joÃo pessoa

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JOO PESSOA

JULHO / 2006

ORGANIZAO E DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE TOMBAMENTO

EQUIPE TCNICA

Addisseny de Carvalho Ganem

Arquiteta Comisso Permanente de Desenvolvimento do Centro Histrico de Joo Pessoa

Alexandre Leopoldino de Oliveira

Arquiteto Comisso Permanente de Desenvolvimento do Centro Histrico de Joo Pessoa

Cludio Nogueira

Arquiteto Coordenador-Adjunto da Comisso Permanente de Desenvolvimento do Centro Histrico de Joo Pessoa

Eliane de Castro Machado Freire

Arquiteta Superintendente da 20 Regional do IPHAN

Fbio Ferreira

Tcnico em Geoprocessamento da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa

Ivan Ivanhoe Bezerra

Tcnico em Geoprocessamento da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa

Kleber Moreira Souza

Advogado Tcnico da 20 Regional do IPHAN

Rosngela Regis Toscano

Arquiteta Comisso Permanente de Desenvolvimento do Centro Histrico de Joo Pessoa

Snia Maria Gonzalez

Arquiteta Coordenadora-Adjunta da Comisso Permanente de Desenvolvimento do Centro Histrico de Joo Pessoa

Tnia Nbrega

Engenheira Diretora do Departamento de Geoprocessamento da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa

Umbelino Peregrino de Albuquerque

Arquiteto Chefe da Diviso Tcnica da 20 Regional do IPHAN

CONSULTORIA TCNICA

Maria Berthilde de Barros Lima e Moura Filha

Arquiteta - Prof Doutora do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal da Paraba

Manuel Joaquim Moreira da Rocha

Historiador da Arte - Prof Doutor do Dep. de Cincias e Tcnicas do Patrimnio da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

SUMRIO

Apresentao............................................................................................................ 6

Introduo................................................................................................................. 7

1. A cidade de Joo Pessoa e o seu Centro Histrico

1.1. Caracterizao geral do Municipio........................................................ 11

1.2. O Centro Histrico no contexto da cidade............................................... 12

2. Delimitao das poligonais de tombamento

2.1. Poligonal da rea de tombamento.......................................................... 20

2.2. Poligonal da rea de entorno.................................................................. 23

3. Critrios e justificativa para o tombamento do Centro Histrico de Joo Pessoa. 28

4. Caracterizao do Centro Histrico de Joo Pessoa

4.1. A histria formao e evoluo da cidade.......................................... 34

4.2. Caracterizao do patrimnio edificado

4.2.1. Estrutura Urbana........................................................................ 65

4.2.2. Bens tombados......................................................................... 75

4.2.3. Principais ruas e praas............................................................ 86

4.2.4. O carter artstico do Centro Histrico......................................103

5. O Centro Histrico na atualidade

5.1. Aspectos legais...................................................................................... 110

5.2. Aspectos sociais a populao residente............................................ 112

5.3. Aspectos econmicos........................................................................... 115

5.4. Avaliao das edificaes.................................................................... 118

6. Aes de revitalizao

6.1. Promoo cultural.................................................................................. 123

6.2. O projeto de revitalizao do Convnio Brasil/Espanha........................ 126

6.3. A Oficina-Escola de Joo Pessoa......................................................... 129

7. Bibliografia.......................................................................................................... 132

INTRODUO

O presente estudo tem por fim justificar a proposta para tombamento federal do ncleo histrico da cidade de Joo Pessoa, capital do Estado da Paraba. Fundada em 1585, sob a invocao de Nossa Senhora das Neves, este foi o terceiro ncleo urbano do Brasil colonial a receber a denominao de cidade depois de Salvador e Rio de Janeiro - caracterizando-a uma malha urbana de significativa regularidade.

O ncleo antigo da cidade guarda at hoje o registro do seu traado urbano original, bem como edificaes representativas que assinalam o percurso da arquitetura dos sculos XVII e XVIII, formando um conjunto com as contribuies dos sculos XIX e XX, merecendo particular realce os edifcios eclticos e alguns relevantes exemplares do modernismo, permitindo uma clara leitura da histria e da evoluo da cidade.

Por serem detentoras de reconhecido valor patrimonial e arquitetnico, diversas edificaes situadas no ncleo histrico de Joo Pessoa foram alvos de tombamento federal, a partir da dcada de 1930. Outras aes de proteo vieram com a criao do IPHAEP Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico do Estado da Paraba instituio que, desde 1980, procedeu ao tombamento de 54 bens imveis na cidade e delimitou a primeira poligonal para definio do Centro Histrico de Joo Pessoa.

Atravs de um convnio firmado, em 1987, o Centro Histrico de Joo Pessoa passou a integrar o Programa de Preservao do Patrimnio Cultural da Ibero-Amrica, mantido pela Agncia Espanhola de Cooperao Internacional - AECI, em vrios pases da Amrica Latina. Como desdobramento do programa, foi implantado o Projeto de Revitalizao do Centro Histrico de Joo Pessoa, cuja equipe tcnica passou a atuar sobre uma rea correspondente a 117 h. do ncleo tombado a nvel estadual, abrangendo a parte mais antiga da cidade. Para implantao deste projeto foi feito um inventrio da estrutura urbana e de todas as edificaes inseridas neste permetro, bem como elaborada uma normativa de preservao. O referido inventrio, executado em 1987, o nico trabalho que rene informaes detalhadas sobre o ncleo histrico de Joo Pessoa, motivo pelo qual serviu de fonte para a elaborao deste estudo, embora se reconhea a necessidade de atualizao do mesmo.

certo que os rgos de preservao acima referidos tm trabalhado para assegurar a integridade do patrimnio arquitetnico, urbanstico e paisagstico que confere identidade ao Centro Histrico de Joo Pessoa, mas almeja-se o reconhecimento deste valor patrimonial atravs de um tombamento federal que venha reafirmar a necessidade de manter legvel os 420 anos da histria de uma das cidades mais antigas do Brasil.

Com o objetivo de justificar esta solicitao esto expostas, a seguir, informaes gerais sobre o municpio de Joo Pessoa visando melhor situar esta realidade e nela inserir o ncleo histrico da cidade, apresentando a proposta das poligonais de tombamento e de entorno para a qual est sendo apontado reconhecimento de patrimnio federal. Sobre este, explora-se com maior profundidade o processo de formao urbana, sua morfologia e tipologias arquitetnicas, ressaltando os valores estilsticos e paisagsticos.

Na seqncia, so apresentados dados atuais sobre a rea em apreo, com informaes referentes ao uso do solo, estado de conservao, aes de preservao, sendo tambm mapeados os seus principais edifcios e logradouros pblicos, situados e ilustrados atravs de mapas e fotografias, de modo a permitir a correta dimenso da rea a ser preservada e a apreenso dos valores patrimoniais que justificam a presente solicitao.

1. A CIDADE DE JOO PESSOA E O SEU CENTRO HISTRICO

1.1. CARACTERIZAO GERAL DO MUNICPIO

Com latitude de 70654 e longitude de 345147, Joo Pessoa, capital do Estado da Paraba, localiza-se na posio mais oriental da Regio Nordeste e do Brasil. Abrange um territrio municipal de 210,8 km2. Limita-se com o Oceano Atlntico e com os municpios de Cabedelo, Bayeux, Santa Rita e Conde. Juntamente com estes municpios e os de Alhandra e Lucena, forma o Aglomerado Urbano denominado de Grande Joo Pessoa, cuja rea total de 1.403 km2. Joo Pessoa tem posio de liderana neste Aglomerado Urbano, seja por sua localizao central no complexo urbano, ou pela condio de capital da Paraba.Segundo a diviso regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE, o Municpio de Joo Pessoa, bem como o Aglomerado Urbano ao qual pertence, esto inseridos na Microrregio de Joo Pessoa e na Mesorregio da Mata Paraibana, que ocupam, respectivamente, 2,1% e 9,5% da rea territorial do estado. Na diviso fisiogrfica, Joo Pessoa integra a Zona do Litoral e da Mata, que compreende uma rea de 4.316 km2, abrangendo toda a costa martima paraibana.

O Aglomerado Urbano de Joo Pessoa banhado pelo Rio Paraba, cujo esturio possui canais e afluentes que formam as ilhas da Restinga, dos Porcos, dos Stuart e do Tibiri, caracterizando um mosaico de rio-mar-vegetao, verificando-se a densa presena dos manguezais nesta rea. Localizada entre o mar e o vale do Rio Sanhau - afluente do Rio Paraba - a cidade de Joo Pessoa est inserida nessa paisagem marcada por diversos atributos naturais: a topografia de relevo suave, a vegetao exuberante do seu entorno e, principalmente, a relao existente entre o seu ncleo histrico e o Rio Sanhau.

FIG. 01

Relao entre a cidade e o Rio Sanhau

Fonte: Acervo Berthilde Moura Filha

Apesar da intensa ao antrpica que ocorre no Aglomerado Urbano de Joo Pessoa, constata-se, ainda, a existncia de vegetao nativa, assim como a utilizao de espcies exticas na arborizao da cidade, que possui um alto percentual de rea verde por habitante. Na regio litornea e ribeirinha so encontrados remanescentes de vegetao de restinga, mangues e coqueirais. Inseridos na malha urbana de Joo Pessoa, h trechos representativos da cobertura vegetal original de Mata Atlntica, sendo os mais importantes o Parque Solon de Lucena, o Parque Arruda Cmara, a Ponta do Seixas no Cabo Branco e a Mata do Buraquinho (Jardim Botnico Benjamim Maranho). Esta ltima a maior reserva verde da cidade, com uma rea de 515 ha., cortada pelo Rio Jaguaribe, o qual, represado, forma o aude do Buraquinho, que foi o primeiro manancial de abastecimento de gua de Joo Pessoa.( planta 01)

FIG. 02

Vista do Parque Slon de Lucena

Fonte: CPDCH - Joo Pessoa

1.2. O CENTRO HISTRICO NO CONTEXTO DA CIDADE

Por ao do IPHAEP Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico do Estado da Paraba foi definida a primeira poligonal do Centro Histrico de Joo Pessoa, delimitando a rea protegida pelo Decreto Estadual n 9.484, de 10 de Maio de 1982.

Compreende uma rea total de 305,40 hectares, que tem por limite inicial a margem esquerda do Rio Sanhau, o qual constitua o nico meio de acesso cidade, quando da sua fundao, em 1585. A partir do rio, abrange os bairros do Varadouro e o Centro, os quais correspondem aos ncleos de cidade baixa e cidade alta que tiveram formao desde o sculo XVI. Por sua vinculao com o Rio Sanhau, esta parte do Centro Histrico marcada por caractersticas peculiares de acentuada integrao com o meio ambiente, relao que reforada pela implantao da cidade em rea de encosta, onde predominava o verde das cercas conventuais dos franciscanos e beneditinos, em parte ainda existente.

Este ncleo histrico sob proteo do IPHAEP composto, tambm, por reas que resultaram do processo de formao da cidade at meados do sculo XX, compreendendo o Parque Slon de Lucena e os bairros de Tambi, Trincheiras e Jaguaribe. No interior deste permetro encontra-se a maioria dos edifcios protegidos por legislao de tombamento federal e um significativo nmero daqueles tombados pelo IPHAEP, alm de duas importantes reas de importncia paisagstica: os parques Arruda Cmara e Solon de Lucena. (planta 02)

Em 1987, o Centro Histrico de Joo Pessoa passou a integrar o Programa de Preservao do Patrimnio Cultural da Ibero-Amrica, mantido pela Agncia Espanhola de Cooperao Internacional em vrios pases da Amrica Latina.

Isto resultou em um convnio firmado entre os governos do Brasil e da Espanha, - Convnio MinC n01/87 que envolve o Ministrio da Cultura do Brasil, representado pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN, o Governo do Estado da Paraba e a Prefeitura Municipal de Joo Pessoa, alm do Governo da Espanha, representado pela Agncia Espanhola de Cooperao Internacional AECI.

A partir de ento, parte do Centro Histrico de Joo Pessoa foi alvo de um trabalho de inventrio, anlise e diagnstico de sua estrutura urbana e de suas edificaes, resultando na formulao do Projeto de Revitalizao do Centro Histrico de Joo Pessoa. Este Projeto de Revitalizao incidiu sobre uma rea correspondente a 117 ha. do ncleo tombado a nvel estadual, abrangendo a rea mais antiga da cidade onde esto compreendidos os bairros do Varadouro e parte do Centro, tambm denominado de Cidade Alta. Este ncleo foi selecionado por corresponder aos limites da cidade no ano de 1855, por manter quase intacto o seu traado urbano original e por conter edificaes representativas dos vrios perodos da histria da cidade.

Nesta rea passou a ser adotada uma normativa de preservao elaborada a partir do conhecimento dessa realidade especfica, e aplicada pela Comisso Permanente de Desenvolvimento do Centro Histrico de Joo Pessoa, criada atravs do Decreto Estadual n 12.239, de 24 de Novembro de 1987, para ser o rgo gestor do Projeto de Revitalizao. ( planta 03)

Entre as aes previstas no Projeto de Revitalizao, estava a expanso da sua metodologia a todo o permetro do Centro Histrico e a outras reas de interesse urbanstico da cidade como um todo. A falta dessa expanso deu origem a procedimentos diferenciados na gesto do Centro Histrico, ocorrendo orientaes diversas para situaes semelhantes e excessiva burocracia para a tramitao e aprovao de projetos de interveno.

Esta situao motivou uma reviso da delimitao do Centro Histrico de Joo Pessoa, definida em 1982, de forma a criar uma homogeneidade nos procedimentos e orientaes sobre toda a rea. Sendo assim, atravs do Decreto Estadual n 25.138, de 28 de Junho de 2004, foi aprovado o tombamento da nova delimitao do Centro Histrico, que cobre toda a malha urbana da cidade existente at a primeira metade do sculo XX.

Em oposio abrangncia do Centro Histrico protegido por legislao estadual, para o tombamento a nvel federal, est sendo proposta uma poligonal que abarca apenas a parte mais antiga da cidade, correspondendo, basicamente, aos ncleos iniciais do Varadouro e Cidade Alta, como est especificado a seguir. (planta 04)

2. DELIMITAO DAS POLIGONAIS DE TOMBAMENTO

2.1. POLIGONAL DA REA DE TOMBAMENTO (plantaS 05 e 06)

Inicia-se no PONTO 01 no cruzamento dos eixos das Ruas Acadmico Alosio Alberto Sobreira e Visconde de Pelotas. Segue pelo eixo da Rua Visconde de Pelotas at encontrar o PONTO 02 na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 138 da Rua Visconde de Pelotas, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa lateral, prolongando-se pela divisa de fundos do lote da Casa do Errio (inclusive) at encontrar o PONTO 03 na confluncia com a divisa de fundos do imvel n. 261 da Rua Duque de Caxias, onde deflete esquerda. Segue pelas divisas de fundos dos imveis de n. 261 ao de n. 319 da Rua Duque de Caxias at encontrar o PONTO 04 na confluncia com a divisa de fundos do imvel n. 35 da Avenida Expressa Miguel Couto, onde deflete esquerda. Segue pela mesma divisa de fundos at encontrar o PONTO 05 na confluncia com a divisa lateral do mesmo imvel, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa lateral, prolongando-se at interceptar o eixo da Avenida Expressa Miguel Couto e atingir a divisa lateral do lote da Igreja da Santa Casa de Misericrdia (inclusive), s/n, da Rua Duque de Caxias, com o imvel n. 36 da mesma Avenida, encontrando o PONTO 06. Segue pela mesma divisa lateral da Igreja at encontrar a divisa de fundos do imvel n. 36 da Av. Expressa Miguel Couto, e deflete esquerda at encontrar o PONTO 07 na confluncia da divisa de fundos da referida Igreja, onde deflete direita. Prossegue pela mesma divisa de fundos at encontrar o PONTO 08, na confluncia com a divisa lateral da mesma Igreja, com o fundo do imvel de n. 381 da Rua Duque de Caxias. Prolonga-se pela divisa lateral da Igreja, at encontrar o PONTO 09 no eixo da Rua Duque de Caxias, onde deflete esquerda, prolongando pelo eixo da mesma rua, at encontrar o PONTO 09a na confluncia com o prolongamento da Rua Padre Gabriel Malagrida, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Rua Padre Gabriel Malagrida at encontrar o PONTO 09b, na confluncia com o eixo da Rua Rodrigues de Aquino. Segue pelo eixo da Rua Rodrigues de Aquino, encontrar o Ponto 09c na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do prdio do Tribunal da Justia, sn, situado Praa Joo Pessoa, onde deflete direita. Prolonga-se pela divisa de fundos do prdio do Tribunal da Justia at encontrar o Ponto 09d na confluncia com o eixo da Rua Duque de Caxias, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua Duque de Caxias at encontrar o Ponto 09e na confluncia com o eixo da Rua Marechal Almeida Barreto, onde deflete direita. Segue pela lateral da Praa Venncio Neiva at atingir o Ponto 09f, na confluncia com o prolongamento do eixo da Avenida General Osrio, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Avenida General Osrio at atingir o Ponto 09g, na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 86 da Avenida General Osrio, onde deflete esquerda. Segue pela divisa lateral do mesmo imvel at atingir o Ponto 09h, na confluncia com a divisa de fundos do mesmo imvel, onde deflete direita. Segue pelas divisas de fundos dos imveis de n. 86 a 38 da Avenida General Osrio, at atingir o Ponto 09i, na confluncia com a divisa lateral do imvel n. 38, onde deflete direita. Segue pela divisa lateral do mesmo imvel at atingir o Ponto 09j na confluncia com o eixo da Avenida General Osrio, onde deflete esquerda. Prolonga-se pelo eixo da Avenida General Osrio at atingir o Ponto 09l na confluncia com o prolongamento do eixo da Rua Padre Gabriel Malagrida, onde deflete direita. Segue pelo eixo da mesma rua at atingir o Ponto 09a, na confluncia com o eixo da Rua Duque de Caxias, onde deflete esquerda. Prolonga-se pelo eixo da mesma rua at atingir o Ponto 10, na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 162 da Rua Peregrino de Carvalho. Prolonga-se pela divisa lateral do mesmo imvel at atingir o Ponto 11, na confluncia com a divisa de lateral do imvel n. 140, onde deflete esquerda. Segue pelas divisas de fundo dos imveis n. 140 a 94, da Rua Peregrino de Carvalho, at atingir o Ponto 12 na confluncia com o eixo da Avenida General Osrio, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Avenida General Osrio at atingir o Ponto 13 na confluncia com o eixo da Rua Peregrino de Carvalho, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua Peregrino de Carvalho at encontrar o Ponto 14 na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 57, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa lateral, prolongando-se pelas divisas de fundos dos imveis n. 252 (inclusive) a 230 (inclusive) da Avenida General Osrio at encontrar o Ponto 15 na confluncia com o eixo da Avenida Miguel Couto, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Avenida Miguel Couto at encontrar o Ponto 16 na confluncia com o prolongamento da divisa de fundo do imvel n. 202 (inclusive) da Avenida General Osrio, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa de fundo, prolongando-se pelas divisas de fundo dos imveis n. 190 (inclusive) a 164 (inclusive) da Avenida General Osrio, interceptando o eixo da Ladeira Feliciano Coelho at atingir a divisa de fundo do imvel n. 152 (inclusive) da Avenida General Osrio no Ponto 17. Segue pela mesma divisa de fundo prolongando-se pelas divisas de fundos dos imveis de n. 152 ao Antigo Mosteiro de So Bento (inclusive) at atingir o Ponto 18 na confluncia com a divisa lateral do imvel n. 16 da Praa Dom Ulrico, onde deflete esquerda. Segue pela mesma divisa lateral, prolongando-se at encontrar o Ponto 19 na confluncia com o eixo da Rua So Mamede, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Rua So Mamede at encontra o Ponto 20 na confluncia com o eixo da Ladeira da Borborema, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Ladeira da Borborema at encontrar o Ponto 21 na confluncia com os eixos das Ruas da Areia e Antnio S. Segue pelo eixo da Rua Antnio S at encontrar o Ponto 22 na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 16, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa lateral prolongando-se pelas divisas de fundo dos imveis n. 448 (inclusive) ao sn da Rua da Areia, esquina com a Rua Henrique Siqueira, at encontrar o Ponto 23 na confluncia com o eixo da Rua Henrique Siqueira, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua Henrique Siqueira at encontrar o Ponto 24 na confluncia com o eixo da Rua Cardoso Vieira, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua Cardoso Vieira at encontrar o Ponto 25 na confluncia com o prolongamento da divisa de fundos da edificao da Secretaria de Finanas (inclusive), onde deflete direita. Segue pela mesma divisa prolongando-se at encontrar o Ponto 26 na confluncia com o eixo da Rua Gama e Melo, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Rua Gama e Melo at encontrar o Ponto 27 na confluncia com o eixo da Cardoso Vieira e a Praa Antnio Rabelo. Segue pela Praa Antnio Rabelo at encontrar o Ponto 28 na confluncia com o eixo da Rua 05 de Agosto, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua 05 de Agosto at encontrar o Ponto 29, na confluncia com o eixo da Rua Maciel Pinheiro, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua Maciel Pinheiro at encontrar o Ponto 30 na confluncia com o eixo da Rua Baro do Triunfo, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Rua Baro do Triunfo at encontrar o Ponto 31 na confluncia com o prolongamento da divisa de fundos do imvel n. 212 da Rua Maciel Pinheiro, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa de fundos prolongando-se pelas divisas de fundo dos imveis n. 206 (inclusive) a 88 (inclusive) da Rua Maciel Pinheiro at encontrar o Ponto 32 na confluncia com o eixo da Rua 05 de Agosto, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua 05 de Agosto at encontrar o Ponto 33 na confluncia com o eixo da Rua Rosrio di Lorenzo, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Rua Rosrio di Lorenzo, margeando a Praa lvaro Machado, at encontrar o Ponto 34 na confluncia com o eixo da Avenida Sanhau, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Avenida Sanhau at encontrar o Ponto 35 na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 181, Antiga Fbrica de Gelo (inclusive), onde deflete direita. Segue pela mesma divisa lateral at encontrar o Ponto 36 na confluncia com a divisa de fundos do mesmo imvel, onde deflete direita. Prolonga-se pela divisa de fundo do mesmo imvel at encontrar o Ponto 37, na interseo entre o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 29 da Rua Porto do Capim e o eixo da Rua Porto do Capim. Segue pelo eixo da Rua Porto do Capim at encontrar o Ponto 38 na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 107 da Rua Visconde de Inhama, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa lateral at encontrar o Ponto 39 na confluncia com a divisa de fundos do imvel n. 115 da Rua Visconde de Inhama, onde deflete esquerda. Segue pela mesma divisa, prolongando-se pela divisa de fundos do imvel n. 147 da Rua Visconde de Inhama at encontrar o Ponto 40 no eixo da Rua Frei Vital, onde deflete direita. Segue pelo eixo da Rua Frei Vital at encontrar o Ponto 41 na confluncia com o prolongamento da divisa lateral do imvel n. 148 (inclusive) da Rua Visconde de Inhama, onde deflete direita. Segue pela mesma divisa at encontrar o Ponto 42 na confluncia com a divisa lateral do imvel n. 122 (inclusive) da Rua Visconde de Inhama, onde deflete esquerda. Segue pela mesma divisa lateral at encontrar o Ponto 43 na confluncia com o eixo do ramal Cabedelo da linha ferroviria, onde deflete Ddireita. Segue pelo eixo da linha ferroviria at encontrar o Ponto 44 na confluncia com o prolongamento da divisa de fundos do imvel n. 07 da Praa So Pedro Gonalves, Antigo Hotel Globo (inclusive), onde deflete esquerda. Segue pela mesma divisa de fundos, prolongando-se pelas divisas de fundo dos imveis n. 17 (inclusive) da Praa So Pedro Gonalves a n. 50 da Rua Padre Antnio Pereira, antigo convento de So Pedro Gonalves (inclusive), at encontrar o Ponto 45, na confluncia com a divisa lateral do mesmo convento. Segue pela mesma divisa lateral prolongando-se at interceptar o eixo da Rua Padre Antnio Pereira e encontrar o Ponto 46 na confluncia com a divisa de fundos do imvel n. 163 (inclusive) da Rua da Areia, onde deflete esquerda. Segue pela mesma divisa de fundos, prolongando-se pelas divisas de fundo dos imveis n. 179 (inclusive) a 225 (inclusive) da Rua da Areia, interceptando o eixo da Rua Henrique Siqueira at encontrar o Ponto 47 na divisa de fundos do imvel n. 249 (inclusive) da Rua da Areia. Segue pelas divisas de fundo dos imveis n. 249 a 351 (inclusive) da Rua da Areia, at encontrar o Ponto 48 na confluncia com o eixo da Travessa dos Milagres, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Travessa dos Milagres at encontrar o Ponto 49 na confluncia com o eixo da Rua Augusto Simes, onde deflete esquerda. Segue pelo eixo da Rua Augusto Simes at encontrar o Ponto 50 na confluncia com os eixos da Ladeira de So Francisco e Avenida Gouveia Nbrega. Segue pelo eixo da Avenida Gouveia Nbrega at encontrar o Ponto 51 na confluncia com a divisa de fundos do imovel n. 115 (inclusive) da Ladeira de So Francisco, onde deflete direita. Segue pelas divisas de fundos dos imveis n. 115 a 295 da Ladeira de So Francisco, passando pela divisa de fundo da Antiga Casa da Plvora, at encontrar o Ponto 52 na confluncia com a cerca conventual do Convento Franciscano de Santo Antnio (inclusive), onde deflete esquerda. Segue pela cerca conventual at encontrar o Ponto 53 na confluncia com a divisa de fundos do imvel sn, vizinho ao imvel n. 49 (inclusive) da Avenida Pedro I, onde deflete esquerda. Segue pela mesma divisa de fundo, prolongando-se pelas divisas de fundo dos imveis n. 83 (inclusive) a 75A (inclusive) da Avenida Pedro I e pela divisa lateral do imvel n. 7 da Rua Joaquim Nabuco at encontrar o Ponto 54 na confluncia com o eixo da Rua Joaquim Nabuco. Segue pelo eixo da Rua Joaquim Nabuco, at encontrar o Ponto 55 na confluncia com o eixo da Avenida Deputado Odon Bezerra. Cruza a Avenida Deputado Odon Bezerra at encontrar o Ponto 56 na confluncia dos eixos da Avenida Pedro I e Rua Acadmico Alosio Alberto Sobreira. Segue pelo eixo da Rua Acadmico Alosio Alberto Sobreira at encontrar o Ponto 01, incio desta poligonal.

2.2. POLIGONAL DA REA DE ENTORNO

Inicia-se no ponto A1, na entrada da Camboa dos Frades, onde deflete direita, segue em direo ao atual trapiche dos pescadores, prolongando-se pelo eixo da Rua Frei Vital at encontrar o ponto A2, na confluncia com o eixo da Rua Elpdio Alves da Cruz, onde deflete esquerda, segue pela lateral da Praa da SOCIC at encontrar o ponto A3, na confluncia com o eixo da Ladeira de So Francisco, onde deflete esquerda, segue pelo eixo da Avenida Gouveia da Nbrega, at encontrar o ponto A4, na confluncia com o eixo da Ladeira Dom Vital, onde deflete direita, prolongando-se pelo eixo da Ladeira, at encontrar o ponto A5 na confluncia com o eixo da Rua Borges da Fonseca, onde deflete direita, prolongando-se pelo eixo da Rua Borges da Fonseca, at encontrar o ponto A6, na confluncia com o eixo da Rua Gama Rosa, onde deflete esquerda, segue pelo eixo da Rua Gama Rosa at encontrar o ponto A7 na confluncia com o eixo da Rua Joaquim Nabuco, onde deflete direita, prolongando-se at interceptar o eixo da Rua Dep. Odon Bezerra, no ponto A8, onde deflete esquerda, cruzando a Avenida Dom Pedro I at encontrar o ponto A9, na confluncia com o eixo da Rua Acadmico Alusio Sobreira, onde deflete direita, prolongando-se pelo eixo at encontrar o ponto A10, na confluncia com o eixo da Rua Treze de Maio, prolonga-se pelo eixo, at encontrar o ponto A11, na confluncia com o eixo da Rua Baro do Abiahy, onde deflete direita, prolongando-se pelo eixo at encontrar o ponto A12, na confluncia com o eixo da Rua Visconde de Pelotas, onde deflete esquerda, segue pelo eixo da Rua Visconde de Pelotas, at encontrar o ponto A13, na confluncia dos eixos das Ruas Visconde de Pelotas e Padre Meira, prolongando-se at encontrar o ponto A14, na confluncia dos eixos das Ruas Rodrigues de Aquino e Gabriel Malagrida segue pelo eixo da Rua Rodrigues de Aquino at encontrar o ponto A15, na confluncia com o eixo Rua Marechal Almeida Barreto, onde deflete esquerda, prolongando-se pela lateral da Praa Joo Pessoa, at encontrar o ponto A16, na confluncia dos eixos da Rua Rodrigues Chaves e da Avenida ndio Piragibe, segue pelo eixo da Avenida ndio Piragibe at encontrar o ponto A17, na confluncia com o eixo da Ladeira da Favela, onde deflete direita, prolongando-se pelo eixo da Ladeira da Favela, at encontrar o ponto A18, na confluncia com o eixo da Rua da Repblica, onde deflete esquerda, segue pelo eixo da Rua da Repblica at encontrar o ponto B, na confluncia da Rua da Repblica com a Avenida Sanhau, onde deflete direita, prolongando-se pela margem direita do Rio Sanhau, at encontrar o ponto A1, incio desta poligonal.

OBS: ver em anexo, ao final do relatrio, a tabela com as coordenadas dos vrtices de delimitao das poligonais de tombamento.PLANTA 05 - DELIMITAO DAS POLIGONAIS IPHAN

PLANTA 06 - POLIGONAIS SOBRE FOTO AREA

3. CRITRIOS E JUSTIFICATIVA PARA O TOMBAMENTO DO CENTRO HISTRICO DE JOO PESSOA

A presente proposta de tombamento do ncleo histrico da cidade de Joo Pessoa assenta no pressuposto de considerar este como um conjunto urbano com uma identidade prpria que lhe adveio da permanncia de ocupao deste lugar, num tempo mais ou menos longo, com estruturas construdas que deram resposta s funes que justificaram esse assentamento, e que explicam tambm as sucessivas metamorfoses pelas quais esse ncleo foi passando. Situao, stio, formas, funes, paisagem natural e paisagem construda, definem um conjunto coerente onde possvel assinalar a passagem do tempo atravs da transformao da paisagem que se pretende tombar, preservando-a para o futuro como smbolo de identidade. Associado a este espao urbano est um conjunto de manifestaes culturais tradicionais que fazem parte do que se convencionou denominar de patrimnio imaterial e que concorrem para a revitalizao do sitio.

Estes fundamentos encontram-se definidos na Carta Internacional das Cidades Histricas do ICOMOS a qual define que os valores a preservar so o carter histrico da cidade e o conjunto de elementos materiais e espirituais que lhe determinaram a imagem. Assim, para o tombamento, deve merecer particular ateno, a forma urbana definida pelo traado virio e parcelamento do solo, as relaes entre edifcios e espaos livres e verdes, a forma e a imagem dos edifcios, as mutaes impostas cidade por outras funes adquiridas ao longo da histria.

Com o tombamento do Centro Histrico de Joo Pessoa, busca-se preservar estes valores que ainda esto presentes nesta cidade, que teve sua origem na foz do Rio Sanhau, um esturio de posio e condies estratgicas, indispensveis defesa territorial e com condies favorveis para dar resposta aos interesses econmicos e comerciais prprios da poca da colonizao luso/espanhola.

A 5 de Agosto de 1585, foi fundada a Cidade de Filipia de Nossa Senhora das Neves, sendo denominada Frederica por ocasio da ocupao holandesa, no Sculo XVII e, em seguida, Parahyba, nome que o advento da Revoluo de 1930 substituiu pelo atual, Joo Pessoa.

O ncleo urbano era definido por duas zonas diferenciadas, determinadas pela prpria topografia onde este se implantou. Na margem do rio, o Varadouro, cujas condiesgeogrficas favorveis, levaram os colonizadores a criar um porto fluvial na cidade, o Porto do Capim, que serviria ao escoamento da produo aucareira. A predominaram as instalaes porturias e comerciais. A ocupao da cidade baixa estendeu-se ao longo do Rio Sanhau, se ramificando posteriormente, de forma no planejada, por sobre a topografia acidentada que divide as pores de cidade baixa e alta. No alto da colina, instalaes administrativas e religiosas, bem como o casario onde habitava a populao mais abastada da cidade.

Foi volta destes dois plos que a cidade se organizou e desenvolveu, desde a fundao ao sculo XIX, definindo ruas, praas e outros equipamentos urbanos, cujos testemunhos permanecem ainda bem visveis na malha que se pretende tombar. Apesar do acidentado do stio a cidade inicial conheceu dois tipos distintos de arruamentos: a transformao de caminhos de ligao cuja forma era determinada pela geografia, em ruas, e a criao de outras ruas seguindo um planejamento pr-determinado. Definiu-se uma cidade hbrida composta por algumas ruas sinuosas e, principalmente, por ruas de organizao racional, testemunhada pelo traado e parcelamento do solo da parte alta da cidade.

Tem-se em conta que Joo Pessoa foi a terceira cidade fundada no Brasil do sculo XVI, cujo traado, em parte, revela uma regularidade que se aproxima do modelo de cidades portuguesas planejadas, constatao tambm detectada na mesma poca em Salvador e no Rio de Janeiro. Mantendo ainda praticamente intacta esta malha urbana, as caractersticas tipolgicas e urbansticas originais, considera-se a estrutura urbana como um justificativo consistente para a sua preservao como referencial histrico da ocupao territorial do Brasil do sculo XVI, bem como da organizao e desenvolvimento de uma cidade colonial ao longo dos sculos XVII e XVIII.

Preservar este traado urbano importante para a memria e identidade da cidade de Joo Pessoa, mas tambm significa manter um modelo de organizao urbana fundamental para a compreenso da origem e desenvolvimento deste fenmeno de criao de cidades no Brasil. Neste sentido, ressalta-se que diversos investigadores j analisaram a Filipia em seus estudos sobre o urbanismo luso-brasileiro, apontando-a ao tratar da insero do urbanismo de traado regular no Brasil colonial. Entre estes se destaca a clssica obra de Nestor Goulart Reis Filho, Contribuio ao Estudo da Evoluo Urbana do Brasil, de 1968, bem como trabalhos recentemente produzidos no Brasil e em Portugal.

Na imagem da cidade do perodo colonial, os edifcios religiosos so referenciais pela monumentalidade arquitetnica e esttica, bem como pelo aspecto simblico que assumiam, conferindo cidade um carter em tudo sintonizado com os princpios ideolgicos da colonizao portuguesa. Estas edificaes ao lado do traado urbano marcam a permanncia do processo de origem e desenvolvimento da cidade do sculo XVI ao XVIII, as quais hoje se mesclam com a arquitetura dos sculos subseqentes, onde essa monumentalizao primitiva foi substituda por novos referenciais arquitetnicos e por novos vocabulrios estticos, indicadores de outras formas de vivncia do espao urbano.

Este conjunto urbano marca os ciclos principais da histria da Paraba, seus engajamentos poltico-econmicos, a tnica administrativa e comercial que caracterizou a cidade de Joo Pessoa enquanto capital do estado da Paraba.

Na diversidade de estilos que coexistem no Centro Histrico da Cidade de Joo Pessoa destaca-se o barroco das obras das ordens religiosas, como a exuberncia decorativa da igreja da Ordem de S. Francisco, a austeridade da escola beneditina, expressa na Igreja e Mosteiro de So Bento e a profuso de formas e detalhes, de uma transio do barroco, na exuberante fase do rococ, observadas no conjunto Carmelita.

Destaca-se ainda no repertrio de edificaes religiosas de Joo Pessoa o singular e austero estilo maneirista da Igreja da Misericrdia e o ecletismo das Igrejas de So Frei Pedro Gonalves e da Baslica de Nossa Senhora das Neves.

No mbito das edificaes civis predomina o ecletismo, alm de um casario da arquitetura tradicional brasileira, que sucede arquitetura colonial originalmente existente e da qual subsistem alguns remanescentes.

A partir do sculo XIX, observam-se ainda outras caractersticas artsticas como as neoclssicas, em prdios pblicos como o Teatro Santa Roza, a Alfndega, a Biblioteca Pblica e outras edificaes revelam uma assimilao autctone de elementos que caracterizam a corrente neoclssica. Aparecem depois os neos. O conjunto ocupado pelo Colgio dos Jesutas, cuja origem remonta ao sculo XVIII, foi transformado com timbres do neo-colonial, abrigando a atual Faculdade de Direito. O sobrado do Comendador Santos Coelho, na Praa Dom Adauto traz em seu vos de portas e janelas caractersticas neo-gticas.

O crescimento da cidade seguiu constante preocupao urbanstica. A partir de 1920, o Centro Histrico inicial que durante trs sculos manteve seu permetro, passa a se expandir. Surgem novas reas residenciais, pertencentes parcela da populao abastada: a ascendente burguesia, que se instala nas novas ruas, Trincheiras, Joo Machado e o bairro de Tambi se estruturava para vetorizar os caminhos de expanso da cidade.

Incorporando tendncias francesas dos tempos modernos, nas dcadas de 20 e 30, o Centro Histrico acolhe exemplares do movimento Art-deco, a exemplo do antigo prdio do Hotel Globo e do casario que integra a Praa Antenor Navarro.

Refletindo a histria da evoluo da cidade, o conjunto urbano, com as suas peculiares caractersticas urbansticas e arquitetnicas, nos permite elencar alguns pontos de relevncia para que o Centro Histrico de Joo Pessoa obtenha o seu tombamento enquanto Patrimnio Histrico e Artstico Nacional:

1 - A malha urbana do centro tradicional est bastante ntegra, constituindo, portanto, registro de significativa relevncia para a compreenso do processo de ocupao e desenvolvimento da cidade.

2 - A rea que compreende o Centro Histrico de Joo Pessoa, conserva grande acervo edificado representativo de vrios perodos histricos e de estilos arquitetnicos, testemunhos incontestes de sua formao e evoluo.

3 - O Centro Histrico de Joo Pessoa mantm significativo potencial em sua paisagem natural, perenizando o vnculo existente entre o Rio Sanhau e a cidade. A engenharia humana operada no meio fsico deu-se em sintonia com a horizontalidade da paisagem de mangue e das guas da regio estuarina do Rio Paraba. Hoje, ainda se mantm a ambincia outrora to importante do stio onde a cidade teve origem, e que foi bem registrada na iconografia da poca da ocupao holandesa, nomeadamente nos registros de Franz Post e Gaspar Barlaeus. A identidade paisagstica que se relaciona com o meio fsico e seus elementos hidrolgicos, topogrficos e biolgicos, compreendendo uma paisagem natural e construda ratificam o valor do Centro Histrico de Joo Pessoa como conjunto a ser objeto de reconhecimento nacional.

4 - inquestionvel a importncia da rea do Centro Histrico, como plo de influncia e concentrao das mais diversas referncias para a vida cultural da cidade, sufocada pelo processo de deteriorao das razes mais autnticas que reproduzem as manifestaes regionais que ainda sobrevive ali em estado latente necessitando de urgente resgate. Assim citamos as celebraes e ritos religiosos, os tipos tradicionais com seus preges e sons vendendo os produtos do artesanato e da culinria regional, os folguedos e o rico folclore que se apresenta de forma autctone. Tudo isso faz parte da atmosfera respirada no Centro Histrico de Joo Pessoa, que precisa ser oxigenada e documentada como registro imaterial, para garantir no futuro sua sustentao frente a uma cultura aliengena que massifica.

Neste sentido, avaliamos que o Centro Histrico da Cidade de Joo Pessoa, rene todas as condies para ser reconhecido como patrimnio cultural brasileiro.

4. CARACTERIZAO DO CENTRO HISTRICO DE JOO PESSOA

4.1. A HISTRIA FORMAO E EVOLUO DA CIDADE

A Criao da Capitania da Paraba e a fundao da Cidade.

A histria da Paraba vincula-se s aes que a Coroa portuguesa empreendeu, no final do sculo XVI, visando o povoamento e colonizao de reas do litoral brasileiro que continuavam despovoadas, apesar das anteriores tentativas de ocupao atravs do sistema das capitanias hereditrias implantado por D. Joo III, em 1534.

Muitas destas reas eram atrativas para explorao do pau-brasil, particularmente cobiado pelos franceses, que se aliavam s tribos indgenas insuflando-as contra os colonizadores. Para combater esta ameaa, a Coroa portuguesa decidiu tomar a seu encargo direto a colonizao brasileira, tendo por primeira medida a implantao do Governo Geral do Brasil que foi sediado na Capitania da Bahia, sendo fundada a cidade de Salvador, em 1549.

Em seguida, reprimindo a ocupao francesa na Baa da Guanabara, aps algumas expedies de conquista, os portugueses ganharam o domnio sobre aquela baa e fundaram a cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro, ampliando os territrios por eles ocupados.

Por esta poca, grande parte da regio setentrional do litoral brasileiro, onde as capitanias hereditrias no prosperaram, continuava despovoada e sendo explorada pelos franceses, aliados s tribos indgenas locais, representando uma ameaa para as capitanias limtrofes de Itamarac e Pernambuco.

Para conter os ataques e assegurar a conquista da terra para Portugal, no ano de 1574, foi criada a Capitania da Paraba, por ordem do rei D. Sebastio ao ento Governador Geral do Brasil Luiz de Brito. Com tal medida, visava a Coroa afastar os franceses e os temidos ndios Potiguaras das margens do Rio Paraba. Na qualidade de Capitania da Coroa o territrio da Paraba foi desmembrado da Capitania de Itamarac, tendo por limite o Rio Goiana, ao sul e a Baa da Traio, ao norte.

A partir de ento iniciaram as expedies de conquista da Paraba, ocorrendo a primeira em 1575, sob o comando do Ouvidor-Geral Ferno da Silva, com o objetivo de estabelecer fortificao que servisse de base para o combate aos indgenas, como ordenava o poder real. Tendo sido atacada pelos ndios Potiguaras teve que voltar a Olinda.

As duas expedies seguintes foram comandadas por Frutuoso Barbosa, rico mercador de pau-brasil estabelecido em Pernambuco, nomeado pelo rei D. Henrique como capito-mor da conquista da Paraba. Na primeira tentativa de conquista, em 1579, Frutuoso Barbosa teve suas embarcaes danificadas por uma tempestade quando estavam aportadas em Pernambuco, fato que o impediu de seguir para a Paraba. Em 1582, refeito das perdas ocorridas anteriormente e reconfirmado no seu cargo por Felipe II, agora tambm rei de Portugal, chegou Paraba, mas sofrendo sucessivos ataques dos nativos, incitados por franceses, acabou abandonando seu projeto.

Perante estes insucessos, o governador geral do Brasil, Manuel Teles Barreto, mandou que fossem para Pernambuco o ouvidor geral, Martim Leito, e o provedor Martim Carvalho, a fim de reunir gente e recursos para outra expedio. Estando a esquadra castelhana do general Diogo Flores Valdez na Bahia, utilizou-a para a nova investida. Do porto do Recife, partiram em direo Paraba, navios espanhis e portugueses sob o comando de Diogo Flores, seguindo tambm, por terra, um numeroso contingente.

Chegando a frota foz do Rio Paraba houve novo encontro com franceses, que tiveram as suas naus incendiadas enquanto seu efetivo se refugiava junto aos Potiguaras. Diogo Flores tratou de levantar um fortim situado na margem norte do rio - no lugar atualmente conhecido por Forte Velho - batizando-o, a 1 de Maio de 1584, com o nome de So Filipe e Santiago, e nomeando como alcaide o capito de infantaria espanhol, Francisco de Castrejon.

Nesta poca chegaram a Paraba os ndios Tabajaras comandados pelo cacique Piragibe (brao de peixe), oriundos das margens do Rio So Francisco na regio da fronteira entre Bahia e Pernambuco. Piragibe tendo sido aliado dos portugueses, em 1573, na captura e escravizao de outras naes indgenas, havia fugido de seu local de origem, aps a tentativa de sua escravizao pelos portugueses e o massacre destes por seus guerreiros. Acabou por estabelecer aliana com os Potiguara e sua nao se instalou na margem sul do Rio Paraba, estendendo seus domnios at as reas colonizadas por Portugal, enquanto os Potiguara dominavam a margem norte.

Ao fim de Janeiro de 1585, Francisco Castejon avisava a Martim Leito sobre a difcil situao do forte, pelo que partiram de Pernambuco todos os homens que puderam ser reunidos para irem em socorro da Paraba. Tendo entrado no territrio da Paraba a 1 de Maro de 1585, atingiram no dia 5 o aldeamento Tabajara localizado s margens do Rio Tibiri, onde foram travados os primeiros combates com vitria para dos portugueses. Ao chegarem ao forte era cousa piedosa de vr, assim o damnificamento, como as pessoas dos soldados, que bem mostravam as fomes, e miserias que tinham passado, como as ruinas, que, por ser de taipa, havia tudo mister reparado.1Martim Leito tentou estabelecer dilogo com Piragibe na tentativa de separ-lo dos Potiguaras. As negociaes no progrediram, devido desconfiana do indgena, j uma vez trado pelos portugueses, e o seu receio de aniquilamento por parte dos Potiguaras, em maior nmero, se soubessem de uma traio.

Sem que fosse prestado o devido auxlio ao forte de So Filipe, em finais de Junho de 1585, ele foi abandonado pelo capito Castejon e seus homens, que antes de partirem trataram de jogar a artilharia ao mar e de pr fogo ao forte. A esta altura iniciavam-se os desentendimentos entre Potiguaras e Tabajaras. Sabendo destas notcias, Martim Leito reiterou a oferta de aliana a Piragibe.

Fazia-se necessrio agir com brevidade para retomar o forte arruinado, e um fato novo propiciava a difcil conquista. Ao fim do ms de Julho, chegaram Olinda emissrios do cacique Tabajara, com o objetivo de solicitar socorro e oferecer aliana ao Ouvidor Geral, pois vinham sofrendo guerra declarada por parte dos Potiguaras.

A 2 de Agosto de 1585, partiram de Pernambuco Joo Tavares, escrivo da Cmara e juiz de rfos de Olinda, com apenas 20 homens e os emissrios de Piragibe. No dia seguinte chegaram foz do Rio Paraba onde iniciaram as conversaes de paz com os Tabajaras, que sendo firmada criou as condies necessrias para enfrentar os Potiguaras. A 5 de Agosto, Joo Tavares desembarcou margem sul do Rio Sanhau - afluente do Rio Paraba, e escolheu o local para a construo de um forte. Esta data foi adotada para marcar a fundao da terceira cidade do Brasil, cujo nome remetia invocao da santa do dia, sendo batizada de Cidade de Nossa Senhora das Neves.

Da Fundao da Cidade at a Invaso Holandesa

Com as notcias do feito, a 15 de Outubro, partiu de Pernambuco Martim Leito, trazendo consigo pedreiros, carpinteiros, entre outros oficiais, alm de Manuel Fernandes, mestre das obras de el-rei, para tratar da instalao da povoao. Seguia tambm, nesta comitiva, o fidalgo Duarte Gomes da Silveira, que viria ter importante papel na construo da nova cidade.

Martim Leito percorreu toda a regio, desde o vale do Rio Jaguaribe at a ponta do Cabo Branco, aprovando o stio escolhido por Joo Tavares para a fundao da cidade, porque ali havia um porto de boas condies, um formoso torno de agoa doce para provimento das embarcaes e muita pedra de cal necessria para edificar a cidade. A 4 de Novembro, teve incio a construo do forte, de cento e cincoenta palmos configurado em quadra com duas guaritas, que jogo oito peas grossas huma ao revez da outra. 2Nos primeiros anos de fundao pouco se cuidou da cidade, por conta da necessidade de combater os ndios Potiguara que representavam constante ameaa ao nascente ncleo urbano. Para tanto, foram organizadas expedies Baa da Traio e Serra da Capaoba (atual Serra da Raiz, localizada no municpio de Alagoa Grande, regio do Brejo Paraibano). 3Aos poucos, a cidade implantada em stio de encosta foi se constituindo, tendo por porta de entrada o Rio Sanhau, acesso para as embarcaes que ali chegavam. Uma pequena capela edificada no alto da colina marcou importante ponto de referncia para a cidade, sendo em pouco tempo elevada condio de igreja matriz. Assim, foi definida a sua estrutura inicial, dividida entre a cidade alta o lugar da matriz - e a cidade baixa, margem do rio, rea tambm denominada de Varadouro.

Fazendo a ligao entre o Varadouro e a cidade alta, surgiu a ladeira, hoje denominada de So Francisco, caminho atravs do qual homens e mercadorias circulavam entre o porto e o ncleo administrativo e residencial situado em cima da encosta, uma vez que o Varadouro tinha funo porturia e, segundo registros documentais, apenas havia ali algumas roas e stios.

Na cidade alta, foi aberta a Rua Nova, a qual tinha incio porta da igreja matriz, sendo ali edificados a Casa de Cmara e Cadeia, e o Aougue. Estes dois logradouros foram os primeiros a compor a nascente malha urbana da cidade, que a partir de 1588, no governo de Frutuoso Barbosa, passou a se chamar Filipia de Nossa Senhora das Neves, em homenagem ao rei de Espanha e Portugal.

Significativo para a formao do ncleo urbano e para a colonizao da capitania foi a implantao das ordens religiosas na cidade. Na seqncia da igreja matriz situada na poro norte da colina onde est a cidade alta, vieram os padres da Companhia de Jesus se instalar, ao sul, na pequena capela de So Gonalo, localizada prximo aldeia dos Tabajaras, uma vez que trabalhavam na catequese destes ndios.

Em 1589, chegaram Paraba os franciscanos, aos quais o governador da poca, Frutuoso Barbosa, incumbiu a responsabilidade por todas as aldeias da capitania, sendo exceo a aldeia Tabajara de Piragibe, que j estava sob a tutela dos jesutas.4 Emterreno que lhes foi doado nas proximidades da igreja matriz os franciscanos edificaram sua casa ou recolhimento com doze cellas, claustro e officinas, com seu oratorio.5Nos governos de Andr de Albuquerque Maranho (1591-1592) e Feliciano Coelho de Carvalho (1592-1600) a nascente cidade e a expanso da cana-de-acar na Paraba estiveram constantemente ameaadas pelas incurses de ndios Potiguaras e contrabandistas franceses. No entanto, ocorria algum avano e a cidade ia se consolidando.6Nos autos da visitao do Santo Oficio Paraba, em 1595, ficou registrada a existncia da Igreja da Misericrdia, provavelmente em construo, obra impulsionada por Duarte Gomes da Silveira, que havia chegado juntamente com Martim Leito e tornara-se importante senhor de engenho. Em 1599, vieram para a Filipia os frades da Ordem de So Bento que iniciaram a construo de seu mosteiro e igreja no ano seguinte. Inicialmente sob a invocao de Nossa Senhora de Montesserat, o complexo foi implantado no incio da Rua Nova, em frente ao largo que antecedia a Matriz. Possivelmente, em 1600, os carmelitas edificavam seu mosteiro, tambm situado prximo Igreja Matriz.

Observa-se que as casas religiosas, bem como grande parte das residncias da cidade ficavam situadas no alto da colina, configurando uma imagem que demonstrava estar a Filipia assumindo seu carter de centro urbano, com os edificios nobres de pedra e cal que cada dia se aumento, conforme registrou o sargento-mor do Brasil, Diogo de Campos Moreno, no ano de 1616.7 O senhor de engenho, Ambrsio Fernandes Brando, tambm constatou em 1618, que a cidade estava cheia de casas de pedra e cal.8Na cidade alta, alm da Rua Nova, surgiu a Rua Direita, paralela quela, com traado regular, e em formao por volta do ano de 1600. Havia algumas vias transversais a Rua da Misericrdia, a Travessa do Carmo, cujo trajeto estava associado posio assumida pelos respectivos edifcios religiosos na malha urbana. Todas estas ruas definiam um traado urbano regular, dividindo o stio em quadras tambm regulares, onde as casas ocupavam lotes de testada estreita e com longos quintais, configurando o tpico parcelamento colonial.

5 - JABOATO, Frei Antonio de Santa Maria. Orbe Serafico Novo Brasilico. Lisboa: Officina de Antonio Vicente da Silva, 1761. p. 138

6 - Isto contribuiu para a deciso de proceder colonizao do Rio Grande do Norte, que passara a ser importante base de apoio dos franceses. Em 1597, ocorreu a expedio de conquista, reunindo uma frota mandada da Bahia pelo governador geral Francisco de Souza, foras terrestres de Pernambuco e da Paraba. Nos primeiros dias de 1598, teve incio a construo do Forte dos Reis Magos, na foz do Rio Potengi.

7 - REZO do Estado do Brasil (c. 1616). Lisboa: Edies Joo S da Costa, 1999. fl. 105-105v.

8 - BRANDO, Ambrsio Fernandes. Dilogos das Grandezas do Brasil. Recife: Fundao Joaquim Nabuco / Ed. Massangana, 1997. p. 25

Visualizando o traado urbano da Filipia nesta poca, v-se que a Rua Nova partia da Igreja Matriz, terminando na esquina da Rua da Misericrdia, pois a partir dali havia apenas um estreito caminho. A Rua da Misericrdia, principiando na Rua Nova, se encerrava porta da igreja da Santa Casa da Misericrdia, edificada na Rua Direita. Por sua vez, a Rua Direita era a via mais extensa da cidade, iniciando no adro da igreja dos franciscanos e seguindo at a Capela de So Gonalo onde residiam os jesutas. No entanto, esta rua era parcialmente ocupada apenas no trecho compreendido entre os conjuntos dos franciscanos e da Misericrdia. Havia ainda a Travessa do Carmo, ligando a Rua Nova ao conjunto dos carmelitas. Observa-se a relao que havia entre o traado urbano e os edifcios religiosos que pontuavam a cidade.

Importante foi a construo da nova Casa de Cmara e Cadeia, a frente da qual foi aberto o Largo da Cmara, em 1610, obedecendo regularidade que caracterizava a cidade alta. Este fato denotava o progresso da cidade e criava espaos urbanos individualizados para os dois poderes instalados na Filipia: a administrao portuguesa e a Igreja Catlica.

Vale ressaltar que embora a cidade tivesse sua origem associada ao forte edificado em 1585, a defesa da Paraba no estava diretamente vinculada Filipia, uma vez que a principal estrutura defensiva o Forte do Cabedelo - estava situado na barra do Rio Paraba, a cerca de quatro lguas da cidade. E para guarnecer a vrzea onde prosperavam os engenhos de acar havia os fortes do Tibiri e Inhobim.

Somente quando principiaram as ameaas de invaso dos holandeses, a defesa da capitania foi reforada. Na dcada de 1630, foram edificados os fortes de Santo Antnio e da Restinga, situados na barra do Rio Paraba, fazendo com o Forte do Cabedelo um sistema de fogo cruzado que visava impedir a entrada destes inimigos naquele rio, o nico caminho de acesso para a cidade. Nesta, foi edificado o forte do Varadouro.

Foi a invaso holandesa que veio interromper o processo de construo da cidade e de consolidao da capitania da Paraba, onde o nmero de brancos elevou-se a 700, na primeira dcada do sculo XVII, dos quais 80 famlias residiam na cidade. Havia oito aldeamentos onde se calculava em torno de 14.000 ndios

Em termos econmicos, era a terceira capitania em grandeza e importncia econmica no Brasil, sendo precedida pela Bahia e Pernambuco. Os seus rendimentos representavam duas vezes mais que os gastos de sua administrao. Segundo apontou o sargento-mor do Brasil, Diogo de Campos Moreno, no livro que d Razo do Estado do Brasil, em 1616, a Paraba, embora fosse de colonizao recente, prometia prosperidade, pois nesta capitania com grande rendimento fazem asuquar doze engenhos, e se fabrico outros, acrescentando o sargento-mor que havendo ali huma governana de sustncia cresceria a cidade Filipia, de modo a se tornar to importante quanto Pernambuco, o que seria positivo por ser uma capitania de Sua Majestade.9

9 - REZO do Estado do Brasil. Op. cit. fl. 96, 96v e 104.

A Invaso Holandesa

Depois de fracassadas investidas, ocorridas em Dezembro de 1631 e Fevereiro de 1634, os holandeses ganharam domnio sobre a Paraba. O assalto que teve incio a 4 de Dezembro de 1634 foi vitorioso, apesar do reforo do esquema defensivo da capitania com a construo dos fortes de Santo Antnio e da Restinga, e das baterias que resguardavam o entorno do Forte de Cabedelo,.

Em meio a intensos combates, no dia 09 os holandeses tomaram o Forte da Restinga passando a atacar os outros dois fortes, ao mesmo tempo em que cortavam quaisquer auxilio proveniente da Filipia. O Forte do Cabedelo rendeu-se a 19 de Dezembro, o mesmo acontecendo com o de Santo Antnio 4 dias aps.

No prprio dia 19, o poder portugus deu ordem para o desarmamento do forte do Varadouro, o incndio dos armazns de acar e navios do porto, e a evacuao da cidade. A 24 de Dezembro, os holandeses chegaram a Filipia, encontrando a cidade completamente vazia.

Sendo alvo do interesse dos invasores ter em atividade a produo aucareira e deparando-se com a situao de abandono da terra conquistada, os holandeses foram obrigados a ganhar a confiana do povo. A 13 de Janeiro de 1635, atravs da Conveno da Paraba, os Estados Gerais e a Companhia das ndias Ocidentais fizeram uma srie de concesses aos moradores da capitania, entre as quais estava a liberdade de conscincia e de culto, e o direito de propriedade. At ento, estes direitos haviam sido negados no processo de ocupao de outras capitanias, no entanto, foi isto que fez a populao portuguesa da Paraba se submeter ao domnio holands e regressar as suas casas e engenhos.

Nesta poca a Paraba contava com 18 engenhos produtivos, dos quais 8 foram abandonados por seus proprietrios e confiscados pela Companhia, e 2 estavam de fogo morto. Uma vez que os holandeses tinham por meta o rentvel comrcio do acar, se justifica que tenham investido na recuperao das estruturas necessrias a esta economia, enquanto trabalharam muito pouco pela melhoria da cidade, onde apenas fizeram algumas obras necessrias segurana e para dar apoio comercializao do acar.

A princpio, ficou o governo da Paraba a cargo de Servais Carpentier, Diretor da Companhia das ndias Ocidentais, tendo jurisdio sobre Itamarac e Rio Grande do Norte. Durante o governo deste primeiro holands a nica ao de registro foi o incio da restaurao do Forte do Cabedelo que ficara quase arrasado na invaso, pois era essencial para a manuteno da capitania, investir na reconstruo do sistema defensivo.

Em seguida, assumiu o comando da Paraba Ippo Eysseus, sendo o seu governo marcado pelos constantes combates com as tropas portuguesas aquarteladas no interior dacapitania, que promoviam constantes assaltos aos engenhos e tropas flamengas, chegando a matar o governador holands.

Seu sucessor foi Elias Herckmamn, homem culto que deixou registrada sua impresso sobre a capitania e a cidade Filipia, que teve seu nome alterado para Frederica (Frederickstadt) em honra de Frederico Henrique, Prncipe de Orange.Descrevendo-a, em 1639, disse estar a cidade circumdada pelo bosque, e no pde ser vista por quem se approxima, seno quando se est nella, excepto si se sobe ou desce o rio, porque em se chegando bocca ou entrada da Bahia chamada Varadouro, se pode avistar perfeitamente o convento de S. Francisco e alguns edifficios do lado septentrional.10

Na Frederica, Elias Herckmamn se referiu existncia de seis igrejas e conventos: os conventos de So Francisco, de So Bento e do Carmo, e as igrejas da Matriz, Misericrdia e de So Gonalo.

O convento de So Francisco era o maior e o mais bonito. Dele se apoderaram os holandeses expulsando os franciscanos da Paraba porque mantinham correspondncia com o capito da resistncia portuguesa, Matias de Albuquerque. O convento foi fortificado para dar asilo aos mercadores holandeses e para abrigar o governador e as tropas. Foi levantada uma trincheira em torno dele com uma bateria que se collocou deante da egreja para dominar a entrada ou avenida.11Os frades carmelitas se encontravam no seu convento at a poca deste relato, porm o mesmo no estava ainda de todo acabado. Estava inacabado, tambm, o convento de So Bento, tendo as paredes externas levantadas, mas sem coberta. Os holandeses a se aquartelaram por considerar o lugar apropriado para servir de fortificao diante da cidade e construram uma trincheira em torno do convento. Assim ficou at 1636, quando os holandeses passaram a ocupar o convento de So Francisco, demoliu-se ento a trincheira, e entregaram aos frades as paredes do convento, como estavam. Mas at esta data elles nada mais teem ahi construido.12Sobre as demais igrejas existentes na cidade, Elias Herckman disse ser a Matriz a principal delas e uma obra que promette ser grandiosa, mas at o presente no foi acabada, e assim continua, arruinando cada vez mais de dia em dia. A Igreja da Misericrdia estava quase acabada e os portugueses a utilizavam em lugar da matriz. Por fim, referiu-se a uma simples capella com a denominao de So Gonalo que assinalava o limite extremo da cidade.13

10 - HERCKMAN, Elias Descripo Geral da Capitania da Parahyba. Almanach do Estado da Parahyba. Ano IX. Parahyba: [Imprensa Official], 1911. p. 92.

11 - Id. ibid. p. 88.

12 - Id. ibid. p. 89.

13 - Id. ibid. p. 89.

A Frederica se estendia desta capela at o convento dos franciscanos, com um comprimento de aproximadamente um quarto de hora de viagem, mas se achava escassamente edificada e com muito terreno desocupado. Entre os demais edifcios apenas lhe chamou a ateno a casa do Concelho com a praa do mercado onde estava o pelourinho.14

At aquele ano de 1639, as intervenes realizadas pelos holandeses na cidade restringiam-se fortificao do convento dos franciscanos e construo de um armazem grande e capaz com um bonito mole ou dique no Varadouro, onde atracassem as embarcaes, e se embarcasse ou desembarcasse o assucar, para commodo e utilidade dos mercadores.15Naquele mesmo ano, o Conde Maurcio de Nassau ordenou a reconstruo do Forte de Santo Antnio, dando-lhe menores dimenses, optando tambm, por manter o sistema de triangulao entre as fortificaes da barra do Rio Paraba, substituindo o Forte da Restinga por um reduto. 16Fica evidente o pequeno investimento feito pelos holandeses na Paraba, onde o que lhes atraa era a produo do acar, em pleno florescimento quando da invaso, mas em declnio nos anos seguintes, pois a inexperincia dos holandeses no cultivo da cana-de-acar fez cair a produo nos engenhos que assumiram. Somava-se a isto os constantes incndios provocados nos canaviais pelas guerrilhas portuguesas e a queda do preo do acar no mercado internacional.

Alm da questo econmica, tambm eram graves os crescentes desentendimentos entre catlicos e calvinistas. Os ltimos no se conformavam com a inexpressiva converso que conseguiam na Paraba, uma vez que o governo holands era obrigado a permitir o culto catlico pelos termos da conveno.

Por ao da denominada Insurreio pernambucana e em meio a guerrilhas, cercos e batalhas, chegava ao fim o domnio holands. Aos poucos, foram sendo reconquistados territrios no sul de Pernambuco, e em 1636, as vilas de Olinda e da Conceio, em Itamarac, tambm foram ocupadas pelos luso-brasileiros. Aps severo ataque sobre o Recife, a 26 de Janeiro de 1654, a capitulao dos holandeses foi assinada, vindo na seqncia a recuperao das capitanias da Paraba, Rio Grande, Itamarac e Cear.

14 - Id. ibid. p. 90.

15 - Id. ibid. p. 87.

16 - Id. ibid. p. 84.

Da Expulso dos Holandeses Independncia

A guerra para a expulso dos holandeses deixou a Paraba em precria situao econmica. A imagem apreendida era de uma total runa: plantaes devastadas, povoaes e engenhos destrudos, escravos dispersos ou refugiados em quilombos. Os primeiros anos, a partir de 1654, foram consumidos na restaurao dos engenhos, ocorrendo isto a passo lento, devido escassez de recursos materiais e humanos.

Agravava a situao o fato de que, segundo acordo firmado em 1661, Portugal foi obrigado a pagar Holanda uma indenizao de guerra, encargo que foi repassado para algumas capitanias brasileiras, entre as quais estava a Paraba. Somava-se ainda, a contribuio imposta para o dote de casamento da filha de D. Joo IV, D. Catarina, com o prncipe Carlos II da Inglaterra. Tudo isto empobrecia ainda mais os cofres da capitania e de seus principais senhores de engenho.

Alm disso, o acar que continuava sendo o principal produto da capitania sofria a concorrncia das Antilhas, para onde os holandeses haviam levado sua experincia na produo aucareira, fato que derrubou o monoplio comercial do acar brasileiro. Como se no bastasse, alguns longos perodos de seca devastavam a agricultura, dizimavam rebanhos e matavam os escravos.

Diante deste quadro, se conclui o quanto difcil e demorado foi o processo de recuperao da capitania, e particularmente da cidade que passara a se chamar Cidade da Parahyba, logo aps a expulso dos holandeses. Os parcos investimentos possveis eram feitos na recuperao das estruturas produtivas e no sistema de defesa da capitania, uma vez que por muito tempo ainda era esperada nova invaso.

Apenas para ilustrar o quanto foi preciso aguardar para dar princpio reconstruo da cidade, registra-se que somente em 1662, tiveram incio as obras da Igreja Matriz, embora esta fosse a edificao de maior importncia para uma populao de formao catlica. Esta igreja atravessou todo o sculo XVIII em obras, pois os recursos disponveis nunca eram o suficiente para a concluir.17Processo semelhante ocorreu com o prdio da Casa de Cmara e Cadeia, principal marco da administrao portuguesa na capitania. Entre os anos de 1689 e 1697, eram constantes as denncias dos capites-mores sobre o estado de runa em que esta se encontrava, entrando em obras em 1699. No entanto, os trabalhos nela empreendidos eram, em geral, de carter paliativo, no correspondendo s reais necessidades, ficando sempre o edifcio em estado precrio, situao que perdura por longos anos.18

17 - MOURA FILHA, Maria Berthilde. De Filipia Paraba. Uma cidade na estratgia de colonizao do Brasil. Sculos XVI XVIII. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004. Tese de doutoramento no ramo da Histria da Arte. p. 330.

18 - MOURA FILHA, Maria Berthilde. De Filipia Paraba... p. 335.Estes dados demonstram que decorridos tantos anos desde o fim do domnio holands na Paraba, a economia da capitania continuava enfraquecida, e nestas condies transcorreu todo o final do sculo XVII e incio do sculo XVIII. A produo do acar no voltou a ter as cifras que atingira outrora, e tambm, grande parte desta produo era embarcada para o Reino atravs do porto do Recife, ora devido constante ausncia de navios no porto da Paraba, ora por presso dos melhores preos praticados na capitania vizinha. Independente dos motivos, o fato que os impostos referentes a este comrcio beneficiavam Pernambuco em detrimento da Paraba, cada vez mais empobrecida.

Mesmo assim, no incio do sculo XVIII, a cidade ganhou alguns novos edifcios. Havendo sido denunciada, desde 1694, a precria forma de armazenar a plvora na cidade, em 1710, ocorreu a concluso da nova Casa da Plvora edificada na Ladeira hoje denominada de So Francisco.

Mais rico foi o patrimnio edificado pela Igreja, o qual trouxe ares de monumentalidade e requinte para a cidade, ganhando destaque os edifcios religiosos, que sobressaam perante a modesta arquitetura praticada na cidade. Na segunda metade do sculo XVII, encerrado o perodo da dominao holandesa, comearam a retornar Paraba as ordens religiosas, chegando primeiramente os beneditinos, e em seguida os franciscanos, carmelitas e jesutas, que apenas tiveram ordem para voltar capitania em 1676.

Foram muitas as dificuldades enfrentadas por estas ordens religiosas para retomar a construo e concluso dos seus conjuntos arquitetnicos, uma vez que com a pobreza da capitania no podiam contar com as esmolas dos fiis. Mas superando todos os obstculos, enfrentaram longos perodos de obras que atravessaram todo o sculo XVIII, e s nas ltimas dcadas daquela centria estavam sendo concludas estas casas religiosas. Mesmo assim, conseguiram erguer conventos que marcavam presena pela dimenso que ganharam, e igrejas cujo requinte arquitetnico e artstico nada deixava a dever s congneres edificadas em capitanias mais ricas. Estes edifcios foram pelos sculos seguintes os principais referenciais da paisagem urbana da Paraba.

Particular foi a trajetria dos jesutas, os quais construram no s sua casa e igreja de singular requinte, mas ao lado destas ergueram um conjunto que reunia o colgio e um seminrio para abrigo dos meninos que vinham de fora da cidade para receber formao naquele que era o nico colgio da capitania. Este seminrio foi construdo entre os anos de 1746 e 1759, quando a Companhia de Jesus foi expulsa de todo o territrio brasileiro por estar em desacordo com as diretrizes polticas do rei D. Jos e do seu principal ministro, o Marqus de Pombal. Posteriormente, parte do conjunto edificado pelos jesutas passou a servir de residncia para os ouvidores gerais e para os governadores, a partir de 1771.

A estes conjuntos arquitetnicos edificados pelas ordens religiosas, somavam-se as igrejas das irmandades que surgiam como conseqncia do crescimento e estratificaosocial da populao. Entre estas irmandades, duas reuniam os homens mais ricos e nobres: a ordem terceira de So Francisco e a ordem terceira do Carmo, as quais ergueram suas igrejas em anexo s respectivas ordens primeiras.

As demais irmandades edificaram suas igrejas isoladas, em stios que vo acabar se tornando pontos referenciais para a expanso da malha urbana da cidade. Entre estas, a notcia mais antiga diz respeito construo da igreja de Nossa Senhora do Rosrio dos Pretos (demolida), a qual j estava iniciada em 1697, localizando-se na Rua da Baixa trecho pouco habitado da Rua Direita, entre a Igreja da Misericrdia e o conjunto dos jesutas. porta da Igreja do Rosrio desembocava a estrada que vinha das cacimbas situadas no Varadouro.

A 24 de Setembro de 1729, foi lanada a primeira pedra da igreja da Irmandade de Nossa Senhora das Mercs (demolida), sagrada a 21 de Setembro de 1741, a qual reunia os homens pardos e livres.19 Em frente a esta se formou o Largo das Mercs at19 - PINTO, Irineu Ferreira - Datas e notas para a histria da Paraba. Vol I. Joo Pessoa: Ed. da Universidade Federal da Paraba, 1977. p. 127 e 145.onde se prolongava a Rua da Cadeia, que tinha incio em frente ao conjunto arquitetnico dos carmelitas.

Por sua vez, a construo da igreja da Irmandade de Nossa Senhora Me dos Homens Pardos (demolida) foi um elemento indutor da expanso da cidade em direo ao futuro bairro de Tambi. No local do Tambi, havia uma fonte de gua com o mesmo nome que abastecia parte da populao atraindo-a para ali. Com a construo da igreja da Me dos Homens, ainda em andamento em 1767, comeou a se consolidar a ligao entre o ncleo populacional da cidade alta e o Tambi, surgindo na documentao de poca a referncia rua que vai de So Francisco para o caminho do Tambi.20

Associada a estes edifcios referenciais, a malha urbana da cidade da Paraba sofreu sua pequena expanso no sculo XVIII, sem no entanto se verificar qualquer preocupao com a regularidade observada no traado urbano mais antigo da cidade alta. As novas vias em formao apenas tinham a funo de ligar pontos estratgicos da cidade. (planta 07 e 08)

Enquanto estas mudanas se processavam na cidade, a situao econmica da capitania se agravava. Desde 1753, os impostos do dizimo, nica fonte de renda da administrao local, passou a ser arrecadado na Alfndega de Pernambuco, que utilizou a renda destes impostos em proveito daquela capitania, sem os repassar para a Paraba que caiu em uma total exausto financeira.

Com a economia exaurida e sem recursos para custear a sua administrao, em Janeiro de 1755, o poder rgio portugus resolveu pela anexao da Paraba Pernambuco, deixando a administrao local de ter uma posio de governo independente para passar a ser uma capitania subordinada ao governador de Pernambuco, sendo tambm extinta a Junta da Fazenda da Paraba.

Em 1759, procurando estimular a economia e disciplinar o comrcio entre as duas capitanias foi criada, em Lisboa, pelo Marqus de Pombal, a Companhia de Comrcio de Pernambuco e Paraba, tendo diversos privilgios concedidos pelo Estado. Entre estes constavam: s a Companhia podia comprar e vender nas duas capitanias, tinha a exclusividade para sua frota de navios na utilizao dos portos, e tinha liberdade de estabelecer os preos para compra e venda dos produtos comercializados. Com estas prticas, o que deveria ser uma soluo para a economia local, acabou por constituir um elemento espoliativo. A Companhia ainda trouxe algumas vantagens para Pernambuco que detinha maior poder, mas em nada contribuiu para o progresso da Paraba, e ao contrrio, foi um mal que s veio a cessar com a extino da Companhia, em 1780.

A anexao Pernambuco, em conjunto com a ao da Companhia de Comrcio, levaram ao esgotamento das fontes de renda da Paraba. Os engenhos estavam desprovidos de safra e de escravos, os aparelhamentos fabris estavam deteriorados, os produtos agrcolas no possuam preo no mercado e os negociantes da praa no passavam de meros agentes dos comerciantes de Recife.

Os capites-mores da Paraba, mesmo com autorizao da Coroa portuguesa, no podiam executar obra sem a autorizao da Junta da Fazenda de Pernambuco, o que era difcil de obter. Sendo assim, durante este perodo foram poucas as obras pblicas empreendidas, e nem mesmo o sistema defensivo da capitania se encontrava em condies para a defender.

O Forte do Cabedelo, nico a ser reconstrudo desde o fim do perodo holands, esteve durante todo este tempo em constantes reparos e reconstrues, mas at o final do sculo XVIII, nunca teve condies satisfatrias de funcionamento. Na cidade, as dificuldades econmicas da capitania se refletiam na falta de obras para recuperao e melhoria das fontes e ruas pblicas e no estado de arruinamento de edifcios ligados ao poder, como a alfndega, a cadeia, a cmara, o aougue, o palcio do governador, bem como do cais do porto do Varadouro.

Durante o governo de Jernimo Jos de Melo e Castro (1764-1797), que administrou a Paraba durante mais de trinta anos, foram inmeras as tentativas de recuperar alguns edifcios e construir outros novos, em particular, um palcio para o governo local. No entanto, quase nada foi executado, pois entre as poucas obras deste perodo contam-se apenas a construo da Fonte do Tambi, em 1785, e a nova Casa do Errio, suntuoso prdio erguido no Largo da Cmara atual Praa Rio Branco. Cabe salientar que o Errio foi edificado por deciso da Junta de Pernambuco, tendo a total desaprovao de Jernimo Jos de Melo e Castro, que considerava aquela vultosa obra desnecessria e inconcebvel perante outras de maior necessidade para a cidade.

Em 1798, assumiu a administrao da Paraba, Fernando Delgado Freire de Castilho (1798-1802), que tinha entre as suas atribuies avaliar a necessidade de libertar a Paraba da subordinao a Pernambuco. Este demonstrou Coroa portuguesa que a Paraba submergia na inrcia por conta da anexao. Os fatos acabaram por levar a Rainha D. Maria I, em 1799, a declarar a Paraba liberta de Pernambuco. No entanto, continuava a dependncia econmica, j que a criao da Junta da Fazenda da Paraba s foi autorizada em 1809.

Nestas condies, a capitania da Paraba assistiu a entrada do sculo XIX, aps passar dcadas imersa em uma crise econmica que se refletia no pouco crescimento da malha urbana da sua capital, cuja paisagem pouco tinha a ostentar a no ser os significativos edifcios religiosos. No geral, sua imagem pouco diferia da antiga cidade do sculo XVII, principalmente, por ter sido organizada, em grande parte, sobre a estrutura fsica herdada dos sculos XVI e XVII, mantendo o mesmo parcelamento do solo e modo de implantao dos edifcios residenciais. (planta 09)

Em 1810, a cidade da Paraba foi visitada por Henry Koster, ingls que residiu e morreu no Recife. Koster fez viagem por terra de Pernambuco at o Cear e registrou suas impresses no livro Viagens ao Nordeste do Brasil. Sobre a Paraba escreveu: Hvrios indcios de que a Parahyba fora mais importante que atualmente, a principal rua pavimentada com grandes pedras, mas devia ser reparada. As residncias tm geralmente um andar, servindo o trreo para loja, algumas delas possuem janelas com vidro, melhoramento h pouco tempo introduzido no Recife.21Por esta poca, estando a famlia real portuguesa no Brasil, desde 1808, comeavam a surgir os indcios de transformaes na administrao e nos ideais vigentes na colnia. s idias de independncia somava-se a crescente animosidade entre brasileiros e portugueses, por estes abarcarem as melhores posies na administrao e nos negcios do Brasil. Em 6 de Maro de 1817, estes sentimentos de nacionalismo e independncia levaram ecloso de uma revoluo que implantou uma repblica em bases democrticas. Em 15 de Maro a Paraba aderiu a esta revoluo e repblica proclamada em Recife. Mas a reao do governo portugus se fez rpida, e j em 5 de Maio estava extinta a Republica na Paraba, sendo condenados morte os lderes do movimento.

Apesar da esmagadora opresso a idia de independncia continuou viva. O absolutismo monrquico acabou por ser extinto pelos prprios portugueses, atravs da Revoluo do Porto que obrigou D. Joo VI a jurar a constituio de 26 de Fevereiro de 1821, no Rio de Janeiro. A mesma foi jurada na Paraba a 10 de Junho. Tal revoluo teve como conseqncia a precipitao do processo de independncia do Brasil.

Da Independncia Repblica

Declarada a 7 de Setembro de 1822, a Independncia do Brasil chegou Paraba em meados do mesmo ms, sendo a 28 de Novembro proclamado D. Pedro I como Imperador do Brasil.

Nessa poca, a cidade da Paraba contava com menos de 3.000 habitantes, enquanto em 1851, possua 9.000. Estes nmeros indicam que estava por vir um perodo de relativa prosperidade. De fato relativa, considerando que o Recife, em 1837, tinha 46.000 habitantes, nmero elevado para 116.000, em 1872, por ocasio do primeiro recenseamento brasileiro.

Alguns melhoramentos pertinentes ao processo de modernizao dos centros urbanos, ocorrido no sculo XIX, comearam a chegar cidade. Em 1829, foi implantada a primeira iluminao pblica composta por onze lampies alimentados a azeite de mamona. Em 1836, foi criado o Liceu Paraibano, o primeiro estabelecimento de ensino secundrio da Paraba. Neste mesmo ano, teve incio a reconstruo da ponte do Rio Sanhau, cuja existncia remontava a 1831.

As idias de ordenao, enfatizadas nas legislaes urbanas da poca, tambm se refletiram na Paraba. Em 1850, o Presidente da Provncia sancionou a Lei n. 26, que disciplinava as edificaes, estipulando a largura e a altura das fachadas das casas e de suas janelas. Estabelecia normas para as caladas, proibindo degraus no exterior das edificaes, e fixava em 80 palmos - aproximadamente 17 metros - a largura das novas ruas que fossem abertas.

Em Dezembro de 1859, o Imperador D. Pedro II visitou a Paraba, estando nas cidades de Cabedelo, Pilar e Mamanguape, alm da capital, onde doou 6 contos de reis para a ampliao do Hospital da Santa Casa da Misericrdia. Nessa poca, a Rua Direita reunia a maior parte dos sobrados existentes na cidade, havendo tambm alguns na Rua das Convertidas (atual Maciel Pinheiro) e no Varadouro.

Na segunda metade do sculo XIX, o incremento da lavoura algodoeira proporcionou novas perspectivas economia paraibana. A cultura do algodo teve incio em meados do sculo XVIII, sob a influncia da indstria txtil inglesa, mas sem possuir maior representatividade. No entanto, no incio do sculo XIX seu cultivo se expandiu, ocupando reas de domnio dos canaviais, passando a ser o principal produto da balana econmica da provncia. Esta demanda foi decorrncia da abertura dos portos, e atingiu o seu melhor momento durante o perodo da guerra civil americana, possibilitando novo impulso Paraba alterando o quadro poltico e impulsionando a urbanizao. A riqueza produzida pelo algodo se refletiu num crescente processo de melhoramentos urbanos.

Contemplando os ideais sanitaristas ento em vigor, em 1855, foi construdo o primeiro cemitrio da cidade, contrariando a tradio dos sepultamentos no interior das igrejas. Este cemitrio estava localizado no lugar chamado Cruz do Peixe, stio fora da rea urbana, onde atualmente tem incio a Avenida Epitcio Pessoa.

Em meados da centria, a Paraba era governada por Beaurepaire Rohan (1857-1859) que se destacou na preocupao com o desenvolvimento material e cultural da provncia. Criou o jardim botnico da capital, que deveria transformar-se em escola agrcola; criou a primeira escola para mulheres, o Colgio de N. S. das Neves, fechado por seu sucessor e s reaberto em 1896, pela Diocese; instalou em uma das salas do Liceu Paraibano a Biblioteca Pblica da Paraba. No que tange economia, introduziu a cultura do caf no brejo paraibano, que viria a substituir os antigos canaviais da regio, em 1884, passando a ser uma riqueza nova para o Estado, at 1920.

Ao encerrar seu governo, Beaurepaire Rohan havia deixado um conjunto de obras que registravam a situao da Paraba naquela poca, entre elas a carta geogrfica da Provncia, o levantamento da Cidade da Paraba e a Corografia da Provncia da Paraba do Norte, que contm um relato de aspectos fsicos, populacionais, econmicos, etc.

FIG. 19

Planta da Cidade da Parahyba, levantada em 1855 pelo 1 Tenente do Corpo de Engenheiros, Alfredo de Barros e Vasconcelos

Fonte: Instituto Histrico e Geogrfico da Paraba

NObservando a Planta da Cidade da Parahyba, levantada em 1855 pelo 1 Tenente do Corpo de Engenheiros, Alfredo de Barros e Vasconcelos, verifica-se que a rea ocupada pela cidade era pouco superior aos limites demarcados nas cartografias do sculo XVII, apesar de transcorridos quase trs sculos da sua fundao. No entanto, a malha urbana se expandira sobre vazios existentes na rea de encosta situada entre as cidades baixa e alta, e uma srie de novos logradouros surgiu, marcando a cidade de sculo XIX. Comeava, tambm, o crescimento da cidade seguindo os eixos definidores dos futuros bairros de Trincheiras e Tambi. (planta 10)

Diversos edifcios vieram registrar esta fase de prosperidade e modernizao da Paraba na segunda metade do sculo XIX, alguns expressando, tambm, as mudanas de hbito da sociedade da poca, a exemplo do prdio da Escola Normal, concludo em 1886, e do teatro pblico da capital - o Teatro Santa Roza inaugurado em 1889. Originalmente, este teatro foi implantado em meio s atuais praas Aristides Lobo e Pedro Amrico, mas no sendo concludo de imediato, posteriormente foi adaptado para instalar o Tesouro Pblico, estando concludo em 1868.

Com estes edifcios era introduzida a linguagem neoclssica na cidade da Paraba, e ganhavam formas outras reas pblicas que estabeleciam um dilogo entre arquitetura e cidade, segundo princpios urbansticos prprios do final do sculo XIX. Mas as velhas edificaes no eram esquecidas. Em 1874, foi lanada a pedra fundamental da nova igreja matriz, pois o prdio que havia sido reconstrudo no sculo XVIII encontrava-se praticamente em runa. A nova igreja situava-se no mesmo local das anteriores, no incio da Rua Nova. (Atual General Osrio)

Entre os melhoramentos advindos com a riqueza do algodo, o mais notvel foi a implantao da ferrovia. Em 1880, teve incio a construo da estrada de ferro, inaugurada no ano seguinte sob a administrao da Companhia Estrada de Ferro Conde dEu, quemais tarde passaria a ser a Great Western of Brazil. At o final do sculo XIX os trilhos chegavam a Cabedelo, Guarabira (em direo ao Rio Grande do Norte), Pilar (em direo a Pernambuco) e Alagoa Grande (para o interior do Estado). (planta 11)

Visto como um smbolo de modernidade, a populao assistiu chegada do servio de bondes movidos trao animal, instalado na capital no ano de 1896, favorecendo a consolidao da ocupao dos bairros de Tambi e Trincheiras.22O poder pblico tambm fez algumas intervenes modernizantes no meio urbano. Na cidade baixa, o Largo da Gameleira, porta de entrada da cidade, foi arborizado e calado, passando a ter a denominao de Praa lvaro Machado. Na cidade alta, obras foram iniciadas, em 1879, para transformar o Campo do Comendador Felizardo em um Jardim Pblico, sendo gradeado e arborizado com palmeiras imperiais, tendo um coreto em torno do qual se reunia a populao que vivia uma poca de transformaes nos hbitos de convvio social.23

Vicente Gomes Jardim, autor da Monografia da Cidade da Paraba do Norte, datada de 1889, deixou uma descrio minuciosa da capital paraibana. Naquele ano marcado pela proclamao da repblica, o referido autor relata a existncia de 128 logradouros pblicos na cidade da Paraba, entre ruas, praas, travessas e becos. Nestes logradouros, contou haver mais de 2.000 prdios de alvenaria. Na rea mais antiga da cidade o centro histrico estava localizada a maior parte das residncias, todo o comrcio de porte, todos os servios pblicos, a exemplo do nico hospital da cidade, o da Santa Casa da Misericrdia, e do seu nico teatro, o Santa Roza. Tambm estavam ali todas as edificaes eclesisticas, com exceo das igrejas do Bom Jesus (atualmente Nossa Senhora de Lourdes) e da Me dos Homens, situadas nos dois eixos de expanso da cidade, Trincheiras e Tambi, respectivamente.24Nesta poca, o ncleo inicial da cidade conservava suas caractersticas tipolgicas e urbansticas originais. Nas ruas das Convertidas, Nova, Direita e da Areia, (respectivamente atuais Rua Maciel Pinheiro, Rua General Osrio e Rua da Areia) estavam concentradas as residncias, em geral, modestas, seguindo a arquitetura tpica das casas coloniais, sendo poucos os sobrados que ostentavam o status mais elevado dos seus moradores.

Nas primeiras dcadas do sculo XX, o poder pblico promoveu intervenes voltadas para a melhoria da infra-estrutura urbana, como a implantao dos servios de abastecimento de gua, iluminao e transportes pblicos fazendo uso de energia eltrica, calamento de ruas, etc. Com estas propiciava, tambm, a estruturao de novos espaos urbanos e o aformoseamento da cidade.

Neste sentido, entre os anos de 1908 e 1912, no governo de Joo Machado, ocorreu a abertura da avenida Joo Machado, o calamento de ruas nos bairros de Trincheiras e Tambi e melhoramentos na ferrovia que seguia em direo praia de Tamba, comeando a atrair a populao em direo ao litoral.

Higienizando e embelezando a cidade, foram realizados melhoramentos no Jardim Pblico, onde foi construdo um novo coreto, e no antigo Campo do Conselheiro Diogo que passou a ser a Praa Pedro Amrico, tambm dotada de coreto, iluminao e mobilirio.25Comeavam a chegar cidade alguns arquitetos, identificados como possveis responsveis pelas transformaes no repertrio formal das edificaes. Entre estes, cita-se o arquiteto italiano Paschoal Fiorillo, autor do projeto para o Grupo Escolar Tomaz Mindello, inaugurado a 9 de Setembro de 1916. Este edifcio, apontado como um dos marcos da introduo da arquitetura ecltica produzida pelos novos profissionais que chegavam Paraba.26 Em seguida vieram Hermenegildo di Lascio, Octavio Freire, Paula Machado, Giacomo Palumbo, Clodoaldo Gouveia, entre outros.

Outras tipologias arquitetnicas foram surgindo na cidade, atendendo ora s novas necessidades da populao, ora aos novos conceitos de ordem e a princpios sanitaristas.

25 - SARMENTO, Christiane Finizola. Sob o signo da modernidade: arquitetura oficial na Parahyba. 1910-1924. Joo Pessoa: Universidade Federal da Paraba, 2000. Dissertao para concluso do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPB. p. 50.

26 - Id. ibid. p. 60.

No estando o poder pblico atento aos servios de sade e assistncia social, eram associaes filantrpicas que amparavam a populao neste sentido. Por iniciativa da Santa Casa da Misericrdia foi construdo e inaugurado a 8 de Novembro de 1914, o novo Hospital Santa Isabel, implantado em stio afastado do centro da cidade por questes higienistas. Da mesma poca so os edifcios do Asilo de Mendicidade (1913) e o Instituto de Proteo e Assistncia Infncia (1913) construdo na recm aberta Avenida Joo Machado, na qual tambm estava em construo, em 1916, o Orfanato D. Ulrico.

No governo de Camilo de Holanda (1916-1920) a Paraba atravessou uma fase de pleno desenvolvimento. O preo do algodo, principal produto do estado se encontrava em alta durante a Primeira Guerra Mundial, chegavam recursos do governo federal atravs da IOCS Inspetoria de Obras Contra a Seca, que movimentavam muitas obras.

Neste perodo, ruas foram abertas, alargadas, alinhadas, caladas, alm de receberem arborizao e iluminao eltrica. A abertura da Avenida Epitcio Pessoa foi iniciada e as duas vertentes de crescimento da cidade Trincheiras e Tambi se tornaram mais prximas atravs da abertura da Avenida Maximiano de Figueiredo. Outras praas foram modernizadas: Venncio Neiva, Aristides Lobo, Pedro Amrico e a Praa do Conselheiro Henriques, atual Praa D. Adauto.27

Grande investimento foi feito durante o governo de Camilo de Holanda para a construo de escolas. Foi construdo um novo edifcio para a Escola Normal (atual Palcio da Justia), situado em frente ao Jardim Pblico, e os grupos escolares Epitcio Pessoa, Antnio Pessoa e Isabel Maria das Neves.

Tambm so desta poca o imponente prdio da Imprensa Oficial (hoje desaparecido), que compunha com outros o cenrio de entorno do Jardim Pblico; a Associao Comercial, situada no incio da Rua Maciel Pinheiro