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V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010
V Mostra de
Pesquisa da Pós-Graduação
Jornalismo Colaborativo: uma leitura do imaginário de Porto Alegre a partir da plataforma Locast
Priscilla Guimarães de Oliveira1, Eduardo Campos Pellanda2
Faculdade de Comunicação Social, PPGCOM, PUCRS
Resumo
Este artigo analisa a plataforma Locast (mídia para produzir, compartilhar e geolocalizar
vídeos) no jornalismo colaborativo para compreender o uso de celulares na exploração o
imaginário de uma cidade a respeito de temas locais e atemporais. O projeto “Onde fica o
coração de Porto Alegre?” (vídeos realizados com celulares nas ruas e publicados online) é o
objeto de estudo deste trabalho e teve como objetivo entender o imaginário sobre o(s) centro(s)
da capital gaúcha. Através da experiência, foi possível associar atributos ao imaginário da
cidade e perceber que localidade, personalidade do lugar e momento de realização afetam o
conteúdo colaborativo.
Introdução Novos caminhos e novos significados compreendem a atividade jornalística atualmente. Para
entender tais mudanças, é preciso debruçar-se sobre a evolução tecnológica dos meios de
comunicação e a democratização do uso destes meios. Também é necessário observar que o
processo de produzir e reportar narrativas é elaborado por diferentes autores, com diferentes
linguagens e temas. A forma de se relacionar com bits informacionais que circulam pelo
planeta sugere uma transformação da própria dimensão da informação. O jornalismo,
enquanto uma atividade da comunicação social, apresenta-se com outros padrões para a
sociedade, assim como é utilizado com outros critérios.
1 Mestranda em Comunicação Social – PPGCOM, PUCRS 2 Orientador
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A relação entre a tecnologia dos meios de comunicação e a sociedade dirige-se para uma
perspectiva na qual, segundo Mark Weiser (WEISER, 1991), os computadores estarão cada
vez mais integrados no ambiente natural do homem e que essa tendência significa a
proximidade de alcançar o verdadeiro potencial das tecnologias da informação. Desta forma,
novos conceitos passam a integrar o entendimento das práticas de jornalismo, como
comunicação ubíqua, mobilidade, instantaneidade, noções de tempo e espaço, entre outros. E,
assim, essa integração do homem com os computadores indica também o domínio de
ferramentas de comunicação e capacidade de produção de conteúdo, de narrativas. É o que
relata Henry Jenkins, em seu livro Convergence Culture (JENKINS, 2006).
Se as práticas de comunicar-se estão acessíveis e democráticas, certamente o jornalismo –
atividade de interesse comum – também é impactado e inserido neste comportamento social
de produzir informação. No livro We the Media, Dan Gilmor descreve este novo contexto.
“But something else, something profound, was happening: news
was being produced by regular people who had something to
say and show, and not solely by the `official` news
organizations that had traditionally decided how the first draft
of history would look. The first draft of history was being
written, in part, by the former audience. It was possible- it was
inevitable- because of the internet.” (GILMOR, 2006)
Desta forma, os sítios de jornalismo colaborativo, onde cidadãos são ativos na sugestão e
produção de pautas, tem alto potencial de desenvolvimento. Isto se deve não só à
possibilidade de participar de uma narrativa, mas defini-la, gerando mobilização.
(RHEINGOLD, 2003). Para ratificar este contexto, uma pesquisa realizada em 2008, pelo
Biving Groups com sites de jornais americanos, evidenciou que 58% das marcas já abriram
espaço para UCG (user generated content). (apud SPYER (Org.), 2009) O livro Para Entender
a Internet, de Spyer, destaca ainda que iniciativas de jornalismo colaborativo podem hoje ser
encontradas em diversos lugares do mundo como Chile, Estados Unidos, Espanha, França e
Itália. A publicação cita também iniciativas no Brasil como Eu Repórter (O Globo), Você
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Repórter (Terra), Minha Notícia (iG), VCnoG1 (G1), Leitor Repórter (Zero Hora e Jornal do
Brasil) e Meu JC (Jornal do Commercio –PE).
Assim como a produção e diversificação do jornalismo movimenta-se, a informação também
sofre o que poderíamos chamar de uma mudança de estado, tanto em relação à corporificarão
de um bit quanto à circulação do mesmo. Mídia locativa é o termo criado para designar a
informação veiculada baseada em geolocalização. Para André Lemos, as mídias locativas
desenham o que o autor denomina de território informacional (2007). A visão de Michael
Curry (1999) também expõe a redefinição de lugar. O autor afirma que a pertinência dos
lugares está relacionada ao contexto das ações do ser humano. E justamente o esclarecimento
dos pontos sobre o contexto de uma ação é de suma importância para a eficácia da
comunicação. Para Malcolm McCullough (MCCULLOUGH, 2004), o uso do contexto
otimiza o processo, desmassifica-o, cria apropriação.
Estas afirmações sobre mídia locativa (apropriações de espaços através de informação
geolocalizada) são significativas no contexto do jornalismo colaborativo e seu potencial de
mobilização e geração de envolvimento social. O autor Alain Bourdin (BOURDIN, 2001)
explica que três grandes dimensões fundamentam o vínculo social: a troca, o sentimento de
pertencer à humanidade, e o “viver junto” e partilhar o mesmo cotidiano. Bourdin também
aponta que a revolução na mobilidade e na tecnologia inaugura novas escalas de organização
social, onde o local privilegiaria a diversidade, as diferenças e a multiplicidade. Maffesoli
(MAFFESOLI, 1987) apresenta o conceito de “estar junto” como socialidade, o que, para ele,
seria um conjunto de práticas cotidianas que escapam ao controle social rígido, configurado
em tribalismo e presenteísmo e, que estas questões das relações sociais são parte inerente
entre a tecnologia e sociedade.
Mídias produzem espacialização, ação social sobre um espaço. Se a comunicação ubíqua está
diretamente relacionada ao quesito sociabilidade e se as práticas sociais foram alteradas desde
o surgimento de redes virtuais ate práticas que misturam atividades presenciais e online
através da localização, como afirma McCullough (MCCULLOUGH, 2004), existe o desenho
de um espaço híbrido, em que virtual e físico formam uma terceira dimensão.
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O surgimento de uma nova noção de espaço – baseada não mais em geografia ou política, mas
em informação - também produz um novo imaginário. Imaginário social, segundo Castoriadis
(CASTORIADIS, 2007), é uma imagem projetada sobre si mesmo, sobre a própria sociedade.
Quando temos uma sociedade resignificando territórios, é possível que haja diferenças de
percepção em relação a estrutura integra de uma cidade e em relação as tribos que a
compõem. Em termos simbólicos, do macro-ambiente para o micro-ambiente, os mapas se
desencontram. Para Sandra Pesavento (PESAVENTO, 2002), as idéias e imagens são
reapropriadas em tempos e espaços diferentes e essas representações podem construir um
acesso ao urbano, as cidades. O uso do jornalismo colaborativo, através de uma plataforma de
mídia locativa, poderia contribuir justamente para planificar este imaginário e compartilhar
diferentes visões.
Desta forma, o ponto de partida deste artigo é uma experiência de jornalismo colaborativo: o
projeto Locast3. Durante duas semanas do mês do novembro 2009, as autoras participaram da
experiência realizada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) em parceria com a
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e o Grupo RBS. A
plataforma, desenvolvida pelo instituto norte-americano, foi testada no Brasil na cidade de
Porto Alegre por um grupo composto por estudantes, graduados e pós-graduados em
comunicação. Através do uso do programa e de celulares do tipo Andróide, os participantes
foram convidados a produzir vídeos com a possibilidade de localizar geograficamente os
conteúdos. O meio era o mesmo para todos os usuários, mas o modo de utilizar o aparelho, a
abordagem dos assuntos e os tópicos a serem tratados eram uma escolha do próprio autor do
conteúdo.
O projeto “onde fica o coração de Porto Alegre?”4 realizado pelas autoras deste artigo é o
foco deste trabalho. Composto por cinco vídeos capturados em diferentes locais da cidade, as
autoras puderam analisar Porto Alegre através do olhar e das impressões daqueles que andam
3 www.locast.mit.edu 4 Os videos podem ser acessados nos seguintes links : http://locast.mit.edu/civic/content/467 - É o Centro o coração de Porto Alegre? (publicado em 20.11.09)*; http://locast.mit.edu/civic/content/470 -É a Azenha o coração de Porto Alegre? (publicado em 21.11.09)*; http://locast.mit.edu/civic/content/534 - É Ipanema o coração de Porto Alegre? (publicado em 22.11.09)*; http://locast.mit.edu/civic/content/548 - É o Parque da Redenção o coração de Porto Alegre? (publicado em 22.11.09)*; http://locast.mit.edu/civic/content/677 - É o Parcão o coração de Porto Alegre? (publicado em 29.11.09)*. *A data de publicação nem sempre coincide com a de realização dos vídeos.
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pelas ruas todos os dias. Mais do que isso, foi possível perceber a reação dos entrevistados ao
uso do celular como ferramenta de produção de conteúdo. As repórteres caminharam por
pontos tradicionais da cidade, conversaram com quem transitava nestes locais e fizeram aos
entrevistados a mesma pergunta: é este local o coração de Porto Alegre? Se não é, onde ele
fica? As repostas e as reações são diversificadas e, juntas, compõem uma amostra do
imaginário da capital gaúcha.
Metodologia
Foi preciso analisar as possibilidades e diferenciais da plataforma para conceber a idéia do
projeto e seus objetivos. Assim, alguns pontos foram observados: o Locast é concebido de
forma a localizar a informação gerada, volumetrizando espaços e objetos e traçando novos
desenhos informacionais nas áreas cobertas; devido ao seu caráter de mídia (ainda)
experimental, em construção e social-cidadão, a plataforma poderia trazer conteúdos mais
espontâneos e, inclusive, subjetivos a respeito dos temas propostos; os recursos disponíveis
permitiam as autoras debruçar-se sobre Porto Alegre, entender a sua geografia e história,
tentando assim, conceber um projeto que contemplasse a cidade de forma mais completa, com
um assunto menos perene e de alto envolvimento social e, por fim, que explorasse bem o
espaço territorial e a plataforma.
Além disso, em rápida pesquisa sobre a cidade foi detectado que seu mapa aponta um
crescimento desordenado e não planejado, em sentido radial, partindo do Lago Guaíba, e que
o bairro centro localiza-se exatamente no inicio de todos os raios. Se o centro não é, de fato, o
centro geométrico da cidade, este bairro foi por muito tempo o chamado coração de Porto
Alegre - o lugar onde há um grande fluxo de pessoas transitando todos os dias, em que é
possível comprar, trabalhar, passear, namorar e, além disso, concentra instituições políticas e
governamentais. Com o passar dos anos, Porto Alegre ganhou diversos novos bairros bem
estruturados e, de certa forma, quase auto-suficientes. Muitas das atividades realizadas no
bairro centro também passaram a ser oferecidas por outras zonas da cidade. Ao decorrer deste
desenvolvimento, os bairros foram ganhando forma, habitantes e personalidade. E, é claro,
afeto bairrista de pertencimento e orgulho.
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A cidade mudou muito. A opinião e o imaginário das pessoas provavelmente também. O tema
instigou as autoras. Seria possível que existisse uma idéia bastante fragmentada, por parte dos
habitantes a respeito do significado do bairro centro, a respeito da imagem de cada bairro e,
também, a respeito do imaginário da cidade como um todo.
Para elaborar os vídeos, foi preciso definir previamente o estilo de filmagem, a
abordagem dos entrevistados, a linguagem utilizada pelas repórteres e a duração média dos
vídeos. Para ter um resultado satisfatório de pesquisa, era preciso pensar nos espectadores dos
materiais depois de publicados, no meio em que ele seria veiculado, no caso a internet, e
naqueles que fariam parte do processo: os entrevistados.
Para este último grupo, a proposta era deixá-los bem à vontade a fim de capturar depoimentos
verdadeiros e espontâneos. Para isso, as repórteres abordaram os transeuntes de maneira bem
informal e corriqueira. Já em relação aos espectadores, a idéia era gerar identificação e
localismo. Sendo o espaço, as ruas de Porto Alegre, parte disso já estava sendo realizado. Eu
vejo minha cidade e eu consigo me colocar no lugar de quem está falando, ou seja, “poderia
ser eu”. A câmera do celular no mesmo ângulo de visão das produtoras transmite ao
espectador a idéia de participação e ‘espelhamento’.
Ao pensar no veículo que seria utilizado para visualização e distribuição do material, foi
definido o tamanho médio e corroborado o estilo. A internet permite uma abordagem mais
informal dos conteúdos e como o usuário escolhe o que quer ver, o tamanho dos vídeos pode
ser um pouco mais extenso, pois o público é segmentado à medida que escolhe assistir ou não
o material. Desta forma, foi definido um tamanho de aproximadamente 15 minutos, podendo
variar para mais ou menos.
A filmagem foi realizada em plano seqüência, opção das autoras para uma utilização plena
dos recursos da plataforma Locast, pois, desta forma, o vídeo não necessitaria edição e
poderia ser publicado instantaneamente. Além disso, é possível que quanto menor for
intervenção no material, mais credibilidade ele pode transmitir. Assim, os vídeos começam no
instante em que se aperta o botão de ‘gravar’ e se encerram somente ao apertar o parar: sem
edição, sem cortes e sem saber previamente como seriam estes vídeos. As repórteres
comentam enquanto andam pelas ruas da cidade, passando a idéia de “somos porto-alegrenses
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como você” e não elaboram os textos previamente. Apenas ajustam iluminação e som antes de
iniciar o processo de gravação.
O primeiro vídeo foi realizado no centro da cidade, partindo dos pressupostos do projeto
citado anteriormente. A partir dali, os pontos foram propostos pelos próprios entrevistados
que os citavam como espaço importante (coração) de Porto Alegre.
Resultados (ou Resultados e Discussão)
Uso do celular e da plataforma Locast
O projeto “Onde fica o coração de Porto Alegre?” comprova que os dispositivos móveis são
produtores de conteúdo tão eficazes como filmadoras profissionais ou outros equipamentos
utilizados somente por aqueles especializados na produção de reportagens ou notícias. O grau
de eficiência do meio depende muito mais do resultado que se pretende atingir e de que forma
do que de fatores como iluminação e qualidade de imagens.
O equipamento utilizado no projeto não filmava em alta definição e em pouca luz apresentava
características como borramento de imagem. Além disso, transferir o material para a
plataforma gerava uma perda de qualidade. Apesar de tudo isso, foi possível perceber que o
dispositivo gerou possibilidades de filmagem e interação que não aconteceriam da mesma
forma com outro tipo de equipamento.
O tamanho reduzido e a aparência mais amadora transmitida pelo aparelho pareciam gerar
certo conforto ao entrevistado, que, por vezes, estendiam a conversa por mais tempo ou
convidavam as repórteres a entrar em suas casas, como acontece na gravação do bairro
Ipanema. Os vídeos evidenciam conversas espontâneas e pouco retraídas. Em comparação à
experiência das autoras deste artigo no trabalho com câmeras profissionais, ambas
constataram que os questionamentos quanto ao destino do vídeo ou recusa ao falar por
timidez ocorreram com menor freqüência e intensidade.
Além do fator receptividade, o celular facilitou na hora de realizar as filmagens. Através dele,
filmar em plano seqüência e realizar movimentos de câmera (cima, baixo e até filmar a si
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mesmo) foi mais prático e não necessitou de grande força física, como acontece com câmeras
profissionais de grande porte e seus acessórios. Não era preciso tripé nem bolsa para carregar
o equipamento. As repórteres tinham apenas uma mão ocupada, segurando o celular, o que
gerava grande praticidade para realizar o trabalho.
Por outro lado, as imagens de menor qualidade do que as produzidas por equipamentos
profissionais não afetaram de forma alguma a visualização dos conteúdos na internet: era
possível enxergar claramente as ações e entender onde elas se passavam. O celular cumpriu
seu papel eficazmente: foi possível realizar o estilo de filmagem que se fora proposto, a
receptividade por parte das pessoas foi satisfatória, havendo inclusive momentos de
descontração e o resultado final não teve problemas por causa da qualidade, não interferindo
na visualização do material.
Além dos fatores técnicos e de forma, o celular possuía instalada a plataforma Locast, que
disponibiliza o arquivamento já com os conteúdos de tags, título e localização geográfica do
material dentro do próprio celular. Por vezes, era difícil escrever no teclado virtual do telefone
e as teclas de salvar ou cancelar o vídeo eram muito próximas no layout da plataforma, o que
causava desconforto e, algumas vezes, até perda do material. De forma geral, o programa
desenvolvido pelo MIT é prático e satisfatório, precisando ainda de ajustes para utilização
plena dos recursos. Para mexer, no entanto, é necessário conhecimento prévio ou a leitura de
um tutorial para familiarização.
Os Vídeos
As particularidades e a identidade de cada lugar foram evidenciadas no material multimídia.
Foi possível perceber que cada ponto pesquisado tem um ritmo próprio e um imaginário
peculiar. A reação das pessoas era diferente em cada espaço, sendo mais ou menos receptivas
de acordo com ele. A paisagem de Ipanema propiciou conversas mais longas e convites para
entrar em casa. Apenas alguns cidadãos que estavam caminhando ou praticando exercícios se
recusaram a falar. O ritmo era diferente do bairro Azenha e Centro. As pessoas de Ipanema
demonstravam menos pressa e outra receptividade, talvez até pelo dia da semana escolhido. O
vídeo de Ipanema foi realizado em um final de semana e os outros dois em dias normais de
trabalho. Apesar disso, o vídeo da redenção, realizado no mesmo dia do de Ipanema apresenta
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também um ritmo diverso. É menos agitado que o centro, mas menos receptivo que Ipanema,
onde as pessoas não demonstravam as vezes até prazer em falar sobre aquele assunto.
É possível notar também o apego de quem mora nestes locais pelas regiões estudadas. É o
caso do senhor que trabalha no bar no Centro e faz questão que mostremos a fachada do
estabelecimento ou da senhora da Azenha que conta sua história de engajamento para a
realização de melhorias no bairro. Na Redenção e Parcão, a área verde foi o destaque dos
depoimentos. No primeiro local, o apego e as lembranças do ambiente foram destacadas,
como o senhor que justificou a o parque da Redenção como coração, pois aprendera a andar
de bicicleta e tinha lembranças lá. No segundo ambiente, uma situação curiosa: muitos dos
cidadãos que lá estavam naquela quarta-feira não eram de Porto Alegre e estavam somente de
passagem pelo parque. Um cenário que mostra que o local não é só de descanso e lazer, mas
uma rota de passagem para trabalhadores e cidadãos durante a semana.
Em relação aos depoimentos, é possível perceber nos vídeos que a maioria desenvolve o
assunto sem dificuldades. O tema das perguntas faz parte do cotidiano daqueles que
participam e a empatia por ele parece facilitar na hora de expressar-se, como acontece com
aqueles que moram ou têm maior contato diário com o local. Algumas pessoas tiveram
conversas mais prolixas com as repórteres, mostrando vontade de expressar sua opinião e
falando, inclusive de outros assuntos envolvendo aquele ambiente, como problemas ou
sugestões de melhorias para o local. Desta forma, as autoras perceberam que o assunto diz
respeito ao próprio locus existencial dos entrevistados, o gerou interesse e disposição de
muitos a responder e se envolver.
De acordo com esta amostra, na memória dos porto-alegrenses, poucos bairros são relevantes,
sendo citados aqueles com representação histórica, socioeconômica ou de qualidade de vida.
Na maioria dos casos, todos os entrevistados consideram o bairro onde estão o coração da
cidade. Outros citam também o Centro ou dizem não saber onde seria este espaço.
Em relação ao bairro Centro, para quem mora, trabalha ou vivenciou o tempo de um centro
efervescente econômica e culturalmente, ele ainda é o coração de Porto Alegre. As principais
justificativas são a de origem (ou seja, este é o lugar onde tudo começou), comércio (é aqui
que os negócios acontecem) e localização (tudo começa e termina no Centro). Há também os
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que não costumam freqüentar o local, mas ainda assim o definem como coração da cidade,
tendo argumentos historico-afetivos.
Já o bairro Azenha é citado como o coração de Porto Alegre, tanto por quem mora ou transita.
As principais justificativas foram o comercio forte, o ponto como zona de ligação (rua que
liga zonas norte e sul da cidade). Na Zona Sul de Porto Alegre, o bairro Ipanema é
considerado coração por causa da qualidade de vida e tranqüilidade. Aqui a denominação
assume um significado de bem-estar, oposto ao entendimento de desenvolvimento econômico
ou mesmo histórico.
No bairro Moinhos de Vento o coração é associado principalmente ao Parção - seu respiro
verde no meio de construções e seu moinho histórico, além do alto poder aquisitivo dos
moradores. E, enfim, o bairro Bonfim, representado neste trabalho pelo parque da Redenção,
é o coração de Porto Alegre em função de sua área verde no meio da cidade e por sua
característica de ativismo político. Além disso, algumas pessoas demonstraram apego afetivo
devido a memórias e situações importantes de sua vida que lá vivenciaram, como aprender a
andar de bicicleta, etc.
Conclusão O Locast é uma plataforma adaptável e convergente a este estilo de projeto, contribuindo no
processo desde a captura até a apresentação do conteúdo e sua navegação. No entanto, para
que um tema como este realizado se torne concretamente uma construção coletiva, a
plataforma poderia estar disponível para mais pessoas. Um dos principais ganhos que o
Locast traz para a produção de conteúdo é a possibilidade de ver e tocar uma informação em
conjunto com outras pessoas, trocando impressões planificadas: planificando o imaginário e
permitindo gerar critica sobre o conteúdo simbólico de uma cidade.
De qualquer maneira, é preciso lembrar que jornalismo colaborativo é afetado pela localidade,
pela personalidade social do lugar, pela rotina e o momento em que o vídeo/ material é
realizado. Nunca há opinião absoluta, só contextual. De fato, seria necessário um estudo mais
aprofundado para obter representações mais assertivas.
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O que foi possível obter como dado é que Porto Alegre é uma cidade de muitos bairros e de
muitas tribos e de significados distintos sobre o que é coração. No entanto, o que parece ser
valorizado enquanto símbolo da capital são os atributos economia, história e natureza. De
forma geral, Porto Alegre apresenta um imaginário bastante arquetípico sobre os bairros
testados e, assim como sua geografia, seu simbólico também é descentralizado e varia de
acordo com as atividades sociais em cada espaço e em cada época. Independente do que
realisticamente existe na cidade, o imaginário da Capital gaúcha está constituído com base em
pertencimento, valores e afeto. Isto é o que importa quando os habitantes de Porto Alegre
narram suas historias e desenham seus pontos de vista sobre o local onde encontra-se parte de
suas memórias.
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