jornal dos bairros | edição de abril de 2014 | nº 4 - ano 18

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Ano 18 Nº 04 Jornal dos Bairros Abril 2014 Publicação da União das Associações de Bairros de Caxias do Sul - Filiada à FRACAB e à CONAM Anos de chumbo: O testemunho de quem enfrentou a Ditadura Foto: Karine Endres Rústica do Millenium Dia 17 de Maio | 9:00 H Saída da Escola Zélia Furtado Inscrições de 1 a 17 de maio [email protected] 3901.1453 Sua conta da água aumen- tou muito recentemente? Traga a conta para UAB. Um levantamento está sen- do realizado para buscar soluções junto ao Samae. Luiz Pizzetti é a história viva da Ditadura em Caxias do Sul. Há cinquenta anos, Pizzetti era preso por buscar um mundo melhor | Páginas 06 e 07

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Luiz Pizzetti conta como foi ser preso pela ditadura, no dia do seu aniversário e como foi continuar militando nos anos de chumbo.

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Ano 18Nº 04

Jornaldos

Bairros Abril 2014

Publicação da União das Associações de Bairros de Caxias do Sul - Filiada à FRACAB e à CONAM

Anos de chumbo:O testemunho de quem enfrentou a Ditadura

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Rústica do MilleniumDia 17 de Maio | 9:00 H

Saída da Escola Zélia Furtado

Inscrições de 1 a 17 de maio

[email protected]

Sua conta da água aumen-tou muito recentemente?Traga a conta para UAB.

Um levantamento está sen-do realizado para buscar soluções junto ao Samae.

Luiz Pizzetti é a história viva da Ditadura em Caxias do Sul. Há cinquenta anos, Pizzetti era preso por buscar um mundo melhor | Páginas 06 e 07

Jornal dos Bairros

Abril 2014Opinião 02

EditorialComo está a participação popular em

Caxias do Sul

Jornal dos BairrosExpediente: Veículo da União das Associações de Bairros de Caxias do Sul – UAB - Rua Luiz Antunes, 80, Bairro Panazzolo – Cep: 95080-000 - Caxias do SulFiliada à Federação Riograndense de Associações Comunitárias e de Moradores de Bairros (FRA-CAB) e a Confederação Nacional de Associações de Moradores (CONAM)

Presidente: Valdir WalterDiretor de Imprensa e Comunicação: Cláudio Teixeira - [email protected]: Karine Endres - MTb. 12.764 - [email protected]ção e Design Gráfico: Karine EndresReportagem: Karine Endres e Luana Reis E-mail: [email protected] Telefone: 3238.5348Tiragem: 10.000 exemplares

Conselho Editorial:Antonio Pacheco de Oliveira, Cláudio Teixeira, Flávio Fernandes, Karine Endres, Paulo Saussen e Valdir WalterEmail: [email protected]: 3219.4281Os textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

Mande seu recadoEscreva para o Jornal dos Bairros. Mande sua sugestão, reclamação ou comentário.

Entregue na sede da UAB até a última semana de cada mês ou pelo e-mail [email protected]

Comunidade do São Gabriel elege nova diretoria para Amob

A Associação Cultural Germânica de Caxias do Sul – Alles Gut, já tem uma nova diretoria.

As eleições aconteceram no dia 28 de março e reconduziram Liria Prediger ao cargo de presidente da entidade, por unanimidade.

No dia 16 de março foi a vez da co-munidade do loteamento São Gabriel escolher a nova diretoria da sua Asso-ciação.

A eleição da Amob foi anulada em 2013 e um novo pleito foi organizado neste ano, conduzindo Sônia de Jesus à presidência da entidade. A comunitaris-ta foi escolhida 179 dos 238 votantes. Outros 42 sócios optaram pela Chapa 2, com Caio da Rosa à frente, e 17 votaram

em branco. Ao todo, a Associação tinha 533 moradores aptos a votar.

Além da presidente, também foram eleitos Deusvaldo Jacó da Silva como vice-presidente, Vinícius Catelli como secretário geral e Rosangela Rodrigues, tesoureira, Juvenil Nunes de Moraes, diretor de Educação e Esportes, Nadir Menegon, diretor de Obras e Serviços, e Maria Agostinha, diretora de Imprensa e Comunicação Social.

Foto: Cláudio Teixeira

Alles Gut tem nova diretoriaAinda estão na nominata Arceli Co-

lin como vice-presidente, Marcia Aline Maisner, como secretária e Rodrigo Fink-ler dos Santos, como tesoureiro.

O Conselho Fiscal é composto por Lucas Thimmig Diel, Bernadete Lourdes Pergher e Santina Kerwaldl Lorandi.

25/04 - 17h Lançamento do Comitê do Plebiscito pela Reforma Política - Praça Dante Alighieri

28/04 – 19h Câmara Vai aos Bairros - Zona Urbana - Salão da Igreja dos Capuchinhos, no Rio Branco

01/05 - 15h Ato do Comitê do Plebiscito pela Reforma Política nos Pavilhões da Festa da Uva

03/05 - 14h Assembleia Geral da UAB

05/05 – 19h Assembleia da Participação Popular e Cidadã Estadual em Caxias do Sul - Sede da UAB

10 /05 - 15h Chá em homenagem ao dia das mães - Centro Comunitário Santa Lúcia Cohab

17/05 – 15h Chá em homenagem ao dia das mães - Salão Santa Terezinha, Fátima Baixo

Agenda Comunitária

A participação popular é uma políti-ca pública muito cara para o movimento comunitário de Caxias do Sul. Durante o Governo de Pepe Vargas (1997 – 2004) construímos espaços importantes de in-tervenção da população na ação gover-namental. A discussão do orçamento na sua totalidade possibilitava às lideranças sociais, principalmente as lideranças co-munitárias, a influência sobre as ações de governo. É comum dizer que o orçamento da Prefeitura é um “cobertor curto”, com a possibilidade de discussão pela maioria da população podia-se puxar esse cober-tor para tapar as necessidades de quem mais precisa.

Importante ferramenta de transpa-rência durante o Orçamento Participa-tivo, o Conselho Comunitário Municipal formado pela eleição de conselheiros, entre os delegados eleitos pelas comu-nidades, era o canal cotidiano e popular de acompanhamento de todas as ações do governo. E vejam bem, não era lei. Era a vontade de um governo. Era a disposi-ção em dividir com a população a decisão sobre o que é prioridade.

No esteio dessa política evoluímos das discussões regionais para agregar as discussões setoriais e assim, com um número maior de cidadãos chegarem à utilização do orçamento do município da melhor forma possível. Quando Pepe Vargas deixou a Prefeitura em 2004, exa-tos 10 anos atrás, discutimos através do Orçamento Participativo a quantia de R$ 53 milhões apenas naquele ano.

Com a chegada de José Ivo Sartori ao governo municipal foi proposto a manu-tenção da participação popular. Embora o novo governo quisesse dar a sua cara. E assim o fez. A primeira coisa foi a mu-dança de nome, que passou a se chamar Orçamento Comunitário e de imediato

perdendo o status de política de gover-no para se tornar anexo da secretaria de planejamento.

Durante o primeiro governo Sartori, o Conselho Comunitário Municipal até reuniu algumas vezes, mas ao perder a regularidade perdeu a sua razão de ser, pois a sua força residia justamente no acompanhamento cotidiano das ações do governo e na troca de informações entre os conselheiros com a administra-ção municipal.

Durante o segundo governo Sartori o Conselho virou história e a participação popular em Caxias perdeu o seu impor-tante pilar de sustentação. Com a elei-ção de Alceu Barbosa Velho renovou-se o compromisso com a participação popu-lar. A promessa de um Orçamento Comu-nitário revigorado já caiu por terra com o anunciado congelamento de valores dis-poníveis para a discussão no Orçamento Comunitário em R$ 17 milhões ao ano.

Ao assumir essa gestão da UAB em julho de 2013, sua diretoria, na primei-ra reunião, produziu um manifesto com os pontos que entendia importantes para a recuperação da participação po-pular em Caxias do Sul e apresentou ao Prefeito Alceu que anunciou a volta do Conselho Comunitário Municipal. Na-quele momento entendemos que havía-mos obtido uma vitória. Passou-se todo o processo do Orçamento Comunitário em 2013, inclusive com a retirada de re-presentações nas comunidades que de nada serviram, pois a volta do Conselho Comunitário Municipal foi apenas uma promessa vazia. Os reuniões do OC em 2014 estão começando, entendemos que ainda é um espaço privilegiado de participação para a população, mas in-felizmente, muito aquém do que já tive-mos em Caxias do Sul.

Jornal dos Bairros

Abril 2014Movimento 03

Assembleia discute Obras e OCFoto: Karine Endres

Comunitaristas lotaram auditório para ouvir planos e cobrar ações da secretaria de Obras e do OC

Reunidos em Assembleia Geral no dia 5 de abril, comunitaristas discutiram suas demandas em relação à secretaria municipal de Obras e Serviços Públicos (SMOSP) e à Coordenadoria de Orça-mento Comunitário.

Tanto o secretário de Obras, Adiló Didomenico, quanto o coordenador do OC, José Dambrós, estiveram presentes na Assembleia.

Adiló Didomenico elencou uma sé-rie de iniciativas que estão sendo to-madas pela prefeitura para resolver as demandas dos bairros em relação às obras (confira mais sobre o assunto na entrevista na página 4).

Já o coordenador do OC, José Dam-brós, apresentou as propostas para as reuniões do OC em 2014, assim como os resultados das reuniões e obras apro-vadas em 2013.

Este ano serão investidos R$ 17 mi-lhões em obras elencadas pela comuni-dade em 2013.

No ano passado as obras de anos

anteriores foram exe-cutadas num investi-mento de R$ 16 mi-lhões.

“Em 2013 foram realizadas 242 reuniões e elencadas 70 obras, de valores que variam de R$ 50 mil a R$ 1,5 milhão. A comunidade que não atingiu o re-curso necessário, pre-cisará este ano, apor-tar mais verba para a mesma obra prioriza-da em 2013”, explicou José Dambrós, coorde-nador do OC.

Dambrós ainda in-formou que as reuni-ões deste ano come-çam no dia 22 de abril e estendem-se até 6 de julho, respeitando o período eleitoral.

“Já temos agendadas reuniões nas

grandes regiões como Cruzeiro, Espla-nada, Fátima e Centro. Estamos em contato direto com os presidentes das

Associações de Bairros (AMOBS), que são eles que escolhem a melhor data para reunir a comunidade”, destacou.

Comunitaristas querem mais obras e participaçãoLogo no início da AG, os comunita-

ristas leram um novo manifesto aprova-do pela diretoria da entidade.

No documento, novamente o movi-mento questiona a inoperância do Con-selho do Orçamento Comunitário, que tem o papel de acompanhar as reuniões, a lista de demandas e a execução das obras aprovadas.

A reativação deste conselho, que está inoperante há anos, é uma exigên-cia antiga do comunitarismo caxiense. E também foi um compromisso assumido pelo prefeito Alceu Barbosa Velho, mas que até o momento não saiu do plano de intenções.

Outro ponto que gerou questiona-mentos foi quanto às listas de assinatu-ras, que muitas vezes percorrem as co-munidades com dias de antecedência às reuniões.

Sobre este ponto, Dambrós afirmou que “‘não há problema em haver lista de assinaturas, desde que a comunidade saiba para qual obra está assinando e que isto tenha sido discutido com a co-munidade anteriormente”.

Os comunitaristas também reivin-dicaram que haja mais verba disponível para o OC, já que desde o valor total não acompanha o aumento dos recursos ar-recadados pelo município.

Um número que chamou a aten-ção dos comunitaristas foi em relação à quantidade de reuniões realizadas em 2013, um total de 242, sendo que ape-nas 10 obras serão executadas em 2014 (confira a lista abaixo).

O coordenador do OC alega que não é porque a comunidade realizou a reunião e indicou uma obra, que ela será executada. “É necessário conquis-tar a verba. Sem verba suficiente, não há obra”, alegou.

Confira as obras que serão executadas1 Rua Joana Toscano Loro - Santa Te-reza2 Av. Maurício Sirotsky Sobrinho (até a escola José Alencar) - Paiquerê3 Rua Ernani Bento Alveres + Travessas Iraci Vieira Henen e Antônio de Oliveira - Morada Feliz4 Rua Filomena Rech - Jardim Filomena / Santo Antônio5 Ruas Cassiano Pasuch, Frei Ambró-

De 242 reuniões, 10 obras serão encaminhadas

sio Tondelo, Nadir Franciosi, 27 de Se-tembro, Tercílio Anesi e Orlando Tissot - Conquista6 Rua Menino Deus - Brandalise7 Rua Vitório Roldo - Lot. Tirol / Forqueta8 Rua Padre Ângelo Tronca - São Luiz da 6º Légua9 Rua Tenente Coronel Souto Maior - Pôr do Sol 10 Drenagem do Monte Carmelo

Leia o manifesto:

A União das Associações de Bair-ros – UAB de Caxias do Sul vem a pú-blico manifestar sua opinião sobre o Orçamento Comunitário – OC:

1. A UAB foi protagonista da construção da democracia participati-va em Caxias do Sul. A UAB é parceira da participação popular e acredita que esta é a forma da população conquis-tar direitos e fiscalizar o poder públi-co, sempre em busca de uma cidade justa e solidária.

2. A UAB quer a volta do Con-selho Comunitário Municipal, em reu-niões regulares, com a participação do Governo, entidades organizadas e representantes das diversas regionais escolhidos pelos participantes das reuniões locais do OC, regradas por um regimento construído em assem-bleia municipal, conforme compromis-so assumido pelo Prefeito Municipal em reunião com a diretoria da UAB e documento entregue à assembleia ge-ral da UAB pelo coordenador do OC.

3. A UAB propõe o estabele-cimento de regras transparentes no acesso as verbas do OC, em oposição as listas de assinaturas, quem em algu-mas comunidades, chegam com dias de antecedência. Acreditamos que a discussão, pela comunidade, das suas necessidades ajuda a conscientizar a população.

4. A UAB entende que a parti-

cipação popular deve acontecer em todo o município, mas questiona a realização de reuniões em lugares sem organização comunitária. Nesse sentido nos colocamos como par-ceiros para organizar associações de moradores nos locais que ainda não tem, respeitando a dinâmica do mo-vimento comunitário.

5. A UAB entende necessária a volta das discussões regionais, por proporcionarem uma visão solidá-ria entre as comunidades, desenvol-vendo ações amplas e coletivas. Isso proporcionará otimização dos recur-sos públicos e transparência nos in-vestimentos.

6. A UAB quer a finalização das obras conquistadas nos anos ante-riores do OC, assim como, obras que na publicidade oficial constam como concluídas, mas não estão.

7. Por fim, a UAB quer a discus-são pela população da totalidade do orçamento do Município. Hoje o que está posto para discussão no OC, não chega a 1% do total arrecadado.

A UAB torna pública sua posição sobre o OC porque entende a dis-cussão dos recursos públicos como importante para o desenvolvimen-to de um trabalho que traga benefí-cios para toda a população de Ca-xias do Sul.

Diretoria UAB

Jornal dos Bairros

Abril 2014Movimento 04

Obras promete descentralização dos serviços e novas máquinas

JB - Quais são os maiores de-safios hoje, da secretaria de Obras?Adiló - O maior desafio é resol-vermos o problema do sanea-mento, da drenagem, tanto da microdrenagem quanto da ma-crodrenagem. Nossas redes de microdrenagem são muito an-tigas, os canos de antigamente não tinham a qualidade que têm hoje. Eram usados os ‘machos e fêmeas’ e hoje usamos o ‘pon-ta e bolsa’, que é um cano com um encaixe bem melhor, com armação em ferro e com ma-lha por dentro. A cada enchen-te nossas galerias são forçadas e com o passar do tempo elas vão apresentando problemas que, quando vamos ver, foram ocasionados há um ou dois me-ses antes. E a macrodrenagem porque não se reservou espaço para as águas.

A cidade cresceu demais, com ocupação desordenada. As pes-soas construíram literalmen-te nos barrancos dos arroios e córregos e hoje são as principais atingidas. E hoje temos dificul-dade de ampliar essas galerias, porque o custo para desapro-priação é simplesmente insu-portável e a saída acaba sendo os tanques de contenção, os piscinões. E o custo não é ba-rato, seja pela desapropriação, seja pela construção desses re-servatórios. Mas é o que nos resta, ainda a um custo mais acessível.

Estamos com vários projetos esperando a liberação de fi-nanciamento. O Ministério das Cidades nos sinalizou que para o segundo semestre deste ano devem sair financiamento para estas obras, o que nos daria um alento e um oxigênio muito grande para Caxias. Estamos es-perando com muita expectativa essa informação. Não queremos

financiamento a fundo perdido, queremos um financiamento que tenhamos uma condição para pagar. Porque só o muni-cípio não tem suporte para fa-zer isso e a população não tem mais tempo para esperar. A cada enxurrada são perdidos muitos pertences e nós, enquanto po-der público, gastamos muita energia para resolver estes pro-blemas, sendo que com estes recursos poderíamos estar in-vestindo em outras obras.

JB - Quais são os principais planos para este mandato?Adiló - Nós traçamos algumas estratégias. Primeiro a centraliza-ção do administrativo que estava em seis lu-gares distintos, agora fica tudo em um único ponto, apenas na Rota do Sol ao lado da Co-deca.

O segundo ponto foi a descentralização da infraestrutura. Ou seja, levar ela para perto da comunidade, onde há a deman-da. E não ficar na Visconde de Pelotas, gastando mais tempo em deslocamento do que em trabalho. Um controle bastan-te rígido na questão da frota, da utilização do equipamento público.

Também há uma decisão de comprar equipamentos em vez de locar. Essa decisão já foi aprovada pelo prefeito Alceu Barbosa Velho, e gradativamen-te nós vamos saindo da locação. Porque você loca uma máquina para um período, para dois, para três e quantas máquinas nós já pagamos ao longo destes anos e não são nossas? Você olha para o parque de máquina da prefeitura e está defasado, com um maquinário velho. Você olha para as empresas que locam para nós e vê um equipamento novo e muito bem estruturado. Então, alguma coisa está erra-da nessa relação e nós vamos, gradativamente adquirir equi-pamento e sair desse processo de locação.

E também vamos adquirir equi-pamentos que são muito im-portantes para nosso trabalho, como câmeras para analisar

dentro dos canos, sem ter que o servidor entrar no cano e cor-rer risco de vida. Porque o mais perigoso de entrar nos canos é o gás que exala, que pode fazer o servidor desmaiar lá dentro.

Antigamente tínhamos cinco britadeiras, para fazer brita, e hoje temos apenas uma. Esta-mos equipando novamente a segunda. Antigamente tínha-mos lavagem, borracharia, cha-peação e todos esses serviços foram fechados e repassados para a iniciativa privada. Já rea-brimos a lavagem e estamos em processo de montar a chapea-

ção e vamos retomar a monta-gem da borracharia, para ter-mos uma resposta mais rápida quando a comunidade precisa dos nossos serviços.

JB - Porque estes serviços fo-ram repassados para a ini-ciativa privada ao longo des-tes últimos anos?Adiló - Na verdade, houve uma cultura dos secretários que nos antecederam ao longo dos anos, e não é uma questão específica de um ou de outro secretário, ou de um ou outro gover-no. Isto é históri-co. O pessoal acha-va que era muito mais fácil adminis-trar um contrato de locação do que os servidores. Eu es-tou muito satisfeito com a postura, com o trabalho e com o comprometimento dos nossos servi-dores. Eu só tenho a agradecer. Não fecho com a ideia que vendiam para nós de que o pes-

soal não faz o trabalho direito, não pega junto. É exatamente o oposto. O que eles não tem é equipamento. E sem equipa-mento, sem condições, não tem como cobrar.

E então o poder público locava uma empresa, licita uma obra. Claro que grandes obras preci-sam ser licitadas. Mas qualquer galeria que a secretaria possa fazer, com equipamento pró-prio, com equipe própria, nós estamos chegando a conclu-são de que ela custa 50% do valor de licitação. Por quê? Por-que custo é custo, para mim ou

para qualquer empresa. Mas a empresa que par-ticipa da licitação tem a margem de lucro, tem o risco, tem a incerteza porque obras de drena-gem são embaixo da ter-ra e as empresas colo-cam o preço com folga, porque o risco de ha-ver uma surpresa e eles saírem com prejuízo da obra é bem grande. Sempre nas licitações,

se tratando de macrodrenagem, toda a empreiteira, ao cotar o preço para o poder público, ela cota um percentual mais eleva-do, para se preservar. É o funcio-namento para arcar com o risco.

E no caso para nós, da secreta-ria, se houve um problema, nós vamos arcar com o custo, mas a maior parte das obras acaba custando menos que se licita-das. Como exemplo é o piscinão do Pôr do Sol, que foi orçado em

R$ 720,00 mil pela iniciativa pri-vada. Deu detonação bem aci-ma do previsto, que seguramen-te o contrato teria que ter sido aditado, ia parar em R$ 850,00 mil ou mais. E nós chegamos a R$ 400 mil. Um trabalho de toda a qualidade, sem problemas com a vizinhança.

JB - O Jornal dos Bairros re-lata com frequência proble-mas com bueiros que não drenam e calçamentos que se desfazem. Porque isso acontece com tanta frequ-ência?Adiló - Há duas situações. Uma é que a malha de calçamento de asfalto e paralelepípedo so-freu muito com as obras que o Samae contratou, de 140 km de valas, para implantar a co-leta do esgoto cloacal. Quando você abre uma rua, nunca mais se estabelece a normalidade. O asfalto é um pouco mais fácil. O paralelepípedo é bem difícil.

E também há um problema que a empresa que presta esse ser-viço de calçamento para a pre-feitura, há quinze anos, no con-trato não tem uma cláusula que me dê condições de exigir deles uma estrutura e uma qualidade maior. Eles têm uma pequena estrutura, são esforçados, mas que não tem, com esse modelo de licitação, uma condição de dar uma resposta. Por isso, es-tamos fazendo uma nova licita-ção, a empresa que participar terá que nos dar uma estrutura que atenda as demandas.

O Jornal dos Bairros con-versou com o secretário de Obras e Serviços Públicos, Adiló Didomenico, para saber quais são os principais desa-fios e projetos da pasta para o atual mandato. Falta de re-cursos para investimentos de porte e maquinário defasado são alguns dos problemas que precisam ser enfrentados, se-gundo Adiló. Confira a íntegra da entrevista:

Porque você loca uma máquina para um período,

para dois, para três e quantas máquinas nós já pagamos ao longo destes anos e não são

nossas?Adiló Didomenico

Jornal dos Bairros

Abril 2014Transporte 05

Dos diversos serviços pú-blicos em Caxias, o transpor-te coletivo é o único a contar com um espaço próprio de dis-cussão: o Fórum dos Usuários. Realizado a cada três meses e coordenado pela secretaria mu-nicipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (STMM), o Fórum é o espaço para as comunida-des levarem suas demandas ao poder público e à empresa con-cessionária do serviço em Ca-xias, a Visate.

Mas desde 2013, a cons-tante ‘enrolação’ do poder pú-blico ao marcar ou desmarcar as reuniões está gerando ques-tionamentos. Além disso, fora as mudanças de agenda – im-penssáveis desde que o Fórum iniciou suas reuniões, ainda no governo de Pepe Vargas (PT) – as demandas apontadas pe-

Líderanças querem respeito ao Fórum dos Usuários

Outro ponto que gera ques-tionamentos, e um dos que mais incomoda aos comunitaristas, é o fato dos pontos debatidos no Fórum não terem encaminha-mento por parte da secretaria e da Visate. Com isso, o espaço que é de avaliação de um servi-ço que afeta a maior parte dos caxienses acaba perdendo a re-levância. Saem prejudicadas a democracia e participação co-munitária e popular, já que um canal importante de diálogo com os caxienses fica subvalorizado e desprestigiado.

A Amob São Cristóvão é um exemplo de associação que não tem suas demandas atendidas, mesmo após inúmeras reclama-ções. Neura Pedrotti, presiden-te da Amob, afirma que já pro-

los usuários não estão sendo atendidas.

Em 2013, a segunda reu-nião daquele ano foi desmar-cada, às pressas, devido às manifestações que acontece-ram em junho, motivadas em

grande parte pelos preços e mau serviço do transporte co-letivo em todo o país. O en-contro estava previsto para o sábado dia 22 de junho e uma grande marcha estava sendo chamada para o dia anterior,

21. De fato, aquela manifestação reu-niu cerca de 35 mil pessoas no centro de Caxias.

Porém, este segundo Fórum de 2013 foi re-al izado apenas em setembro e o terceiro acabou acontecendo em dezembro. Com isso, um dos qua-tro encontros anu-ais foi completa-mente suprimido

da agenda do poder público.

Agora em 2014, já o pri-meiro encontro foi cancelado pela STMM, gestora e respon-sável por convocar o Fórum. Previsto para o dia 22 de mar-

ço, a atividade simplesmente foi cancelada no dia anterior, sob a alegação de que devido à Festa Nacional da Uva, a se-cretaria não tinha conseguido organizar a atividade.

O primeiro Fórum dos Usuários foi convocado nova-mente para o sábado seguinte, dia 29 de março, às pressas. Até mesmo lideranças engaja-das não sabiam da nova data do encontro.

O próprio secretário, Zul-mir Baroni Filho, disse sobre o Fórum dos Usuários que as “manifestações servem de sub-sídio para o andamento do nosso trabalho. As reuniões são muito produtivas e o con-tato direto com a comunidade nos dá uma visão geral de tudo que acontece com relação ao serviço que oferecemos”.

Demandas apresentadas não são atendidas

tocolou diversos ofícios, já apresen-tou o proble-ma em várias reuniões do Fó-rum dos Usuários, mas a demanda nunca é atendida.

“Faz uma eterni-dade que pedimos mais um carro para atender a Linha 33. Só temos dois carros e um reforço no horário de pico. Pre-cisamos disso porque depois que colocaram o terminal no bairro, o intervalo entre as via-gens chega a cinquenta minu-tos. Os moradores preferem percorrer um trajeto de dez mi-nutos à pé até à BR, 116, para

usar outras linhas. Ou-tra estraté-gia usada pelos mo-radores é ir de carro até à BR e deixá-lo em um posto, p a r a e n -tão usar o

transporte público. “Aí o pessoal da SMTT e

da Visate me dizem que não há mais demanda para outro carro. Claro que pelas planilhas deles não há demanda. Ninguém mais usa a linha do bairro porquê é inviável ficar cinquenta minutos esperando, em dia de semana”, explica.

“Também solicitamos que fizessem um remanejo nas li-nhas que atendem a região, mas me disseram que era impossível. Parece que falta vontade de re-solver o problema”, conta.

Segundo ela, os próprios motoristas da Visate pedem para sair da linha, já que eles também não contam com in-fraestrutura adequada, pois o ‘terminal’ não possui banhei-ros. “A volta do São Cristóvão acaba ficando muito lenta e eles não tem tempo nem para ir no banheiro. Aos sábados, se o carro atrasa um pouco mais, eles precisam queimar a volta. Se já tem intervalo de uma hora aos sábados, quando queima a volta, ficamos duas horas sem transporte no bairro”, relata.

“Já perdi as contas de quan-tos ofícios já foram feitos e não tem jeito de resolver. Já me pro-meteram um estudo para avaliar a situação, mas isso nunca saiu da promessa”, acrescenta.

Outro ponto que irrita a presidente é o fato de que os gestores pedem que ela aguar-de a conclusão da estação de transbordo do bairro Cruzeiro. “Mas esta estação é para aten-der a região do Cruzeiro e não Ana Rech”, reclama.

“Protocolo não adianta fa-zer. Vir no Fórum dos Usuários também não está mais adian-tado. Ficamos na UAB uma tar-de toda, deixamos a família em casa e não conseguimos resol-ver. Está muito desanimador”, diz Neura.

Foto: Karine Endres

Lideranças prestigiam atividade, mas demandas não têm encaminhamento

!“Não adianta fa-zer protocolo, nem

participar do Fó-rum dos Usuá-rios. Está muito desanimador”Neura Pedotti

Jornal dos Bairros6Abril 2014

Especial 06

Há cinquenta anos, Brasil sofria golpe e perdia a democracia

Celas do Doi-Code, onde inúmeros militantes foram torturados, alguns até à morte, durante a Ditadura Militar

C M

Y K

cinquenta anos, um golpe instaurava o regime militar no Brasil, retirando direitos consti-tucionais, oprimindo e torturan-do os opositores e colocando a censura como palavra de ordem nas redações de todo o país.

O que deveria durar ape-nas um ano, sob a justificativa de impedir ‘uma revolução co-munista’, durou 21 anos, até 15 de março de 1985, quando José Sarney assumiu o cargo de pre-sidente. De caráter autoritário e nacionalista, teve início com o golpe militar que derrubou o go-verno do presidente democra-ticamente eleito, João Goulart.

O governo militar pôs em prática vários Atos Institucio-nais, culminando com o AI-5 de 1968, que vigorou até 1978. A Constituição de 1946 foi substi-tuída pela Constituição de 1967 e, ao mesmo tempo, o Congres-

so Nacional foi dissolvido, liber-dades civis foram suprimidas e foi criado um código de pro-cesso penal militar que permi-tia que o Exército brasileiro e a Polícia Militar do Brasil pudes-sem prender e encarcerar pes-soas consideradas suspeitas, além de impossibilitar qualquer revisão judicial.

O novo regime adotou uma diretriz nacionalista, de-senvolvimentista e de oposi-ção ao comunismo. A ditadura atingiu o auge de sua populari-dade na década de 1970, com o "milagre brasileiro", no mes-mo momento em que o regime censurava todos os meios de comunicação, torturava e exi-lava dissidentes. Na década de 1980, assim como outros regi-mes militares latino-america-nos, a ditadura brasileira en-trou em decadência e o governo

não conseguia mais estimular a economia e diminuir a inflação crônica, o que deu impulso ao movimento pró-democracia. O governo aprovou uma Lei de Anistia para os crimes políticos cometidos pelo e contra o regi-me, as restrições às liberdades civis foram relaxadas e, então, eleições presidenciais foram realizadas em 1984, com can-didatos civis.

O regime militar brasileiro inspirou o modelo de outros re-gimes militares e ditaduras por toda a América Latina, através da sistematização da "Doutri-na de Segurança Nacional", a qual justificava ações militares como forma de proteger o "in-teresse da segurança nacional" em tempos de crise. Desde a aprovação da Constituição de 1988, o Brasil voltou à norma-lidade institucional.

Caxias também foi palco de prisões

Pizzetti é presidente de honra da UAB e da Amob Madureira, tendo par-ticipado do processo de fundação das duas entidades.

O Jornal dos Bairros conversou com Luiz Pizzetti para contar um pouco de como foi esse perído conturbado da his-tória brasileira em Caxias.

JB - Como foi ser liderança comuni-tária durante a Ditadura?

Pizzetti - Nós começamos reunindo no Sindicatos Reunidos. Fomos persegui-dos, porque sempre pensamos no futu-ro. Durante a Ditadura, nós sempre tra-balhamos clandestinamente. Eles caça-ram todas as Associações, juntamente com a então Federação das Associações de Bairros.

Como a federação congrega as entida-des municipais no estado, acabamos tro-cando o nome de Federação para União, quando tivemos acesso novamente à do-cumentação da entidade. Pois logo após o golpe, todos os documentos da então Federação das Associações de Mora-dores de Caxias foram confiscados, do-cumentos como atas e livro caixa. Esse material foi devolvido somente depois de seis anos, porque nesse tempo eles não encontraram elementos de subversão. Depois disso, começamos a reorganizar a União das Associações de Bairros e as Associações de Moradores, porque nes-se momento já tínhamos 27 associações.

O golpe fechou a Federação, que não ti-nha nem um ano. Ela tinha sido fundada em 19 de maio de 63 e o Golpe já fechou a Federação logo no início.

Mas não era fácil, porque naquela épo-ca, na Ditadura, se tivessem três pesso-as reunidas já era considerado um peri-go por eles. Fazíamos o que podíamos

Em Caxias, diversas personalidades ligadas ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), o ‘Partidão’, foram presas e levadas à Porto Alegre. Os vereadores considerados de esquerda, além de presos, perderam seus cargos e até hoje estão registrados nos anais da Câmara de Vereadores como bandidos perigosos. Entre eles estava o advogado e vereador Percy Vargas de Abreu e Lima, o metalúrgico e artista plástico Bruno Segalla e o comunitarista e operário, Luiz Pizzetti (ao lado).

Jornal dos Bairros

Abril 2014 07

Há cinquenta anos, Brasil sofria golpe e perdia a democracia

Celas do Doi-Code, onde inúmeros militantes foram torturados, alguns até à morte, durante a Ditadura Militar

Foto: Augusto Basso Veber

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Especial

clandestinamente, que não pudesse ser percebido pela polícia, pelos militares do quartel, que estivéssemos de novo militando.

Através da palavra comunista, que fize-ram uma lavagem cerebral na população, dizendo que comunista comia crianci-nha, ou que queríamos trazer a Rússia para cá, incutiram o medo na cabeças das pessoas.

Quando nos devolveram nossos docu-mentos, voltamos a trabalhar, e então veio a luta pela anistia, pelas Diretas Já, pelo Fora Collor e assim por diante.

JB - O senhor chegou a ser preso, jus-tamente na data do seu aniversário. Como foi esse momento?Pizzetti - Nos prenderam no dia 1º de abril, aqui em casa, no dia do meu aniversário e também da minha esposa. Chegaram e nós estávamos nos sentando para almoçar, aquele almoço que reúne toda a família. Cercaram toda a casa com militares com fuzis. Minha esposa inclusive pediu que eles me deixassem comer, que era nosso aniversário. Mas não deixaram.

Me levaram para o quartel em um cami-nhão. Lá, a gente chegava e nos coloca-vam virados para a parede e cada preso

com um soldado com um fuzil nas suas costas. Mas chegando lá, fiquei feliz por que vi meus companheiros. Acredito que eu fui um dos últimos a ser preso aqui em Caxias. Todos meus companheiros es-tavam lá. E isso dava uma coragem para nós. Mas quando vi eles com fuzil nas nossas costas, pensei ‘agora vamos ser todos fuzilados’.

Dali um pouco nos mandaram embarcar em um ônibus. Cada um de nós ia sen-tando em um banco, com um soldado armado com fuzil ao lado. Nos tratavam como se fossemos os piores bandidos do mundo. Nos colocaram em uma sala, com menos de três metros quadrados. Quando chegamos tinha um jornalista todo arrebentado, com sangue por toda a parede. Só pensei “Minha Nossa Senho-ra”. Ficamos oito dias dormindo no par-quê, com uma refeição só ao meio-dia.

Quando chegou o oi-tavo dia, recrutaram uma série de escrivões e fizeram um interroga-tório rápido. Quando che-gou o anoitecer, chegaram os ônibus. Estávamos em torno de 300 a 350 pessoas no pré-dio. Traziam os ônibus e tinha um cordão de policiais do exér-cito com fuzis, e nós embarcando nos ônibus. Pensei naquele mo-mento que iriam nos levar para a Ilha das Cobras. “Agora sim que nin-guém mais volta para a casa”, pen-sei. Mas não. Fomos levados para o Cesme, que era um prédio que o Brizola havia construído para os menores aban-donados.

Aquilo era um pavilhão grande, com os corredores largos, que apelidados de corredores da Rua da Praia. Na primeira noite havia um colchão. E fomos reivindi-cando mais conforto, um travesseiro, um cobertor. A sorte era que a velha guarda de Caxias estava sempre junto na mes-ma sala, no mesmo quarto. Eu fiquei 36 dias naquele prédio. O {Bruno} Segalla dizia: “olha Pizzetti, tu não vai sair nun-ca daqui, tu vai apodrecer aqui porque tu não tem ninguém trabalhando por ti”. Ele se referia ao fato de eu não ter um advo-gado para me defender aqui fora. Eu saí com 36 dias, e ele aos 58 dias. Quanto mais tu procurava a defesa, mais eles te castigavam. Eu que não procurei nada, saí antes. Mas eu era operário, os outros eram mais bem colocados, de famílias com mais posses.

Tinha inclusive um desses presos que era médico e praticava o hipnotismo. Ali pelas tantas, proibiram ele de hipnoti-zar, porque tinham medo que ele hipno-tizasse os guardas. Fazíamos palestras, discursos. Uns para os outros. Começa-mos a reivindicar direitos. Primeiro uma visita ao dia no pátio. Depois duas visitas ao pátio. As pessoas tinham mais medo nas ruas naquele momento do que nós presos. Também porque estava virado num denuncionismo. Tinha vizinho que denunciava outro porque eram brigados. Aí o quartel começou a exigir que se pro-

vasse as denúncias.

JB - Como foi a participação na vida comunitária depois da prisão?

Pizzetti - Nós continuamos a lutar depois que fomos soltos. Primeiro pela anistia ao presos políticos. Depois pelas Diretas Já e pela redemocratização. Luta-mos pelo voto dos soldados, das

mulheres e dos analfabetos – que não podiam votar. E continuamos sempre a lutar por um mundo melhor.

Mas até a devolução dos documentos das associações e da UAB, que ficaram com o governo por seis anos, nosso tra-balho era ilegal. O trabalho comunitário ficou parado. Tudo era difícil, tínhamos que fazer tudo com muito cuidado, ‘por baixo dos panos’. Mas naquela época não era fácil. Foram 21 anos para derru-bar a Ditadura.

JB - Como era a atuação no ‘Partidão’ e a organização da resistência? Pizzetti - As reuniões do partido, do PCB (o partido comunista que atuou de for-ma clandestina durante o regime militar), eram todas escondidas. Quando marcá-vamos uma reunião, cada companheiro marcava um ponto para se encontrar. Se a gente se atrasasse, que fosse um minuto, tu não achava mais o companheiro e não ia para a reunião. Às vezes, íamos para as reuniões até de olhos vendados, para caso fossemos pego pelos militares, para não termos como dar informações de onde nos reuníamos e acabar colocando em risco a vida de nossos companheiros.

Na verdade, hoje estamos cem anos atrás de 1964, porque desde então perdemos três gerações de jovens, que poderiam ter sido a renovação do Congresso e dos poderes legislativo e executivo.

A primeira geração foi alienada pela Di-tadura. A segunda geração após o golpe teve o seu ensino sucateado pelo impe-rialismo norteamericano. E a terceira ge-ração foi aniquilada pela droga. Hoje es-tamos cem anos atrás do que éramos em 1964, com as mesmas demandas: a refor-ma urbana, a reforma agrária, a reforma bancária. Então, na verdade, perdemos muito e perdemos aquela juventude que poderia ter sido os novos políticos, que poderiam ter sido a renovação, já que aqueles jovens da década de 60 tinham tido um ensino de qualidade e eram jo-vens valorosos, com muito caráter.

!“Nos prenderam no dia 1º de abril, aqui em casa, no dia do meu aniversário e também da

minha esposa. Chegaram e nós estávamos nos sentan-do para almoçar, aquele al-moço que reúne toda a fa-mília. Cercaram toda a casa com militares com fuzis. ”

Luiz Pizzetti

!“Quando marcávamos uma reu-nião, cada companheiro marca-

va um ponto para se encon-trar. Se a gente se atrasasse, que fosse um minuto, tu não achava mais o companheiro

e não ia para a reunião.”Luiz Pizzetti

Jornal dos Bairros8Abril 2014

Bem Estar

Flores: época de plantio Além de alimentos, as hor-

tas urbanas também podem ser canteiros para as flores. Além de deixar mais bonita a mora-dia, muitas vezes as flores tam-bém desempenham um impor-tante papel: ajudam no equilí-brio ecológico.

Algumas flores, como a zin-nia ou a dália, atraem insetos que comem os pulgões, que por sua vez são alimento das formi-gas. Dimuindo a incidência de pulgões, ajudamos a controlar

a população das formigas.As flores também atraem

insetos que se alimentam da mosca branca, um dos prin-cipais causadores de danos à produções de couve-flor e cou-ve-folha, entre outros.

Para um jardim bonito e ecológico, plante sem medo flores e hortaliças no mesmo canteiro!

As indicações abaixo fo-ram elaboradas por Darci Berg-mann, engenheiro agrônomo

Espécie Plantio Espécie PlantioAlyssum Todo o ano Lunária Fev. a Set.

Aster Jul a Fev Lavatera Jul. a Fev.

Adonis Fev a Out Linho de jardim Jul. a Fev.

Amor-perfeito Mar a Out Lobélia Fev. a Out.

Ageratum Mar a Out Mosquitinho Todo o ano

Boca-de-leão Todo o ano Margarida Mar. A Out.

Begônias Jul a Fev Myosotis Fev. a Set.

Balsamina Ago a Abr Matricária Jul. a Fev.

Bellis Todo o ano Nemésia Fev. a Set.

Crisântemo Fev a Out Papoula Ago. a Mar.

Calêndula Ago a Dez Phlox Todo o ano

Celósia Jul a Fev Phacélia Todo o ano

Cravinas Fev a Out Petúnia Todo o ano

Cravo-da-índia Todo o ano Prímula Fev. a Out.

Cinerária Todo o ano Portulaca ou 20x10

Marítima Jan a Out Onze-horas Jul. a Mar.

Cravos Fev a Out Ranúnculus Fev. a Out.

Centaurea Fev a Out Statice Ago. a Fev.

Coleus Ago a Fev Scabiosa Mar. A Set.

Dahlia Ago a Fev Sempre-viva Mar. A Out.

Ervilha cheirosa Jul a Mar Sálvia Todo o ano

Esporinha Mar a Dez Solanum Ago. a Jan.

Ficóide Mar a Dez Tagetes Todo o ano

Goivos Ago a Dez Thumbergia Jun. a Out.

Godétia Ago a Dez Verbena Mar. A Set.

Girassol Jul a Fev Zínias Jul. a Março

Iberis Mar a Out

pela Universidade Federal de Santa Maria, ambientalista, fun-dou e presidiu por várias vezes a Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural, de São Borja.

As épocas e plantas são indicadas para a região Sul do país, já que isto varia conforme o região brasileira.

O engenheiro lembra que, mesmo assim, podem ocorrer variações devido a fatores como altitude e cultivares adaptadas.

Fases da LuaFases da lua: Dentro da Agronomia existem correntes que não levam em conta as

fases da lua. Outras correntes propõem o seguinte:

Luas indicadas para o melhor desenvolvimento das plantas:

CRESCENTE: para o plantio de folhosas, como rúcula, couve-folha e alfaceMINGUANTE: para o plantio de raízes, como gengibre, cebola e alhopara raízesCHEIA: para o plantio de cabeças, como couve-flor e brocólisNOVA: para tudo que deve florescer.

Fonte consultada: http://darcibergmann.blogspot.com.br/

Jornal dos Bairros

Abril 2014 09Esporte

Fotos: Karine Endres

Representantes de todos times da Série Ouro e do Feminino cantam hino nacional durante abertura

O 7º Campeonato Inter-bairros de Futsal Feminino homenagea a ex-vereadora caxiense Geni Peteffi, que fa-leceu no dia 26 de setembro do ano passado, aos 69 anos.

Geni exerceu seis man-datos como vereadora de Ca-xias e ocupava a presidência do PMDB em Caxias quando faleceu.

Ela nasceu no dia 27 de abril de 1944, em Caxias do Sul. Durante muitos anos, atuou na iniciativa privada. Em 1983, começou a exer-cer ações em instituições públicas, onde trabalhou como assessora administra-tiva, na Secretaria Municipal da Educação. Era formada em Ciências Econômicas e Administração de Empresas, pela UCS.

Geni foi vereadora por 24 anos. Ela permaneceu na Câmara, como parlamentar, por seis mandatos consecu-tivos, tendo sido eleita a pri-meira vez em 1989 e pela últi-ma em 2008. Ao encerrar seu último mandato, em 2012, ela realizou um de seus so-

nhos, e assumiu como pre-feita em exercício.

Diversas vezes, esteve à frente das lideranças da ban-cada do PMDB e do governo municipal (de 2005 a 2011, durante a administração do ex-prefeito José Ivo Sartori).

Ao longo das legisla-turas, presidia, constante-mente, a Comissão de De-senvolvimento Econômico, Fiscalização e Controle Or-çamentário da Casa.

Uma de suas importan-tes propostas foi a criação do Dia Municipal de Comba-te ao Câncer de Mama (18 de julho), instituído pela lei 6.391/2005.

Os comunitaristas já ha-viam prestado uma primeira homenagem à lider pemede-bista no dia 1º de outubro de 2013, quando ocuparam a tribuna da sessão da Câ-mara de Vereadores.

Joce Barbosa, vice-pre-sidente da UAB, fez um pro-nunciamento destacando o perfil lutador de Geni Peteffi e sua atuação junto a diver-sos segmentos sociais .

7º Campeonato FemininoCopa Geni Peteffi

Iniciam os campeonatos de futebol da UAB

A 7º Copa Interbairros de Futsal Feminino, que neste ano homenageia a ex-vereadora Geni Peteffi (leia mais ao lado) e o 20º Campeonato Interbairros Série Ouro – Copa Valdir Negrão tiveram seu início no dia 12 de abril, no Enxutão.

Ao todo, 17 equipes parti-cipam da Série Ouro e outras 13 equipes jogam pelo Feminino. Para abrir os jogos, disputaram o primeiro certame as equipes femininas do São Cristóvão e Ana Rech. Já os times do Lote-

amento Caxias e do São Vicen-te abriram os jogos pelo mas-culino.

Os jogos serão disputados em diversas quadras, entre elas o Cruzeiro, Arena, Andi, Vascão e Enxutão.

Os campeonatos de futsal da UAB contam com o apoio do Fiesporte, da prefeitura de Caxias do Sul. Segundo a se-cretaria municipal do Esporte e Lazer, este ano cerca de R$ 45 mil foram entregues à UAB para a organização destes eventos.

O secretário da pasta, Jô Arse, esteve presente no even-to e ressaltou a importância do apoio do poder público a even-tos de esporte. “Uma competi-ção como esta fomenta o espor-te e os momentos de lazer dos moradores dos bairros. É um momento de integração e so-cialização do trabalhador que tem no final de semana uma ati-vidade diferente e, para isso, o poder público, com o Fiespor-te é essencial na concretização destas ações”, destacou.

Jornal dos Bairros10Abril 2014

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As mulheres do Santa Lúcia Cohab foram homenageadas com um jantar fes-tivo no dia 15 de março, em comemo-ração ao Dia Internacional da Mulher. O ‘Jantar Temático Festa Anos 60, 70 e 80’ contou também com a participação da corte comunitária da UAB e da corte do Mais Bela Negra de Caxias do Sul.

Segundo Carla Cristina de Lima, di-retora de imprensa e comunicação da Amob, mais de 100 mulheres participa-ram da atividade.

Na programação, apresentações de dança do ventre, desfiles com a es-

Santa Lúcia presta homenagem às mulheres

colha da ‘rainha’ e ‘simpatia’ do jantar, além da fantasia mais original, tudo sob a animação do DJ Ronaldo da Lokomo-tion Eventos.

“O objetivo de realizar este Jantar foi homenagear as mulheres da nossa co-munidade e juntas, de uma forma des-contraída, comemoramos esta data tão especial. Agradeço em nome da direção, a Corte Comunitária e a Corte Negra de Caxias do Sul pela presença neste even-to e a todas pessoas que colaboraram e comemoraram conosco”, fala a diretora Carla Cristina de Lima.

Foto: Carla Cristina Lima

Jornal dos Bairros faz oficina para estudantes

Foto: Karine Endres

A equipe do Jornal dos Bairros par-ticipou de uma oficina junto às crianças do nono ano da escola municipal João de Zorzi. O objetivo foi mostrar os prin-cipais aspectos que envolvem a cons-trução da notícia e da informação, para que os alunos possam desenvolver um veículo estudantil nos próximos meses.

Os estudantes participam de um projeto que envolve todos os compo-nentes curriculares do nono ano, desde matemática e ciências, passando por português até artes. Patrícia Rabelo, pro-fessora de matemática e ciências, afirma que esta é uma nova maneira de traba-lhar com os alunos.

Jornal dos Bairros11Abril 2014

Bairros

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Fotos: Karine Endres

Comunidade não conta com calçamento das vias e não com linha própria de transporte coletivo

Adamatti precisa de atenção do poder públicoA comunidade do Lotea-

mento Adamatti, quase na sa-ída de Caxias em direção à Ga-lópolis, quer mais atenção do poder público. A presidente da Amob, Maria Regina Licks, relata que os moradores não contam com uma linha de transporte que entre no loteamento, que as vias não possuem calçamento e, além disso, um riacho corre à céu aberto bem ao lado do par-que infantil – que está entregue às moscas.

Segundo Maria Regina, já foram feitos diversos pedidos nas secretarias responsáveis, mas ainda não há um indicati-vo concreto para o início das obras. “Mesmo um patrolamen-to, levam uma eternidade para executar”, explica a presidente. Ela ainda afirma que, quando o serviço é prestado, é mal feito. “Patrolam apenas a parte cen-tral das ruas, a água então in-vade a via e estraga o que tinha sido feito”, relata.

O loteamento existe há mais de cinquenta anos, ao lado de uma cantina na BR 116. Em-bora seja irregular, não é fruto de ocupação. “Os moradores não

têm condições de arcar com o calçamento comunitário e as verbas do Orçamento Comuni-tário não são suficientes para estas obras”, explica.

Regina relata que a comu-nidade não prestigia as reuniões do OC, dificultando a conquis-

ta da pavimenta-ção. “Os morado-res não acreditam que é participan-do que consegui-remos mais recur-

sos. O próprio coordenador do OC, José Dambrós, já me afir-mou que as obras só vão sair com os recursos conquistados, e para isso é preciso participa-ção, mas é difícil convencer os moradores”, afirma. Segundo ela, a participação nas reuniões tem aumentado desde que as-sumiu a presidência da Amob, mas ainda não é o suficiente para conquistar recursos mais volumosos. Regina está na sua terceira gestão frente à Amob.

Ela ressalta como conquis-tas importantes através da par-ticipação a instalação da ca-nalização de água tratada pelo Samae, que foi garantida ainda com recursos do Orçamento Participativo. Através do OC, a comunidade garantiu o alarga-mento da via Inês Pedron, que é a principal rua e acesso ao bair-ro, com cerca de 1 km de exten-são. “Mas não conseguimos pa-vimentação nem para esta rua

ainda”, explica.

Linha de ÔnibusOutra prioridade é

uma linha de ônibus que atenda especificamente o Loteamento Adamatti, já que hoje a comunida-de utiliza as linhas de Ga-lópolis e Villa Lobos, mas que não entram no lote-amento. “Há moradores que precisam caminhar mais de um quilômetro, pela rua sem calçamen-

to, para acessar a linha de ôni-bus”, relata.

“Já perdi a conta do núme-ro de vezes que busquei estes serviços para a comunidade”, explica a presidente. Segundo ela, o principal argumento uti-lizado pelos gestores públicos para não conceder o serviço é que seria necessário uma auto-rização do Daer para o ônibus entrar no bairro. “Dizem que é preciso reduzir a velocidade permitida na BR, naquele tre-cho, para que o ônibus possa entrar no loteamento, com risco de causar algum acidente”, diz. Representantes da Visate inclu-sive teriam dito que não colo-cariam seus funcionários para causar acidente na BR. “Seria necessário fazer uma rotatória no acesso ao bairro”, explica a presidente.

PerigoOutra situação que tira o

sono da presidente é a de um riacho que corre a céu aberto ao lado do parquinho infantil. Além de não ter cobertura e re-ceber o esgoto do Monte Car-melo, o riacho ainda está a cer-ca de quatro metros abaixo do nível da rua, representando um sério perigo para as crianças da comunidade.

“Os canos já estão depo-sitados esperando a obra, mas não há nenhum sinal de que o problema será resolvido”, afir-ma Regina.

A presidente defende que o trecho tem que ser fechado, inclusive para aumentar a se-gurança. “Não sei como ainda não caiu nenhuma criança den-tro daquele buraco”, fala Regi-na. “Ainda que as crianças não entram lá para tomar banho e brincar, mas já vi muitas vezes os pequenos pegando bolas que caem no buraco”.Á esquerda, criança de cinco anos dá noção da profunidade do córrego que passa ao lado do parquinho

Jornal dos Bairros12Abril 2014

Reforma Política

As doações eleitorais e a contrarreforma política

Embora quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não tenham vota-do, o posicionamento da maio-ria dos membros já deixou cla-ro que predominará o enten-dimento de que “doações de empresas” a partidos políticos e candidatos é inconstitucional.

Na mesma linha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou uma Resolução proibindo as chamadas “doações ocultas”, procedimento em que empre-sas doavam recursos para par-tidos políticos e estes mistu-ravam o dinheiro em seu caixa único e depois repassavam os valores a seus candidatos.

Por esse caminho, era im-possível fazer uma correlação direta entre doador e benefi-ciário. Ainda que as decisões contenham avanços, poderão ser burladas pelos grupos eco-nômicos que financiam candi-datos. As campanhas eleitorais estão virando uma verdadeira corrida do ouro para conquis-tar o voto do eleitor, ou seja, as ideias, os programas, os pro-jetos e a história de vida dos candidatos estão sendo subs-tituídos progressivamente pela

força do dinheiro.Os dados mostram que o

volume de gastos nas campa-nhas é decisivo na eleição de um candidato. As prestações de contas ao TSE revelam que dos 513 eleitos para a Câmara Federal, 369 foram os candida-tos que mais gastaram nas cam-panhas de 2010. Os 513 eleitos gastaram, em média, 12 vezes mais do que o restante dos can-didatos (em alguns estados, 30 vezes mais) e três vezes mais

que os 513 primeiros su-plentes.

Pelos dados da Jus-tiça eleitoral, os gastos declarados em campa-nhas eleitorais saltaram de R$ 800 milhões para R$ 4,8 bilhões em oito anos. Isso significa que

está cada vez mais difícil um re-presentante das classes popu-lares chegar ao parlamento ou ao Executivo.

Dos 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores) eleitos em 2010, 273 são em-presários, 160 compõem a ban-cada ruralista, 66 são da banca-da evangélica e apenas 91 par-lamentares são considerados representantes dos trabalha-dores. Quem financia um par-lamentar exige a contrapartida.

Porém, na contramão do entendimento do STF e do TSE, os parlamentares que não que-rem perder o financiamento das empresas, articulam um Projeto de Emenda Constitucional.

Trata-se da PEC 352/2013, que quer fazer uma contrarre-forma no sistema político quan-do a maioria da população quer transformá-lo. Através desse projeto, apresentado pelo de-putado Cândido Vaccarezza do PT e outros parlamentares, e ar-ticulado pelo presidente da Câ-mara Henrique Alves, a Consti-tuição Federal será emendada para permitir o financiamento das empresas. Além disso, pro-põem o voto distrital e faculta-tivo, fortalecendo as candida-turas dos grandes grupos eco-nômicos, sem qualquer debate com a população.

Ao contrário dos projetos de lei de iniciativa popular que são obrigados a arrecadar as as-sinaturas de no mínimo 1% do eleitorado, distribuído em cinco estados, sem qualquer tramita-

A Assembleia Nacional Constituinte, ou simples-mente Constituinte, é a re-alização de uma assembleia de representantes eleitos pelo povo para modificar a economia e a política do país e definir as regras, ins-tituições e o funcionamen-to destas instituições de um Estado, como o governo, o Congresso e o Judiciário. Suas decisões resultam em uma Constituição. A Cons-tituição brasileira atual é de 1988.

Na proposta de uma constituinte exclusiva os representantes eleitos exer-cerão exclusivamente o po-der soberano de definir po-

Uma Constituinte Exclusiva e Soberana para mudar o

sistema políticoliticamente o Estado brasi-leiro, consultando de forma criativa a cidadania e retor-narão à sua vida de cidadãos e cidadãs iguais aos demais ao término desse processo.

Isso é diferente do que foi a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. A Constituinte Exclusiva e So-berana do sistema político deve servir para enfrentar os problemas do povo brasilei-ro, realizando reformas que, no quadro da própria demo-cracia burguesa, não foram realizadas, como as reformas agrária, urbana, tributária a e outras mudanças que asse-gurem a igualdade de direitos econômicos, sociais e civis.

ção preferencial, a PEC da con-trarreforma caminha acelerada-mente e pode ir à Plenário nos próximos dias, se passar pela Comissão de Constituição e Jus-tiça da Câmara dos Deputados.

A maioria dos parlamen-tares não aceita nenhuma mu-dança que democratize nosso sistema político.

Quando mudam a Consti-tuição Federal é apenas para as-segurar os interesses de seus fi-nanciadores. Projetos de emen-

das constitucionais para reduzir direitos dos povos indígenas e quilombolas, para assegurar in-teresses de grupos financeiros e esvaziar direitos sociais ganham força no Congresso Nacional.

O sistema político brasilei-ro é a principal herança da dita-dura. Ele impede as mudanças estruturais e conquista de direi-tos populares. Nenhuma mu-dança ocorrerá num Congresso Nacional cada vez mais contro-lado pelos grupos econômicos e num Poder Judiciário com uma estrutura antidemocrática.

Somente uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Siste-ma Político pode mudar a situ-ação. Isso permitirá a eleição de representantes que terão um mandato apenas para escrever as novas regras constitucionais.

Evidente que deputados e senadores não aceitam convo-car um plebiscito legal para sa-ber se o povo quer uma Cons-tituinte.

Por isso, os principais mo-vimentos sociais estão convo-cando um Plebiscito Popular, para que de 1 a 7 de setembro o povo possa se manifestar.

* Fonte: Editorial da edição 581 do Jornal Brasil de Fato.