o potencial do esporte no Estado, em suas

Page 47: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 47 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

mais diversas vertentes, mostrando seus personagens, bastidores, esportes de aventura, inclusão social, radicalidade e desafios esportivos”. O programa ampliou a cobertura esportiva da emissora, que já contava com um bloco local do Globo Esporte, noticiário obrigatório da programação de Rede. Entre seus colaboradores fixos estão o editor assistente, Julius Cesar Carvalho, os repórteres Jorge Félix e Bruno Faustino e o comentarista esportivo Paulo Sérgio Lima, ex-goleiro das seleções brasileiras de futebol de campo e de areia. O programa vai ao ar aos sábados, às 08h25min e tem uma duração mínima de vinte e cinco minutos, podendo chegar a uma hora e quinze minutos, quando exibe eventos esportivos locais.

O Estação Esporte e o ES Comunidades dividem o horário em que, na programação normal da Rede, é exibido o infantil “TV Globinho”, numa janela total de uma hora e cinqüenta minutos. Para Jorge Buery, ocupar 100% da grade optativa disponibilizada “é um desafio digno de reconhecimento, já que estes programas tiveram seus conteúdos aprovados pela Rede Globo”.

2.3.3 Em Movimento

Um caso que chama a atenção. Criado em 19 de maio de 2001 pelas jornalistas Teresa Abaurre e Suely Lievori, ocupava o horário optativo que antecedia o ESTV 1ª edição aos sábados. Sua proposta foi a de ser um jornalístico, formato revista, voltado para o público jovem. Em 2003, portanto dois anos após sua criação, sofreu uma radical mudança conceitual, até então inédita na emissora. Com o objetivo de aumentar o faturamento comercial buscou-se, além do patrocínio convencional, novas formas de faturamento livres dos critérios estabelecidos pela CGJ (Central Globo de Jornalismo) para os programas jornalísticos, como o patrocínio de blocos, quadros etc. O programa deixou o Departamento de Jornalismo da TV Gazeta e passou a ser produzido pela Central Gazeta de Produções, departamento encarregado dos programas não-jornalísticos da emissora. Mudaram de uma

Page 48: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 48 ]

C a r l o s To u r i n h o

só vez, o horário de exibição, o tempo “no ar” – que aumentou –, os editores, apresentadores e repórteres. Em seu novo formato, o programa passa a ter em sua equipe, além de jornalistas, também publicitários, videomakers e radialistas. O nome permanece o mesmo e o formato de suas matérias mantém basicamente o mesmo padrão hierárquico usado nas reportagens de jornalismo (off-passagem-off-entrevista), embora com um maior espontaneidade na abordagem. A apresentação deixa o estúdio e ganha as ruas, garantindo dinamismo e variedade de apresentadores.

O diretor da CGP, Ricardo Alonso, revela que o Em Movimento guarda grande semelhança com o Patrola16 produzido pela RBS, especialmente com relação aos enquadramentos, edição e sonoplastia. Nesta nova versão do Em Movimento, as pautas têm ênfase nas matérias de comportamento, esporte jovem, meio ambiente e cultura, mas também surge um novo conteúdo, algumas vezes sugerido por patrocinadores, dentro da nova proposta de geração de receitas. O optativo Em Movimento vai ao ar no horário em que a Rede oferece o programa Estrelas.

2.3.4 Conexão Geral

O mais recente optativo foi criado em setembro de 2005, para ocupar a faixa das 23h50min de domingo, substituindo o jornalístico Painel de Domingo (que será detalhado adiante). A intenção da TV Gazeta era a de colocar no ar o Conexão no domingo seguinte à última edição do Painel, ou seja, no dia 15 de maio de 2005. Mas o formato e algumas características do programa enfrentaram resistências da Rede Globo, que exigiu mudanças, chegando a colocar em risco a aprovação do novo optativo. O horário aberto

16 No site da RBS, o programa citado tem a seguinte descrição: “Patrola estreou em abril de 1999. É tudo ao mesmo tempo. Show, festas, moda, esportes radicais, papo cabeça, entrevistas, curiosidades e um mundo de assuntos para a galera se divertir. Patrola atrai jovens de todas as tribos que se identificam com a linguagem dinâmica e descontraída do programa”.

Page 49: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 49 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

pelo Painel de Domingo voltou a ser ocupado pelo Domingo Maior e seus filmes, até que o novo programa Conexão Geral estreasse, quatro meses depois. Segundo Ricardo Alonso, “a Globo não gostou da estética do programa. Ela achou que a composição de cenário/platéia/atração estava muito confusa e feia. Ela aprovou o formato, o apresentador e a paginação. Para solucionar, fizemos uma nova composição que foi aprovada com ressalvas. O formato final atendendo todas as ressalvas foi conseguido depois de uma obra no estúdio”.

O Conexão é gravado, tem ênfase na apresentação de bandas de música e de entrevistas dentro de um estúdio com platéia presente. Também apresenta reportagens de entretenimento e um resumo gravado das notícias do domingo, fornecido pelo Telejornalismo, num espaço de dez minutos.

A opção por manter as notícias do domingo, conteúdo implantado pelo programa antecessor partiu da observação das pesquisas que apontavam as notícias factuais do domingo como algo que o telespectador não estaria mais disposto a abrir mão. A diferença é que, enquanto no Painel as notícias eram apresentadas ao vivo, e comentadas no estúdio, no Conexão elas entram numa espécie de “pacote” auto-explicativo. A alternativa encontrada para oferecer notícias factuais num programa pré-gravado foi a dos vts serem editados com o repórter apresentando em off o texto que normalmente caberia ao apresentador. As matérias vêm “amarradas” umas às outras, dentro do “fade” aberto pela pré-edição do Conexão. Os demais conteúdos do programa se distribuem entre matérias leves e de cultura, com bons recursos de pós-edição, e muito dinamismo no estúdio, onde cabem debates sobre temas cotidianos, humor e atrações variadas. O tempo total do Conexão é de quarenta minutos. A equipe de repórteres é formada por jornalistas, videomakers, publicitários e radialistas. O programa também é produzido pela Central Gazeta de Produções e apresenta uma proposta comercial semelhante à do Em Movimento.

Page 50: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo
Page 51: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 51 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

| CAPÍTULO 3 |

O Painel de Domingo

O dominical Painel de Domingo foi criado em 10 de janeiro de 1999, numa proposta que apresentei à direção do Telejornalismo. A TV Gazeta encaminhou a proposta à Rede Globo, que aprovou o seu formato sem restrições. Assumi a função de editor-chefe e atuei como um dos âncoras do programa ao lado da apresentadora e editora-assistente Daniela Abreu e do comentarista esportivo Paulo Sérgio. Nos bastidores, predominavam a atuação obstinada do editor de imagens Ronie Bermudes, um produtor, as equipes de reportagem (ver ficha técnica) e a supervisão técnica do já falecido diretor de Operações, Joisis Ubirajara Pinto.

O horário que a Rede Globo disponibilizou para o Painel foi o optativo das 23h50min, que era ocupado pelo Domingo Maior. Este passou a ser gravado e exibido em horário defasado, após o jornalístico. O horário das 23h50min (que frequentemente atrasava e avançava pela madrugada) é até hoje considerado, por muitas das afiliadas da Rede Globo, como limitante, dado que a maior parte da audiência já se encontra dormindo, o que se traduz como empecilho para o aproveitamento comercial. Em função disso, a maior parte das

Page 52: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 52 ]

C a r l o s To u r i n h o

emissoras, na época, não fazia uso deste horário, que ainda era disponibilizado pela Globo como optativo.

Por outro lado, já havia um exemplo bem-sucedido na afiliada RBS (Rede Brasil Sul), com o programa Teledomingo17, criado dois anos antes, em 1997. Nesta primeira etapa, o Painel de Domingo buscou referências e se aproximou deste formato, mas, aos poucos, foi criando sua própria identidade através de projetos exclusivos.

O diretor de jornalismo da TV Gazeta, Abdo Chequer, aponta o Painel de Domingo como “uma experiência exitosa, um programa em que os apresentadores eram editores e sustentavam o conteúdo com o noticiário do dia, as notícias do esporte e um debate sobre o tema que mais chamasse a atenção da comunidade”. Ao retomar o conceito do “Glocal”, o diretor de jornalismo diz que hoje já se fala no “super local”, que seria um enraizamento ainda mais profundo desta interdependência veículo-telespectador-comunidade, “tendo o veículo a tarefa de apontar os problemas que atingem as pessoas e cobrar das autoridades constituídas a sua solução. O formato definido para o Painel de Domingo se encaixa neste conceito”.

Há uma característica importante para o bom desempenho editorial (como tentaremos provar adiante) do Painel de Domingo neste horário. Ele foi planejado para essa missão, não se tratando, portanto, de uma adaptação ao horário disponibilizado. As suas propostas eram claras: atingir o público noturno cada vez maior nas grandes cidades; conquistar um novo horário para o jornalismo, já que o horário até então era destinado a filmes programados pela TV Globo (Domingo Maior); produzir pautas ousadas; estimular debates sobre temas polêmicos; estabelecer a interatividade com o telespectador; garantir a cobertura completa das notícias de todo

17 Teledomingo: programa de reportagens especiais e os principais fatos do fim de semana apresentado com um formato ágil e dinâmico. Assuntos relacionados ao comportamento, à informação e ao entretenimento. No domingo, às 23 horas, o programa apresenta os principais fatos da noite de sábado e do dia de domingo. (fonte: site RBS TV).

Page 53: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 53 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

o domingo; cobrir os eventos esportivos do fim de semana; realizar entrevistas com personagens da semana anterior ou que poderiam ser destaques na que se iniciava; e fazer isso tudo ao vivo.

Na época de sua criação, o então diretor-executivo da TV Gazeta, Carlos Alberto Becker, definiu no informativo interno “Primeira Mão” (16/11/98) o objetivo da nova programação: “Queremos estabelecer um maior contato com a comunidade capixaba, através de programas bem produzidos, com qualidade e competência”.

Ao mercado publicitário, o novo produto era apresentado como um “programa” e não como um “jornal”, já estabelecendo um diferencial do Painel de Domingo: “O programa tem o objetivo de mostrar os fatos mais importantes da semana no Estado e no País. Será dinâmico, de variedades e com notícias que fazem parte da realidade de nossos telespectadores” (informativo “Foco”, destinado ao mercado publicitário. 14/12/98).

Já o caderno “Revista da TV”, publicado no jornal A Gazeta, citou pesquisas preliminares à criação do novo programa: “Para definir as preferências do telespectador foi encomendada uma pesquisa (...), 50% dos entrevistados disseram que gostariam de assistir a um programa de domingo”. O script do primeiro programa trazia uma curiosa reportagem sobre um cabo da Polícia Militar que para pagar uma promessa assistiu a uma missa no Convento da Penha, em Vila Velha, e seguiu a pé para outra missa em Aparecida do Norte, São Paulo. Notícias factuais do dia, notícias do esporte, a agenda e a previsão do tempo para a próxima semana. Na entrevista ao vivo, o então governador José Ignácio Ferreira, há dez dias no cargo. O jornalista Roberto Muller Filho participou da entrevista como convidado. E o novo programa era saudado com boas-vindas:

“Apóio a programação local capixaba, e os parabenizo pela abertura de um horário até então inédito na Rede Gazeta (...)” (Herbert/Gilson Bastos).

Page 54: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 54 ]

C a r l o s To u r i n h o

“Daniela, a sua indicação para este programa de domingo foi sensacional (...)” (Marcelo Renato).

“Tourinho, parabenizando você e desejando a melhor audiência para o seu novo programa” (Haroldo Frugoni).

“Parabenizo pelo novo programa, pois o Espírito Santo precisava de um informativo aos domingos” (Carla Monteiro).

“Gostaria de desejar sucesso pela iniciativa de um programa só do Estado (...)” (Judismar Schiffler).

“Parabéns pelo programa Painel de Domingo da Rede Gazeta” (Marcelo Renato Baptista).

Neste programa de estréia foram 40 participações por e-mail ou fax.

O livro “Roda VT, a televisão capixaba em panorâmica” (2006) destaca a conquista das noites de domingo pelo Painel: “Em contrapartida à rigidez imposta pela matriz, a programação das noites de domingo foi sendo conquistada pela TV Gazeta com atrações voltadas para capixabas de várias faixas etárias. (...) entrou no ar o Painel de Domingo, com quadros de jornalismo, cultura, variedades, serviço e entrevistas. Apesar do horário, após a última edição de entretenimento de domingo da Rede Globo (sic), a produção alcançou um bom padrão de qualidade. Como no primeiro dia da semana não há um programa jornalístico local, o Painel de Domingo acabou suprindo esta lacuna. (...) Nos últimos anos, o Painel levou ao ar várias produções que desvendavam as potencialidades econômicas dos municípios capixabas e os recantos ainda desconhecidos pela maioria da população (...)”.

Page 55: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 55 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

3.1 Propostas

3.1.1 Cobertura das notícias do domingo

Até o lançamento do programa, as notícias do domingo eram cobertas apenas parcialmente e exibidas somente nas segundas-feiras nos telejornais locais. Como o programa nacional Fantástico pouco exibia das notícias do Espírito Santo, considerava-se que a população regional ficava desinformada dos fatos do dia em seu Estado. Com o Painel de Domingo, o número de equipes no domingo foi ampliado e o acompanhamento das notícias “factuais” passou a observar critérios iguais aos dos demais dias da semana, ou seja, critérios rígidos de “perseguição” à notícia, o que significa – na prática – mais horas de apuração e de reportagem.

O Painel foi o primeiro e o único programa jornalístico que exibiu, ao vivo, as notícias factuais do domingo no Espírito Santo. Até o final de 2007, a façanha permanece, visto que o sucessor do Painel de Domingo, o Conexão Geral, apresenta apenas um quadro com um resumo das notícias, conseqüência de seu formato pré-gravado. As demais emissoras instaladas no Espírito Santo não apresentam notícias factuais no domingo.

No dia seguinte à estréia, este aspecto foi destacado na imprensa:

“O novo programa da TV Gazeta, Painel de Domingo, entrou no ar com muito sucesso após o programa Sai de Baixo. Trata-se de uma opção que supre a ausência de notícias entre o sábado à noite e a segunda-feira pela manhã, fazendo um resumo dos principais fatos da semana e antecipando a agenda da semana que se inicia. Ancorado pelos jornalistas Carlos Tourinho e Daniela Abreu, o programa conta ainda com a participação de Paulo Sérgio, comentarista de esportes. O primeiro programa confirmou a receptividade dos telespectadores que, numa pesquisa do Instituto Futura, teve audiência de 55% dos televisores ligados no horário (...)” (Jornal A Gazeta, 14/1/99).

Page 56: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 56 ]

C a r l o s To u r i n h o

“(...) O painel de Domingo é o único programa local que leva ao ar, todos os domingos, as principais notícias do Espírito Santo e do esporte capixaba. Tradicionalmente este dia da semana é dedicado ao entretenimento. Com uma audiência de 66 mil telespectadores, segundo o Ibope, o Painel vem agradando cada vez mais o telespectador. A cada apresentação recebe em torno de duas mil ligações, sem falar na participação dos telespectadores através do fax e do e-mail (...)” (Revista da TV, jornal A Gazeta, 11/3/2001).

3.1.2 Interatividade: o telespectador responde

O Painel de Domingo inovou regionalmente ao incorporar o conceito da interatividade com o telespectador. A decisão editorial por esse formato atendeu a uma demanda crescente de telespectadores que se queixavam do caráter unilateral da televisão e ainda assim faziam questão de ligar para as emissoras comentando o que viram. De modo geral, esse comentário é feito após os programas com profissionais das redações sem que o telespectador consiga atingir o objetivo de ver sua opinião registrada ao vivo, como passou a ser estabelecido com o Painel. Através de um computador que fazia parte do cenário, de mensagens por fax e de uma votação por sistema automático de telefone, o telespectador participou ativamente de temas polêmicos, votando nas alternativas apresentadas e emitindo opiniões sobre o assunto em debate. Os números desta participação variavam em função do tema proposto, das polêmicas pautadas, da existência ou não de sorteios eventuais e dos canais abertos à população. Inicialmente, a interatividade se deu através de uma linha 0800, ou seja, sem custo para o telespectador. Mais tarde, a linha foi substituída por uma 0400, que representava um gasto para o telespectador, embora reduzido. Ainda assim, as participações permaneceram ativas. Outra mudança sentida ao longo dos anos, em função da tecnologia adotada, foi a redução da participação por fax e o crescimento das interações por e-mail. Ao longo dos seis anos

Page 57: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 57 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

e quatro meses de duração do programa, a participação por fax foi migrando para as mensagens eletrônicas com extrema rapidez.

Outra forma de interatividade implantada pelo programa durante uma fase foi a dos chats pela internet. Os convidados para as entrevistas ao vivo do programa participavam destes chats enquanto aguardavam o início do Painel (quando o programa anterior era ao vivo, muitas vezes ultrapassava o horário e a conversa no chat era “esticada”). Hoje, já é comum ver entrevistados ou mesmo apresentadores dos telejornais interagirem com telespectadores após o fim do noticiário. Esta pode ser considerada outra inovação regional do Painel de Domingo.

O cuidado ao se estabelecer vários canais paralelos de interatividade, confere ainda hoje com os padrões preconizados pela Rede Globo: “É indicável a utlização de ferramentas interativas. No entanto, isso deve ser aplicado com muito cuidado. Não se deve jamais frustrar o telespectador da televisão aberta que não tenha a ferramenta. Essas ferramentas, como Internet, por exemplo, servem para informações adicionais dos assuntos abordados e nunca deixar para outro meio as informações essenciais. A ferramenta é um complemento, não a essência”, orienta o coordenador de afiliadas da Rede Globo, Marco Antonio Rodrigues.

A interatividade do Painel de Domingo reforçou o caráter regional do programa, segundo Chequer: “A comunidade se via retratada no Painel de Domingo, e correspondia com participação ativa e inteligente através de perguntas e sugestões por telefone e internet. Uma experiência, sem dúvida, exemplar”.

Já no lançamento do programa, o então diretor Carlos Alberto Becker registrava o diferencial: “(...) a grande novidade é que será o primeiro programa da TV Gazeta interativo com o telespectador. O público poderá participar por correio eletrônico ou pelo fax” (Revista da TV, jornal A Gazeta, dezembro de 1998).

Page 58: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 58 ]

C a r l o s To u r i n h o

Da mesma forma, houve outros registros em relação às atrações do novo programa e de seu caráter interativo: “(...) a TV Gazeta abre espaço para o público, via e-mail e fax (...)” (Coluna Victor Hugo, A Gazeta, 5/1/99).

O texto do primeiro script dizia que “no Painel de Domingo você tem uma atração a mais: pode interagir com o programa. E para começar esta nossa aproximação nós preparamos uma pergunta sobre o kit de primeiros socorros (...) Você acha necessário ter um kit no seu carro?” A pergunta dava voz ao cidadão sobre esta polêmica exigência legal de se ter um estojinho dentro do carro com tesoura, esparadrapo etc. As primeiras participações, por fax e e-mail, já mostravam o perfil crítico do telespectador do programa. O clima começava a esquentar:

“Acredito que essa idéia é fruto de especulação financeira mais uma vez...” (Roger Lomba Azevedo).

“Estou me pronunciando pela indignação que me causou o fato de terem pessoas questionando a utilização do kit (...) ele é de muita importância em ferimentos comuns de acidentes de trânsito (...) podem salvar a vida do acidentado sim (...)” (Paulo Roberto Nunes)

“Acho de grande importância a obrigatoriedade de um kit de primeiros socorros, mas para que ele seja realmente útil é necessário que o motorista saiba utilizá-lo corretamente (...)” (Hellen Corrêa Teixeira).

“Chego a pensar que alguma pessoa envolvida com a gênese desta idéia deve ser dono de alguma fábrica de atadura, gaze ou outros (...) tentativas heróicas de dar este atendimento sem um preparo profissional pode, inclusive, levar a sequelas irreparáveis (...)” (Sergio Ragi, ortopedista).

Page 59: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 59 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

“A equipe do Painel de Domingo está muito satisfeita com o resultado da implantação da linha telefônica. (...) o programa teve 2.525 participações via telefone sobre a polêmica da raça pitbull, além de 65 participações entre fax e e-mail” (Informativo Foco, 5/4/99).

A interatividade, de imediato, conquistou o telespectador: “Caros amigos. Primeiramente parabéns pela nova forma de interatividade junto ao público... realmente isso é que é programa ao vivo (...)”. (telespectador Marcelo Campinhos, por e-mail).

As perguntas interativas, elaboradas pela produção do programa, provocavam polêmicas. Passaram a alimentar a pauta jornalística e se tornaram um registro histórico dos assuntos que movimentavam a sociedade capixaba nos anos em que o Painel de Domingo esteve no ar.

• Bebida alcoólica deve ser proibida em avião? (52% sim)

• O cão pitbull deve ser proibido no Brasil? (58% não)

• Você já deu um cheque sem fundos?(55% não)

• A CPI do judiciário vai produzir resultados?

• Você freqüentaria uma praia de nudismo?

• Você concordou com a exibição das músicas do Padre Marcelo no carnaval?

• Você concorda com a retirada dos quebra-molas? (novo código de trânsito).

• A mulher ainda precisa de alguma conquista? (dia internacional da mulher)

• Você concorda que o governador consulte os deputados na hora de preencher os cargos públicos? (57% não)

• Você já enganou o imposto de renda? (56% sim)

• A venda de armas de uso pessoal deve ser proibida no País? (56% não)

Page 60: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 60 ]

C a r l o s To u r i n h o

• Presente no dia das mães é opção ou obrigação? (74% opção)

• Prisão é solução para menor infrator? (65% sim)

• Você vai usar ou exigir o uso do cinto de segurança no banco de trás?(58% sim)

• O presidente FHC errou ao interferir no processo de privatização da Telebrás? (sobre denuncia de grampo no governo FHC).(61% sim)

• A volta da CPMF é importante para o País? (a taxa tinha sido suspensa). (87% não)

• Quem manda mais ACM ou FHC? (sobre crise no governo). (81% ACM).

• Sua vida melhorou ou piorou após 5 anos do Plano Real? (1999) (66% piorou)

• A partir deste ano o futebol capixaba vai crescer? (57% não)

• Violência entre crianças é falha na educação dentro de casa? (58% sim)

• Você é a favor de um imposto contra a pobreza? (70% não)

• Você acredita em profecias? (72% não)

• Você concorda com a redistribuição do ICMS entre os municípios capixabas? (54% não)

• Com Rubinho na Ferrari o Brasil volta a ter um campeão na F1? (63% sim)

• Você concorda com exame antidoping nas escolas? (67% sim)

• Carro a álcool: você vai voltar a ter um? (63% sim)

• Você concorda com a proibição da atividade dos dentistas práticos? (59% não).

• Você acha que o governo vai pagar a dívida com os servidores públicos? (sobre os salários atrasados). (73% não)

• A liberação das drogas pode acabar com a violência dos traficantes? (resultado empatado)

Page 61: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 61 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

• A pena de morte é a melhor solução para a segurança da sociedade? (63% sim)

• As notícias podem influenciar uma pessoa a cometer crimes? (64% sim)

• A violência está prejudicando as festas populares? (72% sim).

• Com a privatização, o serviço telefônico melhorou ou piorou? (1999) (84% piorou).

“É hoje que a onça vai beber água. O programa Painel de Domingo da TV Gazeta entrevista sobre a privatização das telefônicas no país. Quer saber se o serviço melhorou ou piorou com a mudança. (...)” (coluna Victor Hugo, jornal A Gazeta, 1999).

• Você tem medo da velhice? (57% não)

• Casais que vivem juntos devem usar camisinha? (52% sim)

• A CPI vai chegar aos principais responsáveis pelo crime organizado? (CPI do narcotráfico). (resultado empatado).

• Você vai pagar o FGTS da sua empregada (lei que cria, mas de forma optativa o FGTS da empregada doméstica). (57% não)

• “A esmola ajuda ou prejudica?”. (75% prejudica)

• “Você defende a contratação de parentes no serviço público?”

• “Quem desperdiça água deve ser punido?”

• “Você acredita que os cartões de crédito são seguros?”

• “A nudez deve ser livre no carnaval?”

• “A exposição de revistas eróticas é uma agressão?”

• “É certo distribuir agulhas e seringas descartáveis para usuários de drogas evitarem a Aids?”

• “O MST deve ser reprimido?”

• “Vereador deve ter salário?”

Page 62: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 62 ]

C a r l o s To u r i n h o

• “Você concorda com o fim do passe livre nos ônibus?”

• “O exército deve ir para as ruas?”

• “Você se lembra em quem votou para vereador nas últimas eleições?”

• “A população pode ajudar a diminuir a violência?”

• “Prefeitos candidatos à reeleição devem se afastar da prefeitura durante a campanha?”

• “Você já perdeu o controle por causa de problemas no trânsito?”

• “Você compra roupa de etiqueta capixaba?”

• “Você permitiria que seu filho(a) tivesse relação sexual com a(o) namorada(o) dentro de casa?”

• “Alguém já te ofereceu droga?”

• “A justiça deve manter o sigilo telefônico de uma denúncia anônima?”

• “O patrocínio comercial de atletas e equipes prejudica o espírito olímpico?”

• “Você concorda com a venda de produtos piratas?”

• “O Estado perdeu o controle da segurança pública?”

• “Os advogados têm o direito de fazer qualquer coisa na defesa de seu cliente?”

• “O governo deve interferir na propaganda de cigarros e bebidas alcoólicas?”

• “O recesso do legislativo e do judiciário é necessário?”

• “O Banestes deve ser vendido?”

• “Você acredita em previsão esotérica?”

• “Na hora do voto é importante saber o partido do candidato?”

• “A educação física deve voltar a ser obrigatória nas escolas?”

• “Os conselheiros do Tribunal de Contas devem ser indicados ou eleitos?”

Page 63: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 63 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

• “Casamento é para sempre?”

• “Você acredita que as vítimas de poluição serão indenizadas?” (a propósito de um projeto de lei que não chegou a ser aprovado na Assembléia Legislativa).

• “Crianças pequenas devem ficar em creches ou com babás?” (67% babás).

• “Você contribui para o combate ao mosquito?” (57% sim).

• “Você tem medo de se declarar doador de órgãos?” (resultado empatado).

• “Campanha contra a Aids no carnaval faz efeito?” (54% sim).

• “A imprudência na estrada deve ser combatida com cadeia?” (65% sim).

• “A população sabe escolher seus representantes na Política?” (72% não).

• “O funk é imoral?” (52% sim).

• “Você está disposto a mudar seus hábitos para economizar água e energia?” (52% não).

• “Você já foi prejudicado por alguma mentira?” (sobre boatos do dia 1º de abril) (53% sim).

• “Adolescente que comete crime deveria ser punido como adulto?” (71% sim).

• “O novo Código de Trânsito Brasileiro cumpriu o prometido?” (resultado empatado).

• “Estudante deve fazer exame antidoping?” (76% sim).

• “As denúncias da imprensa estão melhorando o Brasil?” (debate sobre a liberdade de imprensa). (73% sim).

• “Você se automedica?” (55% sim).

• “Você acredita em punição para os corruptos?” (69% não).

• “Você está preparado para o Brasil do apagão?” (74% não).

Page 64: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 64 ]

C a r l o s To u r i n h o

• “Você é a favor da liberação do jogo no Brasil?” (sobre o fechamento dos bingos). (55% sim).

• “Você internaria um parente idoso num asilo?” (77% não).

• “Você está se preparando para chegar bem à terceira-idade?” (51% sim).

• “Você se sente coagido pelos flanelinhas?” (90% sim).

• “O medo da Aids está diminuindo?” (58% sim).

• “Você já entrou em depressão?” (resultado empatado).

• “O governador vai conseguir reverter a crise?” (2001) (92% sim).

• “A prostituição em lugares públicos deve ser reprimida?” (54% sim).

• “O avanço da ciência deve ter limite?” (debate ciência x religião sobre a produção de clones humanos). (53% não).

• “A vida que você leva é uma ameaça para o seu coração?” (76% sim).

• “Você adotaria uma criança?” (84% sim).

• “O governador deve ser afastado do governo?” (em função das crises na administração do ex-governador José Inácio. 56% sim).

• “Os seqüestros devem ser mantidos em sigilo?” (68% sim).

• “O governo deve reservar vagas para negros em escolas?” (debate sobre racismo). (65% não).

• “As igrejas que provocam poluição sonora devem ser punidas?” (57% sim).

• “Os conflitos são necessários para corrigir os rumos da humanidade?” (sobre o atentado contra os Estados Unidos). (52% sim).

• “Você tem medo de terrorismo em aviões brasileiros?” (segurança nos aeroportos, resultado empatado).

• “A seleção brasileira vai se classificar para a copa do mundo? (copa 2002) (57% sim)

Page 65: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 65 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

• “Se os Estados Unidos pedirem, o Brasil deve mandar soldados para a guerra?” (debate sobre a participação dos EUA nas guerras do Oriente Médio. 67% não).

• “O crescimento do número de faculdades particulares está melhorando o ensino superior?” (sobre a qualidade no ensino. 67% não).

• “Casal homossexual deve ter o direito de criar filhos?” (51% sim).

• “Festas e jogos sobre bruxaria devem ser proibidos?” (sobre a proibição do jogo RPG e a festa do Halloween. 54% não).

• “O turista de fora deve pagar uma taxa para o desenvolvimento do turismo local?” (80% não).

• “O poder público é o culpado pelas enchentes?” (71% sim).

• “A CLT deve ser mudada?” (74% não).

• “O voluntariado é uma solução para os problemas sociais?” (58% não).

• “O emprego temporária facilita a entrada no mercado de trabalho?” (67% sim).

• “Você acredita em previsões para o ano-novo?” (71% não).

Observações:

1. As pesquisas não foram feitas com metodologia científica. O objetivo foi apenas o de impulsionar os debates, mas acabava por sugerir uma tendência da opinião da sociedade sobre os temas abordados.

2. Os números percentuais aqui relatados levam em consideração apenas as duas primeiras casas decimais. Os empates técnicos apresentam diferença apenas nas frações.

Page 66: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 66 ]

C a r l o s To u r i n h o

A editora assistente e apresentadora do Painel de Domingo, Daniela Abreu, era a principal responsável pela seleção e apresentação das opiniões do público. Ela ressalta a importância da interatividade do programa ao longo dos anos: “(...) a interatividade era inovadora para nós e para o telespectador. A participação do público sempre foi muito boa. Instigava-nos e estimulava a nossa agilidade no estúdio, o ‘jogo de cintura’, o improviso”.

Boa parte das opiniões, ao longo dos anos, foi arquivada e faz parte do memorial pesquisado para este trabalho. Muitas apontam para questões que – com o tempo – se mostraram pertinentes.

“(...) A região da Grande Vitória passa por uma fase esplêndida de crescimento e breve será como grandes centros, como Belo Horizonte, por exemplo, que só no centro da cidade possui quatro grandes shoppings (...)”, dizia o telespectador Marcelo Fracalossi, em julho de 2000.

“(...) temos que reconhecer que será definitivamente um dos mais importantes passos para a economia capixaba que deixará para trás esse rótulo de ‘patinho feio’ quando comparado com Rio e São Paulo (...)”. (Telespectador não identificado, opinando sobre as recentes descobertas de petróleo no Estado, em março de 2000).

Outros temas levantados pelo programa mostram-se – ainda hoje – extremamente atuais em seu aspecto polêmico.

“(...) outro ponto importante é que os impostos oneram muito as empresas, dificultando a criação de empregos (...)”. (Cesar Gilio, economista, abril de 2004).

“(...) a campanha de carnaval veiculada pelo governo, promove a promiscuidade. Isso é uma vergonha. Somente através da educação da população poderemos conter esta sangria social (Aids)”. (Wagner Regiani Netto, abril de 2000).

Page 67: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 67 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

“É claro que uma fera incontrolável como esta raça de cachorro deveria ser banida de nosso País (...)”. (Aristides Ferreira, em março de 1999, sobre a polêmica raça de cães pitbull).

“A meu ver o problema não são as raças perigosas, mas os proprietários destes cães (...)”. (Madeleine Gomes, sobre o mesmo tema).

“Acho um desrespeito o tratamento dado aos seus clientes pelos médicos. Creio que eles esquecem que estão prestando serviço e que estamos pagando pelo referido (...)”. (Josiane, de Cachoeiro, por fax, em maio de 2000).

“Eu e minha mulher achamos que se existir confiança entre marido e mulher, ou seja, fidelidade entre o casal, nunca será preciso o uso de camisinha. Se um de nós concordasse com essa idéia estaríamos revelando que temos relações com pessoas fora do nosso casamento”. (Ailton e Mara Koppe, respondendo se casais que vivem juntos devem usar preservativos).

“Esta questão da Aids tem que ser vista por estes casais, não como motivo de discórdia ou desapontamento (...) não se pode esquecer que a doença existe há mais de 30 anos (...). As pessoas estão na situação de casal agora, e antes quando eram solteiros, já existia a Aids (...)”. (Alexandre Saiter Pereira, sobre o mesmo assunto).

O conceito da interatividade e o fato de se estar ao vivo – apresentadores trabalhando de madrugada para o telespectador, que corresponde se comunicando – acabaram por criar um clima de intimidade e até de carinho entre público e jornalistas. Este pode ser percebido pelas mensagens que chegavam ao programa.

“(...) Tourinho, boa noite. Há muito tempo o chamo de Kaka, se me permite (...)” (assim começava o e-mail da telespectadora Maria Madalena Vicente, em junho de 2000).

Page 68: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 68 ]

C a r l o s To u r i n h o

“(...) quero lembrar-lhe quando você era um simples repórter. (...) Parabéns, você venceu (...)”. (Valério, Cariacica, mensagem por fax).

A mesma intimidade-facilidade, servia para o telespectador demonstrar seu descontentamento com determinados temas abordados pelo programa.

“(...) vocês poderiam e tem o dever de apresentar temas mais úteis ao povo (...) por exemplo, dizendo quem é o melhor prefeito do Espírito Santo e se eles são ou não aprovados pela população (...). (Eugenio Ramiro, junho de 2000).

“O programa deveria se estender mais no assunto principal. Esporte eu já assisto no Fantástico e no Globo Esporte do dia seguinte”. (Jussara Abbade, junho de 2000).

“(...) esta foto que fica atrás de vocês, com o dia amanhecendo nos deixa a sensação de que o dia já está começando e nem dormimos ainda (...)” (Ricardo, por e-mail, fevereiro de 2000).

“Para melhorar a audiência do programa, sugiro que façam perguntas mais construtivas e da atualidade”. (Gabriel Oliveira, novembro de 1999).

O programa, através de temas polêmicos, acabou por estimular o telespectador a exercer o poder da opinião e do protesto. O Painel de Domingo abrigava e dava visibilidade ao desabafo popular.

“Não há nada a comemorar nesses 500 anos de Brasil. País mal colonizado, povo desinformado. Iludido com caravelas, relógios e mensagens demagógicas. Lamentavelmente, os nossos jornalistas, embora informados, são coniventes com essa palhaçada e não mostram a verdade desses 500 anos(...). (Telespectador identificado como SSantos, por e-mail em abril de 2000, quando o tema foram os 500 anos do descobrimento).

Page 69: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 69 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Se alguma pergunta de telespectador não era lida no programa (e isso acontecia, porque o tempo nem sempre permitia), havia “bronca”. Afinal, ele estava ali com a gente, acordado e atento ao conteúdo.

“Participo, participo e não lêem meu e-mail. Vou parar de participar, apesar de não deixar de assistir. O programa é nota 10. Não durmo antes de ver o Painel de Domingo”. (Wanderlei Carmo, abril de 2000).

Mas, quando não lidas, o programa tinha por hábito respondê-las, no dia seguinte, através de e-mail ou fax. A postura recebia elogios.

“Agradeço-lhes pelo retorno ao meu e-mail. Gostaria de parabenizá-los (...)”. (Alexandre (...), em março de 2000)

E – quem diria – o programa que nasceu para ser regional, chegava à... Miami (EUA), através de fitas piratas, como revelou um telespectador.

“(...) Têm muitos brasileiros que gravam programas brasileiros para vender lá em Miami. Eu vi, inclusive, sete fitas do Painel de Domingo, em bancas de revista, é mole? E o jornaleiro disse que vende muito, pois mostra o dia-a-dia do Espírito Santo, e há muita gente com interesse no Espírito Santo (...)”. (Gedaias Martins, junho de 2000).

3.1.3 Programa ao vivo: todo mundo acordado

Exibido ao vivo, nos últimos minutos do domingo ou nos primeiros da segunda-feira, o Painel foi testemunha do surgimento e/ou fim de vários programas globais que o antecediam na programação: o humorístico Sai de Baixo, o Muvuca, de Regina Casé, os periódicos reality shows No limite e Big Brother Brasil e o Sob Nova direção (a partir de 2004). Uma programação regional e “ao vivo” naquele horário surpreendeu positivamente o telespectador.

Page 70: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 70 ]

C a r l o s To u r i n h o

“Nossas noites de domingo não são mais as mesmas. Depois que vocês entram no ar, temos informações de cultura, esporte, lazer e o que acontece no Estado (...)”. (Feravi (?), por e-mail, março de 2000).

“Já estava deitada, mas tive de levantar especialmente para dar os parabéns a vocês! O programa é ótimo e os apresentadores superespontâneos. Certamente, a melhor opção para terminar o fim de semana capixaba!” (Maria Vitória, em julho de 1999).

E fazendo referência ao seu posicionamento na “grade” de programação da emissora, o programa cunhou o jargão “Estique o seu fim de semana com o Painel de Domingo”, sugerindo que o fim de semana poderia ficar maior e, portanto, melhor, para quem assistia ao Painel. Não tardou para que os telespectadores repetissem:

“(...) sempre assisto ao Painel de Domingo, onde eu ‘estico’ o meu final de semana (...)”. (Vagner Bermagamaschi, por e-mail, em março de 2000).

O Jornal “Metropolitano” também entrou na “onda”: “Um bom motivo para você esticar o seu final de semana, apela a chamada para o Painel de Domingo, motivando o telespectador a ficar acordado e a participar (...) para driblar o avanço da hora, o programa é descontraído, tem texto leve – sem perder o compromisso e a seriedade com a notícia – e incita a participação dos telespectadores (...)”.

O fato de o programa ser num horário avançado da programação e sem tradição de jornalismo, como já foi dito, representava um risco. Hoje, percebe-se que o horário noturno vem ganhando mais peso dentro da TV Globo e das demais redes de televisão brasileiras. Neste horário, em outros dias, na Globo, são exibidos programas considerados de alto conteúdo como o Jornal da Globo, Jô Onze

Page 71: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 71 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

e Meia (Jô Soares), Altas Horas (Serginho Groisman). O horário passava a ser disputado, como podemos ver na notícia divulgada no Informativo Foco, de 15 de março de 1999: “O programa Muvuca, da Regina Casé, será exibido a partir de março aos domingos, às 00h30min, após o Painel de Domingo, (...) que se mantém no horário, logo após Sai de Baixo, às 23h30min”.

Além do que, é de conhecimento geral que a população “noturna” tem crescido em função de novos hábitos e atividades profissionais. Daí o surgimento de vários ramos do comércio que funcionam 24 horas. O Painel de Domingo “pescou” estes novos hábitos, e cultivou esse telespectador que passou a acompanhar o programa com fidelidade. Para o coordenador de emissoras afiliadas da Rede Globo, Marco Antonio Rodrigues, os horários noturnos considerados “avançados” como os programas “Jô Onze e Meia”, “Altas Horas”, “Sob Nova Direção”, “Jornal da Globo”, por exemplo, são fundamentais na grade de programação: “Têm uma importância estratégica. São produtos adequados ao horário, que servem para manter audiência e comercialização nos padrões da emissora. São programas de excelente resultado em todos os sentidos”.

A idéia de se fazer o Painel de Domingo ao vivo foi calcada na proposta do programa. Como interagir sem ser ao vivo? Como dar o peso devido às matérias do Domingo sem que fosse possível editá-las, hierarquizá-las e selecioná-las no mesmo dia de sua exibição? Mas, se por um lado, o programa ao vivo gerava autenticidade, objetividade e dinamismo, por outro lado, a logística gerava conflitos internos. Desacostumada a exibir programas próprios neste horário, a emissora encontrava dificuldades que se mostraram duradouras ao longo dos anos, especialmente nos setores operacionais. As escalas de trabalho passaram a ter conflitos com os dias de folga o que gerava descontentamento entre alguns funcionários destas áreas. Havia também outros problemas ligados à logística: arquivo de imagens que não funcionava aos domingos, número de

Page 72: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 72 ]

C a r l o s To u r i n h o

funcionários reduzido e até questões que interferiam no conforto dos entrevistados que compareciam para as entrevistas de estúdio ao vivo, como a limpeza de banheiros e as condições para lanches e refeições inadequadas. Parte destes problemas foi sanada com o tempo. As equipes disponibilizadas para edição e reportagem, por exemplo, foram ampliadas junto à demanda crescente. Quanto mais o programa se firmava, maior era o número de fatos e notícias a serem acompanhados aos domingos e a estrutura era novamente desafiada a se adequar.

Entre as dificuldades pode-se citar, também, a permanente “ameaça” do horário ser “invadido” pelos programas de “Rede” que antecediam o Painel. Em algumas ocasiões o programa regional chegava a ser cancelado quando da exibição de programas especiais gerados pela Rede Globo com forte patrocínio comercial. Isso demonstra como os horários optativos são mais vulneráveis, neste sentido, que os horários obrigatórios.

“A TV Gazeta exibe neste Domingo, logo após o programa “Sai de Baixo” o show (...) 40 anos de bossa nova. Por conta disso, o Painel de Domingo não será apresentado”. (coluna Victor Hugo, Jornal A Gazeta, 26/2/99)

Em outras ocasiões, o programa também cedeu seu horário para a transmissão do Oscar, desfile de Escolas de Samba, Programação Especial de fim de ano e festivas de música como, por exemplo, o Festival de Brasília e o Tim Festival.

3.1.4 Linguagem, cenário e apresentação: invasão de dormitórios

O programa adotou uma linguagem mais informal que a usada nos telejornais tradicionais. A proposta era a de estabelecer uma comunicação que facilitasse a aproximação com o telespectador num horário que poderia ser descrito como “de maior intimidade”.

Page 73: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 73 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Era a hora de se preparar para dormir. Portanto, sem muita formalidade. Até mesmo porque, se a televisão já é considerada uma “invasora dos lares”, o Painel se mostrava um “invasor dos dormitórios”. Também não poderia ser “sonolento”. O dinamismo era necessário. As entrevistas e debates de estúdio, além das perguntas dos apresentadores, contavam também com a participação direta dos telespectadores que num gesto de admiração e interesse, passavam e-mails e faxes após a meia-noite.

O cenário passou por várias mudanças. Buscava-se uma informalidade e aí fica comprovada uma grande dificuldade em se encontrar uma solução. O Painel de Domingo teve três cenários diferentes. A falta de profissionais cenógrafos no Espírito Santo e os altos custos para importar um revelaram uma grande dificuldade para encontrar uma solução que resultasse em descontração, conforto e permitisse um clima “intimista” com o telespectador. Pode-se dizer que, a cada mudança de cenário, chegava-se à conclusão que o anterior era melhor. “O último cenário, em minha opinião foi o pior (...), sentávamos em bancos desconfortáveis, sem bancada, com uma mesa pequena. Apesar de permitir que ficássemos de pé, em pontos diferentes, não tinha a mesma mobilidade do primeiro. Os ângulos eram todos parecidos (...)”, resume a editora assistente do Painel, Daniela Abreu18. No dia da estréia do programa, o primeiro cenário era apresentado como uma inovação, como destacava a Revista da TV, do Jornal A Gazeta, em 10/1/1999: “(...) apresentado em três ambientes, o cenário principal dará o clima de fim de noite pelo painel da vista da Curva da Jurema, assinado pelo fotógrafo Roberto Burura. Na vinheta do programa vão aparecer outras fotos de pontos turísticos do interior do Estado. O set de entrevista, ancorada por Carlos Tourinho, e a torre com monitor usada por Paulo Sérgio completam os ambientes do estúdio (...)”.

18 Em 2007, os problemas com cenários parecem superados, tendo em vista a qualidade apresentada nos elementos cênicos de programas como Conexão Geral, ESTV e Espírito Santo Comunidades, por exemplo.

Page 74: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 74 ]

C a r l o s To u r i n h o

Já o diretor presidente da Rede Gazeta, Carlos Lindenberg Neto, elogiava a estréia, mas fazia ressalvas aos já perceptíveis problemas de cenário. “Certeza do sucesso do Painel de Domingo. A contar pela estréia o programa terá o seu lugar no final de domingo dos capixabas. Vale a pena esperar e dormir um pouco mais tarde. (...) Minhas críticas se restringem àqueles defeitos muito aparentes na tapadeira azul por trás dos entrevistadores e entrevistados (...) um defeito que deveria ter sido evitado com um pouco mais de esmero (...)”.

Como o programa era exibido apenas uma vez por semana, todo o cenário era desmontado no início da semana e remontado no final. A tapadeira citada por Lindenberg Neto era repintada a cada novo programa.

A falta de experiência com cenário para um programa que se assumia como uma “revista eletrônica regional” também era vista na indecisão de como os apresentadores deveriam se vestir. Sem a colaboração de profissionais especializados em vestuário para televisão (com exceção das séries especiais, como veremos adiante), e com base em pesquisas qualitativas com telespectadores reunidos em grupos, os chamados grupos focais19, que se mostravam contraditórios a cada nova reunião, os apresentadores eram estimulados a alternar seu modo de vestir, ora descontraídos, ora um pouco mais formais.

Ao fim de seis anos e meio, pode-se dizer que não se tem certeza de qual teria sido a melhor alternativa para o vestuário, especialmente do apresentador: terno e gravata ou esporte? As duas alternativas foram apresentadas como a melhor solução em

19 Grupos focais, ou focus group, nome original em inglês. Algumas pessoas representando uma pequena amostra de telespectadores com o perfil identificado com os habituais telespectadores do programa, são convidados a comparecerem em dia e local determinado a um Instituto de Pesquisa. Lá chegando são estimulados – geralmente por um psicólogo – a darem opiniões sobre o assunto em questão. A proposta é que, em meio a sanduíches, salgadinhos, refrigerantes e um clima agradável, eles se “soltem” e comecem a dar opiniões sobre os assuntos propostos. É uma técnica de pesquisa comumente usada nos meios de comunicação.

Page 75: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 75 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

diferentes ocasiões, sempre com muitos argumentos. De qualquer forma, ou em qualquer roupa, os três apresentadores usaram como estratégia editorial uma apresentação descontraída, envolvente, com troca de opiniões e até brincadeiras.

3.2 Segunda Fase

3.2.1 Novidades editoriais: mudar antes de ser mudado

Consciente da dificuldade no horário das madrugadas de domingo, e do caráter perecível dos programas de televisão, o Painel de Domingo mostrava-se atento às necessidades de mudanças que gerassem novos interesses para o telespectador. E foi amparado em pesquisas, retornos dos próprios telespectadores ou discussões internas que as mudanças se sucederam ao longo dos anos. “Todo o programa serviu como aprendizado. Era um programa muito diferente do modelo tradicional de telejornalismo a que estávamos acostumados. E o formato mudou ao longo do tempo, o que também nos forçou a inovar a cada nova fase”, explica Daniela Abreu.

Inicialmente o programa tinha como proposta “esgotar” um único tema. Isso era feito da seguinte forma: escolhia-se um assunto com antecedência, produziam-se várias matérias dos diferentes ângulos desse assunto (favoráveis e contras), gravava-se a opinião de especialistas e da população. Posto isso, o assunto entrava na pesquisa interativa. À medida que os “prós e contras” dos especialistas eram exibidos nas matérias, o “placar” da pesquisa ia-se alterando. Ao final, o debate ao vivo analisava o assunto e o resultado da reação do telespectador diante da exposição a que tinha sido submetido.

Em outra fase do programa, concluiu-se que, se por um lado a escolha de um tema único ajudava a esclarecer o assunto com maior profundidade, por outro estaria excluindo da audiência pessoas

Page 76: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 76 ]

C a r l o s To u r i n h o

que não tivessem interesse direto naquele assunto. Decidiu-se então que o programa passaria a tratar de mais de um assunto por edição, ainda que mantendo o mesmo padrão de exposição dos seus diferentes ângulos e com reflexo na pesquisa.

Outra mudança, já mais adiante, foi por deixar de considerar a entrevista e o debate como quadros fixos do Painel. Temia-se que, acostumado com o formato, e diante de entrevistados nem sempre “empolgantes e dinâmicos” o telespectador poderia se cansar da entrevista e se entregar ao “sono”, já que este era o nosso maior concorrente do horário (veja mais adiante as informações sobre a audiência no horário do Painel de Domingo e de seus concorrentes em outras emissoras). Com o espaço da entrevista liberado, o programa passou a investir em matérias especiais sobre assuntos inusitados, polêmicos, comportamento e saúde, num formato de reportagem de maior fôlego. Surgiram daí as reportagens especiais que obtiveram grande repercussão graças a seu caráter criativo e com acabamento técnico e editorial diferenciados (matérias editadas ao longo da semana, com mais tempo e recursos que as chamadas matérias factuais). Isso gerava prazer no telespectador acostumado apenas com notícias pesadas ao longo da semana. Foi mais uma forma encontrada para deixar o telespectador motivado antes de ir dormir, acabando com a chamada “crise do domingo” ou “síndrome do Fantástico”.

3.2.2 Reportagens Especiais: sem gancho

Tratavam de temas inusitados, sem a necessidade de estarem dependente do chamado “gancho”20 jornalístico. As reportagens especiais lançavam mão do arquivo de imagens da emissora (Cedoc) recuperando assuntos que estavam esquecidos, usavam

20 jargão jornalístico. Motivação para uma pauta de reportagem Um assunto que puxa imediatamente o seguinte motivado por algum acontecimento factual.

Page 77: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 77 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

recursos especiais de edição e pós-edição. As regras para as pautas e reportagens especiais eram: abusar da criatividade e surpreender o telespectador. Ao contrário das matérias convencionais de telejornalismo, que têm tempo de duração médio de um minuto e meio, estas não tinham limites. Chegavam com freqüência aos cinco minutos e houve até as que se aproximaram da marca de dez minutos, algo impensável num telejornal convencional. O limite para o tempo era simples: não permitir que o telespectador olhasse o relógio ou desgrudasse os olhos do vídeo. Outro belo desafio!

As Reportagens Especiais do Painel de Domingo começaram a ser exibidas a partir de 2002.

• 2002: 38 reportagens especiais.

• 2003: 53 reportagens especiais + 3 séries especiais + 1 programa especial

• 2004: 69 reportagens especiais + 3 séries especiais

• 2005: (até 8/5): 18 reportagens especiais + 1 série especial

Algumas pautas:

• Desenvolvimento da tecnologia e da ciência X felicidade.

• Hackers, os piratas da internet.

• Tensão pré-menstrual.

• Medos e fobias.

• Atrasos nas consultas médicas.

• Mercado de trabalho futuro para os jovens de hoje.

• Depressão.

• Imprudência nas estradas.

• Automedicação

• Exame antidoping para estudantes.

• A economia de energia e o Brasil do “apagão”.

Page 78: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 78 ]

C a r l o s To u r i n h o

• Reposição hormonal.

• Vida sexual após os 50.

• Mudanças na família brasileira.

• Fusão das polícias militar e civil.

• Terrorismo.

• Campanha do desarmamento.

• Justiça arbitral.

• Maçonaria.

• Crime organizado.

• Impotência sexual (próteses, medicamentos etc).

• Adoções.

• Mudança de lei e sequestro relâmpago.

• Disque-denúncia.

• União de casais homossexuais.

• A igreja e os homossexuais.

• Controle de natalidade.

• Pílula do dia seguinte.

• Polêmica: feira livre na porta de casa.

• O mundo das senhas.

• Tribunal arbitral.

• Eutanásia.

• Xenical: a pílula do emagrecimento.

• Viagra: a pílula azul.

• Tratamento contra tuberculose: quem recusar pode ser preso.

• Hormônio do crescimento.

• Excepcionais entram no mercado de trabalho.

Page 79: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 79 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

• Insônia: na realidade e no cinema.

• Terapias alternativas.

• Obesidade: porções de alimentos cada vez maiores. O caso da pipoca no cinema.

• Dietas radicais.

• Dor de cabeça.

• Alimentos polêmicos: ovo, chocolate, café.

• Mau hálito.

• Cegueira genética.

• Crianças hiperativas.

• Crianças superdotadas.

• Tratamento pela hipnose.

• A história das guerras do Brasil em 500 anos de história.

• Polícia comunitária do Morro do Quadro: a melhor do Brasil.

• Mudança de hábitos provocada pela violência.

• Crimes bárbaros: depoimentos.

• Atualização das leis contra a violência.

• Sociedade vigiada: a polêmica vigilância das câmeras de vídeo.

• Radares: parar ou não à noite?

• O bug do milênio.

• A invasão dos pet shops.

• Empregadas domésticas se especializam.

• O novo mercado de consumo para solteiros e descasados.

• O segredo do sucesso. O depoimento de quem venceu na vida.

• O pior momento da vida. Pessoas envolvidas em tragédias.

• Desaparecidos. As ocorrências policiais.

Page 80: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 80 ]

C a r l o s To u r i n h o

Assuntos leves, curiosos ou inusitados, no formato revista, também tiveram destaque nas Reportagens Especiais:

• Silicone, botox e vaidade.

• Vaidade masculina.

• Plástica na terceira idade

• Profissão: fotógrafo de aventuras.

• História dos catraieiros.

• Vida de vendedor.

• Os grandes momentos do futebol capixaba no passado.

• Os dinossauros do surf e seus pranchões.

• Objetos voadores não identificados.

• Adoração às imagens de santos.

• A história das canetas e seu poder de decisão.

• Árvore genealógica: como encontrar parentes distantes?

• Sebos de livros.

• Fabricação de perucas e os carecas.

• Fabricação de dentaduras.

• Medo de dentista: novos recursos.

• Chef de restaurante de luxo testa comida de hospital.

• Vida de missionários.

• CVV: voluntários.

• Bonecas: brincadeira e profissão.

• RPG: jogo acusado de magia negra.

• Esotérico que fez sucesso nos anos 70 e 80 diz que se arrepende.

• Profissão: vidente.

• Profissão: detetive particular.

Page 81: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 81 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

• A bodyboarder que resolveu posar nua.

• Canis públicos e carrocinhas.

• Comércio religioso.

• Vida de concurseiro.

• Controlador de vôo.

• Alfaiates: risco de extinção.

• Profissionais que vivem da morte.

• Antiquários e seus tesouros.

• Tecnologia dos calçados.

• Restaurantes premiados no ES.

• Guarapari: torre de babel no verão.

• Brinquedos antigos.

• Big bands.

• Bandas covers.

• 25 anos da morte de Elvis Presley.

• Canto gregoriano.

• Os fiéis de Nossa Senhora da Penha.

• Música e comida de botequim.

• Costumes e povos diferentes nas comemorações do reveillon.

• Bandas capixabas: destino nacional.

• Novos cineastas capixabas.

• A poesia nas estações de viagem (rodoviária, estação ferroviária e aeroporto).

• Mansões e casas “de revista”.

• Condomínios de montanha: tendência imobiliária.

• Prédios inteligentes.

• Grafologia: técnica para selecionar candidato a emprego.

• Tatuagem e piercing. Por que fazer?

Page 82: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 82 ]

C a r l o s To u r i n h o

• Champagne: comemoração.

• Perfumes: adoradores.

• Florista: uma profissão perfumada.

• A maquiagem e a transformação.

• Langeries sensuais.

• O “negócio” do erotismo e os empresários do setor.

• A história do chapéu.

• Radioamadorismo.

• Dança de salão. As academias resistem.

• Compradores compulsivos.

• Cabelos e penteados exóticos.

• Palavras cruzadas: 80 anos.

• Diferenças das linguagens regionais.

• A vida dos religiosos e o voto de castidade.

• Mulheres que amam demais (doença).

• Artesãos de jóias: preço e glamour.

• Adoradores de música romântica.

• Trabalhadores dos subterrâneos da cidade: entrando pelo cano.

• A terceira ponte: por dentro do vão central.

• Semáforos: como funcionam e são controlados.

• Penhor de jóias: economia e sentimento.

• Controladores de vôo nos aeroportos. Como é a profissão?

• Vida de brasileiros no exterior.

• Praias de nudismo e os naturistas.

• Esperanto: a história de uma língua universal.

• A mágica história dos tapetes.

Page 83: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 83 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Os assuntos das reportagens especiais ganhavam destaque na imprensa:

“União civil entre pessoas de mesmo sexo é o tema da entrevista especial de hoje no painel de Domingo, da TV Gazeta” (Coluna Victor Hugo, Jornal A Gazeta, 31/1/99).

“A falta de prestígio do tradicional desfile de escolas de samba e a popularidade dos carnavais fora época, como o Vital, serão debatidos no Painel de Domingo” (portal Gazeta on-line, 6/2/99).

“O programa Painel de Domingo debate se a campanha contra a aids, com farta distribuição de camisinhas, não estimula a promiscuidade” (Coluna VH, Jornal A Gazeta, 18/2/99).

“O Painel de Domingo substitui hoje o debate por uma reportagem especial sobre prostituição de estudantes que colocam anúncios nos jornais (...)” (Coluna Victor Hugo, Jornal A Gazeta, 28/3/99)

“O casal sérvio Stanko e Rada Veljovic e o macedônio Vicente Bojovski, residentes no Espírito Santo, falam sobre seus medos em relação ao conflito da Iugoslávia, onde têm parentes, no programa Painel de Domingo (...)” (Coluna Victor Hugo, 11/4/99)

“O Painel de Domingo promove hoje um debate sobre a violência nas escolas, praticada por crianças e adolescentes” (Coluna Ponta a Ponta, Revista da TV, Jornal A Gazeta, 25/4/99).

“O adolescente e as drogas. Este será o tema em destaque no programa Painel de Domingo, da TV Gazeta. Será tratada a questão do assédio que os jovens sofrem no mundo das drogas (...). No estúdio, a psicóloga especializada em dependência química Ana Maria Pinto Gatto (...)”. (Revista da TV, Jornal A Gazeta, 20/8/2000).

Page 84: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 84 ]

C a r l o s To u r i n h o

Com freqüência o programa apresentava novidades para surpreender o telespectador. Em dezembro de 2002, numa promoção em parceria com o Jornal A Gazeta, foram sorteadas duas assinaturas domiciliares entre os telespectadores que participaram das enquetes por telefone. O programa recebeu 16.035 ligações. Na ocasião, o então diretor de Jornalismo de A Gazeta, Eduardo Valério, manifestou-se através de correspondência interna “Parabéns pelo retorno das ligações. Acho a idéia muito boa. Estou pedindo ao departamento que evolua na idéia”.

Em 27 de maio de 2002, um mês antes da Copa do Mundo, o Painel de Domingo trouxe ao estúdio, ao vivo, Félix, o goleiro tricampeão da Copa de 1970. Neste domingo foram sorteadas quatro camisas da Seleção Brasileira, assinadas ao vivo pelos ex-goleiros Félix e Paulo Sérgio, comentarista do programa. Houve 65 mil ligações, o que provocou “engarrafamento” no sistema telefônico. A Telemar, responsável pelo sistema de pesquisa, havia preparado o sistema para uma demanda de, no máximo, 50 mil ligações.

3.3 Séries Especiais

As séries especiais surgiram, inicialmente, com o objetivo de garantir maior retorno financeiro ao programa, uma vez que o formato normal tinha audiência, mas não um patrocinador fixo. A direção da empresa viu no projeto “Séries especiais do Painel de Domingo” a possibilidade de oferecer ao mercado publicitário um produto diferenciado, com qualidade editorial, aprofundamento em temas específicos e com toda uma paginação diferente que o tornasse, de fato, atraente e inovador: cenário virtual, vinhetas mais elaboradas, arte nas matérias, guarda-roupa e maquiagem especial para os apresentadores. Estava nascendo um projeto vitorioso tanto do ponto de vista comercial quanto editorial.

Num intervalo de dois anos, o Projeto Séries Especiais destacou ações do Primeiro Setor (público) com “Novos tempos em debate” e “Novos

Page 85: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 85 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

tempos em debate, um ano depois”; Segundo Setor (econômico privado) com “ES Terra de Valor” e “ES Terra de Valor 2004”; Terceiro Setor (social) com “ES Solidário” e “ES Solidário, o empreendedorismo sustentável”. Foi realizada ainda outra série especial voltada para a identidade cultural e formação étnica do Estado: “ES Muito Prazer!”, com reportagens destacando a história, cultura e turismo do Espírito Santo. Todos os programas tiveram patrocinadores de peso como a Companhia Siderúrgica de Tubarão - CST, Companhia Vale do Rio Doce - CVRD, Companhia Belgo Mineira, Samarco, Aracruz Celulose, Petrobras, Vivo, UVV, Colégios UP, Grupo Coimex e Prefeitura de Vitória. As inovações trazidas pelas Séries Especiais do Painel de Domingo tiveram larga aprovação por parte de telespectadores e críticos. Praticamente todas foram homenageadas ou premiadas por instituições públicas e/ou da área de Comunicações (para isso veja detalhamento no próximo capítulo). “O programa foi inovador no formato, na interatividade com o público, nos temas muitas vezes polêmicos ou curiosos que apresentava (...) mesmo com o fim do Painel, a idéia geradora das séries especiais acabou sendo implementada no telejornalismo diário, abrindo um espaço para reportagens especiais que não existia, ainda que este espaço seja bem menor do que foi no Painel de Domingo”, destaca Daniela Abreu. Em 2003, o Painel de Domingo encomendou ao Instituto de Pesquisas Futura, um levantamento das prioridades, do ponto de vista do capixaba, para o desenvolvimento econômico, emprego, saúde, educação e segurança. As informações levantadas foram utilizadas como subsídio na produção das Séries Especiais: “Novos tempos em debate” e “Espírito Santo Terra de Valor”.

3.3.1 Novos tempos em debate (2003)

Esta foi uma série voltada para o momento político de renovação que o Estado vivia. Saía-se de um período conturbado na política

Page 86: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 86 ]

C a r l o s To u r i n h o

em que o ex-governador, José Ignácio Ferreira, e o ex-presidente da Assembléia Legislativa, José Carlos Gratz, sofreram imenso abalo político, foram objetos de diferentes processos judiciais e intenso desgaste popular. A população capixaba via-se colocada numa situação de inferioridade diante do restante do País, tal o grau de repercussão dos escândalos políticos além do caos financeiro que o Espírito Santo atravessava. Com um novo governo, nova direção na Assembléia Legislativa e novos prefeitos por todo o Estado, sentia-se que a atmosfera política renovava as esperanças populares. Daí o nome “Novos tempos em debate”. O programa, o primeiro do projeto das Séries Especiais, era feito basicamente em estúdio, com representantes do governo do Estado – secretários e o governador Paulo Hartung – respondendo questões levantadas por entrevistadores, população e prefeitos municipais. O programa era ao vivo. Os debates tiveram repercussão na imprensa:

“Economia do ES em debate. Começa hoje uma série de quatro programas especiais que serão exibidos pela TV Gazeta, no Painel de Domingo especial – Novos Tempos em Debate (...)” (Jornal A Gazeta, 2003).

“Estado deve gerar emprego. Esta é a opinião dos capixabas ouvidos numa pesquisa do instituto Futura para o programa Painel de Domingo (...)” (Jornal A Gazeta, 2003).

“Painel de Domingo debate crise na saúde (...)” (Jornal A Gazeta, 2003).

“Sistema público de saúde é reprovado (...)” (Jornal A Gazeta, 2003).

“Capixaba sente violência na pele. A constatação é da pesquisa do Instituto Futura, divulgada ontem no Painel de Domingo (...)” (Jornal A Gazeta, 2003).

Page 87: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 87 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

3.3.2 Novos tempos em debate, um ano depois (2004)

Foi uma sequência à série do ano anterior. O objetivo foi confrontar as promessas de que o Espírito Santo estaria vivendo “novos tempos” com o que de fato aconteceu no período. Desta vez, os prefeitos não participaram, visto que era ano de eleições municipais e o programa poderia servir de palanque eleitoral.

3.3.3 ES Terra de Valor (2003)

A idéia desta série foi a de dar visibilidade aos expressivos números da economia privada do Espírito Santo. Uma pesquisa de norte a sul do Estado mostrou a força da economia, o tamanho das empresas instaladas no Espírito Santo e os bons resultados internacionais que colocavam o Estado em destaque. Foi um trabalho pioneiro que sensibilizou não apenas os interessados pela área, como também telespectadores de diferentes níveis sociais. Isso pôde ser percebido nas pesquisas de opinião e no retorno obtido diretamente entre o programa e seus telespectadores (e-mails, telefonemas, faxes etc.). O projeto da série previu a produção de um DVD a ser repassado aos patrocinadores com um programa-resumo do que seria levado ao ar durante cinco semanas. A procura popular foi tamanha que a TV Gazeta se viu na obrigação de produzir, à parte, um DVD e um VHS duplos, com a íntegra dos programas, e os colocou à venda. Um grande sucesso.

3.3.4 ES Terra de Valor (2004)

Um ano depois, o sucesso da primeira versão trouxe de volta o “ES Terra de Valor”. Dessa vez, o foco eram as oportunidades profissionais e de negócios que o desenvolvimento capixaba vinha proporcionando. O programa destacou novamente a força das grandes empresas, seu poder de superação de metas e de inovação de métodos. As

Page 88: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 88 ]

C a r l o s To u r i n h o

empresas que surgiam no rastro do bom momento, atraídas pelas novas oportunidades oferecidas pelo Estado. E os trabalhadores que viam neste “boom” a oportunidade de bons empregos e de pequenos negócios, atuando como fornecedores de produtos às grandes empresas alavancadoras da economia.

3.3.5 ES Solidário (2003)

“Espírito Santo Solidário” mostrava que o Estado tinha não apenas uma grandiosidade econômica emergente, mas, também, um povo solidário, preocupado com o bem-estar coletivo. A série destacou ações de voluntariado, filantropia e, principalmente, do movimento que começava a ser conhecido como “Terceiro Setor” e de “responsabilidade social empresarial”. As empresas passavam a destinar parcela de seus orçamentos a projetos de inclusão social, sustentabilidade e ações de responsabilidade social, o que, em muitos segmentos, trata-se de uma exigência internacional. Para a produção desta série especial, além da ampla pesquisa de campo, buscou-se novos diferenciais. Entre eles, a composição e gravação de um clipe musical com artistas da terra. A letra e a música, produzidas especialmente para o programa, são de autoria de Carlos Bona. Os demais músicos, de carreira solo, se uniram e produziram um dos mais belos momentos da história do Painel de Domingo. Este clipe é parte integrante do DVD especial que foi produzido com toda a série.

3.3.6 ES Solidário, o empreendedorismo sustentável (2004)

Dentro da política de dar seqüência aos especiais, um ano depois, o programa retomou a temática da responsabilidade social, mas com destaque no empreendedorismo sustentável. Ou seja, projetos que nasciam com apoio de terceiros, especialmente da “responsabilidade social empresarial”, mas que tinham

Page 89: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 89 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

como meta, desde o início, a auto-sustentabilidade. Este era o principal objetivo das empresas que financiavam estes projetos. A proposta delas, e conferida pelas reportagens desta série, era injetar recursos por determinado prazo até que o Projeto passasse a gerar resultados e trabalho para o seu público final. Assim, a Empresa se liberava deste, passava a gerir novos projetos sociais e assim por diante.

3.3.7 A Gazeta, 75 anos: uma história bem contada (2003)

Esta não foi uma série e, sim, um programa especial, feito numa única edição. A proposta era fazer uma homenagem aos 75 anos do jornal A Gazeta, contar a história do jornal, que foi o pioneiro no grupo de Comunicação que deu origem à TV Gazeta. Mas o Painel de Domingo foi além: dentro de um prisma histórico, inseriu o jornal num panorama mais amplo. O que acontecia no mundo, no Brasil e no Espírito Santo, quando surgiu este periódico em 1928? As respostas foram apresentadas amparadas por uma grande pesquisa bibliográfica com imagens, fotos e acervos sonoros.

3.3.8 ES, Muito Prazer! (2005)

Última série especial do Painel de Domingo, foi ao ar poucos meses antes do fim do programa. O Painel fez um documentário histórico ao longo de quatro edições de domingo e uma edição extra para o DVD final, mostrando a origem histórica, as migrações, as diferentes etnias, a identidade cultural, o turismo, a natureza e a religiosidade capixabas. As reportagens especiais eram permeadas por depoimentos de historiadores, artistas e pesquisadores do Espírito Santo, numa formatação dinâmica e pedagógica. Na abertura, um ator vestido de navegador português, embarcado numa legítima caravela, narrava seus encantos pela terra encantada e exclamava:

Page 90: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 90 ]

C a r l o s To u r i n h o

“Espírito Santo, muito prazer!”. Como fator motivacional, o Painel de Domingo estimulou os telespectadores a votarem naquele que seria o principal símbolo da identidade cultural do Espírito Santo. 12 itens foram pré-selecionados até se chegar ao mais votado. O resultado divulgado no final do último programa da série apontou o Convento da Penha, com 70% da votação, que incluiu ainda a panela de barro (2° lugar) e a moqueca capixaba (3° lugar), além de outros ícones da cultura capixaba.

“Convento da Penha representa o Espírito Santo. O maior patrimônio religioso do Estado ergue-se como símbolo capixaba. É o que aponta uma enquete realizada pelo programa Painel de Domingo, da Rede Gazeta. Entre outros ícones da cultura e história do Estado, como a panela de barro e a moqueca capixaba, o Convento foi o escolhido (...)” (Revista Via Expressa, edição nº 4, fevereiro de 2005)

“Está no ar uma série do Painel de Domingo (...) que mostra o retrato da identidade cultural do capixaba, em reportagens realizadas de norte a sul do Estado (...)” (Jornal A Gazeta, 17/1/ 2005).

“Acho que o mais marcante para mim, para o público e para a própria TV Gazeta foram as Séries Especiais. Reportagens mais elaboradas desde a produção até a pós-edição eram quase que uma novidade para nós. No corre-corre do telejornalismo diário isso não tinha espaço. As séries abriram a possibilidade de aprofundar os temas com uma qualidade estética muito superior ao dia-a-dia. Fizeram tanto sucesso que até hoje telespectadores me param na rua lembrando das séries e querendo adquirir os dvds”, lembra Daniela Abreu, que também revela a sua preferência: “O ES Muito Prazer foi a mais divertida de se fazer. Viajar por todo o Estado, com uma equipe grande, fazendo toda a apresentação de quatro programas em pontos significativos do Espírito Santo, foi extremamente gratificante. Apesar de terminarmos o dia exaustos, tínhamos uma ótima sensação depois do trabalho”.

Page 91: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 91 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Para o gerente de produção e programação da TV Gazeta, Ricardo Alonso, as séries especiais e a cobertura noticiosa aos domingos foram os motivos que levaram o programa a marcar época: “Considero o Painel um marco importante na programação da TV Gazeta onde produzimos e exibimos as séries especiais que marcaram a nossa programação. Além disso, este horário do domingo à noite é muito importante para regiões que, como a nossa, têm pouca cobertura nacional”.

3.4 Premiações e homenagens

• Vencedor do prêmio Aberje 2005, na categoria diversidade midiática, região norte-centro-oeste-leste, com a série especial “Espírito Santo, Muito Prazer!”. (2004)

• 2º lugar do prêmio Aberje 2005, na categoria diversidade midiática, região norte-centro-oeste-leste, com a série especial “Espírito Santo Terra de Valor” (2004).

• 2º lugar do prêmio Aberje 2004, na categoria convergência de mídia, região centro-oeste-leste, com a série especial “Espírito Santo Terra de Valor” (2003).

• Certificado Distinguished Nominee of the 2006 NAB International Broadcasting Excellence Award for extraordinary contributions ins service to communities and the Broadcast Industry, pela série especial “Espírito Santo, Muito Prazer!”. (National Association of NAB broadcasters – 2006).

• Moção de Aplauso pelo recebimento do Certificado de Excelência da NAB (USA) pela série especial do Painel de Domingo, (Of. Pré. MO n° 0124, vereador Reinaldo Bolão, aprovado com o registro MAPL 066/2006, em 26 de maio de 2006 – Câmara Municipal de Vitória).

Page 92: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 92 ]

C a r l o s To u r i n h o

• Semifinalista do Prêmio Ayrton Senna de jornalismo, com a série “ES Solidário” (versão 2003, em 2004).

• Diploma de menção honrosa Dom João Batista da Mota e Albuquerque, concedido pela Assembléia Legislativa do Espírito Santo, pelo programa Painel de Domingo da TV Gazeta, pela série especial “ES Solidário”, por sua atuação em defesa da cidadania e da vida. (resolução 1883/97 por solicitação do presidente da casa, deputado estadual Cláudio Vereza, em 10/12/2003).

• 2º lugar no prêmio Aberje de jornalismo, para a reportagem “café como vinho”, integrante da série “ES Terra de Valor” (repórter Cristina Fagundes, editor Carlos Tourinho, 2003).

• Voto de congratulações número 473 com os jornalistas responsáveis pela produção do programa Painel de Domingo e com a nova previsão do tempo que a TV Gazeta irá apresentar como a primeira emissora afiliada da TV Globo. (Vereador José Carlos Lyrio Rocha, Câmara Municipal de Vitória, em 3/5/99).

• Voto de congratulações com o povo Espírito-Santense, pelo transcurso do primeiro aniversário do programa Painel de Domingo, da TV Gazeta. (Of. GS nº 25/00, deputada estadual Fátima Couzi - Assembléia Legislativa do ES).

• Diploma de moção de aplauso aprovada pela Câmara Municipal de Vila Velha para a TV Gazeta, pelo programa Painel de Domingo especial, “ES Terra de Valor”. (proposição 2268/03, vereador Edmar de Azevedo Nunes, em 5/8/2003).

• Voto de congratulações com a Rede Gazeta de Comunicações, pela produção do programa Painel de Domingo Especial “Espírito Santo, Muito Prazer”. (of.GS nº 051/2005, requerimento 013/2005 do deputado estadual Reginaldo Almeida – Assembléia Legislativa do ES).

Page 93: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 93 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

• Voto de louvor da Câmara Municipal de Vitória, pela conquista do troféu Aberje, regional centro-oeste-leste, pelo primeiro lugar com a série “Espírito Santo, Muito Prazer”. (número 4722 vereador José Carlos Lyrio Rocha).

• Voto de congratulações com a Rede Gazeta de Comunicações, pela produção do programa Painel de Domingo Especial “Espírito Santo, Muito Prazer”. (of. GS nº 041/2005, requerimento 009/2005 da deputada estadual Luzia Toledo – Assembléia Legislativa do ES).

• Voto de louvor aos jornalistas Carlos Tourinho e Daniela Abreu, pela série especial “Espírito Santo, Muito Prazer” do Painel de Domingo. (Of. Pre. VL nº 0030, de 22 de fevereiro de 2005, requerimento do Vereador Toninho Loureiro, em 10 de janeiro de 2005 – Câmara Municipal de Vitória).

• Primeiro lugar do prêmio interno da Rede Gazeta para a melhor imagem na reportagem “Panela de Barro -identidade cultural”, da série “ES, Muito Prazer! (imagens do cinegrafista Secundo Rezende, editor Carlos Tourinho)

O programa Painel de Domingo foi motivo de dezenas de monografias e TCCs (Trabalho de Conclusão de Curso) nas faculdades de Comunicação do Espírito Santo, como a Ufes, a Faesa e a UVV. Estas monografias estão catalogadas nas bibliotecas destas instituições de ensino, onde poderão ser consultadas na íntegra. As séries do programa também foram motivos para convites de palestras nas faculdades de Comunicação Faesa e Estácio de Sá. Em sete de março de 2002, o professor do curso de “Ética e Ciências Jurídicas” da Unesc, Jacaraípe, Renato Possato Lyra, solicitou cópia do programa que debateu a questão da ética do profissional da área de Direito. “O debate muito bem conduzido no programa seria de grande valia, para ser usado como material didático (...) Temas como esse merecem destaque e elogios, pois mostram a seriedade de profissionais como

Page 94: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 94 ]

C a r l o s To u r i n h o

você que nos faz acreditar (...) nos ideais de valores, moral, justiça e de direito na sociedade”. O projeto de execução da serie “ES Muito Prazer!” também foi apresentado em evento do Project Management Institute – PMI - seção regional Espírito Santo, tendo obtido o certificado PMP no Seminário de Gerenciamento de Projetos (14 e 15 de setembro de 2005).

As homenagens que partiram das instituições políticas do Estado destacaram a importância das séries para a formação cultural do povo capixaba. Ao requisitar ao plenário da Câmara Municipal de Vitória o voto de louvor pela série especial “ES, Muito Prazer!”, o vereador Toninho Loureiro fez a defesa do voto, destacando a proposta de se mostrar a miscigenação de raças que formaram o Estado. “(...) pela brilhante série que vem resgatar em muito a origem da identidade cultural capixaba e espírito-santense, transmitindo a todos um pouco de nossa herança cultural, desde a chegada dos portugueses na Prainha de Vila Velha, passando pelas belezas das Montanhas, colonizada por alemães, italianos, poloneses e pomeranos, até nossa região norte, região esta de grande potencial econômico e turístico (...)”.

A deputada estadual Luzia Toledo destacou os critérios didáticos adotados para a produção da mesma série. “(...) importante registrar que a série será monitorada por pesquisadores e historiadores, além de trazer uma votação popular onde nossa sociedade irá escolher o símbolo que melhor representa o nosso Estado (...)”.

Já o deputado estadual Reginaldo Almeida ressaltou em seu pedido de voto de congratulações que “A Rede Gazeta tem prestado relevantes serviços em prol do desenvolvimento e do turismo do Estado do Espírito Santo (...)”.

Page 95: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 95 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

3.5 O Painel avaliado

Nas pesquisas qualitativas, desenvolvidas pelo instituto de pesquisas Futura, o Painel de Domingo recebeu boas avaliações dos entrevistados ao longo dos anos. Em 2001, a conclusão do trabalho de pesquisa feito pelo instituto dizia que o “O Painel de Domingo é considerado, pelos participantes do grupo, como um dos melhores programas da TV local atualmente no ar. (...) consideram importante a característica interativa do programa e sentem-se honrados em participar da construção de um programa que possui a estrutura que esperam encontrar nos jornalísticos da TV brasileira (...). É capaz de contribuir para a construção de cidadãos melhores e com mais conhecimento”. A pesquisa revela também que os telespectadores do programa destacam a diversidade de informações oferecidas, com a possibilidade de saberem mais sobre o próprio Estado, o debate sobre temáticas atuais, permitindo a reflexão e a construção de conceitos importantes para suas vidas.

De acordo com este instituto, o público-alvo do programa Painel de Domingo era em sua maioria masculino, com idade média de 35 anos e nível de escolaridade alto quando comparado à população em geral da Grande Vitória. A renda média dessa parcela da população é de R$ 1.765,00 (2003). Vale ressaltar que a renda média da população nesta mesma época na Grande Vitória era de R$ 1.100,00.

Em pesquisa desenvolvida pela Futura, em outubro de 2001, a característica de programa, ao vivo e interativo, foi destacada pelos entrevistados:

“O Painel de Domingo é o único informativo capixaba no dia de domingo. As suas informações são variadas e a gente ainda tem a oportunidade de participar do programa”.

“Por ser um programa ao vivo ele chama a atenção. É muito bom poder participar da construção do programa” (2001).

Page 96: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 96 ]

C a r l o s To u r i n h o

Nesta mesma pesquisa, quando perguntados sobre pontos fracos, o horário (que muitas vezes era empurrado para o início da madrugada de segunda), surgia muitas vezes como ponto de insatisfação:

“O programa passa muito tarde. Você acaba não podendo assistir tudo porque precisa trabalhar no dia seguinte. Se fosse mais cedo seria bem melhor” (2001).

As observações eram avaliadas e, sempre que pertinentes, interferiam no programa. O hábito comum em programas ao vivo, de se informar a hora com alguma freqüência, acabou abandonado após esta observação:

“Se tem uma coisa que me mata é ficar ouvindo o apresentador informar a hora todo o tempo. Muitas vezes eu já deixei de assistir o programa até o final porque quando ele falou a hora vi que já estava tarde e que eu precisava ir dormir” (2001).

A interatividade também foi aperfeiçoada após este registro:

“Você só poder participar pela internet, tira a oportunidade de quem não possui computador poder opinar. Eles poderiam abrir para a participação por telefone. Acho que mais pessoas participariam” (2001).

Isso foi feito após o desenvolvimento de um sistema automático por telefone que passou a permitir várias opções para a resposta, em vez do simples sim/não. A operação tradicional de se colher opiniões pessoalmente por telefone não era viável devido ao custo de se manter uma grande equipe de telefonistas ou produtores àquela hora. O sistema interativo passou a contar com o voto pela internet, pelo telefone e pelo fax. Outro ponto negativo destacado pelos entrevistados nessa pesquisa foi a falta de investimento na estética do programa nos primeiros anos:

Page 97: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 97 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

“Eu acho que ao Painel de Domingo falta atrair pelos olhos. Faltam vinhetas, efeitos, cenários e músicas mais alegres, mais bonitas, para espantar o tédio do horário, tirar o sono” (2001).

Em 2001, o Painel ainda era feito basicamente em cima de um grande tema e isso era bem visto:

“A temática em debate é o ponto principal do programa (...)”.

“Para mim, o principal do programa é o tema discutido, mas as notícias do domingo e as informações sobre os esportes também são boas. Gosto especialmente quando fala do esporte capixaba, que você não vê em nenhum outro lugar” (2001).

Numa espécie de bronca na emissora, um dos entrevistados foi o responsável pela declaração que serviu para finalizar o trabalho apresentado pelo Instituto Futura neste ano:

“Parece que a Gazeta não acredita no potencial do programa e por isto não investe em melhorias e acertos. Na nossa opinião, o Painel de Domingo é um dos melhores programas da TV capixaba atualmente, e pode fica ainda melhor. Só precisa investir”.

Muitas coisas mudaram a partir daí. Em março de 2002, numa nova pesquisa qualitativa, a Futura voltava a destacar que a interatividade era citada com um ponto forte do programa, além dos debates e notícias do Espírito Santo. O horário era novamente apontado como o maior problema.

Em julho de 2003, a pesquisa qualitativa e quantitativa fez, além de uma avaliação do Painel de Domingo, uma análise mais detalhada dos resultados da série especial ES Terra de Valor. Os analistas do Instituto Futura concluíram que o fato de a TV Gazeta ter dado destaque aos assuntos ligados ao Espírito Santo parece ter agradado muito os

Page 98: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 98 ]

C a r l o s To u r i n h o

telespectadores e que a audiência do programa subiu no decorrer da série. Segundo o estudo, “existe uma forte identificação do público com os apresentadores do Painel de Domingo” e o único ponto questionado dessa vez dizia respeito ao horário em que o programa ia ao ar. A resposta mais expressiva citada pelos entrevistados era relacionada à cobertura das notícias do Estado, e pediam mais matérias de educação e de economia/negócios. Numa escala de 0 a 10, a satisfação com os apresentadores era 9,06; com os assuntos tratados, 8,73; e com o horário do Painel, 6,3. Quando perguntados sobre o que poderia melhorar o programa, a maioria de 29,06% apontou a mudança de horário. O segundo item mais votado, com 8,03%, pedia maior duração, o que foi visto como um grande elogio: o Painel tinha já 40 minutos, o maior tempo dos telejornais da TV Gazeta.

Segundo a pesquisa, todos os cinco programas da série “ES Terra de Valor” obtiveram avaliação muito positiva. Um dado curioso é que do primeiro programa desta série, exibido no dia 22 de junho de 2003, ao último, exibido em 20 de julho do mesmo ano, o número de telespectadores foi aumentando. No quadro abaixo podemos perceber a dimensão dessa satisfação. A quase totalidade dos telespectadores considerou os programas especiais bons ou ótimos.

Pesquisa de Satisfação com a série ES Terra de Valor 2003

OPÇÕES ÓTIMO BOM REGULAR RUIM PÉSSIMO NS/NR TOTALBASE DE

ENTREVISTAS

Petróleo, Informática,Construção civil. 47,21 47,21 4,72 0,43 0,00 0,43 100 233

Comércio exterior,Logística, rochas,Siderurgia.

46,85 47,30 4,95 0,90 0,00 0,00 100 222

Setor moveleiro,Celulose, Confecções.

39,06 54,69 4,69 0,78 0,00 0,78 100 128

Turismo, Educação. 38,94 55,77 4,81 0,48 0,00 0,00 100 208

Alimentos, Bebidas. 37,31 58,03 3,11 0,52 0,52 0,52 100 193

Fonte: Futura

Page 99: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 99 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Pesquisas de audiência Painel de Domingo 1999-2002MÊS/ANO AUDIÊNCIA SHARE TELESPECTADORES ABRANGÊNCIA

Maio/1999 15 - - Grande Vitória

Agosto/1999 07 - - GV

Outubro/1999 12 - - GV

Janeiro/2000 13 58% 63.000 GV

Março/2000 11 65% 58.000 GV

Agosto/2000 12 - - GV

Nov./2000 07 47% - GV

Março/2001 14 62% - GV

Setembro/2001 10 - - GV

Agosto/2002 19 62% 104.310 GV

Nov./2002 22 55% 103.800 GV

Fonte: Ibope

Pesquisas de audiência Painel de Domingo 2003/2005MÊS/ANO AUDIÊNCIA SHARE TELESPECTADORES ABRANGÊNCIA

Março/2003 17 72% 90.090 Grande Vitória

Agosto/2003 13 44% 88.120 GV

Nov./2003 13 39% 67.740 GV

Abril/2004 10 73% 61.450 GV

Agosto/2004 11 67% 63.810 GV

Maio/2005* 16 60% 116.340 GV

Fonte: Ibope *última pesquisa Ibope do Painel de Domingo.

A medição pelo Ibope da audiência do Painel de Domingo sempre esbarrou numa dificuldade comum aos programas que vão ar apenas uma vez por semana. Como a TV Gazeta encomenda pesquisas trimestrais de audiência, e como a medição é feita ao longo de uma semana, tirando a média dos programas exibidos, o Painel acabava

Page 100: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 100 ]

C a r l o s To u r i n h o

sendo alvo de uma única medição. Ou seja, se o dia fosse atípico (para cima ou para baixo) este era o número que ficaria registrado até os próximos três meses para o público interno (direção da emissora), externo (telespectadores) e mercado publicitário (agências e anunciantes).

Nesta última medição do Ibope, para o Painel de Domingo, é interessante observar a distância que o programa mantinha de seus concorrentes e sua consolidação no horário.

EMISSORA PROGRAMA AD SHARE TELESPECTADORES

TV Gazeta Painel de Domingo 16 60 116.340

TV Capixaba Acontece Aqui 00 01 3.650

TV Tribuna Sessão das 10 (filme SBT) 10 24 90.470

TV Vitória Terceiro Tempo (esporte) 01 03 5.890

Fonte: Ibope maio/2005.

Outro comparativo importante é o que se dá com os programas jornalísticos ou informativos da própria Rede Globo que vão ao ar em horários parecidos, embora em dias diferentes. A diferença, favorável ao Painel, também foi registrada em pesquisas anteriores do Ibope, comprovando a importância do programa local e sua aceitação pelo telespectador, ainda que com menos recursos técnicos e de orçamento que seus parceiros de programação em rede nacional.

Comparativo por horário, mesma emissoraPROGRAMA HORÁRIO DIA DA SEMANA AD TELESPECTADORES

PAINEL DE DOMINGO 23h50min DOMINGO 16 116.340

PROGRAMA DO JÔ 23h30min Segunda a sexta 9 61.940

JORNAL DA GLOBO 23h40min Segunda a sexta 12 89.120

Fonte: Ibope maio/2005.

Page 101: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 101 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Comparações da audiência do Painel de Domingo com os demais programas da TV Gazeta.

Maio/1999 - Grande Vitória – 1ª medição IbopePROGRAMAS AUDIÊNCIA SHARE TELESPECTADORES

BOM DIA ES 12 70 55.000

JOGO ABERTO 20 48 109.000

ESTV 1ª EDIÇÃO 21 51 110.000

GLOBO ESPORTE 24 51 124.000

ESTV 2ª EDIÇÃO 50 75 311.000

JORNAL DO CAMPO 12 57 69.000

GAZETA COMUNIDADE 13 56 75.000

PAINEL DE DOMINGO 15 56 93.000

Fonte: Ibope maio/1999.

Na comparação com outras emissoras, a TV Gazeta também se sobressaiu no horário de exibição do Painel de Domingo.

Concorrência no horário do Painel de DomingoEMISSORA AUDIÊNCIA SHARE

TV Gazeta (Globo) 15 56

TV Tribuna (SBT) 11 31

TV Vitória (Record) 2 6

TV Capixaba (Band) 2 5

Fonte: Ibope maio/1999.

Page 102: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 102 ]

C a r l o s To u r i n h o

Maio/2005 – Grande Vitória – Última medição IbopePROGRAMAS AUDIÊNCIA SHARE TELESPECTADORES

BOM DIA ES 11 64 64.530

ESTV 1ª EDIÇÃO 30 51 215.130

GLOBO ESPORTE 32 56 230.450

ESTV 2ª EDIÇÃO 52 70 456.630

ESTAÇÃO ESPORTE 19 53 127.420

EM MOVIMENTO 21 40 169.720

ES COMUNIDADES 18 52 120.750

PAINEL DE DOMINGO 16 60 116.340

Fonte: Ibope maio/2005.

3.6 Resultado Comercial

Já em 1998, ano em que o programa foi criado, a preocupação com a questão comercial se fazia presente, como avaliava na ocasião o então diretor executivo da TV Gazeta, Carlos Alberto Becker, no Jornal Metropolitano: “(...) Esse programa só pode ser feito se tiver qualidade e isso esbarra em custos. Então, estamos tentando patrocínios para que possamos suportar os custos” (novembro/1998).

A poucos dias da estréia, o informativo da TV Gazeta destinado ao mercado publicitário já anunciava o andamento comercial do programa: “Transmitido ao vivo, o programa é uma excelente oportunidade para vincular mensagens publicitárias (...) Uma excelente oportunidade para a empresa vincular sua marca no patrocínio dos blocos do programa, uma vez que a cota âncora já foi comercializada. (...)” (informativo Foco, 4/1/99).

O Painel entrou no ar com a cota âncora patrocinada pela Assembléia Legislativa. Mas não durou muito. O patrocínio seria cancelado tempos depois em represália contra a política independente da

Page 103: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 103 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

emissora que fazia críticas ao então presidente do Legislativo, José Carlos Gratz, hoje condenado da Justiça. A partir daí, o programa teve cotas comercializadas, mas abaixo da expectativa comercial da TV Gazeta. Como explica o diretor executivo de Mídias Eletrônicas da Rede Gazeta, Carlos Magalhães: “O sucesso de audiência de um programa não necessariamente é traduzido em sucesso de vendas. Existe um conjunto de variáveis, interligadas, que vão determinar a sua viabilidade comercial. O horário em que o Painel era exibido foi um grande complicador nesse sentido”. Foi justamente Magalhães quem sugeriu uma saída para viabilizar comercialmente o Painel de Domingo. Ele apresentou a proposta das “Séries Especiais do Painel” e encomendou um projeto editorial que pudesse “casar” com a proposta comercial. Além dos resultados comerciais e editoriais, o projeto também apresentou um ótimo retorno institucional, já que os programas fortaleceram a imagem da emissora junto ao capixaba.

Por ironia, este sucesso pode ter contribuído para o fim do programa. O fato é que a aceitação popular e das empresas patrocinadoras foi tão grande que as séries foram acontecendo com maior freqüência. Para isso, o “formato de linha” do Painel de Domingo passou a sofrer constantes interrupções. As séries eram exibidas em outro cenário e fora do formato editorial padrão. Para receberem os recursos especiais de pós-edição, as séries eram pré-gravadas e editadas, ou seja, ao deixar de ser ao vivo, o Painel, nestas ocasiões, também abandonava a interatividade.²¹ O noticiário do domingo ficava sem espaço, assim como a cobertura esportiva era suprimida.

Essas constantes mudanças levaram a Rede Globo a interferir, pedindo que o programa mantivesse seu formato original, o que significava,

²¹ Na série “ES, Muito Prazer!,” que contou com a participação do telespectador para eleger o símbolo maior do Espírito Santo, a interatividade ocorria durante todo o dia, na programação e nos demais telejornais. O programa especial, gravado, apenas estimulava a participação e apresentava as parciais da votação obtidas até a semana anterior.

Page 104: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 104 ]

C a r l o s To u r i n h o

o fim das séries especiais e das gordas cotas de patrocínio. Isso foi decisivo para o futuro do Painel de Domingo, como confirma Magalhães: “Vale lembrar que a nossa decisão de suspender a exibição do Painel aconteceu exatamente quando a Globo proibiu a veiculação das séries especiais. Não fosse isso, provavelmente teríamos mantido o programa no ar. Por outro lado, a possibilidade de patrocínio de quadros num programa de entretenimento como o Conexão Geral, e a elaboração de outros formatos comerciais, não permitidos ao jornalismo, sem dúvida criaram a possibilidade de tornar a equação financeira viável. O mesmo ponto de vista é compartilhado pelo diretor-geral Carlos Lindenberg Neto: “Tinham algumas amarras da CGJ (Central Globo de Jornalismo) que a gente queria tirar. Conseguimos fazer isso. Aquela história dos especiais, a gente hoje já pode fazer. Por este aspecto foi favorável. Hoje, (o Conexão) tem também uma boa audiência. No início foi fraca, até mesmo porque ficou um tempo sem programa no horário, mas hoje tem uma audiência comparável com a do Painel. O que eu fiz questão foi de que o horário mantivesse algum jornalismo. É fundamental. Não sei se o que foi feito é suficiente, mas resolve o problema”. Para ele, o fato do Conexão Geral ser gravado, também ajudou a reduzir despesas: “Outro problema grave que existia e que a mudança veio resolver foi a do custo, que era muito alto. O Painel era ao vivo e isso gerava despesas maiores para mantermos uma equipe fora de seu horário. Por outro lado, acho que não teríamos como gravar o Painel de Domingo, em função da sua proposta editorial.

3.7 Missão Cumprida Apesar da popularidade do programa, dos bons números da audiência medida pelo Ibope para o horário, a emissora decretou o fim do Painel de Domingo em oito de maio de 2005, pressionada pelas questões comerciais.

Page 105: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 105 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Aos gestores da TV Gazeta eu encaminhei uma correspondência destacando as conquistas do programa: (...) “Neste domingo, encerramos a ‘temporada’ do Painel de Domingo. Após seis anos e quatro meses podemos dizer que a TV Gazeta criou um novo horário e hábito para os capixabas nas noites de domingo. (...) Regionalmente, fomos os pioneiros com as notícias do domingo e na interatividade com o telespectador (...). Também as séries nos renderam um grande retorno institucional, fixaram o nome do programa e contribuíram para reduzir o senso comum de que a imprensa só divulga notícias ruins do nosso Estado (...)”.

Nas respostas, o reconhecimento às inovações do Painel de Domingo.

“(...) devemos creditar ao Painel a consolidação da idéia de que temos condição de construir projetos sinérgicos (...) conseguimos fazer isso e passar pelo crivo dos telespectadores que têm como referência o Padrão Globo (...)”. (Carlos Lindenberg Neto, diretor-geral da Rede Gazeta)

“(...) fiquei com um gosto amargo na boca (...)”. (Cariê Lindenberg, secretário executivo do Conselho Administrativo da Rede Gazeta).

“(...) o Painel de Domingo realmente deixa uma significativa contribuição para a Televisão capixaba (...)”. (Carlos Magalhães, diretor executivo de Mídias Eletrônicas da Rede Gazeta).

Já as reações dos telespectadores, no último programa exibido, foram da surpresa ao protesto.

“Por que o Painel de Domingo vai acabar? Eu sou carioca e não conheci nenhum programa regional (seja no RJ, SP, RS, CE) tão

Page 106: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 106 ]

C a r l o s To u r i n h o

bom quanto o Painel (...)” (Alexandre Marcos, gerente regional Middle-Market do HSBC).

“(...) fico triste em saber que vai acabar e não consigo entender o porquê disso (...). De antemão já afirmo que será difícil substituir este programa (...)”. (Tony Bongiovani Ferraz, Vila Velha).

“Lamentável. Pena um programa que dava voz ao telespectador sair do ar (...)”. (Alex Nassau).

“O domingo sem o Painel de Domingo é insosso (...). Guardadas as devidas proporções, o Painel equivale ao Fantástico (...)”. (Valdecir Neves dos Santos).

“(...) é uma pena o programa acabar. Com certeza vai fazer falta e os domingos jamais serão os mesmos (...)”. (Josué de Oliveira).

“Lamentável perda. Gostaria de saber se a mudança é uma imposição da Globo ou uma opção da Gazeta”. (Rodrigo Aragão).

“Definitivamente, o Painel de Domingo marcou época (...)”. (Herman Lopes, Afonso Cláudio-ES).

“Lamentamos em muito esse programa estar se encerrando (...) estamos abarrotados de notícias de violência, humor chulo, apelações, imoralidades, enfim (...) infelizmente, ninguém valoriza algo que mostra os valores da terra, sua cultura, sua gente (...) enfim, tudo que encerra uma boa energia (...)”. (Gilberto Ferreira Machado).

“Foi com surpresa e tristeza que recebi a notícia (...), o Painel de Domingo faz parte do meu fim de semana, não vou dormir sem assisti-lo (...)”. (Rhuana Maria Santos Ribeiro).

Page 107: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 107 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

“Eu gostaria de saber qual poderia ser o motivo para que esse canal suspendesse a realização semanal do Painel de Domingo. É lamentável em tempos que a televisão brasileira carece de um programa de qualidade como esse (...)”. (Wesley Rezende).

“Assisti a todos os ‘Painéis’ de Domingo maravilhada com todos eles. Sou geógrafa e o que o Painel mostrou do Espírito Santo foi excelente (...)”. (Vera Lúcia, Cariacica, por telefone).

3.7.1 Depoimentos da equipe

Desde o início do Painel, tive como hábito organizar estatisticamente tudo que estávamos produzindo. Talvez porque desconfiasse que o ‘projeto’ Painel de Domingo era coisa para um, no máximo dois anos. Afinal, era um formato experimental, um horário inexplorado, uma linguagem que se pretendia nova, e umas ousadias só permitidas para a madrugada: pautas inusitadas, alguns entrevistados fora do padrão de um telejornal comum, debates fervilhantes, telespectadores dando opinião o tempo todo, festa de fim de ano com garrafas de champagne (literalmente estouradas) ao vivo, gente que em vez de dormir enviava perguntas inteligentes numa hora daquelas, meu Deus! E nós da equipe? Chegávamos à emissora no final do final de semana para trabalhar pesado até “a” hora chegar. E como custava a chegar... Na época dos reality shows “No limite” e “Big Brother Brasil”, ao vivo, o horário não chegava nunca. Ia atrasando, atrasando, e o entrevistado ali, na maior boa vontade do mundo, batendo papo com a gente e esperando a sua vez. Afinal, ele ia falar para o Painel de Domingo! Ali nasceram novas “fontes” para o telejornalismo: entrevistamos uma imensa maioria de profissionais competentes, entusiasmados com suas atividades e dispostos a sair de casa à meia-noite para falar ao vivo num programa de televisão.

Page 108: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 108 ]

C a r l o s To u r i n h o

Enfim... deu certo! O tempo foi passando, novos projetos foram surgindo para o programa, fomos homenageados, ganhamos prêmios, e ficamos amigos de milhares de telespectadores que nos honraram ao longo destes anos. A todos estes, a minha admiração e respeito. E, enfim, o que era para durar um ou dois anos, durou seis. Neste livro está um pouco do trabalho coletivo que só um programa interativo, ao vivo, e com a qualidade dos parceiros que tive dentro e fora do estúdio, seriam capazes de produzir.

Daniela Abreu (ex-editora e apresentadora do Painel): “Passados quase três anos do fim do Painel, uma espécie de vazio permanece. Para o público que se manifestou, acho que ficou um espaço vago. Quem estava acostumado a participar do programa sentiu a falta de um programa ao vivo para expor suas opiniões. Acho que também o jornalismo do domingo perdeu. Com o atual formato do programa que o substituiu, gravado, as notícias são exibidas sem apresentador e o modelo ficou um pouco “capenga”. O esporte do fim de semana também perdeu espaço, com os comentários que o Painel mantinha”. (Hoje, Daniela Abreu é apresentadora e editora assistente do ESTV 1ª edição e responsável pela edição das notícias do domingo que vão ao ar no “Conexão Geral”).

Paulo Sérgio (ex-comentarista de esportes e apresentador do Painel): “Recebi o convite para entrar para o Painel de Domingo quando eu apresentava o programa Esporte Capixaba, na TV Capixaba. Foi um aprendizado. Através do Painel, comecei a editar matérias, gravar offs, coisas que até então nunca havia tido a oportunidade. (...) Com o tempo, mostramos que a programação local neste horário poderia ser feita sem apelações e sim com temas, informações, notícias e comentários sobre o Espírito Santo e o País. O Painel ofereceu a oportunidade de uma divulgação maior do esporte em geral. Em uma programação sempre muito rígida, encontramos espaço para mostrar mais o esporte amador, além

Page 109: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 109 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

do futebol. Inovamos no formato, com os apresentadores tendo a liberdade em cena, a interatividade com o telespectador. Eu ainda ganhei a oportunidade de me envolver nos comentários sobre os outros assuntos, além do esporte”. (Paulo Sérgio atualmente comenta as notícias esportivas para o Globo Esporte e para o Estação Esporte).

Ronie Bermudes (primeiro editor de imagens do Painel): “O Painel de Domingo foi um programa diferente, que aprofundava o assunto, debatia, mostrava começo, meio e fim. Dava ao telespectador todas as informações que a matéria merecia para seu melhor entendimento. Na edição de imagens abusei na criação, trilhas, efeitos, a maior valorização das imagens. O Painel deu um pontapé inicial para uma edição mais aprimorada, saindo da edição que eu chamava de ‘feijão com arroz’. Com a edição das séries, ganhei tudo que um editor de imagens sonha em ganhar: reconhecimento, matérias premiadas... O programa me deu mais que retorno financeiro, me deu respeito profissional. Tudo que conquistei tem a assinatura do Painel no meio (...). Quando o programa saiu do ar, junto com a tristeza, também veio a sensação do dever cumprido, de que fizemos o máximo. Para o telespectador ficou um vazio. Falo isso respaldado por colegas e professores de meu curso de Administração que perguntam: ‘por que o Painel saiu do ar? Um programa informativo, de tamanha qualidade, que valorizava o povo capixaba’. Tenho o maior orgulho de ter feito parte daquela equipe”. (Ronie Bermudes prossegue editando notícias no domingo e, durante a semana, no ESTV 2ª).

3.7.2 Contando os domingos

• Mais de cinco mil reportagens e entrevistas especiais.

• 294 programas.

Page 110: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 110 ]

C a r l o s To u r i n h o

• Temas abordados: polêmicas, curiosidades, saúde, economia, esportes, denúncias, negócios, tecnologia, turismo, cultura e segurança pública.

• Implantação da cobertura jornalística aos domingos, com divulgação das notícias no mesmo dia e ao vivo.

• Produção de oito séries/programas especiais: ES Terra de Valor; ES Terra de Valor 2004; Novos tempos em debate; Novos tempos em debate - um ano depois; ES Solidário; ES Solidário - empreendedorismo sustentável; A Gazeta 75 anos, uma história bem contada; ES, Muito Prazer!

• Pioneiro no Estado na gravação de programas especiais em DVD: ES Terra de Valor, ES Terra de Valor 2004; ES Solidário; ES, Muito Prazer!

• 15 premiações e homenagens.

3.7.3 Por que acabou?

As explicações estão colocadas. Mas, o tom das últimas cartas recebidas pelo Painel, há mais de dois anos, continua ecoando. Por que acabou? Isso já não importa tanto. Valorosas são as saudades e as sementes que o programa deixou.

3.7.4 Ficha técnica do Painel de Domingo (da criação à última edição)

• Editor-chefe: Carlos Tourinho

• Editora-assistente: Daniela Abreu

• Comentarista esportivo: Paulo Sérgio

• Apresentadores: Carlos Tourinho, Daniela Abreu e Paulo Sérgio.

• Editores de imagem: Ronie Bermudes, Edgar Ferreira, Wesley Bermudes, Marcelo Duvalle.

• Repórteres e cinegrafistas: Equipe TV Gazeta.

Page 111: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 111 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

• Produtores (ao longo dos anos): Sizue Itho, Penha Saviato, Gustavo Tenório, Rafaela Marquezini.

• Diretor de Jornalismo TV Gazeta: Abdo Chequer

• Gerente de Produção: Joisis Ubirajara Pinto / Ricardo Alonso

• Diretor executivo TV Gazeta: Carlos Alberto Becker / Carlos Magalhães.

• Diretor-geral Rede Gazeta: Cariê Lindenberg / Carlos Lindenberg Neto.

Page 112: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo
Page 113: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 113 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

| CAPÍTULO 4 |

Considerações finais

O caso do Painel de Domingo revela uma experiência vitoriosa de utilização do horário optativo, apesar da permanente dificuldade com a sua consolidação comercial. As pesquisas qualitativas encomendadas pela TV Gazeta mostram a existência de um importante espaço para a atuação de programas com tais características, sobretudo a interação com o público receptor. A expectativa dos telespectadores é por uma permanente divulgação das notícias cotidianas, da análise dos fatos de maior relevância e da valorização da história e cultura do Espírito Santo.

Nas entrevistas que fez em outubro de 2001, em pesquisa citada durante este trabalho, o Instituto Futura colheu opiniões que não tiveram o autor identificado, mas que devem ser resgatadas pela importância de seus argumentos:

“Eu gosto de programas informativos, que trazem construção. O mundo precisa de coisas que mostrem a realidade e te ensinem. O que nós vemos hoje nas TVs abertas não tem nada disso”.

Page 114: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 114 ]

C a r l o s To u r i n h o

Percebe-se nos últimos anos que a TV aberta vem perdendo qualidade em sua programação, o que abre espaço para as TVs por assinatura, para os sites na internet e ainda para outras novas mídias, que se expandem na produção e distribuição de conteúdos culturais e informativos, estimuladas pelo dinâmico desenvolvimento tecnológico. É preciso que a TV aberta reaja e reavalie o seu papel num País como o Brasil. Pois, como disseram outros entrevistados para essa mesma pesquisa, “a TV paga tem programas com muito mais qualidade, mas não é todo mundo que pode ter acesso a TV a cabo. Eu mesmo não tenho. Só as pessoas da classe mais alta é que conseguem”;

“Na verdade, a TV hoje vende a violência como negócio. Você só vê morte, guerra, suicídio. Isso acontece porque não existe preocupação com a formação, mas sim com a renda. O interesse maior é o lucro”.

Uma maior atenção e investimento para a programação regional também foram identificados.

“A TV local é muito ‘fechada’. Parece que ela não acredita no potencial de seus programas e investe pouco. Você pode observar que, se juntar tudo, dá pouco mais de uma hora de programas locais”.

“Nossos programas têm qualidade, mas falta investimento. São programas bem bolados, mas pouco aproveitados”.

A relação das emissoras locais com as redes nacionais, no Brasil, também é um aspecto que merece ser bem avaliado. Para o diretor-geral da Rede Gazeta, Carlos Lindenberg Neto, nos Estados Unidos, a “balança” entre a rede e a afiliada é totalmente diversa do Brasil: “Lá as redes é que correm atrás das afiliadas para que carreguem a sua programação. Não existe um monopólio muito grande de produção de

Page 115: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 115 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

programação. Os Estados Unidos têm muitos estúdios que produzem programas de qualidade. Então, os contratos de afiliação são muito mais flexíveis. Têm alguns poucos programas que são obrigatórios de rede; os demais você pode comprar no mercado e montar a sua grade de programação”. No Brasil, não existe essa “liberdade”, e as emissoras acabam ficando nas mãos das programadoras “cabeças” de rede. Ainda assim, Lindenberg Neto não vê condições para um quadro como este no Brasil: “Não tem viabilidade econômica. Uma emissora local que não tenha uma estrutura de rede para dar suporte comercial, de marketing, é pouco provável que obtenha sucesso. A viabilidade econômica, sem dúvida alguma, hoje, depende de uma estrutura de rede”.

Há uma evidência de que o mercado das mídias no Brasil está se movimentando muito rapidamente e o que hoje pode ser considerado ótimo para as afiliadas, amanhã pode não ser mais. Nessa linha, não se pode mais falar sobre mercado de televisão sem perder de vista as mudanças que virão com a total implantação da tecnologia digital nas TVs abertas, o que começou no final deste 2007 na cidade de São Paulo. Que novos aspectos serão incorporados ao conteúdo regional, tanto editorial quanto comercial, com a efetiva implantação desta TV digital e sua prometida qualidade, convergência de mídias e interatividade com o telespectador-consumidor?

Para Lindenberg Neto, as expectativas futuras são promissoras para o mercado local: “Acho que diante do mundo novo que estamos vivendo teremos oportunidades muito boas para as TVs locais. Porque a TV, quanto mais interativa se tornar, maior a possibilidade do provedor de serviço se firmar localmente. Então eu vejo que estas ferramentas de TV digital e interação com internet são oportunidades para reforçar ainda mais os laços locais, especialmente em casos como o nosso, que temos televisão, internet, jornal e rádios no mesmo grupo”.

César Bolaño e Valério Britos comentam no livro “A televisão brasileira na era digital” (2007) sobre o uso da tecnologia na interatividade entre

Page 116: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 116 ]

C a r l o s To u r i n h o

o espectador e a operadora, se valendo também dos recursos do televisor. Os autores acreditam que essa convergência irá acrescentar novos conteúdos e custos à programação tradicional:

“A tendência dos modelos novos de televisão aponta para um quadro de financiamento híbrido, variando entre a sustentação via publicidade e o pagamento direto pelo telespectador. Toda essa evolução vai culminar com a TV digital terrestre, que no Brasil não envolverá pagamento por parte do receptor, ainda que a interatividade mais plena possa representar custos para o consumidor (...)”.

Outro aspecto que deve ser considerado para uma avaliação sobre o futuro da televisão e, em particular, das produções regionais – optativas ou não – é a presença do capital estrangeiro na televisão brasileira. A Emenda Constitucional 36, aprovada em 28 de maio de 2002, alterou o artigo 222 da Constituição Federal, e permitiu, pela primeira vez na história brasileira, a participação do capital estrangeiro nas empresas de Comunicação. Uma medida provisória regulamentou a questão limitando em 30% essa participação. Talvez devido à limitação, o que se esperava não aconteceu. Sem ter a garantia de comando do negócio, o capital estrangeiro não veio para o setor. Mas até quando? Nada garante que a lei não poderá ser flexibilizada, ampliando esta participação. Ou que o capital estrangeiro pode voltar a se interessar pelas empresas nacionais ainda que com apenas 30%. E o que de fato mudará se os grandes grupos de mídia estacionarem por aqui? Os conteúdos regionais passarão a ser mais valorizados, vistos como estratégicos, ou, pelo contrário, será acentuada a presença de conteúdo estrangeiro, outrora chamado de “enlatado”? Retomando aqui a experiência do Painel de Domingo e, em particular, de suas séries sobre o Espírito Santo, cremos que não há volta no que se refere à necessária qualidade da produção local e à obstinada cobrança por informação regional por e para uma parcela de público cada vez mais exigente.

Page 117: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 117 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Se associarmos a já instalada presença do capital estrangeiro no mercado nacional das telecomunicações às transformações que estão chegando via convergência midiática, podemos vislumbrar uma concorrência para as produtoras nacionais e locais muito mais imediata. Ou seja, além dos provedores de internet com suas próprias TVs, teremos as TVs via telefones celulares, MP4, Ipod etc. Que conteúdos estas mídias adotarão: local, regional, nacional ou transnacional? Sejam quais forem os conteúdos, a interatividade, a convergência e a portabilidade serão atrativos fortes na sedução do consumidor e no seu grau de exigência diante das programadoras locais de televisão. Portanto, diante de um quadro deste acredita-se que haja grande possibilidade de uma reação das mídias convencionais de televisão, no sentido de ofertar maiores e melhores conteúdos, entre os quais estão as produções regionais com seu caráter diferenciado dos conteúdos estrangeiros. Em outras palavras, as grandes redes, em especial a Globo, tenderão a “flexibilizar” sua grade de programação, independente de exigências legais, ampliando assim os chamados horários “optativos”.

Quanto ao aspecto da legislação, a questão premente é saber se diante do mundo moderno e sua permanente transformação tecnológica, da voz ativa do telespectador, da TV digital e das diversas realidades econômicas das emissoras brasileiras de televisão, reflexo das diferenças sociais encontradas no País, haverá ainda necessidade de se fixar em lei percentuais obrigatórios de produção regional de televisão. Caberá isso ao instrumento legal ou pode ser delegado à livre concorrência entre as emissoras e ao mercado consumidor destes produtos? A questão parece caminhar sem rumo, como tantas outras em que a sociedade civil é colocada à margem do debate. É preciso identificar uma solução que atenda aos interesses dos cidadãos-telespectadores, começando por definir o que é um conteúdo regional a partir de suas características de produção, geração e alcance no espectro. De qualquer forma, não se pode protelar as discussões que se mostram intermináveis no Congresso Nacional.

Page 118: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 118 ]

C a r l o s To u r i n h o

Volta-se à questão: haverá ainda a necessidade de uma regulamentação definitiva para o tema? Em caso positivo, que cuidados serão tomados para evitar que predominem interesses ideológicos que se perderam no tempo, interesses comerciais dos que pregam a substituição do Estado por agentes privados ou os interesses dos políticos que emprestam seus mandatos ao exercício do lobby tarifado? No atual estágio capitalista, o Estado vem sendo substituído com freqüência em várias de suas atribuições. Mas a saída do poder do Estado desta discussão seria pelo entendimento de que não há mais a necessidade de sua intervenção ou porque se estaria transferindo o papel de formulador de políticas públicas aos meros interesses das firmas? Bolaño e Brittos comentam sobre a crescente desregulamentação de setores públicos e alertam para o cuidado com a auto-regulação:

“Não sendo o mercado uma força isenta, no processo de privatização fica uma lacuna social, pela pouca imposição de deveres sociais ao privado. (...) Prevalece, então, uma espiral de desregulamentação, pela qual não ocorre a supressão de toda a intervenção pública, mas a adoção de novas modalidades de regulação nas quais a posição de supremacia do Estado tende a ser assumida pelos agentes privados (...)” (A televisão Brasileira na era digital-2007).

Por outro lado, é preciso que prevaleça o bom senso em toda e qualquer possível regulação a fim de evitar distorções como, por exemplo, as concessões que exigem 3 horas de produção local para regiões que não têm demanda para tal e emissoras que carecem de estrutura suficiente. Ou, de outra forma, como medir se a região tem ou não demanda e se a emissora local reúne ou não condições de atender a lei? São perguntas que, enquanto não forem respondidas, alimentarão a antiga prática nacional do “eu finjo que cumpro a lei e o governo finge que acredita”.

Por fim, a (re)construção de uma TV aberta, com mais qualidade e espaços optativos para a produção local, pode parecer uma tarefa

Page 119: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 119 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

complexa. Ou simples, se encaramos que o conteúdo de qualidade e sem custos para o telespectador é um produto de demanda permanente e, portanto, de amplo mercado consumidor. Como fazer isso é tarefa que se impõe aos profissionais da área, aos executivos das empresas de Televisão e aos estudiosos do Jornalismo e da Comunicação.

Em meio às muitas dúvidas quanto ao futuro da TV aberta e, por conseqüência, das emissoras regionais e de seus programas, resta a certeza de que o telespectador-cliente aguarda por melhorias na qualidade. E é bom que isso não demore, porque sem o telespectador, não haverá clientes e, sem eles, lá se vão os anunciantes...

Há seis anos, um dos entrevistados da pesquisa já citada no início destas considerações registrou a sua opinião numa frase simples, mas carregada de significados:

“Eu gosto de informação. Adoro assistir aos telejornais”.

Não se pode abandonar esse parceiro fiel. A experiência do Painel de Domingo mostrou que, havendo qualidade, ele estará lá, ao seu lado, ainda que no domingo e de madrugada.

Page 120: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo
Page 121: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 121 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

ReferênciasBibliografia consultada:

ALMEIDA, Amylton de; GURGEL, Antonio de Pádua Gurgel. Dr. Carlos: um homem do campo e sua relação com o poder. Vitória: Contexto Jornalismo & Assessoria, 2000.

BOLAÑO, César Ricardo Siqueira ; BRITTOS, Valério Cruz. A televisão brasileira na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes – São Paulo: Paulus, 2007.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988) Brasília:Senado Federal.1988.

BRASIL. Decreto nº 52.795, de 31 de outubro de 1963. Aprova o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 de outubro de 1963, Presidência da República, Subchefia para Assuntos Jurídicos, Governo João Goulart.

BRASIL. Decreto nº 2.108, de 24 de dezembro de 1996. Sobre alteração nos dispositivos dos Serviços de Radiodifusão. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 de dezembro de 1996, Presidência da República, Subchefia para Assuntos Jurídicos, Governo Fernando Henrique Cardoso

Page 122: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 122 ]

C a r l o s To u r i n h o

CAPARELLI, Sérgio. Televisão e capitalismo no Brasil. Porto Alegre, L&PM, 1982.

CARVALHO, Marcelle de Almeida. A evolução do telejornalismo no Espírito Santo: a busca por uma identidade regional. 1999. Monografia (Jornalismo) - Faesa, Vitória,1999.

CRUZ, Dulce Márcia. Televisão e negócio, a RBS em Santa Catarina. Florianópolis: UFSC/FURB, 1996.

FABRI JÚNIOR, Duílio. A tensão entre o global e o local: a desterritorialização da notícia no bloco rede do Jornal Regional. 2006. Dissertação (Mestrado em Jornalismo) - Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, 2006.

JORNAL NACIONAL: a notícia faz história / Memória Globo.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

LINDENBERG FILHO, Carlos Fernando Monteiro. Eu a sorte. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.

MELLO E SOUZA, Cláudio. JN 15 anos de história: Rede Globo de Televisão. Rio de Janeiro, Rio Gráfica, 1984.

MIRANDA, Ricardo; M. PEREIRA, Carlos Alberto. O nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1983.

RANGEL, Vanessa Maia Barbosa de Paiva. Identidades regionais e mídia: Gazeta e Tribuna na disputa do mercado capixaba. In: BARBOSA, Marialva (Org.). Estudos de Jornalismo (I). Campo Grande: INTERCOM, 2001.

SILVA, Carla Pollake. Programação regional de televisão: um estudo de caso comparativo entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul. Monografia de Graduação, Faesa, Jornalismo, 2001.

SOUTO MAIOR, Marcel. 1966: Almanaque TV Globo, pesquisa Memória Globo. São Paulo: Globo, 2006.

Page 123: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 123 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

VIEIRA, Elaine; BOTACIN, Fábio; SANTANA, Roger.TV GAZETA: trinta anos de uma longa história. In: MARTINUZZO, José Antônio ( Org.). Roda VT! A televisão capixaba em panorâmica. Vitória: DIO, 2006.

TOURINHO, Carlos. Jornalismo regional: mudanças à vista. Vitória: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1996. 205 p. il. (Escritos de Vitória, 17).

Entrevistas:• ABREU, Daniela - Editora e apresentadora da TV Gazeta:13 de jun.

2007.

• ALONSO, Ricardo - Gerente de Produção e Programação da TV Gazeta: jun./jul. 2007.

• BUERY, Jorge - Editor de esportes da TV Gazeta: 13 de jun. 2007.

• CALIXTO, Ernesto – Gerente de Programação EPTV Campinas: 23 de jul. 2007.

• CHEQUER, Abdo - Diretor de Telejornalismo, TV Gazeta: 29 de jun. 2007.

• JUNQUEIRA, André - Repórter de Rede da TV Gazeta: 28 de jun. 2007.

• LINDENBERG NETO, Carlos - Diretor-Geral da Rede Gazeta de Comunicações: 13 de jul. 2007.

• MAGALHÃES, Carlos Canela – Diretor Executivo da Rede Gazeta de Comunicações: 16 de jul. 2007.

• OLIVEIRA LIMA, Paulo Sérgio - Comentarista esportivo da TV Gazeta: 4 de jun. 2007

• REBOUÇAS, Edgard - Prof. Dr. da Universidade Federal de Pernambuco: 15 de jun. 2007.

• RODRIGUES, Marco Antonio - Coordenador de Afiliadas da Rede Globo: 12 de jun. 2007.

• SIMÕES, Roberto – Coordenador de Programação RBS TV: 25 de jul. 2007.

Page 124: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 124 ]

C a r l o s To u r i n h o

Sites consultados:• www.redeglobo.globo.com• http://redeglobo3.globo.com/institucional/• www.clicrbs.com.br/rbstv• www.eptv.com.br• www.redegazeta.com.br• www.tvgazeta.tv.br• www.senado.gov.br• www.camara.gov.br• www.ietv.org.br• www.abert.org.br• www.mc.gov.br

Page 125: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

A N E X O S

Page 126: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo
Page 127: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 127 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Cartela usada no estúdio durante apresentação do programa

Entrega de Prêmios Aberje e D. João Batista

Page 128: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 128 ]

C a r l o s To u r i n h o

Certificado de “Excelência” NAB

Certificados ES Terra de Valor e ES, muito prazer!

Page 129: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 129 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Apresentadores no estúdio do PD

Gravações externas em ES, muito prazer!

Anúncio comemorativo ao primeiro aniversário

Page 130: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 130 ]

C a r l o s To u r i n h o

Chamadas para debates

Page 131: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 131 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 132: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 132 ]

C a r l o s To u r i n h o

Notícias na Imprensa

Page 133: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 133 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 134: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 134 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 135: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 135 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 136: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 136 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 137: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 137 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Félix, goleiro da seleção de 70 é convidado do Painel às vésperas da copa de 2002

Page 138: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 138 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 139: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 139 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Juíza da Infância e Juventude, Patrícia Neves, debate os bailes Funk.

Repercussão: Juiz muda decisão após assistir a uma reportagem do Painel de Domingo

Page 140: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 140 ]

C a r l o s To u r i n h o

Decepção: Governo usa a enquete do programa para se valorizar

Gravação da série ES, muito prazer! No convento da Penha, em Vila Velha.

Page 141: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 141 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Presidente do TRE particpa da polêmica: candidatos à reeleição devem deixar seus cargos?

Page 142: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 142 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 143: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 143 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Resultado da eleição promovida pelo Painel para escolher o maior símbolo cultural do Espírito Santo.

Page 144: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 144 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 145: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 145 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Correspondências de telespectadores

Page 146: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 146 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 147: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 147 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 148: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 148 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 149: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 149 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 150: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 150 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 151: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 151 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 152: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 152 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 153: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 153 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 154: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 154 ]

C a r l o s To u r i n h o

Page 155: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 155 ]

JORNALISMO REGIONAL E OPTATIVO NA REDE GLOBO | Programa Painel de Domingo

Page 156: Jornalismo Regional e Optativo na Rede Globo

[ 156 ]

C a r l o s To u r i n h o