johnwesley_o evangelista

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    Joo Wesley, o EvangelistaDo original:John Wesley Evangelist 1958, Methodist Evangelistic Materiais

    1992, Imprensa MetodistaTodos os direitos reservados e protegidos

    pela Lei 5988 de 14/12/73

    1

    edio - 1960 2

    edio 1992

    Traduo:Osvaldo Ramos

    Imprensa Metodista

    Rua Vigrio Joo de Pontes, 766

    04748 So Paulo SPTel.: (011) 523-9622 Fax: (011)

    521-2825

    OBS:Para a presente edio on line do livroJOO WESLEY, O EVANGELISTA,

    foram feitos alguns pequenos ajustes natraduo para a lngua portuguesa e em

    alguns lugares colocados algumas

    observaes escritas em vermelho eentre parnteses que no fazem parte do

    livro original.

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    Joo Wesley,o Evangelista

    Francis Gerald Ensley

    S o P a u l o

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    Para Frank e Nellie Baker,que tm me mostrado um

    viver wesleyano

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    ndice

    Apresentao 9

    CAPTULO 1:Joo Wesley, poderoso evangelista 13

    CAPTULO 2:

    A redescoberta da redeno bblica 19

    CAPTULO 3:O desenvolvimento da experincia da redeno 33

    CAPTULO 4:A combinao de expanso e intensidade 49

    CAPTULO 5:A vitalidade disciplinada na evangelizao 65

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    Apresentao

    Existem dois movimentos bsicos no pulsar do corao deJoo Wesley: o derramar do amor divino em si e a ddiva do seuamor em favor do prximo.

    A ao evangelizadora uma ao do amor. Um atomotivado e impulsionado pelo amor de Deus e uma ddiva

    amorosa da totalidade de sua vida no compartilhar do amordivino s pessoas e comunidades.

    Por amar ardentemente o ser humano, Wesley desejavalevar-lhe, com todas as suas foras e com todo o seu corao, oamor redentor de Cristo. Amou a todos intensa e sinceramente,sem discriminaes, numa poca cheia de preconceitos,separaes, menosprezos e marginalizaes. Em especial, amouos abandonados, desprezados, pobres e desesperados,

    valorizando suas vidas e trazendo-lhes a esperana e o poder doevangelho de Cristo.

    Wesley cria no poder redentor da graa divina, expressopoderosamente em Cristo e testificado pelo Santo Esprito. Umaredeno no interior do ser humano e na totalidade da sua vida.Redeno bblica e evanglica; redeno em amor, poisevangelizar amar e partilhar o amor divino com as pessoas e

    toda a sociedade. E proclamar, vivenciar e sinalizar a "boa nova"do amor divino presente em Cristo e testemunhadapoderosamente atravs do Esprito Santo.

    Procurando rever, reavaliar e redespertar os cristos e osmetodistas para a relevncia e a paixo evangelizante, a EditoraMetodista, com o apoio do Colgio Episcopal, relana otradicional, motivador e sempre atual livro, Joo Wesley, o

    Evangelista.

    Este um momento oportuno para reencontrarmos nossahistria, nossa tradio e nossa identidade. H um significativo

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    "porqu" por trs do poderoso impulso evangelizador presenteem Wesley.

    Ao lermos Joo Wesley, o Evangelista, religaremos nossasvidas e a vida da Igreja Metodista (e crist) aos funda mentos

    bsicos da "experincia de Joo Wesley" e ao desenvolvimento daobra de renovao e restaurao iniciada por ele, seu irmoCarlos e um grupo significativo de irmos(s ). Reencontraremos,aqui, o sentido real do que significa uma experincia com Cristo;o crescimento dessa experincia no caminho da perfeio crist;a dinmica evangelizante presente na comunidade wesleyana;seu crescimento e sua vida disciplinada; as foras motivadoras esustentadoras desse "modo de ser cristo", com suas bases,

    valores e expresses.

    Mesmo tendo em mente as diferenas histricas e decontexto entre a poca em que Wesley viveu e a nossa,reconhecemos que o presente momento histrico, nacional emundial convida a Igreja, luz das realidades e dasnecessidades atuais, a uma ao dinmica, evangelizadora emissionria. A mesma fora e o mesmo esprito presentes no

    movimento wesleyano despertam-nos e motivam-nos a"reencontrar" a paixo e a dinmica evangelizante, junto daspessoas, dos grupos sociais, das comunidades, de toda asociedade humana. No contexto de crise, angstia, corrupo,opresso, dominao, ausncia de valores morais, injustia,carncia de verdade, amor, solidariedade e paz, a redenoevanglica tremendamente necessria. Redeno que devealcanar a todas as pessoas, a totalidade da vida e a vida emsociedade. O momento presente, crtico e desafiador, a "porta

    aberta" por Deus para o cristo e a Igreja. Evangelizar, semsectarismo. Evangelizar como um ato de amor, de ddiva, deidentificao e solidariedade. Evangelizar sem minimizar a pessoae sua cultura, sem desrespeitar a dignidade humana nemseqestrar a vida; ao contrrio, enriquecendo-a, transformando-acom o poder de Deus, atravs da ao viva do Esprito Santo.

    O centro do evangelho Cristo e seu amor dadivoso e

    reconciliador ao ser humano e todo o universo. O corao daevangelizao o amor de Cristo e seu poder transformador navida das pessoas, da famlia, da Igreja e de toda a sociedade.

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    Um fato significativo est presente na vida de Wesley eseus contemporneos metodistas: "Antes de evangelizar, ouconcomitantemente com o ato evangelizador, eles foram'evangelizados'. Essa a dinmica da evangelizao: aoevangelizar somos tambm evangelizados. Isto significa que a

    "boa nova do amor divino e sua expresso na vida humana" noso completas de nossa parte. Sempre carecem de algo novo daparte de Deus e do seu Esprito.

    Quando o cristo e a Igreja esto fechados em si mesmos,impedem as possibilidades transformadoras da graa divina. Namedida em que nos abrimos a Deus, ao prximo, evangelizaoe misso, h uma contnua novidade de vida oriunda do

    Esprito que nos alcana.

    Wesley viveu essa realidade. Ao evangelizar foi"reevangelizado". Sua vida foi continuamente renovada peloEsprito. A boa nova divina algo sempre dinmico etransformador. No existe uma etapa final; sempre contnua eprogressiva.

    A nossa esperana que, ao lermos e estudarmos JooWesley, o Evangelista, possamos experimentar um grandedespertamento evangelizador na Igreja Metodista e em todas ascomunidades crists. Ao mesmo tempo, esperamos que ocorraem ns, entre ns e atravs de ns, uma experincia dinmica de" reevangelizao".

    Oramos para que, apesar da distncia histrica, docontexto social e eclesial, de linguagem e cultura, o Esprito do

    Senhor possa atuar de forma enriquecedora e una na vida dopovo chamado metodista, renovando, poderosamente, suavocao evangelizante.

    Bispo Nelson Luis Campos Leite,

    So Paulo, 23 de junho de 1992.

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    Captulo I

    Joo Wesley, poderoso evangelista

    Joo Wesley um dos mais poderosos evangelistas dahistria crist, quer o avaliemos pelo volume de seus trabalhos,quer pela rapidez do movimento, pelo impacto de sua vida sobretodos os tempos ou pela durabilidade dos efeitos.

    Com respeito ao nmero dos convertidos vida crist, oministrio de Wesley impressionante, mesmo em nossos dias dealgarismos astronmicos. Quando Wesley faleceu, havia 70 milmetodistas, s na Inglaterra. Talvez outros 70 mil tenham falecidona f metodista durante sua longa carreira. Ter conduzido tantaspessoas da escurido luz, ter levado tantos de um tipo de vida aoutro, tudo o que isto significa em termos de relaes humanas digno do nosso maior respeito. Estes metodistas foram, maistarde, pastoreados por um grupo bem organizado de 550pregadores itinerantes, para no mencionar talvez trs vezes essenmero de pregadores locais, muitos dos quais orientadospessoalmente por Wesley. pouco provvel que tenha existidouma comunidade em toda a Gr-Bretanha sem um grupo detestemunhas do gnio evangelstico de Wesley. Quem, na histriacrist, pode atingir a magnitude de seu trabalho?

    To espantoso quanto o tamanho a rapidez com que omovimento wesleyano se espraiou. De um pequeno grupo quese reunia em classes e, Oxford e Londres em 1738, os metodistas

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    atingiram, conforme dissemos, um nmero superior a 70 mil naGr-Bretanha, no fim do sculo. O Metodismo tinha saltado oAtlntico e quase 65 mil norte-americanos consideravam-seseguidores de Wesley. O crescimento do Metodismo nos Estados

    Unidos mostra a rapidez com que o evangelismo wesleyanoavanava. Em 1773, havia 1.160 metodistas arrolados nosrelatrios da conferncia. Em 1784, o ano da histrica Confernciade Natal, em Baltimore, o nmero era 14.988. Seis anos depois, orecenseamento mostrava que esse nmero havia quasequadruplicado, chegando a 57.631. De 1773 a 1790, a populao daAmrica, aumentada pela imigrao, havia crescido 75 por cento,

    enquanto o nmero de metodistas havia aumentado mais de 5.500por cento. O crescimento geogrfico era to surpreendente quanto ocrescimento numrico. Nos cinqenta primeiros anos aps a mortede Wesley, havia congregaes metodistas missionrias nosomente na Europa, mas na frica, na Austrlia, nas ilhas dosmares. Por volta de 1840, o movimento metodista haviareproduzido, apenas em suas misses, toda a fora numrica de seu

    primeiro meio sculo.O dr. Newton Flew, um ilustre telogo metodista ingls,

    compara o surgimento do Metodismo a um rio que nasce de umafonte misteriosa sob uma velha catedral. Um quarto de milhadepois de sua nascente, o rio cresceu tanto e to forte que fazfuncionar um grande moinho. Foi assim que o movimento

    evanglico wesleyano veio ao mundo: com uma rapidez incrvel,semelhante ao da Igreja Primitiva.

    Considere-se tambm o impacto do evangelismo deWesley na vida da Inglaterra. Aparentemente, as multides queele reuniu foram as maiores na longa histria religiosa do Reino.Provavelmente ele tenha sido ouvido por mais pessoas durante suavida que qualquer outro ser humano at o advento do rdio. Asexcitaes emocionais e os fenmenos de massa se comparam aosde Jonathan Edwards e os reavivamentos de Northampton, numaescala maior.

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    Mas a influncia de Wesley foi mais profunda do que umrecenseamento popular pode avaliar. Ele tirou a Igreja daInglaterra de sua sonolncia. Onde ela era mundana e corrupta ele

    levantou-a para novos padres de espiritualidade. Conformeescreveu Richard Green, o famoso historiador, Wesley e seusmetodistas "acabaram com o clrigo ausente e caador de raposa".Nos aspectos em que a Igreja havia se tornado dura e dogmtica,sua nova nfase do evangelho suavizou o conceito mecnico esevero de Deus e Suas relaes para com o mundo, mitigando aortodoxia. Ele inflamou a Igreja com novo zelo missionrio; as

    Sociedades Bblicas estrangeiras e britnica, a Sociedade deTratado Religioso, a Igreja e as Sociedades Missionrias deLondres devem muito iniciativa de Wesley. Ele derreteu osentimento religioso congelado da Igreja Anglicana e o derramouem novos moldes, estampando-o novamente com significadoespiritual.

    Wesley mudou o clima espiritual da Inglaterra. Quandosurgiu em cena, a Bretanha estava nas garras de uma Idade doGelo, mais conhecida na histria como a Idade da Razo.

    Muitos consideravam mortas a organizao eclesisticabem como a vida crist. At o bispo Butler, famoso prelado eadversrio de Wesley, confessou: "Muitas pessoas chegaram

    agora concluso de que o Cristianismo fictcio", ao mesmotempo em que uma ilustre personagem em visita s IlhasBritnicas, o ensasta francs Montesquieu afirmou que quemdiscutisse religio na Inglaterra do sculo XVIII seriaescarnecido.

    A moral era correspondentemente baixa. Os estadistasproeminentes eram incrdulos e sobressaam-se pela condutairregular, enquanto as massas pobres eram ignorantes e brutaisnum difcil grau de descrio. Wesley e seus evangelistastrabalharam to eficientemente que o sculo seguinte, a Idade

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    Vitoriana, representa o triunfo do ethoscristo como o reinado deum soberano poltico.

    Do solo da Inglaterra e do clima produzido pelo

    Metodismo, cresceu uma safra humanitria que seria sua glria.Citando Green mais uma vez: "O mais nobre resultado doreavivamento metodista foi a tentativa constante, que jamaiscessou, desde aquele dia at os dias de hoje, de remediar a culpa,a ignorncia, o sofrimento fsico, a degradao social dosperdidos e dos pobres... Produziu uma nova filantropia quereformou nossas prises, infundiu demncia e sabedoria s nossas

    leis penais, aboliu o trfico de escravos e deu o primeiro impulso educao popular".

    A melhor evidncia do modo pelo qual Wesley modificouo clima espiritual da Inglaterra a mudana de atitude de seuspatrcios para com o prprio evangelista. No dirio de Wesleytemos um registro de quatro visitas bem espaadas que ele fez a

    um velho porto martimo de Falmouth, em Cornwall. Elasrefletem a influncia moderadora do reavivamento naquele lugar.

    A primeira visita de Wesley foi em 4 de julho de 1745,quando seu movimento estava apenas comeando. Ele haviacavalgado at a cidade para visitar uma mulher doente quandouma multido, formada principalmente por marinheiros do porto,

    reuniu-se do lado de fora da casa. Berrava ordenando-lhe quefosse l para fora. Visto que ele no os atendeu, atiraram-se contraa casa e tiraram a porta dos gonzos. Embora Wesley julgasse quesua vida no valesse nada naquele momento, enfrentou a multidocom sua calma habitual. Pediu uma chance para falar e a conteveat que algumas pessoas da classe alta o socorreram, levando-oem segurana abordo de um navio Foi uma visita curta.

    Sua segunda visita foi dez anos depois, em 2 de setembrode 1755. No houve motim desta vez, nem necessidade de escaparpara salvar a pele. A Sociedade Metodista havia construdo um

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    edifcio por essa poca e Wesley nos conta que pregou a umacongregao "profundamente atenta".

    Foi a Falmouth pela terceira vez, quinze anos depois, em

    30 de agosto de 1770. Desta vez ele no pregou no edifciometodista, mas perto da Igreja Anglicana. Ele registra que falouao maior nmero de pessoas que jamais vira, com exceo damultido, h 25 anos.

    Sua ltima visita foi em 18 de agosto de 1789. Deixemosque seu Dirio fale sobre aquele dia:

    tarde, como no pudssemos passar pela estradacomum, procuramos passar por alguns campos e chegamos aFalmouth em boa hora. Na ltima vez em que aqui estive (elese esquecera das visitas calmas feitas neste intervalo), cercade quarenta anos atrs, fui aprisionado por uma imensamultido que rugia como lees. Mas como as coisas esto

    diferentes agora! Grandes e pequenos alinham-se na rua deuma extremidade a outra da cidade, em amor e bondade,clamando uns, espantados outros, como se o Rei estivessepassando. tarde preguei no topo da montanha, a pequenadistncia do mar, maior congregao que j vi em Cornwall,exceto em Redrath , ou perto desta cidade. E no tenhopresenciado tal acontecimento desde que voltei da Irlanda.

    Deus agiu maravilhosamente nos coraes das pessoas, demodo que todos parecem conhecer o dia de sua visitao.

    De um violento antagonismo, passando pela ateno,depois para a aceitao e, finalmente, para a adulao esta foi atrajetria do progresso de Wesley em Falmouth e em quase toda aInglaterra.

    Finalmente, o evangelismo de Wesley no apresentaapenas o volume, a rapidez da realizao e a fora do impacto,mas satisfaz o mais severo critrio a permanncia dos efeitos.

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    Certa vez, Wesley disse que no esperava que seu movimentodurasse mais de uma gerao, talvez trinta anos. Mas j sepassaram mais de dois sculos, e h poucos sinais de senilidade. Oefeito mais tangvel, naturalmente, a Igreja Metodista, a terceira

    denominao protestante do mundo. De acordo com estimativascriteriosas, h pelo menos vinte e trs milhes de metodistas.Algumas fontes afirmam haver trinta milhes. Est estabelecida emtodo o mundo e ainda evidencia, pelo menos, alguns traos davitalidade que abalou a Inglaterra do sculo XVIII.

    As causas s quais o pai do Metodismo entregou-se, alm

    da evangelizao, foram a educao popular, a filantropia, areforma social, a emancipao do negro e a paz mundial. E tudoisto ainda do interesse de seus filhos. Tem havido outrosreavivamentos que, por um breve perodo, aproximaram -se domovimento wesleyano quanto intensidade. O GrandeDespertamento na Amrica comparou-se a ele em seus efeitos naeducao e nos interesses pblicos. Mas, que evangelista pode

    reinvidicar para suas obras conseqncias to permanentes e vidato contnua como o pequeno professor de Oxford, que deixousuas aulas para salvar as almas dos mineiros da Inglaterra dosculo XVIII? Levando-se em conta todas as dimenses, o maiormovimento espiritual do Cristianismo moderno foi oimpulsionado por Wesley.

    Qual foi o segredo de Wesley? Que podemos aprender delepara nossa instruo? O que explica, no somente o alcance doReavivamento Metodista, mas tambm seus efeitos duradouros?Em que poderamos imit-lo que tornasse possvel umrenascimento do poder espiritual em nosso sculo to necessitado?Ningum pode responder a estas perguntas com segurana, nem demodo completo, porque os motivos profundos esto com Deus; ovento do Esprito ainda sopra. No entanto, houve quatro fatores quetransformaram Joo Wesley na fora evangelstica que ele foi. Opropsito deste livro expor esses fatores.

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    Captulo II

    A redescoberta da redeno bblica

    Certamente, a realizao de Wesley no pode ser explicadasem que se mencione, antes de tudo, sua redescoberta daexperincia bblica da redeno. Wesley sempre insistiu acompanhado da maior parte dos grandes reformadores que noestava trazendo qualquer novidade. Estava apenas restaurando "avelha religio bblica". Seu movimento, a seu ver, era apenas um

    restabelecimento do Cristianismo do Novo Testamento.

    E qual a marca registrada da religio bblica? AsEscrituras falam, naturalmente, com muitas vozes. Mas um temaque ressoa desde o Gnesis at o Apocalipse, a mensagem daredeno: que o ser humano precisa ser salvo, que vale a penasalv-lo, que ele tem um Salvador e, portanto, pode ser salvo.

    Todos os livros da Bblia proclamam a pecaminosidade e loucurado ser humano. No entanto, Deus deseja salv-lo, apesar de suahistria lamentvel, porque h nele algo digno, algo divino.

    As Escrituras registram as distncias que Deus tempercorrido para recuperar a "imagem divina", e o NovoTestamento, especialmente, testemunha o seu resultado feliz. A

    Bblia o relato cronolgico de homens e mulheres a quem Deustransformou: o gago Moiss, num poderoso homem de estado;Jac, o suplantador, num prncipe de Israel; Isaas, um homem delbios impuros no arauto de um redentor; Mateus, um coletor de

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    impostos no escritor de um Evangelho; a mulher samaritana deJoo 4, uma mulher decada beira de um poo numamissionria; Paulo, um perseguidor implacvel, feroz, no autor dohino de amor em 1 Corntios.

    O mrito de Wesley que ele redescobriu este fatoprimeiro para si mesmo, e depois o comunicou sua gerao. Odia da experincia de Aldersgate, que consideramos a data doincio do Metodismo, uma continuao do momento em queIsaas se sentiu transformado e do instante em que Paulo teve oencontro significativo na Estrada de Damasco.

    Eu disse que Wesleyredescobriu a redeno bblica. Isto verdade, porque a noo de redeno tinha se evaporado doCristianismo do sculo XVIII. O senso da presena de Deus - afonte da experincia evanglica - estava ausente. O sermo dapoca era um ensaio moral lido sem ardor. Havia pouco nosermo que despertasse esperana, temor ou amor, e nada que

    atrasse ou salvasse os perdidos. O pregador dessa poca noesperava que algum fosse "salvo" como conseqncia de suahomilia; portanto, claro que ningum o era. O pregador seria oprimeiro a surpreender-se diante de uma transformao repentinade carter em seu ministrio; e, se a mudana fosse acompanhadade emoo, ele ficaria bastante aborrecido.

    E foi no meio do congelamento rtico de tal poca que ocorao de Wesley foi "estranhamente aquecido". Num mundoinadequado ao evangelismo, ele experimentou a salvao.Naturalmente, sua experincia de redeno no foi a de umamisso Bowery (a Misso aos alcolatras de um bairro de NovaYork). Aldersgate no o livrou da luxria, da bebedeira ou dacriminalidade. No representa a converso aos preceitos de Cristo,

    ou um retorno da indiferena religiosa. Aldersgate marca uma ondacontrria aos inimigos espirituais que o flagelavam. No difcilenumer-los. Um deles era a concepo legalista da religio queprofessava. Esforava-se para ser bom e naturalmente falhava

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    mas Aldersgate o livrou desta necessidade. A interpretao quemais tarde Wesley deu a essa experincia que ele passara dacondio de servo de filho. Sua condio no era a do filhoprdigo, que se atirou penitentemente aos ps do pai

    misericordioso. Era a condio do irmo mais velho que estiveratrabalhando inutilmente na casa do pai, sem sentir os privilgios doamor.

    No incio, Wesley experimentou a graa que aceita ainteno das obras, que faz concesses s omisses humanas econsidera cada manh um novo dia. Wesley chegou a Aldersgate

    como uma vtima da fadiga espiritual que finalmente apanhaaquele que aspira perfeio . O que lhe aconteceu naquelareunio de orao amplamente sugerido pela recente traduoindiana do Salmo 23, "Ele ungiu minha cabea com leo": "Elepe Sua mo sobre minha cabea e o cansao se vai".

    Outro inimigo espiritual foi a indiferena emocional. O

    senso do dever, que lhe era to caracterstico, pesava sobre elecomo uma armadura. Sua religio era antes um peso do que algoque trouxesse alvio. Ele ansiava por algo que nutrisse sua vidaemocional. Desejava, talvez inconscientemente, algo quetrouxesse satisfao a seus sentimentos, porque realmente novivemos enquanto no sentimos. Aldersgate alijou a fraquezaemocional que to freqentemente acompanha "a noite do

    legalismo" (uma expresso utilizada por Wesley para descreveros que ainda no tinham passado por uma experincia pessoal def, cf. Gl 3.19ss) .

    Uma vez mais, Wesley estava tendo problemas com seusinimigos. Ele nos conta que o primeiro efeito tangvel doaquecimento do corao foi que ele comeou a orar "com todas as

    minhas foras por aqueles que me haviam, de maneira especial,perseguido e caluniado". Provavelmente ele j havia orado porWilliamson, Causton, Sofia Hopkey e outros que o haviamhumilhado na Gergia. Mas agora ele o fazia com "todas as suas

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    foras". O corao juntou-se numa desinibida vontade no amor cristo.

    Se compararmos, usando uma imagem bem crua e, primeira vista, at inepta, Aldersgte foi para a carreira (cf. 2 Tm

    4:7) de Wesley o que uma plataforma giratria, ao final daviagem, para uma locomotiva. Ela marca o fim de uma viagem eo incio de outra. A locomotiva vai percorrer o mesmo caminhode onde veio. Durante a volta, a pessoa percorre o mesmoterritrio , pra nas mesmas estaes, acompanhad a das mesmaspessoas, no entanto, tudo diferente, porque as paisagensanteriores so vistas sob nova perspectiva, devido mudana de

    direo. medida que Aldersgate se perdia no tempo, parecia termenos significado para Wesley. Mas esse acontecimento marcouo incio do fim da religio legalista, da frieza emocional e doorgulho enfadonho, frente crescente satisfao da f que agepelo amor. Foi uma experincia verdadeiramente redentora emnvel de Wesley.

    Sua descoberta foi, sem dvida, crucialmente importantepara ele. Para uma coisa ela o inflamou: para a tarefaevangelstica. Sempre que o ser humano se aproxima de Cristo, ovelho drama se reinicia: Cristo o transforma em pescador dehomens. Ele evoca a urgncia da evangelizao ao revelar suaprimordial importncia. Ao ser colocada em prtica, o senso desua importncia cresce.

    Um hoteleiro, em cujo estabelecimento Wesley parou certavez, perguntou-lhe quanto ganhava por ano para pregar. Depois decitar certa quantia, Wesley acrescentou que sua recompensaprincipal era a certeza de que por sua pregao muitas pessoasestavam sendo salvas. O hoteleiro ficou mudo de espanto. Noentanto, para aquele que havia experimentado a salvao, estaresposta era perfeitamente compreensvel. O encontro mstico deWesley em Aldersgate preparou-o para compreendersimpaticamente as experincias de seus seguidores incultos, cujasrelaes com Deus ficavam quase sempre em nveis baixssimos.

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    De seu contato com a redeno surgiu a poderosadedicao de sua vida. Ela fez dele o que Rufus Jones costumavachamar "uma pessoa de um nico objetivo" "Esta coisa fao".

    Ela foi o foco de sua vida e tornou tolervel o sacrifcio que suacarreira lhe traria.

    "No por prazer que a esta altura de minha vida viajo trsou quatro mil milhas por ano", escreveu para o Dublin Chronicleem 1789. No, no era por prazer, e, sim, pela paixo de sermediador da divina graa que havia abenoado tanto sua prpria

    vida. Esta paixo subtraiu-o das salas de aulas, das campinas e "daamabilidade esculpida que Oxford", para servir s massas;preparou-o para seus encontros com as multides hostis. Manteve-o firme quando seus prprios seguidores pareciamdesesperadamente perdidos. No, no era por prazer que semantinha firme no trabalho, mas pelo anseio de compartilhar oque de mais profundo possua em sua prpria vida, que conservou

    para sua tarefa".

    A descoberta de Wesley no lhe deu somente a inspiraonecessria para o trabalho; ela o supriu com uma certezainabalvel da qual ele partia e qual recorria em momentos emque era atacado e repudiado. Estava convencido de que o pecado a raiz dos males da vida e sabia que o ser humano podia ser salvo.

    Quando os crticos levantavam dvidas quanto validade de seusensinos, ele se referia sempre ao testemunho do homem citado noEvangelho de Joo que se havia lavado no Poo de Silo: "Eu eracego e agora vejo". E quando um bispo anglicano argumentou queWesley no tinha o direito de pregar o evangelho, dizendo: "Eu (obispo) desconheo sua ordenao para pregar de um lado paraoutro, fazendo a obra de um evangelista itinerante", Wesley

    retrucou: "Talvez o senhor desconhea. Mas eu sei, eu sei que Deuscolocou isto em minhas mos".

    Um grego disse: "D-me um fulcro (base, ponto de apoio,

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    suporte) onde firmar minha alavanca e moverei o mundo". Aexperincia da redeno foi o fulcro de Wesley.

    A descoberta de Wesley foi de importncia decisiva no

    somente para si prprio, mas para as pessoas a quem ele pregava.Essa descoberta proveu-lhes com o tipo de religio que pode serexperimentada. Era emprica, verificvel. A religio tradicionalensinava que Cristo havia realizado uma grande obra por ns.Wesley revelou o que Cristo pode fazerem ns. Ele proclamouum tipo de salvao que pode ser conhecido, e em dois sentidos.

    Primeiro, ela pode ser conhecida interiormente peloprprio praticante. Ela pode ser sentida. H uma percepo direta.Em seu conhecido sermo "O Testemunho do Esprito", Wesleypergunta:

    "Como se pode distinguir a luz da escurido; ou aluz de uma estrela, de uma vela incandescente, da luz do sol

    do meio-dia? Quando nossos sentidos so sadios,percebemos a diferena. Do mesmo modo, uma pessoa sabeimediatamente se est habitando na luz espiritual ou naescurido, se seu corao est incandescente de gratidopara com o Doador de toda a boa ddiva e se est aquecidocom benevolncia para com toda a humanidade ".

    Em segundo lugar, e ainda mais significativo, Wesleypregou um tipo de religio que pode ser conhecido externamentepelos outros alm do praticante. Ele no somente oferecia certezasubjetiva, mas exigia validade objetiva. Sua religio supria oshomens com fora moral, com um poder to decisivo paraconquistar as coisas que os havia derrotado, que qualquerobservador imparcial com dois olhos no rosto poderia verificar

    isto.Seu dirio uma exposio viva de homens e mulheres

    cujas vidas haviam sido renovadas pelo evangelho. Nele h o

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    relato de um barbeiro que passou doze meses sem beber, emboratenha sido "um dos bbados mais conhecidos de toda a cidade" atencontrar-se com Wesley. H um tropeiro a caminho do prostbuloque, convidado por um metodista para participar de um culto de

    viglia, sai de l se regozijando no caminho estreito. H um esposoque testifica que os metodistas silenciaram a lngua rabugenta desua esposa. H uma pobre alma desesperada, afastada do suicdio.No de se admirar que este tipo de religio, capaz de operar taismilagres morais, tenha se espalhado pela Inglaterra.

    Este tipo de religio, reproduzvel na experincia de todo

    ser humano, teve uma tremenda fora apologtica sobre osespritos confusos e indiferentes do sculo XVIII e ainda o temem nosso prprio sculo. At mesmo o homem iletrado, quandointerpelado sobre as doutrinas de Wesley, poderia dizer como omontanhs de Kentucky, quando lhe perguntaram se cria nobatismo infantil. "Se creio? Homem, j assisti a um!"

    Assim aconteceu quando o bispo de Londres perguntoupelas credenciais de Wesley. E este escreveu em rplica:

    Pelos frutos conhecerei... a nuvem de testemunhos,que a este tempo experimenta o evangelho que prego, oevangelho que o poder de Deus para a salvao. O beberrohabitual de antes agora temperado em todas as coisas. O

    libertino agora foge da fornicao. O que roubava, no roubamais, mas trabalha com suas prprias mos. Aquele queblasfemava ou jurava, talvez em cada sentena, aprendeuagora a servir ao Senhor e a regozijar-se nele com reverncia.queles antes escravizados a vrios hbitos pecaminososforam trazidos novos hbitos de santidade. Estes fatos sodemonstrveis. Posso citar os nomes destes homens e seus

    respectivos endereos. Este tipo de evidncia de f irretorquvel. Colocando a

    questo num ngulo ligeiramente diferente, o evangelismo

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    wesleyano ganhou a aceitao do mundo porque oferecia spessoas no melhor sentido aquilo que elas desejavam.

    No fundo, a humanidade deseja, mais que tudo, ser salva.

    Naturalmente, o ser humano est quase sempre cego quilo de querealmente precisa e mais cego ainda quando encontra a respostaexata aos seus anseios. No entanto, a vasta maioria da raahumana vtima do mal. Seu carcereiro pode ser o lcool, ocigarro, a tendncia fofoca, o temperamento, a insegurana, ofracasso vocacional, o sentimento obcecado sobre a inutilidade davida. Qualquer que seja sua priso, todos os filhos de Ado tm

    um desejo comum, profundo, de libertao.

    O pregador de uma religio que pode prometer a libertaodestes males, que pode oferecer a vida eterna, que pode persuadira humanidade, e pode cumprir estas promessas esse pregadortem o mundo em seu bolso (tem controle e vantagem na situao,avantaja-se, progride, vence, tem sucesso em sua empreitada).

    Aqui est o segredo do poder de Wesley. Nas palavras do bispoWatkins, ele libertou milhares de homens, das coisas que osescravizavam.

    Uma experincia de redeno como esta que vimosexpondo, pressupe, naturalmente, um Deus muito prxi mo dens. O nico Ser que pode cooperar para a nossa salvao

    Aquele que se interessa pelos problemas humanos. Um Salvadordeve estar pronto a atender s necessidades humanas, ou entono um Salvador. Para usar o termo filosfico, um Deussalvador deve estar "imanente" em sua criao. Deve residir emseu mundo do mesmo modo como um esprito habita um corpo.No deve to somente ser onipresente em seu auxlio, mas estarprximo em simpatia. Deve sentir nossas enfermidades. Mais que

    tudo, deve possuir o poder de revelar -se em termos que ainteligncia finita possa compreender.

    Somente um Deus que est prximo de ns em presena,

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    em simpatia e em revelao est apto a nos auxiliar quando asaflies nos oprimem. Um Deus distante no ser de valia quandose trata de salvar uma raa atolada na lama. A impotncia dodesmo do sculo XVIII devia ater-se a este ponto.

    Porm, o Deus de Wesley estava perto dos homens, svezes embaraosamente perto. Temos a impresso de que oSenhor estava sempre junto ao cotovelo de Wesley, para validaras suas oraes. Ele nos conta que em Yarm a chuva cessoudepois de dois ou trs minutos em resposta orao. EmNewcastle, a chuva ameaava cair, mas no caiu enquanto o

    pregador no terminou o sermo chovendo depois,abundantemente.

    Wesley comenta: "Como Deus regula bem o tempo dospequenos e dos grandes eventos, para o avano do seu reino!".Em Newell-Hay: "No momento exato em que comecei a pregar, osol saiu e brilhou fortemente sobre minha cabea. Percebi que, se

    continuasse, no poderia falar durante muito tempo e elevei meucorao a Deus. Em um minuto ou dois o sol estava coberto pornuvens, permanecendo oculto at o trmino do culto. Aquele quepreferir pode chamar isto de acaso. Eu chamo de uma resposta orao".

    Durante uma viagem de volta ao continente, vindo da Ilha

    de Alderney, seu barco comeou a ser impelido para as rochas.Wesley orou e o vento mudou de direo tirando-os dadificuldade. Mais tarde, quando o navio acalmou, todos seentregaram orao. O vento continuou soprando e os levou paraa terra a salvo. Ele salvou um edifcio do fogo por meio daorao. Em outra ocasio memorvel, orou por seu cavalo coxo,que algum lhe disse estar irremediavelmente aleijado, e o cavalo

    melhorou enquanto caminhava.Esta teologia da imanncia era deliberada da parte de

    Wesley. As Escrituras falam de um Deus paternal, de um Ser

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    providencial. Para Wesley, no havia sentido em falar sobre umaProvidncia, a menos que se tratasse de uma Providnciaespecfica. Afirmamos que Deus Criador. Mas Ele no criou deum modo geral. Criou seres especficos: o dr. Fletcher de

    Madeley, os penhascos brancos de Dover, o cavalo branco queWesley cavalgava. Deus Conscincia. Se Deus Conscincia,Ele tudo conhece; e conhecer realmente imbuir-se dos detalhes.

    A mente que conhece de modo generalizado, mas nodomina as particularidades, no digna de ser chamada divina.Deus Amor. Mas o que ama de verdade no ama a humanidade

    de modo geral. A afeio de Deus focaliza o indivduo emparticular. Deus Redentor. Por toda analogia ele est interessadoem pessoas particulares e emprega ocasies expressas e meiosdefinidos para salv-las. Isto significa que Ele deve estar perto dasua criao, onipresente nela. Quando Wesley elaborou instruespara o ensino religioso das crianas, advertiu contra ageneralizao da educao religiosa. Ao contrrio, ele admoesta:

    Desde os primeiros albores (alvores, as primeirasluzes, alvorada) da razo inculque (repita com insistnciapara gravar na mente e no esprito, aprenda e/ou ensine,descubra e/ou aconselhe) continuamente que Deus est aqui eem toda parte. Deus fez a voc, e a mim, e a terra, e o sol, alua, tudo. E tudo dele: o cu, a terra e tudo que neles h.

    Deus ordena todas as coisas. Ordenou ao sol que brilhasse, aovento que soprasse e s rvores que dessem frutos. Nadasurgiu por acaso. Esta palavra tola: o acaso no existe.

    Ou, como ele escreveu em outro lugar:

    Deus est em todas as coisas e... devemos ver o

    Criador em todas as criaturas: no deveramos usar ou olharnada como algo separado de Deus, porque isto, na verdade, um tipo de atesmo prtico; mas, com verdadeiramagnificncia de pensamento, pesquise os cus e a terra e

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    tudo que neles h, como se estivesse no cncavo de sua mo,o qual pela sua presena ntima mantm-nos em existncia, oqual penetra e atua em todas as criaturas e que , na verdade,a alma do Universo.

    Inquestionavelmente, uma viso imanente de Deus talcomo a de Wesley um escndalo para a teologia dominante donosso tempo. A moda, agora, enfatizar a transcendnci a deDeus.

    Naturalmente, Wesley tambm acreditava na

    transcendncia de Deus, porque reconhecia que a deidade algomuitssimo alm do ser humano, objetivamente real, e no umasimples projeo do nosso pensamento. No entanto, pode-se dizer,e isto favorece Wesley, que dificilmente surge um reavivamentoredentor baseado na transcendncia de Deus. Um ser, como adeidade de Karl Barth, que permanece em "infinita diferenaqualitativa" da criao, est demasiado longe para medicar os

    males do ser humano. O universo sideral, com toda sua extenso, uma prova da infinitude de Deus e aniquila a centralizaodivina ao redor do ser humano, mas a proximidade de Deus queelabora a salvao do homem.

    Para concluir esta seo, que podemos ns fazer pararestaurar o poder redentor do Metodismo primitivo? s vezes

    ouvimos pessoas devotas orarem por outra experincia como a deAldersgate. Se temos conscincia do que pedimos, na plenitude desuas dimenses, uma splica legtima. E improvvel, no entanto,que a experincia redentora, da qual Aldersgate um altosmbolo, seja alcanada por meio da petio. A salvao nosentido espiritual vem por meios indiretos. Ningum pode sersalvo simplesmente porque assim o deseja, como no pode

    resolver esquecer alguma coisa a resoluo chama pelamemria. Se a vontade fosse a nica exigncia, a experincia deAldersgate no teria sido necessria, pois a Wesley no faltavavontade. No podemos racionalizar nosso caminho para a

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    redeno. A salvao no vem pelo esforo, mas pelo contatontimo com o Salvador.

    Aqui est a importncia do estudo bblico. Se quisermos

    reproduzir a experincia de Aldersgate em nossa poca, devemosnos expor s foras espirituais que a evocaram pela primeira vez,das quais as Escrituras so as mais importantes. Em suastentativas para explicar o Pai do Metodismo, os eruditos tmnegligenciado talvez o mais potente fator de todos - a Escritura naqual ele verdadeiramente viveu, se moveu e teve seu alimentoespiritual. A experincia de Aldersgate no veio a uma borboleta

    humana (um borboleteador, algum que voava" e vagueavasuperficialmente" pela Bblia, incapaz de fixar ateno) mas a umsincero estudioso da Palavra de Deus. Tanto seu pai quanto suame haviam escrito livros sobre a Bblia; assim, ele aprendeusobre as Escrituras desde cedo em sua vida. Ele nos conta que emseus dias de estudante resolvera ser um "homo unius libri"(homem de um nico livro). Sabemos que ele esquadrinhou

    especialmente o Livro de Atos, com seus relatrios sobre idade deouro da Igreja Primitiva. Leu Romanos com suas declaraesvivas da experincia de Paulo. Estudou o Sermo do Monte comsuas injunes perfeio. Como poderia uma alma sensvel epesquisadora expor-se experincia e mensagem do Senhor dosApstolos sem ser possuda por um desejo apaixonado dereproduzir os sinais e maravilhas daqueles dias primitivos?

    A Bblia entra bem fundo no cerne da experincia deAldersgate! Em 24 de maio de 1738, Wesley consultou duas vezesa Bblia, uma vez em 2 Pedro, outra em Marcos 12. tarde ouviuo coro da Igreja de So Paulo cantar o Salmo 130. Mais tarde(muito significativamente) durante a leitura do comentrio deLutero sobre a Epstola aos Romanos, Wesley teve seu corao

    aquecido. Note como ele descreve sua experincia quaseinteiramente em termos bblicos. Ele sentiu que havia sido salvo"da lei do pecado e da morte" (uma expresso paulina). Comeoua orar por aqueles que "o perseguiam e o caluniavam" (uma

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    citao direta de Mateus). Fala sobre o estar sob a lei e a graa(categorias paulinas). Depois diz que em Aldersgate passou deservo a filho reminiscncia da parbola do Filho Prdigo.

    As idias (expresses ) bblicas eram as moedas com queseu esprito fazia transaes e refletem os longos e duros laboresna sua aquisio.

    Sempre pensamos na funo reguladora das Escrituras. Oprprio Wesley a concebia deste modo. No devemos esquecer,contudo, sua funo geradora.

    As Escrituras Sagradas tm o poder de evocar a fome e asede de justia e tambm a comunho com Aquele que podeatender s nossas necessidades, condio essencial para acomunho com Ele. No podemos desejar ter uma experinciareligiosa. Mas, pelo estudo fiel das Escrituras, podemos colher alenha, confiantes de que Deus prover o fogo em tempo certo.

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    Captulo III

    O desenvolvimento da experincia daredeno

    O poder evangelizador de Wesley nasceu no somente desua redescoberta da experincia bblica da redeno, mas do fatoposterior de estender as implicaes da experincia em todas asdirees. Ele a desenvolveu completamente universalizou-a,

    eternizou-a, em trs aspectos.

    1- Estendeu-a vida toda.

    Wesley teria concordado com D. L. Moody em que sercristo no exige muito da pessoa; exige tudo, absolutamente

    tudo. A salvao mais do que uma mera resposta a um chamado. mais do que o perdo dos pecados. E mais que a "justificao",para usar a linguagem da teologia. Ela deve levar santificao.

    s vezes a converso chamada de "novo nascimento".Mas, para que serve o novo nascimento, se depois de nascer apessoa no vive? Como trgico nascer e nunca crescer,

    permanecendo a vida toda um ano religioso, um idiota espiritual.

    Em nosso desenvolvimento religioso comeamos a

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    conhecer a Cristo atravs do nosso contato com as Escrituras ecom a comunidade crist. Depois, o aceitamos pela f, que ocorrena converso. Finalmente, o incorporamos; reproduzimos tantoquanto nossa natureza o permite a Encarnao que estava nele.

    Os dois primeiros estgios ficam incompletos sem oterceiro. Wesley nunca se cansava de dizer s suas sociedadesvacilantes que elas nunca prosperariam enquanto no pregassem eavanassem da converso santificao.

    Wesley identificava a santidade com a plenitude. Nos

    primrdios de sua obra ele falava da "ausncia de pecado" comosinnimo de "santidade". Mas ele nunca afirmou ser "isento depecado" e teve tantos problemas em suas sociedades com os "no-pecadores" professos, que sua nfase tendia a tornar-se silenciosa.Quando, finalmente, suas idias se cristalizaram, a santidadepassou a significar completa dedicao da vida (a mente, ocorao, a alma e as foras) ao servio do Senhor. o

    oferecimento de todos os pensamentos, palavras e aes como umsacrifcio espiritual.

    Em duas de suas bem conhecidas cartas, Wesley definiu aperfeio crist de cinco maneiras diferentes:

    1. "Amar a Deus de todo o corao."2. "Ter um corao e vida completamente devotados a Deus."

    3. "Recuperar a imagem integral de Deus."4. "Ter toda a mente de Cristo."5. "Andar uniformemente como Cristo andou."

    Note que as definies tm termos que sugeremuniversalidade ou totalidade - "todo", "completamente","integral", "uniformemente". A idia de Wesley acerca da

    salvao se ope a toda noo de libertao fragmentada do mal.Para ele, a alma verdadeiramente salva aquela completamenteredimida.

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    A)Esta integridade encerra, naturalmente,a vida religiosacompleta em suas trs formas: f, obras e a Igreja. A salvaopela f , naturalmente, uma doutrina fundamental de JooWesley, como era para reformadores. Ningum pode vir a Deus a

    no ser que creia na sua existncia. O edifcio da redenodescansa na f, que Wesley definiu de muitas maneiras, massempre em harmonia com o pensamento de que a "f umaverdadeira confiana em Deus, que pelos mritos de Cristo nossospecados so perdoados e somos reconciliados com Deus". A f um dom de Deus, uma capacidade forjada no ser humano para queele perceba e responda ao reino espiritual, anloga ao anseio pelas

    coisas materiais. Entramos na vida de f pelo arrependimento.Wesley s vezes o chamava de alpendre (varanda de uma casa) dareligio, sendo a f a porta (de entrada na casa) e a santidade a casa(a parte interna da casa). O arrependimento uma convico dopecado e a tristeza dele decorrente leva o pecador a dar as costas aopassado, repudiar seus erros e viver segundo a f na misericrdia deDeus. Para empregar uma frase de Wesley, as pessoas devem ser

    feridas, antes de irem procura do nico Mdico que as pode curar.

    A f produz o segundo componente da vida religiosaintegral: as boas obras. Ningum estar definitivamente salvo deacordo com Wesley, se no praticar todas as boas obras quepuder, segundo as oportunidades. Se uma pessoa que foijustificada no fizer o bem, perder a graa que recebeu; e se no

    se arrepender e praticar as boas obras, estar em condenaoeterna.

    Uma das razes pelas quais Wesley tinha constantes atritoscom os moravianos que eles estavam satisfeitos em identificar acrena em Cristo com a piedade, sem sentir a urgncia de guardarSeus preceitos. Wesley combateu tambm a "pregao

    evanglica" de seu tempo, caracterizando -a de "intil, senoprejudicial", porque consistia de discursos detalhados sobre osferimentos de Cristo ou sobre a salvao pela f, sem inculcar ocumprimento do dever cristo. Ele criticava energicamente a

  • 7/26/2019 johnwesley_o evangelista

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    Lutero, porque este depreciava a lei de Cristo em deferncia f.De acordo com o pensamento de Wesley, as boas obras soinseparveis da vida religiosa.

    Wesley conhecia, naturalmente, o engano de consider-laso meio para se alcanar a salvao. Ele sabia como as boas obraspodem provocar o desespero na alma conscienciosa, que havendofeito o melhor possvel, percebe que ainda um servo intil.Como pastor, Wesley sabia como o apelo s boas obras podedespertar falso orgulho em alguns e tambm o espritohipercrtico, enquanto em outros, levaria ao nvel trivial do

    escoteiro (uma boa ao a cada dia). Mas, apesar de todos osperigos, Wesley nunca esmoreceu na pregao da necessidade dese praticar boas obras. Ele nunca perdeu uma oportunidade paradesmascarar os "antinomistas" que pensavam que a dispensaoda graa os havia desobrigado das exigncias da lei moral (ouseja, que a f no precisava apresentar frutos, que o salvo porJesus estava dispensado de fazer o bem e praticar boas obras ).

    Wesley nos deixou em seu Dirio um quadro clssico einconscientemente humorstico sobre este grupo, com suarefutao:

    Conversei com um que, segundo conselho do seupastor, havia calma e deliberadamente batido em suaesposa com uma vara at que ela ficou roxa da cabea aos

    ps. Era seu dever fazer isto, porquanto ela era insolente,de natureza ruim; e ele estivera cheio de f durante todo otempo em que o fazia, e tem continuado assim desdeento.

    No uma questo de f ou de obras, claro, e, sim, de seobter uma relao adequada entre ambas. A realizao de boas

    obras com a inteno de ser salvo armadilha do legalismo. Poroutro lado, pensar que a pessoa pode parar na f uma heresiaparalela dos "antinomistas".

  • 7/26/2019 johnwesley_o evangelista

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    O que Wesley se esforou ao mximo para demonstrar que devemos comear pela f - o nico meio de salvao. Mas, seesta f for verdadeira, produzir boas obras como prova de suagenuinidade. Para usar uma figura de linguagem usada por

    Wesley, a santidade uma rvore da qual a f so as razes, e asboas obras, os frutos. Ou, para substituir esta figura pela de JooByron, a cujos versos Wesley se refere:

    O ao ou a pedra, sozinhos, no produzem fogo,Nem voa a centelha enquanto ambos no concorrem.Nem a f sozinha, ou as obras, so de valor.

    A salvao surge quando se unem.

    Finalmente, para tornar as obras e a f inseparveis dasalvao, exige-se o terceiro elemento do triunvirato: a Igreja.

    Wesley insistia em que a vida religiosa exige a comunhotradicional dos crentes. Ele escreveu em 1788:

    "Eu sou um homem da Igreja da Inglaterra, e comodisse h cinqenta anos atrs, digo agora ainda: na Igrejaviverei e morrerei, a menos que eu seja lanado fora dela."

    Ele insistia em que seu movimento metodista ficasse naIgreja Anglicana. "Quem se separar da Igreja," decretou ele,

    "separar-se- dos metodistas". Quando a Sociedade Metodista deDeptford resolveu deixar a Igreja da Inglaterra, ele lhes disserudemente que jamais veriam sua face novamente. Ele nopermitia que suas sociedades se reunissem em horrios quecoincidissem com os cultos da igreja. Aplicava a disciplina emseus prprios pregadores se eles injuriassem os anglicanos. Exigiados membros de suas sociedades que freqentassem a igreja e, s

    vezes, ele prprio os levava para o culto na parquia.Freqentemente, neste pas, temos assistido a tristes

    espetculos, em que evangelistas invadem comunidades locais

  • 7/26/2019 johnwesley_o evangelista

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    para ridicularizar e minar os trabalhos dos pastores e da igreja.Estes agitadores no pertencem companhia de Joo Wesley, omaior de todos os evangelistas.

    B) A salvao e a santidade incluem no somente adisposio religiosa, mas asatitudes sociaistambm. Dizia Wesleyque o "Cristianismo essencialmente uma religio social, e torn-lo uma religio solitria destru-lo... O evangelho de Cristo noconhece outra religio seno a religio social; nenhuma santidadeseno a santidade social". O amor a marca do homem salvo, oideal aspirado por todo cristo.

    Um hino de Wesley diz assim:Oh! Permite que nada em minha alma

    Habite seno teu puro amor.Oh! Possa teu amor possuir-me todo,Minha alegria, meu tesouro, minha coroa.Paixes estranhas de meu corao remove.

    Sejam de amor meus atos, palavras e pensamentos.

    O teste de Wesley para uma sociedade religiosamenteprspera era o amor. "A chama do amor corre de corao emcorao", escreveu ele sobre uma reunio, "e poucos coraespermaneceram intocveis". Era uma realidade da presena deDeus.

    Aos olhos de Wesley, nada substitui o amor. A correo dadoutrina no permanece firme. Wesley escreveu a respeito de umcerto dr. John Edwards, cujo orgulho e falta de caridade para comos inimigos era deprimente:

    "Seja sua opinio certa ou errada, se o temperamento

    do dr. Edwards fosse um temperamento cristo, eu abjuraria oCristianismo para sempre".

    A retido no atenua o temperamento no-amoroso.

  • 7/26/2019 johnwesley_o evangelista

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    Wesley ousou censurar at mesmo o poderoso profeta Joo Knoxpor causa do "esprito violento, amargo e picante" do seu livroHistria da Igreja da Esccia. Como administrador, Wesleylouvava a harmonia em sua organizao. No entanto, a nica

    unanimidade que ele exigia era a do corao.

    Wesley traduzia o amor em servio pessoal s necessidadeshumanas. Ele antecipou o evangelho social; a noo da obrigaocrist de converter no somente os jogadores (as pessoas), mas,tambm, as regras do jogo (o meio social, a cultura, poltica, leis,tradies, etc...) foi uma viso que viria mais tarde. Seu "evangelho

    social" foi o terno ministrio de pessoa para pessoa. Ele incitava osricos a que no somente enviassem ajuda aos pobres mas que alevassem pessoalmente, tanto por amor do receptor como dodoador; do doador, "por estar muito mais apto a amolecer nossocorao, e fazer-nos cuidar naturalmente uns dos outros"; doreceptor, "por ser mais confortvel para ele e por podermosajud-lo no campo espiritual bem como no temporal". Wesley

    praticou o amor que pregava atravs do seu recolhimento deroupas para os pobres, sua doao de remdios, e seu cuidadopessoal para com os desamparados.

    C) A santidade significa desejos e sentimentos santos.Significa amar as coisas que devemos amar todas elas. Averdadeira santidade infiltra-se pelas molas da ao e reveste-as

    com uma nova qualidade. Ela inunda at mesmo os reinossombrios do subconsciente. "So santos os vossos sonhos?",perguntava Wesley em suas conferncias.

    A perfeio crist significa ardor de sentimentos. Wesleyteria concordado com o general William Booth, fundador doExrcito da Salvao, que uma reunio religiosa como uma

    xcara de caf: no boa seno quente.Wesley sempre se sentia deprimido se, como os

    comentrios do seu Dirio mostram, no conseguisse causar

  • 7/26/2019 johnwesley_o evangelista

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    emoo: "Mortos como pedras, perfeitamente quietos eperfeitamente desinteressad os". "Preguei na capela deRotherhithe, um lugar frio, sem conforto, a um punhado depessoas que pareciam to afetadas pelo sermo quanto os bancos

    em que se sentavam ."

    Por outro lado, uma reunio de sucesso era "viva", ouhavia uma "vibrao agitada nos ossos frios". Wesley poderiaafirmar que em uma reunio de testemunhos ele sempre sabia seestava ouvindo a um metodista se ele comeasse seu testemunhocom as palavras: "Eu sinto..."

    Depois do amor, os sentimentos especficos maismencionados so o gozo e a paz. "Todos os crentes deveriamencontrar prazer na vida", escreveu Wesley. Ele jungiu (uniu,atou, ligou) a santidade felicidade, acreditando que umindivduo verdadeiramente devoto no pode ser infeliz, porque ospropsitos de Deus no so de que sejamos miserveis; j os maus

    no podem ser permanentemente felizes. O Esprito de Deus notraz somente alegria, mas, tambm, calma. Como escreveuWesley, depois que o vento se acalmou na viagem de regresso daGergia:

    "No posso conceber qualquer diferena comparvel que existe entre um mar calmo e um furioso, mas hdiferena entre a mente acalmada pelo amor de Deus e a

    mente agitada pelas tempestades das paixes terrenas".

    Os sentimentos puros so como as boas obras: umsubproduto, um sintoma de sade da alma. Se vivemoscorretamente em nossas relaes verticais (com Deus) ehorizontais (com o prximo), sentimo-nos bem. Mas estessentimentos no devem jamais ser procurados como um fim em si

    mesmos (eles so uma conseqncia e no um alvo). Eles noexistem para que os busquemos, to somente. Phillips Brookescreveu certa vez:

  • 7/26/2019 johnwesley_o evangelista

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    "No d valor ao sentimento que no seja filho daverdade e pai do dever".

    Wesley concordaria com isto. Os sentimentos genunos

    surgem espontaneamente de nossa percepo, pela f, da bondadedivina e tornam-se, em troca, um gerador de boas obras.

    D)A santidade inclui asalvao da mente,alibertao dagrosseria e da falta de conhecimento da cultura. O evangelismoque agradece a Deus por sua ignorncia e ridiculariza aaprendizagem no tem o apoio de Joo Wesley. Ele reunia seus

    pregadores incultos das minas e carpintarias e ensinava-lhesteologia sistemtica, lgica e retrica, como fazia com seus alunosem Oxford. Oua as suas instrues sobre a leitura:

    Falamos ou lemos sobre histria, ou qualquer outracoisa que esteja mo. Devemos, absolutamente devemoscurar este mal, ou trair a causa de Deus. Mas como? Leia os

    livros mais teis, regular e constantemente. Gaste toda amanh, ou pelo menos cinco horas em cada 24 nesteempreendimento, com constncia. "Mas eu leio somente aBblia." Ento voc s deve ensinar aos outros a ler a Bblia,e por amor congruncia, ouvir a Bblia to-somente. Mas,neste caso, voc no precisa pregar mais. Assim fazia GeorgeBell. E qual foi o fruto? Ele no l mais a Bblia nem coisa

    alguma. Isto entusiasmo grosseiro. Se voc no precisa dequalquer outro livro alm da Bblia voc superior a SoPaulo. Ele desejava outros livros tambm. "Traga os livros",diz ele, "mas, especialmente os pergaminhos", aquelesescritos em pergaminho. "Mas eu no tenho gosto pelaleitura". Adquira o gosto pelo desenvolvimento do hbito, ouvolte para seu ofcio. "Mas eu no tenho livros". Eu lhes

    darei livros, a cada um vocs, tantos quantos forem capazesde ler, livros no valor de 5 libras...

    Ele estava interessado nas boas maneiras metodistas. Disse

  • 7/26/2019 johnwesley_o evangelista

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    a um amigo, certa vez, que sua me costumava trazer umprofessor de dana reitoria para que ensinasse boas normassociais famlia. Wesley confessou que se se pudesse arranjarum, ele ficaria "contente em poder ensinar a todos os seus

    pregadores, mesmo por um professor de dana, a fazer umasaudao e a entrar e sair de um aposento ". O cronista dasociedade inglesa deve ainda fazer justia pelo soerguimentocultural que o evangelista Wesley trouxe s multides de seuspatrcios.

    E)Finalmente, a salvao inclui, para Wesley, a salvao

    do corpo. "Visto que o pensamento", escreveu ele, " o ato de umesprito encarnado, que toca num jogo de chaves materiais, no estranho que a alma produza msica grotesca quando seuinstrumento est desafinado".

    Wesley percebeu, muito antes da nfase psicossomtica damedicina moderna, a conexo ntima entre a sade espiritual e a

    cura fsica. (H um caso notvel em seuDirio,em 12 de maio de1759, sobre uma mulher cuja tristeza causava dores estomacais).

    Assim, Wesley pregava um evangelho de boa sade. Eledava conselhos sobre dietas e higiene. Inclua a medicina em seussermes. Fato interessante que ele recomendava a seus ouvintesque fossem "eletrificados" como terapia para as desordens

    nervosas, uma antecipao dos tratamentos posteriores damedicina por meio de "eletro-choques". O ideal de Wesley era oantigo, mas ainda vlido lema: "mente s em corpo so".

    Para concluir, a salvao, para o pai do Metodismo,significava uma dedicao harmoniosa de toda a personalidade(todo apetite do corpo, toda paixo, desejo e sentimento espiritual,

    sozinhos ou combinados,adedicao da pessoa por inteiro) para aglria de Deus e bem-estar do ser humano.

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    2 - Estendeu-a a toda a humanidade

    Wesley no apenas estendeu o ideal cristo para abraar avida integral do indivduo, mas o aplicou humanidade toda. O

    amor que pregava inclua todos os seres humanos.

    Wesley escreveu a seu amigo dr. Middleton, de Bristol:

    Um cristo cheio de amor pelo seu vizinho, deamor universal, no confinado a um partido sectrio, norestrito queles que concordam com ele nas opinies, nas

    formas externas de adorao, ou queles que esto ligados aele por sangue ou recomendados por proximidade de lugar.Nem ama ele somente queles que o amam ou que lhe socaros pela amizade ntima. Mas seu amor se parece com o deJesus, cuja misericrdia est acima de suas obras. Eleva-sepor sobre os limites estreitos, atingindo vizinhos e estranhos,amigos e inimigos.

    Para empregar a frase mais famosa de Wesley, o mundofoi a sua parquia, no a raa branca, no os ingleses, no osmetodistas o mundo, a humanidade como um todo.

    A salvao que pregava era para todos. Sua doutrina eraselada com a graa universal: todo ser humano pode ser salvo.

    Sua teologia contrasta agudamente com a do Calvinismo, vigenteem seu tempo. O Calvinismo essencialmente uma teoria doprivilgio: algumas pessoas esto predestinadas bno eterna, egrande parte, condenao eterna. Wesley, ao contrrio, ensinouque Cristo morreu por todas as pessoas e que todos so livres paraaceitar esta salvao. A f um dom de Deus, mas um domestendido imparcialmente a todas as pessoas. Todo ser humano,

    desde "o miservel que rasteja na terra", um filho em potencial deDeus.

    Note que Wesley pregava um evangelho de graa universal

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    e no de bondade humana universal. Ele no olhava ingenuamentepara a humanidade. No havia pregado s massas em vo. Assimcomo o Senhor Jesus, ele sabia quo delgada (sutil, fina) a linhaque separa o humano do animal irracional. Percebeu que nossa

    cultura vaidosa no seno uma clareira na floresta de nossanatureza animal. Mas, embora os filhos de Ado sejam pecadores,Wesley sabia que tinham um Salvador. Ningum precisa recolher-se sua miserabilidade, porque h Algum que cuida de nsmuito mais abundantemente do que podemos avaliar.

    Nada impossvel para Deus. Para Ele tudo possvel.

    Assim como o pastor encontrou a ovelha perdida, o prdigo foiinduzido a voltar quando pensou na casa paterna, o coletor deimpostos persuadido a restituir quadruplicadamente e a adlteraenviada a no pecar mais, assim Deus, com seus infinitos recursosredentores capaz de salvar a mais desgraada alma. Ele podeaquecer coraes frios como gelo e fazer rios caudalosos banharregies secas e estreis. Esta f no poder de Deus para salvar o

    homem manteve Wesley firme em sua vocao.

    Uma das lies da longa vida de Wesley foi: nunca sedesesperar por qualquer filho de Deus. Ele havia visto fracassadosserem, mais tarde, restaurados. Muitas vezes havia observadosociedades declaradas "sem esperana" erguerem-se novamente.Havia testemunhado seus convertidos crescerem em graa de

    visita em visita. Havia pregado em comunidades que nunca antestinham ouvido o evangelho e viu pessoas levantarem-se ante oschamados da graa. Homens e mulheres idosos, supostamenteimunes redeno, derreteram suas velhas e duras naturezas eforjaram-nas outra vez. Muitas vezes ele ficou surpreso com oresultado feliz de pregadores inicialmente pouco promissores. Naverdade, ele mesmo se surpreendia em certas ocasies com seu

    prprio crescimento na graa. Depois de um culto em Glasgow eleescreveu em seu Dirio: "Certamente para Deus nada impossvel. Quem teria crido h vinte e cinco anos atrs que oministro (pastor) teria desejado ou que eu tivesse consentido em

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    pregar numa igreja escocesa?" "Nunca tenha medo de esperardemais de Deus", foi a concluso que tirou de seus esforosevangelsticos.

    O otimismo de Wesley to psicologicamente sadioquanto teologicamente vlido. Tornamo-nos aquilo queimaginamos ser. Se insistimos que somos depravados, h muitoselementos em nossa estrutura humana que confirmaro a baixaapreciao. Mas se assegurarmos diante da humanidade uma visoaltaneira de seu destino no caminho de Deus, ela ter umacapacidade igualmente verificvel de entregar-se a Ele. Certo de

    que no podemos obter perfeio nesta vida, Joo Stuart Millcriou um provrbio valioso: "Aquele de quem nada se espera,jamais far tudo o que pode". O ser humano cresce medida queprocura atingir o impossvel.

    Numa poca em que o neocalvinismo est, mais uma vez,no centro da teologia, os metodistas devem relembrar o bom xito

    de Joo Wesley antes de fazerem estimativas sombrias a respeitoda natureza humana. possvel que tudo quanto Calvino ensinoua respeito do estado atual do homem no seja pessimista demais,mas, da mesma forma, nada do que Joo Wesley ensinou arespeito do poder de Deus para redeno do homem otimistademais. O evangelista metodista ganhou o direito ltima palavra.

    3 - Estendeu-a totalidade do tempo

    Wesley expandiu ainda a experincia de redenorelacionando-a no somente natureza e raa humanas em suaintegridade, mas totalidade do tempo. A salvao significa,antes de tudo, constncia na vida. O verdadeiro discipulado

    cristo nunca foi coisa de veneta, com comeos e interrupes. Oideal ser sempre o que somos apenas ocasionalmente (ou seja,agir como verdadeiros cristos no apenas ocasionalmente, mas o

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    tempo todo!).

    Wesley recomenda:

    No permita que o amor o visite como um visitanteem trnsito, mas que ele seja o tempero constante de suaalma. Veja que seu corao esteja cheio em todas as pocas eem todas as ocasies com benevolncia real e jamais fingida,no somente queles que o amam, mas para com todos. Deixeo amor palpitar em seu corao, faiscar em seus olhos, brilharem todas as suas aes. Quando quer que voc abra seus

    lbios, faa-o com amor, e coloque na lngua a lei dabondade.

    A salvao significa crescimento constante na graa. Emseus primeiros anos de ministrio, Wesley falou muito sobre asantificao instantnea. Mas, medida que desenvolvia esteassunto, ficou claro que ele jamais pretendeu descartar o

    crescimento gradual. Ele teve que admitir que havia um trabalhogradual precedendo a operao instantnea da graa, e umcrescimento conseqente. A perfeio veio a coincidir mais emais com a "perfectibilida de" (suscetvel de perfeio ouaperfeioamento).

    Quando perguntaram a Wesley, cerca de dois anos antes de

    sua morte, se era verdadeiro o rumor segundo o qual ele "afirmavaestar limpo de todos os pecados", replicou, muitosignificativamente:

    "No posso dizer se todos os pecados me foramtirados do corao, nem a possibilidade de ofender o Espritode Deus; nem penso que amo a Deus ou ao prximo como

    deveria. Sou fraco, mas Deus minha fora. Vivo pela f".Wesley estava ainda no processo de crescimento na graa.

    Este desenvolvimento alcana finalmente a eternidade numa

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    cadeia urea de trs elos, para usar uma expresso de Wesley operdo, a santidade e o cu. O crescimento espiritual do serhumano aponta para a imortalidade. "Como pode entrar na mentede um homem", pergunta ele em seu tratado sobre o assunto, "que

    a alma capaz de to grande perfeio ou de receber novosmelhoramentos para toda a eternidade, fique reduzida a nada, tologo seja criada? So estas habilidades feitas para um propsitoto mesquinho?" No, os rudimentos desta vida sero traduzidosem um clima bastante propcio onde florescero para todo osempre.

    Salvao para todo ser humano e a todos em todo o tempo este o ideal de Wesley.

    Se a experincia da redeno (Captulo I) a razo para oapelo de Wesley Inglaterra do sculo XVIII, o grande alcance desuas implicaes, exposto neste captulo, explica a permanncia(continuidade, constncia) do seu movimento. Ele colocou a

    perfeio em tal altura que ningum jamais poderia dizer que atinha alcanado, superando o ideal de Wesley para mais umdesafio. Seu ideal como a injuno do Mestre para que sejamosperfeitos como o Pai perfeito. Se Cristo houvesse meramentedito "faa o melhor possvel de acordo com as circunstncias", seupreceito dificilmente teria sobrevivido sua gerao. Mas, aperfeio como a de Deus isto tem prendido a lealdade das

    pessoas pela sua grande magnificncia.

    O ideal de Wesley nos impressiona tambm pela suaabrangncia. muito difcil focalizar a ateno de algum durantemuito tempo em um nico ponto. Isto bem mais fcil se oobjetivo for um panorama e, mais cativante ainda, se estiver emmovimento. Assim, o ideal de Wesley de uma salvao total

    marchando para a eternidade suficientemente largo e dinmicopara prender o interesse das pessoas.

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    A experincia de redeno como o princpio deintensidade, e seu desenvolvimento ao infinito, como o princpiode abrangncia tudo isto junto explica o xito de Wesley. Elecolocou a devoo de um fantico por trs de um ideal

    compreensivo e, assim, ambos efetuaram uma revoluoreligiosa, e a perpetuaram.

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    Captulo IV

    A combinao de expanso eintensidade

    Alm da redescoberta da redeno bblica e dodesenvolvimento da experincia da salvao, um terceiro fatorque contribuiu para a realizao do trabalho de Wesley foi que eleexpandiu seu evangelismo com mtodos que combinavam aexpans o com a intensidade. Wesley foi um impertinente. Elejulgava pelos resultados a salvao das almas era o termmetro

    do sucesso. "Observo o mais significante pormenor", escreveuele, "exceto quando a salvao das almas est em jogo. Ento,prefiro o fim aos meios." Isto , ele preferia os meios honrosos,mas a deciso final deve sempre repousar na eficincia de ummtodo na redeno do ser humano.

    Ele aplicava sua norma em todas as direes verdade

    em primeiro lugar. Lia livros sobre filosofia e seu comentrio era"cui bono?"O livro bom? Traz algo de bom ao ser humano? Eleconcordava com o ditado de sua me, que dizia que h algumasverdades indignas de serem conhecidas, porque ningum tobom que possa conhec-las. Ele aplicou sua norma arquitetura echegou concluso de que a melhor forma para uma igreja aoctogonal. Embora possa parecer uma monstruosidade esttica,

    o melhor para propsitos evangelsticos.

    Ele era flexvel em seus mtodos. Assim como o apstolo

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    Paulo, desejava ser tudo a todas as pessoas para que pudesse salvaralgumas (1 Corntios 9:22-23) . Era melhor fazer uma boa coisapor mtodos imperfeitos do que no faz-la. Ele teria apreciadomuito a resposta de Moody a um espectador que criticava seus

    mtodos: "Aprecio muito mais a minha maneira de agir do que asua maneira de no agir". Assim, Wesley ajustava seus horriosde culto s convenincias de seus ouvintes. Pregava em umhorrio pouco ortodoxo, s cinco horas da manh, porquedescobriu que podia reunir uma multido quela hora. A duraoe a ordem eram adaptados ao humor que encontrasse ao chegar.Ele percebia as diferenas de cada comunidade e prescrevia sua

    homiltica medicinal com a competncia de um mdicohabilidoso. Embora fosse professor de Oxford, no haviapedantismo em Wesley. Era inflexvel quanto aos objetivos eabsolutamente flexvel em relao aos meios para atingi-los.

    Mas o fato mais significativo acerca de seus mtodosevangelsticos foi que ele combinou a expanso com a

    intensidade. "Devemos construir com uma das mos", escreveuele, "enquanto lutamos com a outra. E esta a grande obra, nosomente levar almas a crer em Cristo, mas edific-las em uma fmais santa." Isto , o evangelismo envolve tanto a busca de novosmembros para a Igreja, quanto o seu cultivo. intil levar aspessoas a tomar decises e depois deix-las retornar aos seusvelhos hbitos. Wesley desenvolveu suas prprias tcnicas (novas

    naquele tempo) para expandir e conservar o impulso redentor.

    A.Expanso.

    O primeiro ponto a se notar na expanso que Wesley

    sentia ser de seu dever levar o evangelho ao povo. Ele no foiigual a Joo Batista, que se estabeleceu no deserto e esperou queas pessoas fossem at ele. Ele se parecia com Jesus, que

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    centralizou seu ministrio na Galilia, a regio mais povoada daPalestina, para levar essa mensagem diretamente aos cidados daterra. Wesley invadiu cidades e vilas, quebrando as muralhas domal, atacando de frente. A forma mais caracterstica (e mais

    sensacional) de levar o evangelho ao povo de seus dias era o queele chamava de "pregao no campo", isto , pregao ao ar livre,nas ruas de uma cidade, na praa de uma igreja, num parque ou nasestradas. Quando Wesley usava sua famosa exortao para pregar oevangelho "na cara do sol", era isto mesmo que ele queria dizer,evangelismo ao ar livre.

    A pregao ao ar livre passou por trs estgios - no julgarde Wesley. A princpio ele achava inconveniente. As igrejasestabelecidas lhe fecharam as portas em um tipo de acordorestritivo contra ele. Visto que no comeo no tivesse lugar ondepregar, teve que se mudar. Era-lhe extremamente doloroso porquea pregao ao ar livre "no existia" naquele tempo. Mas Wesleyno era como o gato da velha fbula que queria comer o peixe,

    mas no queria molhar a pata. Este pregador desejava salvaralmas, e estava disposto a sofrer todas as inconvenincias eoprbrios (desonras, injrias, afrontas, vergonha) para obt-las."Gosto de uma sala confortvel", disse ele, "de uma almofadamacia, de um plpito bonito; mas onde est o meu zelo se nodesprezar tudo isto para salvar mais uma alma?"

    Depois de pregar ao ar livre por algum tempo, passou aconsiderar este meio de pregao um expediente providencial. Elepodia alcanar muito mais pessoas que em qualquer igreja.Finalmente, viu que a pregao ao ar livre era uma tticanecessria. Sentia que a obra evangelizadora permanecia imvelou retrocedia nos lugares em que no havia a pregao ao ar livre.Censurava seus pregadores por "encerrarem-se (ficarem

    fechados) numa sala" enquanto as massas esperavam do lado defora. Sua receita infalvel para as sociedades anmicas veio a ser apregao ao ar livre.

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    Como j dissemos, a confiana de Wesley para a expansodo Reino estava na pregao do evangelho, dentro dos templos oufora deles. Wesley pregava 800 vezes por ano, mais do que 15vezes por semana. "Na verdade, vivo pela pregao", dizia ele.

    Quando o bispo de Londres o acusou, dizendo que osmetodistas desertavam dos "ofcios" (as atividades regulares daigreja, nelas includos os cultos e outras reunies da igreja),Wesley replicou que havia freqentado os "ofcios" durante anos.No entanto, durante todo esse tempo no esteve mais cnscio doamor de Deus do que uma pedra. Centenas e milhares estavam

    prontos para testificar o mesmo. S quando a pregao sobre aremisso dos pecados foi adicionada aos ofcios da Igreja que seatingiu os verdadeiros objetivos da devoo.

    H uma reao em nossa poca contra a pregao. Hquem diga, aqui e ali, que a pregao est fora de moda. Noentanto, penso que no poderemos esperar um reavivamento

    religioso em grande escala por outro processo qualquer. Oaconselhamento, que se prefere hoje em dia, sem dvida essencial. Mas, o aconselhamento, por sua prpria natureza, nopode alcanar as massas dos no convertidos. Wesley pregava amais pessoas numa nica reunio ao ar livre que um ministro-conselheiro em um ano. O aconselhamento um alimentoespiritual superior, mas no serve para a expanso do Reino. H

    uma grande necessidade de organizadores na igreja. Mas precisohaver pessoas para serem organizadas. E a pregao as chamapara a Igreja. Os comits de relaes pastorais (o autor est falandoda Igreja do presente, visto que nos tempos de Wesley no havia, aoque se saiba, esse comit nem nenhum outro. Naquele tempo, igreja no

    escolhia pastor), s vezes, solicitam um pastor social (um pastorcuja maior e s vezes nica caracterstica ser simptico e boapraa). Mas nenhum deles jamais provocou um reavivamento. Apregao ainda o principal instrumento do Protestantismo para aexpanso do Reino.

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    Wesley nos diz que tinha quatro anseios em cada sermo:

    1 - "Convidar", isto , concitar seus ouvintes de maneiraconciliadora a atender sua mensagem. Ele quase sempre atingia

    esse fim criando um senso de necessidade, algo que um pregadorperito em solucionar problemas de nosso tempo deveria fazer.

    2 - "Convencer " sobre a verdade do evangelho. Wesleysempre se esforou para estender a verdade de sua idia a seusouvintes de maneira mais simples. Para isto, cultivavadeliberadamente um estilo fcil, evitando a prolixidade.

    Admiramo-nos por Wesley praticamente no ter usadoilustraes, como os evangelistas em geral gostam de fazer. Eleretesava o arco e atirava direto ao alvo, sem qualquer digresso. Otestemunho universal quanto sua pregao era: primeiro, aspessoas diziam, "Isto a verdade"; e segundo, "Ele est falandodiretamente a mim".

    3 - "Oferecer a Cristo" no como uma figura teolgica,mas como uma resposta necessidade particular da pessoahumana. Este era seu dever contra muita da chamada "pregaodo evangelho" (pregao do evangelho entre aspas, ou seja,falsa, superficial): "Se um animal insolente, atrevido e sem graanem senso, berrar alguma coisa sobre Cristo, seu sangue, ousobre a justificao pela f, seus ouvintes gritam: 'que belo

    sermo evanglico!' ". Com Wesley no era assim. Ele sempreestabelecia a conexo entre Cristo como soluo para o problematico em questo.

    Wesley, certa vez, advertiu seus pregadores, num famososermo, contra a pregao de Cristo como nosso SacerdoteAltssimo, esquecendo-se que Ele tambm Profeta. Wesley

    nunca dispensou muito tempo em seus sermes a doutrinas arespeito de Cristo. Ele nunca estabeleceu distines suprfluas,nem salientou pontos dbios, nem brincou com quebra-cabeascristolgicos. Ele oferecia a Jesus como Salvador.

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    4 - "Construir" Deixar que as pessoas fossem se sentindomelhor. Ele no se aproximava de suas congregaes com o humordispptico (indigesto, difcil de digerir, mal humorado, raivoso) de

    alguns evangelistas. Numa poca em que a regra era se pregarsobre o fogo do inferno, ele era bastante restrito em suasadmoestaes sobre os "terrores do Senhor". Acreditava, assimcomo o Senhor, que mais pessoas eram trazidas ao arrependimentoao contemplar a beleza da "santidade" que ao habitar na feira dopecado. Wesley sabia (para usar uma figura de linguagem dePhillips Brooks) que apesar de ser preciso cortar uma rvore pela

    raiz para que ela cresa com muito mais vio, um campo de tocosno o ideal. Ele achava que a pregao negativa intil. "No possvel que aquele que est fechado s razes do amor, obedeaa Deus pelo medo". Na verdade, a pregao acusatria pode sermuito malfica. Ao falar sobre a situao de Edimburg, em umade suas visitas, ele diz o seguinte:

    Fiquei triste por encontrar tanto a sociedade como ascongregaes, menores do que quando aqui estive pela ltimavez. Atribuo isto principalmente ao meio de pregao que emgeral tem sido usado. Os crentes tm sido admoestadosfreqente e fortemente pela sua frieza, pela indiferena epequenez de f. Raramente a pregao tem sido sobre algoque os leve gratido. Por isso, muitos se dispersaram e os

    remanescentes mantiveram-se frios e indiferentes.

    A pregao de Wesley era positiva - ela edificava. No quediz respeito aos seus mtodos homilticos ( de pregao), diversositens so dignos de nota:

    a) Ele baseava seu sermo na Bblia. Quase sempre

    tomava um texto, ocasionalmente um captulo ou um livro dasEscrituras. Parece ter seguido o ano eclesistico, falando sobre osEvangelhos e Epstolas designados para o dia. Seu costume,depois de selecionado o tema, era o de comparar todas as

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    passagens paralelas da Escritura, sobre o mesmo assunto. Istosignifica que, quando falava, as pessoas ouviam, pela palavra dotexto e sua mensagem, o conselho completo do Senhor. Seudomnio da Bblia era tal que pregava seus sermes - o que ele

    nos conta - somente com o texto das Escrituras nas lnguasoriginais. As "tradues modernas", as concordncias, oscomentrios, os compndios de ilustraes - toda a parafernlia dopregador moderno brilhavam pela ausncia (no estavampresentes) no estudo de Wesley.

    b) Escrevia seus sermes por completo, e depois ospregava de improviso . Seus esboos - que consistiam,normalmente, de trs pontos - so modelos do tipo definido epreciso da estrutura que somente o trabalho cuidadoso com a pena(com a escrita, com a preparao e a redao do sermo) podeproduzir. Nos primeiros tempos lia seus sermes, mas certa vez,esqueceu-se de levar seus manuscritos e teve tal espontaneidade

    de palavra que nunca mais voltou a ler. Mas escrevia suasmensagens do comeo ao fim, deixando-as no gabinete quandosubia ao plpito.

    Quantos evangelistas, imagino eu, escrevem (preparam)seus sermes?

    c) Sua pregao era em forma de conversa. Nuncafalava acima da altura natural de sua voz. Os discursosbombsticos lhe eram aborrecidos. Ele condenava sem compaixoos pregadores que usassem o tom exaltado, que ele chamava de"gritaria". Aqui esto algumas palavras endereadas a Joo King,um de seus pregadores:

    No grite mais, para perigo de sua alma. Deus agorao avisa por intermdio da minha pessoa, que Ele enviou parao orientar. Fale to ardosamente quanto puder, mas no grite.Fale com todo o corao, mas com voz moderada. Foi dito de

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    nosso Senhor: "Ele no abrir sua boca". O que significaexatamente isto: "Ele no gritar... Por isso, seja meuseguidor como o sou de Cristo. Constantemente falo alto,muitas vezes veementemente, mas jamais grito, nunca me

    excedo. Sei que seria um pecado contra Deus e minha prpriaalma.

    d) Ele se esforava por manter todo o culto - o sermo,os hinos e as oraes - dentro do perodo de uma hora. Quandouma senhora na Irlanda lamentou a durao dos cultos metodistas,

    ele replicou:

    Se qualquer pregador exceder-se no tempo (cerca deuma hora) espero que a senhora lhe chame a ateno para aregra metodista. As pessoas imaginam que quanto mais longo o sermo, um bem maior ele far. Isto um grande erro. Obem realizado na terra, Deus o faz por Si; e Ele no precisa

    que usemos muitas palavras.

    e) Ele dependia menos de um grande esforo do que doefeito acumulativo de muitos sermes. "Pregar uma nica vezem um lugar", disse ele, "raramente traz algum bem". Nunca tevea iluso de que a guerra contra o mal pudesse ser ganha por umablitzkrieg (palavra do idioma alemo que significa guerra-

    relmpago, ataque-relmpago; no texto empregada com o sentidode uma nica batalha).Ele sabia que era uma guerra de atrito,em que a vitria pertence a quem resiste mais. Nunca concebeu oevangelismo como uma manifestao solitria que varreriamilhares de pessoas para dentro do Reino de um s golpe. Aocontrrio, ele contava com o poder de muitos golpes, pequenos esucessivos, para derrubar a cidadela do mal.

    Ele visitou Wales 46 vezes em misses evangelsticas, aIrlanda, 21 vezes; a Esccia, 22 vezes. Colocava em sua estratgiade pregao a sabedoria colhida numa conversa entre seus pais a

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    respeito dele mesmo. "Susana", disse Samuel sua esposa,"maravilho-me com a sua pacincia. Voc falou quela crianavinte vezes a mesma coisa". Ao que Suzana Wesley replica: "Seeu estivesse satisfeita depois de repetir a coisa somente dezenove

    vezes, teria perdido todo o meu tempo. Foi a vigsima vez quecoroou as demais".

    f) Ele empregava o cntico em conjunto (cnticocongregacional , a msica cantada por toda congregao) parareunir a multido, criar o clima e reforar a mensagem.

    Freqentemente lemos nos registros do reavivamento

    evanglico: "Ele reuniu uma congregao pelo cntico e, depoisde orar, comeou a pregar". Uma vez reunida a multido, ocntico derretia o povo, preparando-o para a modelagem dopregador. Ou - para mudar de figura, e de idia - o poderemocional do cntico em conjunto supria (fornecia) a plvoraque impulsionava a bala da pregao cuidadosamente preparadapor Wesley.

    Wesley insistia em que o cntico deveria ser unssono.Ele tinha uma preveno inflexvel contra pequenos coros egrupos orfenicos: "Um intolervel insulto contra o sensocomum e inteiramente incompatvel com qualquer devoo ".

    Os cnticos ajudavam a mensagem da pregao de outra

    maneira. Os metodistas aprenderam muito de sua teologia pormeio dos hinos, que apresentavam as Escrituras e as doutrinas,no como dogmas a serem aceitos, mas como uma experinciabrilhante a ser gozada.

    O bispo McConnel observou certa vez, que Wesleynunca se deu ao trabalho de refutar seu contemporneo, David

    Hume, o ctico. Wesley fez a Inglaterra cantar, e as ondas deemoo, derramando-se de milhares de coraes vindos damorte para a novidade da vida, varreram os sofistas (os quefaziam crticas com argumentos falsos ou que usavam de m f,

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    enganadores, impostores).

    B. Intensidade.

    O que nos impressiona quando estudamos a obra deWesley na expanso do Reino a persistncia tenaz com que eletrabalhava para conservar o que alcanara. Ele no estavacontente, como George Whitefield, meramente em "pregar eesperar o melhor".

    Wesley consolidou seus ganhos e ao fim tinha umainstituio em troca de suas obras. No final de sua vida,Whitefield reconheceu a superioridade da ttica de Wesleyquando disse:

    "Meu irmo Wesley agiu sabiamente. As almasdespertadas em seu ministrio ele as reuniu em classes, eassim preservou o fruto de seu trabalho. Isto eu negligenciei

    e meus convertidos so uma corda de areia ."

    Na programao de Wesley a visitao pastoral ocupavao primeiro lugar. Ele a considerava trabalhosa, mas realizou-afielmente, porque a considerava absolutamente essencial para aconstruo do seu movimento. Encontramos registros comoestes em seu dirio:

    29 de dezembro de 1758. Cheguei a Colchester.Achei que a Sociedade havia diminudo.. . e, no entanto,tivera muito bons pregadores. Mas isto no suficiente. Porrepetidas experincias temos aprendido que embora umhomem pregue como um anjo, ele no formar nempreservar uma sociedade j formada, sem visitar seus

    membros de casa em casa.

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    5 de junho de 1772. Depois de um exame,verifiquei que a sociedade de Newcastle est menor que hdois anos atrs. No imputo isto a nada seno falta devisitao de casa em casa, sem a qual as pessoas no

    crescero em nmero ou graa.

    12 de janeiro de 1774. Comecei pelo leste dacidade a visitar a Sociedade de casa em casa. No h outrocampo de atividades pastorais de maior importncia queeste. Mas to penoso carne e ao sangue, que no possoinduzir seno poucos pregadores a realiz-lo.

    Ainda hoje temos grande dificuldade para convencernosso clero de que no h melhor meio de construir uma igrejaseno visitando de casa em casa.

    O que Wesley aspirava com sua visitao? Na maiorparte ele consolava os doentes e os moribundos, e estabelecia

    amizade entre o rebanho e o pastor.

    "No posso compreender", escreveu ele, "como podeum ministro deixar seu trabalho com alegria, a menos que(como Incio avisou) ele 'conhea todo o rebanho pelonome; no se esquecendo dos criados e das criadas'."

    Alm destes propsitos pastorais convencionais, Wesleytinha outros trs que lhe eram prprios:

    1) Procurava insistentemente os indcios de pessoas quetivessem sido movidas pelo Esprito Santo durante suasreunies, e cercava-as de imediato com o seu carinho e visitaopastoral;

    2) Empregava a visitao para disciplinar as sociedades.Comeava em um extremo da cidade e continuava pelos laresmetodistas de seis em seis, examinando a vida crist de seu

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    rebanho e resgatando os que "andavam desordenadamente",como ele dizia.

    3) Usava estas visitas para apagar fogos,

    constantemente acesos pelo cime ou tagarelice, que ameaavamconsumir suas sociedades. Procurava especialmente aqueles quehaviam se afastado de seus grupos, perguntava-lhes diretamentesobre seus motivos, e tentava lev-los de volta ao rebanho.

    Wesley, o evangelista, no pode ser compreendido parte de Wesley, o pastor.

    Sua visitao, no entanto, funcionava como um auxliona a organizao e manuteno da sociedade, seu instrumentoprincipal na conservao dos efeitos do reavivamento. Logo queuma pessoa era despertada pela convico do pecado, oumostrava-se interessada pela religio, era arrolada numasociedade. Este era o grupo total de metodistas da comunidade.

    A sociedade mantinha cultos, reunies de testemunhos, festas deamor, embora seus membros devessem, tambm, participar dosrituais da Igreja Anglicana.

    Quando uma pessoa dava evidncia de justificao, ouentrada na vida crist, tornava-se membro de uma classe. Estaera uma unidade menor da sociedade, com cerca de 12 pessoas,

    sob o cuidado pastoral de um lder. Esta pessoa, de maduraexperincia crist, visitava seus convertidos em intervalosregulares uma visita por semana era o ideal e examinavasuas almas. Estes lderes faziam relatrios peridicos sobre oprogresso espiritual de seus membros a Wesley. (Para umrelatrio esclarecedor de um antigo lder de classe, Joo Hague,ao seu chefe, veja oDirio 2 de fevereiro de 1756.)

    Aqueles que desejavam uma comunho religiosa maisntima eram colocados em pequenos grupos formados porpessoas de mentalidade parecida que se reuniam durante a

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    semana para uma discusso religiosa. Em geral, o ldercomeava a reunio falando sobre a condio de sua alma. Apartir dele, cada pessoa confessava seus pecados, relatava astentaes sobre as quais havia triunfado, e expunha seus

    problemas para que o grupo lhe oferecesse algum conforto.Depois havia pequenos grupos seletos, pequenos seminrios desantidade, de intimidade ainda maior, que conscienciosamenteprocuravam reproduzir a comunho e dependncia mtua dosapstolos primitivos. Estes grupos variados, organizados porWesley com incrvel ateno aos pormenores, so o que o dr.Dale, de Birmingham, na Inglaterra, chamou certa vez, de "uma

    contribuio marcante e original do Metodismo s instituiesda Igreja".

    Estes grupos de Wesley no eram opcionais. Eram partedo currculo exigido para o aprendizado religioso. Ele nuncareconheceu qualquer circunstncia pela qual uma pequenasociedade no pudesse funcionar, e no aceitava desculpas de

    um pregador que pensasse que podia passar sem elas. ParaWesley, uma reunio de avivamento sem uma classe paraconservar a obra era to incua quanto, para um fazendeiro, eraa ceifa do campo sem a preocupao de se amarrar os feixes erecolh-los.

    A participao dos leigos na comunidade de Wesley

    algo especialmente digno de nota. Os lderes de classes, osecnomos que cuidavam dos interesses financeiros, a maioriados pregadores, eram leigos.

    Nenhuma outra grande denominao usou mais os seusleigos do que Wesley. Grande parte do