jornal porto académico (fap) #10 (março2003)

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A história de um sem- abrigo que construiu um j império de solidariedade PágA fantasporto 2003 A entrevista a Mário Dormin- __ a"- __ ski: O passado, presente e futuro do maior festival de cinema fantástico da europa Pág.12e13 "hoje não é dia de festa e quem o seu curso superior a acabar deve sentir mais vertigens do que a tripulação do vai- -vem espacial." Pág.11 N.004! MARÇO 2003 -PORTO porto RCildemlCO Federação Académica do Porto DISTRIBUIÇÃO GRATUITA www.fap.pt E agora? Vão mesmo aumentar? .. É o que diz Durão Barroso. O ministro Pedro Lynce não confirma riem desmente, prefere antes defender as prescrições. Mas o "circo" parece montado. Alguns especialistas defendem Que o Ensino Superior Público é um investimento potencialmente rentável e por isso a contribuição dos estudantes e das suas famílias deve aumentar. Tudo isto faz lembrar uma grande cortina de fumo ... Então onde está a tão falada aposta na acção social escolar? Onde está esse pais que quer recuperar o seu atraso? Pág.8 e 9 PRAXE Amada por alguns, odiada por outros, nos últimos tempos a praxe tem sido fonte de acesas discussões desde o célebre caso da aluna de Macedo de Cavaleiros que acusou os colegas "praxlstas" de a submeterem a abusos durante a praxe académlca, Caso de polícia? Excessos frequentes em praxe? Erros de quem não sabe praxar? Para perceber os diferentes pontos de vista sobre a questão fomos ouvir as opiniões de praxistas e antí-praxístas. Pág.5 e 6 CULTURA Revisitámos a exposição "Caged/Uncaged" de Fran- eis Bacon, um dos pintores mais conhecidos na segunda metade do século 1OI. patente no Museu de Arte Contemporânea de Serralves até dia 20 de Abril. Pág.11

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A história de um sem- abrigoqueconstruiu um j impériodesolidariedade PágA eis Bacon, um dos pintores mais conhecidosna segunda metadedo século 1OI. patente noMuseu de "hojenãoédiadefestae quem vê o seu curso superior aacabar deve sentir mais vertigens do queatripulação dovai- -vemespacial." Pág.11 N.004! MARÇO2003-PORTO Federação Académica doPorto fantasporto2003Aentrevista aMárioDormin- www.fap.pt cinemafantástico da europa Pág.8 e 9 Pág.12e13 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA __

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Page 1: Jornal Porto Académico (FAP) #10 (março2003)

A história de um sem-abrigo que construiu um

j império de solidariedadePágA

fantasporto 2003 A entrevista a Mário Dormin-__ a"- __ ski: O passado, presente e

futuro do maior festival decinema fantástico da europaPág.12e13

"hoje não é dia de festa equem vê o seu cursosuperior a acabar devesentir mais vertigens doque a tripulação do vai--vem espacial."Pág.11

N.004! MARÇO 2003 -PORTO

porto RCildemlCOFederação Académica do Porto DISTRIBUIÇÃO GRATUITAwww.fap.pt

E agora?Vão mesmo aumentar? ..É o que diz Durão Barroso. O ministro Pedro Lyncenão confirma riem desmente, prefere antes defenderas prescrições. Mas o "circo" parece montado.Alguns especialistas defendem Que o EnsinoSuperior Público é um investimento potencialmenterentável e por isso a contribuição dos estudantes edas suas famílias deve aumentar. Tudo isto fazlembrar uma grande cortina de fumo ...Então onde está a tão falada aposta na acção socialescolar? Onde está esse pais que quer recuperar oseu atraso?

Pág.8 e 9

PRAXEAmada por alguns, odiada por outros, nos últimostempos a praxe tem sido fonte de acesas discussõesdesde o célebre caso da aluna de Macedo deCavaleiros que acusou os colegas "praxlstas" de asubmeterem a abusos durante a praxe académlca,Caso de polícia? Excessos frequentes em praxe?Erros de quem não sabe praxar? Para perceber osdiferentes pontos de vista sobre a questão fomosouvir as opiniões de praxistas e antí-praxístas.

Pág.5 e 6

CULTURARevisitámos a exposição "Caged/Uncaged" de Fran-eis Bacon, um dos pintores mais conhecidos nasegunda metade do século 1OI. patente no Museu deArte Contemporânea de Serralves até dia 20 de Abril.

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em Que afirmou de uma forma alegórica oinevitável aumento das propinas. Mas claro que osestudantes não se deixaram minimalizar pelaponta do íceberçue, que seria um hipotéticoaumento das propinas, pois os problemas doensino superior em Portugal são muito maisprofundos. Para a história ficam as diversasmoções e propostas apresentadas e aprovadas,

E.rYJl.orPJtroNac/ona/P/re-lçãe-.s~»(U.t:et/V8>

Academia de Parabéns!A 25 de Fevereiro o nosso Instituto Politécnico atingiu a maioridade num momento em que a discussãoacerca da estrutura dos subsistemas. de ensino está tão acesa. A "jovem" Universidade do Portocompleta também o seu aniversário a 22 de Março, completando a bonita idade de 92 anos. Para ambasas nossas cordiais felicitações e votos de bom trabalho.

wwwfap.pr NOTÍCIAS

Ensino Superior Públicovítima da nota positivaA introdução de nota mínima de 9,5 valores nas provas de acesso irá aumentar o número de alunos Quenão ingressa directamente no Ensino Superior tradicional, pelo que se torna fundamental a criação deciclos curtos, pós-secundários, dê carácter fortemente vocacional, de acordo com documento sobre aConsolidação da Legislação do Ensino Superior.

.Desporto da AcademiaVitorioso nos CNU'sNo passado dia 9 de Fevereiro na Nave de Espinho realizaram-se os CNU's (Campeonatos NacionaisUniversitárioS) de pista coberta tendo a Academia do Porto mostrado que está em forma. Nos 400mplanos femininos venceu Ana Marques do ISCAP logo seguida por Vanda Ribeiro da FCDEF. Nos 60mplanos Isabel Soares da FEP conseguiu um honroso 5° lugar. Nas provas masculinas vitória nolançamento do peso para o atleta da FCDEF Paulo Pereira, no salto em altura venceu Rafael Gonçalves daFMUp, no salto à vara 2° lugar para Ernesto Pereira da UFP e 3° para Herlander Marcos do ISMAI. Nos400m planos o 3° lugar foi para Serafim Gadelho da FCDEF e nos 1500 o 5°,6° e 7° lugar pertenceram,respectivamente à António Silva (ISMAI), Ricardo Silva (FCUP) e David Ferreira (ISCAP). Também nosquash a vitória sorriu à nossa Academia com o título a ser entregue a Francisco Lima da FEP a partilhar opódio com Tiago Marques (3° lugar).

ENDAnaFEUPDecorreu na Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto (FEUP) o último EncontroNacional de Direcções Associaíivas (ENDA) nosdias 24, 25 e 26 de Janeiro. Neste encontro viveu-se a "blcdlversídade" académica do nosso país,com alunos representantes de todos ossubsistemas de ensino (Universitário, Politécnico,Particular e Concordatário), degladiando-se numaverdadeira "arena", tentando vingar as suas fés,ideologias e pontos de vista sobre o EnsinoSuperior.O encontro íniciou os trabalhos,quando a mesaconstituida por cinco elementos, deu a conhecer aproposta da ordem de trabalhos (esta é divididapor painéis temátlcos), ao plenário (conjunto dosrepresentantes das AAEE que se encontram noauditório), após díscussão, são propostasalterações que foram a votação. Assim forameleitos como painéis deste ENDA, temas de umagrande' abrangência como: saídas profissionais;financiamento, autonomia e estatuto da carreiradocente; ensino superiorpartlcuíar e cooperativo,só para enumerar alguns.Este ENDA foi também marcado pelas declaraçõesexplosivas do nosso primeiro aquando daapresentação de um livro sobre o ensino superior

SIC TRANSITGLORIA MUNDI ** assim vão as glórias do mundo

"O «numerus clausus», a propina, a deficienteacção social escolar (...) são obstáculos ao livreacesso ao Ensino Superior, constituindo tambémos dois últimos entraves à frequência do EnsinoSuperior."Nuno Mendes in "A Página da Educação", ano 12, nOl19.Janeiro 2003, p.12

"Em nenhum país da Europa (..) a despesa totalcom a educação superior acompanhou,proporcionalmente, o aumento dos últimos anosno número oe alunos no sistema"In Público, 06 de fevereiro, 2003

"Não está nos horizontes do Governo aumentar aspropinas."Pedro Lynce, Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Abrilde 2002 em Reunião no Ministério com DirigentesAssocialivos

"( ... ) é necessário, portanto, aumentar acontribuição dos estudantes e das famílias".Dr. Durão Barroso, in Público, 21 de Janeiro, 2003

"Ou O mjnistro omitiu alguma coisa aos estudantesou o dr. Durão Barroso passou por cima doprofessor Pedro Lynce. Acho que este deviaponderar a sua demissão, para pelo menos manteralguma dignidade"Nuno Mendes in Público, 24 de Janeiro, 2003

"Cerca de 300 estudantes da Universidade deCoimbra (UC), juntaram-se esta 5afeira em Lisboaaos colegas da Faculdade de Ciências e de Letrasda Universidade de Lisboa, formando um cordãohumano [em manifestação em Lisboa) paramostrar o descontentamento em relação aoscortes orçarnentais."in cup.cgd.pt

"Número de candidatos do recorrente ao ensinosuperior é dez vezes superior ao de 1999"in Público, 10 de Fevereiro, 2003

"Quando questionado sobre qual a concorrente daAAC (Associação Académica de Coimbra) na .disputa pela liderança do movimento, o senador daUC não hesita na resposta: A FederaçãoAcadémica do Porto".in "A Cabra" online, 11 de Fevereiro de 2003, em artigo deseu título "AAe poderá estar a ~erder liderança".

MARÇ02003 POrbORC8demlCO03

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EDITORIAL www.fap.pt

EDITORIAL'rIAGO VlLARfNHO *

'''''''.ti f!!:.Port;o RCíldP.1Il

Horas e horas depois de ver este Porto Acadêmico nascer cosido por novas linhas sento-me finalmentepara sinaptizar o editoriál que se impõe.

Ficam para trás os saberes de aulas perdidas, o tempo que se podia ter dedicado a quem mais gostamos,as chatices do texto que ainda não chegou, o texto que chegou mas caprichosamente reduzido ouegocentricamente enorme, as pressões sociais típicas de quem perde, um dia dos namorados com direitoa jantar à luz dos néons de um shopping qualquer e algumas dores de cabeça. Mas não percamos tempocom pormenores.

Acima de.tudo, ficam aqui as ideias da tua Federação numa altura em que tantas questões se levantam nomundo académico. Desde a Praxe, vista por uns como uma vil prática (poucos é certo) ou como ideário devivência académica para outros, até ao aumento das propinas passando pelos projectos sociais da Gidadedo Porto e pelo nosso "Fantasporto", procuramos Quenesta edição tivesses um conjunto de informaçõese opmiões que considerámos úteis na formação dastuas próprias ideias e convicções.

Não nos limitamos à realidade da nossa sede porque todas as questões que confrontarás na leitura destaedição vão muito para -alérn das nossas paredes: Questões como o aumento de propinas ou a paridadedizem-te directamente respeito e é contigo que poderemos ser voz responsável e forte na promoção de umEnsino de qualidade Superior. Porém, nem só de política educativa vive este teu Porto Académico.Procuramos desenvolver secções como o Desporto, Cultura e Internet para munir o teu jornal de ideiasque te sejam úteis ém áreas não abordadas em anteriores edições.

Se a nova cara do Porto Académico e as novas ideias introduzidas resultaram num conceito que te agradaficamos feÍizes. Mas muito ainda há para fazer. Num projecto feito da carolice, boa vontade edisponibilidade de estudantes como tu existirão sempre imprecisões e erros, gralhas e defeitos inúmeros,sendo que a única coisa que prometemos é que tudo o faremos para o evitar.

Acima de tudo, este Porto Académico versão 2003 é um projecto aberto, do Qualtambém tu poderás fazerparte e onde todas as ideias são benvindas. Assim sendo, se tens vontade de trabalhar não hesites: a portaestá aberta.

* DIRECTOR' EDITORl<'lL

WIFEDERACÁOACADEMICADO PORTO

POR UMA PRIORIDADE NA EDUCAÇÃO

FICHA TÉCNICA

porto RCidlmlCO~

Propriedade: federação Acadêmica do PortoDirector Editorial: Tiago VilarinhoRedacção: Ana Pereira, Hugo Carneiro, Joaquim Antônio,Nuno Mendes, Nuno Reis, Pedra Rios, Ricardo PintoConvidados: Pedra Lynce, Rui Reininho

. 02 pormcl.íjllco MARÇO~003

A História doPorto Académico

Nascido a 6 de Novembro do longínquo ano de1922, sob a direcção de Santos Nobre, ManuelFerreira na edição e João perry a colaborar comoredactor principal, o Porto Académico teve a suaprimeira morada na Rua Antero de Quental nonúmero 213. A 28 de Maio de 1926, dá-se umgolpe de Estado e inicia-se a Ditadura Militar; que 6anos mais tarde dá lugar ao Estado Novo. O PortoAcadémico assume-se como um jornalindependente e imparcial, principalmente nosprimeiros anos da Ditadura Militar, num contextoem que também a própria Academia do Portoestava dividida em termos políticos, apesar detudo, relata nas suas páginas as manifestaçõesestudantis de apoio ao Governo e contra este.

'. A partir de 1926 surge já como órgão oficial daAAP (Associação Acadêmica do Porto) e nessemesmo ano, dirigidO já por Augusto Saraiva eeditado por Macias Teixeira, cobre o MovimentaGrevista de Fevereiro a Maio desse ano. Nas suaspáginas podia ler-se "é, antes de tudo, ummovimento de defesa. Mas é, também, ummovimento de protesto. Como movimento de.defesa, ele reage contra meia dúzia de políticosque entendem que Portugal é propriedade sua (...),lesando direitos incontestados e incontestáveisdos alunos das escolas superiores, elespretendem nomear para lugares que só a estesdevem pertencer, criaturas cuja competência podeser muito duvidosa, mas cuja fidelidade polítlca écerta e só cornoarãve' à fidelidade humilde epaciente do cão ao seu nobre dono. (...) Comomovimento de protesto luta contra o abandono,miserável abandono, a que tem sido votada, atéhoje, a causa da instrução". Contestandoafincadamente o Estatuto da Educação Pública deJoão José Garnoesas apresentado à Cãmara dosDeputados que consignava o Ensino Livre nasFaculdades, Institutos e Escolas Superiores,senda acaloradamente defendido pelosintelectuais da Seara Nova mas denunciado pelosalunos como um diploma que "trata os licenciadosdo país como professores do liceu".Ontem, como hoje, tantas questões permanecempor resolver ...

Fotografia: Moinhos de Matos, Arquivo FAPCriação Gráfica: Fernando MarUns, Luiz MonteiraPaginaçãO e Impressão: ProESboço - Design e PublicidadeTiragem: 10.000 Exemplares

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FAPSQCIAL

QUEMÉ]OHNBIRD? .Nascida na Londres dos escombros M' pOS"guerra em 1946 cresceu num orfanato tendo .sido

. nabítué de piísõescorrectivas durante ajuventude. Vagabundo das ruas londrinas, semcama nem tecto, viveu de pequenos furtos eassaltos a automóveis até' se tornar um sem-abrigo típico. . .Em 1991 tem a "louca" ideia de lançar umapublicação dedicada aos sem-abrigo.Gonseguido.s os.apolos mínimos nasce a "lhe BigIssue", voz dos sem-abrigo na luta contra asdisparidades sociais. Actualmente 'a "Big lssue"tem umatiragem de mais de um milhao e duzentosmil exemplares semanais só em Inglaterra, tendo oseu modelo sido seguido em mais de dez paísesem quatro contnehtes.'A partir do periódico funda a "The Big Issue

Foundalion" dirigida para a recuperação ereintegração social dos mais desfav.orecidos,íncansáveí, acaba de lançar mais um prejecto,desta vez na íntemet, a Burgeon CréativeJdeas.empresa responsável pelo desenvolvimento dosite ABCtales.com destihado aos "sem-media", Aideia é dar espaço para publicar os seus lextôs aquém nunca o conseguiria fazer pelas editorasconvencionais, Mesmo Quem não tem formaçãopara escrever um livro. dispõe de ajuda ónline paradesenvolver o seu pwjecto literário.

04 porboRcad'fmlco MARÇÓ2003~ .

Fundador da "Big Issue" no PortoIni~Íativa da Fundação para o Desenvolvimento Social do Portocom a colaboração da FAP Social

JohnBird contou na-primeira pessoa o que é ser um "sem-abrigo", alimentar aalma de sólidão e desespero, sobreviver ti retomar o sentido de uma vida agoravoltada para a ajuda ao próximo.

o criador da "Big lssue", uma revista mundialmente conhecida e que tem como objectivo ajudar a re-integração dos sem-abrigo,' esteve no passado dia 28 de Jàneiro a convite da Fundação para oDesenvolvimento.' Social do Porto na Bonjóia, iniciativa a qual a FAP Sacial se associou. perante umaplateia de notáveis, Bird contau a "história da sua vida".De facto, só uma pessoa que em tempos foi um sem abrigo e Queconseguiu reinteqrar-se podia percebertão. bem, de uma forma clara e tão tocante a verdadeira problemática da exclusão social. Em Portugal umexemplo copiado da criação. de Bird, será parventura a "Cais", em que 70% do preço.oe capa reverte paransem-abnço e que muito por cá tem contribuido por devolver um caminho. um objectivo e acima de tudo a 'esperança outrora perdida a quem rnaís dela precísa..

A percepção clara 'da realidade leva-o a afirmar que a "verdadeira genllrGsidade começa não quando •ajudámos um familiw ou amigo mas quanõo ajudamos um desconhecido" e açrescenta "o sem"abrigonão pode continuar a ser aquele que recebe as roupas que não queremos, os cobertores que já nãousámos". Teve problemascom o álcool e com a droga, mas foi no amor Que encontrou o caminho. Apelapor isso à "distribuição da igualdade de oportunidades", que considera estar acima da "distribuição dariqueza" e culpa o mundo individualista de.prornõver o fenómeno da exclusão e da solidão. A estratégia ésimples, ensinar o sem-ábrigo a ser uma pessoa indépendente,' com Gapacidade de trabalhar e tazendó-operceber que pode ser atil. Considera que dar a esmola é exactamente o oposto do-que se. deve fazer e deum modo irreverente afirma mesmo Que "tanto as pessoas Que dão esmola' Gomo as. Que não dão. sãoadiáveis", 'A iniciativa da Fundação para o Desenvolvimento Social do Porto serviu para a apresentação pública dopropósito desta Furidação de lutar contra o tenémeno dos sem"abrigp na ci.dade do Porto, projecto nasequência do '!Florto Feliz", virado,para aintegração social ~os "arrumaaores",

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PRAXEwwwfap.pt

PRAXE ACADÉMICAA tradição ainda é o que era?

pontualmente, caído em exageros que uns dizemser excepções, outros acusam de ser a regra.Ainda assim são muitos os alunos que aderem àpraxe. Luísa Couto, doutora de praxe da Faculdadede Letras, explica porquê: "a praxe é um processode socialização entre os recém chegados àacademia e os que já lá estão. E é um apoio para osque vêm de fora e que à partida não conhecemninguém".

Uma cerírnónía que podia cumprir um papelimportante assume por vezes contornos menospositivos. Joana Loureiro, aluna do 20 ano naUniversidade Lusíada, admite que a praxe é, porvezes, agressiva: "Os doutores são bastantepuxados. 'Comigo nunca aconteceu. Mas haviaalguns caloiros que eles não curtiam muito eestavam sempre no pé deles". Luísa Couto chamaà atenção que "em praxe não se pode .exigir nadaque a pessoa que manda não possa fazer".

A Praxe goza de uma tradição secular. E cresceu apar com a contestação dos que estavam contra osseus princípios e práticas. Nenhum outro aspectoda vida universitária divide tanto os estudantes,A praxe remonta ao século XIV, anuando da criaçãoda cnação da Universidade de Coimbra. No séculoXX, em 1968, por um lúto académico em reacção àsituação governativá e política que se vivia emPortugal, a praxe sumiu das Universidadesportuguesas para reaparecer na década de 80.Nessa altura restaurou-se a praxe, tendo sido oOrfeão Universitário do Porto a primeira instituiçãoa readoptar o traje académico. Estereaparecimento não foi, de todo, pacifico. AméricaMartins, 'Dux veteranorum da Academia doPorto, explica porquê. "Estávamos num períodode revolução, em pleno PREC em que a esquerdaportuguesa era avessa ao meio académico porqueeste era conotado com a direita e o regimedeposto", diz. Curiosamente, antes do 25 de Abrilos estudantes era conotados com a esquerda.Hoje os praxistas são conotados com a direita e osanti-praxe com a esquerda. É uma forma limitadade ver a praxe. Esta pouco ou nada terá a ver compolítica, ainda que os seus protagonistaspertençam a este ou àquele partido.

lamenta o Dux Veteranorum. "Hoje o Magno temfeito um esforço em formar as pessoas, naprocura das nossas origens, ensinar-lhes a culturada praxe", diz Fernando Borges, decano daAcademia do Porto.Antigamente os estudantes usavam o traje paranão ser diferentes. Desde que tivesse trajado, "era

- um de nós", nãõ se olhava à casa. Eram todos damesma academia e portanto do mesmo grupo.Hoje os estudantes usam o traje precisamentepara marcarem a diferença. "Os nossos amigosque já partiram bateram-se para nós andarmos decapa e batina. Hoje andar de capa e batina é um

Uma alternativa à praxe?Tão antiga como a Tradição Académica e a Praxe,é a contestação que estas suscitam. Os gruposanti-praxe. ganharam, nos últimos anos, umaexpressão crescente no meio universitário.Ricardo 'Coelho, membro dos Antípodas (grupoque existe no Porto desde 1996), explica que háalternativas de integração sem que o caíolro tenhade se sujeitar a humilhações: "Propomos umarecepção que não envolva hierarquias, em quetoda a gente participe em pé de igualdade e se .divirta da mesma forma, onde ninguém possa darordens a ninguém". Ricardo Coelho opõe-se àprática de uma hierarquia em que o critério é aantiguidade. Os praxistas chamam à atenção queos que se dizem anti-praxe não viveram a praxe.Fernando Borges, . decano' da Academia, escla-rece que "a praxe é extremamente democrática.Chega-se ao topo da hierarquia não, como aspessoas pensam, pelas inscrições. É mérito e éuma questão de liderança. As pessoas têm deperceber que se forem contigo vão bem".Os Antípodas pensam estar em condições, nopróximo ano lectivo, de pôr em prática em algumasfaculdades a tal recepção alternativa, na linha doque já acontece, por exemplo, nas faculdades deBelas Artes e Arquitectura. De facto, na Faculdadede Arquitecturà também existe uma recepção.Diferente porque não envolve a praxe, mas com omesmo objectivo de integração. "Nós no inicio doano temos uma semana de recepção bastante

. semelhante à das outras faculdades. Temos o jan-tar do caloiro, a aula fantasma, desporto, mesasredondas com professores do 10 ano de maneira aque os alunos que chegam percebem mais oumenos o que os espera, as festas, o ráli das tas-cas.", explica Gil Almeida, presidente da Associa-ção de Estudantes da FAUP.O facto de não haverpraxe em Arquitectura tem levado os estudantes,nos últimos anos, a fazer algumas confusões.Vulgarmente tomam-se os alunos daquelafaculdade por anti-praxistas. Parece que não ébem assim. Gil Almeida deixa bem claro que "a AE

A praxe ontem ...O movimento que reanimou a praxe no Porto,inicialmente minoritário foi engrossando as suasfileiras à medida que a Universidade viu duplicar onúmero de estudantes. Américo Martins descrevecomo ressurgiu e como sobrevive hoje a praxe:"Em 1977 um pequeno grupo de pessoas quetinham experiência ligadas à praxe começou apensar como se podia reanimar a actividadepraxistica no Porto. Ficaram conhecidos por'transeptos. Foi como uma mancha de óleo.Éramos 10 ou 12 e esse pequeno gru'po foi-sealastrando. Ganhou urna amplitude cada vezmaior. A grande maioria dos estudantes hoje Querestar na praxe mas não sabe como é que há-deestar na praxe. Não tem conhecimentos e não temvivência. Depois cometem-se os exageros e oserros a que assistimos."Se a tradição já não é o que era, o que é que mudouna tradição académica de há vinte anos para cá?Hoje há mais competitividade e até maiorexigência no acesso aos cursos e "aqueles queconseguem usam depois como sinal exterior otraje e a ligação à praxe. Isso, entre outras coisas,vem deturpar o espirito da praxe que nós tínhamõsnos anos 70 e 80", diz Américo Martins. A tradiçãoacontece hoje dentro de uma estrutura rígida,estudada. "Só se vive a praxe sentindo-a. 6 ummodo de vida. Hoje a Academia vive dentro donormativo. Procura aquilo que não conhece, lê oslivros e aplica a parte teórica que lhe ensinaram",

luxo. Eles foram apedrejados. O traje não se veste,sente-se. Tento dizer aos caloiros todos os anosque se for para vestir traje, não vistam. Se for parasentir o traje, é diferente", continua Fernando.

...ehoje!Hoje, a praxe já não é tão brutal como a que sepraticou em séculos anteriores mas têm cada vezmais dificuldades em continuar o espirito de quese revestiu há 20 anos. A praxe é, dizem os "pró"

- praxe, uma maneira de integrar os caloiros na vidauniversitária e mesmo na cidade que os acolhe.Esta prática secular, no entanto, pode e tem

MARÇ02003 pmo Rcad~mlCO05

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PRAXE

não tem de estar contra a praxe nem a favor dapraxe." A maioria dos alunos de Arquitectura são,isso sim, alheios à praxe. Valorizam outra tradição,a do curso "que já existe em Portugal desde o sé-culo XVIII", explica o presidente da AE. Ese nas ou-tras faculdades apenas uma minoria dos estudan-tes não quer estar envolvida na praxe, aqui aconte-ce o contrário. Começam a liaver estudantes quequerem ser praxados. Por não ser tradição nafaculdade, não quer dizer que não possam viver apraxe. A Assocíação de Estudantes promoveu noinicio do ano sessões de esclarecimento e debates

.sobre a praxe para todos os interessados. "Acimade tudo defendemos a tolerância. Cada um sabe oque querfazer" , diz Gil Almeida.Mas nem todos são assim tolerantes. E quem estána praxe leva a tradição. muito a sério. A JoanaLoureiro está no segundo ano mas já se senteindignada corn certas formas de estar ou não estarna praxe. "Há muita gente que é anti-praxe masgosta de assistir à praxe e mandar bocas. Se sãoanti-praxe não têm nada que assistir à praxe." Osestudantes anti-praxe furam muitas vezes aquelatradição e se a maioria das vezes só assistem,vezes há em que conseguem provocar algumaagitação. Há ainda os indecisos, que são pelatradição académica mas não pela praxe. "Há duasraparigas da minha turma que se declararam anti-praxe. Uma anda com a capa, a outra chegou aocúmulo de se trajar em Maio e na recepção do anoseguinte ajudou a praxar", conta aJoana.

comunicação social por um motivo menos feliz.Uma estudante do Instituto Piaget de Macedo de

. Cavaleiros queixou-se de ter sido submetida aabusos na praxe académica, no inicio do anolectivo. A estudante terá sido obrigada a simularorgasmos, a despir-se e a vestir a roupa do aves-so, a imitar um asno e até a proferir insultos contraos próprios pais. Alguns de vós lembram-se deviver, não todas mas, algumas destas situaçõesdurante a praxe mas na altura terão levado nabrincadeira. Será que é tudo uma questão de terestõmago para aceitar ou não certas "brincadei-ras"? A Joana Loureiro diz que as pessoas podem.escolher e que ninguém obriga ninguém, que arapariga em Macedo de Cavaleiros terá sidopraxada porque quis. Será? Ricardo Coelho, dosAntípodas, adverte que "estes casos acontecem,infelizmente, por todo o pais em várias faculdades ..E mais do que frequentes, são previsíveis".Excepção ou regra, o que é certo. é que depoisdeste episódio vir a público, o Ministro PedroLynce fez saber que tenciona legislar sobre oassunto. A opinião geral ao meio académico pare-ce ser a de que o governo não tem nada que "metero nariz" na praxe e nas tradições académicas.Mesmo aqueles que não praxam, não vêem combons olhos essa possibilidade. "Aliás nós somoscontra a proibição da praxe. Ela não deixa deexistir, simplesmente passa a decorrer noutrositio, às escondidas onde vai fugir ao controle",avisa Ricardo Coelho. Gil Almeida também é daopinião de que o governo não deve intervir: "Ogoverno não tem de legislar a praxe. A partir domomento em que as pessoas não são respeitadas

A praxe faz noticia pela negativa.Nos últimos meses a praxe esteve na agenda da

POLíTICA EIlUCATIVA"Consolidação da Legislação do Ensino Superior"Breve abordagem sobre o documento .o ministro do ensino superior propôs para várias questões sobre o governo das instituiçõesdiscussão um documento de título "Consolidação do ensino superior, como se se deverá fazer umada Legislação do Ensino Superior" fruto do g~upo gestão por profissionais e não académicos, emde trabalho encabeçado por Alberto Amara!. E um que moldes e em que orgãos. Aqui vem à bailadocumento bem elaborado mas tendencioso, que também a questão: qual o peso relativo dos dife-provoca uma discussão mais profunda para o que rentes corpos institucionais (docentes, alunos eQueremos do ensino superior e procura dar funcionários), na participação nos vários orgãos?cenários possíveis para a famigerada reforma O proximo ponto é o acesso, em que são aborda-estrutural do ensino superior. Dividindo-se em dos temas como o numerus clausus e a questãovários pontos, o documento começa com uma dos 9.5 valores e que implicações poderão advir.

. questão muito simples: deverão ser mantido os Seguidamente é levantada a questão -da Autono-dois subsistemas de ensino superior - Politécnico 'mia e regulação. Neste ponto são questionadase Universitário? No segundo ponto é levantada a todos os tipos de autonomias: ciêntifica, pedagó-questão de que graus e diplomas devem as g·ica, administrativa, financeira e são evocadosinstituições portuguesas ministrar. Em Portugal vários tipos de regulação desde a capacidade deexistem quatro graus: bacharel, licenciado, mestre auto-regulação e a feita pelo mercado. No sextoe doutor. Este assunto é colocado pois neste ponto são colocadas as questões sobre as fontesmomento ainda não se sabe muito bem o trabalho de financiamento das instituições do ensino supe-que as instituições estão a fazer para se adaptar ao nor em que os autores enumeram apenas três: osProcesso de Bolonha. Oterceiro ponto levanta contribuintes, os pais e os alunos. Neste equilibrio

06 porto Bca4~mlCoMARÇ02003

enquanto indivíduos, é um caso de policia. Quemachar que é violentado, chega à policia e apresentauma queixa". O próprio Conselho Magno desa-prova o que se terá passado em Macedo deCavaleiros. "Não tivemos lá. Não testemunhamosas coisas por isso não comentamos. A ser ver-dade, é um caso para resolver com acção. policial,no tribunal ou por acção disciplinar dentro daescola", diz América Martins.A questão da praxe está longe de ser pacifica. Aocontrário de outras que habitualmente unem osestudantes, esta é das poucas, senão mesmo aúnica, a despertar claras reacções de amor ódio.

, ANA PEREIRA

tri-partido de fontes de financiamento que percen-tagens e em que moldes se deverá fazê-lo. No pró-ximo ponto é anoraca a questão da distribuição dofinanciamento, questionando se se deverá mantero actual sistema de fórmula assente no número dealunos que ingressam nas diversas instituições doensino superior (chamaria-lhe o financiamento "àcabeça") e pondera também se não se deverá ocaminho li contratualização real do ensino. Segui-damente e levantada a questão da investigação,lembro que Portugal continua a ter baixos indicesde 1&0, como será possivel agilizar todo o poten-cial criado pela investigação e quem deverá fazê-lo. Por fim é levantada a questão da avaliação e daacreditação. Neste momento o CNAVES tem feitoum bom trabalho na avaliação das licenciaturas, .mas o grande problema que se levanta são com aspós-graduações... Quem regula os graus dedoutor? Neste momento apenas Deus.Este artigo é apenas uma abordagem minimalistado documento posto à discussão, e que procuracativar os leitores para uma leitura mais profunda.Estamos às portas de uma verdadeira revoluçãoeducativa e espero com isto apelar à vossa cons-ciencialização sobre problemas que vos afectamno dia-a-dia.

JOAQUIM ANTÓNIO

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wwwfap.pr .OPINIÃO

U ma reflexão na primeira pessoaPEDROLYNCEMinistro da Ciência e do Ensino Superior

A evolução do ensno superior em Portugal nasúltimas décadas pode ser genericamente retratadacomo uma história de sucesso com algunsfracassos. Sucesso na generalização do ensinosuperior, sendo hoje frequentado por cerca de400 000 alunos. Sucesso no desenvolvimento deinstituições ancilares da cultura e ciência portu-guesas e na emergência de novos estabeleci-mentos de ensino enraizados na realidade local.Sucesso na qualificação sempre crescente docorpo docente, assinalado no número de mestra-dos e doutoramentos e de outras provas científi-cas e pedagógicas. Mas esta é igualmente umahistória com aspectos menos positivos, emgrande parte consequêncía de uma .evoluçãodemasiado apressada, com regras náointeira-mente sedimentadas, tantas vezes perdendo devista que uma instituição do ensino superior deveser o resultado de tradições culturais e científicas,e não um estabelecimento atento apenas aofuncionamento do mercado. Por outro lado osinvestimentos foram crescendo e Portugal é hojeem dia um dos países que utilizam mais recursospúblicos na educação, ainda que a melhoria dosresultados não seja visível.Não pode deixar de observar-se que muito dodebate acerca do ensino superior em Portugal temsido marcado pela ausência de uma reflexão séria,sensata e desapaixonada, A precipitação dodiagnóstico fácil, do voluntarismo político, dasideias feitas tantas vezes erradas, nomeadamentea ideia segundo a qual todos as problemas seresolvem gastando mais dinheiro no ensinosuperior público, todos estes vícios têm inQuinadoo debate acerca de um tema que é nuclear para odesenvolvimento do país e da sociedadeportuguesa.A discussão acerca do ensino superior na Europatem sido dominada, desde a década de 1980, por

. três grandes tópicos: autonomia, orçamento equalidade.Os instrumentos legislativos aprovados emPortugal· seguiram estas tendências, que aquiapenas podem ser sumariamente consideradas. Aautonomia das instituições deveria permitir modosde organização adequados à vocação de cada·uma, assente na sua missão científica e cultural. Ofinanciamento do ensino público deveria obedecera critérios de igualdade entre instituições, assentarnas suas iniciativas e na capacidade de obterreceitas .próprias, para além daquelas queresultam de transferências do Orçamento doEstado. Finalmente, uma política de qualidade

seria um outro pilar da organização do ensinosuperior, política assente na independência eautoridade cientifica do órgão e dos responsáveispela avaliação e na possibilidade de comparaçãoder resultados e de ,auditoria dos respectivoscursos.À autonomia das instituições faltou umacomponente essencial de todo o processo: aresponsabilidade. Não foi criado um sistema deresponsabilidade pelo mau uso e abuso daautonomia. Responsabilidade nos planospatrimonial e puramente educativo. As instituiçõesnão são penalizadas pelo modo como aplicam osrecursos públicos nem pela falta de qualidade doensino; assim como os dirigentes, além do maispor força do princípio da renovação periódicá dostitulares dos órgãos ou então da colegialidade dosprocessos decisórios.Por outro lado, o modelo de financiamentoadoptado levou as instituições a competirem porum bem Queé progressivamente mais escasso: osestudantes. Estando o financiamento ligado aonúmero de estudantes, as instituições lançaram-se num processo de expansão que muitas vezesnão atendeu às exigências de qualidade, a ponde-rada e reflectida criação de cursos de bacharelatocomo de licenciatura e, mais recentemente,também de mestrado e de doutoramento. Para umpequeno País, com uma elite cientifica e culturaldiminuta, a factura dos custos teria sempre deaparecer: muitos cursos sem pessoal docentequalificado e preparado pedagogicamente;formando diplomados para o desemprego;manutenção artificial de estudantes repetentesnas instituições; multiplicação de formas definanciamento fácil, muitas vezes levando asinstituições públicas para um perigoso caminhode pnvanzàçao dos ganhos e de publicitação dosprejuízos .Alguns resultados do sistema de avaliação daQualidade das instituições e cursos do ensinosuperior, felizmente raros e residuais, demonstrama validade daquela conclusão. Como também areiteraa expansão do ensino superior público foifeita sem regras e sem planeamento, nacional eregional, e sem a definição da vocação específicadas instituições, em especial no ensino politéc-nico. Assim, para superar a ausência de um planoestratégico de desenvolvimento do ensino superi-or português será necessário repensar o investi-mento, promover a formação do pessoal docentee combate ao insucesso escolar. A introdução deum sistema de acreditação de instituições e de e

cursos, como elemento central de aferiçãopública, transparente e rigorosa da qualidade dasinstituições, termina' com uma apreciação demérito. Só assim as instituições gànham credibi-lidade perante o exterior, nomeadamentepermitindo aos estudantes e seus familiares umconhecimento rigoroso e comparativo do valordas instituições e cursos.Deste modo, é tarefa prioritária a consolidaçãoduma rede escolar de qualidade, através daaferição permanente de modo a permitir ao Estadoconéentrar investimentos em áreas prioritárias,como são, neste momento, as áreas científicas dasaúde e das tecnologias, assim se justificando odesinvestimento em áreas não prioritárias oumesmo excederitárias, como é o caso daformação de professores, da agricultura e dagestão.A ligação entre ensino e investigação científica etecnológica tem de constituir uma outra directivapolftica para um novo ensino superior, São diver-sos os desafios colocados face às oportunidadesda sociedade da informação; estabelecer procedi-mentos de articulação entre ensino e a investiga-ção, quer na óptica dos docentes, dos alunos edas empresas.Uma última palavra. Aprovado o Regime Jurídicodo Desenvolvimento e Qualidade do Ensino Supe-rior, o qual contém alguns critérios de orientaçãodo governo e das instituições, o Ministério daCiência e do Ensino Superior aproveita, assim, aoportunidade para iniciar os trabalhos de revisãoda legislação deste sector, incluindo a suaorganização e funcionamento, o financiamento, aestrutura de cursos e de graus e os estatutos dosdocentes. Esta revisão deve concitar o mais alar-gado consenso das instituições de ensino assimcomo das forças parlamentares, de modo a pró-porcionar um impulso reformador que seja capazde mobilizar a sociedade portuguesa num mo-mento de mudança estrutural do país e da Europa,

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POLÍTICA EDUCATIVAwww.fap.pt

Aumento das PropinasPrimeiro Ministro anuncia "inevitável aumento das propinas"

Desde a campanha eleitoral do partido destegoverno que pairava nó ar a possibilidade deaumentarem as propinas. A vontade do governo érever o financiamento do ensino superior públicoem 2003. Tal deveria passar por um aumentosubstancial das propinas pagas pelos estudantesuniversitários. Deveria, não. Deverá! O primeiroministro, Durão Barroso já confirmou: as propinasvão aumentar.

- Segundo o chefe de governo, trata-se de umamedida necessária para garantir o funcionamentodo Ensino Superior. Os alunos do Ensino Superiorvão passar a pagar propinas mais caras, paragarantir o financiamento do seu ensino. O governoargumenta que se queremos ter um ensino commais qualidade, temos que aumentar os recursosdo Ensino Superior. As hipóteses que se punhameram duas: aumentar os impostos ou aumentar asreceitas próprias das universidades, nomeada-mente através de uma maior contribuição dosestudantes. -Rui Teixeira, presidente da AEFEUP está contra oanunciado aumento, sobretudo se o dinheiro dapropina continuar a pagar o funcionamento dasfaculdades: "O aumento das propinas não é solu-

. ção para nada. Foi delineado que as propinasdeviam ser dedicadas ao aumento da qualidade deensino. Neste momento, as propinas existem para

08 POrtORCBlllIlICO MARÇ02003

pagar a docentes e funcionários. É o que tem sidofeito nos últimos anos". Belmiro Magalhães, daAssociação de Estudantes de Letras, tambémaponta o dedo ao "rumo" que é dado a estedinheiro: "A lei de financiamento prevê umapropina única para os estudantes do ensinosuperior. Propina que segundo a lei deveria serutilizada para o desenvolvimento das instituições,não para o pagamento de despesas correntes e, Ófacto é que têm sido usadas para o pagamentodessas despesas correntes".Os estudantes, que já se manifestavam contra esteuso indevido do dinheiro das propinas para nopagamento de despesas de funcionamento,mostram-se inflexiveis no que diz respeito aoaumento da propina. Nuno Mendes, presidente daFAp, adverte: "nem. pensar em mexer na propinaporque já 70 contos por ano é algo que muita genteou não pode ou tem de se desunhar toda parapagar. E há muitos que não acreditam, mas éverdade".O aumento das propinas vai resolver a crisefinanceira no ensino superior? É solução? A estapergunta, o Reitor da Universidade do Porto,Novais Barbosa, respondeu: "Em termos deobtenção de receitas é solução, efectivamente .." Oreitor admite, porém, aquilo que não é segredopara ninguém "Esse dinheiro serve para pagar

••• eatudo. Realmente, a partir de certa altura, temhavido um certo tipo de batotas na aplicação dasfórmulas e uma delas correspondeu, a certa aítu-

_ ra, em incluir as propinas no próprio orçamentodas universidades e não considerar separada-mente como receita própria". Novais Barbosaassegura que a qualidade de ensino na UP não temsido afectada. Parece que há universidadesportuguesas com "notas' bem piores quandochega a hora das avaliações.Nuno Mendes lembra que o Estado deve serresponsável pela formação dos seus cidadãos:"Eu.sempre defendi que o Estado tem a obrigaçãode formar os seus cidadãos. Nós estamos tam-bém a contribuir para o crescimento do país e parao futuro do país e por isso não temos nada a devera ninguém fi já contribuímos há 5 anos a estaparte. Já contribuímos com algo que nem sequerdevíamos contribuir. Mas a coisa está feita.", diz.Mas se os estudantes contribuem para o desen-volvimento do país, uma vez formados, também éverdade que üram dessa formação contrapartidaspessoais. Novais Barbosa chama a atenção paraisto. "A contribuição directa das famílias também éimportante, não podemos esquecer Que cada umtem uma promoção pessoal. Aí, efectivamente euentendo que deve haver algum tipo de pagamentodirecto das famílias. As propinas correspondem a8% dos gastos totais das universidades, se calhareste valor é baixo. Eu acho que o benefício pessoaltem que ter alguma contrapartida pessoal", afirmaoreltorApesar áa nova medida afectar o bolso dos alunos,o governo quer fazer crer que ninguém deixará defrequentar o Ensino Superior por falta de recursoseconómicos. Entretanto adivinha-se forte contes-tação do meio acadêmico uma vez que este au-mento se concretize. "Se de facto houver aumentodas propinas, o movimento associativo vai todopara a rua partir a louça, passo a expressão. Se defacto isso acontecer põe-se em causa tudo, está apõr-se em causa a lei de financiamento", avisa RuiIeíxelra. Este estudante até admite a legitimidadedeste aumento se se viesse a verificar, porexemplo, um aumento das bolsas de estudo. "Sehouver aumento das propinas mas houver um au-mento das bolsas, um aumento da qualidade, nãovou dizer . o aumento das propinas é mau, nãoquero pagar nada", diz.Novais Barbosa diz que "um aumento das propi-nas, se houver, tem de ser previamente discutido,compreendido, terá um trabalho preliminar quetem de serfeito". Portanto, para saber quanto e emque moldes vão aumentar as propinas, e se vãomesmo aumentar como disse o Sr. PrimeiroMinistro, vamos terde esperar para ver.

ANA PEREIRA

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,ora?Letargiase DespertaresNUNO MENDES *

Em tempo de guerra e em tempos da Queda deícones morais, a Humanidade pára e olha para Si.Cada homem, cada mulher, sustém por algunssegundos Quepodem ser dias a respiração arfantede cada dia e por uns momentos sente-se invadidopelo negrume Que insistentemente entra pelosolhos dentro de cada um, aos berros, incessantes.Desse choque consigo mesmo, o Homem evolui,num movimento dialéctico. Desperta da estáticapresente para viver um novo estado.A nossa geraçáo teve a sorte ou o azar de não vivermomentos marcantes. Não viveu as crisesacadémicas de 62 e de 69, não construiu 74. Nãoparticipou em guerra alguma. Não foi selada comexperiências que ensinam a estar e .a viver emafirmação crítica e assumida dos seus valores edas suas convicções. Por outro lado, absorveuatentamente as Fábulas da Floresta Verde, correuas margens do Mississipi com Huckleberry e teveum professor chamado Ferrão. Somos umageração diferente, a primeira repetida depois dasoutras antigas.Caminhamos desde há alguns anos num trilhodifícil, cujo fim é o eldorado das nossas vidas: ocurso. Contra tudo e contra todos ou com tudo ecom todos, pouco importa. O nosso objectivo éum e único: concluir o curso e sairmos o maisdepressa possível deste buraco imenso em Queviemos meter-nos. Sair. Sair. Para outro buracodistinto talvez, mais fundo decerto. Poucointeressa se nos colocam obstáculos ao nossocaminho. Quantos mais, mais trabalho teremosem ultrapassá-los. Nem pensar em removê-los.Mesmo que sejam imprevistos e sobretudoinjustos.É uma Questão nuclear, orientadora dos nossospassos, estruturante para aquilo Que Queremosrealmente ser. Perante os obstáculos, torneá-losou combatê-los? Em tudo na nossa vida, pessoal eprofissional, hoje e no futuro: aceitar os escolhosou negá-los?Enquanto estudantes, enquanto cídaoãos Queexercem o seu direito ao acesso-e à frequência de(boa) Educação, vamos continuar a ignorarpassivamente que cada vez mais o nosso ensinoseja menosprezado por quem nele manda? Vamoscontinuar a fazer de conta que nada se passa?Vamos continuar a deixar Queas poucas cantinas

sirvam má comida, que as más residênciastenham poucas condições de 'habitabiâdade: queos muitos professores ensinem pouco e mal; Queos poucos laboratórios tenham tão pouco e maumaterial; Que da meia dúzia de livros dasbibliotecas três deles sejam aqueles Queprecisamos para rigorosamente nada; que ostectos, quando os temos, nos caiam nas cabeças;que depois do curso o que temos é um imenso ebelo mar de angústia .e insegurança porqueverificamos que afinal, não há trabalho?E enquanto cidadãos stricto sensu, enquantocontribuintes, directa ou indirectamente, enquantoeleitores, vamos continuar a aceitar governossucessivos Que se recusam a apliéar políticas demédio e de longo prazo e Que, ao contrário,procuram implementar o imediatismo tão inócuoquanto eficaz no que toca à angariação de votos?Vamos continuar a concordar, mesmo Que apenasatravés. do silêncio. com a negação de umaobrigação constitucional do Estado Que éproporcionar de forma "tendencialmente gratuita"o acesso e a frequêncla à Educação? Teremos nósa noção de que o País precisa de nós para dentrode 1O,20 anos crescer, sobreviver até?Ou tudo. isto são Queixumes corporativos de umaelite Quenão gosta de ser incomodada?

. A mim, parece-me que a nossa geração só temuma opção. E essa opção passa por assumirdesde já o seu próprio futuro, responsabilizar-sepor ele e por si própria. Passa por não deixar QueQuem está à frente dos destinos de uma naçãovenda a maturidade e a qualidade social, cultural,técnica e ci~ntífica de uma geração inteira, ou seja,o futuro de um país, .à custa de atingir valorespercentuais de défices, à custa de aumentarreceitas e de diminuir despesas. Compreende-seQue a situação seja má, mas isso não podeimplicar pôr tudo em causa. Muito mais Quando acrise é 'paga pelos mais fracos, por aqueles quetêm menos possibilidade de efectivamente sedefenderem. Muito mais quando a balança dadistribuição da riqueza se desnivela cada vez mais,mas sempre em prol da "recuperaçãoeconómica" .Há certas expectativas que os cidadãos têm doseu Estado Que têm de ser intocáveis. E asprimeiras são a Saúde e a Educação, logo após oreconhecimento dos direitos fundamentais, claroestá.Mas a manutenção e aprofundamento destasexpectativas depende exclusivamente de nós e dacapacidade, vontade e coragem que teremosquando chegar a hora de dizer "Basta!".Querem aumentar-nos as propinas; querem'retirar-nos a representação que temos nos órgãosde governo das nossas instituições. Que nosrestará? Dizem que pagamos muito pouco. Serápouco já de si pagar pelo exercício deum direito?Não tenhamos vergonha de assumir: Trata-se deum direito!!, não de um serviço, e muito menos deum favor! Nas sociedades avançadas, os

POLÍTICA EDUCATIVA

estudantes sãó pagos para estudar! Mas vivemosemPortugal. ..Dizem que aqueles que reprovam mais devempagar mais. Concordo. Realmente, os malandrosdos estudantes são os únicos responsáveis pelosníveis de insucesso escolar, porque têminstalações e equipamentos de primeira qualidade;as bolsas, as cantinas e as residências chegam esobram para as necessidades são na verdade

. ordenados principescos, restaurantes de altaclasse e hotéis de cinco estrelas; e por fim, têmdocentes que estão sempre nos gabinetes noshorários de atendimento, que tiram todas eQuaisquer dúvidas que esses boémios tenham eQuesão ciclicamente formados na arte de ensinar,através de cursos especificamente virados para oefeito.Dizem que os estudantes não merecem estar tãorepresentados nos órgãos, Que isso é umaconquista pós-ravouotonârla Que tem de acabar.Pois então ainda bem, porque é preferível umaconquista pós-revolucionária do que poeiraestadonovense Que concede aos funcionáriospúblicos a notável façanha de Quanto mais sobemna carreira, menos trabalham e mais tiram aoscontribuintes.Dizem que não há mais dinheiro para financiar oEnsino Superior. Por que não reduzir as cargashorárias semanais, murtas vezes carregadas dedisciplinas perfeitamente inúteis (mas que sãomantidas para fulano ou sicrano manterem opostozinho), adaptando dessa forma os planoscurriculares à inevitável uniformização europeiado Ensino Superior, "superiormente" preconizadapor Bolonha e poupando milhões e milhões deeuros gue podem ser canalizados para a propaladaqualidade de ensino?A pergunta é simples: o que queresíu ser?Eu sei a minha resposta.

*PRESIDENTE DA FAP

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POLÍTICA EDUCATlVA www.fap.pt

Um elogio à paridadeNUNOREIS*

te representados (muito longe da representaçãoparitária dos Senados ou das Assembleias), e é aíque reside o verdadeiro problema. Com efeito, asquestões onde se considera haver prejuízos, deci-sões incorrectas, más medidas de gestão, não sãoexplicadas pela representação paritária em órgãoscuías competências e atribuições têm vindo a serdiminuídas, mas derivam dos órgãos onde umexcessivo leque de poderes não é contrabalança-do por uma suficiente e necessária fiscalização.Não deixa de ser curioso Queaqueles Quese arro-gam de ser "os mais qualificados" estejam pro-porcionalmente muito mais representados nosórgãos permanentes de gestão, com competên-cias.alargadas, e a gestão continue (não são só osestudantes que o dizem) a deixar muito a desejar.A revisão à Lei de autonomia das Universidadesnão deve acabar com a paridade de representaçãode estudantes e docentes nos órgãos de gestão,sob pena do Ensino Superior perder definitivamen-te o carácter participa(lo e de co-responsabiliza-ção nas decisões, aprovadas em Senado ouAssembleia da Universidade. O caminho deveriamesmo passar por um reforço da representaçãodos estudantes ao nível dos órgãos de gestãopermanentes, em Que não há representaçãoparitária. Ao nível das faculdades ou institutos,unidades orgânicas que constituem asuniversidades, a participação dos estudantes nosConselhos Científicos, ainda que apenas com oestatuto de observadores, deveria também seruma medida a adoptar, paralelamente a um reforçodas competências dos Conselhos Pedagógicos(onde a representação é paritária mas asatribuições têm vindo .a ser progressiva epropositadamente esvaziadas ...) .Outra questão a que não podemos deixar de aludiré a sugestão, pelo grupo de "sábios", da criaçãofutura de um Conselho Estratégico daUniversidade (CEOU) onde, numa composição de11 membros, os estudantes seriam apenasrepresentados por um dos seus pares. NesteConselho, cujo Presidente seria a segunda figuramais importante da universidade a seguir ao Rei-tor, sugere-se que haja 5 membros da comunídade.extenor à universidade, e os estudantes, Que são(ou deveriam ser) a razão primeira da existência deEnsino Superior, estão limitados a uma represen-

- tação meramente simbólica. Atente-se que umadas múltiplas competências que os "visionários"defendem para este órgão é a fixação daspropinas ...O momento é de grandes decisões. Para o melhorou para o pior, a reforma legislativa do EnsinoSuperior não deixará de marcar indelevelmente ofuturo desta área nos anos mais próximos. Comtudo aquilo que o Ensino Superior representa oupoderia representar para o país estamos peranteuma opórtunidade histórica de o tornar numa realalavanca de desenvolvimento. A bem de todosesperemos que não seja desaproveitada comestratégias erradas.

gestão e, sobretudo, no facto de estudantes edocentes estarem representados em regime deparidade nos órgãos de governo.Com base naquilo que tem vindo a públicopodemos formular a legítima suspeita de que vemaí uma tentativa de acabar com a paridade nosórgãos de gestão da universidade. Com frequênciatem sido agitado, de forma tão demagógica quantofacciosa, o fantasma de Que em Coimbra sedemitiu um Reitor devido à pressão dos «super-poderosos» estudantes. Na realidade estamos emcrer que a demissão se prendeu mais comfactores de outra ordem do que propriamente comdivergências ou pressões do corpo discente, asquais serviram, isso sim, como uma convenientejustificação pública.Uma leitura atenta de "Ensino Superior: uma visãopara a próxima década" (a tal obra dos "sábios" aque atrás aludimos) permite descortinar estapérola: ''As sugestões aprofundam alternativas ...alteram os limites percentuais para a participaçãodos diferentes corpos da universidade nos órgãosde governo, privilegiando os mais qualificados".Se a esta ideia acrescentarmos que os "sábios"indicam que uma percentagem de 51% dosmembros dos órgãos de governo da universidadedeverá pertencer a docentes e investigadores,com os restantes 49% a ser divididos por funcio-nários e estudantes, concluímos Quea caracterís-tica democraticidade da gestão universitária podevir a ser posta em causa.É surreal pensar que o fim da representaçãoparitária contribuirá para um aumento da eficiênciae eficácia na gestão. Mesmo actualmente há umaexcessiva concentração de poderes e compe-tências em órgãos-como a secção permanente doSenado, onde os estudantes estão simbolicamen-

Anuncia-se uma reforma Que atravessa todo oEnsino Superior. Publica-se uma obra encomen-dada a um ·grupo de especialistas a quem seatribui o estatuto de "sábios" ou "visionários".Mistura-se com um conjunto de artigos «inde-pendentes» dos habituais fazedores de opiniãodo establishment, veiculando ideias sobremedidas a adoptar no Ensino Superior. Tenta-se,em resumo, passar para a opinião pública(porque é ela que dá o poder, derruba ministros,sustenta governos) determinadas mensagensmais ou menos subliminares numa lógica inqua-lificável: "O investimento do Estado no EnsinoSuperior não é fundamental; por uma ·questão cejustiça social as propinas devem aumentarinevitavelmente; os estudantes não têm capaci-dade para continuarem a estar representadosparitariamente nos órgãos de gestão das insti-tuições de ensino, até porque isso é dar-lhes umpoder que não merecem; os estudantes são umlobby de natureza maléfica Que visa demitirreitores e colocar em causa os «magros» saláriosdos professores.". Com uma leve ponta de ironiaestas e outras mensagens têm vindo, efecti-vamente, a ser inculcadas na opinião pública poruma parte da opinião publicada.De resto, a «receita» que expomos no parágrafoanterior poderia perfeitamente constar de umlivro do gênero "Faça você mesmo", escrito peloMinistro do Ensino Superior com o título "Comofazer reformas no Ensino Superior sem levantarmuitas ondas".Centremos a nossa atenção na revisão à Lei deAutonomia das Universidades (Lei nO 108/88).Actualmente, nas universidades, as decisões'sãomarcadas por uma saudável democraticidadeque assenta no carácter colegial daforma de

* VICE-PRESIDENTE DA FAP

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EXPOSiÇÃO

Bacon: O existencialismo na pinturao Museu de Serralves expõe obras de Francis Bacono confronto do Homem com a sua condição. A prisão do humano dentro do Mundo. São estas duas dastraves mestras do trabalho de Francis Bacon exposto no Museu de Arte Contemporânea de Serralves até20 de Abril. "Caged / Uncaged" é o título da primeira grande exposíçãe de Bacon em Portugal e reúne cercade meia centenas de obras do pintor irlandês, cedidas por 24 instituições.Bacon é um dos pintores mais conhecidos na segunda metade do século XX. A sua pintura aborda o retratocomo um ensaio sobre a representação da condição humana no seu confronto com o Mundo. Os quadrosde Bacon são espaços de conflito entre o homem e a sua condição. O objectivo é descobrir a verdadeiranatureza dos seres humanos. Os retratados de Bacon ora surgem em espaços indefinidos, numaatmosfera claustrofóbiGa, ora diante de paisagens Que sugerem uma transição para o exterior, como se overde e as árvores libertassem o individuo da sua prisão. Diz Augusto Seab~a, na edição do "Pútílico" de 31de Janeiro, que "os corpos de Bacon têm posturas, anatomias distintivas, em contorção, de cócoras". "Oscorpos estão em tensão, entre a imobilidade e o movimento, estudados pelo pintor'. Resultado; "umaliturgia de dor ou de um grito".Os Quadros expostos na mostra "Caged/Uncaged" sintetizam a natureza inquieta e angustiada de Bacon.Dele se disse Queseria o maior representante do existencialis.mo na Arte. Francis Bacon nasceu em 1909em Dublin e morreu em 1992. Apesar de não ter tido formação artística, Bacon começou a pintar aindaantes dos 20 anos. Até 1940, o seu trabalho era devedor da influência do Cubismo de Picasso. Em 1945,foi sensação em Londes quando expõs os seus "Three Studies for Figures atthe Base of a Crucifixion".

, As formas humanas de Bacon surgem aos gritos, com dor (fisica e psíquica), torturadas em quartos,casas de banho e gaiolas. O seu trabalho é expressionista no estilo. Os Quadros de Bacon são imagensfortes de uma humanidade crua e desagradável. Bacon ficou também célebre pela sua subversão dasconvenções artísticas ao usar o formato tríptico dos Quadros do Renascimento para mostrar os males doHomem, em vez das virtudes de Cristo. No quadro "Pope Innocent X", Bacon transformou um famosoretrato de Velazquez numa máscara que grita de dor.

PEDRORIOS

CRíTICA LITERÁRIA,-A Sombra dos DemóniosEm Uma Casa na Escuridão.}osé Luís Peixoto leva-nos numa viagem pelo fantástico em que,no absurdo do quotidiano, deparamos com a nossa imagem do lado oposto do espelho.

No meio da fria escuridão dos dias, revela-se uma casa. No seu interior, a mão de um homem que anoitecea tremer e percorre as longasce nocturnas horas sobre uma folha de papel - corpo da sua amada -, umamãe que morta renasce com a descoberta do amor e da música, urna escrava imensa no seu siíênelo quecedo se tornará bússola em tempo de invasões, e gatos, uma multidão de gatos que preenche o espaço demadeira deixado livre pelos pés.No seu segundo romance, José Luís Peixoto ilustra as páginas em branco da nossa imáginaçãQ com umaviagem a um mundo em Quea realidade é um denso nevoeiro de palavras Que se repetem, como na nossamente, e Quevão adquirindo contorno e vida fora daqueles que lhes são fornecidos pelo seu significado.Nesta casa-país-mundo a que o autor nos transporta, quem sabe os mesmos em Que vivemos, o leitordepressa se apercebe da volatilídade da sua existência para se inteirar de uma nova realidade em que "osangue tem a forma de luz, as pedras têm a forma de nuvens, os olhos tem a forma de rios, as mãos têm aforma de árvores, os lábios têm a forma de céu, ou de oceano visto da praia, ou de estrela a brilhar comtoda a sua força infantil e a iluminar a noite como um coração pequeno de ave ou de criança".E é numa inebriante descida louca ao encontro de. si prõpna que a casa mergulha ainda mais numaescuridão de invasões, mutilações e mortes, que são imensas e Que mostram "aos homens que estãocondenados a viver no medo e que, quando vencem o medo, encontram apenas a derrota".Aos 28 anos, José Luís Peixoto descobre um pouco mais da magia que o povoa e confirma-se como umdos grandes ficcionistas da actualidade literária portuguesa, algo que já se vinha e desvendar emMorreste-me, ,!enhum Olhar, galardoado com o prémio Saramago, e nos seus dois livros de poesia,Cflança em Rumas eA Casa, a Escuridão. .Diz-nos o livro a certa altura: "O tempo passa depressa quando Queremos sentir cada instante. O tempopassa lentamente quando se espera: O tempo passa ainda mais lentamente quando não se espera nada,quando já nada há a esperar". Também para nós passa depressa o tempo quando mergulhamos os olhosno "poema contínuo" que é este livro, sem dúvida um obra de grande coragem.

RICARDOPINTO

CULTURA

Rui Reininho *Se fosse na Capital do nosso impérrio, começariacom "Isto é assim": mas não é, desgraçadamentepara os jovens académicos portuenses e suaselegantíssimas (por vezes) colegas.Antigamente a escola era risonha e franca e um, canudo', logo sequdo de um 'tacho' eragarante para uma vida inteira e mais seis meses.Hoje não é dia de festa e quem vê o seu cursosuperior a acabar deve sentir mais vertigens doque a tripulação do vai-vem espacial. E quem nãovai pedir favores à tal capital, Quem se sedia nesteInvicto (para já) burgo lusitano deve tremer e'temer. Um pouco da coltura anglo tão ao gosto dasmodernidades: "Be afraid, be very atraia" ...Como lêem, este vosso não renega a via global i-zante a Que uns apedrejaram de roque "n role,defende a libertinagem como uma das belàs artes,acredita na química entre dois seres, na perfeitaengenharia dos corpos e até num modelo degestão que contemple uma feliz vida a dois; o quenão temos podemos desejar aos próximos Queisto de baírrísmos e regionalalismos tambémenjoa.Ao contrário do sexo e de certas drogas para-legais, tudo o resto nos sai demasiado caro: ainsignificância de um café, uma vil prática depraxe, uma bebedeira mal curada.Assim vai a vida: com corpos, alguns cérebros,com a dicotomia prof/aluna, com a eternacontenda aluno/ministro, na guerra e nas pazes,nos orifícios e nas fendas, nos beijos e nosvómitos, gosto de vos ver ao sol, dragonzinhas.

rui reininho, ministro da contracultura e actualprofessor da Universidade Católica Portuguesa,

. no Porto. E arredores.

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FANTASPORTO wwwfap.pe

PROGRAMA01 MARÇO 2003 Rivoli - Grande Auditório15 :00 ITHEYde Robert Harmon17:00 IUNDEADde Peter& Michael Spriegel18:45 \ OESMUNDOueAlain Fresnot21 :00 IPLOTSWITHA VIEWde Nick Hurran24:00 IGRANDEPRÉM/O FANTASPORTO200301 MARÇO 2003 Rivoli • Pequeno Auditório15,:30 I CINEMAPORTUGUÊSde Vários17:30 I BLUEMOONdeAndreaMaria Dusl21 :00 I MARATONAA NOITE00 TERRORdeVários01 MARÇO 2003 Teatro Sã da Bandeira23:59 I Bailedos Vampirose Festa'deEncerramento01 MARÇO 2003 AMe Arrábida 2013:00 I AMOREVACASde Harry Sinclair15:20 I A LEGIÃODOSMORTOSde Olaf Ittenbach17:40 I NA MAIOR!- PURELYBELTERde Mark Herman20:00 I O BORDEL DOLAGOde Kim Ki-Duk.22:20 I DARKNESSde Jaume Balagueró24:40 I AMORE VACASde Harry Sinclair02 MARÇO 2003 Rivoli • Grande Auditório15:00 I FILMEPREMIADO17:00 I FILMEPREMIADO18:45 I FILMEPREMIADO23:15 I FILMEPREMIADO02 MARÇO 2003 Rivoli - Pequeno Auditório15:30 I FILMEPREMIADO17:30 I FILMEPREMIADO21 :00 I FILMEPREMIADO23:00 I FILMEPREMIADO02 MARÇO 2003 AMe Arrábida 2000:40 I PRÉMIOSFANTAS13:00 I PRÉMIOSFANTAS15:20 IPRÉMIOSFANTAS17:40 I PRÉMIOSFANTAS20:00 I PRÉMIOSFANTAS22:20 I PRÉMIOSFANTAS03 MARÇO 2003 Rivoli • Grande Auditório16:00 I ANJOOUDEMÓNIOde TakashiMiike'21:00 I MARATONAPETERJACKSONde PeterJackson03 MARÇO 2003 Rivali - Pequeno Auditório15:30 ICREEPSHOW2 de Michael Gornick21 :15 IMARATONAA NOITEDETERROR

12 pmo HCademlCOMARÇ02003

FANTASPORTO

Mário Dorminski"Somos considerados o maior e melhor festival da Europa"

Este mês acontece no Porto aquele que é um dos mais importantes festivais de cinema nacionais.Consagrado pela crítica internacional como um dos melhores festivais de cinema fantástico do mundo,este ano a 23° edição do Fantasporto apresenta, como vem sendo habitual. uma selecção de filmesinteressante. O Porto Acadêmico esteve à conversa com o director do festival.

Como surgiu o Fantasporto?Eu, o António Reis e a Beatriz Pacheco Pereira criamos o Fantasporto em 1981. Já antes tínhamos umarevista de cinema que era a Cinema Novo. Nasceu em 1978. Um dos projectos que a revista tinha era nãolicar isolada em relação aos seus leitores e criar eventos culturais. Fizemos várias retrospectivas. entre asquais uma mostra de cinema fantástico. em 1981 à qual demos o nome de Fantasporto. Funcionou muitobem. Decidiu-se avançar para fazer um festival que a partir de 1982 vem dando passos lentos esustentados até atingir alguma segurança. Eu digo alguma porque em Portugal há sempre muitos "quês"23 anos depois, As coisas não mudaram muito. Não mudou nada. Aliás, se nós compararmos os apoiosque tínhamos em 1982 e os que temos agora, nós temos menos dinheiro agora.

Sei que vocês enfrentaram este ano cortes erçamentais ...Não é só isso; O apoio dado ao festival em 1982 com o custo de vida que havia permitia fazer um festivalcom uma dimensão grande. Tivemos 8 salas de cinema, exposições de pintura, concursos de musicarock, um festival de teatro, iniciativas na área da Banda Desenhada, um concurso de contos fantásticos.Tínhamos capacidade financeira para o fazer, O festival ganhou credibilidade, impacto. Só que os apoiosnão aumentaram na proporção do aumento do custo de vida. O festival é feito como uma omelete semovos. Tem um orçamento perfeitamente ridículo. O estado tem dito: temos para o cinema o Fantasporto epara 0.teatro o Ponti. Ora bem. o Ponti recebe do estado 200 mil contos e nós recebemos 20 mil.

Nos últimos anos então, em termos financeiros, não têm podido fazer outras actividades paralelas aocinema? "Cingimo-nos basicamente ao cinema e a pequenas iniciativas que normalmente não são nossas mas deestruturas culturais que vêm ter connosco. E nós criamos as condições para se fazer uma exposição debanda desenhada, uma exposição de artes plásticas, apresentação de livros. Mas são tudo coisas decaracter muito mais pequeno. Essas iniciativas este ano não existem de todo.

E a festa de encerramento?EXiste. Existe, porque há o apoio especifico para a festa que é dado pelo patrocinador Super Bock, Aliás, oFantasporto este ano se se realiza é porque há um patrocínio da Super Bock que garante a concretizaçãodo festival. A'festa de encerramento tem a apresentação do novo disco dos Blasted Mechanism, que sóserá lançado depois, dia 1Ode Março. Edepois entra um DJ que está mais ou menos na moda, o DJ Klttan,E ele aguenta a noite, segundo consta.

Por falar em estar na moda, essa programaçáotem em conta um publico mais jovem?O Fantasporto, neste momento, tem uma terceira geração de público. Já tem os pais', os filhos e os filhosdos filhos. Vamos nos netos dos primeiros. A geração mais antiga mantêm-se embora haja umaquebrazita percentual, não muito grande. A geração intermédia mantêm-se forte efirme. E há uma geraçãonova-que está, de facto, a tomar conta do festival.

É propositada essa combinação dos filmes que fizeram o Fantasporto e dos filmes novos? Funcionabem?O Fantasporto, basicamente, só apresenta filmes inéditos em Portugal quer em curtas quer em longasmetragens. Onde há excepções é nas retrospectivas. Os filmes em alguns casos são inéditos. Naretrospectiva dedicada ao cinema austriaco. todos os filmes são inéditos. Os da Nova Zelândia jápassaram quase todos. Do Stephen King, todos eles já passaram. A retrospectiva dá a oportunidade dereunir um conjunto de filmes que dêem uma imagem de um realizador, de um escritor ou de umacinematografia, É a vertente mais cinéfila do festival a par, obviamente, da selecção de filmes que se fazpara as secções competitivas quer na área do Fantástica quer na Semana dos Novos Realizadores.

Dos filmes que estão a concurso, a fasquia da qualidade tem aumentado?Na área dos realizadores tem aumentado. Era uma área que nós destinávamos exclusivamente a primeiras

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FANTASPORTOwwwfàp.pr

e segundas longas metragens. A qualidade erafraca por. isso decidimos fazer uma coisa, queninguém nos proíbe de fazer, que é meter filmesseja a terceira, seja a Quinta ou a Sexta longametragem. A tasquía ficou novamente por àlto esuperior a outros anos. Este ano temos 10realizadores a concurso. Está aí um corte bastantegrande. Porquê? Não houve filmes de grande.novidade, que marcassem, de facto, o ano de umaforma muito significativa. Na área do Fantástico,há uma produção muito alargada. Se o fantásticoera um gênero marginalizado na década de 80, ocinema que se faz no final da década de 90, iniciodo novo século é claramente cinema fantástico.Os grandes êxitos de cinema-recentes "MinorityReport", "Harry Potter", "O senhor dos Anéis"são filmes de características fantásticas. Sãoesses filmes que estão a fazer, de facto, asbilheteiras.

eventualmente do mundo porque ao falarem daEuropa, têm de falar do mundo porque não háfestivais de cinema fantástico fora da Europa. Oconceito que nós fomos criando para o festival foialargar do festival quando chegamos aos 1 O anos'com a semana dos novos realizadores, criar umasecção de videoclips há 2 anos. Este ano, porexemplo, nós deixámo-Ia cair por uma questão derepensar o conceito e por outro lado por umaquestão financeira e de orçamento. A nossa ideiaera ir mais longe. Apresentar novidade total,circuitos independentes. Pouca gente reparou oque me entristece. Até agora só houve umjornalista que perguntou "então não há clips esteano?". Pensávamos que era um programa que jáestava mais ou menos a ficar sedimentado dentroda estrutura do Fantas. Aparentemente não estava.As pessoas não sentiram muita falta do projecto.Por isso mesmo, o projecto deve ser revisto.Criamos para aí há quatro anos uma secçãochamada Fantásia que era só de cinema asiático.Não pegou. Mas o ano passado passamos para aidez filmes asiáticos e as salas estavam cheias.Quando lançamos o projecto era cedo demais.Neste momento já se começa a justificar. Nospaíses asiáticos há cinematografiasextremamente interessantes. Filmes muito bemrealizados só que, nunca na vida, passam para oocidente.

realizador já conhecido e Que tem uma pequenacarreira já em Portugal. Nos júris onde eu estivetudo o que era ficção pura era rejeitado. O que euacho é que não são dadas hipóteses às pessoasque estão neste momento a escrever sobrefantástico. O caso do Edgar Pêra. Ele já tem trêslongas metr.ageils produzidas, todas elas deficção. Uma foi paga pela SIG, a Oito por Oito,outra é a Janela e outra Quevai apresentar este anoque Os Homens - Toupeira. Este está a ser pagopor ele. O único que teve dinheiro do estado foi aJanela. Porquê? Porque é um filme decaracterísticas sociais. De todos os projectosfantásticos dele, nenhum deles foi aprovado. NoFantasporto temos aberto a porta, inclusivamenteo cinema portuguêS tem ganho prémíos, mastambém temos que ser rigorosos.

Há pouco falamos do reconhecimento do festivallá fora. E cá dentro, o Fantasporto já é umamarca da cidade do Porto?É o único evento existente no Porto que conseguelevar o nome do Porto para o resto do país e para oestrangeiro. O Fantasporto é o que têm maisimpacto no estrangeiro: A perspectiva Que é tidado exterior, é evidente que nos importa. Nãosomos daqueles Que dizem "só trabalhamos paranós". Pelo contrário, temos que trabalhar para opúblico, para a comunicação social e para ospatrocinadores que nos apoiamo A imagem dofestival é positiva. Este ano podamos começaruma guerra louca porque não tínhamos dinheiro.Se calhar a comunicação social até gostava masnão, estamos caladinhos o tempo todo. A roermo-nos por, dentro o tempo todo. Estamoscompletamente irritados e chateados com asituação. Achamos completamente ilógicotrabalhar nas condições que vamos trabalhar. 'Agora para quê estragar a festa? Se tivermosalguma coisa a dizer, dizemos no fim.

ANA PEREIRA

Mas dentro do cinema fantástico, noFantasporto a selecção não é menos comercial?É menos. comercial. Eu, por exemplo, não meteria"Harry Potter" na selecção. Mas meteria "OSenhor dos Anéis As duas torres", "MinorityRepor!". Não é um filme fácil. Se virmos o''Adaptation'', do Spike Jones com a Meryl Streep eo Nícholas Cage ou o Solaris com o GeorgeGlooney; esses filmes são filmes de autor. Sãofilmes difíceis, O último filme do Peter Boyle, o "28Dias", não é um filme fácil. E é isso que no fundomarca o festival. É a diferença. O nosso papel aquié promover filmes que nós gostamos, ajudandotambém por outro lado, os distríbuidores a lançaros filmes em Portugal. Esses filmes entrarão nocircuito comercial mais cedo ou mais tarde e éuma forma do Fantasporto lhes dar um empurrão.Temos tido o gosto, e 'a sorte também, dedescobrir para Portugal quatro, cinco nomessuper importantes que neste momento fazem ocinema mundial. Os primeiros filmes doAlmodovar passaram por aqui. O PeterGreenaway, o Alain Resnais, os irmãos Cohen. Oshomens do "Matrix", os irmãos Wachowsky játinham ganho o Fantasporto com um filmechamado "Bound". O Peter Jackson. Ninguémpensava ou poderia imaginar que uma pessoa quefez um filme chamado "Bad Taste" conseguiriadepois vir a fazer um filme como "O Senhor dosAnéis". Já naquele filme, nós tínhamos visto quehavia ali cinema.

Dos filmes que vão ser apresentados este ano,qual é , se é que se pode chamar assim. a chavede ouro?Temos muitos: Spike Jonze, Sonderbergh, ShyniaTsukamoto, Nick Willing, Raoul Servais, DannyBoyle - estou a esquecer-me de nomes temospara aí uns 10 nomes que são neste momentosignificativos em termos do cinema que se faz emtodo mundo e que estão presentes nas secçõescompetitivas. Independentemente de eu gostar dofilme A ou do filme B, 'não abordo esse tema. Sepor acaso, o filme que eu penso que pode ganhar,depois ganha vão pensar "tão a dirigir a júri." .

o festival vai contar com a presença dosrealizadores?O·Peter Boyle, o Jaume Balagueró. Temos doisrealizadores espantióis: oPaco Plaza, o Norbertotopez. Temos realizadores britânicos: o JimGroom, o Stuart St. Paul. Americanos temos oMichael Cuesta, que aliás é o realizador daquelaséria de televisão Seven Feet Under, que tem umfilme chamado "L.I.E: Que vem mesmo apropósito porque é sobre pedofilia. Vêmapresentar o filme, fazem conferência de imprensae vão-se embora. Este ano os convites foramfeitos para menos dias que o costume.

É esse olho para o cinema que coloca oFantasporto numa posição considerável a nívelnacional? Começa por aí? Por vocêsdescobrirem ...Pelomenos o que se lê na imprensa internacional éque nós temos uma selecção excelente. Todos osanos aparece esse tipo de comentário. Somosconsiderados, sobretudo por dois meios que sãoos mais importantes no mundo da produção decinema, o Variety e o Screen International, como omaior e melhor festival da Europa. E

Em Portugal faz-se cinema fantástico?Haver projectos, há. Eu já fiz parte do ICAM naatribuição de apoios a filmes e noto que o júrirejeita quase liminarmente tudo o têm a ver comimaginação, fantasia. E viram-se para um

MARÇ02003 pmo RCademlCO13

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DESPORTO www.fap.pt

CLASSIFICAÇÕES

VOLEIBOL MASCULINOGru oA

E ul J osLuslada 1

Gestão Católica 1

Vitórias Derrotas FC1 O O1 O O

Pontos33

FAUP 2 1 1 1

Gruco Bul a Jo 0$ Vitórias Derrotas .FC Pontos

ISCAP 2 2 O O 6FMUP 2 1 1 O 4

IPP 2 O 2 O 2FEUP O O O O O

GruDO CE ul a- Jo os VItórias Derrotas rc pontosleBAS 2 1 1 O 4FEP 2 1 1 O ..

FCDEF 2 1 1 O 4ISMAI 2 1. 1 atrase 3

VOLEIBOL FEMININOGru oA

E ul a Jo os Vitôrias Derrotas FC Pont06FCDEF 2 2 O O 6

Direito Católica 2 1 1 O 4ESEIG 2 O 2 O 2

Gru B

" ul Jo os Vitórias Derrotas FC Ponto~IPP 2 2 O O 6

Direito UP 2 1 1 O 4le8AS 2 O 2 1 1

Gru e c1: ui J 0& VHórias Derretas FC PontosISMAI 2 2 O O 6FEP 2 1 1 O 4

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BASQUETEBOL MASCULINOGru oA

ul a Jo 08 Vitórias DGrrotaa FC PontosFCDEF 1 1 O O 3

ISEP 1 O 1 O 1Gestão Católica O O O O O

GruDoBE ul a J o. VitóriaS' Derrotas FC P.Qntos

IPP 2 2 O O 6UFP 1 1 O O 3

ESEIG 1 O 1 O 1ISMAI 2 O 2 2 O

Gru oCE ul a Jo OS V11ó~as Derrotas fC PonÚlS

FEP 2 2 O O 6FMUP 1 O 1 O 1.

Lusfada 1 O 1 O 1

Gru 00ul a .to s VI!órias Derrotas rc PonWs

FAUP 2 r 1 O 4ISCAP 1 1 O O 3leSAS 1 O 1 1 O

14 por~o8Cad~mICOMARÇ02003

COMPETiÇÕES REGIONAIS

As Competições Regionaisestão aí novamente!Teve início no passado dia 17 a segunda fase doscampeonatos regionais, em que o BasquetebolFeminino começou efectivamente o. seucampeonato num sistema de todos contra todos,em que se vai apurar as melhores equipas pararepresentar a Federação Académica do Porto nasCompetições Nacionais do próximo ano lectivo.A primeira fase decorreu sem grandes sobres-saltos, com as arbitragens dos jogos a seremasseguradas pelas respectivas associaçõesregionais de cada modalidade, com o conse-quente aumento da qualidade na realização doscampeonatos. No que concerne às faltas de comparência, à excepção de uma ou outra escola, são tãoescassas que até passam despercebidas nos quadros das classificações.

INVASÃO A TAVIRA DE 8 A 13 DE ABRil

XII Campo Universitáriode Férias Desportivaso XII campo de férias cespornvas terá mais umavez como palco escolhido a zona de Tavira, maisconcretamente o Aldeamento de Pedras d'el Rei napraia do barril, que ao longo deste ano sofreualgumas alterações na praia tendo sido criadasnovas passagens dando uma nova cara. aocomplexo. Sendo o maior evento deste tipo a nivelnacional proporciona a todos 0S participantesuma experiência inesquecível em que acomponente desportivà se alia a um cardápiolúdico sendo visto por muitos como o estágio paraa ansiada Queima,As equipas são de dez elementos sendoobrigatória a presença de 5 elementos de cadasexo, por isso preparem já a vossa equipa porqueas inscrições são limitadas. Desde os torneiosprincipais do dia como o futebol, voleibol, jogos deágua, etc, até um sem número de actividadesparalelas como os insufláveis, a escalada, ospatins em linha, as trotinetes, os jogos dePaintball ...;. Em relação às famosas noites doBarril, já com uma enorme tradição, este ano já seestão a preparar inovações, tanto em relação aopróprio espaço em si como em relação àstemáticas das festas sem desprezar o sempreconcorrido Karaoke e o Concurso de Dança.O Campo de Férias Desportivas já se realizou emdiversos sítios, desde Loulé, a Portimãoescolhendo nos últimos quatro anos Tavira.O número de Participantes foi sempre aumentan-,

do, mas problemas logísticos levaram à conclu-são que o campo não poderia crescer ao ritmo queestava a crescer, nomeadamente devido aproblemas de alojamento e a qualidade na práticadas actividades. Para transportar tanta gente éfretado um comboio especialmente para o eventoQueleva os estudantes ao Algarve numa viagem de9 horas que constituí ela própria um começo emgrande nível de qualquer edição do CFD.

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www.fap.pt INTERNET

www.2010online.tv .A versão virtual do conhecido programa detelevisão apresenta-se com um conjunto defuncionalidades capazes de fazer inveja a sitescongéneres: chat, fórum e passatempos comáreas dedicadas à ciência, tecnologia, Internet eactualidades. Está ainda disponivel uma secção desugestões e de eventos.

www.kognis.com"O jogo que testa a tua cultura geral", este é o lemado site da Kognis que te apresenta um jogo aoestilo "Trivial Pursuit".Feito o registo começas a competir com osmelhores. O caminho para o número um do hall offame é tortuoso mas podes sempre contentar-tecom a tabela mensal ou criar o teu próprio grupode competição.Tens ainda a versão Kognis 2002 em que terás atua memória sobre o ano que findou a ser testada.Apesar de graficamente' pouco atraente, ajogabilidade é extrema e a adicção irreversível.

FORUM

O que pensas sobre o eventual aumento das propinas?www.fap.pt/forum.aspCaros colegas, depois de lidas as opruoesexpressas neste fórum, a confusão instalou-se naminha própria opinião!!! .Se acho correcto que quem anda na Universidade"por ver andar os outros" deve pagar mais por issotambém aceito quem diz que muito do mal quesofrem esses caros colegas também tem a vercom variadíssimos factores que não só a vontadeé o querer dos alunos!Assim, para quando Uma verdadeira revolução na .estratégia pedagógica nos nossos queridosprofessores doutores, mestres e afins?É repugnante pensar que se reprova ou não umaluno pela sua boa cara ou não!!! E caros colegas,como vocês sabem e muito bem, isso,infelizmente acontece... porque para ser bomprofessor não é condição única que se seja uma'tiarra" na matéria, é preciso saber transmitiresses mesmos conhecimentos aos alunos!Tenho dito.Um abraço académíco para todos ...Rui Gomes

Numa altura em que tantas criticas se faz acercapor exemplo da qualidade e instalações do ensino

superior, acho muito bem o aumento de propinas,caso contrário caros colegas universitários, tantasmanifestações passam a ser tidas como purahipocrisia ... se queremos condições temos quecontribuir para elas, senão neste andar nunca maisatingimos o nível das melhores universidadesEuropeias ... e quanto aos mais carencíados, se Oforem realmente, terão direito a bolsas de estudo ...Anónimo

então mais 50 de reflexão"! Então das duas uma:deve pensar que o povo português é rico ou quetoda a gente tem uma bolsa de estudo! Eu sóconcordo pró caso daqueles veteranos que andama passear os livros só para dizerem que andam atirar um curso!Miguel

Se o aumento das proprinas se traduzir numaumento da qualidade do ensino, acho que esseaumento seria justo.Mas isto se esse aumento for compatível com aconjuntura ünancero-economíca actual.Acho também que há faculdades dentro da Ui"claramente beneficiadas, como é o caso da FEUP.Reparem nas instalações desta faculdade e nodinheiro nela investido e no caso da FBAUP!!!R.C.-FBAUP

Se o ministro espera que essa medida vá fazercom que os alunos portugueses de um momentopara O' outro comecem a tirar positivas àsdisciplinas que têm, está muito enganado! Estamedida é uma nova forma de tentar tornar umsector público (Ensino) como algo lucrativo aoinvés de continuar à fundo perdido.JoanaCosta

Se esse "animal em vias de extinção ( PedroLynce)" acha que 349,00€ e não sei quantoscêntimos por ano é pouco, então, tal como diziaum dos autores da chamada "Geração de 70" queagora não me estou a lembrar, digo a esse ministroque 11 precisava menos de 50 anos de idade ou

Independentemente de ser uma medida correctaou não julgo que os estudantes universitáriosdeveriam saber estar e, sobretudo, escreverportuguês correcto, para além da educação, comoé óbvio.Manuel Fernandes 8.8.

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ÚLTIMAS

CONFERÊNCIA~DEBATE''As alterações legislativas no Ensino Superior:Que Reforma(s)?"A 14 de Fevereiro último, teve lugar no Semináriode Vila r uma Conferência organizada pela Federa-ção Académica do Porto subordinada ao tema dareforma do Ensino Superior, medida que o governo

anunciou em Janeiro pretender levar a cabo nospróximos meses. .Esta iniciativa contou com a participação de váriosoradores: o Ministro da Ciência e do Ensino Supe-

16 porto RCi4fmlco MARÇ02003

ACTMDADESMARÇO

AEICBAS1 e 2 Workshop "imagiologia em equinos"1O Comemoração "dia da mulher"11 Cinevídeo "fala com ela"12 Palestra "sono"13 Palestra "rações veterinárias"15 Torneio de paintball17 a 28 Workshop "exame físico"19 Recolha de sangue20 Jornadas do ambiente22 Torneio de kart: s24 a 27 Semana da música

AEFCDEFFCDEF SPORT 2003Acções de formaçãoClube de Judo AEFCDEF

AEFFUP14 e 15 VI Certame Ibérico de Tunas deFarmácia24 V Torneio de Karting de Farmáciano KartCenter de Matosinhos, às 21 horas

AEFEP9 a 14 "XIX Semana de Economia"10 a 25 Ciclo de Conferências"Produtividade e Crescimento da Economia".

rior, Prof. Pedro Lynce; o Vice-Reitor da Up, Prof.Ferreira Gomes; o Presidente do Conselho Coorde-nador dos Institutos Superiores Politécnicas etambém Presidente do IPp, Prol. Luís Soares; oVice-Reitor da Univ. Portucalense Infante D. Hen-rique, Prof. Amílcar Mesquita; o Presidente doCIPES e antigo Reitor da Up,Prof. Alberto Amaral; e 'finalmente, o Presidente da federação, NunoMendes. O Prof. Francisco Carvalho Guerra, Pres-idente do Centro Regional do Porto da Univ.Católica Portuguesa foi o moderador do debate.Estiveram também presentes entre o público oSenhor Governador Civil do Porto, o MagníficoReitor da Up,vários responsáveis de Instituições ede Serviços Académicos e ainda dirigentes asso-ciativos vindos praticamente de todo o país.

. Perante quase duas centenas de pessoas, váriosforam os pontos de vista ali explanados. Estandorepresentados todos os subsistem as de ensino, aTutela e os Estudantes, as intervenções foram nogeral ricas no conteúdo e deram o mote para umperiodo de perguntas da assistência que, não fos-se o facto de o senhor Ministro ter de se ausentarao fim de duas horas e meia de debate, prolongar-se-iam certamente pelo princípio da noite.No final, as dúvidas não ficaram com certezadissipadas, mas foi um contributo bastante válidopara a formação de opiniões e, sobretudo, para aparticipação da comunidade académíca do Portonesta discussão naclonaí, fulcral para o futuro doEnsino Superior.