jogos e brincadeiras tradicionais e convencionais … · a valorização de diferentes tipos de...
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
JOGOS E BRINCADEIRAS
TRADICIONAIS E CONVENCIONAIS COMO
PRÁTICA LÚDICO-CULTURAL NA ESCOLA
Maringá - PR
2008/2009
CLEIDE SESNIK
JOGOS E BRINCADEIRAS
TRADICIONAIS E CONVENCIONAIS COMO
PRÁTICA LÚDICO-CULTURAL NA ESCOLA
Artigo científico, apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, como requisito para obtenção de certificação sob a orientação do Professor Vanildo Rodrigues Pereira, do Departamento de Educação Física, da Universidade Estadual de Maringá.
Maringá
2008/2009
JOGOS E BRINCADEIRAS TRADICIONAIS E CONVENCIONAIS COMO
PRÁTICA LÚDICO-CULTURAL NA ESCOLA
Cleide Sesnik1
Vanildo Rodrigues Pereira2
Resumo: O presente artigo discute a influência de jogos e de brincadeiras
tradicionais e convencionais na formação cultural dos alunos, vislumbrando
possibilidades de intervenção pedagógica na educação física escolar. Os trabalhos
foram desenvolvidos com os alunos e familiares das 5ª Séries do Colégio Estadual
Prof.ª Denise C. Albuquerque, Ensino Fundamental e Médio de Flórida, Paraná. No
decorrer dos trabalhos, observou-se que o prazer de brincar está sendo esquecido.
Os jogos e brincadeiras, em muitas escolas, não fazem mais parte do trabalho
pedagógico. Em muitos casos, o gosto pelas brincadeiras encontra-se restrito a
espaços como parques, salas de jogos e brinquedotecas. O que impossibilita o
desenvolvimento de experiências de lazer como um ato educativo, de
relacionamento, convívio e de respeito às diferenças. Desse modo, compreende-se
que a Educação Física como uma prática de desenvolvimento da cultura corporal
tem, entre outros objetivos, a promoção de experiências significativas, de maneira a
tornar o lazer um elemento importante, responsável pela articulação do trabalho
pedagógico. Assim, os jogos e brincadeiras tradicionais são práticas de lazer de
diferentes grupos sociais. Como parte do processo de educação para o lazer, tais
práticas são experiências que estimulam o desenvolvimento pessoal e social dos
indivíduos, contribuindo para o reconhecimento e ampliação da diversidade nas
relações sociais.
Palavras-chave: Escola. Educação Física. Brincadeiras. Jogos. Aprendizagem.
1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Educação do Paraná.2 Professor Doutor do Departamento de Educação Física, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Abstract: This article discusses the influence of games and traditional games and
conventional cultural formation of students, seeing possibilities for educational
intervention on education. The project was developed with students and families of
the 5th Series of the State College Professor. ª Denise C. Albuquerque, elementary
and high school in Florida, Paraná. During the work, it was observed that the
pleasure of playing is being forgotten. The fun and games, in many schools no longer
part of the pedagogical work. In many cases, the taste for jokes is restricted to
spaces such as parks, amusement arcades and toy libraries. What prevents the
development of leisure experiences as an educational act, relationship, coexistence
and respect for differences. Thus, it is understood that physical education as a
practice of cultural development body has, among other objectives, the promotion of
meaningful experiences, in order to make leisure a major factor responsible for the
articulation of the pedagogical work. Thus, the games are traditional games and
leisure practices of different social groups. As part of the education to leisure, such
practices are experiences that encourage personal and social development by
contributing to the recognition and expansion of diversity in social relations.
Keywords: School. Physical Education. Jokes. Games. Learning.
Introdução
Nos dias atuais vivemos raras oportunidades de brincar e executar atividades
lúdicas que propiciem ao corpo bem estar físico, psíquico e mental. Desde os
primórdios dos tempos, o brincar tem sido considerado uma atividade das crianças e
também dos adultos. Porém, o ritmo acelerado da vida moderna tem colaborado
para decrescer em grande parte o tempo reservado para ele. Já não vemos nas ruas
crianças brincando de peteca, esconde-esconde, amarelinha, bilboquê, ioiô, pipa,
bolinha de gude, entre outras. Estas atividades foram substituídas pelo excesso de
atividades monitoradas que os pais impõem a seus filhos (aulas de língua
estrangeira, treinamentos desportivos, informática, música...), e também pelas artes
ou brinquedos visuais (videogames, televisão, computador, carrinhos eletrônicos...).
Nesta época de imensos avanços tecnológicos, da busca incansável de mais
e melhores conhecimentos, da expansão de fronteiras, encontrar tempo para brincar
até parece algo desnecessário, dispensável. A Declaração dos Direitos da Criança
(Resolução 1386 da ONU – 20 de novembro 1959) proclama que toda criança tem o
direito de ter uma infância feliz, proclama ainda no seu Princípio 4º que ela terá o
direito a crescer e criar-se com saúde. Para isso seriam necessários proteção e
cuidados especiais como alimentação, assistência médica e recreação. Portando, a
criança deve ser considerada prioridade absoluta e deve ter garantido todos os seus
direitos, inclusive o de brincar e de viver a sua infância brincando.
Por isso, cabe, também à escola, a preocupação com a recuperação do
espaço e da naturalidade do brincar e do jogar. Se isso não for pensado, as crianças
brincarão cada vez menos e se tornarão, precocemente, um adulto infeliz. Valorizar
os jogos e brincadeiras tradicionais e convencionais é uma maneira de contribuir
para a formação da criança, já que as brincadeiras permitem à criança maior
envolvimento no processo de ensino e de aprendizagem. Então, se questiona:
Porque resgatar os jogos e brincadeiras tradicionais no processo educativo? Qual a
influência dos jogos e brincadeiras na prática pedagógica? e Como e em que o
resgate destas brincadeiras pode contribuir para a formação do aluno?
Desenvolvimento
Jogos e Brincadeiras
Os jogos e brincadeiras, respeitando-se a especificidade de cada um,
representam um conjunto de possibilidades que contribuem para o desenvolvimento
da percepção e compreensão das relações interpessoais e do mundo. Para
Benjamin (2005), as crianças brincam. É o que as caracterizam. Em atividades de
jogos e brincadeiras estabelecem novas relações e cominações. Brincando, as
crianças viram as coisas pelo avesso e, nesse ato, revela a magia da infância, a
possibilidade de criar. Ela ensina o adulto, o faz pensar que é possível transformar o
sentido das coisas estabelecidas.
Nas obras de Walter Benjamin, especialmente no texto Reflexões sobre a
criança, o brinquedo e a educação, pode-se encontrar contribuições interessantes
para se compreender a infância, sobretudo, a capacidade criadora das crianças. Em
suas análises sobre a infância, a singularidade da criança está em sua capacidade
de criar cultura. Entende que a cultura infantil é produção e criação; as crianças
produzem cultura, na medida em que são construídas na cultura em que se inserem.
A valorização dos jogos e das brincadeiras é importante. Nessas atividades,
reside a potencialidade da brincadeira, ou seja, a experiência da cultura. Nas
tentativas de descobrir e conhecer o mundo que a cerca, as crianças atuam sobre os
objetos, e é nesse movimento de experiência cultural que atribuem significados
diversos às coisas. Não se trata, porém, de atividades corporais de submissão de
um sujeito a outros, tornando a prática de jogos e brincadeiras reforçadora de
desigualdades. A atuação requer um exercício de diálogo constante para se evitar o
reforço de modelos com esse enfoque. Faz-se necessário criar alternativas que
viabilizem a participação de todos os envolvidos. Nesse sentido, “as crianças e os
jovens devem ter oportunidade de produzirem as suas formas de jogar e brincar, isto
é, que tenham condições de produzirem suas próprias culturas” (PARANÁ, 2008, p.
36). A valorização de diferentes tipos de jogos e brincadeiras é uma possibilidade de
vivenciar diferentes maneiras de expressão cultural, respeitando a identidade
cultural de cada sociedade.
Vale destacar que, os jogos e brincadeiras, são atividades lúdicas muito ricas,
já que fornecem informações valiosas a respeito das crianças, sobretudo, no que se
referem as suas emoções, a maneira como se relaciona com os demais, a
habilidade motora, o nível de desenvolvimento, a capacidade lingüística e a
formação moral (DE CARVALHO, 2005). Os jogos e brincadeiras são importantes
instrumentos de manifestação da sociabilidade. Eles pressupõem uma
aprendizagem social, com diferentes padrões, vocabulário, regras e habilidades
específicas a sua execução. Por meio de tais elementos cada cultura tem a
possibilidade de exprimir as suas tradições, valores, crenças e costumes. A
brincadeira de rua, por exemplo, é uma maneira de expressão das interações
sociais; as quais têm um poder e fascínio muito grande sobre as crianças; tornando-
se uma atividade aglutinadora, na medida em que atraem observadores os mais
diversos. Alguns inexperientes; outros aprendizes em potencial.
Existem diferentes jogos e brincadeiras. Para Friedmann (2007), eles podem
ser classificados, como: fórmulas de escolha, jogos de perseguir, procurar e pegar;
jogos de correr e pular; jogos de atirar; jogos de agilidade, destreza e força;
brincadeiras de roda; jogos de adivinhar e pegas; prendas; jogos de representação;
jogos de faz-de-conta; jogos com brinquedos construídos e jogos de salão. Os jogos
e brincadeiras expressam a maneira como se vê e sente-se o mundo. Eles
representam formas significativas de envolvimento social, especialmente com os
pais, avós e outros. Atualmente, quase que esquecidos; conseqüência das
mudanças no modo de produção da atividade material, que torna a convivência
social e familiar quase nula, sobretudo, no que se refere ao envolvimento das
crianças com os adultos. Poucos são os momentos em que se observa o
desenvolvimento de jogos e brincadeiras entre as crianças; muito menos, entre
adulto e criança.
O resgate de jogos e brincadeiras é uma maneira de salvá-los do
esquecimento; além disso, o mais importante, ter a possibilidade de “criar e recriar
novos espaços de expressão e comunicação e estimular as interações sociais e o
desenvolvimento integral das crianças” (FRIEDMANN, 2007, p. 13). Em muitas
escolas, os jogos e as brincadeiras estão ausentes. Esquece-se que o lúdico é um
parceiro do professor, e que o brincar é um elemento importante no processo de
ensino e de aprendizagem escolar. “As brincadeiras enriquecem o currículo”
(MALUF, 2003, p. 29). Além disso, a interação social da criança, promovida por meio
de tais instrumentos, permite que ela seja capaz de construir relações e
conhecimentos sobre o mundo que a cerca.
A violência existente nos grandes centros que se estende aos centros
menores muito contribui para esse processo de esquecimento dos jogos e
brincadeiras. A priorização da segurança faz com que as crianças permaneçam mais
tempo em casa envolvidas com a televisão, computador e jogos eletrônicos (DE
CARVALHO, 2005). Nessas condições, os jogos e brincadeiras não têm espaço,
deixando de contribuir para o estabelecimento de vínculos sociais e de ajustamento
ao grupo. O que é um aspecto negativo, já que, em uma sociedade cada vez mais
individualista, não há espaço para a interação social entre as crianças e
adolescentes. Em muitos casos, observa-se que as crianças que não possuem
espaço para se envolver em jogos e brincadeiras visando o estabelecimento de
vínculos sociais, tornam-se adultos infantilizados e com pouca tolerância a
frustração. Faz-se necessário o estabelecimento de um estilo de vida mais familiar e
comunitário; mas, para tanto, é preciso que as crianças e adolescentes tenham
espaço de convivência e de interação social. E, também, que nesses espaços, tenha
lugar para jogos e brincadeiras, com o objetivo de que as crianças ampliem os seus
vínculos sociais. Nesse sentido, “os jogos e as brincadeiras são de relevância para o
desenvolvimento do ser humano, pois atuam como formas de representação do real
através de situações imaginárias” (PARANÁ, 2008, p. 36). Os jogos e brincadeiras
apresentam-se como instrumentos fundamentais de interação, especialmente no
que se refere ao processo de aprendizagem e de desenvolvimento do ser humano.
Nessas atividades, elas aprendem muito não somente com o adulto mas, também,
umas com as outras.
O valor educativo dos jogos e brincadeiras
O brincar, na educação escolar, é uma prática pedagógica importante. A
brincadeira é a forma pela qual a criança começa a aprender. Nesse sentido, é
essencial compreender a função pedagógica do brinquedo no processo
desenvolvimento e aprendizagem na educação infantil. O principal indicador da
brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar
outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-
literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e
características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. Os jogos e
brincadeiras favorecem a auto-estima das crianças, ajudando as crianças a
superarem progressivamente suas aquisições de forma criativa. Nesse sentido, o
brincar contribui para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito
de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-
no em um espaço singular de constituição da personalidade das crianças. Nas
brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam
anteriormente em conceitos gerais com os quais brincam. Para brincar é preciso que
as crianças tenham certa independência para escolher seus companheiros e os
papéis que irão assumir no interior de um determinado tema e enredo, cujos
desenvolvimentos dependem unicamente da vontade de quem brinca (BROUGÈRE,
2001).
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que
possuem regras, como os jogos de sociedade (também chamados de jogos de
tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais, etc., propiciam a ampliação dos
conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. O brinquedo passa a ser
utilizado como um facilitador do processo de ensino, uma vez que desenvolve e
educa de uma forma prazerosa. O fato de Vigotski (1998) considerar a brincadeira
simplesmente como uma atividade prazerosa incorre-se num equívoco, e tais
enganos dão-se por dois motivos. São eles: experiências de prazer como, por
exemplo, o chupar chupeta são mais intensas que o próprio brincar e, mais, existem
atividades esportivas que só são interessantes quando o resultado da atividade é
interessante para a criança.
As crianças aprendem, no faz-de-conta, a agir em função da imagem de uma
pessoa, de uma personagem, de um objeto e de situações que não estão
imediatamente presentes e perceptíveis para elas no momento e que evocam
emoções, sentimentos e significados vivenciados em outras circunstâncias. O
brincar funciona como um cenário no qual as crianças se tornam capazes não só de
imitar a vida como também de modificá-la (KNÜPPE,1997). O brincar,
diferentemente de outras atividades possíveis de serem realizadas pela criança,
permite a criação de uma situação imaginária e, para Vigotski (1998), a situação
imaginária é uma característica definidora do brinquedo em geral. Além disso, a
brincadeira não é uma atividade natural, sem intencionalidade (PARANÁ, 1992).
A pergunta que precisa ser feita, afirma Vigotski (1998), é a seguinte: Qual o
significado do comportamento de uma criança numa situação imaginária? O brincar
envolvendo uma situação imaginária, embora não sendo um jogo com regras
formais, apresenta regras de comportamento. Afirma ele que “se a criança está
representando o papel de mãe, então ela obedece as regras de comportamento
maternal. O papel que a criança representa e a relação dela com um objeto (se o
objeto tem seu significado modificado) originar-se-ão sempre das regras”
(VIGOTSKI, 1998, p.125).
Nos jogos com regras também estão presentes situações imaginárias do
mesmo modo que as situações imaginárias têm que conter regras de
comportamento. Quando a criança, por exemplo, joga xadrez, em trabalhos
desenvolvidos no primeiro ciclo do Ensino Fundamental, é criada uma situação
imaginária. De acordo com Vigotski (1998, p. 125) isso é possível “Porque o cavalo,
o rei, a rainha, etc. só podem se mover de maneiras determinadas; porque proteger
e comer peças são, puramente, conceitos de xadrez. Embora no jogo de xadrez não
haja uma situação direta das relações da vida real, ele é, sem dúvida, um tipo de
situação imaginária”. Para Pereira (2002), um pedaço de pau ou uma pedra são
objetos que com um pouco de sensibilidade educacional oportunizam a expansão da
criatividade infantil; esses objetos viram brinquedos, idéias e possibilidades para a
criança. O brincar abre caminho para o processo de socialização, onde, na medida
em que se descobre o outro a criança torna-se capaz de compreender a si mesma.
Qual seria a importância e a influência do brincar para o desenvolvimento de
uma criança? A partir do momento em que a criança é capaz de se envolver em
situações imaginárias, a criança dá um salto em seu desenvolvimento. E isso só é
possível por que é por meio do brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera
cognitiva. Ela não se encontra mais limitada a uma esfera visual externa, mas
depende das motivações e tendências internas. A atividade desenvolvida pela
criança numa situação imaginária, de acordo com Vigotski (1998), ensina a criança a
dirigir seu comportamento não somente pela percepção imediata, mas também pelo
significado dessa situação. No brinquedo, o pensamento da criança está separado
do objeto e a ação da criança surge das idéias e não das coisas.
Na atividade com brinquedo, a criança é livre para determinar suas próprias
ações, liberdade essa que é imaginária, e está subordinada aos significados dos
objetos. Por meio da brincadeira simbólica, a criança é capaz de construir um mundo
ilusório, de situações imaginárias onde os objetos são usados como substitutos de
outros, conforme a criança os emprega com gestos e falas adequadas (OLIVEIRA et
al, 1992). A capacidade de operar com significados desligados dos objetos e ações
pela criança, caracteriza-se por uma fase de transição. E, segundo Vigotski (1998, p.
129-130), “[...] é um estágio entre as restrições puramente situacionais da primeira
infância e o pensamento adulto, que pode ser totalmente desvinculado de situações
reais”. Assim, na perspectiva histórico-cultural, o desenvolvimento de jogos e
brincadeiras, realizadas em interação com o adulto, o educador, possibilita a
apropriação dos conhecimentos produzidos pela humanidade e, além disso, leva-a a
assimilar e a recriar a experiência do adulto.
A influência sobre o desenvolvimento motor, aprendizagem e socialização
Segundo Vigotski (1998), o papel característico da psicologia humana que
difere da psicologia animal é a capacidade de internalização das atividades social e
historicamente produzidas pela humanidade. A diferenciação entre psicologia
humana e psicologia animal só tornou-se possível, entre outros estudos, a partir da
investigação realizada por Vigotski (1998), sobre os processos psicológicos
elementares e os processos psicológicos superiores.
Em seus trabalhos envolvendo a cultura, a história e o social, Vigotski (1998)
tentou explicar como se dava a transformação dos processos psicológicos
elementares vinculados a fatores biológicos do desenvolvimento, no que denominou
de funções psicológicas superiores, as quais, afirmou ele, são originadas da
interação do indivíduo num determinado contexto sócio-histórico. Partindo de
investigações que tinham como ênfase as relações do indivíduo com o mundo e
demais indivíduos inseridos em um mesmo contexto-histórico, Vigotski teve
condições de explicar como se dá a construção do pensamento e a gênese das
estruturas do pensamento humano.
Compreendeu-se, a partir desses estudos, a importância da cultura no
desenvolvimento do funcionamento psicológico humano, a partir da apropriação pelo
indivíduo da experiência histórica e cultural construída pela humanidade. Para ele, o
desenvolvimento humano ocorre dessa forma não só pela internalização das formas
culturais, mas porque, por meio delas, transforma e intervém no meio social em que
está inserido. O funcionamento psicológico caracteristicamente humano, que se
diferencia da psicologia animal, estava relacionado ao pleno domínio por parte do
indivíduo do controle consciente de seu comportamento, da capacidade de
planejamento, atenção e lembrança voluntária, memorização ativa, pensamento
abstrato, raciocínio dedutivo e imaginação. “Segundo Vigotski, a aquisição de um
sistema lingüístico reorganiza, pois, todos os processos mentais infantis. A palavra
dá forma ao pensamento, criando novas modalidades de atenção, memória e
imaginação” (DAVIS ; OLIVEIRA, 1991, p. 51).
As funções mentais superiores diferenciam-se dos processos psicológicos
elementares pelo fato destes estarem presos a reações reflexas e associações
simples, de origem biológica. Os processos psicológicos elementares são vistos no
comportamento das crianças pequenas e nos animais. De acordo com Rego (2003,
p. 27) “[...] as funções psíquicas humanas estão intimamente vinculadas ao
aprendizado, à apropriação (por intermédio da linguagem) do legado cultural de seu
grupo”. Com efeito, pode-se entender, a partir da perspectiva de Vigotski (1998), que
as características psicológicas essencialmente humanas são formadas ao longo da
vida, mediante um processo de interação entre os indivíduos e o meio físico e social,
e, desta interação, apropria-se da cultura elaborada por gerações anteriores. “Ao
internalizar instruções, as crianças modificam suas funções psicológicas: percepção,
atenção, memória, capacidade para solucionar problemas. É dessa maneira que
formas historicamente determinadas e socialmente organizadas de operar com
informação influenciam o conhecimento individual, a consciência de si e do mundo
(DAVIS ; OLIVEIRA, 1991, p. 50).
O desenvolvimento psicológico caracteristicamente humano ocorre por meio
de um processo de mediação. Isso significa que a relação com pessoas adultas do
grupo social contribui, para que o indivíduo, pelo processo mediativo, possa
apropriar-se dos elementos culturais da humanidade. A ação docente, na
perspectiva sócio-cultural, é [...] intencional, deliberada, dirigida à construção e à
apropriação de conhecimentos culturalmente produzidos e à promoção do
desenvolvimento, o que significa que não basta a interação social para que o
aprendizado ocorra (BOIKO ; ZAMBERLAN, 2001, p. 52).
Para Vigotski (1998), existiam dois níveis de desenvolvimento: um, chamou
de “real ou efetivo”, que se refere a todas as conquistas realizadas pela criança e
não precisa da assistência para resolver. O outro chamou de “desenvolvimento
potencial”, está relacionada as capacidades individuais que estão em vias de serem
alcançadas. Também se refere a todas aquelas situações escolares realizadas
mediante apoio a partir das quais o conhecimento é problematizado por meio da
imitação, da colaboração, do diálogo, da experiência compartilhada e de
informações e pistas que lhe são oferecidas. Nesse sentido, a criança em interação
com outras pessoas é capaz de colocar em movimento vários processos cognitivos
que, se não o fizesse com a ajuda de outros, não seriam possíveis de ocorrer.
Afirmou Vigotski (1998, p.113): “aquilo que é a zona de desenvolvimento proximal
hoje, será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja, aquilo que uma
criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã”.
A memória, a atenção, a abstração, a aquisição de instrumentos, a fala e o
pensamento são as funções psicológicas que, logo no início do desenvolvimento
infantil, estão em seus estágios iniciais de desenvolvimento e, que, evoluem
culturalmente, quando as crianças passam a utilizar os instrumentos psicológicos
adquiridos culturalmente pela mediação dos signos. Vigotski (1998), ao estabelecer
as relações entre aprendizagem e desenvolvimento, possibilitou a compreensão dos
elementos importantes à integração entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento.
Segundo ele, as crianças não conseguem resolver sozinhos os problemas
complexos da sociedade simplesmente pela sua adaptação natural a essa
sociedade, somente, quando entra para a escola, é que são oferecidas as
condições, bem como os caminhos necessários a resolução desses problemas.
Na teoria sócio-cultural o papel do educador é de mediação. É ele quem
estabelece as relações entre o conhecimento que as crianças trazem de fora da
escola e aquele que é valorizado culturalmente pela sociedade. Nesse sentido, o
papel do professor é caracterizado como o de mediador entre os significados
pessoais dos seus alunos e os culturalmente estabelecidos, promovendo o
aprendizado e o desenvolvimento dos mesmos (BOIKO ; ZAMBERLAN, 2001, p.
51). As idéias defendidas por Vigotski (1998) demonstram o quanto a educação
escolar seria uma das instituições principais para responder pelo aprendizado e pelo
desenvolvimento do educando. Afirmou ele “o aprendizado pressupõe uma natureza
social específica em um processo através do qual as crianças penetram na vida
intelectual daqueles que as cercam” (VIGOTSKI, 1998, p. 115).
Para Boiko e Zamberlan (2001), na prática pedagógica o conhecimento que a
criança trás para a escola é fundamental para o desenvolvimento da ação docente
por que, através da mediação do professor, os alunos podem ampliar seus
conhecimentos, na medida em que propõe desafios e questionamentos que levam a
construção de hipóteses o professor amplia e desafia as crianças a novas
aprendizagens. Os brinquedos, por exemplo, são um caminho pelo qual as crianças
são capazes de compreender o mundo em que vivem, e, que, posteriormente, serão
chamadas a transformar futuramente. A importância da brincadeira se destaca pela
existência das situações imaginárias, a partir das quais, a criança é levada a
reproduzir uma ação. O que é preciso diferenciar quando se trata de destacar a
importância da brincadeira é que, o ato de brincar, por si só, não é condição principal
para o desenvolvimento psíquico da criança, mas, sua significação e relevância
dada nesse período são observadas em relação ao desenvolvimento das operações
intelectuais. As brincadeiras infantis quando estruturadas nessa fase da vida escolar
das crianças estimulam o desenvolvimento das operações cognitivas.
Leontiev (1988) também contribui para a compreensão da relação entre
ensino, aprendizagem e desenvolvimento. A atividade lúdica quase sempre foi
compreendida como, simplesmente, uma “atividade natural”, espontânea da criança,
na qual não havia intencionalidade e diretividade, principalmente em relação aos
conhecimentos que a criança deveria adquirir (PARANÁ, 1990). Os estudos de
Vigotski (1998) e Leontiev (2004) são contrários a esse posicionamento, porque,
para eles, a brincadeira, quanto à sua intencionalidade e diretividade, favorecem o
desenvolvimento das operações cognitivas necessárias ao desenvolvimento
posterior das crianças. A criança não é um ser que vive simplesmente no mundo da
fantasia, desvinculada da realidade social que a determinada. Desse modo, pode-se
compreender que a organização e estruturação do espaço escolar são necessárias.
Vigotski (1998) entendeu que o aprendizado seria responsável por criar a zona de
desenvolvimento proximal, a partir da qual, a criança é capaz de colocar em
movimento os vários processos de desenvolvimento que só são possíveis de ocorrer
a partir da relação educador-educando, ou seja, pela mediação pedagógica.
O aprendizado, na teoria sócio-cultural, é possibilitado pela ação planejada do
educador, contudo é necessário que o aluno faça suas próprias perguntas e
questionamentos. As dúvidas e indagações são ótimos fermentos para provocar a
elaboração de hipóteses, que precisam ser confirmadas. O papel do professor,
nesse caso, é mostrar os caminhos, as possibilidades e as maneiras que podem ser
resolvidas às hipóteses dos alunos. Isso quer dizer que o papel do educador não se
resume em uma estratégia educativa de incentivar a compreensão dos conteúdos e
matérias mais importantes, mas fazer com que os alunos sejam capazes de fazer
questionamentos, duvidar, estabelecer hipóteses, estudá-las e resolvê-las. Para
Campos (1997, p. 43) “O sujeito em atividade constrói suas próprias categorias de
pensamento, através da comparação, categorização, comprovação, reformulação
etc., de modo a organizar e reorganizar o mundo em ação interiorizada”.
Dessa forma, resta saber e compreender a maneira como a relação entre
adulto e criança acontece na concepção da teoria sócio-cultural, com o objetivo de
apreender a especificidade da função social da escola. É preciso destacar ainda o
papel do educador nesse processo. É através dele e, é aqui onde se pode
compreender a importância que Vigotski (1998) atribui à educação, processo esse
capaz de desenvolver as funções psicológicas superiores, as quais não são
simplesmente resultado de uma evolução puramente biológica. Da mesma forma o
papel do brinquedo para o desenvolvimento das crianças, o qual não pode ser visto
como uma prática espontaneísta, sem nenhuma intencionalidade e diretividade.
A ação do educador no processo de desenvolvimento infantil é imprescindível,
isto porque, a intencionalidade e a diretividade de sua prática pedagógica contribuirá
para o desenvolvimento das principais funções cognitivas infantis, como por
exemplo, atenção voluntária, memória, raciocínio, linguagem, pensamento, entre
outras. Essas possibilidades são o resultado de uma ação pedagógica em que o
educador não domina apenas o conhecimento a ser ensinado mas, também, o
processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Na medida em que o
educador no desenvolvimento de sua ação pedagógica, tendo domínio do conteúdo
a ser dado, sabe também como ocorre o processo de desenvolvimento e
aprendizagem, saberá em sua prática, como adequar o seu método de ensino as
reais possibilidades de compreensão e construção de conhecimento por parte da
criança.
A falta de uma teoria que dê embasamento para o planejamento das ações
pedagógicas desenvolvidas pelo educador em sala de aula pode comprometer todo
o processo de ensino-aprendizagem, porque não basta simplesmente expor o
conteúdo às crianças, é preciso que aja interação entre o educador e o educando no
processo de ensino-aprendizagem. O educador só saberá, realmente, que seu
educando não está aprendendo quando esse mesmo educador saiba como está
ocorrendo o processo de assimilação pelo aluno. A mediação pedagógica não se
refere a exposição de conteúdos tanto por vias visuais ou auditivas, a mediação
propriamente pedagógica, ocorre de fato, quando o educador, na falta de autonomia
do aluno para resolver por si só o que lhe está sendo exposto tanto por vias visuais
ou auditivas, potencializa a aprendizagem pelo aluno a partir da condução, por ele
educador, das atividades propostas ao aluno.
Por exemplo, tendo o brinquedo como mediador da ação pedagógica, o
educador pode ampliar o repertório vivencial e de conhecimentos das crianças,
conduzindo todas elas, rumo à autonomia e cooperação, pelo desenvolvimento das
estruturas cognitivas dos educandos. Porém, para que a ação pedagógica efetive de
fato as habilidades cognitivas dos educandos para que estes possam se utilizar
delas posteriormente nas outras etapas de sua escolarização, é preciso que o
educador saiba, realmente, como todas as crianças, como cada uma delas está ou
não se apropriando dos conhecimentos que lhe são transmitidos.
Tanto Vigotski (1998), quanto Leontiev (2004) acreditam que as crianças só
atingirão o pleno domínio de suas atividades psicológicas superiores quando forem
oferecidas para elas condições para isso. E, essas condições, afirmam esses
pesquisadores, são efetivadas pela mediação pedagógica, prática essa que não
pode ser confundida simplesmente como uma mera exposição de conteúdos pelos
educadores em sua ação pedagógica em sala de aula. Desse modo, o trabalho
pedagógico, na perspectiva sociocultural, aponta para o desenvolvimento de uma
educação escolar como espaço privilegiado em que as crianças e adultos possam
dialogar, duvidar, discutir, questionar e compartilhar saberes. Além disso, que tenha
espaço para transformações, erros, contradições, cooperação mútua e, também,
para a criatividade.
Conclusão
O brincar em situações educacionais oferece aos alunos condições que
facilitam o aprimoramento da aprendizagem e possibilita aos adultos aprenderem
mais sobre as crianças e suas necessidades. Dentro da escola, isso significa
professores capazes de perceber em que situação de aprendizagem as crianças se
apresentam e como está o seu desenvolvimento. O que, por sua vez, torna possível
o entendimento de quais conteúdos trabalharem a fim de promover novos e
melhores conhecimentos aos alunos. Na escola, pode-se encontrar no brincar a
função preponderante para o desenvolvimento da criança e do homem em todos os
seus aspectos. É necessário, pois, analisar que esse ato faz parte de uma
aprendizagem prazerosa. Pensando assim, os educadores exercem um papel muito
importante e deve-se oferecer situações para que o aluno possa encontrar um
ambiente, que lhe permita realizar a aprendizagem de maneira significativa.
No decorrer do desenvolvimento do projeto trabalhou-se a contextualização
de cultura e de jogos com os alunos. Fizeram-se o levantamento de brincadeiras
infantis, apresentação, experimentação e adaptação para os dias atuais. Para tanto,
foram confeccionados jogos e brinquedos; além disso, foram desenvolvidas
entrevistas semi-estruturadas com alunos e com seus familiares e com pessoas
mais velhas a respeito de jogos e brincadeiras infantis. Os alunos das turmas de 5ª
série do Colégio Estadual Professora Denise C. de Albuquerque apresentaram
diversas brincadeiras comuns na época de seus pais com as que são brincadas
atualmente. Destacaram diversas, tais como: pega-pega; pular corda; barata
agacha-agacha; esconde-esconde; futebol de rua (pelada); três cortes; bets; passa-
passa cavaleiro; pular-corda (passar zerinho); pião, brincadeiras de roda; burquinha;
estilingue; pipa; estrela nova; perna de pau; malha, carrinho de rolemã, entre outras.
Apesar de afirmarem que as brincadeiras serem as mesmas muitas observam
mudanças e detalharam novos procedimentos e regras. Relataram que muitas
brincadeiras e jogos aprenderam com seus pais e familiares mais próximos,
demonstrando que ainda as famílias ainda possuem o hábito de jogarem e de
brincarem com seus filhos, apesar da influência determinante sobre eles dos jogos
eletrônicos. Nos relatos dos pais, comumente, os avós deixavam os filhos brincarem
mais no período da tarde; as que viviam em sítios e fazendas brincavam com as
crianças das colônias nos terreiros de secagem de café. Muitos confeccionavam os
seus próprios brinquedos, como pipas, bola de meia, carrinho de rolimã, bonecas,
entre outros. Os pais, nas entrevistas, relataram uma variedade enorme de
possibilidades e de situações de jogos e de brincadeiras, demonstrando, em
confrontação com os hábitos dos filhos atualmente, maior envolvimento em
atividades lúdicas.
Como se pode observar, por meio de jogos e brincadeiras, é possível
descobrir e despertar necessidades, anseios e interesses lúdicos, estéticos,
artísticos e educativos além da criança poder vivenciar a experiência de mesclar
fantasia e realidade, desenvolver autonomia, se inserir no contexto social e
ser,simplesmente, criança. Ou seja, os jogos e brincadeiras, também nos mostram
características da criança quanto ao seu desenvolvimento, sociabilidade,
criatividade, relacionamento consigo e com a sociedade. São maneiras atraentes e
estimulantes no processo de ensino e de aprendizagem, por meio deles é possível
atrair os alunos para a escola e fixar conteúdos (das várias disciplinas) que muitas
vezes são abstratos para os alunos. Os jogos e as brincadeiras são considerados as
principais maneiras de manifestações infantis e juvenis. Por suas características é a
expressão máxima da infância. Um espaço privilegiado de interação infantil e de
constituição do sujeito-criança como sujeito humano, produto e produtor de história.
Eles são transmitidos e modificados conforme as novas gerações os vivenciam, ou
seja, uma geração pode transmitir um jogo ou uma brincadeira como foi criado, mas
pode acrescentar-lhe algumas mudanças na medida em que são jogados e em que
a cultura vai se transformando. A brincadeira é uma atividade que permite à criança
assimilar e recriar as experiências vivenciadas anteriormente pelos adultos.
No brincar, a criança constrói seu mundo, constrói o seu saber, aprende a
criar regras, a respeitar o outro, desenvolve a solidariedade, o sentimento de grupo,
se socializa, ativa a criatividade, a imaginação e, se realiza. A brincadeira tem uma
motivação interna se configurando como um exercício de entendimento do mundo.
Pode-se entendê-la como representação de uma luta da criança para superar uma
situação de dificuldade. Sendo assim, a criança que não brinca, que deixa de
exercitar suas capacidades infantis e assume muito cedo responsabilidades de
pessoas adultas não têm condições de desenvolver-se de maneira saudável, e isto,
de alguma forma, irá se manifestar em sua personalidade adulta. A pessoa que
brinca mais tem mais facilidade de enfrentar e de resolver seus problemas, já que,
brincando, coloca para fora suas emoções, interioriza os seus conflitos e adquire
maturidade para lidar com as situações de seu cotidiano em sua infância e na vida
adulta. Através dos jogos e das brincadeiras a criança desenvolve a linguagem, o
pensamento, a socialização, a iniciativa e a auto-estima, preparando-se para ser um
cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo
melhor.
Durante muito tempo o brincar foi considerado apenas como uma atividade de
lazer; porém, hoje, com o conhecimento melhor do ser humano já se sabe que
brincar é sim uma forma de aprender. Professores e pais ainda não tomaram
consciência de que as crianças devem brincar, jogar, correr, saltar, gritar; enfim,
realizar várias atividades que correspondem à infância. Alguns professores
trabalham os jogos e brincadeiras como se pede em nossas diretrizes curriculares,
mas outros esqueceram e os aboliram completamente das aulas. Os pais
sobrecarregam seus filhos com aulas variadas para ocupar o tempo, e esqueceram
que são apenas crianças ou adolescentes que necessitam de atividades físicas
prazerosas, sem o compromisso de ter que marcar um gol para alegrar o pai ou falar
algumas palavras em inglês para contentar a mãe. Quando as crianças jogavam
petecas, bolas de gude, bets, pulavam corda, bamboleavam, soltavam pipa, entre
outras brincadeiras, eram alegres, não se ouvia falar em depressão infantil. Portanto,
os profissionais da área de Educação Física, precisam resgatar os jogos e
brincadeiras em nossas escolas. Os jogos fazem parte da vida do ser humano, visto
que se um jogo, uma luta, um combate, uma derrota ou uma vitória, a todo o
momento vivencia-se duelos a favor ou contra algo ou alguém. Desse modo, ensinar
os alunos a competir, saber ganhar e perder, é um compromisso e, também, de
refletir que o jogo faz parte do ser humano e de seu processo de sociabilização.
Através dos jogos, as crianças podem se tornar cidadãos e seres sociáveis,
conseguem-se conhecer melhor o ser humano. Os jogos dão prazer, alegria, euforia
e, até mesmo, tristezas. Com eles, aprende-se a conviver com algumas situações do
dia-a-dia; por meio deles, os alunos aprendem limites, criatividade, vivenciam
situações coletivas, criarem regras e aprendem a respeitá-las, como se estivessem
exercendo sua cidadania em uma sociedade. E, para concluir, os versos de
Drummond, com palavras tão claras e tão precisas, definem a real importância do
brincar:
Brincar com criança não é perder tempo,
é ganhá-lo;
Se é triste ver meninos sem escola,
mais triste ainda é vê-los
sentados enfileirados,
em salas sem ar,
com exercícios estéreis,
sem valor para a formação
do homem.
(Drummond)
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