jamilla barroso - um passeio na oclusão

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Um passeio na Oclusão

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Foto: Bertrand Linet

Um Passeio na Oclusão

C APÍTULO 13

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Este tema tem sido amplamente analisado, discutido e estudado para me-lhor compreensão do sistema estomatognático. Dedico este capítulo a um enfo-que direcionado à minha vivência clínica. Busco, incessantemente, encontrar ca-minhos para que eu possa percorrer e chegar a um ponto ideal para a solução dos problemas inerentes às desordens da oclusão. Sabemos que esse setor é dos mais complexos do nosso ofício.

Os dentes são os indicadores de toda e qualquer situação do sistema; nossa ótica precisa se ajustar aí. A oclusão é responsável por toda a situação de harmonia e/ou desarmonia nesse contexto.

O profissional desta área precisa encarar a oclusão com muita seriedade e conhecimento. É necessário possuir uma completa intimidade com essa questão, a começar pelo entendimento da psicologia desse mecanismo, tendo no outro extre-mo, como ponto de partida, a anatomia das peças dentárias. Devemos olhar os dentes como peças que estarão em nossas mãos, e será necessário todo um protocolo para o seu manuseio. A psique do nosso paciente estará diretamente atrelada a isso, como também o bem-estar, a saúde e a auto-estima.

O sentido de conjunto precisa ser amplo – estaremos trabalhando na cavi-dade oral. É necessário um voo mais lon-go e, numa outra conexão, o nosso imagi-nário voa. Não podemos separar a cabeça do corpo. Precisamos resgatar muitas coisas, e essa noção de conjunto físico e emocional será vital para nós. Para o pa-ciente, um prêmio, já que ele terá saúde e função plenas.

Principalmente vamos observar no aparelho mastigatório as estruturas de suporte, os dentes, os maxilares, as articu-lações, a musculatura da cabeça, da face, pescoço e colo, a língua e todo o sistema de irrigação dos tecidos.

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Estabilidade da Oclusão

Ao longo do tratamento, a qualquer procedimento que seja executado, a oclusão do nosso paciente precisa ser monitorada, cuidando para que esta permaneça em perfei-to equilíbrio. É preciso ter em mente que, durante o desenrolar da vida de uma pessoa, vários componentes podem alterar sua oclusão.

Os arcos se apresentam, na sua totalidade, com 32 peças dentárias, colocadas para atuarem como divisoras de forças. Elas são responsáveis pelo perfeito equilí-brio do sistema, lembrando que a bateria formada por incisivos e caninos corta e dilacera. O dila-cerar é executado pelos caninos, cuja porção ativa tem forma de lança. Os pré-molares e mola-res possuem mesas quadradas e retangulares, apresentando sulcos e cúspides, e sua principal função é processar o bolo alimentar.

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O Envelhecimento das Peças Dentárias

À medida que envelhecemos, nossos dentes envelhecem com o restante da má-quina do corpo. O envelhecimento dessas peças inicia-se ao completarmos os 20 anos de idade. Com o passar do tempo, como tudo na vida, acontece o desgaste natural, e assim, o trabalho que essas peças executam começa a sofrer a ação do tempo, não dei-xando de levar em consideração de que maneira isso ocorre. O trabalho está sendo exe-cutado corretamente? As chaves e guias estão atuando a contento? O paciente mantém todas as peças dentárias? Seu perfil emocional e psíquico sofre alterações que oscilam gradativamente, mantendo níveis baixos de turbulência? Esse paciente é vigilante com a preservação e a qualidade da saúde dos seus dentes e dos tecidos de sustentação?

Esses questionamentos são de im-portância vital para a análise do compor-tamento de trabalho executado por nossos dentes. Dessa maneira, como o restante do nosso corpo, podemos medir a qualidade do envelhecimento. Se temos uma vida re-grada, sem grandes exageros, cuidando para que a nossa saúde orgânica geral seja man-tida e preservada, chegaremos ao envelheci-mento do nosso corpo com qualidade.

O envelhecer pode ser motivo de grandes alegrias se durante nossa traje-tória de vida colocamos a prevenção em primeiro plano. É certo que não podemos prevenir grandes abalos emocionais e per-das significativas, pois isso faz parte do co-tidiano. Mas precisamos cuidar para que esses fatores não invadam todas as gavetas do nosso ser.

Observar a passagem de tempo e tratamento entre as imagens. A paciente foi submetida a um tratamento de revitalização completa.

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Toda essa sistemática vai conduzir e mostrar o comportamento do trabalho da nossa oclusão. De que maneira essa oclusão estará envelhecendo? As regiões de trabalho apresentam-se niveladas; qua-drante direito, quadrante esquerdo? Essa observação é muito importante quando a situação é invertida; o reflexo desse traba-lho produz uma grande assimetria facial.

O envelhecer do rosto fica sem qualidade. Se temos uniformidade com os desgastes das peças dentárias e os arcos foram mantidos sem apresentar perdas, podemos dizer que o reflexo do envelhecer apresenta-se mais suave. O envelhecimen-to está acontecendo de forma gradativa, porém, sem grandes agressões a saúde das estruturas musculares e, por conseguinte, das articulações.

“Fui descobrindo que podia dar juventude ao rosto.”

Ao desenvolver minhas pesquisas fui, ao longo desses anos, trabalhando muito voltada para as estruturas muscula-res. Percebendo que o trabalho das peças dentárias movimentava de forma absolu-tamente negativa as estruturas craniofa-ciais ao menor sinal de desorganização da oclusão. Enquanto isso, a comunidade odontológica estava presa aos protocolos pura e simplesmente das manobras de dentisteria, próteses etc. Uma odontologia meramente curativa, e não, interceptiva. Ainda muito jovem, jamais atuei na cavi-dade oral que não fosse dentro dos concei-tos absolutamente cristalizados que tenho hoje. Já se vão trinta anos.

Percebi que o envelhecimento das peças poderia ser interrompido brusca-mente e, ao mesmo tempo, recuperado, já que podemos dar de volta a anatomia original. Dessa forma, as estruturas faciais podem manter-se, independentemente da idade, com o aspecto morfológico da nossa juventude.

Teremos então, as pistas da idade na expressão do olhar e no restante do corpo; mesmo esses, com os avanços da medicina e da tecnologia médica e farma-cológica, podem ser preservados. Enfim, entramos numa era sem limites de quali-dade de vida, saúde e beleza.

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Fisicamente, temos a certeza de que chegamos ao ou-tono da vida com as dimensões faciais pre-servadas. Com essas, o pescoço e o colo, lem-brando sempre que a Articulação Tempo-romandibular (ATM) e as articulações da base do crânio movi-mentam esses tecidos, impedindo as sobras de pele.

A ATM atua paralelamente aos fatores que condu-zem à qualidade da saúde oral e da maneira como a oclusão age e a sua estabilidade. Assim sendo, chegamos à conclu-são que não basta que protocolos corretos sejam usados. O perfil psicológico e o estilo de vida representam importante peso no produto final da oclusão. A conformação dos den-

tes, o tipo de mordida, a maneira como a força atua nas peças dentárias, conduzin-do informação para a malha muscular.

As trocas naturais de forças é que nos dão parâmetros para relacionar os desgastes com a natureza das alterações na oclusão, pois sabemos que essas alterações podem ser de origem patológica ou mecânica.

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Para a saúde do aparelho mastigató-rio é sempre necessário um perfeito equi-líbrio de forças. As doenças periodontais, ou fatores mecânicos que venham a provo-car a mobilidade dos dentes, automatica-mente, provocarão alterações na anatomia oclusal, modificando a posição dos dentes e as zonas de trabalho das mesas e guias. Essas alterações também estão associadas a distintos e variados hábitos mastigató-rios e à disfunção muscular. Esse episódio tende a levar a musculatura a uma situa-ção viciosa de adaptação e, com o passar do tempo, surge a má oclusão.

A qualidade da tonicidade muscu-lar age de maneira determinante no tipo de desgaste. Precisamos considerar tam-bém, o fator “protocolos restauradores”. De acordo com esses conceitos sabemos que as restaurações precisam obedecer rigidamente aos padrões que regem a função do sistema estomatognático. Aos procedimentos restauradores não é per-mitido modificar a anatomia natural dos dentes, uma vez que podem modificar o equilíbrio oclusal.

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O padrão de força que atua sobre determinado tipo de oclusão pode ter alto grau de complexidade, o que nos leva a investigar a forma e o potencial de for-ça que são impulsionados na mordida e que nos dá o aspecto do desempenho da mecânica funcional dos dentes. Por esse motivo, classifico a oclusão como um dos módulos mais difíceis e complexos para reabilitar a funcionalidade do sistema es-tomatognático. É um conjunto de tantas situações, de hábitos, de forma de vida de cada indivíduo, que por isso deve ser analisado de maneira muito distinta. Não pode ser olhado como se possuíssemos uma equação matemática ou dentro de uma fórmula capaz de solucionar toda e qualquer patologia do sistema estomatog-nático, em que pudéssemos resolver todos os problemas de todos os pacientes.

Nenhum dentista pode imagi-nar que encontrou uma fórmula única para equacionar os problemas de todos os pacientes. A situação é distinta em cada caso e em cada indivíduo, pois cada um tem uma forma própria de usar o seu aparelho mastigatório, não sendo possível generalizar uma fórmu-la única para a resolução de todos os procedimentos. Torna-se difícil encon-trar a solução para a estabilidade da oclusão. Isso porque todo ser é único, e a gama de variações de um indivíduo para outro nas suas atitudes, no seu emocional, no seu corpo físico é muito grande. Precisamos aí, analisar em se-parado cada caso, buscando a equação correta e individual do problema.

Quando estou falando de oclusão, enfatizo com segurança que um cirurgião-

dentista não pode entrar num caso analisando apenas o quadrante que será trabalha-do. Exemplo: se tenho uma restauração a ser executada no primeiro molar inferior direito, não posso deter o meu olhar pura e simplesmente no local em questão. É preciso que o conjunto seja incansavelmente analisado. Peças dentárias, musculatura, a forma que esse paciente oclui, a maneira de ele abrir e fechar a boca, ou mastigar; ele tem preferência pelo quadrante direito ou esquerdo? Com as respostas a essas per-guntas, vamos possuir ferramentas que, à primeira vista, parecem insignificantes, mas assim vamos enchemos o banco de dados e chegamos ao diagnóstico a partir da análi-se do desempenho dessa oclusão.

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Porque não devemos esquecer do con-junto de forças que atuam sobre cada estrutura de dente, a forma característica de propulsão e de resistência dos elementos aos impactos do processo que é desenvolvido. É necessário que investiguemos muito bem todos os setores para, com clareza, detectar de que modo os movimentos atuam sobre as peças dentárias.

O exame dos tecidos fornece infor-mações importantes para chegarmos a um consenso. Em primeiro plano, vamos pro-curar a sustentação mucosa que envolve os elementos. Esse dado é uma grande pista para que possamos avaliar a correção dos movimentos, que resultam na dinâmica de força que é impulsionada sobre cada peça. Com uma observação atenta, percebemos se o ajuste oclusal está correto, estável, compa-tível e harmonioso ao conjunto. Se a oclusão do paciente está correta, a qualidade dos ligamentos e dos tecidos que circundam as peças dentárias estarão com um padrão qualitativo de saúde. Caso contrário, se a quali-dade dos tecidos de sustentação estiver comprometida; poderá identificar-se a doença, determinando-se o quadrante sobre o qual o paciente joga excesso de força, tendo-se a clareza do diagnóstico para processar a cura, eliminando-se a causa do mal pela corre-ção no tratamento. Esse é um dos caminhos para encontrar a solução segura.

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Dente implantado no alvéolo com a presença dos ligamentos. Os amor-

tecedores das peças dentárias.

A correção da causa está em se colocar a força de impacto na direção correta do eixo de cada raiz. Essa estabilização se processa quando a força vertical é impulsionada com exatidão sobre o eixo da raiz de cada dente, sendo assim, de acordo com a distribui-ção correta de força, porque tudo nesse sistema gira em torno do equilíbrio e da perfeita

sarmonia. Dessa forma, os ligamentos propiciam o amortecimento da força

atuante. Os dentes possuem um dis-creto movimento, e essa condição promove, vamos assim dizer, uma administração da força atuante. A

excelência, a singularidade das peças dentárias e a sofisti-

cação da implantação das peças naturais permitem que os dentes recebam o peso de todo o trabalho executado pela malha

muscular. Eliminamos, en-tão, o risco de peças dentá-rias apresentarem sintomas de mobilidade patológica.

distribuição da força. Se conseguir-mos fazer com que essa distribuição seja feita de maneira correta, aí sim, dentro desse quadro, será possível resolver esse modelo de pro-blema. Por outro lado, caso a força vertical não se apresente perfeitamente balanceada, teremos uma situação de sobrecarga, causando danos à região em questão. Esses trans-tornos são recebidos de forma danosa tanto para os tecidos de sustentação quanto para a ATM, colocando essa articulação em de-

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Os ligamentos foram ali coloca-dos para cumprir a tarefa de amorte-cimento da incidência da força atu-ante nos dentes. Se assim não fosse, os dentes seriam implantados no alvéolo e se manteriam rígidos, sem a possibilidade de molejo intra-alveolar. O futuro des-sa situação seriam dentes com raízes fraturadas.

Diante do conhe-cimento dessa situação o cirurgião-dentista precisa estar atento à incidência da força sobre cada mesa oclusal, melhor dizendo, qual é o ponto de cada mesa em que a força está atuando. Ela precisa atuar, invaria-velmente, no eixo correto de cada dente, sem des-vio do seu destino. Dente implantado no alvéolo

com ausência de ligamentos.

A estabilidade da oclusão está completamente ligada às relações de

estabilidade da Articulação Tempo-romandibular (ATM).

Essa situação é tão delicada e distinta, que qualquer milímetro de desgaste que não se faça de ma-neira harmoniosa e correta causa

desequilíbrio e lesa a ATM. Daí, concluímos que o conjunto

dos tecidos de sustentação presta um trabalho que vai muito além da saúde periodontal já que, quan-do as fibras de Sharpey

estão danificadas e o coláge-no com baixa qualidade, o movimento oclusal é mo-dificado. De acordo com o maior ou menor impulso de forças atuantes sobre as mesas, a situação poderá ser

modificada.

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Em se tratando de um padrão óti-mo de oclusão, precisamos ter em mente que tanto o padrão fisiológico quanto o estético precisam andar juntos – não po-demos dissociar a qualidade fisiológica da qualidade estética. Para que possamos proporcionar comodidade, conforto e fun-ção, é necessária a harmonia neurovascular para o aparelho mastigatório.

Vamos cumprir determinadas nor-mas e condições entre algumas relações. Exemplo: valorizar a importância da guia de articulação. Nessa guia de articulação, a ATM e a guia de oclusão formam o binômio que vai assegurar o que podemos chamar de “uma situação harmônica para a oclusão”. Em primeiro plano, vamos ter uma condição perfeita entre a relação dos maxilares e os dentes; esses precisam estar numa posição correta com os

maxilares. Por outro lado, quem vai posicio-nar e ditar essa relação, ao fim das contas, são os próprios dentes, e a perfeita condição de oclusão dará uma correta relação temporo-mandibular.

A oclusão cêntrica é outra situação que dificulta o manuseio e a fiscalização da mesma . Ela ditará a quantas anda a relação cêntrica. Uma oclusão cêntrica perfeita terá como resultado final a rela-ção cêntrica ideal.

Relação Cêntrica

A oclusão cêntrica vai proporcionar a harmonia facial; logo, nada é dissocia-do, ou trabalha em separado.

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O dentista precisa examinar com leve-za, com um toque de liberdade. Que ele saiba exata-mente ver e sentir com certa arte, que não seja uma coisa dura, assim não vai imaginar essa des-critiva com estas palavras: oclusão cêntrica, posicio-

namento dos maxilares, posicionamento dos côndilos. Que isso não seja um transtorno para a vida do cirurgião-dentista, mas sim muito agradável, bonito e lhe dê a poesia, porque é realmente assim. O imaginário pre-cisa atuar no momento do exame que envol-ve peças dentárias e articulação.

Quando entramos nesse trabalho, é que mergulhamos na mágica dos posicio-namentos da cavidade oral, e essa imagem vai penetrando como um programa de com-putador. Você liga e de repente o programa entra; é uma situação mágica. Precisamos sentir essa movimentação. O movimento de trabalho, o equilíbrio perfeito, sentir a intercuspidação máxima, o grau das guias, todo o valor e a beleza que esse movimento é capaz de transmitir. Ter uma chave de molar perfeita. As guias corretamente colocadas. Sentir o momento em que essas mudanças se apresentam. Enfim, perceber a movimen-tação do sistema muscular agindo e como esse responde a toda essa sistemática.

Tenho por norma obter uma variante de 2mm a 5mm entre oclusão cêntrica e relação cêntrica. Devemos ter em mente que a oclusão cêntrica chega primeiro que a relação cêntrica. O que é, então, oclusão cêntrica? É o momento em que todos os dentes se tocam. A relação cêntrica vem logo depois e por esse motivo, depen-dendo cada caso, separadamente. Existe uma variante de medida entre oclusão cêntrica e relação cêntrica. É necessário que tenhamos um deslizamento, contatos sejam mantidos entre relação cêntrica e oclusão cêntrica.

Faz-se necessária uma certa liberdade para os movimentos, e que esses sejam des-lizantes e suaves. É como se fosse um balé, em que os contatos oclusais e o caminhar, o deslizamento entre esses possam ser realiza-dos desde o momento da oclusão cêntrica, que é a intercuspidação máxima de todos os dentes até o momento da relação cêntrica. Traduzindo mais: o movimento de ir cami-nhando para que todos os dentes se toquem até chegar à plenitude, e todos os contatos de cúspides e fossas desemboquem na relação cêntrica, que é o desfecho desse movimento.

Essa mecânica é um passeio. Por esse motivo, este capítulo recebeu o nome de Um Passeio na Oclusão. O que é isso?

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É um trabalho realmente muito interessante e incansável e, quanto mais mergulhamos nessa realidade, mais situ-ações curiosas vamos descobrindo. Movi-mentos singularíssimos e pequeníssimas filigranas, porque esse trabalho parece que não tem fim e dá a sensação de que pre-cisamos descobrir mais coisas, mais ele-mentos. Examinar distintos aspectos que podem ser igualmente importantes, tão importantes quanto a oclusão ideal, o que podemos imaginar de estabilidade e função para o aparelho mastigatório. Uma ligação de oclusão estável e harmonia perfeita entre relação cêntrica e oclusão cêntrica mantêm a saúde do nosso paciente.

No entanto, precisamos que determinadas regras sejam estabelecidas. As principais delas são a estabilidade e o equilíbrio e que, também, o impacto mas-

tigatório seja uniforme e ocorra de forma correta, para não lesar as estruturas da ATM.Na minha ótica, um dos fatores principais, senão o principal, é que o desgaste

de todos os elementos aconteça de maneira uniforme (que pode ser natural ou por en-velhecimento das peças dentárias) e a reconstituição desses seja igualmente uniforme e perfeita, obedecendo a todos os requisitos anatômicos. Essa situação tem mão dupla. Traduzindo: não é possível intervir em zonas isoladas na cavidade oral. Executa-se o trabalho em todas as peças dentárias para recuperar o padrão anatômico perdi-do, ou não se toca em nada.

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Na minha filosofia de trabalho, não me permito atuar obedecendo a situações pree-xistentes. Logo, se o paciente me procura para fazer uma obturação, por exemplo, pré-molar no quadrante superior esquerdo para ser tratado, e o seu padrão oclusal deixa a desejar, mesmo que todos os dentes estejam saudáveis, do ponto de vista da prática convencional da Odontologia, parto para a execução de toda a boca. Não permito corrigir ou curar um dente de maneira isolada, visando à correção desse elemento em questão. Ao atuarmos dessa for-ma, estamos no papel de meros artesãos. A Odontologia vai muito além.

Outro requisito importante é que os dentes anteriores jamais recebam impac-tos. Essa lâmina anterior não foi projetada pela natureza para receber impactos. Mas sim para fazer cortes. Por fim, que jamais sejam cometidas falhas nos espaços intero-clusais, pois eles precisam ser respeitados.

Força atuando incorretamente, favorecendo o fechamento dos arcos. A posição de oclusão cêntrica impulsiona molares e pré-molares para dentro da cavidade oral, conduzindo a bateria a uma situação de protrusão.

Correção da distribuição de força, buscando distribuí-la, na sua totalidade, nas mesas oclusais. Dessa maneira, há um ganho de dimensão vertical, liberando a bateria e assim, colocando a guia de canino para amortecer e ao mesmo tempo quebrar o impacto sobre os incisivos. A abrasão mecânica não mais acontecerá. Todas as peças

dentárias foram restauradas.

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