jornalismo e justiÇa - portugal, brasil e moçambique · a ideia de que se pode dispensar o...

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JORNALISMO e JUSTIÇA

Convenções e perversões na cobertura jornalística

do caso FACE OCULTA

Estrela Serrano

METODOLOGIA

• Delimitação temporal da análise – anos de 2009 - 2012

• Identificação do corpus:

• Jornais diários: Público, Diário de Notícias, Correio da Manhã; semanário Sol

• Instrumentos medodológicos

• Análise de conteúdo: quantitativa e qualitativa

• Análise do discurso – “amostra de conveniência”

• Depoimentos de jornalistas – directores, editores, repórteres

• Síntese conclusiva

Breve enquadramento do caso

FACE OCULTA

O “caso Face Oculta” foi despoletado em 2009 com uma operação de buscas da Polícia Judiciáriaem vários pontos do país, relacionada com «crimes económicos de um grupo empresarial de Ovar,de tratamento e limpezas ambientais». As investigações identificaram ligações a dirigentes degrandes empresas públicas e a um ex-ministro socialista. A Polícia Judiciária de Aveiro, queinvestigava o caso, registou telefonemas entre este e o então primeiro-ministro José Sócrates, queconsiderou relevantes, os quais versavam a venda do canal de televisão TVI e questões financeirasdo grupo de comunicação social Global Notícias. O Presidente do Supremo Tribunal de Justiçanão validou contudo a gravação e transcrição dessas escutas, declarando a nulidade do despachodo juiz de Instrução de Aveiro sobre a extracção de cópias dessas gravações e ordenando adestruição de todos os suportes.A discussão em torno dessas escutas e da sua anulação, constituiu-se como o principal temanoticioso sobre o Face Oculta no ano de 2009.

Estatuto do Jornalista

(Lei n.º 1/99 de 13 de Janeiro)

(…) Artigo 6.º Direitos

Constituem direitos fundamentais dos jornalistas:

a) A liberdade de expressão e de criação;

b) A liberdade de acesso às fontes de informação;

c) A garantia de sigilo profissional;

d) A garantia de independência;

(…)

(…) Art.º 8.º - Direito de acesso a fontes oficiais de informação

2 - O interesse dos jornalistas no acesso às fontes de informação é sempre considerado legítimo para efeitos do

exercício

do direito regulado nos artigos 61.º a 63.º do Código do Procedimento Administrativo.

3 - O direito de acesso às fontes de informação não abrange os processos em segredo de justiça, os documentos

classificados ou protegidos ao abrigo de legislação específica, os dados pessoais que não sejam públicos dos documntos

nominativos relativos a terceiros, os documentos que revelem segredo comercial, industrial ou relativo à propriedade

literária, artística ou científica, bem como os documentos que sirvam de suporte a actos preparatórios de decisões

legislativas ou de instrumentos de natureza contratual.

Estatuto do Jornalista

(Lei n.º 1/99 de 13 de Janeiro)

(…) Artigo 11.º Sigilo profissional

1 - Sem prejuízo do disposto na lei processual penal, os jornalistas não são obrigados a revelar as suas fontes

de informação, não sendo o seu silêncio passível de qualquer sanção, directa ou indirecta.

(…) Artigo 14..º Deveres

Independentemente do disposto no respectivo código deontológico, constituem deveres fundamentais dos

jornalistas:

a) Exercer a actividade com respeito pela ética profissional, informando com rigor e isenção;

b) Respeitar a orientação e os objectivos definidos no estatuto editorial do órgão de comunicação social para que

trabalhem;

c) Abster-se de formular acusações sem provas e respeitar a presunção de inocência;

FACE OCULTA Visibilidade

na imprensa e na televisão

0

100

200

300

400

500

600

700

200520062007200820092010 2011 2012

IMPRENSA

Público

Correio daManhã

Diário deNotícias

0

20

40

60

80

100

120

140

2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012

TELEVISÃOTelejornal (RTP1), Jornal da Noite (SIC),

Jornal Nacional/Jornal das 8 (TVI)

RTP1

SIC

TVI

FACE OCULTA

Número de peças publicadas em 2009

353407

179

939

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Público Diário de Notícias Correio da Manhã Total

Valid

IMPRENSA

Semanário SOL: 101 peças

AS NOTÍCIAS

As convenções

• As primeiras notícias

• O mandado de busca

• Os temas

• Os actores

• As fontes

• O mimetismo entre órg com social

• As “estórias”

As perversões

• As polémicas no seio da Justiça

• As escutas

• O segredo de justiça

• As fugas de informação

• O “jornalista assistente” no

processo

Outubro de 2009- primeiras notícias

Mandado de busca

(…) a 29 de Outubro, uma quinta-feira, dia em que a história deu um salto gigante. A RTP mostrava um dos mandados de busca e dava conta de pormenores: encontros, datas, almoços, escutas, dinheiro em notas a mudar de mãos. Rapidamente, até ao fim-de-semana, os principais órgãos de comunicação social tinham acesso a um documento precioso, com mais de 50 páginas, que fazia parte dos mandados de busca e do qual fora dada cópia a todos os 30 alvos da operação. Era um extenso relato sobre os crimes imputados, as relações entre os suspeitos e os dias, as horas e os locais em que foram escutados e vigiados. Este documento, e outros similares, alimentaram notícias de diversos jornais durante vários dias, e ainda estão em segredo de justiça.

Expresso, 3. 12.2009

(…) “As fontes que eu procuro nestes casos têm necessariamente de ser, para credibilizar aquilo que damos aos leitores, e para nos defendermos no futuro, fontes documentais. (…) Concursos, documentos de abertura de concursos, emails trocados, queixas, análises do Tribunal de Contas, auditorias, inspeções, etc.(…) “

(jornalista identificado)

Segredo de Justiça divergências entre jornalistas

“(…) A ideia de que se pode dispensar o segredo de Justiça édisparatada. (…) Acho que o jornalista deve seguir o princípiodo interesse público e defender isso em tribunal se for casodisso. (…) pode haver situações, e são muitas, em que eu tenhoacesso ao segredo de Justiça, agora há muitas formas de darinformações que estão em segredo de Justiça, e que nós sósoubemos delas por essa via (…). Às vezes basta não pôr entreaspas, porque se está entre aspas percebe-se que houve umdocumento.”

(Jornalista identificado)

“(…) eu não reconheço o segredo dejustiça. (…) Eu se tiver acesso àinformação, publico-a.(…) É evidente que osegredo de justiça, de alguma forma, nãoprotege a pessoa que está a serinvestigada, aliás o segredo de justiçaexiste, até pela lei, para proteger ainvestigação. Não é para proteger adivulgação de factos por parte dejornalistas.”

(Jornalista identificado)

“(…) a partir do momento em que há uma violação,[do srgredo de justiça] o processo devia estar aberto(…)”.

(Jornalista identificado)

“(…) [o segredo de justiça] é um obstáculo e é uma traficância. É um negócio, é uma forma de tornar quase impossível a tarefa de alguém que procura explicar ao público, aos leitores, o que é que se está a passar num determinado processo. Há sempre alguém, sabe-se lá como, que consegue ter acesso a mais uma coisa que vai fazer barulho. (…)”

(Jornalista identificado)

11,7%

8,9%

8,0%

6,6%

6,3%

5,9%

4,2%

4,2%

3,8%

3,8%

0,0% 5,0% 10,0% 15,0%

Escutas

Certidões

Inquéritos

Medidas de coacção

Arguido Armando Vara

Partidos Políticos

Arguido Manuel Godinho

Parlamento

Declarações da Procuradoria-…

Declarações de responsáveis…

PÚBLICO: TEMAS mais frequentes

10,8%

6,8%

6,2%

5,9%

5,3%

4,0%

4,0%

4,0%

3,6%

3,0%

0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0%

Escutas

Inquéritos

Declarações de responsáveis…

Suspensão de funções

Declarações da Procuradoria-…

Declarações de figuras públicas

Empresas Públicas

Medidas de coacção

Arguido Armando Vara

Partidos Políticos

DIÁRIO DE NOTÍCIAS: TEMAS mais frequentes

17,0%

15,4%

6,6%

4,1%

3,7%

3,3%

3,3%

3,3%

3,3%

3,3%

0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0%10,0%12,0%14,0%16,0%18,0%

Escutas

Inquéritos

Medidas de coacção

Suspensão de funções

Partidos Políticos

Arguido Armando Vara

Certidões

Declarações da Procuradoria-…

Declarações de responsáveis…

Investigação

CORREIO DA MANHÃ: TEMAS mais frequentes

3,1%

3,1%

3,1%

3,1%

3,1%

3,1%

4,7%

6,3%

14,1%

37,5%

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%

Debate quinzenal na AR

Declarações da Procuradoria-Geral da…

Declarações de responsáveis partidários

Programas de Televisão

Segredo de Justiça

Suspensão de funções

Esquema de corrupção

Arguido Manuel Godinho

Partidos Políticos

Escutas

SOL – TEMAS mais frequentes

OS TEMAS2009

2009.10.29 - Armando Vara constituído arguído

2009.11.07 - Surge o nome do primeiro ministro José Sócrates nas escutas telefónicas a Armando Vara.

AS POLÉMICAS NO SEIO DA JUSTIÇA

Correio da Manhã, junho, 2010

O valor-notícia das escutas

testemunhos

“(…) Há muita coisa pessoal que deixamos de fora… Porque achamos que não temos esse direito e é uma invasão de privacidade.No caso Face Oculta, é muito fácil destruir

a reputação de alguém através das escutas.. .(…)”

Jornalista identificado

“(…) No caso do Face Oculta houve uma grande luta jornalística, encabeçada pelo Sol, pela descoberta material da verdade do que estava em causa naquele processo. Mas foi uma luta inglória porque continuamos sem saber o que é que estava nessas escutas telefónicas [entre Sócrates e Vara].

Jornalista identificado

2,0%

2,1%

4,3%

5,1%

5,9%

10,0%

11,2%

11,3%

António Costa Gomes

Vieira da Silva

Noronha do Nascimento

José Penedos

Pinto Monteiro

José Sócrates

Manuel Godinho

Armando Vara

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

2,0%

2,1%

2,9%

3,7%

4,1%

6,3%

8,5%

11,4%

11,5%

14,0%

Manuela Ferreira Leite

José Pedro Aguiar-Branco

Vieira da Silva

Paulo Penedos

Noronha do Nascimento

Pinto Monteiro

José Penedos

Manuel Godinho

José Sócrates

Armando Vara

PÚBLICO

2,1%

2,4%

3,7%

6,4%

8,8%

9,3%

11,4%

16,5%

Noronha do Nascimento

Vieira da Silva

Paulo Penedos

José Penedos

Pinto Monteiro

Manuel Godinho

José Sócrates

Armando Vara

CORREIO DA MANHÃ

2,0%

2,0%

2,0%

2,0%

2,0%

2,6%

3,3%

4,0%

4,0%

9,3%

9,9%

12,6%

18,5%

António Costa Gomes

Ana Paula Vitorino

José Penedos

Paiva Nunes

Vera Jardim

Vieira da Silva

Fernando Negrão

José Pedro Aguiar-Branco

Noronha do Nascimento

Manuel Godinho

Pinto Monteiro

Armando Vara

José Sócrates

SOL

ACTORES2009

,3

,3

,6

,8

1,1

1,4

1,4

1,7

3,1

5,4

5,9

17,3

Participação económica em negócio

Receptação

Peculato (de uso e por erro de alguém)

Outro

Associação criminosa

Violação de segredo de justiça

Suborno

Vários

Crimes contra o Estado de Direito

Crime contra a economia

Tráfico de Influências

Corrupção

PÚBLICO

,2

1,0

1,5

1,7

3,7

3,9

7,9

8,1

12,0

Suborno

Associação criminosa

Violação de segredo de justiça

Crimes contra o Estado de Direito

Outro

Tráfico de Influências

Vários

Crime contra a economia

Corrupção

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

,6

1,1

1,1

1,7

2,2

2,2

3,4

9,5

12,8

Crime contra a economia

Outro

Vários

Suborno

Crimes contra o Estado de Direito

Associação criminosa

Peculato (de uso e por erro de…

Tráfico de Influências

Corrupção

CORREIO DA MANHÃ

Ilícito retratado na peça

1,2

2,3

3,5

3,5

7,0

Crimes contra o Estado de Direito

Vários

Tráfico de Influências

Violação de segredo de justiça

Corrupção

SOL

21,3%

36,7%

13,3%

28,7%

Positivo Neutro Equilibrado Negativo

PÚBLICO -

22,5%

32,5%

14,6%

30,5%

Positivo Neutro Equilibrado Negativo

SOL

22,0%

28,6%

13,8%

35,5%

Positivo Neutro Equilibrado Negativo

CORREIO DA MANHÃ -

5,0%

79,5%

4,7%10,8%

Positivo Neutro Equilibrado Negativo

DIÁRIO DE NOTICIAS -

TOM das peças face aos ACTORES

FONTES e FUGAS DE INFORMAÇÃO

“(…) tudo o que as fontes nos dizem tem de ser verificado por nós. Ou seja, mesmo que uma fonte nos apresente documento – já há casos em que se alega que há documentos falsos, (…) temos de ter cuidado e verificar se a informação é verdadeira ou falsa. E, portanto, mais ainda num processo judicial (…) que é uma coisa que não é clara, creio eu, para a maior parte dos jornalistas e é um assunto sobre o qual não existe muita consciência, tendo em conta os jornalistas com quem eu falo, o processo judicial tem regras próprias que não são as regras jornalísticas. (…)”

(Jornalista identificado)

“As fontes principais, normalmente, pedem sempre o anonimato. Por uma questão de proteção. Porque, normalmente, são pessoas ou entidades que estão muito próximas do ato, ou do negócio, do alegado corrupto, da situação, e têm muito a perder com isso. Têm muito a perder em termos de afetação da sua própria vida.”

(jornalista identificado)

Estruturas partidárias…

Outras fontes do sistema judicial

Advogados ou Ordem dos…

Procuradoria-Geral da República

Governo nacional

Envolvidos em processos…

Organismos económico-…

Fontes da comunicaçãoe TIC

Grandes empresas e…

Fonte anónima/confidencial

53

50

47

42

34

34

27

22

20

14

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

44

42

38

31

24

20

19

19

16

12

Advogados ou Ordem dos…

Estruturas partidárias…

Procuradoria-Geral da República

Governo nacional

Outras fontes do sistema judicial

Envolvidos em processos judiciais,…

Estruturas partidárias dirigentes

Fontes da comunicaçãoe TIC

Grandes empresas e associações…

Supremo Tribunal de Justiça

PÚBLICO

25

24

21

18

14

13

10

8

7

6

Advogados ou Ordem dos Advogados

Estruturas partidárias representadas…

Procuradoria-Geral da República

Governo nacional

Fonte anónima/confidencial

Fontes da comunicaçãoe TIC

Envolvidos em processos judiciais,…

Ministério Público

Grandes empresas e associações…

Presidência da República

CORREIO DA MANHÃ

2,8%

4,2%

4,2%

4,2%

5,6%

9,7%

9,7%

12,5%

13,9%

16,7%

Outras fontes sindicais

Polícia Judiciária

Advogados ou Ordem dos Advogados

Fontes da comunicaçãoe TIC

Envolvidos em processos judiciais, como…

Ministério Público

Fonte anónima/confidencial

Governo nacional

Estruturas partidárias representadas na…

Procuradoria-Geral da República

SOL

FONTES MAIS CITADAS

“(…) Recebemos muitas [denúncias] e nunca publicámos uma. Investigamos. E muitas vezes, a investigação chega a nada. (…) A partir do momento em que há uma denúncia anónima numa instituição, há uma investigação policial. E quando um jornal publica isso, a denúncia ganha credibilidade quando muitas vezes não é coisa alguma.”

(Jornalista identificado)

No…. [jornal identificado] as fontes judiciais concorrem e competem para ver quem prende mais políticos… vale tudo!

(Jornalista identificado)

“(…) No caso Face Oculta, alguém teve oportunidade de por em causa a condenação? Podia haver um trabalho de procura dessa verdade, mas ninguém vai investigar se alguém inocente mas se alguém é culpado. O nosso jornalismo é feito de flashes momentâneos. (…)”

(Jornalista identificado)

JORNALISTAS E FONTES

“(…) O papel das fontes é sempre central, porque é muito difícil o acesso às informações, com risco de que a fonte só diz o que lhe interessa dizer. É a “máquina (…)”

(Jornalista identificado)

CM-Juiz fecha processo a jornalistas do `Sol’ Tânia Laranjo09 de Março de 2010O Tribunal de Aveiro decidiu suspender o estatuto de assistente que tinha sido concedido ao subdirector do semanário `Sol’ O juiz alegou que aquela constituição foi um expediente para o semanário aceder ao processo, designadamente às partes que diziam respeito ao primeiro-ministro.

Público, 07.01.2010

“O que significa ser assistente?O assistente é a pessoa (ou entidade) com interesses processuais específicos a efectivar no processo penal em virtude da violação de algum(uns) do(s) seu(s) direito(s).Processualmente, deve estar representado por advogado (constituído ou nomeado no âmbito do regime de apoio judiciário, pelo ISS), pagar uma taxa de justiça (de que pode ficar isento ou pagar em prestações, se reunir os respectivos pressupostos.O assistente auxilia o Ministério Público e, embora dele autónomo, está subordinado à sua actuação. ”

(fonte: site da procuradoria-Geral distrital do Porto) https://www.pgdporto.pt/proc-web/faq.jsf?ctxId=85&subCtxId=93&faqId=961&show=-1&offset=0

O jornalista “assistente no processo”2010.01.07Jornalista Manuela Moura Guedes e subdirector do semanário Sol Vitor Rainho admitidos como assistentes no processo.

O QUE DIZEM OS JORNALISTAS SOBRE A FIGURA DO “JORNALISTA ASSISTENTE NUM PROCESSO JUDICIAL”

“(…).Juridicamente e legalmente o assistente está a constituir-se como litigante num processo mas tem acesso a informação antecipadamente, como escutas, que depois pode vir a ser destruída. O jornalista não deve litigar com as pessoas sobre as quais escreve. Isso abre possibilidade de se dizer que jornalista está do lado de uma das partes”.

(jornalista identificado)

“(…) Nunca fui assistente. Não vejo vantagem p o trabalho q eu faço. Não quero ficar refém de fontes”

(jornalista identificado)

“(…) No Face Oculta, o jornalista …. [identificado] em determinadas fases do processo fez requerimentos para que esta pessoa ou aquela fossem ouvidas, para que fossem juntos documentos... E é aí que o jornalista se torna realmente, não só formalmente, uma parte do processo e daquela investigação. Torna-se quase um acusador no processo e isso eu não quero para mim. Mas o jornalista para conhecer o conteúdo do processo, se lhe for vedado o acesso ao processo, deve fazê-lo.

jornalista identificado

“(…) é uma forma de violar o segredo de justiça constantemente e nunca acontece nada (…) mas é uma boa forma de conhecer o processo. O assistente não pode publicar nada [mas publica].

(Jornalista identificado)

“(…) ao entrar como assistente de um processo estou a seguir o método de investigação judiciária que eu não controlo, que não é decidido por mim, mas por outras pessoas que têm outros métodos. A polícia procura confissões, procura obter resultados rápidos, muitas vezes há um tom cinzento que à polícia não interessa e que a mim jornalisticamente interessa.“ (…) (jornalista identificado)

Menciona outro OCS

18,7%

Não menciona outro OCS

81,3%

PÚBLICO .

Mencionaoutro OCS

21,1%

Não menciona outro OCS

78,9%

DIÁRIO de NOTÍCIAS

Face Oculta – Ano de 2009Peças com menção de outros órgãos de comunicação social

Mencionaoutro OCS

18,4%

Não menciona outro OCS

81,6%

Correio da Manhã Menciona outro OCS

20,9%

Não menciona outro OCS

79,1%

SOL

,8%

,8%

,8%

,8%

1,7%

2,5%

2,5%

3,3%

4,2%

4,2%

5,0%

6,7%

9,2%

11,7%

12,5%

14,2%

19,2%

Antena 1

Jornal de…

Revista Ops!

TSF

Diário de…

Revista…

SIC

Jornal I

Público

Jornal de…

SIC Notícias

Correio da…

Expresso

RTP

Sol

TVI

LUSA

2,7%

2,7%

2,7%

2,7%

5,4%

5,4%

5,4%

8,1%

10,8%

10,8%

18,9%

24,3%

Diário Económico

Jornal de Negócios

Público

SIC Notícias

Jornal I

Rádio Renanscença

TVI

Correio da Manhã

Expresso

RTP

Sol

LUSA

4,8%

4,8%

9,5%

14,3%

19,0%

47,6%

El Pais

Jornal deNegócios

Revista Sábado

Diário Económico

Público

TVI

SOL

1,2%

1,2%

1,2%

1,2%

2,4%

2,4%

2,4%

3,6%

3,6%

3,6%

4,8%

6,0%

6,0%

7,2%

8,4%

16,9%

27,7%

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0%

Antena 1

Rádio Clube Português

Rádio Renanscença

TSF

Expresso Online

Jornal I

SIC Notícias

Correio da Manhã

Diário de Notícias

Revista Sábado

TVI

Expresso

Jornal de Notícias

Jornal de Negócios

RTP

Sol

LUSA

PÚBLICODIÁRIO DE NOTÍCIAS

CORREIO DA MANHÃ

As “estórias”

Os “heróis” e os “vilões”

AS ESTÓRIASSetembro, 2014

Os “heróis”

Os “vilões”

17 Nov 2013

“(...) Quando há jornalistas que se constituem assistentes em inquéritos criminais para ter acesso a documentos em segredo de justiça que a seguir vêm publicados num abuso de direito cujas consequências qualquer jurista sabe quais são; (Noronha do

Nascimento, Presidente do STJ, no colóquio Justiça e Comunicação, Coimbra, 3 de Junho de 2011)

http://www.stj.pt/presidente/intervencoes/436-coloquiode-coimbra-

“O segredo de justiça em Portugal é uma fraude (…) De todo o lado há violações do segredo de justiça (…) Há um ntadas (…)” assistente que tem acesso ao processo A ou B, a seguir põe no jornal a que pertence o que vem lá, o que é proibido. Até hoje não vi que acontecesse nada. Participa-se, é arquivado mas divulga (…). A maior parte das notícias que violam o segredo de justiça são escolhidas e apontadas”. (Pinto Monteiro SIC)

21 Fev. 2011

A SENTENÇA

2014.09.05 –36 arguidos; 11 foram condenados a prisão efectiva

SENTENÇA

Corrreio da Manhã-Setembro, 2014

Vara em choque com pena de prisão efetiva.

Antigo ministro foi condenado a cinco anos

de prisão no âmbito do processo 'Face Oculta'.

CONDENADOS2014.09.05

Síntese conclusiva

A análise qualitativa e quantitativa da imprensa confirma que na cobertura do caso Face Oculta, os jornalistas se

mantiveram fiéis a um conjunto de convenções e rotinas profissionais, como sejam:

1. O enfoque das notícias nos actores políticos e nos ilícitos de que eram suspeitos, em detrimento de uma

análise do fenómeno da corrupção e das suas consequências no funcionamento da democracia e no

desenc«volvimento do país. Esta constatação confirma as teorias segundo as quais os jornalistas interessam-se

sobretudo por “acontecimentos” e não por “problemáticas”. A maioria das peças analisadas é personalizada e

enfatizando os atores políticos.

- Essa personalização é visível no facto de o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, se ter tornado o segundo

actor mais presente nas peças sobre o Face Oculta a partir do momento em que um dos arguidos, o ex-ministro

e ex-dirigente socialista Armando Vara, foi interceptado a falar ao telefone com José Sócrates. ,

- Os dois políticos dominaram as notícias a partir dessa altura, à frente do. principal responsável pelo

abertura do processo –o empresário da sucata Manuel Godinho.

Síntese conclusiva

2. A cobertura jornalística do Face Oculta revela uma forte dependência dos jornalistas face aos agentes da

justiça e ao processo judicial, visível na diminuta, senão ausente, investigação jornalística, limitando-se os

repórteres em grande medida a reportar dados da investigação judicial.

3. Os jornais analisados assumiram em alguns casos uma função de denúncia, com enfoque no julgamento moral

e na procura de culpados. O estatuto de “assistente no processo” transformou os jornalistas que o requereram

em “auxiliares da justiça”, em particular o semanário Sol e o diário Correio da Manhã.

4. O semanário Sol foi o jornal que mais influenciou o o agendamento e o enquadramento dos temas ligados

ao caso Face Oculta por parte dos outros órgãos de comunicação social incluídos no estudo sendo o mais citado e o

que menos citou outros meios de com. social, constituindo-se como o media dominante na formatação de uma

determinada visão do caso e dos seus protagonistas principais.

5. Para além do SOL, é possível identificar fenómenos de mimetismo entre órgãos de comunicação social com

três deles a dominaram a agenda mediática– o já citado SOL, a TVI e o Expresso - criando um fluxo

noticioso circular que limita o pluralismo e favorece a instrumentalização.

Síntese conclusiva6. A análise revela um peso considerável de fontes oficiais, nomeadamente, declarações de representantes de

instituições oficiais e de corporações com interesses no processo, como sejam os advogados dos arguidos e membros

dos partidos políticos.

7. A existência de um número não desprezível de notícias sem menção de fonte, traduzida em frases como “o jornal teve

acesso”, contraia o princípio de que a regrano jornalismo é a identificação das fontes e o anonimato a excepção.

8. A análise confirma- o papel das fontes como “promotoras” de notícias quer através de comunicados e declarações

em “on” quer de notícias em “off ” para as quais os jornalistas encontraram estratégias de citação, nomeadamente para

fazerem face a violações do segredo de justiça.

9. De um modo geral, as peças são de tom neutro, o que demonstra que os jornalistas se mantêm fiéis a uma das

convenções históricas do jornalismo – a neutralidade perante os actores. Contudo, em alguns casos as peças de tom

negativo igualam as de tom neutro, o que significa o jornalista tomou directa ou indirectamente posição face aos

actores. A análise identifica os jornais Sol e Correio da Manhã como os que publicaram maior número de peças de

tom negativo para os actores.

Síntese conclusiva10. A presença forte das escutas como elemento noticioso é outra marca da cobertura do Face Oculta, o que

levanta problemas de impossibilidade de controle por parte do jornalista quanto à confirmação da informação e

ao exercício do contraditório, contrariando a regra que obriga à contrastação das fontes e à verificaçãoda informação.

11. O segredo de justiça e as fugas de informação são temas muito presentes na cobertura deste caso,

identificando-se diferenças nas estratégias usadas pelos jornalistas para publicarem informação coberta pelo segredo

de justiça sem que possam ser acusados de violação. Aliás, essas diferenças são visíveis não apenas nas peças mas nos

depoimentos dos jornalistas ouvidos neste projecto.

12. A cobertura do Face Oculta proporcionou ao jornalistas o relato de “estórias” sobre os bastidores da

investigação judicial, a que não faltaram os “heróis” e os “vilões”, para além de polémicas no seio das hierarquias do

poder judicial que levaram em alguns casos, os jornalistas a quebrarem a regra da imparcialidade e a tomarem partido.

Fim da Apresentação

Muito obrigada

Estrela Serrano