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EnFoca Jornal Laboratório Edição I - Outubro de 2011 Brasília - DF Preços de imóveis em Brasília só perdem para São Paulo O crescimento do mercado imobiliário de Brasília – o segundo maior do país, atrás apenas da cidade de São Paulo – já ultrapassou capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e até Miami, em valores comercializados. Corretores brasilienses afirmam que é possível adquirir apartamentos de dois ou três quartos em condomínio fechado na cidade norteamericana a partir de U$ 350 mil, ou seja, pouco mais de R$ 550 mil, praticamente o mesmo valor de um apartamento de dois quartos no Plano Piloto, comercializado em média por R$ 570 mil. Já o de três quartos pode custar até R$ 850 mil, segundo levantamento do Sindicato da Habitação no Distrito Federal (Secovi-DF). “Meu sonho era comprar uma casa no Plano, ou o mais próximo possível dele, mas com preços altos, desisti. Os preços sobem muito rápido. Nunca vi algo assim”, reclama Tiago Silva, 26 anos, que adquiriu um imóvel em Valparaíso, cidade no Entorno do DF, líder em investimentos do setor. O que para alguns pode ser assustador, para outros, não. É o caso do corretor de imóveis, Getúlio Romão. “A valorização imobiliária do DF está dentro da média nacional, que nos últimos anos tem atingido entre 20% a 25% anuais. Apenas está atendendo uma demanda reprimida”, explica. Os moradores do Distrito Federal e entorno tem buscado cada vez mais concretizar o objetivo da casa própria. “Todas as classes estão comprando imóveis, sejam novos ou não. Classe alta no Plano Piloto, Noroeste e Águas Claras. A classe média está comprando no Guará, Águas Claras – assim como a classe A - , Samambaia, Ceilândia e Taguatinga’’, relata Javiel Llorente Barrio, corretor de imóveis há mais de 30 anos. Em nota à imprensa, em maio deste ano a Caixa Econômica Federal (CEF) informou que foram investidos R$ 77,8 bilhões em todo o país, em 2010, o melhor ano da história do banco para o setor habitacional. A previsão, segundo o presidente da instituição, Jorge Hereda, é que até final de 2011 sejam investidos em torno de R$ 82 bilhões, um aumento de quase 6% em relação ao ano passado, em créditos concedidos. Seguindo os passos da Caixa, o Banco do Brasil pretende destinar R$ 7 bilhões em crédito imobiliário no decorrer do ano. Já o Banco de Brasília (BRB) não divulgou valores disponibilizados para este ano, mas informou que tem linhas específicas para o setor. Por Rafael Silva Vista aérea do centro de Brasília-DF, ao fundo, Lago Paranoá Foto: Reprodução correspondem a 24% da oferta de locação, sendo divididos em lojas e salas comerciais. Avaliando o valor de imóveis comerciais em Brasília, verifica-se, através do levantamento, pouca variação nos preços do aluguel de lojas entre os diferentes bairros. O Sudoeste apresenta o preço mais baixo por metro quadrado de salas comerciais, que de outro modo também não apresentam muita variação entre as demais regiões administrativas. Variação de preços Para IBGE, tombamento não reflete no valor dos imóveis P or ser um marco na arquitetura e no urbanismo moderno, Brasília tornou- se a única construção contemporânea a figurar na lista de patrimônio cultural da humanidade pela Unesco (órgão das Nações Unidas) em 1987. Idealizada por Juscelino Kubitschek, é o maior território tombado do mundo, com 112,25 km². A cidade levantada no meio do cerrado entre 1955 e 1960, onde não havia quase nada, foi ocupada na mesma velocidade em que foi construída, recebendo pessoas de todos os lugares do Brasil. Além disso, o tombamento impede alterações no projeto original, impossibilitando adaptações para abrigar as pessoas que chegam à capital a cada ano. A obra, marcada pela genialidade do urbanista Lúcio Costa e do arquiteto Oscar Por Mozart Mariano Niemeyer, é uma criação única e singular, que trouxe consigo mudanças profundas na história do país. Inaugurada em 21 de abril de 1960, havia sido planejada para cerca 1 milhão de habitantes, mas hoje comporta mais de 2,5 milhões, segundo o censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010. A cidade inchou e a procura por imóveis também, fato que influencia no aumento dos preços. Com esse crescimento, Brasília tornou-se a quarta cidade mais populosa da federação, e enfrenta hoje problemas corriqueiros das C om relação ao preço do metro quadrado de salas comerciais em Brasília, a Asa Norte apresenta o maior valor ofertado. Asa Sul e Sudoeste evidenciam o segundo e o terceiro maiores valores respectivamente, bem próximos entre si. O Lago Sul possui o menor valor por metro quadrado. (Gráfico 2). Os imóveis comerciais Plano Piloto Levantamento do Sindicato da Habitação no Distrito Federal (Secovi-DF) revela que o metro quadrado nas Asas Sul e Norte tem variado pouco, em torno de R$ 1 mil para imóveis residenciais. O estudo aponta, ainda, que o Plano Piloto possui alugueis mais altos, comparados às demais regiões administrativas do DF, com valores girando entre R$ 2 mil e R$ 2,8 mil para locação de apartamento com dois dormitórios. Os valores altos não espantam a clientela. O executivo de vendas e servidor público, Carlos Caetano, comprou um apartamento na Asa Sul há dois anos e diz não se arrepender. “É o preço pago pela comodidade de morar próximo ao trabalho, Metrô.... enfim, por estar perto de tudo. Pois, o Plano Piloto é uma cidade com pernas próprias”, avalia Caetano. grandes metrópoles mundiais, entre eles a crise imobiliária. Alguns especialistas acreditam que dentro de alguns anos a cidade sofrerá com o fenômeno chamado “bolha imobiliária”. Os altos preços das moradias podem chegar a níveis insustentáveis. O título concedido pela Unesco é um dos fatores que levaram Brasília a esse ponto? Sim, mas segundo o IBGE, não é determinante. O coordenador da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), Ribamar Ribeiro, acredita que a supervalorização se deve mais aos altos salários que ao tombamento. Os funcionários estatutários de Brasília são os mais bem pagos do país, sem contar a estabilidade desses empregos; isso teoricamente possibilita a esse trabalhador arcar com o custo salgado dos imóveis”. Mapa de Brasília-DF

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Page 1: Jornal EnFoca

EnFoca Jornal Laboratório Edição I - Outubro de 2011 Brasília - DF

Preços de imóveis em Brasília só perdem para São Paulo

O crescimento do mercado imobiliário de Brasília – o segundo maior do país, atrás apenas da cidade de

São Paulo – já ultrapassou capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e até Miami, em valores comercializados. Corretores brasilienses afi rmam que é possível adquirir apartamentos de dois ou três quartos em condomínio fechado na cidade norteamericana a partir de U$ 350 mil, ou seja, pouco mais de R$ 550 mil, praticamente o mesmo valor de um apartamento de dois quartos no Plano Piloto, comercializado em média por R$ 570 mil. Já o de três quartos pode custar até R$ 850 mil, segundo levantamento do Sindicato da Habitação no Distrito Federal (Secovi-DF).“Meu sonho era comprar uma casa no Plano, ou o mais próximo possível dele, mas com preços altos, desisti. Os preços sobem muito rápido. Nunca vi algo assim”, reclama Tiago Silva, 26 anos, que adquiriu um imóvel em Valparaíso, cidade no Entorno do DF, líder em investimentos do setor. O que para alguns pode ser assustador, para outros, não. É o caso do corretor de imóveis, Getúlio Romão. “A valorização imobiliária do DF está dentro da média nacional, que nos últimos anos tem atingido entre 20% a 25% anuais. Apenas está atendendo uma demanda reprimida”, explica.Os moradores do Distrito Federal e entorno

tem buscado cada vez mais concretizar o objetivo da casa própria. “Todas as classes estão comprando imóveis, sejam novos ou não. Classe alta no Plano Piloto, Noroeste e Águas Claras. A classe média está comprando no Guará, Águas Claras – assim como a classe A - , Samambaia,

Ceilândia e Taguatinga’’, relata Javiel Llorente Barrio, corretor de imóveis há mais de 30 anos.Em nota à imprensa, em maio deste ano a Caixa Econômica Federal (CEF) informou que foram investidos R$ 77,8 bilhões em todo o país, em 2010, o melhor ano da história do banco para o setor habitacional. A previsão, segundo o presidente da instituição, Jorge Hereda, é que até fi nal de 2011 sejam investidos em torno de R$ 82 bilhões, um aumento de quase 6% em relação ao ano passado, em créditos concedidos. Seguindo os passos da Caixa, o Banco do Brasil pretende destinar R$ 7 bilhões em crédito imobiliário no decorrer do ano. Já o Banco de Brasília (BRB) não divulgou valores disponibilizados para este ano, mas informou que tem linhas específi cas para o setor.

Por Rafael Silva

Vista aérea do centro de Brasília-DF, ao fundo, Lago Paranoá

Foto: Reprodução

correspondem a 24% da oferta de locação, sendo divididos em lojas e salas comerciais. Avaliando o valor de imóveis comerciais em Brasília, verifi ca-se, através do levantamento, pouca variação nos preços do aluguel de lojas entre os diferentes bairros. O Sudoeste apresenta o preço mais baixo por metro quadrado de salas comerciais, que de outro modo também não apresentam muita variação entre as demais regiões administrativas.

Variação de preços

Para IBGE, tombamento não refl ete no valor dos imóveis

Por ser um marco na arquitetura e no urbanismo moderno, Brasília tornou-se a única construção contemporânea

a fi gurar na lista de patrimônio cultural da humanidade pela Unesco (órgão das Nações Unidas) em 1987. Idealizada por Juscelino Kubitschek, é o maior território tombado do mundo, com 112,25 km². A cidade levantada no meio do cerrado entre 1955 e 1960, onde não havia quase nada, foi ocupada na mesma velocidade em que foi construída, recebendo pessoas de todos os lugares do Brasil. Além disso, o tombamento impede alterações no projeto original, impossibilitando adaptações para abrigar as pessoas que chegam à capital a cada ano.A obra, marcada pela genialidade do urbanista Lúcio Costa e do arquiteto Oscar

Por Mozart Mariano

Niemeyer, é uma criação única e singular, que trouxe consigo mudanças profundas na história do país. Inaugurada em 21 de

abril de 1960, havia sido planejada para cerca 1 milhão de habitantes, mas hoje comporta mais de 2,5 milhões, segundo o censo d e m o g r á f i c o realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) em 2010. A cidade inchou e a procura por imóveis também, fato que infl uencia

no aumento dos preços. Com esse crescimento, Brasília tornou-se a quarta cidade mais populosa da federação, e enfrenta hoje problemas corriqueiros das

Com relação ao preço do metro quadrado de salas comerciais em Brasília, a Asa Norte apresenta o

maior valor ofertado. Asa Sul e Sudoeste evidenciam o segundo e o terceiro maiores valores respectivamente, bem próximos entre si. O Lago Sul possui o menor valor por metro quadrado. (Gráfi co 2). Os imóveis comerciais

Plano PilotoLevantamento do Sindicato da Habitação no Distrito Federal (Secovi-DF) revela que o metro quadrado nas Asas Sul e Norte tem variado pouco, em torno de R$ 1 mil para imóveis residenciais. O estudo aponta, ainda, que o Plano Piloto possui alugueis mais altos, comparados às demais regiões administrativas do DF, com valores girando entre R$ 2 mil e R$ 2,8 mil para locação de apartamento com dois dormitórios.Os valores altos não espantam a clientela. O executivo de vendas e servidor público, Carlos Caetano, comprou um apartamento na Asa Sul há dois anos e diz não se arrepender. “É o preço pago pela comodidade de morar próximo ao trabalho, Metrô.... enfi m, por estar perto de tudo. Pois, o Plano Piloto é uma cidade com pernas próprias”, avalia Caetano.

grandes metrópoles mundiais, entre eles a crise imobiliária. Alguns especialistas acreditam que dentro de alguns anos a cidade sofrerá com o fenômeno chamado “bolha imobiliária”. Os altos preços das moradias podem chegar a níveis insustentáveis.O título concedido pela Unesco é um dos fatores que levaram Brasília a esse ponto? Sim, mas segundo o IBGE, não é determinante. O coordenador da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), Ribamar Ribeiro, acredita que a supervalorização se deve mais aos altos salários que ao tombamento. Os funcionários estatutários de Brasília são os mais bem pagos do país, sem contar a estabilidade desses empregos; isso teoricamente possibilita a esse trabalhador arcar com o custo salgado dos imóveis”.

Mapa de Brasília-DF

Page 2: Jornal EnFoca

Considerado bairro nobre, o Sudoeste é uma das regiões que

mais proporcionam qualidade de vida aos moradores. Além de estar localizado em uma região próxima ao Plano Piloto e a uma das principais áreas de lazer ao ar livre do DF, o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o bairro possui 100% de oferta de serviços de infraestrutura.Gustavo Reis, diretor comercial da imobiliária JCGontijo, considera um dos melhores locais para investimento. “É um bairro novo, planejado e próximo dos centros administrativos, bem localizado e com grande qualidade de vida”, justifica. Ele observa que a valorização dos imóveis do bairro é boa. “O preço do metro quadrado residencial varia de R$ 8 mil a R$ 10

Com 100% de infraestrutura, Sudoeste não tem mais por onde crescer

Independência de serviços valoriza mercado em Taguatinga e CeilândiaPor Gustavo Fernandes

Como toda metrópole, o crescimento urbano tende a acompanhar os eixos do sistema público de transporte

e de uma economia desenvolvida. As pessoas buscam, entre outros motivos, morar em lugares onde mais facilmente pode-se pegar o ônibus, o metrô, além da proximidade de serviços essenciais como padaria, hospital, supermercado. Investir em imóveis cuja localização está próxima ao corredor de transporte, às indústrias, comércio, e de um setor de serviços superaquecido estimula a valorização das áreas e esquenta o mercado imobiliário.Por isso, quem pretende comprar um imóvel nas cidades de Taguatinga ou Ceilandia, pode fazer um bom negócio, mas com a certeza de que vai ter que gastar mais. Essas cidades satélites são consideradas as maiores do DF, em tamanho e importância econômica, pelo fato de terem uma economia independente. Boa parte da população estuda e trabalha no local, e por isso não precisa se deslocar para o Plano Piloto. Além disso, quem compra um imóvel em Taguatinga geralmente é um antigo morador, e por questão de vínculos familiares e culturais, não abandona a cidade.Essas particularidades fazem o mercado imobiliário ser um pouco diferente das outras regiões administrativas. Taguatinga, por exemplo, não possui tantos empreendimentos como Águas Claras, mas os que existem são até três vezes mais caros que alguns bairros. Uma casa na Expansão do Setor O (Ceilândia), pode ser adquirida por até R$ 100 mil, enquanto em Taguatinga não se encontra por menos de R$ 300 mil. Segundo informações do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), outra peculiaridade de Taguatinga é o fato de que o crescimento imobiliário está sendo verticalizado. De uns tempos para cá, as construtoras compram várias casas, derrubam e

constroem edifícios de apartamentos, para a venda. Esse hábito tem aumentado substancialmente o valor de uma casa em Taguatinga. Um terreno chega a custar até 500 mil.

Metrô leva prosperidade

Ceilandia também é uma cidade independente, com estações de metrô, uma feira popular cuja principal característica é o encontro dos nordestinos, hospitais, e um comercio intenso que ocupa todo o centro da cidade. Há algum tempo, era considerada pelas autoridades como uma das mais violentas do DF, característica que desvalorizava o local e afastava o mercado imobiliário. Nos últimos cinco anos, está na lista das cidades mais valorizadas do Brasil. O metro quadrado chega a custar R$ 3,5 mil.Depois de 16 anos de obras paradas, a linha do metrô levou prosperidade para os proprietários de imóveis, principalmente da via N1, ao lado do Terminal. Moradora na região há 30 anos, Dorineide Delmiro da Silva diz que a casa onde mora valorizou muito e que não tem intenção de

vendê-la. "Hoje está custando uns R$ 100 mil. O aluguel também subiu e tem até alguns prédios sendo construídos ao longo da linha", conta. Na cidade mais populosa do DF, ainda predominam as casas na paisagem, mas começam a surgir um ou outro conjunto de edifícios, em terrenos que antes estavam vazios.Outros dois empreendimentos estão sendo construídos na região norte de Ceilandia, um próximo ao setor P norte e o outro ao lado da Expansão do setor O, área que no passado já foi considerada uma das mais violentas do DF. Para a gerente de empreendimentos das construtoras responsáveis, Camila Pinheiro de Oliveira, o transporte é um importante fator de escolha para o cliente: "A cidade tem muitos terrenos disponíveis, está em expansão e tem a facilidade do metrô", ressalta. O público-alvo é pessoas de classe média baixa, que moram em casas e querem comprar apartamentos, além dos recém-casados. Outro atrativo: o financiamento da Caixa Econômica Federal pelo programa Minha Casa Minha Vida.

Por Luíz Henrique Leal

Vista aérea de Ceilândia, região administrativa do DF

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Setor Sudoeste, Brasília-DF

Regiões Administrativas

Editorial

02

EditorialOlá!Somos alunos de Jornalismo da Facitec e cursamos a disciplina “Jornal Laboratório” (5º semestre noturno). O Jornal EnFoca é temático, e nesta edição buscamos informações para compreender os motivos que fazem de Brasília uma das regiões mais valorizadas no mercado imobiliário do país.Para isso, fomos conversar com profissionais da área, e entre outros assuntos abordamos o crescimento do mercado imobiliário das cidades satélites, a falta de espaço para crescimento no Sudoeste, a expansão imobiliária do Entorno e uma entrevista especial com um consultor da Caixa Econômica Federal. Foi um enorme prazer realizar este jornal, esperamos que apreciem nosso trabalho.A equipe do Jornal Laboratório agradece a sua atenção. Boa leitura!Expediente

O EnFoca é o jornal laboratório produzido pelos alunos do 5º semestre (noturno) do curso de Jornalismo da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas (Facitec).

Endereço: CSG 09 lotes 11/12 – 15/16CEP: 72035-509 – Taguatinga-DFTelefone: (61) 3036-9700

Coordenadora do Curso de Jornalismo: Profa. Mda. Lúcia ScaffDocente responsável: Profa. Dra. Alzimar Ramalho (MTb 2047-Pr)

Reportagem:Gustavo Fernandes, Hara Alcântara, Luiz Henrique Leal, Maria do Carmo Amaral, Mozart Mariano, Rafael Silva e Roberta Mrad.

Diagramação:Hara Alcântara

Impressão:Gráfica Santa Clara (colocar endereço)

Tiragem: 1.000 exemplares

Distribuição gratuita

Os textos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

mil. Já o comercial fica entre R$ 10 mil e R$ 14 mil. O mercado imobiliário daquela região sempre foi um grande investimento. O percentual de valorização é, em média, de 22% ao ano”, diz. Entretanto, Reis faz uma ressalva: o Sudoeste já foi uma das regiões que mais movimentaram o setor da construção civil, mas devido à falta de terrenos para a comercialização, houve um recuo no número de obras.“O Sudoeste apresenta alto índice de satisfação de moradores e compradores. Para investimento, a valorização atende o perfil mais conservador, com taxas não muito altas, ou seja, a valorização não é das maiores, mas é segura”, garante Daniel Humberto, sócio da Imobiliária Coelho da Fonseca.

Page 3: Jornal EnFoca

Águas Claras foi a região administrativa do Distrito Federal

que mais cresceu nos últimos anos. Num período de seis anos, a população da cidade passou de 43.626, em 2004, para mais de 135 mil em 2010, um aumento superior a 300%, e uma taxa de crescimento anual de 20,8%. Os dados constam da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD, realizada entre setembro e dezembro do ano passado e divulgada pela Companhia de Planejamento do

Crescimento de Águas Claras superou 300% em seis anos

Entrevista

Distrito Federal – Codeplan.A região é marcada pela grande quantidade de prédios, e Águas Claras é a cidade mais verticalizada do Distrito Federal. Desse modo, existe uma grande densidade populacional em um pequeno espaço, contribuindo para o problema de falta de estacionamentos e congestionamentos nas vias da cidade.O valor do metro quadrado de um apartamento de três dormitórios não sai por menos de R$ 8 mil – um pouco menos que a região mais valorizada do Plano Piloto, a Asa Sul, cujo apartamento de um dormitório custa pouco mais de R$ 10 mil. Águas Claras é uma das regiões administrativas que mais cresce no DF

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Apesar dos altos preços, não há risco de “bolha imobiliária”em Brasília,

garante consultor da Caixa

Por Carmem Amaral

O mercado imobiliário é um dos setores mais complexos da economia, sendo

fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do país. Um dos grandes fenômenos da habitação ocorre na Capital Federal, onde os imóveis são vendidos a peso de ouro. Para tentar compreender o que acontece nesse negócio, convidamos o engenheiro civil e gerente de planejamento de avaliação da Caixa Econômica Federal, Emmanuel Carlos de Araújo Braz, para esclarecer algumas peculiaridades pontos deste setor.

Por que é tão caro morar em Brasília?

É muito importante que se compreenda que o processo de elevação dos preços tem um teto limitante, que é a renda familiar per capita de uma região. Brasília é a Capital onde se pagam os maiores salários, quando comparada com outras regiões do País. O segundo motivo que faz Brasília

ter essa característica é a necessidade. Aqui existe uma demanda fl utuante. O fl uxo de pessoas que vem pra cá é muito grande. Um dos motivos dessa migração é o fato de que o poder central do país está instalado aqui. Com isso, sempre existirá uma demanda elevada de pessoas querendo comprar sua moradia. Outro motivo da elevação de preços é o fato de Brasília ser tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade, fazendo com que seja obedecido um padrão de construção dos edifícios do Plano Piloto. O espaço de terra, cada vez mais reduzido, é outro fator que contribui para a elevação de preços.

Qual a valorização dos imóveis nos últimos 10 anos?

Um fato que pode ser observado, e que serve como comparação, são os preços dos imóveis em Águas Claras. Há dez anos esses imóveis representavam 30% a 40 % dos preços dos imóveis do Plano Piloto. Hoje, correspondem a 70% dos imóveis do Plano. Isso é resultado do uso do espaço da terra, cada vez mais escasso. Outro motivo associado a

essa valorização foi a implantação do metrô, que diminuiu a distância do Plano. A duplicação da EPTG (Estrada Parque Taguatinga) também contribuiu para a alta dos preços, pois quanto mais próximo o imóvel estiver do Plano Piloto, mas valorizado ele será.Os altos preços continuarão a subir nos próximos anos, ou eles se manterão estáveis?

Acredito mais na sua segunda alternativa. Um caso recente é o Noroeste. No início, foi cogitado vender o metro quadrado a R$ 12 mil. Tal possibilidade foi abortada, pela ausência de público consumidor.

O termo “Bolha Imobiliária” è utilizado para designar uma situação na qual os preços no mercado estão bem acima do seu valor real. Brasília vive esse contexto?

De forma alguma. Mas é claro que não se deve descartar essa possibilidade; pois o desencadeamento de uma bolha imobiliária está ligado a alguns fatores como a alta excessiva de preços, a ausência de demanda, a elevação da inadimplência e a ausência de marco regulatório do próprio mercado de crédito. Logo, se esses fatores se apresentam de forma intensa no mercado, pode desencadear a “bolha”.

Mas isso está longe de acontecer aqui se considerarmos, por exemplo, que a inadimplência do crédito imobiliário é em torno de 2%. Outro fato importante foi a migração de famílias de classes mais baixas para mais altas, o que refl ete no crescimento da renda do trabalhador brasileiro.

Mesmo diante dos altos preços, é um bom negócio comprar imóvel na Capital Federal? Por que?

Eu diria que é um excelente negócio. Primeiro porque é garantia de retorno do investimento, o mercado é crescente. Não há risco de perda, como acontece com quem investe nas bolsas de valores, por exemplo.

Como o senhor avalia o mercado de habitação, na Capital?

É um bom mercado, pois mesmo dentro dessa atual conjuntura nacional e internacional, teve seu crescimento devido a uma política macroeconômica no Brasil para o enfrentamento da crise mundial do mercado imobiliário, principalmente o norteamericano. A nossa estrutura é completamente diferente de qualquer outro mercado do mundo.

“É muito importante que se compreenda

que o processo de elevação dos

preços tem um teto limitante, que é a renda familiar

per capita de uma região”.

Foto: Reprodução

Por Luíz Henrique Leal

Emmanuel Braz, consultor da CEF

Foto: Reprodução Foto: Carm

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Plano Piloto, vista do Lago Sul

Page 4: Jornal EnFoca

Expansão imobiliária no DF reflete no mercado do entorno

O entorno de Brasília vive um verdadeiro “boom” imobiliário. A região, formada por cidades

goianas próximas aos limites do Distrito Federal, tem atraído construtoras e, com elas, novos moradores que não conseguem pagar os altos preços do mercado do DF. As construtoras têm visto nas cidades de Águas Lindas, Cidade Ocidental, Valparaíso de Goiás, Luziânia e Santo Antônio do Descoberto, uma oportunidade de investimento a baixo custo. “É possível encontrar terrenos de 10m X 30m entre R$

20 mil a R$ 30 mil, o que não acontece no Distrito Federal”, explica a corretora de imóveis, Cicera de Alcântara. O perfil dos empreendimentos nas cidades vizinhas também é diferenciado, são direcionados para a população das classes C, D e E.O programa “Minha Casa Minha Vida”, do Governo Federal, é o principal impulsionador do crescimento da região, pois oferece subsídios para a compra da casa própria. O programa só foi ofertado ao Distrito Federal este ano, diferentemente das cidades goianas, que participavam desde o seu lançamento, em 2009. Uma casa de aproximadamente 50 m2 custa

entre R$ 80 mil e R$ 130 mil. A facilidade de crédito vem atraindo milhares de novos moradores para as cidades goianas. Valparaíso de Goiás é a cidade do entorno que mais tem crescido. A proximidade com Plano Piloto (cerca de 30 km) é o principal atrativo para os novos moradores, pois a maior parte trabalha ou estuda no Distrito

Por Hara Alcântara

O sonho que se tornou pesadelo

Atraída pelas facilidades de crédito, a estudante Vanessa Bennet se mudou

para Valparaíso de Goiás em novembro do ano passado, logo depois do casamento. A casa, apesar de estar localizada em um pequeno condomínio no Parque Rio Branco e sem qualquer luxo, se tornou alvo de assaltantes.Segundo Vanessa, 20% das casas do bairro já foram assaltadas. O motivo para o alto índice de violência se caracteriza pelo perfil dos novos moradores. “As pessoas que estão vindo para cá geralmente são de fora, desconhecem a falta de segurança e de infraestrutura. A maioria possui um carro, alguns bens de valor, mas trabalha em Brasília e as casas, vazias, acabam se tornando alvo fácil de bandidos”, explica.Em julho deste ano, Vanessa teve a casa assaltada. Os bandidos levaram aparelhos eletrônicos, um computador portátil e o carro, que

Federal e só retorna para dormir. Apesar do visível crescimento imobiliário, a oferta de serviços públicos não segue no mesmo ritmo, e os moradores continuam a enfrentar os problemas históricos de falta de infraestrutura básica, como saneamento, educação, saúde, transporte e principalmente segurança pública.

tinha apenas três meses de uso. Os contratempos foram grandes. “O pior de tudo, é que quando fui procurar a delegacia para registrar queixa, o policial disse que isso era normal e que não poderia fazer nada”, conta, indignada. E ressalta: “Nos oferecem facilidades para comprar um imóvel, mas a cidade não oferece segurança para a população”.A estudante, que mora há menos de um ano, já pensa em voltar para o Distrito Federal, assim que conseguir um imóvel nas condições em que possa financiar.

Mercado Imobiliário

Condomínio residencial em construção em Valparaíso-GO

BR-040, divisa entre os setores Valparaíso II (a esqueda) e I (a direita), em Valparaíso-GO

Foto: Hara A

lcântara

Foto: Hara Alcântara

O sonho que se tornou pesadelo

Classe B migra para Águas Claras e CruzeiroAlém do preço mais acessível, qualidade dos imóveis também influencia na decisão

Por Roberta Mrad

De acordo com pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a classificação de classes sociais é a seguinte:

CLASSE SALÁRIOS MÍNIMOS RENDA FAMILIAR R$ A Acima de 20 Acima de R$10.200 B Entre 10 e 20 De R$ 5.100 a R$10.200 C Entre 4 e 10 De R$ 2.040 a R$ 5.100 D Entre 2 e 4 De R$ 1.020 a R$ 2.040 E Até 2 Até R$1.020

Em Brasília, a constante valorização dos imóveis está forçando parte das famílias de classe B, que pretendiam

ter casa própria no Plano Piloto, a ir para outras regiões administrativas, como Águas Claras e Cruzeiro. Devido a supervalorização dos imóveis no Plano Piloto, as famílias das classes C e D não conseguem adquirir a casa própria, e acabam migrando para cidades satélites.É o caso do analista de sistemas, Itamar Correa. Ao pesquisar valores de imóveis, acabou optando por uma casa no Cruzeiro Velho. Pelo fato de ter filhos gêmeos, Itamar e sua mulher, a fisioterapeuta Flávia Pacheco, compararam preços de apartamentos na Asa Sul e casas no Cruzeiro. A decisão da compra do primeiro imóvel fez com que o casal pensasse nas prioridades e necessidades de sua família, sendo segurança e área de lazer os critérios decisivos. “Os apartamentos das quadras 400 da Asa Sul eram velhos, e teríamos que fazer uma boa reforma; os prédios não tinham garagem, eram menores que as casas do Cruzeiro, sem contar a falta de privacidade”, comparam.A família tem uma renda mensal superior a R$ 10 mil, portanto pertence à classe B (ver boxe) Segundo a corretora de imóveis,

Gláucia Garreto, a classe A predomina nas Asas Sul e Norte, Lagos Sul e Norte e Sudoeste.

Facilidades de financiamento

As famílias de menor poder aquisitivo, pertencentes às classes C e D, moram em sua grande maioria em outras regiões administrativas como Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas e nas cidades do entorno de Brasília, como Luziânia. São pessoas que sonham com a casa própria, e que estão cada vez mais próximas da realização, pelos prazos de financiamento entre 20 e 30 anos e a possibilidade de utilizar o FGTS.É o caso de Nilsileia Ribeiro, moradora do Riacho Fundo II. A secretária e seu marido Wanderson Silva, motorista há 15 anos, conseguiram financiar uma casa. Tendo a renda mensal equivalente a sete salários mínimos, o financiamento em 30 anos foi feito pela Caixa, com valor das prestações em torno de R$ 460. Nilsileia afirma que foi uma grande conquista, pois o aluguel era superior e agora paga a própria casa. “Sei que 30 anos é muito tempo, mas paguei aluguel a vida inteira e nunca tive retorno algum; a impressão era a de que todo mês jogava dinheiro fora. Agora tenho uma vida nova, moro no que é meu, e posso deixar alguma coisa para meu filho”.

Setor Sudoeste/Cruzeiro a frente, Águas Claras ao fundo. Ambas regiões administrativas do DF

Foto: Reprodução

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