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Jornal Regional de Limeira www.redebrasilatual.com.br LIMEIRA nº 10 Novembro de 2011 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Um clique de como o limeirense JB Anthero transforma suas fotos em arte PERFIL Governador prestigia chegada da Samsung, que opera só em 2013 Pág. 3 FáBRICA MAIS EMPREGOS Equipe retorna à Série A-3 e ainda faz final da Segundona Pág. 7 INDEPENDENTE VOLTA AO FUTURO Obra da estrada Limeira-Cordeirópolis cai após a inauguração Pág. 2 CHUVAS A PONTE RUIU MAMMA áFRICA RELIGIãO Dom Paulo Evaristo Arns, 90 anos, uma vida dedicada ao povo brasileiro Pág. 4-5 O DESCANSO DE UM GUERREIRO DA PAZ

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mais empregos a ponte ruiu volta ao futuro perfil religião fábrica nº 10 Novembro de 2011 Distribuiçã o pág. 4-5 pág. 3 pág. 2 pág. 7 www.redebrasilatual.com.br Jornal Regional de Limeira Equipe retorna à Série A-3 e ainda faz final da Segundona Governador prestigia chegada da Samsung, que opera só em 2013 Obra da estrada Limeira-Cordeirópolis cai após a inauguração

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Jornal Regional de Limeira

www.redebrasilatual.com.br limeira

nº 10 Novembro de 2011

DistribuiçãoGratuita

Um clique de como o limeirense JB Anthero transforma suas fotos em arte

perfil

Governador prestigia chegada da Samsung, que opera só em 2013

pág. 3

fábrica

mais empregos

Equipe retorna à Série A-3 e ainda faz final da Segundona

pág. 7

independente

volta ao futuro

Obra da estrada Limeira-Cordeirópolis cai após a inauguração

pág. 2

chuvas

a ponte ruiu

mamma áfrica

religião

Dom Paulo Evaristo Arns, 90 anos, uma vida dedicada ao povo brasileiro

pág. 4-5

o descanso de um guerreiro da paz

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expediente rede Brasil atual – limeiraeditora gráfica atitude ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador editor João de Barros redação Ana Lucia Ramos,Dalva Radeschi, Ivanice Santos, Leonardo Brito, Tracy Ellen Caetano e William da Silva revisão Malu SimõesDiagramação Leandro Siman telefone (19) 9708-0104 / (11) 3241-0008 tiragem: 15 mil exemplares Distribuição gratuita

editorial

O jornal Brasil Atual, laico e republicano, faz duas homena-gens especiais nesta edição. Uma é a dom Paulo Evaristo Arns, que fez 90 anos em setembro, com a mesma crença que tinha quando colocou sua fé a serviço da solidariedade, da justiça e da paz. Durante a ditadura militar, quando se prendia e arrebentava, se torturava e matava em nome de uma ideologia que não aceitava vozes dissonantes, muitos tinham apenas nele a voz que desafiava os poderes constituídos. Sua resistência firme mas serena mexeu com a história do Brasil e da América, mudando-nos a todos para melhor. A outra demonstração de apreço é a um homem que nas-ceu pobre e veio criança para Limeira. Quase analfabeto – ele estu-dou até a 4ª série – um dia ele aceitou o convite para ser motorista do Jornal de Limeira. Então, descobriu o gosto pela fotografia, e não parou mais. Hoje, JB Anthero é o mais importante expositor da causa dos negros da cidade. Nós demos um clique em sua traje-tória e o retratamos nesta edição. E, claro, nos rendemos ao jovem Guido, duas medalhas no Pan, que faz uma coisa como ninguém: nada. Tudo isso, claro, fora as sapecadas de sempre: no poder, na saúde, na Prefeitura, etc. É isso. Boa leitura.

Leia on-line todas as edições do jornal Brasil Atual. Clique www.redebrasilatual.com.br/jornais e escolha a cidade. Críticas e sugestões [email protected]

jornal on-line

vale o que vier

Limeira tem dois grandes jornais que não atendem à necessidade do leitor, que é saber o que acontece na Prefeitura, por que faltam investimentos, etc. Comecei a ler o jornal Brasil Atual há dois meses e me surpreendi com cada matéria. Parabéns.

Solange Maria Caetano, Assistente Social

Gostaria de parabenizar o jornal Brasil Atual pelas matérias feitas, todas de grande qualidade e im-portância para o povo limeirense, levando o conhecimento dos fatos do que acontece em Limeira. Um jornal de qualidade e, mais importante, de distribuição gratuita para o povo. Agradeço a todos que contribuem com ele, para que a população tenha informação e cultura de que tanto precisa.

Giovana Damaris da CunhaCaríssima equipe do jornal Brasil Atual – Limeira. Venho me manifestar com grande satisfação pelas excelentes matérias em todas as edições dos jornais, pois o recebo mensalmente em minha resi-dência. Com ele, fico informado das atualidades de minha cidade, meu bairro e da região de Limeira. Os outros jornais que circulam em Limeira não mostram o que realmente acontece. O Brasil Atual veio pra fazer diferença. Parabéns e continuem com o mesmo trabalho.

Silvio – [email protected]

chuvas

ponte se esboroa com a chuvaObra cai uma semana depois de entregue ao tráfego

Para o engenheiro Carlos Alberto Álvares Leite, do De-partamento de Construção Civil Geomática do Colégio Técnico de Limeira, o problema na obra da estrada Limeira-Cordeirópo-lis deveu-se ao surgimento de uma cratera por causa da erosão subterrânea que teve início na base do talude de aterro da ca-beceira. “Esse aterro está conti-do por uma paliçada de madei-ra provisória e o fluxo de água passou entre essa paliçada e o pilar da ponte” – afirmou ele.

Com a chuva forte, o lençol freático se elevou. As águas se infiltraram no topo do morro e emergiram na margem do cór-rego – as chuvas daquela se-mana superaram as previsões e as obras sob a ponte não es-tavam concluídas. A solução, segundo o engenheiro, é a construção de contenções en-

tre os pilares da ponte, neces-sárias por causa do tráfego da estrada e da vibração da ponte com a passagem de veículos. “As contenções e o sistema de drenagem subterrânea podem ser muros ou gabiões” – diz. Além desse trabalho, o enge-nheiro afirma que, sob a ponte, há necessidade de se concluí-rem obras de drenagem su-perficial e restauração do leito do córrego, hoje canalizado

devido às obras. Por que a Prefeitura entregou uma obra inacabada não se sabe. Ela apenas emitiu uma nota em que afirma que o problema foi no asfalto, não na ponte. “Não há nenhum comprometimento estrutural” – escreveu, acres-centando: “A responsabilida-de é da empresa que realizou o serviço e que assumiu também a solução, e não há nenhum custo adicional ao Executivo”.

ponte foi reformada rapidinho: será que cai outra vez?

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fábrica

samsung chega à cidade e vai gerar 2.300 empregosMultinacional se apresentou em setembro, no Teatro Nair Belo, ciceroneada pelo governador

Com a presença do gover-nador do Estado, Geraldo Al-ckmin, do prefeito de Limeira, Silvio Félix, e de empresários locais, foi anunciada, dia 20 de setembro, a chegada à cidade da Samsung, que trará mais 2.300 empregos diretos à região.

As obras já foram inicia-das. O complexo ocupará uma área de 420 mil m², com 72 mil m² de área construí-da. A área fica às margens da Rodovia Anhanguera, entre Americana e Limeira, na pista sentido Capital. Limeira será o terceiro complexo industrial da empresa no Brasil, onde ela está desde 1986 – a compa-nhia possui fábricas em Ma-naus (AM) e Campinas (SP). A Prefeitura deverá cumprir exigências da Samsung, como fornecer água e energia elétri-ca, com a construção de uma

subestação de 12 megawatts – a empresa consumirá como uma cidade de 50 mil habitan-tes. A unidade será voltada à fabricação de eletrodomésti-cos da linha branca – fogões, fornos de microondas e gela-deiras. A multinacional tam-

bém obteve incentivos fiscais de ICMS (Imposto sobre Cir-culação de Mercadorias e Ser-viços) do Estado.

Entre sorrisos e elogios, Al-ckmin deu parabéns ao prefeito, Silvio Félix, pela astúcia de ter trazido a Samsung e completou:

samsung

limeira

americana

saúde

“ame funciona” – diz alckmin“Os exames especializados são feitos em São Paulo”

“A forma como o prefeito e sua esposa Constância Félix condu-zem a cidade é admirável. Os projetos e o cuidado com os ci-dadãos são motivadores”.

Durante a entrevista coleti-va, o presidente da Samsung no Brasil, Jeongwook Kim, elogiou

Limeira. “É um lugar de pessoas gentis, hospitaleiras. Tenho certe-za de que a Samsung contribuirá para o seu crescimento, desper-tando concorrentes e aumentando a visibilidade dos negócios da ci-dade ” – disse ele.

Com inauguração prevista para 2013, a Samsung já desper-tou o aquecimento econômico da cidade. Para o vice-presidente da empresa, José Fuentes Molina-rio, o fato de Limeira contar com a Unicamp bem perto foi um dos fatores para a escolha do municí-pio. “Os saberes desenvolvidos pela Unicamp interessam muito à multinacional. Unimos o útil ao agradável” – afirmou.

A cidade agora vai preci-sar de mais cursos técnicos e de graduação. Assim, todas as empresas que vierem a se ins-talar em Limeira terão mão- -de-obra capacitada.

alckmin em limeira: com o prefeito silvio félix e observando a planta da empresa

No encontro, o governa-dor Geraldo Alckmin anun-ciou a vinda de mais uma Fa-tec, uma Etec e a construção de um presídio, sem divulgar o local. Depois, o governador concedeu uma entrevista co-letiva à imprensa da cidade e região. Questionado pelo jor-nal Brasil Atual sobre o des-caso do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) em Limeira, o governador disse que “o AME está funcionan-do, ele só não faz exames de

média e alta complexidade”. Mas são esses exames que a população mais necessita – in-sistiu o repórter. E ouviu como resposta: “Quem necessita des-ses diagnósticos é encaminhado a outros AMEs, em São Paulo”.

Como a Prefeitura não dis-põe de um serviço municipal de saúde que atenda o povo em sua plenitude, as viagens são custeadas pela população – todos os dias parte um ônibus com mais de trinta pacientes para fazerem os exames que,

até há três meses, eram reali-zados na cidade. Além disso, a saúde arcou com exames que o ambulatório tinha a responsabilidade de fazer.

Quando o AME daqui voltará a atender os pa-cientes com todos os seus serviços? Resposta do go-vernador: “Resolveremos a questão dos exames, porém não tenho como precisar tempo, mas logo o ambula-tório atenderá os pacientes” – finalizou.

enfim, o samu chegouInauguração foi dia 30 de setembro

Além de Limeira, o Serviço de Atendimento Móvel de Ur-gência (Samu), atende Cordei-rópolis e Iracemápolis. Esta-vam na inauguração o ministro da Saúde, Alexandre Padilha,

e o secretário da Saúde de Li-meira, Gerson Hansen Mar-tins, que deu boas-vindas ao Samu, mais um investimento do governo federal na cidade, que, segundo o ministro, não será o único. Até a metade de outubro, o Samu já atendera 440 ocorrências, 60% de ca-sos clínicos. O diferencial é o socorro rápido, com a equipe médica capaz de diminuir o risco de morte – no momento da ligação telefônica, um mé-dico decide o recurso que será enviado e inicia a orientação dos primeiros socorros. O te-lefone do Samu é o 192.

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Dom Paulo, 90, simboliza resistência e esperança. Ele transcendeu a Igreja, salvou vidas e mexeu com a história do país no século 20 Por João Peres e Virginia Toledo

religião

guerreiro de batina. ou o cardeal dos trabalhadores

Igreja Católica, com o Concílio Vaticano II, reinseria a realida-de das mazelas do mundo na vida clerical. Emergia a Teolo-gia da Libertação e, com ela, a opção preferencial pelos pobres – ensinar a pescar – para reagir à opressão. No Cone Sul, a força das armas produzia ditaduras.

Ao assumir a Arquidiocese de São Paulo, em 1970, o fran-ciscano deu recados. Vendeu o Palácio Pio XII, residência oficial do arcebispo, para fi-nanciar terrenos e construir casas na periferia. Fortaleceu as Comunidades Eclesiais de Base, que até hoje dissemi-nam as discussões sobre po-lítica, cidadania e religião, e incentivou as pastorais. “O papa Paulo VI disse a dom Paulo que tivesse uma bela equipe de bispos auxiliares perto do povo” – conta dom Angélico Sândalo Bernardino.

Eram quatro bispos auxiliares, um em cada região da cida-de. Dom Angélico cuidaria da Pastoral Operária. E se torna-ria o “bispo dos operários”.

O metalúrgico Waldemar Rossi, fundador da Pastoral Ope-rária e líder da oposição do sin-dicato dos metalúrgicos de São Paulo, há anos submisso aos pa-trões, lembra-se de que foi cha-mado por dom Paulo, que queria saber se na Pastoral havia gente a favor da luta armada. “Temos o direito de nos organizar e nos de-fender?” – perguntou-lhe Rossi. “Na hora em que a gente ganha força, vem a ditadura e mata” – prosseguiu. O cardeal encerrou a conversa: “Vocês têm o direito da legítima defesa”. Rossi virou amigo do arcebispo. Três anos depois, ele é preso pelo Depar-tamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo. O crime foi denunciado nas paró-

clamor pela américa latinaO pastor presbiteriano

James Wright despertou para a luta contra a ditadura após a morte do irmão, Paulo, em 1973, e virou grande amigo de Arns. “Eles brincavam que um parecia presbiteria-no disfarçado de católico e o outro católico disfarçado de presbiteriano” – lembra Anita Wright, acostumada a ver o pai James hospedar refugiados que batiam à porta do Clamor – grupo de defesa dos direitos humanos de São Paulo com olhos na

justiça e pazDom Paulo articulou a

Comissão Justiça e Paz, que denunciava as prisões ilegais, a tortura e pressionava os mi-litares. “Comecei atendendo um dia por semana. No fim, atendia todos os dias, de ma-nhã e de tarde” – conta Mar-garida Genevois, que integrou a comissão por 25 anos e che-gou a presidi-la. “Os militares

queriam parecer bonzinhos e ficavam furiosos quando al-guma coisa transpirava para o exterior” – lembra ela. A fama da arquidiocese atraiu perse-guidos do Paraguai, da Argen-tina, do Uruguai e do Chile. Os militares reclamavam da intro-missão da Igreja brasileira, e dom Paulo rebatia: “A solida-riedade não tem fronteiras”.

América Latina, sob a pro-teção do cardeal e do pastor.

O Clamor arquiteta uma missão para resgatar duas crianças – Anatole e Vicky, de pais uruguaios, mortos em Buenos Aires – sequestradas pela ditadura argentina (1976-1983), que viviam sob a dita-dura chilena e acabaram sen-do descobertas pelas Avós da Praça de Maio – mulheres que se reúnem na Praça de Maio, Buenos Aires, para exigir no-tícias dos entes desaparecidos na ditadura militar argentina.

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se transformaria em pedra no sapato da ditadura. A fé da mãe, Helena, e o espírito con-ciliador do pai, Gabriel, são os pilares de sua formação. Quando ingressou no seminá-rio, seu pai lhe disse: “Papai é colono, e você sempre será filho de colono e de seu povo”. Dom Paulo levou isso na cabe-ça. Após a ordenação e a pós-graduação na Universidade de Sorbonne, na França, na Euro-pa pós-guerra, a desigualdade social se alastrava. Dom Paulo deparou-se com as cicatrizes da intolerância nazista. As marcas do conflito arraigaram de vez a conduta humanista que o guiaria pela vida.

De volta ao Brasil, trabalhou em comunidades carentes de Pe-trópolis (RJ). Em 1966, chegou a São Paulo, metrópole acin-zentada, que empurrava para as bordas a massa de migrantes. A

Dom Paulo Eva-risto Arns fez 90 anos

com a certeza que tinha aos 20: a solidariedade e a busca da justiça e da paz como razão de viver. A morada dele, numa congregação em Taboão da Serra, São Paulo, emana se-renidade. A mesma com que o franciscano enfrentou tiranos e lutou pelos desfavorecidos.

Irmã Devanir de Jesus, ami-ga de convivência diária, conta que ele descansa com a sensação de dever cumprido. “É uma pes-soa iluminada, muito gentil.” O cardeal não dá mais entrevistas, não vai a debates nem a eventos – o que inclui celebrações dos 90 anos, completados em 14 de setembro. “Ele é despojado, tem vida simples e inteligência pri-vilegiada” – conta dom Pedro Stringhini, bispo de Franca.

A infância em Forquilhi-nha (SC) forjou o homem que

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Dom Paulo, 90, simboliza resistência e esperança. Ele transcendeu a Igreja, salvou vidas e mexeu com a história do país no século 20 Por João Peres e Virginia Toledo

guerreiro de batina. ou o cardeal dos trabalhadores

brasil nunca maisEntre 1979 e

1985, um grupo de advogados valeu-se do direito de retirar processos do Supe-rior Tribunal Mili-tar, em Brasília, e montou um quadro da repressão. Seis anos depois, surgia o livro Brasil Nun-ca Mais, com relatos dos mé-todos de tortura, as acusações ilegais e os crimes promovidos pelo regime – informação que, saída de seus arquivos, nunca pôde ser contestada pelos re-

pressores. Dom Paulo, aliás, jamais acreditou na versão de que o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, cometera suicídio na cela em que estava detido, em 1975, no DOI-Codi, outro apare-lho da ditadura. A

missa de sétimo dia de Vlado – ato ecumênico que atraiu milha-res de pessoas à Catedral da Sé – transformou-se em momento simbólico, no início do fim dos anos de chumbo.

sob o viadutoPadre Júlio, da Pastoral

do Povo da Rua, relembra um episódio em que um grupo de moradores de rua estava na iminência de passar mais

ao papa

Em 1980, Waldemar Rossi foi encarregado por dom Paulo de ler ao papa João Paulo II uma carta com denúncias de trabalhadores. O Exército levantou a ficha dele e decretou que “o comunista” não participaria da celebração. Mas dom Paulo o pôs para dentro. Como o papa se atrasara, Rossi leu apenas o primeiro e o último parágrafo. Assim foi adiante a denúncia da morte de Santo Dias e de Raimundo Ferreira Lima – trabalhadores mortos pela re-pressão. Quando 130 mil pessoas bradavam “liberdade!”, o papa precisou da ajuda do cardeal para entender o que se passava.

esperança no sangueCinco dos 13 filhos do

casal Gabriel e Helena se-guiram carreira religiosa. Além de Paulo Evaristo, Zilda Arns, nascida em 1934, tornou-se referência com a Pastoral da Criança

e a luta contra a desnutri-ção infantil e por planeja-mento familiar. Zilda foi vítima do terremoto no Haiti, em janeiro de 2010, onde estava em missão hu-manitária.

quias de São Paulo e no exterior. No 25º dia da prisão, Dom Pau-lo entrou no prédio e foi à sala do delegado. “Vocês torturaram esse homem. Ele não consegue andar direito” – acusou, depois de ver o prisioneiro.

Essa não foi a primeira nem a última vez que ele bateu de frente com o inimigo. Em outu-bro de 1979, dom Paulo foi ao Instituto Médico Legal (IML), onde estava o corpo do operário Santo Dias da Silva, cujo desa-parecimento só não aconteceu porque sua mulher, Ana Dias, entrou à força no carro dos po-liciais que o transportaram – Santo fora baleado nas costas diante de uma fábrica na zona sul paulistana, depois de discu-tir com a PM para que libertasse as pessoas presas por organizar uma greve. “Dom Paulo saiu de casa com os trajes episcopais e chegou dizendo: ‘Abram a por-

ta. É o arcebispo de São Paulo’” – relembra o padre Júlio Lan-celotti. Anos depois, Ana soube que o cardeal encomendara um caixão resistente para que os companheiros transportassem o corpo de Santo pelas ruas de São Paulo.

Quando algum religioso corria riscos, dom Paulo ia ao Vaticano, pois era ouvido aqui e lá fora. Na década de 1970,

bispos da corrente conservadora Tradição, Família e Propriedade (TFP) pediram ao governo que expulsasse dom Pedro Casaldá-liga, bispo espanhol, da Prelazia de São Félix do Araguaia. O cardeal viajou a Roma, e Pau-lo VI mandou o recado: “Me-xer com Pedro é mexer com o papa” – versão confirmada por Casaldáliga.

Depois de 28 anos à frente da Arquidiocese de São Pau-lo, dom Paulo renunciou por questão de idade em 1998, aos 77 anos. Recebeu da Igreja o título de arcebispo emérito e, dos operários, o de cardeal dos trabalhadores. Dom Paulo viveu alguns anos no Jaçanã, Zona Norte, até retirar-se para Taboão da Serra. Ao acordar, lê jornais e faz uma celebração diária aos moradores da co-munidade religiosa onde vive. Depois, apoiado numa ben-

uma noite fria de inverno sob um viaduto. O então prefeito, Paulo Maluf, fechara o abrigo, mas dom Paulo disse que dormi-ria no local enquanto não fosse

reaberto. “Ele foi ao Viaduto do Glicério, onde os morado-res de rua estavam. E aí foi um esparramo. Imagine o arcebis-po embaixo de um viaduto!”

dom paulo na luta operária

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gala, caminha pelo jardim e segue para o almoço. Ele diz não assistir televisão, mas a carne é fraca diante da paixão: dar uma espia-dela na TV quando joga o Corinthians. Claro, ele não assume e atribui o “vacilo” às freiras – corintianas por obra e graça do próprio.

No começo deste ano, ele foi internado e convocou ao hospital dom Angélico: que-ria uma missa. Ao final da celebração, na cama da Uni-dade de Terapia Intensiva, aproveitou a hora do abraço e sussurrou: “Confiança. Va-mos avante. De esperança em esperança. Na esperan-ça sempre”. Para o cardeal, pode-se desanimar, sofrer, esmorecer, mas desistir ja-mais. “A esperança não é o ópio do povo, mas o motor que modifica o mundo.”

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perfil

a colorida (e incansável) busca da origem negra A história de João Batista Anthero, o fotógrafo que pesquisa seus antepassados Por Leonardo Brito

João Batista Anthero, o JB, é fotógrafo profissional, tem 53 anos, é divorciado e pai de três filhos. JB nasceu no bairro de Vila Nazareth, na cidade paulista de Casa Branca. Aos quatro anos, com a mãe Antônia Bonfim An-tero doente, ele se muda com a família para um cortiço na Vila Gino, em Limeira. Mas a passa-gem foi rápida, um ano. De volta a Casa Branca, JB tem uma lem-brança da infância, de sua casa pegando fogo. “Era um barraco de madeira. Uma noite, com dor de barriga, fui ao banheiro, no quintal. Na volta, derrubei a lam-parina e ele pegou fogo. Perde-mos tudo” – relembra.

O pai, Benedito Antero, era foguista – cuidava da caldei-ra dos trens Maria Fumaça – e construiu outra casa, de alvena-ria, no mesmo lugar. Mas a saú-de de dona Antônia piorou. No início dos anos 1960, Seu Bene-

A fotografia virou hobby de JB em 1988, época em que, no laboratório, ele ajudava os colegas Nivaldo Navarro e Mario Roberto. “Eu fuçava tudo: revelava fotos, manu-seava câmeras e, nos fins de semana, levava alguma para praticar em casa” – revela. O gosto pela novidade arrebatou JB, que comprava livros sobre o assunto e pedia dicas a quem era do ramo. Depois de um tempo, já profissional da im-prensa, ele percebeu que podia montar uma exposição foto-gráfica sobre os negros – foco de sua preocupação – as fotos eram todas em preto e branco.

o aprendizado foi na marra

dito volta a Limeira, com espe-rança de salvar a vida da esposa. Compra uma casa no Jardim Ca-vinato e traz a família. Contudo, Dona Antônia, que recebera alta em Casa Branca, mal teve tem-po de deixar as malas em casa e foi internada na Casa de Saúde. Uma semana depois, faleceu. Benedito sentiu o fardo de cui-dar dos quatro filhos – José An-tero, João Batista Anthero, Luis Antônio Antero e Valdir Antero. “Ele queria os filhos junto de si, mas faltavam-lhe condições; por isso, em 1966, ele nos ma-triculou no internato Nosso Lar, pois sabia que seríamos bem tratados – diz JB.

Foi na sacada do Nosso Lar que JB descobriu o prazer da música, ao ouvir a canção Do you Wanna Dance, do guitarris-ta nova-iorquino Johnny Rivers. “Foi como uma explosão no meu peito” – conta. Aos 12 anos, JB

compra um violão. “Aprendi a tocar duas músicas sertanejas e não parei mais” – lembra.

O primeiro trabalho de JB, em 1969, é na casa da família Peruzza, onde fica três anos. “Eu varria o quintal, encerava os tacos, fazia pequenas com-pras, tomava conta da lojinha de armarinhos e ainda ajudava na barraca de feira – lembra. Nessa época, ele monta o grupo musical O Quarteto e toca no Limeira Clube, às sextas-feiras. “A música abriu portas. Foi por meio dela que conheci o diretor da Gazeta de Limeira, Rober-to Lucato. Em 2 de janeiro de 1987, ele me convidou para ser motorista do jornal, e eu aceitei. Meu estudo era pouco – JB estu-dara até a quarta série – e o dou-tor Roberto me disse que não havia como eu crescer; eu ouvi e me resignei” – conta. JB dera um passo que lhe mudou a vida.

Sua primeira exposição, em 1996, chamou-se Negros no Brasil. Depois, JB retratou os quilombos do Brasil – Cafundó e Caçandoca, em São Paulo; Cam-pinho, no Rio de Janeiro; Palma-res e Muquém, em Alagoas. E foi a outros lugares, símbolos

da escravidão, como Salva-dor, na Bahia, e Ouro Preto, São João Del Rei, Mariana e gruta do Maquiné, em Mi-nas Gerais.

Em 2007, ele descobre que, em 25 de julho, come-mora-se o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino- -Americana e Caribenha – há até um encontro anual des-sas mulheres, na Ilha de São Martinho, no Caribe, em que elas discutem como pôr fim aos maus-tratos de que são vítimas. Como a data não é muito difundida, ele aprovei-ta para homenageá-las numa exposição fotográfica.

jb anthero exercita uma paixão, cantando ao violão, e apresenta outra, as fotos com negros em preto e branco e em cores

cenas da nigéria: rio podre, favela e prédio moderno

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Em 2011, JB viajou à Ni-géria, na África. Passou um mês e fotografou Lagos, a ca-pital, cidade com influência da colonização portuguesa e centro de comércio de escra-vos por três séculos. Depois, foi a Badagri, porta de saída de escravos. “No Barracão Brasil, os negros mais fortes dominavam os mais fracos e os vendiam aos portugueses

e ingleses, que os traziam para a Bahia – explica.

JB lamenta não ter ido a Ilé-Ifê, região Yorubá,

a sete horas de carro de Lagos, berço do can-

domblé e uma das pri-

a colorida (e incansável) busca da origem negra A história de João Batista Anthero, o fotógrafo que pesquisa seus antepassados Por Leonardo Brito

áfrica ancestral

meiras civilizações no mun-do. Mas ele pretende voltar lá, em 2012. “Dessa vez, vou a Ilé-Ifê – brinca. JB sonha fazer uma cartilha para que as crianças saibam mais so-bre os ancestrais negros. “Por detrás das chibatadas que eles suportaram, há vidas que pre-cisam ser contadas e uma be-leza na África que precisa ser mostrada” – finaliza JB.

natação

independente

limeirense é medalhista no pan

de volta à série a-3

Guido é bronze no nado de costas e ouro por equipe

O time ainda pode ser campeão da Segundona

jb anthero exercita uma paixão, cantando ao violão, e apresenta outra, as fotos com negros em preto e branco e em cores

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Campanha conturbada, cheia de desafios dentro e fora de campo, com salários atrasados e uma parceria que acabou desfeita. Mas a garra dos jogadores fez a diferença, e lhes rendeu o título de “gla-diadores”. Em 23 de outubro, com uma goleada de 4 x 0, em Limeira, o Independente conquistou o acesso à Série A-3, sobre o Primeira Cami-sa, de São José dos Campos – gols de Leandro Neves (dois) Gilberto e João Santos, todos no 2º tempo.

No campeonato, o Inde-pendente disputou 28 jogos, com 16 vitórias, 8 empates, e 4 derrotas. O ataque marcou 50 vezes e a defesa sofreu 23 gols. Dos 84 pontos, a equipe conquistou 56, apro-veitamento de 66,6%. Ago-ra, o time do técnico Jorge Parraga disputa a final contra

o Capivariano – o primeiro jogo será dia 30 de outubro, em Capivari, e o segundo,

em Limeira, dia 6 de novem-bro, às 10 h da manhã, no Agostinho Prada.

independente ganhou tudo, dentro e fora de campo

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Guilherme Augusto Guidoconquistou a medalha de bronze nos 100m, nado de costas, nos Jogos Pan-Ame-ricanos de Guadalajara, com o tempo de 54s81 – a meda-lha de ouro foi para outro brasileiro, Thiago Pereira. A outra medalha veio no reve-zamento 4x100 medley, ao lado de Felipe Freitas (nado peito), Gabriel Mangabei-ra (nado borboleta), Cesar Cielo (nado livre).

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palavras cruzadas

sudoku

horizontal – 1. Lançar-se com ímpeto; Sigla do Amapá 2. Conversa; Letra que, no alfabeto, vem após o esse 3. Célula reprodutora feminina das aves; Hotel para encontros amorosos 4. Natural da Síria 5. Forma sincopada de está; Sigla do Amazonas; Contração antiga da preposição de com o artigo El 6. Rezo; Cultivar; Sigla do Partido dos Trabalhadores 7. Abertura ou sulco num terre-no, natural ou artificial, para conduzir água; Amarrar 8. Imposto sobre Produtos Industrializados; Quem dá guarida a político 9. Privado da visão 10. Grito de incentivo dos torcedores, em arenas de touradas e estádios de futebol; Sinal gráfico que se coloca sobre o i e sobre o j 11. País locali-zado no chifre da África; Provedor brasileiro da internet.

vertical – 1. Que provém dos apóstolos 2. Conserva de ovas de esturjão; Filamento que nasce em certas partes da pele do corpo do homem 3. Odor; Começo, princípio 4. (voc. onom.) Voz de ca-bra; Seguia 5. Órgão responsável por parte da digestão dos alimentos 6. (abrev.) Tomada de tem-po; Sigla de Rondônia 7. Pequena igreja, capela; Utensílio usado em trabalhos agrícolas 8. Nome artístico do músico português João Maria Centeno Gorjão Jorge; Prenome do grande parceiro de Roberto Carlos 9. Que tem esta ou aquela qualidade; Variação do pronome pessoal tu, regida de preposição; Despido 10. Preposição que indica a distância limite; Céu da boca 11. Pessoa pobre ou mal trajada, mas pretensiosa; Terminação característica dos álcoois.

As mensagens podem ser enviadas para [email protected] ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

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ACOMETERAPPALESRATEOVOTMOTELSIRIOIATAAMDELNOROARARPTLREGOAARIPIOSIACGOA

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