jornal a tribuna 26 -01-2014

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Polícia VITÓRIA, ES, DOMINGO, 26 DE JANEIRO DE 2014 ATRIBUNA 27 3 5 2 5 Até sandália revela assassino Com técnicas de investigação, até mesmo pegada de um chinelo já foi utilizada como prova para desvendar crime EQUIPAMENTO DE PONTA Uma das tecnologias que mais facilita o traba- lho dos peritos é um scanner 3D. Ele digitali- za a cena do crime e permite simulações em um computador. LUMINOL O produto reage com o ferro presente no sangue e ganha coloração fluorescente. Com o produto, o sangue aparece ainda que o local tenha sido lavado. O luminol foi utilizado em casos como o do goleiro Bruno e Isabela Nardoni. BALÍSTICA Em cada bala disparada ficam as marcas prove- nientes da arma utiliza- da. No laboratório de ba- lística é possível identifi- car se uma bala foi mes- mo disparada pelo revól- ver do suspeito. A ciência contra os crimes Trabalho de peritos associa investigação e tecnologia OBJETOS PESSOAIS Na busca por evidências, os peritos podem analisar objetos pessoais da vítima. Um celular, por exem- plo, pode ser inspecionado por es- pecialistas em eletrônica para anali- sar as últimas ligações da vítima. “É muito bom quando o caso é resolvido com a ajuda da perícia” “O perito criminal precisa ter isen- ção em seu trabalho e não sofrer in- fluências externas. Caso contrário, falhas podem acontecer e toda a in- vestigação sair prejudicada. Como todo trabalho, o de perito apresenta dificuldades, mas, apesar de tudo, o trabalho é gratificante. É muito bom quando o caso é resolvi- do com a ajuda de peritos — incrimi- nando um culpado ou absolvendo um inocente.” Fernanda Silveira, presidente da Associação Espírito-Santense de Peritos em Criminalística Texto: Giordany Bossato Arte: André Felix N ão é somente nos filmes e séries de TV que a tecnolo- gia auxilia a resolução de crimes. Em Guaçuí, Região do Ca- rapaó, o assassinato de um apo- sentado de 75 anos foi solucionado graças à identificação do calçado do criminoso. O acusado, com 22 anos na épo- ca do crime, em 2010, esfaqueou o aposentado, roubou um DVD da vítima e depois fugiu. Ao entrar na casa, o criminoso deixou pegadas de um chinelo de- feituoso no sangue que ha- via espalhado pelo local – fato que chamou a atenção dos peritos criminais. Entretanto, o assassino fugiu sem ser visto. No dia seguinte, o criminoso foi à delegacia prestar esclarecimentos, pois era suspeito de ter envolvimento com drogas. Na delegacia, o perito notou o chinelo e pediu para fazer um tes- te comparativo. Para grande sur- presa, a pegada tinha o mesmo de- feito. Horas depois, o criminoso confessou o assassinato. A história reflete bem como é o trabalho dos peritos criminais, um jogo de quebra-cabeças que pode incriminar culpados e absolver inocentes, tudo com a ajuda da tecnologia e in- teligência dos peritos. Fonte: Fernanda Silveira, presidente da Associação Espírito-Santense de Peritos em Criminalística, e Eduardo Ribeiro Paradela, especialista em Genética Forense. ANÁLISE EQUIPAMENTOS DE TRABALHO > TESOURA, para cortar vestes dos corpos encontrados. > LUPA, para observar detalhes. > INSTRUMENTOS de medida, como trenas, réguas e paquímetros. > SACOS PLÁSTICOS, para coletar o material encontrado. > PLACAS NUMERADAS, para identificar onde foram encontradas as evidências. > FITA AMARELA, para isolar a área. > CÂMERA FOTOGRÁFICA para coletar imagens. > PÓ DE CHUMBO E PINCÉIS, para recolher digitais. > LUVAS E MÁSCARA, para proteger o perito de objetos contaminados. > REAGENTES QUÍMICOS, para analisar a presença de drogas no local. PEGADAS Marcas deixadas pelos pés podem ajudar a desvendar crimes, como o que aconte- ceu em Guaçuí, soluciona- do graças à identificação do calçado do criminoso. EXAME DE DNA Exames de DNA podem ser feitos ca- so sejam encontrados algum fio de cabelo, fonte de saliva ou sangue que não sejam da vítima. Depois, basta comparar os resultados com o DNA dos suspeitos. No local do crime, deve-se procurar pelo maior número de evidências: fios de cabelo, si- nais de luta corporal, cápsulas disparadas e a arma do crime. 2 O primeiro dever do perito é isolar a área do crime, atitu- de que também pode ser tomada pelos policiais militares; 1 PASSO A PASSO DO PERITO As evidências devem ser co- letadas e enviadas para aná- lise. 3 Por fim, o perito elabora o laudo relatando tudo o que viu e, quando o caso for a julga- mento, ele depõe contando o que foi visto no local. 4 REPERCUSSÃO O último caso envolvendo peri- tos que teve grande repercus- são foi o do adolescente Mar- celo Pesseghini, acusado de matar os pais, a avó e a tia-avó. Outros casos famosos são o do ex-goleiro Bruno, o do casal Nardoni e o do advogado Mizael Bispo. LUZ FORENSE O equipamento emi- te luzes com dife- rentes comprimen- tos de onda, o que facilita a visualiza- ção de impressões digitais, pelos, san- gue, entre outros. É importante que os materiais encontra- dos pela perícia pos- sam ser confronta- dos com outros ma- teriais. Por isso é im- portante ter suspei- tos para um crime.

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Pol í c i a

VITÓRIA, ES, DOMINGO, 26 DE JANEIRO DE 2014 ATRIBUNA 27

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25

Até sandália revela assassinoCom técnicas deinvestigação, atémesmo pegada deum chinelo já foiutilizada como provapara desvendar crime

EQU I PA M E N TODE PONTAUma das tecnologiasque mais facilita o traba-lho dos peritos é umscanner 3D. Ele digitali-za a cena do crime epermite simulações emum computador.

LU M I NO LO produto reage com o ferropresente no sangue e ganhacoloração fluorescente. Com oproduto, o sangue apareceainda que o local tenha sidolavado. O luminol foi utilizadoem casos como o do goleiroBruno e Isabela Nardoni.

BA L Í ST I CAEm cada bala disparadaficam as marcas prove-nientes da arma utiliza-da. No laboratório de ba-lística é possível identifi-car se uma bala foi mes-mo disparada pelo revól-ver do suspeito.

A ciência contra os crimes Trabalho de peritos associa investigação e tecnologia

OBJETOS PESSOAISNa busca por evidências, os peritos

podem analisar objetos pessoaisda vítima. Um celular, por exem-

plo, pode ser inspecionado por es-pecialistas em eletrônica para anali-sar as últimas ligações da vítima.

“É muito bom quando o caso éresolvido com a ajuda da perícia”

“O perito criminal precisa ter isen-ção em seu trabalho e não sofrer in-fluências externas. Caso contrário,falhas podem acontecer e toda a in-

vestigação sair prejudicada.Como todo trabalho, o de perito

apresenta dificuldades, mas, apesarde tudo, o trabalho é gratificante. É

muito bom quando o caso é resolvi-do com a ajuda de peritos — incrimi -nando um culpado ou absolvendoum inocente.”

Fernanda Silveira,presidente da Associação

Espírito-Santense dePeritos em Criminalística

Texto: Giordany BossatoArte: André Felix

Não é somente nos filmes eséries de TV que a tecnolo-gia auxilia a resolução de

crimes. Em Guaçuí, Região do Ca-rapaó, o assassinato de um apo-sentado de 75 anos foi solucionadograças à identificação do calçadodo criminoso.

O acusado, com 22 anos na épo-ca do crime, em 2010, esfaqueou oaposentado, roubou um DVD davítima e depois fugiu.

Ao entrar na casa, o criminosodeixou pegadas de um chinelo de-feituoso no sangue que ha-via espalhado pelo local –fato que chamou a atençãodos peritos criminais.

Entretanto, o assassino fugiusem ser visto. No dia seguinte, ocriminoso foi à delegacia prestaresclarecimentos, pois era suspeitode ter envolvimento com drogas.

Na delegacia, o perito notou ochinelo e pediu para fazer um tes-te comparativo. Para grande sur-presa, a pegada tinha o mesmo de-feito. Horas depois, o criminosoconfessou o assassinato.

A história reflete bem como é otrabalho dos peritos criminais, umjogo de quebra-cabeças que podeincriminar culpados eabsolver inocentes,tudo com a ajuda datecnologia e in-teligência dosp e r i t o s.

Fo n t e : Fernanda Silveira, presidente da Associação Espírito-Santense de Peritos em Criminalística, e Eduardo Ribeiro Paradela, especialista em Genética Fo r e n s e .

ANÁLISE

EQU I PA M E N TO SDE TRABALHO> TESOURA, para cortar vestes

dos corpos encontrados.> LUPA, para observar detalhes.> INSTRUMENTOS de medida,

como trenas, réguas epaquímetros.

> SACOS PLÁSTICOS, p a racoletar o material encontrado.

> PLACAS NUMERADAS, p a raidentificar onde foramencontradas as evidências.

> FITA AMARELA, para isolar aárea.

> CÂMERA FOTOGRÁFICA p a racoletar imagens.

> PÓ DE CHUMBO E PINCÉIS,para recolher digitais.

> LUVAS E MÁSCARA, p a raproteger o perito de objetosc o n ta m i n a d o s .

> REAGENTES QUÍMICOS, p a raanalisar a presença de drogasno local.

P EGA DASMarcas deixadas pelos péspodem ajudar a desvendarcrimes, como o que aconte-ceu em Guaçuí, soluciona-do graças à identificação docalçado do criminoso.

EXAME DE DNAExames de DNA podem ser feitos ca-so sejam encontrados algum fio decabelo, fonte de saliva ou sangueque não sejam da vítima. Depois,basta comparar os resultados como DNA dos suspeitos.

No local do crime, deve-seprocurar pelo maior número

de evidências: fios de cabelo, si-nais de luta corporal, cápsulasdisparadas e a arma do crime.

2

O primeiro dever do perito éisolar a área do crime, atitu-

de que também pode ser tomadapelos policiais militares;

1

PASSO A PASSO DO PERITO

As evidências devem ser co-letadas e enviadas para aná-

lise.3

Por fim, o perito elabora olaudo relatando tudo o que

viu e, quando o caso for a julga-mento, ele depõe contando o quefoi visto no local.

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R E P E RCUS S Ã OO último caso envolvendo peri-tos que teve grande repercus-são foi o do adolescente Mar-celo Pesseghini, acusado de

matar os pais, a avó e a tia-avó.

Outros casos famosos são o doex-goleiro Bruno, o do casal

Nardoni e o do advogadoMizael Bispo.

LU ZF O R E NS EO equipamento emi-te luzes com dife-rentes comprimen-tos de onda, o quefacilita a visualiza-ção de impressõesdigitais, pelos, san-gue, entre outros. Éimportante que osmateriais encontra-dos pela perícia pos-sam ser confronta-dos com outros ma-teriais. Por isso é im-portante ter suspei-tos para um crime.