jornal cultural outubro de 2008 (editor-chefe)

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JORNAL CULTURAL DE BAURU Entre cafezinhos e filosofias, a banda marcial vai passar, a magia cirsense vai invadir o picadeiro e palavra por palavra vai construir a arte literária...

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Jornal Cultural Outubro de 2008

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Page 1: Jornal Cultural Outubro de 2008 (editor-chefe)

Jornal Culturalde Bauru

Entre cafezinhos e filosofias, a banda marcial vai passar, a magia cirsense vai invadir o picadeiro e

palavra por palavra vai construir a arte literária...

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Jornal Cultural de Bauru

EXPEDIENTEPublicação realizada por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Estadual Paulista - Unesp, Campus de Bauru, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (Proex).Jornalista Responsável: Pedro Celso Campos - MTB 186Editor-chefe: Marcel VerrumoDiagramação: Aline NaoeRedação: Aline Naoe, Ana Carolina Chica, Beatriz Albuquerque, Érica Nering, Laís Barros, Lílian da Silva, Marcel Verrumo, Rafaela Bonsarin, Soloni RampinTiragem: 1500 exemplaresImpressão: Fullgraphics Distribuição gratuitaContato: [email protected]

(DES)CONSTRUÇÃO

Olhando para os lados, a impressão que se tem às vezes é que construímos o presente desconstruindo o passado. Talvez isso sempre tenha acontecido, mas ao que parece, não em um grau tão acentuado como na contemporaneidade. É certo que usamos lições do ontem para edificar o hoje e tentar alterar o amanhã. Porém, a cada avanço na ciência e na moral esquecemos o passado e, orgulhosos, nos declaramos a evoluída sociedade do futuro. Construímos o presente desconstruindo, paulatinamente, valores, ações e paradigmas do passado.

Vivemos a chamada pós-moderrnidade para alguns filósofos. Talvez vivamos o momento de construir o presente, mas sem nunca esquecer a essência do passado. A essência artística, econômica, ambiental e, principalmente, a essência humana.

Na busca da essência de expressões artísticas esquecidas em Bauru, nos aventuramos neste ambiente espinhoso e construímos esta edição do Jornal Cultural. Entre cafezinhos e filosofias, vimos a arte circense invadir palcos e encantar platéias, demos espaço para a banda passar e para a noite se fazer em Bauru. Ouvimos a polissemia de vozes discutindo a criação artística de um dos maiores escritores da literatura brasileira: Machado de Assis.

Assim construímos este jornal. Colocamos o ponto final no texto com a sensação de dever cumprido de quem trouxe de volta, neste ano, um importante projeto para a discussão da cultura bauruense. Desconstruímos a sensação de prazer ao ler e presenciar o ponto-final de Lílian Silva, repórter que construiu a história deste jornal, e agora segue com a construção de sua própria história.

Desconstruímos conceitos, entrevistados, pautas; desconstruímos fórmulas prontas, vazias e arcaicas de cadernos culturais de alguns jornais. Fundamentalmente, construímos o que, nas próximas páginas, busca ser a chave para uma possível e desejável reflexão sobre a essência de culturas às vezes esquecidas em Bauru. Boa leitura!

CRÔNICA•

poesia•

editorial

Infinita Espera

O mar estava revolto, o pescador, angustiado, deparava-se com a imensidão das águas e nelas buscava motivação e coragem, em vão.Os olhos eram tristes e desiludidos, e, mesmo que não aparentasse – talvez porque era apenas mera existência – alimentava no mais profundo de sua alma a esperança de dias melhores.Dias estes que não chegavam, e os que vivia eram solitários – seriam amargos não fosse o sal que já corria em suas veias.O que esperar de um mar sem peixes? O que esperar de um pescador sem pesca? Era na vaga espera – constante espera – que se achava sozinho, sem rumo, vazio...Havia, porém, uma forte atração, compatibilidade, afinidade, enfim, uma relação de bem-querer entre o mar e o simples pescador. E tal sentimento sendo mútuo, bastava.Infinito o mar, infinito o sofrimento. E em sua finita existência, o pescador, angustiado, viu que a revolta do mar

era a sua própria revolta.

Extravasa. Jogue-se. Pelo menos uma vez. Porque “your thoughts are your only problem”. Liberte-se. Senta aí,

toma um vinho. Em uma só taça. Me acompanha numa cerveja. Uma só latinha. E só hoje. Ou mais alguma vez.

Faz dizer que a vida valeu a pena, que o tempo passou mais devagar ao lado daquela pessoa, que as conversas fluiram,

que você descobriu coisas que jamais pensou em descobrir. Olhe o outro e tenha a certeza de que todos os ângulos interessantes foram contemplados. Saia da rotina. Beije

alguém por curiosidade. Beije alguém que você ama. Não beije hoje. Permita-se o sim, o não e o talvez. Não deixe seus problemas pendentes. Não vá embora levando informações

importantes. Não guardar é o primeiro passo para não morrer: de vontade. Não faça longas pontes entre o cérebro, o coração e a boca… pode fazer mal. Passe mal de rir, passe mal de beber, passe mal de chorar, passe mal de dor. Sofra.

Mas arrange um bom motivo. Seja feliz, sem motivo algum.

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Outubro de 200803

Regente Adalberto A. da Costa acompanhado do astronauta Marcos Cesar Pontes e de integrante da Banda, no Teatro Municipal de Bauru.

Trompete, trombone e bom-bardino. Da combinação desses e de outros instrumentos surgiu a Banda Marcial do Colégio Li-ceu Noroeste, famosa por suas apresentações e pelo encanto que exerce sobre as platéias dos lugares por onde passa. Composta por 75 integrantes de ambos os sexos e com idade entre 10 e 20 anos, a banda, nos seus 70 anos de vida, já fez mais de 800 apresentações. O sucesso e o reconhecimento vieram com o tempo. Hoje, a banda já ganhou seis campeonatos juvenis paulistas e seis nacionais. Engana-se quem pensa que manter o sucesso é uma tarefa fácil. “A banda custa muito dinheiro. A compra e a manutenção dos instrumentos, assim como a dos uniformes, têm um custo elevado. O

pessoal da banda e da escola trabalha muito para arrecadar os recursos”, afirma Adalberto Costa, regente da banda há 18 anos. Referência de quali-dade musical, o grupo pro-move o nome de Bauru e do Brasil no exterior. No Chile, por exemplo, deixou boas recordações. “Quando ter-minamos a apresentação, a platéia fez questão de descer da arquibancada e abraçar os componentes da banda. Um pipoqueiro encheu a mão de balas e nos entregou, dizendo que era a única forma de nos agradecer. Não há dinheiro que pague essa atitude”, conta Adalberto.

Banda Marcial ou Fanfarra? Para quem pensa que bandas marciais e fanfarras

são iguais, Adalberto esclarece a diferença: “Numa fanfarra, os instrumentos básicos (cornetas, cornetões) não conseguem executar certas notas; já na banda marcial há trompetes, trombones, que são instrumentos mais completos, facilitando a execução e aumentando a potência sonora”.

ServiçoPara os interessados em participar, os ensaios da Banda Marcial do Colégio Liceu Noroeste ocorrem de segunda a sexta das 14h às 17h, no colégio Liceu Noroeste. Mais informações podem ser obtidas pelo (14) 3879-3800.

Ana Carolina ChicaJornalismo - 2° termo

Beatriz Albuquerque e CastroJornalismo - 2° termo

Divulgação

Div

ulga

ção

Uma história de sucesso

Conheça a banda marcial bauruense considerada uma das

melhores do mundo

Desfile na Avenida Rodrigues Alves, em Bauru, no aniversário de 69 anos do Liceu Noroeste.

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Jornal Cultural de Bauru Outubro de 2008

no orkut para conhecer outros praticantes que levassem o hobby a sério. Demorou muito até que eu conheci o Diego Magalhães que me ajudou a montar o movimento em Bauru”. Demorou, mas, hoje em dia, a comunidade já possui mais de duzentos membros. A maior conquista do grupo foi ter trazido à Bauru o InterCircu, o circuito de malabares e circo do interior paulista. Mas crescer assim exigiu muito contorcionismo e nenhum passe de mágica.

O Circo Caipira Durante a 9ª Convenção Brasileira de Malabares e Circo (CBMC), Marcelo conheceu Jesus, de Botucatu e Fabu, de São Carlos.

Eles resolveram trazer para as três cidades um evento que pudesse reunir malabaristas, artistas circenses e a população interessada em conhecer essa arte. “Fomos conseguindo grandes apoios o que nos fez criar um evento muito maior do que esperávamos”, disse Marcelo. Com o sucesso da primeira etapa, em São Carlos, a notícia da segunda etapa, em Bauru, correu longe... Foram participantes de Londrina, Rio de Janeiro, Goiânia, da Capital e de diversas cidades do interior paulista. Apesar do trabalho, os resultados foram recompensadores no sentido de dar força para o movimento em Bauru e, principalmente, abrir as portas do picadeiro

Trupe traz para Bauru a magia esquecida dos picadeiros

Aline Emi NaoeJornalismo - 6° termo

Érica NeringJornalismo - 6° termo

Que rufem os tambores! o espetáculo vai começar

para quem nunca teve contato com a arte. Daniel Moraes pratica malabares desde 2006 e participou das etapas InterCircu de Bauru e Botucatu (3ª), mas sua visão sobre a arte é pessimista. “Acho que as pessoas perderam o encanto pelo circo, não todas, mas muitas. Talvez por uma grande variedade de outros tipos de entretenimento o circo tem sido deixado de lado”, diz Daniel.

Na cova dos leões O glamour das grandes artes ainda está longe de chegar ao circo. Apesar do grande sucesso que o InterCircu teve em Bauru, Marcelo reclama da falta de apoio da cidade para os projetos da trupe. “Pelo movimento ainda ser novo e o pouco apoio cultural que a cidade oferece, ainda não conseguimos grandes feitos”, diz Marcelo. Mesmo assim, iniciativas dos Sincrônicos já estão ajudando Bauru a se inserir nessa arte tão singela.

Todos os domingos, às 16h, o grupo se reúne no Parque Vitória Régia. Juntamente aos oito integrantes da trupe, cerca de quarenta pessoas comparecem todas as semanas para trocar experiências sobre os malabares e as artes circenses. O objetivo é promover a arte e a cultura alternativa e dar visibilidade à arte em Bauru e nas outras cidades do interior. Para quem já quis fugir com o circo, vale a pena retomar o sonho de criança. “Sempre fui apaixonado por circo. Quando criança, meu sonho era ser palhaço”, relembra Daniel. E ainda acrescenta, como alguém que entende que a magia de equilibrar malabares também exige um equilíbrio entre nossas crianças interiores e o que somos agora: “Não penso que o circo seja coisa só pra criança não, penso sim que as crianças são as poucas que ainda têm a sorte de enxergar a fantasia que é o circo”.

‘O evento é gratuito o que nos faz correr

atrás cinco vezes mais pois sem

verba você sabe como é... Apoio

cultural em Bauru é muito

pequeno não foi nada fácil’

Marcelo Pinho

E sta página é um convite. Vamos fugir com o circo? Dormir com os leões, deitar sobre pregos, andar na corda bamba, tudo isso está proibido. O convite, respeitável público, é para o colorido das bolinhas, a arte dos bastões, a alegria do sorriso palhaço. É esta arte que um grupo bauruense está disposto a trazer para a nossa cidade. Eles são os Sincrônicos, uma trupe de interessados por bolas, claves, aros e malabares que promovem encontros semanais com profissionais e curiosos no assunto das artes circenses. Marcelo Pinho, do Sincrônicos, explica como tudo começou: “Criei uma comunidade

Arquivo pessoal/M

arcelo Pinho

Arquivo pessoal/ Marcelo Pinho

“Já dá pra ir pro farol?”

É o que muita gente pergunta após os encontros no Parque Vitória Régia. Realizados todos os domingos às 16h. Marcelo Pinho convida a todos a participar, aprender, ensinar e se expressar.

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Jornal Cultural de Bauru Outubro de 2008

no orkut para conhecer outros praticantes que levassem o hobby a sério. Demorou muito até que eu conheci o Diego Magalhães que me ajudou a montar o movimento em Bauru”. Demorou, mas, hoje em dia, a comunidade já possui mais de duzentos membros. A maior conquista do grupo foi ter trazido à Bauru o InterCircu, o circuito de malabares e circo do interior paulista. Mas crescer assim exigiu muito contorcionismo e nenhum passe de mágica.

O Circo Caipira Durante a 9ª Convenção Brasileira de Malabares e Circo (CBMC), Marcelo conheceu Jesus, de Botucatu e Fabu, de São Carlos.

Eles resolveram trazer para as três cidades um evento que pudesse reunir malabaristas, artistas circenses e a população interessada em conhecer essa arte. “Fomos conseguindo grandes apoios o que nos fez criar um evento muito maior do que esperávamos”, disse Marcelo. Com o sucesso da primeira etapa, em São Carlos, a notícia da segunda etapa, em Bauru, correu longe... Foram participantes de Londrina, Rio de Janeiro, Goiânia, da Capital e de diversas cidades do interior paulista. Apesar do trabalho, os resultados foram recompensadores no sentido de dar força para o movimento em Bauru e, principalmente, abrir as portas do picadeiro

Trupe traz para Bauru a magia esquecida dos picadeiros

Aline Emi NaoeJornalismo - 6° termo

Érica NeringJornalismo - 6° termo

Que rufem os tambores! o espetáculo vai começar

para quem nunca teve contato com a arte. Daniel Moraes pratica malabares desde 2006 e participou das etapas InterCircu de Bauru e Botucatu (3ª), mas sua visão sobre a arte é pessimista. “Acho que as pessoas perderam o encanto pelo circo, não todas, mas muitas. Talvez por uma grande variedade de outros tipos de entretenimento o circo tem sido deixado de lado”, diz Daniel.

Na cova dos leões O glamour das grandes artes ainda está longe de chegar ao circo. Apesar do grande sucesso que o InterCircu teve em Bauru, Marcelo reclama da falta de apoio da cidade para os projetos da trupe. “Pelo movimento ainda ser novo e o pouco apoio cultural que a cidade oferece, ainda não conseguimos grandes feitos”, diz Marcelo. Mesmo assim, iniciativas dos Sincrônicos já estão ajudando Bauru a se inserir nessa arte tão singela.

Todos os domingos, às 16h, o grupo se reúne no Parque Vitória Régia. Juntamente aos oito integrantes da trupe, cerca de quarenta pessoas comparecem todas as semanas para trocar experiências sobre os malabares e as artes circenses. O objetivo é promover a arte e a cultura alternativa e dar visibilidade à arte em Bauru e nas outras cidades do interior. Para quem já quis fugir com o circo, vale a pena retomar o sonho de criança. “Sempre fui apaixonado por circo. Quando criança, meu sonho era ser palhaço”, relembra Daniel. E ainda acrescenta, como alguém que entende que a magia de equilibrar malabares também exige um equilíbrio entre nossas crianças interiores e o que somos agora: “Não penso que o circo seja coisa só pra criança não, penso sim que as crianças são as poucas que ainda têm a sorte de enxergar a fantasia que é o circo”.

‘O evento é gratuito o que nos faz correr

atrás cinco vezes mais pois sem

verba você sabe como é... Apoio

cultural em Bauru é muito

pequeno não foi nada fácil’

Marcelo Pinho

E sta página é um convite. Vamos fugir com o circo? Dormir com os leões, deitar sobre pregos, andar na corda bamba, tudo isso está proibido. O convite, respeitável público, é para o colorido das bolinhas, a arte dos bastões, a alegria do sorriso palhaço. É esta arte que um grupo bauruense está disposto a trazer para a nossa cidade. Eles são os Sincrônicos, uma trupe de interessados por bolas, claves, aros e malabares que promovem encontros semanais com profissionais e curiosos no assunto das artes circenses. Marcelo Pinho, do Sincrônicos, explica como tudo começou: “Criei uma comunidade

Arquivo pessoal/M

arcelo Pinho

Arquivo pessoal/ Marcelo Pinho

“Já dá pra ir pro farol?”

É o que muita gente pergunta após os encontros no Parque Vitória Régia. Realizados todos os domingos às 16h. Marcelo Pinho convida a todos a participar, aprender, ensinar e se expressar.

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Jornal Cultural de Bauru

a f é i o só f i c oUm espaço onde o mundo individualista se reúne

Reto e alto. É para onde todos querem ir. Mas sozinhos. Lá é pequeno demais e só cabe o melhor. As mudanças às quais estamos sujeitos acontecem num ritmo incrível e as opções são poucas: ou nos destacamos (deixando os outros para trás) ou nos apertamos tentando um encaixe (sendo comum à maioria) ou ficamos de fora (o que somos não foi o suficiente para atender

às necessidades do mercado, da sociedade, do “sistema”). “Vivemos um período de intensas mudanças. O mundo não é como era e ainda não sabemos como será. Qualquer influência que queiramos ter na reorganização dependerá de nosso comprometimento em todos os papéis. Mudanças estruturais, empresariais e globais em curto prazo, impactam as pessoas elevando o nível de estresse”, aponta Álvaro Machado Gaudêncio, médico cirurgião vascular formado pela Faculdade de Medicina da USP, sobre a incerteza constante desse mundo tão variável. Desde 2003, o Café Filosófico propõe reflexões sobre o comportamento do indivíduo frente a tantas mudanças no mundo contemporâneo. São discutidos temas que, de alguma forma, são comuns a todos e que, muitas vezes, nos angustiamos por não sabermos lidar com essas novas situações seja no trabalho, na família ou nos estudos. Anielly Guerrise Sanches, assessora de imprensa da CPFL Cultura em Bauru, garante que o público conseguirá aplicar informação real no dia-a-dia para contornar

Laís Barros MartinsJornalismo - 6° termo

Rafaela BonsarinJornalismo - 2° termo

Álvaro Machado Gaudêncio fala sobre a incerteza constante desse mundo tão variável

os problemas. A programação da CPFL Cultura passa a alcançar um público maior em 2008 e está presente em Bauru, Campinas, Caxias do Sul, Ribeirão Preto, Santos e Sorocaba. Anielly aponta que em Bauru já há a necessidade de ampliação do espaço, pois a média de público é de 170 pessoas com pico de 220, enquanto o auditório tem capacidade para apenas 80 pessoas. As palestras são escolhidas por um curador e devem se enquadrar dentro do tema geral para que possam conversar entre si e para viabilizar debates e discussões sobre as várias vertentes desse tema, diz Anielly. “Além dos assuntos me interessarem bastante, gosto de

difundir conhecimento e essa é uma chance de passar informação para um maior número de pessoas. Falar para um público tão diversificado é extremamente gratificante e sinto a receptividade através das perguntas, do interesse e da expressão das pessoas”, conta Álvaro Machado Gaudêncio. As mudanças pedem o nosso comprometimento. Álvaro lembra a oração da Serenidade para encerrar sua fala: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. Foi aplaudido por pessoas que, por alguns momentos, estiveram juntas e pensaram no coletivo.

Serviço

A programação da CPFL Cultura em Bauru é realizada no Auditório da CPFL Paulista (Rua Wenceslau Braz, 8-8, Vl. Pacífico), aberto a partir das 18h. A entrada é gratuita e por ordem de chegada. Mais informações pelo telefone (19) 3756-8000 ou no site www.cpflcultura.com.br

Rafaela Bolsarin

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Outubro de 2008

Experiências de ordem vital: uma ode à literaturaFLIP 2008 e o encontro com os livros

Lílian SilvaJornalismo - 8° termo•

Existem certas experiências que qualquer aluno de comunicação minimamente interessado em literatura não pode deixar de vivenciar. Uma delas é a FLIP, Festa Literária Internacional de Parati, que reúne escritores e personalidades em mesas temáticas sobre os mais diversos assuntos literários. Este ano, na sua VI edição, a festa propiciou, mais uma vez, uma interação cultural em que vários fios das artes se unem, seja falando de literatura ou não, formando uma teia de conhecimento. O homenageado foi Machado de Assis. Em tempos de Ensaio sobre a cegueira, pode-se dizer que Dom Casmurro seria um ensaio sobre a dúvida, como Hamlet. A tragédia da dúvida de Bentinho, segundo Roberto Schwarz, o mais destacado intérprete do autor*, mostra que ele é uma testemunha contra si mesmo. Entre amantes expostos e amantes ocultos, ao se pensar que o desejo humano não cabe num figurino só, a noção de pecado é impeditiva. E tudo é enredado pela constante ironia machadiana em que se diz uma coisa para se referir a outra. Dom Casmurro é considerado pelo crítico “o romance possivelmente mais refinado e composto da literatura brasileira”. Já Ana Maria Machado dizia da audácia daquela mulher, referindo-se a Capitu. Ouvir grandes nomes interpretando obras faz com que o olhar dos leitores passe por um exame interpretativo em que se constrói uma tessitura diferenciada. A força das histórias discutidas torna-se tão forte que as palavras também são imagens. Decodificações do romance à parte, essa história continua de mãos dadas com a dúvida que a rege. Capitu continua sendo um enigma como qualquer relação forte e intensa é. Portanto, cabe a cada um que decida (ou não), de acordo com suas coordenadas de vida, a resposta para a pergunta do livro: ‘Capitu traiu?’. As linhas de pensamento das mesas são traçadas numa linguagem literária em função da fala dos autores. Xico Sá dizia “a vida é uma contradição ao infinito”. João Gilberto Noll defendia: “o objetivo máximo da literatura é mostrar o que está arredio”. Assim, a FLIP constrói uma literatura própria por essas trajetórias de fala e de diálogo. A partir disso, é inevitável que se tire algumas conclusões com essa experiência. Entre elas, observa-se que “não basta ser artista, tem que botar isso para fora” como foi dito em uma das mesas. Parafraseando Raduan Nassar, “toda palavra é uma semente”, e o próprio Machado, “se és feliz escreve, se és infeliz escreve também”. Percebe-se também uma ternura peculiar compondo as falas dos escritores, como se nas entrelinhas ficasse explícito o

prazer do encontro. Muito além dos temas propostos, ampliam-se discussões de imenso horizonte. Por exemplo, fala-se dos clássicos da literatura em que a sacada do autor do livro é tão forte que eclipsa a realização literária, como em Dom Quixote. Talvez o maior elogio que se possa fazer à FLIP remeta ao prazer do encontro que ela propicia em cada pessoa que, por meio da subjetividade, descobre ali sua história. Os caminhos pessoais que os livros conduzem, no processo individual e íntimo de leitura, produzem emoções diferenciadas. No fundo, a festa é um brinde a isso e, mais ainda, a capacidade de um mesmo livro proporcionar leituras díspares e contraditórias.

Talvez a chave da porta de entrada para FLIP seja o verbo intelectualiza-se, pois todos os caminhos levam a ela. Em uma série de camisetas de uma edição anterior da festa, foi estampado um verbo com a mesma idéia: FLIP-SE. Esse sentido de participação fica claro na experiência do evento porque é muito difícil ficar alheio a ele. Isso também encerra aquela idéia de que o paraíso é o lugar onde nós nunca estamos. Ter o prazer de percorrer livros é algo da maior importância. Com a experiência da FLIP, se firma um compromisso: bons livros, temos que encontrá-los.

*atração da mesa de conferência de abertura da FLIP intitulada a poesia

Às margens de Paraty, uma festa às letras

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Jornal Cultural de Bauru

ENSAIO FOTOGRÁFICO•

Bauru noite e dia: uma mesma cidade? Soloni Rampin ([email protected]) circulou pela cidade captando imagens que mostram que a mudança não é só no relógio, mas nas pessoas, no clima e no brilho da cidade sem limites

AGENDA CULTURAL

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Chico César

25 de outubro - 21h

SESC Bauru

Av. Aureliano Cardia, 6-71

Café Filosófico com Luiz

Felipe Pondé

7 de novembro - 19h

Auditório da CPFL Paulista

Rua Wenceslau Braz, 8-8, Vl.

Pacífico

Jantar com Marina Lima

9 de dezembro - 21h

Beef Street - Alameda Quality

Center

Rod. Marechal Rondon, km 335