jornal 360 - 4ª edição

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“Eis o que ninguém sabia: hospital também é lugar de alegria”. E foi levando essa ideia à diante que o grupo de jovens, que se encontrou em Frutal, resolveu iniciar um novo projeto. Os Doutores Palhaços da Alegria frutalenses começavam a surgir bem antes da primeira reunião. páginas 4 e 5 É o amor! Frutal é a nossa notícia 360 PG. 3 História viva Jeová Ferreira nasceu em 23 de novembro de 1930, em Frutal. De família simples, seu pai ensinou que deveria aprender uma profissão para ser útil à sociedade. PG. 6 Velozes Esta equipe de atletas leva o nome da cida- de pela região e pelo país. Como? Corren- do. Correndo muito. PG. 8 El precioso O alfajor está para a Argentina como o pão de queijo está para os mineiros. A guloseima é vendida individualmente ou em caixas que podem ter até 24 unidades. O Dia dos namorados passou? E quem disse que tem data para celebrar este sentimento atemporal, que inspirou canções como “Eduardo e Mônica” do Renato Russo, “É o amor” da dupla Zezé de Camargo e Luciano, “Codinome Beija flor” do Cazuza, além da clássica “Como é Grande o Meu Amor Por Você” do rei Roberto Carlos ? Foto/Eduardo Uliana Foto/Eduardo Uliana Foto/Octávio Augusto Frutal # Edição 4 - 18 de Junho/2011 Rir é o melhor remédio Foto/Arquivo pessoal Foto/Eduardo Uliana Foto/Eduardo Uliana Foto/Eduardo Uliana página 11 O escurinho do cinema, na sala de aula A luz se apaga, você ouve o barulhinho do projetor trabalhando para dar movimen- to a milhares de fotos produzidas em se- qüência, e assim começa mais um filme. O Cine UEMG teve início em 2010. Em sua segunda temporada, está com ciclos mensais voltados para a cinematografia de sete países, buscando trazer obras impor- tantes destas nacionalidades, assim como seus principais atores e diretores. O projeto pretende ampliar co- nhecimentos e a cultura geral de universitários, estudantes de escolas públicas e particulares da cidade e da comunidade local por meio do cinema. Relíquias sobre rodas A necessidade que o homem tinha de se locomover mais rápido, com mais comodidade e segurança, forçou inúmeras experiências até que se chegasse ao que chamamos hoje de automóvel. Aquilo que era pra ser apenas mais uma ferramenta de traba- lho tornou-se um verdadeiro amigo do homem. página 9 Respeito é bom e todos gostam, e em tempos de Bolsonaros e de antibolso- naros, de fanatismo religioso, de Fla x Flu ideológico, é preciso refletir so- bre tolerância. A tolerância deve ser o fundamento da vida social. Funda- mento, seja de uma ideologia, de uma ciência ou de uma instituição é a base, o alicerce sobre o qual é construído tudo o que vem depois. A tolerância é uma das tantas virtudes necessárias para elevar o homem à condição de civilidade. página 10 Ponto Crítico Na coluna página 7

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4ª edição do Jornal quinzenal produzido pela 360 Agência de Comunicação de Frutal/MG

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Page 1: Jornal 360 - 4ª edição

“Eis o que ninguém sabia: hospital também é lugar de alegria”. E foi levando essa ideia à diante que o grupo de jovens, que se encontrou em Frutal, resolveu iniciar um novo projeto. Os Doutores Palhaços da Alegria frutalenses começavam a surgir bem antes da primeira reunião. páginas 4 e 5

É o amor!

Frutal é a nossa notícia

360PG. 3História viva

Jeová Ferreira nasceu em 23 de novembro de 1930, em Frutal. De família simples, seu pai ensinou que deveria aprender uma profissão para ser útil à sociedade.

PG. 6Velozes

Esta equipe de atletas leva o nome da cida-de pela região e pelo país. Como? Corren-do. Correndo muito.

PG. 8El precioso

O alfajor está para a Argentina como o pão de queijo está para os mineiros. A guloseima é vendida individualmente ou em caixas que podem ter até 24 unidades.

O Dia dos namorados passou? E quem disse que tem data para celebrar este sentimento atemporal, que inspirou canções como “Eduardo e Mônica” do Renato Russo, “É o amor” da dupla Zezé de Camargo e Luciano, “Codinome Beija flor” do Cazuza, além da clássica “Como é Grande o Meu Amor Por Você” do rei Roberto Carlos ?

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Frutal # Edição 4 - 18 de Junho/2011

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na

página 11

O escurinho do cinema, na sala de aulaA luz se apaga, você ouve o barulhinho do projetor trabalhando para dar movimen-to a milhares de fotos produzidas em se-qüência, e assim começa mais um filme. O Cine UEMG teve início em 2010. Em sua segunda temporada, está com ciclos mensais voltados para a cinematografia de sete países, buscando trazer obras impor-tantes destas nacionalidades, assim como seus principais atores e diretores.O projeto pretende ampliar co-nhecimentos e a cultura geral de universitários, estudantes de escolas públicas e particulares da cidade e da comunidade local por meio do cinema.

Relíquias sobre rodasA necessidade que o homem tinha de se locomover mais rápido, com mais comodidade e segurança, forçou inúmeras experiências até que se chegasse ao que chamamos hoje de automóvel. Aquilo que era pra ser apenas mais uma ferramenta de traba-lho tornou-se um verdadeiro amigo do homem.

página 9

Respeito é bom e todos gostam, e em tempos de Bolsonaros e de antibolso-naros, de fanatismo religioso, de Fla x Flu ideológico, é preciso refletir so-bre tolerância. A tolerância deve ser o fundamento da vida social. Funda-mento, seja de uma ideologia, de uma ciência ou de uma instituição é a base, o alicerce sobre o qual é construído tudo o que vem depois. A tolerância é uma das tantas virtudes necessárias para elevar o homem à condição de civilidade. página 10

Ponto Crítico

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página 7

Page 2: Jornal 360 - 4ª edição

O preço da CopaEditorial

Quando se decidiu pela reali-zação da Copa de 2014 no Bra-sil, junto com a euforia nacio-nalista capitaneada pelo presi-dente Lula, ouviram-se várias vozes contestando a viabilida-de e a necessidade de o Brasil realizar um evento de tamanha magnitude.

Alguns argumentos eram antigos, mas a sua antiguida-de não lhes tirava a sensatez. Em um país de carências tão brutais em áreas como saúde, educação, moradia e sanea-mento, para se citar apenas as mais urgentes, investir bilhões de reais em uma copa do mun-do parecia uma irracionalidade e uma insensibilidade social.

O contra-ataque a estes questionamentos tinham como principal argumento o legado para o país, já que as obras de infraestrutura – metrô, estra-das, aeroportos – e a publici-dade que se faria, com o con-seqüente aumento do turismo, justificariam todos os gastos, e melhor, acabariam por gerar mais receita do que despesas.

Faltando pouco mais de três anos para a abertura da copa, as piores previsões es-tão próximas de se concretizar e um caso específico vem cha-mando a atenção: a novela da construção dos estádios.

A escolha de 12 sedes, para agradar parceiros políticos da senhora CBF, já foi um erro. A copa se viraria muito bem com 10 ou 8 sedes. Além do número exagerado, cometeu-se a irresponsabilidade de es-colher sedes que não possuem clubes tradicionais e que preci-sam construir estádios.

Cidades como Cuiabá, Manaus, Natal e Brasília se en-caixam neste perfil. A constru-ção de estádios nestas quatros cidades consumirá quase 3 bi-lhões de reais. Vamos colocar em números para que este des-propósito fique ainda mais evi-dente: R$ 3.000.000.000,00.

É muito dinheiro para se construir elefantes brancos. O fu-tebol destas praças não sustenta um estádio deste porte. A con-versa inicial de que não haveria dinheiro público nesta farra não se ouve mais. Existe e existirá cada vez mais dinheiro público nestas obras. O atraso é proposi-tal e bem calculado. Quando pa-recer que não dará tempo para terminá-las, o cofre se abrirá e jorrará dinheiro farto.

O exemplo recente da África do Sul deveria nos aler-tar. Os sul-africanos não sabem o que fazer com os estádios construídos que estão subuti-lizados pela falta de tradição do futebol em algumas cidades onde foram construídos. Che-garam a cogitar da demolição de uma arena que custou 1 bi-lhão de reais. Este drama vive-remos aqui nas cidades citadas. O Pan no Rio de Janeiro ainda está na memória recente. Cus-tou 10 vezes o valor orçado e o legado é inexistente.

Em entrevista à Folha de São Paulo, a nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse que sua tarefa imediata “é flexibilizar as re-gras para as obras da copa”. É o governo já adiantando que caiu no jogo dos organizadores.

Entre os organizado-res, o senhor absoluto, dono do evento é Ricardo Teixeira, o todo poderoso presidente da CBF. Um cartola que está sendo acusado de ter recebido pro-pina para votar nas sedes das copas de 2018 e 2022, confor-me reportagem da conceituada BBC. Este poço de credibilidade comanda os destinos da copa brasileira.

Não é possível que a po-pulação veja tamanho descala-bro sendo realizado e permane-ça passiva. É preciso cobrar ati-tude do Estado brasileiro, que não pode ficar de agrados com gente que tem postura de gân-gster. Ou torna-se cúmplice.

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O Jornal 360 é um produto da 360 Agência de Comunicação

CNPJ - 10.690.919/0001-08Praça 7 de Setembro, 200,

4º andar, Sala 40738200-000 Frutal/MG

Telefone: (34) [email protected]

Editor ChefeLausamar Humberto

[email protected]

Jornalista ResponsávelSamir Alouan Bernardes

MTB - 13.890

Designer GráficoEduardo Uliana

PublicitárioIgor Caldeira

ColaboraçãoVagner DelvecchioMariana Nogueira

Priscila MinaniRafael Del Giudice Giovanna Mesquita

Samuel RochaNatália CoquemalaAluízio Umberto 360

360360360

Por que não somos indignados?

Esta edição do 360 traz uma re-portagem com Jeová Ferreira, que relata as experiências sofridas du-rante a vigência do regime militar no Brasil. Lendo a matéria, me in-dignei, mais uma vez, diante dos absurdos praticados neste período. Mas, para o brasileiro, a ditadura parece ter acontecido há muito tem-po, os jovens a tratam mais como matéria a ser estudada na escola e ponto a ser cobrado nas provas do que uma reflexão séria, profunda e triste sobre abusos que nunca de-vem ser esquecidos para que nunca mais aconteçam.

Estive recentemente na Argentina e me tocou profundamente a ma-neira como nossos vizinhos lidam com o assunto. A última ditadura argentina durou de 1976 a 1983 e ficou conhecida por ter sido a mais sanguinária da América Latina. Or-ganizações de defesa dos Direitos Humanos e associações civis esti-mam que cerca de 30 mil pessoas tenham desaparecido durante esse período, principalmente nos dois primeiros anos de ditadura. Para se ter uma idéia, a Secretaria Especial de Direitos Humanos, durante o go-verno Lula, divulgou que 475 pes-soas desapareceram por motivos políticos no Brasil durante o regime militar.

O que mais me chamou a atenção na Argentina é que o país ainda res-pira as amarguras da ditadura. Nos jornais, na TV, nas ruas, o argenti-no ainda sofre e discute as conse-qüências do que aconteceu entre as décadas de 70 e 80. O assunto sur-giu na viagem em meio a um pas-seio turístico. O guia fez questão de parar, no meio do city tour, para nos mostrar o memorial que marca uma das muitas prisões clandesti-nas criadas para servir de cenário para as torturas a presos políticos. Essas cadeias levavam nomes irô-nicos como “Clube Atlético”, onde os poucos sobreviventes contaram, muitos anos depois, que sofriam tortura física e psicológica diaria-mente e que podiam tomar banho apenas uma vez por ano.

O movimento argentino conheci-do mundialmente para que se faça justiça com relação aos abusos do

regime militar é a Associação Mães da Praça de Maio. Desde 1977, mães que tiveram filhos desaparecidos na ditadura ocupam a principal praça de Buenos Aires, em frente à Casa Rosada (sede do governo argenti-no), pedindo que os culpados pela matança de presos políticos sejam punidos e para que as famílias se-jam indenizadas.

Além da Associação das Mães da Praça de Maio, há outras organiza-ções como a dos Avôs da Praça de Maio. Estima-se que 500 bebês, fi-lhos de desaparecidos, tenham sido adotados por militares e seus ami-gos. Agora, os “Avôs” procuram es-ses órfãos do regime com uma forte campanha nos jornais e na televi-são: “se você tem dúvidas quanto à sua identidade, procure a Asso-ciação dos Avôs da Praça de Maio”. Tem-se notícia que 103 “bebês per-didos” já foram achados, muitos fi-lhos adotivos de militares.

A notícia que agora não sai das primeiras páginas dos jornais ar-gentinos tem a ver com essas crian-ças. Suspeita-se que os dois filhos adotados por Ernestina Herrera de Noble, proprietária do Grupo Clarín – que inclui, além do principal jor-nal argentino, um portal de notícias e serviços na internet e uma rede de TV por assinatura – sejam filhos de mulheres desaparecidas durante a ditadura. Como há uma herança milionária em jogo, a família tem se negado a fazer o teste de DNA. Até que no início de junho, a Justiça or-denou que os testes sejam feitos. Ainda não sabemos os resultados.

No Jornal Página 12, o terceiro mais lido da Argentina, a memória da ditadura é preservada por meio da publicação, diariamente, de fo-tos e textos sobre os desaparecidos políticos. Hugo, o guia turístico, fica quase que exaltado quando conta sobre a ditadura argentina aos tu-ristas. E termina seu discurso com um tapa na cara dos brasileiros que estavam no ônibus: “é uma matan-ça muito recente para ser esqueci-da. A ditadura argentina aconteceu há apenas 30 anos. Não podemos esquecer para que nunca mais aconteça. Assim como vocês deve-riam fazer no Brasil”.

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Temas não são teoremas

Até me decidir que a procura de um tema seria o tema deste meu ar-tigo no 360, minha imaginação va-gou por algumas opções. Porque pior que não ter um assunto é achar que temos vários. Aí, ou trava tudo ou vira bagunça – mal uma frase chega ao meio e a cuca já sugere outro as-sunto. E pés em barcos diferentes é desastre...

Repassando conversas que tenho com amigos, ocorreu-me que, exa-tamente como eu há poucos minu-tos, algumas pessoas dizem ter um novelo de sentimentos, opiniões e impressões a expor, mas não conse-guem desenrolar os próprios pensa-mentos.

Escrever é eternizar imagens inte-riores e impressões sobre o cotidia-no. Dá a oportunidade de condensar ideias e fotografar opiniões, para de-pois espiá-las detidamente, retocar detalhes, suprimir ou fortalecer ar-gumentos.

Aprende-se a escrever por repeti-ção – em tentativas, erros e acertos. Acho que mesmo para os gênios é um prazer trabalhoso, que carece da busca da evolução, mas que também evolui por si.

Sendo assim, você que tem medo de tentar, precisa estar ciente de que, provavelmente, não vai apreciar suas primeiras letras. É quase certo que

algumas vezes vai se empolgar num assunto e descobrir, frustrado, que não consegue passar da segunda ou terceira linha. Vai reler coisas anota-das há anos e sentir-se um visioná-rio. Noutras linhas, seus escritos vão apontar a infantilidade e o atraso de coisas tidas como pétreas. E, acho eu, é essa a graça: ter instantâneos de muito do passado por sua mente e coração.

Se você não tiver preguiça de ler, nem vergonha de escrever com sin-ceridade, não fará feio. Depois de algumas tentativas vai pegar o jeito de escrever as coisas que pensa ou sente.

Agora, se quiser tornar-se um es-critor admirável, tenho que cessar meus conselhos. Se soubesse o ca-minho eu mesmo trilharia. E nem era esse o tema. Quero apenas incentivar você, que tem algo a dizer – mesmo que seja particular – a perder o medo de escolher um tema.

Até porque, como li uma vez – e agora estou com preguiça de pesqui-sar para confirmar o autor da frase – “escrever é desenvolver um tema, colocar um monte de palavras no pa-pel e cortar o supérfluo. E é aí que começa o verdadeiro trabalho”.

Se mais gente escrever, mais gen-te vai se expressar melhor.

A verdade [nos] libertará.

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Por AnA CArolinA ArAújo @prof_anacarol

Page 3: Jornal 360 - 4ª edição

3 18/JUN

360

Personagem marcante da historia de Frutal relata a dura vida durante o periodo da ditadura militar

Segunda-feira, 6 de junho de 2011, 19 horas. Duas repórteres e uma missão: ouvir as histórias de um personagem conhecido por todos os frutalenses, Seu Jeová Ferreira.

Vamos à apresentação da personagem. Jeová Ferreira nasceu em 23 de novembro de 1930, em Frutal, coincidentemente ano da Revolução de 30 e da chegada de Getúlio Vargas ao poder, o que pode ser encarado como razão para o seu caráter revolucionário. Proveniente de família simples, tinha avós fazendeiros e um pai que ensinou a ele e seus irmãos que deveriam aprender uma profissão para serem úteis à sociedade. Seguindo o conselho do pai, Seu Jeová, sempre muito interessado em adquirir conhecimento, obteve nos livros o suporte extracurricular necessário para isso. Entendendo muito de tudo, já foi datilógrafo, auxiliar de escritório, relojoeiro e contador. Mas sua grande paixão sempre foi a comunicação.

De suas mãos e genialidade surgiu o primeiro rádio transmissor e a primeira antena de TV de Frutal. Era técnico em rádio e transmissão e trabalhou na Rede Mineira de Rádio e Televisão Ltda., em Uberlândia; na Rede de TV de Minas, em Belo Horizonte; e no Canal 7 em Frutal. Além de ter sido pro-gramador de microcomputador e instrutor de informática. Atualmente, é contabilista na ACIF – Associação Comercial e Industrial de Frutal.

Parece muito, mas é pouco diante dos 80 anos bem vividos do nosso personagem, que teve um livro publicado em 2002 contando as histórias da cidade, chamado Original História de Frutal, inescapável para quem precisa de informações sobre esta terra.

Anos de chumbo,

homem de ouro

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MAriAnA nogueirA @maricotanogPrisCilA MinAni @priiminani

O diario de um sobreviventeFigura viva da história de Frutal, Seu

Jeová Ferreira passou por maus boca-dos durante a Ditadura Militar. No ano de 1959, então membro de um Centro Espírita que seguia os ensinamentos de Allan Kardec, foi convidado a ser um dos fundadores de uma associação que teria como objetivo melhorar a qualidade das condições dos trabalhadores rurais.

Assim surgiu a Associação dos Traba-lhadores de Frutal – ATF -, que se unia para requerer dignidade trabalhista no campo e na cidade. Nécime Lopes da Silva, prefeito de Frutal na época, ajudou a associação com a doação de um terre-no para construção da sede. A partir daí, tendo um endereço, começaram as reu-niões.

A ATF era vista por muitos como ame-aça de derrubada do poder por ser inte-grada por comunistas. No entanto, sua principal motivação era a luta pacífica por leis trabalhistas, e não a luta armada como temiam os mili-tares. Considerando o regi-me autoritário vigente, qualquer liderança contrária deveria ser barrada. E foi o que ocorreu.

Em um dia comum de reu-nião, os solda-dos invadiram a sede dos traba-lhadores e reco-lheram todos os livros encontrados no local, que foram levados para o quartel de Juiz de Fora. Os livros são símbolo de conhecimento, e o conhecimento pode ser subver-sivo e esta era a grande preocupação do regime, pois a formação de cidadãos capazes de refletir e opinar resultaria em problemas para manter o regime militar. Esta ação mostra o caráter repressor do período. Esta invasão foi o primeiro de

uma série de sucessivos acontecimentos de pressão.

A imagem dos comunistas era a mais radical e negativa possível. Mas muitos de-les, como Seu Jeová, buscavam somente a defesa de seus ideais e não uma revolu-ção violenta com tomada de poder. Prova desse equívoco foi a questão das terras. “Os fazendeiros achavam que os comu-nistas estavam tomando suas terras, mas o movimento dos sem terra surgiu entre os banqueiros, pra fazer com que os fazen-deiros pagassem as dívidas ao banco, pois eles pegavam dinheiro emprestado e não pagavam ao banco o que deviam” conta Ferreira.

Seu Jeová e os demais membros da associação foram exemplo de co-ragem e ousadia. Determi-

nados a alcançar seus objetivos, fizeram várias viagens a São Paulo para se reunir. Até que, no dia 31 de março de 1964, (na verdade madrugada do dia 1 de abril, data renegada pelos militares por ser o dia da mentira) se concretizou o golpe. Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais, afirmou que o estado esta-va separado do Brasil, assim como o Rio Grande do Sul, pois não apoiava o golpe que depôs o presidente João Goulart.

No dia 10 de abril, algo radical aconte-ceu com os membros da Associação dos Trabalhadores. Militares invadiram a sede e, além de levar novamente os livros que encontraram, prenderam os comunistas. Não satisfeitos somente com a prisão,

entraram nas casas das fa-

mílias para apreender tudo o que repre-sentasse ameaça de manifestação. Eram livros, revistas e fotos.

De Frutal, Seu Jeová, que na época era secretário da associação, seu irmão Deus-dante Ferreira e outros membros foram levados para Uberaba. Lá, ficaram presos por algumas semanas, até que uns fossem soltos e os “mais perigosos” levados para Belo Horizonte.

Foram setenta e cinco dias em cárcere privado e mais cinco dias em que Ferreira e os outros presos compareciam à delega-cia, como forma de provar à polícia que eles não fugiriam da cidade. Só foram sol-tos quando cada um delegou a responsa-bilidade de suas ações à outra pessoa, que assinaria um termo se comprometendo pelos atos do tutelado. Seu Jeová teve o cunhado João Geraldo como tutor.

Estes dias sombrios não foram apagados da memória de

Jeová Ferreira e de to-dos os frutalenses

que viveram a di-tadura militar.

Aos oitenta anos, Jeová relembra este perí-odo sem mágoas. Ao ouvir suas lem-

b r a n ç a s percebe-se

que o ocorri-do apenas com-

provou o exemplo de homem de força,

resistência e fiel aos seus princípios, que foram e são de-

fendidos até o fim. Ferreira traz desta época boas histórias para

contar. Histórias que, mesmo tão in-tensas e difíceis, são contadas com o bom humor e o sorriso no rosto de quem sabe que viveu e vive intensa-mente.

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Page 4: Jornal 360 - 4ª edição

O remédio é riso e carinho

Nariz vermelho, roupa colorida e sorriso largo. Aquele que lhe en-cantava no centro de um picadeiro qualquer, na infância ou mais tarde, que lhe fazia gargalhar e aplaudir de pé é o mesmo ser que, com o fi-gurino um pouco diferente, jaleco de médico e maquiagem mais leve, encanta novas platéias. Com a von-tade de levar alegria ultrapassando barreiras e chegando a locais inusi-tados: hospitais, creches, asilos.

“Eis o que ninguém sabia: hos-pital também é lugar de alegria”. E foi levando essa ideia à diante que o grupo de jovens, que se encon-trou em Frutal, resolveu iniciar um novo projeto. Os Doutores Palha-ços da Alegria frutalenses começa-vam a surgir bem antes da primeira reunião.

“Quero ser doutor palhaço tam-bém! Tem esse projeto em Frutal?” A curiosidade de alguns dos parti-cipantes em saber mais sobre um

trabalho realizado anteriormente por uma das voluntárias. A falta de projetos que seguissem essa linha na cidade. Eis os motivos para a criação do grupo.

A inspiração vem de outros tra-balhos ao redor do mundo. Como o de Patch Adams (representado por Robert Willians no filme ‘O Amor é Contagioso’), médico que atua como Dr. Palhaço em locais carentes e até mesmo zonas de conflito mundial.

Trabalho em que qualquer pessoa que queira ser voluntária pode, com muita responsabilida-de, vestir-se de palhaço e, ao invés de esperar seu público aparecer, ir até ele. Mais do que isso, esses clo-wns, termo em inglês para palha-ço, assumem o papel de médicos formados em besteirologia. Usam de brincadeiras, conversa e muito afeto para encontrar o melhor em seus “pacientes”.

ThAís FernAndes @thafsousa

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m Muitas conversas e ideias até a prática. Aos poucos, o grupo fruta-lense foi encontrando participan-tes e tomando os cuidados para que tudo pudesse se tornar real. Os 12 jovens que atualmente integram o projeto são: Daniel Bizanha, Fer-nanda Brahan, Juliani Lima, Lu-cas Góis, Matheus Bassi, Matheus Brambatti, Matheus Frizoni, Naya-ra Trindade, Ramon Portes, Thais Fernandes, Thiago Couto e Vagner Delvecchio. E pretendem aumen-tar seu número para 14 voluntários em breve.

Todos eles se encontraram gra-ças ao vínculo criado por estuda-rem na UEMG, mas os cursos e tur-nos variam e a iniciativa de realizar o projeto em Frutal foi indepen-dente da universidade.

Dos atuais participantes, nove não nasceram em Frutal e não tive-ram contato com a cidade antes de se mudarem para cá para estudar. É um dado peculiar. Pessoas que, a princípio, não teriam que se preo-cupar com a sociedade local e que estão atuando com uma preocupa-ção social.

O que motivou cada um deles

foi ter encontrado pessoas com a mesma vontade e iniciativa. O mo-mento foi propício para a criação do projeto, e independente de onde vêm, eles agora têm um víncu-lo muito maior com a cidade. Com-preenderam que o que importava era praticar o bem, e não onde ou para quem se estava praticando.

Os três frutalenses, Lucas, Thiago e Nayara, colaboram no contato di-reto com a comunidade. Eles conhe-cem os problemas e instituições mais carentes de Frutal, além de saber por onde começar a procurar auxílio e novos parceiros para levar os Douto-res Palhaços sempre adiante.

A cidade tem mostrado ótima receptividade. Tanto por parte das instituições quanto dos moradores e estudantes. “Sem dúvidas a re-percussão foi grande e está sendo muito aceito e procurado. É ine-vitável, desperta a curiosidade de todo mundo. Eu acredito que só tem a crescer e se expandir cada vez mais. Devemos ter futuramente mais participantes e, para isso, de-vemos estar abertos, como nós esta-mos.”, é o que afirma o voluntário Thiago Couto.

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o No final de 2010 uma loja local doou um ventilador e o grupo realizou o sorteio de uma rifa. Com o dinheiro arrecadado foi possível a compra de brinquedos e do-ces para doar as crianças visitadas, além de maquiagens e roupas para os Doutores Pa-lhaços.

Juliani Lima participa de todas as visitas desde o início do Projeto. Ela encontrou ali a maneira certa de colaborar, exercendo sua cidadania fazendo algo com o qual se iden-tifica. “Sempre gostei de lidar com crianças. Quando eu soube que estaria fazendo isso no projeto, eu quis participar. Até pra poder dar essa contribuição para a sociedade, já que foi a primeira vez que eu tive a oportu-nidade de participar de um trabalho volun-tário.”, conta ela.

A criadora da Dra. Jujuba revela ainda que as idas até as entidades carentes são sempre momentos especiais. “É muito grati-ficante. Durante a semana inteira nós vamos à faculdade, trabalhamos, fazemos as coisas do cotidiano. Mas acabamos não tendo esse contato, não fazendo realmente o bem pra alguém. É com esse trabalho que eu me sinto realizando essa parte. Eu sempre achei que o voluntariado era muito legal pra quem participava. E agora eu só tenho comprova-do isso.”, diz Juliani.

Thiago Couto Silva se divide nas tarefas de auxiliar geral, fotógrafo e organizador da bagunça desde que os Drs. Palhaços surgi-ram em Frutal.

Ele conta que ver o retorno por parte das crianças atendidas é o que o incentiva. “Em geral é tranquilo exercer todas essas fun-

ções. Ir aos encontros e ter contato com as crianças. Independente de idade, sexo, cor. É muito satisfatório levar o sorriso, o amor.”

Thiago entende que as visitas fazem tão bem aos voluntários quanto a quem é visita-do. “Essas são crianças carentes. Pessoas que precisam de mais brilho na vida e acredito que isso seja o mínimo que podemos ofere-cer”, conclui ele.

Desde o início o ponto de encontro é sempre na casa de um dos estudantes. E atu-almente o foco do trabalho são crianças de creches ou instituições carentes. Nas cinco intervenções realizadas até aqui o grupo já aprendeu muito e agora procura se organi-zar mais. Ainda neste mês de junho eles co-meçam a realizar treinamentos. Neles, cada um terá como lição de casa procurar por no-vas brincadeiras, jeitos diferentes de animar as pequenas plateias. Aprender e repassar para o grupo.

E com o tempo todos ao redor começam a entender melhor o intuito desses jovens. Seu papel, por incrível que pareça, não é apenas o de fazer palhaçada. A frase que eles encontraram para lema do trabalho é: “Levando amor em um sorriso”.

Vai muito além do riso, é companhia sincera. Estes jovens incentivam que todos criem a atitude de ir ao encontro de quem precisa. Estar junto com alguém, fazer-se presente na vida das pessoas, ouvir suas his-tórias e angústias, tudo isso faz a diferença.

Disseram-me um dia: “o melhor remédio não é o riso, o melhor remédio é a amizade”. E é essa a maior verdade que eu tenho visto acontecer.

Integrantes da trupe da alegria. Amigos com a missão de arrancar risadas e sorrisos das crianças

Jovens universitários formam o grupo Doutores Palhaços

Page 5: Jornal 360 - 4ª edição

4 e 5 18/JUN

3423-8360

assineContrair os músculos da face em conseqüência da alegria, ou mais precisamente, rir, pode ser o melhor remédio. Quanto mais gostosa a gargalhada ou mais efusiva a risa-da, maior será a produção de endorfinas, que podem ser chamadas de hormônios da felicidade. O processo de cura está ligado às betas endorfinas porque elas melhoram a circulação, a pressão arterial e as defesas orgânicas contra infeções e alergias.

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Ramon, ou melhor Doutor Teteco, e o sorridente garoto Luan

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o “Vou te dar o meu bombom, mas é segredo nosso, tá bem?”

A fala acima é do Doutor Teteco, um ou-tro lado do naturalmente brincalhão Ramon Portes. E mostra quando a doação vai além do simples falar, passa por pequenos gestos.

Na visita à Casa da Sopa realizada no dia 30 de abril de 2011, o Doutor se encantou com o garoto chamado “Luan”. O pequeno pro-vou que o maior mestre de um bom palhaço é mesmo a criança. Divertiu-se muito e deu um show à parte. Cantou, desfilou e ao final de toda a brincadeira ganhou como presente o bombom do próprio Doutor Teteco.

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em

“Vocês voltam aqui amanhã?” “Posso te dar um abraço?”

Duas frases ditas frequentemente pe-las crianças visitadas. Revelam um pouco da essência do projeto dos besteirólogos.

É preciso muita coragem para conse-guir expressar exatamente do que preci-samos. E tem sido isso que muitas crianças visitadas demonstram. No início, é difícil se abrir e a confiança delas tem que ser conquistada. Aos poucos elas se sentem à vontade com a presença dos Doutores e acabam revelando nessas frases e deta-lhes suas fragilidades.

A carência aqui não é apenas finan-ceira ou social. É também de apoio, de brincadeira, de afeto. E só nesse contato é possível adquirir confiança para melho-rar a auto-estima dessas crianças.

Sem

pre

tem

um

des

taq

ue Após as visitas os voluntários conversam e costumam perceber al-

gum caso que marcou.Alguma criança que surpreende: “a menininha que desfilou na ul-

tima visita, toda ‘se achando’. Como se fosse modelo mesmo. A reação positiva de um menininho que tem câncer. A gente consegue ver, mes-mo através das fotos, a emoção. O brilho no olhar de cada um. Perce-ber que a nossa mensagem está sendo transmitida”, afirma Thiago.

Juliani também se recorda de um caso específico. “Em uma das vi-sitas que nós fizemos, estavam todos interagindo. Foi quando eu olhei pro lado e vi um menininho que estava quieto. Fui brincar com ele e vi que ele não respondia verbalmente. Então alguém me explicou que ele era mudo. Isso é normal, mas eu nunca tive contato assim tão próximo com uma criança muda. Foi aí que eu percebi que deu tudo certo. Ele brincou e se divertiu junto com a gente também.”

Um pouco de atenção, gestos simples, carinho e dedi-cação. Esses são os remédios dos Doutores Palhaços

Por

qu

ê Pa

lhaç

o? “Aquele bebê, parecendo

uma bolinha de tão rechon-chudo. Estava lá chorando nos braços de uma das moças que trabalhavam na creche. E com tantas crianças pra tomar conta, ela me viu e pediu pra que eu o segurasse. Quando eu o peguei no colo, ele ainda chorava. Foi quando finalmente virou o rosto pra mim e parou. Ficou uns mi-nutos sem chorar, só me olhan-do.” É o que conta o Doutor Bizi, vivido por Daniel Bizanha, que numa tarde de novembro de 2010 visitou uma creche com cerca de 80 crianças entre 0 a 8 anos.

Esse olhar curioso explica o porquê da caracterização de um Doutor Palhaço. Um pou-co mais de cor pra quem já está acostumado a enxergar as mes-mas coisas todos os dias. Isso vale para crianças, professoras e funcionários, dos locais visita-

dos. Todos precisam desse tem-po. Dessa saída da rotina. É bom se deparar com algo de diferen-te. Que atice a curiosidade e en-cha os olhos. Algo que faça uma criança que chorava desespera-damente ficar em silêncio. Parar de chorar só pra olhar e analisar aquela figura tão colorida e fora do comum.

Convenhamos: estar no cen-tro das atenções de cerca de 80 crianças, como geralmente acontece, não é nada fácil. É aí entra o verdadeiro encanto em ser palhaço. Ter a liberdade de não precisar mais se limitar. Tor-nar-se um personagem com ca-racterísticas diferentes das suas, e poder fazer de tudo que em seu estado normal, não ousaria.

Vendo os Doutores Palhaços atuando percebe-se que cada um deixa de lado seus proble-mas e horários. Adquire um úni-co compromisso. O de se doar.

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A falta de incentivo

A vida na correriaCorrer. Correr talvez seja uma das

mais antigas atividades do homem. Desde os primórdios, antes da invenção de rodas, charretes, bicicletas, veículos automotores, desde sempre o homem corre. E correr faz bem.

Nos Jogos Olímpicos, competição que reúne a realeza dos atletas de dife-rentes nacionalidades e modalidades, correr é nobre. Há quem corra para abrir o evento – caminho feito com a tocha até chegar à pira – e há quem corra para fechar o evento. Fechar com chave de ouro, vencendo a maratona. É por esses fatores que a corrida é fas-cinante.

Em Frutal, existe uma equipe que leva o nome da cidade pela região e pelo país. Como? Correndo. E esse time reúne atualmente sete atletas. Alguns mais experientes. Outros ainda jovens, buscando aprender e aprimorar suas técnicas para um dia, quem sabe, che-garem a frente de quenianos e outros atletas já consagrados em competições onde o nível é altíssimo.

Uma equipe de atletas, correndo, leva o nome de Frutal para os quatro cantos do Brasil

Foto

/Edu

ardo

Ulia

na

A experiência que correMatusalém de Lima é um persona-

gem que faz parte dessa história há 23 anos. O corredor começou no esporte aos 21 anos, quando, após ter mora-do em Itumbiara, regressou a Frutal e encontrou uma equipe de atletas em formação. Foi uma das pontas de uma rivalidade citada por quem conhece os atletas frutalenses. Disputando com ao lado de Marco Tulio, as provas ga-nhavam ares de verdadeiras decisões regionais. Mas Frutal e a região iam se tornando pequenas diante da ambição e da paixão dos corredores que sonha-vam mais além.

A partir daí, a equipe de Frutal voou para competições em cidades como Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Nessas cidades, Matusalém obteve re-sultados expressivos para sua carreira. Foi sétimo colocado na Maratona Inter-nacional do Rio, quarto colocado em Curitiba, no ano de 1999 e 11º (2000) e 14º (2009) nas provas de 42 quilôme-tros realizadas em São Paulo. Na conhe-cida corrida de São Silvestre, realizada todos os anos no mês de dezembro, a melhor colocação do atleta foi um 36º lugar no ano de 1998.

Outro corredor já mais experiente é Reinaldo Moura, de 43 anos. Quando está em alguma prova, ou mesmo no treino, Reinaldo sente-se com a saúde renovada. Ele visita o médico a cada seis meses para fazer uma avaliação e nunca encontrou problema algum. “A maioria do pessoal que corre, não tem problemas.”, comenta.

Os anos especiais para Reinaldo fo-ram entre 1985 e 1995. Mas ele fala que a corrida que mais marcou, aconteceu em 1990, na cidade de Fronteira: “Me emocionei com a vitória sobre José An-tonio Diniz, que havia vencido 200 mili-tares em Uberaba e participou daquela corrida. Ele era visto como favorito, mas consegui superá-lo.”, relembra.

A nova geraçãoSe engana quem pensa

que Frutal tem apenas atle-tas mais experientes e que os jovens não se interessam pelo atletismo. Matusalém coordena um projeto, em parceria com a Unimed e com a Prefeitura, para re-velar corredores e tirar as crianças das ruas. “Procu-rei o Dr. Alberto Bichara (presidente da Unimed Frutal) e falei sobre o pro-jeto há uns 8 ou 10 anos, quando começamos. Ele acatou a idéia. A Unimed nos fornece tênis, unifor-mes e lanches nas viagens, enquanto a prefeitura au-xilia com o transporte.”,

conta Matusalém. Aten-dendo a jovens de ambos os sexos com idade entre 7 e 17 anos, com treinos no Marretão, a iniciativa já mostra resultados.

O estudante Jairo dos Santos, de 19 anos é apon-tado como revelação do projeto. O pernambuca-no, que mora em Frutal há 12 anos e disputa provas regionais, diz que a corri-da mais importante da sua vida aconteceu em Brodo-wski, onde ele venceu a prova de 10 quilômetros e ganhou, além da um tro-féu, uma bicicleta. “A cada quilômetro que avanço sin-

to prazer. Depois, na hora de receber os prêmios, in-dependente da colocação, ver o pessoal gritando seu nome é bom. Gosto daqui-lo que faço.”

Hugo Patrício de Fran-ça tem 26 anos e atual-mente tem o apoio dos Correios, onde trabalha, para participar das compe-tições. Começou a correr quando adolescente, aos 16 anos. “Comecei a cor-rer simplesmente para pra-ticar algum esporte com o apoio do Matu, depois vi que os Correios tinham um projeto na empresa de incentivo aos funcioná-

rios. Decidi fazer parte da equipe e hoje estou bem ranqueado. Recentemen-te estive em Porto Alegre com a equipe que era com-posta pelos oito melhores tempos do Brasil, então, acredito que estou bem.”, diz o atleta.

Os resultados mais ex-pressivos de Hugo acon-teceram em provas dos Correios. “Já venci a etapa estadual, em Belo Horizon-te. No ano seguinte, em Brasília, consegui superar atletas e funcionários dos Correios do Brasil inteiro. Essas duas vitórias são bas-tante significativas.”

rAFAel del giudiCe noronhA @rafael_giudiceApesar dos bons resultados, os atletas frutalenses esbarram na falta de incentivo ao esporte. O apoio dado pela Prefeitura Muni-cipal, ainda que pequeno, é bem-vindo. “A Prefeitura nos fornece alguns medicamentos e verduras todos os meses. Disponibiliza um veículo para as provas mais próximas, e quando a prova é muito

longe, se houver uma conversa antes, às vezes conseguimos alguma ajuda também. Além disso, todos os anos nós recebe-mos um par de tênis , mas a necessidade é maior. Eu gasto

a cada dois meses um par de tênis para treinamentos, ou seja, necessitaria de seis pares por ano apenas para

os treinos e mais uns três que seriam usados nas provas. Mesmo assim, agradecemos a colabo-

ração”, diz Matusalém.Enquanto a maioria dos atletas conta com

a contribuição da Prefeitura, Hugo tem o apoio dos Correios, que é uma van-tagem, mas não é um patrocínio. “Eu não posso pedir para correr quando quero. Se os Correios não participa-rem com a equipe, minha presença na prova fica comprometida”, comenta.Fora essas pequenas ajudas, o co-mércio local também tem sua parce-la de contribuição. Estes empresários

são tratados pelos atletas como amigos do esporte e não patrocinadores.

O vício do bemSeja experiente ou não todos os

atletas têm o mesmo sentimento ao fa-larem do atletismo. Matusalém enfati-za o quanto é importante correr para ele: “Enquanto houver apoio, não vou parar. Tenho mais de 500 troféus e as medalhas são incontáveis. O corredor não tem fim. Em provas a gente vê gen-te da 3ª idade correndo e isso é mara-vilhoso.”.

Hugo, que conheceu o esporte e se apaixonou resume bem a sensação da Equipe de Atletismo de Frutal: “Acre-dito que o atletismo tenha se tornado um vício na minha vida, assim como na de todos os corredores. Um vício que só traz benefícios e que todo homem deveria conhecer”, conclui.

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A luz se apaga você ouve o barulhinho do projetor trabalhando para dar movi-mento a milhares de fotos produzidas em seqüência, e assim começa mais um filme. A técnica ainda é quase a mesma desde a invenção do cinematógrafo pelos Irmãos Lumière no fim do século XIX. E foi no subterrâneo do Grand Café, em Paris, em 28 de dezembro de 1895, que eles realizaram a primeira exibição pública e paga de cinema: uma série de dez filmes, com duração de 40 a 50 segundos cada, já que os rolos de película tinham 15 me-tros de comprimento. Os filmes até hoje mais conheci-dos desta primeira sessão chamavam-se “A saída dos operários da Fábrica Lumière” e “A chegada do trem à Estação Ciotat”.Desde a primeira exibição, feita de forma improvisada em um saguão, até hoje, com salas climatizadas e recursos 3D, o cine-ma conserva sua essência cultural e o poder da comunicação universal. Além disso, o ato de ir ao cinema é quase como um ritual, uma integração social. Seja rico ou pobre, todos assistem o mes-mo filme. Sendo assim, a denomi-nação sétima arte, dada pelo teórico italiano Ric-ciotto Canudo em 1911, é mais do que justa para expressar a importância do cinema. O termo está no Manifesto das Sete Artes, publicado apenas em 1923. Essa referência é apenas indicativa, cada uma das artes é caracteriza-da pelos elementos básicos que formatam sua lingua-gem. Elas são classificadas da seguinte forma: Música (1ª arte), Dança (2ª arte), Pintura (3ª arte), Escultura (4ª arte), Te-atro (5ª arte), Literatura (6ª arte) e Cinema (7ª arte).

Som, luz, câmera... Cine UEMG

Dando seqüência a sé-rie de reportagens sobre os projetos culturais desenvol-vidos no Campus de Frutal da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), nesta edição apresentamos o Cine UEMG. Idealizado pelo professor do curso de Comunicação Social, Lau-samar Humberto, o proje-to de extensão tem como objetivo atualizar e ampliar conhecimentos e a cultura geral de universitários, es-tudantes de escolas públi-cas e particulares da cidade e da comunidade local por meio do cinema.

O Cine UEMG teve iní-cio em 2010. Em sua segun-da temporada, está com ciclos mensais voltados para a cinematografia de

sete países, buscando tra-zer obras importantes des-tas nacionalidades, assim como seus principais atores e diretores. Em abril foi exi-bido o ciclo sobre o cinema argentino e em maio, sobre o cinema alemão. Confira o cronograma do restan-te do ano: cinema francês (junho), cinema espanhol (agosto), cinema america-no (setembro), cinema ita-liano (outubro), fechando com o cinema japonês, em novembro.

Os dois primeiros ciclos - abril e maio - foram realiza-dos no auditório da Câmara de Vereadores. A partir de junho, as exibições vão acon-tecer no anfiteatro antigo da UEMG, sempre a partir das 15h. A entrada é gratuita.

De acordo com o coorde-nador do projeto a escolha dos filmes que fazem parte da programação é feita jun-to com os alunos do cur-so de Comunicação assim como a organização e a di-vulgação das sessões. “Esta é uma forma de promover a integração entre academia e sociedade e diversificar a visão cultural das pessoas, além de buscar formar uma platéia cinematográfica na cidade”, define Lausamar.

Para Rafael Silva Fer-reira, aluno do 3º período de Comunicação Social, o Cine UEMG é uma iniciati-va boa, pois em Frutal não tem cinema e esse projeto permite que tenhamos pelo menos uma sala, mesmo que improvisada. “Tudo que

é bom a gente tem que par-ticipar, por isso entrei, além é claro de querer ajudar na divulgação e levar quem eu conheço para assistir aos fil-mes”, comenta Rafael, que também é colaborador do projeto.

Vinicius Dalanezi, do 1º período de Comunicação Social, aponta como gran-de diferencial do projeto, a seleção dos filmes, que foge do circuito comercial das grandes redes de cinema. “O projeto é interessante por-que não são filmes comuns e assim ficamos ligados em outras culturas”, destaca.

O Cine UEMG conta com o apoio da Câmara de Vereadores de Frutal e da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer.

eduArdo uliAnA @eduardoulliana

No escurinho do cinema, na sala de aula

A sétima arte

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O alfajor está para a Argentina como o pão de queijo está para os mineiros. Ma-nia nacional naquele país, o doce pode ser encontrado com a fórmula tradicio-nal que tem recheio de doce de leite e cobertura de chocolate ou ainda com re-cheio de frutas e chocolate e cobertura, que pode ser de açúcar, chocolate bran-co e confeitos. A guloseima é vendida in-dividualmente ou em caixas, que podem ter até 24 unidades. Em cada esquina de Buenos Aires, tem uma lojinha com ver-dadeiros mostruários de cores, sabores e preços. É difícil escolher qual levar, qual degustar primeiro e definir quantas cai-xas colocar na sacola.

Para quem não sabe, o alfajor (pro-nuncia-se “alfarror”) é um doce tradicio-nal da Espanha, Argentina, Chile, Peru, Uruguai e outros países ibero-america-

nos, mas originalmente foi criado no Equador. O nome vem do árabe al hasu e significa recheado.

O doce é composto de duas ou três camadas de massa, que após assadas fi-cam levemente crocantes e macias, quase esfarelando, mas firmes, e com recheio de doce de leite, coberto com chocolate derretido ou polvilhado com açúcar de confeiteiro. Com o passar dos anos, a tradicional receita foi perdendo espaço para novos e exóticos sabores de alfajor.

Muito popular na Argentina, o doce é considerado um ícone da cultura do país, onde são consumidos, todos os dias, seis milhões de alfajores de mais de cem marcas. A mais famosa delas, Havanna, possui mais de 180 lojas em terras argen-tinas.

Para se ter uma idéia, o alfajor é consu-

mido pelos argentinos no café da manhã, depois do almoço, no lanche da tarde e durante uma pausa a qualquer hora do dia (eu comprovei isso pessoalmente). As comparações com o pão de queijo minei-ro não param por aí. Se aqui temos uma lanchonete que vende um pãozinho para cada dois mineiros, aproximadamente, a proporção no país vizinho pode chegar a uma loja que comercializa um alfajor para cada argentino.

Algumas dicas pra quem está pen-sando em visitar Buenos Aires e trazer alguns “docitos” na bagagem:

Logo no aeroporto, durante o em-barque. Você vai dar de cara com lojas da marca Havanna, no freeshop inter-nacional. Se você está pensando no pre-ço, a diferença não é grande. Irá pagar quase o mesmo valor, comprando nessas

lojas ou na Argentina. Pra quem não liga muito, o Havanna é uma ótima escolha. Já para quem aprecia o doce dos herma-nos, vale a pena gastar algum tempo do seu passeio visitando as lojinhas de con-veniência, espalhadas por toda a capital portenha e experimentar duas ou três marcas diferentes. Você vai se surpre-ender como um simples doce pode ter muitas e deliciosas variações.

Dê uma olhada em volta e observe quais marcas os argentinos costumam levar. Nada melhor que consultar os especialistas no assunto. E não adianta perguntar. Eles vão falar que todos são “muy sabrosos”, podendo lhe empurrar alfajores não muito apetitosos.

Marcas que provei e gostei: La Reco-leta, Alfajores Cordobeses, Alfajores Ar-gentinos e Cachafaz.

eduArdo uliAnA @eduardoulliana

Te gusta el alfajor?

O melhor da Argentina são os brasileirosCaros amigos. Ela é a cidade mais eu-ropéia da América Latina. É linda, efer-vescente culturalmente, preserva as tradições, é repleta de monumentos e prédios históricos lindos, respira política e história e é cheia de argentinos. Isso mesmo, argentinos. Seres humanos de estatura mediana, caucasianos, de des-cendência espanhola e eternos rivais dos brasileiros no futebol. Não sei se é influência disso ou não, mas durante mi-nha viagem, senti uma certa hostilidade enclausurada em relação a “nosotros”, turistas brasileiros.

No táxi, nas ruas, lojas e restaurantes e, especialmente, nos hotéis, nossos herma-nos não fazem a mínima questão de serem gentis e hospitaleiros. Para marinheiros de primeira viagem como “yo”, que não falam muito bem e entendem menos ainda a lín-gua espanhola, isso atrapalha um pouco. Principalmente na hora de pedir informa-ções ou dizer para onde você quer ir. Fa-lar pausadamente e com clareza ajudaria muito. Mas não. Só pra judiar, eles falam rápido e com seu sotaque característico, diferente daquele espanhol que nós apren-demos em escolas de idiomas.

Fiquei em um hotel, no bairro da Reco-leta, repleto de brasileiros. No saguão, enquanto esperava o transporte, perce-bia como meus conterrâneos que aca-bavam de chegar sofriam na mão do “carismático” porteiro argentino. Alguns até arriscavam um “portunhol”, mímicas e gestuais. Tudo sem muito sucesso. Aí desistiam e falavam no bom e velho por-tuguês (que, pelo jeito, eles entendiam perfeitamente). Se você é muito comunicativo e gosta de conversar, não se iluda. Eles não gostam de ficar papeando com seus vi-

zinhos queridos. Então, advinha o que acontece na Argentina? Brasileiros con-versam com outros brasileiros. Não é brincadeira. É só você prestar atenção no som, nas palavras familiares e puxar assunto. É um alívio e uma felicidade de ambas as partes. Não importa o sotaque e de qual região do Brasil a pessoa seja. A partir desse primeiro contato, come-ça sempre uma boa conversa, onde se trocam dicas, informações e impressões sobre a capital argentina. Se um dia você for para a Argentina e precisar de ajuda, procure sempre um brasileiro.

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Eu vou de calhambeque... Bi! Bi!

Foto

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Muita história pra contar. Modelos, quase cen-tenários, ainda influenciam a indústria de autos

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0A paixão por automóveis velhinhos os torna mais valiosos do que carros do ano, com toda sua tecnologia e conforto

Mário Quintana, grande poeta brasi-leiro, uma vez disse: “A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar não teria inventa-do a roda.” Não entraremos na questão sobre ser ou não preguiçoso. O fato é que a roda transformou a humanidade.

Desde que o século XVII a necessida-de que o homem tinha de se locomover mais rápido, com mais comodidade e se-gurança, forçou os estudiosos e curiosos a testarem inúmeras experiências até que se chegasse ao que chamamos hoje de automóvel. Aquilo que era pra ser apenas mais uma ferramenta de trabalho tornou-

se um verdadeiro amigo do homem.Hoje existem carros elétricos, auto-

máticos, com climatizadores, air-bags e toda essa parafernália. Essa comodida-de é positiva, mas não é romântica. O romantismo está realmente nos carros antigos, reformados, que trazem consi-go sentimentos que air-bag nenhum é capaz de superar.

Os amantes do rei Roberto Carlos, e mesmo aquelas pessoas que não gostam muito do mais ilustre filho de Cachoeiro do Itapemirim, certamente conhecem a música “O Calhambeque”. Nela, o rei conta a história de que mandou seu Ca-

dillac – carro da moda na época – para o conserto e recebeu um carro velho para não ficar a pé. Curiosamente, ele apaixonou-se pelo calhambeque e quis conservá-lo.

Essa trilha, muito mais do que um marco da jovem guarda, é uma realida-de. Os automóveis restaurados são uma mania que vem se popularizando cada vez mais. Seja por paixão, por família, por lembranças, cada história tem o seu Q especial. A verdade é que nós, homens modernos do século XXI, adoramos conservar lembranças materiais que nos transmitam histórias do passado.

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Paulo Aurélio, proprietário de um Ford 1929, confirma que os carros são, além de uma ferramenta de trabalho, um amigo do homem: “Automó-vel é uma paixão que corre na veia de todo mundo. E é algo bom, é um instrumento de tra-balho que, desde que seja bem usado, você tem a condição de ter uma vida melhor.”

O apaixonado por carros discorre sobre os cuidados necessários que tem com seu veículo e comenta a repercus-são que há quando as pessoas o vêem: “É necessário tempo pra se dedicar a esse hobby,

que é caro, as vezes tenho que ir para longe buscar algu-ma peça para manter o carro sempre bonito e arrumado, porque é algo diferente. Todo mundo que vê quer registrar o momento.”

O Policial Rodoviário Fe-deral, Mário José Pereira, pro-prietário de um VW Passat L, do ano de 1973, diz que gosta dos carros mais antigos pelo design: “Desde pequeno sem-pre gostei de coisas antigas, acredito que pelo romantis-mo, ou pelo design, esses ma-teriais nos fazem recordar.”, analisa.

Restaurados em Frutal Duas RodasAs motocicletas também

são sinônimo de orgulho, tan-to de Mário, quanto de Paulo. O primeiro tem uma Lambretta Série Brasil, 1963. Ela estava abandonada e foi encontrada pelo policial há alguns anos, e como o dono não procurou, Má-rio acabou conseguindo o docu-mento do veículo e o comprou. Investiu, e hoje a aparência da Lambretta está perfeita, como a original.

Paulo é proprietário de uma CB 400 da Honda e assim como o Ford, a mantém sempre nas melhores condições possíveis. Duas relíquias de valor incal-culável.

Quer vender?Normalmente, quem compra e

investe em automóveis restaurados não os vende de maneira alguma. Pri-meiro, porque os gastos são inúmeros e segundo, porque a paixão sempre fala mais alto. Paulo Aurélio conta que herdou do pai o gosto por au-tomóveis antigos. “O meu Fordinho também serve de lembrança. É uma lembrança que passa de pai para filho e esse é mais um motivo de não en-contrar razão ou dinheiro algum para vendê-lo.”

Igual a Paulo, Mário se nega a vender seu Passat. “Há um valor senti-mental. Por isso, mesmo que consiga um valor alto em moedas no merca-do, não venderia.”

Paulo Aurélio desfilando com seu Ford 1929, em perfeito estado de conversação

Lambretta 1963 antes (foto da esquerda) e depois da restauração feita por Mário

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Respeito é bom e todos gostam

Em tempos de Bolsonaros e de antibolsonaros, de fanatismo religio-so, de Fla x Flu ideológico, é preciso refletir sobre tolerância. A tolerância deve ser o fundamento da vida social. Fundamento, seja de uma ideologia, de uma ciência ou de uma institui-ção é a base, o alicerce sobre o qual é construído tudo o que vem depois.

Vemos, ouvimos, ou lemos nos no-ticiários constantes notícias de intole-rância, seja ela nascida do desrespeito à crença, à cultura, à cor, ou à opinião do outro. E isto acontece ainda com mais freqüência entre os nossos jo-vens. Tomemos um exemplo.

A internet, o espaço mais demo-crático e tolerante da mídia, parado-xalmente, torna-se um campo aberto e fértil para a intolerância. Recente-mente, um jovem paulistano foi con-denado por racismo pelo conteúdo de sua comunidade criada no Orkut. Isso está se tornando habitual.

Fiquemos apenas no Twitter, a mais nova febre da internet. Na recente eliminação do Flamengo da Copa do Brasil pelo Ceará, esta rede social foi usada como instrumento de precon-ceito contra nordestinos. Houve na própria rede, ainda bem, uma onda ainda mais forte de contra-reação, de

censura a este comportamento. O mesmo se observa no Orkut.

Basta clicar em pesquisa as palavras “eu odeio” e aparecerá uma infinida-de de comunidades de pessoas que “odeiam” alguém ou alguma coisa.

A maioria destas comunidades são brincadeiras frívolas e inocentes: eu odeio acordar cedo, eu odeio se-gunda-feira, eu odeio água com gás e tantas outras. Em muitas o “eu odeio” é apenas sinônimo de “eu não gosto” ou “eu não concordo”. Estas são ino-fensivas.

O problema são as outras. E sur-gem: “eu odeio nordestinos”, “eu odeio negros”, “eu odeio evangéli-cos”, “eu odeio católicos”. Infeliz-mente, a lista de exemplos é imensa. Lendo os fóruns de discussão destas comunidades percebe-se que isto não é dito da boca pra fora. O sentimento é de ódio e rancor. Uma intolerância cravada na alma.

A maioria dos membros destas comunidades é de jovens de classe média. Jovens educados, informados, por certo bons filhos, bons alunos, bons amigos, mas intolerantes. Absur-damente intolerantes.

A tolerância é uma das tantas virtu-des necessárias para elevar o homem

à condição de civilidade. Ela é muito mais do que o simples respeito, é uma passagem para um estágio mais civili-zado e menos mecânico do convívio entre os diferentes.

A diferença não deve ser apenas tolerada, porque assim se reduziria a um sistema de guetos estanques. Esta postura já levou ao surgimento do na-zismo e do apartheid na África do Sul. É necessário conhecer, conviver, com-preender o outro, sempre de espírito desarmado, sem os preconceitos esta-belecidos e prontos a aceitar modifi-carmos convicções íntimas.

Para isso, a postura do diálogo é fundamental. Dialogar é, de forma humilde, tentar aprender com o ou-tro. Absorver suas palavras, suas pos-turas, procurando, com isso, com-preendê-lo. Dialogar não é discutir. Na discussão cada um quer provar o seu argumento e, na verdade, muitas vezes, nem está prestando atenção ao que o outro diz, está apenas esperan-do a sua vez de falar.

A percepção de nossa ignorância é também ponto importante para que sejamos tolerantes. Ignoramos mais do que sabemos e, por isso, a tole-rância é um antídoto, uma prevenção contra o dogmatismo. É uma espécie

de sabedoria que confronta o fana-tismo, esse terrível amor à verdade. Porém, tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes.

Ser democrático e plural com quem pensa como a gente é muito fácil, difícil é manter esta abertura com os discordantes, ouvir e pesar re-almente seus argumentos e permitir que nossas verdades sejam confronta-das e, se for o caso, modificadas. Plu-ralismo não é a livre discussão entre os concordes.

Ressalve-se que tolerar também não pode ser visto como simples pas-sividade e submissão. Tolerância vem do latim “tolerare” que quer dizer le-var, suportar e também combater. Se formos de uma tolerância absoluta, se não defendermos uma sociedade aberta e plural contra aqueles que pregam o ódio, o desrespeito e a into-lerância com os diferentes, corre-se o risco de os tolerantes serem aniquila-dos, e com eles a tolerância.

Como disse o escritor Guimarães Rosa, “o bom das pessoas é que elas não estão terminadas”. Cabe a cada um de nós a nossa própria constru-ção. E nesta construção cotidiana é preciso evitar que a intolerância faça parte de nossas vidas.

Por lAusAMAr huMberTo

Ponto Crítico

O péssimo nível da maioria das músi-cas do sertanejo atual, romântico ou uni-versitário, criou um preconceito contra todo o gênero. Uma pena. Há obras espe-taculares no sertanejo.

Dois exemplos: “Tardes Morenas de Mato Grosso”, de Goyá, e “Serafim e seus filhos”, de Ruy Maurity e José Jorge. Gos-to de ambas na voz de Sérgio Reis. A pri-meira traz alguns dos mais belos versos da poesia sertaneja e a segunda é um verda-deiro épico, uma mistura feliz do realis-mo fantástico de Gabriel Garcia Marquez e uma construção de narrativa típica de um Guimarães Rosa. Como disse meu amigo Ricardo Botelho: “parece saída de Primeiras Estórias”. Extraordinárias.

Na próxima coluna, volto ao tema, mais alongadamente. Deixo como aperiti-vo a letra lindíssima da canção Riozinho, de Carlos Cezar e José Fortuna.

Poesia sertanejaMeu rio pequeno, braço liquido dos camposrodeado de barrancos, corroído pelos anos.Vai arrastando folhas mortas e saudade,pôr-do-sol de muitas tardes, ilusões e desenganos.

Cruzando vales, chapadões e pantanais,bebedouro de pardais, branco espelho de luar.O seu roteiro não tem volta só tem ida,pra findar a sua vida, na amplidão azul do mar.

Riozinho amigo, são iguais as nossas águas.Também tem um rio de mágoas a correr dentro de mim.Cruzando n’alma campos secos e desertos,cada vez vendo mais perto, o oceano de meu fim.

Riozinho amigo, nascestes junto à colina,era um fio d’água de mina, e cresceu tão lentamente.Margeando matas, ramagens, juncos e florespassarinhos multicores seguiram vossa corrente.

Riozinho amigo, quantas vezes assistiuacenos de quem partiu, encontro dos que chegaram.Foi testemunha de muitas juras de amorquantas lágrimas de dor suas águas carregaram.

Riozinho amigo, sobre a areia do remansoanimais em seu descanso ali vem matar a sede.As borboletas em suas margens se amontoame depois alegres voam, na amplidão dos campos verdes.

A brisa encrespa o seu rosto de meninocomo o mais terno e divino beijo da mãe natureza.Lindas paisagens, madrugadas coloridas,encontros e despedidas, seguem vossa correnteza.

Riozinho

A grife italiana Benetton é famosa por estampar fotos de temas polêmicos em suas roupas

Page 11: Jornal 360 - 4ª edição

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Antigamente, havia o casa-mento arranjado. Muitas famílias faziam acordos e decidiam casar seus filhos como uma troca de interesses. E por mais inacreditá-vel que seja os casais aprendiam a se amar e continuavam jun-tos. Uma grande parte até hoje, como muitos avós podem teste-munhar. Com o tempo os casais foram ganhando mais liberdade, até que se tornou normal namo-rar e casar. Hoje, namora-se mui-to, e os casais estão demorando cada vez mais para assumir um compromisso mais sério. Há até os que preferem manter o clima de romance, sendo eternamen-te namorados.

Mas, o amor é um sentimen-to de afeição que vai além das pessoas, como a paixão pelos

animais de estimação, a paixão pelas coisas que adquirimos com os anos de trabalho e a paixão pelas sensações que aprende-mos a experimentar. Tratados filosóficos afirmam que os seres humanos são pré-moldados pelo e para o amor e, nascidos dele, estão automaticamente prontos para amar.

Impossível, antigo, platônico, recente, fervoroso, fácil, bonito, de cinema ou infinito. Ele amo-lece o coração de pedra dos mais machões e arranca suspiros das mulheres maduras que vivem a sonhar acordadas. Existem coi-sas que só o amor é capaz de permitir para uma pessoa. Afi-nal amor é amor, e, como garan-te Vinícius de Moraes, é eterno enquanto dura.

Metamorfoses do coração

Ah... O amor!(Pausa para os suspiros)

MAriAnA nogueirA @maricotanog

O Dia dos namorados passou? E quem disse que tem data para celebrar este sentimento atemporal?Para os

que acham brega amar incondicionalmente, saibam que

cartas de amor são bregas, juras de amor são bregas, canções de amor são bregas ou não seriam

cartas, juras e canções de amor. Na música, principalmen-te, nem se fale. O amor inspirou canções como “Eduardo e

Mônica” do Renato Russo, “É o amor” da dupla Zezé de Camargo e Luciano, “Codinome Beija flor” do Cazuza, além da clássica “Como

é Grande o Meu Amor Por Você” do rei Roberto Carlos. Músicas que embalam muitos romances até hoje.

O romantismo também encanta no cinema. O filme “Ghost - do Outro Lado da Vida” deixou moças sonhando acordadas. E como se esquecer de Ti-tanic? A história do fervoroso amor impossível que não morre com o tempo. São muitos longas-metragens apaixonantes, como “E o Vento Levou”, “Ca-sablanca”, “Uma Linda Mulher”, “Cidade dos Anjos” e para os mais jovens, “Um Amor Para Recordar” e “Antes que Termine o Dia”.

No Brasil, o amor também sempre esteve no ar, ou melhor, na televisão. Foram centenas de mocinhos e mocinhas sofrendo pelo grande amor nas telenovelas. Sinhozinho Malta e a Viúva Porcina nos anos 80 fize-

ram história em “Roque Santeiro”, Babalu e Raí encantaram em “Quatro Por Quatro” e, em “Paraíso”, a santinha Maria Rita e o

filho do diabo Zeca provaram que o amor ultrapassa as bar-reiras culturais. Não podendo faltar o novo casal de-

sejo dos contos de fadas, Jesuíno e Açucena de “Cordel Encantando”, folhetim cheio

de príncipes e princesas.

O amor inspira e bagunça até as nos-

sas funções biológicas. Coração acelerado,

mãos suando, maçãs do rosto avermelhadas

e dificuldade para respirar. São os sintomas

corpóreos do amor. O fluxo de substâncias

químicas do corpo humano quando se está

amando é maior que o comum. Adrenali-

na, noradrenalina, dopamina, serotonina

e endorfinas são algumas das inas que são

afetadas pelo amor e bagunçam com a gen-

te. Adrenalina acelera o nosso coração, a

dopamina nos dá sensação de felicidade, já

a noradrenalina é responsável pela química,

diríamos, um pouco mais caliente.

E infelizmente caros leitores, essas rea-

ções, como todas as outras que ocorrem em

nosso organismo, acabam sendo aliviadas

com o tempo, pois nosso corpo cria resistên-

cia a elas, e assim o amor acaba. Mas acal-

me-se, ele só acaba nas funções orgânicas!

O fogo do amor pode continuar aceso por

muitos e muitos anos.

A q

uím

ica

do a

mor

Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia.Que dor de coração eu tinhaPorque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra salaPra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,Ele não se importava:Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.

Porquinho-da-índia (Manuel Bandeira)

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@microcontoscos Dupla sertaneja cantando hino an-tes de uma final de futebol é como um grupo de pago-de abrir o festival de Barretos.

@ocriador Se Moisés houvesse ouvido sua esposa e parado para pedir informação, não teria vagado 40 anos perdido pelo deserto.

@verdadeirohomer Apenas ir à igreja pelo ato de ir, te faz tão cristão quanto ficar na garagem te tornaria um carro.

@Os_Vigaristas Quem nunca colou o dedo com Super Bonder, não sabe o que é teste de qualidade.

@rafinhabastos Tô p/ conhecer doméstica q curta rock. Aparentemente Amado Batista e detergente se completam.

@aiturrusgarai O sol nasce para todos. O guarda-sol, não.

@tiodino Hoje em dia beber socialmente é ir pro bar tuitar.

@marcoluque Tampa de privada rachada é o fim.. Mas a gente só lembra de comprar uma nova quando ela te belisca.

@millorfernandes Fiquem tranquilas as autoridades. No Brasil jamais vai haverá epidemia de cólera. Nosso povo morre é de passividade.

@jose_simao E o novo ministro da Pesca? Experiência profissional: Pescou um lambari no pesque e pague! Serve! Tá empossado!

@carpinejar Pior do que aquele que não muda de opi-nião é aquele que concorda com tudo.

@joicyfs A carência aqui tá tão forte que nem minha meia tem par.

@fabio_vas O açougue entrou em promoção. Ebaaaa-aaa!

@harpias o senhor é meu pastor e nada me faltará. JÁ TA FALTANDO BELEZA, SENHOR. VAMOS FAZER ESSE SER-VIÇO DIREITO.

@marcelotas Evo legaliza carros brasileiros roubados e contrabandeados pra Bolívia. É retaliação a FHC que quer legalizar as drogas?

TwittadasInteligência, humor, mau-humor, lirismo,

cinismo e acidez em 140 caracteres

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Antecipando resultados da nova pesquisa IBOPE sobre os times brasileiros: depois do sucesso da geração de Diego e Robinho no início dos anos 2000 e agora com o sucesso de Neymar e Ganso, a média de idade da torcida jovem do Santos caiu de 67 para 62 anos.

Efeito Neymar

Homens honrados

Nada como um dia após o outro com uma noite no meio. No governo petista da presidente Dilma, Sarney e Collor compõem com Ideli Salvatti a tropa de choque do governo. Com isso, corrige-se uma injustiça histórica. Os livros registra-rão a honradez destes homens íntegros e a importância do PT no resgate de suas imagens.

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Carlos Teixeira é gaúcho, natural de Ijuí, 43 anos, formado em jornalismo pela UFSM, mes-tre por Harvard e doutor pela Universidade de Columbia. É livre-docente na UFRJ e profes-sor visitante em Cambridge. E, acima de tudo, gremista.

Ronaldiiiiiiiiiiinnhhoo

Alunos de jornalismo devem assistir a entrevista que Galvão Bueno fez com Ronaldo no Esporte Espetacular do dia 12 de junho. É uma pós-graduação de como entrevistar sem fazer nenhuma pergunta, apenas praticando comentários, levantadas de bola, camaradagem e puxa-saquismo explí-cito. Aprendendo direitinho, um dia terão o maior salário da imprensa do país.