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i www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º 1250-163 Lisboa • Portugal T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244 [email protected] TAX & BUSINESS A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected]. *** Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected]. 01 JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA (2.º TRIMESTRE DE 2014) Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013 IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique Pretende-se, com a presente Informação Fiscal, apresentar uma síntese Trimestral dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (“TJUE”) – à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Centro de Arbitragem Administrativa (“CAAD”) e, também, do Tribunal de Contas –, relacionados com o domínio da Fiscalidade, analisando, caso a caso, o impacto e o contributo que tais decisões poderão vir a ter, do ponto de vista nacional. A presente Informação Fiscal é relativa ao 2.º Trimestre de 2014.

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TAX & BUSINESS

A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected].

***

Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço [email protected].

01

J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D A U N I Ã O E U R O P E I A ( 2 . º T R I M E S T R E D E 2 0 1 4 )

Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013

IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Pretende-se, com a presente Informação

Fiscal, apresentar uma síntese Trimestral dos

principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal

de Justiça da União Europeia (“TJUE”) – à

semelhança do que fazemos em relação às

decisões do Centro de Arbitragem

Administrativa (“CAAD”) e, também, do

Tribunal de Contas –, relacionados com o

domínio da Fiscalidade, analisando, caso a

caso, o impacto e o contributo que tais

decisões poderão vir a ter, do ponto de vista

nacional.

A presente Informação Fiscal é relativa ao 2.º

Trimestre de 2014.

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1.1.1.1. Número do processo: Número do processo: Número do processo: Número do processo: C-337/13 Nome: Nome: Nome: Nome: Almos Agrárkülkereskedelmi Kft Data: Data: Data: Data: Acórdão de 15 de Maio de 2014 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: IVA – Reenvio prejudicial – Sistema comum do IVA – Directiva 2006/112/CE – Artigo 90.º - Redução do valor tributável – Âmbito das obrigações dos Estados-Membros – Efeito directo FFFFactosactosactosactos Em Agosto e Setembro de 2008, a Almos Agrárkülkereskedelmi (doravante “Almos”) vendeu sementes de colza a outra empresa Hungara, a Bio-Ma. As sementes foram entregues e depositadas num armazém, mas o preço não foi pago pelo comprador. Ficou, entretanto, acordado que a mercadoria seria devolvida a 10 de Outubro de 2008, o que não aconteceu pois as sementes foram apreendidas. A Almos intentou uma acção cível, no âmbito da qual o Tribunal condenou o comprador à restituição das sementes ou ao pagamento do preço, considerando que as partes tinham resolvido o contrato de compra e venda e que, consequentemente, a Almos era proprietária das sementes. Por conseguinte, a Almos rectificou as facturas relativas à venda efectuada à Bio-Ma, tendo a correspondente rectificação originado um montante de IVA reembolsável, que ascendeu a 116.705.00HUF. Contudo, a Administração Fiscal húngara considerou que a rectificação das facturas não se justificava e que o acordo celebrado pelas partes após a entrega devia ser considerado uma nova operação, porquanto a legislação de IVA não continha nenhuma disposição que permitisse uma redução a posteriori do valor tributável apenas com base no não pagamento, total ou parcial, dos bens em causa. Contra esta decisão foi interposto recurso judicial, que foi julgado improcedente em primeira instância. Posteriormente, o órgão jurisdicional de recurso, entendendo que a lei nacional não abrangia todas as hipóteses enumeradas no artigo 90.º, n. º1, da Directiva IVA – anulação, rescisão, resolução, não pagamento total ou parcial ou redução do preço – suspendeu a instância submetendo, no essencial, as seguintes questões prejudiciais:

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O disposto no artigo 90.° da Directiva IVA – anulação, rescisão, resolução, não pagamento total ou parcial ou redução do preço – exige que as disposições de direito nacional que o transpõem prevejam expressamente todas as situações que dão origem à redução do valor tributável do IVA? Por outro lado, quais são os direitos que podem ser invocados pelo sujeito passivo no caso de a legislação nacional não transpor correctamente o artigo 90.º n.º 1 da Directiva do IVA, e, bem assim, quais são as condições para, nesse caso, obter uma redução do valor tributável do IVA? Apreciação do Apreciação do Apreciação do Apreciação do TTTTribunalribunalribunalribunal Quanto à primeira questão, o TJUE entendeu, a título preliminar, que a transposição de uma directiva para o direito nacional não exige necessariamente uma repetição formal e textual do seu conteúdo numa disposição legal expressa e específica, devendo, contudo, ser assegurado, de modo claro e preciso, a plena aplicação da directiva de um modo suficientemente claro e preciso. No caso concreto, o artigo 90.°, n.º 1 da Directiva IVA, obriga os Estados‑Membros a reduzir o valor

tributável e, consequentemente, o montante do IVA devido pelo sujeito passivo, sempre que este não receba, depois de efectuada uma transacção, uma parte ou a totalidade da contrapartida, o que constitui o corolário do princípio geral, nos termos do qual, o valor tributável é constituído pela contrapartida efectivamente recebida. No entanto, o artigo 90.°, n.º 2 da Directiva IVA, autoriza os Estados‑Membros a derrogar a referida

regra nos casos de não pagamento total ou parcial do preço da operação. Assim, o TJUE concluiu que uma disposição nacional que omita, das situações nas quais o valor tributável é reduzido, a hipótese do não pagamento do preço da operação, deve ser encarada como o resultado do exercício pelo Estado-Membro da faculdade de derrogação que lhe foi concedida pela Directiva IVA. Não obstante, tal faculdade está condicionada à obrigação de uma tal disposição abranger todas as situações em que, de acordo com o n.° 1 do referido artigo, o sujeito passivo não receba, depois de efectuada uma transacção, uma parte ou a totalidade da contrapartida. Quanto à segunda questão, o TJUE considerou que o artigo 90.º n.º 1 reunia as condições para produzir efeito directo, podendo ser directamente invocada contra o Estado, perante os tribunais.

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Para este efeito, considerou o TJUE que as formalidades a cumprir pelos sujeitos passivos perante as autoridades fiscais, para o exercício do direito a uma redução do valor tributável do IVA, se devem limitar às necessárias para provar que, depois de efectuada uma transacção, os mesmos não receberão, definitivamente, uma parte ou a totalidade da contrapartida. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Em face do exposto, entendeu o TJUE que uma disposição nacional que não prevê a redução do valor tributável do IVA em caso de não pagamento do preço é compatível com o disposto na Directiva IVA. No entanto, uma tal disposição deve abranger todas as situações em que, de acordo com o n.° 1 do referido artigo, o sujeito passivo não receba, depois de efectuada uma transacção, uma parte ou a totalidade da contrapartida. O TJUE conclui ainda, que o artigo 90.º n.º 1 reunia as condições para produzir efeito directo, pelo que poderá ser directamente invocada contra o Estado, perante os tribunais, muito embora o exercício do direito à redução do valor tributável possa ficar sujeito ao cumprimento de determinadas formalidades que permitam provar que, depois de efectuada uma transacção, o sujeito passivo não recebeu, definitivamente, uma parte ou a totalidade da contrapartida, desde que as mesmas não excedam o que for necessário para fazer essa prova Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português O referido acórdão contribui para a clarificação do alcance das normas da Directiva IVA, relativas à redução do valor tributável de IVA em situações de não pagamento da contrapartida. 2222.... Número do processoNúmero do processoNúmero do processoNúmero do processo: C-377/13 Nome:Nome:Nome:Nome: Ascendi Beiras Litoral e Alta, Auto Estradas das Beiras Litoral e Alta, SA (Ascendi) Data:Data:Data:Data: Acórdão de 12 de Junho de 2014 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Reenvio efectuado pelo Tribunal Arbitral Tributário – Imposto de Selo sobre aumentos de capitais. FactosFactosFactosFactos Entre 15 de Dezembro de 2004 e 29 de Novembro de 2006, a Ascendi realizou quatro operações de aumento de capital, através de conversão em capital social, de créditos detidos pelos sócios (resultantes da realização de prestações acessórias em benefício da referida sociedade).

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Em resultado da realização das referidas operações, a Ascendi foi sujeita a tributação em sede de Imposto de Selo. Por não concordar com tal limitação, em 28 de Março de 2008, a Ascendi solicitou a restituição dos montantes pagos à Administração tributária, tendo tal pedido sido indeferido. No seguimento de tal indeferimento, o litígio foi submetido ao Tribunal Arbitral Tributário, tendo sido sustentado que a referida tributação, em sede de Imposto do Selo, violaria o estipulado na Directiva sobre impostos indirectos que incidem sobre as reuniões de capitais. Com efeito, de acordo com a Ascendi, atendendo a que as operações de aumento de capital estavam isentas de Imposto de Selo desde 1991, a reintrodução desta tributação em 2001 deverá ser considerada desconforme com a referida Directiva, nos termos da qual, apenas podem continuar sujeitos a imposto sobre as entradas de capitais as operações indicadas na mesma directiva e, desde que, fossem tributadas, em 1 de Julho de 1984, a uma taxa superior a 0,50 %. Perante este litígio, o Tribunal Arbitral Tributário, decidiu suspender a instância e submeter ao TJUE a seguinte questão prejudicial: A Directiva sobre impostos indirectos que incide sobre as reuniões de capitais opõe-se a uma legislação nacional, que passou a sujeitar a Imposto de Selo os aumentos de capital social de sociedades de capitais efectuados por meio de conversão, em capital social, de créditos detidos pelos accionistas por prestações acessórias anteriormente feitas à sociedade, mesmo que estas prestações acessórias tenham sido feitas em dinheiro, tendo em conta que, à data de 1 de Julho de 1984, a legislação nacional sujeitava aqueles aumentos de capital, realizados daquele modo, a Imposto do Selo, à taxa de 2% e que, na mesma data, isentava de Imposto de Selo os aumentos de capital realizados em dinheiro? Apreciação do Apreciação do Apreciação do Apreciação do TTTTribunalribunalribunalribunal A título preliminar, o TJUE aprecia a questão da admissibilidade do reenvio prejudicial por parte do Tribunal Arbitral Tributário. A este respeito, importa referir que o TJUE já se havia pronunciado, por diversas vezes, sobre a questão da admissibilidade do reenvio prejudicial por parte de tribunais arbitrais de Estados-membros. Da resenha de jurisprudência produzida, resulta que, para qualificar uma entidade de um

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Estado-Membro como órgão jurisdicional, o TJUE tem tido em conta um conjunto de elementos, como a origem legal do organismo, a sua permanência, o carácter vinculativo da sua jurisdição, a natureza contraditória do processo, a aplicação das regras de direito (e não de equidade), bem como a sua independência. Tendo por base a referida jurisprudência, a presente decisão veio considerar que o Tribunal Arbitral Tributário reúne todos os elementos referidos, qualificando-se, assim, como tal, enquanto “órgão jurisdicional”, para efeitos de admissibilidade de reenvio prejudicial. Este acórdão torna-se assim marcante, porquanto é a primeira vez, que o TJUE se pronuncia, favoravelmente, quanto a esta questão que estava em aberto desde a criação, em 2011, do Regime de Arbitragem Tributária. Quanto à questão prejudicial submetida, o TJUE começa por referir que a situação em apreço – relativa à conversão em capital social, de créditos detidos pelos seus accionistas, correspondentes a prestações acessórias anteriormente realizadas – se encontra abrangida pela Directiva em causa. Neste sentido, a manutenção da sujeição destas operações a tributação era permitida, apenas, a título excepcional, em concreto, no caso de as mesmas, com referência à data de 1 de Julho de 1984, serem tributadas, a uma taxa superior a 0,5 %. Refere ainda o TJUE, que a referida Directiva foi criada com o intuito de limitar ou mesmo suprimir o imposto sobre entradas de capital, sendo a referida excepção apenas motivada pelo receio de perdas de receitas pelos Estados-membros, que se viessem a revelar incomportáveis. À luz do exposto relativamente à teleologia da referida Directiva, o TJUE parte para a análise da questão principal, relativa à possibilidade de o Estado português reintroduzir o imposto sobre as entradas de capitais em 2001, após ter abdicado do mesmo, em 1991. Neste âmbito, considerou o TJUE que a Directiva ora em apreço, embora não tenha uma disposição específica relativamente à eliminação e reintrodução do imposto, deverá ser interpretada, no sentido de que se opõe a que um Estado-Membro reintroduza um imposto sobre as entradas de capital relativamente a operações de aumento de capital social abrangidas pela Directiva, que estavam sujeitas a esse imposto em 1 de Julho de 1984, mas que foram, em seguida, dele isentas.

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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Em face do exposto, o TJUE considerou que a Directiva sobre impostos indirectos que incidem sobre as reuniões de capitais deve ser interpretada no sentido de que se opõe a que um Estado-membro reintroduza um imposto sobre as entradas de capital relativamente a operações de aumento de capital social abrangidas por esta Directiva, que estavam sujeitas a esse imposto em 1 de Julho de 1984, mas que foram, posteriormente, dele isentas. ImplicaçImplicaçImplicaçImplicações no direito portuguêsões no direito portuguêsões no direito portuguêsões no direito português No que diz respeito às implicações no direito português, é de referir que, do ponto de vista processual resulta, agora, claro, que o Tribunal Arbitral Tributário português reúne todos os elementos que o TJUE reputa como essenciais para efeitos de se qualificar como “órgão jurisdicional” de um Estado‑membro, ficando assente, consequentemente, que o TJUE é

competente para a apreciação dos reenvios prejudiciais que lhe sejam submetidos por aquele Tribunal Arbitral. 3333.... Número do processo: Número do processo: Número do processo: Número do processo: C-80/12 Nome:Nome:Nome:Nome: SCA Group Holding Data:Data:Data:Data: Acórdão de 12 de Junho de 2014 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Aplicação de regime de grupo (de unidade fiscal) quando a sociedade intermédia ou a sociedade-Mãe é residente noutro Estado-Membro. FactosFactosFactosFactos O presente acórdão resulta da apensação de três processos, reenviados por um tribunal holandês, para o TJUE, sendo que todos tinham subjacente um litígio quanto à aplicabilidade do regime holandês de constituição de uma unidade fiscal. Em dois dos referidos processos, a situação factual era semelhante, sendo que se tratava de uma sociedade mãe (SCA e MAS), com sede nos Países Baixos, que detinha directa ou indirectamente filiais ou sociedades dominadas, com sede na Alemanha, que por sua vez detinham filiais ou sociedades dominadas, com sede nos Países Baixos.

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Deste modo, solicitaram as referidas sociedades que lhes fosse aplicado o regime de unidade fiscal – nos termos do qual o imposto devido pelas sociedades constituídas nos termos desse regime é cobrado como se se tratassem de um único sujeito passivo e devido pela sociedade-mãe –, à sociedade mãe ou dominante em conjunto com as suas sub-filiais ou sociedades indirectamente dominadas, sedeadas nos Países Baixos. Em ambos os casos, a Administração tributária holandesa indeferiu o pedido formulado de aplicação do regime de unidade fiscal, devido ao facto de as holdings intermédias não serem residentes nos Países Baixos, requisito imposto pela lei para aplicação deste regime. Considerando que a legislação em causa constitui uma restrição injustificada à liberdade de estabelecimento no seio da União Europeia, a SCA e a MAS recorreram da referida decisão, tendo então, o Tribunal de Recurso procedido ao seu reenvio prejudicial, para o TJUE. Por sua vez, o terceiro processo apensado no presente acórdão, diz respeito a uma situação factual um pouco distinta. Com efeito, nesta situação não estamos perante uma situação de filiais intermédias não residentes, mas numa situação em que a própria sociedade mãe é residente noutro Estado-Membro, no caso, na Alemanha, que, por sua vez, detém duas filiais ou sociedade dominadas, sedeadas nos Países Baixos, que pretendiam ser tributadas de acordo com o regime de unidade fiscal nos Países Baixos. Neste caso, foi, também, negada a aplicabilidade do regime de tributação com unidade fiscal, porquanto, no entender da Administração tributária holandesa a sociedade mãe ou dominante teria que estar sedeada nos Países Baixos. Mais uma vez, as sociedades residentes nos países baixos recorreram da decisão de indeferimento do pedido de constituição de uma unidade fiscal arguindo que o regime holandês em causa constitui uma restrição não justificada à liberdade de estabelecimento. Na sequência da apresentação deste recurso, o tribunal de recurso decidiu submeter um pedido de reenvio prejudicial para o TJUE. Com as diversas questões prejudiciais colocadas foi perguntado, no essencial, no primeiro caso, se o direito europeu deve ser interpretado no sentido de que se opõe à legislação de um Estado-Membro por força da qual uma sociedade-mãe residente pode constituir uma unidade fiscal com uma subfilial residente, quando a detém por intermédio de uma ou de várias sociedades

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residentes, mas não pode constituir essa unidade fiscal quando detém a subfilial por intermédio de sociedades não residentes que não dispõem de um estabelecimento estável nesse Estado-Membro. No segundo caso, perguntou o tribunal de reenvio se o regime em causa se opõe à legislação de um Estado-Membro por força da qual o regime da unidade fiscal pode ser concedido a uma sociedade-mãe residente que detém filiais residentes, mas não a sociedades-irmãs residentes, cuja sociedade-mãe comum não tem a sua sede nesse Estado-Membro, nem dispõe aí de um estabelecimento estável. Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal O TJUE começa por analisar se, nos casos em apreço, existe uma restrição às referidas liberdades europeias, designadamente, à liberdade de estabelecimento. Ora, atendendo a que o regime da unidade fiscal é uma vantagem fiscal para as sociedades em causa, pois, ao acelerar o apuramento dos prejuízos das sociedades deficitárias através da sua imputação imediata nos lucros de outras sociedades do grupo, o referido regime confere a esse grupo uma vantagem de tesouraria. Assim, tanto numa como noutra situação, o TJUE chega à conclusão de que a condição exigida pelo regime holandês, de a sociedade-Mãe e, bem assim, as sociedades intermédias serem residentes nos Países Baixos, gera um tratamento desigual porquanto desfavorece, no plano fiscal, as situações comunitárias em comparação com as situações puramente internas, constituindo, por esta via, uma restrição proibida, em princípio, pelas disposições do Tratado relativas à liberdade de estabelecimento. Para que uma restrição deste tipo seja compatível com a liberdade de estabelecimento, é necessário que a mesma se reporte a situações que não sejam objectivamente comparáveis – devendo a comparabilidade de uma situação transfronteiriça com uma situação interna ser analisada tendo em conta o objectivo prosseguido pelas disposições nacionais em causa –, ou que seja justificada por uma razão imperiosa de interesse geral. Neste âmbito, conclui o TJUE que, em ambos os casos, as situações em causa são comparáveis. Com efeito, considerou o TJUE que, tanto num caso como no outro, a finalidade que a norma nacional em causa tem em vista, ou seja, a consolidação fiscal dos resultados de um “grupo de empresas”, pode ser atingido tanto nos casos em apreço, como numa situação puramente interna.

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Com efeito, em ambas as situações se vislumbram vantagens decorrentes da aplicação do regime da unidade fiscal, pelo que as situações deverão ser consideradas objectivamente comparáveis. Adicionalmente, considerou o TJUE não haver, em qualquer das situações, uma razão imperiosa de interesse geral, nomeadamente, a coerência do sistema fiscal ou a prevenção de dupla compensação dos prejuízos, que justifique a restrição apontada, porquanto não foi demonstrada a existência de um nexo directo entre a concessão da vantagem fiscal em causa e a compensação dessa vantagem pela liquidação de determinado imposto. De referir, em concreto no que diz respeito à primeira situação, que a legislação holandesa prevê um regime nos termos do qual uma sociedade-mãe residente não pode nunca deduzir os prejuízos decorrentes da participação numa das suas filiais, ainda que essa filial esteja sediada noutro Estado-Membro. Neste sentido, não pode, pois, ser estabelecido nenhum nexo directo entre a concessão da vantagem fiscal relativa à constituição de uma unidade fiscal e a compensação dessa vantagem pela liquidação de um determinado imposto. Por fim, considerou o TJUE que não se pode também considerar estar-se em presença de uma situação de risco de evasão fiscal, porquanto, tal risco não for invocado, em ligação com um objectivo específico de luta contra expedientes puramente artificiais, desprovidos de realidade económica, com objectivo de eludir o imposto normalmente devido. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão O TJUE, no presente acórdão, entendeu, assim, que, nos dois primeiros processos, o Direito europeu se opõe à legislação de um Estado-membro por força da qual uma sociedade mãe ou dominante residente pode constituir uma unidade fiscal com uma subfilial residente quando a detém por intermédio de uma ou várias sociedades residentes, mas não pode constituir essa unidade fiscal quando detém a subfilial por intermédio de sociedades não residentes que não dispõem de um estabelecimento estável nesse Estado-Membro. Por sua vez, no terceiro caso, considerou que o Direito europeu se opõe à legislação de um Estado-membro, por força da qual o regime da unidade fiscal pode ser concedido a uma sociedade mãe ou dominante residente que detenha filiais residentes, mas não a sociedades irmãs residentes cuja sociedade mãe ou dominante comum não tem a sua sede nesse Estado Membro, nem dispõe aí de um estabelecimento estável.

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Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português O regime fiscal português não prevê um regime de unidade fiscal. Não obstante, feitas as devidas ressalvas decorrentes das diferenças existentes entre o regime de grupos português e o holandês, importa referir que, nos primeiros dois casos, o regime português já prevê tal situação, em conformidade com o decidido pelo TJUE. Com efeito, a situação de possibilidade de tributação de grupo de sociedades, quando as sociedades intermédias estão sedeadas em outro Estado Membro da UE, já se encontra contemplada no artigo 69.º n.º 5 alínea b) do Código do IRC. No terceiro caso, tanto quanto nos parece, a situação é um pouco diferente, porquanto o nosso regime especial de tributação dos grupos de sociedades (RETGS) é em tudo similar ao regime holandês, requerendo que a sociedade mãe ou dominadora seja igualmente residente em Portugal para que seja possível a aplicação RETGS. Neste sentido, tanto quanto nos parece, poderá vir a ser considerado, nesse caso, poderão vir a ser suscitadas futuras questões judiciais relativamente à desconformidade do RETGS com o Direito Europeu. 4444.... Número do processo: Número do processo: Número do processo: Número do processo: C-461/12 Nome:Nome:Nome:Nome: Granton Marketing BV (Granton) Data:Data:Data:Data: Acórdão de 12 de Junho de 2014 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Clarificação de sujeição a IVA sobre os cartões de desconto FactosFactosFactosFactos A sociedade holandesa, Granton Marketing BV (Granton), compreendia, no âmbito da sua actividade, a emissão e venda de cartões que conferiam o direito a certos descontos, em contrapartida de aquisição ou prestação de um determinado número de bens e de serviços, junto de certas entidades – as “empresas aderentes”. A operação em causa consistia, resumidamente, na concessão de descontos em relação a ofertas indicadas em cada cartão, durante o respectivo prazo de validade, junto de comerciantes e

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empresas, que tinham celebrado um contrato para esse efeito com a Granton. Por sua vez, os cartões eram transmissíveis, embora não fossem convertíveis em bens ou dinheiro. Na sequência de um controlo realizado à contabilidade da Granton, a Administração tributária holandesa considerou que a venda destes cartões era uma operação sujeita a IVA, tendo efectuado a correspondente liquidação adicional deste imposto. Discordando desse entendimento, a Granton, após indeferimento da reclamação, interpôs o competente recurso judicial, com o fundamento de que a venda destes cartões estava abrangida pelos conceitos de “demais títulos” ou “outros efeitos de comércio”, para efeitos da Directiva do IVA, consubstanciando, por isso, uma operação isenta. Perante esta dúvida interpretativa de um conceito de Direito Europeu, o tribunal de Recurso holandês submeteu a seguinte questão prejudicial junto do TJUE: - A expressão “demais títulos” e, bem assim, a expressão “outros efeitos de comércio“ constantes da Sexta Directiva, abrangem este tipo de cartões, transmissíveis e utilizáveis para pagamento (parcial) de bens e serviços e, nesse caso, a emissão e venda desse cartão é uma operação isenta de IVA? AprecAprecAprecApreciação do Tribunaliação do Tribunaliação do Tribunaliação do Tribunal No que diz respeito à apreciação da referida questão, a título preliminar, o TJUE começa por analisar as características jurídicas e económicas desses cartões, bem como as condições que regulam a sua comercialização. Conclui não existir nexo suficientemente directo entre o montante pago, por esses consumidores, para a obtenção do cartão Granton e os bens ou prestações de serviços eventualmente obtidos, por esses mesmos consumidores, da parte das empresas aderentes. Por outro lado, conclui também que não existe nenhum nexo necessário entre o pagamento, pelo consumidor, para obter um cartão Granton, e o valor dos descontos eventualmente obtidos, pelo mesmo consumidor, junto das empresas aderentes, porquanto, o montante dos eventuais descontos, depende, entre o mais, da utilização do referido cartão, e, bem assim, da disponibilidade de ofertas nas empresas aderentes, sendo, por isso, aleatório e praticamente impossível de determinar com antecedência.

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Feita esta ressalva, o TJUE conclui que a utilização de um cartão Granton não pode constituir um “pagamento” (parcial) para efeitos da Sexta Directiva, tratando-se, na verdade, de um desconto de preço. Por sua vez, no que diz respeito à eventual isenção de IVA das operações de venda de cartões Granton aos consumidores, o TJUE procede à interpretação das expressões “demais títulos” e “outros efeitos de comércio” atendendo à letra, finalidade e contexto das disposições nas quais tais expressões se encontram inseridas, não esquecendo que, por constituírem derrogações ao princípio geral, nos termos do qual estão sujeitos a IVA todas as prestações de serviço e transmissões de bens efectuadas a titulo oneroso, as mesmas devem ser interpretadas restritivamente. Relativamente ao conceito de “demais títulos”, refere o TJUE que o mesmo se enquadra numa disposição que se refere, especificamente, a títulos que conferem um direito de propriedade sobre pessoas colectivas, ou títulos representativos de dívida Por sua vez, atendendo ao seu contexto, o TJUE considerou que tal disposição diz respeito a operações financeiras sobre estes títulos, sendo o intuito desta isenção o de minimizar as dificuldades ligadas à determinação da matéria colectável nestes casos. Ora, atendendo às características do cartão Granton, resulta que o mesmo não pode ser equiparável a uma operação financeira, nem apresenta dificuldades particulares no que respeita à determinação da matéria colectável. Deve entender-se, por isso, que tais cartões não estão abrangidos pelo conceito de “demais títulos”, na acepção Directiva IVA. Por fim, considerou ainda o TJUE, no que diz respeito ao conceito de “outros efeitos de comércio” que as operações isentas em virtude desta disposição se incluem igualmente no domínio das operações financeiras, constituindo, designadamente, meios de pagamento (como cheques). Ora, no entender do TJUE, sendo certo que os cartões Granton dão direito a descontos de preço não constituem, por si próprios, um meio de pagamento para os fins mencionados nesta disposição. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Em face do exposto, concluiu o TJUE, que as disposições constantes da Directiva IVA devem ser interpretadas no sentido de que a venda de um cartão de desconto, como o que está em causa no processo principal, não constitui uma operação relativa a «demais títulos» ou a «outros efeitos de

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comércio», na acepção desta disposição, que visam a isenção de certos tipos de operações, em sede de IVA. Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português Esta decisão vem clarificar que o regime aplicável, em sede de IVA, à comercialização deste tipo de cartões de desconto não passa pela aplicação das isenções. Lisboa, 6 de Setembro de 2014 Rogério Fernandes Ferreira Marta Machado de Almeida José Mègre Pires