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www.newsfarma.pt Próxima edição fevereiro Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 2098, de 12 de janeiro de 2013. Venda interdita. ESTAS EMPRESAS ASSOCIAM-SE À LUTA CONTRA A SIDA: PUB MKT 08-01-13 | toLife – Produtos farmacêuticos, S.A. | Av. Forte, 3 | Edif. Suécia III | Piso 1 | 2794-093 Carnaxide | Portugal | T +351 214 342 700 | F +351 214 342 709 | [email protected] | NIPC 506 698 599 | C.R.C. Cascais, sob nº 16 316 | Capital Social 2.436.740,00 euros Queremos desejar-lhe um feliz 2013. partilhamos o gosto pela Vida www.tolife.pt PUB SAÚDE JORNAL de Pública SIDA Portugal regista 1000 novos casos/ano Todos os anos surgem cerca de mil novos casos de SIDA em Portugal. Esta doença, no passado, era considerada mortal, mas, com toda a evolu- ção clínica e terapêutica, passou a ser encarada “com outros olhos” e os doentes ganharam em termos de qualidade de vida. Págs. 8/12 A esperança tem de prevalecer até ao fim… Cancro da mama Págs. 2/3 O RACIONAMENTO NA SAÚDE EQUIVALE A MAIS DESPESA E MENOS DOENTES TRATADOS ANEMIA É POUCO VALORIZADA O cansaço é o principal sintoma subjetivo da anemia Pág. 4 Pág. 6 Medicamentos biológicos: O que são e quais os seus benefícios? Págs. 14/15 news farma Edição

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Jornal de Saúde Pública, 1

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www.newsfarma.pt

Próxima edição fevereiro

Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 2098, de 12 de janeiro de 2013. Venda interdita.

ESTAS EMPRESAS ASSOCIAM-SE

À LUTA CONTRA A SIDA:

PUB

MKT 08-01-13 | toLife – Produtos farmacêuticos, S.A. | Av. Forte, 3 | Edif. Suécia III | Piso 1 | 2794-093 Carnaxide | Portugal | T +351 214 342 700 | F +351 214 342 709 | [email protected] | NIPC 506 698 599 | C.R.C. Cascais, sob nº 16 316 | Capital Social 2.436.740,00 euros

Queremos desejar-lhe um feliz 2013.

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SAÚDEJORNAL de

Pública

SIDAPortugalregista1000 novoscasos/ano Todos os anos surgem cerca de mil novos casos de SIDA em Portugal. Esta doença, no passado, era considerada mortal, mas, com toda a evolu-ção clínica e terapêutica, passou a ser encarada “com outros olhos” e os doentes ganharam em termos de qualidade de vida.

Págs. 8/12

A esperança tem de prevalecer até ao fi m…

Cancro da mama

Págs. 2/3

O RACIONAMENTO NA SAÚDE EQUIVALE A MAIS DESPESA E MENOS DOENTES TRATADOS

ANEMIA É POUCO VALORIZADAO cansaço é o principal sintoma subjetivo da anemia

Pág. 4

Pág. 6

Medicamentos biológicos:O que são e quais os seus benefícios?

Págs. 14/15

news

farma

Edição

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A prevalência do cancro da mama aos cinco anos é superior a 21.000 casos e a taxa de sobre-

vivência (no mesmo período) supera os 85%, apesar de cerca de 5% dos casos se apresentarem no momento do diag-nóstico com metástases à distância e cerca de 10% com tumores localmente avançados.

A maioria dos casos diagnosticados correspon-de a tumores em fase inicial e a taxa de tumores avan-çados tem vindo a dimi-nuir de forma consistente nos últimos anos, “graças ao rastreio organizado, ao papel dos cuidados de saú-de primários e a um maior alerta social para a doen-ça”, explica o Prof. Joaquim Abreu de Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO).

O cancro da mama avançado é uma doença muito complexa e o seu trata-

mento requer a intervenção de espe-cialistas de várias áreas, que atuem de forma sequencial e coordenada para garantir os melhores resultados. “Tratar doentes com cancro da mama avançado pressupõe um enorme desafi o de co-nhecimento científi co e de competência técnica e humana, sendo imprescindível

uma abordagem multidisci-plinar integrada”, frisa.

O tratamento do cancro da mama avançado está pouco padronizado, existe alguma variabilidade clíni-ca e falta de consensos. Joa-quim Abreu de Sousa conta que “a SPO tem tido um pa-pel relevante nesta maté-ria, através da organização de reuniões científicas//consenso e participando ativamente na elaboração

de normas de orientação clínica, para além das atividades de divulgação dos avanços no conhecimento, estimulan-do a investigação básica, translacional

O cancro da mama é o tumor maligno com maior incidência no sexo feminino, que em Portugal se manifesta com 5300 novos casos/ano e é responsável por cerca de 1500 mortes/ano. Dado o extenso impacto familiar, social, económico e cultural, é uma doença que desperta e exige um grande empenhamento do ponto de vista clínico e terapêutico. Atualmente, as doentes com cancro da mama dispõem de opções terapêuticas efi cazes, que permitem “ajudar a combater a doença”, pelo que podem encarar a sua vida com esperança crescente. A confi ança na investigação científi ca e a crença no desenvolvimento de medicamentos que venham responder às necessidades dos doentes deverão ser contextualizadas na valorização dos benefícios e na discussão dos custos.

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Cancro da

mama

e clínica, promovendo as boas práticas, a formação e a educação médica contí-nua em Oncologia”.

CORTES NA SAÚDE VERSUS TRATAMENTOS DE QUALIDADE

Na fase que o país atravessa, e quan-do ouvimos que tem de haver cortes nas despesas da saúde, o que devem esperar os portugueses? Perante a questão, o Dr. Manuel António L. Silva, presidente do Conselho de Administração do Institu-to Português de Oncologia (IPO) de Coimbra, responde: “No Instituto, garantimos que nenhum doente deixará de ser tratado com qualida-de.”

Sobre o facto de os trata-mentos inovadores estarem associados a um acréscimo dos custos e se há condições de poder dar estes medica-mentos aos portugueses, admite que se trata de uma

questão sensível e que normalmente gera muita polémica.

O IPO de Coimbra dispõe de critérios de validação dos medicamentos utiliza-dos no tratamento da doença oncológica e que se consubstanciam nos fundamen-tos científi cos disponíveis. “Para cada in-dicação, e de acordo com as normas de orientação clínica, a Comissão de Farmá-cia e Terapêutica valida criteriosamente cada medicamento antineoplásico”, asse-gura o responsável.

Manuel António L. Silva aproveita para esclarecer um outro ponto: “Se é verdade que os trata-mentos inovadores estão as-sociados a um acréscimo de custos, também é verdade que nem o custo é, por si só, critério que afaste a possibi-lidade de os disponibilizar ao doente, nem o facto de serem inovadores é, por si só, critério para a sua dispo-nibilização.”

No IPO de Coimbra, exis-

Prof. Joaquim Abreu de Sousa

Dr. Manuel António L. Silva

A esperança tem de prevalecer até ao fi m…

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12 de janeiro 2013 | Jornal de Saúde Pública | 3

tem instâncias internas que “têm um pa-pel fundamental ao nível da gestão do medicamento e dos ensaios clínicos, ao combinarem critérios de avaliação que consideramos fundamentais para a toma-da de decisão”.

Vivemos num tempo em que é mui-to difícil prever todas as variáveis que infl uenciam as decisões, não só ao nível político, mas também ao nível das insti-tuições. Para o futuro, um desejo: “Con-tinuar a tomar medidas que permitam ultrapassar eventuais constrangimentos orçamentais.”

TRATAMENTO DO CANCRO DA MAMA MUITO ESTUDADO

“Cerca de 70% dos cancros da mama apresentam expressão de recetores hor-monais superiores a 1%, sendo, por isso, considerados sensíveis à hor-monoterapia”, informa a Dr.ª Helena Gervásio, oncologis-ta no Instituto Português de Coimbra, em Coimbra.

No tratamento hormo-nal, “o tamoxifeno continua com indicação absoluta nas doentes pré-menopáusicas, associado ou não à castra-ção química ou cirúrgica. Nas mulheres pós-meno-páusicas, mantém-se a sua indicação, não obstante os inibidores da aromatase não esteroides (anastrazole e letrozole) que surgiram mais tarde e com efi cácia superior e, por isso, são aconselhados como tratamento de 1.ª linha”, indica.

Apesar da evolução da qualidade de resposta nestes tratamentos, surge, com alguma frequência, resistência. “Dispo-mos, para tratamento de 2.ª linha, de ou-tros inibidores da aromatase (esteroides) e os antagonistas dos recetores de estro-géneos (fulvestrant).”

O estudo realizado em doentes com cancro da mama com recetores hormo-nais (RH) positivos que manifestaram resistência à terapêutica endócrina con-duziu à identifi cação de novas estratégias terapêuticas em que “a utilização de um inibidor do mTOR (everolimus), associado à terapêutica endócrina, resulta numa ini-bição sinérgica da proliferação e induz à apoptose”.

Nos últimos 10 anos, segundo o Prof. Passos Coelho, oncologista no Hospital da Luz, em Lisboa, “foi demonstrado que no tratamento adjuvante a inclusão de inibidores da aromatase, em substituição de ou em sequência com tamoxifeno, resulta no prolongamento da sobrevivência sem re-corrência e, possivelmente, também na sobrevivência global, em comparação com o tratamento anteriormente recomendado de cinco anos de tamoxifeno”.

Resultante da melhor compreensão dos meca-nismos de desenvolvimen-to de resistência adquirida ao tratamento hormonal,

percebeu-se a importância do mediador intracelular mTOR, para o qual existem, hoje em dia, medicamentos inibidores. Ensaios clínicos em doentes com carcinoma da mama que deixaram de responder ao tratamento hormonal demonstraram que “é possível recuperar a sensibilidade do tumor ao tratamento hormonal pela manutenção deste trata-mento, em conjunto com a administração de um medicamento inibidor do mTOR (chamado everolimus)”. E acrescenta: “A atividade clínica foi demonstrada nos es-tudos TAMRAD e BOLERO-2 em doença metastática.”

Já o Prof. Luís Costa, oncologista no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, diz

que os inibidores da mTOR têm sido estudados para o tratamento do cancro e, nes-te contexto, foram testados para reverter a resistência à hormonoterapia. “O everoli-mus apresenta os resultados mais favoráveis”, refere. Tal signifi ca que, “para as doen-tes com cancro da mama que não estavam a respon-der a uma forma de hormo-noterapia, quando fi zeram a 2.ª linha associada ao evero-

limus, duplicaram a expectativa de con-trolo da doença”.

“O everolimus está aprovado pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) e será, entretanto, avaliado pelo Infarmed, no que se refere ao seu valor clínico acrescentado e farmacoeconómi-co para utilização em Portugal. Até lá, o

fármaco só está acessível por autorização especial de introdução, concedida pelo Infarmed, após solicitação para cada caso clínico que seja proposto pelo médico assistente e aprovado pela Comissão de Farmácia e Te-rapêutica da respetiva uni-dade hospitalar.

As vantagens clínicas da utilização deste fármaco em associação com uma 2.ª linha

Dr.ª Helena Gervásio

de hormonoterapia são, na opinião de Luís Costa, “muito evidentes. Na publicação do estudo, os doentes tratados com a combinação terapêu-tica everolimus mais exemes-tano tiveram um tempo mé-dio até progressão da doença de 6,9 meses, enquanto que para o grupo de doentes que só fez o exemestano o mes-mo parâmetro foi avaliado em 2,8 meses”.

Após a recente atualização de dados deste estudo, já com um seguimento de 18 meses, verifi cou-se que o grupo de mulheres tratadas com everolimus e exemestano apresentam uma sobrevi-vência livre de progressão de 11,0 meses, enquanto o grupo tratado com exemes-tano apresenta 4,1 meses. Os resultados descritos, nas palavras do entrevistado, “constituem uma inegável novidade pelo benefício alcançado e pelo facto de ser possível ultrapassar a barreira da resistên-cia à homonoterapia”.

A comunidade científi ca está empe-nhada em compreender como será possí-vel selecionar os doentes ideais para este tratamento, através de testes no tumor e de características clínicas que indiquem o grupo ideal de doentes para uma te-rapêutica que é revolucionária, mas que também tem efeitos adversos e custos.

“Esperamos que este seja mais um dos momentos de esperança. Desejamos tam-bém que a sensatez impere na permissão a um acesso controlado e criterioso dos doentes para este medicamento e que esta realidade do avanço da medicina não se torne numa (des)ilusão”, salienta.

Helena Gervásio lembra também que “os resultados do ensaio clínico BOLERO-2mostraram um aumento signifi cativo, na sobrevivência livre de progressão, nas doen tes com cancro da mama avançado e tratadas com a associação de everoli-mus e exemestano”.

No ensaio clínico TAMRAD, foi compa-rada a associação do everolimus com ta-moxifeno versus tamoxifeno, em doentes com cancro da mama avançado, RH po-sitivo e HER2 negativo, após falência ao tratamento com inibidores da aromatase não esteroide, “mostrando também um aumento signifi cativo na sobrevivência livre de progressão para o grupo de doen-tes que recebeu a associação”.

Todos estes ensaios confi rmam uma nova era terapêutica, com a possibilidade de reverter a resistência tumoral ao trata-mento hormonal e, de acordo com a onco-logista de Coimbra, “estamos crentes que virão a contribuir para melhor controlo desta doença, permitindo a diminuição da resistência ao tratamento hormonal e, des-te modo, possibilitarão o prolongamento da hormonoterapia nas doentes com tu-mores RH positivos, adiando a quimiotera-pia, que tem maior toxicidade”.

Tal como Luís Costa, Helena Gervásio também diz que, “atualmente, e apesar de o everolimus já estar aprovado pela EMA, em Portugal, só pode ser utilizado através do pedido para utilização especial (AUE), quando devidamente justifi cado”.

Com o apoio:

LPCC defende rapidez na aplicação dos tratamentos

“O cancro da mama, assim como outros tipos, pode ser ´trans-

formado` numa doença crónica”, indica o Prof. Carlos Freire de Olivei-ra, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), sublinhando que, depois de serem conhecidas as características biológicas do tumor, os médicos informam as doentes sobre os tratamentos disponíveis. Os estudos científicos disponíveis mostram que “o everolimus é uma alternativa, até mesmo em associa-ção com a hormonoterapia, para tumores sensíveis ao tratamento hormonal”. Mas existe um proble-ma: “A questão relaciona-se com a disponibilidade deste medica-mento.”

Segundo Carlos Freire de Oliveira, os atrasos que se verificam na aprova-ção dos medicamentos por parte do Infarmed e, sobretudo, por parte do Ministério da Saúde de dispo-nibilizá-los a nível hospitalar são extremamente longos. Toda a inter-ferência burocrática que impede a utilização do medicamento de forma rápida “é uma grande limitação à sua utilização”. A LPCC tem como principal objetivo defender os direitos dos doen-tes oncológicos, assim como dos sobreviventes. No entanto, “não tem como missão determinar qual o melhor esquema de tratamento a ser utilizado, mas sim ter esperança que as instituições hospitalares e os próprios médicos, de acordo com a ética, prescrevam o melhor trata-mento”.

Prof. Carlos Freire de Oliveira

Prof. Passos Coelho

Prof. Luís Costa

O cancro da mama avançado é uma doença muito complexa e o seu tratamento requer a intervenção de espe-cialistas de várias áreas.

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ção, para que tenhamos a certeza de que estão a ser utilizados de acordo com a “mais rigorosa evidência científica e sem qualquer desperdício”.

José Manuel Silva adverte ainda que há um conceito em Medicina que tem de ser equacionado, a “imprevisibi-lidade terapêutica”. “Quando administramos um fármaco não sabemos como ele vai reagir. Desta forma, não po-

demos impedir os doentes que iam ter uma boa resposta de a ter”, finaliza.“Toda a ciência económica é ba-

seada na ideia de que é preci-so tomar decisões, sendo que

ao economista cabe, sobretudo, avaliar quais são os critérios mais racionais para fazer essa escolha”, afirma o Prof. Carlos Gouveia Pinto, professor do Instituto Su-perior de Economia e Gestão, explicando que isso acontece porque os recursos são escassos.

Para o economista da saúde, existe alguma “confusão” entre os conceitos “racionar” e “racionalizar”. No seu en-tender, “racionamento não é unicamen-te proibir as pessoas de fazerem algo”, mas também “colocar obstáculos” a que o façam. Assim, no caso da saúde, as ta-xas moderadoras ou as filas de espera são formas de racionamento. Todavia, mais importante do que os conceitos “é a existência de critérios de eficiência e equidade claros”, assim como de bom senso e aná-lise não só dos custos dire-tos, mas também indiretos.

Segundo indica, as op-ções políticas sempre se ba-searam na premissa de que é necessário apostar em determinados programas em detrimento de outros, ou seja, “sempre se estabe-leceram prioridades”. Em Saúde, acontece o mesmo. “A aposta é feita em deter-minadas opções, que pro-longam mais a vida e lhe dão qualidade em detrimento de outras.”

O bastonário da Ordem dos Médicos, Prof. José Manuel Silva, reconhece que os recursos são finitos e que é necessário fazer escolhas. Porém, considera, “estas têm de começar um passo mais atrás”, sobretudo, “quando se define o Orça-

mento Geral do Estado e quando se faz o racionamento pelos vários ministérios e setores”.

Na sua ótica, não pode simplesmen-te atribuir-se uma verba de 7 milhões de euros e pedir para fazer escolhas. O responsável não aceita que lhe di-gam: “Agora para a saúde vão só 5% do PIB, enquanto continuar a haver excesso de deputados e uma frota milionária de automóveis do Estado.” E adverte: “Na Saúde, o racionamento é igual a menos curas, menos doentes tratados, mais mortes e mais despesa.”

JÁ HÁ DOENTES PREJUDICADOS COM O RACIONAMENTO

Enquanto presidente de uma associa-ção de doentes – SOS Hepatites –, Emília Rodrigues afirma que tem vindo a depa-

rar-se com alguns casos de racionamento, provenientes, sobretudo, de uma iniciativa de 14 administrações hospi-talares do Norte que fizeram uma Ata, que, entre outros fármacos, limita a disponibi-lização dos novos inibidores de protease no tratamento da hepatite C.

A responsável admi-te existirem, pelo menos, entre 200 a 300 pessoas à espera da medicação ade-quada. E relata o caso de

um senhor que aguardou pela entrega dos medicamentos de janeiro até se-tembro, tendo entrado em descompen-sação cirrótica e acabado, infelizmente, por falecer.

José Manuel Silva alerta para o facto de, “no caso da hepatite C, as administrações hospitalares estarem a racionar os dois

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Três meses depois de se tornar público um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) que considerava existir um fundamento ético para que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) promova medidas para conter custos com medicamentos, que assegurassem uma “justa e equilibrada distribuição dos recursos”, a discussão continua. Quando estão em causa doenças graves, crónicas e incapacitantes, está certo racionar ou devemos racionalizar?

4 | Jornal de Saúde Pública | 12 de janeiro 2013

Racionamento na saúde equivalea mais despesa e menos doentes tratados

medicamentos mais inova-dores, impedindo que cerca de 30 a 40% sejam curados, e isso tem implicações em termos de despesa”.

Por outro lado, “os hos-pitais que utilizam estes antivíricos estão a fazê-lo com base em autorização especial, ou seja, caso a caso, e isso faz com que a aquisição do medicamen-to seja muito mais cara do que quando este está autorizado e devidamente negociado com os laboratórios farmacêuticos que comercializam os dois fármacos. É um racionamento sem qualquer tipo de ra-cionalização, prejudicando os doentes e o erário público”.

O bastonário admite que estes me-dicamentos para a hepatite C possam ser incluídos no registo nacional da sua utilização para que haja critérios bem definidos e assumidos para a sua utili-zação e para a auditoria da sua utiliza-

Uma das questões admiti-das à discussão pelo pa-

recer do CNECV é a “permis-sibilidade de racionamento por idade”, o que, para José Manuel Silva, é “absolutamen-te inaceitável numa sociedade civilizada”.

O bastonário considera ha-ver tanto para racionalizar que se “torna ainda mais chocante que se vá pela via mais fácil, o racionamento, que não obriga a reorganizar nem a reestruturar nada”.

O responsável é da opinião que ninguém tem o direito de impor o seu conceito ético à população. “Não é aceitável que um pare-cer com esta implicação tenha sido decidido dentro de quatro paredes. A ética numa socie-dade deve ser definida com a participação de todos”, refere.

O responsável entende que há ainda espa-

ço para poupanças noutras áre-as que não a do medicamento, como por exemplo através da agilização de uma central nacional de compras ou da criação de centrais regionais. “O Ministério da Saúde podia poupar dezenas de milhões de euros em economia de escala, não só nos medicamentos, mas também nos consumíveis e nos dispositivos médicos”, justifica.

Segundo refere, só agora é que se está a fazer um registo dos dispositivos médicos no Infarmed. “Até aqui, cada hospital comprava à sua maneira”, afirma, adiantando haver hospitais a comprar medicamentos ao dia.

Para o bastonário, é necessário ter uma visão estratégica e olhar para a Saúde como um setor de negócio importante, porque con-tribui também para a economia do País.

Prof. Carlos Gouveia Pinto Prof. José Manuel Silva

Emília Rodrigues

Relatório de Bruxelas diz que cortes na Saúde podem aumentar a despesa até 16%.

Papa Bento XVI teme que a Saúde se torne um direito apenas de alguns.

BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS:

“A ética numa sociedade deve ser definida com a participação de todos”

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O cansaço é o principal sintoma sub-jetivo da anemia. A população em geral tende sempre a arranjar um

motivo para justifi car o cansaço e quase nunca admite a possibilidade de poder estar com anemia. No entanto, é impres-cindível divulgar que, “para além deste, as alterações de humor, as insónias, a palidez, a queda de cabe-lo, as unhas frágeis e até a fraca apetência sexual são outros sinais que também devem ser valorizados pela população”, explica o Dr. Robalo Nunes, médico imuno -hemoterapeuta e presidente do Anemia Working Group.

A anemia ocorre quan-do existe uma diminuição dos glóbulos vermelhos e, por conseguinte, “o oxigé-nio não é transportado até aos tecidos nas melhores condições”. A doença pode ocorrer devido a causas carenciais (falta de aporte de nutrientes) e, em determina-das situações, também surge no contexto de outras patologias, como é o caso, por exemplo, das neoplasias e das doenças crónicas.

Neste momento, quando a popula-ção fala de anemia banaliza um pouco o conceito, mas, no fundo, não possui a in-formação necessária sobre os problemas que dela podem advir. Esta diminuição

dos glóbulos vermelhos, por si só, pode ser um sinal muito importante da existên-cia de um problema grave. Atualmente, “é um importante problema de saúde públi-ca porque a prevalência, mesmo nas so-ciedades civilizadas e industrializadas, é

muito elevada”, alerta Robalo Nunes.

A Organização Mundial de Saúde revela que “cerca de 25% da população mun-dial poderá ter algum tipo de anemia, sendo que metade é carenciada”. No entanto, é necessário chamar a atenção para o facto de que “a anemia ferropénica (por defi ciência de ferro) é a mais prevalente. Nos dias de hoje, este tipo de ane-mia já pode ser tratado com

efi cácia, em tempo útil e com a obtenção de bons resultados”, revela o especialista.

ANEMIA WORKING GROUP: NOVA ASSOCIAÇÃO À DISPOSIÇÃO DE MÉDICOS E DOENTES

Para tentar ajudar a “combater este problema de saúde pública”, foi criado no passado dia 5 de dezembro o Anemia Working Group, também denominado Associação Portuguesa para o Estudo da Anemia. Especificamente, trata-se de um grupo de trabalho constituído por vários médicos de diversas especia-

Os portugueses já ouviram falar de anemia, mas no fundo não conhecem as causas que podem levar ao apa-recimento da mesma. Muitas vezes, o conceito é banalizado e, em determinadas situações, podem surgir con-sequências graves. Até ao momento, não existem dados efetivos sobre a incidência e prevalência da anemia em Portugal. Mas este cenário vai mudar. O Anemia Working Group (uma associação recém-criada no nosso país que visa aumentar o conhecimento sobre as anemias) vai desenvolver um estudo epidemiológico que pretende obter um retrato nacional concreto da prevalência da doença, para posteriormente ser possível uma melhor defi nição de estratégias de abordagem. Outro foco importante para este grupo consiste na realização de ações que posicionem a anemia na plataforma de importância que tem, sensibilizando e alertando para este impor-tante problema de saúde pública.

6 | Jornal de Saúde Pública | 12 de janeiro 2013

Anemia é pouco valorizada

lidades que partilham o mesmo interes-se: a anemia.

Segundo Robalo Nunes, “o grande objetivo desta união passa, fundamen-talmente, por promover, de uma forma organizada, concertada e cumulativa, a realização de estudos e a formação e, ao mesmo tempo, definir estratégias para melhorar a abordagem ao proble-ma”.

E reforça: “O Anemia Working Group pretende colocar a anemia na plataforma de importância que tem e que, lamenta-velmente, nem sempre lhe é atribuída.”

CRIADA ASSOCIAÇÃO PARA O ESTUDO DA DOENÇA

Uma das primeiras iniciativas do Anemia Working Group passa pelo desenvolvi-

mento de um estudo epidemiológico sobre a prevalência da anemia em Portugal, relativa-mente à qual não existem registos nacionais. A avaliação já arrancou, sendo os primeiros resultados divulgados no fi nal do primeiro trimestre deste ano.

“Será, assim, possível ter uma noção mais clara e efetiva do problema em Portugal, es-pecialmente junto da população adulta”, pos-sibilitando verifi car a existência de eventuais assimetrias na distribuição do problema. “Só

depois de ser efetuado o levantamento é que se podem delinear estratégias para se atuar em conformidade.”

Para além da quantifi cação do problema, o estudo visa ainda fornecer informação acer-ca dos tipos de anemia mais frequentes.

Apesar de existirem outras sociedades cien-tífi cas que também estão devidamente alerta-das para os problemas inerentes à anemia, “a criação deste grupo de trabalho vem assim col-matar uma lacuna, dado que, até ao momento, não havia uma dedicação extrema em termos individuais e públicos”, conclui Robalo Nunes.

Estudo epidemiológico sobre a prevalência da anemia em Portugal

Nesta perspetiva, a ideia passa pela cria-ção de um centro de referência de estu-dos e respetiva divulgação e, por outro lado, por fazer um alerta motivacional dirigido à população em geral, para que esta possa passar a valorizar determina-dos sintomas.

Dr. Robalo Nunes

CONFIE NA EXPERIÊNCIArodapé institucional.indd 1 12/11/21 17:01

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A inovação em Portugal, na conjun-tura atual, é possível? Ao respon-der à questão, a Prof.ª Maria He-

lena Cardoso, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), afirma que “não podemos permitir que a racionalização das despesas seja um obstáculo à inova-ção”. É cada vez mais importante diminuir o intervalo de tempo entre a descoberta científica e a sua aplicação prática, para que “a comunidade e, neste caso, os doen-tes possam beneficiar rapidamente da inovação científica, sem tempos de espe-ra, que podem significar mortes e compli-cações irreversíveis evitáveis”.

Relativamente ao facto de a conjuntu-ra económica poder criar limitações no diagnóstico, seguimento e tratamento da diabetes, a especialista esclarece que há evidência de que “os tratamentos e as terapêuticas que melhorem o controlo glicémico e re-duzam as complicações da diabetes diminuirão signifi-cativamente os gastos com a saúde”.

Numa altura de grandes restrições orçamentais, é importante que “as atitudes custo/poupadoras e custo/ /efetivas sejam reconheci-das, divulgadas e implemen-tadas”. Ao seguir a linha de

raciocínio, Maria Helena Cardoso conside-ra que “o bom controlo da diabetes é uma

medida custo-poupadora e devem ser colocados à dis-posição dos clínicos todos os meios necessários para alcançar o objetivo”.

Para se tentar “combater” a diabetes no nosso país, de acordo com a endocrinolo-gista, têm de ser tomadas medidas que contribuam para a prevenção e o con-trolo da obesidade e, por-tanto, promotoras de uma

Com o aproximar da realização do XIV Congresso Português de Endocrino-logia e da 64.ª Reunião Anual da SPEDM, a decorrer de 24 a 27 de janeiro, no Porto, a Prof.ª Maria Helena Cardoso, presidente da SPEDM, defende que as limitações económicas não podem “prejudicar” os doentes. Tem de con-tinuar a haver empenhamento na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento eficaz. Embora os mecanismos de controlo das despesas condu-zam à diminuição dos custos com a doença, tem de se assegurar que esses mesmos controlos não constituam uma obstrução ao tratamento eficaz.

“Racionalização das despesasnão pode ser obstáculo à inovação”

alimentação saudável e estimuladoras de uma vida ativa, promovendo a atividade física. “A participação em qualquer forma de desporto deve ser fortemente estimu-lada.”

Enquanto não for travado o aumento da obesidade, “a incidência da diabetes tipo 2 não diminui, pois, são duas doen-ças fortemente associadas”, alerta.

Estes são alguns dos temas que irão estar em debate no XIV Congresso Portu-guês de Endocrinologia e na 64.ª Reunião

Anual da SPEDM, a decorrer, de 24 a 27 de janeiro, no Porto. Efetivamente, trata-se de um momento em que os endocrinolo-gistas portugueses e sócios das ciências afins se podem reunir, apresentar os seus trabalhos e planear formas de coopera-ção entre os diversos centros.

São esperados cerca de 600 congres-sistas, que terão oportunidade de assistir à apresentação das últimas novidades e de participar em vários debates, como é o caso, por exemplo, do simpósio “Cola-boração Angola Portugal: oportunidades de cooperação”, que tem como objetivo estimular a realização de projetos co-

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PROF.ª MARIA HELENA CARDOSO, PRESIDENTE DA SPEDM:

Acerca da realização do Curso de Insulinote-rapia na Diabetes Tipo 2, patrocinado pela

Sanofi, no âmbito do XIV Congresso Português de Endocrinologia e da 64.ª Reunião Anual da SPEDM, Maria Helena Cardoso conta que a rea-lização do mesmo visa dotar os clínicos das com-petências que lhes permitam melhorar o uso dos recursos para o controlo da diabetes, com o objetivo de reduzir as suas complicações.

“A insulinoterapia representa um meio que, se for bem utilizado, tem um papel im-portantíssimo no bom controlo da diabetes.” No entanto, “tem de ser aplicado mais preco-cemente, com mais à vontade, seguindo uma criteriosa seleção do tipo de insulina a usar, nos tempos e doses mais adequadas”.

Este curso destina-se a todos os médicos que “lidam com a diabetes, nomeadamente colegas da Medicina Geral e Familiar que têm um papel fundamental na adesão dos doentes à insulinoterapia, uma terapêutica que pode salvar capital de saúde se for iniciada na altura adequada, sem atrasos causadores de danos, na maior parte das vezes, irreversíveis”.

Curso de Insulinoterapia na Diabetes Tipo 2

muns aos dois países, reforçando os laços já existentes.

“Realizar-se-ão ainda simpósios con-juntos com outras sociedades científicas portuguesas, como é o caso da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução e da Sociedade Portuguesa de Oncologia, com vista a aumentar a cooperação entre as diferentes sociedades, estimulando a realização de projetos científicos, a nível nacional, com maior impacto na comuni-dade científica, pela sua dimensão e re-presentatividade.”

Prof.ª Maria Helena CardosoPUB

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Com uma incidência de mil novos ca-sos por ano em Portugal, dos quais 60% são de transmissão heteros-

sexual, o VIH/SIDA continua a ser, apesar do avanço da ciência, uma epidemia que deve, acima de tudo, ser prevenida.

Em 30 de novembro de 2012 estavam notifi cados 42.448 casos de infeção por VIH, sendo que 43,5% correspondiam a transmissão heterossexual e 13,8% à ca-tegoria de transmissão homo/bissexual, 37,9% diziam respeito a utilizadores de drogas intravenosas e em 0,8% dos casos a transmissão foi de mãe para fi lho. Nes-sa altura, estavam declarados 17.337 ca-sos de SIDA, o que representa 40,8% dos casos de infeção por VIH.

De acordo com o Prof. Rui Sarmento e Castro, presidente da Associação Portugue-sa para o Estudo da SIDA, as campanhas de educação para a saúde são muito importantes e devem realizar-se com alguma fre-quência. “Já fi zemos muitas e foram produtivas. Contudo, e porque a infeção passou a ser crónica, abrandámos um pou-co essas ações de informação”, refere. E exclama: “Agora, só se fala nos meios de comuni-cação social sobre a doença a propósito do Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, porém, é preciso abordá-la mais e aler-tar para este problema.”

Prevenção é, sem dúvida, a palavra--chave e é importante que todos estejamos informados acerca da doença, das suas consequências e das formas de a evitar.

“Muitas pessoas pensam que, por existi-rem agora medicamentos para a SIDA, po-dem correr riscos, ter um comportamento mais promíscuo e depois tomar os com-

primidos. Isto é totalmente errado, porque nem sempre os fármacos resolvem os pro-blemas”, indica Rui Sarmento e Castro.

ANTIRRETROVÍRICOS CUSTAM A PORTUGAL CERCA DE 200 MILHÕES DE EUROS

Os números são, de facto, elevados, tendo algum impacto tanto a nível eco-nómico como social. “Os medicamentos antirretrovíricos custam a Portugal mais de 200 milhões de euros, representando uma fatia importante dos orçamentos dos hospitais que tratam estes doentes”, afi rma Rui Sarmento e Castro.

E desenvolve: “No entanto, podemos dizer que o investimento nesta área é dos mais custo-efetivos. Isto porque passá-mos de uma infeção aguda e mortal para crónica com outra qualidade de vida e em

que os doentes sobrevivem muito tempo.”

Do ponto de vista social, este investimento permite que, ao terem qualidade de vida, os doentes possam continuar a trabalhar. Além disso, estamos também a di-minuir a transmissão, tanto por via sexual como por via da toxicodependência.

“Reduzimos há muitos anos, ou praticamente re-solvemos, o problema das

transmissões pelas transfusões de san-gue e diminuímos muito a transmissão de mãe para fi lho”, explica, defendendo ser importante que se insista agora nos rastreios mais generalizados. “Sabemos que se rastrearmos pelo menos grupos de pessoas, onde pensamos que possa haver infeção pelo VIH, e começarmos a tratá-las mais cedo, será melhor para os

Prevenção é a palavra-chave no que diz respeito ao controlo do VIH/SIDA em Portugal – patologia que soma ainda cerca de mil novos casos por ano. No âmbito do Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, assinalado a 1 de dezembro, profi ssionais médicos, associações e doentes falam um pouco desta epidemia, que passou de uma infeção grave e mortal para uma doença que reclama agora o estatuto de crónica.

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SIDA:

infetados e também para reduzir a cadeia de transmissão do vírus.”

Quando questionado acerca do bene-fício da realização de um rastreio generali-zado para o VIH em Portugal, o Dr. Eugénio Teófi lo, do Serviço de Medicina Interna do Hospital dos Capuchos, em Lisboa, afi rma que é de todo o interesse detetar as pessoas infetadas o mais cedo possível.

“Atualmente, preconiza--se o início mais precoce do tratamento, de modo a que os doentes possam benefi -ciar de todo o seu potencial”, explica, mencionando que, “infelizmente, quando fa-zem o teste, muitas pessoas já estão doentes ou têm as defesas do sistema imunitá-rio muito deterioradas”.

Por outro lado, o especia-lista nota que, em termos de Saúde Pública, é também im-portante detetar precocemente as pessoas infetadas, de forma a reforçar as medidas de prevenção e a impedir novas infeções.

MAS COMO SÃO FEITOS OS TESTES VIH/SIDA?

Existem vários tipos de testes para o VIH. A maioria efetua-se com sangue, mas alguns podem realizar-se com saliva. Se-gundo Eugénio Teófi lo, qualquer médico pode pedir esses testes. Contudo, habi-

tualmente, as pessoas sentem-se mais confortáveis se o fi zerem num local em que não sejam conhecidas, sendo os Cen-

tros de Aconselhamento e Deteção Precoce VIH (CAD) uma boa opção para quem deseja fazer o teste anoni-mamente.

Segundo o médico, quan-do há infeção por VIH, o or-ganismo produz anticorpos contra o vírus, que não são capazes de o eliminar. Os testes que se efetuavam ini-cialmente detetavam esses mesmos anticorpos no san-gue. “Um resultado positivo

signifi cava que a pessoa possuía esses an-ticorpos e que estava infetada.”

O problema é que este processo não ocorre de imediato à infeção, sendo ne-cessárias várias semanas para que os tes-tes se tornem positivos. Neste período de tempo, o teste pode ser negativo, apesar de a pessoa estar infetada”, explica.

E esclarece: “Os atuais, denominados testes de quarta geração, além de dete-tarem os anticorpos no sangue, detetam

Prof. Rui Sarmento e Castro

Dr. Eugénio Teófi lo

Portugal regista mil novos casos por ano

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também uma proteína do próprio vírus, que é produzida em excesso no processo de multiplicação do VIH e libertada para o sangue. Es-tes novos testes tornam-se positivos muito mais cedo (2-3 semanas), após a pes-soa ter sido infetada.”

Um resultado positivo signifi ca que a pessoa tem o vírus no corpo e pode transmiti-lo através das re-lações sexuais e do sangue. Contudo, não signifi ca que esteja doente. “Para se dizer que uma pessoa tem SIDA é necessário que tenha determinados tipos de patologias, além de estarem infetadas com VIH.”

TERAPÊUTICA ANTIRRETROVIRAL: MAIS SIMPLES, MENOS TÓXICA

Verificaram-se, nos últimos anos, muitos avanços no que toca à terapêu-tica, que consiste em administrar vários tipos de medicamentos capazes de im-pedir a multiplicação do vírus dentro das células do sistema imunitário e, para Eugénio Teófilo, “com os medicamentos que irão surgir, poderá ser possível al-

terar a forma como tratamos as pessoas infetadas”.

A adesão ao tratamento é fulcral para o seu sucesso. Eugénio Teófi lo explica que, se o doente começar a falhar as tomas da medicação, o VIH pode facilmente tornar--se resistente aos fármacos.

“Nesta situação, é necessário mudar o tra-tamento, porém, o vírus torna-se, por vezes, resistente não só aos medicamentos que o doente está a tomar incorretamente, mas também àqueles que nunca experimentou, diminuindo drasticamente as opções de tratamento disponíveis”, menciona.

E exclama: “Paradoxalmente, é o próprio Sistema Nacional de Saúde (SNS) que agora promove a má adesão ao tratamento. Tem havido com frequência rotura de stock de antirretrovirais nos hospitais, fornecendo--se medicação para períodos inferiores a um mês (às vezes, só para uma semana), o que difi culta muito a adesão ao tratamen-to, devido ao custo das deslocações e aos problemas laborais, entre outras razões.”

CURA: OBJETIVO PERSEGUIDO, PORÉM, AINDA NÃO ALCANÇADO

“O conhecimento científi co sobre a in-feção VIH conseguido nos últimos 30 anos constitui um dos maiores sucessos da inves-tigação médica.” Quem o afi rma é o Prof. Saraiva da Cunha, presidente da Sociedade Portuguesa de Doenças Infecciosas e Micro-biologia Clínica, referindo que, neste curto espaço de tempo, conseguimos transfor-mar uma doença letal para quase todos os doentes numa “nova doença”, que reclama agora o estatuto de crónica.

“Este feito foi alcançado como resultado da investigação sobre a etiologia da doen-ça, os mecanismos imunopatogénicos do VIH e, mais recentemente, sobretudo pelos enormes sucessos conseguidos no domínio da terapêutica antirretrovírica”, observa.

A cura da doença é, indubitavelmente, um objetivo perseguido. Contudo, e apesar

dos enormes avanços, ainda não alcançado. Para Saraiva da Cunha, as razões são várias e devem-se, essencialmente, à capacidade de latência do ví-rus em espaços anatómicos de difícil esterilização, comum-mente denominados “santu-ários naturais”. “Logo que se encontre um meio de fazer ex-purgar estes santuários dos ví-rus aí acantonados estaremos em condições de prenunciar a cura da doença”, explica.

REDE DE REFERENCIAÇÃO HOSPITALAR DE INFECCIOLOGIA: “UMA ESPÉCIE DE NADO-MORTO”

Ao ser questionado acerca do número de profi ssionais da área, Saraiva da Cunha res-ponde julgar que “atingimos um ponto de equilíbrio em que o número de profi ssionais envolvidos nos cuidados de saúde aos doen-tes infetados por VIH é satisfatório. Haverá, porventura, algum desequilíbrio na sua dis-tribuição pelo território nacional”. E salienta: “Estou a referir-me aos cuidados em situa-ção de doença aguda ou dos prestados ao

doente que se encontra com a doença con-trolada sob terapêutica antirretrovírica.”

O mesmo não se pode, na sua opinião, dizer dos cuidados continuados ou a do-entes terminais, bem como daqueles com problemas socioeconómicos, onde as ca-rências ainda se fazem sentir.

“Necessitamos, com a máxima urgência, de ver clarifi cado quais os pro-fi ssionais de saúde e as estru-turas que precisamos para esta área”, indica Saraiva da Cunha.

Segundo refere, a rede de referenciação hospitalar de Infecciologia é “uma espécie de nado-morto”, que nunca foi implementada. “Com a re-formulação em curso da carta hospitalar nacional, terá obri-gatoriamente de ser revista e atualizada. Julgo que esta é uma oportunidade única para que seja construída em estreita interação com o Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA, que pretende, entre outras medi-das, criar uma rede nacional de referencia-ção para estes doentes”, comenta.

CONTINUAM A SER MUITOS OS DESAFIOS DAS PESSOAS COM VIH/SIDA

“Viver, hoje, com VIH não é como há 20 ou 30 anos e em Portugal é muito diferente

do que noutras partes do Mundo. Porém, continuam a ser muitos os desafi os que se colocam às pessoas que vivem com o VIH e que por esta infeção são afetadas, como é o caso das famílias e dos amigos”, indi-ca Andreia Pinto Ferreira, da Associação SER+, referindo que estes começam logo pelo processo de aceitação do diagnósti-

co, passando por aprender a lidar com as outras pessoas e, por fi m, com o tratamento e as suas consequências.

“Os medicamentos dis-poníveis e os esquemas te-rapêuticos recomendados proporcionam, aos que a eles têm acesso, uma vida mais longa e com maior qua-lidade. Contudo, os efeitos secundários e a própria ha-bituação aos fármacos pode ser difícil de gerir”, explica.

E acrescenta: “Até agora, o SNS tem asse-gurado, de forma geral, esse acesso, bem como orientações terapêuticas corretas e adequadas. Mas há incertezas quanto ao futuro.”

Para Andreia Pinto Ferreira, a popu-lação não está ainda devidamente in-formada acerca da doença e, nesse sen-tido, a SER+ tem previsto o objetivo de promover atitudes e condutas favoráveis à integração e aceitação de pessoas se-

Prof. Saraiva da Cunha

Diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA, desde o passado dia 9 de março,

o Dr. António Diniz refere que o mesmo, concluído na altura em que assumiu a sua direção, tem por base seis objetivos.

“Em primeiro lugar, pretendemos reduzir em 25% o número de novas infeções no período de 2012 a 2016. Em segundo, reduzir para 35% os diagnósticos tardios (os dados atualmente disponíveis indicam que, em Portugal, essa percenta-gem é de 65%). Em terceiro lu-gar, pretendemos baixar em 50% o número de novos casos de SIDA, tal como das mortes associadas”, enumera o responsável.

E continua: “Adicionalmente, queremos aumentar para 95% a proporção de indivíduos que, segundo os inquéritos, realizados perio-dicamente, referem usar preservativo em re-lações sexuais ocasionais – os dados de 2010 apontam para 84%. É também nossa intenção

eliminar a transmissão da infeção por VIH da mãe para o fi lho até 2016. Em Portugal, os

dados do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e do Grupo Português de Pediatria para o Estudo da Infeção VIH na Criança apontam para uma proporção de transmissão pró-xima de 2%.”

Questionado acerca das áreas de intervenção prioritárias, An-tónio Diniz refere que há uma área transversal, que funcionará como a base sobre a qual as res-tantes assentam e que passa por conseguir montar um sistema de

informação e de conhecimento epidemiológico mais alargado, consistente e fi ável.

“Para podermos traçar estratégias, defi nir objetivos, monitorizar a nossa atuação, ava-liar se existem desvios e fazer correções de forma a conseguir atingir ou mesmo superar metas, necessitamos de ter a maior e melhor informação possível”, conclui.

Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA

Dr. António Diniz

Congresso Nacional sobre SIDA Realizou-se, de 12 a 15 de dezembro, no Hotel Sheraton Porto, o XI Congresso Nacional de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica e IX Congresso Nacional Sobre SIDA. “De acordo com Rui Sarmento e Castro, o objetivo fundamental foi reunir centenas de profi ssionais que trabalham com doentes com SIDA. “Jun-támos, durante três dias, pessoas que, de alguma forma, se interessam por estas temáticas, difundir conhecimentos e trocar opiniões e experiên-cias, para que se fale mais sobre SIDA e para que todos estejamos mais preparadas para atender os doentes.”

Andreia Pinto Ferreira

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ropositivas para o VIH em diversos con-textos, assegurando a defesa dos seus direitos e contribuindo para que a sua inserção nestes meios não dependa da sua condição específi ca de saú-de. Além disso, reforça a im-portância das Organizações Não Governamentais (ONG) ensinarem as pessoas que vivem com a infeção pelo VIH a saber identifi car e a agir em situações de discri-minação.

A SER+ é uma associação sem fi ns lucrativos que se de-dica à infeção pelo VIH. Tem como visão que Portugal seja um país que respeite os direitos humanos das pessoas que vivem com esta infeção, garantindo o acesso à prevenção, tratamento, apoio e cuidados de saúde.

CONJUNTURA SOCIAL CONDUZ A CONSTRANGIMENTOS AO NÍVEL DO INVESTIMENTO SOLIDÁRIO

Maria Eugénia Saraiva, da Liga Portu-guesa Contra a SIDA (LPCS), é da mesma opinião e considera que a infeção pelo VIH/SIDA tem um grande impacto na vida da maioria das pessoas, pelo que se torna “imprescindível” não só a promo-ção do bem-estar físico, possibilitando tratamentos cada vez mais efi cazes e o acesso a cuidados adequados, como também a promoção do bem-estar psi-cológico.

“Infelizmente, o estigma e o precon-ceito associados ao VIH/SIDA subsistem, afetando a vida de muitas pessoas que vi-vem com a infeção e colocando sérios en-traves ao nível da prevenção”, menciona Maria Eugénia Saraiva, observando que,

por isso, continua a fazer todo o sentido colocar o respeito pelos direitos humanos

no centro da resposta global ao VIH/SIDA.

Relativamente às difi cul-dades sentidas pelas ONG no apoio às pessoas com VIH/SIDA, Maria Eugénia Sa-raiva afi rma que a atual con-juntura social adversa, muito infl uenciada pelo impacto da crise económica, condu-ziu a constrangimentos ao nível do investimento soli-dário (individual, coletivo e empresarial).

“Estes fatores refl etem-se na sustenta-bilidade das ONG que, além de terem de lidar com o aumento do número de pes-soas que recorrem aos seus serviços, con-frontam-se com difi culdades na obtenção de donativos”, constata.

A LPCS é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, de utilidade públi-ca, sem fi ns lucrativos, fundada em 1990 e reconhecida como ONG desde 2006, que tem por objeto o apoio às pessoas infeta-das e afetadas pelo VIH/SIDA.

A Liga Portuguesa Contra a Sida organizou, entre os dias 28 de novembro e 2 de de-

zembro, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, a Exposição Solidária “100 Contra a Sida”. Esta iniciativa reuniu obras de 100 ar-tistas portugueses de diversas áreas, como a pintura, a escultura, a fotografi a, a música, o cinema e a moda. O grande objetivo passou

por assinalar o Dia Mundial da Luta Contra a Sida e, ao mesmo tempo, os fundos anga-riados reverteram a favor da Unidade Móvel de Rastreios “Saúde+Perto”. Foram várias as personalidades que fi zeram questão de mar-car presença no evento, entre as quais se des-tacaram Maria Cavaco Silva, Maria Eugénia Saraiva e Maria Barroso.

Exposição Solidária “100 Contra a Sida”

Maria Eugénia Saraiva

Contactos:

SER+Rua André Homem, Edifício SER+, n.º 602750-783 CascaisTelefone: 21 481 41 30E-mail: [email protected]: www.sermais.pt

LPCSRua do Crucifixo, n.º 40 – 4.º Esq. 1100-183 LisboaTelefone/Fax: 21 347 93 76E-mail: [email protected]: www.ligacontrasida.org

Otimização dos novos re gimesterapêuticos e prevençã o da doença

NECESSIDADES PREMENTES

“Desde que a infeção VIH/SIDA evoluiu para uma doença crónica, o alvo da atenção clínica passou a ser a otimização dos novos regimes terapêu-ticos, com ênfase na simplifi cação e numa menor toxicidade e melhor tolerância.”

Esta é uma afi rmação da Dr.ª Rosário Serrão, responsável pelo Hospital de Dia/Clínica de Ambulatório VIH

do Serviço de Infecciologia do Hospital de São João, no Porto, que referiu ainda que o acompanhamento destes doentes tem, atualmente, diversas vertentes, que im-põem ao clínico novas res-ponsabilidades.

“A promoção e o contro-lo da adesão ao tratamento, a monitorização e correção dos efeitos adversos à tera-pêutica, o controlo metabó-lico, a par do virológico, são exigências fundamentais em doentes cuja idade média tem vindo a aumentar”, observa.

Por outro lado, o Dr. Fernando Mal-tez, diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital de Curry Cabral, em Lisboa, indica que, tendo em conta o eleva-do grau de eficácia já atingido com os antirretrovíricos disponíveis, as atuais necessidades passam por “encontrar fármacos cómodos de administrar e possíveis de coformular em comprimi-dos únicos”.

Na sua opinião, o grande desafi o, ago-ra, é apostar na prevenção. “Tendo em conta a efi cácia da medicação, devemos investir no sentido de tentar controlar o número de novos casos de infeção”, sa-lienta, mencionando, tam-bém, que há sempre melho-rias a efetuar no que confere ao apoio clínico multidisci-plinar aos doentes e, ainda, no acesso aos cuidados de saúde e aos apoios sociais.

Para a Dr.ª Patrícia Pa-checo, diretora do Serviço de Infecciologia do Hospi-tal Prof. Doutor Fernando da Fonseca, na Amadora, um dos grandes desafios para as estruturas de saúde é a capacidade de conseguir disponibi-lizar, de forma adequada, a abrangência de cuidados de que os doentes neces-sitam.

“Em Portugal, o acompanhamento destas pessoas mantém-se quase que exclusivamente em consultas hospita-

lares de especialidade, porém, numa população crescente de utentes com pa-tologias crónicas e de idade crescente,

teremos de estruturar uma articulação efetiva com os cuidados de saúde primá-rios, numa partilha de com-petências benéfi ca para to-dos”, considera.

O diagnóstico precoce, a capacidade de retenção dos doentes no sistema de saúde, uma adesão ade-quada ao tratamento e a realização de rastreios à po-pulação e de campanhas de educação para a saúde são,

de forma geral, algumas das mais impor-tantes medidas, apontadas por estes três médicos, a colocar em prática com os ob-jetivos de melhorar a qualidade de vida das pessoas com VIH/SIDA e de controlar esta epidemia.

A PRESCRIÇÃO MÉDICA E A SUSTENTABILIDADE DO SNS

Ao serem questionados sobre de que forma pode o clínico contribuir para a ga-rantia do acesso universal à terapêutica, mantendo a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Rosário Serrão salienta que a preocupação fundamen-tal dos médicos é a saúde dos doentes, estando estes sempre em primeiro lugar.

“O clínico tem de conhecer os esquemas terapêuticos recomendados para decidir, perante um doente concre-to, qual é o esquema que melhor se adapta a ele”, es-clarece.

Fernando Maltez men-ciona que é da responsa-bilidade do médico ga-rantir que o doente está a ser tratado com a melhor medicação possível, com base nos conhecimentos

atuais. “O clínico tem de tratar o doente com o melhor medicamento que tem à disposição. No entanto, entre opções de eficácia similar, não há razão para não optar pela mais económica”, nota, acrescentando que, para garantirmos que o tratamento antirretroviral vai es-

Dr.ª Rosário Serrão

Dr. Fernando Maltez

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Otimização dos novos re gimesterapêuticos e prevençã o da doença

NECESSIDADES PREMENTES

tar, no futuro, disponível para todos, é fundamental investir na prevenção, pois, só assim se vai reduzir o número de casos.

Patrícia Pacheco é da opinião de que, hoje em dia, “o médico tem de pen-sar no doente, mas também no custo da sua prescrição” e, perante dois fármacos igualmente eficazes, opta muitas vezes pelo menos oneroso.

“Embora esta consciencialização dos custos seja importante, pode virtual-mente condicionar a prescrição médica, a qual deveria permanecer isenta”, nota. E conclui: “Caminharmos para nor-mas gerais de prescrição institucionais e/ou nacio-nais talvez seja uma das opções a explorar, porque retira dos médicos, indivi-dualmente, a pressão adi-cional dos custos e remete os aspetos financeiros, em exclusivo, aos órgãos de gestão.”

O ETERNO PRECONCEITO

“O estigma nunca irá de-saparecer, uma vez que está associado ao preconceito e à não aceitação do outro, que é diferente. Sendo esta uma doença ligada a com-portamentos socialmente não normativos, e saben-do-se que a mesma pode conduzir à morte e que é

transmissível através de relações sexuais(criação de vida), é difícil que este pre-conceito desapareça rapidamente, afirma Amílcar Soares, presidente da

Associação Positivo e por-tador do vírus há mais de 25 anos.

Segundo menciona, os problemas atualmente en-frentados pelas pessoas infetadas são exatamente os mesmos que se apli-cam à população em ge-ral, agravados pelo facto de serem portadores de VIH/SIDA, que influencia, por exemplo, a escolha de

candidatos em resposta a um empre-go.

Além disso, existe uma enorme difi-culdade na obtenção dos medicamen-

tos, tendo os doentes de se deslocar ao hospital mais de uma vez por mês. “Esta situação é grave nos casos em que a pessoa tem de justificar a sua repetida ausência junto da entidade patronal”, indica.

Para Amílcar Soares, a “ideia falacio-sa” de que esta doença já não é mor-tal levou a população a acreditar que a mesma não é perigosa, uma vez que existe já muita medicação indicada. “Se é verdade para alguns, não o é para ou-tros, tendo em conta que, em Portugal, continuam a morrer pessoas devido à SIDA ou a outras doenças oportunistas correlacionadas.”

Para Luís Mendão, presidente do GAT e portador do vírus, a maior parte dos desa-

fi os enfrentados pelas pessoas infetadas “não está relacionada com a dinâmica da infeção pelo VIH, propriamente dita, mas sim com uma série de conven-ções sociais e constrangimen-tos económicos que se colocam presentemente”.

Estes obstáculos prendem--se, segundo menciona, com o facto da dispensa dos medica-mentos ser feita em períodos de tempo cada vez mais curtos e com a difi culdade que sen-tem em justifi car as inúmeras ausências do emprego, havendo, desta forma, o risco de as pessoas não aderirem convenientemente à terapêutica. “Adicionalmente, os constran-gimentos atuais colocam também barreiras à introdução de medicamentos inovadores no mercado português”, refere.

Por último, aponta o estigma e a discrimi-nação ainda presentes na nossa sociedade em relação a esta infeção como um dos principais impedimentos para que as pessoas infetadas pelo VIH possam ver respeitados os seus direi-tos como cidadãos de pleno direito.

No que confere aos avanços da terapêu-tica, Luís Mendão destaca como um dos

principais a capacidade de identifi cação dos fármacos responsáveis por efeitos me-tabólicos que conduziam ao aparecimento da lipodistro-fi a, que, além de provocarem problemas de autoestima, era estigmatizante, já que muitas pessoas associavam determi-nadas alterações morfológi-cas à infeção pelo VIH.

Quanto ao futuro, o pre-sidente do GAT diz que “uma das certezas que temos neste

momento, fruto da evolução dos tratamentos e da qualidade e esperança de vida que estes trazem, é o envelhecimento da comunidade de pessoas infetadas pelo VIH. Esta realidade traz vários desafi os, pois, à medida que as pessoas vão envelhecendo naturalmente a sua situação clínica altera-se”.

A maior novidade prende-se, na sua opinião, com a investigação da cura que, apesar de a maioria das estratégias ex-perimentadas ser ainda hipotética, traz “muita esperança para o futuro da Huma-nidade”.

Situação económica coloca obstáculos aos doentes

Dr.ª Patrícia Pacheco

Luís Mendão

Amílcar Soares

Dr.ª Rosário Serrão: “O clínico tem de conhecer os esquemas terapêuticos recomenda -dos para decidir, perante um doente concreto, qual é o esquema que melhor se adapta a ele.”

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– Nas décadas de 80/90, ouvíamos falar de SIDA como uma doença mor-tal. O que mudou desde então?

Manuela Doroana (MD) – Até 1997, os tratamentos eram escassos, compostos por um ou dois fármacos, e nem sempre utilizados adequadamente, ou seja, os doentes já estavam muito imunodepri-midos e, por esse motivo, a sobrevivência era baixa. A partir de 1997, com a introdu-ção de uma nova classe terapêutica e o início da utilização de três fármacos asso-ciados, a resposta ao tratamento passou a ser completamente diferente, fazendo com que os doentes ainda só portadores do vírus não progredissem para doença. Com o aparecimento de novos fármacos, mais convenientes e mais potentes, e a compreensão dos doentes para o cum-primento rigoroso na toma dos fármacos, toda a evolução da doença se modifi cou, com uma menor mortalidade e, hoje em dia, a sua esperança de vida é semelhante à dos indivíduos não infetados.

– Em que mudou a terapêutica des-de que os primeiros casos foram diag-nosticados?

Eugénio Teófi lo (ET) – Quando surgi-ram os primeiros casos, não havia nada. Tratavam-se os sintomas das doenças oportunistas e era muito complicado tra-tar estas doenças sem que o sistema imu-nitário melhorasse. Em 1987, surgiu o pri-meiro medicamento utilizado numa dose elevada, tomado 4-6 vezes por dia, e os doentes tinham tantos efeitos secundários que houve quem se interrogasse se não es-

tariam a morrer por causa do medicamen-to e não por causa da SIDA. Depois foram aparecendo mais medicamentos e come-çaram a fazer-se associações. Em 1995, sur-giu outro medicamento da mesma classe terapêutica, que melhorou bastante o es-tado clínico dos doentes e é em 2006 que são apresentados os primeiros resultados, com a introdução dos inibidores da pro-tease e a capacidade de controlar a repli-cação viral. Este foi o início da terapêutica antirretroviral moderna.

Estes fármacos mais antigos provocaram muitos efeitos adversos e surgiram compli-cações metabólicas e alterações da forma corporal que conduziram à identifi cação da lipodistrofi a. Estas alterações foram muito emblemáticas, pois, permitiam a identifi ca-ção das pessoas que tomavam os medica-mentos e contribuiriam para a estigmatiza-ção dos indivíduos infetados pelo VIH.

– Existem novos tratamentos? Qual o seu valor terapêutico acrescentado?

MD – Recentemente, foram aprovados novos medicamentos, também disponíveis em apenas um comprimido. Estes novos medicamentos tornam-se, especialmente re-levantes em doentes que tenham alterações neuropsiquiátricas, como alterações do sono, pesadelos, alterações do humor ou tendên-cia para depressão. Os novos medicamentos tendem a ser muito melhor tolerados, bem como a possuir um perfi l lipídico com menor tendência para aumento dos triglicéridos.

– Atualmente, quais são os fatores críticos de sucesso do tratamento da infeção VIH?

MD – Os fatores críticos serão a ca-pacidade para convencer o doente da importância de adesão à terapêutica e a escolha mais correta do tratamento para cada doente mediante as suas característi-cas, ou seja, verifi car quais as queixas que o doente tem à partida, quais as doenças que tem associadas, o seu modo de vida. O essencial parece-me ser a confi ança que o doente tem no seu médico, de modo a que passe a fazer a medicação que se reper-cutirá na sua saúde e no seu bem-estar.

Há 30 anos, o mundo viu-se perante uma doença incurável, fatal a curto e médio prazo, que rapidamente criou uma vaga de medo, morte e discriminação. Falamos da SIDA. Com o passar do tempo, o diagnóstico e o tratamento evoluíram de tal forma que a qualidade de vida dos doentes melhorou. A Dr.ª Manuela Doroana, infecciologista do Hospital de Santa Maria, e o Dr. Eugénio Teófi lo, internista do Hospital dos Capuchos, falam acerca das mudanças ocorridas.

VIH/SIDA: qualidade de vida dos doentes melhorou?– Qual a importância da adesão à te-

rapêutica na resposta ao tratamento?ET – É necessária uma boa educação

do doente para que entenda a importân-cia do tratamento, bem como a sua corre-ta administração. Mas a terapêutica tem de ser cómoda para que provoque a me-nor disrupção possível da vida do doente. Além disso, deverá ser o mais isenta de to-xicidade possível, sobretudo quando fala-mos de iniciar o tratamento mais preco-cemente, numa altura em que as pessoas estão completamente assintomáticas.

– As alternativas terapêuticas mais simples podem contribuir para uma melhor adesão à terapêutica?

MD – A adesão à terapêutica está di-retamente relacionada com a melhor to-lerabilidade do tratamento, com o menor número de comprimidos e com a capaci-

dade de o médico abordar o tratamento em conjunto com o doente. Em todos os questionários que foram realizados aos doentes sobre terapêutica na nossa con-sulta a parte da simplifi cação foi valoriza-da por estes e quando lhes foi sugerido para mudar a terapêutica de dois compri-midos para um a resposta afi rmativa foi unânime.

– O que os doentes mais valorizam no seu tratamento?

MD – Os doentes valorizam a como-didade do esquema terapêutico e a sua simplifi cação. As perguntas que mais fre-quentemente fazem quando lhes é abor-dada a perspetiva de iniciar medicação são qual o número de comprimidos que irão fazer e os efeitos que os medicamen-tos lhe irão trazer para a sua vida.

– Com o atual tratamento, podemos travar esta epidemia?

ET – Este aspeto tem sido debatido desde há dois ou três anos, e o tratamento das pessoas infetadas deve ser encarado como um problema de saúde pública. Se pensarmos que uma pessoa infetada com carga viral elevada tem maior risco de in-fetar outras pessoas numa relação sexual e que esse risco diminui muito quando o tratamento antirretroviral é efi caz, se tratarmos precocemente as pessoas in-fetadas podemos diminuir o número de novas infeções na comunidade. Tem de implementar-se novamente um progra-ma de prevenção com enfoque no sexo mais seguro e utilização do preservativo nos contactos sexuais.

MD – Terão de existir novas formas de abordagem, nomeadamente na preven-ção, pois, todas as semanas surgem novos casos diagnosticados de infeção por VIH na consulta. Existem ainda doentes não diagnosticados, pois, as manifestações de doença podem surgir tardiamente.

– Que avanços terapêuticos pode-mos esperar no futuro próximo?

MD – A efi cácia alcançada com os es-quemas terapêuticos na atualidade já é bastante elevada, pelo que o que tere-mos, no futuro, de continuar a trabalhar será a tolerabilidade máxima dos consti-tuintes, mantendo o regime da simplifi -cação para um comprimido por dia ou, quem sabe, no futuro, podermos utilizar novas moléculas, cuja sobrevida seja tão grande e a administração possa ser de uma vez por semana. Até ao momento, a vacina e mesmo a cura não me pare-cem estar no horizonte, a curto ou médio prazo.

ET – Atualmente, há uma tendên-cia para a simplificação do tratamento, de forma a melhorar a adesão e a sua eficácia. Claro que isso só poderá ser possível com fármacos bem tolerados e cuja administração seja cómoda. Nos próximos dois ou três anos, estarão disponíveis cinco regimes terapêuticos num só comprimido, incluindo diversas classes terapêuticas: não nucleósidos, inibidores da integrase e inibidores da protease.

Estão também em desenvolvimento formulações de fármacos, alguns já dis-poníveis com nanomoléculas que per-mitiriam a administração parentérica mensal. Também em ensaio clínico há um inibidor da fusão com possibilidade de administração trimestral. Há ainda uma série de moléculas em estudo para tentar erradicar os vírus dos santuários e condu-zir à eventual cura.

Atualmente, há uma tendência para a simplifi cação do tratamento, de forma a melhorar a adesão e a sua efi cácia.

Dr. Eugénio Teófi lo

Dr.ª Manuela Doroana

12 | Jornal de Saúde Pública | 12 de janeiro 2013

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Cerca de 16,5% da população por-tuguesa sofre de patologias do es-petro da ansiedade. Quem o afirma

é o Prof. António Pacheco Palha, ex-pre-sidente da Sociedade Portuguesa de Psi-quiatria e Saúde Mental (SPPSM), desde 2010, até ao final do ano passado, citan-do um estudo efetuado, há cerca de dois anos, pela Escola de Ciências Médicas de Lisboa, sob a coordenação do Prof. Caldas de Almeida.

“A ansiedade é uma manifestação normal da vida social, sendo persisten-te ou repetitiva nas pessoas. Contudo,

quando atinge um nível de intensidade grande e afeta o dia-a-dia, altera a qua-lidade de vida e interfere com a capa-cidade, eficiência e adaptação de uma pessoa às exigências quer profissionais, quer familiares. Ela está doente e preci-sa de tratamento, pois está num registo diferente daquele que seria o normal”, refere.

Este é um estado que tem inúmeras formas de se manifestar. Segundo refe-re o psiquiatra, existe a ansiedade que interfere com a rotina diária e que leva a pessoa a sentir inseguranças em relação à

A ansiedade é uma reação normal da vida social. No entanto, ao atingir determinados níveis, torna-se patológica e necessita ser tratada. Esta é uma situação com elevada frequência em Portugal e pode manifestar-se de inúmeras formas.

afeta cerca de 16,5%da população portuguesa

execução das suas tarefas, ou em termos de manifestação no corpo, afetando a sua saúde física, situação em que pensa que algo está mal, passando a ter uma focali-zação no seu corpo e a ter um comporta-mento hipocondríaco.

Há, ainda, a ansiedade em resposta a um estímulo em específico e, neste caso, trata-se de uma fobia. António Pacheco Palha dá exemplos: o medo de andar de comboio, de andar sozinho na estrada, a dificuldade em atravessar pontes ou de estar em locais com muita gente. No estudo referido, a prevalência de fo-bias específicas era de 8,6%.

“Estas fobias fazem com que as pessoas fujam de de-terminado estímulo. Elas não estão doentes, não apresentam qualquer queixa se deixarem de enfrentar os estí-mulos, mas o facto é que têm uma qua-lidade de vida diminuída, por não serem livres de fazerem tudo o que querem”, observa, salientando que estas situações podem tratar-se, e com alguma facilida-de, desde que seja seguido um plano.

“Estas formas de manifestação são muito prevalentes na população. As pessoas consideram que se trata de ‘manias’, de ‘medos’, e pensam que não se podem tratar, o que é uma pena, por-que são situações que podem ser resol-vidas”, refere.

Além disso, existe outra situação clí-nica muito ligada às fobias: o pânico. “Esta é uma condição que assusta muito o indivíduo. Caracteriza-se por intensa aflição e por uma instabilidade muito grande, tanto pela componente física, como pela psicológica, que faz com que se sintam em risco e corram para a urgência hospitalar”, indica António Pa-checo Palha, mencionando que quanto mais precocemente se tratar estes casos melhor.

UMA POPULAÇÃO MAIS INFORMADA SOBRE PSIQUIATRIA

Atualmente, ao contrário do que se passava anteriormente, a Psiquiatria já não é vista com maus olhos por parte da população e há cada vez menos proble-mas em procurar um especialista nesta área. Contudo, embora esteja já “muito popularizada”, existe ainda uma ideia errada sobre esta especialidade médi-ca. “O psiquiatra ainda é visto como o médico que prescreve remédios e não percebe as pessoas, quando o verda-deiro psiquiatra é aquele que conhece o doente, sabe a sua história de vida e tem tempo e espaço para o ouvir. Ou seja, tem grande valia, componente psicológica que é fundamental para se conceber uma estratégia terapêutica”, explica.

Apesar de haver menos estigma e difi-culdade por parte das pessoas em aceitar que precisam de ajuda psiquiátrica, o cer-to é que os doentes chegam à consulta, muitas vezes, em estados de doença já avançados. Nesse sentido, António Pa-

12 de janeiro 2013 | Jornal de Saúde Pública | 13

checo Palha alerta para a importância de se efetuar um diagnóstico precoce que, segundo informa, é “essencial para travar o progresso de uma doença e melhorar o prognóstico”.

Para que tal aconteça, o ex-presidente da SPPSM considera também necessário

formar os especialistas de Medicina Geral e Familiar, que estão mais perto da população, assim como os enfermeiros, de forma a “treinar as suas perícias de diagnóstico em relação às situações mais comuns”.

Voltando a referir que este é “um combate já quase ganho”, o psiquiatra menciona que, para que haja um melhor conheci-mento e aceitação da es-

pecialidade, assim como respeito pelos doentes psiquiátricos, devem ser reali-zadas campanhas de educação para a sociedade em geral, começando pelas escolas.

Para terminar, António Pacheco Pa-lha não quer deixar de referir a impor-tância que a SPPSM pode ter em termos de esclarecimento destes temas. “Esta é uma Sociedade científico-médica aber-ta, não só para realizar formações den-tro de especialidade, mas também para participar em atividades educativas a nível das comunidades. Para além dos psiquiatras, a SPPSM interessa-se, tam-bém, pelo apoio à formação de outros profissionais de saúde e pela informa-ção clara e correta para a população em geral, desejando que tenha uma ativi-dade mais presente junto da comunida-de portuguesa”, conclui.

Prof. António Pacheco Palha

Apesar de haver menos estigma e dificuldade por parte das pessoas em aceitar que precisam de ajuda psiquiátrica, o certo é que os doentes chegam à consulta, muitas vezes, em estados de doença já avançados.

COM INÚMERAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO

AnsiedadeAnsiedade

Page 14: Jornal de Saúde Pública, 1

Os medicamentos biológicos são produzidos a partir de células vi-vas, com recurso a métodos de

biotecnologia. É um processo complexo, em que estas células devem permanecer sob condições específicas durante sema-nas ou meses. Este processo produtivo difere substancialmente do utilizado na produção química dos fármacos conven-cionais.

“Os medicamentos biológicos têm uma estrutura que os impede de serem ingeri-dos oralmente, porque seriam destruídos pelo sistema digestivo, necessitando, por isso, de administração endovenosa ou subcutânea”, explica o Prof. João Eurico Fonseca, reuma-tologista do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e diretor da Unidade de Investigação em Reumatologia do Instituto de Medicina Molecular da Facul-dade de Medicina da Universi-dade de Lisboa.

De acordo com o especia-lista, estes fármacos estão de-senhados para inativar alguns mecanismos específicos que

ocorrem em certas doenças, sendo “mui-to mais precisos e seletivos do que os me-dicamentos convencionais”.

João Eurico Fonseca adianta que são “muito eficazes” na artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite pso-riática, artrite idiopática ju-venil e lúpus eritematoso sistémico. Adicionalmente, “são usados em muitas ou-tras doenças imunomedia-das”.

Na área da Gastrente-rologia, os medicamentos biológicos são utilizados no tratamento das doen-

Medicamentos biológicos – sabe realmente o que são? Sabe o que os distingue dos fármacos conven-cionais? Em entrevista, especialis-tas falam sobre os seus benefícios, particularmente no tratamento de doenças do foro da Reumatologia e da Gastrenterologia, e fazem um ponto de situação relativamente ao acesso dos doentes a estas terapêu-ticas, que já estão disponíveis há mais de 10 anos em Portugal.

14 | Jornal de Saúde Pública | 12 de janeiro 2013

Medicamentos biológicos: o que são e quais os seus benefícios?

ças inflamatórias intestinais (DII), como a colite ulcerosa (CU) e a doença de Crohn. Na opinião do Dr. Leopoldo Matos, diretor do Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de Lisboa Oci-dental (CHLO)/Hospital de Egas Moniz, em Lisboa, e vice-presidente da Socieda-de Portuguesa de Gastren-terologia (SPG), são a “arma que faltava”.

Segundo a Dr.ª Raquel Gonçalves, di-retora do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Braga, “nos doentes com doença moderada a severa, observa-se

UTILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE DOENÇAS REUMÁTICAS E GASTRINTESTINAIS

Foi publicado recentemente um estudo que comprovou que Portu-gal se situa na cauda da Europa no que respeita ao acesso aos medi-

camentos biológicos para tratamento da artrite reumatoide.Nesta investigação, os autores compararam a prescrição de biológi-

cos em 15 países da Europa (Portugal inclusivé) e concluíram que a per-centagem de doentes com artrite reumatoide tratados com biológicos em Portugal é 12 pontos percentuais inferior à média, o que coloca o País na última posição face aos restantes 14 países da Europa analisados

(Irlanda, Holanda, Noruega, Suécia, Bélgica, Suíça, Áustria, Dinamarca, Espanha, França, Finlândia, Reino Unido, Alemanha e Itália).

Uma das razões para isto acontecer prende-se, segundo João Eurico Fonseca, com “a possibilidade de existirem doentes que estão fora dos cuidados de saúde das consultas de Reumatologia por não existir uma co-bertura nacional adequada desta especialidade”. Por conseguinte, “estes doentes poderão não ter acesso ao padrão ideal de tratamento e alguns deles poderão ter indicação para serem tratados com biológicos”.

Portugal na cauda da Europa no acesso a biológicos para tratamento da artrite reumatoide

melhoria clínica (sinais e sintomas), dos parâmetros analíticos (marcadores in-flamatórios) e cicatrização da mucosa (resolução das lesões do intestino), com resolução a curto prazo e manutenção da remissão a longo prazo num número significativo de casos, sendo possível a al-teração do curso natural da doença”.

“O infliximab e o adalimumab têm eficácia reconhecida em grande parte dos doentes com DII moderada a seve-ra”, refere a gastrenterologista, dizendo haver opções terapêuticas por via en-dovenosa e subcutânea.

Menciona, ainda, “relativamente à CU, que poderá haver vantagem no uso de infliximab, nas situações de colite gra-ve/fulminante, pela rapidez e eficácia do fármaco por via endovenosa, o que evita, em larga escala, a necessidade de uma in-

Prof. João Eurico Fonseca

Dr. Leopoldo Matos Dr.ª Raquel Gonçalves

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Decorria o ano 2000, Sandra Dias sentia febre e um desconforto intestinal. O mé-

dico pede uma colonoscopia e o diagnóstico é imediato: doença de Crohn. Sandra nunca tinha ouvido falar desta doença, mas foi-lhe explicado que a mesma não tem cura. Trata--se de uma doença crónica. Segue-se uma fase de tratamentos diferenciados: corticoides, imunossupressores, entre outros.

Em 2009, Sandra inicia medicação com biológicos e quase simultaneamente manifes-ta o desejo de ser mãe. Obstetra e gastrente-rologista são unânimes e retiram a Sandra a medicação com imunossupressores, manten-do a medicação com biológico. Na consulta seguinte, chegou grávida de seis semanas.

Correu tudo bem e em 2010 Sandra dá á luz uma menina saudável, retomando logo após o parto a medicação biológica, que mantém

até aos dias de hoje. Confessa que a medica-ção biológica mudou a sua vida, trazendo-lhe mais qualidade. “Senti uma diferença drástica. Aliás, vivo como se não tivesse a doença e no dia-a-dia não tenho qualquer limitação. A úni-ca coisa que me faz lembrar que tenho doença de Crohn é o facto de ter que ir de 8 em 8 sema-nas ao hospital, para que o medicamento me seja administrado por via endovenosa”, conta.

“Nunca mais tive uma crise, uma diarreia ou as dores abdominais que me obrigavam a fi car de cama. Iniciei o medicamento biológi-co após uma oclusão intestinal e hoje sinto claramente uma grande melhoria na minha qualidade de vida”, acrescenta.

A decisão de engravidar levantou sérias dúvidas e medos, mas os médicos tranquili-zaram-na.

Avaliados os riscos de manter a terapêu-tica biológica e os de a suspender, a Sandra decidiu seguir o conselho dos especialistas e continuar o tratamento até ao terceiro trimes-tre de gestação. “Naturalmente, pensava nos riscos do bebé, mas, quando temos um fi lho, não traz garantia pós-venda e, portanto, nin-guém pode garantir que tudo correrá bem, quer sejamos saudáveis ou não”, diz.

Hoje, Sandra tem uma fi lha saudável, com quase três anos, um diagnóstico de Crohn e uma vida igual a tantas outras… Perfeitamente normal.

Uma vida normal… com um diagnóstico de Crohn

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Reunião Monotemática do GEDII 2013 - Fatores de prognóstico na DII

Vai decorrer, nos dias 18 e 19 de janeiro, no Hotel In-tercontinental, no Porto, a 4.ª edição da Reunião Anual do Grupo de Estudos da Doença Infl amatória Intestinal (GEDII), desta feita subordinada ao tema “Fatores de prognóstico na DII”. O objetivo da reunião é, de acordo com o presidente do Grupo, Prof. Fernando Magro, “fomentar a investigação da DII em camadas mais jovens de médicos e cientistas portugueses”.De entre os assuntos que serão abordados durante o evento, o presidente do GEDII destaca, pela importân-cia, o debate sobre “o reconhecimento de grupos de risco, a monitorização clínica e biológica dos doentes e a identifi cação de doença de mau prognóstico”.

Prof. Fernando Magro

tervenção cirúrgica urgente de ressecção cólica”.

Leopoldo Matos adverte que a ativida-de e intensidade da DII têm repercussão sobre a globalidade do organismo. Neste sentido, é importante não deixar passar os timings certos para modifi car tratamentos ou iniciar terapêuticas, pois, dessa forma, “podem criar-se situações de muito mais difícil recuperação, o que se torna penoso para o doente e dispendioso para o Siste-ma Nacional de Saúde”.

O vice-presidente da SPG admite que possa haver alguns constrangimentos na prescrição dos medicamentos biológi-cos que se prendem, por um lado, com a necessidade de demonstrar os critérios de benefício para um doente específi co e, por outro, com a disponibilidade do

fármaco, devido às restrições fi nanceiras das farmácias hospitalares. Apesar disso, na área em que trabalha, diz não existi-rem limitações desse tipo, havendo “um protocolo apertado para os doentes que poderão benefi ciar deste tipo de trata-mento”.

PU

B

NOTÍCIAS

Por ocasião da exposição BODY, que decorreu em Londres, nos dias 3 e 4 de novembro, a Syneron Candela apresentou, durante a conferência de imprensa, os resultados de vários ensaios clínicos que avaliaram a efi cácia e a segurança do Ultrashape V3 e do Velashape (dois equipamentos de remodelação corporal não invasiva).

Graças a uma tecnologia por ultrassom focalizada, o Ultrashape V3 é capaz de eliminar os depósitos de gordura localizada de forma não invasiva, contrariamente ao que acontece na lipossucção, um procedimento cirúrgico que implica um tempo de recuperação mais prolongado e o recurso a anestesia. Por intermédio da tecnologia por radiofrequência e luz pulsada, o Velashape II (equipamento de segunda geração) aumenta as fi bras de colagénio e permite um efeito reafi rmante da pele.

O Dr. Christopher Inglefi eld, cirurgião plástico londrino, lembrou que, após os estu-dos que incluíram a participação de 118 indivíduos do sexo feminino e masculino, foi demonstrada a efi cácia do UltraShape na redução da gordura corporal localizada. “O ex-celente grau de satisfação com o UltraShape, observado nos dois últimos dois anos, confi r-ma a segurança e a efi cácia desta tecnologia não-invasiva, que não implica dor ou recobro. É uma intervenção cómoda, em regime de ambulatório, que permite uma redução do vo-lume corporal sem os riscos associados a outras abordagens invasivas, permitindo que os doentes retomem imediatamente a rotina diária”, confi rmou o especialista.

REMODELAÇÃO CORPORAL NÃO-INVASIVA

Nelson Pires entre os melhores…

Nelson Pires, diretor-geral da Jaba Recor-dati, integra o ranking Melhores Gestores de Pessoas 2012. A atribuição dos galar-doados com o prémio dos 20 melhores gestores de pessoas resultou de uma seleção entre mais de 1000 participantes.Os 20 Melhores Gestores de Pessoas 2012 foram anunciados numa cerimónia, no CCB, que decorreu em dezembro. Licenciado em Direito, com um e-MBA em negócios no setor farmacêutico, uma pós-graduação em Marketing e ainda uma especialização em gestão, Nelson Pires é também membro da Direção da Apifarma.

75% DAS MULHERES SOFREM DE AFRONTAMENTOS

Cerca de 75% das mulheres sofrem com as chamadas ondas de calor (afrontamen-tos) derivadas da defi ciência estrogénica. Mais de 25% têm afrontamentos por mais de 5 anos, sendo estes acompanhados por calafrios, suores intensos, palpitações e mal-estar.

Nos primeiros cinco anos da pós-menopausa, a mulher pode perder até 5% da massa óssea por ano, perdendo nesse período até 25% da sua massa óssea, o que aumenta o risco de fraturas e pequenos traumas.

Para orientar e guiar o ginecologista na sua consulta de menopausa, a Sociedade Portuguesa de Menopausa lançou agora, com o patrocínio do laboratório ISUS, um guia sobre o “Uso dos fitoes-trogénios na Ginecologia”, um manual de consulta obrigatória por todos os que diariamente atendem a mulher na peri e pós-menopausa, tentando mino-rar as consequências desta fase sensível da vida.

Syneron Candela apresentou resultados

Page 16: Jornal de Saúde Pública, 1

ViiV HealthcareA ViiV Healthcare é uma companhia global especializada em VIH/SIDA, criada pela GlaxoSmithKline e Pfizer em Novembro de 2009, empenhada no desenvolvimento de novos medicamentos e na assistência às pessoas que vivem infetadas pelo VIH/SIDA.VIH - Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH)

VIIVHIV HEALTHCARE, Unipessoal Lda - R. Dr. António Loureiro Borges nº 3 Arquiparque-Miraflores - 1495-131 Algés Portugal Telef. 210940801 Fax. 210940901 NIF: 509117961Para mais informações fale com o seu médico. PR

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