jornal lampião - 5ª edição

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edição: leandro sena e lincon zarbietti

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O Jornal Lampião é uma publicação laboratorial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto. Produzido pela turma 2009.1 5ª Edição - Dezembro de 2011.

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Page 1: Jornal Lampião - 5ª Edição

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Page 2: Jornal Lampião - 5ª Edição

02 Edição: Eduardo Almeida e Marcela Servano

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

Jornal laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo D Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) D Reitor: Prof. Dr. João Luiz Martins. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Giulle Vieira da Matta. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Marta Regina Maia D Professoras responsáveis: Adriana Bravin (Reportagem) e Priscila Borges (Planejamento Visual) D Reportagem, fotografia e edição: Allan Almeida, Alyson Soares,

Ana Malaco, André Luís Mapa, Bárbara Andrade, Beatriz de Melo, Deiva Miguel, Eduardo Guimarães, Elisabeth Camilo, Eloisa Lima, Erica Pimenta, Eugene Francklin, Fádia Calandrini, Flávio Ulhôa, Gracy Laport, Josie Oliveira, Leandro Sena, Lincon Zarbietti, Lucas Lima, Luiza Barufi, Marcela Servano, Maria Aparecida Pinto, Rayanne Resende, Yasmini Gomes D Projeto gráfico: Enrico Mencarelli, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mayara Gouvea, Simião Castro, Tábata Romero D Colaboração: Anderson Medeiros, Bruno Galvão, Fábio Germano D Revisão: Eduardo Almeida, Alyson Soares, Yasmini Gomes D Impressão: Sempre Editora Ltda D Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço eletrônico: [email protected]. Twitter: @JornalLampiao Endereço: Rua do Catete nº 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG.

Erramos

No fim do ano, comemora-se um aniversário muito especial – o de Jesus Cristo. Para os que creem e mesmo para os que ão creem, o Natal é sempre um dia importan-te. Atreveríamos a dizer que ele é um período do ano abrangente, porque o respiramos em novembro e ele continua conosco em janeiro. Mas, Natal pode ser o ano todo ou mesmo a vida inteira.

Basta olhar para os lados e ver muitas possibilidades de trabalhar voluntariamente, ajudando-nos uns aos outros sem esperar paga-mento em troca. Eis o nosso mote para essa edição: as ações solidá-rias realizadas nas comunidades.

Não tem nada a ver com reli-gião, nada a ver com ideologias. Tem a ver com o levar o que temos e o que sabemos para o outro, que necessita da nossa bagagem. E re-cebermos do outro o que ele tem a nos oferecer. Assim, podemos di-zer que ser voluntário é uma ex-pressão bastante abrangente.

O Lampião, nessa edição, apre-senta algumas propostas para que o leitor conheça o que tem sido fei-to na região em nome de ações so-lidárias, como o estímulo para os jovens adentrarem ao univer-so das artes e a preparação deles

para enfrentarem o mercado de trabalho, aprendendo através da leitura, do aprendizado de lín-guas, da compreensão da cultura em suas vidas.

Se a primeira impressão é a que fica, há quem se preocupe com o sorriso do outro, cuidan-do dos seus dentes e de sua saúde. Se o problema é financeiro, pode-se auxiliar uma pessoa ou institui-ção organizando-se brechós para levantar recursos, ou ainda pro-duzindo e vendendo sabonetes e outros cosméticos; outra forma é através da música, transformando o adolescente e o jovem em profis-sionais da área.

Pensar em solidariedade im-plica pensar em inclusão social: a interação pode ocorrer na sessão da narrativa de causos ( como se diz na região), dentro da bibliote-ca volante, nos momentos cênicos promovidos pelos jovens artistas da UFOP, nas visitas aos hospitais e às sedes da Apae e pelos espor-tes, ou no apoio àqueles vitimados dentro do próprio lar. Então, ofe-reça-se para trabalhar em alguma atividade que torne o outro, hoje, melhor do que ele se sentia ontem. O melhor da história: somos os principais favorecidos.

Ações Solidárias Editorial

EntrE olharEs

ViViane Souza Pereira

As políticas sociais possuem uma dimensão contraditória. Aten-dem tanto ao processo de acumu-lação do capital e manutenção da lógica estrutural em que vivemos quanto respondem parte das de-mandas dos trabalhadores. Assim, escapa às suas capacidades, dese-nhos e objetivos eliminar níveis tão elevados de desigualdade, como os encontrados no Brasil. A partir da correlação de forças existente na sociedade, em dados momentos históricos elas irão tender mais a um polo ou a outro. A política pú-blica de assistência social avançou nos últimos anos. Isso é perceptí-vel e atestado por alguns aspectos, tais como a reformulação da Polí-tica Nacional de Assistência Social (PNAS), em 2004, e a aprovação do Sistema Único de Assistência So-cial (SUAS), que agora é lei. Porém, ainda há muito que ser feito.

A distribuição dos recursos do Ministério do Desenvolvimento Social, em 2010, aponta que 91,6% são destinados aos programas de transferência de renda, divididos em 52% para o Benefício de Pres-tação Continuada; 35%, Bolsa Fa-mília; e 4,6%, Renda Mensal Vitalí-cia. Somente 2,3% do montante de recursos destina-se a Proteção So-cial Básica e Especial; 0,9%, ao Pro-jovem; 0,1%, ao combate à violên-cia sexual; e 5,1% a outras ações do Ministério.

Os dados demonstram uma barreira para a efetivação do SUAS e evidenciam o compromisso assu-mido com a manutenção do pro-cesso de valorização do capital em detrimento do atendimento das necessidades humanas.

dável para mim. É um poeta? Po-etas existem aqui e ali, e é tão bom conhecê-los...

Ah, e quem sou eu que me in-trometo na sua vida sem ao menos me identificar? Sou apenas uma es-tudante de jornalismo. Por favor, não se sinta cobaia de mim. Você não é objeto de minha especulação. Você é minha inspiração, meu tudo neste momento...

Você pode ser qualquer um, o guarda no trânsito, o comerciante à porta de seu estabelecimento, o

As expressões da questão social estão sendo enfrentadas, quase em sua totalidade, por meio de pro-gramas de transferência de renda, que respondem por grande parte da ampliação de recursos destina-dos à assistência social. O aumen-to de recursos é acompanhado de um esvaziamento da saúde e pre-vidência social públicas, abrindo campo para a atuação dos siste-mas complementares, ou seja, pla-nos de saúde e previdência privada. Mesmo com um substancial inves-timento de recursos na assistência social, ela não atinge, na íntegra, a população e permanece focalizada.

Mesmo com um substancial

investimento de recursos na

assistência social, ela não atinge,

na íntegra, a população.

Neste contexto, os pobres, de-sempregados e empregados pre-cariamente são estimulados a resolver seus problemas, o que evi-dencia a permanência de um con-servadorismo característico da po-lítica brasileira. Desprovida de acesso aos direitos sociais e traba-lhistas, a população é incentivada a adentrar a lógica dos “cidadãos consumidores” dos sistemas com-plementares privados, do empre-endedorismo social e do crédito fácil. Esse quadro gera um agrava-mento a questão social e contribui

opinião

Políticas Públicas

eliSabeth Camilo No banquinho da praça pode-

mos falar de gente, de flores, de causos, de medos ou de dúvidas.

Se você caminha pelas ruas e não tem quem queira lhe ouvir, conte comigo. Ouvir é uma arte e precisamos praticá-la sempre que possível. Há segredo? Conte-os, se quiser. Os segredos mudam de ge-ração para geração e também os te-nho para partilhar.

Ótimo, vou conhecer seu per-fil agora e isto vai ser muito agra-

Muito Prazer

para assegurar o predomínio da ló-gica estrutural estabelecida.  

Desta forma, prossegue a luta da sociedade brasileira em dire-ção à concretização de direitos so-ciais. O Serviço Social, profissão comprometida com a defesa da universalização da seguridade so-cial e de uma política de assistên-cia social capaz de assegurar bene-fícios e serviços de qualidade, com participação e controle da socieda-de civil e enquanto responsabilida-de do Estado, certamente, continu-ará presente nesta caminhada. A categoria precisa se mobilizar, e lu-tar pela ampliação e materialização dos direitos para além da legislação existente e pela universalização da seguridade social. A assistência so-cial brasileira somente poderá ser entendida enquanto parte de um sistema de proteção social públi-co quando este articular assistência social, saúde e previdência, garan-tindo o tripé da Seguridade Social.

Viviane Souza Pereira, Assistente Social e

Mestre pela UFJF, doutoranda em Serviço

Social pela UFRJ e professora do curso de

Serviço Social da UFOP.

CharGE

Convite: sente-se ao meu lado e ouça minhas histórias...

executivo que resolveu ajudar uma ONG, o homem que ganhou na lo-teria, a poesia que desejou morrer ou o atleta que acabou de receber uma medalha, mesmo sem patrocí-nio. Sem você, eu não vivo, eu não sou ninguém. Quem é o jornalista sem o fato jornalístico, sem a pes-soa a perfilar, sem a instituição para visitar, sem a policia, sem o bom-beiro, sem o político? Ele é apenas alguém sem rumo, nada mais.

Por tudo isso, me convido para sentar a seu lado e compartilhar seu silêncio, sua reflexão, sua his-tória de vida. Posso descobrir em você um talento oculto, uma pes-soa mais do que especial (porque especial você já é), uma fonte ofi-cial ou oficiosa, um amigo. Me aperte a mão. E, com esse gesto, me inclua na sua vida.

lampEjos dEsta Edição

LUIZA BARUFI

“No Siame encontrei apoio para superar a dor e, principalmente, coragem para ir adiante com o processo”.Rosileine dos Santos, após sofrer agressões do marido e buscar o apoio do Siame. p. 8

“Não me vejo fora dessa atividade. Só falto se precisar fazer algo

muito urgente”,Shirley de Fátima, sobre seu trabalho voluntário

no Lar Santa Maria. p. 9

“Já aconteceu de mandarmos projetos importantíssimos para as criançase a empresa retornar dizendo pra enviar outro projeto, que seja melhor para o marketing dela”.Maria Zélia Ventura, diretora da Apae, sobre as dificuldades em parcerias com empresas locais. p.4

“A arte a gente não pode ensinar, a pessoa nasce com o dom. O que

podemos fazer é orientar”.Hélio Petrus, artista plástico explicando que,

com experência, os alunos desenvolvem seu próprio talento. p. 6

EDIÇÃO 4 - NOVEMBRO 2011 As fotos da reportagem:”Instalação de semáforos em Ouro Preto na Barra, da página 10, são de Flávio Ulhôa. A foto da matéria “Cine Inconfidentes incentivo a produção”, da página 11, é de divulgação.

Page 3: Jornal Lampião - 5ª Edição

03Edição: Eugene Francklin e Maria Aparecida Pinto

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

Voluntariado mantém escolinhas

Bazar motiva solidariedade

Sorrisos em hospitais

de futebol em Mariana e regiãoAndré mApA

Baseado na tese de que a prática de esportes é a principal alternativa para prevenção do envolvimento de crianças e adolescentes com as drogas e com a violência, o Institu-to Marianense de Socialização pelo Esporte (IMSE) auxilia a manuten-ção de 15 escolinhas de futebol em Mariana e Ouro Preto.

O trabalho é desenvolvido por voluntários, que atuam desde a captação de recursos para aquisi-ção de uniformes e materiais es-portivos, e treinadores, em ativi-dades realizadas dentro de campo. “Os voluntários trabalham todos os sábados com os meninos. Além dos treinamentos, também realiza-mos palestras sobre como podem cuidar melhor da saúde e preven-ção ao uso de drogas e álcool”, afir-ma o presidente do instituto, José Pereira dos Santos Neto.

De acordo com o voluntário responsável pela escolinha do Gua-rany Futebol Clube, Marcos Edu-ardo Rosa, o “Brigite”, “o objetivo do instituto é contribuir para a for-mação de cidadãos mais conscien-tes”. “Não queremos apenas formar atletas, mas sim pessoas que sai-bam o que é respeito, disciplina e trabalho em equipe”.

Além das cerca de mil crian-ças e adolescentes, com idade en-tre 5 e 17 anos, que frequentam as escolinhas, muitos pais e familiares

também se envolvem e participam do trabalho. “Enquanto os meni-nos estão em campo, fico do lado de fora tomando conta das crianças menores. Vários pais vêm cedo tra-zer os filhos e aproveitam para aju-dar”, conta Nilza Assis Moreira, avó de um dos alunos da escolinha de futebol do Guarany.

O instituto obtém recursos para manutenção das escolinhas através de convênios com o Governo esta-

dual e com a empresa de minera-ção Samarco. “Através das parcerias com o governo conseguimos ad-quirir um veículo para atendimen-to médico aos meninos e transpor-te dos voluntários. Já a Samarco patrocina a compra de materiais es-portivos”, diz.

Este projeto também auxilia es-colinhas nos distritos de Mariana e de Ouro Preto. “Elas são impor-tantes porque são uma forma de in-

centivo à inclusão social e à melho-ria da qualidade de vida, além de agregar valores para a socialização das crianças”, ressalta o presidente do Instituto Marianense de Sociali-zação pelo Esporte.

Pela iniciativa, o instituto, que conta atualmente com 75 voluntá-rios, já recebeu prêmios destinados a destaques do esporte local, in-cluindo o Troféu Imprensa de Ma-riana, e o Troféu Cafunga.

Entidade conta com 75 voluntários e atende, aproximadamente, mil crianças e adolescentes com o objetivo de formar, mais do que atletas, cidadãos

Os treinos, aos sábados, são oportunidades de aprendizado sobre respeito, disciplina e trabalho em equipe; voluntários se revezam dentro e fora do campo

Josie oliveirA

Atualmente, com a correria de-senfreada e o imediatismo , as pes-soas estão se esquecendo de ges-tos simples para com outro. Trocar um sorriso ou dar um abraço não fazem mais parte do cotidiano de quem vive nos centros urbanos. Mas, em Mariana, ainda é possível encontrar pessoas dispostas a aju-dar o próximo sem obter alguma vantagem ou lucro.

É o caso de Maria Zacarias, 58, que nasceu em Furquim, distri-to de Mariana, e que na adolescên-cia mudou-se para a cidade com seus pais e mais 13 irmãos. Em 1974, Maria casou-se, e teve qua-tro filhos.

Sempre foi uma mulher batalha-dora e durante muitos anos exerceu a função de secretária na Escola Pa-dre Avelar e no Seminário de Teo-logia São José. Por problemas de saúde, ela teve que se afastar do tra-balho e aguarda até hoje a sua apo-sentadoria. Há 18 anos, Maria pos-sui um pensionato para estudantes no município.

Maria tornou-se voluntária de um bazar, graças a um favor que realizou para uma amiga: entregar um documento ao presidente da Comunidade Terapêutica Emanuel (Coterem). Ela interessou-se pela entidade, participou de reuniões e decidiu ser voluntária.

A Coterem, atualmente situa-da na Rua André Corsino, Centro, é uma entidade filantrópica, que se destina a atender pessoas com de-pendência química, oferecendo apoio psicológico, espiritual e de reintegração na sociedade.

O bazar, coordenado por Ma-ria Zacarias há um ano, recebe do-ações de roupas, calçados, bolsas, acessórios e materiais escolares, cuja renda é direcionada para com-

pras de materiais de construção para a nova sede da entidade, pa-gamentos de funcionários e despe-sas pessoais.

Os produtos vendidos no ba-zar são de baixo custo variando de R$ 1,00 a R$ 5,00. Algumas lojas da cidade também fazem doações de roupas novas que costumam ser vendidas entre R$ 10,00 e R$ 20,00.

Antes, o bazar era realizado na Casa de Cultura a cada três meses.

Atualmente, acontece todos os me-ses, durante dez dias, em um imó-vel da Igreja São Francisco.

Para se tornar um voluntário do bazar basta entrar em contato com Maria Zacarias pelos telefones (31) 3557-1581 ou (31) 3558-1036, ou no escritório da Coterem.

O bazar irá funcionar até o dia 20 de dezembro, das 10 às 17 ho-ras. Endereço: Rua Travessa João Pinheiro, 20, Centro.

deivA miguel

O grupo Só Riso, uma vez ao mês, visita hospitais e orfanatos de Mariana com o objetivo de le-var alegria às pessoas que se en-contram internadas, pacientes que, às vezes, estão em fase terminal e crianças que são criadas sem o ca-rinho dos pais.

Inspirados nos Doutores da Alegria, os amigos e palhaços Dr. Geleia, Pipoca, Moranguinho, Ki-suco, Batata e Maria-Mole se uni-ram em torno da vontade de aju-dar ao próximo. Preferem ficar no anonimato e, por isso, só usam o “nome artístico”.

Eles contaram com o apoio de uma costureira, que ajudou a criar as vestimentas de palhaços, e assim nasceu o grupo, que é voluntário e não conta com ajuda financeira de nenhuma instituição.

No cotidiano, os amigos estu-dam e trabalham, pois não têm a intenção de se sustentar economi-camente com a atividade. O que os motiva a exercer esse papel é o de-sejo de diminuir a tensão de um paciente no hospital. “Não há um cronograma de visitas”, explica o Dr. Geléia, que relata acordar, no

final de semana, e sentir no cora-ção que precisa naquele dia ir às vi-sitas. O grupo é composto apenas pela família dos integrantes e duas moradoras de distritos de Mariana.

Após cada encontro, eles perce-bem uma mudança de humor e sa-tisfação nos pacientes e nas crian-ças, e dizem que o trabalho não é unilateral: o espírito de luta, a cora-gem e alegria das pessoas atendidas pelo grupo são contagiantes. “Só presenciando (isso) é que se sente; não há muito como explicar a sen-sação”, diz o Dr. Geleia.

A assistente social Apareci-da Custódia, do hospital Monse-nhor Horta, em Mariana, diz per-ceber uma “melhora muito grande no estado do paciente ao receber a visita do grupo”. “Eles (os pacien-tes) ficam mais animados para lu-tar contra suas doenças”, afirma.

Quem tiver interesse pelo pro-jeto e quiser acompanhar o grupo nas visitas aos hospitais pode fa-zer contato através do e-mail [email protected].

O grupo prefere ficar no anoni-mato, mostrando apenas seus no-mes artísticos, pois acredita que trata-se de um trabalho voluntário.

O lucro da venda de roupas é revertido para a manutenção da Coterem

AllAn AlMEidA

André MAPA

gente

Em 1986, nasce o projeto Doutores da Alegria, a ideia nor-te americana teve início com Mi-chael Christensen, um palhaço que se apresentou em um hospi-tal em uma data comemorativa. Neste evento, percebeu que al-guns pacientes não tinham como participar da comemoração devi-do as condições hospitalares em que se encontravam.

Ele resolveu entrar nos quar-tos e levar a atração aos que não podiam se deslocar. E assim o projeto se firmou e se desenvol-ve até os dias de hoje. Em 1988, Welligthon Nogueira foi para os EUA para integrar ao grupo. Em 1991, retorna ao Brasil para de-

senvolver o projeto. Junta-se a al-guns palhaços que igualmente a ele integraram o mesmo projeto em outros países, como Alema-nha e França. Naquele ano, eles realizaram a primeira visita ao Hospital Nossa Senhora de Lour-des, em São Paulo, hoje conheci-do como Hospital da Criança.

Os Doutores da Alegria são uma organização civil e sem fins lucrativos. Atualmente, o grupo já realizou mais de 800 visitas, em hospitais de São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Os integran-tes do projeto lutam para manter a instituição voluntária.

Fonte: www.doutoresdalegria.org.br

Quem são os Doutores da Alegria

Page 4: Jornal Lampião - 5ª Edição

04 Edição: Ana Malaco e Beatriz de Melo

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

Eduardo almEida

Na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Mariana, além de estudar, os alunos participam de diversas atividades como oficinas de tapete, artesanato, sorvete e bijuteria. “Aqui na oficina são dois turnos com quatro alunos. É prazeroso ver a vontade de ajudar que eles têm”, conta Maria Auxi-liadora, que ministra o cur-so de sorvete na Associação. Após ficarem prontos, os sor-vetes são vendidos na própria Apae e o lucro também é usa-do na manutenção da insti-tuição. Os trabalhos manuais e artesanais produzidos na Associação auxiliam no de-senvolvimento das crianças e jovens.

Apesar da relevância do trabalho realizado na comu-nidade marianense, a Apae não recebe recursos suficien-tes para uma manutenção sa-tisfatória e investimentos na infraestrutura ficam prejudi-cados. “Já aconteceu de man-darmos projetos importan-tíssimos para as crianças e a empresa retornar dizendo pra enviar outro projeto, que seja melhor para o marketing dela”. A afirmação da dire-tora, Maria Zélia Gonçalves Ventura, retrata as dificul-dades que a entidade enfren-ta para manter o quadro de 73 funcionários e 180 alunos atendidos pela instituição.

A diretora da Associação afirma que apesar do alto po-der aquisitivo da população de Mariana, as pessoas não investem na entidade. De acordo com os dados dispo-níveis no site do IBGE, Ma-riana tem hoje um PIB (Pro-duto Interno Bruto) de R$ 41.160,18, por pessoa. Para Maria Zélia, falta mais parce-ria também entre as grandes empresas instaladas na cida-de e a Apae. “As grandes em-presas da região não apoiam e, quando apoiam, limitam uma verba para ser dividida entre diversas instituições”, afirma a diretora.

Há quase uma década foi criado o serviço de

telemarketing, mas o número

de doações ainda é baixo

Segundo Maria Zélia, “as trocas de prefeito prejudicam muito a Apae. (...) A gente depende muito do apoio da Prefeitura, porque o Governo do Estado está longe e é radi-cal em seu apoio”. A diretora se refere ao fato do Estado ter uma verba fixa destinada à

Produtos das oficinas ajudam a manter ApaeEm Mariana, a Apae sofre com ausência de incentivos de empresas públicas e privadas, e doações se tornam alternativa para manutenção da entidade

Eduardo almEida

Um projeto que oferece a chance de um novo aprendi-zado e de entrada no merca-do de trabalho para os jovens. Assim é o Padaria Esco-la, que hoje atende oito alu-nos que frequentam as aulas diariamente no CRIA (Cen-tro de Referência à Infância e Adolescência) da Prefeitu-ra de Mariana.

Entre eles está o estudan-te Felipe Batista, 18 anos, aluno e monitor, que há sete meses trabalha em uma pa-nificadora da cidade. “O pro-

jeto é bom porque dá chance ao primeiro emprego, tira as crianças da rua e é uma qua-lificação pra gente”, conta Fe-lipe, que hoje também ajuda a mãe na confecção de salga-dos e doces vendidos na feira da cidade.

Durante o período de seis meses de curso, cerca de 36 receitas são ensinadas para alunos de baixa renda ou em liberdade assistida. “Além de qualificarmos esses jovens para conseguirem um em-prego nas padarias da região, ainda ajudamos alguns a re-

tornar à comunidade”, infor-ma o instrutor do curso de panificação, Douglas Fraga

A Padaria Escola iniciou também uma parceria com a Apae e com a Comunida-de do Figueira, para capa-citar alunos especiais para que tenham oportunidade de ingressar no mercado de trabalho.

Atualmente, o projeto fornece cerca de mil pães por dia, que são distribuídos en-tre órgãos públicos da cida-de. De acordo com Douglas, várias padarias do municí-

pio entram em contato com o grupo a fim de contratar jo-vens capacitados pelo curso. Este ano, 50 jovens já foram empregados.

O curso conta com nutri-cionistas, que ministram au-las teóricas e práticas sobre o uso de alimentos e a for-ma adequada de manipulá-los. Técnicos de segurança do trabalho complementam a formação com instruções sobre o uso de equipamentos de cozinha industrial.

Outra iniciativa realizada pela Secretaria de Desenvol-

Todos os anos a Apae realiza a Fes-ta de Natal para os alunos, com direito a presépio e chegada do Papai Noel. As professoras fazem uma lista com o tama-nho de roupas e calçados de cada estu-dante, e assumem a missão de conseguir um padrinho para cada um dos estudan-tes da Associação.

Cabe ao padrinho o papel de presen-tear e fazer valer o espírito solidário que

Seja um Padrinho neste Natal

instituição, sem flexibilidade.Para ajudar na manuten-

ção da entidade e no aten-dimento aos alunos foi cria-do, há oito anos, um serviço de telemarketing. O número de doações é baixo, a popula-ção desconhece este trabalho apesar de quase uma déca-da em funcionamento. Duas funcionárias são responsá-veis por entrar em contato com a comunidade e atrair doações. Este serviço visa envolver os moradores, para que ajudem a instituição. “O telemarketing é um traba-lho muito minucioso, porque a pessoa só investe naquilo que confia. Aqui se faz mági-ca com as doações”, comple-ta Zélia.

Com relação à infraes-trutura da Apae, Maria Zélia destaca a falta de uma piscina para o trabalho fisioterápico. Nas instituições de apoio à criança especial, segundo ela, a piscina é algo fundamen-tal no trabalho da reabilita-ção. “Temos intenção de ini-ciar também o trabalho de reabilitação das crianças com apoio de cavalos. Temos um espaço enorme que podería-mos utilizar para estes fins”, explica Maria Zélia.

Uma van, uma Kombi e um Fiat Uno estão disponí-veis para o atendimento dos alunos, os custos de manu-tenção e rodagem são de res-ponsabilidade da Apae.

Fotos: EduArdo AlMEidA

Com as mãos na massa e o registro na carteira

Aluna da Apae durante a Oficina de Tapeçaria: atividade artesanal ajuda no desenvolvimento

Sorvete também é fonte de renda para manutenção da Apae

Alunos do projeto Padaria Escola colocam em prática receitas aprendidas durante os seis meses de curso

EDUCAÇÃO

Eduardo almEida

No dia 29 de setembro, alunos dos primeiros anos da Escola Municipal Prefei-to Jadir Macedo, do distrito de Monsenhor Horta, visita-ram a Apae em Mariana. Jun-tamente com funcionárias da escola, os estudantes tiveram a oportunidade de ampliar o convívio e o diálogo com

Associação entra na rotina de alunosportadores de necessidades especiais leves.

Para a professora de So-ciologia, Ana Maria Tavares, “mais do que uma simples vi-sita, esta etapa inicia um pro-jeto da disciplina de Socio-logia, que visa a integração entre as duas escolas”.

A aproximação entre a es-cola e a Associação surgiu da

necessidade de discutir com os estudantes temas como respeito com as diferenças, solidariedade e cidadania.

De acordo com Ana Ma-ria, os alunos sentiram que o encontro foi de extrema im-portância para mostrar que as diferenças devem ser pau-tas de discussão em toda a comunidade marianense.

vimento Social e Cidadania busca atingir diferentes áre-as da gastronomia. Também realizado no CRIA, o pro-grama Cozinha Escola bus-ca capacitar e qualificar ho-mens e mulheres nos fazeres da culinária.

Hoje, o programa tem sete alunos em treinamen-to que produzem diariamen-te almoço para 70 pessoas. O projeto funciona como vitri-ne para as empresas do ramo. No começo do semestre, seis alunos já estão com seu re-gistro na carteira.

ronda o Natal. Mais do que comprar um conjunto de roupas e um calçado, mas mostrar solidariedade com o próximo.

Para se tornar um padrinho é muito fácil, você deve entrar em contato com a Apae de Mariana e solicitar algum item da lista de presentes. Procure parentes e ami-gos que possam dividir o custo do presen-te com você. A Associação atende pelo te-lefone (31) 3557-3758.

SAIBA MAIS

Para participar do programa é necessário estar inscrito no Ca-dastro Único do Go-verno Federal, que ma-peia famílias de baixa renda, até meio salá-rio mínimo por pes-soa, que pode ser fei-to na própria secretaria do CRIA, localizada na Rua 2 de Outubro, Vila Maquiné, s/nº.

Page 5: Jornal Lampião - 5ª Edição

05Edição: Alyson Soares e Lucas Lima

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

População aprende novo idiomaatenderam a demanda. “O número de alunos aumentou bastante. Des-sa maneira, não tivemos condição de abrir vagas para todas as pesso-as que procuraram o curso. Porém, já estamos trabalhando por um número maior de bolsas para que toda a comunidade possa ser aten-dida”, conta Ciro Medeiros.

A moradora de Mariana, Sara Meynard, que faz o curso há dois anos, aprova o curso. “Os professo-res são bem preparados e a didáti-ca usada por eles também, sem fa-lar do meu rendimento na escola que melhorou bastante”. Além dela, os alunos que procuram o curso são crianças, estudantes do ensi-no fundamental, médio e superior, e até mesmo funcionários de gran-des empresas, que acreditam ser importante o aprendizado da lín-gua para o mercado.

Atualmente, o curso possui tur-mas em Mariana, no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) e no Instituto de Ciências Huma-nas e Sociais (ICHS), e em Ouro Preto, no Instituto de Filosofia e Artes Cênicas (IFAC).

As matrículas são feitas no iní-cio do semestre. Informações pelo telefone: (31) 3557-9426 ou no Centro de Extensão do ICHS, loca-lizado no campus de Mariana.

nos, e eles conseguem acompanhar perfeitamente”.

O valor cobrado é de R$ 170,00 por semestre, além do material, que fica entre R$ 150,00 e R$ 200,00. A universidade disponibiliza bolsas, mas no atual semestre não pode

Aulas de artes circenses para crianças de Ouro Preto

Arte mostra como se pode cuidar do planeta

Rayanne Resende

Contribuir para o desenvolvi-mento social e humano da comu-nidade, utilizando a cultura e as artes circenses. Ao longo de cin-co anos, esse tem sido o principal objetivo do Circo, Arte-Educação & Cidadania, um projeto de ex-tensão do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em parceria com a Organização Cultural Ambiental (OCA), associação sem fins lucra-tivos formada por membros do ex-tinto projeto “Circo da Estação”.

Com aulas em Ouro Preto e no distrito de Antônio Pereira, o pro-jeto atende em torno de 122 crian-ças e adolescentes de baixa renda, entre 10 e 16 anos, em situação de vulnerabilidade social.

Oferece oficinas circen-ses, como acrobacias de solo e aérea (técnicas te-cido, corda e lira), mala-bares e equilibrismo (em tambor, rola-rola, perna de pau, monociclos e ara-me baixo). O objetivo é es-timular a imaginação das crianças e dos adolescen-tes através da arte do circo, possibilitando a elas lança-rem um novo olhar sobre a realidade na qual estão in-seridas, motivando novas oportunidades.

Segundo o co-ordenador, Edu-ardo França, o Circo, Arte-Edu-cação & Cidada-nia tem como fina-lidade desenvolver valores fundamen-tais à formação dos alunos, tais como: solidari-edade, persis-tência, autono-mia, criatividade, e principalmente

dania foi semifinalista do Prêmio Itaú-Unicef, destinado a organiza-ções sem fins lucrativos que reali-zam ações socioeducativas. Apesar de não ter ganhado o prêmio, rece-beu notoriedade e conseguiu che-gar à penúltima fase de um con-curso que contou com um total de 2.922 projetos inscritos.

Contato:

Organização Cultural Ambiental

Rua Randolfo Bretas, 36, Centro – Ouro Preto/MG

(31) 3551-5986

E-mail: [email protected]

YASMini GOMES

Projeto de Extensão da UFOP oferece curso de inglês de qualidade e com preço acessível, tendo grande aceitação nas comunidades em que atua

dologia, darem uma aula, serem alunos do curso de Letras da uni-versidade, tendo coeficiente de, no mínimo, sete pontos.

Uma das professoras do cur-so, Marcelly Godinho, destacou o fato de as aulas serem todas na lín-

gua estudada, despertando maior interesse dos alunos em aprende-rem. Segundo ela, “há um esfor-ço deles em desenvolverem a aula toda em inglês, tanto debatendo os temas propostos quanto con-versando sobre assuntos cotidia-

fortalecer o valor “escola” e, com isso, combater a evasão escolar, um gran-de problema hoje das co-munidades na qual atua.

Além das oficinas gratuitas de circo, há também o acompanha-mento periódico das fa-mílias dos alunos, arti-culando com os órgãos públicos, as assistências necessárias para cada caso. O acompanha-mento se estende para as escolas, que são visi-tadas regularmente por facilitadores, que reali-zam reuniões com di-retores e professores, além do monitoramen-

to do rendimento es-colar do estudante.

Ex-aluno do projeto, Rodrigo

Junior Ferreira, 19 anos, hoje é professor.

“Eu cresci com as ati-vidades do circo es-

cola, tinha 14 anos quando entrei. Mi-nha mãe e a direção do projeto sempre me in-

centivaram a continuar, a jamais desistir dos meus

objetivos. Fico feliz em poder passar hoje esse mesmo carinho que recebi por parte dos

meus professores”.Para se sustentar, o

projeto conta com voluntá-rios ligados às áreas de peda-

gogia, administração, assis-tência social e produção.,

além do apoio financei-ro de empresas. Ele é aprovado nas leis fede-ral e estadual de Incen-tivo à Cultura.

Este ano, o Circo, Arte-Educação & Cida-

Diferencial: aulas de inglês são ministradas por estudantes do curso de Letras; maioria dos alunos é da comunidade

BáRBaRa andRade

Encontrar uma forma de fazer a diferença é o principal obstácu-lo para quem quer ajudar o próxi-mo. Foi pensando dessa forma que o Grupo Reciclinove de Arte e Cul-tura, criado em 2009, atuou com a conscientização ambiental por meio de atividades artísticas, pro-movendo, ainda, a integração entre a comunidade local e a acadêmica, em Ouro Preto e Mariana.

Atualmente inativo, o Recicli-nove nasceu da iniciativa do ator Henrique de Castro, formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O grupo é exemplo de como ações in-dividuais podem motivar transfor-mações coletivas através da arte e da educação. A proposta inicial era conscientizar a comunidade em re-lação à educação ambiental através do teatro e da música.

Henrique se inspirou em uma peça em que atuava, intitulada “Verdejante... cidade onde o verde é muito mais brilhante”, que apre-sentava ao público a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e acontecia em parceria com Institu-to Estadual de Floresta (IEF) e Pro-Reitoria de Extensão (Proex), da UFOP, como projeto de extensão. 

ConviteApós a participação nesse pro-

jeto, Henrique convidou os cole-gas Bruna Rosa, Jaqueline Stampo-ne e Marina Rainho, e os músicos Ewerton de Brito (Bulinha), Sa-muel Torres (Ambulante) e Ta-myres Maciel (Maximira), todos da UFOP, e montou o Reciclinove sem nenhum auxílio financeiro.

No início, a ideia era trabalhar com todos os tipos de público, atra-vés de performances e intervenções cênicas nas ruas. Com o tempo, co-meçaram a fazer apresentações nas empresas da região, em ativi-dades promovidas pela Secretaria do Meio Ambiente de Ouro Pre-

to, em estabelecimentos comerciais e eventos. Contavam histórias, fa-ziam saraus poéticos, expandindo a temática para a preservação cul-tural e patrimonial. O pagamento que recebiam era utilizado no pro-cesso de criação de cada integrante.

Depois que começaram a atuar na ONG Grupo Auta de Souza, lo-calizada no Morro do Santana, em Ouro Preto, conseguiram uma bol-sa-remuneração da UFOP, utiliza-da para cobrir custos dos atores e músicos com o transporte.

A ONG promove oficinas ar-tísticas para todo tipo de público mas, principalmente, para crianças e adolescentes. Foram desenvolvi-das várias atividades, como uma peça educativa sobre o Rio das Ve-lhas, montagem de cenários, den-tre outras.

Uma das coordenadoras da Auta de Souza, Helen Aparecida Brandão, garante que o trabalho foi muito importante na formação das crianças. “Além de trazer a arte, que ajuda no desenvolvimento da criança, criou-se uma consciência ambiental desde cedo”.

Nesse sentido, segundo Henri-que de Castro, os melhores resulta-dos vêm do trabalho com as crian-ças. “O retorno delas acho que é o mais gratificante, seja através de oficinas, de espetáculos ou apresen-tações, a sinceridade delas, a iden-tificação com a linguagem utiliza-da e a espontaneidade são o melhor retorno”.

Para Henrique, o Reciclinove cumpriu o papel social que os seus idealizadores planejaram: ajudar na concientização da população sobre questões sobre meio ambien-te e sustentabilidade. “O Reciclino-ve se modificou, criou vida e saiu voando. Acho que cada um dos in-tegrantes vai continuar com ações parecidas onde quer que estejam. Da minha parte, o nome e a pro-posta nunca morrerão, vou levá-los comigo pra sempre”, concluiu.

extensão

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Dos inúmeros projetos desen-volvidos pela Universidade Fede-ral de Ouro Preto (UFOP) para a comunidade, o ensino de línguas é um dos que possui maior procu-ra. Composto por 20 turmas, com adultos e crianças, o curso de in-glês atende cerca de 400 alunos, tanto da UFOP quanto de Maria-na e região.

De acordo com o professor Ciro Medeiros, um dos coordenadores do projeto, o índice de procura por moradores de Mariana chega a ser maior que o de alunos da universi-dade. Segundo ele, “quem já faz al-gum curso superior na faculdade tem a possibilidade de fazer as ca-deiras de línguas como facultativas, não sendo necessário ingressar na extensão”.

O professor também falou da satisfação dos pais com o curso. Muitos pais preferem matricular os filhos no curso de extensão, em vez de escolas particulares de lín-guas, devido à qualidade do ensino oferecido. Segundo Ciro Menezes, o curso se destaca dos demais pela melhor formação didático-pedagó-gica dos professores. Os professo-res do centro de línguas da UFOP são selecionados por meio de pro-va, além de apresentarem meto-

Page 6: Jornal Lampião - 5ª Edição

06 Edição: Allan Almeida, Érica Pimenta e Josie Oliveira

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

como es

LADEIRAS QUE INSPIRAM ARTE

Corredor dos artistas também produz solidariedade

Luiza Barufi “Em certas horas, em cer-

tas ruas, surge a suspeita de que ali há algo de inconfun-dível, de raro, talvez até de magnífico, sente-se o dese-jo de se descobrir o que é...”. As palavras do escritor Íta-lo Calvino, em seu livro “As Cidades Invisíveis”, também se aplicam à Rua Dom Silvé-rio, em Mariana, que abriga o Colégio Providência, o mais antigo da cidade, e as igrejas de Nossa Senhora do Carmo, São Francisco de Assis e Nos-sa Senhora dos Anjos.

É preciso desvendar toda a rua e descobrir, caminhan-do pela via de pedras, os 18 ateliês e os variados artis-tas que habitam o casario se-cular da imensa ladeira, até chegar à Igreja de São Pe-dro. Em cada um dos luga-res, aprende-se uma lição de solidariedade.

No início do Corredor dos Artistas, como é conhecida a Rua Dom Silvério, próximo à Rua Direita, está o ateliê

As marcas do entalheLincon zarBietti

Quase no topo da Rua Dom Silvério está o ate-liê de Edney do Carmo, es-cultor e entalhador de Ma-riana. Filho de marceneiro e também escultor, iniciou sua carreira em 1988. Seu trabalho é uma releitura do barroco mineiro, pro-duzido através do entalhe em madeira de cedro, pos-teriormente pintado com tintas à base de água, pig-mentos minerais coloridos, folha de ouro, entre outros.

Em 20 anos de traba-lho, Edney produziu mais de cinco mil peças, espa-lhadas por todo o país. As-sim com o escultor Hé-lio Petrus, companheiro de trabalho por mais de dois anos, Edney também ensi-

Cidadania no Corredor dos Artistasfádia caLandrini

No Natal, o Corredor dos Artistas também abriga um espaço de arte que se relacio-na diretamente com a comu-nidade. Em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, a artista plástica Cacá Drum-mond ultrapassa seus limites da produção de arte contem-porânea e comanda ações so-ciais para o desenvolvimento da cidadania em Mariana.

A iniciativa começa em 2003, com palestras e ofici-nas em seu ateliê para alunos de escolas públicas. As visi-tas frequentes tinham como objetivo o uso da arte para o equilíbrio emocional de crianças e adolescentes, pre-venindo o uso de drogas.

Em 2004, surge a Cam-panha Social do Atelier Cacá

Drummond. A arrecadação inicial de brinquedos come-ça de forma mais tímida, mas já atende os distritos e sub-distritos de Mariana, no pe-ríodo do Natal. As doações não são repassadas para ins-tituições e, sim, diretamen-te às comunidades. De acor-do com Cacá, a escolha pela arrecadação de brinquedos

é proposital. “É uma lógi-ca a necessidade da criança em comer e se vestir. Mas é de extrema importância tam-bém desenvolver seu lado lú-dico, para que se torne um adulto mais sensível”, afirma.

A equipe atual de distri-buição conta com 11 adultos e oito crianças, todos volun-tários. Todo ano, as regiões

que são contempladas pelas doações não são avisadas. A artista faz um estudo dos lu-gares que não recebem doa-ções de instituições, e acre-dita que o segredo de qual comunidade será beneficia-da causa mais naturalidade no dia da festa. É realizada também, todo ano, a escolha do Papai Noel, que fortalece para as crianças a magia do Natal. A doação de dinhei-ro é rigorosamente rejeitada pela campanha.

Neste ano, a campanha começou em 25 de setem-bro, e além de brinquedos, agregará materiais de higie-ne pessoal para as crianças. Em 2010, foram arrecadados 2.465 brinquedos, e em 2011, será mantida a meta de 2,5 mil doações.

RUA

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Elementos que movem o circuito de Passagem

de Geraldino Silva e Eduar-do Ramos. Além de funcio-nar como escola de pintura e restauração, também pro-move um projeto, comanda-do por Eduardo Ramos, que ensina educação patrimonial para crianças da comunidade do Gogô, no Morro do Santa-na, em Mariana.

Continuando a subida, no número 122 encontra-se o ateliê do escultor e pintor Hé-lio Petrus, que trabalha com escultura sacra. Hélio empre-ga jovens aprendizes que, por um período de dois a quatro anos, aprendem a arte da es-cultura. “A arte a gente não pode ensinar, a pessoa nasce com o dom. O que podemos fazer é orientar e, com expe-riência, a pessoa vai se desen-volvendo”, explica.

Mais adiante, no núme-ro 303, em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, o ateliê da artista plástica Cacá Drummond chama a aten-ção. No período em que as festas de fim de ano se apro-

ximam, ela promove a Cam-panha Social do Atelier Cacá Drummond, além da oficina de brinquedos.

MúsicaNo coração da rua, em

uma casa de janelas azuis, mora uma senhora que aten-de por Tia Elza e ensina te-oria musical e violino para crianças, há 12 anos. A mu-sicista Elza Peixoto, que por muitos anos lecionou de gra-ça, hoje cobra um valor sim-bólico apenas para aqueles que têm condições de pagar.

Em sua sala já passaram mais de 300 alunos, muitos hoje são médicos, advogados e músicos. Hoje, são 22 alu-nos, crianças em sua maio-ria. Tia Elza diz não saber viver sem seus pequenos e está sempre aprendendo com eles. “Eu tenho muita coi-sa para aprender ainda. Na vida a gente não sabe tudo”, ensina.

Em 2009, Tia Elza reali-zou palestras sobre música

em todas as escolas de Ma-riana e seus distritos.

E é neste corredor que também encontra-se o ateliê do artista Edésio Rita de Sou-za, que funciona como sede da Associação Marianense de Artistas-Plásticos (AMAP). Criada em 2008, a associação surgiu com a preocupação de atender questões sociais, re-alizar trabalhos com escolas públicas, ser referência para pesquisa e oferecer cursos e oficinas de artes.

Terminando o Corredor dos Artistas, chega-se à Igre-ja de São Pedro dos Clérigos. Ao olhar para a Rua Dom Sil-vério avista-se um pequeno corredor que se perde na pri-meira curva.

Depois disso, só quem por aí caminhar e olhar aten-tamente descobrirá o magní-gico encoberto: arte barroca, rococó, estilos contempo-râneos, entalhes. Esculturas em pedras, arte policromada em folhas de ouro. Arte sa-cra. Música, violinos e sons.

Artista Cacá Drumond promove ações sociais em seu ateliê

lincOn zArbiEtti na sua arte a dois jovens es-tagiários, assalariados, que aprendem o ofício da arte na madeira. “Eu procuro por pessoas que têm von-tade de aprender, não só a prática, mas história do barroco mineiro. Entender o por quê de estar esculpin-do daquela forma”, afirma.

Nesta busca por pessoas interessadas na arte, Edney desenvolve o projeto Escola de Escultura, no qual, após um agendamento prévio, o artesão abre seu ateliê para escolas de todo país que vi-sitam Mariana. A iniciati-va visa ensinar a crianças e adolescentes as caracterís-ticas da escultura barroca do século XVIII, diferen-ciando-a com a produzidas nos dias atuais. ca do sé

ElOízA lEAl

Page 7: Jornal Lampião - 5ª Edição

07Edição: Allan Almeida, Érica Pimenta e Josie Oliveira

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

como es

LADEIRAS QUE INSPIRAM ARTE

Eloíza lEal

Cultura e diversão enfei-tam a principal ladeira de Passagem de Mariana. O pro-jeto “Hoje é dia de Passagem”, idealizado em 2010 pelos ar-tistas da região, reúne, men-salmente na Rua Eugênio Eduardo Rapallo, várias ex-pressões artísticas com o ob-jetivo de entreter o público, valorizar e promover a cul-tura e identidade do distrito. Quem se beneficia com a ini-ciativa é a população, que se diverte e aproveita as estru-turas para expressar-se e de-senvolver várias atividades ao longo do percurso.

O corredor cultural abri-ga seis espaços: Ateliê Brin-cante, Bloco Boqueirão, Casa de Godofredo, Casa Maria Isabel, Espaço Lunática e Es-paço Maria Sabão. Durante o evento, são desenvolvidas di-ferentes ações, dentre elas, li-teratura, dança, produção de brinquedos, reciclagem, ar-tesanato, música e realização de um cortejo.

Todas ocorrem simul-taneamente, pois o objeti-vo é fazer com que as pesso-as desfrutem ao máximo as

atrações. O músico Xisto Si-man afirma que esse ambien-te “promove o intercâmbio cultural”, sendo prazeroso cantar as composições pro-duzidas por ele, que mistu-ram vários ritmos.

O evento, além de divul-gar o trabalho dos artistas do distrito, possui caráter so-cial, e demonstra preocupa-ção com temas relacionados ao meio ambiente, cidadania e lutas raciais.

Para que o público refli-ta sobre esses assuntos, são utilizados objetos e frases na decoração dos espaços. Tais como setas com cores indi-cativas de tipos de materiais recicláveis e cartazes com os dizeres “Jogue o lixo no lixo!” ou “Ame a vida, respeite o planeta, seja parte do meio ambiente”.

Monitora do espaço Os-quindoteca, uma biblioteca comunitária, Tatiana Costa explica que as imagens de-senhadas e coloridas pelas crianças baseiam-se nos te-mas referentes as edições do evento. No mês de novem-bro foi discutida a “gentileza” e “consciência negra”, assim

as gravuras estimulavam os bons hábitos de convivência e traziam personagens e pe-sonalidades da cultura brasi-leira, como Zumbi dos Pal-mares e Gilberto Gil. A idéia é reforçada através das leitu-ras e dos contos. A professo-ra emérita da Universidade Federal de Ouro Preto, Hebe Rola, acredita que esse tipo de iniciativa faz com que as “crianças brinquem refletin-do e reflitam brincando”.

RecicladoA Casa Maria Isabel, es-

paço dedicado a confecção de flores, também expõe sua preocupação social por meio do material reciclado utili-zado durante as oficinas no local. Segundo a artesã Eu-nice Silva Souza, as pesso-as que participam do evento normalmente não sabem que com apenas jornais, papeis e revistas são feitas flores arte-sanais de qualidade. “Quan-do vêem o resultado final do produto, surpreendem-se com sua beleza”.

Isto serve de estímulo ao trabalho de Eunice e das arte-sãs, pois o público passa a dar

outra significado ao “lixo” produzido na sociedade.

Outro aspecto relevante do evento é o resgate da me-mória do distrito. O comer-ciante e morador do local, Márcio Ferreira, afirma que as lendas de Passagem são di-vulgadas através da nomen-clatura dos espaços, como o Bloco Boqueirão e a Ma-ria Sabão. Ambos fazem par-te da cultura local, existindo ainda hoje “estórias” da Ma-ria Sabão que são repassadas pelas gerações, criando um traço identitário na região.

Os bonecos gigantes e o “boi de Passagem”, do Bloco Boqueirão, remetem a per-sonalidades populares e im-portantes da história local. As danças revelam o folclore da região e apontam aspectos sociais do passado. Desta for-ma, o projeto oferece um es-paço para a população se di-vertir e, ao mesmo tempo, refletir os temas debatidos na sociedade.

Revela também os misté-rios e curiosidades de Passa-gem de Mariana, ressaltando a sua importância como dis-trito cultural da cidade .

Em busca de integração culturalGracy laport

A Rua Eugênio Eduardo Rapallo, antiga Rua do Co-mércio, em Passagem de Ma-

Elementos que movem o circuito de Passagem

PASSAGEM DE M

ARIANA

riana, apresenta um conjun-to de espaços destinados a expressões culturais diversas que, além do benefício socio-

cultural à população do dis-trito, pode contribuir para atrair visitantes e destacar o distrito no contexto do turis-

mo cultural nas cidades his-tóricas de Mariana e Ouro Preto. Conheça alguns desses espaços:

Bloco tradicional de Passagem de Mariana:

Criado em 2002, des-fila no Carnaval com uma charanga, bonecões feitos de material reci-clado e o famoso “Boi da Passagem”.  Também co-lore as ruas de Passagem no evento “Hoje é dia de Passagem” com o cortejo “Segura o boi”.

Espaço Maria Sabão: Destinado a expor a

arte reciclada. O nome é uma homenagem à len-dária Maria Sabão, per-sonagem do imaginário local. Inaugurado na pri-meira edição do “Hoje é dia de Passagem”, em agosto de 2011, é par-te integrante da progra-mação. Oferece exposi-ções e desfiles de roupas recicladas, performan-ces, oficinas e degustação de pratos com ingredien-tes “reciclados”, como cascas de frutas. O espa-ço funciona somente nos primeiros domingos da cada mês.

Biblioteca comunitária Osquindoteca: 

Nasceu em uma gara-gem, em 2009, e vem se tornando uma referên-cia cultural para o dis-trito. Atualmente, possui cerca de quatro mil livros em seu acervo. Ofere-ce algumas atividades de incentivo à leitura, como o empréstimo de livros, a Janela Filosófica,  a Rádio Osquindoteca e oficinas de contação de histórias. A Osquindoteca funcio-na de segunda à sexta-feira, das 8 às 17h30.

Ateliê Brincante: Destinado à criação

de espetáculos cênicos, esse foi o local no qual inspirou-se o espetácu-lo “De Malas Prontas”, apresentado durante a programação do Festival de Inverno de Mariana e Ouro Preto, em 2011.

Sede da Associação Cul-tural Clube Osquindô – Casa de Godofredo:

Criada em 2008, é um espaço destina-do à realização de ati-vidades artístico-cultu-rais, especialmente para a comunidade. Com uma agenda contínua, integra apoio a palestras e ofici-nas para as escolas públi-cas de Passagem de Ma-riana, aulas do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA/UFOP), de Tai Chi Chuan e ofi-cina de dança de salão. Abriga exposições de ar-tistas locais e da região. A Casa de Godofredo fun-ciona de segunda à sexta, das 9 às 18h.

Companhia Lunática: Criada em 2002, é

“um espaço aberto a no-vas experiências,  que abriga e promove proje-tos de vivências, criação, formação e difusão artís-tica”.  Assume a missão de colocar projetos, talentos e pessoas em constante movimento e comunica-ção. No local funcionam o escritório de produção, o estúdio de gravação, o Quintal-Teatro para es-petáculos artísticos e o Café-Bar, que funciona apenas no evento “Hoje é dia de Passagem”. Fun-ciona de segunda à sex-ta-feira, das 8 às 18 horas.

Casa Maria Isabel:Surgiu através da idéia “dentro de cada um de nós exis-

te uma flor”. É o lugar onde são criadas flores de material reciclado, como rede, retalhos de pano, garrafas pet, caixas de maçã ou de ovos, papel, jornal, meia calça, latinhas de refrigerante e tantos outros. Funciona às quartas e quin-tas-feiras, das 13 às 16 horas, e abre suas portas para visi-tantes e para a confecção das flores.

FOtOs: AllAn AlmEidA, ElOízA ElAl, FádiA CAlAndrini, linCOn zArbiEtti E nAty tOrrEs

Do que a meninada mais gosta

Eloíza lEal E Gracy laport

O Lampião conversou com os alunos da Escola Mu-nicipal Passagem de Mariana e descobriu o que mais cha-ma a atenção da garotada no Circuito Ladeira das Artes.

Davison Silva de Paula, 11 anos, vai à Osquindote-ca quase todos os dias. Adora ler quadrinhos e livros. Des-de que começou a frequentar o espaço, em outubro deste ano, já leu cerca de 13 exem-plares. Para ele, “podia ter um dia marcado para cinema no circuito”.

Carlos Eduardo de Oli-veira Raimundo, 9 anos, vai à Ladeira das Artes aos do-mingos do “Hoje é Dia de Passagem”. Aprendeu a fazer brinquedos de materiais re-cicláveis e adora ler contos. Gosta muito da Osquindote-ca e queria um espaço maior com mais mesas para as pes-soas sentarem e lerem.

Alexia Bruna, 9 anos, frequenta os espaços desde 2009. Participa das oficinas de artesanato para confecção de brinquedos e flores reci-cláveis. Gosta de ler histórias de castelos e princesas. O úl-timo livro que leu foi “Rob-bin Hood”.

Sibely Farias, 10 anos, costuma frequentar todos os espaços diariamente. Gosta mais da Osquindoteca, onde aprendeu a fazer dobradu-ras de papel. Na última edi-ção do ano do “Hoje é Dia de Passagem”, fez parte da apre-sentação de dança do espaço Maria Sabão. “Gostaria que tivesse um parque de diver-sões no espaço cultural”.

Stella Maria D’ângelo, 9 anos, aprendeu a fazer fanto-che e chocalho na oficina de brinquedos, que é ministrada por sua mãe. Diverte-se com as brincadeiras e adora ler re-vistas em quadrinhos.

JOãO viCtOr PAgliOtO

Page 8: Jornal Lampião - 5ª Edição

08 Edição: Fádia Calandrini e Luiza Barufi

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

Siame, a quebra do silêncioassistência

Mariana oferece apoio social em dois centros de referênciaSede do Siame, em Ouro Preto

Rayanne Resende

Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, realizada em 25 estados brasileiros, revelou que a cada dois minutos cinco mulheres são espancadas no Brasil. A violên-cia contra a mulher ainda é um fato frequente no cotidiano brasileiro. O medo continua sendo a principal razão para evitar a denúncia dos agressores.

Mas, ainda há uma pequena parcela que desconhece seus direi-tos e, principalmente, as assistên-cias oferecidas pelos órgãos gover-

namentais e não-governamentais.Em Ouro Preto, o Serviço In-

terprofissional de Atendimento a Mulher (Siame), implantado pelo Poder Judiciário, em novembro de 1996, oferece atendimentos jurídi-co, psicológico e social gratuitos. Em 15 anos, mais de três mil mu-lheres foram atendidas em casos de separação litigiosa, violência doméstica e pensão alimentícia.

Em 2007, considerando o cres-cimento da demanda e a relevân-cia do serviço prestado à comu-nidade de Ouro Preto, a juíza de

direito idealizado-ra do serviço, Dra. Lúcia de Fátima Magalhães, consti-tui o Instituto Sia-me, como autono-mia administrativa e financeira.

No local, a mu-lher vítima de vio-lência doméstica é acolhida por uma equipe de volun-tárias, composta pela advogada Ro-semar Nascimen-to Silva Niquini, pela assistente so-cial Maria Assis

Oliveira Miranda e pelas psicólo-gas Andrea Trad Allevato e Maria Aparecida Alves. Durante o acolhi-mento, a equipe escuta a vítima e a orienta sobre os procedimentos a serem tomados. Além da orienta-ção, a mulher recebe acompanha-mento durante todo processo.

Rosileine dos Santos foi agredi-da fisicamente pelo ex-marido, em 2008, e procurou o Instituto para receber ajuda. “Foi um momento muito difícil da minha vida, per-di totalmente o chão. No Siame en-contrei apoio para superar a dor e, principalmente, coragem para ir adiante com o processo”, contou.

AprendizadoAlém das assistências prestadas,

o instituto oferece oficinas artesa-nais às mulheres atendidas. “A in-serção nas oficinas possibilita, além da troca de experiência, um espa-ço terapêutico e acolhedor, geran-do também o aprendizado de um novo ofício”, afirmou a presidente do Siame, Rosemar Niquini.

Parte da manutenção do ins-tituto é viabilizada através da co-mercialização dos produtos das oficinas. Mensalmente, a entidade também conta com doações da co-munidade e com o repasse de mul-tas pelo Juizado Especial de Ouro Preto.

A casa onde está localizada, na Barra, é cedida pela Universidade Federal de Ouro Preto, que além do imóvel também disponibiliza luz e internet.

A presidente do Siame infor-ma que, embora o instituto já este-ja constituído juridicamente, “ain-da não foram firmados convênios com as três esferas do governo”.

Desde 2005, o Siame oferece às mulheres vítimas de violência do-méstica a oportunidade de parti-ciparem de oficinas artesanais. O objetivo é que as atividades sejam tanto um espaço de terapia quan-to de aprendizado para uma nova fonte de renda. Mulheres que não são atendidas pelo Siame também podem participar. Hoje, 50 pessoas estão envolvidas nas oficinas.

As mulheres que recebem o atendimento do Siame não pagam pela prática das oficinas. Para as demais é cobrada uma taxa mensal de R$10,00, exceto o curso de cos-tura, que custa R$ 20,00.

Nas oficinas são ensinadas a arte do ponto cruz, vagonete, cro-chê, tricô, costura, bordado, pintu-ra e reciclagem. As aulas ocorrem de segunda a sexta, entre as 13 e 17h, na sede do instituto. As pro-fessoras, a maioria voluntária, re-cebem ajuda para o transporte.

Maria da Glória Leocádio, pro-

fessora voluntária, explica que, ali, “as mulheres encontram um lo-cal de distração, amizade e prin-cipalmente de apoio”. A dona de casa Maria Tita de Jesus concorda. “Depois que aposentei não aguen-tava mais ficar em casa, precisa-va sair, relaxar, ser feliz”, comenta Dona Tita, forma carinhosa como é chamada pelas amigas da oficina. Ela trabalhou por muitos anos na limpeza das ruas de Ouro Preto e, hoje, encontra no Siame seus mo-mentos de descontração e lazer.

Uma das dificuldades para manter as oficinas é a compra dos materiais utilizados. O instituto ne-cessita de doações de linhas, tintas, pincéis, tecidos e agulhas, assim como de jornais velhos, papelões, e caixas (materiais utilizados nas au-las de reciclagem).

As peças desenvolvidas nas ofi-cinas ficam expostas em uma sala do instituto para comercialização e apreciação da comunidade.

SIAME – Serviço Interpro-fissional de Atendimento a Mulher

End.: Praça Cesário Alvim, 50, Barra, Ouro Preto

Tel.: (31) 3551-6245

[email protected]

Artesanato, terapia e nova fonte de renda através das oficinas

As atividades oferecidas são também uma forma de terapia para as mulheres

Fotos: RayannE REsEndE

O Serviço Interprofissional de Atendimento à Mulher atua através dos campos jurídico, psicológico e social em apoio a mulheres que sofreram agressão

eugene FRanklin

Após o lançamento da Política Nacional da Assistência Social, em 2004, o Ministério do Desenvolvi-mento Social designou aos municí-pios brasileiros a criação dos Cen-tros de Referência de Assistência Social (CRAS). O prazo estabeleci-do para o cumprimento dessa me-dida foi de até 10 anos.

Para a adequação à norma de-signada pelo Ministério, o muni-cípio de Mariana criou duas uni-dades do CRAS. Uma situada no Bairro Colina e outra, no Bairro Cabanas, como informa a coorde-nadora da Secretaria Municipal de Assistência Social, Daniele Avelar.

Segundo ela, “os municípios de médio porte, como é o caso de Ma-riana, que possui cerca de 50 mil habitantes, devem ter no mínimo dois CRAS instituídos”.

Além dessas unidades fixas, o município conta com duas equipes que realizam trabalho de busca lo-cal nos bairros e distritos.

Os Centros de Referência se planejam de acordo com a reali-dade local. No município, o CRAS utiliza o Bolsa Família como in-dicador dos grupos a serem assis-tidos, e atua através do cadastra-mento e do acompanhamento das famílias que tenham vulnerabilida-de devido à fatores sociais, como insegurança alimentar, violência, dentre outros.

ProteçãoO CRAS também realiza a dis-

tribuição de cestas básicas aos usu-ários do Bolsa Família, promo-ve reuniões permanentes com as pessoas assistidas e campanhas de conscientização.

A assistência social na cidade é dividida em duas frentes de traba-lho: proteção básica e proteção es-pecial. Entre os centros que reali-zam trabalhos de proteção básica estão o Recriavida, que presta as-sistência aos idosos, e o Centro de Referência à Infância e Adolescên-cia (CRIA).

Dentre as ações desenvolvidas na frente de proteção especial está o Centro de Referência Especial de Assistência Social, que recebe casos encaminhados pelo CRAS e realiza o Programa de Erradicação do Tra-balho Infantil (PETI).

Também apoia a Casa de Passa-gem, que abriga crianças e adoles-centes em situação de risco social, e realiza a abordagem dos morado-res de rua, na tentativa de encami-nhá-los a abrigos disponibilizados pelo próprio município.

Governo federal estrutura política de assistência social no país

eugene FRanklin

A Política Nacional da Assis-tência Social foi lançada há sete anos pelo Governo Federal para dar diretriz ao atendimento do setor em todo o território nacio-nal. Para regulamentar os servi-ços foram criados os Módulos de Operações Básicas (MOB) .

De acordo com a lógica traba-lhada através de módulos, houve a divisão da assistência social em dois campos de atuação: prote-ção social básica e especial.

A básica utiliza-se de vários programas para prevenir a viola-ção dos direitos dos cidadãos, na tentativa de preservar seus vín-

culos familiares e comunitários. Nesse campo, estão inseridos os Centros de Referência de Assis-tência Social (CRAS).

Já o campo especial atua no atendimento de famílias que já tiveram os seus direitos violados, seja por violência, perda de vín-culos familiares, exploração in-fantil, dentre outros agravantes sociais. Essa ação é desempenha-da pelos Centros de Referência Especial de Assistência (CREAS).

A criação da Lei 145, que ins-tituiu essa política, aconteceu através da intervenção da Con-selho Nacional de Assistência Social.

Page 9: Jornal Lampião - 5ª Edição

09Edição: Eloiza Lima e Yasmini Gomes

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

Literatura

Biblioteca sobre rodas na comunidade

Aldravistas, tecedores das artes e do saber

Uma horinha de prosa para transformar o dia

AllAn AlmeidA

Nada melhor do que aquela conversa entre ami-gos. Sentar ao redor de uma mesa e falar sobre tudo o que agrada e traz um pouco de alegria. Isso é o que a servi-dora pública Shirley de Fáti-ma Batista, voluntária do Lar Santa Maria de Mariana, faz pelos idosos que ali moram.

Uma vez por semana ela vai ao Lar e passa cerca de uma hora com os idosos. Entre os assuntos preferi-dos estão histórias da região, folclore, lendas e estórias in-fantis. Eventualmente, Shir-

ley monta uma roda musical para reelembrar as canções do passado.

Tudo começou quando ela mudou-se para Mariana, há mais de 10 anos. Junto a um grupo de amigas fazia vi-sitas corriqueiras ao Lar. A partir daí veio o desejo de fa-zer algo a mais pela obra co-munitária desenvolvida.

Na época, a coordenado-ra do Lar, irmã Inocenta del Valle, sugeriu que Shirley les-se revistas para os idosos. Só que isso não atraía a atenção deles. Então, ela começou a contar histórias que eles se

interessavam em ouvir.Além de promover um

resgate da memória, o tra-balho de Shirley leva des-contração, conforto e afeto. Em meio à correria do dia-a-dia, Shirley não dispensa ou substitui a visita aos seus “meninos”, como trata cari-nhosamente os idosos. “Não me vejo fora dessa atividade. Só falto se precisar fazer algo muito urgente”, ponderou.

Shirley enxerga o volun-tariado como uma atividade séria que requer dedicação. “É um compromisso enorme. Essa iniciativa (de ser um vo-luntário) tem que brotar de dentro de você, nascer do amor ao próximo e não fazer apenas por fazer”, justifica.

Atualmente, o Lar conta também com outras ativida-des comunitárias. São apre-sentações de bandas musi-cais, um acompanhante em visitas ao jardim do Lar (mais voltado aos cadeirantes), cor-tes de cabelo, manicure e pe-dicure, jogo de dominó, den-tre outras.

O espaço é aberto para novos voluntários. Os inte-ressados em colaborar po-dem procurar a coordenado-ra, Irmã Inocenta Del Valle, na sede do Lar Santa Maria, Praça Dom Oscar, 31, Bairro São Pedro, em Mariana.

JosiE MantLiLa

DiVULGaÇÃo

Com atividades itinerantes, o Ponto Volante de Cultura leva lazer, informação e tecnologia para os bairros de baixa renda e distritos de Mariana

mArcelA ServAno

O Aldravismo é um movi-mento de intelectuais maria-nenses que propõe interpre-tações inusitadas de eventos cotidianos. Com 12 anos de existência, os “aldravas” têm trabalhado com projetos de incentivo à leitura em esco-las, universidades e associa-ções culturais da região.

Dentre eles, destacam-se: Ponto de Leitura, Poesia Viva e Oficinas de Haicas (artes plásticas com poesia em te-las), todos voltados para a va-lorização da leitura.

O Ponto de Leitura é a ati-vidade mais antiga desenvol-vida pelo grupo de escritores e poetas, e começou há mais de 15 anos, antes mesmo de o movimento ter se forma-

do. Surgiu por uma iniciati-va dos professores e poetas José Benedito Donadon Leal, Hebe Rôla e da artista plásti-ca e poeta Andréia Leal.

Inicialmente, eles iriam ler poesia para as crianças, visando estimular o gos-to pela leitura. Com o sur-gimento do movimento Al-dravista, o projeto ganhou forma e novos membros, os poetas Gabriel Bicalho e José Silva Ferreira.

Hoje, o Ponto de Leitu-ra está consolidado na cida-de e nos distritos. É desen-volvido com os integrantes do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) e com alunos da Formação Inicial Continuada (Fic), na Escola Municipal Chico Se-

verino, pela professora Clay-des Ricardo. Segundo ela, a inclusão do projeto serviu para instigar os alunos, além de ser um divisor de águas no aprendizado. “Os estudantes descobriram a beleza e a for-ça das palavras”, afirma.

Foram produzidas 32 te-las pelos próprios alunos, além de um livro que está em busca de patrocínio para ser publicado.

As atividades do projeto, que incluem oficinas de poe-sias haicas e leituras de livros, são ministradas pelo profes-sor José Benedito Donadon e pela artista plástica Andréia Leal.

PremiaçãoOutra iniciativa do mo-

vimento aldravista é o Poe-sia Viva, que tem como ob-jetivos a doação de livros de literatura para comunidades sem acervo e o incentivo à leitura na família.

Em 2009, o projeto ven-ceu o Prêmio Viva Leitura, de incentivo à literatura, con-cedido pelos ministérios da Educação e da Cultura.

Para Andréia Donadon Leal, essas atividades ajudam no surgimento de novos es-critores em Mariana e na re-gião, pois as publicações não se limitam à sala de aula.

A voluntária Shirley Batista conta histórias para os idosos

Projeto permite aos alunos conhecer técnicas de pintura

AlySon SoAreS

leAndro SenA

O Ponto Volante de Cul-tura é uma iniciativa que leva arte, literatura e jogos educa-tivos para diversos bairros e distritos de Mariana. Trata-se de um caminhão adaptado com baú, que abriga uma bi-blioteca com mais de três mil livros, além de jogos e mate-riais de oficinas. Também são realizadas apresentações ar-tísticas de acordo com a de-manda de cada local.

O projeto do Sesi-Maria-na foi aprovado, por meio de um edital do Ministério da Cultura, para a criação dos pontos de cultura, pro-postos por entidades que de-senvolvem ações de impacto sociocultural em suas comu-nidades. Até julho de 2011, já foram cadastrados mais de três mil pontos em todo o território nacional.

O gerente do Sesi-Maria-na, Nilson Ros, informou que todos os distritos da cidade já receberam o Ponto Volante. A equipe de visitas é formada por, no mínimo, três pessoas: o motorista e dois monitores, que são voluntários.

Existe um roteiro em que, a cada dois meses, três locais são visitados paralelamente. Já existem pedidos de comu-nidades para que essa visita aconteça novamente. Nilson Ros informa que a priorida-de é levar o Ponto Volante a locais que ainda não recebe-ram as atividades.

Os pedidos de visitação geralmente são feitos por es-

colas ou por associações co-munitárias, que procuram o Sesi-Mariana por telefo-ne, e-mail ou pessoalmente. A partir daí, caso haja o ofe-recimento de uma estrutura necessária para os profissio-nais, como banheiros, água e energia elétrica, a visita será agendada.

O gerente do Sesi rela-ta que a maior parte do pú-bico é infantil, isto porque as escolas lideram os pedidos

para marcação de visitas do projeto.

Mensalmente é feito o Ponto na Praça, atividade em que são realizadas inúme-ras apresentações culturais, como contação de histórias, encenações com a presen-ça de palhaços, entre outras atrações. Estes eventos acon-tecem em lugares pré-sele-cionados, como praças ou ruas movimentadas.

O último Ponto na Pra-

ça foi no dia 3 de dezembro, na Praça dos Ferroviários de Mariana, das 14h30 às 20h30.

VisitasAté o dia 17 de dezembro,

o caminhão do Ponto Volan-te de Cultura irá percorrer as comunidades de Águas Cla-ras, às segundas-feiras; Fur-quim, às terças e quartas; e o Bairro Morro do Santana, em Mariana, às quintas e sextas. Além da biblioteca volante, o

projeto possui sessões de ci-nema, com acervo próprio, e um xadrez gigante, em que as crianças movimentam as pe-ças com as duas mãos.

Este ano, o Sesi-Maria-na recebeu a doação de cerca de mil livros para a biblioteca itinerante. Segundo a super-visora técnica do Centro de Cultura, Silvia Marques, ano que vem o projeto será rees-truturado para que o aten-dimento às comunidades de

baixa renda seja feito de for-ma mais prioritária. “A ideia é pensar na melhor forma de atendimento às localidades, por meio de um balanço so-bre quais bairros e distritos são mais acessíveis e onde obtemos melhores resulta-dos”, avalia.

O Ponto Volante de Cul-tura também oferece cursos que superam os limites do caminhão. O de Introdução à Informática e Software Livre existe desde 2008 e já formou mais de 200 jovens e adultos da região. Nele são ofertadas oito vagas por cada tempora-da de três meses, com dura-ção total de três horas por se-mana. O curso e o material didático são gratuitos, e para a próxima turma as vagas já estão preenchidas.

A prioridade é levar o projeto a locais que ainda não receberam

as atividades

Já o curso de Técnicas Bá-sicas de Áudio e Produção Musical tem duas turmas já formadas e possui horários flexíveis, com possibilidade de atendimento individual. Este curso é pago, e as vagas estão abertas.

Mais informações sobre o projeto através do telefo-ne (31) 3557-1041 e no site www.sesimariana.com.br.

Durante um dia, o distrito de Padre Viegas pôde aproveitar as atividades educativas desenvolvidas pelo Sesi-Mariana

MarcELa sErVano

Page 10: Jornal Lampião - 5ª Edição

10 Edição: Flávio Ulhôa e Gracy Laport

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

Geração de empregos e saúde bucal para Ouro Preto e regiãoFundação Sorria mantém fábrica de sabonetes e cosméticos que gera recursos para manutenção de projeto de assistência odontológica ã crianças

Flávio Ulhôa

Reconhecida e premiada em todo país, a Fundação Projeto Sor-ria elaborou um sistema para gerar renda para ser investida no próprio projeto. Para isso, foi criada uma fábrica de sabonetes que, além de gerar empregos, garante milhares de sorrisos saudáveis. Trabalham hoje na Fundação 48 funcionários registrados, entre dentistas, auxi-liares de dentista, administradores, secretários, funcionários da fábrica de sabonetes e vendedores.

A idéia de autossustentabilida-de no caso de organizações sem fins lucrativos, como a Fundação Sorria, consiste em arrecadar re-cursos financeiros, produzindo al-gum produdo que possa ser comer-cializado. Todo a renda arrecadada é utilizada para pagar os funcioná-rios e garantir os recursos necessá-rios para manutenção do projeto.

Segundo o presidente da entidade, Aluízio Fortes Drummond, muitas pessoas podem doar trabalho, tem-po e dedicação, mas sem dinheiro dificilmente se consegue um resul-tado relevante.

ColaboradoresSeguindo essa lógica, a funda-

ção contou com a colaboração da Escola de Farmácia da Universi-dade Federal de Ouro Preto para criar uma fábrica de sabonetes e cosméticos, batizada com a mar-ca Pérola Ouro Preto. Instalada nas dependências da Novelis, outra co-laboradora, a fábrica produz uma tonelada em produtos que são ven-didos para hotéis, pousadas e em-presas de grande e médio porte.

Segundo o coordenador de vendas da fundação, Felipe Vile-la, o produto está concorrendo em igualdade com qualquer empresa

Para se cadastrar no projeto é necessário que os responsáveis providenciem os seguintes docu-mentos:• Cópia de comprovante de residência;• Cópia do comprante de renda;• Cópia do RG e CPF;• Cópia da certidão de nascimento • Foto 3x4 da criança.E levar as crianças à sede que se localiza na Rua Antônio de Albu-querque, 180, Pilar, Ouro PretoTelefone: (31) 3551-5079

Como partiCipar

FLáviO ULhôA

Criança atendida pelo projeto recebe escovação assistida: medida essencial para garantir a manutençao da saúde

Saúde

Bom de Bola, melhor na assistência socialÉrica Pimenta

Implantado em 2005, no distri-to de Padre Viegas, Mariana, o pro-jeto “BomBom: Bom de Bola, Me-lhor na Escola” surgiu da vontade de um aposentado, Antônio Gon-çalves, falecido em 2010, que bus-cava uma atividade para ocupar o tempo ocioso, agregando exercício físico e autoestima.

Os familiares de Antônio bus-caram na escola de Padre Vie-gas o primeiro apoio. Inicialmen-te, o projeto contava somente com o futebol como atividade esportiva para as crianças, dando origem ao nome do projeto.

O programa começou a cami-nhar e dar resultados. Conquistou mais voluntários e assumiu novas proporções, passando a atender, além das crianças, toda a comuni-dade de Sumidouro, nome popular desse distrito.

Conquistou vários prêmios, dentre eles, o “Pontos de Leitura 2008”, do Ministério da Cultura, e o “Brasil Esporte e Lazer de Inclusão Social”, do Ministério do Esporte, cuja premiação aconteceu em Bra-sília, no ano de 2009, em cerimônia com o Presidente Lula.

Atualmente, possui parceria com a Unimed Inconfidentes, que apoia o projeto adquirindo brin-des artesanais confeccionados por mulheres da comunidade, a partir de garrafas PET. A Samarco é outra parceira que, com a política de pa-trocínio social, apadrinha o Bom-Bom há três anos. O poder público contribui, também, cedendo o es-paço na Escola Municipal de Padre

Viegas e financiando gastos com energia elétrica.

Segundo Neimar Gonçalves, fi-lho do senhor Antônio Gonçalves, “o projeto começou pequeno, com a questão do futebol, mas está ca-minhando com a ajuda do volunta-riado de Padre Viegas. Mas, ainda é necessário mais envolvimento da comunidade”.

Do BomBom já surgiram duas

pequenas empresas: uma de artesa-nato e outra de treinamento, inclu-são digital e informática. Confor-me observa Neimar, “o projeto está gerando renda e um pensamento empreendedor na comunidade”.

Para Vanessa Lourenço, que passou de estagiária a proprietá-ria da empresa de informática que presta serviço ao projeto, “é muito importante pensar e trabalhar para

o desenvolvimento das crianças e adultos, proporcionando formação e incentivo a novas ideias.”

Atualmente, além do esporte, esse programa social agrega outras atividades, como artesanato, aulas de música, teatro, sala de leitura e inclusão digital. Quem quiser fazer contribuições deve entrar em contato acessando o site: www.projetobombom.com.br.

Criador do projeto, Antônio Gonçalves, durante treino com o filho Neimar, em 2005. O aposentado nem imaginava as proporções que o projeto tomaria

Iniciada em 1978, pelo den-tista Aluízio Drummond, a Fun-dação Projeto Sorria já atendeu cerca de 20 mil crianças e jovens, entre zero e 18 anos, na prestação de assistência odontológica a jo-vens de baixa condição socioe-conômica, promovendo a saúde com uma dimensão renovadora de integração social.

Atualmente, são atendidas pelo projeto mais de sete mil crianças, em 11 unidades espa-lhadas pelas comunidades mais carentes da região de Ouro Preto.

Os tratamentos vão desde a prevenção à cárie até casos espe-cíficos, como ortodontia (aplica-ção de aparelhos para correção da arcada dentária). As crian-ças assistidas recebem atendi-mento periódico durante todo o tratamento.

Segundo o dentista Rodri-go Vieira Gomes, há crianças que chegam ao projeto com gra-ves problemas de saúde bucal, sem nenhuma noção de higiene. Após receberem os devidos trata-mentos, são educadas para man-ter a boca saudável.

O projeto conta com um pro-grama de escovação assistida, em que as crianças são registradas e recebem semanalmente instru-

do ramo. “O fato de ser uma ins-tituição sem fins lucrativos pode abrir portas para nosso produto, mas se o preço e a qualidade não atenderem as exigências, perdemos para a concorrência”, explicou.

A fábrica tem seis funcioná-rios, entre farmacêuticos e operá-rios treinados. Trabalham, tam-bém, cinco estudantes da UFOP dos cursos de química industrial, engenharia de produção e farmá-cia. A farmacêutica e coordenadora de produção da fábrica, Maria do Pilar, disse que muitos estudantes têm dificuldades de encontrar um estágio, já que há burocracia para contratação. Assim, a fundação oferece oportunidades, revezando a cada três meses os estagiários.

A Fundação Projeto Sorria ain-da não se mantém sozinha, levan-do em consideração o orçamento de R$ 90 mil do projeto. Por isso,

conta com a doação de pessoas físi-cas e jurídicas, mas está a cada ano aumentando sua produção em bus-ca da autossustentabilidade.

A entidade possui vários títulos, certificados e prêmios, como o re-conhecimento oficial da UNICEF e o Prêmio Nacional em Saúde Fun-dação ABRINQ, pelos Direitos da Crianças. Mas, esse reconhecimen-to não é o que mais deixa os funcio-

nários orgulhosos.Segundo o superintendente da

fundação, Francisco Galdino, não há nada mais gratificante do que trabalhar em uma instituição sem fins lucrativos. “O que mais me dei-xa feliz não são os prêmios nem a remuneração financeira, mas sim saber que estou acontribuindo para que essas crianças possam ter um sorriso digno e saudável”, pontuou.

ções de auxiliares odontológicas para manter a boca higienizada.

A eficiência do programa é comprovada pela queda do nú-mero de crianças com cáries na região das unidades atendidas pelo projeto. “Muitas crianças da região estão participando da es-covação assistida. Meus filhos e sobrinhos estão incluídos e nun-ca mais tiveram problemas com a saúde bucal”, afirmou Célia da Silva, moradora do Bairro Po-cinho, em Ouro Preto, e mãe de uma das crianças atendidas.

Para contribuir com a Fun-dação Sorria, entre no site www.fundacaosorria.org.br

eSporte

Tratamento e prevenção

DivULGAçãO

Page 11: Jornal Lampião - 5ª Edição

11Edição: Bárbara Andrade e Deiva MIguel

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

Educação musical muda vida de estudante

Mulheres são referência em distrito ArtesAnAto

Beatriz de Melo

Em outubro de 2005, um grupo de mulheres se orga-nizou para formar uma equi-pe de artesanato em Antônio Pereira, distrito de Ouro Pre-to. Após participarem de uma oficina de patchwork (traba-lho manual que utiliza reta-lhos), durante o Festival de Inverno daquele ano, as mu-lheres resolveram unir forças e criatividade para trabalhar com costura e bordado.

Formou-se a primeira equipe do grupo que, um ano depois fundava a Associação das Artesãs Arte, Mãos e Flo-res, de Antônio Pereira. Mais que segurança financeira, a organização surgiu para pro-mover a união, capacitação e realização profissional em busca do crescimento e de-senvolvimento da comunida-de local.

A artesã Antônia de Queiroz Luz está na asso-ciação desde o início e conta que a equipe, hoje, está me-nor. “Quando a gente começa a trabalhar é tudo muito difí-cil. As pessoas foram saindo, até que ficaram apenas dez mulheres”.

O grupo chegou a ficar dois anos sem lucro algum. Por isso, muitas artesãs não conseguiram continuar com esse trabalho, pois precisa-vam daquela renda. “A gen-te tirava dinheiro do próprio bolso pra comprar matéria-prima,” conta Célia Antu-nes dos Passos, presidente da associação.

Em 2008, a Samarco ini-ciou parceria com o grupo de artesãs por meio do Pro-grama Comunidade Cidadã, que forneceu apoio financei-ro para a compra de máqui-

nas e matérias-primas, como linas, lãs e tecidos. A par-tir de então, a situação co-meçou a melhorar. Segundo Dona Antônia, o lucro não é grande, mas a satisfação é enorme.

Atualmente, seis pessoas trabalham na sede da asso-ciação, porém, há outras que trabalham em casa. Segundo a presidente, o foco do gru-po está no artesanato, e a as-sociação já é o ponto de refe-rência local sobre o assunto. O que não falta é esforço para ensinar, explicar e ajudar. Em função da demanda, três ofi-cinas estão planejadas para os próximos meses.

A professora de Lavras Novas, Dulce Magalhães, irá ensinar técnicas de artesana-to para, no mínimo, 40 pes-soas iniciantes e ainda irá mi-nistrar um curso avançado

para outras 12 interessadas. Atualmente, a associação

passa por um desafio. Desde sua fundação, a sede está ins-talada em um espaço da Pa-róquia Sagrado Coração de Jesus, que na época estava em desuso.

No início, o lugar havia sido cedido por tempo inde-terminado. Com a troca do pároco em 2009, estabele-ceu-se um contrato de como-dato que valia por dois anos. O contrato venceu em outu-bro e, de acordo com a presi-dente, o pároco não ofereceu possibilidade de acordo.

A associação terá quatro meses para se mudar. A pre-sidente não sabe o que fa-zer para arrumar outro lo-cal. Elas não encontram um espaço adequado nem para alugar. “É um absurdo fechar por falta de espaço”, conclui.

Ensaio da Associação Musical São Sebastião, em Passagem

1 (?) D`água: lenda marianense. 2 Relati-vo a cultura. 3 (?) Preto: bairro. 4 “(?) Espí-rita de Mariana: desenvolve o projeto “Só Riso”. 5 (?) Preto: cidade. 6 Aquela que faz algo espontaneamente, por vontade própria, sem constrangimento ou obrigação. 7 Limpa com água. 8 A princesa Isabel em relação a Dom Pedro I. 9 A de Mariana não recebe tra-tamento. 10 Forma poética de origem maria-nense. 11 Alto (?): bairro. 12 Escolheu através de voto. 13 Afeição profunda. 14 (?) Apare-cida, atual presidenta e uma das fundadoras do CAMAR. 15 Universidade Federal de Ouro Preto. 16 “(?), olhe, escute”: inscrição de pla-ca de cruzamento ferroviário. 17 (?) Rica: an-tigo nome de Ouro Preto. 18 Colaborou com o banco de sangue. 19 “Grupo (?): Centro de tratamento de dependentes químicos. 20 A do mestre Ataíde é a escultura. 21 Estabele-

cimento de caridade, onde se recolhem crian-ças, velhos, mendigos, inválidos etc. 22 Asso-ciar (-se), juntar (-se) ou reunir (-se) em grupo. 23 Embalagem reciclável de refrigerante. 24 A arte de Alphonsus Guimarães. 25 (?) Real: foi criada pela Coroa portuguesa no século XVII com a intenção de fiscalizar a circulação das riquezas e mercadorias que transitavam entre Minas Gerais - ouro e diamante - e o litoral do Rio de Janeiro - capital da colônia por onde saíam os navios para Portugal.

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[email protected]

YasMini GoMes

“A música não deve sim-plesmente ser escutada. Ela deve ser sentida, tanto com o coração quanto com a alma”. É dessa forma que Mariana Meireles, 20, define a música em sua vida. Aluna de flauta do Conservatório de Música Mestre Vicente Ângelo das Mercês, ela afirma que sua vida mudou depois de come-çar a estudar música.

Destinado à educação musical, o conservatório existe desde abril de 2010 e oferece 13 cursos, eles ins-trumentos de corda e sopro, além das aulas de teoria. Seus alunos estão entre crianças e adultos de Mariana e região. A concretização desse espa-ço se deu a partir da inicia-

tiva de seus diretores, profes-sores, regentes e integrantes da Orquestra e Coro Mestre Vicente, uma associação ci-vil, sem fins lucrativos, que se propõe ao estudo e a difu-são da música.

Os alunos pagam um va-lor simbólico mensal de R$ 10,00, mas o que devem cumprir é com a frequência e dedicação às aulas.

Ao ingressar no conser-vatório, o estudante pode es-colher aulas de canto, flauta doce e transversal, clarine-te, violão, violino, violonce-lo, piano, percussão. Os en-contros são semanais, e além disso há classes de história da música, percepção musical, musicalização, canto coral, que são obrigatórias.

A equipe de professores é composta por profissionais formados na área. De acordo com Mariana Meirelles, os professores são muito habili-tados e transformam as aulas em uma atividade atrativa e de fácil aprendizado, princi-palmente para quem não tem conhecimento musical.

“As aulas são excelentes. Os professores são capacita-dos e passam as matérias de forma lenta, de maneira tal que os alunos que nunca ti-veram contato com a música consigam acompanhar o rit-mo”, contou.

Segundo Mariana, antes de entrar para o conservató-rio, ela nunca teve coragem de procurar aulas de flauta, devido aos preços elevados, e

por não ter tanto domínio do instrumento. “Tinha medo de procurar outras escolas de música, pois de onde ve-nho o preço das aulas é mui-to elevado”.

Mas, a paixão pela flauta falou mais alto e a fez supe-rar seus próprios receios em não ser aceita em uma es-cola de música. “Minha pai-xão pela música é enorme e sempre tive vontade de estu-dar flauta, mas tinha receio de não ser aceita. Porém, no Conservatório fui bem rece-bida, e os professores acredi-tam muito na capacidade dos alunos em aprenderem”.

Ela também falou da im-portância sociocultural do conservatório na formação de uma geração de novos

profissionais da música, as-sim como daqueles que não se profissionalizam, mas con-tinuam na área. “É bom saber que existem pessoas que con-tinuam a manter a música popular brasileira viva”.

Ela pretende concluir o curso e se formar tanto na

flauta doce quanto na trans-versal. “Estudar música traz alegria, ajuda a desenvolver o cérebro e explora a criati-vidade musical do intérpre-te. Música é uma forma de vida e todos deveriam ter um pouco dela em suas vidas”, concluiu, empolgada.

MúsICA

“Celeiro” de músicos euGene Francklin

O distrito de Passagem de Mariana, localizado a cer-ca de quatro quilômetros de Mariana, é o mais antigo do município. Caracteriza-se pela formação constante de músicos na própria comuni-dade. Essa formação se deve pela presença das centená-rias bandas São Sebastião e Santa Cecília.

Essas sociedades musi-

cais, surgidas no final do sé-culo XIX, da vontade dos moradores apoiados pela as-sistência da própria comuni-dade, formam os músicos de Passagem com aulas gratui-tas. “A iniciativa sempre foi de pessoas apaixonadas pela música”, afirma o presidente da Sociedade Musical Santa Cecília, José Luis Papa.

Uma das personalidades mais notórias de Passagem é

o integrante da banda São Se-bastião, Firmino Assunção. Ele tem 84 anos, sendo mais de 70 dedicados à música, através de atividades como músico da fanfarra e profes-sor de aprendizes na corpo-ração. “Aqui é um celeiro de músicos”, afirmou.

O interesse músical pas-sa de pai para filho, como he-rança. É comum as famílias do distrito terem ao menos um de seus membros tocan-do nas bandas. Os músicos mantêm essa arte como uma paixão, sem visarem o lucro. Muitas das pessoas que com-põem as associações musi-cais conciliam a atividade com o trabalho diário.

De acordo com José Luis Papa, é essencial a existên-cia dessas bandas em Passa-gem, pois elas proporcionam o crescimento pessoal e pro-fissional de muitas pessoas nelas inseridas. Pelas bandas passaram músicos e compo-sitores de renome que con-tribuíram para manter a tra-dição de “celeiro musical” do distrito, como João Caval-canti, fundador da Socieda-de de Concertos Sinfônicos de São João Del Rei.

MARIA APARECIDA PINTO

YAsMINI GOMEs

Aulas de flauta transversal são oferecidas no conservatório

Costura e bordado estão entre as especialidades do grupo

BEATRIz DE MElO

Habilidades, esforços e criatividade são características que se destacam entre as integrantes do grupo Arte, Mãos e Flores, localizado em Antonio Pereira

Page 12: Jornal Lampião - 5ª Edição

12 Edição: André Luís Mapa e Rayanne Resende

MARIANA, DEZEMBRO DE 2011

CongadoLincon Zarbietti

Em meio a pedras, asfalto, poeira, o

branco do Congado can-ta seu teatro musical, lu-tando contra o progresso materialista que apaga as culturas do interior. Também conhecido como Congos, o feste-jo do Congado é uma tradição que se desta-ca em Minas Gerais, São Paulo e Goiás, formada por uma

comunidade que

FOtOs : LincOn ZARbiEtti

incorpora personagens de reis, rai-nhas, coroados, portas-bandeiras, juízes, capitães, alferes, dançan-tes, acompanhantes, cantadores, caixeiros formando, assim, uma Guarda de Congo, responsável por reverenciar o seu santo protetor. A identidade do congado é brasi-leira. A partir da África, são 500 anos de história, desde a viagem no Atlântico, construída por lutas e conquistas.

A rapidez da informação, o “ca-nibalismo” das metrópoles, o en-fraquecimento das culturas inte-rioranas, tudo isso faz com que o Congado tenha que se adap-tar a um novo mundo. Entretan-to, qualquer adaptação necessária há de ser feita pelos próprios con-gadeiros a partir da tradição e das raízes, da espiritualidade recebi-

da na irmandade. O finca-pé na dança sabe ser forte, quer entrar na Terra, fixar suas raízes cultu-rais para nunca mais serem ar-rancadas. O beijo nas bandei-ras dos santos, o levantamento do mastro, o andor que visita as casas da comunidade... tudo isso é a crença na perenidade do movimento.

O Congado é passado de pai pra filho, com muita dedicação, con-servando as vestes e os instrumen-tos tradicionais. A criatividade é de beleza e fé, mas principalmente de necessidade e sobrevivência.

As fotos desta página mostram a Festa do Congado de Santo Antô-nio do Salto, em outubro de 2010, que procura aproximar a cultura e a comunidade, reunindo diversos grupos da região e levando o feste-

jo e a fé para dentro das casas, den-tro das famílias.

O congado é dança, é ritmo, mas, acima de tudo, é força que preserva a cultura, que une comu-nidades, que resiste ao tempo!

“Foi seu pai que me ensinou

Bate o pé só com sete gunga menino

E segura essa goma

Tá caindo fulô

Lá no céu, lá na terra

Tá caindo fulô”