joakim sustelo aí vem o outono

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[Escrever texto] AÍ VEM O OUTONO Assim se vai o verão... vem o outono lançar folhas e folhas pelo chão... Outono, que se diga em seu abono, nos enche em poesia o coração Aquela paz que traz à Natureza, aquele frio que vem, que retempera, não são de primavera, com certeza mas há encanto igual à primavera Aquele colorido à nossa volta da árvore que as suas folhas perde, mas que, ficando nua, fica envolta por espaço que é vestido de cor verde, Aquele matizado nas videiras com ranchos a colher os cachos de uvas, as moças a cantar de prazenteiras, aquele odor da Terra após as chuvas, O intenso labor pelas adegas que ocupam tanto tempo ao nosso povo,

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Page 1: Joakim sustelo   aí vem o outono

[Escrever texto]

AÍ VEM O OUTONO

Assim se vai o verão... vem o outonolançar folhas e folhas pelo chão...Outono, que se diga em seu abono,nos enche em poesia o coração

Aquela paz que traz à Natureza,aquele frio que vem, que retempera,não são de primavera, com certezamas há encanto igual à primavera

Aquele colorido à nossa voltada árvore que as suas folhas perde,mas que, ficando nua, fica envoltapor espaço que é vestido de cor verde,

Aquele matizado nas videirascom ranchos a colher os cachos de uvas,as moças a cantar de prazenteiras,aquele odor da Terra após as chuvas,

O intenso labor pelas adegasque ocupam tanto tempo ao nosso povo,fazendo com afã suas "entregas"para beber mais tarde o vinho novo,

Fazem esta estação, de poesia,

Page 2: Joakim sustelo   aí vem o outono

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de paz, meditação, e de sossego.Os sonhos a trazerem nostalgia,levando à minha alma a alquimiaque faz ter pela vida mais apego.

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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FOGO POSTO

(SONETO SEM AS VOGAIS A, I, U)

Defender nosso verde dos obscenos,Dos desse fogo posto pelos montes,É nosso esse dever, e pelo menosEm vez de termos fogo, temos pontes...

... Pontes e fortes elos entre todosPró globo ser melhor, com menos dor;Sem ter os gestos grossos, esses modos,Bem longe do expectante... do esplendor

O tempo, ele é bem longo, este onde espero.Por vezes 'té me vejo em desesperoE penso "pobre gente, gente reles!

Eternamente tontos nesses gestos

Page 3: Joakim sustelo   aí vem o outono

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Sem verem nem de longe nem de lestosOnde eles metem fogo, é também deles.”

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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APENAS QUIS DIZER…

(poema de dedicado à minha amiga Genaura Tormim,

uma participante do Horizontes da Poesia,

que ficou paraplégica ainda bastante nova)

Às vezes quando o sol se oculta alémE não nos mostra bem o seu fulgor,Sabemos que lá está. Sabemos bemQue mesmo estando oculto traz calor

Page 4: Joakim sustelo   aí vem o outono

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Assim são os amigos que se tem:Fazem da amizade um tal valorQue ao estarmos mesmo sós, sem ver ninguém,Ao longe eles nos dão o seu amor

Com eles fica a estrada mais floridaE vamos prosseguindo a nossa vidaSabendo que connosco sempre estão

Esquecendo as amarguras, coisas reles,Apenas quis dizer que sou um delesE que estarei contigo em união.

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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CIDADE DE AVEIRO

Deixei o meu olhar pela cidadeNum barco moliceiro, que sulcando,Sua peculiar identidadeMe foi nos seus canais apresentando

Canal Central, mais largo e bem mais cheioDe barcos com pinturas multicores

Page 5: Joakim sustelo   aí vem o outono

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A colorir também nosso passeioRepleto bem de sonhos e de flores

O homem do comando faz um toque:Na proa uma ajudante se empoleiraPra ver se vem um barco do São Roque (*)Ou se podemos ir logo à primeira

Um prédio nos sorri em pequenezUm outro mostra âncoras-janelas;Há armazéns de sal que o tempo fezDormir em suas formas tão singelas...

E a minimizar do mar o dano,Prédios com azulejos - protecção.Que é forte a maresia... e o oceanoInvade-a e faz mossa ao coração

Porém, com seus canais em lindos versosFaz-lhe também poesia. (O canal CôjoBeijando-a no Palácio dos CongressosAdentra-a... namorando-a, com arrojo!)

Três prédios ovalados formam barcos,Um Forum mais abaixo nos convida...Há flores no canal sobre um dos arcosAli onde a cidade tem mais vida

Floresce-a inda mais a avenida,No meio, como sendo a sua espinha;Ao cimo há a Estação, tão bem vestidaQue mostra com orgulho a velha linha

Jardins aqui, além, fazem encantoA todo o que a visita, na certezaQue vai amá-la sempre! Sempre e tantoPois sabe que ela é sua Veneza!

Deixei o meu olhar pela cidadeNa esp'rança de voltar talvez em breve...O coração, a ir, me persuade.

Page 6: Joakim sustelo   aí vem o outono

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A alma sempre lá me fica leve.

(*) canal São Roque, ao qual se acedepor uma pequena entrada

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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DESDE O NOSSO ADEUS

Vejo-te quando te imaginonos momentos que tenho a sós comigo,quando para dormir brigoa meditar nas voltas do destino

Vejo-te calma, adormecida,talvez em sonhos como os meus...Que um dia nós dissemos um adeuse desde aíficou para sempre longe

Page 7: Joakim sustelo   aí vem o outono

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a nossa vida

Vejo-te na noite que desce apressadamas calma e silenteem busca de encontro com a madrugadaa nós indiferente...

E àquela estrela mais lindavai um beijo meu voando...Quem dera que a estrela aindadescesse esta noite a dar-toenquanto tu te encontrassesadormecida sonhandono silêncio do teu quarto.

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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GLOSANDO FLORBELA ESPANCA

(tema proposto pela Associação Portuguesa de Poetas)

"Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,A essa hora dos mágicos cansaços,Quando a noite de manso se avizinha,E me prendesses toda nos teus braços ..."

(Florbela Espanca)

Page 8: Joakim sustelo   aí vem o outono

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GLOSAS MINHAS

As horas, se não estás, passam tão lentasSem ter um gesto teu que me acarinhaNão compreendo, amor... porque te ausentas?Se tu viesses ver-me hoje à tardinha...

... Tardinha, quando o sol ao ir-se embora,Dá mais cor ao poente e aos espaçosEm que o olhar me prende na demora,A essa hora dos mágicos cansaços

Quando do seu labor as gentes voltamE a hora de se amarem já caminha,Quando seus corações e beijos soltamQuando a noite de manso se avizinha,

Se tu viesses ver-me só que fossePor horas, por minutos, mesmo escassos,E me beijasses com teu modo doce,E me prendesses toda nos teus braços...

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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Cristina Cruz, 02-12-2011,
Cristina Cruz, 02-12-2011,
Cristina Cruz, 02-12-2011,
Page 9: Joakim sustelo   aí vem o outono

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GOSTO

Gosto de estar contigo, a mão na mão,Olhando embevecido o teu sorriso...Que o rosto tão bonito que divisoMe alegra o coração

Gosto que a minha alma abrace a tuaE sigam num só voo, nesse enlevo...Uma união assim de que me atrevoDizer que toda a vida continua

(Nas límpidas manhãs, nas tardes calmas,E em insones noites aconteceSentir assim unidas nossas almasE tudo me embevece)

Gosto de ti, talvez mais do que pensas.É todo este gostar que interiorizo.És tu que estas palavras sempre adensasComo se fossesUm elixir para os momentos docesQue vivo ao me sentir num paraíso.

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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Page 10: Joakim sustelo   aí vem o outono

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MOTE

"Há tantos burros mandandoEm homens de inteligência,Que às vezes fico pensandoQue a burrice é uma ciência"

(António Aleixo)

GLOSAS

1.

Desde que o homem existeQue procura estar em grupoCom mais ou menos apupoPelo que ele faz de "triste."A boa regra consistePorém, em ir tolerando.E dos que têm o mandoMuito mais deles se espera!Mas vejo que em nossa eraHá tantos burros mandando...

2.

Burros, parvos, com condutasQue não têm fundamento!Asneiram cada momentoFazem mesmo coisas brutas!De ideias, não há permutas,Pois só têm prepotência.Sempre em poses de indecência

Page 11: Joakim sustelo   aí vem o outono

[Escrever texto]

De tais poses dizem... nada!Conduta não vislumbradaEm homens de inteligência

3.

Presunçosos falam, falam,Sobre tanta, tanta coisa...Nunca a cabeça lhes poisaJulgam saber, não se calam.Inverdades? - Nem se ralamCom o que vão "vomitando"Como escrituras brotandoDe saber tal, tão profundo,Deduzo o que são no fundo- Que às vezes fico pensando...

4.

Talvez lhes pique a cevadaNa barriga, como ao burro...Talvez no meio dum zurroAté nem dêem por nada...Não sei. Na vida agitada,Fazem mesmo a experiênciaDo recuo da decênciaPara ver no que vai dar...E dou comigo a cismarQue a burrice é uma ciência.

Joaquim Sustelo21.07.2011

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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Page 12: Joakim sustelo   aí vem o outono

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OLHARES

De calça preta e camisa amarela,Bota pela canela, até ao meio,Cabelo pelos ombros, fresca e bela,Bastante pensativa estava elaNa fila do Correio

Notava-se estar triste e abatidaDescendo os braços seus sobre a sacola;Expressão duma beleza algo sofridaTalvez por não correr-lhe bem a vidaOu fase que a assola

Lançou-me um terno olhar e um sorriso,Meiguice que mostrou sem ter problema;Podia, se fosse outro, algum juizoTê-lo perdido em gesto tão conciso.

Mas só extraí o poema.

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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Page 13: Joakim sustelo   aí vem o outono

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SAUDADES DE ALGUÉM

Falavas-me do mar e das gaivotasDos campos e das flores na Primavera;Ficava ali escutando à tua esperaA ver o que escrevias no caderno.Sabia que ao tomares as tuas notasDelas te nasceria algum poema...E eu, que me sentia sempre o tema,Beijava-te o sorriso em modo terno

Ao longe refulgia o sol no rio(o espelho da cidade pequenina)Ficava a Escola ao fundo da colinaBrilhando no seu branco tão intenso!Vencemos, dos exames, desafioMas não venceste o outro... esse da vida!Partiste e não fizemos despedidaE hoje ainda dói quando em ti penso.

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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SONETO SEM AS CONSOANTES F,G,H,Q E A VOGAL U

Page 14: Joakim sustelo   aí vem o outono

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A tarde tão cinzenta se tornandoTransporta-me prá alma esta tristezaDe ver ternas lembranças se soltandoDe tempos já passados em beleza

Esses não se repetem... não!Jamais!Apenas ora são recordação;O barco já cansado aporta ao caisEm tempos mais despidos de ambição

Comprida esta viagem... mares distantes...É tempo de voltar à era de antes,À paz como em criança já se teve

E em balanço à vida já mais calmaEspraiar pela poesia toda a alma,Pois pode estar a ida para breve...

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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UM SONHO

Íamos estrada fora pela bermaUm pouco contra as regras, lado a lado;De lágrimas, teu rosto marejado,Espelhava a tua alma, tão enferma...

Page 15: Joakim sustelo   aí vem o outono

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Silêncio à nossa volta. A estrada erma,Sentia o nosso passo compassado.Os teus olhitos verdes como o prado,A dor que havia em ti, vinham trazer-ma

Sentámo-nos na erva, húmida e fria;E enquanto levemente te sorriaPedi-te "seca o pranto, por favor!"

Nasceu então um pouco de alegriaNesse rosto que adoro... e por magiaTeus olhos, cada um,  tinha uma flor.

Joaquim Sustelo

(em "SOL E NUVENS NO POENTE")

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ADORO

Adoro esse teu rosto, a forma suaveAdoro o teu sorriso de cetimAdoro a tua alma (e tenho a chave)Adoro o que tens sido para mim

Adoro. E nem sequer há quem me traveAdoro-te qual flor de algum jardimAdoro como adora o ninho, a ave,

Page 16: Joakim sustelo   aí vem o outono

[Escrever texto]

Adoro quanto és... sem mais... assim

Adoro. E de adorar-te não me fartoQuer seja em pleno amor tido num quartoQuer seja dia a dia quando falas

Adoro o que me dizes, por ser mago...Adoro o teu silêncio e me embriagoSe um beijo tu me dás quando te calas.

Joaquim Sustelo

(editado em CAMINHOS DA VIDA)

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ARES DE OUTONO

Vestiu o tempo hoje roupa de OutonoCom estas nuvens - cinza como manto;O sol foi arredado do seu tronoComo se fosse aproveitar um sonoQue já não tinha há tanto...

Outono é uma estação algo cinzentaQue traz à alma um pouco de tristeza;Vêm as chuvas. Na estrada lamacentaAs folhas vão rolando em forma lenta...É triste a Natureza

Page 17: Joakim sustelo   aí vem o outono

[Escrever texto]

Porém há no Outono algo tão beloOnde a contemplação tanto se extrema...Como se para olhar houvesse apeloE tudo me prendesse com um eloComo me prende um poema.

Joaquim Sustelo

(editado em CAMINHOS DA VIDA)

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BUSCANDO INSPIRAÇÃO

(soneto sem a letra E)

Brilhou toda a manhã um sol radiosoNum infinito azul, tão viva cor...Tingiam-no uns farrapos no fulgorDo branco à luz do astro luminoso

Ficando ali a olhar num tão gostosoActo do admirar só por amorBonitos quadros, dando paz, calorÀ alma, com a ânsia dum tal gozo,

Page 18: Joakim sustelo   aí vem o outono

[Escrever texto]

Colhi inspiração; mas foi tão pouca...Tal como falta faz o pão prá bocaFaltou um atavio, uma vogal...

Foi longa a minha volta só por isso;Contudo ultrapassando um tal sumiçoCompus alguma coisa... saiu mal?

Joaquim Sustelo

(editado em CAMINHOS DA VIDA)

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CHEGASTE(soneto sem a letra O)

Chegaste pela tarde, em fim de diaDe chuva, vendaval... de tempestadeEncheste assim a casa que vaziaRepleta já se achava de saudade

Na rua a densa chuva que caíaEra ela uma balada prá cidadeVentava nas janelas e batiaDa gente se aquecer... ansiedade!

A cama era vazia e já esperava...Amar dá um querer que ninguém travaBastava desfazê-la e ir deitar

Page 19: Joakim sustelo   aí vem o outono

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A tarde caiu célere? - Nem vi...Apenas te sentia, ali, a ti,Até vir a manhã a despertar.

Joaquim Sustelo

(editado em CAMINHOS DA VIDA)

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ENCONTREI-TE

Na parte mais velha da minha cidadeOnde existem casas que carregam história,Encontrei-te um dia já nestoutra idadeEm que o tempo ido nos deixou saudadeE tantas imagens carrega a memória

Olhei o teu rosto... mesma suavidade...Olhei teu sorriso, promessa de glória,Quando nos teus lábios sentia vontadeDe lhes dar um beijo mas que na verdadeNunca consentiste tal dedicatória

Ainda cá dentro me dançava o sonhoUma luz mais fraca, menor densidade...Em tempo de Outono de que ora disponhoQuem dera rever-te! Já ando tristonhoEm todas as partes da minha cidade.

Page 20: Joakim sustelo   aí vem o outono

[Escrever texto]

Joaquim Sustelo

(editado em CAMINHOS DA VIDA)