jornal arrocha - edição 17 - transportes

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Arrocha FEVEREIRO DE 2013. ANO III. NÚMERO 17 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA Jornal JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL-JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ T ransportes DANIEL SENA

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Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes. Produzido pelos acadêmicos de Jornalismo da UFMA de Imperatriz

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Page 1: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

ArrochaFEVEREIRO DE 2013. ANO III. NÚMERO 17 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Jorn

al

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL-JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

TransportesDANIEL SENA

Page 2: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

Como toda cidade em pleno rit-mo de expansão, Imperatriz enfrenta graves problemas de trânsito. Basta observar uma região movimentada, como as ruas do centro da cidade nos horários de pico para perceber uma confluência de motos, carros, cami-nhões, carroças, bicicletas e pedestres não necessariamente convivendo em paz e harmonia.

Diante de tal quadro o desafio dos acadêmicos do curso de jornalismo da UFMA que prepararam esta edição foi justamente buscar histórias de pesso-as que lidam diariamente ou depen-dem de todo e qualquer tipo de trans-porte para se locomover. Os futuros repórteres também procuraram as autoridades de trânsito para explicar o motivo de certos problemas, como a precariedade das vias, persistirem sem

solução. Nestas páginas o leitor vai en-contrar, ainda, personagens que usam o transporte fluvial das balsas, ou usu-fruem dos serviços aéreos.

Temos orgulho de apresentar, bem aí ao lado, a nossa nova chargista, Rhaysa Novakoski, que, junto com a acadêmica Kelly Saraiva vão alternar o olhar bem humorado sobre os te-mas centrais de cada edição do jornal Arrocha. O jornal continua com a sua vocação de ser um espaço aberto para novos olhares a respeito da cidade.

Arrocha: É uma expressão típi-ca da região tocantina e também um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

EDITORIAL - TRÂNSITO DESAFIADOR

Ensaio Fotográfico

CHARGE

2 ArrochaJorn

al

ANO III. NÚMERO 17 IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 2013

ADRIANA DIAS BRENO FRANCO

SABRINA CHAMORRO ISRAEL SHAMIR

EXPEDIENTE

Adriana Dias, Adriana de Sá, Andreza Vital, Breno Franco, Israel Shamir, Kellyanne Barros, Mirían Gomes, Núbia Carvalho, Raylson Lima, Raísa Sales, Stepheson Sousa, Sabrina Chamorro.

Adriana Dias, Andreza Vital, Breno Franco, Eva Fernandes, Israel Shamir, Kellyanne Barros, Raylson Lima, Raísa Sales.

Professores: Fotografias:

Ana Paula Viana Ramos; André Ricardo Guimarães Cadete; Bruna Viveiros dos Santos; Islene Sousa Lima, Jorzennilio Alves Junior; Jose Silva de Moraes; Juliana Ferreira Eugenio; Juscelino da Silva Oliveira; Kayro Lima Ferreira Sousa; Leticia Kuniko Sekitani, Liana Melo Lima Bittencourt, Lucas Sousa Oliveira, Manoel Nascimento Silva de Maria, Mariana Sousa de Castro, Ramon Tulio Oliveira Dias, Samoel Perereira de Freitas, Thiago Coelho de Faria, Welton Gomes de Araujo.

Diagramação:

Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da universidade.

Jornal Arrocha. Ano III. Número 17. Fevereiro de 2013

Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor Pró-tempore do campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Soares dos Santos | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Prof. M. Marcelli Alves.

Reportagens:

M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). e Revisão: M. Alexandre Maciel.

www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7627 Email: [email protected]

Contatos:

Estágiarias:Adriana de Sá, Hyana Reis, Maria Felix.

RHAYSA NOVAKOSKI

Page 3: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

COLETIVOSA população reclama da falta de conforto dos pontos de ônibus e do desrespeito ao direito dos idosos de utilizar o serviço de transporte público

KELLYANE BARROS

Calor intenso. A temperatura aumenta passando dos 35° e, nas avenidas, ônibus e outros veículos se locomovem poluindo o ar com suas respectivas fumaças. Um aglo-merado de pessoas disputa o espa-ço nas calçadas para se aproximar do coletivo.

Essa realidade acontece dia-riamente nas cidades de médio ou grande porte. Os usuários do transporte público enfrentam uma maratona para chegar ao lo-cal escolhido. Em Imperatriz não é diferente. A falta de conforto no interior dos veículos se torna um incômodo para os passageiros que precisam dessa condução no seu cotidiano.

Joana Silva, 42 anos, mora no bairro Santa Rita e todos os dias depende do transporte para vir ao centro da cidade onde trabalha como doméstica. Acorda às 5h30, pois antes de aguardar a condu-ção precisa arrumar os filhos para levá-los à escola. “Passo mais de uma hora na parada. Quando en-tro no ônibus, não tem poltronas para sentar, é uma falta de respei-

to com o trabalhador”, questiona Joana.

Antônia Pereira também recla-ma da falta de conforto dos ôni-bus. Ela é dona de casa, tem 29 anos, mora no Ouro Verde e precisa do transporte público para vir ao centro da cidade. Em sua opinião, os coletivos sempre estão lotados e apertados. “A gente precisa dis-

putar uma cadeira para sentar e é mais difícil ainda quando tem uma criança pequena”.

Propostas - O secretário de Trânsito e Transportes de Imperatriz, José

de Ribamar Alves Soares, admite que “falta resolver essa questão dos abrigos dos ônibus sendo ain-da um desafio a ser solucionado”.

No ponto de espera dos coletivos encontramos uma estudante que está cursando o terceiro ano do en-sino médio. Carolina Moraes afirma que precisa do transporte público para ir à escola e comenta as dificul-dades que encontra no cotidiano. “A aula termina às 11h45 e vou dire-to esperar o ônibus. Quando chego à parada o sol está muito quente e com isso sinto muita dor de cabeça”. Carolina acredita que é necessário reformar os abrigos para garantir mais comodidade às pessoas.

O secretário José Ribamar con-corda que é preciso melhorar o conforto dos abrigos, que, na sua própria opinião, não são suficien-tes para os usuários do transporte de ônibus.

Por outro lado, afirma que a Se-cretaria de Trânsito e Transportes (Setran) tem trabalhado para reno-var a frota de ônibus na cidade. E acrescenta, ainda, que os coletivos que circulam nas ruas, em parte, são novos e, na sua visão, em um bom estado de conservação. Passageiros esperam por muito tempo os coletivos, sem ter conforto nas paradas de onibus

MÍRIAN GOMES

Passageiros reclamam dos pontos de ônibus

KELLYANE BARROS

A caminhada começa na direção do ponto de ônibus próximo a sua casa. Ela percorre três quadras para aguardar o coletivo que a le-vará ao centro da cidade, onde irá participar das atividades da Casa do Idoso.

Essa é a rotina de Maria Velo-so, de 75 anos, que utiliza o trans-porte público nas suas atividades recreativas e para visitar os seus filhos, que moram em outros bair-ros da cidade.

Encontramos Maria no pon-to. Ela acena com as mãos, mas o

ônibus que vai à vila Ayrton Sen-na percorre as ruas do bairro Vila Nova sem obedecer ao pedido da idosa.

O relógio marca uma hora de espera e Maria está em pé, pois não há assentos para os usuários esperarem o ônibus. “Isso aconte-ce com frequência. Quando espe-ro o ônibus na parada e demora muito, caminho na direção de ou-tro ponto para sair do calor e che-gar depressa em casa”.

Cotidiano - A idosa entra no ôni-bus Bom Jesus e se distrai olhando o trânsito das ruas no horário de

mais movimento. O coletivo per-corre a rua Ceará, via que liga os

principais bairros de Imperatriz, na altura do centro da cidade.

Maria aproxima-se do ponto de ônibus no qual deseja descer. Estudantes, pessoas com unifor-me do trabalho e vários outros idosos disputam espaço para en-trar na condução. Maria lembra de outra ocasião, quando estava para descer do veículo, a porta travou e começou o barulho no interior do ônibus pedindo para abrir. “Esperei muito tempo até o motorista resolver o problema”.

Legislação - Os idosos são am-parados pela lei número 10.048, de 8 de novembro de 2000 e pela Constituição Federal no direito de

utilização do transporte público. No artigo 3º, consta que “as em-presas públicas de transporte e as concessionárias de transporte coletivo reservarão assentos, de-vidamente identificados, aos ido-sos, gestantes, lactantes, pessoas portadoras de deficiência e pesso-as acompanhadas por crianças de colo”.

Maria contesta os serviços de transporte público. “Precisamos de tratamento digno. Somos ido-sos, mas pagamos nossos impos-tos. Eles não estão fazendo favor de carregar os velhinhos. Isso é nosso direito amparado por lei”.

Idosos enfrentam desrespeito no direito de utilização do transporte público

Usuários de coletivos sofrem com o número excessivo de passageirosKELLYANE BARROS

A semana inicia e recomeça a rotina do vendedor de uma distri-buidora de secos e molhados. Die-go Lopez aguarda a condução para ir ao trabalho, localizado no bairro Mercadinho.

Ao entrar no coletivo, ouve o eco que vem do fundo do ônibus: “Para, motora!” É a exclamação de uma mulher pedindo para descer do veículo. Lopez mora no bairro São José e relata: “Às vezes chego atrasa-do ao trabalho. Certo dia o ônibus quebrou e não estava nem perto do

serviço. Resolvi pegar um táxi de lotação para não chegar atrasado e não ser reclamado pelo patrão”.

No trabalho, Diego dialoga com os clientes. Ele possui uma oratória que convence as pessoas a levar para casa os produtos que não estão no orçamento.

No retorno para casa enfrenta o horário de pico do final da tarde e espera o coletivo no abrigo mais próximo do trabalho.

São 15 pessoas aguardando o ôni-bus e esse número cresce com o final do expediente dos estabelecimentos comerciais.

Resistência - Um aglomerado de gente se forma na parada e entre eles está o vendedor Diego. Ele espe-ra para entrar no ônibus e o veículo já está lotado. Pessoas disputam as poltronas para sentar, outras segu-ram no protetor do coletivo para equilibrar-se. Alguns apertam-se nos degraus do veículo na expectativa de retornarem para casa o mais rápido possível, pois não quiseram esperar a outra linha.

“Essa lotação do ônibus no horá-rio de pico parece com as provas do Big Brother Brasil”, comenta Lopez, confirmando a postura de resistên-

cia e paciência das pessoas no coleti-vo, que oferece pouco conforto aos

usuários nestas condições.No caminho para o bairro São

José uma senhora grita no meio do ônibus: “Para, para! Quero descer, não vou morrer sufocada nessa lata de sardinha!”

Essa rotina de dependência do transporte público movimenta cen-tenas de trabalhadores que necessi-tam da condução para ir ao traba-lho. Nas grandes metrópoles, como São Paulo, uma alternativa para so-lucionar este problema é a bicicleta, que traz a vantagem de não poluir. “Às vezes, quando quero chegar em casa mais cedo, venho de bicicleta e faço outro percurso nas ruas menos movimentadas”, confirma Lopez.

“Essa lotação do ônibus no horário de pico se parece com as provas do Big Brother Brasil”

Falta de lugares e bancos sujos são algumas das reclamações dos usuários de ônibus coletivos

MÍRIAN GOMES

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17 IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 20133

“Passo mais de uma hora na parada. Quando entro no ônibus, não tem

poltronas para sentar, é uma falta de respeito

com o trabalhador”

“Precisamos de tratamento digno. Somos idosos, mas pagamos impostos”

Page 4: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

RAÍSA SALLES

Imperatriz tem mais de 100 mil veículos, sendo 42.542 mil motos e cerca de 30 mil carros transitando nas ruas da cidade, segundo dados da Circunscrição da Regional de Trân-sito de Imperatriz (Ciretran). Apesar de ser um veículo que se destaca pela economia de combustível e versatili-dade em driblar o trânsito, está cada vez mais difícil circular com moto no centro urbano. O desrespeito às re-gras de trânsito e a imprudência de muitos motociclistas são os princi-pais motivos para alavancar o núme-ro de acidentes.

De acordo com informações do Serviço de Atendimento Móvel de Ur-gência (Samu) em Imperatriz, só em 2011 os acidentes de trânsito envol-vendo motos corresponderam a 84%. Outro detalhe curioso é que, no pri-meiro trimestre de 2012, 91,81% dos acidentes tiveram como envolvidos pessoas do sexo masculino.

Contudo, nem por isso a popu-lação deixa de sonhar em ter uma moto. A venda desse tipo de veículo ainda é a mais popular nas conces-sionárias da cidade. Dados do Depar-tamento de Economia da Faculdade de Educação Santa Teresinha (Fest), reunidos a partir de uma pesquisa realizada em 2011, indicam essa ten-dência.

A intenção de compra dos consu-midores de Imperatriz com relação à aquisição de uma moto superou inclusive, a de imóveis, segundo as conclusões da pesquisa, representan-do 21% das pretensões, enquanto que

com relação à aquisição de uma casa apenas 13% manifestaram o desejo.

Preferência - “As motos oferecem melhores vantagens para o consu-midor”, enfatiza o balconista de far-mácia Everton dos Santos Rodrigues, 27 anos, que comprou sua primeira moto quando era cobrador de loja. Desde então, já foram três. Hoje pos-sui um carro, mas prefere a moto por consumir menos combustível e pela facilidade na manutenção.

O sonho de possuir um veículo próprio flutua nos pensamentos do trabalhador imperatrizense. O fato de se livrar dos gastos com mototaxi ou ônibus são os maiores impulsio-nadores de compra.

Luzeny Santos, que trabalha numa gráfica, fala, com olhos bri-lhando, sobre o seu desejo de ter uma moto: “É melhor, pois facilita para buscar as crianças na escola... Colocar só R$ 10 de gasolina e andar Imperatriz toda. Já pensou? Impera-triz era a cidade das bicicletas e hoje as motos dominam”.

Concessionárias - O preço e a faci-lidade de pagamento, também são, sem dúvida, grandes atrativos para quem quer deixar a vida de pedestre. As concessionárias comemoram as expectativas concretizadas de vendas para 2012. Ana Paula Linhares, 24 anos, há oito meses trabalhando como geren-te de uma grande concessionária da cidade argumenta com entusiasmo sobre as vendas do ano passado e aponta algumas causas do aumento

da procura, tais como a melhoria do custo-benefício, os reajustes dos sa-lários, sem falar nas formas de finan-ciamento, por meio de parcelamento no cartão de crédito.

“No consócio, tem parcelamento até de R$ 85. Até quem recebe um sa-lário mínimo tem como adquirir uma moto. Os financiamentos, dependen-do da entrada, ficam entre R$ 200 e R$ 890”.

No entanto, é importante apontar uma solução para os problemas oca-sionados pela venda em larga escala de veículos, que seriam os acidentes e a imprudência dos motoqueiros, atribuída principalmente à falta de habilitação.

Nesse sentido, Frederico Clemen-tino, da diretoria da Ciretran, asseve-ra que a fiscalização, que deveria ser exercida pela prefeitura de Impera-

triz, é falha e insipiente. “Hoje, trân-sito é uma questão de saúde pública. Enquanto o poder público não olhar desta forma não vai resolver a situ-ação do Maranhão e nem no Brasil”.

Frederico aconselha que se deve “andar por você” e pelos outros. “As pessoas têm que dirigir por elas mes-mas, fazer tudo certo e contar que aquele que está na sua frente pode fazer errado”.

Imperatriz: município das 42 mil motos

A intenção de compra dos consumidores de Imperatriz com relação à aquisição de uma moto superou inclusive, a de imóveis durante 2012

STEPHESON SOUZA

RAÍSA SALLES

Às 21h30 termina mais um dia de trabalho de Antônio Alves Ferreira, 57 anos. Cansado, com rosto suado, meio tímido, ele lembra sua histó-ria. Foram 19 anos trabalhando com tração animal (carroceiro). “Trans-portava todo tipo de coisa, o valor cobrado em cada frete chegava a R$ 5, e nem sempre tinha serviço”.

Com muito esforço, conseguiu comprar sua primeira moto e há cin-co anos trabalha como mototaxista. “O trabalho é muito cansativo, an-dar nesse ‘solzão’ todo dia e ainda tem passageiro que não colabora”. Sua média de clientes é 10 a 20 por dia, o que gera, no seu caso, uma renda média de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil por mês, descontados os gastos.

Antônio, como muitos que es-colheram a profissão de mototaxis-ta, acorda cedo e às 6h já está nas ruas, pronto para mais um dia. Essa é a rotina da maioria dos 650 moto-taxistas legalizados em Imperatriz, suprindo, em parte, a necessidade de transporte da população.

Conforme o presidente da Asso-ciação dos Mototaxistas, Francisco Alencar, os requisitos para quem quer seguir a profissão são encon-trados na Lei Municipal 858/2008. Com a regulamentação, a fiscaliza-ção ao serviço tornou-se mais cons-tante. Segundo Francisco, o cidadão precisa ser maior de 21 anos, ter ha-bilitação categoria A, não ter ante-cedentes criminais, morar na cidade e possuir titulo de eleitor. “E têm os equipamentos obrigatórios de se-

gurança para moto que são: mataca-chorro, a antena corta cerol, enfim, uma infinidade de coisas”. Ele con-clui que é bastante complicado para o profissional. “O cidadão tem que ser de bem se não, não consegue”.

Na garupa - Andar de mototaxi é uma ótima oportunidade para co-nhecer a cidade, pois um bom mo-totaxista é conhecedor de nomes de ruas e pontos de referência dos bairros e localidades mais distantes e, claro, os atalhos para se chegar mais rápido ao destino. “Pra den-tro da cidade é o melhor transporte que tem”, garante Antonio Ferreira.

Na intenção de “fazer uma cor-rida”, desta vez com um olhar in-vestigativo, e com a cortesia do seu Antonio, montei na garupa da sua moto, na Beira Rio. Ele acelerou na subida da ladeira da rua Barão do Rio Branco. Já na 15 de Novembro seguiu caminho pilotando entre os carros e motos. Com o vento forte batendo no rosto, senti uma sensa-ção de liberdade. Observei as ruas movimentadas de Imperatriz e o cotidiano das pessoas como cenas que se intercalavam uma após a outra.

No sobe e desce das buraquei-ras da cidade, tentava equilibrar o capacete, que não queria parar na cabeça. Fiquei na rua Coronel Manoel Bandeira e agradeci a seu Antonio que, sorrindo, acelerou até sumir de vista entre os carros no meio da avenida.

Vida em duas rodas: rotina de Antonio Ferreira, de carroceiro a mototaxista

Mototaxista no exercício de sua função diária com os equipamentos de identificação e segurança

RAÍSA SALLES

A categoria dos mototaxistas de Imperatriz é uma das mais organizadas do país, segundo o ex-presidente Francisco Aragão, mototaxista há 15 anos.

A cidade reúne, ao todo, 30 pontos regulamentados pelo Conselho Estadual de Trânsito (Cetran). De acordo com o atual presidente da associação, Fran-cisco Alencar, em Imperatriz atu-am 657 mototaxistas legalizados para atenderem a demanda da p o p u l a ç ã o por transpor-te no centro e bairros.

Cerca de 11.826 pessoas utilizam esse serviço todos os dias, segun-do o presiden-te, o que equi-vale a uma média diária de 15 a 18 passageiros por mototaxista.

Entretanto, devido às recla-mações dos usuários que não estavam satisfeitos com os altos valores cobrados foi estabelecida uma tabela de preços, aprovada pela Câmara Municipal de Vere-adores e sancionada no dia 15 de dezembro de 2012 pelo prefeito Sebastião Madeira.

Durante o dia o valor da corri-

da no Centro será de R$ 4 e, para os bairros, o valor varia de R$ 5 à R$ 7. No horário noturno a partir da 23h, terá uma aumento de até 30% no valor da tabela.

Mesmo com a tabela aprovada ainda encontramos mototaxis-tas que afirmam não conhecer. É o caso de Lucivaldo Rocha, mo-totaxista há 6 anos: “Não tenho conhecimento, ainda não passou pelas minhas mãos”.

A vendedora ambulante Ide-nilde Andrade, de 52 anos, recla-ma: “Muitos deles não estão cum-

prindo o que está na tabela”. Ela conta que sem-pre quando sai do Bairro Santa Lúcia para tra-balhar no Mer-cadinho cobram R$ 7. “Não tem como negociar, ou você paga ou

não vem”. De acordo com a nova tabela, o certo seria cobrar R$ 6.

O presidente da associação concorda com a informação de que a maioria dos mototaxistas cobra valores que extrapolam.

E avisa aos usuários que po-dem fazer reclamações no sindi-cato ou na Secretaria de Trânsito (Setran) e, caso eles não cumpram o que está estabelecido, serão de-vidamente punidos.

Determinada tabela de preços para mototaxis

Durante o dia, o preço da corrida no Centro é

de R$4. Para os bairros, o valor chega a custar

R$ 7

RAÍSA SALLES

Só em 2011 os acidentes de trânsito envolvendo motos corresponderam a 84% do total e, durante o ano de 2012 , foram 91,81% das ocorrênciasDUAS RODAS

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17 IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 20134

Page 5: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

JUSTIÇAOs diferentes pontos de vista sobre o seviço de lotação nos táxis, os trâmites que circundam nas decisões judiciais e o jogo de interesses das classes envolvidas

Táxi lotação colhendo passageiros livremente numa das principais ruas do bairro Santa Rita

Os mais de 140 táxis lotação assustam as empresas de ônibus da cidade

Táxi lotação: benefício ou problema social?ISRAEL SHAMIR

ISRAEL SHAMIR

Dia de comércio intenso em Imperatriz: a disputa entre táxis lotação e ônibus coletivos pela preferência dos passageiros que se deslocam principalmente para os bairros distantes, como o Santa Rita

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17 IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 20135

ISRAEL SHAMIR

O transporte público em Impe-ratriz tem vivido nos últimos anos um grande impasse judicial que procura proibir a prática da lota-ção nos táxis do município. Afinal, por que esse serviço ainda não foi regularizado?

O secretário municipal de Trân-sito, Cabo J. Ribamar apresentou a Lei Federal n° 12.486, de 26 de agosto de 2011, que prediz que o táxi é um transporte público indi-vidual.

Para o secretário, que é histo-riador e bacharel em direito, é um trabalho vão propor uma lei mu-nicipal que regularize o serviço dos táxis alternativos, visto que as normas federais têm poderes su-periores às demais.

A Secretaria de Trânsito (Se-tran) estima que, em Imperatriz, haja pelo menos 25 mil estudan-tes que pagam meia passagem, seis mil idosos com direito à gratuida-de, milhares de servidores públi-cos que também tem isenção, além da população portadora de neces-sidades especiais.

O secretário ressaltou que, a exemplo de outras cidades que adotaram esse serviço, o táxi de lo-tação não é o meio mais adequado para realizar transporte público.

Eles não são capazes de aten-

der a demanda diária de uma cida-de. Ou seja, se o táxi coletivo fosse autorizado pelo Executivo e a po-pulação passasse a utilizá-lo mais que o transporte tradicional, o que é bem provável, se tornaria inviá-vel manter os ônibus circulando.

Esse raciocínio parte do prin-cípio que estes precisam dos pas-sageiros integrais para se susten-tar.

Se isso de fato viesse a aconte-cer, as empresas seriam induzidas a retirarem seus carros da linha. O transporte público em Imperatriz poderia entrar em uma crise em detrimento da classe dos taxistas, segundo as previsões da Secretaria de Trânsito.

Vereadores- Em contrapartida, a Câmara Municipal de Imperatriz, em sua maioria, está de acordo com a viabilização desse serviço

na cidade. A entidade entende que o táxi coletivo é um benefício para a população.

O presidente da Câmara, vere-ador Hamilton Miranda, declarou que é completamente a favor da regularização do serviço do táxi coletivo tendo em vista a defici-ência no transporte público da cidade. Para ele, a cidade precisa “acompanhar as mudanças”.

O vereador Francisco Rodri-gues, o Chiquim da Diferro, que já exerceu a profissão de taxista du-rante 12 anos, propôs a Lei Muni-cipal n° 1063/2003 que determina que sejam criados pontos rotativos para os táxis de lotação e o direito da coleta de passageiros em qual-quer ponto da cidade, exceto nas paradas de ônibus e mototáxis.

A lei foi sancionada pelo então presidente da Câmara, Joel Gomes da Costa e está em vigor. Porém, Chiquim afirmou que essa legis-lação nunca foi cumprida devida-mente a partir do momento que a Setran não se manifestou para criar os pontos rotativos desses táxis.

“As empresas de ônibus pres-tam um serviço precário, não dão atenção nem para o estudante e nem para o idoso. Não há paradas de ônibus nos bairros de Impera-triz que ofereçam abrigo para as pessoas”, desabafou o vereador.

“As empresas de ônibus prestam um serviço precário, não dão

atenção ao estudante e ao idoso”

ISRAEL SHAMIR

Faraildes Oliveira, 70 anos, ser-vidora pública há mais de 29, jul-gou como uma grande perda tanto para ela quanto para todos os ou-tros idosos a abolição do táxi de lo-tação na cidade. Na sua opinião, a acessibilidade dos táxis, o conforto e a velocidade são os aspectos mais importantes.

A rapidez dos carros também foi um fator destacado pela usuá-ria Ceiça Freitas, 42 anos. Ela conta que o desrespeito dos motoristas de ônibus é muito comum nas ruas de Imperatriz e disse que se sente mui-to mais segura sendo transportada pelos táxis.

Manuel Conceição de Almeida, o Bebé, vice-presidente da Associa-ção dos Taxis de Lotação de Impe-ratriz, revelou que possui 78 taxis-tas credenciados na entidade criada em 2003, e estima-se que haja pelo menos outros 70 que prestam o ser-viço da lotação e que ainda não se associaram.

Partindo dessa estimativa, há quase 150 táxis de lotação realizan-do transporte coletivo pelas ruas de Imperatriz. Segundo ele, cada táxi tem um volume diário entre 40 e 50 passageiros nos dias úteis, o que significa um tráfego de 6.750 pesso-as diariamente.

Diante dessas informações a grande pergunta é quem vai trans-portar essa “multidão” de cidadãos, visto que os transportes públicos não atendem às necessidades atu-ais?

Traduzindo esses números em dinheiro, quer dizer que as empre-sas de ônibus coletivos perdem, em média, um valor de R$ 810 mil por-

mês, considerando que a tarifa da passagem seja R$ 4,00.

É natural julgar que os “gigantes

do transporte” se incomodem bas-tante com esse valor se esvaindo de seu controle. É justamente esse mo-

tivo que leva à disputa pelo domínio exclusivo do do transporte público em Imperatriz, que parece oferecer

várias alternativas para os usuários, mesmo com cada tipo de transporte apresentando seus problemas.

Page 6: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

ADRIANA DIAS

São 4 horas da manhã de uma

quarta-feira no povoado Jatobal, quando Alberto Silva Cunha, de 27 anos, sai de casa em casa, chaman-do os passageiros que viajarão para Imperatriz. Esta é a segunda visita feita, pois às 5h do dia anterior, o primeiro contato já foi estabelecido. Às 6h todos têm que estar dentro do barco para a viagem. São dez anos de barqueiro trabalhando de segunda a sábado.

As pessoas se acomodam, pegam lençóis para se cobrir do vento frio, enquanto outros se esquentam com um copo de café. Alguns viajam mes-mo dormindo em redes. O sol come-ça a nascer e as tracajás começam a aparecer nos troncos das árvores, por cima da água. O barco encosta nos portos para pegar mais passagei-ros e o sinal de embarque é feito com panos brancos acenados para cima e para baixo. Existem três linhas diá-rias de transporte de passageiros e mercadorias para os povoados de Ja-tobal, Grotão e Imbiral.

Moradores - Luis de Jesus Silva é um senhor de cabelos brancos de 75 anos que mora no Jatobal desde 1954. São 58 anos vivendo no povoado e ele é um dos mais antigos moradores. Luis recorda que antes o transporte era feito só de canoas e no remo, e demorava muito. “Não existia barcos para o transporte de passageiros, só para transportar óleo na cidade de Itaguatins”, complementou. Luis já possuiu um barco com o qual traba-lhou por 12 anos, mas agora só vem

de mês em mês para receber sua apo-sentadoria na cidade.

Raimundo Lira dos Santos tam-bém é morador, tem 71 anos e reside há 28 neste povoado. Só viaja “por água” e comenta já ter se acostuma-do com o barulho do motor, locomo-

vendo-se de três a quatro vezes por mês para consultas médicas e fazer compras.

O preço é um dos motivos para ele querer viajar sempre de barco. “Eu pago R$ 10 de ida e volta”, escla-receu. Demora cerca de duas horas

subindo. Esta mesma linha oferece um micro-ônibus de segunda a sába-do, custando R$ 9 cada trajeto.

Isaias Santos de Sousa, 31 anos, outro morador, residia em Impera-triz e há dois anos decidiu morar no povoado, abrindo o seu próprio ne-

gócio, uma oficina mecânica de mo-tores de rabetas e motocicletas. Vem até a cidade duas vezes por semana, para comprar as peças de que preci-sa, ou paga o barqueiro para fazer o serviço.

Porém, Isaías não gosta da via-gem. “Acho barulhenta”. Mas res-salva que o transporte é de grande importância por ser mais barato e ajuda a atender as necessidades dos moradores. “Se não tivesse esses bar-cos ficaria difícil para a gente”.

Ele revela, ainda, que para trazer as mercadorias no único micro-ôni-bus disponível ficaria mais caro, pois o frete é cobrado por quilo. No bar-co, levando até cinco caixas, paga-se o valor de uma passagem de R$ 5.

Outra linha - Edson Alves Vale, mais conhecido como Lobão, é barqueiro e faz linha da cidade do Praia Nor-te a Imperatriz. Ele é o mais antigo barqueiro e dedica-se há 15 anos ao transporte de mercadorias e passa-geiros, afirmando gostar do que faz. “Gosto de ser barqueiro é o que sei fazer”. Cada viagem demora cinco horas de subida e quatro de descida, custando R$ 20 ida e volta. Edson segue esse mesmo trajeto três vezes por semana.

Já conquistou algumas coisas com esse trabalho, como uma casa, moto e terreno. Edson conseguiu obter, também, a confiança de co-de co-merciantes, pois faz até as compras de seus clientes. Ele pode levar 22 pessoas e sete mil quilos de merca-dorias, número legalizado pela Mari-nha e fatura de R$ 100 a R$ 200 por viagem.

Preço de passagem nos barcos atrai clientes

ÁGUAS

Transporte aquático de barcos na cidade, com linhas para povoados vizinhos é uma maneira mais barata de se locomover para o município de Imperatriz

ADRIANA DIAS

Pessoas que moram em povoados vizinhos viajam quase que diariamente para fazer consultas e compras de mercadorias para os seus comércios

ADRIANA DIAS

Zuleide da Conceição Ribeiro tem 50 anos, pele morena, estatura média e cabelos pretos. Mora em Im-peratriz e há sete depende da Balsa Pipes para ir ao trabalho, fazer fa-culdade e outro curso no estado do Tocantins. Faz a travessia de segun-da a segunda, gastando R$ 14 por se-mana e considera o trajeto calmo e seguro.

Por não possuir nenhum meio de transporte Zuleide não utiliza a ponte Dom Affonso Felippe Gregory, mas afirma que fazendo o mesmo trajeto gastaria mais, além de não se sentir segura. “Tenho medo de assal-tos”.

Zuleide é porteira servente e atua na área de nutrição na Escola Turma da Mônica, com alunos de 5ª série ao

9º ano, todos participantes do proje-to Educação para Jovens e Adultos (EJA), de segunda a sexta.

Ela tem uma vida bastante agita-da, trabalha na escola, é revendedo-ra dos produtos da Avon, Boticário e Natura, cuida da sua casa e cur-sa faculdade de pedagogia, em um polo existente na Bela Vista. Além de ainda abrir um espaço na agenda para fazer um curso técnico de nu-trição no Instituto Acadêmico Tec-nológico de Profissionais da Educa-ção em Augustinópolis.

Usuários - Silvia Ferreira, 52 anos, há dois mora em Bela Vista e tem que atravessar o rio todos os dias para ir trabalhar na cidade. Tem em-prego em casa de família e gasta R$ 2 diariamente, assumindo que gosta do transporte. “A balsa é segura”.

Senhora branca, cabelos loiros e estatura baixa, Sílvia tem duas fi-lhas e foi morar no povoado porque conseguiu comprar sua casa pró-pria. Trata-se de um lugar, segundo ela, calmo e seguro, mas declara que é ruim para trabalho, então tem que arranjar em Imperatriz.

Italo Gomes Ramos tem 14 anos e é usuário diário da balsa, pois mora em Imperatriz e estuda no povoado de Bela Vista. Ele também gosta de ir e vir. “Acho muito legal porque a gente poder ficar olhando para esse rio todos os dias, e conhe-cemos pessoas diferentes que pas-sam por aqui”. Ele explica com um semblante alegre, que, por ser alu-no, não paga a passagem da balsa, de R$ 2.

Seu amigo Fernando Santos, de 13 anos, também quer participar da entrevista. “Agora é minha vez”. Co-meça ansioso, dizendo que nunca tinha sido entrevistado, e que com tantas idas e vindas na balsa já ar-ranjou até uma paquera, mas não durou muito. Conheceu também o seu melhor amigo da escola em uma das viagens.

A balsa começa a chegar ao por-to e eles se levantam dos bancos. Após o barco ancorar eles pegam as mochilas e saem rápido, sobem a ladeira com passos apressados e de-saparecem. A pressa talvez seja por já estarem atrasados para o primei-ro horário da aula ou talvez quei-ram chegar mais cedo.

ADRIANA DIAS

Para quem achava que com a inauguração da ponte Dom Affon-so Felippe Gregory, em 15 de de-zembro de 2009, a empresa de transporte fluvial de veículos de propriedade de Pedro Iran Pereira, Balsas Pipes iria acabar, estava en-ganado. “No mês de agosto de 2012 trouxemos mais uma balsa para fazer a travessia”, afirma o gerente Francisco Sousa Lopes.

Ele esclarece, que a necessida-de de colocar uma balsa grande novamente no Porto da Balsa em Imperatriz, partiu dos usuários, que indicaram a necessidade para que o transporte de tração animal e automotores voltasse a funcio-nar. Então decidiram melhorar o atendimento a seus usuários.

Com a chegada da balsa os clien-tes terão duas alternativas para fazer a travessia do rio Tocantins: tanto por terra como por água. Atualmente, a empresa dispõe de quatro lanchas que estão aptas para o transporte de passageiros do povoado Bela Vista, município de São Miguel, no Tocantins, a Im-peratriz, no Maranhão.

Passageiros - São pessoas de am-bos os lados que dependem do transporte para trabalhar, fazer compras e estudar. Assim como Silvia Pereira, de 52 anos, que mora no povoado e conta com a lancha

de segunda a sábado para vir traba-lhar no Maranhão. “Gosto de atra-vessar na lancha porque é calmo e seguro”, explica.

Outro a cumprir esse trajeto é Pedro Martins Gomes, de 19 anos, que atravessa o rio para fazer cur-so de informática em Imperatriz, garantindo que a travessia é mais rápida.

A lancha leva cerca de três mi-nutos para chegar de um estado a outro. A travessia é tranquila, o ba-rulho do motor faz contraste com o cortar das águas e canoas que passam do lado, levando banhistas para os primeiros bancos de areia recém-formados. Olhares atentos miram de um lado para o outro, e quando a lancha chega, apressam os passos para chegar aos seus des-tinos.

Desde 1990 que a empresa Pipes oferece o transporte na cidade. An-tes da inauguração da ponte sobre o rio, trabalhavam com duas balsas e quando necessário usavam tam-bém as lanchas.

A retirada das balsas que faziam a travessia dos automóveis se deu por fatores de inviabilidade, ar-gumentou Francisco. Atualmente existem quatro lanchas com capa-cidade para cem passageiros a R$ 1 cada. O transporte começa às qua-tro da madrugada e vai até meia noite, não tendo interrupção em nenhum dia da semana, segundo o gerente Francisco Sousa Lopes.

Passageiros em destaqueClientes da balsa consideram trajeto seguroADRIANA DIAS

Balsa transporta cerca de cem pessoas diariamente a cada viagem, sendo três minutos cada travessia

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 20136

Page 7: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

RAYLSON LIMA

O Aeroclube de Imperatriz, Cen-

tro de Estudos Aeronáuticos Dr. Cle-mente Barros, foi fundado em 1989 por Moacyr Sposito Ribeiro, que hoje nomeia a avenida onde localiza-se. O nome do Centro de Estudos veio do terceiro presidente, Clemente Luis Barros, que assumiu o cargo em 1991 e abandonou em março de 1999, quando “deixou o plano físico, pas-sando a voar em esferas altas”, men-ciona o site da empresa.

Existente desde a fundação do local, o curso de piloto privado era o único ofertado no aeroclube por ocasião desta entrevista, em 2012, conforme informa a presidente, Ilma Aparecida de Souza, há seis anos no cargo e a sétima a assumir a função. O curso só aguarda nova homologa-ção para voltar a funcionar.

Para integrar a média dos 20 alu-nos das três a quatro turmas anuais, o custo era de R$ 1,3 mil. As aulas te-óricas tinham duração de três meses e meio, sendo compostas por cinco disciplinas: regulamentos de tráfego aéreo, teoria de voo, conhecimentos técnicos, meteorologia e navegação.

Era necessário também cumprir 41 horas práticas, no prazo de dois anos, quando o aluno é acompanha-do por um instrutor de voo, sendo que cada hora custava R$ 270. As prá-

ticas eram obrigatoriamente executa-das na única aeronave do aeroclube, um Aero Boero, motor Lycoming, potência de 115 HP, sobre o qual Ilma Aparecida assegurava ser “nova, toda refeita, com apenas 57 horas de voo”.

Depois das aulas práticas, um che-cador da Agência Nacional de Avia-ção Civil (Anac) vem ao Centro de Es-tudos Aeronáuticos para fazer uma prova. Nesta altura o aluno terá de fazer um voo sozinho e, se for apro-vado, recebe o documento de permis-são para pilotar, denominado brevê.

Para fazer o curso de piloto pri-vado era necessário ter ensino médio completo, ser maior de 18 anos ou ter autorização dos pais, fazer exame psicológico, dos seios da face, san-gue, hepatite C e malária, eletroence-falograma e audiometria.

Aos que acham que o curso de piloto privado permitia conduzir apenas aviões de pequeno porte a presidenta do Aeroclube informa: “Você pode sair pilotando até Boeing, desde que seja privado”. Ela salienta que não é possível “entrar para uma linha aérea, sem passar pelo PC (pilo-to comercial) e pelo curso de piloto de linha aérea”.

Formações - Ilma Aparecida escla-rece as categorias de pilotos. “Nós temos o piloto privado, comercial e de linha aérea. Nos aeroclubes é fei-

to o piloto comercial e até o privado. Depois, para o piloto de linhas aére-as são somadas as horas e aí vai pra linha aérea especifica e lá ele faz o ground school (curso de familiarização de determinados tipos de aeronaves)do avião”

No Centro de Estudos Aeronáuti-cos Dr. Clemente Barros já funcionou o curso de piloto comercial que, Ilma Aparecida culpa, “o antigo presiden-te deixou acabar”. Mas, anuncia que novamente estão “homologando o curso de PC (piloto comercial)”. Ou-tro curso que também espera pela autorização é Comissário de Bordo, que “não começou ainda por falta de pessoas interessadas”.

A presidenta destaca que essa mo-dalidade já foi homologada antes e que “venceu o prazo, e tem que ser renovado”. E assegura que “vai ser renovado provavelmente com o pi-loto comercial”. Quando autorizado, o curso voltará a funcionar nas mes-mas diretrizes citadas.

Ilma é firme na hora de confirmar a credibilidade do Centro de Estudos Aeronáuticos. “Nosso aeroclube é um dos melhores do Brasil. Em termos de logística, de credibilidade da pró-pria Anac. Aeronave nova, manuten-ção constante e respeitado os prazos e as normas da Anac e da Infraero”. E questiona-me: “Então porque o cara quer sair daqui? Se ele tem tudo

aqui? Ele sai daqui para fazer o curso de piloto comercial que nós não ho-mologamos ainda”.

A presidente vangloria-se de infor-mar as conquistas do aeroclube.“Hoje nós temos mais de 10 alunos nas li-nhas aéreas Tam, Gol e outras”. O dis-curso de Ilma Aparecida é obstruído.

“Nooossa!”. É a voz do antigo aluno Bergson Soares, que invade o escri-tório. Ilma alegra-se ao apresentar: “Esse foi aluno daqui e hoje é piloto da Gol”. Soares foi aluno em 1997 e respondeu que escolheu o curso por-que “aviação está no sangue, desde pequeno”.

Curso de piloto aguarda a homologação

AVIAÇÃO

Será possível cumprir a carga horária prática e teórica na própria cidade e a presidenta do Aeroclube assegura: “Você pode sair pilotando até Boeing”

RAYLSON LIMA

RAYLSON LIMA

Os céus de Imperatriz já são cortados desde a década de 1930. Inicialmente por hidroaviões, que utilizaram do Rio Tocantins de 1939

a 1945, conforme menciona o his-toriador Adalberto Franklin em seu livro “Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz”.

“Antes de possuir qualquer es-trada carroçável e sem ainda conhe-

cer automóvel, a população se viu ligada por avião a Belém e a todas as cidades da rota tocantina, che-gando até a capital da República”, esclarece Franklin no mesmo livro.

Só em 1955 os aviões começaram a pousar sobre solo imperatrizense, entrando em operação um aero-porto localizado na área ocupada atualmente pelo Hospital Regional, Universidade Federal do Maranhão, Fórum de Justiça e as Escolas Graça Aranha e Dorgival Pinheiro de Sou-sa.

Esse espaço “foi de muita utilida-de durante a construção da rodovia Belém–Brasília”, informa Zequinha Moreira no livro “Simplício Morei-ra: precursor do desenvolvimento de Imperatriz”.

Em 25 de maio de 1973 as obras do atual aeroporto foram inaugura-das, passando a se chamar Aeropor-to de Imperatriz - Prefeito Renato Moreira só em 11 de março de 2003. Recentemente o local passou por

uma ampliação, expandindo as áre-as de embarque e desembarque de passageiros.

Possui uma área de três mil me-tros quadrados, uma pista de 1.798 por 45 metros e um estacionamento com 59 vagas, conforme informa o site da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero).

Atuam na cidade apenas as em-presas Tam e Gol e para deslocar-se para qualquer lugar no Brasil é necessário seguir inicialmente para São Luís ou Brasília.

A Tam possui dois voos para São Luís, às 15h10 e 23h40 e dois para Brasília, às 7h18 e 18h20. A concor-rente Gol opera com menos voos, dois para Brasília, às 7h30 e as 23h30 e apenas um para São Luís, às 23h30.

Vivência - Chego às 15h03 no aero-porto e vejo apenas umas poucas pessoas. Nos dedos de minhas mãos é possível contar quantas: seis. Nes-

se momento os que iriam para São Luís no voo 3552 da Tam já haviam embarcado e os que chegaram na cidade às 14h40, no voo de mesmo número já não se encontram mais por ali. Na pista ainda é possível ver o avião e ouvir o barulho da turbi-na invadindo o lugar.

Converso com o motorista José Benedito Santana Filho enquanto observa por entre seus óculos escu-ros a partida do 3552. Devido à pro-fissão, José Santana frequentemen-te vai ao Prefeito Renato Moreira. Além do de Imperatriz o outro ae-roporto que o motorista conhece é o Val de Cans, em Belém (PA) o que não lhe impede de criticar: “Antes aqui era uma negação, um Deus nos acuda”.

Pergunto se ampliação do local não sanou os problemas e ele rapi-damente responde: “Por enquanto pro porte da cidade está bom, um tamanho normal, mas sempre tem o que mudar”.

“Nosso aeroclube é um dos melhores do Brasil em termos de logística e credibilidade”, garante Ilma

RAYLSON LIMA

Desde 1980 instalada no solo de Imperatriz e voando pelo céu do Brasil, a Heringer Táxi Aéreo oferece serviço de transporte aéreo 24 horas. Rogério Heringer, um dos coordenadores da empresa, mecâ-nico e piloto, menciona que a ati-vidade desenvolvida por eles é a de transporte de passageiro e cargas, como valores em dinheiro, órgãos para transplantes e vacinas.

“Temos também serviço de Uni-dade de Terapia Intensiva (UTI) aé-rea, que hoje é um dos carros che-fe”. O coordenador, Rogério, que leva o nome da empresa em seu sobrenome orgulha-se: “Prestamos serviços não só para região, mas para todo Brasil”.

A empresa instalou-se em Im-peratriz “mais por uma questão geográfica, não é nem por que, na cidade, existe uma demanda”. E acrescenta: “A gente está aqui a

600 quilômetros de Teresina, 600 de São Luís, 600 de Palmas, 600 de Belém. A qualquer momento, se al-guém ligar a gente chega rápido a um custo bem menor que uma em-presa que viria de São Paulo ou de Goiânia”.

Heringer justifica a carência de demanda da cidade, “mas também, Imperatriz é muito pequena”. E ex-plica que a empresa diferencia-se das linhas aéreas comerciais, pois, “nós não temos uma regularidade,

é de acordo com o que o cliente so-licitar”.

Aluguel- “Para locar uma das 15 ae-ronaves da empresa o cliente vem aqui ou telefona, a gente passa o orçamento. Depois que ele aluga a aeronave pode ir para onde desejar. E aí é cobrado por hora de voo”.

Orçando uma viagem os verbos “variar” e “depender” foram empre-gados diversas vezes por Rogério. Ele informa que em “um voo pano-

râmico de uma hora, sobre a cida-de, você vai gastar no máximo R$ 1,2 mil reais”.

E rapidamente detalha: “Mas, uma nave pequena, um monomo-tor. Agora, se você for partir para uma linha de turbo hélice ou jato, aí já é uma outra coisa”. E completa que “tem valores de hora de R$ 1,2 a 10 mil”, acrescentando que o fa-tor determinante, do preço, “varia do tipo de equipamento, da pressa e do tipo do cliente”.

Taxis-aéreos cobram preço da “corrida” entre R$ 1,2 e R$ 10 mil

Céu de Imperatriz é cortado desde 1930 por diversos tipos de aeronavesRAYLSON LIMA

Da década de 30 até 1973 a cidade teve três aeroportos, sendo que um deles foi o próprio Rio Tocantins

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17 IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 20137

Page 8: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

EVA FERNANDES

Às 5h da manhã, o céu ainda está escuro e o sol nem se apron-ta para raiar, mas Albino Santos, um jovem senhor de 53 anos, já está de pé e começa a preparar-se para mais uma rotina de trabalho. “Sempre gostei de acordar cedo, pra trabalhar”, conta. “Esse homem não dorme não”, afirma a esposa Maria Santos, interrompendo a conversa do marido.

Quando o sol finalmente acorda e espreguiça-se, apontando os pri-meiros raios, Albino já está com sua obra de arte montada, pronto para o rojão de 12 horas seguidas de tra-balho.

Mas, antes de sair, faz o alinha-mento do transporte. Verifica ca-puz, retrovisor, corneta, pneus e depois coloca os isopores com sor-vetes na caixa da frente, que tam-bém é um guidom.

Albino trabalha das 9h às 21h. Dona Maria prepara o almoço logo cedo e antes das 8h30 ele almoça, para chegar ao Porto da Balsa no horário.

Vendedor de sorvete há mais de 13 anos, Albino vive com a espo-sa, duas filhas e uma neta em Bela Vista, Tocantins. Em Imperatriz há quatro anos ele consegue, com sua bicicleta adaptada, fazer as vendas que garantem o sustento da famí-lia. “Esta minha obra de arte é meu ganha pão”. Vende em média R$ 30

de sorvete por dia e cerca de R$ 900 ao mês.

Albino é uma figura que chama atenção não só pelo transporte que utiliza, mas também pelo jeito sim-ples e carismático de se expressar. As palavras são poucas, mas os sor-risos distribuídos pela cidade são incontáveis.

Vendas - O sorveteiro, como é co-nhecido, não passa despercebido, sobretudo em locais que tem crian-ças. O som do alto-falante anun-cia, a criançada corre, e os pais atendem aos desejos dos filhos. Os sabores são diferentes, coco, leite condensado, cupu, flocos, chocola-te, todos preparados por seu Albi-no.

“Os pais acabam tirando uma casquinha, afinal quem resiste um sorvete diante de um sol quente desse?”, pergunta, entre sorrisos.

“Mas têm aqueles que não com-pram, só reclamam do barulho. Para esses eu digo logo que não vou ficar ali parado, não. Tô dizendo é que estou só passando”.

Pois é, quem nunca ouviu a típica frase das tardes ensolaradas? “Olha o sorvete, vai passando o sorveteiro. Traga a vasilha, traga a vasilha, são quatro bolas por um real”.

Adaptação - Tudo começou após o casamento com a dona Maria. Ela conta que desde o início do matri-mônio tentou de tudo para garantir

a renda na família. Vendeu picolé em carrinho de pau, mas parou por-que cansava demais. Também tentou vender banana, mas teve prejuízo. “Uma vez ele comprou mais de R$ 300 de bananas, mas amadureceram ao mesmo tempo e tivemos que doar tudo”, lembra Maria, gargalhando.

E somente após investimentos

mal sucedidos foi que Albino come-çou a ver na bicicleta uma forma de aumentar a renda da família. Teve a ideia de criar uma invenção diferen-te para facilitar a locomoção para vendas. “Foi aí que eu comprei uma bicicleta cargueira e inventei a mi-nha obra de arte. Na época ela me custou R$ 700. Foi um investimen-

to que deu certo na hora certa, pois logo eu comecei a fazer sorvetes e vender nas ruas”.

Sonha em poder ampliar o negó-cio, montando uma sorveteria pe-quena, porque reconhece que, mes-mo gostando muito do que faz, não poderá trabalhar por muito tempo desta maneira, por conta da idade.

Bicicleta criativa ajuda no sustento familiar

Há quatro anos Albino Santos garante o sustento de sua família por meio das vendas de produtos com o auxílio da sua bicicleta adaptada

Ciclistas precisam de atenção redobrada

EVA FERNANDES

“Acho engraçado os acidentes es-túpidos que acontecem na cidade de Imperatriz”, avalia o professor de lín-guas e ciclista Eduardo Luís Vieira, 45 anos. De acordo com as estatísticas de monitoramento de acidentes re-gistrada pelo Serviço Móvel de Aten-dimento (Samu), de janeiro a dezem-bro de 2012 foram registrados cerca de 200 acidentes envolvendo bici-cletas em Imperatriz, com um total de 154 vítimas, sem casos de óbitos.

Por diversas vezes Eduardo afir-ma presenciar situações de desres-peito às leis de trânsito por parte dos motoristas de carros com rela-ção aos pedestres, ciclistas e até mes-mo entre os próprios condutores.Ele nasceu em Ponta Delgada, ca-

pital de Açores, um arquipélago de território português que fica no meio do oceano Atlântico, en-tre Portugal e Estados Unidos. Faz quatro anos que mora em Impe-ratriz e há mais de um ano utiliza bicicleta como meio de transporte.

“No trânsito, os condutores de veículos agem como se o mundo fosse acabar amanhã”. Eduardo ressalta que já presenciou aciden-tes e acredita que falta mais aten-ção por parte do poder público em relação à infraestrutura para amenizar as infrações no trânsito. “Falta também mais sinalização, e de modo geral, providências ne-cessárias tanto para ordenar o trá-fego quanto estruturar o trânsito”.

O professor constata que em Im-peratriz o trânsito é intenso e argu-

menta que isso vai da ausência de prioridade aos pedestres, ultrapas-sagem, abuso nas faixas de seguran-ça ao desrespeito à sinalização. “A situação do trânsito em Imperatriz é precária e se tratando de ciclista ainda é pior, pois não há uma linha própria para andar de bicicleta e não tem uma lei que organize isso”.

O músico Marlon Serqueira, 33 anos, motorista, ressalta que um dos principais motivos de acidentes de trânsito envolvendo condutores de bicicletas é a desinformação destes para com as leis de trânsito. “É ne-cessário um curso sobre noções de trânsito tanto para ciclistas quanto para pilotos de motonetas ou qual-quer outro transporte utilizado no trânsito. Isso sem dúvida alguma, vai ajudar a prevenir acidentes”.

Um dos principais motivos de acidentes de trânsito envolvendo condutores de bicicletas é a desinformação destes para com a legislação da área

Joel Silva, regueiro sobre três rodasEVA FERNANDES

Fã de samba e apaixonado por reggae, Joel Silva, 33 anos, mais popularmente conhecido como DJ Joel ou Odair, é um entre os milha-res de condutores de triciclos em Imperatriz. De acordo com a Secre-taria de Trânsito (Setran), Impera-triz tem cerca de 11 mil motonetas e ciclomotores.

E segundo dados do Ser-viço de Atendi-mento Móvel (Samu) foram re-gistrados 1420 acidentes, 1613 vítimas e sete óbitos de janei-ro a dezembro de 2012.

Número inferior ao ano de 2011, quando ocorreu um total de 176 acidentes, com 178 vítimas, também sem registro de óbitos.

O “regueiro nato”, como pre-fere ser chamado, conta sua ro-tina em meio ao intenso trân-sito desordenado da cidade.

Joel, que desde os 14 anos tem deficiência nas pernas, descobriu em seu triciclo o apoio que preci-sava para locomover-se. “En-contrei as pernas que perdi na ado-

lescência”. Mas re-

clama das dificulda-

des que en-frenta no trânsito de I m p e r a -triz. “Aci-d e n t e s , ultrapas-

sagens, falta de informação é o que a gente vê todos os dias. Acredito que somente a ampliação de cam-panhas educativas pode ajudar a deixar o trânsito menos perigoso”.

Joel Silva, mais popularmente conhecido como “Dj Odair”, é um regueiro sobre três rodas

“Acidentes, ultrapassagens, falta de informação é o que a

gente vê todos os dias”

SABRINA CHAMORRO

SABRINA CHAMORRO

Sorveteiro Albino Santos usa veículo adaptado para vender os seus produtos nas ruas de Imperatriz e ganha, em média, R$ 900 ao mês e R$ 30 ao dia

SABRINA CHAMORRO

BICICLETAS

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ANO III. NÚMERO 17 IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 20138

Page 9: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

Como era o cenário do trânsi-to de Imperatriz antes da sua ges-tão?

Quando assumimos o cargo, no dia 1º de janeiro de 2009, tínhamos aqui uma superintendência, sendo que nesse órgão não havia estrutura necessária para administrar o trân-sito da cidade. Então fizemos um levantamento e apresentamos para o prefeito Sebastião Madeira mos-trando a importância que tinha esse órgão e também o tamanho da ne-cessidade que havia de se implantar uma secretaria voltada para cuidar do trânsito da cidade. Foi aí que ele me pediu para fazer aquilo que era mais urgente em Imperatriz. Solicita-mos então que a prefeitura nos con-cedesse um caminhão Munque para aparelhar o sistema de implantação e manutenção dos semáforos, que por sinal, ainda não tinha. Esse ser-viço ainda era feito por uma empre-sa terceirizada. Outra condição que apresentamos foi a de criar uma Co-ordenação de Educação para o Trân-sito, que logo foi autorizada. Além dessas, mostramos também que nós não tínhamos uma confecção de al-varás que fossem seguros. Até então os alvarás eram produzidos em pa-péis comuns, facilitando a sua fal-sificação, conforme já tínhamos até recebido denúncias dessa natureza. Além dessas, outra reivindicação que foi feita na época foi concernente ao aumento do quadro efetivo aqui da secretaria, que era bem pequeno. Fo-ram então, chamadas algumas pes-soas que haviam feito concurso para trabalhar no serviço interno do ór-gão. No aspecto externo, fizemos um levantamento da quantidade de veí-culos, que na época variava em um torno de 55 mil e de como a cidade se adequaria para o crescimento previs-to. Com isso, identificamos que era pouca a sinalização existente e essa ainda era precária, sendo que tinha semáforos que ficavam três meses parados com defeito sem ser arru-mados.

Antes da sua gestão havia uma superintendência. Hoje esse órgão é uma secretaria. Qual é a diferen-ça entre eles?

Superintendência é um órgão que, se pensarmos por uma perspec-tiva hierárquica, estaria subordina-da a uma secretaria, ou seja, seria um departamento de uma secretaria. No caso de Imperatriz, essa superin-tendência estava subordinada à se-cretaria de obras.

No momento em que eu desvin-culo essa superintendência e ela pas-sa a ser uma secretaria, cria-se uma identidade própria e ela passa a ter mais autonomia, um orçamento pró-prio e tem mais liberdade.

O secretário também passa a ter acesso direto ao prefeito, sem pre-cisar estar subordinado a outras hierarquias. Isso contribui para que as ações sejam muito mais rápidas. Além disso, a estrutura de superin-tendência é bem menor. Já a estrutu-ra voltada para a secretaria é muito mais ampla e se faz mais importante no processo administrativo.

Hoje, qual é o maior desafio em termos do trânsito em Impera-triz?

Não é estrutural. Não é colocar uma placa na rua, não é colocar um agente de trânsito para fiscalizar. O nosso maior desafio é fazer com que as pessoas entendam qual é o seu papel no trânsito. O trânsito é um espaço de exercício de cidadania, de respeito e de amor para com as pes-soas. E aqui quero chamar atenção para um detalhe: todos querem um trânsito organizado, mas não que-rem se comportar como tal. Às vezes queremos que os agentes estejam

nas ruas para multar os outros, mas quando a gente erra, não queremos ser multados. Às vezes achamos que o trânsito está desorganizado, mas não contribuímos para que fique or-ganizado.

Nosso maior desafio é fazer com que as pessoas compreendam o novo trânsito que nós vivemos, que au-

mentou de 55 mil veículos para mais de 115 mil em três anos e meio.

Quais têm sido as estratégias e os métodos adotados pela gestão para melhoria do trânsito?

Nós temos adotado três grandes frentes. A primeira delas é a da enge-nharia, que trabalha na parte da sina-lização, seja ela vertical ou horizontal. Temos buscado sinalizar a cidade, em-bora ainda não tenhamos completado nosso ciclo. A outra grande frente é na área de fiscalização, que também é um trabalho muito amplo. A prefeitu-ra disponibilizou duas novas viaturas e nós trabalhamos com elas com uma dinâmica diferente, o que levou a uma melhora significativa. Nós ainda apa-relhamos essas viaturas com sistemas de rádio para melhoria da comunica-ção, por meio do qual, hoje, os agen-tes podem manter contato conosco e com a Polícia Militar e o Samu.

O terceiro eixo é a área de educa-ção para o trânsito. Essa nós julgamos ser a mais importante. Entendemos que não adianta e nem resolve os problemas somente uma engenharia bem feita ou apenas fiscalização nas ruas.

Como Imperatriz tem se adequa-do a este novo cenário?

Imperatriz tem crescido inclusive, além que a média nacional. Nos últi-mos três anos Imperatriz superou a média nacional, e isso foi assunto de matérias positivas num dos jornais mais lidos no Brasil, que é a Folha de

São Paulo e também na revista Veja. Imperatriz era reconhecida no cenário nacional como uma cidade violenta... Hoje já está sendo conhecida nacio-nalmente como uma cidade de opor-tunidades, que tem crescido e evoluí-do. Com relação ao aumento da frota, o Brasil todo sofre a consequências. O país passa por dificuldades gigantes-cas com relação à sua estrutura.

Como a Setran se posiciona em

relação às reclamações da popu-lação no tocante à qualidade do transporte público em Imperatriz? Existe um padrão de qualidade a ser seguido?

O transporte coletivo em Impera-triz ainda é um dos nossos desafios. Melhoramos em muitos aspectos na gestão anterior, mas não foi o sufi-ciente para fazer tudo. Nesta nova gestão, o transporte público será nos-sa prioridade. Isso implica em dar um melhor conforto nas paradas de ôni-bus para os usuários do transporte e melhorar a frota, pois a de Imperatriz de fato, não é boa. É uma frota que

consideramos velha. Apesar de já ha-ver alguns ônibus novos ainda não está nem perto daquilo que planeja-mos e acreditamos que o povo mere-ce.

Com relação aos táxis e moto-táxis nós temos um cuidado diferenciado. A prova disso é que 90% da frota dos tá-xis em Imperatriz têm menos de dois anos de uso e a dos mototaxis menos de três anos: é uma frota nova.

O que se espera para os próxi-mos anos? Já não está na hora de uma terceira empresa de ônibus ga-nhar uma concessão para atender a demanda e ao mesmo tempo aque-cer a concorrência visando uma me-lhoria no serviço?

Realmente a concorrência prioriza e melhora o serviço. Quando recebe-mos a secretaria já havia sido feita uma concorrência pública, em 2008, quando foram abertas as licitações para todas as linhas em Imperatriz. A VBL e a Aparecida foram as duas em-presas que venceram o processo licita-tório, então foi feito um contrato que ainda está em vigor, está sendo apli-cado. No entanto, as empresas preci-sam oferecer as condições acordadas. Ou seja, diante dessas situações, se as empresas não se adequarem a essa ne-cessidade que hoje Imperatriz exige, aí sim, podemos entrar juridicamen-te com uma solicitação de quebra de contrato. E nesse aspecto, de cancela-mento, podemos convocar um novo processo licitatório e abrir para novas empresas.

Como a população pode con-tribuir para que o trânsito em Im-peratriz seja o mais pacífico possí-vel?

Ah... De várias maneiras! Eu recebo muitas sugestões da população pelo e--mail, por meio de mensagens pelo Fa-cebook e particularmente é boa essa participação das pessoas. Quero abrir um parêntesis aqui e ressaltar que sou muito grato à paciência das pessoas e à compreensão que elas têm em saber que não dá para fazer tudo de uma vez! Mas aquilo que o povo pode es-tar realmente contribuindo é com relação ao comportamento e aos há-bitos no trânsito. Isso sim é o que eu gostaria destacar e pedir à população. Só assim poderemos reduzir significa-tivamente o número de acidentes no trânsito.

Para finalizar, se você pudesse definir a sua gestão numa palavra--chave qual seria?

(Risos) Trabalho seria a palavra--chave. Poderia colocar tantas outras, né?! Poderia colocar vocação eleitoral, vocação administrativa, amor às pes-soas, mas escolho a palavra trabalho porque dediquei nesses quatro anos e alguns meses a minha vida para esse cargo. Renunciei aos estudos e à fa-mília em alguns momentos e o lazer. Parte da minha vida foi renunciada para me dedicar à causa pública, prin-cipalmente porque eu sei que isso é provisório. Sendo passageiro, que-ro dar o melhor de mim para fazer o máximo que posso, pois sei que vale a pena.

“A base do nosso projeto é a educação”

ISRAEL SHAMIR

Secretário de Trânsito, Cabo J. RibamarENTREVISTA

ArrochaJorn

al

ANO III. NÚMERO 17IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 20139

ISRAEL SHAMIR

José Ribamar Alves Soares, 42 anos, conhecido por cabo J Ribamar faz um ba-lanço exclusivo, em entrevista ao Jornal

Arrocha, sobre os quatro primeiros anos de sua gestão como secretário de Trânsito de Imperatriz. Formado em história e ba-charel em direito, assumiu a secretaria no dia 1º de janeiro de 2009.

Desde que foi nomeado, procurou dar uma nova “cara” para o trânsito, sugerin-do a abolição do órgão que antes era ape-nas uma superintendência e criando uma Secretaria de Trânsito, a Setran.

Cabo J Ribamar já foi vereador duran-te um mandato e expressa ter paixão pela vida e o serviço público.

Com a educação como alicerce prin-cipal de sua gestão, ele expõe sua visão

sobre vários aspectos que compõe o uni-verso em que atua. O secretário acredita, principalmente, que o trânsito não vai melhorar enquanto não houver educação de cada motorista.

Secretário de Trânsito, Cabo J. Ribamar em seu gabinete. Ele mostra os planos que gostaria de adequar para que possa melhorar o trânsito

“Não é colocar uma placa na rua, um agente de

trânsito . O nosso maior desafio é fazer com que as pessoas entendam qual é o

seu papel no trânsito”

“O trânsito é um espaço de exercicío de

cidadania, de respeito e de amor às pessoas”

Page 10: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

RAYLSON LIMA

Criada em 1985, a estrada de Fer-ro Carajás liga pelos seus 892 quilô-metros as minas de ferro de Carajás, no Pará, ao Terminal da Ponta da Madeira, no Maranhão. Pelos seus trilhos são transportados principal-mente minério de ferro, ferro-gusa, manganês, cobre, combustíveis, car-vão e pessoas.

O trem de passageiros passou a funcionar um ano depois da inau-guração da ferrovia e é responsável por transportar 1.100 pessoas por dia em um percurso que passa por 23 municípios.

O trem parte da Estação Ferrovi-ária de São Luís (MA), com destino a Parauapebas (PA), às 8 horas, nas segundas, quintas e sábados, com percurso de 15h50. Às 6 horas das terças, sextas e domingos, realiza o trajeto inverso. Na quarta-feira, não há viagem, porquanto é feita a ma-

nutenção dos carros e locomotivas. Essa máquina de levar e trazer gen-te é dividida em classes executiva e econômica. A diferença de passagem entre as categorias chega a mais de 50%.

Para o ator Domingos Almeida, que já andou nas duas classes, “a vantagem de você viajar na econô-mica é a movimentação que tem. Você presencia fatos que são anor-mais e acaba se divertindo”.

Almeida complementa: “A mãe brigar com criança, derramar comi-da em cima de alguém, é muito co-mum”. Para ele, a classe executiva tem o “incômodo do frio, o ambien-te fica muito seco”. E conclui: “A exe-cutiva é só pra quem vive realmente enfurnado nos escritórios”.

A pedagoga Herli Carvalho, que já ocupou tantas vezes uma das 88 pol-tronas de um vagão, que nem sabe ao certo quantas, “sempre na execu-tiva”, conta que da classe econômica

“sempre ouvi reclamar de barulho e calor”. E escolheu andar de executi-va, pois “é a metade da passagem de ônibus”. A preferência também é fei-ta pelo “conforto, o ar-condiciona-

do, as poltronas são bem largas, os programas educativos, filmes, mú-sica”. E assegura: “Você tem a infor-mação, diversão e tem uma viagem confortável”.

A preferência de andar apenas na executiva também foi feita pelo aca-dêmico de comunicação social, Má-rio Lima, que opta por ser “mais cô-modo, tem ar condicionado e serviço

de bordo”. Lima, que já percorreu mais de 10 vezes os 513 quilômetros de ferrovia que ligam Açailândia a São Luís, reclama que “na classe econômica não se compra cadeira marcada, não há garantia que terei um lugar pra sentar”. Já a professo-ra Maria Luísa Sousa, que viajou de trem duas vezes, quando ainda exis-tia a subestação em Imperatriz cri-tica que na classe econômica “levam peru, gato, cachorro, porco, levam tudo. E ainda é quente lascando”.

Alimentação - O trem de passagei-ros também possui um vagão lan-chonete, e é possível comprar ali-mentação pelas janelas da classe econômica ou pelo cais – área entre um vagão e outro – quando o trem para em alguma das 10 subestações ou cinco estações. “Não pude comer lá mesmo, preferi me alimentar com o pessoal que vendia alguma coisa, porque lá no trem é muito caro”,

lamenta a técnica em eletrotécnica, Idayane Ferreira.

Mário Lima, que só comprou alimentação uma vez pela janela opina que “falta um pouco de higie-ne”. Mas reconhece a importância deste comércio: “Acho que a venda de água, lanches e alimentos é uma alternativa que as famílias muito pobres têm para sobreviver, pois a ferrovia causa um impacto muito grande nessas cidades, que na maio-ria são pobres”.

Sobre a compra alternativa de comida, Domingos Almeida diz que “é uma opção pela questão do valor da venda dos alimentos dentro do trem, que é muito caro. A qualidade é boa, mas a quantidade não com-pensa pelo preço que você paga”.

Acrescenta também que a com-pra de alimentação informal deve ser encarado como “um meio para aquele povo pobre ter lucro. É uma alternativa de vida que eles têm”.

RAYLSON LIMA

Aos imperatrizenses que pre-tendem viajar de trem a compra de passagens é feita na Rodoviária Go-vernador Jackson Lago. É necessá-rio também, adquirir a passagem do ônibus que leva, da rodoviária, até a estação de Açailândia.

Nas terças, sextas e domingos, às 10 horas para os que vão com des-tino a Nova Vida, Presa de Porco, Altamira, Auzilândia, Mineirinho, Alto Alegre, Santa Inês, Vitória do

Mearim, Arari e São Luís. Saída, às 15 horas, nas segundas, quintas e sá-bados para os que vão a São Pedro da Água Branca, Marabá, Itainópolis e Parauapebas.

Em Imperatriz, a subestação do “maior trem do mundo”, como che-gou a ser conhecido, passou a fun-cionar em 1993. A acadêmica de pe-dagogia, Cleudinir Sobral, caçula de 10 irmãos, tinha apenas sete anos quando morava vizinha à antiga su-bestação, mas ainda recorda. “Nós andávamos o dia ‘todim’ de trem” e

complementa: “Ninguém ficava com esse negócio de ficar pegando ‘bicu-da’. Até porque, os maquinistas mes-mo chamavam a gente”. Cleudinir também relembra: “O trem só bene-ficia a gente. Porque o movimento de lá era o trem”. Sobre a subestação da cidade a pedagoga Herli Carvalho conta: “Só não fui à viagem de inau-guração, mas logo no início andava muito”. Hoje a subestação encontra--se desativada, mas a reativação é aguardada. O assunto já foi debatido em audiência pública, na Câmara de

Vereadores de Imperatriz, onde es-teve presente o gerente de Relações Institucionais da Ferrovia Norte-Sul, José Osvaldo Cruz. Ele discorreu so-bre a viabilidade de retorno do trem de passageiros da empresa Vale, nos 197 quilômetros de extensão que li-gam Açailândia a Estreito.

“O retorno vai beneficiar uma maior população, porque a maioria das pessoas que parte do Pequiá se desloca de Imperatriz para lá. Tanto é que a empresa que faz transporte para Açailândia tem que colocar ôni-

bus extra em algumas épocas, por-que o volume de passageiros é muito grande”, aponta Mário Lima, com a experiência de quem já viajou diver-sas vezes. A reativação da subestação de Imperatriz também é aguardada ansiosamente pela professora Her-li. “É o que eu mais quero, facilita a vida de muitas pessoas e esse acesso daqui é mais barato”. E exemplifica: “Você vai pra rodoviária, mais a pas-sagem para Açailândia. Termina fi-cando caro. Agora sendo aqui vou

direto pra lá, facilita demais”.

Em Imperatriz, para viajar de trem é necessário ir para Açailândia

Somente um ano depois da fundação da estrada de Ferro Carajás seu trem de passageiros entrou em atividade. O veículo liga, pelos seus 892 quilômetros, as minas de ferro de Carajás, no Pará, ao Terminal da Ponta da Madeira, que fica no Maranhão

FERROVIADesde sua criação, em 1985, os trilhos da estrada de ferro Carajás, conhecida por transportar minério de ferro, também levam, em média, 1,3 mil pessoas por dia

Trilhos de Carajás levam pessoas e cargas RAYLSON LIMA

“Levam peru, gato, cachorro, porco, levam tudo. E ainda é quente

lascando”

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 201310

Page 11: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

Terminal rodoviário é alvo de reclamaçõesANDREZA VITAL

O Terminal Rodoviário Governa-dor Jackson Lago, inaugurado em junho de 2011, abriga 15 empresas de ônibus e uma responsável pela venda de passagens de trem. Sua estrutura física oferece restauran-te, lanchonete, algumas lojas com opções para presentes, banheiros, e até latas de lixo para coleta se-letiva de materiais recicláveis. No entanto, a nova rodoviária sofre reclamações desde sua inaugura-ção, tanto de passageiros, quanto de funcionários e comerciantes do local, devido a sua localização ser considerada distante do centro e dos maiores bairros de Imperatriz.

Edna Seabra, comerciante do local, afirma que a construção da nova rodoviária não foi vantajo-sa, pois devido a má localização, as pessoas preferem ir de van para as cidades próximas, diminuindo consideravelmente o fluxo de pas-sageiros. “A rodoviária está com

vendas fracas. Por causa da falta de movimento, muito comerciante não tem como pagar o aluguel”. Ela conta que trabalhou como comer-ciante por 38 anos no antigo termi-nal rodoviário de Imperatriz, e que lá as vendas eram melhores. “Hoje o lucro é pouquíssimo, em torno de mil reais”.

Céres Silva, funcionária do lo-cal, afirma que “a antiga rodoviária virou ponto de vans que fazem li-nhas para cidades próximas” e que devido a facilidade do acesso ao local, as pessoas tem preferido uti-lizar esse transporte. Ela diz que, atualmente, a maior parte do lucro das empresas de ônibus é obtida com a venda de passagens para ou-tros estados.

Segundo Nilson Machado, tam-bém funcionário do novo terminal rodoviário, alguns comerciantes, como a Honda Consórcio e a far-mácia fecharam as portas devido ao baixo movimento no local e o alto preço do aluguel, que “fica en-

tre R$ 100 e R$ 800, variando de acordo com o ponto”.

Já Nilsifran Rosa, funcionária da única empresa responsável pela venda de passagens de trem em Im-peratriz, afirma que o baixo movi-mento no terminal tem representa-do prejuízo para as lojas e outras empresas, mas não para eles, por não haver concorrência entre a em-presa e as vans na nova rodoviária.

Passageiros - Petrônio Sobral é re-sidente em Pernambuco e trabalha como professor no Tocantins. Sem-pre que viaja a trabalho, conta que passa pelo local. Segundo ele, “a nova rodoviária pos-sui segurança e higiene melhor que no prédio anterior. Mas a localiza-ção é muito ruim”, pois quem vem do Tocantins de van é deixado na antiga rodoviária. E por isso é pre-ciso gastar dinheiro com moto-táxi, pois os taxistas cobram muito caro para transportá-lo para nova rodo-viária devido à distância.

Vans são a preferência de usuária devido à agilidade

ANDREZA VITAL

Tamara Silva, 20 anos, é estudante do 4º período de Ciências Contábeis na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Bastante esforçada, foi apro-vada no vestibular logo na primeira tentativa. No entanto, para frequen-tar seu curso ela enfrenta diariamen-te uma verdadeira maratona. Por não possuir veículo próprio e residir no município de Açailândia, distante 70 quilômetros de Imperatriz, a jovem afirma sempre ter utilizado transpor-te público para sua locomoção.

A rotina de Ta-mara se inicia com o nascer do sol. Às 7 horas pega o ônibus que a conduzirá até o povoado Pequiá, onde se localiza a Viena Siderúrgica, empresa na qual trabalha como au-xiliar de contabilidade. Devido a dis-tância entre Açailândia e o Pequiá, ela nem mesmo vai em casa almoçar.

Ao findar um dia de trabalho, ini-cia uma noite de estudo. Para chegar na aula a tempo, Tamara utiliza uma van fretada pela empresa onde traba-lha, a qual faz o transporte de algu-mas pessoas até Imperatriz.

Ela conta que antes de a empresa oferecer o serviço de van, era usuária de ônibus e gastava, por mês, R$ 140. Hoje a despesa com a van chega a R$ 180.

Entretanto, apesar do preço ser mais alto, diz preferir ir de van por ser mais rápida e confortável. “Quando

usava ônibus chegava em casa 1 hora da manhã.

Hoje, com a van, chego às 23h30”. Ao ser questionada sobre o por-quê de tanto

esforço para estudar, a jovem abre um sorriso e diz: “Porque me formar em Ciências Contábeis sempre foi meu sonho”.

Terminal Rodoviário, chamado Governador Jackson Lago, foi inaugurado em junho de 2011

WALISON REIS

ANDREZA VITAL

O relógio ainda nem apontou meio-dia e o trânsito na avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, uma das mais movimentadas do centro de Imperatriz, já se torna bastante conturbado. Por causa da pressa e da falta de paciência, não é in-comum se deparar com acidentes nesse horário. Esse é o cenário do trânsito da cidade que possui a se-gunda maior frota de carros do Ma-ranhão.

Segundo dados do Departamen-to de Trânsito (Detran), o municí-pio possui cerca de 30 mil automó-

veis circulando pelas ruas, o que equivale a um carro para cada oito habitantes. A cidade está atrás, ape-nas, da capital São Luís, que possui cerca de 170 mil carros. De acordo com a Secretaria de Trânsito (Se-tran), desde janeiro de 2009 a frota de carros de Imperatriz, somada a dos outros tipos de veículos, saltou de 55 mil para 115 mil.

Conforme o secretário de Trân-sito José Ribamar Alves Soares, des-de o início de sua gestão em janei-ro de 2009, várias medidas foram tomadas para organizar o trânsito, como a implantação e manuten-ção de semáforos, e a instauração

de uma coordenação de educação para o trânsito. Há ainda a pre-visão, que no primeiro semestre de 2013, haja a convocação de 30 agentes de trânsito aprovados no último concurso municipal.

No entanto, de acordo com o secretário, um dos maiores proble-mas durante sua gestão tem sido conscientizar os condutores para a nova realidade vivida no trânsito de Imperatriz. “Nosso maior desa-fio é fazer com que as pessoas com-preendam o fenômeno que foi essa mudança na quantidade de veícu-los e, com isso, mudar sua atitude no trânsito”.

Existe um carro para cada oito habitantes

Avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, centro de Imperatriz: em horário de pico a rua fica lotada

ANDREZA VITAL

NÚBIA CARVALHO

Vans são mais agéis, porém a passagem é mais cara. Uma usuária afirma gastar cerca de R$ 180 por mês no trajeto de Imperatriz a outras cidades

“Quando usava ônibus chegava em casa 1 hora da manhã. Hoje, com a van,

chego às 23h30”

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17 IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 201311

A distância do terminal rodoviário de Imperatriz causa desconforto entre os passageiros e comerciantes do local, que reclamam da falta de infraestruturaESTRUTURA

Page 12: Jornal Arrocha - Edição 17 - Transportes

BRENO FRANCO

Para um trânsito seguro, com respeito às normas, a formação de condutores é importante no sentido de garantir a ordem e a harmonia no fluxo de veículos onde quer que seja permitida a circulação. Em Imperatriz, o De-tran do Maranhão tem uma lista de 19 autoescolas disponíveis aos alunos. As aulas práticas repre-sentam por lei, 20 horas, que de-vem ser o tempo que o condutor precisa antes do teste realizado pelo menos dez vezes por ano na cidade. Em sala de aula, são 45 horas de estudos para o teste te-órico. Se aprovado nos exames na categoria para o qual o candida-to se inscreveu, o aluno está apto para conduzir veículos da deter-minada categoria em qualquer via terrestre.

Três locais de treino são utili-zados por alunos de motocicleta em Imperatriz. No mais movi-mentado deles, na praça Mané Garrincha, são centenas de alunos todos os dias, pela manhã, tarde e noite, realizando um trajeto espe-cialmente elaborado para o teste prático. O exame mede a habili-dade do condutor. “Aqui é lotado direto, dia e noite. Por turma eu sempre tenho mais de 20 alunos. Tem muito aluno das outras cida-des daqui de perto”, afirma o ins-trutor de moto, Cláudio Ferreira de Souza.

Estrutura- A grande demanda de alunos que precisam utilizar

espaços permitidos pelo Detran para os treinamentos, provoca al-guns problemas estruturais, prin-cipalmente na pista para motos da praça. “Tivemos que pedir com jeitinho para os trabalhadores da Secretaria de Infraestrutura que estavam levando asfalto pra colo-car um pouco aqui, e assim a gen-te vai levando”, diz um instrutor que prefere não se identificar.

Próximo ao Centro Esportivo Barjonas Lobão, no bairro Nova Imperatriz, candidatos treinam o balizamento de veículos. Muitos afirmam que é a parte mais tensa do teste prático. “A atenção tem que ser redobrada”, conta Paulo Ricardo, um balconista de farmá-cia de 20 anos, que pretende tirar a carteira para poder trabalhar em vendas externas por cidades da região.

O trânsito de automóveis de di-ferentes autoescolas ocorre quase todos os dias, preferencialmente pela manhã, no antigo centro da cidade. Sempre com um instrutor ao lado, os alunos buscam o co-nhecimento prático para obter a tão sonhada Carteira Nacional de Habilitação.

É comum encontrar alunos que necessitam de mais algumas horas de treino, além das 20 estabeleci-das, ou que precisam voltar à sala de aula para estudar mais para a prova teórica, porque não foram aprovados nos primeiros testes. Mas o rigor das provas é um bom sinal que deve se refletir no com-portamento do futuro condutor ao guiar um veículo.

BRENO FRANCO

Estima-se que pelo menos 50 mil pessoas utilizem o transporte alter-nativo todos os dias em Imperatriz e região. Na periferia da cidade e como forma de condução até loca-lidades vizinhas, as vans ou microo-nibus que prestam esse serviço estão diariamente levando e trazendo pas-sageiros que buscam mais rapidez até o destino e menos espera nos pontos de embarque.

O transporte alternativo é cada vez mais popular, segundo o dire-tor da Cooperativa de Transporte Alternativo do Sul do Maranhão, a Cooptasul, Sebastião Albuquerque. Em todo o estado, já são 1.466 ve-ículos, entre vans e microonibus registrados no Departamento de Trânsito do Maranhão (Detran-MA), utilizados no transporte alternati-vo. A grande dificuldade, informa Sebastião, é obter a regularização definitiva por parte do governo do Estado, para que o serviço funcione de forma ampla e com pontos fixos espalhados pela cidade. Essa medida garantiria mais comodidade e mais investimentos privados nesse seg-mento.

Hoje, o governo permite parcial-mente a atividade, por meio de coo-

perativas. “Aqui a gente tem dificul-dade de tá sempre competindo com os ônibus de linha. Os vanzeiros do Tocantins circulam aqui sem proble-ma porque são regularizados lá e os daqui não podem circular lá porque aqui não é regularizado”, conta Se-bastião, que é responsável pela cir-

culação de mais de cem vans em um dos três pontos da cooperativa na cidade.

Cotidiano- O ponto chamado de Pé de Macaúba, na marginal direita da rodovia Belém-Brasília é onde fun-ciona o ponto principal da Coop-

tasul, uma das três maiores coope-rativas da cidade. Todos os dias, em intervalos de 20 minutos, sai um veículo de passageiro com itinerá-rio que pode chegar até a cidade de Balsas, seguindo pela rodovia, de-pendendo da demanda. A compra de passagens pode ser feita no local de

saída do veículo, ou seja, no ponto da cooperativa, ou no caso dos passagei-ros que são pegos no trajeto, com o motorista ou ajudante, que recolhe os bilhetes e ajuda no carregamento de bagagens.

Francisco Pereira de Lacerda, um dos fundadores da Cooptasul, tem 14 anos de experiência nesse segmento. “Rodo uma vez por dia, se for preci-so eu rodo todo dia. Quando o mês tá bom, eu tiro uns cinco mil”, expli-ca o motorista se referindo à carga horária de trabalho e seus ganhos mensais com a atividade. Apesar dos prestadores desse serviço se organi-zarem em cooperativas, muitos deles preferem a clandestinidade. Estima--se que para cada um cooperado, exista outro que transporta passagei-ros de maneira clandestina, ou seja, por conta própria, o que impede, na opinião dos motoristas, uma ima-gem cem por cento positiva para o transporte alternativo. Acidentes en-volvendo vans clandestinas, não são raros nas rodovias do Maranhão.

Antônio Eudes do Nascimento mora em Palmas, e vem a Imperatriz com frequência. “Prefiro andar de van, é mais rápido e a bagagem eles levam direitinho. O ônibus não para quando a gente quer e não deixa na porta de casa como os vanzeiros”.

Grande dificuldade para os que trabalham com vans como veículo de transporte é obter a regularização definitiva por parte do governo do Estado

VANSTransportes alternativos, como as vans, são as principais opções para muitos passageiros que buscam maneiras mais baratas de se locomover

Passageiros buscam formas alternativas NÚBIA CARVALHO

ArrochaJorn

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ANO III. NÚMERO 17IMPERATRIZ, FEVEREIRO DE 201312

Além de ajudar na locomoção dos alunos, transporte escolar facilita a vida dos pais

BRENO FRANCO

Seja de serviço público ou priva-do, o transporte escolar faz parte da rotina de muitos estudantes. Na região tocantina, são as vans e mi-croonibus os veículos mais popula-res dessa atividade. Além de figurar como transporte característico nas zonas urbanas, as áreas rurais tam-bém são beneficiadas, na maioria das vezes pelo serviço público. As prefeituras recebem recursos do governo federal para atender co-munidades mais distantes das esco-las. No caso dos estudantes de ensi-no superior, não é difícil encontrar alguém que more em uma cidade e estude em outra.

Antônio Ferreira de Souza tra-

balha há 20 anos como motorista e há três dirige um microonibus da escola particular Santa Luzia, no bairro Santa Rita, que presta o serviço por um valor que varia en-tre R$ 140 a R$ 180, dependendo do local onde o aluno mora. “Eu rodo pegando aluno de manhã e de tar-de. Dependendo do acerto com a escola eu deixo e busco todo dia”, diz o motorista, enquanto espera os alunos do turno matutino, cujos pais pagam pelo serviço, assistirem a última aula do dia.

Esse tipo de transporte é mais seguro e necessário aos pais que não têm tempo de buscar e deixar os filhos na escola. Pelo menos essa é a opinião de quem disponibiliza o serviço. Para funcionar legalmente,

o veículo tem que ser reconhecido na Secretaria Municipal de Trân-sito e Transportes como sendo de passageiros. O motorista deve ser devidamente habilitado e obedecer a uma série de ítens de segurança.

No segundo semestre de 2012 não houve registros de acidentes envolvendo transporte escolar em Imperatriz. Por outro lado, a qua-lidade do transporte público nem sempre é a mesma do particular. A maioria dos veículos destinados pela prefeitura para os estudantes do serviço público, por exemplo, não conta com ar condicionado e nem sempre esses estudantes são atendidos com a comodidade de se-rem buscados e deixados na porta de casa.

Na opinião de quem o utiliza, transporte público ou privado é o mais seguro e necessário aos pais que não tem tempo de transportar filhos à escola

Autoescolas contribuem com trânsito mais seguroBRENO FRANCO