jornal da uem - nº 101 - setembro/2011

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Assessoria de Comunicação Social Ano X Nº 101 Setembro 2011 Vestibular Isenção da taxa de estimula alunos de escolas públicas P. 3 Parcerias R$ 6,8 milhões para infraestrutura UEM e TCE vão executar PAF P. 4 Saúde Hemocentro conquista ISO 9001 P. 5 Extensão Observatório assessora movimentos sociais P. 8 Polêmica Eutanásia à luz do Direito P. 9 Artigo Desembargadora fala sobre a luta do negro P. 11 Extensão Novas (e velhas) formas de ensinar e fazer ciência

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Jornal da UEM

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Page 1: Jornal da UEM - nº 101 - Setembro/2011

Assessoria de Comunicação Social

Ano X Nº 101

Setembro 2011

Vestibular

Isenção da taxa de estimula alunos de escolas públicasP. 3

ParceriasR$ 6,8 milhões para infraestrutura

UEM e TCE vão executar PAFP. 4

SaúdeHemocentro conquista ISO 9001P. 5

ExtensãoObservatório assessora movimentos sociaisP. 8

PolêmicaEutanásia à luz do DireitoP. 9

ArtigoDesembargadora fala sobre a luta do negroP. 11

Extensão

Novas (e velhas) formas de ensinar e fazer ciência

Page 2: Jornal da UEM - nº 101 - Setembro/2011

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Reitor:Júlio Santiago Prates FilhoVice-reitora:Neusa AltoéAssessor de Comunicação SocialPaulo Pupim

Jornalista responsável e editora: Ana Paula Machado Velho (Reg. Prof. 16.314/RJ)Coordenadora de Imprensa: Tereza ParizottoReportagem: Ana Paula Machado Velho, Antônio Paulino Júnior, Rose Koyashiki e Tereza ParizottoFotografia: Antonio C. Locatelli, Heitor MarconColaboradores: Laressa Santos, Maria Joana Casagrande e Sueli Nascimento SilvaDiagramação e Impressão: Folha de Londrina

Coordenadoria de ImprensaAvenida Colombo, 5.790 -Bloco Q-03 - Sala 7Telefone: (44) 3011-4213Site: www.asc.uem.brE-mail: [email protected]

EXPEDIENTE

Esta edição do Jornal da UEM tem o eixo de suas matérias e reportagens

voltado à divulgação de projetos e ações desenvolvidos por uma universidade pú-blica, gratuita, de qualidade e inclusiva. Inclusão social, no caso, é permitir que pessoas menos favorecidas possam ter condições de ingressar na Universidade por meio de ações afirmativas. E uma des-tas ações está materializada na gratuidade da taxa de inscrição para 600 estudantes de escolas públicas. Está isenção é uma continuidade das políticas de inclusão so-cial adotados na UEM. Outra boa notícia para os estudantes é a regulamentação da isenção da taxa de inscrição ao PAS.Completa o eixo do perfil desta edição a abordagem de assuntos não menos impor-tantes do ponto de vista social, econômi-co e científico, como o trabalho do Ob-servatório das Metrópoles para minimizar o impacto social causado pela formação dos grandes conglomerados urbanos, o projeto de divulgação científica do curso

de Física, em parceria com a Rádio UEM FM, e a entrevista de uma desembargado-ra negra, que luta pela justiça social.Ainda é preciso destacar que a UEM vem contribuindo decisivamente para a melho-ria da qualidade de vida da nossa região. Um dos destaques neste sentido é uma parceria com o Tribunal de Contas do Es-tado do Paraná, assinada, no final de agos-to para a execução do Projeto PAF Social (Plano Anual de Fiscalização Social), Fase I. Outra é a notícia que o Hemocen-tro Regional de Maringá, vinculado ao Hospital Universitário da UEM tornou-se o primeiro serviço de hemoterapia da rede pública do Paraná a obter ISO 9001: 2008. No Estado, apenas o banco de sangue do Hospital Erasto Gaertner possuía essa cer-tificação. Conheça os detalhes desta con-quista, nas páginas a seguir.

Paulo PupimAssessor de Comunicação Social

O Escritório de Cooperação Internacional (ECI) lançou edital para o Programa de

Mobilidade Internacional para Docentes e Agentes Universitários. Além disso, divul-gou o resultado do Edital 002/2011, que trata da convocatória de mobilidade dis-cente para o primeiro semestre de 2012. Os editais fazem parte do plano estratégico da atual administração, em continuidade com a política de internacionalização da Univer-sidade. A questão foi tema, inclusive, de um evento estadual: o I Seminário de Internacionaliza-ção das Instituições de Ensino Superior do Paraná (SIIES/ PR). Realizado, nos dias 21 e 22 de setembro, na Universidade Tecnoló-gica Federal do Paraná, contou com a pre-sença do reitor Júlio Santiago Prates Filho e com da equipe do ECI. O Programa para docentes e agentes univer-sitários visa a fomentar o aprimoramento de técnicas científicas, troca de experiência com centros internacionais, preparação de artigos científicos com pesquisadores in-ternacionais, além da participação ou ofe-recimento de cursos e seminários de curta duração. As propostas de mobilidade terão até 30 dias. O ECI informa, ainda, que está aberta a Convocatória para o Programa de Mobili-dade Docente da Rede Zicosur Universitá-ria – 2012, com prazo para inscrições até o dia 11 de novembro.O período de realização começa em abril de

2012, referente ao primeiro semestre nas se-guintes instituições: Universidad Nacional de Formosa, de Formosa, Norte da Argen-tina e Universidad Nacional de Canindeyú, de Salto del Guairá, Paraguay. Discentes – E o resultado do Edital que tra-ta da convocatória de mobilidade discente para o primeiro semestre de 2012, surpre-endeu o ECI. Segundo a assessora do Escri-tório, Evanilde Benedito, “a procura contou com um número expressivo de inscritos, tanto do câmpus sede quanto das extensões da UEM”. Os estudantes inscreveram-se para 14 insti-tuições da Europa, América do Norte e do Sul. De acordo com o Edital, as melhores candidaturas receberão apoio para a mobi-lidade de um semestre letivo. Foram sele-cionados bolsistas para cinco países: Chi-le, Escócia, Espanha, França e Portugal. Além destes, foi ainda selecionado bolsista para a Universidade de Cuyo (Argentina). “Foi possível identificar que existem es-tudantes interessados e aptos a realizarem mobilidade internacional. São jovens de 20 a 25 anos, que procuram a oportunida-de de complementar a grade curricular com disciplinas que não constam no currículo e aprimorar conhecimento em uma área espe-cífica, vislumbrando uma melhor inserção no mercado de trabalho”, completou a as-sessora Evanilde Benedito.

Editorial

UEM intensifica ações de inclusão social

Destaque

UEM aposta na internacionalização

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Por Sueli Nascimento Silva

O fortalecimento de uma univer-sidade pública, gratuita e de

qualidade, com intenso compromis-so social, são metas da administra-ção da UEM. Com esse objetivo, a Conselho de Administração (CAD) ratificou, no dia 19 de setembro, a concessão de isenção da taxa de ins-crição no vestibular a cerca de 600 alunos, matriculados no 3º ano do ensino médio, em mais de 300 es-colas públicas. Essa prática está em uso desde 2009, mas faltava a regu-lamentação definitiva. O projeto ini-cial faz parte de uma parceria com Secretaria de Educação do Estado do Paraná e com os núcleos regio-nais de ensino de Maringá, Apu-carana, Campo Mourão, Cianorte, Goioerê, Ivaiporã, Loanda, Parana-vaí, Umuarama e Pitanga. O critério estabelecido para clas-sificação é a melhor nota. Os estu-dantes devem ser selecionados pela equipe pedagógica e pela direção do Colégio. Após classifica-los, cada escola indica dois alunos para re-ceber o benefício. No Colégio Es-tadual Doutor Romário Martins, de Cruzeiro do Sul, (foto) Roseli da Silva Cabreiro Xavier, 38 anos, foi contemplada com a gratuidade. Fora dos bancos escolares havia oitos anos, Roseli conta que nunca teve a intenção de cursar o ensino superior, e quando recebeu o que ela considera um prêmio se viu esti-mulada a prestar o vestibular. “Fiz, passei, e agora estou animada para fazer a faculdade”. Roseli Xavier foi aprovada em 13º lugar no curso de Pedagogia da UEM. Ela ressalta a importância da iniciativa para a vitória dela no con-curso. “Essa oportunidade me fez sentir capaz. A vaga é um incentivo

Conquista

a mais, porque os alunos estudam para aprender e não só para passar de ano”. Essa opinião é compartilhada pela pedagoga da escola, Maria do Carmo Tineu Sanches. “Os alunos interessados em fazer o vestibular estão mais assíduos e interessados. A alegria é para toda a turma, que fica muito envolvida, tanto com a classificação quanto com o resulta-do do concurso. É muito interessan-te”, observa.O reitor Júlio Santiago Prates Filho entende que esta prática é uma con-tinuidade da inclusão social adotada na Universidade. “Temos o PAS, as cotas sociais, o vestibular indígena entre outras ações com esse objeti-vo. E também a classificação pela melhor nota, para receber o benefí-cio da isenção, faz com que a gente tenha aqui na UEM os melhores ta-lentos”, enfatiza.

Mais benefícios – O CAD também regulamentou a gratuidade nas ins-crições de estudantes que concor-rem ao Processo de Avaliação Se-riada (PAS). O benefício contempla os discentes de escolas públicas do Paraná. Na primeira etapa do pro-cesso, 20% dos alunos matriculados no primeiro ano do ensino médio têm direito a gratuidade. Já para a segunda e terceira etapas, recebem a isenção 20% dos alunos classifica-dos em cada etapa do colégio. Vale ressaltar que o critério para a clas-sificação dos alunos que recebem o benefício de isenção no PAS é a carência, sendo valida para escolas públicas de todo o Paraná.O PAS destina-se, exclusivamente, a alunos regularmente matriculados em escolas de ensino médio, públi-cas ou privadas. O ingresso nos cur-sos de graduação por meio do PAS se dá por intermédio de provas, apli-

O benefício vai atender a cerca de 600 alunos matriculados no 3º ano do ensino médio, em mais de 300 escolas

cadas no final das séries do ensino médio em que o candidato se encon-tra matriculado. É obrigatória a par-ticipação nas três fases do concurso. A classificação dos candidatos só ocorre no final da terceira etapa de cada edição do PAS.Nem tudo são flores. A pedagoga Maria do Carmo enfatiza as dificul-dades encontradas pelo aluno que pretende fazer um curso superior longe de casa. Para ela, não basta passar no Vestibular. “Aquele alu-no que mora em outra cidade, como é o nosso caso, tem o problema de deslocamento, alimentação e se for muito longe até moradia. O que im-possibilita para ele, mesmo passan-do no vestibular, fazer o curso”.O reitor reconhece a necessidade de adotar medidas para a manutenção desse aluno na instituição. Pensando nisso, aliada as ações de inclusão, foi criada nessa gestão a Assessoria

Isenção da taxa de vestibular estimula alunos de escolas públicas

de Assistência Estudantil e o Fó-rum para Assistência Estudantil nas Universidades Públicas do Paraná, com objetivo de discutir e fomentar ações, para o governo do Estado, de políticas públicas de assistência estudantil. “Tenho que ressaltar a sensibilidade do Conselho em apro-var essas matérias. E vou apresentar essas resoluções do CAD ao secre-tário de Ciência, Tecnologia e Ensi-no Superior (Seti), Alípio Leal, para ver como podemos avançar nessas medidas. O apoio do Estado é es-sencial”, afirma Santiago.Assistência – Com esse intuito, foi realizado, no dia 21 de setembro, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o terceiro encontro para discussões sobre a assistência estudantil nas universidades públi-cas. A reunião contou também com representantes das universidades es-taduais do Norte do Paraná (Uenp) e de Londrina (UEL), além da UEM e de representantes dos diretórios cen-trais (DCEs) da UEM e da UEPG. O evento foi coordenado pelo pro-fessor André Gaspareto. Durante o encontro, foram discutidos vários aspectos ligados à alimentação, mo-radia e transporte, além da necessi-dade de criação de um Plano Esta-dual para a Assistência Estudandil. Ainda como resultado do Fórum, ficou definido que as demais insti-tuições de ensino superior irão apre-sentar dados socioeconômicos de seus estudantes, a exemplo do que já vem fazendo a assistência estudantil da UEM, que, aproveitando as in-formações levantadas pela Comis-são Central do Vestibular Unificado em relação aos aprovados nos ves-tibulares, está identificando o perfil de vulnerabilidade socioeconômico dos acadêmicos da Instituição.

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4Investimento

A verba será aplicada na continuidade das obras

em andamento na Universidade

Por Paulo Pupim

A UEM receberá, ainda neste ano, cer-ca de R$ 6,8 milhões do governo do

Estado para investir em infraestrutura. A notícia foi divulgada pelo reitor Júlio Santiago Prates Filho, que, ao lado dos demais reitores das instituições de en-sino superior paranaenses, participaram de uma audiência com o governador Beto Richa, em Curitiba. E os benefí-cios vão chegar até aos câmpus regio-nais da Universidade.O repasse total para as universidades es-taduais será de R$ 28 milhões, oriundos do Fundo Paraná, cujo aporte de recur-sos é feito por meio de parte da arreca-dação tributária do governo estadual. De acordo com Prates Filho, o repasse estava sendo solicitado desde o início do ano pelos reitores. Recentemente, em reunião, o Conselho de Ciência e Tecnologia do Fundo Paraná decidiu que uma das áreas prioritárias para in-vestimento com verba do Fundo era a do ensino superior.Ainda conforme o reitor da UEM, os R$

6,8 milhões serão aplicados na continui-dade das obras em andamento na Uni-versidade, visando a oferecer melhores condições de ensino para os alunos.Na audiência, os reitores apresentaram ao governador uma proposta de rea-dequação da carreira dos professores, tendo como destaques, entre outras con-quistas, a equiparação do salário do pro-fessor auxiliar com a do técnico de nível superior do quadro geral do Estado, e o aumento do percentual de incentivo à ti-tulação. Prates Filho ainda anunciou que Richa prometeu dar encaminhamento à proposta, enviando-a para a apreciação

das secretarias pertinentes.Custeio – Na mesma reunião, os reito-res discutiram com o governador a repo-sição da verba de custeio das IES para 2011. Richa disse que vai buscar solu-ções no sentido de suplementar a verba não repassada, que, no caso da UEM, é de quase R$ 3 milhões.Os reitores também entregaram ao go-vernador uma proposta de adequação dos cargos comissionados nas univer-sidades. Richa disse que encaminhará o documento no intuito de viabilizar a adequação.Na avaliação de Prates Filho, a manei-

ra como Richa recebeu os reitores e se comprometeu a buscar respostas para as demandas apresentadas revela que ele tem compromisso com o ensino superior e a educação básica e que o governador continua manifestando o desejo de ver as universidades estaduais participando do processo de desenvolvimento das re-giões onde estão inseridas.Câmpus regionais – Prates Filho tam-bém se reuniu com o secretário da Ciên-cia, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), Alípio Leal. Eles estava acompanhado de prefeitos, vereadores e diretores dos câmpus regionais da UEM. A audiência discutiu as necessidades da Universida-de, além da captação de recursos e con-tratação de pessoal, para os câmpus de Cianorte, Diamante do Norte, Ivaiporã, Cidade Gaúcha, Umuarama e Goioerê. O levantamento das solicitações foi fei-to por comissão criada, pelo reitor da Universidade, especialmente para este fim. Prates Filho está em princípio de nego-ciação com os Conselhos Superiores da UEM para a descentralização orçamen-tária, bem como a necessidade de ela-boração de um planejamento específico para cada câmpus regional.O encontro contou ainda com a presença dos deputados federais Osmar Serraglio (PMDB), Rubens Bueno (PPS) e dos es-taduais Nelson Garcia (PSDB), Fernan-do Scanavaca (PDT) e Jonas Guimarães (PMDB).

A UEM e o Tribunal de Contas do Estado do Paraná assinaram, no fi-

nal de agosto, o Termo de Cooperação Técnico-Institucional nº 2/2011, para a execução do Projeto PAF Social (Pla-no Anual de Fiscalização Social), Fase I. O objetivo é fomentar atividades de pesquisa e extensão acadêmica da UEM, voltadas ao estudo e análise da gestão pública municipal, para incenti-var e aprimorar as ações no âmbito do controle externo, do controle interno e do controle social. O Plano tem vigência até 31 de julho do próximo ano. Entre as atividades estão o desenvolvimento e a análise de indicadores de gestão pública munici-pal, aplicados às ações de controle; e

o desenvolvimento de ações conjuntas para a realização de Auditoria Opera-cional e Auditoria de Regularidade ou de Conformidade na área de Gestão, com o tema Indicadores de Gestão Pú-blica Municipal (Câmpus Maringá e Cianorte). Implementação – As discussões para a execução do PAF começaram em março, envolvendo também o Obser-vatório das Metrópoles e o Observa-tório Social de Maringá. As atividades iniciaram no começo de setembro, sob coordenação geral da professora Amália Goldberg Godoy (foto), do Departamento de Economia. Conta, ainda, com a participação dos profes-sores Vera Leonardo e Julyerne Ma-

thes Tonin, por Maringá, e dos Kerla Mattiello, William Antonio Borges e Ademir Massahiro Moribe, por Cia-norte. Os alunos bolsistas estão sendo selecionados após um treinamento que o TCE ofereceu de 28 a 30 de setem-bro. Segundo Amália Godoy, o trabalho é complexo e exige dedicação contínua de toda equipe. “A intenção é desen-volver uma ferramenta que permita o acompanhamento e a visualização dos serviços públicos, além de tornar mais acessível as informações. E esta é uma oportunidade para a UEM ter acesso a uma série de dados e contribuir com a área de monitoramento social.”

PAF UEM e TCE se unem para execução do PAF

UEM receberá R$ 6,8 milhões para infraestrutura

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Por Rose Koyashiki

O Hemocentro Regional de Maringá, vinculado ao Hospital Universitário

da UEM, conquistou, em março des-te ano, a ISO 9001: 2008. Foi auditado pela BSI Brasil Sistemas de Gestão, tornando-se o primeiro serviço de hemo-terapia da rede pública do Paraná a ob-ter o selo. No Estado, apenas o banco de sangue do Hospital Erasto Gaertner pos-suía essa certificação. Com a conquista, o órgão se tornou referência não só no Estado como no País. Já foi convidado pelo Ministério da Saúde para auxiliar toda a rede institucional pública a con-quistar o ISO. O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar), do qual, participa o Hemocentro da UEM, ainda está no processo de auditoria para obtenção do selo. Além disso, o Hemo-centro está aberto a capacitar pessoal de outras unidades de sangue da região de abrangência da 15ª Regional de Saúde e Macro Região IV.Para receber a certificação, o Hemocen-tro precisou passar por algumas rees-truturações, principalmente na parte de registros de documentos e padronização de atividades técnicas e administrativas. Foram avaliados todos os processos do ciclo do sangue e de apoio: captação, recepção/cadastro, triagem de doadores, coleta de sangue, aférese (retirada de plaquetas do sangue), processamento, estoque, controle de qualidade de hemo-componentes, exames laboratoriais imu-nohematológicos e sorológicos de doa-dores e pacientes, hemostasia (dosagem dos fatores de coagulação no controle de qualidade do plasma e diagnóstico das hemofilias), distribuição de hemo-componentes, atendimento ambulatorial aos doadores com alteração sorológica e pacientes com doenças hematológicas e processos de apoio (suprimentos e servi-ços, equipamentos, gestão de pessoas e tecnologia e informação).Para a certificação, o Hemocentro im-plantou o Serviço de Gestão da Qualida-de (SGQ), em 2009, para organizar, exe-cutar e manter o sistema da qualidade no órgão. O setor iniciou as ações de me-lhoria contínua dos processos, produtos e serviços levando em conta a missão, a visão e os valores da Instituição. Para isso, contratou empresa de consultoria externa com experiência em certifica-ção de bancos de sangue e especializada em validação, calibração e manutenção de todos seus equipamentos. Segundo a diretora do Hemocentro, Sílvia Tinto-

Qualidade

Hemocentro da UEM conquistou a ISO 9001

ri (foto), a Instituição sempre teve um histórico de busca dessas certificações. Antes da ISO, o Hemocentro iniciou o processo para ingressar no Programa de Qualidade do Sangue, uma parceria dos ministérios do Planejamento e da Saúde, que acabou sendo desativado. De acordo com a gerente de Qualidade do Hemo-

centro, Márcia Momesso, a escolha pela norma ISO ocorreu em função da seme-lhança do fluxo de produção do sangue a uma linha de produção e da aplicabi-lidade de suas exigências. Diz ainda que muitos dos requisitos já vinham sendo trabalhados pelas áreas técnicas do He-mocentro. Redução de custos – O Hemocentro já colhe resultados da padronização ado-tada. Não se verifica mais o retrabalho. Como o trabalho não precisa ser refeito, houve redução de custos, tempo, carga horária, material, rotina. Momesso ex-plica que, como todo procedimento está documentado, normatizado e padroniza-do, não ocorrem mais erros. Com a im-plantação da área de gerenciamento de equipamentos, que controla a execução da manutenção preventiva e corretiva, calibração e validação, também se redu-ziu gastos. Com um software específico que mostra um gráfico de tendências, é possível verificar se compensa fazer a manutenção de um equipamento ou sua troca. Assim, verificou-se que não havia necessidade de tantas calibrações como estavam sendo feitas. Também foram

estabelecidos vários indicadores que au-xiliam no monitoramento das atividades nos diversos processos.Os servidores passaram por conscienti-zação sobre a importância da ISO e tam-bém por capacitação. Como fator posi-tivo, percebe-se a motivação da maioria deles. Os doadores já sinalizaram que sentiram as mudanças e melhorias. Tin-tori comenta que o Hemocentro da UEM registra em torno de 80% de doadores espontâneos de repetição, aqueles que vêm sem ser chamados nem são os de reposição (doação para parentes ou co-nhecidos), contra uma média de 30% a 50% de outros bancos de sangue. Lem-bra que, em relação aos pacientes e do-adores, “temos recebido elogios cons-tantemente, principalmente em relação à qualidade do atendimento e segurança transmitida pela equipe”. Foi criado um procedimento de qualificação de mate-riais para que sejam avaliados e valida-dos todos os materiais e insumos adqui-ridos pelo Hemocentro. O objetivo é ter, cada vez mais, produtos com qualidade superior, orientando os fornecedores para que produzam produtos melhores.Para manterem a ISO, as empresas são auditadas semestralmente. Neste mês, o Hemocentro passou por essa etapa e con-quistou o direito de continuar com o selo. A empresa acreditadora destacou como pontos positivos encontrados a rastreabi-lidade das informações geradas no ciclo do sangue por meio da documentação implementada com o sistema de gestão da qualidade e a dedicação e comprome-timento com que os colaboradores exe-cutam as atividades. Para Tintori, isso se deve ao trabalho e ao comprometimento da equipe. Momesso finaliza destacando que as sugestões apontadas serão traba-lhadas para se buscar sempre a excelên-cia em todos os processos. Tintori desta-ca que os planos incluem iniciar o aten-dimento oncohematológico de crianças e adolescentes depois da conclusão da ampliação do prédio e do credenciamen-to junto ao Ministério da Saúde; e con-tinuar a luta pelo cumprimento em nível estadual e regional da Política Nacional do Sangue e Hemoderivados do Ministé-rio da Saúde, que determina que os ban-cos de sangue públicos devem fornecer os hemocomponentes e hemoderivados a 100% dos pacientes da rede SUS da sua área de abrangência.

Primeiro serviço de hemoterapia público do Paraná a receber o Selo de Qualidade, tornou-se referência

nacional, sendo convidado pelo Ministério da Saúde para auxiliar toda rede institucional pública a

também alcançar a certificação

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Por Maria Joana Casagrande*

Durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que será realizada

de 17 a 23 de outubro, a Rádio UEM FM vai colocar no ar o projeto Física ao Alcance de Todos: Educação Científica no Rádio. O ob-jetivo é divulgar conhecimentos científicos através do rádio. A ideia é do professor do DFI, Luciano Gonsalves Costa, juntamente com os professores da USP de São Carlos, Marcelo Alves Barros e a Yvone Primerano Mascarenhas.De acordo com Costa, a proposta é compen-sar a exclusão digital do País, aproveitando-se do amplo acesso ao rádio, levando, assim, a informação científica à população menos assistida pela internet e incentivando o inte-resse do grande público pela ciência.De acordo com o Censo Escolar da Educa-ção Básica de 2010, dos 38,6 milhões de estudantes do ensino fundamental e médio público e privado, 76% desses estavam ma-triculados em estabelecimentos com labora-tório de informática. A presença das tecno-logias de informação e comunicação (TICs) nas escolas é algo fundamental à moderniza-ção da educação. Mas estudos revelam que

Física

Novas (e velhas) formas de ensinar e fazer ciência

a incorporação delas na prática pedagógica ainda é bastante restrita.

Educação científica via rádio - As carac-terísticas que favorecem a aplicação educa-cional desses recursos são a flexibilidade, a facilidade de utilização, a customização, entre outras. Em especial, a possibilidade de visualizar certos fenômenos físicos tem estimulado o uso dessa tecnologia pelos

professores de Física. “Além de assegurar aos estudantes uma vivência com o trabalho experimental, a aplicação de simulações e animações interativas distribuídas na inter-net tem contribuído para se ensinar ciência. As pesquisas indicam que a associação des-ses recursos com as atividades laboratoriais contribui positivamente no aprendizado con-ceitual dos estudantes ao propiciar conteúdo contextualizado, estímulo ao raciocínio e in-

O Projeto Física ao Alcance de Todos, que conta com a parceira da UEM FM, vai promover a

educação científica via rádio

teração com o fenômeno”, complementa.Ao longo da SNCT, a Rádio UEM FM trans-mitirá esquetes do projeto Acessa Física, que combinam efeitos sonoros, dramatiza-ção, humor, entrevista e fatos corriqueiros na abordagem de temas da Física. Os programas serão inseridos na grade da Rádio, dividido em duas partes, cada uma com duração de até cinco minutos. Nessa primeira edição do projeto os temas abordados são: “Eletrostáti-ca: o relâmpago e o choque elétrico”, “Força Centrípeta: chapéu mexicano”, “Grandezas: sistemas de unidades”, “Gravidade: fenôme-nos das marés”, “Inovação”, e “Ondas Ele-tromagnéticas: o celular”.O Acessa Física é um projeto para a pro-dução de conteúdos educacionais digitais multimídia para os conteúdos de Física do Ensino Médio. Os conteúdos são produzidos em quatro mídias: audiovisual, áudio, expe-rimento e software, respeitando sempre as particularidades de cada uma delas. Esses conteúdos pretendem auxiliar os professo-res ao oferecer mais recursos para o trabalho com os alunos. O projeto foi concebido pelo Instituto Bra-sileiro de Educação, Tecnologia e Forma-ção a Distância (IBTF), em parceria com o Instituto de Estudos Avançados (IEASC) e o Centro de Divulgação Científica e Cultu-ral (CDCC), ambos da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos.

*Colaborou o professor Luciano Gonsalves Costa

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Novas (e velhas) formas de ensinar e fazer ciênciaFalando em divulgação da ciência, o Jornal da UEM registrou uma presença ilustre na XXI Semana de Física, realizada em setembro: o professor Paolo Galluzzi, do Museu Galileu, em Florença, Itália. Ao longo de mais de uma hora de conversa, com toda a calma e tranqüilidade, Galluzzi falou sua experiência e seu entendimento sobre fazer ciência.. Ele é diretor, do Museu Galileu (antigo Instituto e Museu de História da Ciência), desde 1982. A entrevista foi acompanhada pelo professor do DFI, Marcos César Danhoni Neves.

Jornal da UEM (JU): Professor, qual a sua formação acadêmica?Paolo Galluzzi (PG): Estudei Filosofia. Quando terminei os estudos, fui assisten-te universitário na Universidade de Firen-ze. Comecei a estudar Galileu, a fazer o Léxico de Galileu (Lessico delle opere di Galileo, ou Vocabulário das obras de Galileu), isso em 1970, quando entrei no Conselho Nacional de Pesquisa (Consi-glio Nazionale delle Ricerche, o CNPq da Itália), onde fiquei até 1979. Neste mes-mo ano, passei em um concurso para a primeira cátedra de História da Ciência da Itália. Comecei a ensinar na Universida-de de Siena, em janeiro de 1980, e fiquei até 1994, quando fui pra Universidade de Florença, de onde me aposentei esse ano e sou professor emérito.

JU: Como foi a passagem da Filosofia pra começar a estudar história da ciência?PG: Na Itália, primeiro, o pesquisador esgotava seu trabalho no laboratório e só depois ia estudar a história da sua ciência, após se aposentar. Só se interessava pelo produto final, e não por todo o processo. É a história da teoria que venceu. E o pro-cesso da história da ciência é estudá-la na sua profundidade. E há outra tradição. Até 1800, não tem como separar a ciên-cia da filosofia. Na época clássica, época de Descartes, Galileu, Newton, não havia separação. Hoje, na Itália, prevalecem os profissionais de história para estudar a história da ciência, porque eles têm uma compreensão melhor do processo. Para entender Newton, Descartes, eu tive que estudar sozinho. Agora os programas já integram esses conteúdos. No concurso para as primeiras cátedras de História da

Ciência, em 1980, todos os aprovados eram da área de História.

JU: Como é o trabalho como diretor no Museu?PG: O primeiro ano foi mais difícil, era um trabalho que eu não sabia fazer. Aos pou-cos fui conhecendo mais, fomos criando uma pequena comunidade de profissionais competentes em suas áreas. Isso chamou a atenção. Temos o acervo mais importante do planeta do princípio da Idade Moderna, em termos de instrumentos de física, ma-temática, astronomia. Pra compreender o instrumento de 1600, você precisa entender a ciência de 1600. De dois mil volumes, quando eu cheguei, hoje a biblioteca tem 170 mil volumes. É uma das melhores do mundo sobre história da ciência; em espe-cial da história da ciência nos séculos XV ao XVIII. A biblioteca atrai estudantes, pes-quisadores de todo o mundo. É uma troca: o pesquisador traz conhecimento, competên-cia, e a biblioteca oferece seu acervo. Desde o final da dos anos 1980, nós começamos a utilizar a tecnologia da informação. Fomos os primeiros da Itália. Às vezes perdíamos dados já digitalizados, porque a tecnologia

mudava e não se conseguia mais acessar aquelas informações gravadas. Muita gen-te desconfiava desses novos instrumentos, mas fomos em frente. E eu já tinha a expe-riência do Léxico eletrônico de Galileu. No Museu, digitalmente, se desmonta o instru-mento a ser estudado, separando cada parte e explicando como ele funciona. Você pode usar virtualmente o instrumento, tem a ani-mação, a narração. É uma revolução. Nós saímos de 3500 visitas por ano, em 1982, para 120 mil visitas, em 2010. E são qua-se 90 milhões de acessos ao site, todos os anos, ao redor do mundo.

JU: São quantos artefatos no Museu?PG: Tem 1100 instrumentos em exposição e são 5000 no total. Só 20% é exposto ao público. Os outros estão catalogados, guar-dados, ficam acessíveis em rede e também disponíveis a estudiosos que queiram co-nhecê-los.

JU: O que tem no acervo do Museu de mais importante? PG: Geralmente, o que chama mais aten-ção são os instrumentos de Galileu. Não são particularmente belos, mas são origi-

nais do Galileu. Temos dois telescópios. Uma lente objetiva, que foi com ela que ele descobriu os satélites de Júpiter, hoje conhecidos como Satélites Galileanos. Temos ainda um compasso geométrico; um giovelabio (astrolábio); um termos-cópio; imãs. Depois, temos três dedos e um dente de Galileu. Ele foi condenado pela Igreja e, quando morreu, não foi se-pultado de maneira solene. Quando foi possível transferir os restos para a Igre-ja da Santa Cruz, 95 anos depois de sua morte, a pessoa que participou do proces-so pegou as “relíquias”. Ele está sepulta-do diante de Michelangelo. Galileu viveu bastante tempo, morreu aos 78 anos. Mas ele teve muitos problemas de saúde. O mapeamento genético, junto com a aná-lise de suas cartas, vai ser possível en-tender que doenças afetavam Galileu, em que época, inclusive. Galileu, sobretudo, amava a vida. Até por isso, ele renegou suas descobertas científicas diante da Igreja, pra não ser condenado à fogueira. E foi bom que ele tenha abjurado, porque um dos grandes livros dele foi da época que ele já estava condenado, mas ele es-tava proibido de escrever. Ele vai traficar esses escritos pra Holanda, pra publicar, porque não podia publicar na Itália, se-não, morria.

JU: Agora a última. Qual é, dentre o acer-vo que vocês têm do Galileu, a peça, o livro, mais especial para o senhor?PG: É uma pergunta difícil. São dois. Um é o livro “Diálogo”, que literariamente é apaixonante, com páginas de grande li-teratura. Galileu era um grande escritor. Esse foi o livro que o condenou. O livro dos dois sistemas de mundo [geocentris-mo x heliocentrismo] e os três persona-gens [Salviati, Sagredo e Simplício]. E também importante o livro “Discurso e Demonstração sobre Duas Novas Ciên-cias”, que ele escreveu já na prisão, que guarda a Física Mecânica, o centro das leis do movimento. É uma obra capital. Ambos escritos em italiano e não em la-tim. Só a parte da Demonstração, que foi escrito em latim, porque ele escreveu um livro internacional e aquele era o idioma internacional da época. Como escrever em inglês hoje.

JU: Qual o senhor considera a principal contribuição de Galileu para a ciência, para o avanço da ciência? PG: Uma só é difícil de dizer. É impor-tante a descoberta do uso do telescópio; a defesa da liberdade de pesquisa e ex-pressão. É fundamental o início da Física Mecânica, das leis do movimento.

Paolo Galluzzi e a revolução de Galileu

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8Tecnologia

Observatório das Metrópolesassessora movimentos sociais

A entidade visa garantir marcos jurídicos que asseguram o direito à cidade

Por Hortênsia Franco *

A rede Observatório das Metró-poles atua em 15 regiões metro-

politanas brasileiras em pesquisa e monitoramento de políticas públicas, subsidiando o planejamento urbano e assessorando os movimentos sociais. As principais ações se vinculam à análise e intervenção sobre a política urbana e o crescimento das cidades brasileiras que historicamente repro-duziu e aprofundou a desigualdade social por meio do atendimento aos interesses do capital imobiliário em detrimento do cumprimento da fun-ção social da cidade. As políticas de habitação, transporte e mobilidade e saneamento ambiental possuem sistemas nacionais assenta-dos em marcos jurídicos que assegu-ram a todos os habitantes o “direito à cidade”. Mas a lei não é cumprida com o rigor e urgência que deveria. Assim, o núcleo do Observatório das Metró-poles da UEM, é constantemente cha-mado pela sociedade local e regional a assessorar processos de implemen-tação dos marcos legais dispostos no Estatuto da Cidade. O Observatório das Metrópoles com-põe o Fórum Maringaense pelo Direito às Cidades, por meio do qual acompa-nhou e assessorou diretamente no ano de 2011 o processo de remoção dos moradores do “Conjunto Mutirão” em Sarandi, o Movimento em Defesa do Transporte Público e de Qualidade para Todos e o Movimento em Defe-sa do Fortalecimento da Democracia em Maringá, bem como assessoria ao Movimento do Conjunto Atenas, que merece destaque pelo desfecho após a intervenção do Observatório.Conjunto Atenas – No início deste ano, mais de 40 famílias ocuparam as moradias do Conjunto Atenas, lo-calizado próximo ao contorno norte, em Maringá. A construção das casas foi interrompida pouco tempo após o seu início, em 2006, e ficaram de-sabitadas até então. Das 42 famílias que habitavam os imóveis, restaram

apenas 11 no conjunto residencial. Al-gumas famílias se abrigaram em casas de parentes e amigos, após o manda-do de despejo emitido pela prefeitura de Maringá. Outras famílias saíram com a promessa de um aluguel social, garantido pela prefeitura por seis me-ses. Com a intervenção do Observa-tório das Metrópoles, que colaborou no processo de garantir a negociação entre o movimento dos moradores e prefeitura municipal incluindo nesta o Ministério Público, os moradores pas-saram a desocupar os imóveis apenas com a garantia de uma casa própria, financiada pelo Governo Federal. A diarista Miriam dos Santos vive com os cinco filhos há 3 anos em uma das residências ocupadas e já foi bene-ficiada com uma casa em Iguatemi. “Estou esperando a entrega das cha-ves. Preferia ficar aqui na minha casa, com tudo terminado, mas é melhor ir para Iguatemi do que sair por ordem de despejo”, afirma.A condição da maioria dos domicílios ocupados é bastante precária: muitos não possuem revestimento, vidros nas janelas, forro e até a chegada das famílias, algumas não possuíam nem mesmo portas. “Quando cheguei aqui as casas estavam tomadas por mato. Os moradores se juntaram e manda-ram roçar os terrenos. Se a gente não estivesse por aqui, estaria tudo do mesmo jeito”, relata Vani Gonçalves, que mora em um dos imóveis com três filhos. As casas também não possuem água encanada ou energia elétrica. As famílias contam com a solidariedade dos vizinhos para o empréstimo de água e luz. Mesmo neste estado, as habitações foram a única opção que algumas pes-soas encontraram de moradia, por não terem condições de adquirir suas pró-prias casas ou de manter um aluguel. O líder do movimento de moradores, Erivelto Santos, diz não ter condições de pagar aluguel e não vê problema na ocupação. “O que me motivou a vir para cá é o descaso com as casas abandonadas. Se ninguém estives-se aqui, as casas estariam vazias até

hoje”, explica. Relatórios – O Observatório das Me-trópoles produziu um relatório com o perfil das 42 famílias que viviam no primeiro semestre do ano no local. De acordo com o levantamento, ha-via 164 habitantes oriundos dos mais diversos bairros da cidade e também de municípios vizinhos. Segundo a pesquisadora e mestranda do Progra-ma de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UEM, Fernanda Valotta, a assessoria prestada pelo Observatório foi de extrema importância para iden-tificar as condições de moradia e so-cioeconômicas do grupo. “Na pesqui-sa de campo, o que mais me chamou a atenção foi o tempo que os moradores estavam na fila de espera para a ha-bitação social. Alguns esperavam há mais de 10 anos”, diz.O papel do Observatório e do Fórum Maringaense pelo Direito às Cidades foi fundamental no momento em que a ordem de despejo foi emitida pela prefeitura, que exigia que os morado-res deixassem as casas em um exíguo prazo estipulado. O Observatório das Metrópoles encaminhou a abertura da negociação entre os ocupantes e a prefeitura, acionando o Ministério Pú-

blico, o que contribuiu para a perma-nência dos moradores e para que não fossem apenas desabrigados do local. Segundo a coordenadora do Observa-tório das Metrópoles – Núcleo Marin-gá, Ana Lúcia Rodrigues, assim que os ocupantes começaram a receber os comunicados com um prazo para a desocupação, o Observatório foi pro-curado para assessorar e intervir no processo. “O acompanhamento se deu por meio de um diagnóstico socioeco-nômico e das condições de habitação, bem como com a presença freqüente de profissionais que repassaram infor-mações mostrando às pessoas que elas são sujeitos de direito e que o direito a moradia é assegurado na Constitui-ção, cabendo ao poder público cum-pri-lo”.Atualmente, algumas famílias re-manescentes aguardam a entrega de suas casas, enquanto outras ainda ne-gociam um acordo com a prefeitura. Cabe ressaltar a vitória do movimento de ocupação do Conjunto Atenas, pois essa organização popular resultou no cumprimento do direito à moradia.

* Jornalista e pesquisadora do Observatório das Metrópoles/UEM

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9Polêmica

Eutanásia à luz do DireitoProfessora sugere revisão da lei brasileira sobre esta prática classificada como homicídio doloso, ou seja,

com a intenção de matar Por Tereza Parizotto

Você tem o direito a dar fim à pró-pria vida, caso permaneça em um

estado estático e irreversível de dor e sofrimento, provocado, por exemplo, por uma doença terminal? Ou ainda: tem o direito de ajudar a morrer alguém que viva nas mesmas condições? A me-nos que você resida na Holanda, Bélgi-ca ou Suíça, a resposta é não. Até hoje, somente esses três países legalizaram a eutanásia e o suicídio assistido. No res-to do mundo, inclusive no Brasil, essas práticas são passíveis de criminaliza-ção, sendo classificadas na categoria de homicídio doloso, ou seja, com a inten-ção de matar. Dessa forma, de acordo com o orde-namento jurídico brasileiro, ninguém pode dispor deste nosso patrimônio inestimável que é a vida. O Código Penal brasileiro considera a eutanásia como homicídio privilegiado. Ou seja, cometido por motivo de relevante valor moral. O médico que praticar esse cri-me pode ser condenado a uma pena de reclusão de 12 a 30 anos, com redução de até 1/3, conforme prevê o Código para o homicídio privilegiado.A professora de Direito Penal da UEM, Gisele Mendes de Carvalho (foto), en-fatiza que a matéria não é simples e de-manda muita discussão, pois envolve não só aspectos legais, mas também as-pectos médicos, sociológicos, religio-sos, antropológicos, entre outros. Auto-ra de dois livros sobre o tema, um deles publicado na Espanha, resultado da sua tese de doutorado, a professora Gisele defende uma ampla discussão sobre a questão, o que não acontece porque ela ainda é um tabu em nossa sociedade.Ela explica que, entre outras classifi-cações, a eutanásia pode ser ativa ou passiva, de acordo com seu modo de execução. Por eutanásia ativa entende-se aquela que se dá através de atos que ajudem o paciente a morrer, eliminando ou aliviando o seu sofrimento. Nessa categoria encontra-se, por exemplo, a administração de uma dose letal de morfina ou outra droga. Omissão – Por sua vez, a eutanásia passiva consiste simplesmente em dei-xar o paciente morrer, interrompendo procedimentos terapêuticos. Aqui, o que conta é a omissão: o paciente deixa de receber algo de que precisa para so-breviver. Um caso recente é o da norte-

americana Terri Schiavo, que depois de 15 anos em estado vegetativo persisten-te teve a morte provocada pelo desliga-mento dos tubos que a mantinham viva, sob o aval da justiça local.As leis brasileiras sequer preveem a prática. Aqui a eutanásia não possui ne-nhuma menção nem no Código Penal, que data de 1940, nem na Constituição Federal. Por isso, legalmente falando, o Brasil não tem nenhum caso de eu-tanásia. Mas, de acordo com a profes-sora Gisele, há tentativas de regulação da matéria. Em 1984, quando tiveram início as discussões sobre a reforma pe-nal no Brasil, “o Anteprojeto de Código Penal apresentado isentava da crimina-lização o médico que, mediante consen-timento da vítima ou de seus familiares, antecipasse a morte iminente e inevitá-vel do doente”. No entanto, o projeto continua engavetado o que, segundo

a professora, é motivado por questões polêmicas como essa. “O atual Anteprojeto, de 1999, não pro-cedeu à regulação do homicídio euta-násico especificamente e isenta da pena tão somente a conduta de deixar de manter a vida por meios artificiais, ou seja, a eutanásia passiva”, frisa a pro-fessora. Nessa mesma linha, em 2006, o Conselho Federal de Medicina apro-vou a Resolução nº 1.805 a qual possi-bilita a limitação do esforço terapêutico para prolongamento da vida de pacien-tes terminais. Embora a resolução tenha sido questio-nada quanto à sua constitucionalidade, pelo Ministério Público Federal do Dis-trito Federal, ela permanece em vigor. Mas a medida não tem força de lei e não isenta o médico de punição, se o caso ganhar a via judicial. A Dra. Gi-sele lembra que na aplicação da pena,

o consentimento da família ou do pa-ciente pode ser considerado como ate-nuante.“Em muitos países”, diz a professora, “a tendência é discutir, legalizar ou ate-nuar a pena para a eutanásia passiva”. O Código Penal espanhol, por exemplo, descriminaliza essa modalidade. Na França e em alguns norte-americanos ocorre o mesmo. Saída honrosa – O fato é que a euta-násia é uma questão polêmica, capaz de dividir opiniões. Na visão de seus defensores, o procedimento está baliza-do em razões humanitárias, consistindo em uma saída honrosa para pacientes que sofrem de uma enfermidade termi-nal incurável ou encontram-se em esta-do vegetativo. Reduzir esse sofrimen-to seria então um ato de solidariedade e compaixão. A contra-argumentação está pautada no risco real de falhas de diagnóstico e as incertezas quanto à ir-reversibilidade da doença, consideran-do inclusive os avanços da Medicina.Outro argumento recorrente é quanto aos ônus econômicos decorrentes das doenças sem possibilidade de reversão. O que alguns defendem é que ao invés de perder tempo utilizando aparelhos em doentes tecnicamente incuráveis, porque não utilizá-los em pacientes com possibilidade de cura. Sob essa premissa, as discussões se acirram, pois como dar ao médico poderes para decidir sobre qual a vida que deve ser prolongada? Também pesa nessa discussão o real motivo da medida: o alívio da dor do enfermo ou a dos familiares que, assim, se livrariam da pesada obrigação de cuidar de um paciente totalmente de-pendente? Sem contar que ela poderia camuflar outras motivações como um eventual direito à herança do paciente, por exemplo.Em meio a toda essa discussão, a pro-fessora Gisele Mendes defende que a sociedade discuta o problema para en-contrar seu modelo. E se a via encontra-da for a descriminalização da prática, que ela se dê dentro de bases seguran-ças, em que cada caso seja avaliado por comitês de ética formados dentro dos próprios hospitais e integrados por mé-dicos, juristas, psicólogos, enfim, por uma equipe multidisciplinar.Suicidio, Eutanasia y Derecho PenalAutora: Gisele Mendes de CarvalhoEditorial Comares, Espanha, 2009

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10

CiênciaRevista da UEM

está entre as melhores do País

Novidades

Eduem lança dois novos livros

PrêmiosPEA se destaca no Congresso Brasileiro de Limnologia

A delegação de pesquisadores da UEM foi a maior do Brasil no

XIII Congresso Brasileiro de Li-mnologia, que teve como temática Ciência e Gestão das Águas Con-tinentais num mundo em Transfor-mação e foi realizado em Natal, em setembro. E o grupo conquistou vá-rias premiações.Juliana Déo Dias, doutoranda do Programa de Ecologia em Ambien-tes Aquáticos Continentais (PEA) e orientanda da professora Cláudia Bonecker, ficou em primeiro lugar no prêmio Harald Sioli, oferecido pela Sociedade Brasileira de Lim-nologia. O estudo teve como co-autores o pós doutorando Nadson Ressyé Simões da Silva e o profes-sor do PEA Fábio Amodêo Lansac-Tôha.Ainda, neste mesmo prêmio, o pós- doutorando Roger Paulo Mormul, orientando do professor Sidinei Magela Thomaz, recebeu Menção Honrosa. Constam também como co-autores o professor Angelo Agostinho e a professora Cláudia Bonecker. Outra premiação inédita no Con-gresso foi o Prêmio Painel Verde, destinado aos painéis mais ecolo-gicamente corretos. As três pre-miações foram concedidas aos pós graduandos do PEA. Em primeiro lugar, a doutoranda Andréia Isaac, orientanda da professora Norma Hahn; em segundo, a doutoranda Vanessa Majewisk Algarte, orien-tanda da professora Liliana Ro-drigues; e, em terceiro, a mestran-da Érika Neif Machado, também orientanda da professora Liliana. Todos os estudos tiveram apoio do Nupélia e foram desenvolvidos dentro do projeto “A planície de inundação do Alto rio Paraná” - Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), finan-ciado pelo MCT/CNPq.

ProduçãoCurso de

Secretariado leva vídeo a congresso

A Eduem lançou dois novos livros. O primeiro é A Física Moderna

e Contemporânea no Ensino Médio, Uma Reflexão Didática. Os autores são Monica Bordim Sanches, dou-toranda em Educação para a Ciên-cia pela UEM e professora da rede estadual, e Marcos Cesar Danhoni Neves, docente do Departamento da Física. Os autores explicam que a Física é uma das ciências que investiga a di-nâmica dos fenômenos da natureza e age como ciência transversaliza-dora para outras áreas do conheci-mento humano. A obra está sendo comercializada a R$ 25,00. Fo-ram publicados 500 exemplares.O outro título é Matemáti-ca Comercial & Financeira, Fundamentos e Aplicações, do professor aposentado Nel-son Martins Garcia. Os 600 exemplares contaram com o

financiamento da Fundação Arau-cária. A obra é voltada para o curso

A revista Acta Scientiarum. Agro-nomy da UEM atingiu o índice 0.805 em sua categoria “Agro-nomy”, atribuído pelo “Journal Citation Reports - JCR” (2010), do ISI – Thomson Reuters. Segundo

de licenciatura em Matemática a dis-tância, após ter sido utilizado na dis-ciplina presencial de Matemática Fi-nanceira com sucesso. Garcia explica que os conceitos estão apresentados com um rigor desejável em Matemá-tica para uma boa compreensão do conteúdo. As obras podem ser encontradas na Livraria da Eduem, que fica no Bloco F-5. Também podem ser solicitadas pelo site www.eduem.uem.br. In-formações pelo telefone (44) 3011-

4394.

Alessandro de Lucca e Braccini, diretor da Editora da Universida-de, esse índice classifica a Acta Scientiarum. Agronomy como uma das melhores revistas do Brasil em fator de impacto. “Vale lembrar que o fator de im-pacto é uma medida que se reflete no número médio de citações de artigos científicos publicados em determinado periódico. Com frequ-ência o JCR é empregado para ava-liar a importância de um periódico em sua área. Essa classificação vem

Duas alunas do primeiro ano de Es-panhol, do curso de Secretariado Executivo Trílingue, participaram do VI Congresso Internacional Roa Bas-

recompensar os esforços da Eduem por meio da sua diretoria, equipe de funcionários, corpo editorial, consultores e autores em colocar as Revistas Acta Scientiarum entre as mais conceituadas do País”. Os artigos publicados na Acta Scien-tiarum. Agronomy, bem como das demais revistas Acta Scientiarum encontram-se disponíveis, gratui-tamente, no site www.uem.br/acta. Mais informações pelo fone: (44) 3011-4253 ou e-mail [email protected].

tos – arquivos de fronteira, na Unila – Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz de Igua-çu, entre os dias 28 a 30 de setembro. Elas apresentaram um vídeo de dez minutos de duração, intitulado Archi-vística de un expatriado. A produção une o lado profissional de um empregado subserviente e or-ganizado, com o lado poético de vas-culhar as lembranças de um executi-vo que tem que deixar seu país natal. Dessa maneira, a produção oferece

um recorte textual do universo do estudante universitário que desempe-nha sua função num escritório, assim como incentiva a criação de diálogos que retratam o lado pessoal e íntimo do profissional.O vídeo reúne textos em espanhol e Libras - língua brasileira de sinais, e é organizado e dirigido pelas profes-soras de espanhol da UEM, Luizete Guimarães Barros e Viviane Lugli, com montagem e câmera de Chris-tian Abes.

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11Debate

“A gente chega lá com luta, com competência, sacrifício

e ousadia”

Jornal da UEM (JU) : A senhora poderia resumir a sua trajetória

profissional para abrirmos esta con-versa?Luislinda Valois (LV) : Para que eu chegasse a desembargadora substitu-ta do Tribunal de Justiça da Bahia o sofrimento e a descriminação foram grandes. Principalmente, porque eu digo que alguns predicados somados viram zero. Eu sou mulher, nordesti-na, negra, rastafári, divorciada e ousa-da. Então, quando se soma tudo isso, aumenta a dificuldade para o acesso ao ápice da pirâmide social brasileira. Mas, com boa vontade a gente chega lá com luta, com competência, sacri-fício e ousadia. Eu tenho chegado lá exatamente através destas atitudes e comportamentos que eu não abro mão. A ousadia foi importante! A ou-sadia é o crédito maior dentro desta cesta de argumentos que eu coloquei.

JU: Sabemos que no Brasil a mulher ainda é discriminada e colocada em um papel menor na sociedade, prin-cipalmente no mundo do trabalho. Além da questão de gênero, tem a re-alidade da afro - descendência. A se-nhora tem vivido ou presenciado esse preconceito?LV: Passo por situações deste tipo quase que diariamente. Até porque nossos tribunais não têm por hábi-to ter mulheres nos seus quadros de comando, muito menos, mulheres ne-gras. Há poucos anos é que as portas se abriram, mas estamos distante do ideal, seja para mulheres negras ou não negras. Por isso que eu digo sem-pre que estou abrindo a picada para

que outras mulheres ocupem esses espaços. Não somente no Poder Ju-diciário, mas também no Legislativo e Executivo. Nós observamos que no Congresso Nacional há poucas mu-lheres e o número de mulheres negras é insignificante. Inclusive, estou pro-pondo uma pesquisa para se desco-brir quantos negros estão ocupando espaço de destaque nos três poderes da República. E na parte executiva privada a situação é ainda mais séria, porque temos que estar a todo ins-tante provando que somos capazes e competentes e tão brasileiros quanto os não - negros. Então, para mim foi muito difícil e ainda é ser magistrada e luto, desde 2004, para ser desembar-gadora e até hoje não consegui. Mas tenho certeza que com a minha ousa-dia e independência eu vou chegar lá. Abrir esse caminho não é fácil, e não continuará sendo fácil, mas somente com a mobilização do povo brasileiro nós vamos ter a inclusão do negro.

(JU) : Ainda sobre o preconceito, discriminação e racismo no Brasil nós tivemos recentemente a aprova-ção do Estatuto da Igualdade Racial. Como especialista na área do direito de que forma a senhora avalia esse documento? (LV) : Esse Estatuto da Igualdade Racial já se arrasta há muito tempo. Não é a perfeição, não é o melhor, não é o que nós precisamos e merece-mos, mas com o tempo, certamente, será aperfeiçoado. Mas vale elogiar, a lei veio em bom tempo. E a técnica da perfeição legislativa vai acontecendo dependendo das ações e movimen-tos da jurisprudência e certamente a tendência é que esta norma legal se aperfeiçoe.

(JU) : Há quem defenda a ideia de que existe uma de-mocracia racial no Brasil. O que a se-nhora acha disso? (LV) : O racismo racial no Brasil nunca terminou e acredito que nunca irá terminar. Por-que o racismo não acaba através de um decreto de lei, depende das ações e práticas de polí-tica públicas. Falo sempre que quem quer entender o que é o racismo, deve ser negro por um dia. Eu como magis-trada já passei por inúmeras situações desse tipo, agora imaginemos uma pessoa simples do campo, analfabe-ta e praticamente cega social: o que deve passar? O pior é que na doutrina se faz diferença entre racismo e injú-ria grave. Racismo se entende quando há discriminação com um grupo de pessoas e injúria grave quando se tra-ta de um único indivíduo. Temos que trabalhar para que cada dia se reduza ainda mais esse tipo de preconceito.

(JU) : A decisão do Partido Demo-cratas de questionar no Supremo Tri-bunal Federal a constitucionalidade das cotas raciais no Brasil seria uma demonstração de racismo? (LV) : Não diria que foi uma demons-tração de racismo, mas um questiona-mento do direito de exercer a cidada-nia. Não sei se no DEM tem muitos negros. Mas eles nunca devem ter passado por discriminação. Não de-vemos esquecer que, antigamente, os

nomes das grandes famílias estavam na lista de aprovados e não os dos Santos, da Silva. Agora temos esse prazer. Eu defendi a cotas na Bahia e o proveito é excelente. Mas advogo que elas não devem ser permanen-tes, peço as autoridades e senhores da área de educação que trabalhem em prol da igualdade da educação tanto na área privada quanto na pública. Aí não precisaremos de cotas. Não restam dúvidas de que é um proces-so longo e trabalhoso, mas a nação brasileira já vem se preparando para obtermos sucesso nesta questão. No entanto, ainda há muita coisa a fazer. O bom é que de alguns anos para cá já se conseguiu uma causa, o negro fala, grita e reclama. É preciso que não de-monstrem resignação quando tratados com preconceito. Porque na hora de cumprir com nossos deveres de cida-dão somos brasileiros, mas na hora de obter as políticas públicas não somos incluídos neste processo. É isso que precisamos ressaltar.

* Com colaboração de Antônio Paulino Santos

A frase acima é da primeira desembargadora substituta negra do País. E a doutora Luislinda Valois (foto) fez outras contundentes declarações em

entrevista ao Jornal da UEM e à UEM FM. Ela veio à UEM proferir a conferência de abertura da XI Semana Acadêmica de Ciências Sociais, que falou sobre a

situação atual do negro no Brasil. O convite foi da professora do Departamento de Ciências Sociais, Marivânia de Araújo.

Por Ana Paula Machado Velho e Laressa Santos*

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Soldado Anônimo, de André D.X., interpretada pelo grupo Anôni-

mos Abduzidos, foi a música ven-cedora do 4º Acorde Universitário - Festival Universitário de Música Popular Brasileira, promovido pela UEM, de 23 a 25 de setembro. Em segundo lugar ficou Preciso Comprar um Anjo, de Nilson Fidé-lis (Nilson Fidélis); e, em tereceiro, Filé de Bode, de Mauro Ravagnani, interpretado pelo Trio Magujé. Além disso, foram premiados a Melhor Le-tra: Chama Sal, de Lucas Fiorindo ( Lucas Fiorindo); o Melhor Arranjo: Meu Cantar, de Marilaine Tenório (Marie Tenório); o Melhor Intérpre-te: Wesley de Andrade Ferreira, com a música Estrada; Música Cidadã: Samba do Imposto, de Marcilio H. Miranda Neto, interpretado por Ti-jolo; e Aclamação Popular: Palhaço Mudo, das irmãs Aline Santiago Luz

A aluna do Curso Básico em pia-no, Naegelly Bernardo Teles,

de 14 anos, participou da última edi-ção do Concurso Edna Bassetti, em Curitiba, em setembro, e trouxe na bagagem uma menção honrosa entre os participantes de sua faixa etária. Naegelly, que há algum tempo per-deu o dedo anular da mão direita em um acidente, tem desenvolvido sua técnica por meio de uma cuidadosa readaptação do dedilhado, conse-guindo assim resultados surpreen-dentes. Por trás de cada conquista, destaca-se a excelência do trabalho em sala de aula, sob a supervisão da professora Solange Costa Freitas. Em novembro, Naegelly irá participar do XX Concurso de Piano Sou-za Lima - São Paulo e em Uberlândia, no X Con-curso Nacional de Piano Cora Pavan Capparelli.

Artista plástica Tânia Machado expõe seus trabalhos na sala

de exposições do Museu Helen-ton Borba Cortes, no Teatro Calil Haddad. A mostra, intitulada Bre-viário: páginas de um caderno de imagens reúne 28 pinturas. Tânia é coordenadora do Grupo Ar-tes Plásticas e Industriais da UEM (Apis). Explica que o termo brevi-ário provém do Século XI, quando apareceu um livro que continha todos os textos necessários para o ofício divino da igreja católica, que condensava num só volume o que, até então, encontrava-se repartido em vários livros. A professora da UEM comenta que as pessoas também usam artifícios parecidos para suas memórias. São “pequenos cadernos com pauta ou sem pauta. Chamo-os de Moleski-ne, cadernos de viagens, caderno de artista... É nele que desenhamos, anotamos, duvidando da nossa me-mória. Observamos o mundo que nos cerca e nele buscamos inspira-ção para a criação [para] comunica-ções estéticas, éticas, políticas a um só tempo”, explica.

Música

Acorde premia vencedores

Tânia Machado apresenta Breviário

Aluna recebe menção honrosa

UEM FM leva ao ar programa coordenado

por professor do DCS

Superação

Radiodifusão

O professor Fábio Viana Ribeiro, do Departamento de Ciências

Sociais, está à frente de três pro-gramas na Rádio UEM FM, 106,9 MHz. Um deles chama-se Super-cromo, com produção e apresenta-ção do próprio professor. O assunto em destaque são livros, para o pú-blico que gosta de livros: conteúdo, edições, autores, editoras... A apre-sentação vai ao ar às quartas-feiras, das 21 às 22 horas, com reprise aos domingos, no mesmo horário.O professor também coordena o programa Off Side, que é produzido e apresentado pelos acadêmicos do curso de História, Jhonatan “Cidão” Uewerton Souza, Gustavo de Cas-tro Alves Machado, Deiner Zago Manarin, André Luiz Botelho Euge-nio e Fabrício Belletini Bento. Eles discutem, às segundas-feiras, das 21 às 22 horas, futebol e outras modali-dades esportivas não cobertas pelas emissoras comerciais. O programa é reprisado às terças-feiras das 15 às 16 horas.Metal em todas as suas variantes e aspectos é o destaque do Full Metal, produzido por Robson Hirae Narci-so de Carvalho, Leila Rocha Fran-cisco, Flávio Tomohisa Kawakami e Kelton Henrique Rodrigues, todos alunos do curso de Comunicação e Multimeios. O programa é apre-sentado aos sábados, das 17 às 18 horas.

e Camila Santiago Luz.Além dos prêmios em dinheiro, entre R$ 500 e R$ 2,5 mil, os músicos re-

ceberão unidades do CD e do DVD que foram gravados durante o festi-val.

A exposição pode ser vista até dia 30, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas, e aos sábados, domin-gos e feriados, das 14 às 18 horas. A mostra é realizada pela UEM e pela Prefeitura de Maringá/Secretaria de Cultura.

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