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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 3450 MOVIMENTO ESTUDANTIL: MEMÓRIAS SOBRE A JUVENTUDE TIJUCANA (ITUIUTABAMG, DÉCADAS DE 1950 E 1960) Isaura Melo Franco [email protected] Sauloéber Tarsio de Souza [email protected] (UFU) Resumo O presente trabalho decorre de pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de UberlândiaMG, linha de História e Historiografia da Educação. Temos como objeto de estudo o movimento estudantil em ItuiutabaMG nos anos de 1950 e 1960, representado principalmente pela União Estudantil de Ituiutaba – UEI e pelos grêmios estudantis locais. A periodização desenvolvida décadas de 1950 e 1960, corresponde a um período de efervescência política e social, já que foi marcado pelo embate entre populismodesenvolvimentista e autoritarismo que resultou na implantação do regime ditador no ano de 1964. Além de ser um momento de intensa atividade dos organismos estudantis locais e nacionais, com destaque para a União Nacional dos Estudantes (UNE), a qual exerceu fundamental importância nos quadros de oposição ao governo ditador (GERMANO, 2005). Utilizamos os jornais como fonte primária de pesquisa, pois acreditamos que sua importância está principalmente no fato de que, como afirmou Capelato (1988) sua atividade não consiste apenas em transmitir, mas, igualmente, em gerar acontecimentos, compondoos com elementos de uma visão bastante particular do mundo, somatória de subjetividade e de interesses aos quais o jornal está vinculado. Logo consultamos 06 coleções de jornais do período correspondente, presentes no acervo da Fundação Cultural do município. Em seguida, recorremos à história oral por considerarmos, de acordo com Meihy (2002), que esta respeita as diferenças e facilita o entendimento das identidades e dos processos de suas construções. Assim realizamos entrevistas semiestruturadas a exlíderes estudantis do contexto investigado. Por meio desse estudo percebemos que as ações do movimento estudantil em Ituiutaba nas décadas de 50 e 60, em sua maioria eram destinadas em beneficio da realidade local, apresentando caráter conservador no que tange a estrutura social brasileira. Peculiaridade esta que se difere do órgão de representação estudantil de maior destaque no país, a UNE, a qual principalmente nos anos 60, tinha suas ações voltadas na luta por uma transformação estrutural da sociedade. De acordo com os jornais consultados, evidenciamos que após a implantação do regime militar as ações dos estudantes não apresentaram mais reivindicações políticas como antes, mas se preocupavam em atividades assistenciais e de recreação. Verificamos também que o movimento estudantil em Ituiutaba foi marcado pela presença de práticas comuns ao sistema educacional no Brasil desde o Estado Novo até a década de 1960, a qual tentava garantir um novo sentimento de nacionalismo junto aos alunos, por meio da difusão de ideais cívicos e patrióticos. Palavraschave: Movimento estudantil. ItuiutabaMG. Décadas de 1950 e 1960. O presente trabalho decorre de pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de UberlândiaMG, linha de História e Historiografia da Educação. Temos como objeto o estudo do movimento estudantil no interior do estado de Minas Gerais, especificamente, na cidade de Ituiutaba, no período entre as décadas de 1950 e 1960, momento de intensa atividade dos organismos dos estudantes, em sua maioria representantes do

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5

3450 

MOVIMENTO ESTUDANTIL: MEMÓRIAS SOBRE A JUVENTUDE TIJUCANA (ITUIUTABA‐MG, DÉCADAS DE 1950 E 1960) 

 Isaura Melo Franco  

[email protected] Sauloéber Tarsio de Souza [email protected]  

(UFU) Resumo 

 O presente  trabalho decorre de pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de Pós‐Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia‐MG, linha de História e Historiografia da Educação. Temos como objeto de estudo o  movimento  estudantil  em  Ituiutaba‐MG  nos  anos  de  1950  e  1960,  representado  principalmente  pela  União Estudantil de Ituiutaba – UEI e pelos grêmios estudantis locais. A periodização desenvolvida décadas de 1950 e 1960, corresponde  a  um  período  de  efervescência  política  e  social,  já  que  foi marcado  pelo  embate  entre  populismo‐desenvolvimentista e autoritarismo que resultou na  implantação do regime ditador no ano de 1964. Além de ser um momento de intensa atividade dos organismos estudantis locais e nacionais, com destaque para a União Nacional dos Estudantes (UNE), a qual exerceu fundamental importância nos quadros de oposição ao governo ditador (GERMANO, 2005).  Utilizamos  os  jornais  como  fonte  primária  de  pesquisa,  pois  acreditamos  que  sua  importância  está principalmente no fato de que, como afirmou Capelato (1988) sua atividade não consiste apenas em transmitir, mas, igualmente,  em  gerar  acontecimentos,  compondo‐os  com  elementos de uma  visão  bastante  particular  do mundo, somatória de subjetividade e de interesses aos quais o jornal está vinculado. Logo consultamos 06 coleções de jornais do  período  correspondente,  presentes  no  acervo  da  Fundação  Cultural  do município.  Em  seguida,  recorremos  à história  oral  por  considerarmos,  de  acordo  com  Meihy  (2002),  que  esta  respeita  as  diferenças  e  facilita  o entendimento das identidades e dos processos de suas construções. Assim realizamos entrevistas semi‐estruturadas a ex‐líderes  estudantis  do  contexto  investigado.  Por meio  desse  estudo  percebemos  que  as  ações  do movimento estudantil em  Ituiutaba nas décadas de 50 e 60, em  sua maioria eram destinadas em beneficio da  realidade  local, apresentando caráter conservador no que tange a estrutura social brasileira. Peculiaridade esta que se difere do órgão de representação estudantil de maior destaque no país, a UNE, a qual principalmente nos anos 60, tinha suas ações voltadas na luta por uma transformação estrutural da sociedade. De acordo com os jornais consultados, evidenciamos que após a  implantação do  regime militar as ações dos estudantes não apresentaram mais  reivindicações políticas como antes, mas se preocupavam em atividades assistenciais e de recreação. Verificamos também que o movimento estudantil  em  Ituiutaba  foi marcado  pela presença  de  práticas  comuns  ao  sistema  educacional  no  Brasil desde  o Estado Novo até a década de 1960, a qual tentava garantir um novo sentimento de nacionalismo junto aos alunos, por meio da difusão de ideais cívicos e patrióticos.   Palavras‐chave: Movimento estudantil. Ituiutaba‐MG. Décadas de 1950 e 1960.   

O  presente  trabalho  decorre  de  pesquisa  de mestrado  vinculada  ao  Programa  de  Pós‐

Graduação  em  Educação  da  Universidade  Federal  de  Uberlândia‐MG,  linha  de  História  e 

Historiografia da Educação.  

Temos  como objeto o estudo do movimento estudantil no  interior do estado de Minas 

Gerais, especificamente, na  cidade de  Ituiutaba, no período entre  as décadas de 1950 e 1960, 

momento de intensa atividade dos organismos dos estudantes, em sua maioria representantes do 

 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

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ensino  secundário,  constituindo  a  base  desse movimento  social  na  cidade que  se  desenvolvia 

sócio‐economicamente em largos passos. Desse modo, busca‐se valorizar as ações dos estudantes, 

por meio  das  representações1  de  imprensa  e  de  depoimentos  de  ex‐líderes  estudantis  desse 

período.  

Por  meio  dessa  pesquisa,  estudamos  a  juventude  estudantil  tijucana,  especialmente 

corporificada pelas  ações da União  Estudantil  de  Ituiutaba  (UEI)  e  dos  grêmios  estudantis  dos 

colégios  locais,  temática  bastante  discutida  pelos  jornais  locais  do  período  analisado, 

representando  cerca  de  10%  das  531 matérias  jornalísticas  encontradas  nessas  duas  décadas, 

referentes ao universo escolar.  

Consideramos que o movimento estudantil é um dos elementos constituintes da história 

da  educação  brasileira.  Pois  os  jovens  estudantes  tiveram  atuação  marcante  nas  lutas 

educacionais,  políticas  e  sociais  do  país  no  período  em  questão.  Assim  interessamos‐nos  em 

aprofundar  na  discussão  sobre  o  movimento  estudantil  de  Ituiutaba,  entendido  como  uma 

manifestação  sócio‐cultural da  juventude2  (CACCIA‐BAVA;  COSTA,  2004),  identificando  as  principais 

idéias e representações relativas ao perfil de estudante/aluno.  

Acreditamos que  a  importância desse  trabalho  se deve parcialmente pelo  ineditismo do 

tema, pois historiar o movimento estudantil em cidades  interioranas ainda é um desafio, como 

afirma Silva (2009, p.06): 

Percebemos uma carência de pesquisas que recuperassem a ação dos estudantes em  cidades  distantes  dos  grandes  centros  urbanos  do  Brasil.  Fazemos  essa referência levando em consideração o período histórico em questão, que assiste ao  final do nacional‐desenvolvimentismo dos anos 50 do  século XX e aponta a década  seguinte,  marcada  pela  instauração  da  ditadura  militar  no  país.  Um período  rico  na  história  nacional  que  agonizou  contradições  em  termos  de utopias e projetos de mundo antagônicos. 

 

                                                           1  A  utilização  do  conceito  de  representação  nos  parece  adequado  para  este  estudo.  Chartier  (1990)  entende  as representações como elementos de transformação do real e que atribuiriam sentido ao mundo. A construção desse sentido  ou  simbolismo  social  não  ocorreria  dentro  de  uma  liberdade  absoluta,  pois  as  representações necessariamente, teriam em sua concepção, um fundo de apoio nas condições reais de existência, ou seja, as idéias‐imagens possuiriam um mínimo de concreticidade extraída do cotidiano para que tivessem aceitação social. 

2 Entendemos por  juventude a  fase do desenvolvimento humano que  se caracteriza entre a adolescência e a  idade adulta.  Sendo  necessário  considerar  a  diversidade  presente  nessa  categoria,  “[...]  pois  trata‐se  apenas  de  um período particular da vida humana que pode alongar‐se ou abreviar‐se, conforme os indivíduos, as classes sociais  e as condições políticas e sociais” ( FURTER, 1967, p. 235). 

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Pretendemos  com  este  estudo  trazer  novas  contribuições  para  a  História  da  Educação, 

sendo necessário destacar o contexto político‐social nacional da época analisada,  tendo sempre 

em  vista  a  relação  entre micro  e macro,  já que  entendemos  que  o particular  é  expressão  do 

desenvolvimento geral. 

Assim,  antes de abordarmos o movimento dos estudantes no  interior mineiro, é preciso 

compreender  que  o  contexto  nacional  nesse  período  foi marcado  pelas  ações  relacionadas  às 

questões político‐culturais promovidas pela União Nacional dos  Estudantes  (UNE),  fundada em 

1937. É a partir desse referencial que buscamos contextualizar a atuação dos estudantes em nível 

local, salientando‐se suas especificidades.  

Nos anos de 1950, a grande referência desse período foi a discussão em torno da primeira 

LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) n. 4024/61, que foi promulgada somente 

em 1961, após 13 anos de embates entre os defensores da escola pública e os da escola privada3. 

Podemos ressaltar também o engajamento da UNE que se empenhou na Campanha em Defesa da 

Escola Pública nos debates em  torno da elaboração e aprovação dessa Lei de Educação do país 

(SANFELICE, 1986). 

Na década de 1960 destaca‐se a chegada dos militares ao poder, por meio do golpe militar 

que  impôs  a deposição  ao presidente  João  Goulart  em  31  de março de  1964,  ocorrendo uma 

ruptura  política  para  a  manutenção  da  ordem  socioeconômica  do  capitalismo  de  mercado 

associado  dependente.  Com  isso,  a  ideologia  do  nacionalismo  desenvolvimentista,  estratégia 

nacionalista  para  o  desenvolvimento  econômico  do  país,  foi  substituída  pela  doutrina  da 

interdependência entre o Brasil e os Estados Unidos, líder do bloco ocidental (SAVIANI, 2007).  

O  novo modo  de  governo  implantou  no  país  o  período  ditatorial  (1964‐1985),  que  se 

caracterizou pelo  autoritarismo  imposto  a  sociedade  civil, o qual  tinha  a  função de prover um 

                                                           3 Em defesa da escola particular estava a  Igreja católica e os proprietários de escolas.  Já do  lado da escola pública manifestavam‐se  três correntes  ideológicas: a primeira denominada “liberal‐idealista”,  representada por docentes de filosofia e história da educação da USP e pelo jornal “O Estado de São Paulo” a qual retoma à ética Kantiana, em que o homem é considerado pela moralidade, tendo a educação o dever de converter este em ser moral, autônomo, sem  considerar  suas  condições  sociais;  a  “liberal‐pragmatista”,  em  que  podemos  destacar  os  nomes  de  Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Almeida Júnior, pioneiros do movimento da Escola Nova, atribuía à educação o papel de ajustar o homem a  realidade  social em mudança; e a “tendência  socialista”, que  teve como líder o professor Florestan Fernandes, o qual compreende a educação a partir de seus condicionantes sociais, sendo fator de transformação social (SAVIANI, 2007). 

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controle  ideológico  competente  ao modelo  econômico  implantado,  baseado  nos  interesses  do 

capital internacional e nacional.  

Desse modo, o governo militar exerceu severa repressão contra os movimentos estudantis 

acusados de subversivos e de possuírem ideais comunistas, devido à contestação do agravamento 

das desigualdades sociais que  levavam a população a um sinistro panorama de extremos, vivido 

entre a abundância de poucos e a miséria da maioria, provocado pelas alterações políticas e com 

reflexos no  sistema educacional. As organizações estudantis passaram  a  sofrer muitos  ataques 

após o golpe dos militares. “Até as verbas oficiais, aprovadas pela Câmara dos Deputados, que as 

entidades estudantis recebiam antes do golpe, foram cortadas” (SANTANA, 2007, p. 48). 

Mesmo  assim,  na  década  de  1960  o  movimento  estudantil  se  constituiu  em  uma 

importante organização que representou os interesses não apenas da parcela estudantil, mas de 

toda sociedade brasileira, principalmente nos anos iniciais da ditadura militar (BENEVIDES, 2006).  

Neste contexto de  repressão, salienta‐se  também a  invasão e o incêndio da sede da UNE 

no Rio de Janeiro e a Lei Suplicy (1964), que colocou a UNE e as Uniões Estaduais de Estudantes na 

ilegalidade4, criando órgãos de  representação estudantil  ligados às autoridades governamentais, 

proibindo o livre diálogo entre estudantes e diretórios acadêmicos. Dessa forma, o governo tinha 

por  objetivo  destruir  a  capacidade  de  organização  do  movimento  estudantil,  cerceando  o 

potencial crítico dos estudantes de contestação do sistema vigente (GERMANO, 2005).  

É nessa  realidade que a educação brasileira seria  reestruturada, passando por um brusco 

movimento de centralização, que atendia aos novos horizontes políticos do país. Surgiram assim, 

os  acordos MEC‐USAID  entre  o  Ministério  da  Educação  (MEC)  e  a  United  States  Agency  for 

International Development  (USAID), que buscavam  influência e controle  ideológicos da educação 

no país, por meio da disseminação de  técnicas condizentes com os interesses do capitalismo, os 

termos eficácia e produtividade passaram a ser empregados de alto a baixo no sistema de ensino, 

evidenciando que os EUA (por meio da USAID) consideravam a educação como área estratégica na 

                                                           4 Em 1965, de acordo com Vieira  (1998), os estudantes mineiros  realizaram o Congresso Estadual dos Estudantes e elegeram uma nova diretoria para a União Estadual dos Estudantes  (UEE), com o apoio do então governador do Estado, Magalhães Pinto, um dos idealizadores do golpe militar. Fato que demonstra o desejo político de controlar com maior proximidade as ações dos estudantes. 

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integração  e  posicionamento  das  sociedades  periféricas  no  contexto  geral  do  capitalismo 

internacional.  

Neste  cenário,  aconteceram mobilizações  de  estudantes  contra  esses  acordos  e  outros 

aspectos da política educacional, como a privatização do ensino, fazendo com que fossem exigidas 

pelos  estudantes  mais  verbas  e  vagas  para  a  educação.  A  participação  dos  estudantes  foi 

importante para que a educação brasileira não fosse totalmente entregue ao controle dos Estados 

Unidos, visto que: “[...] a  reação estudantil, o amadurecimento do professorado e a denúncia de 

políticos  nacionalistas  com  acesso  à  opinião  pública  evitaram  a  total  demissão  brasileira  no 

processo decisório da educação nacional” (CUNHA & GÓES, 2002, p.32). 

A polarização internacional entre capitalismo e comunismo refletiu por todo o mundo, e o 

ano de 1968 pode ser considerado como “uma onda mundial de revoltas”, marcado por grandes 

mobilizações  sociais  como o protesto  contra  “a  guerra do Vietnã”, a  “primavera de Praga” e o 

“maio  francês”.  E no  cenário nacional destaca‐se  a  “passeata dos 100 mil”,  realizada no Rio de 

Janeiro contra o regime militar e o imperialismo norte‐americano (GROPPO, 2000).  

Em  dezembro  de  1968,  o  governo  militar  decretou  o  Ato  Institucional  nº.  5  (AI‐5), 

denominado como o “terror de Estado”, que inibiu a ação estudantil nas universidades e escolas. 5 

Mesmo  com  toda  a  repressão,  é  necessário  ressaltar  que  as  ações  estudantis  tiveram  grande 

repercussão nas lutas sociais e políticas do país, especialmente, pelas posições da União Nacional 

dos  Estudantes  (UNE),  a  qual  exerceu  fundamental  importância  nos  quadros  de  oposição  ao 

governo ditador (GERMANO, 2005).  

O movimento estudantil constituía‐se ao  longo da ditadura em uma das poucas válvulas 

políticas abertas, em função da adoção do bipartidarismo e pela grande intervenção do Estado nos 

sindicatos. Assim, os estudantes que não tinham emprego a perder, mas tempo para se organizar, 

ganharam  as  ruas.  A  ação  estudantil  estava  ligada  a  diferentes  partidos,  sobretudo,  aos 

clandestinos que buscavam o fim da ditadura e a instauração do socialismo, entre estes, o Partido 

Comunista Brasileiro  (PCB) e  sua dissidência, o  Partido Comunista do Brasil  (PC do B) de  linha 

                                                           5 De acordo com Caldeira (2008, p. 42) “Os jovens só retomariam as ações públicas do movimento estudantil no início de 1977, […], assinalando o começo da reorganização dos centros acadêmicos e do processo de retomada da UNE, em 1979”. 

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chinesa, os militantes da extrema‐esquerda de origem católica, da Ação Popular (AP) e também os 

trotskistas (NATALI, 1993). 

É  importante  destacar  o  contexto  regional,  em  que  a  capacidade  de  crescimento  da 

esquerda  cristã em Minas, na década de 60 assumiu uma  grande  relevância para o movimento 

estudantil  mineiro  no  país.  A  princípio  desenvolveram‐se  principalmente  entre  os  jovens 

estudantes, organizações que buscavam uma ação política e social autônoma em relação a Igreja 

Católica, como: a  Juventude Estudantil Católica  (JEC), a Juventude Universitária Católica  (JUC), a 

Juventude  Operária  Católica  (JOC),  a  Ação  Operária  Católica  (AOC)  e  a  Ação  Popular  (AP), 

defensora  de  ideais  socialistas,  que  exerceu  liderança  no movimento  estudantil universitário  e 

secundarista no país. (VIEIRA, 1998) 

No  ano de 1966,  a UNE  realizou em Belo Horizonte o primeiro Congresso Nacional dos 

Estudantes,  clandestino,  que  elegeu  como  presidente  da  entidade  o  estudante  mineiro  de 

esquerda  José  Luís  Guedes  da  AP,  o  qual  tinha  como  principais  bandeiras  de  luta  a  Reforma 

Universitária e a revogação da Lei Suplicy6, no que se refere a questões dos estudantes, além de ir 

contra o MEC‐USAID. 

O governo decretou leis específicas para a reforma do sistema de ensino a Lei nº. 5540/68, 

ou Lei da Reforma Universitária, que tinha como um de seus objetivos desarticular o movimento 

estudantil, supostamente atendendo a alguns dos anseios da classe, e a Lei nº. 5692/71, a qual 

também  se  baseava  no  modelo  americano,  incompatível  com  as  necessidades  da  sociedade 

brasileira,  e  visava  acentuar  a  dependência  política  e  econômica  já  existente,  em  relação  aos 

países centrais (ROMANELLI, 1999). Um dos graves problemas dessas reformas empreendidas pelo 

governo  militar  foi  o  baixo  investimento  financeiro  na  escola  pública  e  o  favorecimento  da 

ampliação da rede privada. 

De modo  geral,  em  relação  à  organização  escolar  no  Brasil,  podemos  ressaltar  que  os 

recursos  financeiros  e  a  orientação  educacional  estavam  condicionados  aos  interesses  do 

capitalismo  internacional.  “Esta  submissão beneficia uma parcela muito  reduzida da população                                                            6 Lei nº. 4.464, de 9 de novembro de 1964, criada pelo então Ministro da Educação Flávio Suplicy de Lacerda, a qual visava a  substituição das entidades civis dos estudantes por novas controladas pelo governo, com o objetivo de posicionar o movimento estudantil  a favor do regime militar, livrando os estudantes das  influências supostamente subversivas (RIDENTI, 1993). 

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brasileira, mas mesmo assim é uma parcela sempre frágil diante da parcela internacional, hoje sob 

a hegemonia da burguesia monopolista” (RIBEIRO, 2001, p.200).  

Todas as mudanças de ordem política e social neste período eram acompanhadas também 

pelas de natureza econômica e eram percebidas de alguma forma por todo o território nacional. 

Assim,  nos  agitados  anos  de  1950  e  1960,  Ituiutaba  expressava  a  política  de  modernização 

nacional,  à medida  que  sua  população  tornava‐se  urbana  (entre  1950  e  1970  sua  população 

citadina passou de 19% para 73% do total de habitantes), formando mercado consumidor, além de 

liberar terras para a expansão das empresas agrícolas na região, o que gerava empobrecimento da 

população migrante, em função de que nas cidades nem sempre conseguiam sustento.  

Nos  anos  de  1950,  o  poder  público  preocupou‐se  com  o  Plano  Urbanístico  local,  com 

ampliação  dos  serviços  de  abastecimento  de  água  e  de  iluminação  pública,  arborização  e 

calçamento de ruas, construção de prédios públicos, buscando atender às demandas da população 

que se avolumava. Assim, ocorreu a ampliação da rede escolar e de saúde pública, mesmo que de 

forma precária sem atender de  forma satisfatória ao grande  fluxo de pessoas que se mudavam 

para o meio urbano. Nos  anos de 1960,  a mudança urbanística  acelerou‐se  ainda mais,  com  a 

chegada  do  asfalto,  a  construção  de  praças,  implantação  do  Distrito  Industrial  e  do  primeiro 

Campus Universitário no município (SOUZA, 2010). 

Tantas mudanças na  cidade  refletiam o  contexto nacional  já que  as décadas de 1950 e 

1960 foram marcadas por efervescência econômica, política e social. Portanto, entendemos que o 

particular conduz a expressão do geral e vice‐versa. O movimento estudantil  local demonstrava 

interlocução com as organizações estaduais e nacional, mas portando especificidades. 

A partir desse ponto de vista, estudar o movimento estudantil em Ituiutaba, veiculado pela 

imprensa  local  e  presente  nas  memórias  dos  sujeitos  daquela  época,  contribui  para  o 

entendimento do processo histórico vivido pela  região, além de abrir novas perspectivas para a 

compreensão  do  processo  em  nível  nacional,  por  meio  do  levantamento  das  especificidades 

encontradas nas diferentes regiões. 

Escolhemos os jornais como fonte de pesquisa primária, pois partimos do entendimento de 

que  estes  se  constituem  em mananciais  fundamentais  para  a  coleta  de  dados  nesse  estudo, 

permitindo‐nos  o  conhecimento  de  concepções  pedagógicas  e  ideologias  que  circulavam  pelo 

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imaginário  da  população  local,  veiculando  ideais  de  aluno,  de  professor  e  de  educação,  por 

exemplo. Dessa forma, as representações presentes nesses periódicos permitem abordagens mais 

amplas em relação ao fenômeno educacional. 

Assim sua importância está principalmente no fato de que, como afirmou Capelato (1988) 

sua  atividade  não  consiste  apenas  em  transmitir, mas,  igualmente,  em  gerar  acontecimentos, 

compondo‐os  com  elementos  de  uma  visão  bastante  particular  do  mundo,  somatória  de 

subjetividade e de interesses aos quais o jornal está vinculado7. 

Desse modo, consideramos que as representações veiculadas pelos jornais não são neutras 

e devem ser  investigadas de  forma científica para que possibilitem o entendimento do passado. 

Nesse  sentido,  consideramos esses documentos  como monumentos, pois  como  afirma  Le Goff 

(1995), estes  são produtos da  sociedade que os produziu de  acordo  com  as  relações de  força 

existentes, nos permitindo assim uma visão crítica sobre a fonte utilizada.  

Também  recorremos à história oral por acreditarmos que esta  técnica de pesquisa é um 

poderoso recurso para a investigação histórico‐educativa, de forma que: 

Com  vocação para  tudo  e  para  todos,  a  história  oral  respeita as  diferenças  e facilita  a  compreensão  das  identidades  e  dos  processos  de  suas  construções narrativas. Todos  são personagens históricos, e o  cotidiano e os grandes  fatos ganham equiparação na medida em que se traçam para garantir a lógica da vida coletiva (MEIHY, 2002, p.21). 

 Nesse sentido, “[...] a História Oral permite o registro de testemunhos e o acesso a histórias 

dentro da história e, dessa forma, amplia as possibilidades de interpretação do passado” (ALBERTI, 

2006, p.15). Assim  realizamos algumas entrevistas com testemunhas da época8. A primeira delas 

foi  feita  com  ex‐proprietário  e  editor  de  jornais  pesquisados,  buscando  entender  um  pouco 

melhor do  funcionamento desses  veículos de  comunicação, em um período em que os  jornais 

                                                           7 Nesse trabalho, consultamos às coleções dos seguintes jornais: “Gazeta de Ituiutaba”, “Folha de Ituiutaba”, “Correio do Pontal”, “Correio do Triângulo”, “Cidade de Ituiutaba” e “Município de Ituiutaba”, todos com veiculação nesse período, constantes do acervo da Fundação Cultural de Ituiutaba. Assim realizamos a leitura minuciosa dos artigos de jornais, acompanhada do fichamento de todas as notícias relacionadas à educação, registrando sempre o número de  tombo do arquivo, a data de publicação, o  título da matéria, o assunto  tratado e o grau de ensino a que  se referia, revelando‐nos parte da atmosfera escolar local ao longo dos anos de 1950 e 1960.  

8  Não  realizamos  neste  trabalho  citações  diretas  dos  depoimentos  colhidos,  em  virtude  da  não  emissão  aos entrevistados da carta de cessão de direitos sobre o produto, em decorrência ao receio demonstrado por parte dos colaboradores desse estudo quanto à divulgação direta da transcrição de suas falas.   

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eram  um  dos  principais  veiculadores  de  notícias  e  informações,  exercendo  grande  influência 

política e  cultural na população  tijucana.  Logo em  seguida, entrevistamos  alguns dos principais 

líderes  estudantis  locais,  para  compreender melhor  a  cultura  estudantil da  época  investigada, 

além da relação entre a imprensa e os estudantes. 

Na década de 1950, o município contava com várias organizações estudantis, como a UEI ‐ 

“União Estudantil de Ituiutaba”, o “Clube Estudantil Rui Barbosa de Ituiutaba”, o “Clube Estudantil 

Ituiutabano”,  o  Grêmio  “Lítero‐educativo”  pertencente  ao  Colégio  Santa  Tereza  e  o  grêmio 

“Lítero‐educativo” do Educandário Ituiutabano.  

Também podemos destacar a UMEI  ‐ União da Mocidade Espírita de  Ituiutaba,9 entidade 

de grande atuação no município,  fundada em maio de 1947 por um grupo de  jovens estudantes 

espíritas entre 15 a 20 anos (FRATTARI NETO, 2009). 

Dentre  as  ações  da  UMEI  no meio  educacional,  podemos  ressaltar  a mobilização  para 

construção  e  a  conseqüente  fundação,  junto  ao  então  deputado Mário  Palmério,  da  primeira 

instituição de ensino de Ituiutaba a oferecer cursos primário e ginasial gratuitos, como vemos na 

matéria  intitulada  “Solenidades  inaugurais  do  Educandário  Ituiutabano”  do  Jornal  “Folha  de 

Ituiutaba” de 15/02/1958. 

O organismo de representação estudantil que mais se destacou no município, nos anos de 

1950  e  1960,  foi  a  União  Estudantil  de  Ituiutaba,  fundada  em  Belo  Horizonte  (1952)  por 

ituiutabanos, estudantes universitários em sua maioria do curso de Direito na capital mineira e em 

São Paulo,  a qual  tinha  como objetivos,  segundo o  Jornal  “Folha de  Ituiutaba”,  a aproximação 

entre  a  classe  estudantil,  a  reivindicação  de  seus  direitos  e  o  trabalho  em  beneficio  ao 

engrandecimento de Ituiutaba. 

Embora a UEI  fosse um órgão  representativo estudantil dos  interesses de  Ituiutaba, este 

em sua origem e  tendências políticas,  teve semelhanças aos grandes centros urbanos do século 

XX, como Belo Horizonte e São Paulo.  

                                                           9 No  início da década de 1950, esta entidade deixou de ser representada exclusivamente por estudantes, devido ao fato  de que  com  o  passar do  tempo,  alguns  de  seus  fundadores  e  dirigentes  deixaram  de pertencer  à  parcela estudantil, assim como Germano Laterza, fundador e dirigente até o ano de 1959. 

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Observamos que a UEI, em seus anos iniciais não apresentava eleições para a escolha de 

seus representantes, estes eram indicados pelo próprio grupo de estudantes em acontecimentos 

denominados de  “secção de Belo Horizonte”, que eram posteriormente publicados nos  jornais 

locais, em especial na “Folha de Ituiutaba”, devido à aproximação de representantes da entidade 

com o proprietário do  referido  jornal, o qual publicava  gratuitamente as notícias  referentes  às 

ações desta organização. Segundo um dos ex‐fundadores da UEI, na década de 1950, no período 

de férias, os representantes da entidade reuniam‐se em Ituiutaba para discutirem as iniciativas da 

instituição. 

Nesta mesma década,  constatamos que os estudantes do município,  representados pela 

União  Estudantil de  Ituiutaba, apresentavam participação política  ativa,  como evidenciamos em 

uma das primeiras ações sociais dessa união, a qual juntamente com o apoio das forças políticas 

(prefeito municipal David Ribeiro de Gouveia e o presidente do PSD local, Camilo Chaves Júnior) e 

da imprensa locais (Jornal “Folha de Ituiutaba”, 24/01/1953) se empenharam em uma campanha 

de  reivindicação ao governador mineiro,  Juscelino Kubitschek pela construção de uma praça de 

esportes na cidade. 

Tal fato evidencia a valorização social do estudante de nível universitário, que exercia um 

papel relevante nas reivindicações políticas locais, fator comum ao restante do país. 

A aproximação das  lideranças estudantis com partidos políticos  foi sempre constante no 

decorrer da história. Também em Ituiutaba, nesse período, o movimento estudantil era pauta na 

agenda dos políticos que se esforçavam por cooptar suas lideranças buscando controlar as ações 

dos estudantes. Assim, vemos na matéria acima, que os jornais ressaltavam a presença do aluno 

em  questões  de  seu  interesse  como  a  construção de  uma  praça de  esportes. Os  alunos  eram 

eleitores em potencial não podendo ser desprezados, essa valorização social desse grupo era fator 

comum  ao  restante  do país,  já que o  acesso  ao  ensino  superior  era  limitado  à  restrita  classe 

dominante. 

Acreditamos  que  a  fundação  da  UEI,  deu‐se  devido  à  necessidade  de  organização  da 

participação política estudantil. Visto que, o engajamento político dos representantes da entidade 

foi justificado, segundo um dos seus fundadores, como um exercício para atuação política desses 

estudantes, os quais  tinham como princípio, a  formação para a atuação na vida política do país, 

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começando  pelo  âmbito  regional,  existindo  acordo  entre  eles  que  após  a  conclusão  de  seus 

estudos  em  Direito,  retornariam  a  cidade  e  se  candidatariam  a  representação  política  em 

Ituiutaba.10  

De acordo com os depoimentos colhidos evidenciamos que alguns dos  líderes estudantis 

do período analisado participaram após a conclusão de seus estudos da vida política  local como 

Rodolfo  Oliveira,  um  dos  fundadores  da  UEI,  que  atuou  após  a  conclusão  de  seu  curso 

universitário  na  política  do  município  como  vereador,  vice‐prefeito  e  prefeito.  Dessa  forma, 

concordamos  com  Benevides  (2006,  p.116),  pois  entendemos  que:  “[...]  a  participação  num 

movimento com as características do ME pode servir como uma espécie de aprendizado no qual o 

militante pode vir a buscar outras formas de participação política quando do encerramento de sua 

vida estudantil”. 

  Nesse  período  o  movimento  estudantil  local,  especialmente  representado  pela  UEI, 

apresentava  características  de  movimento  social,  pois  expressava  a  luta  de  estudantes  pela 

ampliação de seu acesso ao espaço político como é justificado a seguir: 

Quando  as  reivindicações  estudantis  iam  além  daquelas  ligadas  aos  interesses exclusivos de sua categoria, o que se pretendia era ampliar os espaços de atuação política dos jovens. Isso, na verdade, refletia os anseios de toda uma geração que desejava  se  inserir  na  esfera  pública  como  um  sujeito  ativo.  Essa  vontade  de ampliar os  espaços  políticos  através  de  uma ação  pautada em uma  identidade específica caracteriza todo movimento social (BENEVIDES, 2006, p.115). 

 Entretanto, devemos ressaltar que de acordo com o autor acima citado, o meio estudantil 

encontra  dificuldades  para  se  constituir  em  uma  base  para  um movimento  social,  devido  ao 

caráter transitório de seus membros.   

No ano de 1956 foi fundado o “Clube Estudantil Rui Barbosa de Ituiutaba”, composto por 

estudantes de nível secundário do Instituto Marden, em que a escolha de seus representantes era 

realizada por  indicações  feitas por  integrantes do próprio grupo. De acordo com  João Nogueira, 

                                                           10 Historicamente no Brasil, o curso de Direito foi criado ainda no Império com o objetivo de formar  líderes políticos, pessoas capazes de administrar o  imenso país. Por muitas décadas, a obtenção do título de bacharel garantiria ao seu portador o ingresso na vida política da nação, tendência que começaria a ser alterada a partir dos anos de 1920, mas que poderia ser observada com nitidez em diferentes regiões do país, especialmente no  interior. Lembremos que nos  anos de  1950, menos de  1%  da  população  tinha acesso  a  educação  superior, ou  seja, o  legislativo  era controlado por elite privilegiada que votava leis em causa própria (SOUZA, 2005).  

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tesoureiro do Clube neste momento, esta organização  tinha  como propósito  tratar de  assuntos 

que representavam os interesses dos estudantes da própria instituição. 

A  imprensa de  Ituiutaba  também associava os  ideais patrióticos aos estudantes como na 

ocasião de fundação do clube estudantil “Rui Barbosa”, quando receberam elogios do jornal local 

por escolherem como patrono uma figura da história‐pátria, como vemos a seguir:  

[...] escolhendo o nome  insignado de Rui Barbosa, para patrono da agremiação, cultuam os estudantes de Ituiutaba a memória de uma figura por todos os títulos dos  mais  ilustres  e  inconfundível  de  nossa  história  política  [...]  Perpetuar portanto  o  seu  nome  em  entidades  desse  gênero  significa  homenagear sinceramente  todas as  figuras  de  relêvo  da  história‐pátria  (Folha  de  Ituiutaba, 31/03/1956).  

  Por meio  da  análise  desse  recorte  jornalístico,  percebemos  a  veiculação  na  sociedade 

tijucana  da  época  investigada  de  ideais  que  utilizavam  de  “ritualismos  memoriais”  para  o 

reconhecimento de identidades coletivas. Assim como ocorreu na denominação do referido clube 

estudantil, na qual associaram a figura de Rui Barbosa11 ao perfil patriotista dos estudantes. Nesse 

sentido, consideramos necessário ressaltar:  

[...]  que  desde  o  final  do  século  XIX  e  boa  parte  do  século  XX,  no  Brasil,  as práticas  evocativas  e  as  liturgias  de  recordação,  condicionadas  ao  paradigma positivista  republicano,  reforçavam  a  perspectiva  tridimensional  do  tempo: passado,  presente  e  futuro.  A  partir  do  presente  histórico,  buscavam‐se  no passado fatos, pessoas, experiências e expectativas que justificassem a existência de  determinados  grupos  sociais  e  que pudessem  conferir‐lhes  a  sua direção  e identidade (AMARAL, 2011, p.141).  

Observamos também a retratação desses ideais patrióticos e morais referentes ao “Clube 

Estudantil  Rui  Barbosa”,  em outro  jornal  local,  como  podemos destacar  no  artigo  “Aos  jovens 

diretores do clube estudantil”, do Jornal “Correio do Pontal” do dia 19 de abril de 1956: 

[...] Estão de parabéns  todos os  laboriosos  rapazes que  lançaram em  Ituiutaba essa benigna  luz,  fonte dos mais belos  ideais que  tanto nossa pátria reclama e pede. Mister se  faz que todos os estudantes  ituiutabanos, assistam as reuniões do Club e  tornem‐se membros dele, para que  suscite no alvorecer de amanhã, 

                                                           11  Rui  Barbosa  foi  um  importante  intelectual  baiano,  jornalista,  advogado,  político  e  um  dos  organizadores  da República, colaborando na elaboração da primeira Constituição republicana de 1891 e sendo Primeiro Ministro da Fazenda  no  novo  regime.  Foi  também  deputado,  senador  e  candidato  à  presidência  da  República  (ABREU; LAMARÃO, 2007). De acordo com Saviani (2007), entre 1891 a 1883 dedicou‐se a educação, foi favorável ao Projeto Saraiva de 1891, por acreditar que este  iria estimular o interesse público pela difusão da educação, mas o projeto acabou excluindo o voto do analfabeto. 

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um  sustentáculo  forte,  indestrutível  em  prol  da  juventude  ituiutabana  e  do engrandecimento moral, e intelectual do Brasil.  

 

Dentre as ações do Clube Estudantil Rui Barbosa estava a publicação do jornal estudantil “A 

Voz dos Estudantes” redatoriado por Armando Campos com a colaboração de alguns estudantes, 

o qual também recebia bastante destaque pela imprensa tijucana.  

Segundo depoimento colhido, o Clube Estudantil Rui Barbosa na década de 50, apresentava 

ligação política com a União Democrática Nacional – UDN, por meio de seu presidente Armando 

Campos, que também era redator do jornal estudantil “A Voz dos Estudantes”, estudante de nível 

secundário e professor do Instituto Marden, que se identificava com os ideais políticos do referido 

partido12.   

Em fevereiro de 1956, fundava‐se em Ituiutaba mais uma organização estudantil, o “Clube 

Estudantil Ituiutabano”, que surgiu após uma série de reuniões de estudantes no Ginásio São José, 

instituição  confessional  com  cobrança  de  mensalidades.  O  referido  clube,  segundo  o  Jornal 

“Correio  do  Pontal”,  apresentava‐se  em  caráter  desportivo  e  social,  por  se  tratar  de  uma 

“agremiação esportiva” para  a prática  recreativa de diversas modalidades do esporte,  além de 

visar à criação de uma biblioteca para seus associados.  

Encontramos o anúncio publicado pelo Jornal “Correio do Pontal” de 08/03/1956 de uma 

visita aos  integrantes do “Clube Estudantil  Ituiutabano”, em uma das salas do Colégio São  José, 

feita por políticos e autoridades locais, dentre estes estão os nomes do então prefeito da cidade, 

Antônio Souza Martins, do Juiz de Direito Dr. João Starling, dos diretores, do Instituto Marden, Dr. 

Álvaro Brandão de Andrade, do Colégio  São  José, Padre Alcides Esporidório e do Colégio  Santa 

Tereza, Irmã Maria José Vasconcelos, além do delegado regional de polícia, Dr. Austein Drumond e 

dos proprietários dos jornais “Correio do Pontal”, Pedro Lourdes de Morais e “Folha de Ituiutaba”, 

Ercílio Domingues da Silva. Os motivos e os resultados da referida visita não foram publicados em 

                                                           12 O período de 1950 a 1956 corresponde, de acordo com Poerner (1979), a fase “liberal” da UNE em que havia em sua diretoria um grupo de estudantes críticos do comunismo, que se identificavam com as propostas políticas da União Democrática Nacional  (UDN).  Partido de  oposição a Getúlio  Vargas  fundado  em  1945  a  partir  do  ideário  liberal contrário ao intervencionismo estatal na economia e ao autoritarismo, considerado contraditório por Motta (1999), pois segundo este, os udenistas denunciavam as tendências autoritárias dos nacionalistas, mas conspiravam com as forças armadas para atingirem seus adversários, face que terminou com o golpe de 1964 articulado com os militares.   

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nenhum  jornal em  circulação da época.  Entretanto,  tal acontecimento demonstra o anseio das 

autoridades locais pelo controle das ações estudantis.  

  Pode‐se perceber por meio dos  jornais que a maior parte dos dirigentes do movimento 

estudantil em Ituiutaba na década de 1950, era composta por estudantes do sexo masculino como 

ocorria  na  União  Estudantil  e  nos  clubes  estudantis.  As  exceções  eram  os  Grêmios  “Lítero‐

educativos” divulgados a cada ano, pertencentes ao Colégio Santa Tereza, que era uma instituição 

confessional  com  cobrança  de mensalidades, destinada  à  escolarização  de  estudantes  do  sexo 

feminino. Ainda nos anos de 1950 às mulheres era permitido muito menos que aos homens, não 

se  via  com bons olhos  a  atuação  feminina na política estudantil, especialmente nas  localidades 

interioranas e tradicionais.13  

Em março  de  1958,  o  recém  inaugurado  Ginásio  do  Educandário  Ituiutabano  também 

realizou  a  fundação de  seu  grêmio  Lítero‐educativo Bernardo de Guimarães14,  sendo  composto 

pela participação de seu corpo docente, discente e pela diretoria da instituição, os quais escolhiam 

os  nomes  do  professor‐orientador,  presidente,  vice‐presidente,  secretária,  tesoureiro,  diretor‐

esportivo e diretores‐musicais. A diretoria desse  grêmio  incluía  além de esportes  as  atividades 

musicais, um perfil diferenciado do grêmio Rui Barbosa de Ituiutaba. 

Segundo  o  jornal  “Folha  de  Ituiutaba”  (26/03/1958),  o  grêmio  Lítero‐educativo  do 

Educandário Ituiutabano realizava seções aos finais de semana de Educação Musical e Fabulação 

com  audições  de  discos  de  histórias  juvenis, músicas  folclóricas  e  patrióticas.  Informação que 

evidenciava um discurso que procurava generalizar os estudantes cuja prioridade deveria ser a de 

construção de ideais patrióticos e o movimento estudantil deveria direcionar suas ações para tal 

objetivo. Esperava‐se do estudante sua dedicação integral aos  interesses da pátria, elemento de 

sedimentação dos princípios da nação brasileira, juntamente com o fortalecimento da instituição 

familiar e a tradição cristã do povo. 

                                                           13 Muito embora, o primeiro presidente da UNE era a estudante Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça, eleita durante o I Congresso Nacional dos Estudantes, em 1937 (ARAÚJO, 2007). 

14 O Grêmio  Lítero‐educativo do Educandário  teve  como  patrono  o  inspetor  federal do  ensino  secundário doutor Edelweiss Teixeira e como orientador o professor Germano Laterza. Segundo Frattari Neto (2010), no ano de 1958, somente  os  27  alunos  do  1º  ciclo  ginasial  participaram  do  grêmio,  pois  os  outros  quase  500  alunos  estavam matriculados no ensino primário. Esse dado nos  revela o caráter elitista do movimento estudantil, visto que seus participantes eram pertencentes a uma restrita parcela de alunos do ensino secundário. 

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A  partir  do  ano  de  1960,  o  caráter  literário  e  nacionalista  dos  encontros  do  grêmio 

estudantil  do  Educandário  Ituiutabano,  cedeu  lugar  a  discussões mais  voltadas  para  questões 

particulares da instituição, como é afirmado a seguir:  

[...]  a  partir  da  chegada  do  professor  Paulo  à  escola  em  1960,  as  reuniões deixaram  o  tom  nacionalista  e  ocuparam‐se  de  problemas mais  próximos  da instituição,  como  o  engajamento  do  grêmio nas  campanhas de manutenção  e ampliação da escola. (FRATTARI NETO, 2010, p. 188) 

   Com  isso  percebemos  a  influência  de  docentes  na  liderança  das  ações  deste  grêmio 

estudantil,  característica  comum  nos  anos  60,  verificada  em  grande  parte  das  organizações 

estudantis em Ituiutaba. 

Nos  anos  de  1960,  evidenciamos  por meio  dos  jornais  locais,  o  surgimento  de  novas 

organizações estudantis como: o “Comitê Estudantil masculino pró Lott; o “Movimento Estudantil 

Unido de Ituiutaba”; a Liga Ituiutabana de Esportes Colegiais (LIEC); o grêmio estudantil “Visconde 

de Cairú”; e o grêmio “Pe. Gaspar Bertoni”. Além da  reestruturação do grêmio Lítero‐recreativo 

“Profº.  Álvaro  Brandão  de  Andrade”  e  permanência  da  existência  da  “União  Estudantil  de 

Ituiutaba” e do grêmio “Bernardo Guimarães”. 15 

De um modo  geral,  verificamos que as eleições para a escolha da diretoria dos  grêmios 

estudantis locais e da UEI eram sempre divulgadas pelos jornais em circulação da época, além das 

festas de  formaturas dos  colégios  locais e homenagens destes  a datas  comemorativas  como o 

aniversário da cidade. Até porque neste período, os  jornais eram um dos principais veículos de 

comunicação da sociedade.  

Percebemos  em  uma  das  matérias  jornalísticas,  a  indicação  de  certo  alinhamento  do 

movimento estudantil local com o nacional, já que a UNE apoiou a chapa Lott‐Jango (presidente‐

PSD e vice‐PTB), como parte dos estudantes em  Ituiutaba que organizaram comitês em apoio à 

candidatura Lott a presidência do país, como é revelado no seguinte recorte jornalístico: “Comitê 

Estudantil masculino pró Lott. Foi organizado e vai funcionar em conjunto com o comitê feminino” 

(Folha de Ituiutaba, 21/05/1960). 

                                                           15  Também podemos  destacar que neste período  não  foram  encontradas  nos  jornais  consultados, mais  nenhuma notícia referente ao “Clube Estudantil Rui Barbosa de Ituiutaba” e ao “Clube Estudantil Ituiutabano”. 

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Verificamos que no início da década de 1960, o Movimento Estudantil Unido de Ituiutaba, 

se  destacava  por  possuir  característica  social  ativa,  como  pudemos  analisar  na  ocasião  do 

manifesto  realizado por meio da  imprensa  local, na matéria: “BR‐71 Radiograma de MP à União 

estudantil”  do  Jornal  “Folha  de  Ituiutaba”  de  13/07/1963,  que  solicitava  providencias  as 

autoridades  políticas,  devido  à  paralisação  desta  BR,  a  qual  alegavam  possuir  fundamental 

importância para a economia da região.  

Pelo  fato  de muitas dessas  organizações  estudantis  estarem  engajadas  em  questões de 

ordem política, os  recursos públicos que eram destinados ao movimento estudantil variavam de 

acordo com as  tendências da política local, como no momento da  rejeição ao  financiamento de 

um dos órgãos estudantis de  Ituiutaba: “Rejeitado o projeto concedendo subvenção de Cr$ 180 

mil à União Estudantil”. (Folha de Ituiutaba, 19/11/1960).  

Nessa mesma matéria, constatamos que o poder público municipal destinou a verba de Cr$ 

400 mil para a aquisição de um relógio para a torre da Igreja matriz. Dessa forma, evidencia‐se a 

concessão de benefícios à Igreja Católica, o que tradicionalmente reforçava a “natureza cristã” do 

povo brasileiro, em detrimento ao financiamento das ações estudantis, uma forma de dificultá‐las, 

medida que visava restringir o papel dos estudantes à sala de aula, mesmo antes da implantação 

da ditadura militar. 

Assim,  ao  abrir  espaço  aos  estudantes,  a  imprensa  criava  mecanismo  de  controle  e 

cooptação dessas jovens lideranças locais, de forma que na maior parte das notícias relacionadas 

aos  estudantes  e  professores,  focavam‐se  os  seus  papéis  como  forma  de  engrandecimento 

cultural, como no trecho abaixo que se refere à publicação do periódico “Tribuna Estudantil” pela 

União Estudantil Ituiutabana: 

Jornal  noticioso,  literário  e  humorístico,  traz  em  suas  colunas,  além  de  bem elaborados  trabalhos  dos  estudantes,  preciosas  colaborações  de  professores valorizando o empreendimento cultural dos  jovens tijucanos, que por sinal é de bem esmerada apresentação gráfica (Folha de Ituiutaba, 10/06/1961).   

Neste período observamos que as  reuniões da União Estudantil de  Ituiutaba passaram a 

acontecer no próprio município e não mais na capital do estado. Além de haver o surgimento de 

eleições para a escolha de sua diretoria que tinha dois anos como período de gestão.  

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Constatamos mudanças no perfil dos estudantes  representantes da UEI, pois, estes não 

eram mais  alunos pertencentes  ao nível universitário em Belo Horizonte e em  São Paulo, mas 

estudantes provenientes de colégios do próprio município, visto que a participação nas eleições 

para a escolha da chapa dirigente da UEI se restringia aos estudantes dos colégios do município, 

que  eram  representados  pelo  Instituto  Marden,  Colégio  Normal  Santa  Tereza,  São  José  e 

Educandário Ituiutabano. Com isso, nos anos 60, ocorreu acentuada participação de estudantes de 

nível secundário no movimento estudantil tijucano, fato comum a nível nacional16. 

Segundo um dos ex‐presidentes do Grêmio estudantil Padre Gaspar Bertone do Colégio São 

José, e posteriormente da UEI no ano de 1964, a eleição para a composição da diretoria de ambos 

os órgãos acontecia por meio do sufrágio universal, em votação secreta, supervisionada, sempre 

por  olheiros  da  Justiça  Eleitoral  da  Comarca  de  Ituiutaba,  normalmente  um  oficial  de  justiça, 

designado pelo Juiz eleitoral. Tal ocorrência nos evidencia o controle das eleições estudantis pelo 

poder judiciário local e a preocupação de manter os estudantes sob seu olhar. 

A partir de então, o movimento estudantil de  Ituiutaba  seria observado por  setores da 

imprensa  escrita  com  mais  proximidade,  surgindo  críticas  a  ação  dos  estudantes,  mas  que 

revelavam o desejo de controlar os rumos que esse movimento social começava a tomar em nível 

local, representando um reflexo do processo nacional:  

Eleita a nova diretoria da União estudantil. Vitória da  juventude democrática – Posse no próximo  dia  21.  [...]  desejamos aos  novos  diretores  da UEI  uma  feliz gestão,  se  possível  fazendo  com  que  a  entidade  deixe  de  ser  um mero  clube recreativo, para  se  transformar num órgão de efetiva defesa dos  interêsses da classe que representa, que essa é sem dúvida, sua  finalidade precípua.  (Folha de Ituiutaba, 07/04/1962).  

Na notícia acima, observamos que a  imprensa  local, especificamente o  Jornal  “Folha de 

Ituiutaba”, criticando o mero caráter  recreativo da União, mas exigindo sua efetiva participação 

apenas na mobilização de suas forças em favor dos interesses da classe estudantil, evidenciando‐

                                                           16  Quando  se  fala  em movimento  estudantil  geralmente  se  pensa  em  universitários,  jovens  acima  de  18  anos, estudando em  faculdades. Mas o Brasil contou em vários momentos de  sua história política  recente com  intensa participação  de  estudantes  secundaristas, meninos  e meninas  entre  14  e18  anos, alunos  do  ensino médio.  Sua entidade nacional foi fundada em 1948[...] ( ARAÚJO, 2007,  p. 68). 

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se mais  uma  vez,  que os  estudantes  deveriam  cuidar  das  questões  do  interior  da  escola,  sua 

finalidade precípua.  

Percebemos  que  parte  dos  representantes  da  UEI  na  década  de  1960,  apresentava 

desconhecimento da origem da entidade em Belo Horizonte e de suas ações na década anterior, 

como afirmou seu presidente do ano de 1962. Fato que demonstra uma certa desarticulação dos 

princípios formadores da entidade na década de 50 com os anos 60. 

A confecção das carteirinhas estudantis era a principal  fonte de  receita da UEI na década 

de  60.  Segundo  depoimento  colhido,  para  o  fornecimento  dessas  carteirinhas,  que  eram 

documentos de nível estadual certificados pela União Colegial de Minas Gerais – UCMG17 e tinham 

valor e  respeitabilidade a nível nacional, os estudantes secundaristas contribuíam com um valor 

correspondente a sua anuidade para com a UCMG, a qual  retornava 50% dessa arrecadação as 

entidades a ela filiadas, como a UEI.  

  Havia também outras formas de arrecadar fundos para a UEI nos anos 60, como a taxa dos 

ingressos  de  jogos  estudantis,  de  quermesses  e  outros  eventos,  além  de  rifas  e  de  eventuais 

recebimentos de doações de pessoas  jurídicas e da Prefeitura. Pois  conforme  fonte oral,  a UEI 

contava  com  a  parceria da  comunidade  local,  que  participava  com  entusiasmo  das  atividades 

desta,  através  de  entidades  de  classe,  como:  a  Associação  Comercial de  Ituiutaba,  o  Sindicato 

Rural, os Clubes Rotary e Lions e a Maçonaria. Estas não só prestavam ajuda financeira a UEI, mas 

doavam  materiais  esportivos  e  participavam  ativamente  das  atividades  implantadas  pelos 

estudantes.  

  Como as referidas entidades acima eram compostas por membros representantes da elite 

tijucana,  percebemos  que  as  ações  da  UEI  eram  controladas  por  setores  que  defendiam 

principalmente os ideais da classe dominante local.  

A efervescência do movimento estudantil local representava a emergência de movimentos 

sociais no cenário político por todo o país. A União Nacional dos Estudantes – UNE, símbolo maior 

de organização dos estudantes – era debatida também pelos jornais locais como o Jornal “Correio 

                                                           17 Essa entidade estudantil, de acordo com Coelho  (2000),  foi criada no ano de 1944 com a principal  finalidade de emissão  de  carteirinhas  com  nome  e  foto  para  que  os  estudantes  secundaristas  pagassem  meia‐entrada  nos cinemas.  

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do Pontal” de 05/08/1958 no artigo: “Estudantes contra Foster Dulles”, demonstrando protestos 

da  UNE  contra  este  Secretário  de  Estado  dos  Estados  Unidos  e  reivindicações  de  interesses 

nacionalistas.  Nessa  ocasião  percebe‐se  a  manifestação  da  UNE  contra  este  político  norte‐

americano, em virtude de sua visita ao Brasil em defesa dos  interesses capitalistas de seu país. 

Dulles demonstrava rigor na cobrança de juros sobre os empréstimos concedidos ao Brasil e exigia 

a revisão da lei brasileira sobre o monopólio estatal do petróleo (SANTOS, 2006).  

O Jornal “Folha de Ituiutaba” também publicou algumas manchetes sobre a UNE, como: “A 

União Nacional dos Estudantes e a verba de 300 milhões” (06/06/1962), e “Protesto de Membros 

da Igreja Católica” publicados no Jornal “A Província do Pará” da cidade de Belém‐PA (25/04/1962) 

contra a liberalidade na distribuição de verbas à União Nacional dos Estudantes que era acusada 

de praticar o  “suicídio da democracia”, e utilizar de  forma errada os 300 milhões de  cruzeiros 

como recursos financeiros e de ser “uma sede nacional do partido comunista”.  

Em resposta a essas acusações, na mesma matéria, o Jornal “Folha de Ituiutaba”, publicou 

a carta do então presidente da União Nacional dos Estudantes, Aldo Silva Arantes (27/04/1962), a 

qual se dirigia ao diretor do Jornal “A Província do Pará” em defesa contra as “agressões insólitas e 

sem  fundamento”  praticadas  pelo  jornal.  Com  esta,  o  presidente  da  União  Nacional  dos 

Estudantes  (UNE),  realizou  um  discurso  em  favor  dos  interesses  das  classes  desprivilegiadas, 

denunciando  a minoria  da  classe  dominante  que  vive  à  custa  de  uma maioria  de  brasileiros 

oprimidos e a  liberalidade do direito dos  jornalistas de  infamar  impunemente. Esse discurso de 

defesa dos direitos humanos do presidente da UNE Aldo Silva Arantes, pode ser confirmado em 

depoimento relatado a Araújo (2007, p.98): 

O movimento estudantil no Rio de Janeiro era altamente politizado [...] Na época estava  muito  presente  o  problema  das  lutas  pelas  reformas  de  base  e  pela reforma universitária. Então era um conjunto de lutas, pela reforma agrária, pela independência nacional,  luta antiimperialista, enfim essas grandes bandeiras de caráter  democratizante  que  estavam  muito  presentes  nesse  período,  e  o movimento estudantil desempenhava um papel de vanguarda em relação a essa luta.   

Dessa forma, reforça‐se o ideal de democratização da sociedade brasileira almejado pelos 

dirigentes da UNE nesse período, o qual era veiculado pela imprensa nacional e local. 

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Percebe‐se  que  o  Jornal  “Folha  de  Ituiutaba”  ao  noticiar  as  acusações  feitas  a  UNE 

publicadas  pelo  Jornal  “A  Província  do  Pará”  e  a  carta  de  defesa  do  presidente  da  referida 

entidade  estudantil,  buscava  transferir  sua  responsabilidade  editorial,  passando  a  imagem  de 

veículo  de  informação  neutro,  não  se  comprometendo  nem  com  o  movimento  estudantil 

tampouco com seus opositores.  Mesmo que não fosse um jornal de esquerda (talvez de tendência 

progressista),  sua  última  edição  foi  em  março  de  1964,  o  que  sugere  que  o  referido  jornal 

encerrou suas atividades em decorrência da ditadura militar, constituindo‐se em um dos alvos da 

repressão.  

Com a implantação do regime político militar no Brasil, constatamos neste período que o 

Jornal “Correio do Triângulo” passa a ser um veículo de comunicação representativo de ideais anti‐

comunistas,  transparecendo  uma  concepção  que  deixa  claro  o  apoio  a  não  participação  dos 

estudantes na vida política do país. Além disso, esse jornal se posicionava contrário a organização 

dos  estudantes,  buscando  desqualificar  os  integrantes  da  UNE  acusados  de  comunistas  e  de 

“desmoralizadores de nossa juventude”, além da afirmação da atual lógica de mercado capitalista, 

assegurando ser necessário à produção de “capital humano” nas escolas para o atendimento das 

“necessidades do crescente progresso”, marcado pelo contexto de modernização daquela época.    

A ditadura buscou desarticular o  campo  cultural  florescente, no  início dos  anos 60, que 

possuía  vocabulário  avançado  para  uma  sociedade  marcada  por  estruturas  arcaicas  e  pelo 

autoritarismo. Propunha‐se  “política externa  independente”,  “reformas estruturais”,  “libertação 

nacional”,  “combate  ao  imperialismo  e  ao  latifúndio”. Muitos  setores  da  classe média urbana, 

mesmo assombrada pelo  temor da subversão e da  instabilidade econômica,  faziam‐se presentes 

no movimento social, engrossando o coro com estudantes e  intelectuais  favoráveis às  reformas 

estruturais, resultando em intensa atividade de militância política e cultural.  

Voltando  ao  contexto  local,  no  ano de  1964,  com  o  advento  do  golpe militar,  o  Jornal 

“Correio do Triângulo” em sua coluna denominada “Vida Estudantil”, destinada à exposição das 

ações  desenvolvidas  pelo movimento  estudantil  ituiutabano,  publica  o  apoio  do  presidente da 

União  Estudantil  de  Ituiutaba  (UEI),  em  visita  à  cidade  de  Uberaba‐MG,  às  forças  políticas 

militares,  como é explicitado  a  seguir:  “[...] o presidente da UEI  [...]  Levou uma mensagem de 

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solidariedade e apoio ao presidente marechal Humberto de Alencar Castelo Branco [...]” (Correio 

do Triângulo, 24/05/1964). 

Mesmo assim, parte da classe estudantil de  Ituiutaba sofria com a  repressão política em 

decorrência do novo horizonte autoritário,  como na ocasião em que a UEI  teve  sua  identidade 

questionada pela revista “Câmara Lenta”, seção “Arrozcap em Câmara Lenta TN n. 25”, afirmando 

que  a mesma  poderia  ser  uma  entidade  estudantil ou  até mesmo  uma  entidade  secreta.  Em 

resposta a esse questionamento, o presidente da UEI publicou no  Jornal “Correio do Triângulo” 

sua defesa, alegando que a entidade estaria aberta em suas  reuniões a  todos os  representantes 

dos demais grêmios estudantis do município. 

Considerando  o  fato  da  existência  de  um  posicionamento  hierárquico  por  parte  do 

movimento estudantil em  Ituiutaba, em que  as  ações da UEI ocupavam um  lugar de destaque 

frente às outras organizações, constatamos que os estudantes se adequaram ao  regime político 

autoritário vigente. 

Como exemplo, podemos destacar a adequação da UEI a lei nº. 4.464, de 9 de novembro 

de 1964  (Lei Suplicy), a qual determinava em seu seguinte artigo: 

Art. 20. Os atuais órgãos de representação estudantil deverão proceder à reforma de seus regimentos, adaptando‐os à presente Lei e os submetendo às autoridades previstas no art. 15, no prazo improrrogável de sessenta (60) dias. (BRASIL, 1964)  

Assim uma das medidas da UEI frente ao clima de repressão foi a realização de assembléia 

geral, no  ano de 1964, para discutir a  reforma em  seus estatutos,  justificada para a  criação de 

órgãos necessários ao seu “bom funcionamento”. 

Este período também foi marcado por uma notável valorização, nas páginas dos jornais, do 

exercício esportivo pelos estudantes, por meio das constantes organizações de torneios como as 

“olimpíadas estudantis de 1964” e os “jogos estudantis da primavera” promovidos pela UEI para 

alunos do ensino secundário. Além da  fundação de organismos estudantis específicos para esta 

prática,  como a  Liga  Ituiutabana de  Esportes Colegiais  (LIEC),  formada por estudantes em nível 

colegial e  composta por uma diretoria, que  como  todas  as outras organizações estudantis, era 

indicada por meio de eleições posteriormente publicadas nos jornais em circulação da época. 

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Com  isso, evidenciamos que a valorização do exercício esportivo entre os estudantes em 

Ituiutaba  refletia o cenário nacional, no que se  refere ao  incentivo dado pelo governo militar a 

essas práticas nas escolas.   Tal  incentivo, pode  ser  justificado  como meio de ocupação para os 

estudantes e para toda a sociedade, afastando‐os do cenário político implantado, além de servir 

como elemento de exacerbação do nacionalismo. Pois como afirma Linhales (2001, p. 52): “[...] o 

esporte  é  também  adotado  pelo  Estado  como  elemento  aglutinador  e disciplinador  da  ordem 

social interna”. 

Dentre as ações das organizações estudantis de Ituiutaba, após o golpe militar, no ano de 

1964, podemos destacar  a  realização de  campanhas do meio estudantil para a  arrecadação de 

verbas em prol de causas assistencialistas no município.  

Por meio de fontes orais, percebemos que após a implantação do regime militar, a maioria 

das organizações estudantis do município, as quais restrigiam‐se ao nível secundário, apresentava 

o  intuito de promover um maior entrosamento entre os estudantes  secundaristas da  cidade e 

região  do  estado  de Minas,  em  atividades  culturais  e  acima  de  tudo  esportivas.  Assim,  nesse 

período  havia  torneios  esportivos  com  jogos  nas  diversas  especialidades  como  futebol,  vôlei, 

basquete,  ping‐pong,  entre  outros.  Além  da  troca  constante  entre  os  estudantes,  de material 

cultural, livros, informativos e  jornais, mas nada que apresentasse caráter subversivo ao sistema 

político autoritário vigente. 

É  importante  ressaltar que de acordo com os depoimentos colhidos, a grande parte dos 

estudantes representantes do movimento estudantil em Ituiutaba pertencia a um grupo seleto da 

sociedade  ituiutabana, em  sua maioria, a  classe  social privilegiada  com preocupações pequeno 

burguesas18,  fato  que  facilitou  o  engajamento  político destes,  devido  ao maior  acesso  a  bens 

culturais e a pessoas influentes da cidade. Realidade esta comum a nível nacional, visto que neste 

período o acesso à educação escolar se restringia a uma pequena parcela da sociedade brasileira. 

                                                           18  Em  Ituiutaba  na  década  de  1950,  do  total  de  43.089  habitantes  maiores  de  5  anos  de  idade,  24.609  eram analfabetos, ou seja  57,35% da população representada por 12.608 mulheres e 12.101 homens, o que correspondia respectivamente a 60,75% das pessoas do sexo feminino e 54,19% do sexo masculino. (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. 1959, p.308 apud Frattari Neto, 2009). Fato que demonstra neste período o maior acesso da população masculina a escolarização.  

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Dentro  do  período  analisado,  encontramos  a  última  notícia  relacionada  ao movimento 

estudantil  no  jornal  “Município  de  Ituiutaba”,  órgão  oficial,  em  maio  de  1968,  referente  à 

divulgação das eleições da diretoria da UEI. Com isso, verificamos que nos anos de 1969 e 1970, 

não  foram  encontradas  nos  jornais  em  circulação, mais  nenhuma  notícia  referente  às  ações 

estudantis19. Tal fato nos evidencia que alguns meses antes de ser decretado pelo governo militar 

o Ato  Institucional nº. 5  (AI‐5), em dezembro de 196820, as ações dos estudantes em  Ituiutaba, 

mesmo não apresentando caráter subversivo,  foram silenciadas pela  imprensa local como  forma 

de afastar os estudantes do município dos rumores presentes nesse contexto político autoritário.  

De  acordo  com os  jornais  consultados, evidenciamos que após a  implantação do  regime 

militar as ações do movimento estudantil tijucano não apresentaram mais reivindicações políticas 

como antes, mas se preocupavam em atividades assistenciais e de recreação. Tal fato não sugere 

que esses estudantes tenham sido sujeitos despolitizados nesse período. Visto que, de acordo com 

depoimento colhido do ex‐presidente da UEI nos anos de 1964 a 1966, esta entidade era aliada às 

forças políticas direitistas por meio de seus dirigentes que eram em sua maioria estudantes filhos 

de  fazendeiros, os quais  temiam a  instalação da presença comunista no município, denunciando 

por meio de  telegramas enviados aos militares, qualquer manifestação  local suspeita de caráter 

subversivo.  

Desse modo, acreditamos que parte dos estudantes secundaristas em Ituiutaba, nos anos 

de  1964  a  1966  por meio  da UEI,  principal  órgão  de  representação  estudantil  local,  aderiu  e 

militou a favor do sistema autoritário vigente.  

De um modo geral, percebemos que as ações do movimento estudantil em  Ituiutaba nas 

décadas  de  50  e  60,  em  sua  maioria  eram  destinadas  em  beneficio  da  realidade  local, 

apresentando caráter conservador no que  tange a estrutura social brasileira. Peculiaridade esta 

que  se difere do órgão de  representação estudantil de maior destaque no país,  a UNE,  a qual 

                                                           19 Em relação ao cenário nacional, a partir de 1969 com o sucesso do “milagre econômico” implantado pelo governo militar, a parcela privilegiada da  sociedade brasileira, beneficiária da  situação econômica, não via com nenhuma simpatia a manifestação estudantil (CARMO, 2000).      

20 Ato Institucional decretado no governo Costa e Silva, determinante de um grau máximo de radicalização sobre os setores oposicionistas da sociedade civil. (GERMANO, 2005). 

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principalmente nos anos 60, tinha suas ações voltadas na luta por uma transformação estrutural 

da sociedade no país (GERMANO, 2005).  

Além  disso,  é  importante  destacar  no meio  estudantil  tijucano,  como  foi  discutido  no 

decorrer  do  texto,  a  valorização  do  exercício  esportivo,  a  promoção  de  ações  culturais,  a 

preocupação  com  causas  assistencialistas,  e  o  controle  dos  órgãos  estudantis  por membros  e 

setores externos a classe.  

Verificamos também que o movimento estudantil em Ituiutaba foi marcado pela presença 

de práticas comuns à ideologia educacional presente no Brasil desde o Estado Novo até a década 

de 1960, a qual  tentava garantir um novo sentimento de nacionalismo nos alunos, por meio da 

difusão de ideais cívicos e patrióticos. 

Assim, compreendemos que mesmo nas cidades  interioranas mais distantes dos grandes 

centros  urbanos  do  país,  como  Ituiutaba,  os  reflexos  de  1964  foram  percebidos  de  forma 

acentuada  sobre  o movimento  estudantil  local,  o  que  tentamos  demonstrar  por  esse  estudo. 

Dessa  forma,  confirmamos  que  a  história  local  e  a  nacional  não  podem  ser  discutidas 

independentemente, sendo necessário promover o diálogo entre o estudo regional e o nacional, 

observando‐se o que pode ser generalizado e o específico de cada caso. 

De um modo geral, constatamos que os  jornais do período analisado  funcionaram como 

instrumentos  fundamentais  nesse  estudo  para  a  compreensão  de  concepções  e  ideologias 

relativas  ao  fenômeno educacional que  circulavam no  contexto  local e nacional. Nesse  sentido, 

reforçamos  a necessidade de preservação dos documentos de época para o entendimento dos 

acontecimentos históricos.  

Acreditamos que o desenvolvimento desta pesquisa na área da história da educação, sua 

posterior  divulgação  e  discussão  são  de  grande  relevância  para  a  memória  do  movimento 

estudantil local, funcionando como instrumento crítico para a contextualização da educação e da 

sociedade, nos fazendo compreender que a educação é processo de construção social constante 

que depende dos sujeitos históricos envolvidos.  

 

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