jornal do defensor – edição 33

12
LEI COMPLEMENTAR 137/2009 Defensores comemoram momento histórico Agência Brasil Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona PLC 137/2009 Nova lei complementar detalha autonomia da Defensoria Pública, desvinculando-a da OAB e traz legitimidade para proposição de ação civil pública (Página 12) Durante a semana da paralisação, Defensores Públicos da capital visitaram a ocupação Dandara, no bairro Céu Azul, onde mediaram conflito entre polícia e população. (Página 9) Mobilização pela cidadania Defensores públicos fazem movimento com objetivo de pressionar o governo para necessidade de negociação, ao mesmo tempo que procuram esclarecer a sociedade os problemas enfrentados pela Defensoria Pública em Minas Gerais. Foto: Diego Alvarenga

Upload: adepmg-adep

Post on 27-Mar-2016

223 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Jornal do Defensor – Edição 33 - Uma publicação da ADEP-MG

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

1

LEI COMPLEMENTAR 137/2009

Defensores comemoram

momento histórico

Ag

ência

Bra

sil

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona PLC 137/2009

Nova leicomplementardetalha autonomiada DefensoriaPública,desvinculando-ada OAB e trazlegitimidade paraproposição deação civil pública

(Página 12)

Durante a semana daparalisação, Defensores

Públicos da capitalvisitaram a ocupação

Dandara, no bairro CéuAzul, onde mediaramconflito entre polícia epopulação. (Página 9)

Mobilização pela cidadaniaDefensores públicos fazem movimento com objetivo de pressionar o governo para

necessidade de negociação, ao mesmo tempo que procuram esclarecer a sociedadeos problemas enfrentados pela Defensoria Pública em Minas Gerais.

Foto: Diego Alvarenga

Page 2: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

2

CONSELHO DIRETOR:DIRETOR PRESIDENTE:

FELIPE AUGUSTO CARDOSO SOLEDADEDIRETOR VICE PRESIDENTE:

FLÁVIO RODRIGUES LELLESDIRETOR SECRETÁRIO:

EDUARDO CAVALIERI PINHEIRODIRETORA TESOUREIRA:

RENATA SIMIÃO GOMESDIRETORA PARA ASSUNTOS

INSTITUCIONAIS:ANA PAULA MACHADO NUNES

DIRETOR JURÍDICO:WELLERSON EDUARDO DA SILVA CORRÊA

DIRETORA SOCIAL:THEREZINHA APARECIDA DE SOUZA

SUPLENTES:DIEGO SOARES RAMOS

CLÁUDIO MIRANDA PAGANOCONSELHO FISCAL

MAURINA FONSECA M. DE MATOSDELMA GOMES MESSIAS

ELIANA MARIA DE OLIVEIRA SPÍNDOLASUPLENTE

LUDMILA FANUCCHI RODRIGUESCONSELHO CONSULTIVO

RODRIGO ZAMPROGNOFERNANDO CAMPELO MARTELLETOARIANE DE DE FIGUEIREDO MURTA

DANIELA DUARTE QUINTÃOCRISTIANO MAIA LUZ

RUBENS LUIZ BORGESMARIA APARECIDA DA SILVA

Publicação da Associação dos DefensoresPúblicos de Minas Gerais - ADEP-MG

Rua Araguari, 358 - PilotisBarro Preto – Belo Horizonte - MG

CEP : 30.190.110 - PABX/FAX : (31) 3295.0520E-mail: [email protected]

Assessoria de ComunicaçãoCoordenadora: Edilma Dias

[email protected]: Diego Alvarenga

[email protected] Lopes - Estagiá[email protected]

Jornal do [email protected] Responsável/Editora:

Edilma Dias (MTB -10.840)Revisora:

Renata Alvarenga (31) 8894.1390Projeto e Edição Gráfica:

Viveiros Editoração (8872.6080)

PALAVRA DO PRESIDENTE

O cerco de Dandara e

a Defensoria Pública

de Minas Gerais

Ed

ilm

a D

ias/A

DE

P-M

G

Em 1099, cruzados sob a orientação de“Deus” e sob as ordens de Godofredo de Bu-lhão e outros monarcas europeus, cercaram acidade de Jerusalém, impedindo a entrada deágua e alimentos por mais de um mês. Ao fimdo cerco, os moradores exaustos, 70 mil pes-soas foram dizimadas sob o gume da espada,até que os cavaleiros “patinassem em sangueaté os tornozelos”.

O Exército brasileiro também reproduziu atécnica de cerco no Sertão Bahiano na “Guer-ra de Canudos”. Em 1896-1897, caboclos ser-tanejos em degradante situação de fome emiséria se reuniram sob as lições de fé de An-tônio Conselheiro, e foram cercados por 10 milhomens do exército brasileiro, e, ao final, 25mil pessoas entre homens, mulheres e crian-ças foram degolados. Devemos o conhecimen-to destas atrocidades ao escritor Euclides daCunha, que hoje daria boas lições de bom jor-nalismo aos profissionais da atualidade tãodescomprometidos com o interesse público.

Desde a invasão alemã em 1939, os judeusde Varsóvia foram cercados por tropas do exér-cito e da SS nazista e obrigados a “viver” comrações diárias de alimentos de 184 kcal, con-vivendo com a tifo e a ameaça de deportaçãopara os “campos de trabalho”. Após três anos,310 mil almas desapareceram no gueto deVarsóvia.

Com tais atrocidades, pôs-se em evidênciaa necessidade de preservação de direitos fun-damentais, oponíveis a todos e em qualquertempo, como modo de preservar a própria hu-manidade existente em nós. E, assim, acreditá-vamos que tais tragédias estivessem relegadasaos livros de história e jamais se repetiriam.

Hoje, bem próximo do maior cartão postalde Belo Horizonte, a Lagoa da Pampulha, 5 milpessoas, entre homens, mulheres e criançasse amontoam em barracos de madeira e lona.Sem água, sem luz, sem acesso a qualquerserviço público essencial. Não podem matri-cular suas crianças nas escolas, não têm aten-dimento nos postos de saúde da região, emuitos não tem emprego por não poderemcomprovar residência.

E mais, sem qualquer ordem judicial, a Po-lícia Militar de Minas Gerais impede a entra-da de quaisquer materiais de construção nolocal, sob a alegação de tratar-se de local in-vadido, mesmo, repita-se, diante da ausên-cia de qualquer decisão judicial neste senti-do. Há notícias no local de toda sorte de arbi-trariedade e abusos.

Assim, hoje, em Minas Gerais, o Estado(União, Estado e Município), sob pretensomanto do Estado Democrático de Direito, cer-ca de 5 mil pessoas com o apoio da PolíciaMilitar, para que estes continuem privados dequaisquer direitos fundamentais, e, assim, ouabandonem o local, ou sejam compelidos adeixá-lo, mas não sob o apelo do discurso jurí-dico, mas sob a força.

Nesta quinta-feira, 17 de dezembro de2009, a uma semana do Natal, um grupo devalorosos Defensores Públicos de Minas Ge-rais esteve presente na semana de mobiliza-ção pela cidadania e pelo acesso à justiça noacampamento DANDARA, e constataram talsorte de coisas.

Não temos dúvidas de que a única portado Estado aberta para os moradores do DAN-DARA é a Defensoria Pública de Minas Gerais.É ela que deve lutar para que esses cercadostenham acesso aos direitos mais elementares,desde a livre locomoção aos direitos sociaisde saúde e educação e até mesmo o direitode querer ser feliz. É preciso levar tais fatos aoJudiciário Brasileiro e se necessário, à CorteInternacional de Direitos Humanos.

Mas, hoje, a Defensoria Pública de MinasGerais está igualmente “cercada” pelas forçasque determinam a configuração atual do orça-mento público do Estado. A cada 100 reaisaplicados no sistema de justiça de Minas, 75reais ficam com o Poder Judiciário, 20 com oMinistério Público e apenas 5 ficam para aDefensoria Pública defender e orientar16.000.000 de pessoas cercadas pela hipos-suficiência. Minas Gerais investe menos do quea média nacional em Defensoria Pública (0,3%do orçamento do Estado contra 0,4% da mé-dia nacional). A Defensoria Pública de MinasGerais não possui um núcleo especializado emregularização fundiária, nunca teve um concur-so para a área meio, possui um terço dos pro-fissionais necessários (440 em um quadro de1.200), cobre cerca de um terço das comarcas(110 em 298) e os Defensores Públicos minei-ros recebem menos de um terço da remunera-ção de outros Defensores Públicos de váriosEstados do Brasil.

Algo precisa ser feito para romper esses cer-cos. Cabe às autoridades públicas conhecer acalamidade humanitária que acontece hoje emBelo Horizonte e buscar soluções para estas.Cabe ao Governo do Estado de Minas Geraisconhecer a calamidade administrativa queacontece na Defensoria Pública de Minas Ge-rais e dialogar com os Defensores Públicos deMinas Gerais na busca de soluções definitivas.

Continuaremos firmes e confiantes nas au-toridades e no Governo de Minas para que che-guemos a dias melhores para os moradores doDANDARA e para os milhões de não assistidosda Defensoria Pública por todas as comarcasde Minas Gerais, “cercadas” pela violação dedireitos humanos dos hipossuficientes, em quenão existem Defensores Públicos.

Page 3: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

3

Em Assembleia Geral Ex-traordinária (AGE), realizadapela Associação dos Defenso-res Públicos de Minas Gerais(ADEP/MG), no dia 4 de de-zembro de 2009, foi delibera-do que haveria uma primeira

paralisação no período de 14 a 18 de dezembro,ocasião em que seriam realizadas várias ativida-des extra-judiciais, a fim de dar maior visibilidadeao movimento. As ações seriam definidas em reunião da comissão de mobilização, na semanaseguinte, 11 de dezembro.

Também ficou definida uma segunda para-lisação com início em 1º de fevereiro e términono dia 5. No período de 3 a 5 de fevereiro serárealizado o I Encontro Estadual dos DefensoresPúblicos que tratará do III Diagnóstico da De-fensoria Pública e da aprovação da Lei Com-plementar 132/2009. O evento deverá reunir nacapital defensores de todo o estado. Caso, atéessa data, nenhuma novidade seja apresenta-da, no dia 8 de fevereiro será deflagrada grevepor tempo indeterminado.

ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA

Defensores Públicos mineiros definem

estratégias para o movimento

Pensando-se em um Gover-no que vem insistindo na posi-ção de não receber defensorespúblicos, não discutir a questãoDefensoria Pública e, a cada in-vestida da imprensa, reagircom o mesmo discurso: “fize-mos concurso para 150 cargoseste ano. De 2003 até agora, fo-ram criados 136 novos car-gos...”, as últimas manifesta-ções vindas de seus represen-tantes soam como leve indíciode que algo pode mudar.

Em encontro com o Defen-sor Público de Uberaba e repre-sentante da regional da ADEP,Rubens Luiz Borges, no dia 1de dezembro, o vice-governa-dor de Minas Gerais, AntonioAugusto Anastasia, disse queaté o final de janeiro de 2010 es-tará com a agenda lotada, masque, em fevereiro, irá se reunircom os representantes da as-sociação. A reunião no gabine-te do vice-governador foi agen-

dada pelo deputado estadualDoutor Ronaldo (PDT).

Já no dia 11 de dezembro,em reunião agendada pelodeputado estadual LafaieteAndrade (PSDB), a secretáriade Estado de Planejamento eGestão, Renata Vilhena, afir-mou aos diretores da ADEP,Felipe Augusto Soledade, Re-nata Simião e Ana Paula Nu-nes Machado, a disposição doGoverno em discutir as pro-postas apresentadas pela en-tidade em prol dos Defenso-res Públicos de Minas Gerais,no início do ano que vem. “Apartir do início do ano, caso aeconomia continue estável, te-remos condição de discutir aspropostas dos Defensores Pú-blicos”, afirmou a Secretária.

O presidente da ADEPapresentou à secretária pro-posta que vem sendo discuti-da ao longo deste ano e queestabelece, entre outros itens:

Defensores Públicos de todo o estado participam da AGE em Belo Horizonte

Secretária de Planejamento

também fala em agenda para 2010

Defensor Público Rubens Luis Borges e o deputado deputadoestadual Doutor Ronaldo (PDT) entregam Diagnóstico em

visita ao vice-governador, Antonio Augusto Anastasia

o retorno a três classes; diver-gência de remuneração entreoutros estados, diferenças deorçamentos.

Renata Vilhena disse tam-bém ter conhecimento da exis-

tência de verba para paga-mento de dativos. Ela informoutambém que a Secretaria daFazenda está compilando da-dos referentes a essa questãoe deverá estudar o caso.

Foto: Divulgação

Foto: Diego Alvarenga

Page 4: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

4

O dia 17 denovembro tor-nou-se o símbo-lo da luta dosDefensores Pú-blicos de MinasGerais, numa

campanha iniciada em março des-te ano e que, no fechamento destaedição, continuava com fortes in-dícios de que continuaria se arras-tando até o alvorecer de 2010, semque o governo acenasse com qual-quer sinal de entendimento.

Mobilizados, os defensores mi-neiros suspenderam o atendimen-to aos assistidos na sede da De-fensoria em Belo Horizonte e tam-bém não participaram de audiên-cias no Fórum. A mobilização foiconvocada pela Associação dosDefensores Públicos de Minas Ge-rais (ADEP/MG). Na convocaçãoaos Defensores, o Presidente daADEP/MG, Felipe Soledade, expli-cou que a mobilização era tam-bém um ato contra a crise na De-fensoria Pública mineira.

Os defensores deixaram suassalas e, divididos em três grupos,visitaram favelas de Belo Horizon-

MOBILIZAÇÃO PELA CIDADANIA

Defensores mobilizados contraa crise na Defensoria Pública

Com essa declaração, o líderda bancada do governo na Assem-bleia Legislativa, deputado esta-dual Domingos Sávio (PSDB), con-cluiu a reunião com os diretores daADEP/MG em seu gabinete namanhã do dia 17. Bem à vontadepara tratar do assunto DefensoriaPública, o parlamentar ouviu aten-tamente as colocações de todosos presentes. Em nome dos cole-gas, o presidente da ADEP, FelipeSoledade, entregou a DomingosSávio o III Diagnóstico da Defenso-ria Pública no Brasil, e uma sínteseda publicação, produzida pelaADEP/MG. O deputado mostrou-se surpreso ante a confirmação deque Minas vai mesmo muito mal,em se tratando de Defensoria Pú-blica. A falta de estrutura, o núme-ro insuficiente de defensores paraatender à população de Minas -umdos maiores do país- e a remune-

“São apenas 470 defensores, isso não teriatanto impacto assim na economia do Estado”

Deputado Estadual em reunião com a diretoria da ADEP/MG

ração bem abaixo do que rece-bem os colegas de outros estadosforam temas destacados pelo pró-prio parlamentar. Sobre a evasãona carreira, Domingos Sávio disseaos defensores: “Vocês estão pre-judicados pelos salários. Vocês e asociedade como um todo”.

À citação do último concurso re-alizado pela Defensoria Pública, adiretora para assuntos institucionaisda ADEP, Ana Paula Machado Nu-nes, ressaltou que o grande proble-ma da classe não é concurso. “Jáchegamos a ter 700 defensores emMinas. O problema é que não háinteresse em continuar na carreira”.

Após discorrer sobre crise eco-nômica, choque de gestão e no-ções de economia, Domingos Sá-vio concluiu: “O caso de vocês émais razoável (em comparação aoutros, em Minas). São apenas 470defensores - bem abaixo do que

se necessita- isso não teria tantoimpacto assim na economia do Es-tado”, refletiu o parlamentar.

Finalizando, Domingos Sávioprometeu manifestar-se no plená-

te, o Centro de Referência do Ido-so e a Assembleia Legislativa deMinas Gerais. Junto aos deputa-dos, os defensores divulgaram da-dos do III Diagnóstico da Defenso-ria Pública, produzido pelo Minis-

tério da Justiça. “A mobilizaçãodeste 17 de novembro tem doisobjetivos - destacou o Felipe Sole-dade- “Primeiro, divulgar o diag-nóstico e chamar a atenção dasautoridades para os péssimos in-

dicadores financeiros e sociais daDefensoria Pública de Minas Ge-rais; o segundo, é mostrar à popu-lação que ela tem direito de aces-so gratuito à Justiça e pode reivin-dicar esse direito”.

rio, declarando seu apoio à Defen-soria Pública. Também assumiu ocompromisso de empenhar-se jun-to ao governo em busca de umasolução favorável.

Page 5: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

5

MOBILIZAÇÃO PELA CIDADANIA

Defensores em busca deapoio dos parlamentares

Na tardedo dia 17 ded e z e m b r oc a m i s e t a sverdes deDefensores

Públicos da capital e do inte-rior já podiam ser vistas emtoda a parte, na AssembleiaLegislativa de Minas Gerais.Ponto de partida foi a chama-da “sala de chá”, situada en-tre o auditório e o plenário. Alia diretoria da ADEP distribuiumaterial e organizou grupos,por região. Partiram todosrumo aos gabinetes dos de-putados.

Atuando na comarca deTrês Corações, no sul de Mi-nas, a Defensora Pública Sa-mantha Villarinho considerouproveitosa a mobil ização.“Temos de nos fazer conhe-cer na capital. Não adianta fi-

car isolados no interior. Ocontato com os deputadosda região em que atuo émuito importante”. A impres-são é dividida pela colegaLudmila de Almeida Fanuchi,de Itajubá. “Tivemos de via-jar oito horas para chegar aBelo Horizonte, isto depoisde trabalhar o dia todo, masachei que valeu a pena ade-rir ao movimento”, ponderou.

Membro da diretoria daADEP, Diego Soares Ramosdestacou a importância dainiciativa. “ É positivo até mes-mo para que a classe possaavaliar como anda o interes-se dos demais em participardos movimentos classistas.Também me pareceu umaoportunidade de verif icar-mos como estão os ânimospolíticos em relação à Defen-soria Pública”.

Prosseguindo com as ativida-des programadas para o “Dia deMobilização” na capital, Defenso-res estiveram no Centro de Refe-rência do Idoso, Morro das Pe-dras e no Morro do Papagaio,prestando orientação e distribu-indo materiais informativos.

No Centro de Referência doIdoso, a Defensora Pública Môni-ca Botelho Cornélio explicou aospresentes como é feito o atendi-mento no Núcleo do Idoso daDefensoria. Mônica falou sobre autilização de crédito consignadoe atendimentos na área civil e fa-miliar. Além disso, foram entre-gues materiais explicativos sobresuperendividamento, direitos dosidosos e sobre a campanha demobilização.

“Com a Defensoriatemos orientação certa”Moradora e membro do Con-

selho Habitacional do Morro das

,

Na sala de chá, Defensores organizam grupos de ação

Defensores abordam parlamentares nos corredores da ALMG

Atividadesextrajudiciais

Idosos recebem orientação sobre atendimento

Assistida doMorro dasPedras se diz“amiga daDefensoria”

Pedras – Vila da Antena- IzabelMaria Pereira se diz ‘amiga daDefensoria Pública´. “ Com aDefensoria nós temos informa-ções certas. Estamos conhecen-do nossos direitos e temos nosdefensores nossos apoiadoresnas pelejas judiciais. Essa mobi-lização é muito importante, parao povo conhecer as dificulda-des que os Defensores enfren-tam”, disse Izabel.

Aos moradores do Morrodas Pedras e do Papagaio, fo-ram entregues cartilhas sobrea Lei Maria da Penha, Direito doConsumidor, folhetos sobre su-perendividamento e tambémda Campanha de Mobilização.“É importante a Defensoria Pú-blica estar presente na comu-nidade, junto com as lideran-ças, pois se tornam multiplica-dores de cidadania na própriacomunidade”, disse o DefensorMarcelo Nicoliello.

Fotos: Edilma Dias

Fotos: Diego Alvarenga

Page 6: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

6

Page 7: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

7

Page 8: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

8

Há novemeses emc a m p a n h apela melhoriade condiçõesde trabalho e

remuneração compatível coma carreira, os Defensores Pú-blicos de Minas Gerais inten-sificam, já no final do ano, omovimento reivindicatório . Naluta para tentar estabelecer umcanal de negociação com ogoverno, a classe ampliou abusca de apoio de parlamen-tares mineiros e procurou es-clarecer a sociedade sobre asmotivações da campanha.

Desde março deste ano, osdefensores públicos de Minasestão em campo, tentando sefazerem ouvir. Várias solicita-ções ao Executivo e ao Legis-lativo Mineiro foram encami-nhadas desde então. Audiên-cias públicas, reuniões, mobi-lizações, três assembleias ge-rais extraordinárias e um diade paralisação (17/11), ocor-reram desde então, sem que

PARALISAÇÃO

Defensores Públicos mineirosquerem ser ouvidos pelo Governo

houvesse abertura pelo gover-no de um canal de negocia-ção na busca de uma saídapara os graves problemas daDefensoria Pública Mineira.

Em AGE realizada no dia 4de dezembro, em Belo Hori-zonte, cerca de 180 defenso-res da capital e do interior de-cidiram pela paralisação rea-lizada no período de 14 a 17de dezembro, com indicativode greve, por tempo indeter-minado, a partir de 8 de feve-reiro de 2010.

Após a AGE, a Comissãode Mobilização realizou trêsreuniões de planejamento eexecução de campanha paratodo o estado denunciandoa crise na Defensoria Públi-ca e as repercussões destacrise na vida do cidadão ca-rente de Minas. Para dar su-porte ao movimento foramproduzidos: cartas aos assis-tidos e autoridades, panfle-tos, cartazes, outdoors, selospara pet ições, matér iasem jornal e banners.

As ações de luta que susten-tam o movimento pelo fortaleci-mento da Defensoria Públicapartiram de linhas definidas pelaclasse com o objetivo de pres-sionar o governo para a necessi-dade de negociação, ao mesmotempo em que procuram escla-recer à sociedade os proble-mas enfrentados hoje pela De-fensoria Pública no exercício desuas funções.

Entre as ações adotadas,destacam-se:

• Nota na imprensa - Pu-blicação de Nota ao Assistido emjornais de grande circulação emMinas Gerais (Estado de Minas;Super Notícia; O Tempo e O Tem-po Contagem; Hoje em Dia).

• Outdoor - Campanha pu-blicitária veículada em outdoorsdistribuídos em diversos muni-cípios mineiros e na capital, numtotal de 60 placas.

• Faixas - Afixadas em pon-tos estratégicos – entrada decomunidades como Morro doPapagaio, Aglomerado da Ser-ra e outras; próximo à ALMG e

Estratégias e ações de lutaFórum da capital.

• Panfletagem - A campa-nha foi reforçada com a distribui-ção, na capital e nas comarcasexistentes no estado, de panfle-tos que aprofundam as denúnci-as apresentadas nos outdoors.O material foi despachado pelaADEP/MG para todas as Defen-sorias do interior.

• Selos - Todos os defenso-res receberam cartelas com se-los adesivos em dois formatos di-ferentes: um menor, para ser co-lado em petições e o segundo, aser afixado na roupa do defensor.

• Contatos políticos –Desde o início do ano, a ADEP/MG fez dos contatos políticosuma atividade constante, per-manente. A partir da mobilizaçãoe nos cinco dias da paralisação,esses contatos foram intensifica-dos. O objetivo: obter apoio àsreivindicações dos defensores.Sensibilizados, vários deputa-dos estaduais se pronunciaramem plenário e se dispuseram aagendar reuniões com secretá-rios de governo.

Cird

es L

op

es (

esta

giá

rio

)

Page 9: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

9

Abrindo asemana de pa-ral isação daDefensoria Pú-blica de MinasGerais, inte-grantes da Co-

missão de Mobilização reuni-ram–se com o Corregedor-Geralda Defensoria Pública, MarceloTadeu de Oliveira. O Corregedordisse apoiar o movimento, mascobrou responsabilidade dos de-fensores no sentido de observara urgência do caso de cada as-sistido, evitando, assim, prejuízoirreparável à população.

A Comissão também percor-reu os corredores da sede da De-fensoria na capital e bateu naporta de cada sala, reforçandocom os colegas a programaçãoda semana.

Na terça-feira, 15, defensoresda capital e Região Metropolita-na de Belo Horizonte estiveram naAssembleia Legislativa de MinasGerais (ALMG). Foram convidardeputados para a audiência pú-blica marcada para a quarta-fei-ra (16/12). Na visita, foi solicita-da, aos parlamentares da basealiada ao Governo, a intermedia-ção das soluções do atual impas-se. Os defensores conversaramcom deputados nos corredoresda Casa e em gabinetes.

AudiênciapúblicaDefensores públicos de toda o

estado acompanharam na Assem-bleia Legislativa de Minas Gerais(ALMG) audiência pública reque-rida pelo deputado estadual AlmirParaca (PT). Em discussão, os re-sultados do III Diagnóstico das De-fensorias Públicas, no Brasil.

No debate, Almir Paraca disseque a Defensoria Pública interes-sa não só à população carente,mas à democracia brasileira.Conforme o deputado, para que ajustiça se efetive, é necessário va-lorizar a instituição. “A DefensoriaPública de Minas Gerais está mui-to aquém das Defensorias de ou-tros estados. É necessário avan-ço”, enfatizou o parlamentar. Pa-raca lembrou ainda os investimen-tos feitos pelo Governo, mas des-tacou que a evasão de profissio-nais demonstra que esses aportesmostraram-se insuficientes.

O presidente da ANADEP, An-dré Castro, que também partici-pou, como convidado, da audiên-cia pública, usou uma metáforapara comparar qual é o lugar daDefensoria na atual esfera jurídicaem Minas “Se houvesse uma casaJustiça, o cômodo destinado àDefensoria Pública seria o porão”.André Castro fazia uma alusão aofato de exisitir em Minas, Defenso-rias que funcionam em porões deFóruns.

Direitode ir e virNa tarde de quinta-feira, 17,

moradores da ocupação Dandara,no bairro Céu Azul em Belo Hori-zonte, acompanharam de perto otrabalho dos Defensores Públicos.Durante a visita, programada deacordo com o calendário de ativi-dades da Semana de Paralisaçãoda Defensoria Pública, os defenso-res mediaram um conflito entre apolícia e a população.

Moradores fizeram relato de re-pressão policial e contaram da proi-bição da entrada de veículos detransporte de materiais de constru-ção. Além disso, havia queixas deque os postos de saúdes e escolasnão estavam fazendo o cadastra-mento de pessoas que moram naocupação. O acampamento reúnecerca de 5 mil pessoas que mo-ram em barracos improvisados,sem infraestrutura.

Durante a visita, um caminhãoentrou no acampamento. As pes-soas, em festa, se dirigiram ao bar-raco de lona e pau onde moram ocasal Maria Fonsina Januaria, 53, eRaimundo Januário, 57. SegundoRaimundo, há dias esperava osblocos comprados pelas suas fi-lhas. Segundo ele, a polícia nãopermite a entrada.

Enquanto o povo descarrega-va o material, na porta do acampa-mento, a polícia impedia um outrocaminhão de fazer entrega no lo-cal. Os defensores questionaram aproibição do direito de ir e vir. Soli-citada a presença de um respon-sável da Polícia Militar, foram infor-mados de que a proibição vinhade um memorando interno da Cor-poração. Ficou acertado que aDefensoria irá intervir no assuntopara resolver a questão da proibi-ção de entrada de materiais deconstrução no local.

OcupaçãoCamilo TorresSexta-feira, 18, último dia de

paralisação, defensores e estagi-ários visitaram a ocupação Cami-lo Torres, localizada no bairro Valedo Jatobá, regional Barreiro. Vi-vem no lugar, aproximadamente,140 famílias, totalizando, em mé-dia, 460 pessoas. Dessas, 235 sãoadultos, 10 idosos e 215 crianças.A ocupação ocorreu há mais deum ano. Segundo moradores, olocal era uma área para instala-ção de indústria. “Antes, isso aquiera só mato. Era desocupado, e agente precisando de moradia”,comenta Lacerda dos Santos,que está no assentamento desdeo início. Ele viu com satisfação achegada dos Defensores Públi-cos e considerou fundamental oapoio da Defensoria mineira.

Além dos defensores e estagi-ários da Defensoria, também esti-

Paralisação tem 100% de adesãoe ampla cobertura da imprensa

veram no local o Frei Gilvander LuisMoreira, da igreja do Carmo, o co-ordenador da Coordenação Naci-onal de Lutas (Conlutas), PedroValadares, e os professores do Pro-jeto de Educação de Trabalhado-res (PET), Charles Moreira Cunha eLuiz Henrique Roberti.

Para o presidente da ADEP, Fe-lipe Augusto Soledade, o movi-mento foi altamente positivo.“Mostrou a união da classe e arelevância do serviço da Defenso-ria Pública evidenciada pela co-bertura da mídia e pelas manifes-tações dos parlamentares”, con-siderou Soledade. A paralisa-ção da Defensoria de Minas Ge-rais foi noticiada por veículos decomunicação da capital e do in-terior do estado. A paralisação,que muitos chamaram de greve,também foi destacada pela Agên-cia Estado, do Grupo Estado deSão Paulo e pela Agência Abril.

Die

go

Alv

are

ng

aD

ieg

o A

lvare

ng

a

Defensores mediam conflito entre políciae população na ocupação Dandara

Defensores Públicos recebem apoio de moradoresda ocupação Camilo Torres

Page 10: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

10

“A situaçãopior do qu

Coordenador-geral de adminis-tração da Defensoria Pública deSão Paulo; presidente da Comis-são de Segurança Pública do Ins-tituto Brasileiro de Ciências Crimi-nais e membro do Conselho do Ins-tituto Latino Americano de Preven-ção ao Delito e Tratamento do De-linquente (ILAMID), Renato De Vit-to esteve em Belo Horizonte no dia16 de setembro deste ano, a con-vite da ADEP/MG. Participou de au-diência pública requerida pelaComissão de Constituição e Justi-ça da Assembleia Legislativa deMinas Gerais, em que se discutiaa crise da Defensoria Pública noestado. De Vitto, que também foiprimeiro Sub-defensor-Pú-blico de SãoPaulo; asses-sor da Secreta-ria de Reformado Judiciáriodo Ministérioda Justiça eProcurador doEstado, atuana área de as-sistência jurí-dica desde1998. Na ocasião de sua vinda aMinas, participava da elaboraçãodo III Diagnóstico da Defensoria Pú-blica no Brasil, lançado em novem-bro, durante o VIII Congresso dosDefensores Públicos, em Porto Ale-gre. Renato De Vitto conversoucom o Jornal do Defensor, a cami-nho do aeroporto de Confins, logoapós o encerramento da audiên-cia na ALMG.O presidente da

AUTOR DA FRASE É O DEFENSOR PÚBLICO PAULISTA RENATO DEVITTO, UM DOS ORGANIZADORES DOS TRABALHOS NA ELABORAÇÃO

DO III DIAGNÓSTICO DA DEFENSORIA PÚBLICA NO BRASIL

“NÃO TENHO RELATO DENENHUMA UNIDADE DE

TRABALHO NO ESTADO DESÃO PAULO EM QUE SE

TENHA CONDIÇÃOINADEQUADA, COMO SE

TEM AQUI EM MINAS, COMOOS DE SABARÁ, UBÁ E

VESPASIANO”

ADEP, Felipe Soledade, que em-barcaria no primeiro voo para Bra-sília, onde iria juntar-se aos cole-gas de Minas e de todo o país queacompanhavam a aprovação, noSenado, do PLC 137, também par-ticipou da entrevista.

JD- O senhor disse no ple-nário da ALMG, durante a audi-ência pública, que participou daelaboração do I Diagnóstico daDefensoria Pública no Brasil.

De Vitto - No período em queassessorei a Secretaria de Refor-ma do Judiciário, coordenei o tra-balho que resultou no relatório do

I Diagnóstico.Depois parti-cipei do II Di-a g n ó s t i c ocomo consul-tor, colabora-dor voluntáriodo Ministérioda Justiça e,agora, (se-t e m b r o /2009), com-ponho a Co-missão Minis-

terial, incumbida da organizaçãodos trabalhos do III Diagnóstico.

JD- O senhor conhece deperto a realidade das Defensori-as em todo o país. Como vê asituação de Minas Gerais?

De Vitto - Eu acredito que, deuma forma geral, todos os esta-dos apresentaram uma melhora.

Se analisarmos, por exemplo, o or-çamento de Minas em 2003/2004,quando havia a destinação devinte e cinco milhões de reais,apenas, não podemos ignorarque houve avanços, mas essesavanços, de uma forma geral, sãoinsuficientes. A situação de Minasé um pouco pior do que a médiabrasileira, que já é bastante insa-tisfatória, no tocante à distribui-ção dos recursos orçamentários,no tocante ao número de cargose cobertura dos serviços nas co-marcas e à remuneração dosmembros das carreiras. Isso secompararmos com os nossos pa-radigmas, que seriam a Magistra-tura e o Ministério Público.

JD – Como foi que São Pau-lo conseguiu chegar ao patamar,à condição atual que, emboravocês não considerem excelen-te, é muito melhor que a de Mi-nas Gerais? Que tipo de traba-lho foi desenvolvido?

De Vitto- Eu acredito que ogrande diferencial, em termos depotencial de crescimento, é ofato de contarmos com o Fundode Assistência Judiciária de SãoPaulo. Esse Fundo, que tradicio-nalmente revertia, exclusivamen-te, para o convênio com a OABpassou a ser utilizado no investi-mento em infraestrutura e parapagamento de parte da nossa fo-lha de pessoal. O fundo é com-posto por 13,17% das custas ex-trajudiciais de todo o Estado, oque nos confere um volume de re-

cursos bastante considerável, en-tre 350 e 400 milhões de reais porano. Então, acredito que temosuma capacidade de investimen-to e de execução muito maior doque a média das Defensorias Pú-blicas do Brasil. Além disso, ha-via um projeto, na criação de De-fensoria, de aproximação com asociedade civil.

JD - Baseado em quê?

De Vitto - No fato de a Defenso-ria de São Paulo ter nascido tam-bém como uma reivindicação dasociedade civil. Esse ponto, paranós, é muito importante. Acredita-mos que essa articulação com opúblico -alvo, com a sociedade ci-vil organizada é premissa para quese vençam algumas resistências.E várias ainda não foram vencidas,por exemplo, a questão remunera-tória, que continua sendo muito di-fícil pra nós. Em termos de infraes-trutura material, não tenho dúvidade que a nossa situação melhorouprofundamente nesses três anos naDefensoria.

JD- Contam com boa estru-tura em todas as comarcas?

De Vitto - Hoje eu não tenho re-lato de nenhuma unidade de tra-balho no estado de São Paulo emque se tenha condição inadequa-da de trabalho, como se tem aquiem Minas, casos mencionados naaudiência pública, como os deSabará, Ubá e Vespasiano. Muitopelo contrário, temos unidades

POR EDILMA DIAS

Page 11: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

11

o de Minas é um poucoue a média brasileira”

“EM 2008 HOUVE UMA PARALISAÇÃO DE CINCO

DIAS.HAVIA UMA NEGOCIAÇÃO ENTRE A

ADMINISTRAÇÃO E O GOVERNO DO ESTADO. O

EFEITO FOI DESASTROSO. TODO O CAMINHO

PERCORRIDO ATÉ ENTÃO, DE NEGOCIAÇÃO COM O

GOVERNO, FOI ABANDONADO. INTERLOCUTORES

DO PODER EXECUTIVO DIZIAM QUE NÃO HAVIA

MAIS CONVERSA PORQUE HAVÍAMOS PARALISADO.”

ENTREVISTA

novas, com espaço adequado parao atendimento dos usuários, parao desempenho dos trabalhos doDefensor, de todos os servidores,estagiários, equipamentos de infor-mática. Nesse ponto da infraestru-tura material e de tecnologia da in-formação, avançamos bastante, eexistem outras conquistas a serembuscadas, mas acreditamos queesse é um trabalho de construção.Se não tivermos credibilidade so-cial, se não tivermos a sociedadecivil como parceira, vamos termuita dificuldade para vencer es-ses obstáculos.

JD - A história da DefensoriaPública em São Paulo é recente,são três anos. Nunca se falouem greve?

De Vitto - Houve uma paralisa-ção de cinco dias em 2008, emmeio a uma negociação que a ad-ministração fazia com o governo doEstado. Como eu disse ao Felipe,a minha sensação é de que a gre-ve teve efeitos desastrosos. Todo ocaminho percorrido até então, denegociação com o governo, foiabandonado na medida em que aameaça se concretizou. Nós já nãotínhamos nenhuma moeda de tro-ca. E ouvíamos de todos os interlo-cutores do Poder Executivo quenão havia mais conversa porquehavíamos paralisado. Então, euacho que esse instrumento, eviden-temente legítimo, democrático,tem de ser usado com bastanteparcimônia, com bastante estraté-gia e, sobretudo, com muita res-ponsabilidade, em vista do interes-se do usuário.

Felipe Soledade - Acho mui-to interessante os núcleos espe-cializados que vocês têm emSão Paulo, e que funcionammuito bem. Aqui, infelizmente, anoção de núcleo ainda é volta-da exclusivamente para a ativi-dade processual e temos, nestemomento, uma discussão sobredistribuição de cargos. Vocêpoderia explicar melhor como

funcionam os núcleos, a impor-tância deles, e a razão pela qualdeveríamos adotar esse modeloem Minas?

De Vitto - Nós tínhamos exata-mente essa mesma percepçãoquando integrávamos a PAJ. Sabí-amos que tínhamos um time exce-lente de procuradores de assistên-cia judiciária, de defensores, masque funcionavam sem uma coor-denação; como se contássemoscom um monte de jogadores bri-lhantes em campo, mas funcionan-do na base do “catadão”, aquelacoisa de pegar camisas e sair dis-

tribuindo: “Você faz isso, isso eaquilo”. Entendíamos que era ne-cessário incorporar o conceito daadvocace, de advocacia estratégi-ca, na nossa forma de atuação. En-tão, surgiu a ideia, até inspirada nosgrupos especiais do Ministério Pú-blico de lá.

JD- Como funciona?

De Vitto - Criamos pequenasequipes especializadas em áreastemáticas sensíveis como: habita-ção e urbanismo; execução penal;infância e juventude; direitos huma-nos; afirmação de políticas para asmulheres e a questão da discrimi-nação. Cada núcleo temático des-ses funciona como um órgão mistode apoio, e consultivo à carreira,sobre questões específicas, ques-tões emblemáticas, tendênciasdoutrinárias, jurisprudenciais, le-

ta da OAB. Como resolve-ram a situação?

De Vitto - Essa situação nãoestá resolvida, continua penden-te, em julgamento no Supremo. Oque ocorre é que , na lei paulista, aOAB conseguiu incluir uma emen-da que foi aprovada e, naquelemomento, se nós não concordás-semos com a aprovação, possivel-mente não teríamos a aprovaçãodo projeto que institui a obrigatori-edade desse convênio, dessa ter-ceirização da atividade fim. Nósentendemos que o modelo ideal eo modelo constitucional são ummodelo público, mas também es-tamos cientes de que não vamoscobrir o estado inteiro em um oudois anos. Teríamos de concursarmil pessoas e não é possível fazerisso em um ano. Com isso ,derru-baríamos a qualidade dessa sele-ção. Também seria necessário cri-ar infraestrutura para esse pesso-al atuar em todo o interior.

JD- A Defensoria paulista de-senvolve algum trabalho no sen-tido de reverter esse quadro?

De Vitto - Um projeto de médioprazo. Nós acreditamos na transi-ção desse modelo atual que hojesubsiste apenas por força de umaliminar concedida na justiça fede-ral, que pode cair a qualquer mo-mento pela decisão do Supremo.Nessa ADIN, o Procurador Geral daRepública pede a declaração de in-constitucionalidade deste artigoque institui a obrigatoriedade doconvênio OAB. No entanto, nós te-mos a consciência de que até quenós tenhamos esse quadro de de-fensores e infraestrutura necessáriapara cobrir o estado inteiro, vamoster de conviver com as soluçõespaliativas, como o convênio com aOAB ou com outras entidades, pararesguardar o atendimento dessapopulação, que está nesses bolsõesde exclusão. Mas o projeto políticoda atual administração da Defen-soria Pública que já está em cursoé um projeto de transição.

gislativas, como também há umgrupo com atividade executiva, in-tervindo em casos que envolvem oestado inteiro , ou seja ,em casosque demandam uma intervençãomais articulada.

JD - Quantos núcleos exis-tem hoje e quais foram as van-tagens obtidas?

De Vitto - O balanço que temoshoje, com sete núcleos em funcio-namento, em vias de criar o núcleoespecializado do consumidor, é deque, qualitativamente, adiciona-

mos uma estrutura que não havia,que pensa aquela atuação de umaforma macro, para além do proces-so individual. E acho que isso traztambém um potencial de qualifi-cação da atuação muito grande.O coordenador da infância e juven-tude está acompanhando o queestá acontecendo no STJ e no STFe está municiando todos que atu-am na apuração de ato infracionale qual a tendência jurisprudencial.Passamos também a prover infor-mação de qualidade para o defen-sor, que está ali na banca ,conse-guir ter um apoio e não ficar só nofront, ali, “tomando tiro”, sem apoionenhum. Acho que é um dos gran-des ganhos que conseguimos in-corporar nesse pequeno período,no tocante à atividade fim.

JD - No ano passado, fa-lou-se muito sobre a consul-

Page 12: Jornal do Defensor – Edição 33

JORNAL DO DEFENSOR - ANO VI - Nº 33 - OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

12

Os rumos da Defensoria Públi-ca brasileira começaram a mudarquando, na tarde da quarta-feira,16 de setembro deste 2009, foiaprovado o Projeto de Lei comple-mentar 137/09 de autoria do Exe-cutivo, que organiza a DefensoriaPública nos estados, no DistritoFederal e também no âmbito daUnião. O Plenário aprovou, com 55votos favoráveis,oito emendas deredação apresentadas ao projeto(PLC 137/09). A matéria seria en-caminhada ao presidente Luís Iná-cio Lula da Silva que decidiria peloseu veto ou sanção.

Você defensor deve lembrar-sedo início, com o PLP 28/07 apre-sentado ao Congresso Nacionalpelo Poder Executivo. O PLP, quetantas vezes levou a diretoria daADEP-MG à Brasília, buscava umareorganização da Defensoria Públi-ca, com propostas de ampliaçãodas funções institucionais; regula-mentação da autonomia funcional,administrativa e orçamentária; de-mocratização e modernização dagestão. De acordo com a proposta,a Defensoria Pública também de-veria promover a difusão e a cons-cientização dos direitos humanos,

da cidadania e do ordenamento ju-rídico; além de regulamentar a atu-ação perante órgãos e tribunais in-ternacionais de proteção dos direi-tos humanos. Depois da aprovaçãoda Emenda Constitucional nº 45, de2004, que consagrou a autonomiaadministrativa, funcional e orça-mentária das Defensorias Públicasdos Estados, a Câmara Federalcontinuou a discussão sobre o pro-jeto de lei complementar, encami-nhado pela Presidência da Repú-blica, para a adequação da Lei Or-gânica Nacional da Defensoria Pú-blica à nova redação do artigo 134da Constituição Federal.

A luta pela aprovação do PLP 28uniu associações de todo o país. Natarde de 31 de março, a Comissãode Constituição e Justiça e de Cida-dania (CCJ) aprovou o PLP 28/07.

A cada vitória, os representan-tes dos defensores públicos vol-tavam a campo em busca do ne-cessário apoio dos parlamentarespara a votação do projeto. Na noi-te de 30 de julho, mais uma eta-pa foi vencida: a Câmara dos De-putados aprovou o PLP 28 por 338votos a 6. Dali o projeto seguiriapara a Comissão de Constituição,

A frase, dita pelo vice-presiden-te da ADEP-MG, Flávio RodriguesLelles, logo após a sanção presi-dencial ao PLC 137, expressoumuito bem o contentamento detoda a classe e o verdadeiro espíri-to de luta pelo cidadão hipossufi-ciente que rege os Defensores Pú-

blicos. Ao sancionar o projeto delei que organiza a Defensoria Pú-blica da União, do Distrito Federale Territórios , o presidente Luiz Iná-cio Lula da Silva colocava fim a me-ses e meses de expectativa emtodo o país.

E isso era apenas o começo.Se por um lado a luta pelo fortale-cimento da Defensoria Pública emMinas prosseguia, sem que nadade novo partisse do Palácio da Li-berdade, em todo o Brasil, a mídiapassou a dar mais atenção à De-

fensoria Pública, o que, por sua vez,traria mais visibilidade à instituição.

“Fico imaginando os milhões emilhões de mulheres e homens nes-se país que, diante de um proble-ma, não têm ninguém para defen-dê-los e, às vezes, são condenadospor bobagens. Ao fortalecer a De-fensoria, estamos apenas garantin-do ao cidadão mais humilde o mes-mo direito de alguém que pode con-tratar o advogado mais importantedo país”, disse um emocionadopresidente Luiz Inácio Lula da Silvadurante a cerimônia, em Brasília.

Criticando advogados que “ex-ploram o pobre”, Lula contou, a tí-tulo de ilustração, que um advo-gado tentou ficar com 20% da suaindenização quando perdeu odedo, na década de 60. O presi-dente defendeu, ainda, a criação

de um canal direto de comunica-ção da Defensoria Pública com asociedade e sugeriu um 0800 parafacilitar o acesso da população aosdefensores públicos. “Eu acho quetem de começar uma divulgaçãodo trabalho da Defensoria e achoque tem de ter um 0800 divulgadona televisão para as pessoas liga-rem quando precisarem. Para que,quando uma pessoa for abordadaindevidamente, ou for injustiçada,ou em qualquer problema, saibaque o Estado brasileiro está dan-do a ela um advogado que nãopoderia pagar”, discursou.

Após a solenidade, a diretorasocial da ADEP/MG, TherezinhaAparecida de Souza, entregou aopresidente Lula uma Medalha deMérito da Associação Nacional dosDefensores Públicos.

RETROSPECTIVA

Com sanção presidencial DefensoriaPública tem Lei Orgânica renovada

“A vitória é das pessoas maisnecessitadas de acesso à justiça”

Diretora da ADEP/MG,Therezinha Aparecida de Souzaentrega ao presidente LuizInácio Lula da Silva Medalha deMérito da Associação Nacionaldos Defensores Públicos.

DefensoresPúblicos de todo oPaís acompanharamvotação. Em Brasília,clima de festa após asanção Presidencialao PLP 137

Justiça e Cidadania (CCJ) e, pos-teriormente, já denominado PLC137/09, para o Senado. A direto-ria da ADEP deu início, então, auma série de visitas a senadores.A votação expressiva do PLC 137

chegou como um presente deaniversário para as diretorias an-teriores e a atual da Associaçãodos Defensores Públicos de Mi-nas Gerais que completava 29anos no dia 16 de setembro.