jornal voz nativa - edição 03

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Nº 3 Informativo do Projeto Voz Nativa - Ilha Grande, Angra dos Reis / RJ - Associação Civil Alternativa Terrazul - Janeiro de 2015 Jornalismo Badjeco Levado a Sério! ILHA DE DIVERSIDADE Muito além das riquezas naturais, a Ilha Grande possui muitas histórias, culturas, etnias, sotaques e percepções que fazem parte do dia a dia das comunidades

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A terceira edição do Jornal Voz Nativa apresenta a diversidade da Ilha Grande, que vai muito além das riquezas naturais.

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Page 1: Jornal Voz Nativa - Edição 03

Nº 3 Informativo do Projeto Voz Nativa - Ilha Grande, Angra dos Reis / RJ - Associação Civil Alternativa Terrazul - Janeiro de 2015

Jornalismo Badjeco Levado a Sério!

ILHA DE DIVERSIDADE

Muito além das riquezas naturais, a Ilha Grande possui muitas histórias, culturas, etnias, sotaques e percepções

que fazem parte do dia a dia das comunidades

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Associação Civil Alternativa TerrazulConselho DiretorPresidente Regina Maria Sousa ChavesDiretor Financeiro Pedro Piccolo Contesini Diretora Técnica Camila Ribeiro Soares

Projeto Juventude Protagonista da Ilha GrandeVoz NativaCoordenador Geral Marcio RanauroCoordenador de Comunicação Carlos Henrique PainelCoordenador Administrativo Arnaldo AugustoAssistentes Ana Laíse, Beatriz Luz, Karen Garcia

Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social – UFRJCoordenação Pedagógico Ivan BursztinCoordenação de Produção Cultural André Paz

Jornal Voz Nativa Conselho Editorial Carlos Henrique Painel, Karen Garcia, Maracy Guimarães e Marcio Ranauro Jornalista Responsável Carlos Henrique Painel MTR 29085-RJProjeto Gráfico IDEARIADiagramação Karen Garcia

Endereço Espaço Voz NativaAlameda Meu Santo, 250 / Vila do Abraão, Ilha Grande – Angra dos Reis/RJ CEP: 23968-000Telefones (24) 99903-5776 (WhatsApp) [email protected]: Voz Nativa - Ilha GrandeSite: www.voznativa.eco.br

Associação Civil Alternativa TerrazulRua Floriano Peixoto, 1440 / Centro – Fortaleza/CE - CEP: 60.025-131www.alternativaterrazul.org.br

Tiragem 5.000 Distribuição Gratuita

Este jornal é uma iniciativa do Projeto Voz Nativa, sua intensão é dar visibilidade e voz aos jovens nativos da Ilha Grande. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do Terrazul e das instituições parceiras.

EDITORIAL

Patrocínio

Jornalismo Badjeco Levado à Sério!

Realização

“... vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer...” já diria a música de Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores”. Não seria diferente aqui na Ilha Grande.

O ano de 2014 foi intenso para a Ilha Grande! Completamos duas décadas sem o Presídio, vimos ser instituída a Reserva de Desenvolvimento Sustentável na Vila do Aventureiro, entre outros acontecimentos...

Poderíamos dizer que foi um ano que deixou clara para toda a Ilha Grande a sua vocação de beleza natural e identidade turística. Mas o que existe entre morros, florestas e lindas praias? Entre empreendimentos e turistas vindos de todas as partes do mundo?

Escrever a própria história, registrar a memória, valorizar a própria cultura é o que se vê entre a juventude das praias/comunidades da Ilha Grande. Os últimos meses de 2014 demonstraram suas vozes na ativa. Do Abraão ao Provetá diferentes eventos e projetos com a participação dos nativos demonstraram que a Ilha Grande é muito mais do que praias, florestas e turistas. A Ilha Grande é história, cultura e memória de moradores orgulhosos de trabalhar, estudar e cuidar da ilha que não é

apenas um pequeno paraíso, mas a sua identidade, o seu lar.

Projetos como a I Mostra Caiçara de Cinema que produziu lindos vídeos sobre a cultura caiçara e o cotidiano da Ilha Grande; a Roda de Conserva Caiçara que transbordou o Centro Cultural Constantino Cokotós de memória e lindas histórias da Ilha; o Natal Ecológico que resgatou o espírito do Natal e da importância da ecologia para o futuro da Ilha; e o Projeto Culturas Caiçaras da Ilha Grande, desenvolvido pelos alunos do colégio de Provetá, que elaborou vídeos, entrevistas, redações e fotografias da vida da Ilha Grande puderam demonstrar que a juventude da Ilha tem muito a dizer. Não importa se era uma ilha de presídio ou se é uma ilha turística, a identidade Badjeca é um orgulho da juventude da Ilha Grande, e faz da Ilha ser o que é e que atrair gente de todo o mundo.

Colocar a mão na massa, contar a própria história e valorizar a memória da vida na Ilha Grande é uma demonstração de orgulho da juventude local, que tem muito a dizer. É isso que poderemos ver em mais essa edição do Jornal Voz Nativa, a moçada das diversas praias da Ilha colocando sua Voz na Ativa!

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015

Projeto escolar valoriza a cultura local

Durante o período escolar, os barcos Irmãos Unidos saem de segunda à sexta do Cais dos Pescadores de Angra dos Reis, rumo ao Colégio Estadual Pedro Soares, em Provetá. Em Aventureiro, Araçatiba, Bananal, Praia da Longa, Ver-melha e Maguariqueçaba, embarcam diferentes histórias e perspectivas. Embarcam os anseios para com a vida e projeções futuras. Aportam na escola, lugar de troca, bus-ca, afirmação e entendimento.

As professoras Isabela Farias e Mo-nica de Castro, orientaram os alunos do Ensino Médio, durante o quarto bimestre do ano letivo de 2014, no desenvolvimento do projeto Culturas Caiçaras da Ilha Grande. Objetivan-do a ampliação dos conhecimentos sobre as manifestações culturais da região, as atividades consistiram na reunião e produção de materiais que contassem a história das praias e comunidades onde os jovens residem.

Através de entrevistas, fotografias, produção textual e muita pesquisa, os estudantes deram forma às histórias de seus parentes, amigos e vizinhos, registrando também suas opi-

niões sobre cada localidade, suas dificuldades e afetos.

O projeto envolveu as disciplinas de Filosofia, Sociologia, Lingua Portuguesa, Produção Textual, Literatura e Histó-ria, com a participação das professoras Juliana Pereira e Juliana Rosário, além de todo o corpo escolar e parte das comunidades. “Acho que todas nós nos surpreen-

demos com o resultado conseguido no projeto. Fiquei muito feliz em ver que os alunos se envolveram com o trabalho e em como eles cresceram ao longo do ano. Eles me enchem de orgulho”. - comentou a professora Isabela Faria.

A apresentação dos trabalhos aconte-ceu no dia 04 de Dezembro, durante o horário escolar. Textos, músicas e po-esias, compartilhados para os alunos,

funcionários e visitantes. Foram exibidos também, os vídeos produzidos e editados pelos jovens, com entrevistas e narra-tivas sobre as praias.

O evento contou também com a participação da poetisa Aline Santos, contando sobre sua trajetória relacionada ao res-

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Durante o quarto bimestre do ano letivo de 2014, os alunos do Colégio Estadual Pedro Soares construíram registros

sobre a cultura local e contaram a história de suas comunidades

Fotos: Karen Garcia

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 20154

gate cultural em sua localidade de origem, na Zona Oeste no Rio de Janeiro e os conflitos socioculturais que viveu em sua adolescência. A escritora autografou e presenteou os alunos com seu livro “Tudo é Poesia”, ressaltando a importância da valorização da identidade e cultura local.

Nesta edição, divulgaremos alguns materiais que compõe o projeto e os outros formatos, serão compartilhados em nossa página no Facebook (https://www.facebook.com/juventudeprotagonistarj).

A Equipe do Jornal Voz Nativa participou do evento, dia-logando com os jovens sobre o Projeto Voz Nativa e sua futura atuação na comunidade de Provetá em parceria com o Colégio. Parabenizamos todos os envolvidos pela dedicação ao trabalho realizado. Relembrando sobre a importância de manter vivas as histórias e da apropriação da cultura pela juventude.

Karen Garcia Projeto Voz Nativa

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015 5

O objetivo do projeto era despertar nos alunos o in-teresse, o prazer e a importância da cultura Caiçara, valorizando o povo Badjeco, ainda visto como um termo pejorativo! O resultado foi incrível! Superou

as expectativas! E motivou alunos e professores a intro-duziram a temática no calendário e, futuramente, no cur-rículo escolar! A participação e o empenho de todos foram o alicerce para o sucesso do projeto!

Ao meu ver, o propósito do projeto foi prover um sen-tido de identidade não apenas aos alunos da Pedro Soares, mas a todos aqueles que permitiram um res-gate da suas memórias. Em um nível mais amplo, este

pode tomar a forma de um importante papel na história da Ilha Grande, embora fazendo parte da cultura local, demos um primeiro passo, formação da identidade nacional.

Qualquer palavra escrita não descreveria as sen-sações de que a educação se faz com empenho e principalmente com a participação dos alunos. Esse projeto traz justamente a mão de obra em conjunto,

e se tratando de um projeto cultural só poderia mes-mo ser realizado de forma integral movimentando toda a comunidade envolvida, agregando todas as formas culturais disponíveis. Portanto a minha participação como poeta, a dos professores, da direção da escola e dos seguimentos não governamentais são secundárias tendo em vista que sem o movimento e a aceitação positiva dos alunos nada aconteceria.

O Projeto Culturas Caiçaras da Ilha Grande visa res-gatar e valorizar o modo de agir e pensar da comu-nidade da Ilha Grande. Assim, nossos alunos ao se depararem com o novo, poderão ter uma consciência

crítica para colocarem-se no mundo, usando como refe-rência a cultura de sua comunidade.

Monica de Castro Professora de Letras

Juliana Pereira Professora de História

Luis ClaudioDiretor do Colégio Estadual Pedro Soares (Provetá)

Aline SoaresEscritora

CONTE A HISTÓRIA DA SUA COMUNIDADE E O QUE ACONTECE ONDE VOCÊ MORA!

PARTICIPE DO JORNAL VOZ NATIVA! ENVIE SEU TEXTO POR E-MAIL!

[email protected] | (24) 99903-5776

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015

Igreja de Santa Cruz é reformada através da união da comunidade

Esportes praticados na Vila do Aventureiro

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Espaço Aventureiro Foto: CRUA

Durante seis meses, no ano de 2014, a Igreja de Santa Cruz na Vila do Aventureiro passou por reformas estruturais. Resultado da união da comunidade, sob a orientação do Frei Luiz da Paróquia São Se-bastião Ilha Grande que ministra as doze igrejas católicas da Ilha.Os moradores se responsabilizaram por todo material de construção, mão de obra , transporte e combustível. Os móveis do presbitério e bancos da assembleia foram ad-quiridos através do dízimo da Igreja de Santa Cruz. O PEIG (Parque Estadual da Ilha Grande) doou as telhas. A comuni-dade e a Paróquia agradecem os esforços. A inauguração foi realizada na Festa de Santa Cruz, padro-eira da vila, no dia 10 de Janeiro de 2015.

Presbitério e fachada da Igreja de Santa Cruz, na Vila do Aventureiro

Fotos: Neuseli Cardoso

Frescobol Slackline Futvôlei

Frisbe Surf

Ski de praia

Volêibol

Pesca esportiva

Trabalho e fotos desenvolvidos pelos alu-nos Caio Martins, Edilson Neves, Genesi

Pontes, Kelvi Neves e Matheus Tenório da Turma 3001 (2014) do Colégio Estadual

Pedro Soares, que é parte do Projeto Culturas Caiçaras da Ilha Grande

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015

Espaço AraçatibaA enseada de Araçatiba fica na parte sul da Ilha Grande, localizada entre a Ponta da Cobra e a Ponta Grande. O nome “Araçatiba” é muito curioso e vem do Tupi (língua indígena). ARAÇÁ quer dizer “fruto que tem olhos” e TIBA quer dizer “muito”. Araçá é uma fruta parecida com a goiaba e que, no passado, era abundante na região de Araçatiba. Três praias de águas calmas e cristalinas compõem a enseada de Araçatiba: Praia da Cacho-eira, Praia Grande de Araçatiba e Araçatibinha. Sendo a Praia Grande de Araçatiba a maior delas, com cerca de 800 metros, possui areia dourada, fica o maior cais para atracação dos barcos, algumas pousadas, bares, restaurantes. A Igreja Nossa Senhora da Lapa é um dos principais pontos turísticos de Araçatiba.

Fotos: Marcio Ranauro

“ “Me chamo Queila Oliveira, moro na Praia Gran-de de Araçatiba. Sou de uma família simples, moro com meus pais que se chamam Carmelita e Marcio. Meu sonho é sair conquistando tudo

à minha volta! Seguir nos estudos sempre... Gosto muito de música! Cantar é uma das coisas que mais gosto de fazer. Amo morar na Ilha Grande, em Araçatiba. Só o que não é muito bom, que eu não gosto são as pessoas fofoqueiras... Tirando isso, é perfeito. Um lugar lindo, tranquilo e bom de se morar!

Meu nome é Josias, tenho 20 anos e moro na Praia Grande de Araçatiba. Meu pai é meu ami-gão e minha mãe, minha amigona. Tenho seis irmãos... muito, né? Mas é isso mesmo.

Eu sonho... Meu sonho é ser uma pessoa completa: ter um trabalho, uma esposa, construir uma família e ser feliz! O lugar onde eu moro é legal, bonito de se morar, mas não tem praça, cinema, nem teatro. Até andar de bicicleta não dá... Mas tem uma paisagem linda! Pássaros cantando, as águas do mar são cal-minhas... Dá pra mergulhar e nadar.

Josias Maciel RamosColégio Estadual Pedro Soares

Turma 2001

Queila Oliveira Colégio Estadual Pedro Soares

Turma 3001

Textos desenvolvidos no Projeto Culturas Caiçaras da Ilha Grande do Colégio Pedro Soares sob a orientação das professoras Isabela Farias, Juliana Pereira e Monica de Castro

O Círculo de Oração Colunas de Fogo (em uniforme de cor azul), da igreja Assembleia de Deus em Praia Grande de Araçatiba, comemorou se 32º aniversário nos dias, 10, 11 e 12/10 de 2014 sob muitas bênçãos de Deus. Foram preletoras nesse evento as irmãs Dilma Ramos e Rose Augusto (Angra dos Reis). Acresceu ainda mais o evento os louvores entoados pela cantora Kézia.

Igreja Evangélica Enviado por Lourival Ramos e Pr. Juvelino Maciel

Foto: Lourival Ramos

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015 8

Minha História Um Pouquinho de Mim Eu me chamo Jéssica Garcia Brandão, nasci no dia 26 de Julho de 1997, tenho 17 anos, moro em Provetá – Ilha Grande. Estudo no Colégio Estadual Pedro Soares, no turno da noite, na turma 2002. Gosto de estudar e um dos meus objetivos é terminar o Ensino Médio e fazer faculdade de Enfermagem, pois já estudo no curso técnico de enfer-magem e pretendo continuar na carreira. Sou evangélica, assim como minha família e a maioria das pessoas que mora aqui em Provetá. Minha mãe se chama Shirleane Garcia Brandão, trabalha como secretária na Regional aqui do Provetá. Meu pai se chama Gelson Brandão, e trabalha como pescador. Tenho um irmãozinho de 7 anos, que se chama Gabriel Gar-cia Brandão e uma irmão por parte de pai, chamada Jenif-fer Brandão e tem 19 anos, mas não mora aqui na Ilha com minha família. Minha família é muito unida e muito feliz. Meu maior sonho é terminar o Ensino Médio e ir para o continente me formar em enfermagem, que é o que sempre quis ser desde pequena, uma enfermeira. Sonho também em ver Provetá como um lugar melhor, com mais recursos, para não precisarmos sair daqui para nos empre-gar em outro lugar. O Provetá é o lugar onde a maioria da população é evangélica. Um lugar calmo, sem violência, onde todos se conhecem e se dão bem. O que mais gosto daqui é a praia de águas claras e muito linda, onde no verão fica cheia de turistas. Os únicos problemas daqui são: não ter muita op-ção de emprego, principalmente para jovens que pretendem ir para a faculdade e também não tem sinal de internet e celular para fazer os trabalhos de escola. A maior parte dos jovens daqui quando completam o Ensino Médio, vão para o continente fazer cursos e trabalharem, porém os que ficam aqui, acabam caindo na pesca ou ficam desempregados. Acredito que assim como eu, todos os moradores do Provetá gostariam que aqui tivesse mais recursos, como mais empregos, cursos, sinal de telefonia para todos que precisam. Um passo já foi dado que foi a luz que chegou aqui há treze anos, mas ainda faltam coisas a serem realizadas.

Eu sou Thainara Alves de Oliveira, tenho 16 anos, nasci na cidade de Angra dos Reis, no dia 27 de Janeiro de 1998. Estou cursando o segundo ano do Ensino Médio. Meus pais se chamam Tatiana e Denilson, também tenho uma irmã mais nova: a Pérola, que tem 6 anos. Moro na Praia de Provetá, Ilha Grande. Minha mãe sempre morou aqui, sua família também. Já meu pai, morava em Trindade – Paraty até conhecer minha mãe, depois veio morar aqui também, se casaram e hoje formamos uma linda família. Meu pai é pescador e trabalha nessa área desde muito novinho, minha mãe é dona de casa. Eu e minha irmã estuda-mos na Escola Pedro Soares, localizada aqui em Provetá. Como toda menina, tenho muitos sonhos. Cada hora desejo uma coisa diferente, pois faz parte de nossa adoles-cência agir assim. Só que uma hora temos que agir com de-terminação e realmente decidirmos o que queremos ser futu-ramente. Eu desejo ter uma excelente profissão, ainda estou tentando me enquadrar em algo que eu goste muito. De uma coisa eu sei: adoro escrever, ler, então procuro algo nessa área. Tenho muitos amigos, gosto muito de sair, conhecer outras pessoas e lugares, também gosto muito de animais. Provetá é uma vila de pescadores muito calma e tran-quila. Aqui vivemos sem medo de sair nas ruas, posso dizer que vivemos livres. Adoro morar aqui, apesar de não termos muitos recursos. Não temos acesso à cursos e trabalho, isso dificulta um pouco a nossa vida. Para conseguirmos trabalho ou fazer alguma faculdade, devemos ir ao continente. A maioria das pes-soas que moram aqui são pescadores ou donas de casa. Não temos acesso à internet e com mundo moderno e cheio de tec-nologia que temos hoje, estamos bem longe disso. Para andarmos comunicados com tudo e com o mundo temos que assistir TV, ou nos comunicarmos ao tele-fone com alguém. Como todos sabem, a muito tempo atrás ainda não havia energia aqui em aqui em Provetá e com isso, as coisas se tornavam bem mais difíceis. Com o tempo passou a existir escola com Ensino Médio, posto de saúde, padaria, armazém, etc. Digamos que as coisas melhoraram muito, comparando com o tempo passado, eu não pude vi-venciar tudo que já ocorreu, mas meus avós até hoje contam como era nossa vila naquela época. Há ainda muita coisa a mudar e acredito que Provetá ficará cada vez melhor.

Thainara Alves Turma 2002

Jéssica Garcia Brandão Turma 2002

Espaço Provetá Foto: Karen Garcia

Textos desenvolvidos no Projeto Culturas Caiçaras da Ilha Grande do Colégio Pedro Soaressob a orientação das professoras Isabela Farias, Juliana Pereira e Monica de Castro

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História da Praia de Provetá

Um pouco sobre minha vida

A Praia de Provetá é bem bonita, com cerca de 500 metros de águas cla-ras, areia grossa e amarelada, mar ligeiramente batido. Embora não seja uma praia focada no turismo, Prove-tá é a principal porta de acesso ter-restre para a Praia do Aventureiro e Praia dos Meros, no lado oceânico da Ilha Grande.

Meu nome é Vitória Ramos Ferreira, nasci dia 11 de Setembro de 1998, na cidade de Angra dos Reis, em Provetá, cresci e aqui estudo. Me lembro bem da minha infância nesse paraíso, posso dizer que aproveitei bastante essa parte da minha vida. Eu era uma criança bem divertida, às vezes até fugia da escola para brincar, mas mesmo assim sempre fui boa aluna com boas notas. Dos doze anos pra cá, fui descobrindo em mim uma enorme paixão por música. Minha mãe tinha um violão velho, eu o peguei e comecei aprender tocar e com isso também comecei a cantar. Eu amo pegar meu violão, em um final de tarde e ir à praia. Amo assistir ao pôr do sol dedilhando, apenas eu, Deus, meu violão e o barulho das ondas. Aqui em Provetá pretendo concluir o Ensino Médio, mas quando ter-

minar, terei que ir para Angra. Lá pretendo entrar em uma boa faculdade e me formar, queria poder continuar morando aqui, mas não temos opções de emprego, temos poucos recursos e essas coisas me impossibilitam de permanecer aqui.

Eu amo Provetá, gosto dessa paz e dessa tranquili-dade, aqui tenho meus amigos, minha família, mi-nha igreja. Aqui tenho minha praia, meu mar. Claro que aqui faltam algumas, mas sei que um dia elas existirão e tornarão esse lugar ainda melhor.

Vitória Ramos Ferreira Turma 1002

Textos desenvolvidos nas disciplinas de História, Sociologia e Filosofia, com as professoras Isabela Farias, Juliana Pereira, Sara Celeste (in memorian)

Escola e Colégio Pedro Soares | Parte do Projeto Culturas Caiçaras da Ilha Grande

- “Há alguns anos, quase a totalidade da população era evangélica, ficou famosa com reportagens a respeito de sua cultura e costumes em meia a um cenário litorâneo, como por exemplo, tomarem ban-ho de mar com roupas; - Hoje em dia a porcentagem de evangélicos diminuiu con-sideravelmente, abrindo no-vas portas para o turismo; - A igreja principal é evan-gélica, situada no centro da Vila se destaca facilmente das demais construções; - Grande parte das casas beira mar são construídas de costas para a praia, com a in-tenção de ficarem de frente para a rua principal, algo que torna a arquitetura da Vila bem diferente”.

Curiosidades

A Vila do Provetá abriga a segunda maior comunidade da Ilha Grande, com aproximadamente 1.500 habi-tantes, também a segunda em movi-mento econômico. É habitada basica-mente por pescadores e a atividade pesqueira profissional é bastante ati-va, porém o turismo vem se desenvol-vendo na região a cada ano.

Estão baseados em Provetá os maio-res barcos pesqueiros de alto mar da região, que descarregam na cidade de Angra dos Reis. Também a pes-ca manual com linha e rede é muito praticada nesta localidade.

Espaço Provetá Foto: Karen Garcia

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 201510

Banzeiro – É quando o mar está virado, mexido igual a bargaceira.

Fugacho – Tocha de bamboo com estopa embebida em querosene, muito utilizado em caminhadas noturnas para ir as festas das igrejas de outras praias.

Biaca – Pirão de banana verde.

Paçoca – Farofa de banana.

Camunia – É uma cocada diferente feita com a adição de gengibre.

Cerão – Ou cerãozinho, bom pra sair pra pescar no final de tarde, horário que antecede o anoitecer.

Fonte: Anderson Pontes

Conhece mais termos?Encaminhe e publicamos!

Dicionário Badjeco de

Termos e Manias

Amor e sentimento pelo sofrimento do mundo, coração de um poeta

Espaço Badjeco

Eu queria saber o que faço para que num abraço tudo eu pudesse dizer;

Eu queria saber o que faço para que mais união no mundo pudesse ter;

Eu queria saber o que faço que o amor viesse a unir corações;

para que a felicidade tivesse em todas emoções;

Eu queria saber o que faço para que ao invés da tristeza tivesse alegria;

Eu queria saber o que faço para que todos no mundo vivessem em harmonia;

Que a verdade tivesse em todo dizer;

Eu queria saber o que faço para no mundo não existisse mais o sofrer.

Quem é Cosminho?

Cosme Pereira Nascimento, é nascido e criado na Ilha Grande, na Fazenda Aroeira, enseada de Pal-mas.Mesmo com pouco estudo suas poesias chamam a atenção e já pu-blicou dois livros.

Cosminho - o poeta

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015Foto: Marcio Ranauro

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Lopes Mendes

Pico do Papagaio

Fotos: Anna Jiulia Goulart

Eleita uma das praias mais bonitas do mundo, Lopes Men-des está situada nos limites do PEIG. É muito procurada por suas águas claras e entorno preservado. Lá é possí-vel desfrutar de uma boa caminhada observando animais como o esquilo Caxinguelê, o Tangará e o Tiê Sangue. Além do banho de mar, a praia recebe constantemen-te boas ondulações para a prática do surf. Para os mais aventureiros é possível chegar a Lopes Mendes de Trilha a partir do Abraão (6km - entre 2hrs e 30min e 3 hrs de

Além de suas belas praias e costões rochosos, o terreno da Ilha Grande possui grandes variações de altitude, que proporcionam os visitantes do PEIG conhecerem locais especiais com visual deslum-brante como o Pico do Papagaio, com quase 1.000 metros de altitude. A trilha é uma das mais pesadas da Ilha Grande. Apesar de ter 6km (de ida) a trilha é bastante íngreme em todo percurso, que resulta em 3 ou 4 horas de caminhada, porém as belezas naturais compensam instantaneamente qualquer sacrifício. Por ser uma floresta com um pouco mais de altitude é possível observar aves diferentes, que só ocupam as partes mais altas da floresta como o Tropeiro da serra. Para ir ao Pico do Papagaio vá de bota de trilha ou tênis, leve água e algum lanche e sempre comunique o seu destino no local onde está hospedado. Se você não está acostumado a caminhar na floresta ou não se sente seguro con-trate um guia registrado.

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caminhada de ida), também é possível pegar embarca-ções no cais de turismo do Abraão com destino as praias Dos Mangues e Do Pouso (entre 20 e 60min dependendo da embarcação e das condições do mar), e dali fazer uma trilha (1km – aproximadamente 30min de ida) até Lopes. Lopes Mendes está dentro de uma Unidade de Conserva-ção da Natureza, faça sua parte e retorne com seu lixo, não alimente os animais e não leve animais doméstico.Seja um parceiro da natureza, colabore!

Foto: PEIG

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 201512

Balanço Voz Nativa 2014O Projeto Voz Nativa desembarcou na Ilha Grande em meados de abril de 2014 e chegou gerando expectativas mas também desconfiança de que po-deria ser mais um projeto que chega e se desfaz sem dialogar ou promover algum benefício para a comunidade.

Por isso, sua primeira ação foi buscar saber o que os moradores da Ilha Grande desejam. Entre abril e maio de 2014, numa parceria com a Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande, o Voz Nativa realizou mais de 100 entrevistas com jovens da Vila do Abraão. A intenção da pesquisa era descobrir qual o perfil dos jovens locais, como eles vivem, quais suas expectativas de vida e que cursos ou ativida-des gostariam de realizar.

As entrevistas nos mostraram muito! Mostraram que os jovens da ilha são diversos, têm diferentes expectativas, apresentam condições socioeconomicas diferentes e que não existe um único perfil de interesses.

Por isso, em 2014 procuramos realizar cursos introdutórios atendendo as diferentes expectativas. Em 7 meses realiza-mos 14 cursos envolvendo formação profissional em turismo, sensibilização em meio ambiente, inglês e comunicação co-munitária. No total realizamos 252 horas de cursos em par-ceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 3 praias da Ilha Grande - Vila do Abraão, Praia Grande de Araçatiba e Praia Vermelha, além de 189 horas de curso de ingles no Espaço Voz Nativa, tudo gratuito! E queremos mais!

Atendemos quase 300 alunos e geramos 251 certificados da UFRJ para moradores da Ilha!

A demanda de cursos profissionalizantes na Ilha Grande é bem diversificada. Em 2014 iniciamos com maior atenção na qualificação em turismo e na comunicação comunitária, e em 2015 queremos aprofundar e identificar novas deman-das, estreitar novas parcerias e atender outras comunidades.

Só para citar alguns dos cursos promovidos pela parceria Voz Nativa e UFRJ, destacamos: Atendimento e Hospitalidade em Turismo; Turismo de Base Comunitária e as Unidades de Con-servação da Ilha; Gestão Sustentável de Meios de Hospeda-gem; Jornalismo Comunitário; Bio-arquitetura; Introdução à Fotografia Profissional; Comunicação WEB e Inglês.

Além dos cursos o Voz Nativa realizou alguns eventos com os parceiros da Ilha Grande, como o 1º Encontro Voz Nativa, o Lançamento da Primeira Edição do Jornal Voz Nativa e Contação de Histórias de Sacy e Lendas Brasileiras. E foi com muito prazer que participamos de eventos locais com parceiros como o Centro Cultural Constantino Cokotós, os Colégios Brigadeiro Nóbrega e Pedro Soares e a OSIG.

O Jornal Voz Nativa chega na sua 3ª Edição e é um sucesso em toda Ilha Grande. A cada edição novas praias e novos colaboradores mandam suas histórias e matérias, e em 2015 chegaremos a 10 edições participativas de toda Ilha!

Nossa responsabilidade aumentou, e os desafios também! Mas também aumentaram nossas parcerias! Em 2015 mais praias participarão dos cursos, novos eventos virão e o Jor-nal Voz Nativa continuará aberto para ser mais uma ferra-menta de expressão do sentimento da população da ilha.

E você morador é a razão de todo esse esforço. Contamos com todos para melhorar nossa atuação em toda a Ilha Grande!

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015 13

I Mostra Caiçara de CinemaNos dias 7 e 8 de Novembro foi realizada a I Mostra

Caiçara de Cinema da Ilha Grande. O evento contou com exibição de filmes e workshop de produção audiovisual. Resultado da parceria do Projeto Arena Cultural, o Colégio Estadual Brigadeiro Nóbrega e a produtora Meldro Filmes, na oficina de linguagens audiovisuais, realizada entre 2013 e 2014, os sete curtas tratam de temas do dia-a-dia dos moradores da Vila do Abraão. Além do material produ-zido pelos participantes da oficina, os filmes de Ildefonso Gomes e Roberto Melo, professores de linguagem audiovi-sual, também foram exibidos no Centro Cultural Constan-tino Cokotós na semana do Cinema Nacional.

A curadora do evento, Kelly Robaina, comentou sobre a não determinação de faixa etária para a realização da ofi-cina, o que possibilitou participação bem diversa e refletiu no resultado apresentado na mostra.

O cineastra e professor Roberto Melo, integrante da produtora Meldro Filmes falou sobre como nasceu a par-ceria e o decorrer de seu processo.

- Trocamos algumas idéias e ficou proposto em parce-ria com a Escola Brigadeiro Nobrega e o Projeto Arena Cul-tural, uma experiência de um fim de semana, para sentir o interesse das pessoas pela atividade. Acabou sendo mais do que esperavamos. Firmamos com o Adriano algumas outras datas para voltar e aos poucos, organizar com os moradores um núcleo de produção. Deu certo, né? O processo foi ma-ravilhoso, muito apoio da comunidade e instituições. Muita vontade de contar as próprias histórias era o que se via em cada um dos participantes, em cada um dos 5 fins de se-mana que tivemos na Ilha Grande ao longo de 2013 e 2014. Além dos alunos do Colégio, participou seu diretor, Anderson Pontes, por sinal engajadíssimo em toda ação que venha a valorizar a comunidade de Ilha Grande. Moradores de todas as idades também passaram pelas oficinas. Nesse processo,

pudemos contar com apoios sem os quais não teríamos toda a comodidade para realizar o trabalho, como foi do projeto Voz Nativa, que hospedou nossa equipe em suas dependên-cias e também vem fortalecendo laços conosco e com a co-munidade. - conta.

Adriano Fabio da Guia, coordenador do projeto Are-na Cultural e gestor do Centro Cultural Constantino Cokotós, comenta sobre a importância do audiovisual para o resgate cultural. “O audiovisual hoje é um dos documentos mais efi-cazes, visto o distanciamento das pessoas com a leitura. Ele cria um conceito de visibilidade na mídia. Quando o jovem publica um vídeo na internet e este material atinge um públi-co considerável, a auto-estima da pessoa é elevada. O objeti-vo da conscientização é tocar as pessoas, que elas sintam a importância da ação que promovem, pois o registro fica para o resto da vida”. – conta. Acrescenta ainda, que o produtor de conteúdo cria um referencial no protagonismo, a diferença de uma história contada por uma pessoa próxima a uma pessoa estranha contando sua história.

O projeto Arena Cultural pretende ainda utilizar o material como justificativa para disputa de editais de modo a dar continuidade no trabalho iniciado, visto a falta de apoio para as primeiras atividades e o anseio de pro-duzir o registro histórico da Ilha Grande. O coordenador do projeto, ressalta ainda as mudanças vividas nas comuni-dades da ilha nos últimos cem anos. Os hábitos culturais sobrepostos pela necessidade de subsistência tendo que adaptar-se às economias.

Karen Garcia Projeto Voz Nativa

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015

Roda de Conversa da Ilha GrandeNo tempo em que não havia luz elétrica, televisão e internet, as pessoas conversavam! Cantavam, contavam causos, troca-vam receitas. Os saberes eram passados através da fala, que para o caiçara é infinitamente mais importante que a escrita.

A Roda de Conversa, proposta pela Cultuar, começou com a exibição de dois belos curtas: “O último Caiçara”, filmado na Ilha Grande e protagonizado por Seu Clarindo, seguido do premiado “Dias de Caiçara”. O Centro Cultural Constantino Cokotós ficou pequeno para a grande roda que se formou na noite de 28 de Novembro.

A longevidade e excelente memória das senhoras Nair, Nilce, Aparecida, Nice e outras que enriqueceram o encontro com sua presença, impressionou os participantes. Fatos ocorri-dos no tempo da estação de quarentena, das fábricas de sardinha, do presídio, foram compartilhados e a nostalgia tomou conta da roda.

A exposição concebida pela moradora Neuseli Cardoso, com objetos pessoais e de grande valor afetivo, como uma linda colcha de retalhos, covos, barquinhos, samburás, entre ou-tros, deu todo um toque especial ao evento, assim como a música do grupo Prata da Casa.

A mesa farta, decorada pelo artesão Paes, com iguarias como paçoca de banana, café de cana, batata-doce assada, etc, possibilitou que algumas pessoas voltassem no tempo através do paladar e que outras, que só conheciam de ouvir falar, provassem novos/antigos sabores.

Segundo Rubem Alves, a saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. Deu saudade e vontade de voltar no tempo, de comer bororó e ir num baile na casa do Meu Santo ou da Dona Júlia.

Apesar das grandes transformações ocorridas nos últimos vinte anos na Ilha Grande, ainda hoje é forte a presença da cultura ilhéu. Antigos moradores trazem com eles lembran-ças, conhecimentos, saberes, expressões, danças, músicas, práticas religiosas, hábitos alimentares e sociais.

Registrar o jeito de ser caiçara, as memórias familiares, os instrumentos de trabalho, a relação da comunidade com a natureza e seu conhecimento sobre ela é de suma importân-cia, assim como o encontro de gerações e rodas como essa. Que venham outras!

Angélica Liaño Arte-educadora do Ecomuseu Ilha Grande

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Foto: Felipe Varandas

Fotos: Maria Posincovich

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015

Natal Ecológico da Ilha Grande Integração social, resgate da cultura e alerta sobre a importância

do reúso dos materiais

Pelo quinto ano consecutivo, a Organização para Susten-tabilidade da Ilha Grande - OSIG, realiza em parceria com a comunidade o Natal Ecológico da Ilha Grande. O evento com duração de onze dias, foi aberto com a exposição “Mar, Mata e Magia”, da artista plástica Edith Rizzo e contou com a apresentação de músicos locais e convidados de diversos gêneros, do POP ao Gospel. Dentre os convidados, o Coral Atrás da Nota e o cantor Marcello Dinis, de Minas Gerais. Sempre com uma mensagem da valorização na cultura, as apresentações envolveram o público local e turistas, em um clima descontraído e harmônico. Foram realizadas também, oficinas, contação de histórias e uma caminhada ecológica - coordenada pela Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande.

A importância do reúso do lixo e o impacto do homem no ambiente foram alertados através da decoração natalina confeccionada com materiais reutilizados, que provavel-mente seriam descartados e considerados sem utilidade. Pets, havaianas, latas de alumínio e conchas de Coquile de Saint Jacques, foram alguns dos materiais que compuseram as árvores expostas na praça durante o evento. Para além dos onze dias de festa, a iniciativa promove a integra-ção social desde a preparação do evento, até a conscientização sobre a importância da participação coletiva. A cada ano, os moradores, donos de estabelecimentos ou não, compreendem a significância do evento, participando cada vez mais.

Karen Garcia Projeto Voz Nativa

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 201516

Turismo Sustentável: querer é poder ?

Júnior Barros Graduando de Turismo - UFRRJ

Bibliografia: Apostilas do curso de Licenciatura em Turismo – CEDERJ - UFRRJ / UERJ

Em um mundo cada vez mais globalizado, o turismo é considerado uma atividade de fundamental importância para a sociedade e um dos principais fatores de interação humana.

Segundo a Organização Mundial do Turismo, turismo sus-tentável é a atividade que satisfaz as necessidades dos turistas e as necessidades das regiões receptoras, en-quanto a integridade cultural, a integridade dos ambientes naturais e a diversidade biológica são mantidas para as gerações futuras.

A Ilha Grande, a cidade de Angra dos Reis, o Estado do Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo, precisam querer que-brar os paradigmas que nos colocam em posição delicada quanto a um rumo mais sustentável, no que diz respeito a:

* Sustentabilidade ambiental, no acesso e uso dos resur-sos naturais;* Sustentabilidade social, na redução da pobreza e das desigualdades sociais e na promoção da justiça e da equi-dade.* Sustentabilidade cultural na preservação de valores, práticas, expressões e símbolos que transparecem a iden-tidade de cada grupo.* Sustentabilidade política, que visa aprofundar a demo-cracia e garantir o acesso e a participação de todos nas tomadas de decisões públicas.*Sustentabilidade econômica que garanta a equidade na distribuição dos benefícios advindos desse desenvolvi-mento e gere recursos que possam suprir as necessida-des das gerações futuras.

Os governos recitam seu poema: “não se abandona a noção de crescimento econômico ( capitalismo ), apenas se admite que é possível crescer muito, sem dilapidar os recursos ambientais por meio de um eficiente sistema de gerenciamento de uso”. Este conceito consegue, portanto, advogar um sistema de proteção ao meio ambiente que não abale os pilares de um modelo de desenvolvimento calcado no crescimento econômico”. Será ?

Entre contradições e críticas, o que se reconhece ser emergencial na atualidade, é planejar um modelo de de-senvolvimento que dê ênfase à escala humana, sendo as-sim, um dos maiores desafios do milênio em um novo projeto civilizatório.

“Quando amamos, cuidamos; e quando cuidamos, ama-mos. O cuidado constitui a categoria central do novo para-digma de civilização que forceja por emergir em todas as partes do mundo. A falta de cuidado no trato da natureza e dos recursos escassos, a ausência de cuidado com re-ferência ao poder da tecnociência, que construiu armas de destruição em massa e de devastação da biosfera e da própria sobrevivência da espécie humana, está nos levando a um impasse sem precedentes. Ou cuidamos ou perecemos. O cuidado assume uma dupla função: de prevenção de danos futuros e de regeneração de danos passados.” (BOFF, Leonardo, 1995)

Foto: Júnior Barros

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A gastronomia e o turismo

Waldeck Tenório Guia Turístico Caiçara

Uma nova tendência no turismo é a gastronomia. O se-guimento “Turismo Gastronômico” vem ganhando força em todo mundo e não seria diferente aqui no Brasil, onde a culinária é muito diversa com influências de diferentes culturas.

A diversidade de nossa culinária é bem característica da cultura de miscigenação. Várias são as contribuições deixadas pelos africanos, portugueses e indígenas. Pelos africanos posso citar duas frutas que muitos pensam se-rem originais do Brasil como a banana e o côco. A África também nos contemplou com o azeite de dendê, a erva doce, o inhame, o gengibre e muitos outros sabores. Dos portugueses herdamos também muitos pratos, como por exemplo, os preparados com bacalhau e os doces, como bolos e pudins. Com os indígenas temos o uso das raízes como alimento, como o aipim e a farinha de mandioca, os legumes, a castanha de caju, o milho e a pamonha, a canjica, a pimenta, o chocolate e a fruta do guaraná.

A diversidade é uma característica bem marcante de nos-so povo e isso reflete na culinária. Hoje temos pratos ori-ginalmente portugueses, africanos e indígenas, que após a miscigenação sofreram influências de outras culturas.

Conhecer a base de nossa culinária nos proporciona uma maior compreensão de nossas origens, é uma forte fonte de cultura e conhecimento de nosso povo. A lenda de que “comer manga e tomar leite é fatal” perdurou em nosso país por muito tempo. Porém foi uma tentativa de impedir que os escravos consumissem o leite, que era o alimento para os senhores e suas famílias, mostrando como a se-gregação racial influenciava até na alimentação, logo um importante fato histórico.

A vinda da Corte de D.João VI em 1808 contribuiu muito para o desenvolvimento da culinária no Brasil, através dos hábitos

alimentares da corte, a forma de preparo, a fartura e até a etiqueta a mesa. Apesar do próprio D.João VI não ter sido um dos melhores exemplos de etiqueta, o restante da corte man-tinha hábitos mais requintados. A conservação dos alimentos também evoluiu bastante com a vinda da corte para o Brasil.

A extensão continental do território brasileiro permitiu que hábitos alimentares diversos fossem disseminados em nosso país. A geografia, o clima, o relevo, a hidrografia, o litoral, são fatores que contribuem e muito para a diver-sidade de nossa culinária. Novas técnicas de agricultura também modificaram hábitos de cultivos antes impensa-dos, como por exemplo o cultivo de uvas no nordeste, an-tes um privilégio do sul do Brasil, hoje podemos ter vinhos produzidos na região nordeste.

Na região da costa verde, principalmente na Ilha Grande, temos hábitos alimentares bem ligados ao mar. Os frutos do mar são o carro chefe, preparados de formas diversas mas sempre contendo um modo regional e histórico no preparo. Na Ilha Grande , se destaca na gastronomia local o “peixe com banana”, prato que hoje se tornou histórico e referência na região.

O turismo gastronômico pode muito bem ser uma fonte de renda e de trabalho para localidades que mantenham seus hábitos culturais de alimentação. Porém esse seguimento vai além das comidas típicas, pois hoje é muito comum o turismo de visitação às fábricas de alimentos e bebidas para degustação como chocolate e vinhos.

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 201518

20 anos sem presídio Do Presídio ao Turismo

Qualquer um que queira entender a realidade da Ilha Grande há de avaliar a repercussão que tem na vida da Ilha “o presídio” – como é referido por todos – que ali existiu ao longo de um século. E também eu, desde 1999, quando comecei a estudar a Ilha Grande como antropólo-ga pesquisadora da UERJ, e acompanhando as pesquisas de outros colegas, não pude fugir ao reconhecimento des-sa marca e dos ecos de sua existência no lugar.

Mas, passados 20 anos desde a implosão do presídio da Vila Dois Rios em 1994, parece interessante pensar nas outras marcas da Ilha Grande, que convivem com o que agora passou a ser a memória dessa prisão. Se, um dia, o presídio foi a característica englobante do lugar – tendo a Ilha Grande sido bastante identificada com ele, especialmente pelos de fora –, hoje, a marca que engloba a Ilha é a de ser um destino turístico alta-mente sedutor, e é isso que a identifica tanto interna-mente para os seus moradores, quanto externamente para os possíveis visitantes.

Há particularidades muito importantes da Ilha, como é o caso da sua identificação com as “belezas naturais”, sen-do vista como um “paraíso ecológico”. E isso, de um lado,

corresponde ao fato de o seu território recobrir diferentes categorias de Unidades de Conservação (denominação le-gal para áreas de proteção ambiental), sendo o Parque Es-tadual da Ilha Grande talvez a mais conhecida; e de outro lado, implica a presença constante de órgãos/autoridades ambientais no sentido de zelar pela preservação dessas áreas. Outra particularidade é a identificação da Ilha com a “cultura caiçara”, naquilo que se poderia ver como uma herança cultural local, o que aparece e é valorizado de modo diferenciado nas diferentes praias/comunidades.

Nessa passagem do “presídio” ao “turismo”, é possível observar como essas importantes características da Ilha Grande vêm se tornando referidas ao turismo, a come-çar do próprio presídio, com todo o seu peso histórico e apelo ao imaginário das pessoas. Na Vila Dois Rios, as ruínas do presídio constituem hoje o Museu do Cárcere, parte do Ecomuseu Ilha Grande ali mantido pela UERJ, exercendo enorme fascínio sobre os turistas que lá fa-zem questão de ir, mesmo com os tantos quilômetros a percorrer de ida e volta ao Abraão. Quanto às belezas naturais e ao paraíso ecológico, se continuam devendo ser resguardados pelos órgãos ambientais, são também o alvo preferencial do turismo, devendo ser usufruídos

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Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2015 19

Por Renato Buys

Estamos completando vinte anos sem presídio na Ilha Grande, uma vez que o último es-tabelecimento do ramo, que nos restava, foi im-plodido em 1994. Para nós, moradores, o que mudou, se é que houve mudança? Mudaram-se os tempos, os modos, as maneiras de ser e de viver. Nós morávamos em torno de um presídio, um presídio conhecido e te-mido no Brasil inteiro, talvez no mundo todo. Os ecos do trabalho e dos problemas vividos pelos presos e funcionários degradavam aos morado-res, pode-se dizer, em primeira mão, pela proxi-midade. Não mais que isso. Ninguém vivia, extremamente, no Abraão, em Dois Rios, Aventureiro ou Palmas, um ambien-te de tensão constante, de medo, de riscos, por parte de bandidos ameaçadores. Havia aqui, pelo contrário, uma paz má-gica, um silêncio limpo e saudável sem gritarias, sem bagunça, com noites tranquilas e dias cal-mos. Há 20 anos, o presídio aqui era dentro do presídio. Mesmo os condenados, com as quais compartilhávamos pacificamente as ruas das nossas vilas, respeitavam os moradores. E eles, os presidiários, andavam em grande número fora dos muros do presídio. Para nós, então, não havia gritos, medo, bagunça, podíamos andar à vontade madrugada a dentro, dormir de janelas abertas, sem medo de la-drões, sem temor de brigas, nem sustos, sem rou-bos, sem drogas e drogados. Era tempo de presídio, para os presidiários, para os moradores, não. Hoje há uma inversão fundamental de perspectivas existenciais. Não há presídios e não há presos apenados pela justiça. Mas, sobretudo, acima das aparências e das falsas ideias, não há aquela paz que brota da verdadeira e total liberdade. Os presos, agora, somos nós.

20 anos sem o presídio

pelos visitantes, numa relação – preservação e turismo – que constitui um desafio administrar. Quanto à herança da “cultura caiçara”, antes carregada de ambiguidade por parte dos nativos – tanto desvalorizada (por associa-ção com significados negativos) quanto valorizada (por associação com significados positivos) –, agora tende a ser valorizada, como objeto da apreciação que o turismo faz de tudo aquilo que possa ser entendido como aspec-tos tradicionais de uma cultura local.

De um polo a outro, a Ilha Grande, um dia definida pelo presídio, é hoje definida pelo turismo, podendo-se ava-liar todos os efeitos que essa passagem tem tido nas diferentes comunidades e grupos da Ilha, assim como nas diversas condições e atividades da vida do lugar.

Rosane M. Prado Antropóloga, Professora

e Pesquisadora da UERJ

Foto: Luis Fernando Lara

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Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande

Colégio Estadual

Brigadeiro Nóbrega

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