jornal do stal edição 97 - dezembro 2010

16
Nº 97 DEZEMBRO de 2010 Distribuição gratuita aos sócios STAL STAL Aniversário do STAL 35 anos de luta No ano em que se comemoram os 35 anos da sua fundação, o STAL persiste na trincheira em que sempre esteve na defesa dos trabalhadores. Centrais «Opção gestionária» Recuo vergonhoso O STAL condena a falta de palavra de alguns eleitos autárquicos e as inadmissíveis ingerências do Governo no poder local. Págs. 5 OE/2011 Ataque intolerável O Orçamento do Estado para 2011 é o maior ataque desde o 25 de Abril contra os trabalhadores, pensionis- tas e reformados. Págs. 6-7 A adesão massiva à greve geral de 24 de Novembro foi a expressão do profundo descontentamento dos trabalhadores contra as medidas antipopulares impostas pelo Governo. Para a ruptura e mudança efectiva de políticas é imprescindível prosseguir e intensificar a luta. Págs. 2-3 Prosseguir e intensificar a luta Força para mudar

Upload: disstalpt

Post on 27-Jun-2015

720 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

nº 97 • DEZEMBRO de 2010Distribuição gratuita aos sócios STALSTAL

Aniversário do STAL

35 anos de lutaNo ano em que se comemoram os 35 anos da

sua fundação, o STAL persiste na trincheira em que sempre esteve na defesa dos trabalhadores.

Centrais

«Opção gestionária»

Recuo vergonhosoO STAL condena a falta de palavra de

alguns eleitos autárquicos e as inadmissíveis ingerências do Governo no poder local.

Págs. 5

OE/2011

Ataque intolerável O Orçamento do Estado para 2011 é o maior ataque

desde o 25 de Abril contra os trabalhadores, pensionis-tas e reformados.

Págs. 6-7

A adesão massiva à greve geral de 24 de Novembro foi a expressão do profundo descontentamento dos trabalhadores contra as medidas antipopulares impostas pelo Governo. Para a ruptura e mudança efectiva de políticas é imprescindível prosseguir e intensificar a luta. Págs. 2-3

Prosseguir e intensificar a luta

Força para mudar

Page 2: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 20102 jornal do STAL

O STAL saudou «calorosa-mente os trabalhadores pelo espírito combativo e

determinado com que aderiram a

Greve geral confirma profundo descontentamento e forte disposição na luta

Com uma fortíssima adesão que ultrapassou os 90 por cento na Administração Local, a greve geral de 24 de Novembro constituiu uma das maiores paralisações de sempre e um poderoso grito de revolta e de disponibilidade de luta, nas autarquias, no sector empresarial local e nos bombeiros, contra a política de austeridade e de retirada de direitos protagonizada pelo Governo PS de José Sócrates com o apoio do PSD.

esta jornada de luta contra a política imoral e injusta do Governo».

Em nota de imprensa, o Sindica-to salienta que a greve geral «não pode nem deve ser encarada como um fim em si mesmo», mas sim como um etapa que abriu caminhos para a intensificação do protesto e da luta que «têm que continuar e vão manifestar-se pelas mais diver-sas formas enquanto Sócrates e o seu Governo insistirem nas políti-cas de direita ao serviço dos gran-des interesses económicos, em detrimento de uma aposta efectiva no desenvolvimento, no aparelho produtivo e na valorização dos tra-balhadores.»

Paralisação quase total

A greve fez-se sentir por todo o lado e registou níveis nunca antes alcançados em muitos locais de trabalho, sectores ou zonas do País (dados disponíveis em www.stal.pt).

A ausência de recolha de lixo na generalidade do território foi o si-

nal mais visível da greve logo no início da madrugada. Pela manhã juntaram-se as paralisações de milhares de trabalhadores operá-rios e auxiliares de sectores ofici-nais, arruamentos, jardins, cemi-térios, transportes escolares, ser-viços de água e de saneamento e outros.

Os transportes urbanos munici-pais praticamente não funciona-ram, dezenas de escolas, creches e jardins-de-infância tiveram as suas portas encerradas, tal como muitos pavilhões desportivos e piscinas municipais.

Trabalhadores administrativos e técnicos aderiram massivamente e levaram ao encerramento de cente-nas de serviços de atendimento ao público, contabilidade, informática e urbanismo, bem como de juntas de freguesia.

Também o sector empresarial da Administração Local se incorporou no protesto, paralisando numerosas entidades municipais, multimunici-pais e intermunicipais.

As corporações de bombeiros profissionais das autarquias (muni-cipais e sapadores) e diversas asso-ciações humanitárias de bombeiros voluntários asseguraram, em regra, apenas os serviços mínimos indis-pensáveis para garantir a seguran-ça de vidas e apoio a acidentes.

Pressões e violação da lei

O STAL assinalou «a capacidade de resistência dos trabalhadores em greve, apesar de diversos ac-tos de chantagem, de coacção e de substituição ilegal de grevistas, bem como da tentativa de imposição de serviços mínimos despropositados por parte do Ministério do Trabalho e dos tribunais arbitrais constituídos no âmbito do Conselho económico e Social.»

Em Braga, o Ministério do Traba-lho produziu um despacho conjun-to para os transportes urbanos que procurava limitar o direito à greve e «desvirtuava grosseiramente a filo-sofia legal de serviços mínimos que

O combate intensifica-se

Antes da greve geral de 24 de Novembro, os tra-balhadores da Administração Local realizaram, em 20 de Setembro, uma participada greve no sector, que teve uma adesão de 70 por cento.

Esta jornada, para além dos objectivos mais am-plos que se expressaram na greve geral, teve como motivos específicos a condenação da ingerência do Governo na autonomia do Poder Local, com vista a condicionar decisões camarárias favoráveis aos trabalhadores.

Trata-se, em particular, das chamadas medidas de «opção gestionária», que permitem às autarquias fazer progredir profissionalmente os trabalhadores que tenham obtido durante cinco anos uma avalia-ção de desempenho de bom.

Apesar de este mecanismo estar previsto na legis-lação, o Governo tudo tem feito para impedir a sua aplicação, instrumentalizando a Inspecção-Geral da Administração Local para chantagear eleitos autár-quicos, com ameaças de sanções penais por alega-do crime de peculato, e o aparelho partidário para pressionar eleitos socialistas a anularem decisões já tomadas.

Por outro lado, também no plano da contratação colectiva, particularmente no âmbito da negociação de acordos colectivos de entidade empregadora pú-blica entre o STAL e as autarquias, o Governo têm-se imiscuído nos processos em curso, pretendendo impor a inclusão da adaptabilidade dos horários de trabalho no sector.

O STAL sublinha que estes procedimentos violam a autonomia do Poder Local, consagrada na Cons-tituição da República, e reafirma que, por todos os meios – institucionais, jurídicos e reivindicativos –, irá continuar a luta para garantir a liberdade de ne-gociação nestas duas matérias e a justa valorização dos trabalhadores das autarquias.

Um crescendo de lutas

Milhares de trabalhadores participaram

manifestações de 29 de

Setembro, convocadas

pela CGTP-IN no âmbito da

jornada europeia de luta contra a

austeridade

Page 3: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 2010 3jornal do STAL

Editorial

Separar o trigo do joioA situação em que o País se encontra não é con-

sequência do acaso ou de qualquer inevitabi-lidade, mas sim o resultado das políticas seguidas obstinadamente nas últimas três décadas, com o objectivo definido de reconstituir os poderio de meia dúzia de famílias e seus apaniguados, que hoje reinam novamente em Portugal na abastança.Na greve geral de 24 de Novembro, os trabalhadores condenaram estas políticas de classe, exigindo uma rup-tura, uma mudança efectiva e não apenas de nomes.Prosseguindo a sua árdua luta, os trabalhadores têm, nas eleições presidenciais de 23 de Janeiro, uma nova oportunidade para abrir caminho à mudança política, penalizando os responsáveis pelo actual estado de coisas. Para isso devemos reavivar a memória.

Cavaco Silva, nos dez anos em que esteve no gover-no, empreendeu contra os trabalhadores as maio-

res tropelias (quem não se lembra do congelamento dos escalões ou do quadro de excedentes?). Da mesma forma, nos cinco anos de mandato presidencial esteve sempre ao lado da política do Governo Sócrates, mes-mo no que toca às medidas mais impopulares, como a retirada de direitos de aposentação, a destruição do vínculo público, a criação do SIADAP, das quotas de avaliação ou do novo quadro de excedentes.

Manuel Alegre não lhe fica atrás! É certo que não desempenhou cargos de governação

mas, como deputado na Assembleia da República, ao longo das últimas três décadas, apoiou sempre as principais medidas que caracterizam indistintamen-te a política dos sucessivos governos, sejam eles do PS ou do PSD, sozinhos ou em coligação, com ou sem CDS.Que disse Manuel Alegre, candidato apoiado pelo PS e BE, do PEC III e das violentas medidas constantes no Orçamento do Estado para 2011? Como reagiu ao congelamento e cortes dos salários e do abono de família, do aumento dos impostos e descontos para a Caixa Geral de Aposentações? Lamuriou-se, mas con-cordou que o Orçamento precisava de ser aprovado; lamentou, mas não esteve com os 100 mil trabalhado-res da Administração Pública que, em 6 de Novembro, se manifestaram na Avenida da Liberdade, tal como foi incapaz de afirmar o seu apoio à greve geral.

Portugal e os trabalhadores precisam de um presi-dente e de um governo que rompam com 30 anos

de políticas ao serviço do capital, que cumpram a cons-tituição e devolvam ao Estado o controlo dos sectores estratégicos da economia, hoje monopólios privados, que travem a crescente acumulação de riqueza nas mãos de alguns, e a façam reverter para o desenvol-vimento do aparelho produtivo, de serviços públicos de qualidade, para a construção de um país soberano e independente, de progresso e justiça social.Por isso, no dia 23 de Janeiro é preciso distinguir o trigo do joio e votar no candidato que está connos-co na luta do dia-a-dia por uma vida melhor. Com ele prosseguiremos a luta!

evitem perdas ou prejuízos irrepa-ráveis nas populações – como o direito à vida». Só após uma provi-dência cautelar do STAL, a empre-sa municipal responsável por este serviço público (TUB) suspendeu a prestação de qualquer serviço mí-nimo.

De entre as várias situações de violação da lei da greve, «contra as quais o STAL irá accionar os res-pectivos mecanismos judiciais», sa-lienta-se: Na Moveaveiro, empresa municipal de transportes urbanos, o director delegado substituiu encar-regados em greve; na Guarda foram substituídos trabalhadores do refei-tório; em Oeiras, os turnos diurnos e nocturno da recolha de lixo funcio-naram em parte devido à substitui-ção de trabalhadores, situação que também se registou no Funchal; na Associação de Bombeiros de Sa-cavém foram feitas pressões sobre um trabalhador em greve; em Va-ladares, a direcção dos bombeiros mandou retirar uma faixa colocada pelos trabalhadores em greve.

Na greve geral de 24

de Novembro, muitos

milhares de trabalhadores,

activistas, delegados

e dirigentes sindicais

integraram os piquetes de greve, cuja

acção foi decisiva para

garantir o direito de greve

A manifestação de 6 de Novembro, que trouxe a Lisboa mais de 100 mil trabalhadores de toda a Administração Pública, foi um sinal da forte disposição de luta antecipando o êxito da greve geral

Propostas e objectivosAvaliando a greve geral como uma expressiva manifestação dos

trabalhadores portugueses pela mudança efectiva de políticas, a CG-TP-IN salientou, em comunicado, a necessidade urgente de promo-ver «uma mais justa distribuição da riqueza, a utilização dos recursos e das capacidades produtivas do país, a salvaguarda da soberania nacional».

Por seu lado, contrariando o discurso do Governo e a sua propa-ganda nos media dominantes, o STAL divulgou um conjunto de pro-postas que, inseridas numa política não enfeudada aos interesses do grande capital, permitiriam reforçar as finanças públicas e contribui-riam para o desenvolvimento do País:

- Combater a fraude, a evasão fiscal e a economia paralela;- Obrigar a banca e os grandes grupos económicos a pagar 25%

de IRC como qualquer empresa, em vez dos 5% que pagam actual-mente;

- Tributar os capitais enviados para os paraísos fiscais (off-shores); - Taxar as transacções financeiras em bolsa;- Acabar com o desperdício, os investimentos inúteis, as mordo-

mias, os lucros escandalosos, os salários chorudos, a externalização de serviços;

- Valorizar o poder local democrático e os serviços públicos, en-quanto componente basilar da democracia participativa, motor de desenvolvimento e de criação de emprego.

Page 4: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 20104 jornal do STAL

Consultório Jurídico ✓ José Torres

Como é sabido, os contratos pre-cários correspondem, na sua es-magadora maioria, ao desempe-

nho de funções de natureza permanente e não a meras carências temporárias da administração, pelo que são manifesta-mente ilegais.

Mas apesar das grosseiras ilegalidades que inquinam esses contratos, o regime de direito público tem proibido expres-samente a sua conversão em contratos sem termo, ao contrário do que sucede no Código do Trabalho, que impõe essa conversão sempre que a sua celebração viole as disposições legais.

Sobre esta matéria, o Tribunal Consti-tucional (Acórdão 368/2000) considerou que a conversão dos contratos a termo em contratos sem termo viola o artigo 47.º, n.º 2, da Constituição da Repúbli-ca, porquanto este normativo determina que o ingresso na Administração Pública se faz, em regra, através de concurso.

Entidades condenadas

Recentemente, porém, a referida proi-bição tem vindo a ser questionada, no-meadamente pelo Tribunal da Relação do Porto, de que se relevam os acór-dãos de 22/2/2010 e 3/5/2010 (ambos publicados em www.dgsi.pt) os quais condenaram determinadas entidades da Administração Pública a converterem em contratos sem termo os contratos a termo que foram objecto de julgamento.

De facto, tais acórdãos convergem no entendimento de que os contratos a termo da Administração Pública podem

converter-se em contrato sem termo, nas situações em que, de forma geral, traduzem um abuso ao recurso à con-tratação precária, para exercício de fun-ções de natureza permanente.

Para esse efeito, os acórdãos invo-cam também a Directiva 1999/70/CE, de 28/6/99, visando evitar os abusos decorrentes da utilização de sucessivos contratos a termo, muito embora essa Directiva não tenha sido transposta para o regime da celebração de contratos a termo com pessoas colectivas públicas.

Assim, com base nesta fundamenta-ção, conclui-se nesses acórdãos que a conversão não é inconstitucional, por violação do citado artigo que condiciona em regra à realização de concurso o in-gresso na Administração Publica.

Pelo contrário, sustentam os magistra-dos, o que sofre de inconstitucionalida-de é a norma que proíbe absolutamente a conversão dos contratos na Adminis-tração Publica, uma vez que viola o prin-cípio da segurança no emprego, ínsito no artigo 53.º da CRP.

Pôr fim às ilegalidades

Enaltece-se assim a importância des-tes acórdãos e de outros que eventual-mente venham a ser detectados, con-trariando anterior jurisprudência, e que por isso podem ser decisivos para con-

seguirmos a regularização das situações ilegais de trabalho precário que prolife-ram na Administração Pública.

De facto, esses acórdãos permitem-nos demonstrar que o abuso continuado nesta matéria por parte da Administração Pública constitui uma manifesta ofensa aos princí-pios de segurança no emprego consagra-dos no artigo 53.º da Lei Fundamental.

Sabemos que o trabalho precário ile-gal grassa nas autarquias encoberto por pretensos contratos sem qualquer fun-damentação ou sob falsos pretextos que camuflam o efectivo desempenho de funções de natureza permanente.

Muitos destes casos arrastam-se há lon-gos anos, ultrapassando todos os prazos legalmente admissíveis. Alegar que tais contratos, feridos de gritantes ilegalida-des, não podem converter-se em contra-tos sem termo, para além de um profundo desprezo pelos trabalhadores, representa uma violação dos princípios constitucio-nais inerentes à segurança de emprego.

Impõe-se, por isso, insistir cada vez mais no saneamento destas situações, recorrendo a todos os meios ao nosso alcance, inclusive, se necessário, aos tri-bunais, onde a fundamentação que a ci-tada jurisprudência nos faculta constitui relevante argumentação no sentido da plena atribuição do direito ao trabalho e à segurança de emprego constitucional-mente reconhecidos.

Oliveira do BairroEdil condiciona liberdade sindical

O presidente da CM de Oliveira do Bairro, Mário João Oliveira, amea-çou chamar a GNR, durante um plenário de trabalhadores, que teve de se realizar no corredor porque recusou a cedência de uma sala.

O STAL repudiou veementemente a atitude do autarca, considerando-a «anticonstitucional e ilegal», já que teve claramente o intuito de condi-cionar a liberdade sindical, e sublinha que a lei obriga as entidades patronais a ceder espaços apropriados para a realização de reuniões sindicais.

De resto, a má-vontade ficou clara quando, depois de alegar que o salão nobre da autarquia estaria ocupado, apesar de nenhum evento ter ali de-corrido no período do plenário, voltou a recusar um espaço alternativo e dispo-nível como era o caso da biblioteca.

Como se não bastasse, o edil ou-sou interromper a reunião de traba-lhadores e, em tom arrogante e auto-ritário, ameaçou chamar a GNR para acabar com o barulho. Esta atitude é qualificada pelo Sindicato como «re-veladora de um autêntico caciquismo e de desrespeito pelas mais elemen-tares normas da democracia».

CM PortoTribunal anula penas por álcool

O Supremo Tribunal Administrativo confirmou, no final de Setembro, a deci-são que impede a CM do Porto de realizar testes de álcool aos seus trabalhadores.

Estes testes já tinham sido suspen-sos no final do ano passado, após uma decisão nesse sentido do Tribu-nal Central Administrativo do Norte. Contudo, a Câmara entendeu recor-rer da sentença, vendo-a agora con-firmada pelo Supremo. Desta forma, também as penas aplicadas aos tra-balhadores que apresentaram valo-res positivos deverão ser anuladas.

Desde 2003 que o STAL exige a eliminação do controlo de álcool por considerar que põem em causa a pri-vacidade do trabalhador, já que os seus resultados eram comunicados às che-fias para deliberarem sobre a abertura de um processo disciplinar. Ao mesmo tempo, o Sindicato defende que o com-bate ao alcoolismo e outras dependên-cias deve assentar na informação e formação, assegurando-se o seu tra-tamento como qualquer outra doença.

Conversão dos contratos a termo

Novos argumentos contra precariedade abusiva

O recurso abusivo à contratação precária, particularmente sob a forma de contratos a termo e contratos de prestação de serviços (na gíria «recibos verdes»), é uma prática condenável da Administração Pública, inclusive das autarquias, que deve ser combatida.

Page 5: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 2010 5jornal do STAL

A Câmara Municipal de Águeda aderiu, em Outubro, ao «Projecto EURIDICE – Pre-venção das Dependências em Meio Laboral», através da celebração de um protocolo de parceria com a CGTP-IN, o STAL e o Instituto da Dro-ga e Toxicodependência.

O projecto, coordenado a nível nacional pela Intersin-dical Nacional (CGTP-IN), está orientado para a pre-venção e a intervenção nos problemas ligados ao con-sumo de substâncias psi-coactivas em meio laboral.

Depois dos municípios de Loures e do Seixal, a CM de Águeda tornou-se a tercei-

ra autarquia a avançar com esta iniciativa, que aposta na informação e formação dos trabalhadores, através da realização de acções de sensibilização sobre a temá-tica das toxicodependên-cias, promoção de hábitos de vida saudáveis, modifica-ção de atitudes e comporta-mentos de risco, prevenção e intervenção em problemas associados ao consumo de substâncias psicoacti-vas, incluindo o álcool, e criação de um clima social e de trabalho saudáveis.

O projecto EURIDICE (si-gla de European Research and Intervention on Depen-

dency and Diversity in Com-panies and Employment) é dinamizado a nível europeu pela Cooperativa Di Studio e Ricerca Social Marcella.

Representantes SHST eleitos nos Açores

Na região sindical de

Ponta Delgada, foram elei-tos sete representantes dos trabalhadores para a área da Segurança, Higie-ne e Saúde no Trabalho.

As eleições tiveram lugar, ao longo deste ano, nas câ-maras municipais de Lagoa, Ribeira Grande e Povoação.

A Câmara Municipal de Caste-lo Branco foi um dos muitos municípios que, em Janeiro

deste ano, aplicou a opção gestio-nária valorizando os vencimentos de um vasto conjunto de trabalha-dores que cumpriam os requisitos.

Apesar de diminuto, o acréscimo re-muneratório, que oscilava entre os 31 e os 42 euros por mês, permitia atenu-ar a contínua degradação do poder de compra sofrida nos últimos anos.

Porém, passados poucos meses, o presidente do município, Joaquim Morão, eleito pelo PS, revogou a medida e começou a descontar o di-nheiro pago nos parcos vencimentos dos funcionários da autarquia.

Face à gritante ilegalidade, os tra-balhadores manifestaram-se, dia 20 de Setembro, frente aos Paços do Concelho, exigindo a reposição de um direito adquirido. Mas o edil man-teve-se irredutível na decisão, refu-giando-se num parecer da Direcção-Geral das Autarquias Locais (DGAL).

Em resposta, o STAL interpôs ac-ções em tribunal abrangendo 45 tra-balhadores dos Serviços Municipais e 49 da Câmara de Castelo Branco, que esperam ser ressarcidos deste autêntico roubo.

Situações semelhantes ocorreram nas câmaras de Elvas, Bombarral e Águeda, todos elas baseando-se nas posições prepotentes do secre-tário de Estado da Administração Local ou em pareceres da DGAL ou da IGAL, cuja fundamentação é contestada pelo Sindicato.

Ingerências ilegais

Sem deixar de responsabilizar os eleitos autárquicos por faltarem aos compromissos assumidos, o STAL qualifica as intervenções do Governo, através da Secretaria de Estado, da Direcção Geral ou Inspecção-Geral das Autarquias Locais, como uma «descarada interferência» na gestão dos municípios e um abuso de poder, que não têm qualquer cobertura legal.

O STAL considera que quer a DGAL quer a IGAL, desprezando a autonomia do Poder Local, promo-vem «uma leitura enviesada da lei», visando «fins político-governamen-tais contrários aos interesses dos trabalhadores».

Por tudo isto, o STAL continuará a desenvolver todas as formas de luta em conjunto com os trabalhadores, seja recorrendo à denúncia pública

Após o plenário de 23 de Setembro, a Câmara aplicou finalmente a opção gestionária

Município de Águeda adere ao EURIDICE

Luta vitoriosa em Loures A «opção gestionária» foi final-

mente aplicada a todos os trabalha-dores dos SMAS e da Câmara Mu-nicipal de Loures.

A medida foi acordada entre o STAL e a autarquia, em Abril de 2009, sendo aprovada em reunião de Câmara em Janeiro deste ano.

Ficou estabelecido que todos os trabalhadores da Câmara Municipal e Serviços Municipalizados, que reunissem um mínimo de cinco pon-tos, teriam direito à mudança de po-sicionamento remuneratório, a qual seria efectivada no vencimento de Setembro, com retroactivos a Ja-neiro de 2010.

Todavia, o prazo esgotou-se e as promessas não foram cumpridas.

Reunidos em plenário do STAL, no dia 23 de Setembro, os trabalhado-res aprovaram uma resolução por unanimidade, exigindo a imediata aplicação da «opção gestionária», admitindo recorrer a outras formas de luta.

Os responsáveis autárquicos apressaram-se a responder, apli-cando logo nos salários de Outu-bro os montantes devidos aos trabalhadores dos SMAS e com-prometendo-se a abranger os tra-balhadores da Câmara no mês de Novembro.

A unidade e firmeza dos trabalha-dores foram mais uma vez cruciais para a defesa dos seus legítimos in-teresse.

Os trabalhadores do município de Castelo Branco

(na foto) e de várias outras

autarquias do País continuam a bater-se pela restituição do

direito à «opção gestionária»

Em defesa da «opção gestionária»

STAL condena falta de palavra

O Sindicato condena os eleitos das câmaras municipais que, após terem acordado a aplicação da opção gestionária, cederam às pressões do Governo, e, dando o dito por não dito, obrigaram nalguns casos os trabalhadores a devolver os montantes recebidos.

e aos tribunais, seja levando a cabo processos de luta no sentido de tra-var a retirada de direitos conquis-

tados e alcançar o seu reconheci-mento nas autarquias que ainda não o fizeram.

Page 6: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 20106 jornal do STAL

Para além do aumento dos impostos (IRS, IVA), do cor-te nas prestações sociais ou

do congelamento na generalidade das pensões que afectam todas as famílias, o Governo criou medidas específicas contra os funcionários públicos, cujos salários represen-tam 24,7 por cento de toda a des-pesa do Estado.

Assim, depois de este ano te-rem visto o seu vencimento lí-quido diminuir com a subida dos descontos da Caixa Geral de Aposentações (CGA) de 10 para 11 por cento, em 2011, pela pri-meira vez desde o 25 de Abril,

sofrerão uma redução nominal de cinco por cento em média para as remunerações brutas acima de 1500 euros, enquanto as mais baixas ficarão congeladas, ou seja, perderão poder de compra devido ao efeito da inflação que deverá atingir os 2,2 por cento.

São tantas e variadas as me-didas que irão afectar a vida dos funcionários públicos e das suas famílias em 2011, que vale a pena enunciá-las (ver caixa).

A factura que irão pagar é ex-tremamente pesada. Os cortes salariais deverão atingir o mon-tante global de 1 245,5 milhões de euros, ou seja, quase um ter-ço (28 %) da redução do défice orçamental (de 7,3 para 4,6 por cento) será obtido à custa das remunerações dos trabalhado-res do Estado.

Se adicionarmos a esta parce-la os impactos que o aumento da carga fiscal, os cortes nas presta-ções sociais, na saúde e na edu-cação irão ter no bolso de todos os trabalhadores, concluiremos que estamos perante o mais rude golpe sobre o poder de compra dos portugueses, que atinge com especial gravidade os funcionários públicos.

Governo asfixia Poder Local

O garrote financeiro tem tam-bém um impacto directo muito forte na vida dos trabalhadores das autarquias, tanto mais que es-tão previstos cortes drásticos nas transferências para os municípios e freguesias.

Nos últimos anos, as condições impostas às autarquias têm-se degradado continuamente. Os 308 municípios do País, que em-pregavam 134 912 trabalhadores no final de 2009, têm sido um alvo permanente das políticas orçamentais restritivas, impos-tas pelo Governo ao arrepio da Constituição, que determina a justa repartição dos recursos pú-

blicos como garantia da autono-mia do poder local.

Foi já a pretexto das dificulda-des económicas e financeiras que o Governo aprovou uma lei das finanças locais que limitou grave-mente a capacidade de endivida-mento dos municípios, pondo em causa a sobrevivência de muitos.

Agora, sem levar em conta os compromissos entretanto assu-midos pelos municípios e vio-lando a própria lei das finanças locais que lhes impôs, o Gover-no decidiu cortar já este ano 100 milhões de euros nas transferên-cias relativas à participação nos impostos do Estado e impor um endividamento líquido nulo às autarquias.

O próximo OE prevê outro cor-te brutal de 132 milhões de eu-ros nas transferências para os municípios e de 18 milhões de euros para as freguesias. A tudo isto há que adicionar as dívidas do Governo, que, de acordo com cálculos da Associação Nacional de Municípios, referidos recen-temente na Assembleia da Re-pública, acendem a 176 milhões de euros, dos quais 76,2 milhões dizem respeito a transferências de competências do Ministério

Governo sacrifica trabalhadores do sector público

O Orçamento do Estado para 2011 é sem quaisquer dúvidas o maior ataque desde o 25 de Abril efectuado contra os trabalhadores, pensionistas e reformados e, em especial, contra os cerca de 850 mil trabalhadores da Administração Pública (Central e Local) e do Sector Empresarial do Estado.

OE/2011 empobrece famílias para manter lucros do grande capital

Na linha do que se vem verificando des-de 2005, data a partir da qual a Administra-ção Pública já perdeu 84 713 trabalhadores (ver gráfico), ou seja, uma redução média de 16 942 trabalhadores por ano, o Gover-no pretende continuar esta política de con-tracção do emprego no sector, mediante o congelamento das admissões no próximo ano e seguintes.

Tendo em conta que a redução do número de empregos verificada em Portugal desde 2005 ronda os 27 320 empregos por ano, pode afirmar-se que o principal contributo para a destruição de postos de trabalho tem sido dado pela Administração Pública.

Por esta razão, o Governo mente quando afirma que nada tem a ver com o flagelo do aumento de desemprego. Sublinhe-se que no final do terceiro trimestre havia em Por-tugal 609 400 desempregados, em sentido restrito, e 761 500 em sentido lato.

Na aparência, a Administração Pública não é responsável por estes números, já que, formalmente, não procede a despedi-mentos. Contudo, todos sabemos que isso não corresponde à verdade.

O Estado emprega na Administração Pú-blica muitos milhares de falsos trabalhado-res independentes, que cumprem como os demais horários de trabalho e dependem directamente de chefias da Administração Pública, mas estão a «recibo verde».

Nos últimos anos, muitos destes traba-lhadores têm sido afastados, engrossando

as fileiras dos desempregados, embora não tenham direito ao correspondente sub-sídio.

Por outro lado, um desempregado não é apenas aquele trabalhador que, estando hoje a trabalhar, amanhã perde o seu em-prego porque é objecto de despedimento ou porque não vê renovado o seu contrato de trabalho. Também o é aquele jovem que tendo terminado a sua formação procura emprego e não o encontra.

De acordo com os dados relativos ao terceiro trimestre de 2010, a população à procura do primeiro emprego ascendia a 66 900 indivíduos, tendo aumentado 22,1 por cento (12 100 indivíduos) em relação ao trimestre anterior e 27,2 por cento (14 300 indivíduos) em comparação como o perío-do homólogo de 2009.

O congelamento das admissões na Ad-ministração Pública impede que muitos mi-lhares de trabalhadores, recém-chegados ao mercado de trabalho ou que perderam o seu emprego, encontrem uma resposta neste sector, ficando dependentes exclusi-vamente da escassa oferta do sector pri-vado.

Assim, para além de conduzir a uma inevitável degradação do serviço público e à intensificação dos ritmos de trabalho, o congelamento das admissões na Admi-nistração Pública constitui um dos factores que mais tem contribuído para o flagelo do aumento do desemprego em Portugal.

O congelamento das admissões e o flagelo do desemprego

Page 7: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 2010 7jornal do STAL

Governo sacrifica trabalhadores do sector público

OE/2011 empobrece famílias para manter lucros do grande capital✓ José Alberto Lourenço

Economista

da Educação para os municípios no âmbito da descentralização de competências.

Perante este quadro orçamen-tal, a própria Associação Nacio-nal dos Municípios Portugueses estima que cerca de um quarto da totalidade dos municípios ver-se-ão obrigados a recorrer a empréstimos para saneamento e reequilíbrio financeiro. Muitas das suas intervenções de apoio às populações estarão em risco e muitos dos protocolos de des-centralização de competências da Administração Central para os municípios poderão mesmo ser denunciados.

Foi este o Orçamento do Estado que PS e PSD viabilizaram no par-lamento. É contra este Orçamento que os trabalhadores da Adminis-tração Pública, e em particular os trabalhadores da Administração Local, continuarão a protestar ve-ementemente.

Grupos económicos são os únicos beneficiados

Mas não são apenas os tra-balhadores do Estado que são altamente penalizados pelas

políticas partilhadas pelos dois maiores partidos. Os pensionis-tas e reformados, os trabalhado-res por conta de outrem do sec-tor privado, os desempregados e os beneficiários de prestações sociais são também duramente atingidos.

Os poucos que beneficiam são, muito em particular, os grandes grupos económicos que conti-nuam a acumular lucros sobre lucros. Por exemplo, os lucros dos quatro maiores bancos pri-vados ascenderam a 4,1 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano; a PT encaixou 5 617,7 milhões de euros; a Brisa 401,7 milhões de euros, a Galp 266 milhões de euros, a Portucel

154,3 milhões de euros e a Jeró-nimo Martins 193 milhões de eu-ros. Em contrapartida, as famí-lias, na sua esmagadora maioria, empobrecem de ano para ano, e as pequenas e médias empresas estão endividadas e à beira da ruína.

Ao contrário daquilo que nos pretendem impingir não vivemos uma situação inevitável e achamos que existem alternativas, com os trabalhadores e com um sector público forte e ao serviço das po-pulações.

É possível e desejável um futu-ro diferente e melhor para o nosso País, mas só através da luta per-manente dos trabalhadores será possível alcançá-lo.

1. Cortes salariais a partir dos 1500 euros, abrangendo cerca 450 mil trabalhadores, e con-gelamento para os restantes 400 mil, que auferem os salários abaixo daquele montante.

2. Aumentos dos descontos para a CGA de 10 para 11 por cento.

3. Fusão de organismos do Estado, com a colo-cação de funcionários na mobilidade especial.

4. Congelamento das admissões.

5. Redução do número de contratados.

6. Redução das horas extraordinárias e subsí-dios (ajudas de custo e subsídios de transporte vão ser reduzidos e o regime de trabalho nocturno vai ser unificado);

7. Diminuição dos benefícios na Saúde (a ADSE vai ser reformulada, o Governo pretende que o sistema de saúde dos funcionários públicos deixe de ser obrigatório e passe a ser voluntária a sua subscrição, serão limitados os serviços a que se tem direito, bem como o número de medicamen-tos elegíveis).

8. Cortes nas pensões indexadas aos salários (as pensões indexadas aos salários vão sofrer um corte idêntico ao que está previsto para os funcio-nários no activo. O valor das restantes, mesmo as mais baixas, ficará congelado no próximo ano).

9. Fim das acumulações de salários com pen-sões.

10. Transferências forçadas de trabalhadores (sendo cada vez mais limitadas as situações em que os funcionários podem recusar essas trans-ferências).

11. Avaliação de desempenho não produz efeitos remuneratórios no próximo ano (os funcio-nários poderão continuar a acumular pontos, mas não poderão subir de posição remuneratória antes de 2012).

12. Travagem de qualquer subida salarial, fi-cando proibidas no próximo ano alterações de posicionamento remuneratório, progressões, pro-moções ou nomeações.

Doze medidas intoleráveis

Emprego na Administração Pública (1996/2010)

Em

pre

go

s (N

º)

580,000

1996

638,938

716,418

747,880

726,523

708,507

692,279

675,048 663,167

20061999 2007 20092005 2008 2010

600,000

620,000

640,000

660,000

680,000

700,000

720,000

740,000

760,000

Quase um terço da redução do défice orçamental será obtido à custa dos

salários dos trabalhadores

Page 8: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

8 jornal do STAL/DEZEMBRO 2010jornal do STAL/DEZEMBRO 2010

Com a constituição da «Orga-nização Pró-Sindical da Ad-ministração Pública e Local»,

que logo em Maio de 1974 promo-veu plenários em Lisboa, Setúbal, Coimbra, Leiria, Braga, Foz do Are-lho, Praia Grande, Santarém e Tavira, deu-se início ao complexo processo de luta pela criação de um sindicato verdadeiramente representativo dos trabalhadores.

No plenário realizado em Tavira, nos dias 19 e 20 de Abril de 1975, foi aprovada a constituição de uma Comissão Coordenadora Provisó-ria, inicialmente composta por oito membros e mais tarde alargada para 12. A 24 de Agosto deste ano é deliberado, em assembleia reali-zada no Porto, constituir o Sindi-cato.

No primeiro caderno reivindicati-vo do STAL (ainda na sua fase em-brionária), publicado em 24 de Abril de 1975, exigiam-se a previdência e assistência social, o direito a fé-rias e respectivo subsídio, a sema-na de trabalho de cinco dias com o

máximo de 40 horas e o direito ao subsídio de Natal, direitos elemen-tares que não eram então reconhe-cidos.

Em 31 de Maio de 1976 tem lugar a primeira manifestação dos trabalha-dores da Administração Local, com destino a S. Bento, onde é decidida a realização de uma greve por tempo indeterminado para exigir, entre ou-tras matérias, a publicação dos Es-tatutos do STAL e a consagração de um subsídio de refeição.

Os trabalhadores das autarquias aderem massivamente a esta deci-são e realizam a greve de 13 dias, que decorreu de 3 a 16 de Junho de 1976.

Face a esta paralisação, o gover-no então liderado por Pinheiro de Azevedo vê-se obrigado a ceder, e aprova uma resolução a autorizar a criação de sindicatos na Administra-ção Pública.

Os Estatutos do STAL são enfim publicados a 20 de Julho de 1976, legalizando assim a existência do sindicato.

Em 20 de Abril de 1977, por sufrá-gio universal, são eleitos os primei-ros corpos gerentes do STAL.

A 24 de Outubro de 1977 é cria-da a Frente Comum dos Sindica-tos da Administração Pública, de que o STAL é um dos 25 compo-nentes.

O primeiro Boletim Informativo, pu-blicação que antecedeu o Jornal do STAL, criado em 1984, é publicado em Novembro de 1977.

Em 13 de Junho de 1994, o STAL filia-se na grande central sindical portuguesa, a CGTP-IN, após os as-sociados se terem pronunciado fa-voravelmente, em assembleia-geral, por larga maioria (85% dos votos).

As sedes do Sindicato

A primeira sede provisória do STAL foi inicialmente instalada na Câmara Municipal de Santarém, sendo de-pois transferida para o Pavilhão do Turismo, no recinto da feira daquela cidade, em 6 de Maio de 1975. Em Maio de 1976 a sede nacional passa a funcionar em instalações próprias, também em Santarém.

Em 1990 é inaugurada uma nova sede nacional do STAL, que transita de Santarém para Lisboa. Finalmen-te, em 1 de Junho de 2000, é inau-gurada a nova e actual sede, num edifício de cinco pisos adquirido pelo Sindicato, que, para além de possuir um auditório e salas para formação, alberga ainda a Direcção Regional de Lisboa.

Ao longo dos anos, com início em 1976, são abertas progressivamente sedes sindicais regionais em todo o território nacional, algumas em con-junto com outros sindicatos e com as uniões distritais da CGTP-IN.

Primeiras lutas, grandes conquistas

A história do STAL, por mais resu-mida que se apresente, terá que ter como referência especial a luta desde sempre travada pela conquista de di-reitos fundamentais dos trabalhado-res e a sua posterior defesa, face aos vis ataques que os sucessivos gover-nos contra eles vêm desferindo.

Logo em Abril de 1975, na sequência da apresentação do primeiro caderno reivindicativo, os trabalhadores da Câ-mara Municipal do Porto realizam uma greve de 24 horas, desencadeando-se a seguir, num curto período de tempo, um surto de greves em várias câmaras

municipais do País, que obrigam o Go-verno a satisfazer algumas das princi-pais reivindicações dos trabalhadores, designadamente a atribuição do sub-sídio de férias no valor equivalente ao vencimento e o direito ao exercício da actividade sindical.

A primeira Comissão de Luta foi constituída em finais de 1975 e, em Janeiro de 1976, é aprovado um pla-no de acção contemplando a realiza-ção de uma série de seis greves no mês de Abril. Só a primeira se con-cretizou, dado o recuo do governo ao reabrir o processo negocial que vinha protelando.

São incontáveis as acções desen-cadeadas a partir de então, quando o sindicalismo reivindicativo e de clas-se estava a dar os primeiros passos nos terrenos abertos pela liberdade que o 25 de Abril nos legou. Sempre com o mesmo empenhamento na luta pela dignificação dos trabalha-dores, sempre confiantes de que um Portugal mais justo era possível.

Nestes tempos, a hora era de con-quista. E as conquistas sucediam-se.

A 17 de Novembro de 1977, o STAL assina o primeiro protocolo com o Governo, estabelecendo o princípio da uniformização de critérios para toda a Administração Central, Regio-nal e Local.

Já no âmbito da Frente Comum de Sindicatos da Administração Públi-ca, realizam-se no âmbito de toda a Administração Pública dois dias de greve, a 6 de Abril e 10 de Maio de 1978, reivindicando salários e pen-sões de reforma justos e melhoria das condições de trabalho.

O STAL bate-se arduamente pela consagração da anualidade das ac-tualizações salariais, princípio que viria a ficar consagrado nas negocia-ções do ano seguinte.

Logo após a revolução de 25 de Abril de 1974, os trabalhadores das autarquias começaram a organizar-se por todo o Pais com vista a criar um sindicato para o sector, pondo fim ao ostracismo de décadas a que haviam sido sujeitos.

Os primeiros passos para a fundação

do STAL cul-minaram com a assembleia constituinte realizada em

24 de Agosto de 1975

Breve história do STAL

35 anos de luta e resistência pelos direitos dos trabalhadores pelos ideais de Abril

Page 9: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

jornal do STAL/DEZEMBRO 2010 9jornal do STAL/DEZEMBRO 2010

35 anos de luta e resistência pelos direitos dos trabalhadores pelos ideais de Abril

Em Novembro de 1980, em Coimbra, realiza-se o primei-ro Conselho Nacional Plenário, onde ficou bem patente o cresci-mento sustentado do sindicato.

A luta intensa dos trabalhadores permitiu alcançar um vasto con-junto de direitos fundamentais, de que se destacam: a criação de um estatuto único para toda a admi-nistração pública, a uniformização das tabelas salariais e a sua revi-são anual, a criação de um regime de diuturnidades, a fruição de 30 dias de férias com o respectivo subsídio equivalente a um mês de vencimento, os subsídios de Natal, de refeição, de nascimento, de alei-tação, de casamento e de funeral, a ajudas de custo e à licença de maternidade, bem como à aposen-tação ao fim de 36 anos de serviço e 60 anos de idade.

A hora da resistência à contra-revolução

Os representantes da grande bur-guesia derrotada na revolução nunca se conformaram com o caminho que os trabalhadores e a grande maioria do povo português começaram a tri-lhar após o 25 de Abril de 1974, vi-sando a construção de um País mais justo, mais fraterno, solidário, livre da exploração selvagem do capitalismo, na via do desenvolvimento e do pro-gresso económico e social.

Chegadas ao poder, as forças con-tra-revolucionárias logo trataram de encetar a destruição e ou alienação de tudo o que era produtivo e se en-contrava ao serviço de todo o povo. A agricultura (com a liquidação da Refor-ma Agrária como principal prioridade), a indústria e as pescas, a privatização da banca, dos seguros e de outros im-

portantes sectores estratégicos para a nossa economia, foram os primeiros alvos da contra revolução.

Os sucessivos governos, liderados ora pelo PS (tendo à sua frente homens como Mário Soares, António Guterres e José Sócrates), ora pelo PSD (Sá Carneiro, Cavaco Silva, Durão Barro-so, Santana Lopes) conduziram o país à crise económica, ao desemprego e à degradação dos salários. São impostas paulatinamente mais medidas de aus-teridade para quem trabalha e o País é colocado, de novo, nas mãos dos agio-tas nacionais e internacionais. Portugal entra (e por mais do que uma vez nes-tes 36 anos) em recessão económica.

Contudo, tudo isto foi feito muito mais vagarosamente do que os seus mentores pretendiam, e muitos dos seus objectivos não foram ainda to-talmente alcançados.

A resistência dos trabalhadores ao esbulho permanente de que são vítimas tem sido determinante para estancar, na medida do possível, a voracidade dos exploradores, agora já com a máscara bem mais desgas-tada pelo seu desmesurado uso.

Por isso se realizaram, no decorrer dos anos e até hoje, inúmeras ma-nifestações, concentrações, vigílias e greves sectoriais, nacionais e ge-rais. Algumas com êxito notório, ou-tras com resultados que não foram imediatamente visíveis. Mas todas contribuindo para defender direitos e alertar a consciência nacional dos perigos que resultam do prossegui-mento da política de vassalagem ao grande capital nacional e estrangei-ro, em detrimento dos trabalhadores e dos verdadeiros interesses da so-berania e independência nacionais.

O futuro

Sabemos que o caminho é longo e difícil. O que aí temos e o que nos querem impor não augura nada de bom. Os «mercados» que eles servem (eles são o PS e o PSD, com ou sem o CDS, no governo ou fora dele) são insaciáveis. E como são os «merca-dos», isto é o grande capital nacional e transnacional, que determinam as decisões dos governos acocorados a seus pés, terão que ser os traba-lhadores que os alimentam a todos a tomar a consciência de que é preciso e urgente dizer-lhes BASTA!

Basta de hipocrisia! Basta de ex-ploração! Basta de mentira!

O STAL continuará na trinchei-ra onde sempre esteve. Em defesa dos direitos dos trabalhadores que representa e, também, na luta pela construção de um Portugal realmen-te democrático, sem explorados (os que trabalham) nem exploradores (os que vivem e se empanturram com o nosso trabalho).

Page 10: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 201010 jornal do STAL

Manter a água no sector público

O documento recorda que as Nações Unidas reconhece-ram o direito humano uni-

versal à água e ao saneamento e considera que «muitos cidadãos europeus não gozam» dele «devido à privatização e mercantilização».

Estes processos traduziram-se em «aumentos sensíveis das tari-fas» e numa degradação do serviço, «de tal forma que em alguns casos a gestão dos serviços regressou ao sector público».

Deste modo, o texto reitera o teor da Resolução do PE de 2004, onde se afirma que «a gestão dos recur-sos hídricos não deve ser sujeita às regras do mercado interno» e insta a «a Comissão a rever a legislação pertinente (…) a fim de garantir que a propriedade e a gestão da água, bem como das empresas de distribuição, permaneçam no sector público».

A declaração partiu da iniciativa de cinco deputados representan-do os grupos Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica; Aliança dos Democratas e Liberais

Deputados de vários grupos políticos do Parlamento Europeu (PE), onde se inclui o deputado do PCP, João Ferreira, apresentaram, no dia 15 de Novembro, em Bruxelas, uma declaração escrita sobre a protecção da água como bem público.

A gestão da água no estado de Berlim foi entregue há 12 anos à multinacio-nal francesa Veolia e ao grupo alemão RWE. Desde então, perante o silêncio cúmplice das autoridades, o preço da água tem aumentado sem cessar, pena-lizando fortemente a população.

Logo se constatou que afinal os su-cessivos aumentos eram consentidos pelo contrato que estabelecia uma «ga-rantia de lucro», permitindo o agrava-mento de preços em conformidade com as expectativas de rentabilidade.

Todavia, em 1999, o Tribunal Cons-titucional declarou a ilegalidade desta cláusula, ou seja, o Estado ficou impe-dido de consagrar «garantias de lucro» nas concessões a privados.

Em 2004, o contrato foi renegociado e as polémicas cláusulas foram elimi-nadas. Parecia que o interesse público se tinha imposto à gula privada, mas

foi puro engano. Como recentemente se soube, as partes mantiveram a «ga-rantia de lucro» num protocolo secreto apenso ao contrato.

O seu conteúdo preciso foi publicado pelo jornal de esquerda Tageszeitung (TAZ), na sua edição de 30 de Outubro, mas já antes a população berlinense começara a exigir a publicação e anu-lação do protocolo secreto.

Nesse sentido um grupo de cidadãos lançou a ideia de um referendo de ini-ciativa popular sobre a matéria, que te-ve ampla adesão. Em 27 de Outubro já tinham sido recolhidas 265 mil assina-turas, ultrapassando largamente as 172 mil requeridas para a realização da con-sulta oficial.

Na Alemanha, cerca de 40 por cento dos serviços de água foram privatiza-dos nos últimos anos. Em nenhum dos casos os contratos foram publicados.

O sistema de captação e trata-mento de água construído na bar-ragem dos Pisões, em Montalegre, está a ser boicotado pelos municí-pios abrangidos, que se queixam de tarifas incomportáveis impostas pela Águas de Trás-os-Montes.

O projecto do subsistema do Alto Rabagão foi concebido para abastecer os concelhos de Cha-ves, Montalegre, Boticas e parte de Ribeira de Pena. No entanto, só Chaves aderiu ao sistema multimu-nicipal, continuando os restantes a utilizar as suas próprias captações devido aos altos preços da água.

O próprio município de Chaves suspendeu os pagamentos à empre-sa desde Abril, e exige que o Gover-no fixe tarifas justas para a região.

O valor das tarifas foi definido se-gundo a lógica empresarial, isto é,

visando a obtenção de lucro e não a garantia de um serviço público es-sencial. Assim, numa região econo-micamente deprimida, os decisores não hesitaram em estabelecer preços muito acima de outras zonas do País, de forma a compensar as fracas ex-pectativas de consumo decorrentes da baixa densidade populacional.

O problema é que nem as popu-lações nem as autarquias têm capa-cidade financeira para satisfazer a rentabilização de tais investimentos. Esta realidade verifica-se igualmen-te no concelho de Valpaços, onde a Câmara, para diminuir a factura paga à Águas de Trás-os-Montes, tem injectado na rede água de má qualidade proveniente de capta-ções próprias, segundo denunciou um eleito PS, na oposição, protes-tando contra o «sabor a lodo».

Alemanha Cláusulas secretas garantem lucros privados

Águas de Trás-os-Montes Câmaras exigem taxa justa

Eurodeputados lançam declaração

pela Europa; Verdes/Aliança Livre Europeia; e Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas.

Para ser adoptada formalmente pelo Parlamento Europeu, o docu-mento deverá recolher no prazo de três meses o apoio da maioria dos

deputados, ou seja, pelo menos 369 assinaturas.

STAL apoia declaração

Em comunicado divulgado no início de Dezembro, a Direcção

Nacional do STAL considerou esta «iniciativa da maior actualidade e oportunidade», salientando que a sua aprovação pela maioria dos deputados no Parlamento Europeu, «constituirá um passo muito im-portante na luta dos trabalhadores e dos povos em defesa do direito à água e ao saneamento, de uma gestão pública de qualidade, na exigência de uma sociedade mais justa, democrática e desenvolvida.»

Neste sentido, o STAL «apela à sua subscrição pelos eurodeputa-dos portugueses e incentiva todas as organizações, movimentos e ac-tivistas em defesa da água pública para que se solidarizem com este projecto através da tomada de po-sições públicas e do seu envio aos respectivos representantes políti-cos».

O Sindicato propôs igualmente à Federação Europeia de Sindica-tos de Serviços Públicos, de que é membro, uma tomada de posição e intervenção em torno desta ini-ciativa.

O Parlamento Europeu, já em 2004, deliberou que a gestão da água deve ser pública

Page 11: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 2010 11jornal do STAL

Trabalhadores de diferentes departamentos da CML, da higiene à cultura, manifestaram preocupação com as consequências da reorganização de serviços.

Sindicatos criticam António Costa

CML vende rede de saneamento

O negócio, que, segundo revelou na altura, está «está em vias de se realizar», proporcionará

um encaixe imediato de 100 milhões de euros, que permitirá à autarquia amortizar a sua dívida de curto prazo.

Contudo, como denunciou alguns dias depois o STML (Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lis-boa), este «é um mau negócio para o município e para os lisboetas», para além de lançar na incerteza o quadro de pessoal do actual Departamento de Saneamento.

O mau negócio é demonstrado com clareza pelos números que estão em jogo. Só em taxas de saneamento, a CML encaixa anualmente 50 milhões de euros, ou seja, metade do valor que espera receber com a concessão.

Mesmo tendo em conta que a au-tarquia tem encargos anuais de 25 milhões de euros, pagos à SIMTEJO, pelo tratamento de esgotos, o Depar-

tamento de Saneamento continua a libertar importantes receitas líquidas, que serão perdidas definitivamente a favor da EPAL.

No entanto, procurando justificar uma operação ruinosa, António Costa acrescenta que «a rede de saneamen-to» de Lisboa se encontra num «esta-do deplorável», e que é necessário in-vestir 160 milhões de euros na sua re-qualificação durante os próximos dez anos, responsabilidade que passará para a empresa. Deste modo garante que «toda a gente fica a ganhar».

Expediente eleitoralista Porém, mais uma vez os números

apontam em sentido inverso. As taxas de saneamento proporcionam uma re-ceita de 500 milhões de euros em dez anos. Se descontarmos os encargos com o tratamento de esgotos, ainda sobram 250 milhões de euros. Ora,

António Costa afirma que só precisa de 160 milhões de euros para recupe-rar a rede. Então, porque não o faz? As receitas actuais cobrem facilmente o investimento no prazo indicado.

De resto, como salienta o STML, «o negócio com a EPAL será por 50 anos! Isto quer dizer que a autarquia de Lisboa perderá 2500 milhões de euros! Verba que daria para revitali-zar, modernizar ou requalificar a rede de saneamento 15 vezes!».

Mas para além desta enorme perda de receitas, a alienação do saneamen-to terá ainda outras consequências nefastas. O facto de a EPAL não ter experiência na área do saneamento faz com que tenha de recorrer a pres-tadores externos, o que se reflectirá num aumento dos custos. Ao mesmo tempo, dada a sua lógica empresarial, a qualidade do serviço tenderá a dimi-nuir para maximizar lucros, e mais uma vez quem vai pagar são os utentes.

A perspectiva de um brutal au-mento de taxas e de degradação do serviço é reforçada pela intenção do Governo, várias vezes reafirmada, de privatizar o conjunto do sector em-presarial do Estado, no qual se inte-gra a Águas de Portugal, que contro-la a EPAL a 100 por cento.

Está bem de ver que o «bom ne-gócio» de António Costa pode vir a custar caro à população e aos traba-lhadores, e não passa afinal de um expediente para amortizar dívida no imediato e assim libertar meios extra para projectos eleitoralistas.

Em coerência com as suas posi-ções de defesa da propriedade pú-blica dos serviços essenciais, com gestão pública, o STAL manifesta-se contra a concessão do Departamen-to de Saneamento da CML à EPAL, solidarizando-se com os trabalha-dores e apelando à luta contra essa medida.

O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, anunciou, dia 11 de Outubro, a intenção de entregar à EPAL as redes de saneamento da capital.

Os 16 municípios que integram o sistema multimunicipal Águas do Zêzere e Côa (AdZC) foram surpreendidos, em Outubro, com aumentos não previstos das tarifas, que se elevam a 10 por cento na água e 15 por cento no saneamento e têm efeitos retroactivos a Janeiro deste ano.

A nova tabela de preços, aprovada em Agosto pelo Ministério do Ambiente e Ordenamento do território, «coloca em causa as contas dos municípios ao exigir o pagamento retroactivo de verbas impossí-veis de prever com base nos pressupostos previamente estabeleci-dos e conhecidos», afirmam um comunicado conjunto, emitido em 3 de Novembro, no final de um encontro que reuniu na Guarda a maio-ria dos presidentes das autarquias afectadas.

Para além disso contestam a tentativa de cobrança de seis por cen-to de IVA, notando que tal taxa apenas entrou em vigor em 1 de Julho, não podendo ser aplicada a serviços prestados antes dessa data.

Escandalizados com o que consideram ser o maior agravamento de sempre, os eleitos autárquicos salientam ainda que, com tais aumen-tos, as tarifas sobem já este ano para valores que só deveriam ser atingidos em 2027, de acordo com o estudo de viabilidade económi-co-financeira do sistema multimunicipal.

Acusando a empresa de ser incapaz de cumprir o contrato de con-cessão e de recorrer a sucessivos aumentos para equilibrar as suas contas, os eleitos declararam-se «lesados pelo sistema municipal» e anunciaram que tomarão «todas as medidas entendidas como ne-cessárias e justificadas para fazer face às pretensões da AdZC que continuem a penalizar os municípios e os munícipes».

Cerca de 400 trabalhadores do município de Lisboa participaram no plenário do STAL e STML, realizado dia 26 de Novembro, na Praça do Município, para contestar a pro-posta de «reorganização» dos serviços ca-marários.

Ambos os sindicatos opõem-se ao plano da autarquia que pretende entregar a entida-des terceiras a gestão de um conjunto diver-sificado de serviços.

A proposta da maioria socialista, que foi nesse dia discutida e aprovada em reunião de câmara, preconiza designadamente a concessão da rede de saneamento em bai-xa à EPAL e alterações na actual gestão da

recolha de resíduos e limpeza urbana, dos museus e galerias municipais, dos refeitórios e creches, do sector do urbanismo ao da in-formação.

O STAL considera que a autarquia tem condições para continuar a prestar de forma directa aqueles serviços, com evidentes ga-nhos de eficiência e de eficácia, salvaguar-dando os interesses e direitos dos trabalha-dores e acautelando os do próprio município e da população.

Neste sentido, os dois sindicatos lançaram um abaixo-assinado em defesa da gestão municipal e contra este processo de reorga-nização na CML.

Águas do Zêzere leva municípios à ruína Novos aumentos incomportáveis

Trabalhadores preocupados

Page 12: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 201012 jornal do STAL

A resolução aprovada no ple-nário salienta que a proposta governamental «não serve os

interesses dos bombeiros nem das populações», já que «promove a des-valorização profissional» e «faz tábua rasa das exigências técnicas e huma-nas que a segurança e salvaguarda de pessoas e bens exige».

Se fosse aplicada, os bombeiros seriam transformados «em trabalha-dores de terceira, disponíveis para todo o serviço 24 horas por dia sem qualquer compensação e sem a devi-da formação profissional».

Entre os muitos aspectos inaceitá-veis, o projecto «bloqueia o acesso a níveis superiores da carreira» e, ao mesmo tempo, exige que «homens e mulheres de 65 anos estejam na linha da frente do combate a catástrofes na-turais, incêndios, florestais e urbanos, sem ter em conta as exigências físicas que estas situações impõem».

Para além disso, a proposta de fu-são das carreiras de bombeiro munici-pal e de bombeiro sapador tem o cla-

ro objectivo de rebaixar os salários do sector. Como interpretar de outro mo-do o estabelecimento do salário base em 532,08 euros, valor que incluiria já a disponibilidade permanente e o su-plemento de risco? Na prática, o salá-rio base da tal futura carreira única se-ria inferior ao salário mínimo nacional.

Como sublinha a resolução sindical esta é «uma proposta inaceitável que constitui um insulto aos milhares de homens e mulheres» que desempe-nham a função de bombeiro.

Manifestando a sua determinação de lutar pela negociação de propos-tas justas que dignifiquem e valori-zem a carreira de bombeiro, o plená-rio do STAL e do STML aprovou um calendário de acções que se estende até Fevereiro próximo.

Entre as iniciativas destaca-se o lançamento de um abaixo-assinado para ser entregue na Assembleia da República, à Presidência e aos gru-pos parlamentares.

Em Janeiro terá lugar uma acção na-cional de sensibilização da população para os problemas do sector, preven-do-se a distribuição de comunicados nos principais centros urbanos.

Em Fevereiro, no dia 3, realizam-se concentrações junto dos gover-nos civis do Porto, onde convergirão

também profissionais de Gaia, Bra-ga e Viana do Castelo; de Coimbra, a que se juntam trabalhadores da Fi-gueira da Foz, Leiria e Viseu; de Lis-boa, em que participam igualmente bombeiros de Santarém e Setúbal; e de Faro, com todos os profissionais do Algarve.

Bombeiros mobilizam-se

Projecto do governo não serve

A rejeição generalizada do projecto de regime de carreiras apresentado pelo Governo foi expressa por mais de 400 bombeiros, reunidos em plenário convocado pelo STAL e STML, em 20 de Outubro, no Terreiro do Paço, em Lisboa.

STAL impulsiona conselhos de empresa europeus

Empresas nas autarquias Encontro defende contratação colectiva

AHBV de Oleiros

Punição inadmissível

A convite da FSESP (Federação Sin-dical Europeia de Serviços Públicos), o STAL participou recentemente numa reunião organizada pela Federação Europeia dos Sindicatos da Constru-ção Civil, tendo em vista impulsionar a criação de conselhos de empresa eu-ropeus em grupos espanhóis como a FCC, a FERROVIAL e ACS.

Originários do sector da constru-ção, estes grupos são hoje verdadei-ros gigantes do sector dos serviços, empregando milhares de trabalhado-res em dezenas de países.

É o caso do grupo FCC (Fomento de Construcciones y Contratas), pro-prietário da empresa AQUALIA, deten-tora em Portugal de vários contratos de concessão dos serviços de água e saneamento, designadamente em Abrantes, Elvas, Campo Maior e Car-taxo, tendo ganho o concurso lançado pelo Fundão ainda por adjudicar.

O mesmo se passa com o grupo ACS (Actividades de Construcción

y Servicio), accionista minoritário da SUMA, controlada pelo grupo MOTA-ENGIL, e principal operador privado em Portugal no sector dos resíduos.

Ao mesmo tempo que manifes-tou a disponibilidade para colabo-rar e participar num processo que abrange várias estruturas sindicais, algumas das quais presentes na ini-ciativa, o STAL chamou a atenção para a necessidade de empreen-der semelhante esforço de coope-ração no grupo Sacyr Vallehermoso, que controla a empresa AGS (Admi-nistração e gestão de sistemas de Salubridade), adquirida ao grupo SO-MAGUE em 2000. A par da AQUA-POR, a AGS é actualmente a empre-sa privada com mais contratos de concessão.

É objectivo do STAL potenciar a representação dos trabalhadores, a sua organização e a defesa dos seus interesses no plano destas em-presas.

Activistas sindicais do STAL no sector empresarial da Admi-nistração Local reuniram-se, dia 20 de Novembro, em Lisboa, num encontro nacional para discutir os principais problemas dos trabalhadores do sector.

A iniciativa, que também se inseriu no âmbito da mobiliza-ção para a Greve Geral de 24 de Novembro, contou com a participação do presidente do

Sindicato, Francisco Braz, e de representantes sindicais em di-versas empresas municipais, multimunicipais, intermunici-pais e outras, incluindo conces-sionárias de serviços públicos locais.

As medidas impostas pelo Governo a grande parte des-tas empresas, designadamen-te em matéria salarial e outros direitos, são fortemente con-

testadas pelos trabalhadores e pelo STAL, já que põem em causa condições de trabalho consagradas em acordos ce-lebrados por contratação co-lectiva. Particular preocupação foi manifestada em relação às empresas do grupo Águas de Portugal devido aos constantes boicotes à contratação colecti-va por parte do seu conselho de administração.

Sílvia Martins, trabalhadora administrativa dos Bombeiros Voluntários de Oleiros, no dis-trito de Castelo Branco, foi posta de castigo numa casa de banho, sem funções atribuídas, após o tribunal ter ordenado a sua reintegra-ção e indemnização, considerando ilegal o despedimento de que fora vítima.

A situação arrasta-se desde Outubro, e ape-sar da intervenção do STAL ainda não está re-

solvida. No cubículo, onde cumpre o seu ho-rário de trabalho, as loiças sanitárias foram re-tiradas depois de o Sindicato ter chamado a Autoridade para as Condições de trabalho.

Contudo, Sílvia Martins, que foi alvo de despe-dimento abusivo por se ter sindicalizado e exer-cer actividade sindical, continua sem funções correspondentes à sua categoria profissional, estando proibida de entrar na secretaria.

No plenário do STAL e STML, bombeiros de todo o país reafirmaram a sua determinação de prosseguir a luta pela dignificação e valorização profissional

Page 13: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 2010 13jornal do STAL

Ó Zefa, anda cá depressa – grita para a cozinha o Felismino Papa-tudo, sentado de olhos, orelhas e todos os demais órgãos sensoriais

atentos ao que o caixote televisivo, aos berros, lhe vai gritando. - Anda ver o Catroga, o Mira Amaral, o Hernâni Lopes, o Mário Soares, o Medina Carreira, o Marques Mendes e o Marcelo a explicar porque é que o País está em crise e o que é preciso fazer para sair dela. Anda depressa, gaita, senão continuas a não sa-ber as receitas e pões-te para aí abusivamente a es-banjar dinheiro na compra de carapaus para o almo-ço e conservas de atum para o jantar, sem te aperce-beres dos grandes de-sígnios nacionais, pelos quais todo o bom pa-triota tem a obrigação de se sacrificar.

A Zefa estava na co-zinha, de facto, a fritar a meia dúzia de jaquin-zinhos que conseguira comprar no mercado lá da terra e que iriam ser, com uma chávena de arroz bem medida en-grossado na cozedura, o almoço da família na-quele dia de sábado.

Ao ouvir o chama-mento do marido ainda pensou em mandá-lo dar uma curva ao bilhar grande. Estava farta de tanta ingenuidade (não seria já estupidez cró-nica?) do seu cara-me-tade, um pobre homem que se matava a traba-lhar por um ordenado miserável mas que se orgulhava por o seu patrão, um tal senhor Belmiro, ser considerado um dos homens mais ricos da Eu-ropa. – É um orgulho para Portugal, um país tão pe-quenino, ter gente nos primeiros lugares da riqueza individual, e também um orgulho para mim, que para isso contribuo com o meu trabalho – dizia por vezes o nosso Papa-tudo, de olhos brilhantes de prazer pa-triótico.

Ao terceiro chamamento do Felismino, a Zefa pôs os carapaus a salvo da frigideira e do gato esfomea-do que por ali rondava e chegou-se ao pé do marido. Olhando o televisor, comentou: – Olha cá ó Papa-tudo, esses gajos todos que aí estão não estiveram já no governo, não foram alguns deles ministros das Finanças, não contribuíram, todos eles, para a miséria

em que o País se encontra? E estão agora a dar as mesmas receitas de sempre para salvar o País da der-rocada? E tu ainda vais na conversa deles?

O Felismino não gostava muito de se meter em dis-cussões com a sua cara-metade, porque ficava inva-riavelmente a perder. Mas, desta vez, encontrou um ar-gumento infalível para a convencer das suas razões:

– Ó mulher, então tu não conheces aquele trata-mento de choque que se aplica a quem leva uma traulitada na cachola e fica com amnésia? A solução mais eficaz para a vítima recuperar a memória é dar-lhe outra cachaporra no toutiço. É remédio santo, po-

des crer. Ainda no outro dia vi um filme do Bucha e Estica neste canal a tratar do tema. Pois é o que estes ilustres senhores estão a tentar fazer. E tu, que devias também estar-lhes agradecida pelo patriótico esfor-ço que fazem desinteressadamente, só sabes dizer mal deles, andar a vasculhar as fortunas que têm, as muitas reformas chorudas que recebem, os lugares em conselhos de administração que ocupam, em vez de lhes prestar a vassalagem que merecem. Franca-mente...

A Zefa, normalmente calma e compreensiva, desta vez passou-se.

Estava farta de tanta ingenuidade, de tanta parvo-íce, de tanta estupidez ou sabe lá ela, já, de tanta o quê. Não pôde, por isso, conter-se:

– Ouve-me cá, ó meu atraso de vida. Afinal de que lado estás tu? Do nosso lado, do lado dos nossos fi-lhos, do lado de quem se mata a trabalhar para sobre-viver, do lado de quem vai garantindo, apesar de tudo, uma certa dignidade a este País saqueado por vampi-ros sem honra nem vergonha, ou do lado de quem te chupa o sangue para engordar, cada vez mais, a sua já abarrotada conta bancária? Estás do lado de quem tra-balha, como tu e eu, ou do lado de quem rouba o fruto do nosso trabalho para satisfazer a sua insaciável gula? Queres, afinal, viver comigo uma vida digna ou preferes prostituir-te, vendendo corpo, alma e consciência aos

que todos os dias escar-necem de ti, enquanto te assaltam a casa com fa-linhas mansas de enga-na tolos? E presta bem atenção, porque o prazo de validade do nosso ca-samento, perante a tua subserviência, está-se a esgotar. Eu não suporto mais viver com cúmpli-ces do inimigo na minha própria casa. Não aguen-to mais. Não posso! Não posso! Não posso!

A Zefa estava quase a chorar. Ela sabia que o companheiro era um homem honesto, tra-balhador, cumpridor até mais não das suas obrigações. Mas tinha aquele terrível defeito de se prostrar frente à televisão a engolir pas-sivamente tudo aquilo que os serventuários do poder de lhe impingiam,

e não se mostrava capaz de se libertar da teia mons-truosa em que se deixou envolver.

Esta história acaba aqui, sem ficarmos a saber como vai acabar. Esperemos que a Zefa tenha ainda a capacidade de acordar o Felismino para a vida real e que a coisa não dê em separação. Porque ambos merecem ser felizes. Juntos e unidos, na luta por uma vida digna numa sociedade sem explorados nem ex-ploradores.

Assim o Felismino se liberte das amarras da igno-rância em que a chusma de assalariados do grande capital, instalados nas televisões, rádios e jornais, o querem manter a todo o custo.

Quando tiver tempo, vou tentar saber se ele já con-seguiu aderir à greve geral. Depois conto.

Cena breve do nosso quotidiano

Conversas desconversadas✓ Adventino Amaro

Page 14: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 201014 jornal do STAL

N.º 97DEZEMBRO 2010Publicaçãode informação sindical do STAL

PropriedadeSTAL – Sindicato Nacional dos Trabalhadoresda Administração Local

Director:Santos Braz

Coordenação e redacção:José Manuel Marques e Carlos Nabais

Conselho Editorial:Adventino AmaroAntónio AugustoAntónio MarquesHelena AfonsoIsabel RosaJorge FaelJosé TorresMiguel VidigalVictor Nogueira

Colaboradores:Adventino AmaroAntónio MarquesJorge Fael,José Alberto LourençoJosé TorresRodolfo CorreiaVictor Nogueira

Grafismo:Jorge Caria

Redacção e Administração:R. D. Luís I n.º 20 F1249-126 LisboaTel: 21 09 584 00Fax: 21 09 584 69Email: [email protected] Internet: www.stal.pt

Composição:pré&pressCharneca de BaixoArmazém L2710-449 Ral - SINTRA

Impressão:LisgráficaR. Consiglieri Pedroso, nº90, 2730-053 Barcarena

Tiragem:57 000 exemplaresDistribuição gratuitaaos sócios

Depósito legalNº 43-080/91

Horizontais: 1. Montículo; pregoeiro. 2. Dá a forma de anel; que se fazem todos os dias. 3. Observa; apertavas com nó. 4. Pois, é o mal de estarmos velhos; quinta (abr); exala cheiro. 5. A ele; não tarda nada, nem esta temos para ves-tir; viajar. 6. Terras secas reduzidas a pó; dizem que o Mário Soares é o da porcaria da demo-cracia que temos. 7. Faz o que fizeram os Vi-tais Moreiras que por aí andam; enfurecer; so-zinho. 8. Desertas; no antigo dialecto do norte de França, significava sim. 9. Atmosfera; poe-tas primitivos entre os gregos; contra a NATO, por este objectivo. 10. Se não te queres revol-tar, ao menos geme, ou grita; verás que é bom para a saúde. 11. Envaidece-se; o que este pa-ís continua a ser para os especuladores; nota musical. 12. Tecido entrançado de seda; rela-ção; nome de homem. 13. Terra arenosa; em maior quantidade.

Verticais: 1. Peças com que se tapa; peça de vestuário. 2. Ligado; versejar.3. Magoei; soldo de

soldado; «irra». 4. Onda; filtrara; actuo. 5. Destruas pelo fogo; outra coisa. 6. Amarrei; o primeiro homem, segundo a Bíblia. 7. Aperfeiçoar. 8.

Dama de companhia; rio da Suíça; anteriormente. 9. Acessório para computador ou animal roedor; saudável; sinal gráfico. 10. Charrua; sarrafos. 11. Grito lamentoso do cão; família (fig); batráquio. 12. Soarias; dirigi-me a. 13. Lugares onde se guardam ossos; «espalhas-te» outra vez com a conversa dos charlatães do bloco central.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

Palavras cruzadas

SOLUÇÕES

Horizontais: 1. Tufo; arauto. 2. Anela; diários. 3. Mira; atavas. 4. PDI; Qta; odora. 5. Ao; cueca; ir. 6. Poeiras; pai. 7. Trai; irar; so. 8. Ermas; oil. 9. Ar; aedos; paz. 10. Mia; salutar. 11. Impa; oasis; fa. 12. Sarja; rol; Rui. 13. Areola; mais.

Verticais: 1. Tampas; camisa. 2. Unido; rimar. 3. Feri; pre; apre. 14. Ola; coara; ajo. 5. Queimes; al. 6. Atei; Adão. 7. Acrisolar. 8. Aia; aar; suso. 9. Rato; são; til. 10. Arado; ripas. 11. Uivo; lar; ra. 12. Toarias; fui. 13. Ossários; cais;

Internet ✓ Victor Nogueira

Desde o desenvolvimento de amizades virtuais ou reais, à partilha de inte-

resses comuns, generalistas ou especializados, pode-se dizer que hoje há as redes sociais pa-ra todos os gostos.

As RS podem ser abertas ou restritas a um grupo de ami-

gos ou familiares. Em Portugal, as mais conhecidas são o Fa-cebook (www.facebook.com), o hi5 (hi5.com) e o Twitter (twitter.com), sendo esta última diferen-te das duas primeiras pelo facto de condicionar o envio de men-sagens instantaneamente a 140 caracteres.

Com menor número de ade-rentes podem ainda citar-se o Orkut (www.orkut.com), ge-neralista, o MySpace (www.myspace.com/), mais dedicada a temas musicais ou o Flickr (www.flickr.com), virado para a fotografia.

Qualquer destas RS é aberta e gratuita, mediante inscrição prévia que exige a disponibiliza-ção de alguns dados pessoais. A rentabilidade para os seus cria-dores provém das receitas com publicidade, que é dirigida em função da informação recolhida aos subscritores.

Uma vez criada a conta, res-ta constituir a rede de amigos. Apesar de as RS permitirem a troca de comentários em priva-do, não acessíveis aos restan-tes membros, as páginas pes-soais são, em geral, partilhadas e mais ou menos públicas, não havendo possibilidade de con-trolar a informação que lá colo-camos,

Há pois que ter especial cui-dado nas informações dadas no Perfil (não é forçoso preen-chê-las, total ou parcialmente), na escolha da palavra passe, não se devendo divulgar núme-ros de telefone (especialmente fixos), moradas, números de BI, Contribuinte, Segurança Social e períodos de ausência de casa nem permitir a locali-zação do local donde se está a falar.

Apesar da utilidade das RS, é bom não esquecer que nela também navegam pesquisado-res de gostos para fins comer-ciais ou mesmo criminais. Nas RS, devemos tomar as mesmas

precauções que temos em re-lação à nossa casa ou à nossa vida privada.

As RS, designadamente o Facebook, permitem divulgar eventos ou causas sociais. Ne-las encontramos diverso tipo de entidades e instituições, de-signadamente câmaras muni-cipais, sindicatos, a CGTP-IN, por exemplo, partidos políticos e outras organizações sociais e políticas.

Nos últimos actos eleitorais, as forças concorrentes têm utiliza-do crescentemente as RS para difundirem a sua mensagem e programas junto de uma vasta rede de «aderentes» ou amigos. Os candidatos às presidenciais também marcam presença no Facebook, no Twitter e noutras redes sociais

Nas páginas pessoais e nas institucionais podem existir espaços para comentários ou para a publicação de notas de terceiros. O acesso às RS pode ser feito através de tele-móveis.

Comunicar nas redes sociaisAs chamadas redes sociais na Internet (adiante designadas por RS) têm tido uma divulgação assinalável nos últimos anos, afirmando-se cada vez mais como um espaço comunicação, onde se encontram o mais variado tipo de conteúdos e mensagens.

Page 15: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 2010 15jornal do STAL

Um livro, um autor✓ António Marques

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo foi um homem de grandes convicções em tudo o que diz respeito aos valores da liberdade e à digni-

dade da pessoa humana. Combateu as tropas absolu-tistas de D. Miguel, participando em 1831 na malogra-da revolta militar. Obrigado a procurar refúgio num na-vio francês ancorado no Tejo, seguiu para o exílio em Inglaterra, primeiro em Plymouth e depois em Jersey. Fixou-se depois em França, vindo a residir na cidade de Rennes. Foi exactamente nesta bela cidade da Bre-tanha francesa que Herculano teve oportunidade de frequentar a biblioteca pública e ler em profundidade as obras de Amédée Thierry, Victor Hugo e Félicité Ro-bert de Lamennais.

De França vai para os Açores onde se junta ao exército liberal de D. Pedro IV, integrando a expedição militar que desembarca na praia do Mindelo em 8 de Junho de 1832. Participa nos combates, mas logo o rei o nomeia segundo bibliotecário da Biblioteca do Porto.

Dividida entre o absolutismo de D. Miguel e o liberalismo de D. Pedro IV, a nação portuguesa vive uma violenta guerra civil entre 1832 e 1834, que opõe os liberais, defensores de uma monarquia constitucional, aos proprietários feudais, liderados por D. Miguel. É neste período que o Romantismo chega a Portugal – a revolução romântica alimenta-se dessa revolução social e política.

Em 1839, por iniciativa do rei D. Fernando, Herculano foi nomeado para dirigir a Real Biblioteca da Ajuda e das Necessidades, tendo conservado esse cargo quase até ao fim da vida. Chegou a passar pelo Parlamento, eleito pelo círculo do Porto em 1840, mas o seu temperamento adequava-se mal à actividade de deputado.

Sócio correspondente da Academia Real das Ciências desde 1844, foi admitido em 1852 como sócio efectivo e eleito vice-presidente em 1855. Em 1853, ano em que funda o Partido Progressista Histórico, percorreu o País, por encargo da Academia, inventariando os documentos existentes nos arquivos episcopais e nos mosteiros, preparando aquilo que viria a constituir os Portugaliae Monumenta Historica.

Pôde então verificar o estado de abandono a que estava votado a maior parte do acervo documental espalhado pelo país, realizando um trabalho de grande relevo para o estudo do nosso passado histórico.

Herculano participou nos trabalhos de redacção do Código Civil e defendeu o casamento civil a par do religioso. A proposta era inovadora e suscitou forte reacção. Dessa polémica surgiram os Estudos sobre o Casamento Civil.

Romancista e historiador

Como romancista, juntamente com Almeida Garrett, Herculano foi pioneiro do romantismo em Portugal. A ele devemos a introdução do romance histórico, sob a influência de Walter Scott e Victor Hugo. As suas obras situam-se sobretudo na Idade Média, objecto privilegiado da sua investigação histórica e, segundo os preceitos do Romantismo, origem e fundamento da identidade nacional.

Embora Garrett, 11 anos mais velho, se tenha adiantado com a publicação no exílio de Camões e D. Branca, consideradas as primeiras obras inequivocamente românticas, Herculano destacou-se como teórico da nova corrente literária pelos artigos que publicou no Repositório Literário do Porto.

É a partir da década de 40, que dedica grande parte dos seus esforços à literatura e à história. São desta época os seus romances de ambiente histórico, tendo também iniciado a publicação da sua História de Portugal, obra precursora no nosso País da historiografia científica. Como historiador afastou-se da concepção da história feita por reis e heróis, preocupando-se antes em analisar o papel das colectividades e das instituições na evolução do País.

O carácter revolucionário do primeiro volume da História de Portugal (1846) causou viva controvérsia nos sectores mais reaccionários da sociedade. O clero insurgiu-se por o autor excluir, naturalmente, qualquer intervenção sobrenatural nos acontecimentos históricos, designadamente na Batalha de Ourique. A polémica sobre esta questão ficou famosa. Note-se que Herculano opunha-se à interferência da igreja na vida política nacional.

Escreveu incansavelmente: Cartas da História de Portugal, quatro volumes de 1846 até 1853, romances históricos como o Monge de Cister (1848), O Bobo (1843), Eurico o Presbítero (1844), Lendas e Narrativas (1839 e 1844), A Harpa do Crente (poesia, 1837) etc. E um livro com enorme repercussão: História da Inquisição em Portugal (1850), que lhe valeu uma nova polémica com a Igreja. Publicou então três importantes opúsculos: Eu e o Clero; Considerações Pacíficas; e Solemnia Verba. E ainda um estudo sobre o seu muito admirado Mouzinho da Silveira.

Colaborador de inúmeros jornais, alguns dos seus romances foram publicados em fascículos na imprensa, como era habitual na época.

Como jornalista, Herculano criticou o funcionamento das instituições, bateu-se por reformas no ensino, na agricultura e na literatura. Defendeu abertamente o municipalismo, que via como a solução político-administrativa mais adequada ao País e aos seus ideais.

Tornou-se redactor principal de O Panorama, em 1837, revista editada pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, que era então o principal instrumento de divulgação da estética romântica em Portugal. Ainda nesse ano assumiu a responsabilidade

da redacção do Diário do Governo, jornal que servia de suporte ao partido no poder. Mais tarde, em 1851 fundou o jornal O País e dois anos depois O Português.

Intelectual íntegro

A obra de Herculano é indissociável do contexto histórico em que viveu e do seu empenhamento nas lutas políticas e sociais. Foi um dos grandes escritores de sua geração e um dos mais importantes romancistas do século XIX.

Os seus méritos de cidadão, escritor e estudioso foram reconhecidos quase unanimemente no seu tempo, e muitas honrarias lhe foram oferecidas. Aceitou algumas de natureza científica, mas as

distinções honoríficas recusou-as sempre. Recusou mesmo a sua nobilitação, ao contrário de Garrett e Camilo, que, como sabemos, morreram viscondes.

Desgostoso com a vida pública, retirou-se, em 1866, para a pequena Quinta de Vale de Lobos, perto de Santarém, onde permaneceu até ao fim dos seus dias, ocupado com os seus escritos literários e as lides agrícolas.

Aí faleceu, a 13 de Setembro de 1877, tendo os seus restos mortais sido mais tarde trasladados para o Mosteiro dos Jerónimos, onde repousa junto dos grandes vultos da cultura como Camões e Fernando Pessoa.

Apagava-se a chama do homem de maior prestígio intelectual e moral da sua geração, que lutou pelo municipalismo e enfrentou o poder absoluto. Capaz da paciência beneditina da investigação, a par da penetrante agudeza da crítica, histórica ou literária, era dotado de uma visão arquitectónica na ordenação das ideias, tanto como da imaginação efabuladora de romancista e dramaturgo.

A sua morte transformou-se numa imensa manifestação de luto nacional, organizada pelo escritor João de Deus.

Alexandre Herculano, nasceu a 18 de Março de 1810, em Lisboa, no antigo Pátio do Gil, na Rua de São Bento, e faleceu na sua célebre Quinta de Vale de Lobos, perto de Santarém, a 13 de Setembro de 1877. Comemoramos pois o duplo centenário do nascimento do insigne historiador, romancista, poeta, jornalista, dramaturgo e combatente pela causa da liberdade.

de Alexandre Herculano

História de Portugal

Page 16: Jornal do STAL Edição 97 - Dezembro 2010

DEZEMBRO 201016 jornal do STAL

Cart

oon

de: M

igue

l Sei

xas

Resumo da luta

A manifestação culminou um ano de intensa ac-tividade desenvolvida

por mais de uma centena de organizações que integram o movimento da paz em Portu-gal, entre as quais o STAL es-tá desde a primeira hora.

Desfilando pela principal avenida de Lisboa, dezenas de milhares de pessoas re-afirmaram a sua convicção de que a paz só será obtida mediante a luta consequen-te dos povos contra o impe-rialismo e pela libertação do jugo explorador do capitalis-mo, cuja existência sempre foi e será indissociável das guerras de rapina, de con-quista de mercados e recur-sos naturais.

Na concentração final as organizações e manifestan-tes aprovaram uma declara-ção, na qual a NATO é carac-terizada como uma «aliança militar agressiva que cons-

titui na actualidade a maior ameaça à paz e à segurança internacional».

O seu objectivo é «esmagar os direitos dos povos, vio-lar as soberanias nacionais e subverter o direito internacio-nal». A NATO é responsável por «crimes hediondos».

Ao mesmo tempo que «mi-lhares de seres humanos morrem de fome e de doen-ças evitáveis e a pretexto da crise e do combate ao défice

se atacam as condições de vida e os direitos dos traba-lhadores, as despesas mili-tares não cessam de aumen-tar – os orçamentos milita-res dos países membros da NATO representam, em con-junto, cerca de 70 por cen-to das despesas militares no mundo».

O documento salienta que os «grandes responsáveis pela agudização da situação económica e social ao nível

nacional e internacional são os mesmos que promovem a corrida aos armamentos, a militarização das relações in-ternacionais e a guerra».

Por outro lado, o texto re-corda que a participação de Portugal numa organização agressiva como a NATO «co-lide com princípios funda-mentais contidos na Cons-tituição da República Portu-guesa e na Carta das Nações Unidas».

Contra a NATO, pela paz Dezenas de milhares de pessoas afluíram no dia 20 à Avenida da Liberdade para repudiar a Nato e a sua cimeira, que nessa semana teve lugar na capital portuguesa.

Dezenas de milhares desfilaram em Lisboa

9 de Setembro – A CGTP-IN promove em Lisboa um encontro sobre Contrata-ção Colectiva.

20 de Setembro – A Greve Nacional da Administração Local regista uma adesão global que ronda os 70 por cento.

21 de Setembro – Assinala-se o Dia In-ternacional da Paz

22 de Setembro – A Cimeira da Fren-te Comum discute e aprova a Proposta Reivindicativa Comum para 2011.

29 de Setembro – No âmbito do Dia Eu-ropeu de Luta promovido pela Confede-ração Europeia de Sindicatos, a CGTP-IN promove em Lisboa e no Porto ma-nifestações de trabalhadores contra as políticas de austeridade do Governo.

1 de Outubro – A CGTP-IN assinala o seu 40.º aniversário com uma Grande Assembleia de Dirigentes Sindicais, em Lisboa, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, e anuncia a convocação da Greve Geral para 24 de Novembro.

1 de Outubro – Assinalando o Dia Nacio-nal da Água, o STAL condena, em nota de imprensa, as privatizações e reclama a gestão pública do sector.

20 de Outubro – O STAL e o STML pro-movem em Lisboa um Plenário Nacional de Bombeiros Profissionais.

6 de Novembro – Mais de 100 mil tra-balhadores participam na Manifestação Nacional em Lisboa promovida pela Frente Comum de Sindicatos da Admi-nistração Pública.

10 de Novembro – A Frente Comum de-bate as «Medidas do Governo contra os trabalhadores da Administração Pública e das empresas do Sector Empresarial do Estado», numa sessão em Lisboa.

12 de Novembro – O STAL promove em Coimbra uma reunião nacional de CCD’s. 20 de Novembro – Milhares de pesso-as manifestam-se em Lisboa contra a Cimeira da Aliança Atlântica a decorrer na capital, numa acção convocada pela Campanha «Paz sim, Nato não».

24 de Novembro – A Greve Geral con-vocada pela CGTP-IN regista uma das maiores adesões de sempre, que ultra-passa os 90 por cento na Administração Local.

26 de Novembro – o STAL e o STML promovem na Praça do Município, em Lisboa, um plenário de trabalhadores da CML que condena a externalização de serviços.

A Avenida da Liberdade encheu-se de gente para condenar a NATO, fazendo valer o direito de manifestação sobre o ambiente de intimidação promovido pelo Governo