jornal campus - edição 330

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C AMPUS Novo reitor critica professores José Geraldo afirma ao Campus que vai combater a “hegemonia” dos docentes na universidade. Sem o sistema paritário, Márcio Pimentel ganharia com 56% dos votos Páginas 3 e 5 cultura Rádios locais ignoram produção musical brasiliense Página 8 parênteses reforma ortográca Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília. http://www.fac.unb.br/campusonline Ano 38 Edição 330, de 3 a 18 de outubro de 2008 cidades esporte Mesmo sem tradição no futebol, DF é referência na arbitragem Página 10 Filosofia sai da sala de aula e chega aos consultórios Página 9 Flávio Silva

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Page 1: Jornal Campus - Edição  330

CAMPUS

Novo reitor critica professoresJosé Geraldo afirma ao Campus que vai combater a “hegemonia” dos docentes na

universidade. Sem o sistema paritário, Márcio Pimentel ganharia com 56% dos votosPáginas 3 e 5

cultura Rádios locais ignoram produção musical brasiliensePágina 8

parênteses reforma ortográfi ca

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília. http://www.fac.unb.br/campusonline

Ano 38 Edição 330, de 3 a 18 de outubro de 2008

cidades esporte Mesmo sem tradição no futebol, DF é referência na arbitragemPágina 10

Filosofia sai da sala de aula e chega aos consultóriosPágina 9

Fláv

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ilva

Page 2: Jornal Campus - Edição  330

-Expediente-

Campus Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da

Universidade de Brasília

Editora-chefeMarina de Sá

Secretária de RedaçãoAna Luisa Soares

Diretor de ArteMax Melo

EditoresCaroline Aguiar (Parênteses)Yvna Sousa (Universidade)

Felipe Néri (Cidades)Fernanda Ros (Esporte e Cultura)

Gabriela Abreu (Opinião)Fernanda Patrocínio (Botafora)

Flávio Silva (Fotografi a)

FotógrafosFrancisco Brasileiro, Mariana Curi,

Flávio Silva

RepórteresAmanda Sales, Ana Rita Cunha,

Bruno Lacerda, Camila Cortopassi, Cristiano Zaia, Daniela Martins,

Gisele Novais, Luanne Batista, Max Melo, Nathália Mendes

DiagramaçãoAlex Lima, Fernanda Patrocínio, Flávio Silva, Gabriela Abreu, Max

Melo, Nádia Medeiros

Projeto Gráfi coAmanda Sales, Ana Luisa Soares,

Flávio Silva, Marina de Sá

IlustradoresHenrique Eira, Iúri Lopes, Mariana

Capelo, Sharmaine Caixeta, Teo Horta

Professores ResponsáveisMárcia Marques, Rosa Pecorelli e

Solano Nascimento

Técnico de Fotografi aLuiz Gustavo Prado

Secretário da RedaçãoJosé Luiz Silva

EndereçoCampus Darcy Ribeiro

Faculdade de ComunicaçãoICC Ala Norte

Caixa Postal: 04660CEP: 70910-900

Contato(61) 3307.2464 - [email protected]

Tiragem 4 mil exemplares

editorial2

Carta do editor

Findada a consulta eleitoral, a contagem de votos e a distribuição de santinhos, percebe-se a veraci-dade da informação no Campus. Os resultados corresponderam ao que a pesquisa apresentou. Agora que mais um reitor terá a foto na Galeria de Reitores, espe-ramos mudanças.

Aliás, esta edição é feita de ex-periências novas. Começamos pe-los pesos por segmento, que valo-rizaram o voto do estudante. Como mostra a matéria Participação mediana de alunos, a mobilização ainda não é total, houve até campa-nha pelo voto nulo.

Personagens do futebol bra-siliense aparecem de cara nova. Apesar da má fama no esporte, a capital tem os melhores árbitros

Ombudsman*

do país. E a forma de tratar os pro-blemas pessoais trocou o divã dos psicólogos pela Filosofi a Clínica.

O suplemento Parênteses traz as alterações que a nova reforma ortográfi ca provocará na língua portuguesa. Não é só conseqüên-cia que perde o trema, mas edi-toras, revisores, alfabetizadores, escritores e o nosso próprio voca-bulário são atingidos.

As mudanças são várias e não acabam. Uma nova gestão prome-te diálogo igual a todos os segmen-tos, e os estudanes mostram como infl uenciam nos resultados. Nós, alunos do Campus, registramos tudo isso, pois é com mudanças que acabamos com a rotina.

Marina de Sá, editora-chefe

Registro de mudanças

Pesquisa incômodaA 329ª edição do Campus gerou polêmica na UnB. O motivo foi a publicação da pesquisa de intenção de vo-tos para reitor realizada em parceria com as empresas juniores Strategos e Estat.

Apesar de ter acertado o resultado do 1º turno da consulta, considerando-se a margem de erro, a pes-quisa provocou descon-tentamento em candidatos e eleitores.

O candidato Michelân-gelo Trigueiro afi rmou que a pesquisa foi um desservi-

ço à comunidade. Triguei-ro enviou e-mail à redação do Campus exigindo a pu-blicação, como direito de resposta, de uma sondagem realizada em uma comuni-dade do Orkut. A mensagem, replicada no Campus Online, informa: “faço isso em apreço à verdade e com o intuito da defesa ética e da democracia em nossa instituição”.

Para a editora da última edição, responsável pela publicação da pesquisa, Na-thália Mendes, “se a mes-ma pesquisa, utilizando os

mesmos mecanismos, fosse conduzida por uma grande empresa, me pergunto se seria tão questionada.”

Num momento eleitoral, a mídia pode interferir no resultado e, dessa maneira, precisa ter cuidado com a publicação dos dados. Por isso é tão importante que os alunos do Campus utilizem a disciplina como espaço de experimentação e respon-sabilidade social.

Jairo Faria é aluno do 7º semestre de Jornalismo

*A missão do Ombudsman é criticar o jornal com a participação dos leitores. Envie sua crítica para [email protected].

Memória

Erramos

Diferentemente do que informou a reportagem “Mais semelhantes que diferentes”, publicada na página 4 da última edição, o candidato José Geraldo era apoiado pelo Recons-truindo o Cotidiano. O grupo Nada Será Como Antes não declarou apoio a candidato algum.

Casa Brasil é um pro-jeto do Governo Federal e não do GDF, como pu-blicado na matéria “Me-didas Provisórias”.

Com a manchete “A aventura de re-construir a UnB”, a edição n° 77 do Campus da segunda quinzena de 1985 apresentou uma entrevista com o então novo reitor, Cristóvam Buar-que. Intitulando-se o “reitor da demo-cracia”, Buarque enfrentaria desafi os: lutar pela melhoria do salário dos professores, repensar a criação cien-tífi ca e ainda criar um debate franco e honesto com a comunidade.

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

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Ana Rita Cunha

universidade3

Com paridade, a história é outraApoio de estudantes a José Geraldo garante sua escolha como próximo reitor. Sem o peso igual dos segmentos, Márcio Pimentel ganharia com 56% dos votos

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

A participação de alunos como Luísa Corrêa, 1º semestre de Economia, decidiu a eleição

Nathália Mendes Fláv

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Com a adoção da paridade nas últimas eleições, o apoio dos estudantes foi decisivo para a vitória de José Geraldo, com 51,61% dos votos. Se a consulta mantivesse o antigo sistema de pesos diferenciados (70% para professores, 15% para alunos e 15% para servidores), quem as-sumiria o cargo seria o candidato derrotado, Márcio Pimentel. Ele venceria com 56% dos votos vá-lidos, enquanto José Geraldo so-maria apenas 44%.

O novo reitor foi escolhido por 5.646 alunos e 792 servido-res, enquanto Pimentel conquis-tou apenas 2.406 votos do corpo discente e 666 dos funcionários. Entre os professores, o movi-mento foi inverso: 465 optaram por José Geraldo e 661 votaram em Márcio Pimentel. Como os docentes possuíam peso maior no sistema antigo, a diferença de apenas 196 votos garantiria a vi-tória de Pimentel.

Apesar de também terem preferido José Geraldo, os servi-dores não deram ao novo reitor uma diferença de votos que, sozi-nha, fosse sufi ciente para anular a vantagem obtida por Pimentel entre os professores. Assim, a vitória do eleito saiu mesmo da cota dos estudantes. “Eu fui elei-to pelo segmento majoritário que optou pela ruptura e entro de uma maneira a me sentir com-pletamente legitimado, inclusive pelo voto dos docentes”, afi rma José Geraldo.

Ainda que, na paridade, cada uma das três categorias tenha um peso de 33,33%, o potencial indi-vidual dos votos varia por causa da diferença entre o número de alunos, professores e servidores. Nas eleições deste ano, a desi-

gualdade entre a força dos votos de professores e estudantes foi suavizada. Sem a paridade, um voto de professor correspondia ao voto de 33 alunos; com ela, a proporção fi cou de um para 16. Mesmo derrotado pela paridade, Márcio Pimentel não reclama do sistema. “Quando me inscrevi para concorrer às eleições, sa-bia que elas seriam paritárias. A paridade é uma realidade. Não adianta lamentar os resultados”, analisa. Ele não acha que a vitó-ria que obteve entre os professo-res signifi cará difi culdades para José Geraldo. “Somos todos adul-tos e não vamos levar disputas eleitorais para a administração da reitoria”, afi rma.

Flávio Botelho, presidente da Associação de Docentes da Uni-versidade de Brasília (AdUnB), concorda com Pimentel, mas lembra que o sistema de pesos iguais não teve o endosso formal dos professores. “A paridade foi votada sem apoio da maioria dos representantes dos professores no Consuni [Conselho Univer-sitário]”, assinala. O órgão, que segue o sistema 70-15-15 na re-presentação dos três segmentos, é responsável por formular a lis-ta tríplice que será encaminhada para o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Posteriormente, o presidente da República nomeará o reitor. Além dos nomes de José Geraldo e Pimentel, a lista inclui-rá o de Volnei Garrafa, o terceiro colocado no primeiro turno das eleições. É tradição o presidente nomear o primeiro da lista.

Diferença maior aindaDa forma como foi imple-

mentado, o sistema paritário não correspondeu às primeiras pro-postas de paridade na UnB. Uma comissão designada para propor as regras das eleições ao Consuni sugeriu que o peso de cada seg-

mento fosse, invariavelmente, de um terço. No entanto, na parida-de adotada nestas eleições, ape-sar de o um terço funcionar na teoria, na prática o cálculo fi nal leva em conta a relação entre o número de pessoas aptas a votar em cada segmento e o total dos que efetivamente votaram. Ou seja, quanto menor a participa-ção de um segmento, menor o peso dele na consulta.

“O sistema atual só permi-te a paridade real caso todos os eleitores votem”, esclarece Fá-bio Félix. “É muito mais difícil para os representantes de alu-nos, que têm de mobilizar qua-se 25 mil pessoas”, argumenta. Se a paridade total tivesse sido aceita conforme o modelo pro-posto, haveria uma diferença ligeiramente maior entre os candidatos. José Geraldo te-ria conquistado 54% dos votos, contra 46% de Pimentel.

Iúri Lopes

Márcio Pimentel - 48,39%

Professores - 58,7%Servidores - 45,6%Estudantes - 29,9%

José Geraldo - 51,61%

Estudantes - 70,1%Servidores - 54,4%Professores - 41,3%

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universidade

Participação mediana de alunosTotal de votos dos estudantes foi quatro vezes maior que em 2005, mas não superou outras federais que adotam a paridade e registram mobilização acima de 50%

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Daniela Martins

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

Já a Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ) registrou a menor participa-ção, com apenas 9,55% de alunos votantes. Carolina Barreto, membro do DCE da UFRJ, afirma que não houve integração do segmento às propostas do único candida-to. “Isso fez com que os alu-nos não se sentissem partici-pantes do processo”, analisa.

Abstenção alta Entre os dois terços do

segmento discente (66,77%) que não participaram do processo eleitoral na UnB, estava Davi Magalhães, es-tudante do 5° semestre de Desenho Industrial. Para ele, os horários variados das aulas dificultam a votação. “Faço estágio, tenho muitas aulas e preciso sempre cor-rer. Nessa falta de tempo, simplesmente me esqueci de votar”, assume.

Já o aluno Daniel Ramos, do 6° semestre de Ciências So-ciais, realizava atividades aca-dêmicas fora

do campus e também não votou. Ele acredita que hou-ve pouco tempo para conhe-cer os candidatos. “Não tive como pesquisar as propostas dos candidatos. Se estivesse na UnB nos dias da consul-ta, preferiria o voto nulo”, conta. Fábio Félix, do DCE, aponta outros fatores que dificultaram a participação dos estudantes. “A falta de sinalização dos locais de vo-tação e o número de urnas atrapalharam bastante”, diz.

Entre os alunos que su-peraram as dificuldades e ajudaram a escolher o novo reitor, estava Laune As-sumpção, 22 anos, do 5° se-mestre de Pedagogia. Para ela, é imprescindível que todos participem. “Não en-

tendo por que muitos que lutaram durante a ocupa-ção não votaram. Votei ago-ra para ver melhora e ter como cobrar”, revela. Félix diz que muitos alunos ainda não vêem a importância da escolha do reitor. “Alguns separam a participação na eleição do reitor do resto da vida acadêmica.”

Movimentos fracassamNo segundo turno, sim-

patizantes de Jorge Antu-nes, candidato derrotado na primeira etapa, iniciou um movimento de estímulo ao voto nulo. Em carta dis-tribuída pela UnB, o grupo afirmava que o “mais coe-rente” era anular o voto, já que as candidaturas de José Geraldo e Pimentel expres-sariam “a mesma política para a universidade”. Rafa-el Siqueira, aluno do 2° se-mestre de Filosofia, foi um dos que assinaram o mani-festo. “Era uma forma de chamar a universidade para um debate”, disse. O núme-ro de votos nulos cresceu de 22 , no primeiro turno, para 110 , no segundo, mas isso não teve impacto no resultado da eleição.

A chapa de Márcio Pi-mentel encabeçou um movi-mento pró-voto em cédula. O candidato disse haver sus-peitas sobre a inviolabilida-de do sigilo do voto eletrôni-co. “Muitos dos funcionários acreditavam que poderiam ser identificados”, afirmou Pimentel. “O movimento não funcionou”, comemorou o pre-sidente da Comissão Organi-zadora da Consulta (COC), David Fleisher. O número de votos em cédula caiu de 1.333, no primeiro turno, para 1.183 no segundo.

Colaboraram Ana Rita

Cunha, Luanne Batista e Nathália Mendes

Depois de 15 anos sem elei-ções paritárias para reitor, a consulta que elegeu José Geraldo de Sousa Júnior foi marcada pela expressiva votação dos estudantes. Os 8.052 alunos - equivalente a 33,23% do total - que foram às urnas este ano supera-ram em mais de quatro ve-zes os votos do último plei-to, realizado em 2005. No entanto, o ín d i c e d e p a r-t i c i p a ç ã o n ã o s e d e s t a c a q u a n d o c o m p a r a d o c o m o s d e o u t r a s u n i v e r s i d a -d e s f e d e r a i s .

O Campus levantou os dados da participação estu-dantil em 21 das 31 univer-sidades federais que têm eleições paritárias para rei-tor. No ranking, a Universi-dade de Brasília encontra-se na décima colocação, p r a t i c a m e n t e na metade da lista. De acor-do com o coor-denador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Fábio Félix, o resultado pode ser melhorado no futuro. “Não tínhamos cultura de par-ticipação política na UnB. Foi uma vitória gigantesca, mas a tendência é aumen-tar. Podemos chegar a 60% de votos”, aposta.

Nas universidades pes-quisadas, duas tiveram mais de 50% de comparecimento estudantil. Na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais, 55% dos alunos votaram. “A participação política é uma tradição na cidade e isso se reflete na posição dos estu-dantes, mesmo sendo eleição com chapa única”, explica Cibele Moraes, assessora de Comunicação da UFSJ.

Índices de votantesVeja como estudantes de 20 instituições de ensino

superior do país se envolveram nas últimas eleições paritárias

São João del Rei (UFSJ)

Uberlândia (UFU)

Grande Dourados (UFGD)

Goiás (UFG)

Viçosa (UFV)

Piauí (UFPI)

Brasília (UnB)

Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)

Fundação Universidade do

Rio Grande (FURG)

Mato Grosso (UFMT)

Rural da Amazônia (UFRA)

São Carlos (UFSCar)

Fluminense (UFF)

Lavras (UFLA)

Paraíba (UFPB)

Alagoas (UFAL)

Participaçãodos alunos

UniversidadesFederais

Pernambuco (UFPE)

Rio Grande do Norte (UFRN)

Paraná (UFPR)

Rio de Janeiro (UFRJ)

Espírito Santo (UFES)

27,8%

29,3%

28,7%

30,7%

30,8%

38,4%

38,8%

41%

41,4%

31,6%

48%

49,7%

44,8%

50,5%

55%

33,2%

24,6%

26,7%

19,5%

9,5%

27,7%

“Não tínhamos

cultura de participa-

ção política na UnB”,

Fábio Félix, do DCE

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Ataque à “hegemonia” docenteNo jardim da FA (Faculdade de Estudos Sociais Aplicados), com voz moderada e entre um cumprimento e outro de es-tudantes, José Geraldo expôs ao Cam-pus as linhas da sua gestão. O próximo reitor criticou a postura dos professo-res: “Eu acho que (eles) se acostuma-ram a uma hegemonia”, explicou. “Isso pode ter gerado a não-necessidade de eles se justificarem ou aprofundarem as discussões.” José Geraldo promete apostar no diálogo entre os segmen-tos, garantindo o espaço dos alunos, e adianta que não tentará se reeleger.

Luanne Batista

Campus: O senhor foi eleito com um número expressi-vo de votos dos estudantes. Quais são suas propostas para responder a esse apoio?José Geraldo: Isso é uma tre-menda responsabilidade, já que os estudantes perceberam a possibilidade de serem ouvi-dos. Minha proposta é manter esse diálogo aberto e criar con-dições para que ele se realize. A primeira medida é instalar o congresso universitário pa-ritário, que funcionaria como um fórum formado por alunos, servidores e professores para debates e exposição de pro-postas para a Universidade. Além disso, garantir também os espaços que os alunos têm nos colegiados superiores da Universidade.

Campus: O senhor teve me-nos votos de professores em relação ao candidato Már-cio Pimentel. Há estratégias para que sua gestão conquis-te esse segmento?JG: O principio básico da ges-tão é o compartilhamento. Isso significa que todos os segmen-tos poderão participar das de-cisões deliberativas. Na minha gestão, eles poderão se mani-festar em relação àquilo que os levou a não votar em mim.

Campus: O senhor já conseguiu avaliar por que teve menos votos dos docentes?JG: Durante a campanha, houve uma preocupação de que eu tivesse uma candidatura muito politizada. Para alguns professores, talvez isso seja um fator que imobilize a ges-tão. Mas a minha intenção é mos-trar que é possível existir um pro-cesso democrático, com debates de onde se extraem ações concretas. Campus: Será que o “medo” da sua política universitária não se-ria um receio dos professores de uma maior participação dos alu-nos na gestão?JG: Talvez. Eu acho que os profes-sores se acostumaram a uma hege-monia deles, na medida em que a proporção no processo deliberativo lhes dá um peso maior. Isso pode ter gerado a não-necessidade de eles se justifi carem, sustentarem seus argumentos ou aprofunda-rem as discussões. Esse segmento precisa fudamentar suas decisões, sua tomada de posição. Isso signi-fi ca que as pessoas devem se pre-

parar para os debates, não basta se apresentar neles com o peso presumido da hegemonia. O diálogo é exigente, pressupõe bons argumentos. Esse diá-logo significa reconhecer no outro uma pessoa igualmente capaz de ter opinião sobre as questões universitárias. Campus: Então podemos espe-rar para a próxima gestão uma quebra de hegemonia...JG: Fortalecendo os consensos e garantindo que as ações não se frustrem adiante. Mas em outros pontos, eu não vejo grandes di-vergências com os professores. Discutimos muito a qualidade acadêmica e os valores que sus-tentam a Academia. Meu obje-tivo é identifi car com a comu-nidade quais são os fi ns que a Universidade persegue.

Campus: Tendo em vista a cri-se pela qual passou a Universi-dade, qual é seu plano para fi s-calizar as fundações de apoio?JG: Elas devem entrar no pro-

cesso que tem como princípio a transparência e o controle. As Fundações têm autonomia, mas podem ser controladas previa-mente. Isso poderia ser feito es-treitando os vínculos com órgãos externos como o Ministério Pú-blico e Tribunal de Contas. Além disso, dentro da própria UnB, a fi scalização pode ser feita pelos colegiados e pelo Decanato de Administração e Finanças.

Campus: O senhor afi rma que pretende resgatar o projeto original da UnB. Em que sen-tido isso aconteceria?JG: Signifi ca trazer novamente a idéia de que a Universidade tem compromisso com valores, resgatar a utopia em relação ao conhecimento, para que ele sirva ao desenvolvimento do país.

Campus: E o senhor pensa que esse projeto dialoga com o Reu-ni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais)?JG: O Reuni é um programa de

investimento, mas que tem um hori-zonte social. Ele aponta para uma demanda de um ensino público de qualidade, inclusive incorpora muito do projeto de inclusão.

Campus: Mas alguns dos cursos oferecidos nos campi da Ceilândia e do Gama não têm ainda, por ex-emplo, o currículo fechado ou labo-ratórios. JG: As primeiras aulas que foram da-das neste campus (Plano Piloto) sequer tinham salas. E elas iam ao encontro das utopias para esta Universidade. Trata-se de uma construção por eta-pas: discussão do projeto pedagógico, trabalhar com os alunos e com a di-mensão da realidade que dá os meios para que se tenha uma estrutura.

Campus: O senhor pensa em se candidatar à reeleição?JG: De jeito nenhum, acho isso um fracasso do dirigente. Se ele não foi capaz de fazer aflorar novos quadros em um momento em que eles são tão abundantes... Não digo que esse deve ser o modelo, mas para mim é um fa-tor de fracasso.

universidade Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

Fláv

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O reitor eleito pretende resgatar o projeto original da universidade, reafi-

mando seu compro-misso social

entrevista

Yvna Sousa

Page 6: Jornal Campus - Edição  330

Duas décadas atrás, a então estudante de pedagogia da UnB Telma América Venturelli parti-cipou do processo de elaboração da nova Constituição do país, promulgada em 1988. Ela foi uma das mulheres que enviaram car-tas aos parlamentares da Assem-bléia Constituinte com sugestões do que deveria ser contemplado pela “Constituição Cidadã”.

Hoje, Telma tem 48 anos e é funcionária pública. Mesmo de-pois de tanto tempo, ela lembra que a vontade de participar da-quele momento histórico foi o motivo para enviar sua colabora-ção. “Aquela época era rodeada por uma comoção muito grande, um clima completamente ati-vista, do qual todos nós quería-mos participar”, conta. Ao todo, foram enviadas 72.719 cartas, sendo que mais de 23 mil foram escritas por mulheres.

Diante desse expressivo nú-mero, a professora Izabel Ma-galhães, à época pertencente ao Departamento de Lingüística, Português e Línguas Clássica (LIP) da UnB, analisou o acervo

Gisele Novais

Entre os dias 24 e 28 de setem-bro, Brasília sediou o XVI Enej - Encontro Nacional de Empresas Juniores. Com o tema “O impacto da inovação na mudança do Bra-sil”, o evento ocorreu no Bay Park e reuniu mil empresas juniores das mais diversas áreas.

Da UnB, três empresas apre-sentaram trabalhos: a AD&M Consultoria Empresarial, da Ad-ministração; a Strategos, Consul-

toria Política, da Ciência Política; e a Práxis, da Psicologia. A AD&M apresentou três cases – experi-ências bem sucedidas vividas em trabalhos e projetos – e ainda ga-nhou o prêmio Top of Mind, dado à empresa júnior mais lembrada.

“Era o que mais esperávamos, já que no encontro do ano passa-do fi camos em 3° lugar”, conta Marina Mergulhão, líder de pro-jetos da equipe. Para o presidente da AD&M, Guilherme Junger, a

boa aceitação da empresa é fruto de um trabalho diferenciado. “Em alguns trabalhos nos focamos na área de desenvolvimento de pes-soas, pouco explorado no meio empresarial. Esse foi o nosso trun-fo: criar algo único”, explicou.

A Strategos expôs um painel de uma pesquisa de opinião realiza-da no Congresso Nacional, acerca das especulações sobre possíveis candidatos para as eleições pre-sidenciais de 2010. “A participa-

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universidade

Apoio feminino à ConstituiçãoEstudo de pesquisadora da UnB analisa o discurso das mulheres nas cartas enviadas aos parlamentares membros da Assembléia Constituinte de 1988

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ção nesses encontros nos torna conhecidos e respeitados, além de garantir parcerias e fortaleci-mento da nossa empresa”, disse Max Stabile, um dos integrantes da equipe. A Práxis apresentou um trabalho feito em escolas pú-blicas com o objetivo de aproxi-mar a universidade da realidade dos estudantes.

Segundo a coordenadora de relações externas do even-to, Carolina Varão, as palestras,

workshops, mesas redondas e cases empresarias representam somente parte dos benefícios proporcionados pelo encontro. “O Enej é importante, sobretudo, pelo momento de integração, tro-ca de experiência e capacitação dos participantes”, afirmou Carolina. (G.N.)

Encontro reúne empresas juniores

de cartas e fez um estudo base-ado na linguagem e estilo das propostas femininas. “Toda luta social se faz mediante a lingua-gem e é através dela que é pos-sível analisar o contexto no qual a mulher estava”, explica Izabel. O resultado do trabalho foi pu-blicado no livro A Constituição desejada (Senado Federal, Cen-tro Gráfi co, 1991).

Discurso emancipatórioA partir de dados referentes a

sexo, renda, grau de instrução e faixa etária, 284 sugestões foram selecionadas como amostra da pesquisa. Entre os temas mais recorrentes, estão os direitos da mulher nas áreas da política tra-balhista, da organização social e da política educacional.

A professora concluiu que a linguagem das cartas indicava o surgimento de um discurso emancipatório. “Foi possível identifi car a construção de uma identidade cultural feminina li-gada ao contexto tradicional e outra que começava a aparecer e propor mudanças na situação em vigor”, explica Izabel.

A senadora Lúcia Vânia (PS-DB-GO) era deputada federal

durante a Constituinte e foi um dos parlamentares que integrou a Comissão de Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. Para ela, a contribui-ção das mulheres foi essencial para a ampliação e consolidação dos seus direitos. “A maior par-te dessas propostas foi acolhida, ao menos parcialmente”, diz. Para a senadora, ainda é preciso avançar nesta área. “Talvez mais importante que sua enumeração [dos direitos da mulher] são os mecanismos que previnem sua violação”, defende.

A sugestão de Telma Ventu-relli não se referia aos direitos da mulher. Tratava, como a de ou-tros missivistas e de representan-tes de trabalhadores, da “neces-sidade de se dar aos servidores públicos o direito de terem asso-ciações representativas e sindi-catos por classe funcional”. Ela se orgulha. “Sou apaixonada por essa constituição. Por quê? Por-que eu ajudei a fazer”, revela.

O Senado distribuiu milhões de formulários às agências de correio de todo o país. Os docu-mentos foram arquivados e po-dem ser acessados pelo site do Senado (www.senado.gov.br).

Congresso recebeu mais de 72 mil sugestões de mudanças na legislação

Page 7: Jornal Campus - Edição  330

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de

2008

“Chega mais perto e contempla as palavras”Carlos Drummond de Andrade

Page 8: Jornal Campus - Edição  330

Unificação cultural é uma das metas mais perseguidas por países de raiz comum. A unificação do espanhol aproxi-mou a Espanha e a América Espanhola. A Nova Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa não foge a esse desejo. Esta edição do Parênteses é toda escrita conforme a refor-ma. Conheça por quais mudanças os países lusófonos irão passar e as consequências trazidas pelo acordo.

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Acordo unifica a língua, mas divide linguistas

O Brasil assinou o decreto para a implantação da nova reforma do português a partir de janeiro do próximo ano. Mudança polêmica tem o apoio de oito países e busca padrão entre as nações lusófonas

O Novo Acordo Ortográ-fico é uma reforma que entra em vigor depois de 18 anos de negociação e

proposição de critérios que unifiquem a língua portuguesa. A reforma acom-panha o preceito da globalização, que é interligar o mundo. Neste caso, a relação entre os países lusófonos sairia fortalecida e a cultura dos fa-lantes da língua portuguesa ficaria mais unificada.

A reforma é um tratado que tem por objetivo criar uma ortografia única para todos os países de língua portu-guesa. Para o presidente da Comissão de Língua Portuguesa (Colip), Godo-fredo de Oliveira, “o anseio é que o português se torne a terceira língua de maior importância nos fóruns inter-nacionais, com a ambição de ser uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU)”. A Colip é o órgão designado pelo Ministério da Cultura (MEC) para tratar de assuntos referentes à reforma.

Após dez anos de negociação entre a Academia de Ciências de Lisboa (ACL) e a Academia Brasileira

de Letras (ABL), a reforma foi assi-nada no dia 16 de dezembro de 1990. Dos oito países de língua portugue-sa, sete concordaram com as mu-danças: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portu-gal e São Tomé e Príncipe. O Timor-Leste só assinou o acordo em 2004, quando se tornou independente.

A unificação da escrita do espa-nhol entre a Espanha e a América Es-panhola serviu de inspiração para os acadêmicos de língua portuguesa. Mas o tratado só entraria realmente em vigor quando pelo menos três países o ratificassem, o que aconte-ceu em 2006 com a ratificação de São Tomé e Príncipe.

Unificar uma língua, como a por-tuguesa, com diferenças ortográficas peculiares nos países que a escre-vem, resulta em perdas. Em Portugal, 1,6% das palavras sofreram modi-ficações, enquanto no Brasil 0,5% do vocabulário mudou. Em Portugal espalhou-se uma corrente de e-mails pedindo a não-ratificação do acordo, já que os critérios propostos se asse-melhavam ao português do Brasil, e não ao de Portugal.

“O acordo foi proposto pela Co-munidade de Países de Língua Portu-guesa, então dizer que o português sugerido pelo acordo se parece mais com o português do Brasil do que

com o português de Portugal é mera impressão”, afirma o professor Godo-fredo de Oliveira.

Apesar do impasse, o presidente da República de Portugal, Aníbal Ca-vaco Silva, ratificou o documento no dia 21 de julho de 2008. O prazo de adaptação da sociedade portugue-sa às novas regras é de seis anos. Em Angola, na Guiné-Bissau, Timor-Leste e Moçambique o acordo ainda não foi ratificado.

O professor Antônio Augusto, do departamento de Linguística, Portu-guês e Linguagem Clássica da Uni-versidade de Brasília (UnB), partici-pou da primeira leva de professores alfabetizadores no Timor Leste. Ele conta que no Timor havia profes-sores de português de Portugal e professores de português do Brasil. “A unificação ortográfica irá facilitar muito o ensino”, afirma.

Cabo Verde ratificou o documen-to em abril de 2005 e São Tomé e Príncipe em novembro de 2006. Para a professora de Políticas de Idiomas e chefe do departamento de Linguís-tica, Línguas Clássicas e Português da UnB, Enilde Faulstich, “a reforma é positiva quando consideramos a precariedade do ensino da língua portuguesa em alguns países afri-canos. Um acordo que simplifica a língua facilita o ensino”.

O que muda aquiNo Brasil, as alterações consis-

tem na eliminação de alguns acen-tos, no acréscimo das letras k, y e w ao alfabeto e na modificação das regras de aplicação do hífen. Outra mudança é a completa eliminação

CortopassiCamila

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do trema em palavras formadas por qu e gu em que o u é pronun-ciado, como em tranquilo.

O membro da Academia Brasi-liense de Letras, autor de mais de 20 livros e também professor de portu-guês, Anderson Braga Horta, afirma que a particular eliminação do trema deve gerar confusão entre os falan-tes. “Em espanhol, pronuncia-se tranquilo sem o som do u também. Ao retirar o trema, está se fazendo um convite para que um erro de pronúncia se generalize”, diz.

Para o autor, não existe unifica-ção ortográfica em alguns pontos do acordo. “Os caminhos encontra-dos para a simplificação da língua nem sempre foram bons. A reforma de 1971, por exemplo, foi muito boa porque eliminou o acento diferencial. Com ele era preciso decorar várias palavras. Mas comparada com a de 71, esta reforma não tem utilidade”, conta Horta.

Na reforma de 71, em Portugal, desapareceu o acento agudo dos ditongos abertos –ei, de ideia. No Brasil, baniu-se a dupla grafia de algumas palavras como “facto” e “amnistia”. Mas o diferencial da re-forma foi a completa eliminação do acento diferencial. Essa reforma ti-nha o objetivo de simplificar alguns critérios que entraram em vigor no Sistema Ortográfico de 1943.

As modificações de 1971 faziam parte da primeira proposta de unifi-cação da língua portuguesa que se deu entre Portugal e Brasil. A abo-lição do trema aconteceu em algu-mas palavras, como “saüdar”. O acento circunf lexo foi eliminado de termos como “instantâneamente” e “bebêzinho”. Em Portugal desapa-receram as consoantes mudas c e p das palavras, quando não pronun-ciadas: baptismo, inspector, entre outras alterações.

“A única desvantagem é que a reforma poderia ter avançado mais em alguns aspectos, ter simplifi-cado mais alguns critérios. Mas nenhuma reforma é completa”, afir-ma o presidente da Comissão de Língua Portuguesa, Godofredo de Oliveira. Para ele, a maior vantagem

será a grande mobilidade das publi-cações que poderão circular entre os países lusófonos.

Para Enilde Faulstich, professora da UnB e especialista em política do idioma, o maior ganho é a economia com a “tradução” de um português para outro. Mas para o estudante de ensino médio e fundamental, qual será a grande mudança no primeiro contato com essa reforma?

Oficialmente, o Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sin-pro-DF) não recebeu nenhuma in-formação do MEC nem do Governo do Distrito Federal sobre o cumpri-mento de políticas educacionais que consolidem o projeto da reforma.

Concluído o processo de ratifi-cação e de acordos, passa-se para o período da implementação das polí-ticas de execução, que recebem um prazo de dois anos para se adapta-rem à nova reforma. A Coordenado-ra da Secretaria de Assuntos Educa-cionais do Sinpro, Valesca Rodrigues Leão, prevê prejuízos para os alunos a curto prazo.

Como alfabetizadora, Valesca acredita que a perda de acentos fun-damentais utilizados para discernir algumas palavras, como pelo e pelo, dificultará o ensino da leitu-ra. “Eu me lembro da minha época de escola em que acentuação me ajudava na interpretação de texto”, revela Valesca.

Entre novas normas, discor-dância e resistência, o Acordo Or-tográfico entrará em vigor a partir de janeiro de 2009. A mudança da ortografia vai exigir a adaptação de professores, revisores, jornalistas e editores de livros.

“O silêncio não tem fi sionomia, mas as palavras

sim, muitas faces”

Machado de Assis

“Minha pátria é a língua

portuguesa”

Fernando Pessoa

Confira a nova escrita

ü O trema desaparece: tranquilo, aguentar, linguiça

éiOs ditongos ei e oi deixam de ser acentuados nas paroxítonas: ideia, paranoico, Coreia do Sul

ôo Cai o acento de palavras ter-minadas em oo e eem: creem, leem, voo

iúCai o acento das paroxítonas cujas vogais i e u são precedidas de ditongo decrescente: feiura, boiuna, baiuca, bocaiuva

á As palavras para, pelo, pera e polo per-dem o acento diferencial: Eu fui ao Polo Norte. Ele não para no semáforo. Este cachorro tem pelo dourado

Hífens

aeNão se usa o hífen quando a primeira pala-vra termina com uma letra diferente da qual começa a segunda: pa-raquedas, coautoria, autoestrada, infraes-trutura. O “h” é a ex-ceção: sub-humano, pré-histórico

ooUsa-se o hífen quando a primeira palavra ter-mina com a mesma letra da qual começa a segunda: micro-ondas, micro-ônibus, arqui-inimigo, semi-interno

ssQuando a primeira pa-lavra termina em vogal e a segunda começa com “r” ou “s”, o hífen desaparece e as conso-antes são duplicadas: antissemita, ultrassom, antirrábica, megarrápi-do, contrarreforma

Page 10: Jornal Campus - Edição  330

4

Se nos próximos anos você esbarrar em algum cartaz escrito “Estreia hoje nova montagem de Morte e Vida

Severina”, não se assuste. A divul-gação não estará errada, pois o Novo Acordo Ortográfico da Língua Por-tuguesa estará em vigor. Em meio às mudanças e opiniões distintas sobre a aceitação da nova norma, muitos profissionais, empresas e órgãos pú-blicos já estão tratando de cumprir as novas regras da escrita.

No Brasil, uma atitude sensata do Ministério da Educação (MEC) visou a impedir que alunos da rede pública dos ensinos fundamental e médio fossem prejudicados pela ob-solescência dos livros didáticos. A resolução nº 17, de sete de maio de 2008, estipulou o prazo de adequa-ção para o ano de 2011.

O MEC prevê que a partir de ja-neiro de 2009 todas as publicações oficiais e comerciais obrigatoria-mente estejam adaptadas ao novo acordo. Já neste ano, alguns mini-dicionários de língua portuguesa trazem edições reformuladas com as novas alterações ortográficas. É o caso do Houaiss, Aurélio e Michae-lis. E também de gramáticas que já ensinam as novas mudanças.

A nova edição do Minidicionário Houaiss, após sete meses de reali-zação, está disponível nacionalmen-te desde o início do mês de agosto. Com mais de 30 mil verbetes, a pu-blicação traz o fato curioso de ter sido desenvolvida por lexicógrafos que

comungam dos ensinamentos de An-tônio Houaiss, um dos idealizadores da Reforma Ortográfica de 1990.

“A reformulação dos nossos di-cionários é só mais uma alteração. Mas é significante, se você contar que cada palavra se repete inúme-ras vezes ao longo do dicionário”, aponta Mauro Villar, coautor do Mini Houaiss e diretor do Instituto Antô-nio Houaiss. Ele acrescenta que não houve custo adicional de reformula-ção dessa publicação e que todos os dicionários Houaiss estão sendo revisados. Segundo ele, a edição do Grande Houaiss reformulado ficará pronta apenas em 2010.

A Editora Thesaurus, de Brasília, publica obras de escritores brasi-leiros e portugueses há 30 anos e mostra rapidez na adesão ao acor-do. A obra Bichos, de Ânderson Bra-ga Horta, já está na fase de impres-são e a previsão de lançamento é para outubro.

O presidente da editora The-saurus, o português Victor Ale-gria, afirma, no entanto, que a re-forma implicará mudanças apenas para as editoras de livros didáti-cos, que trabalham com grandes re-edições. Victor considera ser mais vantajoso para as pequenas editoras exigirem que os revisores reciclem o conhecimento ao invés de fazer mais contratações.

O governo exigeResponsável por cobrar das

editoras de livros didáticos a ade-quação à nova reforma ortográfi-ca da língua portuguesa e com-prador de 103 milhões de livros apenas em 2008, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) comunica que até o pró-ximo ano esses livros poderão ou não estar readequados.

A coordenadora do Plano Nacio-nal do Livro Didático (PNLD), Sônia Schwartz, explica que em 2010 as editoras serão obrigadas a entre-gar os livros com as modificações, exceto os títulos para as turmas de 1º ao 5º ano. “O MEC decidiu que os livros das séries iniciais do ensi-no fundamental ainda não poderão estar reformulados em 2009, pois entende que alunos em processo inicial de escrita teriam dificuldade de adaptação”, explica.

São 16 editoras contratadas pelo PNLD que, só para o ano de 2008, recebeu um orçamento de R$ 840 mi-lhões para comprar livros didáticos de Biologia, Física, Matemática, Português e Geografia, beneficiando 7,2 milhões de alunos do ensino médio. “A reforma não teve custo adicional para o PNLD”, reitera Sônia, lembrando que as prin-cipais editoras já estão providenciando o lançamento dos livros até o próximo ano, com o selo da reforma.

É o caso da Editora Nova Geração, de São Paulo, que lançou duas gramá-

ticas novas e aguarda o lançamento do manual explicativo Corrija-se, de Luís Antônio Saconni. Estão previstos para dezembro deste ano um minidicionário e outro para 2009. A editora Elaine Raya conta que a Nova Geração teve que re-visar três títulos, acarretando um custo adicional de 40% à produção.

Estão sendo utilizados de cinco a dez revisores contratados para este trabalho de reformulação das obras. “A nomenclatura gramatical vai ser alterada, mas há lacunas no acordo ortográfico. Cada editora se guiou de uma forma com seus au-tores”, ressalta. Eliane ainda consi-dera que a Academia Brasileira de Letras (ABL) deve agir em conjunto com as outras academias de letras dos países lusófonos para o acor-do corroborar suas intenções de integração. “O acordo gerou uma polêmica, pois há contradições de regras ortográficas”, completa.

Já a Editora FTD, uma das prin-cipais do país, revela que não pre-cisou contratar novos revisores para

Economia e educação também sofrem os reflexos

Ministério da Educação, editoras e profissionais da educação já começam a adotar as novas regras ortográficas

a reformulação dos títulos que já es-tavam editados e não mais podiam esperar a adaptação. Segundo o supervisor de divulgação da FTD Brasília, Eliude Lacerda, o material não reformulado, editado em 2006 e 2007, receberá um suplemento adi-cional de seis páginas contendo as novas regras ortográficas.

“A adequação às novas normas não implica custo adicional, mas o trabalho autoral (adequação do texto), revisão e impressão são complexos e demoram”, afirma Eliude. A editora fornece cerca de 130 milhões de livros para séries escolares de 1º a 5º anos. Os lançamentos editoriais da FTD ou os títulos reformados, que incluem gramática e livros de português, serão lançados este mês.

Para o Distrito Federal, a medida parece demorar a chegar. A Subse-cretaria de Ensino Básico da Secre-taria de Educação do DF informa que será formada uma comissão para avaliar a adoção de livros didáticos adequados às novas normas.

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mundo”

Clarice Lispector

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Page 11: Jornal Campus - Edição  330

cultura

Tesouros nas prateleirasBibliotecas de Brasília disponibilizam coleções de excelência ao público, muitas delas compostas por itens raros que servem de referência para pesquisadores

Não é novidade que Brasília possui grandes bibliotecas. As três principais, localizadas na Univer-sidade de Brasília (UnB), Câmara dos Deputados e Senado Federal possuem juntas quase 1,5 milhão de volumes, entre livros, mapas, periódicos e obras raras. Alguns desses acervos são de qualidade superior, por sua variedade, atua-lização ou valor histórico.

Nos mais de 800 mil títulos da Biblioteca Central (BCE) da UnB, algumas coleções são mais que especiais. Três delas destacam-se como de excelência mundial. Guardadas no setor de obras raras, as coletâneas de Luís de Camões, Camilo Castelo Branco e Hipócra-tes são as mais importantes.

Com cerca de 100 volumes, a coleção do português Luís de Ca-mões é referência para pesqui-sadores. “Só de Os Lusíadas pos-suímos 17 edições muito raras, do século XVI ao XVIII. Pesqui-

sadores podem estudar a evolu-ção da obra, já que em diferentes edições algumas partes foram alteradas”, conta Raphael Gree-nhalgh, um dos bibliotecários responsáveis pelo setor de obras raras da BCE.

A coleção do romancista por-tuguês Camilo Castelo Branco também chama atenção. São 198 obras, a maioria do século XIX. Entre elas, uma cópia feita a partir do original de A Infanta Capelista, que, a pedi-do de D. Pedro I, foi destruída por citar um membro da família real. Atualmente, restam somente três originais da obra no mundo.

Outra coletânea notável é a de Hipócrates, considerado pai da Medicina. São livros editados en-tre os séculos XVI e XVIII. O mais importante é Opera Omnia, de 1535, tratado sobre as mais diferentes doenças humanas até

então conhecidas, uma das obras mais antigas do acervo.

Para Fernando Silva, do Ser-viço de Desenvolvimento de Co-leções da BCE, “acervos como estes têm objetivo de preservar o

patrimônio histó-rico-cultural, prin-cipalmente da lín-gua portuguesa”. Fernando também lembra que tais coleções, quando acessíveis em uma

universidade, fomentam pesqui-sas e que, por isso, o acervo da UnB é mais aberto que o de ou-tras bibliotecas. “Em outros luga-res, como na Biblioteca Nacional, é preciso fazer uma solicitação e aguardar a autorização para con-sultar obras raras”, explica.

Leis nas prateleirasCom quase 400 mil volumes, a

Biblioteca do Senado Federal tem o segundo maior acervo aberto do DF. Nessa coleção, concen-

Na BCE, encontra-se uma edição de Os Lusíadas,

impressa no séc. XIX em comemora-

ção aos 300 anos de Camões.

Max Melo

7

tram-se 240 mil obras de Direito. A diretora da biblioteca, Simone Bastos, acredita que a importân-cia do acervo ultrapassa as pare-des. “O principal objetivo é auxi-liar os parlamentares durante a elaboração das leis”, afi rma.

Engana-se quem pensa que a coleção do Senado é limitada à Legislação. “Possuímos uma base de excelência de jornais e de obras acadêmicas e científi cas que possam apoiar o parlamen-tar. Ele precisa compreender o mundo para guiar o país”, com-pleta Simone. A biblioteca tem, ainda, uma coleção de livros his-tóricos e de literatura, como os exemplares da primeira constitui-ção imperial e antigas edições dos romances de Machado de Assis.

A Biblioteca Pedro Aleixo, na Câmara dos Deputados, é espe-cializada em Ciências Sociais. A maior parte dos 200 mil volu-mes é sobre Direito. O restante é, principalmente, sobre Ciência Política, Economia e Administra-

ção Pública. A biblioteca tam-bém abriga documentos histó-ricos, leis, códigos e livros que contam a história do Brasil des-de o período colonial.

Natanael Lopes, aluno do 7º semestre de Ciência Política da UnB, é um dos usuários da biblio-teca da Câmara. Ele destaca que a principal vantagem é a atuali-zação constante do material. “A coleção é muito boa, principal-mente porque tem livros recen-tes e edições atuais. É bastante comum o pessoal do meu curso estudar lá”, conta.

Mesmo fechada para reformas até 2010, a biblioteca permanece viva. Segundo a diretora da institui-ção, Patrícia Milani, apesar da sus-pensão do atendimento externo, outras formas de acesso ao acervo estão disponíveis. “Mantemos o atendimento interno para os parla-mentares e funcionários da Câma-ra, o serviço de comutação biblio-gráfi ca com outras bibliotecas e a consulta telefônica”, garante.

Fran

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rasi

leir

o

“Só de Os Lusíadas

possuímos 17 edições

muito raras”

Rafael Greenhalgh,

bibliotecário da UnB

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

Serviço

BCEAberta de segunda a sexta-feira das 7h às 23h45 e finais de semana e feriados das 8h às 17h45.Telefone: (61) 3307-2417 e 3307-2403

Biblioteca do Senado FederalAberta para o usuário exter-no de segunda à sexta-feira das 9h às 14h.Telefone: (61) 3311-4141

Biblioteca da Câmara dos DeputadosO atendimento ao usuário externo está suspenso até 2010, por motivo de reforma.Telefone: (61) 3216-5650

Page 12: Jornal Campus - Edição  330

cultura

“Nós só tocamos sucesso”

Ana Rita Cunha

A maioria das rádios de Brasília não valoriza músicos locais de renome nacional, preferindo os pacotes padronizados de outras cidades aos talentos regionais

Fernanda e Phil, que formam a dupla Lucy and the Popsonics, desistiram da rádio como espaço de divulgação

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Das 14 rádios de Brasília, oito não prestigiam a produção da cidade. Essa foi a constatação do Campus após conversar com produtores de todas as rádios com programação musical. En-quanto a maioria afi rma não ser economicamente viável tocar música local, existem artistas brasilienses de repercussão na-cional sem espaço.

Há três perfi s de rádio em Brasília: repetidoras, locais e pú-blicas. As repetidoras são fi liais de uma matriz de outra cidade. No DF, há quatro dessas rádios, sendo que a maioria toca um pa-cote de conteúdo fechado e defi -nido na sede. A Transamérica é a única exceção. Com o projeto Recreio, a emissora vai às esco-las da cidade, seleciona bandas e as insere na programação.

Fora isso, o coordenador mu-sical da Transamérica em Bra-sília, Jonnhy Luna, diz que há outras formas de os músicos che-garem às rádios. “O músico pode mandar o material. Se for de boa qualidade e compatível com o es-tilo, é capaz que entre”, afi rma. De acordo com Luna, no entanto, existem condi-ções que podem simplifi car a en-trada. “Se o cara envia material para a gente fa-zer promoção, aí toca mais fácil”, revela.

Nas rádios locais comer-ciais, o cenário contrasta mais. Só uma das seis transmite mú-sica de Brasília. A justifi cativa de Arthur Lins, coordenador musical da rádio Clube, antiga 105 FM, é “nós só tocamos su-cesso”. Para Lins, não é viável uma rádio da cidade olhar para a região. “Não perdemos tempo

e, no fi m, nosso sucesso maior é fora daqui”, conta Fernando Brasil, vocalista do Phonopop.

Goiânia segue em direção contrária às rádios brasilienses. A Interativa, campeã de audiência entre os jovens, conforme dados do Ibope, no primeiro semestre de 2008, abriu espaço para mú-sica local. “É preciso trazer novi-dades para o ouvinte, e os músi-cos daqui têm identifi cação com o público”, garante José Araújo, diretor artístico da Interativa.

“As rádios de Brasília não representam mais a criação musical local”, afi rma Fernando Rosa, produtor musical e apre-sentador do programa semanal Senhor F, na Rádio Câmara. Rosa diz que a lógica é tocar apenas um padrão. “As rádios da cidade perderam a capaci-dade de perceber as novidades musicais”, lamenta.

rinha são alguns dos exemplos de bandas e músicos da cidade que saíram em importantes re-vistas nacionais. Boa parte deles é requisitada em festivais por todo o país e já tocou no exte-rior. Todas as qualidades não lhes valeu espaço nas rádios locais. “Nem mandamos mais material porque sabemos que não vai tocar”, afi rma Fernanda Popsonic, do Lucy and the Pop-sonics, banda que apareceu na revista Rolling Stone.

Cláudia Daibert, vocalista do Casa de Farinha, vencedor do Prêmio Tim de Música na cate-goria grupo regional em 2005, conta que o conjunto divulgou-se principalmente nos shows. Sem abertura nas rádios, as bandas se voltam para o público externo mesmo fazendo sucesso interna-mente. “A primeira resenha que fi zeram sobre nós foi em Minas

tocar bandas como Raimundos e Natiruts. Entre 2000 e 2005, por questões políticas, seguiu o for-mato próximo ao das rádios lo-cais e perdeu o público e o status de grande divulgadora da produ-ção regional. Desde 2006, tenta recuperar esse título. “Quere-mos criar no público o costume de ouvir música daqui”, afi rma Marcos Pinheiro, diretor da rá-dio. “Não precisamos olhar só para o próprio umbigo, mas as rádios têm que parar de ignorar a música local”, polemiza.

Voz às bandas Conhecida pela produção

musical relevante, Brasília sem-pre foi berço de grandes músi-cos. Hoje, a capital tem muitos nomes com reconhecimento nacional. Móveis Coloniais de Acaju, Phonopop, Lucy and the Popsonics, Beto Só e Casa de Fa-

procurando gente daqui”, justi-fi ca Lins, repetindo o discurso da maioria dos programadores musicais brasilienses.

Na contramão da tendência, estão as rádios públicas. As qua-tro existentes têm espaço para

música de Brasí-lia. A rádio Verde Oliva, do Exército, insere essa músi-ca e criou, no ano passado, o Prêmio Verde Oliva de

Música Brasiliense. De acordo com a assessoria de imprensa da rádio, a recepção do público é muito boa. O órgão informa que é comum os ouvintes liga-rem para saber de onde são as produções novas.

Na rádio Cultura, um terço da programação é de música brasiliense. Criada em 1988, foi a primeira, na década de 1990, a

Francisco

BrasileiroCampus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

Apesar da qualidade,

bandas brasilienses

ficam excluídas da

programação

Page 13: Jornal Campus - Edição  330

Difi culdade para fazer escolhas, tomar decisões ou manter um bom relacionamento com fa-miliares, amigos e colegas de trabalho. A busca de solução para problemas como esses, que sempre foi feita no divã dos psicólogos, agora também está sendo realizada em outra frente. Trata-se da chamada Filosofi a Clínica, que consiste no atendi-mento baseado na refl exão fi lo-sófi ca acerca das questões que inquietam a existência humana. Na prática, essa corrente traba-lha em um campo de atuação terapêutica em que a fi losofi a acadêmica lhe serve de embasa-mento, fundamentação, suporte e aprofundamento no auxílio de quem procura o fi lósofo clínico.

Iniciada no Brasil nos anos 1990, a Filosofi a Clínica par-tiu de estudos do psicanalista e fi lósofo Lúcio Packter, no Rio Grande do Sul. No entanto, até hoje não é muito conhecida nem aceita pelos acadêmicos. Atual-mente existem cerca de 5 mil especialistas na área em todo o país. Desses, somente em torno de cem cuidam de partilhantes (termo usado para designar o paciente), enquanto os demais se dedicam à pesquisa ou não atuam na área. No Distrito Fe-deral, o curso de formação em Filosofi a Clínica existe há oito anos, mas dos 25 especialistas existentes somente um trabalha atualmente no ramo.

Vista por alguns como perigo à saúde pública e por outros como um novo mercado para o fi lóso-fo, o tratamento atua em terreno fértil em polêmicas. Ao abarcar o campo da saúde mental, esse segmento se coloca ao lado da Psicologia, Psiquiatria e Psicaná-

cidades

Ref letir é o melhor remédio

Amanda Sales

Reservada tradicionalmente a intelectuais, a Filosofi a agora ganha espaço como prática terapêutica e compete com psicoterapias mais conhecidas

9

que respeitamos os modos criados para cada estrutura de pensamento”, diz.

A jornalista Denize Guedes, 29 anos, é paciente de Olga Hack há dois meses. Ela passou mais de cinco anos se submetendo a psicoterapias tradicionais, mas diz só ter conseguido com a Filosofi a Clínica lidar com as difi culdades para as quais bus-cou terapia. “O tratamento não vai lá atrás para tentar explicar o motivo de um problema que me incomoda hoje. Ela parte do que eu estou vivendo agora, tentando entender o mundo e o cotidiano vivido por mim e atra-vés da minha história”, conta Denize. “Você passa a perceber que determinadas coisas na vida acontecem porque foi aquilo que você quis, e assim você entra em paz com questões que antes eram incômodas”.

Uma sessão de Filosofia Clínica pode custar de R$ 40 a R$ 200. O profissional tem que ser graduado em Filosofi a por uma faculdade reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e ter se especializado na área, cujos cursos são vinculados ao Instituto Packter, do Rio Grande do Sul. Na formação, os profi s-sionais estudam metodologias fi losófi cas para compreender e auxiliar o partilhante.

O curso tem duração de dois anos, com 18 meses de aulas teóricas e seis de estágio. Nes-sa segunda etapa da formação profi ssional, a partir do 18º mês de curso, o aluno inicia um es-tágio supervisionado e é avalia-do diretamente por dois profi s-sionais. O curso teórico custa R$ 3.600, divididos em parcelas mensais de R$ 200. As aulas ocorrem uma vez por mês, aos fi ns de semana.

cidades

outras pessoas e com as coisas. Queremos que o partilhante tenha qualidade de vida”, con-ta Barbosa.

Dentro do mercado de tra-balho, a Filosofia Clínica pare-ce querer tirar o espaço antes reservado à Psicologia. Mesmo assim, Enrique Maia, do Insti-

tuto de Psicologia Aplicada, não vê a atuação dos fi lósofos como uma ameaça. “Todas as práticas terapêuticas concorrem entre si, pois há grande diversidade de propostas”, afi rma. “A Filosofi a Clínica pode vir a contribuir, mas não se equipara ao trabalho psicológico e nem o substitui.”

A fi scal do Conselho Regio-nal de Psicologia do Distrito Federal Eliana Amorim explica

lise no tratamento de pessoas por meio de intervenções mentais clínicas. Isso gera controvérsias por envolver a legitimidade da Filosofi a como uma terapia.

O professor do Departamento de Filosofi a da Universidade de Brasília Agnaldo Portugal acre-dita que o trabalho da Filosofi a Clínica envolve riscos muito sérios. “Quem estuda Filosofi a não tem preparo para cuidar da saúde mental dos outros. O fi lósofo não tem e nem deve ter como propósito o tratamento te-rapêutico, e nem tem base para isso”, explica.

Já o professor Gilson Barbo-sa, membro da Associação Goia-na de Filosofia Clínica, afirma que a especialidade não busca a cura do partilhante, como fa-zem outras psicoterapias com os pacientes, nem trata de do-enças. “O filósofo clínico não trabalha em cima de patologia e sadio. Nós trabalhamos com dificuldades existenciais, pro-curamos a melhoria da relação da pessoa com ela mesma, com

que não precisa existir reco-nhecimento por parte da Psi-cologia em relação à Filosofia Clínica, uma vez que são cam-pos diferentes. “O Conselho só fiscaliza psicólogos. Se houver um psicólogo fazendo esse tipo de abordagem, o Conselho se pronunciará”, avisa. “Como se trata de filósofos, não há como intervir.”

Diferença metodológica Para Olga Hack, professo-

ra do Instituto Packter e única filósofa clínica que atende no Distrito Federal, há diferen-ças entre a terapia filosófica e as psicoterapias, principalmente em relação à metodologia. Olga conta que o principal é ter fundamentação em preceitos filosóficos. “Não trabalhamos com conceitos de experiências anteriores. Quem se apresen-ta à Filosofia Clínica é único em sua forma de ser”, afirma. “Com isso, não nos permitimos fazer analogias entre norma-lidades e patologias, uma vez

“Quem estuda Filosofia

não tem preparo para

cuidar da saúde mental

dos outros”

Agnaldo Portugal,

professor da UnB

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

Hen

rique Eira

Page 14: Jornal Campus - Edição  330

esporte

Arbitragem maior que futebolInvestimentos fazem do DF uma das melhores escolas de formação de árbitros do país. Bom desempenho dos juízes eleva a cidade ao topo do ranking nacional

Nathália Mendes

10

Se com a bola no pé o Distrito Federal ainda engatinha, com o apito na boca a cidade é referência nacional. Segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o DF ocupa a quarta posição no ranking das federações que mais apitaram partidas da Série A do Brasileirão, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os árbitros conduziram 24 das 250 partidas, superando os estados do Paraná e de Minas Gerais.

Esta assiduidade nas escalas é fruto de aprimoramento físico e técnico. A Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol (Ceaf/DF) e o Sindicato de Árbitros de Futebol do Distrito Federal (SAF/DF) pro-movem aulas de educação física, testes teóricos bimestrais, especiali-zações e rodadas de discussão e re-ciclagem. “Isso refl ete em um bom trabalho dentro de campo”, aponta Edson Rezende, ex-presidente da

Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, o órgão máximo de arbitra-gem do país.

O DF conta com 120 juízes e auxiliares em atividade. Desses, 50 fazem parte do quadro local e seis do quadro CBF, que relaciona os ju-ízes das partidas nacionais. Para ser promovido, o árbitro precisa ter dois anos de experiência na federação, estar atuando na primeira e segunda divisão do campeonato local e ter, no máximo, 35 anos.

A posição de destaque da ar-bitragem é antiga. “A arbitragem de Brasília é muito maior que seu futebol”, atesta Luciano Almeida, ex-árbitro Fifa. “Estou há 28 anos na arbitragem de Brasília e sei que a formação é levada muito a sério”, afi rma Jorge Paulo Go-mes, presidente da Associação Nacional de Árbitros de Futebol (Anaf) e ex-árbitro assistente do quadro internacional.

A falta de recursos impede uma maior expressão dos árbitros da cidade. Não há espaços para

treinamento e os juízes atuam em campeonatos sem visibilidade. “Considero os árbitros de Brasília verdadeiros heróis. Eles conse-guem se destacar sem mídia por trás”, afi rma Luciano.

Prata da casaSandro Ricci, funcionário pú-

blico e árbitro há cinco anos, esco-lheu a carreira para continuar em contato com o futebol. “Ele é uma aposta da Comissão de Arbitragem e, aos poucos, vai encontrando seu espaço”, observa o comentarista da SporTV, Renato Marsiglia.

Sandro enumera vantagens e desvantagens de ser juiz no Brasil. “É gratifi cante conhecer novos lu-gares, ser remunerado e ter reco-nhecimento público”, afi rma. “Por outro lado, não somos considera-dos agentes profi ssionais num am-biente profi ssional.”

O gerente de empresas Wilton Sampaio é árbitro há oito anos e integra o quadro CBF há três. Wil-ton planeja tornar-se árbitro Fifa. “Sonho com essa perspectiva, prin-cipalmente por ser jovem”. Um

árbitro internacional precisa estar apitando jogos da Série A, ter con-cluído o ensino superior e falar in-glês e espanhol.

Sérgio Carvalho é o árbitro número um do DF. Até a 25ª ro-dada deste campeonato – o últi-mo de sua carreira -, ele havia sido o árbitro que tinha apitado mais jogos nacionais por fede-ração: 12 partidas. “Sérgio tem postura simples e efi ciente. Ao abandonar o apito, terá motivos sufi cientes para se orgulhar de sua trajetória”, acredita Marsiglia.

Para Sérgio, o que falta à arbitra-gem do Distrito Federal é periodici-dade nos cursos. “Estamos carentes de renovação”, critica. O último cur-so de árbitros ocorreu em 2006. O presidente do SAF/DF, Nivaldo Nu-nes, explica que a falta de parcerias para cobrir os custos impede a con-tínua formação. “Para o próximo ano, concluiremos o processo para realizar o curso”, afi rma.

Movidos pela paixãoRaimundo Lobo e Alexandre

Andrade fazem parte do quadro lo-

cal. Alexandre, árbitro há 13 anos, acredita que é mais difícil apitar Cruzeiro x Brasília do que Fla x Flu. “O jogo de elite possui mais infra-estrutura e é tranqüilo pelo nível de profi ssionalização”, conta. Sandro concorda: “Quando você apita em nível local, pode esperar qualquer coisa de um atleta. Não existe mídia que evite reações grotescas”.

Sem o reconhecimento de San-dro, Sérgio ou Wilton, os demais árbitros locais são motivados por outros fatores. “O pessoal do qua-dro básico faz porque gosta. É mais por paixão do que pela carreira”, diz Raimundo. Um juiz ganha ta-xas de acordo com o número de vezes que é escalado. Um árbitro Fifa pode ganhar até R$ 15 mil por jogo. No DF, as taxas variam de R$ 80 a R$ 220 por partida.

“Já que falam que aqui é o país do futebol, por que não di-zer que somos o país da arbi-tragem?”, questiona Wilton. Se depender do talento e da capaci-dade de nossos árbitros, a capital deste novo país fi ca mesmo pelo Planalto Central.

Alexandre foi do quadro nacional por dez anos: “Estamos entre os três melho-res do país”

Marian

a Curi

Sharm

aine C

aixeta

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

Page 15: Jornal Campus - Edição  330

Em 2006, às vésperas das elei-ções para governador do DF, alunos de jornalismo do Iesb publicaram no portal de notí-cias da faculdade uma matéria denunciando irregularidades na campanha de um dos candi-datos. A matéria foi censurada e tirada do site. Fato semelhan-te aconteceu no primeiro se-mestre desse ano, no UniCeub. Com o escândalo dos gastos do governo federal com cartões corporativos, o jornal-labora-tório Esquina iria publicar uma matéria sobre gastos seme-lhantes feitos por servidores do GDF. A matéria foi censurada antes de ser colocada no jornal,

opinião11

Em entrevista concedida à TV Brasil em 17 de setembro, o presidente Lula declarou ser a fa-vor do casamento gay, permitido em países como Espanha e Bélgica. Outras nações, como as européias Suécia , Inglaterra e França, reconhecem apenas a união civil entre casais homosse-xuais. E no Brasil, o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser legalizado?

espaço do leitor

que circulou sem a notícia.Em 1984, o Conselho Federal

de Educação estabeleceu que to-dos os cursos de jornalismo de-veriam editar, no mínimo, oito jornais-laboratório em formato tablóide por ano. Os jornais-la-boratório, portanto, seriam espa-ço para a livre experimentação do aluno, preparando-o para o mercado de trabalho e proporcio-nando-lhe, talvez, a única opor-tunidade em suas carreiras para escrever livre de censuras.

Mas a censura aos jornais-laboratório não se limita ao DF. Em 2002, alunos da Cásper Líbe-ro que estamparam um casal nu multi-racial e homossexual na

Gabriela Abreu Aluna do 7º semestre de Jornalismo

Censura à experimentação

Deve ser assegurado ao aluno o direito de

se expressar

debate

artigo

Boa impressão

A última edição estava muito boa. As matérias sobre as eleições foram pro-fundas e certamente tiveram peso na hora do voto. Não apenas a divulgação ágil da pesquisa eleitoral merece elo-gios, mas a equipe conseguiu superar o trivial e buscou ângulos diferentes. O suplemento também estava irrepreen-sível, porque foi a fundo nas mudanças e nos desafios trazidos pela democra-tização da universidade. O que mais me impressionou é que essa foi apenas a primeira edição do semestre. Com tanto profissionalismo, essa turma promete. Es-

tou ansioso para ver os próximos números.

Wellton Máximo Jornalista e ex-aluno da UnB,

(aluno do Campus no 1º/2001)

Cumprimentos

Informo que recebemos os exemplares do jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB que vocês muito gentilmente nos trouxeram. Na oportu-nidade, envio os cumprimentos desta assessoria, cientes da importância de empreendimentos como esse enquan-to são alunos para que mais tarde se tornem excelentes profissionais.

Atenciosamente,

Ary Franco SobrinhoChefe da Assessoria de Comunicação

Social do Ministério da Educação

na prática jornalística. Contudo, deve ser assegurado ao aluno o direito de se expressar livremen-te. Ainda mais quando se tem a sorte de se estudar em uma uni-versidade laica e livre de interes-ses particulares. Teoricamente.

Em julho de 2003, quando o jornal Campus publicou uma ma-téria sobre irregularidades no Ces-pe “Muito dinheiro, pouca transpa-rência”, professores do curso foram chamados à reitoria para conversar com o decanato, que demonstrou preocupação. Para o decanato, a matéria era política e visava atin-gir a imagem do então vice-reitor, o professor Timothy Mulholland, que pretendia ser reitor.

capa do Esquinas de SP foram impedidos de imprimir e distri-buir o mensário. A matéria fa-lava sobre os diferentes tipos de discriminação e trazia o título “Intolerância”. Segundo o presi-

dente da Imprensa Ofi cial de São Paulo, a cena era polêmica e de mau gosto, trazendo mais prejuí-zos do que dividendos.

É essencial velar pelo res-guardo da ética, da verdade e do respeito a quem lê o jornal

Na última edição do Cam-pus, publicou-se uma pesqui-sa que sondava os alunos em relação à consulta para reitor. Antes mesmo de sua publicação e desconhecendo o teor da ma-téria, alguns candidatos cogi-taram formular uma carta que impedisse a circulação do nosso jornal. Esse pedido só se justifi -caria se o texto possuísse algo de criminoso ou de inverdade, o que não era o caso. Felizmente, o Campus foi publicado antes que houvesse qualquer outra movimentação nesse sentido.

“Isso é um absurdo. Em um país com a cultura que nós temos, que claramente se posiciona contrária ao casamen-to de homossexuais, o presidente deveria ser sensível e se posicionar contra também. Isso é um ataque frontal à ins-tituição familiar. Homem e mulher se unem em matrimô-nio para a preservação da espécie. O casamento tem em vista a geração de vida, a geração de fi lhos e sua educação. Isso só é possível dentro do matrimônio. Não tenho nada contra aqueles que fazem essa opção sexual, mas querer que reconheçamos essa união como família é uma afronta à cultura brasileira.”

Miguel MartiniDeputado federal pelo Partido Humanista da Solidariedade

“A lei não proíbe o casamento de dois homens ou de duas mulheres. Simplesmente a legislação diz ‘o casa-mento entre um homem e uma mulher’. Ela silencia no que tange ao casamento homossexual, logo, como a lei não proíbe, ela admitiria isso. A Constituição esta-belece como princípio que não podemos ter na repúbli-ca qualquer tipo de discriminação. Não cabe ao Estado nem ao particular discutir a comunhão de vida do casal. Segundo o princípio da igualdade, se um homem pode se casar com uma mulher, por que dois homens não poderiam se casar entre si?”

Valcir GassenDoutor em Direito e professor de Direito de Família da UnB

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Escreva-nos: [email protected]

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

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botafora12

Pesquisa universitária defende o Gerundismo

como transformação natural da língua. Será que um dia

nós poderemos estar usando o gerúndio em qualquer situação

sem estar gerando irritação profunda no ouvinte mais

próximo?

Vir de ônibus para UnB não é tarefa

fácil. O ônibus da linha 110, que faz o trajeto UnB –

Rodoviária na hora do almoço, está mais para transporte

de carga do que transporte público.

Um novo refeitório foi aberto no RU para

pessoas com hipertensão, diabetes, ou disposição para essas

doenças. O cardápio oferece refeições com menos gordura e nada de sal. Resta saber se por

lá é possível identif icar de qual fruta é feito o

suco do dia.

22/09 foi o Dia Mundial Sem

Carro. Se a comunidade acadêmica não acompanhou o

movimento ou a ameaça de chuva fez todos desistirem de participar da iniciativa, não se

sabe. O fato é que não se notava qualquer diferença

na UnB.

Marian

a Cap

elo

Teo

Horta

Campus - Edição 330 - De 3 a 18 de outubro de 2008

Está sentindo falta de folgas durante a semana neste semestre? Não consegue nem lembrar a última vez que fugiu para a cachoeira mais próxima, saiu com os amigos ou apenas dormiu o dia inteiro? Então procure no caça-palavras os feriados perdidos para os fins-de-semana:

Lennon contemplava a UnB de um lugar privilegiado: ao lado do RU. Agora, ele desce do pedestal e se matricula no curso de f ilosof ia

7 de setembro 12 de outubro

2 de novembro15 de novembro

Procuram-se feriados

a

Mariana Capelo