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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”
Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5
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MOVIMENTO ESTUDANTIL: MEMÓRIAS SOBRE A JUVENTUDE TIJUCANA (ITUIUTABA‐MG, DÉCADAS DE 1950 E 1960)
Isaura Melo Franco
[email protected] Sauloéber Tarsio de Souza [email protected]
(UFU) Resumo
O presente trabalho decorre de pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de Pós‐Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia‐MG, linha de História e Historiografia da Educação. Temos como objeto de estudo o movimento estudantil em Ituiutaba‐MG nos anos de 1950 e 1960, representado principalmente pela União Estudantil de Ituiutaba – UEI e pelos grêmios estudantis locais. A periodização desenvolvida décadas de 1950 e 1960, corresponde a um período de efervescência política e social, já que foi marcado pelo embate entre populismo‐desenvolvimentista e autoritarismo que resultou na implantação do regime ditador no ano de 1964. Além de ser um momento de intensa atividade dos organismos estudantis locais e nacionais, com destaque para a União Nacional dos Estudantes (UNE), a qual exerceu fundamental importância nos quadros de oposição ao governo ditador (GERMANO, 2005). Utilizamos os jornais como fonte primária de pesquisa, pois acreditamos que sua importância está principalmente no fato de que, como afirmou Capelato (1988) sua atividade não consiste apenas em transmitir, mas, igualmente, em gerar acontecimentos, compondo‐os com elementos de uma visão bastante particular do mundo, somatória de subjetividade e de interesses aos quais o jornal está vinculado. Logo consultamos 06 coleções de jornais do período correspondente, presentes no acervo da Fundação Cultural do município. Em seguida, recorremos à história oral por considerarmos, de acordo com Meihy (2002), que esta respeita as diferenças e facilita o entendimento das identidades e dos processos de suas construções. Assim realizamos entrevistas semi‐estruturadas a ex‐líderes estudantis do contexto investigado. Por meio desse estudo percebemos que as ações do movimento estudantil em Ituiutaba nas décadas de 50 e 60, em sua maioria eram destinadas em beneficio da realidade local, apresentando caráter conservador no que tange a estrutura social brasileira. Peculiaridade esta que se difere do órgão de representação estudantil de maior destaque no país, a UNE, a qual principalmente nos anos 60, tinha suas ações voltadas na luta por uma transformação estrutural da sociedade. De acordo com os jornais consultados, evidenciamos que após a implantação do regime militar as ações dos estudantes não apresentaram mais reivindicações políticas como antes, mas se preocupavam em atividades assistenciais e de recreação. Verificamos também que o movimento estudantil em Ituiutaba foi marcado pela presença de práticas comuns ao sistema educacional no Brasil desde o Estado Novo até a década de 1960, a qual tentava garantir um novo sentimento de nacionalismo junto aos alunos, por meio da difusão de ideais cívicos e patrióticos. Palavras‐chave: Movimento estudantil. Ituiutaba‐MG. Décadas de 1950 e 1960.
O presente trabalho decorre de pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de Pós‐
Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia‐MG, linha de História e
Historiografia da Educação.
Temos como objeto o estudo do movimento estudantil no interior do estado de Minas
Gerais, especificamente, na cidade de Ituiutaba, no período entre as décadas de 1950 e 1960,
momento de intensa atividade dos organismos dos estudantes, em sua maioria representantes do
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ensino secundário, constituindo a base desse movimento social na cidade que se desenvolvia
sócio‐economicamente em largos passos. Desse modo, busca‐se valorizar as ações dos estudantes,
por meio das representações1 de imprensa e de depoimentos de ex‐líderes estudantis desse
período.
Por meio dessa pesquisa, estudamos a juventude estudantil tijucana, especialmente
corporificada pelas ações da União Estudantil de Ituiutaba (UEI) e dos grêmios estudantis dos
colégios locais, temática bastante discutida pelos jornais locais do período analisado,
representando cerca de 10% das 531 matérias jornalísticas encontradas nessas duas décadas,
referentes ao universo escolar.
Consideramos que o movimento estudantil é um dos elementos constituintes da história
da educação brasileira. Pois os jovens estudantes tiveram atuação marcante nas lutas
educacionais, políticas e sociais do país no período em questão. Assim interessamos‐nos em
aprofundar na discussão sobre o movimento estudantil de Ituiutaba, entendido como uma
manifestação sócio‐cultural da juventude2 (CACCIA‐BAVA; COSTA, 2004), identificando as principais
idéias e representações relativas ao perfil de estudante/aluno.
Acreditamos que a importância desse trabalho se deve parcialmente pelo ineditismo do
tema, pois historiar o movimento estudantil em cidades interioranas ainda é um desafio, como
afirma Silva (2009, p.06):
Percebemos uma carência de pesquisas que recuperassem a ação dos estudantes em cidades distantes dos grandes centros urbanos do Brasil. Fazemos essa referência levando em consideração o período histórico em questão, que assiste ao final do nacional‐desenvolvimentismo dos anos 50 do século XX e aponta a década seguinte, marcada pela instauração da ditadura militar no país. Um período rico na história nacional que agonizou contradições em termos de utopias e projetos de mundo antagônicos.
1 A utilização do conceito de representação nos parece adequado para este estudo. Chartier (1990) entende as representações como elementos de transformação do real e que atribuiriam sentido ao mundo. A construção desse sentido ou simbolismo social não ocorreria dentro de uma liberdade absoluta, pois as representações necessariamente, teriam em sua concepção, um fundo de apoio nas condições reais de existência, ou seja, as idéias‐imagens possuiriam um mínimo de concreticidade extraída do cotidiano para que tivessem aceitação social.
2 Entendemos por juventude a fase do desenvolvimento humano que se caracteriza entre a adolescência e a idade adulta. Sendo necessário considerar a diversidade presente nessa categoria, “[...] pois trata‐se apenas de um período particular da vida humana que pode alongar‐se ou abreviar‐se, conforme os indivíduos, as classes sociais e as condições políticas e sociais” ( FURTER, 1967, p. 235).
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Pretendemos com este estudo trazer novas contribuições para a História da Educação,
sendo necessário destacar o contexto político‐social nacional da época analisada, tendo sempre
em vista a relação entre micro e macro, já que entendemos que o particular é expressão do
desenvolvimento geral.
Assim, antes de abordarmos o movimento dos estudantes no interior mineiro, é preciso
compreender que o contexto nacional nesse período foi marcado pelas ações relacionadas às
questões político‐culturais promovidas pela União Nacional dos Estudantes (UNE), fundada em
1937. É a partir desse referencial que buscamos contextualizar a atuação dos estudantes em nível
local, salientando‐se suas especificidades.
Nos anos de 1950, a grande referência desse período foi a discussão em torno da primeira
LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) n. 4024/61, que foi promulgada somente
em 1961, após 13 anos de embates entre os defensores da escola pública e os da escola privada3.
Podemos ressaltar também o engajamento da UNE que se empenhou na Campanha em Defesa da
Escola Pública nos debates em torno da elaboração e aprovação dessa Lei de Educação do país
(SANFELICE, 1986).
Na década de 1960 destaca‐se a chegada dos militares ao poder, por meio do golpe militar
que impôs a deposição ao presidente João Goulart em 31 de março de 1964, ocorrendo uma
ruptura política para a manutenção da ordem socioeconômica do capitalismo de mercado
associado dependente. Com isso, a ideologia do nacionalismo desenvolvimentista, estratégia
nacionalista para o desenvolvimento econômico do país, foi substituída pela doutrina da
interdependência entre o Brasil e os Estados Unidos, líder do bloco ocidental (SAVIANI, 2007).
O novo modo de governo implantou no país o período ditatorial (1964‐1985), que se
caracterizou pelo autoritarismo imposto a sociedade civil, o qual tinha a função de prover um
3 Em defesa da escola particular estava a Igreja católica e os proprietários de escolas. Já do lado da escola pública manifestavam‐se três correntes ideológicas: a primeira denominada “liberal‐idealista”, representada por docentes de filosofia e história da educação da USP e pelo jornal “O Estado de São Paulo” a qual retoma à ética Kantiana, em que o homem é considerado pela moralidade, tendo a educação o dever de converter este em ser moral, autônomo, sem considerar suas condições sociais; a “liberal‐pragmatista”, em que podemos destacar os nomes de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Almeida Júnior, pioneiros do movimento da Escola Nova, atribuía à educação o papel de ajustar o homem a realidade social em mudança; e a “tendência socialista”, que teve como líder o professor Florestan Fernandes, o qual compreende a educação a partir de seus condicionantes sociais, sendo fator de transformação social (SAVIANI, 2007).
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controle ideológico competente ao modelo econômico implantado, baseado nos interesses do
capital internacional e nacional.
Desse modo, o governo militar exerceu severa repressão contra os movimentos estudantis
acusados de subversivos e de possuírem ideais comunistas, devido à contestação do agravamento
das desigualdades sociais que levavam a população a um sinistro panorama de extremos, vivido
entre a abundância de poucos e a miséria da maioria, provocado pelas alterações políticas e com
reflexos no sistema educacional. As organizações estudantis passaram a sofrer muitos ataques
após o golpe dos militares. “Até as verbas oficiais, aprovadas pela Câmara dos Deputados, que as
entidades estudantis recebiam antes do golpe, foram cortadas” (SANTANA, 2007, p. 48).
Mesmo assim, na década de 1960 o movimento estudantil se constituiu em uma
importante organização que representou os interesses não apenas da parcela estudantil, mas de
toda sociedade brasileira, principalmente nos anos iniciais da ditadura militar (BENEVIDES, 2006).
Neste contexto de repressão, salienta‐se também a invasão e o incêndio da sede da UNE
no Rio de Janeiro e a Lei Suplicy (1964), que colocou a UNE e as Uniões Estaduais de Estudantes na
ilegalidade4, criando órgãos de representação estudantil ligados às autoridades governamentais,
proibindo o livre diálogo entre estudantes e diretórios acadêmicos. Dessa forma, o governo tinha
por objetivo destruir a capacidade de organização do movimento estudantil, cerceando o
potencial crítico dos estudantes de contestação do sistema vigente (GERMANO, 2005).
É nessa realidade que a educação brasileira seria reestruturada, passando por um brusco
movimento de centralização, que atendia aos novos horizontes políticos do país. Surgiram assim,
os acordos MEC‐USAID entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for
International Development (USAID), que buscavam influência e controle ideológicos da educação
no país, por meio da disseminação de técnicas condizentes com os interesses do capitalismo, os
termos eficácia e produtividade passaram a ser empregados de alto a baixo no sistema de ensino,
evidenciando que os EUA (por meio da USAID) consideravam a educação como área estratégica na
4 Em 1965, de acordo com Vieira (1998), os estudantes mineiros realizaram o Congresso Estadual dos Estudantes e elegeram uma nova diretoria para a União Estadual dos Estudantes (UEE), com o apoio do então governador do Estado, Magalhães Pinto, um dos idealizadores do golpe militar. Fato que demonstra o desejo político de controlar com maior proximidade as ações dos estudantes.
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integração e posicionamento das sociedades periféricas no contexto geral do capitalismo
internacional.
Neste cenário, aconteceram mobilizações de estudantes contra esses acordos e outros
aspectos da política educacional, como a privatização do ensino, fazendo com que fossem exigidas
pelos estudantes mais verbas e vagas para a educação. A participação dos estudantes foi
importante para que a educação brasileira não fosse totalmente entregue ao controle dos Estados
Unidos, visto que: “[...] a reação estudantil, o amadurecimento do professorado e a denúncia de
políticos nacionalistas com acesso à opinião pública evitaram a total demissão brasileira no
processo decisório da educação nacional” (CUNHA & GÓES, 2002, p.32).
A polarização internacional entre capitalismo e comunismo refletiu por todo o mundo, e o
ano de 1968 pode ser considerado como “uma onda mundial de revoltas”, marcado por grandes
mobilizações sociais como o protesto contra “a guerra do Vietnã”, a “primavera de Praga” e o
“maio francês”. E no cenário nacional destaca‐se a “passeata dos 100 mil”, realizada no Rio de
Janeiro contra o regime militar e o imperialismo norte‐americano (GROPPO, 2000).
Em dezembro de 1968, o governo militar decretou o Ato Institucional nº. 5 (AI‐5),
denominado como o “terror de Estado”, que inibiu a ação estudantil nas universidades e escolas. 5
Mesmo com toda a repressão, é necessário ressaltar que as ações estudantis tiveram grande
repercussão nas lutas sociais e políticas do país, especialmente, pelas posições da União Nacional
dos Estudantes (UNE), a qual exerceu fundamental importância nos quadros de oposição ao
governo ditador (GERMANO, 2005).
O movimento estudantil constituía‐se ao longo da ditadura em uma das poucas válvulas
políticas abertas, em função da adoção do bipartidarismo e pela grande intervenção do Estado nos
sindicatos. Assim, os estudantes que não tinham emprego a perder, mas tempo para se organizar,
ganharam as ruas. A ação estudantil estava ligada a diferentes partidos, sobretudo, aos
clandestinos que buscavam o fim da ditadura e a instauração do socialismo, entre estes, o Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e sua dissidência, o Partido Comunista do Brasil (PC do B) de linha
5 De acordo com Caldeira (2008, p. 42) “Os jovens só retomariam as ações públicas do movimento estudantil no início de 1977, […], assinalando o começo da reorganização dos centros acadêmicos e do processo de retomada da UNE, em 1979”.
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chinesa, os militantes da extrema‐esquerda de origem católica, da Ação Popular (AP) e também os
trotskistas (NATALI, 1993).
É importante destacar o contexto regional, em que a capacidade de crescimento da
esquerda cristã em Minas, na década de 60 assumiu uma grande relevância para o movimento
estudantil mineiro no país. A princípio desenvolveram‐se principalmente entre os jovens
estudantes, organizações que buscavam uma ação política e social autônoma em relação a Igreja
Católica, como: a Juventude Estudantil Católica (JEC), a Juventude Universitária Católica (JUC), a
Juventude Operária Católica (JOC), a Ação Operária Católica (AOC) e a Ação Popular (AP),
defensora de ideais socialistas, que exerceu liderança no movimento estudantil universitário e
secundarista no país. (VIEIRA, 1998)
No ano de 1966, a UNE realizou em Belo Horizonte o primeiro Congresso Nacional dos
Estudantes, clandestino, que elegeu como presidente da entidade o estudante mineiro de
esquerda José Luís Guedes da AP, o qual tinha como principais bandeiras de luta a Reforma
Universitária e a revogação da Lei Suplicy6, no que se refere a questões dos estudantes, além de ir
contra o MEC‐USAID.
O governo decretou leis específicas para a reforma do sistema de ensino a Lei nº. 5540/68,
ou Lei da Reforma Universitária, que tinha como um de seus objetivos desarticular o movimento
estudantil, supostamente atendendo a alguns dos anseios da classe, e a Lei nº. 5692/71, a qual
também se baseava no modelo americano, incompatível com as necessidades da sociedade
brasileira, e visava acentuar a dependência política e econômica já existente, em relação aos
países centrais (ROMANELLI, 1999). Um dos graves problemas dessas reformas empreendidas pelo
governo militar foi o baixo investimento financeiro na escola pública e o favorecimento da
ampliação da rede privada.
De modo geral, em relação à organização escolar no Brasil, podemos ressaltar que os
recursos financeiros e a orientação educacional estavam condicionados aos interesses do
capitalismo internacional. “Esta submissão beneficia uma parcela muito reduzida da população 6 Lei nº. 4.464, de 9 de novembro de 1964, criada pelo então Ministro da Educação Flávio Suplicy de Lacerda, a qual visava a substituição das entidades civis dos estudantes por novas controladas pelo governo, com o objetivo de posicionar o movimento estudantil a favor do regime militar, livrando os estudantes das influências supostamente subversivas (RIDENTI, 1993).
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brasileira, mas mesmo assim é uma parcela sempre frágil diante da parcela internacional, hoje sob
a hegemonia da burguesia monopolista” (RIBEIRO, 2001, p.200).
Todas as mudanças de ordem política e social neste período eram acompanhadas também
pelas de natureza econômica e eram percebidas de alguma forma por todo o território nacional.
Assim, nos agitados anos de 1950 e 1960, Ituiutaba expressava a política de modernização
nacional, à medida que sua população tornava‐se urbana (entre 1950 e 1970 sua população
citadina passou de 19% para 73% do total de habitantes), formando mercado consumidor, além de
liberar terras para a expansão das empresas agrícolas na região, o que gerava empobrecimento da
população migrante, em função de que nas cidades nem sempre conseguiam sustento.
Nos anos de 1950, o poder público preocupou‐se com o Plano Urbanístico local, com
ampliação dos serviços de abastecimento de água e de iluminação pública, arborização e
calçamento de ruas, construção de prédios públicos, buscando atender às demandas da população
que se avolumava. Assim, ocorreu a ampliação da rede escolar e de saúde pública, mesmo que de
forma precária sem atender de forma satisfatória ao grande fluxo de pessoas que se mudavam
para o meio urbano. Nos anos de 1960, a mudança urbanística acelerou‐se ainda mais, com a
chegada do asfalto, a construção de praças, implantação do Distrito Industrial e do primeiro
Campus Universitário no município (SOUZA, 2010).
Tantas mudanças na cidade refletiam o contexto nacional já que as décadas de 1950 e
1960 foram marcadas por efervescência econômica, política e social. Portanto, entendemos que o
particular conduz a expressão do geral e vice‐versa. O movimento estudantil local demonstrava
interlocução com as organizações estaduais e nacional, mas portando especificidades.
A partir desse ponto de vista, estudar o movimento estudantil em Ituiutaba, veiculado pela
imprensa local e presente nas memórias dos sujeitos daquela época, contribui para o
entendimento do processo histórico vivido pela região, além de abrir novas perspectivas para a
compreensão do processo em nível nacional, por meio do levantamento das especificidades
encontradas nas diferentes regiões.
Escolhemos os jornais como fonte de pesquisa primária, pois partimos do entendimento de
que estes se constituem em mananciais fundamentais para a coleta de dados nesse estudo,
permitindo‐nos o conhecimento de concepções pedagógicas e ideologias que circulavam pelo
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imaginário da população local, veiculando ideais de aluno, de professor e de educação, por
exemplo. Dessa forma, as representações presentes nesses periódicos permitem abordagens mais
amplas em relação ao fenômeno educacional.
Assim sua importância está principalmente no fato de que, como afirmou Capelato (1988)
sua atividade não consiste apenas em transmitir, mas, igualmente, em gerar acontecimentos,
compondo‐os com elementos de uma visão bastante particular do mundo, somatória de
subjetividade e de interesses aos quais o jornal está vinculado7.
Desse modo, consideramos que as representações veiculadas pelos jornais não são neutras
e devem ser investigadas de forma científica para que possibilitem o entendimento do passado.
Nesse sentido, consideramos esses documentos como monumentos, pois como afirma Le Goff
(1995), estes são produtos da sociedade que os produziu de acordo com as relações de força
existentes, nos permitindo assim uma visão crítica sobre a fonte utilizada.
Também recorremos à história oral por acreditarmos que esta técnica de pesquisa é um
poderoso recurso para a investigação histórico‐educativa, de forma que:
Com vocação para tudo e para todos, a história oral respeita as diferenças e facilita a compreensão das identidades e dos processos de suas construções narrativas. Todos são personagens históricos, e o cotidiano e os grandes fatos ganham equiparação na medida em que se traçam para garantir a lógica da vida coletiva (MEIHY, 2002, p.21).
Nesse sentido, “[...] a História Oral permite o registro de testemunhos e o acesso a histórias
dentro da história e, dessa forma, amplia as possibilidades de interpretação do passado” (ALBERTI,
2006, p.15). Assim realizamos algumas entrevistas com testemunhas da época8. A primeira delas
foi feita com ex‐proprietário e editor de jornais pesquisados, buscando entender um pouco
melhor do funcionamento desses veículos de comunicação, em um período em que os jornais
7 Nesse trabalho, consultamos às coleções dos seguintes jornais: “Gazeta de Ituiutaba”, “Folha de Ituiutaba”, “Correio do Pontal”, “Correio do Triângulo”, “Cidade de Ituiutaba” e “Município de Ituiutaba”, todos com veiculação nesse período, constantes do acervo da Fundação Cultural de Ituiutaba. Assim realizamos a leitura minuciosa dos artigos de jornais, acompanhada do fichamento de todas as notícias relacionadas à educação, registrando sempre o número de tombo do arquivo, a data de publicação, o título da matéria, o assunto tratado e o grau de ensino a que se referia, revelando‐nos parte da atmosfera escolar local ao longo dos anos de 1950 e 1960.
8 Não realizamos neste trabalho citações diretas dos depoimentos colhidos, em virtude da não emissão aos entrevistados da carta de cessão de direitos sobre o produto, em decorrência ao receio demonstrado por parte dos colaboradores desse estudo quanto à divulgação direta da transcrição de suas falas.
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eram um dos principais veiculadores de notícias e informações, exercendo grande influência
política e cultural na população tijucana. Logo em seguida, entrevistamos alguns dos principais
líderes estudantis locais, para compreender melhor a cultura estudantil da época investigada,
além da relação entre a imprensa e os estudantes.
Na década de 1950, o município contava com várias organizações estudantis, como a UEI ‐
“União Estudantil de Ituiutaba”, o “Clube Estudantil Rui Barbosa de Ituiutaba”, o “Clube Estudantil
Ituiutabano”, o Grêmio “Lítero‐educativo” pertencente ao Colégio Santa Tereza e o grêmio
“Lítero‐educativo” do Educandário Ituiutabano.
Também podemos destacar a UMEI ‐ União da Mocidade Espírita de Ituiutaba,9 entidade
de grande atuação no município, fundada em maio de 1947 por um grupo de jovens estudantes
espíritas entre 15 a 20 anos (FRATTARI NETO, 2009).
Dentre as ações da UMEI no meio educacional, podemos ressaltar a mobilização para
construção e a conseqüente fundação, junto ao então deputado Mário Palmério, da primeira
instituição de ensino de Ituiutaba a oferecer cursos primário e ginasial gratuitos, como vemos na
matéria intitulada “Solenidades inaugurais do Educandário Ituiutabano” do Jornal “Folha de
Ituiutaba” de 15/02/1958.
O organismo de representação estudantil que mais se destacou no município, nos anos de
1950 e 1960, foi a União Estudantil de Ituiutaba, fundada em Belo Horizonte (1952) por
ituiutabanos, estudantes universitários em sua maioria do curso de Direito na capital mineira e em
São Paulo, a qual tinha como objetivos, segundo o Jornal “Folha de Ituiutaba”, a aproximação
entre a classe estudantil, a reivindicação de seus direitos e o trabalho em beneficio ao
engrandecimento de Ituiutaba.
Embora a UEI fosse um órgão representativo estudantil dos interesses de Ituiutaba, este
em sua origem e tendências políticas, teve semelhanças aos grandes centros urbanos do século
XX, como Belo Horizonte e São Paulo.
9 No início da década de 1950, esta entidade deixou de ser representada exclusivamente por estudantes, devido ao fato de que com o passar do tempo, alguns de seus fundadores e dirigentes deixaram de pertencer à parcela estudantil, assim como Germano Laterza, fundador e dirigente até o ano de 1959.
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Observamos que a UEI, em seus anos iniciais não apresentava eleições para a escolha de
seus representantes, estes eram indicados pelo próprio grupo de estudantes em acontecimentos
denominados de “secção de Belo Horizonte”, que eram posteriormente publicados nos jornais
locais, em especial na “Folha de Ituiutaba”, devido à aproximação de representantes da entidade
com o proprietário do referido jornal, o qual publicava gratuitamente as notícias referentes às
ações desta organização. Segundo um dos ex‐fundadores da UEI, na década de 1950, no período
de férias, os representantes da entidade reuniam‐se em Ituiutaba para discutirem as iniciativas da
instituição.
Nesta mesma década, constatamos que os estudantes do município, representados pela
União Estudantil de Ituiutaba, apresentavam participação política ativa, como evidenciamos em
uma das primeiras ações sociais dessa união, a qual juntamente com o apoio das forças políticas
(prefeito municipal David Ribeiro de Gouveia e o presidente do PSD local, Camilo Chaves Júnior) e
da imprensa locais (Jornal “Folha de Ituiutaba”, 24/01/1953) se empenharam em uma campanha
de reivindicação ao governador mineiro, Juscelino Kubitschek pela construção de uma praça de
esportes na cidade.
Tal fato evidencia a valorização social do estudante de nível universitário, que exercia um
papel relevante nas reivindicações políticas locais, fator comum ao restante do país.
A aproximação das lideranças estudantis com partidos políticos foi sempre constante no
decorrer da história. Também em Ituiutaba, nesse período, o movimento estudantil era pauta na
agenda dos políticos que se esforçavam por cooptar suas lideranças buscando controlar as ações
dos estudantes. Assim, vemos na matéria acima, que os jornais ressaltavam a presença do aluno
em questões de seu interesse como a construção de uma praça de esportes. Os alunos eram
eleitores em potencial não podendo ser desprezados, essa valorização social desse grupo era fator
comum ao restante do país, já que o acesso ao ensino superior era limitado à restrita classe
dominante.
Acreditamos que a fundação da UEI, deu‐se devido à necessidade de organização da
participação política estudantil. Visto que, o engajamento político dos representantes da entidade
foi justificado, segundo um dos seus fundadores, como um exercício para atuação política desses
estudantes, os quais tinham como princípio, a formação para a atuação na vida política do país,
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começando pelo âmbito regional, existindo acordo entre eles que após a conclusão de seus
estudos em Direito, retornariam a cidade e se candidatariam a representação política em
Ituiutaba.10
De acordo com os depoimentos colhidos evidenciamos que alguns dos líderes estudantis
do período analisado participaram após a conclusão de seus estudos da vida política local como
Rodolfo Oliveira, um dos fundadores da UEI, que atuou após a conclusão de seu curso
universitário na política do município como vereador, vice‐prefeito e prefeito. Dessa forma,
concordamos com Benevides (2006, p.116), pois entendemos que: “[...] a participação num
movimento com as características do ME pode servir como uma espécie de aprendizado no qual o
militante pode vir a buscar outras formas de participação política quando do encerramento de sua
vida estudantil”.
Nesse período o movimento estudantil local, especialmente representado pela UEI,
apresentava características de movimento social, pois expressava a luta de estudantes pela
ampliação de seu acesso ao espaço político como é justificado a seguir:
Quando as reivindicações estudantis iam além daquelas ligadas aos interesses exclusivos de sua categoria, o que se pretendia era ampliar os espaços de atuação política dos jovens. Isso, na verdade, refletia os anseios de toda uma geração que desejava se inserir na esfera pública como um sujeito ativo. Essa vontade de ampliar os espaços políticos através de uma ação pautada em uma identidade específica caracteriza todo movimento social (BENEVIDES, 2006, p.115).
Entretanto, devemos ressaltar que de acordo com o autor acima citado, o meio estudantil
encontra dificuldades para se constituir em uma base para um movimento social, devido ao
caráter transitório de seus membros.
No ano de 1956 foi fundado o “Clube Estudantil Rui Barbosa de Ituiutaba”, composto por
estudantes de nível secundário do Instituto Marden, em que a escolha de seus representantes era
realizada por indicações feitas por integrantes do próprio grupo. De acordo com João Nogueira,
10 Historicamente no Brasil, o curso de Direito foi criado ainda no Império com o objetivo de formar líderes políticos, pessoas capazes de administrar o imenso país. Por muitas décadas, a obtenção do título de bacharel garantiria ao seu portador o ingresso na vida política da nação, tendência que começaria a ser alterada a partir dos anos de 1920, mas que poderia ser observada com nitidez em diferentes regiões do país, especialmente no interior. Lembremos que nos anos de 1950, menos de 1% da população tinha acesso a educação superior, ou seja, o legislativo era controlado por elite privilegiada que votava leis em causa própria (SOUZA, 2005).
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tesoureiro do Clube neste momento, esta organização tinha como propósito tratar de assuntos
que representavam os interesses dos estudantes da própria instituição.
A imprensa de Ituiutaba também associava os ideais patrióticos aos estudantes como na
ocasião de fundação do clube estudantil “Rui Barbosa”, quando receberam elogios do jornal local
por escolherem como patrono uma figura da história‐pátria, como vemos a seguir:
[...] escolhendo o nome insignado de Rui Barbosa, para patrono da agremiação, cultuam os estudantes de Ituiutaba a memória de uma figura por todos os títulos dos mais ilustres e inconfundível de nossa história política [...] Perpetuar portanto o seu nome em entidades desse gênero significa homenagear sinceramente todas as figuras de relêvo da história‐pátria (Folha de Ituiutaba, 31/03/1956).
Por meio da análise desse recorte jornalístico, percebemos a veiculação na sociedade
tijucana da época investigada de ideais que utilizavam de “ritualismos memoriais” para o
reconhecimento de identidades coletivas. Assim como ocorreu na denominação do referido clube
estudantil, na qual associaram a figura de Rui Barbosa11 ao perfil patriotista dos estudantes. Nesse
sentido, consideramos necessário ressaltar:
[...] que desde o final do século XIX e boa parte do século XX, no Brasil, as práticas evocativas e as liturgias de recordação, condicionadas ao paradigma positivista republicano, reforçavam a perspectiva tridimensional do tempo: passado, presente e futuro. A partir do presente histórico, buscavam‐se no passado fatos, pessoas, experiências e expectativas que justificassem a existência de determinados grupos sociais e que pudessem conferir‐lhes a sua direção e identidade (AMARAL, 2011, p.141).
Observamos também a retratação desses ideais patrióticos e morais referentes ao “Clube
Estudantil Rui Barbosa”, em outro jornal local, como podemos destacar no artigo “Aos jovens
diretores do clube estudantil”, do Jornal “Correio do Pontal” do dia 19 de abril de 1956:
[...] Estão de parabéns todos os laboriosos rapazes que lançaram em Ituiutaba essa benigna luz, fonte dos mais belos ideais que tanto nossa pátria reclama e pede. Mister se faz que todos os estudantes ituiutabanos, assistam as reuniões do Club e tornem‐se membros dele, para que suscite no alvorecer de amanhã,
11 Rui Barbosa foi um importante intelectual baiano, jornalista, advogado, político e um dos organizadores da República, colaborando na elaboração da primeira Constituição republicana de 1891 e sendo Primeiro Ministro da Fazenda no novo regime. Foi também deputado, senador e candidato à presidência da República (ABREU; LAMARÃO, 2007). De acordo com Saviani (2007), entre 1891 a 1883 dedicou‐se a educação, foi favorável ao Projeto Saraiva de 1891, por acreditar que este iria estimular o interesse público pela difusão da educação, mas o projeto acabou excluindo o voto do analfabeto.
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um sustentáculo forte, indestrutível em prol da juventude ituiutabana e do engrandecimento moral, e intelectual do Brasil.
Dentre as ações do Clube Estudantil Rui Barbosa estava a publicação do jornal estudantil “A
Voz dos Estudantes” redatoriado por Armando Campos com a colaboração de alguns estudantes,
o qual também recebia bastante destaque pela imprensa tijucana.
Segundo depoimento colhido, o Clube Estudantil Rui Barbosa na década de 50, apresentava
ligação política com a União Democrática Nacional – UDN, por meio de seu presidente Armando
Campos, que também era redator do jornal estudantil “A Voz dos Estudantes”, estudante de nível
secundário e professor do Instituto Marden, que se identificava com os ideais políticos do referido
partido12.
Em fevereiro de 1956, fundava‐se em Ituiutaba mais uma organização estudantil, o “Clube
Estudantil Ituiutabano”, que surgiu após uma série de reuniões de estudantes no Ginásio São José,
instituição confessional com cobrança de mensalidades. O referido clube, segundo o Jornal
“Correio do Pontal”, apresentava‐se em caráter desportivo e social, por se tratar de uma
“agremiação esportiva” para a prática recreativa de diversas modalidades do esporte, além de
visar à criação de uma biblioteca para seus associados.
Encontramos o anúncio publicado pelo Jornal “Correio do Pontal” de 08/03/1956 de uma
visita aos integrantes do “Clube Estudantil Ituiutabano”, em uma das salas do Colégio São José,
feita por políticos e autoridades locais, dentre estes estão os nomes do então prefeito da cidade,
Antônio Souza Martins, do Juiz de Direito Dr. João Starling, dos diretores, do Instituto Marden, Dr.
Álvaro Brandão de Andrade, do Colégio São José, Padre Alcides Esporidório e do Colégio Santa
Tereza, Irmã Maria José Vasconcelos, além do delegado regional de polícia, Dr. Austein Drumond e
dos proprietários dos jornais “Correio do Pontal”, Pedro Lourdes de Morais e “Folha de Ituiutaba”,
Ercílio Domingues da Silva. Os motivos e os resultados da referida visita não foram publicados em
12 O período de 1950 a 1956 corresponde, de acordo com Poerner (1979), a fase “liberal” da UNE em que havia em sua diretoria um grupo de estudantes críticos do comunismo, que se identificavam com as propostas políticas da União Democrática Nacional (UDN). Partido de oposição a Getúlio Vargas fundado em 1945 a partir do ideário liberal contrário ao intervencionismo estatal na economia e ao autoritarismo, considerado contraditório por Motta (1999), pois segundo este, os udenistas denunciavam as tendências autoritárias dos nacionalistas, mas conspiravam com as forças armadas para atingirem seus adversários, face que terminou com o golpe de 1964 articulado com os militares.
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nenhum jornal em circulação da época. Entretanto, tal acontecimento demonstra o anseio das
autoridades locais pelo controle das ações estudantis.
Pode‐se perceber por meio dos jornais que a maior parte dos dirigentes do movimento
estudantil em Ituiutaba na década de 1950, era composta por estudantes do sexo masculino como
ocorria na União Estudantil e nos clubes estudantis. As exceções eram os Grêmios “Lítero‐
educativos” divulgados a cada ano, pertencentes ao Colégio Santa Tereza, que era uma instituição
confessional com cobrança de mensalidades, destinada à escolarização de estudantes do sexo
feminino. Ainda nos anos de 1950 às mulheres era permitido muito menos que aos homens, não
se via com bons olhos a atuação feminina na política estudantil, especialmente nas localidades
interioranas e tradicionais.13
Em março de 1958, o recém inaugurado Ginásio do Educandário Ituiutabano também
realizou a fundação de seu grêmio Lítero‐educativo Bernardo de Guimarães14, sendo composto
pela participação de seu corpo docente, discente e pela diretoria da instituição, os quais escolhiam
os nomes do professor‐orientador, presidente, vice‐presidente, secretária, tesoureiro, diretor‐
esportivo e diretores‐musicais. A diretoria desse grêmio incluía além de esportes as atividades
musicais, um perfil diferenciado do grêmio Rui Barbosa de Ituiutaba.
Segundo o jornal “Folha de Ituiutaba” (26/03/1958), o grêmio Lítero‐educativo do
Educandário Ituiutabano realizava seções aos finais de semana de Educação Musical e Fabulação
com audições de discos de histórias juvenis, músicas folclóricas e patrióticas. Informação que
evidenciava um discurso que procurava generalizar os estudantes cuja prioridade deveria ser a de
construção de ideais patrióticos e o movimento estudantil deveria direcionar suas ações para tal
objetivo. Esperava‐se do estudante sua dedicação integral aos interesses da pátria, elemento de
sedimentação dos princípios da nação brasileira, juntamente com o fortalecimento da instituição
familiar e a tradição cristã do povo.
13 Muito embora, o primeiro presidente da UNE era a estudante Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça, eleita durante o I Congresso Nacional dos Estudantes, em 1937 (ARAÚJO, 2007).
14 O Grêmio Lítero‐educativo do Educandário teve como patrono o inspetor federal do ensino secundário doutor Edelweiss Teixeira e como orientador o professor Germano Laterza. Segundo Frattari Neto (2010), no ano de 1958, somente os 27 alunos do 1º ciclo ginasial participaram do grêmio, pois os outros quase 500 alunos estavam matriculados no ensino primário. Esse dado nos revela o caráter elitista do movimento estudantil, visto que seus participantes eram pertencentes a uma restrita parcela de alunos do ensino secundário.
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A partir do ano de 1960, o caráter literário e nacionalista dos encontros do grêmio
estudantil do Educandário Ituiutabano, cedeu lugar a discussões mais voltadas para questões
particulares da instituição, como é afirmado a seguir:
[...] a partir da chegada do professor Paulo à escola em 1960, as reuniões deixaram o tom nacionalista e ocuparam‐se de problemas mais próximos da instituição, como o engajamento do grêmio nas campanhas de manutenção e ampliação da escola. (FRATTARI NETO, 2010, p. 188)
Com isso percebemos a influência de docentes na liderança das ações deste grêmio
estudantil, característica comum nos anos 60, verificada em grande parte das organizações
estudantis em Ituiutaba.
Nos anos de 1960, evidenciamos por meio dos jornais locais, o surgimento de novas
organizações estudantis como: o “Comitê Estudantil masculino pró Lott; o “Movimento Estudantil
Unido de Ituiutaba”; a Liga Ituiutabana de Esportes Colegiais (LIEC); o grêmio estudantil “Visconde
de Cairú”; e o grêmio “Pe. Gaspar Bertoni”. Além da reestruturação do grêmio Lítero‐recreativo
“Profº. Álvaro Brandão de Andrade” e permanência da existência da “União Estudantil de
Ituiutaba” e do grêmio “Bernardo Guimarães”. 15
De um modo geral, verificamos que as eleições para a escolha da diretoria dos grêmios
estudantis locais e da UEI eram sempre divulgadas pelos jornais em circulação da época, além das
festas de formaturas dos colégios locais e homenagens destes a datas comemorativas como o
aniversário da cidade. Até porque neste período, os jornais eram um dos principais veículos de
comunicação da sociedade.
Percebemos em uma das matérias jornalísticas, a indicação de certo alinhamento do
movimento estudantil local com o nacional, já que a UNE apoiou a chapa Lott‐Jango (presidente‐
PSD e vice‐PTB), como parte dos estudantes em Ituiutaba que organizaram comitês em apoio à
candidatura Lott a presidência do país, como é revelado no seguinte recorte jornalístico: “Comitê
Estudantil masculino pró Lott. Foi organizado e vai funcionar em conjunto com o comitê feminino”
(Folha de Ituiutaba, 21/05/1960).
15 Também podemos destacar que neste período não foram encontradas nos jornais consultados, mais nenhuma notícia referente ao “Clube Estudantil Rui Barbosa de Ituiutaba” e ao “Clube Estudantil Ituiutabano”.
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Verificamos que no início da década de 1960, o Movimento Estudantil Unido de Ituiutaba,
se destacava por possuir característica social ativa, como pudemos analisar na ocasião do
manifesto realizado por meio da imprensa local, na matéria: “BR‐71 Radiograma de MP à União
estudantil” do Jornal “Folha de Ituiutaba” de 13/07/1963, que solicitava providencias as
autoridades políticas, devido à paralisação desta BR, a qual alegavam possuir fundamental
importância para a economia da região.
Pelo fato de muitas dessas organizações estudantis estarem engajadas em questões de
ordem política, os recursos públicos que eram destinados ao movimento estudantil variavam de
acordo com as tendências da política local, como no momento da rejeição ao financiamento de
um dos órgãos estudantis de Ituiutaba: “Rejeitado o projeto concedendo subvenção de Cr$ 180
mil à União Estudantil”. (Folha de Ituiutaba, 19/11/1960).
Nessa mesma matéria, constatamos que o poder público municipal destinou a verba de Cr$
400 mil para a aquisição de um relógio para a torre da Igreja matriz. Dessa forma, evidencia‐se a
concessão de benefícios à Igreja Católica, o que tradicionalmente reforçava a “natureza cristã” do
povo brasileiro, em detrimento ao financiamento das ações estudantis, uma forma de dificultá‐las,
medida que visava restringir o papel dos estudantes à sala de aula, mesmo antes da implantação
da ditadura militar.
Assim, ao abrir espaço aos estudantes, a imprensa criava mecanismo de controle e
cooptação dessas jovens lideranças locais, de forma que na maior parte das notícias relacionadas
aos estudantes e professores, focavam‐se os seus papéis como forma de engrandecimento
cultural, como no trecho abaixo que se refere à publicação do periódico “Tribuna Estudantil” pela
União Estudantil Ituiutabana:
Jornal noticioso, literário e humorístico, traz em suas colunas, além de bem elaborados trabalhos dos estudantes, preciosas colaborações de professores valorizando o empreendimento cultural dos jovens tijucanos, que por sinal é de bem esmerada apresentação gráfica (Folha de Ituiutaba, 10/06/1961).
Neste período observamos que as reuniões da União Estudantil de Ituiutaba passaram a
acontecer no próprio município e não mais na capital do estado. Além de haver o surgimento de
eleições para a escolha de sua diretoria que tinha dois anos como período de gestão.
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Constatamos mudanças no perfil dos estudantes representantes da UEI, pois, estes não
eram mais alunos pertencentes ao nível universitário em Belo Horizonte e em São Paulo, mas
estudantes provenientes de colégios do próprio município, visto que a participação nas eleições
para a escolha da chapa dirigente da UEI se restringia aos estudantes dos colégios do município,
que eram representados pelo Instituto Marden, Colégio Normal Santa Tereza, São José e
Educandário Ituiutabano. Com isso, nos anos 60, ocorreu acentuada participação de estudantes de
nível secundário no movimento estudantil tijucano, fato comum a nível nacional16.
Segundo um dos ex‐presidentes do Grêmio estudantil Padre Gaspar Bertone do Colégio São
José, e posteriormente da UEI no ano de 1964, a eleição para a composição da diretoria de ambos
os órgãos acontecia por meio do sufrágio universal, em votação secreta, supervisionada, sempre
por olheiros da Justiça Eleitoral da Comarca de Ituiutaba, normalmente um oficial de justiça,
designado pelo Juiz eleitoral. Tal ocorrência nos evidencia o controle das eleições estudantis pelo
poder judiciário local e a preocupação de manter os estudantes sob seu olhar.
A partir de então, o movimento estudantil de Ituiutaba seria observado por setores da
imprensa escrita com mais proximidade, surgindo críticas a ação dos estudantes, mas que
revelavam o desejo de controlar os rumos que esse movimento social começava a tomar em nível
local, representando um reflexo do processo nacional:
Eleita a nova diretoria da União estudantil. Vitória da juventude democrática – Posse no próximo dia 21. [...] desejamos aos novos diretores da UEI uma feliz gestão, se possível fazendo com que a entidade deixe de ser um mero clube recreativo, para se transformar num órgão de efetiva defesa dos interêsses da classe que representa, que essa é sem dúvida, sua finalidade precípua. (Folha de Ituiutaba, 07/04/1962).
Na notícia acima, observamos que a imprensa local, especificamente o Jornal “Folha de
Ituiutaba”, criticando o mero caráter recreativo da União, mas exigindo sua efetiva participação
apenas na mobilização de suas forças em favor dos interesses da classe estudantil, evidenciando‐
16 Quando se fala em movimento estudantil geralmente se pensa em universitários, jovens acima de 18 anos, estudando em faculdades. Mas o Brasil contou em vários momentos de sua história política recente com intensa participação de estudantes secundaristas, meninos e meninas entre 14 e18 anos, alunos do ensino médio. Sua entidade nacional foi fundada em 1948[...] ( ARAÚJO, 2007, p. 68).
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se mais uma vez, que os estudantes deveriam cuidar das questões do interior da escola, sua
finalidade precípua.
Percebemos que parte dos representantes da UEI na década de 1960, apresentava
desconhecimento da origem da entidade em Belo Horizonte e de suas ações na década anterior,
como afirmou seu presidente do ano de 1962. Fato que demonstra uma certa desarticulação dos
princípios formadores da entidade na década de 50 com os anos 60.
A confecção das carteirinhas estudantis era a principal fonte de receita da UEI na década
de 60. Segundo depoimento colhido, para o fornecimento dessas carteirinhas, que eram
documentos de nível estadual certificados pela União Colegial de Minas Gerais – UCMG17 e tinham
valor e respeitabilidade a nível nacional, os estudantes secundaristas contribuíam com um valor
correspondente a sua anuidade para com a UCMG, a qual retornava 50% dessa arrecadação as
entidades a ela filiadas, como a UEI.
Havia também outras formas de arrecadar fundos para a UEI nos anos 60, como a taxa dos
ingressos de jogos estudantis, de quermesses e outros eventos, além de rifas e de eventuais
recebimentos de doações de pessoas jurídicas e da Prefeitura. Pois conforme fonte oral, a UEI
contava com a parceria da comunidade local, que participava com entusiasmo das atividades
desta, através de entidades de classe, como: a Associação Comercial de Ituiutaba, o Sindicato
Rural, os Clubes Rotary e Lions e a Maçonaria. Estas não só prestavam ajuda financeira a UEI, mas
doavam materiais esportivos e participavam ativamente das atividades implantadas pelos
estudantes.
Como as referidas entidades acima eram compostas por membros representantes da elite
tijucana, percebemos que as ações da UEI eram controladas por setores que defendiam
principalmente os ideais da classe dominante local.
A efervescência do movimento estudantil local representava a emergência de movimentos
sociais no cenário político por todo o país. A União Nacional dos Estudantes – UNE, símbolo maior
de organização dos estudantes – era debatida também pelos jornais locais como o Jornal “Correio
17 Essa entidade estudantil, de acordo com Coelho (2000), foi criada no ano de 1944 com a principal finalidade de emissão de carteirinhas com nome e foto para que os estudantes secundaristas pagassem meia‐entrada nos cinemas.
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do Pontal” de 05/08/1958 no artigo: “Estudantes contra Foster Dulles”, demonstrando protestos
da UNE contra este Secretário de Estado dos Estados Unidos e reivindicações de interesses
nacionalistas. Nessa ocasião percebe‐se a manifestação da UNE contra este político norte‐
americano, em virtude de sua visita ao Brasil em defesa dos interesses capitalistas de seu país.
Dulles demonstrava rigor na cobrança de juros sobre os empréstimos concedidos ao Brasil e exigia
a revisão da lei brasileira sobre o monopólio estatal do petróleo (SANTOS, 2006).
O Jornal “Folha de Ituiutaba” também publicou algumas manchetes sobre a UNE, como: “A
União Nacional dos Estudantes e a verba de 300 milhões” (06/06/1962), e “Protesto de Membros
da Igreja Católica” publicados no Jornal “A Província do Pará” da cidade de Belém‐PA (25/04/1962)
contra a liberalidade na distribuição de verbas à União Nacional dos Estudantes que era acusada
de praticar o “suicídio da democracia”, e utilizar de forma errada os 300 milhões de cruzeiros
como recursos financeiros e de ser “uma sede nacional do partido comunista”.
Em resposta a essas acusações, na mesma matéria, o Jornal “Folha de Ituiutaba”, publicou
a carta do então presidente da União Nacional dos Estudantes, Aldo Silva Arantes (27/04/1962), a
qual se dirigia ao diretor do Jornal “A Província do Pará” em defesa contra as “agressões insólitas e
sem fundamento” praticadas pelo jornal. Com esta, o presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE), realizou um discurso em favor dos interesses das classes desprivilegiadas,
denunciando a minoria da classe dominante que vive à custa de uma maioria de brasileiros
oprimidos e a liberalidade do direito dos jornalistas de infamar impunemente. Esse discurso de
defesa dos direitos humanos do presidente da UNE Aldo Silva Arantes, pode ser confirmado em
depoimento relatado a Araújo (2007, p.98):
O movimento estudantil no Rio de Janeiro era altamente politizado [...] Na época estava muito presente o problema das lutas pelas reformas de base e pela reforma universitária. Então era um conjunto de lutas, pela reforma agrária, pela independência nacional, luta antiimperialista, enfim essas grandes bandeiras de caráter democratizante que estavam muito presentes nesse período, e o movimento estudantil desempenhava um papel de vanguarda em relação a essa luta.
Dessa forma, reforça‐se o ideal de democratização da sociedade brasileira almejado pelos
dirigentes da UNE nesse período, o qual era veiculado pela imprensa nacional e local.
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Percebe‐se que o Jornal “Folha de Ituiutaba” ao noticiar as acusações feitas a UNE
publicadas pelo Jornal “A Província do Pará” e a carta de defesa do presidente da referida
entidade estudantil, buscava transferir sua responsabilidade editorial, passando a imagem de
veículo de informação neutro, não se comprometendo nem com o movimento estudantil
tampouco com seus opositores. Mesmo que não fosse um jornal de esquerda (talvez de tendência
progressista), sua última edição foi em março de 1964, o que sugere que o referido jornal
encerrou suas atividades em decorrência da ditadura militar, constituindo‐se em um dos alvos da
repressão.
Com a implantação do regime político militar no Brasil, constatamos neste período que o
Jornal “Correio do Triângulo” passa a ser um veículo de comunicação representativo de ideais anti‐
comunistas, transparecendo uma concepção que deixa claro o apoio a não participação dos
estudantes na vida política do país. Além disso, esse jornal se posicionava contrário a organização
dos estudantes, buscando desqualificar os integrantes da UNE acusados de comunistas e de
“desmoralizadores de nossa juventude”, além da afirmação da atual lógica de mercado capitalista,
assegurando ser necessário à produção de “capital humano” nas escolas para o atendimento das
“necessidades do crescente progresso”, marcado pelo contexto de modernização daquela época.
A ditadura buscou desarticular o campo cultural florescente, no início dos anos 60, que
possuía vocabulário avançado para uma sociedade marcada por estruturas arcaicas e pelo
autoritarismo. Propunha‐se “política externa independente”, “reformas estruturais”, “libertação
nacional”, “combate ao imperialismo e ao latifúndio”. Muitos setores da classe média urbana,
mesmo assombrada pelo temor da subversão e da instabilidade econômica, faziam‐se presentes
no movimento social, engrossando o coro com estudantes e intelectuais favoráveis às reformas
estruturais, resultando em intensa atividade de militância política e cultural.
Voltando ao contexto local, no ano de 1964, com o advento do golpe militar, o Jornal
“Correio do Triângulo” em sua coluna denominada “Vida Estudantil”, destinada à exposição das
ações desenvolvidas pelo movimento estudantil ituiutabano, publica o apoio do presidente da
União Estudantil de Ituiutaba (UEI), em visita à cidade de Uberaba‐MG, às forças políticas
militares, como é explicitado a seguir: “[...] o presidente da UEI [...] Levou uma mensagem de
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solidariedade e apoio ao presidente marechal Humberto de Alencar Castelo Branco [...]” (Correio
do Triângulo, 24/05/1964).
Mesmo assim, parte da classe estudantil de Ituiutaba sofria com a repressão política em
decorrência do novo horizonte autoritário, como na ocasião em que a UEI teve sua identidade
questionada pela revista “Câmara Lenta”, seção “Arrozcap em Câmara Lenta TN n. 25”, afirmando
que a mesma poderia ser uma entidade estudantil ou até mesmo uma entidade secreta. Em
resposta a esse questionamento, o presidente da UEI publicou no Jornal “Correio do Triângulo”
sua defesa, alegando que a entidade estaria aberta em suas reuniões a todos os representantes
dos demais grêmios estudantis do município.
Considerando o fato da existência de um posicionamento hierárquico por parte do
movimento estudantil em Ituiutaba, em que as ações da UEI ocupavam um lugar de destaque
frente às outras organizações, constatamos que os estudantes se adequaram ao regime político
autoritário vigente.
Como exemplo, podemos destacar a adequação da UEI a lei nº. 4.464, de 9 de novembro
de 1964 (Lei Suplicy), a qual determinava em seu seguinte artigo:
Art. 20. Os atuais órgãos de representação estudantil deverão proceder à reforma de seus regimentos, adaptando‐os à presente Lei e os submetendo às autoridades previstas no art. 15, no prazo improrrogável de sessenta (60) dias. (BRASIL, 1964)
Assim uma das medidas da UEI frente ao clima de repressão foi a realização de assembléia
geral, no ano de 1964, para discutir a reforma em seus estatutos, justificada para a criação de
órgãos necessários ao seu “bom funcionamento”.
Este período também foi marcado por uma notável valorização, nas páginas dos jornais, do
exercício esportivo pelos estudantes, por meio das constantes organizações de torneios como as
“olimpíadas estudantis de 1964” e os “jogos estudantis da primavera” promovidos pela UEI para
alunos do ensino secundário. Além da fundação de organismos estudantis específicos para esta
prática, como a Liga Ituiutabana de Esportes Colegiais (LIEC), formada por estudantes em nível
colegial e composta por uma diretoria, que como todas as outras organizações estudantis, era
indicada por meio de eleições posteriormente publicadas nos jornais em circulação da época.
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Com isso, evidenciamos que a valorização do exercício esportivo entre os estudantes em
Ituiutaba refletia o cenário nacional, no que se refere ao incentivo dado pelo governo militar a
essas práticas nas escolas. Tal incentivo, pode ser justificado como meio de ocupação para os
estudantes e para toda a sociedade, afastando‐os do cenário político implantado, além de servir
como elemento de exacerbação do nacionalismo. Pois como afirma Linhales (2001, p. 52): “[...] o
esporte é também adotado pelo Estado como elemento aglutinador e disciplinador da ordem
social interna”.
Dentre as ações das organizações estudantis de Ituiutaba, após o golpe militar, no ano de
1964, podemos destacar a realização de campanhas do meio estudantil para a arrecadação de
verbas em prol de causas assistencialistas no município.
Por meio de fontes orais, percebemos que após a implantação do regime militar, a maioria
das organizações estudantis do município, as quais restrigiam‐se ao nível secundário, apresentava
o intuito de promover um maior entrosamento entre os estudantes secundaristas da cidade e
região do estado de Minas, em atividades culturais e acima de tudo esportivas. Assim, nesse
período havia torneios esportivos com jogos nas diversas especialidades como futebol, vôlei,
basquete, ping‐pong, entre outros. Além da troca constante entre os estudantes, de material
cultural, livros, informativos e jornais, mas nada que apresentasse caráter subversivo ao sistema
político autoritário vigente.
É importante ressaltar que de acordo com os depoimentos colhidos, a grande parte dos
estudantes representantes do movimento estudantil em Ituiutaba pertencia a um grupo seleto da
sociedade ituiutabana, em sua maioria, a classe social privilegiada com preocupações pequeno
burguesas18, fato que facilitou o engajamento político destes, devido ao maior acesso a bens
culturais e a pessoas influentes da cidade. Realidade esta comum a nível nacional, visto que neste
período o acesso à educação escolar se restringia a uma pequena parcela da sociedade brasileira.
18 Em Ituiutaba na década de 1950, do total de 43.089 habitantes maiores de 5 anos de idade, 24.609 eram analfabetos, ou seja 57,35% da população representada por 12.608 mulheres e 12.101 homens, o que correspondia respectivamente a 60,75% das pessoas do sexo feminino e 54,19% do sexo masculino. (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. 1959, p.308 apud Frattari Neto, 2009). Fato que demonstra neste período o maior acesso da população masculina a escolarização.
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Dentro do período analisado, encontramos a última notícia relacionada ao movimento
estudantil no jornal “Município de Ituiutaba”, órgão oficial, em maio de 1968, referente à
divulgação das eleições da diretoria da UEI. Com isso, verificamos que nos anos de 1969 e 1970,
não foram encontradas nos jornais em circulação, mais nenhuma notícia referente às ações
estudantis19. Tal fato nos evidencia que alguns meses antes de ser decretado pelo governo militar
o Ato Institucional nº. 5 (AI‐5), em dezembro de 196820, as ações dos estudantes em Ituiutaba,
mesmo não apresentando caráter subversivo, foram silenciadas pela imprensa local como forma
de afastar os estudantes do município dos rumores presentes nesse contexto político autoritário.
De acordo com os jornais consultados, evidenciamos que após a implantação do regime
militar as ações do movimento estudantil tijucano não apresentaram mais reivindicações políticas
como antes, mas se preocupavam em atividades assistenciais e de recreação. Tal fato não sugere
que esses estudantes tenham sido sujeitos despolitizados nesse período. Visto que, de acordo com
depoimento colhido do ex‐presidente da UEI nos anos de 1964 a 1966, esta entidade era aliada às
forças políticas direitistas por meio de seus dirigentes que eram em sua maioria estudantes filhos
de fazendeiros, os quais temiam a instalação da presença comunista no município, denunciando
por meio de telegramas enviados aos militares, qualquer manifestação local suspeita de caráter
subversivo.
Desse modo, acreditamos que parte dos estudantes secundaristas em Ituiutaba, nos anos
de 1964 a 1966 por meio da UEI, principal órgão de representação estudantil local, aderiu e
militou a favor do sistema autoritário vigente.
De um modo geral, percebemos que as ações do movimento estudantil em Ituiutaba nas
décadas de 50 e 60, em sua maioria eram destinadas em beneficio da realidade local,
apresentando caráter conservador no que tange a estrutura social brasileira. Peculiaridade esta
que se difere do órgão de representação estudantil de maior destaque no país, a UNE, a qual
19 Em relação ao cenário nacional, a partir de 1969 com o sucesso do “milagre econômico” implantado pelo governo militar, a parcela privilegiada da sociedade brasileira, beneficiária da situação econômica, não via com nenhuma simpatia a manifestação estudantil (CARMO, 2000).
20 Ato Institucional decretado no governo Costa e Silva, determinante de um grau máximo de radicalização sobre os setores oposicionistas da sociedade civil. (GERMANO, 2005).
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principalmente nos anos 60, tinha suas ações voltadas na luta por uma transformação estrutural
da sociedade no país (GERMANO, 2005).
Além disso, é importante destacar no meio estudantil tijucano, como foi discutido no
decorrer do texto, a valorização do exercício esportivo, a promoção de ações culturais, a
preocupação com causas assistencialistas, e o controle dos órgãos estudantis por membros e
setores externos a classe.
Verificamos também que o movimento estudantil em Ituiutaba foi marcado pela presença
de práticas comuns à ideologia educacional presente no Brasil desde o Estado Novo até a década
de 1960, a qual tentava garantir um novo sentimento de nacionalismo nos alunos, por meio da
difusão de ideais cívicos e patrióticos.
Assim, compreendemos que mesmo nas cidades interioranas mais distantes dos grandes
centros urbanos do país, como Ituiutaba, os reflexos de 1964 foram percebidos de forma
acentuada sobre o movimento estudantil local, o que tentamos demonstrar por esse estudo.
Dessa forma, confirmamos que a história local e a nacional não podem ser discutidas
independentemente, sendo necessário promover o diálogo entre o estudo regional e o nacional,
observando‐se o que pode ser generalizado e o específico de cada caso.
De um modo geral, constatamos que os jornais do período analisado funcionaram como
instrumentos fundamentais nesse estudo para a compreensão de concepções e ideologias
relativas ao fenômeno educacional que circulavam no contexto local e nacional. Nesse sentido,
reforçamos a necessidade de preservação dos documentos de época para o entendimento dos
acontecimentos históricos.
Acreditamos que o desenvolvimento desta pesquisa na área da história da educação, sua
posterior divulgação e discussão são de grande relevância para a memória do movimento
estudantil local, funcionando como instrumento crítico para a contextualização da educação e da
sociedade, nos fazendo compreender que a educação é processo de construção social constante
que depende dos sujeitos históricos envolvidos.
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