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MARCIA REGINA CALEGARI Organizadora IX EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA/I SEMANA INTEGRADA DE GRADUAÇÃO E PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON ANAIS 1ª. Edição Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná. 2015

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MARCIA REGINA CALEGARI

Organizadora

IX EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA/I SEMANA INTEGRADA DE GRADUAÇÃO E PÓS GRADUAÇÃO EM

GEOGRAFIA DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

ANAIS

1ª. Edição

Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

2015

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MARCIA REGINA CALEGARI Organizadora

IX EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA/I SEMANA INTEGRADA DE GRADUAÇÃO E PÓS GRADUAÇÃO EM

GEOGRAFIA DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

ANAIS

1ª. Edição

Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

2015

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FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon – PR., Brasil)

Expedição Geográfica (9.: 2015: Marechal Cândido Rondon) S471a Anais [da] IX Expedição Geográfica da Unioeste e I Semana Integrada de Graduação e Pós

Graduação em Geografia de Marechal Cândido Rondon / organização de Marcia Regina Calegari – Marechal Cândido Rondon : Unioeste - Campus de Marechal Cândido Rondon, 2015.

181 p. ISBN 978-85-68205-07-5 1. Geografia política. 2. Meio ambiente. I. Calegari, Marcia Regina, org. II. Título.

CDD – 22.ed.910 320.12

304.2 CIP-NBR 12899

Ficha catalográfica elaborada por Marcia Elisa Sbaraini-Leitzke CRB-9ª/539

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REALIZAÇÃO

APOIO

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APRESENTAÇÃO

IX Expedição Geográfica/I Semana Integrada de Graduação e Pós Graduação em Geografia de Marechal Cândido Rondon

Histórico

Desde o momento em que o curso de graduação em Geografia teve início, em 1997, mantém-se a periodicidade desse evento de caráter bianual que tem como objetivo reunir as pessoas que possuem algum vínculo (motivado pela pesquisa ou pelo ensino) com a ciência geográfica e permite a reflexão qualificada e a apresentação de propostas que influenciam na revisão e condução do próprio perfil do curso.

Com a aprovação do curso de Mestrado em Geografia no Campus de Marechal Cândido Rondon, em 2011, a organização da Semana Acadêmica passou a contar com um trabalho integrado entre a graduação e a pós-graduação em Geografia para a realização do evento. Para este ano de 2015, o tema norteador para a atividade será: "Geografia Política e Ambiente".

A escolha do tema foi motivada pela percepção da necessidade de reservar um momento para o debate e reflexão sobre questões de interesse direto a Geografia Política e ao Ambiente, que envolvem discussões atuais sobre justiça espacial e políticas públicas sociais, dentre outros problemas na escala nacional e internacional. Nesse sentido, a geografia política contribui para refletir sobre o espaço geográfico e as ações políticas nele empreendidas visando compreender o conjunto dos fenômenos que ressurgem da organização e da gestão e regulação coletiva da sociedade.

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PROGRAMAÇÃO 26 de outubro (2ª feira) 18h00 - 19h20 - Credenciamento 19h20 - Solenidade de Abertura e Apresentação Cultural 20h20 - Conferência: Prof. Dra. Iná de Castro (UFRJ)- Geografia política e ambiente. Local: Tribunal do Júri 27 de outubro (3ª feira) 14h – 17 h - Minicursos (3 h) Minicurso 1: Cinema e geografia: perspectiva de um debate Minicurso 2: Dificuldades de aprendizagem Minicurso 3: Sistemas de Informação Geográfica aplicadas a Geografia 19h15 - Mesa-Redonda: Espaço, política e ambiente Mesa-Redonda: Espaço, política e ambiente. Prof. Dr. Edson dos Santos Dias (Unioeste/ campus M. C. Rondon) Prof. Dra. Gislene dos Santos (UFR) Prof. Dr. Dilermando Cattaneo (UFFS) Local: Tribunal do Júri 28 de outubro (4ª feira) Atividade de campo (13:30 às 17:00 horas) 29 de outubro (5ª feira) 14 h – 17 h - Minicursos (3 h)

Minicurso 4: Pintura em azulejo como recurso didático para a compreensão dos conceitos geográficos

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Minicurso 5: Fusos-horários Minicurso 6: Geografia da Saúde: possibilidades de estudo 19h 15 - Apresentação de trabalhos na forma oral e pôster. Local: 4º piso – salas de aula do curso de geografia e corredor

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COMISSÕES

Comissão Coordenadora Maristela Ferrari (Coordenação Geral)

Ericson H. Hayakawa Fábio de Oliveira Neves Marcia Regina Calegari

Comissão Científica Edson dos S. Dias

Ericson H. Hayakawa Fábio de Oliveira Neves Marcia Regina Calegari Vanda Moreira Martins

Comissão de Divulgação Djoni Ross

Greicy J. Tiz Oscar V. Q. Fernandez Tarcísio Vanderlinde

Comissão de Avaliação Djoni Ross

Edson dos Santos Dias Greicy J. Tiz

Karin L. Hornes Leila Limberger

Luana C. K. Polon Marcia Regina Calegari

Maristela Ferrari Marli T. Schlosser

Mateus Pires Tarcísio Vanderlinde

Terezinha Lindino Vanda Moreira Martins

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Comissão Infra-Estrutura Professores

Marli T. Schlosser Mateus M. Pires

Acadêmicos

Acioni da Silva Koelzer

Ana Paula Kammer Andrews Nataniel Raber

Daiane Souza Erci Zimmer Mohr

Fabiane Müller Gabriel Rodrigues Capponi Helder Brandorfe Ferreira

Jennifer Paola Vicini Jéssica Aparecida de Ávila Follmann

Jéssica Aparecida Sommavila Lucas Pagliari Brustolin

Luiz Paulo da Silva Marilene Francieli Wilhelm

Vanderson Rafael Muller Dapper

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SUMÁRIO

ENSINO DE GEOGRAFIA .............................................................................. 10

RESUMOS SIMPLES ...................................................................................... 11

Táticas de manipulação e formação para o capital nas escolas municipais de Marechal Cândido Rondon: faceta dissimulada do capitalismo na atualidade .......................................................................................12

O conceito de Natureza, e as ações do PIBID no ensino da ciência geográfica .........................................14

A educação geográfica no ensino fundamental II: Uma análise da metodologia do ensino utilizada em um Colégio Estadual no município de Toledo – Paraná ...................................................................................16

Teatro de Fantoche: A partir do conceito de Território ...............................................................................18

RESUMOS COMPLETOS ............................................................................... 20

Geografia e Práticas Pedagógicas ............................................................................................................21

O Uso de Geotecnologias no Ensino de Geografia ....................................................................................27

GEOGRAFIA HUMANA .................................................................................. 32

RESUMOS SIMPLES ...................................................................................... 33

A Luta camponesa e construção da Educação do campo nos assentamentos e acampamento de Rio Bonito do Iguaçu – PR ..............................................................................................................................34

Redes da migração paraguaia no bairro Bubas na cidade de Foz do Iguaçu/PR .......................................36

Reflexões preliminares sobre o conceito de identidade territorial em Geografia: uma análise teórico-conceitual .................................................................................................................................................38

Territórios da Infância: A Leitura Literária na Educação Básica .................................................................40

RESUMOS COMPLETOS ............................................................................... 42

Mercado e Religião: Presença Muçulmana Árabe na fronteira - O caso da cidade de Guaíra-PR.(1)...........43

A Luta dos indígenas pelo território no município de Guaíra-PR ................................................................48

A patologia da AIDS na Faixa de Fronteira: algumas considerações .........................................................52

O impacto do cheque do leite no comércio regional dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu - PR ........56

Valorização de Resíduos Sólidos e as Parcerias entre o Poder Público e os Catadores em Cidades Pequenas: Assis Chateaubriand e Palotina-PR .........................................................................................60

Os conflitos no campo da mesorregião Oeste paranaense no contexto da questão agrária brasileira ........64

Reciclagem e envolvimento da população: apoio e reações aos equipamentos de entrega voluntária em Toledo - PR ..............................................................................................................................................68

Condicionantes da predominância da infraestrutura de transportes rodoviários no território brasileiro........72

Águas transfronteiriças entre Brasil e Paraguai e implantação do subprograma gestão por bacias, do Programa Cultivando Água Boa-Itaipu ......................................................................................................85

A percepção como possibilidade para estudos na fronteira Oeste do Paraná ............................................89

Políticas públicas e justiça espacial: Reflexões teórico-conceituais .........................................................101

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GEOGRAFIA FÍSICA .................................................................................... 105

RESUMOS SIMPLES .................................................................................... 106

Relação entre o Código Florestal de 1965 e as mudanças na distribuição da vegetação na Bacia do Rio São Francisco .........................................................................................................................................107

Assinatura fitolítica em serrapilheira e horizonte superficial do solo sob a Floresta Ombrófila Densa – Linhares (es): Subsídios para estudos paleogeográficos .........................................................................110

Coleção de referência de fitólitos da vegetação da ESEC Mata Preta, Abelardo Luz (SC) (1). ...................112

Estudo espacial da Hanseníase no município de Cascavel (PR) .............................................................114

Mapeamento de áreas de risco no município de Marechal Cândido Rondon - Paraná .............................116

Projetos de recuperação ambiental na pedreira Drisner, Maripá ..............................................................118

Proposta metodológica para a análise da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Cascavel – Paraná ...............................................................................................................................................................121

Sucessão Ecológica do Parque Ecológico Rodolfo Rieger em Marechal Candido Rondon.......................123

RESUMOS COMPLETOS ............................................................................. 125

A evolução da ciência geográfica e o estudo da paisagem: subsídios ao zoneamento socioambiental ....126

Aplicabilidade do Código Florestal em APPs fluviais urbanas: estudo na cidade de Marechal Cândido Rondon ...................................................................................................................................................132

Caracterização geoambiental na bacia hidrográfica dos córregos Pedra e Três Ranchos, município de São José das Palmeiras – PR. .......................................................................................................................139

Correlação linear entre conjuntos de dados de chuva para a Amazônia Brasileira ...................................144

Estudo espacial da Hanseníase no município de Cascavel (PR) .............................................................148

Fragilidade potencial na bacia hidrográfica do Rio Alegria – Medianeira/PR ............................................150

Identificação e discriminação de ecossistemas de Floresta e Cerrado do Brasil a partir das assembleias e índices fitolíticos para o entendimento da história da vegetação e da gênese de solos ............................155

O uso dos solos e a Legislação Ambiental nas bacias dos córregos Borboleta e Matilde Cuê..................161

Os solos e a declividade na Bacia do Paraná III ......................................................................................166

Reflexões sobre o Parque Nacional do Iguaçu e a Pressão antrópica sobre a Unidade de Conservação .170

Formação de Tornados . ..........................................................................................................................177

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ENSINO DE GEOGRAFIA

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RESUMOS SIMPLES

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Táticas de manipulação e formação para o capital nas escolas

municipais de Marechal Cândido Rondon: faceta dissimulada do capitalismo na atualidade(1)

Salete Alves Baltazar(2); Erci Zimmer Mohr(3); Marli Terezinha Szumilo Schlosser(4) (1) Trabalho executado com base na monografia “Consensos e dissensos do Projeto Escola no Campo: educação para o capital, em Marechal Cândido Rondon-PR 2005-2014” e da monografia em andamento “Educação cooperativista; uma educação para o capital, nas escolas municipais no município de Marechal Cândido Rondon (2006-2015)”. (2) Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Endereço eletrônico: [email protected] (3) Acadêmica do curso de Geografia - Unioeste, bolsista do Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID). Endereço eletrônico: [email protected] (4).Docente do curso de Geografia/UNIOESTE/MCR – Coordenadora do subprojeto: “O ensino de Geografia: da teoria à prática”, do PIBID 2014/2017. Membro do ENGEO – Grupo de Pesquisa em Ensino e Práticas de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; Endereço eletrônico: [email protected] RESUMO: O presente trabalho refere-se a problemática do desenvolvimento de “Projetos Sociais” nas escolas municipais do município de Marechal Cândido Rondon. Essa prática tem sido verificada e encarada como táticas de manipulação e formação para o capital, sendo as agroindústrias responsáveis pela disseminação de ideologias, com objetivo de atrair mão de obra e consumidores para seus produtos. As escolas rondonenses incorporam em seus planejamentos dois projetos: Escola no Campo administrado pela empresa Agrícola Horizonte em parceria com a Syngenta, e o segundo está vinculado a Cooperativa Agrícola Mista Rondon Ltda (COPAGRIL), intitulado Cooperjovem. Ambos os projetos alicerçam-se nas escolas por meio de atividades didáticas com conteúdos contemporâneos que estão diretamente relacionados ao cotidiano dos alunos, os quais são abordados e representados através de desenhos expostos nas cartilhas distribuídas. Nesse sentido, a escola torna-se o sustentáculo para a implantação e propagação dos ideais capitalista na sociedade, onde o ensino-aprendizagem esta afetado e direcionado aos comandos ditados pela ordem estabelecida. Nesse sentido, Amador (2002, p. 67) afirma que “a educação na sociedade capitalista brasileira, é carregada de conteúdo ideológico que justifica seu funcionamento como sociedade de classe, onde as relações são de dominação”. Nem mesmo a educação foge das táticas no sentido de manutenção da ideologia, em atender os interesses do grupo dominante. PALAVRAS-CHAVE: projetos sociais; educação para o capital; escola.

INTRODUÇÃO

Na sociedade atual, há necessidade de despolitizar essa educação capitalista que esta sendo imposta nas escolas. Perante essa lógica há o descomprometimento com a educação na escola pública, onde a formação não esta evidenciada em formar cidadãos, mas sim, para preparar/qualificar pessoas para o mercado de trabalho. Conforme SKRZYPCZAK (2013, p. 85) “Para o capital a qualificação esta subordinada ao mercado [...]”, logo, se pode entender, que a mercantilização sob todas as formas aflige diretamente as instituições de ensino.

A atuação estratégica das agroindústrias tem sido frequente nas escolas públicas brasileiras, as quais se inserem por meio de “projetos sociais”. Essa mobilização de início é estabelecida para demonstrar as boas ações da empresa pela comunidade, no entanto, escondem a perversidade e os benefícios almejados por essas corporações. As vantagens usufruídas estão atreladas a imagem de entidade cidadã e também pela facilidade em atrair futuros colaboradores iludidos com as propagandas e marketing realizados.

Nesse contexto, pode-se dizer que a educação enquanto processo histórico tem construído ideais liberais, no que tange as relações sociais e políticas do Estado. Entretanto, é perceptível, numa sociedade moderna como a nossa, a transmissão de ideologias entre a prática educacional e a legislação nas instituições educacionais. Conforme Gentili (2005, p.244) “O neoliberalismo ataca a escola pública a partir de uma série de estratégias privatizantes, mediante a aplicação de uma política de descentralização

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autoritária e, ao mesmo tempo, mediante uma política de reforma cultural [...]”. A partir dessa perspectiva, busca-se analisar e compreender como ocorre a formação para o capital, para então estudar e desenvolver maneiras de reverter essa instrução. Outra proposta de estudo volta-se para a desconstrução dos discursos proferidos pela Agrícola Horizonte e Copagril em seus respectivos projetos, tendo o intuito de desmistificar falsas ideologias repassadas aos alunos. Vale ressaltar, que para abarcar essa totalidade há a necessidade de pesquisar realidades de ensino distintas, como a escola do campo e da cidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a efetivação das pesquisas foi inicialmente realizado o levantamento de bibliografias relacionadas a temática, dentre livros, artigos, teses, dissertações, fontes jornalísticas, e sites. A segunda etapa procedeu-se com a coleta de materiais didáticos (cartilhas) fornecidos aos alunos, conseguidos na empresa, onde foram solicitados pelas pesquisadoras junto ao responsável pelo projeto.

Posteriormente, foram elaborados questionários para serem entregues aos professores dos 5°anos, as perguntas surgiram através da análise do material didático e de indagações pertinentes ao tema. Os docentes tiveram a liberdade de expressar sua opinião á respeito do projeto, bem como seu ponto de vista.

Tendo o objetivo de desenvolver análise comparativa entre a escola do campo e da cidade, foram selecionadas quatro escolas municipais. Essa contraposição possibilitaria verificar em qual realidade ocorre maior impacto provocado pelo projeto.

Após o cumprimento das etapas, foi executado o estudo analítico das respostas obtidas nos questionários e no material didático. Para analisar as respostas, utilizou-se de autores relacionados a discussão que contribuíram na veracidade dos fatos, bem como no estudo investigativo da cartilha.

RESULTADOS

A partir da análise realizada durante a pesquisa pode-se constatar a presença das agroindústrias na escola, bem como o desenvolvimento de seus projetos. Nesse sentido, confirmou-se que as instituições de ensino são utilizadas como meio para divulgação e propaganda das empresas, e principalmente como local ideal para inserirem ideologias capitalistas.

O ensino desenvolvido nas escolas participantes da pesquisa pode estar a reproduzir conteúdos atrelados aos interesses do capital, no qual a natureza é usufruída como meio de extração/geração de riquezas, como é o caso da agricultura; e a ação cooperativista é vista como propulsora na obtenção de lucros, utilizada em benefício de algumas pessoas. Percebe-se que a intervenção do capitalismo sob a sociedade ocorre de forma oculta, seus atos são articulados e manipulados para convencer que a prática instituída é a ideal a ser vivida. Nesse contexto, a Geografia coloca-se como disciplina importante para combater essa educação capitalizada, e o professor o agente capaz de estimular a criticidade dos alunos, portanto “[...] cabe ao professor e à própria instituição educacional permitir que o educando se desenvolva plenamente” (ARAÚJO JR, 2014, p. 152). Vale salientar, que o envolvimento do professor em sala de aula é fundamental para “romper” com as perversidades do capital, onde o diálogo, questionamento e análise são as ferramentas para a construção do conhecimento.

REFERÊNCIAS

AMADOR, Milton Cleber Pereira. Ideologia e Legislação Educacional no Brasil (1946-1996). Contestado - UnC,2002. 144, p.

ARAUJO Jr., Aloysio Marthins de. O ensino de Geografia e as novas demandas do capital. In: GIORDANI, Ana Claudia et. al (Orgs.). Aprender a ensinar geografia: a vivência como metodologia. Porto Alegre, RS: Evangraf, 2014.

GENTILI, Pablo. Adeus à escola pública. A desordem neoliberal, a violência do mercado eo destino da educação das maiorias. In: GENTILI, Pablo. Pedagogia da Exclusão: crítica aoneoliberalismo em educação. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 228-252.

SKRZYPCZAK, Valdir. A educação/qualificação dos trabalhadores do campo e da cidade na lógica do capital agroindustrial, na cidade de Xaxim (SC). 2013. 148 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Francisco Beltrão, 2013. Disponível em: <http://tede.unioeste.br/tede/tde_ busca/arquivo.php?codArquivo=1251>. Acesso em: 15 mar. 2014.

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O conceito de Natureza, e as ações do PIBID no ensino da

ciência geográfica (1).

Vanderson Rafael Muller Dapper(2); Ana Paula Kammer(3); Claudiane Miriam Wall Packer(4) ;Marli Terezinha Szumilo Schlosser(5);

(1) Trabalho executado com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). (2) Graduando do 1º ano do curso de Geografia e bolsista de Iniciação à Docência, por meio do subprojeto “O ensino de Geografia: da teoria à prática”. Integrante do Laboratório de Pesquisa LEG – Laboratório de Ensino de Geografia e Linha/Grupo de Pesquisa ENGEO – Ensino e Práticas de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; ([email protected]) ; (3) Graduanda do 1º ano do curso de Geografia e bolsista de Iniciação à Docência, por meio do subprojeto “O ensino de Geografia: da teoria à prática”. Integrante do Laboratório de Pesquisa LEG – Laboratório de Ensino de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; ([email protected]) ; (4) Docente da Rede Estadual de Ensino e colaborada do subprojeto: “O ensino de Geografia: da teoria à prática”. Integrante do Laboratório de Pesquisa LEG – Laboratório de Ensino de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; ([email protected]) ; (5) Coordenadora do subprojeto: “O ensino de Geografia: da teoria à prática”, do PIBID 2014/2017. Doutora em Geografia, professora do curso de Geografia e Mestrado em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE - Campus de Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão/PR. Integrante do Laboratório de Pesquisa LEG – Laboratório de Ensino de Geografia e Linha/Grupo de Pesquisa ENGEO – Ensino e Práticas de Geografia; ([email protected]); RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar atividade desenvolvida por bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, por meio do subprojeto “O ensino de Geografia: da teoria à prática”. No decorrer do ano de 2015 vem-se trabalhando os conceitos geográficos, com intuito de fortalecer e aperfeiçoar o conhecimento dos acadêmicos com relação aos conceitos-chaves da Geografia. Por diversas razões, entre elas a falta do domínio dos mesmos. A atividade em questão tratou do conceito de “Natureza”, trabalhada por meio da análise de um artigo relacionado com o conceito e sua presença no livro didático das escolas participantes do subprojeto. A prática-pedagógica baseou-se no jogo “Imagem e Ação” voltada para a Geografia e relacionada com a Natureza. Palavras-chave: Educação, Geografia, Prática-pedagógica.

INTRODUÇÃO

O conceito de Natureza é de suma

importância dentro do conjunto dos temas que se ensina, e do próprio conhecimento geográfico, assim como os demais conceitos-chaves da Geografia - região,

paisagem, lugar, território, etc. -. Afinal constitui o espaço e a sociedade e se encontra ligado ao meio ambiente (Springer, 2010). Conceituá-lo não é tarefa fácil, pois não existe uma única definição para Natureza, o conceito varia de acordo com o tempo e os grupos sociais, ganhando vários sentidos.

No livro didático o conceito acaba ficando em segundo plano, sendo referenciado junto a outros conceitos e temas – paisagem, agricultura, meio ambiente, etc. - de forma fragmentada, não apresentando uma definição concreta. Cabendo ao professor a tarefa de conceitua-lo por conta própria. Tendo em vista, é preciso pensar em alternativas para o entendimento dos acadêmicos e das formas de ensiná-lo.

O conceito de Natureza foi discutido no seminário do PIBID, através do artigo “A concepção de natureza na Geografia e a relação com a Educação Ambiental” da professora Dra. Marcileia Oliveira Bispo, que debate o conceito ao longo da história. Como o conceito acaba não sendo evidenciado no livro didático, foi trazido como proposta o desafio do professor em conceitua-lo junto à Geografia Física no conteúdo do 6º ano do Ensino Fundamental. Diante disto foi estudado o

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texto “Como explicar o inexplicável” de Maria Cristina Zeballos de Sisto, buscou-se a reflexão da forma como o homem transforma a natureza e sua relação com o meio ambiente.

A atividade prática-pedagógica pensada para ensinar este conceito foi baseada no jogo “Imagem-Ação” da GROW, proporcionando descontração e raciocínio lógico entre os integrantes com objetivo demonstrar o conceito de Natureza através do jogo. De acordo com Souza & Yooko (2013, p.1):

[...] por meio da utilização dos jogos no processo de ensino, a atividade pode tornar-se mais interessante, atraindo o aluno e provocando no indivíduo o desenvolvimento, diversificando modos e habilidades que visam compor o processo de aprendizagem.

A proposta surgiu a partir da crítica do professor supervisor do PIBID de Geografia. Segundo, o mesmo os estagiários acabam realizando seus estágios sem o conhecimento e o domínio dos conceitos-chaves da Geografia. Desta forma, o objetivo é fazer com que os bolsistas pensem os conceitos teoricamente por meio de materiais acadêmicos de autores que trabalham com o conceito. Posteriormente relacioná-los articulando através de práticas-pedagógicas e do livro didático.

MATERIAL E MÉTODOS

A prática-pedagógica consistiu no jogo “Imagem e Ação” voltado para a Geografia, principalmente ao conceito de Natureza. Foram utilizados assuntos relacionados a mesma. Por meio de palavras sorteadas os integrantes deveriam transmiti-las através de expressões corporais ou desenhos no tempo 60 segundos.

O tabuleiro (conforme figura 1) acompanhado pelo dado servia para indicar a quantidade de casas a se deslocar e a quem iria se destinar a rodada, já que estavam divididos em grupos. Cada acerto permitia uma jogada. Vencia o jogo quem terminasse primeiro o percurso.

Além de estimar a criatividade e o raciocínio lógico, o jogo serviu para a fixação do conceito de Natureza de forma

lúdica e prática.

Figura 1: Tabuleiro de imagem-ação utilizado na prática-pedagógica do conceito de Natureza. Fonte: PIBID – GEOGRAFIA, MARECHAL CÂNDIDO RONDON, 20/08/2015.

REFERÊNCIAS ALFAYA, R. V. S.; ALMEIDA, F. A. S.; SOUZA, B. T. O jogo “química com ação e imagem” para o ensino de materiais e vidrarias de laboratório. In: 35ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2012, Águas de Lindoia. 35a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química, 2012. v. único.

BISPO, M. O. A concepção de natureza na Geografia e a relação com a Educação Ambiental. NUPEAT–IESA–UFG, v.2, n.1, jan./jun./2012, p.41–55.

SOUZA, I. F.; YOKOO, S. C. Jogo lúdico no ensino de Geografia. In: VIII EPCT Encontro de produção cientifica e tecnológica, 2013, Campo Mourão. Anais eletrônicos... O método científico. Campo Mourão: Fecilcam, 2013.

SPRINGER, K. S. A concepção de Natureza na Geografia. Mercator, Fortaleza, v. 09, p. 159-170, 2010.

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A educação geográfica no ensino fundamental II: Uma análise da

metodologia do ensino utilizada em um Colégio Estadual no município de Toledo – Paraná.

Bruno Vinicius Noquelli Lombardi (1).

(1)Mestrando em Economia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, Paraná e Acadêmico de Geografia – Licenciatura pela Universidade Norte do Paraná, Londrina, Paraná. [email protected].

RESUMO: Desenvolvida para identificar como ocorre o ensino da Geografia em um colégio estadual no município de Toledo – Paraná, no intuito de verificar se as metodologias de ensino usadas são/estão adequadas ao melhor aprendizado do aluno. A coleta de dados foi realizada por meio de pesquisa de campo, através de observação em sala de aula. Verifica-se que a referida instituição de ensino utiliza diferentes metodologias de ensino, que contribuem para um bom aprendizado do aluno, no entanto, algumas delas (metodologias) não são trabalhadas na instituição e se fossem, poderiam contribuir ainda mais para o aprendizado dos educandos. O mesmo ocorre com os trabalhos de campo, que praticamente não são realizados no colégio, o que é prejudicial aos alunos e até mesmo aos professores, uma vez que esta metodologia contribui de forma significativa para o ensino-aprendizagem da instituição. Palavras-chave: Metodologia de ensino; Colégio; Geografia

INTRODUÇÃO Estudo realizado para refletir acerca da

metodologia utilizada na disciplina de Geografia em um colégio público. Segundo Manfradi (1993), metodologia do ensino seria o estudo das diferentes trajetórias planejadas e vivenciadas pelos educadores para orientar e/ou direcionar o processo de ensino-aprendizagem em função de determinados objetivos ou fins educativos.

Estudar a metodologia usada em sala de aula mostra-se benéfico tanto para os alunos quanto para os professores. Para os educadores, a contribuição será no âmbito profissional, enquanto que para os estudantes mostra-se importante no sentido de averiguar se estas metodologias estão realmente colaborando para o seu efetivo aprendizado.

Esse estudo justifica-se devido à importância de se conhecer a metodologia de ensino aplicada em uma instituição, uma vez que dependendo da metodologia utilizada pela escola e/ou pelo professor, facilita ou dificulta à compreensão do conteúdo por parte do aluno. Uma vez, que cada aluno possui uma forma particular de assimilar

com maior facilidade o que está sendo ensinado pelo professor.

Segundo Aurili (2013), durante décadas, acreditava-se que a inteligência humana poderia ser medida de acordo com os resultados de teste de QI, mas, atualmente, torna-se perceptível que esses exames avaliam, principalmente, a capacidade de raciocínio lógico dos indivíduos.

Sendo assim, (segundo Gardner) nos dias de hoje, a capacidade intelectual das pessoas não deve ser medida somente pela facilidade que esta possui em raciocínio lógico, já que existem diversas disciplinas e cada um pode ter maior facilidade em uma ou algumas delas. Neste sentido, Howard Gardner afirma que existem oito tipos de inteligência, sendo elas a lógico-matemática, a linguística, a espacial, a físico-cinestésica, a inter e intrapessoal, a música, a natural e a existencial (AURILI, 2013).

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa se caracteriza como de campo e

pode ser considerada qualitativa, uma vez que se observa de que maneira acontece o ensino da Geografia em um colégio estadual do município de Toledo, na região oeste do Paraná. O artigo foi desenvolvido também, por meio de pesquisa bibliográfica, enquanto que a exposição dos resultados foi realizada por intermédio da observação feita na instituição.

A coleta de dados foi realizada através de pesquisa de campo, por meio de observação em sala de aula.

RESULTADOS

Nessa instituição, as metodologias de ensino

utilizadas eram diversificadas, sendo elas: leitura do livro didático, realização de atividades (como caça-palavras, jogo da forca, entre outras), análise de mapas, observação de filmes relacionados à matéria. Era perceptível o interesse da professora em abordar os temas de várias formas, assim como, a mesma demonstrou-se bastante dinâmica e empenhada.

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Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs

(1998) indicam que as metodologias de ensino devem favorecer as capacidades e o desenvolvimento da autonomia do aluno, assim como do sentimento de segurança em relação às suas próprias capacidades, se envolvendo num trabalho de equipe, para que consiga atuar em níveis de comunicação avançados e diferenciados.

No entanto, existem alguns recursos que poderiam ser utilizados no colégio para contribuir ainda mais para o aprendizado do aluno e não foram devido ao alto custo que estes possuem, como por exemplo, GPS, bússolas, softwares geográficos (I3Geo, VisualSIG), entre outros. Porém, Belloni (2002) acredita que a inserção dessas tecnologias na educação deve ocorrer (são imprescindíveis), uma vez que estas tecnológicas estão presentes em todos os âmbitos da vida social.

O mesmo ocorreu com as saídas de campo, pois não se mostraram presentes, devido à dificuldade de logística e do custo do transporte. No entanto, Justen e Carneiro (2009) dizem que a presença do trabalho de campo na escola é de suma importância, uma vez que auxilia o processo de ensino-aprendizagem, proporcionando ao educando um reconhecimento e compreensão da realidade que o envolve, para que posteriormente consiga analisar de forma crítica as relações estabelecidas nesse espaço.

Identificou-se também a falta de um multimídia por sala, não sendo possível a projeção de matérias complementares (que poderiam dinamizar ainda mais as aulas) por meio de um computador, entre outros, havendo somente as TVs pendrive.

REFERÊNCIAS

AURILI, A. Howard Gardner, o pai da Teoria das Inteligências Múltiplas. Instituto Claro, 12 set. 2013. Disponível em: <http://www.institutoclaro.org.br/empauta/pensadores-tecnologia-educacao-howard-gardner-teoria-inteligencias-multiplas-ensino-adaptativo/>. Acesso em: 10 ago. 2015.

BELLONI, M. L. Ensaio sobre a educação a distância no Brasil. Revista Educação e Sociedade (versão on-line). v. 23, n. 78. Campinas, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302002000200008>. Acesso em: 24 set. 2015.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2015.

FIGUEIREDO, L. M. de S.; ALBUQUERQUE, R. A. F. Investigando as práticas pedagógicas de ensino-aprendizagem, método e didática nos cursos de graduação. Cuiabá, 2010. Disponível em:<http://www.ice.edu.br/TNX/storage/webdisco/2010/04/15/outros/9535005856d3ff98a1b09a20fc968022.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2015.

JUSTEN, R.; CARNEIRO, C. D. R. Importância dos trabalhos campo na disciplina Geografia: Um olhar sobre a prática escolar em Ponta Grossa (PR). Artigo publicado no 10º Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia – ENPEG. Porto Alegre, 2009. Disponível em: <http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT4/tc4%20(64). pdf>. Acesso em: 24 set. 2015.

MANFREDI, S. M. Metodologia do ensino: diferentes concepções. 1993.

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Teatro de Fantoche: A partir do conceito de Território(1)

Jennifer Paola Vicini(2);

Erci Zimmer Mohr(3); Marli Terezinha Szumilo Schlosser(4);

(1) Trabalho executado com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). (2) Acadêmica do 3º ano do curso de Geografia e bolsista de Iniciação à Docência; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]; (3)Acadêmica do 4º ano do curso de Geografia e bolsista de Iniciação à Docência; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]. (4) Doutora em Geografia, professora do curso de Geografia e Mestrado em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE - Campus de Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão/PR. Integrante do Laboratório de Pesquisa LEG – Laboratório de Ensino de Geografia e Linha/Grupo de Pesquisa ENGEO – Ensino e Práticas de Geografia, número do grupo 34953/2011, cadastrado junto à Unioeste [email protected] RESUMO: O presente resumo foi elaborado a partir de uma prática pedagógica desenvolvida pelos acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia, bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID. Nessa perspectiva, foi desenvolvida por meio do subprojeto intitulado: “O ensino de Geografia: da teoria à prática”, que está vinculado ao LEG (Laboratório Ensino de Geografia).Percebendo-se a dificuldades em definir conceitos geográficos foi sugerido pelo professor supervisor Guilherme Felipe Kotz, aperfeiçoar os mesmos; pelo fato de compreender que estagiários e mesmos os bolsistas, estão com dificuldades para trabalhar os conceitos. Neste sentido se propôs buscar conhecimentos além do que há no livro didático, avançar as pesquisas e consequentemente abranger conceitos; partindo para outros livros, artigos e textos acadêmicos. Entre os conceitos sugeridos, se destaca no resumo o conceito de território, foi apresentado por meio de seminário pelas bolsistas Jennifer Paola Vicini e Erci Mohr, no dia 17/07/2015. O texto utilizado como referência foi ‘O território em tempos de globalização’ cujos autores são Rogério Haesbaert e Ester Limonad. Primeiramente foi debatido o texto, com um debatedor que é indicado entre os demais pibidianos, com a função de nortear a discusão em torno do tema. Posteriormente foi realizada a atividade prática, como proposta de atividade para efetivar-se nas escolas aderidas ao projeto PIBID; para os fins de ser algo lúdico e cativantes, e que fortaleça o conteúdo. Para essa abordagem, a sugestão da teoria à prática foi um teatro de fantoches, desenvolvido para trabalhar o conceito território. Palavras-chave: PIBID, Território, conceito, lúdico, Ensino.

INTRODUÇÃO

Múltiplos são os conceitos utilizados pela

Geografia; apresentados de maneira científica aos alunos, que permitem compreender o espaço e suas inter-relações. Nesse sentido, abordar a linguagem conceitual torna-se uma oportunidade para ampliar as varias áreas do conhecimento e as diferentes concepções do mundo e do cotidiano do aluno. Os acadêmicos membros do projeto reúnem-se semanalmente para discutir textos de autores vinculados ao Ensino de Geografia, que são a base para as atividades preparadas e posteriormente desenvolvidas nas escolas. Nesse sentido, o PIBID contribui para a formação inicial do futuro docente, e na troca de experiências entre acadêmicos e professores que aderem ao projeto. Nesse contexto, é a partir dos conceitos que se estabelecem as habilidades da ciência geográfica em determinado contexto. Para Paganelli (2002, p.149) “[...] segundo alguns geógrafos, como espaço, lugar, território, região e paisagem, permitem, de certa maneira, reconstituir as discussões sobre a história da Geografia brasileira nas últimas décadas”.

OBJETIVOS

Com objetivo em debater os conceitos - chaves da geografia, além de propor metodologias diferenciadas no dia-dia em sala de aula, para proporcionar possibilidades de aprendizagem para que ocorra a construção do conhecimento.

MATERIAL E MÉTODOS

Sabe-se da importância do lúdico, para o aprendizado geográfico em sala de aula; que pode ser inserido de diversas maneiras, tornando-se um instrumento importante no Ensino – Aprendizagem

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dos alunos. O teatro de fantoches proporciona à criança momentos de aprendizado e interação, e pode ser motivador para qualquer aula. Nesse sentido, acredita-se que, as práticas diferenciadas na sala de aula, contribuem para minimizar as dificuldades no ambiente escolar. Pois instiga o interesse dos discentes pela disciplina geográfica. Para Silva (2013, p.289) “[...] Desse modo, busca-se possibilidade para a construção do conhecimento geográfico, a partir de uma prática [...] prazerosa que o lúdico do Teatro de Fantoches pode proporcionar ao sujeito aluno”. Nessa perspectiva, o autor vai além, bem como menciona “[...] Enquanto técnica não é o fim em si, mas o meio que facilitará chegar a um objetivo que, em nosso caso, é a construção do conhecimento”. Neste âmbito revela-se o teatro de fantoches como algo que possa vir auxiliar a construção de saberes. O conceito de território foi interpretado no teatro de fantoches com dois alunos e uma professora, foi encenada uma aula dialogada discutindo o conceito, expondo as diversas concepções referentes ao território, finalizando com a compreensão do conceito do mesmo.

RESULTADOS

Percebeu-se a importância da organização dos

conteúdos e conceitos - chaves da disciplina de Geografia em sala de aula no qual o professor de geografia deve ter domínio dos diversos conceitos geográficos. Diante do estudo realizado foi possível concluir o conceito de território que conforme Haesbaert; Limonad (2007, p.42) “o território é uma construção histórica e, portanto, social, a partir das relações de poder (concreto e simbólico) que envolvem, concomitantemente, sociedade e espaço geográfico (que também é sempre, de alguma forma, natureza)”. No qual o professor de Geografia deve ter domínio dos conceitos da ciência geográfica, associada à compreensão da historicidade.

REFERÊNCIAS HAESBAERT, R.; LIMONAD, E. O território

em tempos de globalização. Disponível em:

PAGANELLI, Tomoko Iyda. Reflexões Sobre Categorias, Conceitos e Conteúdos Geográficos: seleção e organização. In: Pontuschka, N. e Oliveira. A. Geografia em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002.

Revista Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas. 2007.

SILVA, Karem R. S. GEOGRAFIA E FANTOCHE. VAMOS BRINCAR. In. Movimentos no ensinar geografia. (Orgs). Porto Alegre: Compasso Lugar-Cultura, 2013.

www.uff.br/etc, espaço, tempo e critica. Rio de Janeiro:

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RESUMOS COMPLETOS

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Geografia e Práticas Pedagógicas

Lia Dorotéa Pfluck (1)

(1)Professora; Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon-PR; [email protected] RESUMO: As atividades relatadas foram simuladas para serem desenvolvidas a nível de Ensino Médio contemplando um leque de temas da Geografia. A expressão ‘recursos didáticos’ remete a utilizar ferramentas para superar lacunas do ensino tradicional. Essas foram desenvolvidas ao longo da disciplina de Prática de Ensino de Geografia III (Estágio Supervisionado III), com os acadêmicos do Curso de Geografia de Marechal Cândido Rondon-PR. Para tanto, lançou-se mão de recursos/atividades/elementos como: café com leite, massa de bolo, giz de cera, tintas guache, porção de terra, galhos e folhas secas, chimarrão/mate, letra de música e uma cadeira. Os resultados foram positivos, desde a maior integração e troca de ideias entre as partes e o despertar da criatividade com o uso de recursos didáticos presentes no dia a dia de professores e alunos. Desenvolver atividades práticas e teóricas, em sala de aula com acadêmicos licenciandos, para tentar despertar, estimular, desenvolver e aguçar a criatividade, nos/com os acadêmicos, e usá-la para melhor atuação no exercício docente. Palavras-chave: Práticas de ensino; Ensino de Geografia; Recursos didáticos.

INTRODUÇÃO

As atividades enfocaram a utilização de diferentes recursos didático-pedagógicos realizadas em sala de aula com licenciandos1 do 4º ano do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, Campus de Marechal Cândido Rondon-PR, durante o ano de 2013. Embora a proposta de trabalho prático e teórico, neste caso, não se atrelasse especificamente ao tema ‘Geografia, política e

1Os acadêmicos (Prática de Ensino de Geografia III/4º/2013),

foram: Alexandre V. Breuning; Ângela D. Kuhn; Angélica B. H. Daltoé; Beatriz Koefender; Camila Heimerdinger; Diogo V. Silva; Eliete Woitowicz; Fabiane Müller; Fernando M. dos Santos; Josimara Cecchin; Lilian R. Conrat (desistente); Lineker A. G. Nunes; Luciane Vendruscolo; Maiko Grunewald; Micheli C. Mayer; Paulo V. D. Fuentes; Roberto dos A. Dias; Thiago R. Mazzarollo; Valdineia de F. Lunkes; Valéria S. de Melo; e Verônica R. Lima.

ambiente’, mas de alguma forma estão implícitos nas atividades realizadas.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN deve-se considerar que “[...] no ensino, professores e alunos deverão procurar entender que ambas – sociedade e natureza – constituem a base material ou física sobre a qual o espaço geográfico é construído” (BRASIL, 1997, p. 117). Para Castrogiovanni et al (2011, p. 64) a “[...] concepção de natureza não pode centrar-se somente nos elementos biofísicos de uma paisagem, ou na natureza transformada pelo trabalho humano, mas considerar a perspectiva da conjunção.” E, “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1997, p. 47) E, nestas possibilidades entra a criatividade e “Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos” (FREIRE, 1997, p. 31).

A Geografia abre um leque de possibilidades nas práticas de ensino com diferentes recursos didático-pedagógicos. Para Souza (2007, p. 111), “Recurso didático é todo material utilizado como auxílio no ensino-aprendizagem do conteúdo proposto para ser aplicado, pelo professor, a seus alunos”. Sobretudo alerta: “O professor deve ter formação e competência para utilizar os recursos didáticos disponíveis e muita criatividade” (p. 111). O uso competente desses recursos se tornará “[...] importante para que o aluno assimile o conteúdo trabalhado, desenvolvendo sua criatividade, coordenação motora e habilidade de manusear objetos diversos que poderão ser utilizados pelo professor na aplicação de suas aulas” (p.112-113). E auxilie “[...] para que no futuro os alunos aprofundem, apliquem seus conhecimentos e produzam outros conhecimentos a partir desses” (SOUZA, 2007, p. 113). Castoldi (2009), considera que a utilização desses recursos pode preencher lacunas do ensino tradicional, expor o conteúdo de forma diferenciada e fazer os alunos se tornarem participantes do processo de aprendizagem. Desta forma os objetivos específicos foram: - Desenvolver e apresentar ações, práticas e possibilidades do uso de recursos didáticos e linguagens, de fácil acesso, para o ensino de Geografia no Ensino Médio. -

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Desenvolver atividades de pesquisa estabelecendo conexões entre o tema, as discussões teóricas e os registros da atividade. - Discutir ações e revelações desenvolvidas em sala. Os objetivos se relacionavam com os seguintes conteúdos programáticos da disciplina: - práticas pedagógicas; - leitura e escrita na Geografia; - a formação do professor e as práticas interdisciplinares; - a Geografia em nossas práticas cotidianas; - recursos didáticos e linguagens no ensino de Geografia; - alfabetização cartográfica; - música, televisão/cinema, teatro, fotografia etc.; - a prática pedagógica; - seminário/oficina e produção de resumos.

MATERIAL E MÉTODOS

Para as atividades práticas foram

disponibilizados conjuntos de recursos didáticos com os quais cada grupo (acadêmicos) teve de preparar uma aula com um tema geográfico livre, mas dentro do proposto para o Ensino Médio. Os acadêmicos foram organizados em 10 grupos, por sorteio o que possibilitou associar e integrar ‘novos’ acadêmicos e diversificar a discussão acadêmica. Aos grupos sortearam-se os conjuntos

de recursos ao qual puderam incluir um elemento a mais e justificar o acréscimo (Figuras 1 e 2).

Figura 1 – Alguns elementos / recursos disponibilizados para as práticas. Recursos: 1) cadeira estofada; 2) água; 3) terra e pedrinhas; 4 (E) folhas secas e gravetos; 4 (C) gravetos padronizados em tamanho e espessura; 5 peneira; 6) calda de chocolate; 7) açúcar colorido; 8) luvas descartáveis; 9) leite; 10) bolo; 11) tintas guache; 12) giz de cera; 13) barbantes coloridos; 14) bacia.

Figura 2 – Recursos, participantes, componentes, inclusão e tema desenvolvido.

Conjuntos de recursos Nº/ cj

Participantes

Componentes Recurso Incluído

Tema escolhido/ trabalhado

1) Uma xícara de café com leite

1 2 Diogo e Valdineia Papel de bala Desperdício dos recursos hídricos

2) Uma massa de bolo, açúcar colorido e luvas

2 2 Josimara e Valéria Calda de chocolate Organização espacial urbana e seus conflitos

3) Giz de cera e papel A3 3 2 Eliete e Roberto Giz de cera; mapas do NE e SE

Economia e indicadores sociais das regiões brasileiras

4) Porção de terra, pedrinhas, galhos e folhas

4 2 Micheli e Angélica Água O comportamento do processo erosivo

5) Cuia, bomba, erva-mate e água

5 2 Beatriz e Lilian* Ervas naturais A migração da cultura

6) Tintas guache, papel A3 e as mãos

6 2 Ângela e Lineker Mapa do Brasil A representação do lugar

7) Criar uma letra de música 7 2 Camila e Verônica Letra de música Os conceitos geográficos 8) Quatro tipos de barbantes coloridos

8 3 Maiko, Fabiane e Thiago

Folha de papel A3 A rede de rodovias, ferrovias e a hidrografia

9) Uma bacia e tronquinhos de madeira

9 2 Alexandre e Luciane Litros de água Uma represa e suas consequências ambientais

10) Uma cadeira estofada 10 2 Fernando e Paulo Uma mesa O processo industrial e a hierarquia socioeconômica.

Total de grupos 10 Total de participantes efetivos 20 Os conjunto de recursos numerados sorteados para os grupos. (*) A acadêmica desistiu do Curso após a formação dos grupos e sua colega seguiu o trabalho. Organizado pela autora, maio/2013-mar./2015. O tempo total para as atividades foi de 4 h/a,

entre os sorteios, organização, leituras e preparação da aula, e mais 2 h/a, no dia seguinte, para a apresentação dos 10 grupos aos colegas

de sala, simulando Ensino Médio. A apresentação de cada grupo foi de, no máximo, 10 minutos. O tempo restrito e as aulas sequenciais foi proposital para trabalhar o improviso, a agilidade e a

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criatividade. A elaboração e a apresentação foram registradas em fotografias, integradas aos resumos entregues por grupo.

Para fundamentar a proposta das práticas foram disponibilizados 18 textos que integravam o Plano de Ensino da disciplina (Referências bibliográficas), como: Araújo e Gratão (2006); Castrogiovanni (2007); Correia e Kozel (2009); Costa (2002); Costela (2007); Farina e Guadagnin (2007); Freitas et al (2007); Góes (2009); Gomes (2005); Lima et al (2011); Lopes (2012); Moniz e Braga (2010); Oliveira (2012); Pinheiro et al. (2004); Reffatti (2007); Santos, A. (2012); Santos (2012); Santos e Chiapetti (2011); Senetra e Nobukuni, (2009); e, Thiesen (2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com os relatos não se quer apenas trazer a dramatização para o ensino de Geografia, tampouco continuar a pensar e dizer sobre o que se vê, mas fazer com que os licenciandos se sintam escavadores de sentidos e tornem possível o uso de recursos e as práticas, instrumentos auxiliares do professor no processo de ensino-aprendizagem (PILLETTI, 1985; SIMÕES, 1995; MARTINS; PICOSQUE, 2006; VIOLA, 2006). “O desafio está em não apenas avançar nas discussões teóricas, mas oferecer sugestões para a prática educativa, instigando a criatividade” (CASTROGIOVANNI, 2005, p. 9). As práticas propostas foram e são desafios: “O desafio provoca a ação” (KAERCHER, 2007, p. 59).

O desenvolvimento dos temas (Fig. 2), com os recursos recebidos e com as aulas apresentadas, nem sempre foi numa relação direta. O Grupo 1ª partir de ‘uma xícara de café com leite’ esses recursos desenvolveu o ‘desperdício dos recursos hídricos’, esclarecendo sobre o desperdício da água, e depois, explicou, teoricamente e na prática, a diferença entre os conceitos ‘poluição’ e ‘contaminação’, não remeteram à Geografia Econômica ou à Política do ‘Café com Leite’. Na prática usaram o elemento ‘leite’ (água potável) e acrescentaram um poluente (papel de bala) que pode ser retirado da água com relativa facilidade, e para demonstrar a contaminação (vazamento de petróleo; esgoto), misturaram café ao leite. A contaminação afeta as propriedades químicas da água, e torna o tratamento e utilização mais difícil e oneroso. Relacionaram o crescimento da demanda de água, ao uso ineficiente nas irrigações, indústrias e consumo humano nas cidades e no meio rural e ao desperdício e suas consequências.

O Grupo 2 acrescentou ‘calda de chocolate’ aos seus recursos. Com a massa de bolo representou as formas de relevo (vales e elevações); o açúcar colorido simbolizou elementos urbanos e rurais e, com a calda, criou rios de lama, que, ao escoarem pelas encostas, adentrou o perímetro urbano. O meio rural está desmatado e apresenta lavouras homogeneizadas, sem proteção ciliar dos rios; a cidade se permite ocupar as margens dos cursos d’água e se lançam neles esgoto e lixo, obstruindo seu curso e, por fim, o rio de lama alaga a cidade. E, assim geram-se os conflitos.

O Grupo 3 desenvolveu seu tema comparando a situação dos indicadores sociais das regiões NE e SE; e intentaram compreender porque, apesar de um relativo crescimento o NE apresenta profundas desigualdades socioeconômicas. Para a análise comparativa desses indicadores, usaram várias cores e tamanhos de giz de cera que colocados em posição vertical, mais a montagem de quebra-cabeças das regiões, o grupo considerou a possibilidade de incluir o aluno com deficiência visual na dinâmica, o mesmo ao perceber o tamanho e a forma dos estados poderá fazer as comparações devidas.

O Grupo 4 usou a caixa acrílica, na qual estavam os seus recursos, montou uma feição de relevo montanhoso com e sem matéria orgânica. Para explicar o comportamento do processo erosivo, os acadêmicos do grupo simularam ‘chuva’, com a ajuda de água e uma peneira, sobre o solo coberto com matéria orgânica e sobre solo desnudo. A diferença foi visível, e os acadêmicos explicaram a importância do manejo adequado do solo agrícola e do uso e ocupação do solo urbano.

O Grupo 5, após sua composição uma integrante do grupo desistiu do curso, mas a atividade foi desenvolvida assim mesmo. A outra integrante do grupo apresentou a trajetória da erva mate pela América Latina, afirmando que os Incas já a usavam, e destacou a exploração dessa matéria prima, entre os séculos XIX e XX, no Oeste do Paraná e área adjacente. Mencionou a possibilidade de trabalhar de forma interdisciplinar com esses recursos, como: questões geográficas; econômicas; históricas; culturais; expansão da produção, dos usos e costumes e sua diversificação ao longo do tempo e no espaço. A acadêmica explicou sobre a tradição e a etiqueta no compartilhar do hábito de tomar chimarrão e ou mate.

Os acadêmicos do Grupo 6 pintaram duas imagens: um quarto e uma paisagem. A partir

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desses explicaram a diferença entre os conceitos ‘lugar’ e ‘paisagem’, fundamentais em estudos de Geografia. Ao fazer uso de desenhos se poderá observar mudanças e evoluções na representação, mas ‘lugar’ e ‘paisagem’, enquanto conceitos, podem ser melhor entendidos se forem analisados a partir de desenhos. A dupla se disse surpresa com a possibilidade de trocar pincéis pelo uso dos dedos para pintar, vivenciaram a elaboração do material didático com mais um dos sentidos da Geografia, o tato.

O Grupo 7 trabalhou diferentes conceitos como: pirâmides etárias, países desenvolvidos e subdesenvolvidos, ‘estado’ - situação, tendência, migração, imigração, emigração a partir de uma paródia. Os conceitos foram explicitados e relacionados com as estrofes da letra, depois todos ajudaram a cantar. Com o uso da música ou poesia foi possível trazer experiências com linguagem diferente e torna-los como recurso didático-pedagógico um instrumento valioso ao / no processo de ensino-aprendizagem. E, mediante as letras “[...] é possível desvelar todo um universo social construído através do imaginário coletivo da sociedade, que nos auxilia a melhor compreender quem somos no contexto de nossa contemporaneidade e do passado” (VIANA, 2000, p. 109).

O Grupo 8 trabalhou com quatro barbantes e uma folha de papel (A3) estilizou o mapa vazado do Estado do Paraná, localizou e distribuiu as principais rodovias, ferrovias e os rios. Trabalhou as áreas de concentração desses elementos sua importância para o transporte e a produção energética. O uso de barbantes, em aulas de Geografia, é mais comum quando se trata de construção de maquetes, trabalhos com escala, orientação e é utilizado em dinâmicas de integração e aqui se mostrou outra possibilidade de uso na Geografia.

O Grupo 9, com uma bacia e tronquinhos de madeira trabalhou a questão ambiental. Por terem vivenciado as mudanças socioeconômico e ambientais às margens do Rio Paraná, com a instalação da Hidrelétrica Binacional de Itaipu (1982), de imediato lembraram em representar as consequências ambientais da represa e houve ótimo entrosamento da equipe. Os tronquinhos representaram tanto as árvores (mato) alagadas ou afogadas como troncos que sobraram das mesmas, que ainda hoje são visíveis no rio represado. A madeira ao se decompor libera gás metano que permanece dissolvido na água, nas camadas mais profundas do lago, e é liberado para a atmosfera, no caso da Itaipu, ao passar

pelas turbinas e pelos vertedouros da usina. “O velho discurso oficial de que as usinas hidrelétricas sempre foram um modelo de geração de energia limpa, ou seja, que não contribuíam para o aquecimento global, caiu por terra” (MELO, 2002, s/p). O metano com o gás carbônico e óxido nitroso provocam o efeito estufa e uma cadeia de consequências.

O Grupo 10 analisou o uso de matéria-prima e o processo industrial que resulta em diferentes tipos de cadeiras, estofada ou não. Depois um dos integrantes colocou a cadeira sobre uma mesa para ser observada e passou a analisar com a turma a origem dos diferentes tipos de matéria-prima, a linha de produção e o processo da mais-valia. Um dos acadêmicos subiu sobre a mesa e sentou-se sobre a cadeira estofada e questionou: ‘Por que eu uso a estofada e vocês não?’. Iniciou-se um debate sobre a divisão de classes, poder econômico e as relações de trabalho. A cadeira estofada foi comparada com as cadeiras de madeira de uso dos ‘alunos’, colegas acadêmicos, e, a hierarquia social foi demonstrada na relação da cadeira de madeira X a estofada.

CONCLUSÃO

As atividades ou provocações foram lançadas

e desenvolvidas pensando nos inúmeros desafios que o docente poderá encontrar em sua caminhada profissional ao longo do país. Essa trajetória poderá sinalizar para escolas com recursos tecnológicos modernos e funcionais, mas também para escolas sem energia elétrica, desprovidas de material didático, distantes do visto teoricamente na academia.

Nesse contexto, indagações e reflexões, do pensar em grupo, podem ser desenvolver competências que possibilitem os alunos a pensar e agir. Uma vez que, “A prática docente reflexiva exige que o professor não se limite às investigações produzidas na academia, devendo produzir um conhecimento prático, que é validado pela própria prática, fundamentada na reflexão” (FARIA, 2003, p. 38). E, dessa forma, poderá “[...] dar respostas a certos dilemas que aparecem no dia a dia do exercício profissional” (FARIA, 2003, p. 38). É, pois, na ação que se produzem os saberes pedagógicos (VALENTE; VIANA, 2009).

Os acadêmicos manifestaram que muitas vezes o espaço vivenciado não é explorado pelos professores; que objetos simples presentes no dia a dia de professor e aluno devem fazer parte das práticas diferenciadas e produtivas.

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Assim, “Pensando conhecimento como uma construção em rede que se amplia, se clareia e se aprofunda pelas relações que são estabelecidas entre o que se sabe e o que ainda não se sabe” (MARTINS, PICOSQUE, 2006, p. 57) foi que os grupos sugeriram outras formas de explorar o mesmo material e despertaram para outras possibilidades de trabalhos e até substituir os recursos por outros mais regionais ou de conhecimento geral.

“Professor e aluno caminham juntos e não raramente criam soluções de grande criatividade” (GRANERO, 2011, p. 68). As atividades desenvolvidas demonstraram isso quando, por exemplo, com uma xícara de café com leite foi possível trabalhar o tema ‘poluição e contaminação da água’, com massa de bolo ‘as formas de relevo’.

Logo após a apresentação dos trabalhos, a massa de bolo com a calda de chocolate, que serviu de maquete (manuseado com luvas descartáveis) e o chimarrão foram servidos a todos os participantes. A confraternização, de forma descontraída, serviu também para integrar os acadêmicos e possibilitou compartilhar novas ideias sobre as inúmeras possibilidades que se abriram com a socialização dos trabalhos e os recursos encontrados com facilidade no dia a dia. As práticas pedagógicas desenvolvidas apresentaram resultados satisfatórios para a aprendizagem do licenciando, para o docente proponente e o poderão ser quando o futuro docente desejar replicá-las.

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O Uso de Geotecnologias no Ensino de Geografia(1).

Valdelice do Amaral Fagundes (2); Adrielly Grava Costa (3); Edson Belo Clemente de Souza(4);

(1) Trabalho executado com recursos da Capes. (2) Acadêmica do Programa de Pós-graduação em Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE; Campus Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]; (3) Acadêmica do Programa de Pós-graduação em Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE; Campus Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]; (4)

Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE; Campus Marechal Cândido Rondon, Paraná.

RESUMO: O crescente desenvolvimento e popularização das geotecnologias viabilizaram sua utilização no processo de ensino. Por tal motivação está pesquisa se estruturou por dois objetivos: demonstrar a necessidade de inserção da geotecnologia no ensino de geografia; e evidenciar algumas possibilidades práticas para uso do professor. A pesquisa se desenvolveu por um estudo de caso de carácter exploratório documental sobre as geotecnologias e sua aplicabilidade no ensino da geografia, com a aplicação de questionários semiestruturado a alunos da rede estadual de ensino, para análise de dados quantitativos e produção de matérias como cartogramas e gráficos para expor os resultados. Os resultados comprovaram as hipóteses quanto a necessidade da inserção das geotecnologias nas salas de aula e as reais possibilidades de sua aplicação. Palavras-chave: Geotecnologias, geografia, ensino

INTRODUÇÃO

Se pensarmos as técnicas de obtenção de dados especializados da superfície terrestre como um todo certamente estes já vem de longas datas, mas ao fazer recorte temporal com referência apenas aos períodos em que essas técnicas passaram a contar com o aporte de equipamentos informatizados como sensores remotos, satélites, computadores, entre outros, estas não distam da década de 60.

A inserção dessas novas ferramentas aumentou a capacidade de detalhamento, coleta e análise de informações georeferenciadas tornando as geotecnologias um instrumento capaz de nortear o gerenciamento dos recursos naturais, fornecer informações sobre a localização, disponibilidade, possibilidades de escassez entre outras muitas funções.

Devido a esta gama de ações que as geotecnologias podem contribuir, houve grande interesse do mercado no desenvolvimento dessas, sendo este setor durante décadas mais pesquisado pela esfera privada do que no meio acadêmico. Com tal fato tivemos avanços significativos no campo prático da tecnologia espacial em detrimento

ao desenvolvimento teórico da mesma, ocasionando barreiras epistemológicas que ainda precisam ser vencidas. A título de exemplo de tamanha defasagem é comum encontrar erros de conceituação em livros didáticos ou nas informações que circulam na rede mundial de computadores.

Por tais circunstancias cabe enfatizar a definição do termo geotecnologias e suas aplicações, deixando claro as informações que são produzidas a partir da junção de equipamentos (satélites, computadores, GNSS, sensores, câmeras), programas (Sistemas de Informação Geográfica – SIG como o ARCGIS, SPRING, TERRAVIEW) e equipes pessoas que transformam os dados em informações.

No tange ao ensino de geografia diversos fatores convergem para que as ferramentas e técnicas da geotecnologia venham a ser incorporadas no processo educacional.

O texto está alinhavado da seguinte forma: Inicialmente: traremos os diversos fatores que fazem das geotecnologias uma ferramenta de valor para diversos seguimentos sociais e na sequencia demonstraremos sua importância no processo de formação dos discentes.

Como possível remate a este assunto apresentaremos algumas formas práticas de aplicação das geotecnologias no ensino de geografia. Esta parte prática foi proposta para não incorrermos o risco de apenas explorar questões conceituais e referentes a importância do uso das geotecnologias sem oferecer soluções práticas ao leitor.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa constitui-se em estudo qualitativo

e quantitativo de caráter exploratório da necessidade e possibilidade de uso das geotecnologias no ensino da geografia, analisando os alunos do 7º ano, com uma amostra de 20 alunos, ou seja os que estavam presentes no dia da aplicação, do Colégio Estadual Carlos Drummond de Andrade, no município de Assis Chateaubriand- PR.

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A primeira etapa tratará de um levantamento

exploratório sobre as geotecnologias e sua aplicabilidade no ensino da geografia. Desenvolve-se assim, uma revisão bibliográfica que irá compor a problemática.

Na segunda etapa, um trabalho de campo foi realizado em forma de questionários com alunos da referida classe acima.

A terceira etapa se realizou com a análise de dados e informações obtidas através da produção de gráficos e cartogramas dos resultados adquiridos.

Está pesquisa de campo é baseada na observação e na realização de questionários estruturadas, sendo estes instrumentos que auxiliam no de levantamento e na produção de dados qualitativos, quantitativos e para o desenvolvimento científico-intelectual. Esta pesquisa se caracteriza como estudo de caso de caráter bibliográfico e documental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Vivemos um tempo de constante modernização,

onde as técnicas se renovam diariamente, sobre tal fato Milton Santos (2003) conhece que a aceleração do processo de produção, e o avanço da técnica têm dominado espaços, desta forma faz se necessário formar cidadãos da cultura popular que possuam domínios das técnicas, saiba utilizá-las para estabelecer correlações entre os fenômenos ocorrentes e as condições socioeconômicas, no intento de fortalecer a resistência e superação as imposições do capital.

Além dessa perspectiva entende-se ainda que o processo de educação precise ser repensado, para inserir formas mais atrativas de construir o conhecimento. Ao analisar diversos livros didáticos utilizados no processo de ensino aprendizagem do estado do Paraná verifica-se que os conteúdos tratados são generalizados, portanto distantes da realidade do educando, causando desinteresse e incompreensão. Nestes materiais didáticos se verifica situações em que o autor expõe as migrações extracontinentais sem mencionar a migração local que pode ser visualizada pelo educando no seu cotidiano, mesmo porque estes livros abordam conteúdos em uma visão geral e não tratam as especificidades locais.

Rubem Alves (2014) enfatiza os problemas gerados pelo distanciamento do conteúdo ensinado e o cotidiano do educando:

As escolas de hoje em dia estão muito desinteressantes, sobretudo porque não estão lidando com questões cruciais da vida das crianças, ou seja, não estão aproveitando o seu entorno. "As crianças têm interesse por aquelas coisas ao alcance de suas mãos. (COSTA, 2014, p.1)

Além dos fatores acima mencionados

necessitamos pensar o ensino da geografia numa perspectiva transformadora em que os educandos não se tornem apenas meros reprodutores de memorias acumuladas durantes as aulas, nesse sentido LACOSTE (2010) destaca que a geografia nos moldes em que está se encontra tem se tornado uma disciplina simplória e de pouca aplicabilidade no contexto social dos alunos:

[...] Uma disciplina maçante, mas antes

de tudo simplória, pois, como qualquer um sabe, “em geografia nada há para entender, mas é preciso ter memória...” De qualquer forma, após alguns anos, os alunos não querem mais ouvir falar dessas aulas que enumeram, para cada região ou para cada país, o relevo – clima – vegetação – população – agricultura – cidades – indústrias (LACOSTE, 2010, p. 21). [...]

Desta forma, se faz necessário repensar o

processo de ensino aprendizagem de geografia, incorporando ações capazes de formar um cidadão crítico. Pensando nesta problemática propomos algumas alternativas práticas de inserção do uso de alguns produtos das geotecnologias na prática docente da disciplina de geografia. Trabalharemos com exemplos práticos de duas diferentes ferramentas; a geração de cartogramas temáticos a partir do software Philcarto e o Google Earth para estudar os problemas urbanos locais.

Quanto ao uso do Software optamos pelo uso do Phil carto mesmo que este não produza dados georeferenciados devido a sua gratuidade e facilidade no manejo, considerando que os professores da rede pública de ensino necessitam de ferramentas praticas. Nessa aplicação prática selecionamos o conteúdo “Migrações nacionais” com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais e construímos um cartograma que levou em consideração os dados coletados a partir da turma de 7º ano do Colégio Estadual Carlos Drummond de Andrade do município de Assis Chateaubriand-PR, partir de questionário aplicado aos mesmos, o cartograma possui a representação das cidades e/ou estados aos quais os pais destes alunos moravam antes de vir para o município de Assis

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Chateaubriand. Ao final da construção é possível constatar através do cartograma quais são as regiões, estados ou municípios de onde o educando e seus colegas vieram, estabelecendo diversas correlações a critério do professor. Além da riqueza de compreensão que essa prática possibilita, ela também faz o aluno se perceber na realidade que está sendo estudada. Após este trabalho o professor poderá propor aos alunos que dialoguem com seus pais e familiares, com o intuito de descobrir as motivações que os fizeram migrar, e ainda poderá desenvolver através das informações obtidas gráficos com tais motivações. Abaixo segue o cartograma desenvolvido a partir dos dados da turma entrevistada.

Figura 1: Representação das migrações interestaduais dos pais dos alunos do 7 º ano A. Produzido através do Programa Philcarto Organizado por: Valdelice Fagundes

Figura 2: Representação das migrações intraestaduais dos pais dos alunos do 7 º ano A. Produzido através do Programa Philcarto Organizado por: Valdelice Fagundes

Como alternativa de aplicabilidade de geotecnologias desenvolvemos a proposta de

utilização do Google Earth para complementar os conteúdos referentes ao espaço urbano por exemplo. Mas antes de propor tal ação tivemos o zelo de entrevistar os alunos da mesma classe antes mencionada para conhecermos a realidade desses educandos e perceber se a utilização desse recurso seria de fato relevante na sua formação. Nesta etapa os alunos responderam a duas questões:

Se possuíam acesso à internet em casa? Se já manuseavam o Google Earth? Abaixo segue os gráficos apresentando os

resultados obtidos. Com base nestas respostas podemos nos

certificar que ao contrário do que convencionalmente se pensa, ainda há muitas crianças que não possuem acesso à rede mundial de computadores, evidenciando a necessidade desse educando ter este contato na escola.

Organizado por: Valdelice Fagundes

Também ficou demonstrado que embora a

ferramenta Google Earth seja tão popular muitos alunos ainda não a utiliza, se bem que mesmos que todos já tivessem feito uso da ferramenta a sua aplicação no contexto do ensino da geografia seria diferente da sua experiência particular, pois em sala de aula o professor não apenas fará os alunos manusearem o programa, mas principalmente levará o discente a estabelecer correlações entre as imagens e sua realidade neste contexto.

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Organizado por: Valdelice Fagundes

Através do Google Earth é possível se obter imagens do espaço em três dimensões, possibilitando a análise do espaço delimitado, evidenciando a organização, distribuição e ocupação. Em caso específico, pretende-se propor aos alunos que identifique a localização de sua residência com o nome da rua, número e bairro, para assim traçar uma rota com a finalidade em comum, a escola, na qual cada educando poderá perceber através de imagens o caminho que percorre cotidianamente. Através de está aplicabilidade concreta permitir ao educando que ele trace novas rotas alternativas de seu interesse, e através das imagens analisar o espaço que transitará. Desta maneira o uso das geotecnologias permite gerar aulas mais dinâmicas utilizando de suas ferramentas para abordar áreas do interesse dos alunos e professores. Nas imagens abaixo seguem dois exemplos onde foi simulado o percurso que uma pessoa faria de uma escola do município do de Assis Chateaubriand até a Igreja Católica da mesma cidade e outro percurso saindo dessa mesma escola até a Prefeitura Municipal. Com os alunos no laboratório de informática professor pode conduzi-los a traçar rotas e analisar nestes percursos a organização espacial da cidade e evidenciar problemas como: falta de calcadas, sinalização, lixo nas ruas e diversos outros problemas urbanos.

Fonte: https://www.google.com.br/maps/@-24.3998024,-53.5161995,5580m/data=!3m1!1e3 Organizado por: Adrielly Grava Costa

Fonte: https://www.google.com.br/maps/@-24.3998024,-53.5161995,5580m/data=!3m1!1e3 Organizado por: Adrielly Grava Costa

CONCLUSÕES

A geografia como disciplina incorpora vários mecanismos e abordagens em uma prática multidisciplinar, que contribui para a diversificação, tornando-a mais dinâmica e interessante, mas sempre se faz necessário reflexões críticas, para se analisar sua contribuição aos conhecimentos propiciado aos educandos. Neste contexto a

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geotecnologia se faz presente com um grande potencial de abordagem no cotidiano do aluno, desmitificando a separação teoria e prática e integrando o educando a uma vivência de conteúdos mais concretos.

Nesta ótica as geotecnologias devem possuir objetivos claros e coerentes a vida do aluno, para uma real contribuição a seu aprendizado, possibilitando um enriquecimento da experiência, na sua formação. Desta maneira as geotecnologias são ferramentas didáticas importantes, porém não autossuficientes, necessitando da mediação planejada do professor, assim estas ferramentas auxiliam na compreensão da dinâmica do espaço, resultando em uma visão ampla da relação natureza-sociedade.

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ANEXO I

Estas questões que você irá responder faz parte de um projeto que busca propor novas formas praticas mais atrativas de ensinar geografia utilizando-se de geotecnologias, portanto ao responder tenham o zelo de fazê-lo de forma correta, pois desta forma os resultados poderão contribuir para a aplicação dos resultados nas práticas pedagógicas da sua escola e demais.

1) Escreva de forma bem detalhada quais os locais que seus pais já moraram (escrevam as respostas em sequência de tempo, mencionando desde mudanças distantes até as que ocorreram dentro do estado). Brasil Estado

2) Você tem acesso à internet em casa?

3) Você já usou o programa Google Earth

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GEOGRAFIA HUMANA

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RESUMOS SIMPLES

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A Luta camponesa e construção da Educação do campo nos assentamentos e acampamento de Rio Bonito do Iguaçu – PR

Jéssica Aparecida de Ávila Follmann1, Djoni Roos2 (1) Graduanda do Curso de licenciatura em Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]. (2) Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Marechal Cândido Rondon, e-mail: [email protected] RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo debater os paradigmas e diferenciais teóricos e práticos, da Educação do Campo. O foco da investigação que vem sendo desenvolvida centra-se na análise da política de educação que vem sendo construída nos assentamentos rurais Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire e no acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, localizados no município de Rio Bonito do Iguaçu-PR. A partir deste recorte teórico metodológico, busca-se compreender a educação do campo enquanto prática histórica do processo de luta e resistência dos camponeses no referido município e seus desdobramentos na atualidade.

Palavras-chave: educação do campo; movimentos sociais; campesinato.

INTRODUÇÂO

A Educação do Campo compreendida por este

trabalho é aquela organizada e vinculada às lutas dos movimentos camponeses e indígenas. Ou seja, construída através dos históricos existentes de um conjunto de movimentos, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos atingidos por barragens (MAB) além de organizações indígenas e quilombolas (CALDART, 2012). Portanto, os camponeses e indígenas em seu processo de luta pela terra e território constroem coletivamente um conjunto de bandeiras, dentre as quais, cobram da sociedade o direito à educação, especialmente à escola do e no campo. Trata-se de uma luta que interroga a sociedade sobre o porquê da exclusão do campesinato ao acesso à escola e a universalização da educação básica. Ao mesmo tempo, afirma que o direito à educação compreende da educação infantil à universidade (CALDART, 2012). Trata-se de luta por uma educação diferenciada, que compreenda o campesinato em seu desenvolvimento. Esta perspectiva está explícita na Cartilha de Educação do Campo da Via Campesina (2006):

O ideário da Educação do Campo afirma a necessidade de duas lutas combinadas: (1) pela efetivação do direito e pela ampliação do acesso à educação e à escolarização no campo e (2) pela construção de uma escola que esteja no campo, mas que também seja do campo: uma escola ligada na história, na cultura e às causas sociais e humanas dos que vivem no campo.

Desta forma, se afirma na luta camponesa, que

a manutenção de seu modo de vida passa pela conquista da terra e da reforma agrária, bem como, pela luta por uma educação voltada para a realidade das comunidades.

Diante disto, abordar e pesquisar a organização da Educação do Campo presente nos movimentos camponeses e indígenas conduz à algumas indagações: Qual a importância de se ter uma educação do e para o campo? Como ocorre a presença das organizações e dos movimentos nas escolas dos assentamentos e acampamentos? Quais os sentidos de uma educação diferenciada, sintonizada com o modo de vida e trajetória histórica do campesinato? Quais são os principais desafios encontrados nas escolas e colégios nos assentamentos rurais e acampamentos de camponeses sem-terra?

Neste sentido, vêm sendo empregados esforços para entender o processo de luta pela terra e sua relação com a construção de uma educação para e do campo no município de Rio Bonito do Iguaçu-PR, com enfoque analítico nos assentamentos Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire e no acampamento Herdeiros da Terra de Primeiro de Maio. A análise específica centra-se nos colégios estaduais Iraci Salete Strozak, Ireno Alves dos Santos e José Alves dos Santos localizados nos assentamentos citados e na Escola Itinerante Herdeiros do Saber, do acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio.

Os objetivos centrais da pesquisa são: compreender a importância da organização e

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resistência camponesa na região na luta pela construção de uma educação do campo; analisar a trajetória da educação do campo nos assentamentos Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire, bem como, no acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio; debater a importância do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra na construção da educação do campo nos assentamentos e acampamento selecionados; verificar a participação dos camponeses e do MST nas escolas e as formas como ocorre esta relação; e, compreender a relação dos educadores, educandos e escola com as lutas sociais da região.

Considerando que os assentamentos e acampamento selecionados para fins analíticos do presente estudo estão ligados com a luta pela terra/reforma agrária organizada em torno do MST, para chegarmos à compreensão dos objetivos propostos, se faz necessário entender o contexto de educação no campo que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra possui como base. Parte-se, portanto, da teoria para a análise prática do dia a dia das referidas escolas analisando como docentes, funcionários, alunos, camponeses, a comunidade e o movimento, estão inseridos neste ambiente e contribuem para a construção de uma educação diferenciada, que valorize o coletivo e o povo.

É neste empenho que, visa-se compreender na teoria e na prática os desdobramentos históricos de luta e resistência dos camponeses em Rio Bonito do Iguaçu - PR, e como estes influenciaram a Educação do Campo neste município.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada pelo presente estudo centra-se no estudo de referências teóricas ligadas a luta camponesa pela terra, questão agrária e Educação do Campo. A análise de documentos produzidos tanto por movimentos ligados a esta educação diferenciada, quanto pelo Estado também compõem o escopo de investigação. De modo especial, destaca-se à pesquisa a campo, como item fundamental ao desenvolvimento da presente investigação, na qual, através de entrevistas aos camponeses assentados e acampados, funcionários, docentes e estudantes das escolas, bem como à lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e o acompanhamento das atividades nos assentamentos e no acampamento, assim como nos colégios e na escola se constituem em elementos primordiais.

REFERÊNCIAS

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VENDRAMINI, Célia R.; MACHADO, Ilma F. A relação trabalho e educação nas experiências escolares do MST. In: VENDRAMINI, Célia R.; MACHADO (Org.) Escola e movimento social: experiências em curso no campo brasileiro. 1.ed.São Paulo: Expressão Popular, 2011. p. 79-107.

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Redes da migração paraguaia no bairro Bubas na cidade de Foz do Iguaçu/PR

Marcelo da Silva Maia(1); Maristela Ferrari (2)

(1) Estudante; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon/PR; [email protected] (2) Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia– Mestrado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Marechal Cândido Rondon. RESUMO: Podemos dizer que a migração internacional é um movimento flutuante que ocorre em diversas partes do mundo, no entanto, desde o começo do século XXI, verifica-se que essa problemática tem ganhado espaço nos eventos científicos e também na mídia, de modo geral. Este trabalho tem por objetivo apresentar uma análise preliminar sobre a migração paraguaia em direção a Foz do Iguaçu e suas implicações no processo de ocupação do espaço urbano, notadamente da favela do bairro Bubas. Trata-se de um estudo de migração a partir da perspectiva geográfica, mas não com resultados definitivos, pois este trabalho faz parte de nossa pesquisa de mestrado que ora desenvolvemos junto ao Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – campus de Marechal Cândido Rondon. Neste trabalho, a metodologia utilizada baseou-se em estudos teóricos bibliográficos sobre migração, rede, espaço, habitação, urbanização e ocupações irregulares, além do levantamento de informações empíricas com entrevistas com migrantes paraguaios e coleta de dados em fontes oficiais do governo federal, estadual e/ou municipal. Palavras-chave: Fronteira; conflitos.

INTRODUÇÃO

Assim como em outros países da escala global, a migração internacional no Brasil é um fenômeno bastante conhecido e tem sido amplamente estudado (POVOA NETO e FERREIRA, 2005). Existem inúmeras pesquisas sobre essa temática nas mais diferentes áreas e segmentos fronteiriços, mas no que tange Foz do Iguaçu (PR), cidade localizada na zona de fronteira do Brasil com o Paraguai (Ciudad del Este) e a Argentina (Puerto Iguazu), as pesquisas parecem mais inclinadas em analisar as redes ou fluxos da migração brasileira em direção ao

Paraguai e à Argentina (HAESBAERT e SANTA BARBARA, 2005). Entretanto, desde a construção da usina hidrelétrica binacional de Itaipu constatam-se fluxos da migração paraguaia em direção a cidade brasileira de Foz do Iguaçu e isso se verifica também nas últimas décadas do século XX e começo do século XXI. A cidade vem apresentando número crescente de migrantes, e dentre eles, muitos paraguaios. Exemplo disso é a favela do bairro Bubas, situado na região sul da cidade de Foz do Iguaçu onde o número de paraguaios vem crescendo significativamente. Quais são os fatores ou causas dessa migração paraguaia em direção à cidade de Foz do Iguaçu? Qual o perfil socioeconômico desses migrantes? Como se dá o planejamento urbano em áreas ocupadas por esses migrantes? No contexto do MERCOSUL existem políticas de acolhimento e habitação para esses migrantes? Esse trabalho focaliza assim as primeiras reflexões de uma pesquisa muito mais ampla que tem por objetivo analisar a rede da migração paraguaia estabelecida em direção a cidade de Foz do Iguaçu.

A MIGRAÇÃO PARAGUAIA EM DIREÇÃO A CIDADE DE FOZ DO IGUAÇU (PARANÁ)

Podemos dizer que, o marco pioneiro dessa rede da migração paraguaia em direção a cidade de Foz do Iguaçu vem desde a década de 1970, notadamente com a construção da usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Esses fluxos iniciais eram estabelecidos notadamente por trabalhadores contratados durante a construção da Itaipu. Já no final do século XX e começo do século XXI, a rede da migração paraguaia passou a ser estabelecida por migrantes pobres e sem muitas perspectivas de trabalho. Esses migrantes, normalmente ocupam espaços periféricos, como

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favelas. A escolha do local normalmente se faz pelas redes sociais de amizades ou parentesco de outros migrantes paraguaios já estabelecidos na cidade de Foz do Iguaçu, notadamente em áreas de favelas. Diante disso, a migração contribui para o aumento dos espaços de favelas e ao mesmo tempo com o aumento da população da cidade.

Segundo as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população da cidade de Foz do Iguaçu vem crescendo anualmente, passando de 256.088 mil em 2010 para 263.647 mil habitantes em 2014 (IBGE, 2014). Paralelamente a este crescimento populacional, segue também o aumento de migrantes paraguaios. Numa zona de fronteira caracterizada por grande fluxo migratório, pode-se dizer que a cidade de Foz do Iguaçu conta com uma diversidade étnica semelhante às grandes metrópoles, foi e continua sendo ponto de passagem de fluxos migratórios de diferentes nacionalidades, dentre eles paraguaios. Este fenômeno é bastante comum em áreas de fronteiras e dependendo das legislações políticas entre os países vizinhos podem gerar conflitos. Dias e Ferrari (2013, p.148) ressaltam que esse envolvimento e essa integração em áreas de fronteiras, faz nascer e/ou fortalecer as redes que por sua vez podem ser dificultadas ou até mesmo interrompidas por uma legislação hierárquica sem conhecimento da realidade local, o resultado desta ação pode gerar conflitos e segregações.

O elevado número de novos moradores na cidade de Foz do Iguaçu, faz com que aumente cada vez mais a necessidade de terras urbanizadas para moradia, e nessa procura por espaço, consequentemente por questões econômicas, as famílias com menor poder aquisitivo passam a ocupar espaços, sejam eles públicos ou privados, para fins de moradia, mas na maioria das vezes são lugares inapropriados para domicílio, eis que surgem as favelas. Souza (2008, p.68) argumenta que:

Quase sempre existiram grupos que, devido à sua pobreza, à sua etnia ou a outro fator eram forçados a viverem em certas áreas (geralmente as menos atraentes e bonitas, menos dotadas de infra-estrutura, mais insalubres etc.

Um exemplo de ocupação irregular é a conhecida favela Bubas, localizada no bairro Bubas. A sua

constituição/organização se deu a partir do começo de 2012, sobre uma área de terra particular de aproximadamente 144 mil metros quadrados, que foi sendo ocupada, notadamente por brasileiros e paraguaios e, em menor número, por argentinos. Atualmente a favela do Bubas conta com aproximadamente 1100 famílias, das quais cerca de 20% são paraguaias e 2% argentinas. Em nossas primeiras pesquisas empíricas constatamos vários indicadores de redes sociais, o que nos leva a pensar que as redes sociais, notadamente de amizade e parentesco, favorecem ou facilitam a migração de paraguaios em direção a cidade brasileira e também a apropriação de espaços periféricos da cidade, como as favelas. No entanto, é importante deixar claro que, não temos ainda respostas definitivas ou conclusões parciais para esse trabalho, pois como já evidenciamos, o mesmo faz parte de uma pesquisa mais ampla ora em desenvolvimento que é a Dissertação de mestrado. Nossa hipótese é de que, assim como se verificam hoje regiões transfronteiriças de brasileiros no Paraguai o mesmo poderia estar ocorrendo em menor escala na cidade brasileira, uma região transfronteiriça de paraguaios em Foz do Iguaçu. Mas, nossa hipótese só será verificada com o andamento de nossa pesquisa de mestrado.

REFERÊNCIAS

DIAS, Leila Christina.; FERRARI, Maristela. (Orgs.).Territorialidades Humanas e redes Sociais. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2013.

HAESBAERT, Rogério. Imigração e desterritorialização. Cruzando Fronteiras Disciplinares: um panorama dos estudos migratórios. NETO, Hélio Póvoa.; FERREIRA, Ademir P. (Org.) Rio de Janeiro: Revan, 2005.

IBGE. IBGE-Cidades@. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=410830&search=parana|foz-do-iguacu>. Acesso em: 27 ago. 2015.

PÓVOA NETO, Helion.; FERREIRA, Ademir P. (Orgs.). Cruzando fronteiras disciplinares: um programa dos estudos migratórios. Núcleo interdisciplinar de Estudos migratórios (NIEM-RJ). Rio de Janeiro: Revan, 2005.

SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

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Reflexões preliminares sobre o conceito de identidade territorial em Geografia: uma análise teórico-conceitual

Fabiane Müller (1); Maristela Ferrari(2)

(1) Acadêmica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Marechal Cândido Rondon, Paraná. E-mail: [email protected] (2) Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Marechal Cândido Rondon, Paraná. E-mail: [email protected]. RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o conceito de identidade territorial. Trata-se de uma reflexão teórico-conceitual em fase inicial. Essa reflexão se insere num trabalho mais amplo que é o Trabalho de Conclusão de Curso ora em andamento cujo objetivo é analisar se existem identidades compósitas ou diferenciadas na cidade de Quatro Pontes - Paraná. A cidade, localizada no conjunto regional do Oeste do Paraná, apresenta certas construções públicas e privadas tendo como referência a arquitetura germânica, além disso, algumas festas da cidade têm sido divulgadas como festas da cultura alemã remetendo a ideia de que se trata de um espaço territorial construído com referências e/ou ligações identitárias e culturais com o território nacional da Alemanha. Essa problemática, ainda em fase inicial, nos levou a buscar compreender o conceito de identidade territorial. Portanto, não se trata de uma análise critica, mas de uma análise teórico-conceitual preliminar para entender o significado de identidade territorial pela perspectiva da geografia. Palavras-chave: identidade, cultura, território.

INTRODUÇÃO

Este trabalho procura refletir sobre o conceito de

identidade territorial pela perspectiva da geografia cultural. Segundo Haesbaerth (2007), a palavra identidade deriva do latim e foi criada para designar a identidade de um grupo com laços culturais idênticos, como, por exemplo, o povo romano. Já no Estado moderno, identidade passou a fazer parte da construção dos territórios nacionais onde a identidade nacional tinha por objetivo identificar os nós dos outros, como por exemplo, brasileiros de paraguaios. Contemporaneamente, identidade é um conceito polissêmico e tem sido objeto de amplos debates nas ciências humanas. No entanto, hoje parece haver relativo consenso de que toda identidade, seja cultural, territorial, étnica ou religiosa, é uma construção social. Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise teórico-conceitual preliminar para compreender o

significado de identidade territorial. Os principais procedimentos operacionais deste trabalho consistiram em revisão bibliográfica da literatura geográfica sobre identidades territoriais.

O SIGNIFICADO DE IDENTIDADE

TERRIOTIAL De acordo com Haesbaert (2007), a identidade

territorial é definida a partir de um território ou, num sentido mais amplo, a uma formação do espaço geográfico que mantêm o “elo entre espaço, política e cultura”. Por outro lado, a identidade envolve sistemas classificatórios que mostra como as relações sociais são organizadas e divididas, por exemplo, pela oposição entre nós e os outros ou pelo sentimento de pertencimento.

Ainda segundo Haesbaert (2007), o sentimento de pertencimento ou não do sujeito a determinado grupo identitário pode ter como um dos critérios a história do passado, de um determinado território que se apresenta enquanto construção identitária “imutável” para mobilizar um consentimento e/ou ação. Isso pode ser verificado, por exemplo, através das tradições culturais. Mas, para compreender a correlação entre identidade e território é necessário fazer uma reflexão na tentativa de demonstrar a sua ligação e assim compreender de que forma ocorre a construção de identidades territoriais em determinado lugar.

Entretanto, devemos esclarecer que compreender a ideia de identidade não é fácil, pois como enfatizam Araujo e Haesbaert (2007), identidade é um conceito polissêmico. A discussão desenvolvida por Araujo (2007) sobre identidade e território, apresenta os termos não como conceitos, mas como signos e simulacros. Além disso, hoje não se pode mais compreender os indivíduos a partir de uma única identidade, pois “a mobilidade crescente e a complexidade das relações espaço-tempo contemporâneas levam à constituição de territorialidades também móveis e de caráter múltiplo” (ARAUJO, HAESBAERT, 2007). Tal pensamento indica que é preciso duvidar das identidades absolutas tanto no plano coletivo

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quanto no plano individual. Além disso, é preciso ultrapassar a visão clássica de lugar ou território com apenas uma identidade nacional ou cultural.

Para Claval (1999), a identidade passa a ser identificada a partir do momento em que conseguimos responder a seguintes questões: como identificar uma cultura? Como compreender os limites de sua extensão e as formas que têm sua inserção no espaço? Qual a natureza e a importância das barreiras culturais?

De acordo com Haesbaert (2007), “[...] não existe hoje uma forma geral de identificação territorial”, é preciso fazer uma contextualização histórico-geográfica de cada território estudado. Dessa forma, pode-se pensar que a identidade só se forma a partir de uma base territorial, onde os sujeitos sociais se apropriaram do território e o desenvolvem de acordo com os conhecimentos que possuem, ou seja, aquilo que já era do seu cotidiano e que os fazia relembrar de aspectos antepassados. Esses indivíduos desenvolveriam o que Araujo (2007) denominaria de “identidade coletiva”, onde seus membros através do vinculo relacional entre os indivíduos, concebem uma “nova” identidade, porém com vínculos territoriais e culturais dos seus espaços de referencia anteriores.

Portanto, observa-se que, em Quatro Pontes (PR), não há apenas uma identidade, existem outros grupos ou sujeitos com múltiplas identidades, pois se percebe que não vivem apenas descendentes de migrantes europeus, como os alemães nesse município, ali vivem caboclos, gaúchos, italianos, e outros. Nesse sentido, acredita-se que a identidade de cada um, individual ou coletivamente, é um fenômeno plural, pois devido a influencia da globalização/modo de produção, desde o nascimento até a vida adulta, as pessoas estão em contato constante com outros hábitos, costumes e identidades, desenvolvendo uma identidade com valores reinventados a cada momento, isso porque a cultura perpassa os territórios, favorecendo assim a constante recriação da identidade cultural. É possível pensar também que a identidade territorial, enquanto produto de interesse geográfico; é a relação de uma determinada comunidade com o seu espaço vivido representada nas relações do sentimento de pertença, criando assim os territórios.

TERRITÓRIO

O termo território pode ser entendido aqui como

“porção do espaço geográfico na qual determinada comunidade se reconhece e se relaciona no seu agir coletivo” (POLLICE, 2010). Haesbaert (2007) corrobora dizendo que, as relações que se desenvolvem no espaço-tempo definem a

territorialidade dos grupos sociais. Para Sack (2013), “a territorialidade forma o pano de fundo são relações espaciais humanas [...] e indica que as relações espaciais humanas não são neutras. [...] são os resultados das influencias de poder”.

Segundo o geógrafo francês Raffestin (1993), a noção de território está associada à idéia de poder sobre um espaço politicamente delimitado e o exemplo mais significativo é Estado-Nação. Portanto, o território demarcado passa a ser considerada a matriz espacial do Estado nação. Isso nos leva a refletir que sem território não existe Estado nacional e nem mesmo identidade nacional.

Segundo Haesbaert (2007), a concepção de território surge de uma dupla conotação: material e simbólica, pois “não há território sem algum tipo de identificação e valoração simbólica (positiva ou negativa) do espaço pelos seus habitantes”. O autor diz ainda que toda identidade territorial é definida através do território, onde ocorre uma apropriação da realidade concreta e também que “não há território sem algum tipo de identificação e valoração simbólica (positiva ou negativa) do espaço pelos seus habitantes” (HAESBAERT, 2007). Assim, com base nessas considerações sistematizadas a partir de alguns autores, buscar-se-á compreender a identidade territorial construída no município de Quatro Pontes (PR), e sua relação com o espaço territorial produzido a partir da vinda de migrantes de outros territórios nacionais e regiões do país, pois, neste recorte espacial, identificamos claramente a presença de traços territoriais identitários ligados ou relacionados ao território nacional da Alemanha.

REFERENCIAS

ARAUJO, Frederico Guilherme Bandeira;

HAESBAERT, Rogério [et al]. Identidades e territórios: questões e olhares contemporâneos. Rio de Janeiro: Access, 2007.

CLAVAL, Paul. Geografia Cultural. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1999.

HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. Niterói: Eduff; São Paulo: Contexto, 2002.

POLLICE, Fabio. O papel da identidade territorial nos processos de desenvolvimento local. In: Espaço e Cultura, UERJ, R.J. nº 27, p. 7 – 23, jan/jun de 2010.

Raffestin, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

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Territórios da Infância: A Leitura Literária na Educação Básica (1)

Denise Scolari Vieira(2) Vanessa Carla do Amaral(3)

(1) Trabalho executado no âmbito do Programa de Mestrado Profissional em Letras-PROFLETRAS, vinculado ao Projeto de Pesquisa intitulado Literatura e Ensino e não possui dotação financeira. (2) Professora da área de Língua e Literatura Espanhola da UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) - campus de Marechal Cândido Rondon-PR. Professora de Literatura e Ensino do PROFLETRAS (Mestrado Profissional em Letras) da UNIOESTE- campus de Cascavel-PR. [email protected] (3) Acadêmica da Graduação em Letras- da UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná)- campus de Marechal Cândido Rondon-PR e pesquisadora de ICV –UNIOESTE- PRPPG. [email protected] RESUMO: A reflexão sobre o ensino de literatura efetivada no âmbito de combinação territorial entre a universidade pública e as escolas públicas de educação básica, pode afirmar-se na interdependência, em busca da aplicação de aportes metodológicos que superem as circunstâncias limitadoras. Trata-se de um processo múltiplo e híbrido, pois, tal relação dialógica tende a enfatizar as cenas da vida cotidiana de sujeitos que passam a repensar a própria configuração conceitual de seu entendimento sobre a linguagem, a língua, a literatura, o ensino, longe de automatismos. Então, pressupostos como a objetividade, a interpretação, a ambiguidade, o “real” se potencializam mediante pontos de vista que inviabilizam a linearidade, e se afastam de modelos preexistentes para mencionar a obra de arte/o fruidor/o leitor/o espectador. Desse modo são agenciadas novas significações que entendem o ato de leitura distanciado de um suposto fechamento. Do mesmo modo, é possível experimentar mudanças na compreensão das textualidades, que modificam radicalmente a aquisição do conhecimento e a apreensão dos significados da experiência de acesso ao livro e à leitura. Portanto, pretende-se investigar, mediante pesquisa bibliográfica, o referencial teórico conectado à formação do leitor do texto literário, bem como, ações de leitura e sua mediação pedagógica.

Palavras-chave: Mediação de Leitura; Ensino; Literatura.

INTRODUÇÃO

A ideia de leitura associada, unicamente, às rotinas da escolarização implica, evidentemente, no acesso limitado ao livro, na exposição limitada à palavra e, na restrita intimidade com a leitura/fruição, por grande parte da população brasileira. Desse modo, toda investigação sobre

cognição, produção do conhecimento, criação artística, promoção da leitura, práticas de mediação da leitura, maneiras de ler são ‘espaços vivos’ abertos ao debate sobre o acesso ao livro como direito de todos. Portanto, enfocar tal perspectiva, nos estudos de teoria literária, reúne possibilidades de estudo de postulados teórico- pedagógicos próximos ao campo da estética da recepção e, simultaneamente, às circunstâncias de efetivação de gestos, hábitos e espaços de leitura. (CHARTIER, 1999). Considerá-las no âmbito universitário, atualmente, significa evidenciar as relações políticas, identitárias e sociais subsumidas na vida cotidiana. Essas, também podem ser considerações importantes na compreensão da produção do conhecimento e do pensamento. Tal processo, relacional, reelabora a reflexão sobre autores, sobre a formação das comunidades de leitores, e sobre o acesso à leitura. Assim, em decorrência dessas conexões, pretende-se efetuar a busca do referencial teórico-bibliográfico que delineia concepções de literatura e seu ensino. Também serão consideradas as práticas direcionadas à formação da leitura literária, para que, os resultados dessa investigação, baseados em princípios e ações para o ensino de literatura, a formação do leitor, a fruição estética e a relação lúdica com os livros, sejam anunciados, em forma de comunicações em congressos da área e/ou oficinas pedagógicas entre alunos da graduação, professores da educação básica e comunidade em geral.

MATERIAL E MÉTODOS

A ideia de leitura associada, unicamente, às

rotinas da escolarização implica, evidentemente, no acesso limitado ao livro, na exposição limitada à palavra e, na restrita intimidade com a leitura/fruição, por grande parte da população brasileira. Desse modo, toda investigação sobre cognição, produção do

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Nesse contexto, surge a importância do componente lúdico como forma de ativação do processo criativo e imaginativo, que distende o processo mecânico e rígido de sistematização da aprendizagem.

Então, pretende-se, mediante práticas cooperativas, permitir situações de aprendizagem, em que, através de oficinas e mini-cursos sejam flexibilizadas estruturas de pensamento, sobre a prática pedagógica nas séries iniciais da educação básica. Dentro dessa perspectiva, acentuam-se atividades espontâneas, compartilhadas e dirigidas, a fim de traçar estratégias de intervenção, que levem em consideração a afetividade, a expressão corporal, a comunicação, dentro de uma motivação relacional. Desse modo, a sala de aula pode converter-se no espaço/tempo em que o desejo e a vontade de aprender potencializam cenas cotidianas capazes de minimizar a instabilidade provocada pelo ambiente escolar eminentemente racionalista.

RESULTADOS Trata-se de um projeto iniciado no ano de 2014, que está em andamento. Foram executadas atividades de intervenção pedagógica: a oficina “O jogo e o conhecimento. O lúdico na sala de aula da Educação Básica”, ocorrido em março de 2014, na UNIOESTE e o mini- curso “Geografia Literária do Cordel”, realizado na UNIOESTE, em junho de 2014. Mas, a partir de 2015, a acadêmica Vanessa Carla do Amaral, vinculou-se ao estudo sobre os temas aludidos, na condição de pesquisadora. Dessa maneira, foi realizada a oficina “Pluralidade Cultural: a Literatura de Cordel na Escola”, no Colégio Eron Domingues, para alunos da Formação Docente, em setembro de 2015. Até o momento, o projeto tem sido adequado e tem contemplado os objetivos propostos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Coordenação e Secretaria do PROFLETRAS- campus de Cascavel, à Equipe Pedagógica da Escola Eron Domingues e à aluna Vanessa do Amaral, que participa como Pesquisadora do Projeto ICV-UNIOESTE-PRPPG, sob minha orientação. REFERÊNCIAS

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BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.

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RESUMOS COMPLETOS

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Mercado e Religião: Presença Muçulmana Árabe na fronteira - O caso da cidade de Guaíra-PR.(1)

Graciele Alvares(2); Tarcísio Vanderlinde(3) (1) Trabalho executado com recursos da Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (Uma versão completa deste texto foi aceita para apresentação no GT Estado, Território e Fronteira, XI Encontro Nacional da ANPEGE - ENANPEGE). (2) Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Marechal Cândido Rondon- PR. [email protected]. (3) Professor do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Marechal Cândido Rondon- PR. [email protected] . RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo problematizar as transformações socioeconômicas na cidade de Guaíra no oeste do Paraná a partir do advento das migrações árabes muçulmanas. O município em questão faz fronteira com a cidade de Salto Del Guairá - Paraguai. A fronteira paraguaia destaca-se pelo remanescente crescimento do setor comercial, estimulado principalmente pelas diferenças do sistema tributário entre os dois países. Em anos recentes se instalaram na fronteira diversas famílias árabes muçulmanas vindas de vários países do Oriente Médio, com o intuito de comercializar a partir do Paraguai. Estas inicialmente fixaram-se na cidade de Foz do Iguaçu-PR, motivados pela tradição do comércio em Ciudad Del Este, PY. Nos últimos anos ocorreu um deslocamento secundário dos imigrantes da Ciudad Del Este para a cidade de Guaíra-PR. As possibilidades de comércio na fronteira motivam a mobilidade dos grupos de migrantes. Palavras-chave: Migração; comércio; identidade.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende tratar sobre as transformações socioeconômicas que ocorreram e ocorrem na cidade de Guaíra no oeste do Paraná, a partir do advento das migrações árabes muçulmanas. O município de Guaíra foi criado em 1951, faz fronteira com o Estado de Mato Grosso do Sul e com o Paraguai.

A fronteira com o município de Salto Del Guairá no Paraguai está contribuindo para significativas mudanças relacionadas à economia nos últimos anos. O baixo preço das mercadorias em Salto Del Guairá, pode ser considerado o principal estimulador dessa economia de fronteira.

Muitos brasileiros são atraídos pelas compras, ou em muitos casos, também para instituir

comércio na área da fronteira. A cidade paraguaia de Salto Del Guairá se destaca pela existência de pequenas lojas, camelôs e Shoppings. Neste meio estão trabalhadores e empresários de diferentes nacionalidades que são atraídos pela crescente expansão capitalista na fronteira.

Tal fato tem proporcionado às cidades próximas, Guaíra – PR e Mundo Novo – MS, a condição de cidades moradias. Pretende-se investigar se os moradores fixam residência nestas cidades e trabalham do outro lado da fronteira por motivos de segurança ou pela falta de moradia apropriada do lado paraguaio.

O Brasil foi meta de grandes fluxos migratórios no decorrer da história. Esses vieram inicialmente para Foz do Iguaçu-PR e nos últimos anos se presencia uma migração/emigração para a cidade de Guaíra – PR.

No município de Guaíra, ainda não existe uma mesquita, nem um bairro Islâmico, então os imigrantes acabam reunindo-se de outra forma para preservar e manter sua religião e sua cultura, através de reuniões nas residências, com intuito de garantir o exercício da religiosidade e manter suas tradições. Note-se que existem diferentes grupos e famílias, como aquelas que já estão no município há mais tempo, sendo que seus descendentes foram criados no ambiente cultural brasileiro. Já outros, levam a rigor o modo de vida islâmico.

A expansão das diversas formas de religiosidade e identidade mulçumana em Guaíra – PR vem alterando a dinâmica territorial. No contexto, “território identidade”, é importante considerar as condições históricas que levaram tais sujeitos a migrarem de seu país de origem, para outro mundo em busca de novas oportunidades.

O principal objetivo do trabalho é avaliar a formação de novas identidades locais em Guaíra a partir da presença muçulmana árabe, e dessa

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forma relacionar a presença árabe muçulmana na cidade de Guaíra com as mudanças na economia mundial e os fluxos contemporâneos de migrações.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa faz parte do Programa de pós-

graduação Mestrado em Geografia. Linha: Dinâmica Territorial e Conflitos Sociais em Espaço e Fronteira. Universidade Estadual Do Oeste Do Paraná- UNIOESTE, e buscará entender a presença muçulmana árabe num ambiente de fronteira, em específico no município de Guaíra, caracterizando um espaço híbrido em constante transformação.

A primeira etapa da pesquisa parte da leitura sistemática de livros, textos, artigos, jornais e outras fontes relacionadas ao tema proposto.

Na segunda etapa ocorrerão entrevistas, diálogos, depoimentos orais dos imigrantes e também da população local, através de perguntas objetivas que possibilitem a criação de informações referentes à pesquisa.

A terceira etapa contará com as análises dos dados e informações alcançadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As histórias de imigrantes árabes no Brasil são

muito parecidas com outros fluxos migratórios que o país já recebeu anteriormente. De acordo com Ykegaya (2006), os imigrantes mulçumanos árabes ao chegarem ao Brasil trabalhavam como mascates2, eram autônomos, não precisavam de muitos recursos para o investimento e não necessitavam dominar totalmente o português.

De acordo com Brant (2015) a segunda maior comunidade árabe muçulmana encontra-se em Foz do Iguaçu com 25% da população árabe islâmica do país, ficando atrás somente do Estado de São Paulo que representa 42% do total destes imigrantes no Brasil. O fluxo de imigrantes árabes no sul do Brasil ocorreu principalmente para a cidade de Foz do Iguaçu – PR, motivados pelo habitual comércio em Cuidad Del Este, Paraguai. Estes trouxeram notadamente seus costumes, idioma e a religião. “Verifica-se que o traço cultural que une tais nações independentes é o idioma árabe, além do que aos muçulmanos isto se concretiza na religião, já que o livro sagrado do Islã utiliza o árabe exclusivamente” (KNOWLTON, 2 Mercadores ambulantes e vendedores de "porta a porta", também chamados de “turcos da prestação”. A origem do termo "mascate" vem do árabe El-Matrac.

1960 apud BARAKAT, 2008, p.145). Nos últimos anos, foi possível perceber um deslocamento secundário dos imigrantes para a cidade de Guaíra – PR.

Guaíra é uma cidade com aproximadamente 31 mil habitantes, segundo censo do IBGE de 2010, e localiza-se numa fronteira internacional. A inauguração da ponte Airton Senna em 1998 facilitou o acesso a Salto Del Guairá, “a facilidade de locomoção, comunicação e integração econômica possibilitam a internacionalização do mercado de trabalho” (BRITO 1995, p. 24), cujos preços baixos das mercadorias proporcionaram uma alavanca para o retorno do crescimento econômico.

A cidade de Salto Del Guairá, conta com 11.298 habitantes, destes 6.653 estão na área urbana, segundo informações contidas na DGEEC – Dirección General de Estadísticas, Encuestas Y Censos (DGEEC, 2002). Informações recentes não oficiais apontam na época presente aproximadamente 40 mil habitantes.

Esse aumento significativo está indissociavelmente relacionado aos investimentos do mercado comercial. “Salto Del Guairá está no rol de investimentos do capital comercial, onde podemos observar que a região de fronteira internacional torna-se um trunfo estratégico para a expansão capitalista [...]” (MASUZAKI, 2013, p.12).

A fronteira entre Brasil e Paraguai, atrai investimentos de diversos setores e também dos mais diferentes grupos, como os chineses, paraguaios, brasileiros, libaneses e árabes.

A presença árabe se faz notar pelo modo característico de vida. Em uma temperatura de quase 40 graus, durante o verão, as mulheres estão sempre cobertas e usando a hijab3 conforme observa Barakat “De dia é fácil distinguir mulheres cobertas pelo véu fazendo compras pelas ruas” (BARAKAT, 208, p. 148).

Existe uma comunidade árabe tradicional no município de Guaíra. Comunidade essa composta basicamente por comerciantes que possuem residência do lado brasileiro da fronteira, fixando-se principalmente nas cidades de Guaíra - PR, ou na cidade de Mundo Novo - MS. Preliminarmente contatou-se que a escolha se deve por razões de segurança, educação dos filhos e também por figurarem a proximidade com outros sujeitos vindos do mundo árabe, já instalados nas cidades.

Tais sujeitos por sua vez, legitimam um grupo de trabalhadores que fazem o percurso diário

3 Hijab ou véu islâmico seria a cobertura de todo o corpo da mulher com exceção do rosto e das mãos.

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entre as cidades fronteiriças. Perfazem as estatísticas da migração pendular, entre as cidades de Guaíra/Mundo Novo e Salto Del Guairá. Os mesmos preferem residir em uma cidade e comercializar em outra, sendo duplamente estrangeiros.

Estes estrangeiros, predominantemente urbanos4, contribuíram para o crescimento do comércio internacional, trabalhando com os mais diversos setores, como eletrônicos, pirataria, tecidos etc. “Uma das esferas privilegiadas de interação e coordenação do estrangeiro na comunidade, o comércio facilita a entrada em grupos mesmo em lugares em que as posições econômicas estão ocupadas, seja na indústria ou na agricultura” (SIMMEL, 1983 apud SILVA, 2008, p. 361).

Compreende-se assim que o território é ambiente de construção de identidades idealizado como espaço de reprodução da sociedade.

A construção da identidade depende então da matéria prima proveniente da cultura obtida, processada e reorganizada de acordo com a sociedade, com objetivo de garantir o mecanismo que visa preservar tal identidade, fé e tradições.

Segundo Hall (2000) são cinco elementos principais de como estabelecer a narrativa da construção da identidade de um grupo. A existência da narrativa de nação. Ênfase na origem, continuidade e intemporalidade da tradição. A invenção da tradição. Um mito fundacional e a ideia de um povo original. Dessa forma, os muçulmanos em questão permanecem neste local, independente de sua corrente religiosa, muitos mulçumanos chegaram nessa região com intuído de ganhar dinheiro e voltar para o seu país de origem, mas o que mais se pode observar é a construção de novas famílias oriundas de filhos de imigrantes, levando a um crescente aumento do número de tais sujeitos.

A sociedade muçulmana vem ocupando o seu espaço, como fonte de transformação e adequando suas necessidades. Assim, com o passar dos tempos, vem criando raízes em determinados territórios. Território este que vem sendo ocupado cada vez mais por diversas nacionalidades.

4 Segundo as informações do IBGE (2010), entre os muçulmanos brasileiros, 21.042 são homens e 14.124, mulheres, a maioria esmagadora vive em áreas urbanas. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/24157/populacao+muculmana+cresce+29+em+10+anos+no+brasil.shtml?fb_comment_id=692769427425568_805691389466704.

O território como um todo se torna um dado dessa harmonia forçada entre lugares e agentes neles instalados, em função de uma inteligência maior, situada nos centros motores da informação. A força desses núcleos vem de sua capacidade, maior ou menor, de receber informações de toda natureza, tratá-las, classificando-as, valorizando-as e hierarquizando-as, antes de as redistribuir entre os mesmos pontos, a seu próprio serviço. (SANTOS, 2006 p.154).

O território é fonte de construção de identidade

do grupo, idealizado como espaço de reprodução da sociedade. Assim o território é a materialização dos limites da fixação, construindo formas de organização bem mais complexas.

A fonte da principal atividade econômica também vem sendo afetada pela crise econômica que se alastrou por todo o país nos últimos meses. Uma recessão econômica vem trazendo algumas dificuldades. A recessão vivida pelos brasileiros tem afetado continuamente o desenvolvimento comercial na fronteira. Um período de forte crise se espalhou e tem preocupado empresários que fizeram grandes investimentos no país estrangeiro, adquirindo mercadorias, pontos comerciais e até mesmo comprando imóveis. Como destaca Paterno (2015), no jornal O Paraná:

Com o dólar acima de R$ 3,00,

cenário consolidado a partir de outubro do ano passado, o volume de negócios na região de fronteira caiu drasticamente. Os números explicam melhor os efeitos da crise, uma das maiores da história. (PATERNO, 2015, p.11).

Muitos comércios estão fechando suas portas, outros acreditam que não passa de mais uma crise. Os comerciantes enfrentam também as constantes oscilações do dólar, moeda adotada pelo país, devido a sua maior valorização frente à moeda paraguaia, o “Guarani” e a brasileira, o “Real”.

CONCLUSÕES

Historicamente, os povos que escolhem o oeste do Paraná, migraram por diferentes fatores. Podendo ser eles de natureza cultural, natural,

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econômica. A mobilidade é motivada em grande parte pela situação econômica social dos migrantes.

Nos últimos anos fazem parte desse processo, jovens que migram de regiões do subcontinente asiático, no caso específico do Oriente Médio. Famílias inteiras aventuram-se na tentativa de “ganhar dinheiro” com o comércio internacional entre o Brasil e o Paraguai. Em sua grande maioria residem em Foz do Iguaçu, mas encontra-se também uma importante comunidade em Guaíra – PR, sujeitos esses, em geral, oriundos da Tríplice Fronteira: Brasil – Paraguai – Argentina.

A vinda dos imigrantes mulçumanos tem contribuído tanto para a intensificação do comércio quanto para a sua diversificação, residindo em Guaíra e fazem um deslocamento diário para a cidade de Salto de Guairá com a finalidade de trabalhar no centro comercial paraguaio.

É possível destacar ainda sobre as dificuldades encaradas por estes, as diferença linguísticas, logo que mesmo vindos de uma mesma região, possuem ramificações culturais diferentes. O árabe tem diversas variantes, distribuídas geograficamente pelos países do Oriente Médio, assim como diferentes variações religiosas.

Todavia a vinda de imigrantes para a região citada pode deixar o local com características distintas das cidades próximas. Importantes aspectos serão levantados durante a pesquisa, tais como: cenário propício, uma vez que houve circunstâncias para se tornar possível à fixação destes imigrantes no extremo oeste paranaense; como a presença árabe contribui para o fortalecimento do comércio, e o quanto a crise econômica brasileira dos últimos meses tem afetado o comércio deste grupo em questão.

Portanto a mobilidade desses sujeitos nos permitirá estabelecer informações quanto ao comércio paraguaio e a isenção de taxas que fazem do país vizinho um grande atrativo. Assim a vinda desses mulçumanos árabes contribuiu para a construção e reconstrução territorial, difundindo novas identidades perante os sujeitos existentes.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Tarcísio Vanderlinde pela cuidadosa revisão do texto e sugestões apresentadas. E também à agência financiadora CAPES (bolsa mestrado).

REFERÊNCIAS

BARAKAT, A. C. C. A Reconstrução e Manutenção da Identidade Muçulmana Libanesa em Foz do Iguaçu. História na Fronteira, Foz do Iguaçu, v.01, n. 1, p.143-161, jul./dez. 2008.

BRITO, Fausto. Os povos em movimento: as migrações internacionais no desenvolvimento do capitalismo. In: PATARRA, Neide (org.) Emigração e imigração Internacional no Brasil Contemporâneo, v. 2, Campinas, SP: FNUAP, 1995, p. 21-34.

HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós Modernidade. Rio de Janeiro. DP&A, 2000.

MASUZAKI, Teresa Itsumi. Mobilidade territorial do trabalho dos brasileiros no comércio em Salto Del Guairá - Paraguai. 2013. 164f. Dissertação (mestrado em Geografia). UNIOESTE: Marechal Cândido Rondon, 2013.

SANTOS, Milton, 1926-2001 A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção / Milton Santos. - 4. ed. 2. reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. - (Coleção Milton Santos; 1).

YKEGAYA, Tupiara Guareschi. Imigração Árabe em Foz do Iguaçu: A Construção de uma Identidade étnica. 2006 121f. Dissertação (Mestrado em Letras). UNIOESTE: Cascavel, 2006.

Fontes eletrônicas

BRANT, I. No Dia do Muçulmano, mulheres explicam como é seguir o Islã no Brasil: Folha de São Paulo. São Paulo, 06 mai. 2015. Disponível em: < http://folha.com/no1627905> Acesso em 02 set. 2015.

DGEEC. Disponível em: http://www.dgeec.gov.py/, acesso em: 12 jun. 2015.

IBGE. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/>, acesso em: 10 jun. 2015.

PATERNO, J. Paraguai fecha duas mil lojas e desemprega 10 mil pessoas: O Paraná. Cascavel, p. 11, 25 jun. 2015. Disponível em: <http://www.oparana.com.br/noticia/paraguai-fecha-duas-mil-lojas-e-desemprega-10-mil-pessoas/199/>, acesso em: 29 jun. 2015.

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ROCHA, A. População muçulmana cresce 29% em 10 anos no Brasil: Opera Mundi. São Paulo, 06 set. 2012. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/24157/populacao+muculmana+cresce+29+em+10+anos+no+brasil.shtml?fb_comment_id=692769427425568_805691389466704#f145420458>. Acesso em 03 set. 2015.

SILVA, Regina Coeli Machado. Reordenação de Identidades de Imigrantes Árabes em Foz do Iguaçu. Trab. Ling. Aplic., Campinas, [online]. 2008, v. 47, n. 2, p. 357-373. ISSN 2175-764X. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo>, acesso em 28 jun. 2015.

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A Luta dos indígenas pelo território no município de Guaíra-PR Vanessa Bueno Arruda(1); Djoni Roos(2)

(1) Acadêmica do quarto ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon-PR, [email protected] (2) Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Marechal Cândido Rondon. e-mail: [email protected] RESUMO: O presente artigo tem por objetivo discutir a luta pela demarcação das terras indígenas dos Avá-Guaranis no município de Guaíra-PR, bem como analisar o conflito territorial estabelecido entre proprietários de terra e os indígenas. Os atuais conflitos existentes no referido município indicam que há uma questão agrária a resolver, no qual a centralidade está na posse e uso da terra. Para compreender este conflito têm sido estudadas três aldeias indígenas: Tekoha Y´hovy, Tekoha Karumbey e Tekoha Mirim, todas resultantes do processo de luta pela reterritorialização destas populações. Palavras-chave: Resistência indígena, agronegócio, demarcação.

INTRODUÇÃO

Desde o ano de 2012, quando os indígenas da etnia Avá-Guarani começaram a se organizar pela demarcação de suas terras acentuaram-se os conflitos entre indígenas e proprietários de terras no município de Guaíra/PR. A reivindicação para que o Estado demarque os territórios indígenas tem gerado perseguições, violências sexuais e assassinatos de indígenas. Há também o discurso da mídia, que, a serviço da classe dominante dissemina o preconceito opondo a população urbana e os pequenos agricultores aos indígenas. Tais discursos surgem dos grandes proprietários de terras, empresas e lideranças políticas que veem a luta indígena como ameaça ao aumento de sua acumulação. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo discutir a luta pela demarcação de terras e o conflito que esta ocorrendo entre proprietários de terras e os guaranis, bem como a resistência indígena.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada na presente pesquisa

centra-se na coleta de dados primários através de investigações a campo junto a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), ao Ministério Público Federal e com a aplicação de entrevistas e questionários

previamente estruturados aos indígenas das aldeias TekohaY´hovy, Tekoha Karumbey e Tekoha Mirim.

O estudo de referências relacionadas aos conflitos entre indígenas e agronegócio somadas as análises de textos e matérias veiculados pela mídia em geral (jornais impressos, sites da internet etc.) também fazem parte da metodologia e irão colaborar na apreensão das disputas travadas no município de Guaíra. O acompanhamento dos dados do Banco de Dados da Luta pela Terra no Paraná (DATALUTA-PR) também se constituíra numa importante fonte de pesquisa para a compreensão dos conflitos agrários.

A LUTA INDÍGENA NO OESTE DO PARANÁ A mesorregião Oeste do Paraná é historicamente

marcada por conflitos agrários. O surgimento de um conjunto de movimentos de luta pela terra na região, como o Movimento Justiça e Terra, Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste (MASTRO) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é evidência deste processo histórico conflituoso, qual origem está na posse e uso da terra. Embora a maioria dos conflitos pela terra no Oeste do Paraná oponham camponeses (posseiros, ilhéus, sem-terra, pequenos agricultores etc.), grandes proprietários rurais e o Estado, os povos indígenas também possuem relevante importância neste contexto de enfrentamentos. Ao longo da história, os indígenas foram expulsos violentamente de suas terras. Inicialmente com o processo de colonização da região e posteriormente com a construção do reservatório para a Usina Hidrelétrica de Itaipu e do Parque Nacional do Iguaçu. Packer (2013), destaca que desde a colonização no Oeste do Paraná, não houve auxilio do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) órgão indigenista da época, já que o objetivo da vinda das colonizadoras ao Oeste era garantir o progresso da região, utilizando a mão de obra indígena e em seguida expulsá-los de forma violenta de suas terras. Ainda conforme este autor a construção do Parque Nacional do Iguaçu e da Itaipu foram projetos que massacraram os índios guaranis. Para fugir do genocídio, alguns indígenas foram para outras regiões do Paraná,

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Mato Grosso do Sul e Paraguai, outros resistiram e continuaram na região.

Portanto, os conflitos envolvendo indígenas na região Oeste do Paraná não são recentes, pois o processo histórico de “ocupação” e incorporação deste espaço a dinâmica nacional é marcado pelo genocídio indígena. Neste contexto, vários são os casos de resistência dos povos indígenas, como, por exemplo, a aldeia Avá-Guarani do Oco´y em São Miguel do Iguaçu (CARVALHO, 2013), entre outras diversas lutas isoladas que acarretaram em ocupações indígenas na região. A partir de 2012, ganha destaque a resistência dos povos Avá-Guaranis no município de Guaíra, os quais começam a se organizar na luta pela demarcação de suas terras tradicionais.

A partir de tal organização tem ocorrido conflitos entre indígenas e proprietários de terras. A reivindicação dos indígenas é a demarcação de uma porção de terra que está sendo utilizada pelo agronegócio, acirrando a violência e o preconceito contra os indígenas. O objetivo dos indígenas é preservar seu modo de vida, assentado numa cultura específica e garantir sua sobrevivência, pois para eles a terra é considerada sagrada, diferente do agronegócio que produz para obter lucro.

Quando os indígenas ocupam uma determinada área, ocorre a disputa com os proprietários de terra. Com a ajuda da mídia, os proprietários de terra, empresas locais e lideranças políticas inserem o discurso ideológico de que os indígenas são invasores e querem tomar as terras de todo o Oeste do Paraná, fazendo com que a população fique contra os indígenas, não compreendendo a verdadeira luta dos mesmos.

Hoje os indígenas Avá-guarani tentam retornar ao local em que viviam seus antepassados e se mobilizam em busca de um território de sobrevivência para assim prosseguir com seu modo de vida. A identidade religiosa se relaciona diretamente com a natureza e o território, possuindo um sentimento por aquele local. O que se percebe é que até hoje os guaranis buscam pela sua terra sagrada para prosseguir com sua cultura, é neste sentido que se fala na língua guarani: “sem tekoha não há teko”, ou seja, sem a terra não há vida.

Deste modo, a luta dos indígenas Avá-Guarani possui suas especificidades, uma delas é considerar a terra como algo sagrado. Por esta razão que os indígenas escolheram aquele determinado local, para manter o vínculo com os seus antepassados

que viveram e morreram lutando pela terra. “(...) para o indígena a terra não é somente o meio de produção, mas parte sua integrante, expressa na relação homem-natureza fundamentada na sua cultura.” (FARIA, 2013 p. 6).

Atualmente, no município de Guaíra, há aproximadamente 350 famílias, cerca de 1.800 indígenas, distribuídas em oito aldeias frutos das retomadas (FARIA, 2013). A situação nestas aldeias é bastante precária, há falta de alimento, luz elétrica, saneamento básico, entre outros. “(...) as aldeias estão em diminutos fragmentos de remanescentes florestais em áreas de reserva legal ou de proteção permanente, ‘cercadas’ pelo agronegócio ou pela periferia da cidade.” (FARIA, 2013, p. 3).

Com o conflito entre agronegócio e indígenas, os guaranis se organizam frequentemente para reivindicar pelos seus direitos. Como, por exemplo, em abril, em que indígenas de Guaíra e Terra Roxa protestaram pela demarcação de terras e contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 215). Tal proposta transfere do governo federal para o Congresso a oficialização da demarcação de terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação, sendo um retrocesso para os indígenas. Este protesto fez parte da Mobilização Nacional dos Povos Indígenas (Figura 1).

Figura 1: Mobilização Nacional dos Povos Indígenas Fonte: ARRUDA, V.B.

Em agosto de 2015 a aldeia Tekoha Y´hovy

publicou uma carta, chamando a atenção do Ministério Público sobre os casos de suicídios

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principalmente de jovens indígenas. Desde 2010, houve 11 suicídios, dentre eles 8 são de adolescentes indígenas. Este número de suicídios é preocupante. A carta ainda mostra que os jovens indígenas não estão vendo perspectivas para continuar lutando, já que são vítimas de preconceito nas escolas por colegas e professores. Além das ameaças, perseguições e abusos sexuais que os jovens sofrem como exemplo da indígena Amélia de 18 anos, que foi estuprada e agredida em 2014 (BREDA, 2014). Outro fator é a situação precária em que povo indígena vive, como falta de saneamento básico, luz, alimento, saúde e educação precárias. A carta da Tekoha Y´hovy destaca o grande número de suicídios de índios do Mato Grosso do Sul e temem que os guaranis de Guaíra e Terra Roxa vão para o mesmo caminho, enquanto isso o Estado está em silêncio diante da violência e massacre contra os povos indígenas. Há ainda um trecho na carta que afirma:

Pedimos ao MPF segurança para as

nossas Tekohas, devido as ameaças que constantemente temos sofrido, pois de nada adiantaria tomar atitudes só depois que as coisas já aconteceram, temos que agir de modo a prevenir as ações criminosas dessas organizações que estão fomentando o ódio e a violência contra o nosso povo. (Y´HOVY, 2015, não paginado).

Uma das organizações que a carta se refere é a

Organização Nacional De Garantia ao Direito de Propriedade (ONGDIP), sendo organizada em 2012 pelos ruralistas da região contra as ocupações dos indígenas. É importante destacar com o trecho da carta a urgência pela demarcação das terras indígenas, já que frequentemente estas populações sofrem sistematicamente com ameaças de morte.

Portanto, no oeste do Paraná há um conflito agrário que não foi resolvido e um dos exemplos é o conflito entre os ruralistas e indígenas. Tal questão tem a posse e uso da terra como centralidade. Neste sentido que se pretende compreender o conflito social e territorial entre o agronegócio e os indígenas. Além de compreender a luta e a resistência indígena no processo de demarcação de terras no município de Guaíra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Oeste do Paraná houve e há vários conflitos pela terra, não somente envolvendo os indígenas, mas também camponeses, posseiros, quilombolas, entre outros. Portanto, o agronegócio se apropria dos territórios indígenas de uma forma brutal para se desenvolver, porém tanto os camponeses quanto indígenas resistem, lutando pelo território. Neste contexto concorda-se com (FABRINI; ROOS, 2014, p.7) que “se de um lado o agronegócio é sinônimo de produtividade, de outro é excludente, promotor da miséria, degradação ambiental, violências e tantas outras barbáries.”. Há uma disputa pelo entre classes antagônicas: de um lado camponeses, indígenas, quilombolas entre outros, de outro o agronegócio. Tais conflitos indicam que há uma questão agrária a resolver e que a centralidade desta está na posse e uso da terra. Assim, para contribuir na compreensão das origens da questão agrária explícita no município de Guaíra/PR, têm sido empregados esforços no estudo das disputas territoriais entre indígenas e o agronegócio. Com a análise das disputas territoriais instauradas, as quais refletem a luta e a resistência indígena, procura-se apreender historicamente o contexto agrário da mesorregião relacionando-o com as origens dos conflitos, as reverberações nos dias atuais e a organização política dos indígenas neste processo.

REFERÊNCIAS BREDA, Tadeu. Guaranis resistem a preconceito enquanto exigem demarcação no Paraná. Disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/07/guaranis-do-parana-resistem-a-preconceito-enquanto-exigem-demarcacoes-na-fronteira-com-paraguai-6739.html Acesso em 14 de setembro de 2015.

CARVALHO, Maria Lúcia Brant. Das Terras dos Índios a Índios Sem Terra, o Estado e os Guarani do Oco´y: Violência Silêncio e Luta. Tese de doutorado em Geografia, São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013.

FABRINI, João Edmilson; ROOS, Djoni. Conflitos Territoriais entre o Campesinato e o Agronegócio Latifundiário. São Paulo. Outras Expressões, 2014.

FARIA, Camila Salles. Luta dos Guaranis pelo uso da terra. In: VI Simpósio Internacional de Geografia

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Y´HOVY, Tekoha. Carta dos indígenas Avá- Guarani da Tekoha Y´hovy em Guaíra-PR. Disponível em: https://enconttra.wordpress.com/ Acesso em 14 de setembro de 2015

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A patologia da AIDS na Faixa de Fronteira: algumas considerações

Cesar Luis Bauermann(1) ; Mauro José Ferreira Cury(2) ;

(1) Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE. Bolsista Capes. [email protected] (2) Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná. UFPR. Professor Adjunto C da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus de Foz do Iguaçu. Docente dos Programas de Strictu-sensu em Geografia da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon e Sociedade, Cultura e Fronteiras da UNIOESTE – Campus de Foz do Iguaçu. Líder do Grupo de Pesquisa Turismo e Hospitalidade CNPq. E-mail: [email protected].

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo discutir possíveis determinantes da incidência da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS na Faixa de Fronteira, investigando os efeitos da presença do limite político internacional no comportamento dessa doença e no atendimento à saúde das populações fronteiriças. O estudo dessa patologia na fronteira torna-se relevante pela sua complexidade de determinantes sociais. A transmissão dessa doença está ligada diretamente à mobilidade humana no espaço geográfico, que contribui para a difusão do agente etiológico. Como fundamentação metodológica na busca da realização dos objetivos propostos, será realizada uma investigação com abordagem exploratória descritiva. Busca-se durante a pesquisa analisar, interpretar e compreender o universo que se encontra a propagação desse vírus, considerando os fatores de risco no cotidiano da população residente na faixa de fronteira. Palavras-chave: Fronteiras, Saúde, Território.

INTRODUÇÃO

A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - AIDS é provocada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, um retrovírus que ataca o sistema imunológico do organismo. O vírus é transmitido por via sexual, pelo sangue (via parenteral) e da mãe para o filho, no curso da gravidez durante ou logo após o parto pelo leite materno.

A evolução clínica da infecção pelo HIV pode ser dividida em três fases: infecção aguda, infecção assintomática e doença sintomática da qual a AIDS é sua maior expressão. A principal diferença para outras epidemias é a velocidade de sua difusão, ela tem penetrado em diferentes culturas e espaços, atinge pessoas de todas as faixas etárias, gênero e níveis socioeconômicos.

O rápido avanço e sua ampla disseminação demonstram que, a comunidade mundial está

intimamente interconectada e que as barreiras geográficas e as fronteiras políticas conservam um caráter apenas simbólico em relação à doença.

A Geografia é uma importante ciência para analisar a saúde da população de fronteira, pois, ao considerar as características da organização social, pelas relações entre o território e a saúde, verifica que os limites políticos internacionais não são obstáculos para a propagação de doenças nas zonas de fronteira, pode ocorrer o estímulo à difusão.

Nessas áreas, os fluxos transfronteiriços apresentam intensa interação, e nem sempre há uma cooperação institucionalizada entre os serviços de saúde local de cada lado da fronteira (PEITER, 2005).

A perspectiva desse trabalho é oferecer dados e subsídios sobre o desenvolvimento da patologia na fronteira, que inicia com uma base conceitual, uma análise crítica que permitam superar as problemáticas que certamente serão encontradas e analisadas; assim, apontar sugestões às políticas nacionais de saúde, as esferas internacionais, nacionais e regionais.

Deste modo, pretende-se fortalecer o combate e fortalecer o controle social pela via da ampliação do conhecimento sobre o setor de saúde na fronteira, o que é pouco conhecido. Nesse processo de produção do conhecimento propiciado pelo desenvolvimento desta pesquisa, a premissa central é avaliar a dinâmica da disseminação da doença na Faixa de Fronteira.

MATERIAL E MÉTODOS

A fundamentação metodológica na busca da realização dos objetivos propostos será realizada uma investigação com abordagem exploratória descritiva. Busca-se analisar, interpretar e compreender o universo que se encontra a propagação da patologia de estudo, considerando

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os fatores de risco no cotidiano da população residente na Faixa de Fronteira.

Salienta que as pesquisas exploratórias são aquelas que têm por objetivo explicitar e proporcionar maior entendimento de um determinado problema. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisador procura um maior conhecimento sobre o tema.

Um estudo corretamente objetivo da fronteira depende da incorporação em suas complexas e até misteriosas formas como a referência mais relevante durante a pesquisa. É impossível pesquisar e conhecer por meio da hipocrisia convencional e pasteurizada das recomendações de manual, sem aceitar a radicalidade do confronto que define a situação social da fronteira (MARTINS, 2009). RESULTADOS E DISCUSSÃO

A realização desta pesquisa referente à territorialidade estabelecida pelo AIDS num território fronteiriço tem a finalidade pela caracterização geográfica em sua temática, e pelas possibilidades de uma nova perspectiva de conhecimento. O surgimento dessa doença marcou um novo ordenamento sanitário em nível mundial, mostra que as fronteiras não são capazes de nos proteger da difusão de determinadas epidemias e patologias o que a tornam porosas.

No âmbito da geografia, a fronteira é tema de investigação desde o início de sua ciência, e nessa trajetória, suas interpretações partiram de diferentes parâmetros de pesquisa, resultando em diferentes compreensões.

Conforme Faria e Bortolozzi (2009), os conceitos geográficos contribuem para o entendimento dos processos de saúde-doença na era da globalização, pois apresentam a manifestação social e o estudo do espaço sobre as práticas de gestão da saúde pública, devido às epidemias e fluxos em que as doenças se disseminam.

A ideia de fronteira antes vista como um assunto exclusivo de interesse militar foi ultrapassado pelo dinamismo das relações comerciais, políticas e comunitárias, ocorrendo não apenas uma perda da função dos limites e das fronteiras no âmbito internacional, mais sim um processo de reinvenção realizado pela vivência das populações locais, redefinindo seus conceitos clássicos (Silva, 2011).

As fronteiras estão constantemente reconfiguradas e modificadas, demonstra que seu

dinamismo seja objeto de estudos que permeiam a interdisciplinaridade em sua compreensão, pois, estas fronteiras não são mais as mesmas do passado. Por oferecerem oportunidades de contato entre indivíduos de variadas origens, criam-se novas redes relacionadas a questões socioambientais, gênero, economia, política e cultura, nas quais as populações envolvidas estabelecem novas dinâmicas comportamentais.

As regiões fronteiriças necessitam de estudo que associe a cultura e os processos definidos pelo capital, principalmente nos fluxos migratórios. É a partir dos processos de territorialização que ocorrem as formas de dominação do espaço, mediando às relações de poder, tanto de maneira concreta, como de maneira simbólica (HAESBAERT, 2006).

O distanciamento das fronteiras nacionais com a sede do poder do Estado Nacional em que centraliza as questões políticas, sociais e econômicas faz com que problemas referentes aos recursos, os serviços sociais e cuidados especializados com a saúde, estejam longínquos da população que vive a fronteira (BRASIL, 2003).

Estudos realizados por Peiter (2005), Rocha (2008) e Junior (2007) demonstram que populações de alta mobilidade como (caminhoneiros, trabalhadoras do sexo e militares), as populações migratórias e ou transitórias, estão associada a altas taxas de infecção do vírus da AIDS que se dissemina a partir de áreas de alta para as de baixa prevalência em indivíduos de grande mobilidade.

Acrescente-se que, em geral, nas áreas de fronteira há um número maior de migrantes do que em outras zonas com características similares, mas afastadas das fronteiras. No Brasil, é oportuno lembrar que a porcentagem de estrangeiros nas áreas de fronteiras é de 2,5%, quatro vezes maior que a média do país (0,6%) (BRASIL, 2003).

Os municípios de fronteiras do Brasil têm apresentado inúmeras dificuldades em prover a sua população uma atenção integral de serviços de saúde. As mesmas dificuldades têm sido observadas nos países fronteiriços, gerando uma movimentação das populações ali residentes em fluxos, ora num sentido ora em outro, na busca de melhor oferta de ações e serviços de saúde.

Outro fato é que países com sistemas de saúde muitos diferentes podem ter profunda influência no comportamento dos indivíduos principalmente no âmbito sexual. Em geral, o comportamento sexual envolve um complexo

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conjunto de interações governadas por uma série de valores individuais, familiares e sociais. Quando as pessoas são retiradas dessa rede de relações por migração, elas enfrentam uma maior vulnerabilidade ao HIV/AIDS.

A demarcação das fronteiras se confronta com outras dialéticas, que assinalam distintas formas de vivenciá-las. Para a população que reside na fronteira, em certas ocasiões, as relações sociais podem ser compreendidas como algo homogêneo, um “nós”, numa percepção de um grupo definido não por fronteiras políticas, mais sim por relações culturais, por exemplo, derrubando as fronteiras e criando uma nova concepção. A mobilidade populacional apresentada nos territórios de fronteira identificam diversos problemas na área da saúde para os cidadãos que nelas vivem.

No Brasil, o principal complicador é o critério que o Sistema Único de Saúde - SUS, no qual adota o contingente populacional como meio regulador e aplica o repasse de investimentos aos municípios; o que não condiz com a realidade vivida nas fronteiras. Assim, ao não contabilizar as populações estrangeiras ou de brasileiros que residem em países vizinhos, mas que procuram o SUS, o planejamento local fica ineficiente, pois há mais demandas do que os serviços e recursos repassados para os municípios.

Não existe um marco regulatório único para tratar do direito do estrangeiro ao sistema de saúde, nem normas e regras aplicáveis a todas as cidades de fronteira, mesmo havendo previsão dessa demanda. Alguns municípios atendem essa demanda dependendo do nível de complexidade, outros simplesmente se recusam a esse atendimento. A decisão acaba sendo do gestor local, dependendo da pressão que ele sofre, e do seu conceito de solidariedade, pois não há jurisprudência quanto ao direito do estrangeiro fronteiriço ao SUS, bem como aporte de recurso estadual ou federal para que o município fronteiriço atenda essa demanda.

Nota-se que nos países fronteiriços não possuem alternativas e qualificações necessárias para atender sua população, incentivando assim o cidadão da fronteira a buscar alternativas quanto ao acesso à saúde. Existe uma ampla quantidade de movimentos de imigrantes lutando por direitos de cidadania no lado brasileiro, onde se questiona as classificações oficiais e legalistas desses Estados que continuam nomeando os estrangeiros como “ilegais” ou/e “clandestinos”.

A falta de aplicação de políticas públicas que realmente mudem o cenário atual da saúde na

fronteira, aliado ao grande fluxo de estrangeiros que buscam no lado brasileiro uma melhor oferta de ações e serviços de saúde, vem criando insatisfação tanto aos gestores públicos, que se deparam diariamente as inúmeras dificuldades para administrar suas secretarias, como também aos profissionais da saúde, que encontram uma estrutura defasada e que não permite atender a demanda de usuários que a procuram, dificultando o controle de inúmeras doenças entre elas a AIDS.

A mobilidade populacional no território e nas territorialidades transfronteiriças está interconectadas pelas porosidades existentes na fronteira e que a transmissão AIDS contribui para a difusão deste agente etiológico. É, portanto, fundamental apresentar e caracterizar os aspectos geográficos relacionados com as condicionantes e determinantes da epidemia da AIDS na fronteira. Desta maneira, é indispensável verificar os meios utilizados para o acesso ao atendimento. É relevante pela sua complexidade de determinantes sociais.

CONCLUSÕES

As políticas e as ações em nome da saúde

pública na fronteira traduzem tensões e dilemas relacionados às reivindicações do Estado, mas também aponta para um complexo movimento de ampliação de direitos e práticas de integração fronteiriça. Os direitos universais à vida e à saúde entram em colisão com os limites orçamentários dos setores de saúde e a defesa do atendimento somente para os residentes daquele município ou de outra cidade brasileira (ALBUQUERQUE, 2012).

A atenção à saúde nas fronteiras é algo complexo, envolve diferentes países, culturas, políticas e atores. Justamente por esses motivos, o controle a transmissão de doenças em geral e, especificamente no que se refere ao HIV/AIDS é um aspecto delicado. O intenso tráfego de pessoas e mercadorias nem sempre controlados por ambos os governos oferece risco a saúde das populações fronteiriça. Adiciona-se a isso, a circulação de pessoas por diferentes espaços geográficos e que encontram em situação de vulnerabilidade laboral, como o caso de caminhoneiros, prostitutas, comerciantes, turistas e outros fatores que contribuem para aumentar o risco frente ao HIV/AIDS.

As políticas públicas devem auxiliar os gestores municipais de saúde na elaboração de estratégias, melhorando os sistemas de saúde

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locais, porém não é o que acontece. Ao mesmo tempo em que alguns programas garantem o atendimento, legislações dificultam a inserção do usuário, como a obrigatoriedade do cartão SUS, por exemplo.

Acredita-se que a movimentação de usuários estrangeiros nos serviços de saúde repercute diretamente na vida de sua população, pois há uma sobrecarga nas redes de atendimento (postos de saúde, hospitais, etc.), dificultando o acesso, a prestação e a qualidade do atendimento solicitado. A política de saúde é pensada e planejada para uma população residente, o que difere na prática da população de referência. O acesso de estrangeiros aos serviços de saúde brasileiros vem se consolidando apenas em situações de emergências, casos de risco de morte e de atenção à doença e não na atenção à saúde.

REFERÊNCIAS

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BHABHA, Homi K. “Disseminação – o tempo, a narrativa e as margens da nação moderna”. In: O local da cultura. Tradução: Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renata Gonçalves. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 1998.

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HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: www.ibge.com.br. Acesso em: março, 2015.

JUNIOR, Antonio Luiz Rodrigues. Geoepidemiologia da AIDS e das doenças oportunistas transmissíveis na faixa de fronteira brasileira. Tese de livre-docência, apresentada à faculdade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Departamento de medicina social. São Paulo, 2007.

LINDO, Paula Vanessa de Faria. Geografia e política de assistência social: territórios, escalas e representações cartográficas para políticas públicas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.

LINI, Priscila. Políticas públicas na fronteira trinacional: o desafio ao pleno exercício da cidadania. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 4, n. 1, 2014 p. 173-184.

NOGUEIRA V.; DAL PRÀ Karla. R. Mercosul: expressões das desigualdades em saúde na linha da fronteira.Ser Social, Brasília, n. 18, p. 159-188, jan./jun. 2006. Disponível: books.scielo.org/id/wcdsj/pdf/organizacao-9788575413982-00.pdf

PEITER, Paulo César. Geografia da saúde na faixa da fronteira continental do Brasil na passagem do milênio. 2005. 308 p. Tese (Doutorado em Geografia) - Programa de Pós Graduação em Geografia - Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/IGEO/PPGG. Rio de Janeiro, 2005.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

ROCHA, Elias Marcelino. DST e AIDS em região de fronteiras: um estudo com caminhoneiros no Estado de Rondônia. 149 p.l Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade de Brasília, 2008. Disponível em: repositorio.unb.br/handle/10482/1135. Acesso em março, 2015.

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O impacto do cheque do leite no comércio regional dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu - PR (1)

Adriana Eliane Casagrande(2); Edson Belo Clemente de Souza(3)

(1) Trabalho executado com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

(2) Mestra em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e professora na Secretaria de Estado da Educação do Paraná; [email protected]; (3) Professor Associado da Unioeste. Pesquisador do CNPq e Fundação Araucária; [email protected] RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar a relação campo-cidade nos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu, tendo como enfoque a influência que o cheque do leite exerce no comércio regional. O cheque do leite corresponde a um pagamento periódico, efetuado pelas indústrias de laticínios aos produtores rurais que comercializam esse produto. Acredita-se, que, por meio do cheque do leite, os produtores rurais podem realizar mensalmente suas compras na cidade, diferentemente dos rendimentos oriundos de safras, que geralmente ocorrem sazonalmente. Para confirmar essa hipótese, foram realizadas, por meio de trabalho de campo, entrevistas com agricultores e com comerciantes de alguns dos municípios da região. Constatou-se que o cheque do leite ainda é atuante na região, sendo uma forma de o agricultor movimentar a economia dos municípios, tornando-se, nesse contexto, um elemento de ligação entre o campo e a cidade. Palavras-chave: relação campo-cidade; cheque do leite; Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu.

INTRODUÇÃO A presente pesquisa analisa a dinâmica

populacional da região Costa Oeste do Paraná, tendo como foco a relação campo-cidade. Essa região, também conhecida como Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu/PR, compreende uma área de 1400 km2 que margeia o Lago de Itaipu no lado brasileiro, localizada na fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina, sendo composta por quinze municípios: Diamante D’Oeste, Entre Rios do Oeste, Foz do Iguaçu, Guaíra, Itaipulândia, Marechal Cândido Rondon, Medianeira, Mercedes, Missal, Pato Bragado, Santa Helena, Santa Terezinha de Itaipu, São José das Palmeiras, São Miguel do Iguaçu e Terra Roxa.

Essa região se configura a partir da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu e a consequente formação do Lago, no ano de 1982.

Dessa maneira, o objetivo principal deste trabalho é analisar a relação campo-cidade da região Costa Oeste do Paraná enfocando a influência que o cheque do leite exerce no comércio regional. Para isso realizou-se uma breve caracterização da agricultura regional, assim como foram realizados trabalhos de campo, com entrevistas à agricultores e comerciantes da região, questionando-os se o cheque do leite ainda exerce influência no comércio.

O cheque do leite corresponde a um pagamento periódico, efetuado pelas indústrias de laticínios aos produtores rurais. Acredita-se, que, por meio do cheque do leite, os produtores rurais podem realizar mensalmente suas compras na cidade.

Dessa maneira, ressalta-se que o cheque do leite ainda é atuante na região, sendo uma forma de o agricultor movimentar a economia dos municípios, tornando-se, nesse contexto, um elemento de ligação entre o campo e a cidade.

MATERIAIS E MÉTODOS Para realizar uma análise empírica da relação

campo-cidade na região, enfocando o consumo dos agricultores no comércio, foram realizados trabalhos de campo com entrevistas para os seguintes grupos: (i) agricultores da região Costa Oeste do Paraná (30 entrevistados), (ii) Associação Comercial e Empresarial de Marechal Cândido Rondon (ACIMACAR), e (iii) estabelecimentos comerciais.

No tocante às entrevistas com representantes de estabelecimentos comerciais, foram aplicados 20 questionários, sendo 10 em Marechal Cândido Rondon e 10 em Santa Helena.. Também se aplicou um questionário para um representante da Associação Comercial e Empresarial de Marechal Cândido Rondon (ACIMACAR), no intuito de compreender a importância agricultura na região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Compreende-se que, na região Costa Oeste do Paraná, a agricultura tem importante papel na economia dos municípios, e que, por isso, é relevante realizar uma análise da realidade agrícola regional. Assim, inicialmente, faz-se uma caracterização da agricultura na região.

Em relação ao Oeste paranaense, região na qual os municípios lindeiros ao Lago de Itaipu estão inseridos, de acordo com o IPARDES (2008), essa porção do estado, ao ser uma “última fronteira” de ocupação e expansão da exploração agropecuária, reúne indicadores econômicos e institucionais que a situam entre os três espaços de maior relevância do Paraná, sendo uma das regiões onde a complementaridade das atividades produtivas resulta em uma agroindústria dinâmica e com importantes impactos regionais.

Ferrari (2009, p. 48) também afirma que “[...] nas cidades que compõem a região Oeste do Paraná as relações sociais, econômicas e políticas estão diretamente dependentes do setor agrícola”. Assim, constata-se a importância da agricultura na região Oeste paranaense, na qual estão incluídos os municípios em estudo.

Nessa região predominam as pequenas propriedades, regidas principalmente pela agricultura familiar. Esse predomínio de pequenas propriedades deve-se ao processo de ocupação do Oeste paranaense. Os migrantes que chegaram à região, entre 1950 a 1970, oriundos principalmente do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, eram, em sua maioria, pequenos proprietários rurais, com algum capital, atraídos pela possibilidade de construir um futuro mais promissor ou eram, simplesmente, expulsos pelo processo concentracionista em seus locais de origem (IPARDES, 2008).

Ressalta-se, ainda, que, desde o processo de ocupação, a agropecuária realizada por esses migrantes estava voltada ao mercado, não se tratando, portanto, de produtores rurais de subsistência, e sim de produtores inseridos e conhecedores das lógicas de mercado (IPARDES, 2008).

Sobre as atividades econômicas, constata-se que a maioria dos agricultores trabalha com pluriatividades em suas propriedades (Tabela 1), especialmente com culturas temporárias (soja, milho, mandioca, hortaliças) e com criações (gado e produção de leite, frangos e suínos), numa forma de diversificação econômica.

Tabela 1 – Região Costa Oeste do Paraná − Atividades econômicas desenvolvidas nas propriedades agrícolas − 2013 Atividades Econômicas N°

Propriedades Pluriatividades 15 Somente culturas temporárias 6 Somente suinocultura 0 Somente atividade leiteira 7 Somente avicultura 1 Horticultura 1 Fonte: Trabalho de Campo realizado em 14 dez. 2013. Elaboração: Adriana E. Casagrande.

Dessa maneira, após compreender como está

estruturada a agropecuária na região em estudo, procurou-se analisar se o cheque do leite exerce influência no comércio regional. Para isso, como já citado, foram realizadas entrevistas com alguns estabelecimentos comerciais na região.

Sobre a importância da agricultura, todos os estabelecimentos comerciais afirmaram que a agricultura tem importância para a economia de seus municípios. Por meio das entrevistas com os representantes dos estabelecimentos comerciais e da ACIMACAR, a principal ideia constatada nas entrevistas é a de que “se a agricultura vai bem, a cidade vai bem”.

Além disso, muitos dos entrevistados afirmaram que é a agricultura que move a economia regional. Em ambos os municípios alguns comerciantes destacaram a falta ou a pouca presença de indústrias em seus municípios, o que torna a agricultura um importante setor na economia, fortalecendo o comércio da cidade e a arrecadação de impostos.

Em relação ao “cheque do leite”, informalmente, ouve-se falar que essa forma de pagamento se torna um fator para a vinda da população rural para consumir nas cidades.

O cheque do leite corresponde a um pagamento periódico, efetuado pelas indústrias de laticínio aos produtores rurais que comercializam a elas esse produto. É, portanto, por meio do cheque do leite que os produtores rurais possuem uma renda fixa mensal, ao contrário dos rendimentos oriundos de safras, que geralmente dependem do ciclo da colheita ou da entrega de animais, o que ocorre sazonalmente. Assim, por meio do cheque do leite os produtores rurais podem realizar mensalmente suas compras na cidade.

Dessa maneira, uma questão que permeou este trabalho era se o cheque do leite exercia impacto no comércio regional. No intuito de confirmar ou refutar essa afirmação, foi questionado aos comerciantes se ainda há essa

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influência do cheque do leite no comércio. Entre as respostas, houve estabelecimentos em que o

cheque do leite ainda tem influência, enquanto em outros não se verifica mais essa relação:

Quadro 1 – Entrevistas com estabelecimentos em que não se verificou a influência do cheque do leite. COMÉRCIO DE VEÍCULOS No nosso segmento, veículos, não. AGROPECUÁRIA 1 Já era melhor [mais perceptível], hoje o movimento está mais

diluído no mês. FARMÁCIA Anos atrás essa diferença era considerável. Hoje não somos

mais surpreendidos, pois eles atuam no comércio igualmente ou consideravelmente igual durante o restante do mês.

LOJA DE UTILIDADES E PRESENTES

Não.

Fonte: Trabalhos de Campo realizados em 19 nov. 2013 e 8 jan. 2014. Elaboração: Adriana E. Casagrande.

Assim, em quatro estabelecimentos comerciais não se nota a presença do cheque do leite, sendo que em dois desses estabelecimentos afirmou-se que a presença do cheque do leite era mais perceptível em alguns anos atrás.

Diferentemente, no entanto, em outros 11 estabelecimentos a presença do cheque do leite ainda é perceptível, como pode ser observado no Quadro 2.

Segue-se, portanto, que a maioria dos estabelecimentos (11) reconhece a presença do cheque do leite, que, inclusive, é aplicado em seus estabelecimentos. Outros cinco

estabelecimentos não responderam a essa pergunta. Ainda sobre essa questão, o representante da ACIMACAR respondeu:

Certamente existe uma relação, mas não apenas com o pagamento do cheque do leite, pois a produção agropecuária de Marechal Cândido Rondon é diversificada, com diversas fontes de renda para os produtores rurais, que assim podem consumir no comércio local (ACIMACAR, em entrevista concedida a Adriana Eliane Casagrande, 2013).

Quadro 2−Entrevistas com os estabelecimentos que constataram a influência do cheque do leite. CONFECÇÕES E TECIDOS 2 Sim, a maioria vem para a cidade, vai para os mercados e acaba

gastando o restante no comércio. CONFECÇÕES E TECIDOS 1 Sim. Geralmente o cheque do leite é pago dia 13 a 15 de cada mês.

Coincide com os consumidores que dependem dessa atividade. AGROPECUÁRIA 3 Com certeza, através do cheque do leite que eles vêm para cidade

para fazer as compras para o mês. AGROPECUÁRIA 2 Com certeza, pois o comércio da cidade, ele é praticamente

dependente do cheque do leite, pois é quando o produtor realiza as compras ou faz pagamento de compras feitas.

AGROPECUÁRIA 5 Sim, porque os clientes compram aqui e nos pagam com o cheque do leite. A maioria deles sobrevivem com esse dinheiro.

COMÉRCIO DE VEÍCULOS 2 Sim. CONFECÇÕES 3 Sim, isso é constante todos os meses. FARMÁCIA 2 Sim. LOJA DE MÓVEIS Aqui em nossa empresa tem muitos clientes que compram com o

‘cheque do leite’. LOJA DE ELETRO E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

Sim. É com ele que os agricultores fazem suas compras a prazo, pois o cheque do leite é uma ‘renda fixa’, é algo que eles têm garantido todo mês.

POSTO DE COMBUSTÍVEL 2 Sim, pois quando o agricultor recebe o pagamento do seu produto vendido, ele vem para a cidade, onde paga suas contas, fazem novos negócios e assim movimentam o comércio em si.

Fonte: Trabalhos de Campos realizados em 19 nov. 2013 e 8 jan. 2014. Elaboração: Adriana E. Casagrande.

Dessa forma, constata-se que o cheque do leite ainda é atuante na região, sendo investido no comércio, quando das compras realizadas

pelos agricultores, sendo, como destacado por um estabelecimento, uma renda fixa e mensal desses agricultores, ao contrário do dinheiro da

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safra, que depende da colheita do produto. O cheque do leite, portanto, é uma forma de o agricultor movimentar a economia dos municípios, tornando-se, nesse contexto, um elemento de ligação entre o campo e a cidade, presente na cidade por meio de compras realizadas no comércio e na prestação de serviços. O cheque do leite é um elemento da ruralidade presente nos municípios da região.

Constata-se, dessa maneira, que a agricultura tem muita importância na economia da cidade, principalmente devido ao consumo da população oriunda do campo. Mesmo assim, para além do consumo, de acordo com Ferrari (2009), todos os negócios dependentes da produção rural, como os fornecedores de máquinas e equipamentos agrícolas, as empresas de armazenamento e de prestação de serviços, são responsáveis pela maior parte do PIB da região.

CONCLUSÕES

Dessa forma, como destacado pelos

comerciantes entrevistados nas cidades, o impacto do consumo da população rural na cidade é muito grande, sendo um propulsor da economia regional. O cheque do leite mostrou-se como um modo de os agricultores realizarem suas compras na cidade, pois se trata de um rendimento mensal, diferente das safras.

Portanto, com o cheque do leite os agricultores realizam suas compras e, confirmou-se por meio das entrevistas, que o mesmo tem influência no comércio, sendo uma forma de dinamizar a economia dos municípios. O cheque do leite é um elemento da ruralidade presente nas cidades da região, pois permite também acesso ao consumo de produtos, eminentemente urbanos, bem como de serviços localizados nas cidades (saúde especializada, cursos profissionais, educação, assessorias jurídicas etc.).

REFERÊNCIAS

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FERRARI, W. J. A expansão territorial urbana de Marechal Cândido Rondon – PR: a produção da cidade a partir do campo. Dourados, 2009. Dissertação de Mestrado em Geografia – Universidade Federal da grande Dourados.

IPARDES. Oeste Paranaense: o 3° Espaço relevante: especificidades de diversidades. Curitiba: IPARDES, 2008.

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Valorização de Resíduos Sólidos e as Parcerias entre o Poder Público e os Catadores em Cidades Pequenas: Assis Chateaubriand e Palotina-

PR(1).

Adrielly Grava Costa(2); Fabio de Oliveira Neves(3)

(1) Trabalho executado com recursos da Capes. (2) Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE; campus Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected] (3) Docente do programa de pós-graduação; Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE campus Marechal Cândido Rondon. RESUMO: O aumento do consumo e do descarte de produtos, a quantidade de resíduos sólidos e a reciclagem dos mesmos no Brasil são temas que devem ter destaque nas discussões relacionadas à geografia urbana. Neste sentido, as parcerias entre o poder público e os catadores em cidades pequenas são alternativas sempre consideráveis. Analisamos neste artigo a função dos catadores, sua organização e as parcerias estabelecidas com o poder público na valorização dos resíduos sólidos nas cidades de Assis Chateaubriand e Palotina-PR. A questão da reciclagem do lixo gera muitas implicações locais, interfere na estética e na funcionalidade da cidade, por isso deve-se considerar a lógica da atuação e as espacialidades dos catadores como agentes da valorização dos resíduos sólidos. A pesquisa, que se encontra em sua fase inicial, busca refletir a respeito da valorização dos resíduos sólidos e as parcerias entre catadores e o setor público nas cidades pequenas, podendo ser alvo de reflexões não só de uma geografia urbana, mas também de uma geografia política sobre a governança do ambiente urbano. Metodologicamente, este trabalho é constituído por uma pesquisa de caso de caráter bibliográfico documental. Palavras-chave: Geografia Urbana, Ambiente, Reciclagem

INTRODUÇÃO

A valorização de materiais pós-consumo é ponto frágil da gestão pública de resíduos sólidos no Brasil. A existência de programas municipais ineficientes de coleta seletiva e triagem na recuperação de materiais recicláveis é fato no cenário brasileiro. Especialistas defendem a importância de se avaliar as especificidades regionais e locais nos estudos dos resíduos sólidos (MAGALHÃES, 2013; NEVES, 2013).

Neves (2013), Magalhães (2013), Corrêa (1999) e Santos (2008) auxiliaram na análise que engloba lógicas de ação e espacialidades de diferentes atores. Identificar os atores sociais que integram a gestão dos resíduos sólidos e suas lógicas de atuação no espaço urbano é central para o conhecimento e a tomada de decisões no setor.

Desta maneira, são necessários estudos mais aprofundados sobre a organização dos catadores e a realidade que eles estão inseridos, voltando-se à compreensão da importância social e ambiental da ação do catador. Por isso, é pertinente ressaltar que em diferentes culturas e sociedades, existem visões distintas sobre o papel do catador. Os catadores possuem, entre si, concepções que os identificam, bem como a seus recursos materiais, os quais devem ser considerados na sua realidade particular.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos auxiliou na regulamentação da profissão e outras mudanças importantes. Os catadores passavam de porta em porta para recolher materiais, utilizavam sacolas, sacos e carrinhos para armazenar os resíduos. Depois de instituída a coleta seletiva, eles foram adequando-se, organizando-se, possuindo um local específico de trabalho (os chamados galpões de triagem).

As parcerias firmadas entre catadores e poder público vêm também contribuir com a organização desses atores, pois através de incentivos, sejam estes financeiros, estruturais ou sociais, são propiciadas melhores condições de trabalho para esses profissionais. Todas essas questões devem atender às determinações políticas do município e estar em consonância com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

Esta pesquisa constitui um estudo qualitativo da ação e organização de um ator social, o catador, e suas parcerias com o poder público na busca de soluções para o problema dos resíduos sólidos em cidades pequenas. Primeiramente, haverá um levantamento de dados de cunho exploratório sobre

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os catadores e a sua situação marginal na gestão dos resíduos, bem como de suas formas de organização. Posteriormente, haverá uma revisão bibliográfica de modo a aprofundar a problemática no que tange à organização de catadores, a valorização dos resíduos sólidos nas cidades pequenas e a importância das parcerias.

Em um segundo momento, o pesquisador fará uma expedição a campo para a realização de entrevistas com catadores, representantes de catadores em cooperativas ou associações e com representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Trata-se de uma pesquisa que se inscreve na temática do ambiente urbano que integra cidades pequenas e seus atores sociais.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa constitui-se, enquanto estudo

qualitativo, de caráter exploratório da ação e organização de um ator social, os catadores, perante a gestão do ambiente urbano, nos municípios de Assis Chateaubriand e Palotina- PR.

A primeira etapa tratará de um levantamento exploratório sobre os catadores, sua situação na gestão dos resíduos e formas de organização. Desenvolve-se assim, uma revisão bibliográfica para compor a problemática.

Na segunda etapa, está previsto um trabalho de campo para a realização de entrevistas com catadores e representantes de catadores em cooperativas ou associações. Também se fará a identificação de espaços e fóruns de participação no processo decisório do setor e entrevistas com representantes e dirigentes destes, como Conselhos Municipais de Meio Ambiente, Movimento Nacional de Catadores e outros, a serem definidos.

A terceira etapa contará com as análises dos dados e informações obtidas, tabulação e mapeamento dos resultados.

A pesquisa de campo baseada na observação e na realização de entrevistas semiestruturadas são instrumentos de levantamento e produção de dados qualitativos importantes para o desenvolvimento científico-intelectual. A análise de conteúdos é outro procedimento importante na pesquisa científica que estará sendo desenvolvida junto aos documentos propostos. Esta pesquisa se caracteriza como estudo de caso de caráter bibliográfico e documental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A valorização dos resíduos sólidos no Brasil vem apresentando melhorias relevantes. Mas o tema traz controvérsias, já que envolvem diferentes atores, lógicas de atuação e interesses conflitantes. A valorização dos resíduos é dividida entre energética e material. A primeira se refere ao processo de incineração com o aproveitamento em potencial calorífico dos gases, para a produção de energia. A segunda diz respeito à reciclagem dos resíduos, que se constituem, por sua vez, em processo antigo5 composto por vários indivíduos, empresas recicladoras, sucateiros, atravessadores e os catadores.

As reflexões sobre o ambiente nos quais os catadores estão inseridos na economia do lixo, bem como o circuito da economia urbana devem ser analisados cuidadosamente, pois aquelas são pessoas que desenvolvem uma atividade não somente ligada a subsistência, mas também auxiliam na sustentabilidade do meio. As pesquisas de Neves (2013), Magalhães (2013), Corrêa (1999), Santos (2008) trabalham com os elementos que compõem essa dinâmica, considerando as especificidades regionais e locais, as quais contribuem para compor a problematização da pesquisa.

Deste modo, a gestão pública dos resíduos sólidos vem sendo repensada. De acordo com Magalhães (2013, p. 253): “A busca da sobrevivência por meio da catação e revenda de materiais descartáveis é atividade presente há várias décadas nas grandes e pequenas cidades brasileiras”. Por isso, reconhecer a presença dos catadores em diversas leis e documentos é essencial, assim como reconhecer a profissão através de uma gestão pública de resíduos, a qual pode propor parcerias que os auxiliam em uma melhor condição de trabalho e de vida.

As parcerias colaboram como parte do processo, seja com estrutura física (galpões, máquinas e etc.), social (projeto vinculado ao bem estar social, treinamentos) e até mesmo na questão financeira (incentivos para construir, ampliar e reestruturar ambientes e ferramentas). Vale ressaltar que todas essas questões devem atender às determinações políticas do município e estar em consonância com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, na governança do ambiente urbano.

Tendo por base tais considerações, as associações/cooperativas são criadas com o

5A primeira e mais usual processo de reciclagem.

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objetivo de propiciar trabalho a esse grupo de pessoas que está na parte inferior da economia, à margem da sociedade. Por isso, as associações e cooperativas contribuem com a municipalidade, atendendo assim às exigências da legislação e também realocando esta parcela da população que sobrevive da economia do lixo.

Nesta ótica, os catadores, perante a formalidade, podem vir a ser mais valorizados, considerando-se parceiros do poder público, como indivíduos que possuem seu espaço. Conforme Martins (2003, p. 171): “[o catador é] alguém que age ocasionando mudanças, sendo guiado por seus próprios valores e objetivos”, sendo parte do processo. Isso se dá com a autonomia que o catador vem conquistando, alterando o seu entorno e gerando transformação social.

Muito há de se discutir na dinâmica de pequenas cidades (caso de Assis Chateaubriand e de Palotina- PR) e na atuação dos catadores, pois estes são agentes que auxiliam na agenda ambiental e nas políticas públicas do ambiente urbano. Segundo Magalhães (2013): “Ao exercerem sua atividade tendo como objetivo imediato a sua sobrevivência, os catadores acabam por realizar um serviço de utilidade pública, tanto no âmbito da coleta do lixo como no campo da reciclagem de materiais [...]”(p.260).

Os catadores são indivíduos que merecem reconhecimento e valorização, pois trabalham em prol de um local com condições sustentáveis e justas. E o trabalho proposto tem como objetivo, justamente analisar as parcerias entre poder público e catadores organizados (meio privado) na valorização dos resíduos sólidos nas cidades pequenas (caso Assis Chateaubriand e Palotina- PR).

Assim com uma temática que se insere no ambiente urbano, permeando conteúdos da Geografia, do estudo de atores sociais e da gestão urbano-ambiental, necessita-se investigar o funcionamento de atuação no espaço geográfico dos grupos que fazem parte da cena urbana e, principalmente, dos que lidam com o aspecto do meio ambiente e sustentabilidade. Os catadores são atores envolvidos na valorização dos resíduos e fazem parte das transformações nas políticas e no processo decisório, e não somente como grupo fragilizado em condições precárias de trabalho.

É preciso olhar além do imediato aparente e tentar compreender os atores socioespaciais, para desconstruir aproximações simplistas que ofuscam

o potencial de cada grupo produtor e agente no espaço urbano.

As cidades pequenas também têm suas especificidades no problema dos catadores e da reciclagem. Dessa maneira, percebe-se a necessidade de abordagens, para desmistificar preconceitos pré-estabelecidos sobre a figura do catador que, segundo Milton Santos, é uma “Fábrica de preconceitos, essa natureza inferior que mutila a consciência do homem e cria a submissão aos mecanismos de manipulação” (SILVA; NEVES; MARTINS, 2011, p.130).

CONCLUSÕES

Os catadores constituem formas de organização

para combater a fragilidade de suas atividades através das cooperativas/associações que auxiliam a retirada destes atores das ruas, lixões e etc., inserindo-os em um local que apresenta melhores condições de trabalho.

Através das organizações, os catadores obtiveram ganhos como melhoria na qualidade de trabalho e de vida. E, através de parcerias, propiciou-se também a legalização de suas atividades. Desse modo as associações/cooperativas organizam os catadores em um só local, melhorando suas condições de trabalho. E essa organização está surtindo efeito:a prefeitura, como parceira, auxilia na estrutura física, responsabilidade da coleta e também nas questões sociais, comprometendo-se com a associação/cooperativa.

REFERÊNCIAS

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DAGNINO, R. S.; DAGNINO, R. P. Políticas para inclusão social de catadores de materiais recicláveis. Revista Pegada Eletrônica, Presidente Prudente, Vol. especial: o trabalho no lixo, p. 66-93, jul. 2011.

MAGALHÃES, B.J. Catadores de matérias recicláveis, consumo e valorização social. Revista UFMG, Belo Horizonte, vol.20, n.1, p. 246-265, jan.- jun. 2013.

MARTINS, C. H. B. Trabalhadores na reciclagem do lixo: dinâmica, econômica, socioambientais e políticas na perspectiva de empoderamento. 210 p. Tese (Doutorado

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em Sociologia). Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003

NEVES, F. de O. Gestão pública de resíduos sólidos urbanos: problemática e práticas de gestão no Oeste Paranaense. 266 p. Tese (Doutorado em Geografia). Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 2013.

PEREIRA, M. C. G. e TEIXAIRA, M. A. C. A inclusão de catadores em programas de coleta seletiva: da agenda local à nacional. Cad. EBAPE. BR, v. 9, n. 3, 2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1679-39512011000300011> Acesso em: 29/07/2015

SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: EdUSP, 2009.

SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. São Paulo: EdUSP, 2008.

SILVA, E. da; NEVES, G. R.; MARTINS, L. B. (orgs.). Milton Santos. O espaço da cidadania e outras reflexões. Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2011. 224p.

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Os conflitos no campo da mesorregião Oeste paranaense no contexto da questão agrária brasileira.

Felipe Wathier Dallagnol(1); Djoni Roos(2).

(1) Estudante de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon; Paraná; [email protected]; (2) Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Marechal Cândido Rondon, e-mail: [email protected]. RESUMO: O presente trabalho procura contextualizar a trajetória histórica de organização e luta dos camponeses e dos povos tradicionais na mesorregião Oeste paranaense. Tal processo histórico vincula-se a questão agrária estadual e nacional. Acrescenta-se que na atualidade diversas são as lutas pela reforma agrária e pelo território estabelecidas nesta região e materializadas em ocupações de terra e acampamentos de camponeses sem terra de diversos movimentos sociais, ocupações de terra e acampamentos de povos indígenas e enfrentamentos de descendentes de quilombos pelo reconhecimento de seu direito ao acesso a terra. Estes diferentes embates que aconteceram e vem acontecendo no campo do Oeste paranaense são reflexos da expansão capitalista sobre o território os quais reconfiguram o espaço e, consequentemente, pedem a atenção da geografia. Palavras-Chave: conflitos agrários, camponeses, povos tradicionais.

INTRODUÇÃO

A luta dos camponeses e dos povos tradicionais se constitui numa das principais características do campo brasileiro. Estes conflitos surgem pelo fato dos camponeses, povos tradicionais e trabalhadores do campo negar as condições impostas pelo sistema capitalista. Eles querem entrar e se manter na terra para reproduzir seu modo de vida e garantir as condições para sua existência. O fato de não aceitar a expropriação e subordinação fez com que surgisse no campo diversos movimentos de contestação da ordem imposta. Isso causou embates entre camponeses, trabalhadores, indígenas e quilombolas com o Estado, grandes latifundiários e empresas instaladas no campo. Assim, as diferentes lutas sociais que aconteceram e vem acontecendo no campo brasileiro são reflexos da expansão capitalista sobre o território brasileiro.

A metodologia utilizada centra-se no estudo de referências relacionadas aos conflitos entre agronegócio, latifúndio, Estado, campesinato e povos tradicionais. Na coleta e sistematização de dados e informações secundárias junto a jornais e ao Banco de Dados da Luta pela Terra no Paraná (DATALUTA-PR).

A QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA

A questão agrária brasileira tem suas origens

na colonização portuguesa, no qual o Brasil passa a ser uma colônia de exploração. É nesse processo de apropriação e exploração que surge, inicialmente, a luta pela terra, com os povos indígenas lutando contra os portugueses por seu território, contra a escravidão e, também contra a dizimação. Os povos indígenas são assim, os primeiros a sofrerem com o processo de expansão capitalista, pois desde a invasão do Brasil foram e ainda são expulsos de suas terras. Como afirma Oliveira (1988, p.15) “o território capitalista brasileiro foi produto da conquista e destruição do território indígena”.

Durante esse processo inicial de luta pela terra/território e resistência indígena, a Coroa Portuguesa inicia, no século XVI, um processo de divisão das terras brasileiras, conhecido como capitânias hereditárias. As capitânias hereditárias foram à divisão do Brasil em lotes que eram doados aos nobres de Portugal, conhecidos como donatários. Percebe-se que na referida conjuntura do Brasil Colônia se criaram mecanismos para coibir a ocupação das terras, destinando estas apenas àqueles detentores do título da nobreza para os quais eram reconhecidas as sesmarias. De acordo com Fenelon (1974) as sesmarias consistiam em extensas propriedades destinadas à ocupação do território e a agropecuária em grande escala. Ainda segundo o referido autor este sistema “fundamentou a organização social e de trabalho implantada no Brasil, com a fazenda, isto é, a grande propriedade latifundiária”. (FENELON, 1974, p. 39).

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É com a implantação das sesmarias que a estrutura fundiária no Brasil impulsiona os primeiros passos para a concentração da terra, elemento que se aprofunda no período escravocrata do país com o trabalho escravo de indígenas e negros nas lavouras e nos engenhos. Entretanto, no decorrer deste processo escravocrata ocorreram diversas insurgências e resistência das populações negras a favor de sua libertação. As tentativas de construção de territórios livres, comunitários, como os quilombos, marcam a história de resistência destas populações, ao mesmo tempo em que, a violência com que se deu a repressão a estes, indica o grau de afronta que tais insurgências se constituíram. Deste modo, os quilombos se constituíram no grande marco de luta e resistência dos povos negros contra a escravidão. Nestes territórios os negros organizavam-se tanto social como politicamente para se defender dos fazendeiros e buscar a liberdade e a proteção da posse coletiva da terra, representando “a única possibilidade, fora à morte, para fugir da escravidão e a tentativa de estabelecer uma comunidade negra, autônoma, livre, no meio da floresta” (COMISSÃO 1987, apud OLIVEIRA 1988, p.16).

Em 1850 o tráfico negreiro foi proibido e a terra passou a ser cativa com a constituição da Lei de Terras. Esta transformou a terra em mercadoria, privando escravos libertos, camponeses, povos tradicionais entre outros de acesso a terra, dando posse àqueles que já detinham as sesmarias e outras ocupações (MARTINS, 1979). Tal medida acentuou as desigualdades fundiárias aprofundando a concentração da terra.

As guerras de Canudos (Bahia) e do Contestado (Sudoeste do Paraná e Centro-Oeste e Oeste de Santa Catarina), verdadeiras guerras civis onde o exército foi convocado para enfrentar os camponeses, são reflexos desta concentração histórica da terra no Brasil, a qual expulsou o campesinato e os povos tradicionais de seus territórios, seja pelos latifundiários ou pelo próprio Estado. Ao mesmo tempo, refletem a violência com que o problema agrário foi sendo tratado ao longo dos anos no Brasil. Assim, o território brasileiro foi sendo construído e “geografado” por um conjunto de resistências dos camponeses e povos tradicionais manifestas em diversas lutas pela terra como a de Trombas e Formoso, a revolta dos posseiros do Sudoeste do Paraná, a guerrilha de Porecatu (Paraná), ou por melhores condições de trabalho como as greves dos colonos nas fazendas de café no estado de São

Paulo, dos pequenos agricultores em Pernambuco, entre outras conforme destacado por Oliveira (1988). Entretanto, é preciso resaltar que este conjunto de lutas ocorreu de maneira localizada sem articulação nacional.

Com o desenvolvimento destas lutas começaram a se proliferar sindicatos, entidades, ligas e associações vinculadas aos camponeses. Estas contaram com importante participação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), como as Ligas Camponesas que surgiram no Nordeste e posteriormente se espacializaram pelo Brasil. Oliveira (1988) destaca que, as Ligas Camponesas surgiram como sociedade beneficente dos defuntos, e a partir disso, agregou camponeses, trabalhadores, pequenos proprietários etc., contra o latifúndio. Também com a orientação do PCB, em 1954, é criado a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB), coordenando associações camponesas independentes e sindicatos.

Nas décadas de 1940 e 1950, percebe-se a crescente organização dos camponeses, evidenciando a histórica questão agrária brasileira que perdura desde o período colonial. Porém, o golpe militar de 1964 abafou as lutas camponesas. Na ditadura, não diferente de outros momentos da história do Brasil, o Estado perseguiu, torturou e assassinou líderes e militantes dos movimentos sociais e sindicatos, levando até mesmo ao desaparecimento das lutas por um curto período. Além disso, o governo militar acirrou os conflitos no campo promovendo a não reforma agrária (OLIVEIRA, 2001), através de incentivos fiscais que fomentaram a colonização para regiões como a Amazônia e o Oeste brasileiro.

A intensificação do processo de expropriação e expulsão dos camponeses e populações tradicionais se deu também com o processo de modernização da agricultura e a ocupação e incorporação de novas áreas à produção capitalista do agronegócio, motivando um conjunto de conflitos no campo brasileiro. Diante deste quadro de expulsão e expropriação destas populações de suas terras, eles se organizaram e começaram a fazer ocupações de latifúndios como forma de pressionar o Estado para resolver o problema da concentração de terras e garantia de seus direitos. A violência permaneceu sendo o principal componente do trato da questão agrária.

Em decorrência do enfraquecimento da ditadura militar e a retomada da democracia no Brasil, no início da década de 1980, as lutas pela terra ganham novo ânimo e novos elementos. O surgimento do Movimento dos Trabalhadores

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Rurais Sem Terra (MST), em 1984, se inclui entre o principal ingrediente deste momento, visto que, através deste, as lutas ganharam maior articulação passando a se expressar em nível nacional.

A QUESTÃO AGRÁRIA PARANAENSE

O estado do Paraná se insere nesta

conjuntura de lutas e desigualdade fundiária. O surgimento do MST ocorrido numa reunião no município paranaense de Cascavel denota tal afirmação, assim como o lastro histórico de enfrentamentos envolvendo o campesinato e povos tradicionais que ocorreram neste estado. Ou seja, a luta pela terra no Paraná não é um fenômeno recente e além da Guerra do Contestado e de um conjunto de enfrentamentos históricos das populações indígenas, houve a Guerrilha de Porecatu na qual os camponeses posseiros que haviam se instalado em terras devolutas se organizaram e passaram a resistir os despejos de suas terras que estavam sendo destinadas pelo governo do Estado à latifundiários; a revolta dos colonos do Sudoeste motivada por manobra empreendida pelo governo do estado do Paraná para expulsar colonos migrantes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina de suas terras, adquiridas por meio de compra junto ao governo federal, e a destinação das mesmas a grandes empresas madeireiras e imobiliárias. Neste âmbito diversos movimentos de camponeses sem-terra eclodiram no estado, assim como um conjunto de lutas das populações tradicionais, destacadamente, os indígenas.

O OESTE PARANAENSE NO CONTEXTO

DA QUESTÃO AGRÁRIA A lógica de apropriação das terras e

manipulação do Estado de acordo com seus interesses se manifestou na mesorregião Oeste do Paraná, palco de conflitos históricos e atuais. Segundo Marques (2008) a história dos conflitos no Oeste tem suas raízes entre meados do séc. XIX e XX, onde as terras foram concedidas pelo Estado para empresários e latifundiários para fins de colonização, existindo também grilagens de terras. Acrescenta-se que no processo de colonização, os indígenas e posseiros foram ignorados, expulsos e expropriados de suas terras e, em muitos casos, assassinados.

Os conflitos pela terra no Oeste paranaense foram aguçados com a construção do reservatório para a Usina Hidrelétrica de Itaipu e a expropriação/expulsão de inúmeros camponeses

e indígenas que habitavam as margens do Rio Paraná. Neste contexto que surgiu o Movimento Justiça e Terra que reivindicava a justa indenização pelas terras e o assentamento das famílias no estado do Paraná. O referido movimento foi a base inicial para o surgimento do Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste do Paraná (MASTRO) que além de terra incluiu em suas demandas a bandeira da reforma agrária e foi importante precursor para o surgimento do MST (FABRINI, 2001; ROOS, 2007). Atualmente, na mesorregião Oeste do Paraná, existem uma diversidade de conflitos envolvendo em especial camponeses sem-terra, povos indígenas, quilombolas com proprietários de terra e o Estado. Uma das formas que tais conflitos se expressam é por meio das manifestações. A Tabela 1 apresenta as manifestações organizadas por movimentos camponeses, indígenas, quilombolas no Oeste do Paraná em 2013.

Tabela 1 – Número de manifestações no campo e de pessoas participantes na mesorregião Oeste do Paraná – 2013

Fonte: DATALUTA - Paraná: Banco de Dados da Luta pela Terra: relatório 2013. Org. Autor.

Neste contexto, a trajetória histórica de

organização e luta na mesorregião Oeste paranaense, inclusive, com o surgimento de importantes movimentos sociais conforme mencionado anteriormente, somadas a existência de um conjunto de assentamentos rurais e de algumas reservas indígenas, conquistadas a partir da luta dos camponeses e dos povos indígenas, indica, o quão significativo são os conflitos no campo nesta região. Acrescenta-se que na atualidade diversas são as lutas pela reforma agrária e pelo território estabelecidas nesta região e materializadas em ocupações de terra e acampamentos de camponeses sem terra de diversos movimentos sociais, ocupações de terra e acampamentos de povos indígenas e enfrentamentos de descendentes de quilombos pelo reconhecimento de seu direito ao acesso à terra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nº DE MANIFESTAÇÕES Nº DE PESSOAS

25 5709

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Considerando a existência de uma Questão Agrária e de um grande número de lutas, tanto dos camponeses, quanto dos povos tradicionais, estabelecidas historicamente e na atualidade na região Oeste do Paraná, torna-se instigante compreender a organização destes sujeitos, bem como, suas conquistas e desafios à luz do método geográfico. Para isto, salienta-se a importância da análise dos movimentos socioterritoriais que hoje compõem a mesorregião Oeste do Paraná, bem como, o atual contexto das lutas pela terra/território e a organização societal no Oeste paranaense.

REFERÊNCIAS

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Reciclagem e envolvimento da população: apoio e reações aos equipamentos de entrega voluntária em Toledo - PR (1).

Tainara Ianka Maas(2); Fábio De Oliveira Neves(3);

(1) Trabalho executado com recursos do PIBIC/UNIOESTE. (2) Discente da UNIOESTE; Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]; (3) Docente; UNIOESTE. RESUMO: Qual deve ser o papel da população na gestão dos resíduos sólidos urbanos? Como fomentar a responsabilidade compartilhada presente na Política Nacional de Resíduos Sólidos? As mudanças na organização espacial de um programa de coleta seletiva podem afetar o comportamento da população? O Programa Lixo Útil de Toledo-PR foi criado no ano de 1994, como ação integrante de reforma da gestão municipal do lixo. No ano de 2011, o governo lançou as bases dos pontos de entrega voluntária (PEVs), criando o programa Tooreciclando como forma de aumentar a captação de materiais recicláveis, com a distribuição de contêineres na área central da cidade. Nestes, a população deixa o lixo reciclável que é encaminhado para a central de triagem. Esta pesquisa propôs analisar o apoio e as reações à implantação dos PEVs, através da realização de entrevistas com representantes de instituições envolvidas e com a aplicação de questionários com a população. A partir destes, questionou-se o impacto da mudança na configuração espacial do programa de coleta seletiva e a reação popular, além de se buscar fatores que se demonstram relevantes para o funcionamento desse programa. Os resultados indicaram a boa aceitação do programa, a importância da localização e, portanto, da visibilidade dos PEVs na cidade, como forma de divulgação e de incentivar a participação popular e, principalmente, a carência de orientações e instruções diretas para o uso desses equipamentos. Paradoxalmente, tornou-se a modalidade quantitativamente mais importante de captação de recicláveis e a pior no sentido da qualidade do material captado, decorrente do mau uso de seus equipamentos. Palavras-chave: Resíduos sólidos, pontos de entrega voluntária, coleta seletiva. INTRODUÇÃO

No Brasil, a valorização material do lixo municipal6 vem se desenvolvendo através de programas de coleta seletiva e apoio a organizações de catadores, visando diminuir a quantidade de resíduos levados aos aterros. Os materiais recicláveis são recolhidos por diferentes modalidades de coleta: porta-a-porta através de caminhões, como o lixo convencional; pelos catadores nas ruas; e em pontos de entrega voluntária (PEVs).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010) afirma o fato da responsabilidade compartilhada entre Estado, empresas e cidadãos na gestão do lixo. Desse modo, é necessário buscar mecanismos para envolver e sensibilizar a população para a criação de hábitos e costumes que favoreçam o tratamento adequado dos resíduos. Podem-se indicar os PEVs como uma modalidade na qual é primordial a participação e a sensibilização da população. Esta modalidade torna-se interessante no processo de afirmação da responsabilidade do cidadão.

Há, nesse contexto, questões a serem respondidas: qual deve ser o papel da população na gestão dos resíduos sólidos urbanos? Como fomentar a responsabilidade compartilhada presente na Política Nacional de Resíduos Sólidos? As mudanças na organização espacial de um programa de coleta seletiva podem afetar o comportamento da população? Os PEVs tornaram-se uma modalidade viável em Toledo? Qual a principal vantagem dos PEVs? E os seus problemas?

O objetivo central desta pesquisa é analisar a instalação dos PEVs em Toledo/PR, através de questões referentes ao funcionamento, à distribuição dos PEVs e à opinião de especialistas e moradores que vivenciam a implantação desta modalidade de coleta seletiva.

A pesquisa configura-se como um estudo de caso com o uso de dados qualitativos e dados

6 O lixo municipal pode ser definido como os resíduos a carga da municipalidade: o lixo urbano, os industriais e os hospitalares não perigosos (NEVES, 2013).

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quantitativos secundários obtidos com setores do poder público e da associação de catadores. Foram desenvolvidos estudos bibliográficos sobre a gestão de resíduos sólidos no Brasil, a valorização e a importância da reciclagem; da coleta seletiva e sobre o envolvimento da população nos programas municipais.

O trabalho trata de uma mudança na configuração espacial do programa de coleta seletiva e da reação popular a esta mudança, envolvendo comportamento social e meio ambiente urbano, uma relação central quando se remete à sustentabilidade.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa configurou-se como um estudo de

caso com o uso de dados qualitativos (entrevistas semi-estruturadas e questionários), e dados quantitativos secundários obtidos com setores do poder público e da associação de catadores. Foram desenvolvidos, inicialmente, estudos bibliográficos sobre a gestão de resíduos sólidos no Brasil, a valorização e a importância da reciclagem; da coleta seletiva e da participação da população nos programas municipais. Depois de realizados os estudos bibliográficos, a pesquisa voltou-se aos dados secundários referentes ao controle de pesagem do material dos PEVs que chega ao galpão de triagem e entrevistas semiestruturadas com pessoas que trabalham com o tema. Em seguida, foi desenvolvido um questionário aplicado aleatoriamente os moradores do município. Após a coleta dos dados, foi realizado um tratamento estatístico com elaboração de tabelas, gráficos e a análise de dados das entrevistas concedidas e dos questionários aplicados.

Os dados secundários sobre o recebimento de materiais recicláveis no galpão de triagem foram levantados diferenciando-se as três modalidades de coleta seletiva para a reciclagem utilizadas no município nos últimos 12 meses, isto é, a coleta porta-a-porta, os pontos fixos de troca de recicláveis e os pontos de entrega voluntária. O objetivo da análise desses dados foi o de situar os PEVs diante das outras modalidades e verificar suas variações diante do objetivo de captar materiais recicláveis.

As entrevistas semiestruturadas foram organizadas sugerindo-se que os entrevistados se posicionassem sobre os seguintes temas: gestão do lixo em Toledo/PR, valorização e modalidades de coleta seletiva. O objetivo da utilização desse instrumento foi o de obter informações preliminares e gerais sobre a gestão

de resíduos sólidos no município e de levantar opiniões e detalhes práticos sobre o funcionamento e sobre a visão de atores responsáveis pela manutenção da modalidade dos PEVs. Foram selecionados para entrevistas, indivíduos em posição de representação de instituições envolvidas e especialistas sobre o tema que vivenciassem os efeitos do programa Lixo Útil, isto significou a aplicação da entrevista com três professores/pesquisadores envolvidos com o tema, que já desenvolveram pesquisas sobre os residos sólidos de Toledo/PR, sendo um deles representante no Conselho Municipal de Meio Ambiente; um representante do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e dois representantes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.

Foram aplicados 78 questionários, entre os meses de fevereiro á abril de 2014. As questões foram organizadas primeiramente com dados pessoais como, idade, sexo e escolaridade. Objetivaram investigar o conhecimento e a utilização dos PEVs pela população do município. O público alvo foi escolhido aleatoriamente nas entrevistas realizadas em campo, foi também enviado a pessoas através de redes sociais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa propôs analisar uma experiência

no município de Toledo/PR (figura 1) da instalação dos PEVs (figura 2) em um programa de coleta seletiva. No ano de 2011, o governo lançou as bases dos PEVs na área urbana do município, criando o programa Tooreciclando, que consistiu no desenvolvimento dessa modalidade como forma de aumentar a captação de materiais recicláveis. Foram distribuídos 61 contêineres na área central da cidade, onde a população local leva o lixo reciclável (papel, plástico, vidro e metal) que é encaminhado para a triagem. No início do programa houve divulgação, nos jornais, rádios, televisões e folders.

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Figura 1 – Mapa de localização do município de Toledo/PR.

Ao final do ano de 2013 e o início de 2014 foram instalados mais contêineres, totalizando 1407, completando o raio do centro que faltava e algumas das Avenidas mais movimentadas do município.

Figura 2 – Modelo dos PEVs. Fonte: BATISTA, Déborah K. T.

Em entrevista com um integrante do Conselho Municipal de Meio Ambiente, é relatado que os pontos de coleta voluntários estão centralizados nos contêineres, porque até mesmo o ponto fixo maior tende a ser desativado, com o intuito de tornar a cooperativa como local de reunião de todo o resíduo sólido coletado no município8.

Os questionários aplicados à população sobre os PEVs mostraram que o meio de divulgação que obteve um melhor resultado é a própria localização/visibilidade dos contêineres e as informações neles contidas, como pode ser observado no gráfico (figura 3). As pessoas obtiveram conhecimento da existência dos PEVs vendo-os nas calçadas e de como os utilizarem lendo o rótulo do equipamento. A instalação destes incitou à participação popular através da separação do lixo reciclável em casa, conforme indicado nos questionários. Como principal virtude dos contêineres foi indicado o incentivo contínuo para a população separar o lixo 7 Informação obtida em entrevista com funcionário da prefeitura. Entrevistadora: Tainara Ianka Maas. Toledo, 2014. 8 Entrevista concedida por integrante do Conselho Municipal de Meio Ambiente. Entrevistadores: Déborah Katherine Torres/ Tainara Ianka Maas. Toledo, 2013.

reciclável. Como principais problemas foram citados o uso incorreto e a localização limitada à área central da cidade, pois os cidadãos que morram longe do centro ficam de fora deste programa e a maior parte dos entrevistados aprovaria a instalação de um PEV mesmo em frente à sua casa, pela comodidade.

Figura 3. Gráfico relacionando a visibilidade com a acessibilidade dos PEVs. Fonte: MAAS, Tainara I.

Nos questionários, a maior parte dos entrevistados respondeu que entregam o lixo reciclável ao caminhão da coleta seletiva, mas os dados coletados no galpão de triagem mostram que a modalidade que mais coleta resíduos sólidos são os PEVs: 44%, contra 22% dos pontos fixos e 34% da coleta porta-a-porta (figura 4). A modalidade que vem com o material mais adequado para a Associação de Catadores, melhor separado, são os pontos fixos e em seguida o caminhão da coleta seletiva. Um problema é a contaminação do lixo reciclável nos PEVs, pela mistura de elementos dispostos nos contêineres, isto é, o uso incorreto.

Sobre a situação atual foi entrevistado um professor que trabalha com o tema, durante a entrevista foi comentado que se as pessoas realmente colocasse o material que é reciclável nos contêineres então seria uma metodologia boa, mas pode-se perceber que na prática isso não está acontecendo. No inicio do programa as pessoas tiveram consciência, mas depois passaram a colocar materiais inapropriados que contaminavam os demais materiais que era reciclável o que aos pouco está inviabilizando o programa.

77,5 %

22,5 %

84 %

16 %Q

UAN

T. D

E EN

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ISTA

DOS

ACESSIBILIDADE E VISIBILIDADES DOS PEVS NO MUNICIPIO DE TOLEDO - PR

VISIBILIDADE ACESSIBILIDADE

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Figura 4: Gráfico relacionando onde os entrevistados entregam o material reciclável. Fonte: MAAS, Tainara I.

CONCLUSÕES

Através dos dados coletados, pode-se perceber que a visibilidade e localização dos contêineres são a melhor maneira de divulgação do programa, influenciando a população do município a separar os materiais recicláveis. O uso inadequado dos equipamentos constitui como o principal problema do programa, pois há a contaminação dos materiais secos e a mistura com resíduos de natureza diversa, como animais mortos e resíduos orgânicos. O programa reforçou a captação de materiais recicláveis, contudo, também gera desconfortos, como o mau cheiro e a presença de moscas.

As informações sobre a utilização dos PEVs estão sendo passadas para população, através de: rádios, jornais, televisões, folders e os próprios contêineres através das informações contidas nos mesmo. Entretanto, ainda se faz ineficaz e prejudica o uso adequado dos equipamentos.

A participação da comunidade é de suma importância para o sucesso dos programas de coleta seletiva e a educação ambiental é o melhor recurso disponível para contribuir com a conscientização e a mobilização da população para que se tenha resultados eficazes diante das problemáticas urbanas relacionadas aos resíduos sólidos.

A pesquisa revela uma resposta positiva à implantação dos PEVs, com a participação popular e com a captação da maior porcentagem de materiais recicláveis, mesmo diante de outras modalidades (porta-a-porta e os pontos fixos). A implantação e a visibilidade dos PEVs incentivam a prática da separação dos recicláveis nas

residências, entretanto, a falta de mais orientação e educação para a utilização dos equipamentos acaba comprometendo sua eficácia qualitativa e sobrecarregando o processo de triagem realizado pela Associação de Catadores no galpão de triagem.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei no. 12305/10. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <www.mma.gov.br/política-de-resíduos-sólidos>. Acesso em: 30 de junho de 2014.

NEVES, F de O. Gestão pública de resíduos sólidos urbanos: problemática e práticas de gestão no Oeste Paranaense. 266 p. Tese (Doutorado em Geografia). Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 2013.

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Condicionantes da predominância da infraestrutura de transportes rodoviários no território brasileiro(¹)

Sonia Mar dos Santos Migliorini(²) (¹)Trabalho executado com recursos da CAPES. (²) Pós-Doutoranda em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon, Paraná – Brasil. E-mail: [email protected]. RESUMO: Esta pesquisa tem como objetivo identificar e analisar os fatores que condicionaram a supremacia das infraestruturas de transportes rodoviários no Brasil. A partir da década de 1950 ocorreu uma aceleração da expansão da implantação do modal rodoviário no País. Os demais modais de transportes (ferroviário, aquaviário, marítimo e aéreo), não receberam a mesma atenção dispensada ao primeiro, levando, no decorrer dos anos, a uma supremacia daquele setor sobre os demais. Isso, atualmente, ainda reflete negativamente na competitividade empresarial do País. A metodologia utilizada na presente pesquisa foi revisão teórica de bibliografia referente às infraestruturas de transportes e análise dos planos nacionais de ordenamento territoriais elaborados e implementados no País a partir de 1950. Como resultados, constata-se que a primazia do transporte rodoviário sobre as demais modalidades existente é resultado das opções feitas nos planos de desenvolvimento do País a partir de 1950 e também tem estreito vínculo com a expansão da indústria automobilística no Brasil. Como conclusão, aponta-se a contribuição dessa opção para o aumento do chamado “custo Brasil”. Palavras-chave: Planejamento, Governo Federal, Brasil. INTRODUÇÃO

A infraestrutura de transportes é um dos aspectos contemplados na maioria dos planos de desenvolvimento econômico e territorial do mundo inteiro. Ela é vista pelos planejadores como uma medida de atração que facilita o desenvolvimento das regiões que atravessam por antecipar a demanda. Tem como impacto espacial a geração de aptidões que podem levar ao desenvolvimento econômico das regiões. A rodovia, na concepção de Ficher (2008), é mais eficiente que outros modais na difusão territorial das atividades, uma vez que as atividades econômicas tendem a se aglomerar em suas extremidades e em seus entroncamentos

intermediários. O planejamento econômico do território, muitas vezes, começa com a melhoria da acessibilidade da região em que se quer intervir, uma vez que o espaço só é atrativo na medida em que se torna acessível.

No Brasil, o planejamento econômico do território nacional teve inicio efetivo a partir da década de 1950. A preocupação com a integração nacional e o desenvolvimento econômico levou o Governo Federal a dispensar atenção especial às infraestruturas de transportes, especialmente as rodoviárias. É a partir daí que os investimentos em transporte rodoviário, passaram a ter prioridade sobre as demais modalidades. O Governo Nacional se utilizava do discurso de que essa modalidade de transporte era o único modal capaz de integrar com eficiência o território brasileiro e o conduzir a unificação dos mercados regionais. A partir daí, as malha rodoviária do país expandiu rapidamente, em detrimento dos demais modais. Diante disso, o objetivo desta pesquisa é analisar os fatores que condicionaram a predominância das infraestruturas de transportes rodoviários no Brasil.

MATERIAL E MÉTODO A metodologia utilizada foi pesquisa

exploratória de bibliografias acadêmicas e dos planos nacionais de desenvolvimento, tais como ACSELRAD, Henri. Eixos de articulação territorial e sustentabilidade do desenvolvimento no brasil. Rio de Janeiro: Projeto Brasil Sustentável e Democrático: Fase, 2001.103 p. (Série Cadernos Temáticos, n. 10); BRASIL. Programa de Metas do Presidente Juscelino Kubitschek. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação, 1959; FISCHER, André. Da especificidade do ordenamento do território. In: FIRKOWSKI, Olga Lúcia Castreghini. L. C.; SPOSITO, Eliseu Sáverio (Orgs). Indústria, ordenamento do território e transporte: A contribuição de André Fischer. São Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 105-111; HOLANDA, Marcos, C.. Política Regional no Brasil. Fortaleza, 2003; IANNI,

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Octavio. Estado e Planejamento Econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasiliense, 1991; LAMOTTE, Maxime. Quelques aspects du concept d’aménagement. In: LAMOTTE, Maxime, (Org.). Fondements rationnels de l’aménagement d’un territoire. Paris: Masson, 1984; BRASIL. I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (PND-NR) – 1986/1989. Brasília, 1986; BRASIL. I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) – 1972/1974. Brasília, 1971, entre outras.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Planos de ordenamento econômico e territorial e infraestrutura de transporte

A infraestrutura de transportes é um dos aspectos contemplados na maioria dos planos governamentais de ordenamento do desenvolvimento econômico e territorial no mundo inteiro. Para Pinchemel (1984), o ordenamento do território surgiu com a finalidade de remediar os excessos, os desequilíbrios, as disparidades provocadas pelas ações geográficas excessivamente livres, espontâneas, centradas no lucro e excessivamente ligadas à dominação e à exploração. “L’aménagement du territoire correspond à une philosophie du cadre de vie, de l’espace géographique comme élément essentiel du dévelopement, cette fois au sens le plus général du terme” (PINCHEMEL,1984).

Na concepção de Holanda (2003), o ordenamento do território surgiu como uma ação do governo no sentido de corrigir as falha do livre mercado que gera uma economia em que os frutos da prosperidade não são distribuídos igualmente entre indivíduos e regiões de um país.

Lamotte (1985), afirma que o ordenamento tem um lugar essencial nos projetos políticos e econômicos e vem cada vez mais sendo utilizado. Ele possui um sentido amplo, podendo ser definido como “la transformation par l’homme d’um système – étendue du terrain, unité de production, ensemble complexe quelconque – en vue d’une utilisation plus rationnelle et plus efficace” (LAMOTTE, 1985). Trata-se, por isso, de uma atividade essencial das sociedades humanas desde o seu princípio. Porém, à medida que se desenvolvem as possibilidades técnicas do homem e sua influência sobre os territórios e sistemas de produção tornaram-se cada vez mais amplo e diversificado, a complexidade em ordenar foi crescendo sem cessar.

Para Lanversan et al. (1989), o objetivo do ordenamento do território é fazer com que a riqueza nacional seja melhor repartida, para que

seja aproveitada tanto pelas pessoas que habitam na cidades quanto no campo, tanto pelos habitantes de uma região quanto àqueles de outra e que, em um país, nenhuma porção do território torne-se subdesenvolvido. Embora o esforço nesse sentido seja do poder público e da ação combinada de todas as forças politicas, econômicas, sociais e intelectuais do país, a realização de um grande projeto só encontrará eficácia na adesão de toda a população.

As principais finalidades do ordenamento territorial são de ordem econômica. “Il s’agit de mettre em valeur, de développer, dá assurer la croissance économique, de tirer du territoire en question les revenus les plus importants possibles avec le minimum d’investissements” (LAMOTTE, 1985). Para Lamotte (1985), a organização do espaço visa explorar um dado recurso ou um conjunto de recursos, tais como, agrícolas, energéticos, minerais, industriais, turísticos. A maioria das ações geográficas de ordenamento efetuadas é somente nessa perspectiva. Assim, a necessidade de uma política de ordenamento do território surgiu devido aos resultados do crescimento econômico serem desordenados e não satisfatórios do ponto de vista social e ecológico. Contudo, políticas de desenvolvimento e políticas de ordenamento são distintas, porém, não se deve cair na utopia e imaginar que se possa ordenar fora de qualquer perspectiva de desenvolvimento econômico.

As diretrizes do ordenamento do território, para Lanversin et al. (1989), são: a dimensão geográfica do crescimento, os pontos fracos do território, a urbanização e a vida rural, a cidade polo e o campo. O poder público deve exercer um papel bem mais amplo que as demais organizações e entidades de um país, tais como os empresários e os sindicatos regionais. O poder público é, na verdade, o mestre de obras das infraestruturas de um país. Entre as obras mais importantes estão a implantação e orientação de redes rodoviárias, ferroviárias e fluviais, a criação de universidades e de centros de pesquisas, a organização urbana por meio dos planos de urbanismo e, algumas reservas fundiária.

Na concepção de Lamotte (1985), o ordenamento do território abrange diversos tipos de políticas tais como as políticas de planejamento físico do território, políticas de ações setoriais, políticas de ações regionalizadas, e políticas regionais. Nesse sentido, pode-se afirmar que o ordenamento do território é o componente geográfico dos programas de desenvolvimento econômico e social. Ele acompanha programas de industrialização ou de

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desconcentração industrial; de renovação ou de desenvolvimento rural; de urbanização e de desenvolvimento urbano (a exemplo das políticas de metroplização de equilíbrio das cidades médias e das novas cidades); de implantação de grandes infraestruturas e de decentralização terciária.

Fischer (2008), afirma que o ordenamento do território, muitas vezes, começa com uma ação objetivando a melhoria da acessibilidade da região em que se quer intervir, uma vez que o espaço só é atrativo na medida em que se torna acessível.

O espaço de intervenção é, também, um espaço no qual se pode modificar o valor relativo, o lucro, a capacidade de atração, particularmente melhorando suas condições de acessibilidade; aí está uma das preocupações maiores do ordenamento (a importância das infraestruturas e dos equipamentos de transporte para tudo o que concerne às diferenciações e à segregação quantitativa dos espaços geográficos (Fischer, 2008).

A infraestrutura de transportes, na visão de

Fischer (2008), é vista pelos planejadores como uma medida de atração que facilita o desenvolvimento das regiões que atravessam por antecipar a demanda. A infraestrutura tem como impacto espacial a geração de aptidões que podem levar ao desenvolvimento econômico das regiões. A rodovia é mais eficiente na difusão territorial das atividades, uma vez que as atividades econômicas tendem a se aglomerar em suas extremidades e em seus entroncamentos intermediários. O impacto espacial gerado pela infraestrutura de transportes são as aptidões que podem promover o desenvolvimento econômico regional e permitir o desenclave territorial, “tanto quanto o fenômeno de estreitamentos dependentes de sua calibragem e de suas características de acessibilidade” (FISCHER, 2008).

Vale salientar que, nos planos de ordenamento territoriais brasileiros em geral, a infraestrutura de transportes ganha destaque especial e, na maioria das regiões, é o modal rodoviário que sobressai. No entanto, a dotação dos lugares com infraestrutura de transportes como incentivo ao desenvolvimento das atividades econômicas é perceptível na maioria dos países, a exemplo da França.

RESULTADOS

A partir dos anos de 1950, o Brasil passou a planejar a ocupação do território nacional por meio do desenvolvimento e implementação de planos nacionais de ordenamento territorial. Foram diversos planos elaborados e implementados ao longo das décadas seguintes.

O Plano de Metas foi fundamental para a supremacia do setor rodoviário no País, que perdura até os dias atuais. Sob o discurso de ser o único modal capaz de integrar com eficiência o território brasileiro e o conduzir a unificação dos mercados regionais, as rodovias ganharam espaço central entre os modais de transportes contemplados nesse plano, assim como nos posteriores até a década de 1980. Entre os cinco setores estratégicos para a economia do País contemplados no Plano de Metas encontram-se o de transporte e a indústria de base. A construção de Brasília, meta síntese, e a criação do setor industrial automobilístico transformaram-se os símbolos do Governo JK e do novo Brasil: “transformaram-se na prova concreta de que o governo estava, realmente, realizando as tarefas de ‘cinquenta anos em cinco’, como dizia um dos lemas da administração federal”, (Ianni, 1991). As metas relacionadas com os transportes (construção e reaparelhamento) e, principalmente com as rodovias (construção e pavimentação) tornaram as regiões e as indústrias localizadas no interior do País mais próximas e conectadas entre si.

Somada ao discurso do modal rodoviário ser mais eficiente para a integração nacional e dos mercados regionais, Juscelino Kubistchek (JK), tinha outra boa razão para priorizar o modal de transporte rodoviário sobre os demais: o desenvolvimento da indústria automobilística. A opção feita por ele em desenvolver a indústria de bens de consumo duráveis, eletrodomésticos e, sobretudo automóveis, via na expansão da infraestrutura rodoviária o atendimento das necessidades dos complexos industriais automobilísticos que se instalaram no Brasil.

A expansão da malha rodoviária brasileira era de suma importância tanto para facilitar a aquisição de matéria-prima, necessária à referida indústria, quanto para a venda da produção de automóveis e caminhões. No governo de JK, foram construídos grandes troncos rodoviários. A construção de Brasília também favoreceu a expansão da malha viária uma vez que para integrar a nova Capital ao resto do País foi necessária a implantação de diversas novas rodovias. Pereira & Lessa (2011), argumentam

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que era a partir de Brasília que irradiariam os grandes eixos rodoviários responsáveis pela integração interna da economia brasileira. Além disso, nesse governo, ocorreu a pavimentação de diversos trechos de rodovias já implantadas.

O crescimento do transporte rodoviário no Brasil, entre os anos de 1952 e 1960, deu-se em ritmo rápido e mais de 55% da rede rodoviária implantada nesse período foi em direção ao Norte, Centro-Oeste e Nordeste do País.

Conforme Acselrad (2001), a partir dos anos de 1960, a integração do mercado nacional passou a contar com políticas de desenvolvimento regional, pelas quais o Estado Nacional estimulava a industrialização periférica, por meio da construção de infraestrutura rodoviária, como uma das principais principal medida. Entre a década de 1960 e 1970, a malha rodoviária pavimentada federal e estadual do País multiplicou-se por quatro.

Na maioria dos planos, elaborados a partir da década de 1960, como sustentam Pereira & Lessa (2011), a questão regional foi contemplada com medidas que tinham por objetivo minimizar os desequilíbrios regionais e intra-regionais. Para tanto, sob a ótica do Governo Federal, fazia-se necessária a continuidade da expansão e melhoria da infraestrutura de transportes, em especial o modal rodoviário.

Com o discurso da necessidade da integração nacional que mascarava a necessidade de descentralização da atividade econômica, em 1970, o Governo Federal lançou o Plano de Integração Nacional – PIN, em 1970, sob os lemas "integrar para não entregar" e "uma terra sem homens para homens sem terra". Com esse Plano, o governo visava construir as rodovias para formar a integração do País ocupando as regiões denominadas, na época, de “vazios demográficos” (Pereira & Lessa, 2011). Entre os projetos prioritários estava a construção da rodovia Transamazônica ou BR-230; rodovia Cuiabá-Santarém, BR-163, a conclusão da rede rodoviária do Nordeste; as ligações com rodovias pavimentadas entre Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre; as ligações rodoviárias internacionais; e a construção da Ponte Rio-Niterói.

Assim, as políticas desenvolvimentistas que floresceram no País a partir de meados da década de 1950, regaram o setor rodoviário com investimentos públicos tendo como efeito a disseminação das “estradas de penetração que apoiaram a ampliação da fronteira agrícola e as ligações com a nova Capital Federal” (Pereira & Lessa, 2011). A industrialização baseada no setor automotivo que conjugou a implantação de

montadoras multinacionais no País e a pretensão de que as estradas de rodagem servissem ao povoamento de áreas ‘vazias’ do Cerrado e da Amazônia, levando o mercado a regiões onde predominavam até então economias pouco monetizadas culminou no expressivo aumento das rodovias, conforme pode ser observado na Tabela 01.

TABELA 01 – Crescimento da Rede Rodoviária Brasileira entre 1939 e 1991 (%)

Período Taxa (em %) 1939-1952 3.51 1952-1960 14.03 1960-1970 52.67 1970-1980 21.32 1980-1991 8.47

Fonte: FIBGE. Anuário Estatístico do Brasil, 1992/Acselrad, 2001.

No início dos anos de 1990, a infraestrutura de

transportes representava sérios gargalos ao crescimento econômico do País. Acselrad (2001) sustenta que, com a perda do ânimo desenvolvimentista, a subordinação da política do rodoviarismo, progressivamente, cedeu lugar à lógica do mercado, passaram a ser apresentados como um elemento do chamado custo Brasil, sendo visto, a partir daí, como custo adicional da produção. É nesse contexto que a retórica da competitividade penetrou o setor de infraestrutura de transporte rodoviário, justificando sua terceirização e privatização, levando, a partir da década de 1990, à implantação do Programa de Concessões de Rodovias Federais, e mais tarde adentrando as estaduais, culminando com a privatização das rodovias mais importantes do País.

A priorização dos investimentos no modal rodoviário elevou a participação das rodovias no transporte de carga e ultrapassou todos os demais meios de transportes, chegando, conforme dados da FIESP (2011), em 1970, a responder por 73% das cargas transportados no Brasil. Em 2011, esse modal ainda respondia por 59% das cargas transportadas no País.

Ao longo do tempo, a soma da predominância do transporte rodoviário de cargas e a perda do ânimo rodoviárias (redução dos investimentos no setor), levaram a considerar as rodovias um elemento do chamado custo Brasil, sendo visto, a partir daí, como custo adicional da produção, “fator de restrição da competitividade dos produtos nacionais no mercado global” (Acselrad, 2001).

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Nesse contexto, fica claro que a predominância de modal rodoviário no Brasil, é resultado de escolhas feitas pelo Governo Federal, que estabeleceu a indústria de bens de consumo como o carro chefe da industrialização do País, especialmente a indústria automobilística, a qual necessitava da expansão das rodovias para seu crescimento.

CONCLUSÕES

A análise das teorias sobre ordenamento do

território e transportes revelam que as infraestruturas de transportes tem espaço central no ordenamento do território. Foi possível constatar que ordenamento territorial e transportes sempre estiveram intimamente relacionadas. As rodovias são consideras uma pelos teóricos mais eficiente na distribuição espacial das atividades econômicas, devido a possibilidade das empresas se instalarem ao longo das mesmas e nos seus entroncamento. As rodovias podem estimular o desenvolvimento das regiões, possibilitando o desenclave territorial.

No Brasil, a implantação das infraestruturas de transportes e o ordenamento territorial sempre caminharam juntos, no entanto nem todas as modalidades receberam a mesma atenção. A implantação do modal rodoviário obteve prioridade sobre os demais em todos os planos nacionais desenvolvidos entre os anos de 1950 e 1990. O Plano de Metas foi decisivo para essa realidade dado ao anseio do governo JK pela integração nacional e a opção em desenvolver a indústria automobilística. A expansão da malha rodoviária era condição necessária para o desenvolvimento da indústria automobilística no País uma vez que funcionara como incentivo para a venda interna da produção de veículos e era a forma mais eficiente, na época de integrar o território nacional. O crescimento do transporte rodoviário durante o governo JK ocorreu de forma acelerada.

Os planos desenvolvidos e implementados após o Plano de Meta continuaram priorizando o modal rodoviário. Na década de 1960, a implantação de infraestruturas de transportes rodoviários passou a ser uma maneira de estimular a industrialização periférica, visando a redução dos desequilíbrios regionais e intra-regional. Nessa década, a malha rodoviária pavimentada teve grande expansão.

Nos anos de 1970, a justificativa para a ampliação da malha rodoviária do Brasil foi a preocupação do Governo Federal com a descentralização das atividades produtivas.

Nesse período, o governo construiu outras rodovias, integrado as áreas menos povoadas às regiões mais desenvolvidas do País.

Nos anos de 1980, devido a crise, o modal rodoviário começa a arrefecer. No entanto, a prioridade por esse meio de transporte elevou fortemente sua participação no total transportado, enquanto o modal ferroviário tinha sua participação reduzida.

A preocupação com os demais modais de transporte volta a aparecer a partir de meados dos anos de 1990 com os planos Plurianuais (PPAs), quando se constata que o alto peso dos transportes rodoviários na escoação da produção brasileira e a má conservação das rodovias haviam se tornado um gargalo para a competitividade nacional. Contudo, atualmente, grande parte da produção nacional ainda é transportada pelas rodovias.

Assim, pode-se afirmar que a supremacia do transporte rodoviário sobre os demais modais vigente ainda hoje no Brasil é resultado do ordenamento territorial realizado pelo Governo Federal a partir dos anos de 1950 que considerou o modal rodoviário mais condizente com suas opções de desenvolvimento do País e o objetivo de integração nacional naquele. Vale lembrar que a escolha de um único, ao longo do tempo, passou a ter impacto negativo para a economia brasileira, devido ao seu elevado custo e os gargalos resultada do arrefecimento dos investimentos. Esse quadro, já cristalizado, ainda pode levar anos para mudar.

REFERÊNCIAS

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PELOS CAMINHOS DO OESTE DO PARANÁ, ENTRE OS SÉCULOS XIX e XX

Lia Dorotéa Pfluck (1)

(1)Professora; Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon-PR; [email protected].

RESUMO:Desde 1992 se tenta relacionar a instalação da atual cidade de Marechal Cândido Rondon-PR com a fonte oral, fotografias e mapa ou plantas da Obrage Compañia de Maderas Del Alto Paraná (1908). Se buscam respostas sobre: o legado deixado pelas obrages inglesas e argentinas no Oeste do Paraná (PR), no início do século XX; a importância das redes telegráficas no sertão do PR, na época, e quem as teria instalado? Como relacionar a ocupação e mudança socio espacial, da época, com o ensino de geografia? As pesquisas estão voltadas a bibliografia em livros, sites e material cartográfico. Assim se versa sobre: a localização geográfica e histórica da faixa de fronteira do Oeste do Paraná; as obrages no Oeste do PR; e, a telegrafia pelos caminhos do Oeste do Paraná. Nesse artigo se apresenta uma parte do trabalho, os caminhos pelo Oeste do Paraná, entre os séculos XIX e XX. Palavras chaves: Mapas, estradas, telegrafia. INTRODUÇÃO

A descrição geográfica e histórica são privilegiadas por poderem ser expressadas em várias linguagens, ou seja, a oralidade a literária ou escrita, a fotografia, a numérica, a gráfica, a cartográfica e, mais recentemente, a informacional (CASTRO, 2012). Kossoy (2004, p. 232) ao escrever sobre foto-grafia considera que “[...] a imagem pensada fora do seu contexto é pura abstração, seu significado é vazio”. Esta frase pode ser transportada para os mapas, imagem produzida a partir da leitura do que se vê (se viu), expressão grafada, síntese de diferentes linguagens geográficas e históricas, e que fora de seu contexto não tem sentido, é pura abstração.

Assim, se buscam mapas, croquis e plantas que foram instrumentos de orientação e de planejamento e de legados deixados sobre os quais é possível fazer contextualizações relacionadas à geograficidade atual e ao ensino de Geografia. A Geografia está fundamentada no conhecimento da reorganização espacial, enquanto resultado das relações sociais, políticas e econômicas representada na cartografia

temática. “O mapa sempre esteve presente nos grandes momentos da história da humanidade e como elemento de orientação dos mais variados povos, mostrando sua importância como instrumento estratégico de planejamento e gerenciamento do espaço” (CASTRO, 2012, p. 16), e, dele se fará um instrumento de ensino de Geografia sobre o Oeste do Paraná. A perspectiva é entender o ensino de Geografia a partir da exploração e ocupação do Oeste do Paraná encontrada nas fontes teóricas, representada nos mapas e nas pesquisas de campo.

A pesquisa tem a seguinte abrangência, instrumentos e recursos e finalidades: 1) Teórica, análise sobre o Oeste do PR a partir da pesquisa bibliográfica, e por finalidade entender e definir/ localizar a área de exploração e ocupação do Oeste do Paraná (século XIX a XX). 2) Mapas do final século XIX e início do XX; como instrumento a pesquisa bibliográfica; mapeamento dos caminhos terrestres e da telegrafia no Oeste do Paraná; dos dados e informações e elaborar mapas sínteses; tratar e trabalhar os mapas no ensino de Geografia.

Para Wachowicz (1987), Brito (2005) e Frasson (2014), historicamente houve um atraso na definição dos limites no Oeste do Paraná, entre Brasil, Paraguai e Argentina justificado pela: - questão militar, resolvida em 1889 com a fundação da Colônia Militar do Iguaçu e a posse efetiva, ainda que incipiente, por brasileiros da área estratégica entre os três países. - A luta abolicionista. - Os ideais propagandistas civis e republicanos que geraram conflitos estaduais como o processo político que elevou o Paraná à condição de Estado, e os nacionais, que repercutiram na região (Revolução Paulista e da Coluna Prestes). Durante este período o Oeste do Paraná estava voltado ao extrativismo e comércio internacional, liderado por obrageros ingleses e argentinos, o que fez da região um palco de disputas internacionais e regionais.

A fundação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu, a ‘Marcha para o Oeste’, a criação do Território Federal do Iguaçu (1943-1946) e a instalação de colonizadoras consolidaram o processo migratório brasileiro, o que abrasileirou

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um espaço desnacionalizado (FREITAG, 1997, p. 96). A ocupação e a colonização do Oeste do Paraná correspondem: - aproximadamente a área explorada pelas obrages, entre os séculos XIX e XX; - a dos então municípios de Guarapuava e depois Foz do Iguaçu; - às delimitações do efêmero Território Federal do Iguaçu (1943 a 1946): - à Faixa de Fronteira (entre o Rio Iguaçu e o Rio Piquiri); - à Mesorregião Oeste Paranaense (IBGE, 2008); - e, ainda do Rio Iguaçu (S) ao Piquiri (N, NE), e do Rio Paraná até às imedia-ções dos municípios de Campo Mourão e Guarapuava.

O Oeste do Paraná, como espaço de fronteira, deve ser compreendido enquanto “[...] produto de uma divisão a que se atribuirá maior ou menor fundamento da realidade segundo os elementos que ela reúne, [...] campo de luta pela delimitação legítima” que mudam de “[...] posição no sistema temporal e no sistema espacial” (BORDIEU, 1989, p. 114-115). No entanto, MacClancy (1994, p. 51) se contrapõe as posições acima e se apoia nas questões culturais para justificar que “Las fronteras nacionales como tales no existen. Son una creación artificial. No son producto de la naturaleza sino de la cultura (...) Son entidades mentales, no fisicas”.

As afirmações de Martins (2009, p. 11) vem ao encontro ao considerar que

[...] a fronteira de modo algum se reduz e se resume à fronteira geográfica. Ela é fronteira de muitas e diferentes coisas: fronteira da civilização (demarcada pela barbárie que nela se oculta), fronteira espacial, fronteira de culturas e visões de mundo, fronteira de etnias, fronteira da história e da historicidade do homem. E, sobretudo, fronteira do humano.

E, ainda, fronteira pode ser entendida como

“[...] como divisa, limite, contato, contradição, área de transição” (FRASSON, 2014, p. 52).

A posição dos autores pode gerar uma reflexão interessante a respeito do ensino de Geografia para esta zona de fronteira, que será abordado em outro capítulo. E há que se analisa-la como paisagem composta diferentes óticas, conforme Meinig (2002).

MATERIAL E MÉTODOS

Desde 1992 a fonte oral, fotografias e planta

da Picada Allica despertaram para questões como: Qual a relação da atual cidade de

Marechal Cândido Rondon com a Picada do Allica e desta de outras picadas com a instalação das atuais vilas e cidades, do início do século XX? Por que estariam os ingleses e outros grupos no Oeste do Paraná? Por que Cândido Mariano da Silva Rondon instalaria linha(s) telegráfica(s) no sertão do PR ou esta já estaria instalada antes dele? Assim, passou-se a recolher dados bibliográficos ousando encontrar respostas e relacionar a pesquisa ao ensino de Geografia. Para tanto, se traçou um caminho geográfico propondo subcapitulos, como: Localização geográfica e histórica: ocupação e colonização da faixa de fronteira do Oeste do Paraná; Os obrageros no Oeste do Paraná, as picadas, os portos, os pousos (e o nacionalismo na fronteira); A telegrafia pelos caminhos do Oeste do Paraná, no início do século XX; A relação do telegrafista Rondon com o Oeste do Paraná; O ensino de Geografia pelos caminhos cartográficos.

RESULTADOS PRELIMINARES Na Geografia e na História do Oeste do

Estado o Rio Paraná é central, e entre os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná o rio se apresentava calmo e largo (4.500 m), mas precipitava suas águas no canion de trapp (60 a 80 m de largura) em Guaíra. O estreitamento do canal e a irregularidade da base, a turbulência, os redemoinhos (sucção e ascensão), as quedas e os saltos e a enorme velocidade das águas foram fatores que impediram a navegação neste trecho (MAACK, 2002). Seguia turbulento até a foz do Rio Iguaçu, mas suas águas foram vencidas pela navegação “[...] que assegura vantagens incontestáveis” até o Porto Mendes, 60 km a jusante das quedas (ARRUDA, 2008, p. 110).

Durante os trabalhos dos obrageros na região, os cursos d'água foram importantes para a instalação de portos, às margens do Rio Paraná, entre Foz do Iguaçu e Porto Mendes. É possível listar 29 portos (esquerda): Foz do Iguaçu, Bello, Bela Vista, Itaopuitê, Leonor, União, Alberto, Marnik, Roszanyi, Mbaebuy, Lequê, Sete de Setembro, Sol de Maio, São Vicente, São Miguel, São Miguelito, Ocohy, Moleda, Santa Helena, São Francisco, Felicidade, Britânia, 12 de Outubro, São Domingos, Artaza, Mendes, São João, Guaíra e Thomaz Laranjeira ou Monjoli (WESTPHALEN, 1987ITCG, 2008;). Os portos serviram de aporte para a exploração, extração, transporte e exportação de “[...] hervas e madeiras extraídas dessa riquíssima e opulenta zonal” (NASCIMENTO, 1903, p. 107-108).

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A navegação forçou abertura de caminhos pelo sertão do Paraná. Nos Mapas Históricos do Paraná (ITCG, 2008; WESTPHALEN, 1987; COLODEL, 1988) encontram-se traçados os seguintes caminhos ou estradas e suas respectivas obrages: - da Colônia Militar de Foz do Iguassú (Rodovia-35 ou BR-277), pelo sul das obrages de Waldemar Matte e de Miguel Matte, se direciona rumo NE até K??, Benjamim, Km32 (NO) e Floriano (L), Catanduvas, Formiga, Colônia Mallet, Guarapuava. - de Foz do Iguaçu, passando pelo Porto Jejuí, Porto de Ontiveros (foz do Rio São Francisco) a Salto Sete Quedas (Guaíra), pelo oeste das diversas obrages. - da foz do Rio São Francisco, Porto de Ontiveros, sentido SE até Catanduvas; - de Salto Sete Quedas até as proximidades da atual cidade de Cascavel, se encontrava com a Estrada-35; - pelo centro Obrage 8 ou Compañia de Terras Del Alto Paraná, a “Picada Allica”, seguia de Porto Artaza a Depósito Santa Cruz, com conexão a Toledo, Lopeí a Central Santa Cruz, para Sapucahy (S), e para Cascavel, Salto, Catanduvas, Formigas, Colônia Mallet e Piquiry (NE) até Pensamento. Estendendo-se “[...] 300 km a leste do Rio Paraná, na região da Serra de Pitanga, indo para o sul [...] faltando 7 km para ligá-la à estrada de Guarapuava” (NOGUEIRA, 1920, p. 148; YOKOO, 2013, p. 96). - do Porto Britânia (Obrage 8) a Toledo e Salto (Picada Nuñez y Gibaja), ao Depósito Gibaja, Depósito Barthe (S), de lá para Cascavel; - pela obrage Petry, Meyer e Azambuja, a “Estrada Porto Santa Helena a Bela Vista”, por Km32, Depósito Barthe, Cascavel, Sapucahy (N) e Salto (L), Catanduvas. “Entre as localidades de Salto e Depósito Barthe está localizado um povoado sem nome, mas que será a futura cidade de Cascavel” (ITCG, 2008).

Ao longo dos caminhos foram estabelecidos os pousos, acampamentos precários, geralmente nas margens de rios, fixados em um dia de percurso por carroças que transitavam pelas picadas, levando a erva mate. Nas entre safras e nas proximidades destes pousos, os mensus tinham permissão para cultivar “[...] plantações de arroz [...] de milho, feijão, aipim, cana de açúcar, amendoim, tabaco, além dos bananais e laranjais” (NOGUEIRA, 1920, p. 148).

Além desses caminhos, a implantação de ferrovias e do telégrafo, era vista como um “[...] poder quase mágico de transformar tudo a sua volta”, artéria vivificante, mas penoso e nem sempre concretizável (MACIEL, 2001, p. 138). A comunicação, durante o Brasil Império, se revelou precária, sobretudo durante a Guerra do Paraguai (1864-70), quando as notícias da invasão

paraguaia ao Mato Grosso só chegaram seis semanas depois ao Rio de Janeiro (DORATIOTO, 2002). “Entre 1850 e 1870 foram instalados cerca de 2.000 km de linhas telegráficas, mas ficaram comprometidos durante a Guerra do Paraguai. No sul do país, Emil Odebrecht, Inspetor de Segunda Classe da Repartição Geral dos Telégrafos (1881-88) desenvolveu trabalhos de exploração, levantamentos cartográficos e geográficos nos três estados do sul. No Paraná realizou trabalhos de locação e implantação da linha telegráfica Curitiba - Guarapuava, acompanhado do Eng. Leopoldo Weiss (1882); realizou “[...] a expedição da Foz do Rio Ivaí, Guaíra, Foz do Piquiri, Foz do São Francisco e do Iguaçu” (1883); e implantou a Linha Telegráfica Joinville - Morretes (1881-88). (SILVA, 2011?, p. 6 e 72).

Na passagem do século XIX para o XX, a telegrafia no Oeste do Paraná também se tornou um importante de meio de comunicação, além dos caminhos e portos. Para tanto, Tomás José Coelho de Almeida, do Ministério da Guerra, criou a Comissão Estratégica do Paraná (10/março/1888), para definitivamente desbravar e ocupar o Oeste do Estado, a margem esquerda do curso médio do Rio Paraná, fronteira entre Foz do Iguaçu e Guaíra. A Comissão se instalou em Guarapuava e chefiada pelo Capitão Belarmino Augusto de Mendonça Lobo e pelo engenheiro e tenente José Joaquim Firmino, tiveram como objetivos construir estradas estratégicas no Estado e fundar colônia militar. Dada as dificuldades da época a Comissão não avançou muito, mas a Colônia Militar do Iguassú foi fundada por Firmino (23/nov./ 1889), na margem esquerda do Rio Paraná, a 6 km da foz do Rio Iguaçu. O ato marca o início da ocupação efetiva por brasileiros e, “[...] a presença militar na área teve os méritos de garantir a posse do território pelo Brasil, disciplinar a atividade econômica e dar segurança à população” (SPERANÇA, 1992, p. 46; Colônia Militar, 1997; BRITO, 2005, p. 18; Foz do Iguaçu, s./d.). A Colônia foi desmembrada da Comissão Estratégica do Paraná (20/out./1892), pelo Ministério de Guerra, mas a Comissão continuou com a responsabilidade de abrir a estrada até Foz do Iguaçu.

Dez anos depois da instalação da Colônia, Torres Homem, em Relatório Administrativo (18/12/1898), lembrava ao Ministério da Guerra (João Nepomuceno de Medeiros Mallet, 1898-1902) que se decidisse dar continuidade ao projeto da Colônia Militar em Foz do Iguaçu, esta deveria ser precedida, em caráter de urgência, por uma “[...] estrada carreteira e a collocação d'uma linha telegraphica, na extensão de

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sessenta legoas [266,7 km] de extensão no sertão, que nos separam das povoações mais visinhas [Guarapuava] do Estado do Paraná” (MISKIW, 2009, p. 314).

A implantação de linha telegráfica representava trabalho árduo em função da distância, da presença da mata, das intempéries do tempo, da dificuldade de transporte e deslocamento, a falta de pessoas e de alimentação precária, e por consequencia problemas de saúde, a falta de recuros de todas as ordens, entre tantas outras, próprias para o período, virada do século XIX a XX.

Mais ao sul, pela margem direita do Rio Iguaçu, se destacava a Picada Geral ou Picada Dioverti vindo a se encontrar com a Picada Firmino dentro da obrage de Domingos Barthe, próximo a Catanduvas, na margem direita do Rio Tormentas.

Em 1888-1889, criada a Comissão Estratégica do Paraná, foi aberta a “Picada Firmino” (Estrada Estratégica Militar, Rodovia-35, parte da atual BR-277), com 60 léguas (354 km) entre as atuais cidades de Guarapuava até Catanduvas e de Foz do Iguaçu, incluindo a instalação da linha telegráfica em todo este percurso (NATH, 2010). Tratava-se de uma picada com três metros de largura, o suficiente para o trânsito de carroças entre as duas localidades. A estrada e a pequena infraestrutura em alguns trechos foram usadas pelos militares que viveram no início do século XX na região para tentar manter a fronteira do Brasil intacta, afinal ela era alvo de disputa entre brasileiros e argentinos. (MILAN, 2009).

Enfim, “Em 1905, chegava a Foz do Iguaçu a linha telegráfica, como remate de um trabalho iniciado anos antes” (Foz do Iguaçu, s/d./), e, no ano seguinte, se completou a instalação entre Guarapuava e Foz do Iguaçu. Apesar da importância da telegrafia no Paraná, durante a Guerra do Contestado (1912-1916), por exemplo, a primeira medida foi interromper as comunicações, pois estas se encontravam a serviço da repressão (WISSENBACH, 1999, p. 287).

Em outras situações o telégrafo foi referência estratégica para escolha de locais de fácil comunicação como quando do deslocamento dos movimentos revolucionários, na década de 1920, ao Oeste do Paraná. Catanduvas entrou para a história brasileira, pois era uma das poucas cidades do interior do Paraná com serviços telegráficos. Em set./1924, cerca de 400 revoltosos da Coluna Prestes, do Movimento Tenentista, acamparam em torno da Central

Telegráfica de Catanduvas, e aí permaneceram até abril de 1925.

Ao se considerar a telegrafia no Oeste do Paraná se encontram duas linhas instaladas no início do século XX. A linha telegráfica instalada em 1905/1906, pela Comissão Estratégica do Paraná, ligava Guarapuava a Foz do Iguaçu e a segunda, de iniciativa privada, instalada por Allica, de Porto Artaza ao Depósito Santa Cruz.

A linha de Guarapuava a Foz do Iguaçu acompanhava a Estrada Geral, ou seja, de Foz do Iguassú, passava por Benjamim e Floriano e ladeado pela rede telegráfica chegava a Catanduvas, Formigas, Mallet e Guarapuava (WESTPHALEN, 1987, LXXXII e LXXXVI).

Uma segunda linha telegráfica implantada por Julio Tomáz Allica (Obrage Compañia de Terras Del Alto Paraná). Allica

[...] tem construído 45 léguas de estradas de rodagem, uma linha telephonica de 120 kilometros, ligando o porto [Porto Artaza] ao Depósito Central [ou de Santa Cruz]. Esta linha será prolongada até o Pequiry, com extensão de 160 kilometros. Seus trabalhos já estão a 8 léguas [35,56 km] do Campo Mourão. (SOUZA, 2009, p. 93, apud BALLÃO, 1920, p. 29).

Para Emer (1991, p. 65-66) a linha telegráfica

de Allica “[...] chegou a ter mais de 140 quilômetros de extensão, facilitando a comunicação entre a sede e os inúmeros postos de controle, e depósitos de erva-mate no interior do oeste paranaense”.

Desta forma, é possível presumir que esta Linha Telegráfica seguia a Picada Allica e, portanto ligava Porto Artaza, Casa Allica, Rancho, Rosa, 4 Pontes, Pogy [Boey] Caé, seguindo para Depósito Central Santa Cruz, Porto Piquery, Pensamento, Campo Mourão. Portanto, essa rede telegráfica passava então pelos atuais núcleos urbanos de: Bom Jardim, Iguiporã, Curvado, Marechal Cândido Rondon (município de mesmo nome); Pogy Caé (município de Toledo); Santa Cruz (distrito de Cafelândia) e Pensamento (distrito de Mamborê) até Campo Mourão.

Em outra fonte encontra-se “[...] Lopeí, em 1924, recebeu um posto telegráfico, devido a Revolução Paulista” (SPERANÇA, 1992, p. 35). Neste caso, porém, deve ser considerado que Lopeí localizava-se ao longo da Estrada Porto Britânia a Salto e não na Picada Allica. Se Lopeí recebeu este posto, isto ocorreu praticamente 20

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anos depois das instalações anteriores e numa distância de 50 km, aproximadamente, de Santa Cruz.

Figueiredo (1937, p. 113) escreve que de Catanduvas a linha telegráfica passava por Lopey, povoaçãozinha que impressiona pelo asseio e pela topografia, onde havia “[...] um posto telefônico instalado num casebre construído com lascas de pinheiro”, e chegava a Porto Mendes. De acordo com Figueiredo (1937, p. 114) “Os postes não existem mais, repousando o fio diretamente sobre a mata que nasceu na antiga picada.” O sistema funciona “[...] por milagre de um santo poderoso” e de que “[...] os telefonistas de Lopey e Porto Mendes possuem péssima dicção”, transmitindo “[...] verdadeiros disparates nos poucos momentos em que a linha funciona”. Vale destacar que o Porto Mendes pertencia a Companhia Mate Laranjeira e que a distância entre esse e o Porto Artaza era de 1 km. O fato de ter sido feita ligação pela Companhia Mate Laranjeira pode significar que havia ligação telegráfica ou telefônica entre esses dois portos, e a partir desse se prolongava até Catanduvas.

Assim, é necessário investigar mais sobre a linha telegráfica construída por Allica de Porto Artaza ao Depósito Central Santa Cruz, pela Picada Allica (SOUZA, 2009), e sobre a ligação de Catanduvas a Lopey e que chegava a Porto Mendes (FIGUEIREDO, 1937).

O caminho percorrido Figueiredo (1937) e seus companheiros destaca elementos geográficos importantes que facilitam a compreensão da localização e confirmam os traçados nas figuras utilizados na pesquisa. No caso, tomando caminho dos portos para Lopey, Figueiredo (1937, p. 159) descreve: “Atravessamos os arroios Paragem Porã, Curvado, Mastrille Cue e Quatro Pontes”, mais adiante o Arroio Guaçu, onde havia “[...] um depósito de erva-mate e algumas casas de "mensus"” e num cercado “[...] plantação de fumo com folhas espessas, bem verdes e felpudas”. Isto corresponde a ter passado pelas atuais localidades de: Porto Mendes, Bom Jardim, Iguiporã, Curvado, Marechal Cândido Rondon, Pogy Caé? (Toledo). Depois, passaram pelos arroios Boi Caê e Paragem-y (p. 160); cruzaram a ponte sobre o Arroio Ponte Grande e deixaram “[...] à direita um casebre com o nome de Memória”, chegaram a uma longa chapada onde “[...] se achavam dois depósitos de "yerba", denominados M'Bôpi-cuá” (p. 161). A partir de uma elevação se avistavam as ruínas da Central Santa Cruz, mas seus “Lindos prédios de macieira e depósitos de erva estão caindo” (p.

161). De Central Santa Cruz seguia uma estrada para Central-y, e outra para Centenário, ambas fechadas pela mata e uma estrada para o rio Piquiri, também completamente tomada pela vegetação (p. 162). Da mesma forma, se encontrava o rancho Pensamento, abandonado (p. 172).

Década de 1930, Othon Mader, prefeito de Foz do Iguaçu, conhecido por sua postura integracionalista e nacionalista, tinha como intenção promover uma ocupação brasileira, valorizar o idioma e da moeda nacional, distribuir jornais de Curitiba em órgãos públicos e entidades para acompanhar o que ocorria no Estado e no país. Para Foz do Iguaçu previa um centro turístico internacional. Nesse contexto, Othon Mader transferiu o posto telegráfico de Lopeí para Encruzilhada, que passou a funcionar como agência do correio, ocorreu “a criação do correio Aéreo Nacional, transformado em órgão de comando do Transporte Aéreo da Força Aérea Brasileira (FAB)”. (SPERANÇA, 1992, p.104 e107).

Enfim, ¿A dónde les he llevado a través

esta exploración geográfica? Hemos visto la geografía como una disciplina sintetizadora; como un área con una preocupación profunda por las relaciones humanas y medioambientales, como una materia que se centra en los espacios del mundo físico, y cómo estos espacios están constantemente reestructurados por la presencia humana. Hemos visto un campo que ha estallado intelectualmente, en términos de la cantidad de problemas que puede abordar, y lo que es importante, a través de la disponibilidad de unos recursos informáticos extremadamente potentes y rápidos. […].La geografía, y la perspectiva geográfica particular que nos proporciona, es un elemento imprescindible para disfrutar de una vida humana, inteligente e informada. (GOULD, 2000).

“[...] aprender ‘geograficamente’ o texto é tão

importante quanto aprender ‘cartograficamente’” (SELBACH, 2014, p. 62). Assim, o texto e os dados por ora apresentados necessitam de aprofundamento e análise e deverão culminar em representações geográficas, produtos

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cartográficos. Embora, como produto cartográfico, a representação de uma realidade, é passível de distorções.

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Águas transfronteiriças entre Brasil e Paraguai e implantação do subprograma gestão por bacias, do Programa Cultivando Água Boa-

Itaipu Silvana Severino da Silva (1); Edson dos Santos Dias(2)

(1)Estudante de Pós Graduação, Bolsista CAPES, [email protected]. (2)Professor Orientador Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE Campus de M.C.Rondon – Paraná. [email protected] RESUMO: Atualmente, o Brasil e o Paraguai apresentam uma gestão compartilhada de suas águas transfronteiriças. É certo que falamos de uma época recente, 2003. Quando foi criado o Programa Cultivando Água Boa (CAB), com a inclusão de conceitos de responsabilidade socioambiental na missão da Itaipu, fundamentado na gestão das microbacias hidrográficas na Bacia Hidrográfica do Paraná III(margem brasileira) e na Bacia do Rio Carapá Ypoti (margem paraguaia), uma resposta local para os problemas globais. Considerando esse contexto, a problemática que norteia a presente proposta de estudo relaciona-se à necessidade de saber como se deu a implantação e os resultados até o momento do subprograma Gestão por Bacias, que faz parte do mais amplo trabalho socioambiental da Itaipu, no espaço de fronteira entre o Brasil e o Paraguai. O subprograma Gestão por Bacias visa à preservação da água como matéria-prima para a indústria de energia e melhorar a qualidade da água para a população. A intenção é saber como ocorreu à preservação das bacias hidrográficas dessa gestão dispondo de ações como a instalação de cercas para proteção de mata ciliar, mata ciliar, adequação de estradas, conservação de solo e água, fornecimento de terraceadores, instalação de abastecedouros comunitários, fornecimento de distribuidores de adubo orgânico, destinação adequada de embalagens de agrotóxicos e Projetos de Controle Ambiental (PCA) nas propriedades rurais por meio do subprograma Gestão por Bacias. (ITAIPU, 2015). A pesquisa terá como delimitação os municípios de Cascavel (Brasil) e de Nueva Esperanza (Paraguai), durante 2003-2015, período das etapas de implantação da Gestão por Bacias dos Programas Cultivando Água Boa e Cultivando Água Porã da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

PALAVRAS-CHAVE: Bacia Hidrográfica; Fronteira; Hidropolítica.

INTRODUÇÃO

Para atingir seus objetivos socioambientais, a Itaipu adotou um movimento direcionado para sustentabilidade. São vinte programas e sessenta e cinco ações em andamento dentro do Cultivando Água Boa, gerenciados por um processo proveniente do mundo empresarial que adota o conceito de gestão matricial. A gestão é exercida por meio de procedimentos, métodos e instrumentos que têm como base a metodologia da entidade mundial, Project Management Institute (PMI), ou seja, um Instituto de Gerenciamento de Projetos, dentro da Itaipu, esse processo é acompanhado pela Sala de Monitoramento de Programas e Projetos. A cada semestre são realizadas avaliações, além de revisões e atualizações anuais. Esse componente é fundamental dentro do modelo de gestão para manter a continuidade de cada ação e projeto do programa CAB na fronteira.

Dessa forma independente das divisões político-administrativas da região de influência da Itaipu, a efetividade do CAB requer um trabalho voltado para toda a Bacia do Paraná III. A abrangência dessa gestão compartilhada exige um sistema organizado para coletar e armazenar as informações referentes a cada território da Bacia do Paraná III. Chamada de Gestão da Informação Territorial, ferramenta de estratégia fundamental para avanços, referentes aos Programas, pois o desconhecimento do território impediria ou comprometeria as soluções e alternativas indicadas para a correção dos passivos ambientais.

No Brasil as ações do programa de Gestão por Bacias do Cultivando Água Boa foram desenvolvidas com os seguintes objetivos: Promover a conservação dos solos da Bacia do Paraná III; melhorar o sistema viário rural da bacia, reduzindo o aporte de sedimentos das

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estradas para o reservatório; implementar medidas de saneamento rural, reduzindo a contaminação dos recursos hídricos e beneficiando diretamente a qualidade de vida dos agricultores; contribuir para a correção de passivos ambientais das propriedades rurais nas diferentes microbacias hidrográficas; minimizar impactos da atividade agropecuária sobre o reservatório da Itaipu, em especial no que diz respeito ao aporte de sedimentos, nutrientes e agrotóxicos; fazer a gestão dos recursos hídricos proporcionando os usos múltiplos das águas e contribuir para a proteção das áreas de matas ciliares (CAB, 2015).

No Paraguai o Programa Cultivando Água Porã teve início após estudos preliminares desenvolvidos em todas as microbacias que compõe a Bacia do Paraná III, conforme apresentado na (figura 01) e que envolvem as áreas protegidas da Itaipu, reunidos no documento denominado Projeto Yrembé Porã. A caracterização das matas ciliares e bosques de reserva legal da sub-bacia do Rio Carapá são realizadas com base em estudos do Projeto Yrembé Porã nas microbacias do cinturão da margem direita da Itaipu que compreendem fatores físicos e biológicos das microbacias. A bacia do Paraná III representada na seqüência (fig.01), está localizada na mesorregião Oeste do Paraná, e se estende em áreas dos municípios de Cascavel, Céu Azul, Diamante do Oeste, Entre Rios do Oeste, Foz do Iguaçu, Guaíra, Itaipulândia, Marechal Cândido Rondon, Maripá, Matelândia, Medianeira, Mercedes, Missal, Nova Santa Rosa, Ouro Verde do Oeste, Pato Bragado, Quatro Pontes, Ramilândia, Santa Helena, Santa Teresa do Oeste, Santa Teresinha de Itaipu, São José das Palmeiras, São Miguel do Iguaçu, São Pedro do Iguaçu, Terra Roxa, Toledo, Tupãssi e Vera Cruz do Oeste, no total de 8.000 km2.

Figura 01 – Bacia Paraná III Fonte: (ITAIPU, 2015).

A pesquisa terá como delimitação os municípios de Cascavel (Brasil) e de Nueva Esperanza (Paraguai), durante 2003-2015. O Rio São Francisco Verdadeiro no município de Cascavel apresenta um quadro atual de ações concluídas, na sub--bacia do Rio Carapã destaque para os resultados dos estudos preliminares e das matas ciliares,cumprido as etapas da implantação dos subprogramas Gestão por Bacias da Itaipu.

MATERIAL E MÉTODO Esta proposição de estudo se apoia em

pesquisas bibliográficas que utilizará de um referencial teórico com base em material já publicado por autores e acadêmicos que discutem a temática. Utilizando artigos científicos, textos e informações arquivados nos departamentos da usina lado do Brasil e lado do Paraguai e em órgãos municipais dos mesmos, uma pesquisa exploratória com aplicação de trinta questionários aos coordenadores do comitê gestor, produtores e técnicos ambientais envolvidos nas ações do gestão por bacias, com característica de pesquisa que valoriza as condições existenciais da formação do espaço local, partindo da dialética social e princípios teóricos metodológicos dos autores e demais órgãos envolvidos.

A base empírica será originada de trabalho de campo in loco com a aplicação de questionários elaborados de acordo com a realidade e quantidade de agricultores e coordenadores do comitê brasileiros e aos agricultores e coordenadores de comitê paraguaios; consulta

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aos documentos da Itaipu, sobretudo aqueles relativos ao Programa Cultivando Água Boa; acesso às informações coletadas na rede mundial de computadores (internet); entrevistas com oito (08) gestores que atuam na gestão por bacias, da Itaipu.

CONCLUSÂO O Cultivando Água Boa teve inicio em 2003 e

permanece em fase de implantação. Uma série de ações que a Itaipu desenvolvia na proteção e conservação da fauna e flora silvestres pôde ser reunida em um único programa, intitulado “Biodiversidade, Nosso Patrimônio”. Isso porque as ações realizadas visam justamente a proteger e conservar a biodiversidade regional, o mais importante patrimônio a ser preservado para as gerações futuras. Nas décadas de 1960 e 70, o avanço descontrolado da fronteira agrícola e a intensa interferência do homem na região da Bacia do Paraná III, acarretaram a destruição de grande parte dos recursos naturais nela existentes.

Atualmente, a Itaipu apresenta resultados e conquistas de vários prêmios devido à implantação das seguintes ações do programa Gestão por Bacias do Cultivando Água Boa, com inicio em 2003. São benefícios diretos, como a melhoria da qualidade dos recursos hídricos que abastecem a região, e indiretos, como o terraceamento de áreas agrícolas, adequação de estradas rurais, recuperação de nascentes, adubação verde, mata ciliares, instalação de abastecedouros.

Entre os resultados já alcançados estão mais de 6 mil hectares de áreas agrícolas terraceadas, além de cerca de 500 quilômetros de estradas rurais adequadas. Ainda com relação ao sistema viário rural, foi feito cascalhamento em 429 km de extensão. Para o isolamento das áreas de matas ciliares, foram construídos aproximadamente 800 km de cercas, contribuindo com a proteção e restauração de florestas nativas. (ITAIPU, 2015)

Quanto às medidas de saneamento rural, foram instalados 118 abastecedouros comunitários que evitam o abastecimento de pulverizadores agrícolas diretamente nos cursos d'água e, conseqüentemente, a contaminação das águas por agrotóxicos. Também foram doados 137 distribuidores de dejetos de animais, possibilitando sua adequada destinação em lavouras e pastagens e reduzindo riscos de contaminação dos recursos hídricos e do solo. (ITAIPU, 2015)

Devido à presença de uma pluralidade dos atores locais ea ativação do seu potencial de participação nos avanços sociais e econômicos obtidos na fronteira, percebe-se a necessidade de discutir os conceitos dos termos geográficos com a possibilidade de novos exemplos oriundos das ações efetivadas, citadas anteriormente, devido à construção do reservatório da usina. Cabe, portanto, garantir que os resultados dos programas desenvolvidos pela Itaipu, fruto das mudanças ocorridas na ultimas décadas possibilitem a sistematização e a análise efetiva da realidade fronteiriça entre Brasil e Paraguai. Com destaque no subprograma Gestão por Bacias e ainda discutir alguns conceitos geográficos considerados importantes para esse estudo.

Atemática transfronteiriças torna-se vital, no contexto brasileiro, quando se analisa que, além dos milhares de quilômetros de fronteiras terrestres e divisas com 10 outras nações, cerca de 60% do território nacional estão inseridos em bacias hidrográficas que se estendem pelos territórios de nossos vizinhos. Segundo dados da Agência Nacional de Águas, estas bacias reúnem 83 rios fronteiriços ou transfronteiriças. (BRASIL.2013. P.09)

Assim a expectativa da gestão dos recursos

hídricos no Brasil está direcionada para a instalação dos Comitês de Bacias Hidrográficas com base na gestão por bacias, dependendo das instituições públicas e Agências de Água para acelerar os investimentos em infraestrutura, propiciando soluções eficazes para sua realização nos setores econômico, social e político.

AGRADECIMENTOS Ao meu Orientador Prof. Dr. Edson dos

Santos Dias por somar esforços junto á pesquisa. Ao CAPEs pela contribuição financeira, através da bolsa.

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A percepção como possibilidade para estudos na fronteira Oeste do Paraná(1)

Tarcísio Vanderlinde(2)

(1) Recorte de Relatório Final realizado em período de Licença Sabática na Unioeste. Uma versão completa deste resumo foi aceita para ser apresentada no III Geofronteiras, Encarnacion, PY, setembro de 2015. (2) Docente; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, PR; [email protected] RESUMO: Estudo sobre as transformações fronteiriças no Oeste do Estado do Paraná – Brasil, a partir da década de 1960. A atividade foi desenvolvida sob a ótica da geografia humanística inspirando-se em reflexões realizadas pelos geógrafos Yi – Fu Tuan, Eric Dardel e o filósofo Maurice Merleau-Ponty. Os autores procuram despertar nos pesquisadores “outros olhares” para se observar e problematizar o ambiente onde se vive. O estudo leva em conta a experiência de vida e presença do autor na região fronteiriça do Oeste do Paraná durante o perído temporal estabelecido. O período é marcado pelo final da fase “colonizatória” e o advento de grandes impactos sociambientais gerados pela modernização agrícola e pela construção da Hidrelétrica de Itaipu. O estudo, em sua totalidade, contempla análises sobre estes dois eventos. Os impactos geraram processos de desterritorialização e deteriorização ambiental afetando a vida de milhares de pessoas sob o ponto de vista socioeconômico e afetivo. Palavras-Chave: Impacto; Identidade; Geografia Humanística.

INTRODUÇÃO

O artigo contempla parte dos resultados de

estudo sobre a fronteira no Oeste do Estado do Paraná – Brasil. O estudo parte da minha percepção e experiência de vida como residente na região. Pretendia iniciar o estudo tendo como referência o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) relacionado à construção da Hidrelétrica de Itaipu. Após uma análise preliminar do documento, e, considerando as intenções que me motivaram a realizar o estudo, conclui pela inviabilidade em utilizá-lo como principal fonte. Constatei que o relatório praticamente não apresenta dados relacionados aos impactos sociais que poderiam ser causados pela represa. O RIMA foi produzido pela Fundação Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), e, considerada a autenticidade do mesmo, só teria aparecido ao final das obras de construção da represa. O documento

é datado do ano de 1981 e naquele momento, a construção da represa, bem como o conflito social que resultou da edificação, já estava em sua fase final.

A omissão de dados sociais e a datação do documento podem ser considerados elementos reveladores do momento político que se vivia no Brasil, e, que poderão ser ainda melhor pesquisados em estudos mais específicos. Contudo, o texto é rico em informações sobre as condições naturais e estudos técnicos sobre a região que foi afetada pelo lago. Apresenta análises sobre possíveis mudanças climáticas decorrentes da formação do lago além de outros estudos voltados à hidrogeologia, solos, geologia e geomorfologia. Apresenta ainda uma seção voltada ao uso agrícola e tipologia de agroecossistemas. Enfim, são análises voltadas prioritariamente às questões ambientais, que embora dotadas de um tom acrítico, e, descoladas do contexto social da época, poderão servir de referenciais para estudos comparativos após mais de três décadas da existência da represa.

Além do referencial específico, considerou-se para a elaboração do estudo, reflexões anteriores desenvolvidas pelo autor. Adotou-se uma reflexão metodológica pautada no pensamento geográfico humanístico, cujos representantes comparecem em sistematizações realizadas por Yi – Fu Tuan, Eric Dardel e o filósofo Maurice Merleau-Ponty. Os autores procuram despertar nos pesquisadores “outros olhares” para se observar e problematizar o ambiente onde se vive.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A emergência de cursos stricto sensu na

Unioeste – PR, cujo escopo passa por estudos sobre fronteira começa a produzir frutos com uma série de publicações. O estudo que desenvolvi leva em conta parte da produção mais recente. Em um destes estudos Eric Gustavo Cardin (2014) observa existirem formas diferenciadas de se viver a fronteira. Uma delas é a do turista que esporadicamente a atravessa. Outra é a dos

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moradores limítrofes capazes de desenvolver uma relação muito peculiar com o lugar em que vivem.

No estudo, a fronteira de análise é predominantemente a partir da experiência do autor, e que leva em conta seu lugar de vida. Geograficamente, esta fronteira se localiza no Oeste do Estado do Paraná e se materializa fisicamente em relação ao Paraguai. Estende-se da cidade de Foz do Iguaçu à cidade de Guaíra. Contudo, as reflexões extrapolam o recorte geográfico estabelecido. A partir da fronteira, os olhares são dirigidos também para outras direções.

O estudo levou em conta as transformações fronteiriças no Oeste do Paraná a partir da década de 1960. Como já adiantei, procurei desenvolver a atividade inspirado em reflexões realizadas anteriormente pelos geógrafos Yi – Fu Tuan e Eric Dardel. Em seus textos, os autores procuram despertar nos pesquisadores “outros olhares” como instrumental para se observar e problematizar o ambiente onde se vive. O período considerado no estudo é marcado pelo final da fase “colonizatória” e o advento de grandes impactos sociambientais gerados pela modernização agrícola e pela construção da Hidrelétrica de Itaipu. O estudo contemplou análises sobre estes dois eventos, mas que não foram problematizados neste artigo. Considere-se este artigo um texto introdutório ao assunto. Os impactos geraram processos de desterritorialização e deteriorização ambiental afetando a vida de milhares de pessoas sob o ponto de vista socioeconômico e afetivo.

Ao visitar feiras de exposições agropecuárias na região de fronteira, e que costumam se identificar como “show rural”, percebe-se que o lado obscuro do progresso que a região vive presentemente costuma ficar oculto. Não se encontra, por exemplo, um estande destinado a exames toxicológicos no intuito de detectar o nível de contaminação decorrente do uso abusivo de agrotóxicos utilizados para viabilizar os cultivos agrícolas. No entanto, sabe-se que na região costuma se utilizar em média, mais agrotóxicos do que outras áreas do Brasil9. Um dos motivos talvez seja a facilidade de se obter agrotóxico barato através do contrabando. A questão sobre o uso excessivo de agrotóxicos na agricultura do Brasil é notório e pode ser considerado um caso de segurança alimentar com sérias implicações na saúde daqueles que se 9 Desde 2008 o Brasil é o país que mais consome

agrotóxico no mundo e, só em 2010, utilizou mais de 800 milhões de litros em suas lavouras (Jornal Brasil de Fato, set. 2014).

envolvem mais diretamente com os cultivos. Contudo, os efeitos nefastos de alimentos contaminados acabam atingindo a maior parte da população10.

É corriqueiro ouvir que se vive hoje num mundo sem fronteiras, situação que obviamente não passa de uma construção ideológica. No ano de 2011, integrando um grupo de professores e estudantes, visitei o Deserto do Atacama no Chile. Foi um momento para sentir como a fronteira é ainda uma forte realidade, mesmo entre países onde vigoram acordos comerciais como é o caso do Brasil e da Argentina. O grupo ficou impactado com o excesso de burocracia nas passagens das alfândegas. Ficou evidente que as facilidades de circulação são para mercadorias e não para pessoas, ou pelo menos para a maioria das pessoas. No mundo supostamente globalizado, muros e barreiras físicas continuam em construção nas fronteiras para evitar o passeio de indesejáveis. É emblemática a barreira para o passeio de indesejáveis na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Na fronteira oeste do Estado do Paraná, no Brasil, os indígenas guaranis costumam serem vistos como elementos perturbadores11.

O mundo globalizado tem liberado contingentes enormes de pessoas que não são mais requeridos pela economia. Tornaram-se pessoas redundantes. Milhares delas arriscam suas vidas tentando atravessar alguma fronteira com a esperança de encontrar mais humanidade ou melhorar seu jeito de viver. O mundo globalizado parece ter liberado a 10 Pesquisa realizada pela Unicamp sobre uso de

agrotóxicos entre agricultores familiares revela que a maior parte deles não toma medidas de segurança suficiente para a correta utilização dos defensivos agrícolas com algum grau de periculosidade (Jornal O Presente, ago. 2014a, p. 7).

11 De acordo com o escritório regional da Funai, nos municípios de Guaíra e Terra Roxa se concentram quase metade da população indígena no Oeste do Paraná. São 1,3 mil índios vivendo em cinco ocupações em Terra Roxa e oito em Guaíra. Não há terras demarcadas na região, mas um Grupo de Trabalho (GT) da Funai já produz um estudo que deve definir áreas a serem demarcadas. Não há previsão para que essas demarcações aconteçam. A reativação do GT no início de 2014 provocou reação dos produtores rurais, que alegam que vão perder grande parte do município e inviabilizar a produção local (Jornal O Presente, ago. 2014c).

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barbárie e tem se tornado menos hospitaleiro para as pessoas. Numa alusão ao pensamento de Zygmunt Bauman (1999; 2005), para as pessoas “globais”, a fronteira pode ser insignificante, mas para as pessoas “locais”, aquelas que se mobilizam pouco, ou quando se mobilizam atrapalham a economia, ela continua sendo real.

Em diversos momentos discuti com meu colega de pesquisas, o historiador Antonio Marcos Myskyw, procurando caracterizar a fronteira. Partes destas conversas foram sistematizadas posteriormente por Myskyw em dois verbetes sobre o conceito de “fronteira” no “Dicionário da Terra”. O livro foi editado pela Editora Civilização Brasileira, obra esta organizada pela historiadora Márcia Motta (2005). Diversos outros colegas do campo da geografia, e que atuam no Brasil, contribuíram na elaboração de verbetes para o dicionário.

Fronteira acaba sendo aquilo que cada um representa, criada por aquele que a transpõe diariamente, esporadicamente ou nunca. Refletir na, e sobre a fronteira, é levar em conta um espaço privilegiado da produção de antagonismos, mas também de laços de solidariedade, da afirmação e negação de identidades, da (re)elaboração de representações, da (re)invenção de lendas e tradições, do (des)encontro dos homens, dos conflitos e das conquistas materiais12.

Por outro lado, a fronteira não se resume às delimitações geográficas (rios, vales e montanhas), muito embora estes sejam elementos importantes a 12 Em estudo que destaca “Vidas, Nações e Estados

nas fronteiras entre Brasil, Paraguai, Argentina”, Regina Coeli Machado e Silva discute sobre o ritual que acompanha a experiência de travessia de fronteira. Ela não apaga a fronteira clássica que separa Estados-nações apesar de conter também outros elementos e experiências íntimas: “Os rituais de atravessamentos de fronteiras, mesmo rotineiros para os que vivem cotidianamente, são processos privilegiados nos quais se pode ‘ver’ os Estados-nações nas nossas vidas, evidenciando que as margens/fronteiras não são simplesmente limites demarcadores, que estão dentro e fora de cada Estado-nação. Esses rituais da travessia nos revelam aquilo que nos toca mais intensamente: o que nos divide como cidadãos de Estados-nações diferentes – paraguaios, brasileiros e argentinos – mas também o que nos unifica, que é o direito de vida e de morte desses Estados sobre todos, experimentados potencialmente como ameaça e vividos como sentimento de perigo (Silva, 2013, p. 17).

se considerar. Os limites demarcatórios entre duas regiões carregam a força da natureza política e estimulam situações e práticas de afirmação, adaptação e tensão. A fronteira pode ser considerada um agente histórico, ou como diria José de Souza Martins, um “lugar da elaboração de uma residual concepção de esperança, atravessada no milenarismo da espera do advento do tempo novo, um tempo de redenção, justiça, alegria e fartura” (Martins,1997, p. 11).

No caso da fronteira no Oeste do Paraná, o limite é visivelmente representado por um rio. Contudo, o rio atua também como elemento de integração e/ou separação de costumes, tradições idiomas e moedas (Myskyw, 2005, p. 228). Como um limite territorial, a fronteira implica definir traçados, condiciona usos, constrói percepções, influencia comportamentos. Há, porém, um elemento importante a ser citado na fronteira física que se materializa no Oeste do Estado do Paraná, principalmente com o Paraguai e que deve ser aqui considerado. Além de fronteira física, ela se identifica também a partir de meados do século XX, como uma das frentes agrícolas do Brasil. Neste caso, no Oeste do Paraná, a frente ou fronteira agrícola se mesclou com a fronteira política do Brasil.

Os conflitos sociais pela posse da terra estão presentes na fronteira do Oeste do Paraná no tempo presente. Neste caso, as vítimas são as populações indígenas, notadamente os guaranis e os quilombolas. Mas as vítimas podem também ser pequenos agricultores, que migrando do sul do Brasil para a região, adquiriram propriedades em boa fé. Os conflitos sociais agrários contemporâneos na região da fronteira no Oeste do Paraná já estão sendo estudados por outros pesquisadores. O estudo que realizei não os ignora, mas tiveram menor ênfase nas reflexões.

O estudo pretendeu desenvolver uma reflexão sobre fronteira a partir da memória e da experiência empírica do autor e referenciais que considerou adequados para elaborar a reflexão. Por se tratar de um estudo sobre percepção, entendeu-se ser consequente lembrar Maurice Merleau-Ponty no que tange a seus estudos sobre a fenomenologia da percepção. Para o autor, a percepção de fato não chega a ser uma ciência do mundo, ela não seria sequer um ato, uma tomada de posição deliberada; ela seria o fundo sobre o qual todos os demais atos se destacam. Sendo assim, o mundo percebido não seria um objeto sobre o qual se mantém controle. O mundo passaria a ser o “meio natural e o campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas

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percepções explícitas” (Merleau-Ponty, 1999, p. 6). Para Ponty, contudo, o mundo vivido, percebido, tem íntima relação com ciência, pois esta se edifica a partir do mundo vivido. Para pensar a ciência com rigor seria preciso primeiro despertar a experiência do mundo.

Empresas associadas à agroindústria da fronteira no Oeste do Paraná, costumam receber com frequência grupos de visitantes de diversas partes do Brasil e do exterior. Estes grupos são levados a admirar o progresso pelo qual passa a região e sentem-se estimulados a aprender com a experiência que podem retirar das visitas e das conversas com as pessoas. Tuan nos alerta, que o relatório que visitantes possam fazer do lugar de visita, costumam normalmente ter um grande peso estético. “É a visão de um estranho. O estranho julga pela aparência, por algum critério formal de beleza. É preciso um esforço especial para provocar empatia em relação às vidas e valores dos habitantes” (Tuan, 2012, p. 97). Tuan, contudo não despreza a visão do visitante, capaz de perceber méritos e defeitos em um ambiente que passam despercebidos pelo residente. Mas mesmo que a apreciação de um estranho seja solidária e generosa, normalmente retrata um mundo alheio ao do residente nato (Tuan, 2012, p. 98-99).

É a partir da visão de um não estranho e na perseguição do equilíbrio em suas avaliações, que o estudo foi construído. A percepção do espaço sobre o qual a reflexão foi elaborada entra em convergência com o pensamento de Merleau-Ponty para quem as expressões que se materializam se vinculam sempre a vida total do sujeito. “A percepção do espaço não é uma classe particular de ‘estados de consciência’ ou de atos, e suas modalidades exprimem sempre a vida total do sujeito, a energia com a qual ele tende para um futuro através de seu corpo e de seu mundo” (Merleau-Ponty, 1999, p. 380).

Defende-se no estudo a concepção de que é possível construir uma visão de território que supere a perspectiva utilitarista do mesmo. Ao seguir uma motivação que a meu ver é eminentemente dardeliana, Michel Roux observa que habitar o território pode ser uma arte sutil, uma religião no sentido primeiro do que religa, que pede para dar sentidos aos gestos mais profanos: “A sabedoria dos primitivos, sua admiração diante da natureza, seu cuidado no uso com a terra, vem dessa maneira de decifrar o mundo, de compô-lo como um conjunto de linhas melódicas, carregadas de intensidade, das quais eles são coautores com os outros habitantes do planeta” (Roux, 2008, p. 46).

Defende-se que esta é uma maneira legítima para se problematizar o ambiente onde se vive. Contudo, o habitar poeticamente o território não deve ser confundido com uma atitude infantil de sobrevivência no ambiente, mas numa postura que pode ser traduzida em indicativos estratégicos aos atores que ali habitam.

Iniciou-se o estudo sobre as transformações fronteiriças no Oeste do Paraná a partir dos anos de 1960 com uma perspectiva eminentemente dardeliana. Eric Dardel questionava a cientificidade como único meio de construção do conhecimento geográfico. Haveria uma relação concreta a ligar o Homem à Terra, uma geograficidade que se apresenta como modo da existência humana que precisaria ser considerada nos estudos. Seria, portanto necessário resistir ao espírito do pensador que, em nome de uma razão muito rígida e muito imperiosa costuma entorpecer a liberdade espiritual.

Para Dardel, as doutrinas contemporâneas do desespero e do absurdo, em contraste com a extraordinária habilidade técnica e científica, geraram um desencantamento do universo. Em decorrência, acabou emergindo um saber que nivela os relevos, aniquila as diferenças e apaga as cores. “Um dos dramas do mundo contemporâneo é que a Terra foi ‘desnaturada’, e o homem só pode vê-la através de suas medidas e de seus cálculos, em lugar de deixar-se decifrar sua escrita sóbria e vívida” (Dardel, 2011, p. 96). A multiplicação de pontos de vista decorrentes de estudos sobre a Terra teria nos levado a um saber pretensioso e arrogante. Ganhou-se em extensão, perdeu-se em profundidade.

Ao discutir a contribuição francesa ao desenvolvimento da abordagem cultural na geografia, Paul Claval considera a obra de Dardel como sendo de grande originalidade. Destaca a influência intelectual de Martin Heidegger e Mircea Eliade nas formulações teóricas do autor e considera o texto principal do autor, L’Homme et La Terre ter sido escrito numa linguagem magnífica, clara, musical. Sobre a ideia central enfocada na obra por Dardel, Claval chegou a observar que: “A geografia tinha de explorar o sentido humano da presença humana na superfície da Terra. Pela primeira vez, o sentimento religioso, os mitos, a dimensão imanente ou transcendente de alhures, de onde a vida é julgada, tornaram-se centrais da análise geográfica” (Claval, 2007, p. 157).

Quando discute as transformações da paisagem, Dardel defende a opinião de que há uma cumplicidade entre o Homem e a Terra, sendo que os hindus são mencionados como exemplo dessa

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relação. Contudo Francisco de Assis também é lembrado pela união e por um parentesco espiritual com o vento, com a água, com os pássaros, com as flores, com as abelhas. O espaço geográfico não é percebido apenas na superfície ou por uma interpretação meramente intelectual. Há uma imaginação criativa que poderia se manifestar pela experiência na interpretação do espaço, ao que Dardel indaga: “Quem tem razão aqui, a ciência que tende a reduzir o mundo a um mecanismo ou a experiência vivida que se apropria do mundo exterior ao nível do fenômeno?” (Dardel, 2011, p. 22). Para Dardel, o conhecimento formal solitariamente seria incapaz de mensurar elos afetivos que ligam o ser humano a Terra e ao ambiente onde vive: “uma árvore ou uma vaga não podem nunca se tornar coisas ligadas ao homem por uma relação de conhecimento; são sempre seres que participam afetiva ou coletivamente, como manifestações de poder da vida esparsa em seu ambiente” (Dardel, 2011, p.60).

É na concepção de uma “geografia heroica” defendida por Dardel que se fundamenta e inicia minhas percepções sobre o ambiente de fronteira, objeto do estudo. Na visão de Dardel, a geografia heroica envolve riscos. É aquela relacionada à busca por paraísos terrestres, ilhas lendárias, como Antilia ou Brasil, e que povoaram o imaginário no período, se identifica com a fase das grandes navegações e descobertas. Foi a época em que surgiu uma produção literária que buscou dar conta do imaginário que emergia daquele período. A Utopia de Thomas Morus, Viagens Imaginárias de Swift constituem exemplos dessa literatura13. “Não existe um povo que não tenha admitido um ‘pais da alma’, um ‘outro mundo’ a se procurar além do horizonte, e, contudo terrestre” (Dardel, 2011, p. 75). Foi nesta época que o atual ambiente de fronteira no Oeste do Paraná passou a ser conhecido pelas expedições exploratórias europeias.

Defende-se a opinião de que a visão dardeliana constitui uma inspiração adequada para discutir os mais diversos ambientes de vida construídos pelo homem. Ele defendia a ideia de que o saber

13 Sobre o gosto da maravilha e do mistério, praticamente

inseparável da literatura de viagens na era dos grandes descobrimentos e do imaginário edênico que motivavam estes escritos e as jornadas, consulte-se: HOLANDA, Sérgio Buarque de: Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

geográfico precisaria surpreender e provocar uma inquietude no ser humano, pois ela responde um interesse existencial do mesmo. Contudo, este saber exigiria o rompimento de um quadro fechado onde homens vistos como objetos passem a se sentir somo sujeitos. Sujeitos de um mundo em que a natureza já desfigurada ameaça ruir. A atualidade de Dardel é revolucionária ao propor que “É necessário [...] compreender a geografia não como um quadro fechado em que os homens se deixam observar tal como insetos de um terrário, mas como o meio pelo qual o homem realiza sua existência, enquanto a Terra é uma possibilidade essencial de seu destino” (Dardel, 2011, p. 89).

Em muitos momentos da redação optei por manter um tratamento informal. Entendo que esta ótica se identifica mais com as experiências de percepção do autor em relação ao lugar em que viveu a maior parte de sua vida. Foi o lugar onde estabeleceu suas raízes14. O coloquial e o formal se mesclam no texto. Ao construir uma análise a partir da percepção sobre a fronteira no Oeste do Paraná, considerei a experiência já vivida por Yi-Fu Tuan (2012, p. 338), para quem “Todos os homens compartilham atitudes e perspectivas comuns, contudo a visão que cada pessoa tem do mundo é única e de nenhuma maneira é fútil”.

CONCLUSÕES

Motivado por concepções teóricas sugeridas por

Eric Dardel e Yi-Fu Tuan o recorte sugeriu formas de se problematizar questões sobre a fronteira Oeste do Estado do Paraná a partir de eventos que tiveram grandes impactos na região: a modernização agrícola e a construção da Hidrelétrica de Itaipu. Os eventos aparecem problematizados em outros momentos do estudo. Leve-se em conta de o que o que foi sugerido possa ser considerado contribuição reflexiva sobre os ambientes onde se desenvolvem ações humanas.

Reconhece-se que em questões que envolvam percepções, a passionalidade possa estar presente em momentos do estudo. Sendo assim, é possível que uma postura com maior isenção possa ser até requerida. Neste caso, o debate que o estudo possa suscitar será bem-vindo e inevitavelmente 14 Em seus estudos sobre percepção ambiental

Tuan observa que “O homem moderno conquistou a distância, mas não o tempo. Durante a sua vida, o homem agora – como no passado – somente pode estabelecer raízes profundas em uma pequena parte do mundo” (Tuan, 2012, p. 145).

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qualificará a pesquisa. Yi-Fu Tuan já havia observado de que os sentimentos interferem quando problematizamos o lugar onde vivemos: “Mais permanentes e difíceis de expressar são sentimentos que temos para com o lugar, por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida” (Tuan, 2012, p. 136). REFERÊNCIAS

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TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina: Eduel, 2012.

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PELOS CAMINHOS DO OESTE DO PARANÁ, ENTRE OS SÉCULOS XIX e XX

Lia Dorotéa Pfluck (1) (1)Professora; Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon-PR; [email protected]

RESUMO: Desde 1992 se tenta relacionar a instalação da atual cidade de Marechal Cândido Rondon-PR com a fonte oral, fotografias e mapa ou plantas da Obrage Compañia de Maderas Del Alto Paraná (1908). Se buscam respostas sobre: o legado deixado pelas obrages inglesas e argentinas no Oeste do Paraná (PR), no início do século XX; a importância das redes telegráficas no sertão do PR, na época, e quem as teria instalado? Como relacionar a ocupação e mudança socio espacial, da época, com o ensino de geografia? As pesquisas estão voltadas a bibliografia em livros, sites e material cartográfico. Assim se versa sobre: a localização geográfica e histórica da faixa de fronteira do Oeste do Paraná; as obrages no Oeste do PR; e, a telegrafia pelos caminhos do Oeste do Paraná. Nesse artigo se apresenta uma parte do trabalho, os caminhos pelo Oeste do Paraná, entre os séculos XIX e XX. Palavras chaves: Mapas, estradas, telegrafia.

INTRODUÇÃO

A descrição geográfica e histórica são privilegiados por poderem ser expressadas em várias linguagens, ou seja, a oralidade a literária ou escrita, a fotografia, a numérica, a gráfica, a cartográfica e, mais recentemente, a informacional (CASTRO, 2012). Kossoy (2004, p. 232) ao escrever sobre foto-grafia considera que “[...] a imagem pensada fora do seu contexto é pura abstração, seu significado é vazio”. Esta frase pode ser transportada para os mapas, imagem produzida a partir da leitura do que se vê (se viu), expressão grafada, síntese de diferentes linguagens geográficas e históricas, e que fora de seu contexto não tem sentido, é pura abstração.

Assim, se buscam mapas, croquis e plantas que foram instrumentos de orientação e de planejamento e de legados deixados sobre os quais é possível fazer contextualizações relacionadas à geograficidade atual e ao ensino de Geografia. A Geografia está fundamentada no conhecimento da reorganização espacial, enquanto resultado das relações sociais, políticas e econômicas representada na cartografia temática. “O mapa sempre esteve presente nos grandes momentos da história da humanidade e

como elemento de orientação dos mais variados povos, mostrando sua importância como instrumento estratégico de planejamento e gerenciamento do espaço” (CASTRO, 2012, p. 16), e, dele se fará um instrumento de ensino de Geografia sobre o Oeste do Paraná. A perspectiva é entender o ensino de Geografia a partir da exploração e ocupação do Oeste do Paraná encontrada nas fontes teóricas, representada nos mapas e nas pesquisas de campo.

A pesquisa tem a seguinte abrangência, instrumentos e recursos e finalidades: 1) Teórica, análise sobre o Oeste do PR a partir da pesquisa bibliográfica, e por finalidade entender e definir/ localizar a área de exploração e ocupação do Oeste do Paraná (século XIX a XX). 2) Mapas do final século XIX e início do XX; como instrumento a pesquisa bibliográfica; mapeamento dos caminhos terrestres e da telegrafia no Oeste do Paraná; dos dados e informações e elaborar mapas sínteses; tratar e trabalhar os mapas no ensino de Geografia.

Para Wachowicz (1987), Brito (2005) e Frasson (2014), historicamente houve um atraso na definição dos limites no Oeste do Paraná, entre Brasil, Paraguai e Argentina justificado pela: - questão militar, resolvida em 1889 com a fundação da Colônia Militar do Iguaçu e a posse efetiva, ainda que incipiente, por brasileiros da área estratégica entre os três países. - A luta abolicionista. - Os ideais propagandistas civis e republicanos que geraram conflitos estaduais como o processo político que elevou o Paraná à condição de Estado, e os nacionais, que repercutiram na região (Revolução Paulista e da Coluna Prestes). Durante este período o Oeste do Paraná estava voltado ao extrativismo e comércio internacional, liderado por obrageros ingleses e argentinos, o que fez da região um palco de disputas internacionais e regionais.

A fundação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu, a ‘Marcha para o Oeste’, a criação do Território Federal do Iguaçu (1943-1946) e a instalação de colonizadoras consolidaram o processo migratório brasileiro, o que abrasileirou um espaço desnacionalizado (FREITAG, 1997, p. 96). A ocupação e a colonização do Oeste do Paraná corresponde: - aproximadamente a área explorada pelas obrages, entre os séculos XIX e

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XX; - a dos então municípios de Guarapuava e depois Foz do Iguaçu; - às delimitações do efêmero Território Federal do Iguaçu (1943 a 1946): - à Faixa de Fronteira (entre o Rio Iguaçu e o Rio Piquiri); - à Mesorregião Oeste Paranaense (IBGE, 2008); - e, ainda do Rio Iguaçu (S) ao Piquiri (N, NE), e do Rio Paraná até às imedia-ções dos municípios de Campo Mourão e Guarapuava.

O Oeste do Paraná, como espaço de fronteira, deve ser compreendido enquanto “[...] produto de uma divisão a que se atribuirá maior ou menor fundamento da realidade segundo os elementos que ela reúne, [...] campo de luta pela delimitação legítima” que mudam de “[...] posição no sistema temporal e no sistema espacial” (BORDIEU, 1989, p. 114-115). No entanto, MacClancy (1994, p. 51) se contrapõe as posições acima e se apoia nas questões culturais para justificar que “Las fronteras nacionales como tales no existen. Son una creación artificial. No son producto de la naturaleza sino de la cultura (...) Son entidades mentales, no fisicas”.

As afirmações de Martins (2009, p. 11) vem ao encontro ao considerar que [...] a fronteira de modo algum se reduz e se resume à fronteira geográfica. Ela é fronteira de muitas e diferentes coisas: fronteira da civilização (demarcada pela barbárie que nela se oculta), fronteira espacial, fronteira de culturas e visões de mundo, fronteira de etnias, fronteira da história e da historicidade do homem. E, sobretudo, fronteira do humano.

E, ainda, fronteira pode ser entendida como “[...] como divisa, limite, contato, contradição, área de transição” (FRASSON, 2014, p. 52).

A posição dos autores pode gerar uma reflexão interessante a respeito do ensino de Geografia para esta zona de fronteira, que será abordado em outro capítulo. E há que se analisa-la como paisagem composta diferentes óticas, conforme Meinig (2002).

MATERIAL E MÉTODOS

Desde 1992 a fonte oral, fotografias e planta da Picada Allica despertaram para questões como como: Qual a relação da atual cidade de Marechal Cândido Rondon com a Picada do Allica e desta de outras picadas com a instalação das atuais vilas e cidades, do início do século XX? Por que estariam os ingleses e outros grupos no Oeste do Paraná? Por que Cândido Mariano da Silva Rondon instalaria linha(s) telegráfica(s) no sertão do PR ou esta já estaria instalada antes dele? Assim, passou-se a recolher dados bibliográficos ousando encontrar respostas e relacionar a pesquisa ao ensino de Geografia. Para tanto, se traçou um caminho geográfico

propondo subcapitulos, como: Localização geográfica e histórica: ocupação e colonização da faixa de fronteira do Oeste do Paraná; Os obrageros no Oeste do Paraná, as picadas, os portos, os pousos (e o nacionalismo na fronteira); A telegrafia pelos caminhos do Oeste do Paraná, no início do século XX; A relação do telegrafista Rondon com o Oeste do Paraná; O ensino de Geografia pelos caminhos cartográficos.

RESULTADOS PRELIMINARES

Na Geografia e na História do Oeste do

Estado o Rio Paraná é central, e entre os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná o rio se apresentava calmo e largo (4.500 m), mas precipitava suas águas no canion de trapp (60 a 80 m de largura) em Guaíra. O estreitamento do canal e a irregularidade da base, a turbulência, os redemoinhos (sucção e ascensão), as quedas e os saltos e a enorme velocidade das águas foram fatores que impediram a navegação neste trecho (MAACK, 2002). Seguia turbulento até a foz do Rio Iguaçu, mas suas águas foram vencidas pela navegação “[...] que assegura vantagens incontestáveis” até o Porto Mendes, 60 km a jusante das quedas (ARRUDA, 2008, p. 110).

Durante os trabalhos dos obrageros na região, os cursos d'água foram importantes para a instalação de portos, às margens do Rio Paraná, entre Foz do Iguaçu e Porto Mendes. É possível listar 29 portos (esquerda): Foz do Iguaçu, Bello, Bela Vista, Itaopuitê, Leonor, União, Alberto, Marnik, Roszanyi, Mbaebuy, Lequê, Sete de Setembro, Sol de Maio, São Vicente, São Miguel, São Miguelito, Ocohy, Moleda, Santa Helena, São Francisco, Felicidade, Britânia, 12 de Outubro, São Domingos, Artaza, Mendes, São João, Guaíra e Thomaz Laranjeira ou Monjoli (WESTPHALEN, 1987ITCG, 2008;). Os portos serviram de aporte para a exploração, extração, transporte e exportação de “[...] hervas e madeiras extraídas dessa riquíssima e opulenta zonal” (NASCIMENTO, 1903, p. 107-108).

A navegação forçou abertura de caminhos pelo sertão do Paraná. Nos Mapas Históricos do Paraná (ITCG, 2008; WESTPHALEN, 1987; COLODEL, 1988) encontram-se traçados os seguintes caminhos ou estradas e suas respectivas obrages: - da Colônia Militar de Foz do Iguassú (Rodovia-35 ou BR-277), pelo sul das obrages de Waldemar Matte e de Miguel Matte, se direciona rumo NE até K??, Benjamim, Km32 (NO) e Floriano (L), Catanduvas, Formiga, Colônia Mallet, Guarapuava. - de Foz do Iguaçu, passando pelo Porto Jejuí, Porto de Ontiveros (foz do Rio São Francisco) a Salto Sete Quedas (Guaíra), pelo oeste das diversas obrages. - da

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foz do Rio São Francisco, Porto de Ontiveros, sentido SE até Catanduvas; - de Salto Sete Quedas até as proximidades da atual cidade de Cascavel, se encontrava com a Estrada-35; - pelo centro Obrage 8 ou Compañia de Terras Del Alto Paraná, a “Picada Allica”, seguia de Porto Artaza a Depósito Santa Cruz, com conexão a Toledo, Lopeí a Central Santa Cruz, para Sapucahy (S), e para Cascavel, Salto, Catanduvas, Formigas, Colônia Mallet e Piquiry (NE) até Pensamento. Estendendo-se “[...] 300 km a leste do Rio Paraná, na região da Serra de Pitanga, indo para o sul [...] faltando 7 km para ligá-la à estrada de Guarapuava” (NOGUEIRA, 1920, p. 148; YOKOO, 2013, p. 96). - do Porto Britânia (Obrage 8) a Toledo e Salto (Picada Nuñez y Gibaja), ao Depósito Gibaja, Depósito Barthe (S), de lá para Cascavel; - pela obrage Petry, Meyer e Azambuja, a “Estrada Porto Santa Helena a Bela Vista”, por Km32, Depósito Barthe, Cascavel, Sapucahy (N) e Salto (L), Catanduvas. “Entre as localidades de Salto e Depósito Barthe está localizado um povoado sem nome, mas que será a futura cidade de Cascavel” (ITCG, 2008).

Ao longo dos caminhos foram estabelecidos os pousos, acampamentos precários, geralmente nas margens de rios, fixados em um dia de percurso por carroças que transitavam pelas picadas, levando a erva mate. Nas entre safras e nas proximidades destes pousos, os mensus tinham permissão para cultivar “[...] plantações de arroz [...] de milho, feijão, aipim, cana de açúcar, amendoim, tabaco, além dos bananais e laranjais” (NOGUEIRA, 1920, p. 148).

Além desses caminhos, a implantação de ferrovias e do telégrafo, era vista como um “[...] poder quase mágico de transformar tudo a sua volta”, artéria vivificante, mas penoso e nem sempre concretizável (MACIEL, 2001, p. 138). A comunicação, durante o Brasil Império, se revelou precária, sobretudo durante a Guerra do Paraguai (1864-70), quando as notícias da invasão paraguaia ao Mato Grosso só chegaram seis semanas depois ao Rio de Janeiro (DORATIOTO, 2002). “Entre 1850 e 1870 foram instalados cerca de 2.000 km de linhas telegráficas, mas ficaram comprometidos durante a Guerra do Paraguai. No sul do país, Emil Odebrecht, Inspetor de Segunda Classe da Repartição Geral dos Telégrafos (1881-88) desenvolveu trabalhos de exploração, levantamentos cartográficos e geográficos nos três estados do sul. No Paraná realizou trabalhos de locação e implantação da linha telegráfica Curitiba - Guarapuava, acompanhado do Eng. Leopoldo Weiss (1882); realizou “[...] a expedição da Foz do Rio Ivaí, Guaíra, Foz do Piquiri, Foz do São Francisco e do Iguaçu” (1883); e implantou a

Linha Telegráfica Joinville - Morretes (1881-88). (SILVA, 2011?, p. 6 e 72).

Na passagem do século XIX para o XX, a telegrafia no Oeste do Paraná também se tornou um importante de meio de comunicação, além dos caminhos e portos. Para tanto, Tomás José Coelho de Almeida, do Ministério da Guerra, criou a Comissão Estratégica do Paraná (10/março/1888), para definitivamente desbravar e ocupar o Oeste do Estado, a margem esquerda do curso médio do Rio Paraná, fronteira entre Foz do Iguaçu e Guaíra. A Comissão se instalou em Guarapuava e chefiada pelo Capitão Belarmino Augusto de Mendonça Lobo e pelo engenheiro e tenente José Joaquim Firmino, tiveram como objetivos construir estradas estratégicas no Estado e fundar colônia militar. Dada as dificuldades da época a Comissão não avançou muito, mas a Colônia Militar do Iguassú foi fundada por Firmino (23/nov./ 1889), na margem esquerda do Rio Paraná, a 6 km da foz do Rio Iguaçu. O ato marca o início da ocupação efetiva por brasileiros e, “[...] a presença militar na área teve os méritos de garantir a posse do território pelo Brasil, disciplinar a atividade econômica e dar segurança à população” (SPERANÇA, 1992, p. 46; Colônia Militar, 1997; BRITO, 2005, p. 18; Foz do Iguaçu, s./d.). A Colônia foi desmembrada da Comissão Estratégica do Paraná (20/out./1892), pelo Ministério de Guerra, mas a Comissão continuou com a responsabilidade de abrir a estrada até Foz do Iguaçu.

Dez anos depois da instalação da Colônia, Torres Homem, em Relatório Administrativo (18/12/1898), lembrava ao Ministério da Guerra (João Nepomuceno de Medeiros Mallet, 1898-1902) que se decidisse dar continuidade ao projeto da Colônia Militar em Foz do Iguaçu, esta deveria ser precedida, em caráter de urgência, por uma “[...] estrada carreteira e a collocação d'uma linha telegraphica, na extensão de sessenta legoas [266,7 km] de extensão no sertão, que nos separam das povoações mais visinhas [Guarapuava] do Estado do Paraná” (MISKIW, 2009, p. 314).

A implantação de linha telegráfica representava trabalho árduo em função da distância, da presença da mata, das intempéries do tempo, da dificuldade de transporte e deslocamento, a falta de pessoas e de alimentação precária, e por consequencia problemas de saúde, a falta de recuros de todas as ordens, entre tantas outras, próprias para o período, virada do século XIX a XX.

Mais ao sul, pela margem direita do Rio Iguaçu, se destacava a Picada Geral ou Picada Dioverti vindo a se encontrar com a Picada Firmino dentro da obrage de Domingos Barthe,

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próximo a Catanduvas, na margem direita do Rio Tormentas.

Em 1888-1889, criada a Comissão Estratégica do Paraná, foi aberta a “Picada Firmino” (Estrada Estratégica Militar, Rodovia-35, parte da atual BR-277), com 60 léguas (354 km) entre as atuais cidades de Guarapuava até Catanduvas e de Foz do Iguaçu, incluindo a instalação da linha telegráfica em todo este percurso (NATH, 2010). Tratava-se de uma picada com três metros de largura, o suficiente para o trânsito de carroças entre as duas localidades. A estrada e a pequena infraestrutura em alguns trechos foram usadas pelos militares que viveram no início do século XX na região para tentar manter a fronteira do Brasil intacta, afinal ela era alvo de disputa entre brasileiros e argentinos. (MILAN, 2009).

Enfim, “Em 1905, chegava a Foz do Iguaçu a linha telegráfica, como remate de um trabalho iniciado anos antes” (Foz do Iguaçu, s/d./), e, no ano seguinte, se completou a instalação entre Guarapuava e Foz do Iguaçu. Apesar da importância da telegrafia no Paraná, durante a Guerra do Contestado (1912-1916), por exemplo, a primeira medida foi interromper as comunicações, pois estas se encontravam a serviço da repressão (WISSENBACH, 1999, p. 287).

Em outras situações o telégrafo foi referência estratégica para escolha de locais de fácil comunicação como quando do deslocamento dos movimentos revolucionários, na década de 1920, ao Oeste do Paraná. Catanduvas entrou para a história brasileira, pois era uma das poucas cidades do interior do Paraná com serviços telegráficos. Em set./1924, cerca de 400 revoltosos da Coluna Prestes, do Movimento Tenentista, acamparam em torno da Central Telegráfica de Catanduvas, e aí permaneceram até abril de 1925.

Ao se considerar a telegrafia no Oeste do Paraná se encontram duas linhas instaladas no início do século XX. A linha telegráfica instalada em 1905/1906, pela Comissão Estratégica do Paraná, ligava Guarapuava a Foz do Iguaçu e a segunda, de iniciativa privada, instalada por Allica, de Porto Artaza ao Depósito Santa Cruz.

A linha de Guarapuava a Foz do Iguaçu acompanhava a Estrada Geral, ou seja, de Foz do Iguassú, passava por Benjamim e Floriano e ladeado pela rede telegráfica chegava a Catanduvas, Formigas, Mallet e Guarapuava (WESTPHALEN, 1987, LXXXII e LXXXVI).

Uma segunda linha telegráfica implantada por Julio Tomáz Allica (Obrage Compañia de Terras Del Alto Paraná). Allica

[...] tem construído 45 léguas de estradas de rodagem, uma linha telephonica de 120

kilometros, ligando o porto [Porto Artaza] ao Depósito Central [ou de Santa Cruz]. Esta linha será prolongada até o Pequiry, com extensão de 160 kilometros. Seus trabalhos já estão a 8 léguas [35,56 km] do Campo Mourão. (SOUZA, 2009, p. 93, apud BALLÃO, 1920, p. 29).

Para Emer (1991, p. 65-66) a linha telegráfica de Allica “[...] chegou a ter mais de 140 quilômetros de extensão, facilitando a comunicação entre a sede e os inúmeros postos de controle, e depósitos de erva-mate no interior do oeste paranaense”.

Desta forma, é possível presumir que esta Linha Telegráfica seguia a Picada Allica e, portanto ligava Porto Artaza, Casa Allica, Rancho, Rosa, 4 Pontes, Pogy [Boey] Caé, seguindo para Depósito Central Santa Cruz, Porto Piquery, Pensamento, Campo Mourão. Portanto, essa rede telegráfica passava então pelos atuais núcleos urbanos de: Bom Jardim, Iguiporã, Curvado, Marechal Cândido Rondon (município de mesmo nome); Pogy Caé (município de Toledo); Santa Cruz (distrito de Cafelândia) e Pensamento (distrito de Mamborê) até Campo Mourão.

Em outra fonte encontra-se “[...] Lopeí, em 1924, recebeu um posto telegráfico, devido a Revolução Paulista” (SPERANÇA, 1992, p. 35). Neste caso, porém, deve ser considerado que Lopeí localizava-se ao longo da Estrada Porto Britânia a Salto e não na Picada Allica. Se Lopeí recebeu este posto, isto ocorreu praticamente 20 anos depois das instalações anteriores e numa distância de 50 km, aproximadamente, de Santa Cruz.

Figueiredo (1937, p. 113) escreve que de Catanduvas a linha telegráfica passava por Lopey, povoaçãozinha que impressiona pelo asseio e pela topografia, onde havia “[...] um posto telefônico instalado num casebre construído com lascas de pinheiro”, e chegava a Porto Mendes. De acordo com Figueiredo (1937, p. 114) “Os postes não existem mais, repousando o fio diretamente sobre a mata que nasceu na antiga picada.” O sistema funciona “[...] por milagre de um santo poderoso” e de que “[...] os telefonistas de Lopey e Porto Mendes possuem péssima dicção”, transmitindo “[...] verdadeiros disparates nos poucos momentos em que a linha funciona”. Vale destacar que o Porto Mendes pertencia a Companhia Mate Laranjeira e que a distância entre esse e o Porto Artaza era de 1 km. O fato de ter sido feita ligação pela Companhia Mate Laranjeira pode significar que havia ligação telegráfica ou telefônica entre esses dois portos, e a partir desse se prolongava até Catanduvas.

Assim, é necessário investigar mais sobre a linha telegráfica construída por Allica de Porto

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Artaza ao Depósito Central Santa Cruz, pela Picada Allica (SOUZA, 2009), e sobre a ligação de Catanduvas a Lopey e que chegava a Porto Mendes (FIGUEIREDO, 1937).

O caminho percorrido Figueiredo (1937) e seus companheiros destaca elementos geográficos importantes que facilitam a compreensão da localização e confirmam os traçados nas figuras utilizados na pesquisa. No caso, tomando caminho dos portos para Lopey, Figueiredo (1937, p. 159) descreve: “Atravessamos os arroios Paragem Porã, Curvado, Mastrille Cue e Quatro Pontes”, mais adiante o Arroio Guaçu, onde havia “[...] um depósito de erva-mate e algumas casas de "mensus"” e num cercado “[...] plantação de fumo com folhas espessas, bem verdes e felpudas”. Isto corresponde a ter passado pelas atuais localidades de: Porto Mendes, Bom Jardim, Iguiporã, Curvado, Marechal Cândido Rondon, Pogy Caé? (Toledo). Depois, passaram pelos arroios Boi Caê e Paragem-y (p. 160); cruzaram a ponte sobre o Arroio Ponte Grande e deixaram “[...] à direita um casebre com o nome de Memória”, chegaram a uma longa chapada onde “[...] se achavam dois depósitos de "yerba", denominados M'Bôpi-cuá” (p. 161). A partir de uma elevação se avistavam as ruínas da Central Santa Cruz, mas seus “Lindos prédios de macieira e depósitos de erva estão caindo” (p. 161). De Central Santa Cruz seguia uma estrada para Central-y, e outra para Centenário, ambas fechadas pela mata e uma estrada para o rio Piquiri, também completamente tomada pela vegetação (p. 162). Da mesma forma, se encontrava o rancho Pensamento, abandonado (p. 172).

Década de 1930, Othon Mader, prefeito de Foz do Iguaçu, conhecido por sua postura integracionalista e nacionalista, tinha como intenção promover uma ocupação brasileira, valorizar o idioma e da moeda nacional, distribuir jornais de Curitiba em órgãos públicos e entidades para acompanhar o que ocorria no Estado e no país. Para Foz do Iguaçu previa um centro turístico internacional. Nesse contexto, Othon Mader transferiu o posto telegráfico de Lopeí para Encruzilhada, que passou a funcionar como agência do correio, ocorreu “a criação do correio Aéreo Nacional, transformado em órgão de comando do Transporte Aéreo da Força Aérea Brasileira (FAB)”. (SPERANÇA, 1992, p.104 e107).

Enfim, ¿A dónde les he llevado a través esta

exploración geográfica? Hemos visto la geografía como una disciplina sintetizadora; como un área con una preocupación profunda por las relaciones

humanas y medioambientales, como una materia que se centra en los espacios del mundo físico, y cómo estos espacios están constantemente reestructurados por la presencia humana. Hemos visto un campo que ha estallado intelectualmente, en términos de la cantidad de problemas que puede abordar, y lo que es importante, a través de la disponibilidad de unos recursos informáticos extremadamente potentes y rápidos. […].La geografía, y la perspectiva geográfica particular que nos proporciona, es un elemento imprescindible para disfrutar de una vida humana, inteligente e informada. (GOULD, 2000).

“[...] aprender ‘geograficamente’ o texto é tão importante quanto aprender ‘cartograficamente’” (SELBACH, 2014, p. 62). Assim, o texto e os dados por ora apresentados necessitam de aprofundamento e análise e deverão culminar em representações geográficas, produtos cartográficos. Embora, como produto cartográfico, a representação de uma realidade, é passível de distorções.

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Políticas públicas e justiça espacial: Reflexões teórico-conceituais (1)

Idair Augusto Zinke (2)

(1) Trabalho executado com recursos da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná. (2) Graduando em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO; Guarapuava/PR. E-mail: [email protected] .RESUMO: O presente trabalho se apresenta como uma revisão bibliográfica de minha pesquisa, onde procuramos discutir de forma teórico-conceitual a maneira pela qual a implementação de políticas públicas no território produz a justiça espacial. Para isto, buscamos abordar autores que trabalhem com a temática de forma significativa, abrangendo questões pertinentes às desigualdades territoriais, governo local, gestão de políticas públicas e justiça espacial, este último apresentando-se como norteador do trabalho. Nesse sentido, autores como Harvey (1973), Soja (2010), Souza (2006) e Rodrigues (2014) foram essenciais durante todo o percurso. A partir disso, há de destacar o importante papel que as políticas públicas assumem no combate as desigualdades sociais e territoriais, principalmente aquelas destinadas ao bem coletivo, como saúde, educação, saneamento básico e transporte. Assim, concluímos que a atuação do Estado, em suas três esferas governamentais (Municipal, Estadual e Federal) é de suma importância para a promoção de cidades mais justas e igualitárias, onde os indivíduos possam ter acesso a bens e serviços de forma equânime e coletiva. Palavras-chave: Estado. Território.

INTRODUÇÃO

Ao analisarmos o termo políticas públicas percebemos que, conceitualmente, se trata de ações públicas, isto é, do Estado, para o meio social. Neste sentido, políticas públicas se apresentam como tudo aquilo que o poder público escolhe ou não fazer para com a população.

No entanto, os estudos direcionados a estas normalmente se associam a ações e investimentos direcionados a áreas básicas de atuação estatal, como saúde, educação, habitação, saneamento e transporte. Assim, tais estudos vêm se apresentando como formas de analisar o governo em ação (SOUZA, 2006).

Em países democráticos, como é o caso do Brasil, as políticas públicas ganham bastante destaque em meio à gestão dos governos, pois,

parte-se do principio de que políticas públicas são implementadas de acordo com as necessidades e problemas sociais, o que intensifica a participação da sociedade na resolução de problemas, independente de sua natureza.

A justiça espacial se insere como conceito central a ser discutido no decorrer deste trabalho, sendo, em teoria, caracterizada como promotora de territórios mais justos e igualitários, ou mesmo, como mecanismo de análise e avaliação acerca da equidade de determinados serviços e bens no território.

Dessa forma, procuramos discutir a maneira pela qual a implementação de políticas públicas produz justiça espacial, a partir de uma justa e equânime distribuição de serviços e bens no espaço, em especial, o urbano, que, por concentrar maior densidade demográfica, exige mais equipamentos de serviços básicos.

No decorrer do texto discutimos de forma mais aprofundada a relação entre estas duas áreas, bem como a maneira pela qual à aplicabilidade da justiça espacial em análises acerca de políticas públicas permite compreender como ocorre a promoção de territórios mais justos.

Concomitantemente, analisamos também a intrínseca relação entre geografia e políticas públicas, por meio de questões pertinentes a espacialidade de fenômenos políticos. Assim, o conceito de território, entrelaçado ao Estado, enquanto instituição capaz de transforma-lo e (re) organiza-lo é central durante a discussão.

O debate teórico-conceitual demonstra que políticas públicas bem planejadas e implementadas são mecanismos de transformações sociais e territoriais, na medida em que podem viabilizar maior igualdade de acesso e uso de serviços públicos para os indivíduos. Apresentando-se, portanto, como elementos promotores de justiça espacial.

MATERIAL E MÉTODOS

Na revisão bibliográfica, tivemos como metodologia aplicada a leitura e fichamento de artigos e livros científicos que trabalhem, direta ou indiretamente, com a temática abordada. Desta

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forma, trabalhos que abordem o conceito de políticas públicas e justiça espacial de forma significativa foram de grande importância para esta pesquisa, tendo em vista que há uma grande carência de trabalhos que contextualizem estas duas temáticas de forma interligada.

Após essa etapa, se deu a elaboração do presente texto, como forma de discutir os principais elementos apontados pelos autores em suas obras, bem como realizar uma ligação entre estas duas áreas, políticas públicas e justiça espacial, termos centrais e norteadores da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Brasil, desde a Constituição Federal de

1988, o campo das políticas públicas vem se tornando alvo de diversas pesquisas acadêmicas, pois estas se apresentam como mecanismos fundamentais para a transformação de realidades sociais. Principalmente quando se põe em pauta a melhoria da qualidade de vida da população mais carente, que mais necessita de serviços e auxílios públicos.

Na Geografia, as políticas públicas se inserem em uma perspectiva territorial, na medida em que esta se dedica a estudos em torno da dimensão espacial de fenômenos políticos (RODRIGUES, 2014). Desta forma, questões pertinentes à relação entre Estado e território estão constantemente sendo objetos de estudo da Geografia Política, uma vez que o poder público exerce papel importante no processo de (re) organização do território.

Com isto, o termo políticas públicas nos remete as ações provenientes do Estado, através de seus respectivos governos, que possuem o objetivo de promover melhorias para a sociedade (SOUZA, 2006), mesmo que nem sempre isto venha a ocorrer.

Complementando, Souza (2006, p.7) afirma que “política pública é o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, colocar o governo em ação e analisar essa ação e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso das coisas”. Assim, em países democráticos, estas ganham destaque durante a gestão dos governos, no sentido de que o processo decisório alinha-se, também, a própria sociedade.

Dentro deste contexto, cabe ao Estado assegurar acesso a serviços públicos essenciais a seus indivíduos, para que o exercício dos seus direitos civis, sociais e políticos sejam possíveis de serem cumpridos. Deste modo, as políticas públicas devem estar orientadas para a garantia de acesso a bens, serviços e justiça social a

todos os habitantes, de forma igualitária (RODRIGUES, 2014).

Ao implementar políticas públicas no território, o Estado deve levar em consideração que este se apresenta de forma complexa, onde nem todos possuem acesso a serviços básicos, como saúde, educação, transporte e moradia, por exemplo. Cabendo ao Estado “ajustar” tais desigualdades territoriais.

Em termos conceituais, a justiça espacial é central à interpretação entre Estado e território, bem como ao ordenamento do território enquanto política pública, já que, a busca por um território mais igualitário é um dos seus objetivos fundamentais (SOJA, 2010).

Com isto, a relação entre políticas públicas e justiça espacial se encontra no fato de que, se bem distribuídas – de forma equânime – estas, se apresentam como promotoras de territórios mais justos e igualitários.

Um dos estudiosos da temática é David Harvey, que em seu livro “Justiça Social e a Cidade” (1973) faz uma análise em torno da justa distribuição de bens e serviços dentro da cidade, tornando-se assim, um autor importante em análises acerca da justiça espacial.

Ao analisar o espaço urbano, o autor também nos lembra que, enquanto produto humano, a cidade se apresenta como fruto das relações políticas, econômicas e culturais de um povo, e por isso temos por consequência cidades segregadas, desiguais e complexas, em suas diversas particularidades.

Com isso, Harvey (1973, p. 116) afirma que a “distribuição de serviços e renda deve ocorrer de forma que as necessidades da população dentro de cada território sejam cumpridas”.

As políticas públicas estão vinculadas ao atendimento de demandas específicas, possuindo como meta a maximização do bem estar coletivo e a busca de patamares de equalização e justiça social para com os indivíduos (RODRIGUES, 2014).

Deste modo, é fato que transformações territoriais são resultado de uma “boa” gestão espacial de políticas públicas, tendo o Estado, um papel muito importante para a promoção da justiça espacial.

As três esferas governamentais devem trabalhar juntas na batalha contra as desigualdades socioespaciais. No entanto, há de se destacar o papel do Governo local (municipal) que, ao melhor conhecer seu território, pode nele melhor gerir projetos e investimentos públicos.

A relação entre as três esferas é fundamental para a promoção da justiça espacial, pois a interação entre essas diferentes escalas de atuação pode melhor trabalhar para a resolução

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de problemas sociais, formulando políticas públicas que levem em consideração as especificidades de cada território.

Nesse sentido, a justiça espacial é resultado de políticas públicas eficientes, flexíveis e bem geridas no território, sendo, portanto, consequência de uma boa governança do Estado (RODRIGUES, 2014).

Intensificando o debate, Rodrigues (2014, p. 6) citando Planche (2007) argumenta que “a territorialização de políticas públicas compreendem também o que se convencionou chamar de governança territorial”. Isto é, a organização do território se configura inteiramente com a sua relação com o Estado, na medida em que cabe às esferas governamentais escolher o que ou não fazer para transforma-lo.

Retornando a justiça espacial, cabe destacar que a formulação de mecanismos de promoção de justiça social, como é o caso das políticas públicas, devem visar uma melhor distribuição dentro dos territórios. Este tipo de ação deve levar em consideração alguns critérios, como a necessidade dos territórios de obterem determinado benefício e, principalmente, a contribuição para o bem comum. Esses critérios são importantes no processo de formulação de uma política pública, pois visa uma melhoria para um grupo maior, abrangendo um conjunto de territórios ou regiões (HARVEY, 1973).

Por isso é de extrema importância dar espacialidade as injustiças sociais, pois é a partir disso que o Estado pode gerir recursos sociais de forma mais equitativa, não apenas na cidade, mas em todas as escalas geográficas (SOJA, 2010).

No Brasil, como já foi citado anteriormente, as políticas públicas ganham maior destaque na gestão dos governos após a constituição de 1988, quando o papel do Estado torna-se central na resolução de problemas sociais, aumentando assim, a formulação de políticas públicas para atuarem na sociedade. Buscando sempre promover melhorias nos locais onde foram inseridas.

Outro ponto relevante neste período é a volta da democracia no país, intensificando a participação da sociedade na tomada de decisão e na resolução de problemas. No âmbito local, a constituição também se fez de grande impacto, pois deliberou aos municípios atuar com maior autonomia na formulação e implementação de políticas públicas.

Assim, para Rodrigues (2014, p. 10) a “carta de 1988 traz garantia jurídico-formal de autonomia política que assegura ao município soberania decisória sobre assuntos relacionados às suas competências”. O que fortalece a busca

por projetos e incentivos de desenvolvimento sócio territorial.

Em análises acerca de políticas públicas, destaca-se também a importância dos atores políticos dentro desse processo, no qual não somente o poder executivo possui papel decisório. O poder legislativo se apresenta com importância significativa na implementação de políticas públicas, pois, muitas vezes, atua como lócus entre as esferas do Estado. Como exemplo podemos citar deputados que trabalham em prol de determinados municípios, em busca de investimentos em áreas como saúde, educação e transporte.

Deste modo, a análise de políticas públicas deve ser pluralista e complexa, uma vez que deve ser condizente com a amplitude dos espaços políticos (RODRIGUES, 2014).

Em termos territoriais, as políticas públicas se apresentam cada vez mais como agentes de transformação e organização do território, na medida em que, muitas vezes, podem condicionar a organização da sociedade sobre ele. A gestão territorial de políticas públicas é essencial para a promoção da justiça espacial, principalmente quando o Estado leva em consideração o grau de “carência” e necessidade dos territórios no que tange a determinados serviços públicos.

Para encerrarmos o debate, voltamos a citar Rodrigues (2014, p. 11) que ao realizar uma ligação entre geografia e políticas públicas, analisa que este campo “toca questões de natureza eminentemente geográficas, tais como: localização, acessibilidade, diferenças territoriais e isonomia, cidadania e justiça socioespacial.”

Enquanto ciência que tem como objeto de estudo fenômenos relacionados aos conceitos de território, espaço, região, paisagem e lugar, a geografia, no campo das políticas públicas, se insere com o papel de, em diferentes escalas de atuação, analisar a interação entre Estado e território na produção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde os indivíduos possuam os mesmos direitos e acesso igualitário a equipamentos de serviços públicos.

CONCLUSÃO

Apesar de curta e rápida, a presente revisão de literatura nos permite compreender a maneira pela qual o “bom” planejamento territorial de políticas públicas acarreta em justiça espacial, bem como esta contribui para a formação de cidades mais igualitárias e justas, no que tange a serviços públicos.

Com isso, pode-se perceber que a função do Estado é de suma importância durante todo esse processo, e se intensifica a partir da Constituição

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Federal de 1988, quando este se torna central ao combate as desigualdades sociais expressas em nosso território, a partir da formulação e implementação de políticas públicas que tenham o intuito de promover melhorias para a sociedade de forma coletiva.

Após a Constituição, destaca-se também a importância dos municípios no processo de formulação de políticas públicas, pois ganham autonomia e participação direta nos processos decisórios, acarretando em maiores possibilidades de buscarem investimentos junto às demais esferas governamentais, bem como em autonomia para gerir seus próprios recursos.

Desta forma, a administração municipal se apresenta com um papel importante na promoção da justiça espacial, pois, parte-se do sentido de que este melhor conhece seu território e, por consequência, saberá nele melhor gerir investimentos públicos, a fim de promover melhorias para maiores parcelas da população, tendo como enfoque aqueles que mais necessitam de serviços públicos, isto é, as parcelas mais carentes da sociedade.

Outro ponto a ser destacado aqui é a falta de produção científica que trabalhe com a temática abordada na pesquisa. Dentro da Geografia, mais especificamente da Geografia Política, poucas pesquisas abordam as políticas públicas por meio de uma perspectiva espacial, fato que justifica este trabalho.

Por fim, se torna claro que políticas públicas bem planejadas e implementadas, que levem em consideração as necessidades de cada território, apresentam-se como mecanismos essenciais na promoção da justiça espacial, bem como agentes importantes no processo de (re) organização do território, na medida em que o Estado, por excelência, desempenha papel fundamental dentro de todo este processo.

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora Dra. Márcia da Silva, pela confiança e atenção. A Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná pela bolsa concedida, permitindo maior dedicação ao meu curso de graduação e a minha pesquisa de Iniciação Científica.

REFERÊNCIAS

HARVEY, David. Social Justice and the City. Basil Bhackwef, 1973.

RODRIGUES, Juliana Nunes. Geografia e Políticas públicas: retomada de um debate. GEOUSP – Espaço e Tempo (Online). São Paulo, p. 152 – 163, 2014.

SOJA, Edward W. Seeking Spatial Justice. Tradução (partes). Minessota: University of Minnesota Press, 2010.

SOUZA, Celina. Políticas Públicas: Uma revisão da Literatura. In: Sociologias. Porto Alegre, 2006.

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GEOGRAFIA FÍSICA

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RESUMOS SIMPLES

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Relação entre o Código Florestal de 1965 e as mudanças na distribuição da vegetação na Bacia do Rio São Francisco (1).

Diogo Vieira Silva(2); Edson dos Santos Dias(3) ; Ericson Hideki Hayakawa(4) (1) Trabalho executado com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). (2) Acadêmico do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon-PR. E-mail: [email protected]. (3) Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. (4) Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

RESUMO: O mapeamento temporal da vegetação contribui significativamente em trabalhos que envolvem a gestão ambiental, ao buscar diagnosticar na paisagem os fragmentos dos remanescentes florestais por meio da classificação através de imagens de satélite. Nos últimos anos a discussão sobre as alterações e o cumprimento do Código Florestal tem obtido destaque (Ab’Saber, 2010; Brancalion e Rodrigues, 2010; Metzger et al., 2010; Michalski, et al., 2010; Ribeiro e Freitas, 2010; Toledo et al., 2010). Essa discussão envolve desde os prejuízos ambientais iniciados na colonização de diversas áreas do território nacional, bem como os interesses políticos e da sociedade acerca do tema. Com isso, o objetivo deste trabalho é o mapeamento temporal da vegetação em duas bacias hidrográficas que compõem a Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP 3): bacia do Rio São Francisco Verdadeiro e bacia do Rio São Francisco Falso, situadas no Oeste do Paraná. Os materiais utilizados neste trabalho consistem de imagens do satélite Landsat-1 (1973), e do Landsat-5, (1990, 2000/2001 e 2011). Os aplicativos utilizados foram SPRING 5.2.7 (procedimento de classificação, edição e Layout final da classificação do mapeamento). Após o mapeamento, foi realizada entrevista com um técnico do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), responsável por gerenciar a área de estudo, para melhor entender as mudanças ocorridas ao longo do período que envolve a pesquisa. A partir do embasamento teórico, entrevista e validação do mapeamento, será realizada a análise entre a relação da distribuição da vegetação e a Lei 4771/1965 do Código Florestal.

Palavras-chave: Mapeamento ambiental; Geoprocessameto; Código Florestal.

INTRODUÇÃO

As Bacias Hidrográficas do São Francisco

Verdadeiro e Falso integram um conjunto de bacias que formam a Bacia do Paraná 3 (BP 3) e possuem aproximadamente 5729 km² e 4006 km², respectivamente, de área na mesorregião Oeste do Paraná. Seu processo de colonização deu-se a partir da década de 1940, destacando-se atualmente por sua atividade agrícola. Isso contribuiu para a diminuição da vegetação existente.

Associada ao desmatamento, recorrente em todo o país, desde a década de noventa a discussão sobre as alterações e o cumprimento do Código Florestal tem recebido destaque. Parte dessa discussão deve-se aos prejuízos ambientais que foram desencadeados pela retirada indiscriminada da vegetação para diversos fins.

O Código Florestal de 1965 apontava que as florestas presentes no território nacional eram de interesse comum a todos os habitantes do país, e o direito de propriedade era limitado pela legislação vigente na época. Contudo, ora pelo desconhecimento da lei, ora pelo descumprimento de forma deliberada, a supressão da vegetação tornou-se o vetor dominante no processo de colonização, incluindo a Bacia do Paraná 3.

Neste sentido, levantam-se os questionamentos de como gerenciar o uso da terra e como proceder com a definição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL). Uma das formas de ampliar o conhecimento e caracterizar a configuração atual da vegetação na Bacia Hidrográfica do São Francisco é através do mapeamento sistemático dos fragmentos de vegetação ainda presentes na bacia. Estudos desse escopo foram desenvolvidos no Brasil principalmente no

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mapeamento de remanescentes florestais da Mata Atlântica, no final da década de 1980 (Ponzoni et al., 2012).

A legislação ambiental brasileira atualmente está baseada em três pilares normativos: Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (1981), Constituição Federal (1988) e o Código Florestal (2012). Essa é a principal base legal que o poder jurídico toma como referência para julgar questões relativas ao meio ambiente. Consequentemente, torna-se referência, também, para os órgãos de Estado responsáveis pela fiscalização da execução, conforme essas normativas, por parte dos agentes públicos ou privados (Führ, 2015). No entanto, a reflexão principal a respeito do Código Florestal, neste trabalho, está focada principalmente na Lei Nº 4.771/65. Esta opção foi feita porque o mapeamento temporal da vegetação da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco está compreendido nos anos de 1973, 1990, 2000/2001 e 2011, quando se encontrava em vigência o Código Florestal de 1965. Isso não significa desconhecer a polêmica envolvida na aprovação do novo Código Florestal, de 2012, nem a análise preliminar de suas consequências, algo que também abordamos de forma complementar neste estudo. No entanto, como a proposta é associar o mapeamento da área nos períodos indicados, são os pressupostos previstos no Código anterior, de 1965, que precisam ser levados em consideração.

Recentemente, estudos dessa natureza têm sido beneficiados com a disponibilidade de ferramentas e técnicas de geotecnologias. Com isso, o mapeamento dos fragmentos de vegetação da bacia pode fornecer não só a mensuração da cobertura florestal existente na bacia, bem como sua forma de distribuição, como também pode auxiliar em estudos que envolvem a manutenção dos ecossistemas presentes na área. Soma-se ainda a possibilidade de verificar até que ponto o Código Florestal foi cumprido na área que compreende a BP3.

MATERIAL E MÉTODOS Os materiais consistem de imagens do satélite

Landsat-1, sensor Multispectral Scanner (MMS) para o mapeamento de 1973, Landsat-5, sensor Thematic Mapper (TM) para os mapeamentos de 1990, 2000/2001 e 2011, disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Global Land Cover Facility (GLCF). Os aplicativos utilizados foram o SPRING, versão 5.1.8, para o procedimento de classificação da vegetação. Também foi realizada uma entrevista com o técnico do IAP, órgão responsável pelo

gerenciamento da área de estudo, para confrontar as informações do mapeamento com o Código Florestal de 1965.

AGRADECIMENTOS À Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de estudos de Mestrado.

REFERÊNCIAS

AB’ SABER, A. N. Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade. Biota Neotropica, v. 10, p. 331-336, 2010.

BRANCALION, P. H. S.; RODRIGUES, R. R. Implicações do cumprimento do Código Florestal vigente na redução de áreas agrícolas: um estudo de caso da produção canavieira no Estado de São Paulo. Biota Neotropica, v. 10, p. 63-66, 2010.

BRITES, R. S; BIAS, E. D; ROSA, A. N. C. S. Classificação por regiões. In: MENESES, P. R.; ALMEIRA, T. (Orgs.). Introdução ao processamento de imagens de sensoriamento remoto. Brasília: Unb/Cnpq, 2012. p. 209-220.

FÜHR, J. de O. M. Aplicabilidade do Código Florestal em APPS fluviais urbanas: Estudo na cidade de Marechal Cândido Rondon – PR. Marechal Cândido Rondon, 2015. 156 p. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

METZGER, J. P.; LEWINSOHN. T. M.; JOLY, C. A.; VERDADE, L. M.; MARTINELLI, A.; RODRIGUES, R. R. Brazilian Law: full speed in reverse? Science, v. 329, p. 276-277, 2010.

MICHALSKI, F.; NORRIS, D.; PERES, C. A. No return from biodiversity loss. Science, v. 329, 1282.

NOVO, E. M. L. de M.. Sensoriamento remoto: princípios e aplicações. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2008.

PONZONI, F. J.; HIROTA, M. M.; ROSA, M. R. Mapeando os remanescentes florestais na Mata Atlântica Brasileira. In: PAESE, A.; UEZU, A.; LORINI, M. L.; CUNHA, A. Conservação da biodiversidade com SIG. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.

RIBEIRO, K. T.; FREITAS, L. Impactos potenciais das alterações no Código Florestal sobre a vegetação de campos rupestres e campos de altitude. Biota Neotropica, v. 10, p. 239-246, 2010.

TOLEDO, L. F.; CARVALHO E SILVA, S. P.; SÁNCHEZ, C.; ALMEIDA, M. A.; HADDAD, C. F. B. A revisão do Código Florestal Brasileiro: impactos

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negativos para a conservação de anfíbios. Biota Neotropica, v. 10, p. 35-38, 2010.

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Assinatura fitolítica em serrapilheira e horizonte superficial do solo sob a Floresta Ombrófila Densa – Linhares (es): Subsídios para estudos

paleogeográficos(1)

Lucas Tagliari Brustolin(2); Ericson Hideki Hawakawa(3); Marcia Regina Calegari(4)

(1) Trabalho executado com recursos da Bolsa de Iniciação Cientifica fomentada pela Unioeste.

(2) Estudante do curso de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]. (4) Professor do Colegiado do Curso de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected] (4) Professora do Colegiado do Curso de Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, Paraná; [email protected]

RESUMO: Fitólitos são corpúsculos de sílica amorfa (SiO2.nH2O) produzidos por plantas durante seu ciclo de vida. Após a morte da planta ou de parte dela, os fitólitos podem ser incorporados ao solo. Uma vez incorporados ao solo, passam a sofrer todos os processos edáficos e tafonômicos, podendo permanecer ali por milhares de anos e serem usados como proxies biológicos para estudos de reconstrução de costumes humanos e de ambientes. Visando contribuir para melhorar o nível e a consistência desses estudos coleções de referências de fitólitos extraídos de plantas vivas e análise de solos têm sido elaboradas. Esta pesquisa objetivou elaborar uma coleção de referência de fitólitos extraídos de plantas vivas, para conhecer quais morfotipos são produzidos por cada espécie, e conhecer as variações na produção intra e entre famílias. Para isso foram coletadas amostras de diferentes plantas em um fragmento de Floresta Ombrófila Densa dentro da Reserva Natural da Vale em Linhares (ES). Para este projeto foram selecionadas sete espécies pertencentes a seis famílias de gramíneas (Astereaceae, Poaceae, Dilleniaceae, Eriocaulaceae, Humiriaceae e Cyperaceae). Os resultados mostraram que todas algumas espécies produzem fitólitos em diferentes nível e diversidade. No total foram identificadas dez morfologias diferentes. O stomate foi o morfotipo com maior redundância, pois foram encontrados em seis espécies. Dentre os demais morfotipos produzidos, os rondels (característicos de poaceae) tendo um forte significado taxonômico, pois permite identificar as espécies de gramíneas.

Palavras-chave: fitólitos, paleogeografia, Linhares.

INTRODUÇÃO

O uso de técnicas para se estudar e entender

as mudanças climáticas principalmente no período

Quaternário vem sendo cada vez mais aprimoradas e utilizadas. Com isto, grupos de pesquisa vêm estudando e analisando estas possíveis técnicas. Os estudos de reconstrução paleoambientais vêm cada vez mais sendo difundido e, com isto se sabe da carência e da necessidade de se realizar mais estudos. O emprego de técnicas fitolíticas é de grande importância para ajudar a entender as mudanças que ocorreram no período que se está trabalhando. A análise de fitólitos é uma das técnicas utilizadas para investigar as mudanças que ocorreram no clima e na vegetação no passado. Neste trabalho esta técnica é empregada para ajuda a entender a formação de nativos (vegetação de campo) inseridos na Floresta Atlântica, dentro da Reserva Natural da Vale (RNV) no estado do Espírito Santo.

Objetiva-se nesta pesquisa conhecer a assembleia de fitólitos preservados nas amostras superficiais de um Espodossolo visando entender a formação e gênese destes nativos, à luz da Teoria dos Refúgios.

MATERIAL E MÉTODOS

Os nativos selecionados se encontram dentro

da área da Reserva Natural da Vale - RNVALE. A Reserva Natural da Vale localiza-se 30 km ao norte do Rio Doce, entre os municípios de Linhares e Jaguaré no norte do estado do Espírito Santo. Os materiais, plantas e solos, que serão analisados foram coletados em campanha realizada em setembro de 2013, quando foram descritos e amostrados solos e plantas expressivo em termos edáficos e de vegetação, dentro do conjunto de campos nativos da Reserva Natural da Vale no estado do Espírito Santo. A descrição e coleta dos horizontes dos solos foram realizadas conforme Santos et al. (2005), para fins de análises de rotina e classificação do solo. Para análise fitolítica foi realizada coleta sistemática a

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cada 10 cm de profundidade até o Bhsm (horizonte cimentado) de um espodossolo.

Os procedimentos adotados para a extração de fitólitos foram adaptados de Campos & Labouriau, (1969) e Piperno (1998), os fitólitos foram nomeados conforme ICPN 1.0 proposto por Madella (2005). Dando continuidade aos trabalhos de Cecchet (2012), Felipe (2012) e Brustolin (2013) foram analisadas seis espécies restantes da amostragem de 2013, que pertencem a seis famílias: Astereaceae, Poaceae, Dilleniaceae, Eriocaulaceae, Humiriaceae e Cyperaceae.

RESULTADOS

O valor do material recuperado (% da massa

seca) variou de 0,0007% (Dolicarpus rigidus – Dilleniaceae) a 0,0222% (Eupatorium barvadianum – Asteraceae). Foram identificados morfotipos com significados taxonômicos característicos de determinadas, como o conical encontrado na família das Cyperaceae conforme Piperno (1998). Os morfotipos mais encontrados foram os stomate, globulars e elongates (Figura 01), porém não apresentam ser característicos de determinada planta, por serem redundantes em muitas espécies analisadas.

Figura 1: Principais morfotipos encontrados (A) Bilobate; (B) Rondel; (C) Trapeziform Short Cell; (D) Stomate; (E) Elongate; (F,G) Conical. Escala de 10 micrometros.

A serrapilheira ao ser analisada teve uma

produção de cinza final (% massa seca) de 0,1156% aparecendo uma boa quantidade do morfotipo tracheid e elongate com 31,19% cada um, mostrando que a vegetação atual produz estes morfotipos. Os outros horizontes deste solo não foram encontrados fitólitos com significado ambiental.

Conclui-se que todas as espécies são silicificadoras, embora apresentem uma rara produção de morfotipos com significado taxonômico. Mesmo havendo uma boa produção de fitólitos, nenhum morfotipo novo foi encontrado e observado. Esta coleção de referência

apresentará diferentes morfotipos que auxiliarão nas análises e interpretações paleoclimáticas e paleoambientais, que se baseia neste proxy (marcador) ambiental. No total foram identificadas dez morfologias diferentes. O stomate foi o morfotipo com maior redundância, encontrados em seis espécies. Os rondels e conicals são morfotipos com forte significado taxonômico, pois permitem identificar as espécies de gramíneas e se preservam muito bem em solos tropicais, que também foram analisados neste trabalho, onde somente a serapilheira.

AGRADECIMENTOS Agradeço a RNVALE e os técnicos pela coleta

das amostras e por ceder gentilmente às amostras. Ao PROJES coordenado pelao Prf. Dr. Luiz Pessenda (CENA/USP). Ao PIBIC/Unioeste pela bolsa de pesquisa. Ao meu orientador Professor Dr. Ericson Hideki Hayakawa e a minha co-orientadora Dra. Marcia Regina Calegari.

REFERÊNCIAS

BRUSTOLIN, L. T. Coleção de Referência de Fitólitos de Eudicotiledoneae da Floresta Ombrófila Densa: subsídios para reconstrução paleoambiental. Relatório de PIBIC. UNIOESTE. 2013.

CALEGARI, M. R. Ocorrência e Significado Paleoambiental do Horizonte A Húmico em Latossolos. Tese de Doutorado, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”- ESALQ/USP. 2008. 256p.

CAMPOS, Antonio. C. de; LABOURIAU, Luiz. G. Corpos Silicosos de Gramíneas do Cerrado II. In: BRASIL, Ministério da Agricultura. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Vol. 4. p. 143- 151, 1969.

CECCHET, F.A. Conjunto de Fitólitos dos Estratos Inferiores da Floresta Ombrófila Densa: Subsídios Para Reconstrução Paleoambiental. Texto de qualificação apresentado na disciplina de monografia – Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras – Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon Novembro/2012. 87p.

PIPERNO, D. R. Phytoliths: A Comprehensive Guide for Archaeologists and Paleoecologists. Lanham MD, AltaMira Press 2006. 238p.

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Coleção de referência de fitólitos da vegetação da ESEC Mata Preta, Abelardo Luz (SC) (1).

Helder Brandorfe Ferreira(2); Marcia Regina Calegari (3) (1) Pesquisa de Iniciação Científica, com bolsa PIBIC/Fundação Araucária/UNIOESTE; Trabalho executado com recursos do projeto CNPq Universal 454981/2014-7 (2) Acadêmico do Curso de Geografia – Licenciatura; Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Marechal Cândido Rondon; PR. [email protected] (3) Professora do Colegiado de Geografia – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Marechal Cândido Rondon; PR. [email protected]

RESUMO: Uma sólida reconstrução da vegetação é essencial para compreender as trajetórias históricas das mudanças climáticas, da evolução da paisagem e para lidar com a natureza e extensão do impacto antrópico sobre os ecossistemas. Classicamente as análises isotópica e polínica têm sido empregadas para identificar a composição florística pretérita e a sua variação ao longo do tempo em uma determinada área. Entretanto os grãos de pólen nem sempre se preservam em solos minerais não hidromórficos, inviabilizando o emprego dessa técnica. Considerando que os solos são ubíquos e representam um importante reservatório de proxies climáticos, tanto físico- químicos quanto biológicos e que neles são preservados os fitólitos: um dos microfósseis de plantas mais duradouros, é que se propôs a presente pesquisa. Fitólitos são corpúsculos de sílica amorfa depositada dentro e entre as células vegetais, produzidas por muitas famílias de plantas ao longo de seu ciclo vegetativo. Os fitólitos além de informar os climas do passado, podem aportar informações que podem ser usadas para alimentar modelos de predição de climas futuros. Entretanto, atualmente constata-se a falta de coleções de referências de plantas modernas de nossos biomas, necessárias para os estudos de reconstrução paleoambiental. Nesta proposta objetiva-se a elaboração de uma coleção de referência de fitólitos extraídos de plantas atuais da Floresta Ombrófila Mista (FOM) e da serapilheira na área da Estação Ecológica Mata Preta – ESEC Mata Preta, localizada no município de Abelardo Luz, Santa Catarina. Este projeto de iniciação científica visa extrair, identificar e classificar os fitólitos extraídos de folhas de plantas atuais. Palavras-chave: Opala biogênica, Mata de Araucária, Silicofitólitos;

INTRODUÇÃO

Uma sólida reconstrução da vegetação é essencial para compreender as trajetórias históricas das mudanças climáticas, da evolução da paisagem e para lidar com a natureza e extensão do impacto antrópico sobre os ecossistemas. Uma das abordagens clássicas para esse tipo de estudo é aquela que utiliza os grãos de pólen fósseis para identificar a composição florística pretérita e a sua variação ao longo do tempo. Por outro lado, os solos são ubíquos e representam um importante reservatório de proxies climáticos, tanto físico- químicos quanto biológicos. Neles são preservados os fitólitos: um dos microfósseis de plantas mais duradouros.

Fitólitos são corpúsculos de sílica amorfa depositada dentro e entre as células vegetais, produzidas por muitas famílias de plantas ao longo de seu ciclo vegetativo (Piperno, 2006). Existem situações em que os fitólitos são os únicos marcadores biológicos que podem ser usados, pois os grãos de pólen são escassos ou ausentes (Moore, et al., 1991; Calegari et al., 2013a). Os fitólitos bem preservados em solos e em paleossolos têm sido utilizados com sucesso para reconstruir o clima e a vegetação do passado em regiões tropicais (Calegari et al., 2013b), porém são poucos os trabalhos realizados no Brasil meridional (Calegari et al., 2014). Os fitólitos, além de informar os climas do passado, aportam informações que podem ser usadas para alimentar modelos de predição de climas futuros. Entretanto, atualmente constata-se a falta de coleções de referências de plantas modernas de nossos biomas, necessárias para os estudos de reconstrução paleoambiental.

Esta proposta faz parte de um projeto maior que visa à elaboração de uma coleção de referência de fitólitos extraídos de plantas atuais da Floresta Ombrófila Mista (FOM) e da

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serapilheira na área da Estação Ecológica Mata Preta – ESEC Mata Preta. Especificamente objetiva neste projeto, que está sendo desenvolvido como pesquisa de iniciação científica, extrair, identificar e classificar os fitólitos extraídos de folhas de plantas atuais da FOM, na ESEC Mata preta, localizada no município de Abelardo Luz, Santa Catarina.

MATERIAL E MÉTODOS

Serão coletados cerca de 200-300 gramas de

folhas das plantas amostradas a cada 100 metros, ao longo de uma transeção de 500 metros dentro da ESEC. As folhas das plantas serão identificadas, registradas e coletadas para a extração de fitólitos em laboratório. Em cada ponto de amostragem também serão coletados materiais da serapilheira. A extração de fitólitos seguirá os procedimentos adaptados de Campos e Laboriau (1960) e Piperno (2006) (dry ashing). Os resíduos das amostras de plantas (cinzas) serão montados em lâmina de microscópio para confecção de lâminas temporárias (com óleo de imersão), para descrição e classificação dos fitólitos, e lâminas permanentes (com Entellan ®) para contagem.

Os fitólitos serão observados em microscópio petrográfico com aumento de 63X. Serão contados 300 morfotipos identificáveis com tamanho maior 5µm. Eles serão descritos, medidos, fotografados e nomeados conforme International Code for Phytolith Nomenclature – ICPN 1.0 (Madella et al., 2005).

RESULTADOS ESPERADOS

Assim, espera-se como resultado a elaboração de uma coleção de referência de fitólitos das principais espécies que compõem a Floresta de Araucária da ESEC Mata Preta e definição da assinatura fitolítica deste fragmento de FOM. Esta ESEC, assim como outras áreas de Floresta de Araucária na região sul do Brasil esta fitofisionomia também recebe ameaças constantes induzidas pelo homem (desmatamento) e é de suma importância que a sua assinatura fitolítica de referência preservada no solo, seja registrada antes que muitas espécies sejam extintas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação Araucária e a UNIOESTE pela concessão de bolsa PIBIC ao primeiro autor; ao CNPq pelo apoio financeiro (Projeto Universal 454981/2014-7) e ao ICMBIO

pela autorização de pesquisa na ESEC Mata Preta (Autorização 41601-1).

REFERÊNCIAS CALEGARI, M. R., MADELLA, M.; VIDAL TORRADO, P., OTERRO, X. L., MACIAS, F., OSTERRIETH, M. (2013a). Opal phytolith extraction in Oxisols. Quaternary International. v 287, 21, 56-62p. CALEGARI, M. R.; MADELLA, M.; VIDAL TORRADO, P.; PESSENDA, L. C. R.; MARQUES, F. A. (2013b). Combining phytoliths and δ13C matter in Holocene palaeoenvironmental studies of tropical soils: An example of an Oxisol in Brazil Original Research Article. Quaternary International, v 287, 21, p 47-55.

CALEGARI, M. R.; RAITZ, E.; MENEGAZZI, C.; CECCHET, F. A.; EWLAD, P. L. L. F.; BRUSTILIN, L. T. (2014). Phytolith signature from Grassland and Araucaria Forest in Southern Brasil. In: Synthesis of some phytolith studies in South America (Brazil and Argentina). Ed. H. H. G. Coe e M. Osterrieth, Series: Botanical research and practice, Editora Nova Science Publischer. New York. 91-120p.

CAMPOS, A. C; LABORIAU, L. G. (1969). Corpos silicosos de gramíneas dos Cerrados – II. Pesquisa Agropecuária Brasileira. 4:143-151.

FREDLUND, G.G.; TIESZEN, L.L. (1994). Modern phytolith assemblages from the North American Great Plains. J. Biogeogr., 21:321-335p.

MADELLA, M.; ALEXANDRE, A.; BALL, T. (2005). International Code for Phytolith Nomenclature 1.0. Annals of Botany, Oxford, v. 96, n.2, p. 253–260.

MOORE, P.D., WEBB, J.A., COLLINSON, M.E. (1991). Pollen Analysis, second ed. Oxford- Blackwell Scientific Publications. 216p.

PIPERNO, D. R. (2006). Phytoliths: A Comprehensive Guide for Archaeologists and Paleoecologists. Lanham MD, AltaMira Press. 238p.

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Estudo espacial da Hanseníase no município de Cascavel (PR)(1).

Rafael Krupiniski(2); Karin Linete Hornes(3); (1) Este trabalho faz parte da conclusão de curso de graduação em Geografia do Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras (CCHEL), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

(2) Acadêmico do 4º ano de Geografia/Licenciatura; UNIOESTE; Marechal Cândido Rondon-PR; e-mail: [email protected]. (3) Professora Doutora do curso de Geografia/Licenciatura; UNIOESTE; Marechal Cândido Rondon-PR; e-mail: [email protected]. RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar a distribuição espacial da hanseníase no município de Cascavel (PR), entre o período de 2010 a 2014, com o propósito de identificar as áreas afetadas a partir de sua incidência e, dos possíveis fatores sociais e físico-ambientais que influenciaram na espacialidade da doença. A pesquisa está sendo realizada de acordo com os seguintes temas norteadores: Hanseníase, Geografia da Saúde, Sistema de Informação Geográfica, Geossitemas e Epidemiologia. Os resultados demonstram que a pesquisa irá ajudar sobremaneira o planejamento e a prevenção da disseminação da doença em Cascavel (PR). Palavras-chave: Geografia da Saúde; Geossistemas; Sistema de Informação Geográfica.

INTRODUÇÃO A hanseníase é uma doença, ainda, muito

frequente no mundo. Na Europa foi eliminada após a melhoria das condições socioeconômicas da população, assim como da higiene e tratamento do esgoto. O Brasil é o segundo país com o maior número de casos da doença em nível mundial, atrás da Índia. Mas, a doença já foi tratada e possui cura. Em termos sociais, ela ainda é vista como um estigma, sendo que muitos dos portadores sofrem preconceito ou são retirados do convívio da sociedade.

A necessidade de se erradicar a hanseníase no mundo foi anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1991, vista que em muitos países não há mais casos da mesma, que em geral, são os países classificados como desenvolvidos. Nesse sentido, a presente pesquisa se justifica pela ausência de estudos sobre a temática proposta e pela necessidade de contribuir no controle da Hanseníase no município de Cascavel, motivo pelo qual o mesmo é um dos que mais possui a doença na região oeste do Paraná no quesito “incidência”, como também possui um histórico interessante sobre a doença, que desde 2003 foi diminuindo aos poucos, e contrariamente, possui atualmente um dos Índices de Desenvolvimento Humanos (IDH) mais

elevado do Estado do Paraná (0,810) (IBGE, 2015), o que motiva buscar formas de eliminação a doença.

O avanço tecnológico vem contribuindo muito para o Sistema de Saúde. Contudo, o mesmo encontra-se sobrecarregado, não tendo tempo nem formação adequada para acompanhar a evolução da doença relacionada ao caráter espacial, ou seja, entender a dinâmica da doença no espaço geográfico (mapeamento). Nesse sentido, a pesquisa geográfica poderá ser uma ferramenta útil no planejamento e estratégia para o controle e erradicação de da doença de Hanseníase, principalmente, por se tratar de uma doença infectocontagiosa.

MATERIAL E MÉTODOS

Cascavel é a capital da Mesorregião Oeste do Paraná, sendo também de sua microrregião. No município, além da sede, existem sete distritos, sendo eles: Diamante, Espigão Azul, Juvinópolis, São José do Oeste, São Salvador, Sede Alvorada e Rio do Salto. As fronteiras territoriais são marcadas pelos seguintes municípios: ao oeste: Lindoeste e Santa Tereza do Oeste; ao norte: Braganey, Cafelândia, Corbélia, Toledo e Tupãssi; ao leste: Campo Bonito, Catanduvas e Ibema; ao sul: Boa Vista da Aparecida e Três Barras do Paraná (Ipardes, 2015). A área é de 2.100,831 Km² e sua população estimada para o ano de 2014 foi de 309.259 habitantes (IBGE, 2014).

O Geossitema (Monteiro, 1998; 2000) é a abordagem/método em que o trabalho se dedica, uma vez que os as doenças sofrem influências dos fatores geográficos e das causas ambientais e sociais. O Geossistema busca, antes de qualquer coisa, articular e integrar o natural com o social/humano (Monteiro, 1998). Embora o Monteiro não tenha aplicado a Geossistema a Geografia da Saúde, ele não definiu o estudo geossistema apenas para a noção de paisagens, como fez Bertrand. A atitude de Monteiro foi universalizar o conceito de Geossistemas para que o pesquisador o utilize de acordo com suas necessidades a fim, é claro, no sentido de espacializar e dimensionar os seus estudos

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(Mendonça & Venturini, 1998). Assim, esta abordagem pode ser aplicada ao estudo de doenças na Geografia da Saúde.

Além do levantamento bibliográfico referente aos temas norteadores proposto no resumo, também, faz parte da pesquisa as seguintes etapas: 1) levantamento de dados na Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Cascavel (PR), localizados na Ficha de Investigação da Hanseníase, na qual estão sendo sistematizados e analisados a partir da estatística descritiva. Contudo, para que a coleta ocorresse, a pesquisa foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Unioeste, que emitiram um parecer ético “[...] em defesa da integridade e dignidade dos sujeitos da pesquisa” (Unioeste, 2015) e para a não divulgação de qualquer informação sem caráter científico sobre os portadores da doença; 2) elaboração das representações cartográficas (mapas temáticos) que estão sendo construídos através de Sistemas de Informação Geográficas (SIG), em especial, pelo programa ArcGIS. Os mapas estão sendo elaborados seguindo algumas noções presentes na metodologia proposta por Barrozo (2011): a) de localização da área de estudo; b) incidência dos casos (por pontos de contagem, separados por bairros e distritos); c) referente às taxas de incidência (TI) - representado pela técnica coroplética com escala de cores opostas a partir do valor médio de casos/100 mil habitantes. A análise dos mapas será realizada a partir da relação da doença com o meio urbano e rural, ou seja, a quantidade de incidência em cada meio para então entender os possíveis padrões no qual a doença se manifesta e, então, discutir a relação dos fatores físico-ambientais e demais características socioeconômicas. Tais características serão relacionadas também com os dados localizados na ficha de investigação da hanseníase; 4) serão efetuadas visitas nas áreas de maior incidência para registro e verificação da situação socioambiental e, após as análises de identificação dos possíveis fatores de distribuição da hanseníase no município de Cascavel (PR), utilizar-se-á do programa SatScan, com o intuito de verificar a doença através da relação espaço-tempo, se ela é estatisticamente significativa e para possível detecção precoce de novos surtos; 5) a finalização do trabalho ocorrerá com a criação de estratégias de eliminação da doença a partir da realidade que será apresentada no trabalho – tomando como base as estratégias já existentes nos Planos de Eliminação da doença (2001; 2006; 2012).

RESULTADOS ESPERADOS

A realização desta pesquisa irá contribuir sobremaneira para as estratégias de controle de Hanseníase no município de Cascavel. Ao espacializar os casos da doença será possível identificar os pontos no município onde ela se faz presente, e contribuir com estratégias locais, que vise a sua minimização e a futura erradicação. Caso o estudo for positivo e as estratégias sejam colocadas em práticas, espera-se que o município ganhará muito no sentido de evitar gastos com a doença, bem como a sociedade local como um todo irá ter menos chances de contrair uma doença que causa irreversíveis lesões na pele.

REFERÊNCIAS

BARROZO, L. V. Técnicas de Geografia da Saúde. In: VENTURINI, L. A. B. (Org.). Geografia: práticas de campo, laboratórios e sala de aula. São Paulo: Sarandi, 2011, p. 287-308.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades do Paraná: Cascavel. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=4104808>. Acesso em: 07. mai. 2015.

IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Caderno Estatístico: município de Cascavel. 2015.

MENDONÇA, F de A; VENTURINI, L. A. B. Geografia e metodologia científica: da problemática geral às especificidades da Geografia Física. In: Revista Geosul (Ed. especial). Florianópolis, USFC, p. 63-70, 1998.

MONTEIRO, C, A, de F. Geossitemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2000, 127p.

MONTEIRO, C. A. F. Os Geossistemas como elemento de integração na síntese geográfica e fator de promoção interdisciplinar na compreensão do ambiente. In: Revista de Ciências Humanas. Florianópolis, UFSC, v-14, n.19, p. 67-101, 1996.

UNIOESTE. Comitê de Ética em pesquisas com seres humanos – CEP. Disponível em: <http://cac-php.unioeste.br/paginas/cep/>. Acesso em: 14. abr. 2015.

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Mapeamento de áreas de risco no município de Marechal Cândido Rondon - Paraná(1).

Bruno Aparecido da Silva(2); Ericson Hideki Hayakawa3; Vanda Moreira Martins4

(1) Trabalho executado com recursos da Capes.

(2) Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, nível mestrado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Marechal Cândido Rondon, e bolsista da Capes. E-mail: [email protected]. (3)Professor do curso de Geografia e do Programa de Pós Graduação em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon. (4) Professora do curso de Geografia e do Programa de Pós Graduação em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon. RESUMO: O uso e ocupação do solo nem sempre é devidamente orientado pelos órgãos competentes. Associado a isso, a especulação imobiliária e a falta de planejamento urbano, pressionam alguns setores da sociedade para essas áreas. Neste sentido, a pesquisa objetiva identificar e mapear áreas de risco ambiental, com base em cartas temáticas dos aspectos hidrográficos, pedológicos, geomorfológicos, e de uso e cobertura da terra do município de Marechal Cândido Rondon. Para tanto serão utilizadas técnicas de Sensoriamento Remoto, aplicativos de Sistema de Informação Geográfica como Arcgis 10.1, Qgis 20.4 e Spring 5.2, técnicas de Geoprocessamento, Pedologia, e Geomorfologia para a identificação de áreas de risco ambiental na área de estudo.

Palavras-chave: Sistema de informação geográfica; levantamento pedológico; risco ambiental.

INTRODUÇÃO

A sociedade tem uma relação intrínseca como o meio ambiente. O uso incorreto do solo, a partir da ocupação irregular de fundo de vales, construção de condomínios em áreas com solo raso, a retirada da vegetação e o desrespeito da legislação que orienta a ocupação da paisagem, propicia desequilíbrios ao meio físico e social. Para tanto, estudos geográficos são importantes fontes de conhecimento das características socioambientais da paisagem, assim como de orientar sua melhor apropriação. O município de Marechal Cândido Rondon, atualmente, possui 50.299 habitantes (IBGE, 2015), distribuídos numa extensão territorial de 748,002 km2 (Figura 01). No entanto, a expansão urbana e rural desse território não tem considerado a possibilidade de ocorrência de

eventos que podem causar graves prejuízos à população.

Figura 1 – Localização da área de estudo. Organizado pelo autor.

Sendo assim, a problemática desta pesquisa considera a expansão urbana e ocupação do solo inapropriados, em alguns pontos do município de Marechal Cândido Rondon. Além da inexistência de documentos cartográficos que reportam à complexa realidade do meio físico (litologia, declividade, solos, hidrografia) atrelados à dinâmica socioespacial da área em questão.

OBJETIVOS

Objetivo Geral: - Mapear áreas de risco ambiental, com base na caracterização dos elementos físicos e sociais do Município de Marechal Cândido Rondon. Objetivos específicos: - Estruturar um banco de dados geográfico da área de estudo a partir de arquivos vetoriais, matriciais e tabelas; - Levantar dados socioambientais e confeccionar as respectivas cartas temáticas de hipsometria, declividade, forma das vertentes, uso e ocupação da terra, solos, rede de drenagem, e cota de nível dos canais do rio São Francisco e Arroio Fundo da área de estudo; - Realizar o levantamento e mapeamento detalhado do solo do município de Marechal

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Cândido Rondon e elaborar o mapa de aptidão do solo. - Identificar e mapear áreas de riscos socioambientais como inundação, deslizamentos entre outros.

MATERIAL E MÉTODOS

- Levantamento bibliográfico, estruturação do banco de dados geográfico e armazenamento dos arquivos vetoriais e matriciais: limites políticos administrativos, dados de geologia, pedologia, geomorfologia e hidrografia, Carta Topográfica (1:50.000), imagens do satélite Landsat 8 – órbita/ponto 227/077 (bandas do visível e infravermelho), e imagem SRTM. Disponíveis nos sites das seguintes instituições: Instituto de Terra, Cartografia e Geociências (ITCG), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e Earth Explorer.

- Levantamento de dados referente à declividade, hipsometria, uso e cobertura da terra, rede drenagem, cota dos níveis dos rios e confecção das respectivas cartas temáticas a partir de aplicativos Spring 5.2, Qgis 2.4 e Arcgis 10.1;

- Mapeamento das classes de solo (1:50.000), a partir de trabalho de campo com base nas informações das cartas temáticas, seguido de sondagens com trado holandês e carta de cores de Munsell Soil Color Charts e abertura de trincheiras para observação, descrição e coleta de amostras dos perfis de solo conforme Santos (2005);

- Análises laboratoriais e classificação dos solos conforme Embrapa (2013);

- Análise espacial dos dados, a partir de testes e aplicação de pesos ponderados das variáveis levantadas para a elaboração do mapa de fator de risco ambiental no aplicativo Arcgis 10.1;

- Identificação e seleção de áreas de risco, elaboração da carta de aptidão de uso e ocupação do solo; e elaboração da carta de recomendações para ocupação do solo a partir do aplicativo Arcgis 10.1 e Qgis 2.4.

AGRADECIMENTOS

À Capes pela concessão da bolsa de estudos. À UNIOESTE pela oportunidade concedida a

mim em desenvolver a presente pesquisa. Ao Profº Dr. Ericson Hideki Hayakawa e à

Profª Dra. Vanda Moreira Martins.

REFERÊNCIAS EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Sistema Brasileiro de Classificação

dos Solos. Brasília: Centro Nacional de Pesquisa de Solos/ serviço de Produção e Informação, 2013.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em<http://www.ibge.gov.br/home/> Acesso em Julho de 2015.

SANTOS et al. Manual de descrição e coleta de solo no campo. Viçosa, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2005, 100p.

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Projetos de recuperação ambiental na pedreira Drisner, Maripá (PR)

Lidiane Kraemer Uhry (1); Oscar Vicente Quinonez Fernandez (2). (1) Estudante; Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Marechal Cândido Rondon - PR. [email protected]; (2) Orientador; Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Marechal Cândido Rondon – PR

.

RESUMO: A mineração representa um dos setores mais importantes da economia, porém não se podem ignorar os problemas ambientais gerados por essa atividade. Dentro do contexto mineral ocorrem as seguintes degradações ao meio ambiente: destruição da paisagem, poluição dos recursos hídricos, poluição do solo, poluição do ar e danos à fauna e a flora. Diante disto, é necessário que as empresas mineradoras promovam a recuperação das áreas degradadas durante e após o término da exploração mineral. Esta pesquisa visa propor medidas de recuperação ambiental para a pedreira Drisner de Maripá - PR. Para tanto, estão sendo realizados levantamentos bibliográficos, visitas a campo, coletas de imagens fotográficas e utilização de técnicas de geoprocessamento para elaboração de mapas temáticos. Com bases nessas informações, pretende-se apresentar projetos detalhados de recuperação ambiental que a empresa poderá utilizar após o término da extração de basalto.

Palavras-chave: Mineração; Impactos Ambientais; Recuperação de Áreas Degradadas.

INTRODUÇÃO Os problemas ambientais se tornaram um

assunto polêmico na atualidade, pois a espécie humana tem marcado profundamente sua atuação sobre a superfície do planeta. Para que o homem possa satisfazer as suas necessidades básicas e melhorar as condições de vida, ele depende da exploração dos recursos naturais, e este processo tem gerado muitas consequências negativas ao meio ambiente, pondo em risco o futuro do planeta e das futuras gerações.

A agricultura e a mineração se apresentam como os setores primários da economia de um país, ambos fornecem toda a matéria prima que a sociedade necessita. No entanto, os mesmos causam significativos impactos ao meio ambiente.

Através da mineração são extraídos da natureza os minerais não metálicos, destinados principalmente para a construção civil; os metálicos, empregados na siderurgia e metalurgia para a produção do ferro, aço, laminados, etc., e os minerais energéticos que são utilizados para a produção dos combustíveis, fertilizantes e diversos produtos químicos (Mineropar, 2005).

Os minerais não metálicos, também chamados de agregados (argila, areia e brita) são produzidos em grande escala, pois são recursos encontrados em abundância na natureza, e consequentemente são caracterizados pelo baixo custo, representando um dos itens de menor valor para a construção civil. Esses minerais são comumente extraídos em minas a céu aberto, também denominadas de pedreiras.

A maioria dos bens minerais é extraída por métodos tradicionais em superfície (a céu aberto) ou subterrâneos (em subsuperfície). O nível do impacto gerado ao meio ambiente pela extração mineral varia de acordo com o método de lavra utilizado.

O comprometimento ambiental mais visível ocorre nas lavras a céu aberto, onde o aproveitamento mineral é maior. Os problemas ambientais estão associados às diversas fases de exploração mineral como abertura da cava, (retirada da vegetação, movimentação de terra, alteração da paisagem), uso de explosivos para o desmonte das rochas (sobrepressão atmosférica, vibrações, lançamento de fragmentos, gases, poeiras, ruídos), e o transporte e beneficiamento dos agregados. Tais atividades afetam a água, solo, ar e a população das áreas circunvizinhas (BACCI et al., 2006).

O minerador tendo consciência dos impactos ambientais deve tomar medidas para controlá-los, promovendo a recuperação da área durante o processo de extração mineral, assim como também recuperar totalmente a área após o término da lavra.

São diversas as soluções utilizadas para recuperação ambiental em pedreiras. Estas buscam o desenvolvimento sustentável, e ao mesmo tempo trazer mais valia ao local

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explorado, tornando uma nova fonte de lucro associada à preservação do meio ambiente.

Os modelos de recuperação podem ser agrupados em três principais tipos: a restauração, a reabilitação e a reconversão. A restauração possui o objetivo de devolver o estado original removendo a causa de degradação, ou seja, é realizada a recuperação mais próxima do estado preexistente. A reabilitação promove uma recuperação das funções e processos naturais dentro do contexto da perturbação, ou seja, produz um ecossistema alternativo compatível com a envolvente, cuja recriação se pode aproximar em maior ou menor escala do estado ideal. E a reconversão visa uma utilização do espaço para outros usos, distintos dos originais, não obrigando, necessariamente, à revegetação das áreas (Bastos & Silva, 2006).

As formas de recuperação das áreas degradadas por mineração são infinitas. Griffith (1980) indica diversas práticas de recuperação já utilizadas em áreas previamente mineradas como: pastagem para gado, reflorestamento com árvores de valor comercial, loteamentos ou áreas residenciais, parques e áreas de recreação, área de conservação da fauna, área para criação de peixes, captação de água ou aterro para depósito do lixo ou restos de construções provenientes da área urbana.

Existem diversos exemplos de recuperação de áreas já praticados no mundo, como a ópera de arame e o espaço cultural Paulo Leminski em Curitiba, o Estádio municipal de Braga em Portugal, a Ópera de Dalhalla na Suécia, o projeto do Éden na Inglaterra e o parque das Mangabeiras em Belo Horizonte.

Considerando esses exemplos, esta pesquisa tem como principal objetivo detalhar propostas de recuperação ambiental que poderão ser utilizadas pela pedreira Drisner, localizada no município de Maripá – PR, num futuro próximo. O inicio da produção de agregados na pedreira começou em 2013 numa área de 2 alqueires.

MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa está sendo desenvolvida em três etapas:

Levantamento de dados

Levantamentos de dados e documentos da pedreira com o auxilio dos responsáveis pela mesma. Pesquisas bibliográficas sobre os impactos ambientais ocasionados pelas pedreiras, assim como também, dos tipos de recuperação já praticados e as respectivas legislações que regem a recuperação de áreas degradadas por atividades de mineração.

Levantamento de campo e confecção de cartas

Estão sendo realizadas visitas a pedreira para observação da paisagem local e o processo produtivo da pedreira. Empregando técnicas de geoprocessamento serão elaboradas cartas temáticas (hipsometrico, declividade e uso/cobertura da terra) em torno da pedreira.

Elaboração de projetos de recuperação ambiental

Tendo como base os planos de expansão da frente de exploração da pedreira, planeja-se definir cenários futuros com diferentes cavas de extração e calcular as dimensões físicas das cavas (área e volume) através de cartas plani-altimétricas a serem geradas com técnicas de geoprocessamento. Estas informações serão úteis para elaborar projetos de recuperação para os diversos cenários. Essas sugestões poderão ser acatadas pela empresa para melhorar o projeto de recuperação da área degradada (PRAD) e o plano de controle ambiental (PCA), exigidas pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP).

Os projetos a serem detalhados poderiam incluir a inundação das cavas para formação de açude visando a criação de peixe, enchimento mínimo das cavas com terras apropriadas para reflorestamento (árvores nativas ou comerciais) ou produção de grãos (soja,milho).

REFERÊNCIAS

BACCI, Denise de La Corte; LANDIM, Paulo Milton Barbosa; ESTON, Sérgio Médici de. Aspectos e impactos ambientais de pedreira em área urbana. Revista Escola de Minas. Ouro Preto, v 1, n. 59 , P. 47-54, 2006.

BASTOS, Mario; SILVA, Isabel Azevedo. Restauração, reabilitação e reconversão na recuperação paisagística de minas e pedreiras. Revista Aniet. São Paulo, 13 p. 2006.

GRIFFITH, James J. Recuperação conservacionista de superfícies mineradas: uma revisão de literatura. Boletim técnico, Viçosa. Minas Gerais. Universidade Federal de Viçosa. N. 2, 1980. 51 p. Disponível em < https://geografiaambiental.files.wordpress.com/2010/12/recuperac3a7c3a3o-degradas.pdf> acesso em 29.04.2015.

MINEROPAR. Minerais do Paraná S.A. A indústria mineral paranaense e sua participação no numero de estabelecimentos, de empregos e no valor adicionado fiscal da indústria do estado e de suas regiões - 1999 e 2003. Curitiba, 2005.

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Disponível em< http://www.mineropar.pr.gov.br/arquivos/File/publicacoes/industria_mineral.PDF> acesso em 10.02.2015.

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Proposta metodológica para a análise da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Cascavel – Paraná

Greicy Jhenifer Tiz (1); Maria Teresa de Nóbrega (2) ; José Edézio da Cunha (3) (1) Estudante de pós-graduação e Geografia; Universidade Estadual de Maringá; Maringá, Paraná; [email protected]; (2) Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia; Universidade Estadual de Maringá; [email protected]; (3) Docente dos cursos de graduação e Pós-Graduação (mestrado); Universidade Estadual do Oeste do Paraná; [email protected].

RESUMO: O espaço urbano reflete a estrutura social que, por estar dividida em classes, produz um espaço também dividido, marcado por diferentes usos e ocupações do solo e pela segregação socioespacial. A cidade de Cascavel, que faz parte da região Oeste do Estado do Paraná, vem passando, desde a década de 1970, por um processo de êxodo rural, que tem gerado problemas ambientais e sociais, o que justifica a aplicação de uma metodologia para a análise da vulnerabilidade socioambiental. O presente trabalho, por esse motivo, tem como objetivo principal apresentar a proposta metodológica para a análise da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Cascavel, Paraná. Para tanto, foram selecionadas 27 variáveis de cunho social, econômico, ambiental e habitacional, que culminarão na elaboração de uma carta de vulnerabilidade socioambiental. Palavras-chave: urbano, mapeamento, pobreza.

INTRODUÇÃO O espaço urbano reflete a estrutura social que,

por estar dividida em classes, produz um espaço também dividido, marcado por diferentes usos e ocupações do solo e pela segregação socioespacial (SOUZA; SANTOS, 2006, p.121-123).

Neste contexto, estudos com enfoque socioambiental são relevantes, na medida em que as áreas de risco e de degradação ambiental também são, na maioria das vezes, áreas de pobreza e privação social .

Em decorrência da relevância que os estudos socioambientais têm adquirido na atualidade, é importante identificar e discutir quais os indicadores sociais, econômicos e ambientais que melhor viabilizam esses estudos.

Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo principal apresentar a proposta metodológica para a análise da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Cascavel, Paraná.

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA

A cidade de Cascavel – Paraná, a qual dar-se-á enfoque, faz parte da região Oeste do Estado do Paraná e está localizada no divisor de águas dos rios Piquiri, Paraná e Iguaçu.

Durante a década de 1970 a Revolução Agrícola no campo da região Oeste, bem como a ocorrência de geadas e secas na segunda metade da década de 1970 e a desapropriação de terras agrícolas às margens do Rio Paraná, para a construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Itaipu em 1980, desencadearam o êxodo rural e o crescimento das cidades da região, dentre elas Cascavel (PFLUCK, 2002, p. 41-42). Em Cascavel, tal processo tem gerado vários problemas ambientais, principalmente devido ao desmatamento e a impermeabilização dos solos que alteram a dinâmica hídrica das bacias hidrográficas, e sociais, pois, vem se consolidando uma segregação socioespacial em Cascavel.

Essa realidade justifica a aplicação de uma metodologia para a análise da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Cascavel.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento do trabalho foram selecionadas 27 variáveis de fontes diferentes como IBGE, Imobiliárias, Prefeitura e Imagens de Satélite. Essas variáveis são de natureza diferente e utilizam unidades de medidas também diferentes.

Pensando em como compatibilizar tais informações para a elaboração de um índice de vulnerabilidade socioambiental, optou-se por utilizar os preceitos da lógica Fuzzy que fornece uma maneira de traduzir uma grande variedade de informações em uma linguagem comum (SILVERT, 2000, p.118).

Essa lógica estabelece conjuntos de graus de pertinência entre 0 e 1 em que quanto mais próximo a 0 maior a pobreza de uma área e, ao contrário, quanto mais próximo a 1 menor a pobreza da área. Para cada uma das 27 variáveis foi gerado um índice Fuzzy e confeccionada uma carta temática no software Arcgis® 9,3.

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Para a análise, os dados foram divididos em quatro grandes blocos:

- Vulnerabilidade Socioeconômica: Considera variáveis sociais como a Porcentagem de crianças com menos de 12 anos por setor censitário; Porcentagem de domicílios com mais de 6 moradores; Porcentagem de moradores analfabetos com 10 anos ou mais de idade; Porcentagem de população residente que frequentava escola ou creche com idades entre 6 e 17 anos; Porcentagem de pessoas de 10 anos ou mais de idade sem instrução e fundamental incompleto; Porcentagem de pessoas de 10 anos ou mais de idade com superior completo. Além dessas variáveis são consideradas outras econômicas que inclui Rendimento nominal médio, Porcentagem de domicílios com rendimento nominal mensal per capita de até 1/2 salário mínimo e Porcentagem de domicílios com rendimento nominal mensal per capita de mais de 10 salários mínimos. Essas variáveis foram obtidas por meio do Censo Demográfico do IBGE (2010).

- Vulnerabilidade de saneamento e equipamentos: Para o saneamento foram consideradas: a porcentagem de domicílios com acesso a água de companhia distribuidora, a porcentagem de domicílios com acesso à coleta de lixo, a porcentagem de domicílios com acesso a energia de companhia distribuidora e a porcentagem de domicílios com acesso a esgotamento via rede geral de esgoto ou pluvial, todas obtidas pelo IBGE (2010). Para os equipamento urbanos considerou-se os raios de abrangência das instituições de ensino fundamental, das instituições de ensino médio e das Unidades de Saúde. Foi incluído para o calculo dessa vulnerabilidade o Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU cobrado por metro quadrado de solo obtido através da prefeitura de Cascavel.

- Vulnerabilidade Ambiental: Inclui dados sobre os alagamentos obtidos por meio de Mapa com pontos de alagamento da prefeitura e as ocorrências de alagamentos por bairro adquirido através do Corpo de Bombeiros de Cascavel, as ocupações em Áreas de Preservação Permanente - APPs identificadas em imagens digital Globe e a Declividade obtida através do Arcgis 9.3 por meio de imagens SRTM. Essa vulnerabilidade conta também com dados referentes ao valor do solo urbano por m2 calculado através de dados de imobiliárias.

- Vulnerabilidade Habitacional: Conta com porcentagens de domicílios rústicos, Porcentagens de domicílios com 1 a 3 cômodos e Porcentagens de domicílios particulares permanentes sem banheiro de uso exclusivo dos

moradores (IBGE, 2010). Além disso, as Zona de Especial Interesse Social - ZEIS são também utilizadas como forma de compreender os conflitos urbanos de Cascavel.

Para a síntese das classes de vulnerabilidade e confecção de mapa de vulnerabilidade socioambiental de Cascavel, na função Raster Calculator do Arcgis® 9,3, serão, a princípio, utilizados nas cartas das variáveis anteriormente citadas para a confecção de cartas de vulnerabilidade (Socioeconômica, de saneamento e equipamentos, ambiental e habitacional), para posteriormente, através do estabelecimento de pesos para esses mapas, na mesma função, confeccionar a carta de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Cascavel.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração dessa metodologia foi possível através da análise de indicadores socioambientais, desde sistemas de indicadores até índices sistêmicos (monetários e físicos) conhecidos a nível mundial. Além disso, foram analisados índices brasileiros, particularmente os de cunho urbano.

REFERÊNCIAS

ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Sinopse/Agregados_por_Setores_Censitarios/. Acesso em: set. 2012.

http://www.pcs.usp.br/~lizmaria/fuzzy/130/EM130%282000%29111_119.pdf . Acesso em janeiro de 2014.

Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística. Censo Demográfico 2010. Disponível em:

PFLUCK, L. D. Mapeamento geo-ambiental e planejamento urbano: Marechal Candido Rondon-PR/1950-1997. Cascavel: Edunioeste, 2002, 128p.

SILVERT, W. Fuzzy indices of environmental conditions. Ecological Modelling 130 (2000) 111 – 119. Disponível em:

SOUZA, L. B. e; SANTOS, C. B. dos. O crescimento urbano e a ocupação de áreas sob riscos de escorregamentos na região Noroeste da área urbana de Juiz de Fora – MG. Boletim de Geografia. Universidade de Maringá: V.1, n.1, p. 121-127, 2006.

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Sucessão Ecológica do Parque Ecológico Rodolfo Rieger em Marechal Candido Rondon

Elcisley David Almeida Rodrigues(1) Karin Linete Hornes (2)

(1) Estudante de Graduação do Curso de Licenciatura em Geografia, Universidade Oeste do Parana (UNIOESTE) Campus de Marechal Candido Rondon/ PR Email: [email protected] (2) Professora Doutora do Curso de Licenciatura em Geografia/ Campus de Marechal Candido Rondon/ PR Email: [email protected]

RESUMO: O presente trabalho foi realizado no Parque Rodolfo Rieger, este localizado no município de Marechal Candido Rondon/ PR. O trabalho teve como objetivo a caracterização fitogeográfica em consonância com os fatores abióticos. A importância de caracterizar o desenvolvimento da Sucessão Ecológica poderá colaborar à busca de uma melhor conservação dos fatores naturais deste espaço. Com relação à metodologia, além de pesquisas bibliográficas, e análise de uma Imagem do Google Earth na qualificação da Sucessão vegetal, aplicou- se técnicas de parcelamento fixo nas áreas vegetadas do Parque. O resultado deste trabalho mostrou que o Parque é uma mancha de regeneração da mata nativa em pleno desenvolvimento e a instalação do parque tem auxiliado em seu processo de reestruturação. Palavras-chave: Parques Urbanos, Caracterização Fitogeográfica, Estratos Arbóreos.

INTRODUÇÃO

Uma área de distribuição biogeográfica de um espaço florestal representa uma projeção geográfica definida pelo conjunto de interações ecológicas de dadas espécies (FURLAN, 2009, p.100-101). O mesmo autor assevera que os estudos ecológicos devem ser analisados de acordo como as espécies reagem a diferentes tipos de solo, climas e formas de relevo. Assim estudos que viabilizem a verificação da regeneração do espaço permitem vislumbrar o retrato da evolução ecológica local.

A cidade de Marechal Rondon está localizada no Oeste Paranaense e segundo Ab´Saber ( 2003) está em uma área de transição de domínios morfóclimaticos. Nesta transição é possível encontrar traços de influência do Cerrado e das Araucárias. Esta diversidade pode ser explicada pelo avanço e recuo de paleoclimas presentes (AB´SABER, 2003 p.39-40).

Com relação a área de estudo, o Parque Ecológico Rodolfo Rieger é uma Área de

Preservação Permanente onde há diversas nascentes do Córrego Matilde Cuê. O local até o momento da institucionalização era utilizado para atividades agrícolas e mantinham uma parcela de suas áreas com vegetação “nativa”. Com a institucionalização do Parque em meados de 1998 permitiu-se que a Floresta Estacional Semidecidual se desenvolvesse.

Com as Imagens do Google Earth Pró (2014) foi possível a identificação de três padrões que representam a evolução fitogeográfica aparente dos estágios de Mata Nativa e para a confirmação foram necessários trabalhos de campo e técnicas Parcelamento.

MATERIAL E MÉTODOS

Na realização deste trabalho elaborou-se

um levantamento bibliográfico a respeito do Parque Ecológico como informações geológicas, climáticas, pedológicas, hídricas e fitogeográficas. Foram utilizados para tanto trabalhos que tratam a respeito da Geologia do Paraná e Geomorfologia com base na Mineropar (2013), Maack ( 2012). A Fitogeografia teve como base a classificação utilizada por Roderjan (2002) e o IBGE (2012). E Na caracterização do parque e seu entorno foram utilizados autores como Tiz & Nóbrega (2014) e Bade (2012). Além destes trabalhos foi utilizada uma Imagem de Satélite do Google Earth Pró (2014) para verificar as diferentes texturas da vegetação na busca de evidencia de evolução. Após esta verificação sucedeu- se as atividades de campo para a implantação dos parcelares e levantamento das espécies vegetais. Esta metodologia fundamentada em Furlan ( 2009) teve como objetivo a qualificação da sucessão ecológica, com total de 6 parcelares.

Os parcelares foram georeferenciados com GPS da Marca Garmin E- trex: Legend C que permite identificar a altitude, a trena a Laser Leica Disto D210 foi utilizado para aferição das alturas das árvores para o reconhecimento dos Estratos arbóreos. Após o término do trabalho de

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campo deu- se início dos dados e efetivação da conclusão.

RESULTADOS

Com base nos parcelamentos foram

divididas de três em três. O parcelamento de número 1, 2 e 3 foi definido com base em uma espécie de Paineira Rosa (Ceiba speciosa) onde está em um Estrato de Dossel com aproximadamente 26, 5 metros de altura. Ao redor existe a presença de árvores arbustivas como a Leucena (Leucaena leococephala) e Monjoleiro (Senegalia polyphylla) com cobertura vegetal definida como sub-bosque.

Nos parcelamentos de número 4, 5 e 6 tem- se a presença do Ipê Amarelo (Tabebuias serratifolia) com algumas arvoretas pequenas como a Laranja do Mato (Actinostemon Concolor) e próximas a ela há presença de espécies exóticas como o Coqueiro (Cocos nucifera), Bananeira (Musa sp) e o Cactus ( Opuntia cochenilifera).

Nesta parcela a vegetação dá mostras de que ainda está se desenvolvendo de forma mais lenta que os parcelares anteriores e neste espaço quase não há sub-bosque somados ao fato de que no local a mata não é tão cerrada quanto aos outros. Uma possível resposta a esse fraco desenvolvimento é o tipo de Solo, apresentando- se mais Argiloso e mal drenado que outros parcelares.

CONCLUSÕES

O parcelamento permitiu identificar três

estratos: os arbustivos, o arbóreo e o dossel conforme classificação de Furlan (2009). A qualificação das espécies possibilitou afirmar que a grande parcela da vegetação pertence a floresta Semidecidual e que existe a presença de algumas espécies nativas da floresta Ombrófila. Existe grande possibilidade de exemplares da Floresta Ombrófila terem se desenvolvido devido a influência climática. Há também exóticas como o Capim Elefante Comum (Pennisetum purpureum Schum), que são grandes as possibilidades das atividades antrópicas no local. Há também algumas espécies que são comuns na Savana como é o caso do Cactus Mandacaru (Cereus Jamacaru). No entanto a grande predominância é da floresta Estacional Semidecidual tais como o Açoita Cavalo (Luehea divaricata), Branquilho ( Syagrus romanzoffiana) e a Sapopema ( Sloanea Retusa).

No Parque Ecológico não há árvores com altura superior a 30 metros, sendo as maiores a Painera Rosa (Ceiba speciosa) com 26,5 metros e o Ipê Amarelo (Tabebuias serratifolia) com 19 metros. Este dado permite afirmar que no Parque existem os Estratos Arbustivos e Arbóreos. Assim pode se concluir que a área vegetada está ainda em estágio de desenvolvimento ou regeneração, pois algumas árvores possuem altura inferior a 25 metros e é grande a porcentagem de arvoretas com metragem inferior a 15 metros.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus pais e minha esposa pela compreensão, A professora Orientadora Karin Hornes pela paciência, dedicação e colaboração nos empréstimo, dos instrumentos utilizados.

REFERÊNCIAS AB,SABER, Aziz. Os Domínios de Natureza no Brasil: Potencialidades Paisagísticas. São Paulo: Editor Ateliê. 2003. BADE, Cristiane. A especulação do Solo Urbano em Marechal Candido Rondon (1980- 2008) – Uma análise sobre as relações políticas e empresariais, 2011, 206 p. Dissertação de Mestrado em Historia. Universidade do Oeste do Paraná- Campus de Marechal Candido Rondon PR: 2012. BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estática- IBGE. Manual Técnico da Vegetação Brasileira, 2º ed. In: Manuais Técnicos em Geociências. Rio de Janeiro: 2012. FURLAN, Sueli Ângelo. Técnicas de Biogeografia. 2ª ed. In: VENTURI, Luis Antonio Bittar (Org). Praticando a Geografia: Técnicas de Campo e Laboratório, 2005. São Paulo. Oficina de Textos: 2009. MAACK, Reinhard.Geografia Física do Estado do Paraná- 4ªed. Ponta Grossa. Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa: 2012. PARANÁ, Serviço Geológico (MINEROPAR). Geomorfologia do Estado. Curitiba: 2013. RODERJAN, Carlos Velloso et.al. As Unidades Fitogeográficas do Estado do Paraná. Curitiba: Revista Ciências e Ambiente. Curitiba: 2002. n.01, p. 76-93, (Jul/2002). TIZ, Jhenifer Greicy, NOBREGA, Maria Teresa. O Parque Ecológico Rodolfo Rieger: Sob a Ótica da Ecologia da Paisagem. In: Anais do I Encontro Regional de Geografia da Universidade Estadual de Maringá. Maringá PR. 2014.

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RESUMOS COMPLETOS

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A evolução da ciência geográfica e o estudo da paisagem: subsídios ao zoneamento socioambiental(1).

Maicol Rafael Bade(2)

(1) Trabalho executado com recursos da CAPES. (2) Doutorando em Geografia Universidade Estadual de Maringá e professor da rede estadual de educação; Quatro Pontes, Paraná; [email protected].

RESUMO: O presente artigo busca, por meio de uma análise integrada, o estudo da evolução do pensamento geográfico nos estudos da paisagem e, a partir desta análise, propor subsídios para o zoneamento socioambiental. O uso e a ocupação das terras pela sociedade nem sempre ocorrem de forma adequada. As práticas e as técnicas adotadas para o uso do espaço urbano e agrícola, muitas vezes são impróprias, pois levam à ocupação e à expansão irregular para áreas protegidas, como as reservas legais e as matas ciliares. Como consequência ocorre a degradação ambiental e a diminuição da qualidade de vida da sociedade inserida nesse ambiente. Para atingir os objetivos propostos, será necessário a análise da evolução do pensamento geográfico, abordando seus principais autores, desde o nascimento da ciência geografia, sua evolução, e suas principais concepções nos dias atuais. Esse estudo permitirá o reconhecimento das relações que se estabelecem, influenciam e constroem os mais diversos conceitos de paisagens por meio de um olhar histórico, fornecendo, através da proposta de zoneamento socioambiental, subsídios mais adequados para o planejamento e ordenamento territorial dos espaços geográficos. As pesquisas através da delimitação do território em zonas permitem a compreensão e representação frente à integração dos diversos elementos na paisagem, servindo como instrumentos de análise e planejamento dos ambientes. Palavras-chave: Pensamento Geográfico; Unidades de Paisagem; Planejamento Socioambiental.

INTRODUÇÃO Estudos e investigações voltados para a

avaliação do meio físico natural, quando relacionados às intervenções antrópicas, tornam-se importantes para o planejamento e ordenamento do território, pois contribuem para o

desenvolvimento socioeconômico e a conservação do meio ambiente (WIEGAND, 2009).

Silva (2010) enfatiza que os estudos de planejamento físico-territorial necessitam considerar tanto os aspectos físicos, quanto os socioeconômicos, pois estes são relevantes para o levantamento de informações de uma determinada região geográfica, já que o homem possui um papel importante na alteração das paisagens, sejam elas em meios urbanos ou rurais.

A análise e interpretação das informações ao nível ambiental, social e econômico, tornam-se fundamentais para a divisão do território em zonas homólogas na busca pelo correto desenvolvimento econômico e social. Esses estudos servem de base para o planejamento e ordenamento territorial dos gestores públicos permitindo assim uma análise múltipla e integradora do espaço geográfico.

Silva e Santos (2004, p. 227) definem como “Zoneamento” “a identificação e a delimitação de unidades ambientais em um determinado espaço físico, segundo suas vocações e fragilidades, acertos e conflitos, determinadas a partir dos elementos que compõem o meio planejado”. Para os autores a delimitação de zonas ambientais deve considerar o conceito de organização hierárquica presentes na natureza e a inter-relação entre os fatores ambientais, representando ainda as interações entre os meios físico, biótico e socioeconômico.

Esses estudos além de possibilitarem a elaboração de diretrizes fundamentais ao desenvolvimento socioeconômico garantem a qualidade ambiental e a melhoria das condições de vida da população com um desenvolvimento ordenado e racional.

Nesse contexto adota-se como conceito de paisagem aquele proposto por Deffontaines (1973) em que a “Paisagem é uma porção do espaço perceptível ao observador onde se inscreve uma combinação de fatos visíveis e

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invisíveis e interações das quais percebemos, num determinado momento, apenas o resultado global”.

Diante do exposto, o presente artigo abordará a análise da evolução do pensamento geográfico, destacando seus principais autores, desde o nascimento da ciência geografia, sua evolução, e suas principais concepções nos dias atuais. Esse estudo permitirá o reconhecimento das relações que se estabelecem, influenciam e constroem os mais diversos conceitos de paisagens por meio de um olhar histórico, fornecendo, por meio da proposta de zoneamento socioambiental, subsídios adequados para o planejamento e o ordenamento territorial dos espaços geográficos. A geografia pré-científica e os tratados descritivos

Conforme exposto por Costa e Rocha (2010), o período pré-científico na ciência geográfica se estendeu até o século XVIII, caracterizando-se como um conhecimento desprovido de sistematização, como também, de organização metodológica. O destaque para este período é para as pinturas rupestres em cavernas “[...] representando a organização espacial da sociedade, os estudos de astronomia, cartografia, correntes marinhas, organização social entre outros” (COSTA E ROCHA, 2010, p. 26).

Civilizações da Mesopotâmia e Egito já abarcavam o conhecimento e técnicas de medição e vazão dos rios, conhecimentos esses muito utilizados nas técnicas de irrigação para a prática da agricultura.

A partir do século V na Europa, o sistema de produção feudal, fortemente influenciado pela igreja católica, marcou um período de estagnação e retração do pensamento científico, sendo observados poucos avanços (COSTA e ROCHA, 2010). Neste período, o conhecimento científico ficava restrito aos mosteiros, altamente controlado pela igreja.

As grandes navegações portuguesas e espanholas marcam os séculos XV e XVI. Há um grande avanço no desenvolvimento das técnicas cartográficas. “Até o século XVIII, se destacam os estudos sobre relatos de viagens, estudos dos fenômenos naturais e a elaboração de mapas” (COSTA e ROCHA, 2010, p. 28).

Destacam-se também os trabalhos dos viajantes e exploradores, denominados neste período de naturalistas. As viagens, de modo geral, são vistas pela história natural como uma das etapas fundamentais na busca da transformação da natureza em ciência (KURY, 2001).

A organização e a institucionalização da Geografia nasceram primeiramente na Alemanha sobre a influência do positivismo, sendo os estudos de Humboldt e Ritter fundamentais no estabelecimento da disciplina como ciência (COSTA e ROCHA, 2010). Um fato marcante entre as obras destes dois importantes autores é o de associarem o homem à natureza em suas investigações, contribuindo para as primeiras ideias científicas na abordagem da paisagem como conceito geográfico. A geografia clássica

O conceito de paisagem na geografia clássica passa a ser amplamente discutido nas obras dos alemães Alexander von Humboldt (Cosmos), Karl Ritter (A Geografia Comparada) e Friedrich Ratzel (Antropogeografia). Esses autores utilizam e difundem o termo Landschaft como conceito de paisagem.

No século XVIII, o naturalista Alexander Von Humbold teve uma importância fundamental para a ciência geográfica. Para a maioria dos historiadores da geografia, ele foi o primeiro a estabelecer as novas regras do pensamento geográfico moderno.

Entre o final século XVIII e início do século XIX, Humboldt participou de diversas viagens ao redor do mundo. Essas viagens tiveram um importante papel na formulação de suas ideias e teorias. “Em suas viagens teve a preocupação em entender as diferenças e similaridades entre as paisagens da superfície terrestre, usando para isso o método comparativo” (COSTA e ROCHA, 2010, p. 29).

Humboldt obteve influência através da convergência de três correntes de pensamento, a botânica e a geognosia (científicas) e o idealismo e o romantismo alemão (de caráter filosófico e literário) (CAPEL, 2007).

No processo de sistematização da geografia, “[...]Humboldt formulou o princípio da Causalidade, pelo qual deve-se estabelecer as causas de todo fenômeno a ser estudado; dizer o porquê dos fatos” (KREUTZER, 2006, p. 31).

Outro autor que teve grande importância para o nascimento da geografia como ciência foi Karl Ritter por meio de sua obra “A Geografia Comparada”. Para Ritter o princípio da geografia estaria na compreensão das relações dos fenômenos físicos e humanos. “Ritter buscava entender as relações dos fenômenos e formas da natureza com o homem” (COSTA e ROCHA, 2010, p. 30).

Ritter, formado em filosofia e história, deu uma importância muito grande para a história dos

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povos de cada região que ele estudava, “[...] entendia o espaço terrestre como o palco da história, e considerava que a maior harmonia entre o homem e a natureza se produz nos momentos de maior desenvolvimento cultural” (CAPEL, 2007, p. 44). Nesse sentido procurava compreender a relação que existia entre a geografia e a história.

Para Ritter os elementos naturais influenciam tanto os povos como os indivíduos, porém com maior influência sobre os povos. Para ele todos os povos estão submetidos e influenciados pelos elementos e fatores naturais mesmo em lugares onde esses pareçam ser inexpressíveis (CAPEL, 2007). Ritter utilizava-se deste contexto para justificar a superioridade dos povos europeus aos demais povos, considerando o formato dos territórios como favoráveis ou não a evolução das sociedades.

Com as contribuições de Ritter, a geografia torna-se uma ciência enciclopédica com o conhecimento organizado pelas descrições e análises de determinados países e regiões, justificando assim sua obra “A Geografia Comparada” (SCHIER, 2003).

Já a geografia de Friederich Ratzel apresenta-se como um importante instrumento de legitimação do Estado alemão no processo de expansão de seus territórios. “A sociedade, para Ratzel, é um organismo que mantém relações com o solo para garantir a sua posse, a sociedade cria o Estado e a perda de território seria a maior prova de decadência de uma sociedade” (KREUTZER, 2006, p. 33).

Para Ratzel o conceito de paisagem seria o resultado do distanciamento do espírito humano do seu meio natural. A paisagem para Ratzel não exercia influência direta sobre a cultura dos povos, contrariando sua visão propagada como geo-determinista (SCHIER, 2003).

Contemplando a geografia clássica, merece destaque ainda Paul Vidal de La Blache. Contemporâneo de Ratzel e crítico a geografia determinista, compreende as relações mútuas entre o homem e o ambiente físico em que não é possível estabelecer limites entre os fenômenos de ordem natural e os fenômenos de ordem cultural, pois os mesmos se interpenetram (SCHIER, 2003).

La Blache deu importância para o estudo das relações homem/meio, designando igual acuidade ao estudo dessas relações, “[...] não havendo um domínio da natureza sobre o homem, nem deste sobre a natureza, mas possibilidades de influências recíprocas” (KREUTZER, 2006, p. 35).

Vidal descreveu realidades, criou categorias, noções gerais que constituem a base de seu

discurso teórico. São quatro as principais ideias dessa obra: organismo, meio, ação humana e gênero de vida. A Terra, a paisagem, a região, nações, etc., são concebidas como organismos. A noção de organismo leva a considerar o ser como sua própria causa final, sua função de ser.

O meio corresponde à função de forças de origens diversas que agem simultaneamente, dando-lhe uma forma. O meio aparece como totalidade, que é a reunião de diversos elementos em conexão, e ao mesmo tempo causa e efeito uns dos outros. Esse meio está sujeito a transformação humana, que tem papel central na organização do meio. A análise da paisagem no início do século XX

O início do século XX foi marcado por

inúmeros pensadores neokantianos apoiados principalmente pela ideia de ciências nomotéticas e idiográficas (SCHIER, 2003).

Neste período destacam-se os trabalhos de Hettner que como muitos geógrafos desta época possuem seus trabalhos fortemente influenciados pela geografia alemã “[...] e veem na paisagem um conjunto de fatores naturais e humanos, reunindo-os num conceito regional, passando as delimitações entre a geografia física e a humana” (SCHIER, 2003, p. 83).

Na época, os trabalhos de Hettner obtiveram pouca projeção. Foi somente através de Richard Hartshorne que se discutiu amplamente as propostas de Hettner que, “[...] esboçando o domínio cultural dos EUA no ocidente, após a Primeira Guerra Mundial, fez severas críticas às discussões entre possibilismo e determinismo” (KREUTZER, 2006, p. 37).

Baseado no estudo da diferenciação de áreas, em que busca a integração entre os mais diversos fenômenos heterogêneos, Hartshorne foi considerado um dos grandes divulgadores do método regional.

Assim como Hettner, Hartshorne faz duras críticas ao dualismo entre a geografia física e a geografia humana. Para ele, essa divisão não surge de uma necessidade interna da ciência geográfica, mas sim, de uma abstração filosófica que procurou separar o homem do meio (KREUTZER, 2006).

Nos anos vinte, na Alemanha, surge outra discussão correspondente ao conceito de paisagem. Apresentada por Ewald Banse e por Siegfried Passarge, esta nova discussão “[...] busca a “alma da paisagem” e o seu caráter pessoal [...]” (SCHIER, 2003, p. 83).

Diante do exposto, pode-se afirmar que o determinismo ambiental, o possibilismo e o

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método regional configuram-se como os três mais importantes paradigmas da geografia tradicional. “Estes dominaram a produção geográfica e o debate durante o final do século XIX, até meados da década de 1950. Mesmo na atualidade, ainda podemos observar vestígios das escolas tradicionais tanto no ensino como na pesquisa” (COSTA e ROCHA, 2010, p. 34). A Geografia pós II Guerra

A partir da década de 1960 e sobre a influência da Teoria Geral dos Sistemas, Viktor Sochava apresenta-se como um dos grandes expoentes e divulgadores desta teoria por meio do estudo do Geossistema.

A Teoria Geral dos Sistemas Dinâmicos buscava uma explicação dos fenômenos não somente no estudo das partes e dos processos isoladamente, mas, também, nos processos e eventos resultantes da interação das partes, apontando para uma nova abordagem e leitura das paisagens (GUERRA; MARÇAL, 2006).

Nas décadas de 1960 e 1970, diversos autores utilizaram a abordagem sistêmica, com destaque para o geossistema, nos estudos geográficos: “[...] Neef (PASSOS, 1998, p. 67), Tricart (RIBEIRO, 1997), Chorley; Kennedy (GREGORY, 1992, p. 224), Hartshorne, Snytko (SANT’ANNA NETO, 1997, p. 159) dentre outros [...]” (VICENTE e PEREZ FILHO, 2003, p. 336). Entretanto, foi o geógrafo francês Georges Bertrand (1971) quem, utilizando a abordagem físico/territorial, simplificou e organizou as definições de unidades taxonômicas, denominadas: zona, domínio, região natural, geossistema, geótopos e geofácies.

Na segunda metade da década de 1970, Tricart (1976), com sua abordagem ecodinâmica, também contribuiu com as pesquisas de cunho sistêmico. O autor propôs o estudo das paisagens em três meios morfodinâmicos: os denominados estáveis (pedogênese predomina sobre a morfogênese), intergrades (equilíbrio entre pedogênese e morfogênese) e os meios fortemente instáveis (morfogênese predomina sobre a pedogênese). Esses estudos poderiam ser aplicados a partir de setores mapeáveis em que a estabilidade e instabilidade apresentar-se-iam como fruto da sensibilidade que o ambiente representa frente ao balanço pedogênese/morfogênese (TRICART, 1976).

A Teoria Sistêmica representou, também, uma grande ruptura paradigmática, pois trouxe para as ciências uma visão holística e interdisciplinar. Esta nova forma de compreender a natureza levou a uma leitura com ênfase nos aspectos

conectivos do conjunto, formando, assim, uma unidade. A paisagem como subsídio ao zoneamento socioambiental

Dessa maneira, com base na Teoria Sistêmica, que procura analisar o espaço geográfico em sua totalidade, abrangendo os aspectos naturais e humanos, compreende-se que o zoneamento socioambiental se torna um instrumento fundamental para a análise integrada da paisagem.

Para Sebusiani (2011), o pleno conhecimento dos espaços de uma dada região torna-se um referencial indispensável para o manejo voltado tanto para a exploração quanto para a conservação dos recursos naturais, e que determinam a qualidade de vida da comunidade.

Conforme descrito na Constituição Federal Brasileira de 1988, o artigo 225 define que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e as futuras gerações”.

O conhecimento do meio físico, aliado aos estudos de cunho demográfico, econômico e social, apresenta-se como importantes ferramentas aos estudos socioambientais. Elas fornecem subsídios para a gestão territorial e a elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), propondo, assim, zonas associadas não só a um modelo de uso, mas, também, à capacidade de suporte do meio ambiente e à vulnerabilidade ambiental.

Os estudos de dados socioeconômicos são importantes, pois permitem o conhecimento e a caracterização da sociedade, contribuindo para a realização do planejamento ambiental, econômico, social, cultural e político. Também com os censos demográficos pode-se acompanhar a evolução da ocupação do território, e realizar o planejamento para se garantir um mínimo de desenvolvimento econômico e social (CASAGRANDE, 2014).

Conforme Cabral et al. (2011), a natureza apresenta funcionalidade intrínseca entre suas componentes físicas e bióticas. Este princípio da funcionalidade baseia-se no conceito de Unidade Ecodinâmica preconizada por Tricart (1977).

Segundo Tricart (1976, p. 42), as pesquisas que abarcaram este ponto de vista dinâmico mostraram-se “[...] indispensáveis para abordar eficazmente, de maneira interdisciplinar, os problemas de valorização e de ordenação, pois

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as intervenções humanas que eles implicam modificam necessariamente as dinâmicas naturais”.

Esta nova abordagem representa o entendimento de que as paisagens se encontram em constante mudança. Conforme Tricart (1976, p. 19): “A dinâmica de hoje gera em parte, o quadro fisiográfico onde se exercerá a dinâmica de amanhã”.

O reconhecimento e a interpretação através da análise das diferentes unidades de paisagens, por meio de um zoneamento socioambiental, são de fundamental importância para a compreensão do processo de organização espacial, em especial no que se refere às alterações ocorridas no ambiente, pois, com isso, pode-se ter um melhor planejamento de uso e ocupação da área, com consequentes readequações e monitoramentos que permitam garantir o uso racional e sustentável desses recursos, tanto no presente, quanto para as gerações futuras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das diversas concepções abordadas neste artigo, demonstra-se a evolução do pensamento geográfico, e a análise da relação homem/natureza, evidenciando que o entendimento do conceito de paisagem depende das concepções de cada período histórico, como também, de influências culturais de cada autor.

Frente a esses conceitos, conclui-se que os estudos de zoneamento socioambiental, constituem uma importante ferramenta para a elaboração do planejamento territorial ambiental, servindo como recurso e suporte aos gestores públicos e indispensáveis para a sustentabilidade ambiental.

As pesquisas através da delimitação do território em zonas permitem a compreensão e representação frente à integração dos diversos elementos na paisagem, servindo como instrumentos de análise e planejamento dos ambientes.

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Aplicabilidade do Código Florestal em APPs fluviais urbanas: estudo na cidade de Marechal Cândido Rondon – (PR) (1)

Josiane de Oliveira Medeiros Führ (2); Edson dos Santos Dias (3)

(1) Trabalho executado com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior (CAPES). (2) Mestre em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Campus de Marechal Cândido Rondon- PR; E-mail: [email protected] ; (3) Docente do programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Campus de Marechal Cândido Rondon-PR; E-mail: [email protected] .RESUMO : Os impactos ambientais em zona urbana ocorrem em um contexto diferente daqueles existentes em área rural e, portanto, requerem dispositivos legais ajustados às peculiaridades do caso concreto. Nesse sentido, a presente pesquisa, realizada na cidade de Marechal Cândido Rondon-PR, tem como objetivo analisar a aplicabilidade do Código Florestal Lei 12.651/12 em APPs de corpos d’água urbanos, embora a maioria da população desconheça essa aplicação e associe-o apenas as áreas rurais. Mediante a revisão bibliográfica, confecção e análise de mapas, trabalhos de campo e entrevistas foi possível constatar que na prática, as normas do Código relativas às APPs têm sido largamente desobedecidas, tanto em decorrência da proliferação de assentamentos informais, como pela implantação de projetos de parcelamento urbano. Observam-se ainda grandes contradições nas normas que regulam as APPs entre a legislação ambiental e urbanística, tanto na esfera federal como municipal. Diante disso, o estudo realizado, visa contribuir para essa questão polêmica e atual, ao analisar as alterações trazidas com a promulgação da nova lei, que de forma direta, afeta a qualidade de vida da população urbana. Palavras-chave: Legislação ambiental, córregos urbanos, planejamento.

INTRODUÇÃO

Nos termos da Lei federal 12.651/12, Área de Preservação Permanente é a “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das

populações humanas. ” (Art. 3°, II). São áreas nas quais, por imposição da lei, a vegetação deve ser mantida intacta, de modo que a supressão total ou parcial pode ser autorizada somente em caso de utilidade pública e interesse social, conforme o art. 8º do novo Código Florestal Brasileiro – 12.651/12.

Observa-se, no entanto, que o Código Florestal não estipulou faixas de preservação permanente diferentes para áreas urbanas e rurais. Mesmo remetendo a responsabilidade de definição da largura das faixas de APP para o Plano Diretor Municipal, o Código não prevê a hipótese de redução dos limites nele definidos, o que gera controvérsias, em se tratando de política urbana.

A redação ambígua em vários dispositivos do Código Florestal permite variadas interpretações no que se refere ao limite mínimo exigido para as APPs do Perímetro urbano. Alguns consideram que o Plano Diretor deve estipular esses limites em seus municípios; outros mencionam o Código como Lei de “teto”, ao qual o Plano Diretor estaria subordinado; outros ainda consideram que o Código Florestal não se aplicaria às áreas urbanas, as quais estariam sujeitas apenas ao Plano Diretor e às leis de uso e ocupação do solo.

Nesse sentido, o presente trabalho visa contribuir com a discussão acerca das efetivas condições de aplicação do Código Florestal (Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012), mais especificamente sobre as APPs fluviais urbanas, haja vista que existem inúmeros argumentos contrários a essa execução. A partir de uma análise crítica, se tem por finalidade sistematizar os dados de uso e ocupação do solo, conflitos existentes e revisão bibliográfica com ênfase na importância da Área de Preservação Permanente, para propor subsídios de intervenção na legislação.

A pesquisa possui relevância por abordar uma questão polêmica e atual, alvo de discussões em todo o país que é a redefinição do Código Florestal Brasileiro. As alterações elencadas para a nova legislação afetam diretamente as

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condições de vida da população, bem como, o meio natural, que se torna mais vulnerável. Sendo assim, o estudo contribui para o planejamento da ocupação dessas áreas de maneira mais efetiva e adequada.

É importante ressaltar que o momento atual de instituição do novo Código Florestal é muito propício para essas discussões, não apenas acerca das novas alterações trazidas com a legislação, mas, principalmente, para o estudo do novo rearranjo espacial urbano e consequente reorganização territorial que estas mudanças vão originar.

Diante do exposto, tem-se por objetivo principal analisar e discutir a aplicabilidade do Código Florestal nas APPs da Cidade de Marechal Cândido Rondon- PR, tendo em vista a controvérsia existente entre os parâmetros estabelecidos pela legislação ambiental e urbanística, tanto na esfera federal como municipal. De forma secundária, propõe-se verificar as mudanças do novo Código Florestal em relação às APPs fluviais urbanas e analisar as condições socioambientais atuais das faixas de preservação da cidade de M.C.Rondon.

MATERIAL E MÉTODOS

No decorrer da pesquisa foram utilizados como procedimentos metodológicos o estudo e revisão bibliográfica sobre temas referentes à expansão urbana, problemas ambientais, APP, parques lineares, legislação ambiental e principalmente os estudos ligados ao novo Código Florestal, de modo a acompanhar as mudanças relacionadas à delimitação de Áreas de Preservação Permanente.

Para melhores resultados, foram analisadas as resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Plano Diretor Municipal. Também foram aplicadas algumas entrevistas aos representantes do legislativo e membros do conselho do Plano Diretor municipal de Marechal Cândido Rondon.

O levantamento das condições socioambientais das Áreas de Preservação Permanente do perímetro urbano foi feito a partir de trabalhos de campo, descrição da situação encontrada, registro fotográfico, comparação com os mapas cartográficos do Plano Diretor e visualização das condições atuais através de imagens de satélite utilizando o Google Earth.

Após os trabalhos de campo, foram descritas e sistematizadas as informações obtidas para a confecção do mapa das faixas de preservação

permanente da Sede Municipal. Os softwares utilizados para organizar e elaborar as informações Geográficas serão, respectivamente, o Global Mapper 13 e o ArcGIS 9.3.

Nos trabalhos de campo, foram observadas e descritas variáveis como: tipo de solo, relevo, presença/ausência de mata ciliar, geologia, curso d’água, impermeabilização, ocupação, uso do solo, etc., de cada uma das cinco áreas de preservação permanente urbanas: do Córrego Guavirá, Guará, Bonito, Matilde Cuê e Borboleta. Posteriormente, esses dados foram correlacionados às leis e diretrizes ambientais, de modo a analisar a eficácia da norma e o seu nível de aplicabilidade no meio urbano.

O mapa de localização das APPs possibilitou a compreensão das características da ocupação urbana em fundos de vale, uma vez que os dados foram organizados de modo a representar fragmentos espaciais onde ocorrem intensa ocupação urbana em APP, além de áreas ainda preservadas, no sentido de evidenciar a manutenção da vegetação ciliar.

A elaboração do mapa de tendência de expansão só foi possível pelo trabalho de consulta direta nos arquivos e relatórios disponíveis no Escritório Regional do IAP/TOLEDO, jurisdição responsável em emitir o parecer quanto à liberação de novos empreendimentos imobiliários para a cidade de Marechal Cândido Rondon.

Com os dados disponíveis no IAP sobre os empreendimentos imobiliários aprovados para Marechal Cândido Rondon, foi possível desenvolver um mapa de localização para as três licenças ambientais: prévia, instalação e operação. O objetivo da consulta não foi apenas localizar e quantificar esses loteamentos, mas, obter informações e dados qualitativos a respeito do andamento desses empreendimentos, que não estão disponíveis para consulta pública no site do IAP.

ALTERAÇÕES NOS CRITÉRIOS DE GESTÃO DA APP FLUVIAL URBANA COM O NOVO CÓDIGO FLORESTAL

No que se refere ao Novo Código Florestal

(12.651/12), destacam-se duas alterações importantes no que tange às APPs fluviais urbanas: uma está relacionada à referência sobre a qual eram estabelecidas as faixas de APPs, e a outra diz respeito à autorização para intervir ou suprimir nessas faixas. Ressalta-se que ambas foram criadas para flexibilizar os critérios de proteção.

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O antigo Código Florestal (Lei 4.771/65) estabelecia que a delimitação das faixas marginais, seria do nível mais alto, ou seja, a partir do limite do rio no período das cheias. Já no atual Código, o cálculo é feito a partir da “borda da calha do leito regular” (art. 4, inciso I), de modo que as áreas de inundação que estiverem fora dos limites estabelecidos a partir do leito regular do curso d’água não poderão ser consideradas como APP e poderão ser utilizadas.

Essa modificação, pautada em uma visão reducionista que visa atender interesses econômicos, reduzirá consideravelmente a extensão da área protegida. Acarretará na ocupação do leito maior de cursos d'água, sujeitos a inundações no período de cheias por assentamentos humanos. Com isso, é de se esperar o aumento de casos de danos materiais a plantações, criações, benfeitorias e edificações, além de sérios riscos a populações humanas.

Ocorre que durante a maior parte do ano, o rio apresenta a configuração designada tecnicamente como “leito menor”. Este corresponde à seção de escoamento em regime de estiagem, ou de níveis médios. Este leito é bem delimitado, encaixado entre as margens geralmente bem definidas e o escoamento das águas tem a frequência suficiente para impedir o crescimento da vegetação. O leito de vazante está incluído no leito menor e é utilizado para o escoamento das águas baixas. (PADILHA,2009, p. 46).

Contudo, em certas ocasiões, épocas de intensos índices pluviométricos, os cursos d’água ampliam sua faixa de domínio para além da configuração habitual. Essa região é denominada de “leito maior”, “planície de inundação” ou na linguagem popular brasileira de “Várzea”.

A outra alteração elencada no novo Código Florestal que se aplica as vegetações fluviais urbanas refere-se ao art. 8º que trata da supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente. Embora, o artigo mantenha o princípio de restringir o acesso a essas áreas apenas em casos enquadrados como utilidade pública, interesse social ou de baixo impacto, a mudança nas definições destes respectivos conceitos, incluiu novos tipos de usos, ampliando as chances de intervenção:

“VIII- Utilidade Pública: b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transportes, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos,

energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho; [...]

IX- Interesse Social: c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta lei; d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. (art. 3, VIII e IX, Lei 12.651/12. Grifo nosso).

A flexibilização da proteção ambiental contidas nestes parágrafos que permitem a implantação de aterros sanitários, locais para reciclagem de resíduos sólidos, quadras esportivas e até regularização fundiária de assentamentos informais em APPs fluviais urbanas, revela que o novo texto do Código Florestal Brasileiro apresenta vários conflitos típicos da tensão urbano-ambiental sobre essas áreas.

Nota-se que a legislação de proteção às margens de cursos d’água existente é insuficiente para direcionar as políticas públicas de urbanização de várzeas urbanas. Talvez seja necessária a criação de uma lei específica para esse fim no meio urbano. Segundo Padilha (2009, p. 101), tal lei deveria considerar, entre outras coisas, os critérios como o grau de urbanização e a proporção entre a área ocupada e as áreas verdes públicas em uma determinada bacia; o mapeamento das áreas de inundação e a possibilidade de implantação de estruturas de drenagem não convencionais; assim como a necessidade de um amplo plano viário e de consultas públicas que dêem suporte à decisão de implantar avenidas de fundo de vale.

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APLICABILIDADE DO CÓDIGO FLORESTAL EM APPs DE CÓRREGOS URBANOS

Com intuito de proteger as APPs, o art. 4º do

Novo Código Florestal estipula a largura mínima das faixas marginais de qualquer curso d’água: para um rio com até dez metros de largura, exige-se uma faixa marginal de trinta metros. Sendo a largura superior a dez metros, a faixa marginal será maior. No entanto, torna-se impossível exigir a observância dessa faixa marginal dentro de áreas urbanas consolidadas.

Além das faixas marginais, também são consideradas como Áreas de Preservação Permanente, os topos de morros e encostas com declividade superior a 45º. Ocorre que “[...] em qualquer cidade do nosso país existem construções nos topos de morros e nas encostas com declividade superior à indicada.” (PIETRE, 2010, p.3).

Dessa forma, poder-se-á dizer que a maioria das administrações públicas existentes no país, desde 1965, vem ignorando solenemente o art. 2º do antigo Código Florestal. Nota-se que em várias cidades, muitas residências estão instaladas nas encostas. No Rio de Janeiro, por exemplo, encostas com declividade superior a 45º abrigam favelas e casas de pessoas abastadas economicamente.

Pode-se observar ainda que o art. 22 da Constituição Federal não concedeu à União a competência privativa para legislar em matéria ambiental, não aparece o termo “meio ambiente” em qualquer dos incisos desse artigo. No caput do art. 24 consta que a União e os estados possuem competência para “legislar concorrentemente” em matéria ambiental (inc. VI), mas o parágrafo 1º esclarece que “a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais”.

Logo, aos estados compete estabelecer normas específicas em matéria ambiental. As normas gerais ficam com a competência da União, por expressa disposição constitucional (§1º, do art. 24). O município também possui competência legislativa em matéria de meio ambiente. A proteção ambiental que se encontra nos incisos VI e VII do art. 23 da Constituição

Federal, deve ser encarada como uma competência legislativa para o município.

Nesse sentido, para Pietre (2010, p. 7) é descabido que a delimitação do tamanho das faixas marginais de um rio seja feita por lei federal, uma vez que a norma incidiria em todos os rios existentes no Brasil. Isto é, esse dispositivo da legislação florestal não pode ser aplicado uniformemente em todo território nacional, dado que as bacias hidrográficas apresentam entre si ecossistemas completamente diferenciados.

Para Ab’ Sáber (2010, p. 117) em face do gigantismo do território brasileiro e da situação real em que se encontram os macro-biomas e os numerosos mini-biomas, faixas de transição e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança no “Código Florestal” deveria ter sido conduzida por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Segundo ele, por muitas razões, a revisão do Código Florestal, “[...] deveria ter envolvido o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território”.

Para o autor, o primeiro grande erro dos revisores do Código Florestal diz respeito à chamada “estadualização” dos fatos ecológicos de seu território especifico, sem lembrar que existem muitas questões referentes ao desmatamento que exigem ações conjuntas dos órgãos federais específicos e autoridades municipais. De modo que “[...] fica claro que, ao invés da 'estadualização', é absolutamente necessário focar para o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza do país.” (Ab’Sáber, 2010, p. 118).

Por outro lado, Pietre (2010, p. 7) defende que a proteção ambiental deve ser específica e individualizada, devendo o tamanho da faixa marginal dos rios ficar sob a responsabilidade do legislador estadual, o qual levará em consideração as necessidades da região. O autor acredita que essa delimitação não pode ser fixada de forma uniforme para um território nacional de dimensão continental. “Assim quis o constituinte de 1988, ao colocar que a competência da União seria apenas com relação às normas gerais”, afirma ele.

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No entanto, cabe refletir se cada estado fosse responsável em administrar e legislar por conta própria em matéria ambiental, a degradação da vegetação e mananciais poderia ser muito superior a que é hoje, tendo em vista que os interesses locais e políticos influenciariam de forma muito mais direta na elaboração e aplicação da lei. As pressões econômicas sobre os legisladores estaduais seriam constantes para cada vez mais flexibilizar as exigências legais.

No meio urbano, devido sua maior aglomeração, são maiores os impactos ambientais e a necessidade de busca por soluções imediatas. A falta de controle sobre o uso e ocupação do solo, a ocupação desordenada da terra, a especulação fundiária e imobiliária sem regulação e sem controle, a segregação urbana, os desastres decorrentes de ocupação de áreas de alta declividade e a impermeabilização de solo, são alguns dos fatores que exigem dispositivos legislativos adequados de regulação. (ALBUQUERQUE, 2012, p. 71).

Cabe, pois, ao Município proteger os recursos naturais existentes nas áreas urbanas sem perder de vista o objetivo maior da tutela ambiental: o bem estar social. Ou seja, busca-se uma articulação entre as políticas ambiental e habitacional, propondo critérios para a gestão ambiental das APPs inseridas em ambiente urbano por meio de “[...] políticas urbanísticas integradas que promovam a integração social e avancem no estabelecimento de um processo democrático de gestão ambiental urbana”.(SANTOS; CARVALHO, 2007, p. 9).

Essa ideia supõe uma análise caso a caso, a partir de um plano de ocupação da bacia hidrográfica, no qual fosse analisado o regime hídrico, a geologia, as atividades econômicas e sociais predominantes. O problema é que se a legislação federal for omissa a respeito de limites mínimos para as APP e tais planos não vierem a ser elaborados, provavelmente haverá a supressão da maior parte da vegetação que hoje protege os corpos d’água.

Nesse âmbito, uma das alternativas a ser analisada é a flexibilização das normas que regulam as APP em áreas urbanas, não no que se refere a limites, mas no que concerne ao uso.

Uma solução eficaz seria o uso das APP ao longo dos corpos d’água para implantação de infraestrutura de atividades a serem desenvolvidas ao ar livre, como parques e praças, haja vista que esta forma de uso garante não só a preservação da cobertura vegetal como assegura o cumprimento dos objetivos da APP.

Os Caminhos Verdes são uma forma de planejamento originada nos Estados Unidos que supõe a criação de um espaço estratégico que atenda a demanda urbana seja recreativa, cultural, estética ou ecológica, mas que possa conviver com as cheias periódicas dos rios. Por atender a essa dupla função, os Caminhos Verdes, usualmente chamados no Brasil de Parques Lineares (quando estão ao longo dos córregos urbanos) e Corredores Ecológicos (quando estão fora da malha urbana) se destacam como o projeto mais eficaz por conciliar recreação, embelezamento do urbano, controle da inundação e melhoria na qualidade da água. (TRAVASSOS, 2010, p. 52).

Segundo a autora, mais do que parques ou locais de amenidades os caminhos verdes representam uma adaptação e uma resposta, à pressão física e psicológica da urbanização. Ajudam a mitigar a perda de espaços naturais para o desenvolvimento e provem um contrabalanço a paisagem denominada pelas atividades humanas em expansão. (TRAVASSOS, 2010, p. 53).

Observa-se, portanto, de modo geral, que o Plano Diretor de desenvolvimento urbano deve estar em consonância com as disposições do Código Florestal, em especial àquelas que estabelecem o limite para as APPs, com vistas a evitar a degradação do meio ambiente e, em especial, dos recursos hídricos nas áreas urbanas, como bem define a Medida Provisória nº 2.166-67/2001. Isto é, o Plano Diretor somente poderá aumentar as faixas de preservação permanente.

CONCLUSÕES

Portanto, observa-se que o maior problema na

preservação das APPs urbanas, é o conflito na competência legislativa entre as esferas federal, Estadual e Municipal, que coloca em risco a aplicação da lei. Todavia, de acordo com o que foi

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discutido até aqui, fica evidente que, ao município cabe legislar sobre assuntos de interesse local, adequando-se à legislação Federal e Estadual, o que não o impede de editar leis mais restritivas que o Código Florestal. Não é a falta de uma lei, mas um conflito de competência legislativa, que leva a essa situação de risco das APPs, pois, se o município respeitasse a lei em vigor já seria suficiente para a preservação dessas áreas. (PADILHA, 2009, p. 95).

Pode-se dizer que o Código Florestal é um diploma legal de grande importância para a preservação do meio ambiente, mas sua utilização tem que ser feita com técnica e bom senso. Énotório que a aplicação do seu art. 4º nas zonas urbanas prejudica a conquista do desenvolvimento sustentável, mas o viés do progresso com o máximo possível de florestas em pé não pode ser eliminada por princípio em função de mudanças radicais do Código Florestal.

O não cumprimento do Código Florestal é evidenciado na medida em que se percorre a cidade e passa-se a observar a total falta de respeito para como o meio ambiente. O impasse no campo da hierarquização do poder não deveria existir, pois, na Constituiçao de 1988 está claro que a Lei Federal está acima de todas as outras. Apesar disso, a divergência se alimenta de conflitos de leis e de questionamentos acerca da competência legislativa dos entes federativos. (PADILHA, 2009, p.104).

Por conseguinte, a discussão sobre a aplicação do novo Código Florestal em APPs fluviais urbanas não tem apresentado resultados concretos suficientes, tendo em vista tratar-se de uma lei de aprovação recente que ainda indica muitos desdobramentos. Em vista disso, há a necessidade de se estabelecer exigências mínimas de proteção ambiental das APPs urbanas, mas com o cuidado dessas exigências não se basearem apenas na proibição de edificar ou ocupar e sim na obrigação efetiva de preservar e reflorestar a vegetação permanente .

AGRADECIMENTOS

Pelo financiamento da bolsa de Mestrado da

CAPES que permitiu uma maior dedicação para o desenvolvimento deste trabalho. Aos organizadores desse evento.

REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, Aziz Nacib. Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade. Terra e Didática. V. 7, nº 2. p.117-123, 2010.

ALBUQUERQUE, Elaine, Morais de. APP fluvial urbana: Navegando entre o sensível e a pressão. 2012,Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

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BRASIL. Constituição Federal. Promulgada em 05 de outubro de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1998. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 de junho de 2014.

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PADILHA, Daniele, Corrêa de Castro. Estudo de Áreas de Preservação Permanente (APP’s) de

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corpos d’água em zonas urbanas como subsídio á legislação pertinente. 2009. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2009.

PADILHA, D. C. de C; SALVADOR, N. N. B. Estudo das Áreas de Preservação Permanente (APP’s) de corpos d’água em zonas urbanas como subsídio a legislação pertinente. In: XIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL. Florianópolis, 2009. Anais... Santa Catarina: UFSCar, 2009.

PIETRE, R. O Código Florestal e as zonas urbanas. 14 dez. 2010. Disponível em <http://www.oeco.com.br/convidados-lista/16750-oeco_15034>. Acesso em: 21 nov. 2012.

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TRAVASSOS, L. R. F. C. Revelando os rios: novos paradigmas para intervenção em fundos de vale urbanos na cidade de São Paulo. 2010. Tese (Doutorado em Ciência Ambiental) – UNESP, São Paulo, 2010

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Caracterização geoambiental na bacia hidrográfica dos córregos Pedra e Três Ranchos, município de São José das Palmeiras – PR.

Bruno Aparecido da Silva(1) (1) Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, nível mestrado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Marechal Cândido Rondon, e bolsista da Capes. E-mail: [email protected].

RESUMO: O levantamento de dados sobre as características da paisagem são determinantes para o planejamento e conservação do meio ambiente. A obtenção de dados geoambientais adquire importância na atualidade pela sua capacidade de integração no levantamento de informações espaciais. O presente estudo tem como objetivo obter dados geoambientais para subsidiar o planejamento e orientação da ocupação do solo da área de estudo. As bacias hidrográficas do córrego Pedra e Três Ranchos localizam-se numa paisagem com potencialidades erosivas em função das características geomorfológicas, como serão apresentadas neste estudo. Os resultados apresentaram diferenças entre as duas bacias, referente ao aspecto morfométrico, declividade e uso e cobertura da terra. Os resultados alcançados servem de base para futuros estudos locais e regionais com vista ao planejamento ambiental em bacias hidrográficas. Palavras-chave: Geotecnologias; uso e cobertura da terra; dados geoambientais.

INTRODUÇÃO

A compreensão sobre a dinâmica da paisagem envolve diferentes técnicas e métodos de pesquisa. Estudos com enfoque em bacias hidrográficas pressupõem interdisciplinaridade. Neste contexto, técnicas de Geoprocessamento, Geomorfologia, Sensoriamento Remoto, entre outras, possibilitam alcançar respostas sobre o estado físico e social atual de uma bacia hidrográfica.

Conforme Binda (2009), a utilização de Sistemas de Informação Geográfica pode auxiliar na execução da caracterização e diagnóstico do meio físico, mediante a aplicação de parâmetros morfométricos.

As Geotecnologias, representadas principalmente pelos Sistemas de Informação Geográfica, Geoprocessamento, Sensoriamento Remoto, entre outros, são ferramentas

fundamentais nos estudos de planejamento e ordenamento do território. Pois, possibilitam a obtenção de resultados, de forma que o grau de precisão dos resultados seja preservado (SILVA, 2014).

A bacia hidrográfica tem sido utilizada, nas últimas décadas, como unidade de planejamento e gestão em diversos ramos da ciência. A sua abordagem geográfica remete a várias perspectivas de análise, mas uma das principais abordagens de bacias hidrográficas tem sido de planejamento e gestão ambiental numa perspectiva sistêmica. Conforme Morais et al. (2010), a bacia hidrográfica é um recorte espacial sistêmico, que integra os fatores naturais e humanos, que apropriam-se dos recursos naturais, a partir do o uso da terra e suas diferentes formas de manejo.

Machado et al. (2011) estabelecem que indicadores morfométricos, dão suporte ao planejamento e gestão dos espaços urbanos e rurais, contribuindo para um melhor aproveitamento do meio e evitando sua degradação. Associado a isso, a caracterização geomorfológica e de uso e cobertura da terra, tornam-se como fontes importantes para o conhecimento do estado físico e social do meio.

Neste sentido, a presente pesquisa objetivou caracterizar e comparar as variáveis físicas e antrópicas da área de estudo, utilizando técnicas de diferentes áreas relacionadas à ciência geográfica, com o intuito de contribuir com o ordenamento territorial e ambiental das bacias hidrográficas Pedra e três Ranchos, localizadas no município de São José das Palmeiras, Oeste do estado do Paraná.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo localiza-se no município de

São José das Palmeiras, Oeste do Paraná (Figura 1). A paisagem regional apresenta uma complexidade física e social, com diferentes características pedológicas, geomorfológicas

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(encontra-se num ambiente com relevo ondulado a forte-ondulado), e de uso e ocupação do solo.

Figura 1: Localização da área de estudo. Org. pelo autor.

A geologia da região é caracterizada por rochas basálticas da Formação Serra Geral de idade cretácea (NARDY et al., 2002). Correspondente ao grande derrame mesozóico de rochas eruptivas básicas (SANTOS et al., 2006). O clima que atua nessa área é do tipo Cfa, temperado chuvoso, sem a ocorrência de estação seca e moderadamente quente, com temperatura média no verão, superior a 22ºC e média no inverno inferior a 18ºC (AYOADE, 2010). A precipitação nessa região é bem distribuída no decorrer do ano, em média 1400 mm e 2000 mm (PARANÁ, 2013).

A área de estudo encontra-se, no contexto hidrográfico regional, na Bacia do Paraná III, é influenciada pelo clima subtropical, associada à rochas impermeáveis, perfazendo, desta forma, canais perenes, em sua maioria. Os principais cursos fluviais são os rios São Francisco Verdadeiro, rio São Francisco Falso, os rios Guaçú, Ocói, Taturi, (PARANÁ, 2013). O córrego Pedra é afluente da margem direita do rio São Francisco Falso, e o córrego três Ranchos é afluente da margem esquerda do rio São Francisco Verdadeiro.

Segundo Bade (2014), a Bacia do Paraná III engloba 07 subunidades morfoesculturais, sendo as Subunidades de Cascavel, Foz do Iguaçu, Santa Tereza do Oeste, Nova Santa Rosa, Guaíra e de Marechal Cândido Rondon, e a subunidade de São Francisco onde se insere a área de estudo, com cotas altimétricas entre 220 e 700 metros, com significativa dissecação.

Os solos presentes na região são os LATOSSOLOS VERMELHOS Férricos (áreas de

topos longos e planos e em segmentos de vertentes longas e suaves), NITOSSOLOS VERMELHO Distroférrico (setores e segmentos de baixa declividade), NEOSSOLOS REGOLÍTICO (áreas com forte declividade, rupturas de declive), ORGANOSSOLOS HÁPLICOS (margens do Lago de Itaipu e em várzeas rios), e GLEISSOLOS HÁPLICOS (margens do Lago de Itaipu e nos fundos de vales) (PARANÁ, 2013).

O presente trabalho englobou técnicas de Geomorfologia, Geoprocessamento Sensoriamento Remoto, Sistemas de Informação Geográfica e áreas afins da Geografia. Inicialmente, selecionou-se a área de estudo, a partir da Carta Topográfica de São José das Palmeiras (1:25.000). Posteriormente, estruturou-se um banco de dados geográfico com arquivos vetoriais e matriciais referentes às características físicas regionais. Seguido dos cálculos referentes à área, perímetro, comprimento dos canais, ordem da bacia, densidade de drenagem, densidade de rios, razão de relevo, forma, hipsometria, e declividade de cada bacia com o auxílio do QGIS 2.4.

A geração e confecção das cartas temáticas deram-se pelo aplicativo QGIS 2.4. A obtenção dos dados hipsométricos e de declividade deu-se a partir das imagens SRTM disponibilizados pela EMBRAPA. Os dados gerados pelo MDE, associado à extração da rede de drenagem, permitiram caracterizar morfometricamente as duas bacias em estudos, com base no cálculo das seguintes equações (Quadro 01):

Quadro 1: Equações utilizadas na

caracterização morfométrica.

1Correlaciona o comprimento total dos canais com a área da

bacia hidrográfica. 2Relaciona a forma da bacia com um retângulo, considerando a razão entre a largura média e o comprimento axial da bacia da foz até o ponto mais distante do espigão. 3É a relação existente entre o número de cursos de água e a área da bacia. 4Relação entre amplitude altimétrica máxima e a maior extensão da bacia.

A carta de uso e cobertura da terra foi gerada no

aplicativo Spring 5.2, utilizando imagens do satélite Landsat-8 (órbita/ponto-224/077), bandas 4, 5 e 6,

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datadas 02/11/2011, a partir de classificação não supervisionada, tendo como parâmetro o classificador Isoseg, com limiar de aceitação 95%. Posteriormente, o arquivo foi exportado para o aplicativo Qgis 2.4 para a finalização e plotagem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados apresentaram a necessidade de

preservação das unidades estudadas, em função do tipo de uso do solo, associado às características geomorfológicas encontradas nas duas bacias. O que pode originar intensos processos erosivos. Para tanto, a forma de apropriação dessas unidades deve seguir um planejamento que fundamente práticas conservacionistas.

A ordem dos canais das bacias é de 3ª ordem, conforme metodologia proposta por Horton, (1945), (Figura 2).

Figura 2: Rede de drenagem da área de estudo. Org. pelo autor.

A bacia do córrego Pedra possui densidade de rios e rede de drenagem maior, em relação ao córrego Três Ranchos, conforme apresenta o Quadro 2.

Segundo Beltrame (1994) os parâmetros quantitativos da densidade de drenagem são classificados como < 0,50 km/km2 Baixa; entre 0,50 – 2,00 km/km2 Mediana; entre 2,01 – 3,50 km/km2 Alta; e > 3,50 km/km2 Muito Alta. Neste sentido, ao tomar como base tais parâmetros, associados à estudos comparativos, é possível identificar possíveis desequilíbrios num ambiente, a princípio com características físicas parecidas.

Quadro 2: Resultados da caracterização morfométrica das bacias.

Org. pelo autor.

Os resultados apresentam a densidade de drenagem do córrego Três Ranchos 1,47 km/km2, conforme metodologia adotada, a rede de drenagem é mediana. As características geomorfológicas desse ambiente geram um rápido escoamento superficial da água influenciado pelas fortes declividade e razão de relevo (52,9 m/km), e ao tipo de uso e cobertura da terra, no qual, tem-se a retirada da vegetação.

A densidade de drenagem do córrego Pedra é classificada como alta, 2,89, as classes mais fortes de declividade >35%, são menos expressivas em relação ao córrego Três Ranchos conforme apresenta a Figura 3.

As diferentes classes de declividade encontradas nas bacias tem forte influência na característica hidrográfica de ambas as unidades hidrográficas

Os resultados apresentaram cotas entre 240 metros e 520 metros de altitude em ambas as bacias (Figura 4). A amplitude altimétrica do córrego Pedra é inferior ao do córrego Três Ranchos, 240 e 267 metros respectivamente.

As características geomorfológicas das bacias, apresentaram restrições quanto ao uso e ocupação antrópica. Em função das fortes declividades, principalmente a bacia do córrego Três Ranchos, onde as declividade maiores que 30% representam quase 50% da bacia. Tal fator conjugado à remoção da vegetação acentua a fragilidade do ambiente. Um ambiente com essas características possui maior possibilidade de erosão caso esteja

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descoberto da vegetação natural. Influenciando na formação e evolução de sistemas pedológicos, bem como degradando os solos já existentes na área.

Figura 03: Carta de declividade da área de estudo. Org. pelo autor.

Figura 4: Carta hipsométrica da área de estudo. Org. pelo autor.

As cabeceiras de drenagem de ambas as bacias estão desprotegidas de vegetação, conforme apresenta a Figura 5.

Ao longo da extensão territorial de cada unidade hidrográfica, a rede de drenagem está desprotegida da vegetação marginal. Isso pode influenciar diretamente na vazão e no assoreamento dos canais. Em ambas as bacias, o uso do solo não considera suas classes de declividades. Em diversos setores, encontra-se a pastagem e o uso

agrícola associados à declividades superiores a 25%. Caracterizando um ambiente propício à processos erosivos e sedimentação dos canais fluviais.

Neste contexto, é preciso estabelecer práticas que respeitem a capacidade de uso do solo, uma vez que as características físicas associadas ao tipo de uso, potencializam a fragilidade de ambas as bacias hidrográficas.

Figura 5: Carta de uso e cobertura da terra da área de estudo. Org. pelo autor.

CONSIDERAÇÕES

Os resultados apontaram que as duas bacias possuem uma susceptibilidade à impactos ambientais. Visto que, as fortes declividades, associadas ao tipo de uso e cobertura da terra, podem agravar possíveis riscos ambientais. Para tanto, é imprescindível um estudo mais detalhado que possa medir o grau de fragilidade dessas unidades, tendo em vista a preservação desses ambientes.

As ferramentas utilizadas na caracterização geoambiental da área de estudo mostrou-se eficiente metodologicamente. Uma vez que permitiu a integração e análise dos dados levantados. Caracterizando assim, o papel fundamental que as Geotecnologias têm atualmente no contexto geográfico, com base na análise espacial dos dados.

Portanto, o estudo dessas bacias serve de base para o planejamento ambiental. Assim como, para compreender o funcionamento das características geomorfológicas, hidrográficas, e de uso e

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ocupação do solo na área de estudo. Podendo ainda, servir de base para mapeamento pedológicos e de risco ambiental.

REFERÊNCIAS

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BADE, M. R. Definição e caracterização das unidades de paisagem das Bacias Hidrográficas do Paraná III (Brasil/Paraguai). Programa de Pós-graduação em Geografia. UNIOESTE. Dissertação de Metrado, 2014, 114p.

BELTRAME, A. V. Diagnóstico do meio ambiente físico de bacias hidrográficas: modelo de aplicação. Florianópolis: UFSC, 1994. 112 p.

BINDA, A. L. Utilização de técnicas de geoprocessamento aplicadas na análise morfométrica da Bacia Hidrográfica do Rio Jacaré, Noroeste do Estado do Paraná. Revista Perspectiva Geográfica; n° 5, Vol. 1-2; p.38-52; 2009.

HORTON, R.E. Erosional development of streams and their drainage basins: a hydrophysical approach to quantitative morphology. Geol Soe. Am. Bull. v.56, n.3,p.275-370, 1945.

MACHADO, R. A. S. et al. Análise morfométrica de bacias hidrográficas como suporte a definição e elaboração de indicadores para gestão ambiental a partir do uso de geotecnologias. Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – SBSR. INPE. Curitiba, p. 1441, abril/maio de 2011.

MORAIS, N. B.; PIMENTA, M. L. F.; SLOVINSCKI, N. C. A Bacia Hidrográfica como recorte espacial para gestão sócio-ambiental e a epistemologia dos conceitos norteadores: Natureza e Território. In: Anais - XVI Encontro Nacional dos Geógrafos. Crise, práxis e autonomia: espaço de resistência e esperanças. Porto Alegre, julho de 2010.

NARDY, A.J.R. et al. Geologia e estratigrafia da Formação Serra Geral. Revista Geociências, 21 (2): 15-32. 2002.

PARANÁ. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Bacias

hidrográficas do Paraná: Série histórica.2. ed. Curitiba, 2013.

SANTOS, L.J.C, OKA FIORI, C.; CANALI, N.E.; FIORI, A.P.; SILVEIRA, C.T.; SILVA, J.; ROSS, J.L.S. Mapeamento geomorfológico do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Geomorfologia, 7: 3. 2006.

SILVA, B.A. Caracterização geoambiental do trecho superior do córrego Quatro Pontes, município de Quatro Pontes – Paraná – Brasil. Unioeste; p.68; 2014. (Trabalho de conclusão de curso).

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Correlação linear entre conjuntos de dados de chuva para a Amazônia Brasileira (1)

Leila Limberger (2)

(1) Pesquisa realizada com recursos do CNPq, através de concessão de Bolsa de Doutorado. (2) Professora; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná; leila.limberger@unioeste .

RESUMO: Com o avanço das tecnologias relacionadas à coleta de dados meteorológicos e ao compartilhamento destes através da internet, é possível ter acesso a uma quantidade significativa de dados sobre todos os locais do globo, a partir de um computador conectado à internet. O objetivo da presente pesquisa é apresentar os resultados de correlação linear entre dados de chuva observados e dados de grade, para a bacia amazônica brasileira. Os dados observados foram disponibilizados pela ANA através de seu sistema Hidroweb e os dados de grade são CRU, GPCP e NCEP, todos disponibilizados pelo ESRL/NOAA. Os resultados de correlação linear foram altos e significativos, o que demonstra que a utilização de dados meteorológicos de grade é bastante adequada e permite que os estudos em Climatologia Geográfica se expandam para as atuais necessidades de avanço dessa disciplina. Palavras-chave: dados meteorológicos de grade, comparação de conjuntos de dados, dados globais.

INTRODUÇÃO

Ainda bastante recente no campo das ciências ambientais, a democratização de dados meteorológicos, por meio de processos simples de download a partir de grandes centros de pesquisa mundiais, vem trazendo novo fôlego às pesquisas em Climatologia. Os processos de Reanálise, que agrupam dados de várias fontes, tais como satélites meteorológicos, estações de superfície, plataformas de coletas de dados, etc., com uso de técnicas estatísticas adequadas, fizeram com que se possa acessar, de qualquer local, informações as mais variadas sobre a atmosfera e a superfície globais.

Um dos projetos de Reanálise bastante utilizados no campo da Climatologia é o desenvolvido pelo National Center of Environment Prediction (NCEP), órgão do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), do

governo norte-americano. O projeto é conhecido como NCEP/NCAR I, e hoje já conta com o projeto de Reanálise II, conhecido como NCEP/DOE, que é uma atualização do primeiro. Os dados do projeto NCEP/NCAR I apresentam-se em grade de 0,5º X 0,5º, com mais de duas dezenas de variáveis, em 17 níveis de pressão, sendo os dados de quatro horários diários, dados diários e mensais, de 1948 ao presente. Esses dados podem ser acessados pelo site <http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.ncep.reanalysis.html> (Kalnay et al., 1996).

O Global Precipitation Climatology Centre (GPCC) reconstruiu os dados de precipitação global para dados mensais em grade de 0,5º X 0,5º de 1910 a 2010. Foram utilizados 13 métodos estatísticos diferentes, que podem ser acessados pelo site < http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.gpcc.html> (Schneider et al., 2011).

Também o Climate Research Unit (CRU), ligado a instituto British Atmospheric Data Centre (BADC) é um conjunto de dados bastante respeitado pela comunidade científica e é composto por dados de temperatura do ar e precipitação, em uma resolução espacial de 0,5º X 0,5º, de 1910 a 2010. Pode tanto ser obtido pelo site do ESRL/NOAA quanto pelo https://badc.nerc.ac.uk/data, após cadastro (Brohan et al., 2006).

Esses conjuntos de dados são utilizados para uma grande quantidade de estudos que analisam a variabilidade temporal ou espacial de variados fenômenos atmosféricos, tendências, médias, etc.. Gulizia & Camiloni (2015) analisaram o comportamento de três conjuntos de dados (CRU, GPCC e UDel) para a chuva na América do Sul e verificaram que de forma geral há pequenas variações entre os conjuntos de dados, que não são estatisticamente significativas.

Além dos conjuntos de dados citados há muitos outros, além de fontes de dados regionais, estaduais e nacionais. Todos os conjuntos de dados apresentam prós e contras, sendo atribuição do pesquisador analisá-los à priori e definir qual melhor representa sua área de estudo.

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Pensando nesse estudo prévio, a presente pesquisa visa verificar o comportamento de conjuntos de dados de grade para a caracterização da chuva em cinco sub-regiões da bacia amazônica brasileira, comparando-os com dados de superfície, catalogados e disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA), através de seu sistema Hidroweb.

A seguir serão apresentados os conjuntos de dados utilizados, bem como os procedimentos metodológicos adotados. Na sequência são apresentados os resultados e sua discussão, seguido pela conclusão e referências utilizadas.

MATERIAL E MÉTODOS

Devido a sua grande dimensão, a bacia

amazônica brasileira não apresenta comportamento climático semelhante em toda a sua extensão, sendo, portanto, necessário identificar áreas homogêneas. Utilizando como critério a variabilidade da chuva nessa região, por meio da aplicação da técnica estatística multivariada de análise agrupamentos, foram definidas cinco áreas homogêneas, denominadas de Norte, Amanozas-Foz, Oeste, Sul e Central.

Após a definição das áreas homogêneas, a média de sua precipitação foi calculada. Para o caso dos dados de superfície foram considerados todos os postos de coleta em cada uma das áreas, e para os dados de grade, as coordenadas geográficas de cada uma das áreas foram definidas para cálculo da média de precipitação no software GrADS (Gridded Analysis and Display System), que utiliza linguagem computacional Fortran.

Os conjuntos de dados de chuva mensal utilizados foram Reanálise I NCEP/NCAR, GPCC e CRU, já descritos na Introdução. Estes foram correlacionados linearmente com os dados de chuva mensal observados, disponibilizados pela ANA, para a série temporal de 1979-2010.

A correlação linear é uma técnica estatística que consiste em definir o quanto duas variáveis estão correlacionadas ou o quanto o comportamento de uma variável é semelhante ao comportamento de outra variável (Rogerson, 2012). A correlação linear pode ser positiva ou negativa, sendo que os valores próximos de 0 representam baixa ou nula correlação e os valores próximos de 1 e -1 representam alta correlação, tanto positiva quanto negativa. A correlação pode também ser representada por gráficos de dispersão, que permitem a verificação de como é o comportamento das variáveis analisadas. Para os cálculos de correlação linear e a elaboração dos gráficos de dispersão (não

apresentados) foi utilizado o software Statistic/Statsoft.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para todos os resultados de correlação linear

entre dados de grade e dados observados (apresentados nas Tabelas de 1 a 5), o resultado do GPCC apresentou os maiores valores de r, podendo-se destacar o r para a sub-região Sul, =0,984. Todos os valores de correlação linear entre dados observados e GPCC foram maiores do que 0,95, o que é significativo para 99,5% de confiabilidade, segundo teste t-Student. Os menores valores de correlação linear com os dados observados foram verificados para os dados do NCEP, porém ainda com valores significativos para 99,5% de confiabilidade.

Na Tabela 1 verifica-se o maior valor de correlação linear para a sub-região Norte ocorre para os dados de chuva observados e os dados do GPCC, com r=0,951. O menor valor de r=0,567 é verificado para a correlação entre os dados de grade do NCEP e do CRU. Tabela 1 - Valores de correlação linear entre dados de grade e dados observados de chuva para a sub-região Norte da bacia amazônica brasileira.

Norte CRU

Norte NCEP

Norte GPCC

Norte observ

Norte_CRU 1,000 0,567 0,865 0,865 Norte_NCEP 0,567 1,000 0,636 0,637 Norte_GPCC 0,873 0,636 1,000 0,951 Norte_observ 0,865 0,637 0,951 1,000

Observando-se a Tabela 2 identifica-se que o maior valor de r=0,978 entre GPCC e observados e o menor, r=0,821, entre NCEP e observados, são valores bastante altos, o que permite a afirmação de que os dados de chuva para a sub-região Amazonas-Foz são bem homogêneos entre os diferentes conjuntos de dados, e, de forma geral, é possível utilizar qualquer conjunto de dados, sem significativas diferenças nos resultados finais.

Tabela 2 - Valores de correlação linear entre dados de grade e dados observados de chuva para a sub-região Amazonas-Foz da bacia amazônica brasileira.

Amazfoz Amazfoz Amazfoz Amazfoz

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CRU NCEP GPCC observ

Amazfoz_CRU 1,000 0,822 0,948 0,945 Amazfoz_NCEP 0,822 1,000 0,832 0,821 Amazfoz_GPCC 0,948 0,832 1,000 0,978 Amazfoz_obser 0,945 0,821 0,978 1,000

Para o caso da sub-região Oeste, a Tabela 3 apresenta o valor de r=0,963 como o maior valor de correlação, entre GPCC e observados, e o menor de 0,803, entre NCEP e CRU, apresentando um comportamento semelhante ao da sub-região Norte, porém, no presente caso, com valores de r maiores.

Tabela 3 - Valores de correlação linear entre dados de grade e dados observados de chuva para a sub-região Oeste da bacia amazônica brasileira.

Oeste CRU

Oeste NCEP

Oeste GPCC

Oeste observ

Oeste_CRU 1,000 0,803 0,890 0,862 Oeste_NCEP 0,803 1,000 0,875 0,851 Oeste_GPCC 0,890 0,875 1,000 0,963 Oeste_observ 0,862 0,851 0,963 1,000

A sub-região Sul apresenta os maiores valores de correlação linear avaliados na presente pesquisa. O menor valor (r=0,881 entre NCEP e GPCC) e o maior (r=0,984 entre GPCC e observados) estão muito próximos de 1, o que comprova que os conjuntos de dados apresentam variabilidade bastante semelhante, sendo que para essa sub-região, qualquer conjunto de dados pode ser utilizado sem prejuízo para as pesquisas às quais for empregado.

Tabela 4 - Valores de correlação linear entre

dados de grade e dados observados de chuva para a sub-região Sul da bacia amazônica brasileira.

Sul CRU

Sul NCEP

Sul GPCC

Sul observ

Sul_CRU 1,000 0,882 0,959 0,968 Sul_NCEP 0,882 1,000 0,881 0,890 Sul_GPCC 0,959 0,881 1,000 0,984 Sul_observ 0,968 0,890 0,984 1,000

Novamente a menor correlação linear foi verificada entre os dados do CRU e NCEP (r=0,840) e a maior, entre os dados do GPCC e observados (r=0,934), para o caso da sub-região Central (Tabela 5).

Tabela 5 - Valores de correlação linear entre

dados de grade e dados observados de chuva para a sub-região Central da bacia amazônica brasileira.

Central CRU

Central NCEP

Central GPCC

Central observ

Central_CRU 1,000 0,840 0,942 0,915 Central_NCEP 0,840 1,000 0,879 0,849 Central_GPCC 0,942 0,879 1,000 0,964 Central_observ 0,915 0,849 0,964 1,000

Os valores de correlação linear entre os conjuntos de dados de grade demonstram que CRU e GPCC apresentam comportamentos mais semelhantes entre si, enquanto os dados do NCEP apresentam correlações menores tanto com os outros conjuntos de dados de grade quanto com os dados observados. Essas diferenças entre os conjuntos de dados ocorrem em virtude de diferentes métodos estatísticos utilizados para compilar os dados e em virtude dos diferentes conjuntos de dados primários compilados. No presente estudo, não houve ocorrência de correlação negativa.

CONCLUSÕES Após análise dos resultados verifica-se que os

dados de grade representam bem a variabilidade da chuva nas cinco sub-regiões homogêneas da Amazônia brasileira analisadas na presente pesquisa. O conjunto de dados de grade que mais se assemelha aos dados observados é o GPCC, apesar de os dados do CRU e NCEP terem valores de correlação linear significativos para 99,5%.

Isso mostra que é possível utilizar os citados conjuntos de dados de grade para analisar aspectos climáticos das cinco sub-regiões ora analisadas, em especial a sub-região Sul, que apresentou os maiores valores de correlação linear.

Vale ressaltar que qualquer conjunto de dados de uma série temporal, sendo observado, de grade ou resultado de modelo, poderá apresentar algum problema de consistência de dados, falhas na obtenção ou armazenamento, técnicas

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estatísticas empregadas, etc.. Portanto, o que se recomenda é que, antes de definir qual conjunto de dados é mais adequado para a área que se está estudando, desenvolvam-se algumas análises estatísticas de comparação para verificar qual conjunto de dados melhor representa a área em estudo.

Reforça-se também a importância da utilização dos dados de grade, pois a partir deles é possível analisar áreas que dispõem de poucos pontos de coleta, séries muito curtas ou séries com muitas falhas, o que favorece o trabalho do geógrafo pesquisador da climatologia.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq pela concessão de bolsa de Doutorado.

REFERÊNCIAS

BROHAN, P., et al.. Uncertainty estimates in regional and global observed temperature changes: a new dataset from 1850. J. Geophysical Research, 111, 2006, p. D12106, DOI:10.1029/2005JD006548.

GULIZIA, Carla; CAMILLONI, Inés. A spatio-temporal comparative study of the representation of precipitation over South America derived by three gridded data sets. International Journal of Climatology (short communication), published online in Wiley Online Library, DOI: 10.1002/joc.4416.

KALNAY, E. et al.,The NCEP/NCAR 40-year reanalysis project, Bulletin of American Meteorological Society, 77, 437-470, 1996.

ROGERSON, Peter A. Métodos estatísticos para a Geografia: um guia para o estudante. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

SCHNEIDER, Udo; et al. GPCC Full Data Reanalysis Version 6.0 at 0.5°: Monthly Land-Surface Precipitation from Rain-Gauges built on GTS-based and Historic Data. 2011. DOI: 10.5676/DWD_GPCC/FD_M_V6_050.

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Estudo espacial da Hanseníase no município de Cascavel (PR)(1).

Rafael Krupiniski(2); Karin Linete Hornes(3);

(1) Este trabalho faz parte da conclusão de curso de graduação em Geografia do Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras (CCHEL), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). (2) Acadêmico do 4º ano de Geografia/Licenciatura; UNIOESTE; Marechal Cândido Rondon-PR; e-mail: [email protected]. (3) Professora Doutora do curso de Geografia/Licenciatura; UNIOESTE; Marechal Cândido Rondon-PR; e-mail: [email protected]. RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar a distribuição espacial da hanseníase no município de Cascavel (PR), entre o período de 2010 a 2014, com o propósito de identificar as áreas afetadas a partir de sua incidência e, dos possíveis fatores sociais e físico-ambientais que influenciaram na espacialidade da doença. A pesquisa está sendo realizada de acordo com os seguintes temas norteadores: Hanseníase, Geografia da Saúde, Sistema de Informação Geográfica, Geossitemas e Epidemiologia. Os resultados demonstram que a pesquisa irá ajudar sobremaneira o planejamento e a prevenção da disseminação da doença em Cascavel (PR). Palavras-chave: Geografia da Saúde; Geossistemas; Sistema de Informação Geográfica.

INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença, ainda, muito frequente no mundo. Na Europa foi eliminada após a melhoria das condições socioeconômicas da população, assim como da higiene e tratamento do esgoto. O Brasil é o segundo país com o maior número de casos da doença em nível mundial, atrás da Índia. Mas, a doença já foi tratada e possui cura. Em termos sociais, ela ainda é vista como um estigma, sendo que muitos dos portadores sofrem preconceito ou são retirados do convívio da sociedade.

A necessidade de se erradicar a hanseníase no mundo foi anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1991, vista que em muitos países não há mais casos da mesma, que em geral, são os países classificados como desenvolvidos. Nesse sentido, a presente pesquisa se justifica pela ausência de estudos sobre a temática proposta e pela necessidade de contribuir no controle da Hanseníase no município de Cascavel, motivo pelo qual o mesmo é um dos que mais possui a doença na região oeste do Paraná no quesito “incidência”, como também possui um histórico interessante sobre a doença, que desde 2003 foi diminuindo aos poucos, e contrariamente, possui atualmente um dos

Índices de Desenvolvimento Humanos (IDH) mais elevado do Estado do Paraná (0,810) (IBGE, 2015), o que motiva buscar formas de eliminação a doença.

O avanço tecnológico vem contribuindo muito para o Sistema de Saúde. Contudo, o mesmo encontra-se sobrecarregado, não tendo tempo nem formação adequada para acompanhar a evolução da doença relacionada ao caráter espacial, ou seja, entender a dinâmica da doença no espaço geográfico (mapeamento). Nesse sentido, a pesquisa geográfica poderá ser uma ferramenta útil no planejamento e estratégia para o controle e erradicação de da doença de Hanseníase, principalmente, por se tratar de uma doença infectocontagiosa.

MATERIAL E MÉTODOS

Cascavel é a capital da Mesorregião Oeste do Paraná, sendo também de sua microrregião. No município, além da sede, existem sete distritos, sendo eles: Diamante, Espigão Azul, Juvinópolis, São José do Oeste, São Salvador, Sede Alvorada e Rio do Salto. As fronteiras territoriais são marcadas pelos seguintes municípios: ao oeste: Lindoeste e Santa Tereza do Oeste; ao norte: Braganey, Cafelândia, Corbélia, Toledo e Tupãssi; ao leste: Campo Bonito, Catanduvas e Ibema; ao sul: Boa Vista da Aparecida e Três Barras do Paraná (Ipardes, 2015). A área é de 2.100,831 Km² e sua população estimada para o ano de 2014 foi de 309.259 habitantes (IBGE, 2014).

O Geossitema (Monteiro, 1998; 2000) é a abordagem/método em que o trabalho se dedica, uma vez que os as doenças sofrem influências dos fatores geográficos e das causas ambientais e sociais. O Geossistema busca, antes de qualquer coisa, articular e integrar o natural com o social/humano (Monteiro, 1998). Embora o Monteiro não tenha aplicado a Geossistema a Geografia da Saúde, ele não definiu o estudo geossistema apenas para a noção de paisagens, como fez Bertrand. A atitude de Monteiro foi universalizar o conceito de Geossistemas para que o pesquisador o utilize de acordo com suas

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necessidades a fim, é claro, no sentido de espacializar e dimensionar os seus estudos (Mendonça & Venturini, 1998). Assim, esta abordagem pode ser aplicada ao estudo de doenças na Geografia da Saúde.

Além do levantamento bibliográfico referente aos temas norteadores proposto no resumo, também, faz parte da pesquisa as seguintes etapas: 1) levantamento de dados na Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Cascavel (PR), localizados na Ficha de Investigação da Hanseníase, na qual estão sendo sistematizados e analisados a partir da estatística descritiva. Contudo, para que a coleta ocorresse, a pesquisa foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Unioeste, que emitiram um parecer ético “[...] em defesa da integridade e dignidade dos sujeitos da pesquisa” (Unioeste, 2015) e para a não divulgação de qualquer informação sem caráter científico sobre os portadores da doença; 2) elaboração das representações cartográficas (mapas temáticos) que estão sendo construídos através de Sistemas de Informação Geográficas (SIG), em especial, pelo programa ArcGIS. Os mapas estão sendo elaborados seguindo algumas noções presentes na metodologia proposta por Barrozo (2011): a) de localização da área de estudo; b) incidência dos casos (por pontos de contagem, separados por bairros e distritos); c) referente às taxas de incidência (TI) - representado pela técnica coroplética com escala de cores opostas a partir do valor médio de casos/100 mil habitantes. A análise dos mapas será realizada a partir da relação da doença com o meio urbano e rural, ou seja, a quantidade de incidência em cada meio para então entender os possíveis padrões no qual a doença se manifesta e, então, discutir a relação dos fatores físico-ambientais e demais características socioeconômicas. Tais características serão relacionadas também com os dados localizados na ficha de investigação da hanseníase; 4) serão efetuadas visitas nas áreas de maior incidência para registro e verificação da situação socioambiental e, após as análises de identificação dos possíveis fatores de distribuição da hanseníase no município de Cascavel (PR), utilizar-se-á do programa SatScan, com o intuito de verificar a doença através da relação espaço-tempo, se ela é estatisticamente significativa e para possível detecção precoce de novos surtos; 5) a finalização do trabalho ocorrerá com a criação de estratégias de eliminação da doença a partir da realidade que será apresentada no trabalho – tomando como base as estratégias já existentes nos Planos de Eliminação da doença (2001; 2006; 2012).

RESULTADOS ESPERADOS

A realização desta pesquisa irá contribuir

sobremaneira para as estratégias de controle de Hanseníase no município de Cascavel. Ao espacializar os casos da doença será possível identificar os pontos no município onde ela se faz presente, e contribuir com estratégias locais, que vise a sua minimização e a futura erradicação. Caso o estudo for positivo e as estratégias sejam colocadas em práticas, espera-se que o município ganhará muito no sentido de evitar gastos com a doença, bem como a sociedade local como um todo irá ter menos chances de contrair uma doença que causa irreversíveis lesões na pele. REFERÊNCIAS

BARROZO, L. V. Técnicas de Geografia da Saúde. In: VENTURINI, L. A. B. (Org.). Geografia: práticas de campo, laboratórios e sala de aula. São Paulo: Sarandi, 2011, p. 287-308.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades do Paraná: Cascavel. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=4104808>. Acesso em: 07. mai. 2015.

IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Caderno Estatístico: município de Cascavel. 2015.

MENDONÇA, F de A; VENTURINI, L. A. B. Geografia e metodologia científica: da problemática geral às especificidades da Geografia Física. In: Revista Geosul (Ed. especial). Florianópolis, USFC, p. 63-70, 1998.

MONTEIRO, C, A, de F. Geossitemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2000, 127p.

MONTEIRO, C. A. F. Os Geossistemas como elemento de integração na síntese geográfica e fator de promoção interdisciplinar na compreensão do ambiente. In: Revista de Ciências Humanas. Florianópolis, UFSC, v-14, n.19, p. 67-101, 1996.

UNIOESTE. Comitê de Ética em pesquisas com seres humanos – CEP. Disponível em: <http://cac-php.unioeste.br/paginas/cep/>. Acesso em: 14. abr. 2015.

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Fragilidade potencial na bacia hidrográfica do Rio Alegria – Medianeira/PR

Cristina Harumi Enokida(1); José Edézio da Cunha (2) (1) Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon, Paraná. Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental; Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Medianeira, Paraná; [email protected]; (2) Professor do Colegiado do Curso de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Geografia; Universidade Estadual do Oeste do Paraná. [email protected]. RESUMO: O estudo da fragilidade ambiental, utilizando informações de declividade, classes de solos, formas das vertentes, somados ao conhecimento de uso e ocupação dos solos possibilita um bom diagnóstico e prognóstico ambiental, particularmente quando realizados na unidade das bacias hidrográficas. Este tipo de estudo, com viés na análise sistêmica, possibilita compreender as causas e os efeitos dos processos e permite planejar, de maneira adequada, a ocupação dos espaços. Pautado na metodologia de Ross (1994) e com auxílio das geotecnologias, o objetivo desse estudo é mapear a fragilidade potencial da bacia hidrográfica do Rio Alegria, no município de Medianeira. Sua localização estratégica na área de fronteira e a realidade do uso e ocupação do solo justificam a relevância do estudo para o município e região. Palavras-chave: Geotecnologias, Sistema, Planejamento.

INTRODUÇÃO Os estudos de fragilidade ambiental,

abordados metodologicamente por Ross (1994), com objetivos de decifrar a fragilidade potencial dos ambientes, utilizando aspectos da declividade, das formas de vertentes e das classes de solos, têm tido boa aceitação nos estudos geográficos, particularmente naqueles que visam o melhor planejamento dos ambientes.

A utilização da unidade “bacia hidrográfica” como cerne desses estudos ambientais, permite organizar as informações de maneira que cada elemento se complemente numa abordagem sistêmica (SANTOS, 2004).

A bacia hidrográfica do Rio Alegria, localizada no município de Medianeira, foi escolhida para este estudo devido as suas peculiaridades. Por exemplo, por ter considerável parte da sua área em comum com o perímetro urbano do município; por estar inserida no Oeste do Paraná, em área

de fronteira, além é claro de seus elementos naturais e antrópicos que evidenciam a necessidade de cuidados, em termos dos usos e das ocupações dos solos no município.

É possível perceber então, que não se pode entender a dinâmica e a gênese das formas de relevo, sem conhecer os elementos climáticos, pedológicos, geológicos e antrópicos. Da mesma forma, não se pode interpretar o relevo apenas identificando padrões de formas ou tipos de vertentes. É preciso saber identificar e correlacionar com os processos atuais e passados.

O avanço científico-tecnológico, ocorrido nos últimos anos, atentou para as diversas modificações nos métodos de pesquisas, principalmente naqueles relacionadas às geotecnologias, correspondentes ao geoprocessamento que é basicamente o conjunto de tecnologias utilizado para a coleta, o processamento, a análise e a disposição ou uso integrado das informações com referência geográfica.

Na Geografia, assim como nas ciências ambientais, a utilização das geotecnologias é essencial para um estudo espaço temporal dos objetos de pesquisa. Segundo Fitz (2008), as geotecnologias trazem avanços significativos para as pesquisas, pois possibilitam melhores ações de planejamento, processos de gestão e manejo e para muitos outros aspectos relacionados ao espaço geográfico.

Visando fortalecer esta temática ambiental, este estudo, pautado na metodologia de Ross (1994), tem o objetivo de utilizar as ferramentas das geotecnologias para mapear a fragilidade potencial da bacia hidrográfica do Rio Alegria e assim ter um conhecimento sistêmico da realidade atual da área.

MATERIAL E MÉTODOS

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No contexto nacional, a Bacia do Rio Alegria, juntamente com as demais bacias hidrográficas do Paraná III (Brasil/Paraguai), possuem uma área de 8.707 km2. No lado brasileiro, região Oeste do Estado do Paraná, são encontrados 29 municípios com aproximadamente 1 milhão de habitantes, mais ou menos 10% do total do Estado (IBGE, 2007).

Dentre esses se localiza o município de Medianeira, emancipado de Foz do Iguaçu no ano de 1961. Encontra-se a 402 m de altitude em média, na latitude de 25°10’13’’ a 25°22’04’’S e longitude de 53°59’31’’a 54°12’20’’W, com território de 325,167 km2 e população estimada em 44.523 habitantes (IBGE, 2014). Sendo um dos 29 munícipios Lindeiros ao Lago de Itaipu, seus limites confrontam com os municípios de Matelândia, Serranópolis do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Itaipulândia, Missal e Ramilândia.

No município de Medianeira, assim como na bacia hidrográfica do Rio Alegria, o predomínio é de basalto, rochas vulcânicas provenientes de derrames de lavas. O clima da região Oeste e, consequentemente, no município de Medianeira é o subtropical úmido mesotérmico (Cfa), conforme classificação de Köppen (1900).

O relevo do setor urbano do município varia de suave ondulado a ondulado, com as linhas de drenagem ocorrendo na direção leste-oeste.

O Rio Alegria, principal do município, possui uma extensão de 22 quilômetros, atravessa o perímetro urbano onde é canalizado e é de extrema importância para o município, já que suas águas abastecem a população. Porém, em alguns pontos parece existir descaso dos setores públicos e privados, devido à intensa contaminação pelo descarte de resíduos sólidos, esgoto e despejo de efluentes industriais.

A Bacia do Rio Alegria possui aproximadamente 67 km2. A maior parte se localiza na zona rural do município de Medianeira, nas comunidades de São Miguel Arcanjo, Linha Alto Alegria e São Bernardo, onde suas nascentes recebem água dos afluentes Sanga Magnólia, Sanga Maduri e Sanga Maguari. O Rio Alegria é um dos tributários do Rio Ocoy cuja foz deságua no reservatório de Itaipu. Cerca de 37% do total da área abrange o perímetro urbano (Figura 1).

Os principais impactos ambientais observados nessa bacia são os decorrentes das atividades agropecuárias, tais como: erosão e o assoreamento dos rios; contaminação dos solos, das águas e das pessoas por agrotóxicos; acúmulo de dejetos da pecuária nas águas dos rios, provocando a eutrofização; desmatamento para abertura de áreas de pasto e lavoura,

incluindo as margens de rios; canalizações de esgotos urbanos e industriais para rios, sem o devido tratamento.

Figura 1- Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Alegria.

As moradias instaladas próximas ao rio, sem

planejamento adequado, afetam diretamente a qualidade da água e da vida. Também propiciam a instalação de processos erosivos e a compactação dos solos no entorno deste curso hídrico. Até mesmo o aumento de edificações e a pavimentação das vias de circulação promove o carreamento de sedimentos para os fundos de vale com alguns pontos de alagamento. Trabalhos de gabinete • Para a compreensão teórica metodológica foram realizadas pesquisas bibliográficas referentes à fragilidade ambiental potencial, geotecnologias, relação solo-relevo, bacia hidrográfica o que possibilitou uma análise sistêmica da área. • Para a delimitação espacial da bacia hidrográfica do Rio Alegria foram utilizados os dados fornecidos pelo Projeto TOPODATA, que provê no site do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) um Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil, onde são fornecidos Modelos Digitais de Elevação (MDE), elaborados a partir dos dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) disponibilizados pelo USGS (United States Geological Survey) na rede mundial de computadores.

A partir dessas informações foi utilizado o software SPRING 5.2.6, para vetorizar o limite da bacia, a partir das isolinhas que possibilitam identificar as cotas e altitudes da imagem. • Para o mapa de localização da bacia hidrográfica do Rio Alegria foi utilizado o software livre Spring versão 5.2.6 e as informações fornecidas pelo banco de dados do Atlas – 2008.

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• Para as cartas hipsométrica e de declividade foram construídos modelos tridimensionais, utilizando imagens SRTM, projeção UTM, Datum SIRGAS2000, Fuso 21, processados no software Spring 5.2.6. • A carta de solo foi elaborada no software ArcGis a partir da carta base da Embrapa Solos (2008). • A carta de fragilidade ambiental potencial seguiu os parâmetros teóricos e metodológicos apresentados por ROSS (1990-1994).

Para as variáveis das formas de relevo foram determinadas cinco classes de fragilidades: muito fraca, fraca, média, forte e muito forte (Quadro 1). As classes de fragilidade seguiram os limites percentuais adaptados de Ross (1994). Foram considerados a capacidade de uso e capacidade agrícola, os limites críticos da Geotecnia, indicadores de processos erosivos, riscos de escorregamento e inundação. Quadro 1. Graus de Fragilidade Potencial em decorrência da declividade. Atributo Classes de Fragilidade Percentual 1 Muito Fraca 0 – 6% 2 Fraca 6 – 12% 3 Média 12 – 20% 4 Forte 20 – 30% 5 Muito Forte >30% Fonte: Adaptado de Ross (1994).

Para a variável solo utilizou-se as classes de fragilidade de acordo com as particularidades da área de estudo, adaptada da metodologia de Ross (1990 – 1994), que considera a erodibilidade dos solos e a relação com o escoamento superficial difuso e concentrado das águas pluviais.

Para a delimitação das classes, foram utilizados dados sobre a distribuição espacial dos solos na bacia hidrográfica a partir dos quais foram delimitadas quatro classes de fragilidade (Quadro 2). • A carta de Fragilidade Potencial foi elaborada a partir dos dados das cartas temáticas de declividade e de solos com o auxílio do software Global Maper 15.

Quadro 02. Classes de Fragilidade Potencial decorrentes do tipo de solo.

Atributo Classes de Fragilidade Tipos de Solos

1 Muito Baixa Latossolo Vermelho

2 Baixa Latossolo Vermelho + Nitossolo Vermelho

3 Média Nitossolo Vermelho

4 Forte

Neossolo Litólico + Chernossolo Argilúvico + Nitossolo Vermelho

Fonte: Adaptado de Ross (1994)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto aos aspectos naturais, a altitude

mínima observada na bacia do Rio Alegria é de 242 metros e a máxima de 543 metros. Em termos geomorfológicos, as vertentes apresentam formas convexo-côncava, predominantemente (Figura 2).

Figura 2 – Carta Hipsométrica da Bacia Hidrográfica do Rio Alegria. As classes de declividade mais representativas são as de intervalo entre 0–6% e 6–12%. As acima de 30% são pouco expressivas e as de 12–20% e 20–30% aparecem em setores específicos do relevo, como nos segmentos de fundos de vale (Figura 3).

Em grande parte da bacia predominam os solos bem desenvolvidos, como o LATOSSOLO VERMELHO e o NITOSSOLO VERMELHO, em associação. Apenas no setor Noroeste, foram encontrados os solos NEOSSOLO LITÓLICO, o CHERNOSSOLO ARGILÚVICO e o NITOSSOLO VERMELHO (Figura 4).

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A presença desses solos menos desenvolvidos está diretamente relacionada com a maior declividade da área, enquanto os solos mais desenvolvidos ocorrem, principalmente, em declividades mais baixas (Figura 3), considerados de fragilidade muito fraca e fraca. A fraca declividade, combinada com a presença de solos profundos e bem desenvolvidos, também pode indicar uma fragilidade potencial baixa.

Figura 3 – Carta de Declividade da Bacia Hidrográfica do Rio Alegria.

A relação solo-paisagem foi evidenciada quando os dados foram cruzados para a elaboração da carta de fragilidade potencial. Foi possível verificar que onde estão os solos menos desenvolvidos a declividade é mais acentuada, assim como, quando a declividade é menor os solos são mais desenvolvidos.

Na carta de fragilidade potencial foi observado que ─ a partir dos pesos dados aos tipos de solo e à declividade ─ nos setores da bacia onde a declividade é mais acentuada, o solo é raso e pouco evoluído (Chernossolos e Neossolos) e a fragilidade potencial é considerada muito alta (Figura 5).

Figura 4 – Carta de Solos da Bacia Hidrográfica do Rio Alegria.

O oposto foi verificado nos setores de declividades fracas, onde são comuns os Latossolos Vermelhos. Essas áreas foram mapeadas como de fragilidades muito baixas ou baixas. As áreas em que predomina a associação dessas classes de solo com as dos Nitossolos Vermelhos foram mapeadas como de média fragilidade ambiental.

As áreas mapeadas com as classes de fragilidade médias e altas estão relacionadas aos setores de maior declividade, onde é comum a presença dos Nitossolos Vermelhos.

Em síntese, os ambientes mais frágeis são aqueles caracterizados por solos menos evoluídos e altas declividades. O que significa dizer que são nessas áreas que o planejamento ambiental deve ser mais bem empregado, pois são as áreas de maior incidência de problemas ambientais, tanto aqueles de ordem natural como a erosão de solos como aqueles ocasionados pelo uso e ocupação inadequados.

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Figura 5 – Carta de Fragilidade Potencial da Bacia Hidrográfica do Rio Alegria.

CONCLUSÕES Este estudo de caso permitiu mapear as áreas que requerem mais cuidados, ou seja, as que possuem maior declividade e solos pouco desenvolvidos, considerados de fragilidade potencial muito alta. Também permitiu indicar a necessidade de planejamento e gestão adequada dessas áreas, particularmente no que diz respeito aos aspectos socioambientais. REFERÊNCIAS

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Identificação e discriminação de ecossistemas de Floresta e Cerrado do Brasil a partir das assembleias e índices fitolíticos para o entendimento

da história da vegetação e da gênese de solos (1)

Marcia R. Calegari(2); Rodrigo S. Macedo(3) ; Pablo Vidal Torrado(4); Marco Madella (5)

(1) Trabalho executado com recursos CAPES (PVE A115/2013) e CNPq.( PROCESSO 454981/2014-7)

(2) Professora Adjunto; Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE- Campus Marechal Cândido Rondon. [email protected] (3) Pós doutorando – Departamento de Ciência de Solo- Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP. Piracicaba, São Paulo (4) Professor Titular - Departamento de Ciência de Solo- Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP. Piracicaba, São Paulo (5) PhD. – Professor Visitante Especial – Universidade Pompeu Fábra, Barcelona (Espanha)

RESUMO: A distribuição atual dos biomas brasileiros, elaborado no período Quaternário, reflete as instabilidades dos climas passados. Vários estudos de microfósseis, análises polínicas e isotópicas, entre outras técnicas têm sido utilizadas para investigar as variações na vegetação e no clima ao longo do Quaternário e suas implicações nos paleoambientes. Esses registros terrestres têm aportado informações fundamentais para a reconstrução da variabilidade climática e de mudanças da vegetação durante o Quaternário. Nos solos é preservado um dos microfósseis de plantas mais duradouros: os fitólitos. Com base na morfologia e morfometria dos fitólitos, é possível identificar taxa em diferentes níveis (espécie, gênero, família, etc.), bem como para detectar tipos de vegetação. Assim, o presente trabalho visa apresentar as principais iniciativas de nosso grupo para elaboração de coleções de referências de fitólitos de plantas modernas e de fitólitos preservados nos solos, necessárias para definir a assinatura fitolíticas dos biomas florestados do Brasil. Estas coleções são necessárias para subsidiar os estudos de reconstrução paleoambiental e de gênese de solos. Palavras-chave: Paleovegetação; Opala Biogênica; Coleção de Referência; Índices Fitolíticos.

INTRODUÇÃO A distribuição atual dos biomas brasileiros,

elaborado no período Quaternário, reflete as instabilidades dos climas passados. Vários estudos de microfósseis, análises polínicas e isotópicas, entre outras técnicas têm sido utilizadas para

investigar as variações na vegetação e no clima ao longo do Quaternário e suas implicações nos paleoambientes. A utilização do pólen, no entanto, é restrita e dependente dos meios de deposição adequados (por exemplo, lagos, pântanos, etc.). Além disso, as assembleias fósseis de pólen de florestas Neotropicais, como um todo, nem sempre são análogas aquelas obtidas atualmente de chuva polínica moderna (GOSLING et al., 2009) gerando, portanto, problemas de interpretação. Por outro lado, os solos são materiais terrestres (alóctones ou autóctones) ubíquos e representam um importante reservatório de proxies climáticos, tanto físico-químicos quanto biológicos. Esses registros terrestres têm aportado informações fundamentais para a reconstrução da variabilidade climática e de mudanças da vegetação durante o Quaternário (PESSENDA et al., 1998; 2004; GOUVEIA et al., 2002; CALEGARI et al., 2013a), incluindo os estudos polínicos (BEHLING e LICHTE, 1997; BEHLING et al., 2004). Dentro dos solos é preservado um dos microfósseis de plantas mais duradouros: os fitólitos.

Fitólitos de sílica em solos e paleossolos têm sido usados com sucesso para reconstruir o clima passado e a vegetação em regiões tropicais (para citar alguns, ALEXANDRE et al., 1999; FREITAS et al., 2001; BREMOND et al., 2005; IRIARTE et al., 2010; DICKAU et al., 2013), e apenas alguns exemplos se referem à região neotropical e menos ainda ao Brasil (por exemplo, KONDO e IWASA, 1981; PIPERNO, 2006; ALEXANDRE et al., 1999; BORBA-ROSCHEL et al., 2006; CALEGARI et al., 2013a; COE et al., 2013: MACEDO, et al. 2015).

Fitólitos são corpúsculos de sílica amorfa hidratada (SiO2•nH2O). As Plantas superiores

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absorvem o ácido monossílico (H4SiO4), que está presente no solo como resultado da erosão dos silicatos cristalinos (tais como o quartzo ou o feldspato) e de sílica biogênica, e passa a ser absorvido pelas raízes e transportado através da planta, até onde será depositado gradualmente, principalmente nas partes aéreas como "opala-A" (MANN et al., 1983). Com base na morfologia e morfometria dos fitólitos, é possível identificar taxa em diferentes níveis (espécie, gênero, família, etc.), bem como para detectar tipos de vegetação, tais como: Arbórea versus Savana (BARBONI et al. 1999; 2007, BREMOND et al. 2005); Diversos tipos de vegetação arbórea (CALEGARI et al. 2013a ); Pradarias: vegetação C3 (Festucoideae – em áreas elevadas/planaltos) versus vegetação C4 (Chloridoideae e Panicoideae – áreas mais baixas/planícies) (TWISS 1992).

Considerando que Brasil fica quase inteiramente no domínio Tropical Úmido, a maioria dos solos tem sua gênese, fortemente influenciada pelo fator climático. Desta forma, o registro fitolítico preservado nos solos, além de ser informativo sobre o clima do passado e as mudanças de vegetação, também pode permitir o entendimento de questões como: a variabilidade e as mudanças no ambiente edáfico; e os processos tafonômicos no perfil do solo;

É neste sentido que nossas pesquisas vêm sendo desenvolvidas, consolidando a linha de pesquisas que entende “o solo como registro de mudanças ambientais” e a análise de fitólitos tem permitido acompanhar a trajetória das mudanças da vegetação e do clima, dois importantes fatores de formação do solo. Entretanto, a carência de informações sobre a produção de fitólitos pelas plantas que compõem a vegetação dos diferentes biomas brasileiros, tem sido um fator limitante em muitos estudos realizados no Brasil.

Assim, o presente trabalho visa apresentar as principais iniciativas de nosso grupo para elaboração de coleções de referências de fitólitos de plantas modernas e de fitólitos preservados nos solos, necessárias para definir a assinatura fitolíticas dos biomas florestados do Brasil. Estas coleções são necessárias para subsidiar os estudos de reconstrução paleoambiental e de gênese de solos.

Complementarmente aos estudos fitolíticos, também são realizados estudos de isótopos estáveis de C e N e datação pelo método do 14C.

ÁREAS DE ESTUDO

A partir de alguns projetos pilotos, um conjunto

de pontos de amostragem (em réplicas) tem sido definido ao longo de uma transecção no sentido NW- SE, abrangendo vários ecossistemas dentro do Brasil, a saber:

• Floresta Amazônica - Terra Firme

• Cerrado - Cerradão (floresta) no Estado de São

Paulo • Floresta Ombrófila Densa em Linhares,

Estado do Espírito Santo • Floresta Atlântica de Encosta e Floresta

Estacional Semidecidual no Estado de São Paulo • Floresta de Restinga no Estado de São

Paulo • Floresta Ombrófila Mista com Araucária no

Paraná

MATERIAL E MÉTODOS Para o desenvolvimento dos estudos adotou-se

uma abordagem multiproxy com várias linhas para compreender as mudanças de vegetação e gênese dos solos na região Neotropical. Esta abordagem é uma área de investigação de grande interesse e que tem atraído muita atenção recentemente.

Nesse projeto, nossa abordagem será capaz de investigar a dinâmica sócioecológica dessas áreas no Holoceno, para entender o impacto antrópico e os equilíbrios relativos que podem ter havido nessas áreas antes dos tempos modernos. Assim, as pesquisas, aqui apresentadas, tem seguido o seguinte conjunto de procedimentos:

- Coleta e amostragem de plantas e solos modernos;

- Extração de fitólitos em plantas conforme procedimentos adaptados de Campos e Labouriau (1969) e Piperno (2006);

- Extração e fitólitos em solos seguindo protocolo para solos tropicais (Calegari et al., 2013b);

- Análise isotópica de carbono (δ13C) e datação 14C;

- Identificação e classificação de fitólitos de plantas e de solos conforme Código Internacional de Nomenclatura de Fitólitos – ICPN 1.0 (Madella et al., 2005);

- Determinação de índices fitolíticos para interpretação das condições ecológicas;

- Análises físicas e químicas de rotina das amostras de solo.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos até o momento têm

confirmado que as espécies estudadas, representativas dos principais biomas florestados são excelentes sintetizadoras de sílica e boas produtoras de fitólitos.

Na área de Iranduba, distrito de Manaus (AM), representativo da Floresta Amazônica de terra firme, coletaram-se folhas de 48 espécies de espécies, compreendidas dentro de 27 famílias, em área de floresta secundária sobre TPI e da floresta primária sobre solo natural. Nesta área destacam-se as palmeiras (família Arecaceae) como excelentes produtoras de fitólitos com significado taxonômico.

Dezenove espécies estudadas são abundantes produtoras de fitólitos, três são médias e outras três são pouco produtoras. Dentre as abundantes produtoras, nove espécies pertencem a família das Arecaceae, notadamente Bactris sp., e duas são Pteridaceae (Figura 1). As menores produtoras foram Geophila cordifolia (Rubiaceae), Pausandra macropelata (Euphorbiaceae) e Casearia sp. (Salicaceae)

Na área de Floresta Ombrófila Mista em Francisco Beltrão, (Raitz et al, no prelo) foram coletadas 41 espécies pertencentes a 38 gêneros de 28 famílias. Em praticamente todas as espécies estudadas foi observada a formação de fitólitos, isto é, precipitados de Si >5 µm Ø com forma definida (SOMER et al., 2006). As espécies onde não foram observados fitólitos em suas folhas foram a R. gardneriana e A. angustifolia. Nessas espécies observou-se apenas a formação de uma massa de Si fitogênica indefinida, cujos precipitados apresentam <5 µm Ø. No total foram identificados 83 morfotipos diferentes entre as 41 espécies estudadas nos diferentes estratos, confirmando a forte produção de fitólitos nessa fitofisionomia (Figura 2).

Figura 1 – Fitólitos identificados em Arecaceae da coleção de referência da floresta Amazônica. A); B) globular echinate (Oenocarpus bacaba); C), D) e E) hat-shaped (Astrocaryum aculeatum); F) Globular/Elipsoidal echinate (Attalea sp.); G) e H) globular echinate (Euterpe precatoria). (Fonte: MACEDO et al., 2015).

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Figura 2. Morfotipos diagonósticos das famílias de eudicotiledôneas da FOM: 13 globular echinate (S. romanzoffiana); 14 Globular psilate (P. aquilinum e T. denata); 15 e 16 Irregular cells (O. porosa, N. Lanceolata); 17- Cylindric convex (A. satureioides); 18- Polygonal cells (E. pyriformis, L. divaricata); 19- Paralellepipedal psilate (A. trapeziformi); 20- Paralellepipedal striate (I. paraguariensis); 21- Tabular polygonal striate (Z. maxillare); 22- Tabular polygonal psilate (R. adiantiformis, A. nidus, C. vernalis, P. crucis); 23- Tabular polygonal verrucate (E. uniflora, C. guazumifolia, C. xanthocarpa, H. ochraceus, P. suterella); 24 - Irregular (Bulliform); 25- Hair segmented (P. guaudichaudianum); 26- Irregular cells (jigsaw-puzzle) (L. campestris, D. sorbifolia, Thelypteris sp., D. sellowiana, T. denata, P. aquilinum) e 27- Blocky polygonal tuberculate (L. lacunosa, B. dracunculifolia, C. limonia, O. catharinensis, C. fissilis). (Fonte: RAITZ, et al. no prelo).

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos até o momento sobre as coleções de referências já elaboradas permitem considerar que:

- este é apenas o passo inicial para subsidiar, de forma mais precisa, os trabalhos de reconstrução paleoambiental das paisagens brasileiras baseadas nos estudos fitolíticos;

- as espécies representativas dos biomas florestados avaliados até o momento, de modo geral, são excelentes sintetizadoras de sílica e boas produtoras de fitólitos; - a produção de fitólitos apresenta redundância e multiplicidades entre e intrafamílias dos diferentes estratos amostrados, nas diferentes fitofisionomias estudadas; - existe produção de morfotipos com valor e significado ambiental e taxonômico que fortalecerão as interpretações.

De modo geral os resultados deste projeto podem beneficiar os estudos de reconstrução paleoambiental e de gênese de solos. Espera-se que esses dados possam subsidiar os gestores políticos em sua decisão para a gestão e manejo dos biomas brasileiros, as políticas de proteção de vegetação ameaçadas de extinção, as políticas agrícolas para a preservação do solo e a avaliação do impacto humano nas comunidades naturais e antrópicas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq (Projeto 454981/2014-7) e a CAPES (Projeto CAPES PVE- A115/2013) pelo suporte financeiro.

REFERÊNCIAS

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O uso dos solos e a Legislação Ambiental nas bacias dos córregos Borboleta e Matilde Cuê (1)

Daiane Garcia Souza (2) Vanda Moreira Martins(3); Micheli Danzer (4)

(1) Trabalho executado com recursos da direção do Campus de Marechal Cândido Rondon. (2) Aluna do Curso de Geografia-Graduação/Unioeste ([email protected]) ; (3) Professora do Curso de Geografia da UNIOESTE-MCR; (4) Mestranda do PPG em Geografia/UNIOESTE-MCR. RESUMO: O manejo integrado das bacias hidrográficas e os diferentes usos do solo influenciam diretamente na qualidade dos recursos naturais, em especial dos solos e dos recursos hídricos, para além dos limites das áreas por elas drenadas. A pesquisa tem como objetivo geral reunir informações que possam subsidiar as ações dos órgãos e entidades de fiscalização e gerenciamento ambiental no trabalho de monitoramento, recuperação e conservação dos solos e dos recursos hídricos nas bacias dos Córregos Borboleta e Matilde Cuê, no município de Marechal Cândido Rondon, Paraná. A análise dos dados e informações geoambientais das bacias, associada à utilização de técnicas e ferramentas de geotecnologias e às observações em campo, permitiu constatar que o uso do solo não está de acordo com a legislação ambiental vigente. O desrespeito em relação às áreas de APP (Áreas de Preservação Permanente) é a infração mais comum em relação ao Código Florestal Brasileiro, atualizado em 2012. Falhas no planejamento e na fiscalização do uso do solo, em todas as fases de gestão, são as barreiras que a sociedade deve combater. Palavras-chave: Uso do solo, Código Florestal e Gestão Ambiental.

INTRODUÇÃO

O solo, a água, a vegetação, o relevo e a fauna formam unidades ambientais e coexistem em permanente interação, respondendo às interferências naturais, como o intemperismo e a modelagem da paisagem, e àquelas de natureza antrópica, como o uso e ocupação dos solos, afetando o sistema em seus aspectos socioeconômicos e ambientais (Lepsch, 2002).

A gestão dos recursos hídricos e do uso do solo no Brasil, por exemplo, se fundamenta no recorte territorial das bacias hidrográficas, ganhando força no início da década de 1990 (Souza, 1996). Daí a importância de se conhecer,

divulgar e aplicar a legislação ambiental no que diz respeito às regras de uso do solo, das áreas de APP e à preservação dos recursos hídricos, a partir das unidades de paisagem representadas pelas bacias hidrográficas (Pissarra, 2003).

A atividade agrícola é a base econômica do município de Marechal Cândido Rondon e o uso adequado dos solos constitui um pré-requisito essencial para garantir a sustentabilidade dos sistemas agroindustriais e, também, urbanos. Considerando ainda que boa parte das áreas das bacias hidrográficas é constituída pelo espaço rural e as atividades agropecuárias são aquelas que ocupam as maiores extensões do espaço geográfico, os impactos gerados por essas atividades podem ser refletidos nas bacias superiores. No entanto, apesar da existência das leis ambientais, a utilização adequada dos recursos naturais, em especial aqueles relacionados ao uso do solo, tem preocupado alguns segmentos da sociedade. O mau uso do solo restringe ou elimina as áreas de APPs, alterando as condições físico-químicas dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas, além de desencadear outros impactos como a poluição, o assoreamento dos canais fluviais e a diminuição do volume de água (Rocha, 2011).

A cidade está localizada na região Oeste do Paraná, no Terceiro Planalto Paranaense, entre os paralelos de 24° 26’ e 24° 46’ S e 53° 57’ e 54° 22’ W e possui, aproximadamente, 49.773 habitantes. O Plano Diretor é obrigatório para cidades acima de 20 mil habitantes e o planejamento territorial é a definição coletiva da melhor forma de ocupar sítios, cidades, municípios ou região, prevendo a localização das atividades e do uso do solo presente e futuro. O Plano Diretor Parcial de Marechal Cândido Rondon, iniciado no mês de maio de 2007, foi dividido em seis fases: Plano de Trabalho, Leitura da Realidade Municipal, Eixos Estratégicos e Diretrizes, Legislação Urbana Básica, Plano de Ação, Investimentos e Produto Final. A fase de Leitura da Realidade Municipal, considerada uma das mais importantes, apresentou os dados sobre

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o uso do solo, levantados pela equipe técnica de planejamento e as questões abordadas pela comunidade nas audiências públicas (Fuhr, 2015).

As APPs são áreas protegidas, cobertas ou não por vegetação nativa, para preservação dos recursos hídricos. As funções das Áreas de Preservação Permanente são: a estabilidade geológica, a biodiversidade, a beleza da paisagem, conter a erosão do solo, diminuir os riscos de enchentes e deslizamentos de terra e rocha nas encostas, facilitar o desenvolvimento da fauna e flora e, especialmente, assegurar e preservar o bem-estar das populações humanas. As áreas de APP (faixas marginais) são áreas que devem ser mantidas em zonas rurais ou urbanas, em qualquer curso de água natural perene e intermitente, excluindo os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de 30 (trinta) metros. Para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura deverá ser mantida pelo proprietário, independente se for pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado (Brasil, 2012).

E importante destacar que para O Novo Código Florestal - Lei 12.651 de 25/05/2012 as APPs consolidadas são as atividades agrossilvipastoris de ecoturismo e turismo rural que já existiam em APPs até 22 de julho de 2008. Estas poderão continuar e serão consideradas desde que não estejam em áreas de risco e sejam observados critérios técnicos de conservação do solo e da água estabelecidos no Programa de Regularização Ambiental (PRA). O órgão ambiental poderá comprovar a situação de área consolidada por meio de fotos de satélites referentes ao período anterior a 22 de julho de 2008. A distância que tem que ser mantida nas bordas da calha do leito para as áreas de APPs Consolidadas são diferentes das APPs. Conforme o Novo Código Florestal, a distância a ser preservada, vai depender dos módulos fiscais e de largura do rio (Brasil, 2012).

As Áreas de Preservação Permanente que se localizam no setor urbano da cidade sofrem pressão do mercado imobiliário gerando conflitos de interesse entre a Legislação e uma parcela da sociedade que, muitas vezes, culmina na ocupação e supressão da mata, dando lugar aos empreendimentos imobiliários residenciais ou industriais. Por isso, o objetivo dessa pesquisa é caracterizar e analisar o uso do solo em duas bacias hidrográficas do setor periurbano da cidade de Marechal Cândido Rondon, verificando o cumprimento do Código Florestal Brasileiro.

MATERIAL E MÉTODOS

A aquisição de informações sobre a

abordagem das bacias hidrográficas como a unidade básica de análise integrada da paisagem; as Leis Ambientais (Código Florestal Brasileiro) e o Plano Diretor do município de Marechal Cândido Rondon, fez parte dos procedimentos da pesquisa. A etapa seguinte foi a identificação e a caracterização do uso do solo e dos impactos ambientais nas bacias estudadas. Para tanto, se utilizou imagens aéreas do INPE disponíveis na web, mapas temáticos pré-existentes (Calzavara, 2015) e observações e incursões em campo. E conforme os procedimentos da Embrapa (1995), com apoio de um SIG (ArcGis) foi elaborado e aperfeiçoado o mapa de solos e de declividade (este ainda em fase de edição final). A etapa seguinte foi a de caracterização, análise e interpretação dos dados, seguida de aferição em campo (caminhamento) dos elementos observados, identificados e representados nos mapas temáticos elaborados, com ênfase na relação entre os diferentes tipos de uso do solo (sobretudo as APPs) na bacia e o cumprimento da Legislação Ambiental vigente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos dados e informações reunidos nos

mapas temáticos (Figuras 1, 2 e 3) foi possível sintetizar os seguintes resultados.

A bacia do Córrego Borboleta localiza-se no setor sul do perímetro urbano e é caracterizada por declividade entre 20 e 30% em cerca de 30% de sua área que totaliza 5,721 Km². As formas de relevo dessa área favorecem a concentração e a maior velocidade do escoamento das águas que, assim, contribuem para a evolução de formas erosivas muito mais rápida que o normal. A urbanização em expansão, as culturas temporárias e as pastagens são os principais usos na bacia. Nos setores com declividades entre 6 e 12% os solos são mais desenvolvidos (Latossolos e Nitossolos Vermelhos). Com o crescimento da cidade e a implantação de novos loteamentos na direção das cabeceiras da bacia, os processos erosivos, o assoreamento e a poluição dos mananciais são os impactos iminentes. Os depósitos de lixo e de entulhos também são comuns. A declividade moderada a forte é o atributo físico inibidor do processo de expansão da urbanização na direção das cabeceiras de drenagem e fundos de vale, favorecendo a ocupação pela vegetação secundária e pastagem. No entanto, quando a declividade favorece, alguns setores são

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ocupados pela urbanização como observado no setor leste da bacia (Figura 1).

Via de regra, a legislação que regulamenta que as construções devem iniciar a partir de uma distância de 30 (trinta) metros desde a borda da calha do leito regular em cursos de d’água de 10 metros de largura, não está sendo cumpridas, assim como não se cumpre, também, as normas do Plano Diretor do município. Além disso, devido à declividade, as águas pluviais chegam ao curso d’água à jusante de forma rápida e concentrada, gerando processos erosivos e o assoreamento do canal (Fuhr, 2015).

A bacia do Córrego Matilde Cuê (Figura 2), situa-se ao sudeste da área urbana da cidade ocupando uma área de 5,175 Km². Nos setores com declividades entre 3 e 6%, que corresponde a cerca de 70% da área, os solos são desenvolvidos e profundos. Suas cabeceiras são ocupadas por APPs, sendo que uma delas inclui o Parque Ecológico Municipal Rodolfo Rieger. Parte da área industrial da cidade e a urbanização residencial e comercial, além da cultura temporária são os usos comuns.

A bacia é constituída de uso de solo bastante diversificado, incluindo áreas residenciais, agrícolas, comerciais e industriais que demandam uma atenção criteriosa no que se refere à expansão urbana e consequentes impactos ambientais. A intensificação da expansão urbana nas cabeceiras de drenagem compromete a qualidade da água e a preservação das reservas legais e matas ciliares. A ausência de rede coletora de esgoto na maior parte da área urbana neste setor da bacia é um fator agravante.

Os atributos morfológicos de algumas ordens de solos (Neossolos Litólicos e Regolíticos) não foram considerados na ocupação urbana e rural de alguns setores da bacia. Loteamentos urbanos que não respeitaram as características físicas (solos rasos, declividade moderada, largura mínima da mata ciliar) do meio desencadearam problemas socioambientais levando à desocupação dos imóveis com estrutura comprometida. Esse foi um dos problemas sociais de solução lenta e onerosa para a comunidade e para o ambiente.

Nessa bacia, do ponto de vista socioambiental, a criação do Parque Ecológico trouxe resultados positivos. A revitalização da cabeceira permitiu a recomposição parcial da mata ciliar em alguns trechos, preservando os mananciais. Entretanto, a expansão urbana e a permanência de indústrias alimentícias, situadas ao Sudeste da bacia do Córrego Matilde Cuê, acarretam problemas com resíduos sólidos (poeira) lançados na atmosfera e líquidos que são

lançados nos recursos hídricos. Outro aspecto urbanístico que chama a atenção é a liberação e construção do Teatro Municipal nas proximidades da Área de Preservação Permanente, tendo, sobretudo, o interesse econômico como foco e não a preservação (Fuhr, 2015).

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados da pesquisa, foi

observado que nas bacias hidrográficas dos córregos Córrego Borboleta e Córrego Matilde Cuê não são cumpridas, na íntegra, as diretrizes e leis constantes no plano diretor de Marechal Cândido Rondon e no novo Código Florestal Brasileiro, sobretudo em relação às áreas de APP. Observou-se que as imobiliárias, os órgãos gestores e até mesmo alguns proprietários de terras não se preocupam com as questões ambientais e os impactos socioambientais. Na prática, as normas do Código Florestal relativas às APPs têm sido largamente descumpridas, tanto em decorrência da proliferação de assentamentos informais, como pela implantação de projetos de parcelamento urbano. Esta realidade desencadeia graves prejuízos ambientais, como o assoreamento dos corpos d’água, a diminuição dos corpos hídricos superficiais e subsuperficiais entre outros impactos de diversas naturezas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao CNPq pelo auxílio financeiro

da bolsa PIBIC e à UNIOESTE pela oportunidade de ingressar na Iniciação científica.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Florestal Brasileiro. Presidência da República, casa civil, subchefia para assuntos jurídicos. Brasília, 25 de maio de 2012; 191° da Independência e 124° da República.

CALZAVARA, Silmara F. Uso e Cobertura do Solo e Escoamento Superficial nas Bacias Hidrográficas Urbanas de Marechal Cândido Rondon - PR. 2015. MCR.

DANZER, M.; MARTINS, V. M. Relação Solo-Paisagem na Bacia do Paraná III – BR. In: VIII Semana Acadêmica e VIII Expedição Geográfica: Ensino, práticas e formação em Geografia. Marechal Cândido Rondon – PR, 2013.

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EMBRAPA. Procedimentos normativos de levantamentos pedológicos. Brasília, 116p., 1995.

FUHR, Josiane de O. M. Aplicação Do Código Florestal APPs Fluviais Urbanas: Estudos Na Cidade de Marechal Cândido Rondon. PR. 2015. MCR

LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. São Paulo: Oficina de textos, 2002.

MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Plano diretor do Município de Marechal Cândido Rondon-PR. Disponível em< http://www.mcr.pr.gov.br>. Acesso em Junho de 2015.

PISSARRA, T.C.T.; POLITANO, W.A. Bacia Hidrográfica no Contexto do Uso do Solo com floresta. Jaboticabal: Ed. FUNESP, 2003.

ROCHA, Anderson. S. da. Morfopedologia e fragilidade ambiental nos fundos de vale do trecho superior do Córrego Guavirá Marechal Cândido Rondon – PR. Francisco Beltrão, 2011. 125p. (Dissertação de Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

SOUZA, Enio Resende de; FERNANDES, Maurício Roberto. Sub-bacias hidrográficas unidades básicas para o planejamento e gestão sustentáveis das atividades rurais. Belo Horizonte, 1996. EMATER-MG.

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Figura 1 - Uso do Solo na Bacia do Córrego Borboleta.

Figura 2 - Uso do solo na Bacia do Córrego Matilde Cuê.

Figura 3 - Mapa de solos das Bacias dos córregos Matilde Cuê e Borboleta.

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Os solos e a declividade na Bacia do Paraná III(1)

Vanda Moreira Martins(2); Micheli Danzer; (3) Danieli Cristina Cassuli (4); Bruno Aparecido da Silva (5); Jaqueline G. W. Fruet (6); Daiane Garcia Souza (7)

(1) Trabalho executado com recursos do PPG em Geografia/Unioeste/MCR-PR, da direção do Campus de Marechal Cândido Rondon e da CAPES. (2) Professora do Curso de Geografia da UNIOESTE-MCR ([email protected]); (3,4,5 e 6)Mestrandos do PPG em Geografia/UNIOESTE-MCR; (7) Graduanda do Curso de Geografia/MCR. RESUMO: Localizada na região Oeste do estado do Paraná, a Bacia do Paraná III (BPIII) integra o Terceiro Planalto Paranaense. Mapeamentos dos solos em escalas maiores que 1: 250.000 é uma necessidade básica para trabalhos de pesquisa de diversas naturezas e de gestão dos recursos naturais. Pesquisadores do Grupo Multidisciplinar de Estudos Ambientais (GEA) desenvolvem trabalhos relacionando a declividade, o relevo, a hidrografia e os solos nas unidades e subunidades geomorfológicas da Bacia do Paraná III (BR). As classes de declividade têm sido utilizadas como elemento norteador dos mapeamentos de solos a partir da interação com os tipos de formas de relevo e das vertentes. A carta de declividade constitui, portanto, um pré-requisito básico para o reconhecimento e mapeamento dos solos em diferentes escalas. A identificação dos solos, seus limites e da relação com a declividade é o principal objetivo desse estudo. Procedimentos, técnicas, ferramentas de geoprocessamento e registros em campo são os elementos básicos utilizados na análise, com ênfase na relação entre a declividade e os principais tipos de solos que formam os sistemas pedológicos na BPIII-BR. Nos interflúvios planos a suave ondulados, com vertentes longas e retilíneas e declividades entre 0 e 6% ocorrem os Latossolos Vermelhos (LV). Os Nitossolos Vermelhos (NV) estão associados, preferencialmente, às declividades entre 6 e 12% dos seguimentos médio-baixos e convexos das vertentes. Em geral, essa ordem de solos se prolonga até os canais fluviais podendo ocorrer em declividades acima de 12%. Os Cambissolos Háplicos (CX), Neossolos Litólicos (RL) e Regolíticos (RR) ocorrem, em associação, nos setores de rupturas com declividades superiores a 12%. Palavras-chave: Mapeamento, Relevo, Sistema Pedológico.

INTRODUÇÃO

As unidades e subunidades morfoesculturais da Bacia do Paraná III (Bade, 2014) integram o

Terceiro Planalto ou Planalto de Guarapuava (Figura 1). Considerado a região fisiográfica mais simples do Estado do Paraná, por suas formas e estruturas, esse Planalto tem sua evolução morfoescultural comandada pela ação dos rios Ivaí, Piquiri e Iguaçu. As mesetas estruturais são evidentes e estão relacionadas às estruturas dos derrames vulcânicos, cujos degraus representam as superfícies entre os sucessivos derrames de lavas que deram origem à topografia de aspecto tabuliforme, com encostas suavizadas, entremeadas em diversas áreas por colinas suave-onduladas e, secundariamente, por morros ondulados (Embrapa, 1984; Santos et al. 2006; Magalhães, 2013; Bade, 2014).

Figura 1 - Localização da Bacia do Paraná III - Brasil.

Nas últimas seis décadas, o uso e o manejo agrícola desencadearam uma série de impactos que alteraram a dinâmica hídrica e a evolução dos sistemas pedológicos nas microbacias que integram a BPIII. As alterações recentes na estrutura e na organização dos solos, ao longo da vertente e na bacia, são preocupações que ainda necessitam ser investigadas e monitoradas. Entender como evoluem tais alterações pressupõe identificar e conhecer os compartimentos geomorfológicos da paisagem e sua interação com os outros elementos do sistema, tendo como base a relação solo-relevo, conforme trabalho realizado por Danzer (2015). A carta de declividade aparece, então, como o plano de informação que permite relacionar e

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inferir as interações com os tipos e formas do relevo e das vertentes e com o uso e cobertura dos solos. Tal análise contribui para o entendimento da distribuição espacial dos solos em escalas detalhadas e é essencial para a interpretação dos processos socioambientais, sua dinâmica e evolução na paisagem. O mapeamento detalhado é a forma mais eficaz de representação dos limites, dados e informações socioambientais necessárias ao planejamento do uso e ocupação do solo.

Procedimentos e técnicas de campo (Embrapa, 1995) e ferramentas de geoprocessamento foram utilizados na elaboração das cartas (básicas e temáticas) as quais nortearam a análise da relação solo-declividade e a delimitação da distribuição espacial dos solos na BPIII-BR.

MATERIAL E MÉTODOS A elaboração da carta de declividade e do

mapeamento dos solos baseou-se na utilização: a) dos modelos digitais de elevação (MDE) provenientes do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e, b) das imagens de satélite e Carta Topográfica (escala 1:50.000). A manipulação dos dados geoambientais foram realizadas a partir das funções que compõem a estrutura dos softwares SIGs (Sistema de Informações Geográficas), ArcGis 10, Spring 5.2.6, Global Mapper 12 e Google Earth.

A carta de declividade foi elaborada por meio da interpolação das curvas de nível (20m) e das seis (6) classes de declives previamente definidas (Tabela 1), conforme metodologia adaptada de Ross (1994). Posteriormente, as classes de declives foram relacionadas com os dados geoambientais pré-existentes e gerados (solo, hipsometria, hidrografia, uso do solo, tipos e formas do relevo e das vertentes), permitindo mapear a distribuição espacial dos solos nas bacias estudadas na BPIII-BR.

Tabela 1 - Classes de declividade adaptadas de Ross (1994)

Classes de declividade (%) Categorias Hierárquicas 0-3 Muito Fraca 3-6 Muito Fraca

6-12 Fraca 12-20 Média 20-30 Forte >30 Muito Forte

Os mapeamentos foram aferidos por meio de

observações, descrições e registros fotográficos em campo, conforme procedimentos adaptados

da Embrapa (1995). As classes de declividade foram utilizadas como elemento padrão norteador dos limites e das transições espaciais entre as classes de solos que formam os sistemas pedológicos, permitindo, assim, obter o mapa de solo das bacias, em escala de 1:50.000.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os Latossolos Vermelhos (LV) encontram-se

nos extensos interflúvios planos a suave-ondulados de alta e média vertente, pouco dissecados e com declives de 0 - 6% (Figura 2). Nos setores de média e média-baixa vertente, com formas convexas e declives de 6 a 12% encontra-se a classe do Nitossolo Vermelho (NV). Acima dessas declividades a ocorrência dos LV, por exemplo, é pouco frequente. A transição lateral dos Nitossolos Vermelhos para os Cambissolos e solos rasos acompanham as declividades de 6 a 12%, conforme mapeamento realizado nas bacias hidrográficas da Subunidade Morfoescultural de Nova Santa Rosa (Figura 2 e 3).

Os solos rasos, como os Cambissolos (CX) e os Neossolos Regolíticos e Litólicos (RR e RL), são encontrados, em associação, nos setores de ruptura de declive na média e baixa vertente. Nesses setores a declividade média a muito forte (entre 12 e >30%) caracteriza as formas convexas do relevo ondulado a forte ondulado, acompanhando os canais fluviais. Danzer (2015), em concordância com os trabalhos de Moresco (2007), Rocha (2011); Rocha et al. (2012), Magalhães (2013) e Bade (2014), verificou que os segmentos altos das vertentes, as áreas de topos curtos e rupturas de declives moderadas a fortes (>30%) também apresentam essa associação de solos.

Os Gleissolos são pouco representativos nas bacias da BPIII-BR e estão associados às declividades fracas (< 6%), acompanhando os ambientes mal drenados representados pelos depósitos aluvionares e as planícies de inundação. Ocorrem, também, em áreas restritas, com declividades muito fracas a fracas (<12%), em cabeceiras de drenagem ou em áreas deprimidas dos topos planos.

CONCLUSÕES 1- O cruzamento das cartas de declividade e

dos solos, em nível de ordem e subordem, apresenta nítida relação facilitando a identificação das unidades de mapeamento dos solos na escala de 1:50.000.

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2- A relação solo-declividade é bem marcada ao longo da vertente nas bacias e a declividade representa o elemento norteador dos limites espaciais dos solos que, por sua vez, acompanham as mudanças dos tipos e formas das vertentes nas subunidades de paisagem da BPIII-BR.

3- Em geral, as bacias da BPIII-BR apresentam padrões semelhantes de distribuição espacial dos solos, respeitando as diferenças fisiográficas de cada uma de suas unidades e subunidades geomorfológicas.

AGRADECIMENTOS Agradecemos à CAPES, ao PPG em

Geografia-MCR e à UNIOESTE pelo auxílio financeiro para subsidiar os custos dos trabalhos de campo.

REFERÊNCIAS BADE, M.R. Definição e caracterização das unidades de paisagem das bacias hidrográficas do Paraná III (Brasil/Paraguai). Marechal Cândido Rondon, 114p. Dissertação de Mestrado em Geografia. 2014.

DANZER, M. Relação solo-relevo na subunidade morfoescultural de Nova Santa Rosa-PR. Marechal Cândido Rondon, 95p. Dissertação de Mestrado em Geografia. 2015.

EMBRAPA, Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária. Levantamento e reconhecimento dos solos do estado do Paraná. Londrina-PR: EMBRAPA-SNLCS/SUDESUL/IAPAR, (EMBRAPA-SNLCS, Boletim Técnico, 57), Tomo I e II, 791p. 1984.

EMBRAPA, Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária. Procedimentos normativos de levantamentos pedológicos. Brasília, EMBRAPA, 116p.,1995.

MAGALHÃES, V.L. Gênese e evolução dos sistemas pedológicos em unidades de paisagem do município de Marechal Cândido Rondon - PR. Maringá, 123p. Tese de Doutorado em Geografia, 2013.

MAGALHÃES, V.L.; CUNHA, J.E.; NÓBREGA, M.T. Indicadores de vulnerabilidade ambiental. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 7, p. 1133-1144, 2014.

MORESCO, M. D. Estudos de paisagem no município de Marechal Cândido Rondon – PR. 137p. Dissertação de Mestrado. 2007.

ROCHA, A.S. da. Morfopedologia e fragilidade ambiental nos fundos de vale do trecho superior do Córrego Guavirá Marechal Cândido Rondon – PR. Francisco Beltrão, 2011. 125p. (Dissertação de Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

ROCHA, A.S.; CUNHA, J.E.; MARTINS, V.M. Relações morfopedológicas nos setores de fundos de vale da bacia hidrográfica do córrego Guavirá, Marechal Cândido Rondon-PR. Boletim de Geografia (UEM), v. 30, p. 99-100, 2012.

ROSS, J.L.S. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. In: Revista do Depto de Geografia, n.8, FFLCH-USP, São Paulo, 1994.

SANTOS, Leonardo. J. C.; OKA-FIORI, Chisato.; CANALI, Naldy. E.; FIORI, Alberto. P.; SILVEIRA, Claudinei. T. da.; SILVA, Julio. M. F. da.; ROSS, Jurandyr. L. S. Mapeamento geomorfológico do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Geomorfologia. Ano 7, nº 2, p. 03-12, 2006.

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Figura 2 - Carta de declividade representativa da Subunidade Morfoescultural de Nova Santa Rosa.

Figura 3 - Carta de solos representativa da Subunidade Morfoescultural de Nova Santa Rosa.

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Reflexões sobre o Parque Nacional do Iguaçu e a Pressão antrópica sobre a Unidade de Conservação

Juraci Colpani (¹); Karin Linete Hornes(²)

(1) Acadêmica do Mestrado do Programa de Pós Graduação da Universidade do Oeste do Paraná em Geografia - Nível de Mestrado, Área de Concentração Espaço de Fronteira: Território e Ambiente, 1º Semestre/2015. Marechal Cândido Rondon/Paraná. E-mail: [email protected] (2) Professora do Programa de Pós Graduação da Universidade do Oeste do Paraná em Geografia - Nível de Mestrado, Área de Concentração Espaço de Fronteira: Território e Ambiente. Marechal Cândido Rondon/Paraná. E-mail: [email protected]

RESUMO: A presente pesquisa que ainda está em andamento, tem como objetivo realizar um projeto ambiental que colabora com a divulgação da geodiversidade e da biodiversidade do Parque Nacional Iguaçu e Parque Nacional do Iguazú. O motivo da realização da pesquisa se deve a necessidade de trabalhar de forma integrada com uma área de preservação permanente fronteiriça. Ambos os parques tem a finalidade de proteção e divulgação de seu patrimônio, no entanto as adversidades fronteiriças e as pressões antrópicas, sejam políticas ou de uso, acabam interferindo nesta dinâmica e são empecilhos para o conhecimento integral do geossistema dos parques uma vez que geram mal estar entre os órgãos fiscalizados. Neste sentido o trabalho ao realizar o projeto ambiental que será aplicado aos funcionários e a comunidade do entorno do parque busca unir as informações da geodiversidade e da biodiversidade e as pressão que ambos os parques vem sofrendo para a averiguação dos diferentes potenciais para o geoturismo e ecoturismo e dos riscos que os mesmos veem sofrendo no intuito de apresentar a comunidade os patrimônios e a dificuldades de sua manutenção de forma coletiva, uma vez que os parques são considerados Sítio do Patrimônio Mundial Natural pela Unesco e no entanto devido as adversidades fronteiriças acabam não incorporando esta dinâmica. Até o momento foram elencadas as pressões antrópicas pelas quais o Parque Nacional do Iguaçu vem passando. A metodologia utilizada se embasou na consulta aos referenciais teóricos que trabalham a problemática das pressões antrópicas. Assim foi possível verificar quais os problemas que o parque vem sofrendo. Palavras-chave: Vulnerabilidade ambiental. Riscos. Preservação.

INTRODUÇÃO

O trabalho será realizado em um recorte territorial de integração binacional, entre a cidade de Foz do Iguaçu (Brasil) e Misiones (Argentina). Nele estão localizados os Parques Nacionais do Iguaçu e do Iguazú, juntos são reconhecidos pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Sítio do Patrimônio Mundial Natural e área de Valor Excepcional Universal devido à sua formação geológica, fisiográfica e por constituir nichos ecológicos nitidamente delimitados ameaçados de extinção e de grande valor científico (PAES-LUCHIARI, BRUHNS E SERRANO, 2007).

A área de 185.262,20 ha. são do Parque Nacional do Iguaçu e 67.720 ha. do Parque Nacional do Iguazú, juntos compõe um complexo florestal de conservação da natureza entendido como um patrimônio sem fronteiras (BRASIL, 1999).

Dentro do espaço compreendido pelo Parque se encontram três subdivisões distintas da Mata Atlântica segundo Vogliotti et al. (2011):

Floresta Estacional Semidecidual: também conhecida como Floresta Sub-caducifólia, é a que cobre a maior parte da Unidade, se estende desde o limite oeste do Parque, aproximadamente 180m de altitude chegando a alcançar os 500m. Sua característica mais marcante é a capacidade, de algumas árvores, perder total ou parcialmente suas folhas no inverno e assim evitar a perda de água causada pela evapotranspiração.

Floresta Ombrófila Mista: é a segunda formação predominante na área da Reserva Natural, estando localizada na região com altitudes superiores a 500m. A Araucária angustifolia, conhecida como pinheiro-do-paraná, é a espécie de maior representatividade deste tipo de formação vegetal e atualmente se

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encontra ameaçada de extinção devido a intensa exploração.

Formações Pioneiras de Influencia Fluvial: também conhecida como vegetação de zona ripária, é encontrada ao longo dos cursos dos rios e lagoas abastecidas pelas chuvas. É rica em espécies pioneiras como gramíneas, plantas aquáticas, plantas resistentes à água e à insolação.. A riqueza da fauna também surpreende, segundo o Almanaque Brasil Socioambiental, do Instituto Socioambiental (ISA), 2008, até agora foram registradas 700 espécies de borboletas, 18 de peixes, 12 de anfíbios, 41 espécies de serpentes, 8 de lagartos, 340 de aves e 40 espécies de mamíferos além dos morcegos.

A formação geológica de rochas efusivas basálticas tão específica teve origem com o processo conhecido como vulcanismo de fendas que aconteceu a aproximadamente 165 a 120 milhões de anos, na era Mesozóica. O fenômeno determinou a composição do cânion Parna do Iguaçu, aonde agora se tem as quedas d’água distribuídas num semicírculo de 2.700 metros de extensão, dos quais, 800 metros se dispõe do lado brasileiro e 1.900 metros do argentino (BRASIL, 1999).

O território em estudo se encontra localizado dentro da Bacia do Rio Iguaçu, considerando os afluentes dos Estados do Paraná, Santa Catarina e do lado Argentino a superfície total da mesma atinge 72.637,5km² (RICOBOM, 2001). Alguns autores pesquisados registram que a vazão média anual do Rio Iguaçu fica em torno de 1.400m³/s.

A região geográfica é compreendida dentro de uma zona climática de transição, composto pelos climas Tropical e Temperado. Tal enquadramento se encontra nos mapas de classificação de clima global de koppen (Koeppe & De Long, 1958), que mostram o limiar entre o clima tropical, caracterizado pela ocorrência de duas estações chuvosas bem definidas, e o clima temperado, com chuvas são distribuídas igualmente ao longo de todo o ano. Os índices pluviométricos são elevados, entre 1.500mm a 2.000mm anuais e temperaturas médias entre 150C e 250C (BRASIL, 1999).

Bourscheit (2014) afirma que o Parque Nacional do Iguaçu é a segunda Unidade de Conservação mais visitada no Brasil, chega a movimentar aproximadamente setecentos milhões de reais anuais e já ultrapassou o número de um milhão e meio de visitantes ao ano.

MATERIAL E MÉTODOS Para realização da pesquisa utilizou-se de

referenciais teóricos da geografia ambiental Mendonça (2002), Kozel (2002) e Suertegaray (2002) que permitem trabalhar com a dinâmica sociedade natureza, na perspectiva de compreensão das relações desenvolvidas e da evolução da sociedade e seus diferentes enfoques de valorização da natureza.

A teoria geossistêmica de Bertrand e Monteiro foi a base que norteou a metodologia da presente pesquisa uma vez que a mesma permite relacionar os aspectos abióticos, bióticos e antrópicos existentes na dinâmica dos parques. Até o presente momento foram realizados levantamentos do contexto histórico e geográfico baseados em estudos realizados pelos Órgãos Federais responsáveis para cada parque em seu próprio país.

Posteriormente iniciou-se a verificação das pressões antrópicas que o Parque Nacional do Iguaçu vem sofrendo através do trabalho e relatórios da Equipe do Parque Nacional do Iguaçu, da força tarefa da Polícia Federal, Militar e Ambiental e de repórteres da região.

A presente pesquisa se utilizou da interpretação de fenômenos antrópicos, da unidade geográfica delimitada para o estudo, e da consideração de seus significados socioambientais. A metodologia aplicada para a obtenção dos dados foi o levantamento descritivo e histórico das ocorrências de crimes ambientais e demais pressões socioeconômicas que aconteceram no período de quinze anos (2000 a 2015) e do que é pertinente à mesma; nesse caso através:

Pesquisa bibliográfica: busca do acervo bibliográfico através de livros, artigos publicados em periódicos e com artigos e periódicos disponibilizados na Internet;

Pesquisa documental: estudo dos documentos relativos ao meio ambiente, como a Legislação Federal, Protocolos, Decretos, Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Planos de Manejo, Portarias, mapas, e demais documentos históricos disponibilizados pelo Parque Nacional do Iguaçu; e

Acompanhamento do trabalho realizado com o Conselho do Parque Nacional do Iguaçu (CONPARNI) no ano de 2012 e, na medida do possível, das equipes que trabalham no parque, no intuito de compreender aos fenômenos sociais e ecológicos que afetam o ecossistema como um todo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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As relações entre homem e natureza vem se

modificando no decorrer das evoluções técnicas e científicas da sociedade. Estas discussões nem sempre são equalizadas uma vez que vários segmentos da sociedade apresentam outras atitudes em relação a valorização da natureza. Assim existem muitos conflitos no que se diz respeito a manutenção de áreas de preservação permanente, uma vez que as mesmas acabam interferindo nas relações de uso e apropriação por parte de algumas parcelas da população que não enxergam na ou não desfrutam da mesma significância dada aos parques.

Desde sua criação, em 1939, o Parque Nacional do Iguaçu sente a pressão antrópica, porém depois da década de 50 os problemas foram se intensificando. Com o incentivo do governo federal vários agricultores saíram do Rio Grande do Sul e vieram se instalar no oeste do Paraná. Nessa frente colonizadora a característica mais marcante é o estabelecimento de grandes áreas agrícolas.

Conforme relata o site do Ministério do Meio Ambiente, o que possibilita o surgimento dos peculiares micro-ambientes físicos e o crescimento de nichos biológicos tão propiciadores para a constituição da grande biodiversidade encontrada nessa reserva da Mata Atlântica só pode ser compreendida através da íntima relação existente entre esses aspectos, o substrato geológico e os processos fluviais próprios do rio Iguaçu.

Com o desmatamento se desencadeou um processo de alteração das condições ambientais adjacentes, isto é, gerou um efeito “dominó” de desequilíbrio ecossistêmico, decorrentes das atividades humanas tanto no entorno como dentro da Unidade, associadas ao uso do solo, maior exposição de plantas e animais selvagens a exploração ilegal, maior vulnerabilidade às modificações ambientais e ameaças externas relacionadas às atividades econômicas (VOGLIOTTI et al., 2011).

As questões relacionadas a ação humana que impactam negativamente o Parque Nacional do Iguaçu que foram identificadas no presente investigação foram obtidas em edições bibliográficas já publicadas, levantamentos realizados pela equipe administrativa da Unidade, notícias publicadas e nas Reuniões do Conselho Parque Nacional do Iguaçu (CONPARNI).

Insularização: a área protegida se torna uma “ilha de preservação” cercada por terras agrícolas, cidades e rodovias. Tal fato propicia perda e mudança de hábitats e cadeia trófica a entrada de espécies exóticas no ecossistema

natural, atropelamento de animais nativos, minimização de variabilidade genética entre os indivíduos e facilita a contaminação por resíduos rurais e urbanos (RICOBOM, 2001).

Agricultura: O intenso cultivo de grãos nas áreas ao redor do Parque Nacional do Iguaçu acaba produzindo, indiretamente, impactos negativos sobre o ecossistema da Unidade, dentre eles pode-se citar Vogliotti et al. (2011):

Ataque de animais herbívoros (capivaras, cutias, veados) nas lavouras próximas ao Parque, atualmente esse tipo de problema é mais raro, mas já causaram graves prejuízos, seja na morte desses animais ou seja na perda da safra de grãos;

Práticas agrícolas inadequadas acabam desencadeando a lixiviação do solo causando erosão e assoreamento de rios e sangas, afetando a qualidade da água e a vida dos organismos aquáticos causado pelo uso indiscriminado de veneno agrícola, de fertilizantes químicos e pelo desmatamento da mata ciliar;

Uso de organismos geneticamente modificados, principalmente soja e milho, que apresentam alta resistência a produtos como o herbicida glifosato e a lagarta de cartucho. Como não se conhece quais são os efeitos relacionados aos transgênicos sobre a biodiversidade os órgãos federais agem pelo princípio da precaução, tentando restringir seu uso próximo a Unidades de Proteção Integral, mas a pressão dos produtores ainda é pelo fim das limitações.

Criação de Animais Domésticos: a presença de animais domésticos próximos a Unidade de Conservação apresenta dificuldades como apresenta Vogliotti et al. (2011):

Disseminação de doenças e parasitas, especialmente para aves e mamíferos silvestres. Há indícios de que os porcos-do-mato, hoje extintos do parque, tenham sido atingidos por doenças transmitidas por ruminantes domésticos há mais de uma década e meia;

A ação predatória de animais carnívoros e aves de rapina é um sério problema de enfrentamento com agropecuaristas. Seja por falta de presas naturais ou por facilidade de captura os animais selvagens atacam os rebanhos e acabam sendo mortos pelos donos da criação. Há ainda a ação de cães domésticos que entram na Unidade para caçar, com ou sem a participação humana, e atacam roedores, ninhos de aves terrestres e veados.

O lançamento de dejetos de animais, especialmente de suínos e aves, e de esgotos domésticos diretamente em cursos d’água de afluentes do Rio Iguaçu.

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Rodovia e Estradas: a BR 277, Rodovia Federal que margeia o Parque Nacional do Iguaçu por 32 km entre os municípios de Céu Azul e Santa Teresa do Oeste, e as estradas sem pavimentação no interior dos municípios do entorno ao Parque geram forte a pressão sobre a Unidade. Dentre as consequências mais graves pode-se citar: a fuligem e poeira tóxicas geradas pelos automóveis e o escoamento da água pluvial que caem dentro da Unidade contaminam o solo e da água, atropelamento de animais silvestres que evadem da área de proteção e a facilidade para entrada de caçadores e extratores de madeira nobre e palmito.

Estrada do Colono: é uma via de aproximadamente 17,6 Km que corta o Parque Nacional do Iguaçu entre as cidades de Medianeira e Capanema, no sentido oeste/sudoeste do Paraná. Sua existência dentro da unidade de conservação é histórica e conflituosa, com períodos de abertura e fechamento. Segundo Dias, 2006, apesar da ação federal que usou a força militar para trancar a passagem nos anos de 2001 e 2003 tudo indica que a questão não está resolvida. Há um movimento constante por parte da população dos municípios mais atingidos que pode gerar uma nova mobilização de reabertura dependendo de como se apresentar contexto político. Como previu o autor, o Projeto de lei nº 7123/10, de autoria do deputado ruralista Assis do Couto (PT-PR), incluiu o conceito estrada-parque na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), e o mesmo subindo novamente ao plenário em fevereiro de 2014 pleiteou a reabertura da rodovia agora com o título de Estrada Parque (PEGURIER, 2014)

Incêndios: os mais recentes aconteceram em 2001, 2006 e o último no ano de 2012, próximos a BR 277 e de suspeita criminosa, estima-se que devastaram juntos de 60 a 90 ha, ocasionando danos irreversíveis como a perda dos microrganismos do solo, alteração do microclima da área e morte de animais silvestres (KLOSTERMANN, 2007).

Turistas e os Quatis: Mesmo sendo um animal selvagem, o quati, aprendeu a se aproximar do homem e conquistar alimento fácil, com o tempo se habituou a comer biscoitos e salgadinhos, procurando ganhá-los dos turistas ou revirando as lixeiras. Tal comportamento trouxe consequências negativas como a alteração da ecologia natural da espécie, doenças bucais como a cárie e problemas de saúde derivados da dieta desequilibrada. Outro problema são os acidentes frequentes envolvendo ataques aos visitantes, pois causam ferimentos e podem transmitir a

raiva, zoonose viral que pode levar a morte (VOGLIOTTI et al., 2011).

Poluição: atualmente os visitantes do Parque ultrapassam o número de um milhão/ano, se por um lado esse dado é positivo, por outro é altamente preocupante, pois quanto mais pessoas entram na Unidade mais rejeitos acabam gerando.

Pode-se citar maior número de automóveis circulando, mais fumaça no ar e sobre a vegetação próxima as rodovias, podendo, em longo prazo, provocar contaminação em animais, vegetais, no solo, nos lençóis freáticos e no ar, devido a presença de metais pesados resultantes da queima de combustíveis fósseis (VOGLIOTTI et al., 2011).

Outra questão difícil é o saneamento básico, sabe-se que os dejetos gerados pelos sanitários tem grande potencial contaminante, tanto do solo como dos corpos hídricos, por isso a necessidade de se realizar o tratamento correto (VOGLIOTTI et al., 2011).

A poluição sonora e visual também é outro ponto importante a se considerar, pois atinge a fauna, a flora e ainda prejudica a qualidade da visitação turística, sendo que a maioria das pessoas procuram ambientes naturais para admirar a natureza e encontrar tranquilidade (VOGLIOTTI et al., 2011.

Usinas Hidrelétricas: a instalação de hidrelétricas no percurso do Rio Iguaçu também tem provocado impactos sobre todo ecossistema. Atualmente são cinco usinas já em funcionamento, cada uma delas tem diferentes regimes de operação e acabam desencadeando ciclos irregulares no nível do Rio, a ação da água nas margens sem cobertura vegetal adequada acaba causando erosão e sedimentação no seu leito rochoso, alterando todo equilíbrio da biota aquática (VOGLIOTTI et al., 2011).

Também já existe um projeto para a implantação da sexta hidrelétrica, do Baixo-Iguaçu, no município de Capitão Leonidas Marques, localizada no limite do Parque Nacional do Iguaçu, o que deve ocasionar impactos mais significativos sobre o ecossistema da Unidade (CONPARNI, 2012).

Caça e Pesca: apesar de proibidas por lei, a caça e a pesca continuam a ser praticadas intensamente dentro do Parque. A realidade atual é que várias espécies nativas, como o jacaré-de-papo-amarelo, a onça-pintada, a puma, o papagaio-de-peito-roxo, a jacutinga, o peixe monjolo e o gavião-real, estão ameaçados de extinção pela caça e pesca criminosa mesmo que combatida pelo trabalho dos fiscais do ICMBio e de policiais federais e militares ainda é necessário

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o empenho de fazer a sensibilização na tentativa de restringir o comércio ilegal minimizando esse impacto sobre o meio ambiente (VOGLIOTTI et al., 2011).

Extração Vegetal: a retirada de espécies vegetais de dentro do Parque continua sendo muito realizada e a consequência dessa exploração são as mudanças visíveis nos aspectos naturais e paisagísticos da floresta devido a falta ou baixa densidade de alguns tipos de árvore. A espécie mais procurada é Euterpe edulis, conhecido como palmito-juçara, por ser muito apreciado, de fácil comercialização, a maioria das quadrilhas já tem posto de venda certo, invadem o parque e além de cortar, alguns criminosos, já beneficiam o produto dentro da Unidade, sem qualquer condição de higiene, colocando em risco a saúde dos consumidores pela falta de cuidados básicos no preparo e armazenamento do produto (VOGLIOTTI et al., 2011).

Além do palmito outras espécies de madeira nobre como a peroba-rosa, o pinheiro-do-paraná, o alecrim, o ipê, a cabreúva e o marfim também estão na lista de extinção e sofrem pressão de madeireiras clandestinas.

Comunidade Indígena: a situação fundiária do Parque Nacional do Iguaçu é um fato praticamente resolvido, mas ainda assim surgem situações de conflitos relacionadas com comunidades indígenas que pleiteiam direitos sobre as terras da reserva.

No ano de 2005 índios Avá-guarani, da cidade de São Miguel do Iguaçu, invadiram o Parque Nacional do Iguaçu alegando que o espaço da reserva Ocoí não era mais suficiente para as famílias indígenas. Somente depois de duras negociações entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o cacique Simão Tupã é que a tribo deixou a Unidade (Gazeta do Povo-Curitiba-PR, 19/10/2005).

Os depoimentos da equipe administrativa do Parque Nacional do Iguaçu, registrados durante as Reuniões do Conselho Consultivo no ano de 2012 e durante a participação nos Programas de Educação Ambiental 2011/2012, demonstram preocupação e indignação, segundo eles os projetos de monitoramento, proteção, educação ambiental realizados dentro da Unidade e com a comunidade do entorno avançam, mas ainda precisam melhorar muito.

A atuação desses profissionais é muito intensa tanto na tentativa de sensibilizar pela Educação Ambiental como de coibir os crimes ambientais citados nesse artigo. Para realizar esse trabalho o Parque conta com a parceria das Prefeituras Municipais das cidades do Entorno, Instituições

Privadas, Polícia Ambiental do Paraná, Polícia Federal, Força Nacional e Ministério Público, várias ações de criminosos já foram deflagradas.

Sabe-se que os Parques Nacional Iguaçu e Nacional Iguazú já foram consagrados com o título de Patrimônio Natural Cultural e caracterizados de Valor Excepcional “tão extraordinário que transpõe as fronteiras nacionais” porém os mesmos ainda não são estudados, entendidos e tão pouco apresentados em sua integridade.

Com isso o conhecimento do patrimônio geobiodiverso e cultural dos parques em questão é parcial e pode comprometer a apreciação da beleza cênica e dos riscos que envolvem as Unidades de Conservação.

Acredita-se que ao abranger os parques no estudo de suas conexões geossistêmicas e histórico culturais será possível melhorar a sensibilização quanto ao valor e a significância socioambiental da preservação dos Sítios do Patrimônio Mundial Natural, Parque Nacional do Iguaçu e Parque Nacional do Iguazú e espera-se potencializar o entendimento referente aos atrativos naturais da região estudada e fomentar a participação nas atividades educativas.

CONCLUSÕES

O presente trabalho buscou refletir sobre

alguns aspectos pertinentes a relação existente entre o ser humano e os recursos naturais que ele dispõe e como esta relação dialética vem ocorrendo

Nota-se que muita pressão exercida ocorre porque não se criaram interesses econômicos conjuntos em manter-se o parque e a comunidade integrados, claro que um desenvolvimento assim é quase utópico, mas para que haja a sensibilização de uma comunidade em relação a área de preservação ela tem que ganhar com a sua existência não perder.

Quando se efetiva a Unidade de Conservação o agricultor que tinha suas terras e plantava o que lhe interessava não tinha nenhuma regulamentação. No momento que o parque passou a existir começam ocorrer restrições, e apesar dos municípios lindeiros ao Parque Nacional do Iguaçu receberem ICM Ecológico os agricultores não contam com indenizações ou royalties como um incentivo de preservação. Fazer parte do CONPARNI e participar das discussões sobre os enfrentamentos do Parque Nacional do Iguaçu levou vários proprietários a mudarem sua visão sobre a Unidade de

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Conservação, passando a construírem uma identidade regional (KROPF, 2014).

Conforme o que foi exposto é possível entender que os impactos negativos que incidem sob o parque estão diretamente relacionados aos hábitos e costumes da sociedade. A mesma que reivindica sua proteção para a presente e futuras gerações é a que direta ou indiretamente a degrada, seja por atividades criminosas ou pelas lícitas como a visitação. Acredita-se que a sensibilização quanto a preservação do parque pode acontecer com a otimização da Educação Ambiental realizada continuamente, com cursos para públicos diferenciados e trilhas de interpretação ambiental (KROPF, 2014).

Para os técnicos do Parque as quadrilhas que atuam na extração ilegal dos recursos naturais só continuam agindo porque existe quem compre seus produtos. Segundo o tenente comandante do primeiro pelotão da 5ª Companhia do Batalhão, a caça ainda é vista por várias pessoas, como uma prática cultural inofensiva (SARZI, 2015). Em outros casos porém há uma intencionalidade criminal, tanto no caso da venda da carne de caça como do palmito juçara (KROPF, 2014).

REFERÊNCIAS

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BOURSCHEIT, Aldem. Parque do Iguaçu vale mais de R$ 700 milhões anuais/2014 Disponível em http://www.wwf.org.br/wwf_brasil/?37462/Parque-do-Iguau-vale-mais-de-R-700-milhes-anuais, acesso em 13/03/2015

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DIAS, Edson Santos. Desenvolvimento regional e conservação ambiental: a “estrada do colono” como via de (des)integração do oeste-sudoeste paranaense. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e

Tecnologia/UNESP,Campus de Presidente Prudente, Área de Concentração em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental, 2006.

Índios no Parque Nacional do Iguaçu, disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/policia-omeca-a-retirar-indios-do-parque-nacional-do-iguacu-9se56g1hid4yxs2swrfk867gu, acesso em 23/10/14.

KLOSTERMANN, Fabiano. Fogo chega ao Parque Nacional do Iguaçu/2007 Disponível em http://www.parana-online.com.br/editoria/policia/news/260646/, acesso em 10/02/2015.

KROPF, MARCELA. Ultrapassando Fronteiras na Gestão da Biodiversidade: o caso dos Parques Nacionais do Iguaçu (Brasil) e Iguazú (Argentina). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Florestas Curso de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Florestais. Rio de Janeiro, 2014. 306 p. (Tese de Doutorado em Ciências Ambientais Florestais).

PAES-LUCHIARI, BRUHNS E SERRANO. Patrimônio, natureza e cultura. Campinas, SP. Editora Papirus, 2007.

PEGURIER, Eduardo. 2014: ano de aprovar a reabertura da Estrada do Colono no Senado. Disponível em http://www.oeco.org.br/noticias/27988-2014-ano-de-aprovar-reabertura-da-estrada-do-colono-no-senado/ acesso em 22/12/2014.

RICOBOM, Arnaldo Eugênio. "O Parque do Iguaçu como Unidade de Conservação da Natureza, Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências da Terra Curso de Pós-graduação em Geografia Dptº Geografia, Curitiba, 2001. P.226 (Dissertação Curso de Pós-Graduação em Geografia, do Setor de Ciências da Terra)

SANTOS, Arnaldo. Operação Guatambu. Disponível em www.atlantidafm.com/atlantida/ver_noticia.php?not=42369, acesso em 23/06/13.

SARZI, Lucas. Operação de caça ilegal no Parque Nacional do Iguaçu, 2015 Disponível em http://www.parana-online.com.br/editoria/policia/news/895926/?noticia=OPERACAO+CONTRA+CACA+ILEGAL+PRENDE+SEIS+NO+PARQUE+NACIONAL+DO+IGUACU, acesso em 15/08/2015.

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VOGLIOTTI, Alexandre et al. Parque Nacional do Iguaçu, Contextualização, Conflitos e Ações. Gráfica Ideal Ltda, Foz do Iguaçu, 2011.

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Formação de Tornados (1). Karin Linete Hornes(2); José Amaro da Silva Filho(3); Nayara Rodrigues de Almeida

(4). (1) Trabalho iniciado durante a iniciação científica voluntária em 2013.

(2) Professora efetiva da Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Marechal Cândido Rondon – PR; [email protected]; (3) Graduando do curso de licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Marechal Cândido Rondon – PR; [email protected]; (4) Graduanda do curso de licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Marechal Cândido Rondon – PR; [email protected]. RESUMO: Tornado é um fenômeno meteorológico que se manifesta na superfície através da colisão de massas de ar que giram ciclicamente do céu até encontrar a superfície. Eles podem ocorrer tanto no ambiente terrestre como no marítimo. O fenômeno geralmente dura apenas alguns minutos, mas possui um alto poder destrutivo dependendo da sua velocidade de giro ciclônico e de sua locomoção superficial. Em muitos casos o acontecimento sempre foi associado aos EUA mais precisamente ao corredor dos tornados, no entanto há vários anos este fenômeno atua no Brasil. A ocorrência dos tornados no Brasil é pouco estudada e divulgada, além de tudo quando o fenômeno ocorre ele é confundido por leigos com outros como: furacão, tsunami, vendaval, tormenta, enfim outras denominações que não estão relacionados ao elemento. Por este motivo pretende-se neste trabalho elucidar a respeito dos elementos envolvidos na formação dos tornados e caracterizar os vários tipos ocorrentes. Para a realização do presente artigo foram utilizados referenciais teóricos que descrevem a diversidade de vortex e as formas de aparecimento do mesmo. O resultado desta pesquisa permitiu elencar as várias formas e características que o fenômeno pode apresentar durante a sua formação. Palavras-chave: funil, vórtices, formas.

INTRODUÇÃO Os tornados podem ocorrer em diversas partes do mundo inclusive no Brasil. No mundo já foram registrados tornados na Inglaterra, Canadá, China, França, Alemanha, Holanda, Hungria, Índia, Itália, Japão, Rússia e até em Bermuda e nas Ilhas Fiji. Porém não estão restritos somente a estes países. Mas os mais frequentes e violentos acontecem nos Estados Unidos, numa média de mais de 800 tornados anualmente (INPE, 2015). As áreas mais sujeitas a tornados nos EUA são as planícies centrais onde ocorre o

encontro de diversas massas de ar produzindo várias tempestades que podem gerar tornados. Esta grande incidência de tornados no EUA pode ser explicada devido a sua maior concentração de território no local de encontro das massas, ou seja, acima dos 30º de latitude a área continental se amplia, o que não ocorre com a América do Sul, onde o território vai se afunilando cada vez mais. A ocorrência de tornados no Brasil é bastante frequente, no entanto o registro dos mesmos se tornou mais eficaz na década atual com os equipamentos tecnológicos e midiáticos disponíveis. Candido (2012) coloca que entre 1990 e 2011 foram registrados aproximadamente 205 tornados em território nacional. De acordo com o autor este número coloca o país entre os que mais registram o fenômeno. Conforme Candido (2012) São Paulo, Rio grande do Sul e Santa Catarina são os estados que mais registram o fenômeno. O Paraná também está neste corredor apesar de não ser citado por Candido (2012) como pertencente ao mesmo, mas dever ser incluído uma vez que já se tem diversos registros do evento, e iniciativas para formular um banco de dados deste fenômeno vem ocorrendo. Um tornado é um acontecimento meteorológico que se manifesta através de uma coluna de ar que gira de forma violenta, estando em contato com uma nuvem e com a superfície terrestre. A maioria dos tornados possui forma de funil estreito e podem variar entre metros ou centenas de metros de comprimento. Eles se manifestam de diversas formas e tamanhos, normalmente se formam associados a variações de temperatura que produzem ventos fortes, elevada precipitação pluviométrica e frequentemente podem vir acompanhados da presença de granizo (PERUZZO, 2013, pg.261). Eles estão ligados a interações existentes entre fortes fluxos de ar ascendentes e descentes que formam uma movimentação intensa dentro da nuvem (PERUZZO, 2013, pg.261).

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O objetivo do presente artigo é caracterizar as várias formas de ocorrência que o fenômeno pode se apresentar, com o intuito de auxiliar na identificação das suas variações. Há necessidade de discussão do tema se dá principalmente devido a carência de registros do acontecimento e ao grande equívoco em confundi-los com outros como os furacões, tufões, ciclones.

MATERIAL E MÉTODOS A proposta da pesquisa é a de caracterizar os vários tipos e formas de tornados. Para tanto inicialmente foi individualizada a formação dos tornados através de estudos elaborados por Peruzzo (2013), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2015) e Sutherland (2015). Após a verificação de como ocorre a gênese dos tornados iniciou-se a explanação dos vários tipos de ocorrência do mesmo (CHRISTOPHERSON (2012), IBGE (2004), BROOKS, CARBIN E MARSH (2015)) e a averiguação da força destrutiva das diversas atuações que o fenômeno pode apresentar através da diferenciação do mesmo em relação ao furacão (DIAS, 2007). Após este aprofundamento se deu início a busca de dados a respeito dos tipos de tornados que afetaram o país. A pesquisa pelos dados deu-se nos sites de meteorologia como INPE e SIMEPAR, e em noticiários de jornais locais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os períodos de maior atividade dos tornados ocorrem na primavera, o ar úmido e quente produzido na superfície fica abaixo do ar mais frio e seco produzindo uma atmosfera instável. De acordo com o INPE (Instituto nacional de pesquisas espaciais) embora tornados ocorram a qualquer hora, eles são mais freqüentes entre 16h e 18h quando o ar na superfície é mais instável. Os tornados, a princípio, necessitam de algumas condições atmosféricas para surgirem: uma mistura de ar quente e úmido; o ar seco e quente e ar frio e seco (SUTHERLAND, 2015). Há muita confusão em diferenciar furacões de tornados, para tanto existem algumas características básicas. No caso dos furacões, estes acontecem exclusivamente nas áreas litorâneas e alimentam-se basicamente de baixas pressões e de altas temperaturas, podendo durar dias e até semanas e seu tamanho pode atingir quilômetros de extensão (DIAS, 2007). Seu centro é uma área de baixa pressão e é denominada de olho, quando o mesmo chega, o tempo fica bom (INPE, 2015), e,

por este motivo, muitas pessoas retornam às suas atividades normais, com isto acreditam que o pior já passou, mas não imaginam a existência da segunda parte de incidência de tempestades. A respeito do tornado, este possui uma duração de apenas alguns minutos ou horas (INPE, 2015). Reckziegel (2007) coloca que os tornados podem originar-se em processos convectivos, ou ainda, em situações geradas pelo encontro de massas de ar altamente diferenciadas e de grande intensidade. “Nessas condições, a instalação de uma célula de baixa pressão nas camadas superiores da atmosfera provoca o efeito chaminé e a ascensão do ar para a alta troposfera, caracterizando o efeito de vórtice, responsável pela sucção”. Em relação à destrutividade os furacões apresentam maior poder de destruição quando comparados aos tornados devido às maiores proporções de alcance que a tempestade pode apresentar (INPE, 2015). Ambos são acompanhados de fortes chuvas, ventos intensos com correntes de ar ascendentes poderosas e downdrafts (correntes de ar para baixo), os mesmos ocorrem de forma aleatória e caóticos (SUTHERLAND, 2015). Em condições adequadas os tornados podem tomar formas bizarras. Eles podem entrar em um ciclo onde formam uma espécie de “lágrima” ao longo de um caminho, então podem se dissipar, e posteriormente podem reformar o mesmo vórtice a uma curta distância para continuar seu traçado no solo, podendo repetir isto várias vezes. Outro fenômeno verificado é a presença de tornados satélites - funis menores- que geralmente giram na direção oposta do funil 'pai' (um tornado "reverso"), sendo que algumas vezes podem orbitar em torno do pai. Alguns ainda podem assumir a forma de tornados multi-vortex, onde dois tornados se formam dentro de um vórtice maior, para girar em torno de si como um par de dançarinos. Eles podem surgir também em "famílias", isoladamente ou ao mesmo tempo, e os membros destas "famílias" tendem a competir uns com os outros por energia para crescer e manter a sua força. Esta 'rivalidade' poderia significar que um tornado domina, sufocando a formação de quaisquer irmãos, ou irmãos que aparecem podem roubar a energia do seu irmão mais velho (SUTHERLAND, 2015). As causas da origem de um tornado estão relacionadas a eventos que ocorrem dentro e em volta de uma tempestade. No interior, os ventos predominantes fazem o ar girar sobre um eixo horizontal; em dado momento o vento ascendente faz as correntes de ar girarem sobre um eixo vertical, levando-o para cima. Assim, o vento ascendente

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começa a girar junto com a coluna de ar em rotação, a qualquer momento pode se formar um funil. O funil pode tocar ou não o solo e pode ser constituído de uma única coluna de ar em parafuso ou formar tornados de vórtices múltiplos que giram em torno de um centro comum (CHRISTOPHERSON, 2012, pg. 224). O tornado registrado em julho de 2015 em Terra Rica no Paraná possuí um único funil que se caracterizou com a forma de um parafuso rotacional (GLOBO, 2015). Notem o título da legenda (Figura 1) em vez de o fenômeno ser tratado como tornado o termo Ciclone foi utilizado. Este termo é mais utilizado para designar furacões ou Ciclones extratropicais que ocorrem no litoral no entanto vários jornalistas tem utilizado o termo erroneamente, o termo ideal para a denominação do fenômeno abaixo é a de um tornado.

Figura 1:Tempestade supercélula gera ciclone no Paraná. (Foto: Deise de Alencar Fonseca/Arquivo Pessoal) Fonte: http://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2015/07/moradores-registram-formacao-de-tempestade-supercelula-no-parana.html Fenômeno similar é a "Tromba d'água", que tem esta denominação por se formar sobre uma lâmina de água (mar ou num lago). Neste caso, a sucção no centro da tempestade eleva para o ar a água da superfície, e, em geral, a tromba d'água desaparece quando encontra terra (IBGE - Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente, 2004). Muitas vezes a denominação Tromba d´água também é utilizada para designação de uma chuva intensa, ou até mesmo para o aumento repentino da vazão dos rios e isto acaba confundindo muitas pessoas ao descrever

o fenômeno. No rio Amazonas a tromba d´água (tornado) já foi registrada em abril deste ano (GLOBO, 2015) em Parintins. Na figura 2 é possível notar a formação de mais um funil. Se o mesmo tocasse o rio existiriam duas trombas d´água atuantes com dois vórtices.

Figura 2:Tromba d’água registrada em Parintins Fonte: http://acritica.uol.com.br/amazonia/Tromba-dagua-Rio-Amazonas-surpreende-Parintins_5_1343315656.html Há também tornados de fogo que comumente estão associados a incêndios florestais. O grande calor gerado faz com que o ar ascenda e, se as condições estiverem favoráveis, ele formará um tornado que poderá percorrer alguns metros de distância. Em Araçatuaba, São Paulo (GLOBO, 2015) o fenômeno foi registrado depois de vários dias com umidade relativa baixa e devido ao grande número de incêndios nas plantações de cana. O tornado de fogo pode ter de 10 a 50 metros de altura. A duração e o percurso deste tornado são variáveis, pois dependem das temperaturas do incêndio para se manterem.

Figura 3: Tornado de fogo.

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Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=6fxvGqU0b_Q A escala Fujita foi construída com base nas informações referentes ao grau de destruição causado pela atuação de tornados que atuam em solo (DIAS, 2007) tornados de fogo e trombas d´água não foram avaliados com a velocidade e níveis de destruição. CONCLUSÕES Após a realização da pesquisa verificou-se que a denominação utilizada para o percurso que o tornado deixa no solo é lágrima e a mesma pode ser contínua ou descontínua dependendo da manutenção do vórtice em solo. Os tornados podem apresentar diversas formas, alguns apresentam apenas um vortex, um funil principal e um e menor denominado satélite, dois vortex em diferentes tamanhos podendo estes apresentar giro reverso, tornados multi-vortex onde os mesmos giram em conjunto; tornados famílias com vários membros onde diversos tornados agem momentaneamente juntos e competem entre si por energia tentando eliminar o concorrente. O fenômeno também pode adquirir o formato de parafuso rotacional e perdurar alguns minutos em determinado local. Com relação ao tipo de tornado o mesmo pode ser classificado como tromba d´água que são tornados que surgem em ambientes aquáticos (Oceanos, rios), tornados de fogo provenientes de incêndios e o tornado propriamente nominado que se refere ao fenômeno em terra. Dentre estes eventos o Brasil já registrou todos. No Brasil ainda não há trabalhos que classificam as várias formas de funis, no entanto em alguns locais já foram registrados a presença de mais vortex. Neste sentido observa-se a necessidade de se realizar um sistema de cadastro integrado de coleta de dados que armazene as ocorrências de tornados, além de classifica-los conforme seu grau de destruição. A existência destes dados vem auxiliar o desenvolvimento de estudos a cerca dos eventos de tornados no país. É necessário avaliar os locais preferenciais de encontros de massa para alertar a população destes possíveis eventos. Brooks, Carbin e Marsh (2015) apontam que podem ocorrer variações de ocorrência de tornados com as mudanças climáticas e sugerem o acompanhamento de pelo menos 45 anos para avaliar a existência ou não deste fenômeno. Nesse sentido se faz necessário um acompanhamento contínuo tanto no Brasil como

no Paraná para quantificar, qualificar este fenômeno.

REFERÊNCIAS BROOKS H. E. CARBIN G. W. MARSH P. T. Increased variability of tornado occurrence in the United States. Disponível em: http://www.sciencemag.org/content/346/6207/349.full?ijkey=V4lFAtBPQBdw6&keytype=ref&siteid=sci Acessado em 12 de dezembro de 2014.

CANDIDO, D. H. Na Rota dos Tornados. Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/jornal/paginas/ju539pag03.pdf. Acessado em 22/07/2015.

CHRISTOPHERSON, Robert W. Geossistemas - 7ª. ed.: Uma Introdução à Geografia Física, Tradução: Francisco Eliseu Aquino. (et al.). Porto Alegre: Bookman, 7ª edição, 2012.

DIAS, M. A. F.D.S. Furacões e tornados um espetáculo de rotação na atmosfera terrestre. Revista USP, São Paulo, n.72, p. 44-53, dezembro/fevereiro 2006-2007. GLOBO; Disponível em http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2015/04/tromba-dagua-e-registrada-no-rio-amazonas-em-parintins.html. Acessado em 26 de agosto de 2015. GLOBO. Tornado em Araçatuba 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DHf-cNvpx3M Acessado em 3 de janeiro de 2015.

GLOBO; Disponível em http://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2015/07/moradores-registram-formacao-de-tempestade-supercelula-no-parana.html. Acessado em 26 de agosto de 2015.

IBGE - Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente, 2004 - versão digital. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/vocabulario.pdf. Acessado em 1 de dezembro de 2015.

INPE. Disponível em http://www.cptec.inpe.br/glossario.shtml#18. Acessado em 4 de janeiro de 2015.

NOAA. National Weather Service Disponível em: http://www.spc.noaa.gov/efscale/. Acessado em 3 de janeiro de 2015.

PERUZZO, J. A Física Através de Experimentos, Física Moderna e Ciências Espaciais. V. III. Irani (SC):2013.

RECKZIEGEL, B. W., Levantamento dos desastres desencadeados por eventos naturais adversos no Estado do Rio Grande do Sul no período de 1980 a

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2005. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Área de concentração em Análise Ambiental e Dinâmica Espacial, da Universidade Federal de Santa Maria. Centro de Ciências Naturais e Exatas. Universidade de Santa Maria. Santa Maria –RS. Brasil. 2007. Disponível em: http://w3.ufsm.br/ppggeo/files/dissertacoes_06-11/BernadeteReckziegel.pdf. Acesso em: 01 nov.2014.

SUTHERLAND, Scott http://www.theweathernetwork.com/news/articles/science-spotlight-how-did-mondays-deadly-twin-tornadoes-form/29706. Acessado em 6 de janeiro de 2015.