jornal do stal edição 98 - abril 2011

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Nº 98 ABRIL de 2011 Distribuição gratuita aos sócios STAL STAL Alteração dos estatutos do STAL Assembleia Geral de Associados 18 de Maio No dia 18 de Maio, os asso- ciados do STAL são chamados a votar a alteração de Estatutos proposta pela Direcção Nacio- nal que, entre outras matérias, procede a uma redefinição dos órgãos do Sindicato. Caderno especial É possível abrir concursos Regularizar precários As autarquias podem legalmente abrir concursos de recrutamento e regularizar vínculos precários. Pág. 4 No próximo dia 5 de Junho, os trabalhadores e todos os portugueses em geral têm a oportunidade de condenar nas urnas os partidos responsáveis pela situação nacional, e manifestar a sua firme oposição à inadmissível ingerência do FMI e das instâncias europeias na governação do País. Págs. 2-3 Votar pela mudança Não ao FMI Assembleia Geral de Associados Alteração dos estatutos do STAL 18 de Maio No dia 18 de Maio realiza-se a Assembleia Geral de Associados do STAL para votação da alteração de Estatutos proposta pela Di- recção Nacional que, entre outras matérias, procede a uma redefinição dos órgãos do Sindicato. As alterações propostas prendem-se com a necessidade de adequar os estatutos ao quadro legal existente, profundamente alte- rado pela Lei 59/2008, de 11 de Setembro, particularmente no que concerne aos órgãos e à sua composição. Assim, quer a Direcção Nacional do Sindi- cato quer as Direcções Regionais são alte- radas na composição dos seus membros. A primeira passa a contar com 125 membros, quando actualmente esse número é de 35, aumentando também substancialmente o nú- mero de membros das Direcções Regionais. No entanto, estes órgãos, que actualmente reúnem em regra uma vez por mês, passam a reunir apenas ordinariamente duas vezes por ano, ficando a gestão mais regular do Sindi- cato a cargo de uma Comissão Executiva e órgãos mais restritos que aí se formem, co- mo por exemplo o secretariado e a comissão de permanentes. Já o Conselho Geral, que reúne actualmen- te cerca de 130 membros, é extinto, passan- do no essencial as suas funções a serem de- sempenhadas pela Direcção Nacional. Por força da lei, a Comissão de Fiscaliza- ção e contas passa a designar-se Conselho fiscalizador, ao passo que a Mesa da Assem- bleia Geral e as Mesas das Assembleias Re- gionais mantêm a actual designação e com- posição. Ainda no plano da organização é clarifica- da a constituição da Coordenadora Regional dos Açores, propondo-se que seja compos- ta pelos membros da região integrantes da Comissão Executiva Nacional, por um mem- bro de cada uma das Direcções Regionais de São Miguel, Angra do Heroísmo e Horta, res- pectivamente, e pelo membro da Comissão Permanente que acompanha a região. Porque se procurou aproveitar esta alte- ração estatutária para reflectir as mudanças da sociedade e a experiencia de anos, al- gumas matérias sofrem ainda alteração, de que é o caso a proposta de institucionaliza- ção da figura da Conferência, que nos es- tatutos actualmente em vigor não tem qual- quer obrigatoriedade de reunião e agora se propõe que reúna ordinariamente no tercei- ro ano de cada mandato (estatutariamente são quatro). Na prática pretende-se tornar obrigatória, uma vez em cada mandato, a realização de uma reunião mais ampla envolvendo traba- lhadores eleitos, em torno das grandes ques- tões reivindicativas do sector e da organiza- ção do Sindicato. Também o princípio da liberdade sindical é alterado, passando a incluir as questões do género, nacionalidade e orientação sexu- al, ao mesmo tempo que se retira, porque já desnecessária, a salvaguarda da sindicaliza- ção em caso de cumprimento do serviço mi- litar obrigatório. O STAL considera que com esta proposta de alteração estatutária é dado mais um pas- so para a fortalecimento do Sindicato, garan- tindo a sua democraticidade e unidade na- cional, bem como os princípios fundamentais que o regem, particularmente um sindicalis- mo de classe e de massas, revolucionário, reivindicativo e solidário. No dia 18 serão constituídas mesas fixas e volantes nos diversos locais de trabalho, que entretanto estão a ser divulgadas junto dos associados. A participação de todos é fundamental para a afirmação e a vitalidade do STAL Participa! Vota!

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Page 1: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

nº 98 • ABRIL de 2011Distribuição gratuita aos sócios STALSTAL

Alteração dos estatutos do STALAssembleia Geral de Associados 18 de Maio

No dia 18 de Maio, os asso-ciados do STAL são chamados a votar a alteração de Estatutos proposta pela Direcção Nacio-nal que, entre outras matérias, procede a uma redefinição dos órgãos do Sindicato.

Caderno especial

É possível abrir concursosRegularizar precários

As autarquias podem legalmente abrir concursos de recrutamento e regularizar vínculos precários.

Pág. 4

No próximo dia 5 de Junho, os trabalhadores e todos os portugueses em geral têm a oportunidade de condenar nas urnas os partidos responsáveis pela situação nacional, e manifestar a sua firme oposição à inadmissível ingerência do FMI e das instâncias europeias na governação do País.

Págs. 2-3

Votar pela mudançaNão ao FMI

47

contados com exclusão de sábados, domingos e feriados.

ARTIGO 82º

Conferência

Por deliberação do Conselho Geral poderá realizar-se de 4 em

4 anos uma Conferência, nos termos da alínea r) do artigo 37º

dos presentes Estatutos.

ARTIGO 83º

Situações especiais

Será constituída a Coordenadora Regional dos Açores

composta pelos coordenadores das Direcções Regionais de

São Miguel, Angra do Heroísmo e Horta.

ARTIGO 84º

Funções da Coordenadora Regional dos Açores

1 – Coordenar a actividade sindical e representar o STAL no

âmbito das três regiões sindicais que intervêm na Região

Autónoma dos Açores, de acordo com os presentes Estatutos

e segundo as orientações dos Órgãos Nacionais.

2 – As despesas de funcionamento da Coordenadora Regional

dos Açores serão distribuídas da seguinte forma:

a) 20% das despesas a suportar por cada Direcção Regional

b) 40% das despesas a suportar pelos Fundos Nacionais.

Artigo 82.º

(eliminado)

Artigo 83.º

(eliminado)

ARTIGO 84.º

(elliminado)

47

Assembleia

Geral de

Associados

Alteração

dos estatutos do STAL

18 de Maio

No dia 18 de Maio realiza-se a Assembleia

Geral de Associados do STAL para votação

da alteração de Estatutos proposta pela Di-

recção Nacional que, entre outras matérias,

procede a uma redefinição dos órgãos do

Sindicato.

As alterações propostas prendem-se com

a necessidade de adequar os estatutos ao

quadro legal existente, profundamente alte-

rado pela Lei 59/2008, de 11 de Setembro,

particularmente no que concerne aos órgãos

e à sua composição.

Assim, quer a Direcção Nacional do Sindi-

cato quer as Direcções Regionais são alte-

radas na composição dos seus membros. A

primeira passa a contar com 125 membros,

quando actualmente esse número é de 35,

aumentando também substancialmente o nú-

mero de membros das Direcções Regionais.

No entanto, estes órgãos, que actualmente

reúnem em regra uma vez por mês, passam a

reunir apenas ordinariamente duas vezes por

ano, ficando a gestão mais regular do Sindi-

cato a cargo de uma Comissão Executiva e

órgãos mais restritos que aí se formem, co-

mo por exemplo o secretariado e a comissão

de permanentes.

Já o Conselho Geral, que reúne actualmen-

te cerca de 130 membros, é extinto, passan-

do no essencial as suas funções a serem de-

sempenhadas pela Direcção Nacional.

Por força da lei, a Comissão de Fiscaliza-

ção e contas passa a designar-se Conselho

fiscalizador, ao passo que a Mesa da Assem-

bleia Geral e as Mesas das Assembleias Re-

gionais mantêm a actual designação e com-

posição.Ainda no plano da organização é clarifica-

da a constituição da Coordenadora Regional

dos Açores, propondo-se que seja compos-

ta pelos membros da região integrantes da

Comissão Executiva Nacional, por um mem-

bro de cada uma das Direcções Regionais de

São Miguel, Angra do Heroísmo e Horta, res-

pectivamente, e pelo membro da Comissão

Permanente que acompanha a região.

Porque se procurou aproveitar esta alte-

ração estatutária para reflectir as mudanças

da sociedade e a experiencia de anos, al-

gumas matérias sofrem ainda alteração, de

que é o caso a proposta de institucionaliza-

ção da figura da Conferência, que nos es-

tatutos actualmente em vigor não tem qual-

quer obrigatoriedade de reunião e agora se

propõe que reúna ordinariamente no tercei-

ro ano de cada mandato (estatutariamente

são quatro).

Na prática pretende-se tornar obrigatória,

uma vez em cada mandato, a realização de

uma reunião mais ampla envolvendo traba-

lhadores eleitos, em torno das grandes ques-

tões reivindicativas do sector e da organiza-

ção do Sindicato.

Também o princípio da liberdade sindical

é alterado, passando a incluir as questões

do género, nacionalidade e orientação sexu-

al, ao mesmo tempo que se retira, porque já

desnecessária, a salvaguarda da sindicaliza-

ção em caso de cumprimento do serviço mi-

litar obrigatório.

O STAL considera que com esta proposta

de alteração estatutária é dado mais um pas-

so para a fortalecimento do Sindicato, garan-

tindo a sua democraticidade e unidade na-

cional, bem como os princípios fundamentais

que o regem, particularmente um sindicalis-

mo de classe e de massas, revolucionário,

reivindicativo e solidário.

No dia 18 serão constituídas mesas fixas e

volantes nos diversos locais de trabalho, que

entretanto estão a ser divulgadas junto dos

associados.

A participação de todos é fundamental para

a afirmação e a vitalidade do STAL

Participa!

Vota!

Page 2: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

ABRIL 20112 jornal do STAL

Reunido no dia 15 de Abril, o Con-selho Geral do STAL salientou desta forma a acção decisiva

dos trabalhadores no combate às polí-ticas anti-sociais e anti-laborais, dando particular relevo à manifestação nacio-nal da CGTP-IN de 19 de Março, que juntou mais de 300 mil trabalhadores numa poderosa jornada de indignação e de protesto.

O Sindicato alertou para iminência de novos e fortíssimos ataques contra os trabalhadores e as camadas mais des-favorecidas da população – a coberto

A demissão de José Sócrates e do seu Governo PS constitui o «resultado do intenso combate travado pelos trabalhadores e os seus sindicatos de classe contra as políticas de direita levadas a cabo ao longo dos últimos anos e não pode deixar de ser encarada como a falência total das receitas neoliberais para solucionar a crise do capitalismo.»

da intolerável ingerência nos assuntos nacionais das instâncias europeias e do Fundo Monetário Internacional – su-blinhando a necessidade de os traba-lhadores, nas comemorações do 25 de Abril e do 1.º de Maio, e em especial nas eleições de 5 de Junho, manifestarem a sua firme oposição à intervenção do FMI em Portugal e rejeitarem de forma cla-ra «as investidas da direita e da agenda neoliberal».

O Sindicato apela ainda aos traba-lhadores para que expressem a sua identificação com os «valores de Abril» e exijam «propostas efectivas para uma mudança de rumo e de saída da crise», recusando as «“inevitabilidades” que nos querem impor.»

Mais sacrifícios não!

Ao contrário do que o Governo, a di-reita e os comentadores ao serviço do capital afirmam, a situação em que o País se encontra é o resultado das polí-ticas de direita levadas a cabo ao longo das últimas décadas pelos partidos que têm estado no poder (PS, PSD e CDS), «assentes em consecutivos ataques aos direitos e aos salários das trabalhadoras e dos trabalhadores, seja pela desregula-

mentação das leis laborais e pelo aumen-to da precariedade, seja pela intensifica-ção do processo privatizador de serviços públicos essenciais.»

Aos sucessivos PEC junta-se agora o inadmissível pedido de ajuda financeira à União Europeia e ao FMI, decisão que o STAL condenou de imediato (ver cai-xa) e que implica mais sacrifícios para os mesmos de sempre – os trabalha-dores e as camadas mais desfavoreci-das da população – designadamente: redução dos salários, aumento dos impostos, novos ataques aos direitos, agravamento da precariedade laboral, aumento do desemprego, alargamento das privatizações.

O Conselho Geral do STAL reafirma que «é preciso intensificar o combate contra estas medidas que, ao invés de resolverem os problemas económicos que o País atravessa, antes irão pro-vocar graves consequências sociais e económicas no âmbito local e nacional, seja pela diminuição drástica do con-sumo dos trabalhadores e das famílias portuguesas, particularmente no aces-so aos bens de primeira necessidade, no acesso aos serviços de saúde e educação, seja pelo aumento do de-semprego, da fragilização e flexibiliza-

ção das relações de trabalho e políticas de baixos salários.»

Lutar por um Abril de novo

O STAL assinala que os trabalhado-res da Administração Pública/Admi-nistração Local são de novo os alvos preferenciais das políticas anti-sociais preconizadas pelos partidos do arco do poder, os quais se preparam para, a seguir às eleições, promover mais despedimentos, reduzir salários, pres-tações sociais, despesas de saúde e educação.

Neste quadro, «é preciso afirmar e intensificar a luta por um modelo de sociedade diferente, que respeite o tra-balho e os trabalhadores, promova em-prego seguro e com direitos, a justiça social e serviços públicos de qualidade para todos – uma sociedade à qual o 25 de Abril de 1974 abriu perspectivas que foram sendo defraudadas pelos sucessivos governos ao longo das três décadas e meia».

O Conselho Geral sublinha que «não existem inevitabilidades mas sim op-ções e na sociedade portuguesa há for-ças políticas e sociais, nomeadamente

Mudar de rumo, dizer não ao FMI

O Conselho Geral do STAL apelou ao reforço da intervenção nos locais de trabalho, designadamente ao nível da contratação colectiva, com a discussão e aprovação de cadernos reivindicativos que pro-curem dar resposta aos principais problemas dos trabalhadores, seja nas autarquias locais, no sector empresarial ou nas associações de bombeiros.

O STAL considera que a insistência do Governo em querer participar nas negociações dos acordos de entidade empregadora (ACEP) viola grosseira-mente o princípio constitucional da autonomia do poder local e a liberdade de contratação colectiva.

O reforço do trabalho da estrutura sindical passa pela realização de uma forte campanha de esclare-cimento e mobilização dos trabalhadores em torno dos salários, do direito à contratação colectiva, de melhores condições de trabalho, contra a precarie-dade e os despedimentos.

Preparar, discutir e aprovar cadernos reivindicativos locais; aumentar a sindicalização; renovar e reforçar a estrutura sindical – são três orientações fundamen-tais para a intervenção nos locais de trabalho.

Acção nos locais de trabalho

Tempo de luta, de unidade e determinação

Page 3: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

ABRIL 2011 3jornal do STAL

Editorial

A nossa vezAs eleições legislativas antecipadas de 5 de Junho

constituem uma oportunidade para os trabalhadores e o povo português em geral sancionarem os partidos que, ao longo das últimas três décadas e meia, são responsáveis pela destruição das conquistas sociais e económicas alcan-çadas com o 25 de Abril de 1974, e pela sujeição do País ao capital estrangeiro, através de actos sucessivos que hipote-caram a soberania e independência nacionais.

A demissão do governo minoritário PS/Sócrates, após ano e meio de mandato, fica ligada ao chumbo na As-

sembleia da República, a 23 de Março, do quarto pacote consecutivo de austeridade, o chamado PEC IV. Mas essa crise política, na realidade suscitada pelo próprio governo, foi apenas a causa próxima e o pretexto para tentar renovar, por via de eleições, uma legitimidade cada vez mais esbo-roada pela luta das amplas massas.A história recente mostra-nos que os partidos do arco do poder (PS, PSD e CDS), partilhando os mesmos interesses e objectivos de classe, estiveram sempre juntos quando se tratou de destruir as conquistas da revolução de Abril, ata-car direitos sociais e laborais e desmantelar o aparelho pro-dutivo, entregando ao capital privado os sectores estraté-gicos nacionalizados da economia, que não tardaram a ser vendidos a retalho ou por atacado ao capital estrangeiro.Os resultados desta política ruinosa – à sombra da qual um punhado de famílias e apaniguados foram engordando – estão hoje à vista de todos. Todavia, depois de terem levado o Esta-do à bancarrota e o povo à pobreza, o grande capital e os parti-dos que o servem, alijando responsabilidades, não hesitam em apelar ao patriotismo dos trabalhadores, à necessidade de mais sacrifícios, agora em nome da salvação de Portugal.

Os trabalhadores não têm lições de patriotismo a re-ceber destes falsos «patriotas» que, tendo penhorado

o País em seu proveito, o querem entregar aos abutres do Fundo Monetário Internacional.E é também em nome desse estranho «patriotismo» que os três partidos da política de direita se preparam para pros-seguir juntos o programa antipopular e de ruína nacional, espaldados na intolerável ingerência estrangeira das insti-tuições controladas pelas potências imperialistas.É sabido que os trabalhadores têm um elevado sentido pa-triótico, mas não podem deixar-se iludir por estes filisteus que sempre recusaram soluções efectivas propostas pela CGTP-IN e pelo movimento sindical. Pedir mais sacri-fícios significa condenar largas camadas da população à mais indigente miséria. É preciso dizer basta!

Por isso, nas próximas eleições, o voto dos trabalhado-res é uma arma que deve ser usada para:

• Condenar aqueles que têm sido os responsáveis políticos pela situação em que nos encontramos – PS, PSD e CDS-PP, inviabilizar a sua permanência no poder, sozinhos ou coligados, bem como recusar a ingerência do FMI.• Criar condições para uma mudança profunda na vida na-cional, que abra caminho a uma política verdadeiramen-te patriótica e de esquerda, apostada no desenvolvimento económico e social, na criação de emprego com direitos e salários dignos, na promoção de serviços públicos de qua-lidade, no combate à corrupção, evasão fiscal e na taxação dos lucros e das grandes fortunas.

a CGTP-IN, que há muito vêm apon-tando soluções justas e realistas para o combate à crise, soluções essas que passam por caminhos diametralmente opostos aos que o PS, PSD, CDS e o capital nos pretendem impor.»

Propostas urgentes

Nesse sentido, o Conselho Geral renovou um conjunto de medidas que têm sido defendidas pelo Sindicato e constituem um objectivo central na luta dos trabalhadores:

- Uma política que aposte na produ-ção e no desenvolvimento; que comba-ta a economia clandestina, a fraude e a fuga fiscal, que valorize o trabalho e os trabalhadores, que dignifique o em-prego os salários e as carreiras profis-sionais.

- Uma política que valorize o papel das autarquias como parceiro de de-senvolvimento e potenciador de em-prego, que valorize o emprego e os tra-balhadores e atenda às necessidades e anseios das jovens gerações.

- Uma política que promova a forma-ção e a qualificação, a valorização dos salários a defesa dos direitos e a con-tratação colectiva como impulsionado-res dinâmicos do progresso social.

Por uma política de esquerdaNão à ingerência externa

As eleições legislativas de dia 5 de Junho devem ser encaradas como «um efectivo terreno de luta dos trabalhadores da Admi-nistração Local». A gravidade da situação actual exige uma opção clara e consciente por «projectos políticos que defendam firme e consequente uma ruptura com o caminho neoliberal que tem vin-do a ser seguido e apostem na construção de um Portugal mais justo e mais solidário».

Nestas eleições, os trabalha-dores não podem caucionar a in-tervenção do Fundo Europeu de Estabilização e do Fundo Mone-tário Internacional, já solicitada pelo governo PS, com o apoio explícito do PSD e CDS.

A ingerência destes organis-mos controlados pelas grandes potências imperialistas traduzir-se-á em mais duras medidas de austeridade, que terão graves consequências para a maioria

dos trabalhadores e da popula-ção em geral.

A unanimidade dos três partidos referidos em torno desta questão demonstra a sua total subordina-ção aos interesses egoístas da banca e do sector financeiro, em detrimento do interesse geral e da soberania nacional.

O STAL salienta que esta in-tenção «é absolutamente con-trária aos interesses do País e dos trabalhadores, pelo que tudo fará para a combater. É inaceitável que mais uma vez se preparem novos e mais gra-ves sacrifícios para os trabalha-dores, enquanto os principais causadores da crise – a banca e o grande sector financeiro – continuam a usufruir de escan-dalosos incentivos e benefícios fiscais e a beneficiar com a si-tuação do País, como agora irá acontecer caso se venha a con-cretizar a ajuda externa.»

Page 4: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

ABRIL 20114 jornal do STAL

Consultório Jurídico ✓ José Torres

O chamado PEC II (Lei 12-A/2010, de 30/6) e o Orçamento do Estado de 2011 (Lei 55-A/2010, de 31/12) vie-

ram cimentar e agravar um conjunto de nor-mas extremamente redutoras dos direitos dos trabalhadores, em que sobressaem a im-posição dos famigerados cortes remunerató-rios e outras gravíssimas perversões que, na nossa opinião, afrontam de forma inimaginá-vel princípios básicos consagrados na Cons-tituição da República.

Em simultâneo, aquelas leis introduziram uma série de regras que restringem forte-mente o recrutamento de trabalhadores para a Administração Pública, incluindo a Admi-nistração Local, sem no entanto, ao contrário do que alguns responsáveis alegam, se che-gar ao ponto da proibição absoluta de aber-tura de concursos.

Efectivamente, na Administração Local, surgem com frequência interpretações ainda mais negativas do que o disposto na lei, que são invocadas para a recusa de abertura de concursos de recrutamento de pessoal, como

se existisse a proibição absoluta, mesmo em situações em que a lei o impõe ou se torna ab-solutamente imperioso ocupar postos de tra-balho indispensáveis à prestação de serviços públicos essenciais para a comunidade.

Mas, como dissemos, tal proibição não existe, como manifestamente se conclui do disposto no artigo 10.º da citada Lei 12-A/2010, conjugado com o artigo 43.º da também referida Lei do Orçamento do Es-tado.

Requisitos exigidos

Assim, o referido artigo 10.º estatui a proi-bição genérica de admissões para a Admi-nistração Local, estabelecendo, no entanto, excepções, desde que devidamente funda-mentadas, mediante o preenchimento dos requisitos cumulativos, expressamente enun-ciados no seu n.º 2, de que se releva:

- Fundamentação na existência de rele-vante interesse público no recrutamento, ponderada a eventual carência dos recursos humanos no sector de actividade a que se destina o recrutamento, bem com a evolução

global dos recursos humanos da autarquia em que o serviço se integra;

- Impossibilidade de ocupação dos postos de trabalho em causa mediante o recurso a trabalhadores já vinculados em regime de contrato de trabalho por tempo indetermina-do ou recurso a pessoal colocado em situa-ção de mobilidade especial.

Satisfeitos os referidos requisitos, compete aos órgãos executivos aprovar a abertura dos concursos em causa.

Posteriormente, o atrás referido artigo 43.º da Lei do Orçamento de Estado regulou também esta matéria, referindo-se especial-mente às autarquias que se encontrem em situação de desequilíbrio financeiro estrutu-ral ou de ruptura financeira, bem como às autarquias que ainda não tenham sido de-claradas naquela situação, mas cujo endivi-damento liquido seja superior ao limite legal de endividamento em 2010.

E, para essas autarquias, impõe precisa-mente a observância de requisitos iguais aos atrás mencionados, com a única diferença de que a abertura de concursos carece de auto-rização dos membros do governo responsá-veis pelas Finanças e Administração Local, enquanto que, para as restantes, como dis-semos, essa autorização, pertence aos ór-gãos executivos.

Aliás, e para que não restem dúvidas, o citado artigo 43.º da Lei do Orçamento de Estado determina, no seu n.º 8, que para as restantes autarquias, isto é, para aquelas que não se encontrem na aludida situação finan-ceira, aplica-se o disposto no mencionado artigo 10.º da Lei 12-A/2010.

Posto isto conclui-se, de forma incontro-versa, que é perfeitamente possível que as autarquias procedam ao recrutamento de pessoal, sempre que necessário, desde que esse procedimento seja devidamente autori-zado e fundamentado com o preenchimento dos requisitos atrás descritos.

A este propósito, não podemos deixar de sublinhar a importância destes procedimen-tos concursais (sempre que outras normas específicas por processo de regularização não se apliquem), especialmente nos casos em que visam a regularização de situações de contratos de natureza precária que, na realidade, correspondem ao desempenho de funções de natureza permanente.

Turnos e trabalho nocturnoCâmara condenada a pagar

O Tribunal Administrativo e Fiscal de Penafiel condenou a Câmara de Castelo de Paiva a pagar os subsídios por traba-lho nocturno e por turnos a um conjunto de trabalhadores do serviço da recolha de resíduos da autarquia.

Os nove trabalhadores em causa prestaram trabalho noc-turno entre 1 de Outubro de 2002 e 8 de Março de 2006, sem nunca terem recebido o correspondente suplemento re-muneratório.

Em Março de 2006, a autar-quia impôs-lhes um regime ro-tativo de três turnos, mas limi-tou-se a atribuir-lhes o subsídio por trabalho nocturno, situação à qual o tribunal veio agora pôr cobro, dando razão à acção in-terposta com o apoio do STAL.

Desta forma, ao município foi dado o prazo de três meses para saldar os montantes em dívida, acrescidos de juros de mora.

Oliveira do BairroQueixa-crime contra edil

A Direcção Regional de Aveiro do STAL apresentou queixa-crime contra o presi-dente da Câmara de Oliveira do Bairro, Mário João Oliveira, por tentativa de condiciona-mento da liberdade sindical.

Os factos remontam a No-vembro último, quando o Sin-dicato realizou plenários no âmbito da preparação da gre-ve geral (ver Jornal do STAL n.º97). Na ocasião, face à re-cusa de cedência de instala-ções, os trabalhadores foram obrigados a reunir num corre-dor. Mas mesmo aí foram in-terrompidos por Mário João Oliveira, que, demonstrando conviver mal com a democra-cia, ameaçou chamar a GNR para acabar com o barulho, pondo em causa o direito de reunião dos trabalhadores.

Recrutamento em 2011

Autarquias podem abrir concursos

Apesar das gravíssimas restrições impostas pelo Governo, as autarquias continuam a ter a possibilidade legal de abrir concursos de recrutamento para suprir carências de pessoal, bem como para regularizar vínculos precários que preenchem funções permanentes.

Fruto de um esforço constan-te para oferecer aos associados descontos e benefícios na aquisi-ção de bens e serviços, a Direc-ção Nacional do STAL assinou recentemente novos protoco-los com as seguintes empresas:

Hotéis Cristal – os associados beneficiam de descontos de 10 por cento no alojamento em regi-me de pequeno-almoço nas se-guintes unidades hoteleiras: Hotel Cristal Caldas e Hotel cristal Ma-rinha (excepto datas festivas em ambos); Hotel Cristal Vieira Praia & SPA e Hotel Cristal Vieira Praia Resort & SPA (excepto datas fes-

tivas e de 15 a 31 de Agosto em ambos). Também os tratamentos de SPA beneficiam do mesmo desconto (excepto nas datas e períodos atrás indicados), bem como os bilhetes para o Parque Aquático Mariparque, aberto en-tre 15 de Junho e 5 de Setembro.

Instituto Visão + – o protocolo com o STAL garante descontos de 20 por cento na aquisição de armações, lentes oftálmicas e de contacto, incluindo os respecti-vos produtos de manutenção, e 15 por cento em óculos de Sol. Os associados têm ainda priori-dade na marcação de consultas,

rastreio gratuito visual e auditi-vo. O Instituto Visão tem sede na Praça Teófilo de Braga, n.5 C, Alfornelos, 2650-074, Amadora.

Activa – Nesta empresa de apoio domiciliário, os associa-dos do STAL têm descontos entre cinco e dez por cento em serviços de apoio domiciliários; de cinco por cento na aquisição e aluguer de material ortopédi-co; de entre cinco e 20 por cen-to em serviços de fisioterapia/enfermagem, bem como em ser-viços de Baby Sitting. A Activa tem sede na R. D. José Cordeiro, n.512 – Forca 3800-003 Aveiro.

Futurbrain – com actividade na área da formação profissional, esta empresa proporciona aos associados descontos nunca in-feriores a dez por cento, variando consoante os cursos pretendi-dos. Entre outras propostas, este centro de formação disponibiliza formação inicial ou contínua para motoristas de pesados; qualifica-ção de mediadores de Seguros; Regulamentação laboral na Admi-nistração Local; Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho, Línguas, etc. A Futurbrain tem sede na Av. Gen. Humberto Delgado, 103, 2.º, Sala C, 4480-905, Vila Conde.

O combate contra a precariedade nas autarquias passa pela exigência da abertura de concursos

Mais benefícios para associados

Page 5: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

ABRIL 2011 5jornal do STAL

O tribunal absolveu, dia 14 de Fevereiro, o dirigente na-cional do STAL, José Manuel Marques, que foi abusivamen-te detido, juntamente com o dirigente da FENPROF, Marco Rosa, no final do plenário da Frente Comum realizado, dia 18 de Janeiro, junto à residên-cia oficial do primeiro-ministro.

No final da acção sindical, quando se preparavam para abandonar pacificamente o lo-

cal da concentração, os partici-pantes foram inexplicavelmente travados por um cordão policial.

Perante os protestos, os agentes agrediram várias pes-soas e detiveram José Manuel Marques e Marco Rosa, al-gemando este último e con-duzindo ambos à esquadra.

Porém, ao contrário do sin-dicalista da FENPROF, cujo processo foi arquivado sem ter sido deduzida acusação, José

Manuel Marques foi acusado do crime de desobediência às au-toridades, por alegadamente ter rompido o cordão de segurança, e de desobediência à dispersão.

O tribunal não deu como provada a primeira acusa-ção e considerou a segunda sem fundamento, já que os in-cidentes se registaram num momento em que o plenário tinha acabado e os seus parti-cipantes estavam a dispersar.

Em declarações à imprensa no final do julgamento, José Manuel Marques lembrou que o processo não era contra os agentes da PSP, que sofrem eles próprios as consequên-cias da política arrogante e agressiva do Governo PS, e responsabilizou quem «dá or-dens para que estas coisas aconteçam», considerando a absolvição como uma vi-tória da liberdade sindical.

Com pontos de concentração e de partida no Intendente (sector privado) e no Cais do

Sodré (administração pública), os manifestantes encontraram-se na Praça da Figueira, confluindo de-pois para a Rua do Carmo, onde fo-ram feitas várias intervenções.

O desfile, em que se integraram os jovens trabalhadores das autar-quias, organizados no STALJovem, foi encabeçado por uma faixa com a inscrição «Exigimos e lutamos, Mudar de Rumo, Nova Política».

Dezenas de outros panos e pa-lavras de ordem condenavam a precariedade laboral, os contratos a prazo e os falsos recibos verdes, exigiam empregos estáveis e sa-lários dignos – em suma, o direito das novas gerações a construir um futuro melhor. E como isso passa necessariamente pela alteração das políticas no País, os manifestantes não se cansaram de repetir que exigem «mudança, não queremos alternância».

No final intervieram o coordena-dor nacional da Interjovem, Valter Lóios, que também é dirigente re-gional do STAL, e o secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva, tendo sido ainda aprovada uma moção por unanimidade.

Precários e mal pagos

Como recordou Valter Lóios, dos 900 mil trabalhadores com contratos precários, mais de 500 mil são jo-vens com menos de 35 anos. A isto acresce o facto de que uma grande parte dos mais de 800 mil trabalha-dores ditos independentes ou por conta própria são na realidade fal-sos recibos verdes. A que se deve o alastramento da precariedade? Para a Interjovem a principal razão é a re-dução dos custos de mão-de-obra, notando que «a hora de trabalho de um trabalhador com vínculo precário custa cerca de menos 40 por cento

do que a mesma hora de um traba-lhador com vínculo efectivo».

Por outro lado, ainda segundo a Interjovem, o desemprego atinge mais de 287 mil jovens, ou seja, uma taxa que ronda os 16 por cen-to, agravando-se para 23 por cento no escalão etário até aos 25 anos. E para além destes números es-candalosos há ainda «mais de 300 mil jovens que não trabalham nem estudam»

Ora, dispondo de um tal exército de reserva de força de trabalho, as empresas e outras entidades em-pregadoras continuam impunemen-te a aumentar a pressão sobre os salários e restringir os direitos labo-rais. Por isso, só a luta consciente dos trabalhadores, exigindo novas políticas económicas e sociais, po-derá travar a deterioração contínua das condições de vida e abrir pers-pectivas de uma vida melhor às no-vas gerações.

Liberdade sindical defendida

Os jovens trabalhadores

das autarquias organizados

no STALJovem estiveram

presentes na manifestação de

dia 1 de Abril

Milhares de jovens contra a precariedade

Queremos trabalho, exigimos direitos! Quatro dias depois das comemorações, em 28 de Março, do Dia Nacional da Juventude, milhares de jovens desfilaram pelas ruas da baixa lisboeta, numa acção promovida pela Interjovem/CGTP-IN, contra o desemprego, a precariedade e os baixos salários, que afectam particularmente a juventude.

A quem aproveita o FMI?

Foi a partir da última intervenção do FMI em Portugal (1983-84), que se iniciaram, com Cavaco Silva, as privatizações em larga escala das empresas públicas, perdendo o Estado instrumentos importantes de política macroeconómica, e passando o poder económico a dominar o poder político e a condicionar toda a política económica do País.

Pode-se mesmo dizer que a situação actual do Pais resulta de uma política económica orientada para servir os objectivos desses grupos de elevados lucros. Para o conseguir, face ao crescimento anémico da economia portuguesa, o País – o Estado, as empresas e as famílias endividaram-se profundamente.

Como consequência deste crescimento anémico, associado à desindustrialização do País e à destruição da agricultura e pescas nacionais, no período 2000-2010, Portugal importou bens no valor astronómico de 565 475 milhões de euros (mais do triplo do valor do PIB), tendo exportado bens no valor de apenas 356 918 milhões de euros.

A dívida total directa do Estado, que inclui a dívida externa e interna, aumentou 139,6 por cento, correspondendo a 90,1 por cento do PIB em 2010. O endividamento dos particulares, que correspondia, em 1997, a 41 por cento do PIB e o das empresas não financeiras a cerca de 75 por cento do PIB, passaram, em 2010, respectivamente, para 97 por cento do PIB (128% do seu rendimento disponível), e para os 112 por cento do PIB.

Em resultado desta política de favorecimento dos grupos económicos, contrária aos interesses da maioria da população, o Governo demissionário do PS, com o apoio do PSD e CDS, pediu a intervenção do FMI, UE e BCE, que se traduzirá na degradação intolerável da vida dos portugueses. Para que servem os sacrifícios exigidos? Para que o Estado possa novamente capitalizar a Banca, a qual, dizendo-se de «boa saúde», já se sabe que vai absorver boa parte do empréstimo de mais de 80 mil milhões de euros.

(Extractos do estudo de Eugénio Rosa

disponível em eugeniorosa.com)

Page 6: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

ABRIL 20116 jornal do STAL

Os trabalhadores do Município de Loures continuam em luta pela reposição do subsí-dio de deslocação atribuído pela autarquia há 27 anos aos funcionários que não têm acesso aos refeitórios municipais.

Tendo dado provas de grande firmeza e unidade na greve de 1 a 4 de Fevereiro (ade-são entre 80 a 100%), durante a qual resis-tiram às intervenções da polícia de choque, recusaram a imposição de serviços mínimos abusivos e impediram as tentativas ilegais de furar a greve, os trabalhadores mantêm-

se mobilizados em defesa de uma prestação que representa 90 euros mensais.

No dia 3 de Março, após um plenário rea-lizado à porta da câmara, cerca de 400 tra-balhadores dos SMAS desfilaram pelas ruas da cidade até ao edifício onde decorria a reunião do executivo municipal.

Entretanto, a luta prosseguiu com ou-tras acções, designadamente a série de concentrações diárias frente aos paços do concelho entre os dias 28 de Março e 1 de Abril.

O preço da água doméstica – que inclui esgotos, lixos e IVA – é já em muitos concelhos um pesa-do encargo financeiro para grande parte da população, alertaram o STAL e a Associação Água Pública num comunicado conjunto emitido no âmbito do Dia Mundial da Água, que se assinalou a 22 de Março.

«A privatização, em regra prece-dida da empresarialização, trans-forma o serviço público em negó-cio e a factura aumenta». Segundo a própria Associação das Empre-sas Portuguesas para o Sector do

Ambiente (AEPSA), a gestão priva-da «regista valores máximos de en-cargos suportados pelos utilizado-res com o abastecimento de água superiores em cerca de 30 por cento e de 17 por cento – respec-tivamente para consumos médios anuais de 120 e de 180 metros cú-bicos –, quando comparados com os melhores resultados consegui-dos pelas restantes entidades ges-toras, como sejam as integradas nos serviços municipais.»

A carestia da água insere-se na estratégia do Governo, que pres-

Em geral, as razões dos municípios são comuns: enorme desconten-tamento face aos preços impostos

pelas empresas multimunicipais consi-derados incomportáveis; não realização dos investimentos contratualizados; di-minuição de qualidade dos serviços pres-tados. O outro elemento comum é que a maioria destes municípios se situa no in-terior do País.

Nos sistemas do Zêzere e Côa, Centro Alentejo, Trás-os-Montes e Alto Douro, entre outros, a relação entre os municí-pios e as Águas de Portugal é de enor-me conflitualidade, com os primeiros a abandonarem os órgãos sociais das empresas, alguns a recusarem pagar os preços impostos e outros sujeitos a pro-cessos de cobrança coercivos das dívi-das que ascendem a várias centenas de milhões de euros.

Mas então como se chegou aqui? É sabido que os municípios foram prati-camente obrigados a aderir aos siste-mas multimunicipais. Mas também é verdade que muitos deles, ignorando as populações e os representantes dos

trabalhadores do sector, que em devi-do tempo chamaram a atenção para as graves consequências desta decisão, assinaram de cruz a adesão a troco de uns, poucos, cobres.

Caro, injusto e ineficaz

Ao fazê-lo, colocaram-se à mercê de empresas controladas pelo governo, da sua política de preços e estratégia de rentabilidade, e mais grave ainda acei-taram sujeitar-se a consumos mínimos obrigatórios muito acima das suas ne-cessidades reais, algo que é completa-mente inaceitável em matéria de gestão de recursos hídricos.

Para o presidente da Águas de Coim-bra, «este é mesmo o maior estímulo à ineficiência porque, sem prejuízo das perdas que todos sejamos capazes de diminuir e do investimento feito em recuperação e melhoria de redes, nós continuamos a pagar volumes de água e saneamento muito superiores aquilo que efectivamente temos necessida-de de consumir» (Água & Ambiente, 01.2011).

Por outro lado, dado que nestes sis-temas o valor das tarifas é calculado para cobrir os custos de operação e libertar sete a oito por cento de ren-tabilidade (taxa das obrigações do Te-souro majorada de 3%), assistiu-se a um aumento abrupto dos preços, tor-nando-se incomportáveis para muitas autarquias.

Os trabalhadores da Moveaveiro – Empresa Municipal de Mobilidade realizaram uma greve parcial, no dia 22 de Março, em protesto con-tra os constantes atrasos no pagamento dos salários e pela resolução de outros problemas que têm sido apresentados pelo Sindicato.

A paralisação permitiu ainda realizar um

plenário geral de trabalhadores, no qual foi decido realizar uma greve mensal de duas horas sempre que se verifiquem atrasos no pagamento dos salários.

A primeira paralisação teve lugar no dia 21 de Abril, na sequência de mais um atraso nos vencimentos.

Luta prossegue em LouresUm direito com 27 anos

Autarquias contestam multimunicipais

Sair de onde nunca se deveria ter entrado*

Na greve de cinco dias em Fevereiro,

os trabalhadores do Município de

Loures deram provas de grande firmeza e unidade

MoveaveiroAtrasos intoleráveis

Dia Mundial da ÁguaSTAL e Água Pública de nunciam carestia

Vários municípios têm vindo a manifestar a intenção de abandonar os sistemas multimunicipais de água e saneamento. O descontentamento aumenta e as colossais dívidas também.

✓ Jorge Fael

Um ano após a remunicipalização da gestão de água na capital francesa, o presidente da Câmara de Paris, Bertrand Delanoë, anunciou, no início de Janeiro, uma redução dos preços aos consumi-dores.

Os serviços voltaram à autarquia em 2010, no final do contrato de concessão firmado em 1987, pelo então edil de Paris, Jacques Chirac, com as empresas Veolia e Suez. A nova entidade pública, inteira-mente controlada pelo município, tinha-se comprometido desde logo a não aumentar a factura da água até 2014.

Porém, ao fim de um ano de gestão públi-ca, os resultados foram melhores do que o esperado. Não só os preços não aumenta-ram, sendo já hoje 40 por cento mais baixos do que a média dos restantes municípios da região metropolitana de Paris, como ain-da foi possível realizar um resultado positi-vo de quase 50 milhões de euros.

Uma parte deste montante será assim restituída aos utentes mediante a redução do preço do metro cúbico (2,93 euros em 2010), devendo o restante ser reinvestido na melhoria do serviço e das infra-estru-turas.

Água de ParisPreço baixa após remunicipalização

Page 7: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

ABRIL 2011 7jornal do STAL

Dia Mundial da ÁguaSTAL e Água Pública de nunciam carestia

Alguns municípios já declararam a intenção de recorrer aos tribunais para contestar os preços impostos. Outros ensaiam estratégias de força pouco auspiciosas perante a Águas de Portu-gal. Outros ainda, procurando livrar-se do problema, enveredam pela conces-são dos serviços em baixa, sem olhar às consequências ainda mais gravosas para a população.

A tudo isto, o governo responde com mais do mesmo. Para tentar apaziguar os municípios descontentes, promete-lhes que vão pagar menos pela água. Como? Simples: alarga-se o prazo da concessão de 30 anos para 50 anos pelo menos. Assim a factura mensal poderá baixar, embora no final os muni-cípios paguem muito mais.

Mas nada disto resolve o problema de fundo que radica num modelo que subalterniza o poder local, onera as po-pulações e acentua a exploração dos trabalhadores, com o único objectivo de preparar o terreno para a privatiza-ção do sector.

Estas são razões que justificam mais que nunca a luta para que estes ser-viços essenciais se mantenham sob controlo das autarquias, mediante uma gestão pública, democrática e de qua-lidade.

_____________

* Título retirado de um artigo de opinião do

vereador da CDU na CM de Évora, Eduardo Lu-

ciano, sobre a decisão da autarquia de aban-

donar o sistema Águas do Centro Alentejo.

siona as autarquias a aderir aos sistemas multimu-nicipais, controlados pela Águas de Portugal, para impor depois a subida acentuada dos preços e assim criar as condições para a privatização do sector.

Recorde-se que em Junho de 2010, a Entidade Regu-ladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) di-vulgou um «Recomendação Tarifária», que, se fosse lei, traria aumentos brutais da água em todo o País. O docu-mento foi fortemente contestado por numerosas autar-quias e pela Associação dos Municípios Portugueses

O STAL e a Associação Água Pública manifestam-se contra esta política, exigindo que estes serviços essenciais se mantenham sob controlo das autar-quias, mediante uma gestão pública, democrática e de qualidade.

Só a luta dos trabalhadores e da população em defesa da água pública pode travar a privatização

A entrega dos siste-mas de abastecimento de água e saneamento do concelho de Ovar à empresa Águas da Re-gião de Aveiro (AdRA ) traduziu-se já num bru-tal aumento das tarifas da água, em vigor desde o início do ano.

Os consumos até 15 metros cúbicos sofre-ram um aumento de 12 por cento, ao que acres-ce a subida de 115 por cento da taxa associa-da à água e de 35 por cento da taxa de sa-neamento. No total, os consumidores com bai-xos consumos viram as facturas agravadas em mais de 30 por cento.

O contrato de conces-são, assinado pela câ-mara por um prazo de 50 anos, garante uma remuneração dos capi-

tais investidos a uma ta-xa equivalente aos títu-los de tesouro acrescida de três por cento, o que hoje representa um ren-dimento próximo dos oi-to por cento.

Para ta l , o contrato impõe o aumento do preço do metro cúbi-co para quase o dobro até 2014, ou seja, dos actuais 1,66 euros, em média no concelho, pa-ra 2,83. Note-se que a tarifa média nacional se situa em 1,23 euros por metro cúbico.

Dos dez munic íp ios que integram a AdRA , cuja actividade se ini-ciou em Maio de 2010, Ovar é aquele onde se registaram os maiores aumentos percentuais, dado que a empresa pretende nivelar os pre-ços por cima até 2014.

A intenção anunciada pelo Município de Olivei-ra de Azeméis, no final do ano passado, de conces-sionar a gestão dos ser-viços de abastecimento de água e saneamento foi condenada pela DR de Aveiro do STAL, notando que é «lesiva do interesse municipal, prejudica a po-pulação e põe em causa os direitos dos trabalha-dores».

O STAL salienta que ao dar semelhante passo, o executivo camarária alie-na «uma das responsa-bilidades principais» atri-buídas aos municípios. Por outro lado, alerta que a privatização terá co-mo consequência o «au-mento brutal dos preços da água, do saneamento e de ramais de ligação, etc».

Na verdade, segundo reconhece a própria As-sociação das Empresas Portuguesas para o Sec-

tor do Ambiente (AEPSA), a gestão privada «regista valores máximos de en-cargos suportados pelos utilizadores com o abas-tecimento de água supe-riores em cerca de 30 por cento e de 17 por cento – respectivamente para consumos médios anuais de 120 e de 180 metros cúbicos –, quando com-parados com os melhores resultados conseguidos pelas restantes entidades gestoras, como sejam as integradas nos serviços municipais.»

Deste modo, insiste o Sindicato, a solução não passa por empresas pri-vadas, mas sim pela «va-lorização da gestão pú-blica», a única que po-de prestar «melhores ser-viços às populações no quadro do respeito pelos princípios da solidarieda-de, da coesão social e ter-ritorial e da sustentabilida-de ambiental».

As queixas da popula-ção contra a Cartágua- Águas do Cartaxo come-çaram pouco depois de a empresa concessioná-ria iniciar a actividade em 1 de Outubro de 2010. Em cerca de quatro me-ses, numerosos cl ien-tes apontam grandes de-moras no atendimento e estão sobretudo indig-nados com o aumento exorbitante da factura da água, em muitos casos para o dobro e mesmo para o triplo.

Estes aumentos, como revelou o vereador da CDU, Mário Reis, devem-se «à cobrança de taxas novas, à aplicação da tarifa de dis-ponibilidade e à actualiza-ção dos escalões de con-sumo e de saneamento». Para além disso, «o preço social da água acabou», denunciou aquele eleito em reunião do executivo (28.12.2010), sublinhando que «por prevermos esta realidade votámos e vota-remos sempre contra estes negócios lucrativos».

Desde a venda de 49 por cen to do cap i ta l da empresa municipal Águas de Santarém aos grupos Aquapor e Pra-gosa, a situação laboral tem-se agravado, o que levou os trabalhadores a expressar o seu des-contentamento, exigin-do a intervenção da au-tarquia.

A privatização parcial foi assinada em 15 de Novembro. Duas sema-nas depois, os traba-lhadores reunidos em plenário condenaram o despedimento sem jus-ta causa de seis traba-lhadores, contestaram o encerramento do la-boratório de análises da

empresa, estrutura que recentemente fora acre-ditada, e rejeitaram a al-teração de categorias e funções profissionais imposta unilateralmente pela administração.

E m c o m u n i c a d o , o STAL acusou os parcei-ros privados de procu-rarem maximizar lucros mediante cortes cegos na despesa e à custa do aumento da exploração dos trabalhadores. Exi-gindo medidas da autar-quia, o Sindicato avisou que haverá luta se os di-reitos dos trabalhadores não ficarem salvaguar-dados no quadro desta sua nova parceria com sócios privados.

Ovar Empresa impõe aumentos brutais

Privatização em Oliveira de Azeméis Porquê pagar mais?

Quatro meses após privatização Facturas duplicam no Cartaxo

Águas de Santarém Entrada de privado avoluma problemas

Page 8: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

8 jornal do STAL/ABRIL 2011jornal do STAL/ABRIL 2011

Quando em 25 de Abril de 1974, após anos décadas de resistência, o povo português veio para a rua em apoio aos militares que, corajosamente, puseram fim ao odioso regime que ao longo de 48 anos oprimiu o país – abrindo assim caminho a uma revolução que o encheu da esperança de que, a partir dali, seria possível a construção de um país mais justo, liberto da exploração do homem pelo homem e cioso da sua independência face aos que se consideram os donos do mundo – poucos imaginariam que, 37 anos depois, a situação teria voltado quase à estaca zero.

Após três décadas e meia de ataques sociais e restauração capitalista

É preciso um Abril de novo

É verdade que ainda vamos tendo uma democracia política formal, com

eleições periódicas para escolher quem nos «governa», e podemos manifestar-nos nas ruas a gritar que temos fome (fome de pão, de justiça, de saúde e educação, de respeito pelos nossos direitos). Mas perdemos já grande parte da democracia económica e social, apesar da luta persistente que vimos travando ao longo dos anos, resistindo aos assaltos que os vários governos de turno ao serviço dos poderosos vêm intensificando. Quando a revolução estava em marcha, os trabalhadores portugueses e o povo em geral conquistaram importantes direitos, fruto da sua luta persistente e organizada que, na altura, encontrava receptividade nos poderes constituídos.Foi a época da nacionalização de todos os sectores estratégicos da indústria e da economia do País, da Reforma Agrária com a entrega, sobretudo no Alentejo, da «terra a quem a trabalha», abrindo-se assim caminho para o aumento da produção e para que os seus resultados revertessem para o bem-estar de todos e não para o enriquecimento de alguns. Foi a época do estabelecimento do salário mínimo nacional, do direito a férias pagas com um subsídio adicional correspondente a um mês de

vencimento, dos subsídios de natal, de refeição, de nascimento, de aleitação, de casamento e de funeral, das ajudas de custo e, também, no que respeita à Administração Pública, do direito à aposentação ao fim de 36 anos de serviço.Entretanto, a contra-revolução conspirava na sombra. Após algumas tentativas de golpe falhadas, personalizadas pelo general Spínola, os seus mentores mudaram de táctica e esperaram melhor oportunidade para atacar. E, paradoxalmente, foram as eleições que se vieram a realizar que lhes forneceram os instrumentos ideais para a prossecução dos seus objectivos.

O avanço da contra-revolução

O primeiro governo constitucional, mascarado de socialista e chefiado por Mário Soares, formado por gente que até aí jurara fidelidade à Reforma Agrária, à irreversibilidade das nacionalizações,

à via para o socialismo como objectivo real (quer PS quer PPD/PSD propagandeavam com grande algazarra estes princípios, demonstrando, como agora se vê nitidamente, um descaramento só possível em gente sem escrúpulos nem vergonha), quando se viu em funções logo manobrou no sentido inverso. Paulatina e

engenhosamente, para não dar muito nas vistas, pôs em marcha, inicialmente lenta e calendarizada, os mecanismos tendentes à destruição de todas as conquistas democráticas.A Reforma Agrária e as nacionalizações foram o primeiro alvo. Os

latifúndios foram-

se recompondo e os bancos, os seguros e a indústria pesada voltaram às mãos dos exploradores, sempre sedentas do sangue, suor e lágrimas daqueles que só possuem de seu a sua força

de trabalho.Para disfarçar

a coisa,

Page 9: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

jornal do STAL/ABRIL 2011 9jornal do STAL/ABRIL 2011

Após três décadas e meia de ataques sociais e restauração capitalista

É preciso um Abril de novo

ou em separado, foi um ver se te avias.

Tudo o que cheirasse a progresso civilizacional, a

melhoria das condições de vida de um povo martirizado por 48

anos de fascismo, era para usar, sim, em

lindos discursos, mas não para levar a sério. Em nome da modernidade (a «modernidade» do século XIX, acrescentamos nós), trataram todos eles, com as possibilidades que cada um tinha a cada momento, da sistemática destruição de tudo o que, de facto, cheirasse a 25 de Abril.

O caminho do desastre

Hoje, com a empenhada contribuição de todos

os executivos que foram passando pelo sangradouro das nossas esperanças num futuro digno, em que se transformaram os chamados governos da nação, já pouco restará da saga conquistadora dos trabalhadores nos

tempos que se seguiram à conquista da liberdade.

O governo dessa figura inenarrável que dá pelo nome de José Sócrates é um sério candidato a figurar no famoso livro do Guiness, como o recordista do servilismo perante os poderosos, dos roubos feitos já à luz do dia aos portugueses mais desfavorecidos, da mais despudorada pouca vergonha na argumentação apresentada para os esbulhos praticados, pretendendo até apresentá-los às suas vítimas como benfeitorias que estes devem agradecer.Em resultado destes actos de autêntica pirataria contra a generalidade do povo português, o país está à beira da bancarrota.A indústria, a agricultura e a frota pesqueira há muito foram destruídas ou fortemente desmanteladas. Com responsabilidades muito concretas, das quais o actual Presidente da República não pode eximir-se sem cair ainda mais no ridículo.Os salários dos trabalhadores e as pensões de quem descontou uma vida inteira de trabalho para ter alguma segurança na velhice, degradam-se miseravelmente.O direito constitucional à saúde e à educação é diariamente espezinhado, com a criação de mais e mais dificuldades de acesso a estes bens essenciais ao bem-estar da população e ao progresso do país.Privatiza-se tudo o que cheira a serviço público ao serviço das populações, entregando-os à gula das clientelas privadas, cujo objectivo único é o lucro especulativo que a sociedade capitalista lhes proporciona. Agora, com o orçamento de estado para 2011, aprovado pelo PS com o apoio do PSD, com os PECs 1, 2 e 3, aprovados e apoiados pelos mesmos,

todas estas miseráveis medidas impostas pelos chamados «mercados» (para quem ande distraído, foram estes «mercados» que provocaram a crise internacional que serve de desculpa para todas roubalheiras a que vamos assistindo) vão-se agravando todos os dias.Chegados ao PEC 4, parece que o grande capital terá pensado que era hora de mudar do cavalo que vai cavalgando, e terá instruído o equídeo que esperava a sua vez para lhe prestar o seu serviço para engrossar a voz (ou o relincho, mais propriamente) fingindo nada ter a ver com o que se está a passar e que seria ele a alternativa para mudar de rumo.

É hora de mudar a história

Veremos ao que nos conduzem os próximos capítulos desta telenovela de cordel.A verdade é que um país que não produz e tão mal trata as forças produtivas que o sustentam, estará inevitavelmente condenado. Mas o país, este país, está a tempo de inverter o curso da história. Assim os portugueses se libertem dos preconceitos que lhes foram incutidos no tempo do fascismo, tão diligentemente acarinhados, fomentados e servidos em casa do prezado telespectador desprevenido.Porque a alternativa séria e ao serviço dos portugueses, existe.Não com PS, PSD ou CDS. Estes já mostraram, ao longo de trinta e tal anos, o que fazem e, pior, o que serão ainda capazes de fazer se os deixarmos. E que tal tentar outra via, dando a confiança a quem, desde sempre, se opôs a esta política de desastre propondo uma outra ao serviço de Portugal e dos portugueses? Este é um bom tema de reflexão para quem se disponha a abandonar a indiferença que nos leva, muitas vezes, a virar uma das armas de que dispomos (o voto) contra nós próprios, culpando depois tudo e todos das consequências dos nossos actos. Vamos a isso?

alcunhavam de diversas formas o «socialismo» que pretendiam. «Socialismo democrático» ou «socialismo de rosto humano», foram as máscaras mais utilizadas para contrapor ao socialismo. E lá iam, cantando e rindo, tecendo a miserável teia que iria conduzir este Portugal que todos amamos às selvagens garras do capitalismo mais odioso.De então para cá, com PS, PSD e CDS, todos

ao molho

Page 10: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

ABRIL 201110 jornal do STAL

A factura da especulação cobrada aos trabalhadores

No final de 2009, 52,4 por cento do en-dividamento externo líquido do País era privado, enquanto o endividamen-

to público se ficava por 47,6% desse total. Portanto, mais do que a dimensão da dívida do Estado, o que realmente preocupa os seus detractores é o facto de o financiamento ex-terno do sector privado estar dependente das condições em que se fizer o financiamento do Estado. Isto é, quando o Estado tem difi-culdades em financiar-se no exterior, o sector privado não consegue financiamento e sem-pre que o Estado consegue esse financia-mento a uma taxa elevada, o sector privado, a conseguir financiamento, obtêm-no a taxas de juro incomportáveis.

Nunca ignorando a premissa fundamental de que o sector privado está mais endivida-do do que o sector público, analisemos no entanto a questão da dívida pública: o seu montante, a percentagem dessa dívida nas mãos dos investidores estrangeiros e nas mãos das famílias portuguesas, o custo do seu financiamento e as implicações que o seu peso crescente tem sobre a vida dos portugueses – temas permanentemente abordados pela comunicação social ao lon-go do último ano.

No final de 2010, a dívida directa do Esta-do era de 151 775 milhões de euros, cerca de 87,9 por cento do PIB, dos quais 11,6 por cento estava nas mãos das famílias portugue-sas, através de certificados de aforro e certifi-cados do tesouro.

No final de 2009 estimava-se que 74,5 por cento da dívida pública se encontrava nas mãos de investidores estrangeiros, percen-tagem que era das mais elevadas da União Europeia.

As últimas estimativas indicam que os en-cargos do Estado com os custos da dívida pública, em 2011, deverão atingir os 7 134 milhões de euros, ou seja, mais 808 milhões de euros do que o montante previsto no Or-çamento de Estado aprovado no final de No-vembro passado.

Para se ter uma ideia do que significa esta verba adicional de 808 milhões de euros, dire-mos que é praticamente equivalente ao pro-duto do esbulho de cinco por cento na massa salarial dos trabalhadores da Administração Pública ou a 80 por cento das receitas extra-ordinárias decorrentes do aumento do IVA.

Com o conjunto da dívida pública, o Estado Português irá gastar em 2011 um valor supe-rior à despesa total do Ministério da Educa-

ção e equivalente a cerca de 80 por cento do orçamento do Ministério da Saúde.

As origens da crise

Vale a pena procurar resposta para as se-guintes questões:

1. Porque razão o nosso endividamento pú-blico se tem vindo a agravar?

2. Porque razão as taxas de juro do finan-ciamento da dívida pública portuguesa se têm vindo a agravar fortemente?

É hoje praticamente inquestionável que a crise financeira internacional, cujos primei-ros sinais mais visíveis surgiram em Agosto de 2007, levou a que grande parte dos paí-ses interviessem na salvação dos seus sec-tores financeiros, quer resgatando bancos da falência através da sua nacionalização, quer funcionando como garante internacional dos seus empréstimos.

Em resultado desta intervenção, a maior par-te dos Estados aumentou consideravelmente os seus níveis de endividamento. Portugal não foi excepção. Ao fazê-lo, e utilizando como ar-gumento o impacto sistémico que a falência de muitos bancos por esse mundo fora teria sobre a economia, os governos assumiram os colossais prejuízos da especulação desenvol-vida pelo sector financeiro na últimas décadas. Agora obrigam as suas vítimas, os trabalhado-res, o povo, a pagar a factura através de drás-ticas medidas de austeridade.

Porque sobem as taxas?

Do nosso ponto de vista, as elevadas ta-xas que os mercados têm vindo a impor aos

Ao invocarem tão amiúde a chamada crise da dívida pública, muitos procuram fazer esquecer que o maior contributo para o endividamento externo do País tem origem no sector privado e muito em especial na Banca.

A crise da dívida pública

O crescente endividamento público tem sido utilizado para penalizar injustamente os trabalhadores com sucessivos pacotes de austeridade

O STAL e a Associação Humani-tária de Bombeiros Voluntários da Covilhã assinaram, em 29 de Janei-ro, um acordo de empresa (AE) que representa um claro passo em fren-te na salvaguarda dos direitos e ga-rantias dos profissionais ao serviço desta instituição.

O documento consagra os direi-tos e deveres dos trabalhadores, estabelecendo regras claras em re-lação às carreiras, remunerações e formas específicas de prestação do trabalho.

Para além de regulamentar as re-lações de trabalho, o acordo permi-tiu ainda valorizar as remunerações de todas as carreiras e escalões existentes na Associação, facto que é particularmente realçado pe-lo STAL, enquanto resultado da ati-tude séria e responsável demons-trada pelas partes ao longo das ne-gociações.

Recorde-se que este processo foi iniciado em 2009 com a assinatura de um protocolo que visava regular algumas matérias laborais.

O presidente da Área Metropoli-tana do Porto, Rui Rio, anunciou, no final de Janeiro, a intenção de extinguir os bombeiros sapadores, «pegar nos muitos bombeiros vo-luntários e criar um batalhão à es-cala metropolitana».

Respondendo às declarações deste eleito autárquico, para o qual a medida permitiria «maior ef icácia e menores custos», o STAL salientou em comunicado que «processos desta natureza não podem servir de desculpa pa-ra a implementação de uma pers-pectiva economicista que fragilize a salvaguarda de pessoas e bens e reduza os direitos e garantias dos homens e mulheres que dia-riamente envergam a farda e de-sempenham responsavelmente as funções de bombeiro».

O Sindicato alerta ainda que um tal processo exige a abertura de negociações com as estruturas re-presentativas dos trabalhadores, «que defina de forma clara as con-dições laborais dos profissionais que irão desempenhar funções nesta estrutura».

Por outro lado, realçando a im-portância dos corpos de bombei-ros sapadores do Porto e de Gaia como estruturas de referência, o STAL observa que a integração num corpo único de bombeiros do movimento associativo exige a profissionalização destes ele-mentos, a definição de deveres e direitos, regras de financiamento claras e transparentes e formação profissional contínua, de forma prestar serviços de qualidade às populações.

Francisco José Tavares, diri-gente do STAL desde os primór-dios do sindicato e incansável lutador pela causa dos trabalhadores, faleceu em 30 de Janeiro, com 83 anos.

Xico Zé, como era por todos conhecido, dedi-cou uma boa parte da sua vida ao STAL, seja como dirigente nacional e membro do Conselho Geral, seja como mem-bro da Direcção Regional

de Castelo Branco, que chegou a coordenar.

A Direcção Nacional do STAL fez-se representar por vários diri-gentes nas cerimónias fú-nebres e enviou uma men-sagem de sentidas condo-lências à família e amigos de Xico Zé, cujo desapa-recimento constitui uma grande perda para a luta dos trabalhadores, o movi-mento sindical e particular-mente o STAL e os traba-lhadores das autarquias.

Bombeiros da CovilhãAssinado acordo de empresa

Bombeiros da AM do PortoCorpo único levanta preocupações

Até sempre, Xico Zé

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ABRIL 2011 11jornal do STAL

A factura da especulação cobrada aos trabalhadorespaíses mais debilitados financeira e economicamente resultam, em pri-meiro lugar, do tipo de intervenção do Banco Central Europeu (BCE), de cujas políticas Portugal se tor-nou refém desde a sua adesão ao euro.

Na verdade, o BCE tem-se limi-tado a adquirir divida pública dos Estados no mercado secundário, isto é, aos compradores dessa dí-vida. Estes últimos (grandes ins-tituições financeiras internacio-nais, entre as quais se destacam as alemães e francesas) fazem um excelente negócio porque

conseguem financiamentos junto do BCE a uma taxa de apenas um por cento, garantindo o seu pa-gamento contra a entrega de tí-tulos da dívida pública que lhes rendem taxas em torno dos seis por cento.

Deste modo, o Banco Central Eu-ropeu, em vez adquirir directamente essa dívida aos Estados emissores à mesma taxa que hoje aceita finan-ciar a banca privada, e assim travar a especulação, está claramente a estimular os especuladores inter-nacionais a apostar na dívida dos Estados.

Em segundo lugar, o Estado por-tuguês deveria ter diversificado ao longo dos anos as suas fontes de financiamento, evitando sujeitar-se aos leilões da dívida pública nos mercados internacionais.

Por exemplo, poderia ter cria-do incentivos que lhe permitissem obter financiamentos internos em condições muito mais favoráveis, nomeadamente junto dos particu-lares, aumentando a remuneração dos Certificados de Aforro e Títulos do Tesouro. Porém, como todos nos recordamos, o Governo agiu preci-samente ao contrário, eliminando o

interesse dos Certificados de Afor-ro. E mesmo os recentes Títulos do Tesouro só proporcionam taxas atractivas para prazos superiores a cinco anos.

Depois de ter empenhado o País para salvar a banca privada, o Go-verno PS/Sócrates colocou o Esta-do à mercê dos «mercados», que lhe servem de pretexto para condu-zir a mais feroz ofensiva desde o 25 de Abril contra os trabalhadores e o povo português em geral, reduzin-do de dia para dia o seu poder de compra, as prestações sociais e o acesso a serviços essenciais.

Dentro da União Europeia, Portu-gal é o país onde a diferença entre ricos e pobres é maior. Este fosso das desigualdades surge, uma vez mais, retratado nos dados relativos à distribuição do rendimento bruto dos agregados familiares no Conti-nente, tendo por base as declara-ções de IRS referentes a 2009.

Da análise da informação, recen-temente divulgada pelo Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do Ministério das Finanças, podemos constatar:

1. O número de agregados fami-liares que procedeu à entrega de declarações de IRS em 2009 foi 4 449 003. Deste total, 277 880, cerca de 6,2 por cento, sobrevivem, se é que é possível, com 118 euros ou menos por mês.

2. Seguem-se 256 151 agregados familiares (5,8% do total) que decla-raram um rendimento bruto mensal entre 119 e 303 euros; 276 680 agre-gados entre 304 e 444 euros; e mais 466 611 entre 444 e 560 euros.

3. A agregação destes quatro pri-meiros escalões conduz-nos à con-clusão de que quase um terço das famílias portuguesas (28,7%) vivia, em 2009, com um rendimento médio mensal bruto inferior a 560 euros.

4. Em contraponto à miséria em que vivem milhões de portugueses, 150 agregados familiares declararam ter um rendimento médio bruto mensal igual ou superior a 138 961 euros.

Haverá quem argumente que os rendimentos dos agregados fami-liares portugueses não se esgotam nos valores inscritos na declaração de IRS. Apesar de isso poder cor-

responder à verdade nalguns casos, ninguém pode honestamente duvidar de que estas declarações espelham a situação real da esmagadora maioria dos agregados familiares, a que cor-respondem 3 844 900 trabalhadores por conta de outrem e 828 600 traba-lhadores por conta própria.

Estes dados evidenciam tam-bém a extrema importância que as prestações sociais assumem para muitos milhares de agregados fa-

miliares, quer devido a insuficiência de rendimentos quer devido ao de-semprego crescente.

Depois de, ao longo de 2010, o Governo ter aplicado sucessivos pa-cotes de austeridade (cortes drás-ticos nos apoios sociais, incluindo para a compra de medicamentos, congelamento dos salários e pen-sões e aumentos da carga fiscal), as medidas contidas no Orçamen-to de Estado, e outras que foram

entretanto anunciadas, provocarão inevitavelmente um agravamento sem precedentes das condições de vida dos portugueses.

Revelando a natureza de classe das políticas que promove, o Gover-no continuará a exigir mais sacrifícios às camadas que já hoje vivem na mi-séria ou perto dela, aos reformados e pensionistas, bem como aos tra-balhadores em geral, cavando ainda o fosso das desigualdades.

Portugal cada vez mais desigual

✓ José Alberto Lourenço Economista

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ABRIL 201112 jornal do STAL

Em 1999, a cidade-estado de Berlim vendeu 49,9 por cento da empresa pública de água

à multinacional francesa Veolia e ao grupo alemão RWE. Desde então, o preço aumentou 35 por cento, tor-nando-se num dos mais caros em toda a Alemanha.

Questionando a legalidade de tais aumentos, um grupo de cida-dãos (Berliner Wassertisch) co-meçou a exigir, em 2007, a publi-cação dos contratos celebrados com as duas empresas privadas.

Mais tarde, dada a recusa das autoridades municipais, decidiu avançar com a recolha de assina-turas para a realização de um re-ferendo sobre a obrigatoriedade da publicação de todos os con-tratos e acordos, sob pena de in-validação.

A ideia ganhou ainda mais for-ça depois de, em Outubro do ano passado, o jornal de esquerda Ta-geszeitung (TAZ) ter publicado gran-de parte do contrato, confirmando-se o que já se suspeitava: as duas empresas concessionárias benefi-ciavam de uma «garantia de lucro» contratual, que lhes permite ade-quar os preços às suas expectati-vas de lucros.

Deste modo, a Veolia e a RWE pu-deram embolsar ao longo dos anos 1,3 milhões de euros, bem mais do que os 696 milhões de euros re-cebidos pela cidade, o accionista maioritário.

O referendo constitui uma es-trondosa derrota para a maioria social-democrata, que governa a capital alemã, já que, anterior-mente, tinha considerado «desne-cessária» a publicação dos docu-mentos. Os 678 mil votantes re-presentam 27,5 do total de eleito-res, superando o limite de 25 por cento, o que torna o escrutínio vinculativo, êxito nunca antes al-cançado por um referendo de ini-ciativa popular.

Tanto mais que, após a divulgação do contrato na imprensa, o município decidiu disponibilizar ele próprio na In-ternet as 700 páginas dos documen-tos e, num assinalável jogo de cintura, anunciou a sua disposição de remuni-cipalizar os serviços de água.

A manobra tinha um duplo ob-jectivo: por um lado, tentar esva-ziar e desmobilizar a participação no referendo popular, por outro, aplanar o terreno para as eleições regionais que terão lugar dentro de alguns meses em Berlim, in-do ao encontro do desejo da po-pulação.

À imprensa alemã (14.02), o pre-sidente da câmara, Klaus Wowereit, em funções desde 2001, afirmou que o referendo «apoiou o objectivo do Senado de readquirir a parte do capital da empresa de água ante-riormente privatizada», concluindo que os berlinenses «querem trans-parência na gestão do património público».

Remunicipalizar para melhor servir

Após tão peremptório veredicto popular, a questão da remunicipa-lização da água em Berlim parece agora «consensual», com todos os partidos a colocarem-na na agen-da.

De resto, como afirmou ao jornal francês, Le Monde (15.02), a espe-cialista em Direito de Concorrência da Universidade Livre de Berlim, Katharina Boesche, «os serviços municipais de água e energia, pri-vatizados no limiar do século, estão a regressar às mãos das câmaras,

à medida que os contratos chegam ao fim».

A razão é que todas as promes-sas de redução de preços, trans-parência, criação de empregos não só não foram cumpridas co-mo foi o contrário que se verifi-cou. Pressionadas pela popula-ção, as autoridades tratam de re-aver o controlo dos serviços pú-blicos.

Um dos exemplos mais recentes foi a aquisição, em Dezembro, pe-lo Estado de Baden-Wurttemberg, da participação que a EDF (com-panhia francesa de energia) detinha na EnBW, a terceira maior eléctrica do país.

Com a compra de 45 por cento do capital, por um total de 4,67 mil milhões de euros, aquele estado fe-derado passou a ser o principal ac-cionista de uma empresa que tem seis milhões de clientes e um volu-me anual de negócios de 15,5 mil milhões de euros.

Esta operação, que contrasta com as orientações privatizadoras que continuam a prevalecer em pa-íses como Portugal, foi justificada pelo governo de Baden-Wurtem-berg de forma não menos surpre-endente: «Um fornecedor indepen-dente de energia é essencial para o crescimento económico do esta-do», lê-se no comunicado oficial de 6 de Dezembro.

O texto, citando declarações do primeiro-ministro democrata-cris-tão, Stefan Mappus, acrescenta que esta estratégia «vai ao encon-tro dos interesses dos consumido-res» e que «é uma boa notícia para a EnBW e os seus quase 20 mil tra-balhadores (…) É também uma boa notícia para o povo e para os negó-cios de Baden-Wurttemberg».

Quando à viabilidade financeira, Estugarda afirma que a tomada do controlo da eléctrica «não terá im-pactos no orçamento do Estado». E explica que a aquisição é finan-ciada pela emissão de títulos do tesouro, cujos custos (pagamento de juros) serão inferiores aos divi-dendos anuais proporcionados pe-la EnBW.

Assim, em vez de aumentar a despesa, este investimento do Es-tado irá gerar alguns milhões de euros adicionais para os cofres pú-blicos.

Serviços regressam ao sector público na Alemanha

Berlinenses votam contra privados

Uma esmagadora maioria de 98,2%, de um total de mais de 678 mil eleitores, votou a favor da publicação integral dos contratos de privatização da empresa pública de água de Berlim, num referendo de iniciativa popular realizado no dia 13 de Fevereiro.

O referendo de iniciativa popular colocou na ordem do dia a remuni-cipalização da empresa de água de Berlim

«Também a água», da autoria da actriz e rea-lizadora espanhola, Icíar Bollaín, foi a longa-me-tragem que representou Espanha na corrida ao Oscar 2011 para o melhor filme estrangeiro.

Embora não tenha conquistado os favores do júri, a presença deste filme no prestigia-do concurso é digna de nota, já que, um dos seus motivos centrais é inspirado na guerra da água travada pela população de Cocha-bamba contra um grupo de multinacionais.

Em 1997, o Banco Mundial impôs a priva-tizatização da água nas três maiores cidades da Bolívia como contrapartida da conces-são de ajuda financeira. O monopólio foi as-sim entregue ao consórcio Aguas del Tuna-ri, controlado pelas multinacionais Bechtel, Edison (EUA) e Albengoa (espanhola). As consequências foram desastrosas.

Em Janeiro de 2000, a empresa aumenta as tarifas da água em 200 por cento, toma o controlo de todas redes e fontes de água e manda fechar a cadeado os poços parti-culares.

Irrompem os protestos, que são particu-larmente massivos e persistentes em Co-chabamba, a terceira maior cidade do país. A polícia intervém violentamente e prende os dirigentes da Federação de Defesa da Água. Surgem barricadas nas ruas, o gover-no do general Hugo Banzer decreta o estado de sítio, a cidade fica sob ocupação militar durante 90 dias, mas a resistência mantém-se. Em Abril são contabilizados dois mortos e dezenas de feridos. Porém, a população sairá vitoriosa.

Temendo que a revolta alastrasse ao res-to do país, o governo foi obrigado a anular o contrato com o concessionário. A água voltou a ser de todos e o exemplo do po-vo de Cochabamba foi seguido em todo o continente.

A guerra da água em 2000 na Bolívia é motivo central de filme espanhol

Longa-metragem recorda guerra da água na Bolívia

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ABRIL 2011 13jornal do STAL

Na ponta mais ocidental desta Europa tão connosco, tão connosco, tão connosco que até chega a meter nojo, existe um tesouro já mais do que explorado mas

sempre apetecido para as várias máfias que por esse mundo pululam. Descendentes de urubus sul-americanos e abutres mais europeus, por isso mesmo muito mais «civilizados», es-tes espécimes modernizaram-se de tal maneira que hoje se confundem sem grande esforço com a raça que deus nosso senhor resolveu criar e a que chamou (ou outros chamaram por ele) de raça humana.

Assim disfarçados, é-lhes fácil misturarem-se com os seres humanos sem dar muito nas vistas. Fazem-se passar por gen-te benemérita e muito temente a deus, amigos do progresso e da modernidade, construtores de um mundo onde todos os parolos se sintam felizes. Tudo isto, claro, dentro das regras universais do benemérito capitalismo.

Mesmo assim, esse mundo não pode ser para já porque a coisa está difícil. Para o ano ainda é cedo, porque os merca-dos não deixam. Primeiro é necessário repor o que eles pró-prios (os abutres) comeram antes de tempo, sem esperar que os seres humanos chegassem ao fim da vida expondo as suas carcaças à gula de tais necrófagos. O que originou, como to-dos sabem ou deveriam saber, a grave crise económica que pôs a grande maioria dos seres humanos a pão e água. E isto é só por enquanto, porque já nem toda a gente lhes consegui-rá chegar (ao pão e à água, evidentemente).

Em Portugal, a tal ponta mais ocidental da Europa connos-co, as máfias existem e não dormem.

Para lhes facilitar a tarefa, têm ao dispor um rebanho de capatazes que o próprio ser humano lhes faculta e que elas (as máfias) vão substituindo periodicamente quando vêm necessidade de melhor salvaguar-dar os seus interesses.

Segundo um dos actuais pretendentes à chefia desse rebanho, os «eleitos» para o tur-no de serviço encomendado pelos abutres acantonam-se num pote, onde se pode go-zar de privilégios e prebendas que fora dele se tornam mais difíceis.

E é assim que, neste momento, se mo-vimentam os capatazes e pretendentes a ir ao pote, consoante a fome momen-tânea ou os serviços que se propõem prestar aos donos do pote, ou seja aos abutres.

Por mero acaso, tive acesso à última reunião necrófaga, onde foram discutidos os prós e con-tras da manutenção dos actu-ais ocupantes do pote ou da sua substituição a curto pra-zo.

D. Corleone colocou a questão aos outros mafiosos presentes, dando logo a in-dicação de que considerava que os actuais serventuários

estavam ainda em bom estado de conservação. Mais: - O Coelhone não seria capaz de fazer mais e melhor, agora, em defesa da Cosa Nostra. Neste momento, sou da opinião de que Socratoni está a cumprir muito bem a missão de que o incumbimos. Não nos obriga a pagar impostos, não questiona a origem das nossas fortunas, obriga os pacóvios da populaça a contribuir para a nossa dolce vita, enfim, ain-da não é altura de o substituir. Até porque no seu partido, segundo notícias que me vão chegando, ainda há alguns socialistas, o que poderia vir aumentar a contestação social que por aí anda na rua. E nós não podemos correr o míni-mo risco. Temos as televisões e as rádios na mão, temos o apoio dos Estados Unidos e da Europa connosco com a Angela Merkleoni à frente, temos a ajuda dos Mercados, temos as ameaças do FMI e do Banco Central Europeu, te-mos a mumificação do Mário Soares e de muitas outras ce-lebérrimas figuras do Estado a que chegámos com a graça de nosso senhor, mas mesmo assim temos que ter cuidado. Basta olharmos ao que se passa em vários países por esse mundo fora, onde os povos andam armados em parvos a clamar por liberdade e justiça. Não! Neste momento, é me-lhor mantermos o Socratoni a dirigir o pote porque ele está a ir muito bem e ainda aguenta mais meias solas. O Coe-lhoni que aguente os cavalos mais algum tempo. Quando for a altura certa para mudarmos de equídeo, informaremos o professor Cavaconi que ele tratará do assunto sem nos envolver. Alguém está em desacordo?

Todos os membros da Cosa Nostra abanaram as orelhas em sinal de aprovação. E assim terminou a coisa, como já

era esperado.No dia seguinte, «corajoso» como sempre e já devidamente instruído por D. Corleone, Socra-

toni viajou para Bruxedos City para receber ordens da directora geral da máfia interna-

cional, Merkleoni de seu nome. E no re-gresso, lá pôs em marcha mais um im-

PECável assalto aos bolsos do pobre povo que, atarantado por tanta

roubalheira feita já à luz do dia, sem que a polícia de inter-venção se disponha a inter-vir como seria seu dever, já nem se lembra que foi ele (povo) que escolheu esta gente para governar o seu país. E, segundo as sondas que por aí vão perfurando as consciências sempre distra-ídas, até parece que a seguir irá aceitar voluntariamente mais do mesmo. Com Coe-lhone no lugar de Socratone, sempre sob o comando da Camorra.

Ai povo da minha terra, quando irás acordar?

Os salteadores de um pote à deriva

Conversas desconversadas✓ Adventino Amaro

O Tribunal Constitucional italiano aceitou, dia 12 de Janeiro, a petição popular a favor da realização de um referendo contra a privatização da água, que recolheu um milhão e 400 mil assinaturas entregues em Julho de 2010.

Após o impressionante êxito desta campanha, o Fórum italia-no dos Movimentos da Água tem agora pela frente a gigantesca ta-refa de mobilizar a maioria do elei-tores inscritos (50%+1) a votar fa-voravelmente na consulta, de mo-do a que o seu resultado seja vin-culativo.

Nesse sentido, as centenas de comissões de utentes, associa-ções, sindicatos e variadas organi-zações que integram o Fórum têm estado diariamente no terreno aler-tando para a importância crucial da votação, da qual dependerá o ca-rácter da gestão da água no futuro próximo.

No âmbito da campanha referen-dária, realizou-se no dia 26 de Mar-ço, em Roma, uma manifestação nacional cujo objectivo central foi apelar à participação e à vitória do «Sim» no referendo, que deveria ser marcado entre os dias 15 de Abril e 15 de Junho.

No mesmo período decorrerão as eleições municipais e regio-nais, bem como um outro referen-do sobre a construção de novas centrais nucleares. Face a esta multiplicidade de escrutínios, Fó-rum italiano defendeu a marcação de uma única data para a sua re-alização.

Italianos votam gestão da água

Os trabalhadores da CM de Águeda elegeram, em 21 de Ja-neiro, os seus representantes para a Segurança, Higiene e Saú-de no Trabalho. A equipa eleita é constituída por quatro elementos efectivos e quatro suplentes.

Eleitos de SHST na CMde Águeda

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ABRIL 201114 jornal do STAL

N.º 98ABRIL 2011Publicaçãode informação sindical do STAL

PropriedadeSTAL – Sindicato Nacional dos Trabalhadoresda Administração Local

Director:Santos Braz

Coordenação e redacção:José Manuel Marques e Carlos Nabais

Conselho Editorial:Adventino AmaroAntónio AugustoAntónio MarquesHelena AfonsoIsabel RosaJorge FaelJosé TorresMiguel VidigalVictor Nogueira

Colaboradores:Adventino AmaroAntónio MarquesJorge Fael,José Alberto LourençoJosé TorresRodolfo CorreiaVictor Nogueira

Grafismo:Jorge Caria

Redacção e Administração:R. D. Luís I n.º 20 F1249-126 LisboaTel: 21 09 584 00Fax: 21 09 584 69Email: [email protected] Internet: www.stal.pt

Composição:pré&pressCharneca de BaixoArmazém L2710-449 Ral - SINTRA

Impressão:LisgráficaR. Consiglieri Pedroso, nº90, 2730-053 Barcarena

Tiragem:52 000 exemplaresDistribuição gratuitaaos sócios

Depósito legalNº 43-080/91

Horizontais: 1. Máscara; o governo do país, segun-do Passos Coelho. 2. Com-panheiras; altar; mulo. 3. Ali-mentava; acusada; cheguei. 4. Atraiçoas; batráquio; é Ar-mando e arguido no proces-so face oculta. 5. Em partes iguais (farm); extremidade da perna; e para não f icar co-xo, aqui temos a outra; suspi-ro. 6. Exclamação de espan-to; reside. 7. Parte an-terior do navio; porcos. 8. Andava; orifício termi-nal do intestino por on-de são expelidos os ex-crementos; 9. Noventa e nove (rom.); atmosfera; suf. de agente. 10. Ras-pei; deslocar-se a; es-pécie de veado. 11. Pa-ra a frente!; a unidade; enguia. 12. Mordi; geme (fig.); estás. 13. – Sem boca; junta.

Vert icais: 1. Execu-tar com voz trecho mu-sical; libertina. 2. Cabo fixo no punho da esco-ta onde se prendem os

papa-figos e as velas para os segurar do lado onde sopra o vento; adegas subterrâneas; 3. Nome próprio feminino; no-me de homem; abrev. de pan-tomina. 4. Acto de agrilhoar. 5. Tombas; parcela. 6. Mem-bro de ave; poeira; ruim; se-gunda, terceira e quarta vo-gais. 7. Acusada; diverte-se. 8. Cessa de andar; feminino de meão; toma rumo. 9. Re-

ze; pornografia abreviada; dez vezes cem. 10. Basta; os ve-getais; gemido. 11. Ande pa-ra lá; a eles; recitei. 12. Intuito (fig); azedo. 13. Dirigis-vos a; arenoso.

Palavras cruzadas

SOLUÇÕES

Horizontais:1. Caraca; pote. 2. Amigas; ara; mu. 3. Nutria; re; vim. 4. Trais; ra; vara. 5. Aa; pe; pe; ai. 6. Ah; mora. 7. Proa; cerdos. 8. Ia; anus. 9. Ic; ar; or; ar. 10. Rapei; ir; alce. 11. Avante; um; iro. 12. Dentei; mia; es. 13. Astomo; alia.

Verticais:1. Cantar; airada. 2. Amura; caves. 3. Rita; Ari; pant. 4. Agrilhoamento. 5. Cais; item. 6. Asa; po; ma; eio. 7. Re; ri.. 8. Para; meã; ruma. 9. Ore; porno; mil. 10. Ta; verdura; ai. 11. Va; aos; li. 12. Mira; acre. 13. Rumais; areoso.

Internet ✓ Victor Nogueira

«A mulher nasce e vive igual ao homem em direitos» lê-se nesta declaração que está dis-ponível em www.dhnet.org.br/direitos/anthist/mulheres.htm. Esta luta prosseguiu através dos movimentos feministas e das greves operárias.

Em 1910, por proposta de Cla-ra Zetkin, é cria-do o Dia Interna-cional da Mulher (www.socialismo.org.br/portal/historia/149-artigo/1407-dia-internacional-da-mulher-em-busca-da-memoria-perdida). Todavia, depois da efémera Comuna de Paris (1871), don-de se destaca Louise Michel, a igualdade plena entre homens e mulheres só foi reconhecida pela Revolução Socialista de Outubro, na Rússia (1917).

Em Portugal, é a Revolução de 1974 que consagra a plena igualdade de direitos, fixada na Constituição de 25 de Abril de 1976.

Datas e factos marcantes na história das lutas das mulheres em Portugal encontram-se em mulheresnomundodotrabalho.webs.com/datasefactossigni-ficativo.htm, tal como em neh.no.sapo.pt/documentos/os_movimentos_femininos_em_portugal.htm.

É de realçar o grande con-tributo das mulheres na resis-tência ao fascismo, nas greves operárias, enfrentando a re-pressão e sacrificando a própria vida como foi o caso de Maria-na Torres, a primeira operária

tombada em Portu-gal, durante a greve das conserveiras de Setúbal (1911).

A temática femi-nista é desenvolvida em www.mulheres-ps20.ipp.pt/, haven-do igualmente infor-mação importante nos sites do Movi-mento Democrático de Mulheres (MDM); União de Mulhe-res Alternativa e Resposta (UMAR); Associação Portu-guesa de Apoio à Vítima (APAV), da Associação Portu-guesa de Estudos sobre as Mulheres

(APEM), bem como em Violên-cia.online.

A nível internacional são de referir o Fundo da ONU para as Mulheres (Unifem), o Lobby Europeu de Mulheres, a Red Estatal de Organizaciones Fe-ministas contra a Violencia de Género (redfeminista) e as Mu-jeres en Red.

Quanto à situação actual da mulher no nosso País, reco-mendam-se dois recentes es-tudos do economista Eugénio Rosa, disponíveis em eugenio-rosa.com.

Mulheres e lutasFruto da Revolução Francesa, a primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão data de 1789. Mas logo em 1791 surgiu a Declaração dos Direitos das Mulheres e da Cidadã de Olympe de Gouges, que acabou guilhotinada..

A Associação «Pioneiros de Portugal» promove no Parque de Campismo da Praia da Galé, em Melides, os Campos de Férias de Verão que estão organizados em três turnos: 10 a 16 de Julho, dos 6 aos 13 anos; 17 a 23 de Julho, dos 6 aos 13 anos; e 24 a 30 de Julho, dos 14 aos 16 anosDurante uma semana, crianças e jovens realizam actividades que visam o desenvolvimento das suas capacidades físicas, intelectuais e criativas, o convívio, o trabalho de grupo, espírito de cooperação e sentido de responsabilidade. Para mais informações deve contactar a Associação (Tel: 21 886 95 26 / 21 886 62 97Fax:21 886 95 26; [email protected]).

Campos de férias Para crianças e jovens

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ABRIL 2011 15jornal do STAL

Um livro, um autor✓ António Marques

Em Gaibéus, Alves Redol, o ficcionista da expe-riência, transporta o leitor para o centro de uma época onde o explorado sente que a única fuga

possível é rumo ao futuro, ali retratado como o caminho de África ou do Brasil.

Redol debruça-se sobre a organização do modo de vida do povo explorado do Ribatejo para criar uma visão de oposição ao regime. Ilustra a amargura, a raiva mas também a dignidade de quem é humilhado e não obtém da força do seu trabalho o salário devido.

Gaibéus foi talvez o «sino que tocou a rebate» na consciência dos portugueses da década de 40. Nesta obra o grande escritor descreve o trabalho quase escravo, de Sol a Sol, na Lezíria do Tejo. Fazer mais e mais e sempre mais rápido para que o patrão arrecade mais rendimento.

Em troca a fome, a miséria. Nos poucos momentos de pausa, o sonho de um amanhã diferente e um trago de vinho para alegrar os espíritos e esquecer os maus-tratos. As mulheres sofrem de tudo e ainda se sujeitam à violência do senhor da terra que também as colhe para os seus prazeres animais.

No romance confrontam-se duas formas de ver a terra: o minifúndio e o latifúndio. Redol julgava poder unir as suas gentes quando todos percebessem que a fome era comum a ambos.

O neo-realismo e a luta pela liberdade

O movimento de oposição ao fascismo, encabeçado pelos comunistas, encontrou eco no nosso País e ampliou-se com o conhecimento dos horrores da guerra civil espanhola. Uma parte dos escritores e artistas portugueses, empenhados na intervenção cívica através da cultura, abraça então os ideais progressistas que se propagaram pela Europa inspirados na Revolução Russa.

Nesta grande obra literária de Alves Redol surgida em 1939, os conflitos de classe e a estatura moral dos oprimidos já aparecem bem desenhados, em contraposição e como instrumento de luta contra o regime musculado e imperialista de Oliveira Salazar, que, em todo o seu arcaísmo, miséria, ignorância e repressão, se apresentava mirrado de valores humanos e sociais.

A este movimento, que haveria de ser chamado de neo-realismo, para além de Redol, aderiram outras grandes figuras da cultura portuguesa, onde sobressaem, nas letras, os nomes de Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca, Vergílio Ferreira, Fernando Namora ou Manuel Tiago (A. Cunhal), e entre tantos outros como Júlio Pomar ou José Dias Coelho nas artes plásticas. Nas suas obras revela-se a esperança num amanhã livre de grilhetas, difundem-se as ideias de liberdade, da solidariedade e do progresso social.

O movimento neo-realista, projecto artístico de ambições políticas e sociais da parte da oposição portuguesa que foi o grande inspirador do 25 de Abril, travou o mais importante combate cultural ocorrido entre nós em todo o século XX. A sua estética, verdadeiro motor de comunicação para a intervenção cívica, levou gerações inteiras de jovens sedentos de liberdade a aderir à luta, cimentando a esperança num País mais moderno, justo e solidário.

Para além do seu valor intrínseco, enquanto gerador de obras de arte de enorme dimensão, podemos dizer que a força libertadora que imerge do neo-realismo faz deste movimento um esteio da memória colectiva portuguesa.

O centenário do grande escritor

António Alves Redol, cronista, contista, mas sobretudo, romancista e dramaturgo nasceu em Vila Franca de Xira, no dia 29 de Dezembro de 1911. Comemora-se assim este ano o centenário deste grande vulto da cultura portuguesa, que porventura estará na génese do movimento neo-realista precursor das grandes mudanças politicas e sociais do Portugal moderno.

Filho de pequenos comerciantes cedo conviveu com a pobreza e o desemprego em Angola, onde despertou para a necessidade da intervenção social

contra a ditadura. Na militância comunista abraçou a ideia de que a literatura poderia ser uma arma decisiva contra o obscurantismo de um regime assente na força, na intolerância e no isolamento em relação às realidades e movimentos das sociedades europeias.

Ao escrever Gaibéus, Alves Redol sofreu

de imediato um cerco da crítica literária da época. Contudo, a linguagem simples e a forma esquemática de apresentação dos enredos, de que era acusado pelos eruditos, foram direitas ao coração do povo, que, em lugar de deficiências, leu na clareza do estilo o significado e alcance da mensagem.

Também Emílio Zola, (Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola, 1840) no seu tempo escolheu o operariado e as convulsões sociais como centro dos seus romances e mereceu do mesmo modo o desprezo e o rancor da crítica.

Alves Redol usou a ficção nas suas obras, mas este apoiou-se nas suas experiências próprias que, de forma deliberada, quis acumular ao longo de uma vida dedicada á escrita. Foi este esforço que o ajudou a documentar as figuras e os enredos dos seus romances, vertendo através da sua prosa a história das suas histórias, enquanto ouvia os trabalhadores do Tejo ou as varinas de Lisboa, quando descia o Douro nos barcos rabelos, e uma vez quase naufragava nos mares da Nazaré acompanhando os pescadores.

Escreveu pelo menos 36 obras notáveis, 16 romances, Gaibéus (1939), Marés (1941), Avieiros (1942), Fanga (1943), Anúncio (1945), Porto Manso (1946), Horizonte Cerrado (1949), Os Homens e as Sombras (1951), Vindima de Sangue (1953), Os Olhos de Água (1953) A Barca dos Sete Lemes (1958), Uma Fenda na Muralha (1959), Cavalo Espantado (1960), Barranco de Cegos (1961), O Muro Branco (1966) Os Reinegros (edição póstuma, 1972). Três peças de teatro que a censura nunca deixou levar à cena, Teatro I - Forja e Maria Emília (1948 e 1966), Teatro II - O Destino Morreu de Repente (1967) e Teatro III - Fronteira Fechada (edição póstuma, 1972). Sete contos, Nasci Com Passaporte de Turista (1940), Espólio (1943), Comboio das Seis (1946). Noite Esquecida (1959), Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos (1962), Histórias Afluentes (1963), Três Contos de Dentes (1968). Cinco obras de literatura Infantil, Vida Mágica da Sementinha (1956) e o do ciclo da flor: A Flor Vai Ver o Mar (1968), A Flor Vai Pescar Num Bote (1968), Uma Flor Chamada Maria (1969), Maria Flor Abre o Livro das Surpresas (1970). Escreveu ainda quatros estudos intitulados, Glória – Uma Aldeia do Ribatejo (1938), Ribatejo (Em Portugal Maravilhoso, 1952), A França – Da Resistência à Renascença (1949), Cancioneiro do Ribatejo (1950), Romanceiro Geral do Povo Português (1964).

A obra de Redol é geralmente reconhecida pelo valor da sua visão da realidade social, do seu autenticismo e da tenacidade do empreendimento na via da liberdade com que nos brindou.

Morreu em 1969, já no ar pairava o clamor da revolta que estava no âmago das suas obras. Grande vulto das letras portuguesas, exemplo de empenhamento na luta pela liberdade, Alves Redol merece ser relido e profundamente meditado, para quando nos confrontarmos com o poder instituído, podermos gritar como ele o fez no final dos Gaibéus.

Os grandes temas de Gaibéus correm em torno das péssimas condições de trabalho e da imensa exploração que arrasta os assalariados para as profundidades do abismo social, enquanto o proprietário vive na abastança, perante a resignação e passividade de alguns e o despontar da consciência, do anseio e da angústia de outros, rastilho que há-de gerar revolta e futuro.

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Page 16: Jornal do STAL Edição 98 - Abril 2011

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Resumo da luta

Dirigentes e activistas do Sindicato estive-ram presentes, dia 23

de Março, na acção de pro-testo, frente à Embaixada dos EUA em Lisboa, contra os ataques à Líbia e a inge-rência no Bahrein. Como su-blinha o CPPC, promotor da iniciativa, «sob o pretexto e disfarce de “intervenção hu-manitária”, estamos perante mais uma guerra de agres-são e conquista por parte dos EUA e seus aliados da NATO e da região, com o aval do Conselho de Segu-rança das Nações Unidas».

Recordando os exemplos recentes dos Balcãs, do Ira-que e do Afeganistão, o Con-selho para a Paz salienta que «o verdadeiro móbil desta in-tervenção é o controlo dos recursos naturais e o domínio militar e político da região».

«Numa região marcada po-sitivamente por importantes

movimentações populares (…) as potências imperialis-tas buscam, em renovados moldes e por via da violência quando necessário, prosse-guir a sua intromissão e ex-ploração económica dos pa-íses desta região».

Sendo este o flagrante caso da Líbia, cujo povo está a ser a primeira vítima da agressão, o CPPC sublinha em simultâ-

neo que as potências impe-rialistas «conspiram contra os movimentos populares no Egipto e Tunísia e enviam for-ças militares da cruel ditadura Saudita para reprimirem a re-volta popular no Bahrein».

O Conselho para a Paz, solidarizando-se com os po-vos agredidos, «deplora a co-responsabilidade assumi-da pelo Governo português,

posto que votou favoravel-mente a resolução do Con-selho de Segurança das Na-ções Unidas sobre a Líbia; recusa liminarmente a par-ticipação de Portugal neste acto de agressão; e expres-sa a sua grande apreensão quanto às repercussões que a presente acção terá sobre outros povos no Próximo e Médio Oriente».

Uma agressão contra os povos

Em conjunto com várias outras organizações, o STAL subscreveu um documento lançado pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), que denuncia e condena a guerra imperialista contra a Líbia e a intervenção no Bahrein.

STAL condena intervenções imperialistas

16 de Dezembro – A Frente Comum pro-move uma acção de luta junto ao Ministé-rio das Finanças.5 de Janeiro – Inicia-se a entrega nos tri-bunais de providências cautelares contra os cortes nos salários.18 de Janeiro – A Frente Comum promove junto à residência oficial do primeiro-minis-tro um plenário nacional, no final da qual a PSP agride manifestantes e detém um diri-gente do STAL e outro da FENPROF. 25 de Janeiro – É publicado o diploma que regula e garante o financiamento aos ser-viços sociais. 26 de Janeiro – Trabalhadores das autar-quias em todos os distritos entregam re-clamações contra os cortes salariais.29 de Janeiro – O STAL assina um Acordo de Empresa com a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Covilhã.1 a 4 de Fevereiro – Os trabalhadores do município de Loures realizam uma greve pela reposição do subsídio de deslocação, no primeiro dia da qual a PSP intervém com brutalidade sobre o piquete.5 Fevereiro – A Cimeira de Sindicatos da Frente Comum reúne em Lisboa 11 de Fevereiro – Uma delegação da CGTP reúne com assessores do Presidente da Re-pública para apresentar questões relaciona-das com a Administração Pública.19 de Fevereiro – A Frente Comum promove em Lisboa um encontro de trabalhadores da Administração Pública, que termina com um desfile para a Praça da Figueira.1 de Março – O STAL reúne com o secre-tário de Estado da Administração Local para discutir o Suplemento de Risco e ou-tras questões designadamente relativas à Polícia Municipal.3 e 4 de Março – Tem lugar no Porto uma acção de formação para dirigentes do STAL sobre contratação colectiva.8 de Março – O Dia Internacional da Mu-lher é assinalado pelo STAL com a entrega de um postal às associadas.12 de Março – Entre 180 e 200 mil pesso-as participam em todo o País na jornada de protesto convocada por um grupo informal denominado «Geração à Rasca».19 de Março – Mais de 300 mil trabalhado-res participam em Lisboa numa grandiosa manifestação promovida pela CGTP-IN.22 de Março – o STAL assinala o Dia Mun-dial da Água emitindo um comunicado em conjunto com a Associação Água Pública.22 de Março – Os trabalhadores da Mo-veaveiro realizam uma greve de três horas contra o atraso sistemático no pagamento dos seus salários.1 de Abril – Milhares de jovens desfilam em Lisboa numa manifestação nacional promovida pela Interjovem, inserida nas comepara assinalar o Dia Internacional da Juventude.15 de Abril – O Conselho Geral do STAL aprova o relatório de actividades e contas de 2010 e a proposta de alteração aos Es-tatutos.

A concentração frente à embaixada dos Estados Unidos, dia 23 de Março, denunciou a guerra de agressão e conquista movida contra a Líbia e a ingerência no Bahrein