jornal do celg - 72

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2011 2012 2013 anos Psiquiatria & Cultura: “Literatura e Culinária, Entrevista com Betina Cardoso” “Uma Jornada Instigante Por Todas as Fases Pelas Quais o Ser Humano Atravessa Desde a sua Gênese” Página 16 Livro “O Ciclo da Vida Humana”: Página 12 O DSM-5 em Perspectiva Página 11 Páginas 8 e 9 Despedida: Relatos da Diretoria do CELG Gestão 2011/ 2013 Páginas 3, 5, 6, 7 e 10 FAZENDO HISTÓRIA DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA E MEDICINA LEGAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALLEGRE - ANO 24 • JULHO 2013 • Nº 72

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Jornal do Centro de Estudos Luis Guedes. ANO 24 • JULHO 2013 • Nº 72

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2011 2012 2013

anos

Psiquiatria & Cultura: “Literatura e Culinária, Entrevista com Betina Cardoso”

“Uma Jornada Instigante Por Todas as FasesPelas Quais o Ser Humano Atravessa Desde a sua Gênese”

Página 16

Livro “O Ciclo da Vida Humana”:

Página 12

O DSM-5 em PerspectivaPágina 11

Páginas 8 e 9

Despedida: Relatos da Diretoria do CELG Gestão 2011/ 2013Páginas 3, 5, 6, 7 e 10

FAZENDO HISTÓRIA

DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA E MEDICINA LEGAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALLEGRE - ANO 24 • JULHO 2013 • Nº 72

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jornal centro de estudos luis guedes

Débora Vigevani Schaf e Thiago Gatti Pianca

Expediente

Editorial

Jornal Centro de Estudos Luis Guedes – Centro de Estudos Luis Guedes Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Cursos de Extensão e Especialização em Psiquiatria e Psicoterapia da UFRGS. Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Rua Ramiro Barcelos, 2.350 - 2º andar - sala 2.218. CEP: 90.035-903. Porto Alegre - RS. Telefones: 3330.5655 / 3359.8416 / 3388.8165 Fax: 3388.8165. E-mail: [email protected]; Site: www.celg.org.br; Rua Ramiro Barcelos, 2350 - 2º andar - sala 2218. CEP: 90.035-903. Porto Alegre - RS. Telefone/Fax: 3388.8165 • DIRETORIA Presidente: Marcelo Pio de Almeida Fleck; Diretor Financeiro: Sérgio Noll Louzada; Diretora Administrativa: Letícia da Cunha Kipper; Diretor Científico: Pedro Vieira da Silva Magalhães; Diretor de Divulgação e Relações com a Comunidade: Thiago Gatti Pianca; Diretor de Publicações: Claudio Moojen Abuchaim ([email protected]); Diretora de Ensino: Carmem Emilia Keidann • ADMINISTRAÇÃO Assistente de Coordenação Administrativa: Patricia Lopes Azambuja ([email protected]) e secretária da Revista Brasileira de Psicoterapia ([email protected]); Bibliotecária: Maria Luiza Farias de Campos ([email protected]); Auxiliar Administrativo: Bernardo Beltrame ([email protected]); Estagiário: Matheus Grinchpum • Jornal: e-mail: [email protected]. Editores do Jornal: Débora Vigevani Schaf e Thiago Gatti Pianca. Projeto Editorial e Jornalistas Responsáveis: Luciele Copetti MTB/RS 15.420 e Thaís Cunha Martini MTB/RS 12.511. Projeto Gráfico e Diagramação: Robson Macedo.

Esta edição do Jornal do CELG nos traz uma alegria e uma tristeza. A alegria vem da sensação de dever cumprido, por ter ao menos iniciado um processo de renovação da maneira que entende-mos – e lemos – o nosso querido jornal. Os nossos atentos leitores certamente perceberão as mudanças gráficas e de layout que estamos introduzindo já no exemplar que têm em mãos. Se é que o tem nas mãos, visto que o acesso digital é uma realidade, podendo ser acessado de qualquer computador ou tablet. E isso é só o começo, as mudanças não vão pa-rar por aí.

A tristeza é em relação ao final da atual gestão do CELG. O clima é de despedida. Mas uma despedida feliz, há muito o que comemorar, como podemos ler nas colunas das diferentes diretorias do CELG. Na palavra do nosso presi-dente, que traz na página 3 um resumo da gestão, é salientado que as ativida-des visaram a formação de gerações de psicoterapeutas de orientação analítica, bem como tornar o centro “um veículo de divulgação da vida plural, diversi-ficada e rica que nosso Departamento possui, que é reconhecida nacional e in-ternacionalmente”.

O diretor de Publicações, Claudio Moojen Abuchaim, ressalta na página 10 a obtenção de novos indexadores para a Revista Brasileira de Psicotera-pia. O diretor científico, Pedro Maga-lhães, destaca a concepção do curso de psicofarmacologia, atualização até então muito solicitada pela carência de nosso Estado, na página 7. A diretora de en-sino, Carmem Emilia Keidann, explica na página 11 a importância das ativida-des de educação continuada para a pre-paração da Jornada do Celg, em 2012, e dos cursos em andamento na casa: o Curso de Especialização em Psicotera-

pia de Orientação Analítica (CEPOA), o Curso de Extensão em Psicoterapia da Infância e da Adolescência (CEPIA) e o curso de extensão em psicoterapia de orientação analítica. Na página 6, o diretor financeiro, Sérgio Louzada, co-menta que além de deixar um saldo po-sitivo no balancete, uma das realizações desta diretoria foi a de conseguir remo-delar e aperfeiçoar o CELG através da manutenção e melhoria das instalações. O mesmo quadro apresenta a diretora administrativa, Letícia Kipper, que res-salta a qualificação e valorização de fun-cionários visando estimular o ingresso e permanência de mais associados.

Em meio a tantos saldos positivos apresentados pelas diretorias, busca-mos inovar nas páginas 8 e 9, através da apresentação de diversos dados desta

gestão no formato de infográfico, um re-curso utilizado no jornalismo e na inter-net para tornar as informações mais cla-ras. O resumo da gestão neste formato evidencia o trabalho realizado por toda a diretoria e funcionários, facilitando o acesso à informação.

Ainda nesta edição, apresentamos as tradicionais resenhas de livros e fil-mes: Cláudia Hilgert nos conta sobre a nova edição do Ciclo da Vida Humana, que dispensa apresentações; e a Gabrie-la Nuernberg nos recomenda o filme “Aqui é o Meu Lugar”, de Paolo Sorren-tino. A entrevista, na seção “Psiquiatria & Cultura” apresenta a culinária como hobby da médica psiquiatra Betina e a união com a literatura e a ciência.

Além disso, tivemos a contribuição de Paulo Seixas com um artigo interes-santíssimo sobre a relação entre Freud e Maquiavel. Imperdível. Assim como o artigo escrito por Luiz Augusto Paim Rohde sobre as novidades do DSM-5, que foi lançado neste mês.

O Jornal do CELG aproveita para dar as boas-vindas à nova gestão da di-retoria do CELG, que assumiu no início do mês, presidida pelo Paulo Soares. Desejamos a eles e ao CELG como ins-tituição grandes realizações nos próxi-mos dois anos!

Uma boa leitura a todos!

“Os nossos atentos leitores certamente perceberão as mudanças gráficas e de layout que estamos introduzindo já no exemplar que têm em mãos. Se é que o tem nas mãos, visto que o acesso digital é uma realidade, podendo ser acessado de qualquer computador ou tablet. E isso é só o começo, as mudanças não vão parar por aí”.

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motivadas e identificadas com o CELG;4) Aproximação do CELG das novas gerações de psiquiatras, com aumento do número de sócios e criação de atrativos para o associado. A rede wireless no CELG está funcionando. Firmamos convênios para a compra de livros com descon-tos, e estamos em negociação para termos um acervo de e-books para os associados, seguindo uma tendência natural das bibliotecas. Além dis-so, colocamos no site os passos para o associado ter acesso ao Portal Capes e outros banco de da-dos baseado em tutorial do Ministério da Saúde;5) Estimulação do iCELG, forma do associado jovem desenvolver iniciativas específicas para as suas necessidades científicas;6) Realização da Jornada de Psiquiatria com base em excelência científica. Para isto, convidamos vários pesquisadores de renome internacional ligados às diferentes linhas de pesquisa da Pós-Graduação em Psiquiatria, realizando a segunda edição do Simpósio de Inovação em Psiquiatria. Com isto, obtivemos verbas do CNPq e da CA-PES que nos ajudaram a fazer um evento de qua-lidade e auto-sustentável;7) Realização de mais uma edição do Simpósio de Psicoterapia;8) Criação do “Curso de Atualização em Psico-farmacologia”, aproveitando a experiência e a excelência de vários grupos de pesquisa e ativi-dade clínica dos diferentes serviços do Hospital de Clínicas de Porto Alegre;9) Realização nos dois anos de gestão de aulas inaugurais. No primeiro ano contamos com as au-las dos professores Flávio Kapczinsky e Luis Au-gusto Rohde, proferidas por ocasião do concurso para Professor Titular realizado em 2012. E, neste ano de 2013, com o Professor Rubem Oliven;

Gostaríamos de registrar o nosso agradeci-mento a todos os associados por terem prestigia-do nossas diferentes atividades, o apoio de todos os colegas do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, bem como do nosso grupo de funcionários.

Desejamos que o professor Paulo Soares e sua equipe possam dar sequência aos projetos realizados e que possam manter o CELG cami-nhando em direção ao futuro. Um grande abraço a todos.

Caros associados:

Marcelo Pio de Almeida FleckPresidente do CELG

Palavra do Presidente

Estamos concluindo nossa gestão do CELG iniciada em julho de 2011. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a confiança depositada em mim na condição de presidente e meus colegas de diretoria: Pedro Magalhães, Carmem Keidann, Cláudio Abuchaim, Thiago Pianca, Letícia Ki-pper e Sérgio Louzada.

Foram dois anos de trabalho intenso, mas re-compensadores. Utilizamos como princípio em nossa administração manter a tradição da mis-são essencial do CELG. Na carta de fundação do Celg, redigida pelo professor Paulo Vianna Guedes ao então diretor da Faculdade de Medi-cina UFRGS professor José Carlos Milano, dizia o que segue: “O centro, tal como idealizamos e tal como está efetivamente funcionando, é uma instituição cientifica, destinado ao estudo e à pes-quisa dos problemas psiquiátricos e tem, ainda, a finalidade de colaborar com a Cadeira na orien-tação dos alunos que aspiram estudar ou exercer a Psiquiatria… Desta maneira, a vida funcional do Centro, estará subordinadas às normas e regu-lamento que regem a vida universitária da nossa Faculdade - que poderá contar, assim, com mais um elemento dinamizador de suas atividades no setor da Psiquiatria”.

Assim, procuramos manter o que tradicional-mente o Departamento de Psiquiatria se notabili-zou, que foi a formação de gerações de psicote-rapeutas de orientação analítica. Mas também ser um veículo de divulgação da vida plural, diver-sificada e rica que nosso Departamento possui, que é reconhecida nacional e internacionalmente.

Dentro desta perspectiva destacaria os se-guintes aspectos:1) Manutenção e estímulo para o funcionamen-to adequado de todos os cursos tradicionalmente oferecidos pelo CELG;2) Reformulação da Revista Brasileira de Psi-coterapia, atualizando todos os seus números, modernizando seu processo de submissão dos artigos através de um sistema eletrônico de sub-missão e editoração. Mantivemos como revista eletrônica já que o custo de uma versão impressa é incompatível com a saúde financeira do CELG. Além disso, mantivemos total independência Editorial mudando apenas sua missão: deixar de ser uma revista regional e buscar um escopo na-cional, modificando o corpo editorial, buscando a pluralidade e a qualidade. A Revista passou a ter uma edição bilingue. Desta forma, preparamos o terreno para a indexação em bases de dados in-ternacionais, criando as condições básicas para a internacionalização da revista;3) Reforma administrativa, reduzindo número de funcionários, mantendo um número compatível com as funções, mas de pessoas qualificadas,

Mas também ser um veículo de divulgação da vida plural, diversificada e rica que nosso Departamento possui, que é reconhecida nacional e internacionalmente

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Curso de Especialização em Psicoterapia de Orientação Analítica (CEPOA)

Curso de Extensão em Psicoterapia da Infância e da Adolescência (CAPIA)

XI Jornada de Psiquiatria da APRS discute os “Caminhos da Psicopatologia”

Curso de Extensão Teoria e Técnica da Supervisão de Psicoterapia

de Orientação Analítica

CAP

Com o objetivo de promover a atualização na área, o Curso de Especialização em Psico-terapia de Orientação Analítica (CEPOA) do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal (UFRGS) promovido pelo CELG, foi criado em 1984 como curso de extensão. Adquirindo, no ano de 1998, o formato de especialização. Desta forma, aumentando a carga horária, e re-cebendo em 2001, o reconhecimento do Minis-tério de Educação e Cultura (MEC).

A especialização tem duração de 396 horas aulas, abordando conceitos fundamentais e de-senvolvimentos em psicoterapia. Assim como a realização de colóquios, em 2012 os temas abordados foram: “A prática Psicoterápica

Hoje: Contrato e Suas Controvérsias”, com os professores Matias Strassburger, Cláudio Laks Eizirik, Clarice Kowacs e Neusa Knijnik Lu-cion; e “Novos Modelos de Mente em Psiquia-tria” com a participação dos professores Jus-sara Shestastsky Dal Zot, Flávio Kapczinski, Sofia Stein e Eneida Iankilevich.

Ao longo das edições do CEPOA foram 240 alunos formados e 18 turmas. Na sua 12ª edição (2012/2013) a especialização conta com 31 alunos matriculados. A atual gestão (2011 – 2013) já conta com 37 formados, e mantém a preocupação permanente de atualizar o progra-ma através de sugestões, bem como, discutir a metodologia do curso com os professores.

Com a coordenação dos psi-quiatras Cláudia Fam e Camila Selbach, segue em funcionamento o Centro de Atendimento Psicote-rápico (CAP). O CAP tem a função de encaminhar pacientes de baixa renda para os alunos do Curso de Psicoterapia de Orientação Analíti-ca – infância, adolescentes e adultos – e residentes do último ano de Psi-quiatria. O objetivo é propiciar, aos alunos, pacientes para supervisão e também oportunizar atendimento psicoterápico a uma camada da po-pulação sem acesso a esse benefício. Para encaminhamentos, ligar: (51) 3359.8416 ou 3333.1396.

A XI Jornada de Psiquiatria da APRS acontece nos dias 5 a 7 de setembro na ci-dade de Gramado – RS. Com o intuito de discutir e ampliar os conhecimentos o tema desta edição tem como foco os “Caminhos da Psicopatologia”, trazendo para o debate renomados palestrantes da área.

A programação reúne workshop, en-trevista, mesa redondas e conferências. O workshop “Terapia Cognitivo-Comporta-mental para Transtornos Mentais Graves” será ministrado pelo Dr. Jesse H. Wright, especialista em TCC e diretor do Depression Center da Columbia University of Louisvil-

A VIII edição do Curso de Exten-são Teoria e Técnica da Supervisão de Psicoterapia de Orientação Analítica será realizada no segundo semestre de 2013, no Centro de Estudos Luis Gue-des (CELG). Os seminários teórico-clínicos em pequeno grupo iniciarão em agosto, com aulas nas quartas-feiras à noite e término em dezembro.

O curso oportuniza o acesso a uma formação estruturada, propiciando que a supervisão possa ser realizada de forma teoricamente embasada e tecnicamente consistente. Ao longo dos quatro meses os alunos – psiquia-tras e psicólogos com experiência em psicoterapia e interesse no ensi-no desta técnica – discutirão textos e material clínico de supervisão com os professores do curso, todos com larga experiência e destacado conhecimen-to do tema: Antônio Carlos Jardim Pires; Cláudio Laks Eizirik; Germa-no Vollmer Filho; Isaac Pechansky; Luiz Carlos Mabilde; Rogério Wolf de Aguiar; Romualdo Romanowski e Sidnei Schestatsky.

O curso é promovido pelo Centro de Estudos Luiz Guedes e Departa-mento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRGS. Mais informações diretamente com a Coordenação Executiva através do e-mail [email protected] ou na se-cretaria do CELG através do telefone (51) 3330-5655.

le (EUA). No dia 7, será realizada uma en-trevista com a Drª Nora Volkow, diretora do National Institute on Drug Abuse (NIDA) no National Institutes of Health (NIH), com me-diação do Dr. Félix Kessler e coordenação do Dr. Flávio Pechansky.

O evento é organizado pela Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, com realização da Tribeca Eventos. As inscrições podem ser realizadas via e-mail: [email protected]. Para mais informa-ções acesse o site: www.jornadaaprs.org.br ou contate a secretaria executiva do evento pelo telefone: (51) 3076.7002.

Realizado desde março de 1990, o Curso de Extensão em Psicoterapia da Infância e da Adolescência (CAPIA) do Centro de Estudos Luis Guedes (CELG) tem como objetivo pro-mover a atualização em psicoterapia na in-fância e adolescência. A primeira edição foi realizada em dois anos, com quatro módulos teórico-clínicos e supervisões individuais. No ano de 1994, com duração de três semes-tres o curso desenvolveu-se com os seguintes módulos: 1º Bebês; 2º Pré-Escolares e Esco-lares e 3º Adolescentes.

Nos anos de 1995 a 2002, com a criação da Residência e do Curso de Especialização em Psiquiatria da Infância e Adolescência (CEPIA) do HCPA/UFRGS, o Curso de Ex-tensão em Psicoterapia da Infância e da Ado-lescência (CAPIA) foi incluído no programa teórico da Residência. A partir de 2004, além de ser oferecido a médicos psiquiatras, o CA-PIA incluiu psicólogos com formação com-provada em psicoterapia de adultos. Nas suas edições já são 88 alunos formados.

Atualmente está acontecendo a 12ª edi-ção do CAPIA (2013/2014) com duração de dois anos e seis alunos matriculados (quatro psiquiatras e duas psicólogas). Desenvol-vido em quatro disciplinas em módulos se-mestrais: Desenvolvimento, Teoria, Técnica e Supervisão Coletiva; os seminários são realizados às terças-feiras, das 19h30min às 22h30min, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Cada aluno deve realizar supervisão de dois casos de psicoterapia de criança e/ou adolescente, totalizando um mínimo de 60 horas (30 horas anuais). Os horários e pa-gamento da supervisão individual são com-binados diretamente com os professores do curso, dentro dos critérios do CELG. Ao fi-nal do curso, cada aluno deve entregar uma monografia ou estudo clínico, sob forma de artigo com vistas à publicação. Os alunos que cumprirem todos os requisitos recebem certificado de conclusão de curso de extensão universitária (UFRGS).

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CEPOA curso de especialização em Psicoterapia de orientação analítica

Relatório da Diretoria de Ensino

Ensino - Carmem Emilia Keidann

O CELG desde os seus primórdios tem se mantido como uma instituição voltada ao ensino, pesquisa e assistência na área da saúde mental. Nesta meta segue aprofundando e expandindo os conhecimentos num clima amistoso e de in-tegração. A Diretoria de Ensino é uma inserção recente nos Estatutos. Foi criada na gestão da Lu-crécia, em virtude do crescimento da instituição, e iniciada por Paulo Soares, com a escolha da Si-mone Hauck para assumir esta posição.

No espírito do funcionamento da nossa Ges-tão, participamos sob a coordenação do Marcelo, de todas os planos e tomadas de decisões refe-rentes as atividades do CELG. Compartilhamos ativamente da preparação da Jornada do CELG, quando incluímos uma atividade de Educação Continuada com discussão de casos clínicos e atualização teórico-clínicas, tentando contemplar a diversidade do campo psiquiátrico.

Os cursos, atualmente em andamento, são: CEPOA (Curso de Especialização em Psicote-rapia de Orientação Analítica); CEPIA (Curso de Especialização em Psicoterapia da Infância e da Adolescência); CAPIA (Curso de Extensão em Psicoterapia da Infância e da Adolescência). Cada um com eficientes coordenações que manti-veram a qualidade com autonomia de iniciativas. Nosso CAP (Centro de Atendimento de Psicote-rapia) segue em pleno vigor.

Destaco, como uma característica marcante

Destaco como uma característica marcante de nossa gestão a de renovar e inovar, mas com cuidado de manter o que foi construído até aqui.

CEPIA curso de extensão em psicoterapia da infância e da adolescência

de nossa gestão, a de renovar e inovar, mas com cuidado de manter o que foi construído até aqui. Encerrando nossa gestão, registro o agradeci-mento do convite de nosso Presidente, e a sa-tisfação pelo período de convivência produtiva com todos os colegas.

2013 – curso em andamento: 31 alunos matriculados

Curso em andamento - 12ª edição (2013-2014): Duração: 2 anos; Alunos: 6

1984: Criação do curso como extensão

1ª edição: 2 anos 4 módulos teórico-clínicos e supervisões individuais

1998: Aumento da carga horária, adquirindo formato de especialização

1994: 3 semestres, 3 módulos (bebês, pré-escolares e escolares e adolescentes)

2001: Aprovado como Especialização e reconhecido pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC)

1995 – 2002: Criação da Residência e do Curso de Especialização em Psiquiatria da Infância e Adolescência (CEPIA); Curso de Extensão em Psicoterapia da Infância e da Adolescência (CAPIA) incluído no programa teórico da Residência.

Ao longo das edições: 18 turmas • 240 alunos formadosGestão (2011 – 2013): 37 alunos formados

2004: ampliam-se o público de alunos incluíndo psicólogos com formação em psicoterapia de adultos; 88 alunos formados.

Alunos utilizam a estrutura do CELG para realizar pesquisas

Curso na Jornada do CELG de 2012

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Ao ser convidado pelo Marcelo Fleck para compor a Diretoria do CELG, além da satisfa-ção de retornar ao HCPA depois de tantos anos da Residência, senti-me desafiado a atuar numa área aparentemente complexa. Diretoria Finan-ceira muitas vezes acaba sendo o foco de difi-culdades ou de entraves. Não foi o que aconte-ceu. Em função de toda a Diretoria participar de todos os assuntos (numa gestão participativa), sempre num clima de descontração e seriedade, e contando com o apoio fundamental do Servi-ço de Contabilidade e da eficiência da Patrícia, o que poderia ser difícil tornou-se algo tranquilo e natural. Conseguimos realizar a XXVI Jornada Sul-Rio-Grandense de Psiquiatria Dinâmica sem o apoio da indústria farmacêutica, não deixando

Falar aos sócios do CELG sobre meu imenso prazer de ter feito parte dessa diretoria do CELG que agora se despede, é primeiro falar da satisfação de ter recebido o convite do Marcelo Fleck, pessoa e professor a quem muito admiro e respeito. É falar também do quanto foi bom o convívio com os co-legas de diretoria, convívio este sempre tranquilo e harmonioso, mesmo nos momentos de “correria”, como no planejamento da Jornada e nos de decisões por vezes um tanto delicadas.

Essa diretoria pautou-se sempre pela ideia e diretriz principal de seu presidente, de buscar a inovação em todos os níveis do CELG (admi-nistrativo, científico, etc.), mantendo, ao mesmo tempo, as tradicionais características de nosso Centro de Estudos. O intuito principal foi o de aproximar sempre e cada vez mais os associados, seja proporcionando mais atividades das quais possam participar, seja tornando o CELG local cada vez mais acolhedor e ágil para suas neces-sidades, os funcionários engajados e receptivos e também levando aos sócios todos os recursos que forem possíveis em nossa “era digital”. Para tan-to, também melhorias na estrutura e aquisições

Financeiro - Sérgio Louzada

Administrativo - Letícia Kipper

Relatório da Diretoria Financeira

Relatório da Diretoria Administrativade equipamentos novos foram feitos durante o período.

No âmbito administrativo, procuramos fazer uma reestruturação e redução da equipe de funcionários contratados, no sentido de privilegiarmos a quali-ficação da equipe, o bom andamento dos trabalhos e atendimento aos sócios, porém sem onerar as despesas do Centro de Estudos. Foram revisados durante o período da gestão as funções atribuídas a cada funcionário, bem como suas remunerações. Alinhado a essa diretriz, o CELG possui agora um estagiário que se ocupa dos serviços de cópias, bem como serviços gerais de auxílio à equipe. Creio que podemos considerar que a equipe atual está bastante engajada no bom funcionamento do CELG, bem como na sua modernização. Agradeço à equipe de funcionários pela receptividade e seriedade na implementação de mudanças: Patrícia, Maria Luiza, Bernardo e Matheus.

Procuramos, e acredito que conseguimos, desenvolver uma gestão que, se por um lado não esqueceu da tradição, tentou trazer inovações importantes para o CELG

de investir na qualidade dos palestrantes e não medindo esforços para que todos desfrutassem de um evento diferenciado. Procuramos remode-lar e aperfeiçoar o CELG. Desde a manutenção e melhoria das instalações, passando pela valoriza-ção dos funcionários, até buscando incentivos no sentido de estimular o ingresso e a permanência de mais associados. Procuramos, e acredito que conseguimos, desenvolver uma gestão que, se por um lado não esqueceu da tradição, tentou tra-zer inovações importantes para o CELG. Assim, além de deixarmos um saldo positivo no “balan-cete”, mais do que tudo, foram 2 anos de confra-ternização e espírito de grupo, sempre liderados pela coordenação responsável, criativa e afetiva do Presidente. Muito obrigado!

Agenda

Stefania Pigatto Teche Mestrado - PPG Psiquiatria“Fatores ambientais e neurobiológicos associados ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático e à Resiliência”

Lisia Von Diemen Doutorado - PPG Psiquiatria“Avaliação de soroprevalência HCV/HIV e marcadores bio-químicos de toxicidade sistêmi-ca em usuários de crack”

Anderson Ravy StolfMestrado - PPG Psiquiatria“Estudos de Associação do Gene do Transportador de Do-pamina com Abuso e Depen-dência de Crack”

Conheça os nossos sócios que defenderam mestrado ou doutorado, no primeiro semestre de 2013:

Funcionários do CELG: Patrícia, Bernardo e Maria Luiza

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Científico - Pedro Magalhães

Relatório da Diretoria Científica: Psicofarmacologia no CELG

Despedida da gestão 2011/ 2013, boas-vindas aos líderes de 2013/ 2015

Um pedido especialmente repetido por vários associados durante a última Jornada Sul-Rio-Grandense de Psiquia-tria Dinâmica foi ouvido pela diretoria. Estes falavam da carência em nosso Es-tado de boas atualizações em psicofar-macologia. Com base nesta necessidade, concebemos o Curso de Psicofarmacolo-gia como um ciclo com módulos básicos e avançados, com a possibilidade de ser repetido periodicamente. A escolha lógi-ca dos responsáveis recaiu sobre os gru-pos de pesquisa do Programa de Pós-Gra-duação em Ciências Médicas: Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os professores responsáveis pe-los grupos organizaram o curso em sete módulos, que iriam de março a julho.

As respostas dos mesmos foram in-condicionalmente positivas. A diretoria científica faz questão de agradecer aos

professores Marcelo Fleck, Gisele Man-fro, Flávio Pechansky, Paulo Abreu, Már-cia Sant’Anna, Lúcia Ceitlin e Marcelo Schmitz pelo apoio e excelência das au-las. A expectativa inicial era a formação de um grupo relativamente pequeno de discussões, e providências foram toma-das para tal. Talvez ingenuamente, dado o renome dos convidados. A resposta do público foi avassaladora, o que deixou a diretoria extremamente satisfeita com o evento. Ao final, para cada um dos mó-dulos houve quase cem inscritos.

Com o sucesso tanto desta nova iniciativa quanto da Jornada Sul-Rio-Grandense de Psiquiatria Dinâmica, a diretoria científica encerra a gestão com grande contentamento. A Jornada Sul-Rio-Grandense de Psiquiatria Dinâmica é o principal evento no calendário do di-retor científico. A sua vigésima sexta edi-

ção foi realizada em 2012, e o objetivo da atual diretoria era trazer a inovação como elemento integral da jornada. Os eventos do II Encontro Ciência e Inovação em Psiquiatria foram incorporados, trazendo nomes de relevância internacional nas diversas áreas de interesse para a psi-quiatria. Tivemos o imenso privilégio de ouvir os professores Mark Solms, Helen Herrman, Donald Patrick, George Woo-dy e Darrel Regier nas salas do Plaza São Rafael. Esta qualificação da jornada tam-bém se deveu ao financiamento da CA-PES e CNPq, e deixamos nossos agra-decimentos a estas instituições públicas. Para finalizar, é preciso lembrar que este perfil de eventos, de diretoria e de gestão foi traçado pelo professor Marcelo Fleck. À sua liderança serena devemos atribuir as águas tranquilas por que passamos nestes dois anos.

A expectativa inicial era a formação de um grupo relativamente pequeno de discussões. A resposta do público foi avassaladora, o que deixou a diretoria extremamente satisfeita com o evento. Ao final, para cada um dos módulos houve quase cem inscritos.

A diretoria do CELG gestão 2013/2015 foi elei-ta por unanimidade em Assembleia Geral no dia 3 de julho. A nova gestão é presidida pelo professor

Paulo Soares, que também assumiu a liderança do centro em outras ocasiões (1993-95, 2007-09, 2009-11). O evento também marcou a despedida da direto-ria gestão 2011/2013 (foto), presidida pelo Prof. Marcelo Fleck. Para ele, a nova diretoria poderá dar sequência aos projetos realizados, viabilizando o cresci-mento do CELG para o futuro.

Também foram eleitos o diretor financeiro, Lucas Lovato; o diretor admi-nistrativo Rudyard Emerson Sordi; a diretora científica Patrícia Fabrício Lago; a diretora de divulgação e relações com a comunidade, Débora Schaff; o diretor de publicações Claudio Eizirik e o diretor de ensino Manuel José Pires dos Santos. No conselho foram eleitos como titulares os professores Fernando Grilo Gomes, Paulo Abreu e Sidnei Schestatsky. Como suplentes estão os professores Flavio Kapczinski, Lucia Helena Ceitlin e Maria Lucrécia Scherer Zavaschi.

Abertura da Jornada do CELG

Diretoria do CELG gestão 2011/ 2013 despede-se das atividades no centro

Público compareceu em grande número Palestrante internacional

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Capa

Pluralidade. Engajamento. Pesquisa e ciência. Estas são algumas das caracte-

rísticas que acompanharam a diretoria do CELG durante a gestão 2011/2013. Foram dezenas de projetos e planeja-mentos, alinhados às necessidades dos grupos de pesquisa e associados. Desta-

caram-se diversas ações administrativas e financeiras focadas em um bom atendimento

e funcionamento adequado do centro. Houve a reformulação da Revista Brasileira de Psico-

terapia. A variedade de ideias, debates e tecnologia proporcionada pelo iCelg. O en-

volvimento da equipe que assumiu e realizou a Jornada. Todos os dias recebemos mentes alinhadas com os cursos do centro, com o desenvolvimento de pesquisas e ao fazer ciência.

Resumir tudo isso não é tarefa simples. Gera uma porção de conteúdo e a quantidade de números que traduzem o signi-ficado deste trabalho é vasta. É por isso que a última edição do Jornal do CELG desta gestão tornou-se especial para celebrar resultados. Nós procuramos fazer com que este conteúdo se tornasse o mais visual possível para que você possa acompa-nhar o que também ajudou a construir.

Fizemos história2011

Perfil do CELG

Faixa etária predominantede 30 a 40 anos.

Psiquiatras

86%

números

Revista Brasileira de Psicoterapia

resenhas

artigos(13 de fora do RS e 5 internacionais)

07 0942

352 SÓCIOS

anos

2012

XXVI Jornada Sul-Rio-Grandense de Psiquiatria Dinâmica – Recordar, Repetir e InovarA vigésima sexta edição da Jornada Sul-Rio-Grandense de Psiquiatria Dinâmica foi realizada em agosto de 2012 e é um dos eventos mais tradicionais do calendário científico brasileiro em psiquiatria. Ao longo de 52 anos este evento se realiza de forma ininterrupta, tendo recebido diversos expoentes da psiquiatria internacional e nacional.

inscritos

46054 04149 253

Alunos de graduação

Alunos de pós-graduação Profissionais liberais outros

R$ 171.700,00 R$ 16.165,00Faturamento: Lucro:

A Revista Brasileira de Psicoterapia também tem buscado manter a periodicidade de publicações e ampliar suas indexa-ções. A revista adotou uma plataforma online para submissão e revisão de artigos, que estão disponibilizadas online no site em português e inglês.

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2013CursosOs cursos de extensão e especialização proporcionados pelo CELG rendem números à parte. Foram tantos dados que precisamos das páginas 4 e 5 para contar de que forma os cinco cursos e quase 200 alunos se destacaram nesta gestão.

05 193 0230 87%

04cursos alunos anos

horas semanais

disciplinas

CEPIA - duração

(mais informações nas páginas 4 e 5)

carga horária Simpósio interno

Grupo de estudos “De Bion às ideias do campo terapêutico”, com a psicanalista Jussara Dal Zot - O grupo tem como objetivo estudar as idéias psicanalíticas desenvolvidas por Wilfred Bion. Através de uma bibliografia previamente elaborada, os alunos discutem assuntos relacionados à técnica psicanalítica segundo Bion com o enfoque no campo analítico. Ocorrem com frequencia quinzenal.

3 Mini-grupos de supervisão de adultos – com Ruggero Levy, Jair Knijnik e Matias Strassburger

1 Mini-grupo de supervisão de infância-adolescência – com Eneida Iankilevich

Em 2013, novos integrantes - Betina Kruter, Paula Saffer, Stefânia Teche e Vitor Breda.

Curso “Complexo de Édipo: do mito ao campo”, com o psicanalista Raul Hartke – curso que já teve duas edições, se propôs a debater o complexo de Édipo desde o Mito de Édipo até as evoluções atuais do conceito.

Atelier sobre sexualidade, com o psicanalista José Carlos Calich - proposta diferenciada de discussão, a cada encontro é selecionado o tema específico de discussão do próximo. Cada componente do grupo realiza suas leituras livremente e escreve um texto onde busca expressar a compreensão que desenvolveu sobre o tema. Os textos são lidos e discutidos por todos tanto no aspecto conceitual quanto estrutural.

- Grupo de estudos “Freud e seus modelos de funcionamento da mente”, com a psicanalista e atual presidente da SPPA Viviane Mondrzak – se propõe a aprofundar a compreensão das duas tópicas criadas por Freud para compreender o funcionamento da mente, através do estudo e discussão de trabalhos selecionados onde se percebe o surgimento e a mudança de algumas de suas idéias sobre este funcionamento.

Grupo de estudos sobre adolescência, com a psicanalista Alice Lewcowicz – tem o objetivo de aprofundar conhecimentos e discutir as peculiaridades da adolescência de forma dinâmica, contemplando temas como técnica de atendimento de adolescentes, crise dos pais na adolescência, conceitos contemporâneos do desenvolvimento adolescente, assim como reflexões do ponto de vista antropológico.

iCelgEducação

Continuada em Psicoterapia

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jornal centro de estudos luis guedes

ano 24 • julho 2013 • nº 7210

Divulgação e Relações com a Comunidade - Thiago Pianca

Relatório da Diretoria de Divulgação e Relações com a Comunidade

Relatório da Diretoria de Publicações

Em nossa gestão, sempre teve quem pen-sasse o quão importante seria deixar o associa-do do CELG mais próximo, ainda que à dis-tância. Explico: Temos percebido que, devido às novas configurações da vida moderna, está cada vez mais difícil, em todos os sentidos do termo, participar e comparecer às atividades presenciais. Trânsito, segurança, falta de tem-po, mundo conectado; são muitas as coisas que mudaram e que determinaram também, altera-ções na nossa maneira de pensar a participação dos sócios.

Desta forma, a diretoria de Divulgação e Relações com a Comunidade têm se voltado cada vez mais para o que parece o meio de contato que requer o menor esforço: o digital. Mesmo sem abandonar os antigos meios de di-vulgação, a difusão por meio da internet foi o que mais evoluiu no nosso trabalho. Já contá-vamos – e ainda contamos – com a fundamental colaboração do grupo iCelg, que de forma mui-to inovadora, sempre se voltou para os meios virtuais, e com muito sucesso. A divulgação da Jornada Sul-Rio-Grandense de Psiquiatria Di-nâmica, ainda que contasse também com car-

Encerramos dois anos de um trabalho intenso e profícuo. Começo agradecendo ao nosso presi-dente pela confiança e oportunidade de permane-cer nesta diretoria por mais dois anos. Agradeço também aos demais colegas de diretoria pelo cli-ma amistoso e sério no desenvolvimento de nos-sas tarefas.

Estabelecemos como meta principal uma ampla reformulação da Revista Brasileira de Psi-coterapia. Para isto, colocou-se em dia sua pu-blicação, passou a ser editada exclusivamente de forma eletrônica e bilíngue, buscando uma plu-ralidade e nacionalização de suas publicações. O objetivo final foi a obtenção de novos indexado-res que aumentariam seu impacto.

Aproveito para cumprimentar a editora dra. Simone Hauck e seus editores associados

Publicações - Claudio Moojen Abuchaim

tazes e folders, se deu muito através do e-mail e das redes sociais, como o Facebook, na qual foi possível fazer uma espécie de “cobertura ao vivo” do evento.

Dentro desta ideia, estamos preparando um projeto para deixar o próprio Jornal do CELG mais disponível em sua forma digital, para to-dos que preferem o uso dos e-readers à leitura no papel. Desta forma, contará com as facili-dades de ser um jornal acessível em qualquer lugar e hora, independente de contar com a sua versão física ou não.

Foi com base nestas inquietações, pelas mudanças do mundo como o sentimos, que or-ganizamos a aula inaugural deste ano. Com o título “Deu a louca no mundo?: dinâmicas cul-turais em épocas de globalização”, o professor do Departamento de Antropologia da UFRGS, dr. Ruben Oliven, versou sobre diversas ques-tões que são próprias do mundo globalizado, sempre usando como contraponto um período de mundo pré-globalizado, há 30 anos. Foi uma aula bastante comentada, e um grande su-cesso. Sucesso que desejamos também para a próxima diretoria do CELG.

a diretoria de Divulgação e Relações com a Comunidade têm se voltado cada vez mais para o que parece o meio de contato que requer o menor esforço: o digital.

pelo excelente trabalho realizado. Concluo meu trabalho com o sentimento de pleno dever cum-prido e tendo auxiliado na evolução e crescimen-to de nossa querida revista.

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ano 24 • julho 2013 • nº 72 11

Ponto de vista

O DSM-5 em perspectiva

“Cerca de 160 revisores dos 143 grupos de trabalho e 6 grupos de estudos e quase 300 consultores trabalharam por 5 anos para revisar e melhorar os critérios diagnósticos de vários transtornos. Eles revisaram a literatura sobre o diagnóstico específico de vários transtornos, além de utilizarem dados dos testes de campos e análises secundárias de pesquisas já feitas”.

O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) é um dos dois principais sistemas classificatórios de transtornos mentais no cenário mundial. O DSM-5 foi inicialmente concebido para ser uma mudança de paradigma na psiquiatria, li-gando os diagnósticos à patofisiologia. Porém, a falta de marcadores biológicos com suficiente de-sempenho diagnóstico na psiquiatria frustrou esta expectativa. Neste contexto, abordamos abaixo as principais mudanças da nova edição.

Devido a falta de validade do modelo categó-rico de diagnóstico previamente enfatizado nos sistemas classificatórios, uma perspectiva diag-nóstica mais dimensional foi introduzida. A abor-dagem categórica tende a diminuir a capacidade de diagnosticar apresentações atípicas e enfraque-cer o poder estatístico em pesquisas. Além disso, não há dados suficientes para embasar um ponto de corte de número de sintomas não arbitrário para diversos transtornos psiquiátricos, do TDAH aos Transtornos de Personalidade. A presença da perspectiva dimensional na nova versão da DSM já pode ser evidenciada na criação das chamadas dimensões supra-diagnosticas. O Manual propõe o uso de questões de triagem para 12 dimensões di-ferentes na avaliação clínica, conectadas com um nível mais profundo de questionamentos em caso de respostas positivas, o que se assemelha mais a uma postura clínica ideal.

No novo manual, os Transtornos são agrupa-dos baseados em fatores etiológicos (Andrews, Goldberg, et al., 2009), o que é, na verdade, a única revisão maior do manual baseada parcial-mente em mecanismos neurobiológicos. Desta forma, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo “se independizou” dos Transtornos de Ansiedade, Jogo Patológico foi incluído nos Transtornos Aditivos e Relacionados a Substâncias, e uma seção nova relacionada a Trauma e Transtornos Relacionados a Estressores, foi criada.

Consonante com a recomendação da OMS de que os transtornos mentais são distúrbios crônicos da infância (Guilbert, 2003), uma visão mais foca-da no desenvolvimento foi incorporada ao manual. O capítulo Transtornos Geralmente Diagnostica-dos Pela Primeira Vez na Infância e Adolescência não existe mais, e há uma tentativa, ainda tímida, de incorporar considerações desenvolvimentais em alguns diagnósticos, como o TDAH e o TEPT. A nova organização de capítulos se deu por uma pers-pectiva de ciclo de vida: primeiro, os geralmente iniciados na infância, depois os normalmente iden-tificados na idade adulta e, por fim, os da velhice.

Não existe, no novo manual, a abordagem multiaxial. Ela se mostrou muito complexa para

médicos não-psiquiatras e reforçava uma ideia de que doenças psiquiátricas não são doenças médi-cas. Desta forma, os antigos eixos I, II e III foram unificados, com a ideia de melhorar a relação da psiquiatria e da medicina em geral (Kupfer, Kuhl, & Wulsin, 2013).

Cerca de 160 revisores dos 143 grupos de traba-lho e 6 grupos de estudos e quase 300 consultores trabalharam por cinco anos para revisar e melhorar os critérios diagnósticos de vários transtornos. Eles revisaram a literatura sobre o diagnóstico específico de vários transtornos, além de utilizarem dados dos testes de campos e análises secundárias de pesqui-sas já feitas. A partir deste trabalho é que foram fei-tas estas modificações, com cuidado de balancear os prós (melhora da validade diagnóstica) e os contras (aumentar a prevalência artificialmente, incapacida-de de usar pesquisas usando critérios do DSM-IV).

É importante abordar a ideia errônea de que o DSM cria transtornos mentais. Ele inclui, como um diagnóstico aceitável, aqueles distúrbios que, após uma revisão cuidadosa da literatura, demonstram evidência suficiente de sua existência como enti-dade diagnóstica separada. Na verdade, o DSM-5 apresenta menor número de diagnósticos que as edições anteriores. Exemplos de novos diagnósticos do DSM-5 são o Hoarding Disorder (Colecionis-mo ou Acumulação) e o Disruptive Dysregulation Mood Disorder. Exemplos de diagnósticos que já eram cogitados no apêndice de pesquisa do DSM-IV que apresentaram evidência suficiente e foram incluídos são: o Distúrbio de Compulsão Periódica (alimentar) e Transtorno Disfórico Pré-menstrual. É importante enfatizar que o DSM-5 continua a ter uma seção para possíveis transtornos que requerem mais pesquisa para serem incluídos no manual, e exemplos destes são a Attenuated Psychosis Syn-drome e a Nonsuicidal Self-Injury.

Como salientado pelo Professor Kenneth Kendler, o progresso maturacional de várias áre-as da ciência ocorre por um processo iterativo, onde cada vez mais conseguimos nos aproximar do mundo como ele é. A DSM-5 representa mais um passo na direção de nos aproximarmos do real constructo latente dos transtornos mentais.

Luis Augusto Paim RohdeThiago Gatti Pianca

Referências: Andrews, G., Goldberg, D. P., Krueger, R. F., Carpenter, W. T., Hyman, S. E., Sachdev, P., & Pine, D. S. (2009). Exploring the feasibility of a meta-structure for DSM-V and ICD-11: could it improve utility and validity? Psychol Med, 39(12), 1993-2000. doi: 10.1017/S0033291709990250Guilbert, J. J. (2003). The world health report 2002 - reducing risks, promoting healthy life. Educ Health (Abingdon), 16(2), 230. doi: 10.1080/1357628031000116808Kupfer, D. J., Kuhl, E. A., & Wulsin, L. (2013). Psychiatry’s integration with medicine: the role of DSM-5. Annu Rev Med, 64, 385-392. doi: 10.1146/annurev-med-050911-161945

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Resenha livro

Claudia Hilgert - Médica Psiquiatra especialista em Psiquiatria da Infân-cia e Adolescência

Valiosa contribuição para o entendimento do ciclo vital humano

A considerável expansão do conheci-mento médico e psicológico sobre o de-senvolvimento humano na última década, além de importantes pesquisas realizadas nessa área, gerou a necessidade de lançar uma edição revista e ampliada do livro “O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica – 2ª edição”. Além disso, a estimulante convivência com estudantes do curso de medicina e de outras áreas da saúde com os quais os autores trabalharam ao longo dos últimos anos, serviu de ins-piração para reformular vários capítulos dessa nova versão, incluindo de forma pertinente, aspectos éticos, filosóficos e desenvolvimentais às fases do ciclo vital.

Os autores Cláudio Laks Eizirik e Ana Margareth Siqueira Bassols, renomados psiquiatras e psicanalistas, reuniram nova-mente o grupo de professores do Departa-mento de Psiquiatria e Medicina Legal da FAMED/UFRGS e colaboradores vincu-lados ao Centro de Estudos Luis Guedes para revisar e ampliar o conhecimento de cada um dos capítulos da primeira edi-ção, lançada em 2001. Nessa versão, este seleto grupo de profissionais, com larga experiência nas disciplinas envolvendo o desenvolvimento humano, enfatizou im-portantes aspectos da relação entre profis-sionais de saúde e pacientes, forneceu su-gestões de obras da literatura e do cinema que ilustram aspectos essenciais de cada fase, além de terem incluído novas vinhe-tas clínicas em alguns capítulos e de ter destacado trechos importantes.

Dessa forma, estudos recentes foram incorporados aos capítulos, como por exemplo, ocorreu em “Noções Básicas sobre o Funcionamento Psíquico” que nos informa sobre a importância da qua-lidade de cuidados nos primeiros anos de vida. Os autores enfatizaram também

nesse capítulo, o quanto as experiências adversas precoces impactuam a forma como as pessoas se relacionam ao lon-go da vida, dando ênfase ao desenvol-vimento cognitivo básico. Não deixaram de lado as valiosíssimas noções psicana-líticas básicas como as contribuições de Winnicott e de Bowlby que na primeira edição não foram abordadas.

Alguns capítulos de extrema relevân-cia para o momento atual foram incluídos como “Aspectos Bioéticos no Ciclo Vi-tal”, onde o autor faz uma reflexão sobre a adequação da vida e do viver em todas as suas fases. Já em “O Cuidado de Si: Uma Perspectiva Filosófica”, a autora rastreia de forma instigante o conceito de cuida-do de si e as diversas conotações que esse termo foi assumindo ao longo do tempo.

A importância do reconhecimento precoce de transtornos mentais para que se identifique indivíduos em risco e se tente a prevenção da futura psicopatolo-gia na vida adulta foi abordado em mais um novo capítulo sobre a “Psiquiatria do Desenvolvimento”. Com pesquisas direcionadas ao neurodesenvolvimento, experiências ambientais, interação gene-ambiente e mecanismos epigenéticos, os autores impulsionam o desenvolvimen-to de uma nova abordagem terapêutica para os transtornos mentais.

Já outros capítulos foram reformula-dos para ficarem mais didáticos, como o que ocorreu em “A Criança Pré-Escolar”, onde o entendimento do desenvolvimento se deu ano a ano, com tabelas e quadros que tornaram a leitura mais confortável. Nesse capítulo foram incluídas as particu-laridades deste período como o desenho, o brinquedo e o mundo de fantasia, a che-gada de irmãos e o início da socialização.

Em “A Puberdade” deu-se ênfase às modificações hormonais e fatores de regu-lação, modificações físicas, além de des-crever os estágios de Tanner de uma forma mais clara. No capitulo sobre “Adolescen-tes” foi incluída uma revisão sobre as par-

ticularidades da geração Y, a virtualidade e a relação com o adolescente no consultó-rio do psicoterapeuta, além de pertinentes sugestões de filmes e leituras sobre essa fase de vida tão dinâmica.

Em “Adultos Jovens e Seus Scripts: Novas Gerações em Novos Cenários” os autores mantiveram a intenção da edição anterior de contribuir para a desidealiza-ção das gerações X e, recentemente a Y, além de acrescentar as mudanças a partir da descoberta do genoma humano, dife-renças culturais, doenças e mortalidade em adultos jovens, violência e corrup-ção. Termos surgidos nos últimos 10 anos como globalização e cibercultura também foram abordados.

O capítulo sobre meia-idade sofreu alterações consideráveis, iniciando pelo título que passou a ser “Madurescência”, com o intuito de dar conta de um processo de transformação rumo à maturidade. De forma instigante, o autor abordou a produ-ção de mitos da humanidade, metapsicolo-gia, sexualidade, trabalho de luto e morte nessa fase.

Com a inversão da pirâmide demo-gráfica no Brasil e no mundo, estamos vivendo uma modificação radical na maneira como encaramos a velhice, abordada no penúltimo capítulo. O au-tor discorre sobre as perdas vivenciadas nessa fase, mas também ganhos são des-tacados, vida amorosa e sexualidade. E finalmente, a morte e o ato de morrer são discutidos no capítulo 17.

Como se pode perceber, a segun-da edição de “O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica” é uma jornada instigante por todas as fases pe-las quais o ser humano atravessa desde a sua gênese. De forma consistente e sólida, com informações oriundas de re-centes pesquisas, o leitor profissional de saúde terá uma ferramenta valiosa para compreender melhor as vicissitudes da vida humana e poder intervir, quando for necessário.

“(...) a segunda edição de “O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica” é uma jornada instigante por todas as fases pelas quais o ser humano atravessa desde a sua gênese”.

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ano 24 • julho 2013 • nº 72 13

jornal centro de estudos luis guedes

Gabriela Lotin [email protected]

Análise do filme “Aqui é o meu lugar”

Resenha filme

No longa-metragem Aqui é o Meu Lugar, do diretor italiano Paolo Sor-rentino, Sean Penn interpreta Cheyen-ne, um ex-astro do rock de aproxima-damente 50 anos, casado e sem filhos, que vive em uma mansão com sua esposa, em Dublin. As cenas iniciais do filme mostram como ele vive, sua casa, suas interações familiares e so-ciais. Mesmo afastado dos palcos há duas décadas, segue se vestindo como se estivesse na época do sucesso artís-tico, sempre de preto e com maquia-gem. Apresenta-se de maneira bastan-te pueril, mas perspicaz. Parece (e se percebe) estar deprimido, até mesmo lentificado. A dinâmica familiar pare-ce funcionar de maneira complemen-tar, em que a esposa é a “cabeça” da família e resolve os problemas do dia a dia, como os investimentos em ações e a reforma da casa. O personagem não mais apresenta grandes objetivos na vida: já é rico, não trabalha, não tem filhos, não compõe e nem toca mais.

Do ponto de vista do ciclo vital, a família se aproxima mais do período em que o casal volta a viver só após a saída dos filhos de casa, quando os membros se deparam com sua maturi-dade (ou com a falta dela), bem como a perspectiva do seu envelhecimento e do envelhecimento e morte dos pais. No entanto, o casal não teve filhos, e Cheyenne se arrepende disso. Talvez para compensar este fato, convive com uma jovem que tem em torno de 20 anos e uma mãe deprimida. Em alguns momentos ele se comporta como ami-go, mas o que predomina são cuidados parentais com a garota.

A história toma um rumo dife-rente quando o personagem recebe a notícia de que seu pai está morrendo,

em Nova York. Ele muda a sua roti-na, indo ao encontro dele. Não o via há 30 anos. Viaja de navio porque tem fobia de avião. Lá, descobre que o pai havia dedicado sua vida a buscar o ex-soldado nazista que o humilhou em um campo de concentração. Fica eviden-te a transgeracionalidade do trauma quando Cheyenne decide seguir a bus-ca do pai, o que o leva a empreender uma viagem pelo interior dos Estados Unidos. A trama ganha um caráter de roadmovie, mesclando a exploração daquele país com as descobertas inte-riores do protagonista.

O filme mostra Cheyenne contrai-dentificado com o pai, já que se afastou por muitos anos e fez escolhas aparen-temente opostas. No entanto, pode-se perceber a sua proximidade quando de-cide ir atrás do seu torturador. Cheyen-ne, assim como o pai, estava preso a traumas não elaborados. O pai estava preso à vingança da procura pelo seu agressor no campo de concentração, enquanto Cheyenne estava preso à cul-pa que carregava pelo suicídio de dois garotos que ouviam suas músicas.

Durante a viagem, Cheyenne com-pra uma arma, o que cria a expectati-va de que a vingança será consumada com a morte do torturador. No entanto, a opção do protagonista de não execu-tá-lo, mas sim submetê-lo a humilha-ção equivalente àquela a qual o pai foi submetido, sugere a interrupção e a elaboração do trauma, com a conse-quente mudança do personagem. Além dos conflitos exibidos pelos persona-gens, “Aqui é o Meu Lugar” tem ce-nas inesperadas e bonitas, que deixam o espectador perplexo diversas vezes. Carregadas de contrastes, valem a pena serem assistidas.

“Aqui é o meu lugar” (This Must Be the Place) Ano: 2011Diretor: Paolo Sorrentino

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ano 24 • julho 2013 • nº 7214

Freud e Maquiavel: “mestres da suspeita” e, por que não? “mestres do escândalo”?

“Mas, o ponto mais fascinante da obra de Maquiavel seria a ênfase no resgate do elemento “cruel” instituindo-o no rol de uma positividade impensada para a cultura ocidental; a “utilização” do mal, sem vulgaridade ou banalização”.

Há exatamente quinhentos anos, em 1513, Niccoló Machiavelli (Maquiavel, 1469-1527) escreveu em Florença uma obra que marcou o mundo da cultura. Trata-se do clássico intitulado “O Príncipe”.

Maquiavel e Freud, sob muitos aspectos, podem ser lidos conjuntamente. Além de Marx, Nietzsche e do próprio Freud, Maquiavel tam-bém poderia ser incluído na lista de pensadores que o filósofo Paul Ricoeur classificou como “mestres da suspeita” e, por que não? “mestres do escândalo”.

O intrigante fascínio da obra de Maquiavel nos remete ao que Freud afirmara em relação à figura trágica de Édipo: existe ali uma verdade que nos toca (e nos afronta) incondicionalmente. Maquiavel escreveu num contexto específico de extrema complexidade sociopolítica mas, desde já, importa considerar que uma obra clássica (e exatamente por isto é “clássica”) transcende os limites do tempo e nos remete, forçosamente, a uma dimensão “a-histórica”. Certamente o con-texto histórico influencia as ideias e as produções intelectuais mas convêm não perder de vista que essas mesmas circunstâncias são criações huma-nas e têm origem nas suas motivações mais ele-mentares. Neste sentido, O Príncipe de Maquia-vel, resgata elementos que perpassam os tempos não obstante as marcas de sua retórica e os rela-tos específicos da sua época. Sob este aspecto podemos entender a afinidade intelectual de pen-sadores tão separados no tempo como Maquiavel e Freud. O lastro comum entre ambos nos conduz a um outro olhar, mais profundo e consequente, que transcende a circunstancialidade dos fatos históricos.

O Príncipe fala de ambiguidades e angústias visceralmente humanas: a violência, a crueldade, a necessidade da figura carismática do Soberano, a ânsia voraz por poder e mais poder. Mas, o pon-to mais fascinante da obra de Maquiavel seria a ênfase no resgate do elemento “cruel” instituin-do-o no rol de uma positividade impensada para a cultura ocidental; a “utilização” do mal, sem vul-garidade ou banalização. Esta teria sido a grande proeza do pensamento “maquiavélico” que ainda hoje nos surpreende com um misto de atração e perplexidade e, aqui, podemos complementar a originalidade de Maquiavel com a originalidade

de Freud: ambos enfrentam o espinhoso proble-ma da duplicidade da natureza humana abrindo à racionalidade e ao engenho criativo a possibi-lidade em tirar proveito e usufruir das vantagens que esta condição é capaz de proporcionar. É ilustrativo quando, no capítulo XVIII de O Prín-cipe, o autor utiliza-se de uma metáfora retórica: “Aquiles e tantos outros príncipes antigos foram deixados aos cuidados do centauro Quíron, que os manteve sob sua disciplina. Isso quer dizer que, tendo por preceptor um ser metade animal e metade homem, um príncipe deve saber usar de ambas as naturezas: e uma sem a outra não produz efeitos duradouros”.

Na época renascentista em que O Príncipe foi escrito, a política era o palco privilegiado onde se encenavam as paixões humanas numa feroci-dade desregrada e cruenta. Os acontecimentos se precipitavam num fluxo de atuações que expres-savam os impulsos mais primitivos de voracida-de e poder, ou seja, o império do gozo absoluto. Maquiavel percebeu a necessidade de tirar pro-veito deste potencial inerente ao ser do homem. Inútil e imprudente seria reprimi-lo ou negá-lo. Seu procedimento “terapêutico” foi tentar enten-der a ordem natural das motivações humanas e, através de uma análise realista sem preconceitos ou escrúpulos, transformar o primitivismo pas-sional em elementos pensáveis e disponíveis à reflexão estratégica. Para introduzir ideias novas e revolucionárias seria preciso pensar na contra-corrente da cultura vigente. Diríamos que sob este aspecto Maquiavel suspendeu o raciocínio norteado pelas regras morais e procurou pensar a realidade do homem e sua ânsia de sobrevivência em tempos difíceis onde imperava a lei do mais forte. Neste nível de raciocínio onde nem sempre o racional é moral os conceitos da moralidade, no sentido tradicional do termo, não entravam no rol das suas cogitações. Como é afirmado no capítulo XV, “é preciso que o Príncipe aprenda, caso queira manter-se no poder, a não ser bom e a valer-se disso segundo a necessidade” pois “o homem que quiser ser bom em todos os aspec-tos terminará arruinado entre tantos que não são bons”. A principal virtude do Soberano é fazer o que dita a necessidade, independente de padrões morais, afim de alcançar objetivos mais amplos e consequentes que assegurem a estabilidade e a

Paulo SeixasPsiquiatra, Mestre em Filo-sofia, professor do curso de

especialização em Psicoterapia Psicanalítica, UFRGS

Artigo

Page 15: Jornal do CELG - 72

jornal centro de estudos luis guedes

ano 24 • julho 2013 • nº 72 15

ordem. Não há como desqualificar a preocupa-ção de Maquiavel com a ordem e o bem-estar so-cial e político como objetivos finais e recomenda que um príncipe não deve se desviar da conduta correta se possível. Tais considerações nos lem-bram Freud quando no Mal-estar na Cultura afir-ma que “Eros e Ananké, Amor e Necessidade, se tornaram os pais da civilização humana”.

Maquiavel encara o “estado de natureza” na volúpia do domínio cruel e, ele próprio parece se deleitar com a brutalidade que descreve os atos do temível César Bórgia, seu venerado e temido contemporâneo. O animal usa sua ferocidade im-piedosa em proveito próprio para defender-se e garantir sua sobrevivência, o homem pode e deve usar como referencial o “ferocíssimo leão e a as-tuciosíssima raposa”, afirma no capítulo XVIII ( O Príncipe).

No apogeu das cruentas lutas políticas do século XVI Maquiavel percebeu a importância de reverter a dinâmica da violência e instituiu como ponto nuclear do raciocínio a estratégia de utilizar o ímpeto destrutivo enquanto elemento precioso à serviço da própria sobrevivência in-dividual e social. Aqui reside a escandalosa ele-gância do seu raciocínio: conceder cidadania aos elementos primordiais da “pulsão de morte” que o aparato civilizatório preferia, ou prefere, igno-rar. As teses maquiavélicas escandalizaram mais fortemente que os próprios fatos imorais e cruen-tos que se desenrolavam inescrupulosamente no seio das Casas Reais e da poderosa Igreja.

Impossível não associarmos Maquiavel e Freud: “nossas mais elevadas virtudes desenvol-veram-se, como formações reativas e sublima-ções, de nossaS piores disposições”, e “a educa-ção deve escrupulosamente abster-se de soterrar essas preciosas fontes de ação” (Freud, 1923, vol. 13, pag. 225). Não havendo como negar a força da pulsão enquanto parte irrevogável da natureza humana, importa fusioná-la com Eros, princípio de vida e, assim, contornar o caráter errático do poder destrutivo.

Decorridos quinhentos anos e, hoje, munidos do arsenal psicanalítico, podemos apreciar e, de alguma forma, resgatar o que existe de melhor no pensamento maquiavélico. Mais do que cinismo ou ceticismo a leitura destes autores, “mestres da suspeita” - Maquiavel e Freud - revela os aspec-tos sombrios e a fragilidade humana sem cair no niilismo mas, ao contrário, apresentando a alter-nativa de que estes mesmos aspectos podem se tornar fontes “preciosas de ação”. Todavia, antes de tudo e acima de tudo, é necessário a coragem para penetrar neste “sub-mundo” e encarar a ver-dade crua afim de poder utilizar seu potencial li-bertador. A coragem de pensar a natureza humana

no seu em-sí dilacerado em tendências opostas sem demonizá-la mas, ao contrário, aproveitan-do-a produtivamente, como se faz com a corrente impetuosa de um rio visando transformá-la em energia disponível.

Sem dúvida, utilizando a experiência e a sabe-doria acumuladas durante cinco séculos, incluin-do o instrumental psicanalítico, podemos criticar algumas teses “maquiavélicas” que parecem jus-tificar um estado de “infantilização” das massas populares através do culto idealizado da figura do Soberano como, por exemplo, aparece no capítu-lo XXI de O Príncipe onde louva as qualidades e a virtú de Fernando de Aragão, rei da Espanha, que “sempre fez e urdiu grandes coisas, as quais mantiveram os ânimos de seus súditos continua-mente suspensos, admirados e concentrados em seu êxito”. Segundo Maquiavel, o Soberano pode e deve tirar proveito de tudo para manter sua ima-gem idealizada. Ao defender que o Príncipe deve se impor como um objeto de admiração e temor, utilizando todas as artimanhas necessárias, termi-na por justificar a “idealização” do líder através do mecanismo psicológico que hoje, segundo o entendimento psicanalítico, chamaríamos de “identificação projetiva”. As massas projetam seus ideais narcísicos, sua segurança pessoal e a própria pulsão agressiva na figura do chefe o qual, como um pai onipotente, fica detentor, por projeção, destas capacidades e tendências. Man-têm-se, justifica-se e perpetua-se a polaridade do circuito senhor-escravo, líder-liderado, esvazian-do conceitos como autonomia e cidadania, fes-tejadas conquistas da nossa contemporaneidade.

Seja como for, e este mérito temos que reco-nhecer: o referencial “maquiavélico” resiste ao tempo como um grande legado do pensamento e nos fascina por sua crua honestidade. Seu des-pudor é o eterno alerta da nossa força e da nossa fragilidade e importa registrar aquilo que teria sido a grande tônica da sua mensagem: O Prín-cipe prenuncia uma sutileza psicológica que hoje podemos bem avaliar à luz de outros “mestres da suspeita”, na sua real profundidade e “escandalo-sa” realidade.

“Mais do que cinismo ou ceticismo a leitura destes autores, “mestres da suspeita” - Maquiavel e Freud - revela os aspectos sombrios e a fragilidade humana sem cair no niilismo mas, ao contrário, apresentando a alternativa de que estes mesmos aspectos podem se tornar fontes “preciosas de ação”

Bibliografia: FREUD, Sigmund (1913). O interesse educacional da psicanáli-se. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sig-mund Freud. Rio de Janeiro; Imago, 1974. v.13. FREUD, Sigmund (1930). O Mal-Estar na Civilização. In: Edi-ção Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro; Imago, 1974, v. XXI.MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Penguin Clas-sics Companhia das Letras, 2010. SKINNER, Q; PRINCE, R. (ed.). The Prince. Cambridge, 1988SKINNER, Quentin. Maquiavel. Porto Alegre: L&PM, 2010.

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Culinária: a arte do encontro entre o eu e o outropor Luciele Copetti, jornalista

“a sensação de vivenciar o criativo, a per-missão para o prazer e o compartilha-mento com o outro e consi-go mesmo”.

A psiquiatra Betina fala sobre o seu hobby e os caminhos pelas fronteiras da ciência e literatura

Na ciência, os processos metodológicos pre-cisam ser considerados, aliando paciência e ob-servação como pontos relevantes para o resultado final. Igualmente, no “laboratório da cozinha”, es-ses aspectos são cruciais. No entanto, a liberdade de criação permite que a criatividade e as percep-ções lúdicas de cada indivíduo sejam incluídas nas receitas culinárias. É a hibridização de sabores, cores, aromas, gostos, memórias, e um jogo esté-tico que a culinária apresenta-se como hobby para alguns, e o compartilhamento de novas experiên-cias gastronômicas para outros. Essas descobertas feitas ao acaso, nos levaram a esse encontro entre a literatura e a arte da culinária.

O encontro para essa entrevista aconteceu en-tre a médica psiquiatra Betina Mariante Cardoso e a jornalista do Jornal do CELG, Luciele Co-petti, na sede do centro. Entre os livros e a sala, as palavras da psiquiatra ecoavam como poesia, misturando ingredientes da culinária e do conhe-cimento profissional. Nas mãos, carregava cinco livros da sua editora, a Luminara Casa Editorial. Um deles, o “Pequeno Alfarrábio de Acepipes e Doçuras”, é a obra literária dessa médica. Betina expressa suas opiniões e fundamentos com a le-veza de escritora, com o zelo de médica, com um amor de mãe que prepara o bolo para o lanche da tarde. O encantamento pela culinária é notável no seu olhar e no modo como discorre sobre o assunto. Assim, a hibridez do seu contexto profis-sional e suas vivências pessoais se transformam na literatura culinária.

“Pequeno Alfarrábio de Acepipes e Doçuras”Lançado no início deste ano, o livro de co-

zinha e o caderno de receitas é apresentado em duas partes. A primeira reúne 66 crônicas culi-nárias divididas em cinco capítulos. Na segunda parte, intitulado o “Caderno de receitas de”, é destinado a criatividade do leitor e suas receitas que podem ser registradas nas 50 páginas em branco. Betina preza pela liberdade na cozinha, pelo processo lúdico no qual o indivíduo constrói as suas receitas através da observação e dos cinco sentidos, e também, dos processos de erro e acer-to. “Por isso eu fiz um livro caderno, exatamente com essa ideia de tornar o leitor um autor do seu projeto. Ele vai ler o livro, mas ele também vai fazer desse caderno um livro, um espaço de lú-dico”, conta Betina. Assim, a ideia de escrever o livro se mistura com o seu blog.

Do hobby a escrita culináriaO blog “Serendipity in Cucina” foi criado em

março de 2012, durante as férias, e é o resultado da sua experiência com a escrita culinária (food writing). Como a autora mesma define, é um es-paço onde escreve sobre cozinha e bem-estar, “como aquelas saborosas conversas em volta da mesa. A ideia do blog veio de um aspecto de cria-tividade exposto na minha vida de hobby. É um trabalho principalmente com a escrita, e também, com a culinária dentro de um espaço no meu mo-mento de lazer”, relata Betina.

Do singular ao pluralA culinária é o encontro entre o eu e o outro.

Betina aprendeu a cozinhar em família, obser-vando e experimentando novas receitas. Agora, mantém a tradição familiar repassando esses ensinamentos também para amigos e leitores. O compartilhamento é a base da culinária, e o ato de preparar os alimentos e unir sabores, estabe-lece o encontro. Segundo Betina, a pluralidade da arte culinária está exatamente nesses aspectos: “a sensação de vivenciar o criativo, a permissão para o prazer e o compartilhamento com o outro e consigo mesmo. Sempre tive essa possibilida-de de ver no ato culinário, um ato subjetivo. Que mesmo eu me encontro, mas que é possível tam-bém encontrar as outras pessoas. É construir algo em comum”, finaliza Betina.

Blog: serendipityincucina.blogspot.com.brLivro: “Pequeno Alfarrábio de Acepipes e Doçuras”Porto Alegre: Casa Editorial Luminara, 2012.R$32,00Casa Editorial Luminara: (51) 3335.3008

Psiquiatria & Cultura- Médica Psiquiatra Betina Cardoso

jornal centro de estudos luis guedes