jornal dez #17

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O FUTEBOL PARA LER COM TODA A MAGIA DO DEZ “NOVA DESILUSÃO” Nº19

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Page 1: Jornal Dez #17

O FUTEBOL PARA LER COM TODA A MAGIA DO DEZ

“NOVA DESILUSÃO”

Nº19

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[email protected]

“Saem pretos de toda a parte como se fosse uma máquina de churros”

Jesus Gil y Gil

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SELECÇÃO

DESILUSÃO LUSITANA

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O jogo entre Portugal e Irlanda do Norte começou em clima de festa, apesar

de, antes desta partida, os portugueses terem sofrido uma desilusão quando, nos últimos minutos do Rússia – Azerbaijão, um erro do árbitro permitiu à equipa liderada por Fabio Capello somar mais três e continuar o seu trajeto cem porcento vitorioso no Grupo F.

Apesar do temporal que se abateu sobre a cidade do Porto, o ambiente nas bancadas era espectacular, uma vez que a lotação estava praticamente esgotada e que Moutinho e Ronaldo eram homenageados pelas suas 50ª e 100ª internacionalização respectivamente, mas o clima de festa praticamente terminou ao apito inicial do árbitro pois, desde cedo, se percebeu que a selecção não estava nos seus dias e as suas maiores figuras iam passar ao lado da partida.E o lance de maior perigo da selecção portuguesa em toda a primeira parte foi mesmo a primeira jogada delineada pelo ataque português com Miguel Lopes, hoje titular no lugar do lesionado Coentrão, a rematar cruzado e Postiga a não chegar a tempo da emenda.

Daí para a frente só se viu Portugal a atacar (quase sempre mal) com os irlandeses a esperarem pelos erros portugueses para lançarem os contra-ataques.E o erro aconteceu mesmo, à passagem da meia hora, num lance em tudo semelhante ao ocorrido na Rússia, alguns dias antes, com o meio-campo português a perder a bola e, rapidamente, a

bola a chegar à frente de ataque irlandês onde McGinn, na cara de Patrício, fazia o 0-1 que era tão escandaloso como castigador para tão confrangedora exibição da nossa selecção.

Portugal reagiu em força ao golo mas, durante pouco tempo, pois os jogadores começaram a acusar a pressão de um mau resultado e as falhas iam-se sucedendo a um ritmo inaceitável para jogadores desta categoria, com dificuldades ao nível do controlo da bola e do passe curto e os lances de maior perigo do ataque português eram finalizados pelos defesas irlandeses que, aos 34’, num mau corte de Hughes, faz a bola passar muito perto da baliza de Roy Carroll, para, logo depois, aos 36’, ser Cathcart que atirou para a sua própria baliza, acertando com estrondo na trave. Chegava o intervalo com o marcador em 0-1, que reflectia o desacerto português quer a atacar quer a defender.

Para a segunda parte Paulo Bento deixou nos balneários Miguel Lopes, fazendo entrar Rúben Amorim, o que implicou a mudança de Miguel Veloso para o lado esquerdo da defesa, mas Portugal voltou a entrar mal, com um Nani, novamente, muito desinspirado, Moutinho abaixo daquilo que costuma fazer e os homens da frente pouco enquadrados com a baliza. E assim, só aos 58’, naquela que foi a melhor jogada de Portugal em todo o encontro, Ronaldo pôs, pela segunda vez, à prova o guardião Carroll, com um grande remate, já no coração da área, a que o guarda-redes adversário defendeu com mestria.

Texto: Francisco BaiãoFotos: Getty Images

DESILUSÃO LUSITANA

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À passagem do quarto de hora da segunda parte, Varela entra para o lugar de Micael e Portugal tem dez minutos em que não chegou a jogar bem, mas conseguiu empurrar o seu adversário para a sua área, recuperando a bola rapidamente, obrigando os defesas adversários a errar e pondo à prova, aqui e ali, os reflexos do guarda-redes contrário.

Mas Portugal voltou a cair de produção e os irlandeses passaram dez minutos sem serem realmente incomodados pela selecção portuguesa que, por vezes, parecia estar a afundar-se perante o dilúvio que se abatia no Estádio do Dragão. Foi então que Paulo Bento optou por tirar João Pereira e colocar Éder, no tudo por tudo do seleccionador português e a verdade é que, a recompensa não demorou muito a chegar com o avançado do Sporting de Braga a ser decisivo no lance do golo do empate, ao colocar, de cabeça, a bola nos pés de Nani que, novamente desastrado, acaba por, ao falhar o remate, colocar em Postiga que, à meia volta, fazia o 1-1 no marcador quando ainda faltavam 11 minutos para o fim

do jogo. Renascia a esperança na vitória, no Estádio do Dragão.Os últimos minutos foram de sufoco na área irlandesa, com Portugal muito mais com o coração que com a cabeça, a tentar o golo da vitória que não chegaria a aparecer e que, com este empate, complica bastante as contas de uma selecção que caiu para a terceira posição (com os mesmos 7 pontos que Israel) e que já vê a Rússia bem longe, com 5 pontos de vantagem na primeira posição.

Portugal só volta a jogar, em jogos oficiais, em Março de 2013, para uma dupla jornada que se antevê bastante complicada, com deslocações a Israel e Azerbaijão que serão decisivas para o apuramento da selecção nacional para o Mundial 2014.

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Texto: Francisco Baião

DESACERTO CUSTA PONTOS

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Texto: Francisco BaiãoFotos: Getty Images

DESACERTO CUSTA PONTOS A selecção nacional jogou, na passada sexta-feira (12 de outubro) em Moscovo frente

à selecção russa, naquele que era o jogo que decidia a liderança do Grupo F, uma vez que ambas as equipas chegavam a este confronto, o terceiro, com duas vitórias, partilhando a primeira posição.Depois de uma semana com muitas dúvidas sobre a utilização de Ronaldo e Pepe (ambos lesionados no embate entre Barcelona e Real Madrid), a baixa na equipa principal portuguesa acabou por ser Raúl Meireles que, após lesão na véspera do jogo, deixou uma vaga no meio-campo luso que seria ocupado por Rúben Micael. Quanto aos restantes 10 elementos, nenhuma surpresa nos eleitos de Paulo Bento, repetindo a equipa que alinhou em grande parte dos jogos do último Europeu.

E se a contrariedade da ausência de Meireles poderia ter grande significado, maior ficou quando, logo no sexto minuto de jogo, após uma perda de bola de Micael ainda no meio-campo defensivo, a Rússia se coloca em vantagem num lance em que Kerzhakov, na cara de Patrício, não perdoa, fazendo o 1-0.

Seguiram-se momentos de jogo dividido com Portugal a criar algumas oportunidades de golo com Ronaldo aos 11’ a obrigar Akinfeev a boa defesa para canto e, na sequência do mesmo, Postiga consegue bater o guarda-redes russo nas alturas, mas cabeceia por cima da trave. Ainda antes do quarto de hora de jogo, Portugal voltava a desperdiçar uma boa oportunidade, com Bruno Alves, após livre batido por Veloso, a obrigar o guardião russo a mais uma bela intervenção.Mas a este momento de maior domínio

da equipa portuguesa seguiu-se mais uma contrariedade para os comandados de Paulo Bento, uma vez que o lateral esquerdo Fábio Coentrão saiu lesionado por volta do minuto 20 de jogo (sendo substituído por Miguel Lopes) e a equipa portuguesa parece ter-se ressentido em demasia de mais um revés em tão pouco tempo de jogo.A partir deste momento, o jogo entra numa fase mais equilibrada mas Portugal ainda conseguiu encontrar espaço nas costas da defensiva russa para criar mais um par de boas oportunidades, quase sempre por Nani na direita que, apesar de tudo, raramente soube dar seguimento às jogadas de perigo: foi assim aos 28’ num remate ao lado e, aos 32’, com a colaboração de Ignashevich, quase chegava à igualdade. Mas a equipa portuguesa foi perdendo o pouco fulgor que apresentava e, até ao intervalo, não houve mais lances dignos de registo.Na segunda parte, quando se esperava que Portugal entrasse com tudo em busca da igualdade, é a Rússia quem volta a entrar melhor, tendo a bola e impedindo que Portugal se aproximasse da sua área. A Rússia aparecia mais rápida sobre a bola, pressionante e ganhava todas as bolas divididas e, só aos 15 minutos da segunda parte Portugal conseguiu construir um lance com princípio, meio e fim, com Nani e João Pereira a combinarem na direita e o lateral do Valencia a centrar para Ronaldo desviar para a baliza contrária, mas um corte precioso de Ignashevich impediu que a bola seguisse no rumo da baliza russa.

Seguiram-se dez minutos em que pareceu que Portugal estava a crescer na partida, com alguns remates à baliza contrária (Postiga, Nani e Moutinho no espaço de cinco minutos conseguiram

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três remates) mas, após um lance de contra-ataque russo só travado por Patrício a evitar o golo de Glushakov, Portugal voltou a desaparecer do jogo e a Rússia começou a estar mais perto do 2-0 que Portugal do 1-1.

Paulo Bento ainda fez entrar Varela para o lugar de Micael e Éder para o de Postiga mas seria novamente Patrício a estar em evidência ao defender, com grande classe, um tiro de Kokorin, evitando o segundo golo russo. Até final Portugal não foi capaz de voltar a incomodar seriamente Akinfeev e a Rússia segurava três importantes pontos que a colocam na primeira posição do grupo, com 9 pontos em 3 jogos, tendo uma vantagem de 3 pontos sobre o cabeça-de-série deste grupo,

a selecção portuguesa que, para além da derrota (continua sem marcar qualquer golo na Rússia) perdia também Fábio Coentrão para o jogo com a Irlanda do Norte.

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“Joga-se melhor com 11... E se é com 12, melhor ainda”

Di Stefano

[email protected]

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CRÓNICA

OS DERBYS DA NOSSA INFÂNCIA

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Texto: Tiago SoaresFotos: Getty Images

OS DERBYS DA NOSSA INFÂNCIA Bola ao meio. Equipas equilibradas? Claro que sim – o gordinho e dono da bola ficou na minha equipa,

mas ele tem de jogar. Paciência, fica na baliza, era pior se fosse o magricelas que tem “dois pés esquerdos”. “Não nos vamos confundir? Estamos todos com tshirts tão semelhantes… ?”, dizemos uns para os outros, bem dispostos. Claro que não, sabemos todos quem é e não é da nossa equipa. Afinal, fomos nós que os escolhemos.É o segundo jogo do dia, já depois do lanche. Sim, que nas primeiras horas da tarde está demasiado calor para jogar futebol, é melhor andar de bicicleta. Até porque o primeiro jogo foi logo pela manhã, mesmo antes do almoço, ainda à sombra e com tempo fresquinho. É a coisa boa de morar num bairro cheio de crianças da mesma idade – no Verão estamos sempre por casa e prontos para vir para o campo de futebol improvisado no meio do cimento que nos rodeia. Claro, não temos balizas, mas temos pedras a marcá-las e a altura da trave é calculada pelo tamanho do guarda-redes. Nem de propósito, de manhã marquei um golaço e “ah e tal, o guarda-redes é baixinho, não chegava à bola, foi muito alta!”. Não importa, era um jogo a brincar. Sim, porque o derby da tarde é sempre mais importante. De manhã estão muitos miúdos que ainda não chegaram aos nossos (muito adultos, de resto..) 12-13 anos e, à noite, há muitos pais e mães por perto para nos podermos expressar à vontade.

Três jogos por dia, mais os jogos que temos de ter com as meninas – mas porque temos de aturá-las?! Penso para mim próprio que as irmãs dos meus amigos são umas chatas, não servem para nada. A sorte é que podemos sempre andar de bicicleta, patins e skate para nos distrairmos e fugirmos delas: também, que iríamos para casa fazer? Fomos feitos é para estar cá fora, para correr, rir, cair e não magoar, nomeadamente neste tempo de férias, com calor, sol e liberdade por não haver aulas.A bola já rola. O campo é gigante - tenho

a certeza que isto está bem perto do tamanho do campo em que joga o Van Basten, o Baggio ou o Matthaus. Ídolos, com movimentos cheios de classe e os melhores de todos. Como todos nós aqui, que somos os melhores de todos. Somos grandes, fazemos fintas e jogadas de excepção, rematamos e marcamos golos de todas as formas e feitios. Todos temos os nossos jogadores favoritos, todos temos as nossas formas peculiares de jogar, todos somos os melhores da nossa rua. E do bairro, porque não?Sentimos os cheiros que nos rodeiam. O cheiro a queimado dos incêndios, o cheiro da relva, o cheiro a gasolina e gasóleo dos carros que passam; sentimos o calor a rodear-nos, sentimos o sol a queimar a pele; os pés queimam, as sapatilhas novas começam a gastar-se (e penso: “são mesmo novas, a minha mãe vai chatear-se quando as vir neste estado”); a tshirt e os calções colam-se ao corpo no esforço de dar sempre o máximo em todas as jogadas. O jogo vai normalmente, alguém deu um chuto para o parque de estacionamento e alguém tem de ir buscar a bola. “Vai tu!”, diz um; “Mas eu chutei contra ti, tens de ir lá tu, foste o último a tocar na bola!”, responde o interpelado “Então é nossa? Fixe!”, garante o primeiro. Lançamento lateral, à mão. Pode atrasar-se para o guarda-redes? Pode, claro. Nesta altura ainda se pode e isto só se joga com regras de futebol de onze quando dá jeito. Nova bola para o parque de estacionamento e, desta vez, acertou num carro. Meia dúzia de palavrões depois, o pouco afortunado e imberbe jogador vai lá buscar a bola – discretamente, não vá alguém ter visto. A correr, fingindo uma calma que nunca teve, volta para o campo. E lá vamos nós para o jogo outra vez.

Nunca nos cansamos. É um facto, nunca nos cansamos. Sempre a correr, sempre a chutar a bola. E somos tantos, tantos. Não sei como cabe tanta gente neste campo de futebol improvisado. Somos sete de cada lado e há espaço para todos nós fazermos as nossas jogadas. Só paramos para pedir um copo de água à

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mãe de um de nós que mora no rés-do-chão de um dos mamarrachos de cimento que nos rodeia – sim, porque ela é simpática e nós estamos cheios de sede, que isto de jogar estes jogos com intensidade tem muito que se lhe diga.Exemplo de intensidade é esta jogada, em que o melhor jogador da equipa passa para mim, eu passo para o nosso “ponta-quieta” (n.d.r.: o que nunca corre para trás, que hoje se chama ponta-de-lança e que antigamente chamávamos “o que está sempre na mama”) e ele remata com vontade, mas com pouca direcção. “É mão!”, penso e grito no momento em que o miúdo desastrado de cabelo comprido está a cortar a bola dentro da área. Sim, dentro daqueles 10 rectângulos de cimento a que chamamos grande área. “Claro que é penalti!”, discutem os nossos amigos. “És sempre a mesma coisa, não foi falta nenhuma!”, diz um. “Quer dizer, há bocado marcaste aquela falta ali em que ele nem te tocou e agora não queres que seja falta?!”, reclama outro. Mas não era preciso árbitro para estas coisas - na realidade, entendíamo-nos bem sem eles e, quando saíamos do “campo”, eramos todos amigos como antes. Como sempre e como só as amizades de infância sabem ser.“Marca tu, Tiago”, diz o jogador que chutou a bola contra a mão do miúdo desastrado. Penalti. O momento definitivo do futebol, aquele um-contra-um com o gordinho na baliza. “Não, esperem, eu defendo!” – diz o melhor jogador da outra equipa. “Este anda a ver demasiado Tsubasa (n.d.r. desenhos animados japoneses)”, penso eu.Já se ouvem as mães a chamar para o jantar. Como assim, já está na hora? Não é possível, ainda agora começamos a jogar e, para além disso, não tenho fome. Ignoramos sempre a primeira chamada, está tanto sol ainda, a noite ainda demora. Não podem ser 20h, nem 19h30. Não pode ser, ainda há tanto para jogar. Está 8-8, não pode ser, temos de conseguir marcar o golo da vitória.Respirar fundo. Bem fundo. Bola nos sete rectângulos (se a área tem 10, a marca do penalti é nos sete. É óbvio.) e tudo pronto. Temos de marcar, tem de ser. “Anda jantar!”, ouve-se ao longe. Nada importa, só importa a bola e a baliza feita de pedras e com uma trave imaginária. “Tenho de ir, pá! Tenho de ir e levo a bola comigo”, ouve-se o gordinho a dizer.Durante uns segundos, a bola é tudo e nós somos tudo também. Remate.. Golo. GOLO! É o momento alto e lindo do jogo. A minha equipa grita “golo”, os adversários queixam-se do penalti roubado e, nos momentos seguintes, todos começam a correr para casa, não sem dizer um apressado “apareces logo?”Claro que apareço. Isto é a minha vida.

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REPORTAGEM

Texto: Miguel LourençoFotos: Getty Images

A LENDA DO SUPER DEPOR

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Durante os anos 90 a grande alternativa à hegemonia futebolistica em Espanha de Barcelona e Real Madrid surgiu, inesperadamente, com os olhos postos no Atlântico. O “SuperDepor” revolucionou o futebol espanhol e mostrou que era possível vencer com um projecto modesto e pragmático. Foi há vinte anos que o Deportivo a Coruña começou a sua história.

A mitologia do DeporBebeto, Djukic, Fran, Mauro Silva, Donato, Aldana, Lopez Rekarte.

Nomes próprios desta história que mergulha na mitologia do futebol europeu uma das suas maiores surpresas. Numa era onde o dinheiro começava a fazer, cada vez mais, a diferença, o Deportivo a Coruña apresentou uma versão alternativa de como encarar o futebol de alta competição. E transformou a sua política desportiva em gesta. E de gesta em gesta, tornou-se lenda.

Numa cidade que nunca tinha feito parte da história maiúscula do futebol espanhol, surgiu um clube sem medos e sem complexos, capaz de olhar de tu a tu aos grandes de Espanha. E de batê-los no seu próprio jogo. Nos últimos 20 anos foi o único emblema que logrou sagrar-se campeão fora do circulo histórico de Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid e Valencia, os quatro grandes de Espanha, se excluimos o Athletic Bilbao e a sua mitologia particular.

<T�[x[\SV�X\L�J\STPUV\�\TH�OPZ[}YPH�KL�ZHJYPÄJPVZ��Z\YWYLZHZ�e jogos que entraram para a posteridade do futebol espanhol. Um título que foi também, ironicamente, a reviravolta nesta fábula de heróis inesperados. Uma década depois de fechar com chave de ouro a sua lenda, o Deportivo caiu na Liga Adelante, a segunda divisão de onde tinha escalado, surpreendentemente, em 1990. Ao cometer os erros dos rivais e esquecer-se das virtudes do seu próprio passado, o Deportivo condenou-se a si mesmo. Mas mesmo no seu momento mais baixo nunca deixou os adeptos perderem rastro à memória do seu SuperDepor.

O 3 de Outubro de 1992Arsénio Iglesias e Augusto César Lendoiro foram os arquitectos da história, os irmãos Grimm que escreveram esta lenda de surpresas e suspense desde o primeiro capítulo. Iglesias, que encontrou o Deportivo na obscuridade da segunda divisão em 1988, não chegou a estar presente UV�TVTLU[V�KH�JVUZHNYHsqV�KLÄUP[P]H��4HZ�MVP�JVT�LSL�X\L�tudo começou.

O Deportivo tinha chegado por surpresa à liga espanhola e inevitavelmente o primeiro ano na elite desde 1973, época em que o clube era conhecido como o “elevador”, por subir e baixar de divisão ano sim, ano não, foi sofrido. Um WSH`�VɈ�JVU[YH�V�)t[PZ�MLa�H�KPMLYLUsH�L�0NSLZPHZ�L�3LUKVPYV�JVTLsHYHT�H�WYLWHYHY�H�UV]H�[LTWVYHKH�JVT�HÄUJV��<TH�mistura de jovens promessas, lideradas pelo irrepetível Fran, juntou-se a jogadores descartados pelos grandes e um trio de brasileiros fundamental: Bebeto, Donato e Mauro Silva. 0UNYLKPLU[LZ�THPZ�KV�X\L�Z\ÄJPLU[LZ�WHYH�WYV[HNVUPaHY�\TH�surpresa maiúscula.

Nessa época em que o Riazor, histórico estádio construido

do outro lado da praia da A Coruña, ainda não tinha a sua X\HY[H�L�KLÄUP[P]H�IHUJHKH��V�+LWVY[P]V�[VYUV\�ZL�H�LX\PWH�mais temida do futebol espanhol. Visitar terras galegas e sair com pontos debaixo dos braços tornou-se quase uma utopia. A 3 de Outubro de 1992 o clube recebeu o Real Madrid de Benito Floro, sério candidato a destronar o hegemónico )HYJLSVUH� KL� 1VOHU� *Y\`Ɉ�� 6Z� OVTLUZ� KH� *VY\|H� LYHT�lideres da prova à quinta jornada, ainda sem derrotas, WLYZLN\PKVZ� WLSVZ� TLYLUN\LZ� UH� [HILSH� JSHZZPÄJH[P]H�� 6�Real jogava com classe, um futebol ofensivo pragmático do homem que inventou em Albacete, anos antes, o conceito do futebol total manchego, o “Queso Mecânico”. Zamorano, Butrageño, Michel, Hierro e Sanchis eram os habituais heróis de infância dos pequenos que davam os primeiros pontapés na bola às portas do estádio mas nessa noite a cidade galega sentiu que estava a presenciar um fenómeno especial.

O Real Madrid esteve a vencer por 2-0, mas golos de Bebeto e Barragan, na própria baliza, deram a volta ao marcador e JYPHYHT�UH�PTWYLUZH�H�L[PX\L[H�X\L�ÄJV\�WHYH�H�WVZ[LYPKHKL!�“SuperDepor”.

O sucesso da era IglesiasA equipa galega recebeu quinze dias depois o “Dream Team” e voltou a vencer, de forma clara, e manteve-se K\YHU[L�NYHUKL�WHY[L�KV�HUV�n�MYLU[L�KH�[HILSH�JSHZZPÄJH[P]H�acabando a temporada no terceiro lugar. Bebeto sagrou-se “Pichichi”, o guarda-redes Liaño venceu o “Zamora” e as IHZLZ�WHYH�V�M\[\YV�LZ[H]HT�KLÄUP[P]HTLU[L�JVUZVSPKHKHZ�

O ano seguinte foi ainda mais épico e traumático. Os homens de Iglesias bateram Barcelona e Real Madrid, outra vez, e chegaram ao último dia do campeonato como lideres. Jogavam em casa, contra o Valencia – que perdido no meio KH�[HILSH�MHaPH�ÄN\YH�KL�JVYWV�WYLZLU[L�¶�L�H�]P[}YPH�ZLY]PH�para conquistar um titulo inesperado mas justo sempre que o Barcelona ganhasse o seu jogo no Camp Nou. Os homens KL� *Y\`Ɉ� J\TWYPYHT� THZ� HZ� JLSLIYHs�LZ� HU[LJPWHKHZ�subitamente sofreram um sobressalto. No último minuto o Deportivo, que seguia empatado a zero, viu um penalty ser marcado a seu favor. Bebeto, o herói da equipa durante todo o ano, não quis marcar e o central Djukic falhou, adiando assim o primeiro título do clube.

A derrota na última jornada da época 1993-94 marcou profundamente Arsenio Iglesias.

O técnico anunciou a sua retirada ainda antes do arranque da temporada seguinte e deixou os adeptos do clube corunês a pensar no que seria o seu futuro. Pelo segundo ano consecutivo o Deportivo acabou em segundo, perdendo agora o título para o Real Madrid de Jorge Valdano, mas antes da última ronda. Terminar à frente do Barcelona e repetir a medalha de prata e vencer a Copa del Rey, pela primeira vez, UqV�MVP�Z\ÄJPLU[L�WHYH�T\KHY�H�VWPUPqV�KL�0NSLZPHZ�L�WHYH�V�seu lugar Lendoiro, o presidente que resgatou o clube da obscuridade, encontrou no basco Javier Irureta, o homem ideal.

¸1HIV¹��JVTV�LYH�JVUOLJPKV��THU[L]L�KL�Wt�H�ÄSVZVÄH�KL�Iglesias. Uma equipa sólida a defender, com um meio-campo com muito músculo e espaço para um criativo solitário e

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uma linha ofensiva móvel e vertical.

O título inesperadoOs resultados não acompanharam as exibições nos primeiros anos e o Deportivo sofreu para manter-se no topo da tabela nas épocas seguintes, particularmente depois das saídas de Bebeto e Aldana. A pouco e pouco o clube começava a rearmar-se, particularmente graças à paciência e olho clínico de Lendoiro, e com as chegadas de Djalminha, Roy Makaay e Pauleta, o clube encontrou a combinação certa para voltar a lutar pelo título que lhe tinha escapado anos antes.

Irureta alinhava uma equipa onde o virtuosismo de Victor, Fran e Djalminha era contra-balançado pelo trabalho de Mauro Silva, -Sm]PV�*VUJLPsqV�L�+VUH[V��6Z�NVSVZ�KL�4HRHH`�L� H� LÄJmJPH�defensiva de Naybet, Romero e Manuel Pablo garantiam um equilibrio em ambos vértices do campo. E com esse alinhamento V�:\WLY+LWVY�YLUHZJL\�KL�MVYTH�KLÄUP[P]H�

Em 1998/99, o clube voltou à Europa ao terminar no sexto WVZ[V� UH� [HILSH� JSHZZPÄJH[P]H�� 5V� HUV� ZLN\PU[L� VZ� ¸;\YJVZ¹��conquistaram o seu único título até hoje. A vitória por 2-1, no Riazor, frente ao Barcelona de Louis van Gaal, campeão nas duas épocas anteriores, lançou os galegos para o título que JVUÄYTHYHT�H�K\HZ� QVYUHKHZ�KV�ÄUHS�KH�tWVJH��5LZZH�tWVJH�o Depor perdeu apenas dois jogos em casa (inesperadamente contra Racing e Numancia) goleando por 5-2 o Real Madrid. 6Z�WVU[VZ�JVUX\PZ[HKVZ�LT�JHZH�KLYHT�V�JVSJOqV� Z\ÄJPLU[L�para gerir a vantagem na liga e consumar um milagre histórico. Pela primeira vez desde os anos da guerra, um clube fora dos grandes de Espanha, vencia o título de campeão nacional.

A formação do “EuroDepor”Um título que marcou também uma metamorfose na vida do clube. Lendoiro ambicionou ir mais longe e começou a investir mais e mais dinheiro para melhorar a equipa. Chegaram jogadores como Juan Carlos Valeron, Diego Tristán, Sérgio,

Luque, Pandini e a equipa tornou-se num dos mata-gigantes das provas europeias, transformando-se indirectamente num fenómeno de popularidade no “Velho Continente”.

Vitórias frente a Manchester United, Arsenal, Bayern Munchen, AC Milan e Juventus no Riazor ajudaram a criar a marca “EuroDepor” ao mesmo tempo que o clube mantinha-se como a grande alternativa interna aos grandes, terminando no segundo lugar em 2000-01 (atrás do Real Madrid) e 2001-02 (apenas batido pelo Valencia, no primeiro ano, desde 1983 que nenhum dos dois grandes de Espanha termina nos dois primeiros lugares da tabela). Na época seguinte o clube foi terceiro e lançou o KLÄUP[P]V�H[HX\L�H�\T�NYHUKL�[P[\SV�L\YVWL\��(�NLZ[H�KLÄUP[P]H�do SuperDepor terminou em Abril de 2004 num mano a mano intenso com o FC Porto de José Mourinho.

6Z�LZWHUO}PZ�LYHT�MH]VYP[VZ�WHYH�JOLNHY�n�ÄUHS�KL�.LSZLURPYJOLU�depois de terem eliminado de forma contundente o campeão em titulo, o AC Milan, mas depois de um empate sem golos no Estádio do Dragão, marcado pela expulsão de Jorge Andrade, um golo de penalty de Derlei em Riazor acabou com as esperanças da equipa galega. Foi a sua última gesta.

Nas temporadas seguintes, e à medida que os seus grandes nomes individuais deixavam progressivamente o clube, as arcas ressentiam-se da falta dos milhões da Champions League. A saída de Irureta fechou o ciclo iniciado por Iglesias e o Deportivo [VYUV\�ZL�KL�UV]V�U\TH�ÄN\YH�ZLJ\UKmYPH�KV�M\[LIVS�LZWHUOVS��Mas para os seus adeptos, e para muitos seguidores europeus X\L� ÄaLYHT� KV� JS\IL� Ha\S� L� IYHUJV� \T� KVZ� ZL\Z� ZxTIVSVZ�alternativos, a épica lenda do SuperDepor permanece viva, guardada no baú da história de um jogo controlado pelo dinheiro mas gerido pela ambição e génio de homens como os que ÄaLYHT�KV�+LWVY[P]V�\TH�LX\PWH�Tx[PJH�

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“O futebol é um jogo imprevisível porque sempre começa 0-0“

Vujadin Boskov

[email protected]

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[email protected]

“A SIDA é como um cartão vermelho mostrado por Deus”

Rabat Madjer, ex-jogador do FC Porto

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O GeNIO DE

GUERNSEY

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REPORTAGEM

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É um verdadeiro enigma que o mais tecnicista futebolista das últimas décadas nas ilhas britânicas seja,

ainda hoje, um ilustre desconhecido para muitos. A falta de ambição, o questionável profissionalismo e o seu particular estilo de jogo afastaram-no dos grandes palcos mas não foram suficientes para retirar-lhe um lugar na história da Premier. Matthew Le Tissier eterniza-se por direito próprio.

Hoje já não existe o mitico The Dell, substituído pelo moderno St. Marry´s. Nem existe o poderoso remate literalmente do meio da rua de um jogador que teimava decidir jogos com um gesto que só os predestinados conseguem dar forma. Para depois hibernar. Até ao seguinte momento de glória. Assim foi a longa carreira de Matthew Le Tissier, o herói de Southampton, o símbolo de um jogador que cada vez mais está em desuso. Le Tissier não queria ser uma estrela, um símbolo de marketing.

Gostava de ir ao pub e beber umas cervejas demais. E isso notava-se na sua sempre questionada forma fisica. Gostava dessa Inglaterra grey and green (cinzenta e verde), e nunca esteve disposto a abandonar as paragens da infância, esse olhar atrevido ao Atlântico do sul da ilha. Nunca foi um desportista profissional ao máximo – como os técnicos hoje exigem – mas foi um adepto do fair-play e um dos últimos cavalheiros dos relvados. Abandonou a carreira sem ter logrado um único titulo memorável. Mas os seus golos – um dos quais eleito o melhor da história da Premier – fintas e arranques passaram à história.

O Génio de GuernseyNascido em Outubro de 1968 na ilha de Guernsey, um arquipélago no canal da Mancha, Le Tissier viveu toda a vida

ligado ao futebol. Ainda com 10 anos entrou na equipa juvenil do clube local, o Vale Recreation. Sete anos depois o seu talento ecoava por todo o sul da Inglaterra e foi o Southampton, um histórico, a lograr convence-lo a deixar a terra natal. Le Tissier provavelmente não o sabia mas esse seria o seu único clube profissional. Uma carreira que começa em 1985 e que se estende até 2002 num total de 443 desafios e 162 golos, o número mais elevado conseguido por um médio centro na história da Premier. Chamar médio a Le Tissier é uma notória (in)conclusão do estilo do jogador.

Avesso às tácticas férreas, era um dandy no relvado. Basculava entre o centro e o ataque o seu ritmo e apesar de jogar e fazer jogar, corria muito pouco. A bola corria sempre por ele. Depois de um percurso brilhante nos sub-21 ingleses, o médio foi consolidando-se como o lider de uma equipa que era sempre temível de derrotar nas longas viagens ao The Dell. Em 1989 ganhou o prémio a jogador jovem do ano. Em anos o Southampton lutou pela Europa enquanto que outros foram vividos com a corda na garganta. Em todos eles a figura do clube foi apenas e só Le Tissier. Em 1993-1994, a melhor época do clube, apontou 30 golos, um feito inédito na história do clube perdendo apenas o titulo de melhor marcador para Alan Shearer.

A alma do The DellEm 1994, já com 26 anos, estreia-se pela equipa principal inglesa mas por aí só passa durante oito jogos. O seu estilo não se coadunava com uma equipa como a dos Pross e passou rapidamente a proscrito. No entanto, em cada competição, o seu nome era levado a todas as especulações sobre se iria ou não com os 23 eleitos. Nunca o logrou mas várias vezes esteve

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REPORTAGEM

perto, especialmente em 1998 quando meia Inglaterra pedia a sua inclusão na lista de Gleen Hoodle. Em 2001, quando o The Dell deixou de ser a casa mítica do clube, Le Tissier marcou o último golo do Southampton em casa num jogo louco contra o Arsenal. Nas bancadas chorou-se mais do que se riu de alegria. O médio tinha anunciado também o final de carreira e apenas actuou um ano no novo recinto. Hoje o St Mary´s tem uma bancada com o seu nome mas o clube milita na III Divisão depois de uma queda abismal. Le Tissier ainda tentou comprar o clube mas

o negócio falhou.

Amado, mais do que odiado, Le Tissier é um desses jogadores que não tem uma era própria. Avesso a qualquer características tipo, foi responsável por alguns dos melhores momentos da história da Premier. Sete anos depois do seu abandono, o seu clube de sempre vive na pele a sua ausência, e os adeptos ingleses têm saudades de um jogador que tinha o físico de inglês e a técnica de um brasileiro.

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“Trabalho como um preto,para viver como um branco”

Samuel Eto’o

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Nos últimos dias, muito se tem escrito sobre o que é treinar na Bundesliga. Paulatinamen-te, os adeptos alemães, fervorosos apoiantes das suas equipas, começam a desesperar, quando os resultados não surgem e, como nós, começam a assobiar os treinadores. O último caso foi Bruno Labbadia, técnico ale-mão do Estugarda, que, após um péssimo começo de época (15º com 6 pontos), tem estado na berlinda. No último jogo da Bun-desliga, empate a dois na receção ao Bayer Leverkusen, houve vaias no final do encon-tro.Na conferência de imprensa após o jogo, La-bbadia explodiu como não há memória nos últimos tempos na Alemanha. O técnico dis-parou em várias direcções com um discurso extremamente agressivo (“Nós, os treinado-res, não somos o caixote do lixo para tudo!”), chegando mesmo a acusar a imprensa de

“incitar” a estes atos. Quando se espera-va que houvesse despedimento, a estrutura diretiva colocou-se do lado do seu técnico, que, depois de garantir a permanência em 2010/2011, conseguiu um fantástico 6º lugar em 2011/2012, sendo a terceira melhor equi-pa da 2ª volta do campeonato.

O apoio de diretor desportivo e presidente, que apenas criticaram a escolha de algumas palavras, marca claramente o espírito dos clubes alemães: o clube vive dos e para os adeptos, mas não é gerido por eles.

Na sequência das afirmações de Labbadia, Thomas Schaaf (Werder Bremen) e Felix Ma-gath (Wolfsburgo) foram alguns dos treinado-res que se colocaram ao lado do colega de profissão. Na verdade, os três têm um esta-tuto sólido no seio das suas equipas. Schaaf

SER TREINADOR NA BUNDESLIGAjoão SilvaFotos: AP

INTERNACIONAL

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orienta o Werder Bremen desde 1999/2000. Já foi contestado imensas vezes, tendo a par-ticularidade de não se apurar para as compe-tições europeias há duas temporadas. Ape-sar dos pedidos de demissão dos adeptos, a estrutura já garantiu que não cederá.

O mesmo acontece com o Wolfsburgo, equi-pa que venceu a Bundesliga em 2009 com Magath ao leme. Depois de ter saído, Magath regressou ao clube para o salvar da desci-da. Ainda assim, tanto no ano passado como neste, as coisas correram muito mal em ter-mos de investimento. Ultimamente, o técnico começou a ouvir assobios. Ainda assim, a di-recção do clube não cederá.

No fim destes três casos, percebe-se que os treinadores são fortalecidos na Alemanha. É verdade que também são vítimas dos resul-

tados, mas são a cara de um projeto, com o qual ganharão ou perderão.

Em Portugal, poderíamos aprender com esta filosofia.

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Estas são as palavras do dia e o caminho tra-çado por Paulo Bento para Portugal. A partir de hoje, a Selecção Nacional vê-se na obri-gação de ganhar todos os jogos se ambicio-na estar presente no Mundial de 2014 que se irá realizar no Brasil.

Se contra a Rússia, o relvado (sintético) podia ser usado como desculpa, hoje o vento for-te e a chuva não podem ser utilizados como desculpa para o empate contra a Irlanda do Norte, uma selecção muito abaixo do nível português.

A noite foi cinzenta no Estádio do Dragão, tal e qual como o tempo que não era nada con-vidativo para as pessoas se deslocarem até ao estádio mas a verdade é que os portugue-ses foram à bola para ver Portugal e a 100ª

internacionalização de Ronaldo.

Portugal jogou pouco e Ronaldo passou ao lado do encontro. 1-1 foi o resultado final com a Irlanda do Norte a chegar à vantagem ao minuto 30 da 1ª parte por intermédio de Niall McGinn de 25 anos. A chegar ao inter-valo em desvantagem, o técnico português decidiu deixar Miguel Lopes nos balneários e levar para campo Rúben Amorim, passan-do Miguel Veloso para o lado esquerdo da defesa. Portugal ganho equilíbrio no meio--campo e profundidade na faixa esquerda. Uma primeira parte marcada pela fragilidade defensiva portuguesa, onde a Irlanda do Nor-te soube aproveitar muito bem, marcando na sua primeira oportunidade com Niall a apa-recer nas costas de João Pereira depois de uma ineficaz transição defensiva.

GANHAR E GANHARFrancisco Gomes da SilvaFotos: AP

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A segunda parte, ocorreu de forma diferen-te com Portugal a assumir o risco e a cor-rer atrás do prejuízo e dos 45 minutos que deu de avanço à equipa adversária. Portu-gal foi carregando e as oportunidades foram aparecendo. Paulo Bento decide lançar Va-rela para o lugar de Rúben Micael, ou seja, Portugal opta pelo seu habitual plano B com Nani a deslocar-se para o meio com Varela como extremo-direito. Pouco tempo depois, foi a vez de João Pereira ceder o seu lugar a Éder que 4 minutos depois de entrar toca a bola de cabeça para Nani que falha o remate e Postiga faz o empate. Depois do empate, Varela e Nani ainda tentaram chegar à vitória mas sem êxito.

Um jogo que serve exclusivamente para tirar

ilações para os próximos jogos para tentar perceber o que não deve ser feito em mo-mentos defensivos. Passividade a mais e agressividade a menos levaram a que Por-tugal permitisse o golo da Irlanda do Norte. Postiga mostrou ser o jogador mais inconfor-mado e nunca virou a cara à luta mas não foi suficiente para chegarmos à vitória.

Com o resultado final em 1-1, Portugal soma 7 pontos com menos 5 que o líder do grupo, Rússia. Um jogo pouco incisivo e prático por parte dos jogadores da equipa das quinas. Ronaldo teve um presente envenenado no dia em que completou 100 internacionalizações e Portugal mais uma vez tem de andar com a calculadora na mão para garantir o apura-mento já que necessita de ganhar os jogos todos e esperar que a Rússia tropece.

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DRAXLER

O futebol é feito de trabalho árduo, dedicação, ilusão, garra, habilidade, força, personalidade e claro talento natural, e Julian Draxler aparece em bom plano nesse sentido.Este jovem de 19 anos nascido em Gladbeck, Alemanha começou a dar os seus primeiros toques com 7 anos no BV Rentfort, passando pelo SSV Buer 07/28, bastando uma só época para os olheiros do FC Shalke 04 reparassem nele e o recrutassem para a sua equipa, cujas cores ainda defende até aos dias de hoje. Evoluiu como pessoa e jogador no Shalke 04, e cedo se notou a diferença de qualidade na sua maneira de jogar, com exibições muito regulares, vistosas e maduras, valendo-lhe a chamada para a equipa principal onde se estreou na época de 2010/2011 apenas com 17 anos.

Joga a médio centro, tanto a 8 como a um falso 10, e devido à sua frescura física e velocidade também pode jogar a extremo e mesmo a segundo avançado. Tem um toque de bola muito certo e limpo, sempre a equilibrar a equipa com os seus movimentos tácticos. Com a bola nos pés pauta o jogo da sua equipa com classe, mas a sua preferência e especialidade são as mudanças de velocidade explosivas em arranques com a bola dominada na diagonal de fora para dentro, procurando sempre tabelar em passes curtos com os colegas de maneira a se desmarcar na cara de golo ou mesmo a abrir espaços para que os colegas surjam a finalizar. Possui um drible curto rápido e de simplicidade extrema que o usa muitas vezes para desequilibrar. Apesar de preferir o pé direito, faz uso dos dois pés à hora de passar, centrar, e rematar. Remate esse de fácil preparação e sempre em força e colocado, o que lhe confere uma boa capacidade finalizadora, como comprovam os 12 golos apontados desde 2010 até aos dias de hoje pela sua equipa.A Alemanha continua a produzir excelentes jogadores de qualidade que além da forte capacidade física possuem muito talento, Draxler um miúdo maravilha do hoje para o amanha.

Texto: Pedro MartinsFotos: google.com

MIÚDO MARAVILHA

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“Árbitro, piso pescoço”

Hristo Stoichkov

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