jornalismo do papel ao tablet

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 Edição 789A Especial Dia do Jornalista - 7 de abril de 2011 A exemplo do que faz todos os anos, J&Cia há um mês vem preparando esta edição especial sobre o Dia do Jornalista  (7 de abril), cujo tema é Do papel ao tablet: desaos da transição . Coordenada por Pedro Venceslau, repórter do Brasil Econômi- co, com participação de Karina Padial (ex-revista Imprensa), ela mostra quanto o avanço da tecnologia tem mexido com as empresas, os veículos, a audiência e, em última instância, com a vida dos próprios jornalistas. Como contraponto, traz um artigo em que Dirceu Martins Pio, que foi diretor da Agência Estado e da Gazeta Mercantil, defende o jornal em papel, em- bora critique com veemência seu conteúdo. Não temos dúvida de que esta edição histórica, que chegará às mãos de todos os jornalistas brasileiros, será guardada, debatida, esquadrinhada. Boa leitura! Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli A velocidade fulminante da tec- nologia deslocou o eixo da nossa prossão de uma forma que ainda não deciframos. Pode parecer es- tranho ou paradoxal, mas quanto mais tecnologia, menos tempo temos para reetir sobre isso. Hoje, qualquer cidadão do mundo pode derrubar uma capa do New York Times. Não é preci- so ser jornalista, falar inglês ou conhecer alguém importante. Basta estar no lugar certo, na hora certa e ter alguma noção de tec- nologia. Por meio de um celular, o manifestante que luta contra o ditador, a testemunha ocular de uma onda gigante ou o sujeito que foi extorquido pelo político pode postar em segundos suas experiências nas redes sociais. É tão fácil quanto fazer uma chama- da telefônica. Uma vez na rede, o processo de viralização  cuida do resto. Como bem deniu Julian Assange, criador do Wikileaks, “a internet é a maior máquina de espionagem do mundo”. Os jovens que estão entrando agora nas redações aprendem isso no berço. Antes mesmo de entenderem o que é um lide, eles já sabem empacotar a notícia em diversas plataformas. Não é na sala de aula que se conhece o poder das mídias sociais. “O jornalismo deixou de ter o mo- nopólio da informação”, diz Caio Do papel ao tablet : desaos da transição Um homem, uma redação Por Pedro Venceslau  e Karina Padial Túlio Costa, um dos fundadores do UOL, nesta edição especial do Jornalistas&Cia que celebra o nosso dia. O e-mail que ele opera até hoje foi o primeiro do portal mais poderoso da América Latina. Para a moçada, as histórias de antigos fechamentos – ou nem tão antigos assim – são espanto- sas. Não é lenda que se fumava nas redações e cada mesa tinha o seu próprio cinzeiro. Nem que ha- via 100 digitadores e 50 revisores na redação do Estadão dos anos 80, tampouco que a paginação era feita manualmente e com ditadura do jornalismo brasileiro, “a ditadura da arte”. Pois é, garoto(a), nós nem sempre soubemos exatamente quantos toques teríamos que es- crever antes de ligar computador. E por falar em garotos(as), com a credencial de ser o melhor obser- vador da mídia, Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, trata de colocar os pingos nos is: “Hoje se aprende muito a operar as máquinas, e pouco a língua portu- guesa. To dos os dias eu encontro pelo menos dez erros graves de graa nos grandes jornais”.

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jornalismo Do Papel Ao Tablet

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  • Edio 789A Especial Dia do Jornalista - 7 de abril de 2011

    A exemplo do que faz todos os anos, J&Cia h um ms vem preparando esta edio especial sobre o Dia do Jornalista (7 de abril), cujo tema Do papel ao tablet: desafios da transio. Coordenada por Pedro Venceslau, reprter do Brasil Econmi-co, com participao de Karina Padial (ex-revista Imprensa), ela mostra quanto o avano da tecnologia tem mexido com as empresas, os veculos, a audincia e, em ltima instncia, com a vida dos prprios jornalistas. Como contraponto, traz um artigo em que Dirceu Martins Pio, que foi diretor da Agncia Estado e da Gazeta Mercantil, defende o jornal em papel, em-bora critique com veemncia seu contedo.

    No temos dvida de que esta edio histrica, que chegar s mos de todos os jornalistas brasileiros, ser guardada, debatida, esquadrinhada.

    Boa leitura!Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli

    A velocidade fulminante da tec-nologia deslocou o eixo da nossa profisso de uma forma que ainda no deciframos. Pode parecer es-tranho ou paradoxal, mas quanto mais tecnologia, menos tempo temos para refletir sobre isso.

    Hoje, qualquer cidado do mundo pode derrubar uma capa do New York Times. No preci-so ser jornalista, falar ingls ou conhecer algum importante. Basta estar no lugar certo, na hora certa e ter alguma noo de tec-nologia. Por meio de um celular, o manifestante que luta contra o ditador, a testemunha ocular de uma onda gigante ou o sujeito que foi extorquido pelo poltico

    pode postar em segundos suas experincias nas redes sociais. to fcil quanto fazer uma chama-da telefnica. Uma vez na rede, o processo de viralizao cuida do resto. Como bem definiu Julian Assange, criador do Wikileaks, a internet a maior mquina de espionagem do mundo.

    Os jovens que esto entrando agora nas redaes aprendem isso no bero. Antes mesmo de entenderem o que um lide, eles j sabem empacotar a notcia em diversas plataformas. No na sala de aula que se conhece o poder das mdias sociais. O jornalismo deixou de ter o mo-noplio da informao, diz Caio

    Do papel ao tablet: desafios da transio

    Um homem, uma redaoPor Pedro Venceslau e Karina Padial

    Tlio Costa, um dos fundadores do UOL, nesta edio especial do Jornalistas&Cia que celebra o nosso dia. O e-mail que ele opera at hoje foi o primeiro do portal mais poderoso da Amrica Latina.

    Para a moada, as histrias de antigos fechamentos ou nem to antigos assim so espanto-sas. No lenda que se fumava nas redaes e cada mesa tinha o seu prprio cinzeiro. Nem que ha-via 100 digitadores e 50 revisores na redao do Estado dos anos 80, tampouco que a paginao era feita manualmente e com estiletes. De cinco horas, ns passamos a demorar 40 minutos para fazer a capa. Hoje, a prova da capa sai em segundos, pontua o designer Pena Placeres, um dos responsveis pela mais longa

    ditadura do jornalismo brasileiro, a ditadura da arte.

    Pois , garoto(a), ns nem sempre soubemos exatamente quantos toques teramos que es-crever antes de ligar computador. E por falar em garotos(as), com a credencial de ser o melhor obser-vador da mdia, Alberto Dines, do Observatrio da Imprensa, trata de colocar os pingos nos is: Hoje se aprende muito a operar as mquinas, e pouco a lngua portu-guesa. Todos os dias eu encontro pelo menos dez erros graves de grafia nos grandes jornais.

    Pois , Dines, nem tudo per-feito... Muito ao contrrio.

    Nesta edio especial dedicada ao nosso dia, Jornalistas&Cia ouviu um time ecltico para saber qual a temperatura do debate.

  • Edio 789APgina 2

    24 horas por dia, 7 dias por semanaEles apostaram todas as fichas no primeiro jornal brasileiro produzido para iPad(Leonardo Attuch e Joaquim Castanheira)

    Parabns pelo Dia da Imprensa!AT THE SPEED OF IDEAS

    EspEcial Dia Do Jornalista

    Antes de lanar a tev no Brasil, em 1950, Assis Chateubriand tratou de importar 200 aparelhos para garantir uma audincia mni-ma sua nova empreitada. No ano seguinte, quando as agncias Mc-Cann Erickson e J.W. Thompson comearam a produzir publicidade para a nova mdia, j existiam sete mil aparelhos espalhados em lares brasileiros. quela altura, j no havia dvida: estava em curso uma revoluo. No ano passado, ou seja, 60 anos depois daquela efemride, a Apple organizou uma megaconferncia em San Fran-cisco para anunciar o lanamento do iPad. Em apenas 28 dias, um milho de aparelhos foram vendi-dos em todo mundo. O recorde anterior pertencia ao iPhone: um milho em trs meses.

    Foi o produto com a penetra-o mais rpida em toda a hist-ria, enfatiza Joaquim Castanhei-ra. Ele era diretor de Redao da revista Isto Dinheiro quando esse fenmeno aconteceu. Apesar de nunca ter sido um fantico por

    tecnologia, Castanheira procurou o colega Leonardo Attuch para, juntos, sonharem alto. Depois de muita prospeco no mercado, a dupla pediu demisso da Editora Trs e lanou, no ltimo dia 14 de maro, o primeiro jornal totalmen-te produzido para a plataforma iPad do Pas, o Brasil 247. A velocidade dos tablets por aqui, alis, impressionante. Calcula--se que j existam no mercado 250 mil. At o fim do ano, esse nmero deve chegar a marca de 1,5 milho, diz.

    Como o aplicativo e, no caso do Brasil 247, sempre ser grtis, todo o faturamento do veculo vem da publicidade. Os primeiros a aderirem novidade, que demandou um investimento de R$ 4 milhes, foram a Hyundai e a Tecnisa. Castanheira e Attuch no temem o futuro. A publici-dade est migrando rapidamente do impresso para o digital. A acei-tao foi muito boa. Nos Estados Unidos, a fatia publicitria j maior no digital, analisam. Leonardo AttuchJoaquim Castanheira

    A aposta no produto leva em conta sua pouca espessura, que permite um manuseio confortvel, e a resoluo de tela, que melhor em relao ao computador. No iPad, os 15 jornalistas do Brasil 247 (o nome uma brincadeira com 24 horas por dia, 7 dias por semana) publicam matrias e, com elas, postam vdeos e/ou sequncias de fotos que mudam com um leve toque dos dedos.

    Decidimos criar o Brasil 247 depois que empresrios de comu-nicao, como Rupert Murdoch,

    criaram publicaes especficas para essas novas mdias. O Daily de certa forma nos inspirou, afir-ma Attuch. Apesar de comandar uma redao altamente tecnol-gica, ele pontua que no basta ser um expert digital para sobreviver nos novos tempos: Nossos edito-res tm muitos cabelos brancos. E alguns, como eu, j no tm nem mais cabelos. Estamos falando de colocar contedo no contedo. Por isso, experincia sempre importante.

    O contato inicial de Caio Tlio Costa com as avassaladoras renovaes tecnolgicas do jornalismo aconteceu em 1983, quando ele encabeou o proces-so de informatizao da Folha de S.Paulo, o primeiro grande jornal da America Latina a abandonar as mquinas de escrever. Saram as Olivettis e entraram os terminais de computador. O jornalista pas-sou a mandar o texto direto para a mquina fotocomponedora, o que eliminou a reviso. A novidade assustou a velha guarda. Como sabiam que havia sempre algum na retaguarda, muitos jornalistas tinham entrado em uma zona de conforto perigosa. Antes, o texto ia para algum que digitava e depois era revisado. Com o tempo, pararam, por exemplo, de colocar acento. Houve uma certa preguia em escrever corretamente, lembra Caio. As redaes ganharam muito tempo com as novas mquinas, mas os empregos de reviso foram totalmente suprimidos. No Brasil, esse processo aconteceu com certa tranquilidade; j na Inglaterra houve uma forte reao sindical, que atrasou a renovao.

    Atualmente, Caio Tlio um dos scios da MVL, tradicional agn-cia de comunicao corporativa, fundada pelo amigo Mauro Lo-pes. A seguir, a entrevista que ele deu a J&Cia:Jornalistas&Cia Voc profes-sor de jornalismo. Qual o perfil dos focas que esto deixando a universidade hoje em dia?Caio Tlio Costa Meus alunos de graduao na Csper Lbero nunca viram mquina de escrever e so todos multitarefa. Existe hoje uma forma diferente de apreender o conhecimento e as novas geraes lidam muito bem com isso. O jornalismo deixou de ter o monoplio da informao. A sociedade ainda precisa da fun-o de mediao entre o fato e o leitor, e vai continuar precisando. A maneira de fazer jornalismo no est em crise porque precisamos do mediador. Mas qualquer um pode postar uma informao. Isso tirou a exclusividade do po-der de mdia do jornalista. Hoje, qualquer pessoa, empresa ou instituio tem esse poder. Um vdeo no YouTube ou um post no Facebook ganham espao na rede tradicional.

    J&Cia Qual o poder de mobili-zao dessas mdias?Caio Determinados fatos assu-mem propores incontrolveis. Basta ver o papel das mdias sociais no Egito. Todos se orga-nizavam via e-mail, Twitter ou Facebook. Pelas mdias sociais eram dadas as palavras de ordem, as datas e locais dos eventos. A nova mdia independe das insti-tuies ou partidos. Usam novas mdias para fazer revoluo. Esta-mos vivendo uma revoluo to importante quanto a propiciada por Gutenberg.J&Cia O que mudou no modelo de negcio do jornalismo com as novas tecnologias?Caio Os jornais esto penando para conseguir reinventar seu modelo de negcio. As novas tecnologias trazem desafios at ticos e morais em relao ao mo-noplio da informao. Elas pem de ponta-cabea um sistema que estava estabelecido. A indstria da comunicao est em busca de um modelo de negcio que inclua e d conta das transforma-es pelas quais est passando.J&Cia Acredita que os tablets so o futuro?

    Caio O tablet funciona bem para revistas segmentadas, mas para jornal ainda no h escala.J&Cia Como as mdias sociais esto mudando a comunicao corporativa e poltica?Caio A MVL fez a campanha da Marina Silva, que teve 20 milhes de votos. Uma parte significativa desses votos veio com a internet. Foi a campanha com mais pene-trao nas mdias sociais. Ganhou o tempo que no teve na tev.J&Cia Trabalhe-se mais hoje do que na era das Olivettis?Caio Eu sempre trabalhei muito. Continuo assim. Romantiza-se muito o estresse.

    pinga-fogoO jornalismo deixou de ter o monoplio da informao(Caio Tlio Costa)

    Voc s tem no congresso mega Brasil de comunicao

    Apoios das mais importantes instituies da Comunicao Corporativa do Brasil

    Bea Rod

    rigues

  • Edio 789APgina 3

    Outro dia ouvi de um colega, Jorge Caldeira, autor da biogra-fia do Visconde de Mau, que graas s novas tecnologias um estudante de Histria ou um jo-vem jornalista tem acesso a mais documentos, dados e informa-es do que Srgio Buarque de Hollanda teve na sua vida inteira. Laurentino Gomes conta esse caso para dimensionar o quanto a tecnologia o ajudou na produo dos seus dois livros, 1808 e 1822. Com a experincia de quem pas-sou quase trs dcadas dentro de redaes, entre elas as de Esta-do e Ve ja, Gomes afirma que a internet uma aliada preciosa, principalmente se a pessoa sou-ber o que est buscando, como era o seu caso durante a pesquisa para os livros.

    Mas no foi s nesse processo que contou com a colaborao de novas ferramentas: Procuro sempre ter uma estratgia multi-mdia [de distribuio], de modo a desenvolver formatos para dife-rentes pblicos. A comprovao

    est em seu prprio site, no qual os livros so ofertados em duas verses de e-book.

    com propriedade que Go-mes avalia: Poucas atividades humanas enfrentam desafios to grandes e contraditrios quanto o jornalismo. Segundo analisa, as inovaes na produo, edio e distribuio transformaram radi-calmente a rotina nas redaes e, da mesma forma, o comporta-mento e os hbitos do consumi-dor. O resultado dessas mudan-as a agilidade no trabalho dos reprteres e a incorporao do pblico no trabalho de reporta-gem. Esse processo, no entanto, lida com perdas significativas: A internet facilita a apurao, mas tambm gera um empreguia-mento geral. Muitos jornalistas deixaram de ir para a rua e ficaram refns da tela do computador. H tambm a questo da super-ficialidade com que a informao tratada: Em muitos casos, [a informao] ficou mais leve do que ar. Perdemos substncia.

    Na viso dele, as novas tecno-logias no trouxeram s pessoas o tempo para pensar, criar e viver como se imaginou inicialmente. Ele lembra que os reprteres de hoje tm mais acesso informa-o de boa qualidade, mas pon-dera que isso, infelizmente, no resultou em jornalismo de melhor qualidade e nem em melhor qualidade de vida para o prprio jornalista, alm de ter provocado uma conseqncia ruim em termos de mercado de trabalho: o enxugamento das redaes que todos ns constatamos nos ltimos anos.

    Outra perda que Laurentino constata a transferncia cada vez menor de conhecimento das antigas para as novas geraes, no por boicote ou desinteresse, mas sim pelo prprio ritmo ace-lerado de produo, que impede essa boa prtica, fundamental para a construo de um jornalis-mo de qualidade. Apesar disso, lembra que no se deve confundir o futuro do jornalismo com o do

    papel, este, sim, com os dias contados. O contedo de livros, jornais e revistas, segundo sua anlise, continuar to relevante quanto sempre foi: O futuro vai depender do empenho, talento e inovao de cada profissional. , portanto, um momento decisivo.

    EspEcial Dia Do Jornalista

    A internet facilita a apurao, mas tambm gera um empreguiamentoLaurentino Gomes procura sempre ter uma estratgia multimdia na distribuio de seus livros. Sua meta desenvolver diferentes formatos para diferentes pblicos

    Ricardo Anderos foi pauteiro da Folha Ilustrada no incio da d-cada de 1990. Com as mos sujas de carbono, recebia informaes de todas as partes do mundo pelo teletipo de cada agncia de notcias . A tecnologia avanou. Anderos com ela. Hoje, diretor de Mdias Sociais da MTV Brasil e acaba de lanar o novo site da emissora e uma programao hipermiditica que conecta tev, web e mobile. Do tempo da mquina de escrever, s as recordaes de quando tinha que vasculhar todo o arquivo do jornal em busca da grafia correta do nome de algum. Antenado com as mudanas, diariamente ele lida com um pblico vido por novidade e que quer cada vez mais interagir com a informao. No meio de toda essa agitao, ele concedeu a J&Cia a entrevista que se segue:

    Jornalistas&Cia A mudan-a mais recente em termos de tecnologia a distribuio de contedo?

    Ricardo Anderos Sim e no. Se falarmos que s na distribuio, vamos continuar com a ideia de que h um polo central emissor, mas isso est mudando porque antes era feito por determinados meios. Ago-ra temos as redes, e no s a

    internet, que vm alterando a gerao da notcia e tambm a sua disseminao.

    J&Cia De que forma isso atinge as redaes?

    Anderos Hoje quase no existe mais o conceito de exclu-sividade, porque as coisas caem na rede. Isso uma alterao muito importante. Antes, quando um jornal dava uma matria em primeira mo, o outro s ia tratar do assunto no dia seguinte. Ago-ra questo de minutos. Onde est a diferena? Na capacidade de anlise e na maneira como se filtram as informaes. Era muito mais confortvel h 20, 25 anos, pois naquela poca o nico lugar em que voc ficava sabendo de tudo era na redao. Eu era pauteiro e recebia aquele monte de papis com carbono onde estava toda a informao. Eu lia, organizava e distribua para os reprteres. Agora a informao est na mo de todo mundo, entra pelos poros, est no ar. Os desafios so outros.

    J&Cia A tev, pelo que se constata, demorou mais para aceitar essas mudanas, para lanar seus portais, marcar pre-sena no universo online. Por qu?

    Anderos Mudana algo dolorido e s se muda porque obrigado. Os jornais foram os pri-meiros a serem impactados pela internet, h cerca de 15 anos, e no toa que o principal portal do Pas de um jornal. Na poca, o modem era discado e mesmo com a velocidade baixa j se pas-savam textos. Ento, o impresso teve que se reposicionar. Com o aumento da banda e a possibili-dade de transmisso de outros dados, os prximos atingidos fo-ram as grandes gravadoras, cujo modelo de negcio teve que ser alterado. Agora, a bola da vez a tev. Com a introduo da banda larga, a pessoa realmente pode abrir mo da tev e procurar a programao na web ou pelos celulares, no YouTube, por exem-plo, que de 2005.

    J&Cia A audincia fica divi-dida em diversas plataformas...

    Anderos O que ocorre uma multiplicao de platafor-mas que se complementam e se acomodam, dividindo ao mesmo tempo as verbas publicitrias e a ateno das pessoas. Mas, por outro lado, aumenta o tempo que cada indivduo gasta com mdia. H um conceito muito difundido nos Estados Unidos que o da

    dieta de mdia, ou seja, cada pessoa tem a sua. Por exemplo: voc no consome nada de jor-nal, mas consome rdio e tev. Outra pessoa consome web e jornal e assim por diante.

    J&Cia De que forma o mer-cado lida com isso?

    Anderos Na verdade, eu avalio que as possibilidades do jornalismo aumentaram. O mer-cado, claro, ficou muito mais competitivo e com isso ganha o jornalismo, que se v obrigado a se aprimorar e melhorar sempre.

    A informao est no ar(Ricardo Anderos)

    Divulgao

    Divulgao

  • Edio 789APgina 4

    O ano era 1985 e as redaes ainda no imaginavam o que esta-va por vir. Eu cobria o Nutico e o rdio era minha nica companhia para identificar os jogadores, diz Ana Dubeux. Ela se diverte comparando isso s facilidades da atual cobertura esportiva, com seus recursos ilimitados: Diferentemente do reprter de antigamente, os de hoje tm que saber empacotar a mesma notcia em vrios meios.

    Uma das primeiras, se no a primeira, mulher a cobrir futebol em Pernambuco, Ana tambm a primeira a integrar o Condo-mnio dos Dirios Associados, o grupo de comunicao criado por Assis Chateaubriand, o Chat. Como editora-chefe do

    Correio Braziliense, ela exige de sua equipe um olhar abrangente e multimdia. Mas reconhece: As demandas so maiores e, consequentemente, tambm o estresse. Antes, o fechamento no sofria interferncias. Hoje, tem informao nova chegando a cada 25 segundos. Naturalmente o risco maior, o que exige muito mais ateno.

    Ana conta que passa o tempo todo conectada no Twitter, mas no uma fantica por tecnolo-gia. Segue 300 pessoas, mas no seguida por no ter o hbito de ficar postando. Na prtica, faz como muitos de sua gerao, que usam a rede de microblogs apenas como instrumento de apurao.

    Na redao do Correio, a mdia de idade de 25 anos. Anti-gamente, revela. era de 40 ou 50. Hoje o pessoal mais ex-periente est no fechamento. Crise entre geraes? Muito ao contrrio. A convivncia entre elas fantstica. No adianta ter todas as ferramentas se no tiver conhecimento e memria. Ao acionar a memria, Ana compara o jornalismo de hoje com o de tempos atrs: Antes, passva-mos mais tempo preocupados com uma srie de outras coisas. Hoje, ficamos duas horas dentro do carro, mas podemos escrever a matria e mandar de l mesmo. O jornalismo est mais compe-titivo.

    O empacotador de notcias Nos primrdios de sua carreira no Jornal do Commercio, em Recife, Ana Dubeux cobria jogos e treinos de futebol usando apenas uma ferramenta alm do bloquinho: um radinho de pilha

    Com o advento da internet e a difuso dos portais noticiosos, os grandes grupos de comunicao viram-se diante de um dilema: como tratar a convivncia entre o online e o papel? O desafio sempre se mostrou complexo. De um lado, os reprteres tinham urgncia em pr suas notcias no ar o mais rpido possvel, para sair na frente da concorrncia. Do outro, a equipe era obrigada a zelar pelo lide do dia seguinte. Desenhava-se no horizonte um ambiente de competio interna agressiva e inevitvel. A sada encontrada pela maioria foi sim-plesmente fundir fisicamente as duas plataformas.

    A Folha no faz mais distino entre equipes do papel e do on-

    line. Cada plataforma tem seus prprios parmetros de edio e suas prprias condies de fe-chamento. Procuramos respeitar esses parmetros no momento de distribuir a produo e a edio do noticirio, explica Vinicius Mota, secretrio de Redao de Produo da Folha de S.Paulo. Segundo revela, o jornal teve de mudar drasticamente sua rotina com as novas plataformas. Pas-sou a ter mltiplos fechamentos ao longo do dia, sobretudo nas plataformas digitais; organizou a equipe tanto na produo quanto na edio para dar suporte a esse novo ciclo de produo jornalsti-ca; e comeou a produzir conte-dos adequados a cada plataforma.

    Quanto ao modelo de negcio,

    Vinicius no acredita que as novas mdias abriro caminhos para a chegada de uma nova gerao de empresas no mercado. As marcas tradicionais, segundo entende, esto vencendo essa batalha. E justifica sua afirmao lembrando que so ainda os veculos e as marcas tradicio-nais os lderes de produo e audincia de notcias nas novas plataformas.

    Quando o tema a relao entre as novas e as velhas gera-es, Vinicius se mostra otimista. E assim est por entender que tanto do lado dos jornalistas quando dos consumidores de informao a idade no tem sido um obstculo intransponvel para a absoro das novas tecnologias.

    Todos, segundo entende, j se habituaram com a modernidade, com as permanentes inovaes, e esto a as pesquisas detectan-do, por exemplo, a expanso das vendas de tablets, smartphones e que tais para a populao adulta e madura.

    Mltiplos fechamentosComo as novas plataformas mudaram a rotina da Folha de S.Paulo(Vinicius Mota)

    Tudo tem acontecido muito rpido. O ponto de partida de algumas das melhores e mais ricas discusses acadmicas so-bre a tecnologia no jornalismo o poder das mdias sociais. fato que elas colocaram produtores e consumidores de contedo do mesmo lado. Mas como afetaro o modelo de negcio tradicional da imprensa?

    O pontap inicial desse debate foi dado em 2005 por Axel Bruns, autor do livro Gatewatching e da expresso produsers, mistura de produtores e usurios, em in-gls. Quem vive conectado sabe que, com o advento das mdias sociais e da interatividade radical existente nos veculos online, os editores perderam a prerrogativa

    de decidirem sozinhos o que ou no notcia. As mdias so-ciais refletem o que as pessoas querem consumir. Assim como os rankings dos mais lidos e co-mentados, elas funcionam como um termmetro, diz Magaly Prado, doutoranda em Comuni-cao e Semitica pela PUC-SP e professora das faculdades Csper Lbero, ESPM e FIAM. Essa a explicao para o fato de o reality show Big Brother Brasil ser uma das pautas mais frequentes dos portais brasileiros. Se eles do audincia, ento durma-se com um barulho desses.

    A professora Magaly, autora do livro Webjornalismo, uma das mais completas obras brasileiras sobre o tema, conta, ainda, que

    a profuso de novas plataformas forou o mercado a se adaptar: Existem hoje no jornalismo car-gos novos, como os de editor e analista de mdias sociais. O aluno j sai da faculdade sabendo ope-rar em todas as frentes. Imagine se os grupos de comunicao resolvessem mandar aos eventos um jornalista para atualizar cada plataforma: smartphone, iPad, site, jornal, webtv....

    Mas essa profuso tem efeitos colaterais considerveis. Os focas so obrigados a trabalhar cada vez mais e mais rpido. Desde o reprter abelha (experincia da TV Cultura, que unificou as ativi-dades de reprter e cinegrafista) existe essa reclamao. Na era ps-convergncia, os reprteres

    saem para a rua pensando em vrias plataformas. Eles cum-prem mais de uma funo, mas ganham o mesmo salrio.

    Mdias sociais, audincia nem tanto Nesses tempos em que todos seguem e so seguidos, e as notcias jorram ininterruptamente em mltiplas plataformas, os pensadores do jornalismo tm pela frente a difcil tarefa de entender e teorizar as mudanas. (Magaly Prado)

    EspEcial Dia Do Jornalista

    Ruan Esteves

  • Edio 789APgina 5

    Sem se intimidar com a cur-va decrescente nas tiragens internacionais de jornais, que, felizmente, ainda no chegaram ao Brasil, ao menos na mesma intensidade, o Grupo RBS fez h um ano e meio um importante in-vestimento em seu parque grfi-co, adquirindo uma nova rotativa. Deve ter sido o nico jornal no mundo a investir de forma consi-dervel em equipamento grfico nesse perodo, destaca Ricardo Stefanelli, diretor de Redao do Zero Hora, principal jornal do Sul do Pas e carro-chefe do grupo em plataforma impressa.

    O investimento obviamente levou em considerao os lu-cros que essa rea de negcios continuam a proporcionar para o grupo e tambm resultado, segundo Stefanelli, da deciso da organizao em manter-se inova-dora e atualizada tanto nas mdias tradicionais quanto nas novas mdias: Nosso site leva o leitor

    para o jornal e o jornal devolve para o site. No nos intimidamos diante das tecnologias porque entendemos que seu papel de complementaridade.

    Para ele, a discusso sobre o fim do papel mais uma con-versa de jornalistas do que de leitores. Isso no quer dizer que no seja um entusiasta das novas ferramentas: Voc levava dias para conseguir uma informao, um telefone. Hoje, todo mundo tem celular e as pessoas podem ser localizadas por e-mail. Por isso, acredita que, muito mais do que a distribuio, o que mudou mesmo foi a captao. E d como exemplo a atividade da fotografia: Se antes isso era exclusividade desse profissional, que saa pau-tado, fazia as imagens e retornava ao jornal para a edio, hoje, j no o , porque a imagem do flagrante na imensa maioria das vezes produzida pelo pblico. O avano da tecnologia, segundo

    Stefanelli, facilitou e incrementou a aproximao dos veculos com seu pblico: As pessoas esto o tempo todo interagindo, influindo e participando, esclarece, ressal-vando que isso torna ainda mais necessria a mediao jornalsti-ca, para dar relevncia ao que de fato seja notcia.

    No Zero Hora, os profissionais das diferentes plataformas tra-balham num nico ambiente e o portal fica no corao da reda-o. E embora os jornalistas no sejam obrigados a ser multimdias e a dominar diversos suportes, so constantemente estimulados a isso.

    Segundo Stefanelli, sempre na vanguarda, o Grupo RBS, alm de sua atuao editorial em diversas mdias (jornal, televiso, rdio e web), tambm tem-se notabi-lizado por negcios no campo da tecnologia. E deve anunciar em breve, como adiantou a este J&Cia, uma parceria com uma

    das principais universidades gachas a fim de promover o que ele chamou de uma simbiose tecnolgica: Talvez venhamos a produzir at aplicativos. Vamos estudar essa possibilidade e isso indito.

    Uma nova rotativa na RBSNa era dos tablets, jornal gacho aposta na complementaridade (Ricardo Stefanelli)

    No foi s a tecnologia que alterou radicalmente o processo industrial do jornalismo e a vida dos jornalistas. Como diria o ator e dramaturgo Antonio Abujamra, a vida moderna trnsito, dia til, no domingo. Segundo da-dos da Companhia de Engenharia de Trfego (CET), a velocidade mdia dos veculos em So Pau-lo de incrveis 11,7 km/h. E a capital paulista tem nada menos do que 61 veculos para cada 100 habitantes. No preciso recorrer a metforas para saber que o copo est prestes a transbordar. Mas o que isso tem a ver com o jornalismo?

    Com as credenciais de quem pe na rua todos os dias um dos mais importantes jornais do Bra-sil, Ricardo Gandour, diretor de Contedo do Grupo Estado, traa

    um paralelo: A tecnologia melho-rou muito, mas, paradoxalmente, o horrio de fechamento est cada vez mais apertado. O jornal tem que chegar cada vez mais cedo na casa das pessoas, por-que o estilo de vida delas mudou muito. Se chegar s 7 da manh j tarde. Hoje existe mais trnsito. E mais cadernos....

    Mas, assim como a concorren-te Folha de S.Paulo, o Estado adaptou-se bem aos novos tem-pos. As redaes online e em papel passaram por um processo de integrao inteligente, com as equipes trabalhando prximas. Internamente, a tecnologia pro-piciou mais acesso informao e quebrou barreiras. Antigamen-te, s o aqurio do chefe tinha informao do mundo inteiro, diz Gandour. Mas ele no gosta mui-

    to de comparar o estilo de vida dos jornalistas de hoje com os da era pr-internet. No tenho saudosismo. No era melhor nem pior. Nem mais nem menos feliz.

    Seu primeiro e-mail foi criado em 1995 e o fax ele conheceu em 1989, na Folha, quando era reprter de Economia e Neg-cios. O fax era maravilhoso. Agilizou tudo. At ento, a edi-toria de Internacional recebia telex. Em 1994, eu passava fax pelo computador. A tecnologia de produo de matrizes melhorou muito. Infografia, o tipo de fontes e o acabamento tambm. Mas os horrios industriais, parado-xalmente, pioraram em alguns casos.

    Gandour tambm no gosta de profetizar sobre o fim do jornal em papel. No me arrisco a fazer

    profecias. Ns vamos fazer a internet virar o papel e vice-versa. O mtodo de trabalho independe da tecnologia. O suporte papel ainda tem a convenincia de ser itinerante. A portabilidade me-lhor, porque no tem bateria, tela e no emite energia que cansa os olhos.

    A vida trnsito, dia til. No domingoPara Ricardo Gandour, diretor de Contedo do Grupo Estado, a tecnologia melhorou muito, mas os horrios de fechamento, paradoxalmente, pioraram

    A grande mudana mal come-ou, prev Thomaz Souto Cor-ra, vice-presidente do Conselho Editorial e consultor das revistas da Editora Abril. Mesmo fascina-do com o que tem visto no iPad, ele no se ilude: Estamos ainda engatinhando no aprendizado de como utilizar os suportes digitais, especialmente os smartphones e os tablets, que sero, talvez, os mais utilizados em um futuro sem data.

    Com a propriedade de quem ocupa um dos cargos diretivos mais importantes da imprensa nacional, Corra no tem dvida de que estamos nos encami-nhando para um sistema em que as empresas no produziro um veculo prioritrio. A realidade, para ele, ser a utilizao de todas as mdias disponveis, que chegaro ao usurio quando e onde ele quiser, e no suporte que tiver mo. Esse sistema vai

    concretizar a noo de que no existir mais fechamento.

    Em seu prognstico, o conceito de periodicidade ser revisto, j que todos os veculos trabalharo 24 horas por dia, sete dias por semana. Para ele, no entanto, jornais e revistas ainda sero um negcio rentvel durante um bom tempo, mesmo que ningum seja capaz de determinar quanto. Ao mesmo tempo, um novo papel para essas duas mdias estar sendo desenvolvido com o co-nhecimento das possibilidades reveladas pelos novos suportes, declara, acrescentando que sero os novos consumidores, cada vez mais digitais, que vo definir o que vai ficar no papel e o que ir para as telas. Por ora, o conse-lheiro da Abril v que os sites de veculos impressos esto, cada vez mais, tornando-se um com-plemento importante do suporte principal, embora reconhea que

    ainda falta um longo caminho a percorrer.

    Corra tambm avalia o papel das redes sociais, que, em sua opinio, esto abrindo uma nova perspectiva na produo jornals-tica. Ela consiste, principalmente, na agilidade na divulgao de infor-maes: Se por um lado agrega velocidade e variedade, por outro levanta questes de credibilidade que ainda exigem muita discus-so, ressalva. Por isso, ele acre-dita que quanto mais informao e fontes de notcias existirem, mais os jornalistas sero necessrios para investigar, ordenar, analisar e editar: Talvez os jornalistas venham a ser mais importantes do que jamais foram, opina, com a certeza que os profissionais sero os responsveis pela credibilidade do contedo.

    Em relao aos investimentos em tecnologia, o executivo da Abril acredita que os veculos

    brasileiros esto longe do equi-lbrio. Corra recorre metfora de que as empresas de comuni-cao esto com os ps em duas canoas: uma em que a prioridade garantir resultados com as m-dias existentes, e a outra na qual o objetivo a aposta em mdias futuras. dos problemas mais difceis. Mas temos que estar nas duas, muito atentos para no perder o equilbrio.

    Se a canoa no virar...Para Thomaz Souto Corra, vice-presidente do Conselho Editorial e consultor das revistas da Editora Abril, os jornalistas ainda esto engatinhando no aprendizado dos suportes digitais

    EspEcial Dia Do Jornalista

    Divulgao

    Alexandre Oliveira

  • Edio 789APgina 6

    Quando o designer Pena Place-res comeou a carreira na Editora Abril, em 1967, a produo grfica das revistas da casa era, segundo suas palavras, uma loucura. Seu primeiro emprego foi nas infantis, onde tinha a misso de tirar as palavras em ingls da boca de Pato Donald e cia. Ele lembra que nos primrdios as fotos eram cortadas na tesoura e os textos jorravam aos borbotes. Sempre sobrava texto. Vem da a expresso cortar pelo p. Uma grande inovao da poca foi a linha Duque, criada por George Duque Estrada, ento paginador de Veja. Ele fez um clculo do nmero de linhas em cada coluna das revistas. A lauda passaria a ter 20 linhas de 32

    toques. Com isso, os estouros ficaram menores, lembra.

    Mas a grande mudana, se-gundo Pena, aconteceu quando as feras dos departamentos de arte da Abril se uniram para colocar ordem na casa. Elifas Andreato, Mario Cafiero, Pedro Oliveira, Lu Amarlis, Ricardo Amadeo, Carlos Grassetti e Pena, entre outros. Alm de cole-gas, eram todos bons amigos de bar. Ns comeamos primeiro a desenhar a pgina para s de-pois o reprter encaixar o texto. Esse processo dura at hoje, conta Pena. Pode-se dizer que foi assim que surgiu a temida ditadura da arte, regime pelo qual o reprter/redator sabia de antemo exatamente quantos

    toques teria para escrever sem choro, nem vela.

    Foi em 1985, quando morava na casa do amigo Paulo Markun, que Pena conheceu seu primeiro computador, um DOS 283. Fui um dos primeiros a comprar. Fi-quei encantado. Eu podia mudar o entrelinhamento sem recompor na hora de montar. Ele lembra de cabea os programas que foi conhecendo no meio do caminho: Carta Certa, PageMaker, Quark Express, In Design...

    Convocado a fazer uma linha do tempo informal, a memria no falha: A Gazeta Mercantil foi o primeiro jornal brasileiro a impri-mir simultaneamente em vrios estados por meio de ondas curtas. Mas na diagramao, as revistas que foram a vanguarda.

    Pena conta que as mudanas tecnolgicas ao longo do tempo foram muito mais radicais na rea grfica do que nas redaes. De cinco horas, passamos a demorar 40 minutos para fazer a capa. Hoje, a prova da capa sai em segundos.

    Atualmente trabalhando como diretor de Arte do Brasil Econ-mico, onde tambm comanda a

    internet e a tev na web, Pena celebra a fase de ouro vivida pela redao: A mesma pgina pode ser mexida simultaneamente por vrias pessoas. E apesar de lamentar os empregos perdidos no meio do caminho por digita-dores e diagramadores que no se adaptaram ao mouse, celebra o presente. E segue sendo, mais do que nunca, um entusiasta da ditadura que ajudou a implantar e que ns, os outros mortais do texto, sempre tentamos derrubar.

    A ditadura da arteDe cinco horas, passamos a 40 minutos para fazer a capa. Hoje, a prova da capa sai em segundos (Pena Placeres)

    Poucos jornalistas destacariam a imaginao como o valor mais importante dentro de uma reda-o. Mas para Geneton Moraes Neto, reprter da GloboNews, exatamente ela que derruba barreiras e espalha fascas. Me-tafrico, ele diz que esse produ-to, a imaginao, est em falta porque o monstro cinzento da mesmice e da burocracia termina esmagando tudo em volta com suas patas tristes. Um dos de-feitos, garante, a demora dos jornais impressos em reagir ao (saudvel!) terremoto que, j faz anos, vem agitando os alicerces das redaes. Questiona-se se faz sentido um jornal publicar, em primeira pgina, uma informao que 98% dos leitores j recebe-ram antes. Logo responde: No. Mas publicam. De vez em quando, meu demnio da guarda me sopra no ouvido: Os jornais s vezes do a impresso de que esto se dirigindo a marcianos

    que acabaram de pousar na Terra, porque para os terrqueos aquilo no acrescenta quase nada.

    Para Geneton, que j atuou como editor-executivo do Jornal da Globo e do Jornal Nacional e editor-chefe do Fantstico, esta-mos no meio de uma formidvel revoluo. E um de seus gran-des efeitos benficos, segundo diz, que cada pessoa pode ser (e ) um emissor de informao e opinio: O que mudou foi a es-cala: antes, havia poucos falando para muitos. Hoje, h muitos fa-lando para muitssimos, afirma, completando que h blogs, sites e twitters melhores, mais atraen-tes, vvidos, originais e imaginati-vos do que boa parte daquilo que os jornalistas produzem.

    A boa notcia para o jornalis-mo que os jornalistas profissio-nais vo ser sempre necessrios, porque fazer uma entrevista, hie-rarquizar informaes, destacar o que indito, bolar um bom ttulo,

    criar uma chamada atraente, to-das essas coisas exigem uma for-mao tcnica mnima. Alm disso, para ele, deveramos soltar fogos para comemorar as transformaes em relao distribuio de informao, que hoje instantnea. O resultado positivo dessa revoluo, segun-do entende, que a inacreditvel quantidade de informaes em circulao faz com que a quali-dade do que se oferece tenha um peso decisivo na conquista do consumidor. Diante disso, sua convico de que os jornais impressos no iriam desaparecer j est abalada. Os nmeros de acesso s verses online dos jornais, exemplifica, j so muito superiores aos de leitores das verses impressas: possvel que resistam com outro rosto e outra funo: tiragens reduzidas e contedo diferenciado que, obviamente, no repetir o que a internet e a tev j disseram. Ou

    eles se reinventam ou bye, bye Gutenberg.

    Para Geneton, vai sobreviver, entre velhas e novas geraes, quem entender que nem sem-pre os resultados de uma tem-pestade so ruins: Uma chuva pesada, daquelas capazes de inspirar versos picos de Bob Dylan, pode servir, sim, para tirar entulho da estrada, revigorar as quedas dgua, reinventar as cachoeiras. Que venha, ento, a tempestade.

    Ao vivo, de MarteO que mudou foi a escala: antes, havia poucos falando para muitos. Hoje, h muitos falando para muitssimos (Geneton Moraes Neto)

    EspEcial Dia Do Jornalista

    Um informativo queMostra o vaivm profissional e as notcias relevantes do setorE chega semanalmente a profissionais de todo o Pas, a saber:

    Jornalistas dos cadernos especializados dos principais jornais brasileiros

    Jornalistas das revistas especializadas em todo o Brasil

    Jornalistas dos sites especializados no setor automotivo

    Jornalistas que cobrem o setor automotivo pela grande imprensa

    Profissionais das reas de Comunicao e Marketing das indstrias e instituies

    Quem fera se encontra aqui...Mais de 1.200 leitores todas as semanas

    Para anunciar, ligue (11) 5572-9700 ou mande e-mail para [email protected]

    Voc s tem no congresso mega Brasil de comunicao

    Crme de la Crme um painel produzido por feras sobre o melhor do Encontro

    TV Globo

  • Edio 789APgina 7

    Algumas palavras dizem muito sobre voc...

    Parabns pelo seu dia!7 de abril - Dia do Jornalista

    Porta-voz ticoCorajosoPesquisador

    Investigativo

    Autntico

    DinmicoCurioso

    Ousado

    CmpliceSensvel

    Equilibrado

    ClaroImparcialPersistente

    Sbio

    Ouvinte

    O primeiro emprego de Ricar-do Xavier em uma redao foi como auxiliar de liberador do Estado. Em 1985, ele tinha 25 anos e sua labuta diria consistia em pegar as laudas das mqui-nas de escrever e lev-las aos digitadores. Estes, por sua vez, tinham a misso de digitar laudas s cegas em uma mquina sem monitor. Parecia uma mquina de supermercado, lembra. Logo Xavier foi promovido e se tornou o 98 digitador do jornal. A cada hora trabalhada, a gente tinha dez minutos de descanso. A tendinite era muito comum. Muitos se aposentaram por causa disso, conta.

    Xavier recorda-se de que a redao daqueles tempos era muito mais povoada, poluda e lenta que a de hoje: Fumava-se muito e todas as mesas tinham o seu prprio cinzeiro. O processo de produo era bem mais lento e demandava muito mais gente.

    Eu lembro que o Estado chegou a ter nove mil funcionrios. Hoje, 1.500 pem um jornal na rua . A vida para os reprteres na era pr-Google era bem puxada. O chamado pescoo acabava ao meio-dia. A turma terminava e ia logo comer feijoada no Bar do Pilo, lembra. Em tempo: os pescoes atuais nunca ultrapas-sam as duas da madrugada.

    Seu degrau seguinte foi ser o cara da emenda, mais conhecido como pestapeiro. Para os no iniciados, o past-up consistia em colar as lminas do texto (com cera) e depois envi-las para a fotocomposio. Pode parecer estranho, mas as matrias che-gavam impressas em papel foto-grfico, no tamanho de colunas definidas. O pestapeiro recortava as tiras com estilete e ajustava as colunas no espao. Naquela po-ca, errar custava muito caro: Em 1987, gerar um fotolito custava US$ 700.

    Nos anos 1990, quando os computadores finalmente chega-ram s mesas dos jornalistas e o emprego de digitador foi pratica-mente extinto, o jornal precisou de um novo tipo de profissional para suporte de tecnologia, que mais tarde seria chamado de Help Desk. Xavier tornou-se um deles: Comecei a treinar os usurios, primeiro no DOS, depois no Windows 3.1.

    Atualmente, ele uma espcie de caixeiro-viajante no Brasil da empresa que produz um dos mais modernos sistemas de editorao do mundo, o Hermes. Criado na Itlia em 1994, chegou ao Brasil em 1997, na verso 3.5, e foi usado pela primeira vez no Esta-do. Xavier conta que foi a grande revoluo grfica do jornal mais antigo do Pas. A verso que hoje o ex-pestapeiro ajuda a instalar nas redaes brasileiras de O Dia, do Rio de Janeiro, O Popular, de Gois, e Dirio do Nordeste,

    de Fortaleza, entre outros que adotaram o sistema a 10.2: A integrao total. Todos da editoria e da chefia podem trabalhar simultaneamente na pgina. Entre jogar o texto e sair na impressora, em 20 minutos se fecha uma pgina. E voc ainda pode fazer alteraes enquanto o jornal roda. A expresso parem as mquinas foi abolida.

    Do past-up ao Hermes Com os novos sistemas de editorao, a velha mxima parem as mquinas perdeu totalmente o sentido (Ricardo Xavier)

    Ricardo Xavier com o Hermes

    Nereide Beiro, diretora de Jornalismo da Empresa Brasil de Comunicao (EBC), nos deu uma entrevista por telefone de Braslia, onde vive e trabalha. Tudo o que falou foi gravado pelo notebook. Impossvel ignorar que uma das principais transfor-maes que a tecnologia trouxe ao jornalismo, seno a maior, foi o fim das barreiras fsicas entre jornalistas e fontes. Globaliza-o da informao, diz Nereide sobre essa revoluo dentro das redaes.

    Deixamos os grandes e pesa-dos equipamentos e os comple-xos mtodos de envio de infor-maes, que muitas vezes de-pendiam de caminhes e avies para transportar as fitas, e hoje temos disposio pequenas ferramentas que permitem trans-misso imediata de dados e at uma entrada ao vivo em um pro-grama de televiso. Voc pode

    gerar informaes de qualquer lugar em que estiver e a qualquer momento, entusiasma-se.

    A tecnologia barateou sobre-maneira os custos de produo jornalstica e ampliou de forma relevante as oportunidades de cobertura, em qualquer parte do planeta. Munidos de webcams, cmeras fotogrficas ou celula-res, os reprteres desempenham papel central no s na produo como tambm na distribuio de contedo. Alis, no s eles, mas o pblico em geral. As pessoas esto imbudas de um esprito mais colaborativo, mais democrtico, afirma, diante da recordao de que conseguir uma boa imagem de determinado acontecimento era trabalho de toda uma equipe de fotgrafos e hoje pode vir de qualquer cidado.

    Nereide acredita que outra grande contribuio que os no-vos tempos trouxeram para o

    jornalismo foi o aumento do com-promisso com a verdade. Isso porque ficou muito mais fcil para as pessoas descobrir eventuais imprecises ou mesmo mentiras e jogar isso nas redes sociais. Situao que obviamente obriga os veculos de comunicao a re-dobrarem os cuidados com tudo o que veiculam.

    Mas no s isso. As mdias sociais, no seu entender, propi-ciaram um importante grau de autonomia para as pessoas, como atestam os vrios movimentos de que se tem notcia em vrias partes do mundo, como no Norte da frica e mesmo no Oriente Mdio. No h como impedir que a comunicao flua, a despeito dos poderosos de planto. E tam-bm os veculos j perceberam isso e sabem que s continuaro relevantes se mantiverem a cre-dibilidade.

    Ela afirma ainda que em breve

    os jovens eliminaro a interface papel como suporte de informa-o para consolidar e aprimorar o jornalismo online. Eles esto muitos ligados imagem, ao movimento e, principalmente, urgncia da notcia, avalia. Por isso bom correr antes que seja tarde.

    A globalizao do jornalismo(Nereide Beiro)

    EspEcial Dia Do Jornalista

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  • Edio 789APgina 8

    A tecnologia propiciou novas formas de se obter informao, diz Eduardo Tessler, diretor para o Brasil da Innovation Me-dia Consulting, ao lembrar do recente caso da invaso aos morros do Rio de Janeiro, onde as melhores informaes eram dadas por meio do Twitter, diretamente de uma lan house. O agente era o cidado. Pela primeira vez a informao veio de vencedores e vencidos e isso indito, a tecnologia permitiu, entusiasma-se.

    Baseado nessas possibilidades, Tessler afirma que fundamental que jornais e revistas entendam seus novos papis no universo da informao. Jornais no servem para dar notcia, sentencia. As breaking news, como classifica, devem ficar a cargo de mdias mais rpidas. O jornal tem o dever de explicar, de analisar, de interpre-tar, avalia, fazendo a ressalva de que o jornalismo no corre risco de perder sua importncia porque a informao um dos principais valores da sociedade.

    Ele categrico ao dizer que reprteres e reportagens tambm mudaram com a incorporao da tecnologia. Ela deve servir ao jor-nalismo, ser til, ajudar no apro-fundamento das questes e na melhoria do fluxo de informaes jornalista-cidado, defende.

    E no poupa de crticas as empresas jornalsticas que se valem da tecnologia, das novas ferramentas que agilizam a pro-duo editorial, para cortar gente, reduzir equipes, deciso que em geral atinge o cerne do veculo e do prprio jornalismo: a credibi-lidade. Segundo salienta, um contrassenso ver as empresas jornalsticas investir os tubos em tecnologia e economizar na coisa mais importante para o jornalis-mo: jornalistas e boas condies de trabalho.

    Tessler tambm considera que os veculos no Brasil no esto acompanhando o ritmo das mu-danas e nem adequando seus produtos nova realidade, fato que atribui ao esprito conser-vador da atividade. Para ele,

    preciso que se entenda, por exemplo, que os tablets chegam como uma forma inteligente de driblar os altos custos da produ-o industrial e da distribuio, que representam 50% do ora-mento.

    A partir da experincia de atuar em consultorias de projetos em pases como Espanha, Mxico, Grcia, Ucrnia, ndia e Estados Unidos, ele garante que no exis-te frmula para as redaes se estruturarem de forma a integrar a produo de contedo. Entre as variveis esto o grau de aber-tura da equipe, ambies dos acionistas, quantidade de jovens no grupo, estratgia e ousadia: Se o pensamento das redaes brasileiras linear, monomdia, como exigir comportamento mul-timdia? Ser, no mximo, muitas mdias, mas jamais multimdia.

    O melhor exemplo de conver-gncia que Tessler diz conhecer o do grupo Nordjyske Medier, de Aalborg, na Dinamarca: Ali h uma verdadeira redao multi-mdia. A apurao , desde o in-

    cio, pensada em multiplataforma e a edio por veculo. Ou seja, a chegada de contedo nica, a sada mltipla. Sobre as ex-perincias no Brasil, questiona: Quais? Na verdade, nunca se fez nada realmente multimdia por aqui. Um dos motivos, acre-dita, o fato de as empresas no permitirem aos mais jovens, que tm pensamento no-linear, o exerccio da imaginao multim-dia. A publicidade, assinala, est bem mais avanada nesse ponto.

    Procuram-se experincias multimdia(Eduardo Tessler)

    Cristiana Lbo o tipo de pro-fissional que jamais se despluga. Mas, no fervilhante universo da poltica de Braslia, ela se recusa a cair na tentao de apurar apenas escorregando os dedos na tela de um iPhone. Quando o celular (que vale por uma redao) fica desligado, ela certamente est tendo uma boa conversa ao p do ouvido. Cristiana no cede porque sabe que a evoluo do jornalismo tem tornado o consu-midor mais crtico em relao s informaes que consome: Ele tambm quer opinio, tem inte-resse em saber a origem de uma matria ou de outra. No compra uma informao se vier contami-nada com uma opinio tenden-ciosa, porque tem a possibilidade de conferir em outras fontes. E fazer um jornalismo de qualidade, nesse sentido, segundo entende, o que se espera das empresas jornalsticas, porque ningum em s conscincia acredita que

    a sociedade abrir mo desse caminho para se informar, por mais influentes e ramificadas que sejam as mdias sociais, que comeam a ser cada vez mais utilizadas (e a seu ver, com muita legitimidade) por rgos dos cha-mados Trs Poderes.

    O questionamento que ela faz em relao ascenso do jornalis-mo online sobretudo em relao pressa com que as matrias so produzidas; preciso mais ateno. E d at um exemplo pessoal de como a tecnologia alterou sua vida: Quase que dia-riamente tento dormir aps ler os jornais do dia seguinte. Mas o fato de dormir mais tarde no altera a jornada do dia seguinte, que sempre comea cedo. Ou seja, perdem-se horas preciosas de sono para estar bem informado. E no h outra alternativa, porque considero impossvel algum jorna-lista viver sem estar diariamente conectado internet para ficar

    por dentro do que acontece ao seu redor e no mundo.

    O duelo entre o jornalismo online e o impresso que existiu durante os primeiros anos da con-solidao da internet, segundo Cristiana, j foi encerrado: Mui-tas vezes se falou: Isso est em um site, mas no foi confirmado. Isso mudou e muitas notcias hoje so anunciadas primeiramente em sites, diz, completando que a mdia tradicional teve que cor-rer atrs da notcia instantnea, criar seus portais e aprender a no guardar suas notcias para o dia seguinte.

    Ela avalia ainda a mudana em relao ao mercado de trabalho, j que passamos pela fase de ter apenas jornalistas principiantes na produo online. Agora, no mais.

    Diante de tudo isso, Cristiana defende que o jornalismo brasilei-ro dos melhores do mundo por-que apresenta muita diversidade:

    claro que precisamos sempre melhorar, abrir espaos. Mas isso vem ocorrendo com o uso das novas mdias. A informao, acredita, cada vez mais fcil, mais barata e sem qualquer filtro.

    A era do reprter cidadoPara Cristiana Lbo, a sociedade tem um papel cada vez mais ativo na produo de contedos

    no seu Observatrio da Im-prensa que os colegas encontram uma pausa para respirar e refletir sobre o que e como estamos produzindo diariamente. Apesar de reconhecer que as mdias sociais tm o seu valor, Alberto Dines tem uma postura crtica quanto utilizao indiscriminada delas. Tenho o maior respeito, mas isso no tecnologia. Ele mesmo revela no ter pacincia para seguir e ser seguido o tempo todo e dispara: Isso uma baba-quice. Seu ceticismo em relao aos microblogs e afins se estende internet: uma fantasia. Os portais brasileiros so todos muito ruins. Eles no fazem competio com a mdia impressa.

    Para Dines, a tecnologia deu

    uma certa arrogncia aos jornalis-tas: Eles se esqueceram de que por melhor que seja mquina, ela na verdade burra. Outro mito que critica a exigncia de uma superqualificao tecnolgica para que se tenha sucesso na pro-fisso: Hoje se aprende muito a operar as mquinas e pouco a lngua portuguesa. Todos os dias eu encontro pelo menos dez er-ros graves de grafia nos grandes jornais. Antes, os erros no eram tantos porque havia o revisor.

    Alm do descuido com as regras bsicas da ortografia, os novos jornalistas tambm pade-cem, segundo entende, de uma ausncia crnica de repertrio: A diferena de idade entre o chefe e o subordinado cada vez

    menor. Antigamente, o universo etrio era todo representado na redao. Hoje, o chefe tem 24 anos e o reprter, 20. O cara olha uma foto antiga do Jos Alencar e no tem idia de quem o su-jeito ao lado dele. Falta cultura e conhecimento. Eles no leem o prprio jornal.

    Outra questo que aponta a do padro de qualidade, que, a seu ver, est caindo porque as novas geraes esto mais preocupadas em se dar bem do que em fazer bom jornalismo. E o exemplo que cita o do uso intensivo do telefone, em vez da entrevista olho no olho: As pessoas ficam fascinadas pelas engenhocas e no se do conta do quanto elas falham. Se essa

    entrevista tivesse sido feita pelo celular, a ligao teria cado pelo menos duas vezes e a conversa seria toda picotada. Se a tecnolo-gia no absolutamente perfeita, tambm o produto final do jorna-lismo no to melhor hoje do que era antigamente.

    Os portais brasileiros so muito ruinsQuando o jornalismo a notcia, no existe um nome mais apropriado para entrar na pauta do que Alberto Dines

    EspEcial Dia Do Jornalista

    Divulgao

    Marcelo Pereira

  • Edio 789APgina 9

    O papel rene determinadas caractersticas que sero capazes quase de eterniz-lo como meio de transmisso de informaes. Seu desaparecimento s poder ser causado por incompetncia de uso e nunca por obsoletismo.

    A primeira caracterstica que deve ser ponderada o tempo de uso do papel como mdia. Se desconsiderarmos o perodo da supremacia do pergaminho, an-terior descoberta do papel com fibras vegetais pelo oficial chins Cao Lun (ano 105 a.C.), podemos dizer que o hbito de consumo de informaes via papel tem pelo menos 2116 anos. Um hbito to antigo, to enraizado na cultura de quase todos os povos do planeta, no pode ser extinto assim de re-pente, do dia para a noite. Se esse uso desaparecesse, haveria um contingente incontvel de pessoas em todo o mundo que sentiria mui-ta falta dele. uma verdade que me parece incontestvel.

    Outra caracterstica que torna o papel um meio importantssimo o seu carter documental. Tevs, rdio, telas de computadores so meios fluidos, fugazes, que no fixam e nem perenizam a informa-o. No estimulam a releitura ou a leitura das entrelinhas e nem anli-ses mais concentradas da informa-o. O hbito antigo de consumo do papel tambm estabeleceu sua forte credibilidade: Est escrito, verdade. Est documentado.

    No existe sequer ponto de com-parao entre a credibilidade que o papel inspira nos consumidores e a credibilidade de seu hoje principal concorrente, o meio eletrnico, que serve para difuso de todo tipo de contedo, falso, verdadeiro, apcrifo, maledicente, despudora-do, a favor ou contra a sociedade. A internet suscita sempre a pergunta: Ser que verdade ou coisa da internet?

    Dizer que a tela dos computa-dores permite um uso idntico ao

    do papel falso. Comea que o exerccio de leitura de notcias no computador cansativo, s vezes desconfortvel. Os arquivos de in-formaes nos computadores tm ainda problemas de segurana. No so nada confiveis. E voc se v sempre diante da necessidade de abrir uma janela de tempo du-rante o trabalho, durante os estu-dos, durante o lazer para informar--se atravs de um dos aparelhos eletrnicos. Em palavras mais simples, computadores, rdios e tevs so meios adequados para notcias rpidas, de atualidades, o chamado hard-news.

    S o papel, alm disso, nos ofe-rece essa magnfica flexibilidade de uso, bastante restrita em qualquer outro meio, ainda que notcias nos sejam enviadas por laptops e celulares. Um jornal ou uma revista voc dobra, pe debaixo do brao, leva para o banheiro, para o carro, consome em viagem de carro, de avies, de navios ou de

    helicpteros , sem interrupo de sinal. Pode recortar o assunto que lhe interessa, repass-lo a quem quiser; colar os recortes na parede da casa, lev-los para o trabalho, ler enquanto toma sol na praia.

    pensar no leitorS o papel se adapta com per-

    feio ao tempo disponvel para consumo de informaes do lei-tor, pois os outros meios exigem exatamente o contrrio, ou seja, ns que temos de nos adaptar ao tempo que eles nos impem. Se no tenho de ler o jornal pela manh, lerei ao meio-dia ou noite; se perder o horrio de um jornal televisivo ou um noticirio do rdio, perderemos as informaes e ponto final. Se disponho de um computador ou celular, no posso consumir informaes se estou em trnsito por regies com sombrea-mento de sinal.

    No bastasse nada disso, voc tem ainda a incrvel capacidade do

    EspEcial Dia Do Jornalista

    1455 Johannes Gutenberg in-venta uma impressora com tipos mveis de metal.1609 Primeiro jornal com certa regularidade produzido na Ale-manha.

    1861 O padre brasileiro Fran-cisco Joo Ribeiro inventa a m-quina de escrever, mas no leva a

    fama. Em 1873, a Remington d incio sua produo. A Olivetti s surge mais tarde: sua primeira mquina foi lanada em 1910.

    1894 Guglielmo Marconi in-venta o telgrafo sem fio.

    1900 No dia 3 de junho, outro padre brasileiro, Roberto Landell

    de Moura, faz a primeira transmisso sem fios da voz humana no mundo, na cidade de So Paulo, entre a mais tradicional de suas avenidas, a Pau-lista, e o Morro de San-tana. Em maro do ano seguinte, ele patenteou seu invento no Brasil. Mas, a exemplo do pa-dre Ribeiro, tambm no foi reconhecido. Landell foi igualmente precursor da televiso.

    1904 Ira Rubel cria a mquina de impresso offset, nos Estados Unidos.

    1951 Univac I o primeiro computador a ser comercializado. Cada uma das 46 unidades custa-va US$ 1 milho.

    1955 Primeira transmisso de fax entre dois continentes.

    1971 Criado o servio de e-mail que permite a comunicao direta entre dois computadores.

    1975 Lanado o microcomputa-dor pessoal produzido para venda em massa. No ano seguinte, lanado o Apple II, primeiro com-putador a ter sucesso comercial.

    1983 Servios de telefone celular comeam nos EUA. No

    Brasil, os aparelhos chegaram em dezembro de 1990.1983 Primeira verso do Micro-soft Windows era distribuda em uma caixa com quatro disquetes e rodava a partir do MS-DOS.

    A longevidade do papelPor Dirceu Martins Pio ([email protected]), especial para J&Cia (*)

    papel em absorver a impresso de cores, de fotos em alta definio, de ilustraes, processos muitas vezes acompanhados de altssimo contedo esttico, para no dizer, artstico. O que ser que vai poder substituir o prazer que todos sen-timos ao folhear uma revista com alta qualidade de impresso e fotos de grande definio e bom gosto? O deleite ainda maior quando podemos compartilh-lo com a famlia e amigos no mesmo am-biente e podermos captar a reao instantnea das pessoas.

    O papel ter, portanto, uma vida muito longa pela frente se as empresas que o adotam como mdia recuperarem a autoestima e procurarem valorizar o que ele tem de melhor. Fora isso, h que pensar na integrao de todos os meios, cada qual dentro de sua funo. A tev, por exemplo, tem a seu favor as imagens em movimento; os jornais tm a capacidade de fixar a imagem para que os leitores possam v-la com mais ateno e observar certos detalhes.

    certo que as empresas que detm mdias papel tiveram a au-toestima abalada pelo fato de no terem conseguido acompanhar a velocidade do crescimento popu-lacional, sobretudo no Brasil. Creio no existir um s dono de jornal que no se deprima com o fato de no conseguir ir alm de uma tiragem de 200 mil exemplares numa regio, como a da Grande So Paulo, que hoje abriga quase 20 milhes de pessoas. O que significam 200 mil exemplares dentro dessa massa populacional gigantesca?

    No sejamos pessimistas. Se um jornal que tira 200 mil exem-plares por dia tiver, numa esti-mativa modesta, trs leitores por exemplar, atingir 600 mil pessoas num contingente prximo de 20 milhes. pouco? Talvez seja, mas nem tanto. Lembremos que o leitor de jornal formador de opinio e assim o universo de 600 mil formadores de opinio num contingente de 20 milhes pode ser significativo. A depender de

    seus contedos, um jornal pode virar at mesmo o resultado de uma eleio ou influenciar decises importantes do poder pblico.

    inegvel, por exemplo, o peso do jornal Folha de S.Paulo no arrefecimento da candidatura de Fernando Collor (salvo pelo ltimo debate), graas s denncias publi-cadas contra ele no desenrolar do segundo turno.

    O problema est em que a distri-buio de jornais uma operao altamente deficitria, pois o valor que os leitores aceitam pagar pela assinatura no cobre os gastos com a entrega no porta a porta.

    Muito em funo disso, a tira-gem dos jornais no cresce. Diria que falta s empresas uma certa inventividade: uma publicidade malas-diretas, panfletos, catlogos que acompanhasse o exemplar do jornal, sem fazer parte dele, poderia talvez trazer a operao de distribuio para a margem azul, pois a integrao das distribuies de jornais concorrentes no foi suficiente para eliminar o dficit.

    O nmero de assinaturas no cresce ao contrrio, tem cado porque as redaes parecem estar viradas de costas para o leitor. A sensao que os grandes jornais

    linha do tempo

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    sensibilizar os jornais a trazer de volta s pginas a cobertura dos assuntos urbanos. O tema da reforma agrria foi abatido na curva de subida dos ltimos anos de intensas migraes. Trata-se agora quase que to-somente de conferir como as grandes cidades vo atender demanda de suas enormes populaes perifricas. No esperem dos jornais, contu-do, uma cobertura mais profunda e mais sistemtica de temas como enchentes e das tragdias nas reas de risco. mais fcil e mais cmodo cobrir as enchentes apenas no momento em que elas ocorrem e clamar contra a omisso dos poderes institudos, tudo muito bvio e superficial.

    Falta mEio DE campoMas, afinal, como levar os gran-

    des jornais e tambm as grandes revistas de atualidade, por que no? a ocupar espaos prprios e vencer a competio com os meios eletrnicos? Se quiserem ouvir a opinio de um jornalista com mais de 40 anos de janela na profisso, comearia por dizer que neces-srio ouvir com mais ateno e carinho os seus leitores. Usar os canais interativos e outros dos

    meios eletrnicos para conhecer, no detalhe, o interesse do leitor. E reagir em funo deste mesmo interesse.

    Tenho a impresso de que o resultado desta sondagem levar os jornais e revistas a tomar v-rias providncias: mudar a pauta, agregar inteligncia e sagacidade ela, fazer com que os assuntos se aproximem o mximo possvel do interesse do leitor. Reapren-der, dentro desse processo, tudo sobre a hierarquia da informao. Investir na reportagem (o formato mais adequado ao meio papel), voltar a investir em estruturas para cobertura no dia-a-dia de assun-tos candentes que surgem e existem fora da provncia e longe de Braslia. Aprender a produzir matrias de servio, investir em anlise da tendncia dos fatos. E, finalmente, apurar, apurar e apurar.

    Combinado com a informati-zao das redaes, o processo industrial, na emergncia de entre-gar os jornais cada dia mais cedo ao assinante e s bancas, imps uma tal premncia de tempo captao e edio de informa-es que engessou e tolheu a atividade jornalstica. Por economia de escala, as redaes se livraram

    de redatores, copidesques, chefes de Reportagem e hoje trabalham sem aquele meio de campo que as transformava em escolas de jornalismo de excelncia. Reprte-res, hoje, voltam da rua, escrevem diretamente na forma e o editor mal tem tempo de ler aquilo que escreveram. No existe mais tempo e nem recursos para pautas mais elaboradas, crtica e autocrtica do material produzido, adio de inteligncia ao processo produtivo.

    Isto particularmente dramtico porque a mdia impressa, premi-da pela concorrncia dos novos meios, est sob ameaa. Como no se move de si mesma, come-a a viver o seu canto do cisne. No encontra foras para investir em qualidade da informao. Ao contrrio, s pensa em desinves-timento, pois o modelo industrial no para mais de exigir cortes de pessoal a toda e qualquer redao.

    Recentemente (17/2/2011), a Folha de S.Paulo surpreendeu po-sitivamente seus leitores com uma reportagem sobre os latrocnios re-gistrados em So Paulo. De autoria do reprter Andr Caramante, a matria, que chegou a indicar bairro por bairro, rua por rua, onde o tipo

    de crime mais incide, pode ser vista como um paradigma dos objetivos que a mdia papel deveria perseguir a partir de agora: cobrir os assuntos da polcia sob a perspectiva da segurana dos cidados. Teria de ser uma regra, mas uma exceo.

    Apesar de todas as virtudes do papel, devo dizer, que a continuar na mesma toada, os jornais brasi-leiros s faro caminhar em direo ao abismo.(*) Jornalista, foi diretor da Agncia Estado e da Gazeta Mercantil

    apenas para no nos referirmos aos menores, que padecem dos mesmos problemas causam a seus leitores de que h vrios anos desistiram de concorrer com os meios eletrnicos, tal a apatia que se observa nas edies dirias. Desistiram tambm de concorrer entre si, tal o grau de redundncia de informaes que se observa nas primeiras pginas de, por exemplo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

    H algum tempo, os jornais esto encavalados no mesmo espao da Internet e da televiso. Cansei de realizar este exerccio todos os dias: as mesmas notcias num volume assustador que vejo na internet ao meio-dia verei na televiso noite e, com forte desencanto, nos jornais do dia seguinte. Deixaram de pensar no assunto exclusivo, de sondar os interesses do leitor, de aprofundar as informaes j divulgadas pela internet ou pela tev.

    Jornais cheiram a mofoH muito tempo, alis, os gran-

    des jornais brasileiros tornaram-se provincianos e brasilienses. Nada do que acontece fora da provncia onde esto instaladas suas sedes ou fora de Braslia merece maior ateno. O Brasil est descober-to, embora o interesse maior dos leitores no esteja direcionado para esse tradicional eixo de cobertura. Para mim, como leitor, por exem-plo, nada foi mais interessante, mais surpreendente do que a recente e ampla reportagem de Veja sobre os 80 municpios brasi-leiros que mais crescem e mais se fortalecem economicamente bem longe do tringulo SP, Rio, Braslia. uma pena que Veja no abra nenhum espao para a crtica dos leitores e no insista mais nesse tipo de pauta, que deve encher de encantamento todos os seus assi-nantes. O expediente tradicional da seo de cartas dos leitores nos dias de hoje insuficiente.

    Essa , digamos assim, medio-

    cridade geral, tem uma explicao histrica: afetados por graves crise de fundo econmico, os grandes jornais produziram nos ltimos 20 anos um brutal desinvestimento em cobertura nacional, com a desativao de sucursais e corres-pondncias que sempre deram a eles um diferencial extraordinrio.

    Como falta sondagem aos in-teresses do leitor, as redaes trabalham no escuro e, assim, per-deram toda a noo da hierarquia da informao. Jornais cheiram a mofo, manchetes do tipo Come-ou a Era Dilma no conseguem despertar o menor interesse; os assuntos so editados ou escritos do fim para o comeo; assuntos que despertam apenas tdio tm um tratamento amplo, magnfico, enquanto que outros, capazes de despertar interesse e curiosidade, so desprezados e atirados no p das pginas. de se espantar que os grandes jornais brasileiros tenham sobrevivido a esses 20 anos de internet.

    Provincianos e brasilienses, os jornais brasileiros desistiram tam-bm da cobertura sistemtica de assuntos imprescindveis agrone-gcio e urbanismo, para ficarmos em dois exemplos expressivos dessa lenincia. Nos ltimos 20 anos, o agronegcio foi palco de grandes transformaes e continua a ser a locomotiva da economia do Pas. Leitores dos grandes jornais ignoram, portanto, fenmenos como o da absoro vertiginosa da tecnologia pela cafeicultura ou pela produo de acar e lcool. Sabem muito pouco sobre a expan-so da fronteira da soja ou sobre o surgimento do novilho precoce, que abateu pela metade o tempo de engorda da pecuria bovina. No inapropriado repetir que o Brasil est descoberto.

    Os dados do IBGE que nos mostram que o Brasil foi palco de assombrosa migrao do campo para a cidade temos hoje cerca de 16% de habitantes rurais no Brasil no so suficientes para

    1983 Folha de S.Paulo o pri-meiro grande jornal da imprensa brasileira a adotar computadores na produo de textos.

    1985 Surge o desktop pu-blishing (DTP) em portugus, diagramao eletrnica com o programa PageMaker, que per-mite montar uma publicao in-teira no computador. O processo substitui o sistema de paste-up, no qual a arte final era criada em pranchas de papelo.1992 Primeiras cmeras foto-grficas digitais comeam a ser utilizadas.

    1994 Governo americano abre o controle da internet e nasce a world wide web (www).2000 Celulares tm acesso internet, cmeras fotogrficas e vdeos digitais.

    2004 Facebook criado nos Estados Unidos. Dois anos depois surge o Twitter.

    2007 O iPhone lanado em junho, superando a venda de todos os outros celulares nos Estados Unidos.

    2010 Em 3 de abril lanado o to aguardado tablet da Apple. Cerca de 300 mil unidades da primeira verso do iPad foram comercializadas em 24 horas e se tornou o aparelho campeo em vendas. Um ano e um ms depois, chega s lojas o iPad 2.

    linha do tempo

    EspEcial Dia Do Jornalista

    Voc s tem no congresso mega Brasil de comunicao

    Congresso 3 em 1 Comunicao Corporativa, Comunicao no Servio Pblico e Comunicao Digital