jayro luna infernalia tropicalis

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JAYRO LUNA INFERNÁLIA TROPICALIS 56 poemas para o deleite de ratos de bibliotecas, traças de sebos, quatro-olhos literatos e cus de ferro em qualquer tipo de poesia. Y Épsilon Volantis 1999.

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  • JAYRO LUNA

    INFERNLIA TROPICALIS

    56 poemas para o deleite de ratos de bibliotecas, traas de sebos, quatro-olhos literatos e cus de ferro

    em qualquer tipo de poesia.

    Y

    psilon Volantis 1999.

  • Copyright 1999 by Jairo Nogueira Luna Capa: Wilson Babau Reviso: Alvin Bates

    Ilustrao da primeira capa: A Gruta, Manuel de Arajo Porto-Alegre. Ilustrao da ltima capa: O Lago, Tarsila do Amaral.

    Nas ilustraes poticas abstratas o autor, por vezes, utilizou na composio cones ou clip-art do Microsoft Clip Gallery, 1997.

    No ttulo dos poemas utilizou fonte Futura Md Bt, corpo 12 e no texto dos poemas utilizou fonte Book Antiqua, corpo 12, 8 ou 10, conforme fossem texto central, epgrafe e nota, ou

    citao, respectivamente. Exceo feita ao poema Contra o demnio que carcome o medo o arco reteso dos heris em que foi utilizada fonte Courier New, corpo 12, no texto central.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edio pode ser utilizada ou

    reproduzida em qualquer meio ou forma, seja mecnico ou eletrnico, fotocpia, gravao, etc. nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a

    expressa autorizao do autor, ou desta editora, enquanto legalmente constituda nestes direitos pelo autor.

    Impresso e acabamento: AD Cpias.

    Editora psilon Volantis.

    [email protected]

    Luna, Jayro, 1960 Infernlia Tropicalis / Jayro Luna. So Paulo: psilon Volantis, 1999. Orelha da capa por Machado Penumbra Filho, prefcio de Fabio Ulanin. 1.Luna, Jayro, 1960 Poesia Brasileira Teoria Literria. I. Ttulo. CDD 869.915 801.95

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Poesia : Literatura brasileira : Sculo XX - 869.915 2. Teoria Literria 801.95

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  • INDEX SUMMARIUM 1. Tristes Trpicos Trpegos, Fabio Ulanin..................................6 2. Primeiro Manifesto da Poesia Poli-sgnica.................................8 3. Stoned........................................................................................12 4. Cultura e Opulncia do Brasil...............................................13 5. Repblica de Poetas................................................................14 6. Piazza XIV.................................................................................15 7. O Demnio de Scrates..........................................................16 8. Em Ritmo de Aventura..........................................................17 9. As Iluses da Modernidade..................................................18 10. Blade Runner II.........................................................................19 11. The Inferno................................................................................20 12. Terra em Transe......................................................................21 13. I Remenber Jeep.....................................................................22 14. Poema Ltex............................................................................23 15. Iracema Ready Made................................................................24 16. O Exlio da Cano.................................................................25 17. Tropiclia Verso Didtica.................................................26 18. Contra o demnio que carcome o medo.............................27 19. Quem no se comunica, si trumbica....................................28 20. Trpicos....................................................................................29 21. Parque Industrial....................................................................30 22. Rock-Poesia..............................................................................31 23. frica.........................................................................................32 24. Ulisseida brio.........................................................................33 25. Gauchissement............................................................................34 26. @.................................................................................................35 27. Para Rado..................................................................................36 28. Argonautas Internticos..........................................................37 29. O Mosquito Heri contra os Vespas do Inferno..................38 30. Cyberespao..............................................................................39 31. Didtica Carpe Diem.................................................................40 32. Clube do Bolinha......................................................................41 33. Vidas Secas................................................................................42

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  • 34. Ces de Aluguel......................................................................43 35. The Three Stooges......................................................................44 36. A Banda....................................................................................45 37. Frankenstein Metamoderno..................................................46 38. A Dana dos 7 Vus................................................................47 39. O Encouraado Potemkin......................................................48 39. Bang-bang Italiana...............................................................49 40. Um Santo da Prsia nos Trpicos.........................................50 41. Poema no Pas do Carnaval...................................................51 42. O Carnaval Nasceu no Recife................................................52 43. Mardi Gras.................................................................................53 44. Duburu Pipoca.........................................................................54 45. Porra Louca...............................................................................55 46. Poema Visual............................................................................56 47. Poema dos Macacos Datilgrafos..........................................57 48. Wine Rhymes..............................................................................58 49. O Demnio de Maxwell..........................................................59 50. Movimento Lrico-browniano................................................60 51. Poema do Bagao.....................................................................61 52. Tele-soneto das 8......................................................................62 53. No Ritmo da Pedra..................................................................63 54. Bioterroristas Fenomenolgicos Infectam Metapoemas....64 55. Frmula para o Sucesso..........................................................65 56. Os Grandes Wallendas............................................................66 57. The End.......................................................................................67 59. Tbua de Correspondncias Ocultas...........................................69

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  • Dedico este livro quelas pessoas que no conheo e aos leitores que jamais me lero um nico verso.

    ******* Le grand Empire sera par Angleterre, Le Pempotam des ans plus de trois cens: Grandes copies passer par mer & terre, Les Lusitains nen seront pas contens.

    Nostradamus, Centria X, estncia C. Guerra a todos preconceitos Dos costumes de hoje em dia A moda dos cabeludos Chegou at a Bahia E assim o mundo inteiro De um modo verdadeiro Aceitou esta anarquia. Rodolfo Coelho Cavalcante, O Resultado dos Cabeludos de Hoje em

    Dia, Jequi,BA, 12/1966. Fez tambm Bezalel a arca de madeira de accia; de dois cvados e meio era o seu comprimento, de um cvado e meio a largura, e de um cvado e meio a altura. De ouro puro a cobriu; por dentro e por fora a cobriu, e fez uma bordadura de ouro ao redor. Fundiu para ela quatro argolas de ouro; e as ps nos quatro cantos da arca: duas argolas num lado dela, e duas argolas no outro lado. Fez tambm varais de madeira de accia, e os cobriu de ouro; Meteu os varais nas argolas aos lados da arca, para se levar por meio deles a arca.

    xodo, 37, 1-5.

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  • Tristes Trpicos Trpegos Marx que me perdoe, mas apenas citando o seu mais fiel discpulo, Groucho, para poder definir este Infernlia Tropicalis, de Jayro Luna: no um livro para ser deixado indolentemente de lado; pelo contrrio, deve-se atir-lo longe, com toda a fora. Encontramos neste volume o que h de melhor como exemplo de no se fazer poesia, a tal ponto que qualquer mortal incauto que se pretenda poeta, ao tomar contato com estes 56 poemas, mudar de idia imediatamente e procurar qualquer carreira mais promissora, como terico da ps-modernidade, por exemplo, que pelo menos garantir sua sobrevivncia atravs de um non-sense honesto, possibilitando, inclusive, a publicao de inmeros artigos no Mais!, sem contar o reconhecimento quase imediato pela nossa intelligenzia. Mas no se pode esperar demais neste contexto citacionista na qual (sobre)vivemos, embolorado de academicismo tacanho e engajamento auto-condescendente sombrio. Os textos que se pretendem poemas, voltados para um pblico muito bem definido (ratos de biblioteca, traas de sebo, quatro-olhos literatos e cus-de-ferro em qualquer tipo de poesia), conseguem atingir seus objetivos principais: a desratizao das bibliotecas, causar indigesto nas traas, ampliar a miopia dos literatos, e haja ferro para agentar tanto cu guisa de poesia. No que este livro seja de todo ruim. Longe disso. O autor teve o cuidado de selecionar bons textos como epgrafe dos poemas (mais epgrafes que poemas, diga-se), assim como rechear as pginas de notas de rodap, algumas vezes excelentes, quando de autoria de outrem,

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  • outras, do prprio serial killer que assina o volume, deveriam permanecer inditas. Mas sempre existe alguma desculpa para o desfrute de pginas inteis. E, caso o possvel leitor (tem louco para tudo neste mundo e eu mesmo fui um, para tecer estes elogios) procure algo entranhado nas fossas abissais destes textos, basta que se mantenha na segurana das epgrafes e de algumas notas. No tem erro: encontrar estes sim poemas e poder se divertir muito tentando imaginar o que, afinal, tem haver o dito com as calas. Mas nosso amado autor no deve esmorecer. Este livro tem futuro garantido, ainda que na imanncia intolerante do silncio. Se a ABL tem como membro um cirurgio plstico, se elegeu o senhor Campos, se nosso Citizen Kane toma ch por ali, Jayro Luna pode candidatar-se assim que um imortal perca a sua categoria eterna e passe desta para o merecido olvido. Pelo menos no ser esquecido sozinho.

    Fabio Ulanin*

    * Fabio Ulanin professor universitrio, tem surtos repentinos de ira sfrega e hidrfoba e s no sofre perseguies pelo policiamento intelectual porque ningum faz a menor idia de quem ele seja. 7

  • Primeiro manifesto da poesia poli-sgnica: mais um manifesto do tipo bicho de sete cabeas e intil!!!

    eis a nova cano / ou a nova inveno / que se chama e se diz / polissigno (eis / o poema que eu fiz / de um poema ser trs). A-poesia-polissigna em: Ssifo, Canto V, est.XXI, Marcus Accioly.

    1. Introduo obscena: A poesia que aqui se prope a do tipo bicho-grilo! Poesia uma coisa quntica... Depois de T.S.Eliot: Quando o poema escrito, algo de novo acontece, algo que no pode ser explicado por nada do que se passou antes. Poesia deixa pistas para a soluo do mistrio da criao: escrita em palimpsestos...O poeta a que chamamos de gnio , em geral, um doido varrido! Poucos o compreendem! Poesia tem vrios nveis de leitura, do banal esdrxulo ao bestialmente estranho e original! O poeta deve trabalhar em seu texto vrias possibilidades levando em conta no existncia de diversos leitores, mas possibilidade do poeta ter vrios outros eus: cada um deve ter um juzo sobre o poema. Vide lvaro de Campos! Poesia, enfim, vai da flor merda transmutando essncias e medulas! 2. Poesia e Informtica: Hoje se fala em poesia digital, infopoesia, poesia do computador, etc... Ted Nelson veio falando em hipertexto: o texto que linkado noutro texto. Julia Kristeva via Bakhtin j falava em intertextualidade. Os maneiristas barrocos transformaram a poesia num game, num software de jogos. Os rcades e os parnasianos viam a potica como um editor de textos. Os simbolistas e decadentistas inventaram atravs da poesia o primeiro access, que permitia acessar textos ocultos. Os modernistas fizeram da poesia um programa operacional, cada novo poema era s um software compatvel. Os romnticos brasileiros, dependentes na independncia, fizeram do poema uma web-page: links na

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  • dedicatria, links nas epgrafes (veja lvares de Azevedo e Gonalves Dias), links de local e data, e links internos: citaes. A poesia que ora se apresenta tem isso: mltiplas epgrafes, criando relaes sgnicas entre os epigrafados e os poemas. Cada poema uma rede de ligaes entre textos, cada poema uma rede. Dedicatrias variadas, muitas vezes irnicas. O local e a data do poema so elementos estticos e devem ser tratados como tais. O texto ainda vem com citaes explcitas alm das inmeras ocultas: parodizaes, estilizaes, parfrases. Minha potica a potica do web sitebuilder! cones, imagens coladas ao lado do texto, acima, abaixo, por detrs do texto. cones so clip-arts! Ilustraes poticas abstratas... quase poesia-visual, quase... 3. Poesia e Cinema: Eisenstein descobriu a montagem via ideograma. O Futurismo descobriu o cinema como totem do sculo XX! O cinema novo reinventou a partir do velho, criando a cena tropical a partir da desconstruo do cenrio romntico. Maiakvski e Oswald introduziram a cmera no olhar potico, algumas vanguardas tm se notabilizado por colocar o olhar potico na cmera. Cummings v cada grafema como um fotograma, Mallarm via cada poema como um fotograma em negativo. A poesia que ora se prope insere cada palavra como um objeto, cada epgrafe ou citao como um personagem ao fundo, cada verso como parte de um personagem em primeiro plano, desfocado, porm, de maneira que o olhar do leitor s o perceba por partes, preciso recompor a efgie dele. Tudo no poema deve propor movimento, as partes so intercambiveis e se completam para formar o todo. A letra e a palavra no devem estar sujeitas apenas ao efeito da montagem ou ainda ao simultanesmo, a palavra potica deve recuperar o poder dos efeitos especiais...Um poema deve ser to inusitado quanto um vdeo-clip e to ilusionista quanto um curta de Georges Mlis!

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  • 4. Poesia e Pintura: A pintura abstrata mostrou-nos as cores como signos, mostrou-nos o bidimensional como um mundo com leis especficas. Os cubistas introduziram a multiplicidade do olhar e abriram espao para a invaso da tela por objetos estranhos. Os expressionistas mostraram-nos que as emoes moldam a forma e os surrealistas colocaram o inconsciente no mundo visvel. A pop-art reinventa a imagem, sem ter nela nada de invisvel. A poesia que aqui se prope no se pretende pintura, Lessing j demonstrou a importncia dos adjetivos. A poesia deve ser palavra-cor, a perspectiva na pintura iluso de dimenses, a perspectiva na poesia a perspectiva das iluses! O poema pode ser composto por elementos pictricos: formas, cores, linhas; nos que aqui se mostram, apresentam-se acompanhados de ilustraes poticas abstratas. So tradues visuais de palavras-cores dos poemas. A palavra-cor uma coisa do poema. As formas, cores e linhas podem compor um poema, mas se ele no tem palavra-cor, ainda que escondida nas dimenses da forma, no poema brincando de se fingir pintura, s uma pintura brincando de se fingir poema. A palavra-cor uma coisa sinttico-esttica! 5. Poesia e Msica: Os simbolistas buscaram a msica da poesia, vide Verlaine, Mallarm, e c entre ns, Emiliano Perneta, Cruz e Sousa. Mrio de Andrade inventou uma teoria musical para a poesia e a testou com relativo sucesso e sonoridades. A msica que aqui se prope do tipo primitivo-eletrnica... Alm de ser contempornea no estrato oculto e pop-rock tropicalista no estrato pra-l de aparente... Cada palavra um acorde, cada verso um compasso, o ritmo se d pela expectativa, seja ela cumprida ou frustrada: temos neste segundo caso, o solo em contraponto. As onomatopias, as rimas, as aliteraes cumprem outra parte do processo: transformam a msica do estrato oculto em msica de fundo, soundtrack! 6. Poesia e Livro:

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  • A poesia como um livro, existem pginas que antecedem e outras que se seguem... A primeira aponta para a ltima e a ltima rememora o estado da primeira. O mundo do homem como uma biblioteca incompleta, sempre se guarda espao para a prxima obra, que urge, que se faz necessria. Borges sonhando com as pernas duma gentil bibliotecria subindo uma escada em busca da obra rara perdida... Tudo existe para acabar num livro? Um livro tudo o que existe, o livro universal! Algumas vanguardas rejeitam a forma do livro, mas quanto mais se rejeita mais o mundo vira pgina dum livro. A Ave do Wlademir s voa numa pgina virtual! Os dados de Mallarm s se jogam no acaso das pginas! O mais recente poema visual traz em si a nostalgia sufocada da pgina que o perdeu... Poesia boa poesia morta! Poesia deve viver em qualquer dimenso, alis, em quaisquer dimenses! Se voc, caro leitor, no gostou deste manifesto ou no o entendeu, no me culpe, ou se detenha em maiores questes... Este manifesto no serve para nada mesmo, isto nem mesmo serve para falar de meus poemas!

    Escrito numa viagem entre Tln e Uqbar,

    num dia como esse.

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  • Stoned A Ken Kesey, Timothy Leary e Rubiako.

    Guid par ton odeur vers de charmants climats, Je vois un port rempli de voiles et de mts BAUDELAIRE. But its all right now, in fact its a gas ROLLING STONES.

    V, esta coisa que me entorpece, Que me consome, que qual um tormento Como uma chama jovem envelhece E se extingue nas cinzas de os, o vento! V, esta coisa que me corta a alma, Que me destri as virtudes sociais, At me afoga nos mares de traumas, Corri meu esprito, minha paz! V, um vcio! Louca ludicidade Que me imaginou o corpo ao corao, Em que creio ver a prpria liberdade! V, Morpheu! Disto me acuso e me advogo, Sendo esta minha sentena e razo, E pelo que vivo a jogar e jogo!

    Farol da Barra, 1984.

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  • Cultura e Opulncia do Brasil Por suas Drogas e Minas

    In Memorian, para Oswald de Andrade. O livro ensinava o segredo do Brasil aos brasileiros, mostrando toda a sua possana CAPISTRANO DE ABREU. Correm suas lgrimas por tantos rios quantas so as bicas que as recebem ANDREONI DE LUCA.

    Meu caro Antonil Devia o Brasil De fazer uma obra monstra Coisa que h de se ver muito pouco Um enorme Santo de Pau Oco1Que os gringos nessa parte Haviam de ficar meio moucos De nossa indstria nessa arte!

    H

    Juiz de Fora, 1992.

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    1 o monumento de papel crepom e prata / os olhos verdes da mulata / a cabeleira esconde atrs / da verde mata / o luar do serto CAETANO VELOSO.

  • Repblica de Poetas Para todos os poetas marginais de aps 64. Outrora na minha juventude experimentei o que tantos jovens experimentaram. PLATO.

    O maior de nossos bardos At traduziu John Lennon, Outro grande poeta Era antropfago, Um poeta de quem gosto muito Travestiu-se da pele de cobra E sumiu na selva Atrs da filha da rainha Luzia; Tnhamos Bandeira Que desfraldava versos E pendia de tuberculose. Outros poetas Sob o sol quente Construram um estranho monlito E iniciaram uma nova odissia, Uns poetas naufragaram, Outros se exilaram, Um vate se vestiu de ndio E desceu ao inferno de Wall Street, Um outro conversava com pedras, Morreu na priso; Outro era Boca do Inferno. Nosso prncipe, porm, Conversava com estrelas. Por fim, fiquei aqui s, Tocando violo no circo vazio Para clowns chores E lees sonolentos.

    Braslia,1986.

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  • Piazza XIV A Charles Bukowski, Jack Kerouac e Serguei.

    OS QUINZE VELOCPEDES NA LADEIRA DO AMOR / como um Mar de bocas / txicas de Sagitrio / ondulando nas almas / que danam despidas ROBERTO PIVA. ..e quindi il vivere di sua propria natura uno stato violento LEOPARDI Ruppemi lalto sonno ne la testa un greve truono, si chio mi riscossi come persona ch per forza desta DANTE ALIGHIERI. Tratam minha poesia / como produto de uma viso doentia, / to s merecedora de um desdm solene SAMIR SAVON metamorfoseando-se em CESRIO VERDE.

    Segui RIMBAUD & VERLAINE Ouvi um cravo barroco Tocar Greensleeves e Martin Codax. Dei alguns nqueis para Cames, o zarolho, Que mendigava; Delatei Pound aos caadores de nazistas! o corpo ptrido de CRUZ & SOUSA! E agora sou guerrilheiro da anarquia potica...

    Terminal Ferrovirio de Santos, 1990.

    T RUTH

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  • O Demnio de Scrates Para des Esseintes

    Desgraado! exclamou Scrates. Imaginas o que te sucederia se beijasses uma pessoa jovem e bela? Ignoras que de livre, num instante te tornarias escravo? Que pagarias caro prazeres perigosos? Que j no terias nimo de investigar o que belo e o bem? Que haverias de dar cabeadas como um louco? XENOFONTE. Este verso Deus Creator omnium, de oito slabas, vai-se alternando com slabas breves e longas. Quatro breves: a primeira, terceira, quinta e stima. Estas so simples, comparadas com as quatro longas: a Segunda, Quarta, Sexta e Oitava. Cada uma destas tem o dobro de tempo com relao s outras. Assim o noto pelo testemunho dos sentidos. Segundo o que estes me revelam, meo a slaba longa pela breve e vejo que a longa contm duas vezes a breve. Mas quando soa uma aps a outra, se a primeira breve e a Segunda longa, como hei de reter a breve? SANTO AGOSTINHO.

    Madaura, Cartago, Alexandria... Oea (Trpoli), Cupido flecha o corao de Apuleius. Sicnios rufinos: -Golpe do ba! Pudentila, rica viva quarentona E Lucius na idade de Christo! Vida irregular, Poesias licenciosas, Prtica da magia, Apropriao indbita de bens! Apulei pro se de magia liber Metamorphoseon Asinus aureus Contra o demnio de Scrates Santo Agostinho erige a Cidade de Deus; Lucius, o advogado, Sacerdote de sis, Pastforo de Osris, Brinca de sagan com os caldeus. Marrakesh,1996.

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  • Em Ritmo de Aventura Em homenagem a Sal Paradise e Dean Moriarty.

    Vinha voando no meu carro quando vi pela frente / Na beira da calada um broto displicente / Joguei o pisca-pisca para a esquerda e entrei / A velocidade que eu vinha no sei / Pisei no freio obedecendo ao corao / E parei, parei na contramo. ROBERTO E ERASMO CARLOS. ping pong ping pong ping pong ping pong ping pong EUGEN GOMRINGER.

    -Quem voc? -Eu sou Michkine! -Eu sou Kirilov... J eu, que sou de outro romance, sou o meio do redemoinho! Nesta briga de rua entre hipsters e squares, Refugio-me em minha fazenda, Ponta Por! Endless balls! Comendo no Bickfords ou no Ponto Chic, Entre o fogo fugaz e a fugazzis... Caldo verde em Newark! Pra l de Tanger, de Marrakesh, de Teer, de Pasrgada, de Bactra, de Babylonely, dando com os burroughs ngua! Dakar teu beijo, baby! John se atira com poema e tudo na boca de um vulco asteca... Poesia vulcanizada para a eternidade! Plotino, cuidado! Gordiano no Alexandre! Se eu fosse um bob marley judeu escrevia na minha janela: Fuck the Jews! Ao xtase s chegam os msicos, os amantes e os filsofos! Poetas no gozam... Uivam! Crusp, 1994.

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  • As Iluses da Modernidade Para Murilo Mendes e Cassiano Ricardo

    Paris changel mais rien dans ma mlancolie Na boug! palais neufs, chafaudages, blocs, Vieux faubourgs, tout pour moi devient allgorie, Et mes chers souvenirs sont plus lourds que des rocs. CHARLES BAUDELAIRE. Fantme qu ce lieu son pur clat assigne, Il simmobilise au songe froid de mpris Que vt parmi lexil inutile le Cygne.STPHANE MALLARM. escrever uma forma de ver alles ist samenkorn tudo semente flamssono HAROLDO DE CAMPOS. Hey John, eis o poeta moderno Brincando de encantamento, Descendo ao fogo do inferno Para brindar por um momento Com o artfice do enigma Que vocifera na floresta De smbolos! V, o paradigma Dos cus da mdia2 o contesta, Proscrito o poeta, margem s; Hey John, o poeta vem do p,

    C u

    Sem o encanto dos clips, vdeos, O poeta mergulha em Ovdio... Hey John, a condio social Do poeta a cultura infernal!

    Berkeley,1992.

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    2 MOSAICO: Nil humanum alienum est / Qual o tema do poema? / Um enciclopedista no faroeste! / Remendo cacos num retrato de So Markoff. / Engasgo-me com o caf expresso: cf-cf-cf! (Jayro Luna, indito avulso).

  • Blade Runner II3 Para Sirkis

    Nunca se vence uma guerra / Lutando sozinho / C sabe que a gente precisa / entrar em contato / Com toda essa fora contida que vive guardada / O eco de suas palavras / No repercutem em nada. RAUL SEIXAS Mas o que so esses ziguezagues no grande retngulo central? Acontece que so... fsforos. Levando em conta a importncia fundamental dos fsforos para o processo representado (...) SIERGUI EISENSTEIN E ento surgiu o Sol, o prprio Ludwig van, de litso de trovo e gravata, o volosse revolto pelo vento, e ento eu ouvi a Nona, ltimo movimento, com os eslovos um tanto ou quanto misturados, como se at eles soubessem que tinham que estar misturados, j que aquilo era um sonho ANTHONY BURGESS.

    louras andrides do piruetas no ar

    e me prendem com chaves de pernas anes de boulevard e soldados de jardim

    brincam de tiro ao alvo em mim meu amigo tire suas escamas

    em frente ao espelho l fora voam carros vermelhos

    procuro uma carta secreta nos labirintos de uma fotografia

    uma linda replicante me diz que a vida toda magia.

    deckard

    L.A.,1984.

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    3 BLADE RUNNER I: Em L.A. busquei o sexo dos anjos / Fugi para o Rio / Acessei do meu barraco na favela / para criar minha web page / o site dum lama replicante / O poeta na galera / -tears of rage - / escreve uma centria para Kant. (Jayro Luna, indito avulso)

  • The Inferno Para Fausto e Dorian Gray

    Quali Alessandro in quelle parti calde dInda vinde sopral so stuolo fiamme cadere infino a terra salde, (...) tale scendeva letternale ardore; onde la rena saccenda, comesca sotto focile, a doppiar lo dolore DANTE ALIGHIERI.

    H, no Louvre, um Mditations du Philosophie cujo motivo simblico nada mais seno a mente humana com suas abundantes trevas, seus momentos de fulgor intelectual e visionrio, suas misteriosas escadarias em caracol que se dirigem, subindo ou descendo, para o desconhecido."ALDOUS HUXLEY. Enquanto Freud explica as coisas / O diabo fica dando uns toques. RAUL SEIXAS.

    A fornalha do inferno um quasar Em exploses e consumindo mundos. Sir Fred tem uma imaginao frtil! s portas presa do nefando inferno, Nesse vazio pramo aeriforme, O quasar quase humano pulsa fogo. H poucos kiloparsecs da terra, O demo deseja outro universo. Por estes lugares plenos de horror, Por este imenso Chaos, Por este vasto reino do silncio, Vociferam feras monstruosas E gritos ensurdecedores de dor, Enquanto eleitas almas salvam-se num hiperespao.

    Mir,1995.

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  • Terra em Transe Em homenagem a Jardel Filho

    ra terra ter rat erra ter rate rra ter rater ra ter raterra terr araterra ter raraterra te rraraterra t erraraterra terraraterra Dcio Pignatari. J afirmei e torno a lembrar aqui: o meu programa ambiental a que chamo de maneira geral Parangol no pretende estabelecer uma nova moral ou coisa semelhante, mas derrubar todas as morais HLIO OITICICA. A grosso modo, somos o passado dos pases desenvolvidos e eles so o espelho de nosso futuro. FERREIRA GULLAR.

    O pecado da inflao Tem sido a especulao Agora preciso sofrer a punio Do bloqueio de recursos Para se chegar graa da estabilidade Nas XIII estaes deste percurso Econmico est o paraso fiscal e a dolarizada felicidade.

    Porto Seguro, 22-04-2000.

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  • I Remenber Jeep Dedicado aos hippies tupiniquins.

    q publicarei um livro com letras iluminadas / pra se ler no escuro CHACAL. Todo dia um poeta / ao acordar / pula do dcimo andar / de um edifcio em construo. TOUCH. O Elevador Lacerda com sua torre gigante, como um H monumental CARLOS MARIGHELLA. I cant quit you, babe / But I think Im gonna put you down for a while WILLIE DIXON.

    Saindo numa alvorada azul De Alegrete no Rio Grande das Bandas do Sul, Mas saindo numa alvorada blue De Alegrete no Grande Rio dos pampas do Sul, Viajando 25.000 quilmetros Pelo sol deste pas, Pernoitando at em Bom Jesus, Canto do Buriti, Tijuca da Serra Vermelha no Piau, Mas pernoitando at nos braos de Carolina, Riacho, Fortaleza dos Nogueiras, So Raimundo das Mangabeiras E Nova Iorque s margens do Rio Parnaba Ou na Serra da Desordem, Entre babauais na civilizao do babau, Maranho... Manda buscar outro l no Piau... Pra tudo terminar bem blues Em Cochabamba, Bolvia, Ponto Final, Chegada de Buth Cassidy & Sundance Kid, Prestes, Tch Guevara E at do meu jeep dick. Ciudad del Leste,1999.

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  • Poema Ltex Em homenagem a Lus Aranha Tem dias que a gente se sente / Como quem partiu ou morreu. CHICO BUARQUE DE HOLLANDA.

    Adonde achar uma enxada, meu Divino Padre Eterno! BERNARDO LIS. A gua tem a molura macia de perna de moca, compadre! RAUL BOPP

    Examinaram de novo a floresta. Do lado direito, coisa alguma distinguiram seno as trevas da noite RAUL POMPIA. Quando deveramos comear um novo ciclo de novenas, fomos descobertos. MRCIO SOUZA.

    um castro no fidel4, mas plcido, funda a junta revolucionria abre o lacre do the bolivian syndicate of new york e d ao brasil o acre 90 anos depois chico cai como castro sangram as seringueiras seu alvo ltex num rubro rastro.

    A.C.

    Basilia, 1986.

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    4 CUBA LIBRE: Cienfuegos / Que mancada em Moncada / na Sierra Maestra o luar do serto / Botou pra fugir Fulgncio / Meu amigo Ch virou silk-screen / The end of dream / Marighella na tela / deseja o luar do serto. (Jayro Luna, indito avulso).

  • Iracema Ready Made Iguassu, Lyndia e Moema. A primeira lngua do homem, a lngua mais universal, a mais enrgica e a nica de que se necessitou antes de precisar-se persuadir homens reunidos, o grito da natureza. J.J.ROUSSEAU. Pensam muitos ser cousa detestvel ver esse povo nu, e perigoso viver entre as ndias, porquanto a nudez das mulheres e raparigas no pode deixar de constituir um objeto de atrao, capaz de jogar quem as contempla no precipcio do pecado. CLAUDE DABBEVILLE. Nossos ndios, entretanto, trocaram diversos objetos por aguardente de cana; comearam a beber e logo o acampamento tornou-se palco da mais ruidosa orgia. FERDINAND DENIS.

    Os verdes mares bravios da minha terra natal onde cantam as jandaias nas frondes da carnaba; Verdes mares que brilhais como lquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros; Serenai, oh verdes mares, bem alisai docemente

    Mattise, Odalisca com Pantlona. as vagas impetuosas pra que o barco aventureiro5s resvale flor das guas.

    Volta da Jurema, 1991.

    5 TOSTE: Riem, estes ecmenos, vis invernos, / Do velho lobo do mar naufragante, / To longe se anovelam uns trapos, / De sirenes amontoa-se os infernos. // Ns navegamos, aos meses diversos, / Ns vivemos banidos entre as ondas, /Vamos avante no fastio de copos, / At ver do mar o seu lado inverso; // Nossos amigos vo todos a bordo, / So incrdulos momos, e os acordo / Para portar de p, qual vera hoste // Solitria e entre recifes tantos, / Que singramos sob sol ao som de cantos, /Nesta nau jalne, as taas de vil toste. (Jayro Luna, O Escaravelho de Prata). 24

  • O Exlio da Cano Para todos os artistas exilados

    O mon pays, sois mes amours / Toujours! CHATEAUBRIAND. Kennst du das Land, wo die Citronen blhn?GOETHE. Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabi GONALVES DIAS. Quero a terra das mangueiras /E as palmeiras, / E as palmeiras to gentis! CASIMIRO DE ABREU. Ouro terra amor e rosas / Eu quero tudo de l OSWALD DE ANDRADE. Nossos bosques tm mais vidaOSRIO DUQUE ESTRADA. Nossas frutas mais gostosas / mas custam cem mil ris a dzia. MURILO MENDES. Calor. E as ventarolas das palmeiras, / e os leques das bananeiras / abanam devagar / inutilmente, na luz perpendicular. GUILHERME DE ALMEIDA. Toda vez que anoitece, as tanajuras / me rodeiam e cobrem a terra inteira. LDO IVO. sabi... / pap... / man... / sof... / sinh... JOS PAULO PAES. O poema antes de tudo um inutenslio MANIEL DE BARROS.

    Minha terra tem palmeiras, Mas eu sou tricolor; As aves daqui, como as de l, J viraram bolor... Nosso cu est cinzento, Nossa vrzea no tem mais times, Nossos bosques tm mquinas de coca-cola, Nossa vida entre crimes... Em cismar, sozinho, noite Assisto muita novela, Quando joga So Paulo e Palmeiras Onde canta o gog da ema? No permita Deus que eu morra De susto, de bala, ou vcio Sem quinda aviste laranjeiras Que l que canta o(a) sabi6.

    Coimbra, julho,1993.

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    6O SABI: Vem junto minha janela / sobre a bela / verdejante laranjeira, / Beber o eflvio das flores / Teus amores / Nas asas da aura fagueira.(Fagundes Varela).

  • Tropiclia Verso Didtica Para Duda Machado

    Assim, o demnio tem /Sua completa unidade /Com a qualidade de Deus/ Confundida prpria face. JOS CARLOS CAPINAM.

    brasileiro, mas muito pop TORQUATO NETO. Hoje um batuque com a pureza de meninos uniformizados de escola secundria em dia de parada CAETANO VELOSO & GILBERTO GIL

    We dont have to wait till tomorrow JIMI HENDRIX Im making it clear / To confuse you TOM Z El Justiciero cha, cha, cha / Que otra cosa puedo dar MUTANTES.

    Tropiclia a reduo eidtica (de eidos, please) contida numa plula ambiental sinttica preparada pelo feiticeiro Hlio Oiticica, nosso Kurt Schwitters. WALY SALOMO.

    De um filho de Tup, vinha mandado, Algum nome, se o h, da poesia7, Descobriu o recncavo afamado, Ter como entenda o idioma da Bahia. Que era um drago dos mares vomitado, Entre as ondas com nsia furiosa,

    Caryb, Orix

    Nihil Do

    Que vivia em liberdade conservado, Avistou dentro da gua buliosa J no purpreo trmulo horizonte, Alguma formosssima donzela, E o Sol que nasce no oposto monte. Qual das belas araras traz vistosas E cobertas de plumas amarelas, Soberano autor da lira formosa.

    Santo Amaro, 1994.

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    7 POTICA: Considere o modelo / As estrelas siderais / Conte do paradigma os elos / Os poetas modernos so canibais / Todo mundo pode ser artista / Mas s uns poucos no param na pista. (Jayro Luna, indito avulso).

  • Contra o Demnio que Carcome o Medo

    o Arco Reteso dos Heris Dedicado a Glauber Rocha o mar / atrs do mar. O nvio-obscuro / caos pelaginoso / at onde se esconde a proibida / geografia do den Paradiso HAROLDO DE CAMPOS

    Cada heri prostra algum na debandada. / Imola heitor a Arcesilau, caudilho / De arnesados Becios HOMERO via ODORICO MENDES. Sem brbaros o que ser de ns? / Ah! eles eram uma soluo. KONSTANTINOS KAVFIS. Eis que chega o caminho, Bakororo! D tua pintura de preto, de enfeite de penas, de cor vermelha, de tua penugem branca, das caudas de arara e o teu chifre. Canto Bororo, anotado por COLBACCHINI E ALBISETTI, ver: EGON SCHADEN. O d e m o c r a c i a e m o c r a c i a i m o c r a c i a i c o c r a c i a i c a c r a c i a i c a r r a c i a i c a r c a c i a i c a r c o c i a i c a r c o m i a i c a r c o m e a i c a r c o m e d o

    Vale do Anhangaba,1992.

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  • Quem no se comunica, si trumbrica Para Anastcyo Ayres de Penhafiel

    I love you, I need you GRETCHEN. Esta a ltima cano que eu fao pra voc PAULO SRGIO. Roda, roda e avisa: um minuto pro comercial... ABELARDO BARBOSA.

    Contre la toux, pour la gorge, Pastilles Valda. Va mal... Valda... Va bien!PUBLICIDADE. Veja, ilustre passageiro, / O belo tipo faceiro / Que o senhor tem ao seu lado / E no entanto acredite,/ Quase morreu de bronquite,/ Salvou-o o Rhum Creosotado PUBLICIDADE.

    Perturbaes Intestinais? Disenfrmio PUBLICIDADE, ver: DCIO PIGNATARI. Hoje sou super-heri, viva eureka! Agora sou um mandarim da China; Roupas de pierrot, jogador, boneca, Toda fantasia o palhao bulina. Brinco em concursos levados da breca, O homem mais feio, lindas colombinas, Trofu abacaxi, jogo de peteca, Danas: samba, rock, forr. Brilhantina! O cantor mascarado canta e breca, Eis, bailarinas entre serpentinas, Sou tropicalista, oh Terezinha! Que louco picadeiro a discoteca! Fon-fon! Klaxon8! Soa agora a buzina, Gira, gira e comunica o Chacrinha...

    Auditrio do Raul Gil, 1993.

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    8 REVISTA: Poesia instantnea / Poesia solvel / O nu da poesia / O gol de placa da poesia / O flagrante potico / Revista de poesia / como tapioca com queijo / bom, nacional e gostoso / Mas o consumidor s quer hamburger com coca em lata / E o poster da loira que era mulata. (Jayro Luna, indito avulso).

  • Trpicos Dedicado s prostitutas. Aqueles beijos, no possvel que os gere duas vezes o mesmo lbio, porque onde nascem queimam, como certas plantas vorazes que passam deixando a terra maninha e estril JOS DE ALENCAR. Ela ficou como uma virgem cortejada pela primeira vez. Sentiu um prazer rebentar-lhe o corao e passar-lhe o corpo inteiro. ALMADA NEGREIROS. gritou Brites, inda bem, / que tudo sofre, quem tem / rachadura junto ao cu GREGRIO DE MATOS. Todas no mundo do a sua greta; / No fiques pois, Nise, duvidosa / Que isso de virgo e honra tudo peta BOCAGE. na frente do espelho / sem que ningum a visse / miss / linda feia / lindonia / desaparecida. CAETANO VELOSO. com teus caprichos concordo, / e por vingana te engordo. LEILA MCCOLIS. j estou daquele jeito / que no tem mais conserto / ou voc me leva pra cama / ou desperto ALICE RUIZ. Lria, como te quero, phd de picas, tu dizes que os brasileiros so incultos duros desabusados. HILDA HILST Estcio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, rua Marqus de Sapuca MANUEL BANDEIRA.

    Hotel des tats-Unis Sentamo-nos num salo de bilhar Com cheiro de caf fresco nas narinas. H cem anos ou mais o mundo, Nosso velho mundo vem morrendo... A cama9 est cheia de sapos E de botes de fantasia de colete... Ela no fitava o forro com ar vazio, Nem contava os percevejos No papel da parede...E agora sou eu, Em p na sombra do viaduto Que me estendo em direo a ela. 9 LADY MADONNA: Um egresso par de demnios acuados / Vm gritar nomes aos ouvidos tristes / E crianas sem lei roubam os estrados / Desta granfina prostituta altrusta. // Em seu ventre comparecem heris, / Doidos e tenentes, a meter sabres, / Ela arde ao choque obscuro de anzis, / Mas a clamar a paga que a boca abre. // ...................... // seu rol de runas, Lady Madonna, / Que voc maneja a maquiar mitos, / Na agenda vrios bilhetes cafonas // Em que s noites estocadas de ritos, / Seus amantes necessitam riscar / Junto s cdulas rotas de comprar. (Jayro Luna, O Escaravelho de Prata). 29

  • Parque Industrial Mara Lobo

    retocai o cu de anil / bandeirolas no cordo / grande festa em toda a nao. TOM Z. VOLPI. Proletrios de todos os pases, uni-vos KARL MARX. O desenvolvimento sexual da menina caracteriza-se pela inveja do pnis SIGMUND FREUD. Auto-sublimao da sexualidade: (...) o termo implica que a sexualidade pode, sob condies especficas, criar relaes humanas altamente civilizadas sem estar sujeita organizao repressiva que a civilizao estabelecida imps ao instinto. HERBERT MARCUSE. Se a clula ovular pudesse falar, exprimiria angstia. WILHELM REICH. Quanto mais Baudelaire percebeu isto tanto mais a decadncia da aura inscreveu-se na sua poesia WALTER BENJAMIN.

    O ltimo ponta-p na bola de meia, Sangue misturado com leite... Cada canto pico um jornal De improprios! Um leno futurista no pescoo, O carro chic desemboca Numa multido esfomeada Que carregava cartazes: Queremos po e trabalho!10

    Santo Andr, 1993.

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    10 PARA O DAILY WORKER: Camarada Hemingway / Acaso os sinos dobram o cabo da boa esperana? / Minha marmita tem um sabor de alumnio taylorista / Como depressa, sobram alguns minutos / Para jogar na loteria esportiva / E brincar de forca com minha amiga Pagu (Jayro Luna, indito avulso).

  • Rock-poesia Para Arnaldo Antunes, Srgio Mota e Bob Dylan.

    Acadian driftwood / Gypsy tail wind / They call my home / the land of snow / Canadian cold front / movin in / What a way to ride / Oh, what a way to go THE BAND. aquela ginga genipapo / cheiro de porrada no ar / street fighting man / jumping jack flash CHACAL. Das Laub fllt rot vom alten Baum / Und kreist herein durchs offne Fenster. / Ein Feuerschein glht auf in Raum / Und malet trbe Angstgespenster. GEORG TRAKL

    A poesia nasceu com a msica Sua musa nica calope em meus braos, A sociodinmica ensina que a vida dreza Nada moles, Mas que lua marshall no cu do serto! Refro: A poesia no mais de Orfeu, Agora quem manda Palamedes! rra meu, blues suede shoes e besteirol mad... Os poetas invadem o show Lets go! Cames, aqui Homero bash, Virglios que a vida perigo... A poesia tem sabor de veneno, Arrigo. Shakespiro si ti vejo, Bate o gngora do desejo. (Refro)

    Gonalves os dias da rainha, Oswald por a hastear o bandeira, Vico alegre si ti vejo, Peirce bem nietzsche tudo qui lhe disse, De agora em dante, serei outro poeta, Outro pessoa... S ezra quem arrisca, vladimir avante, Sou amante toa;

    Gosto de mallarm com queijo De cima drummond ti beijo, Quem rimbaud meu corao? (Refro)

    PUC-SP,1984.

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  • frica Para Gilberto Gil, James Brown e Solano Trindade.

    cacos ao longe no iam ser olhos de bicho / quem diria ARLINDO BARBEITOS. Poeta! Todo o poema: / geometria de sangue & fonema / Escuto escuta CORSINO FORTES. Na cabea de um homem h muitas lnguas a falar diferente / Falam com bocados umas das outras e esto unidas sem saber. MUTIMATI BARNAB JOO.

    Afer, heri criado do nada, vive numa lenda isolada, filho de Hrcules Lbio! Afer, heri que balbucia, rei da Efrquia, de plpebras tingidas com estbio. Cogumelo que cresce numa noite e murcha na madrugada, situada entre o som do aoite e a cabea coroada... Brbaros, os mesmos crnios, os mesmos ossos curtos e longos, os mesmos narizes, so os mesmos o bero e o brbere! uma cabea de carneiro na esttua de Zeus! o fgado de Prometeu! falam como se fossem morcegos... das ninfas do Carmo s do Mondego... Bagradas Medjerda, Magradas Pompnio Mela, Isaris, Isara, Savus, Sava, Auser, Ausere, Anatis Tingitano, Anas Guadiana... das colunas de Hrcules ao reino de Atlntida o Sol funde bronzes na pele... Gibraltar, 1992.

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  • Ulisseida brio Para Buck Mulligan, Cissy Caffrey & Gerty.

    Grita Agamenon: Venturoso Ulisses, / Possuis mulher de uma virtude rara! HOMERO. via ODORICO MENDES. Olhos fechados, os lbios rasgados / mascavam a brisa, a barba se enrolava como as pontas viradas das pginas / de sua rejeitada Odissia; mas Omeros dava os nomes dos navios DEREK WALCOTT. Por falta de pblico para o Nelson Gonalves que venho ensaiando / escrevo para mim, mais baixo e floreado. ALCIDES VILLAA.

    -Para o diabo voc e suas modas parisienses! Meteu de cambulhada o livro no bolso de dentro do palet. O solo ficava bem graxo com adubo cadavrico... A radincia do intelecto. -Bobos ocos, a charanga dos manteigas! Os portais da descoberta abriram-se para deixar entrar o bibliotecrio. -A gente num t to no pileque11... Torceu o p na festa do coro no morro do Po de Acar.

    Bristol, 1986.

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    11 MODINHA TOA PARA A CANINHA PEL: Pel s pe seu nome em caf / Tem razo, a rima soluo / Saiba que Pel no Man / E a cachaa vcio, se sabe, / Mas a caninha Pel, marvada / Tem gosto dum gol de placa / No pas dos Andradas (Jayro Luna / avulso indito).

  • Gauchissement A Paulo Csar Caju e Afonsinho A voz dirijo a ti, no como amigo, / Porm sim articulo, Sol, teu nome / Para te assegurar quanto aborreo / Tua luz que lembrana me recorda / O ledo estado de que fui banido! JOHN MILTON. -No fale em profisso, Lisaveta Ivanovna! A literatura no profisso alguma, e sim uma maldio, - que saiba disso. THOMAS MANN. A ingratido do mundo me obriga ao silncio. A primeira e mais severa obrigao do filsofo no revelar seus segredos, para que no caiam em mos das pessoas indignas e mpias. RHUMELIUS. No creio que existam grandes escritores que tenham escrito em lngua portuguesa. MARION ZIMMER BRADLEY.

    A noite banha tua roupa, Escurece, E no me seduz tua memria, Pasto da poesia... No amei bastante, J no sei onde te escondes, Perguntei ao fantasma. De tanto anelar por um mar

    Sin DGIJF HEK14 Ist $6') +-.8%

    Ro onde no H mar fecho os olhos e figuro o mar no corao E assim, sentando imvel, perco a hora...

    (O Sang-sun, Corao Errante, via Yun Jung Im)

    No sou um sujeito ruim. Nesta curva barroca12 nos perdemos, E sabe o demnio? Ningum sabe Onde Deus acaba E recomea. Rio de Janeiro, 1986.

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    12 UM ROCK BARROCO: Estrada que do leito comeada / Caiu por duas firmes marcas de partida / Eu por rebelde corro esta corrida, / Deixo a lei, levo a vida aventurada. // Nem sei quando sa em tal caminhada, / Que eram linhas que tracei parecidas / s cordas sobre os trastes sustenidas / Ou trilhos da ferrovia abandonada // uma torrente mansa de guas claras / Que de pedras rolando se derrama, / Faz mudar to confusa mas to rara // Que nas roupas que visto fao a trama, / Fio rstico tecido roupa cara, / No sei se rota fria ou curva em chamas! (Jayro Luna, BaggAve).

  • @ Para Dcio Pignatari e Linus Torvalds

    Pixel, unidade mnima de percepo visual proporcionada pelos meios informticos, mas por isso tambm a unidade da construo infopotica. E.M. DE MELO E CASTRO The culture shocked person, like the soldier and disaster victim, is forced to graphe with unfamiliar and unpredictable events, relationships and objects. ALVIN TOFFLER. Se a Bblia fala por personagens, objetos, eventos, se cita flores, prodgios da natureza, pedras, se pe em jogo sutilezas matemticas, ser necessrio procurar no saber tradicional qual o significado daquela pedra, daquela flor, daquele monstro, daquele nmero. UMBERTO ECO. Sin entrar detalladamente en la tcnica de la operacin cosa que ningn autor se ha atrevido a hacer -, diremos, no obstante, que el Espiritu universal, materializado en los minerales bajo el nombre alqumico de Azufre, constituye el principio u el agente eficaz de todas las tinturas metlicas. FULCANELLI. O tempo e o espao esto aqui sob o domnio da imagem. O alm e o outrora so mais fortes que o hic et nunc. O ser-l sustentado por um ser do alm. O espao, o grande espao, o amigo do ser. Ah! Como os filsofos aprenderiam se acedessem a ler os poetas! GASTON BACHELARD. A linguagem potica, conforme por fora desta lgica potica consideramos, flui tanto por tanto tempo pelo tempo histrico, como os grandes e rpidos rios se esparzem dentro do mar, conservando doces as guas para ali levadas com a violncia do curso. GIAMBATTISTA VICO. Ja, ich weiss, wohler ich stamme! / Ungesttigt gleich der Flamme / Glhe und verzehr ich mich. / Licht wird alles, was ich fasse; / Kohle alles, was ich lasse: / Flamme bin ich sicherlich! FRIEDRICH NIETZSCHE.

    amor13 com humor14 com br

    USP, 1994.

    13 O mundo que venci deu-me um amor, / Um trofu perigoso, este cavalo / Carregado de infantes couraados. (Mrio Faustino, Sete Sonetos de Amor e Morte).

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    14 MONTY PYTHON: O clice sagrado / do frade brio / Cocos para cascos de cavalos / Tu-tu-tu-tu-Tu-tu! / A piada mais engraada do mundo / S Aristteles que sabia contar. (Jayro Luna, indito avulso).

  • Para Rado Em homenagem Tuca, Srgio Buarque e Jos Bonifcio, o velho. A terra vermelha / O cu azul / A vegetao de um verde-escuro / Esta paisagem cruel dura triste apesar da variedade infinita das formas vegetais BLAISE CENDRARS. Os filhos da puta, eles me bateram, os gorilas! Eles queriam conseguir meu livro mas eu no disse nada FEBRNIO. O papagaio era a nica voz da oposio / que ainda se ouvia nos corredores: / O queijo de Minas t bichado, seu M. RAUL BOPP. Sempre enfurnado na biblioteca Carnaval do Rio, Peregrinao dos leprosos em Pirapora, Retrato do Brasil, A voz de sempre em busca do tempo perdido. Ns, modernos, Somos mais sensveis geografia humana Do que aos retratos Da natureza dos trpicos.

    O sol est mesmo de derreter quarup, pensou Snia. Seguindo sempre o passo ligeiro do Anta ela sentiu calor e muita impacincia com o vestido que ainda vestia, cor-de-rosa com flores brancas. Passou para Anta a rede, tirou o vestido que largou ali mesmo sem pena nenhuma na beira do caminho e foi nua em plo na trilha de seu homem, que se embrenhou mais e mais na mata at avistar umas ocas de caa vazias. (ANTNIO CALLADO, Quarup).

    O tempo exato dos vermes de biblioteca Devorarem os documentos,

    Saudade... Abrirem clareiras E nelas se reproduzirem Abaixo as teorias! Apresente sua demisso Se no sabe mais o que fazer Com todo esse caf...

    IBC, 1991.

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  • Argonautas Internticos Em homenagem ao Capito Blood e Francis Drake.

    Ali, com mil refrescos e manjares, / Com vinhos odorferos e rosas, / Em cristalinos paos singulares, / Formosos leitos, e elas mais formosas; / Enfim, com mil deleites no vulgares, / Os esperem as Ninfas amorosas, / de amor feridas, para lhe entregarem / Quanto delas os olhos cobiarem. CAMES. Or moi, bateau perdu sous les cheveux des anses, / Jet par louragan dans lther sans oiseau, / Moi dont les Monitors et les voilliers des Hanses / Nauraient pas repch la carcasse ivre deau RIMBAUD.

    Eu te mostrarei O enigma metalingstico da terra

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    Eu te entregarei Giordano Bruno, Derek 7-mares Walcott O espectro dos gigantes de Czico A fina fala de Fineu entre Harpias A muralha movedia das Simplgades Eu te mostrarei postais da Clquida O antigo e o novo dos arepagos O batom vermelho de Media. Fugitivos, ns dois, doutra grande guerra, Os dentes de que nascem gigantes A imitadora das tragdias A nubente oculta A louca de Iolco numa opereta clssica A dana de Salom A namorada do clown tristonho Alm das 300 vtimas da porta salria Que morreram no dia em que eu nasci.

    Vale do Silcio, 1995.

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  • O Mosquito Heri Contra as Vespas do Inferno Para Franklin Maxado e Rafael de Carvalho. Alguma coisa acontece no meu corao / Que s quando cruza a Ipiranga e a Av. So Joo / que quando eu cheguei por aqui / Eu nada entendi CAETANO VELOSO. Sinto que l fora /O mundo pulsa definitivo. / A engrenagem tritura / Os negros lcidos e tambm / Os homens solitrios. ELE SEMOG. Branca e floral como um jasmim-do-cabo / maravilhosa ressurgiu um dia / a fatal Criao do fulvo Diabo, / eleita do pecado e da Harmonia. CRUZ E SOUSA.

    Wolkswagen anda sem pneus? Wagner ainda soa provocante? Weberianos at sentem polifonias? Wiclefistas acaso sabem parapsicologia? Culex, nosso heri virgiliano Desce aos infernos como Orpheu, Enfrenta as vespas-wasps do demo insano, Diz ao poeta o visto de tudo quando l desceu. O juzo final e a Babilnia destruda... Words ancients sounds perfects... Wagner, Alighieri, Swedenborg e Prufrock Reunidos numa mesa de bar bebendo vinho. Windows artistics approaches the paradise lost. Um baudelaire beija uma jane duval a todo instante e lugar, No inferno os intolerantes torram-se no fogo; Culex, voltou do inferno cheio de dengos e dengues...

    Manaus, 1993.

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  • Cyberespao Em homenagem a H.P.Lovecraft e H.G.Wells.

    s vezes esta deusa, esta princesa / despe a clmide branca, a toga austera, / E dos degraus de estrela de onde impera / Baixa terra numa hora de fraqueza LUS DELFINO. Aspiro a eternidade neste vento / que entra pela janela, de surpresa. ONESTALDO DE PENNAFORT onde o eco de Eco em eco ecoa / que teu amor do prprio amor morreuMARCUS ACCIOLY

    Do mar virtual temos corrido e navegado Toda a parte do Antrtico e Calisto, Toda a costa africana rodeado, Diversos cus e terras temos visto. Mal abonana o mar, segura o tempo, E Austro brando sussurra e ao largo invita, Em nado a tela enchendo, as naus velejam; Talhem-se as lnguas, e mesclado o vinho, Libemos a Neptuno e s mais deidades.

    E pois com a nau no mar, Assestamos a quilha contra as vagas E frente ao mar divino iamos vela No mastro sobre aquela nave escura (EZRA POUND, Os Cantos, Canto I)

    Apesar dos desejos de Neptuno, Do naufrgio iminente a nau se salva. Um vento vira as pginas do porto15 de volta voz que sussurrava no vaso da garganta.

    NASA,1994.

    Wagner

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    15 Um barco que veleje nesse infomar / Que aproveite a vazante da infomar / Que leve meu e-mail at calcut / depois de um hot-link / Num site de Helsinque / Para abastecer (Gilberto Gil, Pela Internet).

  • Didtica Carpe Diem Para Pinto Caludo, Marcela e Macunama.

    E onde buscar o maravilhoso seno em ns mesmos, no fundo desta imaginao, capaz de criar no mais completo sentido da palavra? ALEJO CARPENTIER. Anuncio como prximo o momento em que, por um processo de carter paranico e ativo do pensamento, ser possvel sistematizar a confuso e contribuir para o descrdito total do mundo da realidade. SALVADOR DALI. A poesia segue, num plano totalmente diferente, uma direo contrria das formas do pensamento. TRISTAN TZARA. O leo est dentro do fsforo, assim como o fsforo est dentro do leo ANDR BRETON.

    Que asas so que noite batem nos vitrais? O poeta no mente, oculta! A sensibilidade como a dos peixes... Antes de ser livre, superar limites. Esqueci canes, poemas, rotas...

    A dream that was not at all a dream... (LORD BYRON, Darkness)

    Cmplices da comoo moderna, Tenho medo da imaginao! Escrevi aos que mais rpido entendem o smbolo, Outros vieram trazendo bandeiras! E novamente preciso semear o campo de pedra e sol! Itinerrio que dois olhos decidiram, Eles prprios compreendem que nada mudou...

    Pasrgada, 1999.

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  • Clube do Bolinha Para Mrio de Andrade e Waldick Soriano

    riverrun, past Eve and Adams form swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs. JAMES JOYCE. Os Decadentes possuem um chefe seguido de toda uma pliade de jovens escritores ANATOLE BAJU. O que fica de um homem o que o seu nome e as obras que fazem desse nome um sinal de admirao, de raiva ou de indiferena podem provocar na imaginao. PAUL VALRY. Salve! Bem mereceis os versos que irradia / O Broadcasting ideal da eterna Poesia PTHION DE VILAR. um deixar-se, um deixar viver / de alma arejada, no fantica. JOO CABRAL DE MELO NETO.

    Vestiu uma camisa estampada16E saiu por a... Em loucas imagens... Temos de tudo na nossa bagagem: Suspensrio para cobra cansada, Camisas de seda com mil paisagens, Remdio pra calvcie e sacanagens, Cartlagem de tubaro, garrafadas! Como danam fogosas as boletes, Coxas, pernas, seios s luzes do palco, Desafinados calouros Glauco, Colombinas, travestis, pierretes. Brega sucesso. Sucesso difcil, Eu sou brega e sou sucesso no hospcio!

    Auditrio do programa do Bolinha, 1986.

    4116 (Bridget Riley, Cataract 3, 1967)

  • Vidas Secas Para Paulo Honrio, Flvio Cavalcanti e Pete Best.

    Possudos pelo demnio, energmenos, exorcizados ou, sobretudo, doentes do tero, plidos, hipocondracos, epilpticos, catalpticos, curados pelos emolientes do Sr. Paumme, grande exorcista. VOLTAIRE. Os puritanos que responderam sim pergunta: esto dispostos a ficarem danados para a glria de Deus? WILLIAM JAMES. Do sol ao raio esplndido, / Fecundo, abenoado, / A terra exausta e mida / Surge, revive j MACHADO DE ASSIS.

    Sal, farinha, feijo e rapaduras, alm de garrafa de querosene e um corte de chita vermelha cara pra Sinh Vitria orar lausperene. Pobre de seu Toms da bolandeira, homem direito sumir-se cambembe por este mundo de trouxa nas costas, mas tinha voto entre seus quimbembes. Soldado amarelo pegou baralho, debaixo do jatob do quadro ta- ramelou com Sinh Rita Louceira; Pois o tinham pelado no trinta- e-um. Apanhar do governo desfeita? Veja que mole e quente p de gente17.

    Granito, PE, 1991.

    17 BALEIA: Howl! / Ruf! / -Ces vadios ainda tm no olhar algo de humano? / -O co o melhor amigo do homem! / Na mira da espingarda / Baleia sonha com outra humanidade... (Jayro Luna, avulso indito). 42

  • Ces de Aluguel Em memria de Herzog e Cludio Manuel da Costa.

    No one is innocent RONNIE BIGGS. Einmal belsen war wirflich bortrefflich SEX PISTOLS. Quando o segundo movimento tinha tocado pela segunda vez, ribombando e critchando Alegria [,] Alegria [;] Alegria [,] Alegria, a as duas ptitsas no estavam mais fazendo o gnero dama sofisticada. ALEX. Mas um dia lixou-se porque fotografou uma mo que apareceu ao desbarato l na morgue e, vai-se a saber, era a mo que pertencia ao segundo corpo de que o Frankenstein tinha sido feito. JOS CARDOSO PIRES.

    O grande golpe, o assalto do sculo, O roubo do diamante cor-de-rosa, Do guarda-roupa da Barbie, A mscara, o disfarce, a cara do ssia... Quem aqui o traidor da nossa causa? Onde est o delator, o falsrio, o vigarista? preciso ter conduta tica e um instande de pausa! preciso ter cuidado para no deixar pistas... A trama, o papel de cada um no plano secreto, A narrativa de idas e vindas para enganar O olhar do perseguidor, o silncio dos rus... A bolsa com o dinheiro, o porta-malas aberto, O tiroteio na rua, pernas pra que te quero, vamos l! A dvida de jogo - lock, stock & two smoking barrels!

    Boteco na Favela, 1994.

    43

  • The Three Stooges Para Groucho Marx, Mazzaropi e os cidados de Kukamonga. Nas noites iguais em que Clia expressionava a Prire dune vierge e o fox trot Salom ao piano e servia bananinhas com caf com leite, vinha tambm lento mazorro silencioso como se cavasse uma mina futuro adentro o Dr. Pepe Esborracha. JOO MIRAMAR. Valei-me Nossa Senhora, / Santo Antnio de Nazar / A vaca mansa d leite, / A braba d si quis! MACUNAMA. Aquele maluco...Ahn!...E da? GENELCIO.

    Tapa na cara ui! dedos nos olhos ai! Puxa cabelo oh! soco na cara pa! Chute no saco uf! toma rasteira i! Arranca dente aaa! puxa orelha !

    Nunca conheci quem tivesse levado porrada (...) Eh-eh-eh-eh! Eh-la-lah-laHO-O-O-O--lah-- ! (lvaro de Campos)

    Torce p i! morde nariz u! Tortas voadoras plft! quebra pratos crash! Mete fua na porta tabef! flecha na bunda ! Gira olhos zin! Tropea e cai Ol!

    [a dana dos dois pezinhos com os garfos] (Carlitos).

    Pega-pega pa! esconde-esconde Ali! Sobe-desce ! gira-peo iiii! O cabelo do Larry duas bolas de bom bril! O cabelo do Moe franja da tigela! A careca do Curly pra fritar ovos! O nariz do Shemp corneta do vendedor de bijou!

    Poltrona da sala, 1992.

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  • A Banda Para Bob Dylan, Geraldo Azevedo, Belchior, e em especial, para Hugo Ball.

    Estava toa na vida / O meu amor me chamou / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor. CHICO BUARQUE DE HOLLANDA. Embrulhei os cacos no jornal e como no havia um lugar no quintal que ficasse a salvo, pus em cima do guarda-roupa. ADLIA PRADO. Its wonderful to be here / Its certainly a thrill. THE BEATLES. A platia ri, perdidamente, / Do bom jarreta... E h um odor no ambiente / A cripta e a p CAMILO PESSANHA. Farai un vers de dreyt nien: / Non er de mi ni dautra gen, / Non er damor ni de joven GUILHEM DE PEITIEU. the musiC / yOu make / isNt / Like / any Ohter / thaNk you.JOHN CAGE.

    Ao redor da grande diviso, Trapos, mama, trapos... noite eles dirigem-se velha Dixieland, quando voc acorda Sobre o riacho dos aleijados, Entre pinheiros murmurantes. -plim-tam-tom-plact-plumct-fin-fan-fon- Renda-se baby, Cadeiras giratrias... Olhando alm da terra sagaz, Queixo cado Ante a serva infiel, O rei das colheitas... (ele certamente saberia...) -plim-ton-ton-zom-zum-zum-cha-cha-cha- Vinho de morango, Sonolncia...Tempos mortais, S algum assobio interrompido, Toda a glria duma cano.

    Cantabona! Cantabona! / Dlorom... // Sou um tupi tangendo um alade! (Mrio de Andrade, O Trovador).

    Do jeito que eu sou, Os manuais de medicina mostram, Daniel toca a harpa sagrada... Espantalhos no palco, Rumores de versos e msicas...

    Menphis, 1992.

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  • Frankenstein Metamoderno A Mrio de S-Carneiro, Fernando Pessoa e Brs Cubas, em homenagem Mary Shelley, e com especial apreo a Jos Mojica Marins. E este abandono...Essa incerteza que me aflige... / Georges Rodenbach! meus Cisnes de Bruges! / Crpuscule de Ephraim Mikhael! ALCEU WAMOSY. Armazenando em sua memria implacvel (seu futuro martrio) os fragmentos de um presente jamais apanhvel mas que ele ia sedimentando e ia socando quando eles caam mortos e revirados no passado de cada instante. PEDRO NAVA. -Quem sou? Um doudo, uma alma de insensato, / Que Deus maldisse e que Sat devora; / Um corpo moribundo em que se nutre / Uma centelha de pungente fogo LVARES DE AZEVEDO. Mosaico de memrias nele nado, / comendo peixes e recordaes, / encerrando em cubculos de espelhos / em que meu rosto no se v, mas os / dos passados e os do presentes rostos, que emergiram de baixo, do subsolo JORGE DE LIMA.

    Desventra o ventre donde nasceu, Se nasce morre nasce morre nasce, E do aceno o milagre a renascen- a. No voc, nem sou mais eu. Vida da minha vida, que eu no vejo, Tenho medo de mim, de ti, de tudo [E] resmungando com ar carrancudo, Em toda... extenso pululam (...) desejos! Murchem a flor das iluses da vida! Me sinto to longnquo e deslocado, (...) sem limites, to despropositado. Esprito, (...) ter (...), substncia fluda. A terra ao largo, ao longe se lamenta Sou trezentos, sou trezentos (e) cinquenta18.

    Londres, 1993.

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    18 Este poema-frankenstein foi criado com partes de corpus dos seguintes vates: Oswald de Andrade, Haroldo de Campos, Mrio Faustino, Torquato Neto, Da Costa e Silva, Casimiro de Abreu, Bernardo Guimares, Carvalho Jnior, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos, Sousndrade e Mrio de Andrade.

  • A Dana dos Sete Vus Salamb, Lucola & Mary Beatriz.

    O primitivo atinge a harmonia Cosmo/Homem, sujeito e grupo, por intermdio da integridade de seu corpo; o desequilbrio e desarmonia do mundo contemporneo manifestam-se na mutilao, na falta de integridade do corpo. CARLOS ALBERTO VECHI. -No me quer para uma noite de prazer? perguntou ela, fazendo carcia no rosto de J. -No v, meu amor disse Pui-Li. o drago-demnio Ashuna. Quer roubar voc de mim. LVARO CARDOSO GOMES. E, em torcicolos coleantes / e, na volpia das bacantes, / tine as crotlias ressoantes. MARTINS FONTES. To leve, que no dobra das alfombras / A mais delgada flor! Por largo tempo / Assim deleita a vista dos convivas; / Ofegante por fim, extenuada, / Faz um ltimo esforo, e mansamente / Cai, ptala de rosa, aos ps de Herodes. FAGUNDES VARELA. Jesus das Comidas (tomando de um alto-falante) / -Caluda, oh vacas! Hoje ningum fode / s no buch / E no cuzinho OSWALD DE ANDRADE. Mimosos seios, mimosos / Que dizem voluptuosos: / Amai-nos, poetas, amai! LVARES DE AZEVEDO. Os seios nus so duas tochas / sobre Tebas arruinada. CARLOS FELIPE MOISS.

    Envolta em fina musselina amarela, Braos de angelical nudez, quase-seios, Quase-nua, no andar da dana os vus dela Se desatam, brocados caem em volteios; Lentamente avana nas pontas dos ps, Segurando a altura do rosto um ltus, Na lbrica dana19 lanam falhas anis, Turbilhonam colares, olhos remotos... A infanta avana ao som dos burcelins, Ao perfume das flores que esto em roda; Eis, flor solitria sem ter outro fim:

    Os olhos de Herodes: cmeras de vdeo! Astart Dana j nua Salom qual falso ofdeo!

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    19 CABAR MINEIRO: A danarina espanhola de Montes Claros / dana e redana na sala mestia. / Cem olhos morenos esto despindo / seu corpo gordo picado de mosquito. / Tem um sinal de bala na coxa direita, / o riso postio de um dente de ouro, / mas linda, linda, gorda e satisfeita. / Como rebola as ndegas amarelas! / Cem olhos brasileiros esto seguindo / o balano doce e mole de suas ttas... (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, Alguma Poesia).

  • O Encouraado Potemkin Para Humberto Mauro, Nlson Pereira dos Santos e Gluber Rocha.

    Som off: trnsito, criana chorando. Tenta abrir a porta com chave. No consegue. Bate insistentemente.[Roteiro de Matou a famlia e foi ao cinema.] JLIO BRESSANE. do tipo intelectual, formada pela faculdade de Assis, adorava baile de formatura e falar do Cinema Novo. [ roteiro de O Bandido da Luz Vermelha.] ROGRIO SGANZERLA. Deus! Rosebud nctar candente / Que ao velho odre Itamarati / (Tudo esfacelado... Prudente!) / fez rebentar! Rsea frigie, / No meninos-de-oiro, a juvente / Ptria moral. Itamarati. SOUSNDRADE.

    Belo sorriso no retrato de Lampi, o velho Junho de 1905: o motim desafia o czar! Ressuscitar o Imprio Bizantino, Catarina... A escadaria de Odessa: interminveis degraus... Olha l o carrinho de beb, acudam! S.O.S. [Bronenosec)-(bressane]: 20 anos depois... Os canhes esperando o ribombar dos tambores... A revolta da esquadra do Gama... Policarpo)-(potemkin! O prncipe da Turida tem um projeto grego, Nas escadarias de Odessa o dio20 tem pressa E a ode ao burgus proclama: - dio e insulto! Almada observa a cena do dio: - Hei-dtila! No Museu Rumiantsev o retrato de Grigori Observa os passos dos camaradas brios de vodka.

    So Petersburgo, 1992.

    20 O TEMOR EM TIMOR (para Xanana Gusmo e o bispo Carlos Belo): Uma nfima ilha num arquiplago de 4 mil.../V pra puta que o pariu! / Meia ilha, nem uma ilha inteira .../ O dollar que manda, n?! / Minha lngua tua lngua: a dos homens / Teus poetas, tuas crianas, tuas mulheres somem.../ Uma ilha que se assemelha a uma adaga / O leste a lmina, o oeste o cabo /

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    A furar o espao virtual das nossas chagas / Sangram todas nossas religies num triste fado. (Jayro Luna, avulso indito).

  • Bang-bang italiana. Para John Wayne e toda tribo Apache.

    De chapu, gibo e perneira / na tua terra bonita, / Desde o Stio dos Moreira / s quebradas de Serrita PATATIVA DO ASSAR. Eu acho que ele queria era ficar sabendo o tudo e o mido. VAQUEIRO PEDRO FRANCIANO. - ...Queria era que se achasse para ele o quem das coisas! VAQUEIRO TADEU. A rosao das roseiras. O ensol do sol nas pedras e folhas. O coqueiro coqueirando. As sombras do vermelho no branquado azul. A baba de boi da aranha. VAQUEIRO JOS UUA. Wanted Live or dead Reward: U$ 10,000 [Cartaz colado num tronco de rvore na estrada para Carson City.]

    O chefe shawnee Tecumseh: -Viva a confederao dos skin-reds!

    Eu, poeta latino-americano, Na cidade do Crato, cine Moderno, Assistindo Bl-bl-bl do Rogrio... No cine Texas, noite de Segunda-feira no Crato, Uma centena de crianas de cala rancheira ou Short lavadinho mas pudo, disputam o melhor lugar Para ver: O Dlar Furado! O Sr. Cody inventou o faroeste americano... O cow-boy, o cavalo e o co, sob um cu rosicler, olhando brasa dormida: Hurry Sun Up, de Cox. O vaqueiro tangendo o gado sob a tempestade, um raio riscando o cu e atingindo o meio da manada: The Stampede, de Remington. Os ndios em seus cavalos observando ao longe: A ltima manada de bfalos? Mais uma caravana de colonos destemidos? A cavalaria do forte apache? Wireless, de Russell Redman. Billy the Kid, Lampio, Corisco, o tiroteiro de Ok Corral, Jesse James, Wounded Knee, os Cariris... Deus e o diabo na terra do sol, just for the heck it! Up on Cripple Creeck! Crato, 1991.

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  • Um Santo da Prsia nos Trpicos Em memria do Padre Antnio Vieira, do Frei Santa Rita Duro e do Frei Santa Maria Itaparica, e com especial apreo, memria do Padre Jos de Anchieta. O cu o santo Graal eucarstico. Desce, / Cobrindo terra e mar, por sobre a culpa infame. ALPHONSUS DE GUIMARAENS. Fulgem as velhas almas namoradas... / - Almas tristes, severas, resignadas, / De guerreiros, de santos, de poetas. CAMILO PESSANHA. Meu Deus, que estais pendente em um madeiro, / Em cuja lei protesto de viver, / Em cuja santa lei hei de morrer / Animoso, constante, firme, e inteiro. GREGRIO DE MATOS. Deus consente que os homens venham / a esta intimidade de amigos, / somente por mostrar que se amam, / que esto no mundo, que esto vivos. CECLIA MEIRELES.

    Pregaste no extico reino da Prsia, Donde a Grcia soa a Bactra e frechas transversas Cruzam o cu prximo ao culto de Buda; No negaste a ningum tua ternura e ajuda, Tua luta elevou-o categoria de Santo, 28 de outubro de 70, finda o canto. Tanto tempo aps, c nos trpicos, eu Lembro teu nome. C em teu templo, incrveis Multides de devotos em impossveis Rogos21. Clamam-te aflitos: - So Judas Tadeu!

    So Paulo, 1990.

    21 ORAO SANTA EUDXIA : Segue a vida de contradies e paradoxos, / No podemos crer s no que vemos, / Nem querer que o tecido urdido / S com os fios de nossas certezas // Possa aquecer-nos ante toda nxia invernia; / Sonhamos construir a cidade do sol, / Mas temos na alma o brilho de cidades de sis, / Entre o que digno e indigno, // Certo e errado, moral e amoral, / A matria posta sempre em discusso, / A energia do esprito, porm, simboliza-se com o corao. // Vede a vida de Santa Eudxia de Helipolis, / A quem rogo proteo /Para fazer boa obra no plpito das acrpoles. (Jayro Luna, indito avulso). 50

  • Poema no Pas do Carnaval Evo Jorge Ben Amado Capadcia Maravilha!

    At plancies superfcies [Down hovey lanes and stoney claves] / Montanhas e outros malefcios [Down ricketss and sticklys myth] / L fui eu espcie extinta [In a fath hebrew gurth] / Pulando assim brinca ou no brinca [I wandered humply as a sock] / Atrs de Joozinho Trinta [To meet bad Bernie Smith] JOHN LENNON / PAULO LEMINSKI. A gente se olha, se beija, se molha / de chuva suor e cerveja. CAETANO VELOSO. E os campos talados, / E os arcos quebrados, / E os piagas coitados / J sem maracs; / E os meigos cantores, / Servindo a senhores, / Que vinham traidores, / Com mostras de paz. GONALVES DIAS.

    Aquela que conhece o mundo J teve casa de rendez-vous em Pequim J foi amante de poetas na Colmbia J ganhou dinheiro em Montecarlo. Eu canto a mulata cor de canela, entre suas coxas sadias Que repousa o futuro da Ptria. Na Bahia, todo tolo se faz poeta! O homem de talento no tem moral! Quem fica sereno porque nada de bom espera da vida! A felicidade pertence aos burros e aos cretinos,

    Di Cavalcanti, Roda deSamba.

    Felizmente ns somos infelizes! Amendoim torrado e roletes de cana, Uma alegria grande a bailar nos olhos.

    PRECISA-SE DE HOMEM DE GNIO PARA A ARTE BRASILEIRA.

    Originalssimo, mais que isso: imoral! Feliz Brasil

    Que no se preocupa com problemas, Apenas sonha num futuro... Cristo, braos abertos, Abenoa a cidade pag. Marqus de Sapuca, 1996.

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  • O Carnaval nasceu no Recife Evo Baccho, Donga, Kid Morengueira e Tia Ciata.

    Atrs um negro, um cego, um Mamaluco, / Trs lotes de rapazes gritadores, / a procisso de cinza em Pernambuco. GREGRIO DE MATOS. Jogas as cascas pra l! Jogas as cascas pr l! ADONIRAN BARBOSA. Parecia um boi mugindo / Aquela triste cuca / Tocada pelo Laurindo, / O gostoso da Zizica. NOEL ROSA. Curibocas! / Mamalucas! / Cafuzas... / Caboclas viosas de bocas pitangas! / Mulatas dengosas caju e caj! ASCENSO FERREIRA.

    Pulando assim brinca ou no brinca Como se fosse Joozinho Trinta, O carnavalesco Bento, cristo novo, Criou enredo mitolgico para o povo. Vem de destaque alegrico no primeiro carro, O poeta abraado s musas em tom de sarro! Vinha Trito em cola duplicada, Sentado numa pedra esmaltada, Toca a trombeta com crescido alento, E noutro carro triunfal, aps Bento, Vem Netuno cantar o mar profundo, Traz soberba pompa, alegria maior do mundo. Vem Glauco, vem Nereu, deuses marinhos, No asfalto entre focas e golfinhos! Vem o velho Proteu com danarinas, Com mutantes fantasias peregrinas; Ttis, que em ser madrinha da bateria se recreia; Climene, Efire, Opis, Panopia, Vem Beroe, Tlia, Cimodoce, Drimo, Xanto, Licrias, Deioa, Arethusa, Cidipe, Filodoce, Vem Eristia, spio, Semideas, E a ala mais sambante, a das Sereias!

    Olinda, 1991.

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  • Mardi Gras A Anacreonte, Marqus de Sade e Luz del Fuego Some folks are born made to wave the flag, / Some folks are born silver spoon in hand, / Some folks inherit star spangled eyes CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL A vida c em casa est horrvel, / Ando empenhado / Nas mos de um judeu, / O meu corao vive angustiado / Porque minha sogra ainda no morreu NOEL ROSA. You can walk on the water, / drown in the sand / You can fly off a mountaintop / if you anybody can / Run away, run away / its the restless age / Look away, look away / you can turn the page THE BAND. Se bebo, desejo; / Se no bebo, almejo! / Se saio, apeteo! / Se no saio, careo! QORPO SANTO.

    Rolando passos trpegos como um co vadio, Tentando matematicamente fazer um quatro Na esquina do quarteiro francsBourbon Street, baby! Meu velho camarada, Z Deco, o melhor rabequeiro Dum descambado combo de zydekoBourbon Street, baby! L vou eu, fantasiado de Marduk na nova babilnia, Cantando uma cano que ningum sabe:

    E no entanto preciso cantar Mais do que nunca preciso cantar preciso cantar e alegrar a cidade

    A tristeza que a gente tem Qualquer dia vai acabar

    Rolando a msica da blues band, vou no assobio, Do jeito que a coisa t, amanh passarei s a maratro! Na esquina do quarteiro francs-Bourbon Street, baby! Z Deco, fantasiado de Marduqueu, vira um motineiro E se passa a jogar contas nas putanas-Bourbon Street, baby! L vou eu, pedindo qual um dioniso sua prpria cerimnia, Querendo que esta noite nunca se acabe!

    New Orleans, 1999.

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  • Duburu Pipoca Para Iemanj e Lorelai. Ob ilko aj Ossi / Kore Ob adob CNTICO DE OB.

    Iai est na rede de tucum. / A mucama de Iai tange os piuns, / balana a rede, / canta um lundum JORGE DE LIMA. Yay fez quentinho. / Rei Congo drumiu. / Papagaio pena verde / a, me conta que tu viu. RAUL BOPP.

    [VAN GOGH]

    Aimor, esse caboclo valente, Valente daqui pras bandas de l, Aimor mora nas matas sem gente, Nas matas virgens l do jurem.

    O zaz , o zaz O zaz maiongol, maiongol

    (Ponto de Candombl) Caboclo comeu sapucaia de tacho, Caboclo se embebou de boa jurema, Caboclo de sambambaia e penacho, Arreia caboclo, arreia essas algemas! Nos cafund do Cariri vi Ogum, Hoje tem alegria, hoje tem sim, Vem a banda de Xang... Tum-tum-tum! Vem a banda oxal... Pam-pum-pim!

    Xang de lo Xang de l

    (Pedido de Misericrdia) Adeus, preto velho, adeus minha gente, Xang j birimbou na aldeia? J sim! Adeus, meu zinfio, deixo meus presentes, Adeus Umbanda, at um dia. Olhai por mim!

    Terreiro, 1992.

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  • Porra-louca Para Raul Seixas, Sousndrade, Pedro de Lara e Qorpo-Santo.

    o relgio de J.H., to distanciado dos que instigam a curiosadade de Plato ou dos que assinalam no Egito a marcha vencedora dos persas, situa-se no centro de uma teia de relaes mais complexa e ambgua que a existente em torno de um relgio de Sol OSMAN LINS. Era uma p de neve e, de fato, escrevi esta frase [In Advance of the Broken Arm] nela. Evidentemente, esperava que no tivesse nenhum sentido mas, no fundo, tudo acaba por ter algum. MARCEL DUCHAMP entrevistado por PIERRE CABANNE.

    Bezmines barcaas clopam, Rodzes bolnis crastam uns clebes Das rotes tchipucas dos pinitsas. Pela minha ocne vejo suncas Privoditando pititsas nazes. Penso em njenes, grudes, jinas, Iamas Pol! Pol! Pol! na minha ocne, Nesta prisesta gredze gronque. A gliver: cabo-de-panela! Ando nagi em britva e sabogues, Vou ficar dede sem din dengue, Espato esmotando bog22.

    Salvador Dali, Persistncia da Memria.

    Consultrio do Dr.Brodsky, 1990.

    55

    22 TEMPLO GTHICO: Fulmina-me o desejo do estranho, / De negro vestido noite eu vago, / Buscando entre espectros de antanho / O riso louco de um velho e vil mago. // Sobre as frias lajes de frases perdidas / Rodeado de ninfetas de batom / Declamo versos de vozes sofridas, / De um lirismo em crise como meu som. // Num gravador moderno toco fitas / - Joy Division, Black Sabbath, U2, Iron - / Sob a aura do poeta minhalma imita // A forma de um spleen de Baudelaire, / To decadente quanto Lord Byron, / Dano na tumba dum vate sem f. (Jayro Luna, Metamorphoses nOvdio, 1993).

  • Poema Visual Ao grupo Noigandres, Gomringer, Guido Bilharinho, e Maynand Sobral.

    mas a palavra mais palavra que a palavra/ e assim se descobre no reverso / o que diz a palavra est a ver-se E.M. DE MELO E CASTRO. A AVE VOA dEnTRO de sua COR WLADEMIR DIAS-PINO. Isto valsa, no percebeu ainda? Trs por q HUGO MUND JR. cido lisrgico / psicotrpicos / alucingenos JOAQUIM BRANCO. possvel vislumbrar as possibilidades de uma nova experimentao esttica. PHILADELPHO MENEZES.

    O olho de Deus v o poeta vendo Lagos gelados no meio do Sonora, Sab de scubos infernais numa noite de vero, Aquelas maravilhosas entidades Que a sagrada escritura denomina querubins! A eternidade em flor, O infinito em quatro ps de cadeira, O absoluto nas pregas duma cala de flanela, Crebros selecionando informaes, Ondas do mar derrubando nuvens, Montanhas se escondendo nas cavernas, Animais silvestres lendo filosofia,

    Maynand SobralCidades surgindo como catapora, O Sol tecendo fios de luz como uma tarntula, Elevadores brincando de fsica quntica, Lojas americanas flutuantes, Panoramas to belos como The Paradise Lost! Delicadas pelculas esvoaantes de cores fortes, Poetas pintando quadros23, Pintores esculpindo versos24.

    23 (Jayro Luna, To Bob Kane, avulso indito).

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    24 Minha cidade est toda cor-de-rosa / Cor da infncia longnqua... // Tudo dizendo solido / Certo vermelho desperta lembrana (Aldo Bonadei, manuscrito).

  • Poema dos Macacos Datilgrafos Para Borel, Moles e Eco.

    A biblioteca ilimitada e peridica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direo, comprovaria ao cabo de sculos que os mesmo volumes se repetem na mesma desordem (...) Minha solido se alegra com essa elegante esperana. JORGE LUS BORGES. inocente / o triste ramera / Sin embargo la palabra es Verbo, accin, / para-vida, / meta-lenguaje CARLOS LATORRE. n Im = -pk. Logpk SHANNON. K=1 ME = O/C BIRKHOFF via MAX BENSE.

    tehhcsmeMrovnednlhcsreueFdieut lletsegfua,niElebriwlemmorT,relk nuddiosregeirknenritS,ettihcShcr udlebentulB;sezrawhcsgodnesiEtll ehcs,gnulfiewzreV,thcaNrudnineg iruartnenriheG:rieHsavEnettahcS,d gaJdnusetordelG.klweG,sadthciL Gotthcirbhcrud, sad lham denbA . sE tnho w nitor Bdnu nie Wnie setfa sSnegie7whc dnu enejdnis 223IEVEtle mma srev fl wz na lha Z. sthcaNnierhcs-mifalhc-Seis theosretnunegiewz muabl; tknaSsamohtTthcuateid dna Hsni lamn ednuW .deus.

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    Biblioteca de Babel, 1994.

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  • Wine25 Rhymes26 Evo Baccho, Anacreonte e Macunama.

    Un soir, lme du vin chantait dans les bouteilles: BAUDELAIRE. Bebo da amarela / bebo nos copo / bebo na tigela / bebo temperada / com cravo e canela / seja quarquer tempo / vai pinga na goela! i l! LAUREANO. Di-me a cabea. Abafo uns desesperos mudos: / Tanta depravao nos usos, nos costumes! CESRIO VERDE.

    mask task hate sedate sentiment violent delight sight lies eyes blame name stars bars face grimace sand hand love prove egoist exist doorfloor night light past vast come home

    shapes drapes omitted fitted scan man twin sin evildevil

    stars jars error mirrors day away

    fact act rain pain ill

    feel all call hit writ

    advancechance lackbacksadgladcupup

    25 BEBA GUARAN [A Dcio Pignatari, para ser publicado nos EUA]: drink gwa-ra-nah drivel gumarabic guzzle coca gulp glue gag gag law glue guarani (Jayro Luna, avulso indito). 26 INTERSEMIOSE [ moda de Gomringer]

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    FARBENFROHGESICHT: ich blau / du weiss / er rot / uns grn / ihr gelb / sie schwarz // PAINTED FACE: I blue / you white / he purple / we green / you yellow / they black // FIGURE PEINT: je bleu / tu blanc / il viole(n)t / nous vert / vous jaune / ils noir // CARA PINTADA; eu azul / tu branco / ele verde / ns amarelo / voz do povo / eles neg(r)o (Jayro Luna, avulso indito).

  • O Demnio de Maxwell A David Bohm e Spock

    Assim, por exemplo, os burgueses mudam facilmente de nome por vaidade, os gros-senhores por vantagem. MARCEL PROUST. Todo povo sai correndo / procurando se esconder / e os discos vo baixando / de repente o povo v / em um disco gigantesco / Satans ali descer. PALITO. Oh, que caravela esta! / Pe bandeiras, que festa. / Verga alta! ncora a pique! Diabo via GIL VICENTE.

    Neste sutil espao em ter Conformado, eis a criatura, Como um Mickey Mouse no suter, Gargalhando desta estrutura Do Universo. Oh, que ironia! Um pequeno e insano demnio s portas dua mitologia Sobre um alapo a harmonia Rege. Separando molculas No ndice da velocidade: Causando na matria-fcula Do Cosmos a desarmonia Necessria da energia.

    Universo paralelo, s.d. (Maurits Cornelius,Circle Limit 4)

    59

  • Movimento Lrico-browniano Ao gato preso na caixa pelo Schrdinger.

    Que est no prato? O tempo, que o homem come LEDO IVO. para o artista que a sua alma trabalha, pois, o artista que na sua concepo mais se divinisa...! ele o reflexo vibrante do seu sonho RAUL ENOCH LEAL. Se horas a nada levam tudo, / Nada nasceu, tudo que , / Haja ou no haja Sartre e o mudo / Deus Tudo-Nada havido em f. VITORINO NEMSIO.

    Apenas existe o vazio e o tomo, Os vocbulos se agitam Ocasionando rasuras, Rotas caticas Na superfcie lquida Da pgina-poema. So molculas ativadas, Gros de plen que giram, Pelos ftons da luz da tica Do protoleitor despertadas.

    5. Dimenso, s.d. (Jackson Pollock, Lcifer).

    60

  • Poema do Bagao Em homenagem a Vicente Leporace.

    Mardito fiapo de manga / preso no maxilar inferior // Desgruda dos meus lbios / minha boca / me deixa em paz JOELHO DE PORCO. No ramo da magueira venturosa / Triste emblema de amor gravei um dia SILVA ALVARENGA. Ns somos as cantoras do rdio / Levamos a vida a cantar / De noite embalamos teus sonhos / De manh ns vamos te acordar LAMARTINE BABO, JOO DE BARRO E ALBERTO RIBEIRO via FRENTICAS. D. Jlia ficava doidinha /Quando o minino resorvia imit / As falao de faz chor GRANDE OTELO.

    Desapareceu o cabar da Bianca Perla, O Armenoville virou nem sei o qu, O Dancing do Martinelli j saudade... Onde que no rio se encontra uma beleza dessas?

    No viemos fazer nada E j estamos batendo em retirada!

    Marieta, cafetina gloriosa, Acabou-se incendiando como monge budista... Eu era peru de estao de rdio.

    Pezinho pra frente, Pezinho pra trs, Como aqueles ndios De um antigo programa do Max Nunes; Raro o ator de teatro que no fica inibido... Peguei uma cana das brabas!

    Em todos os terrenos Ns temos que topar com monstros, Os mordedores crnicos... -Um instantinho, maestro, Que eu vou tomar uma cibalena!

    Lugar de muita gente em eterno, Dependura... O pas est em construo, O caf no tinha porta dos fundos! Praa XI, 1992. 61

  • Tele-soneto27 das 8 s mulheres de areia e s namoradinhas do Brasil.

    A Globo exibia a novela gua Viva, em que uma personagem, empregada de butique, dizia no gostar da cor roxa. Ora, naquele ano, as lojas cariocas haviam decretado a moda do roxo, e, em conseqncia, feito os seus estoques com base naquela cor. Depois da frase fatdica na novela, entretanto, os produtos ficaram encalhados nas prateleiras."MUNIZ SODR. O lOmega, rayon violet de Ses Yeux! RIMBAUD.

    Captulo 1: Viva o direito de nascer

    Nesta vereda tropical, Num casaro quero viver Em vo pecado capital.

    Captulo 2: Brasil, mostra a tua cara! Chega mais. Eia, irmos, coragem! Salvador da ptria, cara a cara, Semideus? O outro astro? A Viagem... Captulo 3: gua viva em roda de fogo, Dancindays na selva de pedra, Deixo mandalas pelo globo E ossos do baro sobre pedra. Cenas do prximo captulo: Corpo santo! Roque Santeiro! O dono do mundo verdadeiro!

    Estdios da Globo, 1993.

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    27 CULT MOVIE: Linda louca musa nica pondere, / Enquanto cinematograficamente / Vdeo-vemos pulsar um sol ardente, / Na rubra tela a luz branca interfere; // Enquanto faz-se som um canto, gere / Nessa esfera luzidia o riso quente, / No cabelo-metal-new-wave atente, / na boca brilham lminas que ferem; // Curta! Curta da trama da loucura, / Antes que os gelos glaciais das idades / Corram a deixar nua o que foi chama pura. // Que o eplogo da filmicidade / Sem dar nas curvas da nave-futura / Ser ocaso, day after da cidade! (Jayro Luna, Metamorphoses nOvdio).

  • No Ritmo da Pedra Em homenagem a Glauceste Satrnio.

    maldito seja o vcio de um poeta, pois priva de encher o seu bandulho, pelo gosto de fazer quatro versos CRITILO. Eu vi o Po dAcar levantar-se, / E no meio das ondas transformar-se / Na figura do ndio mais gentil EURESTE FENCIO.

    Piano, piano: O ofcio o ofcio, Palavra, palavra, No mundo, tamanho peso de angstia Em que moro e desmorono, Em que nada tem de concreto Ou de alguma vanguarda visual... Entre pecado e pecado, Nu a nu, fome a fome, Repete, replay, repeat: Amor, amar... No ramo da amora em roma oram, mora. O prximo existe... O pssaro existe... Eu j no sei se jogo ou se poesia! Montanhas, montanhas, montanhas, Oceanos, oceanos, oceanos, Campos, campos, campos, Roupa, roupa, roupa, Papel, papel, papel, Forma, forma, forma.... Solua que solua, Por que amou? Por qu? Por que mente o homem? Mente, mente, mente... Itabira, 1996.

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  • Bioterroristas Fenomenolgicos Infectam Metapoemas28 A Machado Penumbra e Bernardo Soares.

    Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro / Bebeu / Cantou / Danou / Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. MANUEL BANDEIRA. Vim telegrafar / Parto ltimo trem / Espere-me na estao LUIS ARANHA. Sobre quem triunfavam os csares? BERTOLT BRECHT. Penso que estamos no beco dos ratos / Onde os mortos seus ossos deixaram. T.S.ELIOT. Juventude no o que tem a ver / comigo, delicadez tampouco, / no tenho tempo a jogar fora em conversa WALT WHITMAN.

    Orates em xtase: Vamos fabricar o gs sarin! Eu, vate ex teses: Quero escrever a sagarina cano anti-terror! Arnbius: - Advrbius, adversus nationes. Adulabar, adfabar et beneficia poscebam nihil sentiente de trunco. Orates em demncia : = Sarin, o magnfico! Eu, vate em cincia: # Rannis, r sal-tomba rumorejando guas. Magnificat: Mostrou-nos o poder de seu brao! seja em Tquio ou Cafarnaum, aos radicais reproclamo: = T pra vocs, chupins desmemoriados, os meus incomunicveis bagaos Bagd, 1988. 28 METAPOEMA MTICO-PARABLICO: [A Ezra Pound] Rasalu, o raj rajado de Pendjab,/ com seus dados de ossos nos dedos, / duro ser trapaceado por um rato, / seja ele super mouse, jerry, mickey o