jornal o ponto - dezembro de 2012

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Distribuição gratuita Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 13 | Número 89 | dezembro de 2012 | Belo Horizonte / MG Trânsito perigoso Foto: Helena Tonelli Das ruas brasileiras para a passarela Pág. 11 Ronaldo Fraga Política Declaração do prefeito da capital mineira repercurtiu negativamente entre os belo horizontinos nas redes sociais Pág. 03 Na batalha contra a descriminação, gravite ensina a “arte nos muros” para as crianças Págs. 14 e 15 Grafitismo Famílias sofrem cada vez mais cedo com a imprudência nas ruas. Jovens são as principais vítimas Págs. 08 e 09 Foto: Divulgação Foto: Movimento fora Lacerda

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

Distribuiccedilatildeo gratuita

Jornal Laboratoacuterio do Curso de Comunicaccedilatildeo SocialAno 13 | Nuacutemero 89 | dezembro de 2012 | Belo Horizonte MG

Tracircnsito perigoso

Foto Helena Tonelli

Das ruas brasileiras para a passarela Paacuteg 11

Ronaldo Fraga Poliacutetica

Declaraccedilatildeo do prefeito da capital

mineira repercurtiu negativamente entre os belo horizontinos

nas redes sociaisPaacuteg 03

Na batalha contra a descriminaccedilatildeo gravite ensina a ldquoarte nos murosrdquo para as crianccedilasPaacutegs 14 e 15

Gra tismo

Famiacutelias sofrem cada vez mais cedo com a imprudecircncia nas ruas Jovens satildeo as principais viacutetimasPaacutegs 08 e 09

Foto Divulgaccedilatildeo Foto Movimento fora Lacerda

O Ponto

02 bull Opiniatildeo

Os artigos publicados nesta paacutegina natildeo expressam necessariamente a opiniatildeo do jornal e visam refletir as diversas tendecircncias do pensamento

o ponto

Editor e diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Coordenaccedilatildeo EditorialProfordf Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso)

Professores orientadoresProfordf Dunya Azevedo (Planejamento Graacutefico)

Projeto GraacuteficoDunya Azevedo Professora OrientadoraPedro Rocha Aluno voluntaacuterioRoberta Andrade Aluna voluntaacuteria

LogotipoGiovanni Batista Correcirca

Universidade Fumec Rua Cobre 200 Cruzeiro Belo Horizonte Minas GeraisTel 3228-3014 e-mail opontofumecgmailcom

Presidente do Conselho CuradorProf Tiago Fantini Magalhatildees

Reitor da Universidade Fumec Prof Eduardo Martins de Lima

Diretor GeralFCHProf Antocircnio Marcos Nohmi

Diretor de EnsinoFCHProf Joatildeo Batista de Mendonccedila Filho

Diretor Administrativo e FinanceiroFCHProf Fernando de Melo Nogueira

Coordenador do Curso de JornalismoProf Ismar Madeira

Monitores de Jornalismo ImpressoDiego Duarte e Tuacutelio Kaizer

Monitores da Redaccedilatildeo ModeloJuacutelia Falconi e Laiacutes Seixas

Monitores de Produccedilatildeo GraacuteficaLorene Assis

Tiragem desta ediccedilatildeo 2000 exemplares

Jornal Laboratoacuterio do curso de Jornalismo

Faltou puacuteblico para ver o showTUacuteLIO KAIZER

6ordm PERIacuteODO

O Brasileiratildeo 2012 nos reservou grandes emoccedilotildees e surpresas ateacute a uacuteltima rodada Luta para natildeo cair na Seacuterie B de 2013 briga acirrada pelo vice-campeonato que leva diretamente para a segunda fase da Libertado-res e um intenso troca-troca de posiccedilotildees a cada gol que saiacutea no uacuteltimo domingo de futebol brasileiro

O Fluminense campeatildeo da temporada tentou estra-gar a festa Venceu com trecircs rodadas de antecedecircncia e fez o campeonato perder um pouco a magia Mas Atleacutetico-MG e Grecircmio trataram de dar bastante emoccedilatildeo para a uacuteltima rodada Cada um em seu claacutessico regional brigando pela fase de grupos da maior competiccedilatildeo do continente

O Grecircmio tinha a vantagem em um jogo especial Com um ponto a mais que o time mineiro o tricolor gauacutecho jogaria pela uacuteltima vez no Estaacutedio Oliacutempico palco de 58 anos de jogos do clube O resultado natildeo foi o esperado pois o empate em 0 a 0 tirou da equipe a vaga direta para a fase de grupos da Libertadores Mas os mais de 46 mil pagantes choraram emocionados com a despedida do estaacutedio mostrando que o amor no futebol emociona mais que os resultados

Totalmente alheio a isso o Atleacutetico recebeu o Cru-zeiro no Independecircncia com mais de 21 mil pessoas quebrando o recorde da nova Arena de BH Apenas os atleticanos estavam presentes no estaacutedio e puderam ver uma cena que vai car marcada na histoacuteria O Galo bateu o rival por 3 a 2 e precisava que o Grecircmio natildeo

vencesse Como o jogo do alvinegro terminou antes os jogadores caram no centro do gramado esperando por mais de sete minutos a partida do Sul terminar Com a informaccedilatildeo do 0 a 0 os atletas foram em direccedilatildeo agrave tor-cida comemorar a suada classi caccedilatildeo

Enquanto isso o campeatildeo jogava para pouco mais de 5 mil pessoas em um claacutessico histoacuterico Como expli-car essa situaccedilatildeo Os jogadores do Flu zeram uma grande campanha e no nal jogaram para um puacuteblico decepcionante

A rodada dos claacutessicos reservou ainda uma emoccedilatildeo especial para a torcida do Naacuteutico Mais de 20 mil pes-soas viram o alvirrubro derrubar o Sport seu grande rival para a segunda divisatildeo do Brasileiratildeo A vitoacuteria por 1 a 0 fechou o ldquocaixatildeordquo do Leatildeo da Ilha do Retiro que lutou com forccedilas mas natildeo conseguiu escapar

Podemos ver acima que a uacuteltima rodada teve bas-tante emoccedilatildeo e mesmo assim com grandes claacutessicos a meacutedia de puacuteblico natildeo foi tatildeo boa Isso mostra a cara do Brasileiratildeo que foi emocionante mas perdeu em parti-cipaccedilatildeo do povo no paiacutes do futebol

A meacutedia de puacuteblico do campeonato foi de 13004 pessoas por jogo Contando que estaacutedios cabem mais e outros menos pessoas a meacutedia por ocupaccedilatildeo anali-sando todos os estaacutedios foi de 42 Isso mesmo Menos da metade em ocupaccedilatildeo Como podemos nos chamar de paiacutes do futebol

Com 25222 o Corinthians teve a melhor meacutedia de puacuteblico do campeonato Jaacute o Atleacutetico que teve o fute-bol que encantou o paiacutes em 2012 teve a maior meacutedia de ocupaccedilatildeo do seu estaacutedio com 79 dos lugares ocupa-

dos em toda a competiccedilatildeo Entre as equipes fora do G12 a maior meacutedia foi do Bahia com 18981 pessoas por jogo Jaacute o Naacuteutico teve 64 de ocupaccedilatildeo no seu estaacutedio durante a competiccedilatildeo perdendo apenas para o Galo

As torcidas do Nordeste por sinal foram um show agrave parte Em meacutedia de ocupaccedilatildeo as trecircs equipes da regiatildeo caram no ldquotop 5rdquo Os intrusos foram Atleacutetico-MG e Corinthians Jaacute a decepccedilatildeo cou por conta da torcida carioca Cansamos de ver o Engenhatildeo vazio Um estaacute-dio que cabe mais de 45 mil pessoas viu na maioria dos jogos que sediou puacuteblico menor que 10 mil pessoas

Temos que pensar foacutermulas de levar o povo nova-mente para os estaacutedios Durante muitos anos o puacuteblico participou ativamente do futebol brasileiro Domingo quatro da tarde era certeza de casa cheia Hoje temos jogos aos saacutebados agraves nove da noite ou domingo agraves seis e meia Eacute ir na contramatildeo de um bom puacuteblico colocar horaacuterios absurdos para os jogos

Aleacutem disso a violecircncia das torcidas organizadas e os preccedilos abusivos em alguns estaacutedios afastam o ldquopovatildeordquo amante do futebol dos jogos Com isso o Brasileiratildeo perde a graccedila Poderiacuteamos ver os estaacutedios cheios pois as equipes satildeo boas trazem grandes nomes conhe-cidos fora do paiacutes para que o campeonato seja mais atrativo Mas eacute preciso pensar um algo a mais para que o Brasil volte a ser o paiacutes do futebol Pelo menos nas arquibancadas

25222 pagantes

79 de ocupaccedilatildeo

64 de ocupaccedilatildeo

18981 pagantes

Meacutedia de puacuteblico pagante

Meacutedia de ocupaccedilatildeo por estaacutedio

Times G-12 Times G-8

Erramos Ediccedilatildeo 88 - novembro 2012

Paacutegina de opiniatildeo referente ao texto ldquoComo tirar pipoca da boca de crianccedilardquo foi realizada pelas seguintes alunas Maria Aldeci Helena Tonelli Chaves Larissa Coelho e Karoline de Alencar

No expediente faltou a referecircncia agrave professora Raquel Utsch que coordenou a ediccedilatildeo anterior

Na mateacuteria ldquoShopping animalrdquo paacuteg 6 o nome correto de uma das repoacuterteres participantes eacute Camila Nielsen

A cidade jaacute estaacute com babaacute

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Toledo e Laiacutes Seixas - 4ordm Periacuteodo Comportamento bull 03

Minutos depois de o prefeito de Belo Horizonte usar a expressatildeo lsquolsquobabaacute de cidadatildeorsquorsquo para justi car a falha da prefeitura na prevenccedilatildeo de acidentes causados por chu-vas internautas criativos postaram inuacutemeras criacuteticas bem humoradas e irocircnicas a Maacutercio Lacerda

JUacuteLIA TOLEDO LAIacuteS SEIXAS

4ordm PERIacuteODO

Quase cinco minutos depois de um depoimento dado pelo prefeito Maacutercio Lacerda em uma coletiva de imprensa vaacuterias brincadeiras e zombarias com o administrador de Belo Horizonte foram parar nas redes sociais O estrago cou registrado por todos os lados em viacutedeos no youtube com vlogers se manifes-tando sobre a declaraccedilatildeo polecirc-mica aleacutem de posts irocircnicos em vaacuterias redes sociais

Aconteceu de novo no mecircs de novembro As chuvas causa-ram trageacutedias na vida dos belo-horizontinos deixando a cidade devastada e em estado de alerta

A a rmaccedilatildeo do prefeito que associou os habitantes da capi-tal mineira a crianccedilas dizendo que ele deveria ser um pouco mais ldquoBabaacute de Cidadatildeordquo foi feita na tarde da sexta-feira (16) no mesmo local onde uma pessoa morreu na quinta-feira (15) Por

causa da forte chuva um moto-rista foi arrastado de dentro do seu veiacuteculo para o coacuterrego ldquoRes-sacardquo no bairro Castelo regiatildeo da Pampulha Maacutercio Lacerda atribuiu ao ldquofenocircmeno meteoro-loacutegicordquo os problemas ocorridos na cidade Segundo ele choveu em duas horas quase a metade do esperado para todo o mecircs de novembro

As medidas para aliviar trans-tornos apoacutes os temporais ainda natildeo foram toma-das Procurado para falar sobre os atuais pro-blemas da capital mineira o atual prefeito de Belo Horizonte Maacutercio Lacerda (PSB) falou em uma coletiva que as enchentes satildeo algo normal e servem como um alerta para medidas serem tomadas na proacutexima vez que ocorrerem ldquoEacute a vida neacute acon-tecerdquo declara o prefeito Pesqui-sas de meteorologistas apontam

que a chuva em BH em um dia em novembro foi cerca de 70 acima do esperado para o mecircs

O comerciante Carlos Alberto Falconi 47 anos haacute mais de 20 no ramo jaacute enfrentou quedas nas vendas proporcionais agraves chuvas mas nunca foi atingido e

sofreu problemas com o comeacutercio como no dia das enchentes Apoacutes o retorno para a capital sede de seu trabalho viu a declaraccedilatildeo do prefeito e se mos-trou indignado lsquolsquoA declaraccedilatildeo do

prefeito foi inoportuna perante a exposiccedilatildeo e di culdades que os cidadatildeos atingidos estatildeo pas-sandorsquorsquo declara Falconi

Ateacute mesmo o marco histoacute-rico localizado na Praccedila Sete de Setembro virou piada nas matildeos dos usuaacuterios do facebook O lsquolsquopirulitorsquorsquo como muitos o cha-mam virou de fato uma charge com um pirulito ilustrando a

lsquolsquoinfantilidadersquorsquo da cidade ou cidadatildeos como o proacuteprio pre-feito disse

O professor de inglecircs Helder Viana 25 anos morador de uma das aacutereas de risco disse que as enchentes afetaram a ele e a sua familia pessoalmente mas que a culpa natildeo eacute unicamente do prefeito os cidadatildeos devem colaborar com a prevenccedilatildeo des-ses alagamentos natildeo poluindo o espaccedilo puacuteblico lsquolsquoDe que adianta conscientizar trabalhar fazer obras se os ignorantes sujam tudo o que veem pela frentersquorsquo A dimensatildeo que uma simples declaraccedilatildeo tomou foi de fato inesperada segundo o profes-sor os internautas passaram a zombar com charges da lsquolsquoSuper Nanyrsquorsquo e rosto de Lacerda e pedir a cabeccedila do prefeito lsquolsquoMaacutercio Lacerda eacute um dos poucos - se natildeo o uacutenico - prefeitos de BH que conseguiram tamanha desa-provaccedilatildeo que mobilizasse uma campanha popular pedindo a sua cabeccedilarsquorsquo completa

O prefeito foi procurado para

falar sobre o depoimento mas natildeo quis se pronunciar

Pedido de DesculpasNem Marcio Lacerda pode-

ria imaginar a repercussatildeo que tomaria a sua frase dita em entre-vista coletiva A pressatildeo veio de todas as partes As redes sociais se mobilizaram e antes que o pre-feito pudesse explicar qualquer coisa surgiram vaacuterias ldquobrinca-deirinhasrdquo colocando fotomon-tagens de Lacerda com uniforme de babaacute

Ateacute dentro da cacircmara o pre-feito virou motivo de chacota Vereadores e deputados tenta-ram entregar um avental ao vice de Maacutercio Todos os ligados ao prefeito receberam as criticas e brincadeiras mas natildeo se pro-nunciaram por uma semana

Sete dias depois de chamar a populaccedilatildeo de crianccedila Lacerda assumiu ter errado em sua declaraccedilatildeo ldquoFoi uma expressatildeo infeliz que eu usei e as pessoas se sentiram ofendidas e eu ateacute peccedilo desculpardquo disse o prefeito

Deu em tempestade SirenesApoacutes toda a repercussatildeo

polecircmica do depoimento de Lacerda foi anunciada no site o cial da prefeitura que as medidas preventivas agraves trageacute-dias das enchentes seratildeo ins-taladas sirenes e alto-falantes como alerta aleacutem das placas de alerta agraves chuvas que infor-maratildeo aos que estiverem nas aacutereas sobre as possibilidades de alagamentos A prefeitura concluiu apenas uma das sete obras anunciadas para pre-venccedilatildeo de enchentes na capi-tal mineira

Quatro intervenccedilotildees estatildeo previstas para serem nali-zadas em 2013 e outras duas ainda natildeo tecircm um prazo esti-pulado para sair dos papeacuteis Ainda natildeo existem recursos previstos para tentar solucio-nar o problema das proximi-

dades da Avenida Cristiano Machado A via eacute um dos pontos mais vulneraacuteveis de Belo Horizonte durante periacute-odos chuvosos no mecircs de dezembro

Segundo a Superintendecircn-cia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) estatildeo sendo estudadas novas soluccedilotildees para a redondeza da via Cristiano Machado mas ainda natildeo haacute uma previsatildeo para o iacutenicio de novas obras A PBH e a Defesa Civil Municipal vatildeo come-ccedilar a trabalhar em um plano de contingecircncia para agir em casos de chuvas fortes e con-seguir evacuar as aacutereas de ala-gamentos mais rapidamente Uma das propostas de acordo com o prefeito eacute aumentar o policiamento nos 85 pontos de riscos de Belo Horizonte

ldquoAcho que ele se expressou com a mesma inabilidade de sempre mas acaba por estar correto O cidadatildeo tem que fazer a parte dele e entender que o Estado eacute um orgatildeo e tem de se inserir como parte desse organismordquo

Helder Vianaprofessor

lsquolsquoEu fui pessoalmente prejudicado por ele minha famiacutelia inteira

foi atingida pelas enchentesrsquorsquoHelder Viana

ldquoRealmente eacute uma coisa de se indignar porque noacutes natildeo precisamos de babaacute e sim de um bom prefeito que faccedila as obras e cumpra as leisrdquo

Guilherme Valeestudante de Jornalismo

ldquoA campanha de Maacuter-cio quis mostrar seu lado humano mas o que ele mostra para a populaccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio ao menosprezar os nossos posicionamentosrdquo

Anna Tereza Clementino estudante de Jornalismo

Foto

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A gafe que bombou na web

O PontoO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

04 bullSauacutede

KARLA REIS

BRUNA RODRIGUES XAVIER

ELOAacute MAGALHAtildeES

2ordm PERIacuteODO

Os nuacutemeros satildeo signi cativos Segundo o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria Municipal de Saude Belo Hori-zonte conta aproximadamente com 285000 catildees e 45000 gatos domiciliados contabili-zados pelo censo animal realizado em 2011 Desse total cerca de 10ou seja 33 mil ani-mais acabam nas ruas

Eacute um dado preocupante visto que estes animais podem disseminar para a popula-ccedilatildeo doenccedilas como a raiva e a leishimaniose que satildeo graves problemas de sauacutede puacuteblica

O CCZ desenvolve poliacuteticas em vaacuterias fren-tes para evitar o abandono e doenccedilas transmi-tidas por animais As accedilotildees satildeo apoiadas pela sociedade civil organizada nas campanhas de adoccedilatildeo incentivo agrave posse responsaacutevel pales-tras e esterilizaccedilatildeo de animais Em 2011 foram realizadas 14203 cirurgias de esterilizaccedilatildeo de catildees e gatos e ateacute agosto deste ano 11526 ani-mais jaacute passaram pelo procedimento

Aleacutem disso a SMSA promove tambeacutem a adoccedilatildeo dos que foram abandonados nas rua As ONGrsquos ajudam o CCZ na localizaccedilatildeo de famiacutelias que queiram adotar esses animais Antes de serem adotados os catildees e gatos passam por uma avaliaccedilatildeo cliacutenica fazem exame de leishmaniose cirurgia de esteri-lizaccedilatildeo e tomam a vacina contra raiva Os animais tambeacutem recebem um microchip de identi caccedilatildeo

Poreacutem apenas o trabalho realizado pela PBH natildeo eacute su ciente para dar conta do enorme nuacutemero de animais abandonados nas ruas da capital

Defensores AnocircnimosMuitos voluntaacuterios desenvolvem um

trabalho solitaacuterio recolhendo e cui-dando de animais abandonados e violen-tados como eacute o caso de Giovana Fraga que por meio do site ldquoProjeto Animais de Ruardquo (wwwprojetoanimaisderuabhcom) procura acolher e facilitar a adoccedilatildeo de catildees e gatos encontrados em situaccedilatildeo de abandono ldquoHoje temos em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e mais duas mamatildees uma com sete filhotes e a outra com quatro Fal-tam recursos eu e meu marido fazemos esse trabalho sem recurso governamental esta-mos sempre preci-sando de doaccedilotildees como raccedilatildeo produtos de limpeza coberto-res medicamentos entre outros Temos inclusive um mini bloco ciruacutergico mon-tado mais ainda natildeo conseguimos vete-rinaacuterios que possam nos ajudarrsquorsquo declara Giovana

Assim como ela a psicoacuteloga Jussara Vianna se diz sensibilizada e natildeo resiste ao se deparar com algum animal peram-bulando pelas ruas ldquoA minha sensaccedilatildeo quando vejo um animal em situaccedilatildeo de risco eacute de responsabilidade pois eles satildeo muito vulneraacuteveis e precisam de nossa ajuda

Por isso carrego sempre no carro um pacote de raccedilatildeo e quando encontro algum pelo caminho paro e tento atraiacute-lo Depois levo para veterinaacuterios amigos que me ajudam sem cobrar as consultas Mas

os gastos com procedimentos medica-mentos e as diaacuterias para abrigaacute-los ateacute que encontrar uma adoccedilatildeo ficam por minha contardquo conta Jussara

A psicoacuteloga relata que para conse-guir encontrar um lar para estes ani-mais manda e-mails para seus amigos e estes por sua vez repassam a mensagem ampliando assim a rede de apoiadores desta causa

No projeto ldquoAnimais de Ruardquo um site foi criado e eacute utilizado para divulgar as

adoccedilotildees ldquoAs adoccedilotildees acontecem por inter-meacutedio do site mas tirando os filhotes a grande maioria natildeo um lar pois jaacute satildeo velhinhos ou aleijados Estes acabam ficando comigo sendo tratados com amor e respeito ateacute o fim dos seus diasrdquo

desabafa GiovanaA veterinaacuteria Eliza Silveira acaba de

adotar a pitbull Bellinha que por dois anos e meio morou em uma cliacutenica vete-rinaacuteria localizada no Sion A cadela foi encaminhada por uma cliente do estabe-lecimento que a encontrou abandonada faminta e em peacutessimo estado de sauacutede

Compadecida da situaccedilatildeo e consciente da dificuldade de se conseguir uma ado-ccedilatildeo para animais desta raccedila a cliente dividiu com a cliacutenica as despesas de Belli-nha durante todo este tempo ateacute que esta pudesse ser adotada A cliacutenica vizinha da favela Morro do Papagaio oferece aten-dimento e castraccedilotildees a preccedilos reduzidos aos animais da comunidade

BH tem cerca de 30 mil animais abandonados

O aumento constante de animais nas ruas da capital mineira eacute um problema de sauacutede puacuteblica

ldquoHoje temos albergados em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e

mais duas mamatildeesrsquorsquoGiovana Fraga veterinaacuteria

Foto Karla R

eis

Abandonado catildeo procura alimento no meio do lixo

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Sauacutedebull 05Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Uma outra parcela de voluntaacuterios doa seu trabalho em ONGs que se empenham em defender e cuidar de animais abandonados aleacutem de prover a orientaccedilatildeo e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo buscando formar guardiotildees res-ponsaacuteveis Uma delas a Associaccedilatildeo Bichos Gerais (ABG) eacute uma ONG sem ns lucrati-vos o cializada desde 2001 e a liada a WSPA (World Society for the Protection of Animals) da qual fazem parte veterinaacuterios ecoacutelogos engenheiros advogados empresaacuterios pro-fessores e pessoas comuns A ONG tem como objetivo prestar serviccedilos agraves comunidades carentes atraveacutes de assistecircncia meacutedica veteri-naacuteria gratuita a seus catildees gatos e demais ani-mais domeacutesticos incluindo consulta vaci-nas medicaccedilotildees e procedimentos ciruacutergicos principalmente cirurgias para esterilizaccedilatildeo

Trata-se de uma organizaccedilatildeo auto-susten-taacutevel cujos recursos para as atividades assis-tenciais aos animais carentes e animais sel-vagens viacutetimas do traacute co vecircm de uma cliacutenica veterinaacuteria criada com o objetivo de gerar tais recursos Dentre as atividades desenvol-vidas por ela estatildeo o projeto NAV ( Nuacutecleo de Atendimento Veterinaacuterio) na Vila Bispo Maura em Ribeiratildeo das Neves onde sequer haacute rede de esgoto O projeto oferece aleacutem do atendimento gratuito atividades sobre educaccedilatildeo ambiental e campanhas sobre a guarda responsaacutevel

Haacute ainda o projeto do Centro de Conser-vaccedilatildeo da Fauna voltado para atendimento a animais silvestres viacutetimas do traacute co cati-veiro clandestino ou acidentes em rodovias

que satildeo encaminhados pelo IBAMA e Poliacutecia Ambiental e que pretende abrigar milhares de animais O objetivo do projeto eacute se tornar referecircncia mundial em produccedilatildeo de conheci-mento cientiacute co com ns de preservaccedilatildeo das espeacutecies Por m o ProjetoFeacutelix criado em 2002 promove controle e monitoramento da populaccedilatildeo de felinos residentes no Parque Municipal de Belo Horizonte atraveacutes da cas-traccedilatildeo e acompanhamento meacutedico veterinaacute-rio dos adultos e retirada de lhotes receacutem abandonados

Foram realizadas cirurgias gratuitas em mais de quatrocentos animais e centenas de outros encaminhados para adoccedilatildeo

A discussatildeo eacute ampla e democraacutetica atin-gindo natildeo soacute os defensores como tambeacutem aqueles que natildeo gostam ou natildeo podem ter animais em casa tanto que dentro do Conselho Municipal de Sauacutede de BH estaacute constituiacuteda a Comissatildeo Interinstitucional de Sauacutede Humana na sua Relaccedilatildeo com os Animais que eacute o espaccedilo para discussatildeo dos temas a ns envolvendo o poder puacuteblico e a sociedade civil organizada (ONGs coleti-vos ou muniacutecipes)

Para adotar um animal recolhido pelo CCZ o interessado deve comparecer agrave unidade (Rua Edna Quintel 173 - Satildeo Bernardo)

Se o animal for lhote eacute necessaacuterio aguardar que o animal seja desmamado O prazo pode ser de ateacute 45 dias Os interes-sados podem ligar para 3277-7411 ou para 3277-7413

Conheccedila a Lei Brasileira

Aleacutem Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que aborda seu tema no seu artigo 225 a princi-pal lei que protege os animais eacute a Lei Federal 960598 conhecida como Lei dos Crimes Ambientais com destaque para o artigo 32

Art 32 - Praticar ato de abuso maus-tratos ferir ou mutilar animais silvestres domeacutesticos ou domesticados nativos ou exoacuteticos A pena seraacute de 3 meses a 1 ano de prisatildeo e multa aumentada de 16 a 13 se ocorrer a morte do animal A UNESCO em assembleia no dia 27 de janeiro de 1978 pro-clamou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Animais da qual destacamos

1 - Todos os animais tecircm o mesmo direito agrave vida

2 - Todos os animais tecircm direito ao res-peito e agrave proteccedilatildeo do homem

3 - Nenhum animal deve ser maltratado 4 - Todos os animais selvagens tecircm o

direito de viver livres no seu habitat 5 - O animal que o homem escolher

para companheiro natildeo deve ser nunca ser abandonado

6 - Nenhum animal deve ser usado em experiecircncias que lhe causem dor

7 - Todo ato que potildee em risco a vida de um animal eacute um crime contra a vida

8 - A poluiccedilatildeo e a destruiccedilatildeo do meio ambiente satildeo considerados crimes contra os animais

9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei

10 - O homem deve ser educado desde a infacircncia para observar respeitar e com-preender os animais

ONG conta com voluntaacuteriosNina ganhou um novo lar apoacutes ser acolhida na Clinica PETZOO

Foto Bruna Rodrigues

Meacutedia anual de animais abandonados

Ilust

raccedilatilde

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anie

l Was

hing

ton

285 mil catildees domesticados

45 mil gatos domesticados

33 mil abandonados nas ruas

Matriacuteculas abertasIniacutecio das aulas marccedilo de 2013Informaccedilotildees 3280-5000 | posfumecbr

gtgtgt Avaliaccedilatildeo Neuropsicoloacutegicagtgtgt Comunicaccedilatildeo e Marketing Esportivogtgtgt Direito Empresarial com ecircnfase nas Relaccedilotildees de Mercadogtgtgt Direito Processual Estudos no Estado Democraacutetico de Direito Constitucionalgtgtgt Docecircncia no Ensino Superior (EaD)gtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para Defi ciecircncia Intelectual (EaD) - Aperfeiccediloamentogtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para a Defi ciecircncia Intelectual Psicose e Autismo (EaD) - Especializaccedilatildeogtgtgt Gerontologiagtgtgt Infacircncia Cultura e Praacuteticas Formativasgtgtgt Jornalismo Ambientalgtgtgt Jornalismo Esportivogtgtgt Microbiologia e Biologia Moleculargtgtgt Psicologia Hospitalar e da Sauacutedegtgtgt Psicomotricidadegtgtgt Psicopedagogia (EaD)gtgtgt Psicoterapia HumanistaFenomenoloacutegicoExistencialgtgtgt Auditoria e Gestatildeo Ambientalgtgtgt Dinacircmica e Projetos Automobiliacutesticosgtgtgt Engenharia de Estruturasgtgtgt Engenharia de Seguranccedila do Trabalhogtgtgt Geometria e Terraplenagem Rodoviaacuteriagtgtgt Gestatildeo de Resiacuteduos e de Aacutereas DegradadasContaminadasgtgtgt Gestatildeo de Transporte Aeacutereogtgtgt Governanccedila em Obras Puacuteblicasgtgtgt MBA em Edifiacutecios Sustentaacuteveis Projeto e Performancegtgtgt Meio Ambiente e Saneamento Ambientalgtgtgt Metodologias e Melhores Praacuteticas na Gestatildeo de Projetos de EngenhariaArquitetura

MBAPoacutes-Graduaccedilatildeo Universidade FUMECantes de tudoa melhor formaccedilatildeo

gtgtgt MBA em Gerenciamento Estrateacutegico de Projetosgtgtgt MBA em Financcedilas Corporativas e Controladoriagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacuteciosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoasgtgtgt MBA em Contabilidade com ecircnfase nas Normas Internacionais (IFRSCPC)gtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Turiacutesticosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacutecios (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoas (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblica (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblicagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Logiacutesticagtgtgt MBA em Seguranccedila Estrateacutegica de Grandes Eventosgtgtgt MBA em Mercado de Capitais e Relaccedilotildees com Investidoresgtgtgt MBA em Marketing Estrateacutegicogtgtgt MBA em Sustentabilidade e Gestatildeo de Recursos Naturaisgtgtgt MBA em Inteligecircncia Digitalgtgtgt MBA em Gerecircncia de Telecomunicaccedilotildees e Redes de Computadoresgtgtgt MBA em Gestatildeo de Seguranccedila da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Engenharia de Software e Governanccedila da Tecnologia da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Desenvolvimento de Sistemas para Dispositivos Moacuteveisgtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Internacionaisgtgtgt MBA em Anaacutelise de Negoacutecios e Processos Organizacionais com ecircnfase no BABOK

ad-opontoindd 1 04122012 142716

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesbull 07

CAROLINA DUARTE

IARA ARAUacuteJO

2ordm PERIacuteODO

Originado na Franccedila durante os anos 20 os cineclubes nas-ceram com o intuito de discu-tir e re etir sobre o cinema No dicionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo eacute de nido como ldquoassociaccedilatildeo que reuacutene apreciadores de cinema para ns de estudo debates e para exibiccedilatildeo de lmes seleciona-dosrdquo A partir desse propoacutesito um movimento ganhou forccedila no mundo chegando tambeacutem ao Brasil tendo sido consi-derado uma das principais expressotildees do movimento cul-tural brasileiro dos anos 50 e 60 O cineclubismo in uenciou vaacuterias geraccedilotildees de pensadores cinematograacute cos aleacutem de ter tambeacutem contribuiacutedo para o surgimento do Cinema Novo Constituiacutedo por pessoas inte-ressadas na arte o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibiccedilatildeo e aprecia-ccedilatildeo do cinema Nos espaccedilos (cineclubes) onde ocorriam as reuniotildees aleacutem da exibiccedilatildeo de lmes de qualidade trocava-se informaccedilotildees e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional como a poliacute-tica de distribuiccedilatildeo de lmes a produccedilatildeo cinematograacute ca o ensino de cinema e ateacute a cria-

ccedilatildeo de uma entidade nacional que congregasse todos os cine-clubes vindo a culminar nos anos 50 no Conselho Nacional de Cineclubes

Aprimorada ao longo de diversas geraccedilotildees a praacutetica difunde um cinema diferente e abrangente oferecendo opor-tunidades a um puacuteblico amplo e diverso de apreciar e discutir bons lmes

Apaixonado por cinema o professor do Centro Universi-taacuterio UNA Ataiacutedes Braga que leciona as disciplinas Cinema-togra a e Anaacutelise Criacutetica do Cinema Brasileiro eacute um el membro do cineclubismo Atu-almente exercendo tambeacutem a criacutetica ele conta que a sua tra-jetoacuteria ndash que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro o mais antigo da capital mineira inaugurado em 1978 ndash teve iniacute-cio a partir de um interesse pes-soal pelo cinema manifestado quando era ainda adolescente

ldquoMinha primeira vocaccedilatildeo eacute a literatura depois vem o cinemardquo de ne ldquoQuando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte comecei a procurar por esses cineclubes a m de participar das discus-sotildees que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela praacutetica Paralelamente o contato com escritores famosos entre eles Carlos Drummond de

Andrade fez crescer ainda mais esse interesse ateacute que nos anos 90 ao decidir resgatar o Cine-clube Humberto Mauro acabei vindo fazer parte da diretoria Desde entatildeo meu interesse pas-sou a ser proporcional agrave minha participaccedilatildeo e engajamentordquo declara o professor

De acordo com Ataiacutedes algu-mas caracteriacutesticas distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema principalmente o comercial o fato de eles natildeo possuiacuterem ns lucrativos terem uma estrutura democraacutetica e um

compromisso cultural e eacutetico ldquoOs cineclubes natildeo servem

apenas para discutir filmes eles produzem fatos novos contribuem para mudar cons-ciecircncias e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildees interferindo desta

forma na sociedade Eacute neste aspecto em especial que reside a sua grande importacircn-ciardquo esclarece

Braga admite ser um pouco mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam presencialmente para discutir lmes em razatildeo entre outros fatores da falta de condiccedilotildees nanceiras e estrutu-rais que muitos cine-clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura local e desta forma trazer mudanccedilas positivas agrave socie-daderdquo naliza

Em contraposiccedilatildeo ao cinema comercial adeptos do movimento cineclubista reuacutenem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons lmes

ldquoOs cineclubes natildeo servem apenas para discutir lmes eles contribuem para

mudar consciecircncias e tambeacutem com a

formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

Ataiacutedes Braga professor

O Centro de Estudos Cinematograacute cos (CEC) conside-rado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Bra-sil continua sendo a referecircncia em Belo Horizonte Aleacutem de exibir lmes aos saacutebados promove ainda cursos de cinema e debates Jaacute recebeu desde a sua criaccedilatildeo inuacutemeros frequen-tadores entre intelectuais criacuteticos e estudiosos aleacutem de pes-soas ligadas agrave literatura e agrave muacutesica

Outra opccedilatildeo eacute o Cine Humberto Mauro um dos poucos que ainda mantecircm esta tradiccedilatildeo na capital mineira pro-movendo reuniotildees mostras e debates Haacute tambeacutem o Cine UFMG funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais localizado na regiatildeo da Pampulha E tam-beacutem o mais recente espaccedilo disponibilizado agrave comunidade o Cento e Quatro

Onde ir em Belo Horizonte

7ordf ArtePaixatildeo pela

mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam

clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura

contribuem para mudar consciecircncias

e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

Foto

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Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

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Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

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16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 2: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Ponto

02 bull Opiniatildeo

Os artigos publicados nesta paacutegina natildeo expressam necessariamente a opiniatildeo do jornal e visam refletir as diversas tendecircncias do pensamento

o ponto

Editor e diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Coordenaccedilatildeo EditorialProfordf Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso)

Professores orientadoresProfordf Dunya Azevedo (Planejamento Graacutefico)

Projeto GraacuteficoDunya Azevedo Professora OrientadoraPedro Rocha Aluno voluntaacuterioRoberta Andrade Aluna voluntaacuteria

LogotipoGiovanni Batista Correcirca

Universidade Fumec Rua Cobre 200 Cruzeiro Belo Horizonte Minas GeraisTel 3228-3014 e-mail opontofumecgmailcom

Presidente do Conselho CuradorProf Tiago Fantini Magalhatildees

Reitor da Universidade Fumec Prof Eduardo Martins de Lima

Diretor GeralFCHProf Antocircnio Marcos Nohmi

Diretor de EnsinoFCHProf Joatildeo Batista de Mendonccedila Filho

Diretor Administrativo e FinanceiroFCHProf Fernando de Melo Nogueira

Coordenador do Curso de JornalismoProf Ismar Madeira

Monitores de Jornalismo ImpressoDiego Duarte e Tuacutelio Kaizer

Monitores da Redaccedilatildeo ModeloJuacutelia Falconi e Laiacutes Seixas

Monitores de Produccedilatildeo GraacuteficaLorene Assis

Tiragem desta ediccedilatildeo 2000 exemplares

Jornal Laboratoacuterio do curso de Jornalismo

Faltou puacuteblico para ver o showTUacuteLIO KAIZER

6ordm PERIacuteODO

O Brasileiratildeo 2012 nos reservou grandes emoccedilotildees e surpresas ateacute a uacuteltima rodada Luta para natildeo cair na Seacuterie B de 2013 briga acirrada pelo vice-campeonato que leva diretamente para a segunda fase da Libertado-res e um intenso troca-troca de posiccedilotildees a cada gol que saiacutea no uacuteltimo domingo de futebol brasileiro

O Fluminense campeatildeo da temporada tentou estra-gar a festa Venceu com trecircs rodadas de antecedecircncia e fez o campeonato perder um pouco a magia Mas Atleacutetico-MG e Grecircmio trataram de dar bastante emoccedilatildeo para a uacuteltima rodada Cada um em seu claacutessico regional brigando pela fase de grupos da maior competiccedilatildeo do continente

O Grecircmio tinha a vantagem em um jogo especial Com um ponto a mais que o time mineiro o tricolor gauacutecho jogaria pela uacuteltima vez no Estaacutedio Oliacutempico palco de 58 anos de jogos do clube O resultado natildeo foi o esperado pois o empate em 0 a 0 tirou da equipe a vaga direta para a fase de grupos da Libertadores Mas os mais de 46 mil pagantes choraram emocionados com a despedida do estaacutedio mostrando que o amor no futebol emociona mais que os resultados

Totalmente alheio a isso o Atleacutetico recebeu o Cru-zeiro no Independecircncia com mais de 21 mil pessoas quebrando o recorde da nova Arena de BH Apenas os atleticanos estavam presentes no estaacutedio e puderam ver uma cena que vai car marcada na histoacuteria O Galo bateu o rival por 3 a 2 e precisava que o Grecircmio natildeo

vencesse Como o jogo do alvinegro terminou antes os jogadores caram no centro do gramado esperando por mais de sete minutos a partida do Sul terminar Com a informaccedilatildeo do 0 a 0 os atletas foram em direccedilatildeo agrave tor-cida comemorar a suada classi caccedilatildeo

Enquanto isso o campeatildeo jogava para pouco mais de 5 mil pessoas em um claacutessico histoacuterico Como expli-car essa situaccedilatildeo Os jogadores do Flu zeram uma grande campanha e no nal jogaram para um puacuteblico decepcionante

A rodada dos claacutessicos reservou ainda uma emoccedilatildeo especial para a torcida do Naacuteutico Mais de 20 mil pes-soas viram o alvirrubro derrubar o Sport seu grande rival para a segunda divisatildeo do Brasileiratildeo A vitoacuteria por 1 a 0 fechou o ldquocaixatildeordquo do Leatildeo da Ilha do Retiro que lutou com forccedilas mas natildeo conseguiu escapar

Podemos ver acima que a uacuteltima rodada teve bas-tante emoccedilatildeo e mesmo assim com grandes claacutessicos a meacutedia de puacuteblico natildeo foi tatildeo boa Isso mostra a cara do Brasileiratildeo que foi emocionante mas perdeu em parti-cipaccedilatildeo do povo no paiacutes do futebol

A meacutedia de puacuteblico do campeonato foi de 13004 pessoas por jogo Contando que estaacutedios cabem mais e outros menos pessoas a meacutedia por ocupaccedilatildeo anali-sando todos os estaacutedios foi de 42 Isso mesmo Menos da metade em ocupaccedilatildeo Como podemos nos chamar de paiacutes do futebol

Com 25222 o Corinthians teve a melhor meacutedia de puacuteblico do campeonato Jaacute o Atleacutetico que teve o fute-bol que encantou o paiacutes em 2012 teve a maior meacutedia de ocupaccedilatildeo do seu estaacutedio com 79 dos lugares ocupa-

dos em toda a competiccedilatildeo Entre as equipes fora do G12 a maior meacutedia foi do Bahia com 18981 pessoas por jogo Jaacute o Naacuteutico teve 64 de ocupaccedilatildeo no seu estaacutedio durante a competiccedilatildeo perdendo apenas para o Galo

As torcidas do Nordeste por sinal foram um show agrave parte Em meacutedia de ocupaccedilatildeo as trecircs equipes da regiatildeo caram no ldquotop 5rdquo Os intrusos foram Atleacutetico-MG e Corinthians Jaacute a decepccedilatildeo cou por conta da torcida carioca Cansamos de ver o Engenhatildeo vazio Um estaacute-dio que cabe mais de 45 mil pessoas viu na maioria dos jogos que sediou puacuteblico menor que 10 mil pessoas

Temos que pensar foacutermulas de levar o povo nova-mente para os estaacutedios Durante muitos anos o puacuteblico participou ativamente do futebol brasileiro Domingo quatro da tarde era certeza de casa cheia Hoje temos jogos aos saacutebados agraves nove da noite ou domingo agraves seis e meia Eacute ir na contramatildeo de um bom puacuteblico colocar horaacuterios absurdos para os jogos

Aleacutem disso a violecircncia das torcidas organizadas e os preccedilos abusivos em alguns estaacutedios afastam o ldquopovatildeordquo amante do futebol dos jogos Com isso o Brasileiratildeo perde a graccedila Poderiacuteamos ver os estaacutedios cheios pois as equipes satildeo boas trazem grandes nomes conhe-cidos fora do paiacutes para que o campeonato seja mais atrativo Mas eacute preciso pensar um algo a mais para que o Brasil volte a ser o paiacutes do futebol Pelo menos nas arquibancadas

25222 pagantes

79 de ocupaccedilatildeo

64 de ocupaccedilatildeo

18981 pagantes

Meacutedia de puacuteblico pagante

Meacutedia de ocupaccedilatildeo por estaacutedio

Times G-12 Times G-8

Erramos Ediccedilatildeo 88 - novembro 2012

Paacutegina de opiniatildeo referente ao texto ldquoComo tirar pipoca da boca de crianccedilardquo foi realizada pelas seguintes alunas Maria Aldeci Helena Tonelli Chaves Larissa Coelho e Karoline de Alencar

No expediente faltou a referecircncia agrave professora Raquel Utsch que coordenou a ediccedilatildeo anterior

Na mateacuteria ldquoShopping animalrdquo paacuteg 6 o nome correto de uma das repoacuterteres participantes eacute Camila Nielsen

A cidade jaacute estaacute com babaacute

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Toledo e Laiacutes Seixas - 4ordm Periacuteodo Comportamento bull 03

Minutos depois de o prefeito de Belo Horizonte usar a expressatildeo lsquolsquobabaacute de cidadatildeorsquorsquo para justi car a falha da prefeitura na prevenccedilatildeo de acidentes causados por chu-vas internautas criativos postaram inuacutemeras criacuteticas bem humoradas e irocircnicas a Maacutercio Lacerda

JUacuteLIA TOLEDO LAIacuteS SEIXAS

4ordm PERIacuteODO

Quase cinco minutos depois de um depoimento dado pelo prefeito Maacutercio Lacerda em uma coletiva de imprensa vaacuterias brincadeiras e zombarias com o administrador de Belo Horizonte foram parar nas redes sociais O estrago cou registrado por todos os lados em viacutedeos no youtube com vlogers se manifes-tando sobre a declaraccedilatildeo polecirc-mica aleacutem de posts irocircnicos em vaacuterias redes sociais

Aconteceu de novo no mecircs de novembro As chuvas causa-ram trageacutedias na vida dos belo-horizontinos deixando a cidade devastada e em estado de alerta

A a rmaccedilatildeo do prefeito que associou os habitantes da capi-tal mineira a crianccedilas dizendo que ele deveria ser um pouco mais ldquoBabaacute de Cidadatildeordquo foi feita na tarde da sexta-feira (16) no mesmo local onde uma pessoa morreu na quinta-feira (15) Por

causa da forte chuva um moto-rista foi arrastado de dentro do seu veiacuteculo para o coacuterrego ldquoRes-sacardquo no bairro Castelo regiatildeo da Pampulha Maacutercio Lacerda atribuiu ao ldquofenocircmeno meteoro-loacutegicordquo os problemas ocorridos na cidade Segundo ele choveu em duas horas quase a metade do esperado para todo o mecircs de novembro

As medidas para aliviar trans-tornos apoacutes os temporais ainda natildeo foram toma-das Procurado para falar sobre os atuais pro-blemas da capital mineira o atual prefeito de Belo Horizonte Maacutercio Lacerda (PSB) falou em uma coletiva que as enchentes satildeo algo normal e servem como um alerta para medidas serem tomadas na proacutexima vez que ocorrerem ldquoEacute a vida neacute acon-tecerdquo declara o prefeito Pesqui-sas de meteorologistas apontam

que a chuva em BH em um dia em novembro foi cerca de 70 acima do esperado para o mecircs

O comerciante Carlos Alberto Falconi 47 anos haacute mais de 20 no ramo jaacute enfrentou quedas nas vendas proporcionais agraves chuvas mas nunca foi atingido e

sofreu problemas com o comeacutercio como no dia das enchentes Apoacutes o retorno para a capital sede de seu trabalho viu a declaraccedilatildeo do prefeito e se mos-trou indignado lsquolsquoA declaraccedilatildeo do

prefeito foi inoportuna perante a exposiccedilatildeo e di culdades que os cidadatildeos atingidos estatildeo pas-sandorsquorsquo declara Falconi

Ateacute mesmo o marco histoacute-rico localizado na Praccedila Sete de Setembro virou piada nas matildeos dos usuaacuterios do facebook O lsquolsquopirulitorsquorsquo como muitos o cha-mam virou de fato uma charge com um pirulito ilustrando a

lsquolsquoinfantilidadersquorsquo da cidade ou cidadatildeos como o proacuteprio pre-feito disse

O professor de inglecircs Helder Viana 25 anos morador de uma das aacutereas de risco disse que as enchentes afetaram a ele e a sua familia pessoalmente mas que a culpa natildeo eacute unicamente do prefeito os cidadatildeos devem colaborar com a prevenccedilatildeo des-ses alagamentos natildeo poluindo o espaccedilo puacuteblico lsquolsquoDe que adianta conscientizar trabalhar fazer obras se os ignorantes sujam tudo o que veem pela frentersquorsquo A dimensatildeo que uma simples declaraccedilatildeo tomou foi de fato inesperada segundo o profes-sor os internautas passaram a zombar com charges da lsquolsquoSuper Nanyrsquorsquo e rosto de Lacerda e pedir a cabeccedila do prefeito lsquolsquoMaacutercio Lacerda eacute um dos poucos - se natildeo o uacutenico - prefeitos de BH que conseguiram tamanha desa-provaccedilatildeo que mobilizasse uma campanha popular pedindo a sua cabeccedilarsquorsquo completa

O prefeito foi procurado para

falar sobre o depoimento mas natildeo quis se pronunciar

Pedido de DesculpasNem Marcio Lacerda pode-

ria imaginar a repercussatildeo que tomaria a sua frase dita em entre-vista coletiva A pressatildeo veio de todas as partes As redes sociais se mobilizaram e antes que o pre-feito pudesse explicar qualquer coisa surgiram vaacuterias ldquobrinca-deirinhasrdquo colocando fotomon-tagens de Lacerda com uniforme de babaacute

Ateacute dentro da cacircmara o pre-feito virou motivo de chacota Vereadores e deputados tenta-ram entregar um avental ao vice de Maacutercio Todos os ligados ao prefeito receberam as criticas e brincadeiras mas natildeo se pro-nunciaram por uma semana

Sete dias depois de chamar a populaccedilatildeo de crianccedila Lacerda assumiu ter errado em sua declaraccedilatildeo ldquoFoi uma expressatildeo infeliz que eu usei e as pessoas se sentiram ofendidas e eu ateacute peccedilo desculpardquo disse o prefeito

Deu em tempestade SirenesApoacutes toda a repercussatildeo

polecircmica do depoimento de Lacerda foi anunciada no site o cial da prefeitura que as medidas preventivas agraves trageacute-dias das enchentes seratildeo ins-taladas sirenes e alto-falantes como alerta aleacutem das placas de alerta agraves chuvas que infor-maratildeo aos que estiverem nas aacutereas sobre as possibilidades de alagamentos A prefeitura concluiu apenas uma das sete obras anunciadas para pre-venccedilatildeo de enchentes na capi-tal mineira

Quatro intervenccedilotildees estatildeo previstas para serem nali-zadas em 2013 e outras duas ainda natildeo tecircm um prazo esti-pulado para sair dos papeacuteis Ainda natildeo existem recursos previstos para tentar solucio-nar o problema das proximi-

dades da Avenida Cristiano Machado A via eacute um dos pontos mais vulneraacuteveis de Belo Horizonte durante periacute-odos chuvosos no mecircs de dezembro

Segundo a Superintendecircn-cia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) estatildeo sendo estudadas novas soluccedilotildees para a redondeza da via Cristiano Machado mas ainda natildeo haacute uma previsatildeo para o iacutenicio de novas obras A PBH e a Defesa Civil Municipal vatildeo come-ccedilar a trabalhar em um plano de contingecircncia para agir em casos de chuvas fortes e con-seguir evacuar as aacutereas de ala-gamentos mais rapidamente Uma das propostas de acordo com o prefeito eacute aumentar o policiamento nos 85 pontos de riscos de Belo Horizonte

ldquoAcho que ele se expressou com a mesma inabilidade de sempre mas acaba por estar correto O cidadatildeo tem que fazer a parte dele e entender que o Estado eacute um orgatildeo e tem de se inserir como parte desse organismordquo

Helder Vianaprofessor

lsquolsquoEu fui pessoalmente prejudicado por ele minha famiacutelia inteira

foi atingida pelas enchentesrsquorsquoHelder Viana

ldquoRealmente eacute uma coisa de se indignar porque noacutes natildeo precisamos de babaacute e sim de um bom prefeito que faccedila as obras e cumpra as leisrdquo

Guilherme Valeestudante de Jornalismo

ldquoA campanha de Maacuter-cio quis mostrar seu lado humano mas o que ele mostra para a populaccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio ao menosprezar os nossos posicionamentosrdquo

Anna Tereza Clementino estudante de Jornalismo

Foto

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A gafe que bombou na web

O PontoO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

04 bullSauacutede

KARLA REIS

BRUNA RODRIGUES XAVIER

ELOAacute MAGALHAtildeES

2ordm PERIacuteODO

Os nuacutemeros satildeo signi cativos Segundo o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria Municipal de Saude Belo Hori-zonte conta aproximadamente com 285000 catildees e 45000 gatos domiciliados contabili-zados pelo censo animal realizado em 2011 Desse total cerca de 10ou seja 33 mil ani-mais acabam nas ruas

Eacute um dado preocupante visto que estes animais podem disseminar para a popula-ccedilatildeo doenccedilas como a raiva e a leishimaniose que satildeo graves problemas de sauacutede puacuteblica

O CCZ desenvolve poliacuteticas em vaacuterias fren-tes para evitar o abandono e doenccedilas transmi-tidas por animais As accedilotildees satildeo apoiadas pela sociedade civil organizada nas campanhas de adoccedilatildeo incentivo agrave posse responsaacutevel pales-tras e esterilizaccedilatildeo de animais Em 2011 foram realizadas 14203 cirurgias de esterilizaccedilatildeo de catildees e gatos e ateacute agosto deste ano 11526 ani-mais jaacute passaram pelo procedimento

Aleacutem disso a SMSA promove tambeacutem a adoccedilatildeo dos que foram abandonados nas rua As ONGrsquos ajudam o CCZ na localizaccedilatildeo de famiacutelias que queiram adotar esses animais Antes de serem adotados os catildees e gatos passam por uma avaliaccedilatildeo cliacutenica fazem exame de leishmaniose cirurgia de esteri-lizaccedilatildeo e tomam a vacina contra raiva Os animais tambeacutem recebem um microchip de identi caccedilatildeo

Poreacutem apenas o trabalho realizado pela PBH natildeo eacute su ciente para dar conta do enorme nuacutemero de animais abandonados nas ruas da capital

Defensores AnocircnimosMuitos voluntaacuterios desenvolvem um

trabalho solitaacuterio recolhendo e cui-dando de animais abandonados e violen-tados como eacute o caso de Giovana Fraga que por meio do site ldquoProjeto Animais de Ruardquo (wwwprojetoanimaisderuabhcom) procura acolher e facilitar a adoccedilatildeo de catildees e gatos encontrados em situaccedilatildeo de abandono ldquoHoje temos em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e mais duas mamatildees uma com sete filhotes e a outra com quatro Fal-tam recursos eu e meu marido fazemos esse trabalho sem recurso governamental esta-mos sempre preci-sando de doaccedilotildees como raccedilatildeo produtos de limpeza coberto-res medicamentos entre outros Temos inclusive um mini bloco ciruacutergico mon-tado mais ainda natildeo conseguimos vete-rinaacuterios que possam nos ajudarrsquorsquo declara Giovana

Assim como ela a psicoacuteloga Jussara Vianna se diz sensibilizada e natildeo resiste ao se deparar com algum animal peram-bulando pelas ruas ldquoA minha sensaccedilatildeo quando vejo um animal em situaccedilatildeo de risco eacute de responsabilidade pois eles satildeo muito vulneraacuteveis e precisam de nossa ajuda

Por isso carrego sempre no carro um pacote de raccedilatildeo e quando encontro algum pelo caminho paro e tento atraiacute-lo Depois levo para veterinaacuterios amigos que me ajudam sem cobrar as consultas Mas

os gastos com procedimentos medica-mentos e as diaacuterias para abrigaacute-los ateacute que encontrar uma adoccedilatildeo ficam por minha contardquo conta Jussara

A psicoacuteloga relata que para conse-guir encontrar um lar para estes ani-mais manda e-mails para seus amigos e estes por sua vez repassam a mensagem ampliando assim a rede de apoiadores desta causa

No projeto ldquoAnimais de Ruardquo um site foi criado e eacute utilizado para divulgar as

adoccedilotildees ldquoAs adoccedilotildees acontecem por inter-meacutedio do site mas tirando os filhotes a grande maioria natildeo um lar pois jaacute satildeo velhinhos ou aleijados Estes acabam ficando comigo sendo tratados com amor e respeito ateacute o fim dos seus diasrdquo

desabafa GiovanaA veterinaacuteria Eliza Silveira acaba de

adotar a pitbull Bellinha que por dois anos e meio morou em uma cliacutenica vete-rinaacuteria localizada no Sion A cadela foi encaminhada por uma cliente do estabe-lecimento que a encontrou abandonada faminta e em peacutessimo estado de sauacutede

Compadecida da situaccedilatildeo e consciente da dificuldade de se conseguir uma ado-ccedilatildeo para animais desta raccedila a cliente dividiu com a cliacutenica as despesas de Belli-nha durante todo este tempo ateacute que esta pudesse ser adotada A cliacutenica vizinha da favela Morro do Papagaio oferece aten-dimento e castraccedilotildees a preccedilos reduzidos aos animais da comunidade

BH tem cerca de 30 mil animais abandonados

O aumento constante de animais nas ruas da capital mineira eacute um problema de sauacutede puacuteblica

ldquoHoje temos albergados em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e

mais duas mamatildeesrsquorsquoGiovana Fraga veterinaacuteria

Foto Karla R

eis

Abandonado catildeo procura alimento no meio do lixo

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Sauacutedebull 05Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Uma outra parcela de voluntaacuterios doa seu trabalho em ONGs que se empenham em defender e cuidar de animais abandonados aleacutem de prover a orientaccedilatildeo e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo buscando formar guardiotildees res-ponsaacuteveis Uma delas a Associaccedilatildeo Bichos Gerais (ABG) eacute uma ONG sem ns lucrati-vos o cializada desde 2001 e a liada a WSPA (World Society for the Protection of Animals) da qual fazem parte veterinaacuterios ecoacutelogos engenheiros advogados empresaacuterios pro-fessores e pessoas comuns A ONG tem como objetivo prestar serviccedilos agraves comunidades carentes atraveacutes de assistecircncia meacutedica veteri-naacuteria gratuita a seus catildees gatos e demais ani-mais domeacutesticos incluindo consulta vaci-nas medicaccedilotildees e procedimentos ciruacutergicos principalmente cirurgias para esterilizaccedilatildeo

Trata-se de uma organizaccedilatildeo auto-susten-taacutevel cujos recursos para as atividades assis-tenciais aos animais carentes e animais sel-vagens viacutetimas do traacute co vecircm de uma cliacutenica veterinaacuteria criada com o objetivo de gerar tais recursos Dentre as atividades desenvol-vidas por ela estatildeo o projeto NAV ( Nuacutecleo de Atendimento Veterinaacuterio) na Vila Bispo Maura em Ribeiratildeo das Neves onde sequer haacute rede de esgoto O projeto oferece aleacutem do atendimento gratuito atividades sobre educaccedilatildeo ambiental e campanhas sobre a guarda responsaacutevel

Haacute ainda o projeto do Centro de Conser-vaccedilatildeo da Fauna voltado para atendimento a animais silvestres viacutetimas do traacute co cati-veiro clandestino ou acidentes em rodovias

que satildeo encaminhados pelo IBAMA e Poliacutecia Ambiental e que pretende abrigar milhares de animais O objetivo do projeto eacute se tornar referecircncia mundial em produccedilatildeo de conheci-mento cientiacute co com ns de preservaccedilatildeo das espeacutecies Por m o ProjetoFeacutelix criado em 2002 promove controle e monitoramento da populaccedilatildeo de felinos residentes no Parque Municipal de Belo Horizonte atraveacutes da cas-traccedilatildeo e acompanhamento meacutedico veterinaacute-rio dos adultos e retirada de lhotes receacutem abandonados

Foram realizadas cirurgias gratuitas em mais de quatrocentos animais e centenas de outros encaminhados para adoccedilatildeo

A discussatildeo eacute ampla e democraacutetica atin-gindo natildeo soacute os defensores como tambeacutem aqueles que natildeo gostam ou natildeo podem ter animais em casa tanto que dentro do Conselho Municipal de Sauacutede de BH estaacute constituiacuteda a Comissatildeo Interinstitucional de Sauacutede Humana na sua Relaccedilatildeo com os Animais que eacute o espaccedilo para discussatildeo dos temas a ns envolvendo o poder puacuteblico e a sociedade civil organizada (ONGs coleti-vos ou muniacutecipes)

Para adotar um animal recolhido pelo CCZ o interessado deve comparecer agrave unidade (Rua Edna Quintel 173 - Satildeo Bernardo)

Se o animal for lhote eacute necessaacuterio aguardar que o animal seja desmamado O prazo pode ser de ateacute 45 dias Os interes-sados podem ligar para 3277-7411 ou para 3277-7413

Conheccedila a Lei Brasileira

Aleacutem Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que aborda seu tema no seu artigo 225 a princi-pal lei que protege os animais eacute a Lei Federal 960598 conhecida como Lei dos Crimes Ambientais com destaque para o artigo 32

Art 32 - Praticar ato de abuso maus-tratos ferir ou mutilar animais silvestres domeacutesticos ou domesticados nativos ou exoacuteticos A pena seraacute de 3 meses a 1 ano de prisatildeo e multa aumentada de 16 a 13 se ocorrer a morte do animal A UNESCO em assembleia no dia 27 de janeiro de 1978 pro-clamou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Animais da qual destacamos

1 - Todos os animais tecircm o mesmo direito agrave vida

2 - Todos os animais tecircm direito ao res-peito e agrave proteccedilatildeo do homem

3 - Nenhum animal deve ser maltratado 4 - Todos os animais selvagens tecircm o

direito de viver livres no seu habitat 5 - O animal que o homem escolher

para companheiro natildeo deve ser nunca ser abandonado

6 - Nenhum animal deve ser usado em experiecircncias que lhe causem dor

7 - Todo ato que potildee em risco a vida de um animal eacute um crime contra a vida

8 - A poluiccedilatildeo e a destruiccedilatildeo do meio ambiente satildeo considerados crimes contra os animais

9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei

10 - O homem deve ser educado desde a infacircncia para observar respeitar e com-preender os animais

ONG conta com voluntaacuteriosNina ganhou um novo lar apoacutes ser acolhida na Clinica PETZOO

Foto Bruna Rodrigues

Meacutedia anual de animais abandonados

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ton

285 mil catildees domesticados

45 mil gatos domesticados

33 mil abandonados nas ruas

Matriacuteculas abertasIniacutecio das aulas marccedilo de 2013Informaccedilotildees 3280-5000 | posfumecbr

gtgtgt Avaliaccedilatildeo Neuropsicoloacutegicagtgtgt Comunicaccedilatildeo e Marketing Esportivogtgtgt Direito Empresarial com ecircnfase nas Relaccedilotildees de Mercadogtgtgt Direito Processual Estudos no Estado Democraacutetico de Direito Constitucionalgtgtgt Docecircncia no Ensino Superior (EaD)gtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para Defi ciecircncia Intelectual (EaD) - Aperfeiccediloamentogtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para a Defi ciecircncia Intelectual Psicose e Autismo (EaD) - Especializaccedilatildeogtgtgt Gerontologiagtgtgt Infacircncia Cultura e Praacuteticas Formativasgtgtgt Jornalismo Ambientalgtgtgt Jornalismo Esportivogtgtgt Microbiologia e Biologia Moleculargtgtgt Psicologia Hospitalar e da Sauacutedegtgtgt Psicomotricidadegtgtgt Psicopedagogia (EaD)gtgtgt Psicoterapia HumanistaFenomenoloacutegicoExistencialgtgtgt Auditoria e Gestatildeo Ambientalgtgtgt Dinacircmica e Projetos Automobiliacutesticosgtgtgt Engenharia de Estruturasgtgtgt Engenharia de Seguranccedila do Trabalhogtgtgt Geometria e Terraplenagem Rodoviaacuteriagtgtgt Gestatildeo de Resiacuteduos e de Aacutereas DegradadasContaminadasgtgtgt Gestatildeo de Transporte Aeacutereogtgtgt Governanccedila em Obras Puacuteblicasgtgtgt MBA em Edifiacutecios Sustentaacuteveis Projeto e Performancegtgtgt Meio Ambiente e Saneamento Ambientalgtgtgt Metodologias e Melhores Praacuteticas na Gestatildeo de Projetos de EngenhariaArquitetura

MBAPoacutes-Graduaccedilatildeo Universidade FUMECantes de tudoa melhor formaccedilatildeo

gtgtgt MBA em Gerenciamento Estrateacutegico de Projetosgtgtgt MBA em Financcedilas Corporativas e Controladoriagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacuteciosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoasgtgtgt MBA em Contabilidade com ecircnfase nas Normas Internacionais (IFRSCPC)gtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Turiacutesticosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacutecios (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoas (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblica (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblicagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Logiacutesticagtgtgt MBA em Seguranccedila Estrateacutegica de Grandes Eventosgtgtgt MBA em Mercado de Capitais e Relaccedilotildees com Investidoresgtgtgt MBA em Marketing Estrateacutegicogtgtgt MBA em Sustentabilidade e Gestatildeo de Recursos Naturaisgtgtgt MBA em Inteligecircncia Digitalgtgtgt MBA em Gerecircncia de Telecomunicaccedilotildees e Redes de Computadoresgtgtgt MBA em Gestatildeo de Seguranccedila da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Engenharia de Software e Governanccedila da Tecnologia da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Desenvolvimento de Sistemas para Dispositivos Moacuteveisgtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Internacionaisgtgtgt MBA em Anaacutelise de Negoacutecios e Processos Organizacionais com ecircnfase no BABOK

ad-opontoindd 1 04122012 142716

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesbull 07

CAROLINA DUARTE

IARA ARAUacuteJO

2ordm PERIacuteODO

Originado na Franccedila durante os anos 20 os cineclubes nas-ceram com o intuito de discu-tir e re etir sobre o cinema No dicionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo eacute de nido como ldquoassociaccedilatildeo que reuacutene apreciadores de cinema para ns de estudo debates e para exibiccedilatildeo de lmes seleciona-dosrdquo A partir desse propoacutesito um movimento ganhou forccedila no mundo chegando tambeacutem ao Brasil tendo sido consi-derado uma das principais expressotildees do movimento cul-tural brasileiro dos anos 50 e 60 O cineclubismo in uenciou vaacuterias geraccedilotildees de pensadores cinematograacute cos aleacutem de ter tambeacutem contribuiacutedo para o surgimento do Cinema Novo Constituiacutedo por pessoas inte-ressadas na arte o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibiccedilatildeo e aprecia-ccedilatildeo do cinema Nos espaccedilos (cineclubes) onde ocorriam as reuniotildees aleacutem da exibiccedilatildeo de lmes de qualidade trocava-se informaccedilotildees e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional como a poliacute-tica de distribuiccedilatildeo de lmes a produccedilatildeo cinematograacute ca o ensino de cinema e ateacute a cria-

ccedilatildeo de uma entidade nacional que congregasse todos os cine-clubes vindo a culminar nos anos 50 no Conselho Nacional de Cineclubes

Aprimorada ao longo de diversas geraccedilotildees a praacutetica difunde um cinema diferente e abrangente oferecendo opor-tunidades a um puacuteblico amplo e diverso de apreciar e discutir bons lmes

Apaixonado por cinema o professor do Centro Universi-taacuterio UNA Ataiacutedes Braga que leciona as disciplinas Cinema-togra a e Anaacutelise Criacutetica do Cinema Brasileiro eacute um el membro do cineclubismo Atu-almente exercendo tambeacutem a criacutetica ele conta que a sua tra-jetoacuteria ndash que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro o mais antigo da capital mineira inaugurado em 1978 ndash teve iniacute-cio a partir de um interesse pes-soal pelo cinema manifestado quando era ainda adolescente

ldquoMinha primeira vocaccedilatildeo eacute a literatura depois vem o cinemardquo de ne ldquoQuando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte comecei a procurar por esses cineclubes a m de participar das discus-sotildees que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela praacutetica Paralelamente o contato com escritores famosos entre eles Carlos Drummond de

Andrade fez crescer ainda mais esse interesse ateacute que nos anos 90 ao decidir resgatar o Cine-clube Humberto Mauro acabei vindo fazer parte da diretoria Desde entatildeo meu interesse pas-sou a ser proporcional agrave minha participaccedilatildeo e engajamentordquo declara o professor

De acordo com Ataiacutedes algu-mas caracteriacutesticas distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema principalmente o comercial o fato de eles natildeo possuiacuterem ns lucrativos terem uma estrutura democraacutetica e um

compromisso cultural e eacutetico ldquoOs cineclubes natildeo servem

apenas para discutir filmes eles produzem fatos novos contribuem para mudar cons-ciecircncias e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildees interferindo desta

forma na sociedade Eacute neste aspecto em especial que reside a sua grande importacircn-ciardquo esclarece

Braga admite ser um pouco mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam presencialmente para discutir lmes em razatildeo entre outros fatores da falta de condiccedilotildees nanceiras e estrutu-rais que muitos cine-clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura local e desta forma trazer mudanccedilas positivas agrave socie-daderdquo naliza

Em contraposiccedilatildeo ao cinema comercial adeptos do movimento cineclubista reuacutenem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons lmes

ldquoOs cineclubes natildeo servem apenas para discutir lmes eles contribuem para

mudar consciecircncias e tambeacutem com a

formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

Ataiacutedes Braga professor

O Centro de Estudos Cinematograacute cos (CEC) conside-rado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Bra-sil continua sendo a referecircncia em Belo Horizonte Aleacutem de exibir lmes aos saacutebados promove ainda cursos de cinema e debates Jaacute recebeu desde a sua criaccedilatildeo inuacutemeros frequen-tadores entre intelectuais criacuteticos e estudiosos aleacutem de pes-soas ligadas agrave literatura e agrave muacutesica

Outra opccedilatildeo eacute o Cine Humberto Mauro um dos poucos que ainda mantecircm esta tradiccedilatildeo na capital mineira pro-movendo reuniotildees mostras e debates Haacute tambeacutem o Cine UFMG funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais localizado na regiatildeo da Pampulha E tam-beacutem o mais recente espaccedilo disponibilizado agrave comunidade o Cento e Quatro

Onde ir em Belo Horizonte

7ordf ArtePaixatildeo pela

mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam

clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura

contribuem para mudar consciecircncias

e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

Foto

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Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 3: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Toledo e Laiacutes Seixas - 4ordm Periacuteodo Comportamento bull 03

Minutos depois de o prefeito de Belo Horizonte usar a expressatildeo lsquolsquobabaacute de cidadatildeorsquorsquo para justi car a falha da prefeitura na prevenccedilatildeo de acidentes causados por chu-vas internautas criativos postaram inuacutemeras criacuteticas bem humoradas e irocircnicas a Maacutercio Lacerda

JUacuteLIA TOLEDO LAIacuteS SEIXAS

4ordm PERIacuteODO

Quase cinco minutos depois de um depoimento dado pelo prefeito Maacutercio Lacerda em uma coletiva de imprensa vaacuterias brincadeiras e zombarias com o administrador de Belo Horizonte foram parar nas redes sociais O estrago cou registrado por todos os lados em viacutedeos no youtube com vlogers se manifes-tando sobre a declaraccedilatildeo polecirc-mica aleacutem de posts irocircnicos em vaacuterias redes sociais

Aconteceu de novo no mecircs de novembro As chuvas causa-ram trageacutedias na vida dos belo-horizontinos deixando a cidade devastada e em estado de alerta

A a rmaccedilatildeo do prefeito que associou os habitantes da capi-tal mineira a crianccedilas dizendo que ele deveria ser um pouco mais ldquoBabaacute de Cidadatildeordquo foi feita na tarde da sexta-feira (16) no mesmo local onde uma pessoa morreu na quinta-feira (15) Por

causa da forte chuva um moto-rista foi arrastado de dentro do seu veiacuteculo para o coacuterrego ldquoRes-sacardquo no bairro Castelo regiatildeo da Pampulha Maacutercio Lacerda atribuiu ao ldquofenocircmeno meteoro-loacutegicordquo os problemas ocorridos na cidade Segundo ele choveu em duas horas quase a metade do esperado para todo o mecircs de novembro

As medidas para aliviar trans-tornos apoacutes os temporais ainda natildeo foram toma-das Procurado para falar sobre os atuais pro-blemas da capital mineira o atual prefeito de Belo Horizonte Maacutercio Lacerda (PSB) falou em uma coletiva que as enchentes satildeo algo normal e servem como um alerta para medidas serem tomadas na proacutexima vez que ocorrerem ldquoEacute a vida neacute acon-tecerdquo declara o prefeito Pesqui-sas de meteorologistas apontam

que a chuva em BH em um dia em novembro foi cerca de 70 acima do esperado para o mecircs

O comerciante Carlos Alberto Falconi 47 anos haacute mais de 20 no ramo jaacute enfrentou quedas nas vendas proporcionais agraves chuvas mas nunca foi atingido e

sofreu problemas com o comeacutercio como no dia das enchentes Apoacutes o retorno para a capital sede de seu trabalho viu a declaraccedilatildeo do prefeito e se mos-trou indignado lsquolsquoA declaraccedilatildeo do

prefeito foi inoportuna perante a exposiccedilatildeo e di culdades que os cidadatildeos atingidos estatildeo pas-sandorsquorsquo declara Falconi

Ateacute mesmo o marco histoacute-rico localizado na Praccedila Sete de Setembro virou piada nas matildeos dos usuaacuterios do facebook O lsquolsquopirulitorsquorsquo como muitos o cha-mam virou de fato uma charge com um pirulito ilustrando a

lsquolsquoinfantilidadersquorsquo da cidade ou cidadatildeos como o proacuteprio pre-feito disse

O professor de inglecircs Helder Viana 25 anos morador de uma das aacutereas de risco disse que as enchentes afetaram a ele e a sua familia pessoalmente mas que a culpa natildeo eacute unicamente do prefeito os cidadatildeos devem colaborar com a prevenccedilatildeo des-ses alagamentos natildeo poluindo o espaccedilo puacuteblico lsquolsquoDe que adianta conscientizar trabalhar fazer obras se os ignorantes sujam tudo o que veem pela frentersquorsquo A dimensatildeo que uma simples declaraccedilatildeo tomou foi de fato inesperada segundo o profes-sor os internautas passaram a zombar com charges da lsquolsquoSuper Nanyrsquorsquo e rosto de Lacerda e pedir a cabeccedila do prefeito lsquolsquoMaacutercio Lacerda eacute um dos poucos - se natildeo o uacutenico - prefeitos de BH que conseguiram tamanha desa-provaccedilatildeo que mobilizasse uma campanha popular pedindo a sua cabeccedilarsquorsquo completa

O prefeito foi procurado para

falar sobre o depoimento mas natildeo quis se pronunciar

Pedido de DesculpasNem Marcio Lacerda pode-

ria imaginar a repercussatildeo que tomaria a sua frase dita em entre-vista coletiva A pressatildeo veio de todas as partes As redes sociais se mobilizaram e antes que o pre-feito pudesse explicar qualquer coisa surgiram vaacuterias ldquobrinca-deirinhasrdquo colocando fotomon-tagens de Lacerda com uniforme de babaacute

Ateacute dentro da cacircmara o pre-feito virou motivo de chacota Vereadores e deputados tenta-ram entregar um avental ao vice de Maacutercio Todos os ligados ao prefeito receberam as criticas e brincadeiras mas natildeo se pro-nunciaram por uma semana

Sete dias depois de chamar a populaccedilatildeo de crianccedila Lacerda assumiu ter errado em sua declaraccedilatildeo ldquoFoi uma expressatildeo infeliz que eu usei e as pessoas se sentiram ofendidas e eu ateacute peccedilo desculpardquo disse o prefeito

Deu em tempestade SirenesApoacutes toda a repercussatildeo

polecircmica do depoimento de Lacerda foi anunciada no site o cial da prefeitura que as medidas preventivas agraves trageacute-dias das enchentes seratildeo ins-taladas sirenes e alto-falantes como alerta aleacutem das placas de alerta agraves chuvas que infor-maratildeo aos que estiverem nas aacutereas sobre as possibilidades de alagamentos A prefeitura concluiu apenas uma das sete obras anunciadas para pre-venccedilatildeo de enchentes na capi-tal mineira

Quatro intervenccedilotildees estatildeo previstas para serem nali-zadas em 2013 e outras duas ainda natildeo tecircm um prazo esti-pulado para sair dos papeacuteis Ainda natildeo existem recursos previstos para tentar solucio-nar o problema das proximi-

dades da Avenida Cristiano Machado A via eacute um dos pontos mais vulneraacuteveis de Belo Horizonte durante periacute-odos chuvosos no mecircs de dezembro

Segundo a Superintendecircn-cia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) estatildeo sendo estudadas novas soluccedilotildees para a redondeza da via Cristiano Machado mas ainda natildeo haacute uma previsatildeo para o iacutenicio de novas obras A PBH e a Defesa Civil Municipal vatildeo come-ccedilar a trabalhar em um plano de contingecircncia para agir em casos de chuvas fortes e con-seguir evacuar as aacutereas de ala-gamentos mais rapidamente Uma das propostas de acordo com o prefeito eacute aumentar o policiamento nos 85 pontos de riscos de Belo Horizonte

ldquoAcho que ele se expressou com a mesma inabilidade de sempre mas acaba por estar correto O cidadatildeo tem que fazer a parte dele e entender que o Estado eacute um orgatildeo e tem de se inserir como parte desse organismordquo

Helder Vianaprofessor

lsquolsquoEu fui pessoalmente prejudicado por ele minha famiacutelia inteira

foi atingida pelas enchentesrsquorsquoHelder Viana

ldquoRealmente eacute uma coisa de se indignar porque noacutes natildeo precisamos de babaacute e sim de um bom prefeito que faccedila as obras e cumpra as leisrdquo

Guilherme Valeestudante de Jornalismo

ldquoA campanha de Maacuter-cio quis mostrar seu lado humano mas o que ele mostra para a populaccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio ao menosprezar os nossos posicionamentosrdquo

Anna Tereza Clementino estudante de Jornalismo

Foto

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A gafe que bombou na web

O PontoO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

04 bullSauacutede

KARLA REIS

BRUNA RODRIGUES XAVIER

ELOAacute MAGALHAtildeES

2ordm PERIacuteODO

Os nuacutemeros satildeo signi cativos Segundo o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria Municipal de Saude Belo Hori-zonte conta aproximadamente com 285000 catildees e 45000 gatos domiciliados contabili-zados pelo censo animal realizado em 2011 Desse total cerca de 10ou seja 33 mil ani-mais acabam nas ruas

Eacute um dado preocupante visto que estes animais podem disseminar para a popula-ccedilatildeo doenccedilas como a raiva e a leishimaniose que satildeo graves problemas de sauacutede puacuteblica

O CCZ desenvolve poliacuteticas em vaacuterias fren-tes para evitar o abandono e doenccedilas transmi-tidas por animais As accedilotildees satildeo apoiadas pela sociedade civil organizada nas campanhas de adoccedilatildeo incentivo agrave posse responsaacutevel pales-tras e esterilizaccedilatildeo de animais Em 2011 foram realizadas 14203 cirurgias de esterilizaccedilatildeo de catildees e gatos e ateacute agosto deste ano 11526 ani-mais jaacute passaram pelo procedimento

Aleacutem disso a SMSA promove tambeacutem a adoccedilatildeo dos que foram abandonados nas rua As ONGrsquos ajudam o CCZ na localizaccedilatildeo de famiacutelias que queiram adotar esses animais Antes de serem adotados os catildees e gatos passam por uma avaliaccedilatildeo cliacutenica fazem exame de leishmaniose cirurgia de esteri-lizaccedilatildeo e tomam a vacina contra raiva Os animais tambeacutem recebem um microchip de identi caccedilatildeo

Poreacutem apenas o trabalho realizado pela PBH natildeo eacute su ciente para dar conta do enorme nuacutemero de animais abandonados nas ruas da capital

Defensores AnocircnimosMuitos voluntaacuterios desenvolvem um

trabalho solitaacuterio recolhendo e cui-dando de animais abandonados e violen-tados como eacute o caso de Giovana Fraga que por meio do site ldquoProjeto Animais de Ruardquo (wwwprojetoanimaisderuabhcom) procura acolher e facilitar a adoccedilatildeo de catildees e gatos encontrados em situaccedilatildeo de abandono ldquoHoje temos em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e mais duas mamatildees uma com sete filhotes e a outra com quatro Fal-tam recursos eu e meu marido fazemos esse trabalho sem recurso governamental esta-mos sempre preci-sando de doaccedilotildees como raccedilatildeo produtos de limpeza coberto-res medicamentos entre outros Temos inclusive um mini bloco ciruacutergico mon-tado mais ainda natildeo conseguimos vete-rinaacuterios que possam nos ajudarrsquorsquo declara Giovana

Assim como ela a psicoacuteloga Jussara Vianna se diz sensibilizada e natildeo resiste ao se deparar com algum animal peram-bulando pelas ruas ldquoA minha sensaccedilatildeo quando vejo um animal em situaccedilatildeo de risco eacute de responsabilidade pois eles satildeo muito vulneraacuteveis e precisam de nossa ajuda

Por isso carrego sempre no carro um pacote de raccedilatildeo e quando encontro algum pelo caminho paro e tento atraiacute-lo Depois levo para veterinaacuterios amigos que me ajudam sem cobrar as consultas Mas

os gastos com procedimentos medica-mentos e as diaacuterias para abrigaacute-los ateacute que encontrar uma adoccedilatildeo ficam por minha contardquo conta Jussara

A psicoacuteloga relata que para conse-guir encontrar um lar para estes ani-mais manda e-mails para seus amigos e estes por sua vez repassam a mensagem ampliando assim a rede de apoiadores desta causa

No projeto ldquoAnimais de Ruardquo um site foi criado e eacute utilizado para divulgar as

adoccedilotildees ldquoAs adoccedilotildees acontecem por inter-meacutedio do site mas tirando os filhotes a grande maioria natildeo um lar pois jaacute satildeo velhinhos ou aleijados Estes acabam ficando comigo sendo tratados com amor e respeito ateacute o fim dos seus diasrdquo

desabafa GiovanaA veterinaacuteria Eliza Silveira acaba de

adotar a pitbull Bellinha que por dois anos e meio morou em uma cliacutenica vete-rinaacuteria localizada no Sion A cadela foi encaminhada por uma cliente do estabe-lecimento que a encontrou abandonada faminta e em peacutessimo estado de sauacutede

Compadecida da situaccedilatildeo e consciente da dificuldade de se conseguir uma ado-ccedilatildeo para animais desta raccedila a cliente dividiu com a cliacutenica as despesas de Belli-nha durante todo este tempo ateacute que esta pudesse ser adotada A cliacutenica vizinha da favela Morro do Papagaio oferece aten-dimento e castraccedilotildees a preccedilos reduzidos aos animais da comunidade

BH tem cerca de 30 mil animais abandonados

O aumento constante de animais nas ruas da capital mineira eacute um problema de sauacutede puacuteblica

ldquoHoje temos albergados em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e

mais duas mamatildeesrsquorsquoGiovana Fraga veterinaacuteria

Foto Karla R

eis

Abandonado catildeo procura alimento no meio do lixo

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Sauacutedebull 05Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Uma outra parcela de voluntaacuterios doa seu trabalho em ONGs que se empenham em defender e cuidar de animais abandonados aleacutem de prover a orientaccedilatildeo e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo buscando formar guardiotildees res-ponsaacuteveis Uma delas a Associaccedilatildeo Bichos Gerais (ABG) eacute uma ONG sem ns lucrati-vos o cializada desde 2001 e a liada a WSPA (World Society for the Protection of Animals) da qual fazem parte veterinaacuterios ecoacutelogos engenheiros advogados empresaacuterios pro-fessores e pessoas comuns A ONG tem como objetivo prestar serviccedilos agraves comunidades carentes atraveacutes de assistecircncia meacutedica veteri-naacuteria gratuita a seus catildees gatos e demais ani-mais domeacutesticos incluindo consulta vaci-nas medicaccedilotildees e procedimentos ciruacutergicos principalmente cirurgias para esterilizaccedilatildeo

Trata-se de uma organizaccedilatildeo auto-susten-taacutevel cujos recursos para as atividades assis-tenciais aos animais carentes e animais sel-vagens viacutetimas do traacute co vecircm de uma cliacutenica veterinaacuteria criada com o objetivo de gerar tais recursos Dentre as atividades desenvol-vidas por ela estatildeo o projeto NAV ( Nuacutecleo de Atendimento Veterinaacuterio) na Vila Bispo Maura em Ribeiratildeo das Neves onde sequer haacute rede de esgoto O projeto oferece aleacutem do atendimento gratuito atividades sobre educaccedilatildeo ambiental e campanhas sobre a guarda responsaacutevel

Haacute ainda o projeto do Centro de Conser-vaccedilatildeo da Fauna voltado para atendimento a animais silvestres viacutetimas do traacute co cati-veiro clandestino ou acidentes em rodovias

que satildeo encaminhados pelo IBAMA e Poliacutecia Ambiental e que pretende abrigar milhares de animais O objetivo do projeto eacute se tornar referecircncia mundial em produccedilatildeo de conheci-mento cientiacute co com ns de preservaccedilatildeo das espeacutecies Por m o ProjetoFeacutelix criado em 2002 promove controle e monitoramento da populaccedilatildeo de felinos residentes no Parque Municipal de Belo Horizonte atraveacutes da cas-traccedilatildeo e acompanhamento meacutedico veterinaacute-rio dos adultos e retirada de lhotes receacutem abandonados

Foram realizadas cirurgias gratuitas em mais de quatrocentos animais e centenas de outros encaminhados para adoccedilatildeo

A discussatildeo eacute ampla e democraacutetica atin-gindo natildeo soacute os defensores como tambeacutem aqueles que natildeo gostam ou natildeo podem ter animais em casa tanto que dentro do Conselho Municipal de Sauacutede de BH estaacute constituiacuteda a Comissatildeo Interinstitucional de Sauacutede Humana na sua Relaccedilatildeo com os Animais que eacute o espaccedilo para discussatildeo dos temas a ns envolvendo o poder puacuteblico e a sociedade civil organizada (ONGs coleti-vos ou muniacutecipes)

Para adotar um animal recolhido pelo CCZ o interessado deve comparecer agrave unidade (Rua Edna Quintel 173 - Satildeo Bernardo)

Se o animal for lhote eacute necessaacuterio aguardar que o animal seja desmamado O prazo pode ser de ateacute 45 dias Os interes-sados podem ligar para 3277-7411 ou para 3277-7413

Conheccedila a Lei Brasileira

Aleacutem Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que aborda seu tema no seu artigo 225 a princi-pal lei que protege os animais eacute a Lei Federal 960598 conhecida como Lei dos Crimes Ambientais com destaque para o artigo 32

Art 32 - Praticar ato de abuso maus-tratos ferir ou mutilar animais silvestres domeacutesticos ou domesticados nativos ou exoacuteticos A pena seraacute de 3 meses a 1 ano de prisatildeo e multa aumentada de 16 a 13 se ocorrer a morte do animal A UNESCO em assembleia no dia 27 de janeiro de 1978 pro-clamou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Animais da qual destacamos

1 - Todos os animais tecircm o mesmo direito agrave vida

2 - Todos os animais tecircm direito ao res-peito e agrave proteccedilatildeo do homem

3 - Nenhum animal deve ser maltratado 4 - Todos os animais selvagens tecircm o

direito de viver livres no seu habitat 5 - O animal que o homem escolher

para companheiro natildeo deve ser nunca ser abandonado

6 - Nenhum animal deve ser usado em experiecircncias que lhe causem dor

7 - Todo ato que potildee em risco a vida de um animal eacute um crime contra a vida

8 - A poluiccedilatildeo e a destruiccedilatildeo do meio ambiente satildeo considerados crimes contra os animais

9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei

10 - O homem deve ser educado desde a infacircncia para observar respeitar e com-preender os animais

ONG conta com voluntaacuteriosNina ganhou um novo lar apoacutes ser acolhida na Clinica PETZOO

Foto Bruna Rodrigues

Meacutedia anual de animais abandonados

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285 mil catildees domesticados

45 mil gatos domesticados

33 mil abandonados nas ruas

Matriacuteculas abertasIniacutecio das aulas marccedilo de 2013Informaccedilotildees 3280-5000 | posfumecbr

gtgtgt Avaliaccedilatildeo Neuropsicoloacutegicagtgtgt Comunicaccedilatildeo e Marketing Esportivogtgtgt Direito Empresarial com ecircnfase nas Relaccedilotildees de Mercadogtgtgt Direito Processual Estudos no Estado Democraacutetico de Direito Constitucionalgtgtgt Docecircncia no Ensino Superior (EaD)gtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para Defi ciecircncia Intelectual (EaD) - Aperfeiccediloamentogtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para a Defi ciecircncia Intelectual Psicose e Autismo (EaD) - Especializaccedilatildeogtgtgt Gerontologiagtgtgt Infacircncia Cultura e Praacuteticas Formativasgtgtgt Jornalismo Ambientalgtgtgt Jornalismo Esportivogtgtgt Microbiologia e Biologia Moleculargtgtgt Psicologia Hospitalar e da Sauacutedegtgtgt Psicomotricidadegtgtgt Psicopedagogia (EaD)gtgtgt Psicoterapia HumanistaFenomenoloacutegicoExistencialgtgtgt Auditoria e Gestatildeo Ambientalgtgtgt Dinacircmica e Projetos Automobiliacutesticosgtgtgt Engenharia de Estruturasgtgtgt Engenharia de Seguranccedila do Trabalhogtgtgt Geometria e Terraplenagem Rodoviaacuteriagtgtgt Gestatildeo de Resiacuteduos e de Aacutereas DegradadasContaminadasgtgtgt Gestatildeo de Transporte Aeacutereogtgtgt Governanccedila em Obras Puacuteblicasgtgtgt MBA em Edifiacutecios Sustentaacuteveis Projeto e Performancegtgtgt Meio Ambiente e Saneamento Ambientalgtgtgt Metodologias e Melhores Praacuteticas na Gestatildeo de Projetos de EngenhariaArquitetura

MBAPoacutes-Graduaccedilatildeo Universidade FUMECantes de tudoa melhor formaccedilatildeo

gtgtgt MBA em Gerenciamento Estrateacutegico de Projetosgtgtgt MBA em Financcedilas Corporativas e Controladoriagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacuteciosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoasgtgtgt MBA em Contabilidade com ecircnfase nas Normas Internacionais (IFRSCPC)gtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Turiacutesticosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacutecios (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoas (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblica (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblicagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Logiacutesticagtgtgt MBA em Seguranccedila Estrateacutegica de Grandes Eventosgtgtgt MBA em Mercado de Capitais e Relaccedilotildees com Investidoresgtgtgt MBA em Marketing Estrateacutegicogtgtgt MBA em Sustentabilidade e Gestatildeo de Recursos Naturaisgtgtgt MBA em Inteligecircncia Digitalgtgtgt MBA em Gerecircncia de Telecomunicaccedilotildees e Redes de Computadoresgtgtgt MBA em Gestatildeo de Seguranccedila da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Engenharia de Software e Governanccedila da Tecnologia da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Desenvolvimento de Sistemas para Dispositivos Moacuteveisgtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Internacionaisgtgtgt MBA em Anaacutelise de Negoacutecios e Processos Organizacionais com ecircnfase no BABOK

ad-opontoindd 1 04122012 142716

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesbull 07

CAROLINA DUARTE

IARA ARAUacuteJO

2ordm PERIacuteODO

Originado na Franccedila durante os anos 20 os cineclubes nas-ceram com o intuito de discu-tir e re etir sobre o cinema No dicionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo eacute de nido como ldquoassociaccedilatildeo que reuacutene apreciadores de cinema para ns de estudo debates e para exibiccedilatildeo de lmes seleciona-dosrdquo A partir desse propoacutesito um movimento ganhou forccedila no mundo chegando tambeacutem ao Brasil tendo sido consi-derado uma das principais expressotildees do movimento cul-tural brasileiro dos anos 50 e 60 O cineclubismo in uenciou vaacuterias geraccedilotildees de pensadores cinematograacute cos aleacutem de ter tambeacutem contribuiacutedo para o surgimento do Cinema Novo Constituiacutedo por pessoas inte-ressadas na arte o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibiccedilatildeo e aprecia-ccedilatildeo do cinema Nos espaccedilos (cineclubes) onde ocorriam as reuniotildees aleacutem da exibiccedilatildeo de lmes de qualidade trocava-se informaccedilotildees e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional como a poliacute-tica de distribuiccedilatildeo de lmes a produccedilatildeo cinematograacute ca o ensino de cinema e ateacute a cria-

ccedilatildeo de uma entidade nacional que congregasse todos os cine-clubes vindo a culminar nos anos 50 no Conselho Nacional de Cineclubes

Aprimorada ao longo de diversas geraccedilotildees a praacutetica difunde um cinema diferente e abrangente oferecendo opor-tunidades a um puacuteblico amplo e diverso de apreciar e discutir bons lmes

Apaixonado por cinema o professor do Centro Universi-taacuterio UNA Ataiacutedes Braga que leciona as disciplinas Cinema-togra a e Anaacutelise Criacutetica do Cinema Brasileiro eacute um el membro do cineclubismo Atu-almente exercendo tambeacutem a criacutetica ele conta que a sua tra-jetoacuteria ndash que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro o mais antigo da capital mineira inaugurado em 1978 ndash teve iniacute-cio a partir de um interesse pes-soal pelo cinema manifestado quando era ainda adolescente

ldquoMinha primeira vocaccedilatildeo eacute a literatura depois vem o cinemardquo de ne ldquoQuando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte comecei a procurar por esses cineclubes a m de participar das discus-sotildees que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela praacutetica Paralelamente o contato com escritores famosos entre eles Carlos Drummond de

Andrade fez crescer ainda mais esse interesse ateacute que nos anos 90 ao decidir resgatar o Cine-clube Humberto Mauro acabei vindo fazer parte da diretoria Desde entatildeo meu interesse pas-sou a ser proporcional agrave minha participaccedilatildeo e engajamentordquo declara o professor

De acordo com Ataiacutedes algu-mas caracteriacutesticas distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema principalmente o comercial o fato de eles natildeo possuiacuterem ns lucrativos terem uma estrutura democraacutetica e um

compromisso cultural e eacutetico ldquoOs cineclubes natildeo servem

apenas para discutir filmes eles produzem fatos novos contribuem para mudar cons-ciecircncias e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildees interferindo desta

forma na sociedade Eacute neste aspecto em especial que reside a sua grande importacircn-ciardquo esclarece

Braga admite ser um pouco mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam presencialmente para discutir lmes em razatildeo entre outros fatores da falta de condiccedilotildees nanceiras e estrutu-rais que muitos cine-clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura local e desta forma trazer mudanccedilas positivas agrave socie-daderdquo naliza

Em contraposiccedilatildeo ao cinema comercial adeptos do movimento cineclubista reuacutenem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons lmes

ldquoOs cineclubes natildeo servem apenas para discutir lmes eles contribuem para

mudar consciecircncias e tambeacutem com a

formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

Ataiacutedes Braga professor

O Centro de Estudos Cinematograacute cos (CEC) conside-rado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Bra-sil continua sendo a referecircncia em Belo Horizonte Aleacutem de exibir lmes aos saacutebados promove ainda cursos de cinema e debates Jaacute recebeu desde a sua criaccedilatildeo inuacutemeros frequen-tadores entre intelectuais criacuteticos e estudiosos aleacutem de pes-soas ligadas agrave literatura e agrave muacutesica

Outra opccedilatildeo eacute o Cine Humberto Mauro um dos poucos que ainda mantecircm esta tradiccedilatildeo na capital mineira pro-movendo reuniotildees mostras e debates Haacute tambeacutem o Cine UFMG funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais localizado na regiatildeo da Pampulha E tam-beacutem o mais recente espaccedilo disponibilizado agrave comunidade o Cento e Quatro

Onde ir em Belo Horizonte

7ordf ArtePaixatildeo pela

mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam

clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura

contribuem para mudar consciecircncias

e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

Foto

Arq

uivo

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Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

ntes

dos

ano

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40

O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 4: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O PontoO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

04 bullSauacutede

KARLA REIS

BRUNA RODRIGUES XAVIER

ELOAacute MAGALHAtildeES

2ordm PERIacuteODO

Os nuacutemeros satildeo signi cativos Segundo o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria Municipal de Saude Belo Hori-zonte conta aproximadamente com 285000 catildees e 45000 gatos domiciliados contabili-zados pelo censo animal realizado em 2011 Desse total cerca de 10ou seja 33 mil ani-mais acabam nas ruas

Eacute um dado preocupante visto que estes animais podem disseminar para a popula-ccedilatildeo doenccedilas como a raiva e a leishimaniose que satildeo graves problemas de sauacutede puacuteblica

O CCZ desenvolve poliacuteticas em vaacuterias fren-tes para evitar o abandono e doenccedilas transmi-tidas por animais As accedilotildees satildeo apoiadas pela sociedade civil organizada nas campanhas de adoccedilatildeo incentivo agrave posse responsaacutevel pales-tras e esterilizaccedilatildeo de animais Em 2011 foram realizadas 14203 cirurgias de esterilizaccedilatildeo de catildees e gatos e ateacute agosto deste ano 11526 ani-mais jaacute passaram pelo procedimento

Aleacutem disso a SMSA promove tambeacutem a adoccedilatildeo dos que foram abandonados nas rua As ONGrsquos ajudam o CCZ na localizaccedilatildeo de famiacutelias que queiram adotar esses animais Antes de serem adotados os catildees e gatos passam por uma avaliaccedilatildeo cliacutenica fazem exame de leishmaniose cirurgia de esteri-lizaccedilatildeo e tomam a vacina contra raiva Os animais tambeacutem recebem um microchip de identi caccedilatildeo

Poreacutem apenas o trabalho realizado pela PBH natildeo eacute su ciente para dar conta do enorme nuacutemero de animais abandonados nas ruas da capital

Defensores AnocircnimosMuitos voluntaacuterios desenvolvem um

trabalho solitaacuterio recolhendo e cui-dando de animais abandonados e violen-tados como eacute o caso de Giovana Fraga que por meio do site ldquoProjeto Animais de Ruardquo (wwwprojetoanimaisderuabhcom) procura acolher e facilitar a adoccedilatildeo de catildees e gatos encontrados em situaccedilatildeo de abandono ldquoHoje temos em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e mais duas mamatildees uma com sete filhotes e a outra com quatro Fal-tam recursos eu e meu marido fazemos esse trabalho sem recurso governamental esta-mos sempre preci-sando de doaccedilotildees como raccedilatildeo produtos de limpeza coberto-res medicamentos entre outros Temos inclusive um mini bloco ciruacutergico mon-tado mais ainda natildeo conseguimos vete-rinaacuterios que possam nos ajudarrsquorsquo declara Giovana

Assim como ela a psicoacuteloga Jussara Vianna se diz sensibilizada e natildeo resiste ao se deparar com algum animal peram-bulando pelas ruas ldquoA minha sensaccedilatildeo quando vejo um animal em situaccedilatildeo de risco eacute de responsabilidade pois eles satildeo muito vulneraacuteveis e precisam de nossa ajuda

Por isso carrego sempre no carro um pacote de raccedilatildeo e quando encontro algum pelo caminho paro e tento atraiacute-lo Depois levo para veterinaacuterios amigos que me ajudam sem cobrar as consultas Mas

os gastos com procedimentos medica-mentos e as diaacuterias para abrigaacute-los ateacute que encontrar uma adoccedilatildeo ficam por minha contardquo conta Jussara

A psicoacuteloga relata que para conse-guir encontrar um lar para estes ani-mais manda e-mails para seus amigos e estes por sua vez repassam a mensagem ampliando assim a rede de apoiadores desta causa

No projeto ldquoAnimais de Ruardquo um site foi criado e eacute utilizado para divulgar as

adoccedilotildees ldquoAs adoccedilotildees acontecem por inter-meacutedio do site mas tirando os filhotes a grande maioria natildeo um lar pois jaacute satildeo velhinhos ou aleijados Estes acabam ficando comigo sendo tratados com amor e respeito ateacute o fim dos seus diasrdquo

desabafa GiovanaA veterinaacuteria Eliza Silveira acaba de

adotar a pitbull Bellinha que por dois anos e meio morou em uma cliacutenica vete-rinaacuteria localizada no Sion A cadela foi encaminhada por uma cliente do estabe-lecimento que a encontrou abandonada faminta e em peacutessimo estado de sauacutede

Compadecida da situaccedilatildeo e consciente da dificuldade de se conseguir uma ado-ccedilatildeo para animais desta raccedila a cliente dividiu com a cliacutenica as despesas de Belli-nha durante todo este tempo ateacute que esta pudesse ser adotada A cliacutenica vizinha da favela Morro do Papagaio oferece aten-dimento e castraccedilotildees a preccedilos reduzidos aos animais da comunidade

BH tem cerca de 30 mil animais abandonados

O aumento constante de animais nas ruas da capital mineira eacute um problema de sauacutede puacuteblica

ldquoHoje temos albergados em nossa casa cerca de 40 felinos 20 caninos e

mais duas mamatildeesrsquorsquoGiovana Fraga veterinaacuteria

Foto Karla R

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Abandonado catildeo procura alimento no meio do lixo

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Sauacutedebull 05Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Uma outra parcela de voluntaacuterios doa seu trabalho em ONGs que se empenham em defender e cuidar de animais abandonados aleacutem de prover a orientaccedilatildeo e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo buscando formar guardiotildees res-ponsaacuteveis Uma delas a Associaccedilatildeo Bichos Gerais (ABG) eacute uma ONG sem ns lucrati-vos o cializada desde 2001 e a liada a WSPA (World Society for the Protection of Animals) da qual fazem parte veterinaacuterios ecoacutelogos engenheiros advogados empresaacuterios pro-fessores e pessoas comuns A ONG tem como objetivo prestar serviccedilos agraves comunidades carentes atraveacutes de assistecircncia meacutedica veteri-naacuteria gratuita a seus catildees gatos e demais ani-mais domeacutesticos incluindo consulta vaci-nas medicaccedilotildees e procedimentos ciruacutergicos principalmente cirurgias para esterilizaccedilatildeo

Trata-se de uma organizaccedilatildeo auto-susten-taacutevel cujos recursos para as atividades assis-tenciais aos animais carentes e animais sel-vagens viacutetimas do traacute co vecircm de uma cliacutenica veterinaacuteria criada com o objetivo de gerar tais recursos Dentre as atividades desenvol-vidas por ela estatildeo o projeto NAV ( Nuacutecleo de Atendimento Veterinaacuterio) na Vila Bispo Maura em Ribeiratildeo das Neves onde sequer haacute rede de esgoto O projeto oferece aleacutem do atendimento gratuito atividades sobre educaccedilatildeo ambiental e campanhas sobre a guarda responsaacutevel

Haacute ainda o projeto do Centro de Conser-vaccedilatildeo da Fauna voltado para atendimento a animais silvestres viacutetimas do traacute co cati-veiro clandestino ou acidentes em rodovias

que satildeo encaminhados pelo IBAMA e Poliacutecia Ambiental e que pretende abrigar milhares de animais O objetivo do projeto eacute se tornar referecircncia mundial em produccedilatildeo de conheci-mento cientiacute co com ns de preservaccedilatildeo das espeacutecies Por m o ProjetoFeacutelix criado em 2002 promove controle e monitoramento da populaccedilatildeo de felinos residentes no Parque Municipal de Belo Horizonte atraveacutes da cas-traccedilatildeo e acompanhamento meacutedico veterinaacute-rio dos adultos e retirada de lhotes receacutem abandonados

Foram realizadas cirurgias gratuitas em mais de quatrocentos animais e centenas de outros encaminhados para adoccedilatildeo

A discussatildeo eacute ampla e democraacutetica atin-gindo natildeo soacute os defensores como tambeacutem aqueles que natildeo gostam ou natildeo podem ter animais em casa tanto que dentro do Conselho Municipal de Sauacutede de BH estaacute constituiacuteda a Comissatildeo Interinstitucional de Sauacutede Humana na sua Relaccedilatildeo com os Animais que eacute o espaccedilo para discussatildeo dos temas a ns envolvendo o poder puacuteblico e a sociedade civil organizada (ONGs coleti-vos ou muniacutecipes)

Para adotar um animal recolhido pelo CCZ o interessado deve comparecer agrave unidade (Rua Edna Quintel 173 - Satildeo Bernardo)

Se o animal for lhote eacute necessaacuterio aguardar que o animal seja desmamado O prazo pode ser de ateacute 45 dias Os interes-sados podem ligar para 3277-7411 ou para 3277-7413

Conheccedila a Lei Brasileira

Aleacutem Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que aborda seu tema no seu artigo 225 a princi-pal lei que protege os animais eacute a Lei Federal 960598 conhecida como Lei dos Crimes Ambientais com destaque para o artigo 32

Art 32 - Praticar ato de abuso maus-tratos ferir ou mutilar animais silvestres domeacutesticos ou domesticados nativos ou exoacuteticos A pena seraacute de 3 meses a 1 ano de prisatildeo e multa aumentada de 16 a 13 se ocorrer a morte do animal A UNESCO em assembleia no dia 27 de janeiro de 1978 pro-clamou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Animais da qual destacamos

1 - Todos os animais tecircm o mesmo direito agrave vida

2 - Todos os animais tecircm direito ao res-peito e agrave proteccedilatildeo do homem

3 - Nenhum animal deve ser maltratado 4 - Todos os animais selvagens tecircm o

direito de viver livres no seu habitat 5 - O animal que o homem escolher

para companheiro natildeo deve ser nunca ser abandonado

6 - Nenhum animal deve ser usado em experiecircncias que lhe causem dor

7 - Todo ato que potildee em risco a vida de um animal eacute um crime contra a vida

8 - A poluiccedilatildeo e a destruiccedilatildeo do meio ambiente satildeo considerados crimes contra os animais

9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei

10 - O homem deve ser educado desde a infacircncia para observar respeitar e com-preender os animais

ONG conta com voluntaacuteriosNina ganhou um novo lar apoacutes ser acolhida na Clinica PETZOO

Foto Bruna Rodrigues

Meacutedia anual de animais abandonados

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285 mil catildees domesticados

45 mil gatos domesticados

33 mil abandonados nas ruas

Matriacuteculas abertasIniacutecio das aulas marccedilo de 2013Informaccedilotildees 3280-5000 | posfumecbr

gtgtgt Avaliaccedilatildeo Neuropsicoloacutegicagtgtgt Comunicaccedilatildeo e Marketing Esportivogtgtgt Direito Empresarial com ecircnfase nas Relaccedilotildees de Mercadogtgtgt Direito Processual Estudos no Estado Democraacutetico de Direito Constitucionalgtgtgt Docecircncia no Ensino Superior (EaD)gtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para Defi ciecircncia Intelectual (EaD) - Aperfeiccediloamentogtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para a Defi ciecircncia Intelectual Psicose e Autismo (EaD) - Especializaccedilatildeogtgtgt Gerontologiagtgtgt Infacircncia Cultura e Praacuteticas Formativasgtgtgt Jornalismo Ambientalgtgtgt Jornalismo Esportivogtgtgt Microbiologia e Biologia Moleculargtgtgt Psicologia Hospitalar e da Sauacutedegtgtgt Psicomotricidadegtgtgt Psicopedagogia (EaD)gtgtgt Psicoterapia HumanistaFenomenoloacutegicoExistencialgtgtgt Auditoria e Gestatildeo Ambientalgtgtgt Dinacircmica e Projetos Automobiliacutesticosgtgtgt Engenharia de Estruturasgtgtgt Engenharia de Seguranccedila do Trabalhogtgtgt Geometria e Terraplenagem Rodoviaacuteriagtgtgt Gestatildeo de Resiacuteduos e de Aacutereas DegradadasContaminadasgtgtgt Gestatildeo de Transporte Aeacutereogtgtgt Governanccedila em Obras Puacuteblicasgtgtgt MBA em Edifiacutecios Sustentaacuteveis Projeto e Performancegtgtgt Meio Ambiente e Saneamento Ambientalgtgtgt Metodologias e Melhores Praacuteticas na Gestatildeo de Projetos de EngenhariaArquitetura

MBAPoacutes-Graduaccedilatildeo Universidade FUMECantes de tudoa melhor formaccedilatildeo

gtgtgt MBA em Gerenciamento Estrateacutegico de Projetosgtgtgt MBA em Financcedilas Corporativas e Controladoriagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacuteciosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoasgtgtgt MBA em Contabilidade com ecircnfase nas Normas Internacionais (IFRSCPC)gtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Turiacutesticosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacutecios (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoas (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblica (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblicagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Logiacutesticagtgtgt MBA em Seguranccedila Estrateacutegica de Grandes Eventosgtgtgt MBA em Mercado de Capitais e Relaccedilotildees com Investidoresgtgtgt MBA em Marketing Estrateacutegicogtgtgt MBA em Sustentabilidade e Gestatildeo de Recursos Naturaisgtgtgt MBA em Inteligecircncia Digitalgtgtgt MBA em Gerecircncia de Telecomunicaccedilotildees e Redes de Computadoresgtgtgt MBA em Gestatildeo de Seguranccedila da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Engenharia de Software e Governanccedila da Tecnologia da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Desenvolvimento de Sistemas para Dispositivos Moacuteveisgtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Internacionaisgtgtgt MBA em Anaacutelise de Negoacutecios e Processos Organizacionais com ecircnfase no BABOK

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesbull 07

CAROLINA DUARTE

IARA ARAUacuteJO

2ordm PERIacuteODO

Originado na Franccedila durante os anos 20 os cineclubes nas-ceram com o intuito de discu-tir e re etir sobre o cinema No dicionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo eacute de nido como ldquoassociaccedilatildeo que reuacutene apreciadores de cinema para ns de estudo debates e para exibiccedilatildeo de lmes seleciona-dosrdquo A partir desse propoacutesito um movimento ganhou forccedila no mundo chegando tambeacutem ao Brasil tendo sido consi-derado uma das principais expressotildees do movimento cul-tural brasileiro dos anos 50 e 60 O cineclubismo in uenciou vaacuterias geraccedilotildees de pensadores cinematograacute cos aleacutem de ter tambeacutem contribuiacutedo para o surgimento do Cinema Novo Constituiacutedo por pessoas inte-ressadas na arte o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibiccedilatildeo e aprecia-ccedilatildeo do cinema Nos espaccedilos (cineclubes) onde ocorriam as reuniotildees aleacutem da exibiccedilatildeo de lmes de qualidade trocava-se informaccedilotildees e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional como a poliacute-tica de distribuiccedilatildeo de lmes a produccedilatildeo cinematograacute ca o ensino de cinema e ateacute a cria-

ccedilatildeo de uma entidade nacional que congregasse todos os cine-clubes vindo a culminar nos anos 50 no Conselho Nacional de Cineclubes

Aprimorada ao longo de diversas geraccedilotildees a praacutetica difunde um cinema diferente e abrangente oferecendo opor-tunidades a um puacuteblico amplo e diverso de apreciar e discutir bons lmes

Apaixonado por cinema o professor do Centro Universi-taacuterio UNA Ataiacutedes Braga que leciona as disciplinas Cinema-togra a e Anaacutelise Criacutetica do Cinema Brasileiro eacute um el membro do cineclubismo Atu-almente exercendo tambeacutem a criacutetica ele conta que a sua tra-jetoacuteria ndash que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro o mais antigo da capital mineira inaugurado em 1978 ndash teve iniacute-cio a partir de um interesse pes-soal pelo cinema manifestado quando era ainda adolescente

ldquoMinha primeira vocaccedilatildeo eacute a literatura depois vem o cinemardquo de ne ldquoQuando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte comecei a procurar por esses cineclubes a m de participar das discus-sotildees que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela praacutetica Paralelamente o contato com escritores famosos entre eles Carlos Drummond de

Andrade fez crescer ainda mais esse interesse ateacute que nos anos 90 ao decidir resgatar o Cine-clube Humberto Mauro acabei vindo fazer parte da diretoria Desde entatildeo meu interesse pas-sou a ser proporcional agrave minha participaccedilatildeo e engajamentordquo declara o professor

De acordo com Ataiacutedes algu-mas caracteriacutesticas distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema principalmente o comercial o fato de eles natildeo possuiacuterem ns lucrativos terem uma estrutura democraacutetica e um

compromisso cultural e eacutetico ldquoOs cineclubes natildeo servem

apenas para discutir filmes eles produzem fatos novos contribuem para mudar cons-ciecircncias e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildees interferindo desta

forma na sociedade Eacute neste aspecto em especial que reside a sua grande importacircn-ciardquo esclarece

Braga admite ser um pouco mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam presencialmente para discutir lmes em razatildeo entre outros fatores da falta de condiccedilotildees nanceiras e estrutu-rais que muitos cine-clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura local e desta forma trazer mudanccedilas positivas agrave socie-daderdquo naliza

Em contraposiccedilatildeo ao cinema comercial adeptos do movimento cineclubista reuacutenem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons lmes

ldquoOs cineclubes natildeo servem apenas para discutir lmes eles contribuem para

mudar consciecircncias e tambeacutem com a

formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

Ataiacutedes Braga professor

O Centro de Estudos Cinematograacute cos (CEC) conside-rado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Bra-sil continua sendo a referecircncia em Belo Horizonte Aleacutem de exibir lmes aos saacutebados promove ainda cursos de cinema e debates Jaacute recebeu desde a sua criaccedilatildeo inuacutemeros frequen-tadores entre intelectuais criacuteticos e estudiosos aleacutem de pes-soas ligadas agrave literatura e agrave muacutesica

Outra opccedilatildeo eacute o Cine Humberto Mauro um dos poucos que ainda mantecircm esta tradiccedilatildeo na capital mineira pro-movendo reuniotildees mostras e debates Haacute tambeacutem o Cine UFMG funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais localizado na regiatildeo da Pampulha E tam-beacutem o mais recente espaccedilo disponibilizado agrave comunidade o Cento e Quatro

Onde ir em Belo Horizonte

7ordf ArtePaixatildeo pela

mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam

clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura

contribuem para mudar consciecircncias

e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

Foto

Arq

uivo

Pes

soal

Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

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16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 5: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Sauacutedebull 05Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Rafaela Borges - 4ordm Periacuteodo

Uma outra parcela de voluntaacuterios doa seu trabalho em ONGs que se empenham em defender e cuidar de animais abandonados aleacutem de prover a orientaccedilatildeo e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo buscando formar guardiotildees res-ponsaacuteveis Uma delas a Associaccedilatildeo Bichos Gerais (ABG) eacute uma ONG sem ns lucrati-vos o cializada desde 2001 e a liada a WSPA (World Society for the Protection of Animals) da qual fazem parte veterinaacuterios ecoacutelogos engenheiros advogados empresaacuterios pro-fessores e pessoas comuns A ONG tem como objetivo prestar serviccedilos agraves comunidades carentes atraveacutes de assistecircncia meacutedica veteri-naacuteria gratuita a seus catildees gatos e demais ani-mais domeacutesticos incluindo consulta vaci-nas medicaccedilotildees e procedimentos ciruacutergicos principalmente cirurgias para esterilizaccedilatildeo

Trata-se de uma organizaccedilatildeo auto-susten-taacutevel cujos recursos para as atividades assis-tenciais aos animais carentes e animais sel-vagens viacutetimas do traacute co vecircm de uma cliacutenica veterinaacuteria criada com o objetivo de gerar tais recursos Dentre as atividades desenvol-vidas por ela estatildeo o projeto NAV ( Nuacutecleo de Atendimento Veterinaacuterio) na Vila Bispo Maura em Ribeiratildeo das Neves onde sequer haacute rede de esgoto O projeto oferece aleacutem do atendimento gratuito atividades sobre educaccedilatildeo ambiental e campanhas sobre a guarda responsaacutevel

Haacute ainda o projeto do Centro de Conser-vaccedilatildeo da Fauna voltado para atendimento a animais silvestres viacutetimas do traacute co cati-veiro clandestino ou acidentes em rodovias

que satildeo encaminhados pelo IBAMA e Poliacutecia Ambiental e que pretende abrigar milhares de animais O objetivo do projeto eacute se tornar referecircncia mundial em produccedilatildeo de conheci-mento cientiacute co com ns de preservaccedilatildeo das espeacutecies Por m o ProjetoFeacutelix criado em 2002 promove controle e monitoramento da populaccedilatildeo de felinos residentes no Parque Municipal de Belo Horizonte atraveacutes da cas-traccedilatildeo e acompanhamento meacutedico veterinaacute-rio dos adultos e retirada de lhotes receacutem abandonados

Foram realizadas cirurgias gratuitas em mais de quatrocentos animais e centenas de outros encaminhados para adoccedilatildeo

A discussatildeo eacute ampla e democraacutetica atin-gindo natildeo soacute os defensores como tambeacutem aqueles que natildeo gostam ou natildeo podem ter animais em casa tanto que dentro do Conselho Municipal de Sauacutede de BH estaacute constituiacuteda a Comissatildeo Interinstitucional de Sauacutede Humana na sua Relaccedilatildeo com os Animais que eacute o espaccedilo para discussatildeo dos temas a ns envolvendo o poder puacuteblico e a sociedade civil organizada (ONGs coleti-vos ou muniacutecipes)

Para adotar um animal recolhido pelo CCZ o interessado deve comparecer agrave unidade (Rua Edna Quintel 173 - Satildeo Bernardo)

Se o animal for lhote eacute necessaacuterio aguardar que o animal seja desmamado O prazo pode ser de ateacute 45 dias Os interes-sados podem ligar para 3277-7411 ou para 3277-7413

Conheccedila a Lei Brasileira

Aleacutem Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que aborda seu tema no seu artigo 225 a princi-pal lei que protege os animais eacute a Lei Federal 960598 conhecida como Lei dos Crimes Ambientais com destaque para o artigo 32

Art 32 - Praticar ato de abuso maus-tratos ferir ou mutilar animais silvestres domeacutesticos ou domesticados nativos ou exoacuteticos A pena seraacute de 3 meses a 1 ano de prisatildeo e multa aumentada de 16 a 13 se ocorrer a morte do animal A UNESCO em assembleia no dia 27 de janeiro de 1978 pro-clamou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Animais da qual destacamos

1 - Todos os animais tecircm o mesmo direito agrave vida

2 - Todos os animais tecircm direito ao res-peito e agrave proteccedilatildeo do homem

3 - Nenhum animal deve ser maltratado 4 - Todos os animais selvagens tecircm o

direito de viver livres no seu habitat 5 - O animal que o homem escolher

para companheiro natildeo deve ser nunca ser abandonado

6 - Nenhum animal deve ser usado em experiecircncias que lhe causem dor

7 - Todo ato que potildee em risco a vida de um animal eacute um crime contra a vida

8 - A poluiccedilatildeo e a destruiccedilatildeo do meio ambiente satildeo considerados crimes contra os animais

9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei

10 - O homem deve ser educado desde a infacircncia para observar respeitar e com-preender os animais

ONG conta com voluntaacuteriosNina ganhou um novo lar apoacutes ser acolhida na Clinica PETZOO

Foto Bruna Rodrigues

Meacutedia anual de animais abandonados

Ilust

raccedilatilde

o D

anie

l Was

hing

ton

285 mil catildees domesticados

45 mil gatos domesticados

33 mil abandonados nas ruas

Matriacuteculas abertasIniacutecio das aulas marccedilo de 2013Informaccedilotildees 3280-5000 | posfumecbr

gtgtgt Avaliaccedilatildeo Neuropsicoloacutegicagtgtgt Comunicaccedilatildeo e Marketing Esportivogtgtgt Direito Empresarial com ecircnfase nas Relaccedilotildees de Mercadogtgtgt Direito Processual Estudos no Estado Democraacutetico de Direito Constitucionalgtgtgt Docecircncia no Ensino Superior (EaD)gtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para Defi ciecircncia Intelectual (EaD) - Aperfeiccediloamentogtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para a Defi ciecircncia Intelectual Psicose e Autismo (EaD) - Especializaccedilatildeogtgtgt Gerontologiagtgtgt Infacircncia Cultura e Praacuteticas Formativasgtgtgt Jornalismo Ambientalgtgtgt Jornalismo Esportivogtgtgt Microbiologia e Biologia Moleculargtgtgt Psicologia Hospitalar e da Sauacutedegtgtgt Psicomotricidadegtgtgt Psicopedagogia (EaD)gtgtgt Psicoterapia HumanistaFenomenoloacutegicoExistencialgtgtgt Auditoria e Gestatildeo Ambientalgtgtgt Dinacircmica e Projetos Automobiliacutesticosgtgtgt Engenharia de Estruturasgtgtgt Engenharia de Seguranccedila do Trabalhogtgtgt Geometria e Terraplenagem Rodoviaacuteriagtgtgt Gestatildeo de Resiacuteduos e de Aacutereas DegradadasContaminadasgtgtgt Gestatildeo de Transporte Aeacutereogtgtgt Governanccedila em Obras Puacuteblicasgtgtgt MBA em Edifiacutecios Sustentaacuteveis Projeto e Performancegtgtgt Meio Ambiente e Saneamento Ambientalgtgtgt Metodologias e Melhores Praacuteticas na Gestatildeo de Projetos de EngenhariaArquitetura

MBAPoacutes-Graduaccedilatildeo Universidade FUMECantes de tudoa melhor formaccedilatildeo

gtgtgt MBA em Gerenciamento Estrateacutegico de Projetosgtgtgt MBA em Financcedilas Corporativas e Controladoriagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacuteciosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoasgtgtgt MBA em Contabilidade com ecircnfase nas Normas Internacionais (IFRSCPC)gtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Turiacutesticosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacutecios (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoas (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblica (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblicagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Logiacutesticagtgtgt MBA em Seguranccedila Estrateacutegica de Grandes Eventosgtgtgt MBA em Mercado de Capitais e Relaccedilotildees com Investidoresgtgtgt MBA em Marketing Estrateacutegicogtgtgt MBA em Sustentabilidade e Gestatildeo de Recursos Naturaisgtgtgt MBA em Inteligecircncia Digitalgtgtgt MBA em Gerecircncia de Telecomunicaccedilotildees e Redes de Computadoresgtgtgt MBA em Gestatildeo de Seguranccedila da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Engenharia de Software e Governanccedila da Tecnologia da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Desenvolvimento de Sistemas para Dispositivos Moacuteveisgtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Internacionaisgtgtgt MBA em Anaacutelise de Negoacutecios e Processos Organizacionais com ecircnfase no BABOK

ad-opontoindd 1 04122012 142716

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesbull 07

CAROLINA DUARTE

IARA ARAUacuteJO

2ordm PERIacuteODO

Originado na Franccedila durante os anos 20 os cineclubes nas-ceram com o intuito de discu-tir e re etir sobre o cinema No dicionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo eacute de nido como ldquoassociaccedilatildeo que reuacutene apreciadores de cinema para ns de estudo debates e para exibiccedilatildeo de lmes seleciona-dosrdquo A partir desse propoacutesito um movimento ganhou forccedila no mundo chegando tambeacutem ao Brasil tendo sido consi-derado uma das principais expressotildees do movimento cul-tural brasileiro dos anos 50 e 60 O cineclubismo in uenciou vaacuterias geraccedilotildees de pensadores cinematograacute cos aleacutem de ter tambeacutem contribuiacutedo para o surgimento do Cinema Novo Constituiacutedo por pessoas inte-ressadas na arte o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibiccedilatildeo e aprecia-ccedilatildeo do cinema Nos espaccedilos (cineclubes) onde ocorriam as reuniotildees aleacutem da exibiccedilatildeo de lmes de qualidade trocava-se informaccedilotildees e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional como a poliacute-tica de distribuiccedilatildeo de lmes a produccedilatildeo cinematograacute ca o ensino de cinema e ateacute a cria-

ccedilatildeo de uma entidade nacional que congregasse todos os cine-clubes vindo a culminar nos anos 50 no Conselho Nacional de Cineclubes

Aprimorada ao longo de diversas geraccedilotildees a praacutetica difunde um cinema diferente e abrangente oferecendo opor-tunidades a um puacuteblico amplo e diverso de apreciar e discutir bons lmes

Apaixonado por cinema o professor do Centro Universi-taacuterio UNA Ataiacutedes Braga que leciona as disciplinas Cinema-togra a e Anaacutelise Criacutetica do Cinema Brasileiro eacute um el membro do cineclubismo Atu-almente exercendo tambeacutem a criacutetica ele conta que a sua tra-jetoacuteria ndash que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro o mais antigo da capital mineira inaugurado em 1978 ndash teve iniacute-cio a partir de um interesse pes-soal pelo cinema manifestado quando era ainda adolescente

ldquoMinha primeira vocaccedilatildeo eacute a literatura depois vem o cinemardquo de ne ldquoQuando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte comecei a procurar por esses cineclubes a m de participar das discus-sotildees que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela praacutetica Paralelamente o contato com escritores famosos entre eles Carlos Drummond de

Andrade fez crescer ainda mais esse interesse ateacute que nos anos 90 ao decidir resgatar o Cine-clube Humberto Mauro acabei vindo fazer parte da diretoria Desde entatildeo meu interesse pas-sou a ser proporcional agrave minha participaccedilatildeo e engajamentordquo declara o professor

De acordo com Ataiacutedes algu-mas caracteriacutesticas distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema principalmente o comercial o fato de eles natildeo possuiacuterem ns lucrativos terem uma estrutura democraacutetica e um

compromisso cultural e eacutetico ldquoOs cineclubes natildeo servem

apenas para discutir filmes eles produzem fatos novos contribuem para mudar cons-ciecircncias e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildees interferindo desta

forma na sociedade Eacute neste aspecto em especial que reside a sua grande importacircn-ciardquo esclarece

Braga admite ser um pouco mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam presencialmente para discutir lmes em razatildeo entre outros fatores da falta de condiccedilotildees nanceiras e estrutu-rais que muitos cine-clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura local e desta forma trazer mudanccedilas positivas agrave socie-daderdquo naliza

Em contraposiccedilatildeo ao cinema comercial adeptos do movimento cineclubista reuacutenem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons lmes

ldquoOs cineclubes natildeo servem apenas para discutir lmes eles contribuem para

mudar consciecircncias e tambeacutem com a

formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

Ataiacutedes Braga professor

O Centro de Estudos Cinematograacute cos (CEC) conside-rado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Bra-sil continua sendo a referecircncia em Belo Horizonte Aleacutem de exibir lmes aos saacutebados promove ainda cursos de cinema e debates Jaacute recebeu desde a sua criaccedilatildeo inuacutemeros frequen-tadores entre intelectuais criacuteticos e estudiosos aleacutem de pes-soas ligadas agrave literatura e agrave muacutesica

Outra opccedilatildeo eacute o Cine Humberto Mauro um dos poucos que ainda mantecircm esta tradiccedilatildeo na capital mineira pro-movendo reuniotildees mostras e debates Haacute tambeacutem o Cine UFMG funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais localizado na regiatildeo da Pampulha E tam-beacutem o mais recente espaccedilo disponibilizado agrave comunidade o Cento e Quatro

Onde ir em Belo Horizonte

7ordf ArtePaixatildeo pela

mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam

clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura

contribuem para mudar consciecircncias

e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

Foto

Arq

uivo

Pes

soal

Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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40

O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 6: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

Matriacuteculas abertasIniacutecio das aulas marccedilo de 2013Informaccedilotildees 3280-5000 | posfumecbr

gtgtgt Avaliaccedilatildeo Neuropsicoloacutegicagtgtgt Comunicaccedilatildeo e Marketing Esportivogtgtgt Direito Empresarial com ecircnfase nas Relaccedilotildees de Mercadogtgtgt Direito Processual Estudos no Estado Democraacutetico de Direito Constitucionalgtgtgt Docecircncia no Ensino Superior (EaD)gtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para Defi ciecircncia Intelectual (EaD) - Aperfeiccediloamentogtgtgt Educaccedilatildeo Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado para a Defi ciecircncia Intelectual Psicose e Autismo (EaD) - Especializaccedilatildeogtgtgt Gerontologiagtgtgt Infacircncia Cultura e Praacuteticas Formativasgtgtgt Jornalismo Ambientalgtgtgt Jornalismo Esportivogtgtgt Microbiologia e Biologia Moleculargtgtgt Psicologia Hospitalar e da Sauacutedegtgtgt Psicomotricidadegtgtgt Psicopedagogia (EaD)gtgtgt Psicoterapia HumanistaFenomenoloacutegicoExistencialgtgtgt Auditoria e Gestatildeo Ambientalgtgtgt Dinacircmica e Projetos Automobiliacutesticosgtgtgt Engenharia de Estruturasgtgtgt Engenharia de Seguranccedila do Trabalhogtgtgt Geometria e Terraplenagem Rodoviaacuteriagtgtgt Gestatildeo de Resiacuteduos e de Aacutereas DegradadasContaminadasgtgtgt Gestatildeo de Transporte Aeacutereogtgtgt Governanccedila em Obras Puacuteblicasgtgtgt MBA em Edifiacutecios Sustentaacuteveis Projeto e Performancegtgtgt Meio Ambiente e Saneamento Ambientalgtgtgt Metodologias e Melhores Praacuteticas na Gestatildeo de Projetos de EngenhariaArquitetura

MBAPoacutes-Graduaccedilatildeo Universidade FUMECantes de tudoa melhor formaccedilatildeo

gtgtgt MBA em Gerenciamento Estrateacutegico de Projetosgtgtgt MBA em Financcedilas Corporativas e Controladoriagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacuteciosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoasgtgtgt MBA em Contabilidade com ecircnfase nas Normas Internacionais (IFRSCPC)gtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Turiacutesticosgtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Negoacutecios (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Pessoas (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblica (EAD)gtgtgt MBA em Gestatildeo Puacuteblicagtgtgt MBA em Gestatildeo Estrateacutegica de Logiacutesticagtgtgt MBA em Seguranccedila Estrateacutegica de Grandes Eventosgtgtgt MBA em Mercado de Capitais e Relaccedilotildees com Investidoresgtgtgt MBA em Marketing Estrateacutegicogtgtgt MBA em Sustentabilidade e Gestatildeo de Recursos Naturaisgtgtgt MBA em Inteligecircncia Digitalgtgtgt MBA em Gerecircncia de Telecomunicaccedilotildees e Redes de Computadoresgtgtgt MBA em Gestatildeo de Seguranccedila da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Engenharia de Software e Governanccedila da Tecnologia da Informaccedilatildeogtgtgt MBA em Desenvolvimento de Sistemas para Dispositivos Moacuteveisgtgtgt MBA em Gestatildeo de Negoacutecios Internacionaisgtgtgt MBA em Anaacutelise de Negoacutecios e Processos Organizacionais com ecircnfase no BABOK

ad-opontoindd 1 04122012 142716

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesbull 07

CAROLINA DUARTE

IARA ARAUacuteJO

2ordm PERIacuteODO

Originado na Franccedila durante os anos 20 os cineclubes nas-ceram com o intuito de discu-tir e re etir sobre o cinema No dicionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo eacute de nido como ldquoassociaccedilatildeo que reuacutene apreciadores de cinema para ns de estudo debates e para exibiccedilatildeo de lmes seleciona-dosrdquo A partir desse propoacutesito um movimento ganhou forccedila no mundo chegando tambeacutem ao Brasil tendo sido consi-derado uma das principais expressotildees do movimento cul-tural brasileiro dos anos 50 e 60 O cineclubismo in uenciou vaacuterias geraccedilotildees de pensadores cinematograacute cos aleacutem de ter tambeacutem contribuiacutedo para o surgimento do Cinema Novo Constituiacutedo por pessoas inte-ressadas na arte o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibiccedilatildeo e aprecia-ccedilatildeo do cinema Nos espaccedilos (cineclubes) onde ocorriam as reuniotildees aleacutem da exibiccedilatildeo de lmes de qualidade trocava-se informaccedilotildees e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional como a poliacute-tica de distribuiccedilatildeo de lmes a produccedilatildeo cinematograacute ca o ensino de cinema e ateacute a cria-

ccedilatildeo de uma entidade nacional que congregasse todos os cine-clubes vindo a culminar nos anos 50 no Conselho Nacional de Cineclubes

Aprimorada ao longo de diversas geraccedilotildees a praacutetica difunde um cinema diferente e abrangente oferecendo opor-tunidades a um puacuteblico amplo e diverso de apreciar e discutir bons lmes

Apaixonado por cinema o professor do Centro Universi-taacuterio UNA Ataiacutedes Braga que leciona as disciplinas Cinema-togra a e Anaacutelise Criacutetica do Cinema Brasileiro eacute um el membro do cineclubismo Atu-almente exercendo tambeacutem a criacutetica ele conta que a sua tra-jetoacuteria ndash que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro o mais antigo da capital mineira inaugurado em 1978 ndash teve iniacute-cio a partir de um interesse pes-soal pelo cinema manifestado quando era ainda adolescente

ldquoMinha primeira vocaccedilatildeo eacute a literatura depois vem o cinemardquo de ne ldquoQuando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte comecei a procurar por esses cineclubes a m de participar das discus-sotildees que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela praacutetica Paralelamente o contato com escritores famosos entre eles Carlos Drummond de

Andrade fez crescer ainda mais esse interesse ateacute que nos anos 90 ao decidir resgatar o Cine-clube Humberto Mauro acabei vindo fazer parte da diretoria Desde entatildeo meu interesse pas-sou a ser proporcional agrave minha participaccedilatildeo e engajamentordquo declara o professor

De acordo com Ataiacutedes algu-mas caracteriacutesticas distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema principalmente o comercial o fato de eles natildeo possuiacuterem ns lucrativos terem uma estrutura democraacutetica e um

compromisso cultural e eacutetico ldquoOs cineclubes natildeo servem

apenas para discutir filmes eles produzem fatos novos contribuem para mudar cons-ciecircncias e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildees interferindo desta

forma na sociedade Eacute neste aspecto em especial que reside a sua grande importacircn-ciardquo esclarece

Braga admite ser um pouco mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam presencialmente para discutir lmes em razatildeo entre outros fatores da falta de condiccedilotildees nanceiras e estrutu-rais que muitos cine-clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura local e desta forma trazer mudanccedilas positivas agrave socie-daderdquo naliza

Em contraposiccedilatildeo ao cinema comercial adeptos do movimento cineclubista reuacutenem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons lmes

ldquoOs cineclubes natildeo servem apenas para discutir lmes eles contribuem para

mudar consciecircncias e tambeacutem com a

formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

Ataiacutedes Braga professor

O Centro de Estudos Cinematograacute cos (CEC) conside-rado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Bra-sil continua sendo a referecircncia em Belo Horizonte Aleacutem de exibir lmes aos saacutebados promove ainda cursos de cinema e debates Jaacute recebeu desde a sua criaccedilatildeo inuacutemeros frequen-tadores entre intelectuais criacuteticos e estudiosos aleacutem de pes-soas ligadas agrave literatura e agrave muacutesica

Outra opccedilatildeo eacute o Cine Humberto Mauro um dos poucos que ainda mantecircm esta tradiccedilatildeo na capital mineira pro-movendo reuniotildees mostras e debates Haacute tambeacutem o Cine UFMG funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais localizado na regiatildeo da Pampulha E tam-beacutem o mais recente espaccedilo disponibilizado agrave comunidade o Cento e Quatro

Onde ir em Belo Horizonte

7ordf ArtePaixatildeo pela

mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam

clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura

contribuem para mudar consciecircncias

e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

Foto

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Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

ntes

dos

ano

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40

O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 7: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesbull 07

CAROLINA DUARTE

IARA ARAUacuteJO

2ordm PERIacuteODO

Originado na Franccedila durante os anos 20 os cineclubes nas-ceram com o intuito de discu-tir e re etir sobre o cinema No dicionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo eacute de nido como ldquoassociaccedilatildeo que reuacutene apreciadores de cinema para ns de estudo debates e para exibiccedilatildeo de lmes seleciona-dosrdquo A partir desse propoacutesito um movimento ganhou forccedila no mundo chegando tambeacutem ao Brasil tendo sido consi-derado uma das principais expressotildees do movimento cul-tural brasileiro dos anos 50 e 60 O cineclubismo in uenciou vaacuterias geraccedilotildees de pensadores cinematograacute cos aleacutem de ter tambeacutem contribuiacutedo para o surgimento do Cinema Novo Constituiacutedo por pessoas inte-ressadas na arte o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibiccedilatildeo e aprecia-ccedilatildeo do cinema Nos espaccedilos (cineclubes) onde ocorriam as reuniotildees aleacutem da exibiccedilatildeo de lmes de qualidade trocava-se informaccedilotildees e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional como a poliacute-tica de distribuiccedilatildeo de lmes a produccedilatildeo cinematograacute ca o ensino de cinema e ateacute a cria-

ccedilatildeo de uma entidade nacional que congregasse todos os cine-clubes vindo a culminar nos anos 50 no Conselho Nacional de Cineclubes

Aprimorada ao longo de diversas geraccedilotildees a praacutetica difunde um cinema diferente e abrangente oferecendo opor-tunidades a um puacuteblico amplo e diverso de apreciar e discutir bons lmes

Apaixonado por cinema o professor do Centro Universi-taacuterio UNA Ataiacutedes Braga que leciona as disciplinas Cinema-togra a e Anaacutelise Criacutetica do Cinema Brasileiro eacute um el membro do cineclubismo Atu-almente exercendo tambeacutem a criacutetica ele conta que a sua tra-jetoacuteria ndash que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro o mais antigo da capital mineira inaugurado em 1978 ndash teve iniacute-cio a partir de um interesse pes-soal pelo cinema manifestado quando era ainda adolescente

ldquoMinha primeira vocaccedilatildeo eacute a literatura depois vem o cinemardquo de ne ldquoQuando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte comecei a procurar por esses cineclubes a m de participar das discus-sotildees que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela praacutetica Paralelamente o contato com escritores famosos entre eles Carlos Drummond de

Andrade fez crescer ainda mais esse interesse ateacute que nos anos 90 ao decidir resgatar o Cine-clube Humberto Mauro acabei vindo fazer parte da diretoria Desde entatildeo meu interesse pas-sou a ser proporcional agrave minha participaccedilatildeo e engajamentordquo declara o professor

De acordo com Ataiacutedes algu-mas caracteriacutesticas distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema principalmente o comercial o fato de eles natildeo possuiacuterem ns lucrativos terem uma estrutura democraacutetica e um

compromisso cultural e eacutetico ldquoOs cineclubes natildeo servem

apenas para discutir filmes eles produzem fatos novos contribuem para mudar cons-ciecircncias e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildees interferindo desta

forma na sociedade Eacute neste aspecto em especial que reside a sua grande importacircn-ciardquo esclarece

Braga admite ser um pouco mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam presencialmente para discutir lmes em razatildeo entre outros fatores da falta de condiccedilotildees nanceiras e estrutu-rais que muitos cine-clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura local e desta forma trazer mudanccedilas positivas agrave socie-daderdquo naliza

Em contraposiccedilatildeo ao cinema comercial adeptos do movimento cineclubista reuacutenem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons lmes

ldquoOs cineclubes natildeo servem apenas para discutir lmes eles contribuem para

mudar consciecircncias e tambeacutem com a

formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

Ataiacutedes Braga professor

O Centro de Estudos Cinematograacute cos (CEC) conside-rado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Bra-sil continua sendo a referecircncia em Belo Horizonte Aleacutem de exibir lmes aos saacutebados promove ainda cursos de cinema e debates Jaacute recebeu desde a sua criaccedilatildeo inuacutemeros frequen-tadores entre intelectuais criacuteticos e estudiosos aleacutem de pes-soas ligadas agrave literatura e agrave muacutesica

Outra opccedilatildeo eacute o Cine Humberto Mauro um dos poucos que ainda mantecircm esta tradiccedilatildeo na capital mineira pro-movendo reuniotildees mostras e debates Haacute tambeacutem o Cine UFMG funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais localizado na regiatildeo da Pampulha E tam-beacutem o mais recente espaccedilo disponibilizado agrave comunidade o Cento e Quatro

Onde ir em Belo Horizonte

7ordf ArtePaixatildeo pela

mais difiacutecil hoje em dia encon-trar pessoas que se reuacutenam

clubes

enfren-tam Mas o movi-mento ainda vive segundo ele com boa parte dessas reuniotildees e discussotildees ocorrendo pela internet

ldquoEm Belo Horizonte onde a relaccedilatildeo das pessoas com a tam-beacutem chamada 7ordf arte adquiriu uma dimensatildeo grandiosa o movimento tem signi -cado e grande importacircn-cia sendo capaz de pro-duzir e modi car a cultura

contribuem para mudar consciecircncias

e tambeacutem com a formaccedilatildeo de novas ideias e opiniotildeesrdquo

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

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Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

ntes

dos

ano

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40

O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 8: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O PontoO PontoBelo Horizonte dezembro de 2012

08ensp bullenspComportamento Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo

Juacutelia almeida

Helena Tonelli CHaves Bruna marTa 1ordm e 2ordm pericircodo

ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas A desig-ner de interiores eacute matildee de Faacutebio Pimentel Fraiha 20 viacutetima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo em setembro deste ano Meses depois eacute impos-siacutevel natildeo se emocionar com as palavras de Ana Pimentel lembrando que a dor de per-der algueacutem tatildeo jovem natildeo tem cura mesmo que o tempo passe

Quando voltava para casa de uma festa o carro de Faacutebio foi atingido por outro veiacuteculo que estava acima de 140kmh em um trecho onde a velocidade maacutexima permitida eacute 60 Kmh O jovem morreu no local deixando amigos e familiares desamparados

DOR SEM FIMHoje Ana Cristina estaacute reconstruindo sua

vida mas o sofrimento e a saudade estatildeo em cada uma de suas palavras A morte de Faacutebio de uma maneira tatildeo violenta foi capaz de abalar as crenccedilas dessa matildee viacuteti-mada por um tracircnsito irresponsavelmente veloz pouco fiscalizado e punido

Ana Cristina conta que Faacutebio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor ldquoAcho que isto foi um fator deter-minante na formaccedilatildeo do seu caraacuteter e da sua personalidade Ele era muito carinhoso com todosrdquo conta a matildee da vitima Faacutebio era considerado carismaacutetico e irreverente e como todo jovem natildeo dava muito ouvi-dos para os conselhos dos pais mas natildeo os desrespeitavam Ana Cristina afirma ldquonunca tive problemas em relaccedilatildeo ao seu comportamentordquo

Ao saber do acidente Ana Cristina diz que no primeiro momento natildeo acreditou no que a contaram Soacute depois eacute que se deu conta ldquoO chatildeo se abre o ar te falta e o mundo some agrave sua frente sem que vocecirc perceba Vocecirc jaacute estaacute no chatildeo lite-ralmente Quando dei por mim eu estava estirada no chatildeo do meu quarto A dor eacute tatildeo intensa e tatildeo grande que a gente natildeo sabe onde comeccedila ou onde terminardquo desa-bafa a matildee que perdeu o filho adolescente injustamente

Quando questionada sobre qual seria a soluccedilatildeo para reduccedilatildeo de atitudes irrespon-saacuteveis no tracircnsito diz que ldquoprimeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um a qualquer momento Partindo daiacute tomar atitudes lutar por mudanccedilas nas leis que satildeo obso-letas e pedir mais rigor nas puniccedilotildeesrdquo Ana diz que os jovens podem mudar o mundo e que juntos devem pensar em fazer o bem maior e o bem de todos Ao fim arrisca um um conselho ldquoSonhem com uma sociedade mais justa com menos violecircncia e princi-palmente vatildeo agrave lutardquo

PETICcedilAtildeO NO FOI ACIDENTEAleacutem da famiacutelia o acidente de Faacutebio afe-

tou muitos outros jovens seus amigos que ainda sofrem a perda de um companheiro tatildeo jovem Bernardo Junqueria 20 anos estudante de engenharia civil na Univer-sidade Fumec era muito ligado ao Faacutebio e diz que ldquoperder um amigo assim eacute a pior coisa do mundordquo Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformaacute-la em protesto Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento

ldquoProcuramos alertar os amigos e conhe-cidos a evitarem pegar o volante apoacutes beber mas sabemos que nem todos vatildeo mudar seu comportamento Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo Espero que os outros tambeacutem faccedilam as delesrdquo con-cluiu Bernardo

O movimento ldquoNatildeo Foi Acidenterdquo visa por meio de uma peticcedilatildeo mudar as leis no Brasil e garantir que natildeo haja impunidade Foi criado por Rafael Baltresca apoacutes ter sua matildee e irmatilde mortas em um atropelamento em setembro de 2011 O acidente aconte-ceu em Satildeo Paulo e foi comprovado que o motorista estava embriagado

ldquoTantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que na hora da ale-gria da bebedeira natildeo entregam a chave do carro para um amigo natildeo voltam de taxi natildeo colocam a matildeo na consciecircncia e pen-sam na consequecircnciardquo afirma Rafael

De acordo com o site do movimento ldquohoje a pessoa que bebe dirige e mata eacute indiciada por homiciacutedio culposo (sem intenccedilatildeo de matar) Neste caso se o atro-pelador for reacuteu primaacuterio pode pegar de dois a quatro anos de prisatildeordquo

Poreacutem haacute brechas na lei que na avalia-ccedilatildeo do movimento muitas vezes abre por-tas para a impunidade ldquoSegundo a Cons-tituiccedilatildeo brasileira ateacute 4 anos de prisatildeo a pena pode ser convertida em serviccedilos para a comunidaderdquo O Projeto de Lei por eles apresentado propotildee em caso de homiciacutedio aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclu-satildeo quando comprovada a embriaguez do motorista e aumentar a pena tambeacutem para quem for pego dirigindo embriagado mesmo que natildeo haja viacutetimas

Alice Mendes de 22 anos estuda direito na faculdade Milton Campos Para ela aumentar a pena para quem provoca mortes no tracircnsito ndash crime qualificado como homi-ciacutedio de dolo eventual onde se assume o risco de matar - eacute uma questatildeo delicada

Ela explica que no Brasil a pena tem trecircs funccedilotildees principais a repressiva a preventiva e a de ressocializaccedilatildeo Aumentar as penas maacutexi-mas de cada crime iria prejudicar essa terceira funccedilatildeo Contudo Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as puniccedilotildees aplicadas no paiacutes satildeo leves em vaacuterios casos Para a estudante todas as penas deve-riam ser aumentadas proporcionalmente

PARE PARA PENSARImpunidade no tracircnsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluccedilotildees para diminuir o nuacutemero de mortes causados pela bebida

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Ana Cristina sofrimento silencioso

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 9: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O PontoO Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Editor e diagramador da paacutegina Joanna Del Papa - 4ordm Periacuteodo Comportamentoensp bullensp 09

O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opini-otildees Enquanto 740324 pessoas jaacute assinaram a peticcedilatildeo muitas como Guilherme de Matos 36 pensam em outras soluccedilotildees ldquoAcho que eacute preciso primeiramente alterar o ensino nas auto escolas Hoje muitos motoristas saem de laacute habilitados ainda que despreparados para as diversas situaccedilotildees que enfrentamos num tracircnsito principalmente de cidades como Belo Horizonterdquo opina

ldquoTem de ensinar a ter mais consciecircn-cia de que tudo que se faz natildeo soacute no tracircn-sito tem consequecircnciasrdquo observa Sobre o aumento da pena ele se diz contra ldquoa pena jaacute existe e eacute proporcional a de outros crimes aqui no Brasil Mas eacute necessaacuterio fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei caso contraacuterio as pessoas vatildeo continuar bebendo e dirigindordquo

A medida tambeacutem natildeo eacute considerada sufi-ciente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto Na sua opiniatildeo o que falta para acabar com a direccedilatildeo irresponsaacutevel eacute o aumento da fiscalizaccedilatildeo e natildeo o aumento das penas Para ela jaacute existem leis suficientes combatendo as infraccedilotildees no tracircnsito mas a impunidade ainda existe por causa da deficiecircncia na fisca-lizaccedilatildeo e aplicabilidade das leis ldquoEssa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a con-tinuar praticando imprudecircncias no tracircnsitordquo ressalta Peixoto A cientista acredita que efe-tivar a fiscalizaccedilatildeo e a puniccedilatildeo desses delitos eacute a melhor maneira de diminuir o nuacutemero de infratores nas ruas principalmente os jovens

De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento ldquoNatildeo foi acidenterdquo o Brasil regis-tra hoje uma meacutedia de 40 mil acidentes de tracircnsito por ano 40 deles provocados pelo

ingestatildeo de bebibas alcoolicas Os nuacutemeros embora impressionantes satildeo apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasilei-ras todos os dias A conscientizaccedilatildeo eacute muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indiviacuteduo para a sociedade

IRRESPONSABILIDADE PATOLOacuteGICA

Mas por que jovens ao volante ainda satildeo irresponsaacuteveis mesmo cientes das possiacuteveis consequumlecircncias O psicoacutelogo cliacutenico e edu-cacional professor de psicologia da Univer-sidade Fumec Custoacutedio Silva tem uma res-posta Ele fala sobre o ldquopensamento maacutegicordquo conceito usado pelos psicoacutelogos que escla-rece porque os jovens tecircm a ilusatildeo de que podem ser imprudentes no tracircnsito e nada vai lhes acontecer

Para Silva o jovem adulto passa por uma nova fase de realizaccedilatildeo na vida e percebe sua capacidade e muacuteltiplas possibilida-des Com isso ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer ldquoEle se sente um pouco como um super-heroacuteirdquo completa Silva explica que neste momento o jovem eacute extremamente narcisista e egocecircntrico natildeo percebe as consequumlecircncias negativas de seus atos ldquoSoacute depois que isso o prejudica eacute que essas caracteriacutesticas vatildeo sendo quebradas mesmo assim aos poucosrdquo ressalta o profes-sor Infelizmente eacute comum que essa irres-ponsabilidade ao dirigir provoque a morte de algueacutem inocente como a de Faacutebio

Silva ainda citou o haacutebito de beber para festejar como caracteriacutestica da cultura bra-sileira ldquoO consumo de aacutelcool na Franccedila eacute quatro vezes maior que no Brasil mas ao contraacuterio do brasileiro o fracircnces bebe quase

diariamente nas refeiccedilotildees sem exagerosrdquo compara o professor

Segundo ele esse costume eacute perigoso para os jovens uma vez que promove o conceito de celebraccedilatildeo associado ao con-sumo de bebidas alcooacutelicas Beber torna-se um fator importante para a aceitaccedilatildeo nos grupos principalmente masculinos Mui-tas vezes ainda sob efeito do aacutelcool a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vatildeo dirgir

Com tantos fatores envolvidos na segu-ranccedila ao volante a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um tracircnsito menos violento O estudante Edgar Guzman 23 analisa a questatildeo de embriaguez e direccedilatildeo ldquoMuitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem e que se natildeo fizer muitas besteiras ao volante natildeo se envolveraacute em acidentes Mas esquece que o aacutelcool afeta nossa atenccedilatildeo e nosso reflexo coisas que satildeo cruciais o tempo inteiro no tracircnsitordquo comenta

OLHO VIVOEacute preciso lembrar que a bebida alcoacuteolica

natildeo eacute a uacutenica responsaacutevel por acidentes Ao dirigir deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade e ainda sempre utilizar cinto de seguranccedila

O relato de Ana Cristina eacute acima de tudo um voto de confianccedila Eacute o retrato de muitas famiacutelias brasileiras mineiras belorizontinas que apesar de tudo acreditam na justiccedila e principalmente acreditam no ser humano Encarar essas verdades como um luta con-junta e chamar a responsabilidade para si eacute um ato de compaixatildeo Eacute um exerciacutecio de cidadania de humanidade

ldquoA dor da gente natildeo sai no jornalrdquo

Jaacute dizia o verso da canccedilatildeo ldquoNotiacutecia de Jornalrdquo de Chico Buarque Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita letra por letra a reportagem natildeo seria capaz de traduzir todo o sen-timento contido em suas palavras Natildeo a dor de uma matildee que perdeu o filho de apenas 20 anos natildeo sai no jornal

Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reaccedilatildeo pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas Mesmo assim recebemos uma resposta gentil ldquoAcho muito importante que algueacutem se lembre de noacutes a famiacutelia que muitas vezes sofre de forma silenciosardquo disse Isso provocou uma reflexatildeo sobre o assunto Quando o caso envolve o falecimento de um filho eacute comum que a miacutedia soacute decirc voz agraves famiacutelias e princi-palmente agraves matildees se pessoas famosas estiverem envolvidas ou se o crime for extremamente chocante e raro Mesmo assim quando a matildee eacute realmente ouvida haacute uma tendecircncia que bana-liza sua dor transformando a tristeza em espetaacuteculo

Eacute como representar todas as famiacutelias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias Seraacute que existe um meio termo Seraacute possiacutevel para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa sem invadir sua priva-cidade e vulgarizar o assunto Eacute o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissatildeo

Foto Joanna Del Papa e H

elena Tonelli

Entre as causas de acidentes no tracircnsito estatildeo a combinaccedilatildeo do consumo de bebi-das alcooacutelicas e o volante

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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raga

O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 10: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Juacutelia Falconi e Lais Seixas - 4ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

10 bull Acontece na Fumec

A marca de Renato Janine

LAIS SEIXAS

4ordm PERIODO

O AI5 foi um dos Atos Ins-titucionais mais criticados e temidos da histoacuteria brasileira e quando foi decretado em 1964 fez a populaccedilatildeo temer os poderes extraordinaacuterios dados ao Presidente da Repuacuteblica

Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro que hoje eacute um loacutesofo importante para a sociedade brasileira criasse seu interesse por o-mas Hobes e a partir de estu-dos sobre ele desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira como A Marca de Leviatatilde e Ao leitor sem Medo

Janine eacute professor titular de Eacutetica e Filoso a Poliacutetica na Universidade de Satildeo Paulo mas sua aacuterea na universidade vai muito aleacutem das salas de aula

A televisatildeo tambeacutem jaacute rece-beu Janine que idealizou e apresentou duas seacuteries de pro-gramas sobre Eacutetica Primei-ramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo Mas a marca principal do pro-fessor natildeo se fez na miacutedia sua principal caracteriacutestica eacute a ati-vidade acadecircmica

A Pesquisa e Extensatildeo for-mam seu ponto forte Janine

defende que pesquisas podem ser favoraacuteveis aos alunos e para professores ldquoHaacute professores vocecircs devem saber que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa () quem eacute pesqui-sador quem tem laboratoacuterio ou faz qualquer outro tipo de pesquisa de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciaccedilatildeo formar mestres formar douto-resrdquo observou Janine

Aconteceu na FumecA Universidade Fumec rece-

beu o professor em outubro para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionaacute-rios com o tema ldquoa pesquisa como desa o e diferencial da universidade privadardquo

O loacutesofo conta que natildeo esperava tamanha repercus-satildeo de sua palestra o audi-toacuterio Phoenix com capaci-dade para 300 pessoas estava lotado e o puacuteblico se espalhou pelo chatildeo e pelas escadas do auditoacuterio

Em sua fala Janine mos-trou as diferenccedilas de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros paiacuteses Na sua opiniatildeo eacute fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos como foi feito no Brasil

O contraacuterio esperar que o ensino evoluiacutesse para depois desenvolver programas de pesquisa foi o modelo ado-tado por outros paiacuteses

Segundo ele o modelo bra-sileiro permite que as duas dimensotildees da universidade tenham os mesmos niacuteveis de desenvolvimento o que faci-lita um processo de interaccedilatildeo

Janine ainda apontou o que considera mudanccedilas neces-saacuterias para maior crecimento da aacuterea de pesquisa e apon-tou di culdades Alguns des-ses problemas satildeo a pouca publicaccedilatildeo e o reduzido apoio nanceiro

ldquoO que eu quero dizer eacute que cada vez mais de todo o ponto de vista que se olha seja custo nanceiro tempo para planejar seja rendimento vale a pena juntar forccedilasrdquo disse o professor

Janine comparou as pesqui-sas que satildeo desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas dizendo que ldquoo Ins-tituto de Estudos Avanccedilados tem duas opccedilotildees ou aposta em cavalo vencedor ou pro-cura coisa novardquo e ainda com-pletou dizendo que quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas eacute como ldquoerguer-se sobre ombros de gigantesrdquo

Inspirado em Hobbes Renato Janine construiu sua carreira e hoje eacute exemplo em universidades brasileiras

A marca do LeviatatildeApresenta uma leitura renovadora

e arrojada das ideias de omas Hob-bes Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobra-mentos mais radicais - como a con-centraccedilatildeo total do Poder nas matildeos do soberano e o controle do capitalismo

A sociedade contra o socialAqui estatildeo Ayrton Senna Fer-

nando Collor o real as novelas de TV e os poliacuteticos corruptos Eles satildeo trazidos novamente agrave consideraccedilatildeo para que suas motivaccedilotildees profundas se mostrem e suas fragilidades se tor-nem mais patentes

Ao leitor sem medoNeste livro Janine faz um estudo

dos principais textos de omas Hob-bes considerando o contexto no qual foram produzidos Com isso traz uma rica compreensatildeo da vida poliacutetica da modernidade

A universidade e a vida atual O livro trata da relaccedilatildeo entre o

mundo universitaacuterio e a sociedade O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e tambeacutem como as mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas dos uacuteltimos anos podem in uir nas pesquisas acadecircmicas e no ensino universitaacuterio

A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do

garfo como talher O lugar que cada pessoa deve ter agrave mesa numa cerimocirc-nia importante (ou o cial) O cuidado extremo com a aparecircncia Como a Europa evoluiu desde a falta de ldquoboas maneirasrdquo ao comportamento cortesatildeo re nado do seacuteculo XVII o Seacuteculo das Luzes e de Luiacutes XIV o Rei-Sol

A uacuteltima razatildeo dos reisVolta-se para a sociedade e a poliacutetica

do Antigo Regime buscando entender em que condiccedilotildees algo de novo se pode gerar na aventura humana Trata-se aqui de estudar o passado para veri car o quanto ele nos serve e inversamente ateacute que ponto continua a nos governar Por que uma eacutetica aristocraacutetica eacute a que melhor conveacutem agrave fortuna

Alguns tiacutetulos importantes

Produccedilatildeo editorial78 capiacutetulos de livros 18 livros editados81 artigos em perioacutedicos

especializados11 trabalhos em anais de

eventos14 prefaacutecios eou posfaacuteciosaleacutem do blog do autor em

que o puacuteblico pode ter acesso a entrevistas textos e agrave biografia do filoacutesofo e professor Renato Janine

Orientou 12 dissertaccedilotildees de mestrado e 16 teses de douto-rado aleacutem de 1 trabalho de ini-ciaccedilatildeo cientiacutefica em Filosofia

PrecircmiosRecebeu o precircmio Jabuti de

melhor ensaio (2001) a Ordem Nacional do Meacuterito Cientiacute-fico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009)

Foto Divulgaccedilatildeo

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 11: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Per l bull 11Editor e diagramador da paacutegina Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4ordm Periacuteodo

Um homem queama oUm homem queama o Brasil

CLARA DAMASCENO

JOYCE NUNES

CAMILA NIELSEN

1ordm PERIacuteODO

ldquoOcirc Manuel Nestas andanccedilas por este Brasil tenho visto e vivido coisas estupen-das Agorinha mesmo minhas retinas bebe-ram a manhatilde mais linda do Rio Amazonasrdquo Essa eacute a abertura do site o cial de Ronaldo Fraga estilista mineiro que apresenta o tema de sua mais nova coleccedilatildeo O turista aprendiz na terra do gratildeo Paraacute

Ronaldo cou oacuterfatildeo aos 11 anos cres-ceu na capital mineira junto a seus quatro irmatildeos Roney Robson Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos amigos e familiares Apesar da infacircncia difiacutecil ele natildeo abriu matildeo de sua educaccedilatildeo ldquoMinha infacircncia e adolescecircncia natildeo in uenciaram na minha escolha de ser estilista mas sim na forma como sou estilistardquo dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO

CarreiraFraga fez inuacutemeros cursos de desenho e

apoacutes um curso de moda no Senac entrou para a UFMG Laacute ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design em Nova York por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Tecircx-til Santista e foi tambeacutem resultado de todo seu potencial Depois morou mais quatro anos em Londres e junto com seu irmatildeo abriu uma pequena produccedilatildeo de chapeacuteus vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello Voltou ao Brasil aos 28 anos para o jaacute extinto Phytoervas Fashion com

o desfile chamado de ldquoEu amo coraccedilatildeo de galinhardquo coleccedilatildeo que o lanccedilou de vez ao mundo da moda O evento se tornaria Morumbi Fashion e por uacuteltimo Satildeo Paulo Fashion Week no qual Ronaldo estreou em 2001 ndash mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho Ludovico Graciliano nasceria dois anos depois Um ano depois no uacuteltimo Phytoervas Fashion com a coleccedilatildeo ldquoEm nome do bispordquo ins-pirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosaacuterio ganhou o precircmio de estilista revelaccedilatildeo Nesse ano tambeacutem lanccedilou sua marca proacutepria

ldquoMinha infacircncia natildeo in uenciou na escolha de ser estilista mas na forma como

sou estilistardquo

Projetos e ColeccedilotildeesApoacutes 10 anos consecutivos des lando

para a maior semana de moda do Brasil Ronaldo decidiu dar uma pausa nos des les de janeiro de 2012 ldquoPulei uma ediccedilatildeo por ter muita coisa para fazer mais importante do que des le como por exemplo iniciar um trabalho com Bio joacuteias na Amazocircniardquo conta Em entrevista agrave Revista TPM Ronaldo disse que comeccedilou a perceber que moda natildeo eacute soacute passarela e que havia outros espaccedilos aos quais ele devia passar

Aleacutem de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em Satildeo Paulo) pas-sou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministeacuterio da Cultura e faz parte de muitos projetos bene centes ldquoNa ver-dade satildeo projetos de geraccedilatildeo de empregos e renda com rea rmaccedilatildeo cultural Aleacutem da continuaccedilatildeo do trabalho na Amazocircnia e o iniacutecio de um projeto na Ilha de Marajoacuterdquo explica o estilista

Ronaldo Fraga possui um estilo uacutenico cada coleccedilatildeo eacute inspirada por um tema dife-rente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda Zuzu Angel jaacute foi tema assim como Maacuterio de Andrade Em uma de suas viagens Ronaldo buscou inspiraccedilotildees no estado e fez uma coleccedilatildeo de muito sucesso Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda Ronaldo se manteacutem rme agraves suas raiacutezes no Brasil

Em visita agrave loja de BH que ca localizada no coraccedilatildeo da Savassi pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto Cada peccedila eacute uacutenica e exclusiva e todas tecircm uma histoacuteria por traacutes Fernanda Takai Deacutebora Falabela e Marina Silva jaacute foram vis-tas com modelos de Ronaldo Fraga

Em outubro foi lanccedilada a exposiccedilatildeo ldquoCaderno de roupas memoacuterias e croquisrdquo que reuacutene um rico material sobre o traba-lho e vida pro ssional de Fraga A exposi-ccedilatildeo esteve em Belo Horizonte ateacute o iniacutecio de dezembro no Palaacutecio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura no circuito Cultural da Praccedila da Liberdade) na Praccedila Joseacute Mendes Juacutenior no bairro de Lourdes Depois ela seguiraacute para outras capitais como Satildeo Paulo de Rio de janeiro

Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixatildeo o Brasil atraveacutes da moda

Ronaldo como ele eacute

NOME Ronaldo Moreira Fraga

IDADE 46 anos

FILHOS Ludovico e Graciliano

COLECcedilAtildeO Turista Aprendiz na Terra do Gratildeo Paraacute

PREcircMIO Trip Transformadores

BRASIL Para entendecirc-lo eacute preciso olhaacute-lo com olhos de poeta

MODA Documento de um tempo

SEMANA DE MODA Fogueira de vaidades

PAIXAtildeO Combustiacutevel para o fazer

MEDO Sempre precisa ser vencido

SONHO Do acesso agrave cultura e educaccedilatildeo para todos os brasileiros

SOCIEDADE Exerciacutecio de convivecircncia

Coleccedilatildeo Eu

Amo Coraccedilatildeo

de Galinha

(1996)

Coleccedilatildeo

Quem Matou

Zuzu Angel

(2001)

Coleccedilotildees atraveacutes do tempo

Coleccedilatildeo Todo

Mundo e

Ningueacutem

(2005)

Coleccedilatildeo Rio

Satildeo - Velho

Chico

(2009)

Coleccedilatildeo

Turista

Aprendiz

na Terra do

Gratildeo-Paraacute

(2011)

Ilustraccedilotildees Croquis - assessoria Ronaldo Fraga

Foto

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O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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40

O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 12: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Ponto

Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

12ensp bullenspCultura

Bruna Marta 1ordm periacuteodo

Se Belo Horizonte eacute uma cidade produtora de movi-mentos artiacutesticos e natildeo apenas receptora deles haacute divergecircncias Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o acircnimo necessaacuterio para manter a cidade aquecida Outros mais descon-fiados acreditam que a movimentaccedilatildeo de instituiccedilotildees eacute pequena e que os incentivos ainda natildeo satildeo suficientes Entretanto todos concordam em dois pontos a influ-ecircncia de Guignard e o pioneirismo de JK A presenccedila de Alberto da Veiga Guignard trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna em 1944 foi um marco para a criaccedilatildeo de uma geraccedilatildeo de artistas mineiros responsaacuteveis por um histoacuterico de autenticidade e inovaccedilatildeo que ainda hoje ecoa nas escolas de Belas Artes agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir

O artista plaacutestico e professor da Escola Guignard Marcos Venuto afirma que a presenccedila de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado pas-sasse a produzir arte moderna belo-horizontina e natildeo apenas recepcionar exposiccedilotildees modernistas Ele valo-riza a importacircncia de Juscelino enquanto fomentador desse projeto natildeo apenas no acircmbito das artes plaacutesticas como tambeacutem na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx ldquoO Guignard veio para Belo Horizonte atraveacutes de um pedido do Portinari ao Juscelino Ele natildeo estava bem no Rio e tinha um histoacute-rico de problemas com o alcoolismo Quando Guignard veio Juscelino quis fundar uma escola Havia o Parque Municipal sem o Palaacutecio das Artes que na eacutepoca era apenas um projeto do Niemeyer Ele comeccedilou a lecionar

ali e Belo Horizonte passou a ter uma visatildeo proacutepria do modernismordquo conta o professor

Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovaccedilatildeo quanto pelo caraacuteter autecircntico de suas obras A heranccedila modernista logo se converteu em uma arte e expressatildeo caracteriacutesticas a cada um de seus criadores ldquoAlunos como Amiacutelcar de Castro Yara Tupi-nambaacute Sara Aacutevila e vaacuterios outros artistas comeccedilaram a ter uma visatildeo diferenciada da arte uma lente moder-nista proacutepria que eacute o mais importante A arte passou a ser mais autoacutectone aquirdquo explica Venuto

Para o artista o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar tambeacutem foram responsaacuteveis pela evoluccedilatildeo de seus alunos ldquoOs alunos perceberam a formaccedilatildeo europeia de seu professor muito diferente do que se conhecia no Brasil atraveacutes dos professores que ele teve fora do paiacutes Guignard vivenciou o modernismo na Europa ateacute o iniacutecio da segunda guerra quando ele voltou ao Brasilrdquo Venuto entende que por causa dessa e outras influecircncias os alunos de Guignard desenvolve-ram visotildees particulares da arte ldquoO iniacutecio do pensamento modernista belo-horizontino que tem entre seus expo-entes Amiacutelcar de Castro na deacutecada de 50rdquo completa

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Edu-ardo de Lima Pereira a importacircncia de Alberto da Veiga Guignard eacute indiscutiacutevel Ele acrescenta que devido ao artista e agrave administraccedilatildeo de Juscelino Kubitscheck na deacutecada de 40 a capital manteve uma cultura artiacutestica mas natildeo o suficiente para se tornar um centro de refe-recircncia das artes ldquoEu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no paiacutes mas em Minas Gerais natildeo fosse a estrela fulgurante de Guig-nard acho que tudo teria se passado muito mal muito

pouco ficou Belo Horizonte perdeu essa produccedilatildeordquo observa

Marcus Venuto tambeacutem fala de uma outra figura importante para as artes plaacutesticas em Belo Horizonte Franz Weissmann escultor brasileiro nascido na Auacutestria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard ldquoEra o iniacutecio de um pensamento geomeacutetrico com muitas repostas em Belo Horizonte Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Aacutevila proacuteximos do oniacuterico de Guignard e mais geomeacute-tricos como o Weissmann As esculturas do Amiacutelcar tambeacutem tecircm essa proximidaderdquo relata Para o professor apenas no periacuteodo posterior a deacutecada de 40 eacute que Belo Horizonte entra na rota da produccedilatildeo modernista junto com o Rio de Janeiro e Satildeo Paulordquo

Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira ldquoQuando o Guignard veio para Minas Gerais as coisas comeccedilaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso Na realidade a consolidaccedilatildeo a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa necessariamente por Juscelinordquo conclui

Mas a cidade eacute tatildeo importante para o artista quanto o artista eacute para a cidade Marcos Venuto lembra tambeacutem a importacircncia da relaccedilatildeo de Guignard com o estado ldquoEacute importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard E como ele mudou principalmente atraveacutes do contato pessoal com as famiacute-lias daquirdquo explica A pesquisa pictoacuterica realizada nas cidades histoacutericas de Minas como Ouro Preto provo-cou mudanccedilas inclusive em sua pintura tornando-a mais rarefeita mais leve

Artes plaacutesticas em BH antes e depois de

Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a heranccedila da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo

Foto Reproduccedilatildeo do auto-retrato de Guignard

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

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Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 13: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Ponto Belo Horizonte dezembro de 2012

Culturaensp bullensp 13Editores Aureacutelio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da paacutegina Tuacutelio Kaizer - 6ordm Periacuteodo

Haacute exatos 90 anos a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil destacando-se natildeo soacute por sua vasta pro-duccedilatildeo artiacutestica e cultural como tambeacutem por sua oposiccedilatildeo aos cacircnones acadecircmicos no contexto sociopoliacutetico do paiacutes

Os modernistas reivindicavam uma identi-dade nacional vinculada aos valores proacuteprios do territoacuterio brasileiro e encontravam inspira-ccedilatildeo na cultura regional do paiacutes e na expressatildeo popular Aleacutem disso buscavam atualizar cons-tantemente sua pesquisa esteacutetica em nome de uma produccedilatildeo verdadeiramente nacional

Em 1924 motivados por essa necessidade de inovaccedilatildeo os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado Entre os integrantes estavam Mario de Andrade Tar-sila do Amaral e Oswald de Andrade que se hos-pedaram nas cidades histoacutericas e ressaltaram a importacircncia do Barroco mineiro estimulando publicaccedilotildees modernistas em Minas Gerais

Nos anos 20 a capital era uma cidade divi-dida Por um lado os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao moder-nismo como Carlos Drummond de Andrade

Pedro Nava e Joatildeo Alphonsus responsaacuteveis pelo contato mantido com os paulistas

A produccedilatildeo dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicaccedilotildees locais ldquoA revistardquo dos escritores do Diaacuterio de Minas lide-rados por Drummond e o suplemento literaacuterio ldquoLeite Criolordquo criada por Joatildeo Dornas Filho Gui-lhermino Ceacutesar e Aquiles Vivacqua com uma abordagem nacionalista mais extremista

Por outro a cidade ainda era muito tradicio-nalista e o desenvolvimento da literatura natildeo se estendia as Artes Plaacutesticas que permaneciam estagnadas ligadas ao tradicionalismo da aca-demia Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que aleacutem de memorialista era desenhista com vieacutes moderno) eram exceccedilotildees A exposiccedilatildeo de Zina realizada em ainda em 1920 eacute conside-rada precursora do modernismo plaacutestico em Minas Gerais

Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plaacutesticas em Belo Horizonte Em 1936 o Salatildeo Bar Brasil a primeira cole-tiva de arte moderna da cidade foi realizada em um bar mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil ambiente ateacute entatildeo pouco comum para uma exposiccedilatildeo Sua abertura contou com a presenccedila de autoridades repre-

sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otaciacutelio Negratildeo de Lima favoraacutevel a populari-zaccedilatildeo das artes plaacutesticas

Coordenado por Delpino Junior participa-ram do Salatildeo artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta Jeanne Milde Julius Kaukal Eacuterico de Paula e Monsatilde e artistas novos como Fernando Pierucetti Alceu Pena Elza Coelho entre outros O evento foi a primeira manifesta-ccedilatildeo coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aniacutebal de Mattos e a institucionalizaccedilatildeo das artes

O antigo jornal Folha de Minas descreve o caraacuteter social da exposiccedilatildeo que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tra-cionais ldquoA pintura em nossos dias perdeu o colorido aristocraacutetico de ser entendida somente por uma ldquoeliteldquo Ajustou-se a inteli-gecircncia contemporacircnea popularizando-se Os pintores vatildeo buscar seus motivos no turbilhatildeo da vida e as cenas fixadas datildeo ao expectador a sensaccedilatildeo de quem revecirc coisa conhecida Na verdade o personagem da vida vecirc-se trans-plantado para os quadros de realidade qua-dros de flagrantes da rua A funccedilatildeo do pintor foi entatildeo a de registrar a cena Eacute uma espeacutecie de fotografia agrave matildeordquo

A prosa moderna nas ruasA

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O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia as artes plaacutes-ticas continuavam arraigadas a diver-sos conceitos tradicionais da academia Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas A cidade hoje jaacute natildeo escuta os ecos da arte modernista mas manteacutem muito de seu caraacuteter livre questionador e criativo

ldquoBelo Horizonte jaacute eacute uma cidade con-temporacircneardquo afirma Marcos Venuto sobre a produccedilatildeo artiacutestica belo-horizon-tina Para ele a cidade mineira embora carente de instituiccedilotildees voltadas para as artes plaacutesticas sempre foi berccedilo de gran-des artistas O professor acredita que a produccedilatildeo mineira atraveacutes das uacuteltimas deacutecadas natildeo perde em nada para os gran-des centros Satildeo Paulo e Rio de Janeiro ldquoNatildeo houve marasmo porque sempre

houve produccedilatildeo ora maior ora menorrdquo explica Venuto fala ainda sobre ldquotradi-ccedilatildeo de pensar e ensinar a arte deixada por Guignard e presente ainda hojerdquo e o papel da Escola Guignard na formaccedilatildeo destes jovens profissionais

O artista afirma que haacute hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valoriza-ccedilatildeo do tema em Belo Horizonte como o Instituto de Arte Contemporacircnea e Jar-dim Botacircnico Inhotim e o complexo de Museus na Praccedila da Liberdade e ressalta tambeacutem o papel importante da nova geraccedilatildeo de artistas urbanos em Belo Horizonte Para Venuto a reabertura de antigos espaccedilos como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupaccedilatildeo e criaccedilatildeo de galerias no centro da cidade como as do edifiacutecio Maletta possibilitaram a visi-bilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporacircneos embora ainda pouco valorizados pela miacutedia local

Em contrapartida o presidente da Casa Fiat de Cultura Joseacute Eduardo de Lima Pereira acredita que ainda haacute um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referecircncia artiacutestica e cultural ldquoBelo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiaccedilatildeo o que natildeo acon-teceu Hoje existe uma carecircncia uma sede de conhecimento de visatildeo Eu acho que natildeo soacute a Casa Fiat mas outras instituiccedilotildees estatildeo desempenhando este papel o que possibilitaraacute o resgate desta potencialidade cultural de Minas Geraisrdquo disse

Ambos satildeo otimistas em relaccedilatildeo aos movimentos da cidade em direccedilatildeo agraves artes e a cultura e concordam que eacute preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do paiacutes aleacutem de valorizar a produccedilatildeo local pro-movendo e divulgando o trabalho de novos artistas

A capital contemporacircnea

Apoacutes os anos 1940

Fotos Reproduccedilatildeo das obras de Guignard

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 14: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

Belo Horizonte dezembro de 2012

14ensp bullenspCidadesO Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

KAROLINE DE ALENCAR

LETIacuteCIA ARANTES MARIA ALDECI

2ordmPERIacuteODO

O grafi te eacute um dos principais repre-sentantes da modalidade de arte urbana eacute a arte de desenhar com spray Mas haacute tambeacutem o sticker (utilizaccedilatildeo de etique-tascartazes adesivos) o stencil (teacutecnica usada para aplicar ilustraccedilotildees por meio da perfuraccedilatildeo de papeacuteis ou acetato) e a pichaccedilatildeo que eacute a praacutetica de escrever ou rabiscar em muros Esta eacute uma forma que na maioria das vezes eacute feita em locais sem preacutevia autorizaccedilatildeo por isso eacute geralmente associada ao vandalismo A grande diferenccedila eacute que a intervenccedilatildeo feita pelo grafi teiro pode ser realizada somente com a autorizaccedilatildeo do proprie-taacuterio em caso de bem privado No caso de bem puacuteblico tambeacutem eacute necessaacuteria a liberaccedilatildeo pelos oacutergatildeos responsaacuteveis Na sua essecircncia o grafi te eacute uma forccedila de expressatildeo como qualquer outra arte e por isso deve ser respeitado Essa arte vem ganhando cada vez mais espaccedilo e o Brasil possui a lei 124082011 que regu-lamenta essa praacutetica

A arte de rua fala da realidade por isso eacute quase impossiacutevel natildeo abordar os confl i-tos sociais Natildeo daacute para ignorar um movi-mento cultural e poliacutetico que parte da coletividade Ele se torna legiacutetimo e jus-tamente porque expressa uma demanda da sociedade eacute que vemos um esforccedilo da maacutequina puacuteblica e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifes-taccedilatildeo Talvez por isso uma das principais mineradoras do Brasil preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus ter-minais de transporte de mineacuterio convidou a comunidade do entorno a participar de uma accedilatildeo preventiva

A iniciativa da mineradora partiu da necessidade de esclarecimento aos moradores sobre o porquecirc da instalaccedilatildeo de um muro na divisa de suas instala-ccedilotildees A intenccedilatildeo natildeo foi segregar e sim proteger pois pelo Terminal Ferroviaacuterio Olhos DrsquoAacutegua (TOD) eacute transportado o mineacuterio extraiacutedo de morros vizinhos e essa atividade poderia colocar em risco a populaccedilatildeo local O objetivo da empresa era acabar com a imagem negativa que havia sido criada pelo muro

Foi com a ajuda da ONG Atividade Cultural que sur-giu a ideia de serem ensinadas teacutecnicas de grafi te agraves crian-ccedilas do bairro Olhos DrsquoAacutegua A mine-radora arcou com todos os custos do projeto denomi-nado Grafi tod que permitiu agraves crian-ccedilas da comunidade participar de aulas de grafi te a fi m de tornar o ambiente mais agradaacutevel e seguro Com o rea-proveitamento de batentes de trilhos o ldquoantigordquo muro eacute agora o maior painel iconograacutefi co grafi tado da grande BH medindo 420 metros

Tambeacutem foi feito todo um trabalho de conscientizaccedilatildeo diferenciando arte de vandalismo colocando por terra a ideia de o grafi te ser uma arte marginalizada da periferia Segundo Rocircmulo Silva da ONG Atitude Cultural coordenador do projeto Graffi ti eacute impossiacutevel ignorar a importacircncia da responsabilidade social e ambiental na gestatildeo de grandes empre-sas No caso da mineradora o projeto

buscou criar uma sensibilizaccedilatildeo artiacutestica na comunidade

O professor do projeto designer graacute-fi co grafi teiro e educador social Fre-derico Eustaacutequio ou Negro F como eacute conhecido no meio artiacutestico confi rma que antes de a lei ser sancionada pela presidenta Dilma o grafi te viveu por um bom tempo na ilegalidade ldquoA lei foi uma conquista um reconhecimento de uma arte que vem sendo praticada desde a deacutecada de 60 Vale ressaltar que essa praacute-

tica eacute conhecida desde a preacute-histoacuteria soacute que na eacutepoca foi utilizada com outras intenccedilotildees ressaltardquo

Negro F afi rma que o envolvimento da comu-nidade foi fundamen-tal para o sucesso do projeto jaacute que o grafi te ajudou as pessoas a se mobilizarem em prol de uma causa coletiva Os 40 garotos que passaram pelo projeto se empe-nharam e desenvolve-ram bem as suas tarefas Segundo ele os jovens melhoraram seu desem-

penho na escola e o comportamento em casa Houve uma maior interaccedilatildeo com a comunidade do bairro Exemplo disso foi o antigo depoacutesito de lixo ter se trans-formado numa linda praccedila com o muro estampando a realidade melhorada ldquoTodos os tipos de arte no meio urbano tecircm o objetivo de transmitir uma mensa-gem de quem a estaacute praticando Seja um protesto relacionado ao contexto poliacute-tico ou socioeconocircmico por parte de um pichador ou a representaccedilatildeo da realidade de um local atraveacutes do grafi te e estecircncil Eacute algo subjetivo expresso na praacutetica assim

como em outras artes Esse muro que gra-fi tamos com os meninos da comunidade busca retratar os acontecimentos aqui no bairro Desenhamos os varais de roupas dos moradores o cachorro sem dono que circula na rua As crianccedilas pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calccedilada e o parquinho que construiacutemosrdquo O grafi teiro ainda ressalta que o projeto aleacutem de ser um estiacutemulo para as crianccedilas tambeacutem contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro aleacutem da melhora no trato familiar e nos estudos

Com entusiasmo o garoto Lucas Souza 10 anos um dos destaques da turma conta como foi a experiecircncia ldquoO professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros Minha matildee fi cou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me ins-crito A nossa relaccedilatildeo melhorourdquo conta

O tambeacutem aluno Abraatildeo Dias 12 anos tambeacutem aprovou a nova atividade Ele tambeacutem jaacute sonha em se tornar um grande profi ssional na arte de grafi tar

ldquoEu gostei tanto que me vejo grafi -tando em Belo Horizonte e ateacute em outras cidades quando eu crescer Vou querer me formar em arte E depois que colo-quei isto na cabeccedila me dedico melhor agrave escola e minhas notas jaacute aumentaramrdquo

Com 17 anos de experiecircncia com o grafi te Negro F diz que percebeu uma mudanccedila na sociedade durante a passa-gem dos anos

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a arte de rua Quando os cida-datildeos se deparam com os espaccedilos grafi -tados de Belo Horizonte e outros meios urbanos elas sabem apreciar e diferen-ciar o artista do vacircndalo Eacute uma arte do cotidiano local haacute uma identifi caccedilatildeo eacute a linguagem proacutepria do grafi terdquo desta-cou o artista

do protesto agrave socializaccedilatildeoGra te stencil e sticker se rmam como manifestaccedilotildees artiacutesticas ganham espaccedilos de exposiccedilatildeo e se incorporam em projetos sociais

ldquoAs pessoas estatildeo assimilando melhor a

arte de rua Quando os cidadatildeos se deparam

com os espaccedilos gra tados de Belo

Horizonte elas sabem apreciar e diferenciar o

artista do vacircndalordquo

Negro F professor e gra teiro

Participantes do projeto Grafi tod

Professor do projeto desig-ner graacutefi co grafi teiro e educador social Frederico Eustaacutequio o Negro F

Grafi te realizado pelas crianccedilas

Foto

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O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
Page 15: Jornal O Ponto - Dezembro de 2012

O Brasil tem dois grandes repre-sentantes do grafite Gustavo e Otaacutevio Pandolfo conhecidos como OSGEMEOS satildeo consagrados mun-dialmente Esses paulistas desde a infacircncia foram incentivados pela famiacutelia a se expressarem por meio dos traccedilos

Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova teacutecnica que estava sur-gindo junto com o movimento hip hop dos anos 80 Por o grafite ser uma teacutecnica pouco conhecida na eacutepoca eles foram criativos tiveram que inventar o seu proacuteprio mate-

rial Improvisaram latas de tintas usando laacutetex tintas automotivas guache adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade

Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial o alematildeo Loo-mit que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposiccedilotildees pela Ale-manha Os seus trabalhos viajaram por diversos paiacuteses ganhando uma exposiccedilatildeo individual na galeria Lug-gage Store em Satildeo Francisco- EUA que reuniu pinturas e esculturas dos artistas

Belo Horizonte dezembro de 2012

Cidadesensp bullensp 15O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚ Periacuteodo

O grafite natildeo fica restrito agraves comunidades carentes Em Belo Horizonte museus tradicionais como o Palaacutecio das Artes incentivam o acesso a esta cultura Em janeiro de 2011 a galeria Marirsquostella Tristatildeo funcionou como um espaccedilo aberto onde qual-quer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse assim como eacute feito nas ruas Essa exposiccedilatildeo que fez parte do Projeto Veratildeo Arte Contemporacircnea recebeu o nome de Graffiti Sem Limite Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado

O coleacutegio Marista na regiatildeo Centro-Sul da capital mineira tambeacutem promoveu por meio de seus professores e coordenadores uma oficina com foco pastoral e peda-goacutegico A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepccedilatildeo dos alunos e desen-volveu uma reflexatildeo sobre o assunto abordado Depois disso propocircs que as crianccedilas

fizessem desenhos que seriam colocados em votaccedilatildeo e os ganhadores seriam repro-duzidos num muro interno do coleacutegio A escola optou pelo grafite por ser uma arte que estaacute presente nas ruas por ser moderna e real O espaccedilo escolhido foi o galpatildeo do Maristinha espaccedilo de encontro e passagem dos alunos O coleacutegio tambeacutem convidou um artista para dar orientaccedilatildeo sobre o material e a teacutecnica que seria aplicada Depois disso foi soacute as crianccedilas colocarem a matildeo na massa e se expressarem ldquoO resultado foi aleacutem do esperado As crianccedilas coloriram o espaccedilo de uma forma que fazia sentido para elasrdquo disse Lucas Fortunato assistente pedagoacutegico do Maristinha

O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessiacutevel a qualquer um com cora-gem para enfrentar e descobrir o novo

Brazucas pelo mundo

A arte aleacutem das ruas

Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Agravegua Atividade contribuiu para a integraccedilatildeo da comunidade

Paineacuteis realizados pelos alunos do coleacutegio Marista em Belo Horizonte Crianccedilas conheceram e aprenderem a arte do grafite

Fotos Ma

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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

  • 01 - Capa
  • 02 - Opiniao
  • 03 - Comportamento - Baba
  • 04 e 05 - Saude - Animais
  • 06 - Anuncio
  • 07 - Cidades - Cineclubismo
  • 08 e 09 - Comportamento - Transito
  • 10 - Acontece na Fumec - Renato Janine
  • 11 - Perfil - Ronaldo Fraga
  • 12 e 13 - Cultura - Guignard
  • 14 e 15 - Cidades - Grafitismo
  • 16 - Cultura - Drummond
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O Ponto

Editor e diagramador da paacutegina Diego Duarte - 6˚Periacuteodo

Belo Horizonte dezembro de 2012

16 bull Cultura

FERNANDO CARVALHO LARA COELHO

1ordm E 2ordm PERIODO

Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo Brasileiro foi capaz de captar o ldquosentimento do mundordquo Eacute tambeacutem o poeta de muitas geraccedilotildees referecircncia para outros poetas Essas satildeo apenas algumas das dimensotildees do artista destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa mas que datildeo ideia da importacircncia do seu legado que haacute muito ultrapas-sou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil

O Dia D de Drummond celebrado no dia de seu nasci-mento 31 de outubro foi come-morado em vaacuterias partes do mundo Belo Horizonte Rio de Janeiro Satildeo Paulo Porto Alegre Salvador Recife Brasiacutelia Lisboa e claro Itabira Neste ano satildeo 110 anos de nascimento relem-brados com poemas crocircnicas artigos debates teatros

Conterracircneo de Drummond Carlos Silva professor de Lite-ratura no Sistema de Educaccedilatildeo Pro ssional (SEPRO) em Itabira estaacute entre os que se renderam agrave obra do poeta Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sen-timento de um tempo inteiro ldquoA maior marca sempre seraacute a enorme capacidade de captar a dor do homem do seacuteculo XX Um homem que passou por guerras terriacuteveis mudanccedilas enormes e por sonhos fantaacutesticos Teve a capacidade de mostrar desde a solidatildeo (gauche) ateacute a solidarie-dade que o ser humano eacute capaz de viverrdquo comentou

Tambeacutem professor Luiz

Henrique Barbosa com mes-trado em Estudos Literaacuterios pela UFMG e doutorado em Literaturas de Liacutengua Portu-guesa pela PUC Minas chama atenccedilatildeo para a in uecircncia direta de Drummond nas obras de diversos artistas em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond considerado ldquoo poeta maiorrdquo Um exemplo lembra Barbosa eacute a poeta Adeacutelia Prado de Divi-noacutepolis que escreveu o ldquoCom licenccedila poeacuteticardquo uma resposta feminina ao ldquoPoema de sete facesrdquo da fase intimista de Drummond

ldquoComo leitor sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literaacute-rioComo professor sinto-me honrado por poder tentar ensi-nar o trabalho dele e como gente uma pessoa que viveu no seacuteculo XX agradeccedilo por ele ter me ajudado a entender a minha eacutepocardquo disse o professor Carlos Silva

Itabira lembranccedila constanteDentre vaacuterias das home-

nagens feitas nesse dia para o poeta Itabira contribuiu com uma semana de eventos em um projeto chamado ldquoSemana Liacutetero-Drummondianardquo Se-gundo Mariacutelia Ramos superin-tendente de Cultura em Itabira Drummond eacute fundamental para a cidade jaacute que ele a leva para o resto do mundo

Mas Ramos observa que as homenagens natildeo se restringem a essa data pois o poeta eacute relem-brado na cidade o ano inteiro como o ldquoDrummonzinhosrdquo ldquoA proacutepria fundaccedilatildeo se chama Fun-daccedilatildeo Cultural Carlos Drum-mond Andraderdquo reforccedila

Drummond revive no mundo de vaacuterias formas Na data de seu nascimento esse ano aleacutem das homenagens feitas nas programaccedilotildees das cidades pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012 uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artis-tas de varias regiotildeesinclusive de Portugal Nesse projeto par-ticiparam 110 poetas que dis-tribuiacuteram poemas de sua auto-ria em homenagem a ele para serem encontrados ldquono meio do caminhordquo de suas cidades

Os DrummonzinhosEm homenagem ao poeta

Carlos Drummond Andrade em outubro de 2001 Itabira implan-tou um programa chamado ldquoDrummonzinhosrdquo uma parce-ria entre a Fundaccedilatildeo Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Accedilatildeo Social O pro-grama tem como objetivo capa-citar crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de baixa renda ou risco pessoal e social Nele eacute desen-volvido um projeto de orien-taccedilatildeo que envolve atividades como teatro expressatildeo cultural e acompanhamento pedagoacutegico para guiar turistas no museu de Territoacuterio Caminhos Drum-mondianos aulas de literatura Drummondiana e declamaccedilatildeo Os alunos aleacutem de ganharem uma bolsa em dinheirolanche e transporte para os trabalhos em lugares diversi cadoslevam tambeacutem a poesia de Drummond para eventos participando de diversas apresentaccedilotildees

ldquoApenas duas matildeos e o sentimento do mundordquoPoeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Com licenccedila poeacuteticaAdeacutelia Prado

Quando nasci um anjo esbeltodesses que tocam trombeta anunciouvai carregar bandeiraCargo muito pesado pra mulheresta espeacutecie ainda envergonhadaAceito os subterfuacutegios que me cabemsem precisar mentirNatildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casaracho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim ora natildeo creio em parto sem dorMas o que sinto escrevo Cumpro a sinaInauguro linhagens fundo reinos- dor natildeo eacute amarguraMinha tristeza natildeo tem pedigreejaacute a minha vontade de alegriasua raiz vai ao meu mil avocircVai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homemMulher eacute desdobraacutevel Eu sou

Poema de Sete FacesCalos Drummond Andrade

Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse Vai Carlos Ser gauche na vida

As casas espiam os homensQue correm atraacutes de mulheresA tarde talvez fosse azulNatildeo houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernasPernas brancas pretas amarelasPara que tanta perna meu Deus pergunta meu coraccedilatildeo

Poreacutem meus olhos natildeo perguntam nadaO homem atraacutes do bigode

eacute seacuterio simples e forteQuase natildeo conversaTem poucos raros amigoso homem atraacutes dos oacuteculos e do bigode

Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu natildeo era Deusse sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundose eu me chamasse Raimundoseria uma rima natildeo seria uma soluccedilatildeo

Mundo mundo vasto mundomais vasto eacute meu coraccedilatildeo

Eu natildeo devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo

Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memoacuteria

Foto Lara Coelho

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