jornal lince agosto 2014
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JORNAL LINCE agosto 2014 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton PaivaTRANSCRIPT
jornal
LINCEJornal laboratório do Curso de Jornalismo do
Centro universitário newton paiva
Nº 60 | Agosto de 2014
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Expedientejornal
LINCEJornal laboratório
do Curso de Jornalismo
do Centro universitário
newton
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Fernando oliveira
4º período
Normalmente, a discussão sobre política no
Brasil desperta o interesse de poucos. Mas não em
época de eleições, quando muitos parecem ter
vocação para dar suas fortes opiniões e afirmar o
quê é certo ou errado, com veemência. Sendo
que, durante os quatro anos que vão se passar,
poucos vão se lembrar do que foi discutido agora.
Aqui, culturalmente, as coisas são assim. O povo
brasileiro parece ser impulsionado por uma onda
momentânea, e tenta discutir, entrar sempre no
tema que está em pauta, se passando de enten-
dido. Porém, o nível de conhecimento político é
baixo. As provas disso estão nos próprios resulta-
dos das eleições passadas, tidas como um retro-
cesso nítido envolvendo o âmbito econômico, e
recheadas de escândalos de corrupção. Ainda
assim, pode-se citar exemplos dessas ‘tendên-
cias’. Bem como as manifestações em 2013. Por
um relance, foram todos para as ruas protestar.
Muitos sequer sabiam porque estavam ali. Rele-
vante. O país precisava de um choque, e o aconte-
cimento ficou marcado na História. Mas quando
todos imaginavam que os protestos ganhariam
força, durante a Copa do Mundo, essas mesmas
pessoas ficaram ‘em casa’. A moda de protestos
havia passado e a moda de apoio à Copa, um car-
naval fora de época, entrou em cena.
Não fosse este fácil estímulo do brasileiro
pelas tendências, não haveria presidenciável que
ameaçasse a reeleição de Dilma Rousseff. As pes-
quisas apontavam a candidata do PT muito à
frente dos adversários. Mas como assim? O país
que vaia sua presidente em todos os lugares em
que ela se pronuncia, a reelege? Seria a realidade
se não fosse a nova moda: a incrível ascensão de
Marina Silva nas pesquisas. Será mesmo que, se
ela fosse a candidata do PSB desde o início, no
lugar do falecido Eduardo Campos, estaria cotada
para se eleger presidente da república no segundo
turno? Isso é mais uma prova de que o brasileiro é
influenciável, se deixa levar pelas emoções de
momento. Acharam na Marina uma “salvadora da
pátria”. Para os supersticiosos, Campos morreu
para que surgisse uma mulher que viesse para
resolver todos os problemas do país, usando um
discurso de reforma política.
Problemas existem e estarão presentes por
muito tempo neste país. Por isso, essa edição espe-
cial do Lince foca os pontos que merecem aten-
ção, investigando a etapa política pela qual esta-
mos passando.
SugeStõeS de pautaS?participe do Jornal lince.
uma publicação feita pelos alunos do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva.
e-Mail: [email protected]
este é um Jor nal-la bo ra tó rio da
dis ci plina la bo ra tó rio de Jorna lismo ii.
o jor nal não se res pon sa bi liza pela
emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti-
gos as si na dos e per mite a re pro du ção
to tal ou par cial das ma té rias, desde
que ci ta das a fonte e o au tor.
Presidente do GruPo sPliceAntônio Roberto Beldi
reitorJoão Paulo Beldi
Vice-reitoraJuliana Salvador Ferreira de Mello
coordenadora dos cursos de coMunicaÇÃoJuliana Lopes Dias
coordenador da central de ProduÇÃo Jornalistica - cPJPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)
Pro Jeto Grá fico e direÇÃo de arteHelô Costa (Registro Profissional 127/MG)
MonitoresCaíque Rocha, Fernando Oliveira e Frederico Vieira
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diaGraMaÇÃo Kênia Cristina e Márcio JúnioEstagiários do Curso de Jornalismo
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especial eleições 2014vote consciente
CENárIo poLítICo atuaL apoNta povo brasILEIro Como
INfLuENCIávEL
PONTO DE VISTA
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especial eleições 2014 vote consciente
ENsaIo fotográfICoNesta edição, o ensaio fotográfico do Lince, mostra como as eleições
podem afetar a imagem da cidade de uma maneira negativa. E não só
por parte dos políticos, mas também
da própria população.
Fotos artHur vieira
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ENsaIo fotográfICo
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especial eleições 2014 vote consciente
DINASTIA
as CapItaNIas
hErEdItárIasEm alguns estados brasileiros, tal e qual no tempo do Brasil Colônia, o poder político ainda passa de pai pra filho...
Frederico vieira e Manuel carvalho
6º período
Dinastia é o período de sucessão, geral-
mente longo, em que membros pertencen-
tes a uma mesma família permanecem no
poder. É o caso dos Windsor, no trono da
Inglaterra. Aconteceu em Minas, com a
família Ferraz. Começou com Adalberto
Dias Ferraz da Luz, que foi o primeiro pre-
feito de Belo Horizonte, em 1897. Posterior-
mente, dois irmãos foram deputados estadu-
ais por várias legislaturas consecutivas: Jorge
Ferraz (de 1959 a 1971) e João de Araújo
Ferraz (de 1967 à 1987). Em Barbacena, as
famílias Bias Fortes e Andradas se rivaliza-
ram na política local desde o fim do século
XIX até 1930 e chegaram nessa disputa até
os anos de 1960.
Outros casos podem ser citados Brasil
afora. Na Bahia, a família Magalhães está no
poder há mais de 50 anos. É bem verdade
que esse poder parece estar com os dias con-
tados desde a morte do patriarca, Antônio
Carlos Magalhães, em julho de 2007, mas a
família ainda detém considerável influência
entre os baianos. Pior é no Maranhão, um
dos estados mais atrasados do país, onde a
dinastia Sarney segura as rédeas com mão
de ferro, há mais de 40 anos, apesar de prota-
gonizar um escândalo atrás do outro.
Se em Maceió, a família Collor, aos
trancos e barrancos, também se mantêm
no trono há mais de 30, no Distrito Federal,
a família Roriz é outra que, há mais de duas
décadas, ameaça perpetuar mais uma
dinastia. Vale destacar que a perpetuação
também ocorre fora do Brasil. Em Cuba, a
ditadura militar da família Castro já vem
desde 1976.
— Percebo que em diversos estados há
oligarquias que se perpetuam no poder, mas
vão deixando de ter, aos poucos, densidade
eleitoral e até representação política — cons-
tata o deputado estadual Fred Costa (PEN),
lembrando que a política necessita de uma
renovação constante para o bem da demo-
cracia. O cientista político Renato Vascon-
cellos concorda que a democracia necessita,
sim, dessa renovação.
FiM da SarneYlÂndia
Existem medalhões políticos em pra-
ticamente todos os estados brasileiros.
“Alguns até surgem como heróis”, aponta
o jornalista Paulo Henrique Lobato, do
jornal O Estado de Minas.
— O Sarney, quando surgiu lá no
Maranhão, há muitos anos, apareceu
com o discurso de que era algo de novo;
agora não é mais.
De fato. José Sarney já foi presi-
dente da República, senador, governa-
dor, deputado, dentre outros cargos
políticos. Tem dois filhos na política: a
primeira é a atual governadora do Mara-
nhão, Roseana Sarney, que teve um dos
mandatos mais desastrosos dos últimos
tempos e, agora, para o bem de todos e
felicidade geral dos maranhenses,
anunciou a aposentadoria.
O seguinte é o apagado deputado fede-
ral Sarney Filho, também conhecido como
Sarneyzinho, que nunca conseguiu dizer a
que veio. Se depender dele, é bem possível
que a dinastia já esteja com os dias contados.
O problema é que ninguém sabe do que Sar-
neyzão é capaz. Para não disputar voto com a
filha, ele mudou até de estado — desistiu
temporariamente do Maranhão e foi se can-
didatar ao Senado lá no distante Amapá.
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especial eleições 2014vote consciente
VOTO DISTRITAL
MASSIVE ATTACK
Há uma crescente pressão por
mudanças no processo eleitoral, para
incentivar e aperfeiçoar a participação
política no país. Uma forma de aumen-
tar o controle da população sobre os
políticos seria o voto distrital. Desta
maneira, o estado (ou cidade) seria divi-
dido em pequenas regiões, os distritos.
Cada partido apresentaria um candi-
dato por distrito, e o mais votado seria o
eleito. O voto distrital ajudaria a mini-
mizar a força das dinastias, acabando
com a distribuição de votos dentro de
partidos ou coligações. O deputado Fred
Costa é a favor desta medida. “Acho que
nos remeteria a representações mais
legítimas e maior fiscalização”, analisa.
O Brasil tem as campanhas eleito-
rais mais caras do mundo. Um fundo
partidário foi criado para repassar aos
partidos políticos, valores para financia-
mento de campanhas públicas. “O
fundo partidário é um dos maiores res-
ponsáveis pelas dinastias, mas não o
maior. Existe uma coisa chamada caixa
dois”, denuncia Lobato — “Não quer
dizer que a dinastia acabaria, mas seria
mais transparente”.
Com o voto distrital os candidatos
não precisariam percorrer todo o estado
(ou cidade) atrás de votos, diminuindo
os gastos com campanhas. Mas a não
aprovação do voto distrital é de interesse
dos que atualmente exercem o poder.
No ano de 1600, ao ser queimado pela
Inquisição, o filósofo dominicano Gior-
dano Bruno destacou que não há nada
mais ingênuo do que “pedir aos donos
do poder a reforma do poder”.
Se o clã Sarney já não se mostra mais
tão poderoso, o mesmo não se pode dizer da
família Roriz. Joaquim Roriz, ex-governa-
dor do Distrito Federal e ex-senador não vai
disputar as eleições, mas, em compensa-
ção, há seis membros da família partici-
pando. A saber: Weslian Roriz (PRTB), que
foi candidata do PSC ao governo do Distrito
Federal em 2010 e agora se lança suplente
do senador Gim Argello (PTB-DF), que
tenta a reeleição; Jaqueline Roriz (PMN),
filha mais velha de Joaquim, deputada
federal e candidata à reeleição;
Liliane Roriz (PRTB), deputada dis-
trital e filha caçula do ex-governador,
tenta a reeleição à Câmara Legislativa
do DF; Michael Roriz (PRTB), sobrinho
de Joaquim e candidato a deputado fede-
ral; Dedé Roriz (PRTB) também sobrinho
de Joaquim e candidato a deputado distri-
tal; e por fim, Paulo Roriz (PP), mais um
sobrinho do velho Roriz, deputado distrital
que concorre à reeleição.
Para Renato Vasconcellos, são casos
assim que consolidam a “péssima ima-
gem que os brasileiros têm dos políti-
cos”. Segundo Renato, por causa dos
escândalos, eles costumam ser direta-
mente relacionados a pessoas de baixo
caráter e, na maioria dos casos, corrup-
tos — essas dinastias não contribuem
em nada para o processo democrático.
Por sua vez, o jornalista Paulo Henrique
lembra que só uma minoria mantém-se
interessada em votar com sabedoria,
tratando com seriedade necessária o
processo eleitoral.
“Somos responsáveis por quem é eleito
em nossas cidades, nossos estados e nosso
país, mas, mesmo assim, há os que não dão
o valor necessário ao voto e não têm a cons-
ciência da sua importância”, analisa o vere-
ador Vilmo Gomes (PT do B-MG). O tempo
em que esses políticos permanecem em
seus respectivos cargos tem relação com a
facilidade de se reelegerem.
— Se determinadas famílias são
perpetuadas no poder durante várias
décadas, significa dizer que foi o povo
quem escolheu essas pessoas. Bem ou
mal, acredito que seja uma escolha
democrática — observa o vereador.
O deputado Fred Costa não é tão bene-
volente assim com o eleitor. Para ele, a
população tem a sua parcela de responsa-
bilidade. — Se lá estão, significa que uma
parcela votou neles — adverte. Clãs políti-
cos, muitas vezes, usam do poder aquisi-
tivo para comprar votos como se fossem
mercadorias. Mas, segundo o deputado,
“se há políticos que compram votos, tam-
bém tem os eleitores que vendem”.
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especial eleições 2014vote consciente
“É NaturaL quE um
tão massIvo sEja passagEIro?”
REVOLTA
movImENtoTalvez as consequências das manifestações que abalaram o país desde o ano passado nem venham influenciar as eleições desse ano
roger leon
4º periodo
No último ano, o mundo inteiro assistiu às manifestações que assolaram o Brasil e que foram desencadeadas por vários
motivos: aumento no custo do transporte urbano, corrupção, Copa do Mundo, entre outros. Alguns objetivos, inclusive,
foram conquistados. Porém, hoje os protestos perderam a força. Pesquisas eleitorais indicam basicamente os mesmo
resultados antigos, candidatos apresentam as mesmas propostas vazias, e o que parece é que a situação política do país
permanecerá a mesma nos próximos quatro anos.
Foto
: ra
Fael m
ar
tins
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“NÃO É DESPERDÍCIO”
É possível perceber uma variação
grande na opinião de diferentes tipos de
eleitores. Para o cientísta político Túlio
Magno, as passeatas ainda não termina-
ram e os efeitos dos protestos podem ser
observados aos poucos. “ O fato de as
manifestações não terem acontecido
igual no ano passado não significa que
elas não tiveram efeito; os efeitos ainda
duram, mas são menos claros, exigem
um olhar curioso, sofisticado e interes-
sado em interpretar a política”.
Para ele, o voto branco e nulo não é
sinal de desinteresse político, que pode
ter alguns fatores externos.
— Não é desperdício, assim como
não é desperdício votar em um partido
pequeno. De 2010 pra cá, por exemplo, o
sistema de ingresso nas universidades
brasileiras ganhou ares mais competiti-
vos com o ENEM, o que fez com que jus-
tamente muitos dos jovens nessa faixa
etária passassem a ter uma preocupação
enorme e um foco muito direcionado. Vai
saber se não foi esse o fato que os levou a
não querer se envolver com política.
Constata-se que o público eleitor é
extremamente heterogêneo, mas que
na hora dos resultados talvez não
tenhamos mudança no ambiente polí-
tico. É possível que as lamentações
perdurem pelos próximos quatro anos.
Talvez mais. Ou então, para os mais
pragmáticos, pode ser que as manifes-
tações tenham causado pelo menos um
susto em nossos governantes, mesmo
que por pouco tempo.
DESINTERESSE?
Um ano se passou e pouca coisa
parece ter mudado. A impressão que se
têm, é que houve um certo desinte-
resse pela política por parte dos jovens.
Há exatos quatro anos, uma média de
dois milhões e trezentos mil jovens
entre 16 e 17 anos, tiraram seu título
de eleitor. Já em 2014, esse número
teve uma queda de 33%. Outro fato em
que podemos observar a alienação
política é o número de votos brancos e
nulos, que, de 2002 para 2010, subiu
de 8% para 13%.
Outro aspecto curioso, é o tanto
que se falou no ano passado de que em
época de Copa do Mundo o movimento
seria muito mais intenso e massivo do
que na Copa das Confederações, e o
que se viu foram pequenos grupos
aglomerados sem uma causa mais con-
creta. Para o jornalista Lucas Simões,
repórter que cobriu os protestos para o
jornal O Tempo, a manifestação teve
vida curta. “É natural que um movi-
mento tão massivo seja passageiro; já
era esperado que o efeito surtido esse
ano não fosse tão impactante quanto
no ano passado.”
Para ele, uma revolução política
é muito difíci l de se realizar e a
juventude está cada vez mais desin-
teressada.
— Não acredito em uma revolução
total, acredito que o processo será
lento e gradativo. O excesso de infor-
mações faz com que tudo deixe de ser
interessante com muita facilidade.
VANDALISMO OU TÁTICA?
O que mais chamou a aten-
ção nos protestos dos últimos
dois anos foi a explosão da ação
Black Bloc, em que vários mani-
festantes foram detidos por inci-
tar a violência com a depredação
do patrimônio público e a agressi-
vidade nas ruas. A que mais se
destacou foi a produtora de
cinema Elisa Quadros, mais
conhecida como “Sininho” e
che fe da ope ração “Ocupa
Câmara”. Recentemente, Elisa
teve que abandonar o Rio de
Janeiro, afirmando que a milícia
queria assassiná-la.
Em conversa com o dono da
maior página Black Bloc no Face-
book, com mais de cem mil mem-
bros, o ativista, que preferiu não
se identificar, afirma que as
manifestações vão surtir efeito
nas urnas este ano. “Muitos têm
consciência de que não adianta
votar em ninguém e por isso vão
se negar a participar desta palha-
çada”. A mídia, para eles, não
serve de grande ajuda, quando só
mostra os atos de vandalismo e de
violência.
Segundo o mi l i tante , “a
mídia é totalmente manipula-
dora; nós estamos em uma luta
legítima pelo bem do povo, onde a
TV nunca está ao nosso favor ou a
favor de quem luta por um país
melhor”. Ele afirmou também
que a maior prova foram esses
jogos da copa. “Em todos houve
manifestação e a TV só mostrou o
que quis, quando havia vanda-
lismo; mas a mesma TV não mos-
tra quando tem ação covarde
poliicial em atos pacíficos”.
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os poLítICos E sEus projEtos
OBJETIVIDADE
dE LEI!!!
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Deputados e vereadores ainda propõem de mudanças
de nomes de ruas à extinção do saleiro em bares e
restaurantes, em vez de pensar em coisas sérias
Fotos: artHur vieira
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especial eleições 2014vote consciente
carloS BenevideS
3º período
A cada dois anos, antes das eleições,
os eleitores costumam ouvir a recomen-
dação de, além de pesquisar o passado
do político no qual se está interessado,
acompanhar seus feitos, antes de se
decidir pelo voto. Este ano não será dife-
rente. Cidadãos brasileiros terão de ele-
ger o presidente, governador, senador,
deputado federal e estadual. Ao todo,
são 77 deputados estaduais na Assem-
bleia Legislativa do Estado de Minas
Gerais.
Uma das melhores maneiras de ver
se o político da sua última eleição está
realmente trabalhando é ficar a par dos
projetos de lei (PL) propostos por ele. Os
deputados estaduais — tanto quanto os
vereadores — são os homens públicos
que podem provocar mudanças ao seu
redor, promulgando leis que podem afe-
tar ou não o seu cotidiano.
conTrole
Essa espécie de controle pode ser
feita facilmente acessando sites de
órgãos públicos mineiros. Em ambos
endereços eletrônicos (tanto da Câmara
Municipal quanto da Assembleia de
Minas), é possível acessar o perfil de
cada vereador/deputado e ver todas as
propostas de projetos de lei apresenta-
das com suas justificativas. Estão dispo-
níveis os nomes dos autores dos proje-
tos, assim como a situação atual da pro-
posta, se está no plenário ou prestes a
ser sancionada, promulgada ou vetada.
Como a democracia e a liberdade de
expressão são temas decorrentes dos
tempos da internet, o cidadão pode dar
sua opinião e votar a favor ou contra os
projetos de lei apresentados. Isso,
porém, somente no site da Assembleia
Legislativa de Minas. Na Câmara de
Belo Horizonte, não é possível fazer um
cadastro para opinar sobre as recorren-
tes tramitações.
JuSTiFicaTivaS
O serviço online da Assembleia de
Minas é de grande utilidade pública
para o eleitor ficar ciente do dia a dia dos
deputados. É fácil assinar os boletins de
notícias e acompanhar a tramitação dos
projetos propostos via e-mail . Na
câmara dos vereadores, os projetos de
lei mais comuns são os de mudanças de
nomes de vias públicas ou concessão de
títulos de cidadão honorário. O verea-
dor Juliano Lopes (SDD), por exemplo,
lançou um PL a fim de modificar o nome
da Rua 2136 para Rua Bruno Felipe Fer-
reira. A justificativa de Lopes não é inu-
sitada. As mudanças sempre giram em
torno de homenagens a alguma pessoa
— na maioria das vezes já falecida.
Neste caso, trata-se de um adolescente
que morreu em setembro de 2013, aos
16 anos, em decorrência de um tumor
maligno.
Já o vereador Bruno Miranda
(PDT), propõe a mudança da Rua
Dezessete para Rua Stela Pena Mansur.
Mais uma história dramática. Stela
morreu aos 76 anos de idade devido a
uma parada cardiorrespiratória e dei-
xou muitas saudades e amizades, já que
prestou um grande serviço no bairro
Dom Silvério, segundo justificativa de
Miranda. Stela Mansur participava ati-
vamente das atividades vinculadas à
Irmandade São Vicente de Paula.
Mas nem todos os projetos chegam
a ser assim tão inocentes — alguns são,
no mínimo, estranhos e bizarros. É o
caso do Projeto de Lei 1258/2014 de
autoria do vereador Léo Burguês (PT do
B), que propõe instituir o Dia Municipal
da Favela para 4 de novembro. Resta
saber até que ponto isso mudaria algo na
vida de quem vive nos aglomerados que
cercam a cidade...
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especial eleições 2014 vote consciente
NÃO AO SAL
Mesmo com alguns projetos
aparentemente desnecessários,
alguns políticos trazem boas pro-
postas e ideias para serem imple-
mentadas na sociedade. O verea-
dor Tarcísio Caixeta (PT) sugeriu,
em julho deste ano, a proibição
dos saleiros nas mesinhas dos
bares, restaurantes e lanchonetes
de Belo Horizonte. O vereador
justifica a proposta colocando o
sal como um dos principais vilões
da saúde pública e que precisa
haver um controle sobre o con-
sumo do produto.
Ele cita, em carta de justifica-
tiva no site da Câmara de Belo
Horizonte, que a hipertensão
arterial atinge cerca de 20% da
população brasileira e que as pes-
soas consomem sal duas vezes
mais do que o necessário reco-
mendado pelo Ministério da
Saúde. A Argentina já aprovou
medida semelhante. Lá, os salei-
ros não são mais postos nas mesas
de restaurantes. Se o cliente qui-
ser, que peça ao garçom.
Como a obes idade é um
assunto comumente posto em
pauta pela sociedade do século
XXI, que convive diariamente
c o m a l i m e n t o s a ç u c a r a d o s
demais, salgados demais e muito
fast food, o deputado Alencar da
Silveira Jr. (PDT), com o Projeto
de Lei 5341/2014, exige a obriga-
toriedade da especificação e
divulgação da quantidade de
calorias e da presença de glúten
nos produtos oferecidos em bares
e restaurantes. Silveira Jr. justi-
fica a proposta tendo em mente o
controle do peso e a diminuição
da obesidade da população.
DEPUTADOS zERADOS
Em levantamento feito usando dados do site da Assembleia de Minas, o LINCE
comprovou que alguns deputados não sugeriram um projeto sequer no ano de
2014. Antônio Genaro Oliveira (PSC), Gustavo Correia (DEM), Jayro Lessa
(DEM), Maria Tereza Lara (PT) e Pinduca Ferreira (PP) são os nomes dos
deputados estaduais que ainda não propuseram nenhum PL neste ano. Almir
Paraca (PT), Carlos Mosconi (PSDB), Durval Ângelo (PT), Elismar Prado (PT),
Gil Pereira (PP) e o narrador esportivo Mario Henrique Caixa (PC do B)
apresentaram somente um projeto nos últimos oito meses. Já os políticos que mais
apresentaram propostas são Leonardo Moreira, PSDB (34); Lafayette Andrada,
PSDB (27); Fred Costa, PEN (20); Dalmo Ribeiro Silva, PSDB (17); e Antônio Car-
los Arantes, PSDB (15).
Só neste ano, até o dia 14 de agosto, 583 projetos de lei foram postos à mesa na
Assembleia.
A rede de propostas dos políticos é bem variada. Se há algumas de muita utilidade,
outras nem tanto. Por isso, é sempre bom ficar atento ao que seu candidato já
ofereceu e o que tem a fazer para a sua cidade ou região. Se não houver esse
controle, o risco de votar em alguém que propõe projetos inúteis para o cotidiano
continuará.
O DIA DO FUSCA
Outro que deseja instituir uma data comemorativa é o deputado Fred Costa (PEN).
Ele quer que, com o PL 5166/2014, anualmente, no dia 18 de fevereiro, seja
comemorado o Dia Estadual do Fusca. O deputado atribui a morte do presidente e
fundador do Clube do Fusca Belo Horizonte, Amauri Lúcio de Oliveira, no dia 18
de fevereiro de 2012, ponto de partida para homenagear tanto o criador do clube
quanto o veículo, que, segundo Costa, foi incorporado à cultura brasileira.
O também vereador Leonardo Mattos (PV) sugere algo ainda mais curioso. Por
meio do Projeto de Lei 1148/2014, a proibição dos dispositivos de reboque em
carros, os famosos engates. Mattos explica que tais dispositivos podem ferir
gravemente algum passageiro numa colisão veicular.
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especial eleições 2014vote consciente
proIbIr ou LEgaLIzar — a
do dIsCurso
POLêmIcA
poLarIzação Com argumentos quase sempre emocionados e, não raro, veementes, há correntes que defendem a descriminalização das drogas e do aborto, e as que são contra, numa discussão que ainda não acabou...
Foto: alexandre de castro
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Fernando oliveira
4º período
Em ano de eleições, o que não faltam
são as famosas propostas consideradas
“polêmicas”, dessas que exaltam o nome
dos candidatos, seja de forma positiva ou
negativa, e são tidas por muitos como
tabus diante da sociedade. Mas, são polê-
micas por quê? Este seria realmente o
termo correto? Seria por falta de infor-
mação da população sobre o assunto,
culminando no preconceito, ou por real-
mente envolver temas que geram des-
conforto? O que se pode afirmar é que só
será possível alcançar a melhor resposta,
após amplas discussões, mantendo a
população devidamente informada sobre
cada assunto.
Em um país que vive hoje, por diver-
sos motivos, um cenário bem diferente,
se comparado ao das eleições passadas
— manifestações envolvendo transporte
público de má qualidade, educação e
saúde precárias, chegando à trágica
morte do candidato à Presidência da
República, Eduardo Campos, em fase de
campanha, fato que mudou o cenário das
eleições — propostas como a descrimi-
nalização do aborto, redução da maiori-
dade penal e a regulamentação da maco-
nha, geram conflitos entre quem apoia e
quem se opõe.
Ultimamente, se tem discutido pro-
gressivamente esses pontos, que antes
eram considerados apenas polêmicos. E,
às vésperas do dia 5 de outubro (data do
primeiro turno), os candidatos têm res-
pondido questões tratadas mais aberta-
mente, se comparadas a antigas eleições.
eM ciMa do Muro
O debate entre os presidenciáveis,
realizado pela TV Bandeirantes, no dia
26 de agosto, apenas os candidatos que,
teoricamente, recebem a menor parte
das intenções de votos, se posicionaram
a favor da mudança na legislação atual,
envolvendo a legalização do aborto e a
regulamentação das drogas. Eduardo
Jorge, do PV, foi mais explícito, quando se
declarou a favor da legalização das dro-
gas e contra a criminalização do aborto,
justificando que, anualmente, 800 mil
mulheres brasileiras são consideradas
criminosas por terem que interromper
uma gestação apontada como perigosa
para a sua saúde.
A candidata do PSOL, Luciana
Genro, apresentou linha de raciocínio
parecida com a de Jorge, pois acredita que
o assunto é tratado com hipocrisia pelo
governo atual. Em contrapartida, Aécio
Neves, do PSDB, disse que o Brasil não
deveria ser cobaia desses experimentos,
se esquecendo de que, há décadas, outros
países já adotaram medidas progressistas
nos dois casos. Dilma Rousseff, do PT,
compartilhou a opinião de seu adversário
tucano, quando afirma ser a favor das leis
atuais envolvendo o assunto. Marina
Silva, do PSB, veio mais uma vez com a
ideia de um plebiscito para tratar sobre o
tema, apesar de se posicionar contra a
descriminalização das drogas.
A legalização do aborto é, sem a menor
dúvida, uma das propostas mais polêmicas.
E esbarra, principalmente, nas bancadas
religiosas, tanto católicas quanto evangéli-
cas. “A discussão é válida e deve ser enri-
quecida com estudos e divulgações inteli-
gentes, e não empobrecida com preconcei-
tos e discursos fáceis”, antecipa o cientista
político Túlio Magno, 25.
— Quem quer a regulamentação do
aborto também o faz por bons motivos.
É algo sério e diz respeito, principal-
mente, a um dos maiores tabus históri-
cos: o corpo da mulher. O corpo da
mulher deveria ser um direito dela; as
escolhas sobre ele deveriam passar pri-
meiramente por sua decisão — mas que
essa decisão seja influenciada, e não
determinada por uma religião ou ideo-
logia X, e que essa influência também
passe pe la esco lha ind iv idua l da
mulher: ‘Aceita o dogma de tal religião
quem a segue’. Se é bom abortar, se é
legal fazer isso, passa pelo território da
ética, e não da moral, como querem os
detratores dessa proposta.
E, no mais, segundo Túlio, “a coisa é
simples: o que se quer é regulamentar
práticas já existentes e que não acabaram
com a proibição. Regulamentar é determi-
nar regras; é tornar civilizado”. Em sua
opinião, estamos alterando o status de
uma sociedade fechada e violentamente
moralista. “Esses temas devem ser discu-
tidos sem aquele velho e chato precon-
ceito brasileiro”.
“REgULAMENTAR É DETERMINAR REgRAS; É TORNAR CIVILIzADO”
20 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
Se uma agência de notícias tem a
intenção de atrair a atenção do público
e causar fortes discussões nas redes
sociais, ela só precisa divulgar algum
tipo de matéria envolvendo maconha.
O assunto tem causado um forte cho-
que de opiniões, que rende comentá-
rios de pessoas de todas as idades e
classes sociais. “Creio que (a mobiliza-
ção das redes sociais), basicamente, é
um reflexo do que ocorre com a socie-
dade no mundo real, embora obvia-
mente, no ambiente da internet, as
informações fluam com mais facili-
dade, o que é muito bom para nossa
causa, já que temos muitos argumentos
a nosso favor”, afirma Alexandre de
Castro Gontijo, 35, representante da
Marcha da Maconha de Belo Hori-
zonte, há cinco anos. A dona de casa
Elenice Gonçalves, 46, não aceita nem
conversar sobre o tema e resume sua
opinião numa única frase: “Maconha é
coisa do diabo”.
Foi por isso que Elenice saiu do
facebook e ainda proibiu os dois filhos
adolescentes de se integrarem à mais
popular das redes sociais. Para ela, até a
discussão sobre o tema deveria ser proi-
bida. Elenice, que já foi voluntária em
um hospital de Belo Horizonte, disse
que assumiu essa posição depois que viu
o drama de diversos jovens dependentes
da droga.
— Vi, principalmente, o drama dos
pais.
Porém, um dos argumentos mais
contundentes entre os que defendem a
legalização da erva são as propriedades
industriais da planta. Alexandre Gon-
tijo, por exemplo, destaca a importância
da ‘cannabis’ na luta contra o desmata-
mento e contra o aquecimento global,
visto que é uma matéria-prima renová-
vel e pode dar origem a biocombustíveis,
carros, casas, tecidos, papel, bioplástico
e até alimentos.
No entanto, as propriedades medi-
cinais advindas da erva, como o ‘canabi-
diol’ (CBD), que auxilia no tratamento
de doenças e precisa ser importado ile-
galmente para ser usado no Brasil, vem
sendo o principal argumento de quem
pede sua legalização.
— Se minhas opções fossem impor-
tar ilegalmente um remédio ou ver um
parente sofrer ou até mesmo morrer
pela falta deste, não teria dúvidas em
optar pela importação ilegal. E creio que
ninguém, em sã consciência, pode con-
denar uma pessoa que tenha tal atitude.
A demora da ANVISA em liberar a
importação e também a produção nacio-
nal de CBD é algo criminoso, que está
custando vidas, inclusive de crianças”,
ressalta, com veemência, o ativista
A SEMENTE DA POLêMICA
As discussões sobre
maconha e aborto saíram
do segundo plano. Até
porque, o narcotráfico e a
violência contra a
mulher são dois dos mais
graves problemas
brasileiros da
atualidade. As propostas
polêmicas podem perder
esse rótulo se as pessoas
começarem a tratar o
assunto com a “cabeça
aberta” para buscar
informações,
fortalecendo o debate e
procurando formar suas
próprias opiniões sobre o
assunto. Afinal, vidas
dependem dessas leis.
Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 21
especial eleições 2014 vote consciente
“O USO DA DROgA É RECORRENTE E IMPLICA REgULARIDADE”
viZinhoS liBeraiS
R. T. F., 27, engenheiro, voltou há dois meses de uma viagem ao Uruguai. Para
ele, a descriminalização foi acompanhada de uma ampla campanha de esclareci-
mentos. “É um problema ético e cultural, que tem que ser discutido dentro desse
prisma; e não como problema de polícia”. Ele contou também que, em Buenos Aires,
ativistas que defendem a legalização da erva contam até mesmo com uma publica-
ção, a revista “THC”, vendida normalmente em todas as bancas de revista.
A opinião de Túlio Magno sobre o assunto é claramente favorável à descrimina-
lização, não só para fins industriais e medicinais, como também para o uso recrea-
tivo da planta. Ele destaca que o uso da droga já existe, “e o povo já convive com ele”.
Para ele, a palavra ‘regulamentação’ implica regularidade, controle; enquanto a
palavra ‘legalização’ invoca leis.
— Deixo aqui o questionamento se não é melhor ter leis de consumo eficientes
e preocupadas com a saúde da população, do que ter leis proibitivas que tratam o
assunto como um tabu e, além de não ajudar os usuários a se controlarem, ainda
estimulam o tráfico de drogas, maior fábrica da violência urbana brasileira.
liBerdade e liMiTe
No entanto, a corrente que vota contra a descriminalização da maconha dispõe
de um considerável poder de fogo e de um arsenal de argumentos, que o deputado
Vanderlei Miranda usa como ninguém. Para ele, o usuário de drogas devia ter um
preço mínimo a pagar, “porque se ninguém impõe limites para uma pessoa, ela vai
se arrebentar; meu pai sempre me colocou limites. É isso que o sistema tem que
fazer com a lei, impor limites”.
— Se uma pessoa que faz o uso da droga não tem um limitador, ela se perde. Nos
Estados Unidos, se uma pessoa é pega com alguma quantidade de drogas ela vai a
julgamento, e pode escolher entre passar pelo programa de reabilitação ou ser presa
por até cinco dias, ou seja, ela não vai pegar uma cadeia longa pela frente, mas vai
conhecer o ambiente carcerário, e aprenderá que se continuar usando drogas, o
destino dela será aquele. Se já temos problemas com as drogas regulamentadas,
como o cigarro, pra que legalizar outras?
“SALA DE ESPERA DA MORTE”
A resistência de parte da população passa
pelos perigos que a legalização pode causar
no sentido de que a maconha seria a “porta
de entrada” para outras drogas. O
Presidente da Comissão de Combate ao
Uso de Drogas de Minas Gerais, deputado
VANDERLEI MIRANDA (PMDB-MG),
salientou que a ideia de liberação “é uma
aberração”. Para ele, as pessoas que
defendem a legalização das drogas
deveriam consultar as famílias dos
dependentes.
— A maconha é a sala de espera para outras
drogas de maior potencial. O camarada
começa a usar maconha por um tempo,
para logo após passar para uma droga mais
pesada. É só um tempo. Porém, na maioria
dos casos, as pessoas dependentes vão
presas e podem até morrer.
lidar coM liMiTeS
Para os liberais, que o tempo todo
perguntam: “por que não legalizar?”, o
próprio deputado, que também é pastor
evangélico, tem a resposta na ponta da
língua. De acordo com sua visão sobre o
tema, “o problema do ser humano é que ele
não saber lidar com seus limites”.
— O fato de liberar uma substancia
psicoativa não vai melhorar a relação do
dependente com a droga.
Miranda vê com preocupação a situação do
vizinho Uruguai, que descriminalizou a
maconha recentemente. Lembrando que o
país tem apenas três milhões de habitantes,
o que representa 1/6 (um sexto) da
população do estado de Minas Gerais.
— Os resultados de lá não podem
influenciar os de um país com 200 milhões
de pessoas. É só esperar um pouquinho
para ver o desastre que vai causar a
liberação da maconha no Uruguai. Se
querem legalizar a droga no Brasil, incluam
no debate os pais dos dependentes.
Foto
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22 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
a ComÉdIa quE Nos dá a HUmOR
faCa E o quEIjoA brincadeira e a ironia são elementos que estão ligados ao processo de construção de charges políticas, mas existe um elemento reflexivo, que não é desprezado pelo eleitor
eliaS coSTa e daniel Silva
2º período
Tratar de assuntos do cotidiano em
tom de brincadeira sempre foi uma carac-
terística do povo brasileiro. A ironia, o
sarcasmo e o bom humor são os principais
objetivos de quem cria. Sem compromisso
com a realidade, homenageiam quaisquer
figuras — artistas, políticos, cantores, jor-
nalistas ou jogadores de futebol. Um jeito
simples e direto para buscar novas ideias e
questionar fatos importantes.
Na política, esse cenário não muda.
Muito pelo contrário. Desde os tempos do
império, formas diversificadas de críticas
alcançaram espaços maiores. Humoristas
ancestrais, como o Barão de Itararé, em
sua revista “A Manha”, fizeram do humor
a arma principal para enfrentar caudilhos
e ditadores.
inFluÊncia naS urnaS
“Em outros tempos (na campanha
pelas eleições diretas, no impeachment
de Collor, por exemplo), talvez as charges
influenciassem de maneira mais signifi-
cativa os processos políticos. Hoje, acho
que não” — é o que diz o geógrafo e cartu-
nista Evandro Alves, que publica charges,
ilustrações e tiras nos jornais Folha de São
Paulo, Le Monde Diplomatique Brasil e
Jornal Hoje em Dia.
Mas, de alguma forma, a influência
não está totalmente extinta, ela ainda
permeia a mente das pessoas. A intenção
foi e é sempre a de trazer à realidade uma
reflexão, ainda que menor, sobre a situa-
ção que vivemos. Sabendo que o humor
tem a capacidade de confrontar ideias,
resta ainda uma alternativa capaz de
modificar e corrigir prováveis desacertos
na hora do voto.
Se engana quem pensa que a irreve-
rência pode tirar a importância do assunto.
O fato de brincar com algo sério não tira das
pessoas o interesse por protestar. De
acordo com o professor e cientista político,
Agnez Saraiva, o efeito é favorável.
— O humor ajuda a construir uma
determinada visão de mundo e da polí-
tica. Ele se encaixa em um conjunto de
pensamentos, normalmente dominante,
em um contexto social.
aceiTaÇÃo doS eleiToreS
Se nos jornais impressos e nas revis-
tas o barulho causado por charges e ilus-
trações com conteúdo político é grande,
na televisão e no rádio, ele é ainda mais
estrondoso. Programas como o “Pânico”
— presente nas duas mídias — e o “CQC”
são extremamente populares e neles a
política sempre está em pauta. Porém,
não é certo dizer que são bem vistos por
todos.
Fazendo uma rápida pesquisa pelas
ruas é possível encontrar pessoas que se
dizem contrárias a esse tipo de manifesta-
ção. Júlio Sérgio, 55, corretor de imóveis, é
firme ao tratar do assunto. “Pra mim é
totalmente errado; não tem nada a acres-
centar; esse tipo de humor não mostra a
realidade da política e as pessoas já tem
conhecimento disso. O que resolve é
tomar iniciativa e isso começa nas urnas: è
saber votar”, contesta.
Expressões como “o Brasil está
virando uma palhaçada” são comuns e,
mesmo assim, muitos eleitores são a favor
das críticas bem humoradas. Renato Soa-
res, técnico comercial, tem quase a mesma
idade de Júlio, 51, e já pensa diferente.
— Eu concordo com o humor na polí-
tica. Hoje ninguém leva a sério esse assunto,
então, é uma boa forma de criticar, para que
o cenário de descaso venha a mudar.
Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 23
especial eleições 2014 vote consciente
CENSURA
Em um passado não muito distante,
em que os cidadãos brasileiros eram
silenciados pela ditadura, as músicas,
poesias e o humor eram a válvula de
escape para a contestação. Hoje,
gozamos de uma moderada “liberdade
de expressão”.
O cartunista Alves afirma que nunca
sofreu repressão, mas ressalta que “a
liberdade nunca é total; vamos ter
sempre algumas amarras, sejam elas
morais, ideológicas, econômicas ou
religiosas”. Desse modo, o método
utilizado e as formas de brincar passam
por uma filtragem editorial evitando
que as publicações cheguem ao público
de forma ofensiva e discriminatória.
Ele ressalta que a liberdade total,
existe apenas em seu blog e em sua
página do Facebook.
Por mais que haja uma certa liberdade,
qualquer publicação pode ser
censurada, desde que alguém se sinta
lesado. Mesmo assim, somos livres
para protestar e criticar. Como
brasileiros, temos a democracia como
nossa principal arma.
“A liberdade de expressão é um dos
pilares da democracia”, afirma o
professor Saraiva, lembrando que
manifestar opiniões através de textos
diversos e de outras formas de
expressão é algo saudável. “O humor
cumpre um importante papel em
tornar o cenário das disputas políticas
pela direção do Estado um pouco
menos tenso”, completa. Afinal, como
já dizia Caetano Veloso, “respeito
muito minhas lágrimas, mas muito
mais minha risada”.
cH
ar
ge
gen
tilm
ente
ced
ida
pel
o c
ar
tun
ista
alv
es
24 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
livro da PolíTica
vÁrios
ediTora gloBolivroS
Distante de defender ou atacar políticos em questão, “O Livro da política” se preocupa muito mais em abrir a mente do leitor, diferenciar o socialismo, do capitalismo e o fascismo. O livro não torna o leitor em um doutor em política mas registra um conhecimento da evolução política de primeira qualidade.
lado SuJo do FuTeBol
vÁrios ediTora PlaneTa
Um dos livros mais corajosos da literatura esportiva, os autores usam como base documentos, extratos bancários e várias entre outros, para provar como a CBF e a FIFA viraram um grande balcão de negócios. O livro peca apenas nas várias reclamações clichês contra a copa que já são evidentes para os leitores nas redes sociais.
o MíniMo que vocÊ PreciSa
SaBer Pra nÃo Ser uM idioTa
olavo De CarvalHo
Um dos maiores filósofos brasileiros, reúne seus 193 textos publicados nos últimos quinze anos em um livro contraditório e quem impõe um padrão de comportamento à grupos sociais diferentes. Ataca todos os tipos de minorias tanto sexuais quanto as políticas. Vale ressaltar, que o livro pelo menos desperta o senso crítico.
cULTURA
dIsputa ELEItoraL atINgE atÉ as graNdEs EdItoras
roger leon MagalhÃeS
4º período
Na corrida eleitoral, nada mais
comum do que a eterna guerra entre
partidos e candidatos, que muitas vezes
ultrapassam a propaganda eleitoral e
acabam chegando às livrarias. Em ano
de eleições (e também no ano anterior),
vários títulos são lançados não só com a
intenção de informar e agradar ao
público, mas principalmente apontar os
defeitos e deslizes de políticos.
A maioria das obras publicadas é
duramente criticada por parecer deixar
explícito demais suas intenções políti-
cas. Entre tantos títulos, dois se destaca-
ram em número de exemplares vendi-
dos e críticas positivas. Um deles é o
“Assassinato de reputações”, de Romeu
Tuma Júnior, que passou várias sema-
nas na lista de mais vendidos da Revista
Veja, apesar de seu preço um pouco
acima da média — R$ 69,90. Tuma é ex-
-secretário nacional de Justiça e ocupou
diversos cargos na polícia federal, além
de ser filho do presidente do DOP’s
(Departamento de ordem política e
social) e senador da república, o temido
Romeu Tuma. Em seu depoimento, o
autor conta sobre os conflitos que teve
com o governo Lula, entrando também
em assuntos polêmicos como o assassi-
nato do prefeito de Campinas, Celso
Daniel (PT – SP), um crime político que
chocou o país em 2012. E fala como são
tratados desafetos políticos e empresá-
rios que incomodam o governo. Con-
tudo, o livro se mostra frágil pois a prin-
cipal fonte do autor é o pai já falecido, o
que torna as informações impossíveis de
serem checadas. Pesa também o fato de
vários políticos tucanos e democratas
serem duramente defendidos, alguns já
até envolvidos em escândalos.
Se destaca também o “Príncipe da
Privataria”, de Palmério Dória, que
retrata os dois mandatos de FHC, e sua
suposta reeleição comprada, além da
ligação secreta do governo com a CIA e a
Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento). Vale ressaltar que o livro
é repleto de depoimentos, porém sem
nenhuma prova concreta. As acusações
parecem ser expostas com a finalidade
de defender o governo petista.
Por outro lado, deixando de fora os
inúmeros ataques pessoais, também
foram lançados livros com o objetivo de
conscientizar o eleitor, compilar infor-
mações políticas, e com isso acabam
destinados a eleitores e candidatos. O
sociólogo Alberto Carlos de Almeida
acertou em cheio com “A Cabeça do elei-
tor”, que destaca o comportamento do
brasileiro na hora do voto, explicitando
que o eleitor não é nem um pouco ingê-
nuo. Em “Emoções ocultas e estratégias
eleitorais”, Antônio Lavareda analisa as
corridas eleitorais ao redor do mundo,
destacando Barack Obama e Fernando
Henrique Cardoso. Fique atento —
Chico de Goes e Simone Iglesias traçam
o perfil de um por um dos candidatos à
presidência da república em “O lado B
dos candidatos”, com o objetivo de
humaniza-los e aproximá-los do eleitor.
Uma grande aposta da editora Leya.
Resenhas
Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 25
especial eleições 2014 vote consciente
cULTURA
a artE dE
CoNvENCErdaniel oliver
2º período
A fala é um dos atributos mais
importantes da comunicação. Emitir
palavras com veemência, esbanjando
argumentos, são táticas que podem con-
vencer o ser humano a tomar atitudes
que nem sempre estavam em seus pla-
nos. Assim, a oratória serve como a arma
fundamental do candidato para alcan-
çar um cargo político. Isso transmite
segurança às pessoas, fazendo com que
não aconteça nenhum tipo de caos em
situações de pânico.
O filme “O Discurso do Rei”, 2010,
exibe de modo eficiente, a necessidade
de um governante comunicar-se com os
seus súditos, principalmente no con-
texto da época em que a obra se passa:
Segunda Guerra Mundial. A biografia do
rei inglês, Jorge VI — que tinha disfemia
(gagueira) — é contada a partir do
momento em que ele se vê obrigado a
assumir o trono e fazer discursos para a
nação. Porém, com a ajuda de um tera-
peuta, ele luta contra seu problema
intensamente. O filme apresenta ao
espectador a possibilidade de, mesmo
em situações mais complexas da vida,
vencer com palavras.
Muitas vezes, a seguinte situação
acontece: o eleitor, que está assistindo o
horário eleitoral, se depara com um can-
didato que transmite uma péssima apa-
rência, fazendo com que o espectador
não sinta nenhum tipo de confiabilidade.
No entanto, ele começa a se auto afirmar
publicamente e, mesmo que só tenha
uma série de promessas utópicas, ele
acaba conquistando o voto do cidadão.
“O poder da palavra”, tem à força de
influenciar pensamentos alheios,com
um bom tom de voz, dicção e clareza.
A boa oratória de um político ou can-
didato, pode ser usada, tanto para o bem,
visando o bem-estar da população.
Quanto para o mal, sempre de acordo
com os interesses próprios. Logo, é de
extrema importância que o cidadão faça
seu voto com consciência e veja além das
propostas políticas e palavras bonitas.
O poder de persuasão dos políticos se destaca em época de eleições. Larga na frente quem tem melhor oratória?
o diScurSo do rei –
ToM hooPer – See SaW FilMS
BedlaM ProducTionS
26 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
Essa É a PROTESTO
SOLUÇÃO?
Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 27
especial eleições 2014 vote consciente
Uma forma diferente de se manifestar contra a corrupção e o descaso dos políticos tem feito sucesso na internet e conta com o apoio de “peixes grandes”.
caíque rocha
4º período
Apesar dos recentes protestos ocor-
ridos em 2013 e do passado vitorioso na
campanha das “Diretas Já”, o povo brasi-
leiro tem um histórico de “reclamar
muito e fazer pouco”. Como não pode-
mos generalizar, principalmente em se
tratando de uma nação com mais de 200
milhões de habitantes, é louvável ressal-
tar que muitos brasileiros sempre man-
tiveram o espírito contestador.
Desde as eleições para prefeitos e
vereadores, em 2012, uma campanha
vem tomando conta das redes sociais.
Tendo como principal porta-voz a banda
punk paulistana Ratos de Porão, que sem-
pre protestou contra os escândalos políti-
cos e corrupção em suas músicas, a cam-
panha “Você já chutou seu cavalete hoje?”
é, não só compartilhada, como também
teve a adesão de milhares de eleitores
insatisfeitos com a situação política do
país. Várias fotos e vídeos colocando a
ideia em prática foram espalhadas pela
rede.
O Lince conversou com João Carlos
Molina, o “Jão”, guitarrista e fundador
da banda. Com a postura sempre firme,
demonstrou total apoio à iniciativaa.
— Essa campanha é para mostrar todo
desprezo que temos por esses políticos
daqui. Estaremos sempre contra essa corja.
Em se tratando de uma banda
importante para a história do rock brasi-
leiro, o Ratos de Porão possui uma legião
de fãs apaixonados e fiéis. Porém, alguns
deles podem ser contrários a esse tipo de
posição dos integrantes. Entretanto, Jão
mantém a opinião, sem se importar com
qualquer reação contrária de seu
público, já que qualquer cidadão tem o
direito de ter e expor a sua posição refe-
rente à política. Ele diz que não acompa-
nha muito a reação das pessoas nas redes
sociais. Para ele, cada um pensa o que
quiser. “Nós continuaremos sempre con-
tra a política, e se alguém não concorda, é
Mesmo quem não é tão radical em
relação à política brasileira tem motivos
para apoiar a campanha. O material
usado nas campanhas — santinhos,
cartazes, faixas e cavaletes —, além de
sujar as ruas e avenidas, pode atrapa-
lhar o trânsito de pedestres nas calçadas
e praças. Algumas leis já vigoram pelo
país, proibindo o uso indevido desses
materiais, principalmente os cavaletes,
mas apenas uma pequena parcela dos
candidatos respeitam.
Luzia Ferreira é deputada estadual
e, nessas eleições, candidata ao cargo
de federal. Mesmo reprimindo quem
usa de forma indevida os cavaletes, é
contra quem os destrói. “Não concordo
com a quebra de material eleitoral ins-
talado conforme prevê a legislação bra-
sileira, porque este ato atenta contra a
liberdade de manifestação e muitas
vezes impede que os eleitores saibam
quem são os candidatos, cerceando
assim sua autonomia de escolha”,
explica.
Mas a indignação vai além do des-
caso contra o patrimônio público. Pro-
testos como esses servem para dar voz a
uma população que não vê evolução há
muito tempo. Desde quando fundou a
banda, no início da década de 1980, Jão
compõe músicas expondo esses proble-
mas e até hoje todas elas soam como
atuais e, pelo jeito, continuarão sendo
por muitos anos.
— Há trinta anos, os milicos ainda
estavam no poder. Mamaram muito nas
tetas desse país e passaram impunes. A
politicalha continua a mesma. Hoje
você pode falar o que quiser, mas esse
cenário corrupto, pra mim, não tem
solução.
SUJEIRA
28 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
dE pErsoNagEm dE NovELa
cURIOSIDADE
a autopromoçãoNo Brasil, candidatos apelam para algo muito além das boas intenções para chamar a atenção do eleitor
Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 29
especial eleições 2014 vote consciente
Frederico vieira
6º período
Vivemos o ano de 2014, que, depois
de ter sido “o ano de Copa” será o das elei-
ções. Desta vez, 135 milhões de pessoas
de diversas classes sociais irão juntas às
urnas para escolher do novo presidente da
República a governadores, senadores,
deputados federais e estaduais. Mesmo
com tons de reincidência, a promessa é de
inovação política por parte dos candidatos
e de voto consciente pelos eleitores. A
esperança nacional é que a rua fale alto
novamente, mas desta vez, na hora H — a
hora do voto.
Recentemente, milhares de brasilei-
ros se rebelaram contra a corrupção polí-
tica, o desvio do dinheiro público e foram
às ruas se manifestar. Os apelos de restau-
ração política e de um país menos desi-
gual causaram barulho. Em 2013 e 2014,
ano de Copa da Confederações e da Copa
do Mundo, o Brasil era o país em evidên-
cia, os maiores campeonatos de futebol do
planeta estavam prestes a ser realizados
aqui. A sociedade enxergou uma oportu-
nidade de sair do anonimato, e de, enfim,
se fazer ouvida.
caMPanhaS
Desde que as campanhas se inicia-
ram, os candidatos expõem suas ideias e
suas estratégias políticas, cada um à sua
maneira. Por outro lado, os eleitores vão
conhecendo e avaliando as propostas de
seus possíveis representantes. A divulga-
ção virtual, por meio das redes sociais, é
algo que vem crescendo a cada eleição.
Mas, o que realmente chama atenção é
uma prática já conhecida dos eleitores
brasileiros — o uso dos nomes curiosos,
que, as vezes, beiram o ridículo.
De Neymar Cover a Augustinho
Carrara; de Bin Laden a Mestre Drá-
cula; de Gretchen Cover a uma impagá-
vel Olga um beijo e um queijo, passando
por Hilda da Maçã do Amor até o
Homem da Jumenta Teimosa, a imagi-
nação parece que não tem limites. A
campanha eleitoral brasileira em TV
aberta, que começou no dia 19 de
agosto, é um desfile de nomes e apelidos
extravagantes. Em Minas, são milhares
os candidatos que aderiram a essa ideia.
Entre os possíveis deputados estaduais,
temos o Hot Hot do Amendoin, o Sucu-
pira, o Big Mix, entres outros. Já para
deputado federal: Geléia, Cheiroso,
HIE HIE, Mister M e Pó Royal estão na
lista. Quem se habilita a votar neles?
O Código Eleitoral Brasileiro não
possui nenhum artigo que proíba ao can-
didato escolher nomes assim. Só proíbe
que associe seu nome a alguma institui-
ção, que pode ser, por exemplo, um clube
de futebol. Sendo assim, a cada eleição o
número de nomes curiosos só aumenta.
A advogada Flavia Azevedo, candidata a
deputada estadual, ficou conhecida em
Belo Horizonte como Delegata, após
uma tentativa mal sucedida de encon-
trar um companheiro em um bate-papo
virtual. Flavia espalhou em avenidas
pelas cidade, anúncios em outdoors a
procura de um pretendente: “Delegata
procura um namorado (e nem precisa
ser bonito)”.
Após um encontro com o represen-
tante do partido PEN, Flávia recebeu o
convite para se candidatar às eleições
deste ano. “Não pensava em ingressar na
carreira política, mas aceitei a proposta,
porque vi a oportunidade como um desa-
fio”, justifica Delegata. Hoje, Flávia estru-
tura sua campanha eleitoral, e acredita
que seus conhecimentos jurídicos e legis-
lativos possam ajudar muito em seu man-
dato. “Meu compromisso é atuar em prol
da população e ouvir a demanda de servi-
ços a serem prestados”, completou.
OPORTUNIDADE E DESAFIO
30 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
Já faz um bom tempo que a popula-
ção brasileira anda muito desiludia
com a atual política. seja por falta de
informação, ou pelo simples fato de
estar realmente cansada de tanta cor-
rupção. Hoje, o reflexo da má adminis-
tração e dos escândalos com dinheiro
público se reflete nos eleitores, que já
não dão mais tanta importância para o
voto. ernane dias, assessor parlamen-
tar, concorda que há sim uma grande
descrença por parte da população. “Vejo
é que falta também participação da
população nas discussões políticas nos
rumos que o país deve seguir”, afirma.
ernane acredita que a descrença
das pessoas para com a política não
tem relação com os nomes estranhos
adotados por alguns candidatos, mas
repudia essa prátgica: “temos um
vereador em BH que atende pelo nome
de ‘Gunda’. não acompanho a atuação
parlamentar dele, mas ninguém deve-
ria ser eleito como Gunda”. a profes-
sora ana lúcia ferreira de alencar
concorda e acha que os tribunais elei-
torais deveriam interferir nesse pro-
cesso, “pois em certa medida, eles
tiram a seriedade da eleição”.
seja como for, há quem acredite
que a maioria dos políticos brasileiros
está desmoralizada por suas atua-
ções e posicões — não pelos seus
nomes. a verdade é que mais ridiculo
do que canditar-se com um nome
totalmente impróprio é ser eleito e
fazer uma má administração. “o ape-
lido caberia a alguns políticos atuais;
o Jair Bolsonaro poderia se apresen-
tar-se como o “fuMo”. o Marco feli-
ciano, seria o “Mala”, e assim por
diante”, desabafa ernane. Para ele, o
pior acontece, quando o eleitor acaba
sentindo uma reciprocidade com esse
tipo de candidato. “o problema não
são os apelidos, o pior é quando o elei-
tor também quer ser engraçado e vota
no cara. aí, meu amigo...”
Entre FUMO e MALA
João Batista “Foguim”, candidato a
deputado federal pelo PSDB, disse ter
escolhido esse nome para a candidatura
por ser conhecido pelo apelido. “A seme-
lhança com o personagem do Lázaro
Ramos na novela ‘Cobras e Lagartos’, me
trouxe o apelido de Foguim, hoje todos me
chamam assim”, comentou. João Batista
ressalta a falta de verba para investimento
na campanha, mas traça como objetivo o
aumento na fiscalização dos gastos do
dinheiro público e a luta pela dignidade
humana — “Faremos barulho, mostrare-
mos a força da periferia”.
É o mesmo caso de Maria Isabel Rosa
da Mata. A candidata a deputada federal
pelo PV, adotou o nome Isabel “Vovozona”
em sua candidatura. Quando trabalhava
como agente social, após separar uma briga
entre rapazes que tinham problemas com
álcool e drogas, Isabel ganhou o apelido.
Por trás do nome — e da aparência física
com a personagem interpretada pelo
comediante norte-americano Eddie Mur-
phy —, está uma candidata que afirma ter
propostas definidas. “Quero lutar pela
saúde também no interior de Minas; o obje-
tivo é viabilizar a construção de prontos
socorros nas áreas rurais”, promete.
TraBalho
Em cargos de maiores expressões,
como governador e presidente, esses casos
acontecem em menor escala. Porém, é
importante lembrar que o PT se mantém
desde 2003 à frente do governo federal,
quando Luiz Inácio da Silva foi eleito presi-
dente. Ele tornou-se Lula após 1981,
quando alterou judicialmente seu nome
para Luiz Inácio Lula da Silva, que passou
a usar em pleitos eleitorais, pois a legisla-
ção vigente proibia o uso de apelidos pelos
candidatos.
Alguns, por estratégia política, outros
simplesmente pelo apelido. A verdade é
que as eleições brasileiras sempre terão
candidatos curiosos. O importante não são
os nomes e os rostos estampados nos santi-
nhos, muito menos o slogan da campanha.
O que realmente importa para a política
brasileira são as propostas desses represen-
tantes, e posteriormente a integridade
desses profissionais no exercício da sua
profissão. Mas, aí, já é outra história.
FORÇA DA PERIFERIA
do cacareco ao Macaco tiÃo
Para o jornalista Geraldo
Elísio Machado Lopes, este
tipo de brincadeira por parte
dos candidatos não é uma
prática recente.
— Isto começou ao final
da ditadura civi l militar,
quando a Arena iniciou seu
decl ínio frente ao MDB,
depois PMDB. Foi quando
começaram a se filiar ao par-
tido de apoio à revolução
candidatos com nomes estra-
nhos. Um exemplo fo i o
Olavo Leite Bastos, que teve
de acrescentar ao seu nome o
“Kafunga”.
E de lá para cá, segundo
Geraldo Elísio, a situação só
vem piorando. “Eu mesmo
fui convidado a ser candidato
a vereador com a recomenda-
ção de acrescentar ‘Picapau’
ao meu nome, mas recusei.
Primeiro porque sou anar-
quista filosófico, não tenho
partido e penso ser este pro-
cedimento ridículo”, afirma.
No entanto, Geraldo não
acredi ta que a manobra
influa muito no processo
eleitoral, “a não ser em ter-
mos de votos de protesto”,
ressalva.
— Mas não custa lem-
brar que São Paulo já elegeu
para vereador um rinoce-
ronte de verdade, chamado
“Cacareco” . E o R io de
Janeiro, o macaco “Tião”.
Tudo isto demonstra falta de
seriedade e compromisso
com a política.
32 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
da boLa
FUTEBOL
o podEr Por que, há décadas, a bola tem sido um cabo eleitoral tão eficiente quanto o melhor marqueteiro que o dinheiro pode contratar?
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Bebeto, campeão do mundo em 1994. Socrates, líder da democracia corintiana.
Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 33
especial eleições 2014 vote consciente
“A PERFEIÇÃO É UMA META”
Em resposta à repressão da dita-
dura militar, vários atletas, entre as
décadas de 1970 e 1980, se manifes-
taram contra a violência e censura
impostas pelo governo. Especial-
mente nos anos de 1980, os movi-
mentos ganharam força. Nos está-
dios de futebol, com a participação
das torcidas organizadas dos clubes,
e principalmente de alguns jogado-
res. O primeiro foi o médico e meia
Afonsinho, que passou pelo Bota-
fogo, Santos e pelo América MG,
onde ficou conhecido pelas posições
radicais. Afonsinho se recusava a
fazer a barba e a cortar os cabelos,
como um sinal de rebeldia. Por causa
disso, consta que, por imposição da
ditadura militar, nunca foi convo-
cado para a Seleção Brasileira, ape-
sar do talento.
Mas o movimento que mais se
destacou foi o dos jogadores do
Corinthians, a chamada democracia
corintiana, que foi muito marcante,
principalmente porque dentro do
próprio clube, existia essa democra-
tização, os jogadores eram chamados
para votar em algumas decisões
internas. Jogadores como Wladimir,
Casagrande e Sócrates — o principal
pensador —, sempre se posiciona-
vam a favor de projetos que visavam a
redemocratização do país. Como
Afonsinho, nenhum deles se candi-
datou a cargos políticos. Futebol e
política não se discute, mas se mistu-
ram. E Afonsinho, injustiças à parte,
foi eternizado em um samba pelo
compositor Gilberto Gil, “Meio de
Campo”, que, entre outras coisas
lembrava que “a perfeição é uma
meta defendida pelo goleiro, que joga
na Seleção”.
gaBriel PoMPeo
4º período
“Futebol e política não se discute”.
O dito popular é sempre lembrado
quando os dois assuntos vêm à tona em
qualquer roda de discussão. Afinal, são
temas importantes e que sempre geram
divergência de opiniões. Da mesma
forma que, quando cruzeirenses e atleti-
canos se encontram, petistas e peeme-
debistas também divergem com força.
Não é preciso ser especialista — apenas
bom observador — para perceber que,
no Brasil, o futebol é tratado com muito
mais importância do que qualquer outro
tema. Entre eles, a política.
Mesmo assim, o jogo político, em
alguns momentos, se mostrou altamente
atrativo para atletas em fim de carreira e
sem profissão definida. Afinal, o que fazer
para continuar faturando depois do fute-
bol? “Em vez de encarar uma carreira pro-
fissional normal, por falta de estudo, mui-
tos optaram pela política, talvez porque
tivessem uma impressão errônea da práxis
política; quer dizer, já se tinha a ideia de
que, no Brasil, os políticos não trabalham,
que é um dinheiro que se ganha fácil”, teo-
riza a jornalista Ângela Rodrigues.
Quase como uma via de mão dupla,
aproveitando-se cada vez mais dessa força
que o futebol tem perante o povo, atletas,
ex-atletas e dirigentes têm se aventurado
cada vez mais em tentativas de pleitear
cargos públicos. Uma onda de candidatu-
ras tem acontecido, especialmente de ex-
-jogadores que fizeram sucesso em clubes
de massa. O caso mais recente de sucesso
na política é o de Romário, deputado fede-
ral (PSB-RJ), que teve que driblar as des-
confianças iniciais, para se tornar um dos
deputados mais assíduos na Câmara
Federal.
Nem todos, no entanto, seguiram
esse exemplo. O jogador Bebeto, ex-com-
panheiro de Romário na seleção, também
candidato à reeleição pela Câmara Esta-
dual pelo Rio de Janeiro, depois de um
mandato dos mais apagados, vai brigar por
uma vaga no plenário com o atual presi-
dente do Vasco, Roberto Dinamite. Este,
também um ex-atleta de sucesso e um
político igualmente medíocre.
Em São Paulo não é diferente.
Mesmo sem a projeção e o carisma de
Romário, o maior ídolo da história do Pal-
meiras, Ademir da Guia (PRP), também é
candidato a deputado estadual. Até o polê-
mico Marcelinho Carioca (PT) espera
contar com a massa corintiana para tentar
se eleger. Há também casos como o do
folclórico jogador Dinei (PT - SDD), que
chegou até mesmo a ter envolvimento
com drogas e a posar nu para uma revista
dedicada ao público LGBT, que resolveu
se lançar na disputa de uma vaga para a
Câmara Federal. Dinei é visto como um
candidato que se utiliza de artimanhas
extremamente infantis e sem graça, clara-
mente um sinal de falta de capacidade ou
de seriedade.
ONDA DE CANDIDATURAS
34 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014
especial eleições 2014vote consciente
Para Jaqueline Morelo, jornalista e
cientista política, ex-atletas que se candi-
datam e utilizam a imagem dos clubes que
defenderam para angariar votos não
podem ser considerados ilegais.
— Não é ilegal, mas não considero
ético. E, se falta ética desde a candidatura,
imagine no exercício efetivo do poder. Cabe
ao cidadão procurar se informar bem, em
fontes diversas, refletir sobre a importância
do voto, ter uma responsabilidade sobre a
sua escolha, acompanhar e cobrar dos que
ajudou a eleger o cumprimento daquilo
que foi prometido em campanha.
O eleitor Sergio Gomide, professor de
literatura, afirma que não tem time, mas,
diante dessa situação, vê com uma certa
cautela, esses atletas que se aventuram na
política. “Me parece que existe uma apro-
priação da marca do futebol envolvida
nesse aspecto, e de alguma forma a cam-
panha me parece muito ligada ao campo
comercial, o que não é errado, é um direito
deles”, afirma.
O comerciante Luís Henrique, pro-
prietário de um bar na região Noroeste,
afirma que votou no ex-jogador Marques,
do Atlético Mineiro, por sinal, seu padri-
nho de casamento.
— Ajudei ele a fazer a campanha, e se
entrar com o intuito de querer melhorar,
está ótimo. Assim como qualquer cidadão,
os atletas têm direito de participar da vida
política. No caso do Marques, ele foi efe-
tivo criando praças de esporte em alguns
bairros, que ficam meio pra escanteio,
poucos sabem, mas foi obra dele.
Mas há quem consiga separar a paixão
e o voto. O advogado Marlon Mello Jr., 27,
torce para o Cruzeiro, mas jura que não
votaria em nenhum jogador de seu time.
— Acho que tem muito oportunismo.
Acho que vereador não é só pra construir
pracinha e ficar mudando nome de rua; os
caras têm que servir à cidade. Os jogado-
res de futebol ganham salários milionários
e, quando vão para a Câmara, são os pri-
meiros a aumentar seus próprios salários.
Querem continuar ganhando altos salá-
rios pra não fazer nada. Compara, por
exemplo, o que o Reinaldo fez no campo e
o que ele faz hoje na Câmara...
VENDENDO SEU VOTO
Maior goleiro da história do
Cruzeiro, o paranaense
RAUL PLASSMANN
(PSC), atualmente
trabalhando nas categorias
de base do clube, é
candidato a deputado
federal. Entrevistado pelo
Lince, comentou sobre sua
candidatura.
— Eu sei que meu passado
de campeão pode até me
ajudar nas eleições, mas o
eleitor quer mais do que
isso — reconhece.
Segundo Raul, “a maioria
das pessoas pergunta:
‘poxa vida’, o que você vai
fazer lá? Já vai se meter
nisso ai? Eu vou me meter
sim, porque eu estou
cansado de ficar olhando”,
afirma Raul.
— Como há agressão aos
políticos, de uma forma
geral, também temos que
ver o outro lado, não são
todos os eleitores que são
ruins, porque tem muita
gente de boa índole, mas
tem eleitor esperando a
eleição para vender voto.
Nelinho, Marques,
Toninho Cerezo, Reinaldo
e, por tabela, até os
narradores esportivos vão
tirando uma casquinha:
Mário Henrique, Alberto
Rodrigues e João Vítor
Xavier foram candidatos e
se elegeram, provando que
não se pode subestimar o
poder da bola.
ÉTICO OU ILEgAL
Foto
: Fer
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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 35
especial eleições 2014 vote consciente
“NÃO TEM CORÉ, CORÉ”
Trazendo essa discussão para Minas,
percebe-se que ex-jogadores de
Atlético e Cruzeiro, principalmente,
também têm histórico na política.
Recém-chegado da Copa de 1970, o
zagueiro volante Wilson Piazza, do
Cruzeiro, foi dos primeiros a tentar a
sorte nas urnas. E se deu bem. Da
mesma forma que o folclórico
Kafunga, goleiro do Atlético nas
décadas de 1935 a 1954, e que
depois se tornou comentarista de
arbitragem na rádio Itatiaia — onde
criou jargões como “não tem coré,
coré” ou “gol barra limpa”. Ele
também chegou com sucesso à
vereança, onde continuou destilando
seu folclore.
A moda continuou. Outro ex-goleiro
do Atlético, mas dos anos de 1970 e
1980, JOãO LEITE (PSDB) é mais
um que tenta a reeleição — pela 6º
vez consecutiva — como deputado
estadual. Atuando na política desde o
início dos anos 1990, quando foi
eleito vereador, ele ainda presidiu a
Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia (1996 – 2000) e a
Comissão de Segurança Pública. O
deputado não se conforma com o
preconceito com ex-atletas na
Câmara.
— Existe. É muito triste. Eu fico com
dó das pessoas, muitas vezes, os
acadêmicos dizem algo como:
“Como pode um jogador de futebol
entrar na política? Ele não tem o
direito de estar aqui”. É lamentável,
são pessoas que não pensam.
Segundo João Leite, “precisa-se de
mais pessoas ligadas ao esporte nas
casas legislativas, as pessoas que
estão envolvidas no esporte têm uma
contribuição para dar à população”.
O futebol, ao longo da história política
do Brasil, sempre foi e continua sendo
usado como escape em casos, e como
arma infalível em campanhas políticas.
Durante o regime militar, os generais se
aproveitaram ao máximo essa “ferra-
menta” de campanha. No início de seu
“governo”, em 1968, como forma de ten-
tar acalmar os ânimos da população, o
general Costa e Silva, então presidente da
República, definiu que o futebol seria “um
fator pacificador”. E, em uma reunião
com João Havelange, presidente da CBD
(Confederação Brasileira de Desportos) à
época, Costa e Silva ponderou, mas em
tom de ameaça, que “o Brasil não pode
perder este campeonato; temos de dar um
jeito de qualquer forma...”. O general se
referia à Copa de 1970.
Com o afastamento de Costa e Silva, o
sombrio general Garrastazu Médici deu
continuidade à estratégia. Além de com-
parecer aos eventos esportivos, tentou se
aproximar dos atletas da seleção que con-
quistaria o título em 1970. E, dizem, che-
gou até mesmo a interferir na convocação
dos jogadores, insistindo na convocação
do centroavante Dario, do Clube Atlético
Mineiro. O impasse, diante da negativa do
técnico da seleção, o jornalista João Salda-
nha — comunista assumido —, em convo-
car o jogador, redundou na primeira crise
na seleção. O técnico foi demitido e subs-
tituído por Mário Jorge Zagalo que, em
reverência ao general, convocou Dario.
O problema é que, desde 1968, já havia
militares na Comissão Técnica da seleção.
Do preparador físico Admildo Chirol, for-
mado na Escola de Educação Física do
Exército, ao capitão Cláudio Coutinho e o
major Carlos Alberto Parreira. Dá pra ima-
ginar que o preparador de goleiros era um
tenente (Raul Carlesso) e que o supervisor
era um capitão (José Bonetti)?
A DITADURA MILITAR JOgOU PESADO DESDE O INÍCIO
Foto
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