jogos cooperativos: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os jogos...

33

Upload: lamliem

Post on 08-Nov-2018

231 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando
Page 2: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz e

harmonia nas aulas de Educação Física

1Úrsula Rohenkohl

2Carmem Elisa Henn Brandl

RESUMO:

Este artigo é derivado de um projeto de Intervenção Pedagógica do PDE

(Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná), realizado na cidade

de Marechal Cândido Rondon, no Colégio Estadual Marechal Rondon, tendo

como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física:

formas alternativas de convivência com atitudes e valores integrativos. O

objetivo foi realizar um estudo para investigar a opinião, o entendimento e a

percepção dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental sobre brincadeiras e

jogos competitivos e cooperativos que foram ministrados durante o segundo

semestre de 2011. A pesquisa foi descritiva e o instrumento utilizado foi um

questionário contendo 11 questões que foram respondidas ao final dos

trabalhos. Alguns filmes sobre o assunto também foram mostrados. Os

resultados demonstraram que os estudantes perceberam e gostaram da

maneira cooperativa de realizar as atividades, pois 91,30% dos discentes

participaram das atividades com interesse e 87,50% opinaram que o mais

importante é jogar e se divertir ao invés de apenas vencer, além de não serem

excluídos das brincadeiras e jogos. Recomendamos que as atividades

cooperativas devam fazer parte das aulas de Educação Física, pois colaboram

nas aprendizagens e ensinam a conviver socialmente sem agressividade,

diminuindo a violência.

Palavras Chave: Escola, Educação Física, Jogos e Brincadeiras Cooperativas.

1 Professora de Educação Física da rede pública de ensino do Estado do Paraná, integrante do Programa

de Desenvolvimento Educacional – PDE. Especialização em Educação Física Escolar. Graduação em

Educação Física pela FACIMAR. Atua no Colégio Estadual Marechal Rondon.

2 Professora do Curso de Educação Física da UNIOESTE, orientadora da docente integrante do PDE.

Graduação em Educação Física pela FACIMAR. Doutorado em Educação Física/ Pedagogia do

Movimento/FEF/UNICAMP.

Page 3: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

2

1 INTRODUÇÃO

A Educação Física em sua prática está fortemente ligada ao esporte

desde que foi incluído ao currículo escolar. O esporte culturalmente, no mundo

ocidental, se relaciona com a competição, sendo que, nas atividades realizadas

durante as aulas de educação física, muitas vezes, elas podem fomentar atos

agressivos, gerar a exclusão e atitudes de violência, desrespeito, ou seja,

valores e atitudes socialmente indesejáveis. Muito se fala em violência na

escola, mas o que estamos fazendo para mudar essas atitudes e posturas de

nossos alunos? A competição quando não bem orientada, pode gerar, nas

aulas de Educação Física, muito desconforto e até desistências ou má vontade

de participar, fazendo com que não se tenha prazer de brincar e jogar, e com

isso o processo de ensino/aprendizagem é prejudicado ou deixa de acontecer.

Numa sociedade capitalista como a nossa onde só os melhores se

sobressaem, de uma forma ou de outra, esses valores sociais passam a fazer

parte e influenciar as aulas. Para Gonçalves (1997), o ser humano é um eterno

aprendiz, e necessita desde cedo desenvolver a capacidade de pensar, agir, e

interagir com o meio em que vive, ser crítico e consciente. Aprende então, a

analisar, compreender e transformar, criar novos meios para resolver os

problemas e superar desafios, selecionando os dados importantes,

estabelecendo relações de ajuda mútua.

Jogos cooperativos é um possível caminho para estabelecimento da

reflexão e da convivência, da melhora da autoestima, da confiança em si e nos

colegas, da valorização do ser humano e de suas habilidades e competências,

oferecendo igualdade de condições para o crescimento pessoal e,

consequentemente, para uma melhor qualidade de vida. Os Jogos

Cooperativos facilitam a aproximação e a aceitação. A ajuda mútua do grupo

torna-se essencial para alcançar o objetivo final. Jogos Cooperativos são feitos

para unir as pessoas e a preocupação não é de ganhar e sim de divertir e de

descontrair (ORLICK, 1989).

Pensou-se na possibilidade de discutir e ministrar procedimentos

pedagógicos alternativos com os alunos, como o caso dos conceitos

(princípios), procedimentos e atitudes (valores) baseadas na cooperação, pois

Page 4: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

3

em atividades competitivas quase sempre os estudantes agiam de forma

agressiva e individualista. O intuito era também discutir com os/as alunos/as a

origem deste tipo de comportamento. Com essa finalidade, foi elaborado um

projeto de intervenção pedagógica constituído de ações cooperativas e

competitivas que foi desenvolvido no segundo semestre de 2011. Ao final dele

os sujeitos que participaram responderam um questionário com questões

pertinentes as situações desenvolvidas.

A expectativa era que a violência diminuísse e que o alunado

compreendesse que o importante é participar, que todos fazem parte de um

grupo e que tem sua função nesse grupo, de acordo com suas possibilidades.

Orlick (1989) quando fala dos esquimós, mostra claramente isso, todos da

comunidade tinham um importante papel a desempenhar para que o grupo

sobrevivesse, mesmo as crianças, cada qual cooperava de acordo com suas

possibilidades, contribuindo para o bem comum.

A competição exacerbada que ocorre em nossa sociedade está sendo

refletida dentro das escolas e também nas aulas de Educação Física, gerando

atitudes agressivas, de desprezo e discriminação. O individualismo impera e os

alunos pensam em ser o melhor a qualquer preço e deixam de lado os valores

humanos. Ocorre então, a competição excessiva nas aulas de Educação

Física, levando a conflitos e desconfortos, principalmente para aqueles que têm

menor habilidade, sendo estes rejeitados e excluídos.

Para Orlik (1989), essa competição exacerbada presente nas

atividades esportivas é o reflexo da sociedade capitalista, que prioriza o

individualismo, ser o melhor. Assim, o desempenho e os resultados tornam-se

tão importantes que acabam por isolar, criar muros e separar cada vez mais os

indivíduos dificultando as relações sociais de convivência. Os resultados são

tão valorizados que o jogo pode se tornar um “vale tudo” para ganhar, não

importando “o como vencer”. Com isso, normalmente surgem as trapaças, as

enganações, o burlar de regras, o desrespeito, até a eliminação do outro. Só

que sem o outro, a gente não sobreviveria, ou nem existiria. Dependemos uns

dos outros para que ocorra o jogo, a brincadeira, o esporte, a vida.

A sociedade e a mídia continuam mostrando que só os melhores

vencem. A competição se inicia, muitas vezes, em casa com os irmãos, primos

e depois na escola com os colegas, e como que naturalmente, transfere-se

Page 5: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

4

para a sociedade. Observamos situações como: conseguir os melhores

empregos, ser o melhor vendedor, ter o melhor carro, entre outros. Ao

observarmos a história da humanidade percebe-se que a competição esteve e

está presente, principalmente na filosofia ocidental, em todos os setores e em

todas as épocas.

Considerando o que foi exposto, surgiram questionamentos: Qual será

a opinião, o entendimento e a percepção de estudantes do 6º ano do Ensino

Fundamental sobre brincadeiras e jogos competitivos e cooperativos que

participaram durante as aulas no segundo semestre de 2011? Será que

brincadeiras e jogos cooperativos auxiliaram alunos/as do 6º ano do Ensino

Fundamental a terem uma convivência harmônica e pacífica durante as aulas

de Educação Física e a começarem a entender a individualidade e a

diversidade humanas, revendo seus conceitos, procedimentos e atitudes

(valores)?

O objetivo do artigo foi verificar a opinião, o entendimento e a

percepção de alunos do 6º ano do Ensino Fundamental sobre brincadeiras e

jogos competitivos e cooperativos que foram ministrados durante o segundo

semestre de 2011.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 REVISÃO DE LITERATURA

Esta revisão apresenta uma breve história da Educação Física e logo

após dirige-se para os temas específicos do artigo.

2.1.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

No Brasil, nas diferentes épocas, a Educação Física foi vista e

vivenciada de diferentes formas. Na época do império ela apenas cuidava do

corpo do homem, pensava-se na educação física como um corpo separado da

mente, como se para fazer as atividades físicas não era necessário pensar.

Page 6: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

5

Através de estudos e pesquisas, Ghiraldelli (1991) resgatou cinco

tendências da Educação Física brasileira. A Educação Física Higienista (1889-

1930) tinha como principal preocupação a de que tendo-se um corpo forte e

saudável, haveria auxílio na perpetuação da raça humana, ou seja, uma raça

pura, soberana. O objetivo maior era o de livrar o povo das doenças infecciosas

e dos vícios que deterioram a saúde. “A Educação Física Higienista vislumbra a

possibilidade e a necessidade de resolver o problema da saúde pública pela

educação” (GHIRALDELLI, 1991, p. 17). Como primeiro objetivo era o de

formar homens fortes e disciplinados a Educação Física era então conhecida

como Ginástica.

A Educação Física Militar (1930-1945) era baseada no regulamento da

Educação Física da Escola Militar. Neste modelo militarista os objetivos da

Educação Física na escola “eram vinculados à formação de uma geração

capaz de suportar o combate, a luta, para atuar na guerra; por isso, era

importante selecionar os indivíduos “perfeitos” fisicamente e excluir os

incapacitados” (DARIDO, 2008, p. 3). A intenção era a formação do homem

obediente e adestrado.

A Educação Física Pedagogicista (1945-1964), segundo Ghiraldelli

(1991), mostra-se preocupada com os jovens que frequentam as escolas. Ela

se sustenta no pensamento liberal, mas não como do início do século, da

época do higienismo, ela busca neste momento, integrar a Educação Física

como 'disciplina educativa por excelência' na rede pública de ensino.

A Educação Física Pedagogicista é, pois, a concepção que vai reclamar da sociedade a necessidade de encarar a Educação Física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de disciplinar a juventude, mas de encarar a Educação Física como uma prática eminentemente educativa. E, mais que isto, ela vai advogar a “educação do movimento” como a única forma capaz de promover a chamada “educação integral” (GHIRALDELLI, 1991, p.19).

Para a Educação Física Competitivista (pós-1964), segundo o mesmo

autor, o principal objetivo era a caracterização da competição e da superação

individual como valores fundamentais e desejados para uma sociedade

moderna, voltada para o culto do atleta-herói.

Após 1964 o esporte passou a ser trabalhado nas escolas com maior

ênfase. O enfoque pedagógico passou a ser centrado na competição e na

Page 7: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

6

performance dos alunos, via-se a escola como um “celeiro de novos atletas”,

que viriam a representar o nosso país nas Olimpíadas.O currículo era centrado

na competição e na performance dos alunos.

Na Educação Física Popular, conforme Ghiraldelli (1991) constatou-se

que ela não tinha muitas produções teóricas e foi transmitida oralmente entre

as gerações de trabalhadores. “Ela entende que a educação dos trabalhadores

está intimamente ligada ao movimento de organização das classes populares

para o embate da prática social, ou seja, para o confronto cotidiano imposto

pela luta de classes” (p. 21).

Em meados da década de 1980 começam a ocorrer mudanças

substanciais na Educação Física, pois vários profissionais e acadêmicos

começaram a estudar mais profundamente e questionar o que estava exposto

até o momento. Neste período era a Educação Física Desportivista que

predominava. Foi também a época em que os movimentos sociais solicitavam

a participação direta da população nas eleições, liberdade para pesquisar todas

as áreas de conhecimento, inclusive as opostas ao regime de governo. Logo,

encontros e debates entre os profissionais e acadêmicos discutiram os rumos

da Educação Física (DARIDO, 2008).

Estes estudos e pesquisas resultaram atualmente no que alguns

autores como Shigunov (2001) e Darido (2008) denominam de abordagens

pedagógicas da Educação Física Escolar.

As abordagens pedagógicas da Educação Física Escolar, para Darido

(2008), surgem em oposição às vertentes mais tecnicista, esportivista e

biologista. Na atualidade temos várias concepções, todas com o intuito de

romper com o modelo mecanicista, esportivista e tradicional. Ela cita as

seguintes abordagens: Humanista, Fenomenológica, Psicomotricidade, Jogos

Cooperativos, Cultural, Desenvolvimentista, Interacionista-construtivista,

Crítico-superadora, Sistêmica, Crítico-emancipatória, saúde Renovada. Já,

Shigunov (2001), ao apresentar essas abordagens usa outra sequência e

algumas diferem da apresentada pela Darido (2008), sendo elas: concepção de

aulas abertas, atividade física para promoção da saúde, construtivista-

interacionista, crítico-emancipatória e didática comunicativa, crítico-superadora,

desenvolvimentista, educação física plural. Pode-se perceber que os Jogos

Page 8: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

7

Cooperativos foram entendidos como uma abordagem por Darido (2008).

Sobre estes jogos mais adiante é apresentada uma revisão.

2.1.2 JOGOS

O jogo esteve presente em diferentes épocas, pois na sociedade

antiga, o trabalho não tomava tanto tempo das pessoas, e mesmo se durante o

dia trabalhassem, a noite sempre era o momento de se reunirem em locais

públicos e outros afins. A vida não era voltada exclusivamente a família e sim à

sociedade, então participavam das brincadeiras, festas, apresentações, dentre

outras atividades que lhes eram prazerosas, e em todos os momentos as

crianças ficavam misturados aos jovens e aos adultos.

Huizinga (1980) considera o jogo como algo que pode ser observado

entre os animais, e entre crianças e adultos, algo que antecede a civilização. É

totalmente impossível separar a competição, como função cultural, do

complexo 'jogo-festa-ritual'. Varia de acordo com as relações históricas,

culturais em cada sociedade tendo certo fator lúdico.

O ritual teve origem no jogo sagrado, a poesia nasceu do jogo e dele

se nutriu, a música e a dança eram puro jogo. O saber e a filosofia

encontraram expressão em palavras e formas derivadas das

competições religiosas. As regras da guerra e as convenções da vida

aristocrática eram baseadas em modelos lúdicos. Daí se conclui

necessariamente que em suas fases primitivas a cultura é um jogo.

Não quer isto dizer que ela nasça do jogo, e enquanto jogo, para

nunca mais perder esse caráter (HUIZINGA, 1980, p.193).

A seguir serão descritas algumas características do jogo apontadas por

Huizinga (1980, p. 3 – 21), sendo elas:

• O jogo é uma atividade voluntária, praticada nas horas de ócio, podendo

a qualquer momento adiar ou suspende-lo. Não está sujeito a ordens a

algo forçado. Não pode ser obrigatório. O fato de ser livre, o torna

sinônimo de liberdade.

Page 9: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

8

• O jogo não é vida “corrente” nem vida “real”. Ao contrário, trata-se de

uma evasão para uma esfera temporária de atividade com orientação

própria.

• Sempre existe a possibilidade do êxito ou do fracasso, pois o resultado é

incerto.

• O jogo exige uma ordem suprema e absoluta, cria ordem e é ordem.

Introduz na confusão da vida e na imperfeição do mundo uma perfeição

temporária e limitada.

• O jogo é praticado dentro de certos limites próprios de espaço e tempo,

podendo iniciar e terminar a qualquer momento.

• O jogo cria vínculos com quem esta partilhando algo, sociabiliza.

Os jogos passaram já há algum tempo a fazer parte das aulas de

Educação Física e integrar os currículos escolares não mais como simples

passatempo. Segundo Oliveira (1988, p. 74), as atividades em forma de jogo

são as que mais facilitam o desenvolvimento da criança, devido a riqueza de

oportunidades oferecidas pelo lúdico. “O jogo é um recurso metodológico capaz

de propiciar uma aprendizagem espontânea e natural.”

Soares et al. (1992, p. 66) explica que “quando a criança joga, ela

opera com o significado das suas ações, o que a faz desenvolver sua vontade

e ao mesmo tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões”.

Percebe-se, então, segundo a autora, que o jogo é um elemento básico para

mudanças das necessidades e da consciência.

Dentro da Diretriz Curricular do Estado do Paraná, os Jogos e

Brincadeiras estão contemplados como Conteúdo Estruturante com o intuito de

propiciar e ampliar as possibilidades de percepção e interpretação da

realidade. No jogo, quando os alunos participam na construção das regras, são

eles que estabelecem limites e liberdades, isto é, o grupo decide. O docente

como mediador, pode discutir e propor modificações nas organizações

combinadas e dessa forma estimular novas aprendizagens (PARANÁ, 2008).

Há a necessidade do professor de Educação Física ser crítico, e

procurar alternativas para que haja a participação efetiva de todos os alunos

nas aulas e não reforçar os modelos dominantes presentes em nossa

sociedade. “Dessa maneira, é possível garantir o papel da Educação Física no

processo de escolarização, a qual tem, entre outras, a finalidade de intervir na

Page 10: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

9

reflexão do aluno realizando uma crítica aos modelos dominantes” (PARANÁ,

2008, p. 65).

Através de suas pesquisas, Soler (2006, p. 54) constatou algumas

funções essenciais do jogo na formação do ser humano, sendo elas:

1. Serve para explorar: o mundo que rodeia quem joga como também

explorar as suas próprias normas, regras e atitudes.

2. Reforça a convivência: o alto grau de liberdade que o jogo permite faz

com as relações fiquem mais saudáveis e dependendo da orientação

que o jogo apresenta, pode modificar e aprimorar relacionamento

interpessoal. Daí a importância de se tentar criar jogos para o encontro e

não mais para o confronto.

3. Equilibrar corpo e alma: devido ao seu caráter natural atua como um

circuito auto-regulável de tensões e relaxamentos.

4. Produzir normas, valores e atitudes: tudo o que acontece no mundo real,

pode ser utilizado dentro do jogo por intermédio da fantasia. Entendo

que o jogo pode nos formar em direções variadas; cabe a cada um de

nós fazer a escolha.

5. Fantasiar: transforma o sinistro em fantástico, sempre dentro de um

clima de prazer e divertimento.

6. Induz a novas experimentações: permite aprender por meio de erros e

acertos, pois sempre se pode recomeçar um jogo novo.

7. Torna a pessoa mais livre: dentro de um jogo existem infinitas escolhas,

permitindo à pessoa que joga estruturar-se e desestruturar-se frente às

dificuldades.

Pensando em todas essas questões, venho propor um trabalho direcionado

aos Jogos Cooperativos e sobre eles escrevo o próximo tópico.

2.1.3 JOGOS COOPERATIVOS

O precursor dos jogos cooperativos é Orlick, o qual realizou vários

estudos junto às sociedades que viviam de forma cooperativa dentre elas

podemos citar: os Inuit (Alaska) e o povo da China continental. Ao observar a

vida e os jogos desses povos, reavaliou a estrutura de valores e os valores da

sociedade ocidental. Ele buscou alternativas para modificar ou auxiliar na

Page 11: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

10

mudança da sociedade na qual estava inserido, uma sociedade corrompida,

preocupada com o ter e não com o ser, sociedade fria e violenta, onde se

enaltecia o herói da guerra, ou seja, apenas os vencedores, o primeiro lugar

(BROTTO, 2001).

Alguns povos, como os Inuit (Alaska), aborígenes (Austrália), Tasaday

(Africa), ainda hoje levam a vida utilizando-se de algumas atividades

cooperativas como a dança, o jogo e outros rituais. Aqui no Brasil temos os

índios Kanela, com a tradicional Corrida das Toras na qual há uma cooperação

e ajuda mútua para atingirem os objetivos do grupo (BROTTO, 2001).

Orlick (1989) descreve que os povos que visitou a fim de estudos e

aprendizado Cooperativo, todos os indivíduos, sem distinção, tinham uma

função dentro do grupo, pois sabiam que dependiam uns dos outros para que

pudessem sobreviver. As crianças, cada qual dentro do grupo, eram

importantes e necessárias.

Para Brotto (2001), os Jogos Cooperativos surgiram devido ao fato de

que em nossa sociedade ocidental há uma preocupação excessiva com a

competição, com o individualismo, sendo que, esta competição é tida como

normal em praticamente todos os setores da vida social, onde um é mais

importante que o grupo.

Pensando nisso, é que há a necessidade dos professores de Educação

Física se utilizarem desse meio cooperativo para auxiliar os jovens na

(Re)formulação dos valores significativos para o grupo social ao qual está

inserido.

O jogo é a forma mais simples e natural para o desenvolvimento de

um sentimento grupal. É o elemento da cultura que contem maiores

possibilidades para sociabilizar (tornar sociável) e também socializar

(estender vantagens particulares ao grupo). No jogo, a administração

do choque de interesses individuais acontece numa atmosfera liberal.

O jogo, enquanto ação livre, oferece reais oportunidades para o

exercício da democracia. A dinâmica do jogo permite a emergência

de valores genuínos, em lugar daqueles que, normalmente, são

impostos (OLIVEIRA, 1988, p. 99).

Page 12: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

11

Há alguns enfoques referentes à utilização dos jogos para a formação

do ser humano que são mostrados por Friedmann (apud SOLER, 2006, p. 55),

dentre eles o:

• Sociológico: influência do contexto social no qual os diferentes grupos

de crianças brincam;

• Educacional: contribuição do jogo para o desenvolvimento e

aprendizagem das crianças;

• Psicológico: utilizado para perceber as emoções e a personalidade de

quem joga;

• Antropológico: o jogo refletindo nos costumes e na história das

diferentes culturas;

• Folclórico: analisando-se o jogo como expressão das diversas gerações

e de como é transmitido através dos tempos;

• Filosófico: quais valores humanos estão presentes ou ausentes no jogo.

Há a necessidade de se mudar o foco das aulas de Educação Física

para que todos possam participar efetivamente das atividades propostas sem

discriminação, onde cada um de acordo com suas possibilidades possa

desempenhar o seu papel. Um dos principais objetivos dos Jogos Cooperativos

é de que todos participem sem que ninguém seja excluído. Para Soler (2006, p.

116), “os Jogos Cooperativos são propostas que buscam diminuir a

agressividade nos jogos e na própria vida, promovendo em quem joga atitudes

positivas, tai como: cooperação, solidariedade, amizade e comunicação”.

Ocorre a cooperação, a aceitação, o envolvimento e a diversão. O principal

objetivo é o de superar os desafios em conjunto, compartilhando as conquistas

e as dificuldades, unindo os participantes pouco se preocupando com os

fracassos ou com o sucesso, pois o mais importante é a “confiança mútua e

todos podem participar autenticamente. Ganhar e perder são apenas,

referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo” (SOLER,

2006, p. 116).

Orlick (1989) afirma que quando as pessoas são orientadas

positivamente, buscam o bem-estar do outro e são incentivadas pela

experiência da cooperação bem sucedida. “A cooperação exige confiança

porque, quando alguém escolhe cooperar, conscientemente coloca seu destino

parcialmente nas mãos de outros” (p. 31).

Page 13: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

12

Zajonc (apud BROTTO, 2001, p. 96) considera que existe competição

“quando o que A faz, é no seu próprio benefício, mas em detrimento de B, e

quando B faz em seu benefício, mas em detrimento de A.” Brotto, (2001, p. 27)

define como “um processo onde os objetivos são mutuamente exclusivos, as

ações são individualistas e somente alguns se beneficiam dos resultados”.

Para Margaret Mead (apud SOLER, 2009, p. 44), seria o “ato de procurar

ganhar o que outra pessoa está se esforçando para obter, ao mesmo tempo”.

Para Orlick (1989), cooperar “é dar ênfase em ajudar outra pessoa,

existe o prazer em ajudar e saber que os outros atingiram o objetivo”. Para

Brotto (2001, p. 27), é “um processo onde os objetivos são comuns, as ações

são compartilhadas e os resultados são benéficos para todos”. Zajonc (apud

BROTTO, 2001, p. 96), define como atitude cooperativa, quando “o que A faz

é, simultaneamente, benéfico para ele e para B, e o que B faz é

simultaneamente, benéfico para ambos”. Para Margaret Mead, (apud SOLER,

2009, p. 44), é o “ato de trabalhar em conjunto com um único objetivo, se, e

somente se, as outras as quais ela estiver ligada conseguirem atingir seus

objetivos”.

Erich Fromm (apud BROTTO, 2001, p. 38) traz uma valiosa

contribuição, pois ao analisar culturas primitivas constatou que as sociedades

orientadas para a vida, ou seja, onde há maior ocorrência de atitudes

cooperativas, possuem atitudes não-violentas, há quase ausência de crime e

guerra, as crianças são tratadas com amor e bondade, existe igualdade entre

homens e mulheres, tem pouca competição e muita cooperação, e vivem em

uma atmosfera de confiança, auto-estima e bom humor.

Já nas sociedades mais destrutivas, onde há excesso de competição,

prevaleceu a violência interpessoal, a agressividade e a crueldade (entre eles e

com os de fora da tribo), a atmosfera geral é de hostilidade, medo e tensão, e a

ênfase está na propriedade privada. O autor não fez referência, mas a

impressão que se tem é que a sociedade mais destrutiva é a qual vivemos.

Pois a socialização ocorre através da educação conforme a cultura de um povo

ou sociedade, então podemos socializar para a cooperação ou para a

competição. “Portanto, tornar a sociedade Cooperativa ou Competitiva é uma

ação política, isto é, uma arte pessoal e coletiva capaz de realizar o melhor (im)

possível para todos” (BROTTO, 2001, p. 39).

Page 14: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

13

Temos que proporcionar algo para que as pessoas sejam mais

simpáticas e preocupadas com o bem estar do outro, em querer ver o outro

bem, primar por ações humanizadoras, que aqui são muito bem definidas por

Orlick (1989), que sintetiza o que é uma relação humanizadora e

desumanizadora:

uma relação humanizadora reflete qualidades como bondade,

consideração, compaixão, compreensão, cooperação, amizade e

amor. Uma relação desumanizadora é caracterizada por uma falta de

interesse para como o sofrimento do outro, pela crueldade,

brutalidade, e a desconsideração geral para com os valores humanos

(p. 76).

Os Jogos Cooperativos servem para promover atitudes mais

humanizadas procurando propiciar o bem-estar pessoal e do grupo ao qual

está inserido. Para Orlick (1989), Brotto (2001) e Soler (2006), os princípios dos

Jogos Cooperativos estão na: Participação, Inclusão, Realização de Objetivos

Comuns, Diversão e Cooperação.

Brotto, (2006) apresenta um quadro sobre a situação cooperativa e

competitiva.

Quadro1: comparação entre situação cooperativa e competitiva.

SITUAÇÃO COOPERATIVA SITUAÇÃO COMPETITIVA

Percebem que o atingir de seus objetivos é,

em parte, consequência da ação dos outros

membros.

Percebem que o atingir de seus objetivos é

incompatível com a obtenção dos objetivos

dos demais.

São mais sensíveis às solicitações dos outros. São menos sensíveis às solicitações dos

outros.

Ajudam-se mutuamente com frequência. Ajudam-se mutuamente com menor

frequência.

Há maior homogeneidade na qualidade de

contribuições e participações.

Há menor homogeneidade na quantidade de

contribuições e participações.

A produtividade em termos qualitativos é

maior.

A produtividade em termos qualitativos é

menor.

A especialização de atividades é maior. A especialização de atividades é menor.

Fonte: Brotto (2006, p. 27)

Page 15: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

14

Soler (2009, p. 62), ao observar vários grupos jogando percebeu

algumas características no comportamento das pessoas nestas duas formas de

jogar e viver, que serão apresentadas no quadro a seguir.

Quadro 2: Comportamento competitivo e cooperativo

Comportamento competitivo Comportamento cooperativo

Lutando para vencer sozinho, não importando

as armas que tenha que usar Negociando para resolver conflitos de modo

que todos possam vencer.

Revanche . Perdão .

Exclusão dos menos hábeis

Inclusão de todas as diferenças.

Vencer ou perder como fins em si mesmos.

Vencer ou perder como meio para um novo

aprendizado.

Jogos de guerra Jogos de paz

Nós jogando contra eles Nós jogando com eles

Comparando. Apreciando.

Ordenando.

Sugerindo.

Culpa pela derrota ou vitória.

Responsabilidade pela vitória ou derrota.

Medo, inveja, ódio, ambição em vencer Coragem, solidariedade, amor, e vontade em

continuar jogando.

Cada um por si. Interdependência.

Sempre o mesmo líder. De preferência o

melhor jogador Liderança compartilhada. De preferência que

todos possam vivenciar essa liderança

Jogo com final previsível. Assim que se atinge

o objetivo final perde a graça. Jogo infinito continua enquanto o grupo se

dispõe a jogar.

Fonte: Soler (2009, p. 62)

Ao utilizarmos atividades ou jogos cooperativos todos estarão envolvidos

podendo melhorar suas habilidades motoras e as relações sociais de

convivência. Necessitamos mudar de uma orientação cultural voltada somente

ao lucro e a competição para outra que possa mostrar formas de ser no mundo,

em que os valores sejam pautados em vertentes integrativas e cooperativas.

Page 16: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

15

2.1.4 FAMÍLIA: SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO INTEGRAL DA

CRIANÇA

A família é a primeira instituição à qual o indivíduo pertence. É a

primeira identidade social que ele tem. A família pode ser relacionada a uma

célula pertencente a um corpo, ou seja, várias células formam um corpo, e

várias famílias formam uma sociedade. A instituição familiar surgiu para que a

espécie humana sobrevivesse. Existem várias instituições em nossa sociedade

que surgiram também para satisfazer alguma necessidade humana,

relacionadas a vida, amor, lazer, recreação, religião, alimento, entre outros. As

instituições regulam e controlam as atividades do homem. Pois não podemos

ultrapassar os limites, ou seja, existem leis a serem cumpridas, normas de

convivência social, os indivíduos não podem cada qual fazer o que quiser, sem

respeitar o espaço do outro, existem limites relacionais e comportamentais a

serem observados.

No aspecto puramente biológico, a função da família é perpetuar a

raça. Na família humana, porém, há outras funções um pouco menos

importantes do que a básica de propagação da espécie. São funções

econômicas, religiosas, protetoras, educacionais e de prestígio, que

recebem maior ou menor ênfase segundo a sociedade e a época.

Entre as principais funções da família está, primeiro a socialização

dos indivíduos para que se tornem membros da sociedade em que

vivem, e, segundo, a perpetuação das realizações culturais do grupo.

A família preenche tão grande variedade de funções em diferentes

sociedades e em diferentes épocas que, além da perpetuação da

raça e, talvez, das funções econômicas, dificilmente se encontrará

qualquer outra aplicação universal (KOENIG, 1976, p.157).

Como sistema, a família tem as funções psicossociais de proteger os

seus membros e de favorecer a sua adaptação à cultura na qual pertencem.

Tem a função de dar proteção aos filhos, lhes garantindo condições dignas de

subsistência, contribuir para a socialização e incutir os valores socialmente

constituídos. Auxiliar, controlar e acompanhar no processo de escolarização

(ensino-aprendizagem). Torná-los independentes, auto-suficientes, capazes de

Page 17: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

16

estabelecer vínculos afetivos satisfatórios e respeitosos com os outros e com a

própria identidade.

2.1.5 CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO VIOLENTO NA

SOCIEDADE E NA ESCOLA

São vários os motivos que influenciam o comportamento violento na

escola e na sociedade, e de certa forma somos coniventes a alguns fatos que

ocorrem por não querermos nos incomodar, ou nos envolver com o que está

ocorrendo em nosso meio. O que os professores e alguns pais querem incutir

em seus alunos ou filhos em relação a violência é difícil, pois a sociedade se

mostra violenta e impune, por exemplo, solicita-se que os alunos se respeitem,

porém, a sua volta há desrespeito, violência e as pessoas não são punidas. O

que cabe bem no momento é uma frase de Ricotta (1999, p. 31): “Se o amor é

aprendido, a violência também o é.”

Temos atos violentos ocorrendo no trânsito, em assaltos, nos

vandalismos contra bens públicos e particulares, sendo que a mais grave é a

violência doméstica, que se reflete na sociedade e passa de pais para filhos

como uma “herança maldita”. Todas as pessoas que participam de um

ambiente tenso e agressivo “acabam criando a sua volta um campo de

agressividade, baixa tolerância, raiva, descontentamento, cobranças,

exigências extremas e outros desmandos de mesmo tipo” (RICOTTA, 1999, p.

31).

Muitas vezes situações corriqueiras que acontecem no trânsito, na

escola, na rua, em clubes ou boates, sem muita importância, desencadeia um

ato violento de um indivíduo contra o outro. O que o levou a agredir? Ou até a

matar? Se formos fazer uma análise da vida regressa dos envolvidos, ou de um

dos envolvidos, na maioria das vezes em sua infância foi denegrido pelos pais,

pelos colegas na escola, por seus professores, pela sociedade ou por quem o

cuidava. Cultivou durante anos revolta, angustia, ódio, raiva, rancor que se não

tiver quem o oriente bem colocará para fora de maneira negativa, pois

aprendeu a violência física e moral.

Há um ensinamento a ser extraído sobre a agressividade, passada de

geração a geração. Afora quaisquer tendências herdadas, os

Page 18: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

17

encrenqueiros, já adultos agiam de modo que a vida em família era o

local de aprendizagem de agressão. Quando crianças, tiveram pais

que os disciplinavam de forma arbitrária e com implacável

severidade; como pais repetiam o padrão (GOLEMAN,1995, p. 210).

Em situações de stress o gatilho dispara, e o indivíduo reproduz a

agressão sofrida anteriormente, ou coloca toda a raiva que guardou durante

anos contra o primeiro que atravessar sua frente. Essa reação violenta nem

sempre é contra a pessoa certa, e na medida certa, passando dos limites

chegando até a matar. Fazemos um registro de violência em algum momento

de nossa infância e esse registro desencadeia uma resposta violenta na fase

adulta ou na adolescência (GOLEMAN,1995).

O percurso da violência atinge todos os níveis e camadas sociais.

Não é privilégio de um grupo. Diria até que a violência é democrática

na medida em que está presente em todos os lugares e grupamentos

humanos. Se a sociedade vem sendo negligenciada pelos seus

cidadãos, há de se pensar se não é uma resposta ao modo como se

sentem agredidos pelas condições que lhe são oferecidas

(RICOTTA,1999, p. 85).

Na grande maioria dos casos as crianças sofrem agressões por parte

dos pais em função do tipo de relacionamento entre eles, devido ao estado de

humor no qual se encontram. O agressor continua com a violência devido ao

fato da vitima aceitar a agressão por ser submissa, ou porque depende

financeiramente do agressor e tem medo ou não tem condições de sair de

casa. Normalmente os outros que vêem as agressões não se envolvem. Hoje a

situação está melhorando devido aos serviços do “disque denúncia”, que são

anônimos.

O aprendizado que a criança leva para sua vida será de acordo com os

estímulos que a criança recebe, podendo ser agressivos ou não. Há uma

probabilidade muito grande de que o comportamento agressivo venha a

ocorrer no futuro se os modelos forem baseados na violência. Conforme Orlick

(1989), essa influência pode não ser imediata.

Page 19: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

18

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de pesquisa

Utilizou-se a pesquisa descritiva neste estudo. Segundo Gil (1991, p.

46), “as pesquisas descritivas tem como objetivo primordial a descrição das

características de determinada população ou fenômeno, ou então, o

estabelecimento de relações entre variáveis”.

Andrade (2001, p. 20) refere que na pesquisa descritiva “os fatos são

observados, registrados, analisados, classificados e interpretados” sem que

haja interferência do pesquisador. Os fenômenos do mundo físico e humano

são estudados, mas não podem ser manipulados pelo pesquisador. Este não

interfere, mas procura perceber a frequência com que o fenômeno ocorre.

Na pesquisa em questão o instrumento que se mostrou adequado para

captar as informações foi o questionário. Ele também facilitou as análises e

discussões.

3.2 Sujeitos da pesquisa

A implementação do estudo ocorreu no Colégio Estadual Marechal

Rondon, na cidade de Marechal Cândido Rondon, PR. Os sujeitos que fizeram

parte da pesquisa foram alunos do 6º ano A do período matutino e do 6º ano C

do período vespertino, perfazendo um total de 55 (cinquenta e cinco)

estudantes. Destes, oito participaram da testagem do instrumento e 46

responderam o questionário final.

3.3 Instrumento de coleta de dados

O instrumento utilizado na pesquisa foi um questionário composto por

questões abertas e fechadas, que teve por objetivo construir um acervo de

informações, previamente elaborado, o qual, para Gil (1991, p.91), “consiste

basicamente em traduzir os objetivos específicos da pesquisa em itens bem

redigidos”. Segundo ele, não existem normas rígidas a respeito da elaboração

do questionário. Thomas; Nelson (2007, p.235) explicam que algumas

Page 20: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

19

informações podem ser obtidas apenas com questionário, “então é imperativo

que este seja planejado e preparado cuidadosamente para assegurar os

resultados mais válidos”. Para Ruiz (2002, p. 51), é importante que numa

pesquisa se estabeleçam “as técnicas de registro para sua posterior análise

que deverão ser claras para que o informante possa responder com precisão,

sem ambiguidade”.

O questionário foi elaborado junto com o professor orientador e se

baseou em outros já testados que fizeram parte de estudos sobre o tema. Ele

teve por finalidade a obtenção de dados referentes a visão dos estudantes

com relação aos jogos competitivos e cooperativos realizados nas aulas de

Educação Física.

O questionário contendo 11 questões (uma aberta e 10 fechadas com

múltiplas escolhas), foi testado com 8 estudantes que não participaram do

estudo final. Após a testagem algumas modificações foram realizadas para que

houvesse maior compreensão por parte dos estudantes. As questões do

questionário se encontram na apresentação e discussão dos resultados.

3.4 Procedimentos

Em julho de 2011, durante a semana pedagógica, o Projeto de

Intervenção Pedagógica foi apresentado à direção do colégio, à equipe

pedagógica e a demais educadores do estabelecimento de ensino. Ele foi bem

aceito por todos. Em agosto de 2011 houve a apresentação e a explanação

aos alunos que seriam envolvidos. A seguir iniciou-se a implementação do

projeto (intervenção pedagógica). Além da participação nas atividades na

quadra, propostas de acordo com o conteúdo já planejado pela escola, ao

alunado também foi solicitado realizar pesquisas sobre o assunto, assistir e

discutir filmes sobre o tema.

Após terem participado de dez aulas de caráter competitivo e vinte de

caráter cooperativo, quarenta e seis estudantes dos 6º ano A e C responderam

o questionário.

Atividades realizadas nas aulas:

1 – Os estudantes fizeram pesquisa sobre jogos cooperativos e competitivos;

Page 21: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

20

2 – Os discentes assistiram a alguns filmes e documentários relacionados ao

assunto, responderam algumas questões e discutiram as situações envolvidas.

Os filmes e documentários foram:

A Corrente do bem;

Sempre Amigos;

• Violência no futebol;

• Violência no handebol;

• Violência no basquetebol;

• Vencer sim, mas sozinho não.

Os endereços e maiores explicações referente esses filmes e

documentários podem ser encontrados na Unidade Didática.

As atividades que os estudantes mais gostaram de participar durante a

intervenção pedagógica foram: atividades simples tais como, cadeira livre,

cerca elétrica, atividades com corda, toco-colo, nó maluco, acertar o rabo do

dragão, João confiança, dinâmica “o presente”, dança da cadeira cooperativa

nunca três, pedra ponte e árvore, salve-se com um abraço. E jogos tais como:

queimada tradicional, queimada cooperativa, queimada de um campo,

queimada do contrário, voleibol rede viva, bater e fugir depressa, handebol 10

passes, caçador gol, caçador quatro cantos, caçador sem limites, guarda da

torre, gincana das cores. As demais atividades realizadas na intervenção

pedagógica poderão ser encontradas na unidade didática.

3.4 Procedimentos de análise

A análise da questão aberta foi realizada através da categorização das

informações emanadas dos estudantes. As questões com alternativas foram

quantificadas e apresentadas através de quadros com frequência absoluta (fi).

Em seguida, os dados obtidos foram analisados e discutidos justapondo com

escritos encontrados na Literatura.

Page 22: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

21

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Ao finalizar as aulas no segundo semestre de 2011, foi aplicado o

questionário aos 46 estudantes que participaram das ações cooperativas e

competitivas. Para a maioria das questões foram elaborados quadros com a

finalidade de facilitar a discussão e o entendimento dos leitores. Os resultados

estão colocados em forma de frequência absoluta (fi).

Na questão descritiva em que se questionava os alunos sobre o que eles

entendiam por cooperação, os estudantes que participaram desta proposta de

trabalho com jogos cooperativos utilizaram o termo “ajudar” (100%) para

responder esta pergunta. Completaram escrevendo que seria ajudar alguém, a

escola, o país, ou alguma outra causa social. Pode-se dizer que 100% dos

estudantes compreenderam que é ajudar o outro para atingir os objetivos em

comum. O que corrobora com o que cita Orlick (1989) sobre esta palavra

quando diz que cooperar é dar ênfase em ajudar outra pessoa, que existe o

prazer em ajudar e saber que os outros atingiram o objetivo.

Destacam-se algumas frases escritas pelos estudantes nas suas

respostas: “Ajudar ao outro, paz, harmonia”; “Ajudar o outro, passar a bola para

o amigo, se divertir e não fazer competição”; “Cooperação é para mim quando

as pessoas jogam juntas ou quando elas se ajudam”. “É quando uma equipe

coopera para vencer, deixam todos jogar mas mesmo não vencendo ficam

felizes”. Esta última frase traduz o que Brotto (2001) e Soler (2009) apresentam

em seus escritos como jogos semicooperativos. Em síntese, infere-se que os

estudantes tem noção do que é cooperação.

O quadro 3 mostra, na opinião do alunado, uma comparação entre

valores, atitudes e comportamentos ocorridos durante as aulas com caráter

competitivo e cooperativo e, além disso, quais destes devem se sobressair

durante as aulas. Elas se referem às questões 2, 3 e 4, que se encontram na

parte superior do quadro 3 e foram aglutinadas com o propósito de facilitar a

visualização/comparação, a discussão e o entendimento dos leitores.

Page 23: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

22

QUADRO 3: OPINIÃO DOS ALUNOS SOBRE AS AULAS

Questões ����

Alternativas

Nas aulas com

atividades

competitivas,

quais atitudes e

comportamentos

ocorreram?

Nas aulas com

atividades

cooperativas,

quais atitudes e

comportamentos

ocorreram?

Quais as

atitudes e

comportamentos

que as aulas

devem

desenvolver?

Frequência (fi) Frequência (fi) Frequência (fi)

Participação 16 34,78% 42 91,30 45 97,83

Agressividade 25 54,35% 2 4,35% 2 4,35%

Inclusão 8 17,39% 13 28,26% 17 36,96%

Brigas 31 67,39% 4 8,70% 2 4,35%

Trapaças 26 56,52% 5 10,87% 00 0%

Individualismo 27 58,70% 3 6,52% 4 8,70%

Respeito 10 21,74% 35 76,09% 43 93,48%

Discriminação 19 41,30% 1 2,17% 00 0%

Eliminação 25 54,35% 4 8,70% 2 4,35%

Integração 7 15,22% 21 45,65% 17 36,96%

Confronto 21 45,65% 5 10,87% 3 6,52%

Solidariedade 5 10,87% 19 41,30% 21 45,65%

Cooperação 8 17,39% 36 78,26% 40 86,96%

Exclusão 16 34,78% 4 8,70% 3 6,52%

Violência 23 50,00% 1 2,17% 1 2,17%

União 6 13,04% 30 65,22% 39 84,78%

Divertimento 11 23,91% 31 67,39% 31 67,39%

Descontração 13 28,26% 11 23,91% 15 32,61%

As atitudes negativas tais como agressividade (54,35%), brigas

(67,39%), trapaças (56,52%), individualismo (58,70%), eliminação (54,35%),

violência (50%) se sobressaíram nas aulas com atividades competitivas. Se

verificarmos o que se encontra na literatura, através de autores como Orlick

(1989), Correia (2006) e Soler (2006), observaremos situações bem próximas

ao que os alunos responderam.

Em contrapartida o que se sobressaiu nas aulas com atividades

Cooperativas foi a participação (91,30%), cooperação (78,26%), integração

(45,65%), união (65,22%), divertimento (67,39%), pois de acordo com Orlick

(1989), Brotto (2001) e Soler (2006), os Jogos Cooperativos servem para

Page 24: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

23

promover atitudes mais humanizadas procurando propiciar o bem-estar pessoal

e do grupo. Conforme eles, os princípios dos Jogos Cooperativos estão na

participação, na inclusão, na realização de objetivos comuns, na diversão e na

cooperação. E a opinião dos alunos vem de encontro com esses autores.

Nestas aulas com atividades cooperativas os estudantes observaram ainda que

houve diminuição substancial de atitudes indesejáveis, como se pode observar

nos índices a seguir: apenas 4,35% responderam que houve agressividade,

8,70% brigas, 6,52% individualismo, 2,17% discriminação, e 2,17% violência.

Ao observarmos o que os estudantes marcaram com relação aos

comportamentos que as aulas de Educação Física devem desenvolver,

podemos observar que o desejo deles se aproxima mais com o quadro das

aulas cooperativas. Vejamos: discriminação: 0,00%; violência: 2,17%; trapaças:

0,00%; agressividade: 4,35%; Brigas: 4,35%. Eles ainda desejam para as aulas

de Educação Física maior participação (97,83%), respeito (93,48%),

cooperação (86,96%), união (84,78%) e divertimento (67,39%). Todos esses

resultados reafirmam o que encontramos nos vários autores já citados e em

várias pesquisas, como é o caso dos artigos disponíveis no PDE Paraná

(Produção didático-pedagógica).

No quadro 4 encontramos os sentimentos dos estudantes em relação

aos jogos cooperativos, quando participaram destas atividades.

QUADRO 4: SENTIMENTOS DOS ESTUDANTES SOBRE JOGOS COOPERATIVOS

PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS QUANDO PARTICIPOU

DOS JOGOS COOPERATIVOS - ALTERNATIVAS

Frequência

(fi)

Felicidade 34 73,91

Vontade de jogar 36 78,26

Tristeza 01 2,17

Preguiça 05 10,87

Cooperou com os colegas 34 73,91

Foi excluído 00 0,00%

Não gostou do jogo 01 2,17%

Conseguiu resolver as dificuldades quando elas apareceram 22 47,83%

Gostou de jogar cooperativamente 33 71,74%

Você foi cobrado para ganhar o jogo 07 15,22%

Participou o tempo todo do jogo 27 58,70%

Page 25: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

24

Participou de todos os jogos 22 47,83%

Respeitou a dificuldade dos colegas 24 52,17%

Mudou o jeito de ver o jogo 13 28,26%

Você se sentiu motivado para participar dos jogos 17 36,96%

Observa-se neste quadro que 78,91% dos estudantes tiveram vontade

de jogar, 73,91% sentiram felicidade, 73,91% cooperaram com os colegas,

71,74% gostaram de jogar cooperativamente, 58,70% participaram o tempo

todo do jogo, 52,17% respeitaram a dificuldade dos colegas. Outros pontos

fundamentais foram registrados: nenhum aluno foi excluído das atividades e

apenas 1 estudante (2,17%) não gostou do jogo e 1 teve tristeza (2,17%).

Estes resultados novamente reafirmam o que acontece quando realizamos

atividades de forma cooperativa. Orlick (1989), Brotto (2001) e Soler (2006)

explicam que quando os participantes incorporam estes sentimentos e ações,

atendem os princípios dos Jogos Cooperativos que são: participação, inclusão,

realização de objetivos comuns, diversão e cooperação.

Os discentes foram questionados sobre o que seria mais importante

para eles: jogar e vencer ou jogar e se divertir. A resposta está no quadro a

seguir.

QUADRO 5: O QUE OS ESTUDANTES CONSIDERAM IMPORTANTE NAS AULAS

Alternativas Frequência (fi)

Jogar e vencer 06 12,50%

Jogar e se divertir 42 87,50%

OBS: Nos questionários de número 13 e 33 os alunos marcaram as duas

opções.

Os estudantes consideraram que jogar e se divertir é o essencial para

as aulas de educação física, pois 87,50% assinalaram esta opção. Para eles

jogar e vencer tem menor importância. O divertimento é uma situação de

destaque apontada por Orlick (1989), Brotto (2001) e Soler (2006). Numa

pesquisa de Brandl Neto e Waldow (2010), os estudantes também tiveram a

mesma opinião.

Page 26: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

25

Na indagação seguinte os discentes tiveram que optar sobre a

alternativa que eles consideravam melhor para as aulas de Educação Física

em relação aos tipos de jogos, após terem participado das atividades.

QUADRO 6: PREFERÊNCIA DO ALUNADO SOBRE OS TIPOS DE JOGOS

Alternativas Frequência (fi)

Prefiro os jogos de vencer ou perder 05 10,87%

Prefiro os jogos em que todos participam sem se

preocupar em vencer ou perder

15 32,61%

Prefiro os dois tipos de jogos 25 54,35%

Abstenção 01 2,17%

OBS: Uma aluna não gostava de realizar as atividades de Educação Física,

estava com 14 anos no 6º Ano. Não se sentia bem devido a estatura e a pouca

habilidade. Era insegura e desmotivada.

Ao analisarmos o quadro acima, percebe-se que os estudantes acham

fundamental que todos participem, mesmo quando a atividade for de vencer ou

perder. Todos são importantes e fundamentais na aula, escola e sociedade.

Podemos considerar que 32,61% dos alunos optaram por jogos em que todos

participam sem se preocupar em vencer ou perder e que 54,35% preferem os

dois tipos de jogos. É normal, inicialmente, a preferência pelos dois tipos de

jogos. Orlick (1989) deixa isto muito claro quando explica que os alunos, na

grande maioria das vezes, foram habituados apenas ao competitivo. A

mudança é demorada e, portanto, quando se consegue numa primeira tentativa

que tenham consciência da inclusão e na participação efetiva de todos na

atividade e na aula, já se considera um bom avanço na direção da cooperação.

Questionou-se também, após todas as aulas, se os discentes

perceberam que os relacionamentos melhoraram entre eles.

QUADRO 7: OPINIÃO DOS ALUNOS SOBRE OS RELACIONAMENTOS

Alternativas Frequência (fi)

Sim 40 86,96%

Não 05 10,87%

Abstenção 01 2,17%

Page 27: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

26

Observa-se no quadro que 86,96% dos estudantes perceberam que

houve mudanças, ou seja, melhora nos relacionamentos entre eles. Isto já era

esperado, pois também é uma premissa das ações cooperativas, como

encontramos em Brotto (2006), quando este cita que as pessoas ficam mais

sensíveis às solicitações dos outros e que acontece a ajuda mútua com mais

frequência.

Para confirmar a opinião anterior dos discentes, se quis saber se houve

colaboração entre eles durante as atividades. O quadro 8 apresenta o

resultado.

QUADRO 8: OPINIÃO SOBRE COLABORAÇÃO ENTRE OS/AS ALUNOS/AS

Alternativas Frequência (fi)

Sim 30 65,22%

Não 16 34,78%

Segundo a opinião dos estudantes, para 65,22% deles houve

colaboração entre os colegas. No decorrer das atividades observou-se que os

alunos mais agressivos, ou competitivos se recusavam a participar de algumas

atividades, ou participavam e atrapalhavam o bom andamento das atividades.

Também se pode constatar que as atitudes dos estudantes que estavam fora

da faixa etária (os meninos) para este ano escolar, entre 13 a 15 anos, não

foram colaborativas, pois os mesmos não aceitavam as atividades

cooperativas, e sempre estavam tentando impor através de sua força física a

liderança que já haviam conquistado anteriormente.

Pensou-se que seria importante que os alunos dissessem se receberam

ajuda ou se ajudaram durante as atividades das aulas. Os quadros 9 e 10

demonstram a opinião dos estudantes sobre estas questões.

QUADRO 9: AJUDA DE COLEGAS NAS ATIVIDADES

Alternativas Frequência (fi)

Sim 43 93,48%

Não 03 6,52%

QUADRO 10: AJUDA AOS COLEGAS NAS ATIVIDADES

Alternativas Frequência (fi)

Page 28: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

27

Sim 45 97,83%

Não 01 2,17%

Ao se fazer um comparativo entre os quadros nº9 e nº10 podemos

observar que 93,48% e 97,82% disseram que receberam ajuda ou ajudaram

seus colegas no decorrer das atividades. Esses são fundamentos dos ideais

cooperativos citados por todos os autores que escrevem sobre o tema. É o

diferencial do individualismo e da competição exacerbada, como opina Brotto

(2001) quando cita que os Jogos Cooperativos surgiram pelo fato de nossa

sociedade ter uma preocupação excessiva com a competição, com o

individualismo, e que esta competição é tida como normal em praticamente

todos os setores da vida social.

Através destas expressões de resultados demonstrados pelos

estudantes que participaram da pesquisa, pode-se inferir que a intervenção

obteve os resultados esperados. Os alunos tiveram maior conhecimento e

entenderam que muitos dos valores e ações que encontramos no dia-a-dia

devem ser repensados e que existem outras formas de convivência que pode

atender os anseios de todos ou da maioria, e esta maneira seria a atitude

cooperativa, utilizada em todos os ambientes.

Para Soler (2006, p. 116), “os Jogos Cooperativos são propostas que

buscam diminuir a agressividade nos jogos e na própria vida, promovendo em

quem joga atitudes positivas, tai como: cooperação, solidariedade, amizade e

comunicação”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente a proposta de aulas com a vertente cooperativa não foi bem

aceita pelos estudantes. E muito menos a forma de avaliação. O modelo de aula

“ideal”, segundo os estudantes, é o de que cada um faça o que quiser, ou seja,

uns andam pelo colégio e outros participam, mas se tiver sempre futsal. Havia

muita competição e exclusão nestas turmas e não aceitavam aula em sala. Por

exemplo, para passar os filmes foram utilizadas as aulas de outros professores.

Mas tudo é processo e demora um pouco. Ao chegarmos ao final do ano letivo e

Page 29: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

28

verificarmos as respostas dos estudantes, percebeu-se que valeu a pena o

esforço despendido.

Pode-se afirmar, considerando a opinião dos estudantes e o que percebi

no decorrer e no final desta proposta pedagógica, que houve mudança de

relacionamento e de atitude de forma substancial entre o alunado, isto é,

conseguiu-se chegar ao objetivo pretendido, que era verificar a opinião, o

entendimento e a percepção de alunos do 6º ano sobre brincadeiras e jogos

competitivos e cooperativos que foram ministrados durante o segundo semestre

de 2011. Isto comprova que o caminho cooperativo é uma realidade e pode

trazer mudanças melhores para a nossa sociedade.

Em relação à opinião dos estudantes, os colegas colaboraram entre si

na execução e realização das atividades. Podemos observar isso, por exemplo,

na resposta dos alunos na questão nº 07 quando 86,96% disseram que houve

melhora nos relacionamentos e 87,50% consideram que é muito bom jogar com

os colegas cooperativamente e achar soluções em conjunto. E que não é tão

bom e divertido jogar competitivamente, pois ocorre briga, confronto,

individualismo, agressividade e exclusão.

Sobre o entendimento de cooperação, nas ações os discentes

demonstraram saber, todavia, ao responderem sobre o significado da palavra

usaram basicamente o termo “ajuda”, isto significa que existe a necessidade de

mais debates e discussões sobre o tema. Porém, entenderam de certa forma o

que são jogos cooperativos, e que nestas atividades ou jogos ocorre a ajuda

mútua na realização das mesmas. Perceberam também que o grupo é

importante, que todos são importantes e essenciais. E que nos jogos

competitivos ocorre muita exclusão, discriminação, valorização apenas

daqueles com melhores habilidades.

No decorrer das aulas com atividades e jogos cooperativos houve uma

melhora substancial no relacionamento (respeito, coleguismo) entre os colegas.

Eles perceberam que houve diminuição das atitudes negativas, como brigas,

exclusão, agressão, e que a vontade de jogar com o grupo aumentou. Também

responderam que foi bom participar, que quase não houve discriminação.

Destacaram a participação, o divertimento, a união, cooperação e o respeito

como as situações mais importantes das aulas com situações cooperativas.

Page 30: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

29

Farei alguns comentários referentes situações que ocorreram durante a

implementação do projeto.

Apenas os alunos com faixa etária maior é que não aceitavam essas

atividades e jogos (alunos de 13 à 15 anos).

Quando os alunos estavam assistindo ao filme ficavam comovidos e não

gostavam das atitudes dos jovens que roubavam, agrediam, entre outras

atitudes e valores negativos. Inclusive me chamou a atenção que alguns alunos

agressivos e que agem de forma similar aos agressores do filme não gostavam

das atitudes daqueles jovens. Eles não percebiam que eles faziam bulling e

agiam daquela maneira com seus colegas e professores. Ficavam indignados.

Quando passei os filmes de violência nos esportes ficaram muito

agitados, com vontade (adrenalina?) de fazer igual. Depois novamente

comovidos e calmos quando passei o outro: “vencer sim, mas não sozinho”. Da

adrenalina e violência para a comoção e preocupação, vendo que é importante

ajudar. Então, percebe-se claramente que os estudantes são influenciados (e

muito) pelo meio em que vivem, ou por filmes que assistem em seu dia a dia.

Nós somos atingidos diariamente por essa sociedade capitalista e

competitivista que exclui a maioria das pessoas. Temos que fazer algo para

minimizar esses efeitos destrutivos. Há várias formas de se ver o mundo e de

se estar no mundo, temos que mostrá-las e fazer as opções, com orientações

construtivas dos docentes.

A Educação física escolar não prioriza a competição. Mas também não a

descarta. Toda criança precisa também de vitórias, caso contrário sua auto-

estima pode se tornar baixa. Temos que proporcionar experiências de

sucessos e vitórias. Para Brotto (2001), a criança tem que aprender COM o

perder e COM o ganhar, ao invés de aprender a perder e ganhar.

Com passos lentos, determinação e dedicação, sei que podemos aos

poucos chegar a um bom resultado. Este estudo mostrou a possibilidade de

implementação de atividades cooperativas na escola como um projeto

permanente. Se escola, pais e sociedade se envolvessem mais no processo de

ensino aprendizagem os resultados seriam melhores. ORLICK (1989) nos fala

que para obter maior sucesso nas ações cooperativas a escola e os pais

deveriam também participar de todo o processo. E é isso que esperamos de

nossa sociedade, pais e educadores, que todos se envolvam em um projeto

Page 31: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

30

que ajude a formar cidadãos, conscientes de seus direitos e deveres perante a

sociedade. Temos que relacionar nossas atitudes e pensamentos com o tipo de

sociedade que se quer.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. M. Como preparar trabalhos para cursos de pós graduação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. BRANDL NETO, I.; WALDOW, J.C.N. Jogos cooperativos numa 5ª série do Ensino Fundamental. Caderno de Educação Física: Estudos e Reflexões. UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon: Edunioeste, v.9, n.16, p.85 – 96, 2010. BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício da convivência. Santos, SP: Projeto Cooperação, 2001. CORREIA, M. M. Trabalhando com jogos cooperativos. Campinas: Papirus, 2006. DARIDO, S. Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica. Guanabara Koogan, 2008. GHIRALDELLI JR, P. Educação Física Progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo: Loyola, 1991. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1991. GOLEMAN, D. Inteligência Emocional. 84ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar, agir: corporeidade e educação, 2ª ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. HUIZINGA, J. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, Ed. Da USP, 1980. KOENIG, S. Elementos da Sociologia. 5ª ed. Rio de janeiro: Zahar Editores, 1976. OLIVEIRA, V. M. O que é Educação Física. 7ª ed. São Paulo.Brasiliense. 1988. ORLICK, T. Vencendo a Competição. Circulo do Livro, 1989. PARANÁ. Diretrizes curriculares da educação básica: para a rede pública estadual de ensino. Educação Física. Curitiba: SEED/DEF/DEM, 2008. RICOTTA, L. Quem Grita Perde a Razão: a educação começa em casa e a violência também, 1ª ed. São Paulo, Annableime, 1999.

Page 32: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

31

RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SHIGUNOV, V; SHIGUNOV, A. N. A formação profissional e a prática pedagógica: ênfase nos professores de Educação Física. Londrina, Paraná: 2001. SOARES, Carmen Lucia (coletivo de autores) Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992 -(coleção magistério) SOLER, Reinaldo. Educação Física: uma abordagem cooperativa, Rio de Janeiro: Sprint, 2006. SOLER, Reinaldo. Esporte cooperativo: uma proposta para além das quadras, campos e pátios. Rio de Janeiro: Sprint, 2009. TANI, Go. [et al.], Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista, São Paulo: EPU: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. THOMAS, Jerry R.; NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física, 5.ed. – Porto Alegre: Artmed, 2007.

SUGESTÕES DE OBRAS PARA CONSULTA

CORREIA, Marcos Miranda. Jogos cooperativos e Educação Física escolar: possibilidades e desafios. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 12 - N° 107 - Abril de 2007. Disponível em http://www.efdeportes.com/ CORTEZ, Renata do Nascimento Chagua. Sonhando com a magia dos Jogos cooperativos na escola. Motriz, v.2, nº. 1, junho, 1996. Disponível em: HTTP://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/02n1/V2n1_ART01.pdf COSTA, Ivanete Maria da. Reflexões Críticas Sobre o Uso de Jogos Cooperativos em Escolas com violência Discente. Programa PDE 2007. Professor Orientador Giuliano Gomes de Assis. Disponível na Página do PDE em Produção Didático-Pedagógica. COSTENARO, Verani M. F. Pedagogia Cooperativa como Possibilidade de Mudança Qualitativa para as Aulas de Educação Física Sobre o Esporte. Programa PDE – PR, 2009. Professor Orientador Inácio Brandl Neto. Aguardando publicação. KARPINSKI, PAULA L S. Os jogos Cooperativos: Uma prática possível na EJA. Programa PDE PR, 2008. Professor Orientador Inácio Brandl Neto. Disponível na página do PDE em Produção Didático-Pedagógica.

Page 33: JOGOS COOPERATIVOS: possibilidade de convivência em paz … · como tema de estudo os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física: ... A sociedade e a mídia continuam mostrando

32

GONÇALVES, Natália kneipp Ribeiro, FISCHER, Juliana Kneipp Ribeiro. Cidadania e Jogos Cooperativos: vivenciando práticas de cooperação em uma sala do ensino fundamental. Disponível em: http://www.fcla.edu.br/unar2007/revista/pdf_V1_2007/9.GON%C3%87AlVES,N.K.P.;%20FISCHER,J.K.R.%20Cidadania%20e%20jogos%20cooperativos.PDF. MENDES, Ligia C., PAIANO, Ronê, FILGUEIRAS, Isabel P., Jogos Cooperativos: Eu aprendo, tu aprendes e nós cooperamos. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2009,8 (2): 133-154. Universidade Presbiteriana Mackenzie – Brasil. Disponível em http://api.ning.com/files/39*P2wiKhPBwR7M6qYNIuG4UIIMruQUcY0guSu-d4aDyyZfSkdkf6dff0XagxaZ3*uHsfo2TMjPIwdNoZuZd64nooYBVfT9Y/JCEuaprendotuaprendesenscooperamos.LigiaCalandroMendes.pdf. BRANDL NETO, Inácio. Jogos Cooperativos nas Aulas de Educação Física de Marechal Cândido Rondon-PR. Caderno de Educação Física: estudos e reflexões. Curso de Educação Física. Marechal Cândido Rondon: Edunioeste. Vol.8 n.15, 2009. SASSI, Adriana Lena. Jogos Cooperativos e a inclusão social. Programa PDE PR, 2007, Orientada por BRANDL NETO, Inácio. Disponível na página do PDE em Produção Didático-Pedagógica 2007. SOARES, Carmen Lucia (coletivo de autores) Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992 -(coleção magistério) VICCARI, Cleonice, O Esporte Voleibol nas Aulas do Ensino Fundamental: Aprendizagem significativa através de ações cooperativas. Programa PDE PR, 2009, orientada por Inácio Brandl Neto. Aguardando publicação. WALDOW, Jane C. do N., Jogos Cooperativos. Programa PDE PR, 2007. Orientada por Inácio Brandl Neto, disponível em Produção Didático Pedagógica, 2007.