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Você sabia que as invasões tem tudo a ver com a história de Manaus? Entenda o porquê desta relação e saiba que as invasões vão além de problemas infraestruturais. São questões sociais. Leia!. Qual a razão das alagações nos períodos de chuva? Nesta reportagem, uma pesquisa do Inpa explica o motivo de muitas casas alagarem no inverno. É como se Manaus estivesse em um buraco. Confira! 4 ESTÁ NA HISTÓRIA NO BURACO Jornal Laboratório do curso de Jornalismo - Ano 3 - Edição 12 - Agosto de 2011 Foto: Divulgação Foto: Eliena Monteiro 6 Ter uma casa própria é o sonho de qualquer pessoa. Mas para realizar esse sonho, muitos se arriscam e compram terras em locais comprometidos, sujeitos a deslizamentos e alagações. Nesta reportagem, conheça um pouco sobre as pessoas que moram em áreas de risco e viram os seus sonhos se tornarem em verdadeiros pesadelos. vira um pesadelo Quando o sonho Quando o sonho Foto: Islânia Lima Mirna Feitoza conta como surgiu o projeto Palafitas e fala o que isso tem a ver com o seu retorno a Manaus. Para ela, as palafitas que existiam no entorno da cidade fazem parte da cultura amazônica. Saiba mais! ENTREVISTA Foto: Acervo Pessoal 10 3

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Jornal Expressão Ed. 12 Agosto/2011

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Page 1: Jornal Expressão Ed. 12 Agosto/2011

Você sabia que as invasões tem tudo a ver com a história de Manaus? Entenda o porquê desta relação e saiba que as invasões vão além de problemas infraestruturais. São questões sociais. Leia!.

Qual a razão das alagações nos períodos de chuva? Nesta reportagem, uma pesquisa do Inpa explica o motivo de muitas casas alagarem no inverno. É como se Manaus estivesse em um buraco. Confira!

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Ter uma casa própria é o sonho de qualquer pessoa. Mas para realizar esse sonho, muitos se arriscam e compram terras em locais comprometidos, sujeitos a deslizamentos e alagações. Nesta reportagem, conheça um pouco sobre as pessoas que moram em áreas de risco e viram os seus sonhos se tornarem em verdadeiros pesadelos.

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Mirna Feitoza conta como surgiu o projeto Palafitas e fala o que isso tem a ver com o seu retorno a Manaus. Para ela, as palafitas que existiam no entorno da cidade fazem parte da cultura amazônica. Saiba mais!

ENTREVISTA

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O sonho que se tornou em pesadelo

Desde as mais remotas civilizações, a ocupação de um espaço

é considerada uma problemática e a urbanização das complexas redes de cidades só aguçaram os problemas urbanos.

O direito à moradia é garantido pela Constituição Federal, que no Art. 6º garante que são direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. Sendo assim, o Estado tem por obrigação garantir uma morada digna para todo e qualquer cidadão, que tem o direito a um lar e a uma comunidade segura para que possa viver com dignidade, saúde física e mental.

Entretanto, a realidade é bem diferente do que diz a Constituição. Os grandes núcleos urbanos estão rodeados por áreas invadidas, onde a expansão desordenada acarreta em um aglomerado de problemas sociais e compromete o paisagismo local.

Mas como podemos explicar essas condições habitacionais? De quem é a culpa? Das políticas públicas ou dos moradores que não tem consciência dos riscos que estão correndo ao habitarem essas áreas?

A maior parte das pessoas que

invadem essas regiões são aquelas vindas de outros estados ou vítimas de problemas socioeconômicos. Sempre com expectativas de uma vida melhor, buscam nas cidades grandes, oportunidades de realizações. Porém, quando chegam se deparam com outra realidade. Os problemas começam a surgir e o indivíduo é obrigado a criar seus próprios meios de sobrevivência.

Partindo dessa premissa,

sobretudo observando a realidade amazonense, podemos ver as margens dos igarapés de Manaus praticamente comprometidas devido às residências irregulares.

Por isso, em épocas de chuvas, sérios problemas começam a surgir. São desmoronamentos, desabamentos, além das doenças ocasionadas pela falta de saneamento básico, que colocam em risco a vida daqueles que ali residem.

Impossível não lembrar o caso acontecido com o Prefeito da cidade, Amazonino Mendes e uma moradora. A cidadã tenta se

explicar e diz que se tiver que sair daquele local não terá para onde ir. O prefeito, por sua vez, em tom arrogante pergunta: “De onde você é?” A mulher responde: “Sou do Pará”. Amazonino ironicamente fala: “Tá explicado, então morra”.

A situação em questão não é a naturalidade da pessoa, até porque isso não faria diferença alguma diante da situação caótica. Mas sim o fato que atingiu as pessoas que ali vivem.

Em tentativas de maquiar esta ocasião, o governo criou programas de moradias em algumas regiões da cidade. No entanto, isso só funciona para poucos. Embora o centro da cidade esteja todo “bonitinho” e as crianças brincando tranquilamente, como fica o restante dos moradores que estão esquecidos a mercê de políticas públicas?

Só são lembrados quando acontecem tragédias ou a cada quatro anos, nos períodos eletivos. Quem mora com perigo ao lado tem pressa. A chuva não avisa quando vai chegar e nem que vai destruir e soterrar casas. Isso para os políticos pode custar alguns milhões a menos nos cofres públicos, mas para aqueles que convivem diariamente com essa realidade, mais que tudo, custa vidas.

| Emanolla Rosário

PresidenteJosemir Silva

ReitoraMaria Hercília Tribuzy de Magalhães

Cordeiro

Pró-Reitor AcadêmicoJosé Frota Pereira

Pró-Reitor AdministrativoCarlos Eugênio Silveira

Diretor FinanceiroFernando Augusto Rodrigues Leão Filho

Diretor Comercial e de RelacionamentoRicardo Facundo do Valle

Diretoria das Escolas

Escola de LicenciaturaLeny Xavier Louzada

Escola de Ciências Exatas e TecnologiaRaimundo Expedito de Oliveira

Escola de Ciências Humanas e SociaisAntônio Geraldo Harb

Escola de Ciências da SaúdeDavid Lopes (Consultor)

Coordenadora de Pós-GraduaçãoNivia Pires

Coordenador de ExtensãoRivelino Freitas

Coordenadores Curso deComunicação

Prof. Gustavo Soranz GonçalvesProfa. Tânia Bra

Jornalista ResponsávelProf. Leila Ronize

Mtb 179-AM

EdiçãoKelly Melo

Projeto GráficoKleiton Renzowww.r3nzo.com

DiagramaçãoFabiana Ferreira

RedaçãoCamila HenriquesEliena MonteiroDiácara Ribeiro

Islania Lima

FotografiaEliena Monteiro

Islania Lima

EXPRESSÃOé o Jornal Laboratório do curso de

Jornalismo do UniNorte, elaborado pela Agência Experimental de Comunicação

(Agex).

EndereçoRua Hauscar de Figueiredo, 290

Centro Manaus AmazonasCEP 06020-190

Fone (92) 3212-5053

Edição nº 12 Agosto de 2011

EditorialExpediente

Período chuvoso em Manaus sempre é sinônimo de tragédia, principalmente nas áreas mais vulneráveis da cidade. Pensando nisso, a equipe do Jornal Laboratório Expressão preparou esta edição para discutir os problemas que as áreas de risco trazem para qualquer localidade.

E por isso vamos falar da formação as áreas arriscadas. Afinal, quem é culpado: o Governo, por não criar leis eficientes e rígidas o bastante para conter ocupações irregulares? Ou a população, que depreda o meio ambiente sem se importar com as consequências que virão mais tarde?

Para analisar cada questão   trazemos uma série de reportagens que vão lhe ajudar

a pensar melhor sobre o caso. Na reportagem, “Quando o sonho vira um pesadelo”, você vai conhecer a história de pessoas que sempre sonharam em ter a sua casa própria, mas quando finalmente conseguiram realiza-lo, este foi interrompido por uma dessas tempestades que costumam cair aqui na região, tudo porque o imóvel foi construído em uma área nada favorável.

Em, “Manaus está no buraco” você , leitor, vai entender porque existem vários pontos de alagação na cidade. É que a cidade está em um “buraco”, ou seja, existem pontos altos e baixos e, quando chove, a água não tem para onde escorrer. Além disso, você vai poder conhecer um pouco sobre o Plano Diretor de Manaus, que tem

como objetivo estruturar a terra dos Manaós.

Quer saber como iniciaram as ocupações irregulares? Leia “Manaus entre imigrações e ocupações irregulares”, para saber que as invasões já fazem parte da nossa história. E ainda, você vai poder conferir uma entrevista exclusiva com a Profª Dra. Mirna Feitoza, que vai falar um pouco sobre o projeto Palafitas, que tem como proposta estudar a relação desse tipo de moradia com a cultura Amazônica.

Tudo isso é apenas um aperitivo do que você, caro leitor, vai poder encontrar nesta que é a 12ª edição do Jornal Laboratório Expressão.

Boa Leitura!

“Estado tem por obrigação garantir uma morada digna para

todo e qualquer cidadão

| O Perigo mora ao lado

Jornal Expressão Manaus 19 de Agosto de 20112 Manaus 19 de Agosto de 2011

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JORNAL EXPRESSÃO Como surgiu a ideia para este projeto e essa parceria com o curso de Arquitetura?

MIRNA FEITOZA - Este projeto Palafitas está relacionado com o meu retorno à Manaus. Passei 11 anos em outro estado fazendo meu mestrado e doutorado na PUC de São Paulo. Quando voltei, em 2006, encontrei a ação do Prosamim em pleno vapor. Como eu fui trabalhar exatamente no Uninorte, que fica no centro da cidade, as palafitas foram muito marcantes, porque elas fazem parte de uma memória remota de Manaus. Aí, fui convidada pela professora Márcia Honda, que era a coordenadora do curso de Arquitetura do Uninorte, na época, para desenvolver uma iniciação científica na universidade. Ela me sugeriu fazer sobre a Bélle Époque, mas eu pensei em fazer sobre as palafitas, porque já existem vários estudos sobre o período da borracha. Ela aceitou na hora, achou a ideia instigante.

JE – Mas além do curso de Arquitetura, os alunos da Comunicação também participaram desse projeto. O que motivou essa troca entre os cursos?

MF - Bem, como eu era do curso de Comunicação Social, propus a ela (Márcia Honda) que fizéssemos um estudo interdisciplinar, usando a semiótica da comunicação como fundamentação teórica. Eu apresentei o projeto “Espaços Semióticos Urbanos – palafitas como texto da cultura amazônica”, envolvendo iniciação científica

em Arquitetura e Comunicação. Montei uma equipe grande de alunos, e no final das contas, nós ganhamos uma bolsa de estudos do Programa de Iniciação Científica do Uninorte.

JE - Como se deu a seleção dos alunos que participaram do projeto?

MF - Os alunos se inscreviam para participar da seleção. Nós desenvolvemos um trabalho muito interessante com reuniões semanais. Os alunos apresentavam seus trabalhos, nós falávamos sobre a metodologia da pesquisa e sobre a fundamentação teórica. Foi um desafio enorme, mas acredito que tivemos sucesso, porque conseguimos realizar duas iniciações científicas, com participação em congresso e com visibilidade na instituição. Foi um trabalho bastante prazeroso. Participaram estudantes de Publicidade, Jornalismo e Rádio e TV, dentro do curso de Comunicação Social e uma aluna de Arquitetura. Naquele tempo, a nossa divulgação era feita via Sicanet (espécie de intranet) e cartaz.

JE - As palafitas são apresentadas neste projeto como parte fundamental da cultura amazônica. Os bairros de Educandos e São Raimundo foram os mais estudados. Por que esta delimitação?

MF - Nós escolhemos São Raimundo e Educandos porque, quando Manaus começou a se desenvolver, a partir do impacto da Zona Franca, os dois apresentaram

populações que cresceram à margem do plano diretor da cidade. E como os dois eram bairros operários, concentravam a população que não estava contemplada pelo plano diretor. A cidade começava a girar nessa relação centro-periferia.

JE - E esse estudo vai ter continuidade?

MF - Sim, atualmente, ele está sendo desenvolvido na Ufam através de um projeto de extensão. Nós estamos desenvolvendo uma documentação. Vamos produzir um audiovisual e também um blog, para subir fotos e trechos das entrevistas. Pretendemos usar as redes sociais para coleta de dados .

JE – No auge do período da borracha, Manaus também viveu um período de “fertilidade arquitetônica”, com a construção de prédios e monumentos seguindo os moldes europeus. Com a crise e o fim desse breve período de prosperidade econômica, a cidade foi perdendo a identidade europeia e ganhando casas de palha sobre troncos de madeira, flutuando sobre os rios. Qual a sua análise desses dois momentos?

MF - As coisas estão relacionadas. As palafitas são moradias populares, moradias tradicionais. Portanto elas não nascem de um conhecimento especializado, como o Prosamim, por exemplo. Elas estão associadas com o que sabemos a partir da cultura a que estamos inseridos .

JE - O discurso para legitimar o Prosamim foi a “degradação” da cidade. Podemos dizer que

a falta de cultura ajudou nessa deterioração e contribuiu para que essas áreas fossem definidas como áreas de risco?

MF - Isso não pode estar desassociado de toda a dinâmica social que nós estamos inseridos hoje. É uma conjuntura. Essa cultura vem de dentro da cidade e acaba se concentrando ali no Centro, onde os igarapés deságuam no Rio Negro. Aquela grande poluição que se via nos igarapés e que se concentrava no Igarapé de São Raimundo,  são fluxos que vem do interior da cidade. Portanto, não podemos entender como só as palafitas tivessem degradado o ambiente. Na verdade, temos uma cidade que degradou e continua degradando seus igarapés. Cada um de nós temos uma parcela de culpa nessa situação.

JE - Ao final deste estudo, qual a sua avaliação a cerca da urbanização feita em Manaus? O Prosamim é a solução?

MF - Quando nós começamos a fazer esse projeto, sempre vinha a questão do Prosamim. É uma ação governamental muito importante. Na verdade, a proposta deste estudo é de reconhecimento das palafitas como parte da cultura, e não um lixo. Obviamente, este é um projeto que necessita de uma abordagem interdisciplinar, que envolva várias áreas do conhecimento, para conseguir compreender toda a sua dinâmica. O nosso objetivo era reconhecer a relevância cultural dessa moradia.

EntrevistaCada um de nós tem uma parcela de culpa| Camila Henriques

O currículo de Mirna Feitoza Pereira é invejável. Formada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mestre e doutora

em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, Mirna trabalhou em veículos como a Folha de São Paulo, Agência Click, TV Cultura de Manaus e a Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam). Em 2006, foi professora no Centro Universitário do Norte (Uninorte), onde começou a desenvolver um projeto em conjunto com o curso de arquitetura, intitulado “Espaços semióticos urbanos: palafitas como texto da cultura amazônica”. A pesquisa teceu um panorama histórico da cidade de Manaus e analisou o seu planejamento urbano a partir das palafitas. “Esse projeto está muito relacionado com a minha história de vida, porque eu nasci no bairro de Educandos”, contou Feitoza. “O professor universitário não é só um professor no sentido de lecionar. Na verdade, o que alimenta a carreira do professor universitário é a pesquisa. Ele só vai conseguir ser um educador se ele atuar na pesquisa. É um trabalho em três: você pesquisa, faz extensão e ensina”, completou.

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Em entrevista exclusiva, Mirna Feitoza, fala sobre o projeto “Palafitas”, que tinha como proposta estudar significado desse tipo de moradia para a cultura amazônica

Jornal Expressão 3Manaus 19 de Agosto de 2011

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Manaus entre imigrações e ocupações irregularesManaus entre imigrações e ocupações irregulares

| Diárcara Ribeiro

Presente nos versos dos poetas ou cantada por caboclos amazônicos, portugueses e espanhóis, a região Amazônica sempre esteve presente nos olhos do mundo

HistóriaJornal Expressão Manaus 19 de Agosto de 20114 Manaus 19 de Agosto de 2011

A capital do Amazonas, Manaus, recebeu esse nome para homenagear uma valente tribo indígena conhecida como Manáos, que significa “Mãe dos

deuses”. No começo do século XX, não era uma cidade comum. Movimentada pelo período áureo da borracha, possuía construções influenciadas pela arquitetura francesa, inglesa e portuguesa.

Oficialmente, a cidade foi fundada em 1669, com o forte de São José do Rio Negro. Em 1832, foi elevada a vila com o nome de Manaus e mais tarde, no dia 24 de outubro de 1848, foi transformada em cidade, porém com o nome de Barra do Rio Negro. Só em 4 de setembro de 1856 voltou a ter o atual nome.

Manaus foi uma das primeiras capitais do país a ter luz elétrica e serviço de água e esgoto. Em 1896, o então Governador Eduardo Ribeiro instalou a primeira linha de bondes elétricos, que existiu até 1957, quando o asfalto começou a dominar a capital.

Banhada pelo Rio Negro e pelo Rio Solimões, a cidade possui um porto construído em um cais flutuante que acompanha o nível das águas durante a época da cheia. Sua estrutura permite receber navios de qualquer tamanho, mesmo durante as vazantes.

Já que Manaus era tudo isso, a notícia de que o Eldorado estava aqui se espalhou rapidamente, atraindo pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. Vantagens eram oferecidas para quem quisesse morar na região. Mas quando os imigrantes chegavam, a realidade era outra. Assim, Manaus se ergueu por braços fortes de índios, negros, nordestinos e vários povos de cultura e lugares diferentes.

Durante essas migrações, extensões do Centro histórico se formaram, afinal, os trabalhadores tinham que abrigar suas famílias. Eles se instalavam ao redor do Centro e assim surgiram os primeiros bairros.

De acordo com o escritor e especialista em Gestão de Projetos e Logística, Janciney Araújo de Oliveira, o bairro do Educandos é o mais antigo de Manaus. “Ele foi fundado, oficialmente, no ano de 1856, quando o presidente da província do Amazonas, João Pedro Dias Vieira, resolveu criar, através da Lei nº 60, de 21 de agosto desse ano, o estabelecimento dos Educandos Artífices, na época um modelo avançado de educação profissionalizante, que estava sendo aberto em todo o Brasil”, explica.

Naquele tempo, conta Oliveira, a população de Manaus não era superior a 400 habitantes e o local escolhido para funcionar a

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Manaus entre imigrações e ocupações irregularesManaus entre imigrações e ocupações irregulares

| Um salto na HistóriaCom o passar do tempo, Manaus cresceu chegando a ser uma das

cidades mais populosas da Amazônia, onde o ecoturismo impulsiona a economia local em um cenário marcado pela paisagem da fauna e da flora, além de possuir o principal centro financeiro da região Norte. Mesmo assim, seu crescimento está marcado pela desordem, segundo Janciney de Oliveira. “As ocupações irregulares sempre são realizadas por pessoas que necessitam de um espaço para morar”, analisa o escritor.

Entretanto, ele afirma que essas pessoas são influenciadas por outros que só querem “lucrar”. “Essas pessoas acabam sendo alvos de pessoas inescrupulosas, que as manipulam. São os operadores da indústria das invasões, que se vestem de bonzinhos e ficam com os melhores lotes de terra para vender. Depois das invasões efetivadas, mudam de alvo”, critica.

Oliveira conclui afirmando que isso acontece porque os “operadores da indústria das invasões” usam a opinião pública para se saírem e o poder público fica obrigado a trabalhar de forma rápida, para dar o mínimo de infraestrutura para um bairro que nasceu sem planejamento. “Os moradores desses locais passam a brigar para que Prefeitura e Governo atenda as reivindicações, que na maioria das vezes não tem sentido”, opina.

Presente nos versos dos poetas ou cantada por caboclos amazônicos, portugueses e espanhóis, a região Amazônica sempre esteve presente nos olhos do mundo

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nova escola foi o prédio da Olaria Provincial, que havia acabado de ser concluído, localizado numa ilha na outra margem do

igarapé da Cachoeirinha, como era conhecido o igarapé do Educandos.

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Comportamento

Quando o sonho vira um pesadeloEspecial

| Islânia Lima

Todo cidadão tem o desejo de ter um local fixo para morar. Porém, a falta de recursos faz com que muitas pessoas apelem para o terreno mais barato, não importa onde seja

Manaus é uma metrópole com mais de 11.400Km² e, segundo a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístca (IBGE 2010) , conta com uma

população de 1.8 milhão de habitantes. Apesar disso, a cidade possui bairros em áreas arriscadas, devido ao crescimento desordenado. São pessoas de diversos lugares em busca de um lugar para morar. Mas é no período chuvoso que a população dessas áreas se vê diante de um grande problema social: a preocupação em ficar desabrigado após uma enchurrada.

O problema é maior porque boa parte dessas famílias não faz idéia do perigo  a que estão se submetendo.  Geralmente, essas famílias  não possuem uma renda suficiente para comprar um local melhor ou mais barato. Então,  o jeito é permanecer em áreas que, a qualquer

momento, podem deslizar ou alagar.Cleuton Azevedo, 24, conta que as ofertas em áreas de invasão são

tentadoras. Para ter onde abrigar a sua família, ele chegou a comprar uma casa de madeira no Beco Abrãao, por R$ 2 mil. O problema foi que a casa ficava na parte baixa da comunidade. Aí, o que seria um lugar tranquilo para viver, se tornou um pesadelo. Com as fortes chuvas, o terreno começou a ceder, e Cleuton perdeu muitos móveis. “Tive que trabalhar em dobro para comprar outro terreno e construir um barraco com mais segurança para morar com a minha família. Hoje estamos em condições melhores, porque tive a preocupação de fazer barragens para a água e a lama não entrarem em minha nova casa”, disse.

Foto: Islânia Lima

Jornal Expressão Manaus 19 de Agosto de 20116 Manaus 19 de Agosto de 2011

Quando não se tem para onde ir, a solução é construir no lugar que seja mais viável financeiramente. O problema surge aí, porque muitas famílias não têm noção do perigo a que estão expostas

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Quando o sonho vira um pesadeloTodo cidadão tem o desejo de ter um local fixo para morar. Porém, a falta de recursos faz com que muitas pessoas apelem para o terreno mais barato, não importa onde seja

Não muito diferente de outros bairros, o Nova Vitória é fruto de uma invasão de terras ocorrida em 2005. Antes da invasão, a área pertencia a Zona Franca de Manaus. Localizado na Zona Leste, é uma das mais novas comunidades da capital que só foi reconhecida como bairro em Setembro de 2007. Na época, muitos terrenos foram loteados e vendidos a preços baixos e a maioria dos compradores eram pessoas comuns que migraram de outros bairros da cidade ou do interior do estado, todos em busca da realização de um sonho: obter uma casa própria para ter onde reclinar a cabeça.

Maria Antônia Oliveira, 28, mãe de cinco filhos, é uma dessas sonhadoras. Com economias feitas junto com o esposo, Jeremias Gomes, a dona de casa  conseguiu comprar o seu “cantinho” no Beco Abraão, há um ano e meio. Hoje, além da sua família, Maria Antônia também acolheu o irmão, a cunhada e os três filhos do casal,  que foram vítimas de uma ‘tempestade’ e  ficaram desabrigados.

Segundo Maria Antônia o espaço é apertado, mas com um jeitinho todos vão se acomodando. A maior preocupação é com a chuva, afirma a dona de casa, apontando para a parede onde estão as rachaduras causadas pelo temporal da noite anterior. “Passamos por momentos de terror. As crianças choravam com medo da chuva. Mas, infelizmente não temos para onde ir. É daqui para a morte”, declarou. 

O pedreiro Reginaldo Souza, 45, também é morador do local. Há três anos na comunidade, ele se mudou para o Nova Vitória por causa do preço acessível, que na época valia cerca de R$1, 2  mil.  No entanto, o preço baixo não lhe trouxe privilégios. Depois de uma dessas chuvas fortes, ele, junto com mais oito moradores, tiveram

que arregaçar as mangas para limpar um terreno baldio que alagou.  Devido ao acúmulo de sujeira, o único esgoto existente  no local ficou totalmente entupido. “Ninguém aparece em nossa comunidade para nos ajudar na limpeza deste bueiro. Sinceramente, estamos largados a própria sorte”, reclama.

Foto: Islânia Lima

Foto: Islânia Lima

| Em busca de uma Nova Vitória

Jornal Expressão 7Manaus 19 de Agosto de 2011

Este terreno no bairro Nova Vitória ficou totalmente alagado após uma forte chuva. Para evitar problemas, o jeito foi os vizinhos se reunirem para limpar o local. “Estamos largados a própria sorte”, reclamam

O Sonho que se tornou realidade. O desejo de toda família é ter um lugar para morar, não importa onde seja

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Além do desafio de morar em uma área que a qualquer momento pode desmoronar, as famílias também tem que enfrentar  as doenças oriundas do período chuvoso. Dengue, malária e micoses são os maiores problemas de saúde que afetam principalmente as crianças.

A doméstica Walcileia Matias, 28, mora em uma casa que fica no alto de um barranco. Junto com ela, também moram a cunhada e um bebê de um ano e meio. Como o local é íngreme e apresenta risco de desabamento, Walcileia conta como é seu dia a dia. “Saio para trabalhar preocupada, porque ela fica sozinha com a criança, e quando começa a chover, o barranco  cede. Sempre ligo pedindo para que ela saia da casa, caso aconteça algo de estanho”, disse assustada.  Não bastasse esse problema, Walcileia já perdeu vários objetos por causa da chuva. “Infelizmente não temos para onde ir. O jeito é orar e pedir que Deus nos proteja”, afirmou a moradora.

E não são só as chuvas que atemorizam os moradores. Eles ainda têm que conviver com a visita de animais peçonhentos como cobras e escorpiões, que são arrastados pelas águas das chuvas. “No dia de chuva, aqui, já se sabe. Além de não dormirmos a noite toda, ainda temos que tirar um tempo para olhar nossas crianças que correm o risco de serem picadas por esses animais”, afirma da dona de casa.

Jornal Expressão Manaus 19 de Agosto de 20118 Manaus 19 de Agosto de 2011

| Convivência com desmoronamentos, doenças e animais peçonhentos

Em qualquer sinal de perigo, acione o 199 (Disque Defesa Civil)

Dicas de segurança

#  Não jogue  lixo nem entulho nos igarapés e nas vias públicas. Isso ocasiona entupimento dos bueiros e , posteriormente,  podem  causar alagamentos e infiltrações, colocando vidas em risco.

# Retire da casa os eletrodomésticos mais úteis como geladeira e fogão,  em caso alagamento.

# Se possível, deixe as crianças bem longe do contato com água para evitar possíveis doenças vindas com água suja.

# Em caso de deslizamento, o mais importante é proteger sua vida e de seus familiares.

Não bastasse a sujeira que a água da chuva trás, mora-dores ainda têm que conviver com o aparecimento de animais peçonhentos

“Quando chove o barranco começa a ceder”, afirma a dona da casa Walcileia Matias, 28. Mas como não tem outra solução, o jeito é pedir a proteção de Deus

Foto: Islânia Lima

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| “Fazemos um trabalho de conscientização”, diz Defesa Civil

Jornal Expressão 9Manaus 19 de Agosto de 2011

A Defesa Civil do Município explicou que cada ocorrência é registrada e um técnico é o deslocado para estudar o local. Em seguida, é feito um trabalho de orientação para conscientizar os moradores dos riscos da área e solicitar que procurem outros abrigos. Segundo o diretor do Departamento de Operações, Cláudio Belém, as pessoas recebem toda a orientação para que possam se deslocar e “fugir” dos riscos que podem acontecer.  “A cada ocorrência registrada através do número de emergência 199, a Defesa Civil encaminha uma equipe, no menor tempo possível, para verificar a situação no local. A nossa função é reconstruir a normalidade social, atuando como gestor em situações emergenciais”, disse Belém.

Nas áreas de risco, a Secretaria Municipal de Defesa Civil (Semdec) desenvolve ações permanentes de conscientização com panfletagens, orientando a população sobre o risco que correm. Além do Município, outros grupos se preparam para ajudar, em casos de emergência.  Como a Academia de Bombeiros Civis do Amazonas (ABCAM), o Grupo de Suçuarana, esportistas radicais que também praticam salvamentos, e o Alfa, um grupo de acadêmicos de medicina e enfermagem da Ufam que ministram aulas de primeiros-socorros. Em conjunto também com a Defesa Civil Estadual essas organizações  treinam  para fazer um atendimento imediato e eficaz.

# Em caso de chuvas fortes, tire todos os aparelhos elétricos e eletrônicos da tomada e desligue a chave geral de energia.

# Se chegar a ouvir algum barulho estranho abandone a sua residência na hora e procure um local seguro para ficar.

# Observe sempre, em caso de chuva, a trincas nas paredes, janelas e portas que apresentem dificuldades de abrir e fechar.

A Defesa Civil do Município possui um trabalho de orientação para conscientizar os moradores de áreas de risco

Foto: Islânia Lima

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A Região Amazônica passa por dois processos naturais todos os anos: a cheia e a vazante. Atualmente, isso tem afetado a vida das pessoas que moram às margens dos rios e igarapés da localidade. Mas, se a

cheia e a vazante são ‘processos naturais’, as pessoas é que estariam interferindo nesses fenômenos, não concorda?

Estudiosos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) fizeram um levantamento das alagações e dos deslizamentos ocorridos  em Manaus de 2005 à 2008. Eles identificaram que a população urbana ocupa a área que deveria servir de caminho para a escoação das águas dos igarapés. Além disso, os moradores fazem recortes nas encostas (ladeiras, barrancos) para construir as habitações.  A retirada da vegetação original deixa o solo instável, aumentando a probabilidade de deslizamentos ou desmoronamentos.

De acordo com o coordenador da pesquisa, Reinaldo Corrêa Costa, o levantamento tem o objetivo de produzir conhecimentos que contribuam com a criação de políticas públicas voltadas para a população manauara. “A principal contribuição do trabalho é a produção de informações de como os eventos, considerados de risco e de vulnerabilidade ocorrem na cidade de Manaus. Nesse sentido, a produção de informação é para que os poderes públicos possam atuar devidamente, no sentido de superar esse conjunto de eventos e fatos que acontecem e atrapalham a vida da cidade, do cidadão”, destaca.

O estudo denominado “Identificação e diagnóstico de área de risco em Manaus” resultou em um inventário (espécie de relatório) com dezesseis mapas que mostram os focos das ocorrências. O mapeamento agrupou as áreas mais

afetadas em dois arcos: o norte/leste e o arco centro-oeste/sul,  que abrangem as respectivas zonas da cidade.

Esse inventário preliminar foi feito com base em dados fornecidos pela Defesa Civil Municipal (SEMDEC) porque quando há qualquer movimento de terras, são eles que registram as ocorrências e as reclamações da população. Em março de 2009, os pesquisadores apresentaram o relatório para a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil no Amazonas (Cedec/AM).

Segundo Reinaldo Costa, os coordenadores da Cedec/AM se mostram interessados em produzir um inventário abrangendo todo o Estado. “Porque uma inundação que acontece num determinado lugar, não acontece do mesmo jeito em outro, porque a distribuição dos terrenos, das casas e o relevo são diferenciados. Então as alagações e os deslizamentos, não se comportam de maneira homogênea”, explica. A Cedec/AM apoiou a pesquisa por meio do Curso de Agente de Defesa Civil – CADC que foi ministrado aos alunos de iniciação científica do projeto. Além da Cedec, Inpa e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) também financiam a pesquisa.

Depois do inventário, os pesquisadores entrevistaram  moradores de 10 comunidades de Manaus que estão dentro dos arcos citados anteriormente. A equipe também fez o registro fotográfico dos lugares visitados e recortou as matérias dos jornais para identificar as ocorrências. Eles trabalham em parceria com a Central Única das Comunidades (CUC), apresentando a proposta e os resultados do levantamento.

Manaus

| Eliena Monteiro

| Não bastasse as alagações, a falta de infraestrutura é outro problema nas áreas de risco

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Manaus está no buracoManaus está no buraco

Jornal Expressão Manaus 19 de Agosto de 201110 Manaus 19 de Agosto de 2011

Além dos deslizamentos e das alagações, os pesquisadores apontam outros problemas comuns nas áreas de risco, como de saúde e de infraestrutura (recapeamento asfáltico, água tratada, esgoto drenado). Um exemplo é o Bairro União, no Parque Dez, Zona Centro Sul, numa área chamada de ‘Sovaco da cobra’. Essa área já passou pela intervenção do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim) em 2008. Mas de acordo com os pesquisadores, os moradores reclamam que os problemas só aumentaram. Isso porque um lado do bairro é mais alto que o outro. Além disso, o lixo doméstico da comunidade é despejado no igarapé.

A bolsista de iniciação científica Lila Sígrid de Macena faz parte da equipe do projeto e diz que os problemas da área de risco estão sempre associados, principalmente, ao contágio por doenças. “A área de risco é um problema social de todas as disciplinas, sem fronteira nenhuma. Então acaba tocando na questão biológica, por exemplo. Quando a água desce depois da alagação, doenças como leishmaniose e leptospirose aparecem”, afirma.

A falta de segurança foi outro problema enfrentado pelos próprios estudantes que integram a equipe da pesquisa, uma vez que limitou a entrada deles em determinados lugares que são dominados por grupos de venda de drogas, por exemplo.

Equívocos. Alguns moradores comentem equívocos que facilitam as ocorrências de desastres. Muitos costumam fazer cortes de cerca de 90º  graus nas encostas, removendo as principais características do solo. Outros colocam lixo, acreditando que vão evitar os deslizamentos. Mas enganam-

se, pois o efeito é contrário, uma vez que o lixo pesa e contribui para o deslizamento das encostas.

Há certos tipos de capim que ajudam a deixar a encosta mais fixa. Algumas dessas gramíneas impermeabilizam o solo, retendo parte da água que cai sobre o sobre a superfície. Mas a bolsista Lila de Macena diz que nem sempre a vegetação que está no quintal das pessoas contribui para segurar o chão. “Quando a pessoa faz plantações no quintal, ela potencializa o evento porque para plantar é preciso descobrir o solo. Uma vez que essa primeira camada é retirada, o solo fica exposto. Quando a chuva vem, leva esses sedimentos, leva a camada que sustenta o solo, a parte que tem mais nutrientes”, explica.

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Certos tipos de gramíneas ajudam a fixar as encostas dos igarapés

Page 11: Jornal Expressão Ed. 12 Agosto/2011

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Jornal Expressão 11Manaus 19 de Agosto de 2011

A ocorrência de alagações, os processos erosivos e os relatos da população constatando movimentos de massas são algumas particularidades que definem uma área de risco. Reinaldo Costa explica as características desses espaços: “Nessa paisagem há, acima de tudo, a ausência de infraestrutura, principalmente de circulação das águas, seja da chuva e das águas servidas que são as águas que saem das casas, das torneiras, das descargas, dos banheiros. Toda essa água busca um caminho no solo, e ela vai criando caminho de erosão e fragilizando os solos, fazendo com que haja desmoronamento em alguns lugares, e em outros vai fazer com haja uma carga excessiva em cima da bacia hidrográfica que, evidentemente, vai transbordar”.

Para tentar entender como é uma área de risco, basta imaginar a formação de um anfiteatro. A parte das bancadas (onde fica a platéia) representa a encosta e a parte de baixo (o palco) representa o fundo de vale. De acordo com a pesquisa, Manaus é composta de colinas tabuliformes. Esse tipo de colina é formado por uma elevação de terra que apresenta uma área plana no topo. As pessoas constroem suas casas nessa parte superior ou na parte baixa da colina. Nessas áreas, tanto os moradores da parte cima como os da parte de baixo da encosta estão vulneráveis. Os de cima correm o risco de perder sedimentos (porções do terreno) e os de baixo de receberem sedimentos.

| O que área de risco?

| O ‘Plano B’ para ManausManaus foi escolhida como uma das subsedes da Copa do Mundo de 2014,

no Brasil. Mas a cidade ainda enfrenta a desordem urbanística como entrave para receber o evento. Por isso, o Governo e Prefeitura criaram projetos com a finalidade de resolver esses problemas. Um deles é a revisão do Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus (PDUAM).

O Plano Diretor é a normatização de todo o sistema urbanístico, ambiental e social da cidade. O PDUAM prevê, entre outras ações, a regularização e integração de assentamentos precários, a revitalização de praças, a regularização fundiária e o reordenamento de calçadas da capital.

A última revisão do Plano Diretor de Manaus aconteceu em 2002. Em 2009, a prefeitura enviou à Câmara Municipal uma proposta de revisão do plano, mas ela foi negada pelo Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE/AM), pois não era resultado da participação popular, como prevê o Estatuto da Cidade, na Lei nº 10.527/2001. O novo plano leva em consideração algumas propostas do antigo. O Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb) também está entrevistando os moradores de Manaus para verificar o que a população quer que entre nesse ‘plano B’.

No mês de abril deste ano o Implurb se reuniu com membros do (MPE/AM) para apresentar as propostas do novo PDUAM. Durante o encontro, os membros do Implurb reclamaram da falta de pessoal para ajudar na fiscalização

das irregularidades que ocorrem da capital, tais como ocupação de calçadas e canteiros de obras. São apenas 25 técnicos para percorrer toda a cidade.

O presidente do Implurb, Manoel Ribeiro, destacou que uma vez por semana uma equipe de fiscais do órgão vai às ruas de Manaus para demolir construções irregulares. Ele criticou os hábitos da população manauara. “Há uma cultura de desordem e do prazer ilegal que é horrível. A maior dificuldade do Implurb é fazer com que a população entenda que o plano não visa o microproblema. Ele vê o todo”, disse.

Manoel Ribeiro aformou que a revisão do plano será concluída em outubro ou setembro deste ano. Ele estipulou 270 dias a contar de 12 de abril. Depois disso, o plano segue em forma de lei para a Câmara Municipal de Manaus, onde será apreciado pelos vereadores. Se aprovado, o plano será imediatamente posto em ação.

Novo inventárioAtualmente os pesquisadores estão realizando o segundo inventário que

relaciona os dados de 2005 a 2010. Vendo que é inacessível estudar toda a cidade por vários fatores, dentre eles a falta de segurança e de recursos financeiros, os pesquisadores decidiram entrevistar os moradores que moram nas margens das bacias hidrográficas. A escolha também ocorreu porque os deslizamentos e as alagações sempre margeiam os igarapés

Deslizamentos e alagações são comuns em áreas de risco. Além disso, os problemas de infraestrutura são recorrentes

Page 12: Jornal Expressão Ed. 12 Agosto/2011

M e i o ambiente é um tema a ser debatido e entendido. Por isso, indico aos amantes da

leitura, o livro “Comunicação, Jornalismo e Meio Ambiente”, de Wilson da Costa Bueno. Nesta obra, o autor nos mostra a importância da comunicação e do jornalismo ambiental situando-nos quanto a sua história e aproveitamento no país, além de trazer uma reflexão quanto às diferenças de cobertura jornalística da grande-mídia acerca das temáticas ambientais. O livro está dividido em cinco capítulos, onde Bueno fala sobre alguns conceitos da comunicação e provoca ideias sobre a temática, salientando os interesses dos amplos meios de comunicação e o conhecimento aparente sobre o assunto por parte dos profissionais que tomam as redações.

No primeiro capítulo, Bue-no analisa a postura comum dos veículos de comunicação em relação as fontes aca-dêmicas. No segundo, o seu objetivo é alertar quanto aos danos causados ao meio am-biente e à saúde pelo uso de agrotóxicos. No terceiro, ele apresenta entrevistas, cases e perfis de profissionais en-gajados na causa ambiental. No quarto, o autor aborda a evolução do interesse de pes-quisa em comunicação e jor-nalismo ambiental, citando alguns dos trabalhos produ-zidos por pesquisadores, por distribuídos em todo o terri-tório nacional. E o no último, Bueno aponta as principais referências bibliográficas so-bre os assuntos debatidos na publicação.

Joyce DácioEstudante de Jornalismo

Dica de livro

Foto: Divulgação

Um dos eventos mais esperados no ano, princi-palmente para o britânicos, foi o casamento entre o príncipe William e Kate Middleton. O matrimônio aconteceu no dia 29 de abril, na Abadia de West-minster, Inglaterra, e atraiu mais de 1 milhão de pessoas para as ruas de Londres. Segundo as auto-ridades locais, o casamento real é o maior evento já realizado na capital da Inglaterra.

OSAMA ESTÁ MORTO

O principal líder da al-Qaeda, Osama Bin Laden, está morto. A confirmação foi feita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na madrugada do dia 2 de maio, quando ele fazia um pronunciamento na TV. O terrorista foi capturado e morto durante uma ação de inteligência do Exército norte-americano em parceria com o governo paquistanês. Bin Laden teria levado um tiro na cabeça e sepultado no mar, conforme o costume islâmico.

MASSACRE EM REALENGO

Mais um episódio de violência chocou o Brasil. Um ex-aluno invade a Escola Munici-pal Tasso da Silveira, no Realengo (Rio de Ja-neiro) e mata 12 crianças. Morreram dez me-ninas e dois meninos, além de vários feridos. Depois da execução em massa, Wellington se suicidou. A motivação do massacre não é conhecida, mas cogita-se tratar-se de psi-copatia.

Estava tudo certo e os fãs ansiosos. O show estava marcado para o dia 1 de abril, no Studio 5. Mas uma polêmica foi o pivô do cancelamento da vinda da banda “Restart” a Manaus. Tudo começou por causa de um vídeo postado na internet, quando, em uma entrevista, o baterista Thomas disse que não sabia se existia civilização na capital amazonense e que gos-taria do tocar no meio do mato. A declaração causou revolta nos fãs e foi até tema de discussão nas uni-versidades.

POLÊMICA RESTART

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