jornal crmmg 34

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Jornal do CRMMG INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Nº 34 O médico e o surgimento do SUS Páginas 6 e 7 CRMMG realiza em maio I Fórum Brasileiro de Direito na Medicina Página 3 Paralisação do atendimento aos planos de saúde Médicos comemoram sucesso do movimento

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Jornal Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais, Ediçao 34

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Page 1: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMGINFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DEMEDICINA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Nº 34

O médico e o surgimento do SUSPáginas 6 e 7

CRMMG realiza em maio I Fórum Brasileiro de Direito na MedicinaPágina 3

Paralisaçãodo atendimento

aos planos de saúdeMédicos comemoram sucesso do movimento

Page 2: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMG Março / Abril de 20112

Jornal do Conselho Regional de Medicinado Estado de Minas GeraisAv. Afonso Pena, 1.500 - 8º andarCep. 30130-921 - Belo Horizonte/MG31. [email protected]

Presidente:Manuel Maurício Gonçalves

1º vice-presidente:Roberto Paolinelli de Castro

2º vice-presidente:Itagiba de Castro Filho

3º vice-presidente:Carlos Alberto Benfatti

1º Secretário:João Batista Gomes Soares

2º Secretário:José Luiz Fonseca Brandão

3º Secretário:Cícero de Lima Rena

Tesoureiro:Cibele Alves de Carvalho

1º vice-tesoureiro:Delano Carlos Carneiro

2º vice-tesoureiro:Vera Helena C. de Oliveira

Corregedor:Alexandre de Menezes Rodrigues

Vice-Corregedores:Geraldo Borges Júnior e José Afonso Soares

ConselheirosAjax Pinto Ferreira,Alberto Gigante Quadros,Alcino Lázaro da Silva,Alexandre de Menezes Rodrigues,André Lorenzon de Oliveira,Antônio Carlos Russo,Antônio Dircio Silveira,Carlos Alberto Benfatti,César Henrique Bastos Khoury,Cibele Alves de Carvalho,Cícero de Lima Rena,Claudio de Souza,Cláudia Navarro C.D. Lemos,Delano Carlos Carneiro,Eurípedes José da Silva,Fábio Augusto de Castro Guerra,Geraldo Borges Júnior,Geraldo Caldeira,Hermann Alexandre V. von Tiesenhausen,Itagiba de Castro Filho,Ivana Raimunda de Menezes Melo,Jairo Antônio Silvério,João Batista Gomes SoaresJosé Afonso Soares,José Carvalhido Gaspar,José Luiz Fonseca Brandão,José Nalon de Queiroz,José Tasca,Luiz Henrique de Souza Pinto,Manuel Maurício Gonçalves,Márcio Abreu Lima Rezende,Mário Benedito Costa Magalhães,Melicégenes Ribeiro Ambrosio,Nelson Hely Mikael Barsam,Nilson Albuquerque Júnior,Paulo Mauricio Buso Gomes,Renato Assunção Rodrigues da Silva Maciel,Ricardo Hernane Lacerda G. de Oliveira,Ricardo do Nascimento Rodrigues,Roberto Paolinelli de Castro,Vera Helena Cerávolo de Oliveira.

Departamento de ComunicaçãoCláudia Navarro C.D.Lemos Paulo Maurício B. GomesMário Benedito C.MagalhãesVera Helena C.OliveiraRicardo do Nascimento Rodrigues

Programação visualFazenda Comunicação & Marketing

Tiragem39 mil exemplares ImpressãoLastro Editora FotografiaRR Foto Jornalista ResponsávelMarina Abelha - MG09718 JP RedaçãoMarina AbelhaNívia Rodrigues - MG 07703 JPLaura Zschaber – Estagiária de Jornalismo

Belo Horizonte,março/abril de 2011

Cons. Manuel Maurício GonçalvesPresidente do CRMMG

EditorialExpediente

Jornal do CRMMG

Cartas

Os médicos nunca estiveram tão insafisfeitos, e a saúde brasileira tão fragilizada, quanto nos dias atuais. Porém, palavras sem atitudes não trazem a solução. Torna-se imperativo o convencimento público da precariedade da situação da classe mé-dica e o diálogo com os nossos parlamentares.

O bem intencionado Programa Saúde Família (PSF), com seu incerto vínculo empregatício é, sistematicamente, regido pela política e por vezes pela politicagem. A base de contratações tempo-rárias e condições precárias de trabalho ilude o recém-formado. Os profissionais não estão apenas atrás de salários, pleiteiam estabilidade profissio-nal, valorização e melhoria nas condições laborais para que possam prestar atendimento digno e adequado à população.

É fundamental criar o plano de carreira de Médico de Estado (ou do SUS, ou qualquer outro nome que queiram dar). A exemplo do judiciá-rio, os profissionais são inicialmente direcionados para onde o governo achar conveniente, sob de-dicação exclusiva, mas com a garantia futura de transferência para a cidade almejada, com salários e aposentadorias dignas. Poucos tem ideia da si-tuação calamitosa de parte dos médicos aposenta-dos. O problema é estrutural.

A Emenda Constitucional 29, na qual a União deveria destinar integralmente 10% da arrecada-ção de impostos para a saúde, os Estados 12% e os Municípios 15%, precisa de tramitação e apro-vação urgente. Indispensável ainda a regulamen-tação da medicina através da Lei do Médico, a criaçao de um salário base para a categoria e o cumprimento integral da CBHPM.

Na saúde suplementar, a ANS (Agência Na-cional de Saúde) não faz valer a sua própria re-solução nº 71/2004, que comtempla os reajustes e a periodicidade dos hononários médicos. A ANS precisa exercer seu papel fiscalizador e exigir dos planos de saúde a execução da regulamentação.

Os médicos, por meio de de suas entidades e representantes eleitos no Congresso Nacional,

precisam participar efetivamente, pressionando para que o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secre-tarias Municipais de Saúde (Conasems) sejam in-cluídos nos debates.

De 2003 a 2009, o faturamento dos planos mé-dicos hospitares foi reajustado em 129% e o valor médio das consultas apenas em 44%. As operado-ras não repassam aos médicos os acréscimos dos valores cobrados aos usuários, que aliás, estiveram acima da inflação dos últimos 10 anos (133%, en-quanto o IPCA foi de 105%). Não adianta apenas queixar-se com colegas nos ambulatórios e corre-dores dos hospitais. Pouco resolve a FENAM, AMB e CFM “espernearem”, se o médico deprimido e apático se acomoda com a situação e não reage.

A categoria precisa estar unida e consciente da luta árdua que vem pela frente, caso contrário, chegaremos a uma situação deplorável tal qual a dos médicos argentinos. É necessário um movi-mento organizado, pautado na ética e na coragem.

Dessa forma, o atendimento das urgências e emergências médicas deve ser realizado indepen-dente do plano de saúde, porque nessas circuns-tâncias, a tabela é a nossa própria consciência.

Este é o ano decisivo para a situação do mé-dico. No Dia Mundial da Saúde (07 de abril) as entidades médicas demonstraram força, atitude e coesão. Houve mobilização em todo o país, em Minas Gerais obtivemos entre 70 e 90% de adesão. Contudo, chamou nossa atenção a falta de com-promisso de alguns setores, como a dos labora-tórios médicos e dos serviços de imagem, que não aderiram a paralisação.

Permaneceremos na expectativa de melhorias. Caso elas não ocorram, voltaremos a nos mani-festar, de maneira mais incisiva, unida e fortale-cida. Evidenciaremos as falhas e o descaso com a categoria médica e nossos pacientes, inclusive apontando os planos de saúde que agem como verdadeiros vilões, “atravessadores” da saúde da população brasileira.

Nada mudará sem aparticipação ativa e coesa dos médicos

Paralisação 2Parabéns.O CRM pode contar com o meu apoio (à

paralisação). Estamos no caminho certo. Qual será o próximo passo?

José Leir ParaizoCRMMG 15755 - Varginha - MG

RESPOSTA DO CRMMG: Conheça, nesta edição (páginas 8 a 11), os próximos passos do movimento em favor da valorização do traba-lho médico.

ParalisaçãoAo ilustre colega dessa instituição (CRMMG)

que nos rege como profissionais, o meu apoio incondicional (à paralisação). Aprendemos ser tolerantes, jamais submissos. Parabéns por tal iniciativa.

João Álvaro de OliveiraCRMMG 7.203

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Março / Abril de 2011 Jornal do CRMMG 3

O Conselho Regional de Medi-cina de Minas Gerais (CRMMG) realiza nos próximos dias 27 e 28 de maio, o I Fórum Brasileiro de Direito na Medicina. O evento con-tará com a participação de persona-lidades brasileiras, jurídicas e mé-dicas, debatendo sobre a prática da medicina na atualidade e sobre as questões judiciais inerentes, como responsabilidades civil e penal do médico, danos moral e material ao paciente e constitucionalidade dos tratamentos compulsórios.

“Nossa intenção é aprofundar os temas que começaram a ser discuti-dos, em Brasília, no ano passado”, destaca o presidente do CRMMG, Manuel Maurício Gonçalves, expli-cando que a ideia de fazer um novo evento sobre o tema veio devido a grande demanda do Congresso de Direito Médico realizado pelo CFM nos dias 2 e 3, de dezembro de 2010. “Muitos conselheiros quiseram se inscrever no evento em Brasília, mas não havia mais vagas. Decidi-mos continuar o debate em Minas”.

Os interessados em participar do evento poderão se inscrever pelo site do Conselho Regional de Me-dicina (www.crmmg.org.br). Para médicos em dia com o CRM do seu Estado, a inscrição é gratuita e para os demais profissionais, a taxa é de R$ 100 (cem reais). As inscrições po-derão ser feitas somente pelo site até o dia 20 de maio. Mais informações pelo telefone (31) 3248-7726 ou pelo email [email protected].

CRMMG realizaI Fórum Brasileirode Direito na Medicina

27/05/2011 (sexta-feira)8h – Inscrições e entrega de crachás8h30 – Abertura:

Carlos Vital T. Correa LimaVice-presidente do CFMManuel Maurício GonçalvesPresidente do CRMMG

9h00 às 9h40 – Palestra:Judicialização da saúdePresidente: Carlos Vital T. Correa LimaVice-presidente do CFMSecretário: Cibele Alves de CarvalhoConselheira e Tesoureira do CRMMGPalestrante: Milton NobreConselheiro do Conselho Nacional de Justiça

10h30 às 11h30 – Mesa Redonda:Requisição de prontuáriosmédicos pelas autoridades(juízes, promotores públicos edelegados de polícia) e osigilo profissionalModerador: João Batista Gomes Soares Conselheiro e 1º secretário do CRMMGSecretário: Mário Benedito Costa MagalhãesConselheiro do CRMMGPalestrantes:Giovanna Araujo da Cruz AttanásioPromotora do Ministério Público de Minas GeraisEduardo Machado da Costa Desembargador do Tribunal de Justiça de Minas GeraisJosé Alejandro BullónAdvogado do CFM

14h00 às 14h40 - Palestra:As repercussões dapropaganda médica naResponsabilidade CivilPresidente: Alcino Lázaro da SilvaConselheiro e coordenador do departamentode Coordenação das Delegacias do CRMMGSecretário: Ricardo Hernane Lacerda de OliveiraConselheiro do CRMMGPalestrante: Carlos Vital T. Correa LimaVice-presidente do CFM

15h00 às 15h40 - Palestra:O consentimento livre eesclarecido e aexclusão de ilicitudePresidente: Claudia Navarro C.D.LemosConselheira e coordenadora dodepartamento de Comunicação do CRMMGSecretário: Alexandre de Menezes RodriguesConselheiro e Corregedor do CRMMGPalestrante: Miguel Kfouri NetoPresidente do Tribunal de Justiça do Paraná

16h30 às 18h00 - Mesa Redonda:O médico frente aoCódigo Civil e ao Códigodo ConsumidorModerador: Cícero de Lima Rena Conselheiro e 3º secretário do CRMMGSecretario: José Luiz Brandão Conselheiro e 2º secretário do CRMMGPalestrantes:Evandro França MagalhãesAdvogado e ex-Juiz de Direito – Belo HorizonteJurandir SebastiãoEx-Juiz de Direito – Uberaba

28/05/2010 (sábado)

8h00 às 8h40 - Conferência:A defesa do médico emnível administrativo,civil e penalPresidente: Itagiba de Castro FilhoConselheiro e 2º vice-presidente do CRMMG Secretário: Márcio Abreu Lima RezendeConselheiro do CRMMGPalestrante: Fernando Mitraud RuasAdvogado - Belo Horizonte

9h00 às 9h40 - Conferência:A constitucionalidade dostratamentos compulsórios:autonomia X omissãode tratamentoPresidente: Roberto Paolinelli de CastroConselheiro e 1º vice-presidente do CRMMG Secretário: Vera Helena Cerávolo de OliveiraConselheira e 2ª vice-tesoureira do CRMMGPalestrante: Eduardo MendonçaAdvogado - Rio de Janeiro

11h00 às 12h30 - Mesa Redonda:Os limites da responsabilidadecivil médica: penas eantecipação de tutelasModerador: André Lorenzon de OliveiraConselheiro do CRMMGSecretário: Melicégenes Ribeiro AmbrósioConselheiro do CRMMG Palestrantes:Antonio Carlos RoselliAdvogado da OAB-SPMarcelo de Oliveira MilagresPromotor de Justiça de Minas GeraisFrederico Ferri Resende Procurador do CRMMG

Conheça a programação do evento:

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Jornal do CRMMG4 Março / Abril de 2011

Até onde vai aresponsabilidade do médico?

I FórumBrasileiro de Direito na Medicina

Consentimento Livre e Esclarecido

Não existe modelo de termo de consenti-mento ideal, pois o documento deve ser perso-nalizado de acordo com os procedimentos e o paciente. Conheça algumas especificidades:

Características• Pessoal

• Texto não genérico• Caráter revogável e renovável

Considerações• Personalidade do paciente

• Grau de entendimento e influências cultu-rais e religiosas do paciente

• Natureza do tratamento proposto• Magnitude de possíveis consequências negati-

vas e riscos• Alternativas de tratamento

Fonte: Parecer CFM nº 45 / 10

“Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém”. A frase do Juramento de Hipócrates trata de um tema recorrente quando se deba-te Medicina e Direito: a responsabi-lidade do médico, como profissional liberal, na atuação da sua atividade. O assunto é extenso e perpassa por várias mesas redondas e paletras do 1º Fórum Brasileira de Direito na Medicina, que o CRMMG realiza nos dias 27 e 28 de maio.

Segundo o Código de Ética, no capítulo sobre Responsabildia-de Profissional, a responsabilida-de médica é sempre pessoal e não pode ser presumida, ou seja, não pode ser admitida como verdadeira em razão das aparências. Para o juiz aposentado e professor de Direito, Jurandir Sebastião, “é preciso que o médico fique atento aos deveres sociais e profissionais, que se pre-ocupe com a evolução da Ciência Médica e com a singularidade do paciente, permanentemente”.

O presidente do Tribunal de Justi-ça do Paraná, desembargador Miguel Kfouri Neto, ao falar sobre a respon-sabilidade do médico para o portal do CFM, explica que “é chegada a

hora de se ampliar essa discussão, por meio do diálogo constante entre profissionais da medicina, do direito, administradores de hospitais, planos de saúde, clínicas, laboratórios e en-tidades governamentais que atuam na área da saúde”. Sobre o limite des-sa responsabilidade, ponderou que “ainda se mantém o princípio hipo-crático: o médico sempre deve atuar no sentido de fazer o bem ao doente, nunca com a intenção de lhe causar qualquer mal. Primar pela conduta eticamente correta - como preconiza o seu Código - é outra recomendação a ser observada”.

LegislaçãoO Código de Defesa do Consu-

midor (CDC) e o Código Civil são algumas das normas jurídicas que tratam da relação médico-paciente. Para o CDC, o médico, como profis-sional liberal, adequa-se ao conceito de fornecedor por “desenvolver ati-vidade de prestação de serviços”. Configura-se, nesse caso, uma rela-ção de consumo cuja responsabilida-de é subjetiva, o que reclama a prova da culpa do médico, na modalidade imprudência, negligência ou imperí-cia em procedimento cirúrgico ou no tratamento do paciente.

Segundo o Código Civil, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, vio-lar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O Código de Éti-ca Médica ainda completa: “deixar de assumir a responsabilidade de qualquer ato profissional que tenha praticado ou indicado, ainda que so-licitado ou consentido pelo paciente ou por seu representante legal”.

Jurandir Sebastião explica que, tanto o Código Civil, como o Códi-go de Defesa do Consumidor, ob-jetivam o equilíbrio das obrigações decorrentes da complexidade das relações humanas e a proteção, em primeiro plano, de quem não pode se defender. “Na Justiça, para o con-vencimento se a culpa é do médico, do próprio paciente, ou ocorrência de caso fortuito ou fatalidade, cada qual das partes deve fazer as provas ao seu alcance. Todos sabem que o paciente tem mais dificuldade em provar o erro do médico, do que o médico provar o acerto de sua conduta. Essa realidade deságua na adoção de presunções processu-ais e distribuição especial do ônus da prova, tanto no processo admi-nistrativo, como no judicial, civil”.

CLE formaliza paciente sobre riscos

I Fórum Brasileiro de Direito na Medicina27/05/11 - sexta-feira – 15h às 15h40

O consentimento livre e esclarecido e a exclusão de ilicitudeMiguel Kfouri Neto - Presidente TJPR

27/05/11 - sexta-feira – 16h30 às 18hO médico frente ao Código Civil e ao Código do Consumidor

Evandro França Magalhães – ex-Juiz de Direito – BH/MGJurandir Sebastião – Juiz aposentado – Uberaba / MG

O consentimento livre e esclarecido (CLE) é a permissão do paciente para que se execute procedimento médico durante o atendimen-to. Em parecer recente sobre o uso do CLE em hospitais-escola, o Conselho Federal de Medicina defende, antes de tudo, a boa rela-ção médico – paciente, por meio do respeito à autonomia da pessoa atendida e da confiabili-dade das informações. E, ao contrário do que muitos pensam, o termo não exclui eventual responsabilidade médica.

O parecer CFM explica que a autorização por escrito, em regra, deve ser solicitada em caso de procedimento invasivo ou que possa gerar alguma complicação. O conselheiro re-lator, Jecé Brandão, recomenda o registro no

prontuário da autorização verbal dada pelo paciente. “O que sempre se pede é que o pro-fessor seja competente e cuidadoso para que, nestes momentos, possa exercer seu dever de assistência e ensino, com a participação do acadêmico, num clima de respeito absoluto à pessoa do paciente e sua dignidade”.

O Código de Ética Médica reafirma, no seu artigo 4º, que o médico, mesmo que autorizado por paciente ou representante legal, tem responsabilidade sob seus atos profissionais. Isso significa que o termo não exclui a responsabilidade do profissional perante o ato médico, porém, segundo o pa-recer “protege a autonomia e a dignidade devidas ao paciente”.

“É chegada a hora de se ampliar essa

discussão, por meio do diálogo constante entre profissionais da medicina, do direito,

administradores de hospitais,

planos de saúde, clínicas, laboratórios

e entidades governamentais que

atuam na área da saúde”.

Miguel Kfoury Neto,Presidente TJ-PR

Page 5: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMG 55Março / Abril de 2011

Garantir resultados, anunciar o uso de técnicas exclusivas e se autopromover são alguns dos erros mais comuns cometidos pelos médicos, quando o assunto é publici-dade. Os profissionais da área, assim como as clínicas e hospitais, devem estar sempre atentos às resoluções do Conselho Regio-nal de Medicina (CRMMG), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e às regras pre-vistas no Código de Ética Médica (CEM) que dizem respeito à divulgação dos servi-ços prestados. Do contrário, correm o ris-co de infringir as normas, podendo sofrer penalidades que vão desde advertência confidencial à cassação do exercício profis-sional. O tema será abordado na palestra “As repercussões da propaganda médica na responsabilidade civil”, proferida pelo vice-presidente do CFM, Carlos Vital, no I Fórum Brasileiro de Direito na Medicina, que acontece em maio.

“O artigo XIII do Código de Ética Médi-ca define diversos parâmetros em relação à divulgação dos serviços médicos nos meios de comunicação em geral. Ao elaborar a sua propaganda seja na mídia impressa, televi-siva, radiofônica ou online, ele tem o dever de conhecer os preceitos éticos emanados pelos conselhos”, afirma o conselheiro do CRMMG e membro da Comissão de Fisca-lização da Publicidade Médica da entidade, Roberto Paolinelli.

Segundo o conselheiro, o órgão recebe, em média, de cinco a seis solicitações de pareceres acerca da veiculação de publici-dade médica por semana. Ele acredita que os cursos realizados pelo Conselho sobre o tema aumentaram a conscientização da classe médica em relação aos cuidados que devem ser tomados nesta questão. “Não temos estatísticas a respeito de publicações indevidas, mas pelo aumento de consultas ao Conselho, infere-se que existe uma maior preocupação de se enquadrar nas normas regidas pelo código”.

Dentre as diretrizes previstas no CEM, Roberto considera a divulgação clara dos nomes dos responsáveis como a mais im-portante. “Qualquer divulgação de publi-cidade médica deve conter sempre o nome

Erros e consequências do uso da propaganda médica irregular

I Fórum Brasileiro de Direito

na Medicina

I Fórum Brasileiro de Direito na Medicina27/05/11 – sexta-feira - 14h às 14h40

As repercursões da propaganda médica na Responsabilidade CivilCarlos Vital T. Correa Lima – 1º vice-presidente do CFM

do médico, sua inscrição no CRM e especia-lidade, quando devidamente registrada. No caso de clínicas e hospitais, é obrigatória a inclusão do nome do diretor técnico, ende-reço e telefone da instituição que divulga a propaganda”, ressalta.

Irregularidades Serviços de consulta, diagnóstico e pres-

crição médica realizados por meio de co-municação é um exemplo de publicidade irregular que tem sido muito discutido pe-los conselhos. Sobre o artigo 37 do código de ética do CFM, que diz que “o atendi-mento à distância dar-se-á sob regulamen-tação do CFM”, o terceiro vice-presidente do CFM, Emmanuel Fortes Silveira explica que há uma má interpretação da resolu-ção. “O atendimento à distância também está previsto em nossos dispositivos e diz respeito à Telemedicina. Há evidentes res-trições a seu uso e ela jamais substituirá a relação presencial”.

Segundo ele, os serviços do tipo “dis-que-médico” foram censurados e ganha-ram uma atenção maior na reformulação da Resolução 1701 (que estabelece os cri-térios norteadores da propaganda em me-dicina). “Eles serão proibidos porque dão margem para que a sociedade pense que este contato substitui a relação médico/paciente/familiares”, justifica Emmanuel, que também é coordenador da Comissão Permanente de Divulgação de Assuntos

Médicos (Codame) e do Departamento de Fiscalização do CFM.

Do ponto de vista civil, o procurador do CRMMG, Frederico Ferri, alega que as propagandas do tipo “disque-médico” po-deriam incitar o paciente a procurar por atendimento via telefone, sob os falsos ar-gumentos da facilidade, rapidez e eficiên-cia. “Eventuais prejuízos materiais e morais suportados pelo paciente, a partir desse ser-viço, poderiam ser ressarcidos por meio de ação judicial de indenização”, afirma.

Penalidades civisDe acordo com Frederico, além da res-

ponsabilização ética, apurada pelos conse-lhos regionais de medicina, o médico, ao se utilizar indevidamente da publicidade, pode causar prejuízos financeiros ou morais ao seu paciente. “Os atos médicos advindos da publicidade irregular podem causar ao paciente desde danos materiais, como preju-ízos financeiros e no patrimônio da vítima, até danos morais, como prejuízos na ima-gem, na intimidade e na vida privada dele”.

Nesses casos, a indenização a ser paga pelo médico será definida pelo juiz da ação, que levará em conta as circunstâncias do fato noticiado. “A responsabilidade civil do médico será examinada em um proces-so judicial, que investigará o dano causado ao paciente (prejuízo sofrido), a culpa do médico (intenção de causar esse prejuízo) e o nexo de causalidade (relação entre a conduta do profissional e o dano sofrido)”, explica o procurador.

No dia 31 de março, o CFM fez uma reunião para discutir diretrizes mais rigo-rosas para a publicidade médica. Confor-me Emmanuel Fortes Silveira, o Conselho definiu providências quanto à persistência da transgressão por parte de muitos médi-cos que insistem em anunciar o que a justi-ça já assegurou ser ilegal. “O subjetivismo de alguns aspectos da Resolução 1701 pe-dia uma definição mais clara para evitar a burla”, ressalta.

Além de regrar os modelos de papela-ria para receituário, formulários em geral e prontuários, as novas medidas darão discipli-namentos específicos às mídias televisivas e radiofônicas, e às fontes usadas nas propagan-das. “No manual, por exemplo, vamos definir o tamanho das letras em relação ao maior tipo do material publicitário para que se torne vi-sível o nome do diretor técnico médico, coisa que hoje, em alguns anúncios é quase invisí-vel”, argumenta o coordenador da Codame.

CFM discute reformulação

Page 6: Jornal CRMMG 34

Março / Abril de 2011Jornal do CRMMG6

O médico, em outras épocas, era portador de um status advindo de sua cultura e de sua condição fi-nanceira. Para ingressar em uma faculdade de medicina ele passava por um crivo extremamente exi-gente. Ele saia da faculdade com conhecimento bastante para exer-cer a profissão.

O médico era um profissional liberal. Seu serviço era pago pelo paciente, e por ser pago, seu traba-lho tinha muito valor. Os tempos mudaram. A proliferação de escolas de medicina permite, hoje, a entra-da de estudantes cuja formação é extremamente comprometida, a co-meçar pelo conhecimento da língua portuguesa. Portanto, em termos de cultura, o médico hoje, de um modo geral, deixa muito a desejar.

O ganho financeiro também mu-dou. O médico hoje ganha muito menos que muitos outros profissio-nais, com cada vez mais raras exce-ções. No entanto, ele ainda mantém o status. Na crença popular, médico é rico. Com isto, qualquer serviço oferecido aos médicos é mais caro.

A mudança na situação do mé-dico ocorreu com a necessidade de dar às classes mais pobres o direi-to à assistência médica, surgindo, em 1977, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), ficando restrita aos empregados que contribuís-sem com a Previdência Social. Os demais eram atendidos apenas em hospitais filantrópicos e eram cha-mados de indigentes.

O médico e oOs valores pagos pelo INAMPS

eram razoáveis, mas para o usuário, o direito era apenas para internação em quarto coletivo. Alguém, com bom senso, implantou a chamada complementação. O paciente podia escolher uma acomodação melhor e pagar a diferença do particular. Era ótimo, pois atendia ao usuário e aos médicos. Durou pouco e foi proibida tal cobrança. Em 1990, por força do disposto no artigo 198 da Constituição Federal, foi extinto o INAMPS. Em seu lugar foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS) para que toda a população brasileira tivesse acesso ao atendimento pú-blico de saúde, considerando que “A saúde é um direito de todos”, como afirma a Constituição Fede-ral. Naturalmente, entende-se que o Estado tem a obrigação de prover atenção à saúde. Assim, chegamos à situação atual.

Hoje, o médico para sobreviver tem que depender do trabalho pago pelo SUS e pelos planos de saúde. As condições de trabalho já são por demais conhecidas, como plantões seguidos, vários empregos e con-sultórios superlotados, para render alguma coisa no final do mês. O pa-ciente, insatisfeito, não culpa o sis-tema, mas o médico, pela demora no atendimento, pela dificuldade de marcação de exames, pela bai-xa qualidade dos outros profissio-nais envolvidos (que também são mal remunerados). E daí ocorrem ameaças, denúncias e péssimo rela-cionamento entre o médico e o pa-

ciente que, com certeza, interfere na resposta ao tratamento.

A população não entende o pro-cesso, pois paga caro pelo plano de saúde e acredita que o médico é pago na mesma proporção. Quanto ao SUS, na medida em que o go-verno diz que o sistema é perfeito e que funciona muito bem, acredita que está muito bom também para os profissionais, dos quais o SUS depende para funcionar. No entan-to, para o governo, o SUS é o siste-ma, não os profissionais.

Solução urgenteTudo isto já foi exaustivamen-

te discutido em seminários, mesas redondas e outros canais. Solução à vista? Nenhuma. Como a classe médica e os órgãos de classe já can-saram, parece que chegou a vez de colocar a população ao nosso lado. Quem sabe se conhecessem as ta-belas de pagamentos do SUS, terí-amos aliados e não inimigos. Quem sabe, para obedecer ao Código de Ética Médica (Para exercer a Medi-cina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa.), em um ato de heroísmo, os médicos só atendessem urgências/emergên-cias. Numa simples tentativa de es-tabelecer uma tabela de orientação de pagamentos, a CBHPM, houve acusação de formação de cartel. Houve até tentativa de colocar o

“Asaúde é um

direito de todos”

Consa Vera Helena Cerávolo de OliveiraCRMMG 4.912

Page 7: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMGMarço / Abril de 2011 7

surgimento do SUSatendimento médico em uma rela-ção de consumo, que felizmente foi revogada. E assim, a classe médica vive o dilema que martela o tempo todo em nossa cabeça: medicina é sacerdócio. Claro, mas sacerdócio é ter amor ao que faz, é ter compre-ensão para com a dor do paciente, é se manter atualizado para fazer sempre o melhor. E, principalmen-te, ter a tranquilidade de saber que, com o pagamento de seu trabalho, poderá viver com dignidade.

E a solução? Melhorar a tabela do SUS. Parece algo impossível. E, na verdade, a classe médica tra-balha confrontando o CEM (preço vil por seu serviço). O grande pro-blema é que hoje, ao contrário de antigamente, que além de pagar o médico, o paciente tinha enorme gratidão pelo profissional, o direito do paciente é ilimitado, direito este dado até pela constituição (saúde, direito de todos), não há agradeci-mento (ele recebe para isto, tem obri-gação de me atender) e por qualquer pequena insatisfação, muitas vezes até infundada, ele denuncia o mé-dico. Vejam o exemplo da obste-trícia (campeã de denúncias). Re-cebendo R$159,82, por um parto, por qualquer motivo o médico é denunciado, com pedido de inde-nização na justiça civil, enfrentan-do processo na justiça criminal e no CRM. Para pagar as despesas do advogado, muitas vezes ele preci-

sa fazer 20 partos. E o sofrimento, o desgaste emocional e a perda de tempo? Pois bem, pensou-se em uma saída: a Carreira do Médico do SUS (veja box sobre o assunto).

Na nossa inocência, pensamos que votar em deputados médicos pudesse nos ajudar em instâncias maiores. Ledo engano. Um exem-plo é o Ato Médico, que até passou pela Câmara dos Deputados, mas jaz emperrada no Senado.

Melhor seria então que a clas-se médica assumisse a resolução

de seus problemas. Estamos com tudo na mão. O que seria do SUS sem o médico? O que seria dos planos de saúde sem o serviço do médico? Mas, na verdade, isto só funciona na teoria, pois continuamos a mercê do siste-ma, como se não tivéssemos ou-tra saída.

Bom seria se voltássemos no tempo, em que o médico era bem pago pelo particular e quem não tinha condições era atendido com dignidade.

Tabela SUS Itens do dia a dia

APENDICECTOMA – incluindo o anestesista R$161,03, Valor médio do advogado para defesa de suspeita de erro médico R$3.600,00

COLPOSCOPIA R$ 3,38 Inscrição em Congresso Internacional de Colposcopia R$1980,00

CESARIANA – incluindo a equipe R$150,05 Inscrição no Congresso Mineiro de Gine-cologia e Obstetrícia – (para não sócios) R$935,00

PARTO NORMAL R$ 159,82 Livro de Cirurgia Ginecológica R$769,00

COLECISTECTOMIA R$146,99 Cesta básica, Dezembro de 2010, em BH – (DIEESE) R$236,24

HERNIOPLASTIA INGUINAL BILATERAL R$146,96 Jogo de pneus novos R$948,00

HISTERECTOMIA VAGINAL R$ 183,41 Show Nei Matogrosso no Grande Teatro do Palácio das Artes R$160

CURETAGEM PÓS ABORTO R$ 67,06 Mensalidade faculdade particular de medicina (média em MG) R$3.500,00

AMIGDALECTOMIA R$183,41 Mensalidade escola particular Belo Hori-zonte (3º ano) R$750,00

ANALGESIA OBSTÉTRICA R$ 48,30 Mensalidade assinatura jornal de grande circulação MG R$55,90

CIRURGIA DE ALTA FREQUÊNCIA NO TRATO GENITAL INFERIOR R$ 37,70 Escova progressiva R$300,00

ULTRASONOGRAFIA OBSTÉTRICA R$ 20,00 Entrada Cinema (média) R$15,00HISTERECTOMIA TOTAL –, incluindo anestesista e auxiliar R$ 221,71 Mensalidade academia (média) R$150,00

CONSULTA ESPECIALIZADA R$ 10,00 Almoço centro de BH (média) R$10,00

Comparativo

Entenda o projeto

Tramita na Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 362/09, que inclui na Cons-tituição a obrigatoriedade de implantação de plano de carreira e de piso salarial para os tra-balhadores do Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta engloba todos os profissionais do SUS, tanto os de formação específica como os sem esse tipo de formação, porque todos são necessários para o funcionamento adequado do sistema. “Não será preciso que cada categoria de traba-lhadores de saúde seja objeto de proposições específicas, evitando uma excessiva fragmenta-ção da legislação”, explica o deputado Maurício Rands, autor da proposta. Ela ainda estabelece que os trabalhadores do SUS ingressarão no sis-tema por meio de concurso público, exceto no caso dos agentes comunitários de saúde, que po-

derão participar de seleção pública. Segundo o autor do projeto, a construção de carreiras para os trabalhadores do SUS é fundamental para o desenvolvimento do sistema e não deve mais ser adiada. Por diversas vezes, lembra ele, as tentati-vas de elaboração de um plano foram frustradas, como em 1990, durante a elaboração da Lei Or-gânica da Saúde (8.080/90).

Na época, o presidente da república vetou os artigos referentes ao plano de carreira. “Ao lado de problemas como o financiamento insu-ficiente, a pouca atenção oferecida a uma polí-tica de recursos humanos para o SUS também precisa ser enfrentada, para que a qualidade da atenção à saúde melhore”, diz o deputado Maurício Rands. Com a PEC, o autor espera combater as “condições indignas de remunera-ção”, uma das causas da ineficiência dos servi-ços públicos de saúde.

Page 8: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMG8 Março / Abril de 2011

“O resultado da paralisação foi surpreendente, com adesão maci-ça. Concluímos que a participação do CRMMG foi fundamental para participação dos médicos”, essa é a avaliação do presidente do Conse-lho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG), Manuel Maurí-cio Gonçalves, sobre a inédita para-lisação nacional dos médicos, que suspenderam, no dia 7 de abril, as consultas e os procedimentos cus-teados pelos planos de saúde em protesto contra a maneira desres-peitosa que médicos e pacientes são tratados. A análise é que o mo-vimento paralisou 80% do atendi-mento, porém, todos os casos de urgência e emergência receberam a devida assistência.

“A mobilização da categoria re-flete nossa luta em defesa da valo-rização do trabalho do médico, da prática segura da medicina e de um atendimento de qualidade à popu-lação. É urgente a necessidade de regularização dos contratos entre operadoras, médicos e a inclusão de cláusulas de periodicidade e cri-térios de reajuste bem definidos”, diz o presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed--MG), Cristiano da Matta Machado.

Realizada no dia 7 de abril, dia Mundial de Saúde, a suspensão foi uma iniciativa das três entida-des médicas nacionais: Associa-ção Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina e Federação Nacional dos Médicos, com apoio de seus representantes em Minas Gerais: Associação Médica, Con-selho Regional de Medicina e Sin-dicatos dos Médicos. “Apoiamos a paralisação por considerar justo o protesto contra a forma com que os médicos e os pacientes estão sendo tratados pelas gestoras de planos de saúde. A diminuição dos gastos a qualquer custo, via de regra, be-neficia as empresas em detrimento dos médicos e segurados. A relação médico-paciente está sendo massa-crada. Os médicos nunca estiveram tão insatisfeitos e nem a saúde tão

Planos de Saúdeprecária. Por isso, é imperativo o conhecimento público da situação da medicina suplementar”, explica Manuel Maurício Gonçalves, presi-dente do CRMMG.

Pesquisa realizada pelo Data-folha revela que 92% dos médicos credenciados reclamam que as ope-radoras interferem nos diagnósticos e nos tratamentos dos pacientes. “A paralisação foi um alerta aos planos de saúde que os médicos estão in-satisfeitos com a situação”, declara a conselheira do CRMMG, Cibele Alves de Carvalho. Hoje, muitos planos de saúde recusam procedi-mentos que só os médicos podem decidir se são ou não necessários.

“Os planos de saúde interferem diretamente no trabalho do médi-co: criam obstáculos para a solicita-ção de exames e internações, fazem pressão para a redução de procedi-mentos, a antecipação de altas e a transferência de pacientes”, escla-rece o presidente do CRMMG.

DiretrizesAlém da melhoria na qualidade

do atendimento aos usuários, o mo-vimento tem outras diretrizes, que são: organizar a luta por reajustes de honorários; exigir a regulariza-ção dos contratos entre operadoras e médicos, já que muitos contratos são irregulares, sem cláusulas de periodicidade e critérios de reajus-tes, contrariando determinação da Agência Nacional de Saúde Suple-mentar (ANS); e romover ações no Congresso Nacional, visando à aprovação de projetos de lei que contemplem a relação entre médi-cos e planos de saúde.

“Os médicos, em sua luta por remuneração e condições de tra-balho, chegaram ao seu limite sem conseguir negociar com as opera-doras de plano de saúde”, explica, José Carlos Vianna Collares Filho, presidente da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG).

Os contratos entre as operado-ras e os médicos também são irre-gulares, estão em desacordo com

as normas estabelecidas pela Agen-cia Nacional de Saúde Suplementa (ANS). Nos últimos dez anos, os re-ajustes dos honorários médicos fo-ram irrisórios, enquanto os planos aumentaram suas mensalidades bem acima da inflação.

Novos protestosA maior parte dos médicos rece-

be de R$25 a R$40 por consulta, valor que as entidades de classe querem elevar a pelo menos R$60. O presi-dente do CRMMG argumentou que há operadoras de planos de saúde pagando aos médicos R$22 a R$23 por consulta, além de só efetuarem o repasse de três a seis meses depois de o cliente ter efetuado o pagamento pelo serviço. “Se não houver uma res-posta adequada dos planos de saúde, nós vamos partir para demonstra-ções mais efusivas”, afirmou. P

aral

isaç

ãoMédicos mostram união

O presidente do CRMMG,Manuel Maurício Gonçalves, durante ato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais

Page 9: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMG 9Março / Abril de 2011

tem grande adesãoComissão de defesa doconsumidor daALMG apoia médicos

Na manhã do dia 29 de março, a Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa de Minas Gerais recebeu médicos, dentistas e repre-sentantes de operadoras de planos de saúde para debaterem a paralisação da classe médica. Na ocasião, os deputa-dos se posicionaram a favor dos médi-cos e prometeram apoiar o movimento.

O presidente da Comissão de De-fesa do Consumidor, deputado Dé-lio Malheiros, se posicionou a favor da classe médica, afirmando que a população também precisa prestar seu apoio aos médicos que atendem nos planos de saúde. Malheiros con-vidou os presentes a se encontrarem também no dia 7 de abril, às 10h, na Assembleia, em forma de protesto.

Duas operadoras de plano de saúde participaram da reunião. A operadora Amil, representada pela médica Renata Faria, em nome de seu presidente, Emerson Fidelis, disse que a operadora está aberta ao diálogo com entidades de classe e com cada um dos médicos. Repre-sentando o presidente da Bradesco

Saúde, Araújo Coriolano, o con-sultor José Cechin apresentou da-dos sobre como a operadora paga a classe médica, dando a entender que os médicos não teriam proble-ma com a remuneração e reajustes.

O deputado Adelmo Carneiro Leão pediu a palavra e se opôs ao dis-curso da Bradesco Saúde. Para Leão, os médicos não reivindicariam em vão. Os deputados Délio Malheiros e Liza Prado, respectivamente presi-dente e vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, solicita-ram que seja encaminhado à ANS pedido de providências para criar Conselhos de Defesa do Consumidor a fim de facilitar a administração dos conflitos existentes entre as partes en-volvidas na relação de consumo.

O gerente do Procon Assem-bleia, Gilberto Dias de Souza, ex-plicou a legitimidade das reivin-dicações dos médicos quanto à remuneração, afirmando que “não é necessário ser matemático” para encontrar a falha na relação entre a classe médica e operadoras de plano de saúde. “A ANS precisa regulamentar essa relação, senão o consumidor de plano de saúde vai continuar pagando caro por outra modalidade do SUS”, defendeu.

e protesto contra

Representantes da AMMG, CRMMG e Sinmed em encontro com os deputados na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no dia da paralisação

É louvável tal manifestação e realmente temos que nos unir. A verdade é que os planos de saúde dependem muito dos médicos para cumprir o que eles propõem. Sem esta mão de obra, ficam numa situação delicada e reféns dos nossos serviços. 

Como pediatra e coordenador de equipe, passei por dificuldades para conseguir colegas de trabalho para montar escalas de plantões, para que não houvesse furos de escala. 

Saímos de uma realidade de pagamento de R$ 25,00 a hora do plantão, em terapia intensiva, há dois anos, para atuais R$ 75,00 a hora, com muitas reuniões com as próprias operadoras, individualmente, uma a uma, para aumentar os nossos honorários.

Cláudio PachecoCRMMG 24.448

Parabéns, por esta luta! Vocês estudam, durante toda a vida, a favor de um melhor atendimento médico, abdicam do lazer e da família para salvar vidas e dar conforto aos pacientes. Merecem ter remuneração digna e boas condições de trabalho. Não desistam!

Isabella de Azevedo Generoso eMaria da Conceição de Azevedo Generoso

Nossos cumprimentos pela luta do dia 7 (de abril). Vocês estão certos. É inadmissível que a classe médica fique a mercê da ganância de pessoas que não têm o mínimo respeito e compromisso com a saúde. Sabemos da luta e do sacrifício para se formar um médico. Já formado, dobra-se a dedicação aos estudos, o respeito, o esforço, a renúncia ao lazer, ao convívio com os seus, sacrificando a própria saúde em prol do maior patrimônio do ser humano: A SAUDE. Parabéns!

Geraldo Generoso e família

CRMMG recebe manifestações de apoio

Page 10: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMG10 Março / Abril de 2011

Movimento vitorioso e com grande participação dos médicos. Com essa análise o Conselho Fe-deral de Medicina concluiu a pa-ralisação e já se estrutura para as próximas ações com foco na valo-rização do trabalho médico e da assistência em saúde oferecida pe-los planos de saúde.

“Atingimos nosso objetivo com o protesto de 7 de abril. O alerta foi dado às operadoras de planos de saúde e à sociedade com relação aos problemas percebidos pela ca-tegoria médica. De agora em dian-te, esperamos que seja feita uma negociação real pelas empresas para acabar com a defasagem dos honorários e a interferência na au-tonomia dos profissionais”, avaliou o coordenador da Comissão Nacio-nal de Saúde Suplementar (Comsu) e 2º vice-presidente do CFM, Aloí-sio Tibiriçá Miranda.

Nas próximas semanas, lide-ranças médicas se reunirão para reavaliar o andamento das nego-ciações com os representantes dos planos de saúde. Este trabalho será conduzido pelas entidades médi-cas em nível regional. Está previs-ta a realização de uma audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir o tema e encontrar uma solução. “Se nada acontecer, vamos reunir e radicalizar o movi-mento, com descredenciamento de médicos e a nominação das opera-doras mais antiéticas de cada esta-do. Vamos dar publicidade a quem atende mal no País”, afirmou Aloí-sio Tibiriçá Miranda.

Os conselheiros federais de Mi-nas Gerais, Hermann Alexandre Tiesenhausen e Alexandre Mene-zes Rodrigues, em nota enviada aos médicos do Estado, reafirma-ram a legitimidade da movimen-tação da classe sobre os seus direi-tos e a importância de avançar nas reivindicações. “Como represen-tantes eleitos junto ao Conselho Federal de Medicina, entendemos que já passou da hora de sairmos dessa inércia e iniciarmos a luta por condições dignas de trabalho e melhor remuneração (...). Enten-demos que, em seguida, a luta se estenda também aos SUS”.

CFM já parte para novas ações a favor da valorização do trabalho médico

A nota retrata a importância da paralisação “visto que os valores da CBHPM, 1º edição, implantados em agosto 2003 tiveram, nesses oito anos, aumentos discretos nas con-sultas e aumentos irrisórios nos va-lores de procedimentos

DadosLevantamento realizado pela As-

sociação Médica Brasileira (AMB), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), apresenta-dos durante a coletiva, comprovam a desregulação econômica na área da saúde suplementar. No período de 2000 a 2009, os reajustes autori-zados para os planos de saúde acu-mularam 133%. Este dado é 23 pon-tos percentuais maior que os 106% registrados no mesmo período pelo

Índice Nacional de Preços ao Con-sumidor Amplo (IPCA).

No Brasil, os planos e seguros de saúde são responsáveis diretos pelo atendimento de 45,5 milhões de pes-soas. Atualmente, há 1.044 empresas em atividades, que responderam, em 2010, por um movimento estimado em R$ 70 bilhões. O número de mé-dicos que atendem pelos planos é de, aproximadamente, 160 mil, sendo que eles realizam anualmente em torno de 223 milhões de consultas e respondem por 4,8 milhões de inter-nações. Os dados levantados pela Co-missão de Saúde Suplementar, que junta representantes da Associação Médica Brasileira (AMB), do Con-selho Federal de Medicina (CFM) e da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) quantificam a abrangência da paralisação de 7 de abril. Confira, abaixo, os números do setor.

Fonte: APM/Datafolha – Pesquisa Nacional

Comparativo faturamento dos planos de saúde x valores pagos por consulta

Ano Faturamento anual dos planos mé-dico-hospitalares (em R$ bilhões)

Valor médio pago por uma consulta médica (em R$),

segundo a ANS

2003 28.0 28,00

2004 31.6 30,00

2005 36.4 31,38

2006 41.1 33,37

2007 50.7 36,91

2008 59.1 40,30

2009 64.2 40,23

Crescimento(%) 129 % 44 %

Fonte: ANS. Os valores de consultas de 2003 e 2004 foram apurados pelas entidades médicas. Os demais são dados oficiais da própria ANS.

Principais interferências dos planos no trabalho médico Total %

Glosar (rejeitar a prescrição ou cancelar pagamento) de procedimentos ou medidas terapêuticas 78

Limitar número de exames ou procedimentos 75

Restringir ( limitar cobertura) doenças pré-existentes 70

Autorizar atos diagnósticos e terapêuticos somente mediante a designação de auditores 70

Interferir no tempo de internação de pacientes (determinar alta hospitalar antes da hora) 55

Negar a prescrição de medicamentos de alto custo 49

Interferir no período de internação pré-operatório ( não permitir, por exem-plo, a internação na véspera da cirurgia) 48

Nenhuma 6

Base (número de médicos entrevistados) 2184

“Atingimos nosso objetivo

com o protesto de 7 de abril. O alerta foi dado às operadoras

de planos de saúde e

à sociedade com relação

aos problemas percebidos

pela categoria médica”.

Aluízio Tibiriçá Miranda

Páginado CFM

Page 11: Jornal CRMMG 34

Comunicamos que no dia 7 de abril de 2011, quin-ta-feira, ocorrerá o “Dia Nacional de Paralisação do Atendimento aos Planos de Saúde”. Esse movimen-to, organizado nacionalmente pela AMB/CFM/FE-NAM, pretende mobilizar os médicos que atuam na saúde suplementar, objetivando a melhoria do valor dos honorários, bem como das condições estabeleci-das nos contratos firmados com os planos de saúde. Cumpre informar que os atendimentos de urgência e emergência serão mantidos.

Veja-se que a situação objeto da paralisação reflete, diretamente, no atendimento dispensado aos pacien-tes, uma vez que a baixa remuneração tem levado al-guns médicos especialistas a se descredenciarem dos planos de saúde.

Por oportuno, noticiamos ainda outros desvios pra-ticados pelos planos de saúde que interferem, direta-mente, nos direitos dos usuários do serviço, bem como no atendimento dispensado a esses pelos médicos.

Não há, hoje, nos planos de saúde, central de leitos capaz de encaminhar os usuários aos serviços dispo-níveis, o que obriga o próprio paciente a procurar por leito de internação, além de enfrentar dificuldades quando da marcação de procedimentos especiais.

Por outro lado, não há transparência quanto aos critérios utilizados pelas operadoras e pela Agên-cia Nacional de Saúde Suplementar - ANS - para o aumento do valor nos planos de saúde. Veja-se, ain-

da, que parte desses reajustes não é repassada aos médicos conveniados, que não recebem aumentos adequados em seus honorários desde 1994, gerando grande discrepância entre os valores atuais e os que deveriam ser pagos, se os aumentos tivessem ocorri-do conforme os índices autorizados.

Ademais disso, quanto aos contratos firmados pelos médicos com os planos de saúde, verifica-se que aque-les não contêm cláusula que prevê reajuste de honorá-rios. Em alguns planos, esses contratos sequer existem.

AtenciosamenteConselheiro Manuel Maurício GonçalvesPresidente do CRMMG

Jornal do CRMMG 11Março / Abril de 2011

Prezado Promotor

Ref. Comunicação - Dia Nacional de Paralisação do Atendimento aos Planos de Saúde7 de abril de 2011 - Reivindicações da classe médica - Atendimento aos usuários

Ofício CRMMG destinado ao Promotor de Justiça,dr. Eduardo Henrique Soares Machado, do Procon Estadual de Minas Gerais

CRMMG encaminha ofício ao ProconEstadual sobre paralisação dos médicos

No dia 1º de abril, o CRMMG, representado pelo Pro-curador do Conselho, Frederico Ferri de Resende, e pela Conselheira e Tesoureira, Cibele Alves de Carvalho, junta-mente com o Coordenador de Defesa Profissional da Sogi-mig, Carlos Henrique Macarenhas Silva, realizou reunião com o Promotor do Procon Estadual de Minas Gerais, Dr. Eduardo Henrique Soares Machado, para comunicar a pa-ralisação dos médicos no atendimento dos planos de saúde no dia 7 de abril e informar as dificuldades enfrentadas por médicos e usuários dos planos. Após a reunião, foi encami-nhado ao promotor documento oficializando os assuntos discutidos na ocasião.

Nota do CRMMG

Page 12: Jornal CRMMG 34

Março / Abril de 2011

Na vigência de uma economia capitalista, chama-se de empresa qualquer organização dedicada à produção, venda de mercadorias ou a prestação de serviços e que tem, por objetivo principal, o lucro. As empresas farmacêuticas multi-nacionais são as responsáveis pelo desenvolvimento e industrializa-ção de medicamentos inovadores e são as que mais investem em pes-quisa e desenvolvimento.

Sabe-se que esse investimento em pesquisa gera faturamento e lucros muito elevados, que somente podem ser mantidos às custas de estratégias de promoção agressivas e caras. En-tretanto, frequentemente, o limite en-tre promoção agressiva e propagan-da enganosa pode ser muito tênue. No plano dos medicamentos, isso ocorre quando há o enaltecimento das qualidades positivas e omissão de informações acerca das caracterís-ticas negativas de um produto, um instrumento ou um procedimento.

Entre 1950 e 1960, costuma ser considerada a etapa áurea das in-dústrias farmacêuticas multinacio-nais, que gozou de grande prestí-gio e respeito na maioria dos países do mundo ocidental.

Essa confiabilidade foi abalada entre 1960 e 1970, quando o Senado norte-americano identificou ligações espúrias entre a indústria farmacêu-tica dos EUA, a Medicina americana e as revistas médicas do país. Esses órgãos promoviam medicamentos enaltecendo as suas propriedades te-rapêuticas e minimizando os efeitos colaterais. Esse foi, também, o perí-odo do grande desastre da talidomi-da, quando ocorreram os primeiros relatos de focomelia e, em 1961, antes que o produto fosse retirado do mer-cado, havia cerca de 10.000 crianças deformadas, em vinte países.

A partir do ano 2000, ocorreram alguns fatos que passaram a amea-çar, novamente, a credibilidade de algumas indústrias farmacêuticas:

No ano 2000, o New England Journal of Medicine publicou um artigo que comentava a existência de acordos financeiros entre indús-trias e pesquisadores, que poderiam configurar conflitos de interesse, não divulgados. No mesmo ano, o British Medical Journal trouxe a tona um problema ligado ao emprego de anti-

concepcionais de terceira geração: os autores da denúncia mencionavam que os estudos financiados por ór-gãos estatais revelavam uma grande incidência de acidentes tromboem-bólicos nas usuárias. Os estudos fi-nanciados pelas próprias indústrias omitiam essas complicações.

Em 2002, o The New York Times publicou um editorial acerca de anti-inflamatórios não hormonais, com a seguinte afirmação: “a saga das drogas caras, que são promovidas para o alivio de artralgia, fica cada vez mais preocupante a cada nova re-velação”. Na realidade, existia um consenso entre os especialistas, que alguns aspectos ligados aos produ-tos celocoxib (Celebra ®) da indústria Pharmacia e do rofecoxib (Vioxx®) da Merck Sharp Dohme, relacionados com a eficácia e segurança, ainda não foram devidamente esclare-cidos. O rofecoxib (Vioxx®) foi reti-rado do mercado em setembro de 2004, por iniciativa da indústria produtora, quando ficou constata-do que seu uso prolongado, pode-ria dobrar os riscos de infarto e de acidente vascular cerebral.

Em 2004, a revista Lancet chama-va a atenção para o risco aumentado na incidência de ideação suicida e tentativas de suicídio, com o empre-go de inibidores seletivos de recap-tação de serotonina (ISRS). Os auto-res do artigo também denunciavam fato de que alguns dados, relativos à segurança do emprego desses pro-dutos, em crianças e adolescentes, não eram mencionados nos artigos publicados em periódicos médicos. Em junho de 2004, o Procurador Geral do Estado de Nova York for-malizou uma denuncia, perante a Suprema Corte do Estado, contra as empresas Glaxo Smith Kline e Smith Kline Beecham Corporation, por prá-tica de atos fraudulentos repetidos, ligados à omissão e malversação de dados, em relação ao emprego de paroxetina (Aropax ®) em crianças e adolescentes deprimidas.

Em 2005, constatou-se que algu-mas indústrias multinacionais sofre-ram um abalo em sua credibilidade, ao longo dos últimos cinco anos. Os motivos prendiam-se a fatos ou inci-dentes que envolviam uma multipli-cidade de instituições e personagens: as indústrias farmacêuticas, os órgãos

reguladores e fiscalizadores, os perió-dicos médicos, os investigadores clíni-cos e os autores de revisões sistemáti-cas (RS) e de meta-análises (MA).

Esses fatos prendiam-se à reda-ção de artigos, por redatores fantas-mas (ghostwriters) profissionais, mas que eram assinados por professores e pesquisadores com prestígio aca-dêmico. Esses artigos eram aceitos por revistas médicas de grande im-pacto e tinham grande repercussão sobre a práxis do médico clínico que adotava os medicamentos e os pro-cedimentos recomendados.

A empresa de consultoria Harris Interactive realizou um levantamen-to acerca da credibilidade da indús-tria farmacêutica junto ao público, nos Estados Unidos da América. A credibilidade era de 80% em 1997. Em 2003 essa credibilidade mal atingia a cifra de 40%.

Recentemente, o The New York Times publicou um artigo com o tí-tulo de “Medical papers by ghostwriters pushed therapy” (Artigos médicos as-sinados por autores fantasmas im-pulsionavam as terapêuticas). Esse artigo, assinado por Natasha Singer, informa que 26 artigos, redigidos por autores fantasmas e financiados por uma indústria farmacêutica, enal-teciam os benefícios da reposição hormonal em mulheres. Esses arti-gos foram publicados em 18 revistas médicas, incluindo o The American Journal of Obstetrics and Gynecolo-gy, bem como o International Journal of Cardiology. O artigo menciona, ainda, a existência de empresas de co-municação, como a Design Write de Princeton, N. J., que oferecem asses-soria para redação de artigos acerca de tópicos de interesse de empresas farmacêuticas, assinados por auto-res escolhidos por essas empresas e publicados em revistas importantes. Como consequência desses aconte-cimentos, algumas revistas médicas, como o The Journal of American Medical Association instituíram for-mulários que exigem, dos autores, o detalhamento de suas contribuições pessoais na elaboração dos artigos, assim como a enumeração de todos os possíveis conflitos de interesse. A comunidade médica internacional espera que todas as revistas médicas, de todos os países, adotem essas me-didas o mais breve possível.

Indústria farmacêutica multinacionale a propaganda enganosa

Jornal do CRMMG12

Jorge PaprockiCRMMG 1805

Academia Mineira de Medicina

Page 13: Jornal CRMMG 34

Médicos recebem documentação profissional em Sete Lagoas

Sessão solene realizada na sede da De-legacia Regional de Sete Lagoas marcou a entrega de documentação referente à ins-crição primária no CRMMG para os novos médicos da região. No evento realizado no dia 6 de abril, cada profissional recebeu di-ploma, carteira de identidade médica, um exemplar do Código de Ética Médica e uma agenda do CRM.

Em palestra, a conselheira do CRMMG e delegada regional em Sete Lagoas, Ivana Me-nezes, apresentou as funções do CRM como órgão disciplinador, fiscalizador e julgador da conduta ética e profissional dos médicos. A importância do preenchimento dos documen-tos médicos, da relação médico-paciente e do cumprimento dos preceitos e normas instituídos pelo CFM e CRM também foram reafirmados.

A programação da 403º reunião da União das Regionais Zona da Mata (Urezo-ma), realizado em Leopoldina, contou com quatro palestras sobre assuntos relevantes para a classe médica e uma mesa redonda abordando temas éticos.

O encontro aconteceu no dia 2 de abril e foi marcado pela homenagem ao médico Guilherme Junqueira Reis, que recebeu do CRMMG a comenda “Honra à Ética”. Entre os temas apresentados estavam “Tratamento de hérnia lombar”, apresentado por Leonar-do Vicente e “Recém-nascido: prematurida-

de” palestrado pelo Paulo Rubens Lupatini. Para o conselheiro do CRMMG e presidente da Associação Médica de Leopoldina, De-lano Carneiro, “o evento ressaltou a impor-tância de se discutir questões do cotidiano médico à luz dos parâmetros éticos”.

No evento realizado pelo CRMMG no dia 17 de fevereiro de 2011, em parceria com a Asso-ciação Médica de Leopoldina, assuntos como documentação médica, prontuários, declara-ção de óbito e decisões judiciais do setor foram abordados pelo conselheiro e delegado regional em Juiz de Fora, Cícero de Lima Rena.

Leopoldina sedia encontros de profissionais da saúde

DelegaciasResidentes do Hospital das Clínicasparticipam do curso ACLS

Vinte e oito médicos, entre plantonistas de ur-gência e emergência, intensivistas, anestesistas, cirurgiões e clínicos participaram do curso ACLS (Advanced Cardiac Life Support) - Suporte Avan-çado de vida em Cardiologia, em Belo Horizonte. A capacitação aconteceu nos dias 12 e 13 de fe-vereiro, na sede da Associação Médica de Minas Gerais, e foi direcionada para residentes do Hos-pital das Clínicas da UFMG.

O curso, que é uma parceria entre o Con-

selho Regional de Minas Gerais (CRMMG) e a

Sociedade Mineira de Terapia Intensiva (Somit),

aborda aulas teóricas e práticas, além de ví-

deos educativos a cada etapa. Em avaliação,

os médicos participantes elogiaram as aulas

e ressaltaram a importância dessa atualização

profissional.

Jornal do CRMMG 13Março / Abril de 2011

Divinópolis e Hipócrates: história da medicina em Divinópolis.Dra. Eliza Franca - Divinópolis: Serfor, 2010.

CRMMG indica:Divinópolis e Hipócrates: história da medicina em Divinópolis

A obra apresenta pesquisa sobre a história da medicina em Divinópolis, Centro-oeste de Minas, nas proximidades do centenário da cidade. Os mé-dicos Aleksandro de Oliveira Marius e Márcio Cos-ta Nogueira tiveram a iniciativa de produzir o livro e contaram com o apoio de Eliza Franca, grande conhecedora dos antigos moradores do local.

A primeira parte de “Divinópolis e Hipocra-tes” registra os cem anos da chegada do primei-ro médico ao lugar e relaciona os profissionais desse período, com seus dados pessoais.

A segunda parte do livro reúne depoimen-tos e textos preparados para mostrar a evolução tecnológica e científica de várias especialidades médicas em Divinópolis, tanto no que tange ao aparelhamento dos hospitais, como de clínicas específicas.

Na parte final, são relacionados todos os médicos, atualmente, ativos na cidade, pro-fissionais do serviço público ou profissionais liberais, além dos nomes daqueles que falece-ram em Divinópolis.

Foto: Patrícia Moura

Page 14: Jornal CRMMG 34

Jornal do CRMMG14 Março / Abril de 2011

Conselho Conselheiro - PareceresPara conhecer aíntegra de cadaparecer acesse:

www.crmmg.org.br/Mais acessados/

Pareceres do CRMMG

Parecer-consulta nº 4.231/2010 Ementa: “Os coordenadores do

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) podem ter, sob sua responsabilidade e guarda sigilosa, todos os documentos médicos referentes aos prontuários dos funcionários das empresas onde prestam serviços.”

Cons. José Nalon de QueirozCRMMG 6961

Parecer-consulta nº 4.251/2010 Ementa: “É direito de o paciente ser

atendido pelo serviço público,em suas necessidades de saúde e doença, in-dependentemente de ter consultado em clínicas particulares ou por meio de planos privados gerenciados por operadoras de Planos de Saúde.”

Cons. Antônio Carlos RussoCRMMG 5197

Parecer-consulta nº 4.237/2010 Ementa: Não há como responsabili-

zar eticamente Diretor Técnico de hospi-

tal municipal que, desempenhando ade-quadamente suas funções no sentido de prover e aparelhar a instituição com ar-quivo médico adequado, não o consegue em função de inércia do poder público.

Cons. Renato Assunção R. S. MacielCRMMG 9527

Parecer-consulta nº 4.206/2010 Ementa: Os critérios de admissão

de cooperados/associados em planos de saúde devem ser definidos nos respecti-vos estatutos, cujas cláusulas são dis-cutidas internamente.

Cons. Nelson Hely Mikael BarsamCRMMG 8115

Parecer-consulta nº 4.170/2010 Ementa: “A guarda, divulgação

e manuseio de dados que constam de prontuário médico deverão obedecer as determinações da resolução CFM 1638/2002 e dos artigos 89, 100, 101 e 103 do Código de Ética Médica.”

Mário Benedito Costa MagalhãesCRMMG 11879

Parecer-consulta nº 4.195/2010 Ementa: A declaração de óbito deve ser

fornecida, por qualquer médico da localidade. Cons. Delano Carlos CarneiroCRMMG 12158

Parecer-consulta nº 4.248/2010 Ementa: “Médicos que atuam em

diálise renal deverão ser nefrologis-tas conforme definem as normativas da RDC ANVISA 154/2004.”

Cons. Mário Benedito Costa MagalhãesCRMMG 11879

Parecer-consulta nº 4.183/2010 EMENTA: “O atendimento em

Serviço de Medicina do Trabalho pode ser compartilhado por vários profissio-nais. Não há impedimento ético que um médico dê sequência ao atendimento iniciado por outro colega.”

Cons. Cláudio de SouzaCRMMG 4798

Parecer consulta nº 4186/2010

Cons. João Batista Gomes Soares CRMMG 6236

Ementa: Não é permitido ao mé-dico exigir marca comercial de ór-tese ou prótese, sendo garantido a ele o conhecimento das especifica-ções do material oferecido.

I – Parte Expositiva: A presente consulta versa “so-

bre comportamento de operadora de saúde em relação à utilização de órteses e próteses cirúrgicas”. Os questionamentos são:

a) Pode a operadora de plano pri-vado de assistência à saúde exigir do médico que o mesmo, ao realizar o pedido de órtese ou prótese cirúr-gica, indique três marcas diferentes?

b) Pode a operadora de plano privado de assistência à saúde exigir que o médico utilize deter-minada marca para liberar o ma-terial (órtese e prótese) ligado ao ato cirúrgico?

c) A utilização de órtese e pró-

Órteses e próteses: não é permitido ao médico exigir marca comercial

tese cirúrgica são consideradas ato médico? Cabe ao médico a escolha que melhor atenda ao paciente sob seus cuidados?

II – Parte Conclusiva: Respondendo aos quesitos: a) Não. A instituição na qual o

médico realiza o procedimento é a responsável pela aquisição do pro-duto e, consequentemente, pela sua qualidade. Cabe ao médico a espe-cificação técnica.

b) Respondida na alínea a. A operadora poderá pactuar com a instituição e, no caso, ambas se-rão responsáveis pela indicação da marca, desde que cumpridas as indicações técnicas anotadas pelo médico.

c) Sim. A utilização da órtese ou prótese na prestação de servi-ço médico é ato médico. Cabe ao médico definir tecnicamente o ma-terial a ser usado. Ao fazer a espe-cificação técnica, estará indicando para o seu paciente o melhor tra-tamento. Não cabe ao médico indi-cação de marca(s).

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Jornal do CRMMG 15Março / Abril de 2011

Não se passa um dia sem que sejamos tocados por uma notícia envolvendo a as-sistência médica, vez por outra, envolven-do os próprios médicos. Desde longas fi-las, longas esperas por consultas, exames e mesmo cirurgias compõem o quotidiano sofrido de muitas pessoas e que acabam por repercutir na figura do médico. E mais raramente denúncias contra médicos. Sem dúvida, uma das mais graves contempla a figura clássica do erro médico, conceito mal compreendido pela população incapaz de distinguir o erro inerente ao exercício da profissão e que não depende da compe-tência, perícia e zelo do profissional. Mas a população sabe bem distinguir alguns gra-ves comportamentos de médicos, como se ele está apressado, preocupado, cansado, desinteressado e mesmo irritado. Mas tam-bém é capaz de distinguir o médico calmo, genuinamente interessado, comprometido com o paciente, humano e confiável.

Em um estudo realizado por Neeli Ben-dapudi, professora de Marketing da Uni-versidade de Ohio (EUA) junto a pacien-tes da Clínica Mayo, em 2006, revelou que os pacientes não têm dúvidas sobre o que mais valorizam no médico assistente, uma vez que, aproximadamente, 70 % deles pre-ferem médicos com melhores habilidades clínicas e técnicas e somente os outros 30% valorizam mais as habilidades comporta-mentais e de relação médico-paciente. Con-cluíram também, os pesquisadores, que é possível que os pacientes não considerem as habilidades interpessoais do médicos

menos importantes do que as habilidades técnicas, mas que estas são mais difíceis de serem percebidas pelo paciente, que por sua vez tende a assumir que o seu médico é competente até que se prove o contrário.

Em outro estudo realizado pelo Ibope Inteligência em parceria com a Worldwide Independent Network of Market Research (WIN), para avaliar a percepção da popula-ção mundial em relação à própria saúde e à forma como cada um se cuida e também para avaliar a relação médico-paciente, mostrou que quase 70% dos brasileiros consideram sua saúde boa e 26% a classificam como mui-to boa ou excelente. O estudo, que no Brasil ouviu 1.373 pessoas - e 22.581 em outros 22 países - mostra que 53% dos brasileiros re-comendariam o último médico que consul-taram e 70% afirmam confiar no profissional que os atendem, índices considerados entre os mais elevados em todo o mundo.

Então, retornando ao título deste artigo, o que deve um médico fazer para ser um bom médico? Já em 460 a.C, Hipócrates disse que “Aquele que quiser adquirir um conhecimento correto da arte médica deverá possuir uma boa disposição para isso, frequentar uma boa escola, receber instrução desde a infância, ter vontade de trabalhar e ter tempo para se dedicar aos estu-dos”. Mas, nos tempos atuais, há mais a se fazer e a tarefa é do profissional e também da escola médica, que passam pela aquisi-ção de comportamentos específicos dirigi-dos à satisfação de seus pacientes, sem des-considerar as habilidades clínicas e técnicas necessárias ao exercício profissional.

De acordo com o artigo citado anterior-mente, as piores experiências vivenciadas pelos pacientes na Clínica Mayo foram rela-cionadas ao comportamento desrespeitoso, falta de sensibilidade, arrogância e desinte-resse para com os problemas relatados pelos pacientes. E, de modo oposto, as melhores experiências foram relacionadas com con-fiança, empatia, humanismo, franqueza, respeito e cuidado. Não é sem razão que outro artigo que trata da delicada questão da relação médico-paciente, tem um títu-lo sumamente significativo: “Duas palavras para melhorar a comunicação médico-paciente: O que mais?” (Two words to improve physician--patient communication: what else? Mayo Clin Proc. 2003;78:211-214).

Por sua vez, as escolas de medicina pre-cisam urgentemente considerar a questão da aquisição de comportamentos impres-cindíveis à adequada atenção ao paciente, constituindo-se tal temática como parte in-tegrante dos conteúdos programáticos e da avaliação. Esta é uma tarefa difícil, mas a di-ficuldade tem que ser superada, assim como têm sido enfrentadas e superadas as diver-sas outras dificuldades técnicas que surgem em decorrência dos avanços da medicina. Pode e deve ser exigido dos novos médicos a comprovação de conhecimentos por meio de provas e exames. O CRM de São Paulo vem acumulando experiência com o seu exame para médicos recém-graduados. Mas permanece em aberto a indispensável ava-liação da relação médico-paciente.

Cons. Itagiba de Castro FilhoCRMMG 5.943 Eu quero ser um bom médico!

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Jornal do CRMMG Março / Abril de 201116

Fui e sou participante e testemunha de uma das maiores transformações do ponto de vista institucional a que já assisti: trata--se exatamente do entendimento vanguar-dista da Sogimig, de que havia acabado o glamour das becas e de que era necessá-rio iniciar uma nova fase. Transformamos nossa associação num modelo nacional de resistência, de luta, exatamente pelo enten-dimento acerca da engrenagem perversa na qual fomos inocentemente inseridos de for-ma deliberada pelos nossos algozes.

É tempo de mudanças de paradigmas. Todo processo de mudança requer reflexões e conscientização antes de atitudes e ações.

Reflexões e Conscientização

• A autofagia da medicinaHá alguns anos, temos dito que a medi-

cina é autofágica. Não são necessários gran-des aparatos para a destruição dos médicos. Eles o fazem por si, com orgulho e altivez. Esse adestramento começa nas escolas de medicina, exemplarmente nas públicas.

Há nítida dissociação entre nossa inteli-gência e nossas precárias ações, o que cla-ramente gera permissividade às ações con-trárias ao nosso desejo. Apesar de pagarmos caro pelo título de profissionais liberais, permitimos que alheios coloquem preço no nosso trabalho.

• O diagnóstico dos algozes: quem são de fatoMedicina está entregue a quem a usa

como política à custa do nosso trabalho. São algozes que não têm afeição alguma por mé-dicos, especialmente os do front.

Foi para a história a fala de um ex-go-vernador de Minas quando comparou os médicos ao sal: branquinhos, baratinhos e existem em todos os lugares. Não nos ilu-damos mais: os que o antecederam e os que o sucederam pensam da mesma forma. Os governantes preferem o dispendioso mode-lo da “ambulancioterapia”, que lhes renderá votos no futuro, a criar condições in locu.

Nossos algozes criaram e criam modelos de assistência que atendam aos seus anseios e do seu grupo. Hoje, a anamnese ficou res-trita à queixa principal, com a complemen-tação de exame físico, no mínimo desrespei-toso. Nossos algozes cobram produção.

Nossos algozes criam, incessantemente, os “colégios de medicina”, que pipocam no país. Não têm qualquer compromisso com a qualidade da formação dos alunos. En-tretanto, terão grande quantidade de médi-cos a serem utilizados nos seus programas politiqueiros e torçamos para que os pais, que gastaram fortuna na formação de seus filhos, não tenham que gastar outro tanto ou mais para os livrarem de processos.

Nossos algozes confiam em nossa inope-rância e em nossa desorganização. Faz ne-cessária a consciência de que existem con-vênios que, deliberadamente, nos roubam 30-40% de nossa produção. Isso é furto! Até onde sabemos, furtar é crime.

A glosa vem em seguida. Ela acontece após o furto inicial. Pasmem: entre nossos maiores glosadores estão os convênios liga-dos às poderosas estatais e autarquias brasi-leiras! Provavelmente usam a mesma efici-ência do fisco nacional.

Sequer temos profissão. A Lei do Ato Mé-dico não foi promulgada. Esse é mais um artifício que nossos algozes utilizam para manter baixos os salários dos médicos. E a nós cabe a indagação: como atingir o teto se não temos piso?

Nossos algozes estão infiltrados em todos os órgãos e poderes, inclusive na agência re-guladora de saúde. São organizados: têm ad-vogados, lobistas e atuam nos três poderes.

Nossos algozes, quando lhes interessa, colocam-nos em relação conflituosa frente à população em geral. Temos que ter o enten-dimento de que a Medicina não pode virar comércio, mas é o nosso negócio, como outro qualquer. Ninguém tem uma jornada de tra-balho tão intensa e extensa, desde a gradua-ção, e que se encerra apenas com a morte.

Não soframos mais pela existência de al-gozes. Tenhamos a consciência de que eles continuarão existindo – esse é o trabalho de-les. Seus ganhos são inversamente proporcio-nais aos nossos, que são parcos, e o bom al-goz é aquele capaz de manter esse status quo. São disputados no mercado a preço de ouro.

Mas não é de todo ruim termos algozes na vida, desde que os reconheçamos rapi-damente e os usemos como trampolim ou mola propulsora para uma fase de mudan-ças. Precisamos usar o passado como tram-polim e não como sofá.

Atitudes e ações: o tempoé de mudança de paradigmas

Não podemos nos precipitar, mas não podemos perder a hora e a hora é essa.

A consciência de que os médicos são a parte fraca do processo é necessária e deixa recado: precisamos nos organizar e profis-sionalizar nossas ações para esse necessário enfrentamento.

Deixemos, pois, o Nobel da arrogância ou da modéstia, como queiram, e peguemos de vez as rédeas do processo.

Deixemos o papel de vítimas e nos tor-nemos de fato os atores de alguma possível transformação. E, se ocorrerem, dependerão exclusivamente dos médicos do front. Quem nos jogou nesse buraco fomos nós, por nos-sa permissividade. E não existe alguém mais interessado e gabaritado para nos tirar de lá se não nós mesmos.

É necessária outra grande mudança de paradigmas: precisamos ter recursos finan-ceiros para custear os embates com nossos al-gozes. Essa história de que as associações de médicos não visam lucros só interessa a eles. Até instituições filantrópicas precisam desses recursos para pagarem seus fornecedores. Nossos algozes têm todo tipo de consultoria disponível para suas ações contra nós.

Não tenhamos mais dúvidas: os embates fi-nais sempre serão de médicos versus médicos. Precisamos fazê-lo sem sofrimento e, claro, ha-verá retaliações. Estejamos prontos para elas. Faz-se necessária uma “teimosia pacífica”.

O que precisa ficar claro é que somos apaixonados pela medicina e pelo que faze-mos, mas estamos fartos dos desejos vorazes dos nossos algozes.

Na conclusão dessas reflexões, alguém pode se perguntar: por que diante de um ce-nário tão perverso essas pessoas se apresen-tam aqui, hoje, com o compromisso de repre-sentar a nossa classe e participar ativamente na conquista da redignificação da nossa es-pecialidade? Poderíamos citar diversos mo-tivos, mas, sem dúvida, o mais determinan-te deles é que mantemos “a estranha mania de ter fé na vida” - como já cantaram Milton Nascimento e Fernando Brant.

Momento dereflexão e de ações Marcelo Lopes Cançado

CRMMG 17.806

Este texto é um resumo do discurso de posse de Marcelo Lopes Cançado na presi-dência da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) em 10 de dezembro de 2010. A íntegra do discurso está disponível em www.sogimig.org.br .