jornal o cidadao 50

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RIO DE JANEIRO ANO IX Nº50 JUNHO 2007 3 ALUNOS DO RIO SEM PASSE LIVRE 16 O USO DAS ERVAS MEDICINAIS 19 O PERIGO DOS REMÉDIOS 20 BASQUETE : O GRANDE MAICON Obesidade Obesidade A doença que aumentou nos últimos 30 anos e atinge adultos e crianças

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jornal comunitário da Maré

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Page 1: jornal o cidadao 50

1O Cidadão

RIO DE JANEIRO ANO IX Nº50JUNHO 2007

3ALUNOS DO RIO SEM PASSE LIVRE16

O USO DAS ERVAS MEDICINAIS19

O PERIGO DOSREMÉDIOS20

BASQUETE :O GRANDE MAICON

ObesidadeObesidadeA doença que aumentou nos últimos 30 anos e atinge adultos e crianças

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2 O Cidadão

EDITORIAL

Oito anos e muitas histórias

ELES LÊEM O CIDADÃO

Á esquerda, Zezinho, jogador de 46 anos, morador do Conjunto Pinheiro, acima, Paulinho Esperança, de 53 anos, coordenador da Fundação Leão XIII

O Cidadão é uma publicação do CEASMCentro de Estudos e Ações Solidárias da Maré

Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do TimbauTelefones: 2561-4604

Sede Nova Holanda:

Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova HolandaTelefone: 2561-4965

Direção

Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana S. Silva

Maristela Klem • Lourenço Cezar

Coordenadora Geral: Rosilene Matos

Editora: Cristiane Barbalho

Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta

Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense

Revisão: Viviane Couto e Audrey Barbalho

Administrador: Hélio Euclides

Reportagem: Renata Souza • Cristiane Barbalho • Hélio Euclides Rosilene Matos •

Silvana Sá • Gizele Martins • Edvania Braga • Vinicius Zepeda

Colaborou nesta edição:

Rede Memória

Jornalista Responsável:

Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb)

Ilustrações: Jhenri

Publicidade: Elisiane Alcantara

Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra

Diagramação: Fabiana Gomes da Silva

Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço

Foto de Capa: Niels Rameckers

Repórter Fotográfi co: Hélio Euclides

Distribuição: Matilde Nonato (coordenadora)Carla de Almeida • Charles Alves

Jefferson Kione • Jéssica de Oliveira José Diego dos Santos • Rosilene Ferreira

Luiz Fernando de Souza

Fotolitos / Impressão: Ediouro

Tiragem: 20 mil exemplares

Correio eletrônico: [email protected]@yahoo.com.br

Página virtual: www.ceasm.org.br

FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

O CIDADÃO completa, em julho, oito anos e 50 edições com a proposta de mostrar uma Maré que poucos

conhecem. Diferente dos grandes meios de comunicação, o nosso jornal é uma mídia alter-nativa que valoriza o detalhe da nossa comuni-dade e se interessa pelo que é importante para o morador. O jornal apresenta uma linha editorial que busca integrar e fortalecer os mareenses.

Em nossa matéria principal, falamos da obesidade que pode ser considerada uma epi-demia. Nos últimos trinta anos, o número de brasileiros que estão acima do peso aumentou. O consumo cada vez maior de gordura e de açúcar compromete a saúde da população.

Esse fato deve-se não só aos nossos maus hábitos alimentares, como fast-food, biscoitos recheados e refrigerantes, produtos que a nossa sociedade capitalista vende como sinônimos de beleza, sabor e aceitação, mas que são na verdade um veneno para a saúde e apenas uma forma fácil de gastar pouco e obter grandes lucros. Por isso, as crianças, alvo fácil dessa nova forma de “consumir”, também estão com a saúde comprometida. Tudo isso sem falar que

fazer dieta balanceada, ganhando o nosso tão magrinho salário mínimo não é tão fácil quanto parece: os produtos “lights” são sempre muito mais caros, as verduras e legumes estão cheias de agrotóxicos e as frutas estão caras. Isso não isenta os pais de fi carem atentos aos hábitos alimentares de seus fi lhos, além de incentiv á-los à prática de atividades físicas. No entanto, é de extrema importância cobrar de nossos go-vernantes que possamos ter condições básicas para viver, uma vez que nem o direito de brin-car na rua para gastar energia as nossas crianças têm.

Na editoria de educação abordamos o tema do passe livre, que novamente é coloca-do em “xeque” pela ganância dos donos das empresas de ônibus. Como um país quer cres-cer se não consegue valorizar um dos pilares para esse desenvolvimento? Devemos todos exigir a devida atenção do Estado à educação, porque sem ela realmente não existirá mudan-ças signifi cativas em nosso país. A população tem que se unir e exigir os seus direitos, mas não deve esquecer que também tem deveres para cumprir. Boa Leitura!

Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso

Tel:3882-8200 / Fax:2280-2432

A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da

O Instituto

Telemar

apoia o

jornal

O Cidadão

O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da maré.Promove ofi cinas e atividades que se tornam extensão da sala de aula.

Uma conquista dos moradores da Maré

Page 3: jornal o cidadao 50

3O Cidadão

EDUCAÇÃO

Passe livre é postoem xequeFetranspor e Justiça negam passagem para estudantes da rede pública

Os estudantes que precisam utilizar transporte público para chegar até a escola correm o grande risco de fi car

a pé. A Federação de Empresas de Transporte do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), há alguns meses, entrou com uma ação no Tribu-nal de Justiça alegando a inconstitucionalidade da Lei Municipal do Passe Livre, e ganhou.

A qualquer hora a empresa pode suspender o serviço já que, com esta decisão, o passe tornou-se ilegal. O argumento da federação é que não há fonte de custeio para sustentar o passe livre que, segundo o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus), benefi cia 1,5 milhão de pessoas. De acordo com o cientista político Eduardo Alves, a Fetranspor está equivocada ao tratar o passe livre como um “prejuízo” do Estado, quando esse benefício representa um investimento na educação.

O passe livre, destinado a estudantes da rede pública, portadores de necessidades es-peciais e idosos, de acordo com o cientista político, é uma conquista da sociedade e não pode ser suspenso. Segundo Thiago Franco, presidente da União Brasileira dos Estudan-tes Secundaristas (Ubes), os alunos do Rio possuíam 156 passagens mensais, mas os créditos estão sendo reduzidos. “A iniciativa da Fetranspor e a decisão da Justiça vai con-tra o direito à educação. O passe deveria ser ampliado porque o ensino vai além da escola, passa pelo acesso a bens culturais e à informa-ção”, afi rma.

Estudantes da MaréO término do passe livre causará grande

prejuízo aos estudantes com baixo poder aquisitivo. Alberto Vitor de Lima, de 18 a-nos, morador do Parque Maré e estudante

da Escola Taciel Cylleno, em Ramos, diz que teria que deixar de comer para estudar. “A difi culdade fi nanceira é extrema. Além disso, fi caria desestimulado a estudar por não ter muitos motivos para estar indo à escola, devido à falta de professores”. Já no caso de Letícia Albuquerque, de 12 anos, moradora da Nova Holanda que estuda na Escola Munici-pal Brasil, em Olaria, com o fi m do passe livre fi cará difícil ir à escola já que sua mãe não tem dinheiro para pagar a passagem todos os dias. “Na minha escola tem gente que não tem mais créditos no cartão de passagem e está pagando R$80 por mês na kombi escolar”, diz.

Segundo o presidente da Ubes, o mo-vimento estudantil continuará organizando passeatas para que o benefício volte a ser lei. O CIDADÃO entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Rio de Janeiro, mas não obteve respostas.

COMO VOVÓ JÁ DIZIA Dicas de limpezaLimpeza das chapinhas do fogão:

Para que as chapinhas do fogão fi quem como novas, coloque-as numa vasilha com vi-nagre e sal. Depois de uma hora esfregue com palha de aço e sabão. Elas fi carão brilhando.Para limpar garrafas:

Deixe as garrafas térmicas bem lim-pas e sem aquele cheiro desagradável, colocando dentro delas, por uns 10 minu-

tos, uma solução de água quente e sal. Depois é só lavar com uma escovinha.Ralador de queijo limpinho:

Quando o ralador fi car com partícu-las de queijo, esfregue-o com batata crua antes de lavá-lo. Ficará bem limpo.

Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus - Editora Vozes

HÉLIO EUCLIDES

Estudante do ensino médio desce do ônibus 919 vindo da Escola Estadual México no bairro de Botafogo

“Na minha escola tem gente que não tem mais créditos (...) e está pagando R$80 por mês na kombi escolar”Letícia AlbuquerqueEstudante da Escola Municipal Brasil

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4 O Cidadão

Segundo estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), mor-rem mais pessoas no mundo víti-

mas de doenças provocadas pelo cigarro do que a soma das mortes provocadas por AIDS, acidentes e violência. O Brasil tem 30 milhões de fumantes. Destes, morrem cem mil a cada ano por complicações causadas pelo fumo. Ou seja, o tabagis-mo, transtornos mentais e de comporta-mento decorrentes do uso de substâncias que causam dependência, também mata.

Os sintomas mais corriqueiros são bronquite crônica, tosse seca, falta de apetite, impotência sexual, sinusite e hipertensão. Os mais sérios, e causa de morte da maioria dos fumantes, são en-fi sema pulmonar, câncer de garganta, de

pulmão e derrames. O fumante tem a saúde fragilizada e corre o risco de ado-ecer três vezes mais do que um não fu-mante.

O Centro de Saúde Américo Veloso, na

Praia de Ramos, tem um ser-viço especializado no acom-panhamento de pessoas que desejam parar de fumar. A ini-ciativa é uma parceria entre a

Prefeitura do Rio, o Ministério da Saú-de e o Instituto Nacional do Câncer. O fisioterapeuta acupunturista Jorge Rodrigues Moreira é um dos respon-sáveis pelo grupo. “O tratamento tem várias etapas e dura um ano. Primeiro uma entrevista, depois palestras e só aí começam os encontros semanais”, diz o doutor Jorge. Mais informações pelo telefone 2590-3941.

GERAL

Conseqüências do tabagismoNo Brasil morrem cem mil pessoas por doenças causadas pelo cigarro

O fumo durante a gravidezA mãe que fuma durante a

gravidez envia para seu bebê as substâncias tóxicas do cigarro. A criança nasce com baixo peso, com menor estatura e problemas neurológicos. Os riscos de aborto espontâneo e de parto prematuro também são maiores. Há possibili-dade de má formação do feto, de sangramentos e de aumento das cólicas no bebê.

Mães que não fumam, mas que convivem com fumantes também colocam a saúde de seus be-bês em risco. Um feto expos-to à fumaça do cigarro pode-rá ter problemas respiratórios. Apenas um único cigarro é ca-paz de acelerar os batimentos cardíacos do feto, diminuir a pas-sagem de oxigênio e causar danos à aprendizagem.

“O tratamento tem várias etapas e dura um ano”Jorge RodriguesFisioterapeuta acupunturista

HÉLIO EUCLIDES

Fumante reproduz o gesto glamuroso do cinema, expelindo a fumaça sem a preocupação de quem está ao lado

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5O Cidadão

Cabra, boi, galinha d’angola, bei-ja-fl or, cavalo, lobo e forró, tudo lembra o nordeste do Brasil. São

esses elementos que Manoel do Nascimen-to, de 66 anos, morador da Nova Holanda, utiliza para inspirar suas pinturas de Arte Naïf. Com traços pontilhados e coloridos, Seu Manoel, como é conhecido, revisita sua terra natal. “Eu pinto os temas da minha terra, Campina Grande, e volto a ela em pensamento. O nordeste é a minha grande inspiração”, diz. Um de seus quadros pode ser visto no acervo permanente do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil, que fi ca no Cosme Velho. No entanto sua arte ainda não pode ser admirada na Maré porque não há um espaço disponível para expor sua obra.

Manoel é pedreiro aposentado, mas passou a se dedicar ao ofício da jardinagem no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Foi lá que, em 2003, fre-qüentou uma ofi cina de desenho e pintura promovida pelo Centro Cultural do HUCFF. Segundo ele, quando começou a pintar, sua professora Renata Luca o deixou de lado, sem orientação, para que pudesse criar sem restrições. O argumento utilizado pela pro-fessora é que a obra de Manoel é tão genuína e autêntica que ela não poderia interferir no processo de criação.

PrestígioA importância de seu trabalho já é reco-

nhecida. Com quase 150 obras, Manoel já expôs no Museu da República, na Academia Nacional de Medicina e também em diversas unidades da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outra universidade que admira a pintura do artista mareense é a Uni-versidade Federal Fluminense (UFF) que já serviu de palco para palestras sobre Arte Naïf feitas por Manoel. Entretanto, o reconheci-mento de sua arte não é revestido em renda. “As pessoas poderiam dar mais valor à arte

porque, além da obra, há todo o trabalho do artista. Mas eu não vivo da venda dos

quadros porque é muito difícil vendê-los. Precisa ter bastante divulgação. E o pintor de arte só tem valor depois que morre”, afi rma.

Contudo, se depender de suas fi lhas “corujas” e orgulho-sas, Manoel poderá obter suces-so em vida. “Eu admiro muito o trabalho do meu pai. Como não podemos levar os quadros para todos os lugares, por conta da fragilidade, eu fi z um álbum com as fotos de todos os quadros. Eu e

minha irmã estamos pensando em fazer uma página na internet. Nós

temos difi culdades em pôr preços nos quadros porque não te-

mos a noção do valor de uma obra de arte. Então, a professora

dele costuma dar os preços”, afi rma Mariluce Nascimento, de 24 anos.

Manoel gostaria de expor suas obras na Maré, mas ainda não encontrou um espaço. “Uma vez, os meus quadros foram expostos em algumas escolas da Maré por um educador

do Programa de Criança Petrobras do Ceasm, mas não passou disso. Queria que todos pudes-sem conhecer o meu trabalho”, diz. Os interes-sados em saber mais sobre as obras de Manoel podem ligar para o telefone 2290-4283.

Arte NaïfO adjetivo naïf é o mais empregado para

o gênero de pintura chamado de ingênuo e, às vezes, primitiva. Na época em que foi lançado, o termo naïf era um estilo, como em outras épocas, os pintores foram chama-dos de impressionistas, cubistas, futuristas, etc... Os naïfs, em geral, são autodidatas e sua pintura não é ligada a nenhuma escola ou tendência. Essa é a força desses artistas que podem pintar sem regras, nem constran-gimentos. Podem ousar e usar tudo. São os “poetas anarquistas do pincel”. Fonte: Mu-seu Internacional de Arte Naïf do Brasil.

O nordeste é a minha grande inspiração”Manoel do NascimentoArtista da Nova Holanda

GERAL

Pintando o Nordeste na MaréSeu Manoel aprendeu a pintar quadros depois dos 60 e já tem suas obras reconhecidas

Manoel, morador da Nova Holanda, pinta uma de suas obras Naïf em seu ateliê improvisado na laje de casa

HÉLIO EUCLIDES

Page 6: jornal o cidadao 50

6 O Cidadão

PERFIL

A contadora da MaréA história da comunidade pode ser ouvida pela voz de Marilene, no museu do bairro

Marilene é uma contadora de história. Até aí tudo bem, de louco e contador de história todo mundo tem um

pouco. Mas ela fez da contação de história sua profi ssão e tem uma missão importante: ajudar a resgatar a história da Maré e fazer com que os pequenos mareenses cresçam conhecendo e valorizando a sua história.

E já que o assunto são as narrativas, a vida de Marilene tem todos os ingredientes de uma história. A idade ela não revela para ninguém, mas lembra da sua chegada na Maré quando tinha 10 anos. “Achei muito estranha a Nova Holanda, pois só havia casas de um lado da rua. Porém, com o passar do tempo, me adeqüei à realidade do local”, fala. Depois de um tempo, a água encanada e o esgoto chegaram à comunidade, mudando o aspecto da Maré. Antes ela carregava água para sua família e ainda vendia um pouco para ganhar um “trocado”. Sem falar que catava lixo e pescava peixes, mas nunca encarou como trabalho. “Minha infância foi muito bonita, a gente podia brincar na rua, dormir de porta aberta

e as famílias, como não possuíam tanta tecno-logia, eram mais unidas”, diz.

A compra da primeira televisão pela mãe foi marcante em sua vida. Ela lembra emocionada do dia em que não tinha TV e assistia aos seus programas preferidos pela janela do vizinho. “Era muito chato, pois alguns fechavam a janela na nossa cara para que não víssemos a progra-mação, por isso quando ela pôde comprar foi o dia mais feliz da minha vida”, conta.

Alguns anos mais tarde, Marilene começou a trabalhar na Zona Sul e era conhecida como “hippie” pelos moradores da Maré, devido ao

seu modo de vestir. E como conheceu muita gente ligada à arte, conseguiu

u m a oportu-nidade de fazer o curso de teatro

do Tablado c o m

Louise Cardoso. Atuou

no teatro e no cinema, mas nunca

fez televisão. Seu nome artístico é Lene Nunes.

Nesse período

morou em Santa Teresa, onde conheceu seu marido. Quando casou, voltou a morar na Maré e engravidou de sua primeira filha, Sara, hoje com 16 anos. Ainda assim, continuou viajando fazendo produção teatral. Logo depois teve Ana, hoje com 14 anos e dois anos mais tarde nasceu Lucas. Nesse momento, decidiu que seria apenas mãe. “Parei com os trabalhos e tive a recompensa da maternidade, mas não gostei de ter parado a minha mente”, revela.

Depois de cinco anos, começou a traba-lhar em uma creche e conheceu Marielle, que a indicou para o curso de contação de histórias. Naquele momento achou que aprenderia a contar contos infantis, mas quando foi selecionada para fazer o curso, descobriu um mundo de lendas e contos da Maré. “Sempre contei histórias para meus fi lhos e procurei mostrar um pouco da feli-cidade que tive na minha infância. Sei que a deles foi diferente, mas somos muito unidos e, as vezes, brincamos juntos dentro de casa”, afi rma.

Hoje, ela é coordenadora do Grupo Maré de Histórias do Museu da Maré. Lá, faz mediações históricas pelo acervo. Ainda trabalha na Lona Cultural Herbert Vianna, como contadora para crianças, na biblioteca. “Recebo crianças entre quatro e 12 anos e acho esse trabalho muito importante, pois elas são esti-muladas à leitura e quando começam a descobrir ‘o novo mundo’ fi co com uma enorme felicidade”, fi naliza.

HÉLIO EUCLIDES

Para Marilene, a contação de história é mais do que um trabalho, é uma forma de manter viva a história da Maré

Nome: Marilene NunesComunidade: Morro do TimbauProfi ssão: AposentadaIdade: 71 anos

Page 7: jornal o cidadao 50

7O Cidadão

Tie Dye, Batik e Serigrafi aA valorização da cultura afro na comunidade da Maré

AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056 www.acaocomunitaria.org.br RIO DE JANEIRO Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443

arte africana. Neste sentido, busca agregar valor simbólico ao valor de uso na produção que envolve ainda integrantes da ofi cina de Serigrafi a.

Este projeto é destinado a jovens e adultos com muito talento e cria-tividade, moradores de áreas ditas faveladas e /ou periféricas. Estes são alocados nas três diferentes ofi cinas da cadeia de produção: Tie Dye, Batik e Serigrafi a; Artes Visuais (produção de imagens) e Costura e Bordado. O produto desta cadeia consiste em artigos de vestuário e decoração, além da geração de um banco de imagens étnicas. Para além da ofi cina propriamente dita, seus participantes têm aulas de informática, empreendedorismo , plano de negócios e educação para cidadania.

Ação Comunitária do Brasil do

Texto: Cris Araujo

Conexão Brasil-Africa em par-ceria com o SEBRAE/RJ, a Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro, na sua sede na Vila do João, no Complexo da Maré, está realizando uma experiência-piloto de desenvolvimento de produtos de vestuário e decoração utilizando técnicas milenares de pintura em tecido, tie dye e batik, inspiradas na

Informe Publicitário

Fotos: Ronaldo Breve

Rio de Janeiro - ACB/RJ com 40 anos de experiência, a ONG contri-bui com a defi nição de políticas e práticas de geração de trabalho e renda para moradores de comuni-dades de baixa renda. Desde 2002 é a entidade-âncora no Estado do Consórcio Social da Juventu-de, uma vertente do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego.

ANÚNCIOS

Page 8: jornal o cidadao 50

8 O CidadãoANÚNCIOS

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9O Cidadão

NAS REDES DO CEASM

O cidadão: cinqüenta edições, oito anos de vidaEquipe lembra de algumas das histórias contadas ao longo da existência da publicação

A busca pela transformação social faz parte da vida de José Carlos Bezerra desde os tempos de adolescência,

quando militou na Pastoral da Juventude. Hoje, publicitário formado, é um dos dia-gramadores do jornal “O CIDADÃO”, que este ano chega à sua 50ª edição, e faz oito anos de vida.“Aqui junto o que gosto de fazer com um veículo que trabalha a auto-estima do morador mostrando que, ape-sar das difi culdades que enfrentamos aqui, existem muitas coisas positivas”, afi rma o diagramador. A equipe inclui ainda coorde-nação, repórteres, fotógrafo, administrador, editor, diagramadores e distribuidores.

Mensalmente são 20 mil exemplares distribuídos aos quase 140 mil morado-res da Maré. Para Gisele Martins, uma das repórteres, ali ela encontrou o lugar para praticar o que seus pais lhe ensi-naram desde a infância. “Uma vez fi zemos uma matéria sobre um movimento dos moradores da Mar-cílio Dias contra a re-moção de

suas casas. Graças à repercussão da repor-tagem, evitamos o ocorrido”, lembra emo-cionada.

A redação de O CIDADÃO encontra-se no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm) na sede do Timbau. O jorna-lista André Esteves foi o editor do jornal de 2000 a 2005, tempo de recursos bem mais limitados. Hoje, a situação é bem melhor.

“Depois que o Esteves saiu, a equipe assumiu o jornal, que cresceu muito. Tivemos que aprender na prática a

fazer todas as etapas de um periódico.

Temos consciên-cia que estamos aprendendo,

mas procura-mos ajuda cada

vez menos”, orgulha-se

Rosilene, coordena-dora do periódico.

Cristiane Barbalho, editora, exalta a qua-lidade do jornal. “Isto desmente a visão pre-conceituosa da sociedade de que a produção de comunidades não é bem feita”, afi rma. Já para Hélio Euclides, administrador, repórter e fotógrafo, a publicação só existe por causa dos moradores da comunidade. “Estou aqui desde 1999 e fi co muito feliz quando ligam agradecendo por uma matéria. Aqui a gente aprende a conhecer a Maré como um todo. Através de uma reportagem descobri que a rua Tatajuba, que nasce na Nova Holanda, corta três comunidades”, explica.

No período em que o jornalista André Esteves respondia pelo jornal foram plan-tadas as bases para a qualidade atual do produto, que inclusive foi tema de sua tese de mestrado. Hoje, Estevez viaja pelo país montando ofi cinas de comunicação comu-nitária inspiradas no sucesso do jornal O CIDADÃO. Afi nal, mesmo distante, ele não esquece o exemplo que a publicação dá não só para a Maré, mas para todo o Brasil.

CURSOS

O Cidadão

dá dicas

de cursos

FarmáciaO curso de Farmácia é prático

teórico, contando com laborató-rios bem equipados, projetos de pesquisa e docentes em dedicação exclusiva. A Faculdade de Farmácia está estruturada em quatro departa-mentos: o de Produtos Naturais e

Alimentos; o de Análises Clínicas e Toxicológicas; o de Fármacos e o de Medicamentos.

Duração: 10 semestres.

Curso: Pode ser encontrado na UFRJ, UERJ e UFF,

CRISTIANE BARBALHO

Diversas capas do jornal O CIDADÃO mostram a diversidade de temas abordados durante esses oito anos

Page 10: jornal o cidadao 50

10 O Cidadão

E POR FALAR EM ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS

PTCA/NIC

Apresentação de teatro nas comemorações do museu

HÉLIO EUCLIDES

Governador inaugura o primeiro UPA 24h da cidade

REPRODUÇÃO

Ação Comunitária do Brasil

Endereço: Rua 11, nº 243 - quadra 5Vila do João – Maré – CEP: 21040-361Telefone: 3868-7056 / 2253-6443Site: acaocomunitaria.org.brFundação: 1983Principais atividades:a - Curso de informáticab - Ofi cinas de teatro, capoeira, jiu-jitsu, karatê, hip-hop, grafi te, desenho e pin-tura, culinária, cerâmica e cestariac - Circo-escolad - Atendimento psicológico e fonoaudiológicoe - Reforço escolar

Abrangência do atendimento: Morado-res de toda a Maré e de bairros e/ou fa-velas adjacentes. Atende principalmente jovens de 14 a 24 anos.

Centro Comunitário Beato José de Anchieta

Endereço: Via A-1, 120 – Vila do Pinhei-ro – Maré – CEP: 21042-020Telefone: 3976-8084Natureza da instituição: Projeto coor-denado pela Pastoral da Saúde / Paróquia São José OperárioFundação: 1992

Principais atividades:a - Horta comunitáriab - Produção e venda de remédios à base de ervas medicinaisc - Ofi cinas de capacitação para a produ-ção de produtos fi toterápicosd - Confecção e distribuição de “multimistura”Abrangência do atendimento: Morado-res de toda a cidade do Rio de Janeiro.

Inauguração do Posto 24 horas na Maré

A Maré foi a primeira comunidade a receber a Unidade de Pronto-Atendimen-to (UPA). A inauguração aconteceu no dia 30 de maio, às 14h, na Vila do João. O evento contou com a presença do gover-nador Sergio Cabral, de seus secretários, de moradores da comunidade e da equipe médica que trabalhará no posto.

Denunciar para viver e transformar

No dia cinco de maio, por volta das 10h, foi realizado no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, Ceasm, a ofi cina “Co-municação e violência”, realizada pela Rede de Comunidades e Movimentos contra Vio-lência, que contou com a presença de aproxi-madamente 30 pessoas tanto da Maré, como de outras localidades. O objetivo era fazer com que os próprios moradores de comuni-dades relatassem o que vivem, denunciando não só os abusos policiais, mas outras formas de preconceito.

Mutirão na ciclovia da Vila do Pinheiro

No dia 14 de maio, na ciclovia do Pi-nheiro, o professor de educação física Luiz Mauro, de 40 anos, junto com seus alunos de ginástica fi zeram um multirão. Antes de iniciar a aula, eles recolheram o lixo acumulado no local, uma vez que os garis não atuam na ciclovia a quase um ano, a aluna Francisca Souza, de 57 anos, diz que a sujeira no local é muito grande. “Este é um lugar que a gente se reúne, tinha que ter uma limpeza geral”, opina. Francisca Xavier, de 58 anos, se preocupa com as crianças. “Os brinquedos estão todos que-brados, as crianças não têm onde brincar”, relata. O professor, que dá aulas há três anos e meio no local, reclama. “Aqui en-contramos de tudo. É imundo. Antes tinha um gari, mas há um ano ele saiu daqui, com ele isso aqui, era impecável”, relata.

Comemoração do primeiro aniversário do Museu da Maré

O Museu da Maré que retrata a história de cada morador trazendo suas experiências e costumes, está completando o seu primei-ro ano. Nesse tempo de existência, o museu conseguiu despertar muita emoção nos moradores, quando eles, por meio das obras expostas, recordam grandes momentos de suas vidas. Kátia Bastos, de 38 anos, diz que mora na comunidade há pouco tempo, mas já aprendeu bastante. “Para a gente isso tudo é muito importante. Trago sem-pre meus fi lhos, gosto muito da contação de história feita nas escolas”. Nilsilmar de Souza Braga, de 43 anos, moradora do Sal-sa e Merengue, diz que também sempre vai ao museu, “É muito bom, a gente conhece melhor a nossa comunidade, sempre trago meus fi lhos e recomendo para aqueles que ainda não vieram, que venham conhecer e aprender um pouco mais da sua própria his-tória”, conclui. O museu já atingiu a marca de nove mil visitantes, sendo a sua maioria crianças e jovens de até 30 anos.

Entidades não-governamentais no Catálogo de Instituições da Maré

Lona Cultural Herbert Vianna completa dois anos

Com a presença do Núcleo de Ar-tistas da Maré (NAM) e dos morado-res, a Lona Cultural comemorou seu segundo aniversário. O evento acon-teceu no dia 25 de maio, às 14h, e contou com diversas atrações e com as oficinas que funcionam na própria Lona. O cantor Herbert Vianna parti-cipou do festejo.

ACONTECEU NA MARÉ

Page 11: jornal o cidadao 50

11O Cidadão

Várias comunidades da Maré pos-suem Postos de Saúde, mas como tudo na vida tem a sua exceção,

encontramos o Parque União que ainda não tem a sua própria unidade. O diretor de saúde da Associação de Moradores da comunidade, Nerel Lopes, de 54 anos, revela que a situação do Parque União é complicada. A comunidade conseguiu verba junto ao Governo Federal para a construção de um posto, mas até o momento a Prefeitura não liberou o local. A desculpa é a de estar mapeando a região

para defi nir o melhor local para iniciar as obras. “O triste disso é que as pessoas precisam do posto e ele não existe”, afi rma Nerel.

A moradora do Parque União Maria do Socorro, de 56 anos, conta o d ra ma q u e pa ssou .

“Por duas vezes tive sangramento pela manhã no nariz e só consegui ser atendida em um hospital público às 21h”. Sem

precisar andar

m u i t o , encontramos

uma mãe que pas-sou por uma situação com-

plicada. “Meu fi lho quase mor-reu por falta de ar. Se tivéssemos

esse posto aqui seria mais fácil pres-tar socorro. Eu rezo todos os dias para

que ele seja construído”, completa. A estudante Josikelli Avelino de Sou-

za, de 16 anos, prefere não ir ao médico,

em muitas situações, pois sabe que se não sair de casa antes 4h, não conseguirá atendimento nos postos da Nova Holanda ou Ramos. “Seria muito bom

ter um dermatologista e outras especialidades perto de casa pa-

ra não ter que passar por essas situações”, con-clui.

Para ameni-zar as difi culda-des enfrentadas pelos moradores, o presidente da associação de moradores, Ed

naldo Batista, de 52 anos, com a aju-da do secretário de Esportes, Márcio Gre-gório Augusto, de 34 anos, e o de saúde colocaram a disposição da comunidade uma ambulância que fi ca em frente à associação de moradores. Solução que não resolve o problema do Parque União, pois quando há emergência é necessário que haja cuidados imediatos.

O CIDADÃO entrou em contato com a prefeitura por e-mail e até o fechamento desta edição não obteve resposta.

HÉLIO EUCLIDES

Ambulância que serve à comunidade, enquanto os moradores aguardam funcionamento de posto médico

“O triste disso é que as pessoas precisam do posto e ele não existe”Nerel LopelDiretor de Saúde do Parque União

GERAL

Sem atendimento médicoAusência de posto de saúde na comunidade do Parque União prejudica a população

Page 12: jornal o cidadao 50

O Cidadão12 O Cidadão

“Até o ano passado, an-tes de iniciar a consul-ta com a médica (nutri-cionista), comia até dois ‘x-tudo’ de uma só vez e pesava 130 quilos. Hoje, como mais frutas, sala-das e pouco sal”, con-ta Fabio Caetano, de 16 anos, morador da Baixa do Sapateiro.

Devido ao excesso de peso, Fabio sofre de hipertensão, doença cau-sada pelo sobrepeso. Hoje ele

pesa 110 quilos, vinte a menos do que no ano passado, graças as dicas dadas pela nutricionista. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), nos últimos trinta anos o número de pessoas que estão acima do peso ou que são obesas aumentou no Brasil. Um dos responsáveis por esse quadro é a alimentação com alto teor de açúcar, como os refrigerantes, e o pouco consumo de frutas e hortaliças. “Existem vários tipos de obesidade, elas podem acontecer por diversos fatores, como uma a l imentação inadequada, problemas

genéticos, psicológicos, estresse, entre outros”, afi rma Ana Lucia, de 45 anos, enfermeira do posto de saúde da Vila do João.

A maior parte das calorias consu-midas diariamente pelos brasileiros

é prove-

niente dos carboidratos, que chegam a 59,6%. Já a ingestão de proteínas é de 12,8% e dos lipídios de 27,6%. Esse consumo está dentro dos padrões nu-tricionais recomendados pela Organi-zação Mundial de Saúde (OMS). Mes-mo estando dentro dos parâmetros da OMS, o carboidrato é o grande vilão, devido a grande quantidade de açú-

car (sacarose) contida nele. O brasi-leiro ingere 13,7% de açúcar, com

o consumo de carboidratos, en-quanto que o recomendado é de no máximo 10%. O consumo de proteína animal corresponde a 50% da alimentação da popu-lação brasileira.

O consumo de produtos in-dustrializados é outro fator que

contribuiu para o aumento de peso dos brasileiros. Com a ingestão des-ses produtos, a população elevou a

quantidade de gordura e car-boidratos que o corpo pre-cisa. Esses alimentos ainda possuem uma quantidade re-

duzida de fi bras que pode difi -cultar a digestão. “Em um estudo

realizado foi constatado que o con-sumo de fi bras ajuda a reduzir

CAPA

Obesidade, a doença A quantidade de pessoas com sobrepeso aumentou nos últimos anos no Brasil e já é um problem

VINICIUS ZEPEDA

A alimetação compulsiva pode levar a obesidade: doença que causa problemas e que cresceu nos últimos anos

Page 13: jornal o cidadao 50

O Cidadão 13

a quantidade de gordura ingerida duran-te a alimentação”, diz Gisele Valério Pes-soa, de 27 anos, nutricionista.

AutomedicaçãoPara tentar resolver o problema da obesida-

de de forma rápida muitas pessoas recorrem a automedicação.“Soube que havia uma forma fá-cil e ágil de emagrecer, então tomei a decisão de tomar a formula para perder peso. Sei que não po-demos tomar remédio por conta própria, por isso procurei um médico e comprei. Tomava três ve-zes ao dia, mas depois que parei de usar a medica-ção engordei o dobro do peso que tinha antes de tomar a medicação”, relata M., de 21 anos.

O Brasil é um dos países que mais produz e consome remédios para emagrecer, segundo o Relatório Anual da Junta Internacional de Fis-calização de Intorpecentes, da ONU. De acordo com o documento, do total de fenproporex e an-fepramona consumidas no mundo inteiro, 98,6%

e 89,5%, respectivamente foram produzidas no Brasil. E o país consumiu a maior parte dessa me-dicação. “As pessoas devem se conscientizar que não é necessário tomar remédio para emagrecer. Elas devem primeiro tentar a reeducação alimen-tar, tendo a orientação de um nutricionista. Assim, o indivíduo perde peso e ganha saúde”, comenta a nutricionista Gisele Valério.

Segundo ela, o consumo excessivo dos re-médios pode comprometer seriamente a saú-de do usuário, ocasionando problemas cardía-cos, como a aceleração dos batimentos do cora-ção, diabetes tipo 2 e hipertensão. O uso cons-tante também pode provocar alteração do siste-ma nervoso.

CirurgiaA obesidade mórbida é uma das mais graves

e pode levar a morte. Por isso, para muitos a úni-ca solução é a cirurgia bariátrica, mais conheci-

da como cirurgia para redução de estômago. Ela costuma ser utilizada quando a pessoa tem mas-sa corporal igual ou superior a 40 e os tratamen-tos convencionais, como reeducação alimentar e a utilização de remédios não funcionam. E mes-mo apresentado benefícios a cirurgia possui al-guns riscos. “A decisão de se submeter a uma operação para a cura da obesidade mórbida é de-finitiva porque as operações não são realizadas para serem desfeitas depois, embora, tecnica-mente, isto seja até possível”, analisa Gisele.

Segundo site da Associação Brasilei-ra para Estudo da Obesidade e da Sindro-me Metabólica (Abeso), a distribuição da obesidade e do sobrepeso entre homens e mulheres sofreu alteração nos últimos trinta anos. De acordo com a pesquisa, o número de pessoas acima do peso cres-ceu no decorrer dos anos, aproximando-se o percentual de pessoas de ambos os sexos com elevação da massa corporal na década de 90.

a que mata!blema de saúde pública

19891975 1997

HOMENS

MULHERES

Fonte: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

Percentual de Sobrepeso e Obesidade em adultos (1975 a 1997)

ARQUIVO PESSOAL

A nutricionista Gisele alerta para o excesso de peso

“As pessoas devem se conscientizar que não é preciso tomar remédio para emagrecerGisele ValérioNutricionista

VINÍCIUS ZEPEDA

Lourenço Cezar pesa 106 quilos e tem obesidade tipo 1

Page 14: jornal o cidadao 50

O Cidadão14 O Cidadão

“A obesidade infantil desen-volve-se no primeiro ano e após o oitavo ano de

vida”, diz a nutricionista Gisele Valério. De acordo com pesquisa realizada pela Abeso, o número de crianças até cinco anos obesas no Sudeste é de 5,2%, equi-parando-se ao de crianças desnutridas que é de 5,6%.

A televisão, o vídeo game, o com-putador e a falta de atividades físicas são uns dos grandes responsáveis pelo aumento do peso em crianças e ado-lescentes. O consumo de produtos in-

dustrializados, como sorvetes, biscoitos recheados e refrigerantes ajudam a com-por o quadro do sobrepeso infantil. “A

apelação da mídia contribuiu com a obesidade infantil, como os fast-food”, comenta a nutricionista. E o excesso de peso na infância é uma das responsáveis pela obesidade na fase adulta.

O desmame precoce e a introdução de uma alimentação inadequada são alguns dos responsáveis pelo início da obesidade nas crianças. O hábito fa-

miliar e as infl uências culturais podem colaborar para o desenvolvimento da doença. A obesidade acontece quando há uma ingestão elevada de mais energia do que cada pessoa precisa para se manter.

De acordo com o Manual de Psiquia-tria Infantil, de 1983, qualquer criança pode ser considerada obesa quando o seu peso médio passa de 20% do cor-

CAPA

Obesidade infantilNos últimos anos aumentou o número de crianças acima do peso no Brasil

17,9

5,9 5,95,6

5,34,2

2,74,6

8,5

5,2

12,9

10,4

Menos de 5 anos

Adolescentes

Adultos

Desnutrição

Obesidade

Nordeste Sudeste

Comparação entre desnutrição e obesidade nas regiões nordeste e sudeste (1997)

Fonte: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

ARQUIVO PESSOAL

Obesidade infantil: as pessoas acham bonita crianças gordinhas, mas o excesso de peso compromete a saúde

“A apelação da mídia contribuiu com a obesidade infantil”Gisele ValérioNutricionista

Page 15: jornal o cidadao 50

O Cidadão 15

Estudo mostra aumento de obesos

respondente a sua idade. Os pais devem fi car atentos a alimentação de seus fi -lhos para evitar o desenvolvimento da doença. Crianças até dez anos podem ser consideradas obesas quando o seu índice de massa corporal for de 20% ou mais do peso dela para a idade.

Controle da famíliaQuando uma criança apresenta um

quadro de obesidade, toda a família deve ter uma alimentação especial, e não somente a criança. E o controle de porções é fundamental para a perda de peso e sua manutenção. O consumo de cereais com pouco açúcar, leite desnatado, iogurte desnatado com gra-nola, frutas e pães integrais são funda-mentais para uma dieta saudável.

A escola tem grande importância na alimen-tação das crianças. De acordo c o m estudo da U n i v e r -sidade de M i n n e -sota, nos

Estados Unidos, os estudante que consomem alimentos com alto teor de gordura e poucos nutrien-

tes nesse ambiente tendem a não ter uma alimentação saudável. Os pais devem pre-parar uma merenda nutritiva para as crianças levarem pa-

ra a escola, ensinando seus filhos a comer.

A p r á t i c a de exercí-cios físi-cos, como c o r r e r ,

pular corda, andar de bicicleta e apoio individual e familiar são fundamen-tais para evitar as distorções alimen-tares. No caso da obesidade infantil a presença de nutricionista, educador físico e psicólogo são essências para o tratamento da criança. E a presença dos pais é importante para o bom an-damento do tratamento, pois o excesso de gordura no corpo pode provocar di-versos problemas na vida adulta. “Os pais tem que prestar mais atenção na alimentação de seus filhos. Uma ali-mentação saudável, com alta ingestão de frutas e legumes e um baixo consu-mo de gordura e açúcar refinado seria o ideal”, declara Gisele Valério.

Categoria IMCAbaixo do peso

Peso normal*

Sobrepeso

Obesidade Grau I

Obesidade Grau II

Obesidade Grau III

* Peso normal equivale a peso saudável.

Abaixo de 18,5

18,5 - 24,9

25,0 - 29,9

30,0 - 34,9

35,0 - 39,9

40,0 e acima

Fonte:Associação Brasileira para o Estudo daObesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

CRISTIANE BARBALHO

O acumulo de gordura no abdomen é prejudicial a saúde, podendo levar ao infarte e prejudicar demais órgãos

JULIA FREEMAN-WOOLPERT

Balança: a vilã que revela drama de todo gordinho

De acordo com a Pesquisa de Or-çamentos Familiares (POF), de 2002 a 2003, realizada pelo IBGE, a população adulta brasileira não está mais exposta a desnutrição. O aumento da renda é um dos responsáveis pela redução. Con-tudo, a pesquisa mostra que em 2003 o excesso de peso afetava 41,1% dos homens e 40% das mulheres do país. O número de obesos representa 20% dos homens e um terço das mulheres.

A pesquisa aponta que a obesidade no homem tende a acompanhar a renda, e os que possuem ganhos superiores a cinco sa-lários mínimos apresenta excesso de peso. E as mulheres que têm rendimento de até dois salários-mínimos são as que mais sofrem com

o excesso de peso (42%) e obesidade (14%). Até 1974 o número da obesidade mas-

culina era praticamente inexistente. Em 2003, o percentual de homens com excesso de peso praticamente duplicou, pulando de 18,6% para 41%. E o de obesos triplicou, passando de 2,8% para 8,8%. A quantidade de mulheres com excesso de peso e com obesidade cresceu 50% de 1974 à 1989, permanecendo estável até 2003.

Para saber se você está acima do peso basta calcular o seu índice de massa cor-pórea (IMC). O calculo é feito dividindo o peso (em Kg) pela a altura ao quadrado (em metros). O resultado pode ser visto na tabela a seguir. Ele também pode ser feito pelo site:www.abeso.org.br

Page 16: jornal o cidadao 50

16 O Cidadão

“Devido ao comércio, a infl uên-cia da televisão, da moda e da correria do trabalho e dos

estudos, a juventude hoje não tem uma ali-mentação saudável, acaba comendo qual-quer coisa, misto quente, refrigerantes, salgados, tudo o que não é recomendado para a saúde”, afi rma Odilon Raiz Brazin Ribeiro, de 47 anos, morador da comuni-dade Mandela.

Segundo ele, viver num mundo glo-balizado, consumista, onde ninguém tem mais tempo para nada, acaba gerando con-seqüências como o aumento das doenças provocadas não só pela má alimentação, mas também pelo estresse.

Foi essa descoberta que levou Odi-lon, um grande conhecedor das plantas que trabalha atualmente na Fiocruz, a que-rer passar o que sabe e o que aprende a cada dia para as pessoas. “Trabalho com isso há aproxi-madamente 30 anos. D e s d e

criança que eu aprendi tudo isso. Aqui na Fiocruz já tenho seis anos. E tudo o que

sei, aprendi com a minha avó”, diz.Ele também já trabalhou na

Maré vendendo ervas e temperos. Hoje, além das aulas, ele dá pa-lestras sobre como

fazer remédios, chás e tempe-ros. “Um co-

n h e c i d o meu fa-lou que e s t a v a

com co-l e s t e r o l alto, então

ele me pediu uma garra-fada. Fiz e ele gostou muito”, re-

lata. E diz ainda que “há outras pessoas do prédio que vêm sempre aqui reclamando que estão resfriadas, tomam um chazinho e no outro dia fi cam bem melhores”, conta.

São muitos os tipos de remédios feitos e ensinados. Eles servem para sinusite, dor de cabeça, alergias, obesidade, colesterol, dores no corpo, diabetes, depressão, hiper-tensão, entre outros. E além de não fazer mal à saúde, pois são feitos sem químicas, os remédios são mais baratos. As plantas, por exemplo, são colhidas diretamente das matas, compradas nas casas de ervas ou em feiras e mercadões.

As aulas são realizadas todas as ter-ças-feiras, de 9h às 11h, na Casa Sol, que fi ca na Av. Brasil, sala 07-parte Mangui-nhos, Campos de Expansão Fiocruz. Te-lefone para contato: 2230-4864, falar com Declair.

GERAL

Alimentos e remédios naturaisOdilon, ensina a fazer remédios e dá dicas para uma boa alimentação

CRISTIANE BARBALHO

Odilon mostra algumas de suas ervas medicinais e remédios naturais no espaço cedido pela Fiocruz

SABOR DA MARÉBolo de milho da Dona Norma

VINICIUS ZEPEDA

O bolo de milho é uma comida típica da festa junina

Ingredientes:- 3 ovos- 3 copos de açúcar - 3 copos de leite- 3 colheres de sopa de farinha de trigo- 1 copo e meio de Milharina- 100 gramas de margarina- 2 colheres de sopa de fermento- 50 gramas de queijo parmesão ralado- 50 gramas de coco ralado

Modo de fazer:Bata todos os ingredientes no liquidi-

fi cador. Despeje a massa em uma forma bem untada e asse em forno médio. Para verifi car o ponto certo para tira-lá do forno, basta espetá-la com um palito, e se sair limpinho pode desligar o forno. É importante verifi car se está douradinho por cima. Deixe o bolo esfriar e bom apetite!

Page 17: jornal o cidadao 50

17O CidadãoANÚNCIOS

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Page 18: jornal o cidadao 50

18 O CidadãoANÚNCIOS

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Page 19: jornal o cidadao 50

19O Cidadão

SAÚDE

Você toma muito remédio?Saiba os perigos da automedicação, uma prática muito comum no Brasil

O consumo autônomo de remédios é uma característica clássica do povo brasileiro. A difi culdade

encontrada por boa parte da população para conseguir um atendimento médico digno é uma das causas. Joel Barcelos, da Drogaria Boa Saúde, no Parque União, reconhece a responsabilidade do Estado nessa questão. “O brasileiro tem uma cultura muito forte de automedicação, mas isso acontece porque as pessoas, embora tenham direito à saúde, não conseguem atendimento quando precisam. A saúde no nosso país é muito precária”, diz.

Segundo os relatos, uma boa parte dos moradores que procuram as farmácias na Maré não possuem receita para comprar seus medicamentos. Durante a reportagem, a equi-pe do jornal não conseguiu encontrar pessoas comprando remédios com indicação médica. Luciana Rodrigues Bonfi m, de 35 anos, trabalha no Parque União e conta que não costuma ir sempre ao médico. “Sou difícil de ir ao médico, só em último caso mesmo. Sou alérgica e tenho os remédios certos em casa. Então, quando estou em crise, eu já tomo. Não espero ir ao médico não”, conclui.

Além disso, existe um grande perigo quanto a dose correta do medicamento. Uma dose acima da indicada pode transformar um inofensivo remédio em um tóxico perigoso. A consulta ao médico é fundamental para indicar o remédio certo e a dosagem adequada para cada pessoa e em cada situação.

“Intoxicação medicamentosa é pior que ali-mentar. Dependendo da dose, o remédio pode se tornar um veneno”, diz o balconista Fábio Ro-berto Taveira, da Nova Farma, na Rubens Vaz. E completa. “O maior exemplo é o do cantor que

morreu recentemente porque exagerou na dose do antidepressivo e teve uma parada cardíaca”, comenta, referindo-se ao cantor Fabinho Mello, ex- integrante do grupo “Os Travessos”, que morreu no dia 11 de abril, com 26 anos.

O CIDADÃO conversou com balconistas de dez farmácias na Maré. Alguns estabeleci-mentos pesquisados informaram orientar o cliente a procurar um médico antes de comprar qualquer remédio, principal-mente antibióticos, que são fortes e podem gerar outras reações, princi-palmente into-

xicações quando utilizados em crianças. Nenhum dos farmacêuticos responsáveis pelas farmácias pesquisadas estavam pre-sentes no momento da reportagem.

HÉLIO EUCLIDES

Armário do banheiro é o local preferido para esconder os remédios de quem os toma por conta própria

É importante falar sobre os medica-mentos genéricos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as pessoas

que mais consomem genéricos são perten-centes as classes média e alta. Ou seja, quem

menos precisa é quem mais lucra com os preços mais baixos. Esse tipo de medicamento tem o

mesmo efeito que aqueles de marca, com a vantagem de ser mais barato. Isso, porque não existe uma marca

associada ao remédio, que possui o mesmo princípio ativo.

“Muitas pessoas vêm comprar remédios, mas não aceitam um genérico quando oferece-mos, sempre dizem que o genérico não serve. Outros chegam a dizer que o próprio médico recomendou comprar apenas os remédios de marca”, diz a balconista Tânia Barcelos. Sempre que for consultado por um médico, peça-lhe que indique o medicamento genérico. Estes possuem a letra “G” na embalagem.

Os genéricos

Page 20: jornal o cidadao 50

20 O Cidadão

Para obter sucesso no basquete, Maicon Bento teve que provar que suas habilidades iam muito

além dos seus dois metros e oito centíme-tros foram sufi cientes para o sucesso no basquete. Hoje, com 21 anos, ele lembra da infância de dificulda-des, em que seus p a i s

t r a -b a l h a r a m

muito para criar uma família de seis irmãos.

“Da favela sai coisa boa, um exemplo é meu fi lho que nasceu aqui e sempre andou

direito”, relata sua mãe, He-lenice Lourdes, de 46 anos. Helenice que lembra da vez

que Maicon foi treinar e todos os jogadores foram

a uma lanchonete, e ele não pode comer, pois só tinha cinco reais no

bolso para a passagem.O contato com o bas-

quete começou na adoles-cência, com 12 anos. Pela al-tura, os coleginhas “colocaram

pilha” e Maicon se matriculou na escolinha do Olaria. Desmo-

tivado por ter poucos alu-

nos, partiu para natação, mas não

era o seu forte, ele desistiu. Mas amigos e sua mãe continuaram a incentivá-lo na prática do desporto. “As crianças não devem fi car de bobeira. O esporte nos transforma em gran-des seres humanos”, diz Maicon que um dia, passeando na frente do Clube do Vasco da Gama, se inscreveu na escolinha de basque-te. Lá era de graça e assim ele foi subindo de degrau em degrau, até o time adulto.

Contudo, antes da equipe adulta do Vasco acabar, Maicon jogou pela Seleção Brasileira Sub-21. Logo depois, mostrou sua técnica no time Tijuca. Após tempo-rada, teve chance no clube em que Oscar era diretor, o Telemar, sendo campeão ca-rioca em 2004 e brasileiro no ano seguin-te. E daí seu sucesso não teve mais fron-teira. Partiu para Belém de Pará, jogando no Paissandu, em um time não muito for-te, mas esse foi o fator fundamental para seu destaque. A saudade era muita, então

Maicon retornou à cidade maravilhosa, onde seu talento foi reverenciado pelo clube rubro-negro. No Flamengo também foi “pé-quente”, conquistando o título ca-rioca. Agora a busca é pela premiação no campeonato nacional.

Para manter um bom preparo físico, o nosso atleta não se priva do treinamen-to na Vila Olímpica da Maré. “Treinava lá até debaixo de chuva, isso me ajudou. O basquete nas comunidades está cres-cendo, só falta continuidade no inves-timento”, revela Maicon. O esportista fi ca sem jeito quando comentam que ele é um orgulho para a Maré. “Quando faço ponto penso nessas pessoas que me dão força e na confi ança da minha família. Quando tiver jogando fora do Brasil, nunca vou esquecer deles”, co-menta o jogador que no momento faz faculdade de Educação Física.

ESPORTE

Tamanho é documento no basqueteGaroto da Maré se destaca em esporte de gente grande

ARQUIVO PESSOAL

Maicon, com seus dois metros e oito centímetros, exibe a medalha de campeão pelo time rubro-negro

Pan Social na Vila Olímpica da Maré

Maré estará aberta à população durante o período do Pan. As pessoas interessadas em participar das atividades devem procurar Antonio Bezerra ou Carlos Godim, na Rua Tancredo Neves, s/n°- Maré.

Com a proximidade dos jogos Pan-Americanos foi criado o Pan Social que será realizado nas Vilas Olímpicas. O pro-jeto acontecerá em julho e contará com diversas atividades. A Vila Olímpica da

Page 21: jornal o cidadao 50

21O Cidadão

A Via C4 é uma das ruas mais impor-tantes da Vila do Pinheiro. Inicia-se na ciclovia, em frente ao Morro

do Timbau, e termina na Linha Amarela, próximo à colônia de pescadores do Pinhei-ro. Sempre foi sinônimo de grande movi-mento, mas ultimamente está um pouco esquecida pelos pedestres. “Infelizmente a rua fi cou marcada pela guerra, muita gente fi cou com medo de passar por aqui”,conta o comerciante Marcelo Ramos, de 39 anos, morador da comunidade há 20 anos.

Gabriela Sobrinho, de 39 anos, morado-ra da comunidade há 24, relembra um fato marcante. “Na época da guerra, algumas pessoas vieram ao aviário comprar frango e não puderam voltar para as suas casas. Pelo menos dez pessoas dormiram aqui”, diz.

Os moradores dizem que a rua é boa para moradia e que a paz se restabeleceu. O grande problema agora é a chuva. “Quando chove enche tudo. Os meninos chegam

a surfar aqui”, diz Ramos. As tubulações estão entupidas, por isso a água não tem para onde escoar. Os moradores contam que a associação de moradores não resolve o problema e que a Cedae toma medidas paliativas.

Uma outra questão levantada pela moradora Josivânia Cavalcante, de 34 anos, é a falta de área de lazer. Ela também reclama do transporte. “Antes de ir para qualquer lugar temos que pegar uma kombi ou moto-táxi primeiro. Com isso, acabamos gastando mais do que o necessário”, finaliza.

“Para entrar no Céu tem que ter o coração de criança”, com essas palavras na consciên-

cia, o cantor e compositor de música gos-pel Eduardo Soares, de 28 anos, ex-mora-dor da Nova Holanda, compôs a música “Morar no Céu”. A canção, interpretada juntamente com seu fi lho João Marcos, de 8 anos, faz parte do primeiro CD solo “Nos braços do Senhor” lançado no ano passado. “Essa música chega nas crianças como uma fl echa, mas a idéia não é levá-la ao público infantil, pois a proposta do meu trabalho é atingir os jovens em geral, porque só cantar para a juventude católica é pescar no próprio aquário”, afi rma.

Eduardo começou sua carreira na Paróquia Jesus de Nazaré, que fi ca na Baixa do Sapateiro, e compõe canções embaladas por arranjos modernos e letras alinhadas com a linguagem dos jovens. Possui 50 músicas gravadas que podem ser ouvidas do Oiapoque

ao Chuí. “O jovem dentro da igreja não precisa ser careta. Ele tem que ter a liberdade de ser jovem”, diz. Depois de 15 anos de estrada, e apenas dois em carreira solo, seu reconhecimento já é fl agrante. “Recentemente, fi z um show no Rio Sampa e foi muito gratifi cante ver o povo absorvendo o trabalho e can-tando as minhas músicas. Isso não tem preço”, afi rma.

O cantor, que fez parte da banda “Ke-nosis” durante 13 anos, já sente o peso de estar sozinho na carreira artística. “Agora vejo que a responsabilidade é toda minha, mas a decisão de seguir uma carreira solo partiu da necessidade de me expressar por inteiro”, diz. No Rio, suas músicas po-dem ser ouvidas na Rádio Catedral 106.7. Se deseja conhecer melhor o trabalho de Eduardo, envie mensagens para o correio eletrônico [email protected], ou telefone para os números (21) 3666-9601 ou 8798-0626.

MUSICAL

Concerto para a juventudeMúsico católico compõe canções para atingir o coração do jovem

RUA

Via C4: a “gigante” do PinheiroMoradores sofrem com o baixo movimento do comércio e com as enchentes

Crianças brincam e pessoas conversam em frente de casa, mostrando a tranqüilidade da Via C4

HÉLIO EUCLIDES

Eduardo, cantor e compositor de canções católicas

DIVULGAÇÃO

Page 22: jornal o cidadao 50

22 O Cidadão

Amor de poetaDepois de mil momentos tão banais eu te revi...

...e parei no tempo de outra galáxia fecundando a sorte de não te rever somente depois da morte.

E fl utuei perdido numa multidão...vagando com o coração na voztentando entender o dia e a noite,o sol, a lua... as estrelas.

Meus versos são mágicos,me fazem pensar...te amei no tempo... no espaço...a vida de poeta é um retroceder cons-tante!

A luz do sol se oculta....meus pensamentos tentam te traduzir.

Posso ser um sonho... todo poeta é um sonhador,mas sou autor de um amor que se transforma em estrelas,porque amor de poeta é como a

Chuva.

Admilson Gomes

Quando o amor está erradoQuando o amor está erradoNada vai dar certoO sol não aquece maisO dia fi ca nubladoA lua anda escondidaO tempo está parado

Quando o amor está erradoNada vai dar certoA vida tem mais sentido

As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

CARTAS

A morte fi ca do ladoO abraço é espinhosoO beijo está amargo

Quando o amor está erradoNada vai dar certoO café não fi ca mais doceA cachaça não embriagaA água não acaba com a sedeE a droga ainda malhada

Quando o amor está erradoNada vai dar certoAs crianças não correm maisA bola está furadaA música não tem arranjoA voz fi ca calada

Quando o amor está erradoNada vai dar certo...

Roberto N. Alves

PÁGINA DE RASCUNHO

O jornal da Maré quer saber como ele é utilizado por você. Se você o aprovei-

ta, nos diga como.

Telefone: 3868-4007E-mail:[email protected]

O Jornal Cidadão é um meio de comunicação muito importante para comunidade da Maré. A finalidade dele é mostrar os problemas e as difi-culdades que a comunidade enfrenta. No jornal de janeiro e fevereiro, ele mostra um dos grandes problemas que a comunidade enfrenta: as cheias. Quando chove, os rios transbordam e as ruas ficam todas alagadas. Mostra também os problemas como falta de saneamento básico e água encanada.

Existe também trabalhos muito fortes dos voluntários, há vários exemplos de solidariedade dentro da comunidade. Ex.: Lixo vira ren-da e instituto que cuida de jovens carentes.

A importância desse jornal é mostrar para toda a sociedade que é

importante colaborar para que essas comunidades saiam da marginalida-de, e que cada um tem seu potencial, basta ter oportunidades, por isso a importância desse jornal.

Parabenizo o projeto do professor que mostrou as jovens dentro desse espaço. Devemos nos informar e arre-gaçar as mangas e mão a obra.

Despeço-me desejando saúde e paz a todos pelo dia dos trabalha-dores.

Maria José Carlota da SilvaIpanema

Cara amiga Maria José, ficamos emocio-

nados com suas palavras e esperamos

que você consiga bom resultado no seu

trabalho. Obrigado pelo seu carinho.

O Cidadão - O Jornal do Bairro Maré

Page 23: jornal o cidadao 50

23O Cidadão

Jogo dos 8 erros

PiadasPiadas

O açougueiro espertoA mulher chega ao açougue e pede um frango.- Uma beleza! - diz o açougueiro, depois de pesar o único frango que tem na casa. - Este é muito pequeno - diz ela.O açougueiro, esperto, põe o frango na geladeira, fi nge pegar outro e o pesa novamente, desta vez forçando a balança com o polegar. - Este é bem mais gordo - diz ele. - Muito bem. Vou levar os dois.

A família grandeAntes do casamento, o pai da noiva chega ao futuro genro e pergunta: - Você pode sustentar uma família? - É claro - responde o rapaz. - Que bom - diz o velho. - Comigo são nove pessoas.

A casa iluminadaUm bêbado, de madrugada, estava batendo num poste achando que era a porta da casa onde morava. Foi aí que apareceu outro bêbado conhecido dele e falou: - Oh, Zé! Vamos passar a noite ali debaixo daquela marquise, porque o pessoal aí da sua casa já deve ta todo mundo dormindo.O bêbado que estava batendo na “porta” engrossou a voz, dizendo:- Não tem ninguém dormindo, não, seu bobo... Você não ta vendo que a luz ta acesa!...

Pneu que correO marido para a esposa:- Acho que o pneu está com falta de ar.- É claro! Do jeito que você está correndo!

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Com olhar profundo de quem fita o ho-rizonte, consciente dos perigos do mar, assim está a imagem de S. Pedro na

entrada do Museu da Maré. Colocada na proa do barco, que abre o “tempo da água”, a figura feita de gesso e com 61 cm de altura, carrega nas mãos o Evangelho e uma chave.

Apesar de sua fragilidade, ela nos inspira confiança, que é necessária a todas as pessoas que precisam enfrentar os desafios da vida. E desafio é o que não falta aos pescadores da Maré. Os moradores mais antigos sabem que a atividade pesqueira ficou mais intensa com as obras para a construção da Cidade Universitária, localizada na ilha do Fundão. Na verdade, o Fundão era uma das 9 ilhas que formavam um belo arquipélago próximo à Maré. O mar em torno dessas ilhas foi aterrado na década de 1950, durante o governo de Getúlio Vargas. Por isso, diversas famílias tiveram que abandonar as ilhas e vieram morar aqui, pois a região era cheia de mangues e praias de águas muito limpas.

O ofício de pescador era passado de pai para filho e, durante muitos anos, sustentou várias fa-mílias. Hoje, com a poluição da Baía de Guana-bara, muitas espécies de peixe já desapareceram e o lixo jogado nas águas, principalmente as garrafas pet, estragam as redes. Mesmo assim, alguns pescadores ainda resistem. Muitos estão organizados na colônia Z-11, localizada na Praia de Ramos. Viver da pesca é enfrentar muitos desafios. É preciso ter fé! S. Pedro, o pescador

que virou santo, é o protetor desses profissionais que fizeram da pesca o seu ganha-pão.

No dia 29 de junho o santo é festejado em todo o Brasil. Antigamente, o povo da Maré participava de lindas procissões de barcos, que iam da Penha até a Glória. Algumas famílias de pescadores ficavam responsáveis pelos pre-

parativos da festa nas ruas. A famíla Jaqueta era uma delas que empolgava os festejos. Dona Eugênia, casada com seu Gerson Jaqueta, falou sobre a festa:

“...depois que nós casamos, começamos a fazer a festa de São Pedro aqui na rua (rua Ca-pivari, no Morro do Timbau). Vinha conjunto, fechava a rua aqui em baixo e lá em cima. Eram dois dias. Eu ia lá na loja do Juquinha, antiga-mente era o Juquinha. Eu ia lá em Bonsucesso e trazia prêmios que eles me davam para as crian-

ças. Trazia uma porção de coisas. Aí fazia o dia todo no domingo, brincadeiras. Quebra pote, a dança da cebola... corrida do ovo na colher. Ti-nha prêmios para as crianças. De noite era baile. As brincadeiras da criança eram no domingo... Antigamente quem tomava conta disso aqui era o quartel. Vinha escolta pra tomar conta da festa... não saía uma briga...”

O casal Jaqueta já é falecido há alguns anos, mas sua história de luta pela organização da co-munidade ficou como herança para as pessoas que também acreditam que a comunidade orga-nizada pode mudar a realidade em que vive.

A imagem de S. Pedro também faz parte dessa herança. Ela já estava na família há mais de 50 anos e acompanhou muitas daquelas procissões festivas. Eliana Jaqueta, filha de dona Eugênia e seu Gerson, doou a imagem para o Museu da Maré em 2006. Graças à generosa doação da Eliana, hoje a imagem faz parte do patrimônio de todos nós e está na entrada do museu, recebendo os visitantes e nos conduzin-do pelo imenso mar da memória.

Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e suges-tões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: [email protected] matéria referente a esta página é de exclusi-

va responsabilidade do projeto Rede Memória.Imagem de S. Pedro na entrada do Museu da Maré

O pescador que virou santo

Gerson e sua esposa Eugênia Jaqueta com a imagem de São Pedro na rua Capivari, no Morro do Timbau

FOTOS DE REDE MEMÓRIA DA MARÉ

“...depois que nós casamos, começamos a fazer a festa de São Pedro aqui na rua”Eugênia JaquetaMoradora do Morro do Timbau