jornal cidadão - 2ª edição 2011

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Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul Ano XII - Número 39 - Maio de 2011 Lei antifumo autua bar em São Paulo A Lei antifumo tem marcado presen- ça na vida dos paulistanos. No mês de abril, um bar na Zona Norte so- freu as consequências da Lei, ficando interditado por 48 horas. Página 3 Polícia Federal abre investigação Ossadas encontradas no cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, podem ser de militantes desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil. Página 2 Ciência a favor da saúde Até que ponto a ciência pode co- laborar com o desempenho de um atleta? A resposta pode estar em uma das pesquisas do ICAFE (Instituto de Ciências da Atividade Física e Es- porte). Nessa reportagem, professo- res e alunos expõem seus trabalhos e mostram que ciência e saúde podem caminhar juntas. Página 5 Novo ato pela implantação da Unifesp Organizado pelo Movimento Nossa Zona Leste, manifestação será realizada com o objetivo de implantar a primeira Universidade Federal na região. Com mais de 4 milhões de habitantes, a Zona Leste se organiza em reuniões por direitos básicos para a população. Página 4 Depois de sofrerem um terremoto seguido de tsu- nami, os japoneses buscam se restabelecer emocio- nalmente. Mesmo aqueles que conseguiram sair ilesos fisicamente e não tiveram nenhum dano ma- terial sentem que os traumas gerados no dia 11 de março não serão fáceis de superar. Página 6 Japão em caos após vazamento nuclear O país ainda sofre consequências do acidente radioativo que aconteceu há mais de dois meses. Saiba mais sobre esse e outros desastres nuclea- res que entraram para a História. Página 7 EnCom promove debate sobre novas tecnologias Em sua 9ª edição, o Encontro de Comunicação da Universidade Cruzeiro do Sul discute o impac- to de novas ferramentas tecnológicas no cotidiano profissional dos comunicólogos. Página 8 Banco de Imagens Walace Toledo Arquivo Sandra Mesquita Tragédia no Japão deixa traumas psicológicos

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Page 1: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul

Ano XII - Número 39 - Maio de 2011

Lei antifumo autua bar em São PauloA Lei antifumo tem marcado presen-

ça na vida dos paulistanos. No mês

de abril, um bar na Zona Norte so-

freu as consequências da Lei, ficando

interditado por 48 horas. Página 3

Polícia Federalabre investigaçãoOssadas encontradas no cemitério

da Vila Formosa, na Zona Leste de

São Paulo, podem ser de militantes

desaparecidos durante a ditadura

militar no Brasil. Página 2

Ciência a favor da saúdeAté que ponto a ciência pode co-laborar com o desempenho de um atleta? A resposta pode estar em uma das pesquisas do ICAFE (Instituto de Ciências da Atividade Física e Es-porte). Nessa reportagem, professo-res e alunos expõem seus trabalhos e mostram que ciência e saúde podem caminhar juntas. Página 5

Novo ato pela implantação da UnifespOrganizado pelo Movimento Nossa Zona Leste, manifestação será realizada com o objetivo de implantar a primeira Universidade Federal na região. Com mais de 4 milhões de habitantes, a Zona Leste se organiza em reuniões por direitos básicos para a população. Página 4

Depois de sofrerem um terremoto seguido de tsu-

nami, os japoneses buscam se restabelecer emocio-

nalmente. Mesmo aqueles que conseguiram sair

ilesos fisicamente e não tiveram nenhum dano ma-

terial sentem que os traumas gerados no dia 11 de

março não serão fáceis de superar. Página 6

Japão em caos após vazamento nuclearO país ainda sofre consequências do acidente radioativo que aconteceu há mais de dois meses. Saiba mais sobre esse e outros desastres nuclea-res que entraram para a História. Página 7

EnCom promove debate sobre novas tecnologiasEm sua 9ª edição, o Encontro de Comunicação da Universidade Cruzeiro do Sul discute o impac-to de novas ferramentas tecnológicas no cotidiano profissional dos comunicólogos. Página 8

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Walace Toledo

Arquivo

Sandra Mesquita

Tragédia no Japão deixa traumas psicológicos

Page 2: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

Após 26 anos do término da ditadura militar, em fevereiro de 2011, a Polícia Federal instalou uma base permanente em São Pau-lo a fim de centralizar os estudos de ossadas que podem ser de militan-tes mortos durante o regime (1964-1985) e que supostamente estariam enterrados nos cemitérios de Vila Formosa e Perus.

Em uma parceria com o IML (Instituto Médico Legal) de São Pau-lo, as atividades tiveram como foco inicial as descobertas dos restos mor-tais do militante Sérgio Corrêa, da ALN (Ação Libertadora Nacional).

No início de dezembro, foram retiradas de uma vala, no cemitério da Vila Formosa, várias ossadas que seguiram para exames antropoló-gicos. Depois de catalogados, os dados das ossadas serão cruzados com um banco de dados sobre uma centena de desaparecidos políticos, montado pela Secretaria de Direi-tos Humanos da Presidência da Re-pública. Após essa triagem inicial, serão definidas quais ossadas vão ser submetidas a exames de DNA.

Em entrevista concedida à Agência Brasil, Jeferson Evangelista Corrêa, chefe de medicina foren-se do INC (Instituto Nacional de Criminalística) da Polícia Federal e responsável pela coordenação da base instalada em São Paulo, disse que as análises das ossadas, embora muitas vezes não conclusivas, são essenciais para o processo de iden-tificação. Isso porque os restos mor-tais que podem ser de militantes foram encontrados com os restos mortais de indigentes.

Anteriormente, as atividades de investigação foram realizadas em etapas e com interrupções, porém, agora, com uma sala permanente no IML, pretende-se ter uma apuração mais rápida. Em contato com a res-ponsável pelo núcleo de Antropolo-gia do IML, esta diz não estar auto-rizada a pronunciar-se sobre o caso.

Mesmo com as dificuldades, os trabalhos devem terminar daqui a

cinco anos. O estudo deve ser muito cuidadoso, visto que os ossos estão frágeis. A atual administradora do

cemitério de Vila Formosa II, Maria Lúcia Carvalho, afirma: “Os des-pojos levados pelos peritos do IML ainda estão em análise, porém não há respostas conclusivas”.

De acordo com Maria Lúcia, um dos percalços encontrados nesse tra-balho refere-se à descaracterização do cemitério ocorrida desde os anos 1970. “É muito complicada a locali-zação exata da sepultura, pois houve muitas modificações no cemitério, como a abertura de ruas, o plantio de árvores, dentre outras alterações”. Contudo, tem-se a expectativa de que até o primeiro semestre deste ano seja possível descobrir algo.

Virgílio Gomes da Silva, que era militante da ALN durante a ditadura militar e, supostamente, está enter-rado no cemitério da Vila Formosa, é um dos alvos das investigações. O trabalho de busca de suas ossadas foi retomado a partir de análises de fotos aéreas, mapas e registros antigos do

cemitério feitos por peritos de geo-física da Polícia Federal, para, assim, delimitar as áreas com maior proba-bilidade de terem recebido o corpo.

Em entrevista concedida ao blog Tortura Nunca Mais, Francisco Go-mes da Silva, irmão de Virgílio e que também foi preso político, diz: “Um delegado do Deops, cujo nome não me recordo, falou que Virgílio havia sido enterrado na quadra do Deops no cemitério de Vila Formosa.”

Os corpos de outros militantes também serão identificados. Maria Lúcia Carvalho acredita que pos-sam existir outros casos de pessoas desaparecidas. “Devem existir, po-rém, não estão sendo procurados”. Nos próximos meses, está prevista a realização de trabalhos nos cemité-rios do Araçá e de Parelheiros pela Polícia Federal. A administradora se diz empenhada em desenvolver sua função da melhor maneira possível. “Embora não tenhamos nada a ver com o que aconteceu no passado, é nossa missão hoje, como profissio-

nais, chegarmos a uma conclusão positiva. Estou ciente de todas as di-ficuldades, mas localizar os despojos seria uma grande satisfação, pois sei o quanto isso é importante para as famílias”, revela Maria Lúcia.

No dia 22 de março, a ministra da SEDH (Secretaria Especial dos Direitos Humanos), Maria do Rosá-rio, anunciou que o governo federal quer construir um memorial em ho-menagem aos desaparecidos durante a ditadura militar. De acordo com ela, o governo tem procurado cum-prir o seu papel, organizando buscas na região do Araguaia e no cemitério da Vila Formosa.

A respeito desse assunto, Wild-ney Feres Contrera, historiadora e mestre em ciência da comunica-ção, comenta: “A Presidente Dilma Roussef ordenou a abertura de to-dos os documentos sigilosos sobre o tema e foi enfática em dizer que quer que a sociedade saiba o que aconteceu no período da ditadura”, opina Wildney.

DIREITOS HUMANOS PÁGINA 2 - MAIO DE 2011

Professores-orientadoresDirceu Roque de Sousa,

Flávia Serralvo e Regina Tavares.

Também participaramdesta edição os alunos:Mariana Barbosa, MaurícioNoronha, Renata Pereira e

Sheila Procópio.

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismoda Universidade Cruzeiro do SulAno XII - Número 38 - Maio de 2011

Telefone para contato: (11) 2037-5706Tiragem: 3 mil exemplares

Impressão: Jornal Última Hora (11) 4226-7272

ReitoraProfa. Dra. Sueli Cristina Marquesi

Pró-reitor de GraduaçãoProf. Dr. Luiz Henrique Amaral

Pró-reitor de Pós-graduação e PesquisaProf. Dr. Danilo Antonio Duarte

Pró-reitor de Extensão eAssuntos Comunitários

Prof. Dr. Renato PadoveseCoordenador do

Curso de JornalismoProf. Ms. Carlos Barros Monteiro

Polícia Federal faz exumações em cemitériosNo cemitério de Vila Formosa são realizadas buscas por corpos de desaparecidos da ditadura

O cemitério Vila Formosa se torna alvo de investigação da Polícia Federal

O Memorial da Resistência de SP está sediado no antigo Deops

Exposições preservam a memória da resistência política na ditadura militar

Fernanda Ricardo

Bruno D

ionísio

Elisabeth Costa

Elisabeth Costa

Editorial

Em conjunto

Esta edição do Cidadão cele-bra a união: todas as matérias que você irá acompanhar fo-ram produzidas em conjunto entre os estudantes de Jorna-lismo dos campi Anália Franco e São Miguel da Universidade Cruzeiro do Sul, agregando, assim, os interesses dos leitores de diferentes bairros da Zona Leste paulistana. Logo de cara, na editoria Di-reitos Humanos (p.2), confira uma matéria investigativa a respeito de possíveis ossadas de militantes do regime militar (1964-1985) encontradas no cemitério da Vila Formosa. Na editoria Saúde e Bem-Es-tar (p.3), entenda os motivos que levaram a Lei antifumo a fechar o primeiro bar na cidade de São Paulo e os efei-tos do tabaco em fumantes ativos e passivos.Em Urbano (p.4), conheça o Movimento Nossa Zona Leste e sua luta a favor da instala-ção da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) na re-gião, o primeiro de 16 proje-tos criados pela organização popular a favor de melhorias para o local. Na editoria Ciência e Tec-nologia (p.5), saiba mais so-bre pesquisas que possuem o objetivo de trazer inovações no setor em prol da saúde, colaborando com o condicio-namento físico e o desenvol-vimento real de atletas.Em Mundo (p.6), saiba mais sobre o calendário oficial do Momento Itália no Brasil, evento que rememora a imi-gração deste povo em nosso país e que terá início no mês de outubro. Ainda na mesma página, uma reportagem que aborda as consequências emo-cionais do desastre que asso-lou o Japão no último mês de março. Mais sobre a situação japonesa atual pode ser en-contrada na editoria Memória (p.7), que relembra os princi-pais acidentes nucleares que aconteceram no planeta.Ainda no clima de união, a última página do jornal (p.8) traz a cobertura especial do 9º EnCom (Encontro de Co-municação) ocorrido entre os dias 16 e 20 de maio, no qual professores, alunos e profis-sionais tiveram a oportuni-dade de trocar informações e experiências a respeito das variadas áreas que escolheram seguir dentro da comunica-ção.A equipe do Cidadão deseja que todas as reportagens lhe agre-guem conteúdo e informação. Boa leitura!

Professores-orientadores:Dirceu Roque de Sousa,

Flávia Serralvo e Regina Tavares.

Também participaram desta edição:Anselmo Duarte, Bianca Castilho, Danilo Cardoso, Douglas Fernandes, Elizabete

Farias, Felipe Silva, Gisele Martins, Ingrid Campos, Ingrid Taveira, Jaqueline Bomfim,

Jenifer Santos, Jessica Ferro, Karen Souza, Laerte Santos, Larissa Leonardi, Mirian Freitas, Nathalia Pereira, Roseane

Ferreira, Sheila Procópio, Tamires Freitas, Thaís Gonçalves e Vasco Guimarães.

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Diagramação Final: Jefferson Barbosa

Page 3: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

O cigarro não provoca altera-ção de comportamento como o álcool ou outras substâncias psi-coativas. O prejuízo é com relação à saúde do fumante e das pessoas que inalam a fumaça do cigarro e, consequentemente, ficam expostas aos males pro-vocados pelo tabagismo no organismo.

“As con-sequências a médio e longo prazo são a di-minuição do olfato e pala-dar, periodon-tite, insuficiên-cias vasculares, AVCs, infartos cardíacos, enfisema e câncer de pulmão, dentre outros males”, relembra o médico Fabio Augusto Arruda de Oliveira.

Para parar de fumar, muitos recorrem a medicamentos e trata-

mentos psicológicos. A medicação auxilia na eliminação da depen-dência física e na superação dos sintomas da abstinência, mas o médico pede cautela: “Todos esses novos medicamentos são eficazes, mas têm diferentes mecanismos de ação e, portanto, têm indicaçoes específicas. Como qualquer medi-cação apresenta contraindicaçoes e efeitos colaterais. Esses remédios devem ser prescritos por médicos após avaliação completa e adequa-

da”.Para uma

pessoa que não fuma e trabalha, por exemplo, como guarda de trânsito em grandes e con-gestionadas ave-nidas, a fumaça da poluição será muito mais pre-judicial do que

a do tabaco. Em outro extremo, uma pessoa que fuma uma grande quantidade de cigarros, mas que não fica exposta tão intensamente à poluição, terá um prejuízo ainda maior por conta do tabaco.

SAÚDE E BEM-ESTAR MAIO DE 2011 - PÁGINA 3

Lei antifumo fecha primeiro bar em São Paulo

Fumantes passivos também são prejudicados

Fumantes e não fumantes debatem o teor da Lei que entrou em vigor há dois anos

“O cigarro contém substâncias que geram a dependência física, mas também existe a dependência emo-cional: o prazer que ele proporciona, a companhia que ele faz, o auxílio que ele dá para a pessoa relaxar e a dissipação momentânea da ansieda-de em situações difíceis”, diz Olga Tessari, psicóloga, escritora e espe-cialista em estudos relacionados à dependência física e emocional cau-sada pelo tabaco.

Desde agosto de 2009, quando a Lei antifumo entrou em vigor, fu-mantes foram restringidos de fumar em lugares fechados, tais como: escolas, pousadas, hotéis, condo-mínios, entre outros. A Lei está consolidada e comemorará no dia 7 de agosto seu segundo aniversário. Bares e restaurantes sofreram im-pacto no início, mas de acordo com Stéfano Filho, proprietário de um bar localizado na Zona Leste de São Paulo, todos aderiram à Lei e não houve declínio na frequência do lo-cal. “Não perdi clientes, porém as pessoas preferem ficar do lado de fora ao invés de ficar no interior do bar”, explica Filho.

Quando perguntado se algum cliente já desrespeitou a Lei, o pro-prietário diz: “Raramente. Muitas vezes é por distração, mas basta lembrá-lo da Lei e ele respeita na mesma hora”.

No dia 14 de abril, o primeiro bar foi fechado por descumprir a Lei antifumo na cidade de São Paulo. O local já havia sido multado por duas vezes e foi flagrado novamente, no início de abril, liberando os frequen-

tadores a fumarem em áreas internas do bar. Como punição, o bar perma-neceu fechado por 48 horas. Essa foi a segunda interdição no Estado – em novembro de 2009, um bar localiza-do em Mogi da Cruzes ( Grande São

Paulo) já havia sido fechado por dois dias por descum-primento à Lei.

A multa para a primeira infração é de R$792,50 e, em caso de rein-cidência, o dobro do valor é cobra-do. Caso haja uma terceira infração, o estabelecimento é interditado por

48 horas. Se o estabelecimento des-cumprir a Lei pela quarta vez, ficará fechado por 30 dias.

Os malefícios provocados pelo cigarro atingem a saúde física do indivíduo, e, ultimamente, devido

ao preconceito gerado pelas pesso-as em relação ao fumante, podem trazer consequências negativas no âmbito social. Olga Tessari ressalta: “Se o fumante não consegue parar, sua autoestima pode diminuir e, sua ansiedade, se elevar, o que pode fazer com que ele fume ainda mais. Ele também pode evitar o convívio social e ter depressão por não conse-guir parar de fumar”.

No início dos anos 80 foi divul-gado um estudo realizado no Japão sobre casos de câncer de pulmão em pessoas que não eram fumantes. Foram avaliadas cerca de 100 mil mulheres e constatou-se que aque-las que possuíam maridos fumantes apresentavam incidência dobrada de câncer pulmonar.

Para os não fumantes, a Lei pare-ce agradar. As pessoas se mostram fe-lizes por saírem dos mais diferentes ambientes fechados sem cheiro de cigarro. A estudante Camila Carpi-nelli, não fumante, é favorável à Lei. “Por conta da asma, agora me sin-to muito mais segura ao sair à noi-te com o meu namorado”. Outros concordam com os fumantes sobre o radicalismo da Lei. Para Damáris Picca, não fumante, a Lei representa uma repreensão exagerada e radical, apesar de crer que os ambientes me-lhoraram e o cheiro de cigarro ficou do lado de fora. “Particularmente não me incomodava muito. Eu lido com muita gente que fuma, meu marido fuma, o pessoal com quem eu saio à noite fuma, amigos fumam. Mas, enfim, eu acho que melhorou”, responde Damáris.

Para o fumante Adilson Pessônia, a Lei acabou contribuindo para a di-minuição da quantidade de cigarros que fuma, principalmente quando vai para “baladas” e restaurantes. Ele ressaltou que continua indo aos lu-gares que proíbem o tabaco, e, nes-ses casos, dá um jeito de sair do local para fumar. Quando perguntado se, após a implantação da Lei, passou a se sentir envergonhado, revela: “Eu concordo que tem uma patrulha extremamente grande em cima do fumante, tem um cerco formado em cima do fumante. Mas, vergonha? Absolutamente não! Eu assumo muito bem o fato de ser fumante e respeito quem não é”.

Carolina CamposJosé Pessoto

Roberta Galvão

Adriana NascimentoCarolina Campos

José PessotoJuliana VelosoRoberta Galvão

“Quem não fuma, mas vive em grandes cen-tros urbanos como São Paulo, sofre as mesmas consequências de pes-soas que fumam quatro cigarros por dia.”

“As pessoas se mostram felizes por saírem dos mais diferentes ambientes fechados sem cheiro de cigarro”

Roberta G

alvão

Banco de Im

agens

Quantidade mínima de cigarros consumidos por fumantes diariamente

A Lei comemorará seu segundo aniversário no dia 7 de agosto

Page 4: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

No dia 21 de maio, o Movimen-to Nossa Zona Leste deve promover um “abraço” na antiga metalúrgica Gazarra, de 175 mil m², localiza-da na Avenida Jacu Pêssego. O local deve receber a instalação da primeira Universidade Federal da Zona Leste. Coordenado por Antônio Marchione, mais conhecido como Padre Ticão, o Movimento conta com lideranças comunitárias e parlamentares em prol da compra do terreno e da instalação final da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em Itaquera.

Com uma população ultrapassan-do a casa dos 4 milhões, segundo da-dos do censo de 2010, a região Leste do município de São Paulo há tempos reivindica a criação de uma universida-de pública no local. Segundo envolvi-dos no Movimento, a reivindicação foi estimulada pelo aumento do número de unidades de universidades federais, criadas nos últimos oito anos do Go-verno Lula. Movimentos populares engajados na luta pela educação e por direitos básicos não faltam na região. Para Thais dos Santos Lima, designer gráfica, em vias de prestar o vestibu-lar, a participação dos moradores em movimentos que lutam por melhorias da região é de fundamental importân-cia. “Na minha opinião, as pessoas se acomodaram com a situação. O que se vê é a corrupção correndo livremente e o povo assistindo apático. Por isso as lutas desses movimentos se tornam tão necessárias não só para a região, mas para o país”, afirma a designer.

O Movimento Nossa Zona Les-te foi inspirado na Rede Nossa São Paulo, que luta por melhorias desde 2007. Com sede em Ermelino Mata-razzo, mais especificamente, na Igreja São Francisco de Assis, o movimento é liderado por Padre Ticão. Ele afir-ma que está cada vez mais próximo de se concretizar a criação do campus Itaquera da Unifesp. “A Unifesp está concretamente bem encaminhada, o prefeito vai comprar o terreno”, diz Padre Ticão. Nos últimos quatro anos, a universidade multiplicou por seis o número de alunos da graduação –, eram 1.150 e hoje são 7 mil.

Para Douglas Agustini Reiche, estudante da Escola Estadual Padre

Antão, localizada na Penha, a insta-lação da Unifesp tem seu lado bom e ruim. “É uma grande oportunidade para a população de baixa renda, mas também é um local de acesso difícil, pois fica na contra-mão do metrô. É preciso investimentos no transporte público”, comenta Reiche.

Segundo Padre Ticão, o Prefeito Gilberto Kassab assumiu o compro-misso de comprar o terreno durante visita em 2010, quando foi dado o primeiro abraço simbólico no local. Segundo Carlos Francisco, repre-sentante da Unifesp, a instalação da universidade na Zona Leste é um grande avanço. “A universidade, poli-ticamente, tomou a decisão de fazer a Unifesp na Zona Leste, inclusive com a aprovação do conselho universitário. Agora, precisamos receber o terreno da Prefeitura para que a universidade

seja construída, o que será importan-te para o desenvolvimento da região, não só pelos cursos de graduação e de extensão, mas e principalmente pela pesquisa”, informou Francisco.

Até a data de fechamento desta edição, a assessoria de imprensa da Prefeitu-ra não se pronunciou, após ser procurada por nossa equipe de repor-tagem. No dia 27 de julho de 2010, o site do Estadão divulgou que o Prefeito já assinou a desapro-priação do terreno. O projeto está inserido na política de planejamento da Prefeitura, cujo objetivo é reduzir a necessidade de deslocamentos pela ci-dade, no movimento pendular “casa--trabalho-casa” ou “casa-estudo-casa”.

Com a Reuni (Reestruturação e

Expansão das Universidades Fede-rais), o Governo Federal pretende criar, no Estado de São Paulo, o Anel Universitário, em alusão ao projeto do Rodo Anel, iniciado no Governo de Mário Covas e ainda inacabado.

“A Unifesp nasceu em 1994 na Vila Maria-na, depois abriram em Diadema, San-tos, ABC, Guarulhos, Osasco, Santo Amaro e São José dos Campos. São quase 10 campi”,

explica Padre Ticão.A vinda da Unifesp para a Zona

Leste também terá como objetivo o desenvolvimento de projetos para integrar a população no mercado de trabalho. Serão realizados cursos de extensão, como capacitação de profes-sores do ensino médio e fundamen-

tal, oficinas de arte e teatro, além de programas de prevenção e assistência a dependentes químicos.

Há uma grande preocupação com os cursos que serão oferecidos na Unifesp. “É importante enfatizar que toda universidade, toda instituição é obrigada a ter o ensino, a pesquisa e a extensão”, explica o Padre Ticão.

Após muito se discutir com li-deranças locais, foram apresentadas propostas de extensão e de inicia-ção científica que serão ministradas pela universidade.

Dentre as 16 propostas, destacam--se a criação de um observatório de políticas públicas; a capacitação de professores do ensino fundamental e médio; projetos como a Plataforma de Tecnologia Social e projetos de econo-mia solidária, meio ambiente, comu-nicação, arte, teatro, entre outros.

URBANOPÁGINA 4 - MAIO DE 2011

Presença dos jovens marca o 1º Abraço Coletivo em torno do terreno onde será construída a UNIFESP, no bairro de Itaquera

Arquivo

Arquivo

Continua luta pela Unifesp na Zona LesteA instalação da Universidade é o primeiro de uma série de 16 projetos que visam à melhoria da região

Deputado Paulo Teixeira, Prefeito Kassab e Padre Ticão (da esq. para a dir.)

Padre Ticão, articulador do Movimento Nossa Zona Leste

Roseane C

ostaR

oseane Costa

“A Unifesp está concretamente bem en-caminhada, o prefeito vai comprar o terreno”

Bruna SalesMaurício Noronha

Page 5: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

Funcionando desde 2007, o ICAFE (Instituto de Ciências da Ati-vidade Física e Esporte), localizado no campus Liberdade da Universida-de Cruzeiro do Sul, tem sido respon-sável por promover diversas pesquisas científicas no âmbito da saúde e da preparação física.

Estruturado com equipamen-tos de alta tecnologia, o centro de pesquisas direciona seus estudos às áreas de Educação Física e saúde e conta com laboratórios de análise química, biológica e de movimentos do corpo humano, entre outros. O ICAFE, além de possibilitar os es-tudos de mestrado e doutorado na área de Ciências Biológicas, presta serviços a atletas e segmentos espe-cíficos da sociedade, escolhidos de acordo com as pesquisas em voga e incorporados aos respectivos estudos.

De acordo com Camila Mar-ques, estudante do curso de mes-trado em Ciências do Movimento Humano, a participação das pessoas nas pesquisas realizadas é benéfica para os pesquisadores e para a so-ciedade. “Eles ficam interessados, eles querem ajuda. Querem partici-par de uma pesquisa interessada na saúde deles.” afirma Camila. Para os pesquisadores, essa participação é importante porque permite o avanço dos estudos realizados. “Os trabalhos

experimentais são feitos em animais. Começa com um estudo em animal, para você ver se pode transferir para os humanos. Depois, é outra eta-pa. Você vai avançando a pesquisa”, complementa a estudante.

Entre as pesquisas mais recentes, efetuadas pelo instituto, estão estu-dos relacionados a atletas de jiu-jitsu e arqueiros; pessoas com diabetes e obesidade infantil e atletas cadeiran-tes que jogam basquete. Em todas as situações, a realização de avaliação

física e muscular dos envolvidos é proposta pelo ICAFE. Além disso, no LAM (Laboratório de Análise do Movimento) também são realizados projetos voltados para a dislexia e sua relação com o sistema motor, para o controle sensorial e postural de idosos e para crianças com paralisia cerebral.

A importância dos projetos de-senvolvidos no instituto pode ser medida pela influência que exercem no exterior. Tania Phiton-Curi, coor-denadora do projeto, salienta que o benefício à área de saúde e bem-estar físico é maior quando artigos cientí-ficos são publicados em revistas espe-cializadas do exterior, já que eles estão aptos, dessa forma, a alcançar mais pessoas. “Nós fizemos um levanta-mento e contabilizamos que nós pu-blicamos 98% de nossos artigos em revistas internacionais”, ressalta Ta-nia. Além disso, os resultados parciais alcançados podem ser encaminhados a congressos, e, caso sejam seleciona-dos, apresentados em palestras cientí-ficas, como é o caso da pesquisa dire-cionada à imunossupressão, ou seja, a diminuição da eficiência do sistema imunológico, ocasionada pela prática de exercícios intensos. O artigo foi

selecionado para integrar o European College of Sports and Medicine, em Liverpool.

A presença dos aparatos tecnoló-gicos são, de acordo com os estudan-tes, essenciais para o andamento dos projetos. Segundo Tatiana Polotov, estudante do mestrado em Ciências do Movimento Humano, sem a es-trutura científica e tecnológica dis-ponibilizada pelo ICAFE não seria possível ter um resultado real, apenas trabalhos de revisão e pesquisas teóri-cas. “O trabalho de revisão nos forne-ce dados de pesquisas científicas feitas até hoje. Esses equipamentos nos per-mitem utilizar esses dados e tentar vá-rias hipóteses de como a gente pode modular o conhecimento já adquiri-do”, explica Kim Caçula, estudante do mestrado em Ciências do Movi-mento Humano. Para André Rocha, estudante do curso de mestrado em Ciências do Movimento Humano, a ciência e a tecnologia   proporcio-nam o aprofundamento em áreas já conhecidas, como a dislexia, habitu-almente relacionada apenas a proble-mas cognitivos. “Aqui no laboratório estamos tentando verificar se crianças com dislexia apresentam outro tipo

de deficiência, além da leitura e escri-ta, para tentar inferir as causas desse distúrbio”, salienta Rocha.

O citômetro de fluxo é um apare-lho que está disponível em apenas al-gumas instituições de ensino no Bra-sil e possibilita a análise de diferentes fases da maturação de células. “Você consegue separar as células em dife-rentes estágios, selecionar diferentes tipos de células do sangue. E ele faz uma separação toda robotizada, com maior pureza, maior rendimento, sem que a gente precise colocar a mão”, esclarece Renata Gorjão,  Professora Doutora do ICAFE. Segundo ela, o citômetro de fluxo tem sido essencial, por exemplo, para a pesquisa em an-damento sobre a obesidade infantil, pois permite avaliar grupos de células ligadas ao possível desenvolvimento de doenças inflamatórias. “Através do citômetro, a gente consegue avaliar a quantidade dessas células no sangue dessas diferentes crianças”, conclui.

Para Felipe D’Avila, praticante de jiu-jitsu, as pesquisas são total-mente benéficas para os atletas, pois propiciam melhor aproveitamen-to do esporte escolhido e ajudam a aprimorar o desempenho. De acordo com Caçula, a importância das pes-quisas realizadas no ICAFE está no fato de que, infelizmente, muitos dos problemas abordados por elas estão presentes no nosso cotidiano. “O último índice do IBGE comprovou que o número de pessoas com sobre-peso e obesas no Brasil tem crescido de forma assustadora”.

Pesquisas aplicam tecnologia a favor da saúdeUniversidade promove estudos voltados ao preparo físico e às ciências do movimento humano

Felipe AccacioTatianne Francisquetti

Tania Phiton-Curi mostra os benefícios à área de saúde e bem-estar Citômetro, exclusivo aparelho utilizado

Walace Toledo

Walace Toledo

Walace Toledo

ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Estuda os efeitos do exercício físico e do nível de atividade física habitual na prevenção e/ou tratamento de doen-ças crônico-degenerativas.

COORDENAÇÃO E CONTROLE DO MOVIMENTO HUMANOInvestiga os aspectos relacionados à aquisição, execução e aperfeiçoamento dos movimentos dos seres humanos com ou sem necessidades especiais em diferentes faixas etárias.

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Estuda os efeitos de diferentes intensidades do exercício em indivíduos praticantes de programas de treinamento crônico, intermitente e exercícios agudos sobre as funções orgânicas.

NUTRIÇÃO APLICADA À ATIVIDADE FÍSICA, ESPORTE E SAÚDEAvaliação nutricional e uso de suplementos nutricionais por indivíduos praticantes de atividade física, atletas e portadores de doenças crônicas, como diabéticos, hipertensos e obesos. Estudo do metabolismo, principalmente das adaptações do músculo esquelético.

Linhas de Pesquisa do ICAFE Infográfico: André Zanon João Pontaltti

O Grupo ICAFE está lo-calizado na Universidade Cruzeiro do Sul - Campus Liberdade na Rua Galvão

Bueno, 868 - São Paulo/SP

Contato:(11) 3385-3000

www.cruzeirodosul.edu.br

Divulgação

Universidade Cruzeiro do Sul - Campus Liberdade

Grupo ICAFE - Da esquerda para a direita, os estudantes: José Ricardo, Tatiana, Kim, Camila, Cristina e Gilson

SAÚDE E BEM-ESTAR MAIO DE 2011 - PÁGINA 5

Page 6: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

MUNDOPÁGINA 6 - MAIO DE 2011

Impactos emocionais assolam JapãoEnquanto o país se reconstrói da trágedia, as consequências psicológicas permamecem incertas

Aline Maciel Fabiana Chagas

O “ antes e depois” das regiões afetadas pelo terromoto e o tsunami que atingiram o Japão

Após o terremoto de magnitude de 8,9 graus na escala Richter que assolou o Japão e gerou um tsuna-mi de dez metros destruindo cidades litorâneas próximas ao epicentro (ponto da superfície terrestre onde se registra a intensidade máxima de um movimento sísmico), a população e seus familiares sofrem com as perdas de parentes, amigos e bens, além do impacto de traumas psicológicos.

Atualmente, mais de 250 mil bra-sileiros vivem no Japão. Acostumados com os tremores, alguns se assustaram com a intensidade alcançada. “Tente se imaginar em um cenário em que você acorda com a impressão de que sua cama está se mexendo, acende a luz e vê o lustre girando, tenta levan-tar e cai no chão em seguida”, relata

Leonardo Tsuda, músico, que viveu no Japão por seis anos e presenciou vários terremotos. Para ele, nenhum foi tão intenso quanto o do dia 11 de março deste ano, que matou mais de 12 mil pessoas.

Sérgio Massao, que retornou ao Brasil em 1°de abril, conta o que vivenciou quando tudo aconteceu. O estudante morava no 2º andar de um apartamento na cidade de Seza-qui, localizada a 200 quilômetros de Fukushima. “Meus pais estavam trabalhando e eu estava em casa. Acordei com os impactos do terre-moto. Tudo balançando e muitos tremores. Saí na rua e encontrei vá-rias pessoas, todas assustadas. Pro-curamos abrigo em um estaciona-mento, mas a sensação de pavor era muito grande”, descreve Massao.

Muitas famílias passaram por momentos de grande tensão aguar-

dando notícias de seus parentes, que viviam próximo das regiões afetadas. Depois do terremoto e do tsunami, as linhas telefônicas do Japão fica-ram congestionadas, aumentando ainda mais a aflição daqueles que aguardavam por notícias.

Para o psicólogo Sérgio Wesley Barbosa, o que mais ocasiona sofri-mento é a distância dos familiares. “O mais difícil é estar longe. Se você

está perto, pode ajudar mais. Estar a milhares de quilômetros de seu fi-lho, sabendo que ele pode morrer a qualquer momento, é algo altamen-te angustiante”, analisa.

A aposentada Dirce Akira diz ter ficado apavorada sem informações do filho, que vive em Nagoya há 11 anos. “Ligava, mas a ligação não completa-va. Entrei em desespero, fiquei ten-tando seguidamente até conseguir. As linhas estavam congestionadas e por isso demorou em torno de quatro horas até eu falar com ele. O alívio só veio quando o ouvi dizer que estava bem e que não tinha acontecido nada com ele”, relembra a aposentada.

A mesma angústia enfrenta-va quem estava no Japão e tentava tranquilizar seus parentes no Brasil: “Tudo aconteceu por volta das 15h, no horário do Japão. A comunica-ção ficou totalmente fora do ar, en-

quanto ainda era madrugada aqui no Brasil, então tentamos o tempo todo falar com nossos familiares, para acalmá-los, dizendo que estávamos bem”, explica Massao.

Ainda com seu filho no Japão, Dirce declara angustiada: “Tem que ter fé em Deus e confiança de que tudo vai ficar bem. Peço a Deus que olhe meu filho, o oriente e o ampare”.

Situações como as vivenciadas no Japão possuem grande poten-cial traumatizante. O psicólogo ex-plica que ao passar por um quadro ameaçador a pessoa pode apresentar sintomas de estresse pós-traumático, caracterizado como uma perturba-ção psíquica. “Acompanhado desta síndrome, existem os sentimentos de medo, insegurança, sonhos per-turbados e dificuldade em reiniciar a vida”, apontou Barbosa.

De volta ao Brasil, Leonardo Tsuda encontra conforto na família

Google

Fabiola Ferreira

Arquivo Pessoal

Começa em outubro o Momento Itália no Brasil

O evento Momento Itália Brasil, coordenado pela Embaixada da Itá-lia em Brasília, deve ocorrer no pe-ríodo compreendido entre outubro de 2011 e junho de 2012. O evento pretende rememorar o boom emi-gratório dos italianos para o Brasil no século XX, assim como reafir-mar as relações harmoniosas entre as duas culturas.

A imigração italiana no Brasil é de longa data, e seu ápice foi em 1900. Na época, a Itália passava por uma crise e a ideia de emigração era vendida como possibilidade de melhores condições de trabalho em um país carente por mão de obra. Segundo o historiador Silvio Pinto Ferreira Júnior, os italianos foram trazidos para cá principalmente por motivos financeiros. “Não há dúvi-das de que a emigração italiana foi uma verdadeira fuga, um abandono em massa da terra natal, um pro-testo contra as condições de vida e de trabalho em que, havia séculos, o povo era explorado pelos grupos dominantes. Mas, foi também um desabafo, possibilitado pela nova li-

berdade resultante da unificação do país“, afirma o historiador.

Embora tenham enfrentado di-ficuldades financeiras e culturais ao chegarem ao Brasil, os italianos fo-ram acolhidos pela cultura brasileira. Isso é notável no sotaque paulistano, na gestualidade abusiva, nas artes e nos hábitos alimentares, como, por exemplo, comer macarrão aos do-mingos com a família reunida.

Attilio De Gasperis, diretor do Instituto Italiano de Cultura, repre-

sentante da Comissão Nacional e principal organizador do evento ex-plica: “o Momento Itália Brasil tem como objetivo promover as relações culturais, sociais e comerciais entre Itália e Brasil, no decorrer dos tem-pos. Estima-se que envolva 25 mi-lhões de descendentes de italianos, promovendo exposições, mostras, workshops e outras apresentações na área de música, artes, arquitetura e design, ciência, tecnologia, cinema, moda, esporte e gastronomia”.

É importante lembrar que, todo ano, há diversos eventos organiza-dos pelos imigrantes e descenden-tes italianos. Walter Taverna, pre-sidente da Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista (Sodepro) presta serviços à comu-nidade e organiza eventos para a própria colônia. Descendente de italianos e morador do bairro do Bixiga - tradicional bairro de imi-grantes localizado em São Paulo -, Taverna conta que a Festa de Achi-

ropita começou apenas com duas barracas, por iniciativa sua. Com o apoio da Prefeitura de São Pau-lo, foi possível reunir recursos para ampliar a comemoração. “Tudo fui eu que comecei. Meu pai era um cozinheiro muito antigo e chegou uma época em que a gente estava em dificuldade financeira. Quando ele faleceu, eu comecei a trabalhar e abri um restaurante. Hoje, eu te-nho quatro restaurantes, onde eu presto serviço para a comunidade e para pessoas de outros lugares, para que a gente divulgue o bairro atra-vés da colônia italiana.”

O Momento Itália Brasil conta-rá com a participação de convida-dos especiais, como Felipe Massa na categoria esportiva, Gilberto Gil e Laura Pausini na categoria musical, entre outras personalidades que da-rão suas contribuições em eventos como a Virada Cultural na capital paulistana, a Festa da Uva de Caxias do Sul (Rio Grande do Sul), a São Paulo Fashion Week e a Fashion Rio, nas respectivas cidades. Para completar o circuito, mostras espe-ciais estão previstas no Teatro Mu-nicipal e no Museu da Língua Por-tuguesa, em São Paulo.

Walter Taverna luta para preservar a cultura italiana em seu bairro

Paula Gonçalves Mariana Tavares

“Presto serviço para a comunidade e para pessoas de outros lugares, para que a gente divulgue o bairro.”

“O objetivo do evento é exatamente promover as relações culturais, socias e comerciais.”

Page 7: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

MEMÓRIA MAIO DE 2011 - PÁGINA 7

Efeito radioativo preocupa japonesesApós a costa nordeste do Japão ter sido atingida por terremotos e um tsunami, japoneses se preocupam

O Japão, em 11 de março, so-freu a que já é considerada uma das maiores catástrofes de sua história. Após um terremoto de nove pontos da escala Richter, um tsunami de grandes proporções atingiu a costa nordeste do país, destruindo por completo o que havia sobrado das cidades afetadas.

Nesta região fica localizada a usi-na nuclear de Fukushima Daiichi, que, afetada pelos desastres naturais, teve queda no nível dos índices de água para resfriamento do reator 3, acumulando hidrogênio, substância responsável pela explosão no local. Os reatores 1 e 2 tiveram suas bar-ras de combustível danificadas, mas autoridades japonesas garantem que as possibilidades de vazamento nos locais são mínimas.

O acidente acalorou ainda mais a discussão sobre estudos com ener-gia nuclear, tema que havia voltado à mídia neste ano por conta dos 25 anos do desastre nuclear de Cherno-byl. Segundo o engenheiro químico Victor Coelho, estudos com radia-ção possuem consequências boas e ruins. “As consequências negativas desses estudos são os acidentes ra-dioativos, que são supervalorizados e explorados pela mídia quando ocorrem. Mas, se bem aplicada, a radiação pode trazer muitos bene-fícios à humanidade, como, por exemplo, a cura de doenças”, afirma. Em relação à contaminação, Coelho ressalta que não só quem esteve nos

locais de acidentes nucleares cor-re riscos. “Como o meio ambiente é todo interligado, algo que venha a ser contaminado e que possa es-tar diretamente ligado a nós, como alimentos, oferecem, sim, riscos de infecção radioativa”, explica.

Engenheiros japoneses estão tra-balhando para minimizar os danos e controlar o superaquecimento do reator 3 na usina. Para isso, injetou--se nele água do mar a fim de evi-tar outras explosões. Também se promoveu racionamento de energia em toda a região para que esta não falte na usina. De acordo com Pa-trícia Iwasu Seishain, brasileira que mora na região afetada do Japão há cinco anos, a população local está as-sustada com os efeitos do acidente.

“Todos estamos com muito medo, conheço várias pessoas que foram embora, abandonaram casa e traba-lho por causa disso”, relata. Patrícia

ainda salienta que a falta de energia elétrica dificulta o processo de reto-mada da rotina dos habitantes da região. “Estamos fazendo nossa par-te com relação ao racionamento de

energia, mas dentro dos trens não há luz. Estações e lugares públicos não utilizam escadas rolantes e as empre-sas receberam uma quota de energia muito abaixo do necessário para re-tomar suas atividades”, diz.

Já Sandro Campos Maeda, ope-rário de uma gráfica em Tókio, de-monstra preocupação em relação à comunicação no país. “O governo passa um informativo uma vez por dia em rede nacional e está usan-do todos os meios encontrados pra conter a radiação, mas as regiões afetadas ainda estão sem acesso a isso, as pessoas não sabem o que fazer”, afirma.

Ainda não se sabe ao certo as dimensões das consequências da explosão radioativa, mas os cons-

tantes terremotos e o tsunami já deixaram mais de 10 mil mortos. As buscas ainda seguem por mais corpos ou sobreviventes.

Caroline Féria FelipeLeandro Luma Santos

Japoneses passam por exames para detectar se adquiriram radioatividade

Banco de im

agens

“Todos estamos com muito medo, conheço várias pessoas que foram embora, abandonaram casa e trabalho por causa disso”

Os tipos de radiação

Existem três tipos de radia-ção que o meio ambiente pode liberar: alfa, beta e gama. As partículas de radiação alfa libe-ram uma carga elétrica positiva que é emitida com alta energia, mas perdem rapidamente essa energia quando passam pela matéria, ou seja, não conse-guem ultrapassar a pele de uma pessoa, e são praticamente ino-fensivas.

As partículas de radiação beta liberam uma carga elétri-ca negativa, quando emitida consegue atingir cerca de um centímetro na pele e pode cau-sar danos, mas não aos órgãos internos, a não ser que sejam ingeridas ou aspiradas.

Já as partículas de radiação gama não têm carga elétri-ca e são mais penetrantes que o raio–x, podendo ser deti-das apenas por uma chapa de chumbo igual ou maior que cinco centímetros. Esse tipo de radiação atravessa o corpo e deforma as células e o DNA, podendo levar a vários tipos de câncer. Este é o grande temor de quem vivia perto das usinas nucleares no Japão.

Acidentes que entraram para a HistóriaChernobyl

Em meados de abril de 1986, as barras que cercavam o isolante de concreto de mais de 2 mil toneladas de uma usina nuclear localizada na cidade de Chernobyl, na Ucrânia rompeu-se, ocasionando uma ex-plosão que dispersou substâncias radioativas na atmosfera. Estudos realizados por cientistas de todo o mundo, na época, apontam que a força do acidente correspondeu a 500 bombas de Hiroshima. Por causa de questões geográficas e at-mosféricas, a radiação foi dissemina-da, principalmente pelo vento, por toda a Europa, e cidades próximas a Chernobyl também precisaram ser evacuadas. Segundo a Conferência de Viena realizada em 1993, 326 mil pessoas deixaram a Ucrânia, a Rússia e a Bielorússia. Até hoje não se sabe ao certo o número de vítimas fatais decorrentes do acidente, mas acredita-se que esse índice alcance 200 mil pessoas. Além disso, houve significativo aumento de casos de estresse, ansiedade e problemas nos aparelhos respiratórios, digestivos e cardiovasculares de pessoas que se encontravam na região, principal-mente de bombeiros.

Goiânia

Em setembro de 1987, dois cata-dores de lixo de Goiânia, capital do Estado de Goiás, encontraram um aparelho de radioterapia nas insta-lações de um hospital abandonado. Interessados no lucro que poderiam obter a partir da venda do metal contido na peça, levaram a um ferro velho para ser desmontada. No en-tanto, ela continha uma cápsula de cloreto de césio (um pó branco simi-lar ao sal de cozinha que, no escuro, possui um brilho azul), elemento radioativo. O ferreiro, encantado com a luz, distribuiu peças a seus fa-miliares e amigos, sem imaginar do que se tratava. Alguns dias depois, os presenteados começaram a se sentir mal. Desconfiada, uma das vítimas levou a peça contaminada à Divisão de Vigilância Sanitária, que identi-ficou os sintomas como contamina-ção radioativa e acionou a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nu-clear). Todo o material foi reunido e encapsulado para ser descartado em um depósito apropriado. Quatro pessoas morreram. Esse foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora de usinas nucleares.

Angra dos Reis

Em 15 de maio de 2009 houve um acidente na usina nuclear Angra Dois, localizada na cidade de Angra dos Reis, no Rio de Ja-neiro. Um dos funcionários deixou a porta aberta enquanto limpava material na sala de descontamina-ção, e vestígios radioativos foram aspirados pela ventilação, espal-hados pela usina, disparando seu alarme. O incidente ocorreu em uma construção auxiliar da usina. De acordo com o site UOL, quatro operários que estavam perto da sala sofreram radiação de 0,1%, o que não indica alto índice de radiação. Após passarem por processo de descontaminação, eles voltaram a trabalhar normalmente, sendo ob-servados e realizando exames peri-odicamente. Cerca de 0,2% da sub-stância foi liberada na atmosfera, mas, segundo CNEN, esse índice não traz consequências à região. A informação só foi noticiada 11 dias depois, e, mesmo com a situação controlada, a Sape (Sociedade Ang-rense de Proteção Ecológica) afirma que o acidente foi grave e que a De-fesa Civil deveria ter sido noticiada na hora.

Sistema nervoso: O último a ser afetado pela radição. Só doses altíssimas podem afetá-la.

Olhos: Pode desenvolver cataratas quando exposto a doses de 2000 a 3000 mSv.

Cabelo: A exposição de 3000-5000 mSv causa queda de cabelo em uma semana.

Pulmão: Níveis altíssi-mos (20.000-40.000 mSv) podem causar tumores malignos.

Tireóide: O iodo ra-dioativo, subproduto do urânio, pode acumular na tireóide provocando tu-mores malignos.

DNA: Exposições de 250 mSv podem causar deforma-ções em gereções futuras.

Medula Óssea: é o teci-do mais frágil. 8.000 mSv podem destruir a medula, causando a falência do siste-ma imunológico.

Sangue: redução de cé-lulas vermelhas, causando anemia e sangramentos constantes.

Perigos da radiação

Adriano AlvesRenata Pereira

Bruna Amorim, Jéssica Arena e Rômulo Magalhães

Page 8: Jornal cidadão - 2ª edição 2011

9º EnCom discute tradição e inovação em Comunicação SocialProfissionais do mercado e professores traçam novas perspectivas para os futuros comunicólogos

No dia 17, no pe-ríodo noturno, ocorreu a mesa--redonda de aber-tura, mediada pela professora mestre Regina Ta-vares, com a parti-cipação de quatro profissionais re-presentantes dos cursos envolvidos

no evento. São eles: Sérgio Gwercman, diretor de redação da revista Superinteressante, Flavio Schmidt, presidente do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas, Sér-gio Gouvea, diretor de atendimento da CTO e Ádamo Garcia, radialista e produtor da TV Bandeirantes.

Entre os dias 16 e 20 de maio, foi realizado o 9º EnCom (Encontro de Comunicação) nos campi Anália Franco e São Miguel, com o tema “Comunicação integrada e novas tecnolo-gias: entre a tradição e a inovação”. O evento foi promovido pelos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio, TV e Internet e Relações Públicas. Na oportunidade, profissionais renomados promoveram debates a respeito das especificidades do mercado de trabalho contemporâneo, ampliando a visão dos alunos em relação à comunicação in-tegrada e a aplicação das novas tecnologias em cada área.Além das palestras, o evento contou com o lançamento do livro “Para que serve a TV le-gislativa no Brasil e no mundo”, de autoria do professor mestre Carlos Barros Monteiro. Foram lançadas também as agências online de notícias Hipertexto e Radar Jornalístico, respectivamente desenvolvidas pelos alunos do 4º/5º semestres de Jornalismo dos campi Anália Franco e São Miguel. O curso de Publicidade e Propaganda marcou presença com o Projeto Sentidos, e os alunos dos primeiros anos trouxeram apresentações artísticas no Festival Comunic’art, abordando a temática da sociedade vigiada.

Para mais informações sobre o EnCom, acesse os sites:www.aghipertexto.blogspot.com ewww.agenciaradarjornalistico.blogspot.com.Nos dois sites, você encontrará matérias, entrevistas e fotos do evento.

Nos dias 16 e 19, nos campi Anália Franco e São Mi-guel, os alunos de Publicidade e Propaganda mos-traram seu talento no Projeto Senti-dos, desenvolvido a partir da adap-tação de contos li-terários para o te-atro, com a coordenação da professora e supervisora do curso Kátia Cembrone. Na foto, uma das apresentações.

Samantha Henzel

Ainda no dia 17, o professor mestre Carlos Barros Monteiro, coordenador dos quatro cursos envolvidos no EnCom, lançou seu livro “Para que serve a TV le-gislativa no Brasil e no mundo”, fruto de 16 anos de pesquisas e experiência profissional, publi-cado pela editora Biografia.

Samantha Henzel

No período da manhã, estiveram presentes sete pa-lestrantes, entre eles, o diretor de conteúdo do Por-tal Raj, Fernando Aires (foto), que falou a respeito do mercado de jorna-lismo para arte e cultura. Também marcaram presen-

ça o publicitário Antônio Gelfusa Jr, o especialista Ricardo Di Santo, a professora doutora Ângela Fernandes e os professores mestres Adriano Batista, Lara Maria e Vagner Novaes Tranche.

Ital

o Si

lva

Andressa M

oura

Na quarta-feira (18), três pa-lestrantes marcaram presença no evento. No campus São Miguel, ocorreu a palestra de Ricardo Peres, diretor do pro-grama Super Nanny. Em Aná-lia Franco, estiveram presen-tes Samuel Lloyd, gerente de marketing da STB e Ricardo Café (foto), editor e apresen-tador da TV Mogi News.

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O encerramento do 9º EnCom foi mar-cado pela premiação do II Festival Comunic’art, desenvolvido pelos alunos dos primeiros anos e coordenado pela professora mestre Lara Maria. Os grupos vencedores desta edição foram Provoca-ção (foto) e Sakusen.

Bruna Sales

Nos dias 17 e 20, foram lançadas, respectivamente, as agências on-line de notícias Hipertexto (www.aghipertexto.blogspot.com) e Radar Jornalístico (www.agenciaradarjorna-listico.blogspot.com), desenvolvidas pelos alunos do 4º/5º semestres de Jornalismo dos campi Anália Franco e São Miguel, sob orientação das professoras mestres Flávia Serralvo e Regina Tavares.

Roberta Chamorro

Andressa M

oura