jornal coletivo sÓ - janeiro de 2009

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| quinta edição, janeiro de 2009, distribuição gratuita

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- Artigo sobre Lanny Gordin (psicodelia brasileira) - Matéria Art Ensemble of Chicago (jazz-avant gard) - Soft Machine (progressivo, jazz-rock) - Matéria/reportagem O Bando (psicodelia brasileira) - Sessão literária, especial sobre Ana Cristina César (poetisa, década de 70, 80) - Matéria/reportagem O Lodo, banda carioca do início da década de 70 (rock nacional) - Especial: prévia do festival Psicodália

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só | quinta edição, janeiro de 2009, distribuição gratuita

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lucas rodrigues de campos - edição, revisão, redação, reportagem, diagramação e comercial;chuck dedo amarelo - comercial e ilustração;tatiane klein - edição, redação e revisão.andré mainardi - redação, reportagem, comercial e tratamento dos logos de anunciante

colaborações: erich jones, renato e elton amorim, geraldo malta e paulo bórgiacontato: [email protected]

2218 0796, falar com andré ou 7600 5699, falar com tatiane

Ousando ou dando um passo além. Em sentido desconhecido, quebrando paulatinamente. Saída do cubo.A cada edição a normas se alternam. Regras contorcem-se, mas visitam o que já foi feito. Esse movimento

parte em busca de uma aprimoração. O que motiva o trabalho é a crença de que o material veiculado nes-sas folhas é do interessante das pessoas, em especial daqueles que têm como interesse comum a música.Nessa edição de sÓ, relembramos eventos dos últimos meses de 2008 relevantes para o cenário musical:

a passagem do Art Ensemble Of Chicago, um show de Lanny Gordin e o lançamento do trabalho do Djalma Lima Quinteto. A montagem deste número foi, em momentos, ao acaso, segundo a conveniência dos prévios contatos musicais e experiências. Emerge também, nas pequenas duas páginas da sessão sÓ-letrado, a poesia setentista de Ana Cristina

César, cuja morte completou 25 anos em 2008. Beto Martins, um músico que ajusta o violão na luthieria de um amigo, revela O Lodo. Trata-se de um tra-

balho de garimpagem que deixa um breve legado. Geraldo Espíndola é protoganista do som pantaneiro; Beto Martins e Pedro Jaguaribe destacam-se como músicos em sessões de gravação. No começo da década de 70, eles formaram o conjunto Lodo, que infelizmente não registrou nenhum áudio. Agradecimentos a Elton e Renato Amorim, que localizaram o guitarrista Beto Martins.Outra investida de arrojo é apresentar o celeiro de músicos que foi O Bando. Celamos nossa parceria com

o festival Psicodália, acontecimento que conquistou seu espaço e reúne mais de 40 grupos de rock’n’roll cal-cados no progressivo, hard e psicodelia, feito quase que exclusiva em terras brasileiras. Crescendo a cada ano ele prova que obstinação e amor pela música conseguem causar muito barulho. As turbulências geradas pela crise financeira chegaram ao nosso pequeno público, ressoando de algumas

formas no funcionamento de nosso jornal. A previsão de lançamento extrapolou uma semana, mas a per-spectiva de um novo ano força uma reação. A partir de janeiro pretendemos ampliar um pouco o leque de nossas intervenções musicais. Os projetos

são vários; entre eles uma rádio nos domínios da internet, som direto do vinil, com roteiro baseado nos de-talhes de capa, fichas técnicas, e amparado em reportagem. Um roteiro musical deve acompanhar cada edição, para ler e ouvir. Uma outra iniciativa é a assinatura do jornal. Quem contribuir com dez reais em prol de nossa causa musical, receberá a sÓ em casa. O conteúdo presente nas próximas páginas compensam o pequeno investimento. O negócio é: por dez reais, o contribuinte receberá seis edições do jornal sÓ, o correspondente a um ano. Apesar desse mecanismo de assinatura, o jornal permanece gratuito, e pode ser encontrados em lojas especializadas e shows. As três edições desse ano de 2008 concretizam nossas vontades e crenças. A idéia de coletivo precisa ser

amadurecida, contudo os assuntos abordados e a dedicação ao trabalho já estão consistentes, o chavão de novo ano nos cabe, e o lema continua, a tortura, a procura da essência. Assim apresentamos este número.

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Dentro da ante-sala do casarão, o olhar do guitarrista não compreendia os olhares do pequeno público. Os olhares do público não comprendiam o olhar do guitarrista. O guitarrista, naturalmente, não conhecia o pú-blico. O público, estranhamente, não conhecia o guitarrista. Esse foi o primeiro contato, já perto das três da manhã, entre Lanny Gordin e as poucas dezenas de pessoas. Os acordes transformados em espasmos acompanhavam a estranheza do momento. Uma Gibson, um cry baby, distorção e um bom amplificador Fender traziam os primeiros sons de jazz em uma produção em sintonia com os olhos do músico. Eles misturavam medo e timidez, e estabeleciam o primeiro contato esquizóide com os parcos presentes.

Rave Cultural foi o evento que abrigou, no meio da madrugada do dia 6 de dezembro, o talento de um músico escamoteado por mais de 30 anos de história; uma história pela qual ele foi responsável e da qual foi sujeito fundamental. Se hoje os tropicalistas perdem-se em ministérios, releituras bre-gas e shows com Roberto Carlos, o lado musical, a toada da música, é bem maior que a “vanguarda” tropicalista, e resiste no peso mediúnico da guitarra de Lanny Gordin. O caminho percorrido, de in-sanidades e abusos, criou o mito e o mito resumiu a carreira, velando com-petência extraordinária. Difícil dizer se as experiências intra cerebrais (talvez haja melhor expressão) prejudicaram a carreira de Lan-ny – o que ele produz contesta

o fosso em que foi colocado. O brilhantismo dos melhores

trabalhos de Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano

Veloso tem nas seis cordas eletrificadas

21th Century Squizoid Man(ou quando Lanny tocou)

de Lanny os melhores momentos. A psicode-lia da tropicália tem nesse guitarrista a parte mais relevante do movimento.

Com cacife mais que suficiente, ele pula da passagem de som para a execução de Tro-npicália. Quase o lado avesso do movimento.porrada, em um rock inaudível para o público desatento, que não se permitiu desfrutar do raro momento. Os presentes não reconheciam quem estava sentando no banco, batendo nas cordas. Talvez o anonimato seja o melhor com-panheiro de Lanny.

Diferente das últimas apresentações com base em standards do jazz, a estrutura musi-cal veio cheia de quebras. O momento solo trouxe Tom Jobim, mas o destaque foi um riff com pé na distorção – simples, mas pesado, pesado no melhor estilo “hard dos anos 70”.

Os poucos alcoolizados no espaço distor-ciam a apresentação, seja com gritos incô-modos ou arremessos ao chão. “Ele é o Jimi Hendrix brasileiro!” gritavam no meio do show – não estava claro que ele não é Hendrix, mas Lanny Gordin.

Sem necessidade de declarações. ou horas de entrevista, as perguntas foram respondi-das com um olhar que espremia algo entre o frágil, cansado, mas envolto de uma ternura pueril. Mais do que palavras ou a insistência de olhares, a reflexão que a caminhada fria trouxe foi a da existência incompreensiva de uma guitarra tão expressiva. Arredia quando necessária, com notas lacônicas. Atenciosa em intrincadas melodias, completando lacunas, fornecendo as respostas mais completas.

por lucas rodrigues de campos

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negranegranegramúsinegramúsinegracacanegracanegranegracanegramúsicamúsinegramúsinegracanegramúsinegraMais uma vez a grande mídia dei-

xou de relatar uma das experiências musicais mais relevantes no tocante ao desenvolvimento do jazz e sua gama de linguagens: a segunda passagem do Art Ensemble of Chicago pelo Brasil (AEoC). Para os que nunca tiveram contato com o grupo, cabe uma pequena introdução. O AEoC é de suma importância no

estilo musical chamado avant-garde, compondo a AACM, – Association for the Advancement of Creative Musi-cians – escola musical fundada por Muhal Richard Abrahams. Essa as-

grandemúsigrandemúsicagrandecamúsicamúsigrandemúsicamúsiMembros remanescentes da forma-ção clássica: Famadou Don Moye e Roscoe Mitchell

sociação contou com a colaboração massiva de Roscoe Mitchell (sopros), Lester Bowie (sopros, falecido em 1999), Famoudou Don Moye (bateria e percussão, que passou a integrar o AEOC após a saída de Philip Watson, em 1970), Malachi Favors Maghoshut (baixo, falecido em 2004), Joseph Jarman (saxofone, sopros em geral, que deixou o AEOC em 2004 para se dedicar ao budismo), todos membros do Art Ensemble. Em busca de um contexto artístico

interativo de formas diversas, e que extrapolasse limites musicais, surge o

AEoC. Mais do que um gru-po, o Art Ensemble foi e ain-da é uma proposta estética, que reúne crítica e referen-cia-se na cultura africana, tomando-a como base das experimentações sonoras. O grupo chega à “Grande Música Negra”, ideal com-partilhado dentro da AACM. Musicalmente, o Art Ensemble dialoga com a música eru-dita, incorporando inovações sonoras com roupagens de Stockhausen e John Cage.

por lucas rodrigues de campos

experimentos

fotos: Tatatiane Klein

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Roscoe Mitchell, Famoudou Don Moye, Wadada Leo Smith (trompete e surdina, advindo da AACM) e Jaribu Sahid (baixo e percussão, desde 2004 no grupo), tocaram três noites no Sesc Vila Mariana – dias 10, 11 e 12 de Outubro. O auditório da “casa de shows” beirou a lota-ção de sexta a domingo, mesmo com o último concerto agendado para as 17h. O público compôs-se heterogêneo: curiosos, músicos, acadêmicos, jornalistas cobrindo a área de “cultura”, conhecedores do grupo. Fato é que parte dessa construção de estereótipos tra-duziu-se na grande fatia do público que, com cerca de 20 minutos de contato com os impro-visos, retirou-se do espetáculo.

No domingo, ingressos esgotados e especta-dores atrasados espalham adrenalina entre todos. “Esperar começar pra saber se ainda tem lugar?!” bradava um; outro agradecia o ingresso negociado. Por 16 reais consegui o meu, “nada mal, já que a meia-entrada saira por 15”, pensamento rapidamente contra-dito pela descrição do ingresso: convidado, R$00,00. O fato é que pude presenciar dois acontecimentos já citados: a excelente música e a fuga de mais de um terço do público (con-ferir de alguma forma).

Divulgado a partir do slogan free-jazz o show atraiu ouvidos não acostumados aos ar-

rojos do AEoC. Os que reagiram ao levantar das cadeiras, o faziam quase como se estives-sem sendo agredidos, ou até mesmo lesados. A aposta em conhecer um grupo “cult” de jazz decepcionou parte da platéia, que não tolerou o peso e as improvisações em massa. Sempre antecedida por resmungos, chiados e reclamações silenciosas, a debandada em peso constituiu mais um dos cenários para-doxais que corroboram a afronta sonora do ensemble. Não cadente, espacialmente dis-torcida, assim fez-se a enegenharia sonora, desnaturando modos e escarnecendo tolas convenções musicais.

Contra a regra

Com ambiente diferente do costumeiro - ex-cetuando as vestes tipicamente africanas de Don Moye - o palco não estava alastrado por componentes percussivos. Rostos maquilados também foram deixados de lado. Chamava a atenção uma poltrona posicionada no lado direito do palco, adorno de desenho sutil com-parado à eloqüência dos trajes e pinturas já tradicionais do AeOC. O baterista, liderando a marcha com uma bengala que domava a possível artrite, caracterizada pelo andar moroso e mancado: os quatro integrantes seguiram Moye movendo-se lentamente. Todos posicionados próximos ao set de instrumentos.

De frente para o público, quase em perfeita sincronia viram e olham para a direita.

De cara se viu que a enfermidade não afe-taria a música de Moye, com as congas ele anunciou a harmônica passagem de flauta transversal feita por Roscoe Mitchell. Durante longos minutos os músicos revezaram momentos solo. Primeiro o trompetista, abusou muito bem da surdina, uma seqüência de frases num rítmo frenético, entrecortando a percurssão de Moye – isso enquanto Roscoe Mitchell repousava em sua poltrona, criando uma esfera mediúnica ao apoiar a cabeça em um dos braços. De olhos fechados Mitchell apurava o som ao aguardar Jaribu Sahid e Moye demonstrarem técnica, musicalidade e improviso.

Wadada Smith recordou a postura e o som de Miles Davis. Filósofo da música, honrando a tradição da AACM, Smith tem como última incursão interessante tributo a Miles. São

Mestre nos sopros, Mitchell fascinou os su-jeitos à experiência Art Ensemble, e expulsou àqueles que foram ao show sem antes conferir alguma amostra do trabalho do grupo. Ataca-do pela constância respiratória do instrumen-tista, o sax emitia sons que se misturavam com o ar expirado pelo músico. O fluxo sonoro cau-sou inércia ao público que continuou nas pol-tronas. Espanto e reverência eram registrados com olhares fixos e tímidos comentários, vezes intercalados por palmas solitárias.

O que vimos através do show foi interação e coletividade, sempre criando uma atmos-fera, seja calcada no lirismo de passagens suaves ou em solos frenéticos, carregados de insultos e provocações, devolvidas em forma de agradecimento.

Como no álbum duplo Urban Bushmen - gravação ao vivo captada em maio de 1980, no Amerika Haus Munchen, primeiro pelo selo ECM lançado em 1982 -, o show foi encerrado com Odwalla, be-pop recheado de arrojos e solos dissonantes. O bis foi um surpreendente tema, que voltou a qualidade de cada músico no desenvolvimento de um tema entre o funk e o fusion, mas sempre com pitadas de quebras rítmicas e mudanças de tempo.

Pasmo. Quem acompanhou os mais de no-venta minutos do excelente concerto compar-tilhava o momento catártico na imensa fila dos que aguardavam Moye e a chance de comprar um dos últimos cd’s a venda. Como de praxe misturei-me à euforia, momento em que recebi quatro reais de troco pelo ingres-so.

Saldo final: o ingresso saiu por 16 reais. O dinheiro “perdido” não causou nenhum trau-ma, e se causassem seriam rapidamente su-primidos pela recompensa de ter participado de uma experiência tão enriquecedora.

foto: Paulo Borgia

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No frenesi da Jovem Guarda, em 1965, Os Malucos - Diógenes Burani, (bateria), Paul de Castro, (guitarras e voz), Américo Issa, (guitarras e voz), Emilio Carrera, (órgão e piano), Rodolpho Grani,(baixo e voz) e Marisa Fossa, (voz principal) – apre-sentavam-se semanal-mente nos lugares da moda, como o restau-rante O Beco e a boate Urso Branco. Essa última casa recebia um evento patrocinado pela Coca Cola. Por intermédio do empresário Teo de Bar-ros, (não confundir com o compositor), Os Malu-cos conseguiram lugar no evento ao lado de “Ron-aldo Lark e os Versáteis”. O êxito na Urso Branco proporcionou uma ex-

cursão através da América do Sul e dois meses na Venezuela. Em Caracas, os garotos gravaram dezesseis programas de TV na principal emissora local, um deles acompanhando a atriz-cantora Sarita Montiel. “Chegando lá fi camos encantados com a salsa e outros ritmos locais. Ali pintou a idéia de colocar outro percussionista no grupo”, conta o baterista Diógenes.

Novamente em São Paulo, passaram a se chamar O Bando. O baterista Dudu Portes, amigo de Emilio, logo abandonou o programa televisivo O Fino da Bossa, apresentado por Jair Rodrigues e Elis Regina, para integrar a primeira banda brasileira com dois bateristas. O pioneirismo desses jovens músicos não parava aí: faziam um som bem arrojado dentro dos padrões psicodé-licos, e, assim como os Beat Boys e Os Mutantes, eram sempre convocados a tomar parte no tropi-calismo. Sob a égide e proteção de Solano Ri-beiro, grande mentor da banda, conseguiram um contrato com Phillips do Brasil. André Midani apaixonou-se pelo som deles e, em busca de ser-vir o mercado aberto pelos Mutantes, adicionou O Bando no cast da gravadora, colocando à in-teira disposição deles os maestros Júlio Meda-glia, Damiano Cozzela e Rogério Duprat. A von-tade de misturar as inovações da música erudita

Lá se vaiLá se vaiO BandoO Bando

por lucas rodrigues de campos e andré maindari

Mike Ratledge, orgãos Lowrey Deluxe e Hammond, piano e fl auta;

Hugh Hopper, baixo e sax-alto;Robert Wyatt, bateria e voz principal.

Musico convidado: Brian Hopper, sax-soprano e tenor.Produção Artística e Executiva: Soft Machine e Mike Jeffrey

Capa: Byron Goto e Henry Epstein

O segundo álbum sempre é um desafi o na carreira de um grupo; muitos jamais superam seus debuts. Tal premissa, contudo, sequer che-gou a preocupar o Soft Machine na confecção de seu Volume II. Com uma curiosa mistura de dadaísmo, anêmonas, ursos, Arnold Shoen-berg, e soturnas melodias em modo dórico, o disco – gravado entre fevereiro e março de 69 no Olympic Sound em Londres – é um mar-cante registro do jazz rock pós-Canterbury no mapa da música de vanguarda.

Um breve texto na contracapa da luxuosa reedição relançada pela ABC Probe Records, adverte: “Esta banda, na sua acepção mais estrita, toca música para a mente, o que impõe algumas vezes, uma certa responsabilidade cerebral ao ouvinte”. O complexo conceito gráfi co, musical e artístico-intelectual da obra foi desenvolvido em 1969, portanto recomen-da-se que a gravação seja apreciada em vi-nil, pois foi projetada para este formato.

O amor à arte de compor improvisando le-vou Robert Wyatt e trupe a dividir a obra em duas partes: Rivmic Melodies, preenche todo primeiro lado, dividindo-se em dez temas; ela começa por “Pataphisical Introduction”, um pequeno discurso musical que anuncia “A Con-cise British Alphabet Part 1”. Ambas são curtas e servem de prólogo ao tresloucado 9/8, “Hi-bou, Anemone and Bear”, em que se destaca a poliritmia gerada pelo choque da melodia dos metais contra a cozinha, baixo e bateria.

Um som de tosse inicia a Part 2 do alfabeto britânico, que passa por “Hulloder” e “Dada

was here”, cantada em espanhol. O grupo ai-nda homenageia Schoenberg, em “Tank you Pierrot Lunaire”, e agradece a Jimi Hendrix, Mitch Mitchel e Noel Redding por expô-los à Multidão, segundo a letra de “Have you ever been green?”. A Part 2 da introdução patafísi-ca do LP segue com melodias de sétima maior atacadas no órgão, preparando o free form jazz de “Out of Tunes”, música que encerra esse primeiro movimento.

Na outra face da chapa, desenrola-se “Esther’s Nose Job” encabeçada por “As long he lies per-fectly still”. A bela e inconstante “Dedicated to you but you weren`t listening”, que seria, anos mais tarde, utilizada por Wyatt em sua banda Matching Mole, e a cacofonia generalizada de “Fire engine passing with bells clanging” diver-gem um pouco das demais subdivisões do tema. Todas estão no ritmo 7/8 e têm os mesmos mo-tivos melódicos observados em “As long he lies... Pig, Orange skin food”, “A door opens and closes” e “10:30 Return to the bedroom”, nesse mesmo diapasão, completam o set.

O Volume II representa uma fase de transição e experimentalismo vivida pelo Soft Machine. Mesmo desfalcados pela ausência de David Allen e do baixista e compositor Kevin Ayers, substituído por Hugh Hooper, que acrescentou o jazz ao som do grupo, conseguiram produzir música com substância, incrustada de tenaci-dade, disciplina e maturidade musical que são referências em seus trabalhos subseqüentes.

SOFT MACHINE VOLUME II

ABC Probe Records - 1969

por andré mainardicâmara de eco

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com a contemporaneidade do rock uniu a academia à tradição da garagem: “Não tinha pra ninguém... nós e Os Mutantes éramos os tais!”.

Em 1969, bem à vontade, en-traram no estúdio Scatena para registrar o primeiro disco do grupo. Trabalhar com os mae-stros possibilitou o acúmulo de grande conhecimento na área de arranjos e orquestração. Para Diógenes, os maestros as-sumiam o papel de intérpretes: “A gente bolava os arranjos e eles traduziam nossa linguagem de cabeludos doidos ao pessoal da gravadora”. Em oito canais gravaram um disco com apoio o esmerado dos regentes. Elab-oradas partes de cordas e me-tais pintam em vivas cores, sob o signo tropicalista, músicas do cancioneiro popular como “Dis-parada” e “Quem Sabe”, com-posições do grupo, de Caetano Veloso e a primeira e defi nitiva versão de “Que Maravilha”, música de Jorge Ben, com a qual O Bando concorreu no Festi-val da TV Tupi, conquistando o primeiro lugar.

Rio Grande

Muitas foram as incursões do Bando pelo sul do Brasil. Leva-dos pelo Centro Acadêmico de Arquitetura da UFRGS, granje-aram muitos fãns em Festivais nos Pampas. Nesse período con-heceram os compositores Hermes Aquino e Laíz Marques. No Fes-tival Universitário da Musica Popular Brasileira, em 1969,

onde apresentaram-se Zé Ro-drix, Danilo Caymmi e O Som Imaginário, O Bando defen-deu “Pela Rua da Praia”, da dupla gaúcha Hermes e Laíz, e receberam um indesejado se-gundo lugar: “Só não vencemos porque éramos paulistas”.

Com a agenda lotada, o Bando passou boa parte do ano de 69 viajando. No verão, arrendavam a boate Barbare-la em Ubatuba, fazendo boa temporada e descansando. A “rotina era praia, ensaio e show”, lembrança de Dió-genes.

Além da vida de rocker cali-forniano, o grupo fez aparições nos programas televisivos de Wilson Simonal e no Jovem Guarda, de Roberto Carlos. O grande mérito pós-disco veio com a participação na peça teatral O Plug, espetáculo mul-timídia, com representações de tipo teatral, fi lme underground, audiofotonovela com partici-pação de Décio Pignatari, Du-prat e Grupo OEL. Entre colu-nas romanas, versos e os mais absurdos happenings, o Bando mostrava todo o seu balanço. A pesada sessão rítmica re-tumbava tal qual uma barul-henta sinfonia de Beethoven ou Berlioz. Com suas câmeras desbundadas, Rogério Sgan-zerla registra tudo. Era o ano de 1972, já próximo do crep-úsculo da banda.

O fi m do Bando foi uma conseqüência natural dos rumos musicais que cada integrante seguiu.

A experiência com os maestros tropicalistas, produtores e empresários em uma época de franca expansão da indústria do disco no Brasil, proporcionou aos integrantes d’O Bando excelentes contatos profi ssionais, que acabou por direcioná-los para diversos caminhos

Dudu Portes tornou-se um dos grandes mestres da percussão brasileira e participou de obras que são referência aqui e no exterior. Foi parceiro e baterista de confi ança de Elis Regina, tendo estado ao lado da cantora nos momentos mais importante sde sua carreira: o disco Falso Brilhante de 76, Elis e Elis, ao vivo, de 77, Transversal do Tempo de 78 e a vitoriosa turnê européia, também de 78. Na vasta discografi a de Portes – que também se dedica à luthieria – constam alguns registros como Gal Costa, de 1969, Revolver de Walter Franco de 1975, São Paulo Brasil de César Camargo Mariano de 1977, Romaria de Renato Teixeira e Clube da Esquina 2 de Milton Nascimento de 78. Humauaca, Scaladácida, Grupo Água, Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Flying Banana, Bendegó e Arismar do Espírito Santo, tantos e variados grupos dão idéia do talento de Dudu.

Ao “debandar”, Emílio Carrera passou a integrar o Secos & Molhados, gravando o segundo LP do grupo em 1974. Também participou dos discos de Walter Franco e mais tarde ingressou no ramo da publicidade, dirigindo duas produtoras musicais – Som Piano e Zeeg 2. Atualmente é diretor musical e músico do espetáculo “Os Inclassifi cáveis” de Ney Matogrosso, seu velho amigo. Com esse show, excursionou em 2008 por todo o país e disputou o prêmio Grammy Latino.

A cantora Marisa Fossa continuou emprestando sua bela voz às composições de Duprat, gravou Ca-dernos de Viagem, de 1975, com Sá & Guarabyra e participou de mais de trinta discos ao lado de Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tim Maia, Djavan, Cazuza, Roberto Carlos, Raul Seixas, Moraes Moreira, Fágner, Elis Regina e Milton Nascimento. Uma curiosidade é que Marisa foi casada com Pedro Baldanza do Som Nosso de Cada Dia, com quem teve dois fi lhos.

Os falecidos Américo Issa e Paul de Castro tocaram com Humauaca e Os Mutantes, respectivamente. Rodolpho Grani gravou com Gal Costa em 1969; foi o baixista do segundo LP de Jorge Mautner de 1974; participou, com Diógenes, Dudu e Emilio da produção de Ou Não de 73 e Revolver de 75 de Walter Franco, onde cantou e tocou violão, craviola, guitarra, piano, órgão e baixo elétrico. Tocou viola caipira e violão em Amora de Renato Teixeira de 79. Mais tarde tornou-se produtor musical, dirigiu a produção artística da série de CD’s Complete Piano Works do compositor francês Erik Satie e compôs as trilhas sonoras da animação Os Irmãos Williams, do diretor Ricardo Dantas, e do docu-mentário Raça na Praça, de Luiz Alberto Pereira.

Parceiro e quase irmão de Dudu, Diógenes Burani, ainda nos tempos d’O Bando, também gravou o disco de Gal Costa de 1969 e Build Up, de Rita Lee, de 1970. Também ajudou na concepção dos dois já citados discos de Walter Franco, tocou com Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Lanny Gordin e Naná Vasconcelos. Ainda nos anos 70, integrou o Cilibrinas do Éden de Rita Lee e fundou, com Guilherme Arantes, o Moto Perpétuo, uma das grandes referências do rock progressivo nacional, que mais tarde, no fi nal da década, teria continuidade no projeto São Quixote. Na atualidade dedica-se ao seu retorno à carreira musical: “Vai ser um pouco de Moto, Bando, São Quixote; do rock progres-sivo à MPB; afi nal a gente nunca muda completamente. Tenho mais de seiscentas músicas acumula-das nesses quarenta anos. Foi pensando nessa volta que parei de fumar há quase duas décadas”.

por lucas rodrigues de campos e andré maindari

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“Agora, imediatamente, é aqui que começa o primeiro sinal do / peso do corpo que sobe. Aqui troco de mão e começo a ordenar / o caos”. - Inéditos e dispersos, 1983

só-letrado

Do sétimo andar, o livro escorrega para minha mão; Inéditos e dispersos. Levo-o para a cama e engulo suas palavras como um re-médio contra a morte. As primeiras páginas apresentam-me o rosto de quem escreve; as páginas que seguem sussurram baixinho uma narrativa temporal. De 1961 a 1983, uma amiga conta-me tudo o que escreveu. Entre fotografi as, aparecem poemas; são de Ana Cristina Cesar, uma desconhecida que faleceu em 29 de novembro de 1983.

Pedem-me para sangrar o papel com algu-mas palavras sobre Ana. Trago minha res-posta encharcada pelo vazio, pois ainda não resolvi minha relação com ela. Por ter feito esse acordo tácito entre meus olhos e as letras impressas é que me sinto tão longe do con-forto. Só foi possível descobrir mais adiante que, apesar de ter sido estampada nos jor-nais a sua morte, a poesia de Ana tinha pouco ou quase nada das letras serifadas, do cheiro de papel impresso. Manuscritos, desenhados e rabiscados, os textos da suicida poetisa mostram-se como em um diário.

Apesar de expoente da poesia que se con-vencionou chamar marginal, da Geração Mimeógrafo, Ana Cristina teceu uma esté-tica que se diferencia da dos colegas Paulo

por tatiane klein

Leminski, Cacaso, Francisco Alvim. Entre iro-nias, cartas, pílulas poéticas, declarações de amor, a poetisa dava a seus versos as cores dos travesseiros das adolescentes, dores das senhoras casadas com panos de prato e de uma angústia que nos parece parte de sua própria personalidade. Apesar da estética da confi ssão, seus textos não aparecem como receitas subjetivistas, herméticas, mas como brincadeiras estéticas em que a cisão entre o autor e obra desfaz-se propositadamente.

Os vinte e cinco anos da morte de Ana Cristina foram marcados em novembro 2008 pelo lan-çamento de Antigos e soltos, um livro organizado por Viviana Bosi, professora de Teoria Literária da USP, que registra o que foi, por anos, guar-dado em uma pasta rosa pela poetisa Ana. Entre bilhetes, prosas e poemas, prontos e inacaba-dos, emerge uma espécie de colagem íntima de parte da obra da autora. Especial destaque merece o trabalho de organização e transcrição dos fac-símiles dos textos manuscritos.

Os capítulos são divididos entre “PRONTOS mas rejeitados”, “inacabados”, “inacabados 2”, “rascunhos/primeiras versões”, “cópias”, “O Livro” e “antigos & soltos”. Sua leitura quase torna certeira a latência presente em toda a obra de Ana: a de que tudo não passa

de uma biografi a versifi cada, de uma poesia egótica, confessional, de fl uxo de consciência. A glória dessa poesia é, não obstante, não permitir que o leitor descubra quanto de eu-lírico e quanto de autor está impresso ali; o leitor, em verdade, está sozinho e preso na ilusão de que lê as histórias de uma jovem po-etisa. Ana Cristina brinca com a presença de Ana Cristina na escritura e transforma autor e autoria nos personagens-fantasma de seus textos.

Uma dessas brincadeiras é o livro Cor-respondência completa, de 1979, em que a autora simula uma carta. Esse texto guarda características próximas às das reais car-tas e cartões trocadas por Ana Cristina com amigos, como registra a publicação póstuma Correspondência Incompleta, organizada por Armando Freitas Filho e Heloisa Buarque de Hollanda. “Ela se confessa, sim, mas faz (fala de) literatura o tempo todo. Em muitos e ex-tensos momentos dessa correspondência, ouvi-mos trechos de sua dicção poética de teor tão peculiar”, afi rma, no livro, o amigo e orga-nizador Armando.

A própria Ana Cristina externa em uma de suas correspondências a Ana Candida Perez, colega de faculdade, a confusão instalada

“O desespero precisa ser discreto / soletrado / numa pequena esquina”. - Antigos e soltos,

entre intimidade e literatura: “(...) em carta fi ca difícil o limite entre o arbitrário, o gra-tuito, o vôo e a correspondência, a signifi ca-ção, a comunicação. Ou melhor, a gente tem medo de desembestar para o vôo. De dizer coisas que não sabe explicar. A leitora pedirá explicações, sutilmente pedirá que se desfaça o feitiço, ou o jogo. Só por insegurança. Ou como ajuizada medida pra não receber de volta cartas em que a literatura vá ocupando cada vez mais terreno, até que não sobre nada, mas a literatura”. Para Armando, a es-critora é “quem sofreu da premência, quase teatral de ser íntima, e da fatalidade, sempre questionada, de ser pública”.

Tradutora de Dylan Thomas, Sylvia Plath, Katherine Mansfi eld, Ana Cristina formou-se em Letras pela PUC do Rio de Janeiro. Além da docência e da pesquisa em teoria literária – que resultou na publicação da pesquisa Lite-ratura não é documento –, Ana escreveu para os principais jornais alternativos dos anos 70, entre eles, o Versus, o Opinião e o Beijo, este um jornal da luta homossexual. Todo o acervo de fotografi as, manuscritos e inclusive a biblio-teca da autora foram doados para o Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro; o registro desse material está no site do Instituto.

a letra de ana c.-letrado

a letra de ana c.a letra de ana c.a letra de ana c.a letra de ana c.a letra de ana c.

“O desespero precisa ser discreto / soletrado / numa pequena esquina”.

Page 9: Jornal coletivo sÓ - Janeiro de 2009

“Olho muito tempo o corpo de um poemaaté perder de vista o que não seja corpo

e sentir separado entre os dentesum fi lete de sangue

nas gengivas”. - A teus pés, 1979

“Sou eu que sou vivida, sou eu que sou grafada,

sou eu também que escuto em surd

ina o velho discurso que me grafa.

E, fi nalmente, vislu

mbro maravilhada

que sou eu que escrevo, agora, aqui nesse cais”.

- s/data

“ESTE LIVRO

Meu fi lho. N

ão é automatism

o. Juro. É jazz do

Coração. É prosa que dá prêmio. U

m tea for tw

o

Total tilintar de verdade que você seduz,

Charmeur volante pela posta, a toda. Enfi e a

carapuça.

E cante.

Puro açúcar branco e blue”.

- A teus pés, 1982

Quem caça mais o olho um do outro?Sou eu que admito vitória.

Ela que mora conosco então nem se fala.Caça, caça.

E faz passos pesados subindo a escada correndo.Outra cena da minha vida.

Um amigo velho vive em táxis.Dentro de um táxi é que ele me diz que quer chorar mas não chora.

Não esqueço mais.E a última, eu já te contei?

É assim.Estamos parados.

Você lê sem parar, eu ouço uma canção.Agora estamos em movimento.

Atravessando a grande ponte olhando o grande rio e os três barcos colados imóveis no meio.

Você anda um pouco na frente.Penso que sou mais nova do que sou.

Bem nova.Estamos deitados.

Você acorda correndo.Sonhei outra vez com a mesma coisa.

Estamos pensando.Na mesma ordem de coisas.

Não, não na mesma ordem de coisas.É domingo de manhã (não é dia útil às três da tarde).

Quando a memória está útil.Usa.

Agora é a sua vez.Do you believe in love...?

Então está.Não insisto mais.”

a letra de ana c.Tenho uma folha branca e limpa à minha espera:mudo convite

tenho uma cama branca e limpa à minha espera:mudo convite

tenho uma vida branca e limpa à minha espera:

Cenas de abril. Rio de Janeiro: Edição da autora, 1979 Correspondência completa. Rio de Janeiro: Edição da autora,

1979 Luvas de pelica. Rio de Janeiro: Edição da autora, 1980

Literatura não é documento. Rio de Janeiro: MEC / Funarte, 1980

Caderno de desenhos. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1980

A teus pés. São Paulo: Brasil-iense, 1982

A teus pés. São Paulo: Ática / IMS, 1998

Inéditos e dispersos. São Paulo: Ática / IMS, 1999 Crítica e tradução. São Pau-

lo: Ática / IMS, 1999 .Correspondência incompleta.

Organização de Armando Freitas Filho e Heloisa Buarque de Hollan-

da. São Paulo: Aeroplano / IMS, 1999

26 poetas hoje. Seleção de Heloisa Buarque de

Hollanda. Rio de Ja-neiro: Labor do Brasil, 1976. (Bolso)

“trilha sonora ao fundo: piano no bordel, vozes barganhando uma informação difícil. agora silêncio; silêncio eletrônico, produzido no sintetizador que antes construiu a ameaça das asas batendo freneticamente.Apuro técnico.Os canais que só existem no mapa.O aspecto moral da experiência.Primeiro ato da imaginação.Suborno no bordel.Eu tenho uma idéia.Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.Memórias de copacabana. Santa Clara às 3 da tarde.Autobiografi a. Não, biografi a. Mulher.Papai Noel e os marcianos.Billy the Kid versus Drácula.Drácula versus Billy the Kid.Muito sentimental.Agora pouco sentimental.Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos que o seu amor de ontem.Gertrude: estas são idéias bem comuns.Apresenta a jazz-band.Não, toca blues com ela.Esta é a minha vida.Atravessa a ponte.É sempre um pouco tarde.Não presta atenção em mim.Olha aqueles três barcos colados imóveis no meio do grande rio.Estamos em cima da hora.Daydream.

Obras de Ana Cristina Cesar

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O LODO VEM AÍ!

foto de divulgação para o periódico Rolling Stone, em algum momento entre 71 e 72

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Cabelos compridos e distorção combinados: a combustão é certa. Ensaios em cenários bucólicos e técnica musical são o oxigênio da reação. Se os anos forem os iniciais da década de 1970, o resultado recebe o nome de “hard”. Seguindo essas recomendações, o Lodo, junto dos com-parsas Bolha, Veludo participou de forma ativa do cenário hard prog que caracterizou o lado B musical da cidade do Rio de Janeiro.

Enquanto a camada intelectual-estudantil dis-cutia entre a guitarra elétrica tropicalista e o banquinho da bossa, Beto Martins, então es-tudante da Faculdade de Música Villa Lobos, fazia A Mente, seu primeiro grupo. A barul-heira é garantida por válvulas saturadas nas festas do prédio da extinta UNE, no Rio. Na sede da União dos Estudantes, Beto foi chama-do por Pedro Jaguaribe, um conhecido que tocava baixo, para formar um grupo de rock pesado. Pedro já estava acompanhado do bat-erista “Nacho Meña, chileno, firme na pegada, pesado”, segundo Beto. Para completar o que seria um quarteto, Marcelo Villela juntou-se ao proto grupo, sendo responsável por voz, gaita e guitarra. O grupo deixou de ser proto e foi nomeado Lodo.

“Fizemos uns sons e pintou a possibilidade de passar um tempo compondo e ensaiando num sítio na [estrada] Rio-Petrópolis. Fomos para lá e ficamos um ano. Ensaiávamos o tempo todo”. Beto detalha o casamento entre a música e o cenário idílico: “o sítio era um paraíso, com direito a passeios no campo para inspirar as músicas”. O resultado das inspiraçõese, en-tretanto, não podem ser conferidos, pois, con-forme conta Beto, “muitas fitas foram gravadas e esquecidas”. “Infelizmente”, ele continua, “não sei onde estão. Pelo que me lembro o som era Hard mesmo. Batera pesada, uma Gibson SG [ligada] direto no Marshall, baixo forte [ligado] no Ampeg SVT, voz e gaita. Sem palavras.”

Para aliviar o ritmo dos ensaios, o Lodo seguia para a capital, para rever a família, apresen-tar-se em bailes e garantir uma pequena por-ção de cruzeiros. Contudo a maior onda de passar pela capital fluminense era pintar muros, em uma estratégia digna de militante político insuflado pelo maio de 68. Ação arriscada,

ainda mais em tempos em que a polícia não media a mão para “dar cacete” em estudante. O ato era nomeado pelo próprio grupo: “di-vulgação de guerrilha - basicamente pichar os muros da cidade com frases do tipo ‘O Lodo vem ai... Aguardem!’”.

Nos bailes a mesmice era deixada de lado. Vale lembrar que grande parte dos “grupos de baile” baseava seu repertório nas canções radiofônicas. “Repertório próprio, original e em português e, pra inxertar um tempinho extra, sempre tinha um Led, um Humble Pie, Mountain, Cream”. Marcadas na lembrança do guitarrista estão o Festival da Pedra Azul, uma apresen-tação no programa de TV Band 13 e outra no Teatro São Pedro, em São Paulo. A grande tran-sa do Lodo, porém, rolou na cidade natal do grupo: “Tocamos também no Teatro da Lagoa, no Rio, abrindo para o Gilberto Gil. O show foi

Geraldo Espíndola deu ao Lodo um pouco de seu espírito pantaneiro, característica que pode ser conferida no grupo Lírio Selvagem, projeto da família Espíndola, que reuniu os irmãos Tetê, Alzira e Marcelo. Traços regionais mesclados a um tom universal, essa proposição fica clara com toques de progressivo presente no trabal-ho, uma tentativa de entender o que era o Lodo nessa nova fase. Geraldo conta: “os rapazes tocavam algumas músicas minhas na época. Fizemos uma excursão ao Mato Grosso com dois shows memoráveis. A gente foi o primeiro grupo a tocar rock progressivo no Brasil. Equi-pamentos importados e eu usava uma craviola

O Lodo por uma intempérie na forma de pes-adelo real, virou um lamaçal. “Infelizmente, de sonhos se acordam, fomos tocar em Campo Grande, MT, e quando voltamos, deixamos o equipo no sítio e retornamos ao Rio. De volta, tivemos a bad trip de perceber o roubo do Marshall, do Ampeg, dos microfones, pratos, enfim, uma verdadeira sacanagem. O alívio foi que não levaram a guitarra e o baixo, que es-tavam num canto da sala. Depois dessa, tiramos umas férias forçadas pra ver como ficavam as coisas, mas o destino não quis a continuação da banda na época. Aos poucos as pessoas se es-palharam em outros projetos paralelos”.

Os registros do Lodo são quase nenhum; a ban-da está presente em uma edição do periódico RS e nada mais. Os problemas foram enfrenta-dos e as carreiras dos integrantes seguiram com interessantes contribuições à música brasileira. O lançamento de um registro fonográfico foi ventilado na época: “a Continental do Rio ia nos gravar, mas perdemos para São Paulo com os Secos & Molhados. Mesmo assim foi uma época memorável que me traz boas recorda-ções”, conta Geraldo. Os anos de peso, válvu-las saturadas e viagens progessivas do Lodo traduzem-se nesta declaração de Martins: “O sonho... pelo menos foi sonhado e vivido a todo volume.”

Anos depois, a parceria de Beto Martins e Pedro Jaguaribe renderia outras bandas como Apaluza, e mais tarde o Ponte Aérea. No ano de 1984 o grupo gravou um disco com Itamar Corrêa, escritor e músico que evoca o Araguaia, com quem desenvolveram um trabalho entre o rock rural, picos de rock progressivo (adap-tado à conjuntura oitentista) e a influência da tradição musical do Centro Oeste, simbolizada muito bem pela carreira de Geraldo Espíndola. Assim o disco torna-se uma amostra, mesmo que distante mais de dez anos, do que foi o Lodo.

bem comentado na época. Ainda bem, afinal, depois de meses trancados em ensaios havia alguma [muita] expec-tativa em relação ao som da banda, mas deu tudo certo.”

Essa formação durou pouco tempo e houve uma troca de vocalista, brecando a prom-issora carreira na seara do rock pesado. Em contrapar-tida, o mesmo lance deu iní-cio a uma produção musical diferenciada. “Na seqüência mudamos para outro sítio, desta vez perto de Petrópolis. Entrou Geraldo Espíndola, composi-tor e cantor inspirado, de Mato Grosso. Com ele acho que estávamos descobrindo um caminho para o Rock Rural, já que ele tocava uma cravi-ola de 12 cordas. Um grande compositor e com muitas músicas novas. Um som muito bom que somado ao peso original do trio ficava ótimo. Melódico, mas pesado; entre Hard e Progres-sivo. Nesse segundo sítio ficamos quase que mais um ano, muitos ensaios, jams e criações. Nessa nova formação, de novo, nada de fitas”, compensadas pelas excelentes lembranças de Beto Martins.

Convidado por Pedro Jaguaribe, o notável

de 12 cordas na banda. Era um som muito especial que a gente fazia. Um som lindo fazia essa banda!”. A local-ização geográfica dos inte-grantes do Lodo refletiu uma mística para Espíndola, fator corrente em conjuntos que se intitulam “progressivo” e que de certa maneira contribuem para imaginar a sonoridade do grupo. “Fazíamos uma lua nova no mapa da América Latina com as cidades de nas-

cimento de cada integrante: Nacho Meña, de Santiago do Chile, eu, de Campo Grande/MS, Beto Martins, o melhor guitarrista do Brasil, de Minas Gerais, e o Pedro do Rio”. Fora a contri-buição musical que tocava a nova musicalidade do Lodo, Geraldo distoava em determinado ponto, as cabeleiras. “Como eu tinha pedido dispensa do Exército, fui ao Rio completamente careca. Fui um dos raros cantores de rock do Rio completamente careca”.

O orgulho de Geraldo por ter composto o “primeiro grupo de rock progressivo no Bra-sil”, veio unido de uma decepção: “Depois do sucesso aqui [no Mato Grosso], voltamos ao Rio, quando roubaram nossos equipamentos”.

por lucas rodrigues de camposentrevista de Beto Martins concedida a Elton e Renato Amorim

ao vivo, no canal Band 13

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Page 11: Jornal coletivo sÓ - Janeiro de 2009

por lucas rodrigues de campos

colaboraram érico e andréudipor lucas rodrigues de campos

udipor lucas rodrigues de campos

grugrudipsicodália udipsicodália udigrupsicodália grugru2009grugru2009gruProposta declarada, O PSICODÁLIA mescla

na medida certa nostalgia com ufanismo ao deixar presente a sonoridade rock setentista nos aspectos diversos que a consagram: rural, psicodélica, estúdios ruins, chiados, fuzz, vozes agudas, emulações sintetizadas, ondas valvu-ladas, udigrudi; Elementos condensados na vocação do festival, que há sete anos sustenta constante qualidade, estrutura, organização e ambiente apropriado para experimentações das mais diversas. Interior, num bom espaço rodeado por montanhas, na cidade de São Martinho em Santa Catarina, uma chácara com lagos e reserva verde. Além das maratonas musicais, divididas em dois palcos – Palco do Sol e Palco do Pasto (palco principal) – a grade de programação inclui ainda eventos gratuitos como exposições, peças de teatro, palestras, ofi cinas várias e workshops. Em edições anteri-ores o evento recebeu como headliners nomes consagrados como Patrulha do Espaço, Sérgio Dias e Casa das Máquinas; Este ano o glorio-so Som Nosso de Cada Dia encabeça o cast, dando continuidade a sua volta aos palcos, ini-ciado neste ano de 2008.

O Udigudi especial desta edição, procura traçar um perfi l sonoro das principais atrações com apresentação marcada nos cinco dias do próximo carnaval. A maior parte das bandas, seguindo a tradição é do Sul, principalmente do estado do Paraná, expondo o arsenal de bandas que a região apresenta. Faremos aqui, um breve release das bandas que se apresen-tarão nos dias 20, 21, 22, 23 e 24 de fevereiro de 2009, no carnaval mais roqueiro do Brasil!

O projeto vem crescendo ano a ano, e cha-ma cada vez mais a atenção dos pirados que apreciam boa música. Sem muita exposição, mesmo em publicações especializadas em músi-ca, o Psicodália junta-se ao coro de outros fes-tivais como o Rock Camping e Camping Rock, e incentiva outros pólos musicais a realizar acontecimentos como este, que montam palcos de qualidade e são ponte da produção mais

barata com o público.

O “Cast” do festival

A mistura de sons regionais ao pop lembra a variada canção nordestina dos 70´s: Rabe-cas, cavaquinhos, clarinete, violas, gaitas re-gionais e distorção, executadas por anos de estudo que buscam a raiz. Os grupos Sopro Difuso (PR) e Trupe Sonora Casa de Orates (SC) unem harmonias sofi sticadas com foco nas fl autas, vezes em arranjos de cordas. Som sin-crético numa linha regional, com sintetizadores e poesia, principalmente o segundo grupo que se apresenta com roupas e intervenções lúdi-cas; Lembram algo do obscuro conjunto Quintal de Clorofi la, que é referência para passagens mais chapadas. Flutuam entre o progressivo, a canção mineira e música andina; Admirável dinâmica nos coros. Semelhantes ao conjunto curitibano Universo em Verso Livre que também traz as mesmas peculiaridades das bandas acima, porém predomina nesta a fácil fl uência do pop que consagrou Zé Ramalho e Alceu na sua fase pós-oitenta.

O corpo da banda Cadillac Dinossauros (PR) evoca rock de peso, tudo mediado por uma cadencia hard, embalados pela sessão rítmica quebrada, meio Led, uma sonoridade mais cosmopolita. Som de cabeludos ávidos por raridades hard-prog tem representação com a banda Mesa Girante (PR), que traz com-posições saturadas, melodiosas e coloridas por um Hammond que guia músicas de “A ao Z”, incrementadas por fl autas, vocais femininos e guitarras estridentes. Todo épico conceito de um prog, riqueza sonora com instrumentais bem arquitetados como comprovam as deliciosas “Liberdade Espiritual” e “Fantasia”.

De Sergipe(Aracaju), o som beat dos com-pactos da Rozemblit é alimentado por sin-tetizadores e uma parafernália que supera as composições. Em resumo, Plástico Lunar - única banda do Nordeste a participar do evento

- apresenta um rock sydbarretiano e letras despretensiosas, com cadencias que resvalam em Jefferson Airplane. Do Paraná e trazendo a mesma proposta dos sergipanos, porém arriscando um pouco mais, surgem os Seres Inteligíveis Vindos do Hiperurano, com suas tecladices a lá’Manzareck, e orquestrações a lá’Duprat, ousam em faixas como “Circo Encan-tado De Lá” – composição máxima da banda. O conjunto mais conhecido do cenário indepen-dente vem do Rio Grande do Sul – circulando pelos lados da capital paulistana, com apre-sentações destacadas na casa Astronete - o trio-dinâmico Pata de Elefante mescla viagens instrumentais entre surf music, heavy rock, pas-sagens progressivas, atmosféricas com infl uên-cias de Hendrix, George Clinton, e do composi-tor italiano Ennio Morricone, famoso por suas trilhas para o cinema . Em cima do palco o trio surpreende com apresentações devastadoras, sendo uma viagem que nunca se sabe onde vai parar e como poderá terminar.

Letras cômicas, polcas, valsas e performance circense... imaginem algo como um Jethro Tull punk! Assim a banda Gato Preto (PR), com seu recém lançado álbum de estréia (do fi nal de 2007) marcará sua presença, como sempre requisitada pelos organizadores e publico do PSICODÁLIA. A seguir, “Rock n´ Acordeon! Subtropicalismo! Teimosia! Vertigem musical!”. É dessa forma que a banda RoberSouTheValsa (PR) se apresenta em seu site no myspace. Eles, que são uma espécie de queridinhos do festival, tendo inclusive estreado nos palcos na primeira versão do PSICODALIA em 2004, fi caram um tempo parados, voltando este ano para a feli-cidade dos roqueiros sedentos por irreverência, loucuras e viagens musicais em cima do palco, destaque para os arranjos de “Guerreiros”. No mesmo caminho, seguem os parceiros do Sopa (PR), investindo um pouco mais na comi-cidade – comicidade, contudo, que deve ser levada a sério, pois não é graça pela graça e sim graça como meio de ilustrar a riqueza so-

foto de divulgação para o periódico Rolling Stone, em algum momento entre 71 e 72

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Um bar de jazz nos fundos de um estacionamento.Sábado, noite quente; cérebros em combustão; O Quinteto liderado por Djalma Lima alternava standards jazzísticos e as nove faixas autorais do segundo e mais recente disco do guitar-rista, lançado pelo selo Guandama Music. Discípulo de Ted Greene e Steve Cardenas no Musicians Institute (GIT) de Los Angeles, EUA, Djalma reuniu em seu novo CD os companheiros da big band Sound Scape; o bat-erista norte-americano Bob Wyatt (que gravou, em 1986, os discos Pindorama, do Grupo Pau Brasil, e Mundo, de Ro-dolfo Stroeter, e já foi sideman de Maynard Fergunson e do lendário Chet Baker no Free Jazz Festival de 1985); o saxofonista Vitor Alcântara que tocou com Túlio Mourão, Banda Mantiqueira e Azael Rodrigues; Cássio Ferreira, saxofonista que gravou com Michel Leme e Alex Buck; e o jovem e talentoso contrabaixista, Bruno Migotto.

Muito diferente da maioria dos CDs de guitarristas – recheados de pretensões e exageradas demonstrações puramente técnicas – este novo trabalho de Lima traz com-posições coesas onde cada músico deu fundamental con-tribuição. O disco, produzido pelo próprio Djalma junto a Fábio Veroneze, foi gravado no Estúdio das Faculdades In-tegradas Cantareira. O lançamento aconteceu no dia 6 de dezembro de 2008, no bar Jazz nos Fundos.

A sonoridade é calcada no be-pop com liberdadew con-servada para migrar a outra vertentes. Em perfeito entro-samento com seu grupo, o band leader, desfere seus solos bem elaborados em complicadas divisões rítmicas; Na se-

djalma lima quintetonora executada pela banda de alto nível profi s-

seu fi el companheiro, o violão. Uma espécie de “mascote” do festival.

Subindo o mapa, no Sudeste, representando as Minas Gerais, o power-trio Zé Trindade; Sem grandes exageros, competente e sem meias palavras, três bons instrumentistas nos fazem lembrar bandas como Mopho e Casa Flutuante. De São Paulo – além do Som Nosso De Cada Dia, (ver sÓ #s 2 e 3) – com a hiper produção visual que inclui um ônibus da década de seten-ta e fi gurinos elaborados. Estação da Luz, de São José do Rio Preto, traz proposta sonora semelhante a da banda Sebbo, vocais femini-nos, nostálgicos timbres valvulados, exuberân-cia em cores e sons, como atesta o promo-clip de “Par Perfeito”, lembrando os clips psicodéli-cos de televisivos como o clássico e fi nado Beat Club. Completando o cast do Psicodália 2009, a banda Soul Barbeccue vem para representar o Rock Da Cantareira, com sua Antiqua Cien-tia Astro-musicallis: riqueza sonora composta de elementos musicais dos mais diversos, tendo como principal ênfase o Rock Progressivo, ai-nda que exibindo talentos jazzisticos e folkistas, o fuzz e as harmonizações vocais do quarteto, tornam seu som ímpar, com composições e ar-ranjos sofi sticados. Mais grupos deverão es-quentar o público durante o dia no Palco do Sol. Até o fechamento desta edição, seus nomes não haviam sido divulgados.

“O Movimento Psicodália busca uma nova era na música, na arte em geral e na sociedade. Bus-camos nos eventos realizados pelo movimento abrir espaço para uma arte livre, com qualidade e ideologia, buscando unir essa luta a modelos de vida que acreditamos serem vitais para a hu-manização das relações entre pessoas. Pacifi smo, respeito, diversão, alegria, consciência ambiental e ecológica, liberdade de expressão e de ‘ser’ fazem parte dessa empreitada por um mundo melhor. Convidamos você a se juntar a nós, par-ticipando e contribuindo com sua presença nos eventos, para que cresçamos e possamos assim difundir um estilo de vida pelo qual acreditamos e lutamos”.

trecho extraído do sítio do festival psicodália

jazz nos fundosjazz nos fundosj

por andré mainardi

Interessado? Aqui estão as coordenadas:site ofi -cial: http://www.psicodalia.mus.br/ comunidade no orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=147516

e-mail: [email protected]

qüência – gravada no enorme e bem equipado estúdio das Faculdades Integradas Canta-reira – destacam-se “I Got It”, composição de Wyatt, “Fui!”, “Idéia Fixa”, “Proximidade” e “Pete(r)”, bela homenagem de Djalma a Pete Wooley, falecido baixista de Tutti Moreno e do projeto Brazilian Jazz.

Saiba mais:www.djalmalima.com

psicodália 2009sional. Ainda mais gracioso é o vocal feminino e chapado de Daniele Madrid, que guia a banda em suas viagens sonoras. Instrumenta-ção elaborada, plantel numeroso, uso inusitado de acordeons, timbragens modernas com leves pitadas de rock psicodélico e muita diversão com a “clown music” da gaúcha Bandinha Di Dá Dó: uma banda formada por palhaços-músicos, literalmente. Sem dúvida uma nova e interes-sante proposta musical que parece fazer a ca-beça do público.

Para completar a salada sonora que o festi-val oferece, participa também o grupo Tântalus Cantantes (PR). Sem acesso ao som da banda, tivemos a segura informação de que se trata de um inusitado grupo que toca musicas indi-anas com cítaras, violinos, instrumentos acústicos e outros não-convencionais. Impressiona tam-bém o projeto ousado de O Conto (PR) - que pretende estrear seu primeiro trabalho em CD no festival- trata-se de um trio multiinstrumental que tem como propósito “contar estórias acom-panhados de música progressiva/psicodélica”, conforme o site do PSICODÁLIA.

Outros veteranos do festival são as bandas paranaenses Goya e O Sebbo, que conquista-ram o público com suas particulares contri-buições musicais. Enquanto Goya esbanja um jazz porretaespacial do planeta GOYA – seu lema: Vivemos no planeta Goya! Em breve mais uma nave estará partindo. Suba! O Sebbo, que inclusive acaba de tirar do forno seu álbum de estréia “Porque Não Sabíamos Voar” confi gura tresloucadamente, uma síntese perfeita en-tre o hard, o funk e o prog setentistas, talvez como nenhuma outra banda no festival, um rock and roll “do bão” que dialoga com o rock das bandas daqui de Sampa, como atesta “O Seu mundo inteiro vai cair” , meio Made In Brazil, e a piradaça “Vozes Distantes”. Para fi nalizar as bandas sulistas do evento, temos ainda o som bem rítmico e grooveado, um hard blues psi-codélico dos Calibrados (PR) e o mítico Plá, a versão paranaense do maluco de BR Ventania, de São Thomé das Letras; Suas canções de via-gem, trova de estrada, se fazem necessárias num festival desse porte, no sentido de conectar o público com uma proposta musical mais direta e simplista. Afi nal, não poderia deixar de fal-tar no PSICODÁLIA um representante autêntico do folk-brasileiro: um hippie-de-estrada cabe-ludo, cheio de mensagens, simbolismos e idéias libertárias para o público, acompanhado por