jornal da universidade

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J ORNAL DA U NIVERSIDADE Impresso Especial 9912196297-DR/RS UFRGS CORREIOS Leia a íntegra desta edição em www.jornal.ufrgs.br Porto Alegre | RS | Brasil Ano XII | Número 117 Abril e Maio de 2009 Em 1609, Galileu, com os registros de suas observações via telescópio, realizou descobertas que colocaram em xeque conceitos antigos sobre a organização do universo. A celebração desses 400 anos de evolução tecnológica e científica fez de 2009 o Ano Internacional da Astronomia. O intuito de tal programação comemorativa é aproximar mais a população dessa ciência. As ações da Universidade e a formação em Astronomia podem ser conferidas em matéria especial. Página Central Mais perto das estrelas OSPA volta à Universidade MÚSICA MÚSICA MÚSICA MÚSICA MÚSICA Assinatura de convênio faz retornar à UFRGS os concertos oficiais da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, que desde julho do ano passado está sem espaço próprio para suas apresentações. É a retomada de antiga parceria que teve início em 1957, incluindo famosas séries, como Concertos para a Juventu- de e Poema – este último voltado para estudantes do ensino básico. 30% do petróleo e 16% do comércio do mundo circulam pelo litoral da Somália, que desde 1991 não existe como Estado. Controlam a região os senhores da guerra, como são conhecidos os chefes dos clãs somalis. Em 2004, ante a exploração da pesca por embarcações estrangeiras e o despejo do lixo tóxico italiano em sua costa, os pescadores de diversos clãs voltam a operar, dando origem aos Piratas da Somália. PIRA PIRA PIRA PIRA PIRATARIA ARIA ARIA ARIA ARIA Muitos ganham nas águas sem lei da Somália Antônio Benetti, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, anali- sa os benefícios que a chamada “revolução sanitária” – caracterizada pela intro- dução de sistemas de distribuição de água potável e pela coleta de esgotos –, trouxe para qualidade de vida das populações urbanas. P10 SAÚDE PÚBLICA SAÚDE PÚBLICA SAÚDE PÚBLICA SAÚDE PÚBLICA SAÚDE PÚBLICA Saneamento básico garante qualidade de vida OUTRA ECONOMIA OUTRA ECONOMIA OUTRA ECONOMIA OUTRA ECONOMIA OUTRA ECONOMIA Dicionário aponta alternativas O professor do Programa de Pós- graduação em Sociologia da Uni- versidade Antonio David Cattani é um dos organizadores do Dicio- nário Internacional da Outra Eco- nomia, lançado recentemente pela Editora Almedina, de Coim- bra (Portugal). A obra resulta de um trabalho iniciado durante o 1.º Fórum Social Mundial e traz 58 verbetes de autores de três con- tinentes, que procuram divulgar os conceitos e as teorias mais marcantes sobre as alternativas à economia capitalista. Um exem- plo dessas alternativas, a econo- mia solidária, atua localmente, envolvendo parcerias com órgãos públicos e o respeito à terra, além de uma ideia de valori- zação humana. PESQUISA PESQUISA PESQUISA PESQUISA PESQUISA UFRGS sediará Instituto Nacional de Engenharia de Superfícies P5 UFRGS vai analisar possibilidade de seleção em duas fases para 2011 VESTIBULAR “Formamos uma rede de âmbito nacio- nal com os melhores que atuam na área”, comemora o professor Israel Ja- cob Rabin Baumvol, coordenador do pro- grama. A UFRGS classificou mais um pro- jeto na segunda etapa do edital MEC/ CNPq/2008. O novo sele-cionado é o Ins- P11 P4 tituto de Engenharia de Superfícies, liga- do ao Instituto de Física da Universida- de, que tem como principal parceira a Universidade de Caxias de Sul (UCS). O objetivo do órgão é desenvolver soluções eficientes para os segmen- tos industriais. Com um número de usuários cada vez maior, o RU 3 aguarda por uma dupli- cação que deveria estar finalizada em outubro de 2008. Mais de dois anos após o início das obras, a falência da empresa vencedora da licitação adiou a solução para as longas filas do al- P6 e 7 moço. Enquanto a morosidade das filas é combatida com campanhas de consci- entização, a Adminstração Central lida com os trâmites para o reinício dos tra- balhos. A novidade é o anúncio da cons- trução de um novo RU no Vale. INFRAESTRUTURA INFRAESTRUTURA INFRAESTRUTURA INFRAESTRUTURA INFRAESTRUTURA Restaurante Universitário do Câmpus do Vale espera ampliação P 3 Atrações da 7.ª Mostra Universitária movimentam a Sala Qorpo Santo TEATRO P12 Professor do IPH escreve sobre os desafios para uma gestão participativa de acesso à água potável DIREITO FUNDAMENTAL P4 FOTOS FLÁVIO DUTRA/PROJETO CONTATO P13 DIVULGAÇÃO

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Edição 117 - Abril e Maio de 2009

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Page 1: Jornal da Universidade

JORNAL DA UNIVERSIDADEImpressoEspecial

9912196297-DR/RSUFRGS

CORREIOSLeia a íntegra desta edição em www.jornal.ufrgs.br

Porto Alegre | RS | Brasil Ano XII | Número 117 Abril e Maio de 2009

Em 1609, Galileu, com os registros de suas observações viatelescópio, realizou descobertas que colocaram em xeque

conceitos antigos sobre a organização do universo.A celebração desses 400 anos de evolução tecnológica e

científica fez de 2009 o Ano Internacional da Astronomia. Ointuito de tal programação comemorativa é aproximar mais a

população dessa ciência. As ações da Universidade e aformação em Astronomia podem ser

conferidas em matéria especial.PáginaCentral

Mais pertodas estrelas

OSPA volta à UniversidadeMÚSICAMÚSICAMÚSICAMÚSICAMÚSICA

Assinatura de convênio faz retornar à UFRGS os concertos oficiais da OrquestraSinfônica de Porto Alegre, que desde julho do ano passado está sem espaçopróprio para suas apresentações. É a retomada de antiga parceria que teve inícioem 1957, incluindo famosas séries, como Concertos para a Juventu-de e Poema – este último voltado para estudantes do ensino básico.

30% do petróleo e 16% do comércio do mundo circulam pelo litoral da Somália,que desde 1991 não existe como Estado. Controlam a região os senhores daguerra, como são conhecidos os chefes dos clãs somalis. Em 2004, ante aexploração da pesca por embarcações estrangeiras e o despejo do lixo tóxicoitaliano em sua costa, os pescadores de diversos clãs voltam aoperar, dando origem aos Piratas da Somália.

PIRAPIRAPIRAPIRAPIRATTTTTARIAARIAARIAARIAARIA

Muitos ganham naságuas sem lei da Somália

Antônio Benetti, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, anali-sa os benefícios que a chamada “revolução sanitária” – caracterizada pela intro-dução de sistemas de distribuição de água potável e pela coleta deesgotos –, trouxe para qualidade de vida das populações urbanas.

P10SAÚDE PÚBLICASAÚDE PÚBLICASAÚDE PÚBLICASAÚDE PÚBLICASAÚDE PÚBLICA

Saneamento básicogarante qualidade de vida

OUTRA ECONOMIAOUTRA ECONOMIAOUTRA ECONOMIAOUTRA ECONOMIAOUTRA ECONOMIA

Dicionário apontaalternativasO professor do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Uni-versidade Antonio David Cattanié um dos organizadores do Dicio-nário Internacional da Outra Eco-nomia, lançado recentementepela Editora Almedina, de Coim-bra (Portugal). A obra resulta deum trabalho iniciado durante o 1.ºFórum Social Mundial e traz 58verbetes de autores de três con-tinentes, que procuram divulgaros conceitos e as teorias maismarcantes sobre as alternativasà economia capitalista. Um exem-plo dessas alternativas, a econo-mia solidária, atua localmente,envolvendo parcerias com órgãospúblicos e o respeito à terra, alémde uma ideia de valori-zação humana.

PESQUISAPESQUISAPESQUISAPESQUISAPESQUISA

UFRGS sediará Instituto Nacionalde Engenharia de Superfícies

P5

UFRGSvai analisarpossibilidadede seleção emduas fasespara 2011

VESTIBULAR

“Formamos uma rede de âmbito nacio-nal com os melhores que atuam naárea”, comemora o professor Israel Ja-cob Rabin Baumvol, coordenador do pro-grama. A UFRGS classificou mais um pro-jeto na segunda etapa do edital MEC/CNPq/2008. O novo sele-cionado é o Ins- P11

P4

tituto de Engenharia de Superfícies, liga-do ao Instituto de Física da Universida-de, que tem como principal parceira aUniversidade de Caxias de Sul (UCS). Oobjetivo do órgão é desenvolver soluçõeseficientes para os segmen-tos industriais.

Com um número de usuários cada vezmaior, o RU 3 aguarda por uma dupli-cação que deveria estar finalizada emoutubro de 2008. Mais de dois anosapós o início das obras, a falência daempresa vencedora da licitação adioua solução para as longas filas do al- P6 e 7

moço. Enquanto a morosidade das filasé combatida com campanhas de consci-entização, a Adminstração Central lidacom os trâmites para o reinício dos tra-balhos. A novidade é o anúncio da cons-trução de um novo RUno Vale.

INFRAESTRUTURAINFRAESTRUTURAINFRAESTRUTURAINFRAESTRUTURAINFRAESTRUTURA

Restaurante Universitário doCâmpus do Vale espera ampliação

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Atrações da7.ª MostraUniversitáriamovimentama SalaQorpo Santo

TEATRO

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Professor doIPH escrevesobre osdesafios parauma gestãoparticipativade acesso àágua potável

DIREITO FUNDAMENTAL

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AÇÃO

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O P I N I Ã O

FormaturasQuero parabenizar o Sr. Claudio Alberto Vargas Martins pelo cuidado

com a formalidade e o decoro das formaturas da UFRGS, ao contrário detantas outras Instituições que fazem da solenidade um verdadeiro circo, dan-do direito, inclusive, a que convidados deseducados levem fanfarras e corne-tas, tornando uma ocasião tão significativa numa demonstração de verdadei-ra barbárie social. A solenidade de formatura é de total responsabilidade daUniversidade; é o momento em que a Instituição reconhece oficialmente queo aluno cumpriu todas as formalidades para conquistar o grau acadêmico.Portanto, devem ser seguidas todas as normas para que a solenidade transcor-ra de maneira protocolar e civilizada, como requer a seriedade da ocasião.

Lúcia Inês Mossmann Schonhorst , servidora aposentada

Ensino de MatemáticaAchei muito interessante e importante o artigo sobre a Matemática, publi-

cado na edição 115. Concordo com o que disseram os professores a respeitode o aluno da Escola Básica não conhecer a linguagem matemática. Falo issoporque eu mesma não a conhecia direito antes de entrar no Ensino Superior.Acredito que os educadores devam verificar suas didáticas para que o ensinodessa disciplina atinja seu objetivo. Eu, particularmente, percebo a Matemá-tica como fundamental para o desenvolvimento do raciocínio em vários cur-sos de humanas ou exatas. Sabermos enxergar o que a abstração matemáticapropõe é muito importante não apenas para passarmos no vestibular, maspara o nosso desenvolvimento profissional.

Mariângela Torre Dias, Estudante do curso de Licenciatura em Matemática

Mural do leitor [email protected]

Espaço daReitoriaUNIVERSIDADE FEDERALDO RIO GRANDE DO SULAv. Paulo Gama, 110 - Bairro Farroupilha,Porto Alegre – RS | CEP 90046-900Fone: (51) 3308-7000 | www.ufrgs.br

ReitorCarlos Alexandre NettoVice-reitorRui Vicente OppermannChefe de GabineteJoão Roberto Braga de MelloSecretário de Comunicação SocialFlávio Porcello

JORNAL DA UNIVERSIDADEPublicação mensal da Secretaria deComunicação Social da UFRGSFones: (51) 3308-3368 / 3308-3497

Conselho EditorialArtur Lopes, Daltro José Nunes, DirceMaria Antunes Suertegaray, Edson LuizLindner, Fernando Cotanda, MariaHenriqueta Luce Kruse, RudimarBaldissera, Sandra de Deus, Sérgio MarleyModesto Monteiro

Editora-chefeÂnia ChalaRepórteresCaroline da Silva e Jacira Cabral da SilveiraProjeto gráficoJuliano Bruni PereiraDiagramaçãoAluísio PinheiroFotografiaCadinho Andrade e Flávio DutraRevisãoAntônio FalcettaBolsistasBruna Goss, Demétrio Pereira, FagnerNogueira, Jaqueline Crestani, Leila Ghiorzie Luciane CostaCirculaçãoMárcia FumagalliFotolitos e impressãoGráfica da UFRGSTiragem 12 mil exemplares

Os textos assinados são de inteiraresponsabilidade de seus autores

A construção do Planetário José Baptista Pereira teve início em 1971,mediante acordo entre a UFRGS e a Prefeitura de Porto Alegre. O prédiofoi inaugurado em novembro de 1972 e, desde então, funciona comoórgão de complementação de ensino e de divulgação da Astronomia.

Memória da UFRGSACERVO PLANETÁRIO DA UFRGS

19711972

Democratizar o acesso ao conhecimentoA Universidade é espaço de criação, reflexão e

disseminação do conhecimento. Enquantoinstituição dedicada à educação e ao saber,torna-se portadora dos anseios de desenvolvi-mento humano, filosófico, artístico, científico etecnológico da sociedade.

Todos reconhecem a necessidade de populari-zar a ciência e de melhorar a qualidade daeducação científica nas escolas de ensino básico.Em consonância com sua missão institucional, aUFRGS, por meio da Pró-reitoria de Pesquisa,lançou em abril o Programa Ciência na Socieda-de e Ciência na Escola. No programa estãosendo oferecidas duas novas modalidades debolsas acadêmicas: Iniciação à Popularização daCiência e Iniciação ao Ensino de Ciências.

O desafio para estudantes de graduação eorientadores é o de produzir materiais e conteú-dos de divulgação em diversas mídias para opúblico geral, implantar ou aprimorar museus,centros de ciências e bibliotecas, e atuar direta-mente com a comunidade escolar. Parceiras naformação de professores, as escolas da educaçãobásica das redes pública e privada passam agoraa ocupar lugar destacado na formação de

futuros cientistas e de profissionais das diversasáreas. Mais do que a visão sistêmica da educa-ção, o programa permite a prática da interaçãoentre os diversos níveis educacionais, quemutuamente se fertilizam e qualificam. Valeconsiderar, neste aspecto, que o livro “Mast e oplaneta azul”, publicado pela Editora da Uni-versidade com o selo do Planetário, está entre asobras selecionadas pelo Ministério da Educaçãopara distribuição nas salas de aula de primeiro esegundo anos do ensino fundamental de toda arede pública brasileira.

Na área acadêmica da extensão que desenvol-ve ações culturais e de desenvolvimento social,foi recentemente criado o Programa de Fomen-to. Antiga reivindicação dos extensionistas, oprograma tem o objetivo de apoiar financeira-mente ações registradas que não tenham outrotipo de aporte financeiro. Com essa iniciativa, aUFRGS qualifica as ações de extensão eminteração com a sociedade, e a Pró-reitoria deExtensão racionaliza, ordena e acompanha adistribuição de recursos para viabilizar ocrescimento da extensão universitária.

O conhecimento acadêmico também pode ser

oferecido à sociedade na forma de inovaçãotecnológica, logo outra importante ação daUniversidade é a de incentivar o empreendedo-rismo e a inovação. Recentemente, a Financia-dora de Estudos e Projetos (Finep) lançou oPrograma Primeira Empresa Inovadora (Pri-me), destinado a empresas que sejam inovado-ras e que tenham, no máximo, 24 meses deexistência. O Centro de Empreendimentos doInstituto de Informática (CEI), uma das primei-ras incubadoras de base tecnológica da UFRGS,é uma das 17 incubadoras-âncora selecionadaspara implementar o Prime. E a boa notícia é queo Centro, até o momento, lidera em número deempresas inscritas no país.

Os dois novos programas acadêmicos e olivro selecionado pelo Ministério da Educação,juntamente com o empreendedorismo, têm acaracterística comum de serem desenvolvidosnas interfaces com a sociedade. Expressam avocação de democratizar o acesso ao conheci-mento para estudantes da educação básica epara o público em geral. Um exercício desafia-dor e necessário para a Universidade da Socie-dade do Conhecimento.

Artigo

Cadê a placa que estava aqui? Cidadania e preservação do patrimônioNormalmente, quando se fala em

preservar o meio ambiente, a tarefa éinstantaneamente associada àimplementação (por parte do Estado) deações para despoluir os rios, combater asqueimadas, policiar as florestas, proteger asespécies em extinção, etc. No entanto, tãograve e, infelizmente, tão frequente quantoo desmatamento é a dilapidação que vemsofrendo o patrimônio histórico de muitascidades brasileiras.

O meio ambiente é um bemconstitucionalmente tutelado (vide Art. 225da Constituição Federal de 1988), e talproteção abrange tanto a flora e a faunacomo os monumentos que compõem oespaço urbano. Roubar placascomemorativas, ornamentos em bronze,

pichar construções históricas, saqueá-las e/ou danificá-las é tão gravoso ao ambientequanto praticar crueldade com animais eemitir monóxido de carbono.

É muito fácil atribuirmos ao Estado odever de cuidar de tudo e de todos,esperando que os problemas sejamresolvidos. O Estado somos nós. Ele é criadopelo ser humano para auxiliar e servir o serhumano. A cidadania, contudo, exige quetenhamos atitudes contínuas departicipação consciente na sociedade e paraa sociedade.

Tomemos como exemplo a crise em quese encontra a representação políticabrasileira. Como a própria denominaçãoacusa, os representantes representam algo...Para termos o Estado que queremos, é

preciso agir para que ele se torne realidade.A ação necessária à consolidação de um

Estado que melhor atenda a todos começa,também, pelo respeito ao patrimôniohistórico e pela sua preservação. Osmonumentos, afinal, são o elo entre o quesomos e o que fomos, e ajudam a compor aidentidade cultural, política e social dopovo. Jamais teremos solidificadas as basesnecessárias à construção do falacioso “paísdo futuro” se estas permanecem alicerçadasem uma sociedade cujos valores expressamo desapego e o descaso ao seu passado.

Ignorar a degradação do ambientepúblico, urbano e histórico é permitir quenossa identidade se perca e, também, que odéficit democrático latente na atualidadeaumente cada vez mais.

Carlos Alexandre NettoReitor

Carlos Artur GalloAdvogado, estudante de Ciências Sociais eespecializando em Direito Internacional pelaUFRGS - E-mail: [email protected]

NOTA DO EDITORDiferentemente do que foi publicado na página 8 da edição de março do JU,

quem ocupa o cargo de Pró-reitora de Planejamento da UFRGS é a professoraMaria Aparecida Grendene de Souza.

Mas o descaso está aí e as perspectivasnão são as melhores. Do jeito como ascoisas andam, não duvido que até setembro,quando começarem os preparativos para ascomemorações da Semana Farroupilha, oGeneral Bento Gonçalves e seu fiel cavalotenham partido de seu pedestal (na AvenidaJoão Pessoa) em busca de terras maisseguras e de um povo que saiba honrar epreservar a sua história.

Page 3: Jornal da Universidade

Redação Ânia Chala | Colaborou Jacira Cabral da Silveira | Fone: 3308-3368 | Sugestões para esta página podem ser enviadas para [email protected]

JORNAL DA UNIVERSIDADE|ABRIL E MAIO DE 2009 | 3

E M P AU TA

Onde asdivergênciasconvergem

Embora fique em evidênciaem momentos de maior polêmi-ca, como durante a votação doprojeto que estabeleceu a políti-ca de cotas na Universidade, oConselho Universitário (Con-sun) está sempre discutindo as-suntos de interesse da comuni-dade acadêmica.

Órgão máximo com funçõesnormativas, deliberativas e de pla-nejamento da Universidade, oConselho tem sua estrutura ecomposição determinadas peloRegimento Geral da UFRGS, queestabelece também seu númerode membros: “Os diretores sãomembros natos, independente-mente do número de unidades daUniversidade, que hoje são 29. Osdemais docentes, os técnicos e osdiscentes são escolhidos em fun-ção da Lei de Diretrizes e Bases,que determina que haja no mí-nimo 70% de docentes em qual-quer órgão administrativo daUniversidade. Os técnicos e osdiscentes compõem os outros30%”, explica Mara Campani,secretária do Consun.

Para o conselheiro Rafael Le-mes Vieira da Silva, representan-te dos estudantes, todos aquelesque constroem a universidadedevem estar representados nassuas instâncias deliberativas:“Quando a gente vê docentes,servidores e estudantes constru-indo a universidade efetivamen-te, com projetos de pesquisa, en-sino e extensão, eles têm de estarincorporados para que suas de-mandas sejam efetivadas”.

O Consun se caracteriza porser um espaço marcado pela di-versidade de ideias e opiniões,muitas vezes divergentes. Deacordo com a conselheira JaneTutikian, diretora do Instituto deLetras, apesar dessas divergên-cias quem ganha é a Universida-de: “Nós temos de pensar queuma universidade é o local, porexcelência, das ideias contraditó-rias, das grandes discussões e dosgrandes debates”, diz ela.

“O que fazemos é um grandeexercício de democracia. As ques-tões são discutidas e deliberadasconforme o entendimento doConselho”, salienta o reitor daUFRGS, professor Carlos Alexan-dre Netto, que preside o órgão.

Na opinião do conselheiroUbayar Carbonell Closs, repre-sentante dos servidores técnico-administrativos, o Consun “é umórgão propositor das políticas daUniversidade, analisando a pro-posta de atuação de uma deter-minada gestão ou as políticas delongo prazo”.

VestibularUFRGS estuda concursoem duas fases para 2011

Redação UFRGS TV

Conselho Universitário

Para entender melhor o Consun e paraconhecer as ideias e opiniões dealguns de seus membros, assista aoprograma Conhecendo a UFRGS, quevai ao ar no dia 12 de maio, a partirdas 21h30min, pela UNITV, canal 15da NET POA.

Assista aos programas

SalõesGraduação eEnsino a Distância

Com o objetivo de apresentar as experiências deensino-aprendizagem dos cursos de graduação e dosprojetos de educação a distância desenvolvidos naUniversidade, serão realizados, de 27 a 29 deste mês,o 4.º Salão de Graduação e o 5.º Salão de Educação aDistância da UFRGS. Os eventos são uma iniciativaconjunta da Pró-reitoria de Graduação e da Secreta-ria de Educação a Distância. No Salão de Graduação,estão previstos relatos de experiências de Estágios deDocência, atividades desenvolvidas no Programa deEducação Tutorial (PET), Monitoria, Estágios, In-ternatos, Mobilidade Acadêmica, Monografias e Tra-balhos de Conclusão, além da apresentação de pôste-res. Já o Salão de EAD irá promover painéis para dis-cutir a produção realizada na Universidade, enfati-zando os enfoques pedagógicos e técnicos no desen-volvimento de materiais para o ensino a distância.Também serão apresentados relatos de experiênciasdocentes e discentes, de tutoria e monitoria, bemcomo uma mostra virtual e de pôsteres. Todas as ati-vidades serão desenvolvidas no Câmpus Centro daUFRGS, e mais informações podem ser obtidas pelostelefones 3308-3604 e 3308-4550.

Portas AbertasUniversidade preparaedição 2009

No próximo dia 16, salas de aula, bibliotecas, la-boratórios, centros de pesquisa, espaços de convivên-cia, cultura e lazer da Universidade estarão abertospara que a comunidade possa conhecê-los durante asétima edição do UFRGS Portas Abertas. A coorde-nação do evento, juntamente com professores, servi-dores técnico-administrativos, estudantes e a dire-ção de cada unidade acadêmica, preparou extensaprogramação a ser desenvolvida ao longo do dia. Pú-blico em geral, escolas e grupos de visitantes serãorecebidos por monitores, que irão apresentar as mui-tas atividades da Universidade. Mais detalhes podemser obtidos no site www.ufrgs.br

Jovem CientistaPrêmio destaca trabalhos deenergia e meio ambiente

O XXIV Prêmio Jovem Cientista tem como tema“Energia e Meio Ambiente – soluções para o futu-ro”. Nesta edição, o foco será o estudo, o desenvolvi-mento e o uso de energias alternativas, estimulandoa produção e o consumo dessas fontes de energia demaneira sustentável, de forma a suprir as necessida-des do presente sem comprometer a possibilidade deas futuras gerações atenderem também às suas pró-prias. Cinco categorias serão premiadas: Graduado,Estudante de Ensino Superior, Estudante de EnsinoMédio, Orientador e Mérito Institucional. Tambémestá prevista uma Menção Honrosa para um pesqui-sador que tenha se destacado por sua trajetória naárea relacionada ao tema do prêmio. Além da premi-ação em dinheiro e equipamentos, os três primeiroscolocados de cada categoria ganharão bolsa de estu-do do CNPq. As inscrições podem ser feitas até 31 dejulho pela Internet ou pelos Correios. O regulamen-to do prêmio e a ficha de inscrição estão disponíveisno endereço www.jovemcientista. cnpq.br.

A proposta apresentada peloMinistério da Educação (MEC)de fazer uma modificação noExame Nacional do EnsinoMédio (Enem), utilizando-ocomo forma de seleção para oingresso nas universidades fe-derais, está em análise por umaequipe técnica da UFRGS. Ainformação foi divulgada peloreitor Carlos Alexandre Nettoem entrevista coletiva à im-prensa realizada em 14 de abril.

Acompanhado de seu vice-reitor, Rui Vicente Opper-mann, ele esclareceu que oEnem poderá ser usado de duasmaneiras: substituindo com-pletamente os exames vestibu-lares e transformando-se naúnica forma de seleção (aexemplo do que decidiram ou-tras instituições gaúchas, comoa Unipampa e a UFCSPA); oucomo uma primeira fase doconcurso vestibular.

Destacando o fato de que ovestibular, nos moldes atuais,existe como uma alternativaante a insuficiência de vagasnas universidades federais paraos egressos do ensino médio,Netto ressaltou que a aprova-ção neste concurso significaclassificação, e não exame desuficiência do ensino médio.Esse exame seria o Enem, baseda proposta do MEC.

O professor salientou o uni-verso diversificado das 59 ins-tituições federais de ensino su-perior do país, cada qual comum nível de desenvolvimento.Nessa perspectiva, lembrou quea UFRGS tem 75 anos e que seuconcurso vestibular atingiu umnível de qualidade e de confia-bilidade que precisam ser leva-dos em conta em qualquer de-cisão que venha a ser tomada.

Conforme o reitor, nestemomento não há como aUFRGS utilizar o novo Enemcomo a única forma de sele-

ção, por isso a Universidadeestá começando a discutir umvestibular em duas fases, cominício previsto para 2011. “Se-ria mais ou menos o que é fei-to pelas universidades paulis-tas: uma primeira fase comquestões de múltipla escolha,ou de escolha simples; e umasegunda, com questões discur-sivas.” No entanto, como a dis-cussão da proposta está inici-ando, não poderá ser adotadaqualquer mudança para o ves-tibular de 2010.

“Estamos elaborando, naadministração central, uma

proposta de utilização do Enemcomo parte do nosso concursovestibular”, disse ele, acrescen-tando que o documento deveráser submetido ao Conselho deEnsino, Pesquisa e Extensão(Cepe) e ao Conselho Univer-sitário (Consun), que são asinstâncias superiores que legis-lam sobre os grandes temas daUniversidade.

A decisão da UFRGS deveráser definida até julho, uma vezque o lançamento do edital dovestibular 2010 ocorrerá noinício do segundo semestredeste ano.

InfraestruturaGráfica recebenovo equipamento

IntegraçãoHCPA ganha Núcleo deTelemedicina e Telessaúde

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)inaugurou, em 25 de março, o seu Núcleo de Teleme-dicina e Telessaúde, integrado à Rede Universitária deTelemedicina (Rute). Na mesma data entraram emfuncionamento os núcleos localizados nos hospitaisda Universidade Federal de Pelotas, UniversidadeFederal do Amazonas e Fundação UniversitáriaFederal do Rio Grande. Sob a coordenação do professorRenato Seligman, o núcleo desenvolve atividades comoo ensino a distância para o programa de residênciamédica, o curso interativo de técnica cirúrgica básica eo projeto de teledermatologia. Mais informações pelotelefone 2101-8616 com Gustavo ou Marcos.

Açorianos de MúsicaProfessores do IA são premiados

Os professores Eloy Fritsch e Daniel Wolff doDepartamento de Música do Instituto de Artesconquistaram o Prêmio Açorianos de Música 2009.Compositor, tecladista e pesquisador, Eloy Fritschrecebeu Menção Honrosa pelo DVD “Música Eletrô-nica e Computacional” e pelo livro “Música Eletrôni-ca – Uma Introdução Ilustrada”, lançados pela Editorada UFRGS com recursos do Programa Pesquisa emSala de Aula, da Pró-reitoria de Pesquisa. DanielWolff recebeu a Menção Especial do Prêmio Açoria-nos pelo projeto Sarau no Hospital, criado e coorde-nado por ele no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.A iniciativa, desenvolvida como um projeto deextensão da Universidade desde 2006, já proporcio-nou recitais e oficinas musicais a mais de 2.000pacientes. A entrega dos prêmios ocorreu no TheatroSão Pedro no dia 28 de abril.

A partir deste mês, a Gráfica da Universidade colocaem operação a sua CTP (sigla em inglês paraComputer to Plate), máquina que elimina a etapa dofotolito no processo de impressão. O novo equipa-mento evita o uso de substâncias químicaspoluentes, consome menos energia e garante maisqualidade ao produto final. Graças à aquisição, aimpressão de materiais, como o Jornal da Universida-de, deixa de depender de serviços terceirizados eganha maior agilidade.

ParceriaRedeIFES seexpande no RioGrande do Sul

Em abril, profissionais de comu-nicação da UFRGS, da Universida-de Federal de Santa Maria (UFSM),da Universidade Federal de Pelotas(UFPel) e da Universidade Federalde Ciências da Saúde de Porto Ale-gre (UFCSPA) reuniram-se naUFRGS para discutir a consolida-ção regional da RedeIFES, ligada àAssociação Nacional dos Dirigen-tes das Instituições Federais de En-sino Superior (Andifes). Iniciadoem 2003, o projeto pôs em fun-cionamento no ano passado umsistema para a permuta de progra-mas de rádio e TV produzidos nasinstituições federais de ensino su-perior em todo o país. O coordena-dor de pesquisa do projeto, profes-sor Carlos Rocha (UFPr), veio a Por-to Alegre especialmente para acom-panhar a reunião. Graças à Rede, aUFRGS TV, que exibe programas deoutras universidades desde outubrode 2007, quando se iniciou a fase detestes, agora se prepara para incluirsuas próprias produções no sistema.Em 2008, a RedeIFES iniciou umprojeto de integração entre as açõesda Andifes, da Rede Nacional dePesquisa, do MEC e do MCT.

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Page 4: Jornal da Universidade

D E B AT E S

4 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009

Revista Britânica de Medicina (BMJ)solicitou a seus leitores que indicas-sem, de uma lista de 15 opções, o avan-

ço científico que acreditassem ter trazido mai-or benefício à saúde pública. A vencedora daenquete foi a distribuição de água potável e acoleta de esgotos sanitários (15,8%), seguida dadescoberta de antibióticos (15%), do desenvol-vimento da anestesia (14%), da introdução devacinas (12%) e da descoberta da estrutura doDNA (9%).

Até a implementação da chamada “revoluçãosanitária” – como ficou conhecida a introduçãode sistemas de água potável e coleta de esgotos –as cidades eram locais terrivelmente insalubres,sujeitas a frequentes epidemias de doenças con-tagiosas. Uma luz sobre o problema foi trazidapelo médico inglês John Snow. Em 1854, du-

Saneamento e saúde pública

* Professor de Saneamento Ambientaldo IPH/UFRGS

rante uma epidemia de cólera em Londres, Snowprovou que pessoas adquiriam a doença apósconsumirem água contaminada de um poçopúblico. O micro-organismo causador do cóle-ra, Vibrio cholerae, só viria a ser isolado em 1883pelo médico alemão Robert Koch.

Coube a um conterrâneo de Snow, o advoga-do Edwin Chadwick, o pioneirismo na ideia deimplantar redes de distribuição de água e de co-leta de esgotos nas cidades como método pre-ventivo de aquisição de doenças. As propostas deChadwick enfrentaram forte oposição, e o pro-gresso do saneamento das cidades continuoulento até o início do século 20. Nos Estados Uni-dos, por exemplo, o processo de desinfecção daágua com cloro teve início somente em 1908 nacidade de Chicago. Ao longo do século 20, a in-fraestrutura sanitária cresceu rapidamente nas

cidades dos países desenvolvidos, possibilitan-do, então, o controle das epidemias.

Em países mais pobres, a falta de saneamen-to é a realidade de centenas de milhões de pes-soas, muitas das quais vivem em condições sa-nitárias piores do que aquelas experimentadaspor nossos antepassados de 2 mil anos. Essaspessoas estão sujeitas a doenças como cólera,hepatite A, febre tifóide e esquistossomose, semfalar em diarréias que vitimam 1,5 milhão decrianças por ano no mundo. No Brasil, houvegrande avanço na cobertura de água potável dascidades, mas os serviços de coleta e tratamentode esgotos são deploráveis. Como consequên-cia, a maioria dos rios brasileiros que cruzamáreas urbanas se transformou em cloacas e agen-tes transmissores de doenças.

O impulso inicial para o saneamento das ci-

A

* Professor Adjunto do DOH-IPH/[email protected]

Antônio D. Benetti *

ILUSTRAÇÃO: EDUARDO MÜLLER/NIQ

Dia Mundial da Água foi criado pelaOrganização das Nações Unidas(ONU) em 22 de março de 1992. Na

Declaração Universal dos Direitos à Água, emseu Art. 2.º, é dito que essa substância natural éa seiva do planeta. Ela é a condição essencial devida de todo ser vegetal, animal ou humano. Odireito à água é um dos direitos fundamentais:o direito à vida, tal qual estipulado no Art. 3.ºda Declaração dos Direitos do Homem.

Portanto, em março, o mês das águas, fomosconvidados a comemorar e a refletir sobre aimportância desse bem e sua relação com omodelo de desenvolvimento sustentável queprecisamos empreender. Comemorar é um ter-mo forte, pois é tempo de aprender, entender,ensinar sobre esse elemento que, segundo Pla-tão, é o princípio da vida.

Acreditando que nossa Universidade deveformar conhecimento e difundi-lo, integrar-senesse tão importante debate, não podemos nosfurtar de participar dessa construção do pensa-mento nos âmbitos local e global.

Em palestra na conferência “Cambios polí-ticos en Latinoamérica - Nuevas políticas delagua?”, realizada entre os dias 26 e 29 de no-vembro na cidade do México, foram discutidosos desafios para uma gestão participativa e paraa democratização do acesso à água potável e aosserviços de saneamento básico de qualidade.Ainda há muitos “donos” da água, mesmo sesabendo que, por ser um direito, ela a todos per-tence. O grupo participante do evento patroci-nado pela Fundação Heinrich Böll, constituídopor segmentos da sociedade civil, deliberou ra-tificar a água como essencial à vida, portantoum direito humano e um bem comum. Se aabordagem até a pouco estava centrada no aces-so à água potável e ao seu financiamento, o con-texto das mudanças climáticas e dos riscos àsustentabilidade ambiental faz com que sejamadotadas nova compreensão e postura em tor-no dessa temática. As intervenções no ciclo na-tural da água causam desequilíbrios e extremosclimáticos de períodos secos ou de cheias. Dacivilização se exigirá um tratamento menoscorporativo, consumista, mercadológico, espe-culativo, e mais solidário e responsável.

A sociedade civil combativa somente conse-gue apresentar suas posições antagônicas às da“Global Water Partnership (GWP)” nos fórunsmundiais paralelos. A GWP representa os “ba-rões da água”, que fomentam os Fóruns Mun-diais da Água, ditam regras e submetem gover-nos. No Fórum Mundial da Água, realizado nomês passado na Turquia, a polícia dispersou ati-vistas que pretendiam participar das discussõesoficiais. Nesse encontro em que foram discuti-

Dieter Wartchow*

“Pessoas que nãopoderão pagar opreço terãodificuldades deacessar um direitouniversal e ficarãoreféns de posturaspaternalistas”

dades deu-se com as descobertas de Snow, Koch,Pasteur e outros cientistas que comprovaramque micro-organismos são agentes de doençase que estas podem ser transmitidas por águacontaminada. No início do século 21, os desa-fios de manter e ampliar os serviços de sanea-mento são enormes. Em muitos locais, há es-cassez de água, e novos contaminantes biológi-cos e químicos são continuamente detectadosem ambientes aquáticos. Investimentos em ci-ência e tecnologia e adoção de políticas públi-cas que priorizem o saneamento são meios degarantir que as cidades não serão centros irra-diadores de epidemias.

Água:conhecimento,habilidade eatitude

dos aspectos relacionados à divisão da água,principalmente em zonas de conflito, o Brasilaliou-se à posição defendida pelas maiores com-panhias privadas do setor hídrico, ao tratar aágua como uma “necessidade básica”, e nãocomo um “direito humano básico”. Tal deci-são causou mal-estar entre vários países latino-americanos. Recomendamos, para o bem doBrasil, mais transparência, um debate demo-crático e soberania nessa questão estratégicapara o povo brasileiro.

A água deve unir pessoas, territórios, direi-tos, e não dividi-los. Os homens não podem di-vidir a água, um bem comum, finito, direitohumano, a seiva da vida. Não podem ficar, deum lado, governos, ou quem os representa, einstituições ou corporações privadas que defen-dem a água como um bem de mercado ou umserviço regulado pelos tratados comerciais e, deoutro, as entidades civis organizadas, que de-fendem a participação dos cidadãos e a gestão

pública e democrática dos serviços de sanea-mento básico e dos recursos hídricos. Recursoshídricos, cuja unidade de planejamento é a ba-cia hidrográfica, relacionam território, dispo-nibilidades, demandas, usos e sua gestão. Am-bos, água e recursos hídricos, são indissociá-veis. Pela sua importância e se considerando oscenários de abundância ou escassez, são alvosde disputa de poder. Quando abundantes, trans-formam água em celulose e papel, ou a utili-zam para a produção de grãos e a pecuária. Aguerra de mercado pela água invisível é imi-nente. Disputa-se o poder econômico sem con-siderar os limites e as leis da natureza e do co-nhecimento. Não há garantias de distribuiçãode renda, e as metas mundiais para a reduçãoda pobreza não passam de uma falácia.

Preocupada com o déficit de pessoas sem águasegura e saneamento no mundo, e com o cum-primento das metas de desenvolvimento domilênio, a ONU, por meio da UN-Habitat, cons-tituiu uma aliança global entre os operadoresdos serviços de água e saneamento, tendo comodiretriz fortalecer as parcerias público-públi-co. Também nesse importante foro decisórioestaremos representando a UFRGS e o Brasil.

Segundo a Organização Mundial da Saúde,em seu documento Visão 21, se estimou emU$ 225 bilhões a necessidade de investimentosnos próximos 25 anos para terminar com a sededa população mundial. É muito menos do queos estimados 1,5 trilhões de dólares de recursospúblicos destinados pelos países em ajuda abancos e grandes empresas privadas, cujas ga-rantias para resolver a crise que mais afeta ocidadão são pífias. Essa matemática é perversa

O

para com a saúde dos homens e mulheres, ape-sar das reiteradas afirmativas de que, para cadareal investido em saneamento básico, se eco-nomizam quatro reais com o tratamento dedoenças de veiculação hídrica.

Empresa alguma está no negócio da água paraministrá-la e fazer filantropia, mas sim para ti-rar proveito econômico. Alcançar água socialsubsidiada para a população de baixa renda éuma tarefa dos governos, dizem os dirigentesempresariais, que indiretamente pensam emsocializar o problema e oportunizar um mer-cado que ultimamente tem demonstrado ne-nhuma ética e muita especulação. Pessoas quenão poderão pagar o preço terão dificuldadesde acessar um direito universal e ficarão refénsde posturas paternalistas.

Um enfoque da água como bem comum, poroutro lado, implicaria atuar no sentido contrá-rio aos interesses econômicos. Todos esses in-gredientes e a passividade da sociedade deverãodar lugar ao conhecimento ético, à habilidadede compreender e à atitude de aprender. Comoas fronteiras do pensamento dominante avan-çam sobre nossas mentes, culminando na apro-priação de um ambiente natural a ser preserva-do, recomendamos a discussão e a elaboraçãode novos conceitos em nossas escolas e univer-sidades. Quebrar paradigmas é necessário. Aágua e a vida agradecerão.

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JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009 | 5

A T UA L I D A D E

Durante o 1.º Fórum Social Mundial, reali-zado em 2001 em Porto Alegre, experiênciasdo mundo inteiro envolvendo a economia so-lidária tiveram grande visibilidade. AntonioDavid Cattani, professor do Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFRGS, recordaque, naquela ocasião, verificou-se um desen-contro de terminologias e experiências que nãoeram comparáveis. “O cooperativismo do qualfalávamos era diferente do cooperativismo em-presarial que vigorava em alguns setores. Na es-teira do Fórum, realizamos uma série de semi-nários no Rio Grande do Sul. Assim, articu-lou-se uma equipe altamente competente e di-versificada, que começou a clarificar conceitossobre experiências inovadoras como a das coo-perativas e das redes solidárias.”

O resultado dessas discussões foi o lança-mento, em 2003, do livro A outra economia,durante o Fórum Social daquele ano. Emborahouvesse estudos sobre alternativas ao capita-lismo, conduzidos por Paul Singer e outrosautores, não existia nada semelhante no mer-cado editorial, e a obra foi um sucesso rápido,porque as pessoas procuravam comparar ter-mos e clarificar conceitos. E aí começa umahistória extraordinária.

Trajetória internacional - O livro foi imedia-tamente traduzido para o espanhol e lançado naArgentina, esgotando-se rapidamente. “Nessemeio tempo, encontrei o professor Jean-LouisLaville, autoridade mundial no tema da econo-mia alternativa. E ele propôs que, a partir da edi-ção brasileira, fizéssemos uma edição ampliadaem francês. Então, o Dictionnaire de L’autre éco-nomie foi publicado por duas editoras concei-tuadas, uma delas a Galimard. A obra teve duasedições praticamente esgotadas de 8 mil exem-plares, um número muito bom mesmo na Fran-ça, pois livros acadêmicos não vendem muito”,lembra Cattani.

A partir da publicação francesa, houve umaedição italiana que também alcançou boa re-percussão. “Depois disso, procurei os professo-res Luiz Inácio Gaiger, da Unisinos, pesquisa-dor com várias publicações nessa área, e PedroHespanha, integrante da equipe de Boaventurade Sousa Santos. Partimosentão para a organização deuma edição internacionalcom mais de 50 autores eu-ropeus, latino-americanos eafricanos”, diz o sociólogo.

O Dicionário Internacio-nal da Outra Economia foilançado pela editora Alme-dina, de Coimbra (Portu-gal), e, de novo, a trajetóriacorrespondeu à dinâmica dotema do livro: ele foi simbo-licamente lançado no iníciodeste ano, na edição do Fó-rum Social Mundial em Be-lém, e também em um con-gresso luso-afro-brasileirona cidade de Braga, em feve-reiro. Houve um lançamen-to em Porto Alegre e em SãoLeopoldo, no mês de março.Cattani adianta que, emmaio, a obra chegará às livra-rias de Moçambique e, nospróximos meses, estará dis-ponível também em Recife,São Paulo, Joinville, Floria-nópolis, Juazeiro, Petrolina,Manaus e Brasília. No se-gundo semestre, será a vez deocupar espaço na Feira doLivro de Porto Alegre. “A melhor parte é que,junto com o economista José Luis Coraggio, jáestamos elaborando um Dicionário Latino-americano da Outra Economia.” Segundo Cat-tani, a nova publicação agregará partes destaedição e contribuições de autores latino-ame-

Obra traz alternativasà economia capitalista

Lançamento“DicionárioInternacional daOutra Economia” éfruto do trabalho depesquisadores devários países

Ânia Chala

ricanos, com lançamento previsto para agosto,em Buenos Aires, durante o congresso da Asso-ciação Latino-americana de Sociologia.

O sociólogo também está preparando, pormeio de uma parceira com outros colegas inte-ressados na economia solidária, um guia para acidadania mundial, que não se limita à ideia deesfera econômica, abrangendo conceitos comoconsumo consciente, comércio justo, sustenta-bilidade e preservação ambiental.

Capitalismo autêntico - Desde o final dosanos 90, o mundo observou um aumento ex-traordinário das desigualdades. O capitalismoestava em processo de expansão globalizada,atingindo todos os países e, ao mesmo tempo,os problemas essenciais continuavam os mes-mos e, em alguns casos, até agravados, pois ha-

via uma forte concentraçãode renda. Cattani salientaque o quadro era resultadodo modelo do capitalismoautêntico, sem freios, que al-guns chamam de capitalis-mo selvagem. “Ele não acei-ta controles estatais, exploraa mão de obra ao máximoem qualquer lugar do mun-do, quer liberdade para cir-cular e aproveitar vantagenstributárias sem qualquercomprometimento com olocal ou com uma identida-de de país. É um capitalismoque não tem compromissocom a vida. Um exemplo sãoas papeleiras que saem dospaíses nórdicos e se instalamno sul para destruir os recur-sos que ainda temos. Daqui a21 anos, quando a terra esti-ver devastada, eles irão em-bora para outro lugar”, ava-lia.

Por outro lado, o final dadécada de 90 também regis-trou o surgimento de umaeconomia diferente, com aproliferação de experiênci-as reais no campo do coo-

perativismo e da autogestão de empresas como rótulo genérico de economia solidária. Asuniversidades começaram a se envolver comesses projetos, buscando a incubação dessesempreendimentos que são regidos por lógicasnão convencionais.

Viver no coletivo - Um dos 58 verbetes pre-sentes no dicionário é o que trata dos chama-dos bens públicos mundiais. Cattani explicaque esse é um conceito novo aplicado às coi-sas que são comuns à humanidade. Existembens que são de todos, portanto não podemser objeto de exploração de interesses priva-dos, localizados ou nacionais. “É bem a ideiaque o Fórum Mundial sempre explorou: asfronteiras são convenções, a poluição na parana fronteira dos Estados Unidos com o Méxi-co; a poluição europeia alcança a África, o Ár-tico e outros continentes.”

O professor ressalta que tudo o que diz res-peito à economia solidária engloba também oconceito de sustentabilidade. A economia so-lidária trabalha localmente, envolvendo par-cerias específicas com os órgãos públicos e nãotem comparação com uma média empresa ouuma corporação que por estratégias diversasse instala num determinado ponto, corrom-pe, polui e vai embora. “Grandes empresasdissimulam seus objetivos através de estraté-gias de marketing. Um exemplo recente é apropaganda de um banco norte-americanoque veicula imagens de monumentos de gran-des cidades, como Paris, seguidas de monu-mentos porto-alegrenses, como a Catedral dasDores e o Monumento ao Expedicionário.Trata-se de um engodo, porque tenta vender aideia de que aquele banco é local, é gaúcho.Tudo isso é de uma falsidade completa, poisesses empreendimentos estão instalados aquià custa de isenções fiscais e da exploração damão de obra barata. Eles não têm qualquerapego aos locais onde se instalam, o que é pró-prio do capitalismo”, conclui.

Já a economia solidária tem vínculo com orespeito à terra, com uma ideia de valorizaçãohumana que não é uma abstração: significatrabalho decente e bem remunerado, sem des-potismo fabril e sem disciplina alienante. “Naedição de março do Jornal da Universidade umdado interessante apareceu na reportagem so-bre os problemas do trânsito: independente-mente dos incentivos do governo para a com-pra de carros novos, há a tendência ao indivi-dualismo, à negação do espaço. As pessoas seisolam em suas casas e em seus carros. O trân-sito é regido por uma lógica individualista. Aideia do solidário é pensar em como viver jun-tos com qualidade de vida. Não é negar o pro-gresso, mas buscar uma oura dimensão para afruição dos bens. Viver no coletivo significaabolir um tipo de consumo e um modo devida que são inviáveis”, finaliza o professor.

DICIONÁRIODICIONÁRIODICIONÁRIODICIONÁRIODICIONÁRIOINTERNACIONALINTERNACIONALINTERNACIONALINTERNACIONALINTERNACIONALDA OUTRA ECONOMIADA OUTRA ECONOMIADA OUTRA ECONOMIADA OUTRA ECONOMIADA OUTRA ECONOMIA

Antonio David Cattani, Jean-Louis Laville, Luiz InácioGaiger e Pedro Hespanha(orgs.).Editora Editora Editora Editora Editora Almedina, 2009,352 págs.Preço médio R$ 50

Economia solidáriaainda não seconsolidou nasuniversidadesO Dicionário Internacional da OutraEconomia foi organizado por quatropesquisadores ligados a universidades,assim como quase todos os autoresdos verbetes.Na opinião do professor Antonio DavidCattani, um dos organizadores, essetipo de publicação corresponde à ideiade uma universidade pública, produtorade um tipo de conhecimento que sejaútil para a sociedade como um todo. Eleinforma que a UFRGS tem um trabalhobem forte no Núcleo de EconomiaAlternativa (NEA), coordenado peloprofessor Carlos Schmidt, da Faculdadede Ciências Econômicas, que desenvol-ve experiências reais em torno de redes,da ação solidária e da incubação deempreendimentos. “Mas não dá paradizer que esse é um tema consolidadonas universidades. Acho que estamosmuito longe de atender a questões dointeresse de uma outra economia. Umexemplo é o fato de que esses temasainda não foram incorporados àformação dos alunos dos cursos deEconomia, Administração, Direito e dasCiências Contábeis. Esses cursosformam profissionais dentro da lógicado modelo em vigor.”Cattani acredita que a economiasolidária precisa construir outrosreferenciais, pois a lógica do capitalis-mo estimula o consumo obsessivo,utilizando ferramentas como omarketing. “Hoje as pessoas compramlixo importado sem qualidade e nãovalorizam a produção local, quando nasfeiras de economia solidária há produ-tos melhores e que geram mais renda.Tudo passa pela formação da opiniãopública e a Universidade Pública temlegitimidade para fazer isso”, diz ele,acrescentando que é preciso pensarnuma outra lógica de consumo.

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6 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009

C ÂM P U S

Campanha de

No início das aulas deste semes-tre, estudantes do Câmpus do Valeafixaram no caminho para o Res-taurante Universitário (RU) seisplacas de madeira alertando para osprejuízos da entrada irregular depessoas na fila (popularmente co-nhecida como furo), desobedecen-do à ordem de chegada. Segundo oscartazes não assinados, quem furacausa transtornos aos demais fre-quentadores do RU. Em quatro dias,os avisos foram retirados sem moti-vo aparente e recolocados pelos ide-alizadores do movimento.

Organização da campanha - Aoingressarem na Universidade, JesséSangalli de Mello e Maurício Re-daelli, alunos do curso de Física, ob-servaram o constante hábito do furonos restaurantes. Passados algunssemestres, eles concluíram que, seninguém reclamasse, a prática nãoseria abolida. Resolveram, então,conversar com colegas e amigos dediversos cursos e perceberam quenão eram os únicos incomodadoscom a situação. Em setembro de2008, criaram uma comunidade emum site de relacionamentos intitu-lada “Eu ñ furo a fila do RU (UFR-GS)”, que até o dia 29 de abril con-tava com 81 membros.

A partir da comunidade e dasconversas que realizavam na facul-dade, a iniciativa ganhou o apoio de

combate ao furo

Ampliação domovimento Os idealizadores da campa-nha analisam a possibilidadede ampliá-la a todos os RUsda Universidade. Segundoeles, a tática adotada paracada restaurante deve serdiferente: “Sabemos que ospúblicos não são os mesmos.No Centro, por exemplo, asatuações terão de ser outras.Temos preocupação com apoluição, inclusive a sonora evisual, por isso não podemosdistribuir folhetos e colaravisos. Em breve, vamosexpandir as ações para látambém, mas precisamosestudar as estratégias”,esclarece Jessé. No CâmpusSaúde, placas semelhantesàs do Vale já foram colocadasnos acessos ao restaurante.O objetivo principal dainiciativa é reduzir acorrupção, nesse casorepresentada pelo furo: “A filado RU simboliza todas asoutras, seja a do cinema ou ado transplante de órgãos”,afirmam os organizadores.Para eles, o término dos furosnão representa soluçãoimediata, mas é uma maneirade melhorar o convívio dentroda Universidade. “Nossapostura exemplifica nossocomportamento em outrassituações. A mudança deatitude pode ajudar-nos dealguma maneira a diminuir osproblemas da sociedade”.Maurício e Jessé explicamainda que a iniciativa temdois focos: evitar a entradairregular nas filas e dar aoportunidade a quem écontra de se manifestar. “Oscartazes não são assinadosporque não queremospromoção pessoal nemcoletiva. Não estamosfazendo propaganda eleitoralou levantando uma bandeirapolítica. O movimento é dealunos para alunos e para asociedade em geral.”

Frases daFrases daFrases daFrases daFrases dacampanhacampanhacampanhacampanhacampanha

Você furou a fila hoje?Então vou me atrasar paraa aula.

EU não quero lutar sozi-nho pelo NOSSO direito.MANIFESTE-SE. Não deixeque furem a fila. Hoje umcolega se atrasa. Amanhãpode ser você.

O seu ensino é de nívelsuperior. E a sua educa-ção?Colabore. Não fure a fila.

“O que me preocupa nãoé o grito dos violentos,nem dos corruptos, nemdos desonestos, nem dossem-caráter, nem dossem-ética. O que maispreocupa é o silêncio dosbons.” Martin Luther King

RestaurantesRestaurantesRestaurantesRestaurantesRestaurantesUniversitáriosUniversitáriosUniversitáriosUniversitáriosUniversitáriosMovimentoorganizado poralunos buscaconscientizarusuários

Leila Ghiorzi, estudante do 4.º semestrede Jornalismo da Fabico

Cartazes da campanhachegam ao RU do Câmpus

Saúde e suscitamopiniões distintas

outros estudantes. “O objetivo é pas-sar adiante a ideia para que as pes-soas se conscientizem dos danos”,explica Jessé. “Por meio das abor-dagens e da discussão na comuni-dade, percebemos que alguns furamsó porque todo mundo faz. Torna-se algo natural.” A intenção eramostrar que, sem a entrada irregu-lar, o andamento da fila não apre-sentaria contratempos.

Com autorização da coordenaçãodos restaurantes universitários, Jes-sé e Maurício escolheram seis tex-tos que promovem a reflexão e osdistribuíram pelo Câmpus. Comosabiam da delicadeza do assunto,esperavam que as placas fossem ar-rancadas já no primeiro dia. No en-tanto, elas resistiram até o quarto.“Depois de quatro dias, duas foramarrancadas. No quinto, mais três. Atristeza inicial transformou-se emmotivação, pois estávamos atingin-do as pessoas certas”, lembra Jessé.Os cartazes foram encontrados enovamente afixados.

Os protagonistas do movimentodemonstram surpresa com a rápidarepercussão da campanha, já que asreclamações no Vale diminuíramconsideravelmente. Mas ponde-ram: “Não sabemos ao certo se osprotestos diminuíram porque os ca-sos também diminuíram ou porqueas pessoas percebem que algo estásendo feito. Seja qual for o motivo,estamos muito felizes”.

Apesar de a iniciativa ter partidode alunos, ela não é vinculada aoDiretório Central dos Estudantes(DCE). “Esse é um movimento in-dependente, nós não fomos conta-tados”, esclarece o coordenador-ge-ral do DCE, Glauco Araujo. “Reco-nhecemos a importância de açõesdesse tipo porque também não so-mos a favor dos furos. Contudo, oproblema das filas superlotadas sóvai acabar quando os restaurantesuniversitários forem apropriados àdemanda.”

Apoio institucional - - - - - A Univer-sidade, em várias ocasiões, já ten-tou minimizar esse problema. Po-rém, como afirma o diretor da Di-visão de Alimentação da Secretariade Assuntos Estudantis (SAE), Pau-lo Peres, “essa é uma questão cul-tural, de educação, não temos comocontrolar”.

Para o vice-secretário de Assis-tência Estudantil, Alberto Cossio, “ainiciativa é muito importante, e va-mos apoiá-la da melhor maneirapossível”. Esforços estão sendo fei-

tos não só em relação à espera pelarefeição, mas também para a me-lhoria dos serviços oferecidos. A re-cente reforma do RU1, no CâmpusCentro, aumentou em 150 lugaresa capacidade do restaurante. “O pro-blema não é só esse, mas também afalta de colaboração de algumaspessoas. Elas insistem em não uti-lizar os cartões de identificação,preferindo informar o número dematrícula, o que causa demorasmaiores na hora do pagamento”,continua Peres. Segundo ele, a Uni-versidade investiu na aquisição deleitoras de código de barras para agi-lizar o atendimento, instaladas nofinal de 2008.

A campanha também tem rece-bido o apoio dos servidores e docen-tes da instituição que utilizam osrestaurantes. Jessé conta que “eles

nos procuram, dizendo que hámuitos anos a comunidade esperapor uma atitude dessas”.

Argumentos contrários - Nemtodas as manifestações, porém, têmsido de apoio. Estudantes afirmamser justificada a prática, que nãoprejudica os colegas. Para Julianode Leon Viero Marques, graduandodo 5.º semestre do curso de Histó-ria da UFRGS, o hábito é compre-ensível. “Desde que entrei na facul-dade, observo que, frequentemen-te, as pessoas furam ao avistarem al-guém conhecido. Não vejo qualquerproblema, já que é preferível con-sumir refeições com uma compa-nhia agradável a comer sozinho.”

Juliano conta que já furou e nãovai abandonar o costume: “Já en-trei na fila diversas vezes, mas tam-bém já furaram à minha frente, eeu nunca me incomodei. Por isso,sou contrário à campanha”.

Assim como Juliano, diversosalunos não se importam com essecomportamento, e alguns o defen-dem como legítimo. Na comunida-de da UFRGS, na mesma página derelacionamentos na web, a polêmi-ca levantou discussão e conta comopiniões favoráveis e contrárias.

A estudante Alessandra Santos deSouza, do 1.º semestre de Teatro,concorda com Juliano. “Não meimporto muito com isso, acho nor-mal.” Frequentadora do Restauran-te Universitário do Centro, ela de-clara que não tem esse hábito, mashá situações em que é necessáriolançar mão dele. “Por exemplo, hádias em que minha cadeira terminaàs 12h30min e a próxima começaàs 13h30min. E ainda preciso medeslocar até o RU. Se a fila estivermuito grande, eu tenho de furarpara não chegar atrasada à aula.”

BRUN

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Algunsfrequentadoresinsistem em nãoutilizar os cartões deidentificação, o quecausa demorasmaiores na hora dopagamento

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JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009 | 7

C ÂM P U S

Jornada do almoço

Com obras paralisadas desde omeio do ano passado o RestauranteUniversitário mais movimentado daUFRGS, vem acumulando recordestanto nos índices de refeições servi-das quanto no tamanho das filas. Aconstrução chegou a ser iniciada, masa falência da empresa encarregada pe-los trabalhos adiou o fim de um an-seio de estudantes e servidores.

Os números da espera - Começa-da em outubro de 2006, a ampliaçãodeveria estar concluída em outubro de2008, oferecendo aos usuários apro-ximadamente 1.100 lugares – hoje, sãopouco mais de 500. Confrontados osnúmeros do ano passado com os de2009, estão sendo servidas por volta de300 refeições a mais por dia. O cresci-mento fez com que a média diária derefeições servidas no mês de marçochegasse a três mil.

O aumento é notado por estudan-tes como a mestranda Vanessa Ven-turini, graduada em Química Indus-trial: “Gasto em torno de uma horapara almoçar, porque costumo vircedo. Por volta do meio-dia, a fila ficabem maior. É capaz de tu perderesuma hora e meia para almoçar”.

As reclamações não são exclusivi-dade dos alunos. Com 62 anos de ida-de, o servidor José Delarci, frequenta-dor do RU do Vale há 24 anos, procurair almoçar às 11 ou às 13h: “Senão,dou de cara com uma fila imensa. Esteano está crítico”, lamenta. Conseguirlugares também é um problema: “Àsvezes tu tens que esperar de pé com abandeja até alguém levantar”.

Frustração - O descontentamento setornou evidente em 1.º de abril, quan-do uma manifestação agitou o horáriode almoço no Vale. Foram distribuí-dos narizes de palhaço para quemaguardava em uma fila que, às 13h, seestendia até a entrada do prédio daFAURGS. Com a ajuda de alto-falan-tes, estudantes leram um manifestoassinado pelo Diretório Central dosEstudantes, pela Associação dos Ser-vidores da UFRGS e pelos diretóriosda Geologia, Geografia, Ciências So-ciais, História, Biologia, Filosofia, Edu-cação, Matemática e Educação Física.

Após uma demora de quase um ano para o inícioefetivo das obras, devido aos entraves legais impostospela necessidade do corte de árvores – a Universidade,inclusive, comprou mudas para substituir as árvoresderrubadas –, a Martene Construções Ltda. pôde le-var a cabo as atividades previstas em contrato.

Um vestiário foi construído para os funcioná-rios e parte da fiação da rede elétrica foi trocada,enquanto a duplicação dos salões começava a apa-recer. “Depois, eles começaram a patinar. Tu che-gavas lá e havia dois trabalhando, outros esperandomaterial, até que vimos que não tinha mais nin-guém. Aí soubemos que a empresa havia falido”,conta Paulo Peres, diretor da Divisão de Alimenta-ção ligada à Secretaria de Assuntos Estudantis.

Em casos como esse, o segundo colocado na li-citação deve ser chamado, com a proposta de assu-mir os serviços ao mesmo preço do primeiro. Con-

Demétrio Pereira, estudante do 5º semestre deJornalismo da Fabico

Anunciada aconstrução deum novo RUEm 16 de abril, o reitor,Carlos Alexandre Netto, ochefe de gabinete, JoãoRoberto de Braga Mello,e o secretário deAssistência Estudantil(SAE), Edilson Nabarro,se reuniram comrepresentantes do DCE eda ASSUFRGS. Durante aconversa, os estudantesentregaram um abaixo-assinado e uma lista dereivindicações, na qualse destacava a questãodo RU 3. Em resposta, oreitor reafirmou umanotícia anunciada navéspera: os planos paraa construção de um novoRestaurante, no setor 4do Câmpus do Vale,onde fica o Instituto deInformática. A SAE aindanão estimou acapacidade que o RU 6deverá ter. O local teráde suportar o aumentodo fluxo de pessoas nosetor 4, para onde seprojeta a edificação denovos prédios. A ideiainicial é que o RU 6comporte o mesmonúmero de usuários queo RU 3 receberá depoisde ampliado –concluídas as duasobras, teria-se oequivalente a outros trêsRUs idênticos ao atual.Não há previsão para oinício dos trabalhos, masa Universidade já dispõedos recursosnecessários.

InfraestruturaInfraestruturaInfraestruturaInfraestruturaInfraestruturaQuase três anosapós o início dasobras, RU doCâmpus do Valeainda espera porduplicação

Um dos organizadores do ato, An-drias Ostermann, do 3.º semestre docurso de Geologia, cobrou esclare-cimentos: “É hiperirritante saber quetodo dia existe uma fila imensa paraenfrentar e ter que se adaptar a horá-rios alternativos ”. Para ele, o aumen-to da comunidade acadêmica, com acriação de alguns cursos e a amplia-ção de vagas em outros, não foi se-

guido de uma adequação do espaçofísico do RU.

As duas semanas seguintes nãopassaram em branco: em 8 de abril, amovimentação voltou a acontecer noVale, dessa vez com coleta de assina-turas; no dia 16, foi a vez do CâmpusCentro: manifestantes promoveramum “ato-almoço” no pátio entre osprédios da reitoria e do Salão de Atos,que redundou em uma reunião com

representantes do DCE, da Associaçãodos Servidores e da AdministraçãoCentral. Entre as pautas, a construçãode um novo RU no Vale.

Para o Superintendente de Infra-estrutura da UFRGS, professor Alber-to Tamagna, as pressões podem ace-lerar processos quando existe falta devontade da Administração, o que “nãoé o caso. É uma questão urgente paranós, e há recursos”, salienta. A demo-ra se justifica pela necessidade de ava-liar o que foi feito e o que ainda estápendente, para que, somente depois,uma nova licitação seja elaborada.

Uma vantagem é a UFRGS pagarapenas pelo que foi realizado. Apesarde o custo das obras no RU 3 girar emtorno de R$ 700 mil, a Martene Cons-truções, empresa responsável, recebeuapenas a quantia referente ao que foiconstruído. “Não pagamos antecipa-do. Digamos que tu vais reformar estasala: se tu pintas a parede, recebes pelapintura”, compara Tamagna.

A Superintendência de Infraestru-tura espera concluir a relicitação até ofinal deste mês, após a Procuradoriaemitir o parecer que autoriza esse pro-cesso. Elaborada a nova licitação, háum prazo médio de 120 dias para queuma nova empresa seja contratada e aobra recomece. Fazendo a conta: an-tes de outubro, nada de mudanças.

Ao alcance das mãos - Enquantoisso, medidas paliativas vão sendo to-madas: os antigos leitores de cartõesforam trocados por outros novos, rá-pidos e praticamente infalíveis. Alémdisso, a apresentação do cartão passoua ser obrigatória, agilizando o proces-so de pagamento e ingresso.

Os furos passaram a ser um proble-ma merecedor de uma campanha lan-çada por um grupo de alunos do Insti-tuto de Física (leia reportagem na pá-gina ao lado). No início de abril, carta-zes com frases de conscientizaçãoacompanhavam as filas. Para AndriasOstermann, a campanha desvirtua oproblema real, que é a falta de espaçofísico para receber as pessoas.

Para inibir os furos, uma corda temsido esticada ao longo da fila do RU 3.Enquanto iam esticando corda, no dia13 de março, os funcionários brinca-vam com a semelhança do corredorcom os “bretes” usados no meio ruralpara orientar os passos do rebanho.

As mesas e cadeiras que ocuparãoos novos salões do RU já foram com-pradas e estão improvisadamente em-pilhadas rente às paredes internas doRestaurante. Até uma nova empresaretomar o que está parado, as filasabarrotadas e os móveis amontoadosserão lembranças persistentes de quehá algo por ser feito.

“Obras não se compram no supermercado”tudo, a oferta não foi aceita, conforme explica Pe-res: “Três anos depois, os preços estavam comple-tamente defasados. Aí a empresa não quis”.

A Martene mudou de endereço em julho do anopassado. Ainda hoje, segundo funcionários de em-presas vizinhas, o ex-edifício da Martene é procu-rado por pessoas que são surpreendidas pelas por-tas fechadas e pela faixa que anuncia que o imóvelestá disponível para locação.

A empresa estava envolvida em outras duasobras na UFRGS, que também ficaram inacaba-das: o Laboratório de Ensaios e Modelos Estrutu-rais (o Leme, na Escola de Engenharia) e as salas deaula na Escola de Educação Física. A primeira tempronta a documentação para a nova licitação; a se-gunda já está com uma nova empresa encarregadapelos trabalhos.

Se esses casos são semelhantes ao do RU do Vale,

a dúvida imediata é por que eles já estão com suassoluções encaminhadas. Alberto Tamagna expli-ca: “Fizemos nessa ordem porque era mais fácil.As salas de aula são obras menores, e no Leme faltapouco para terminar”.

Sobre a mesa do Superintendente de Infraes-trutura há três carimbos: “SUINFRA”, “Reuni” e“Urgente”. Ele aponta para o terceiro: “Vamos pe-dir urgência para o RU. Quando colocamos esteselo, a obra é prioritária. Diante de outras, ela passana frente”. Em breve, teremos boas notícias, en-tão? Tamagna adianta: “Quando tu falas ‘breve’numa época de informática, as pessoas acham queé um ‘clique’. Obras são demoradas, não se com-pram no supermercado”.

No horário doalmoço, a espera nafila costumaultrapassar os 30minutos nosmomentos de pico

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specIalE8 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009

“O universo para você descobrir.”Essa é a chamada do Ano Internacio-nal da Astronomia (AIA), evento pla-netário proposto pela Unesco e aprova-do pela Assembleia Geral da Organiza-ção das Nações Unidas (ONU) que ce-lebra os quatrocentos anos do uso as-tronômico do telescópio. 1609 é a dataem que Galileu Galilei (1564-1642)registrou suas primeiras observaçõestelescópicas, que não foram poucas etiveram decisiva importância.

“Galileu descobriu que havia qua-tro satélites orbitando Júpiter, que asuperfície da Lua era extremamenteirregular, que Vênus tinha fases e quea Via Láctea – aquela faixa de luz di-fusa conhecida desde a Antiguidadepor ser vista a olho nu – era, na verda-de, formada por estrelas infinitas”, co-menta Basílio Xavier Santiago, dire-tor do Observatório Astronômico daUFRGS.

Basílio, que é também professor doDepartamento de Astronomia do Ins-tituto de Física, explica que todas es-sas evidências colocaram em xequeconceitos antigos sobre a organizaçãodo universo.

Teoria heliocêntrica – À época deGalileu ainda vigorava o modelo geo-cêntrico, segundo o qual todos os cor-pos celestes orbitavam em torno daTerra. O padrão heliocêntrico já haviasido proposto por Nicolau Copérnico,provocando grande debate. Galileuobservou as fases de Vênus com suaface sempre voltada para o Sol, sendomais fácil explicá-las colocando essaestrela no centro, e não a Terra.

O professor interpreta as contribui-ções das primeiras observações do céufeitas pelo astrônomo italiano: “Então,a Terra orbitaria em torno do Sol, as-sim como Vênus. E com Júpiter ten-do satélites ao seu redor, ficou eviden-te que poderia orbitar em torno de algoque não seria a Terra”. Logo, nossoplaneta não podia mais ser o centro douniverso.

Já a análise da superfície da Lua aba-lou as crenças da sociedade. Até aque-le momento, vigorava a ideia de Aris-tóteles, filósofo grego da Antiguidade,segundo a qual as fontes celestes se-riam perfeitas porque eram obras di-vinas, e lá estavam os deuses. Os pró-prios planetas do nosso Sistema Solartêm nomes de divindades greco-roma-

CiênciaProgramação doAno Internacionalda Astronomiaaproximaas estrelasda população

O universo ànossa disposição

TEXTO CAROLINE DA SILVA

nas. Selene, deusa grega que deu nomeà Lua, no entanto, mostrou a Galileuuma superfície irregular. Seu relevoera acidentado, sua forma não era per-feita e divina.

A ciência – A Astronomia é uma ci-ência, pois é baseada no método cientí-fico: “Um método pelo qual se coletamdados, analisam-se esses dados, chega-se a uma conclusão sobre eles, formu-lam-se leis que descrevem o compor-tamento dos objetos de estudo com basena coleta, e a partir daí se constrói umaconcepção, um modelo. E esse modelopoderá ser verificado ou não. Terá deser aperfeiçoado ou não, na medida emque novos dados vão sendo coletados,novos resultados vão sendo gerados”,esclarece o professor Basílio. “É assimque a ciência caminha, na Física, naQuímica, na Biologia, e a Astronomianão é exceção.”

Etimologicamente, a palavra Astro-nomia vem do grego astron (astro) enomos (lei). É a lei dos astros. Basílioadverte para não confundi-la com As-trologia, que não é uma ciência, masuma prática: “Tem muita gente quegosta e acha divertida. Nada contra aideia de que as pessoas se divirtamacreditando que os astros tenham in-fluência direta sobre a sua personali-dade, mas isso não é comprovado ci-entificamente”.

A Astronomia estuda tudo aquiloque está fisicamente fora do nosso pla-neta. “Ou seja, estuda quase tudo. Émuito importante ter em mente quetoda a aventura humana, com as suasnecessidades que geram buscas e re-sultam em conflito, todo o drama doser humano se dá num grão de poeira,

que é a Terra.” O professor frisa a gran-diosidade do objeto de estudo dessaciência: “Nosso planeta orbita umaestrela, que é uma estrela ordináriadentre 100 bilhões de outras estrelassituadas na nossa galáxia. E a nossagaláxia é também uma galáxia ordi-nária no meio de bilhões de outras ga-láxias que existem no universo”. Nes-sa perspectiva, a Terra é apenas umponto no universo – especial para nós,seres humanos, por ser a nossa casa.

Descobertas – Com os olhos semprevoltados para o céu, os astrônomosconstantemente descobrem novos“pontinhos” no universo. O último as-tro anunciado foi o quarto planeta dosistema da estrela batizada Gliese 581.O menor planeta encontrado fora doSistema Solar, o Gliese 581e fica a umadistância de 20,5 anos-luz, tendo me-nos que o dobro do tamanho da Terra.

Os cientistas acreditam tratar-se doexoplaneta mais parecido com a Ter-ra. Por ser pequeno, deve ser um pla-neta rochoso e não gasoso. Basílio afir-ma que, “direta ou indiretamente, todaa energia na Terra vem da radiação doSol. O mesmo vale então para o Gliese581e: dada a sua distância da estrela eas características desta, podemos esti-mar a temperatura do planeta, que se-ria semelhante à temperatura médiada Terra, o que permitiria a existênciade água”. O pesquisador afirma, noentanto, ser impossível garantir quehaja um oceano no novo planeta.

Espaço, o nosso lar – A exposiçãoEm casa, no universo será inauguradano Museu da UFRGS em 20 de julho,data que marca os quarenta anos dachegada do primeiro homem à Lua. Oprofessor diz que a mostra, na qualestão envolvidos professores do Depar-tamento de Astronomia e as equipesdo Observatório Astronômico e do

Planetário, será a principal atividadeda Universidade durante a programa-ção do Ano Internacional.

A ideia básica é usar o mote dos400 anos do uso do telescópio comoponto de partida para mostrar a evo-lução da Astronomia com o adventodesse artefato. O objetivo é demons-trar que o desenvolvimento dessa ci-ência está intimamente ligado à evo-lução instrumental. “Partimos do te-lescópio de Galileu, percorremos ahistória até chegar aos telescópioscontemporâneos – grandes instru-mentos que nos permitem estudargaláxias a 10 bilhões de anos-luz dedistância. A exposição vai convidar aspessoas a conhecerem a Astronomia,os seus mistérios. Quero falar de ig-norância, para que não fique a errô-nea concepção de que ciência é sóconhecimento. Isso não é verdade. Ocientista é um ignorante que reco-nhece a sua ignorância e, dispondode algumas ferramentas e informa-ções, se propõe a vencê-la, a superá-la. O processo de fazer ciência é umprocesso de luta contra a ignorância.”

Também está prevista uma exposi-ção itinerante destinada ao públicoescolar, que reunirá uma fração damostra apresentada no Museu daUFRGS, podendo ser reproduzida nasinstituições parceiras e em outros lo-cais que demonstrarem interesse.

Os compositores e instrumentistas Zózimo Rech eAdrianne Simioni se conheceram na Orquestra Profa-na, que interpretava música erudita com instrumentoseletrônicos. Descobriram uma paixão comum pela As-tronomia. Ele graduou-se em Engenharia, passandomuito tempo no laboratório de Física; ela foi aluna deFísica na UFRGS. O projeto Astronomusic é resultadoda fusão de Astronomia e Música. “Alguns dizem quea Astronomia é a mais bela das ciências; a música, amais bela das artes”, brinca Zózimo.

O resultado é música instrumental descritiva, inspi-rada na ciência dos astros, executada com guitarras,teclados, violino elétrico, violão acústico e aparelha-gem convencional de estúdio. “Essa é a nossa inspira-

“Ciência não é sóo conhecimento.O processo defazer ciência éum processo deluta contra aignorância.”

Astronomusic e a música dos astrosção, somos astrônomos amadores, gostamos de obser-var as estrelas, e a observação nos traz ideias, se trans-forma em música na nossa mente, e assim compomos”,explica Adrianne.

Uma apresentação do Astronomusic é um roteiroastronômico, assim como as faixas que formam os seusCDs. As canções de The Life of a Star, por exemplo,contam a história do nascimento até a morte de umaestrela. Zózimo esclarece que tudo vem do conheci-mento astrofísico.

Ao longo de 2009, a programação do Ano Interna-cional da Astronomia da UFRGS conta com váriosshows do grupo. Fique atento às próximas apresenta-ções pelo site www.astronomusic.com

Gliese 581e (abaixo), exoplanetarecentemente descoberto

FOTOS DIVULGAÇÃO

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JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009 | 9

A pesquisa astronômica brasileira é comparável àinternacional, apesar da reduzida comunidade científica

A UFRGS desenvolve ações regulares dedivulgação da Astronomia há muito tempo.“O caminho hoje é mais fácil do que na mi-nha época, porque atualmente há mais as-trônomos, planetários e instituições no Bra-sil onde se estuda e divulga essa ciência. Fuium adolescente interessado por Astronomiae fiz essa busca pelo aprendizado. Aconse-lho quem se interessa pelo assunto a visitaro Observatório Astronômico da Universida-de”, indica o professor Basílio Santiago. Olema da campanha do Ano Internacional daAstronomia (AIA) é levar o público a apro-ximar-se dos equipamentos utilizados pe-los astrônomos. Basílio diz que o céu escon-de segredos que só podem ser descobertoscom telescópio. “A olho nu, principalmen-te em ambiente com poluição luminosa,como é o caso da cidade de Porto Alegre,não é possível se observar bem o céu.”

Além do Observatório, o docente tambémrecomenda conhecer o Planetário e o Ob-servatório Educativo Itinerante (OEI), queé um programa de extensão que completa10 anos em 2009. Primeiro projeto de ciên-cia móvel do país, o OEI oferece cursos deAstronomia a professores da rede estadual,municipal ou privada. “O objetivo é criarum efeito multiplicador, já que nossos cur-sos não são apenas teóricos e incluem expe-rimentos e observações astronômicas. A ba-gagem que o professor adquire poderá seraplicada em suas aulas de Física, Matemáti-ca, Química, Geografia ou Biologia. Todasessas ciências têm conexão com a Astrono-mia, uma ciência muito transdisciplinar.”

Onde estudar? – Feita essa etapa de conhe-cimento da ciência e uma vez decidido pelacarreira, o jovem deve ingressar, preferente-mente, no curso de Física. “Não que seja aúnica via, mas o importante é que a pessoaadquira a base sólida de Matemática e deFísica que um bom curso superior de Ciên-cias Exatas e Aplicadas fornece.” De acordocom o professor, esses bacharelados permi-tem o envolvimento posterior com uma pes-quisa em Astronomia.

Uma tarde sob o Sol para reconhecer a magnitude do astro-rei.Ou temer – ainda – a estrela anã amarela. Apesar de ser uma estrelaordinária dentre 100 bilhões de outras estrelas da Via-Láctea, comoafirmou o professor Basílio, os alunos da Escola Estadual de EnsinoFundamental Jasmelino Jardim, de Canoas, ficaram impressiona-dos com o efeito direto de sua luz em uma folha de papel: Queimavacomo se atingido por uma ponta de cigarro.

A observação do Sol foi uma das atividades do Planetário Profes-sor José Baptista Pereira para as 100 Horas de Observação – eventodo Ano Internacional da Astronomia que ocorreu simultaneamen-te em todo mundo. O programador cultural Gilberto Klar Rennerexplicava tratar-se de um período de atividade solar mínima, poisaté a tarde daquele 3 de abril se completavam 25 dias sem que ne-nhuma mancha aparecesse no Sol.

PROGRAMAÇÃO DA UFRGS

PLANETÁRIOPLANETÁRIOPLANETÁRIOPLANETÁRIOPLANETÁRIOO Planetário José Baptista Pereira ofereceprogramas para escolas em dias úteis e parapúblico adulto e infantil nos fins de semana.Observações ao telescópio também são feitascomo parte do projeto Selene – observaçãoda Lua em seu quarto crescente, quando osatélite aparece no início da noite. Nos dias30 e 31 de maio, telescópios estarão àdisposição do público no pátio do Planetário.Endereço: Av. Ipiranga, 2.000Fone: 3308-5384Site: www.planetario.ufrgs.br

OBSEROBSEROBSEROBSEROBSERVVVVVAAAAATÓRIO ASTRTÓRIO ASTRTÓRIO ASTRTÓRIO ASTRTÓRIO ASTRONÔMICOONÔMICOONÔMICOONÔMICOONÔMICOPor meio do projeto Astronomia para aComunidade, há mais de 20 anos oObservatório recebe visitas de segunda aquinta-feira para observações ao telescópioà noite.Visitas regulares abertas ao público, a partirdas 19h, terças e quintas, e nas segundas equartas para escolas, com agendamentoprévio. Visitas ao acervo da exposição doquadricentenário podem ser realizadas desegunda a sexta-feira, das 14h às 18h.Endereço: Av. Osvaldo Aranha, s/n.º (próximoà Praça Argentina)Fone: 3308-3352Site: www.if.ufrgs.br/observatorio

Curso de Astronomia do Ensino MédioCurso de Astronomia do Ensino MédioCurso de Astronomia do Ensino MédioCurso de Astronomia do Ensino MédioCurso de Astronomia do Ensino MédioDestinado a estudantes do Ensino Médio,incluindo observação astronômica.Quando: 12/05 a 11/06, às terças e quintas-feiras, das 13h30min às 15h30minOnde: Instituto Educacional Dimensão(Canoas)Promoção: Observatório Astronômico eObservatório Educativo Itinerante

OBSEROBSEROBSEROBSEROBSERVVVVVAAAAATÓRIO EDUCTÓRIO EDUCTÓRIO EDUCTÓRIO EDUCTÓRIO EDUCAAAAATIVTIVTIVTIVTIVOOOOOITINERANTEITINERANTEITINERANTEITINERANTEITINERANTEObservatório Educativo Itinerante (OEI) é oprimeiro programa de ciência móvel do Brasil,iniciado em junho de 1999. Ao longo dessesdez anos, o OEI já ofereceu mais de 40 cursospara professores em toda a região Sul doBrasil, atendendo mais de mil professores,além de ter efetuado inúmeras palestras eobservações em escolas e logradourospúblicos.

Curso de Astronomia para ProfessoresCurso de Astronomia para ProfessoresCurso de Astronomia para ProfessoresCurso de Astronomia para ProfessoresCurso de Astronomia para ProfessoresAtividade com 25 horas-aula que ofereceaperfeiçoamento em astronomia, comobservação astronômica.Quando: 08/05 e 09/05, sexta e sábado, das9h às 22hOnde: CEFET PelotasCoordenador: Horacio DottoriFone: 3308-6441Site: www.if.ufrgs.br/oei

MUSEU DA UFRGSMUSEU DA UFRGSMUSEU DA UFRGSMUSEU DA UFRGSMUSEU DA UFRGSExposição “Em casa, no universo”Exposição “Em casa, no universo”Exposição “Em casa, no universo”Exposição “Em casa, no universo”Exposição “Em casa, no universo”A história da Astronomia, com ênfase emGalileu e no telescópio, abordando aspectosda pesquisa atual em Astrofísica, bem como aparticipação do Brasil e da UFRGS nestecontexto.Curadores: Basílio Santiago, CláudioBevilacqua, Maria Helena Steffani e EduardoBiccaInauguração: 20 de julhoVisitação: 21 de julho de 2009 a 30 abril de2010, de segunda a sexta, das 9h às 18hApoio: Pró-reitorias de Extensão e dePesquisaEndereço: Av. Osvaldo Aranha, 277Telefone: 3308-4022

Informações sobre a programação doInformações sobre a programação doInformações sobre a programação doInformações sobre a programação doInformações sobre a programação doAIA no Brasil:AIA no Brasil:AIA no Brasil:AIA no Brasil:AIA no Brasil: www.astronomia2009.org.br

Observação do Sol no Planetário

Caminho para a Astronomia

No pátio do Planetário, um telescópio refrator com anteparo seconfigurava um modo didático e seguro de fazer a observação doSol. “Se a luz concentrada faz isso no papel, imagina o que faria noteu olho”, repetia Gilberto aos meninos mais curiosos. “Alguns têminteresse mesmo, outros obviamente vêm pelo passeio”, afirmou aprofessora de Geografia Doralina da Silva, da Escola Estadual deEnsino Fundamental Jasmelino Jardim. Os 42 alunos de 5.ª a 8.ªséries tinham a visita marcada em função de estarem inscritos nasOlimpíadas de Astronomia.

Perto do encerramento, uma moça aproximou-se pelos fundosdo Planetário. A mestranda em Psicologia Social Mariana Schorntinha visto a notícia da Observação no site da UFRGS. “Vim porqueestaria aqui ao lado e tenho curiosidade sobre Astronomia. É algotão distante...”

Assim como a Física, a Astronomia é umaciência que usa muito o cálculo. “Toda As-tronomia usa Física, e toda Física usa Mate-mática. Então, a Astronomia leva a Físicapara esse contexto maior, que é o universo.”

Na UFRGS, o Programa de Pós-gradua-ção de Física dispõe de mestrado e doutora-do em Astronomia. As instituições federaisde Santa Maria e Pelotas também oferecemlinhas de pesquisa nessa área em seus pro-gramas de Física.

No Brasil, durante muito tempo, a únicagraduação em Astronomia foi a do Observa-tório do Valongo da UFRJ. Recentemente, aUniversidade de São Paulo iniciou um cur-so. Como parte do plano de expansão doReuni, o Instituto de Física apresentou umareformulação para o ingresso já no con-curso vestibular de 2010. Haverá o des-membramento do bacharelado em cincoênfases diferentes, com acesso em separa-do – uma delas será a Astrofísica.

Pesquisa de ponta – Na opinião do pes-quisador, é cada vez menos necessário fazerdoutorado em uma universidade no exte-rior, porque existem programas de pós-gra-duação brasileiros, como o da Física da UFR-GS, que têm nível de qualificação compará-vel ao das melhores instituições do mundo.“Isso é atestado pelo sistema de avaliaçãocontínuo da CAPES e pelo índice de publi-cações. Temos uma produção científicacomparada a das melhores instituições doplaneta, mas é bom mudar de ares.”

Basílio destaca que as instituições deponta estrangeiras têm uma vantagem so-bre as brasileiras: a comunidade maior. “Anossa produtividade é comparável a demuitos deles, mas o problema é que aquina UFRGS temos nove astrônomos. NaUniversidade de Cambridge havia mais as-trônomos do que no Brasil inteiro. Mas emtermos de pesquisa, estamos indo bastantebem”, conclui o professor.

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I N T E R N A C I O N A L

Os váriospiratas daSomália

A Somália não existe como Estadodesde 1991. A região vem sendo diri-gida pelos senhores da guerra, comosão conhecidos os chefes dos clãs so-malis. Em 2002, eles instituíram aUnião dos Tribunais Islâmicos, umaespécie de federação que reunia des-de os clãs mais radicais aos mais mo-derados. Grande parcela da popula-ção é nômade e se ocupa dos reba-nhos de animais que, com o couro, abanana, o carvão vegetal e a pesca,constituem-se nos principais produ-tos de exportação.

Geograficamente, o país está numa

posição estratégica de circulação ma-rítima, por onde trafegam 30% do pe-tróleo mundial e 16% do comérciomundial. Essa rota, que inclui o Golfode Aden, ligando o Mar Vermelho aoOceano Índico, reduz em 10 a 15 ve-zes a distância que os superpetroleirose os navios de transporte de carga teri-am de realizar para chegar à Europapela África do Sul e pelo Oceano Atlân-tico. Isso representa, na mesma pro-porção, significativa redução do custocom o transporte.

Esses fatores políticos e geográficosajudam a entender a origem e a di-mensão das ações dos chamados Pira-tas da Somália. De acordo com o dou-tor em História e professor dos cursosde História e Relações Internacionaisda UFRGS Luiz Dario Teixeira Ribei-ro, embora os clãs de pescadores te-nham iniciado as ações de pirataria deforma amadora, atualmente suas ar-mas, embarcações e estratégias resul-tam não só do que recebem pelos res-gates como também das descobertasque vêm fazendo a respeito da explo-ração das águas somalis. À medida que

Nas investidas dos Piratas da Somália, o objetivo dos ataques édistribuir renda entre a população de pescadores. Conforme oprofessor dos cursos de História e Relações Internacionais da UFRGSLuiz Dario Teixeira Ribeiro, pouca gente sabe que uma parte dosrecursos dos resgates é acumulada para a compra de equipamentosmodernos, enquanto outra é distribuída entre os membros dos clãsque participam dos ataques, numa proporção condizente com o papeldesempenhado por cada um nas ações.

Nessa dinâmica, foram criadas diferentes tropas de piratas: existemos que atacam e sequestram os navios, levando-os para o litoral daSomália. Há também os chamados grupos de retaguarda, que fornecemalimento e serviços necessários à manutenção tanto das embarcaçõesquanto das tripulações somalis. “Todos eles recebem uma parte dosaque proporcional ao trabalho desenvolvido. É toda uma estruturamontada, porque o Estado não existe mais”, explica o professor.

Os ataques, segundo Dario, são aleatórios, “tanto que entre asvítimas estão navios pesqueiros de pequenas empresas predadoras egrandes cargueiros”.

Em 2008, os pescadores somalis fizeram dois ataques quecolocaram o país na “berlinda”, avalia Dario. O primeiro envolveuum navio ucraniano que transportava armas para um porto doQuênia. Eles tomaram a embarcação acidentalmente e, quandodescobriram o que era a carga, pediram um resgate elevado. Até então,o valor máximo exigido tinha sido de 1,5 milhão de dólares, mas nestecaso eles pediram 15 milhões de dólares.

Pouco tempo depois, sequestraram um superpetroleiro árabecarregado com 2 milhões de barris de petróleo, ou seja, 20% daprodução diária de petróleo da Arábia Saudita. Para esse resgate,pediram 25 milhões de dólares. Foi a partir dessas duas apreensõesque a Somália ganhou espaço na imprensa internacional, até porque aação dos piratas expôs uma conexão do tráfico internacional dearmas, provocando uma reação muito grande e uma campanha contraa pirataria.

Do ponto de vista político, o historiador entende que inexiste apossibilidade de uma solução num curto espaço de tempo. Issoporque a saída que está sendo adotada é policial-militar. O historiadorconsidera que melhor do que empregar grandes somas em operaçõesde represália aos piratas seria fortalecer o Estado somali.

Para ele, o fortalecimento do Estado passa por uma aliança com ostribunais islâmicos, pela proibição da pesca predatória e pela retiradados tonéis de lixo tóxico da região, além da implantação de políticaspara o fortalecimento dos pescadores em sua atividade original. Dariofinaliza dizendo que o país também precisará desenvolver políticas deeducação, saúde, etc.

mente e termina se integrando à es-trutura do conflito geopolítico na re-gião. “Esse é o elemento fundamen-tal”, diz o professor.

Origem dos piratas - De acordocom o historiador, em 1991, quandoocorre a dissolução do Estado somali,dois fatores precederam as ações de pi-rataria na região: primeiro, as grandesfrotas pesqueiras de países desenvol-vidos começam a pescar naquele lito-ral – um dos mais ricos do mundo emcardumes –, aproveitando a inexistên-cia de um estado soberano. Essas fro-tas destroem redes e embarcações pe-quenas dos pescadores somalis, mem-bros de clãs que vivem no litoral. Aprimeira reação desses pescadores foirecuar, o que acabou intensificando acondição de pobreza da população.

O segundo fator descrito por Dario,além de contribuir para a miséria, afe-tou a saúde da população somali:“Com o colapso do Estado, as compa-nhias de descarte de lixo tóxico passa-ram a descarregar barris de materialcontaminado no litoral daquele país”.Como consequência, surgiram proble-mas de saúde entre as populações,como câncer e má-formação congê-nita. Isso foi o estopim.

A situação piorou ainda mais em2004, por conta do tsunami ocorridoem dezembro daquele ano. A invasãodas águas que destruíram a costa depaíses como Tanzânia, Somália e Qu-ênia comprovou o despejo do lixo tó-xico com a chegada em grande quan-tidade de barris em estado de decom-posição às praias somalis.

Aliado potencial - Numa tentativade pensar o futuro da região, tendocomo figura central os piratas somalise suas ações em prol dos interesses dosdiferentes clãs, Dario avalia que o paíspode vir a ser um cobiçado aliado: “ASomália detém uma posição estraté-gica, é o ventre da Europa Unificada.De um lado, temos Arábia e Iraque,grandes produtores de petróleo, alémdo Irã, do Paquistão, do Afeganistão eda Índia. Existe ainda a rota marítimaasiática e, pelo canal de Suez, temos aEuropa”. Junto com os Estados Uni-dos, a Europa Unificada representa umdos maiores mercados mundiais, ti-rando China e Índia, que são as maio-res concentrações demográficas domundo. O abastecimento desses mer-cados, que passa por essa região, temuma importância muito grande.

Para completar, aquela região con-centra mais de 50% das reservas de gáse de petróleo conhecidas no mundo.Isso torna a Somália uma área de ain-da mais interesse. Portanto, no mo-mento em que o Estado somali se afir-mar, só pelo fato de controlar esse li-toral passará a ter uma capacidade debarganha muito grande: “Um país quenão terá inimigos”, garante Dario.

o professor explica os fatos passados erecentes, fica evidente que nem só pi-ratas somalis navegam no mar da cos-ta leste africana.

Ciclos de pirataria - Dario descrevedois ciclos no histórico dos chamadosPiratas da Somália. O primeiro ciclo,bastante restrito e amador, foi elimi-nado pela União de Tribunais Islâmi-cos que proibiu as ações de pirataria.A União tinha como base tanto auto-ridades religiosas islâmicas quanto co-merciantes, para os quais a piratarianão interessava. Porém, a invasão daSomália pela Etiópia e o fim da auto-ridade dos Tribunais Islâmicos cria-ram uma conjuntura favorável à rea-tivação dos piratas.

Na opinião do professor, outro fa-tor acabou contribuindo para a reto-mada das ações de pirataria entre ospescadores somalis: enquanto no pri-meiro ciclo (década de 90) eles usa-vam carabinas simples e pequenosbarcos, no segundo (a partir de 2006),tiveram acesso a armas modernas. Se-gundo alguns analistas, a intensidadedesse segundo ciclo resulta da incor-poração de armas mais potentes e em-barcações modernas ao levante pirata.Recursos como lançadores de mísseise granadas, carabinas mais potentes esistema de localização por GPS teri-am sido adotados quando a Coréia do

Norte revendeu equi-pamentos de sua frotamarinha ao Irã. Os ira-nianos, provavelmen-te, repassaram essesmateriais aos somalis.

Isso ocorreu na épo-ca em que os EstadosUnidos cogitavam umataque ao Irã para di-minuir a tensão noGolfo Pérsico. O Irã te-ria passado esses equi-pamentos aos pescado-res somalis para queeles criassem uma ins-tabilidade na retaguar-da da área de ataque, di-ficultando com isso aação norte-americana.Dario ressalta que,embora não haja docu-mentação que com-

prove essas tramitações, inventáriosdas armas norte-coreanas, desabilita-das e repassadas ao Irã, não teriamaparecido no inventário deste último.“E são equipamentos muito pareci-dos com esses que estão sendo utili-zados na Somália”, acrescenta.

Outra característica desse segundociclo diz respeito à adoção de táticasmais sofisticadas, como a utilização deum barco-mãe puxando quatro a cin-co lanchas rápidas. O barco-mãe seaproxima do alvo, as lanchas atacam eaprisionam o navio, exigindo o resga-te. Conforme explica o professor, paraos somalis essas não são ações de pira-taria, mas sim uma tributação à utili-zação indevida das águas territoriaissomalis. “E como não há Estado, essetributo é feito segundo os termos dosclãs de pescadores.”

Dario resume o que ocorre hoje nacosta leste africana como consequên-cia da destruição do Estado somali, quedesencadeou uma invasão predadorae criminosa dos mares da Somália,provocando a reação dos clãs. Essa res-posta, entretanto, não ocorre isolada-

Intervenções frustradasA intervenção humanitária no período Bill Clinton (1993 e2001) só piorou a situação. Tropas norte-americanas ecanadenses ocuparam a região com o aval da ONU paradistribuir alimentos à população. Com a saída dessas tropas,intensificou-se o poder dos clãs e alguns senhores da guerraprocuraram organizar um governo provisório. Também nessaépoca começou a se estabelecer um poder interno na Somá-lia, conhecido como a União dos Tribunais Islâmicos, reunindomoderados e radicais. Em 2006, o exército etíope intervém naSomália, destrói o poder dos tribunais, mas não consegueinstaurar o poder do governo provisório.A invasão etíope se dá por dois motivos: por ela ter se tornadoaliada dos Estados Unidos; e por existir no leste da Etiópia ummovimento de somalis pela independência e integração doterritório, colocando em risco a própria segurança do Estadoetíope. Daí a intervenção que acabou por destruir os tribunaisislâmicos, sem no entanto conseguir restaurar o poder doEstado e a Somália volta a ser fragmentada. É nesse períodoque se intensificam as ações na costa somali.

ÁfricaÁfricaÁfricaÁfricaÁfricaHistoriadoranalisa as açõesno litoral lesteafricano eidentifica osfatores quetensionam a região

Jacira Cabral da Silveira

Ataques aleatórios

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JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009 | 11

C I Ê N C I A

A UFRGS classificou mais um pro-jeto na segunda etapa do edital MEC/CNPq/2008 que selecionou, em suaprimeira edição, 101 propostas de di-versas instituições de ensino e pes-quisa em todo o país – dentre as quaisa Universidade foi contemplada comseis das oito aprovadas no Estado: umna área de geociências e as demais nosetor da saúde. O novo classificado éo Instituto de Engenharia de Superfí-cies, coordenado pelo professor-pes-quisador Israel Jacob Rabin Baumvol.

A Universidade será a sede do pro-jeto, uma vez que sua história na áreatem mais de 30 anos, quando o pro-fessor Israel iniciou, no Instituto deFísica, suas investigações sobre mo-dificações de superfícies. Nos últi-mos anos, esse interesse tem se mul-tiplicado em laboratórios de diferen-tes institutos, agregando pesquisado-res. Mais recentemente, a Universi-dade de Caxias do Sul (UCS) tam-bém passou a desenvolver pesquisasem superfície de materiais, e hoje é asegunda maior referência gaúcha, di-vidindo com a UFRGS a responsabi-lidade pela criação do Instituto deEngenharia de Superfícies, aprova-do pelo MEC/CNPq. Também par-ticipam da iniciativa a PUC-Rio, quetem excelência na área; o InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais(Inpe), com tradição tanto em pes-quisa quanto na aplicação industri-al; as Universidades Federais do RioGrande do Norte, Rio de Janeiro eSanta Catarina; a Unicamp; e a AçosVillares.

Israel, que também é docente naUCS, além de seus laboratórios depesquisa, acrescenta que a universi-

Na opinião do coordenador do Instituto deEngenharia de Superfícies, Israel Baumvol, em-bora não tenhamos atingido o crescimento apre-sentado pela Coreia, a relação da indústria bra-sileira com a pesquisa e o conhecimento de-senvolvido nas universidades está avançando.Para ilustrar a defasagem de uma e outra naçãoem seu comprometimento com o desenvolvi-mento da ciência, o pesquisador traça um pa-ralelo das diferenças entre Suíça e Portugal: “Sãoos ideais e as crenças de uma nação a respeitode como promover a prosperidade”.

Segundo o professor, o Brasil ainda não de-senvolveu essa noção, e cita como exemplo ou-tra disparidade, mas esta dentro do território na-cional: “A diferença entre São Paulo e Rio Gran-

Indústria, ciência e poesia

PesquisaUniversidadecoordenará grupos deexcelência brasileirosna produção detecnologia ecapacitação derecursos humanos

A engenharia desuperfície está

inserida na produçãoindustrial, sendo

decisiva para as áreasestratégicas de

desenvolvimentodo Brasil

dade caxiense trará para o projeto todoo seu aporte de recursos extraorça-mentários proveniente de seu forteacoplamento com a indústria. “São500 mil reais da iniciativa privada,recursos oriundos da Câmara de In-dústria e Comércio e dos Sindicatos

patronais. Caxias é hoje o segundopolo metal-mecânico do país.” Con-forme o professor, esses valores serãoaplicados na qualificação dos labora-tórios da UCS.

Ao unirem-se, as universidadesalcançaram um dos requisitos pre-vistos no Edital para a aprovação doprojeto dos institutos: “Formamosuma rede de âmbito nacional, comos melhores que atuam na área”, fri-sou o pesquisador.

Fundamentos – Embora conside-rando que o edital foi a maior açãoconjunta em Ciência e Tecnologiarealizada até hoje no país, com recur-sos de diferentes fontes, como Capes,Finep, CNPq, Petrobras, BNDE e fun-dações estaduais de amparo à pesqui-sa, Israel avalia que o Brasil “conti-nua mantendo um distanciamentoentre a universidade e a indústria, emdescompasso com outros países em

desenvolvimento quanto à aplicaçãoda pesquisa nos sistemas produtivosindustriais”. A opinião do pesquisa-dor baseia-se na análise de AlbertoRodriguez, autor do recente livro pu-blicado pela Confederação Nacionalda Indústria (CNI), Conhecimento einovação para a competitividade.

“Enquanto outros países investemrecursos substanciais, públicos e pri-vados, em desenvolvimento tecnoló-gico, a economia brasileira continuadependendo dos recursos naturais.”Para o pesquisador, o fator crucialpara superar esse descompasso é in-vestir corretamente, com a escolha desetores da indústria que possam tor-nar o Brasil competitivo “em temporazoável”. Israel defende que um des-ses setores é o da engenharia de su-perfícies, “pois além de estar profun-damente inserida na produção indus-trial instalada no país, é decisiva paraas áreas estratégicas de desenvolvi-mento industrial”.

Consultor de empresas e respon-sável por contratos de pesquisa e de-senvolvimento entre universidades eempresas no Estado, Israel acreditaque a competitividade na área depen-de da “apropriação de conhecimen-tos de fronteira e de recursos huma-nos capazes de usar tais conhecimen-tos no desenvolvimento de produtose processos industriais”.

Definição e demanda – O projetodo Instituto de Engenharia de Super-fícies envolve tudo o que se refere àciência e à tecnologia para modifi-car artificialmente a superfície dosmateriais e melhorar sua funciona-lidade. Isso implica também umavasta aplicação em diferentes áreasindustriais, como a metal-mecâni-ca, a aeroespacial e a biomédica. Essa

última, inclusive, se constitui numdos principais centros de aplicaçãono desenvolvimento de próteses.“Cada vez mais o corpo humanovem tendo partes substituídas, masessas partes devem ser biocompatí-veis, ou seja, compatíveis com o nos-so organismo”, ilustra Israel.

Por isso, segundo o professor-pes-quidador, o objetivo do Instituto édesenvolver soluções eficientes navanguarda dos segmentos industriaisde Biotecnologia, Nanotecnologia,Tecnologias da Informação e Comu-nicação, Insumos para a Saúde, Ener-gia, Petróleo, Programa Espacial ePrograma Nuclear, destacados no Pla-no de Ação de Ciência, Tecnologia eInovação para o Desenvolvimento

Nacional – 2007/2010 (PACTI).E para atingir essa meta, o projeto

prevê três eixos principais de atuação:formação de recursos humanos, comexcelência em pesquisa fundamentale em desenvolvimento de processos eprodutos; inserção desses processos,produtos e recursos humanos no sis-tema produtivo industrial brasileiro ea criação de novos empreendimentosde base tecnológica; e a transferênciade conhecimento para a sociedade.

De acordo com Israel, a demandapor engenheiros hoje no Brasil équase inatingível. A carência no se-tor chega a cerca de 200 mil vagas.Somente na Petrobras são necessá-rios 60 mil engenheiros, enquantoas universidades formam anual-mente cerca de três a quatro mil pro-fissionais. “E quanto à formação deengenheiros capazes de atuar empesquisa e desenvolvimento na in-dústria, a situação é ainda mais cala-mitosa. É justamente esse um dospapéis do Instituto, o de formaçãode profissionais qualificados.”

Para tanto, uma das metas para oprimeiro ano de funcionamento doInstituto é a realização de seminá-rios em empresas e escolas técnicas,ações universidade-empresa, paten-tes industriais. “Mas fazer isso semdinheiro vai ser difícil, pois o proje-to sofreu um corte de verbas de cer-ca de 35%, revela o pesquisador. Aolongo de seus mais de 30 anos depesquisa na área, ele atesta que o Bra-sil historicamente investe muitopouco em pesquisa: “E o Rio Gran-de do Sul não investe nada”.

Em contrapartida, Israel afirmaque o Instituto de Engenharia de Su-perfícies já impacta antes mesmo deexistir, uma vez que a indústria na-cional tem se beneficiado com osavanços na área. Ele cita como exem-plo uma recente dissertação de mes-trado na UCS em que o aluno de-senvolveu um novo revestimentopara uma ferramenta de conforma-ção mecânica usada pela fábrica daTramontina. O objetivo do revesti-mento é aumentar a velocidade e adurabilidade dessa ferramenta. “Masesperam-se impactos bem mais al-tos”, antecipa.

de do Sul é chocante, parece que a gente nãotrocou de país, mas mudou de planeta”. Na suaavaliação, enquanto o estado paulista já enten-deu a necessidade de promover o desenvolvi-mento com o aporte da ciência, tecnologia e ino-vação, “os gaúchos ainda estão sentados nos cal-canhares, tomando chimarrão, não compreen-dendo em que época vivemos, em que estágio doprocesso civilizatório nós estamos”.

Mesmo no setor acadêmico, Israel resisteem declarar entusiasmo quanto à produçãode conhecimento. “Muito cuidado com o aca-dêmico”, previne. Mesmo reconhecendo a ex-celência das instituições gaúchas, consideraque elas representam uma estufa formada porgente que veio de tudo quanto é lado e tem

realizado ciência em condições precárias. Essasobrevivência ele atribui ao caráter “quase ine-vitável da ciência, assim como ocorre com apoesia e com a arte”.

Por outro lado, ele afirma que o desenvolvi-mento de tecnologia é diferente, depende de or-ganização social, de disciplina sócio-econômi-ca, de ideais de prosperidade, de um projeto denação, de estado e de economia. “E isso, aqui,não existe.”

Depois de duas gestões na presidência daFundação de Amparo à Pesquisa do Estado doRS (Fapergs), Israel avalia que, como a prospe-ridade e o bem-estar gerados pela pesquisa nãorepresentam algo que se atinja em curto prazo,nem se limita a um período de governo ou afe-

ta a reeleição de um governador, “quem nãotem visão não dá bola para isso”. O pesquisa-dor reprova essa falta de entendimento dentroda política: “O desenvolvimento da pesquisa vaiafetar profunda e irreversivelmente toda a soci-edade num prazo maior”, completa.

De acordo com Israel, enquanto a ação polí-tica permanecer nesta direção, vamos conti-nuar vendo meninos pedindo nas esquinas, por-que esse é o resultado da falta de visão frente auma sociedade tecnológica: “E quem quiserprosperidade na base do trabalho braçal e nabase da gauchada e da coragem e do vigor nãovai chegar a nada, porque “hoje prosperidade étecnologia. Tecnologia entendida como umgrande projeto de nação”, conclui.

Ao unirem-se, asuniversidadesalcançaram um dosrequisitos previstos noEdital para aaprovação do projeto,formando uma redede âmbito nacional

Jacira Cabral da Silveira

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12 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009

C U LT U R A

indicaJUTerceiro lançamento

da série Diversidades, olivro reúne 15 artigosassinados por pesquisa-dores brasileiros queexaminam a história deum continente cujopassado costuma serassaltado por mistifica-ções e reducionismos.Trata-se de desvendar asmuitas Áfricas ignoradaspor uma Históriaeurocêntrica e peladesinformação popular. Aconsagrada distinçãoentre África “branca” e“negra” desembocou emvisões discriminatórias,como a recorrenteconcepção de que paísescomo o Egito fazem parteda História do Mediterrâ-neo, estando isolados dabarbárie e do atrasosubsaarianos. Essaembriaguez intelectual écombatida no artigo deJorge EuzébioAssumpção, que, aoexaminar o passado dos

povos sudaneses ebantos, torna explícita adistância entre o discur-so preconceituoso e averdade histórica. A obra,portanto, atende ao apelofeito pelo historiadorEngelbert Mveng, citadono artigo de José RivairMacedo: “A África tem odever de afirmar aautenticidade de seupassado, não em virtudeda imagem criada pelosobservadores estrangei-ros, mas em virtude daverdade daquilo que foivivido, experimentado eexpresso por ela mesma”.Em 2003, passou a serobrigatório o ensino deHistória e Cultura Afro-brasileira nas escolas. Olivro não perde a chancede, em seus últimosartigos, trazer umadiscussão sobre osdesafios e dificuldades delecionar essa novamatéria nas salas de aula.(Demétrio PereiraDemétrio PereiraDemétrio PereiraDemétrio PereiraDemétrio Pereira)

O livro narra os encon-tros e desencontros doperuano Ricardo e de Lily, amenina deliciosa e má, naEuropa dos anos 60 a 90.Baseado em experiênciasreais do autor, mescladasaqui e ali com ficção, otexto descreve algumas dastransformações do velho edo novo continente nesseperíodo caracterizado porintensa atividade intelec-tual e transformaçõessociais e políticas. O livro,que acompanha inicialmen-te os tempos de penúria deRicardo como tradutor emParis, vai aos poucosexpandindo os horizontes ecria uma trama que cobrediversas cidades da Europa,do Japão e da AméricaLatina. É a história de umamor conturbado earrebatador, mas, como emtodo bom romance, nosremete a dimensões quetranscendem a vidaparticular dos protagonis-tas. (Artur LopesArtur LopesArtur LopesArtur LopesArtur Lopes)

A obra marca a comemo-ração dos 110 anos daFaculdade de Odontologiada UFRGS. Escrito pordocentes da faculdade sob acoordenação da prof.ªElaine Vianna FreitasFachin, o livro apresenta 43testemunhos de situaçõesimprevistas enfrentadas nocotidiano da profissão,dentro e fora da academia.Histórias como a dopaciente que extraiu umdente com uma tesoura oua da cliente que reclamoudo espelho do banheiro doconsultório compõem olivro, que igualmenteresgata a memória daOdontologia no Rio Grandedo Sul. As relações profes-sor-aluno e aluno-pacientetambém são abordadas eexemplificam a realidade dainstituição. A linguagem éacessível, mesmo paraquem não está familiarizadocom a especialidade, poispossui fortes marcas daoralidade. (Leila GhiorziLeila GhiorziLeila GhiorziLeila GhiorziLeila Ghiorzi)

Odontologiaem prosa

Elaine Vianna FreitasFachin (organizadora)Editora da UFRGS, 2008,146 págs.R$ 10

Travessurasda menina má

Mario Vargas LlosaEditora Alfaguara Brasil,2006, 304 págs.R$ 43

Produção em cena

Desvendandoa história daÁfrica

José Rivair Macedo(organizador)Editora da UFRGS, 2008,240 págs.R$ 20

Desde o mês passado, a Sala Qor-po Santo está apresentando os traba-lhos selecionados para 7.ª MostraAnual Universitária de Teatro. Nes-te mês, a peça em cartaz é Procura-se uma comédia, trabalho originadonas disciplinas de Atelier de CriaçãoCênica II e Atelier de ComposiçãoCênica II, sob orientação dos pro-fessores Moira Stein, Xico de Assis eRodrigo Ruiz.A mostra, coordenadapelas professoras Inês Marocco eCristiane Werlang, é uma atividadedo projeto Teatro, Pesquisa e Exten-são (TPE), promovido pelo Departa-mento de Arte Dramática (DAD) doInstituto de Artes e pelas Pró-reito-rias de Pesquisa e de Extensão daUFRGS.

Para Inês Marocco, os alunos queparticipam da mostra passam poruma transformação significativa:“Eles experimentam um progressomuito grande em seu trabalho, poisna mostra têm de fazer uma tempo-rada com oito ou dez encenações,dependendo do mês. Eles mesmospercebem a mudança entre a primei-ra e a última sessão”. A professoraacredita que o TPE está se transfor-mando num laboratório de formação.

Experiências múltiplas - A estu-dante Elisa Heidrich colabora na or-ganização do projeto desde 2006. Elalembra que a ideia de fazer uma mos-tra de teatro partiu de um grupo dealunos que pretendia ocupar as sa-las de teatro existentes na Universi-dade. “É uma oportunidade de fazeruma temporada de teatro e de se en-caminhar para o meio profissional.Com isso, temos uma experiência deprodução com iluminador, bilhete-ria. Uma vitrine para os trabalhosproduzidos dentro do DAD.”

Beliza Gonzáles participa da orga-nização da mostra pela primeira vez,trabalhando na criação das peças grá-ficas (cartazes e programas). “Vive-mos correndo entre a Gráfica da Uni-versidade e a equipe que aprova a pro-posta de material gráfico, mas tem sidoum aprendizado muito bom”, obser-va a estudante, ressaltando a evolu-ção do material gráfico em relação àsprimeiras edições da mostra.

Ana Paula das Neves colaboracom a produção dos espetáculos des-de 2008. Em junho, vai estrear comoatriz numa peça que integra a mos-tra. Ela salienta que no curso de Te-atro não há uma cadeira de produ-ção. Por isso, a mostra representauma oportunidade de aprendizado.

Os alunos envolvidos com a pro-dução dos espetáculos fazem detudo, conforme explica Inês: “Eu sócoordeno e cuido das tarefas maisburocráticas que exigem a presençade um professor. Por isso, consideroo TPE um laboratório em dois sen-tidos: na produção e na organizaçãode espetáculos teatrais”.

Extensão e pesquisa - “O bacanaé que, como qualquer projeto de ex-tensão, o TPE se propõe a estabele-cer um diálogo com o meio no quala universidade está inserida”, diz oestudante Rodrigo Fiatt, que tambémparticipa da produção da mostra.Nesse sentido, o projeto tem umbom retorno da sociedade e não sóda comunidade acadêmica. Rodrigoe Elisa contam que, ao final de cadasessão, o público é convidado a pre-encher uma ficha de avaliação naqual expõe suas impressões sobre amostra e sobre o espetáculo a que as-sistiu. Essa ficha é apresentada aosatores e diretores e também servepara a equipe de produção comopesquisa. “O público aponta proble-mas e faz sugestões. Ele também nosfornece uma noção a respeito do tipode divulgação mais eficaz para o tea-tro. As respostas sobre como as pes-soas ficam sabendo do evento indi-cam que o que mais funciona são ose-mails e a divulgação boca a boca.Mas a imprensa também é citadapelo público”, explica Rodrigo.

Na opinião de Inês, o projeto tam-bém promove a formação de plateiaem todos os níveis de reflexão. “Umautor como Plínio Marcos, por exem-plo, não é tão acessível assim. Há pou-cos dias, tivemos um grupo de 50 alu-nos de uma escola de ensino funda-mental de Esteio”, exemplifica. Até2008, ao final da temporada de cadapeça era promovido um debate como grupo de atores, a equipe de produ-ção e os professores orientadores.Neste ano, existe a proposta de am-pliar a discussão da temática de cadaespetáculo, convidando professoresde diferentes áreas da Universidade eespecialistas de fora da UFRGS. “Que-remos experimentar esse formatojustamente pelo vínculo que temoscom a pesquisa”, diz a professora.

Driblando dificuldades - O TPEconta com duas bolsas de extensão,de abril a dezembro, e uma bolsa detrês meses financiada pela FundaçãoLuiz Englert. De acordo com Inês,os valores dessas bolsas são dividi-dos entre os alunos que se envolvemna produção, financiando passagensde ônibus e outras despesas.

Rodrigo salienta que a escassez derecursos cria problemas que preci-sam ser resolvidos a cada apresenta-ção. “Outro dia, tivemos uma panena sonorização da Sala Qorpo Santoque atrasou o início do espetáculoem meia hora”, relata o estudante.

A Sala foi criada nos anos 80, jun-to com o cinema universitário SalaRedenção, como parte do projeto doCentro Cultural lançado na gestão doreitor Francisco Ferraz. Atualmente,é administrada pela Pró-reitoria deExtensão e gerenciada pelo DAD.

No ano passado, a Pró-reitoria deExtensão providenciou a instalaçãodo ar-condicionado (que a sala nãopossuía) e o conserto das cortinas.“No entanto, a Qorpo Santo precisade pessoal técnico e de manutençãopermanente. Isso tudo é caro, masnecessário. Na verdade, o ideal seriatermos um técnico concursado paraatender à Sala”, revela Inês.

A professora conclui informandoque o DAD está investindo na com-pra de um equipamento de som mó-vel para utilização durante as apre-sentações, porém o processo de aqui-sição desse tipo de material, segun-do as regras do serviço público fede-ral, é bastante demorado.

Teatro, Pesquisae ExtensãoMostraUniversitáriamovimenta a SalaQorpo Santo

Ânia Chala

AGENDE-SEPROCURA-SE UMACOMÉDIAA peça é constituída detrês pequenas histórias,contadas a partir dereferências da máscaracômica e do cinemamudo.Orientação: Moira Stein,Xico de Assis e RodrigoRuizDireção de Kalisy CabedaElenco: Celso Zanini,Elisa Heidrich e RodrigoFiattApresentações: 6 a 27 demaio (quartas-feiras)Local e horário: SalaQorpo Santo, às12h30min e às19h30minEntrada franca

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C U LT U R A

Para o maestro Isaac Karabtchevsky, o espaçofísico é fundamental para o desenvolvimentode uma orquestra, questão que vem se impon-do à OSPA ao longo de sua história. Em 1983,quando teve de deixar de se apresentar no Salãode Atos, a Orquestra foi para o Teatro Leopoldi-na, do qual saiu somente no ano passado. A novasala sinfônica da OSPA terá como endereço oParque da Harmonia, ao lado da Câmara Mu-nicipal de Porto Alegre, em um terreno cedidopela prefeitura. O teatro terá capacidade para1.560 pessoas, além de espaço para concertos aoar livre. O projeto, porém, esbarrou na burocra-cia e ainda não saiu do papel.

A OSPA vem realizando seus ensaios na SalaNegrinho do Pastoreio, do Palácio Piratini, ce-dida pela governadora Yeda Crusius. Apesar daqualidade do espaço, a Orquestra frequente-mente divide os acordes de seus ensaios diárioscom os gritos dos protestos realizados em frente

Enquanto aguarda a construção de seunovo teatro, a Orquestra Sinfônica de PortoAlegre (OSPA) volta a realizar seus concertosoficiais no Salão de Atos da Universidade. AOrquestra está sem espaço próprio para apre-sentações desde julho passado, quando dei-xou o Teatro Leopoldina, na avenida Inde-pendência – o qual ocupou por 24 anos. Alémde possibilitar um local fixo para os princi-pais concertos de 2009, o convênio OSPA–UFRGS, assinado em 30 de março, retoma aparceria histórica entre as duas instituiçõesque sempre ocuparam papel determinante nocenário cultural porto-alegrense.

Para o presidente da Fundação OSPA, o mé-dico Ivo Abrahão Nesralla, o retorno ao Salãode Atos possui importância especial, pois foina UFRGS que a Orquestra teve seu maior de-senvolvimento. O primeiro concerto da OSPAna Universidade foi realizado em 1957, seteanos após a sua criação pelo regente húngaroPablo Komlós. A partir de então, o Salão foipalco para muitas apresentações da Orquestra,incluindo a famosa série Concertos para a Ju-ventude. Esses concertos duraram até 1983,quando o Salão teve de ser fechado para refor-mas. No entanto, depois da sua reabertura, pro-jetos da Orquestra, como o Poema, voltado paraestudantes de Ensino Fundamental e Médio,continuaram a ser desenvolvidos na UFRGS.

O retorno daOrquestra

Destaques de 2009Pelo convênio entre OSPA e UFRGS, osconcertos oficiais da Orquestra Sinfônicade Porto Alegre serão realizados no Salãode Atos. As apresentações em 2009 serão,em sua maioria, homenagens a datascomemorativas, como os aniversários demorte de Villa-Lobos, Handel e Haydn.Também serão celebrados o centenário daimigração russa, com uma maratonamusical, e o ano da França no Brasil,ambos com participação de regentes esolistas desses países. O maestro IsaacKarabtchevsky lembra que há dois anosocorreu o ano do Brasil na França e, naocasião, músicos daqui tiveram chance dese apresentarem lá. Agora é a OSPA quetem como convidados artistas franceses.“Esse intercâmbio é muito importante paraa Orquestra”, diz.As apresentações ocorrerão sempre àsterças-feiras, às 20h30min. Serão distribuí-dos à comunidade universitária 300ingressos gratuitos, que poderão seradquiridos por meio de cadastramento noDepartamento de Difusão Cultural daUniversidade (Av. Paulo Gama, 110 -mezanino do Salão de Atos). Os demaisingressos estarão disponíveis na bilheteriado Salão de Atos, nas segundas e nasterças-feiras, das 11h às 19h. O valor daentrada é de R$ 20, com desconto de 50%para estudantes, idosos e assinantes ZH.

PROGRAMAÇÃO12 de maio12 de maio12 de maio12 de maio12 de maio – Concertos LegaisPara alunos das escolas de Porto AlegreRegente: Manfredo SchmiedtLocal e horário: Salão de Atos da UFRGS, às10h - Entrada franca

26 de maio26 de maio26 de maio26 de maio26 de maio - 4º Concerto da Série OficialFestival Haydn - 200 Anos de falecimentoObras:Sinfonia nº 94, em Sol Maior - “Surpresa”Missa in tempore belli, em Dó Maior,Hob.XXII:9

Solistas:Solistas:Solistas:Solistas:Solistas:Claudia Azevedo - SopranoRaíssa Panatieri - Mezzo sopranoEduardo Bighelini - TenorDaniel Germano – BaixoCoro Sinfônico da OSPARegente: Manfredo SchmiedtLocal e horário: Salão de Atos da UFRGS, às20h30min - Ingressos na bilheteria

Universidade musical - O convênio estrei-ta ainda mais a relação da música erudita coma Universidade, referência por seu Departa-mento e Programa de Pós-graduação em Mú-sica. De acordo com o reitor Carlos Alexan-dre Netto, “a UFRGS tem como sua maiormissão a produção do conhecimento e da cul-tura. Por meio dessa associação com a OSPA,temos a possibilidade de brindar a sociedadeporto-alegrense com a música, essa lingua-gem tão especial e particular do entendimen-to, da beleza e da harmonia”. O reitor tam-bém lembrou a importância da Rádio da Uni-versidade, que se consagrou pela qualidadede sua programação de música erudita.

No primeiro concerto oficial do ano, reali-zado no dia 7 de abril, a Orquestra recebeuuma homenagem à sua história e à sua rela-ção com a UFRGS. Antes da apresentação, foidescerrada uma placa comemorativa no Sa-lão de Atos pelo reitor, em cerimônia que con-tou com a participação do presidente da Fun-dação OSPA e do secretário municipal de Saú-de, Eliseu Santos.

Música que inclui - Nesralla vê como fun-damental a relação entre as duas instituições.“A nossa Universidade é o centro do saber doRio Grande do Sul e, por isso, ela deve sersede também de desenvolvimento de ativida-des culturais, como concertos musicais.” Eleacredita que a Orquestra possui uma funçãopolítica e social, já que a música faz parte daformação intelectual do ser humano e atuacomo instrumento de democracia. A OSPAcumpre essas funções não só pela difusão demúsica erudita, mas pela integração de dife-rentes classes sociais em seus projetos. Entreeles está a criação de uma orquestra jovem, a

Ospinha, que oferecerá educação musical aestudantes de baixa renda.

Neste ano, além dos concertos oficiais, háprevisão de que alguns dos projetos educaci-onais da OSPA ocorram na Universidade. Umdeles é o Encontro com o Maestro, no qualum regente explica o conteúdo e o significa-do das músicas ao público jovem. Na opiniãode Nesralla, as pessoas que não apreciam amúsica erudita na verdade não a conhecem enão entendem o que ela representa. Nos con-certos didáticos, esse público tem a oportuni-dade de aprender a história da obra e de seucompositor, além de sua importância para aépoca em que foi criada. “A arte é o espelho dodesenvolvimento de um país. Esse espelho deveser traçado de maneira contínua por meio daeducação musical. Essa é a função que a OSPAbusca exercer”, afirma.

Com as apresentações na UFRGS, abre-setambém a possibilidade de aproximação daOrquestra com os estudantes – um públiconão tão habituado à música erudita. Ivo Nes-ralla vê esta como uma oportunidade paraque os jovens conheçam e tenham compre-ensão das obras de música clássica e con-temporânea.

O diretor artístico e regente titular IsaacKarabtchevsky diz ser, inclusive, um dos prin-cipais objetivos de uma orquestra a difusãode música erudita e de conhecimento a dife-rentes públicos e em diferentes espaços –como praças, parques e cidades do interior doestado. O primeiro concerto do ano, realiza-do no Hospital Psiquiátrico São Pedro, é umexemplo disso. Na ocasião, alguns internosparticiparam da apresentação regendo aOSPA. “Este concerto foi maravilhoso, em umlocal amplo e interessante”, comenta.

À espera do novo espaçoao Palácio. Segundo Ivo Nesralla, o convêniocom a UFRGS possibilita à Orquestra fazer seusconcertos em um dos únicos teatros com estru-tura apropriada no estado, devido à qualidadefísica e acústica do Salão de Atos. Regente titu-lar da OSPA, Karabtchevsky lembra que o Sa-lão atende aos requisitos para abrigar uma or-questra, que para ele é um organismo comple-xo e de difícil gestão em termos de espaço, de-vido não só aos seus mais de 80 músicos, mastambém ao seu componente físico. Ele ressal-ta a importância dessas parcerias para as or-questras: “Isso deu novo sentido à Orquestra,pois ela depende da estrutura”.

O novo teatro, todavia, não significará o fimda parceria entre a Universidade e a Orquestra.Karabtchevsky promete apresentações seme-lhantes aos Concertos para a Juventude dosanos 1960. “Devido à história que circundaeste salão, a OSPA tem direito adquirido sobre

ele, e nós vamos honrá-lo. Queremos ser trans-formados em convidados permanentes desteespaço.” O reitor Carlos Alexandre Netto con-firmou o compromisso por parte da UFRGS,colocando a Universidade à disposição da Or-questra, pois considera que “ambas as institui-ções partilham da mesma natureza e devemcolocar-se a serviço da comunidade”.

O Estudo de Viabilidade Urbanística para onovo teatro foi aprovado e já possui licença parainstalação. Dessa maneira, Ivo Nesralla diz quea intenção é começar a construção da sala sin-fônica o quanto antes e com os recursos queestiverem à disposição. “Em 2010 a Orquestracomemora seus 60 anos, e os planos são defestejar a data já no novo teatro”, conclui.

Luciane Costa, estudante do 7.° semestre deJornalismo da Fabico

Música eruditaMúsica eruditaMúsica eruditaMúsica eruditaMúsica eruditaSalão de Atos voltaassediar concertosoficiais da OSPA

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DESTAQUE

14 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009

A G E N D ARedação Ânia Chala |Fone: 3308-3368| Sugestões para esta página podem ser enviadas para [email protected]

CINEMA

CRÉDITO DAS IMAGENS: DESTAQUE (DIVULGAÇÃO) / EXPOSIÇÃO (EUNICE LAROQUE - ESPÉCIE HUMANA E JENER GOMES - ARQUEOLOGIA IÁTICA) / MÚSICA (PAULO GUIMARÃES) / CINEMA (DIVULGAÇÃO)

Imagem econceito:Filosofia, Cinemae Educação

Ciclo promovido pelaFaculdade deEducação que debateas relações entrefilosofia e educação,a partir de umaperspectiva histórico-conceitual. Após cadasessão, debate comconvidado umprofessor convidado.

GIORDANO BRUNOÉ mesmo livre opensar?

(Itália, 1973, 120min.), de GiulianoMontaldoA trajetória dofilósofo e políticoqueimado pelaInquisição em 1600.Sessão: 7 de maio(quinta-feira)Local e horário: sala601 da Faced, às18h30minEntrada franca

MARAT SADEFaz sentido lutar?(Suécia, 1967, 119min.), de Peter BrookInternado numhospício, o marquêsde Sade encena umapeça sobre o assassi-nato de Jean-PaulMarat, líder daRevolução Francesa.Sessão: 28 de maio(quinta-feira)Local e horário: sala601 da Faced, das18h30min às 22hEntrada franca

Mostra de cinemapolonês: cineastasda Escola de Lodz

Ciclo comemorativoao centenário da

produção cinematográ-fica daquele país,promovido pela SalaRedenção em parceriacom o Museu daUFRGS e Studio Clio. Aantologia contemplaparte da filmografiade diretores oriundosda Escola de Lodz, degrande influência nacinematografiaeuropeia. Por meiode alguns filmesespecíficos, a mostratambém dialogarácom a exposição “Milanos dos Judeus naPolônia”. Apoio:Centro de Entreteni-mento E o VídeoLevou.

A DUPLA VIDA DEVERONIQUE(Polônia, 1991,93min.), de KrzysztofKieslowskiSessões: 6, 7 e 26 demaio (quarta e quinta-feira)Horários: dia 6, às19h; dia 7, às 16h; edia 26, às 19hEntrada franca

NÃO AMARÁS

(Polônia, 1988, 82min.), de KrzysztofKieslowskiSessões: 8 e 11 demaio (sexta-feira)Horário: 16hEntrada franca

NÃO MATARÁS(Polônia, 1988, 80min.), de KrzysztofKieslowskiSessão: 8 de maio(sexta)Horários: dia 8, às19h; e dia 11, às 16hEntrada franca

FACA NA ÁGUA(Polônia, 1962, 94min.), de RomanPolanskiSessões: 11 e 12 demaio (segunda e

terça-feira)Horários: dia 11, às19h; e dia 12, às 16hEntrada franca

TESS – UMA LIÇÃODE VIDA

(Inglaterra, 1979, 172min.), de RomanPolanskiSessão: 12 e 26 demaio (terça-feira)Horários: dia 12 às19h; e dia 26, às 16hEntrada franca

O PIANISTA(Inglaterra, 2002, 148min.), de RomanPolanskiSessão: 13 de maio(quarta-feira)Horário: 16hEntrada franca

CUL DE SAC -ARMADILHA DODESTINO(Inglaterra, 1966,114min.), de RomanPolanskiSessões: 13, 14 e 28de maio (quarta equinta-feira)Horários: dia 13, às19h; dia 14, às 16h; edia 28, às 16hEntrada franca

O HOMEM DEMÁRMORE

(Polônia, 1974, 179min.), de AndrzejWajdaSessões: 18 e 19 demaio (segunda eterça-feira)

As marcas dos milanos da culturajudaica na Polônia

Saraus no Institutode Artes

Série de recitais demúsica erudita comalunos do Departa-mento de Música.Datas: 7, 11, 18 demaioLocal e horário:Auditorium TassoCorrêa, às 12h30minEntrada franca

Fred Martins

Show para a sérieCancionistas – Músicade Hoje, do projetoUnimúsica. Ocompositor cariocatranscreveu partiturasde compositores comoNoel Rosa e TomJobim para ossongbooks produzidospor Almir Chediak,tendo recebido oprêmio de público ede crítica no 9.ºPrêmio Visa deMúsica Brasileira em2006.Data: 7 de maio

EXPOSIÇÕESArqueologiaIÁtica

Mostra fotográfica doartista visual JenerGomes, que fazreferência à procurade ambientesdesconhecidos porgrande parte daspessoas que transi-tam diariamente peloInstituto de Artes, emespecial os própriosalunos, professores efuncionários. Amostra marca areabertura do EspaçoAdo Malagoli para aexposição dostrabalhos elaboradospelos estudantes doDepartamento deArtes Visuais.Visitação: até 15 demaioLocal e horário:Espaço Ado Malagolido Instituto de Artes,de segunda a sexta-feira, das 9h às 20hEntrada franca

CURSOS & PALESTRASAprender nãotem idade

A Faculdade deEducação realiza oscursos de extensão“Inclusão digital decrianças hospitaliza-das” e “Inclusãodigital de idososhospitalizados”. Asatividades pretendeminstrumentalizaracadêmicos evoluntários dacomunidade paraatuar no atendimentode crianças eidosos internados emhospitais.Período: 9 de maio a27 de junho (sába-dos)Local e horário:Faced, das 8h30minàs 12hInscrições gratuitasaté 8 de maio, das14h às 17h, nosaguão do 8.º andarda FacedInformações:[email protected]

Literatura,História eoralidade

Colóquio promovidopelos Institutos deLetras e de Filosofiae Ciências Humanas.Serão discutidos,entre outros temas:

as abordagens e osusos da narrativa oralem Literatura, Histó-ria e Antropologia.Período: 15 e 16 demaio (sexta-feira esábado)Local e horário: nodia 15, na SalaRedenção, das 9h às11h30min e das 13hàs 19h; no dia 16, noauditório da Faculda-de de Ciências Econô-micas, das 8h30minàs 12h30min e das14h às 16h30minInscrições: no localao custo de R$ 5

Os plasmas: o quesão e onde estão?

Palestra com LuizFernando Ziebell,professor associadoda UFRGS, que iráapresentar as pro-priedades básicas eas aplicações dosplasmas em proces-sos de importânciatecnológica. A ativi-dade integra a pro-gramação do cin-quentenário do Ins-tituto de Física e ascomemorações doAno Mundial daAstronomia.Data: 21 de maioLocal e horário: audi-tório da LivrariaCultura, às 19h30minEntrada franca

(quinta-feira)Local e horário: Salãode Atos, às 19hEntrada francamediante a doação de1Kg de alimento nãoperecível. Retirada deingressos na bilheteirado Salão.

Encontro com oartista

O músico FredMartins irá apresen-tar algumas peças-chave do nossocancioneiro, discutin-do a especificidadedo artesanato dacanção popular, apartir de obras comoSamba de uma notasó.Data: 8 de maio(sexta-feira)Local e horário: SalaFahrion, às 14hEntrada franca

Mario Trilha

Recital com o cravistaportuguês MárioTrilha, que gravou umCD com modinhas esonatas do períodoem que D. João VIviveu no Brasil.Data: 20 de maio(quarta-feira)Local e horário:Auditorium TassoCorrêa, às 20h30minEntrada franca

Desde o dia 4 deste mês, o Museu da UFRGSestá realizando a exposição “Mil anos de Judeusna Polônia”.

Uma parceria entre o Consulado-Geral daRepública da Polônia, a Federação Israelita do RioGrande do Sul, o Studio Clio e a Sala RedençãoUFRGS, a mostra apresenta o passado e opresente do povo judeu na Polônia e suarelevância para a formação da identidade culturaldaquele país.

Tiago Halewicz (Studio Clio) e Marili Berg(diretora da Federação Israelita) dividem acuradoria da exposição, idealizada pelo InstitutoAdam Mickiewicz, sediado em Varsóvia (Polônia)e trazida ao Brasil pelo Ministério de RelaçõesExteriores e pelo Consulado da Polônia em

E x p o s i ç ã oE x p o s i ç ã oE x p o s i ç ã oE x p o s i ç ã oE x p o s i ç ã o

Mostra no Museu da UFRGS destaca contribuiçõesdo judeus na filosofia, na literatura e na música

Curitiba. Segundo Tiago, a mostra pretendedestacar a relevância da presença judaicadesde a formação do Estado polonês no séculoX. Marili acrescenta que a exposição contará ahistória política da Polônia, acompanhando acontribuição judaica no campo da Filosofia, daLiteratura e da Música. Ela frisou que a históriados judeus naquele país não se resume apenasao holocausto.

O evento conta com atividadescomplementares, como palestras, filmesseguidos de debate e apresentações musicais. Aexposição poderá ser visitada até 26 de junho, desegunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Oagendamento de turmas de instituições deensino deve ser feito pelo telefone 3308-4022.

MÚSICA ONDE?AAAAAuditudituditudituditorium Torium Torium Torium Torium TassoassoassoassoassoC o r r ê aC o r r ê aC o r r ê aC o r r ê aC o r r ê aRua Senhor dosPassos, 248Fone: 3308-4318

Espaço AdoEspaço AdoEspaço AdoEspaço AdoEspaço AdoM a l a g o l iM a l a g o l iM a l a g o l iM a l a g o l iM a l a g o l iRua Senhor dosPassos, 248 – térreoFone: 3308-4318

Faculdade deFaculdade deFaculdade deFaculdade deFaculdade deCiências Econô-Ciências Econô-Ciências Econô-Ciências Econô-Ciências Econô-m i c a sm i c a sm i c a sm i c a sm i c a sAv. João Pessoa, 52Fone: 3308-3467

Faculdade deFaculdade deFaculdade deFaculdade deFaculdade deEducaçãoEducaçãoEducaçãoEducaçãoEducaçãoAv. Paulo Gama, s/nºFone: 3308-3099

Galeria do DMAEGaleria do DMAEGaleria do DMAEGaleria do DMAEGaleria do DMAERua 24 deOutubro, 200Fone: 3289-9722

Livraria Cultura -Livraria Cultura -Livraria Cultura -Livraria Cultura -Livraria Cultura -B o u r b o nB o u r b o nB o u r b o nB o u r b o nB o u r b o nShopping CountryShopping CountryShopping CountryShopping CountryShopping CountryAv. Túlio de Rose, 80- Loja 302Fone: 3028-4033

Sala FahrionSala FahrionSala FahrionSala FahrionSala FahrionAv. Paulo Gama, 110- 2.º andarFone: 3308-3034

Sala Qorpo SantoSala Qorpo SantoSala Qorpo SantoSala Qorpo SantoSala Qorpo SantoRua Luiz Englert, s/nºFone: 3308-4318

Sala RedençãoSala RedençãoSala RedençãoSala RedençãoSala RedençãoRua Luiz Englert, s/nºFone: 3308-3034

Salão de AtosSalão de AtosSalão de AtosSalão de AtosSalão de AtosAv. Paulo Gama, 110Fone: 3308-3066

Horários: dia 18, às19h; e dia 19, às16hEntrada franca

REPULSA AO SEXO(Inglaterra, 1965,105 min.), de RomanPolanskiSessões: 14, 18 e 29de maio (quinta,segunda e sexta-feira)Horários: dia 14, às19h; dia 18, às 16h;e dia 29, às 16hEntrada franca

O HOMEM DEFERRO(Polônia, 1981, 153min.), de AndrzejWajdaSessões: 19 e 25 demaio (terça esegunda-feira)Horários: dia 19, às19h; e dia 25, às16hEntrada franca

PAISAGEM APÓS ABATALHA(Polônia, 1970, 101min.), de AndrzejWajdaSessão: 20 de maio(quarta-feira)Horário: 16hEntrada franca

OS INOCENTESCHARMOSOS(Polônia, 1960, 87min.), de AndrzejWajdaSessões: 20 e 21 demaio (quarta equinta-feira)Horários: dia 20, às19h; e dia 21, às16hEntrada franca

TUDO À VENDA(Polônia, 1969, 94min.), de AndrzejWajdaSessões: 21, 22 e29 de maio (quintae sexta-feira)Horários: dia 21, às19h; dia 22, às 16h;e dia 29, às 19hEntrada franca

Espécie HumanaHeadlines

Esculturas, desenhose gravuras queexpressam aeloquência doefêmero e dos fatosdivulgados nasmanchetes e notíciasde jornais. As obrassão da artista plásticaAdriana Xaplin.Visitação: até 25 demaioLocal e horário:Galeria de Arte doDMAE, de segunda asexta-feira, das 8h às17h30minEntrada franca

ESPECIALMutaçõesA condiçãohumana

Ciclo de debates quepretende abordarquestões como: Oque é o homem nomundo? Há algo deestruturalmenteinumano no humano?A atividade é umapromoção do Centrode Estudos Artepen-samento, comcuradoria de AdautoNovaes. Os professo-res Renato Lessa,Newton Bignotto eJoão Camillo Pennaestão entre osconferencistasconvidados.Período: 11 a 22 demaioLocal e horário: SalaFahrion, às 19h30minInscrições: Departa-mento de DifusãoCultural - mezaninodo Salão de AtosCusto: R$ 30 (públicoem geral) e R$ 15(estudantes epessoas acima de 60anos)Informações: 3308-3034

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JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009 | 15

E N T R E N Ó S

Meu Lugarna UFRGS

Perfil

Você tem o seu lugar na UFRGS?Então escreva para [email protected] e conte sua história –ou a de alguém que você conheça – com esse local

Carpe Diem: é o que NathashaSchultz Brandão traz tatuado noantebraço. A estudante consideranão existir colheita melhor do queo conhecimento adquirido peloslivros, pelas experiências quevivencia, pelas pessoas queconhece. “Aproveitar o tempo paramim é sempre estar buscandomais.”

Nathasha elegeu a Biblioteca doDireito como o seu local predileto.Apesar de estar no 8.º semestre deEngenharia de Produção e fre-quentar disciplinas de CiênciasEconômicas como curso dois, énesse espaço que ela usa plena-mente os seus intervalos entre otrabalho e as aulas.

Tudo começou quando a garotatinha uma prova difícil de Enge-nharia, dentre tantas, e não estavaconseguindo se concentrar nabiblioteca da sua faculdade.“Então, eu vim para cá, deixeiminhas coisas ali no armário,sentei e comecei a estudar. Pornecessidade de um ambiente emque conseguisse tirar o melhordos meus estudos”, narra aestudante. Nathasha consideraque teve sorte em parar no Direitoe diz que acabou se apaixonandopelo lugar.

Para a jovem de 22 anos, abiblioteca do prédio da EngenhariaNova tem um grande fluxo depessoas, enquanto a da Economiaé mais tranquila. “Não que asoutras sejam ruins, mas esta aqui,para mim, por algum motivo, éespecial. A biblioteca do Institutode Artes, por exemplo, é só parapegar livros, não é para estudar.” Eacaba justificando sua preferên-cia, dizendo que, quando entra noprédio da Faculdade de Direito,talvez pela sua estética, tem aimpressão de estar realmentedentro de um espaço acadêmico.Ela própria se sente mais focada.“Para mim, biblioteca é isso: ummomento de estudo.”

Cerca de 70% da semana daestudante é dedicada aos estudos,porque Engenharia é um cursoque demanda muito esforço, e aEconomia lhe agrada de talmaneira que, quando vê, mesmono seu tempo livre, está lendo algosobre o tema. Nathasha é tambémfuncionária do Instituto Nacionaldo Seguro Social (INSS), emGravataí, e não desperdiça operíodo de deslocamento. Nas trêshoras e meia entre a capital e acidade da região metropolitana,procura estudar. Sua carga diáriade trabalho é de seis horas, o quenão considera maçante, poismuitos estágios exigem essadisponibilidade.

O interessante, na história deNathasha e seu local preferido naUniversidade, é que ela não tem

predileção pela Biblioteca doDireito em função de seu acervo,do qual desconhece a qualidade.Aliás, a estudante só fez uso deleuma única vez, justamentequando precisou estudar sobrelegislação previdenciária para oconcurso do INSS. “Passei, viu?Tive sucesso na minha busca deconhecimento!”

A garota passa ali seu tempolivre por gostar do ambiente, quejulga bastante agradável. Nesseespaço, em que se sente àvontade, acolhida, no sentido deaumentar seu saber, é onde sedesenvolve como universitária efutura profissional. Hoje, suarotina está mais atribulada do quequando “descobriu” a Bibliotecado Direito, a ponto de vê-la comoum momento de relaxamento, noqual esquece do dia de correriapara o trabalho, para a aula. “Àsvezes, venho para cá antes de irpara casa, porque aqui metranquilizo e faço assim umparêntese na vida!”

No entanto, a atendente dobalcão estranha a preferência deNathasha por esse lugar: “Eununca escolheria vir estudar aqui”.A estudante de Letras e bolsistana Biblioteca Muriel Assmannafirma que o salão é muitobarulhento por não separar o localde estudo do atendimento dosusuários. Os outros bolsistas quecatalogavam material de pesquisatambém concordaram que háruído, inclusive da rua e do CentroAcadêmico André da Rocha.

Encarregados de atender opúblico, os estudantes responsá-veis pelo balcão identificam, deseu ponto de vista privilegiado,outros frequentadores cativos daBiblioteca do Direito. “Têm unsque vêm sempre no mesmohorário, chegam na metade datarde e ficam até a noite...”

Biblioteca não é lugar para ficarsocializando, mas, sim, paraconcentração, na opinião deNathasha. No entanto, a jovemconclui que não há como se sentirsozinha em meio a tantos livros etanta informação. Como elapretende utilizar tudo que somar?Em benefício de todos que acercam e da sociedade em geral.

Caroline da Silva

Esta coluna é resultado deuma parceria entre o JU e aUFRGS TV. Os programas detelevisão com as entrevistasaqui publicadas serão exibi-dos ao longo da programaçãodo Canal 15 da NET àssegundas, terças, quintas esextas-feiras, a partir das21h30min.

Onde não se sentir só Faz poucos dias, Gilmar Gomescomeçou a frequentar o curso demestrado em Geografia no Institutode Geociências da UFRGS. Agora eledivide seu tempo entre o Câmpus doVale, onde assiste às aulas do pós-gra-duação, e o Câmpus Centro, base doseu trabalho de coordenador da In-cubadora Tecnológica de Cooperati-vas Populares, realizado em conjun-to com o Núcleo de Economia Alter-nativa (NEA). Isso tudo numa mi-núscula salinha no prédio da Facul-dade de Ciências Econômicas, “espa-ço” que também faz as vezes de salado professor Carlos Schmidt, coorde-nador do NEA.

“Meus tempos são defasados emcomparação ao da maioria das pes-soas.” Autodefinição de quem pre-feriu começar a trabalhar antes defazer o primeiro vestibular (entroucom 23 anos no curso de História daUFRGS), entre outras escolhas quefez ao longo de seus 47 anos de tau-rino com ascendente em gêmeos. “Ogeminiano me dá essa possibilidadede perceber muitos movimentos aminha volta e acabo gostando de to-dos eles”, outra característica quereflete a diversidade da sua atuaçãoem diferentes setores da Universida-de, e também a intensidade com queas incorpora.

Recentemente, ele e Schmidt par-ticiparam da reunião com o econo-mista e Secretário Nacional de Eco-nomia Solidária, Paul Singer. Na oca-sião, Gilmar foi apresentado como oprecursor da ideia de economia soli-dária na UFRGS, tema que hoje estápresente nos cursos de Administra-ção, Economia e Arquitetura. Ele eLuis Oscar Ramos Correia, então ser-vidores do Departamento de Educa-ção e Desenvolvimento Social, vin-culado à Pró-reitoria de Extensão,deram início, em 1997, ao projeto queoriginaria a Incubadora e o NEA, comum trabalho de extensão em organi-zações comunitárias e atuação em as-sociações de moradores.

“Percebemos que já não era maisuma luta pelo saneamento nem pelotransporte: as pessoas não tinham di-nheiro sequer pra pegar ônibus, nãotinham trabalho!!” É com a aceleradaprogressão do desemprego dos anos 80aos 90, em âmbito mundial, que a Eco-nomia Solidária surge como alterna-tiva. E quando em 2001 é realizado oprimeiro Fórum Social Mundial emPorto Alegre, o grupo recebe ativistasde diferentes países e ganha espaçonacional e internacional.

Ensinar e aprender - Mas a econo-mia solidária não foi a única paixãode Gilmar nesses 26 anos de UFRGS,onde começa a trabalhar no mesmoano em que entra para o curso deHistória, em 1983. Sua primeira fun-ção foi a de assistente administrativona pós-graduação da Faculdade deEducação (Faced). “Minha história érecheada de coisas inesperadas e, decerta forma, parece que desejei queelas acontecessem.”

Gil GomesHá 16 anos eletrabalha novasideias naUniversidade

Jacira Cabral da Silveira

Diz isso pelo fato de ter conhecido,nessa época, o professor Nilton Fis-cher. “Com ele, aprendi um perfil deeducação que se opunha à práticadominante na época – behaviorista ecomportamentalista – de cunhoamericano.” Também foi com Nil-ton que conheceu Paulo Freire, lei-tura fundamental para sua prática do-cente. Com colegas servidores grevis-tas em 1984 e professores da faculda-de, cria o curso que se transformaria,em 1986, no Programa de EnsinoFundamental para Jovens AdultosTrabalhadores da UFRGS. “A ideiasurgiu quando nos demos conta donúmero de colegas analfabetos.”Como deixar isso ocorrer dentro deuma Universidade? A criação do cur-so foi a resposta. Lecionou Históriadurante dez anos no Programa e hojefaz parte do Núcleo de Educação deJovens e Adultos da UFRGS.

Nos dez anos de Faced, também

trabalhou na Central de Produções:“Cara, que moçada!”. Começa a citarnomes, mas fica chateado por esque-cer alguém, então desiste. Gilmar édo tipo amigo, que gosta de cantar etocar MPB no violão. Solta a voz esegue direitinho as notas indicadasnuma daquelas revistas para apren-diz que sempre carrega. Segundo ele,um professor definiu bem sua per-formance musical: “Tu ‘canta’ comtanto sentimento, que a gente nempercebe teu violão desafinado”. Mascomo está vivendo um momentomais ermitão, ele gosta de usar o tem-po livre para ficar em casa lendo nacompanhia de Márcia.

“Ela me deu motivação para viver”,declara seu amor pela esposa que co-nheceu há 16 anos, na mesma faseturbulenta do final de sua atuação naAssufrgs, em 1994. “Foi uma épocadifícil” – assim resume o sentimentode quando ele e os colegas de direto-ria sofreram impeachment, numaassembleia com cerca de mil pessoas.Foi como terminou sua atividade sin-dical de uma década junto à Associa-ção, tempo suficiente para deixar deser tímido, gostar de Brasília e desco-brir no amor da mulher que a vidapode voltar a ter sentido.

Ficha técnica - Gilmar nasceu emPorto Alegre, morou com os pais,Olindina e Gil, até os vinte e poucosanos. Em casa, não se falava em políti-ca, apenas se cochichava, mas foi o su-ficiente para ele e os irmãos Gilnei eNilza serem militantes de esquerda,como os pais, que eram brizolistas. Gil-mar participou de movimento jovemde igreja, da Libelu (Liberdade e Luta,uma das organizações do movimentopolítico-estudantil dos anos 70-80), émembro fundador do PT, astrólogo ejoga tarô – embora não se considereum bruxo. Seu apelido é Gil, como opai: “Com muito orgulho!”.

“Percebemos quejá não era maisuma luta pelosaneamentonem pelotransporte: aspessoas nãotinham dinheirosequer parapegar o ônibus,não tinhamtrabalho!!”

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JORNAL DA UNIVERSIDADE | ABRIL E MAIO DE 2009

E N S A I O

Acostumei-me a encontrarbeleza na desordem moran-do em São Paulo e convi-vendo com isso diariamente.

Coisas para as quais olhamos e não asvemos. Para alguns, fugir do caos e dadesordem é o grande desafio. Juntar osdois e transformar em expressão podeser quase inimaginável.

É isso que procuro colocar emminhas imagens: o feio, o esquecido, ocaótico, o desgasto.

Com a lomografia, como mostramas imagens desta página, tenho encon-trado resultados tão incertos quanto asimagens do dia a dia. Da imprecisãodo clique até a hora em que o químicorevela o positivo, a ansiedade de sabero resultado toma conta de todos osplanos da imagem e de mim! Oresultado é sempre surpreendente.

Lomografia é um termo derivado deLOMO (Leningradskoye OptikoMechanichesckoye Obyedinenie) –câmeras não convencionais, muitavezes chamadas de “câmeras de brin-quedo”. É como projetar a sensação desonho em atividades simples docotidiano. Transformar o caos emfotografias contrastadas e cheias de cor.

Na Lomo, seu apelido afetivo, alente Minitar é capaz de gerar umbrilho diferente na imagem. O modode exposição automática do filme,mesmo em difíceis condições de luz esem a utilização do flash, torna maisfácil entender por que esse tipo defotografia atrai um público cada vezmais amplo, que vai de quem temprática com câmeras sofisticadas atéquem nunca teve intenção de sededicar à fotografia.

A característica desse tipo decâmera é incentivar a busca de umolhar próprio e de instigar o desejo porimagens diferentes. E, claro, dar maischance ao acaso, ao erro, ao incertocomo forma de expressão.

NANANANANATÁLIA TONDTÁLIA TONDTÁLIA TONDTÁLIA TONDTÁLIA TONDAAAAAÉ PÉ PÉ PÉ PÉ PAAAAAULISULISULISULISULISTTTTTANAANAANAANAANA, F, F, F, F, FORMADORMADORMADORMADORMADA PELA ESCOLA PANAMERICANA DE ARA PELA ESCOLA PANAMERICANA DE ARA PELA ESCOLA PANAMERICANA DE ARA PELA ESCOLA PANAMERICANA DE ARA PELA ESCOLA PANAMERICANA DE ARTES E ESTES E ESTES E ESTES E ESTES E ESTÁ EMTÁ EMTÁ EMTÁ EMTÁ EMPORPORPORPORPORTTTTTO ALEGRE COMPLEMENTO ALEGRE COMPLEMENTO ALEGRE COMPLEMENTO ALEGRE COMPLEMENTO ALEGRE COMPLEMENTANDO ESANDO ESANDO ESANDO ESANDO ESTUDOS EM FTUDOS EM FTUDOS EM FTUDOS EM FTUDOS EM FOOOOOTTTTTOGRAFIA NA UNISINOS.OGRAFIA NA UNISINOS.OGRAFIA NA UNISINOS.OGRAFIA NA UNISINOS.OGRAFIA NA UNISINOS.

LomografiasTEXTO E FOTOSTEXTO E FOTOSTEXTO E FOTOSTEXTO E FOTOSTEXTO E FOTOS NATÁLIA TONDA