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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 551 JÚLIA NÓBREGA – HISTÓRIA DE VIDA DE UMA PROFESSORA DE PIANO Vania Claudia da Gama Camacho [email protected] (UFPB) Resumo O presente trabalho é um recorte de tese de doutorado em andamento sobre o ensino de piano na Paraíba historiografado a partir das vozes das professoras de piano. Tratase de uma pequena biografia de uma das quatro professoras entrevistadas de nossa pesquisa. Ao estudar a professora de piano Júlia Guerra Nóbrega adentramos na história da música de Alagoa Grande particularmente da Instituição Religiosa, Colégio do Rosário do qual a professora foi aluna e, também da instituição de ensino musical, Escola de Música Anthenor Navarro, localizada na cidade de João Pessoa. Nesta escola a professora Júlia foi aluna e professora, o que nos faz entender as configurações do ensino pianístico a partir de duas perspectivas, da discente e da do docente de música. Palavrachave: Biografias de Professores. Ensino de Piano. Professores de Piano. Júlia Guerra Nóbrega nasceu em 28 de maio de 1912 no município de São Mamede que à época pertencia a Santa Luzia de Sabugi, atual Santa Luzia. Seu pai, José Claudino de Barros lidava com a agricultura e sua mãe Felícia de Araújo Guerra cuidava das coisas de casa. Teve uma infância feliz e tranqüila, aos quatro anos de idade, porém, passa a residir em Alagoa Grande com os avós, Manoel Corrêa Guerra e Rosalina de Araújo Guerra, só saindo de lá em 1940. A vida difícil do sertão foi responsável pela sua migração, ela mesma descreve com a precisão de sua memória a chegada em Alagoa Grande após viagem a cavalo: Eu vim pra Alagoa Grande, onde meus avós moravam, então, cheguei muito queimadinha do sol, aí meu avô disse: Isso é uma malvadeza! Essa menina não volta mais!. Aí eu fiquei com eles. E meus pais continuaram lá no sertão [...]” (D. Júlia Nóbrega). A vida em Alagoa Grande sob tutela de seus avós maternos trouxe à Júlia a concretização de uma vida melhor, inclusive é nesta cidade que vem a desenvolver suas aptidões musicais de pianista e de professora de música. Em suas recordações sobre as origens de sua tendência musical Júlia aponta que em sua família sempre houve este contato com a arte musical. Seu pai, por exemplo, tocava um instrumento de sopro que ela não recorda ao certo qual era e,

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5

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JÚLIA NÓBREGA – HISTÓRIA DE VIDA DE UMA PROFESSORA DE PIANO 

 

Vania Claudia da Gama Camacho  [email protected] 

(UFPB)  

 Resumo 

 O  presente  trabalho  é  um  recorte  de  tese  de  doutorado  em  andamento  sobre  o  ensino  de  piano  na  Paraíba historiografado a partir das vozes das professoras de piano. Trata‐se de uma pequena biografia de uma das quatro professoras entrevistadas de nossa pesquisa. Ao estudar a professora de piano Júlia Guerra Nóbrega adentramos na história da música de Alagoa Grande particularmente da Instituição Religiosa, Colégio do Rosário do qual a professora foi aluna e, também da  instituição de ensino musical, Escola de Música Anthenor Navarro,  localizada na cidade de João Pessoa. Nesta escola a professora Júlia foi aluna e professora, o que nos faz entender as configurações do ensino pianístico a partir de duas perspectivas, da discente e da do docente de música.  

Palavra‐chave: Biografias de Professores. Ensino de Piano. Professores de Piano.  

 

Júlia Guerra Nóbrega nasceu em 28 de maio de 1912 no município de São Mamede 

que à época pertencia a Santa Luzia de Sabugi, atual Santa Luzia. Seu pai, José Claudino de Barros 

lidava com a agricultura e sua mãe Felícia de Araújo Guerra cuidava das coisas de casa. Teve uma 

infância feliz e tranqüila, aos quatro anos de idade, porém, passa a residir em Alagoa Grande com 

os avós, Manoel Corrêa Guerra e Rosalina de Araújo Guerra, só saindo de lá em 1940. A vida difícil 

do sertão foi responsável pela sua migração, ela mesma descreve com a precisão de sua memória 

a chegada em Alagoa Grande após viagem a cavalo: “Eu vim pra Alagoa Grande, onde meus avós 

moravam, então, cheguei muito queimadinha do sol, aí meu avô disse: Isso é uma malvadeza! Essa 

menina não volta mais!. Aí eu fiquei com eles. E meus pais continuaram lá no sertão [...]” (D. Júlia 

Nóbrega).  

A  vida  em  Alagoa  Grande  sob  tutela  de  seus  avós  maternos  trouxe  à  Júlia  a 

concretização de uma vida melhor, inclusive é nesta cidade que vem a desenvolver suas aptidões 

musicais de pianista e de professora de música.  Em  suas  recordações  sobre  as origens de  sua 

tendência musical Júlia aponta que em sua família sempre houve este contato com a arte musical. 

Seu pai, por exemplo, tocava um instrumento de sopro que ela não recorda ao certo qual era e, 

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sua mãe dedilhava o violão, além de cantar, o que proporcionava momentos agradáveis na família. 

É  em  Alagoa  Grande, portanto, que D.  Julinha, nome pelo qual  é  conhecida  por  todos,  têm  a 

oportunidade da educação formal na escola e com esta, a educação formal musical. Em 1920, com 

apenas oito anos de idade, Júlia começa a estudar música ‐ o piano e a teoria musical ‐ que eram 

ministrados  no  Colégio Nossa  Senhora  do  Rosário,  educandário  da  cidade  dirigido  pelas  irmãs 

Dorotéias.  

 

 Figura 1. Júlia Guerra no quintal da casa de seu avô em Alagoa Grande – maio de 1933. 

Fonte: Acervo pessoal de Júlia Nóbrega, foto cedida à autora.  

No início do século XX a cidade de Alagoa Grande passava por um momento especial 

de grande desenvolvimento econômico e social. Situada no brejo paraibano, vizinha a cidade de 

Areia,  já na década de 20,  segundo Moura  (2001, p.28),  “era a Rainha  do Brejo,  com  seus 26 

engenhos moendo o açúcar da região e a Wharton Pedroza beneficiando e exportando a produção 

algodoeira”. A  linha  férrea,  controlada pela empresa  inglesa Great Western Railway, que havia 

sido construída pelo empenho de Apolônio Zenaide, desde 1901 encurtava a distância, facilitando 

a chegada e escoamento de produtos, além de promover o intercâmbio cultural e de informações 

que chegavam da capital, Parahyba e de Recife, tais como as que eram veiculadas pelos jornais A 

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União e o Diário de Pernambuco. A energia elétrica inaugurada em 08 de dezembro de 1920, na 

gestão de Heretiano Zenaide Peregrino de Albuquerque, determina uma nova etapa na cidade que 

respirava progresso. Nesta época são  inaugurados: o primeiro cinema da cidade  ‐ Cine Brasil, o 

primeiro hospital ‐ O Centenário, o Clube Recreativo 31, o Nordeste Esporte Clube, a Caixa Rural, a 

beneficiadora  de  algodão  Anderson  Clayton,  e  as  duas  primeiras  revendas  de  automóveis  do 

interior do estado – a Ford e a Chevrolet.  

É neste cenário de prosperidade que o Colégio Nossa Senhora do Rosário é construído 

com a subvenção das personalidades mais  influentes da cidade, segundo Moura  (2001, p.28) “O 

dinheiro  circulante permitia à  elite  local não aguardar  pelas ações  do poder  público. Dava‐se a 

esses mimos, respirando ares de civilização”. Em Alagoa Grande: sua história, Freire (1998) indica 

nota publicada em 20 de novembro de 1920, no  jornal O Monitor  referindo‐se  a  conclusão de 

várias obras na cidade e ao seu progresso, entre as obras e medidas educativas podemos destacar: 

o Colégio Nossa Senhora do Rosário, o Colégio São Luiz, a Banda de Música Peregrino de Carvalho 

além de seis escolas primárias instaladas na cidade.  

Sem dúvida o Colégio Nossa Senhora do Rosário servia a mais polida e fina camada da 

sociedade  alagoa‐grandense,  no  que  Júlia  Nóbrega  se  encaixava  perfeitamente.  Esta  elite 

necessitava de um colégio para formação escolar de suas moças. D. Julinha relata ter sido uma das 

primeiras  alunas  a estudar no  colégio que  foi  fundado em 1919,  graças  ao empenho do padre 

Firmino Cavalcanti de Albuquerque. 

 

Eu  fui uma das pioneiras, 1919  [...] a estudar no colégio. Porque ele foi  fundado em  1919.  Então,  nessa  época  eu  tinha  7 anos. No  ano  seguinte  eu  comecei  a estudar piano. Comecei com a teoria com a diretora do colégio chamada Julieta (Júlia Nóbrega).  

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 Figura 2. Em 1919, Júlia Nóbrega aos sete anos de idade em sua primeira comunhão no Colégio de Alagoa Grande 

Fonte: foto cedida do acervo pessoal de Júlia cedida à autora. 

A  história  desta  instituição  é  um  capítulo  da  história  de  Alagoa  Grande  pois  esta 

acompanhou e  formou  gerações,  sendo  considerada uma das  três melhores da Paraíba. Mas o 

sonho do padre Firmino de construir em Alagoa Grande um colégio de  freiras só se concretizou 

com o  apoio de  grande parte da  cidade que mobilizada otimou  forças para  tentame.  Segundo 

Freire  (1998, p.82) houve um verdadeiro mutirão onde  todos os segmentos da sociedade deram 

sua  parcela  de  contribuição,  desde o  prefeito, plantadores  de  algodão,  senhores  de  engenho, 

fazendeiros, comerciantes, até pessoas de baixa  renda. O  terreno onde  fica o educandário, que 

seria  utilizado  para  erguer  uma  cadeia,  teve  as  obras  paralisadas  por  interferência  do  juiz 

Francisco Peregrino Montenegro e do prefeito Felix Guerra, foi comprado e posteriormente doado 

pelo  coronel  Eufrásio  de  Arruda  Câmara,  já  a madeira  utilizada  na  construção,  foi  doação  do 

capitão Raimundo Onofre Marinho, proprietário da Fazenda Gurinhenzinho. Parte dessa história 

encontra‐se resumida abaixo: 

 

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Nos  idos de 1918, três  freiras da  ‘Ordem das Dorotéias’, vinham do convento da cidade de Olinda, para a cidade de Bananeiras em nosso estado, com destino ao colégio  dessa Ordem  ainda  hoje  lá  existente. A  viagem  era de  trem,  e quando chegaram ao povoado de Camarazal, atual cidade de Mulungú, onde havia uma estação  (parada)  e  um  cruzamento  de  linhas  de  trem,  houve  a  costumeira baldeação, e elas que haviam descido  com outros passageiros, no momento de ‘pegarem’ o trem em que viajavam, se enganaram e ‘pegaram’ o trem que vinha para  a  nossa  cidade. Quando  perceberam o  engano  já  era  tarde  demais.  Aqui chegando, procuraram a Casa Paroquial e  se apresentaram ao padre  coadjutor alagoagrandense Firmino Cavalcanti de Albuquerque  (o  vigário era  Luiz  José de Araújo,  itabaianense)  posteriormente  vigário  e  cônego,  que  as  tranqüilizou  e providenciou a hospedagem das mesmas na residência de uma solteirona muito católica,  conhecida  como  ‘Dona  Cidade’,  na  hoje  Rua Getúlio  Vargas,  658,  nas proximidades da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. No dia seguinte, o padre Firmino, comunicou o ocorrido à provincial (superiora delas) em Olinda, e fez ver à religiosa que não permitiria a saída das mesmas de nossa cidade, pois das três precisava para começar a luta pela construção de um Colégio de Freiras. (FREIRE, 1998, p.82)  

 Figura 3: Colégio do Rosário em Alagoa Grande 

 

No Colégio do Rosário as meninas  tinham aulas, entre outras matérias, de música e 

trabalhos manuais. Parece ato comum, a atividade musical nos colégios religiosos do século XIX e 

de primeiras décadas do século XX. O aprendizado musical, primordialmente,  fazia parte de um 

ideário da formação escolar feminina, estava presente de forma cristalizada em um currículo que 

continha “disciplinas que favoreciam o desempenho da mulher como mãe, esposa e dona de casa” 

(TOFFANO,  2007,  p.  51).  Destacavam‐se  nesse  ideário  feminino  as  atividades  de  bordado, 

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aprendizagem de línguas, geralmente francesa, e atividades artísticas de dança e música, sendo as 

mais freqüentes – a música vocal e o piano.  

Consta  nos  registros  da  época  que  a música  tinha  um  lugar  sedimentado  no currículo das disciplinas oferecidas, principalmente nos colégios particulares ou no ensino em domicílio, como um das prendas domésticas femininas ou como forma estreitamente associada a essas prendas (TOFFANO, 2007, p.51)  

A  formação  educacional  oferecida por  estas  instituições  visava  antes  de  tudo  uma 

formação  humana  e  não  deveria  ultrapassar  determinados  limites  sociais  que  deslocassem  a 

mulher de seu papel social. Deste modo, as instituições confessionais que abrigavam o ensino da 

música  não  tinham  a  intenção  de  preparar  pianistas  ou  formar  professoras  de  música.  O 

conhecimento  musical  ministrado,  em  sua  maioria  reproduzido  de  instituições  confessionais 

europeias de onde cada ordem instalada era originada.  

O ensino da música nos educandários  religiosos era possuidor de uma confiabilidade 

que a sociedade expressava através da aceitação e do orgulho de possuir damas bem educadas. O 

dedilhar do piano estava  restrito às  famílias de posses que eram  as que poderiam  ter acesso  à 

aquisição tanto do bem cultural como do material – o instrumento piano. Toffano (2007) acredita 

que o mundo pianístico era um mundo feminino, principalmente porque era uma atividade ligada 

as  coisas  domésticas,  além  disso,  tocar  piano  era  sinônimo  de  possuir  refinamento  e  cultura, 

qualidades estas que toda moça deveria possuir para ser um bom partido para o casamento. Era 

um  instrumento, portanto, que se adequava às necessidades prementes de ascensão cultural da 

elite  paraibana. O  ensino pianístico  nas  escolas  religiosas,  portanto,  era  de  acesso  restrito  ao 

gênero  feminino visando uma proposta educativa porém não profissionalizante. Nas  instituições 

de ensino  religioso masculinas  raramente se encontravam a música e especialmente a disciplina 

piano em seus currículos.  

Esta situação nas escolas laicas de ensino musical do século XIX, porém, se encontrava 

invertida.  Segundo  Toffano  apud  Saffioti  (2007,  p.51)  havia  uma  predominância  do  gênero 

masculino nestas instituições, mas 

[...]  a  partir  do  último  decênio  do  Império,  sempre  predominou  o  elemento feminino,  pois  a música  foi  e  ainda  é  tida  como  atividade apropriada  ao  sexo feminino.  Enquanto  existiu  a  Imperial  Academia  de Música  e Ópera  Nacional, 

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houve  uma  ligeira  predominância do  sexo masculino  sobre  o  feminino  [...]  em 1882, 100 alunas contra 37 alunos (TOFFANO, 2007, p.51‐52).    

Toffano (2007) considera ainda que o ensino da música ao passar a ser realizado de forma 

laica, começou a ser repreendido em diversas circunstâncias. Era no mínimo uma atitude ousada 

para a mulher que se dispusesse estudar nestas escolas musicais, principalmente porque o acesso 

ao conhecimento, que era  restrito ao mundo masculino, conduzia a mulher à  independência e à 

profissionalização. O acesso ao conhecimento musical nas instituições confessionais, portanto, não 

oferecia tanto ‘perigo’ à sociedade, e assim, deste modo, foram surgindo professoras de piano e 

pianistas  sem  uma  preocupação mais  explícita  com  o  desenvolvimento  de  habilidades  para  o 

exercício de uma profissão de musicista. O ensino do piano 

[...] embora estivesse  incluído num contexto da educação  formal, o  instrumento não  alcançava  em  nenhum  momento  valor  algum  em  termos  de profissionalização.  Era  apenas mais um  item no acervo  das  chamadas  ‘prendas domésticas’  necessárias para  se  fazer um bom  casamento  e,  assim,  exercer as funções  de  esposa  e mãe  dedicada,  papéis para os quais a  educação  feminina deveria ser orientada e bem cristalizada. (TOFFANO, 2007, p.52)  

Em  Alagoa  Grande  existia  além  da  escola  de  música  e  do  curso  de  piano  que 

funcionava dentro da  Instituição  religiosa do Rosário, outra escola de música provavelmente de 

caráter laico e particular. Freire (1998, p.31) nos traz notícias da existência dessa escola musical já 

em  1908,  onze  anos  antes  da  fundação  do  colégio.  Esta  escola  de música  de  Alagoa  Grande 

possuía  cerca de 100  alunos,  “[...] nos  tempos áureos,  cinco  em  cada mil habitantes  chegam a 

freqüentar  suas  salas  de  aula  [...]”  (MOURA,  2001,  p.  29);  fato  inusitado  para  uma  cidade 

nordestina e de interior, mas ao mesmo tempo revela o gosto e o interesse existente na sociedade 

pela formação musical do cidadão alagoa‐grandense. Segundo Freire o ensino na escola 

 

Era uma espécie de ensino rudimentar ou primário, nem por isto menos útil à vida local, visando primordialmente a formação de bandas que tivemos: a Peregrino de Carvalho e a Maciel Pinheiro, filiadas a clubes e políticas rivais, a última, fundada por Ernesto Cavalcanti.” (FREIRE, 1998, p.31).  

Como  temos  poucos  relatos  sobre  esta  escola  de música  em  Alagoa  Grande  fica  difícil 

aquilatar  como era  seu ensino e  se existia o ensino de piano nesta entidade. Podemos  apenas 

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concluir que se era uma escola primordialmente para a formação de bandas, coisa muito comum 

nas  cidades  interioranas  do  nordeste,  dificilmente  poderia  haver  o  ensino de  um  instrumento 

como o piano e provavelmente o lugar da mulher nesta escola era quase inexistente.  

Nas primeiras décadas do século XX, em Alagoa Grande, o aprendizado pianístico, de 

forma  genérica,  era  ainda  elitizado.  Já  havia,  no  entanto,  um  movimento  educativo  musical 

nacional no sentido de estender o acesso a este tipo de conhecimento. Em Alagoa Grande, porém, 

e particularmente D. Julinha, ainda se encontrava sob as convenções sociais e preceitos educativos 

descritos anteriormente que eram  impostos às mulheres de seu  tempo. Como pertencia a uma 

família influente da cidade, seu tio Felix Guerra foi um dos prefeitos de Alagoa Grande, Júlia tinha 

plenas  condições  para  desenvolver  as  habilidades  pianísticas,  pois  possuía  acesso  ao 

conhecimento  musical  formal  e  ao  instrumento  para  dedilhar.  No  educandário  do  Rosário 

aprendeu  a  arte  pianística,  o  que  era  incentivada  pela  família  a  despeito  do  senso  comum 

presente  à  época  que  tratava  tal  atividade  sem  nenhum  compromisso mais  profundo  com  a 

produção  intelectual artística. Tal  fato  a  respeito da mentalidade  incutida na  sociedade  local é 

retratado nas memórias de D. Julinha quando diz: “Fiz dois anos no curso normal, depois eu fiquei 

noiva, aí o meu avô disse: Ah! Quem vai casar não precisa (mais) estudar. (risos) aí eu deixei, não 

é?”.  E  quando  relata  o  estigma  de  solteira  e  a  destinação musical  daquelas moças  que  não 

casavam: “O piano veio para casa de meu avô, não  é? Porque minha  tia era solteira”. Contra os 

prognósticos da época, e  a despeito disso, D.  Julinha  irá  se profissionalizar e mesmo  após  seu 

casamento com Raul Onofre Nóbrega que se  realiza em 1933, D  Julia se mantém atuante como 

professora  de  piano  e  pianista.  Paulatinamente,  portanto,  novos  paradigmas  vão  sendo 

construídos  na  sociedade  paraibana  acompanhando  os  novos  rumos  impressos  pela  capital 

brasileira que passa a encontrar na profissão de professora de piano e pianista um lugar também 

destinado ao feminino.  

No educandário do Rosário, o ensino de música, segundo Júlia, acontecia numa rotina 

semanal, onde uma hora de aula eram ministradas duas vezes por semana inclusive com aulas de 

piano e teoria, às vezes essa rotina era quebrada quando por razões outras as irmãs ministravam 

aulas de piano aos sábados. As freiras ensinavam a técnica pianística, métodos como o Hanon – o 

pianista virtuose e Czerny eram aplicados, além de obras do repertório erudito. Segundo Júlia, Sor 

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Lima ensinava a iniciação ao piano e Sor Braga ministrava aulas às alunas mais adiantadas do curso 

médio e superior.  

[...]  comecei  com a  teoria  [...] a diretora do  colégio era  Julieta Braga e a minha professora de piano, a primeira, foi... a gente chamava Sor, Sor Lima, aí depois de Sor Lima, foi Sor Braga. Era Julieta Braga o nome dela, a gente chamava Sor Braga, essa era muito competente, tinha um curso no Rio de Janeiro. Na Universidade de lá, aí eu fiquei estudando até...até parece 29 ou 30 [...] fiz o ginásio lá no colégio, né?. aí  tem  no  currículo,  tem  tudinho.  Aí,  em  1930,...aí...deixei.  Fiz  o  curso no ginásio, depois o colégio foi equiparado ao curso normal, aí eu comecei a estudar no curso normal. Fiz dois anos no curso normal, depois eu fiquei noiva, aí o meu avô disse: Ah! Quem vai casar não precisa (mais) estudar. (rsrsrs) aí, eu deixei, não é? (Júlia Nóbrega).  

As  atividades no Colégio,  talvez  intuitivamente,  aconteciam de modo a  contemplar duas 

vertentes  importantes da  formação do pianista e do professor de piano. Trata‐se do campo das 

práticas  pedagógicas  vislumbradas  nos  métodos  empregados  pelas  freiras  e  na  proposta 

pedagógica de formação musical que contemplava o ensino teórico e o ensino do instrumento; e o 

campo das práticas de performance que contemplava‐se nas  freqüentes apresentações musicais 

que as freiras organizavam e que, segundo Júlia, aconteciam nos finais de cada ano. 

Há  uma  confusão  com  relação  às  datas  de  conclusão  do  curso  ginasial  de  Júlia, 

segundo  informações contidas em seu currículo ela cursa o Ginásio no colégio das Dorotéias de 

1925 até 1928. Em sua entrevista, porém, ela relata ter terminado o ginásio apenas em 1929 ou 

1930, quando então ficou parada por um tempo e recomeçou os estudos no Colégio do Rosário no 

Curso da Escola Normal onde permaneceu por dois anos. Ora, o Colégio Nossa Senhora do Rosário 

só foi equiparado em 1930 à Escola Normal do Estado1, portanto Júlia não poderia ter iniciado a 

escola normal antes desta data. Há, portanto, uma certeza ou Júlia colocou datas equivocadas em 

seu currículo, ou, o que é mais provável, permaneceu sem escola durante dois anos. 

                                                           1 O colégio foi equiparado ao D. Pedro II em seu ginásio desde 1946, e desde 1948 passou a manter em um anexo a escola primária gratuita. 

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 Figura 4: Com colegas do Colégio Nossa Senhora do Rosário em 1932, da esquerda para direita é a segunda. 

Após  a  conclusão  do  Curso  da  Escola  Normal  Júlia  se  dedica  a  ensinar  piano 

particularmente e tocar em ocasiões e festas em que era solicitada. Apresenta‐se inclusive como 

organista da Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem e sempre com a amiga Dulce Montenegro, 

professora de piano e parceira nas apresentações musicais. Dulce  também era  filha da elite de 

Alagoa  Grande,  seu  pai  o  juiz  Francisco  Peregrino  Montenegro  participou  ativamente  da 

construção do Colégio das Dorotéias. Moura (2001) em seu livro sobre a biografia do rei do ritmo, 

Jackson do Pandeiro, descreve cena em que o pandeirista trava contato pela primeira vez com o 

instrumento piano na casa dos Montenegro. 

 

Foi em um desses, na casa do juiz Francisco Peregrino Albuquerque Montenegro, que o molecote Jackson travou o primeiro contato com o instrumento. De ouvido. Vai passando pela  calçada do magistrado e escuta  sua  filha, Dulce,  treinando a escala musical:  ‘Lá,lá,lá,ri,lá,lá,lá’. Pára e  fica ouvindo por um bom  tempo. Não consegue  visualizar  o objeto  que  emite  aqueles  sons, mas  grava  o  timbre  e  a cadência do ‘bicho’. (MOURA, 2001, p.28‐29).  

Havia, portanto, em Alagoa Grande um movimento musical formal e popular, que segundo 

Moura (2001, p.29), ia se enfronhando na cidade; as moças em seus pianos, as bandas de música 

da  cidade,  os  blocos  de  carnaval,  cantadores  e  violeiros  da  tradição popular  nordestina,  além 

disto,  o  “[...]Theatro  Santa  Inez  abria  regularmente  suas  portas,  aos  de  fino  trato,  para  a 

promoção  de  saraus  regados  a  piano,  violino  e  bandolim”.  O  teatro  Santa  Inez,  símbolo  da 

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urbanização  da  cidade,  foi  inaugurado  em  02  de  janeiro  de  1905,  é  um  dos mais  antigos  da 

Paraíba, na verdade o quarto para Freire (1998, p.101), “o primeiro é o Minerva, de Areia, 1859; o 

segundo, O Santa Cecília, de Mamanguape, da primeira metade da década de 60 do século XIX, há 

muitos  anos  abandonado,  em  ruínas;  o  terceiro  é  o  Santa  Roza,  de  João  Pessoa,  1889”.  Das 

performances musicais executadas neste patrimônio cultural, D. Júlia recorda‐se propriamente de 

duas. Foram momentos importantes quando a cidade recebeu a ilustre presença dos cantores de 

ópera Gean Cavalieri e Peter Caruso, D.Julinha os  acompanhou no piano na execução de duas 

óperas, Marta e Tosca.  

 Figura 5: Teatro Santa Inez 

O  gosto  musical  alagoa‐grandense  era,  portanto,  preemido  da  diversidade,  o  que 

caracterizava a mistura ocorrida, em quase  todo  território nacional, da  cultura nativa brasileira 

com  a  cultura  formal da  tradição musical  européia, que havia  se  infiltrado  em  todo  território 

brasileiro como sinônimo de cultura  refinada. Na  família de D. Julinha, o gosto musical elitizado 

tentava  imitar  os  mais  refinados  e  polidos  trazidos  dos  principais  centros  brasileiros  e 

conseqüentemente dos europeus. Esse cuidado com a cultura musical familiar era estimulado de 

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tal  forma, que  já  na  década  de  20  sua  família possuía  um piano.  Este  foi  trazido  dos  Estados 

Unidos pelo seu tio Felix Guerra e chegou na casa de seu avô para sua tia. Este piano americano de 

excelente qualidade era compartilhado por D. Júlia:  

 

[...] O piano veio para casa de meu avô. Porque minha tia era solteira. Ele trouxe também  uma  pianola  pra  ele.  Aí,  depois  que  eu me  casei  o  piano  ficou  lá, estragou‐se, depois  foi vendido, aí o meu esposo comprou a pianola do meu tio. Que é esse piano que eu tenho aí, era uma pianola. Tá com mais de 70 anos, foi fabricado em 1920. (Júlia Nóbrega)  

 Figura 6: D. Julinha ao lado de seu piano RICCA (foto tirada pela autora) 

 

Freire (1998, p.57) nos relata que na década de 30 chegou a haver quinze pianos em 

Alagoa Grande, destes, três pertenciam ao Colégio do Rosário. Antes, porém, já no final da década 

de 20, encontramos referências escritas que indicam a presença do instrumento em Alago Grande, 

quando 

 

Félix  de  Araújo  Guerra,  ex‐prefeito  e  ex‐deputado  estadual,  foi  de  navio  à Inglaterra e lá comprou 2 motores, um para gerar energia elétrica para a cidade (o motor  Otto  Diesel  instalado  em  1920  pelo  prefeito  Heretiano  Zenaide  estava paralisado) tendo montado uma  ‘empresa de  luz’, e outro para seu curtume São José, o atual relógio da  Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem e um piano para sua residência (FREIRE, 1998, p. 57).   

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Esse piano relatado nos escritos ao que tudo indica não era o instrumento trazido para casa 

de seu avô, ou há um erro quanto às datas. Para D. Júlia o piano chega à residência de seu avô por 

volta de 1919 ou 20 aproximadamente, quer dizer, no início da década de 20 e não no final como 

nos  relata  Freire  (1998). Outro  indício  na  literatura  escrita  sobre  as  datas  aparece  em Moura 

(2001) que relata ser em  fins de 19 e começo da década de 20 onde se processaram as maiores 

obras  de modernização  da  cidade,  inclusive  a  aquisição  de  vários  pianos  pelos moradores  da 

cidade. Há uma  congruência entre  as datas  indicadas por Moura  (2001) e  as evidenciadas nas 

memórias de D. Júlia. Outro detalhe não menos importante é relatado neste trecho da entrevista: 

“[...]  foi um  tio que  trouxe o piano dos Estados Unidos, pra minha  tia.”  (Júlia Nóbrega). Trata‐se 

dos  lugares  para  onde  seu  tio  Félix  Guerra  viajava.  Em  outro  trecho  de  Freire  (1998,  p.57)  é 

relatada  uma  viagem  de  Félix  Guerra  onde  o  mesmo  comprou  o  primeiro  caminhão  ‐  um 

International Norte‐americano  ‐ do brejo paraibano, entre 1918 e 1920, provavelmente  foi em 

esta viagem que o piano foi adquirido para a família, principalmente porque a viagem posterior foi 

realizada à Inglaterra. 

 Figura 7: Prefeito e deputado estadual Félix de Araújo Guerra 

Fonte: FREIRE, 1998, p.315.  

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 Júlia relata a destinação deste piano americano, que se estragou e depois foi vendido. Já o 

outro  piano,  na  verdade,  uma  pianola,  ainda  permanece  na  família,  visto  que,  após  seu 

casamento, seu esposo Raul a comprou de seu tio e presenteou‐a com o instrumento, que depois 

de adaptado serve até hoje como um piano para seus treinos.  

Quando em 1940 Júlia Nóbrega vem residir em João Pessoa, mantém suas atividades 

de professora particular e pianista. Aqui,  adquiri especializações em  sua  área de  atuação, mas 

estas só se concretizam a partir da década de 60. Antes disto, Júlia realiza aulas de teoria e solfejo 

com o professor Gazzi de Sá2, que ao que tudo indica pelos arquivos fotográficos de D. Julinha, em 

19453  ainda morava em  João Pessoa e ministrava  cursos de música  além de  reger o Coral Villa 

Lobos, do qual fazia parte Júlia Nóbrega. Professor Gazzi de Sá foi uma personalidade musical de 

destaque na Paraíba. É de seu curso de Piano Soares de Sá, um curso particular fundado em 1929 

que funcionava em sua residência, que nasce a Escola de Música Anthenor Navarro.  

 Figura 8. Em 1945 alunos de piano e coral da Escola do professor Gazzi. Na primeira fileira sentados da esquerda para direita: a  segunda, Therezinha Guerra, quarta, mãe de Gazzi de Sá e no colo  sua  filha, ao  lado  sobrinha de Gazzi, seguindo D. Julinha e Arimar Coimbra (sentada com vestido floral) atrás ao fundo de bigode, filho de Gazzi Fonte: foto do acervo pessoal de D. Júlia cedida à autora. 

                                                           2 Gazzi de Sá nasce em 1901, estudou no Colégio Nossa Senhora das Neves e no Pio X, sua formação musical deu‐se em Salvador e no Rio de  Janeiro, quando então  teve a oportunidade de estudar piano com  renomado pianista e crítico musical Oscar Guanabarino. Em João Pessoa realizou estudos com a professora de piano alemã Maya Fauser, exímia pianista e professora do Instituto Spencer como relatado anteriormente. Pode‐se encontrar mais detalhes a respeito da vida e dos feitos deste importante professor paraibano na tese de doutorado de SILVA (200?). 

3 Pelas referências encontradas Gazzi de Sá se despede da Paraíba fixando residência no Rio de janeiro em 1947. 

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Apesar de conhecer o professor Gazzi, Júlia só passa a freqüentar a Escola de Música 

Anthenor  Navarro  anos  mais  tarde,  quando,  então,  um  amigo  a  incentiva  ao  estudo  mais 

especializado e a procurar Luzia Simões que era diretora da escola na época. É através de D. Luzia 

que Júlia inicia uma nova fase em sua trajetória como professora. Por seu incentivo e orientação 

se matricula no curso oferecido pela escola, faz uma prova de admissão, uma espécie de vestibular 

para o Curso de Canto Orfeônico que funcionava no Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba, 

situado no mesmo prédio da Escola de Música Anthenor Navarro. Passa nesta prova e é admitida 

no curso a partir do ano de 1959.  

O  curso  de  canto  orfeônico  oferecido  pelo  Conservatório  de  Canto  Orfeônico  da 

Paraíba estava moldado no mesmo formato do curso de canto orfeônico do Rio de Janeiro. Havia 

sido criado em 1952 no governo de  José Américo de Almeida através da Lei de nº 838 de 28 de 

novembro de 1952. Dentre as disciplinas oferecidas pelo curso estavam prática de regência, teoria 

musical  aplicada,  teoria  do  canto  orfeônico,  apreciação musical,  didática  do  som  e  do  ritmo, 

organologia e organografia, etnografia e pesquisas folclóricas, prosódia musical, fisiologia da voz e 

técnica  vocal.  Estas  disciplinas  visavam  dar  uma  formação  teórico‐prática  na  condução  do 

professor de  canto orfeônico, por  isto  as disciplinas  com o  canto  tinham especial destaque. D. 

Julinha conclui este curso em 1962, um ano antes do curso ser extinto.  

  

 Figura 9. Vida escolar de Júlia Nóbrega durante o ano de 1959. 

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Acerca do Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba, a primeira turma conclui o curso em 1957, chegando a  formar sete turmas. Registra‐se ainda a  formatura de  35  professores  de  Educação  Artística,  registrados  e  reconhecidos  pelo Ministério da  Educação  e  Cultura.  A  última  turma  concluiu no ano  de  1963.  A seguir  relaciono as  turmas,  indicando o ano de  conclusão:  (os alunos e  turmas foram tirados do arquivo de Eliani Bartolini) PRIMEIRA TURMA – 1957: Maria Lídia de Carvalho Atayde, Maria das mercês de Araújo Gambarra, Marne Azevedo, Neuza Nóbrega, Terezinha de Lourdes Avellar Aquino, Vilma Figueiredo Bezerril. SEGUNDA  TURMA  –  1958  –  Beatriz,  Djanira  Holanda,  Iracema  Lucena,  Irenita Bronzeado Cavalcanti, Irmã Maria Coelis, Zamir Machado Fernandes. TERCEIRA TURMA – 1959: Dalva Stella,  Ione  ferreira Marinho, Lucemar Navarro, Naide Martins R. Alvarenga. QUARTA TURMA – 1960  ‐:  Irmã Veneranda – OSF (Ordem de São Francisco),  Imã Maria de Fátima – (OSF), Eulina Maia, Glenda Jorge. QUINTA  TURMA  –  1961:  Dinalva,  Isis  ferreira Marinho  Nicolau,  Júlia  Nóbrega Guerra,  Iaci Ferreira Marinho Nicolau, Maria  Iraci Menezes, Maria Sirena Gurgel, Maurício Matos Gurgel.  SEXTA TURMA –1962 ‐ Letícia Andrade, Zuleide Fernandes. SÉTIMA TURMA – 1963  : Célia castor, Creusa Teixeira, Laurentino Silva, Osanete, Marilda Eduardo, Ridete Lemos. (SILVA, 2006, p.101)  

 Havia  uma nova  proposta educativo‐musical  que  havia  sido  implantada  por  lei  em 

1962,  o  Curso  Colegial  Artístico,  que  passa  a  ser  efetivado  somente  em  1963  e  pertencia 

institucionalmente ao Instituto Superior de Educação Musical4 preenchia os anseios de ter‐se um 

curso que preparasse para a entrada no Curso Superior de Música da Universidade.  

 

[...]  finda‐se  o Curso  de  Canto Orfeônico  em  1963  e  inicia‐se o  Curso  Colegial Artístico,  implantado  por  lei,  em  1962, mas  iniciado  apenas  em  1963.  Era  um curso  que  equivalia  a  qualquer  outro  de  segundo  grau,  como  o  científico,  o pedagógico, porém com uma diferença: preparava especificamente para o curso superior de música. Constava no currículo, além das disciplinas de música, como Teoria e  solfejo, Apreciação Musical, Canto Orfeônico, Estética e Apreciação às Artes, disciplinas comuns ao cursos regulares, a exemplo de Português, História, Geografia,  Biologia,  Inglês  e  Francês.  O  curso  permitia  que  seus  concluintes ficassem habilitados a prestar exames de vestibular dos cursos universitários e ao ingresso nos cursos superiores de música existentes no Brasil. Foi o primeiro do gênero a  funcionar em  território nacional. O  curso Colegial Artístico  funcionava nas dependências da Escola de Música Anthenor Navarro, assim como funcionou o Conservatório de Canto Orfeônico. (SILVA, 2006, p.57) 

                                                           4 A Escola de Música Anthenor Navarro é o único departamento atualmente do Instituto. 

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 D. Julinha passa a ministrar aulas de canto orfeônico nos Grupos Escolares, dois anos no 

Antonio Pessoa e aproximadamente  três anos no Thomaz Mindelo. Mas sua  formação continua 

sendo realizada a partir de cursos de aperfeiçoamento que eram oferecidos pelo estado. 

 

 Figura 10. Carteira de professora do curso de canto orfeônico. 

É  sob  a  tutela  do  estado  paraibano,  embora  as  poucas  subvenções,  que  vão  sendo 

oferecidos cursos de aperfeiçoamento de música para os professores, nesta época a Universidade 

Federal da Paraíba apenas estava iniciando suas atividades e a maioria de seu quadro docente era 

formado por parte do quadro docente da própria Escola de Música Anthenor Navarro e por alunos 

que esta instituição  formava. O estado durante grande parte de  tempo  foi  responsável, embora 

precariamente, pela formação dos professores de música que atuavam na Paraíba. Esta situação é 

invertida a partir da década de 60, especialmente a partir da gestão do  reitor Linaldo Cavalcanti 

que  investe maçiçamente na  construção  de  instalações  adequadas  ao  funcionamento de  uma 

escola de música, o que o estado nunca ousou  fazer e na  aquisição de professores e músicos 

capacitados. O investimento  realizado na área artística, com a conseqüente chegada de diversos 

professores estrangeiros à Paraíba para incrementar o quadro docente da Universidade na década 

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de 70, desloca o papel que tinha o estado para esta entidade federal, que passa até os dias atuais 

a ser o principal foco de formação dos profissionais de música na Paraíba.   

 D.  Júlia vivencia este momento de  transição em duas posições distintas. Na posição de 

aluna participando  ativamente dos  cursos oferecidos pelo Estado: Curso  Elementar de  Teoria e 

Solfejo que  foi  realizado na Escola de Música Anthenor Navarro no ano de 1964, obtendo nota 

dez; do Curso de Cultura Musical a cargo do padre  Jaime Diniz em 1962; do Curso  Intensivo de 

Apreciação Musical ministrado pelo professor Gerardo Parente em 1972; do Curso de Folclore na 

Educação,  a  Musica  do  Século  XX,  Comunicação  e  Improvisação  através  do  movimento, 

desenvolvimento  do  sentido  rítmico  realizado  no  Primeiro  Encontro  de  Educação  Artística 

promovido em 1973 pelo Instituto de Superior de Educação Musical. Este Instituto funcionava na 

mesma escola de música que a partir de 1973 passa a se chamar Instituto Superior de Educação 

Musical. Era uma tentativa dos dirigentes de se adaptarem aos novos tempos. A Escola passou a 

ter, desde então, status de escola superior do estado,  talvez uma  tentativa de se  reestabelecer 

como  instituição e não perder  seu  lugar  social, que de  certa  forma, passou a  ser ocupado pela 

Universidade Federal da Paraíba.  

E  na  posição  de  professora  atuando  como  professora  de  piano  da  Escola  de Música 

Anthenor  Navarro  e  permanecendo  na  Instituição  por  18  anos,  até  1978,  quando  então,  se 

aposenta por invalidez devido uma queda, que lhe trouxe como conseqüência o deslocamento de 

retina e a deixou sem a visão de um olho: “eu perdi essa visão eu ensinava na escola de manhã de 

tarde e de noite, tinha as vezes aula a noite também” (D. Júlia Nóbrega). Apesar disto, manteve o 

ensino particular em sua casa, onde na medida do possível, recebia algumas alunas e orientava‐as.  

 

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 Figura 11: Ficha encontrada no arquivo da EMAN que relata histórico da professora Júlia (arquivo da autora) 

Estes cursos acima descritos são recorrentes nas memórias de quase todas as professoras 

entrevistadas que se  lembram com bastante entusiasmo  referindo‐se à excelente qualidade das 

aulas ministradas aos professores de piano como parte de um programa de aperfeiçoamento do 

quadro docente que era planejado pela direção da escola. Nestas orientações aparece a figura do 

professor Gerardo Parente. 

 

 O  professor  Gerardo  Parente  chegou  em  João  Pessoa  para  ensinar  no Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba, em 1957, depois de ter vivido no Rio, de  ter ensinado na Pró‐Arte em São Paulo e de  ter  feito  várias  turnês pelo Brasil, pois  já era  conhecido  como um excelente pianista, principalmente  como um  pianista  de  música  de  câmera,  motivo  pelo  qual  era  convidado  para acompanhar artistas de todo o Brasil e do exterior quando aqui chegavam.(SILVA, 2006, p.87).  

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Esta orientação5 às professoras permitia que elas tivessem acesso às técnicas, exercícios, e 

aos processos de interpretação musical refletindo sobre o ato de tocar piano e conseqüentemente 

sobre  as  atitudes  como  performances  e  professoras.  Esta  atividade  desenvolvida  pela  Escola 

Anthenor Navarro e planejada pela professora Luzia Simões, diretora à época, tinham a finalidade 

de  aperfeiçoar  o  trabalho dos  professores  de  piano  que  atuavam  na  escola  de música,  deste 

modo,  melhorando  a  qualidade  do  ensino.  Adiante  discorrerei  sobre  estes  cursos  mais 

detalhadamente  a  fim  observar  como  se  processava  esta  forma  de  curso  de  capacitação  do 

docente de piano, talvez o primeiro deste porte realizado na Paraíba.  

 Figura 12: Júlia Nóbrega (foto de seu arquivo pessoal cedida à autora) 

 D.  Júlia  recorda especialmente do professor Gerardo Parente, pois eram em suas aulas 

que  ela  desenvolveu  uma metodologia  e disciplina  de  estudo.  Ele  estabelecia  às  alunas  horas 

regulamentadas  de  prática  do  piano,  uma  disciplina  estabelecida  como método  de  estudo  e 

desenvolvimento pianístico. Além disso, ensinava  a  técnica do piano, e passava exercícios, que 

segundo D. Julinha, todas as alunas deveriam fazer para incrementar a técnica pianística. As aulas 

eram maravilhosas e davam  suporte  às professoras para  seu desenvolvimento  como docentes,                                                            5 Muitas  vezes  essas  aulas  e  encontros  eram  realizados  na  casa  do  professor Gerardo  Parente  e  eram  feitos  na sistemática adotada em forma de aula particular, ou seja ministrados individualmente a cada professora. 

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além de estabelecer uma unidade de direcionamento  técnico, visto que  todas elas  relatam que 

ensinavam  tais estudos e  técnicas aos seus alunos. Dentre, seus  filhos quase  todos  iniciados em 

música6,  apenas  a  filha mais  nova  Vírginia  Lúcia  Zolhoff  se  especializou  na  atividade musical 

estudando com Gerardo Parente e chegando a cursar o Curso Superior de Música em Brasília.  

Do seu legado como docente D. Julinha cita João Bosco Padilha, professor e pianista, que 

atualmente  se  encontra na  Europa  como  assessor  do  grande  pianista brasileiro Nelson  Freire. 

Contestada  sobre  a  qualidade  do  ensino  em  sua  época  e  como  eram  os  procedimentos 

metodológicos de ensino de piano, D. Julinha esclarece que havia um programa que era seguido, 

inclusive um programa de  técnica e de exercícios, “era mais músicas clássicas, música brasileira 

quase a gente não estudava, era mais o clássico, era só isso...” (D. Júlia Nóbrega). Autores como 

Bach  e  seu  livro  de  Ana Magdalena  Bach  eram  muito  utilizados,  além  de  Beethoven,  Liszt, 

Schumann, Schubert, Francisco Mignone. Quanto aos métodos utilizados “do ensino primário era o 

Beyer, o pianista  virtuoso, o Beringer,  todos  esses outros, o Czerny,  era muito Czerny”.  (D.  Júlia 

Nóbrega). Além disso, havia toda uma sistemática onde cada professor preparava seus alunos para 

audições que eram marcadas em épocas determinadas. 

D. Júlia teve dez filhos, sendo que nove foram criados e, atualmente tem sete filhos, trinta 

e  seis netos,  vinte  e  seis bisnetos e um  tataraneto.  Todos de  certa  forma,  trazem  sua herança 

musical  impressa,  tocam  algum  instrumento  e  possuem  bastante  tendência  musical.    Esta 

disposição para o  fazer musical sem dúvida é uma das marcas que distinguem D.  Júlia de outras 

personalidades musicais que  fizeram história na Paraíba. Hoje,  já com quase 100 anos continua 

atuando como pianista,  tocando  todos os domingos na missa das 9 horas da manhã na Catedral 

Basílica de  João Pessoa e quando é  solicitada em  alguma ocasião especial.  E  sempre  se  sentiu 

muito valorizada e respeitada por sua profissão. 

 

[...] não nos domingos e às vezes durante a semana quando aparece assim uma missa especial, uma comemoração que alguém nos convida, tem coralzinho de lá da Basílica, aí sou eu que (rsrsrsrr) não querem me largar, gente!! Já esta na época de eu me aposentar...   Não senhora!! Eu  já vou completar 99 anos,  já tá demais (rsrsrsrsr) (D. Júlia Nóbrega). 

                                                           6 Duas ou três filhas seguiram carreira musical. 

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Referências 

 

FREIRE, José Avelar. Alagoa Grande: sua história. João Pessoa: Idéia, 1998. 

 

MOURA, Fernando. Jackson do Pandeiro: o rei do ritmo. São Paulo: Ed.34, 2001.  

SILVA, Luceni Caetano. Gazzi de Sá compondo o prelúdio da Educação Musical da Paraíba: uma história musical da Paraíba nas décadas de 30 a 50. Tese de Doutorado em Letras. UFPB, João Pessoa, 2006.  TOFFANO, Jaci. As pianistas dos anos 1920 e a geração jet‐lag – o paradoxo feminista. Brasília: Editora UnB, 2007.