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Jefferson Péres Poluição e aquecimento global O planeta Terra pede água A face séria do Congresso Liminar do CNMP O MP merece isso? Ano II # 17

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Page 1: Jefferson Péres - ::: Associação Paulista do ... · Revista APMP EM REFLEXÃO Veículo mensal de comunicação da Associação Paulista do Ministério Público. Ano II, Número

Jefferson Péres

Poluição e aquecimento globalO planeta Terra pede água

A face séria do Congresso

Liminar do CNMPO MP merece isso?

Ano

II #

17

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AtentAdos, MP e estAdo deMocrático de direito.Revista APMP EM REFLEXÃOVeículo mensal de comunicação da Associação Paulista do Ministério Público.Ano II, Número 17 (2006).Tiragem: 4.000 exemplares.

Conselho EditorialJoão Antonio Garreta PratsCláudia Jeck Garcia de Souza Paulo Roberto Dias Júnior Sérgio de Araújo Prado Júnior

Coordenação GeralLuciano Ayres

Jornalista ResponsávelElaine Zaninotti – MTB 31.529

RedaçãoAyres.PP – Comunicação e MKT Estratégico(19) 3242-1180

Assessoria de ImprensaReDe Comunicação (11) 3061-3353

FotosAyres.PP – Comunicação e MKT EstratégicoLeandro Irmão

Acompanhe o universo jurídico com a APMP

TV JustiçaTerça-feira - 19h30Reprises:Domingo - 18h00Terça-feira - 09h00

TV JustiçaQuarta-feira - 19h30. Reprises: Domingo -10h30 Segunda-feira - 10h00

Leia também:

Expediente:

A sociedade recebeu duro golpe com os atentados cometidos por uma facção criminosa no mês de maio. Diversas ações terroristas trouxeram pânico generalizado. Dezenas de civis e agentes do Estado foram alvejados. Trinta deles morreram.

Evidente que era preciso reação. E ela foi imediata. Centenas de criminosos fo-ram presos e muitos mortos.

Ato contínuo, setores da sociedade e de órgãos estatais “esqueceram” a infâmia per-petrada e se concentraram apenas na busca de punição para potenciais e eventuais des-vios da atuação dos policiais.

Como num filme non sense, o assunto principal - os mais de 30 agentes mortos a sangue frio - ficou em segundo plano e os destaques passaram a ser listas.

Enquanto muitas vítimas ainda agonizavam - como um delegado com 70% do corpo quei-mado pelos bandidos (ele também morreu) - e as lágrimas dos familiares ainda vertiam, alguns simplesmente deixaram de cobrar proteção para a sociedade, policiais, promotores e juízes.

O quadro se inverteu. Numa generalização descabida, autoridades e policiais - todos eles - deixaram de ser vítimas e se tornaram réus. A razão? Porque se supunha - antes de qual-quer diligência - que houve excessos. Nessa cruzada bizarra, estranhos à investigação se arvoraram paladinos da Justiça e destilaram toda sorte de teorias e especulações.

Não custa lembrar que o ordenamento confere ao MP de São Paulo a propositura de ação penal no caso de eventuais crimes praticados e excessos dolosos co-metidos por agentes públicos ou não. Trata-se de titularida-de exclusiva.

Não porque queremos, mas porque a Constituição e o Esta-do Democrático de Direito assim determinam.

Imprensa, ONG’s, Defensoria e MPF podem - e devem - exigir sa-tisfação do trabalho dos pro-motores e procuradores de justiça de São Paulo. Não podemos, porém, abrir mão de prerro-gativas e nem permitir que pessoas, em busca

de holofotes e projeção, tentem sobrepujar a nossa atuação ou ensinar quando, como e porque devemos proceder. Lutamos muito para conquistar o nosso perfil constitucional e é inadmissível permitir retrocesso.

Foi por isso - para mostrar à sociedade a nossa capacidade em desvendar os crimes e os potenciais excessos na reação - que enca-minhamos o artigo “A revoada dos corvos”, publicado na Folha de S. Paulo em 07 de ju-nho. Nossa posição pode ser sintetizada num trecho: “Ninguém pode compactuar com a impunidade, menos ainda o Ministério Pú-blico de São Paulo. Assim, se algum agente do Estado se desviou de suas atribuições, ele deve ser punido. Entretanto, parece-nos que o açodamento e a busca desenfreada pelas capas de jornais e noticiários televisivos têm conduzido a injustiças que o tempo não é capaz de cicatrizar. Para ficar em dois exem-plos recentes: Escola Base e Bar Bodega.”

Seguramente o trabalho dos promotores e procuradores de justiça de São Paulo condu-zirá a punições exemplares para os culpados. Tudo na hora certa, da maneira correta e res-peitando a Lei. Porque, sem nenhum demérito às outras Carreiras, posso afirmar que o MP de São Paulo possui em seus quadros os me-lhores profissionais que este país já produziu.

Nesta edição, a APMP em Reflexão ouviu o senador Jefferson Péres, um dos políticos mais respeitados de nosso país, além de trazer artigo dos associados Luís Paulo Sirvinskas, sobre os efeitos da poluição, e João Lopes Guimarães Júnior, autodidata em psicologia

evolutiva, e as seções que todos aguar-damos a cada mês.

João Antonio Garreta PratsPresidente

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Contraponto | Jefferson Péres

Maxima Venia | Poluição e Aquecimento Global

Cultura e Lazer| Andy Warhol

APMP Ciência | Psicologia Evolutiva

Destinos | 3 formas de ver os EUA

MP em foco | Futuro do MP X MP do Futuro

Grupos de Estudos | O Ministério Público como guardião da democracia

Gastronomia | Creole e CajunDas panelas de New Orleans para o mundo

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Parceria | Promotores de Justiça (e também de solidariedade!)

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Como os formadores de opinião enxergam o MP

Jefferson Péres

Evidente que não se pode exigir da classe política a repre-sentação de um único segmento social.

A diversidade de propostas, ideologias e visões de mun-do dos parlamentares garantem, em tese, uma Casa de Leis equilibrada e enriquecem o debate sobre tantos temas de in-teresse para uma sociedade desigual, como é a brasileira.

Portanto, nenhum eleitor tem a certeza de que os escolhi-dos pelo voto popular espelharão satisfatoriamente seus an-seios e que, na discussão das questões sociais relevantes, terão posição que atenda às expectativas dos que os elegeram.

Todavia, em qualquer nação que se pretenda civiliza-da, um princípio é inegociável: o do exercício da política com respeito à ética e visando sempre à consolidação do regime democrático.

Assim sendo, nosso entrevistado seria um político tão res-peitado nos países de primeiro mundo quanto é no Brasil.

Muitos não concordarão com suas posições nas re-formas previdenciária e tributária, com a defesa intransi-gente da Zona Franca de Manaus e, mais recentemente, com a proposta de mudança do processo de escolha dos ministros do STF (veja box nesta seção).

Ninguém discordará, porém, que o senador Jefferson Péres é o tipo de político no qual todos, um dia, gosta-riam de votar. Inteligente, sério, honesto. “Ave rara” na política nacional, como costumeiramente é definido nos meios de comunicação.

Noutras palavras, um parlamentar ético.No auge da crise moral e política que afetou o atual go-

verno federal, Jefferson Péres publicou artigo no jor-nal “Folha de S. Paulo”, com o título “Uma saída à chilena” (edição de 21/7/05).

Nele, o senador propunha que o PT trocasse o projeto de “mexicanização” do país (70 anos no poder) pela “chi-lenização” do Brasil, ou seja, um pacto entre os maiores partidos brasileiros para sustentar o equilíbrio macroeco-nômico e, dessa maneira, garantir de forma continuada elevado crescimento econômico, inflação baixa e sistemá-tica redução da pobreza. Independentemente de quem ou qual partido esteja no comando do governo federal!

Ao final do artigo, o senador sentenciou: “Os dirigentes dos quatro maiores partidos do Brasil – PMDB, PT, PSDB e PFL – que detêm a maioria absoluta do Congresso, se tive-rem visão de estadista, aproveitarão a crise política atual, para transformar este limão numa limonada e buscar, com grandeza, uma saída à chilena.”.

A proposta traz um problema em sua gênese: visão de estadista e grandeza, na política atual, são qualida-des de poucos. Nosso entrevistado talvez tenha so-nhado com um país em que haja mais políticos como ele próprio.

Com a esperança de que isso, um dia, deixe de ser apenas um sonho, a APMP em Reflexão oferece en-trevista exclusiva com o sena-dor Jefferson Péres.

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A Amazônia, devido ao seu tamanho, à diversidade e à especificidade, não pode ter um desenvolvimento econômico convencional. É preciso um modelo capaz de conciliar crescimento econômico com preservação ambiental. Isso exigiria (...) a criação de um fundo orçamentário para a formação de capital humano e infra-estrutura. Antes disso, porém, seria necessário estabelecer uma espécie de “zoneamento ecológico-econômico”.

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Como podemos ter a maior biodiversidade do mundo e não haver aqui um grande centro de pesquisa? Nesse quadro, vai se repetir o que aconteceu com a borracha. Não investimos em pesquisa e no plantio da seringueira e os ingleses a levaram para produzi-la na Malásia.

PerfilNascido em 19 de março de 1932 em

Manaus, José Jefferson Carpinteiro Péres foi advogado e professor antes de abraçar a carreira política. Vereador manauense em duas oportunidades, em 1995 iniciou seu primeiro mandato como senador. Reeleito em 2002 pelo PDT, partido ao qual é filiado desde 1999.

Em 2001 relatou, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, o processo que levou à cassação de Luiz Estevão, acusa-do de, juntamente com o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, desviar R$ 170 milhões em di-nheiro público das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo.

No Senado Federal, é membro titular das comissões de Constituição, Justiça e Cidada-nia, de Fiscalização e Controle, do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar e de Relações Exteriores e Defesa Nacional, a qual também preside.

APMP em Reflexão: Advogado ou professor?Jefferson Péres: Advoguei muito pouco tempo, logo depois de formado. Entretanto, eu me decepcionei um pouco com a profissão. Passei então a me dedicar ao magistério na Universidade Federal do Amazonas, onde permaneci por 25 anos.

APMP: E sua trajetória política foi um pouco tardia, não é mesmo?JP: Fiquei afastado da política durante o regime militar. Por ser “de esquerda”, era visado pelos militares, razão pela qual me abstive de fazer política. Em 1988, eu me candidatei a vereador em Manaus e ganhei. Acho que tive boa atuação, pois me reelegi e, em 1994, fui eleito senador. Desde 2003 estou no segundo mandato.

APMP: O Estado do Amazonas é alvo de enorme in-teresse internacional. Por que o Brasil ainda não foi capaz de criar um sistema de exploração econômica sustentável da região amazônica?JP: A Amazônia, devido ao seu tamanho, à diversidade e à especificidade, não pode ter um desenvolvimento econômico convencional. É preciso um modelo capaz de conciliar crescimento econômico com preservação ambiental. Isso exigiria do Brasil um projeto amazô-nico que previsse a criação de um fundo orçamentário para a formação de capital humano e infra-estrutura. Antes disso, porém, seria necessário estabelecer uma espécie de “zoneamento ecológico-econômico”.

APMP: Sem essas medidas ou outras com o mesmo objetivo, quais os riscos?JP: Sem isso a Amazônia corre perigo. E o perigo não está na cobiça internacional, mas nacional. São empre-sários, madeireiros, que, levados pela ganância, podem

estar causando um desmatamento muito preocupante. Isso tem que ser contido e não teremos êxito apenas por meio da repressão, mas com um projeto que crie oportu-nidades para a população mais pobre do interior.

APMP: Por que a SUDAM e a SUDENE não foram eficientes como indutoras de desenvolvimento?JP: O modelo era errado porque se baseava em abati-mentos no imposto de renda. Isso favorecia um pacto entre especuladores e empreendedores, o que resulta-va num desvio muito grande de dinheiro público. Além disso, a SUDAM também não foi competente no moni-toramento dos projetos. Por isso o modelo fracassou.

APMP: O Brasil sempre é lembrado como um país tolerante com a “pirataria”. No entanto, temos sido vítimas da chamada “biopirataria”. O que fazer para coibir essa prática?JP: Creio que a legislação brasileira é muito boa, o que falta é uma estrutura de fiscalização e investimento em pesquisa e em biotecnologia. Quando o Brasil investe, é muito pouco em comparação com países com o mesmo grau de desenvolvimento. E depois fica se queixando daquele que vem aqui pesquisar. Como podemos ter a

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maior biodiversidade do mundo e não haver aqui um grande centro de pesquisa? Nesse quadro, vai se repetir o que aconteceu com a borracha. Não investimos em pesquisa e no plantio da seringueira e os ingleses a levaram para produzi-la na Malásia. Nós gostamos de atribuir nossa culpa aos outros.

APMP: Qual sua análise sobre o recente imbróglio envolvendo Brasil e Bolívia?JP: O Brasil teve uma reação frouxa, uma postura tíbia, de uma fraqueza imperdoável. Ninguém pregou que deveríamos retaliar a Bolívia, com envio de tropas para a fronteira ou corte de relações diplomáticas. Mas es-perávamos do governo federal uma reação verbal dura, à altura da afronta que sofremos.

APMP: Muitos interpretaram a atitude do governo Evo Morales como um mero exercício da sobera-nia boliviana sobre seus recursos naturais. Qual sua opinião?JP: Não foi um gesto soberano do governo boliviano. Houve abuso. Eles romperam contratos e acordos de forma unilateral e movimentaram um aparato mili-tar altamente desnecessário, ofensivo ao Brasil, que era um país amigo. O governo brasileiro se rendeu e chamou para a conversa essa figura problemática que se chama Hugo Chávez, que nada tinha a ver com a situação. Enfim, foi lamentável a postura do governo brasileiro.

APMP: Aliás, qual sua posição em relação à política externa brasileira no atual governo?JP: Todos os fracassos resultam do forte viés ideológico que norteia essa política e do anseio hegemônico de liderança hemisférica por parte do presidente Lula. O governo deveria adotar uma política de pragmatismo, sem ideologia, sem anseio de liderança. Liderança se exerce naturalmente. Mas em primeiro lugar estão os interesses do Brasil.

APMP: Poderia exemplificar?JP: Citemos nossa relação com os Estados Unidos. Eles defendem seus interesses e nós os nossos. Toda vez que pudermos, faremos bons acordos com os Estados Unidos. Quando houver divergência, não faremos. Isso deveria valer para todos os países. É o que chamo de política pragmática.

APMP: Isso também pareceu marcar o governo Lula no cenário interno. É coincidência ou o próprio go-verno estimula essa dualidade?JP: Eu acredito que seja uma marca do caráter do pre-

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sidente, que é ambíguo. Você não sabe exatamente o que ele é, o que pensa. Então, tem-se a impressão de que ele estimula esses choques dentro do governo. Dis-cordâncias internas são naturais, mas ministros diver-gindo publicamente em questões essenciais não é bom. Aliás, é condenável.

APMP: O Brasil é indiscutivelmente um país de mui-tas desigualdades sociais. Como analisa o sistema de cotas raciais?JP: Sou contra o critério de cotas. Acho que o ingresso no serviço público e nas universidades deve ser feito pelo sistema de mérito. Mas, como a grande desigual-dade social no Brasil precisa ser corrigida, o país tem que investir maciçamente na pré-escola e na creche para favorecer os mais pobres que ingressam no ensino fundamental com extrema dificuldade de formação. Na outra ponta da vida escolar, eu investiria em cursos pré-vestibulares gratuitos para as pessoas de menor renda. Acredito que essas medidas, a médio e longo prazo, reduziriam a tremenda desigualdade existente.

APMP: Em nossa última edição, indagamos ao jor-nalista Walter Ceneviva se a demora da imprensa e do Poder Legislativo em denunciar o escândalo do “mensalão” se deveu a uma certa complacência com o presidente Lula reinante até então. Concorda com essa avaliação?JP: Não. Acredito que a imprensa sempre foi muito crí-tica, tanto no governo FHC, quanto no governo Lula. Aqui no Congresso, onde estou desde o início, a oposi-ção sempre foi muito dura e acirrada contra o governo Lula. Falhou em quê? Infelizmente, faltou respaldo po-pular para providências mais enérgicas.

O país tem que investir maciçamente na pré-escola e na creche para favorecer os mais pobres que ingressam no ensino fundamental com extrema dificuldade de formação. Na outra ponta da vida escolar, eu investiria em cursos pré-vestibulares gratuitos para as pessoas de menor renda.

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APMP: Qual sua avaliação sobre o governo Lula?JP: No geral, uma grande decepção. Interessante que o governo Lula me surpreendeu, favorável e desfavo-ravelmente. Eu tinha receio, por exemplo, de que esse governo fosse “trapalhão” no plano da economia, com políticas monetária e fiscal irresponsáveis. Ao contrá-rio, ele teve o bom senso de dar continuidade à política econômica anterior, que é basicamente correta em ter-mos macroeconômicos.

APMP: Por que então uma grande decepção?JP: Pela questão ética. Imaginava-se um governo inovador, que eliminasse o fisiologismo e fosse mui-to rigoroso no trato com a coisa pública. Mas isso não aconteceu. Pelo contrário, alimentou o fisiolo-gismo, daí o “mensalão”, aparelhou toda a máquina do estado com petistas e políticos de outros partidos aliados. Todo o esquema crônico de corrupção en-raizado na administração pública o PT não apenas

Esperamos que o próximo Congresso e também as Assembléias Legislativas comecem a resgatar essa credibilidade. Resgate que deverá vir pelo comportamento e ações dos parlamentares, não com campanhas publicitárias.

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Todo o esquema crônico de corrupção enraizado na administração pública o PT não apenas não combateu, como alimentou. Essa foi a grande decepção em relação ao governo Lula.

não combateu, como alimentou. Essa foi a grande decepção em relação ao governo Lula. Isso torna o balanço, para mim, negativo.

APMP: Tem havido um processo de transferir da órbita dos Estados para a União várias atribuições e competências, como a federalização dos crimes contra os direitos humanos. Isso faz parte de uma estratégia de fortalecimento demasiado da União ou é mero acaso?JP: Talvez tenha sido acaso, pois sempre há uma ten-tativa de obtenção de poder. A União querendo chamar as competências para si, os Estados lutando pelo mes-mo objetivo e os prefeitos clamando por uma descen-tralização que lhes dê mais poder. Isso é natural. Acho que não faz parte de uma estratégia.

APMP: Nem a tentativa de amordaçar o Ministério Público e censurar a imprensa?JP: Parece que eles tinham um projeto de poder que passava pela arrecadação de recursos. O Sílvio Pereira agora revelou que o plano era chegar a 1 bilhão de reais, corromper parlamentares e ganhar eleições. Um projeto de 20 ou mais anos no poder. Isso talvez pas-sasse por um certo amordaçamento da imprensa e do Ministério Público. Aí sim faria parte de uma estraté-gia dentro de um projeto mais amplo de manutenção do poder.

APMP: As duas primeiras ações do Conselho Nacio-nal de Justiça focaram o nepotismo e o teto salarial. É o caminho correto?JP: Creio que essas duas ações do Conselho estão cor-retíssimas. São duas chagas do Judiciário e dos demais Poderes. Salários que ultrapassam o teto constitucional são ilegais, e isso acontecia na maioria dos tribunais. Eles terão que corrigir os abusos. Eu parabenizo o Con-selho Nacional de Justiça por essas ações, embora te-nham desagradado a muitos magistrados.

Jefferson Péres (por Elio Gaspari)

As coisas boas também acontecem. Uma delas é a presença do senador Jefferson Péres (PDT-AM) na CPI dos Cor-reios. Será mais uma oportunidade para que as pessoas saibam que o Congresso não é um covil de larápios. São muitos os doutores que faturam mesadas, negócios e picaretagens. Se esse pessoal não to-mar cuidado, qualquer dia desses have-rá quem se disponha a bater na cara da malandragem, como aconteceu no Equa-dor. Para a patuléia que paga a conta (e o “mensalão”), será um prazer acompa-nhar Jefferson Péres nessa CPI. Ele tem a crueldade da decência.

Seu nome completo é José Jefferson Carpinteiro Péres e já completou 73 anos. Ao contrário de Lula, que é pensionista da ditadura, nunca se aposentou como pro-fessor da Universidade Federal do Ama-zonas. Não faz indicações nem aceita mi-mos. Em 1996 assinou o requerimento da CPI dos Bancos e viu-se obrigado a sair do PSDB. Em 2001, quando a presidência do Senado foi disputada na ponta de faca pe-los senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, Péres apresentou-se como terceira via. Faltou coragem ao PFL para apoiá-lo. Se isso tivesse acontecido, o Se-nado teria sido poupado de um dos piores períodos de sua história.

O que haverá de tornar o senador Péres uma referência nos trabalhos da CPI será a sua lógica rápida, impiedosa, associada a um senso de humor corrosi-vo. Tudo isso e mais uma enorme capa-cidade de fazer o dever de casa.

O comissariado petista pode asper-gir fantoches sobre a CPI. Não impedirá que a figura miúda do senador (perigo-samente parecido com o Doutor Silvana do Capitão Marvel) arruíne a receita da pizza com uma frase, uma simples per-gunta.

Artigo publicado nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo,

em 12 de junho de 2005

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APMP: Portanto, é preciso trabalhar...JP: É preciso trabalhar e dar exemplo. Se os parla-mentares souberem se comportar, naturalmente vem o respeito da sociedade. Artificialmente, ninguém vai conseguir nada.

APMP: Outro assunto candente é o poder investi-gatório do Ministério Público. Qual sua posição a respeito?JP: Não concordo com a vedação a essa atribuição. Acho que, se for o caso, devemos mudar a Constituição para que seja explicitado o poder do Ministério Público de investigar.

APMP: Existe uma proposta de emenda constitu-cional, de sua autoria, para mudar a forma de aces-so ao Supremo Tribunal Federal. O sistema atual é adequado?JP: Eu acho inadequada a atual forma de composição do Supremo. O presidente da República escolhe quem ele quer. Embora haja a sabatina pelo Senado, a esco-lha acaba sendo quase que exclusivamente do presi-dente da República. Não me parece uma boa opção que a mais alta Corte de Justiça do país seja constituída desse modo. Nada impede que esse sistema, como já ficou provado na prática, resulte em excelentes juízes. O problema é que, muitas vezes, os magistrados são ligados ao partido e ao governante que os escolheu ou, no mínimo, são dependentes.

APMP: Qual é o seu projeto?JP: Estou propondo que os membros do STF sejam esco-lhidos pelos três segmentos do mundo jurídico: magis-trados, Ministério Público e advogados, mediante um processo eleitoral de escolha com o afunilamento feito no próprio Supremo. Pode não ser o melhor método, mas coloco em discussão um tema que era tabu desde o começo da República. Isso provocou o meu projeto e a questão veio ao debate.

APMP: Na sua ótica, quais os efeitos para a Magis-tratura e o Ministério Público do aumento da idade para a aposentadoria compulsória?JP: Gostaria que isso recaísse exclusivamente sobre o Supremo Tribunal Federal, porque o STF não é final de carreira para ninguém e pode ser composto de minis-tros que nunca foram magistrados. A elevação da com-pulsória para 75 anos no caso do Supremo é uma boa inovação. Mas, quanto aos demais tribunais, não. Creio que a generalização vai prejudicar a inserção dos mais novos e impedir uma coisa boa que é a renovação.

... se for o caso, devemos mudar a Constituição para que seja explicitado o poder do Ministério Público de investigar.

APMP: Qual sua opinião sobre a Reforma do Judi-ciário?JP: Acho que vai atingir a cúpula. Talvez melhore um pouco o funcionamento dos tribunais superiores, mas precisa ser complementada. Recentemente, aqui no Senado, aprovamos quatro ou cinco projetos de mu-dança dos Códigos de Processo. No plano legislativo, devemos continuar a reforma dos códigos processuais, que estão ultrapassados, e, no plano de aparelhamento do Judiciário, buscar a adequação do número de juízes e o aparelhamento eletrônico e de informática.

APMP: Há tempos testemunhamos embates cons-tantes entre Planalto, Congresso, Ministério Públi-co e Supremo Tribunal Federal. Qual a repercussão disso no amadurecimento da democracia brasileira?JP: Temos dois fatos muito positivos. Primeiro, as ins-tituições nunca estiveram ameaçadas. Ninguém ques-tionou a democracia, ninguém pediu o fechamento do Congresso, ninguém falou em golpe. Isso indica que o Estado Democrático de Direito parece consolidado, porque está enraizado na sociedade. Ninguém pensa em outro sistema de governo, o que é muito bom.

APMP: E qual o segundo fato relevante?JP: O descolamento entre economia e política. Mesmo no auge da crise, a economia não tomou conhecimen-to disso. O dólar não aumentou e a inflação está sob controle. Foi um sintoma de maturidade e acho que o país saiu fortalecido, apesar da desmoralização de várias instituições.

APMP: É possível resgatar a imagem desta legisla-tura, mesmo após as absolvições dos suspeitos de envolvimento com o “mensalão”?JP: Não. Ela está irremediavelmente perdida. Esperamos que o próximo Congresso e também as Assembléias Le-gislativas comecem a resgatar essa credibilidade. Res-gate que deverá vir pelo comportamento e ações dos parlamentares, não com campanhas publicitárias.

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Proposta de Emenda à Constituição nº 68, de 2005 (autoria: Jefferson Péres)Altera a Constituição Federal para dispor sobre a escolha de Ministros do Supremo Tribunal Federal.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º - A Constituição Federal passa a vi-gorar com as seguintes alterações:

“Art. 84 .................................................................XIV – nomear, observado o disposto no pa-rágrafo único do art. 101, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e, após aprova-ção pelo Senado Federal, os Ministros dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da Repú-blica, o presidente e os diretores do Banco Central e outros servidores, quando deter-minado em lei;”

“Art. 101................................................................Parágrafo único. Aberta vaga no Supremo Tribunal Federal, proceder-se-á da seguin-te forma:I – os órgãos de representação da magis-tratura, do Ministério Público e dos ad-vogados escolherão, mediante eleição, na forma da lei, cada um, dois candidatos à vaga, submetendo-os ao Supremo Tribunal Federal;II – o Supremo Tribunal Federal elegerá, dentre os seis nomes submetidos na forma do inciso I, por voto secreto e maioria ab-soluta, um deles, encaminhando-o ao Pre-sidente da República para a nomeação. ”

Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

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POLUIÇÃO E AQUECIMENTO GLOBAL

Luís Paulo SirvinskasPromotor de Justiça em São Paulo

Doutor em Direito Ambiental pela PUC-SP

dinossauros, o choque das placas tectônicas que gera-ram os tsunamis, os efeitos indiretos do aquecimento global, tais como intensificação dos furacões, secas, enchentes etc.

O desenvolvimento econômico, aliado ao cresci-mento vegetativo, faz com que os recursos ambientais tornem-se cada vez mais escassos. Não haverá recur-sos suficientes para a atual e nem tampouco para as futuras gerações se o crescimento continuar de forma acelerada.

O homem tem contribuído para a degradação cada vez mais intensa cometida por ações ou omissões con-tra o meio ambiente, expondo em perigo a existência da própria civilização. Não podemos, no entanto, afir-mar que o homem, por si só, poderia provocar o fim do planeta. Há fenômenos da própria natureza que con-tribuem com certas catástrofes, como, por exemplo, o asteróide que colidiu com a Terra há 65 milhões de anos, produzindo um impacto correspondente a inú-meras bombas atômicas e que causou a extinção dos

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A sociedade se transformou profundamente nos últimos cinqüenta anos, tanto no aspecto econômico como tecnológico. A economia mundial cresceu de US$ 6,3 trilhões, em 1950, para US$ 42 trilhões, em 2000. A tecnologia alterou a vida das pessoas e substi-tuiu mão-de-obra, além do crescimento populacional. Tal fato pode ser constatado pelos dados históricos a seguir citados: em 1830, havia 1 bilhão de habitantes no planeta Terra; em 1960, passou para 2 bilhões de habitantes; em 1974, aumentou para 3 bilhões; e, fi-

nalmente, em 1999, foi para 6 bilhões. Essa população, além disso, se concentra, em sua

maioria, nos grandes centros urbanos. Acresça-se a isso o fato de existir também no planeta cerca de 6 bi-lhões de suínos, 1,2 bilhão de bovinos, 609 milhões de caprinos e 140 milhões de bufalinos. Um boi precisa de cerca de 35 litros de água por dia e uma vaca leiteira de 40 litros. E para produzir 1 kg de carne bovina são necessários 15 mil litros de água. Além disso, os deje-tos diários de um suíno são seis vezes maiores do que

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Contribuição de nossos associados para a SociedadeA Revista APMP em Reflexão abre espaço para os seus associados divulgarem artigos de interesse da comunidade e com isso aproximar nossa Instituição do destinatário final de nossas ações: o cidadão. As condições para a publicação estão disponíveis na página: www.apmp.com.br/apmpemreflexao/maximavenia. Colabore e escreva para: [email protected], com sugestões de matérias ou artigos.Os artigos da seção Maxima Venia são assinados, não refletindo necessariamente a opinião do Conselho Editorial da Revista APMP em Reflexão

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os de um homem, suficientes para poluir o ar, com seus gases, e o lençol freático, com seus dejetos.

Diante disso, os problemas começaram a se mul-tiplicar e a distância entre ricos e pobres aumentou gradativamente. A riqueza e a pobreza extremas são dois pólos da realidade que têm impacto sobre o meio ambiente. As populações pobres são as que menos par-ticipam do banquete do consumo global e as que mais sofrem, e de maneira mais imediata, as conseqüências das mudanças climáticas, por exemplo.

O crescimento econômico aumenta o consumo que, por sua vez, gera todo tipo de poluição, causando pro-blemas ao meio ambiente. O ritmo da degradação do meio ambiente está se agravando cada vez mais com a poluição do ar atmosférico causada pelas grandes in-dústrias, pelos desmatamentos, pelas queimadas, pela inadequada utilização de defensivos agrícolas, colo-cando em risco as bacias hidrográficas, os lençóis freáticos e a biodiversidade.

Tal fato ocasiona a alteração do clima no pla-neta pelo denominado efeito estufa. Ressaltamos que a emissão derivada da queima de combus-tível é a fonte principal da poluição do ar. Há cerca de seis milhões de veículos na re-gião metropolitana de São Paulo responsá-veis pelo lançamento de grande quantidade de monóxido de carbono, aldeídos, óxidos de nitrogênio e de hidrocarbonos.

Essa poluição é a “variável crítica, seja pelo aquecimento global e efeitos no clima, seja pelas doenças graves que causa. A British Air Foundation conduziu pesquisas provando que uma hora pedalando em meio ao tráfego bas-ta para aumentar significativamente os riscos de doenças cardíacas. Após seis horas, danos perma-nentes são causados aos vasos sangüíneos. Já o La-boratório de Poluição Atmosférica da USP afirma que o paulistano perde, em média, dois anos de vida devido

à poluição ambiental. O índice de abortos também aumenta, porque o

fluxo arterial na pla-centa diminui;

As populações pobres são as que menos participam do banquete do consumo global e as que mais sofrem, e de maneira mais imediata, as conseqüências das mudanças climáticas, por exemplo.

e há suspeitas de efeitos muito negativos na fertili-dade”. (Gilberto Dupas, “Pobreza, poluição e transporte urbano”, jornal Folha de S. Paulo, Tendências/Debates, São Paulo, 26-10-2005, p. A-3).

Recentemente, cientistas realizaram pesquisas em diversas regiões poluídas de São Paulo entre 2001 e 2003 e constataram que a poluição também tem influenciado no nascimento de crianças do sexo feminino comparado

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com regiões menos poluídas, onde nasceram mais crian-ças do sexo masculino. Essa constatação foi confirmada com pesquisas realizadas em camundongos confinados em lugares poluídos e não poluídos. Esses dados foram divulgados por diversos veículos de comunicação, tais como jornais, rádios, televisões no período compreendi-do de 30 de outubro a 2 de novembro de 2005.

Vivemos numa sociedade de risco. Estes riscos abrangem não só o individuo, sua família, seu grupo

social, a comunidade de seu país, mas toda a civi-lização. Trata-se de um problema internacional. Portanto, a responsabilidade pelos danos ao meio ambiente não envolve somente um país, isoladamente. Tudo o que ocorre no Japão im-porta aos brasileiros e vice-versa, pois cada país acaba contribuindo para a degradação mundial com mais ou menos intensidade. Nesse contexto, pode-se verificar a falência

do Estado como modelo de regulação desses problemas e a ruptura da relação de legitimi-dade entre as instituições e as promessas de

manutenção da segurança dos cidadãos (José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala, Direito ambiental na sociedade de risco, Rio de Janeiro, Forense, 2002, p. 12).

Diante da falência do Estado em conter a degradação ambiental, o cidadão, as entida-des não-governamentais, o Ministério Públi-co, o Poder Judiciário e alguns órgãos estatais passaram a participar efetivamente da recons-

trução de um Estado de Direito Ambiental, pro-pondo novos desafios e mudanças de paradig-

mas para tentar conter o avanço da degradação em conformidade com as normas constitucionais

ambientais e o princípio matriz contido no art. 225 da Constituição Federal.

Proteger o meio ambiente é de importância pre-mente para a manutenção da vida no planeta, de-

vendo a sociedade e o Estado utilizarem-se do Direito para esse desiderato, aliado também às demais disciplinas ambien-tais. Um dos instrumentos para a prote-

ção do meio ambiente é a implementação do princípio do Estado Demo-crático de Direito, o qual permitirá a parti-cipação efetiva do cidadão na elaboração das políticas públicas ambientais.

Vemos, pela norma maior, que a proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado é dever do Poder Público e da comunidade. Essa proteção destina-se às presentes e futuras gerações. Trata-se, ao mesmo tem-po, de um direito e um dever que se entrelaçam mu-tuamente. O direito que todos têm ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e o dever do Poder Público e da coletividade em protegê-lo e defendê-lo para as presentes e futuras gerações.

Sustentamos que a expressão “coletividade” é es-pécie do termo “sociedade” - conceito mais amplo -, abrangendo o Poder Público, a coletividade, as ativi-dades econômicas e financeiras. Todos nós somos res-ponsáveis pela proteção do meio ambiente. Todos nós temos o dever de protegê-lo. Cuida-se de um direito fundamental. E nesse sentido, todos nós temos o di-reito a uma vida saudável em harmonia com o meio ambiente.

Esse direito constitucional só será eficaz e efetiva-mente aplicado se houver a participação da sociedade. O direito à proteção ao meio ambiente é um típico di-reito fundamental e está diretamente ligado ao princí-pio da dignidade da pessoa humana que, por sua vez, relaciona-se com o direito à vida. Portanto, integra im-plicitamente os direitos e garantias fundamentais. Essa é a interpretação que se deve dar ao meio ambiente como direito fundamental.

A consciência ecológica internacional tem contri-buído para a alteração do sistema normativo de todos os países que adotam o sistema democrático. Onde houver Constituição haverá necessariamente direitos protetivos do meio ambiente. Não podemos esquecer que o meio ambiente pertence a todos os seres vivos, os quais têm o mesmo direito de usufruí-lo em igual-dade de condições com os homens. Todos devem parti-

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O direito à proteção ao meio ambiente é um típico direito fundamental e está

diretamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana que,

por sua vez, relaciona-se com o direito à vida.

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cipar da elaboração das políticas públicas ambientais e contribuir, de qualquer maneira, para a preservação da natureza e dos recursos naturais essenciais existentes no planeta Terra.

Registramos, contudo, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida para as presentes e futu-ras gerações. Sua preservação é dever da sociedade e não só do Poder Público. Essa sadia qualidade de vida é um direito fundamental da pessoa humana. É atra-vés dela que o homem poderá ter uma vida digna em consonância com os ditames da valorização do traba-lho, do desenvolvimento econômico, da livre iniciativa e da dignidade da pessoa humana que são os pilares do desenvolvimento sustentável. Assim, a proteção do meio ambiente passou a ser um direito fundamental implicitamente inserido no direito à vida.

Trata-se de uma interpretação moderna da Consti-tuição. A vida é um direito fundamental, mas não basta que o Poder Público proteja a vida em si mesma; é ne-cessário que essa vida tenha qualidade. Para que isso seja possível, o Estado deve proporcionar condições materiais para que o cidadão possa ter acesso efeti-vo aos direitos sociais contidos no art. 6º da CF. Como vimos, o ordenamento jurídico do Brasil é pródigo em direitos e garantias fundamentais, mas ainda muito aquém para sua efetivação no mundo material.

Por outro lado, o Brasil tem de crescer e se desen-volver de maneira sustentável. Isso significa que pre-cisamos encontrar um equilíbrio relacional entre o sistema econômico e a ecologia, consubstanciado na necessidade de se incentivar o desenvolvimento eco-nômico, de um lado, e a conservação do meio ambien-te, de outro. O país precisa crescer e se expandir para

aumentar o número de empregos e o poder aquisitivo dos trabalhadores, mas esse crescimento deverá ser re-alizado de maneira racional a fim de não prejudicar o meio ambiente com a utilização desordenada dos re-cursos naturais.

O direito ambiental pode servir para tentar barrar o avanço irrestrito dos meios de produção e de ocupa-ção das áreas de preservação ambiental. É importante ressaltar que o Direito tem servido para os donos do poder se apoderarem cada vez mais dos recursos na-turais e das áreas de preservação ambiental a pretexto de incentivar o desenvolvimento econômico. O sistema econômico atual, como vimos, não está trazendo bene-fícios para a melhoria da qualidade de vida do homem nos grandes centros urbanos e rurais.

Isso tudo ocorre porque não há uma política pública coerente entre os poderes, os quais se encontram de-sarticulados no enfretamento de problemas relaciona-dos ao ambiente. As ações são, geralmente, pontuais, que não se conjugam, não se coordenam. O Ministério do Meio Ambiente não pode, por si só, resolver todos os problemas ambientais sem essa articulação com os demais Ministérios, como o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o da Integração Social, o da Fazenda, o da Ciência e Tecnologia etc.

Há a necessidade de se criarem políticas públi-cas amplas, ordenadas e conjugadas entre os ór-gãos governamentais para se evitar, por exemplo, o conflito gerado na bacia hidrográfica do São Francisco. Qual seria a melhor solução? A trans-posição, a revitalização ou ambas? (José Augusto Pádua, entrevista concedida para Daniel Buarque, sobre Vidas Secas, Folha de S. Paulo, em 30-10-2005, Caderno Mais, pp. 4-5).

Uma hora pedalando em meio ao tráfego basta para aumentar significativamente os riscos de doenças cardíacas. Após seis horas, danos permanentes são causados aos vasos sangüíneos (...) o paulistano perde, em média, dois anos de vida devido à poluição ambiental.

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É por meio do exercício efetivo da ci-dadania que poderemos resolver parte dos grandes problemas ambientais do mundo por meio da ética ambiental transmitida pela educação ambiental, vide o triste exemplo do Bispo de Barra-BA, Dom Frei Luiz Flávio Cappio, que, com sua greve de fome, conseguiu fazer com que o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, paralisasse as obras de transposição da bacia do rio São Francisco.

Para se entender as causas da degradação ambien-tal é necessário compreender os problemas sócio-eco-nômicos e político-culturais e, a partir desses conhe-cimentos, poderemos então tentar alterar as atitudes comportamentais das pessoas na sua fase inicial com a adoção dos princípios da ética ambiental.

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A consciência ecológica internacional tem contribuído para a alteração do sistema

normativo de todos os países que adotam o sistema democrático.

Onde houver Constituição haverá necessariamente direitos

protetivos do meio ambiente.

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Futuro do MPXfederativo e a estratégia de concentra-ção de poder na esfera federal, de que é exemplo, dentre muitos, a federalização do processo e julgamento dos crimes contra os direitos humanos.

De qualquer forma, por estar pendente a validade do concurso para provimento dos cargos de promotor de justiça substituto de segundo grau, preferimos postergar o debate sobre a volta efetiva do me-recimento no MP de São Paulo para trazer aos leitores a repercussão, até o momento, da mencionada “liminar” do Conselho Nacio-nal do Ministério Público.

O merecimento e o Conselho Nacional do Ministério Público

Dentro da nova proposta adotada nesta seção, a de re-percutir mês a mês as novidades institucionais no âmbito dos órgãos da Administração Superior, pretendíamos dis-cutir a volta do merecimento nos concursos de promoção e remoção no Ministério Público de São Paulo.

O debate, a nosso juízo, seria apropriado pelo recente concurso, por remoção, para provimento dos 75 cargos de promotores de justiça substitutos de segundo grau, cria-dos pela Lei Complementar Estadual nº. 981/2005.

Entretanto, um fato, mais recente ainda, causou tre-mendo impacto em nossa Instituição. Fato esse relacio-nado com o referido concurso: a suspensão, por força de “liminar” concedida pela integrante do Conselho Nacional do Ministério Público Janice Agostinho Barreto Ascari (re-presentante do MP Federal naquele órgão), de “qualquer ato de promoção ou remoção de membro do Ministério Público do Estado de São Paulo”.

Medida tão drástica não poderia deixar de causar cer-ta perplexidade, sobretudo nos MPs Estaduais, cuja auto-nomia, já seriamente ameaçada pela composição dese-quilibrada do Conselho Nacional, acabava de sofrer outro duro golpe.

A questão remete a outro tema, de que tratamos em nossa edição de nº 13: quais os verdadeiros limites dos Conselhos Nacionais?

A controvérsia ainda está longe de ser resolvida. Uma vez mais, contudo, lamentamos essa escalada de despres-tígio às decisões e à autonomia dos MPs Estaduais. Cami-nham assim a passos largos a quebra definitiva do pacto

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MP em Foco

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Discussão sobre fatos que repercutirão nos rumos de nossa Instituição.

MP do Futuro

“Liminar” concedida pela integrante do CNMP Janice Ascari (representante do MP Federal naquele órgão) determinou a suspensão de “qualquer ato de promoção ou remoção de membro do Ministério Público do Estado de São Paulo”

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Breve históricoNas sessões de 9 e 10 de maio de 2006, o Conse-

lho Superior do MP de São Paulo efetuou as indicações para os 75 cargos de promotores de justiça substitutos de segundo grau, sendo 38 por antigüidade e 37 por merecimento.

Em relação às vagas por merecimento, 29 dos in-dicados ocupavam as primeiras posições na lista de antigüidade e apenas 8 indicados estavam em posição inferior, ou seja, foram escolhidos com base na aná-lise efetiva do merecimento feita pelos Conselheiros Sabella, Antonio Augusto, Fernando, Fink, Zanellato, Dráusio, Garrido e Shimizu (os Conselheiros Molineiro, Tarifa e Rodrigo preferiram valer-se exclusivamente da antigüidade).

Colocando-se em termos numéricos, das 75 vagas apenas 8 não seguiram, direta ou indiretamente, o cri-tério de antigüidade, ou seja, 10%.

Alguns concorrentes, entretanto, sentindo-se pre-teridos pela escolha desses 8 indicados, represen-

taram ao Conselho Nacional do

Ministério Público, com fundamento na Resolução nº 2 do CNMP, de 21 de dezembro de 2005.

Segundo o art. 3º. dessa resolução, “no prazo de 120 (cento e vinte) dias, os Conselhos Superiores dos Mi-nistérios Públicos deverão editar atos administrativos, disciplinando a valoração objetiva dos critérios, para efeito de promoção e remoção por merecimento dos membros do Ministério Público da União e dos Esta-dos”.

Não sendo editado ato administrativo nesse prazo, ou seja, “inexistindo especificação de critérios valorati-vos que permitam diferenciar os membros do Ministé-rio Público inscritos, deverão ser indicados os de maior antigüidade na entrância ou no cargo” (parágrafo úni-co do art. 4º. da Resolução nº. 2/2005).

Em razão disso, a Conselheira Janice Ascari, em 29 de maio, concedeu a “liminar”, amparada no art. 45, I, do Regimento do CNMP (“Compete ao Relator (...) orde-nar e dirigir o processo, determinando as providências e diligências necessárias a seu andamento e instrução, fixando prazos para os respectivos atendimentos).

Colocando-se em termos numéricos, das 75 vagas apenas 8 não seguiram, direta ou indiretamente, o critério de antigüidade, ou seja, 10%.

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MP em Foco

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por unanimidade, entendeu que os indicativos para aferição do merecimento já se encontravam exaustivamente definidos no artigo 70 do Regimento Interno do CSMP de São Paulo.(...)O Conselho Nacional do Ministério Público, com a devida vênia, não foi erigido a órgão do Poder Judiciário e, sob o prisma administrativo, não veio para restringir a autonomia de cada Ministério Público, não se constituindo em órgão de reexame ordinário das suas decisões internas. Ao contrário, por força do inciso I, do § 2º, do artigo 130-A, da Constituição da República, também têm por missão a de zelar pela autonomia de cada Ministério Público,

o que reafirma sua atuação ordinária não substitutiva das decisões dos organismos federados e que o projeta muito mais como órgão de articulação e defesa. Se nos concursos de promoção e remoção de membros de cada Ministério Público apresentam-se irregularidades determinantes da violação de eventuais direitos, há de se reconhecer a existência, em tese, de questões internas e de natureza individual, cujo Poder Judiciário, nas suas instâncias próprias de competência, exerce o papel republicano de controlador da legalidade dos atos administrativos.

(manifestação do Conselheiro Paulo Afonso Garrido de Paula, à qual

aderiram os Conselheiros Fink, Dráusio, Sabella, Antonio Augusto, Fernando e

Shimizu)

“A liminar (...) representa grave atentado à autonomia do Ministério Público paulista, configurando afronta ao sistema federativo prescrito na Constituição da República, a exigir pronta e enérgica reação da Procuradoria-Geral de Justiça em

defesa da nossa Instituição. Não

se pode extrair do novel artigo 130-A da Constituição da República, especialmente do inciso II, de seu § 2º (...) a prerrogativa de integrante do Conselho, de forma monocrática, sustar preventivamente atos de promoção ou remoção, definidos à luz da Lei Orgânica Estadual, diploma derivado da determinação constitucional para que lei complementar de iniciativa exclusiva do Procurador-Geral de Justiça disponha a respeito da organização, das atribuições e do estatuto de cada Ministério Público (CF, art. 128, § 5º) (...)É de se observar que a partir de ofício solicitando observância do Ministério Público Paulista à Resolução nº 02, o Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo, em deliberação

A repercussão no Conselho Superior

A decisão do CNMP causou indignação aos mem-bros do Conselho Superior do MP de São Paulo, exter-nada na reunião de 30 de maio último. Transcrevemos a seguir os trechos principais das manifestações, para que os leitores possam refletir e tirar suas conclusões.

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(...) quero exteriorizar algumas impressões quanto ao alcance da respeitável decisão exarada pela nobre Conselheira doutora Janice Agostinho Barreto Ascari (...)se até mesmo a própria possibilidade de suspensão das remoções para os 75 cargos de promotores de justiça substitutos de 2º grau é contrastada com o ordenamento constitucional, como demonstrou o Conselheiro Garrido, com muito mais razão não pode ser agasalhada a idéia de que o despacho decisório da digna prolatora signifique uma vedação genérica e apriorística, ainda que transitória, do exercício do poder-dever de fazer indicações, ínsito aos Conselhos Superiores dos Ministérios Públicos Estaduais. (...)Aliás, o artigo 45, I, do Regimento Interno do CNMP, que foi posto por fundamento do r. despacho, não consagra específico poder excepcional de cautela administrativa, mas diz

com a ordenação e a direção do processo pelo relator, pois afirma competir a ele “ordenar e dirigir o processo, determinando as providências e diligências necessárias a seu andamento e instrução, fixando prazos para os respectivos atendimentos”. A linha de entendimento que respeitosamente expendemos encontra conforto em vários dispositivos do R.I do CNMP, especialmente nos artigos 93 e 102 (...) Diante da dicção regimental, não fica fácil sustentar que a relatoria possua poder excepcional de cautela para determinar, de modo unipessoal, que o Conselho Superior se abstenha de fazer indicações. (...)Quanto à suspensão liminar dos atos de remoção para os setenta e cinco cargos de promotor de justiça substituto de segundo grau, a questão se coloca no âmbito das atribuições da E. Procuradoria-Geral (...)(manifestação do Conselheiro Walter Paulo Sabella, à qual aderiram os Conselheiros Fink, Dráusio, Garrido, Antonio Augusto, Fernando e Shimizu)

O ato da Conselheira do Conselho Nacional do Ministério Público afronta a Constituição Federal, é ilegal e viola o pacto federativo. O Ministério Público do Estado de São Paulo não pode olvidar que o que fez a grandeza deste Estado foi o que consta no lema da cidade de São Paulo, ou seja, non ducor duco (não sou conduzido, conduzo). Por isso, entendo que o Conselho Superior do Ministério Público deva, entre outras coisas, desconsiderar a mencionada decisão.(manifestação do Conselheiro Fernando José Marques)

“Também entendo (...) que não pode o Conselho Nacional do Ministério Público suspender em abstrato, ex ante, concursos de promoção ou remoção de membros do Ministério Público. A decisão liminar em exame, porém, não reflete essa situação, pois suspendeu “qualquer ato de promoção ou remoção” de Promotores de Justiça, ato este, à evidência, de incumbência exclusiva do Senhor Procurador-Geral de Justiça.(...)por prudência, talvez seja o caso de suspender o concurso para o provimento do cargo de Procurador de Justiça, em curso desde 12.05.06, para se evitar o risco de sua posterior impugnação, por estar fundado em critérios de merecimento que poderão ser revogados. (...)

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O momento exige firmeza na defesa de posturas institucionais, assim como uma profunda reflexão sobre as conseqüências da nova ordem constitucional estabelecida pela Emenda Constitucional nº. 45, que instituiu, entre outras inovações, o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público, com inúmeras atribuições mencionadas no art. 130-A da Constituição Federal. Recebo estas considerações para o devido exame e ponderação.(manifestação do Procurador-Geral de Justiça Rodrigo César Rebello Pinho)

Por outro lado, existe a possibilidade de ser formulado, à i. Relatora, pedido de reconsideração de sua decisão, ainda que parcial, como sugerido pelo ilustre Conselheiro José Benedito Tarifa, para evitar paralisação da movimentação na carreira do Ministério Público paulista, em detrimento da coletividade, que poderá ver retardada a prestação do serviço pelo MP, uma vez que impede, enquanto vigente (não se sabe se o julgamento do mérito ocorrerá logo), todas as promoções ou remoções ansiosamente aguardadas pela classe (...)(manifestação do Conselheiro Marco Antonio Zanellato)

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* não estão computados os 75 cargos de Promotor de Justiça Substituto de Segundo Grau, ante a previsão legal de que 75 cargos numerados da Capital serão paulatinamente extintos** Número de cargos criados de 1º/1/2006 até 8/6/2006 26 destinados à entrância final (10 para a Capital e 16 para o Interior) 11 destinados à entrância intermediária 7 destinados à entrância inicial*** Número de cargos desnomenclaturados de 1º/1/2006 até 8/6/2006 6 cargos desnomenclaturados na entrância final (5 na Capital e 1 no Interior)

Balanço Institucional 2006 *

Direto do Conselho Superior

Proposta do Conselheiro Fink ao PGJ de criação de 75 cargos de Procurador de Justi-ça, extinguindo-se, na vacância, os 75 cargos de Promotor de Justiça Substituto de Segundo Grau (reunião de 16/5)

Proposta do Conselheiro Sabella ao PGJ de alteração da Lei Orgânica Estadual para, à semelhança do que ocorre nos Estados do RS, SC, PR, RJ, MG, ES e BA, a criação de cargo(s) de Subprocurador(es)-Geral(is) ou Procurador(es)-Geral(is) Adjunto(s). Adesão à proposta dos Conselheiros Fink, Zanelatto, Tarifa e Garrido e promessa do PGJ de encaminhamento da su-gestão ao Órgão Especial (reunião de 16/5)

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MP em Foco

Direto do Órgão Especial

Aprovada, por unanimidade e com alterações, a proposta da PGJ de constituição do Grupo de Atuação Especial de Inclusão Social (reunião de 17/5)

Comunicação da PGJ de que o Governador do Es-tado, Cláudio Lembo, enviou à Assembléia Legislativa projeto de lei que modifica o Fundo Especial de Despe-sa do Ministério Público, ampliando sua finalidade para permitir a satisfação de decisões administrativas da Ins-tituição na área de recursos humanos (reunião de 17/5)

Comunicação da PGJ, em face dos atentados co-metidos pelo PCC, da apresentação ao Senado Federal, por meio do Senador Romeu Tuma, de sugestões de alterações legislativas, como: a) aumento da pena do crime de quadrilha ou bando (2 a 6 anos de reclusão) e tipificação do crime de quadrilha ou bando para o fim de infundir terror, por meio de atos de violência ou grave ameaça, explosão, seqüestro, incêndio, sa-que, depredação ou sabotagem contra meios e vias de transporte, provocando perigo ou dano a pessoas ou a bens ou frustrando a prestação de serviço à população (10 a 20 anos de reclusão); b) tipificação do crime de homicídio doloso praticado contra funcionário público no exercício da função ou em razão dela (20 a 30 anos de reclusão) e sua inclusão no rol de crimes hedion-dos; c) extinção do protesto por novo júri; d) previsão de caber à autoridade administrativa, pelo prazo de 30 dias, decretar o isolamento preventivo ou a inclusão provisória no regime disciplinar diferenciado (RDD) de preso provisório ou de condenado a quem se impute prática de falta grave, prorrogável, pela autoridade ju-dicial, pelo prazo de 120 dias; e) alteração da Lei de Execução Penal, a fim de que o RDD dure pelo período em que o preso causar risco à sociedade ou ao sistema prisional, revogando-se o limite temporal atualmente previsto (reunião de 17/5)

Aprovada, por unanimidade, a criação da Pro-curadoria de Justiça de Interesses Difusos e Co-letivos, integrada por 24 Procuradores de Justiça (reunião de 24/5)

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Ah, esses recebem da APMP o Prêmio Melhor Arrazoado Forense Julio Fabbrini Mirabete 2006!

Os bons arrazoados dos promotores deSão Paulo fazem uma sociedade mais justa...

Os bons arrazoados dos promotores deSão Paulo fazem uma sociedade mais justa...

...e os melhores?

Ah, esses recebem da APMP o Prêmio Melhor Arrazoado Forense Julio Fabbrini Mirabete 2006!

Pelo segundo ano consecutivo, a APMP presta uma dupla homenagem: a você, Promotor de Justiça de São Paulo, que pode ver o seu trabalho reconhecido, e a um dos grandes ícones do Ministério Público de São Paulo, o inesquecível Julio Fabbrini Mirabete.

Quem pode concorrer ao Prêmio?Representantes do Ministério Público do Estado de São Paulo de Primeira Instância. Somente serão aceitos os candidatos que encaminharem, ao Departamento Cultural da APMP, os trabalhos de natureza cível ou criminal que tenham apresentado efetivamente em autos e que tenham oficiado, em qualquer fase processual, em Primeira Instância, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2005.Inscrições:As inscrições poderão ser feitas na Sede Executiva da APMP, com os funcionários Cláudia, Danilo e Gesani, pessoalmente ou pelo correio até dia 30 de junho de 2006.

Rua Riachuelo, 115 · 11º andarCentro · CEP 01007-904 · São PauloTelefone: (11) 3188 [email protected]

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Os Grupos de Estudos, organização informal dos membros ativos e aposentados do Minis-tério Público, estimulados pelo êxito da expe-riência de 2005, deliberaram, por intermédio de sua Comissão Executiva, repetir a sistemá-tica do ano anterior e estabelecer um único tema para discussão em todas as reuniões re-gionais. Nestas, serão extraídas, após votação entre os presentes, conclusões acerca do tema, as quais, após a devida sistematização, serão objeto de debate e votação na primeira etapa do XXXIV Seminário Jurídico dos Grupos de Es-tudos, entre 27 e 29 de outubro de 2006.

O tema central é “MINISTÉRIO PÚBLICO E A DEFESA DO REGIME DEMOCRÁTICO”.

Confira as conclusões já aprovadas em al-gumas das reuniões regionais.

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Grupos de Estudos

Ministério Público como guardião da democraciaO

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GE LUIZ GONZAGA MACHADO

ITU/SOROCABA (reunião em 1º de abril de 2006)

Palestrantes: Augusto Eduardo de Souza Rossini e

Ivandil Dantas da Silva, promotores de justiça do Júri

de Santo Amaro

Tema: A defesa do regime democrático pelo MP: a

experiência da Promotoria de Justiça Comunitária

em Santo Amaro

1. O Ministério Público, sozinho, não tem respostas

para solução da criminalidade, e nem tampouco os seus

Chefes institucionais ou seus Promotores de Justiça.

2. Para encontrar caminhos para o enfrentamento

da criminalidade é imprescindível que o Promotor de

Justiça Criminal e do Júri se aproxime de outros órgãos

públicos e da comunidade em que atua.

3. Somente o conjunto de experiências dos diversos se-

tores sociais possibilitará ao Promotor de Justiça conhecer os

problemas enfrentados pela comunidade local e os limites es-

truturais e financeiros dos órgãos públicos para resolvê-los.

4. Essa vivência conjunta acarreta o comprometi-

mento de todos os setores envolvidos com a questão

maior – prevenção da criminalidade violenta, viabilizan-

do o surgimento de propostas criativas e responsáveis

para a solução das questões enfrentadas.

5. Quando o membro do Ministério Público defende

direitos sociais, está defendendo o regime democrático.

GE OSCAR XAVIER DE FREITAS – AMERICANA/

PIRACICABA/ RIO CLARO (reunião em 8 de abril de

2006)Palestrante: Paulo Afonso Garrido de Paula, procu-

rador de justiça e membro do Conselho Superior do

Ministério PúblicoTema: A defesa do regime democrático pelo Mi-

nistério Público e suas implicações internas e ex-

ternas 1. Exortação aos Grupos de Estudos a promoverem

debates sobre os seguintes temas: 1º) funções institu-

cionais e regime democrático; 2º) regime democrático

e o estatuto do Ministério Público; de modo a solidi-

ficar o compromisso institucional com as liberdades

públicas e promover as reformas internas necessárias

à aproximação da nossa organização aos postulados

democráticos.

GE CLÁUDIA SOARES FROTA ANDRADE VALE DO RIBEIRA (reunião em 22 de março de 2006)Palestrantes: Augusto Eduardo de Souza Rossini e Ivandil Dantas da Silva, promotores de justiça do Júri de Santo AmaroTema: O Promotor de Justiça atuando como agente político

1. Ao atuar como Agente Político, o Promotor

de Justiça necessita analisar se os demais atores da “rede” são confiáveis, para não ocorrer a utili-zação da “rede” de maneira desvirtuada, principal-mente com interesses político-partidários.

2. Deve-se respeitar as peculiaridades da Pro-motoria de Justiça e o perfil de cada representante ministerial na atuação como Agente Político.

3. Ao atuar como Agente Político, o represen-tante ministerial acaba por aproximar-se da co-munidade, o que gera uma melhor visão dos an-seios sociais e do próprio Ministério Público por esta e, por conseqüência, uma maior eficácia na atuação ministerial.

4. O Promotor de Justiça, pela própria credibi-lidade da Instituição perante a sociedade, acaba sendo um elemento agregador da “rede”.

5. É importante documentar as reuniões, pre-ferencialmente mediante a elaboração de ata, a fim de gerar um maior comprometimento no cum-primento do acordado ou decidido.

6. Uma forma que já se comprovou eficaz na redução dos homicídios é a restrição do funciona-mento dos bares e estabelecimentos similares.

7. Seria oportuno que os Órgãos da Adminis-tração Superior do Ministério Público divulgas-sem, a todos os membros da classe, as atitudes adotadas pelos membros do Ministério Público de São Paulo na atuação como Agente Político, a fim de, além de propiciar o conhecimento e a qualifi-cação daqueles, a possibilidade de reproduzir tais atitudes.

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Grupos de Estudos

GE MAGALHÃES NORONHAARARAQUARA (reunião em 6 de maio de 2006)Palestrante: Augusto Nunes, jornalistaTema: O Ministério Público e a mídia na defe-sa do regime democrático

1. É imprescindível ao Brasil democrático a efetiva atuação do Ministério Público, nos ter-mos dispostos na Constituição Federal.2. Para que o Ministério Público possa cum-prir sua função de defensor do regime democrá-tico é imperiosa uma atuação despartidarizada da Instituição e de seus membros.3. A atuação da mídia também deve ser sem-pre despartidarizada. 4. A aprovação do projeto de lei da chama-da “Lei da Mordaça” deve ser combatida, pois representa grave obstáculo à defesa do regime democrático pelo Ministério Público.5. O Ministério Público deve utilizar-se da mídia para dar conhecimento à sociedade das suas atividades desempenhadas na defesa do re-gime democrático.

GE AMARO ALVES DE ALMEIDA FILHO

ABCD (reunião em 26 de abril de 2006)

Palestrante: Plínio Soares de Arruda Sampaio,

procurador de justiça aposentado e ex-Deputado

FederalDebatedor: Arthur Pinto Filho, promotor de jus-

tiça da Capital

Tema: O Ministério Público na defesa do regi-

me democrático

1. O Promotor de Justiça deverá conceder

efetividade à Constituição Federal, aprimorando

o desempenho das atribuições ministeriais nela

previstas, e construindo a ordem social nela pre-

conizada.2. O Ministério Público deverá estabelecer

diálogo formal com os movimentos sociais.

3. Para que se evite o desgaste da imagem da

instituição, o Promotor de Justiça deverá, sempre

que possível, reservar-se para pronunciamento,

estritamente, nos autos.

4. Quando o membro do Ministério Público

defende direitos sociais, das classes menos favo-

recidas, está defendendo o regime democrático.

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GE ADILSON RODRIGUESOSASCO/GUARULHOS (reunião em 9 de maio de 2006)Palestrantes: Jaqueline Lorenzetti Martinelli, pro-motora de justiça do Júri de Santo Amaro, e Rogério Bastos Arantes, Professor Doutor da PUC-SP e cientista político

Temas: Promotoria Comunitária e Ministério Público e a defesa do regime democrático1. O Ministério Público, sozinho, não tem respos-tas para solução da criminalidade, e nem tampouco os seus Chefes institucionais ou seus Promotores. 2. Somente o conjunto de experiências dos di-versos setores sociais possibilitará ao Promotor de Justiça conhecer os problemas enfrentados pela comunidade local e os limites estruturais e finan-ceiros dos órgãos públicos para resolvê-los.3. Essa vivência conjunta acarreta o comprometi-mento de todos os setores envolvidos com a questão maior – prevenção da criminalidade violenta, viabili-zando o surgimento de propostas criativas e respon-sáveis para a solução das questões enfrentadas.4. A Promotoria Comunitária, por ter como fun-damento para sua construção a abertura e a apro-ximação de seus Promotores para a comunidade e também para outros órgãos públicos, e como prio-ridade de atuação, as ações preventivas, é o mode-lo de Ministério Público que mais se aproxima da nossa missão constitucional de defesa do regime democrático.

5. A Promotoria Comunitária é uma filosofia de ser do Ministério Público: comprometido com a comunidade a que serve, e em busca de resultados efetivos para a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos.6. A Instituição do Ministério Público é política, mas o membro da instituição deve ser apartidário.

GE JOÃO SEVERINO DE OLIVEIRA PEREZ

ARAÇATUBA (reunião em 20 de maio de 2006)

Palestrantes: Arual Martins e Augusto Eduardo

de Souza Rossini, promotores de justiça do Júri de

Santo Amaro

Tema: Promotoria Comunitária

1. Se a Constituição Federal estabelece que

ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem

jurídica e do Estado Democrático de Direito, tor-

na-se obrigatória e essencial a atuação do Pro-

motor de Justiça na defesa dos direitos sociais das

camadas menos favorecidas da sociedade para

que assim se busque a erradicação da pobreza e

a garantia da dignidade da pessoa humana.

2. Tal atuação pode se traduzir em algumas

medidas práticas: a) priorizar atuações que se

concentrem na prevenção; b) aproximação dos

Promotores de Justiça com as lideranças da

comunidade; c) aproximação com outras insti-

tuições (PM, Polícia Civil, ONGs, Secretarias da

Saúde, Educação etc.); d) ocupar as lacunas da

atuação estatal para que o crime não as ocupe.

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Antonio Gusman Filho

Revista APMP em Reflexão

Necessidade Institucional

Grupo de Estudos – Necessidade Institucional

No dia 26 de abril, convidado pelos colegas Darcy

Paulillo dos Passos e Marisa Rocha Deshoulières, tive

a honra de assistir magna palestra proferida pelo emi-

nente Procurador de Justiça aposentado, Dr. Plínio

Soares de Arruda Sampaio, versando sobre “O Minis-

tério Público na Defesa do Regime Democrático”.

A perfeita climatização do salão do majestoso Mer-

cure Hotel Santo André, palco da agradável reunião

ordinária do Grupo de Estudos ABCD “Amaro Alves

de Almeida Filho” não conseguiu abafar o calor dos

debates disciplinados à luz das funções institucionais

do Ministério Público, traçadas no artigo 129 da Carta

Constitucional Brasileira, ali inseridas mercê do intenso

empenho de centenas de colegas da terra e alhures,

travados nos gabinetes dos Constituintes e Comissões

Legislativas, defendidas em plenário por ilustres próce-

res, dentre eles, nosso querido Plínio de Arruda Sam-

paio, então Deputado Federal Constituinte.

A par de explicitar curiosidades e narrar pitores-

cas estórias ligadas especificamente ao capítulo do

Ministério Público que antecederam a formatação

da “Constituição Cidadã”, Plínio concitou todos a se

aprofundarem nas entrelinhas do texto regente, não

nos omitindo, jamais, na efetiva realização das rele-

vantes funções ali enumeradas.

Darcy Paulillo, com aquela verve peculiar, apoiado

em sua farta experiência e notória sapiência das coisas

ministeriais, intensificou os debates científicos em tor-

no do tema, ensejando ao colega Arthur, ali nomeado

debatedor, não só ampliar a agradável temática, como

também com o apoio da colega Marisa e da efetiva par-

ticipação do seleto auditório, levou-nos a repensar um

Ministério Público ideológica e materialmente grande,

relembrando lideranças arrojadas que fizeram a pu-

jança da Instituição, despertando assim em seus no-

vos membros a altivez e o orgulho de ser Promotor de

Justiça, efetivo defensor da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indis-

poníveis, na mais completa acepção do termo.

A magnífica noite, encerrada com lauto jantar, prece-

dido por preciosas informações da APMP, trazidas pelo

colega Paulo Roberto Dias Jr., certamente seria mais

produtiva e festiva se ali estivessem maior numero de

colegas militantes na Comarca e outras próximas, inclu-

sive os aposentados que residem na região do Grande

ABCDMR e adjacências, que ainda há pouco entrinchei-

rados, tantas honras carrearam à nossa Instituição.

Penso que os Grupos de Estudos, autônomos

em relação à Instituição, quanto em relação à APMP

(embora esta lhe assegure a infra-estrutura), devem

ser incentivados pela Procuradoria-Geral, como um

braço avançado da Escola Superior do Ministério Pú-

blico, mormente porque, para os colegas da ativa, na

esteira do art. 1º do Ato nº. 01/03 da CGMP, a coor-

denadoria do evento envia, por ofício, cópia da ata da

reunião à CGMP, que por sua vez anota a presença

do PJ no respectivo prontuário, conferindo aos par-

ticipantes dos debates e das conclusões temáticas,

pontuação a ser considerada para sua indicação à

promoção na carreira, pelo critério de merecimento.

Por seu turno, os aposentados, com suas fantásti-

cas experiências vividas ao longo dos anos, além do

agradável reencontro com os colegas, poderão enri-

quecer os debates desses Grupos de Estudos, forta-

lecendo a índole guerreira dos partícipes mais jovens,

trazendo-lhes novo alento para que, por mais dificul-

toso que seja o momento, cumpram e façam cumprir

as funções institucionais do Ministério Público, tema

debatido na frutífera reunião de 26 de abril, do Grupo

de Estudos do ABCD Amaro Alves de Almeida Filho.

Parabéns aos colegas organizadores e aos ilustres

participantes, entre eles, o Juiz Sérgio Noburo Saka-

gawa, Diretor do Fórum da Comarca de São Caetano

do Sul, que prestigiou a Instituição, na companhia dos

colegas Marisa, Maria Isabel e Luiz Marcelo Bassi,

atuantes naquela casa de Justiça.

São Caetano do Sul, 28 de abril de 2006.

Antonio Gusman Filho Procurador de Justiça aposentado.

A presença de todos nos Grupos de Estudos é fun-damental para que o Ministério Público de São Paulo nunca deixe de evoluir.

Sensível a essa necessidade, o associado Antonio Gusman Filho, procurador de justiça aposentado, en-viou e-mail à APMP com breve texto, cujo objetivo de-clarado seria o de “despertar nos colegas da ativa e

Participar é preciso! aposentados, o gosto e a vantagem da participação nos debates dos Grupos de Estudo”.

Agradecemos ao nosso associado a contribuição e esperamos que suas palavras de fato sirvam como in-centivo a todos aqueles que não têm experimentado a emoção e a alegria de freqüentar as reuniões de Gru-pos de Estudos.

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Grupos de Estudos

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Eles não eram associados da APMP.

Não perca a chance de divulgar a sua no Lançamento de Livros APMP 2006!

Inscreva sua obra literária, de tema jurídico ou não, até 14 de julho de 2006,com os funcionários Claúdia, Gesani ou Danilo,

na Sede Executiva da APMP ou pelo telefone (11) 3188 6464.

Sabe qual a razão de Gustave Flaubert, James Joyce, Friedrich Nietzsche e Franz Kafka

não terem suas obras reconhecidas em vida?

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A APMP e o FUSSESP se unem novamente para resgatar a dignidade

Promotores de Justiça

A Campanha do Agasalho 2006, lançada no úl-timo dia 10 de maio no Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, conta com o apoio de diversos órgãos go-vernamentais, empresas privadas, imprensa e socieda-de civil.

A Campanha, que arrecadou 18 milhões de aga-salhos em 2005, tem no comando a primeira-dama do Estado de São Paulo, Renéa Lembo.

A meta para este ano é bater todos os recordes.Para isso, diversos pontos de arrecadação estão

em funcionamento. As doações poderão ser feitas até o dia 10 de julho.

A APMP disponibilizou toda a sua estrutura física e humana para fomentar a arrecadação: sedes da Riachuelo, Barra Funda, Manoel da Nóbrega, Campestre e Litorânea, além de todas as regionais, para

receber doações até 30 de junho. Trabalhará, ainda, com pontos vo-

lantes nos eventos que promover. O Fundo Social, que conta com

programas assistenciais destinados também a outros públicos, como idosos,

crianças e pessoas portadoras de necessi-dades especiais, tem como princípio básico estimular a conscientização social por meio da participação da sociedade. Para a presidente do FUSSESP, o enfoque

da Instituição é o investimento nas pessoas. “Anu-

(...) além do desenvolvimento de campanhas de arrecadação, há o direcionamento para programas de emprego e renda, formação em cursos de bordado, pedraria, entre outros. São mais de 2.500 entidades e associações de bairro cadastradas e beneficiadas pelos projetos.

(e também de solidariedade!)

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almente, o Fundo Social tem ações pontuais que constituem projetos de conscientização e arrecada-ção; um incentivo à solidariedade”, explica.

De acordo com Renéa Lembo, iniciativas como estas são de extrema importância, pois mobilizam diversas camadas da sociedade paulista. Entre as ati-vidades diárias do Fundo, além do desenvolvimento de campanhas de arrecadação, há o direcionamento para programas de emprego e renda, formação em cursos de bordado, pedraria, entre outros. São mais de 2.500 entidades e associações de bairro cadas-

tradas e beneficiadas pelos projetos.Sobre a Campanha do Agasalho, a pri-meira-dama aponta o resultado posi-

tivo do trabalho. “Ano após ano, a Campanha do Agasalho supera

seus próprios recordes. Porém, nossa meta não é apenas a superação desses índices; é atender a uma maior quantidade de pessoas necessitadas. Neste ano celebramos parceria iné-dita com a Pre-feitura da Ca-pital. Com isso,

houve ampliação dos locais de arre-

cadação. Esperamos, então, atingir número

significativo de entidades e prestar melhor atendimento

às pessoas que vivem nas ruas”.Todos os artigos arrecadados com a

Campanha do Agasalho serão distribuídos para as entidades cadastradas no Fundo Social de Solidariedade. Municípios de

“Ano após ano, a Campanha do Agasalho supera seus próprios recordes. Porém, nossa meta não é apenas a superação desses índices; é atender a uma maior quantidade de pessoas necessitadas”. (Renéa Lembo)

baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) e com maiores carências também serão assistidos. As doações podem ser feitas nos principais pontos de arrecadação disponibilizados no site oficial da cam-panha: www.campanhadoagasalho.sp.gov.br e nos locais divulgados pela APMP.

Seja você também um promotor de solidariedade!

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Psicologia Evolut iva:A reprodução como condição para a vida

A vida em nosso planeta teria começado a partir de moléculas que desenvolveram a capacidade de se reproduzir. Essas moléculas cresceram, ga-nharam complexidade e formaram as primei-ras células. Os organismos hoje existentes são o resultado de centenas de milhões de anos de evolução de mecanismos de repro-dução que ocorrem nas moléculas que for-mam nossos genes. O princípio elementar da vida é, portanto, o da replicação.

Do ponto de vista biológico, todo ser vivo nasce para cumprir uma missão: ga-rantir sua sobrevivência até a procriação. An-tes de morrer, sua missão só será bem-sucedida se deixar um sucessor apto a levar adiante a mesma missão. Os biólogos já afirmam que todo o organismo existe apenas para garantir a perpetuação das células germinativas através da reprodução.

É preciso insistir nesse ponto para destacar que cada ser vivo só existe hoje porque seus ancestrais, através de milhares de gerações, foram capazes de se reproduzir. A vida não prossegue sem indivíduos aptos para a repro-dução. Cada espécie, sem exceção, depende e sempre dependeu de sua capacidade de sobreviver o bastante para gerar descendentes com essa mesma capacidade.

Cumprir o que estou chamando de “missão biológi-ca” não é simples. Cada indivíduo precisa sobreviver até atingir a fase de maturidade sexual e conseguir procriar. Em algumas espécies, não basta apenas procriar, os genitores ainda precisam se dedicar a seus filhos durante o estágio inicial de suas existên-cias até que eles estejam aptos a recomeçar o ciclo.

O darwinismo e as diferentes estratégias de sobrevivência

Para se adaptar às condições de seus habitats, como constatou Darwin, as espécies adquirem e preservam

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APMP Ciência

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Psicologia Evolut iva:características diferentes. Desse modo, em qualquer ser vivo que observarmos, seja uma planta, um peixe ou um mamífero, vamos encontrar diferentes mecanismos que

lhe permite sobreviver a fim de que possa se repro-duzir. O mimetismo, o veneno, o radar, as garras,

as presas e as asas são exemplos dos varia-dos fenótipos que milhares de gerações

das diversas espécies desenvolve-ram, através da seleção natural,

para manter a aptidão de so-breviver para gerar descen-

dentes.Sei que essa perspec-

tiva não é muito român-tica, e que a idéia de que a compartilhamos com

minhocas, samambaias e zebras não vai agradar a quem está acostumado aos discursos antropocêntricos, mas é certo que o ser huma-

no não é exceção a essa regra, pois também desenvolveu-se em função de sua capacidade de cumprir a mesma missão biológica: ser eficiente para so-breviver e se reproduzir. E, pros-seguindo o raciocínio a partir dessa lógica, chegamos a uma pergunta essencial: quais são as

características que permitiram a sobrevivência do homo sapiens

por inúmeras gerações? Sabemos que a girafa tem sua altura para per-

mitir que se alimente de folhas nos ga-lhos no topo das acácias, que a gazela tem

sua velocidade para fugir dos predadores, e que a cobra usa seu veneno para intimidar seus inimigos

e imobilizar suas presas. E nós? O que permite nossa so-brevivência? Qual a razão do nosso sucesso evolutivo? (que não é pequeno, visto que nos adaptamos aos mais diversos habitats em quase todos os continentes.)

Homo sapiens: o cérebro faz a diferença

A resposta é cérebro. Comparados com outros ani-mais, possuímos um cérebro imensamente grande em relação ao tamanho de nosso corpo, e que nos dá ha-bilidades únicas. Para entender o sucesso evolutivo do ser humano é preciso entender melhor de que maneira o cérebro vem nos ajudando a conseguir êxito em nos-sa missão biológica.

É o cérebro que comanda nosso comportamento, e isso é também verdadeiro para outros animais, pois a sobrevivência na natureza depende, e muito, do com-portamento. É preciso saber onde procurar alimentos e água, como evitar predadores e alimentos venenosos, é preciso saber como se comportar para conseguir um parceiro sexual, é preciso saber como cuidar de nossos filhos para que eles sobrevivam. Para a girafa, não lhe basta ser alta, ela deve também saber aonde ir para en-contrar as acácias. A leoa possui tamanho, cor, garras e presas que a ajudam a caçar, mas se não souber onde encontrar as presas, e como emboscá-las, sua caçada não terá sucesso. A etologia é uma ciência que estuda justamente o comportamento dos animais, que não é aleatório, mas propositalmente destinado a ajudá-lo a cumprir a velha missão da sobrevivência e procriação. Em suma, sobreviver depende de decisões, e quem as toma é o cérebro.

como a natureza programou o cérebro humano

João Lopes Guimarães Júnior

Do ponto de vista biológico, todo ser vivo nasce para cumprir uma missão: garantir sua sobrevivência até a procriação. Antes de morrer, sua missão só será bem-sucedida se deixar um sucessor apto a levar adiante a mesma missão.

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Pois bem, a essa altura estamos ra-ciocinando a partir da constatação de que os humanos desenvolve-ram um cérebro muito sofisti-cado para permitir-lhes adotar comportamentos úteis para sobreviver, procriar e cuidar de seus filhos (porque, ao contrário das tartarugas marinhas, nossas crias não nascem capazes de sobre-viver sem cuidados alheios).

Mas, lembremos que a civilização é fenômeno muito recente em nossa história evolu-tiva. Basta pensar que nos separamos do chimpanzé há seis milhões de anos e começamos a desenvolver a agricultura há apenas dez mil anos. E, durante todo esse longo in-tervalo, as mudanças evolutivas que culminaram no homo sapiens ocorreram para possibilitar um modus vivendi primitivo, em pequenos bandos que sobre-viviam nas savanas da África como caçadores - co-letores, e até como carniceiros. Ou seja, a natureza nos desenhou, através do processo evolutivo, para nos dotar das aptidões necessárias para aquele esti-lo de vida naquele ambiente. Não somos bons nada-dores, nem destacados velocistas. Não sabemos voar, nosso organismo não produz veneno. Não dispomos de garras ou presas afiadas. Nossas mandíbulas são fracas. O que nos salva é a inteligência. Um zoólogo diria que somos mamíferos cujas deficiências físicas foram compensadas por um cérebro excepcional. E uma coisa foi levando a outra: esse cérebro permitiu o desenvolvimento de formas sofisticadas de racio-cínio e comunicação (a fala), que, por sua vez, lhe permitiram produzir formas sofisticadas de coope-ração social, que, por seu turno, levaram à produção de tecnologia (ferramentas de pedra e domínio do fogo, por exemplo).

Espero não estar passando a idéia errada de que tudo ocorreu de forma muito simples. A história da vida na Terra registra o fracasso evolutivo de inúmeras espécies que não foram capazes de so-breviver. Há registros fósseis de várias espécies de hominídeos que, por alguma razão, em determina-do momento, deixaram de existir. São linhagens de parentes colaterais do homem moderno que não conseguiram superar as dificuldades impostas pela natureza e simplesmente se extinguiram. Os ne-andertais, por exemplo, desapareceram há 30 mil anos.

O cérebro, as habilidades sociais e outras habilidades

É impossível explicar o sucesso de algumas espécies sem considerar os benefícios decorrentes da socializa-ção. Ao examinar a natureza, constatamos que algu-mas das mais bem-sucedidas, como formigas e cupins, são igualmente aquelas que desenvolveram sociedades extremamente organizadas e disciplinadas, com estra-tégias para obtenção de alimentos, reprodução e defe-sa baseadas na cooperação.

O sucesso evolutivo do homem só foi possível em razão de sua natureza gregária. A sobrevivência da nossa espécie depende diretamente da cooperação en-tre as pessoas. Viver em sociedade organizada para a ajuda recíproca é antes de tudo uma necessidade. Des-de o nascimento até a velhice, dependemos da ajuda alheia. As estratégias de aprendizado, de produção de alimentos, de defesa, de assistência aos doentes e aos idosos dependem todas de redes de altruísmo recíproco que se formam dentro de uma sociedade.

Todo ser humano, portanto, deve nascer dotado de habilidades para a socialização. Dependemos dessa ca-pacidade como a águia depende de sua aptidão para voar. E, como o processo de socialização ocorre através da interação com outros indivíduos, ou seja, por meio de comportamento, é no cérebro que devemos procurar a origem dessas habilidades.

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APMP Ciência

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Pensemos mais detidamente na vida de uma pes-soa (ou de nosso bisavô hominídeo, se você preferir) no seio de um bando numa savana africana. De que maneira seu cérebro deve guiá-lo para comportar-se adequadamente a fim de que consiga sobreviver e pro-criar uma cria que vingue?

Em primeiro lugar, comer. Cada indivíduo aprende a encontrar, identificar e preparar os alimentos com ou-tros membros do grupo. É preciso, portanto, dominar a linguagem para estar apto ao aprendizado e para man-ter, com os demais, uma relação de confiança e coope-ração, de modo que sempre estejam disponíveis para o ensino e a troca de informações. Os laços de parentes-cos reforçam essa relação, criando núcleos familiares. Para obter carne é preciso caçar, e o sucesso da caça-da é mais provável se vários caçadores se unirem para procurar e combinar estratégias para emboscar a presa (mesmo para os carniceiros, é preciso organização para encontrar a carniça e disputá-la com outros animais). E vale lembrar que o bom relacionamento entre os ca-çadores é essencial no momento da partilha.

Mas para sobreviver não basta comer. É preciso evi-tar os perigos (feras e animais venenosos, por exemplo, mas também bandos rivais), curar as doenças, construir abrigos. E aqui também a cooperação é fundamental e as pessoas mais velhas e mais experientes saberão ensinar o que fazer em cada situação.

Se a sobrevivência estiver garantida, resta a segunda parte da missão biológica: a procriação. E, para isso, é preciso conquistar um parceiro do sexo oposto. Durante a corte será necessário exibir as qualidades desejadas por esse parceiro. Resta, por fim, saber como garantir que seu filho sobreviverá, crescendo sadio e capaz de aprender as mesmas habilidades para repetir a missão.

O bom êxito da missão biológica exige assim uma quantidade razoável de habilidades, e é de se esperar que nosso cérebro nos forneça as respectivas potencialidades.

Para melhor compreensão, proponho uma comparação. Se você está indo acampar na selva, ao preparar sua baga-gem procurará equipar-se com vários instrumentos, cada qual eficiente para satisfazer as necessidades que surgirão, como um canivete, um cantil, um fogareiro, uma lan-terna, uma barraca, remédios etc. Algo seme-lhante ocorreu com o homo sapiens, que foi “equipado” pela evo-lução com diversas ap t i dões

necessárias à sua missão biológica: medo, coragem, vaida-de, ambição, agressividade, espírito de cooperação, egoísmo etc., tudo para ser usado na hora certa, na medida exata, em suas relações cotidianas com os demais membros de seu bando. O cérebro, nessa perspectiva, não seria apenas um hardware, pois possui também um programa, um sof-tware que nos confere habilidades específicas (a aptidão básica é a da linguagem, que pode ser constatada em uma criança de apenas dois anos que, sem nenhum esforço es-pecial, aprende a falar naturalmente, deduzindo sozinha as regras gramaticais do idioma de seus pais).

Feitas essa considerações, já podemos concluir que, para sobreviver e procriar uma cria que vingue, temos que dispor de um cérebro que nos dê, entre outras, as seguintes aptidões: 1) aprender a falar; 2) ter medo, para evitar situações de perigo; 3) ter coragem, para enfrentar situações quando o perigo for inevitável; 4) ser capaz de cooperar com os outros, estabelecendo re-lações de ajuda recíproca; 5) ser pacificador, para evitar conflitos sociais que comprometam as relações de au-xílio mútuo; 6) ser vaidoso, para atrair a atenção de alguém do sexo oposto; 7) praticar o nepotismo (no sentido biológico), para se dedicar aos filhos etc.

Não somos bons nadadores, nem destacados velocistas. Não sabemos voar, nosso organismo não produz veneno. Não dispomos de garras ou presas afiadas. Nossas mandíbulas são fracas. O que nos salva é a inteligência.

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Vamos a um exemplo interessante de como a nature-za nos preparou para a sobrevivência. Um pedaço de car-ne podre causa em qualquer pessoa uma reação de nojo. Seu cheiro será desagradável e a idéia de comê-la será rejeitada com boa dose de asco. Pois bem, essa reação é resultado da evolução de nosso cérebro, que a desen-cadeia em benefício de nossa sobrevivência: a ingestão daquela carne infectada muito provavelmente provoca-ria uma doença que poderia ser fatal. Comandado por nosso cérebro, nosso olfato nos protege, acionando um sistema sensorial inato e irracional eficiente para provo-car uma reação capaz de salvar a vida mesmo daquele que nada sabe sobre microbiologia. Mais um exemplo: a tendência que temos para o medo de cobra. Num am-biente selvagem, quem evita contato com répteis que podem ser venenosos tem mais chances de sobreviver. E o medo, determinado pelo cérebro, nos ajuda a evitá-los, salvando uma vez mais a nossa vida. (É curioso que tal medo, por estar em nossos genes, persiste mesmo para alguém que, vivendo hoje numa grande metrópole, já não mais necessitaria recear o ataque dos répteis.)

A psicologia evolutiva procura justamente encontrar em nosso cérebro as aptidões que foram engendradas pelo processo evolutivo para permitir a sobrevivência e a procriação. Parte, pois, da premissa de que somos biologicamente dotados de mecanismos inatos que favorecem aptidões cognitivas e de socialização úteis para atender necessidades de sobrevivência. E reco-nhece que esses mecanismos inatos são resultantes de um processo de seleção natural que ocorreu na África, em estilo de vida primitivo, em bandos de caçadores - coletores. Em outras palavras, durante milhões de anos

antes da civilização desenvolvemos um cérebro poten-cialmente capaz de determinar nosso comportamento de acordo com os imperativos da missão sobrevivên-cia-reprodução num estilo de vida caçador-coletor.

A partir daqui, vamos procurar algumas conseqüên-cias e constatações possíveis, abordando algumas de nos-sas características comportamentais.

Aspecto marcante da psique humana, segundo os es-tudiosos da psicologia evolutiva, é o chamado altruísmo recíproco. Impossibilitado de sobreviver sem ajuda alheia, o ser humano faz da cooperação uma condição para a sobrevivência. Ajudar os outros é preciso, na me-dida em que só assim os outros me ajudarão. A expectativa da contrapartida é fundamental nessa lógica. Por isso, nossa generosidade é aplicada seletivamente em nome de inte-resses específicos. Nossas emoções, como a solidariedade, a gratidão, a culpa e a raiva, são meios de garantir que nossos esforços serão compensados, eliminando-se o ris-co de sermos explorados por trapaceiros. Nossa inteligência e memória estão pro-gramadas para acumular conhecimento sobre os indivíduos ao nosso redor a fim de distinguir aqueles que são cooperativos daqueles que não são. Identificar as pes-soas oportunistas e ser identificado como não-oportunista é vantajoso para o sucesso na sociedade (e, nessa perspectiva, a onipresen-te fofoca, útil para fornecer informações sobre o caráter alheio, é fundamental). E ainda, nossa capa-

Do ponto de vista feminino, o parceiro desejado, além de belo (ou seja, saudável), deve ser fiel. Aqui também não são razões morais que contam. A cooperação paterna é indispensável para aumentar a probabilidade de que o filho atinja a idade adulta com saúde e aprendizado, e um marido fiel e monogâmico é melhor porque dedicará toda sua energia na criação daquela única prole.

A idéia básica é a de que, no curso do processo evolutivo, os indivíduos com a tendência de apresentar determinado comportamento, que mais eficientemente respondia aos imperativos da sobrevivência e da reprodução, em geral foram melhor sucedidos, perpetuando essa tendência através de seus genes.

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cidade de prever as reações das outras pessoas em diversas situações, através do raciocínio, nos ajuda a evitar conflitos e a estabelecer relações vantajosas.

No que toca à reprodução, assim como outros ani-mais, o ser humano tem a tendência de desenvolver gra-duações hierárquicas, sendo certo que aqueles melhor

colocados no ranking, os de mais elevado status, têm maiores

chances reprodutivas. Se olharmos ao

nosso redor, de fato é fácil

consta-tar que

bicioso terá maior probabilidade de subir na hierarquia social, e esse destaque despertará a atenção do sexo oposto (os chimpanzés, nossos parentes mais próximos, adotam essa rígida hierarquia, que tem no cume o cha-mado “macho alfa”, não por acaso aquele que tem pre-ferência para acasalar com o maior número de fêmeas).

Ainda no que concerne à reprodução, é possível identificar a mão da seleção natural em outros aspec-tos de nosso comportamento. Assim como as fêmeas de diversas espécies que praticam a chamada “seleção sexual” (pense na fêmea do pavão), temos nós a mes-ma tendência de escolher nossos parceiros sexuais pela aparência, e assim agindo estamos dando preferência, inconscientemente, àqueles que se apresentam mais saudáveis. Isso porque o padrão de beleza nos hu-manos privilegia muito a simetria dos traços físicos, que é um sinal externo de saúde. Já as mulheres de aparência jovem e cintura fina tendem a ser mais atraentes para os homens porque apresentam indícios físicos de fertili-dade. É possível identificar uma pressão evolutiva favorável a essas escolhas.

Mas não é só a aparência que conta. Ainda na lógica da repro-dução, há outros importantes fatores a considerar. Para o ho-mem, é fundamental evitar a mulher promíscua, não por razões morais (que são culturalmen-te construídas), mas por razões bioló-gicas: ela repre-senta o risco de que outro ho-mem poderá vir a ser o pai de seus filhos.

a hierarquia está por toda

parte: nas for-ças armadas, nas empresas, nos

esportes, nas colunas sociais. Há sempre pessoas em evidência, e que se esforçam muito para alcançar o destaque em seu meio, porque sabem que há um prêmio para os vencedores (até mesmo no submundo do crime, a lógica funciona: a um traficante de prestígio não faltará o assédio de mulheres).

Os sentimentos de vaidade e ambição podem ser ex-plicados nesse contexto. O indivíduo mais vaidoso e am-

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E nossa missão biológica nos guia a ter filhos próprios, que carre-guem nossos próprios genes. Resultado, o homem que procu-ra para casar uma mulher jovem, bonita, fiel, de cintura fina e qua-dris largos (você conhece algum?) está atendendo a um impulso que é lógico na perspectiva pragmática da reprodução.

Do ponto de vista feminino, o parceiro desejado, além de belo (ou seja, saudável), deve ser fiel. Aqui também não são razões morais que contam. A cooperação paterna é indispensável para aumentar a probabilidade de que o filho atinja a idade adulta com saúde e aprendizado, e um marido fiel e monogâmico é melhor porque dedicará toda sua energia na criação daquela única prole. Pela mesma ra-zão, ele deverá ser um bom provedor. Ou seja, a mulher que deseja um marido bonito, fiel e rico (você conhece alguma?) está agindo de acordo com uma lógica an-cestral que faz sentido do ponto de vista biológico.

Todo esse raciocínio traz também uma boa explicação para o ciúme, afinal, nem o homem, nem a mulher quer que seu parceiro ou parceira se desvie do mesmo objetivo: gerar e criar com sucesso seus descendentes. Por isso, ainda, a quase totalidade das sociedades humanas é monogâmica.

Uma advertência aqui é importante. Estamos sim sujeitos a impulsos inatos que nos direcionam a so-breviver e a procriar, mas todavia não agimos cons-

A idéia de que somos animais programados para agir segundo instintos para cumprir uma missão biológica que se esgota na reprodução é de fato assustadora. Assustadora porque amoral; assustadora porque determinista.

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cientes dessa missão. Não se trata, é claro, de cumprir intencionalmente uma ordem emitida nesse sentido. É preciso considerar, portanto, que mesmo quando agi-mos, direta ou indiretamente, em busca desses objeti-vos, quase nunca o fazemos conscientemente. Nossas escolhas são instintivas, atendem a impulsos inatos, sem que nos demos conta de que pode haver uma boa explicação para que sejamos ciumentos, vaidosos, me-drosos e até fofoqueiros. A idéia básica é a de que, no curso do processo evolutivo, os indivíduos com a tendência de apresentar determinado comportamento, que mais eficientemente respondia aos imperativos da sobrevivência e da reprodução, em geral foram melhor sucedidos, perpetuando essa tendência através de seus genes (e aqui vale lembrar que a psicologia evoluti-va aceita a possibilidade da transmissão genética de tendências comportamentais). Assim, para tomar um exemplo, um casal que dedica bastante energia aos cuidados com seus filhos terá maior probabilidade de ver seus descendentes atingir a idade adulta, e é de se esperar que seus filhos herdem geneticamente essa mesma característica e sejam, também eles, pais de-dicados, e assim por diante, a cada geração, porque o nepotismo é um comportamento que pode interferir na probabilidade do sucesso reprodutivo.

Entre o divino e o bestialPara encerrar, algumas reflexões importantes quando se

pensa na psicologia evolutiva. A idéia de que somos ani-mais programados para agir segundo instintos para cum-prir uma missão biológica que se esgota na reprodução é de fato assustadora. Assustadora porque amoral; assustadora porque determinista. Um psicólogo chegou a afirmar que “a seleção natural é o processo moralmente indiferente no qual os replicadores mais eficazes se reproduzem mais do que as alternativas e acabam por prevalecer na população” (Pinker, Tábula Rasa, p. 83). Segundo outro autor, “somos construídos para sermos animais eficientes, e não felizes” (Ridley, Origens da Virtude, p. 160). Nossa linguagem e in-teligência seriam, portanto, meros instrumentos para ma-nipular pessoas em nosso proveito. Os primeiros estudiosos da psicologia evolutiva (ou sociobiologia) foram acusados de reducionistas e suas idéias, fundadas na aceitação da influência dos genes no comportamento, consideradas re-acionárias, quando não fascistas ou racistas porque pode-riam respaldar propostas de eugenia.

Seria realmente mais confortável pensar que o lugar do darwinismo é a selva. Quando nos olhamos no espe-lho, queremos enxergar um ser mais próximo do divino, e não alguém bestializado. Queremos bater no próprio peito e proclamar, orgulhosos, que agimos sempre de livre arbítrio segundo uma escala de valores eleita pela razão e pela consciência.

Todavia, como a interferência do processo de sele-ção natural pode ser constatada em todos os seres vivos, é mais do que razoável supor que a evolução de nosso cérebro, não só no tamanho, mas também no modo de funcionar, sofreu a ação desse mesmo processo adapta-tivo, e que assim adquirimos a tendência de agir segun-do a lógica da geração de descendentes. Mas, por outro lado, não são menos evidentes a complexidade do ser humano e as peculiaridades que o distinguem dos outros animais. Algumas de suas características, como a com-paixão, o luto, a sabedoria, a curiosidade, a fé, o remor-so, o humor e a criatividade artística desafiam qualquer explicação científica e abrem caminho para um intri-gante mistério. A sabida influência da criação (formação educativa e influência do meio social), a ingerência psi-cológica do inconsciente e a abertura para assimilação de valores morais, por outro lado, comprovam que não nos reduzimos a animais deterministicamente adestra-dos para executar um projeto inato. Agimos contra a ex-pectativa determinista quando adotamos um filho sem nenhuma relação de parentesco e quando ajudamos anonimamente um estranho. Existe sim um paradoxo, pois somos, ao mesmo tempo, previsíveis e imprevisíveis. Somos influenciados, simultaneamente, por sentimentos humanos universais e por idiossincrasias, que são sem-pre pessoais. Seja qual for a convicção do leitor, é certo que a psicologia evolutiva traz, no mínimo, interessan-tes respostas para explicar muitos de nossos comporta-mentos, num curioso momento de nossa história, já que, num espaço de tempo extremamente curto do ponto de vista evolutivo (cerca de sessenta mil anos), saímos das savanas da África para o cativeiro da civilização.

Para quem se interessar pelo assunto, há bons li-vros em português. “O gene egoísta” (Editora Itatiaia), de Richard Dawkins, zoólogo e etólogo de Oxford, é considerado um clássico, porque propõe a teoria de que todos os seres vivos seriam, em determinada me-dida, instrumentos a serviço da procriação, ou seja, da perpetuação de seus genes pelas gerações seguintes. Há dois livros interessantíssimos de Matt Ridley, zoó-logo e editor de ciência da Economist: “As origens da virtude - Um estudo biológico da solidariedade” (ed. Record) e “O que nos faz humanos - genes natureza e experiência” (ed. Record). Outro livro importante é “Tábula rasa - a negação contemporânea da natureza humana” (Cia. da Letras), de Steven Pinker, psicólogo de Harvard. Esse livro é perturbador pela contundência dos argumentos que provariam nosso comportamento, digamos, instintivo. De Robert Wright, vale a pena ler “O Animal Moral” (ed. Campus).

Uma lista mais completa, de obras em inglês, para os realmente interessados, está na página www.psych.ucsb.edu/research/cep/reading.html.

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O turismo é uma das maiores indústrias do mundo. Evidentemente, o país mais industrializado do plane-ta investe pesado no setor, certo? Certíssimo!

Conheça as três maiores histórias do sucesso (e do investimento) americano neste setor e, como nós, morra de decepção ao vermos as paradisíacas praias, a riqueza cultural e a diversidade de paisagens mal aproveitadas no Brasil.

3 formas de ver os EUA

Califórnia, NY e Orlando Imagens e histórias captadas pelas lentes do cinema

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APMP Destinos

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Califórnia, NY e Orlando Imagens e histórias captadas pelas lentes do cinema

Nova York, a mais cosmopolita das cidades americanas

Nova York era habitada por nativos americanos quando descoberta por um italiano (Verrazano) e foi colonizada por um inglês (Hudson) a serviço dos holandeses.

Ao longo do tempo, a cidade, outrora Nova Amsterdã, continuou a sofrer influência de quase todas as etnias existentes no planeta.

Repetiu mais ou menos a história de Roma, que atraía grande variedade de imigrantes e, ao final, trans-mutou-se numa metrópole absolutamente singular.

A divisão de forças étnicas da “Big Apple” propi-ciou atritos entre diversas culturas, que foram re-tratadas com maestria no cinema em filmes como Chinatown e Gangues de Nova York.

Pode-se afirmar com absoluta segurança que a grande vencedora dessas lutas foi a própria cultura da cidade, amalgamada literalmente com o sangue dos imigrantes.

Um passeio diferenteCaminhar por Manhattan é o melhor modo

de conhecer a cultura miscigenada desta cidade-país-mundo.

Parece exagero? A sede das Nações Unidas, projetada por

uma equipe de arquitetos que incluiu Oscar Niemeyer, traz diariamente representan-tes de quase todas as nações do planeta.

OK, isso é fruto do poderio militar da mais bélica das nações, do desequilíbrio de forças políticas e toda a sorte de ar-gumentos repletos de profundidade. Uma

coisa, porém, é inconteste: isso traz um ar ab-solutamente heterogêneo para a cidade.

Aproveitando-se desta verdadeira “globaliza-ção concentrada”, sugerimos ao lado um pequeno

roteiro turístico-cinematográfico, que agrega às atrações amplamente conhecidas um pouco do que Nova York esconde em cada uma de suas esquinas.

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EMPIRE STATE

BUILDING

(SINTONIA DE

AMOR)

CENTRAL PARk(ESQUECERAM DE MIM 2)

ESTÁTUA DA LIBERDADE(O DIA DEPOIS DE AMANHÃ)

ONU(A INTÉRPRETE)

PASSEIO DE BARCO(CIRCLE LINE AT 42 ST)(UM DIA ESPECIAL)

WASHINGTON

SQUARE

(DESCALÇOS

NO PARQUE)

LITTLE ITALy(O PODEROSO CHEFÃO)

SOHO(CONTOS DE NOVA yORk)

CHINATOWN(O ANO DO DRAGÃO)

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APMP Destinos

CalifórniaA luta pela conquista do Oeste valeu a

pena (ao menos para os Estados Unidos!).É claro que os mexicanos, os siouxs e

todos os povos “atropelados” pelas loco-motivas norte-americanas não concor-dam com a afirmação. E o estado que mais representa a obsessão americana representada pela “Corrida do Ouro” é a Califórnia.

Na Califórnia de hoje está a nata das grandes preciosidades dos Estados Unidos: o cinema, o turismo e a alta tecnologia.

Separamos abaixo alguns filmes que mos-tram um pouco da importância deste rico pedaço de solo americano.

LOMBARD STREET (VERTIGO)

SAN FRANCISCO:

LOS ANGELES:

POLICIAL(LOS ANGELES CIDADE PROIBIDA)

FICÇÃO(FUGA DE LOS ANGELES)

DRAMA

(L.A. STORy)

GOLDEN GATE(X-MEN 3)

ALCATRAZ(ALCATRAZ, FUGA IMPOSSíVEL.)

BONDINHOS(A ROCHA)

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Flórida De um imenso pântano, surge o maior centro turístico do mundo.

Clima agradável, água em abundância e um sonho. Antes destes três elementos serem sintetizados por Walt Disney, ninguém imaginava que o maior centro de diversões do planeta brotaria no coração da Flórida. Tanto que o hectare de terra quintuplicou imediatamente após a aquisição pelo visionário empresário do entretenimento.

Deste modo, Orlando tornou-se uma das provas cabais de que, mesmo quando se fala em “business”, é preciso ousar.

E de como, para ousar, não se pode abrir mão da capacidade de sonhar.

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“No futuro, todos serão famosos por 15 minutos.”

Andy Warhol

Só que a fama de Andy Warhol já dura mais de 40 anos!

Considerado um dos expoentes e pre-cursores da Pop Art, seus quadros, mis-turando fotografia com símbolos da publicidade, tor-naram-se verda-deiros ícones do século XX: quem não se lembra dos seus trabalhos com as sopas Campbell, Coca-Cola e Marilyn Monroe?

Seus temas favoritos eram os retratos, espe-cialmente de celebridades. Elvis Presley e Marilyn Monroe, por exemplo, ganharam artificialidade e colorido exagerados. No caso das mulheres, ele res-saltava a boca. Nos homens, sua obra procurava o torso nu.

Outra marca da obra “warholiana” é a repeti-ção quase obsessiva de uma mesma imagem. Esse procedimento alude à sociedade de consumo fú-til e superficial: a repetição da forma esvazia seu conteúdo.

Pessoas e objetos tornam-se meros discursos cromáti-cos. Talvez esse aspecto na obra de Warhol não fique muito claro para um ob-servador desatento, mas isso não reduz sua im-portância.

Para entendermos melhor a coerência des-se método, vamos ima-

ginar o que acontece na televisão. A repetição de imagens de miséria e violência banaliza esses dois assuntos. Os noticiários nos oferecem uma mistura de fome, morte e sangue, que assimilamos com naturalidade. Miséria e violência não nos causam estranhamento, tornam-se lugares comuns, quase clichês.

Assim, podemos perceber que Warhol encarna como ninguém a Pop Art devido a sua capacidade de traduzir ideologia e sociedade de seu tempo.

E ele também se aventurou no cinema. No iní-cio desta incursão, as películas ligavam-se mais com seus quadros do que com a linguagem cine-matográfica.

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(...) seus quadros, misturando fotografia com símbolos da publicidade, tornaram-se verdadeiros ícones do século XX: quem não se lembra dos seus trabalhos com as sopas Campbell, Coca-Cola e Marilyn Monroe?

Sleep (1963), por exemplo, resumiu-se a uma gravação de 6 horas de um homem dormindo. A edição, que tem 20 minutos, mostra uma seqüên-cia de cenas que se repetiam.

Andy ainda produziu mais de 75 filmes. Como ele mesmo ressalta:

“Fiz os meus primeiros filmes usando, durante várias horas, um único ator a fazer sempre a mes-ma coisa: comer, dormir ou fumar. Fiz isso porque normalmente as pessoas vão ao cinema só para ver a estrela, para a ‘comer’. Por isso, aqui está uma opor-

tunidade para olhar unicamente para a estrela du-rante todo o tempo que quiserem, não importa o que ela faz, e para a ‘comerem’ tanto quanto quiserem. Também, foi mais fácil fazer assim”.

Além do cinema, Warhol realizou um programa para a TV, Andy Warhol Fifteen Minutes, e escreveu duas autobiografias.

Certa vez ele disse: “Se querem saber tudo sobre Andy Warhol, basta olha-

rem para a superfície dos meus quadros, dos meus filmes e para mim, e ali estou eu. Não há nada escondido”.

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De fato, sua figura tornou-se tão mítica quanto sua obra. O cabelo tin-gido de loiro e os óculos escuros eram marcas registradas de seu perfil exó-tico.

Seu comportamento, no mínimo extravagante, também contribuiu para sua mitificação. Andy costumava man-dar sósias a conferências e eventos cul-turais, tamanha sua popularidade.

O fantástico mundo de Andy “Pop”

Andrew Warhola nasceu em Pittsburg no dia 6 de junho de 1928, embora haja controvérsias. O próprio artista afirmou várias vezes que essa data era fictícia.

Apesar de nascido nos Estados Uni-dos, seus pais, Andrej e Julia Warhola, eram da República Tcheca e vieram para a América fugindo da I Guerra Mundial.

Na infância, colecionava fotos de artistas famosos, fato que influenciaria seus trabalhos futuros.

Durante a adolescência, com a morte de seu pai, Warhola teve que trabalhar para ajudar a família. Graças a uma pou-pança feita por sua mãe, conseguiu in-gressar no Instituto de Tecnologia Carne-

gie (atual Carnegie Melon University). Anos depois, graduou-se com uma menção honrosa em Desenho.

Em 1949, mudou-se para Nova York e adotou o nome de Andy Warhol.

Em busca de emprego, fez anúncios publicitários para as revistas Vogue e Harper´s Ba-zaar, além de capas de livros e cartões de visita.

Em 1952, realizou sua primeira exposição de arte: 15 desenhos baseados nos escritos de Truman Ca-pote. A exposição foi um sucesso comercial e artístico. Apesar disso, o auge de sua carreira aconteceu apenas nos anos 60.

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Em 1961, veio a primeira obra em série, a re-produção da embalagem da sopa Campbell. Muitas outras se sucederam, como a das notas de dólar, feita

por sugestão de uma amiga:“Foi uma daquelas tardes em que pedi a dez ou quinze pessoas que

me dessem idéias, até que uma amiga minha me fez a pergunta

certa: ‘Qual é a coisa de que gostas mais?’ Foi assim que comecei a pintar dinheiro.”

Em 1963, Andy mudou-se para o Factory, seu famoso ateliê na East 47th Street, em Manhattan. O local reunia vários tipos de pessoas: pintores, baila-rinos, músicos, poetas e curiosos. Ponto em comum dessas diferen-tes “tribos”? A aversão aos pa-drões sociais impostos e a adora-ção por Andy Warhol.

O local era ainda um espaço de experimentação artística. A banda

The Velvet Underground, de Lou Reed, fazia seus ensaios lá. Foi no Factory que Warhol presenciou

um atentado contra uma de suas mais famosas obras. Dorothy Podber, uma freqüentadora do lu-

gar, atirou contra os quadros de Marilyn Monroe.

Alguns anos depois, foi a vez do artista ser baleado dentro de seu ateliê.

Quem disparou os tiros que quase levaram Warhol à morte foi Valerie Solanas, membro do S.C.U.M (Society for Cutting Up Men).

No final dos anos 60, o ateliê foi transferido para 33 Union Square West. O Factory perdeu sua função de ponto de encontro para se transformar em um negócio gerido por Andy:

“A ‘business-art’ é a etapa que se segue à Arte. Eu comecei como artista comercial e gostaria de terminar como ‘business-artist’.”

Em 1987, Andy foi hospitalizado para uma cirurgia na vesícula. Após a operação, o artista sofreu parada cardíaca. Faleceu no dia seguinte.

Em suas saudosas palavras: “A morte consegue realmente tornar-nos parecidos

com as estrelas”. No caso de Andy Warhol, essa afirmação não poderia

ser mais verdadeira.

O mundo Pop e o Pop no mundoCunhado pelo crítico Laurence Alloway, o termo Pop

Art é uma abreviação de “popular art”. Movimento surgido com Richard Hamilton e David

Hockney na Inglaterra dos anos 50, foi nos Estados Unidos, no entanto, que ganhou grande visibilidade.

As raízes estão na vanguarda dadaísta de Marcel Duchamp. Com o fim da II Guerra, o mundo passou por mudanças sociais e econômicas que influenciaram o campo artístico.

Artistas passaram a estudar os símbolos e produtos do universo da propaganda e começaram a utilizá-los como tema de suas obras.

A Pop Art criticava a massificação da cultura popu-lar capitalista. Além disso, era uma reação ao expres-sionismo abstrato de Pollock.

A arte voltava a ser figurativa. Sua estética transgredia o fazer artístico tradicional. Os artis-tas utilizavam fotos, colagens, pinturas, assem-blage (colagem em três dimensões).

Ironicamente, a Pop Art, que nasceu como for-ma de contestação, acabou se tornando um íco-ne da cultura do consumismo.

No Brasil, as questões levantadas pela Pop Art influenciaram o trabalho de Caeta-no Veloso, Gilberto Gil, Os Mu-tantes, Tom Zé e o movi-mento tropicalista.

(...) sua figura tornou-se tão mítica quanto sua obra. O cabelo tingido de loiro e os óculos escuros eram marcas registradas de seu perfil exótico. Seu comportamento, no mínimo extravagante, também contribuiu para sua mitificação.

Foi no Factory que Warhol presenciou um atentado contra uma de suas mais famosas obras. Dorothy Podber, uma freqüentadora do lugar, atirou contra os quadros de Marilyn Monroe. Alguns anos depois, foi a vez do artista ser baleado dentro de seu ateliê.

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Por Cristiane SommerLuisão, um grande amigo, bem-humorado e sempre

com uma história interessante para contar. Se eu precisas-se definir o Luisão em poucas palavras, diria que ele é um metro e oitenta ambulante de charme e pura simpatia!

O leitor - com toda razão - há de perguntar qual a li-

gação entre meu amigo e a culinária creole e

cajun. A resposta

Creole e CajunDas panelas de New Orleans para o mundo

Gastronomia

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vem na seguinte história:Luisão viajou para Nova Orleans. Depois de deixar

as malas no hotel, saiu para jantar. Por indicação de um taxista, foi a um restaurante chamado Déjà Vu.

Estranha coincidência.Tudo contribuía para a sensação de realmente já ter

estado ali. Desde os caricatos jogadores de bilhar, o ar repleto de fumaça e a garçonete mascando chiclete, como nos filmes baratos de Hollywood.

A mesma garçonete o conduz até a mesa. Luisão pergunta qual o prato típico da casa. Com um sotaque arrastado, ela responde:

- Red beans with sausage.Luisão - esbanjando erudição - resolve experimen-

tar o prato de “feijão vermelho com salsicha (?!?)”. Afi-nal, o que poderia dar errado?

A garçonete pergunta:- Normal, hot or no pepper? Bom, ele pensa, “hot” é muito apimentado, mas sem

pimenta nenhuma fica sem graça. E responde convicto:- Normal, please! - And for drinking? - I don´t know....

A garço-nete o ajuda:

- Could you try a Blood Mary...

- OK! Bring me a Blood Mary!

A comida é servi-da e Luisão - já não tão

bem humorado por causa da fome - ataca seu prato

de “feijão com salsicha”. Logo na primeira garfada, ele abafa um

grito e engole a comida! Desespera-do, bebe um gole de Blood Mary. Dessa

vez, não consegue se conter: o rosto se ruboriza, o suor escorre pela face e o grito,

antes abafado, alcança elevados decibéis:- Ahhhhh, quanta pimenta!!!!

A corpulenta figura põe a língua para fora da boca e começa a abaná-la com o cardápio. A garçonete, sem conter o riso, indaga:

- Is it your first time in New Orleans? Foi dessa maneira que Luisão conheceu a comida

típica da Louisiana, cujas características são diferentes de qualquer outro estilo americano.

As cozinhas creole e cajun são muito apreciadas e já receberam elogios de ilustres norte-americanos,

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Existem duas vertentes creoles: haute e low. Na primeira, predominam as receitas com molho e a apresentação dos pratos é um aspecto importante. Na segunda, os pratos normalmente vêm acompanhados de feijão vermelho e arroz.

como o escritor Mark Twain. Agora que você já sabe uma das aventuras do Luisão, conheça um pouco his-tória da fascinante culinária da Louisiana.

O requinte creoleCreoles eram descendestes da aristocracia euro-

péia. Nobres que não tinham direito à herança das terras da família no Velho Continente. Normalmente, viravam grandes fazendeiros na América e queriam manter o mesmo padrão de vida europeu. Por isso, sua cozinha pretendia ser tão requintada quanto a francesa e a espanhola.

A fusão entre a técnica dos chefs europeus e os in-gredientes locais deram origem à culinária creole. Ain-da hoje, pode-se perceber a influência franco-hispâni-ca. As jambalayas, por exemplo, lembram as paellas.

Com a chegada dos alemães, a charcutaria foi acrescentada aos hábitos alimentares daquela popula-ção. Outras duas etnias também contribuíram. O quia-bo, um dos símbolos da culinária creole, foi acrescen-tado graças à influência africana. E o milho e a caça são legados indígenas.

Existem duas vertentes creoles: haute e low. Na primeira, predominam as receitas com molho e a apre-sentação dos pratos é um aspecto importante. Na se-gunda, os pratos normalmente vêm acompanhados de feijão vermelho e arroz.

A criatividade cajunA história da culinária cajun teve início com a vinda

de franceses para o sudeste do atual Canadá. A nova ter-ra foi chamada de Acadie e seus habitantes de acadiens. Anos depois, a região foi dominada pelos britânicos e passou a ser chamada de Nova Escócia. Os acadiens foram expulsos e suas cidades destruídas. Muitos de-les morreram ou foram vendidos como escravos. Outros migraram para o sul da Louisiana, onde formaram uma nova Acadie. Nessa época, a palavra acadian sofreu uma variação e transformou-se em cajun.

Os migrantes entraram em contato com os ha-bitantes locais e aprenderam a utilizar os alimentos

da região. Desse intercâmbio cultural e da criativida-de dos colonos nasce uma nova culinária: a cajun food. Uma característica marcante é o preparo da refeição

em um único grande caldeirão (one pot meal).

Não tão diferentesApesar da origem distinta, ao longo do tempo as

culinárias creole e cajun criaram pontos em comum. Ingredientes como o arroz, lingüiças, feijões, peixes, perus, cebola, cebolinha, cravo da índia e roux são utilizados por ambas. Algumas receitas (jambalayas e gumbos, por exemplo) também são compartilhadas. Além disso, a pimenta é muito apreciada. Vale lembrar que Tabasco é quase sinônimo de Louisiana.

Outros molhos de pimenta também são utilizados e possuem nomes sugestivos: Ass in Hell, Ass in Tub, Pyromania, Devil´s Drop e muitos outros.

Outro ponto em comum: não há regras fixas quan-do o assunto é comida. Creoles e cajuns adoram mudar, criar e experimentar novas maneiras de cozinhar os mesmos pratos.

Por esse motivo, talvez o Luisão tenha dado azar: foi comer justamente em um restaurante onde o cozi-nheiro adorava muita pimenta.

A última vez que nos falamos, ele disse que sua lín-gua já estava melhor. Luisão se matriculou em um curso de inglês e por enquanto está preferin-do viajar pelo Brasil.

Mas atenção, Lui-são: cuidado com a Bahia!

Gastronomia

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A fusão entre a técnica dos chefs europeus e os ingredientes locais deram origem à culinária creole. Ainda hoje, pode-se perceber a influência franco-hispânica. As jambalayas, por exemplo, lembram as paellas.

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Beignet – Pastel de massa fina untado em açúcar bem fininho.

Gumbo – Sopa grossa e condimentada,normalmente servida com arroz.Hurricane – Bebida local à base de rum e ponche. É tão forte quanto Blood Mary.

Jambalaya – Arroz temperado com açafrão e misturado com lingüiça, frutos do mar, vegetais e condimentos.

Paddlewheeler – Doce feito com nozes e açúcar mascavo.

Roux – É preparado com farinha de trigo misturada com óleo ou manteiga bem quente. Depois de atingir a cor amarela, é dissolvido em um pouco de água fria. Roux é utilizado para engrossar cremes e molhos.

Sausage – Lingüiça.

Pequeno dicionário do LuisãoDepois da experiência caliente vivida no restauran-

te Déjà Vu, Luisão criou um útil glossário:

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