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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA JEFFERSON DA SILVA ARAGÃO O ACESSO AO SANEAMENTO URBANO: OS DESAFIOS DA UNIVERSALIZAÇÃO NO ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO. UM ESTUDO DE CASO EM MANAUS - AM. MANAUS 2017

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO CENTRO DE CINCIAS

    DO AMBIENTE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DO

    AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZNIA

    JEFFERSON DA SILVA ARAGO

    O ACESSO AO SANEAMENTO URBANO: OS DESAFIOS DA

    UNIVERSALIZAO NO ABASTECIMENTO

    DE GUA E ESGOTAMENTO SANITRIO. UM ESTUDO DE CASO EM

    MANAUS - AM.

    MANAUS

    2017

  • 2

    JEFFERSON DA SILVA ARAGO

    O ACESSO AO SANEAMENTO URBANO: OS DESAFIOS DA

    UNIVERSALIZAO NO ABASTECIMENTO

    DE GUA E ESGOTAMENTO SANITRIO. UM ESTUDO DE CASO EM

    MANAUS - AM.

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Cincias do Ambiente e

    Sustentabilidade na Amaznia

    PPGCASA/UFAM como parte dos

    requisitos para a obteno do ttulo de

    mestre em Cincias do Ambiente e

    Sustentabilidade na Amaznia, sob

    orientao do Prof. Dr. Joo Tito Borges.

    MANAUS

    2017

  • 3

  • 4

    Jefferson da Silva Arago

    O ACESSO AO SANEAMENTO URBANO: OS DESAFIOS DA

    UNIVERSALIZAO NO ABASTECIMENTODE GUA E ESGOTAMENTO

    SANITRIO. UM ESTUDO DE CASO EM MANAUS- AM.

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias do Ambiente e

    Sustentabilidade na Amaznia como requisito para a obteno do ttulo de Mestre em

    Cincias do Ambiente e Sustentabilidade na Amaznia.

    Aprovado em 12 de julho de 2017.

    BANCA EXAMINADORA

    __________________________________

    Prof. Dr. Joo Tito Borges, Presidente.

    __________________________________

    Prof. Dr. Paulo Ricardo Rocha Farias, Membro.

    __________________________________

    Prof. Dr. Armando Arajo de Souza Jnior, Membro.

    __________________________________

    Prof. Dr. Flavia Kelly Siqueira de Souza, Membro.

  • 5

    DEDICATRIA

    A minha me Ivone da Silva Arago, por me ensinar a

    ter tica, moral acima de tudo, honestidade, por mostrar o valor

    da vida e que o trabalho dignifica o homem e me ensinar que

    nada impossvel se acreditarmos que Deus pode tudo.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    A Deus primeiramente, pois sem ele nada possvel.

    minha famlia pela compreenso e por fornecer um ambiente propcio ao

    estudo.

    Ao meu orientador professor Dr. Joo Tito Borges por mostrar a importncia e

    me inserir no estudo do Saneamento urbano em nossa querida cidade Manaus.

    Ao Centro de Cincias do Ambiente, seu corpo tcnico, administrativo e os

    discentes que compe este centro de estudos pela ajuda em especial da Sra. Fernanda

    Mendes e todas as contribuies dos professores.

    amiga Amanda Lorena Duarte de Souza Leal pelo companheirismo e apoio

    incondicional, pelas longas conversas de troca de ideias e por dividir as angstias e

    conquistas nessa jornada.

    amiga Luciene Souza da Costa que pelo apoio e ajuda incondicional durante o

    caminhar do curso.

    Por fim o maior de todos os agradecimentos, ao meu grande amigo/irmo Alex

    Braga de Lima, por ter estado ao meu lado desde o incio deste curso e por ter feito

    muito mais do que lhe cabia, pela ajuda sem igual, pelas horas de estudo junto comigo,

    por ter divido as no s angstias, mas tambm as felicidades, minha gratido eterna!

  • 7

    RESUMO

    A busca da universalizao do acesso ao sistema de abastecimento de gua e ao

    esgotamento sanitrio (SAE) um dos grandes desafios da capital do Estado do

    Amazonas. Nesta pesquisa foi realizada uma ampla reviso da literatura que acerca dos

    SAE, apresentou-se estrutura dos SAE na cidade de Manaus, por meio de um

    levantamento histrico, que iniciou no fim de 1800. O estudo tem caracterstica

    descritiva com abordagem qualitativa, foi desenvolvido por meio da anlise da srie

    histrica do sistema nacional de saneamento (SNIS), dos relatrios de atividade da

    ARSAM, d anlise de metas do contrato de concesso dos SAE em Manaus, e do

    ranking do saneamento que contemplaram dentre outros indicadores, a infraestrutura e

    outros indicadores como extenso da rede de gua, quantidade de ligaes totais de

    gua, populao urbana atendida com abastecimento de gua, extenso da rede de

    esgotos, populao urbana atendida com esgotamento sanitrio, e investimentos em

    gua e esgoto desde o ano 2000 at 2015. A pesquisa mostrou a fragilidade dos sistemas

    e verificou-se que a extenso da rede de esgoto muito inferior extenso da rede de

    abastecimento. H uma discrepncia entre os dados da ARSAM em relao aos dados

    obtidos no SNIS. Os dados quantitativos fornecidos pela ARSAM em seus relatrios de

    atividade no contemplam os dados do PROURBIS. Os dados do SNIS (fornecido pela

    Manaus Ambiental) no contemplam os dados do PROSAMIM e PROURBIS, no

    ficando claro de fato qual percentual de atendimento urbano de abastecimento de gua

    e esgotamento sanitrio em Manaus. Considera-se que os desafios enfrentados pela

    cidade para ampliao do acesso ao sistema de esgotamento sanitrio esbarram em

    questes que vo alm da poltica ou da gesto privada do sistema. Contemplam

    tambm aspectos econmicos, pela incapacidade de investimento do governo em obras

    de infraestrutura e da prestadora dos servios em priorizar os investimentos em apenas

    um dos servios, tambm pela dificuldade de pagamento aos servios pelos usurios.

    Quanto aos aspectos sociais observou-se que h ausncia de uma poltica mais clara por

    parte do governo municipal para garantir que toda populao tenha acesso aos SAE,

    mesmo aqueles que no tm recursos para pagar. Quanto aos aspectos culturais, a

    populao se acostumou a no querer se ligar de forma oficial s redes tanto de gua

    quanto de esgoto em decorrncia das tarifas e taxas impostas, recorrendo aos gatos e

    isso por sua vez leva a perdas na distribuio e na qualidade da gua. Por fim, as obras

    de infraestrutura da cidade so realizadas de acordo com a disponibilidade de verba e da

    poltica de cada ente e o repasse de obras do Estado para o Municpio e desse para a

    prestadora de servios um processo moroso e burocrtico protelando a administrao

    dessas obras. Manaus ocupa a 97 posio entre as 100 maiores cidades brasileiras no

    ranking do saneamento e apesar dos avanos, a cidade ter dificuldades de universalizar

    os servios e no alcanar a universalizao do esgotamento sanitrio em 2033 como

    exposto no plano nacional de saneamento bsico.

    Palavras-chave: Saneamento; Infraestrutura Urbana; Meio Ambiente; Qualidade de

    Vida.

  • 8

    ABSTRACT

    The search for universal access to the water supply and sewage system (SAE) is

    one of the great challenges of the capital of the State of Amazonas. In this research

    carried out a wide review of the SAE literature, SAE structure was presented in the city

    of Manaus, through a historical survey, which began in the late 1800s. The study has a

    descriptive characteristic with a qualitative approach. It was developed through the

    analysis of the historical series of the national sanitation system (SNIS), the activity

    reports of the ARSAM, analyzes the goals of the SAE concession contract in Manaus

    and the ranking Which included, among other indicators, infrastructure and other

    indicators such as extension of the water network, quantity of total water connections,

    urban population served with water supply, extension of the sewage network, urban

    population served with sanitary sewage, and investments In water and sewage from the

    year 2000 to 2015. The research showed the fragility of the systems and it was verified

    that the extension of the sewage network is much inferior to the extension of the supply

    network. There is a discrepancy between the ARSAM data in relation to the data

    obtained in the SNIS. The quantitative data provided by ARSAM in its activity reports

    do not include data from PROURBIS. Data from the SNIS (provided by Manaus

    Ambiental) do not include data from PROSAMIM and PROURBIS, and it is not clear

    what percentage of urban water supply and sewage service in Manaus is. It is

    considered that the challenges faced by the city to increase access to the sewage system

    run counter to issues that go beyond the policy or the private management of the

    system. They also include economic aspects, the inability of government investment in

    infrastructure works and the service provider to prioritize investments in only one of the

    services, also due to the difficulty of paying for services by users. Regarding the social

    aspects, it was observed that there is no clear policy by the municipal government to

    ensure that all people have access to SAE, even those that do not have the resources to

    pay. As for cultural aspects, the population became accustomed to not wanting to

    officially connect to both water and sewage networks as a result of the tariffs and fees

    imposed, using the "cats" and this in turn leads to losses in distribution and water

    quality. Finally, the infrastructure works of the city are carried out according to the

    availability of funds and the politics of each entity and the transfer of works from the

    State to the Municipality and from the service provider is a time consuming and

    bureaucratic process, delaying the administration of these works. Manaus occupies the

    97th position among the 100 largest Brazilian cities in the ranking of sanitation and

    despite the advances, the city will have difficulties to universalize the services and will

    not reach the universalization of sanitary sewage in 2033 as exposed in the national plan

    of basic sanitation

    Keywords: Sanitation; Urban infrastructure; Environment; Quality of life.

  • 9

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Localizao da rea de estudo. Municpio de Manaus, Estado do Amazonas. Brasil . 21

    Figura 2 - Grupo de dados .......................................................................................................... 22

    Figura 3 Componentes do conceito de direitos fundamentais .................................................. 33

    Figura 4 - Eixos do saneamento ................................................................................................. 48

    Figura 5 - Sistema de abastecimento padro .............................................................................. 52

    Figura 6 Constituio do esgoto sanitrio................................................................................ 54

    Figura 7 Sistema de coleta convencional ................................................................................. 56

    Figura 8 - Nveis de tratamento do esgoto .................................................................................. 57

    Figura 9 - Nveis de tratamento de esgoto na Europa 1 .............................................................. 58

    Figura 10 - Nveis de tratamento de esgoto na Europa 2 ............................................................ 59

    Figura 11 - Etapas da coleta e tratamento de esgoto ................................................................... 60

    Figura 12 - Proporo da populao que usa fontes melhoradas de gua potvel em 2015 ........ 69

    Figura 13 - Populao com melhorias no acesso ao saneamento ................................................ 70

    Figura 14 - Acesso aos SAE no Brasil entre 2010 e 2014 .......................................................... 85

    Figura 15 - Reservatrio Moc................................................................................................... 93

    Figura 16 - Represa da Cachoeira Grande .................................................................................. 93

    Figura 17 - Sistema de abastecimento de Manaus ...................................................................... 95

    Figura 18 - Complexo Ponta do Ismael ETA I e ETA II ............................................................ 96

    Figura 19 - Complexo Mauazinho .............................................................................................. 97

    Figura 20 - Captao e ETA Complexo PROAMA .................................................................... 98

    Figura 21 - Manancial subterrneo (SISTEMA POOS) ........................................................... 99

    Figura 22 - Mapa da rede de distribuio de Manaus no ano de 2013 (anexos) ....................... 101

    Figura 23 - Obras no leito de um dos igaraps ......................................................................... 105

    Figura 24 - Obra de infraestrutura do PROSAMIM ................................................................. 105

    Figura 25 - Despejo de esgoto no igarap ................................................................................ 106

    Figura 26 - Extenso da rede de abastecimento de gua (km) .................................................. 112

    Figura 27 - Extenso da rede de esgotamento sanitrio (km) ................................................... 112

    Figura 28 - Ligaes totais de esgoto ....................................................................................... 115

    Figura 29 - ligaes totais de rede de gua ............................................................................... 116

    Figura 30 - Evoluo da populao urbana atendida pela rede de abastecimento de gua x rede

    de esgotamento sanitrio .......................................................................................................... 117

    Figura 31 - Concentrao dos vinte melhores municpios no ranking do saneamento por Estado

    da Federao ............................................................................................................................ 134

    Figura 32 - Histograma contagem de municpio por tipo de gesto.......................................... 137

    Figura 33 - Concentrao dos dez piores municpios no ranking do saneamento por Estado da

    Federao ................................................................................................................................. 140

    Figura 34 - Histograma contagem de municpio por tipo de gesto.......................................... 142

  • 10

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Relao dos indicadores SNIS .................................................................................24 Quadro 2 - Relao de informaes do SNIS .............................................................................25 Quadro 3 - Relao de Indicadores ARSAM ..............................................................................27 Quadro 4 - Relao de Indicadores do Contrato de Concesso ..................................................28 Quadro 5 - Relao de Indicadores do Ranking do Saneamento ................................................30 Quadro 6 - Geraes dos direitos fundamentais .........................................................................34 Quadro 7 - Pases que obtiveram menos de 50% da populao com acesso a melhoras sanitrias

    ...................................................................................................................................................72 Quadro 8 - Pases que obtiveram 100% da populao com acesso a melhoras sanitrias ...........74 Quadro 9 - Populao que obtiveram melhora do abastecimento de gua potvel e instalaes

    sanitrias em reas urbanas e rurais (%) .....................................................................................76 Quadro 10 - A transformao mundial de 1990 a 2015 em relao ao saneamento ....................79 Quadro 11 - Histrico do saneamento no Brasil .........................................................................81 Quadro 12 - Gesto e infraestrutura estrangeira .........................................................................92 Quadro 13 - Capacidade de produo dos complexos de abastecimento em 2015 .....................98 Quadro 14 - Volume de Reservao .........................................................................................102 Quadro 15 - Relao de obras da infraestrutura urbana em Manaus PAC .............................109 Quadro 16 - Infraestrutura a partir da concesso ......................................................................109 Quadro 17 - Investimentos nas redes MA / COSAMA ..........................................................119 Quadro 18 - ndices de Atendimentos ......................................................................................120 Quadro 19 - Evoluo da cobertura de gua pela extenso da rede de abastecimento: 2000 a

    2015 (ARSAM) ........................................................................................................................122 Quadro 20 - Evoluo da cobertura de esgoto por extenso de rede coletora: 2000 a 2015

    (ARSAM) .................................................................................................................................123 Quadro 21 - Plano de metas e indicadores A ............................................................................128 Quadro 22 - Plano de metas e indicadores B ............................................................................128 Quadro 23 - Plano de metas e indicadores C ............................................................................129 Quadro 24 - Plano de metas e indicadores D ............................................................................130 Quadro 25 - Plano de metas e indicadores E ............................................................................130 Quadro 26 - Plano de metas e indicadores F ............................................................................131 Quadro 27 - Os vinte melhores e dez piores no ranking do saneamento ...................................132

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - ndices de coleta e tratamento de esgotos ................................................................ 114

    Tabela 2 - Cidades que alcanaram a universalizao do abastecimento de gua na rea urbana

    por tipo de operador ................................................................................................................. 137

    Tabela 3 - Cidades que alcanaram a universalizao do esgotamento sanitrio na rea urbana

    por tipo de operador ................................................................................................................. 138

  • 12

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AA Abastecimento de gua

    AIDIS - Asociacin Interamericana de Ingeniera Sanitaria y Ambiental

    ARSAM Agncia Reguladora dos Servios Pblicos Concedidos do Estado do

    Amazonas

    BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    BNH - Banco Nacional da Habitao

    CEPAL - Comisin Econmica para Amrica Latina y el Caribe

    CESB - Companhias Estaduais de Saneamento Bsico

    CF Constituio Federal

    CNI - Confederao Nacional da Indstria

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais

    COSAMA - Companhia de Saneamento do Estado do Amazonas

    CPAS - Produo de guas Subterrneas

    CPI Comisso Parlamentar de Inqurito

    DITEC - Diretoria Tcnica de Concesses e Regulao da Qualidade

    DUDH - Declarao Universal dos Direitos Humanos

    EEE Estao Elevatrias de Esgoto

    EPC - Estao de Pr-Condicionamento

    ES Esgotamento Sanitrio

    ETA Estao de Tratamento de gua

    ETE Estao de Tratamento de Efluente

    FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Servio

    FIPE - Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas

    FNSA - Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental

    FUNASA Fundao Nacional de Sade

    IBGE - Instituto brasileiro de Geografia e Estatstica

    MA Manaus Ambiental

    ODM Objetivos do Milnio

    ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel

    OMS Organizao Mundial de Sade

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PAC - Programa de Acelerao do Crescimento

    PLANASA - Plano Nacional de Saneamento

    PLANSAB - Plano Nacional de Saneamento Bsico

    PLC Projetos de Leis da Cmara

    PMM - Prefeitura Municipal de Manaus

    PNMA - Poltica Nacional do Meio Ambiente

    PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

    PPP Parceria Pblico - Privado PROAMA Programa guas para Manaus

    PROSAMIM - Programa Social e Ambiental dos Igaraps de Manaus

    PROURBIS Programa de Desenvolvimento Urbano e Incluso Socioambiental de

    Manaus

    PV Poos de Visita

    SAA Sistema de Abastecimento de gua

    SABESP Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo

  • 13

    SAE Sistema de Abastecimento e Esgotamento Sanitrio

    SEINFRA Secretaria de Estado de Infraestrutura

    SES Servio de Esgotamento Sanitrio

    SNIS Sistema Nacional de Informaes Sobre Saneamento

    SNSA - Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental

    TIL - Tubo de Inspeo e Limpeza

    TL - Terminal de Limpeza

    UTS Unidade de Tratamento Simplificado

    ZFM - Zona Franca de Manaus

  • 14

    SUMRIO

    INTRODUO ...................................................................................................................... 16

    2 ESTRATGIA METODOLGICA.................................................................................. 18 2.1 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 18

    2.2 RELEVNCIA .......................................................................................................................... 19

    2.3 PROCEDIMENTOS METOLGICO DA ELABORAO DA DISSERTAO .................. 20

    2.4 REA DE ESTUDO .................................................................................................................. 21

    2.5 CARACTERIZAO E PROCEDIMENTO DE ANLISE .................................................... 22

    2.5.1 O Sistema Nacional de informaes sobre saneamento SNIS........................................... 23

    2.5.2 ARSAM............................................................................................................................... 27

    2.5.3 Metas do Contrato de Concesso ......................................................................................... 28

    2.5.4 Ranking do saneamento ....................................................................................................... 29

    3 ASPECTOS CONCEITUAIS ............................................................................................. 31 3.1 OS SAES: O DIREITO HUMANO E FUNDAMENTAL DE ACESSO SEGUNDO A

    LEGISLAO BRASILEIRA ........................................................................................................ 31

    3.1.1 O direito humano aos SAE .................................................................................................. 31

    3.1.2 As geraes dos direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana............................. 34

    3.2 CONHECENDO OS SAE NA HISTRIA MUNDIAL ............................................................ 39

    3.3 SERVIOS DE SANEAMENTO .............................................................................................. 48

    3.4 O SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE GUA (SAA) E O SISTEMA DE

    ESGOTAMENTO SANITRIO (SES) ........................................................................................... 50

    3.4.1 O tratamento do esgoto ........................................................................................................ 56

    3.5 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NA PERSPECTIVA DOS SAE E SEU PAPEL

    PARA O ALCANCE DA UNIVERSALIZAO ........................................................................... 60

    3.5.1 A agenda 2030 dos objetivos do desenvolvimento sustentvel (6 objetivo) em relao ao

    saneamento ................................................................................................................................... 65

    3.5.1.1 O acesso aos SAE pelo mundo .......................................................................................... 68

    3.5.1.2 Os SAES no Brasil ........................................................................................................... 80

    4 OS SAE NA CIDADE DE MANAUS ................................................................................ 89 4.1 A INFRAESTRUTURA URBANA DOS SAE NA BELLE EPOQU ...................................... 89

    4.2 A INFRAESTRUTURA URBANA DOS SAE PS-CONCESSO ......................................... 94

    4.2.1 Sistema de abastecimento de gua ....................................................................................... 94

    4.2.1.1 Sistema de aduo, distribuio e reservao ................................................................ 100

    4.2.2 Sistema de esgotamento sanitrio ...................................................................................... 103

    4.2.3 Projetos urbanos acerca dos SAE ...................................................................................... 103

    4.2.3.1 PROSAMIM .................................................................................................................... 104

    4.2.3.2 Prourbis.......................................................................................................................... 107

    4.2.3.3 PAC saneamento ............................................................................................................ 108

    5 RESULTADOS E DISCUSSO....................................................................................... 111 5.1 GRUPO 01: SNIS SISTEMA NACIONAL DE INFORMAES SOBRE SANEAMENTO

    ....................................................................................................................................................... 111

    5.1.1 Extenso das redes AA e ES .............................................................................................. 111

    5.1.1.2 ndices de coleta e tratamento de esgoto ........................................................................ 114

    5.1.1.3 Ligaes totais de esgoto ................................................................................................ 115

    5.1.2 Populao atendida pela rede AA e ES .............................................................................. 117

    5.1.3 Investimentos realizados nos SAA e ES ............................................................................ 118

    5.1.4 ndices de atendimentos SAA e SES ................................................................................. 119

    5.2 GRUPO 02: ARSAM - AGNCIA REGULADORA DOS SERVIOS PBLICOS

    CONCEDIDOS DO ESTADO DO AMAZONAS ......................................................................... 121

    5.2.1 Rede de abastecimento de gua ......................................................................................... 121

    5.2.2 Rede de esgotamento sanitrio .......................................................................................... 123

    5.3 ANLISE SOBRE AS ABORDAGENS DOS INDICADORES DE DESEMPENHO

    CONFORME ARSAM E SNIS ...................................................................................................... 124

  • 15

    5.4 GRUPO 03: METAS E INDICADORES DO CONTRATO DE CONCESSO DOS SAE EM

    MANAUS ...................................................................................................................................... 127

    5.5 GRUPO 04: RANKING DO SANEAMENTO 2016 ................................................................. 131

    5.5.1 O ranking do saneamento dos vinte melhores colocados ................................................... 134

    5.5.1.1 Por tipo de gesto (contratos) ........................................................................................ 136

    5.5.1.2 Cidades que universalizaram os SAA por tipo de operador ........................................... 137

    5.5.1.3 Cidades que universalizaram os SES por tipo de operador ............................................ 138

    5.5.2 O ranking do saneamento dos dez piores colocados .......................................................... 139

    5.5.2.1 Por tipo de gesto (contratos) ........................................................................................ 141

    6 CONCLUSO .................................................................................................................... 144

    REFERNCIAS.................................................................................................................... 149

    ANEXOS................................................................................................................................ 162

  • 16

    INTRODUO

    Aps o apogeu do perodo ureo da produo da borracha (1890 1920), Manaus

    passou por uma estagnao em sua economia, que refletiu principalmente em seu baixo

    crescimento populacional que se deu at a implantao da Zona Franca de Manaus (ZFM),

    com a criao do Distrito Industrial e outras estruturas no final da dcada de 1960. A grande

    oferta de emprego na Zona Franca acarretou em uma forte migrao de pessoas vindas de

    diversas partes do mundo, de outros estados e do interior do Amazonas para a capital

    amazonense. A cidade no estava preparada para atender a demanda da populao por

    servios bsicos e por infraestrutura urbana e proporcionalmente ao crescimento populacional

    vieram os problemas socioambientais, como no caso do saneamento bsico.

    Entre os anos 1970 e 1999, os servios de abastecimento de gua, coleta e tratamento

    de esgoto ficaram a cargo da empresa Companhia de Saneamento do Estado do Amazonas

    COSAMA e, a partir do ano 2000, a Prefeitura Municipal de Manaus (PMM), ento titular

    dos servios permitiu a concesso das atividades de abastecimento de gua e esgoto sanitrio

    da cidade, iniciativa privada vencedora da licitao, hoje denominada Manaus Ambiental

    (ARSAM, 2015). Os servios de gua e esgoto oferecidos pela Companhia de Saneamento do

    Estado do Amazonas COSAMA eram precrios e a empresa passava por srios problemas,

    operacionais, financeiros e a alta inadimplncia dos consumidores agravou a sua crise

    (OLIVEIRA, 2011). Nesse perodo, tanto Estado e Municpio no tinham como fazer

    elevados investimentos, foi ento que o prefeito da poca Amazonino Mendes, abriu

    concorrncia para concesso dos servios de gua e esgoto da cidade, o que permitiu um ente

    privado gerir o sistema por meio da concesso (CASTRO, 2008). A concesso se deu em um

    perodo de grandes mudanas na gesto pblica, quando a lei federal n. 8.987/95 garantiu que

    empresas privadas pudessem gerir por tempo determinado os servios antes exclusivos do

    Estado e do Municpio, a fim de garantir a qualidade da oferta dos mesmos populao.

    Nessa poca as concesses j eram comuns, contudo, no correr da dcada de 1990,

    predominou no Brasil a orientao do Governo Federal que foi endossada por vrios Estados,

    no sentido de privatizar empresas pblicas, em particular nos setores de telecomunicao,

    energia, transporte e bancos estaduais. Nesse perodo privatizaram servios de abastecimento

    de gua e esgotamento sanitrio, a saber: Limeira, (SP), Regio dos Lagos (RJ), Niteri (RJ)

    Jundia (SP), Itu, (SP), Araruama (RJ), Campos (RJ) e Saquarema (RJ), Ribeiro Preto (SP),

  • 17

    Araatuba (SP), Petrpolis (RJ), Paranagu (PR), de forma total ou parcial (OLIVEIRA;

    REZENDE; HELLER, 2011; PARLATORE, 2000).

    Nos primeiros anos da gesto privatizada em Manaus muito se questionou sobre sua

    eficincia operacional, decorrente em grande parte da insatisfao da populao na poca em

    relao aos servios oferecidos. Ocorreram mobilizaes sociais, que culminou na criao de

    uma CPI, a fim de investigar as aes da empresa e o processo que garantiu a concesso,

    como noticiado na impressa local na poca, como nos lembra (CASTRO, 2008). No total

    foram feitos cinco aditivos no contrato de concesso, onde ocorreram diversas alteraes nas

    metas iniciais e outros quesitos, alm de obras de infraestrutura, entre outros, e que garantiu a

    extenso dos servios por um total de 45 anos empresa concessionria (ARSAM, 2015).

    Cada municpio escolhe a melhor forma de gerir o setor, por exemplo, aqueles

    municpios que no concederam os servios a um ente privado, tm seus servios geridos pelo

    poder pblico municipal ou estadual, sendo estes denominados sistemas autnomos, como o

    caso da SABESP, COPASA, COSAMA e outras companhias municipais e estaduais. No

    estado do Amazonas, 12 dos 62 municpios tm seus servios de abastecimento de gua,

    coleta e tratamento de esgoto gerenciado pela COSAMA e na capital do Amazonas, estes

    servios esto a cargo da empresa Manaus Ambiental, que detm a concesso do sistema de

    abastecimento, coleta e tratamento de esgoto. A concesso dos servios de abastecimento de

    gua e esgotamento nesta cidade no o objetivo desta pesquisa, mas o fato de ser

    privatizado torna esta caracterstica diferenciada dos SAE1 em Manaus, sendo esta a nica

    cidade do estado do Amazonas com esses servios privatizados.

    At 2007 no existia uma poltica clara de saneamento bsico e a gesto de

    saneamento era regida pelas normas gerais vigentes, porm, foi com o advento da lei federal

    n. 11.445/2007 que o setor passou a ter um marco regulatrio que entre outros, garantiu

    regulou a gesto dos servios, definiu o titular dos servios, estabeleceu diretrizes e normas

    para cobrana, de qualidade dos servios prestados e definiu o objetivo primordial dessas

    aes no Brasil que alcanar a universalizao2 dos servios.

    1 Para separao e melhor compreenso o saneamento no foi tratado de acordo com o conceito mais amplo, e sim a partir da delimitao de aes, ou seja, sob a tica dos SAE Sistema de Abastecimento de gua e

    Esgotamento sanitrio sendo esses importantes componentes do saneamento 2 O termo relativamente novo, mas ideia central que remete aos direitos iguais e dignidade da pessoa humana que surgiu aps a segunda guerra mundial, no prembulo da Declarao Universal dos Direitos Humanos,

    embora a universalizao seja definida de forma genrica optou-se pela ideia definida no marco regulatrio do

    setor de saneamento (Lei Federal n. 11.445/2007) que em linhas gerais diz respeito ao acesso equitativo de toda

    populao aos mesmos servios (SAE).

  • 18

    Previsto na Lei Federal 11.445/2007, o Plano Nacional de Saneamento Bsico

    (PLANSAB) institui com redao inicial em 2008 e consolidado em 2014, e prev dentre

    outros a universalizao dos servios de abastecimento com gua potvel at 2023 e de

    esgotamento sanitrio at 2033. Tais servios so essenciais ao ser humano e a ausncia deles

    provoca diversos problemas principalmente relacionados sade pblica.

    Com intuito de minimizar as aes negativas da falta de saneamento foram criados

    diversos programas, no municpio de Manaus, destaca-se o Programa Social e Ambiental dos

    Igaraps de Manaus PROSAMIM que beneficiou diversas famlias que viviam e vivem em

    situao de risco iminente, hoje sendo expandido para outras cidades do Estado do Amazonas,

    e o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), que prev diversas obras de

    infraestrutura no Pas, dentre os quais no saneamento.

    Pesquisar o saneamento, sobretudo o abastecimento de gua e esgotamento sanitrio,

    desafiador principalmente na regio amaznica. Ainda que detenha a maior concentrao de

    gua doce do mundo, a populao da regio sofre com falta de gua e com doenas

    relacionadas falta de coleta e tratamento de esgoto. Neste sentido o grande questionamento

    desta pesquisa se baseia na investigao dos desafios enfrentados pela cidade de Manaus para

    ampliao do acesso ao abastecimento de gua e ao sistema de esgotamento sanitrio. O

    presente estudo poder dar suporte aos atores envolvidos na gesto do saneamento em

    Manaus, pois trar informaes teis aos gestores pblicos e privados, e principalmente

    esclarecer a sociedade sobre as dificuldades encontradas para a universalizao destes dois

    servios.

    2 ESTRATGIA METODOLGICA

    No presente, sero apresentados os elementos constitutivos que deram suporte para a

    elaborao desta dissertao de mestrado.

    2.1 OBJETIVOS

    Alcanar a universalizao do saneamento um dos anseios mais urgentes enfrentados

    pela populao mundial, tanto que foi eleito como um dos Objetivos do outrora chamado

    Objetivos do Milnio e agora Objetivos do Desenvolvimento sustentvel, que influncia

  • 19

    diretamente na sade pblica, na qualidade de vida e do bem-estar da populao, ou seja, de

    cunho social, econmico, cultural e ambiental.

    O principal propsito desta pesquisa foi compreender como a capital do Estado do

    Amazonas ainda sofre com a falta de servio de abastecimento de gua e esgotamento

    sanitrio.

    Como objetivos especficos:

    - Apresentou-se o histrico dos servios de abastecimento de gua e esgotamento

    sanitrio em na cidade de Manaus;

    - Apresentou-se e discutiu-se sobre o estado atual dos servios de abastecimento de

    gua e esgotamento sanitrio oferecidos pela prestadora Manaus Ambiental;

    - Avaliou-se o cumprimento das metas estabelecidas no contrato de concesso dos

    SAE com vistas a alcanar a universalizao do acesso a estes servios.

    2.2 RELEVNCIA

    A presente pesquisa possui relevncia por se tratar de um tema sensvel a qualquer

    pas, pois, demonstra a dinmica urbana vivenciada pela humanidade e apelo feito pelos

    Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel para erradicar dentre outros a discrepncia em

    termos de acesso ao saneamento no mundo onde milhes de pessoas ainda no tm acesso

    gua potvel e de qualidade e outros milhares sequer tm acesso a descargas sanitrias,

    conforme exaustivamente demonstrado pela ONU em seus relatrios anuais. A meta dos

    Objetivos do Milnio (ODM) em relao ao saneamento no mundo no foi completada na

    vigncia da agenda 2015, e novamente foi incorporada na agenda 2030 dos Objetivos do

    Desenvolvimento Sustentvel (ODS). No Brasil, a situao no diferente, mesmo tendo

    avanando no que tange s polticas pblicas, o setor ainda no evolui como deveria, e

    governos da regio amaznica que est cerceada de gua no conseguem oferecer suas

    populaes gua tratadas, muito menos servios de esgotamento sanitrio. Compreender o

    processo ocorrido nessa regio pode contribuir para criao de polticas pblicas para o uso

    deste recurso. Alm de contribuir para a diminuio da lacuna cientifica existente na rea,

    dado o nfimo registro de pesquisas cientficas sobre o assunto na regio.

  • 20

    2.3 PROCEDIMENTOS METOLGICO DA ELABORAO DA DISSERTAO

    A presente pesquisa dedicou-se especificamente no que concernem s aes

    (operacionais) dos SAE com vistas universalizao desses sistemas. A abordagem escolhida

    foi o estudo caso, que envolver fontes de evidncias tais como levantamento bibliogrfico

    com intudo de promover a contorno terico-metodolgico e destacar os principais autores

    que esto ligados ao tema escolhido desta pesquisa. Foi utilizado o conceito de estudo de caso

    dado por Yin (2015, p. 17) ao qual define estudo de caso como sendo um estudo que

    investiga um fenmeno contemporneo (o caso), em profundidade e em seu contexto no

    mundo real, especialmente quando as fronteiras entre os fenmenos e o contexto possam no

    estar claramente evidentes. Seguindo esse pensamento corrobora Goldenberg (2007) dizendo

    que o estudo de caso uma anlise holstica, ou seja, considera a unidade social como

    um todo, com objetivo de compreend-los em seus prprios termos. Em relao ao

    levantamento bibliogrfico, Severino (2007, p.122) afirma que aquele que realizado a

    partir do registro disponvel, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos,

    como livros, artigos, teses, etc.

    Esse tipo de pesquisa visa o levantamento das contribuies dadas por outros

    pesquisadores na rea de estudo atravs da publicao dos resultados de suas pesquisas. O

    segundo passo foi pesquisa documental tais como o contrato de concesso e seus cinco

    aditivos de contrato, relatrios de atividade da Agncia Reguladora dos Servios Pblicos

    Concedidos do Estado do Amazonas (ARSAM). Concomitantemente a anlise documental

    segundo Ludwig (2012) so fontes ricas e estveis e que fundamentam as afirmaes do

    pesquisador alm de completar informaes obtidas por meio de outras tcnicas. Constituem

    tais fontes: leis, regulamentos, ofcios, estatutos.

    Por ter sido elegido o estudo de caso como abordagem, o mtodo qualitativo se torna

    mais indicado para nortear estar pesquisa. Segundo Minayo (2006, p. 57) o mtodo

    qualitativo o que se aplica ao estudo da histria, das relaes, das representaes, das

    crenas, das percepes e das opinies, produto das interpretaes que os humanos fazem a

    respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos....

    Goldenberg (2007, p. 53) nos diz que os dados qualitativos consistem em descries

    detalhadas de situaes com o objetivo de compreender os indivduos em seus prprios

    termos. Une-se a este elenco, Richardson (2015) afirmando que uma forma adequada para

    entender a natureza de um fenmeno social. Sob estes prismas esse tipo de pesquisa amplo e

    flexvel, podendo estudar as os mais diversos fenmenos, indivduos ou situaes.

  • 21

    Para o levantamento qualitativo, utilizou-se a anlise descritiva das informaes e

    indicadores fornecidos pelo SNIS que envolveram os anos de 2000 a 2015, as metas do

    contrato de concesso, relatrios de atividade da ARSAM, e os indicadores utilizados no

    ranking do saneamento 2016 do Instituto Trata Brasil proporcionando ao pesquisador a

    possibilidade de proceder com a anlise e discusso acerca do tema proposto por essa

    pesquisa. Esse de carter descritivo-exploratrio, cujo objetivo levantar informaes,

    tornando o objeto da pesquisa mais familiar ao pesquisador uma vez que o contedo a ser

    estudado pouco explorado, permitindo conhecer as caractersticas, causas e consequncias

    de um fenmeno. (GIL, 2008; RICHARDSON, 2015; SEVERINO, 2007).

    2.4 REA DE ESTUDO

    Foi definido o estudo de caso como sendo do tipo nico, assim sendo o recorte

    geogrfico desta pesquisa foi a rea urbana do municpio de Manaus, capital do estado do

    Amazonas, pois dentre as cidades amazonenses apenas Manaus, possui estrutura razovel de

    funcionamento dos servios de abastecimento de gua e estrutura mnima de rede de esgoto.

    Alm de deter a maior concentrao populacional do estado e a nica com tais servios

    privatizados.

    Figura 1 - Localizao da rea de estudo. Municpio de Manaus, Estado do Amazonas.

    Brasil

    Fonte: O prprio autor, 2017.

  • 22

    Em rea de unidade territorial total Manaus mede 11.401,092 km2, e uma populao

    estimada de 2.094.391 habitantes segundo o IBGE (2016). Localiza-se margem esquerda do

    Rio Negro e a rea urbana mede 377 km2, fazendo limites com as cidades de Presidente

    Figueiredo, Careiro, Iranduba, Rio Preto da Eva e Novo Airo3. At 2009, a cidade era

    dividida em 56 bairros, atualmente so 63 registrados (MANAUS, 2010).

    2.5 CARACTERIZAO E PROCEDIMENTO DE ANLISE

    Por se tratar de uma anlise qualitativa de indicadores, quatro grupos de base de dados

    foram escolhidos, sendo essas bases de dados nacionais e locais, sendo escolhidos por

    retratarem a situao dos SAE em Manaus e situar a cidade de Manaus em relao s vinte

    cidades mais bem posicionadas do pas, fornecendo evidncias que expliquem a sua posio

    no ranking do saneamento promovido pelo Instituto conforme figura 2 pelo Instituto Trata

    Brasil e divulgado em 2016.

    Figura 2 - Grupo de dados

    Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

    3 conforme informaes obtidas no site da Suframa: http://www.suframa.gov.br/zfm_turismo_manaus.cfm

    http://www.suframa.gov.br/zfm_turismo_manaus.cfm

  • 23

    2.5.1 O Sistema Nacional de informaes sobre saneamento SNIS

    Foi criado em 1996 pelo Governo Federal e administrado pela Secretaria Nacional

    de Saneamento Ambiental (SNSA) do Ministrio das Cidades, hoje o maior e mais

    importante sistema de informaes acerca do setor de saneamento no Pas, contm

    informaes de carter institucional, administrativo, operacional, gerencial,

    econmico-financeiro e de qualidade sobre a prestao de servios de gua,

    esgotos e manejo de resduos slidos urbanos.

    Estando disponveis dados desde 1995 at 2015 (no momento), a base de dados

    composta por meio de resposta voluntria de questionrios por parte das operadoras de

    saneamento brasileiras e servem de apoio para a tomada de deciso e das polticas pblicas.

    Divide-se em dois componentes: gua e esgotos e resduos slidos, sendo essas informaes

    coletadas anualmente e provm de prestadores de servios ou rgos municipais encarregados

    da gesto dos servios. Para esta presente pesquisa utilizou-se o SNIS Srie Histrica que

    um programa possvel de ser acessado na web e permite consultar informaes e indicadores,

    alm de poder cruzar essas informaes permitindo uma avaliao melhor, sendo utilizada a

    base de dados desagregada a fim de ampliar os dados referentes aos prestadores de servios.

    Os dados coletados foram escolhidos depois de minuciosa avaliao por tratar de temas que

    afetam diretamente a expanso das redes de gua e esgoto e se considerou os anos de 2000 a

    2015, pois, o longo perodo de tempo coincide com o primeiro perodo de concesso (15

    anos).

  • 24

    Quadro 1 - Relao dos indicadores SNIS

    IN015 - ndice de coleta de esgoto

    Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade

    ______ES005_____x100

    AG010 - AG019

    AG010: Volume de gua consumido

    AG019: Volume de gua tratada exportado

    ES005: Volume de esgotos coletado

    Percentual

    IN016 - ndice de tratamento de esgoto

    Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade

    __ES006 + ES014 + ES015 x 100

    ES005 + ES013

    ES005: Volume de esgoto coletado

    ES006: Volume de esgoto tratado

    ES013: Volume de esgoto bruto importado

    ES014: Volume de esgoto importado tratado nas instalaes do importador

    ES015: Volume de esgoto bruto exportado tratado nas instalaes do importador

    Percentual

    IN023 - ndice de atendimento urbano de gua

    Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade

    _AG026_ x 100

    GE06a

    AG026: Populao urbana atendida com abastecimento de gua

    G06A: Populao urbana residente dos municpios com abastecimento de gua

    POP_URB: Populao urbana do municpio do ano de referncia (Fonte: IBGE):

    Percentual

    IN047 - ndice de atendimento urbano de esgoto referido aos municpios atendidos com esgoto

    Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade

    _ES026 _ x 100

    GE06b

    ES026: Populao urbana atendida com esgotamento sanitrio

    G06B: Populao urbana residente dos municpios com esgotamento sanitrio

    POP_URB: Populao urbana do municpio do ano de referncia (Fonte: IBGE):

    Percentual

    IN049 - ndice de perdas na distribuio

    Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade

    AG006 + AG018 AG010 AG024_ x 100

    AG006 + AG018 AG024

    AG006: Volume de gua produzido

    AG010: Volume de gua consumido

    AG018: Volume de gua tratada importado

    AG024: Volume de servio

    Percentual

    Fonte: Diagnstico dos Servios de gua e Esgotos 2015.

  • 25

    Quadro 2 - Relao de informaes do SNIS

    AG005

    EXTENSO DA REDE DE GUA

    Comprimento total da malha de distribuio de gua, incluindo adutoras, subadutoras e redes distribuidoras e excluindo ramais prediais, operada

    pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Unidade: km.

    AG021

    QUANTIDADE DE LIGAES TOTAIS DE GUA

    Quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de gua rede pblica, providas ou no de hidrmetro, existente no ltimo dia do ano de

    referncia. Unidade: Ligaes.

    AG026

    POPULAO URBANA ATENDIDA COM ABASTECIMENTO DE GUA

    Valor da populao urbana atendida com abastecimento de gua pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde

    populao urbana que efetivamente atendida com os servios. Unidade: Habitantes.

    ES004

    EXTENSO DA REDE DE ESGOTOS

    Comprimento total da malha de coleta de esgoto, incluindo redes de coleta, coletor tronco e interceptores e excluindo ramais prediais e

    emissrios de recalque, operada pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Unidade: km.

    ES009

    QUANTIDADE DE LIGAES TOTAIS DE ESGOTOS

    Quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de esgotos rede pblica, existentes no ltimo dia do ano de referncia.

    Referncias: X035; X040; X080; X090. Unidade: Ligaes.

    ES026

    POPULAO URBANA ATENDIDA COM ESGOTAMENTO SANITRIO

    Valor da populao urbana beneficiada com esgotamento sanitrio pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde

    populao urbana que efetivamente atendida com os servios. Unidade: Habitantes.

    FN023

    INVESTIMENTO REALIZADO EM ABASTECIMENTO DE GUA PELO PRESTADOR DE SERVIOS

    Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo prprio prestador de servios, em

    equipamentos e instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de abastecimento de gua, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo

    Imobilizado ou no Ativo Intangvel. Unidade: R$/ano. (Continua...)

  • 26

    (Continuao...)

    FN024

    INVESTIMENTO REALIZADO EM ESGOTAMENTO SANITRIO PELO PRESTADOR DE SERVIOS

    Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo prprio prestador de servios, em

    equipamentos e instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de esgotamento sanitrio, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo

    Imobilizado ou no Ativo Intangvel. Unidade: R$/ano.

    FN042

    INVESTIMENTO REALIZADO EM ABASTECIMENTO DE GUA PELO (S) MUNICPIO (S)

    Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Municpio, em equipamentos e

    instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de abastecimento de gua, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo

    Intangvel. Unidade: R$/ano.

    FN043

    INVESTIMENTO REALIZADO EM ESGOTAMENTO SANITRIO PELO (S) MUNICPIO (S)

    Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Municpio, em equipamentos e

    instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de esgotamento sanitrio, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo

    Intangvel. Unidade: R$/ano.

    FN052

    INVESTIMENTO REALIZADO EM ABASTECIMENTO DE GUA PELO ESTADO

    Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Estado, em equipamentos e

    instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de abastecimento de gua contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo

    Intangvel. Unidade: R$/ano.

    FN053

    INVESTIMENTO REALIZADO EM ESGOTAMENTO SANITRIO PELO ESTADO

    Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Estado, em equipamentos e

    instalaes incorporados ao(s) sistema(s) de esgotamento sanitrio, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo

    Intangvel. Unidade: R$/ano. Fonte: Informaes retiradas integralmente do Diagnstico dos Servios de gua e Esgotos 2015.

  • 27

    2.5.2 ARSAM

    A Agncia Reguladora dos Servios Pblicos Concedidos do Estado do Amazonas

    ARSAM4 foi criada pela Lei n 2.568, de 25 de novembro de 1999, para atuar como uma

    autarquia, em regime especial, integrante da administrao indireta do Poder Executivo. A

    partir da Lei Delegada n 105, de 18 de maio de 2004, essa agncia passou a ser vinculada

    Secretaria de Estado de Infraestrutura SEINFRA. Mais recentemente, a partir da Lei n

    4.163, de 9 de maro de 2015, a ARSAM teve sua estrutura organizacional alterada, sofrendo

    a reduo de sete para duas diretorias e seus respectivos departamentos, e passou a ficar

    vinculada diretamente Casa Civil do Governo Estadual do Amazonas.

    A ARSAM tem como atribuies a fiscalizao, mediao, controle e regulao da

    qualidade dos servios de transporte coletivo rodovirio intermunicipal de passageiros, de gs

    natural canalizado e, por fora de convnio com a Prefeitura Municipal de Manaus, os

    mesmos procedimentos sobre o abastecimento de gua e esgotamento sanitrio da capital. A

    regulao dos servios concedidos respaldada por convnios, contratos, termos ou outras

    legislaes que regulamentam a prestao dos servios diretamente, ou mediante regime de

    concesso, ou, ainda, por permisso. Os indicadores avaliados levam em considerao, assim

    como o grupo do SNIS, quinze anos (2000 a 2015), mas, em menor quantidade, os

    indicadores avaliados pela ARSAM e calculados por metodologia prpria.

    Quadro 3 - Relao de Indicadores ARSAM

    Extenso de

    rede de gua

    (m)

    N de economias

    de gua

    N de ligaes

    de gua (N

    econ/1.2)

    Populao

    atendida

    Evoluo da

    cobertura de

    gua por

    extenso de rede

    (%)

    Extenso de rede

    coletora de

    esgoto (m)

    N de

    economias

    de esgoto

    N de ligaes

    de esgoto

    (econ. /1.2)

    Populao

    Atendida

    Evoluo da

    cobertura de

    esgoto por

    extenso

    de rede (%) Fonte: Relatrio de atividades 2015.

    4 Informaes retiradas integralmente do relatrio de atividade da ARSAM (2015). Disponvel em: http://www.arsam.am.gov.br/wp/wp-content/uploads/Relat%C3%B3rio-de-atividades-ARSAM-2015.pdf.

    http://www.arsam.am.gov.br/wp/wp-content/uploads/Relat%C3%B3rio-de-atividades-ARSAM-2015.pdf

  • 28

    2.5.3 Metas do Contrato de Concesso

    A Concesso dos servios de abastecimento de gua e esgotamento sanitrio

    formalizada em 04/07/2000 previa a avaliao das metas contratuais a ocorrem nos meses de

    junho de 2006, 2011, 2016, 2021, 2026 e 2029.

    Nas avaliaes de 2006 e 2011 foi constatado que no estavam contempladas as

    metas anuais e/ou intermedirias que espelhassem a evoluo e a qualidade da

    prestao dos servios. As principais avaliaes realizadas pela Diretoria Tcnica de

    Concesses e Regulao da Qualidade DITEC da ARSAM, no perodo de 2003 a

    2006, demonstraram que no estava ocorrendo o cumprimento total das 13 (treze)

    metas pactuadas. Por isso, foi realizada uma avaliao dessas metas por uma

    comisso especial, criada para o estudo do novo regime tarifrio, em abril de 2005.

    Por exigncia do poder concedente, a Prefeitura de Manaus, foram realizadas, ento,

    vrias avaliaes para uma reviso das metas de concesso. Assim, em abril de

    2006, foi apresentada a avaliao da Fundao Djalma Batista; em junho de 2006, a

    avaliao pela Fundao Getlio Vargas; em novembro de 2006, outra avaliao

    pela Deloitte Tohmatsu Consultores Ltda.; e em maro de 2012 nova avaliao pela

    Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas FIPE. Dessa forma, foi possvel, com

    base nas avaliaes das diferentes instituies mencionadas, a realizao de termos

    aditivos para os servios de abastecimento de gua e esgotamento sanitrio de

    Manaus. Esses termos aditivos ao contrato de concesso original foram celebrados

    entre a Prefeitura de Manaus com a Concessionria guas do Amazonas, em

    diferentes datas. (ARSAM, 2015 p. 23)

    Cabe a ARSAM fiscalizar e avaliar as metas estabelecidas no contrato, alm de propor

    aes corretivas e sanes, quando for o caso. Das metas dispostas no anexo IV do contrato

    de concesso sete foram escolhidas para anlise, possveis de comparao com os dados da

    ARSAM e SNIS.

    Quadro 4 - Relao de Indicadores do Contrato de Concesso

    INDICADOR UNID

    1 Cobertura do servio de gua %

    2 Cobertura do servio de esgoto %

    7 Continuidade do servio de gua H

    10 Porcentagem de tratamento dos esgotos gerados e controlados %

    11 Volume total de reservao de gua m

    14 ndice de hidrometrao %

    Fonte: Contrato de Concesso dos SAE em Manaus.

  • 29

    2.5.4 Ranking do saneamento

    O Ranking do saneamento brasileiro uma publicao do Instituto Trata Brasil a cada

    quatro anos, o ltimo relatrio de 2016 e o anterior de 2013.

    Sua metodologia de anlise prpria e dentre outros se considerou:

    Os 100 maiores municpios do Brasil em termos populacionais;

    Os dados foram retirados do Sistema Nacional de Informaes sobre o Saneamento

    (SNIS);

    Os dados coletados no SNIS foram tratados de forma a expressarem sua prpria

    metodologia5, ento cada municpio foi classificado de acordo com seus indicadores e

    ordenados da maior para a menor nota.

    As variveis escolhidas englobam as informaes e indicadores fornecidos pelo SNIS,

    foram utilizadas as seguintes varveis (populao, fornecimento de gua, coleta e tratamento

    de esgoto, investimentos e perdas), a escolha desses indicadores se deu em razo de refletirem

    a anlise principal desta pesquisa, a universalizao dos SAE, sobretudo em Manaus e como

    os dados apresentados at o momento influenciaram no panorama geral da posio de Manaus

    no ranking em relao as demais cidades sua base de dados considerou os dados do SNIS do

    ano de 2014 como base por causa da sua defasagem natural de ano de publicao, ou seja, o

    ranking atual se baseou nos dados coletados e apresentados no ano base de 2014.

    5 Para mais detalhes sobre a metodologia utilizada consultar o relatrio do ranking. Disponvel em: http://www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-4.

    http://www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-4

  • 30

    Quadro 5 - Relao de Indicadores do Ranking do Saneamento Indicador IN023 - ndice de Atendimento Urbano de gua

    Valor da populao urbana atendida com abastecimento de gua pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde populao urbana que

    efetivamente atendida com os servios.

    Indicador IN024 - ndice de Atendimento Urbano de Esgoto

    Valor da populao urbana beneficiada com esgotamento sanitrio pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde populao urbana

    que efetivamente servida com os servios.

    FN058 Investimentos totais / FN006 Arrecadao total

    A informao FN058 Investimentos totais realizados pelo Estado definida como: valor total dos investimentos realizados no ano de referncia pelo Estado.

    Corresponde ao resultado da soma dos investimentos realizados pelo Estado em abastecimento de gua, em esgotamento sanitrio, em outros investimentos, mais as

    despesas capitalizveis; ou da soma dos investimentos com recursos prprios, com recursos onerosos e com recursos no onerosos. A informao FN006

    Arrecadao total define o valor anual efetivamente arrecadado de todas as receitas operacionais, diretamente nos caixas do prestador de servios ou por meio de

    terceiros autorizados (bancos e outros).

    Indicador IN046 - ndice de Esgoto Tratado Referido gua Consumida

    Esse indicador mostra, em relao gua consumida, qual porcentagem do esgoto tratada. Quanto maior for essa porcentagem, melhor deve ser a colocao do

    municpio no Ranking, pois maior parte do esgoto gerado pelo municpio tratada.

    Novas Ligaes de gua Sobre Ligaes Faltantes

    AG021-Quantidade de ligaes totais de gua como: quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de gua rede pblica, providas ou no de hidrmetro,

    existente no ltimo dia do ano de referncia. J o indicador IN055 Populao Total Atendida com gua: corresponde porcentagem da populao que

    efetivamente servida com os servios de gua, ou seja, est associada quantidade de economias residenciais ativas de gua.

    Novas Ligaes de Esgoto Sobre Ligaes Faltantes

    Quantidade de ligaes totais de esgoto como: quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de esgoto rede pblica, existentes no ltimo dia do ano de

    referncia.

    Indicador IN049 - ndice de Perdas na Distribuio

    Volume de gua Produzido (AG006) corresponde ao volume anual de gua disponvel para consumo, compreendendo a gua captada pelo prestador de servios e a

    gua bruta importada, ambas tratadas na(s) unidade(s) de tratamento do prestador de servios, medido ou estimado na(s) sada(s) da(s) ETA(s) ou UTS(s). Inclui

    tambm os volumes de gua captada pelo prestador de servios ou de gua bruta importada, que forem disponibilizados para consumo sem tratamento, medidos

    na(s) respectiva(s) entrada(s) do sistema de distribuio. J o Volume de gua Tratado Importado (AG018) caracteriza o volume anual de gua potvel,

    previamente tratada (em ETA(s) ou em UTS(s)), recebido de outros agentes fornecedores. Por sua vez Volume de gua de Servio (AG024) o valor da soma dos

    volumes anuais de gua usados para atividades operacionais e especiais, acrescido do volume de gua recuperado. As guas de lavagem das ETA(s) ou UTS(s) no

    so consideradas. Por fim, o volume de gua consumido (AG010) definido como o volume anual de gua consumido por todos os usurios, compreendendo o

    volume micromedido, o volume de consumo estimado para as ligaes desprovidas de hidrmetro ou com hidrmetro parado, acrescido do volume de gua tratada

    exportado para outro prestador de servios. Fonte: Transcrito do Ranking do Saneamento 2016.

  • 31

    2.6 LIMITAES DA PESQUISA

    Percebeu-se durante a elaborao desta pesquisa que os anos de 2000 e 2001 que todos

    os indicadores selecionados no grupo do SNIS no haviam sido informados corretamente,

    nesse perodo a gesto dos servios estavam em transio, mas j era de responsabilidade da

    Manaus Ambiental, todavia, os dados foram informados como sendo da COSAMA, dessa

    maneira esses anos foram retirados da anlise, afim de no comprometer a entendimento dos

    mesmos.

    3 ASPECTOS CONCEITUAIS

    3.1 OS SAES: O DIREITO HUMANO E FUNDAMENTAL DE ACESSO SEGUNDO A

    LEGISLAO BRASILEIRA

    3.1.1 O direito humano aos SAE

    A histria da humanidade marcada por grandes eventos que mudaram a concepo

    humana sobre a vida, grandes batalhas desde os primrdios foram registradas em praticamente

    todas as eras, desde as feudais at as modernas, o mundo em que vivemos precisou conhecer a

    dor para poder comear a se importar com seus semelhantes. Ainda hoje, vivemos em um

    mundo que possui conflitos pelo poder, a maior parte, velados, outros nem tanto.

    Esses conflitos sempre estiveram presentes na histria humana, as Guerras Civis

    Inglesas, a revoluo Francesa, a revoluo Russa, a primeira e a segunda guerra mundial,

    dentre tantas outras, mas s em 1945 a comunidade internacional resolveu tomar medidas

    para garantir vida. Inicia-se ento a elaborao do um guia e nos trs anos seguintes

    esboaram o que futuramente seria chamada de Declarao Universal dos Direitos Humanos

    (DUDH), na tentativa nunca mais permitir atrocidades como as que haviam sido vistas nas

    guerras passadas.

    O Prembulo da Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948) Considera que o

    reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da famlia humana e de seus

    direitos iguais e inalienveis o fundamento da liberdade, da justia e da paz no mundo, ou

    seja, no decorrer de seus artigos prega pela igualdade entre homens e mulheres assim como a

    busca por melhores condies de vida.

  • 32

    Adotada e proclamada pela resoluo 217 A (III) da Assemblia Geral das Naes

    Unidas em 10 de dezembro de 1948, a Declarao Universal dos Direitos Humanos, possui

    trinta artigos, dos quais para esta pesquisa destaca-se:

    Artigo 3. Todo ser humano tem direito vida, liberdade e segurana

    pessoal. (Grifo nosso)

    Artigo 7. Todos so iguais perante a lei e tm direito, sem qualquer distino, a

    igual proteo da lei [...]. (Grifo nosso)

    Artigo 8. Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais

    competentes remdio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais

    que lhe sejam reconhecidos pela constituio ou pela lei. (grifo nosso)

    Artigo 21. [...] 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao servio pblico

    do seu pas. (Grifo nosso)

    Artigo 22. Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito segurana

    social e realizao, pelo esforo nacional, pela cooperao internacional e de

    acordo com a organizao e recursos de cada Estado, dos direitos econmicos,

    sociais e culturais indispensveis sua dignidade e ao livre desenvolvimento da

    sua personalidade. (Grifo nosso)

    Artigo 25. 1. Todo ser humano tem direito a um padro de vida capaz de

    assegurar a si e a sua famlia sade e bem-estar [...]. (Grifo nosso)

    Os artigos em grifo dizem respeito dignidade e igualdade e so componentes

    primordiais em qualquer democracia, o papel do estado claro e no pode ser omisso,

    permitir que toda a populao possa usufruir dos mesmos servios condio necessria para

    garantir a todos direito vida, e todas as necessidades mais bsicas humanas, que so

    indissociveis aos SAE. Garantir que todos sejam tratados iguais perante a lei comprimir

    com o princpio da igualdade, pois so grandes injustias sociais e a falta de saneamento que

    diversos indivduos so privados, assim como punir o governo por ser omisso aos seus

    deveres populao, pois em uma democracia todos tm direitos e deverem,

    No Brasil a Constituio Federal respeitando a DUDH inicia com os princpios

    fundamentais, elencando os direitos e garantias fundamentais e direitos sociais, sendo esta a

    base dos demais artigos e reflete em toda a legislao brasileira com destaque especial:

    TTULO I DOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS

    Art. 1[...] III a dignidade da pessoa humana;

    TTULO II DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

    Art. 5 - Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,

    garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade

    do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos

    seguintes: [...]

    CAPTULO II

    DOS DIREITOS SOCIAIS

    Art. 6 - So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a

    segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia

    aos desamparados, na forma desta Constituio.

  • 33

    Para Marmelstein (2014) a dignidade da pessoa humana um subitem dos princpios

    fundamentais que liga em outros elementos fundamentais conforme figura 3, e que tm entre

    outras funes a fundamentar o direito brasileiro, nas palavras de Pinho (2013 p. 57), os

    princpios fundamentais so regras que contm os mais importantes valores que informam a

    elaborao da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, so dotados de normatividade,

    ou seja, constituem-se de regras jurdicas efetivas.

    Figura 3 Componentes do conceito de direitos fundamentais

    Fonte: O prprio autor, a partir de Fiorillo (2013).

    Ou seja, para ser considerado um direito fundamental este deve estiver ligado

    dignidade da pessoa humana e todos os outros elementos. No entrando no conceito de utopia

    do mundo justo e igualitrio importante ampliar o entendimento a dignidade da pessoa

    humana vai alm das questes fisiolgica como aborda Fiorillo (2013) para se garantir o

  • 34

    direito constitucional necessrio que o indivduo possua uma vida que supere as

    necessidades fisiolgicas, e que lhe seja acrescentado outros valores fundamentais a

    sobrevivncia, como as culturais, as sociais, as econmicas e as ambientais.

    3.1.2 As geraes dos direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana

    Um avano histrico e significativo aconteceu entre as geraes do que ora chamamos

    de direitos fundamentais6. As Constituies Federais brasileiras, sobretudo a de 1988

    sofreram influncia dessas geraes de direitos fundamentais, que abrange diversos tipos de

    direitos no s individuais, mas, coletivos, sociais e polticos em nossa sociedade. Os

    princpios aqui defendidos como a igualdade e dignidade da pessoa humana, sempre

    estiveram presentes nas sociedades, sendo a noo de direitos do homem to antiga quanto a

    prpria sociedade (MARMELSTEIN, 2014). E foram se consolidando atravs da histria, a

    luta pelo trabalho, a igualdade com as mulheres, pela liberdade, democracia e contra o

    preconceito ilustram o tamanho do desafio combatido at chegamos aos Direitos universais

    dos homens.

    Quadro 6 - Geraes dos direitos fundamentais

    1 GERAO

    (Direitos individuais)

    2 GERAO

    (Direitos sociais)

    3 GERAO

    (Direitos de fraternidade)

    Liberdade Igualdade Fraternidade

    Direitos negativos (no agir) Direitos a prestaes

    Direitos civis e polticos:

    liberdade poltica, de expresso,

    religiosa, comercial

    Direitos sociais,

    econmicos e

    culturais

    Direitos ao desenvolvimento,

    ao meio ambiente sadio,

    direito paz

    Direitos individuais Direitos de uma

    coletividade

    Direitos de toda a

    Humanidade

    Estado Liberal Estado social e Estado democrtico e social

    Fonte: Marmelstein sob a tica de Karel Vasak 2014.

    6 Marmelstein descreve resumidamente a ideia conhecida como teoria das geraes dos direitos, desenvolvida por Karel Vasak que se inspirou na revoluo francesa e formulou o seguinte discurso:

    a) A primeira gerao dos direitos seria a dos direitos civis e polticos, fundamentados na liberdade, que tiveram origem com as revolues burguesas;

    b) A segunda gerao, por sua vez, seria a dos direitos econmicos, sociais e culturais baseados na igualdade, impulsionada pela Revoluo Industrial e pelos problemas sociais por ela causados;

    c) A ltima gerao seria a dos direitos de solidariedade, em especial o direito ao desenvolvimento, paz e ao meio ambiente, corando a trade com a fraternidade, que ganhou fora aps a Segunda Guerra mundial,

    especialmente aps a Declarao Universal dos Direitos Humanos, de 1948. O mesmo autor ainda diz que a

    teoria surgiu por acaso, quando Karel Vasak, em uma aula inaugural no teve tempo para preparar a exposio

    da aula ento lembrou a bandeira francesa, cujas cores simbolizam a liberdade, a igualdade e fraternidade.

  • 35

    Hobbes, Maquiavel so exemplos de filsofos que sofreram influncia do pensamento

    poltico ocidental da ideia de poder absoluto por partes dos governantes, contudo nas palavras

    de Marmelstein, (2014, p. 31):

    Os direitos fundamentais foram criados inicialmente, como instrumento de limitao

    do poder estatal, visando assegurar aos indivduos um nvel mximo de fruio de

    sua autonomia e liberdade. Ou seja, eles surgiram como barreira ou escudo de

    proteo dos cidados contra a intromisso indevida do Estado em sua vida privada

    e contra o abuso de poder.

    E assim como visto nas palavras de Pinho (2003, p. 66) os direitos fundamentais so

    produtos da evoluo histrica. Surgem das contradies existentes no seio de uma

    determinada sociedade. pautado nesse discurso que se destaca a primeira gerao aps

    anos de lutas e com a criao de mecanismos que permitiram a participao popular e a

    limitao do poder autoritrio do estado, surgem os valores que se solidificariam com junto ao

    estado democrtico de direito como normas, dando incio um processo de positivao dos

    direitos fundamentais nas Constituies em diversos pases do mundo.

    A segunda gerao marcada pelo grande desenvolvimento tecnolgico trazido pela

    revoluo industrial, mas tambm pela luta das mulheres pela igualdade no trabalho, o

    pagamento de salrios dignos, de melhores condies de trabalho tanto de homens como

    mulheres, ou seja, corresponde aos direitos sociais e econmicos. E nesse contexto surge o

    Estado do bem-estar social que se comprometeu em garantir igualdade entre as classes e as

    garantias bsicas para uma vida digna. E muitos direitos destinados a melhorarem a qualidade

    de vida dos trabalhadores surgem naquela poca, ento que o Estado se comprometeu a

    assegurar os direitos econmicos, sociais e culturais da populao que esto ligados s

    necessidades bsicas do indivduo como a alimentao, sade e moradia e que influenciam

    diretamente nas atividades do trabalho (PINHO, 2003; MARMELSTEIS, 2014).

    Diferente a primeira gerao que limitava o poder do Estado, a segunda que imps

    deveres a serem realizados pelos Estados a fim de salvaguardar a qualidade de vida da

    populao, a terceira gerao tem como meta a fraternidade e solidariedade universal, ou seja,

    proteo a todos independente do gnero, segundo Pinho (2003, p. 68) so direitos

    decorrentes de uma sociedade de massas, surgidas em razo dos processos de industrializao

    e urbanizao e nesse rol de direitos levantados por essa gerao podem ser citados: o direito

    ao desenvolvimento, paz, ao meio ambiente, dentre outros que ganharam fora com os

    diversos acordos e tratado oriundo dos tribunais internacionais que queria evitar novas

  • 36

    atrocidades a cometidas populao durante os sculos, como a Declarao Universal dos

    Direitos Humanos de 1948, no Brasil a CF de 1988 por meio do art. 225 reflete o desejo que

    todos tenham acesso a um ambiente equilibrado e que promova qualidade de vida, que para

    Sirvinskas (2014) s pode ser alcanada mediante ao poder pblico exercer seu papel e buscar

    a felicidade do cidado e o bem comum, assim para o autor, o meio ambiente e a qualidade de

    vida se fundem ao maior de todos os princpios humanos, o direito vida. Alm da

    Declarao de Estocolmo de 1972 que em seu primeiro princpio define: O homem tem o

    direito fundamental liberdade, igualdade e ao desfrute de condies de vida adequadas em

    um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-

    estar, tendo a solene obrigao de proteger e melhorar o meio ambiente para as geraes

    presentes e futuras (UN, 1972).

    Ainda sobre a CF/88 a mesma inovou e se diferenciou das demais constituies

    anteriores do nosso pas ao fixar os direitos fundamentais antes do conjunto de leis que rege e

    fundamenta a organizao do Estado brasileiro, assim Pinho (2003, p. 66) os diretos

    fundamentais so os considerados indispensveis a pessoa humana, necessrios para assegurar

    a todos uma existncia digna, livre e igual. No basta o Estado reconhec-los formalmente,

    deve buscar concretiz-los, incorpor-los do dia a dia dos cidados e de seus regentes.

    Dessa maneira, permitir que a populao tenha acesso a esses direitos, na verdade

    garantir a dignidade da pessoa humana. Sarlet (2002, p. 62) apud Marmelstein (2014, p.16)

    afirma que a dignidade da pessoa humana:

    a qualidade intrnseca e distintiva de cada ser humano que faz merecedor do

    mesmo respeito e considerao por parte do Estado e da comunidade, implicando,

    neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a

    pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como

    venham a lhe garantir as condies essenciais mnimas para uma vida saudvel,

    alm de propiciar e promover sua participao ativa e corresponsvel nos destinos

    da prpria existncia e da vida em comunho com os demais seres humanos.

    J Marmelstein (2014, p. 62-63) a noo bsica de respeito ao outro sintetiza com

    perfeio o princpio da dignidade da pessoa humana e lembra que a dignidade um atributo

    e no um privilgio de poucos, mas de toda humanidade. Por conseguinte, Pinho (2003, p.

    62) lembra que a dignidade da pessoa humana um dos principais valores da ordem social e

    jurdica brasileira e que deve ser entendido como absoluto respeito aos seus direitos

    fundamentais, assegurando condies dignas de existncia para todos. No basta apenas

    garantir que toda populao tenha acesso a esses direitos sem entender que vivemos em

  • 37

    uma sociedade de massa caracterizada por um crescimento desordenado e brutal avano

    tecnolgico (Fiorillo, 2013 p, 47). Que por vezes se torna excessivamente predatria unindo-

    se a uma economia de alto consumo, to desnecessria que a humanidade est disposta a

    exaurir suas reservas naturais pela maximizao de seu consumo.

    Essa deveria ser base das aes dos SAE no s no Brasil, mas no mundo, somente

    pensando em como a populao servida por esses sistemas que podemos caminhar para

    melhorar o acesso aos mesmos, permitindo que a prtica esses fundamentos possam ser

    aplicados a todos, claro que para isso acontecer necessrio um esforo conjunto de todos

    no s entes pblicos, mas da prpria populao ser mais ativa, da participao social de

    forma a garantir que os governos cumpram o seu papel.

    Saindo dos princpios fundamentais e entrando nas nuances que o acesso aos SAE

    provoca, temos a resoluo A/RES/64/292 de julho de 2010 da Assemblia Geral da ONU

    reconheceu o direito gua potvel e limpa e ao saneamento como um direito humano e

    essencial para o pleno gozo da vida e todos os direitos humanos UN (2010 p. 2). J Oliveira

    (2016) afirma que em 2015 aps deliberao da Assembleia Geral ONU entendeu que o

    Saneamento bsico um direito humano e deve ser separado do direito gua potvel. Gleick

    (1998) se referindo tambm as aes do saneamento concorda que a gua deve ser

    considerada como um direito humano fundamental. Hojaij (2015) afirma que o saneamento

    bsico fundamento para regatar a dignidade humana e est relacionado diretamente ao

    desenvolvimento urbano dos pases. Britto (2016, p. 2) corrobora ao dizer que tambm

    obriga os Estados a eliminarem progressivamente as desigualdades de acesso tanto gua

    como ao esgoto desigualdades entre populaes nas zonas rurais ou urbanas, formais ou

    informais, ricas ou pobres.

    Heller (2016, p. 1) analisa:

    O significado desses direitos tem sido progressivamente interpretado e

    compreendido. O direito humano gua tem sido considerado como compreendendo

    a gua fsica e financeiramente acessvel, segura, aceitvel e continuamente

    disponvel para o uso pessoal e domstico. Quanto ao direito humano ao

    esgotamento sanitrio, entende-se que este servio deva ser fsica e financeiramente

    acessvel, prover segurana ao usurio, ser culturalmente aceitvel e disponvel para

    todos os usurios e em todas as esferas da vida, alm de assegurar dignidade e

    privacidade. Enxergar o acesso gua e ao esgotamento sanitrio sob a lente dos

    direitos humanos supe tambm observar seus princpios fundantes, como o direito

    participao, o direito ao acesso informao, a igualdade e no discriminao, a

    responsabilidade por parte de governos e prestadores de servio e a sustentabilidade.

  • 38

    Ou seja, as mudanas orientadas pelos direitos humanos implicam dentre outras em

    mudana na postura do governo, pois a prtica quase sempre discriminatria. Em exemplo

    seria a acessibilidade financeira no s das prestadoras, mas tambm dos titulares do servio

    em resguardar o acesso das pessoas economicamente vulnerveis, Heller (2016, p. 2) lembra

    que o corte da ligao de uma moradia ao sistema pblico, por ausncia de pagamento

    violao a esse direito, mas Bertollo (2016) nos situa que embora esses servios (SAA e

    SES) estejam na categoria de direitos essenciais h uma controvrsia a Lei Federal n.

    11.445/2007 no art. 40 3 sugere a possibilidade de interrupo dos servios em caso de

    inadimplncia, sendo esse um grave retrocesso poltico, econmico e social vivido pela

    populao brasileira.

    Para Barlow (2015, p. 17):

    O direito a gua no um vale-tudo permitindo que um use a quantidade que bem

    entender para qualquer finalidade; em vez disso, ele garante gua potvel limpa e

    acessvel, assim como saneamento, para uso pessoal e domstico para todos. [...]

    fundamentalmente o direito humano gua uma questo de justia, no de

    caridade. Ele exige um desafio s estruturas de poder atuais que do suporte ao

    acesso s reservas de gua doce do mundo, cada dia mais escassas.

    evidente que os recursos hdricos devem ser levados em considerao, j que sem

    gua, no existiria esgoto, ou seja, no existiria o SAE, e a preocupao com gua, de longe

    o mais urgente dos problemas ambientais vividos no mundo, prover gua de qualidade a todos

    questo de sobrevivncia e se caracteriza como princpio a vida, neste nterim:

    A gua no uma questo de escolha. Ela indispensvel. O direito gua consiste

    no fornecimento em quantidade suficiente, de custo acessvel e de qualidade [...]

    considerando que gua no tem preo, h que se fomentar e promover um novo

    modelo de desenvolvimento sustentvel, no mbito local e regional, que garanta a

    todos o acesso a esses servios essenciais WARTCHOW (2009 p. 275).

    Corrobora ainda Galvo Junior (2009, p. 549) O acesso dos servios de saneamento

    bsico condio necessria dignidade da pessoa humana e, particularmente, sua

    sobrevivncia. J Madeira (2010, p. 126) afirma que dadas as externalidades dos servios e

    a sua essencialidade se tornam a questo da universalizao7 e equidade8 fundamentais aos

    cidados.

    7 Universalizao: segundo a Lei Federal n. 11.445/2007 a ampliao progressiva do acesso de todos os domiclios ocupados ao saneamento bsico. 8 Equidade: Souza (2007 p. 766) destaca que o entendimento que a equidade mais do que tratar todos iguais, teria um valor de justia, ou seja, de se buscar dar mais a quem precisa mais.

  • 39

    Heller; Castro (2013, p. 30) presumem que:

    As polticas concernentes ao saneamento devam se fundamentar no princpio que

    esses servios constituem um direito social do cidado, em outras palavras,

    obrigao do Estado garantir o acesso universal a eles. Essa conceituao apoia-se

    nos princpios da universalidade e da equidade, de acordo com os quais todo cidado

    independente de sua classe social, gnero, origem tnica, ou qualquer outro fator de

    diferenciao social, tem direito irrestrito aos bens e servios julgados essenciais

    manuteno da vida numa sociedade civilizada.

    A combinao do acesso gua potvel e ao sistema de esgotamento sanitrio

    condio para se obter resultados satisfatrios tambm na luta para a erradicao da pobreza e

    da fome, para a reduo da mortalidade infantil e pela sustentabilidade ambiental

    (CAMPANHA DA FRATERNIDADE, 2016). Assim evidente a importncia desses

    sistemas a humanidade, sem eles no poderamos pensar em bem-estar.

    3.2 CONHECENDO OS SAE NA HISTRIA MUNDIAL

    As aes de saneamento sempre estiveram presentes na histria da humanidade, as

    civilizaes antigas como a grega, romana, asitica e tantas outras demonstravam sinal de

    preocupao com a higiene e sade da populao e os legados dessas civilizaes ainda esto

    presentes na atualidade. As primeiras grandes demandas por gua surgiram ainda na pr-

    histria com a agricultura, o homem primitivo passa de uma vida nmade para uma vida

    sedentria, que tornou a vida das populaes menos complexas, sobretudo no tange o

    abastecimento de gua dessas populaes (HELLER, 2006).

    Em funo das condies de vida das civilizaes antigas, provvel que, em suas

    pocas, a preocupao com aes de natureza sanitria tenha sido relativa ao suprimento de

    gua para consumo humano, irrigao e disposio dos efluentes FUNASA (2015, p.11).

    Permitindo construrem suas cidades prximas s bacias hidrogrficas e vencerem as

    dificuldades impostas pela natureza na busca pela gua (SILVA, 1998).

    Heller (2006) lembra que o povo inca mostrou seus conhecimentos de engenharia

    sanitria por meio das estruturas que construram na antiguidade, essas estruturas tinham

    sistemas bastante eficientes de esgotamento sanitrio, de drenagem pluvial, e reservatrios de

    gua. J para Rosen (1994, p. 31) os stios escavados em Mohenjo-Daro, no vale da ndia, em

    Harappa, no Punjab, indicaram vestgios de uma cidade que fora construda por uma

    civilizao muito antiga que data de quatro mil anos atrs. Aparentemente a cidade fora

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    construda em blocos retangulares, respeitando leis de construo, haviam banheiros, as ruas

    eram largas, pavimentadas e drenadas por sistemas de esgoto cobertos. Os sistemas de

    esgotos urbanos foram originalmente desenvolvidos nas antigas cidades do vale do Indus, por

    volta de 4000 a.C, e so, portanto, uma inveno da sia meridional (LOBINA, 2013).

    Em Nippur, na ndia, por volta de 3750 a.C, foram construdas galerias de esgotos

    para escoarem os efluentes da cidade e no vale do Indo, muitas ruas e passagens possuam

    canais de esgoto cobertos por tijolos e com aberturas para facilitar a inspeo (AZEVEDO

    NETTO, 1959 apud CAZZELI 2013).

    Rosen (1994, p. 32) relata que:

    Dois mil anos antes da era crist j se tinham resolvido em parte o problema da gua

    para comunidades maiores. A cultura creto-micnica, por exemplo, dispunha de

    grandes aquedutos. Escavaes revelaram, em Tria, um sistema de suprimento

    muito engenhoso. Em toda parte, que existiam sistemas de abastecimento de gua de

    beber regulava-se tambm o destino dos dejetos e se desenvolvia o sistema de

    esgotamento. Em palcios, como o de Cnossos, em Creta, do segundo milnio pr-

    cristo, havia no apenas magnficas instalaes para o banho, como tambm

    descargas para os lavatrios. Instalaram-se torneiras cujos vestgios ainda se veem

    entre as runas de Priene, na sia Menor em casas particulares, talvez muito cedo,

    mesmo sendo usual, em muitos lugares para retirar a gua de poos pblicos.

    Impressionantes runas de sist