jornal esquerda 48

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[1] ESQUERDA | FEVEREIRO 2011 FEVEREIRO 2011 | PUBLICAÇÃO MENSAL DO BLOCO DE ESQUERDA | www.esquerda.net | nº 48 | 1€ > POLÍTICA > INTERNACIONAL > SOCIEDADE BLOCO QUER REDUZIR CONTRIBUIÇÃO DOS RECIBOS VERDES ENSINO SUPERIOR: UM EM CADA QUATRO BOLSEIROS PERDEM APOIO TUNÍSIA: A QUEDA DO PEQUENO DITADOR AMIGO DO OCIDENTE | POR ESAM AL-AMIN Pag.07 Pag.12 Pag.16 Pag.03 BANKSY Não estamos condenados ao FMI.

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Jornal Esquerda 48

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  • [1]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    FEVEREIRO 2011 | PUBLICAO MENSAL DO BLOCO DE ESQUERDA | www.esquerda.net | n 48 | 1

    > POLTICA > INTERNACIONAL> SOCIEDADE

    BLOCO QUER REDUZIR CONTRIBUIO DOS RECIBOS VERDES

    ENSINO SUPERIOR: UM EM CADA QUATRO BOLSEIROS PERDEM APOIO

    TUNSIA: A QUEDA DO PEQUENO DITADOR AMIGO DO OCIDENTE | POR ESAM AL-AMIN

    Pag.07 Pag.12 Pag.16

    Pag.03

    BANKSY

    No estamos condenados

    ao FMI.

  • [2] ESQUERDA N 48

    1 Fevereiro 2011: Dois milhes de pessoas protestaram nas ruas do Cairo

    FOTO FLICKR / NASSER NOURI

    EGIPTO - CAIRO

  • [3]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    Na semana anterior s ltimas eleies presidenciais, o jornal britnico Guardian noticiou que Scrates tinha te-lefonado a Angela Merkel pedindo-lhe ajuda e dispondo-se a tudo fazer, para que no fosse necessrio pedir resgate ao chamado fundo europeu de estabilizao e ao FMI. O jor-nal referia que uma testemunha disse que Scrates parecia desesperado e desejoso de agradar. Posteriormente, o ga-binete do primeiro ministro negou ao jornal britnico que o telefonema tivesse sido feito.

    O telefonema pode no ter existido, mas a notcia no pa-receu estranha a ningum e no por acaso. Na verdade, a preocupao do Governo aplicar as exigncias do FMI, do directrio da Unio Europeia e da finana, sob o pretexto de evitar o pedido de resgate. Ou seja, aplicar a poltica do FMI com ou sem a presena do FMI.

    Sob a chantagem de taxas de juro altssimas que visam a salvao dos bancos europeus e que a longo prazo so im-possveis de pagar, o Governo est de facto disposto a tudo fazer. Procura que a China e pases rabes comprem dvida, mas tambm tenta vender-lhes importantes empresas p-blicas portuguesas. Mas, sobretudo, o Governo segue uma poltica de dura austeridade contra a maioria da populao, de cortes sucessivos e cada vez maiores nos servios pbli-cos, na sade, na educao, na cultura. As mais recentes no-tcias apontam, por exemplo, o abandono do ensino superior por milhares de estudantes universitrios, devido aos drsti-cos cortes na atribuio de bolsas de estudo.

    Numa entrevista agncia Lusa, o socilogo Boaventura de Sousa Santos alertava que h um retrocesso nas con-quistas democrticas que provocar uma profunda crise social, salientando mesmo que a crise social j existe s que um pouco surda, porque as pessoas ainda esto num es-tado de choque, no se deram conta de todas as consequn-cias desta crise.

    desse estado de choque que urge sair. Com ou sem a presena do FMI, o Governo vai prosseguir nos cortes, pre-tende agora facilitar os despedimentos e que os trabalha-dores passem a financiar os seus prprios despedimentos, descontando dos seus salrios para um fundo com esse ob-jectivo. Se no reagirmos a esta ofensiva contra os nossos direitos sociais, enfrentaremos uma situao e medidas ca-da vez piores. A Comisso Europeia e o directrio da Unio Europeia esto a pressionar os Estados para aplicar uma poltica de ataque ao chamado modelo social europeu, pro-curam que a maioria da populao pague a crise para bene-ficiar os bancos e a finana.

    preciso que o povo portugus faa ouvir nas ruas o seu protesto contra esta poltica de austeridade. S a multiplica-o dos protestos contra este desastre social, em Portugal e na Europa, pode abrir caminho mudana poltica necess-ria, contra a chantagem da dvida e em defesa dos servios pblicos.

    N 48 | FEVEREIRO 2011

    13.

    14.15.

    10.

    11.12.

    09.

    04.

    05.

    06.

    07.

    08.

    22.23.

    O TELEFONEMA DE SCRATESPOLTICA

    OPINIO

    SOCIEDADE

    INTERNACIONAL

    AMBIENTE

    LOCAL

    A Esquerda foi derrotada nas presidenciaisPor Francisco Lou

    Bolsas: a realidade insuportvel | Por Jos Soeiro

    Quem roubou a minha poluio? | Por Nelson Peralta

    Metro do Porto: falsos recibos verdes vo ser integrados

    ABC do Cdigo contributivo

    Ensino superior: um em cada quatro bolseiros perdem apoio

    Inconstitucionalidade dos cortes salariais vai ao TC

    Bloco aposta na reabilitao urbana e qualificao da ferrovia

    BPN j estava falido quando Cavaco comprou aces

    Cavaco usou esquema para no pagar sisa

    Bloco quer reduzir contribuio dos recibos verdes

    Uma visita totalmente indesejvel

    Pela no introduo de portagens na A23

    Apoio petio em defesa do Ramal de Cceres Torre das Vargens / Beir (Marvo)

    EDITORIAL Carlos Santos

    16.

    19.

    21.

    Tunsia: a queda do pequeno ditador amigo do Ocidente | Por Esam Al-amin

    Autoridade Palestiniana abdicou do regresso de milhares de refugiados

    2010 foi o ano mais quente de semprePor Rui Curado Silva

    ESQUERDA :: PROPRIEDADE E REDACO: BLOCO DE ESQUERDA,

    RUA DA PALMA 268, 11O0-394 LISBOA

    DIRECTOR: CARLOS SANTOS REDACO: LUS LEIRIA, LUS BRAN-

    CO, ANDR PIRES, SOFIA ROQUE EDIO GRFICA: RITA GORGULHO

    EDIO FOTOGRFICA: PAULETE MATOS IMPRESSO: RAINHO & NE-

    VES, LDA / STA. M DA FEIRA REGISTO ERC: 1254851 TIRAGEM: 3000

  • [4] ESQUERDA N 48

    O objectivo destas iniciativas era reconhecer no investimento pblico um apoio imprescindvel para contra-riar as tendncias recessivas das po-lticas de austeridade do Governo e combinar a garantia da oferta de bens pblicos essenciais para as populaes com a criao de emprego como objec-tivo estratgico fundamental.

    Com a proposta de criao de uma bolsa de habitao para arrendamen-to, o Bloco de Esquerda sinalizou a ur-gncia de resposta a uma situao in-suportvel de presso especulativa no imobilirio que penaliza as famlias que contraem crdito e a economia que o avaliza, ao mesmo tempo que dois mi-lhes de casas esto degradadas e mais de meio milho esto vazias. A soluo preconizada pelo Bloco, ao submeter uma propriedade com intuitos especu-lativos a limites impostos por direitos bsicos e ao pr em evidncia a cen-tralidade do investimento pblico na

    estratgia de combate crise, desafia desde logo o Governo a ser coerente com os seus repetidos louvores retri-cos ao investimento nesta rea.

    A reabilitao da ferrovia um ou-tro exemplo de dinamizao do inves-timento pblico ao servio das popula-es e da economia.

    A Linha do Oeste e o projecto Me-tro Mondego foram objecto de duas propostas do Bloco cujo propsito foi sublinhar a irresponsabilidade econ-mica, ecolgica e poltica do Governo ao permitir a desqualificao da pri-meira e ao no honrar o compromisso de pr em marcha a segunda. Num caso como no outro, as iniciativas le-gislativas do Bloco articularam-se com a presena dos seus activistas nos pro-testos populares contra a inaco do Governo. E isso deu-lhes fora redobra-da, traduzida na aprovao por unani-midade do projecto de resoluo sobre o Metro Mondego.

    POLTICA

    Bloco aposta na reabilitao urbana e qualificao da ferrovia

    FLIC

    KR/NMOURAO

    A reabilitao urbana e a qualificao da ferrovia foram temas da actividade parlamentar bloquista no incio do ano. O Bloco viu aprovado por unanimidade o seu projecto de resoluo sobre o Metro Mondego.

  • [5]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    Foi em 2001 que Cavaco Silva e a

    sua filha Patrcia obtiveram cerca de 250

    mil aces da SLN por apenas um euro

    cada, considerado um preo de favor

    por parte de Oliveira e Costa, o nico

    accionista fundador que podia comprar

    aces do grupo a este preo. Em 2003,

    a famlia Cavaco Silva pede a Oliveira e

    Costa para vender as suas aces, que

    regressam s mos da SLN a valer 2,4

    euros cada uma: ou seja, 140% de valori-zao em apenas dois anos num banco em situao de falncia escondida pelos prprios administradores que continua-ram a desviar dinheiro para si e para os amigos.

    O depoimento de Paulo Silva aju-dou os juzes a perceber o papel da empresa off-shore Venice, criada para servir de plataforma ao financiamento das empresas do grupo SLN e compra e venda de aces. Trs anos aps a fun-dao do grupo financeiro de Oliveira e Costa, coadjuvado por figuras de proa dos governos de Cavaco Silva, a situ-ao financeira do grupo era j muito precria, com mais de metade do capi-tal a descoberto. Se esta situao fosse revelada, era o desmoronar do prprio grupo, pois no haveria capital suficien-te, afirmou o inspector que tambm trabalhou na operao furaco, que descobriu o maior esquema de fuga ao fisco investigado at hoje.

    Ainda segundo este inspector tri-butrio, os donos do grupo tentaram

    ocultar este buraco com transfern-cias de depsitos de clientes do BPN Cayman, ou seja, fundos desviados de forma puramente contabilstica. Paulo Silva afirmou ainda que este esquema piramidal com recurso a empresas off-shores montado por Oliveira e Costa e Lus Caprichoso atravs da Planfin servia para o BPN facultar fundos para o gru-po desenvolver a actividade, parquear custos relativamente aos quais no ha-via interesse em declarar, pois provoca-riam resultados negativos, e tambm para deter aces da SLN e de offshores em cadeia, criando opacidade sobre os verdadeiros donos dos negcios.

    A Planfin foi extinta dois dias antes da tomada de posse de Miguel Cadilhe frente do grupo SLN/BPN em Junho de 2008 e os seus funcionrios passaram para os quadros do banco. O inspector tributrio notou ainda que boa parte destes funcionrios da Planfin foram recrutados empresa de consultores Ernst & Young.

    POLTICA

    BPN j estava falido quando Cavaco comprou aces

    A primeira testemunha do julgamento do BPN foi o inspector tributrio que ajudou o Ministrio Pblico a descobrir como o dinheiro foi desviado. Em meados de 2001, apenas uma off-shore do grupo SLN j tinha a descoberto 190 milhes, metade do capital do grupo.

  • [6] ESQUERDA N 48

    POLTICA

    Segundo relata a edio online da revista Viso, no dia 9 de Julho de 1998, a notria Maria do Carmo Santos deslocou-se ao escritrio de Fernando Fantasia, na empresa industrial Sapec, Rua Vtor Cordon, em Lisboa, para registar uma escritura especial. O casal Cavaco Silva (cerimoniosamente identificados com os ttulos acadmicos de Prof. Dr. e Dra) entregava a sua casa de frias em Mon-techoro, Albufeira, e recebia em troca da Constralmada - Sociedade de Constru-

    es Lda uma nova moradia no mesmo concelho. Ambas foram avaliadas pelas partes no mesmo valor: 135 mil euros. Este tipo de permutas, entre imveis do mesmo valor, est isento do pagamento de sisa, o imposto que antecedeu o IMI, e vigorava poca.

    O esquema...No entanto, a escritura refere que

    Cavaco Silva recebe um lote de terreno para construo, omitindo que a vivenda Gaivota Azul, no lote 18 da Urbanizao da Coelha, j se encontrava em constru-o h cerca de nove meses. Segundo o livro de obras que faz parte do registo da Cmara Municipal de Albufeira, as obras iniciaram-se em 10 de Outubro do ano anterior escritura, em 1997. Tal como confirma Fernando Fantasia, pre-sente na escritura, e dono da Opi 92, que detinha 33% do capital da Constralmada, que afirmou, na quinta-feira, 20, Viso, que o negcio escriturado inclua a vi-venda.

    A casa estava includa, concerteza. No h duas escrituras. Fantasia diz que a escritura devia referir prdio, mas no isso que ficou no documento que po-de ser consultado no cartrio notarial de Antnio Jos Alves Soares, em Lisboa, e que o site da revista Sbado divulgou na quarta-feira tarde. Ou seja, no houve lugar a qualquer pagamento suplemen-tar, por parte de Cavaco Silva Constral-mada.

    Segundo a revista Viso, a vivenda Mariani, mais pequena, e que na altura tinha mais de 20 anos, foi avaliada pelo mesmo preo da Gaivota Azul, com uma rea superior (mais cerca de 500 metros quadrados), nova, e localizada em fren-te ao mar. Fernando Fantasia refere que Montechoro a zona cara de Albufeira e que a Coelha era, na altura, uma zona deserta, para justificar a avaliao feita.

    Contudo, o Pblico falou com vrios agentes imobilirios que contestam o baixo valor em que foi avaliada a antiga vivenda Mariani de Cavaco Silva.

    J o mesmo valor para os 1891m2

    Cavaco Silva entregou a casa Mariani e recebeu a Gaivota Azul, cada uma avaliada pelo mesmo valor de 135 mil euros, em 1998. Mas s declarou, na troca, um terreno para construo.

    Cavaco usou esquema para no pagar sisa

    PSD.PT

  • [7]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    da urbanizao da Coelha, com uma mo-radia de mais de 600 m2 de rea bruta, quase pronta, e a 600 metros da praia considerado muito baixo. Isso custava uma runa no barrocal, a 15 Km do mar, dizem os imobilirios ouvidos pelo mes-mo jornal.

    A Constralmada fechou portas em 2004 e Fernando Fantasia no sabe o que aconteceu contabilidade da empresa. O empresrio, amigo de infncia e membro da Comisso de Honra da recandidatura presidencial de Cavaco Silva, no se re-corda se houve acerto de contas entre o proprietrio e a construtora.

    No momento da escritura, Manuel Afonso no estava presente. A represen-tar a sociedade estavam Martinho Ribei-ro da Silva e Manuel Martins Parra. Este ltimo, j no pertencia Constralmada desde 1996, data em que renunciou ao cargo de gerente. Parra era, de facto, ad-ministrador da Opi 92.

    Outro interveniente deste processo o arquitecto Olavo Dias, contratado pa-ra projectar a casa de Cavaco Silva nove meses antes de este ser proprietrio do lote 18. Olavo Dias familiar do Presi-dente da Repblica, por afinidade, e deu andamento ao projecto cujo alvar de construo foi aprovado no dia 22 de Se-tembro de 1997.

    Cavaco Silva ocupou a casa ilegalmente

    A habitao com piscina que ocu-pa 620,70 m2 num terreno de mais de1800, composta por trs pisos, e acabou de ser construda, segundo os re-gistos da Cmara a 6 de Agosto de 1999. A nica interveno de Cavaco Silva nas obras deu-se poucos dias antes da con-cluso, a 21 de julho de 1999, quando re-quereu a prorrogao do prazo das obras (cujo prazo caducara em 25 de junho).

    A famlia Cavaco Silva ocupou, en-to, a moradia, em Agosto. A licena de utilizao seria passada quatro meses depois, a 3 de Dezembro, pelo vereador (atual edil de Albufeira, do PSD) Desid-rio Silva, desrespeitando, segundo revela hoje a edio do Pblico - ler notcia no Esquerda.net -, um embargo camarrio obra, decretado em Dezembro de 1997, e nunca levantado.

    POLTICA

    PAULE

    TE MAT

    OS

    O Bloco de Esquerda vai apresentar na Assembleia da Repblica propostas para reduzir a taxa de contribuio que incide sobre os trabalhadores a recibo verde

    Actualmente, a taxa de contribui-o sobre os recibos verdes est nos 29,6%, o que absolutamente excessi-vo. O Bloco vai propor a sua reduo e um sistema de reteno na fonte para que seja a entidade patronal a descon-tar, disse Francisco Lou, em confern-cia de imprensa, na sede do partido.

    Os trabalhadores a recibos verdes tornaram-se os novos proletrios do s-

    culo XXI. A explorao, a escravizao de quem vive dos recibos verdes o novo factor que mais agrava as dificul-dades sociais em Portugal, justificou,

    Uma outra proposta para a inte-grao laboral dos chamados falsos recibos verdes, j rejeitada na anterior sesso, vai voltar a ser apresentada.

    Francisco Lou defendeu tambm uma refundao democrtica do sis-tema de Segurana Social, propondo alteraes ao regime para que os sa-lrios paguem uma contribuio que seja progressiva.

    O Bloco de Esquerda insiste na proposta de trazer justia ao quadro das contribuies para a Segurana Social, de tal modo que os salrios pa-guem uma contribuio progressiva. Quem recebe menos paga uma taxa menor, quem recebe muito mais paga uma taxa maior para que a Segurana Social seja sustentvel, afirmou.

    As propostas so uma resposta do Bloco aos efeitos da entrada em vigor do Cdigo Contributivo, que fazem com que as pessoas que tm pouco mais de mil euros por ms na mdia da sua actividade laboral sejam muito pe-nalizadas, concluiu.

    Bloco quer reduzir contribuio dos

    recibos verdesFrancisco Lou apresenta propostas de refundao democrtica do sistema de Segurana Social, para que os salrios paguem uma contribuio que seja progressiva. uma resposta ao novo Cdigo Contributivo.

  • [8] ESQUERDA N 48

    Cerca de 25 pessoas com bandeiras da Palestina e faixas manifestaram-se diante da Assembleia da Repblica con-tra a visita do ultra-direitista Avigor Liber-man, ministro dos Negcios Estrangeiros de Israel, a quem acusaram de fomentar uma verdadeira poltica de apartheid.

    A concentrao foi convocada pelo Comit de Solidariedade com a Palestina, que considerou, em comunicado, que raia a provocao que o governo de Por-tugal e, nomeadamente, o Ministro dos Negcios Estrangeiros de Portugal rece-bam esta visita depois de o Estado portu-gus ter condenado os crimes de guerra israelitas contra a Faixa de Gaza por oca-sio da votao do relatrio Goldstone e sabendo-se que Israel prossegue a sua

    poltica colonialista de apartheid e de ocupao da Palestina. O comunicado recorda tambm que Israel persiste nas aces de limpeza tnica contra os ra-bes israelitas e contra os palestinianos nos territrios ocupados, e desrespeita os mais elementares Direitos Humanos e o Direito Internacional, recusando-se a observar as inmeras Resolues quer do Conselho de Segurana quer da As-sembleia Geral das Naes Unidas.

    O Comit de Solidariedade com a Palestina considerou ainda duplamen-te escandalosa a recepo dispensada a Lieberman, precisamente quando o par-ceiro israelita do PS, o Partido Trabalhista, rompe com o Governo e com o seu ex-lder Ehud Barak porque, mesmo para o sionismo militante dos trabalhistas, j se tinha tornado indigesto o estilo do go-verno de extrema-direita.

    Estas pessoas no so bem-vindas a Portugal

    Portugal condenou os crimes de guerra cometidos por Israel e no faz sen-tido receber Liberman de braos abertos, disse Shad Wadi, uma jovem palestiniana que participou do protesto.

    O professor no ISCTE Alan Stoleroff explicou que foi concentrao pedir firmeza do governo portugus face s tentativas de Liberman em tentar con-

    vencer que, para a resoluo do conflito entre Israel e a Palestina, existem outras solues margem do consenso e do di-reito internacional.

    Para o ex-deputado e militar de Abril Mrio Tom, a Portugal chegou um fac-nora, que ameaa os prprios palestinia-nos israelitas de os afogar no Mar Morto. E ministro dos Negcios Estrangeiros de um pas que despreza todas as resolu-es da comunidade internacional.

    O lder do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, Jos Manuel Pureza, tambm se juntou concentrao: T-nhamos que estar aqui em solidariedade com cidados e cidads que querem ex-primir a sua indignao contra a visita to-talmente indesejvel de um homem que tem caracterizado as suas posies p-blicas por xenofobia, racismo, por planos de expulso dos cidados rabes e pela exigncia de juramentos de fidelidade ao Estado de Israel, explicou, afirmando que estas pessoas no so bem-vindas a Portugal.

    Jos Manuel Pureza recordou que o grupo parlamentar do Bloco leva ao plenrio da AR em 10 de Fevereiro um projecto de resoluo que recomenda ao governo o reconhecimento do Estado da Palestina com as fronteiras anteriores a 1967. Isso sim, contribuir para a paz, afirmou.

    Uma visita totalmente indesejvel

    POLTICA

    SANDRA SILVESTR

    E

    Concentrao em Lisboa denuncia poltica racista do ultra-direitista Avigor Liberman, ministro dos Negcios Estrangeiros de Israel, um facnora, que ameaa os prprios palestinianos israelitas de os afogar no Mar Morto.

  • [9]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    SOCIEDADE

    KAT

    TE BUTT

    ONS/FLI

    CKR

    As deputadas Mariana Aiveca e Ce-clia Honrio, do Bloco de Esquerda e os deputados do PCP Jorge Machado e Joo Oliveira entregaram no Tribunal Constitucional o pedido de declarao de inconstitucionalidade dos cortes sa-lariais na funo pblica, argumentando que esta medida do Oramento do Esta-do de 2011 viola quatro normas da Cons-tituio Portuguesa.

    um governo do PS, juntamente com o PSD e com o Presidente da Re-pblica, que no teve qualquer dvida. Ns temos todas as dvidas sobre estes cortes salariais, estamos do lado dos tra-balhadores, das suas organizaes e que-remos ver efectivamente reposta a con-fiana no Estado, que deve ser um Estado de Direito, disse Mariana Aiveca.

    Para o deputado Jorge Machado, mais uma vez o Presidente da Repblica mostrou aquilo que a sua natureza de classe e orientao poltica de promulgar tudo o que nefasto para os trabalhado-res.

    Bloco e PCP argumentam que o princpio do Estado de Direito no acei-ta que sejam postos em causa, para sempre, nveis remuneratrios, sem que sejam dadas aos funcionrios pblicos perspectivas de reposio, no futuro, dos nveis que at agora tm tido.

    Por outro lado, os deputados consi-deram existir uma discriminao negati-va dos trabalhadores da administrao pblica, apesar de, alertou Mariana Ai-veca, quando o Estado d o sinal, esses cortes vm tambm para todos os traba-lhadores.

    A iniciativa do pedido de fiscalizao sucessiva dos cortes salariais partiu do Bloco, mas foram necessrias as assina-

    turas da bancada comunista para obter a subscrio mnima de 23 deputados.

    O pedido de declarao de incons-titucionalidade baseia-se nos seguintes pontos:

    Os cortes de salrios constituem uma violao do princpio do Estado de Direito. Com efeito, o Estado de Direito implica uma relao de confiana com os cidados, no podendo o poder pbli-co, sem justificao ou fundamentao material bastante, frustrar as legtimas expectativas criadas. certo que este princpio no impede a alterao das leis; mas decerto que esse princpio no acei-ta que tais alteraes ponham em causa, para sempre, nveis remuneratrios que legitimamente os trabalhadores em fun-es pblicas consideraram essenciais e irredutveis no sentido de a partir deles terem construdo as suas opes profis-sionais.

    Os cortes de salrios dos funcion-rios da Administrao Pblica so uma violao do princpio da igualdade. Os trabalhadores da Administrao Pblica foram alvo de discriminao negativa por terem sido prejudicados com esta reduo definitiva de salrios, sendo certo que h outras categorias de traba-lhadores que so igualmente pagos com dinheiros pblicos e que no foram atin-gidos por uma idntica medida. O legis-lador chegou ao ponto de nalguns casos at ter construdo uma ideia alternativa de adaptao dos salrios quanto a ou-tros trabalhadores, e no propriamente a sua reduo, com o subterfgio de tais trabalhadores terem um ttulo jurdico salarial diverso dos trabalhadores em funes pblicas.

    Os cortes de salrios so uma vio-lao do direito fundamental no redu-o do salrio. Os trabalhadores da Ad-ministrao Pblica, que tm um regime prprio, beneficiam da regra de irreduti-bilidade geral dos mesmos, semelhan-a do que sucede com as remuneraes dos trabalhadores que se submetem ao Direito do Trabalho. Os escassos casos em que a reduo do salrio aceite no correspondem norma que agora veio a ser includa na Lei do Oramento do Esta-do para 2011.

    Finalmente, os cortes de salrios so uma violao do direito fundamental de participar na elaborao da legislao laboral por parte das entidades represen-tativas dos trabalhadores. A medida no foi devidamente precedida pelas obriga-trias consultas s entidades representa-tivas dos trabalhadores, sendo certo que a lei oramental tem o mesmo regime, neste ponto, das outras leis.

    Inconstitucionalidade dos cortes salariais vai ao TC

    Bloco de Esquerda e PCP do entrada no TC de um pedido de inconstitucionalidade dos cortes salariais, argumentando que a medida viola quatro normas da Constituio Portuguesa. Quando o Estado d o sinal, esses cortes vm tambm para todos os trabalhadores, alerta Mariana Aiveca.

  • [10] ESQUERDA N 48

    FLIC

    KR/ J

    -CORNELI

    US

    O Bloco de Esquerda denunciou, em Dezembro passado, a existncia de falsos recibos verdes no metro do Porto, recaindo sobre 75 trabalhadores com a categoria de Agentes de Estao e Informao.

    Depois da denncia feita pelo Blo-co, que a fez chegar ao Ministrio do Trabalho e da Solidariedade Social, foi agora comunicado que a Boavex, a em-presa de prestao de servios atravs da qual a Via Porto subcontratava aque-les 75 trabalhadores, ser obrigada a in-tegr-los, uma vez que se encontravam comprovadamente em situao ilegal, trabalhando a falsos recibos verdes.

    A comunicao foi feita ao Bloco por via da resposta do Ministrio do Trabalho s questes colocadas pelos deputados bloquistas e que denuncia-ram a situao.

    Na resposta do Ministrio referi-

    do que aps as duas vistas inspectivas realizadas pela ACT Autoridade para as Condies de Trabalho, conclui-se que as funes daqueles 75 trabalha-dores, que prestam servios Boavex, eram desempenhadas sob a existncia de uma subordinao tcnica, jurdica e econmica, devendo, consequente-mente, ser os mesmos considerados como trabalhadores subordinados e vinculados entidade empregadora por contrato de trabalho.

    Na mesma resposta s questes do Bloco tambm chegou a informao de que a Boavex j foi notificada para agir no sentido da regularizao da si-tuao laboral daqueles trabalhadores, nomeadamente, atravs da celebrao de contratos de trabalho com incio na data da celebrao dos falsos contratos de prestao de servios.

    SOCIEDADE

    Metro do Porto: falsos recibos verdes vo ser integrados

    Em Dezembro passado, o Bloco denunciou a existncia de 75 trabalhadores a falsos recibos verdes no metro do Porto. Agora, depois das visitas inspectivas da ACT, a empresa Boavex ter de integrar os trabalhadores com o contrato de trabalho devido.

  • [11]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    SOCIEDADE

    PAULE

    TE MAT

    OS

    ABC do Cdigo contributivo

    O movimento de precrios tem vindo a disponibilizar informao so-bre o Cdigo Contributivo de modo a colmatar as lacunas de uma aco que deveria ser protagonizada pela prpria Segurana Social (SS). Mas o facto que esta tem os seus servios parados desde o incio do ano e estes j estiveram completamente bloque-ados por falta de informao interna, sejam os postos de atendimento ou a linha directa de apoio.

    Depois de uma sesso de es-clarecimento sobre o novo Cdigo Contributivo que juntou mais de 200 pessoas na Lx Factory, em Lisboa, no passado dia 15 de Janeiro, os Precrios Inflexveis disponibilizam agora, no seu blogue, dois documentos funda-mentais para quem precisa de saber as novas regras e saber fazer as contas.

    Trata-se de um ficheiro que ex-plica sucintamente, em treze slides, o novo Cdigo Contributivo para os tra-balhadores independentes, os recibos verdes, e um outro ficheiro que uma folha de clculo pronta a preencher com os valores dos rendimentos e que

    calcula automaticamente as contas das contribuies sociais referentes a um recibo verde.

    Os documentos vm em boa hora j que milhares de trabalhadores, em particular os mais de 900 mil falsos re-cibos verdes, precisam de conhecer as regras que regularo as suas contribui-es sociais, apesar da injustia social se manter e estes permanecerem sem direito a apoios sociais e aos subsdios de frias e de natal, entre outras rega-lias inerentes ao contrato de trabalho

    que lhes ilegalmente negado.Todos querem saber quanto vo

    ter de pagar e quanto mais vo ter de pagar. O Precrios Inflexveis j de-nunciaram que at Outubro (altura em que se define a base de incidncia contributiva, pela SS) todos os recibos verdes que se encontravam no antigo regime mnimo, a maioria, iro pagar mais - 186,13 euros, em vez dos ante-riores 158,72 euros - do que pagariam se os novos escales, nomeadamente, o primeiro, estivesse j em vigor.

    A nova taxa contributiva para a Se-gurana Social de 29,6% e entrou em vigor logo em Janeiro de 2011, mas como a base de incidncia contribu-tiva se mantm at Outubro de 2011, isto , 1,5 IAS (Indexante dos Apoios Sociais ficado em 419,22 euros), os recibos verdes que esto no escalo mnimo pagaro, at Outubro, 186,13 euros. Antes, com a taxa contributi-va anterior, pagariam 159,72 euros e, com o novo Cdigo e a nova base de incidncia estabelecida em 11 esca-les, pagariam 124,09 euros (valor a pagar segundo o 1. escalo).

    Os Precrios Inflexveis disponibilizaram no seu blogue dois documentos que ajudaro os trabalhadores a recibos verdes a conhecer as novas regras. Um dos documentos uma folha de clculo que permite fazer as novas contas automaticamente.

  • [12] ESQUERDA N 48

    As novas regras de acesso aos apoios sociais tiveram consequncias directas e dramticas nas bolsas de ac-o social do ensino superior. Por causa das novas regras de clculo do rendi-mento do agregado, do novo conceito de estudante economicamente caren-ciado e do novo conceito de agrega-do familiar, o nmero de estudantes a usufruir de bolsa de estudo ir registar uma quebra de cerca de 25%.

    Apesar de nem todas as universi-dades terem concludo os processos de anlise de candidaturas, segundo os dados j divulgados, o nmero de estudantes a perder o apoio a nvel na-cional ultrapassar os 15 mil, podendo, inclusive, chegar aos 20 mil.

    O valor das bolsas tambm ir re-gistar uma diminuio acentuada.

    Na Universidade do Minho, este ano lectivo foram atribudas menos 1370 bolsas, o que equivale a uma que-bra de 25%. O valor das bolsas atribu-

    das diminui cerca de 26.Na Universidade do Porto, o de-

    crscimo do nmero de beneficirios de bolsas de aco social atinge os 30%, sendo que ainda s foram anali-sadas metade das candidaturas. O valor

    da bolsa baixou cerca de 15%. No Insti-tuto Politcnico do Porto a quebra do valor da bolsa foi idntica, mas o nme-ro de beneficirios registou um decrs-cimo ainda maior: 40%.

    O indeferimento dos processos de candidatura tem sido justificado essencialmente devido ao excesso de rendimentos do agregado face nova frmula de clculo introduzida pelo Programa de Estabilidade e Crescimen-to.

    Os representantes estudantis tm vindo a exigir a renegociao das nor-mas tcnicas introduzidas, alertando para o facto da diminuio do nme-ro de beneficirios de bolsas de aco social e a diminuio do prprio valor das bolsas atribudas comprometerem, inclusive, a continuidade dos estudos dos estudantes abrangidos pelos cor-tes.

    Ensino superior:um em cada quatro bolseiros perdem apoio

    SOCIEDADE

    Segundo dados j revelados por estabelecimentos do ensino superior, o nmero de estudantes a usufruir de bolsa regista uma quebra de cerca de 25%. Valor da bolsa tambm sofre um corte significativo. Na Universidade do Porto, nmero de beneficirios diminui 30%.

    PAULE

    TE MAT

    OS

  • [13]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    PAULE

    TE MAT

    OS

    OPINIO

    A Esquerda foi derrotada nas presidenciais

    1. Cavaco Silva ganhou e por isso a esquerda foi derrotada nas presiden-ciais. Ganhou primeira volta, apesar de ter sido o presidente reeleito com me-nos votos e de ter perdido 543 mil votos desde h cinco anos. Obtm o voto de 25,2% dos eleitores inscritos.

    A sua vitria permite-lhe um segun-do mandato com mais interveno, na expectativa de uma mudana de gover-no. O presidente que j vetou leis impor-tantes a paridade, as unies de facto, o divrcio ser agora um obstculo mais agressivo contra os direitos sociais.

    Apoiado num eleitorado amplo que temeu a crise econmica e preferiu a continuidade contra a mudana, Cavaco Silva , no entanto, um presidente dimi-nudo pela escassa vantagem e tambm pelas investigaes sobre os seus neg-cios com o grupo SLN, que permanecem por esclarecer cabalmente.

    2. Manuel Alegre perdeu as eleies - e perdemo-las com ele - porque no conseguiu uma segunda volta. Com me-

    nos 306 mil votos do que nas eleies anteriores, aproximou-se dos 20% e foi o candidato mais votado na oposio a Cavaco Silva. Os resultados demons-tram que s ele poderia ter disputado a segunda volta.

    Manuel Alegre desenvolveu uma campanha mais clara e mais centrada nas questes sociais do que h cinco anos. A luta contra o FMI e a defesa dos servios pblicos foram os seus princi-pais temas. Garantiu que vetaria deci-ses de qualquer governo que atacasse o SNS ou que propusesse leis laborais que rejeitassem a defesa do direito da parte mais fraca. Essa foi a campanha que a esquerda devia fazer.

    3. O candidato do PCP, Francisco Lopes, perde 173 mil votos, mais de um tero da votao obtida por Jernimo de Sousa em 2006. Trata-se da maior perda, em proporo, das candidaturas que se apresentam na continuidade da campanha de 2005.

    Em nome da afirmao do seu parti-do, Lopes defendeu os direitos sociais e a resistncia austeridade. No entanto, o PCP, que j tinha apoiado primeira volta figuras de direita como Ramalho Eanes, ou do PS como Jorge Sampaio, manteve um discurso sectrio contra Manuel Alegre. Este, pelo contrrio, de-

    fendeu a importncia da representao eleitoral do PCP.

    4. Fernando Nobre apresentou-se sem apoio partidrio, tendo obtido 593 mil votos, 14%. Nobre fez uma campa-nha com traos populistas o jornal do PCP chama-lhes fascistas, o que certamente inaceitvel incluindo pro-postas que favorecem a direita, como o governo PS-PSD-CDS, a reduo do n-mero de deputados para 100 ou o paga-mento por uma parte da populao dos servios do SNS. Apresentou-se tam-bm de uma forma agressiva, exigindo a desistncia de Manuel Alegre, que viria a ter mais votos do que Nobre, e garan-tindo que estaria na segunda volta a no ser que houvesse um atentado contra si.

    Na noite eleitoral, apelou unidade em torno de Cavaco Silva, para que o pas esteja melhor daqui a cinco anos, na continuidade de uma campanha de no hostilidade ao lder histrico da di-reita.

    Nobre no o candidato sem apoio partidrio que obteve mais votos. Ote-lo (792 mil) em 1976 e Alegre em 2006 (1138 mil) ultrapassaram em muito o seu resultado. Mas, nestas eleies a candidatura exprime uma parte impor-tante do eleitorado e o seu desconten-tamento.

    Cavaco Silva ser agora um obstculo mais agressivo contra os direitos sociais.

    POR FRANCISCO LOU

  • [14] ESQUERDA N 48

    Esta bolsa funciona numa platafor-ma virtual online e as falhas de seguran-a tm sido uma constante. A Comis-so Europeia estima que cerca de dois milhes de licenas avaliadas em 26 milhes de euros possam estar desapa-recidas, mas ningum parece saber ao certo. O mercado deve reabrir hoje, ape-nas nos pases que adoptaram medidas de segurana adicionais.

    O sistema europeu de comrcio de emisses, um mercado de 90 mil mi-lhes de euros, referncia planetria no gnero e que define quem tem o direito a poluir parece funcionar num ambien-te de total leviandade. Porm, o dado

    mais relevante a irracionalidade estru-tural deste sistema que garantem ser o principal instrumento de combate s al-teraes climticas da Unio Europeia. Vejamos.

    Este mercado pouco escrutinado e raramente temos a oportunidade de saber quem anda a comprar e a vender o direito a poluir, aproveitemos para espreitar. A empresa roubada o brao de um grande banco de investimento e apresenta-se no seu site como tendo desenvolvidoum modelo nico de ges-to de licenas ambientais que tira pro-veito do regime de comrcio de emis-ses da UE, bem como dos Mecanismos Flexveis estabelecidos no mbito do Protocolo de Quioto. Acrescenta ainda que esse modelo oferece aos clientes a opo de realizar, de forma significativa e segura, ganhos financeiros na gesto de licenas da UE. Como esta h muitas mais.

    Poucas horas aps o roubo foi poss-vel verificar que as licenas j tinham si-do vendidas e depois revendidas vrias vezes tendo passado pela Polnia, Itlia, Estnia, Liechtenstein e Alemanha.

    H dois factos que saltam vista. As rpidas transaces sequenciais tm co-mo objectivo fomentar a especulao e no representam qualquer necessidade real, ou sequer uma vontade, de produ-zir e consequentemente emitir CO2. De igual modo, vemos que os que deam-bulam pelo comrcio de carbono so os mesmo jogadores financeiros que investem nos outros mercados sem ne-nhum interesse no que esto a comprar ou a vender, a no ser o lucro especula-tivo. Devemos portanto ficar tranquilos por terem entregue o futuro do planeta e dos ecossistemas lgica mercantil e aos mesmos especuladores que to bem trataram do mercado imobilirio sub-prime e que agora se entretm a especular contra a dvida soberana dos Estados...

    O comrcio de carbono tem como objectivo nico o lucro. O direito a po-luir mera mercadoria a especular. No a sociedade nem a necessidade que definem as actividades com direito a emitir CO2. o capital que escolhe co-mo nos contamina o futuro.

    Quem roubou a minha poluio?

    OPINIO

    FLIC

    KR / BRUNO BOUTU

    T

    O mercado europeu de comrcio de emisses de dixido de carbono (CO2) est fechado h uma semana depois de ter sido detectado o roubo de 475 mil toneladas em licenas de emisso de CO2.

    POR NELSON PERALTA

  • [15]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    POR JOS SOEIRO

    PAULE

    TE MAT

    OS

    OPINIO

    Bolsas: a realidade insuportvel

    Afinal, a realidade pior do que a mais pessimista das expectativas. Esta semana, comeam a ser conhecidos os primeiros resultados da aplicao das novas regras das bolsas. No Minho, on-de os resultados j saram, mais de 20% dos estudantes perderam a bolsa. 800 j no vo receber nenhum apoio e seriam 1500 se no houvesse regime transit-rio (num total de 4000). Os Servios de Aco Social falam no abandono de 500 alunos por razes econmicas s nesta universidade e o Conselho Geral j fez um comunicado alarmante em que ex-prime a sua preocupao.

    No Politcnico do Porto, os dados disponveis apontam para 40% dos estudantes que perdem bolsa. Na Uni-versidade do Porto, 30% dos estudan-tes ficam sem qualquer apoio com as novas regras. E por a fora A razo quase sempre a mesma: excesso de rendimento da famlia pessoas que teriam direito com as regras anteriores, transformaram-se em ano de crise em excessivamente ricas dadas as novas regras. No total, cerca de 40 mil estudan-tes podem vir a perder a bolsa.

    No que diz respeito ao regime tran-sitrio, as notcias no so melhores. 44 mil estudantes que tinham direito a bolsa no ano passado passaram a rece-ber 98 euros por ms ao abrigo deste regime. um valor baixo e provisrio, at sarem os valores definitivos, que s

    permite aos estudantes o mnimo dos mnimos, que basicamente pagar a sua inscrio. Mas aqui h uma questo mais grave. O Ministro tinha garantido na Assembleia da Repblica (no final de Outubro) que, quando sassem os resultados definitivos, estes estudantes no teriam de devolver o que j tinham recebido. Mas verifica-se que isso era

    mentira. Centenas de estudantes j fo-ram notificados para devolver o dinhei-ro que receberam desde Outubro mas que j gastaram para sobreviver ( o ca-so de 680 alunos da ESEC, em Coimbra). Como? Porque o regulamento de bolsas abre de facto essa possibilidade.

    Depois, h o eterno filme dos atra-sos. Este regulamento foi apresentado como um dispositivo legal high-tech, que iria desburocratizar e simplificar de tal modo o processo que os requerimen-tos seriam analisados em dias. A verda-de que j passou Outubro, Novembro, Dezembro, Janeiro est a chegar ao fim e o Governo diz que, em princpio, at ao fim de Fevereiro os resultados sairo. O atraso do Ministrio a publicar o re-gulamento e as normas tcnicas foi to

    grande que deixou os servios de aco social entupidos e com milhares de pro-cessos, numa altura em que ainda esta-vam a tentar adaptar-se s novas regras.

    Por ltimo, h o recuo da direita na Assembleia da Repblica. Em De-zembro, aprovou-se na generalidade a retirada das bolsas do decreto 70/2010 sobre os apoios sociais. uma proposta que levanta problemas de solidarieda-de e justia relativa, mas era uma boa notcia para os estudantes do Superior. S que o PS ameaou com a lei-travo e a inconstitucionalidade de despesas no inscritas no Oramento de Estado, lembrou os compromissos do PSD no mbito do PEC, PSD e CDS puseram o projecto a marinar na Comisso espera de uma extensa lista de audies para a discusso na especialidade e, na prtica, nada disso ter efeito este ano, dado o adiamento deliberado deste processo e o mais certo que no venha a ter nos anos seguintes.

    No fim de Janeiro, reuniram simulta-neamente os dirigentes das associaes de estudantes, em Lisboa, e os respon-sveis dos servios de aco social, em Coimbra. Ao mesmo tempo, h protes-tos marcados para o dia 10 de Fevereiro, em frente s reitorias, para contestar as escolhas do Governo que excluem mi-lhares da aco social. S daqui pode vir alguma mudana: da exigncia e da res-posta do movimento estudantil.

    No total, cerca de 40 mil estudantes podem vir a perder a bolsa.

  • [16] ESQUERDA N 48

    O regime do presidente Zein-al-Abidin Ben Ali representava aos olhos do seu povo no apenas as caracters-ticas de uma ditadura sufocante, mas tambm as de uma sociedade mafiosa trespassada de corrupo generalizada e de ataques aos direitos humanos.

    Em 17 de Dezembro, Mohammed Bouazizi, um bacharel desempregado de 26 anos da cidade de Sidi Bouzid, imolou-se pelo fogo numa tentativa de suicdio. Pouco antes, nesse dia, agentes da polcia tinham apreendido a sua me-sa de venda ambulante e confiscado as frutas e legumes que vendia porque ele no tinha uma licena para isso. Quando tentou queixar-se s autoridades, dizen-do que era desempregado e que esse era o seu nico meio de sobrevivncia, foi enxovalhado, insultado e agredido pela polcia. Morreu 19 dias mais tarde, j em pleno levantamento popular.

    O acto desesperado de Bouazizi fez explodir ao rubro a frustrao geral

    quanto aos nveis de vida, corrupo e falta de liberdade poltica e de direitos humanos. Nas quatro semanas seguin-tes, a sua imolao desencadeou mani-festaes onde os manifestantes quei-maram pneus e gritaram palavras de ordem exigindo empregos e liberdade. Depressa os protestos se espalharam a todo o pas incluindo a capital, Tnis.

    A primeira reaco do regime foi endurecer a sua atitude e usar a fora brutal incluindo espancamentos, gs la-crimogneo e balas reais. Quanto mais violenta se tornou a represso policial, mais as pessoas foram ficando furiosas e mais foram para as ruas. Em 28 de De-zembro o presidente fez um primeiro discurso dizendo que os protestos eram organizados por uma minoria de extre-mistas e terroristas e que a lei seria apli-cada com toda a firmeza para punir os protestatrios.

    No entanto, no comeo do novo ano, dezenas de milhares de pessoas, a

    Tunsia: a queda do pequeno ditador amigo do Ocidente

    INTERNACIONAL

    EPA

    / MOHAMED HAMMI

    As mudanas efectivas so fruto da vontade e do sacrifcio do povo, e no impostas por ingerncias estrangeiras ou por invases.

    POR ESAM AL-AMIN

  • [17]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    que se juntaram sindicatos, estudantes, advogados, associaes profissionais e outros grupos da oposio, manifesta-vam-se em dezenas de cidades. No fim da semana os sindicatos apelaram gre-ve do comrcio em todo o pas, ao mes-mo tempo que 8.000 advogados entra-ram em greve, paralisando de imediato todo o sistema judicial.

    Entretanto, o regime comeou a atacar bloguistas, jornalistas, artistas e activistas polticos. Proibiu todo o tipo de discordncia, mesmo nas redes so-ciais. Mas, aps quase 80 mortos pelas foras de segurana, o regime comeou a recuar.

    Em 13 de Janeiro, Ben Ali fez a sua terceira interveno televisiva, demitin-do o ministro do Interior e anunciando concesses sem precedentes, ao mes-mo tempo que prometia no se recan-didatar nas eleies de 2014. Tambm prometeu introduzir mais liberdades na sociedade e investigar as mortes de ma-nifestantes. Como esta manobra s acir-rou ainda mais os protestos, ento ele fez uma alocuo ainda mais desespe-rada, prometendo novas eleies gerais no prazo de seis meses na esperana de parar os protestos massivos.

    Como este truque tambm no re-sultou, imps o estado de emergncia, demitindo todo o governo e ameaan-do fazer sair o exrcito com ordens para matar. Todavia, como o general do exr-cito Rachid Ben Ammar se recusou a ordenar s suas tropas que disparassem contra os manifestantes nas ruas, Ben Ali no teve outra alternativa seno fugir do pas e da clera do seu povo.

    Em 14 de Janeiro, ele e os seus co-laboradores mais prximos fugiram em quatro helicpteros para a ilha mediter-rnica de Malta. Como Malta se recusou a receb-los, apanharam um avio para Frana. Ainda no ar, os franceses fizeram saber que no lhes permitiriam a entra-da. Ento o avio voltou para trs, para a regio do Golfo, at que finalmente foi autorizado a aterrar e bem recebido na Arbia Saudita. O regime saudita tem uma longa histria de anfitrionagem de dspotas, incluindo Idi Amin do Uganda e Parvez Musharraf do Paquisto.

    Mas, poucos dias antes de o presi-dente deposto ter deixado Tunes, a sua

    mulher Leila Trabelsi, ex-cabeleireira co-nhecida pela sua compulso das com-pras, deitara mo a uma tonelada e meia de ouro do banco central e partira para o Dubai com os filhos. A primeira dama e a famlia Trabelsi so desprezadas pelo pblico devido ao seu estilo de vida cor-rupto e aos escndalos financeiros.

    As elites polticas soobraram no caos, o aparelho de segurana do presi-dente comeou uma campanha de vio-lncia e destruio de bens numa derra-deira tentativa para semear a discrdia e a confuso. Mas o exrcito, apoiado por comits populares, tratou rapidamente de os prender e de parar a onda de des-truio, impondo o recolher obrigatrio em todo o pas.

    Uma mo cheia de altos funcio-

    nrios da segurana, como o chefe da segurana presidencial e o ex-ministro do Interior, assim como alguns oligar-cas, entre os quais parentes de Ben Ali e membros da famlia Trabelsi, foram mortos pelas multides ou presos pelo exrcito quando tentavam fugir do pas.

    Entretanto, depois de inicialmente se ter auto declarado presidente provi-srio, o primeiro-ministro teve de recuar nessa deciso em menos de um dia para convencer o povo de que Ben Ali fora embora para sempre. No dia seguinte, o presidente do parlamento prestou ju-ramento como presidente, prometendo um governo de unidade nacional e elei-es no prazo de 60 dias.

    A maior parte dos pases ocidentais, incluindo os EUA e a Frana, demoraram a reconhecer esta precipitao de acon-tecimentos. O presidente Barack Obama no disse uma palavra quando os factos estavam a ocorrer. Mas aps a deposio de Ben Ali declarou: os EUA juntam-se a toda a comunidade internacional para testemunhar este combate corajoso e determinado pelos direitos universais que todos temos obrigao de apoiar. E continuou: Recordaremos sempre as imagens do povo tunisino procurando fazer ouvir a sua voz. Aplaudo a cora-gem e a dignidade do povo tunisino.

    Do mesmo modo, o presidente fran-cs Nicolas Sarkozy, no s abandonou o seu aliado tunisino recusando receb-lo quando o seu avio se encontrava no ar, como deu ordem aos parentes de Ben Ali residentes em apartamentos de luxo em Paris para abandonarem o pas.

    No dia seguinte o governo fran-cs anunciou que iria congelar todas as contas [bancrias] pertencentes ao presidente deposto, e aos seus paren-tes directos e por afinidade, assim reco-nhecendo directamente que o governo francs j estava ao corrente de que es-ses recursos eram produto de corrupo e de fundos desviados.

    O que vir a seguir?Caiu o ditador, mas no a ditadu-

    ra, declarou Rachid Ghannouchi, o lder islamista do partido de oposio al-Nahdha [Renascimento], que se encon-tra exilado no Reino Unido h 22 anos. Durante o reinado de Ben Ali, a sua or-

    A primeira reaco do regime foi endurecer a sua atitude e usar a fora brutal incluindo espancamentos, gs lacrimogneo e balas reais. Quanto mais violenta se tornou a represso policial, mais as pessoas foram ficando furiosas e mais foram para as ruas.

    TUNSIA

  • [18] ESQUERDA N 48

    ganizao foi proibida e milhares dos seus membros foram torturados, ou pre-sos ou exilados. Ele prprio foi julgado e condenado morte revelia. Anunciou o seu regresso em breve ao pas.

    Esta afirmao do lder do al-Nahdha reflectiu o sentimento popular de desconfiana tanto em relao ao novo presidente, Fouad Al-Mubazaa, e ao primeiro-ministro Mohammad Ghan-nouchi, que foram membros do partido de Ben Ali, o Partido Constitucional De-mocrtico. E por isso a sua credibilidade muito suspeita. Durante cerca de dez anos, eles contriburam para a imple-mentao das orientaes polticas do ditador deposto.

    No entanto o primeiro-ministro prometeu, no prprio dia em que Ben Ali fugiu do pas, um governo de unida-de nacional. Em poucos dias anunciou um governo onde se mantinha a maior parte dos ministros do governo anterior (incluindo as decisivas pastas da Defesa, dos Estrangeiros, do Interior e das Finan-as), enquanto inclua trs ministros da oposio e alguns independentes prxi-mos dos sindicatos e das associaes de advogados. Muitos outros partidos da oposio ou foram ignorados ou se re-cusaram a colaborar em protesto contra o passado do partido dominante.

    Em menos de vinte e quatro horas, tiveram lugar enormes manifestaes por todo o pas, em 18 de Janeiro, pro-testando contra a incluso do partido dominante. De imediato os quatro mi-nistros representantes dos sindicatos e de um partido de oposio demitiram-se do novo governo at formao de um verdadeiro governo de unidade na-cional. Outro partido da oposio sus-pendeu a sua participao at que os ministros do partido dominante fossem demitidos ou se demitissem dos seus cargos.

    Nas horas seguintes o presidente e o primeiro-ministro demitiram-se do partido dominante e auto declararam-se como independentes. Mesmo assim a maior parte dos partidos da oposio est a exigir o seu afastamento e a sua substituio por lderes nacionais res-peitveis que sejam realmente inde-pendentes e que tenham as mos lim-pas. Perguntam como que o mesmo

    ministro do Interior que organizou as eleies de Ben Ali h menos de 15 me-ses poderia agora supervisionar eleies livres e justas.

    No claro se o novo governo po-der sequer sobreviver clera das ruas. Mas o seu anncio mais significativo foi talvez a amnistia geral e a promessa de libertao de todos os presos polticos no pas e no exlio. Alm disso criou trs comisses nacionais.

    A primeira comisso encabeada por um dos mais respeitados constitu-cionalistas, o Prof. Ayyadh Ben Ashour, para tratar das reformas poltica e cons-titucional. As outras duas so presididas por defensores dos direitos humanos;

    uma para investigar a corrupo no Es-tado, a outra para investigar os assas-sinatos de manifestantes durante o le-vantamento popular. As trs comisses foram institudas em resposta s princi-pais exigncias dos manifestantes e dos partidos da oposio.

    O 14 de Janeiro de 2011 tornou-se, sem dvida, um marco na histria mo-derna do mundo rabe. J uma dezena de candidatos a mrtires tentaram sui-cidar-se imolando-se pelo fogo em pro-testo pblico contra a represso poltica e a corrupo econmica, no Egipto, na Arglia e na Mauritnia. Os movimentos oposicionistas j comearam a liderar protestos que elogiam o levantamento tunisino e denunciando as polticas re-pressivas e corruptas dos seus governos em muitos pases rabes, como o Egip-to, a Jordnia, a Arglia, a Lbia, o Ime-ne e o Sudo.

    O veredicto acerca do real sucesso da revoluo tunisina ainda est por fa-zer. Ir ela abortar, seja por lutas internas seja pela introduo de mudanas ilus-rias para absorver a clera do povo? Ou haver mudanas reais e duradouras, enquadradas por uma nova constitui-o baseada nos princpios democrti-cos, na liberdade poltica, nas liberdades de imprensa e de reunio, na indepen-dncia da justia, no respeito dos direi-tos humanos e no fim das ingerncias estrangeiras?

    medida que, nos prximos me-ses, forem aparecendo as respostas a estas perguntas, tornar-se- mais clara a questo de saber se haver um efeito de domin no resto do mundo rabe.

    Mas possvel que a lio mais im-portante para os polticos ocidentais se-ja a seguinte: as mudanas efectivas so fruto da vontade e do sacrifcio do povo, e no impostas por ingerncias estran-geiras ou por invases.

    A queda do ditador iraquiano cus-tou aos EUA cerca de 4.500 soldados mortos, 32.000 feridos, o bilio de d-lares [um milho de milhes], o afun-damento da economia, pelo menos 150.000 mortos iraquianos e meio mi-lho de feridos, e a devastao do pas, e a inimizade de milhares de milhes de muulmanos e de outros povos pelo mundo fora.

    Entretanto, o povo da Tunsia derru-bou outro brutal ditador com menos de 100 mortos que sero sempre lembra-dos e honrados pelos seus compatriotas como heris que pagaram o preo su-premo pela liberdade.

    O veredicto acerca do real sucesso da revoluo tunisina ainda est por fazer. Ir ela abortar, seja por lutas internas seja pela introduo de mudanas ilusrias para absorver a clera do povo? Ou haver mudanas reais e duradouras, enquadradas por uma nova constituio baseada nos princpios democrticos, na liberdade poltica, nas liberdades de imprensa e de reunio, na independncia da justia, no respeito dos direitos humanos e no fim das ingerncias estrangeiras?

  • [19]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    INTERNACIONAL

    Os documentos mostram lderes palestinianos fracos fazendo conces-ses extremamente polmicas para os palestinianos que representam, lderes israelitas exigindo mais concesses afir-mando que no respeitam a lei interna-cional e o EUA a fazer sugestes estapa-frdias para destinos alternativos para os refugiados que no a sua terra natal.

    Os lderes palestinianos negam as revelaes dos 1600 documentos a que a Al Jazira teve acesso e partilhou com o Guardian, acusando o Qatar de ter uma agenda contra a Autoridade Pales-tiniana. Entretanto, os escritrios da Al-Jazira foram atacados por apoiantes do Hamas em Ramallah. A emissora nega a acusao, e o dirio britnico garante que verificou a autenticidade dos docu-mentos de forma independente e corro-borou a sua veracidade com fontes liga-das s negociaes, diplomatas e fontes

    dos servios secretos.Segundo estes documentos, os

    negociadores palestinianos concor-daram ainda com a exigncia israelita de se definir como um Estado judaico, contrariamente ao que defendiam em pblico, j que muitos dos 1,3 milhes de cidados rabes de Israel viam essa definio como uma ameaa aos seus direitos em particular desde que Israel, sob proposta do ministro dos Negcios Estrangeiros Avigdor Lieberman, consi-derou impor um julgamento de lealda-de ao Estado judaico.

    Outra ideia de Lieberman que pare-ce ter entrado nas negociaes foi a de transferncia de populaes. A ento ministra dos Negcios Estrangeiros Tzipi Livni (2008) ter pressionado para que os rabes israelitas fossem includos no novo Estado palestiniano como parte de um acordo de troca de territrio.

    FLIC

    KR/ZIN

    GARO

    Autoridade Palestiniana abdicou do regresso de milhares de refugiados

    As polmicas concesses dos lderes palestinianos foram divulgadas pelo Guardian e pela estao de televiso Al-Jazira. Os negociadores concordaram limitar o direito de regresso Cisjordnia a apenas 10 mil refugiados numa populao total de mais de cinco milhes e aceitaram a criao de um estado judeu.

  • [20] ESQUERDA N 48

    INTERNACIONAL

    O direito de regresso dos refugiados palestinianos expulsos do recm-criado Estado de Israel em 1948 visto como essencial por muitos palestinianos e co-mo inaceitvel por Israel, que argumen-ta que os judeus ficariam em minoria. Um compromisso teria de ser atingido, mas a aceitao de um nmero to pe-queno regressariam mil por ano du-rante dez anos agora revelada causou um escndalo. Os documentos revelam ainda algumas sugestes criativas, co-mo a da ento secretria de Estado dos EUA, Condoleeza Rice: os refugiados poderiam viver na Amrica do Sul. Tal-vez pudssemos encontrar pases que pudessem contribuir, sugeriu: Chile, Argentina, etc...

    Os documentos revelam ainda que os EUA (sob sugesto de Hillary Clinton), afirmaram repetidamente que s finan-ciariam a Autoridade Palestiniana se es-ta continuasse a ter as mesmas caras: Mahmoud Abbas e Salam Fayyad.

    A ltima fuga de milhares de pgi-nas de registos secretos palestiniaos de mais de uma dcada de negociaes de paz fracassadas, obtidos pela Al-Jazira e compartilhados exclusivamente com o

    Guardian, seguiram um dia de choque e protestos na Cisjordnia, quando os lderes da Autoridade Palestina denun-ciaram furiosamente a fuga como um jogo de propaganda. Os documentos j se tornaram o foco da polmica entre israelitas e palestinianos, revelando a escala de concesses oficiais palestinas rejeitada por Israel, mas tambm lan-ando luz sobre o enorme desequilbrio de poder num processo de paz que se desmorona completamente.

    Os ltimos documentos revelaram tambm que Livni disse aos negociado-res palestinianos, em 2007, que era con-tra a lei internacional e insistiu que tal

    no poderia ser a referncia dos termos para as negociaes: Eu era a ministra da justia, disse ela. Mas eu sou contra a lei, contra o Direito Internacional em particular, cita o Guardian.

    Associaes de refugiados palestinianas chocadas com as revelaes

    A sugesto da troca dos refugiados revelada nos registos da Palestina [Pa-lestine papers] choca com o direito fun-damental de regresso a casa de todos os refugiados, afirmam vrios movimentos de palestinianos que expressaram uma grande consternao com a sugesto dos EUA para instalar os refugiados pa-lestinianos na Argentina e no Chile, em vez de lhes permitir retornar sua terra natal. totalmente inaceitvel. Contra-diz o nosso direito inalienvel de regres-sar nossa ptria, disse Daniel Jadue, vice-presidente da Federao Palestina do Chile, citado pelo Guardian. Esse di-reito no pode ser renunciado. Esta su-gesto feita pelos EUA mostra que a sua mediao no foi honesta. Foi claramen-te a favor de Israel. Isso extremamente grave.

    Os ltimos documentos revelaram tambm que Livni disse aos negociadores palestinianos, em 2007, que era contra a lei internacional e insistiu que tal no poderia ser a referncia dos termos para as negociaes.

  • [21]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    AMBIENTE

    POR RUI CURADO SILVA

    FLIC

    KR/PALM

    Z

    PAULE

    TE MAT

    OS

    Na tabela pode-se verificar que 2010 e 2005 so os anos mais quentes desde que se regista a temperatura global, desde 1880. A mesma tabela mostra que entre os 10 anos mais quentes registados, nove ocorre-ram durante os ltimos dez anos: 2001 a 2007, 2009 e 2010. A anomalia repre-senta em quanto a temperatura mdia do respectivo ano ultrapassou a mdia de temperaturas do sculo XX.

    Apesar destes serem dados preli-minares, sendo passveis de pequenas correces, evidente que na dcada anterior se acentuou consideravelmen-te o aquecimento global e, perante os dados de 2010, essa tendncia poder manter-se na actual dcada. O facto de o Sol ter passado recentemente por um mnimo de actividade relativamente longo s refora a gravidade do au-mento de temperatura registado.

    No seu re-latrio de 2010, os cientistas do NOAA (Na-tional Oceanic and Atmosphe-ric Administra-tion) chamam a ateno para

    a influncia na temperatura e na preci-pitao global do fenmeno climtico La Nia, especialmente forte no final de 2010. Mas, numa tabela onde se regis-tam os 10 fenmenos climticos mais importantes do ano, a NOAA conside-rou a vaga de fogos na Rssia e as inun-daes no Paquisto como os aconteci-mentos mais significativos.

    Se a clareza destes dados no fo-rem suficientemente fortes para con-vencer os lderes europeus, americanos e chineses a mudar a lgica de desen-volvimento, ficaremos certamente entregues arbitrariedade de aconte-cimentos climticos catastrficos, at finalmente a classe poltica tomar me-didas adequadas..

    2010 foi o ano mais quente de sempre

    O ano de 2010, juntamente com 2005, registou uma temperatura mdia global (temperatura continental e ocenica) de 0,62C acima da mdia de temperaturas do sculo XX.

  • [22] ESQUERDA N 48

    FLIC

    KR/SOUTH

    GEIS

    T

    LOCAL

    O Bloco constatou que nenhum Deputado eleito pelo distrito respon-deu carta que lhe foi enviada em Dezembro passado e que sugeria uma tomada de posio conjunta dos Depu-tados eleitos por Santarm.O BE anun-ciou atravs do deputado Jos Gusmo que foi j entregue um projecto de resoluo na AR, que visa impedir esta inteno do governo.

    O Bloco de Esquerda desde que o Governo tornou Pblica a inteno de portajar a A23 logo se pronunciou sobre a injustia desta medida que, para alm de manifestamente reces-siva, colocava em causa os objectivos estratgicos da construo da IP6 e da sua posterior alterao para uma auto-estrada sem custos para os utilizadores. A A23 trouxe uma aproximao que potenciou nos ltimos anos o cresci-mento econmico do Ribatejo Norte, Alto Alentejo e Beira Interior, propor-cionou uma mais fcil e segura mobili-dade dos cidados e respectivo acesso a servios essenciais como so os equi-pamentos hospitalares do Mdio Tejo, por exemplo. Nesta tomada de posio

    o Bloco de Esquerda alertou para este erro estratgico que uma bvia con-tribuio para a inverso dos ndices de desenvolvimento desta regio e mais uma penalizao sobre os mesmos de sempre ao coberto de uma crise de que no so responsveis.

    Em conferncia de imprensa rea-lizada a 13 de Dezembro, o BE, consi-derou que estavam reunidas todas as condies para impedir a colocao de portagens na A23, em particular no troo Torres Novas/Abrantes que, como todos sabemos, est sob a responsabi-lidade das Estradas de Portugal (EP), sendo que a Scutvias a concessionria de toda a A23, para alm de Abrantes. Uma vez que todos os Partidos se pro-nunciaram contra esta medida, todos os autarcas da Comunidade Intermuni-cipal do Mdio Tejo aprovaram moes que rejeitam tal inteno do Governo. Todos contra!

    Neste sentido, o Secretariado Dis-trital do Bloco dirigiu uma carta aos de-putados e deputadas eleitos por Santa-rm para que em unssono tomassem uma posio para alm das palavras. No obtivemos resposta, o que bem ilustra o desinteresse pela questo co-locada e demisso das responsabilida-des, desrespeitando os eleitores e elei-toras. Os Deputados e as Deputadas no podem ser eleitos com um progra-ma e a seguir rasgarem-no.A descon-fiana com os polticos e a poltica, no pode ser assacada a todos.

    Entretanto o PS de Abrantes apre-sentou uma moo na Assembleia Municipal em que elenca todas as

    diligncias feita contra a introduo das portagens, mas escusando-se da responsabilidade desta medida acei-ta a inevitabilidade da introduo das portagens em toda a A23, delegando na Sr Presidente a misso de negociar medidas de descriminao positiva pa-ra a populao e empresas deste mu-nicpio. Posio divergente daquela to-mada pelos autarcas do mesmo Partido na CIMT!

    O PS/distrital tem uma posio o PS/Abrantes tem outra, Jorge Laco Mi-nistro dos Assuntos Parlamentares no brinca em servio, ele e Miguel Relvas querem mesmo as portagens.

    Para o Bloco de Esquerda no se trata de tentar negociar medidas de descriminao possvel, mas sim de re-clamar a no introduo de portagens na A23. por isso que iremos apresen-tar um projecto de resoluo na As-sembleia da Repblica.

    Os(as) Deputados no se dignaram responder, mas vo ter de clarificar de que lado esto.

    As estradas constituem um bem pblico colectivo, insusceptvel de ser privatizado, que, enquanto instrumen-tos de uma poltica de acessibilidade, asseguram a livre circulao de pessoas e bens. nesta medida que o Bloco de Esquerda repudia a aplicao do prin-cpio do utilizador-pagador nas auto-estradas sempre que da decorrer um prejuzo da mobilidade dos cidados, o que claramente se verifica no caso da A23, que no tem nenhuma alternativa vivel e que possa assegurar a seguran-a dos utilizadores.

    Pela no introduo de portagens na A23

    O Bloco/Santarm deu uma Conferncia de Imprensa em Abrantes, sobre a injustia da introduo de portagens na auto-estrada A23.

  • [23]ESQUERDA | FEVEREIRO 2011

    BREVES

    Descarga poluente na empresa Amorim Revestimentos

    Uma delegao do Bloco de Es-querda deslocou-se junto das instala-es da empresa Amorim Revestimen-tos, onde alguns dos seus trabalhadores se encontravam em aco de protesto.

    A visita do Bloco foi realizada para prestar solidariedade para com estes trabalhadores que defendiam o seu di-reito constitucional greve, dado que a administrao da empresa levantou processos disciplinares como represlia do sucesso que a Greve Geral teve na empresa.

    A delegao do Bloco de Esquer-da teve a possibilidade de assistir a uma descarga proveniente do sistema de esgotos da empresa. Esta descarga aparentava uma cor branca, parecendo indicar tratar-se de cola.

    Cascais: recusada recomendao para instalao de rampas na nova estao de S. Joo do Estoril

    O Bloco de Esquerda apresentou uma proposta de recomendao Assembleia Municipal de Cascais, no

    sentido de se recomendar REFER o cumprimento do Regime de Acessibili-dades s instalaes pblicas, particu-larmente no que diz respeito imple-mentao de rampas na nova estao de S. Joo do Estoril. A proposta foi re-jeitada pela coligao Viva Cascais (PSD e CDS), colhendo os votos favorveis do Bloco, CDU e do Presidente da Junta do Estoril.

    Um dos argumentos invocados a propsito do no cumprimento do dito Regime de Acessibilidades, pelo presidente da CMC, foi que em Tquio s utilizam elevadores e no tm essas preocupaes.

    O Bloco de Esquerda considera que afirmaes desta natureza revelam no s uma enorme insensibilidade social como tambm um profundo desco-nhecimento da realidade do concelho, de quem nele vive e do prprio trans-porte pblico.

    APOIO PETIO EM DEFESA DO RAMAL DE CCERES TORRE DAS VARGENS / BEIR (MARVO)

    Acreditamos que para o desenvolvimento do distrito, necessrio mais apoio e infra-estruturas. Consideramos a ferrovia um valioso factor de desen-volvimento e coeso do territrio. tambm, do aspecto ambiental e econ-mico, uma boa aposta importante para combater as assimetrias e a crescente desertificao das populaes do interior. Neste distrito, sempre nos batemos por um reforo de investimento, em especial nas acessibilidades e ao contrrio do pretendido, agora assistimos incrdulos ao encerramento do Ramal de C-ceres Torre das Vargens / Beir.

    O Bloco de Esquerda est solidrio com as populaes e o seu Grupo Par-lamentar est na disposio de lutar por este bem precioso que a CP teima em suprimir no lugar de se preocupar em melhorar o servio prestado. Estamos a assistir destruio do servio pblico e de postos de trabalho. A CP prope-se gastar com despedimentos cerca de 26 milhes de euros com o aval PS/PSD.

    Assistimos ao colapso do distrito de Portalegre e no nos conformamos. Es-te distrito est abandonado fruto das ruinosas polticas de sucessivos governos e inrcia dos representantes locais. No estranhamos esta situao dado que PS e PSD esto de acordo em privatizar vrias empresas ferrovirias, aceitando o fecho de linhas no interior do pas e o despedimento de trabalhadores.

    Ligao petio:http://www.peticaopublica.com/?pi=P2011N5282

  • [24] ESQUERDA N 48