jornal da ufop | nº 192

8
Edição 192 - novembro e dezembro de 2013 Jornal da Universidade Federal de Ouro Preto Do ensino médio para congressos científicos PÁGINA 5 Entrevista: PÁGINA 3 PÁGINA 6 PÁGINA 8 Pesquisa: concentração de metais na neblina Sustentabilidade: reaproveitamento de equipamentos Romero César Gomes: prevenção contra as chuvas Mais de 290 novas vagas em moradias federais PÁGINA 7 A UFOP investe em iniciação científica júnior voltada para alunos que ainda não ingressaram na graduação. Com a pesquisa, o estu- dante pode testar técnicas e teor- ias aprendidas em sala de aula, além de auxiliar na es- colha da profissão. Isadora Faria

Upload: assessoria-de-comunicacao-institucional-da-ufop

Post on 20-Feb-2016

225 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Edição 192 do Jornal da UFOP. Novembro / Dezembro 2013

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal da UFOP | Nº 192

Edição 192 - novembro e dezembro de 2013Jornal da Universidade Federal de Ouro Preto

Do ensino médio para congressos cientí� cosPÁGINA 5

Entr

evis

ta:

PÁGINA 3

PÁGINA 6

PÁGINA 8

Pesquisa: concentração de metais na neblina

Sustentabilidade: reaproveitamento de equipamentos

Romero César Gomes: prevenção contra as chuvas

Mais de 290 novas vagas em moradias federais

PÁGINA 7

A UFOP investe em iniciação científica júnior voltada para alunos que ainda não ingressaram na graduação. Com a pesquisa, o estu-dante pode testar técnicas e teor-ias aprendidas em sala de aula, além de auxiliar na es-colha da profissão.

Isadora Faria

Page 2: Jornal da UFOP | Nº 192

2 Edição 191 - setembro e outubro de 2013

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

EDITORIAL

Maquete de Alto-forno

Utilizados como instrumentos didáticos de demonstração nas aulas, a Escola de Mi-nas importou (sobretudo da França) diversos modelos de ensino no final do século XIX e início do XX. No Setor de Metalurgia do Museu de Ciência e Técnica, por exemplo, encontra-se à disposição do público a ma-quete de um alto-forno, estrutura industrial que produz o ferro-gusa utilizado no proces-so de fabricação do aço.

Os Setores de Metalurgia, Química, História Natural, Mineralogia, Mineração, Física e Ciência Interativa estão abertos à visitação pública de terça a domingo, das 12h às 17h. Já o Observatório Astronômico funciona aos sábados, das 20h às 22h.

O Setor de Transporte Ferroviário fun-ciona de terça a domingo, das 9h às 17h, na Estação Ferroviária de Ouro Preto do Projeto Trem da Vale. O Setor de Siderurgia, localizado no Parque Metalúrgico Augusto Barbosa - Centro de Artes e Convenções da UFOP -, atende ao público no mesmo perío-do, mediante agendamento.

Escolas e grupos podem agendar visitas em horários e dias a combinar pelo contato:Telefone: (31)3559-3118

E-mail: [email protected]: www.museu.em.ufop.br

Recredenciamento institucionalAssistência estudantil destaca-se com conceito máximo entre as dimensões avaliadas pela Comissão do MEC

Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas SouzaVice-reitora: Prof. Dr. Célia Maria Fernandes NunesCoordenador de Comunicação Institucional: Chico DaherACI: Verônica Soares, Mariana Petraglia, Fernanda Matias, Rondon Marques Edição: Ana Paula Martins – MTb 12533Projeto Gráfi co: Mateus MarquesDiagramação: Rafa BuscacioRedação: Ana Paula Martins, Bruna Sudário, Fernanda Ma-fi a, Fernanda Marques, Júlia Mara Cunha, Mariana Borba, Tamara Pinho

Colaboração: Aldo Damasceno, Ana Elisa Siqueira, Brunello Amorim, Caroline Antunes, Douglas Gomes, Flávia Gobato, Isadora Faria, Júlia Cunha, Marília Ferreira, Nathália Viegas Núcleo Administrativo: Pedro Alexandre de Paula, Marco Antônio do Nasci-mento, Jeiniele Souza, Richard DiasRevisão: Ana Paula Martins Tiragem: 1.000 exemplaresImpressão: MJR Editora e Gráfi ca

Coordenadoria de Comunicação Institucional (CCI) Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto – MG – CEP 35.400-000Tel: (31) 3559-1222/1223 E-mail: [email protected]: www.ufop.br

O que é ser melhor?Entre as melhores do País pelo ranking do jornal Folha

de São Paulo, algumas boas estrelas pelo ranking da Editora Abril, nota máxima nos cursos de Direito e Jornalismo na recente divulgação dos resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e, assim, sucessiva-mente, vamos caminhando na busca de uma Universidade sempre melhor. Entendo a importância das avaliações, se-jam públicas ou privadas, fico feliz por estarmos ganhando projeção pela qualidade de nossos cursos, mas, diante dos desafios que precisamos superar – não apenas a UFOP -, sinto que, se pensarmos nesses processos de avaliação como simples disputa entre instituições, estaremos seguindo uma direção nada saudável em termos de construção de um país que promova a pesquisa, a extensão, a cultura, a inovação, a inclusão e a inserção social.

As universidades públicas têm o desafio de inovar, que-brar paradigmas, enfim, promover ações, muitas vezes nada conservadoras, nem sempre contempladas nas metodologias de avaliação. Consideremos a hipótese de que uma institui-ção de ensino fundamental, médio ou superior, pública ou privada, organize-se para aumentar radicalmente, em suas salas de aula, a inclusão de pessoas com deficiência.

Vamos supor, ainda, que essa instituição estivesse, até então, sempre no topo de um ranking, de acordo com as metodologias em curso e, que, de repente, despencasse da primeira para a 20ª posição. Aí vem a questão: essa institui-ção realmente piorou ou o nosso sistema não foi capaz de aferir a profundidade dos desafios da inclusão?

Parti de exemplo bastante radical para balizar uma pre-ocupação que deve estar latente na cabeça de muitos educa-dores, mas pouco explícita em ciclos de discussão acerca da matéria. É inegável que as avaliações, ao indicarem os pontos fracos de uma organização, permitem aos gestores buscarem soluções para torná-la mais forte, melhorando sobremaneira a qualidade de suas ações.

Recentemente, recebemos uma comissão do MEC para o recredenciamento de nossa Instituição, o primeiro de nos-sa história. Pelo relatório encaminhado, e a nota 4 concedi-da, que nos orgulha, percebemos a importância do processo avaliativo, pois os aspectos que precisam ser melhorados ficam evidenciados, facilitando, assim, a tomada de decisões para corrigi-los.

No entanto, da maneira como essas questões são qua-se sempre tratadas na mídia, nas redes sociais, nas relações interpessoais, enfim, nos vários ciclos de formadores de opinião, vejo ações inibidoras para um debate mais plural. Se buscarmos soluções realmente transformadoras – que agreguem à educação de qualidade quesitos como igualdade de oportunidades e inclusão, como meios de se fortalecer uma democracia mais participativa, e, consequentemente, um país melhor –, como dever de casa - precisamos, urgen-temente, trabalhar para que tais valores tenham lugar de destaque nos processos metodológicos de avaliação. Isso é necessário de forma a não deixar que o ranking apareça como carro-chefe de um processo que é muito mais complexo, sub-jetivo, abrangente, relevante e estratégico quando pensamos a Educação.

Marcone Jamilson Freitas SouzaReitor

Leo

Hem

ssi

A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) con-quistou conceito 4 na avaliação de recredenciamento, como Instituição de Educação Superior, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-nal Anísio Teixeira (Inep). A visita dos avaliadores foi encerrada em 27 de novembro e o relatório enviado à Instituição, registra o bom desempenho da Universidade, considerado além do referencial mínimo de qualidade.

Entre as dimensões analisadas, a política de atendi-mento aos discentes foi o item de melhor avaliação, ob-tendo conceito máximo (5). De acordo com o relatório, as ações de acompanhamento e atendimento aos alunos correspondem ao que está proposto no Plano de Desen-volvimento Institucional (PDI) e apresentam, em termos de qualidade, um desempenho muito além do que é exi-gido pelo sistema do MEC.

Para o reitor Marcone Jamilson Freitas Souza, a avalia-

ção positiva traz novos desafios para a Universidade: “O conceito 4, obtido pela UFOP, numa primeira análise, demonstra que estamos no caminho certo e, ao mesmo tempo, mostra desafios que precisamos vencer, principal-mente no que se refere aos processos de avaliação inter-na. A partir desse resultado positivo, podemos planejar o desenvolvimento da Universidade para os próximos anos, garantindo melhorias e solução de problemas”.

O recredenciamento faz parte do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e está sendo realizado em diversas universidades federais brasileiras. Vários aspectos são observados e avaliados pela comissão, como missão e plano de desenvolvimento institucional (PDI); política para o ensino; responsabilidade social da instituição; organização e gestão; infraestrutura física e sustentabilidade financeira.

Coluna do Museu

Page 3: Jornal da UFOP | Nº 192

3Edição 191 - setembro e outubro de 2013

Pesquisa inédita no mundo

3Edição 191 - setembro e outubro de 2013

UFOP fi rma parceria com pesquisadores estrangeiros para estudo sobre a concentração de metais na neblina e seus efeitos no ecossistema

Júlia Mara Cunha

Próximas etapas

ParceriasParque Estadual do Itacolomi,

Fazenda da Brígida e Estação

Ecológica do Tripuí são as

possíveis áreas onde a pesquisa será executada

Convênio de Cooperação 

Já imaginou como a concentração de metais na neblina pode influenciar ou mesmo prejudicar o desenvolvimento de plantas? Foi pensando nisso que a Univer-sidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em parceria com três pesquisadores da Tech-nische Universitat Munchen, da Alemanha, e dois da University of Tartu, na Estônia, vão desenvolver um estudo inédito no mundo sobre os efeitos da incidência des-ses elementos na neblina em Ouro Preto.

A pesquisa, idealizada pela professora do Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente da UFOP, Alessandra Rodrigues Kozovits, objetiva a análise das plantas e os efeitos causados pelos metais que recebem por deposição úmida, especialmente via neblina. Os cientistas esperam verificar como diversos aspectos ecológicos foram modificados. “Teremos uma ideia de qual tipo funcio-nal de plantas e microrganismos de solo, por exemplo, devem compor o ecossiste-ma local num cenário futuro de aumento da concentração de metais na neblina e seus efeitos sobre a diversidade, as inte-rações biológicas e o funcionamento do ecossistema como um todo.

Será instalado em uma área de cerrado um conjunto de anéis, criado pelos pes-quisadores da Estônia, capazes de produ-zir neblina com diferentes tamanhos de gotas e cujo período de funcionamento poderá ser automaticamente regulado e controlado por variáveis climáticas, como umidade relativa do ar, temperatura e vento.

A pesquisa começará em 2015 e deve durar cerca de dez anos. “Esperamos que a montagem do equipamento tenha início em 2014/2015. Enquanto isso, já estão sendo realizadas no campus Morro do Cruzeiro da UFOP análises preliminares, como a caracterização das comunidades de fungos e bactérias do solo, da vegeta-ção, interações inseto-planta, mensuração das concentrações de metais em folhas, solo, água de chuva e de neblina”, afirma Kosovits.

Recursos para a construção de tal equi-pamento estão sendo solicitados à comu-nidade Europeia e às agências nacionais de apoio à pesquisa no Brasil. Além disso, empresas do setor mineral também são potenciais parceiras dessa iniciativa.

A parceria com os alemães e os esto-nianos surgiu no Congresso da União Internacional de Pesquisadores sobre Flo-restas (IUFRO), realizado em Kaunas, na Lituânia, em 2012. A professora Alessan-dra apresentou os dados de comparação da concentração de metais na neblina e na chuva em Ouro Preto. “Constatamos que a neblina deposita anualmente maiores quantidades de certos elementos quími-cos sobre a vegetação e o solo do que a chuva”, explica.

Com a apresentação no congresso do trabalho da pesquisadora Anu Sõber, da University of Tartu, na Estônia, que con-siste na criação de um equipamento que simula a neblina para medir os efeitos do aumento da umidade no seu país, surgiu a ideia de juntar os dois estudos. Os esto-nianos têm a tecnologia de produção de neblina, e a UFOP tem um interessante problema ambiental a ser estudado de maneira completamente nova. “Em Ouro Preto, vamos enriquecer a neblina produ-zida pelo equipamento com certos metais pesados que afetem potencialmente a saú-de do meio ambiente”, explica Kosovits.

A física da Estônia, Anu Sõber, res-salta a importância de a pesquisa ser de-senvolvida em Ouro Preto. “A existência de metal interagindo com a neblina prova-velmente ocorre em várias outras áreas do mundo, mas será estudada pela primeira vez nesta região [dos Inconfidentes], carac-terizando um estudo único e de interesse de todos”.

A parceria com os biólogos alemães da Technische Universitat Munchen será impor-tante devido à experiência que possuem na área de ecofisiologia das plantas. “Eles já trabalham com a medição dos efeitos de estresse nas plantas causadas pela poluição

Após o congresso da IUFRO, realiza-do pela primeira vez na América Latina, em setembro deste ano, promovido pela UFOP, em Ilhéus, na Bahia, dois pesqui-sadores alemães e dois estonianos que já haviam demonstrado interesse em partici-par deste estudo inédito no mundo, reali-zaram uma visita à Federal de Ouro Preto.

Eles conheceram as possíveis áreas onde a pesquisa será feita, como o Parque Estadual do Itacolomi, a Fazenda da Brí-gida e a Estação Ecológica do Tripuí, para avaliar qual o local mais indicado para as análises. A área de estudo deverá ser selecionada seguindo parâmetros ecológi-cos criteriosos e respeitando a legislação ambiental que regulamenta as ações a serem desenvolvidas no interior de áreas de proteção ambiental.

atmosférica, elevação da concentração de CO ,ozônio, enxofre, entre outros”, apon-ta Kozovits.

Além dos pesquisadores estrangeiros, o estudo vai envolver professores e alunos de graduação e de pós-graduação dos cursos de Geologia, Biologia, Estatística, Computação e História da UFOP.

2

Page 4: Jornal da UFOP | Nº 192

4 Edição 191

Visibilidade às pesquisasRepositório Institucional da UFOP reúne em ambiente virtual os trabalhos científi cos desenvolvidos na Universidade

Ana Paula Martins

O repositório da UFOP tem 2.591 itens

depositados e mais de 476 mil acessos

Recolher, organizar, disponibilizar e preservar a informação científica da Uni-versidade Federal de Ouro Preto. Estes são os objetivos do Repositório Institu-cional (RI) da UFOP, que reúne, em um único espaço virtual, toda a produção da Universidade. Atualmente, o repositório tem 2.591 itens depositados, entre teses, dissertações, artigos científicos, trabalhos apresentados em eventos e livros. Entre ja-neiro e novembro, o RI contou com mais de 476 mil acessos. Essa é uma iniciativa do Sistema de Bibliotecas e Informação (Sisbin) com o apoio da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propp) e do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI).

“É uma ferramenta muito importan-te, pois unifica a produção acadêmica e científica da Universidade em uma única plataforma. Mostra, ainda, como o sis-tema de bibliotecas tende a ser cada vez mais relevante na gestão da informação, levando em consideração o papel das no-vas tecnologias, com uma oferta cada vez maior de informações que precisam ser organizadas de forma profissional e siste-mática”, explica o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação, professor Valdei Lopes de Araújo.

Em novembro, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) aprovou a po-lítica de informação do repositório. Essa medida “torna o repositório uma política universitária, com o reconhecimento do Conselho que fornece estabilidade à ini-ciativa”, acrescenta o professor Valdei.

O repositório é um grande banco de dados que guarda e divulga a produção científica da Universidade. Gracilene

Regulamentação

“Não adianta a Universidade produ-zir muito e deixar guardado na gaveta. É preciso dar visibilidade, inclusive in-ternacional, ao que é desenvolvido pela Instituição. A UFOP ganha, o pesquisa-dor também, pois ele é bastante citado, e o cidadão que consegue ter um acesso aos estudos”, afirma a bibliotecária.

Para o doutorando Leonardo de Pai-va Barbosa – que é mestre em Engenha-ria Ambiental e graduado em Ciências Biológicas (ambos pela UFOP) e autor de um dos trabalhos mais visualizados (com mais de 660 acessos, no período de maio a início de novembro) –, “é um reconhecimento do nosso trabalho pela comunidade acadêmica da UFOP, o que nos deixa muito orgulhosos, visto que, a grande gama de sítios especiali-zados para disponibilização de arquivos científicos pode ocultar alguns grupos de pesquisa, principalmente aqueles se-diados em países em desenvolvimento. O repositório institucional da UFOP pode ser o grande responsável pelo pre-enchimento dessa lacuna. A partir do repositório, a comunidade acadêmica também pode conhecer os trabalhos científicos gerados na própria institui-ção e, assim, avançar no desenvolvimen-to da ciência e da tecnologia”.

Os arquivos são de uso livre, desde que a fonte seja devidamente citada. Os interessados em ter seus trabalhos desen-volvidos na UFOP publicados na plata-forma, devem entrar em contato pelo e-mail [email protected]. Confira o site www.repositorio.ufop.br e conheça as pesquisas desenvolvidas na Universidade.

Visibilidade e reconhecimento

de Carvalho, bibliotecária responsável pelo Repositório Institucional da UFOP, explica que docentes, discentes e técnico-administrativos podem depositar no RI seus os documentos científicos resultantes de pesquisas desenvolvidas na própria Univer-sidade. Para as monografias de graduação e especialização lato sensu, está sendo criado um repositório especial para o armazena-mento desses estudos.

Richard Dias

A bibliotecária Gracilene Carvalho com o auxiliar administrativo Maurílio Figueiredo que também gere o RI

É um projeto multiplataforma que divulga as pesquisas realizadas na UFOP.Quer divulgar seu trabalho? Mande email para [email protected]

Page 5: Jornal da UFOP | Nº 192

5setembro e outubro de 2013

Do ensino médio para congressos cientí� cosUFOP investe em iniciação científi ca júnior voltada para alunos que ainda não ingressaram na graduação

Tamara Pinho

Quando Mariana Fernandes Gon-çalves (17) entrou no Programa Insti-tucional de Bolsas para Iniciação Cien-tífica do Ensino Médio (Pibic-EM), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), ainda estava na 8ª série do ensino fundamental. A jovem participa do projeto “Amostragem manual de mi-nério”, coordenado pelo professor Car-los Alberto Pereira, do Departamento de Engenharia de Minas (Demin), que tem o objetivo de avaliar as técnicas de amostragem manual para o minério, detalhando os limites de validade de cada uma, usando como referência es-tudos já realizados sobre o assunto. Ela conta que ingressou no curso técnico em Metalurgia do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG – Ouro Preto) “justamente pela experiência no pro-jeto, o que despertou o interesse pela área”.

Com a estudante Gleicilene Cas-

Bic-Jr - O Programa de Bolsas de Ini-ciação Científica Júnior tem por finalida-de incentivar alunos do ensino médio de escolas, municipais, estaduais e federais, a participarem de trabalhos de pesquisa em universidades, o que proporciona o contato com a pesquisa científica antes mesmo de os discentes estarem na gra-duação e, ainda, pode auxiliar na escolha profissional.

Pibic-EM - O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq é destinado aos estudantes do ensino fundamental, médio e profissional de escolas da rede municipal, estadual e federal. Tem o objetivo de contribuir na formação dos alunos de forma consciente e participativa, além de despertar a voca-ção para a pesquisa científica.

A iniciação científica tem grande importância para uma formação mais qualificada em diferentes áreas do conhecimento. Com a pesquisa, o es-tudante pode testar técnicas e teorias aprendidas em sala de aula, além de ampliar seus conhecimentos. Tendo em vista os bons resultados desse tipo de pesquisa na graduação, agências de fomento, como CNPq (Conselho Na-cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) investem para que alunos do ensino médio desenvolvam, em par-ceria com a Universidade, projetos de iniciação científica.

A UFOP possui dois programas que

Investimento em iniciação científi ca estimulam a participação de alunos de en-sino fundamental e médio em projetos de pesquisa conhecidos como iniciação cientí-fica júnior. A Bolsa de Iniciação Científica Júnior (Bic-jr) e o Programa Institucional de Bolsas para Iniciação Científica Ensino Mé-dio (Pibic-EM) disponibilizam bolsas para que estudantes de escolas da rede estadual, municipal ou federal possam desenvolver projetos, em diversas áreas, sob a orienta-ção de professores da graduação da UFOP e colaboração de estudantes da graduação.

O pró-reitor adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação, André Talvani, garante que a experiência da Universidade com os discen-tes do ensino médio é muito boa. É notável a motivação, a responsabilidade e o bom desempenho nos laboratórios. “Esses alu-

tro (18), Mariana Gonçalves desenvolveu o artigo inédito “Distribuição Mássica no Divisor Carrossel”. Elas foram orientadas pelo professor Carlos e supervisionadas pelos estudantes Francielle Nogueira, de Engenharia Metalúrgica, e Douglas Gon-çalves, de Engenharia de Minas. O trabalho foi selecionado para apresentação oral no 25° Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa, que acon-teceu em Goiânia, em outubro. O profes-sor Carlos Alberto conta que não é muito comum ver alunos tão jovens apresentarem trabalhos na modalidade oral em eventos desse porte. “Apesar de ser um encontro nacional, o evento reúne também pesqui-sadores de outros países. Muitas vezes, até mesmo discentes da pós-graduação têm seus trabalhos destinados apenas para banners. Sermos selecionados já para a apresentação oral supera todas as nossas expectativas”. De acordo com a diretora de Ino-vação, Pesquisa e Extensão - IFMG, campus

nos passam, desde cedo, a conhecer o universo da pesquisa como congressos, seminários científicos, participação e apresentação de trabalhos, convivência com os estudantes da pós-graduação e da graduação. A UFOP tem investido em futuros alunos de iniciação científi-ca advindos das escolas de Ouro Preto e espera obter excelentes resultados”.

A instituição disponibiliza 45 bolsas para a iniciação científica júnior, sendo 30 para o Pibic-EM e 15 para o Bic-Jr. Os interessados em participar de algum dos projetos devem ficar atentos à di-vulgação de editais na página da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp) e nas escolas.

Ouro Preto, Elisângela Silva Pinto, existe um grande incentivo a bolsas de iniciação científica para os alunos do instituto e um significativo aumento no número de bolsas e de interessados a cada ano. “Entendemos que é fundamental esse estímulo e incen-tivo à pesquisa aos alunos enquanto ainda estão no ensino médio. Temos relatos de vários estudantes de que, a partir da par-ticipação em projetos de pesquisa, tomam parte em diversos congressos, nacionais e internacionais, com apresentação de comu-nicações orais, painéis e publicações. Com isso, o aluno do ensino médio constrói uma base para dar sequência a seus estudos no ensino superior ou inserção no mercado de trabalho”. É o caso da aluna Gleicilene Castro, que está no último ano no projeto, do qual ela participa há três anos. Como

já concluiu o ensino médio, ela pretende prestar vestibular para Engenharia Mecâni-ca ou de Minas, a escolha por um desses cursos também se deve à sua participação no projeto do Pibic-EM.

Visibilidade e reconhecimentoFotos: Isadora Faria

Francielle Nogueira, Gleicilene Castro, prof. Carlos Alberto Pereira e Mariana Fernandes Gonçalves

A UFOP disponibiliza

45 bolsas para a iniciação

científi ca júnior, sendo 30 para

o Pibic-EM e 15 para o Bic-Jr

Page 6: Jornal da UFOP | Nº 192

6 Edição 191 - setembro e outubro de 2013

O descarte incorreto de materiais eletrônicos pode causar danos ao meio ambiente e, consequentemente, afetar a qualidade de vida dos seres humanos. Com o objetivo de diminuir o número de descarte desses equipamentos, o Setor de Patrimônio da UFOP tem iniciativa que segue diretrizes sustentáveis. O departa-mento recebe computadores, impressoras, telefones e até móveis que não estão em condições de uso, faz a reciclagem desses materiais e redistribui para outros setores da Universidade ou entidades ouro-preta-nas sem fins lucrativos.

A iniciativa partiu do próprio Setor de Patrimônio que há cerca de dois anos realiza o projeto. O coordenador da área, Afonso Henrique, observava que muitos móveis que poderiam ser reaproveitados pela Instituição eram descartados. Aluno de Turismo, Petrus Rogotti é o bolsista responsável pelo reaproveitamento dos computadores e outros eletrônicos. Ele conta que, além de reduzir a emissão de lixo, essa ação promove a redução dos gas-tos públicos. “Nosso intuito é reaproveitar ao máximo os equipamentos danificados para que eles ganhem vida útil, o que pro-picia economia ao erário público”, afirma.

Recentemente, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Ouro Preto recebeu 12 computadores comple-tos que foram consertados e doados pela Universidade. A vice-diretora e pedagoga da Apae Ouro Preto, Mara Regina Ferrei-ra Guimarães, explica que as máquinas recebidas são usadas na alfabetização e no lazer dos alunos. “Com computadores conectados à internet, os alunos terão um professor responsável pelo laboratório, e o processo de aprendizagem será estimulado por meio de jogos educativos”, afirma.

Iniciativa sustentávelSetor de Patrimônio da UFOP reaproveita equipamentos que seriam descartados

Fernanda Mafi a

O Brasil está entre os países que mais produzem lixo eletrônico, também co-nhecido por e-lixo. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambien-te (Pnuma) indicam o Brasil, na categoria dos emergentes, como o maior gerador desse tipo de resíduo por habitante anu-almente. Cada brasileiro produz cerca de meio quilo de resíduo eletrônico por ano.

Com o objetivo de conscientizar alu-nos, professores, funcionários e também a comunidade local em relação ao descar-te adequado do lixo, é desenvolvido no Instituto de Ciências Exatas Aplicadas (Icea), em João Monlevade, o projeto de extensão Reciclagem Socioambiental. São divulgados panfletos educacionais, exibidos curtas-metragens, apresentação de slides na área aberta do Icea, instalação de lixeiras para coleta seletiva, descarte de pilhas e baterias e descarte de óleo proveniente da cantina do instituto.

Além dessas ações, a iniciativa chega à população, principalmente por meio de palestras nas escolas públicas e privadas da cidade. A professora Lucilia Linha-res, uma das coordenadoras do projeto, defende que são “crianças e adolescentes que vão levar essas informações para suas famílias. Se todos tiverem a dinâ-

E-lixo"Nosso intuito é reaproveitar ao máximo os equipamentos

danifi cados para que

eles ganhem vida útil, o

que propicia economia ao

erário público"

mica da colaboração, toda a população e principalmente o meio ambiente terão um grande ganho no que diz respeito à sustentabilidade”.

“Concluiu-se que o Brasil não possui ampla estratégia para lidar com o proble-ma do lixo eletrônico. Por isso, países que geram em descontrole esse tipo de resí-duo, se não começarem a pensar e desen-volverem estratégias de reaproveitamento, reutilização e reciclagem de equipamentos e insumos de componentes eletrônicos, sem dúvida, terão sérios problemas am-bientais e de saúde pública”, relata Li-nhares, citando a pesquisa realizada pela ONU.

Anualmente, a Pró-reitoria de Admi-nistração faz um inventário patrimonial. Com base nesse levantamento, os bens públicos são analisados e classificados e, a partir disso, é dado o destino correto para os equipamentos. A pró-reitora de Admi-nistração, Sílvia Rodrigues, reforça que “não podemos tratar o patrimônio públi-co com descaso, o nosso objetivo é usar o recurso da melhor maneira possível. O Setor de Patrimônio tem realizado um tra-balho de responsabilidade pública”. Sobre as doações, ela acrescenta: “O mais impor-tante é que serve para uma causa social”.

Fotos: Nathália Viegas

O bolsista Petrus Rogotti é responsável pelo conserto dos equipamentos

Page 7: Jornal da UFOP | Nº 192

7Edição 191 - setembro e outubro de 2013 7Edição 191 - setembro e outubro de 2013

A Universidade Federal de Ouro Pre-to (UFOP) construirá 15 moradias, o que representa a implantação de 294 novas vagas em repúblicas estudantis federais no bairro Vila Itacolomi (Bauxita), em Ouro Preto. Todo o projeto está pronto, e a verba de R$6,5 milhões está garantida pelo governo federal.

“Com a construção dessas novas ca-sas, nós vamos conseguir mini-mizar um pouco o problema ha-bitacional na ci-dade”, garante o reitor Marcone Jamilson Freitas Souza. “Trata-se de um momen-to histórico para a nossa Universidade. Isso significa um avanço para a UFOP e para Ouro Preto”, exalta.

Os estudantes também comemoram as novas moradias. “Nós teremos lugares para acolher quase 300 estudantes que chegam a Ouro Preto, pessoas que, às ve-zes, não permaneciam na UFOP por falta de condições de pagar um aluguel, por exemplo. Agora, mais alunos terão a de estar na Universidade, formar e construir um futuro melhor”, aponta o presidente da Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (Refop), Victor Schittini Teixeira.

Novas moradias federaisUFOP vai construir 15 casas que totalizam 294 novas vagas

Ana Paula Martins

O projeto é composto por 15 casas com um total de 294 vagas para estudan-tes. A ocupação de cada casa varia entre 18 e 24 moradores, sendo que algumas possuem adaptação para portador de ne-cessidades especiais.

O empreendimento está previsto em três etapas, sendo uma de infraestrutura urbana (sistema de coleta de água pluvial,

Em busca de oferecer opções de for-mação e atualização, que vão além das grades dos cursos da Universidade, a Pró-reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace) promove uma série de workshops com temáticas variadas para os alunos, que serão realizados quinzenal-mente, no período de 16 de dezembro a 7 de fevereiro, nos três campi (João Monleva-de, Mariana e Ouro Preto).

As questões discutidas são planeja-mento financeiro, gestão e organização do tempo, estratégias para apresentações em público, estratégias de estudos no ensino superior e reorientação profissional. As oficinas fazem parte do programa Cami-nhar, de Acompanhamento Acadêmico dos Estudantes, iniciado em 2010. A ação integra a área de orientação estudantil por meio dos apoios pedagógico, psicológico e social aos alunos da UFOP que vivenciam dificuldades acadêmicas.

A técnica em Assuntos Educacionais

Apoio acadêmico

Sabrina Magalhães Rocha explica que os workshops tiveram início em 2011, e o formato atual, com temáticas indepen-dentes, foi implantado em 2012. A cada semestre, o número de participantes vem crescendo: no semestre 2013.1, os inte-grantes chegaram a 180. Segundo ela, o intuito é oferecer aos alunos um tema a cada 15 dias e promover todos os assuntos nos três campi.

Para o psicólogo do Núcleo de Assun-tos Comunitários e Estudantis, Leandro Andrade, que ministrou o curso de “Estra-tégias para Apresentações em Público”, a adesão vem melhorando a cada encontro. “O formato é bem interessante, pois con-seguimos, em pouco tempo, trabalhar de forma clara e objetiva com os alunos. Caso o participante da oficina tenha interesse, pode dar continuidade ao trabalho de forma individual ou em grupos”, ressalta.

Temáticas variadas são discutidas em workshops realizados pela Prace

O Caminhar procura desenvolver a autonomia do estudante para que ele possa percorrer todas as oportunidades do curso da melhor forma possível. Ofe-recida pela Prace, a iniciativa tem como público-alvo os estudantes assistidos com bolsas, com coeficiente de rendimento semestral inferior a 5 pontos, e também aos demais discentes da UFOP.

As atividades propostas pelo progra-ma estimulam o envolvimento dos alunos com o processo de aprendizagem para combater a evasão, a retenção e o baixo desempenho acadêmico. Além das ofi-cinas temáticas, são ofertados workshops de apoio acadêmico e acompanhamento individual. Todas as atividades oferecem certificados aos participantes.

Os alunos interessados em participar do Caminhar devem enviar e-mail para [email protected].

Conheça o empreendimento

Programa Caminhar

Bruna SudárioMariana Borba

Para a liberação das obras, o em-preendimento foi aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento Ambiental de Ouro Preto (Code-ma). O Conselho fez apenas duas recomendações: implantação de grupo de trabalho executivo para acompanhar o desenvolvimento do projeto e que seja promovida

uma reunião com a comunidade para que sejam esclarecidas as dúvidas dos morado-res. “A Universidade tem interesse em dia-logar e vai se reunir com a comunidade da região da Bauxita para detalhar como será o empreendimento”,

completa o pró-reitor de Planeja-mento e Desenvolvimento, João Luiz Martins. A data dessa reunião ainda não está definida.

De acordo com o prefeito do campusuniversitário, Edmundo Dantas Gonçal-ves, a empresa responsável pela execução dos trabalhos já está licitada, e as obras serão iniciadas assim que o alvará for expedido pela Prefeitura de Ouro Preto. A previsão de construção de todo o em-preendimento é de dois anos, sendo que a entrega das moradias será feita no decor-rer desse período, conforme cada uma for concluída.

“Signifi ca um avanço para

a UFOP e para Ouro Preto”,

exalta o reitor

coleta de esgoto, instalações elétricas, pavimentação, abastecimento de água) e dois lotes de casas a serem entregues. O valor do empreendimento totaliza cerca de R$6,5 milhões, com recursos do go-verno federal. O período de duração das obras gira em torno de dois anos, com entregas pontuais (infraestrutura e dois lotes de casas).

Íris Zanetti

Os workshops serão realizados de dezembro a fevereiro nos três campi da

UFOP

Agende-se!

Confira a programação no site:www.prace.ufop.br

Apartamentos de moradias estudantis já existentes na UFOP

Page 8: Jornal da UFOP | Nº 192

ENTREVISTA

8 Edição 191 - setembro e outubro de 2013

Prevenção contra chuvasProfessor Romero César Gomes

A temporada de chuvas co-meça em novembro e se esten-de até meados de março do ano seguinte. Para informar sobre a prevenção de problemas desse período, com destaque para a Carta Geológica de Ouro Preto desenvolvida na Universidade, o Jornal da UFOP entrevista o geólogo ouro-pretano Romero César Gomes.

Doutor em Geotecnia pela USP e mestre em Geotecnia pela UFRJ, Romero formou-se em Engenharia Civil e em Engenharia Geológica pela Es-cola de Minas da UFOP. Hoje, é professor associado da Ins-tituição, atuando no curso de graduação em Engenharia Civil e no Programa de Pós-Gradu-ação em Geotecnia. Trabalha, ainda, como consultor em empreendimentos de minera-ção, pavimentos ferroviários e barragens.

Ana Paula MartinsFernanda Marques

Estamos chegando a mais uma nova temporada de chuva. Por que, todos os anos, acompanhamos notícias semelhantes de tragédias?

A época de chuvas se inicia em no-vembro e fica até o final de março. É sempre um período crítico para as cidades brasileiras que têm topografias acidenta-das, ocupações desordenadas, encostas com problemas geológicos e geotécnicos desfavoráveis. Fatores tanto ligados ao meio físico quanto à ocupação desorde-nada e ao baixo nível da construção civil propiciam elementos desfavoráveis que, junto à água da chuva, provocam instabi-lidade nas encostas. Então, não é de se es-tranhar que esses locais que já têm condi-cionantes perigosos se tornem pautas nas épocas de chuvas.

Quais fatores influenciam a instabilidade?

Existem cinco fatores que têm uma conotação bastante científica, mas o prin-cipal é o aumento do peso do material que se torna susceptível de ser escoriado. Veja a diferença do peso de um saco de areia seca para um saco de areia molhada. Com a saturação e o encharcamento do solo, o peso do volume de solo que antes era instável aumenta por causa das águas que infiltram o terreno.

O que o poder público pode fazer para prevenir novos acidentes?

O princípio fundamental de qualquer prevenção de acidentes geotécnicos na época das chuvas é a elaboração pelos mu-nicípios da Carta Geotécnica do seu espaço urbano. Ela é a síntese de todos os estudos do meio físico local e da concentração ur-bana desordenada. É um instrumento capaz de definir quais são as áreas de risco baixo, médio e alto.

Ouro Preto já tem a Carta Geotéc-nica. Como ela foi criada?

Ouro Preto dispõe de uma Carta Geo-técnica bem elaborada. Ela se fundamenta na geologia do município, que tem uma base de sustentação do ponto de vista da engenharia subsidiada por um diagnóstico dos eventos geotécnicos que aconteceram em Ouro Preto. A cidade tem um registro muito bom dessas ocorrências, feito pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil, formalizado com a Carta.

Ela foi desenvolvida pela UFOP?

Foi um trabalho realizado durante dez anos dentro da UFOP e culminou na dissertação de mestrado do aluno Michel Morandini Fontes, realizado pelo Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas e que sintetizou todo esse trabalho na formula-ção de macrossinais e da proposição da chamada Carta Geotécnica. Esse docu-mento é, hoje, um martelo do geólogo, mas a utilização efetiva desse instrumento pelo poder público regional precisa con-tar com um profissional da área, além da divulgação junto à comunidade, principal-mente às das áreas de maior risco. É um trabalho multidisciplinar, que engloba pessoas de diversas áreas. A Defesa Civil e o Ministério Público são os grandes parceiros nesse processo em uma cidade como Ouro Preto que é Patrimônio da Humanidade.

Você sabe se em Mariana e em João Monlevade também existe uma Carta Geotécnica?

Fomos procurados pela Prefeitura de Mariana para tentar fazer o mesmo trabalho desenvolvido em Ouro Preto, a fim de caracterizar as áreas de risco na cidade. Mas não tenho conhecimento so-bre a situação de João Monlevade.

Qual é a influência da atividade minerária no solo, nos impactos e em deslizamentos?

O grande problema é que Ouro Preto se situa em um vale entre a Serra de Ouro Preto e o Itacolomi. A cidade não tem área de expansão, o que faz com que as pes-soas ocupem serra. Essa ocupação cada vez maior da população em áreas retrabalhadas por eventos de antigas minerações torna-se o maior problema em um espaço que já é desfavorecido para a população urbana dos pontos de vista geológico e geotécnico.

Quais são as áreas consideradas de risco em Ouro Preto?

Mais de 60% do espaço urbano da ci-dade é caracterizado como áreas de risco alto e muito alto, o que representa um espaço urbano extremamente agressivo do ponto de vista de ocupação urbana. Os principais focos de risco são as áreas da Serra de Ouro Preto que são retalhos de antigas minerações. Essa serra começa desde o Vale do São Cristóvão e se estende até o bairro do Taquaral.

Você tem conhecimento de quais são as áreas de risco de Mariana?

Mariana tem problemas nas encos-tas, sendo o maior deles as inundações nas zonas mais baixas e próximas ao Ri-beirão do Carmo. A cidade sofre devido aos trabalhos de impermeabilização em Ouro Preto e da regularização do curso das águas de Passagem de Mariana.

Além da Carta Geotécnica, o que mais a UFOP tem feito nessa área?

A UFOP realiza diagnósticos de situa-ções e áreas de risco em meios urbanos há um bom tempo, envolvendo não apenas o Núcleo de Geotecnia (Nugeo) mas tam-bém os Departamentos de Engenharia de Minas e Geológica.

Quais são as medidas que a popula-ção deve tomar?

Para se prevenir, as pessoas devem, principalmente, impermeabilizar ao re-dor de suas casas, controlar a água de escoamento envolta de suas construções, garantir a limpeza dos bueiros próximos, fechar imediatamente fendas e trincas que forem abertas para evitar vazamentos e manter o controle de monitoramento simples das encostas.

Nos casos em que as ocorrên-cias não puderem ser evitadas, qual a providência que a população deve tomar?

É importante que as pessoas acom-panhem o Serviço de Alerta Meteo-rológico de Ouro Preto (Samop), dis-ponível no site da Prefeitura de Ouro Preto (www.ouropreto.mg.gov.br), que indica a probabilidade de chuvas na região. Sempre se preocupar com os alertas e, caso for detectado sinal de ra-chaduras na parede, entrada de água e quebras de telha, acionar a Defesa Civil.

“Mais de 60% do espaço urbano de

Ouro Preto é caracterizado como área de

risco”

TELEFONES ÚTEIS

Corpo de Bombeiros: 193Polícia Militar: 190Defesa Civil:Ouro Preto: 199 / (31)3559-3121Mariana: 199 / (31)3558-4412 João Monlevade: (31)3852-8100

Foto:Nathália Nunes